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SBN, quadra 1, lotes 20/21/22/23, Asa Norte - Brasília/DF, CEP 70.040-010 - Telefone (61) 3329-7900 EXCELENTÍSSIMO JUIZ FEDERAL DA ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL PAJ n° 2015/001-00299 A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, por meio do titular do Ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletiva no Distrito Federal, e nos termos dos artigos 5º, inciso LXXIV e 134 da Constituição Federal, artigo 4º da Lei Complementar n° 80/94 e artigo 5º, inciso II, da Lei n° 7.347/85, vem perante Vossa Excelência propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA com pedido de antecipação dos efeitos da tutela em face da UNIÃO (Ministério do Trabalho e Emprego) e do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, ambos com endereços conhecidos deste juízo, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos, com o objetivo de assegurar aos pescadores domiciliados no DF, quando preenchidos os demais requisitos da Lei n° 10.799/03, o pagamento do chamado “seguro defeso”, bem como o direito de formular o pedido desse benefício nesta Unidade da Federação.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - dpu.def.br · direito dos pescadores artesanais do DF ao seguro defeso, o que por si só redundará em obrigação de habilitação de benefício ao INSS,

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SBN, quadra 1, lotes 20/21/22/23, Asa Norte - Brasília/DF, CEP 70.040-010 - Telefone (61) 3329-7900

EXCELENTÍSSIMO JUIZ FEDERAL DA ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL

PAJ n° 2015/001-00299

A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, por meio do titular

do Ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletiva no Distrito Federal, e nos

termos dos artigos 5º, inciso LXXIV e 134 da Constituição Federal, artigo 4º da

Lei Complementar n° 80/94 e artigo 5º, inciso II, da Lei n° 7.347/85, vem perante

Vossa Excelência propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

com pedido de antecipação dos efeitos da tutela

em face da UNIÃO (Ministério do Trabalho e Emprego) e do INSTITUTO

NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, ambos com endereços conhecidos

deste juízo, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos, com o

objetivo de assegurar aos pescadores domiciliados no DF, quando preenchidos

os demais requisitos da Lei n° 10.799/03, o pagamento do chamado “seguro

defeso”, bem como o direito de formular o pedido desse benefício nesta Unidade

da Federação.

I – DOS FATOS

Em 22/01/2015, representantes de pescadores

profissionais domiciliados no Distrito Federal procuraram a Defensoria Pública da

União pedindo providências do Órgão em relação ao Ministério do Trabalho e

Emprego, que vinha impondo por vários anos entraves ao acesso dos assistidos

ao benefício de seguro-desemprego durante o período de defeso, conhecido

como “seguro defeso”, e garantido pela Lei n° 10.779/03 (doc. 1).

Alegaram que o MTE e a Secretaria Regional de Trabalho e

Emprego (SRTE/DF) não ofereciam estrutura no DF para recebimento dos

pedidos de seguro defeso, inviabilizando o cumprimento do disposto na

Resolução CODEFAT n° 657, de 16/12/2010 (doc. 2), que em seu art. 5°

determina que “o benefício de Seguro-Desemprego será requerido na unidade

da Federação de domicílio do pescador artesanal”.

Afirmavam que, mesmo ao procurarem Agências do

Trabalhador de outras localidades, seus requerimentos sequer eram admitidos,

ao argumento de que não residiam na localidade e, por isso, esbarrariam no

óbice constante na referida resolução do CODEFAT.

Por força desse impasse, vários pescadores domiciliados

no DF, quando atingidos pelos períodos de defeso das bacias hidrográficas da

região, se viam obrigados a procurarem Agências do Trabalhador em outros

Estados, notadamente em Unaí/MG, e a declarar endereços de familiares que

residiam naqueles Estados como forma de superar o entrave imposto pelo MTE.

Obviamente, tal solução os expunha a riscos de eventuais

acusações de falsidade nas informações prestadas.

Buscando solucionar extrajudicialmente da demanda, este

Órgão realizou em 12/02/2015 reunião com membros da Secretaria de Políticas

Públicas de Emprego – SPPE/MTE (doc. 3), com o objetivo de implementar

estrutura para recebimento dos requerimentos de seguro defeso no DF.

Na ocasião, os técnicos da SPPE/MTE esclareceram que,

de fato, as Agências do Trabalhador no DF não admitiam os requerimentos de

seguro defeso, por falta de treinamento específico dos atendentes. Questionados

sobre a possibilidade de alteração desse quadro, os representantes do Ministério

do Trabalho afirmaram que não havia tempo hábil para tanto, uma vez que a

Medida Provisória n° 665, de 30/12/2014 (doc. 4), que empreendeu profundas

modificações nos benefícios de seguro-desemprego, alterou a Lei n° 10.779/03

para transmitir ao Instituto Nacional do Seguro Social – INSS a responsabilidade

pelos futuros pedidos de seguro defeso, a partir de abril de 2015.

Na mesma ocasião, a Defensoria Pública da União

levantou a questão do recebimento do seguro defeso em curso, referente ao

período compreendido entre 1°/10/2014 a 28/02/20151, ainda de competência do

Ministério do Trabalho.

Sobre esse caso, tendo em vista que a quase totalidade

dos pescadores profissionais artesanais domiciliados no DF exercem sua

atividade em áreas do Entorno, e considerando a liberalidade concedida pelo

parágrafo único do art. 5° da Resolução CODEFAT n° 657/102, a SPPE/MTE

emitiu a Circular n° 08, de 13/02/2015 (doc. 5), autorizando excepcionalmente

que os pescadores artesanais do DF fizessem o requerimento do seguro defeso

do período 2014/2015 nas agências das localidades onde comprovem o

exercício da atividade pesqueira.

1 Conforme Instrução Normativa IBAMA n° 25, de 01/09/2009 (Bacia do Rio Paraná), Instrução Normativa Interministerial

MPA/IBAMA n° 13, de 25/10/2011 (Bacia do Rio Tocantins) e Portaria IBAMA n° 50, de 05/11/2007 (Bacia do Rio São Francisco). Tais normativas serão abordadas mais detalhadamente no item “III – DOS FUNDAMENTOS”, adiante. 2 “Art. 5º O benefício do Seguro-Desemprego será requerido na unidade da Federação de domicílio do pescador

artesanal. Parágrafo único. O Ministério do Trabalho e Emprego, por meio da Secretaria de Políticas Públicas de Emprego, disciplinará os casos em que o pescador exerça a pesca em área limítrofe da Unidade da Federação de seu domicílio.” (g.n.)

Apesar de garantido provisoriamente o direito de petição

(art. 5°, XXXIV, “a”, da CF/88), os representantes da SPPE/MTE adiantaram que

a postura do Ministério em não receber requerimentos de seguro defeso no

Distrito Federal advinha do entendimento de que os pescadores profissionais

domiciliados no DF não teriam direito ao referido benefício.

De fato, e respondendo solicitação elaborada pelo

Superintendente Federal da Pesca e Aquicultura no Distrito Federal – SPFA/DF

(docs. 6 e 7), o Ministério do Trabalho e Emprego elaborou a Nota Técnica n°

128/2015/CGSAP/DES/SPPE/MTE (doc. 8), em que expõe as razões do seu

entendimento, sintetizados no seguinte trecho:

“25. Ocorre que, diante do entendimento de (i) não haver, na região do Distrito Federal, pescadores artesanais que vivam, exclusivamente, do exercício da atividade pesqueira, assim como (ii) em razão de existir, na região geográfica do Distrito Federal, recursos hídricos disponíveis em que é permitida a atividade pesqueira durante o período do defeso mencionado pela Nota Técnica apresentada pela SFPA/DF, este Ministério do Trabalho e Emprego não entende como direito aos pescadores do Distrito Federal a concessão do benefício Seguro-Desemprego Pescador Artesanal.”

Como se verá, as premissas adotadas em tal nota técnica

não procedem e, por isso, vê-se a Defensoria Pública da União impelida a

recorrer ao Poder Judiciário para que seja reconhecido o direito de centenas de

pescadores profissionais artesanais domiciliados no Distrito Federal ao benefício

do seguro defeso, inclusive com reflexos em períodos de defeso anteriores ao

que motivou a presente ação civil pública.

Não bastante, a DPU também busca junto à Justiça o

direito desses pescadores realizarem futuros pedidos de seguro defeso em

postos de atendimento localizados no próprio Distrito Federal, sejam eles

vinculados ao Ministério do Trabalho ou, após a entrada em vigência da nova

redação do art. 2° da Lei n° 10.779/03, ao Instituto Nacional do Seguro Social.

II – DA LEGITIMIDADE DAS PARTES

II.I – DA LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

A ampla legitimidade ativa da Defensoria Pública para

ações de cunho coletivo em prol dos necessitados é questão remansosa na

legislação, reconhecida primeiramente no art. 5°, II, da Lei da Ação Civil Pública,

e depois incluída dentre suas funções institucionais, no art. 4°, VII, da Lei

Complementar n° 80/94.

Finalmente, a Emenda Constitucional n° 80/2014 espancou

qualquer dúvida acerca da atribuição deste Órgão na seara coletiva, ao lhe

incumbir “a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos

individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados” (art. 134,

caput, da CF/88, grifo nosso).

Frise-se, por fim, que a presente ação civil pública guarda

íntima relação com as funções institucionais mais típicas da Defensoria Pública,

porquanto se volta contra limitação ao acesso a benefício destinado

especificamente a pessoas que exercem a atividade pesqueira em caráter de

subsistência (art. 1°, § 1°, da Lei n° 10.779/03), e que envolve prestação estatal

que garante a manutenção desses pescadores e de suas famílias durante os

períodos de defeso.

Patente, portanto, a pertinência temática entre a

pretensão dos assistidos pela DPU nesta ação civil pública e o exercício das

funções típicas da Instituição, qual seja a defesa de hipossuficientes (art. 5º,

LXXIV, CF).

II.II – DA LEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO

Até para adiantar provável alegação preliminar da parte ré,

é de se destacar que as alterações promovidas pela Medida Provisória n° 665,

de 30/12/2014 (doc. 3), não afetaram a legitimidade da União para a presente

demanda.

A uma, porque a nova redação do art. 2° da Lei n°

10.779/03 transmitiu ao INSS apenas o recebimento e processamento dos

pedidos de seguro defeso, cabendo ainda à União, seja via Ministério do

Trabalho e Emprego (vide resoluções do CODEFAT), seja por meio Ministério da

Previdência Social (vide nova redação do § 4° do aludido artigo), o

estabelecimento dos requisitos necessários ao reconhecimento do direito ao

benefício.

A duas, porque a presente ação busca contornar óbice

adotado pelo Ministério do Trabalho e Emprego na apreciação dos benefícios de

seguro defeso não só do período de 1°/11/2014 a 28/02/2015, mas também de

períodos de defeso anteriores, quando ainda detinha atribuição exclusiva para

análise dos benefícios, de forma a abrir caminho para aqueles prejudicados pela

postura do MTE reclamarem o pagamento das parcelas vencidas ainda não

atingidas pela prescrição.

Por fim, não é demais ressaltar que o pagamento dos

benefícios de seguro defeso devidos aos assistidos desta DPU correrá à conta

do Fundo de Amparo ao Trabalhador (art. 5° da Lei n° 10.779/03), fundo esse

vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego (art. 10 da Lei n° 7.998/90).

Logo, não há dúvida de que a União responde pelos fatos

narrados nesta petição exordial, sem prejuízo da legitimidade concorrente do

INSS, como será exposto no item seguinte.

II.III – DA LEGITIMIDADE PASSIVA DO INSS

Quanto à inclusão do INSS no polo passivo da ação, como

já adiantado no tópico anterior, esclarecemos que a Medida Provisória n°

665/2014 passou à Autarquia Previdenciária a competência para gestão

operacional dos pedidos de seguro defeso, conforme nova redação do art. 2° da

Lei n° 10.779/03.

Dessa forma, cabe agora ao INSS receber e processar os

pedidos de benefício, bem como proceder à habilitação daqueles que atenderem

às determinações normativas expedidas pela União.

Ora, a presente ação busca não só o reconhecimento do

direito dos pescadores artesanais do DF ao seguro defeso, o que por si só

redundará em obrigação de habilitação de benefício ao INSS, mas também a

implementação de postos de atendimento a essa população no âmbito do

Distrito Federal, até o momento negada pelo Ministério do Trabalho e Emprego,

sob a alegação de que “não foi identificada a necessidade de qualificar a

estrutura de atendimento desta modalidade no DF” (doc. 5).

Assim, considerando que os dois objetos da demanda

recaem em obrigações assumidas pelo INSS com a nova redação do artigo

supramencionado, entendemos pertinente sua inclusão no polo passivo da

demanda em litisconsórcio com a União, nos termos do art. 46, inciso I, do CPC.

III – DOS FUNDAMENTOS (I): DO DIREITO AO BENEFÍCIO

Excelência, a presente ação civil pública se destina,

primeiramente, a superar os óbices argumentativos plasmados na Nota Técnica

n° 128/2015/CGSAP/DES/SPPE/MTE (doc. 8), de forma que os pescadores

profissionais artesanais domiciliados no DF que atendam aos demais requisitos

da Lei n° 10.779/03 possam ter acesso às prestações do seguro-desemprego

por motivo de período defeso (doravante “seguro defeso”) negadas até a

presente data pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Para tanto, abordaremos separadamente os dois principais

argumentos adotados na referida Nota Técnica, quais sejam: 1) a ausência de

pescadores verdadeiramente artesanais no Distrito Federal; e 2) a existência

recursos hídricos no DF em que é permitida a atividade pesqueira durante o

período do defeso das demais bacias existentes na região.

Para melhor desenvolvimento do tema, os mesmos serão

enfrentados em ordem inversa.

III.I – DA CAPACIDADE PESQUEIRA NO DF EM PERÍODOS DE DEFESO

Em primeiro lugar, é de se compreender a estrutura das

bacias hidrográficas que banham o Distrito Federal, representada na imagem

que se segue:

Fonte: http://www.cbhparanoa.df.gov.br/mapas.asp

Como se vê no mapa acima, o Distrito Federal compreende

formações hídricas pertencentes a três bacias nacionais: a Bacia do Rio

Tocantins, a do Rio São Francisco e a do Rio Paraná.

Conforme exposto pelo Ministério da Pesca e Aquicultura

na solicitação enviada à SPPE/MTE (doc. 5), cada uma dessas bacias dispõe de

regulamento próprio que rege seus períodos de defeso, assim entendidos como

épocas em que se dão a reprodução de espécies nativas e, por isso, de pesca

proibida pelos Órgãos de controle ambiental (art. 1°, § 2°, da Lei n° 10.779/03).

No caso da Bacia do Rio Tocantins-Araguaia, o regramento

é fixado na Instrução Normativa Interministerial MPA/MMA n° 13, de 25/10/2011

(doc. 9), que estabelece em seu art. 5° que “o período de defeso na bacia

hidrográfica dos rios Tocantins e Gurupi será, anualmente, de 1° de novembro a

28 de fevereiro, para todas as categorias de pesca”.

Já a Bacia do Rio São Francisco é regida pela Portaria

IBAMA n° 50, de 05/11/2007 (doc. 10), que fixa em seu art. 1°, § 1°, que “o

período de defeso é anual, de 1° de novembro a 28 de fevereiro”.

Por fim, a Bacia do Rio Paraná é objeto da Instrução

Normativa IBAMA n° 25, de 1°/09/2009 (doc. 11), que também estabelece o

período de 1° de novembro a 28 de fevereiro como período de proteção à

reprodução natural de peixes.

Portanto, as três bacias hidrográficas que banham o

Distrito Federal possuem período de defeso simultâneo (01/09 a 28/02),

redundando na inviabilidade não só normativa, mas também prática do exercício

da pesca artesanal na região em torno do DF, tendo em vista a vasta dimensão

dessas bacias, como se vê nitidamente no mapa abaixo:

Fonte: http://www.cbhparanoa.df.gov.br/mapas.asp

Conclusão idêntica chegou o Ministério da Pesca e

Aquicultura em sua Nota Técnica n° 01/2014 – SFPA-DF/MPA (doc. 6).

Contudo, o foco de divergência entre o MPA e o MTE reside

em dispositivo constante na Instrução Normativa IBAMA n° 25/2009, que no § 2°

de seu art. 1° expressamente exclui o reservatório do Paranoá (Lago Paranoá)

da restrição atribuída à Bacia do Rio Paraná, remetendo ao Distrito Federal a

competência para o ordenamento pesqueiro da região.

À luz dessa ressalva, conclui a Nota Técnica n°

128/2015/CGSAP/DES/SPPE/MTE (doc. 8):

“18. Observa-se, entretanto, que o reservatório do Paranoá não possui o exercício da atividade regulamentado pela IN em comento, não tendo, até o presente momento, período de defeso instaurado em suas águas.”

Ou seja, como o reservatório (Lago) Paranoá não foi

incluído nos períodos de defeso elaborados pelas autoridades ambientais

federais, entende o MTE que os pescadores profissionais do Distrito Federal

atingidos pelas proibições nas bacias dos Rios Tocantins, São Francisco e

Paraná poderiam continuar suas atividades exclusivamente naquele lago sem

qualquer prejuízo à sua manutenção.

Trata-se de uma conclusão falha em diversos aspectos.

De início, segundo informações obtidas com a

SFPA/DF/MPA (doc. 12), o Distrito Federal conta atualmente com 422

(quatrocentos e vinte e dois) pescadores profissionais artesanais

cadastrados no Ministério da Pesca e Aquicultura, em sua maioria exercendo

suas atividades em localidades vizinhas ao DF, que contam com melhor

capacidade pesqueira que os recursos hídricos distritais.

O fato de esses pescadores residirem no DF e exercerem a

pesca em outras localidades não encontra óbice nos regulamentos do MPA, vez

que a identidade profissional tem validade nacional3, e se justifica pela condição

própria do Distrito Federal, unidade da Federação de pequena dimensão

territorial e intensa ocupação humana4.

Ora, concluir que esses quase 500 pescadores, que sequer

se servem usualmente dos recursos hídricos do DF, serão atendidos a contento

apenas pelo Lago Paranoá durante o período de proibição da pesca nas três

bacias da região, é no mínimo uma ingenuidade.

O mapa anexado a esta inicial (doc. 13) revela o

descalabro dessa visão: o Lago Paranoá, de apenas 48 km² e de utilização

3 Art. 2°, IV, da Instrução Normativa MPA n° 6, de 29/06/2012. 4 Segundo dados do IBGE (http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=df), o DF possui 444,66 habitantes/km², sendo a UF com maior densidade demográfica do país, que possui média de apenas 23 habitantes/km².

tipicamente urbana, não tem condições de absorver sequer a demanda dos

demais cursos hídricos do Distrito Federal, que se estendem pelos 5.780 km² de

sua extensão territorial. O que dirá então das atividades pesqueiras exercidas

por centenas de moradores do DF na região do Entorno.

Além dos impedimentos materiais, verificamos também

impedimentos de natureza normativa à exploração pesqueira do Lago Paranoá.

Neste tocante, é notória a confusão instaurada na

legislação distrital quanto ao ordenamento da ocupação e exploração do

território do Distrito Federal, que vêm dando azo à atuação ilícita de grileiros e

outras práticas do gênero. A exploração pesqueira do Lago Paranoá,

infelizmente, não constitui exceção a essa regra. Senão vejamos.

Duas são as leis distritais que tratam do assunto, a Lei n°

3.066, de 22/08/2002 (doc. 14) e a Lei n° 3.079, de 24/09/2002 (doc. 15).

Já na primeira leitura desses diplomas normativos,

sobressai o claro conflito entre suas disposições: enquanto a Lei n° 3.066/02

autoriza a pesca profissional em locais específicos do Lago Paranoá (art. 1°),

a Lei n° 3.079/02, editada um mês após, proíbe integralmente a pesca

profissional no mesmo local (art. 1°).

Segundo o Sistema Integrado de Normas Jurídicas do DF –

SINJ-DF, a Lei n° 3.079/02 teria revogado tacitamente a Lei n° 3.066/02 (doc.

16). Ou seja, atualmente, a pesca profissional não seria permitida no reservatório

do Paranoá.

Ainda que assim não se entenda, a própria lei autorizadora

(n° 3.066/02), em seu art. 4°, estabelece que “só poderá exercer a pesca

profissional no Lago Paranoá, o pescador do Distrito Federal ou de outros

estados da Federação que estiver devidamente filiado à Cooperativa dos

Pescadores do Lago Paranoá – COOPELAP-DF, entidade credenciada no

Departamento de Pesca e Agricultura do Ministério da Agricultura e do

Abastecimento, ou instituição semelhante registrada e domiciliada no Distrito

Federal” (g.n.).

Ocorre que a COOPELAP-DF se encontra há muito

desativada, com baixa de seu registro fiscal na Receita Federal do Brasil por

omissão contumaz (doc. 17). De outro giro, ainda segundo informações

prestadas pela SFPA/DF (doc. 12), não há outra colônia de pescadores com

domicílio no DF em seus registros.

Essa ausência não é de causar espécie: até por exercerem

suas atividades em áreas fora do Distrito Federal, os pescadores aqui

domiciliados estão, em sua quase totalidade, vinculados à Colônia de

Pescadores e Aquicultores sediada em Unaí/MG, cujo estatuto social (doc. 18)

consigna expressamente sua base territorial, abrangendo “o município de Unaí,

Distrito Federal, Natalândia, Cabeceira Grande, Palmital, Ruralminas e todos os

assentamentos das cidades mencionadas” (art. 2°, g.n.).

De qualquer forma, seja sob a proibição estabelecida na

Lei Distrital n° 3.079/02, seja pela inviabilidade prática de atenderem às

condicionantes do art. 4° da Lei Distrital n° 3.066/02, resta claro que os

pescadores domiciliados no DF também não têm meios de exercer regularmente

sua atividade pesqueira no Lago Paranoá.

Em conclusão, a prevalecer a postura adotada pelo

Ministério do Trabalho e Emprego na Nota Técnica n°

128/2015/CGSAP/DES/SPPE/MTE, os pescadores residentes no Distrito Federal

se verão obrigados, durante o período de defeso das bacias que banham o DF, a

sobreviverem da pesca em um diminuto reservatório hídrico (menos de 1% da

área total da UF), intensamente urbanizado, sem sequer clara autorização do

governo local para seu uso (muito pelo contrário).

Trata-se, pois, de evidente negação dos objetivos próprios

do benefício instituído pela Lei n° 10.779/03, que se destina justamente a

assegurar a manutenção dos pescadores artesanais quando sua exploração

econômica é inviabilizada pelo período de defeso na região em que atuam.

Portanto, o primeiro argumento adotado pela mencionada

Nota Técnica evidentemente não deve prevalecer.

III.II – DOS PESCADORES PROFISSIONAIS ARTESANAIS DO DF

Além do exposto no item anterior, a Nota Técnica n°

128/2015/CGSAP/DES/SPPE/MTE também entende incabível o pagamento do

seguro defeso, no caso, por “não haver, na região do Distrito Federal,

pescadores artesanais que vivam, exclusivamente, do exercício da atividade

pesqueira”.

Excelência, a mera leitura do inteiro teor da Nota Técnica já

evidencia que tal alegação não tem qualquer fundamento. Em nenhum ponto do

documento há indicação de fatos concretos que indiquem a ausência de

potenciais beneficiários do seguro defeso nesta Unidade da Federação.

Diversamente ao alegado, o Ministério da Pesca e

Aquicultura informa 422 pescadores artesanais domiciliados no DF

cadastrados no Registro Geral da Atividade Pesqueira – RGP (doc. 12).

Como já dito, a quase totalidade desses pescadores

acabam exercendo sua atividade em outras Unidades da Federação, nos

arredores do Distrito Federal. Mesmo assim, optam por manter residência nesta

UF em razão do elevado nível de desenvolvimento humano local, que

oferece melhor condição de vida para suas famílias que as localidades mais

pobres em que realizam a pesca profissional.

De qualquer forma, é certo que nem todos eles farão jus ao

benefício, pois a Lei n° 10.779/03, com a redação dada pela MPv n° 665/14 (doc.

4), exige ainda o exercício ininterrupto da atividade pesqueira e a inexistência

de outra fonte de renda para sua subsistência (art. 2°, III) como pré-requisitos

ao deferimento do seguro defeso.

Ocorre que a postura adotada pelo MTE impede a

análise dos casos concretos, de forma a distinguir, dentre os 422 cadastrados

no RGP, aqueles que vivam exclusivamente da pesca.

Trata-se, na verdade, de postura eminentemente

preconceituosa daquele Ministério, fundada apenas no local de origem do

requerente, o que agride de morte o princípio da igualdade (art. 5°, caput, da

CF/88).

Evidente, pois, que tal argumento também não deve

prevalecer.

III.III – DAS CONCLUSÕES

Excelência, nos dois itens anteriores, demonstramos como

os argumentos adotados pelo MTE contra o direito dos pescadores do DF ao

seguro defeso de pescadores não se sustentam minimamente.

De um lado, a crença de que os pescadores podem ser

atendidos pelo Lago Paranoá no período de defeso na região esbarra nas

evidentes limitações materiais daquele reservatório, bem como nas vedações da

legislação local à pesca profissional.

De outro, a alegação de inexistência de pescadores

verdadeiramente artesanais no DF carece de qualquer justificativa, e revela o

fundo arbitrário da postura do MTE ao negar sequer a análise concreta dos

pedidos.

Feitas essas colocações, é bom esclarecer que a DPU não

pretende que o Judiciário se substitua ao MTE e conceda indistintamente, a

todos os 422 pescadores artesanais do DF, as parcelas do seguro defeso

negadas por anos naquele Ministério.

Em verdade, o que se busca é que o Judiciário reconheça

que o período de defeso nas bacias regionais que banham o DF efetivamente

prejudica a atividade profissional dos pescadores domiciliados nesta Unidade

Federativa, e, assim, imponha à União (Ministério do Trabalho e Emprego) e

ao Instituto Nacional do Seguro Social (pós vigência da MPV n° 665/14) a

obrigação de analisar individualmente todos os pedidos de seguro defeso

formulados por pescadores do DF, onde eles terão oportunidade de

demonstrar o exercício ininterrupto de sua profissão e a ausência de outra fonte

de renda, perfazendo os requisitos da Lei n° 10.779/03.

Mais ainda, para reparar minimamente os danos já

infligidos a tal parcela da população ao longo dos anos em que se observou a

ilegal vedação, pretendemos também que se obrigue a União a receber,

analisar e eventualmente conceder pedidos de benefícios de pescadores

do DF retroativos aos períodos de defeso dos últimos 5 (cinco) anos, nos

termos do Decreto n° 20.910/32.

III – DOS FUNDAMENTOS (II): DO DIREITO AO ATENDIMENTO NO DF

O segundo pleito que motiva a presente ação civil pública é

uma decorrência lógica do primeiro pleito. Afinal, uma vez reconhecida a

existência de potenciais beneficiários do seguro defeso residentes no Distrito

Federal, impõe-se ao Poder Público a obrigação de criar estruturas de

atendimento aptas a receber pedidos administrativos dessa natureza nesta

Unidade da Federação.

Todavia, o pleito se sustenta em premissas ainda mais

basilares.

Afinal, tal obrigação estatal é consectária dos direitos

fundamentais de informação e de petição em face do Poder Público (art. 5°,

incisos XXXIII e XXXIV, “a”, da CF/88), pelos quais qualquer interessado, ainda

que se entenda não ter direito ao benefício, deve ter garantido o acesso à

negativa formal de seu pleito, até como forma de viabilizar o questionamento

judicial da postura adotada pela Administração.

Não bastante, e como já dito, a Resolução CODEFAT n°

657, de 16/12/2010 (doc. 2), determina em seu art. 5° que “o benefício de

Seguro-Desemprego será requerido na unidade da Federação de domicílio do

pescador artesanal”.

Portanto, além do direito à análise de seu pedido, o

pescador do Distrito Federal interessado no seguro defeso tem o dever de

realiza-lo nesta localidade.

Ocorre que a União, por meio do Ministério do Trabalho e

Emprego, deixou claro seu desinteresse em criar tal estrutura de atendimento no

Distrito Federal, apenas em virtude de sua convicção em torno da ausência de

potenciais beneficiários nesta UF, como se denota da Circular n° 08, de

13/02/2015 (doc. 5):

“4. Considerando que até a presente data não foram identificados os requisitos legais para a concessão do benefício do Seguro-Desemprego Pescador Artesanal na região geográfica do Distrito Federal, não foi identificada a necessidade de qualificar a estrutura de atendimento desta modalidade de benefício no DF, não havendo tempo hábil para fazê-lo até 28/02/2015.” (g.n)

Tal resistência gerou inúmeros constrangimentos aos

pescadores do DF, que não logravam realizar seus pedidos nesta região, por

ausência de agências habilitadas ao seu recebimento, nem outras localidades,

tendo em vista a limitação territorial da mencionada Resolução do CODEFAT.

Isso obrigou muitos a recorrer a endereços de parentes para burlar o óbice

oferecido pela União, expondo-os à responsabilidade penal apenas para verem

realizado um direito que lhes é na Constituição.

Graças à atuação extrajudicial desta Defensoria Pública, o

MTE abriu extraordinariamente uma exceção à sua postura, admitindo apenas

para o período de 2014/2015 o recebimento dos pedidos de seguro defeso de

residentes do DF, porém em agências de outros Estados, onde os pescadores

exercem usualmente sua atividade profissional.

Ora, tal postura revela que a própria União reconhece o

direito de petição dos residentes no Distrito Federal, ainda que discorde do

acesso ao benefício.

Logo, é manifesta a abusividade na resistência em

implantar estruturas de atendimento no DF, ou ao menos capacitar as já

existentes (agências do trabalhador ou, após vigência da MPv n° 655/14, da

Previdência Social), de forma a dar adequado processamento aos pleitos dos

moradores desta Unidade Federativa. Nesse sentido é a jurisprudência do

Tribunal Regional Federal da 1ª Região:

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. REQUERIMENTO DO SEGURO-DESEMPREGO NO PERÍODO DE DEFESO DA ATIVIDADE PESQUEIRA, INSTITUÍDO PELA LEI Nº. 10.779/2003. DIREITO DE PETIÇÃO ASSEGURADO AO PESCADOR. DEVIDO PROCESSO LEGAL. MANUTENÇÃO DO JULGADO. I - Nos termos da Resolução nº. 468, de 21/12/2005, do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador - CODEFAT, que estabelece e consolida critérios para a concessão do Seguro-Desemprego aos pescadores artesanais durante os períodos de defeso, instituído pela Lei nº. 10.779/2003, "o benefício do Seguro-Desemprego, será requerido pelo pescador profissional na categoria artesanal, na Delegacia Regional do Trabalho - DRT, ou no Sistema Nacional de Emprego - SINE, ou ainda, nas entidades credenciadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego - MTE". II - Há de se ver, na espécie, que não se discute sobre a procedência, ou não, do requerimento administrativo que pretendem formular os

representados pela impetrante, pretendendo estes o simples reconhecimento do exercício do direito fundamental de petição (CF, art. 5º, XXXIV) e do devido processo legal (CF, art. 5º, LV), pelo que não merece qualquer reparo o julgado monocrático que determinou à autoridade coatora que receba os requerimentos administrativos do seguro-desemprego (seguro-defeso) dos pescadores profissionais, categoria artesanal, fornecendo-lhes os comprovantes devidos, ou, no caso de não recebimento dos requerimentos, forneça-lhes comprovantes formais acerca da tentativa dos pescadores de requerer o seguro-desemprego (seguro defeso), com apresentação do justo motivo da recusa. III - Remessa oficial desprovida. Sentença confirmada. (TRF1ª Região - REOMS: 12748920134013100. Quinta Turma. Rel.

Des. Fed. Souza Prudente. Data de Publicação: 30/10/2014) (g.n)

Por esses motivos, requer seja a União e o INSS

condenados a implantar estrutura de atendimento para recebimento de

pedidos de seguro defeso no Distrito Federal, ou ao menos capacitar posto

já existente (agências do trabalhador ou da Previdência Social) para tal fim,

no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, de forma a viabilizar aos interessados

no benefício da Lei n° 10.779/03 residentes no DF o exercício dos direitos

plasmados nos art. 5°, incisos XXXIII e XXXIV, “a”, da Constituição Federal.

IV – DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA

O art. 12 da Lei n° 7.347/85 prevê a possibilidade de

concessão de medida liminar em ação civil pública, condicionada, conforme art.

273 do Código de Processo Civil, ao atendimento dos requisitos de

verossimilhança das alegações e fundado receio de dano irreparável ou de difícil

reparação.

No caso, entendemos presentes os dois requisitos, a

justificar a imediata intervenção do Judiciário no caso para tutelar parcialmente

o objeto da demanda.

Afinal, restou demonstrado no item “IV – DOS

FUNDAMENTOS (II)” que atualmente inexistem locais para recebimento de

pedidos de seguro defeso no Distrito Federal.

Pois bem, malgrado a posição da União sobre a

inexistência do direito dos pescadores do DF ao benefício, no mesmo tópico

demonstramos que esses interessados têm, ao menos, o direito de efetuar o

requerimento e receber as razões de eventual negativa, à luz do art. 5°, incisos

XXXIII e XXXIV, “a”, da CF/88.

Ademais, entendemos que a criação de uma estrutura de

atendimento no DF, sobretudo mediante aproveitamento da rede já existente,

seja das agências do trabalhador, seja atualmente das agências da Previdência

Social, não redundará em comprometimento relevante de custos do Poder

Público.

Logo, é evidente que o segundo pleito deduzido nesta ACP

desde já se reveste de verossimilhança.

Quanto ao requisito da urgência, entendemos que a

pendência de julgamento da ação poderá perpetuar o impasse em que se

encontram os pescadores do DF quanto ao exercício de seu direito de petição,

que foi emergencialmente tutelado para o período de defeso de 2014/2015

graças ao disposto na Circular n° 08, de 13/02/2015 (doc. 5).

Ocorre que esse ato administrativo não será observado nos

próximos períodos, sobretudo porque é dirigido apenas às agências ligadas ao

Ministério do Trabalho e Emprego, e a responsabilidade pelo recebimento dos

pedidos passou desde o início deste mês ao Instituto Nacional do Seguro Social,

conforme MPv n° 665/14.

Logo, e diante da notória demora na tramitação de ações

civis públicas, é grande o risco de que, quando do advento do próximo período

de defeso nas bacias hidrográficas que banham o DF e seu entorno, ainda não

haja qualquer posto habilitado do INSS para recebimento de pedidos de seguro

defeso a pescadores residentes no DF.

Tal situação, por certo, inviabilizará inclusive a possibilidade

desses cidadãos de buscarem o Judiciário para questionar individualmente a

negativa administrativa, por absoluta ausência de documento que ateste essa

situação.

Assim, com o objetivo de resguardar provisoriamente, ao

mesmo tempo, o direito de petição e de acesso ao Judiciário dos pescadores

residentes no DF enquanto pendente o resultado final da presente ação, requer

a concessão da parcial antecipação da tutela, de forma a obrigar o

Instituto Nacional do Seguro Social a implantar ou capacitar ao menos uma

agência da Previdência Social do Distrito Federal para recebimento e

análise de pedidos de seguro defeso formulados pescadores residentes

nesta UF, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias.

V – DOS PEDIDOS

Ante o todo exposto, requer a autora:

a) a concessão do pedido de parcial antecipação da

tutela, para obrigar o Instituto Nacional do Seguro Social a implantar ou

capacitar ao menos uma agência da Previdência Social do Distrito Federal para

recebimento e análise de pedidos de seguro defeso formulados pescadores

residentes nesta UF, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, garantindo tal

prestação de serviço até decisão final desta ação;

b) a citação da ré para que, querendo, ofereça resposta no

prazo legal;

c) a oitiva do Ministério Público Federal, nos termos do art.

5°, §1°, da Lei n° 7.347/85;

d) seja, ao final, a presente ação civil pública julgada

procedente quanto ao primeiro pleito (item III), nos seguintes termos:

d.1) para declarar, à vista do benefício da Lei n°

10.779/03, que o período de defeso imposto pelas

autoridades ambientais nas bacias hidrográficas

regionais que banham o Distrito Federal efetivamente

inviabiliza a atividade profissional dos pescadores

artesanais domiciliados nesta Unidade Federativa;

d.2) sucessivamente, à luz do pedido “d.1”, para

condenar a União e o INSS a analisar e, se atendidos

os demais requisitos da Lei n° 10.779/03, conceder os

pedidos de seguro defeso formulados por pescadores

artesanais domiciliados no Distrito Federal, dando-lhes

oportunidade de demonstrar o exercício ininterrupto de

sua profissão e a ausência de outra fonte de renda;

d.3) ainda, e com o objetivo de reparação dos danos

infligidos, condenar a União a receber, analisar e

eventualmente conceder pedidos de benefício de

pescadores do DF referentes aos períodos de defeso

dos últimos 5 (cinco) anos anteriores à propositura da

ação, desde que atendam às demais exigências

documentais constantes na atual redação da Lei n°

10.779/03.

e) seja, ainda, a ação julgada procedente quanto ao

segundo pleito (item IV), confirmando-se o pleito liminar, para condenar a União

e o INSS a implantar e manter estrutura de atendimento para recebimento de

pedidos de seguro defeso no Distrito Federal, ou ao menos capacitar posto já

existente (agências do trabalhador ou da Previdência Social) para tal fim, no

prazo máximo de 60 (sessenta) dias.

Requer, ainda, a observância da intimação pessoal e da

contagem em dobro dos prazos processuais, conforme art. 44, I, da Lei

Complementar n° 80/94.

Por fim, protesta provar o alegado pelos documentos já

anexados a esta inicial e por todos os meios de prova em Direito admitidos.

Confere-se à causa o valor simbólico de R$ 1.000,00.

Nestes termos, pede deferimento.

Brasília/DF, 8 de abril de 2015.

EDUARDO NUNES DE QUEIROZ Defensor Público Federal