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PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO E FORMAÇÃO DE EDUCADORES A história de um projeto que alcança 1,2 milhão de pessoas em todo o Brasil ARTICULAÇÃO DE REDES A força das parcerias para influenciar as políticas públicas Uma década em defesa da Educação e dos direitos dos jovens WWW.ACAOEDUCATIVA.ORG EDIÇÃO COMEMORATIVA 2004

Ação Educativa 10 anos

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Uma década em defesa da produção de conhecimento, formação de educadores e articulação de redes. A história de um projeto que alcança 1,2 milhão de pessoas em todo o Brasil. A força das parcerias para influenciar as políticas públicas. EDIÇÃO COMEMORATIVA 2004

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Page 1: Ação Educativa 10 anos

PRODUÇÃO DECONHECIMENTOE FORMAÇÃO DE

EDUCADORESA história de um projeto

que alcança 1,2 milhão de pessoas em todo o Brasil

ARTICULAÇÃO DE REDES

A força das parcerias para influenciar as

políticas públicas

Uma década em defesa da

Educaçãoe dos direitosdos jovens

WWW.ACAOEDUCATIVA.ORG EDIÇÃO COMEMORATIVA 2004

Page 2: Ação Educativa 10 anos

Janaína Santana, 20 anos, mora em ErmelinoMatarazzo, Zona Leste de São Paulo.

Participa da Ação Educativa desde 1999

FOTO MARCELLO VITORINO

Page 3: Ação Educativa 10 anos

Um esfor ço inven ti vo de fazer da edu ca ção e da juven tu de um

cam po de atua ção e de com pro mis so com a socie da de bra si -

lei ra foi o que nos uniu nes tes dez anos de ati vi da des da Ação

Edu ca ti va.

Cami nha mos jun tos expres san do nos sa indig na ção e bus can do

alter na ti vas para pro du zir as melho res con di ções de pro mo ção e

rea li za ção da vida. Tijo lo com tijo lo em um dese nho mági co

fomos cons truin do nos so espa ço de con vi vên cia e tra ba lho. A

Ação Edu ca ti va foi se mol dan do a par tir dos valo res her da dos da

sua heran ça ecu mê ni ca e dos difí ceis cami nhos para a demo cra cia

e a paz, que só se rea li zam com jus ti ça social.

Nos encon tra mos como tra ba lha do res e tra ba lha do ras nes te

espa ço de pro du zir idéias; uma con fra ria onde os fins não se rea -

li zam inde pen den tes dos meios, onde a pro du ção é fei ta de manei -

ra coo pe ra ti va, valo ri zan do o con fli to e o diá lo go, a expe ri men ta -

ção e a sua sis te ma ti za ção.

O com pro mis so com a qua li da de do tra ba lho uniu-se à von ta de

de pre sen ça no coti dia no da vida dos bair ros da peri fe ria de São

Pau lo, mas tam bém em outras cida des, no con tex to nacio nal e em

espa ços inter na cio nais.

No diá lo go múl ti plo e na inter-rela ção com o mun do aca dê mi -

co, com as orga ni za ções não gover na men tais, com os movi men -

tos sociais e sin di ca dos, com ges to res públi cos, com seto res

empre sa riais, a Ação Edu ca ti va foi tecen do sua tra ma de redes,

par ce rias e com pro mis sos, bus can do ampliar sua influên cia e

esfor ço cola bo ra ti vo na rea li za ção dos seus obje ti vos.

Esta revis ta apre sen ta um balan ço do que foi rea li za do até ago -

ra e lan ça um olhar agu ça do sobre o que ain da pre ci sa ser fei to

para que nos sa mis são pos sa se tor nar rea li da de. Nela visi ta mos

os diver sos tra ba lhos que par ti ci pa mos, reve la mos nos sas alian -

ças, mos tra mos um pou co do que somos e do que que re mos. Por

meio dela que re mos colo car nas mãos dos nos sos lei to res e lei to -

ras um pou co da nos sa his tó ria e ao mes mo tem po con vi dar a

fazer par te do nos so futu ro.

Sér­gio­Had­dad­e­Vera­Masa­gão­Ribei­ro

COOR DE NA DO RES EXE CU TI VOS

Compromisso social

EDITORIAL

Page 4: Ação Educativa 10 anos

2 ação educativa • 2004

Índi

ceEDITORIAL

ARTIGO

AÇÃO EDUCATIVA 10 ANOS

CENTRO DE JUVENTUDE E EDUCAÇÃO CONTINUADA

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO

PESQUISA E AVALIAÇÃO

JUVENTUDE

CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO

ENTREVISTA

PRÁTICAS DE APRENDER

CENTRAL DE SÓCIOS

ENSAIO

PARCEIROS

JUSTIÇA

1

3

4

10

15

16

22

24

28

32

34

38

44

46

52

56

Marilia Pontes Sposito(presidente)

Luiz Eduardo WanderleyNilton Bueno FischerPedro PontualVicente Rodriguez

Nilde Ferreira BalcãoRegina Soares JurkewiczWaldemir Bargieiri

Sérgio Haddad Vera Masagão Ribeiro

Diretoria

Conselho Fiscal

Coordenação executiva

Marques Casara

Fernanda Medeiros

Nilva BiancoMariângela GracianoFabíola Lago

Cláudia VóvioMaria de Fátima FreitasSérgio Haddad Vera Masagão Ribeiro

Fábio Pagotto

Coordenador Editorial

Editora-assistente

Repórteres

Consultores editoriais

Revisor

Pof Design

Fábio Silveira(Ocabrasil design)

George Kimura

Carolina Cunha

Graphbox

Produção de Arte

Tratamento de imagens

Assessor detecnologia

Estagiária

Impressão

AÇÃ0 EDUCATIVA REVISTA AÇÃ0 EDUCATIVA

EXPEDIENTE

Page 5: Ação Educativa 10 anos

32004 • ação educativa

Marilia Pontes Sposito, presidente da Ação Educativa

Dez anos de Ação Educativa: preservar para transformar

Não é tare fa sim ples refle tir sobre os 10 anos de Ação Edu ca ti vapor que, na ver da de, múl ti plas dimen sões estão pre sen tes.

Pode ria, nes te bre ve depoi men to, abor dar a diver si da de de temas ede meto do lo gias que a ins ti tui ção per cor reu nes se perío do e a rique -za da expe riên cia acu mu la da. Pode ria tra tar do seu cres ci men to e oesfor ço cons tan te para per ma ne cer fiel à sua mis são, pro du zin doasses so ria, pes qui sa e infor ma ção. Pode ria dis cor rer mais deti da -men te sobre sua impor tân cia na esfe ra públi ca da socie da de bra si -lei ra na luta por direi tos edu ca ti vos.

No entan to, gos ta ria de assu mir, nes te momen to, a esco lha deape nas dois cami nhos para minha refle xão e, pra ze ro sa men te, cor -rer o ris co de ser par cial, incom ple ta e de expri mir os limi tes daspala vras aqui escri tas.

Mais do que deci dir por um rela to aca dê mi co e polí ti co, opteipelo cami nho da abor da gem estri ta men te pes soal, por tan to, por umaassu mi da sub je ti vi da de. Não creio – e sequer tenho com pe tên cia –que pode rei tra tar de tudo que cons ti tua rele vân cia, ten do em vis ta aaná li se de dez anos tão impor tan tes como esses.

Nas vere das do pri mei ro cami nho vie ram for tes algu mas pala -vras. Pre ser var para trans for mar, essa foi a expres são que me ocor -reu para pen sar, de modo amplo, os desa fios expres sos no momen tode fun da ção da Ação Edu ca ti va, em maio de 1994.

Éra mos todos her dei ros do Pro gra ma de Edu ca ção Popu lar doCEDI, e com os com pa nhei ros daque le momen to vínha mos deuma tra je tó ria com pro me ti da com a demo cra ti za ção, com o con ta -to estrei to com os gru pos popu la res, bus can do for ta le cer a socie -da de civil na luta por um Esta do de direi to no país. Vínha mos,tam bém, de uma tra di ção de defe sa da impor tân cia do Esta do naspolí ti cas públi cas, sobre tu do, edu ca cio nais para jovens e adul tos.Con ce bía mos que essas polí ti cas deviam ser tra ta das como cam pode direi tos sociais e deve riam ser esten di das a todos e todas, semqual quer dis cri mi na ção. Tra ta va-se, assim, em 1994 de pre ser varessa iden ti da de con quis ta da ardua men te por meio de um esfor çocoletivo que já dura va 20 anos.

ARTIGO

Mas havia uma ousa dia pre sen te, pois era neces sá rio tam bémtrans for mar nos sas prá ti cas e for mas de ação, ten do em vis ta as novas deman das, a nova con jun tu ra e as novas exi gên cias sociais epolí ti cas do país. Tor na va-se desa fia dor abrir novos cam pos deinter lo cu ção, cons ti tuin do temas e eixos de ação como a juven tu de eo tra ba lho mais sis te má ti co com as esco las públi cas e seus ato res –pro fes so res, alu nos, pais e demais mora do res dos bair ros.

Era pre ci so, tam bém, res pon der às deman das que nas ce ram dasrela ções de par ce ria entre poder públi co e socie da de civil, sobre tu dopara o cam po das ONGs, na defi ni ção e imple men ta ção de polí ti caspúbli cas sem, no entan to, dei xar de reco nhe cer a impor tân cia da res -pon sa bi li da de do Esta do na con quis ta e pre ser va ção de direi tos.

Essa per ma nen te ten são entre a pre ser va ção e a trans for ma çãomar cou nos sa expe riên cia cole ti va e ins ti tu cio nal nos últi mos anos.A Ação Edu ca ti va insis te em con ser var do pas sa do aqui lo que sig ni -fi ca com pro mis so com a demo cra cia, a igual da de, a jus ti ça e a par ti -ci pa ção de todos na defi ni ção das metas que dizem res pei to às for -mas de vida que alme ja mos alcan çar. Mas assu me com con vic ção odesa fio da mudan ça, dos novos tem pos, das novas prá ti cas e lin gua -gens que pode rão cons truir novas uto pias e cami nhos para uma vidamais jus ta e fra ter na capaz de assi mi lar efe ti va men te a diver si da de.

O segun do cami nho que tri lho, com pou cas pala vras e “todo osen ti men to do mun do”, como diria Dru monnd, é uma vere da semvol ta, sem pre aber ta a novas cami nha das. Esse ata lho cons ti tui opla no dos afe tos, das tro cas e das ami za des. Nes ses dez anos cele -bra mos, tam bém, a soli da rie da de, o con fli to fecun do e a von ta de deestar mos jun tos. Cele bra mos o encon tro de várias gera ções: os quenos ante ce de ram e foram res pon sá veis pela cria ção do CEDI e hojecom par ti lham conos co os ideais de Ação Edu ca ti va; aque les quefun da ram a ins ti tui ção e se incor po ra ram para cons truir a sua mis -são; e a novís si ma gera ção, ino va do ra e capaz de múl ti plas prá ti cascom novas lin gua gens. Cele bra mos, com ale gria e em mui tos pla -nos, a ami za de que anco ra, na acep ção de Aris tó te les, a vir tu de éti -co-polí ti ca do per ten ci men to e da igual da de no con ví vio huma no. •

Mar

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Vit

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o

Page 6: Ação Educativa 10 anos

10 ANOS

A Ação Educativa completa dez anos e vê suas ações difundidas para milhões de pessoas

e justiçaEducação,

Page 7: Ação Educativa 10 anos

No prin cí pio, todos cabiam em duas salas alu ga das no colé gio Sion, no

bair ro pau lis ta no de Higie nó po lis. A AçãoEdu ca ti va ini cia va suas ati vi da des de pes -qui sa e inter ven ção nas áreas de Edu ca ção e

Juven tu de. Dez anos depois, con so li da dacomo uma refe rên cia nacio nal e inter na cio nal

em seus cam pos de atua ção, a enti da de ocu paoito anda res de um pré dio pró prio, loca li za do no

cora ção de São Pau lo. Nes se local atuam cer ca de 100pro fis sio nais dedi ca dos a pro gra mas e pro je tos que já

alcan ça ram milhões de pes soas em todo o país. “Ques tões cha vesda pes qui sa, de polí ti ca públi ca ou prá ti ca peda gó gi ca nas áreasde Edu ca ção de Jovens e Adul tos e Juven tu de pas sam pela AçãoEdu ca ti va”, expli ca o dire tor-secre tá rio da orga ni za ção, Nil tonBue no Fis cher, dou tor em Edu ca ção, pro fes sor do Pro gra ma dePós-Gra dua ção da UFRGS e pes qui sa dor em edu ca ção popu lar.

Foi para dedi car-se a essas áreas que, em 1994, um peque nogru po que atua va no CEDI (Cen tro Ecu mê ni co de Docu men ta çãoe Infor ma ção) deci diu criar uma ONG. Na épo ca, os mem brosdes se gru po per ce be ram que exis tiam mui tas enti da des alfa be ti -zan do e dan do assis tên cia a jovens e adul tos. Fal ta va, con tu do,uma orga ni za ção que tra ba lhas se com maior ampli tu de pelodirei to des sas pes soas jun to ao poder públi co; que pen sas se e pro -pu ses se polí ti cas efe ti vas ou novos mode los edu ca ti vos. A pro -ble má ti ca da juven tu de, por sua vez, come ça va a des pon tar. Não havia cen tros pro du zin do conhe ci men to sobre o tema e apoian do jovens a se cons ti tuí rem como ato res cole ti vos na cena públi ca.

O pro je to que deu ori gem à Ação Edu ca ti va nas ceu no CEDI,sur gi do em 1974 em meio a um país trau ma ti za do pela dita du ramili tar – e que teve papel fun da men tal na pro du ção de conhe ci -men to e na arti cu la ção de gru pos que haviam sido dis per sos pelos órgãos de repres são. Dez anos após a cria ção da ONG, do pré dio

loca li za do no bair ro de Vila Buar que irra dia-se um vigo ro so tra -ba lho de asses so ria, pes qui sa e infor ma ção, que tem a rara vir tu dede unir teo ria e prá ti ca em ações jun to a pes soas que, mui tas vezes, não sabem sequer quais são os seus direi tos peran te o Esta do.

Des de o iní cio, a Ação Edu ca ti va pro mo ve ações que levamseus ideais a todos os can tos do país; for ma edu ca do res de Edu ca -ção de Jovens e Adul tos, ela bo ra mate riais didá ti cos, ana li sa epro põe polí ti cas públi cas, publi ca livros e resul ta dos de pes qui saque são refe rên cias em suas áreas, pres sio na por mudan ças, rea -li za pes qui sas que per mi tem visua li zar melhor o uni ver so dosexcluí dos da edu ca ção públi ca, cha ma os jovens da peri fe ria deSão Pau lo para fir mar par ce rias em pro je tos rea li za dos den tro efora da esco la.

Boa par te das ações está vol ta da à capa ci ta ção de gru pos juve -nis para ela bo rar e imple men tar pro je tos em suas comu ni da des,bus can do ain da for mas de gera ção de empre go e ren da. Os tra ba -lhos em edu ca ção, além de crí ti cos e ino va do res, alcan çam exten -sos e varia dos gru pos popu la res. A cole ção de mate riais didá ti cos­Viver,­Apren­der, lan ça da em 1998, se tor nou um suces so edi to riale supe rou os seis milhões de exem pla res, num país com cer ca de16 milhões de pes soas anal fa be tas com ida de a par tir de 15 anos.A Ação Edu ca ti va ins pi rou e impul sio nou a Cam pa nha Nacio nalpelo Direi to à Edu ca ção e recen te men te criou o Obser va tó rio daEdu ca ção. Todos esses pro je tos estão apre sen ta dos ao lon go des -ta edi ção come mo ra ti va dos dez anos de uma orga ni za ção quenas ceu do sonho de um peque no gru po de edu ca do res eque, hoje, orgu lha-se de ocu par um lugar de des ta -que na socie da de bra si lei ra. A gran de capa ci da dede rea li za ção da Ação Edu ca ti va resul ta doempe nho de sua equi pe e da con fian ça deuma ampla rede de cola bo ra do res eapoia do res, par cei ros nacio nais e inter -na cio nais.

Educação, juventudee justiça social

e justiça socialEducação, juventude

e justiça socEducação, juventud

em todo o Brasil. Tornou-se uma das principais referências em Educação e Juventude.

FOTOS: MARCELLO VITORINO

socialjuventude

Page 8: Ação Educativa 10 anos

Juventude e EducaçãoA cons ti tui ção da área pro gra má ti ca

de Juven tu de foi a gran de novi da de emrela ção ao que a equi pe já fazia noCEDI. Vera Masa gão, coor de na do ra depro gra mas da Ação Edu ca ti va, lem bradaque le tem po: “Vivía mos a épo ca dos caras-pin ta das. Per ce be mos que os jo -vens vinham pro ta go ni zan do de for mainten sa não ape nas movi men tos, mastam bém pro ble mas sociais, sen do mui -tas vezes iden ti fi ca dos de for ma equi vo -ca da como os cau sa do res de pro ble mascomo a vio lên cia. Nes tes 10 anos, pode -mos dizer que esta mos abrin do cami -nhos e sis te ma ti zan do expe riên cias nes -ta área, pois ela ain da é emer gen te, tan to no cam po das polí ti caspúbli cas quan to no de for ma ção de jovens”.

A Ação Edu ca ti va já for mou e apoiou mais de 100 edu ca do resna rea li za ção de pro je tos com jovens em esco las e comu -

ni da des de peri fe ria. Os desa fios pas sam pela cria -ção de canais de comu ni ca ção e enten di men to

do jovem com a esco la e pelo for ta le ci men toda sua capa ci da de de ação cole ti va. Para

isso, a ONG apóia a for mu la ção e exe cu -ção de pro je tos de gru pos juve nis e esti -mu la a refle xão sobre o espa ço esco lar.É o que acon te ce, por exem plo, no

pro je to “Cul tu ras Juve nis e Esco la”,que resul tou em gru pos de dis cus são eno lan ça men to de um vídeo e de um livro sobre o tema. “Tam bém nos preo -cu pa mos em apoiar pro je tos que setrans for mem em alter na ti vas de gera -ção de ren da. Des de 2003, esta mos ten -tan do via bi li zar um fun do de finan cia -men to para auxi liar os jovens a colo carseus pro je tos em prá ti ca”, diz Vera.

Na área de Edu ca ção de Jovens eAdul tos, cer ca de um milhão e duzen -tas mil pes soas já foram envol vi dasdire ta ou indi re ta men te noss pro gra masda enti da de, como asses so rias, cur sos,ofi ci nas cul tu rais e semi ná rios. Esta

mul ti dão é com pos ta de ges to res de polí ti cas, equi pes téc ni cas eedu ca do res for ma dos pela Ação Edu ca ti va e pelos cida dãos alfa -be ti za dos em pro gra mas gover na men tais ou ini cia ti vas da socie -da de civil. Esses pro fes so res tam bém rece bem for ma ção na sededa Ação Edu ca ti va, em São Pau lo, fun cio nam cur sos expe ri men -tais de edu ca ção de jovens e adul tos.

Boa par te das ações nes ta área se desen vol ve na Zona Les te deSão Pau lo, onde está con cen tra da uma expres si va fatia dos 383mil anal fa be tos com mais de 15 anos regis tra dos na cida de. Paraensi nar pes soas que já pos suem uma ampla expe riên cia de vida,um dos dife ren ciais da cole ção Viver,­Apren­der é con si de rar abaga gem cul tu ral rica e diver sa des sas pes soas.

10 ANOS

6 ação educativa • 2004

Vera Masagão

1995Nossahistória 1996 1997

1994

• Início do trabalho deassessoria sistemática ao Fórum de Educação da Zona Leste.

• Elaboração da PropostaCurricular Para Educação de Jovens e Adultos,publicada em co-edição com o MEC e a Unesco.

• Começo do trabalho deelaboração de materialdidático para séries iniciais de EJA.

• Finalização da Pesquisasobre AnalfabetismoFuncional na Cidade de São Paulo, compublicação de relatório.

• Informatização de mais de13 mil registros do Centro deInformação e Documentação.

• Início da publicação do boletim Informação em Rede.

• Fundação da Ação Educativa.• Início do projeto“Participação Popular naGestão Escolar”.

• Ação Educativa formuladocumento de subsídio àsdiscussões sobre políticanacional de Educação Básicade Jovens e Adultos para a Divisão de Educação deJovens e Adultos do MEC.

• A convite do UnescoInstitute for Education (UIE),Sérgio Haddad desenvolve a monografia brasileira quecompõe um estudocomparativo internacionalsobre legislação e política de educação e capacitaçãode adultos.

• Eleição de FernandoHenrique Cardoso para aPresidência da República(1995-1998).

• Início do projeto“Monitoramento da Ação do Banco Mundial no Setor Educacional”.

• Ação Educativa assume acoordenação da Rede de Apoioà Ação Alfabetizadora noBrasil (RAAAB).

• Assessoria à equipe deEducação de Jovens e Adultosda Secretaria de Educação doEstado de Mato Grosso.

• Início da Pesquisa sobreAnalfabetismo Funcional naCidade de São Paulo,coordenada pela Unesco.

• Aprovação da nova Lei deDiretrizes e Bases daEducação e início doestabelecimento dos PCN –Parâmetros CurricularesNacionais.

• Criado o Conselho Nacional de Educação.

• Ação Educativa conclui aproposta curricular para asséries iniciais do EnsinoFundamental de Educaçãode Jovens e Adultos.

• Estruturação do grupoSolidária Idade, compostopor estudantes secundaristasde São Paulo, com o objetivode desenvolver ações deorganização juvenil para a solidariedade.

• O Governo Federal lança oprograma AlfabetizaçãoSolidária.

• Aprovação da EmendaConstitucional 14/96, quemodifica o artigo 108 daConstituição, retirando aobrigação do Estado degarantir a oferta universal deEducação Fundamental deadultos.

Page 9: Ação Educativa 10 anos

72004 • ação educativa

Políticas públicasA ava lia ção e o apoio à for mu la ção de

polí ti cas de edu ca ção de jovens e adul -tos e juven tu de são outras prá ti cas cons -tan tes da Ação Edu ca ti va, que trans pa -re cem no pro gra ma Obser va tó rio daEdu ca ção e na área de Pes qui sa e Ava -lia ção. Por meio des ta últi ma, a ONGpar ti ci pa atual men te do levan ta men to“Ju ven tu de, Esco la ri za ção e Poder Local”, que rea li za rá até 2005 uma aná -li se das polí ti cas públi cas de Juven tu dee Edu ca ção de Jovens e Adul tos nasprin ci pais regiões do país. Já o Obser va -tó rio acom pa nha as polí ti cas públi cas eana li sa a cober tu ra fei ta pela mídia, como obje ti vo de ampliar a par ti ci pa ção social na dis cus são dos direi tos rela cio na dos à edu ca ção e juven tu -de.

Na sede da Ação Edu ca ti va fun cio nam ain da o Cen tro de Juven -tu de e Edu ca ção Con ti nua da, que ofe re ce ser vi ços e uma pro gra -ma ção cul tu ral conec ta da com os movi men tos sociais emer gen tes,e o Cen tro de Infor ma ção e Docu men ta ção, que pos sui o maioracer vo de refe rên cia em EJA e Juven tu de da Amé ri ca Lati na, com15 mil docu men tos e teses dis po ní veis para con sul ta pre sen cial ouatra vés do site da enti da de, no ende re ço www.acaoe­du­ca­ti­va.org.­

“Acre di to que a gran de mar ca da Ação Edu ca ti va é jus ta men te apro du ção e dis po ni bi li za ção de conhe ci men tos que sub si diem aarti cu la ção e a ação dos ato res da socie da de bra si lei ra”, diz a pre si -

den te da instituição, Mari lia Pon tes Spo -si to. Pluralidade

Marília completa: “a Ação Educativacresceu ao longo destes anos mantendouma fecunda combinação entre pro-dução de in for mação e conhecimento ecapa cidade de intervenção no espaçopúblico, a partir de um ponto de vistacrítico e propositivo da sociedade civilorganizada. É bom ver que uma multi-plicidade de atores do campo de edu-cação e juventude nos enxergam comoum espaço de diálogo e convivência”.

Man ter a plu ra li da de nas inter lo cu -ções é uma meta e um desa fio para aAção Edu ca ti va, enfa ti za o coor de na dor

exe cu ti vo Sér gio Had dad. “Não pode mos ser um bra ço do Esta donem de inte res ses cor po ra ti vos. À medi da que fica mos mais reco -nhe ci dos, somos mais deman da dos e isso exi ge um cri té rio cadavez maior na sele ção de um cor po téc ni co de exce lên cia.”

Alcan çar o desen vol vi men to sus ten ta do, com um grau menor dedepen dên cia de agên cias inter na cio nais de coo pe ra ção e finan cia -men to é outro obje ti vo da orga ni za ção, que em 2001 rea li zou suapri mei ra cam pa nha para con tar com sócios man te ne do res. “For maruma base de sócios é impor tan te para aumen tar nos so res pal do jun -to à socie da de”, afirma Mari lia Spo si to. Olhar para trás, na sua opi -nião, aju da a cons truir esse futu ro. “Ver tudo o que fize mos me dei -xa mui to feliz. A sen sa ção que eu tenho é a de que a Ação Edu ca ti va

Sérgio Haddad

1998• Ação Educativa assume a coordenação das ONGsbrasileiras filiadas ao CEAAL(Conselho de Educação deAdultos da América Latina).

• Publicação de Democracia: umaGrande Escola – Alternativas deApoio à Democratização daGestão e à Melhoria daEducação Pública, guia paraequipes técnicas produzido porElie Ghanem e co-editado pelaUnicef e Fundação Ford.

• Criação do Centro de Referênciapara Jovens de Santo André, em parceria com a prefeitura da cidade.

• Lançamento do site da Ação Educativa.

• Implantação do Fundef.• Criação do ENEM.• Reeleição de FernandoHenrique (1999-2002)

1999• A União Européia aprovarecursos para a implantaçãodo Centro de Juventude eEducação Continuada.

• Ação Educativa aumenta em mais de 100% oatendimento a educadoresde jovens e adultos.

• Início da CampanhaNacional pelo Direito àEducação, da qual a AçãoEducativa foi uma dasimpulsionadoras.

• Realização de pesquisasobre a municipalização doEnsino Fundamental e osimpactos da implementaçãodo Fundef no Estado de São Paulo.

• O site da Ação Educativa,que oferece uma base dedados com 12 mil registrosbibliográficos, atinge 150mil acessos no ano.

2001• Criação dos programas“Novos Sentidos daEducação Escolar” e“Observatório da Educação”.

• Criação do IndicadorNacional de AlfabetismoFuncional e organização do I Seminário Internacionalsobre Alfabetismo, emparceria com o InstitutoPaulo Montenegro.

• Implementação, em parceriacom o Instituto PauloMontenegro, do projetoNossa Escola Pesquisa Sua Opinião (NEPSO), paraincentivar o uso da pesquisade opinião como ferramentapedagógica nas escolas de Ensino Médio.

• Realização da primeiracampanha para conquistarsócios mantenedores.

2000• Compra do prédio-sede na Vila Buarque.

• Início do projeto “Integrarpela Educação” em escolasda Zona Leste de São Paulo.

• O livro 1 da coleção Viver, Aprender atingetiragem de cinco milhões de exemplares.

• Ação Educativa desenvolveas pesquisas “O Perfil deAlunos Jovens”, “Pesquisasobre OrganismosGovernamentais de Políticasde Juventude” e coordena apesquisa “Violência, Aids eDrogas nas Escolas”, da Unesco.

• Criação do ProgramaNacional do Livro Didático.

e justiça socialEducação, juventud

Page 10: Ação Educativa 10 anos

“é uma idéia que deu cer to”.

Meu envolvimento com a Ação Educativa na verdade vem desde ostempos do CEDI, de querida e saudosa memória. Em 1969 fugi da

repressão, mudando de Goiânia para o Rio de Janeiro. Fui procurado peloJether Pereira Ramalho, do então Centro Ecumênico de Informação. Foramgrandes tempos, de um longo e duro aprendizado. Trabalhávamos muitocom educação popular naqueles anos de ditadura. Muitas viagens, trocas,assessorias entre igrejas da Teologia da Libertação, depois trabalhospróximos a Paulo Freire, um grande amigo de todos nós.

Quando a Ação Educativa nasceu, muito chão já havia sido percorridopor seu pai-e-mãe, o CEDI. A Ação Educativa chegou para dar continuidadee aprofundamento a esse trabalho iniciado na educação popular e com aassessoria a igrejas e movimentos populares. Depois cresceu e sediversificou, perdeu forças em alguns planos, superou outros, estabeleceunovos vínculos e, sobretudo, firmou uma presença dentro e fora doscenários da educação, de uma enorme relevância.

É uma das unidades de ação social mais inteligentes, presentes e criativasque eu conheço. Acho que o mais visível, na Ação Educativa, é a junção deuma prática pensada em alto nível com ações inteligentes e oportunas. Umvínculo não restrito e, sobretudo não ‘da moda’, não episódico com áreas e

8 ação educativa • 2004

• Ação Educativa foiconvidada a integrar o grupo responsável pelaestruturação do ConsórcioSocial da Juventude nacidade de São Paulo.

• Lançado o livro PolíticasPúblicas: Juventude emPauta, em co-edição com a Fundação Friedrich Ebert e a Cortez Editora.

• A área de Políticas Públicasde Educação de Jovens eAdultos assina convênio decooperação com o InstitutoNacional de Colonização eReforma Agrária (INCRA)para avaliação do ProgramaNacional de Educação naReforma Agrária(PRONERA).

• Inicia, por meio de umaconsultoria para a Unesco, o desenvolvimento de umsistema de avaliação para o programa BrasilAlfabetizado, do MEC.

• Ação Educativa é nomeadapara compor a ComissãoNacional de Alfabetização,órgão assessor da SecretariaExtraordinária deErradicação doAnalfabetismo do MEC para o desenvolvimento do Programa BrasilAlfabetizado.

10 ANOS

Depoimentos

Car los Rodri gues Bran dão, pro fes sor da Uni camp, sócio-fun da dor da Ação Edu ca ti va

( Car

los)

2002• Realização da 2ª edição doIndicador Nacional deAlfabetismo Funcional.

• Ação Educativa engaja-se napesquisa “Juventude,Escolarização e Poder Local”,junto com pesquisadores de 10 universidades.

• Criação do Circuito Vila Buarquede Educação e Cultura.

• O site da Ação Educativaregistra 318 mil acessos emais de nove mil downloads daversão eletrônica do boletimInformação em Rede.

• Ação Educativa conquista o 1ºlugar no concursoEmpreendedor Social,promovido pela AshokaEmpreendimentos Sociais eMcKinsey & Co.

• Luiz Inácio Lula da Silva éeleito para a Presidência daRepública (2003-2006).

2003• O Centro de Juventude e Educação Continuadaimplanta o Centro deInternet.

• O consórcio formado pelaAção Educativa e peloCentro de Investigación Y Difusión Poblacional deAchupallas, do Chile foi ovencedor do concurso para realizar a pesquisa“Experiencias de inclusiónsocial con jóvenes desectores carenciados en las MERCOCIUDADES”, na qual foram levantadas e analisadas experiências de inclusão de jovens em 51 cidades de seis paíseslatino-americanos.

Page 11: Ação Educativa 10 anos

e justiça socialEducação, juventude ”92004 • ação educativa

questões realmente relevantes. A Ação Educativa tem umapresença ao mesmo tempo criativa e competente.”

Lembro que desde a infância nós tínhamos um grupinhoaqui no Parque Bristol que gostava de fazer as coisas.

Quando estávamos com uns oito anos o bolo do Dia daCriança virou tradição... passávamos de casa em casapedindo ovos, farinha e leite, levávamos para uma das mãesfazer e logo tinha uma fila de crianças na porta esperandopara receber um pedaço.

Em 1998 conhecemos outros jovens que tinham suasfamílias inseridas no movimento de moradia, nos juntamos e, em 1999, formamos a Posse, Poder e Revolução. Foi apartir desse grupo que a Ação Educativa nos convidou aparticipar do projeto ‘Culturas Juvenis Educadores eEscolas’, no qual resgatávamos e discutíamos nossasexperiências na escola. Esse projeto foi decisivo para quepensássemos nas mudanças que queríamos promover nobairro, para a valorização da nossa arte, fortalecimento dasações e qualificação das reflexões, especialmente sobreeducação, juventude e elaboração de projetos.

Em 2000, nós do ‘Culturas Juvenis’ formamos o grupoEducação, Ritmo e Rua, e produzimos o vídeo ‘Além daLousa, Culturas Juvenis – Presente!’, um dos produtos desteprojeto, e começamos a fazer oficinas e palestras emescolas, igrejas e comunidades. Em 2003 fui convidada pelaAção Educativa a ser estagiária no projeto ‘Jovens e AçãoCultural Local’. Continuo também no coletivo jovem doParque Bristol, que agora se chama Núcleo Cultural Poder eRevolução e está inaugurando a Maloca Espaço Cultural,com uma biblioteca comunitária.

Para o futuro, estou em dúvida entre fazer um mestrado ou talvez outro curso de graduação. Mas quero continuartrabalhando com educação e juventude, minha paixão. A Ação Educativa foi muito importante em tudo isso porqueme trouxe a descoberta, o incentivo, as ferramentas – e a

credibilidade. É um lugar diferente, um dos poucos onde asportas estão sempre, literalmente, abertas à juventude."

Em 1992 eu era mais um Office-boy vindo da periferia, da região de Capão Redondo, e envolvido com a

cultura hip-hop. Foi quando conheci algumas pessoas doCEDI. Eu não tinha idéia, na época, da importância dos projetos que eles desenvolviam...

Desde então, antes mesmo da criação da AçãoEducativa, nossa relação vem sendo de parceria. Em 1996 participei das discussões do projeto “SolidáriaIdade” e representei o Brasil no congresso dosChangeMakers, na Noruega. Hoje integro a organização desta ação coletiva que é aSemana de Cultura Hip-Hop, um evento que dá voz eespaço aos hiphopers e jovens da periferia.

Todas essas atividades se somaram e contribuíram para outros projetos meus, sempre ligados ao universo dohip-hop: palestras, oficinas, eventos e recentemente,intercâmbios com artistas franceses e alemães interessadosem saber como o hip-hop se manifesta aqui. Dos EUA à Europa e em todo o mundo, ele vem dando voz aosjovens. No Brasil, é um grande aliado da reflexão sobrenossa realidade sócio-cultural.

Em 2003 me convidaram a fazer parte do grupo de sócios estatutários da Ação Educativa. Isso para mimsignifica uma grande responsabilidade, mas ao mesmo tempo me faz um cara muito feliz, por ter apossibilidade de continuar participando de iniciativas para a juventude.” •

Maria Nil da Mota de Almei da, 25 anos, for ma da em Letras, é poe ta, fun da do ra do Núcleo Cul tu ral Poder e Revo lu ção e esta giá ria da Ação Edu ca ti va.

Car los Alber to Alves de Sou sa, 30, MC do gru po Con clu são, é mem brofun da dor da pos se Con cei tos de Rua, estu dan te de Ciên cias Sociaisna PUC-SP e sócio esta tu tá rio da Ação Edu ca ti va des de 2003.

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para todos10 ação educativa • 2004

Aprendizado e cultura

ESPAÇO DA DIVERSIDADE

O Centro de Juventude e Educaçãocontinuada recebe 15 mil pessoas porano e é uma dasfaces mais visíveis da Ação EducativaFOTOS: MARCELLO VITORINO

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112004 • ação educativa

Éum sába do de mar ço, o céu des pe ja des -de manhã zi nha uma chu va fria sobre

São Pau lo e a sede da Ação Edu ca ti va estámovi men ta da como sem pre. No segun do andar do pré dio, um peque no gru po dis cu teo Fórum Social Mun dial. No pri mei ro andar, risos e con ver sa ani ma da: é a tur ma de jor -na lis tas que toda sema na fre qüen ta o cur sode reda ção ofe re ci do pelo sin di ca to da cate -go ria. Do outro lado do cor re dor, ani ma çãonão é um esta do de espí ri to mas o tema daofi ci na que um gru po de rapa zes acom pa -nha, aten to. No Cen tro de Inter net, logoabai xo, os rapa zes e moças do Cen tro de Mídia Inde pen den te con ver sam em voz bai -xa, enquan to Wil liam, que é mora dor de rua,aces sa a Inter net. Des cen do mais um lan cede esca das, no audi tó rio, o rap per Dime norpar ti ci pa de um gru po de dis cus são sobrejuven tu de e tra ba lho.

Diver si da de é uma boa pala vra para des -cre ver o Cen tro de Juven tu de e Edu ca çãoCon ti nua da da Ação Edu ca ti va. Ele é aface mais visí vel da enti da de, já que ofe re -ce ser vi ços à popu la ção e a outras orga ni -za ções. “A idéia é que outros movi men tos sociais pos sam uti li zar essa estru tu ra”, dizo coor de na dor Anto nio Eleíl son Lei te. Esses ser vi ços incluem a ces são e loca çãode espa ços como salas de aula, de reu niõese audi tó rio, cur sos de alfa be ti za ção, Cen -tro de Inter net e uma pro gra ma ção que pri -vi le gia a con vi vên cia, a for ma ção e a difu -são cul tu ral. Por meio do Cen tro, a AçãoEdu ca ti va tam bém orga ni za e inte gra aSema na de Cul tu ra Hip-Hop e o Cir cui toVila Buar que de Edu ca ção e Cul tu ra, doiseven tos que já entra ram para o calen dá riocul tu ral da cida de.

Em 2003 pelo menos 15 mil pes soaspas sa ram pelo Cen tro de Juven tu de e Edu -ca ção Con ti nua da para apren der, refle tir,dis cu tir, se diver tir. Espe cial men te aossába dos, quan do a pro gra ma ção é maisinten sa, pas sam por ali edu ca do res, jovensde movi men tos sociais, inte gran tes de outras enti da des de mobi li za ção social,pes qui sa do res. A meta, diz o admi nis tra dordo espa ço, Adria no José, é popu la ri zá-lo,

Page 14: Ação Educativa 10 anos

fazen do com que tam bém os mora do res da região e os alu nos doscur sos de alfa be ti za ção (que fun cio nam duran te a sema na no pré -dio) usu fruam da agen da cul tu ral.

UsuáriosWil liam Rober to de Mace do, que todos os dias vai ao Cen tro

de Inter net, se encai xa nos dois per fis. O jovem de 26 anos pra ti -ca men te ado tou a Ação Edu ca ti va como lar des de 2002, quan docur sou a tur ma de pós-alfa be ti za ção, cor res pon den te à 3ª e 4ª séries. “Quan do menos espe ra va, rece bi cari nho e apoio aqui”,diz. Os olhos ficam mare ja dos ao repe tir sua his tó ria: mora na ruades de os 14 anos, foi vicia do em dro gas, é ex-deten to, ex-empa -co ta dor de super mer ca do, há cin co anos desem pre ga do. Quan doencon tra vaga dor me nos alber gues da região, mas quan do eles estão lota dos, o mais fre qüen te, pas sa as noi tes embai xo de umvia du to. Os docu men tos que traz con si go – RG, CIC e car tei ra dereser vis ta – não lhe fran queiam a con di ção de cida dão. Wil liamquer reto mar os estu dos em uma das esco las da região, mas temmedo da dis cri mi na ção. Espe ra que o Cen tro de Juven tu de e Edu -ca ção con ti nua da mon te uma tur ma de 5ª série.

Se Wil liam pro cu rou a Ação Edu ca ti va por que pre ci sa va de aju -da, os uni ver si tá rios Rhat to, Carol, Eli sa, Klé ber, Mar ce lo e Pen ralo fize ram por que viram ali uma con ver gên cia de ideais. Eles par ti -ci pam da rede inter na cio nal Cen tro de Mídia Inde pen den te e sãopar cei ros da enti da de na manu ten ção do Cen tro de Inter net, ondeos sete com pu ta do res são reci cla dos e os soft wa res de uso livre.“Este é um espa ço de con vi vên cia para jovens que par ti ci pam demobi li za ção social”, diz Eleíl son. “Aqui qual quer pes soa podepro du zir notí cias e difun di-las”, com ple men ta Rhat to, 22.

Quem pen sa que tudo não pas sa de papo fura do pode entrar nosite do gru po (www.midiain de pen den te.org). Inva sões de pré -dios, pas sea tas anti glo ba li za ção, pro tes tos de estu dan tes, acam -pa men tos de sem-ter ra, qual quer cida dão pode publi car ali seuarti go, maté ria ou vídeo sobre movi men tos sociais, como fazemos garo tos e garo tas do CMI, sem pre muni dos de câme ras digi -tais. Todos os sába dos, eles “ batem pon to” na Ação Edu ca ti vapara deci dir as pró xi mas pau tas. A mon ta gem de uma web rádioda Ação Edu ca ti va deve ser a pró xi ma par ce ria entre o Cen tro deJuven tu de e Edu ca ção Con ti nua da e os jovens do CMI

.Agenda Cultural

Ação e refle xão por um mun do melhor tam bém estão em focona pro gra ma ção do Cen tro. A agen da, bimes tral, pro mo ve ofi ci -nas, deba tes, mos tras de vídeos, expo si ções foto grá fi cas e con fe -rên cias. Em mar ço e abril, por exem plo, o tema elei to foi ”Urgên -cia das Ruas”, sobre a apro pria ção do espa ço públi co peloscida dãos. “Como esta mos no olho do fura cão, per ce be mos as ten -dên cias e as refle ti mos na pro gra ma ção do Cen tro, sem pre prio ri -zan do a for ma ção de agen tes sociais”, afir ma Eleíl son.

Já o Cir cui to Vila Buar que de Edu ca ção e Cul tu ra nas ceu dabus ca de rela cio na men to com as mui tas enti da des e espa ços cul -tu rais que fun cio nam na região. Só no qua dri lá te ro entre as RuasAma ral Gur gel, Jagua ri be, Con so la ção e a Ave ni da Angé li ca, obair ro pos sui mais de uma deze na de ins ti tui ções como biblio te -cas, esco las, tea tros, uni ver si da des e cen tros de cul tu ra, do SescCon so la ção ao Tea tro da USP, da Biblio te ca Mon tei ro Loba to aoMac ken zie. “Quan do muda mos para cá nos demos con ta des sagran de ofer ta e pen sa mos: vamos nos jun tar e criar uma pro gra -ma ção”, con ta Eleíl son, que repre sen ta a Ação Edu ca ti va nocomi tê de orga ni za ção do Cir cui to.

Coor de na do pelo pro fes sor e crí ti co Loren zo Mam mi, o even toacon te ce duas vezes por ano, no outo no e na pri ma ve ra, dura umasema na e ele ge um tema cen tral sobre os quais todos os espa ços

Nononon nononoon nonono nononononononoon

Eleílson Leite,coordenador do Centro:

formação de agentes sociais

ESPAÇO DA DIVERSIDADE

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O Centro de Juventude e Educação Continuada é a face mais visível da Ação Educativa:

Page 15: Ação Educativa 10 anos

estru tu ram suas pro gra ma ções. O obje ti vo é dar-lhes visi bi li -da de e pro mo ver o diá lo go e a refle xão cul tu ral na região.

O pri mei ro cir cui to, em abril de 2002, inti tu la do “ Genius Loci– O Espí ri to do Lugar”, vol tou-se às artes plás ti cas e reu niu maisde 30 inter ven ções artís ti cas no bair ro, mui tas delas no espa çopúbli co. Na Segun da edi ção, “Tea tro aqui? Onde?”, em outu brode 2002, o des ta que foi para a gran de ofer ta de pal cos da região;em maio de 2003, “Ins tan tâ neo Cole ti vo” abor dou a foto gra fia,com mos tras e pales tras. Já o 4º Cir cui to Vila Buar que de Edu ca -ção e Cul tu ra, em novem bro, pro pôs uma apro pria ção do espa çodo Ele va do Cos ta e Sil va, o Minho cão, pro mo ven do cami nha das,dis cus sões com arqui te tos, artis tas e jor na lis tas e pro je ções de vídeos no espa ço públi co, além de uma série de even tos para le los.

Eleíl son diz que não exis te a pre ten são de trans for mar o Cir cui -to Vila Buar que num gran de even to ou de rea li zar ações dire tas derevi ta li za ção da região. “É antes de tudo um meio de nos rela cio -nar mos, aca ba dan do ori gem a outras par ce rias entre as enti da desque o inte gram.”

AtitudeNo pas sa do, a pos se do escra vo pelo “dono”; hoje, a luta pela

pos se de seus direi tos. Pos se: é assim que se auto de no mi nam osmovi men tos de hip-hop Bra sil afo ra. Nada a ver com o rap de

buti que dos clips de TV, mas com o que bro ta espon ta nea men tenos bair ros de peri fe ria de São Pau lo, Rio ou Por to Ale gre, onde épra ti ca men te impos sí vel sepa rar mani fes ta ção artís ti ca de açãoafir ma ti va, cul tu ra de pro tes to, rap, break e gra fi te de mobi li za -ção social . Em 2001, a Ação Edu ca ti va se uniu a algu mas dasprin ci pais pos ses de São Pau lo para criar a Sema na de Cul tu raHip-Hop, hoje um dos prin ci pais even tos des te cená rio no país.

“Des de o iní cio sem pre tra ba lha mos com gru pos juve nis deperi fe ria liga dos a pos ses, e eles deman da vam a rea li za ção de umeven to que abor das se o uni ver so do hip-hop em toda a sua com -ple xi da de e rique za”, expli ca Anto nio Eleíl son Lei te, coor de na -dor do Cen tro de Juven tu de e Edu ca ção Con ti nua da. Foi assimque nas ceu a Sema na de Cul tu ra Hip-Hop, total men te orga ni za da pelos mem bros de pos ses pau lis ta nas.

A pre mis sa da sema na, que este ano acon te ce de 26 a 30 de julho, é dar espa ço às três ver ten tes do hip-hop: o gra fi te, a dan ça( break, dan ça do pelos B. Boys) e a músi ca (rap – rhythm & poetry, fei to pelos MCs e DJs). “A maior par te dos even tos de hip-hop hoje des ta ca ape nas o rap, da mes ma for ma que a impren sa, eisso vem tiran do espa ço das outras mani fes ta ções”, rei te ra oadmi nis tra dor do Cen tro, Adria no José.

Na pro gra ma ção de 2003, além das ofi ci nas com MCs, DJs,B.Boys e gra fi tei ros, foram rea li za dos cur sos, mos tra de vídeos,expo si ção foto grá fi ca e deba tes sobre temas como lite ra tu ra mar -gi nal, pro du ção fono grá fi ca e sis te ma de cotas nas uni ver si da -des. Um públi co de cer ca de 2.500 pes soas par ti ci pou dos even -tos, inclu si ve dos cin co dias de shows no Sesc Con so la ção. “ASema na é um suces so na medi da em que con se gue mobi li zar aspos ses, as pes soas que real men te inte gram a cul tu ra hip-hop nacida de”, diz Eleíl son.

Rodri go de Oli vei ra Vicen te, o rap per Dime nor, 25, acre di ta queo even to con tri bui pri mor dial men te para o enten di men to das pes -soas sobre o que é o hip-hop. “O pes soal tem que tomar cui da docom o que assis te na TV. Cada vez mais se usa ele men tos do hip-hop para ali men tar o con su mis mo e a alie na ção”, adver te Dime -nor, que conhe ceu a Ação Edu ca ti va por meio das ofi ci nas deJuven tu de rea li za das no seu bair ro, o Par que Bris tol (Zona Sul).

Liga do a Pos ses des de 1989, atual men te ele inte gra o movi -men to Enrai za dos, sur gi do no Rio de Janei ro e que pos sui umgru po ati vo em São Pau lo. De segun da a sex ta Dime nor/Rodri go

Rodri go de Oli vei raVicen te, o rap perDime nor, trabalha em uma empresa derefrigeração e nosfins de semanaministra oficinas na Zona Sul de São Paulo

espaço para jovens que participam de mobilizações sociais

Page 16: Ação Educativa 10 anos

14 ação educativa • 2004

tra ba lha numa empre sa de refri ge ra ção; nos fins de sema napar ti ci pa de gru pos de dis cus são na Ação Edu ca ti va, minis -tra ofi ci nas nas esco las do bair ro ou se apre sen ta com seugru po, Pâni co Bru tal, em cen tros comu ni tá rios da peri fe ria,abri gos e even tos. E ain da se pre pa ra para ten tar o ves ti bu larpara Ciên cias Sociais – afi nal, acre di ta que a edu ca ção é fator fun da men tal para a pos se de seu futu ro.

AlfabetizaçãoGló ria conta que os dois ex-mari dos eram mui to ciu men -

tos; já os pais trou xe ram a famí lia do Para ná para São Pau lona déca da de 70 e puse ram a filha para tra ba lhar com ape nas11 anos de idade. Aos 15, ain da meni na, casou-se e teve opri mei ro filho. Os moti vos são mui tos, mas o fato é que Gló -ria Van da dos San tos che gou aos 39 anos sem nun ca ter pisa -do numa sala de aula.

“No Para ná nós morá va mos mui to no inte rior, não tinhaesco la. Quan do che ga mos aqui, eu fui tra ba lhar como babáem uma casa de famí lia e lá me ensi na ram o alfa be to, aescre ver o nome. Depois fui apren der um pou co mais com omeu filho, mas tinha mui ta difi cul da de para ler, para fazercon tas mais com pli ca das, sen tia difi cul da de em con ver sarcom meu mari do, que era advo ga do e tinha duas facul da -des”, con ta ela, que che gou a ser geren te de loja em shop -ping e nun ca se con for mou com o abis mo exis ten te entre oseu nível sócio-eco nô mi co e o cul tu ral.

No iní cio de 2004, depois de pas sar mui tas vezes em fren -te ao pré dio da Ação Edu ca ti va e ter von ta de de entrar ao veros anún cios para as tur mas de educação de jovens e adultos,Gló ria, já viú va do segun do mari do, deci diu: era hora de cor -rer atrás do atra so. Matri cu lou-se, pas sou por uma ava lia çãoe ago ra cur sa a tur ma de pós-alfa be ti za ção, mes mo nível emque estu da seu filho de nove anos. Quan do con cluir o ano naAção Edu ca ti va, ela pre ten de con ti nuar a 5ª série, depois fazer o Ensi no Médio, ir para a facul da de, cur sar Direi to,como o filho mais velho, de 24 anos. “Eu que ro cres cer! Tenho tan to a apren der...”, sus pi ra Gló ria, que já deu o pri -mei ro pas so, o mais difí cil de todos.

Cin qüen ta pes soas com his tó rias bem dife ren tes de Gló -ria, mas movi das pela mes ma neces si da de, também fre qüen -tam atual men te as duas tur mas de EJA do Cen tro de Juven -tu de e Edu ca ção Con ti nua da. As aulas, que são gra tui tas,acon te cem de segun da a quin ta das 19h às 21h30. “Elas sãoum ser vi ço que pres ta mos à popu la ção, mas tam bém fun cio -nam como um espa ço de expe ri men ta ção de meto do lo gias efor ma ção de edu ca do res, o que é um dos nossos objetivospermanentes”, diz Anto nio Eleíl son Lei te.

Os alu nos for ma dos nas tur mas de educacão de jovens eadultos são cer ti fi ca dos pela Pre fei tu ra e a Ação Edu ca ti vatam bém cui da do seu enca mi nha men to para outras ins ti tui -ções, caso eles quei ram con ti nuar os estu dos. Segun do ocoor de na dor do Cen tro, o pró xi mo obje ti vo a ser alcan ça doé a expan são do pro gra ma para tur mas de 5ª a 8ª série. Atual-mente, tem aumentado muito a demanda por cursos nessesegmento da educação de jovens e adultos em São Paulo eem outras regiões brasileiras. •

Sede PrópriaA compra do prédio da AçãoEducativa na Rua General Jardim e a abertura do Centro de Juventude e Educação Continuada foramviabilizadas graças a doações feitaspela Operasjon Dagsverk, umacampanha de jovens norueguesesque anualmente recolhem o ganhode um dia de trabalho para financiarprojetos ligados à educação nospaíses em desenvolvimento. Foi a agência NCA – Ajuda da IgrejaNorueguesa – que apresentou oprojeto da Ação Educativa a essesjovens. Outra parcela dos recursosadveio de projeto apresentado àUnião Européia por outras duasagências – ICCO, da Holanda, e EED, da Alemanha, que como a NCA apóiam a Ação Educativa desde sua origem

ESPAÇO DA DIVERSIDADE

Auditório e salas para reuniões: as dependências do Centro recebem15.000 pessoas por ano

Glória Vanda dos Santos che gou Ação Educativa sem nun ca ter pisa do numa sala de aula

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Page 17: Ação Educativa 10 anos

152004 • ação educativa

O professor Fábio Pires (esquerda) e o responsávelpelo Cedoc, Francisco Lopes: pesquisa qualificada

No Cen tro de Docu men ta ção ( Cedoc)da Ação Edu ca ti va tem gran des desa -

fios pela fren te: tor nar-se um ambien temais acon che gan te, atrair lei to res for ma -dos pelos pro gra mas de edu ca ção de jovens e adul tos, ampliar a divul ga ção doacer vo de 18 mil publi ca ções das áreas deedu ca ção e juven tu de. Isso por que, ape sarde ter um cen tro de docu men ta ção extre -ma men te espe cia li za do, todo esse mate rialé mui to pou co conhe ci do e aces sa do porpes qui sa do res, estu dan tes e lei to res em geral. Para Fran cis co Lopes, atual res pon -sá vel pela área, em 2003 foram 700 usuá -rios, o que na sua opi nião é mui to pou copelo poten cial que o cen tro tem. “Tam bémque re mos dar um tra ta men to dife ren cia doaos mate riais e cons ti tuir a memó ria ins ti -tu cio nal em um acer vo a par te”, con ta ele.

Para Fábio Pires, pro fes sor da Esco laEsta dual União de Vila Nova II, o Cedoctem sido mui to impor tan te para sua pes -qui sa de mes tra do: “ Minha tese fala sobrea inte ra ção entre socie da de e as esco las, sobre as melho rias que essas par ce rias tra -

zem paras as comu ni da des e o acer vo daAção Edu ca ti va está sen do mui to útil: nãoencon trei mate rial seme lhan te em nenhum outro lugar”. “Mas ain da fal ta divul ga ção,pois os mate riais são mui to bons.”

O Cedoc tem papel cru cial na AçãoEdu ca ti va. É a área encar re ga da de cole tar,sis te ma ti zar e dis se mi nar as infor ma çõesrela cio na das à edu ca ção, prin ci pal men tenos seg men tos de inte res se da orga ni za -ção, como juven tu de, edu ca ção de jovens eadul tos e polí ti cas públi cas. Os materiaisdisponíveis para consulta dificilmente sãoencontrados juntos emum mesmo lugar,como acontece neste espaço.

O Cedoc pra ti ca men te não tem cus tospara ali men tar seu acer vo. Ele é man ti dopor meio de um inter câm bio entre diver sasenti da des, edi to ras e par cei ros por con tadas rela ções cons truí das ao lon go dos dezanos da Ação Educativa.

O Cedoc da Ação Educativa tem 18 milpublicações das áreas de educação e juventude

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Bibliotecaespecializada

DOCUMENTAÇÃO

CrescimentoNo momen to, o Cedoc tam bém pas sa por

uma gran de rees tru tu ra ção em fun ção docres ci men to da esfe ra de atua ção da AçãoEdu ca ti va. “Che gam mui tos mate riais enum deter mi na do momen to nos ques tio na -mos se devem ou não fazer par te do acer vo,pois temos um espa ço limi ta do e não somosuma biblio te ca gene ra li za da. Somos umcen tro de docu men ta ção vol ta do para pes -qui sa.”, expli ca Fran cis co. Ele exem pli fi ca:“Obje ti va men te, o que nós temos é umabiblio te ca espe cia li za da. “Quem está acos -tu ma do a fazer uma pes qui sa na inter netsabe que se bus car por um ter mo mui to geral irá rece ber mui tas res pos tas e pra ti ca -men te nenhu ma delas será útil, então se temque res trin gir a pes qui sa, a lógi ca aqui é ames ma, só que aqui exis te a faci li da de de poder con ver sar com alguém que te auxi lianes se tra ba lho”, con clui Fran cis co. •

Page 18: Ação Educativa 10 anos

16 ação educativa • 2004

JOVENS E ADULTOS

Aedu ca ção de jovens e adul tos está entre as prin ci pais áreas

da Ação Edu ca ti va. Em dez anos, a ins ti tui ção con quis tou

um gran de reco nhe ci men to gra ças à capa ci da de de arti cu lar

ato res e apoiar redes e fóruns. Tam bém con quis tou impor tan tes

rea li za ções no desen vol vi men to de pro je tos de asses so ria, for -

ma ção de edu ca do res e publi ca ção de mate rial didá ti co.

Des de a sua implan ta ção, o pro gra ma já alcan çou mais de 1,2

milhão de alu nos e edu ca do res em todo o Bra sil.

As prin ci pais estra té gias des te pro gra ma são as seguin tes:

• Garan tir a efe ti va ção do direi to huma no à edu ca ção;

• Pro du zir conhe ci men tos;

• Dis se mi nar pro pos tas edu ca cio nais que res pon dam às

neces si da des de pes soas jovens e adul tas;

• For mar edu ca do res, equi pes téc ni cas e ges to res da

edu ca ção para que bus quem solu ções con jun tas

Todas as ações são pau ta das pelo mais sim ples fun da men to da

Edu ca ção: atuar para que as pes soas pos sam apren der sem pre,

duran te a vida toda. Duas con se qüên cias des sa visão são o fato

de que as pes soas estão per ma nen te men te se edu can do e que a

edu ca ção não se res trin ge àque la que ocor re no den tro da esco la.

A Ação Edu ca ti va tam bém se tor nou uma refe rên cia na atua -

ção em redes como a RAAAB – Rede de Apoio à Ação Alfa be ti -

za do ra do Bra sil, os MOVAs – Movi men tos de Alfa be ti za ção de

Jovens e Adul tos e os ENE JAs – Encon tros Nacio nais de Edu ca -

ção de Jovens e Adul tos. A ONG tam bém edi ta o bole tim Infor -

ma ção em Rede, que tema ti za as prin ci pais ques tões sobre as

polí ti cas públi cas de EJA e que exis te des de 1997.

Para o edu ca dor Pedro Pon tual, dire tor da Ação Edu ca ti va, a

ins ti tui ção teve um papel des ta ca do na coor de na ção da RAAAB

gra ças à capa ci da de de aglu ti nar movi men tos da socie da de civil

e expe riên cias de alfa be ti za ção em uma pers pec ti va de edu ca ção

popu lar. “A RAAB é impor tan te pela sua visi bi li da de públi ca,

pela socia li za ção e pela tro ca de expe riên cias em edu ca ção de

jovens e adul tos, além de atuar para exi gir do Esta do o direi to à

edu ca ção com polí ti cas públi cas con sis ten tes”, diz ele.

Um dos pro je tos de des ta que foi a ela bo ra ção de uma pro pos -

ta cur ri cu lar para a edu ca ção de jovens e adul tos, publi ca da em

par ce ria com o Minis té rio da Edu ca ção. Dis tri buí da nacio nal -

men te, é usa da como refe rên cia por diver sas secre ta rias esta -

duais e muni ci pais de todo o país. “Tive mos a cora gem de ino -

var, de iden ti fi car as espe ci fi ci da des do pro ces so de

apren di za gem de pes soas jovens e adul tas”, expli ca Cláu dia

Vóvio, fun da do ra da Ação Edu ca ti va e coor de na do ra do Pro -

gra ma. “Con cre ti za mos prin cí pios edu ca ti vos em pro pos tas

peda gó gi cas, em orien ta ções didá ti cas e em ati vi da des rela cio na -

das aos livros.”

O programa de educação de jovens e adultos da Ação Educativa alcança 1,2 milhão de pessoas e se torna referência em todo o país. A fórmula do sucesso pode ser definida em uma frase: aqui, o estudante tem voz

AprenderFOTOS MARCELLO VITORINO

Page 19: Ação Educativa 10 anos

para

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daA professora Luciana Dantas, do projeto “Educar para Mudar”, orienta a aluna Luzia dos Anjos de Jesus, 71 anos

Page 20: Ação Educativa 10 anos

JOVENS E ADULTOSO

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Dona Enilda Marques Teixeira teve que esperar os filhos crescerem, se casarem e seguirem o rumo de suasvidas. Então, aos 59 anos finalmenteconseguiu realizar o sonho de sua vida: ir à escola, aprender a ler e a escrever. Ela nasceu na Bahia, foi criada no Paraná e há 24 anos vive em São Paulo. Quandodecidiu se matricular em um curso deeducação de jovens e adultos, o maridoachou que era loucura, que tinha passadoda idade. “Até hoje ele ainda perturba umpouco”, diz ela. “Meus filhos, por outrolado, estão contentes. Já consigo ler asplacas, já sei entender uma receita e isso é maravilhoso.” Antes de aprender a ler, Enilda tinha dificuldades até mesmopara se locomover: “era difícil até para pegar o ônibus.

O gran de bara to é que a gen te apren de mui to. A cada novo pro je to “

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Page 21: Ação Educativa 10 anos

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O pedreiro Paulo Alves de Andrade, 45 anos, está desempregado, mas

tem certeza que tudo vai melhorar:“Quando eu estiver lendo bem, quero verse arrumo um servicinho”. Nascido emMinas Gerais, antes de mudar para São

Paulo trabalhava no cultivo da mandioca.Conta que não pôde estudar porque os

pais não tinham condições financeiras emal conhecia as letras do alfabeto.

“Mesmo que eu esteja meio doente, nahora de ir pra escola eu fico bom”, brinca

ele. “Fazendo é que a gente aprende. Às vezes um companheiro não sabe uma

lição, a gente ensina, às vezes é ele quemsabe outra coisa e ensina pra gente.”

pare ce que esta mos no pri mei ro e dá o mes mo frio na bar ri ga ”

MÁRCIA OLIVEIRA

Page 22: Ação Educativa 10 anos

JOVENS E ADULTOS

20 ação educativa • 2004

Material didáticoUm­dos­moti­vos­que­leva­ram­a­Ação­Edu­ca­ti­va

a­pro­du­zir­mate­riais­didá­ti­cos­foi­a­per­cep­ção­dabai­xa­ capa­ci­da­de­ de­ sis­te­ma­ti­za­ção­ das­ expe­-riên­cias­de­edu­ca­ção­de­­jovens­e­adul­tos,­alémda­carên­cia­de­fer­ra­men­tas­que­­apóiem­a­açãodos­edu­ca­do­res­que­­atuam­nes­ta­área.A­ publi­ca­ção­ de­ ­maior­ suces­so­ é­ a­ cole­ção

­Viver, Apren der. Ela­bo­ra­da­com­finan­cia­men­to­do­Minis­té­rio­daEdu­ca­ção,­des­ti­na-se­espe­cial­men­te­ao­pri­mei­ro­seg­men­to­do­en­-si­no­fun­da­men­tal­para­edu­ca­ção­de­­jovens­e­adul­tos.­“Par­ti­mos­dodiag­nós­ti­co­das­con­di­ções­em­que­se­desen­vol­ve­a­­maior­par­te­dospro­gra­mas­ edu­ca­ti­vos­ des­ti­na­dos­ a­ esse­ públi­co,­ que­ tem­ umagran­de­neces­si­da­de­de­mate­riais­didá­ti­cos”,­diz­Cláu­dia.­Lan­ça­da­em­1998,­­Viver, Apren der se­tor­nou­um­suces­so­edi­to­-

rial­e­supe­rou­os­seis­­milhões­de­exem­pla­res.­Para­a­ela­bo­ra­ção­dacole­ção,­con­tou-se­com­edu­ca­do­res­de­­jovens­e­adul­tos­espe­cia­lis­-tas­de­diver­sas­­áreas­do­conhe­ci­men­to,­com­lar­ga­expe­riên­cia­emsala­de­aula,­na­for­ma­ção­de­edu­ca­do­res­e­tam­bém­na­ela­bo­ra­çãode­mate­riais­didá­ti­cos.­A­­idéia­era­por­em­prá­ti­ca­a­orga­ni­za­ção­cur­-ri­cu­lar­e­as­orien­ta­ções­didá­ti­cas,­que­­foram­cons­truí­dos­na­pro­pos­-ta­cur­ri­cu­lar­para­edu­ca­ção­de­­jovens­e­adul­tos.A­ peda­go­ga­ ­Maria­Ama­bi­le­ Man­sut­ti,­ cola­bo­ra­do­ra­ da­Ação

Edu­ca­ti­va­des­de­a­fun­da­ção,­expli­ca­esse­méto­do­de­tra­ba­lho:­“Oque­fize­mos,­des­de­o­iní­cio,­não­foi­uma­adap­ta­ção­de­algo­exis­ten­-te.­Desen­vol­ve­mos­um­mate­rial­vol­ta­do­espe­cial­men­te­para­esseseg­men­to.­E­por­isso­é­tão­ino­va­dor,­por­que­é­fle­xí­vel,­temá­ti­co”.­A­cole­ção­­Viver, Apren der tor­nou-se­uma­refe­rên­cia­em­todo­o

Bra­sil.­São­ ­livros­cen­tra­dos­em­­temas­que­con­si­de­ram­o­que­osedu­can­dos­já­­sabem.­O­obje­ti­vo­é­pro­vo­cá-los­a­refle­tir­­sobre­sua

rea­li­da­de,­de­modo­que­pos­sam­inter­vir­na­comu­ni­da­de.O­mate­rial­vai­além­do­domí­nio­da­escri­ta.­Um­dos­obje­ti­vos

cen­trais­ é­ for­mar­ lei­to­res­ autô­no­mos­ e­ crí­ti­cos,­ que­ pos­samcon­ti­nuar­apren­den­do­na­esco­la­ou­fora­dela.­A­apren­di­za­gemda­lei­tu­ra­que­se­pro­põe­em­cada­ati­vi­da­de­do­­Viver, Apren der éum­con­vi­te­ao­exer­cí­cio­da­cida­da­nia.­“O­desa­fio­ago­ra­é­o­defina­li­zar­a­cole­ção,­pro­du­zin­do­­livros­para­o­segun­do­seg­men­todo­ensi­no­fun­da­men­tal”,­diz­Cláu­dia.

Formação de educadoresA­Ação­Edu­ca­ti­va­ino­va­tam­bém­nos­pro­ces­sos­de­for­ma­ção

de­edu­ca­do­res.­A­ONG­cola­bo­ra­para­que­diver­sos­pro­gra­masela­bo­rem­seus­pro­je­tos­polí­ti­cos-peda­gó­gi­cos.­A­meta­é­desen­-vol­ver­ pro­ces­sos­ de­ for­ma­ção­ que­ pro­mo­vam­ o­ desen­vol­vi­-men­to­pes­soal­e­pro­fis­sio­nal­de­edu­ca­do­res,­equi­pes­téc­ni­cas­eges­to­res.­“O­gran­de­bara­to­é­que­a­gen­te­apren­de­mui­to.­O­tem­-po­todo­­temos­que­estu­dar”,­comen­ta­a­asses­so­ra­Már­cia­Oli­-vei­ra,­há­três­anos­na­Ação­Edu­ca­ti­va.­“A­cada­novo­pro­je­topare­ce­que­esta­mos­no­pri­mei­ro­e­dá­o­mes­mo­frio­na­bar­ri­-ga,­a­cer­te­za­de­que­o­conhe­ci­men­to­se­cons­trói­em­equi­-pe.”Mui­tas­­vezes,­segun­do­Már­cia,­há­uma­pres­são­por­re­-sul­ta­dos­e­uma­cer­ta­urgên­cia­para­que­as­pes­soas­apren­-dam­a­ ler­ rapi­da­men­te.­ “Mas­é­pre­ci­so­ resis­tir­ a­ essapres­sa­e­­criar­de­manei­ra­sóli­da­as­con­di­ções­neces­sá­-rias­ ao­ apren­di­za­do.­ ­Esses­ ­jovens­ e­ adul­tos­ têm­um

gran­de­conhe­ci­men­to­acu­mu­la­do.­Às­ ­vezes,­o­que­a­gen­tequer­que­eles­apren­dam­não­é­o­que­eles­que­rem­apren­der”.­O­papel­do­edu­ca­dor,­­então,­é­des­co­brir­como­eles­usam­e­poten­-cia­li­zam­o­conhe­ci­men­to.­“A­cada­novo­pro­je­to­de­for­ma­ção­ ­temos­o­desa­fio­de­nos

debru­çar­­sobre­as­neces­si­da­des­dos­pro­gra­mas­que­nos­pro­cu­-ram”,­ expli­ca­ Cláu­dia.­ Segun­do­ ela,­ não­ exis­tem­ res­pos­taspron­tas:­“Nos­sa­expec­ta­ti­va­é­a­de­pro­du­zir­expe­ri­men­tos­quecor­res­pon­dam­às­neces­si­da­des­de­­todos­os­envol­vi­dos,­res­pei­-tan­do­as­carac­te­rís­ti­cas­regio­nais,­indi­vi­duais­e­cul­tu­rais.”­As­ ati­vi­da­des­ de­ for­ma­ção

­incluem:­ diag­nós­ti­co­ da­ rea­li­-da­de­ ­local­ e­ das­ neces­si­da­desdos­ par­ti­ci­pan­tes;­ reu­niões­ depla­ne­ja­men­to­e­aná­li­se­dos­pro­-ces­sos;­ cur­sos;­ ofi­ci­nas­ cul­­tu­-rais­ e­ peda­gó­gi­cas;­ tro­cas­ deexpe­riên­cias;­ semi­ná­rios.“Bus­­ca­mos­ a­ cons­tru­ção­ con­-jun­ta­ de­ dire­tri­zes­ e­ pro­pos­tasedu­ca­ti­vas­ conec­ta­das­ àsneces­si­da­des­de­ apren­di­za­gemdos­ gru­pos­ aten­di­dos”,­ diz­ aasses­so­ra­Sil­va­na­Gui­ma­rães.­Os­for­ma­do­res­­atuam­como

“pro­ble­ma­ti­za­do­res”:­pro­põemabor­da­gens­ que­ colo­cam­ em

Cláudia Vóvio, coordenadora da área deeducação de jovens e adultos

A assessora Márcia Oliveira: estudar sempre

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Page 23: Ação Educativa 10 anos

ques­tão­mode­los­con­ven­cio­nais­de­edu­ca­ção­e­as­prá­ti­cas­por­elesorien­ta­das.­­Assim,­mobi­li­zam­os­edu­ca­do­res­para­o­diag­nós­ti­co­darea­li­da­de­ ­local­ e­ das­ neces­si­da­des­ e­ conhe­ci­men­tos­ dos­ alu­nos.Segun­do­a­cola­bo­ra­do­ra­Mau­ri­la­ne­Bic­cas,­o­obje­ti­vo­é­expli­ci­taras­ ­ações­ inte­res­san­tes­ já­ rea­li­za­das­ e­ ofe­re­cer­ sub­sí­dios­ para­ aimple­men­ta­ção­de­­novas­pro­pos­tas­edu­ca­ti­vas.Apren­der­sem­pre­e­cons­truir­e­dis­se­mi­nar­conhe­ci­men­tos.­­Esse

é­o­prin­ci­pal­fun­da­men­to­pro­pos­to­pela­Ação­Edu­ca­ti­va.

Inclusão socialA­pro­fes­so­ra­Rosan­ge­la­Fer­rei­ra­Lei­te­come­çou­na­Ação­Edu­-

ca­ti­va­em­1997,­ain­da­estu­dan­te­da­facul­da­de­de­His­tó­ria­da­USP.Na­épo­ca,­era­edu­ca­do­ra­de­­jovens­e­adul­tos­na­fave­la­do­Jar­dimSão­Remo,­ em­São­ Pau­lo.­ “A­Ação­Edu­ca­ti­va­ deu­ um­ sen­ti­dopolí­ti­co­mui­to­for­te­e­­mudou­meu­jei­to­de­pen­sar”,­diz­ela.­­Seu­tra­ba­lho­em­sala­de­aula­era­tão­bom­que­foi­con­vi­da­da­para

ser­for­ma­do­ra­de­edu­ca­do­res.­“A­Ação­Edu­ca­ti­va­me­ensi­nou­a­pen­-sar­a­edu­ca­ção­de­­jovens­e­adul­tos­como­um­meio­de­inser­ção­­socialdos­excluí­dos,­das­pes­soas­que­não­­estão­na­edu­ca­ção­for­mal.”­

Educar para mudarA­sala­é­modes­ta­e­fica­nos­fun­dos­da­Igre­ja­Bra­sil­para­Cris­to,

loca­li­za­da­ em­Fer­raz­Vas­con­ce­los,­ ­região­metro­po­li­ta­na­de­SãoPau­lo.­A­pro­fes­so­ra­é­Vir­gu­li­na­Ribei­ro­Mar­tins,­a­Lina.­Des­de­ospri­mei­ros­dias­de­fun­cio­na­men­to,­o­­local­nun­ca­teve­­menos­que­25alu­nos.­É­uma­das­180­­salas­do­pro­je­to­Edu­car­para­­mudar,­pro­-

gra­ma­de­edu­ca­ção­de­­jovens­e­adul­tos­desen­vol­vi­do­pelo­Con­se­-lho­Comu­ni­tá­rio­de­Edu­ca­ção­e­Cul­tu­ra­e­Ação­­Social­da­Gran­deSão­Pau­lo­(Cce­cas).­Há­três­anos­a­ação­Edu­ca­ti­va­desen­vol­ve­umtra­ba­lho­que­for­ma­edu­ca­do­res­e­pro­duz­mate­rial­didá­ti­co.­Para­Car­men­Fur­quim,­ex-edu­ca­do­ra­popu­lar­e­­atual­coor­de­na­-

do­ra­ ­geral­do­pro­je­to,­ a­ expe­riên­cia­ ­mudou­com­ple­ta­men­te­ sua­visão­ de­mun­do.­ “É­ como­ se­antes­eu­assi­nas­se­com­o­dedopole­gar­e­ago­ra­fos­se­pós-gra­-dua­da”,­ com­pa­ra.­ “A­ AçãoEdu­ca­ti­va­ foi­ mui­to­ mais­ doque­uma­facul­da­de­para­nós”.­O­pro­je­to­Edu­car­para­­Mu­-

dar­ nas­ceu­ des­se­ pro­ces­so.Car­mem­ e­ ­outros­ edu­ca­do­resresol­ve­ram­­criar­um­pro­gra­made­edu­ca­ção­de­­jovens­e­adul­-tos­ e­ o­ escre­ve­ram­ com­ o­apoio­da­Ação­Edu­ca­ti­va.­“Ho­-je ­tenho­mui­to­orgu­lho­do­meutra­ba­lho­de­coor­de­na­ção.­É­umpra­zer­mui­to­ gran­de­ ver­ o­ re­-sul­ta­do des­se­tra­ba­lho­com­ca­-

Sala de educação de jovens e adultos em Ferraz de Vasconcelos, Zona Leste de São Paulo

Carmen Furquim, do projeto Educar para Mudar

Page 24: Ação Educativa 10 anos

22 ação educativa • 2004

Acada dia, o pro gra ma Obser va tó rioda Edu ca ção ganha novo sig ni fi ca do

den tro e fora da Ação Edu ca ti va: mais doque “obser var”, ele dis cu te, divul ga,deba te, cria pólos de infor ma ção. Ao mes -mo tem po, des cen tra li za tudo o que serefe re às lutas pelo direi to à Edu ca ção. OObser va tó rio da Edu ca ção quer con tri -buir para a con so li da ção de uma cul tu rade con tro le social das polí ti cas públi cas.Para isso, acom pa nha ques tões estra té gi -cas e está cola do no diá lo go com os di ver -sos ato res sociais. Tam bém pro duz e cir -cu la infor ma ções qua li fi ca das e quepos sam apoiar a for ma ção de opi nião. OObser va tó rio pre ten de criar uma ampla

rede de inter lo cu ção com espe cia lis tas,edu ca do res, comu ni ca do res, ONGs e en -ti da des rela cio na das à edu ca ção. O obje ti -vo é for ta le cer e qua li fi car o deba te públi -co sobre edu ca ção no Bra sil.

Segun do a coor de na do ra do Obser va -tó rio, Camil la Cro so, a idéia come çou aser pen sa da na Ação Edu ca ti va há cer cade cin co anos, median te a cons ta ta ção deque havia um pen sa men to úni co sobreedu ca ção na socie da de brasileira. Em2003, as idéias final men te foram colo ca -das em prá ti ca e o Obser va tó rio foi im -plan ta do for mal men te.

De acor do com pes qui sa rea li za da pelo Núcleo de Estu dos sobre Mídia e Polí ti ca

(Nemp) da Uni ver si da de de Bra sí lia, cer cade 80% do noti ciá rio pro du zi do sobre edu -ca ção em 1997 e 1998 uti li za va prio ri ta ria -men te como fon te docu men tos ou açõesgover na men tais. “A Ação Edu ca ti va resol -veu atuar nes se cam po para pos si bi li tar umdeba te mais rico dos assun tos nes sa área.O que saía na mídia par tia sem pre da mes -ma abor da gem, da mes ma lógi ca. Sem preas mes mas pes soas ouvi das e o MEC co -mo prin ci pal fon te. Cria mos o pro je to para mudar esse pano ra ma”, con ta Camil la.

Ao lon go do ano de 2003, o pro gra mainves tiu na defi ni ção con cei tual e ope ra -cio nal do tra ba lho: como res pon der à con -jun tu ra de for ma ágil e estrei tar as rela çõescom a mídia para qua li fi car sua pro du ção sobre a edu ca ção?

Uma das deci sões estra té gi cas foi criarum Con se lho Con sul ti vo para aju dar adefi nir as prin ci pais linhas de ação. “No

Disseminação de conhecimentos e qualificação dacobertura da imprensa estão os objetivos do programa

Controle social daspolíticas educacionais

OBSERVATÓRIO

Camila Croso da Silva, coordenadora do Observatório da Educação: debater com atores qualificadosM

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Page 25: Ação Educativa 10 anos

232004 • ação educativa

segun do semes tre de 2003 colo ca mos umsite no ar. Que re mos que ele seja uma fer -ra men ta dinâ mi ca, em cons tan te atua li za -ção para dina mi zar e apro fun dar o deba te sobre as polí ti cas edu ca cio nais, apre sen -tan do diver sos pon tos de vis ta e dan doespa ço e voz a um amplo con jun to de ato -res sociais”, expli ca a coor de na do ra.

Eixos de atua çãoPas sa do o pri mei ro ano, o Obser va tó rio

já tem novas pers pec ti vas de atua ção parao triê nio 2004-06. Segun do Camil la, serãocons truí dos dois gran des eixos de atua ção.

O pri mei ro é a pro du ção e dis se mi na -ção de infor ma ção e conhe ci men to, o queimpli ca: acom pa nhar e rea gir com agi li da -de à con jun tu ra edu ca cio nal; acom pa nharins tân cias estra té gi cas de finan cia men to ede con tro le social (con se lhos muni ci pais,por exem plo); e divul gar meca nis mos decon tro le social para que o cida dão pos saefe ti va men te par ti ci par da cons tru ção eefe ti va ção de polí ti cas.

O segun do eixo é a qua li fi ca ção da co -ber tu ra da impren sa como supor te para o

con tro le das polí ti cas públi cas. Nes sesen ti do, o Obser va tó rio fará um esfor çodiá rio de aná li se quan ti ta ti va e qua li ta ti vado que os prin ci pais jor nais do país publi -cam sobre edu ca ção, o que per mi ti rá veri -fi car os temas, fon tes e abor da gens pri vi -le gia das. Será pos sí vel obser var como aim pren sa refle te o deba te públi co que seope ra na área edu ca cio nal. “Ao mes motem po, o Obser va tó rio ini cia rá um pro -ces so de inter fe rên cia na cober tu ra da mídia, suge rin do novos temas, pro pon doarti gos de opi nião, o apro fun da men to deassun tos impor tan tes que nem sem prerece bem a devi da aten ção”, expli ca acoor de na do ra de comu ni ca ção do pro gra -ma, Ira ce ma Nas ci men to.

Para o acom pa nha men to da con jun tu ra,o Con se lho Con sul ti vo deli be rou sobreum for te inves ti men to na divul ga ção e napro du ção de conhe ci men to com base emum “sis te ma de ante nas” que envol ve aaná li se de mídia e um tra ba lho de cap ta -ção de infor ma ções jun to a ato res sociaisdire ta men te envol vi dos com a edu ca ção,tais como edu ca do res, ges to res públi cos,

par la men ta res, pes qui sa do res, sin di ca tos,movi men tos, redes e orga ni za ções da so -cie da de civil rela cio na das à edu ca ção.

A estra té gia é atuar em rede e tor nar-seum gran de pólo arti cu la dor do conhe ci -men to pro du zi do na área. “Que re mos pro -ble ma ti zar o deba te com infor ma ções e dados alta men te qua li fi ca dos, de fon tessegu ras e diver si fi ca das para gerar umadis cus são mais plu ra lis ta pos sí vel. É umamanei ra de cons cien ti zar a socie da de so -bre o direi to que ela tem de con tro lar aspolí ti cas públi cas”, des cre ve Camil la.

Para Pau lo César Car ra no, mem bro doCon se lho Con sul ti vo e pro fes sor daFacul da de de Edu ca ção da Uni ver si da deFede ral Flu mi nen se, o Obser va tó rio é fru -to de uma prá ti ca impor tan te desen vol vi -da pela Ação Edu ca ti va, que é for mar equa li fi car os movi men tos sociais para acons tru ção da demo cra cia. “Não é pelofato de ter mos hoje um gover no pro gres -sis ta que não deve mos alme jar o con tro ledas polí ti cas públi cas. O Obser va tó rioestá redi re cio nan do suas ações para pro -du zir docu men tos que atin jam a todos os

Os Jovens no BrasilDesigualdadesmultiplicadas e novasdemandas políticas,informe de autoria deMarilia Pontes Spositosobre a situação da

juventude e das políticas de juventude noBrasil, com um panorama sobre a exclusãosocial desse segmento da população.

Seis Anos deEducação de Jovens e Adultos no Brasil Os compromissos e a realidade, de autoria de Maria ClaraDi Piero. Trata-se de um amplo balanço

sobre a educação de jovens e adultos no Brasil, a partir da análise das políticas do governo federal desde a 5ª Conferência de Hamburgo.

Em Questão 1A escola e o mundo juvenil:experiências e reflexões,discute os avanços e limitesentre a cultura da escola e as culturas juvenis,considerando as identidades do “ser aluno” e do “ser jovem”.

Em Questão 2 Políticas e práticas de leitura no Brasil, enfoca asconcepções que embasamas políticas e práticas deleitura no Brasil, mitos queas circundam, os atores, os avanços e os desafios.

Bandeirada da CidadaniaConjunto de materiais educativos voltado ao controle social de políticas públicas.Contém um CD com cinco programas derádio e uma cartilha.

EbuliçãoDestaques da conjuntura educacional,destinado a educadores, conselheiros,gestores, parlamentares e ativistas de ONGsque lidam com políticas educacionais.

Ponto de PautaDiálogos sobrepolíticas de juventude,voltado para jovens, gestores eparlamentares quelidam com políticaspara o setor.

Alfabetização eanalfabetismoDesafios para aspolíticas públicas,síntese das discussõesque vieram à tona nodebate com o mesmotítulo realizado em 3de setembro de 2003.

Publi ca ções do Obser va tó rioEm seu pri mei ro ano o programa pro du ziu, com patro cí nio da Petro brás e apoio do Uni cef, os seguin tes mate riais:

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Page 26: Ação Educativa 10 anos

PESQUISA E AVALIAÇÃO

A área de Pesquisa e Avaliação usa o rigor daanálise para monitorar e influenciar as políticaspúblicas nas áreas de Juventude e Educação

Mostra a tua cara

Jovens e adultos do Movimento Sem Terra aproveitam Br lisa

Page 27: Ação Educativa 10 anos

252004 • ação educativa

Gos­to­ dos­ alga­ris­mos,­ por­que­ não­ são­ de­meias­medi­das­ nem­de­metá­fo­ras”,­ ­ ­dizia

Macha­do­de­­Assis­em­1876,­ao­comen­tar­numacrô­ni­ca­ as­ pes­qui­sas­ que­ apon­ta­vam­ 70%­ dosbra­si­lei­ros­como­anal­fa­be­tos.­Pas­sa­dos­128­anosda­ indig­na­ção­macha­dia­na,­ 13%­ da­ popu­la­çãocom­mais­de­15­anos­­segue­anal­fa­be­ta­no­país.­Éjus­ta­men­te­na­cla­re­za­“sem­­meias­medi­das”­dosnúme­ros­e­no­­rigor­cien­tí­fi­co­das­pes­qui­sas­que­aAção­Edu­ca­ti­va­encon­tra­maiores­sub­sí­dios­paramoni­to­rar­e­influen­ciar­as­polí­ti­cas­públi­cas­nas­áreas­ de­ Juven­tu­de­ e­ Edu­ca­ção­ de­ ­Jovens­ eAdul­tos­e­Juven­tu­de.Por­ meio­ da­ área­ de­ Pes­qui­sa­ e­ Ava­lia­ção

Edu­ca­cio­nal,­a­enti­da­de­man­tém­par­ce­rias­comins­ti­tui­ções­ de­ ensi­no­ supe­rior­ e­ com­ ­outras

orga­ni­za­ções­liga­das­à­edu­ca­ção,­amplian­do­anoa­ano­sua­par­ti­ci­pa­ção­em­ini­cia­ti­vas­pio­nei­ras­ede­ impac­to,­ como­o­Con­cur­so­ de­Dota­ções­ dePes­qui­sa­ ­sobre­ ­Negro­e­Edu­ca­ção,­o­ Indi­ca­dorNa­cio­nal­ de­Alfa­be­tis­mo­ Fun­cio­nal­ (INAF),­ apes­qui­sa­ “Juven­tu­de,­ Esco­la­ri­za­ção­ e­ ­Poder­Local”,­além­da­ela­bo­ra­ção­de­sis­te­mas­de­ava­-lia­ção­de­polí­ti­cas­públi­cas.Para­a­coor­de­na­do­ra­de­pro­gra­mas­de­Pes­qui­-

sa­e­Ava­lia­ção­Edu­ca­cio­nal,­­Maria­Cla­ra­Di­Pie­-ro,­o­reco­nhe­ci­men­to­da­Ação­Edu­ca­ti­va­na­árease­ deve­ ao­ fato­ de­ con­tar­ com­ uma­ equi­pe­ depes­qui­sa­do­res­de­alto­­nível,­a­maio­ria­com­dou­-to­ra­do.­ Ela­ res­sal­ta­ que,­ ao­mes­mo­ tem­po­ emque­auxi­liam­no­moni­to­ra­men­to­e­imple­men­ta­-ção­de­polí­ti­cas­públi­cas­em­edu­ca­ção,­as­pes­-

as noites para estudar na turma de alfabetização do Acampamento Irmã Alberta, na região de Cajamar (SP)M

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Vito

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Page 28: Ação Educativa 10 anos

26 ação educativa • 2004

qui­sas­ tam­bém­ con­tri­buem­ para­ ali­men­tardiversas­ ­ações­ da­ pró­pria­ enti­da­de,­ pro­ven­doinfor­ma­ções­ ­sobre­ as­desi­gual­da­des­ edu­ca­cio­-nais­decor­ren­tes,­por­exem­plo,­de­fato­res­étni­-cos,­ter­ri­to­riais­e­de­gêne­ro.

AlfabetismoUm­exem­plo­é­o­Con­cur­so­ ­Negro­e­Edu­ca­-

ção,­ que­ des­de­ 1999­ já­ con­ce­deu­ 45­ bol­sas­ apes­qui­sa­do­res­para­o­desen­vol­vi­men­to­de­pro­-je­tos­rela­cio­na­dos­à­temá­ti­ca­do­­negro.­Rea­li­za­-do­em­par­ce­ria­com­a­Asso­cia­ção­Nacio­nal­dePós-Gra­dua­ção­ e­ Pes­qui­sa­ em­ Edu­ca­ção­ (­-ANPEd),­com­o­­apoio­da­Fun­da­ção­Ford,­o­con­-cur­so­ garan­te­ tam­bém­ orien­ta­ção­ teó­ri­ca­ emeto­do­ló­gi­ca­ aos­ bol­sis­tas,­ que­ não­ pre­ci­sam­estar­liga­dos­a­pro­gra­mas­de­pós-gra­dua­ção.­Outra­ par­ce­ria,­ esta­ com­ o­ Ins­ti­tu­to­ Pau­lo

Mon­te­ne­gro­(liga­do­ao­IBO­PE),­deu­ori­gem­em2001­ ao­ Indi­ca­dor­ Nacio­nal­ de­ Alfa­be­tis­moFun­cio­nal­ (INAF).­Nun­ca,­ des­de­ o­ iní­cio­ doscen­sos­ demo­grá­fi­cos­ no­Bra­sil,­ no­ sécu­lo­ 19,foi­pro­du­zi­da­uma­pes­qui­sa­qua­li­ta­ti­va­sis­te­má­-ti­ca­ para­ ava­liar­ o­ alfa­be­tis­mo­ fun­cio­nal,­ ouseja,­a­capa­ci­da­de­das­pes­soas­de­uti­li­zar­a­lei­tu­-

ra­e­a­escri­ta­para­aten­der­às­deman­das­de­seucon­tex­to­­social.­Se­no­iní­cio­os­levan­ta­men­tosregis­tra­vam­a­auto-ava­lia­ção­dos­entre­vis­ta­dos,hoje­o­IBGE­toma­como­base­a­auto­de­cla­ra­ção­sobre­o­núme­ro­de­­séries­esco­la­res­con­cluí­das.For­mal­men­te,­no­Bra­sil,­ter­con­cluí­do­a­4ª­­sériedo­Ensi­no­Fun­da­men­tal­é­o­divi­sor­­entre­o­anal­-fa­be­tis­mo­fun­cio­nal­e­o­letra­men­to.­­Coor­de­na­da­ pela­ secre­tá­ria­ exe­cu­ti­va­ da

Ação­Edu­ca­ti­va,­Vera­Masa­gão,­e­apli­ca­da­peloIBO­PE,­a­pes­qui­sa­esta­be­le­ce­dife­ren­tes­­níveisde­alfa­be­tis­mo­fun­cio­nal­a­par­tir­de­entre­vis­tase­ da­ apli­ca­ção­ de­ tes­tes­ a­ 2.000­ pes­soas­ comida­des­­entre­15­e­64­anos.­Nos­anos­de­2001­e2003­o­INAF­ava­liou­a­capa­ci­da­de­de­lei­tu­ra­eescri­ta­dos­entre­vis­ta­dos,­e­em­2002­suas­habi­li­-da­des­mate­má­ti­cas.­A­aná­li­se­dos­resul­ta­dos­de2003­mos­tra­que,­além­dos­8%­em­situa­ção­deanal­fa­be­tis­mo­abso­lu­to,­30%­dos­­jovens­e­adul­-tos­ ­estão­ no­ ­Nível­ 1­ de­ alfa­be­tis­mo,­ capa­zesape­nas­ de­ loca­li­zar­ infor­ma­ções­ sim­ples­ emenun­cia­dos­ com­ uma­ só­ fra­se.­ Uma­ aná­li­seapro­fun­da­da­dos­resul­ta­dos­da­pri­mei­ra­edi­çãodo­INAF,­fei­ta­por­edu­ca­do­res­e­pes­qui­sa­do­res,está­no­­livro­Letra­men­to­no­Bra­sil.

Seminário de formaçãodo Concurso Negro eEducação (acima). Maria Clara di Piero,coordenadora da área de pesquisa e avaliação (à direita)

PESQUISA E AVALIAÇÃO

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Page 29: Ação Educativa 10 anos

272004 • ação educativa

Jovens e adultosAs­expe­riên­cias­acu­mu­la­das­pela­Ação­Edu­-

ca­ti­va­com­o­INAF­e­­outras­ini­cia­ti­vas­trans­for­-ma­ram-na­ em­ refe­ren­cial­ quan­do­ o­ assun­to­ éEdu­ca­ção­de­ ­Jovens­ e­Adul­tos.­Atual­men­te,­ aONG­está­envol­vi­da­na­ava­lia­ção­de­dois­pro­-gra­mas­man­ti­dos­pelo­Gover­no­Fede­ral:­o­Bra­-sil­Alfa­be­ti­za­do,­do­Minis­té­rio­da­Edu­ca­ção,­e­oPro­gra­ma­ Nacio­nal­ de­ Edu­ca­ção­ na­ Refor­maAgrá­ria,­ coor­de­na­do­ pelo­ ­Incra­ (Ins­ti­tu­to­Na­-cio­nal­de­Colo­ni­za­ção­e­Refor­ma­Agrá­ria).­No­caso­do­Bra­sil­Alfa­be­ti­za­do,­que­pre­ten­de

com­ba­ter­o­anal­fa­be­tis­mo­de­ ­jovens­e­ adul­tospor­meio­de­uma­rede­de­par­ce­rias­com­diver­sasins­ti­tui­ções,­a­Ação­Edu­ca­ti­va,­por­meio­de­umacon­sul­to­ria­ à­Unes­co,­ desen­vol­ve­ um­ sis­te­made­ava­lia­ção­que­per­mi­ti­rá­veri­fi­car­a­efi­ciên­ciado­pro­gra­ma.­No­Pro­ne­ra,­vol­ta­do­à­edu­ca­çãode­tra­ba­lha­do­res­­rurais­em­pro­je­tos­de­assen­ta­-men­to­ da­ refor­ma­ agrá­ria,­ a­ pes­qui­sa,­ já­ con­-cluí­da,­teve­o­obje­ti­vo­de­ava­liar­o­impac­to­das­ações­ do­ pro­gra­ma­ no­ perío­do­ 2001-2003,apon­tan­do­pos­sí­veis­mudan­ças­em­sua­estru­tu­-ra.­Para­ rea­li­zar­o­ tra­ba­lho,­ a­Ação­Edu­ca­ti­va

for­mou­e­coor­de­nou­nove­equi­pes­de­pes­qui­saem­­vários­esta­dos­bra­si­lei­ros.­“Rea­li­zar­tra­ba­lhos­rela­cio­na­dos­às­polí­ti­cas

públi­cas­é­espe­cial­men­te­impor­tan­te­para­nós,pois­sem­pre­defen­de­mos­que­elas­­sejam­basea­-das­ em­ ava­lia­ções­ con­cre­tas”,­ des­ta­ca­ ­MariaCla­ra.­As­ ­metas­ da­ equi­pe­ para­ os­ pró­xi­mosanos,­ segun­do­ela,­pas­sam­pela­amplia­ção­doseu­esco­po­de­atua­ção,­abran­gen­do­pro­je­tos­em­áreas­como­as­da­edu­ca­ção­ ­rural­e­ juven­tu­de,por­ exem­plo,­ e­ também­ pela­ poten­cia­li­za­çãodo­uso­des­sas­infor­ma­ções­em­­todos­os­pro­je­-tos­da­Ação­Edu­ca­ti­va.­•

Aná li se das polí ti cas públi casAté 2006, pesquisadores de 11 das principais universidades brasileiras estarãounidos em uma grande rede de trabalho para realizar o levantamento e análisedas políticas públicas de Juventude e EJA, nas nove maiores regiõesmetropolitanas do país. A pesquisa “Juventude, Escolarização e Poder Local” seráa maior já realizada na área de Juventude, alcançando 75 municípios nos estadosde São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul,Santa Catarina, Goiás, Pernambuco e Paraíba.“Trabalhamos com a hipótese de que os governos locais tornaram-se os pólosmais dinâmicos de implementação de políticas para a juventude”, afirma MariaClara Di Piero. A pesquisa, apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa doEstado de São Paulo (FAPESP) e pelo Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (CNPq), tem nos professores doutores Marilia PontesSposito (USP) e Sérgio Haddad (PUC-SP) seus pesquisadores principais. A Ação Educativa é responsável pela coordenação da base de dados. Na primeira etapa de trabalho, em 2003, o grupo de coordenação, unido às redeslocais formadas por pesquisadores, bolsistas e alunos de pós-graduação, realizouo levantamento das políticas públicas nas 75 cidades mapeadas para o estudo. A segunda e a terceira etapas, a serem desenvolvidas em 2004 e 2005, prevêema realização de estudos de caso nos municípios, além da compilação dasexperiências mais representativas em todas as regiões.

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Realizar trabalhosrelacionados às políticas públicas é especialmente importante paranós, pois sempre defendemos queelas sejam baseadas em avaliaçõesconcretas Maria Clara di Piero

Page 30: Ação Educativa 10 anos

JUVENTUDE

N a socie da de em geral, a ima gem pre do mi nan te sobre os jovens é a de que eles são focos de pro ble mas. Há 10 anos,

quan do ini ciou suas ati vi da des, a Ação Edu ca ti va já acre di ta va queessa era uma ima gem dis tor ci da. “Em mea dos da déca da de 90, havia uma série de gru pos juve nis na peri fe ria. Eles se reu niampara fazer músi ca, tea tro, fan zi nes, escre ver poe sia, gra fi tar”,recor da a soció lo ga Maria Vir gí nia de Frei tas, a Magi, coor de na do -ra do Pro gra ma Juven tu de da Ação Edu ca ti va. “Atra vés de dife ren -tes lin gua gens, bus ca vam colo car suas ques tões no espa ço públi co,só que de uma for ma dife ren te e não eram per ce bi dos pela maio ria.”

Par tin do do prin cí pio de que este é um seg men to estra té gi co, quetem ques tões espe cí fi cas mas pou ca visi bi li da de, a ONG se pro pôsa con tri buir para a inser ção do tema nos espa ços públi cos onde senego ciam direi tos e polí ti cas por meio de três estra té gias: pro du zire dis se mi nar conhe ci men to sobre juven tu de, apoiar o for ta le ci men -to dos gru pos e orga ni za ções juve nis e apoiar a cria ção, o desen vol -vi men to e a ava lia ção das polí ti cas públi cas de juven tu de.

Para dar mais con sis tên cia ao pro gra ma de juventude, a AçãoEdu ca ti va com bi nou diversas ati vi da des de pes qui sa com a rea li -za ção de pro je tos expe ri men tais, ati vi da des de for ma ção de jovense edu ca do res, asses so ria a pro je tos de orga ni za ções e gover nos,orga ni za ção de semi ná rios, publi ca ções diver sas. “Bus ca mos for -ta le cer e dar visi bi li da de aos temas da juven tu de, afir man do os jovens enquan to sujei tos de direi tos. Sem pre bri ga mos com a con -cep ção que este rio ti pa o jovem como um pro ble ma, um ris co parasi mes mo e para a socie da de”, expli ca Magi.

ProjetosNo tra ba lho rea li za do jun to aos jovens, o pro gra ma par te dos

inte res ses mani fes ta dos por eles e bus ca apoiá-los na ela bo ra ção eimple men ta ção dos pro je tos. Esse apoio pode se dar tan to por meiode ati vi da des de for ma ção envol ven do gru pos diver sos, como pormeio do acom pa nha men to e asses so ria ao desen vol vi men to de pro -

je tos espe cí fi cos. A for ma ção em ela bo ra ção e ges tão de pro je tosenvol ve não ape nas as meto do lo gias ade qua das, mas tam bém asdis cus sões atuais em tor no do papel e lugar dos pro je tos sociais.

Em todas as ações, uma aten ção espe cial é dedi ca da ao esta be -le ci men to de diá lo go com outros ato res da socie da de civil, comoorga ni za ções comu ni tá rias e outras ONGs. E tam bém com o poderpúbli co, seja na for ma de cons tru ção de par ce rias, seja na de apre -sen ta ção de deman das.

Essa atua ção jun to a jovens bus ca for ta le cer sua capa ci da de deação cole ti va e já favo re ceu a cria ção de novos gru pos, bem comoa cons ti tui ção de espa ços de diá lo go com outros ato res sociais,prin ci pal men te o poder públi co. “É impor tan te que a par ce ria comos jovens acon te ça em todas as fases dos pro je tos, des de sua ela -bo ra ção”, diz a asses so ra Maria Car la Cor ro cha no. “Bus ca mosago ra enfren tar o desa fio de tor nar pos sí vel aos jovens o aces so adife ren tes tipos de recur sos, sem com pro me ter sua auto no mia e aomes mo tem po refle tin do sobre suas res pon sa bi li da des na ges tãodes ses recur sos.”

Um exem plo des se tra ba lho é o Gru po Cul tu ra da Peri fe ria, quenas ceu de um pro je to desen vol vi do pela Ação Edu ca ti va em par ce -ria com o Ins ti tu to Cre di card. É for ma do por jovens com ida de entre16 e 22 anos que rea li zam apre sen ta ções de tea tro e de dan ça afro,além de ofi ci nas e deba tes para mobi li zar a juven tu de negra do Jar -dim São Savé rio, na Zona Sul de São Pau lo. “Sem a Ação Edu ca ti -va, o nos so gru po, Cul tu ra da Peri fe ria, não exis ti ria. Des de o iní cioela está com a gen te. É uma ONG que apóia mui tos gru pos”, con ta aLore na Mar ques San ta na, 18 anos, estu dan te de Ciên cias Con tá beis.

No pro ces so de ela bo ra ção do pro gra ma, criou-se na Ação Edu -ca ti va o Cen tro de Juven tu de e Edu ca ção Con ti nua da. O espa ço,que fun cio na em três anda res do pré dio da ins ti tui ção, foi legi ti -ma do pelos jovens. Tor nou-se um pon to de encon tro e um cen trode refe rên cia sobre temas da juven tu de. De modo geral, os pro je -tos são cla ra men te vol ta dos para os jovens de ori gem popu lar. Mas

Fortalecer e dar visibilidade aotema da juventude é objetivoestratégico da Ação Educativa

O direito deser jovemFOTOS: MARCELLO VITORINO

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JUVENTUDE

“Aprendicoisas que

vão meajudar ao

longo de toda a vida”Gleice Medeiros>

Centro de Referência

Magi (acima) está à frente da área de juventude desde a fundação da Ação Educativa

Laboratórios de informática, seminários edebates aproximam a escola dos jovens

O Centro de Referência da Juventude de Santo André(CRJ), o primeiro do país, é hoje um modelo de políticapública para a juventude. Segundo a coordenadora queimplantou o projeto, Márcia Furquim, esse resultado nãoseria possível sem a assessoria da Ação Educativa. “A participação das organizações da sociedade civil éfundamental na construção das políticas públicas”, avalia. A necessidade de um espaço como esse começou a serdebatido em 1996, ainda na esfera de um plano degoverno municipal. Já estava claro que o principal objetivodo centro não era tornar-se um espaço cultural, mas umlocal onde a juventude pudesse fortalecer suas ações pormeio de oficinas e intercâmbios. Em 1997, depois de seraprovado pelo orçamento participativo, foi dado início àprocura por um imóvel. No ano seguinte era inaugurado oCRJ, em uma casa de três andares no centro de SantoAndré, com laboratório de informática e salas para oficinas. Para tornar tudo isso possível no âmbito da legislaçãobrasileira, a equipe também teve que se debruçar sobre ostrâmites legais. Na avaliação de Márcia, o poder público noBrasil ainda tem um caminho muito truncado, burocrático,muito difícil para realizar os projetos, principalmenteinovadores. “A Ação Educativa passou com a gente portudo isso e ajudou muito graças ao seu conhecimento, à sua experiência junto a outras organizações”, relembra. Para a coordenadora, o fato da Ação Educativa fomentaruma grande rede na discussão sobre juventude abriuhorizontes para o CRJ. “Em 2000 fomos apresentados àRede Jovem, projeto do governo federal. Passamos por um processo de seleção e fomos aprovados para ser um projeto piloto nacional”, diz.

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312004 • ação educativa

>

pela Ação Edu ca ti va cir cu lam tam bém gru pos de outros seg men -tos sociais. “A Ação Edu ca ti va favo re ce o encon tro entre jovenscom dife ren tes níveis de ren da, esco la ri da de etc. Eles têm mui tasexpe riên cias pra tro car”, con ta Magi.

Políticas públicasNo cam po da edu ca ção, o pro gra ma desen vol veu, em par ce ria

com duas esco las públi cas, um pro je to expe ri men tal com o obje -ti vo de apro xi mar o mun do esco lar das ques tões da juven tu de pormeio de um diá lo go ver da dei ro. “A par ce ria com a Ação Edu ca ti -va garan tiu apoio peda gó gi co e finan cei ro. Con se gui mos rea li zar ações mui to inte res san tes”, ava lia Maria Apa re ci da Otto bo ni, aCidi nha, coor de na do ra peda gó gi ca de uma das esco las par cei ras.“A Ação Edu ca ti va trou xe um novo olhar, um pris ma que nos fezenxer gar novos cami nhos.”

A par tir des sa expe riên cia, a Ação Edu ca ti va bus ca ago ra ofe -re cer sub sí dios para se pen sar na polí ti ca edu ca cio nal diri gi da aesse seg men to. “Mui tos são os desa fios para a cons tru ção de umaesco la mais ade qua da aos inte res ses e neces si da des juve nis”, diza asses so ra Ana Pau la Cor ti. “Um deles é a invi si bi li da de do jovem enquan to sujei to, por isso atua mos no sen ti do de pro mo veresse reco nhe ci men to e, assim, abrir cami nhos para uma novainter lo cu ção entre jovens, edu ca do res e esco las. Essa atua çãodeman da um tra ba lho não só com os jovens, mas tam bém com ospro fes so res que conhe cem mui to pou co sobre o uni ver so juve nil.”

Assim como o tema da edu ca ção, o da par ti ci pa ção juve nil temespe cial impor tân cia para a Ação Edu ca ti va, que tem con tri buí dopara a cria ção de novos espa ços para os jovens. Nes se sen ti do,além do apoio à orga ni za ção de con fe rên cias e fóruns de juven tu -de em diver sas cida des de São Pau lo e em âmbi to nacio nal, fir -mou uma par ce ria com a pre fei tu ra de San to André que resul touno Cen tro de Refe rên cia da Juven tu de (CRJ). “Duran te qua troanos, aju da mos a desen vol ver o pro je to, gerir e for mar equi pes.Jun tos, cria mos uma expe riên cia pio nei ra, que se tor nou refe rên -cia para pre fei tu ras e ges to res”, ana li sa Magi.

Mas além das par ce rias com gru pos juve nis e poder públi co, aAção Edu ca ti va valo ri za as par ce rias com outras orga ni za çõesque atuam jun to a jovens. E foi em par ce ria com algu mas des sasque a Ação Edu ca ti va pôde pro mo ver o Semi ná rio Polí ti casPúbli cas: Juven tu de em Pau ta, que pro pi ciou um dos pri mei rosmomen tos de encon tro e de arti cu la ção entre ges to res públi cos,orga ni za ções juve nis, pes qui sa do res e demais ato res envol vi doscom a temá ti ca em todas as regiões do Bra sil.

Hoje, pode-se dizer que o tra ba lho da Ação Edu ca ti va é um dospio nei ros no Bra sil, pois con tri buiu para colo car a ques tão dajuven tu de na ordem do dia, nos veí cu los de comu ni ca ção, nosdeba tes sobre edu ca ção, cul tu ra, tra ba lho e par ti ci pa ção. “ Fomosbem suce di dos, pois con tri buí mos, ao lado de outras orga ni za ções,para que as ques tões da juven tu de ganhas sem legi ti mi da de social”,expli ca Magi. “A cria ção, no ano pas sa do, da Comis são Par la men -tar de Juven tu de na Câma ra Fede ral, que se pro pôs a ela bo rar umPla no Nacio nal da Juven tu de e um Esta tu to da Juven tu de, é a maiorevi dên cia de que a juven tu de real men te se tor nou pau ta das polí ti -cas públi cas. Ago ra, o gran de desa fio será garan tir que as polí ti casreal men te res pon dam às neces si da des dos jovens, con si de ran dosua diver si da de – de gêne ro, etnia, clas se, per ten ci men to ter ri to rial– e seu direi to a par ti ci par das defi ni ções des sas polí ti cas.” •

“Sempre brigamoscom a concepçãoque esteriotipa ojovem como umproblema, umrisco para simesmo e para a sociedade”Maria Virgínia de Freitas

Jovens em açãoFoi a vontade de fazer alguma coisa pelo bairro onde morava e apossibilidade de ganhar uma bolsa que mobilizou Gleice Medeiros,24 anos, a se inscrever no Cenafoco (Centro Nacional de FormaçãoComunitária), projeto realizado em parceria com o Governo Federal.Moradora da Cidade Tiradentes, na Zona Leste, desempregada naépoca, ela conta que não tinha a mínima idéia do que seria elaborarum projeto. “Queria fazer alguma coisa na área social, mas ficavamuito fechada no meu mundinho”, afirma.Durante o curso de Gestão de Projetos, ministrado pela AçãoEducativa, Gleice e seu grupo criaram o SDPP (Sexualidade, Droga,Prazer e Prevenção) e implementaram um projeto na EscolaEstadual Oswaldo Aranha. Ela também participou de um outro grupoque documentou este e outros projetos realizados na região. Foi assim que nasceu o Joinha Filmes, que existe desde 2003 e é um dos grupos juvenis mais atuantes da periferia de São Paulo.

Page 34: Ação Educativa 10 anos

A distância entre a

32 ação educativa • 2004

CAMPANHA

No­Bra­sil,­uma­enor­me­dis­tân­cia­cos­tu­-

ma­sepa­rar­as­leis­do­seu­cum­pri­men­-

to.­No­caso­da­Edu­ca­ção,­a­dife­ren­ça­­entre­o

que­se­apro­va­e­o­que­real­men­te­se­exe­cu­ta

pode­con­de­nar­­milhões­de­crian­ças­e­­jovens

a­per­ma­ne­ce­rem­alfa­be­tos­ou­sem­uma­es­-

co­la­ri­da­de­que­lhes­dê­con­di­ções­míni­mas

de­aces­so­à­cida­da­nia.

Foi­para­rei­vin­di­car­o­cum­pri­men­to­dos

direi­tos­ edu­ca­cio­nais­ que,­ em­ 1999,­ um

gru­po­de­ONGs­e­movi­men­tos­da­socie­da­de

­civil,­ impul­sio­na­dos­pela­Ação­Edu­ca­ti­va,

­criou­a­Cam­pa­nha­Nacio­nal­Pelo­Direi­to­à

Edu­ca­ção.­Hoje,­ela­reú­ne­120­enti­da­des­e

13­ comi­tês­ esta­duais,­ que­ for­mam­ uma

gran­de­ rede­ de­ mobi­li­za­ção­ e­ pres­são.­A

Ação­Edu­ca­ti­va­inte­gra­o­Comi­tê­Dire­ti­vo

da­ Cam­pa­nha,­ jun­ta­men­te­ com­ enti­da­des

como­a­Actio­nAid,­o­Cen­tro­de­Defe­sa­da

Crian­ça­e­do­Ado­les­cen­te­e­a­Con­fe­de­ra­ção

Nacio­nal­dos­Tra­ba­lha­do­res­em­Edu­ca­ção.­

A­coor­de­na­ção­­geral­da­Cam­pa­nha,­ins­-

ta­la­da­ na­ sede­ da­Ação­Edu­ca­ti­va,­ é­ fei­ta

por­Deni­se­Car­rei­ra.­“­Temos­três­obje­ti­vos

per­ma­nen­tes:­­o­aumen­to­de­ver­bas­para­a

edu­ca­ção,­a­ges­tão­demo­crá­ti­ca­dos­recur­-

sos­e­a­valo­ri­za­ção­dos­pro­fis­sio­nais”.

A­ par­tir­ des­ses­ três­ ­focos­ prin­ci­pais,­ a

pau­ta­ de­ rei­vin­di­ca­ções­ da­ Cam­pa­nha­ se

des­do­bra­em­­metas­como­a­der­ru­ba­da­dos

­vetos­ pre­si­den­ciais­ ao­ Pla­no­ Nacio­nal­ de

Edu­ca­ção­(PNE),­apro­va­do­pelo­Con­gres­so

em­2001,­o­cum­pri­men­to­da­lei­nº­9.424/96,

do­Fun­def­(Fun­do­de­Manu­ten­ção­e­Desen­-

vol­vi­men­to­ do­ Ensi­no­ Fun­da­men­tal­ e­ de

Valo­ri­za­ção­do­Magis­té­rio)­e­a­defi­ni­ção­do

cus­to­ alu­no-qua­li­da­de,­ que­deve­ ­levar­ em

con­ta­os­insu­mos­bási­cos­para­o­desen­vol­-

vi­men­to­do­pro­ces­so­de­ensi­no-apren­di­za­-

gem­(como­mate­riais,­con­di­ções­de­ tra­ba­-

lho,­ ges­tão­ demo­crá­ti­ca­ e­ con­di­ções­ de

aces­so­e­per­ma­nên­cia­na­esco­la).­

Lei ignoradaDo­­total­de­alu­nos­que­­estão­no­Ensi­no

Bási­co­ no­Bra­sil,­ 87%­ estu­da­ em­ esco­las

públi­cas.­“O­gran­de­desa­fio­é­pro­mo­ver­a

eqüi­da­de­na­edu­ca­ção,­e­isso­só­acon­te­ce­rá

quan­do­ela­for­vis­ta­não­de­for­ma­seto­rial,

mas­ sim­ como­ ­fator­ fun­da­men­tal­ para

com­ba­ter­a­desi­gual­da­de”,­lem­bra­Deni­se.­

Mais­ recur­sos­ repre­sen­ta­riam­ par­te­ da

solu­ção.­ Um­ dos­ ­vetos­ do­ ex-pre­si­den­te

Fer­nan­do­Hen­ri­que­Car­do­so­ao­PNE­foi­ao

arti­go­que­esta­be­le­cia­que­em­uma­déca­da

o­per­cen­tual­de­gas­tos­públi­cos­com­a­edu­-

ca­ção­deve­ria­pas­sar­dos­­atuais­4,6%,­em

­média,­para­7%.­Essa­dife­ren­ça­repre­sen­ta

cer­ca­de­R$­24­­bilhões­ao­ano,­o­sufi­cien­te

para­ colo­car­ ­todas­ as­ crian­ças­ de­ 7­ a­ 14

anos­ na­ esco­la­ e­ para­ ­incluir­ a­ maio­ria

daque­las­que­ ­estão­na­ fai­xa­dos­zero­a­6

anos­em­cre­ches­e­pré-esco­las.­Sem­a­der­-

ru­ba­da­dos­­vetos­e­a­defi­ni­ção­de­um­in­-

ves­ti­men­to­míni­mo­em­edu­ca­ção,­não­há

como­­ampliar­a­ofer­ta­de­­vagas­ou­aumen­-

tar­ a­ remu­ne­ra­ção­ dos­ pro­fis­sio­nais­ da

edu­ca­ção,­pon­tos­bási­cos­para­melho­rar­a

qua­li­da­de­do­ensi­no.

No­caso­do­Fun­def,­não­se­tra­ta­de­veto,

mas­sim­ples­men­te­do­des­cum­pri­men­to­da

lei.­Ela­deter­mi­na­que­cada­esta­do­bra­si­lei­-

ro­ vin­cu­le­ ao­ Ensi­no­ Fun­da­men­tal­ 60%

dos­recur­sos­esta­duais­e­muni­ci­pais­des­ti­-

na­dos­à­edu­ca­ção,­de­acor­do­com­o­núme­ro

A diferença entre o que se aprova e o que se executa impede quemilhões de pessoastenham acesso àcidadania. A CampanhaNacional Pelo Direito à Educação foi criadapara reivindicar ocumprimento de umdireito fundamental: que todos possamestudar com qualidade

And

ré P

ente

ado

A Semana de Ação mobilizou 69 mil jovens de diversos paises em um grande evento pelo direito à educação pública de qualidade

Page 35: Ação Educativa 10 anos

de­matrí­cu­las­e­res­pei­tan­do­o­cus­to-alu­no

­anual­míni­mo­esta­be­le­ci­do­pela­Pre­si­dên­-

cia­da­Repú­bli­ca.­Nos­esta­dos­mais­­pobres,

que­não­con­se­guem­asse­gu­rar­esse­­valor,­a

com­ple­men­ta­ção­fica­a­car­go­do­Gover­no

Fede­ral,­de­manei­ra­que­haja­um­pata­mar

de­inves­ti­men­to­em­­todos­os­esta­dos.­

Des­de­ a­ implan­ta­ção­ do­ Fun­do,­ em

1998,­no­entan­to,­o­gover­no­vem­repas­san­-

do­­menos­do­que­deve­ria­a­­esses­esta­dos,

num­ calo­te­ que­ já­ ultra­pas­sou­ R$­ 12

­bilhões.­Em­2002,­se­-

gun­­do­ as­ infor­ma­-

ções­ levan­ta­das­ pela

Cam­pa­nha,­o­des­res­-

pei­to­ às­ deter­mi­na­-

ções­da­lei­afe­tou­cer-

ca­de­20­­­milhões­de

crian­ças­ de­ 7­ a­ 14

anos,­além­de­um­­mi­-

lhão­ de­ pro­fes­so­res

nos­ 14­ Esta­dos­ que

deve­riam­ rece­ber­ a

su­­­ple­­men­ta­ção.

Lei e a realidade

332004 • ação educativa

VisibilidadePara­supe­rar­tama­nhos­desa­fios,­o­prin­cí­-

pio­ de­ uma­ rede­ arti­cu­la­da­ e­ pron­ta­ para

mobi­li­zar-se­é­fun­da­men­tal.­Só­um­­amplo

tra­ba­lho­de­base­pode­rá­garan­tir­a­par­ti­ci­pa­-

ção­popu­lar­nas­deci­sões­toma­das­a­res­pei­to

da­edu­ca­ção­públi­ca­no­país.­

Na­opi­nião­do­depu­ta­do­Car­los­Abi­ca­lil

(PT/MT),­pre­si­den­te­da­Comis­são­de­Edu­-

ca­ção­e­Cul­tu­ra­da­Câma­ra­e­um­dos­enga­-

ja­dos­na­Cam­pa­nha,­seu­­maior­avan­ço­está

na­ visi­bi­li­da­de­ con­quis­ta­da.­ “Isso­ indi­ca

que­os­tra­ba­lhos­e­vin­cu­la­ções­­estão­no­ru­-

mo­ cer­to”.­ Para­Abi­ca­lil,­ o­ movi­men­to­ é

fun­da­men­tal­na­medi­da­em­que­reú­ne­enti­-

da­des­ liga­das­ à­ edu­ca­ção­ com­ dife­ren­tes

repre­sen­ta­ções,­per­fis­e­­papéis,­mas­preo­cu­-

pa­das­em­pro­por­mudan­ças,­acom­pa­nhar­e

ava­liar­polí­ti­cas­públi­cas­do­­setor.

No­iní­cio­de­2004,­o­movi­men­to­foi­con­-

vi­da­do­ pelo­ minis­tro­ da­ Edu­ca­ção,­ Tar­so

Gen­ro,­ a­ inte­grar­ o­ Gru­po­ Exe­cu­ti­vo­ do

MEC,­encar­re­ga­do­de­dis­cu­tir­qua­tro­­temas

cen­trais:­a­ava­lia­ção­do­Pla­no­Nacio­nal­de

Edu­ca­ção,­a­cria­ção­do­Fun­deb­(Fun­do­para

a­Edu­ca­ção­Bási­ca)­em­subs­ti­tui­ção­ao­Fun­-

def,­a­reto­ma­da­da­Con­fe­rên­cia­Nacio­nal­de

Edu­ca­ção­como­prin­ci­pal­foro­de­inter­lo­cu­-

ção­ ­sobre­ o­ assun­to,­ além­ de­ for­mas­ de

aumen­tar­o­con­tro­le­­social­­sobre­as­polí­ti­-

cas­ públi­cas­ de­ edu­ca­ção.­ “O­ con­vi­te­ foi

um­ reco­nhe­ci­men­to­ da­ impor­tân­cia­ da

Cam­pa­nha,­mas­ao­mes­mo­tem­po­nos­preo­-

cu­pa­mos­em­não­per­der­for­ça­como­movi­-

men­to­de­pres­são”,­res­sal­va­Deni­se.

As­ mani­fes­ta­ções­ públi­cas­ são­ ­outro

meio­de­se­­fazer­­ouvir.­No­Dia­Nacio­nal­de

Mobi­li­za­ção­por­uma­Edu­ca­ção­Públi­ca­de

Qua­li­da­de,­em­15­de­outu­bro­de­2003,­en­-

quan­to­o­Con­gres­so­Nacio­nal­vota­va­o­or­-

ça­men­to­para­a­Edu­ca­ção,­milha­res­de­pes­-

soas­ ­foram­ às­ ruas­ par­ti­ci­par­ da­Ciran­da

pela­Edu­ca­ção.­ ­Entre­ os­ dias­ 19­ e­ 25­ de

­abril­des­te­ano,­a­Cam­pa­nha­Nacio­nal­pelo

Direi­to­ à­Edu­ca­ção­ coor­de­nou­no­Bra­sil,

com­o­­apoio­da­Unes­co,­a­Sema­na­de­Ação

Glo­bal­ pela­ Edu­ca­ção.­ O­ tema­ foi­ “Um

Gran­de­ ­Lobby­pela­Edu­ca­ção­Públi­ca”­ e

­incluiu­a­ida­de­crian­ças­e­­jovens­ao­Con­-

gres­so­Nacio­nal,­visi­ta­de­polí­ti­cos­a­esco­-

las­públi­cas­e­o­­envio­de­milha­res­de­car­-

tões­ vir­tuais­ ao­ Pre­si­den­te­ da­Repú­bli­ca,

pedin­do­que­se­olhe­com­mais­cari­nho­para

a­edu­ca­ção­no­Bra­sil.­O­site­da­Cam­pa­nha

Nacio­nal­pelo­Direi­to­à­Edu­ca­ção­é­www.

cam­pa­nhae­du­ca­cao.org.br­

Semana da Ação GlobalPro­du­zir­ ­dados­ con­fiá­veis­ ­sobre­ os

núme­ros­e­os­moti­vos­­pelos­­quais­crian­ças

e­­jovens­­estão­fora­da­esco­la­é­uma­das­for­-

mas­de­­gerar­sub­sí­dios­para­o­deba­te­­sobre

a­edu­ca­ção­públi­ca.­Em­­abril,­duran­te­a­Se­-

ma­na­de­Ação­Glo­bal,­a­Cam­pa­nha­Na­cio­-

nal­ pelo­Direi­to­ à­Edu­ca­ção­deu­ iní­cio­ à

ela­bo­ra­ção­do­Mapa­da­Exclu­são­Esco­lar

no­Bra­sil.­A­pes­qui­sa,­cuja­meto­do­lo­gia­foi

ela­bo­ra­da­em­par­ce­ria­com­o­Ins­ti­tu­to­Pau­-

lo­Mon­te­ne­gro­(Ibo­pe)­por­meio­do­pro­je­to

NEP­SO­(Nos­sa­Esco­la­Pes­qui­sa­Sua­Opi­-

nião),­ iden­ti­fi­ca­rá­ as­ ­razões­ que­ ­levam

crian­ças,­­jovens­e­adul­tos­a­não­com­ple­ta­-

rem­a­edu­ca­ção­bási­ca.­

­Outro­pro­je­to­em­anda­men­to­é­a­Con­sul­-

ta­ ­sobre­Qua­li­da­de­ em­Edu­ca­ção­ Infan­til,

que,­ouvi­rá­o­que­pen­sam­pais,­mães,­alu­-

nos,­ pro­fes­so­res,­ fun­cio­ná­rios­ e­ dire­to­res

­sobre­a­qua­li­da­de­em­Edu­ca­ção­Infan­til­em

suas­cida­des­e­esta­dos.­A­con­sul­ta­é­patro­ci­-

na­da­pela­Save­The­Chil­dren,­com­o­­apoio

do­­MIEIB­(Movi­men­to­Inter­fó­runs­de­Edu­-

ca­ção­Infan­til)­e­asses­so­ria­téc­ni­ca­da­Fun­-

da­ção­Car­los­Cha­gas.­•

Denise Carreiro e Simone Dias,coordenadoras da Campanha

Educação no Brasil•16 milhões é o número de pessoas analfabetas com mais de 14 anos no país

•7 milhões de crianças e adolescentes estão fora do ensino básico•14,6 milhões é o déficit de vagas no ensino infantil•12 bilhões de reais é a dívida acumuladapelo Governo Federal desde 1998 com os 14 estados que recebemsuplementação do Fundef•24 bilhões de reais é a diferença, por ano, entre investir 4,6% do PIB ou 7%, como determina o artigo 7 doPlano Nacional de Educação

Mar

cello

Vit

orin

o

Page 36: Ação Educativa 10 anos

34 ação educativa • 2004

ENTREVISTA

DIRETOR GERAL DA ABONGwww.abong.org.br

Jorge Durão é advogado com curso de pós-graduação em AntropologiaSocial no PPGAS/Museu nacional/UFRJ.É diretor executivo da FASE – Federaçãode Órgãos para Assistência Social e Educacional (www.fase.org.br). Foi o primeiro presidente da ABONG,entre 1991 e 1994. É membro suplentedo Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social e também membrodo Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial – CNPIR, daSecretaria Especial de Políticas dePromoção da Igualdade Racial.

Jorge Durão

Folh

a Im

agem

Otrabalho desenvolvido pelas organizações nãogovernamentais tomou corpo no Brasil nos últimos

anos, em grande medida graças ao surgimento deorganismos como a ABONG (Associação Brasileira deONGs), criada em 1991 como forma de representarcoletivamente as organizações associadas para seudesenvolvimento institucional e representação coletivajunto a instâncias governamentais ou da sociedade civil.Em 1998, surgiu o Instituto Ethos de Empresas eResponsabilidade Social, iniciativa que busca ajudar osempresários a compreender e incorporar o conceito deresponsabilidade social no cotidiano de sua gestão.Nessa entrevista, os diretores das duas instituições falamsobre o papel das organizações não governamentais erelacionam as prioridades de ação para os próximos anos.

O PAPEL DAS

Page 37: Ação Educativa 10 anos

Oded Grajew

352004 • ação educativa

polí ti cas públi cas. Por vezes isso acon te cecom empre sas. Então, deve mos estar aten -tos para que o con cei to de ter cei ro setornão encu bra rea li da des distintas. Quandolutamos pela redução das desigualdades ouelegemos a efetivação dos direitos sociais,estamos introduzindo um olhar própriocom relação a questão do desenvolvimen-to. Não que re mos cres ci men to a qual quercus to. É cla ro que ele aju da, mas em alguns casos pode ser noci vo, se for fei toàs cus tas da devas ta ção do meio ambien te.

ODED GRA JEW – A cons tru ção de um país melhor pas sa pelo pro ces so demo crá ti co,onde exis ta a pos si bi li da de de colo car empau ta os inte res ses maio res e onde as deci -sões aten dam o inte res se públi co. Para gerir as comu ni da des, foi esta be le ci do umsis te ma onde as pes soas ele gem seus re -pre sen tan tes para que eles pos sam aten derseus inte res ses e pro mo ver o bem estar

comum. A demo cra cia repre sen ta ti va secarac te ri za por esse voto de con fian ça, maso que fal ta é o acom pa nha men to do pro -ces so. A lógi ca do sis te ma é a do poder emui tas vezes o inte res se públi co fica delado. Isso fez com que a socie da de per ce -bes se que não bas ta ele ger, é pre ci so par ti -ci par, evo luir da demo cra cia repre sen ta ti vapara a par ti ci pa ti va. Essa par ti ci pa ção fei tade for ma orga ni za da evo luiu e no fun do é ocha ma do ter cei ro setor, que tra ba lha den -tro des sa óti ca de demo cra cia par ti ci pa ti va.

Qual é o grande desafio a ser enfrentadonos próximos anos?

JOR GE DURÃO – O pro je to que defen de mosnão pode ser rea li za do exclu si va men te pelas ONGs. O gran de desa fio é cons truirum cam po con tra-hege mô ni co na socie da -de, ou seja, cons ti tuir alian ças para bus carobje ti vos comuns. Quan to mais enti da des

PRESIDENTE DO INSTITUTO ETHOSwww.ethos.org.br

Oded Grajew foi empresário do ramo de brinquedos até 1991,quando deixou a Grow (fundada por ele em 1971) e criou a FundaçãoAbrinq pelos os Direitos da Criança(www.fundabrinq.org.br). Foiidealizador do Fórum Social Mundial(www.forumsocialmundial.org.br) eassessor especial do presidente Lula.É coordenador de honra da Cives –Associação Brasileira de Empresáriospela Cidadania – e membro doConselho Consultivo do GlobalCompact, programa desenvolvido pelo secretário-geral da Organizaçãodas Nações Unidas, Kofi Annan.

Div

ulga

ção

Qual é sua avaliação do papel das ONGs e de outras organizações do terceirosetor na transformação do Brasil em um país mais justo e democrático?

JOR GE DURÃO – Nor mal men te, quan do sefala em ter cei ro setor se englo ba seg men -tos dife ren cia dos. No âmbi to da socie da de civil eles não têm, neces sa ria men te, omes mo posi cio na men to na rela ção com oesta do e com o mer ca do. As ONGs, namedi da que se cons ti tuem cam po de orga -ni za ções que são vol ta das para a pro mo çãoe defe sa de direi tos, para a bus ca de alter -na ti vas a esse tipo de desen vol vi men to quenós temos, têm uma iden ti da de como umcam po que está com pro me ti do com essesprin cí pios os valo res. Outras orga ni za çõestêm outras natu re zas: enti da des de assis -tên cia social e as pró prias fun da ções em -pre sa riais. Toda nos sa luta envol ve con fli -tos com o esta do em tor no do rumo das

ONGS

Page 38: Ação Educativa 10 anos

ENTREVISTA

36 ação educativa • 2004

empre sa riais, assis ten ciais e outras orga ni -za ções que comu men te se enqua dram nocha ma do ter cei ro setor comun ga rem umapers pec ti va de defe sa dos direi tos e da sus -ten ta bi li da de sócioam bien tal, evi den te men -te que é melhor. Por isso, é impor tan te des -ta car que a preo cu pa ção que eu tenho dedis tin guir as ONGs das outras orga ni za çõesnão deve ser lida como estrei ta ou sec tá ria.

ODED GRA JEW – O desa fio para o ter cei ro setor é não per der o foco na mis são. Mui -tas vezes as ener gias aca bem sen do suga -das para a dis pu ta pelo poder. É impor tan -te tam bém atuar sobre cau sas para nãoreme diar efei tos. O gran de desa fio nes sesécu lo é o ris co ambien tal. Estu dos mos -tram que há um ris co con cre to da extin çãoda espé cie huma na se não hou ver mudan -ças. Evi tar esse desas tre é um gran de desa -fio. Em geral agimos depois do desas tre,mas des sa vez não terá como.

Algumas correntes do pensamentodizem que as ONGs estão assumindopapéis que são tipicamente do Estado.Isso ocorre?

JOR GE DURÃO – As ONGs não têm nenhu macon di ção ou mui to menos voca ção paraassu mir o papel do Esta do. A natu re za dospro ble mas sociais e as inter ven ções neces -sá rias para asse gu rar o desen vol vi men to econs truir uma socie da de mais jus ta exi gemuma esca la de atua ção e um poder que só oEsta do tem. Infe liz men te, o que eu achoque está acon te cen do no Bra sil é que oEsta do, mui tas vezes, atua como se fos seuma ONG. Por exem plo: esses núme rosridí cu los do che que cida dão, que aten de300 mora do res da Roci nha, um ocea no demisé ria. Mui tas vezes, esses pro je tos go -ver na men tais ficam pare ci dos com nos sospro je tos demons tra ti vos. Só que a gen tefaz um pro je to como um expe ri men to nocam po da inter ven ção social que deve riaser repli ca do pelo esta do numa esca la ade -qua da. O que esta mos assis tin do é o para -do xo: não são as ONGs que subs ti tuem oEsta do. É o Esta do que se ape que na e pas -sa a ter a dimen são de uma ONG.

ODED GRA JEW – Na demo cra cia repre sen ta -ti va o esta do fazia tudo. Quan do as ONGscome çam a atuar de for ma inci si va, podepare cer que estão toman do o papel do esta -do e não é isso. Assun tos comuns são de

inte res se de todos, são de inte res se públi -co. O Esta do tem recur sos, tem esca las,tem potên cia para ela bo rar polí ti cas públi -cas onde os direi tos sejam asse gu ra dos. Oris co é que o Esta do abra mão de sua res -pon sa bi li da de e jogue para as ONGs. O papel das enti da des não gover na men tais épres sio nar, aler tar, pro du zir pro je tos e ações exem pla res para que sir vam de labo -ra tó rios para as polí ti cas públi cas. E fis ca -li zar o esta do e mobi li zar as pes soas, for -mar par ce rias entre elas e o gover no.

Qual é sua avaliação sobre a gestão do presidente Lula e sobre a relação do governo com as ONGs e asorganizações do terceiro setor?

JOR GE DURÃO – O pre si den te Lula não sou -be equa cio nar ade qua da men te a tran si çãoda situa ção crí ti ca dei xa da pelo pre si den teFer nan do Hen ri que. Ado tou uma polí ti caeco nô mi ca que é uma arma di lha. Não se muniu de ins tru men tos que des sem ao go -ver no con di ções de, pau la ti na men te, alte -rar os rumos. Na medi da em que os efei tosdes sa polí ti ca se tor nem mais evi den tes, euacho que ele vai ficar em umasitua ção difí cil para fazermudan ças. Do pon to de vis tado pro ces so polí ti co, o gover -no Fer nan do Hen ri que nãosus ci tou a expec ta ti va que ocan di da to Lula tinha des per -ta do no país. Fer nan do Hen ri -que se ele geu com a ban dei rada esta bi li da de mone tá ria.Ago ra, a frus tra ção de expec -ta ti vas pode ter impli ca çõescom pli ca das em rela ção aopro ces so demo crá ti co.

ODED GRA JEW– O gover noLula pegou o Bra sil numasitua ção em que, nos oitoanos do pre si den te Fer nan doHen ri que, a dívi da exter napas sou de 100 para 250 bilhões de dóla res. A dívi dainter na pas sou de 80 para 900 bilhões de reais. O gover noLula pegou um esta do alta -men te endi vi da do e vul ne rá veldevi do a osci la ção do mer ca dointer na cio nal. Tem que pagarde juros o equi va len te a 10%do PIB, um ter ço do que arre -

ca da. Então teve que rea li zar uma polí ti camui to res tri ta em ter mos eco nô mi cos, parasegu rar a situa ção e não degrin go lar. Naárea social havia mui to des per dí cio. Aolan çar o Fome Zero – colo can do a ques tãoda fome e da pobre za na agen da nacio nal,que evo luiu para o bol sa famí lia e que pre -ten de atin gir 50 milhões de bra si lei ros que estão abai xo da linha da pobre za, o gover -no mos tra que está fazen do o pos sí vel.

As ONGs devem receber dinheiro degovernos?

JOR GE DURÃO – A ques tão cen tral é comogaran tir que isso seja fei to atra vés demeca nis mos em que haja um con tro le dafor ma como o dinhei ro é uti li za do. Ouço,com fre qüên cia, crí ti cas ao fato de ONGs terem aces so a recur sos públi cos. Essascrí ti cas vêm, por exem plo, do Esta do deSão Pau lo, que jamais cri ti cou o fato deseto res empre sa riais se bene fi cia rem deincen ti vos e toda sor te de favo re ci men tos.O capi ta lis mo bra si lei ro se carac te ri za poruma pro mis cui da de nas rela ções entre oEsta do e os inte res ses pri va dos: fre qüen te -

O projeto quedefendemos não pode ser realizadoexclusivamente pelasONGs. O grandedesafio é construir um campo contra-hegemônico nasociedade, ou seja,constituir aliançaspara buscar objetivos comunsJORGE DURÃO

Page 39: Ação Educativa 10 anos

372004 • ação educativa

gover no depen de mui to dascon di ções. Pre ci sa ver se issoimpli ca na per da de iden ti da -de, no des vio da mis são e namanu ten ção da inde pen dên -cia para cri ti car. Se no meiodo pro ces so as con di ções não forem favo rá veis, a diver si fi -ca ção de fon tes per mi te atémes mo que a rela ção sejarom pi da.

Como as ONGs podem influirnas políticas públicas?

JOR GE DURÃO – O papel daONGs em rela ção ao con tro ledas polí ti cas públi cas é fun -da men tal, daí a impor tân ciada nos sa pre sen ça nos con se -lhos de polí ti cas públi cas. Outro fato de gran de impor -tân cia é o tra ba lho que asONGs fazem no moni to ra -men to da exe cu ção orça men -tá ria. Seria neces sá rio que seamplias se a capa ci da de de fazer isso, não ape nas a nívelfede ral mas tam bém nos esta -dos e muni cí pios.

ODED GRA JEW – Acom pa nhan do, bata lhan -do e fican do aten tas à atua ção dos par la -men ta res para con fe rir seus com pro mis sosde cam pa nha; ela bo ran do pro gra mas epro je tos mode los que pos sam ser vir debase para serem ado ta dos como polí ti caspúbli cas; fazen do par ce rias com o poderpúbli co; pro mo ven do o diá lo go entregover no e socie da de; fazen do denún ciasquando for necessário.

As empresas e os institutos financiados por empresas prefereminvestir em ONGS que têm um carátermais assistencialista. Por que isso acontece?

JOR GE DURÃO – Pes qui sas mos tram quegran de par te do tra ba lho social des sas fun -da ções ain da é vol ta do para o pró prio uni -ver so dos fun cio ná rios das empre sas queman tém essas orga ni za ções. Acho que par -te da ati vi da de des sas fun da ções está maisna área do mar ke ting, mas seria um equí -vo co da nos sa par te subes ti mar a impor -tân cia que pode ter a difu são e a acei ta ção

men te, há uma socia li za ção das per das,enquan to os lucros são pri va dos. Então,quan do os movi men tos sociais, as ONGs,rei vin di cam o direi to de ter aces so a fun -dos públi cos, par te da gri ta ria que se erguedecor re des se sen ti men to de pri vi lé gio dosdeten to res da rique za. Vou pegar exem ploque me é mui to gra to mani fes tar: o tra ba -lho da Ação Edu ca ti va. Acho que é um tra -ba lho que ilus tra uma fun ção de inte res sepúbli co. Não ape nas tem um sen ti do com -ple men tar ao Esta do como, mui tas vezes, requer uma dimen são con fli ti va, porexem plo em rela ção às cam pa nhas coor de -na das ou apoia das pela Ação. É neces sá rioque a socie da de tenha orga ni za ções autô -no mas, cuja ação seja de inte res se públi coe não se res trin ja às dire tri zes gover na -men tais.

ODED GRA JEW – As ONGs devem diver si fi -car sua fon tes de finan cia men to e nãodepen der só de um recur so. Quan dodepen de de uma só fon te fica mui to vul ne -rá vel. É impor tan te diver si fi car ao máxi -mo para que não gere depen dên cia denenhu ma fon te. Rece ber ou não rece ber de

pelas empre sas de um con cei to mais avan -ça do de res pon sa bi li da de empre sa rial. Eunão acho que isso vá ocor rer ape nas poruma evo lu ção das men ta li da des ou pelaboa von ta de dos empre sá rios. Uma con di -ção para isso é a pres são da socie da de, doscon su mi do res, pois a atua ção deles podecon tri buir para o for ta le ci men to da cida da -nia. Orga ni za ções como o GIFE e o Ins ti -tu to Ethos ten tam avan çar nes sa ques tãoempre sa rial, um tema que ain da mui to aquém, por exem plo, do que já foi assu mi -do por empre sas euro péias. Embo ra, mui -tas des sas essas empre sas assu mam umdis cur so na Euro pa e ado tem outras prá ti -cas na colô nia.

ODED GRA JEW – Tem enti da de assis ten cia lis -ta e tem enti da de que atua em nome dacida da nia. No caso das empre sas, é cla roque há um inte res se de retor no de ima gem,o que é legí ti mo pois não vejo pro ble madas empre sas serem gra ti fi ca das pelasboas ações que fazem. É dever da socie da -de denun ciar ou revi dar quan do há umaênfa se dema sia da no mar ke ting e um dis -tan cia men to da rea li da de. Enga nar o con -su mi dor é um tiro que sai pela cula tra. Outro pon to é que, mui tas vezes por par tedas empre sas, há fal ta de conhe ci men to doque fazer. O assis ten cia lis mo, então, é ocami nho mais fácil. As ONGs têm tra zi doo conhe ci men to que as empre sas pre ci -sam para ter uma atua ção mais vol ta da àcida da nia.

Como você vê o trabalho desenvolvidopela Ação Educativa?

JOR GE DURÃO – Em relação a questãoeducativa, tenho dificuldade de enxergaruma referência no campo das ONGs que seaproxime do papel que a Ação Educativadesenvolve. Cada vez que se fala sobreedu ca ção, ela é ouvi da e res pei ta da. O tra -ba lho coti dia no com os jovens, por exem -plo, é empol gan te. Quan do a gen te entrana sede da ação edu ca ti va – o que façomui to por que fun cio na lá o escri tó rio da Abong, a gen te sen te a vibra ção.

ODED GRA JEW – A Ação Edu ca ti va ofe re ceum labo ra tó rio imen so para polí ti caspúbli cas devi do às suas pes qui sas e pro -pos tas de atua ção. É impor tan te essa visãode colo car a edu ca ção como um direi to enão como um favor que o esta do está pres -

O papel das entidadesnão governamentais é pressionar, alertar,produzir projetos eações exemplarespara que sirvam delaboratórios para aspolíticas públicasODED GRAJEW

Page 40: Ação Educativa 10 anos

O

VAiNÇÃO O programa “Práticas de Aprender”

estabelece uma nova relação entre a escola e a comunidade

PRÁTICAS DE APRENDER

FOTOS MARCELLO VITORINO

Page 41: Ação Educativa 10 anos

392004 • ação educativa

Na Ação Edu ca ti va, o pro gra ma Prá ti -cas de Apren der reú ne pro je tos que

bus cam a ino va ção no espa ço esco lar. Oobje ti vo é desen ca dear expe ri men tos queesta be le çam uma nova dinâ mi ca entre aesco la e as comu ni da des.

Enten den do a edu ca ção como par te dacul tu ra, as prá ti cas de apren der pro cu raminten si fi car a inter ven ção da esco la nasocie da de. Uma carac te rís ti ca de cada pro -je to é a ampla par ti ci pa ção da comu ni da deesco lar na con cep ção, imple men ta ção,ges tão e ava lia ção do que é rea li za do. Alu -nos, pro fes so res, dire to res, fun cio ná rios,pais e outros mora do res são incen ti va dos a atuar cole ti va men te em cada eta pa. Alémdos expe ri men tos edu ca cio nais pri vi le gia -rem a arti cu la ção de agen tes esco la res enão esco la res, visam a supe rar a tra di cio -nal frag men ta ção das polí ti cas sociais.

A maior par te dos pro je tos con cen tra-seem esco las e comu ni da des da Zona Les tede São Pau lo. A região con ta com mui tasini cia ti vas comu ni tá rias, mas como outras,tem altos índi ces de pobre za. O desem pre -go afe ta prin ci pal men te os jovens.

A Ação Edu ca ti va tra ba lha para que aspro pos tas polí ti cas e peda gó gi cas gera dasnes sas expe riên cias sejam dis se mi na das esir vam de refe rên cia para pro gra mas e orga -ni za ções que atuam em todo o país.

A área de Prá ti cas de Apren der tem umasérie de pers pec ti vas. As principais:• sobre vi ver e cui dar da pró pria

saú de e dos demais;• iden ti fi car e desen vol ver

talen tos e capa ci da des;• expres sar-se e comu ni car-se

com cla re za;• bus car novas opor tu ni da des

e meios de apren di za gem;• conhe cer os pró prios direi tos

e obri ga ções;• tra ba lhar e par ti ci par

pro du ti va men te da eco no mia.Atual men te, três pro je tos estão em anda -

men to: “Cir cui to Cul tu ral Esco lar”, “Cine -ma e Vídeo Bra si lei ro nas Esco las” e “Nos -sa Esco la Pes qui sa sua Opi nião” (NEP SO).

INOVAÇÃOINOVAÇÃOINOVAÇÃOINOVAÇÃOINOVAÇÃO

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INOVAÇÃO

Cidade Tiradentes (foto à esquerda) é um doslocais onde se desenvolvem as práticas deaprender. Música, dança, teatro e outrasatividades aproximam a escola da comunidade

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Page 42: Ação Educativa 10 anos

OCir cui to Cul tu ral Esco lar é uma das expe riên cias bem-suce -di das rea li za das pela Ação Edu ca ti va. Em 2003, o pro je to

envol veu men sal men te em apre sen ta ções cer ca de 3.500 estu dan -tes e pro fes so res que fazem par te de gru pos artís ti cos.

Por meio des sas ati vi da des, o pro je to fomen ta a arti cu la ção deuma rede de esco las e gru pos comu ni tá rios, na qual alu nos e pro -fes so res ensi nam e apren dem con jun ta men te. O pro je to pre vê area li za ção de uma pro gra ma ção edu ca ti va com apre sen ta ções ar -tís ti cas de alu nos, pro fes so res e agen tes comu ni tá rios. Atual men -te, 22 esco las públi cas e três gru pos comu ni tá rios da Zona Les te estão envol vi dos. São par cei ros do Cir cui to órgãos públi cos comoas Coor de na do rias de Edu ca ção de São Miguel, Itaim Pau lis ta eErme li no Mata raz zo e do SESC Ita que ra.

O Cir cui to Cul tu ral Esco lar tra ba lha com novas for mas deapren der, cria das median te a for ma ção de gru pos inte res sa dos emarte, mobi li zan do edu ca do res, estu dan tes e coor de na do res peda -gó gi cos. O Cir cui to foi implan ta do em 2001, quan do sete enti da -des, coor de na das pela Ação Edu ca ti va, come ça ram a dis cu tir sobre como pro mo ver encon tros peda gó gi cos entre estu dan tes dedife ren tes esco las.

Nin guém melhor do que os pró prios estu dan tes para deci dirquan do e como fazer isso. A con sul ta resul tou na des co ber ta dodese jo, por par te dos jovens, de tra ba lhar com tea tro, dan ça eexpres sões artís ti cas de um modo geral. Come ça va assim o Cir -cui to Cul tu ral Esco lar, envol ven do qua tro esco las da Zona Les te,sele cio na das para dar iní cio às ati vi da des. Em cada uma delas, osalu nos pre pa ra ram apre sen ta ções para serem mos tra das em outrasesco las. “Todo o pla ne ja men to dos even tos pas sa va pelo conhe ci -men to de todos e pela ava lia ção sobre o espa ço neces sá rio para asapre sen ta ções”, expli ca Rena to Már cio do Nas ci men to, asses sorda Ação Edu ca ti va que coor de na o Cir cui to. O

Circ

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do

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PRÁTICAS DE APRENDER

Renato Márcio do Nascimento(acima), coordenador do Circuito Cultural Escolar:planejamento e avaliação coletiva. O Centro de Referência de Santo André (à esquerda) é um dos lugaresaonde acontecem projetos

Page 43: Ação Educativa 10 anos

Opro je to Nos sa Esco la Pes qui sa sua Opi nião (NEP SO), rea li -za do em par ce ria com o Ins ti tu to Pau lo Mon te ne gro, é um

exem plo ino va dor de ati vi da de inter dis ci pli nar. O prin ci pal obje ti -vo é pro mo ver o uso peda gó gi co da pes qui sa de opi nião pelasesco las da rede públi ca. A meto do lo gia de tra ba lho bus ca pro pi ciarapren di za gens sig ni fi ca ti vas e gerar novas orien ta ções cur ri cu la -res para a edu ca ção bási ca.

O pro je to enten de a pes qui sa de opi nião como um ins tru men topode ro so. Prin ci pal men te para os edu ca do res que enfren tam odesa fio de cons truir uma esco la que pro du za conhe ci men tos sobresi mes ma e sobre as comu ni dades onde estão inseridas, além depro cu rar inter fe rir nos fenô me nos edu ca ti vos. Assim, pode cons ti -tuir expe riên cias que con cre ti zam os prin cí pios da inter ven ção nocon tex to local, inte gra ção de dis ci pli nas, valo ri za ção da ini cia ti vae auto no mia dos jovens.

O pro je to foi cria do em 2001, por soli ci ta ção ou deman da doIns ti tu to Pau lo Mon te ne gro (IPM), vin cu la do ao Ibo pe (Ins ti tu toBra si lei ro de Opi nião Públi ca e Esta tís ti ca). Na épo ca, edu ca do rese espe cia lis tas foram con vi da dos a dis cu tir, por meio de semi ná -rios, uma for ma de uti li zar a expe riên cia do Ibo pe na rea li za ção depes qui sas de modo a bene fi ciar pro je tos didá ti cos nas esco las.Jun ta men te com o IPM, a Ação Edu ca ti va arti cu la a rea li za ção doNEP SO em todo o país. Atual men te, cin co esta dos levam o NEP -SO para suas redes de ensi no: Minas Gerais, São Pau lo, Rio Gran -de do Sul, Rio de Janei ro e Per nam bu co.

Segun do Maril se Araú jo, coor de na do ra nacio nal do pro gra ma,os temas mais abor da dos pelas pes qui sas nas esco las ain da são osclás si cos da juven tu de: sexua li da de, dro gas e músi ca. Mas estestemas tam bém refle tem preo cu pa ções espe cí fi cas de cada lugar.Em São Pau lo, por exem plo, mui tas pes qui sas são rela cio na das aotra ba lho e desem pre go. “Tra ba lha mos jun to com os alu nos sobre o A

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Marilse Araújo (acima),coordenadora nacional do

NEPSO: uso pedagógico da pesquisa de opinião

para gerar novasorientações curriculares

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Page 44: Ação Educativa 10 anos

que é uma pes qui sa, da esco lha do tema até o resul ta do final”,expli ca Maril se. “É inte res san te, por que amplia a idéia do que sejapes qui sa para o alu no, além de nor tear ações futu ras na esco la apar tir des ses dados cole ta dos durante as atividades”, com ple taRegi na Oshi ro, pro fes so ra da Esco la Esta dual Pro fes sor MoacyrCam pos, na Zona Les te de São Pau lo.

Para a coor de na do ra do NEP SO, os resul ta dos do pro gra ma vãomui to além das esta tís ti cas. “Obser va mos que as pes soas apren -dem a fazer a ‘ leitura’ de uma pes qui sa, ana li san do e inter pre tan doos dados. E dei xa mos cla ro: esses resul ta dos valem para esse gru -po, mas não devem ser enca ra dos como uma pes qui sa cien tí fi ca”.Para Rita Bata ta, 18 anos, estu dan te da Zona Les te que par ti ci pouda pes qui sa “O que Será? Será Cine ma?”, a expe riên cia foi mui topro du ti va: “Você conhe ce outras pes soas, outras cul tu ras. Foi umaale gria mui to gran de per ce ber um jei to de apren der alter na ti vo aoda esco la. Por que a gen te apren de e tam bém ensi na, fica mais pró -xi mo do pro fes sor”.

Maril se diz que o que mais emo cio na é per ce ber que, nes ses 10anos, a Ação Edu ca ti va sem pre criou, pes qui sou e asses so rou abus ca por novas for mas de apren di za do, sem nun ca ter aban do na -do a esco la públi ca. “É mui to pra ze ro so ver o inves ti men to daAção Edu ca ti va em pro je tos como o NEP SO, que mos tram cami -nhos nos quais o apren di za do se tor na um pra zer para edu ca do rese alu nos den tro da esco la públi ca.”

O site do Ins ti tu to Pau lo Mon te ne gro é um impor tan te ins tru -men to para dis se mi nar a meto do lo gia do NEP SO e apoiar os pro -fes so res, coor de na do res e alu nos participantes. Ele pode ser visi -ta do no ende re ço www.ipm.org.br.

PRÁTICAS DE APRENDER

A estudante Rita Batata(esquerda), estudante da Zona Leste: jeito alternativo de aprender. Encontro deeducadores que fazem parte do NEPSO (acima)

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Page 45: Ação Educativa 10 anos

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Opro je to “Cine ma e Vídeo Bra si lei ro nas Esco las” está cen tra -do em diver sas ações: cur sos e ofi ci nas para edu ca do res;

imple men ta ção de acer vos de video te ca; e orga ni za ção de mos trastemá ti cas de vídeo em esco las públi cas da Zona Les te de São Pau -lo. Tem como foco a inte ra ção de edu ca do res e edu can dos com apro du ção audio vi sual bra si lei ra. Bus ca ampliar o reper tó rio cul tu -ral de edu ca do res, alu nos e comu ni da des. “A idéia é pro mo ver aarti cu la ção intra-esco lar, das esco las entre si e com as comu ni da dealém de influen ciar a for mu la ção e imple men ta ção de polí ti caspúbli cas”, expli ca Luiz Antô nio Bara ta, coor de na dor do pro je to.

Mais de 170 pro fes so res das dire to rias de ensi no Les te 1 e 2pas sa ram pelos cur sos de lin gua gem audio vi sual e de pro du çãoem vídeo digi tal. “Uma das nos sas uto pias é trans for mar a lin gua -gem audio vi sual par te da gra de cur ri cu lar”, con ta Mar co Mei re les,que tam bém inte gra o pro je to. Outro mem bro da equi pe, FábioFran co de Moraes, des ta ca: “o mais impor tan te é o pro ces so depar ti ci pa ção dos alu nos, por que tudo é deba ti do. Essa mobi li za çãodes cen tra li za as deci sões e for ta le ce as prá ti cas demo crá ti cas”.

O pro je to está cen tra do em qua tro ações prin ci pais: cur sos defor ma ção, mos tras de vídeo, vivên cias e desen vol vi men to de vi -deo te cas esco la res . Mais infor ma ções podem ser obti das no siteda Ação Edu ca ti va, no link “prá ti cas de apren der”.

Diver sas orga ni za ções se uni ram à Ação Edu ca ti va para via bi li -zar o pro je to de Cine ma e Vídeo Bra si lei ro nas Esco las: EMEFAntônio Carlos de Andrade e Silva; EE Condessa Filomena Ma -tarazzo; EE Madre Paulina; Programa Crer para Ver; Coordenado-ria de Educação de São Miguel; Diretoria de Ensino Leste 1; Dire-toria de Ensino Leste 2. • É

cine

ma!

É Ví

deo!

Luiz Antônio Barata (acima),coordenador do Cinema

e Vídeo Brasileiro na Escola:ampliar o repertório

cultural de educadores, alunos e de toda a

comunidade escolar

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Page 46: Ação Educativa 10 anos

CENTRAL DE SÓCIOS

O apoio e a contribuição dos sócios mantenedores é fundamental para a sustentabilidadeda organização

O dentista Roberto Rangel (acima), um dos primeiros sócios da Ação Educativa. O estudante Alvacir e o professor Antônio Ferreira: apoio aos ideais da instituição

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Page 47: Ação Educativa 10 anos

No iní cio de 2002 o pro fes sor Antô nio

Fer rei ra de Sou sa Sobri nho rece beu

uma cor res pon dên cia con vi dan do-o a tor -

nar-se sócio da Ação Edu ca ti va. Acei tou a

pro pos ta e, jun to com outras 31 pes soas,

inte grou o pri mei ro gru po de sócios man te -

ne do res da ins ti tui ção. Des de então, Antô -

nio, que há 32 anos tra ba lha com edu ca ção

popu lar em Tere si na (PI), vem reno van do

sua con tri bui ção anual.

O que man tém seu vín cu lo com a orga ni -

za ção não gover na men tal sedia da em São

Pau lo? “Acho impor tan te a sobre vi vên cia

de uma enti da de como a Ação Edu ca ti va,

para que con ti nue a gerar mobi li za ção pela

melho ria da qua li da de da edu ca ção públi ca

no Bra sil, seja atra vés de pes qui sa, de

publi ca ções ou pro je tos”, res pon de.

Ago ra, a Ação Edu ca ti va pro cu ra novos

Antô nios: sócios que não ape nas con tri -

buam finan cei ra men te com a sua manu ten -

ção, mas, prin ci pal men te, lhe dêem res pal -

do para rea fir mar sua auto no mia. “Esse

res pal do social é essen cial para que tenha -

mos for ça e repre sen ta ti vi da de”, afir ma

Anto nio Eleíl son Lei te, coor de na dor na -

cio nal da Cam pa nha de Novos Sócios. Pa -

ra tan to, a Ação Edu ca ti va entrou em 2004

com uma estra té gia ain da mais atuan te na

área de capi ta ção de sócios.

A figu ra do sócio man te ne dor foi cria da

na Ação Edu ca ti va em 2000, pela assem -

bléia de sócios esta tu tá rios (que inte gram o

cor po jurí di co da ins ti tui ção e são res pon -

sá veis, entre outras atri bui ções, pela elei -

ção da dire to ria e apro va ção dos balan ços

finan cei ros). A for ma ção de um cor po de

sócios man te ne do res é uma ten dên cia nas

ONGs bra si lei ras cria das a par tir da déca da

de 90, que bus cam man ter vín cu los com

fun da ções locais e criar con di ções de auto-

sus ten ta bi li da de por meio da con tri bui ção

de pes soas físi cas ou até mes mo empre sas

que se iden ti fi quem com os ideais ou os

pro je tos desen vol vi dos pelas orga ni za ções.

“O apoio de agên cias finan cia do ras in -

ter na cio nais, mode lo no qual a Ação Edu -

ca ti va sem pre se baseou, é uma tra di ção

que vem dos anos 70, quan do as enti da des

sociais atua vam pra ti ca men te na clan des ti -

ni da de, mui tas delas sur gi das den tro de

orga ni za ções reli gio sas. Com a demo cra -

cia e um cres cen te pro ta go nis mo da socie -

da de, é natu ral que seja ela a maior par cei -

ra e man te ne do ra des tas enti da des que

tra ba lham pela melho ria da edu ca ção, do

meio ambien te e do tra ba lho, entre outras

cau sas”, pon de ra Eleíl son.

Mobilização Den tro des te enfo que, des de 2003 a cam -

pa nha pela con quis ta de sócios man te ne do -

res foi incor po ra da aos obje ti vos ins ti tu cio -

nais da Ação Edu ca ti va, com o apoio da

agên cia Oxfam e Fun da ção Avi na. A estru -

tu ra ção de um pla no per ma nen te com esse

obje ti vo tor nou-se pos sí vel a par tir da cria -

ção da área de Comu ni ca ção e Mobi li za ção

452004 • ação educativa

Conheço e admiro o importante trabalho desenvolvido pela instituição Roberto Rangel

Gosto de saber que colaboro de alguma maneira para que um jovem ou um adulto aprenda a ler e interpretar seu primeiro texto Alvacir

de Recur sos, res pon sá vel por ações diri gi -

das como envio de malas dire tas, par ti ci pa -

ção em fei ras e even tos e a imple men ta ção

de um pla no estra té gi co de edu ca ção.

Com o esfor ço de comu ni ca ção, a

expec ta ti va é de que até o final de 2004 o

núme ro de sócios che gue a 300. Em 2006,

a meta é de que mil pes soas tenham se

asso cia do e res pon dam por cer ca de 20%

do orça men to da enti da de. “Acre di ta mos

que este é um tra ba lho de lon go pra zo, mas

a arran ca da com cer te za será o ani ver sá rio

de 10 anos da Ação Edu ca ti va”, diz o coor -

de na dor da cam pa nha.

O sócio man te ne dor cola bo ra com um

valor anual míni mo de R$ 30,00. Para man -

ter-se a par das ati vi da des da Ação Edu ca ti -

va, rece be infor ma ti vos como o tri mes tral

Em Ação e, depen den do do valor da con tri -

bui ção, livros e outras publi ca ções da

ONG. “No futu ro, pen sa mos em criar uma

rede de bene fí cios para esses sócios, mas o

que de melhor pode mos ofe re cer são os

nos sos pro je tos”, diz Eleíl son.

Ele res sal ta que, embo ra repre sen tem

cer ca de 60% de todas as orga ni za ções não

gover na men tais cria das no país, as enti da -

des liga das à edu ca ção ain da encon tram

difi cul da des de mobi li za ção e ade são. Os

atuais sócios man te ne do res da Ação Edu ca -

ti va são em sua maio ria pro fes so res uni ver -

si tá rios (como Antô nio, que dá aulas na

Uni ver si da de Fede ral do Piauí) ou pro fis -

sio nais libe rais. A inten ção é expan dir esse

uni ver so. Afi nal, a preo cu pa ção com a edu -

ca ção públi ca no Bra sil não deve ser exclu -

si vi da de dos pro fes so res.

O estu dan te Alva cir Can di do dos Reis

Filho, 22, de São Pau lo, com par ti lha essa

visão. “Quan do me apre sen ta ram ao tra ba -

lho fei to pela Ação Edu ca ti va, eu per ce bi

que havia final men te encon tra do uma ONG

que se preo cu pa não com filan tro pia, mas

com a edu ca ção, con tri buin do para um fu -

tu ro dife ren te na vida das pes soas. Eu acre -

di to que o cami nho para tirar qual quer pes -

soa, comu ni da de e nação da escra va tu ra

so cial está na edu ca ção e na luta pelo co -

nhe ci men to igua li tá rio em todas as cama -

das sociais, no tra ba lho árduo pela cons tru -

ção de um país melhor. Mais do que saber

para onde o meu dinhei ro está indo, gos to

de saber que cola bo ro de algu ma manei ra

para que um jovem ou um adulto apren da a

em ação

Page 48: Ação Educativa 10 anos

ENSAIO

Imagens de Ação

“O que se aprendeprofundamente jamais se esquece”Sêneca

Page 49: Ação Educativa 10 anos

Ao longo de dez anos,os projetos da AçãoEducativa percorreramáreas urbanas e ruraisde diversas regiõesbrasileiras. Este ensaioapresenta algumasimagens que fazemparte da história da organização

FOTOS: MOISÉS MORAES

Na arte não existepassado nem futuro. A arte que não está no presente nãoexistirá nunca”Pablo Picasso

Page 50: Ação Educativa 10 anos

“Não há mestre que não possa ser aluno ”Baltasar Gracián

“ O analfabeto do século XXI não será aquele que nãoconseguir ler ou escrever, mas aquele que não puderaprender, desaprender e, por fim, aprender de novo ”Alvin Toffler

Page 51: Ação Educativa 10 anos

FOTOS: MARCELLO VITORINO

Page 52: Ação Educativa 10 anos

“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”Paulo Freire

“ Os professores abrem a porta, mas você precisa entrar sozinho ”Provérbio chinês

Page 53: Ação Educativa 10 anos

MÁRCIO GARCEZ/ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA

MÁRCIO GARCEZ/ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA

MARCELLO VITORINO

Page 54: Ação Educativa 10 anos

Fundações,agências,institutos eempresas queapóiam a AçãoEducativa

52 ação educativa • 2004

Rede de investimento

PARCEIROS

A Ação Edu ca ti va desen vol ve seuspro je tos gra ças a par cei ros que

acre di tam e inves tem nas ações da ins ti -tui ção. Ao lon go de dez anos, foi fun da -men tal o apoio con tí nuo de três agên ciaseuro péias ao pro gra ma ins ti tu cio nal: aholan de sa ICCO – Orga ni za ção inte re -cle siás ti ca para a Coo pe ra ção ao Desen -vol vi men to; a EZE, atual men te inte gra daà EED – Ser vi ço de Desen vol vi men todas Igre jas Pro tes tan tes Ale mãs e a NCA– Aju da da Igre ja da Norue ga. Outrasagên cias inter na cio nais (veja lis ta aolado) apóiam pro je tos de maior ou menordura ção, que tam bém aju da ram a orga ni -za ção no cum pri men to de sua mis são.

Ao lon go do tem po, tor nou-se cada vezmais sig ni fi ca ti va a par ti ci pa ção de fon tesnacio nais na com po si ção das re cei tas daAção Edu ca ti va (veja grá fi cos). Ao ladodo aces so a fun dos públi cos e da pres ta çãode ser vi ços, as par ce rias com fun da ções eins ti tu tos empre sa riais bra si lei ros con tri -buí ram para a diver si fi ca ção de fon tes,con di ção fun da men tal para a sus ten ta bi li -da de e auto no mia polí ti ca da ins ti tui ção.

Além dis so, a Ação Edu ca ti va temcomo obje ti vo estra té gi co con quis tar re -cei ta a par tir do aumen to do núme ro depa tro ci na do res e de sócios-man te ne do res,que podem ser tan to empre sas quan topes soas iden ti fi ca das com o tra ba lho pelaONG (ver repor ta gem na pági na 44).

Na opi nião de Arne Dale, da NCA, aAção Edu ca ti va é uma das mais impor -tan tes ONGs bra si lei ras, pois agre ga ações locais, cria redes e for ta le ce açõesde lobby em defe sa dos direi tos da edu ca -ção. Ele des ta ca que a ino va ção dos pro -je tos re per cu te inclu si ve entre os jovensnorue gue ses. “Essa par ce ria come çoucom recur sos de uma cam pa nha de estu -dan tes nór di cos. A par tir daí, teve lugaruma série de inter câm bios entre jovensbra si lei ros e os de lá.”

Lucia no Wolff, coor de na dor do Pro -gra ma Bra sil da EED, cita como rele van -te o fato de o secre tá rio-exe cu ti vo daAção Edu ca ti va, Sér gio Had dad, ocu paro car go de Rela tor Nacio nal do Direi to àEdu ca ção, numa ini cia ti va apoia da pelaONU: “mos tra a serie da de com que a

Ação Edu ca ti va desen vol ve suas açõesem bus ca de uma socie da de mais jus ta”. Wolff afir ma que a EED valo ri za o enga -ja men to e a com pe tên cia da Ação Edu ca -ti va nas di ver sas ati vi da des desen vol vi -das. “Es tão todos de para béns pelos 10anos. De se ja mos mui to suces so na con ti -nui da de des ta luta por um outro mun dopos sí vel, que é de todos nós.”

Abai xo, a opi nião de alguns par cei ros sobre as ati vi da des desen vol vi das pelaAção Edu ca ti va:

Ely Hara sa wa, geren te exe cu ti va ope ra cio -nal da Fun da ção Abrinq: “A Ação Edu ca ti -va é uma refe rên cia na mobi li za ção pordirei tos edu ca ti vos, em espe cial para ajuven tu de. Nos sa par ce ria tem sido im -por tan te na pro po si ção de alter na ti vasque supe rem os obs tá cu los à pro mo çãoda uni ver sa li da de do direi to à edu ca çãocom qua li da de”.Ana Toni, res pon sá vel pela Fun da ção Ford noBra sil: “A Fun da ção Ford tem mui to or -gu lho em apoiar a Ação Edu ca ti va des de1994, em pro je tos bas tan te diver sos e

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Page 55: Ação Educativa 10 anos

532004 • ação educativa2004 • ação educativa

vol ta dos para a melho ria da edu ca ção bra -si lei ra. É uma enti da de que tem uma ampla capa ci da de para atuar em ques tõescen trais da edu ca ção bra si lei ra.”Sil via Este ves, coor de na do ra do pro gra ma Jovens Esco lhas, do Ins ti tu to Cre di card: “Apar ce ria não se resu me a uma rela ção entrefinan cia do e finan cia dor. Tra ta-se de umarela ção extre ma men te impor tan te paranós. É impos sí vel pen sar a juven tu de, hoje,sem pas sar pela Ação Edu ca ti va. Ela é aenti da de cria ti va, pro du ti va e posi cio na do -ra sobre essa temá ti ca.”Janaí na Jato bá, Coor de na do ra de Pro gra masda OXFAM: “A Oxfam acre di ta que a edu ca -ção é uma ques tão cha ve na que bra do ciclo da pobre za e crê que a atua ção dife -ren cia da da Ação Edu ca ti va pode con tri -buir sig ni fi ca ti va men te para se alcan çarsolu ções sus ten tá veis nes ta área.”Jor ge Wer thein, repre sen tan te da UNES CO noBra sil: “A meta de ‘edu ca ção para todos’ éum dos desa fios mais sig ni fi ca ti vos que aUNES CO incor po rou ao seu man da to nosúlti mos anos. Um desa fio des te tama nhonão é prer ro ga ti va de uma úni ca ins ti tui -ção e a bus ca des se obje ti vo é com par ti -

lha da por gover nos e ins ti tui ções devi da -men te capa ci ta das para enfren tar o pro ble -ma. Aí resi de a impor tân cia de cele brar asoma de esfor ços com ins ti tui ções do por -te da Ação Edu ca ti va em tor no de umacau sa legí ti ma: uma edu ca ção de qua li da -de para todos”. Fábio Mon te ne gro, secre tá rio-exe cu ti vo doIns ti tu to Pau lo Mon te ne gro: “É mui to gra ti fi -can te tra ba lhar com uma ONG tão séria eefi cien te como a Ação Edu ca ti va. E aspar ce rias aumen tam com a visi bi li da dedes se tra ba lho. Recen te men te, o Pro je toNos sa Esco la Pes qui sa sua Opi nião ga nhoumais dois alia dos: a orga ni za ção WWF e oIns ti tu to Voto ran tin”. Mário Vol pi, Ofi cial de Pro je tos do UNI CEF:“Mais do que o deba te e a pro du ção de po -lí ti cas para a área, a par ce ria entre o Uni -cef e a Ação Edu ca ti va tem con se gui doagen dar novos temas no con tex to edu ca -cio nal. A par tir da idéia da popu la ri za çãodos indi ca do res da edu ca ção e do deba te sobre a ado les cên cia e a inclu são social, aUni cef e a Ação Edu ca ti va cons troem jun -tos uma pers pec ti va que visa ampliar a per -cep ção da esco la sobre sua plu ra li da de.”

Apoio Ins ti tu cio nal (abran gen do todos os pro je tos)•Aju da da Igre ja da Norue ga – NCA•Orga ni za ção Inte re cle siás ti capara Coo pe ra ção ao Desen vol vi men to – ICCO (Holan da)•Ser vi ços das Igre jas da Ale ma nha para o Desen vol vi men to – EED

Fun da ções, agên cias e orga ni za ções inter na cio nais•Actio naid (Rei no Uni do)•Broe der lijk Delen (Bél gi ca)•Chris tian Aid – Grã Bre ta nha•Comis são Euro péia•Con se lho de Edu ca ção de Adul tos da Amé ri ca Lati na e Cari be – CEAAL •Cyril O. Hou le Pro gram –Uni ver sity of Geor gia (EUA)•Fun da ção Avi na

•Fun da ção Frie drich Ebert - IDES•Fun da ção W. K. Kel logg (EUA)•Fun do das Nações Uni das para a Infân cia – UNI CEF•Fun do de Pes que nos Pro je tos do Ban co Mun dial – BID•IAF – Inte ra me ri can Foun da tion (EUA) •Novib (Holan da)•Orga ni za ção das Nações Uni das para Edu ca ção, a e a Cul tu ra – UNES CO •Oxfam (Rei no Uni do)•The Ford Foun da tion (EUA) •The Levi- Strauss Foun da tion (EUA)•The Save The Chil dren Fund (Rei no Uni do)

Fun da ções, agên cias e orga ni za ções nacio nais

>Não gover na men tais•Fun da ção ABRINQ•Fun da ção Itaú Social•Ins ti tu to Cre di card•Ins ti tu to Pau lo Mon te ne gro/Gru po IBO PE•Ins ti tu to Voto ran tim•Ins ti tu to Tele mar•Movi men to de Edu ca ção de Base – CNBB

>Gover na men tais•Con se lho Nacio nal de Desen vol vi men to Cien tí fi co e Tec no ló gi co – CNPq•Fun da ção de Ampa ro à Pes qui sa do Esta do de SãoPau lo – FAPESP•Ins ti tu to Bra si lei ro de Infor ma ção Ciên cia e Tec no lo gia – IBICT

•Ins ti tu to Nacio nal de Estu dose Pes qui sas Edu ca cio nais –INEP•Minis té rio da Edu ca ção –MEC•Minis té rios da Jus ti ça •Minis té rio da Pre vi dên cia Social•Petro brás Social

Empre sas nacio nais•Audio per for man ce•Color mart Fotos•Cor tez Edi to ra•Escri tó rio de Arqui te tu ra Fer nan do Bran dão•Giro flex S.A.•Glo bal Edi to ra •Grá fi ca Peres•Livra ria Meti da a Sebo•Res tau ran te Apfel•Res tau ran te Candy Pla ce•Res tau ran te Dia a Dia

Par cei ros da Ação Edu ca ti va

Apoio Contínuo Ao longo de 10 anos, o apoio institucionalde três agências européias foi essencialpara a consolidação dos programasdesenvolvidos pela Ação Educativa.

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2003

2002

2001

2000

1999

1998

1997

1996

1995

1994

3.000.000Internacionais Nacionais

500.000em reais

1.000.000

1.500.000

2.500.000

2.000.000

RECEITAS

2003

54 ação educativa • 2004

PARCEIROS

GESTÃO FINANCEIRASustentabilidade e transparênciasão as principais objetivos da área administrativa, responsável pela gestão dosrecursos da Ação EducativaUm dos grandes desafios deorganizações como a AçãoEducativa é o de suasustentabilidade financeira. Elas precisam de parceiros queinvistam nos projetos confiantesde que os recursos serãoempregados de forma eficiente e coerente. Na medida em quetambém são reconhecidas comode utilidade pública, as ONGsdevem estar em condições deprestar contas à sociedade.Por isso, a importância de umaadministração forte etransparente. Anualmente, a Ação Educativa publica seubalanço em jornais de grandecirculação. A auditoria externa é feita pela Lopes & Lopes,sediada em Salvador eespecializada em ONGs. A consultoria nessa área é feita pela Trevisan Service. “A Ação Educativa entendeu a importância de uma gestãoadministrativa como parte do processo instituído e está em pleno amadurecimento”,comenta o auditor UaçaíMagalhães Lopes. “As ONGsprecisam ser transparentes”,completa o consultor JaimeRodrigues, da Trevisan Service.

Os grá fi cos a seguir mos tram a dis tri bui çãode recur sos da Ação Edu ca ti va ao lon go deseus dez anos de exis tên cia

Evolução Orçamentária(sem a aquisição do prédio)

2002

2001

2000

1999

1998

1997

1996

1995

1994

5.000.000

1.000.000

2.000.000

4.000.000

3.000.000

em reais

Números

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552004 • ação educativa

Despesas por área

Despesas por ítem orçamentário

9% Negro e Educação

15% Observatório

5%Administração e Finanças

1%Mobilização de Recursos

6% SecretariaExecutiva

5% Políticas

Públicas de EJA

18% Educação de Jovens e Adultos

17%Gestão Institucional

9%Práticas de Aprender

10%Juventude

10% Campanha -

Direito à Educação

3%Centro de Juventude e Educ. Continuada

5%Infraestrutura

39%RecursosHumanos

45%Atividades

Programáticas

2%Acervo, Móveis e Equip.

2%Impostos, Taxas eDesp. Financeiras

2%Despesas de Gestão

3%Edifícios eInstalações

6,61%Despesas deEscritório

11,51%DespesasAdministrativas

4%Informação e Documentação

Orçamento de 2003

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JUSTIÇA

Ele­ger­ gover­nan­tes;­ ali­men­tar-se­ ade­qua­da­men­te;­ não

­sofrer­agres­sões­físi­cas­ou­ ­morais;­ ­morar­com­dig­ni­da­de;

­andar­livre­men­te­­pelas­ruas;­rece­ber­salá­rio­jus­to;­ir­à­esco­la.

Qual­ des­ses­ direi­tos­ é­ prio­ri­tá­rio?­ ­Todos,­ pois­ a­ ausên­cia­ de

qual­quer­um­­deles­com­pro­me­te­a­rea­li­za­ção­dos­­demais.­Por­isso

são­indi­vi­sí­veis­­entre­si,­além­de­uni­ver­sais­e­esta­rem­asse­gu­ra­-

dos­em­leis,­nacio­nais­e­inter­na­cio­nais,­como­direi­tos­huma­nos.

Para­rom­per­com­a­tra­di­ção­oci­den­tal­de­con­si­de­rar­nes­ta

cate­go­ria­ape­nas­os­direi­tos­­civis­e­polí­ti­cos,­em­2002­a­Pla­ta­-

for­ma­de­Direi­tos­Huma­nos­Eco­nô­mi­cos­­Sociais­e­Cul­tu­rais­-

­DhESC,­­lan­çou­o­pro­gra­ma­Rela­to­res­Nacio­nais­em­­DhESC.

­­A­Ação­Edu­ca­ti­va­ abri­gou­ a­Rela­to­ria­ para­ o­Direi­to­ à

Edu­ca­ção,­com­a­elei­ção­de­Sér­gio­Had­dad­para­rela­tor­no

perío­do­de­2002­a­2004.­Foram­veri­fi­ca­das­denún­cias­de­vio­la­-

ção­ ao­direi­to­ edu­ca­cio­nal­ no­Cea­rá­ e­Ala­goas.­As­polí­ti­cas

nacio­nais­de­edu­ca­ção­têm­sido­ana­li­sa­das­sob­a­óti­ca­de­sua

per­ti­nên­cia­ para­ a­ supe­ra­ção­ das­ desi­gual­da­des­ de­ ­etnia,

gêne­ro­e­ter­ri­to­ria­li­da­de.

Com­o­obje­ti­vo­de­dis­se­mi­nar­a­­noção­da­edu­ca­ção­como

um­ direi­to­ huma­no,­ foi­ orga­ni­za­da­ a­ visi­ta­ da­ rela­to­ra­ da

ONU­para­a­edu­ca­ção,­Kata­ri­na­Toma­se­vis­ki,­que­se­encon­-

trou­ com­ edu­ca­do­res­ e­ repre­sen­tan­tes­ de­ orga­ni­za­ções­ da

socie­da­de­­civil,­em­São­Pau­lo,­e­par­ti­ci­pou­do­semi­ná­rio­“A

Edu­ca­ção­Como­Direi­to­Huma­no”,­duran­te­o­ ­Fórum­Mun­-

dial­de­Edu­ca­ção,­em­Por­to­Ale­gre.

Em­­abril­de­2003,­um­pri­mei­ro­rela­tó­rio­­sobre­a­situa­ção

da­edu­ca­ção­no­Bra­sil­foi­apre­sen­ta­do,­em­Gene­bra,­à­Comis­-

são­ de­ Direi­tos­ Huma­nos­ da­ ONU,­ demons­tran­do,­ ­entre

­outros­aspec­tos,­que­as­polí­ti­cas­da­últi­ma­déca­da­não­garan­-

ti­ram­eqüi­da­de­edu­ca­cio­nal.­

A­edu­ca­ção­no­gover­no­Lula,­irre­gu­la­ri­da­des­na­uti­li­za­ção

dos­recur­sos­públi­cos,­vio­lên­cia­con­tra­edu­ca­do­res­e­a­edu­ca­-

ção­indí­ge­na­­serão­­alguns­dos­­temas­abor­da­dos­no­rela­tó­rio,

que­será­apresentado­no­final­de­2004.

A­experiência­da­Relatoria­deixou­frutos­na­Ação­Educativa

que,­a­partir­deste­ano,­toma­o­judiciário­como­mais­um­instru-

mento­na­luta­pela­garantia­do­direito­universal­à­educação.­•

Educação também é

direito humano

Mar

cello

Vit

orin

o

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APOIO

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