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86 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 2016/1 - NÚMERO 12 - ISSN 2176 7785 AÇÕES EDUCATIVAS EM ORTOPEDIA: um relato de experiência GRACE KELLY PORTES BRAGION¹ EDINÉIA DE CASTRO VIANA¹ HELENA CALDEIRA MARQUES¹ ANA CLAUDIA MOREIRA FALUBA¹ INGRID POLLYANNA BRITO DE OLIVEIRA 2 VALQUÍRIA FERNANDES MARQUES VIEIRA 3 RESUMO: O objetivo deste trabalho é descrever a experiência das acadêmicas em enfermagem em estágio supervisionado, no setor de orto- pedia acerca do desenvolvimento de atividades educativas destinadas a equipe de enfermagem e a pacientes em período pós-operatório com Fixador Externo. As atividades foram realizadas no período de agosto a dezembro de 2015, em um Hospital Público que realiza atendimento eletivo em trauma ortopédico de média e alta complexidade em todas as suas subespecialidades ortopédicas. As atividades educativas foram implementadas em uma perspectiva dialógica e emancipatória. Para tanto, elaborou-se um folder informativo e uma apresentação com recurso áudio visual como estratégia de ensino-aprendizagem, além da realização de sala de espera com abordagem participativa e problematizadora. O desenvolvimento de práticas educativas no âmbito hospitalar contribuiu para que os profissionais possam aperfeiçoar a qualidade dos cui- dados prestados além de empoderar os pacientes quanto ao autocuidado. PALAVRAS – CHAVE: Fixador Externo. Cuidados de Enfermagem. Ações Educativas. INTRODUÇÃO As lesões ortopédicas representam uma das condições que mais impossibilitam o indivíduo, comprometendo sua função, sua participação econômica na sociedade e sua interação familiar e social (JUNIOR, 2011). Dentre essas lesões, a literatura aponta que a fratura exposta está entre as mais predispostas à infecção, em função do tempo da exposição ao ambiente externo ou a cavidade contaminada, além de afetar as partes moles (PARDINI, 2003). Um dos métodos de tratamento dessas fraturas é a osteossínte- se, que pode ser classificada em interna ou externa. A fixação externa é indicada principalmente nos casos de politraumatismo ou de fratu- ras graves, sendo utilizado para contenção de fraturas, alongamento ósseo, sustentação e locomoção do membro acometido para mobi- lização precoce, estabilização de partes moles de modo que facilita a redução de edema e aumenta a nutrição das superfícies articulares (TASHIRO, 1995; CRUZ, 2013). De acordo com Giordano et al. (2000), o cuidado com o Fixa- dores Externos (FE) é de extrema importância, pois consiste em um tratamento prolongado e com alto índice de infecção dado o potencial invasivo do procedimento que culmina com o rompimento de pele no trajeto dos fios e dos pinos servindo como porta de entrada para mi- crorganismos, o que a torna uma das complicações mais importantes e prevalentes do uso do FE. Estudos evidenciam que durante todo o processo de tratamen- to, o paciente pode expressar diversas reações e sentimentos em relação à situação em que se encontra. Fato este relacionado princi- palmente a necessidade de instalação de um aparelho juntamente ao seu corpo. No entanto, o desenvolvimento de ações educativas que possam ajudá-lo a compreender e a se cuidar durante o seu tratamen- to pode ser essencial para sua reabilitação. Desta forma, o enfermeiro deve estar preparado para apoiar, educar e cuidar do paciente como parte fundamental neste processo, juntamente de uma equipe multi- disciplinar, capacitada para dar suporte às diversas demandas que possam emergir em função desta nova situação (LOPEZ; GAMBA; MATHEUS, 2013). A educação deve contribuir para autoconhecimento do indiví- duo, a fim de proporcionar mudanças em relação ao modo de pensar e agir das pessoas em relação a si mesmas e aos outros (MORIN, 2003). A educação em saúde deve ser compreendida como uma proposta que pretende desenvolver no indivíduo a capacidade de analisar de forma crítica a sua realidade, como também, de decidir ações para resolver os problemas e modificar as situações que são conflituosas (FIGUEIREDO, 2010). O objetivo de reforçar o modelo de Educação em Saúde é ampliar ações que promovam a autonomia, a responsabilidade e a capacidade de intervenção das pessoas sobre o cuidado com sua própria saúde, proporcionando qualidade de vida e bem estar não apenas para o individuo, mas também para a socie- dade (MAIA, 2014). Tendo em vista que a educação em saúde está intrinseca- mente relacionada ao conceito de promoção da saúde, a mesma atua numa perspectiva de transcender os preceitos básicos do cui- dado. Assim, ao educar, o enfermeiro potencializa a sua capacida- de de cuidar, num sistema cíclico de relações interpessoais, dentro de uma realidade histórica cultural, possibilitando articular o saber e o aprender dentro do campo ético e humanístico, exercendo um papel crítico e transformador na educação. As intervenções e prá- ticas devem acontecer de forma construtiva e dinâmica, permitindo sua reflexão, para que ocorra a troca de experiências de aprendiza- gem a fim de delinear e facilitar o planejamento de ações voltadas para a saúde (FERRAZ, 2005). Em função do perfil assistencial, buscou-se a partir da per- cepção do acompanhamento ambulatorial e na unidade de inter- nação, evidenciar as lacunas no atendimento a fim de estabelecer um projeto de intervenção, tornando pertinente a descrição da experiência acadêmica no desenvolvimento de atividades educa- cionais. Portanto, o presente artigo tem como objetivo descre- ver a experiência das acadêmicas em enfermagem no setor de ortopedia acerca do desenvolvimento de atividades educativas destinadas a equipe de enfermagem e a pacientes em período pós-operatório com FE.

AÇÕES EDUCATIVAS EM ORTOPEDIA: um relato de experiênciablog.newtonpaiva.br/pos/wp-content/uploads/2016/09/E12-ENFERM02.pdf · implementadas para a equipe de enfermagem e os pacientes

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86 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 2016/1 - NÚMERO 12 - ISSN 2176 7785

AÇÕES EDUCATIVAS EM ORTOPEDIA: um relato de experiência

Grace Kelly Portes BraGion¹edinéia de castro Viana¹

Helena caldeira Marques¹ana claudia Moreira FaluBa¹

inGrid Pollyanna Brito de oliVeira 2

Valquíria Fernandes Marques Vieira 3

RESUMO: O objetivo deste trabalho é descrever a experiência das acadêmicas em enfermagem em estágio supervisionado, no setor de orto-pedia acerca do desenvolvimento de atividades educativas destinadas a equipe de enfermagem e a pacientes em período pós-operatório com Fixador Externo. As atividades foram realizadas no período de agosto a dezembro de 2015, em um Hospital Público que realiza atendimento eletivo em trauma ortopédico de média e alta complexidade em todas as suas subespecialidades ortopédicas. As atividades educativas foram implementadas em uma perspectiva dialógica e emancipatória. Para tanto, elaborou-se um folder informativo e uma apresentação com recurso áudio visual como estratégia de ensino-aprendizagem, além da realização de sala de espera com abordagem participativa e problematizadora. O desenvolvimento de práticas educativas no âmbito hospitalar contribuiu para que os profissionais possam aperfeiçoar a qualidade dos cui-dados prestados além de empoderar os pacientes quanto ao autocuidado.

PALAVRAS – CHAVE: Fixador Externo. Cuidados de Enfermagem. Ações Educativas.

INTRODUÇÃO

As lesões ortopédicas representam uma das condições que mais impossibilitam o indivíduo, comprometendo sua função, sua participação econômica na sociedade e sua interação familiar e social (JUNIOR, 2011). Dentre essas lesões, a literatura aponta que a fratura exposta está entre as mais predispostas à infecção, em função do tempo da exposição ao ambiente externo ou a cavidade contaminada, além de afetar as partes moles (PARDINI, 2003).

Um dos métodos de tratamento dessas fraturas é a osteossínte-se, que pode ser classificada em interna ou externa. A fixação externa é indicada principalmente nos casos de politraumatismo ou de fratu-ras graves, sendo utilizado para contenção de fraturas, alongamento ósseo, sustentação e locomoção do membro acometido para mobi-lização precoce, estabilização de partes moles de modo que facilita a redução de edema e aumenta a nutrição das superfícies articulares (TASHIRO, 1995; CRUZ, 2013).

De acordo com Giordano et al. (2000), o cuidado com o Fixa-dores Externos (FE) é de extrema importância, pois consiste em um tratamento prolongado e com alto índice de infecção dado o potencial invasivo do procedimento que culmina com o rompimento de pele no trajeto dos fios e dos pinos servindo como porta de entrada para mi-crorganismos, o que a torna uma das complicações mais importantes e prevalentes do uso do FE.

Estudos evidenciam que durante todo o processo de tratamen-to, o paciente pode expressar diversas reações e sentimentos em relação à situação em que se encontra. Fato este relacionado princi-palmente a necessidade de instalação de um aparelho juntamente ao seu corpo. No entanto, o desenvolvimento de ações educativas que possam ajudá-lo a compreender e a se cuidar durante o seu tratamen-to pode ser essencial para sua reabilitação. Desta forma, o enfermeiro deve estar preparado para apoiar, educar e cuidar do paciente como parte fundamental neste processo, juntamente de uma equipe multi-disciplinar, capacitada para dar suporte às diversas demandas que possam emergir em função desta nova situação (LOPEZ; GAMBA; MATHEUS, 2013).

A educação deve contribuir para autoconhecimento do indiví-duo, a fim de proporcionar mudanças em relação ao modo de pensar e agir das pessoas em relação a si mesmas e aos outros (MORIN, 2003). A educação em saúde deve ser compreendida como uma proposta que pretende desenvolver no indivíduo a capacidade de analisar de forma crítica a sua realidade, como também, de decidir ações para resolver os problemas e modificar as situações que são conflituosas (FIGUEIREDO, 2010). O objetivo de reforçar o modelo de Educação em Saúde é ampliar ações que promovam a autonomia, a responsabilidade e a capacidade de intervenção das pessoas sobre o cuidado com sua própria saúde, proporcionando qualidade de vida e bem estar não apenas para o individuo, mas também para a socie-dade (MAIA, 2014).

Tendo em vista que a educação em saúde está intrinseca-mente relacionada ao conceito de promoção da saúde, a mesma atua numa perspectiva de transcender os preceitos básicos do cui-dado. Assim, ao educar, o enfermeiro potencializa a sua capacida-de de cuidar, num sistema cíclico de relações interpessoais, dentro de uma realidade histórica cultural, possibilitando articular o saber e o aprender dentro do campo ético e humanístico, exercendo um papel crítico e transformador na educação. As intervenções e prá-ticas devem acontecer de forma construtiva e dinâmica, permitindo sua reflexão, para que ocorra a troca de experiências de aprendiza-gem a fim de delinear e facilitar o planejamento de ações voltadas para a saúde (FERRAZ, 2005).

Em função do perfil assistencial, buscou-se a partir da per-cepção do acompanhamento ambulatorial e na unidade de inter-nação, evidenciar as lacunas no atendimento a fim de estabelecer um projeto de intervenção, tornando pertinente a descrição da experiência acadêmica no desenvolvimento de atividades educa-cionais. Portanto, o presente artigo tem como objetivo descre-ver a experiência das acadêmicas em enfermagem no setor de ortopedia acerca do desenvolvimento de atividades educativas destinadas a equipe de enfermagem e a pacientes em período pós-operatório com FE.

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PERCURSO METODOLÓGICO

Trata-se de um estudo descritivo, tipo relato de experiência com o foco no desenvolvimento de ações de educação em saúde implementadas para a equipe de enfermagem e os pacientes em pós-operatório acerca dos cuidados com o FE. A vivência aconteceu durante o estágio curricular supervisionado do curso de enfermagem, no período de agosto a dezembro de 2015, em um Hospital Público que realiza atendimento eletivo de trauma ortopédico de média e alta complexidade em todas as subespecialidades ortopédicas.

Para a efetivação proposta de trabalho, houve uma reunião ini-cial com a coordenação de enfermagem e a coordenação médica do respectivo hospital. Nesta oportunidade, apresentamos e discutimos as impressões do grupo de acadêmicas acerca das precárias condi-ções higiênicas dos fixadores externos percebidas. Refletimos sobre o autocuidado ineficaz ou ausente por parte dos pacientes. Além dis-so, tomamos nota de como se dava a prestação dos cuidados pela equipe de enfermagem e como eram realizadas as orientações aos pacientes em uso de FE na unidade de internação e no ambulatório.

Após a elaboração do diagnóstico administrativo e situacional e autorização da instituição de saúde, a proposta foi discutida junta-mente a docente responsável pela disciplina de Estágio Supervisiona-do e à preceptora de campo. Tendo em vista a magnitude da proposta de trabalho, a experiência acadêmica contribuiu para a formação de profissionais com capacidade proativa e reflexiva das práticas assis-tências, dada a proximidade com o problema detectado, assim como a vivência de tomadas de decisões gerenciais assertivas e contextua-lizadas (ALMEIDA, 2011).

Em uma revisão da literatura, Montanha e Peduzzi (2010), des-crevem que a Educação Permanente em Saúde (EPS) é utilizada como processo político pedagógico cujo objetivo é o desenvolvimen-to crítico e ponderado de ações a partir da análise de necessidades da saúde, que interfira não apenas nos trabalhadores e serviços pres-tados, mas em toda comunidade, de acordo com seus interesses.

Desta forma, após identificarmos uma situação problema dentro do ambiente hospitalar planejamos ações que objetivavam melhorar o desempenho pessoal, capacitar a equipe de enfermagem a partir das falhas e limitações detectadas. Os profissionais da área foram esti-mulados e encorajados a construírem coletivamente o conhecimento, a partir das suas experiências e conhecimentos prévios. Assim, com foco na EPS, buscou-se conhecer o nível de entendimento prévio da equipe de enfermagem sobre os cuidados com Fixador Externo, para então iniciar a implementação das atividades.

Paralelamente a EPS, Souza (2013), cita que a Educação em Saúde tem o objetivo de desenvolver a capacidade e responsabilida-de do autocuidado do indivíduo com sua saúde, não sendo necessá-rio impor o saber técnico dos profissionais da área, mas sim a com-preensão da real situação do seu problema. Desta forma optamos em trabalhar junto aos pacientes, em uso de FE, a importância do seu empoderamento e a autonomia durante o tratamento/reabilitação, como meio de transmissão de conhecimentos e experiências entre os envolvidos.

A partir deste momento, optamos por construir alguns instru-mentos e estratégias de ensino-aprendizagem, tais como convites para a divulgação da capacitação “Cuidados com o Fixador Externo”; oficina para a capacitação da equipe de enfermagem; folder infor-mativo; realização de sala de espera na unidade de internação e no ambulatório.

As atividades propostas foram pautadas pelo Método Constru-tivista. Para Heimann et al. (2013), a promoção deste processo no âmbito da enfermagem ocorre quando há uma assimilação do novo com o antigo saber, se baseando nas experiências e vivências dos

profissionais, sendo que no final o resultado irá intervir tanto no am-biente quanto em si mesmo.

Dessa forma, propôs-se aos profissionais do hospital uma ofici-na de capacitação intitulada “Cuidados com o Fixador Externo”, com o objetivo de dispor novos conhecimentos, agregar experiências/vi-vências e sensibilizá-los acerca dos cuidados prestados aos pacien-tes em uso deste aparelho.

Destarte, as acadêmicas de enfermagem elaboraram um con-vite em tamanho A4 e os afixamos nos quadros de avisos de cada setor. Contamos ainda com o Núcleo de Ensino e Pesquisa (NEP) que colaborou enviando os convites via e-mail na semana anterior ao evento a toda equipe de enfermagem. Além disso, no dia da oficina, realizou-se contato por telefone aos setores lembrando-os da ativida-de. As oficinas ocorreram nos dias, 13 e 14 de outubro com duração em média de 30 minutos, o que garantiu continuidade da assistência e a presença de todos os profissionais da equipe de enfermagem.

Para a realização da oficina elaborou-se uma apresentação no formato de PowerPoint, intitulada “Cuidados com o Fixador Externo”. Os slides continham informações objetivas, estruturado em tópicos e com vários recursos visuais, tais como figuras, ilustrações e fotos. Durante esta atividade os integrantes da equipe de enfermagem receberam o folder informativo e puderam discutir os conteúdos e contextualizar a prática executada nos setores. Os discentes salientaram a importân-cia da orientação sobre o tratamento e os cuidados indispensáveis aos pacientes em uso do FE na unidade de internação e o reforço das mes-mas no acompanhamento ambulatorial e após a alta hospitalar, con-tribuindo assim, para um tratamento e uma reabilitação mais efetiva e eficaz. Ao término da oficina, foi oferecido um coffee break.

Quanto às ações desenvolvidas junto aos pacientes e acompa-nhantes, as mesmas foram realizadas com o auxílio do folder infor-mativo. Atualmente, os materiais impressos têm sido utilizados como estratégias educativas para ampliar o conhecimento e auxiliar no tra-tamento de pacientes, tendo uma melhor aderência e favorecendo o autocuidado dos mesmos (OLIVEIRA; LOPES; FERNANDES, 2014). Deste modo, o folder foi escolhido por conter uma linguagem clara e objetiva. O folder elaborado e intitulado “Guia de Cuidados com o Fixador Externo”, foi desenvolvido após pesquisa bibliográfica e sob orientação docente e da Coordenação de Ortopedia da instituição de saúde. O material estava disposto no formato A4, com impressão fren-te e verso, ilustrativo, contendo informações como: o que é o Fixador Externo, a técnica do curativo, dicas de vestuário, a importância da movimentação do membro com o aparelho, instruções de rodagem do aparelho, como encarar o medo e a dor.

Para a sala de espera, foi planejada uma apresentação ex-positiva com o tema: “Cuidados com Fixador Externo”, no mês de novembro em todas as segundas-feiras, pela manhã, na unidade de internação e no ambulatório todas as quintas-feiras, no período da tarde, com duração total de 15 (quinze minutos) e intervalos de 30 (trinta) minutos entre uma apresentação e outra, intercalados entre as acadêmicas de enfermagem, por meio de uma escala. Após a de-monstração e entrega do folder informativo, era realizada uma breve explicação sobre o autocuidado com o Fixador Externo. A sala de es-pera tornou-se uma ótima estratégia de ensino-aprendizagem, o que corroborou com a proposta da temática trabalhada, possibilitando a troca de informações, conhecimentos e experiências entre pacientes, familiares e os profissionais.

Vale destacar, que o atendimento ambulatorial é o primeiro con-tato do paciente em uso de FE com os médicos após a alta hospitalar, e que neste momento de avaliação, muitas vezes o esclarecimento de dúvidas, compartilhamento de sentimentos e anseios do usuário se perdiam em função do longo período de espera anterior a consulta.

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Face ao exposto, à realização das salas de espera supriu esta neces-sidade, onde ao final muitos expressaram opiniões e perguntas sobre o aparelho.

Ressalta-se que inúmeras foram as reuniões com as equipes médicas e de enfermagem a fim de obter uniformidade das informa-ções coletadas e discussões quanto às estratégias que seriam utiliza-das com vistas a garantir a aplicabilidade do produto criado. Assim, a troca de saberes e conteúdos forma imprescindíveis para a cons-trução de um material instrucional simples e prático para o público alvo atendido pela instituição. Após a aprovação das coordenações de enfermagem e médica, o folder foi disponibilizado ao hospital no intuito de que possa ser reproduzido e permanentemente utilizado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As oficinas “Cuidados com o Fixador Externo” aconteceram nos dias 13 e 14 de outubro, participaram da atividade proposta 26 profissionais, estes técnicos de enfermagem, auxiliares e en-fermeiros. Percebeu-se durante a apresentação com recurso áu-dio visual (PowerPoint) que grande parte já demonstrava um bom conhecimento sobre as funções do FE, bem como os cuidados, por meio de relatos quando interrompiam o facilitador da atividade. Ao entregar e explicar o folder informativo foi observado que al-guns participantes ficaram um pouco dispersos discutiam entre si e apresentavam dúvidas em relação à operacionalização das ações educativas pela equipe ao paciente. As dúvidas foram esclarecidas e problematizadas quanto à rotina de trabalhos dos profissionais da enfermagem. Ao término da oficina, elogiaram a forma como foi tratado o tema, relataram que o folder informativo e o conteúdo foram muito bem construídos e julgaram o material de fácil enten-dimento para os usuários.

Portanto, as estratégias utilizadas estão em concordância com a proposta de enriquecer o saber dos atores envolvidos, a EPS considera importante trabalhar o conhecimento novo e aque-le que já está inserido como forma de melhorar a qualidade dos serviços prestados pelos profissionais aos usuários, por meio de subsídios oferecidos para que possam resolver os problemas apre-sentados e reduzir as necessidades apresentadas pela comunida-de envolvida (SILVA, 2010).

Neste contexto, o profissional deve ter autoaprimoramento direcio-nado na busca pela competência, conhecimento contínuo e atualização. Assim, a educação permanente direciona o profissional nesta busca e impulsiona a ter um autoaprimoramento para transformação pessoal e no exercício da profissão como meta para toda a vida (JESUS, 2011).

Nesse sentido, compreendemos que demos o passo inicial para complementar o saber dos profissionais, mas que para o sucesso dos resultados é necessário que cada um esteja disposto a aplicar o que foi passado. Nesta perspectiva, Fernandes (2010), considera que a visão emancipadora da educação pressupõe o processo de cons-cientização, assume um papel reconstrutivo e crítico em relação aos conhecimentos e aos valores existentes. Nas semanas seguintes a capacitação, percebeu-se que os participantes aderiram ao que foi passado e com auxílio do folder a abordagem aos pacientes com FE se tornou mais simples, objetiva e prática.

A realização da sala de espera oportuniza ao enfermeiro desen-volver atividades que ultrapassam o fazer/executar procedimentos técnicos, implica na construção de vínculos entre os envolvidos, na identificação das necessidades de saúde e problemas dos usuários. Desta forma, há espaço para a prestação de uma assistência humani-zada, com melhora na qualidade do serviço prestado, abrindo espaço para diálogos e construção de saberes e estabelecimento de respon-

sabilidade e co-responsabilidade entre profissionais e usuários. Além disso, a sala de espera ocupa o tempo dispendido para aguardar pelo atendimento, diminuindo o estresse e ansiedade nos pacientes (RO-DRIGUES et al., 2009).

No mês de novembro de 2015, participaram da sala de espera 37 pessoas. Durante a realização da atividade, pudemos constatar a carência de informações que os pacientes apresentavam durante o período de internação e até mesmo aqueles que retornavam para o acompanhamento ambulatorial. Após a explicação do folder informa-tivo e da dialogicidade com as acadêmicas do curso de enfermagem, era notória a gratidão pelo conhecimento e empoderamento adquirido pelos pacientes.

Encontramos algumas dificuldades para a realização das salas de espera, como ruídos, movimentação dos pacientes e acompa-nhantes para consultas e/ou procedimentos, recusa em participar da atividade, e distração. Contudo, não foram significativas em relação às vantagens advindas da experiência proporcionada pela interação entre as alunas e os pacientes.

Em relação a isso, Rosa e Germani (2011), asseguram que a sala de espera é utilizada como recurso na promoção da saúde, por se tratar de um local com grande fluxo, onde os pacientes aguardam para serem atendidos por profissionais, o que a torna favorável nas práticas educativas devido à provável interação e troca de saberes entre os profissionais e os pacientes que ali se encontram.

Assim, Janella (2014), destaca que a sala de espera possui uma peculiaridade em ocupar o tempo ocioso de forma benéfica com a con-versão do período de espera em momento de ocupação e de troca de experiências entre os pacientes, propiciando a troca de informações do conhecimento popular com o saber dos profissionais de saúde.

Portanto, o desenvolvimento de práticas educativas em saúde é importante para a construção de saberes em conjunto tanto para o educador quanto para o educando, onde se valoriza a troca de expe-riências, a interação, novas formas de pensar e agir dentro do âmbito da saúde, proporcionando conhecimento não só para os pacientes, mas também para os profissionais da saúde, principalmente da en-fermagem, o que acarreta novas formas de prestação da assistência humanizada e melhorias nos serviços prestados à população (CER-VERA; PARREIRA; GOULART, 2011).

Nessa perspectiva, percebe-se que as ações desenvolvidas na enfermagem obtêm um papel significativo e substancial na busca de uma efetuação segura e eficaz da execução de procedimentos de enfermagem, abrangendo não apenas as ações assistenciais, mas também a orientação e educação preventiva prestada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Visto que o profissional enfermeiro possui um importante papel no processo de trabalho quanto à reabilitação do paciente durante o seu tratamento, ele torna-se responsável por desenvolver ações de educação e promoção à saúde.

Assim, as atividades desenvolvidas em campo de estágio pro-porcionaram as acadêmicas uma visão da importância do profissional de enfermagem nos cuidados aos pacientes em período pós-opera-tório com FE. A elaboração de um folder como recurso didático e ins-trucional foi fundamental para a implentação das intervenções educa-tivas junto aos paciente e de Educação Permanente aos profissionais da enfermagem.

Conclui-se que o desenvolvimento de práticas educativas no âmbito hospitalar contribuiu para que os profissionais possam aper-feiçoar a qualidade dos cuidados prestados, além de, empoderar os pacientes quanto ao autocuidado.

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NOTAS DE FIM1 Acadêmicas do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Newton Paiva. Discentes da disciplina Estágio Supervisionado de Assistência de Enfermagem ao Indivíduo Enfermo em Cuidados Intermediários. E-mails: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected].

2 Bacharel em Enfermagem. Atua como enfermeira preceptora de estágio do Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Newton Paiva. E-mail: [email protected].

3 Docente do Instituto de Ciência Biológicas e da Saúde do Centro Universi-tário Newton. Mestre em Saúde Coletiva (FIOCRUZ/CPqRR). Especialista em Formação Pedagógica para Profissionais da Saúde (UFMG). Especialista em Nefrologia (UNA). Professora da disciplina: Estágio Supervisionado de Assistên-cia de Enfermagem ao Indivíduo Enfermo em Cuidados Intermediários. E-mail: [email protected].