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ACOMPANHAMENTO PLENUS MINISTÉRIO PÚBLICO DIREITO CONSTITUCIONAL SEMANA 4 SINOPSE DE ESTUDO

ACOMPANHAMENTO PLENUS MINISTÉRIO PÚBLICO · doutrina para sufragar o dano moral da pessoa jurídica. Nesse contexto, registre-se que a Súmula 227 do STJ (“A pessoa jurídica

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ACOMPANHAMENTO PLENUS

MINISTÉRIOPÚBLICO

DIREITO CONSTITUCIONALSEMANA 4

SINOPSE DE ESTUDO

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SUMÁRIO

Capítulo 1 - DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ..................................................................... 31.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS: DIFERENÇAS ................................ 31.2 “GERAÇÕES” OU “DIMENSÕES” DE DIREITOS FUNDAMENTAIS ............................................... 51.3 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ........................................... 51.4 ABRANGÊNCIA ............................................................................................................................ 71.6 A TEORIA DOS QUATRO STATUS DE JELLINEK ........................................................................... 81.7 A DIMENSÃO OBJETIVA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .......................................................... 91.8 EFICÁCIA HORIZONTAL .............................................................................................................. 91.8.1 Teoria da ineficácia horizontal ............................................................................................... 91.8.2 Teoria da eficácia horizontal indireta ................................................................................... 101.8.3 Teoria da eficácia horizontal direta....................................................................................... 101.8.4 Teoria integradora ................................................................................................................. 101.9 RESTRIÇÕES ............................................................................................................................. 101.9.1 Teoria interna ........................................................................................................................ 111.9.2 Teoria externa ........................................................................................................................ 11

Capítulo 2 - DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS ......................................................................... 112.1 DIREITO À VIDA (ARTIGO 5º, CAPUT DA CF) .............................................................................. 112.2 DIREITO À IGUALDADE (ARTIGO 5º, CAPUT E INCISO I DA CF) ................................................. 132.3 DIREITO À LIBERDADE .............................................................................................................. 152.4 PROIBIÇÃO DA TORTURA ......................................................................................................... 212.5 INVIOLABILIDADE DA INTIMIDADE, VIDA PRIVADA, HONRA E IMAGEM DAS PESSOAS ............ 212.6 INVIOLABILIDADE DOMICILIAR ................................................................................................. 222.7 SIGILO DE CORRESPONDENCIAS E COMUNICAÇÕES .............................................................. 232.8 DIREITO DE PROPRIEDADE ....................................................................................................... 242.9 DEFESA DO CONSUMIDOR ....................................................................................................... 262.10 DIREITO DE PETIÇÃO E OBTENÇÃO DE CERTIDÕES .............................................................. 262.11 GARANTIAS CONSTITUCIONAIS (DIREITOS À SEGURANÇA) .................................................. 272.12 ALGUNS POSICIONAMENTOS JURISPRUDENCIAIS DO STF SOBRE DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS ................................................................................ 34

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Capítulo 1 - DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

1.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS: DIFERENÇAS.

Nas palavras de Rui Barbosa:

“as disposições meramente declaratórias, que são as que imprimem existência legal aos direitos reconhecidos, e as disposições assecuratórias, que são as que, em defesa de direitos, limitam o poder. Aquelas instituem os direitos, estas as garantias; ocorrendo não raro juntar-se, na mesma disposição constitucional, ou legal, a fixação da garantia, com a declaração do direito”.

Assim, os direitos são bens e vantagens prescritos na norma constitucional, destinados a promover e proteger a dignidade humana, ao passo que as garantias representam os instrumentos que asseguram o exercício desses direitos ou a sua reparação, caso violados.

Para memorizar:

Direitos Fundamentais: são disposições declaratórias, que compreendem bens e vantagens.

Garantias Fundamentais: são disposições assecuratórias, que, em defesa dos direitos, limitam o poder. São autênticos instrumentos através dos quais se assegura o exercício dos aludidos direitos ou reparam uma eventual violação. Os remédios constitucionais são exemplos.

ATENÇÃO!

Os direitos e garantias individuais são assegurados às pessoas jurídicas.

Súmula 227 STJ: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

Art. 52 do Código Civil estabelece: aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.

EXCEÇÃO:

O STJ, no final de 2013, entendeu que as pessoas jurídicas DE DIREITO PÚBLICO (União, Estados, Municípios, demais entes da Administração Pública Indireta etc.) NÃO podem sofrer dano moral. ENTENDIMENTO IMPORTANTÍSSIMO!

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DIREITO CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS A PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO. A pessoa jurídica de direito público não tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da honra ou da imagem. A reparação integral do dano moral, a qual transitava de forma hesitante na doutrina e jurisprudência, somente foi acolhida expressamente no ordenamento jurídico brasileiro com a CF/1988, que alçou ao catálogo dos direitos fundamentais aquele relativo à indenização pelo dano moral decorrente de ofensa à honra, imagem, violação da vida privada e intimidade das pessoas (art. 5º, V e X). Por essa abordagem, no atual cenário constitucional, a indagação sobre a aptidão de alguém de sofrer dano moral passa necessariamente pela investigação da possibilidade teórica de titularização de direitos fundamentais. Ocorre que a inspiração imediata da positivação de direitos fundamentais resulta precipuamente da necessidade de proteção da esfera individual da pessoa humana contra ataques tradicionalmente praticados pelo Estado. Em razão disso, de modo geral, a doutrina e jurisprudência nacionais só têm reconhecido às pessoas jurídicas de direito público direitos fundamentais de caráter processual ou relacionados à proteção constitucional da autonomia, prerrogativas ou competência de entidades e órgãos públicos, ou seja, direitos oponíveis ao próprio Estado, e não ao particular. Porém, em se tratando de direitos fundamentais de natureza material pretensamente oponíveis contra particulares, a jurisprudência do STF nunca referendou a tese de titularização por pessoa jurídica de direito público. Com efeito, o reconhecimento de direitos fundamentais - ou faculdades análogas a eles - a pessoas jurídicas de direito público não pode jamais conduzir à subversão da própria essência desses direitos, que é o feixe de faculdades e garantias exercitáveis principalmente contra o Estado, sob pena de confusão ou de paradoxo consistente em ter, na mesma pessoa, idêntica posição jurídica de titular ativo e passivo, de credor e, a um só tempo, devedor de direitos fundamentais. Finalmente, cumpre dizer que não socorrem os entes de direito público os próprios fundamentos utilizados pela jurisprudência do STJ e pela doutrina para sufragar o dano moral da pessoa jurídica. Nesse contexto, registre-se que a Súmula 227 do STJ (“A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”) constitui solução pragmática à recomposição de danos de ordem material de difícil liquidação. Trata-se de resguardar a credibilidade mercadológica ou a reputação negocial da empresa, que poderiam ser paulatinamente fragmentadas por violações de sua imagem, o que, ao fim, conduziria a uma perda pecuniária na atividade empresarial. Porém, esse cenário não se verifica no caso de suposta violação da imagem ou da honra de pessoa jurídica de direito público. REsp 1.258.389-PB, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/12/2013.

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1.2 “GERAÇÕES” OU “DIMENSÕES” DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

De acordo com a classificação proposta por Karel Vasak, em alusão aos ideais da Revolução Francesa, os direitos fundamentais de 1º dimensão traduzem o valor “liberdade”, pois destinados à limitação do poder estatal. Os direitos fundamentais de 2ª dimensão por sua vez, correspondem aos direitos sociais que materializam o valor “igualdade”. Por fim, os direitos fundamentais de 3ª dimensão compreendem os interesses transindividuais, de titularidade difusa, relacionados ao valor “fraternidade”.

Segundo a orientação de Norberto Bobbio, os direitos fundamentais de 4ª dimensão decorrem dos avanços da engenharia genética e compreendem três valores essenciais, a saber: a) democracia: em sentido formal, enquanto manifestação da vontade da maioria, e em sentido material, que corresponde à titularidade de direitos fundamentais por todos os indivíduos, inclusive pelos grupos minoritários; b) informação: essencial ao exercício da democracia e; c) pluralismo: não apenas no sentido político, mas em relação à pluralidade de ideias e concepções ideológicas, religiosas e sexuais.

Ainda, para Paulo Bonavides, são direitos fundamentais de 5ª dimensão, a paz, axioma da democracia participativa ou, ainda, supremo direito da humanidade. Fala-se, até mesmo, em direito fundamental de 6ª dimensão que, segundo Zulmar Fachin, consiste no direito de acesso à água potável.

1.3 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Sinteticamente, os direitos fundamentais apresentam as seguintes características:

• Historicidade: as diversas dimensões de direitos e garantias fundamentais surgiram paralelamente à cada uma das fases de evolução do constitucionalismo, o que, por si só, denota o seu caráter histórico. Contudo, esta característica é incompatível com a concepção jusnaturalista acerca da origem dos direitos e garantias fundamentais que, nesse contexto, são prerrogativas inerentes à pessoa humana, desde o seu nascimento.

• Universalidade: os direitos e garantias fundamentais destinam-se, de modo indiscriminado, a todos os seres humanos. Esta característica, todavia, é incompatível com a ideia de multiculturalismo, concepção para a qual representam a imposição dos direitos da maioria aos grupos minoritários, desconsiderando a diversidade política, econômica, social e religiosa das diferentes nações.

• Limitabilidade: os direitos fundamentais não são absolutos, de sorte que a identificação dos seus limites deve ser objeto de ponderação pelo intérprete, em contexto com os demais direitos consagrados pela Constituição. Contudo, para Bobbio, dois direitos são absolutos: o direito de não ser torturado e o direito de não ser escravizado.

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• Concorrência: os direitos fundamentais podem ser exercidos cumulativamente, ou seja, o exercício de um direito não exclui os demais.

• Irrenunciabilidade, inalienabilidade e imprescritibilidade: tratando-se de direitos personalíssimos, sem caráter patrimonial, os direitos e garantias fundamentais não podem ser objeto de renúncia, alienação ou prescrição, admitidas, no entanto, em relação ao seu exercício, que tenha natureza temporária.

• Interdependência: significa a existência de conexões entre os diferentes direitos fundamentais. Tais direitos possuem relações de dependência, pois a efetivação ou a violação a determinados direitos causa impacto em outros direitos. Nesses termos, pode-se perceber, por exemplo, a relação que existe entre o direito à manifestação do pensamento (art. 5º, IV) e o direito de resposta (art. 5º, V ), pois, na medida em que a Constituição assegura a liberdade de expressão, ela já prevê também uma limitação (direito de resposta) para os casos de abuso daquele direito.

• Complementaridade: significa que os direitos fundamentais não devem ser considerados (interpretados e/ou aplicados) de forma isolada. Isso decorre diretamente do fato de os direitos fundamentais formarem um sistema.

• Indivisibilidade: tais direitos não admitem interpretações que os afastem ou dividam, causando prejuízos aos seus conteúdos.

• Multifuncionalidade: está ligada à ideia de polivalência dos direitos fundamentais, isto é, a possibilidade de os direitos fundamentais desempenharem diversas funções.

Sobre a abrangência dos direitos e garantias fundamentais, a CRFB/88 faz referência somente a brasileiros (natos ou naturalizados) e a estrangeiros RESIDENTES no país. Todavia, o STF vem acrescentando, mediante interpretação sistemática, os estrangeiros não residentes, os apátridas e as pessoas jurídicas. Assim, um turista, em passagem pelo Brasil, caso venha a ser preso ilegalmente, poderá impetrar habeas corpus:

HABEAS CORPUS - IMPETRAÇÃO REDIGIDA EM LINGUA ESPANHOLA - EXTRADIÇÃO - FORMULAÇÃO DE PEDIDO DE CLEMENCIA AO PRESIDENTE DA REPUBLICA - AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DE ATO CONFIGURADOR DE ILEGALIDADE OU ABUSO DE PODER - HC NÃO CONHECIDO. - É inquestionável o direito de súditos estrangeiros ajuizarem, em causa própria, a ação de habeas corpus, eis que esse remédio constitucional - por qualificar-se como verdadeira ação popular - pode ser utilizado por qualquer pessoa, independentemente da condição jurídica resultante de sua origem nacional (...). (HC 72391 QO, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 08/03/1995, DJ 17-03-1995 PP-05791 EMENT VOL-01779-02 PP-00331)

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1.4 ABRANGÊNCIA

Consoante o disposto no artigo 5º, caput, da Constituição Federal, somente os brasileiros (natos e naturalizados) e os estrangeiros residentes no país, são destinatários da proteção conferida pelos direitos e garantias fundamentais.

Todavia, para a doutrina majoritária, amparada pelo entendimento do STF, os estrangeiros não residentes no país e os apátridas também são titulares de direitos fundamentais básicos, decorrentes da cláusula de tutela e promoção da pessoa humana (artigo 1º, inciso III da CF).

As pessoas jurídicas, públicas ou privadas, por sua vez, são destinatárias apenas de direitos compatíveis com a sua constituição, notadamente as prerrogativas de caráter instrumental (devido processo legal, contraditório, ampla defesa), afastada, portanto, a proteção inerente aos direitos que decorrem diretamente da dignidade humana.

1.5 APLICABILIDADE

Nos termos do artigo 5º, § 1º da Constituição, as normas definidoras de direitos e garantias fundamentais tem aplicação imediata. José Afonso da Silva explica:

“Em primeiro lugar, significa que elas são aplicáveis até onde possam, até onde as instituições ofereçam condições para seu atendimento. Em segundo lugar, significa que o Poder Judiciário, sendo invocado a propósito de uma situação concreta nelas garantida, não pode deixar de aplicá-las, conferindo ao interessado o direito reclamado, segundo as instituições existentes” (Comentário contextual à Constituição, 4 ed., São Paulo, Malheiros, p. 409).

Portanto, dizer que as normas definidoras de direitos e garantias fundamentais tem aplicação imediata, não significa que todos os interesses desta espécie estão previstos em normas de eficácia plena. Para corroborar o exposto, a título de exemplo, a liberdade de exercício profissional (artigo 5, inciso XIII da CF) constitui norma de eficácia contida.

LEMBRANDO:

Segundo José Afonso da Silva, as normas constitucionais podem ser de três espécies (Teoria Tripartida) quanto ao seu grau de aplicabilidade:

a) Normas de eficácia plena - aplicabilidade direta e imediata.

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b) Normas de eficácia contida - aplicabilidade direta e imediata (poderá sofrer restrições por lei infraconstitucional).

c) Normas de eficácia limitada - depende sua aplicabilidade de regulação por lei infraconstitucional.

c.1) Normas de princípio institutivo – criam órgãos ou instituições;c.2) Normas programáticas – estabelecem metas para o futuro do Estado.

1.6 A TEORIA DOS QUATRO STATUS DE JELLINEK

Georg Jellinek, no livro “Sistema dos Direitos Subjetivos Públicos” (System der Subjektiv Öffentlichen Rechte), trata os direitos fundamentais como direitos públicos subjetivos do indivíduo em relação ao Estado, demonstrando algumas das funções de tais direitos, que são reveladas com base na posição jurídica que o indivíduo assume em face do Estado. Assim, com base nessa relação indivíduo versus Estado, os direitos fundamentais podem assumir quatro status:

1 - Status negativo: é aquele em que há uma relação jurídica baseada na não interferência do Estado na vida do cidadão, ou seja, os direitos fundamentais exercem a função de garantir ao indivíduo que o Estado não intervirá nos aspectos particulares de sua vida;

2 - Status positivo ou civitatis: quando, em decorrência do exercício de direitos fundamentais, o particular passa a demandar determinados comportamentos por parte do Estado;

3 - Status ativo: o cidadão, no exercício de direitos fundamentais, assume uma postura participativa na vida política estatal. No presente status de cidadania ativa, o indivíduo passa a poder influir na vida estatal, por meio do exercício de direitos fundamentais. Dessa maneira, o direito ao voto (já citado como um dever), por exemplo, permite ao cidadão assumir esse papel de participante da vida política estatal.

4 - Status passivo ou subjectionis: é aquele em que o cidadão assume um papel de sujeição em relação ao Estado, seja em decorrência de um dever ou de uma proibição. Esse status subjectionis é uma postura imposta ao particular em decorrência de deveres fundamentais;

1.7 A DIMENSÃO OBJETIVA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Tema relativamente novo e, cada vez mais, cobrado em provas. A dimensão objetiva contrapõe-se à dimensão subjetiva dos direitos fundamentais. A dimensão subjetiva é a perspectiva clássica em que há um sujeito, titular de direitos, que demanda do Estado a tutela de seu interesse. Logo, nota-se uma relação bilateral de demanda, em que um sujeito exige do outro uma contrapartida.

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A dimensão objetiva, por sua vez, desprende-se desse caráter pessoal/individual. A dimensão objetiva cria deveres apriorísticos de proteção dos direitos fundamentais pelo Estado. Há um caráter preventivo. O Estado passa a ter deveres independentemente de um titular que esteja demandando a proteção.

1.8 EFICÁCIA HORIZONTAL

Historicamente, os direitos fundamentais foram idealizados para proteger o indivíduo em face do Estado. Trata-se da denominada eficácia vertical. Atualmente, a doutrina discute acerca da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, ou seja, a possibilidade de sua aplicação nas relações entre particulares. Fala-se, ainda, em eficácia diagonal, quando a relação privada é marcada pela desigualdade entre os sujeitos.

1.8.1 Teoria da ineficácia horizontal

Os direitos fundamentais não são aplicáveis às relações particulares por duas razões: a) liberalismo e; b) autonomia privada. Essa teoria é adotada pelos Estados Unidos que, para evitar problemas práticos, desenvolveu a doutrina do State Action. Nesse contexto, a violação aos direitos fundamentais decorre de uma ação estatal, de forma que, para justificar a incidência dos direitos fundamentais nas relações particulares, alguns atos privados são equiparados à atuação do Estado.

1.8.2 Teoria da eficácia horizontal indireta

Os direitos fundamentais não são aplicáveis às relações particulares diretamente, mas apenas mediante intermediação legislativa, sob pena de violação aos princípios da autonomia da vontade, segurança jurídica e separação dos poderes. Trata-se da teoria adotada na Alemanha e, algumas vezes no Brasil, pelo Ministro Gilmar Mendes.

1.8.3 Teoria da eficácia horizontal direta

Os direitos fundamentais são aplicáveis às relações particulares diretamente, independentemente de intermediação do legislador, graduada a intensidade da sua incidência conforme os limites impostos pela autonomia privada. Esta teoria já foi adotada em diversos julgados do STF.

1.8.4 Teoria integradora

A aplicação dos direitos fundamentais às relações particulares pressupõe intermediação legislativa. Porém, caso inexistente, é admitida a sua aplicação direta. Denomina-se integradora, portanto, porque conjuga a eficácia horizontal direta e indireta dos direitos fundamentais.

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IMPORTANTE!

Em que consiste a eficácia diagonal dos direitos fundamentais? E a eficácia vertical com repercussão lateral?

A eficácia diagonal consiste na aplicação dos direitos fundamentais nas relações entre empregado e empregador. Foi utilizada essa expressão para diferenciar da horizontal convencional (aplicável entre particulares) sob o argumento de que a relação entre empregado e empregador não é horizontal, eis que há subordinação jurídica entre eles.

Já a ideia de eficácia vertical com repercussão lateral, segundo Rafael Barretto, é desenvolvida pelo professor Marinoni a partir do direito à tutela jurisdicional ante a omissão do legislador em viabilizar direitos fundamentais. A tese principia pela afirmação de que a eficácia horizontal dos direitos fundamentais deve ser mediada pela lei e, quando o legislador se omite, somente resta socorrer-se à jurisdição.

1.9 RESTRIÇÕES

Duas teorias definem as restrições impostas aos direitos fundamentais. Vejamos:

1.9.1 Teoria interna

De acordo com essa teoria, os limites dos direitos fundamentais são imanentes à própria disposição declaratória, ou seja, fixados em abstrato, de sorte que a atividade interpretativa apenas revela o conteúdo definido pelo legislador.

1.9.2 Teoria externa

Para essa teoria, a definição das restrições de determinado direito fundamental perpassa por duas etapas: 1) identificação dos limites externos determinados por outros direitos consagrados no texto constitucional e; 2) ponderação entre os diferentes direitos através da atividade interpretativa. Ou seja, as restrições não decorrem da própria norma declaratória, mas de outros direitos de mesma hierarquia.

Capítulo 2 - DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS

2.1 DIREITO À VIDA (ARTIGO 5º, CAPUT DA CF)

O direito à vida compreende o direito de continuar vivo e o direito à uma vida digna.

Em decorrência do primeiro desdobramento, é vedada a pena de morte, salvo em

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caso de guerra declarada, inclusive a sua instituição por emenda constitucional, pois trata-se de cláusula pétrea. Pedro Lenza ainda posiciona-se a favor de corrente que entende que o poder constituinte originário, em obediência aos princípios da continuidade e proibição do retrocesso (os direitos fundamentais conquistados não podem retroceder), também não poderia ampliar as hipóteses de pena de morte, mesmo em nova constituição.

O segundo desdobramento, por sua vez, está relacionado à satisfação das necessidades vitais básicas compreendidas no conceito de mínimo existencial.

Temas importantes relacionados a esse direito:

1) Células-tronco embrionárias: O STF definiu o conceito de vida na ADI 3.510 (julgamento da Lei de Biossegurança): só é possível falar em vida quando já há formação do sistema nervoso e presença do cérebro (seguindo a ideia da Lei de transplantes, que permite a doação a partir da constatação da morte encefálica). Portanto, entendeu que as pesquisas com células-tronco embrionárias não violam o direito à vida, colocam em relevo a sociedade fraterna, o direito à saúde e o incentivo ao desenvolvimento e à pesquisa científica.

2) Interrupção da gravidez (exceções ao crime de aborto): 2.a) Aborto terapêutico ou necessário - se não há outro meio de salvar a vida da

gestante (art. 128, I, CP);

2.b) Aborto piedoso/ético/sentimental/humanitário - gravidez resultante de estupro (art. 128, II, CP);

2.c) Feto anencéfalo - ADPF 54/DF (2012);

2.d) Interrupção da gravidez no primeiro trimestre realizado pela própria mulher ou com o seu consentimento (1ª Turma do STF, 29/11/2016. Info 849) - decisão polêmica e muito recente. Os principais fundamentos invocados são, primeiramente, o de que o aborto, se praticado ainda no primeiro trimestre (quando ainda não estaria maturado o sistema nervoso central, e, portanto, não haveria, tecnicamente, a vida plena), não pode ser tipificado, pois ao ser, não estaria em consonância com a CRFB, tendo em vista que uma conduta para ser tipificada não pode ser um exercício de um direito fundamental e deve haver proporcionalidade entre a ação praticada e a reação estatal. A criminalização violaria diversos direitos fundamentais das mulheres (autonomia, integridades física e psíquica, direitos sexuais e reprodutivos, igualdade de gênero, discriminação social e impacto sobre as mulheres pobres), com reflexos na dignidade da pessoa humana. Também viola o princípio da proporcionalidade. Destarte, decidiu a primeira Turma que o crime de aborto deve receber interpretação conforme à Constituição, de modo que, se praticado nos três primeiros meses, não configura crime, sendo inconstitucional a interpretação diversa.

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3) Questões envolvendo o direito de dispor sobre a própria vida e de “morrer com dignidade”:

3.1) Distanásia: também chamada de “obstinação terapêutica” (termo empregado por Jean Robert Debray) ou de “tratamento inútil” (Leo Pessini), trata-se atitude médica que, visando salvar a vida do paciente terminal, submete-o a grande sofrimento, ou seja, não se prolonga a vida propriamente dita, mas o processo de morrer – os efeitos do tratamento terapêutico são mais nocivos do que o próprio mal a ser curado, sendo também inúteis, dada a impossibilidade da cura. Permite-se o “excessivo prolongamento da morte (e do sofrimento) em detrimento da vida digna” (Pedro Lenza). A exposição de motivos da Res. N. 1.805/2006 do Conselho Federal de Medicina dispõe que ao médico é permitido limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente em fase terminal, de enfermidade grave e incurável, respeitada a vontade da pessoa ou de seu representante legal.

3.2) Eutanásia: “consiste em abreviar a vida de doente incurável e terminal, procurando diminuir a sua dor ou sofrimento” (Pedro Lenza). Pode ser de três espécies: a) eutanásia voluntária: há expresso e informado consentimento; b) eutanásia não voluntária: realizada sem o conhecimento da vontade do paciente (quando incapaz, por exemplo); e c) eutanásia involuntária: realizada contra a vontade do paciente (nesse caso é considerada criminosa). Em razão do STF ainda não ter apreciado a matéria, a eutanásia enseja a prática do homicídio privilegiado (art. 121, §1º, CP), já que praticado por motivo de relevante valor moral.

3.3) Suicídio assistido: “a pessoa em estágio terminal é assistida para implementação da morte, praticando ela mesma todos os atos que levarão à sua morte” (Pedro Lenza).

3.4) Ortotanásia: “trata-se da morte em seu tempo adequado, não combatida com os métodos extraordinários e desproporcionais utilizados na distanásia, nem apressada por ação intencional externa, como na eutanásia. É uma aceitação da morte, pois permite que ela siga seu curso. É prática ‘sensível ao processo de humanização da morte, ao alívio das dores e não incorre em prolongamentos abusivos com aplicação de meios desproporcionados que imporiam sofrimentos adicionais” (Luís Roberto Barroso e Letícia de Campos Velho Martel).

2.2 DIREITO À IGUALDADE (ARTIGO 5º, CAPUT E INCISO I DA CF)

• Igualdade formal/civil/jurídica: Igualdade não significa tratar a todos indistintamente. Mesmo no aspecto formal, consiste no tratamento isonômico dispensado aos indivíduos pertencentes a uma mesma categoria essencial.

• Igualdade material/real/fática: A igualdade material é conceituada a partir da máxima de Aristóteles enunciada pela expressão “tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual, na medida de suas desigualdades”. Ou seja, o tratamento diferenciado visa à redução das desigualdades fáticas em razão da presença de um fator determinante subjacente (discrímen).

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• Igualdade perante a lei e igualdade na lei: A igualdade perante a lei está relacionada ao momento de aplicação da norma ao caso concreto pelo Poder Executivo ou Judiciário. A igualdade na lei, por sua vez, consiste em comando a ser observado pelo legislador quando do exercício da atividade legiferante.

Observa-se que, embora o art. 5º, inciso I, da CF, preveja a igualdade entre homens e mulheres (“homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”), o próprio constituinte já tratou de estabelecer desigualdades com o objetivo de efetivar a igualdade material, como por exemplo o previsto no art. 5º, inciso L, da CF, que dispõe: “às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação”, estabelecendo, assim, diferenciação entre homens e mulheres.

Vejamos alguns precedentes importantes do STF no que tange às ações afirmativas que visam efetivar a igualdade material:

1) Cotas Raciais: ADPF 186: considerou constitucional a política de cotas étnico-raciais para seleção de estudantes da Universidade de Brasília (UnB). O STF fundamentou tal decisão na efetivação da igualdade material, prevista constitucionalmente. “...o Estado poderia lançar mão de políticas de cunho universalista – a abranger número indeterminado de indivíduos – mediante ações de natureza estrutural; ou de ações afirmativas – a atingir grupos sociais determinados – por meio da atribuição de certas vantagens, por tempo limitado, para permitir a suplantação de desigualdades ocasionadas por situações históricas particulares” (Inf. 663/STF).

2) PROUNI: O STF julgou constitucional o PROUNI como importante fator de inserção social e cumprimento do art. 205 da CF/88, que estatui ser a educação direito de todos e dever do estado e da família. O referido programa instituiu bolsas de estudo integrais e parciais de 50% ou de 25% para estudantes de cursos de graduação e sequencial de formação específica, em instituições privadas de ensino superior, com ou sem fins lucrativos, voltado exclusivamente para aqueles estudantes que tenham cursado o ensino médio completo em escola pública ou em instituição privada na condição de bolsista integral; estudante portador de deficiência, nos termos da lei; e professor da rede pública de ensino, dentre outros requisitos. (Lei 11.096/2005).

3) Lei nº 12.990/2014 que estabelece a reserva de 20% das vagas em concursos públicos para negros só se aplica ao Poder Executivo Federal (administração direta, autarquias, fundações públicas e empresas e sociedades de economia mista controladas pela União). Contudo, em 18/03/2015, o então presidente do STF e do CNJ, considerando a ADPF 186 (que julgou constitucional a política de cotas étnico-raciais na UnB) assinou atos normativos instituindo a reserva de vagas para negros, também pelo prazo de 10 anos, para concursos de provimento de cargos efetivos nos âmbitos do STF e do CNJ.

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3) Lei Maria da Penha – Lei 11.340/2006: o STF declarou a constitucionalidade dos arts. 1º, 33 e 41 da Lei 11.340/2006, com fundamento no princípio da igualdade, no combate ao desprezo às famílias, sendo considerada a mulher a sua célula básica (ADC 19), além de ter conferido interpretação conforme aos art. 12, inciso I, e 16, da mesma lei, declarando a natureza incondicionada da ação penal em caso de crime de lesão, pouco importando a extensão desta, praticado contra a mulher no ambiente doméstico (ADI 4.424).

Continuando na análise de temas envolvendo o direito à igualdade, importante destacar o critério da congeneridade, vejamos: De acordo com a Lei nº 9.536/97, a remoção de ofício de servidor público federal civil ou militar, que importe em mudança de domicílio, garante a ele e/ou seus dependentes estudantes vaga em instituição de ensino, em qualquer época do ano e independentemente da existência de vaga. Contudo, a partir do julgamento da ADI 3.324 o STF sacramentou o critério da congeneridade, ou seja, a vaga será garantida em instituição de ensino congênere à de origem, o que implica dizer que a transferência se dará de instituição pública para pública (sendo indiferente se é municipal, estadual ou federal) ou de privada para privada. O STJ admite uma exceção a esse critério: “se não houver curso correspondente em instituição congênere do local da nova residência ou em suas imediações, a vaga deve ser assegurada em instituição não congênere”.

2.3 DIREITO À LIBERDADE

• Liberdade de ação/autonomia privada:

Art. 5º (...)II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

É a contraface do princípio constitucional da legalidade. Conforme depreende-se do referido inciso, no âmbito das relações particulares, prevalece o princípio da autonomia da vontade, segundo o qual o particular pode fazer tudo o que a lei não proíbe. É a liberdade de agir, que é delimitada apenas pelas restrições criadas mediante lei ou deduzidas do ordenamento jurídico (respeito aos direitos e garantias de terceiros). O que não está proibido, considera-se permitido.

• Liberdade de locomoção:

Art. 5º (...)XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

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O habeas corpus (art. 5º, LXVIII) é o instrumento processual específico para garantir a liberdade de locomoção. Além da limitação dessa liberdade em tempo de guerra, também é possível que ela seja restringida durante o estado de defesa e estado de sítio.

• Liberdade de manifestação do pensamento:

Art. 5º. (...)IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;  V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; 

A liberdade de manifestação do pensamento está relacionada ao exercício da democracia, a fim de permitir a livre competição no mercado de ideias (expressão utilizada pelo Ministro da Suprema Corte norte-americana Oliver Holmes, em 1919). Por outro lado, para coibir manifestações abusivas e permitir a responsabilização dos infratores, é expressamente vedado o anonimato.

Temas importantes:

1) Hate speech: está relacionada à liberdade de expressão e às manifestações de ódio, desprezo ou intolerância contra determinados grupos, motivados por preconceitos ligados à etnia, religião, gênero, deficiência física ou mental e orientação sexual, dentre outros fatores. O STF não adotou o entendimento de que a garantia da liberdade de expressão abrangeria o hate speech, vez que não é absoluta.

2) Delação anônima: não é possível a utilização da denúncia anônima, pura e simples, para a instauração de procedimento investigatório, por violar a vedação ao anonimato. No entanto, nada impede que o poder público adote medidas informais destinadas a apurar, previamente, com prudência e discrição, a possível ocorrência de eventual situação de ilicitude penal, quando provocado por delação anônima.

3) Marcha da maconha: o STF, no julgamento da ADPF 187, considerou o movimento legítimo e constitucional, respaldando sua decisão nos direitos fundamentais de livre manifestação do pensamento e de reunião e, ainda, o direito de minorias. A simples manifestação de descriminalização de determinado ilícito penal não configura apologia ao crime (informativo 631). Parâmetros fixados pela Corte: a reunião deve ser pacífica; não pode haver estímulo ao consumo do entorpecente (e, logicamente, nem o consumo); é vedada a participação de crianças e adolescentes.

4) Tatuagem: “As pigmentações de caráter permanente inseridas voluntariamente em partes dos corpos dos cidadãos configuram instrumentos de exteriorização da liberdade de manifestação do pensamento e de expressão”, em razão disso os editais de concursos

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públicos “não podem estabelecer restrições a pessoas com tatuagens, salvo quando situações excepcionais em razão de conteúdo violem valores constitucionais” (STF).

• Liberdade de consciência, crença e culto:

Art. 5º (...)VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;  VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;  VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

O direito à liberdade de consciência, mais amplo, compreende o direito de crer em alguma coisa ou de não ter qualquer tipo de crença. A liberdade de crença, por sua vez, está associada à uma concepção religiosa, ao passo que a liberdade de culto consiste no direito de exteriorização da crença.

Considerando que o Brasil é um Estado laico, ou seja, que não adota nenhuma religião oficial, argumentos puramente religiosos não são suficientes para fundamentar decisões jurídicas. Nesse sentido, Habermas denomina “tradução institucional” o processo destinado a transformar um argumento religioso em um argumento acessível a todos os indivíduos, independentemente da crença adotada.

Pedro Lenza assegura que “dentro de uma ideia de bom senso, prudência e razoabilidade, a Constituição assegura a todos o direito de aderir a qualquer crença religiosa, ou recusá-la, ou, ainda, de seguir qualquer corrente filosófica, ou de ser ateu e exprimir o agnosticismo, garantindo a liberdade de descrença ou a mudança da escolha já feita”.

Seguem alguns desdobramentos acerca dessa liberdade:

1) O STF, acerca da discussão sobre a obrigatoriedade ou não da expressão “sob a proteção de Deus” no preâmbulo das constituições estaduais, definiu, além de estabelecer e declarar a irrelevância jurídica do preâmbulo (que serve apenas como norte interpretativo das normas constitucionais), que a referida expressão não é norma de reprodução obrigatória nos preâmbulos das constituições estaduais.

2) O ensino religioso nas escolas, apesar de constituir disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental (art. 210, §1º, CF), é disciplina de matrícula facultativa.

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3) O casamento celebrado por líder de qualquer religião ou crença tem o mesmo efeito civil do casamento realizado na religião católica, aplicando-se por consequência o art. 226, §2º.

4) Não há crime de constrangimento ilegal (art. 146, §3º, I, do CP) na hipótese de testemunha de Jeová ser submetida a transfusão de sangue, na hipótese de o médico deparar-se com urgência ou perigo iminente, ou se o paciente for menor de idade, haja vista a ponderação de interesses (vida x liberdade de crença).

5) Crucifixos em repartições públicas: apesar da regra de ser o Brasil um país laico, a única medida que vem sendo adotada em algumas decisões é a ideia de se tratar o crucifixo como símbolo cultural e não religioso (decisão do CNJ – âmbito do judiciário). Todavia, em alguns tribunais de justiça estaduais há decisões determinando a retirada de crucifixos e símbolos das dependências institucionais.

6) A maçonaria é uma ideologia de vida e não uma religião. Com fundamento nisso, o STF decidiu que a maçonaria não tem imunidade tributária religiosa (aquela prevista no art. 150, VI, “b”, da CF).

IMPORTANTE! Caso Jonas Abib (20/12/2016): críticas de um religioso a outra religião configura crime de racismo? O STF entendeu que NÃO! Para a Corte, prevaleceu a liberdade religiosa, de modo que o proselitismo religioso está permitido. A fala do líder religioso, nas palavras do Relator Fachin, “apesar de indiscutivelmente preconceituosa, intolerante, pedante e prepotente, encontra guarida na liberdade de expressão religiosa e, em tal dimensão, não preenche o âmbito proibitivo da norma penal incriminadora”.

• Liberdade de atividade intelectual, artística, científica ou de comunicação:

Art. 5 (...)IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;   

A liberdade de imprensa constitui prerrogativa fundamental que se compreende na liberdade de manifestação do pensamento. De acordo com a Declaração de Chapultepec, reproduzida em diversos dispositivos constitucionais, a vedação à censura é um valor essencial ao regime democrático, assegurada a reparação material e moral por eventuais excessos praticados.

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Apesar da vedação à censura “de natureza política, ideológica e artística”, “Compete à lei federal: regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada; estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente. (art. 220, §2º e 3º, CF).

Temas importantes:

1) A lei de imprensa (lei 5.250/67) não foi recepcionada pela CF/88, uma vez que é marcada por aspectos não democráticos (ADPF 130).

2) Biografias não autorizadas: Em 10 de junho de 2015, o STF deu interpretação conforme aos arts. 20 e 21 do CC/02, sem redução de texto, declarando INEXIGÍVEL o consentimento da pessoa biografada, relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária a autorização de familiares (ADI 4.815).

• Liberdade de informação (artigo 5º, incisos XIV e XXXIII da CF)

Art. 5º (...)XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;   XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

É assegurado a todos o acesso à informação, resguardado o sigilo da fonte, expressiva garantia de ordem jurídica que, outorgada a qualquer jornalista em decorrência de sua atividade profissional, destina-se, em última análise, a viabilizar, em favor da própria coletividade, a ampla pesquisa de fatos ou eventos cuja revelação impõe-se por razões de estrito interesse público.

Ressalta-se, entretanto, que existem situações cujas informações são dotadas de sigilo (por motivo de segurança da sociedade ou do Estado), sigilo este regulamentado pela Lei da Transparência (Lei 12.527/2011). Nos demais casos, o preceito do inciso XXXIII, art. 5º é autoaplicável. Caso haja omissão em responder, há claro desvio de poder, que pode ser sanável pela via do habeas data ou do mandado de segurança, conforme caso.

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• Liberdade de profissão:

Art. 5º (...)XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;   

Trata-se de norma constitucional de eficácia contida, existindo liberdade de exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, mas podendo lei infraconstitucional limitar seu alcance, fixando condições ou requisitos para o pleno exercício da profissão.

Temas importantes:

1) A aprovação no Exame de Ordem (art. 8º, IV, Lei 8.906/94), como requisito essencial para que o bacharel em direito possa inscrever-se junto à OAB como advogado, foi declarada constitucional pelo STF.

2) O STF derrubou a exigência do diploma de jornalista para o exercício da profissão.

3) Para o exercício da profissão de músico não se exige a inscrição em concelho de fiscalização, haja vista que essa exigência só se fundamenta quando houver potencial lesivo na atividade.

• Liberdade de reunião:

Art. 5 (...)XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente [INDEPENDE DE AUTORIZAÇÃO];

“A liberdade de reunião caracteriza-se como verdadeira ‘liberdade-condição’, porque, sendo um direito em si, constitui também condição para o exercício de outras liberdade: de manifestação do pensamento, de expressão de convicção filosófica, religiosa, científica e política e de locomoção (liberdade de ir, vir e ficar)” (José Afonso da Silva).

• Liberdade de associação:

Art. 5º (...)XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas

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independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

IMPORTANTE: Conforme estabeleceu o STF, a simples previsão estatutária de autorização geral para a associação é insuficiente para lhe conferir legitimidade ativa para a defesa de seus associados. Assim, tem sido exigida a declaração expressa manifestada por ato INDIVIDUAL do associado ou por ASSEMBLEIA GERAL da entidade. Por consequência, somente os associados que apresentaram a manifestação individual, na data da propositura da ação de conhecimento, podem executar o título judicial proferido em ação coletiva (STF, 14/05/2014).

2.4 PROIBIÇÃO DA TORTURA

Art. 5 (...)III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

2.5 INVIOLABILIDADE DA INTIMIDADE, VIDA PRIVADA, HONRA E IMAGEM DAS PESSOAS

Art. 5 (...)X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;   

Temas importante:

1) Sigilo bancário: Entende-se que o sigilo bancário é um desdobramento do direito à intimidade e à vida privada.

No tocante à polêmica quebra de sigilo bancário, importante ter em mente que o STF assim posicionou-se:

a) A quebra de sigilo bancário exige prévia autorização judicial, pois revela-se como verdadeira cláusula de reserva de jurisdição. Além disso, a sua autorização depende de “causa provável”, ou seja, “fundada suspeita”.

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b) Em um segundo momento, o Pleno do STF mudou o posicionamento, em caso envolvendo a Receita Federal. Para a Corte, não se trata de quebra de sigilo bancário, mas de transferência de sigilo da órbita bancária para a fiscal, para que o Fisco possa, então, cumprir o comando previsto no art. 145, § 1º da CRFB/88 (princípio da capacidade contributiva).

Então, como ficou?

É possível a quebra de sigilo bancário pelo Poder Judiciário e as CPIs (federais, estaduais e distritais).

O Fisco poderá requisitar, por ato próprio, o envio de informações bancárias, desde que na forma do art. 6º da LC nº 105/2001, ou seja, quando houver processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e tais exames sejam considerados indispensáveis pela autoridade administrativa competente. E tais informações devem permanecer em sigilo. Nesse caso, para o STF, não é hipótese de quebra de sigilo bancário, mas de transferência de sigilo da órbita bancária para a fiscal.

Ministério Público, Polícia Judiciária e as CPIs municipais não podem quebrar sigilo bancário, pois dependem de prévia autorização judicial.

2) Proibição de revista íntima: Muito embora a Lei nº 13.271/2016 proíba as empresas privadas e a administração pública, direta e indireta, de promover revista íntima de suas funcionárias e clientes do sexo feminino, a jurisprudência majoritária é no sentido de que essa garantia não é exclusiva das mulheres.

3) Gravação clandestina: é a captação e a gravação da conversa feita por um dos interlocutores, sem o conhecimento do outro (pode ser gravação pessoal, gravação clandestina telefônica e gravação clandestina ambiental). Embora haja discussão quanto a uma possível violação à intimidade e à privacidade, o STF tem assegurado a sua captura, desde que observados os princípios constitucionais e os limites da lei.

2.6 INVIOLABILIDADE DOMICILIAR

Art. 5º (...)XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;  

Sem o consentimento do morador, é possível penetrar no domicílio: a) por determinação judicial, durante o dia.b) em caso de flagrante delito, desastre ou para prestar socorro, durante o dia ou à

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noite, estando dispensada a prévia autorização judicial.

Segundo o STF: - dia/noite: a aurora e o crepúsculo - das 6 às 18h é dia; - casa: domicílio, escritório, oficinas, quarto de hotel, garagens, etc.

Tema 280 da repercussão geral: a entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade dos atos praticados (DJE de 10.05.2016).

2.7 SIGILO DE CORRESPONDENCIAS E COMUNICAÇÕES

Art. 5º (...)XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;  

- Sigilo de correspondência: como regra, inviolável. Tal direito pode ser restringido em caso de estado de defesa e estado de sítio (arts. 136, §1º, I, b, e 139, III, ambos da CF);

- Sigilo de comunicação telegráfica: também, em regra inviolável. Também podendo ser restringindo em caso de estado de defesa e estado de sítio (arts. 136, §1º, I, c, e 139, III, ambos da CF);

- Sigilo fiscal (comunicação de dados): faculta-se à administração tributária identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte (art. 145, §1º, CF)

- Sigilo das comunicações telefônicas: a quebra é permitida somente nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer e para fins de investigação criminal ou instrução processual penal (procedimento regulamentado pela lei 9.296/96)

Obs. 1: a garantia constitucional em comento abrange a inviolabilidade das comunicações provadas nos meios eletrônicos, pela internet, e-mails ou comunicações proporcionadas pelas redes sociais. Tal matéria foi regulamentada pelo marco civil da internet (Lei 12.965/2014).

Obs. 2: o STF entende que o habeas corpus é medida idônea para impugnar decisão judicial em procedimento criminal que autoriza quebra de sigilo fiscal e bancário, haja vista a

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possibilidades destes resultarem em constrangimento à liberdade do investigado).

2.8 DIREITO DE PROPRIEDADE

Art. 5º (...)XXII - é garantido o direito de propriedade;XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;

A função social da propriedade, prevista no inciso XXIII, se aplica à propriedade urbana e rural e trata-se “do conjunto de obrigações que estrutura o direito de propriedade e condicionam o respectivo exercício à observância de interesses que transcendem a vontade do proprietário” (Juliano T. Bernardes e Olavo A. V. Alves Ferreira). É exigência também prevista no art. 173, §1º, III; 182, caput; 185, parágrafo único; e 186, todos da CF.

São limitações ao direito de propriedade:

a) limitações ao caráter absoluto da propriedade: limitações administrativas e tombamento, além dos direitos de vizinhança;

b) limitações ao caráter exclusivo da propriedade: servidões, ocupação temporária e requisição administrativa, incluindo o licenciamento compulsório de patentes, bem como os direitos reais sobre coisa alheia.

c) limitações ao caráter perpétuo da propriedade: expropriação e requisição de bens.

Assim, o direito de propriedade assegurado no inciso XXII do art. 5º da CF não é absoluto, podendo, por exemplo, submeter-se a desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social (art. 5º, inciso XXIV, CF).

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O inciso XXV traz outra possibilidade de restrição do direito de propriedade: a requisição administrativa.

Importante destacar aqui a previsão do art. 243 da CF, que traz outra restrição ao direito de propriedade, a possibilidade de expropriação (confiscatória), vejamos:

Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014)Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei. 

• Propriedade Intelectual

Art. 5º (...)XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas;XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País;

• Direito de herança e estatuto sucessório

Art. 5º (...)XXX - é garantido o direito de herança;XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada

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pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do “de cujus”;

Herança é o acervo de direitos e obrigações que se transmite a outrem (herdeiros legítimos ou testamentários), em razão da morte do antigo titular (Juliano T. Bernardes e Olavo A. V. Alves Ferreira). Segundo estes autores, “a Constituição garantiu expressamente o direito à herança para deixar claro que o Estado não pode aproveitar-se do falecimento de alguém para se apropriar dos respectivos bens ou direitos”.

O STF já decidiu, sobre essa matéria, que a “Constituição garante o direito de herança, mas a forma como esse direito se exerce é matéria regulada por normas de direito privado”.

2.9 DEFESA DO CONSUMIDOR

Art. 5º (...)XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

Conforme aduz Pedro Lenza, a inserção da defesa do consumidor entre os direitos fundamentais erigiu os consumidores à categoria de titulares de direitos constitucionais fundamentais e “conjugando essa previsão à do art. 170, V, que eleva a defesa do consumidor à condição de princípio da ordem econômica, tem-se o relevante efeito de legitimar todas as medidas de intervenção estatal necessárias a assegurar a proteção prevista”.

2.10 DIREITO DE PETIÇÃO E OBTENÇÃO DE CERTIDÕES

Art. 5 (...)XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;

“O objeto do direito de petição nada mais é do que, em nítido exercício das prerrogativas democráticas, levar ao conhecimento do Poder Público a informação ou notícia de uma ato ou fato ilegal, abusivo ou contar direitos, para que este tome as medidas necessárias” (Pedro Lenza).

Quanto ao direito de petição e obtenção de certidões, uma vez registrado o pedido de certidão, e não atendido de forma ilegal ou por abuso de poder, o remédio cabível é o MANDADO DE SEGURANÇA, e não o habeas data!

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O pedido genérico de certidão não é admitido, devendo o interessado discriminar o objeto de seu interesse. Ademais, o art. 1º da Lei 9.051/95 prevê o prazo de 15 dias, contado do registro de pedido no órgão expedidor, para que as certidões requeridas sejam expedidas.

O direito de certidão não é absoluto, podendo ser negado em caso de o sigilo ser imprescindível à segurança da sociedade ou do Estado.

2.11 GARANTIAS CONSTITUCIONAIS (DIREITOS À SEGURANÇA)

• Princípio da inafastabilidade de jurisdição:

Art. 5 (...)XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

• Limites à retroatividade da lei:

Art. 5 (...)XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

Visa assegurar a estabilidade das relações jurídicas. Conceitos: a) direito adquirido: direito que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aquele cujo começo do exercício tenha termo prefixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem; b) ato jurídico perfeito: ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou; c) coisa julgada: decisão judicial de que não caiba mais recurso.

- Coisa Julgada: em situação excepcionalíssima, o STF afastou o instituto da segurança jurídica, para fazer valer o direito fundamental de que toda pessoa tem de conhecer as suas origens (princípio da busca da identidade genética), especialmente se, à época da decisão se procura rescindir, não se pôde fazer o exame de DNA. Em 02/06/2011, o STF concedeu o direito de, depois de mais de 10 anos, a interessada voltasse a pleitear, perante o suposto pai, a realização do DNA.

• Tribunal do Júri:

Art. 5 (...)XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:a) a plenitude de defesa;b) o sigilo das votações;c) a soberania dos veredictos;

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d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

IMPORTANTE! A competência do Tribunal do Júri não é absoluta, pois sempre que houver competência definida por prerrogativa de função na CF/88 haverá afastamento da norma geral inscrita no inciso XXXVIII. Ademais, acrescenta-se que, conforme a Súmula Vinculante 45, “a competência constitucional do tribunal do júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual”. Por fim, assegura Pedro Lenza que, caso o crime doloso contra a vida seja praticado em coautoria, se um réu tiver foro por prerrogativa de função e outro não, os processos serão separados, sendo certo que o que não possui prerrogativa será julgado pelo tribunal do júri.

• Legalidade e anterioridade da lei penal incriminadora:

Art. 5 (...)XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

O inciso XXXIX consagra o princípio da legalidade (ou reserva legal), ao prever que não haverá crime sem lei que o defina, nem pena sem cominação legal, bem como o princípio da anterioridade, pois não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.

Já o inciso XL traz as seguintes regras: a) irretroatividade da lei penal in pejus; b) retroatividade da lei penal mais benéfica. (O tema é profundado em direito penal).

• Práticas discriminatórias, crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia e crimes inafiançáveis e imprescritíveis:

Art. 5 (...)XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

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DICA P/ MEMORIZAÇÃO:

CRIMES INAFIANÇÁVEIS E IMPRESCRITÍVEIS: racismo e ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o estado democrático;

CRIMES INAFIANÇÁVEIS E INSUSCETÍVEIS DE GRAÇA OU ANISTIA: tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e os definidos como hediondos.

IMPORTANTE!

- O Pleno do STF (por 8 x 3), em sede de controle difuso em HC (HC 118.533), entendeu que o tráfico privilegiado de drogas (art. 33, §4º, Lei 11.343/2006) não tem natureza de hediondo. No entanto, tal entendimento não possui eficácia erga omnes nem força vinculante.

- Em relação aos crimes hediondos, a Lei 11.464/2007 alterou a lei 8.072/90 permitindo a liberdade provisória. O problema surge em relação ao tráfico de drogas, haja vista que a Lei 11.343/2006 impede a liberdade provisório ao preso em flagrante. O plenário do STF (por 7 x 3) declarou a inconstitucionalidade da proibição de concessão de liberdade provisória contida no art. 44 da Lei de drogas, com fundamento nos princípios da dignidade da pessoa humana, presunção de inocência e devido processo legal. Pedro Lenza destaca que, “por ter sido a decisão proferida em controle difuso, afetado ao Plenário, o Tribunal deliberou autorizar os Senhores Ministros a decidirem monocraticamente os habeas corpus quando o único fundamento da impetração for o art. 44 da mencionada lei, nos termos do voto Relator”.

• Regras constitucionais sobre as penas:

Art. 5 (...)XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; [A pena é personalíssima!]XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:a) privação ou restrição da liberdade;b) perda de bens;c) multa;d) prestação social alternativa;e) suspensão ou interdição de direitos;

IMPORTANTE:

- Súmula Vinculante 26: Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do

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art. 2º da Lei 8.072/90, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico.

- Súmula Vinculante 56: A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS.

Art. 5 (...)XLVII - não haverá penas:a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;b) de caráter perpétuo;c) de trabalhos forçados;d) de banimento;e) cruéis;XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;

• Direitos assegurados aos presos:

Art. 5 (...)XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

IMPORTANTE! O pleno do STF firmou tese segundo a qual “em caso de inobservância do seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, XLIX, da Constituição Federal, O Estado é responsável pela morte de detento”, devendo haver o nexo de causalidade entre a morte do detendo e a omissão do Estado.

Art. 5 (...)L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação;LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada; LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial;

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• Regras sobre extradição:Art. 5 (...)LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;

• Princípio do juiz natural:

Art. 5 (...)XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

Pode ser caracterizado pelos seguintes desdobramentos: “não haverá juízo ou tribunal ad hoc, isto é, tribunal de exceção; todos têm o direito de submeter-se a julgamento (civil ou penal) por juiz competente, pré-constituído na forma da lei; o juiz competente tem de ser imparcial” (Nelson Nery Junior).

O STF também aceitou a ideia de promotor natural (HC 67.759), dada a existência do direito e da garantia ao acusado de somente ser processado por órgão independente do Estado, vedando-se designações arbitrárias de promotores ad hoc ou por encomenda.

• Princípios do devido processo legal e do contraditório e da ampla defesa:

Art. 5 (...)LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

Informativo 405/STF: Viola o devido processo legal, contraditório e a ampla defesa a exclusão de membro de sociedade sem a possibilidade de sua defesa - RE 201.819.

• Provas ilícitas:

Art. 5 (...)LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

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Desse princípio extrai-se também a teoria dos frutos da árvore envenenada, segundo a qual as provas derivadas de provas obtidas por meios ilícitos também são maculadas pelo vício da ilicitude.

• Princípio da presunção de inocência (ou não culpabilidade):

Art. 5 (...)LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;

• Identificação criminal:

Art. 5 (...)LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; (Regulamento).

A Lei 12.037/2009 regulamentou a matéria, abarcando a regra da não identificação criminal do civilmente identificado, enumerando as hipóteses em que, mesmo ao civilmente identificado, se procederá a identificação criminal.

• Ação penal privada subsidiária da pública:

Art. 5 (...)LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal;

“Havendo inércia do Ministério Público (seja pelo não oferecimento de denúncia, seja pelo não requerimento de arquivamento do inquérito policial, ou mesmo pela falta de requisição de novas diligências no prazo legal), será admitida ação privada, porém sem retirar o caráter de privatividade da ação penal pública do Ministério Público”.

• Publicidade dos atos processuais

Art. 5 (...)LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

• Regras sobre a prisão:

Art. 5º (...)LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

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LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;

CUIDADO! É INCORRETO dizer que a previsão constitucional da prisão civil do depositário infiel foi revogada pela ratificação do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, pois, nas palavras do Min. Gilmar Mendes, não houve revogação, mas apenas deixou de ter aplicabilidade diante do efeito paralisante desses tratados em relação à legislação infraconstitucional que disciplina a matéria (Súmula Vinculante nº 25/2009).

• Assistência jurídica integral e gratuita:

Art. 5º (...)LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;

Direito instrumentalizado pela Defensoria Pública (CF, Art. 134: “A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014)”).

• Erro judiciário:

Art. 5º (...)LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença;

• Gratuidade das certidões de nascimento e de óbito:

Art. 5º (...)LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei: (Vide Lei nº 7.844, de 1989)a) o registro civil de nascimento;b) a certidão de óbito;

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• Gratuidade nas ações de habeas corpus e habeas data:

Art. 5º (...)LXXVII - são gratuitas as ações de  habeas corpus  e  habeas data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania.

• Celeridade processual:

Art. 5º (...)LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

A razoável duração do processo busca dotar tal processo de efetividade, haja vista que o tempo constitui grande óbice à efetividade da tutela jurisdicional, podendo gerar risco de inutilidade ou ineficácia. Isso se dá pela imediatidade que muitas demandas possuem em contrapartida à necessidade do desenvolvimento da atividade cognitiva do julgador para conceder provimentos, o que pode gerar o perecimento do direito reclamado.

Do comando do inciso LXXVIII transcrito acima, extrai-se que a prestação jurisdicional deve ser dada dentro de um prazo razoável e efetivo e, mais importante, devem ser assegurados os meios que garantam a celeridade da tramitação do processo.

2.12 ALGUNS POSICIONAMENTOS JURISPRUDENCIAIS DO STF SOBRE DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS

- A legislação brasileira considera idosa a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. Súmula 683 do STF, zelando pelo princípio da Igualdade, prescreve: o limite de idade para inscrição em concurso público só é legítima em face do art. 7º, XXX da CRFB, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.

- Súmula Vinculante 11: o uso de algemas é EXCEPCIONAL, só estando autorizado mediante resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física (do preso ou de outrem), justificado por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, nulidade da prisão e do ato processual e responsabilidade civil do Estado - Súmula fundada na aplicação dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade

- Federalização dos crimes contra direitos humanos (art. 109, V-A e § 5º - EC 45/2004). Incidente de deslocamento de competência. O STJ fixou os pressupostos: Existência de grave violação a direitos humanos; Risco de responsabilização internacional decorrente do descumprimento de obrigações jurídicas assumidas em tratados internacionais; Incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer respostas efetivas. Ademais, o incidente de deslocamento

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não pode ter natureza prima ratio. Deve ter caráter excepcionalíssimo!

- O Poder Judiciário pode obrigar o Município a fornecer vaga em creche a criança de até 5 anos de idade. A educação infantil, em creche e pré-escola, representa prerrogativa constitucional indisponível garantida às crianças até 5 anos de idade, sendo um dever do Estado (art. 208, IV, da CF/88). Os Municípios, que têm o dever de atuar prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil (art. 211, § 2º, da CF/88), não podem se recusar a cumprir este mandato constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi conferido pela Constituição Federal. STF. Decisão monocrática. RE 956475, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 12/05/2016 (Info 826).

- O Poder Judiciário pode condenar universidade pública a adequar seus prédios às normas de acessibilidade a fim de permitir a sua utilização por pessoas com deficiência. No campo dos direitos individuais e sociais de absoluta prioridade, o juiz não deve se impressionar nem se sensibilizar com alegações de conveniência e oportunidade trazidas pelo administrador relapso. Se um direito é qualificado pelo legislador como absoluta prioridade, deixa de integrar o universo de incidência da reserva do possível, já que a sua possibilidade é obrigatoriamente, fixada pela Constituição ou pela lei. STJ. 2ª Turma. REsp 1.607.472-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 592).

- AÇÃO PEDINDO SUPLEMENTO PARA CRIANÇA LACTENTE NÃO PERDE O OBJETO PELO SIMPLES FATO DE TEREM SE PASSADO VÁRIOS ANOS SEM O JULGAMENTO. Não há perda do objeto em mandado de segurança cuja pretensão é o fornecimento de leite especial necessário à sobrevivência de menor ao fundamento de que o produto serve para lactentes e o impetrante perdeu essa qualidade em razão do tempo decorrido para a solução da controvérsia. Como se trata de direito fundamental da pessoa e dever do Poder Público garantir a saúde e a vida, não há que se falar que o pleito se tornou infrutífero pelo simples fato de a solução da demanda ter demorado. A necessidade ou não do fornecimento de leite especial para a criança deverá ser apurada em fase de execução. Se ficar realmente comprovada a impossibilidade de se acolher o pedido principal, em virtude da longa discussão judicial acerca do tema, nada impede que a parte requeira a conversão em perdas e danos. STJ. 1ª Turma. AgRg no RMS 26.647-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 2/2/2017 (Info 601).

- Não cabe reclamação para o STF contra sentença que julgou improcedente pedido de direito de resposta sob o fundamento de que não houve, no caso concreto, ofensa. Esta sentença não afronta a autoridade da decisão do STF no julgamento da ADPF 130/DF. Como a sentença não violou nenhuma decisão do STF proferida em sede de controle concentrado de constitucionalidade, o que se percebe é que o autor, por meio da reclamação, deseja que o Supremo examine se a sentença afrontou, ou não, o art. 5º, V, da CF/88. Para isso, seria necessário reexaminar matéria de fato, o que não é possível em reclamação, que se presta unicamente a preservar a autoridade de decisão do STF. Ademais, isso significaria o exame per saltum, ou seja, “pulando-se” as instâncias recursais do ato impugnado diretamente à

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luz do art. 5º, V, CF/88 (Inf. 851, STF).

- Se um brasileiro nato que mora nos EUA e possui o green card decidir adquirir a nacionalidade norte-americana, ele irá perder a nacionalidade brasileira. Não se pode afirmar que a presente situação se enquadre na exceção prevista na alínea “b” do inciso II do § 4º do art. 12 da CF/88. Isso porque, como ele já tinha o green card, não havia necessidade de ter adquirido a nacionalidade norte-americana como condição para permanência ou para o exercício de direitos civis. O estrangeiro titular de green card já pode morar e trabalhar livremente nos EUA. Dessa forma, conclui-se que a aquisição da cidadania americana ocorreu por livre e espontânea vontade. Vale ressaltar que, perdendo a nacionalidade, ele perde os direitos e garantias inerentes ao brasileiro nato. Assim, se cometer um crime nos EUA e fugir para o Brasil, poderá ser extraditado sem que isso configure ofensa ao art. 5º, LI, da CF/88.

COMO TEM SIDO COBRADO EM PROVAS DE MINISTÉRIO PÚBLICO

MPE-RR / 2017 / CESPE O Sistema Único de Saúde (SUS) adquiriu de determinada empresa próteses auditivas, que foram distribuídas para a população em ação de assistência terapêutica à saúde das pessoas com deficiência auditiva. Próteses de um dos lotes distribuídos apresentavam igual defeito de série, o que ocasionou agravamento na deficiência auditiva de um determinado grupo de indivíduos beneficiados pela ação do SUS. Ao tomar conhecimento desse fato, uma entidade de defesa das pessoas com deficiência ajuizou ação civil pública na justiça estadual de Roraima contra a empresa vendedora e contra o Estado, requerendo condenação a indenização por danos causados ao grupo de pessoas que recebeu as próteses defeituosas. O pedido foi julgado improcedente por insuficiência de prova. A entidade não recorreu e a decisão transitou em julgado. Meses depois, outra entidade de defesa da saúde das pessoas com deficiência propôs, na justiça estadual do Acre, nova ação civil pública com o mesmo objeto, ou seja, ação requerendo a condenação da empresa e do Estado por danos causados àqueles que receberam, por meio da ação do SUS, próteses auditivas com defeito. Considerando a situação hipotética acima apresentada, atenda ao que se pede a seguir. 1 Informe a espécie de interesse ou direito que as ações ajuizadas pelas entidades visavam defender. [valor: 0,60 ponto] 2 Apresente as possíveis situações, com relação aos interessados individuais e coletivos, decorrentes de haver coisa julgada pela improcedência nesse tipo de ação coletiva. [valor: 0,60 ponto] 3 Discorra sobre a viabilidade da demanda proposta na justiça do estado do Acre, conforme a jurisprudência do STJ. [valor: 0,70 ponto]

MPE-PR / 2017 / MPE-PR No que consiste a tomada de decisão apoiada?

MPE-BA / 2015 / MPE-BA “A dignidade da pessoa humana é o valor e o princípio que move o processo civilizatório em múltiplas dimensões” (BARROSO, Luís Roberto. O novo Direito Constitucional brasileiro –

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contribuições para a construção teórica e prática da jurisdição constitucional no Brasil.1ª reimpressão, Belo Horizonte: Editora Fórum, 2013, p. 339). Observe, com atenção, a hipótese abaixo: Determinada gestante maior e capaz ingressa com demanda judicial requerendo a autorização do Poder Judiciário para efetivar a interrupção da gestação, tendo em vista que o feto sofre de deficiência psíquica grave. A demanda tem processamento célere e a instrução processual (prova pericial médica) revela que: 1) a gravidez é viável (ausência de risco de morte para o feto); 2) inexiste risco à incolumidade física da gestante; e 3) a enfermidade é irreversível e comprometerá severamente as funções cognitivas do nascituro, de modo que este necessitará permanentemente de auxílio material dos pais e de terceiros (exemplo: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, etc.). Para fundamentar o seu pedido, a gestante alega: a) violação ao princípio da dignidade da pessoa humana; b) direito à sua integridade psicológica (saúde mental); c) ofensa à autonomia da vontade; d) vulneração aos princípios da legalidade e liberdade; e) necessidade de se efetivar interpretação dos artigos 124, 126, caput, e 128, I e II do Código Penal conforme a Constituição Federal de 1988; f) atipicidade da conduta; e, por fim, g) necessidade de se respeitar o direito reprodutivo (liberdade reprodutiva) da mulher. Diante do quadro fático acima destacado e do ordenamento jurídico pátrio atual, manifeste-se, de forma objetiva, em termos estritamente jurídicos, acerca do(a): a) Enquadramento jurídico que deve ser delineado na situação ventilada. Justifique. (04 pontos) b) (Im)possibilidade de interrupção prematura da gestação, com a necessária fundamentação. (14 pontos) OBS:A pontuação relativa à estrutura gramatical totaliza 02 pontos. Não se faz necessária a formatação de um modelo de “Parecer”, devendo o(a) candidato(a) se restringir ao aspecto meritório (direito material) que envolve a temática em análise. VALOR TOTAL –20 pontos - Discorra em até 40(quarenta) linhas.

MPE-RS / 2014 / MPE-RS No contexto do fenômeno da judicialização dos direitos sociais, discorra sobre: (a) sua eficácia, a partir do § 1º do art. 5º da Constituição Federal; (2 pontos) (b) a dimensão de direitos prestacionais, distinguindo “direitos derivados a prestações” da estratégia de prestações originárias”; (2 pontos) (c) o problema dos custos e a reserva do possível; (3 pontos) (d) critérios jurisprudenciais para solucionar casos que envolvem o acesso ao Poder Judiciário em matérias de efetivação de direitos sociais. (3 pontos)

MPE-PR / 2014 / MPE-PR Sobre o direito constitucional de petição, comente sobre sua titularidade e esclareça, justificadamente, se ele traz como corolário o direito de o seu titular ser informado sobre o resultado de sua apreciação.

MPE-PR / 2014 / MPE-PR Explique a “teoria das escolhas trágicas”, em sede de direitos fundamentais, à luz da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.

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MPE-PR / 2014 / MPE-PR Discorra sobre o art. 228, da Constituição Federal, considerada a seguinte indagação: A imputabilidade penal somente a partir dos dezoito anos é cláusula pétrea?

MPE-PA / 2014 / FCC O art. 244 da constituição estabelece que lei disporá sobre a adaptação dos veículos de transporte coletivo *** de tal determinação constitucional, em 1992, foi editado diploma estadual obrigando as empresas concessionárias de transporte coletivo intermunicipal a promover adaptações em seus veículos com a finalidade de permitir o acesso a portadores de deficiência e necessidades especiais. Entre as adaptações exigidas estavam a instalação de elevadores hidráulicos, para acesso ao interior dos veículos e a colocação de portas com maior largura. Em Dezembro de 2000, foi editada Lei federal nº 10.098, que dispões sobre critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. Em seu art. 16 estatuiu-se que os veículos de transporte coletivo deverá cumprir os requisitos de acessibilidade estabelecidos nas normas técnicas específicas. Com base nesse preceito foram editadas diversas normas técnicas pela ABNT – Associação Brasileira de Normas técnicas, definindo diversas adaptações. Em face do quadro normativo ora descrito, exatamente, de forma fundamentada, os seguintes aspectos: a- a constitucionalidade da lei estadual em face da competência federal para legislar sobre trânsito e transporte. b- a constitucionalidade da lei Federal em face da competência estadual para explorar e regular os serviços de transporte intermunicipal. c - A repercussão da lei federal sobre o regime estatuído pela lei estadual.

MPE-MG / 2014 / MPE-MG Em um município mineiro, está em vigor lei, de iniciativa parlamentar, que estendeu a gratuidade no transporte público municipal aos idosos a partir dos sessenta anos de idade. Indaga-se: essa lei é material e formalmente constitucional? Fundamente.

MPE-GO / 2014 / MPE-GO No 29 de dezembro de 2013, no Município e Comarca de Cerro Azul, alunos do ensino médio e fundamental organizaram manifestação pública, pela qual expuseram indignação contra os Poderes Executivo e Legislativo municipais. Isso ocorreu porque o Ministério Público logrou desvelar, por meio de procedimento investigatório criminal, que a Administração Pública municipal ocultava uma organização criminosa, liderada pelo Prefeito e por alguns membros da edilidade. Essa organização criminosa atuava na venda fraudada e superfaturada de medicamentos e equipamentos hospitalares e odontológicos para a Prefeitura. A manifestação, a princípio pacífica, degenerou para a desordem, baderna e vandalismo. Pessoas que pertenciam ao grupo de manifestantes e outras que a ele se aglutinaram destruíram os jardins e os monumentos da praça central da cidade, saquearam um supermercado e incendiaram cinco veículos particulares. Houve rixa e agressões físicas. A Polícia Militar, tencionando conter os prejuízos, empregou armas não letais, que pouca serventia tiveram. Mais de dez pessoas se feriram seriamente, entre eles dois membros da Força Pública. Integrantes da pacata sociedade de Cerro Azul, em emissoras de rádio e em periódicos de circulação local, expuseram seu

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repúdio contra a violência dos protestos, que causou notório desassossego à ordem pública. Não obstante, no dia 5 de janeiro de 2014, os líderes dos estudantes formalizaram aviso ao Comando da Polícia Militar do Município informando que, no dia 13 de janeiro de 2014, se reuniriam novamente na praça central da cidade, animados pelo objetivo de manifestar indignação contra a corrupção municipal e exigir a renúncia dos agentes políticos envolvidos. O Comando da Polícia Militar respondeu ao expediente, cientificando que, para preservar o interesse coletivo de segurança consistente na salvaguarda da incolumidade física das pessoas e da integridade do patrimônio público e privado, não permitiria a realização da manifestação anunciada. Inconformados, os líderes dos manifestantes impetraram mandado de segurança, assistindo ao cidadão o direito à desobediência civil dirigida à ordem inconstitucional emitida pela autoridade, máxime quando a ordem, a pretexto de ganhos utilitaristas, impeça o desfrute de um direito constitucional, pedindo, inclusive liminarmente, que o Poder Judiciário assegurasse a realização do evento. Antes de decidir acerca da medida liminar, por força da relevância da causa, o Juiz de Direito concedeu vista dos autos ao Ministério Público. Emita, enquanto Promotor de Justiça da Comarca de Cerro Azul, o respectivo parecer, em até três laudas, que deve necessariamente enfrentar a questão de fundo.

MPE-SE / 2010 / CESPE O art. 5.º da Constituição Federal de 1988, em seu inciso XV, garante a liberdade de locomoção no território nacional em tempo de paz. Assegurando a efetividade desse direito, o inciso LXVIII do mesmo artigo dispõe a respeito do habeas corpus, instituto que há de ser concedido sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Esse remédio jurisdicional busca, evidentemente, a imediata reparação de atos arbitrários concreta e positivamente praticados por autoridade. A imagem que imediatamente nos acode é a do indivíduo ilegalmente ameaçado de detenção por autoridade policial não investida de regular mandado de prisão. Existe, no entanto, um tipo de violência, praticado não somente por autoridade, mas por toda uma ideologia, que inibe ou frustra o exercício dessa liberdade pública. Contra tal violência, lamentavelmente, nosso ordenamento jurídico não concede à vítima o recurso do habeas corpus. A liberdade de locomoção enunciada no texto constitucional não se limita apenas à vedação de ameaça, de efetiva violência ou de coação contra o exercício do direito individual de ir, vir e permanecer. Liberdade de locomoção — possibilidade, nos termos da lei, de permanecer, entrar ou sair do território nacional com seus bens — é um direito cuja amplitude não pode ser restringida por concepções urbanísticas de caráter elitista e que engloba o direito de transitar cruzando fronteiras internacionais (direito de locomoção transfronteiriça) e, à luz do direito urbanístico, também o direito de frequentar ambientes públicos fechados (direito de acesso arquitetônico), de percorrer ruas, praças e avenidas (direito de trânsito) e de utilizar-se, nesse trajeto, de meios de transporte público financeira e ergonomicamente acessíveis. O meio ambiente urbano concentra alguns dos mais graves entraves para a plena efetividade do direito constitucional de locomoção, na forma de conflitos decorrentes da inadequação arquitetônica dos prédios, de concepções urbanísticas falhas e de desenho industrial impróprio dos veículos de transporte que circulam pela malha viária urbana. Esses conflitos decorrem da padronização do ambiente construído a partir da

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escolha de padrões de maioria. É sabido que a maior parte da população é dotada do sentido da visão e, por isso, adota-se um padrão nas sinalizações de trânsito incompatível com o norte que a Constituição Federal estabeleceu, deixando de contemplar, por exemplo, necessidades especiais dos deficientes visuais que poderiam ser atendidas de forma bastante simples (por exemplo, sinalização sonora em cruzamentos e saídas de veículos em estacionamentos ou textura diferenciada do calçamento nas passagens de pedestres). Da mesma forma, acredita-se que constituem maioria da população aqueles que caminham com autonomia plena e sem dificuldade significativa pelas ruas e praças. Por essa razão as guias das calçadas e as escadas dos prédios e dos veículos de transporte público não são consideradas obstáculos para o acesso, desconsiderando-se completamente as peculiaridades dos portadores de deficiência locomotora ou visual. Guilherme José Purvin de Figueiredo. Direito de locomoção da pessoa portadora de deficiência no meio ambiente urbano. In: Rev. Direito, Rio de Janeiro, v. 4, n.º 7, 2000 (com adaptações). Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo acerca dos direitos das pessoas com deficiência, tendo como referencial a atuação do Ministério Público na defesa e efetivação desses direitos. Ao elaborar seu texto, atenda, necessariamente, as seguintes determinações: 1- comente a respeito da acessibilidade como um dos principais requisitos para assegurar o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiência, avaliando em que medida a falta de acesso impede o efetivo exercício desses direitos; 2- descreva e analise as normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, refletindo sobre as medidas propostas para a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no desenho e na localização do mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação; especifique e defina os vários tipos de barreiras que impedem ou dificultam o acesso das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida previstos na legislação.

MPE-SE / 2010 / CESPE A problemática do idoso, na sociedade brasileira, não é nova, segundo autores como Salgado (1991), Fernandes (1997), Oliveira (1999), Palma (2000), a Constituição Federal de 1988 (artigos 229 e 230) apenas aponta diretrizes principiológicas acerca do tema, mas não determina políticas específicas para essa parcela da população. A tendência no Brasil é valorizar aquilo que é novo e desprezar o que é velho. A própria educação faz o velho se sentir um objeto fora de uso. Dessa realidade emerge a necessidade de programas alternativos que garantam maior qualidade de vida para essa população. Não se trata apenas de uma preocupação da sociedade política, mas também da sociedade civil, que precisa se conscientizar do envelhecimento da população brasileira. A sociedade política também assumiu sua responsabilidade diante desse novo panorama demográfico brasileiro e elaborou a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso. São leis elaboradas para preservar os direitos do idoso e evitar que essa faixa etária sofra discriminações e seja marginalizada na sociedade brasileira. Como uma etapa da vida, a velhice nem sempre é encarada de forma natural. Muitos indivíduos querem viver por muito tempo, mas não querem envelhecer. A valorização do idoso é ponto central para a inserção e participação desse segmento etário na sociedade brasileira. Uma tutela específica para o

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idoso surgiu em 1994, com a Lei n.º 8.842/1994, que estabelece a Política Nacional do Idoso em razão de várias reivindicações feitas pela sociedade em meados da década de 70 do século passado e principalmente em razão do documento Políticas para a Terceira Idade, nos anos 90, produzido pela Associação Nacional de Gerontologia, estabelecendo um rol de recomendações sobre a questão dos idosos. A referida lei foi promulgada a fim de assegurar os direitos sociais do idoso, possibilitando condições para promoção da autonomia, integração e participação na sociedade. No que tange à educação, a lei trata da inclusão da Gerontologia e da Geriatria como disciplinas curriculares nos cursos superiores e, nos currículos mínimos, nos diversos níveis de ensino formal, inserindo conteúdos voltados para o processo de envelhecimento, bem como o desenvolvimento de programas educativos, especialmente nos meios de comunicação, a fim de produzir conhecimentos, informando sobre o assunto, de forma a eliminar preconceitos. Preceitua-se o apoio do governo na criação de universidades abertas para a terceira idade como meio de universalizar as diferentes formas do saber e também o desenvolvimento de programas que adotem modalidades de ensino a distância, adequados às condições do idoso, compatibilizando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais destinados a essa faixa etária. Se a sociedade brasileira proporcionasse aos cidadãos mais velhos o tratamento e a consideração dispensada aos adultos, eliminar-se-iam os estatutos especiais para os idosos, afirma Fernandes (1997). Sabe-se que as leis existem para regular o comportamento dos indivíduos dentro de uma sociedade, estabelecendo seus direitos e deveres; porém, necessária se faz uma legislação específica para os idosos em razão da própria exclusão destes da sociedade produtiva. Desse modo, segundo o autor, tornou-se necessária a criação do Estatuto do Idoso em 2003, que veio resgatar os princípios constitucionais que garantem aos cidadãos idosos direitos que preservem a dignidade da pessoa humana, sem discriminação de origem, raça, sexo, cor e idade. Rita de Cássia da Silva Oliveira. O processo histórico do Estatuto do Idoso e a inserção pedagógica na Universidade Aberta. In: Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.º 28, dez./2007, p. 278-86 (com adaptações). Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo acerca do papel do Ministério Público na efetivação do Estatuto do Idoso. Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos: 1- diretrizes assumidas pelo Estatuto do Idoso destinadas a instituir medidas de proteção aos idosos. Discorra acerca das disposições gerais e das medidas específicas de proteção, especificando cada uma delas; 2- garantia de prioridade atribuída aos idosos; 3- o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade que são assegurados aos idosos pelas disposições constantes no Estatuto do Idoso, especificando em que consiste o direito ao respeito e quais aspectos estão compreendidos no direito à liberdade.

MPE-ES / 2013 / VUNESP Chegou ao conhecimento do Promotor de Justiça da Cidade de Vitória, no Espírito Santo, por meio de um formando do curso de Direito, o qual, elaborando sua Tese de Conclusão do Curso de Graduação sobre a efetivação da Lei Federal n.º 12.764/2012, descobriu que o Estado do Espírito Santo não disponibiliza vagas para autistas nas instituições públicas de ensino, e que somente há uma escola pública estadual que oferece vagas em número limitado, sem acompanhamento especial, e em classe regular. Não há nenhum convênio com escola comunitária, confessionária

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ou filantrópica nesse sentido. De suas pesquisas, esse formando verificou a existência de somente três instituições, particulares e de alto custo, que teriam metodologia adequada, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação; e que a maior parte dos portadores de autismo reside na Capital e que a maioria dos pais e/ou responsáveis não teriam condições financeiras para arcar com os altos custos das mensalidades escolares, com a alimentação e com o transporte. O Promotor de Justiça comprovou tais informações por meio do instrumento extraprocessual administrativo competente, que embasará a ação. Elabore a peça processual pertinente ao presente caso.

MPE-ES / 2013 / VUNESP Explique brevemente o que vêm a ser a denominada cláusula da reserva do possível, a proibição do retrocesso e o mínimo existencial. Em seguida, mencione uma situação jurídica concreta de atuação do Promotor de Justiça em relação a algum desses institutos.

MPE-BA / 2012 / MPE-BA A Empresa XY MINERAÇÕES ASSOCIADAS procedeu à exploração mineral de amianto por três décadas, de 1940 a 1968, no Município de Bom Jesus da Serra – BA, em mina localizada na Fazenda São Félix, com uma área de 700 hectares. A lavra destinava-se à produção de telhas e caixas d’água de amianto, fonte principal do abastecimento do mercado nacional. Após o término da vida útil da mina “São Feliz do Amianto”, a empresa XY MINERAÇÕES ASSOCIADAS identificou uma nova área de exploração econômica do amianto, no Estado de Goiás, e interrompeu as atividades de lavra na Bahia. Posteriormente, em 1971, celebrou contrato de compra e venda do imóvel rural referido, com Manoel de Jesus e Maria dos Santos, por preço simbólico, pois o casal era muito pobre. No contrato restou inserido, na cláusula IV, que os compradores destinariam à vendedora, integralmente, toda a renda paga pela exploração futura de reservas minerais encontradas no terreno. A área foi utilizada para pecuária de ínfimo porte, e nunca foi objeto de medidas mitigadoras dos impactos ambientais ensejados. Cabe esclarecer que o amianto ou asbesto é uma fibra mineral sedosa, com favoráveis propriedades físico-químicas para exploração comercial. Ocorre que o asbesto possui microfibras que ficam suspensas no ar, penetram nas vias respiratórias e não são repelidas pelo organismo humano, podendo acarretar doenças graves como: a asbestose, que torna o pulmão fibrosado e sem elasticidade; o mesotelioma, forma rara de tumor maligno, e o câncer de pulmão. Tais doenças levam muito tempo para se manifestar, aproximadamente 30 anos após o contato com a fibra. Estão expostos ao risco não apenas os trabalhadores, mas também os familiares que lavam suas roupas sujas de amianto e, de um modo geral, todas as pessoas que têm contato com o pó daquela fibra, em razão da possibilidade de inalação. A Organização Mundial de Saúde – OMS afirma que não é possível o uso controlado e seguro do amianto. No mundo, mais de 48 países já baniram o amianto, e, no Brasil, alguns Estados e Municípios, por intermédio de legislação, condenaram a sua utilização. A exploração mineral do amianto na Fazenda São Félix resultou na formação de uma cratera gigantesca, com um quilômetro de extensão e oito de profundidade, com corte vertical, levando inclusive ao afloramento do lençol freático, que corresponde à cava da área de exploração, a qual ficou a céu aberto, com encostas instáveis, pela ausência da

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recomposição do relevo e da vegetação. A visão da área traduz a existência de um verdadeiro “canyon” com um lago no fundo, que guarda certa beleza cênica, em que pese aos riscos de queda de animais e pessoas no local, é objeto de visitação pela população, como área de lazer. A matéria rejeitada do processo de lavra (“bota-fora”) encontra-se depositada aleatoriamente por toda a área da fazenda São Felix. O rejeito do amianto foi utilizado também em fundações de construções, no Município de Bom Jesus da Serra, em passeios públicos e no acostamento da estrada que liga esse Município a Poções. A comunidade local vive o receio de ter contraído, ou vir a contrair, doenças graves relacionadas ao amianto. Já há registro de falecimento de dois extrabalhadores da XY MINERAÇÕES, em decorrência das doenças ligadas ao amianto, e centenas se queixam de problemas respiratórios, sem conseguir realizar os exames médicos necessários para o diagnóstico das doenças relacionadas com o mineral (RX, espirometria e tomografia computadorizada), dentre esses cento e dez ex-trabalhadores. O Ministério Público instaurou Inquérito Civil instruído com laudos técnicos do IMA – Instituto do Meio Ambiente, do IBAMA e FUNDACENTRO, que confirmam os dados já relatados e recomendam a elaboração e implantação de Plano de Restauração da Área Degradada – PRAD, por equipe técnica multidisciplinar, observando os danos ao ar, ao solo, à fauna, à flora e à água, com acompanhamento, manutenção e avaliação das etapas do PRAD, e anunciam a existência de um percentual de 40% de danos ambientais irrestauráveis e reconhecem os graves riscos à saúde, da população. A tentativa de firmar TAC –Termo de Ajustamento de Conduta foi frustrada. A Empresa XY MINERAÇÕES ASSOCIADAS alega não ter qualquer responsabilidade sobre os danos ambientais ou a saúde, por que: a) ocorreu a prescrição; b) não agiu com culpa, e, à época, não estava em vigor a Lei de Política Nacional de Meio Ambiente, que estabelece a responsabilidade objetiva; c) com a sucessão da empresa, a responsabilidade é dos adquirentes, e constou do contrato a assunção do passivo ambiental por estes; d) está amparada pela excludente de responsabilidade do “risco do desenvolvimento”; e) se existir responsabilidade civil é do Estado, pela negligência na fiscalização, pois este foi comunicado do fechamento da mina; f) cabe ao Estado cuidar da saúde pública, e o Ministério Público não tem legitimidade para atuar na defesa de direitos individuais homogêneos prescritos de ex-trabalhadores; g) não se deve falar em danos morais coletivos ambientais, porquanto não há previsão no ordenamento jurídico brasileiro, nem precedente na jurisprudência do STJ. Considere que você é o Promotor de Justiça que presidiu o Inquérito Civil e deliberou, juntamente com o Ministério Público Federal e do Trabalho, propor uma Ação Civil Pública visando à reparação integral dos danos ao meio ambiente e à saúde. Em forma de dissertação, oferte a contra argumentação jurídica das teses arguidas pela Empresa XY MINERAÇÕES ASSOCIADAS LTDA, indique quem deve figurar no polo passivo da Ação e redija o pedido da Ação Civil Pública.

MPE-SC / 2012 / MPE-SC Autos nº 2012.080165-3, de Quilombo-SC - Contrarrazões de Apelação - Colenda Câmara, Eminente Desembargador Relator: O Ministério Público ingressou com Ação Civil Pública com pedido liminar contra o Município de Quilombo, postulando em favor de ERMUNDINO MIMOSO RUIZ, brasileiro, casado, comerciário, portador de Artrite Reumatóide, com 60 anos de idade, o fornecimento dos medicamentos Humira (Adalimumabe) 40 mg e Avara (Leflunomida) 20 mg

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ao dia. Antes do ingresso da presente ação civil pública, o Ministério Público instaurou Inquérito Civil nº 001/2012 – Comarca de Quilombo/SC (fls. 10/50), em que foram apurados os fatos narrados na inicial, constando: (1) declaração do beneficiário dos medicamentos (fls. 12/13) informando, mesmo cientificado acerca do crime de falsidade ideológica e de suas sanções, não ter condições financeiras para arcar com o custo dos medicamentos e sustento de sua família; (2) receituário de médico vinculado ao SUS (fl. 14) em que atesta a enfermidade do mesmo, portador de Artrite Reumatóide, necessitando o uso diário dos medicamentos Humira (Adalimumabe) 40 mg e Avara (Leflunomida) 20 mg; (3) Estudo Social (fls. 15/17), constando do laudo firmado pela Assistente Social do Ministério Público que ERMUNDINO possui situação socioeconômica modesta, com esposa e dois filhos menores, vivendo em residência alugada, com um rendimento familiar mensal de R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais). O togado a quo deferiu a liminar pleiteada (fl. 55). O réu apresentou contestação (fls. 57/68). Houve impugnação (fls. 70/77). Foi proferida sentença (fls. 79/89), julgando procedente o pedido, confirmando a liminar, impondo ao Município de Quilombo que mantenha o fornecimento gratuito e contínuo dos medicamentos requeridos na inicial, na dosagem prescrita pelo médico. Irresignado, no prazo legal, recorreu o Município de Quilombo, às fls. 90/100, repisando o teor da contestação, não acatada na sentença de primeiro grau, arguindo: I - em preliminar, I.1 - Falta de interesse de agir, pela não demonstração de prévio acionamento da via administrativa por parte do beneficiário dos medicamentos; I.2 - Necessidade de chamamento da União e Estado ao processo, alegando a solidariedade dos entes federados, devendo a prestação dos remédios requeridos ser custeada por todos, e, em consequência, a incompetência da Justiça Estadual para julgar o feito, com a aplicação da Súmula 150 do STJ: “Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas” e, também, em relação a necessária aplicação da Súmula 23 do TJSC: “Nas ações aforadas em desfavor do Estado e/ou dos Municípios para obtenção de medicamentos, afigura-se plausível o pedido de chamamento ao processo da União Federal pelos coobrigados, o que torna, de rigor, a remessa do feito à Justiça Federal, órgão jurisdicional competente para a apreciação do incidente processual”; I.3 – Não há produção de prova inequívoca que demonstre eficazmente a necessidade do medicamento pretendido, ou seja, a antecipação dos efeitos da sentença sem prévia e segura confirmação do alegado por meio de prova pericial, que não ocorreu no presente caso, leva a efeito o cerceamento de defesa; I.4 – O Ministério Público não tem legitimidade ativa para atuar no polo ativo da demanda em nome de interesse individual, como no presente caso, de fornecimento gratuito de medicamento ao Sr. ERMUNDINO MIMOSO RUIZ; e, II- no mérito, o apelante afirma: II.1 – ser impossível fornecer medicamentos que não estejam padronizados nos programas oficiais, violando o princípio da igualdade, privilegiando o pleito individual em detrimento de toda a população usuária do SUS; II.2 – o alto custo dos medicamentos, não havendo recursos suficientes para tal (reserva do possível), além de haver a necessidade de previsão orçamentária; II.3 - a violação ao princípio da Separação dos Poderes com a indevida interferência de um Poder nas funções do outro; II.4 - não foi provado a insuficiência de recursos do Sr. ERMUNDINO para requerer a gratuidade do fornecimento dos medicamentos, pois tem rendimento superior ao salário mínimo; II.5 - e, em caso de desprovimento do recurso, que seja determinado ao beneficiário dos medicamentos a

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contracautela, pelo menos a cada três meses, a fim de evitar o desperdício do dinheiro público. É o relatório. Inicialmente cumpre consignar que o recurso interposto pelo Município é próprio, tempestivo e preenche os demais requisitos de admissibilidade, razão pela qual merece ser conhecido. (...) (SENDO O/A PROMOTOR/A DE JUSTIÇA QUE SUBSCREVE A PRESENTE, COMPLETE AS CONTRARRAZÕES, MANIFESTANDO-SE SOBRE AS PRELIMINARES, MÉRITO E CONCLUSÃO – REQUERIMENTO FINAL.)

MPE-GO / 2010 / MPE-GOComo Promotor(a) de Justiça, atuando na defesa dos direitos do cidadão, discorra sobre a possibilidade de aplicação da “teoria da reserva do possível” na implementação de políticas públicas que concretizem o direito do cidadão à saúde.

MPT / 2010 / MPTDescreva as funções dos direitos fundamentais, explicitando também a sua articulação com o princípio da dignidade da pessoa humana, indicando, quanto a este, abrangência conceitual, conteúdo, aplicabilidade, dimensões e alcance.

MPE-BA / 2012 / MPE-BADeterminado Município do Estado da Bahia, com mais de cem mil habitantes, desde a assunção do atual Prefeito, ocorrida em janeiro de 2008, custeava as despesas de transporte e arcava com bolsas de estudo integrais para que jovens, na idade de 18 a 24 anos, pudessem frequentar a faculdade privada da cidade mais próxima, a duzentos quilômetros. Isso havia sido compromisso de campanha desse Gestor, já que só existiam instituições de ensino superior na capital do Estado ou em outras cidades de grande porte, todas muito distantes daquele Município. Também atendia à reivindicação de um grupo significativo de famílias, que lhe entregou um “abaixo-assinado”, argumentando que o auxílio financeiro do Município permitiria que os jovens permanecessem na cidade de origem, com seus familiares, evitando gastos com moradia e hospedagem em outra cidade. Por tais razões, assim que assumiu, o Prefeito determinou a inclusão da despesa no projeto de lei orçamentária que iria apresentar à Câmara de Vereadores, para votação, pois até então não era concedido esse auxílio no Município. Em março de 2008, no início do ano letivo, o Gestor autorizou o empenho, e passou a assinar mensalmente as notas de empenho para pagamento da despesa, a ser feita com as verbas da Educação. O Conselho de Acompanhamento do Fundeb, no ano de 2009, ao analisar a prestação de contas de 2008, não concordou com o pagamento, porque não eram despesas de manutenção e desenvolvimento de ensino. Levou então o caso ao Promotor de Justiça, mediante representação, que instaurou inquérito civil em julho de 2009. Durante a tramitação, o Promotor de Justiça constatou que além dos fatos representados, ocorria o seguinte: a) os pagamentos relacionados à educação vinham sendo determinados e realizados pela Secretaria de Finanças; b) o Município, no ano de 2008, não recebera complementação da União, como Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB);. c) era precária a situação das escolas do ensino fundamental da rede municipal pública quanto à infraestrutura. Todas necessitavam de reformas, sobretudo telhados, banheiros, redes hidros sanitária e elétrica. Nenhuma unidade escolar tinha extintor

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de incêndio; d) o Prefeito continuava a determinar o pagamento do transporte e das bolsas de estudo aos estudantes de ensino superior, no ano de 2009, muito embora já no mês de julho desse ano, quando foi instaurado o inquérito civil, não houvesse mais recursos orçamentários dotados à Secretaria Municipal de Educação; e) havia atraso no pagamento dos salários dos profissionais do magistério do ensino fundamental, referente ao salário dos meses de março e abril e ao 13º salário, de 2008. O Promotor de Justiça procedeu à oitiva do Prefeito. Este declarou que não podia deixar mais de cinquenta jovens sem educação superior, porque além de terem direito subjetivo de conseguir a conclusão do curso, a educação era dever de todos, inclusive do Município. Negou-se a fazer qualquer acordo com o Promotor de Justiça. Negou-se a prestar informações e disponibilizar os documentos contábeis requisitados pelo Promotor de Justiça e anunciados como imprescindíveis à investigação, no ofício nº 60/2009, quais sejam o envio do relatório de execução orçamentária e o detalhamento de despesas na área de Educação, incluindo a folha de pagamento de contratados e concursados. Isso porque, apesar de ter recebido a cópia da portaria do inquérito civil e estar o ofício requisitório devidamente fundamentado, o Prefeito entendia que o Ministério Público do Estado não teria legitimidade para investigar a questão. Enfatizou, ao final de seu depoimento que se viesse a apresentar tal prova documental somente o faria ao Procurador da República, quando requisitado por este. Você é o(a) Promotor(a) de Justiça da cidade, em promotoria única ou exclusiva, com atribuições tanto criminais como cíveis, e está com os autos do inquérito civil em fase de finalização. Analise separadamente: a) representação do Conselho de Acompanhamento do Fundeb quanto à legitimidade e acerto de sua fundamentação jurídica, posicionando-se sobre o acolhimento das razões jurídicas ou não; b) se os pagamentos com as dotações da Secretaria de Educação, mas efetuados pela Secretaria de Finanças, atendem à legislação educacional e indique como você procederia, na condição de Promotor de Justiça, de acordo com a legislação institucional do Ministério Público e Lei da Ação Civil Pública, frente ao entendimento do Prefeito quanto à falta de legitimidade do Parquet Estadual, bem assim diante de sua recusa em prestar informações, fazendo constar os fundamentos jurídicos e avaliando a eventual responsabilidade civil, penal e administrativa que vislumbrar em toda a situação apresentada.

MPE-GO / 2010 / MPE-GODisserte a respeito da constitucionalidade do controle de políticas públicas pelo Ministério Público na concretização dos direitos fundamentais de segunda dimensão e a substituição do sujeito constitucionalmente atribuído, como sanção ao descumprimento das disposições constitucionais.

MPT / 2008 / MPTDisserte sobre as garantias fundamentais de direitos humanos violadas nas hipóteses de trabalho infantil, referindo as origens de tais garantias em diplomas internacionais, bem como as implicações para com dispositivos da Constituição Federal.

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MPE-MG / 2012 / MPE-MGMarcelo Pedroso Goulart utiliza-se da expressão “uso democrático do direito” para falar da aplicação e interpretação da normatividade de maneira contextualizadora, sendo tal normatividade “apenas um dos indicadores do justo”, devendo “ser trabalhada à luz das expressões axiológicas da sociedade e da pauta de valores que informa o operador, o mesmo ocorrendo na interpretação do fato”. Joaquim Herrera Flores diz que, para a construção de uma teoria crítica dos direitos humanos, deve-se abandonar o paradigma da “negatividade dialética”, de corte hegeliano. Tal paradigma implica simplesmente negar e desqualificar “todos os pressupostos teóricos e práticos das formas tradicionais – hegemônicas e dominantes – de abordar os direitos humanos”. Em contrapartida, propõe o paradigma da “afirmação ontológica e axiológica”, que implica, como método, a reapropriação dessas formas como via de positivação das práticas sociais, com uma abordagem teórica e da práxis numa perspectiva crítica e contextualizada, “ampliando suas deficiências e articulando-as com tipos diferentes de práticas de maior conteúdo político, econômico e social”. No modelo constitucional brasileiro e na construção política que se desenvolve a partir de então, o Ministério Público sedimenta-se cada vez mais como um agente de transformação social. A partir dessas premissas, indaga-se: quais são os limites de atuação e de compromisso do Ministério Público com o projeto democrático da Constituição de 1988, principalmente fugindo das armadilhas da ideologia, para a construção de alternativas reais no sentido do desenvolvimento político, social e econômico? Comente.

MPE-SC / 2010 / MPE-SCNa condição de membro do Ministério Público, você foi procurado por pessoa idosa (65 anos) reclamando que a operadora do seu plano de saúde praticou reajuste por faixa etária, ou seja, levou a efeito cláusula contratual que estabelecia aumento da mensalidade de acordo com a idade do beneficiário (tal reajuste foi aplicado no dia do seu aniversário). Pergunta-se: qual a solução jurídica para o impasse e os fundamentos legais a serem utilizados em favor do beneficiário (faça referência aos princípios constitucionais que regem a matéria). Não se faz necessária a elaboração de peça processual!

MPE-MG / 2011 / MPE-MGO papel do Ministério Público junto aos enfrentamentos sociais, cada vez mais complexos na contemporaneidade, é de extrema importância, envolvendo enorme gama de atuações. Há mais de trinta dias em greve, servidores da rede municipal de saúde pleiteiam reposição salarial. O Executivo municipal argumenta, dentre várias questões, que a Lei de Responsabilidade Fiscal inviabiliza quaisquer aumentos salariais. Por sua vez, o Sindicato dos servidores municipais assevera que a Lei Federal XL/09 não admite salário inferior a seiscentos reais para os servidores do SUS em todo o território nacional. Acresce-se a toda essa discussão, o clamor dos cidadãos pela aplicação do art. 6º da Constituição Federal. Considerando a incumbência e a função constitucional do Ministério Público (art. 127 e 129), enfrente o tema e as justificativas de todos os envolvidos no conflito, utilizando-se em sua argumentação dos CONCEITOS de justiça, validade, vigência, efetividade e aplicabilidade das normas jurídicas.

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MPE-BA / 2012 / MPE-BAQual o estágio atual da discussão sobre a possibilidade ou não da prisão civil do devedor fiduciante de coisa móvel?

MPE-PA / 2014 / FCC Duas semanas após ter sido deflagrada grave por ocupantes de cargos públicos de natureza administrativa em órgãos da Administração direta estadual, e não havendo acordo entre o sindicato da categoria e os dirigentes dos órgãos em questão quanto às demandas apresentadas, promoveu-se dissídio coletivo, perante a justiça do Trabalho, em sede do qual se reconheceu a ilicitude do movimento, sob o fundamento de que o direito à greve dos servidores púbicos é assegurado em norma constitucional que, para produzir efeitos, carece de regulamentação legal ainda não existente. Diante dessa situação, indaga-se: Caberia ao sindicato valer-se, em tese, de alguma ação diretamente perante o Supremo Tribunal Federal, para viabilizar o exercício do direito de greve dos membros da categoria? Em caso afirmativo, qual seria e sob quais fundamentos? Em caso negativo, por quê? Justifique sua resposta, à luz da disciplina constitucional da matéria.

MPE-GO / 2010 / MPE-GO Disserte, em no máximo 02 (duas) laudas, a respeito da constitucionalidade do controle de políticas públicas pelo Ministério Público na concretização dos direitos fundamentais de segunda dimensão e a substituição do sujeito constitucionalmente atribuído, como sanção ao descumprimento das disposições constitucionais.

MPE-RR / 2017 / CESPE O Sistema Único de Saúde (SUS) adquiriu de determinada empresa próteses auditivas, que foram distribuídas para a população em ação de assistência terapêutica à saúde das pessoas com deficiência auditiva. Próteses de um dos lotes distribuídos apresentavam igual defeito de série, o que ocasionou agravamento na deficiência auditiva de um determinado grupo de indivíduos beneficiados pela ação do SUS. Ao tomar conhecimento desse fato, uma entidade de defesa das pessoas com deficiência ajuizou ação civil pública na justiça estadual de Roraima contra a empresa vendedora e contra o Estado, requerendo condenação a indenização por danos causados ao grupo de pessoas que recebeu as próteses defeituosas. O pedido foi julgado improcedente por insuficiência de prova. A entidade não recorreu e a decisão transitou em julgado. Meses depois, outra entidade de defesa da saúde das pessoas com deficiência propôs, na justiça estadual do Acre, nova ação civil pública com o mesmo objeto, ou seja, ação requerendo a condenação da empresa e do Estado por danos causados àqueles que receberam, por meio da ação do SUS, próteses auditivas com defeito. Considerando a situação hipotética acima apresentada, atenda ao que se pede a seguir. 1 Informe a espécie de interesse ou direito que as ações ajuizadas pelas entidades visavam defender. [valor: 0,60 ponto] 2 Apresente as possíveis situações, com relação aos interessados individuais e coletivos, decorrentes de haver coisa julgada pela improcedência nesse tipo de ação coletiva. [valor: 0,60 ponto] 3 Discorra sobre a viabilidade da demanda proposta na justiça do estado do Acre, conforme a jurisprudência do

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STJ. [valor: 0,70 ponto]

MPE-PR / 2017 / MPE-PR No que consiste a tomada de decisão apoiada?

MPE-BA / 2015 / MPE-BA “A dignidade da pessoa humana é o valor e o princípio que move o processo civilizatório em múltiplas dimensões” (BARROSO, Luís Roberto. O novo Direito Constitucional brasileiro –contribuições para a construção teórica e prática da jurisdição constitucional no Brasil.1ª reimpressão, Belo Horizonte: Editora Fórum, 2013, p. 339). Observe, com atenção, a hipótese abaixo: Determinada gestante maior e capaz ingressa com demanda judicial requerendo a autorização do Poder Judiciário para efetivar a interrupção da gestação, tendo em vista que o feto sofre de deficiência psíquica grave. A demanda tem processamento célere e a instrução processual (prova pericial médica) revela que: 1) a gravidez é viável (ausência de risco de morte para o feto); 2) inexiste risco à incolumidade física da gestante; e 3) a enfermidade é irreversível e comprometerá severamente as funções cognitivas do nascituro, de modo que este necessitará permanentemente de auxílio material dos pais e de terceiros (exemplo: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, etc.). Para fundamentar o seu pedido, a gestante alega: a) violação ao princípio da dignidade da pessoa humana; b) direito à sua integridade psicológica (saúde mental); c) ofensa à autonomia da vontade; d) vulneração aos princípios da legalidade e liberdade; e) necessidade de se efetivar interpretação dos artigos 124, 126, caput, e 128, I e II do Código Penal conforme a Constituição Federal de 1988; f) atipicidade da conduta; e, por fim, g) necessidade de se respeitar o direito reprodutivo (liberdade reprodutiva) da mulher. Diante do quadro fático acima destacado e do ordenamento jurídico pátrio atual, manifeste-se, de forma objetiva, em termos estritamente jurídicos, acerca do(a): a) Enquadramento jurídico que deve ser delineado na situação ventilada. Justifique. (04 pontos) b) (Im)possibilidade de interrupção prematura da gestação, com a necessária fundamentação. (14 pontos) OBS:A pontuação relativa à estrutura gramatical totaliza 02 pontos. Não se faz necessária a formatação de um modelo de “Parecer”, devendo o(a) candidato(a) se restringir ao aspecto meritório (direito material) que envolve a temática em análise. VALOR TOTAL –20 pontos - Discorra em até 40(quarenta) linhas.

MPE-RS / 2014 / MPE-RS No contexto do fenômeno da judicialização dos direitos sociais, discorra sobre: (a) sua eficácia, a partir do § 1º do art. 5º da Constituição Federal; (2 pontos) (b) a dimensão de direitos prestacionais, distinguindo “direitos derivados a prestações” da estratégia de prestações originárias”; (2 pontos) (c) o problema dos custos e a reserva do possível; (3 pontos) (d) critérios jurisprudenciais para solucionar casos que envolvem o acesso ao Poder Judiciário em matérias de efetivação de direitos sociais. (3 pontos)

MPE-PR / 2014 / MPE-PR Sobre o direito constitucional de petição, comente sobre sua titularidade e esclareça, justificadamente, se ele traz como corolário o direito de o seu titular ser informado sobre o

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resultado de sua apreciação.

MPE-PR / 2014 / MPE-PR Explique a “teoria das escolhas trágicas”, em sede de direitos fundamentais, à luz da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.

MPE-PR / 2014 / MPE-PR Discorra sobre o art. 228, da Constituição Federal, considerada a seguinte indagação: A imputabilidade penal somente a partir dos dezoito anos é cláusula pétrea?

MPE-PA / 2014 / FCC O art. 244 da constituição estabelece que lei disporá sobre a adaptação dos veículos de transporte coletivo *** de tal determinação constitucional, em 1992, foi editado diploma estadual obrigando as empresas concessionárias de transporte coletivo intermunicipal a promover adaptações em seus veículos com a finalidade de permitir o acesso a portadores de deficiência e necessidades especiais. Entre as adaptações exigidas estavam a instalação de elevadores hidráulicos, para acesso ao interior dos veículos e a colocação de portas com maior largura. Em Dezembro de 2000, foi editada Lei federal nº 10.098, que dispões sobre critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. Em seu art. 16 estatuiu-se que os veículos de transporte coletivo deverá cumprir os requisitos de acessibilidade estabelecidos nas normas técnicas específicas. Com base nesse preceito foram editadas diversas normas técnicas pela ABNT – Associação Brasileira de Normas técnicas, definindo diversas adaptações. Em face do quadro normativo ora descrito, exatamente, de forma fundamentada, os seguintes aspectos: a- a constitucionalidade da lei estadual em face da competência federal para legislar sobre trânsito e transporte. b- a constitucionalidade da lei Federal em face da competência estadual para explorar e regular os serviços de transporte intermunicipal. c - A repercussão da lei federal sobre o regime estatuído pela lei estadual.

MPE-MG / 2014 / MPE-MG Em um município mineiro, está em vigor lei, de iniciativa parlamentar, que estendeu a gratuidade no transporte público municipal aos idosos a partir dos sessenta anos de idade. Indaga-se: essa lei é material e formalmente constitucional? Fundamente.

MPE-GO / 2014 / MPE-GO No 29 de dezembro de 2013, no Município e Comarca de Cerro Azul, alunos do ensino médio e fundamental organizaram manifestação pública, pela qual expuseram indignação contra os Poderes Executivo e Legislativo municipais. Isso ocorreu porque o Ministério Público logrou desvelar, por meio de procedimento investigatório criminal, que a Administração Pública municipal ocultava uma organização criminosa, liderada pelo Prefeito e por alguns membros da edilidade. Essa organização criminosa atuava na venda fraudada e superfaturada de medicamentos e equipamentos hospitalares e odontológicos para a Prefeitura. A manifestação, a princípio pacífica, degenerou para a desordem, baderna e vandalismo. Pessoas que

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pertenciam ao grupo de manifestantes e outras que a ele se aglutinaram destruíram os jardins e os monumentos da praça central da cidade, saquearam um supermercado e incendiaram cinco veículos particulares. Houve rixa e agressões físicas. A Polícia Militar, tencionando conter os prejuízos, empregou armas não letais, que pouca serventia tiveram. Mais de dez pessoas se feriram seriamente, entre eles dois membros da Força Pública. Integrantes da pacata sociedade de Cerro Azul, em emissoras de rádio e em periódicos de circulação local, expuseram seu repúdio contra a violência dos protestos, que causou notório desassossego à ordem pública. Não obstante, no dia 5 de janeiro de 2014, os líderes dos estudantes formalizaram aviso ao Comando da Polícia Militar do Município informando que, no dia 13 de janeiro de 2014, se reuniriam novamente na praça central da cidade, animados pelo objetivo de manifestar indignação contra a corrupção municipal e exigir a renúncia dos agentes políticos envolvidos. O Comando da Polícia Militar respondeu ao expediente, cientificando que, para preservar o interesse coletivo de segurança consistente na salvaguarda da incolumidade física das pessoas e da integridade do patrimônio público e privado, não permitiria a realização da manifestação anunciada. Inconformados, os líderes dos manifestantes impetraram mandado de segurança, assistindo ao cidadão o direito à desobediência civil dirigida à ordem inconstitucional emitida pela autoridade, máxime quando a ordem, a pretexto de ganhos utilitaristas, impeça o desfrute de um direito constitucional, pedindo, inclusive liminarmente, que o Poder Judiciário assegurasse a realização do evento. Antes de decidir acerca da medida liminar, por força da relevância da causa, o Juiz de Direito concedeu vista dos autos ao Ministério Público. Emita, enquanto Promotor de Justiça da Comarca de Cerro Azul, o respectivo parecer, em até três laudas, que deve necessariamente enfrentar a questão de fundo.

MPE-SE / 2010 / CESPE O art. 5.º da Constituição Federal de 1988, em seu inciso XV, garante a liberdade de locomoção no território nacional em tempo de paz. Assegurando a efetividade desse direito, o inciso LXVIII do mesmo artigo dispõe a respeito do habeas corpus, instituto que há de ser concedido sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Esse remédio jurisdicional busca, evidentemente, a imediata reparação de atos arbitrários concreta e positivamente praticados por autoridade. A imagem que imediatamente nos acode é a do indivíduo ilegalmente ameaçado de detenção por autoridade policial não investida de regular mandado de prisão. Existe, no entanto, um tipo de violência, praticado não somente por autoridade, mas por toda uma ideologia, que inibe ou frustra o exercício dessa liberdade pública. Contra tal violência, lamentavelmente, nosso ordenamento jurídico não concede à vítima o recurso do habeas corpus. A liberdade de locomoção enunciada no texto constitucional não se limita apenas à vedação de ameaça, de efetiva violência ou de coação contra o exercício do direito individual de ir, vir e permanecer. Liberdade de locomoção — possibilidade, nos termos da lei, de permanecer, entrar ou sair do território nacional com seus bens — é um direito cuja amplitude não pode ser restringida por concepções urbanísticas de caráter elitista e que engloba o direito de transitar cruzando fronteiras internacionais (direito de locomoção transfronteiriça) e, à luz do direito urbanístico, também o direito de frequentar ambientes públicos fechados (direito de acesso arquitetônico), de percorrer ruas, praças e

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avenidas (direito de trânsito) e de utilizar-se, nesse trajeto, de meios de transporte público financeira e ergonomicamente acessíveis. O meio ambiente urbano concentra alguns dos mais graves entraves para a plena efetividade do direito constitucional de locomoção, na forma de conflitos decorrentes da inadequação arquitetônica dos prédios, de concepções urbanísticas falhas e de desenho industrial impróprio dos veículos de transporte que circulam pela malha viária urbana. Esses conflitos decorrem da padronização do ambiente construído a partir da escolha de padrões de maioria. É sabido que a maior parte da população é dotada do sentido da visão e, por isso, adota-se um padrão nas sinalizações de trânsito incompatível com o norte que a Constituição Federal estabeleceu, deixando de contemplar, por exemplo, necessidades especiais dos deficientes visuais que poderiam ser atendidas de forma bastante simples (por exemplo, sinalização sonora em cruzamentos e saídas de veículos em estacionamentos ou textura diferenciada do calçamento nas passagens de pedestres). Da mesma forma, acredita-se que constituem maioria da população aqueles que caminham com autonomia plena e sem dificuldade significativa pelas ruas e praças. Por essa razão as guias das calçadas e as escadas dos prédios e dos veículos de transporte público não são consideradas obstáculos para o acesso, desconsiderando-se completamente as peculiaridades dos portadores de deficiência locomotora ou visual. Guilherme José Purvin de Figueiredo. Direito de locomoção da pessoa portadora de deficiência no meio ambiente urbano. In: Rev. Direito, Rio de Janeiro, v. 4, n.º 7, 2000 (com adaptações). Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo acerca dos direitos das pessoas com deficiência, tendo como referencial a atuação do Ministério Público na defesa e efetivação desses direitos. Ao elaborar seu texto, atenda, necessariamente, as seguintes determinações: 1- comente a respeito da acessibilidade como um dos principais requisitos para assegurar o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiência, avaliando em que medida a falta de acesso impede o efetivo exercício desses direitos; 2- descreva e analise as normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, refletindo sobre as medidas propostas para a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no desenho e na localização do mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação; especifique e defina os vários tipos de barreiras que impedem ou dificultam o acesso das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida previstos na legislação.

MPE-SE / 2010 / CESPE A problemática do idoso, na sociedade brasileira, não é nova, segundo autores como Salgado (1991), Fernandes (1997), Oliveira (1999), Palma (2000), a Constituição Federal de 1988 (artigos 229 e 230) apenas aponta diretrizes principiológicas acerca do tema, mas não determina políticas específicas para essa parcela da população. A tendência no Brasil é valorizar aquilo que é novo e desprezar o que é velho. A própria educação faz o velho se sentir um objeto fora de uso. Dessa realidade emerge a necessidade de programas alternativos que garantam maior qualidade de vida para essa população. Não se trata apenas de uma preocupação da sociedade política, mas também da sociedade civil, que precisa se conscientizar do envelhecimento da população brasileira. A sociedade política também assumiu sua responsabilidade diante desse

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novo panorama demográfico brasileiro e elaborou a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso. São leis elaboradas para preservar os direitos do idoso e evitar que essa faixa etária sofra discriminações e seja marginalizada na sociedade brasileira. Como uma etapa da vida, a velhice nem sempre é encarada de forma natural. Muitos indivíduos querem viver por muito tempo, mas não querem envelhecer. A valorização do idoso é ponto central para a inserção e participação desse segmento etário na sociedade brasileira. Uma tutela específica para o idoso surgiu em 1994, com a Lei n.º 8.842/1994, que estabelece a Política Nacional do Idoso em razão de várias reivindicações feitas pela sociedade em meados da década de 70 do século passado e principalmente em razão do documento Políticas para a Terceira Idade, nos anos 90, produzido pela Associação Nacional de Gerontologia, estabelecendo um rol de recomendações sobre a questão dos idosos. A referida lei foi promulgada a fim de assegurar os direitos sociais do idoso, possibilitando condições para promoção da autonomia, integração e participação na sociedade. No que tange à educação, a lei trata da inclusão da Gerontologia e da Geriatria como disciplinas curriculares nos cursos superiores e, nos currículos mínimos, nos diversos níveis de ensino formal, inserindo conteúdos voltados para o processo de envelhecimento, bem como o desenvolvimento de programas educativos, especialmente nos meios de comunicação, a fim de produzir conhecimentos, informando sobre o assunto, de forma a eliminar preconceitos. Preceitua-se o apoio do governo na criação de universidades abertas para a terceira idade como meio de universalizar as diferentes formas do saber e também o desenvolvimento de programas que adotem modalidades de ensino a distância, adequados às condições do idoso, compatibilizando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais destinados a essa faixa etária. Se a sociedade brasileira proporcionasse aos cidadãos mais velhos o tratamento e a consideração dispensada aos adultos, eliminar-se-iam os estatutos especiais para os idosos, afirma Fernandes (1997). Sabe-se que as leis existem para regular o comportamento dos indivíduos dentro de uma sociedade, estabelecendo seus direitos e deveres; porém, necessária se faz uma legislação específica para os idosos em razão da própria exclusão destes da sociedade produtiva. Desse modo, segundo o autor, tornou-se necessária a criação do Estatuto do Idoso em 2003, que veio resgatar os princípios constitucionais que garantem aos cidadãos idosos direitos que preservem a dignidade da pessoa humana, sem discriminação de origem, raça, sexo, cor e idade. Rita de Cássia da Silva Oliveira. O processo histórico do Estatuto do Idoso e a inserção pedagógica na Universidade Aberta. In: Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.º 28, dez./2007, p. 278-86 (com adaptações). Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo acerca do papel do Ministério Público na efetivação do Estatuto do Idoso. Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos: 1- diretrizes assumidas pelo Estatuto do Idoso destinadas a instituir medidas de proteção aos idosos. Discorra acerca das disposições gerais e das medidas específicas de proteção, especificando cada uma delas; 2- garantia de prioridade atribuída aos idosos; 3- o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade que são assegurados aos idosos pelas disposições constantes no Estatuto do Idoso, especificando em que consiste o direito ao respeito e quais aspectos estão compreendidos no direito à liberdade.

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MPE-ES / 2013 / VUNESP Chegou ao conhecimento do Promotor de Justiça da Cidade de Vitória, no Espírito Santo, por meio de um formando do curso de Direito, o qual, elaborando sua Tese de Conclusão do Curso de Graduação sobre a efetivação da Lei Federal n.º 12.764/2012, descobriu que o Estado do Espírito Santo não disponibiliza vagas para autistas nas instituições públicas de ensino, e que somente há uma escola pública estadual que oferece vagas em número limitado, sem acompanhamento especial, e em classe regular. Não há nenhum convênio com escola comunitária, confessionária ou filantrópica nesse sentido. De suas pesquisas, esse formando verificou a existência de somente três instituições, particulares e de alto custo, que teriam metodologia adequada, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação; e que a maior parte dos portadores de autismo reside na Capital e que a maioria dos pais e/ou responsáveis não teriam condições financeiras para arcar com os altos custos das mensalidades escolares, com a alimentação e com o transporte. O Promotor de Justiça comprovou tais informações por meio do instrumento extraprocessual administrativo competente, que embasará a ação. Elabore a peça processual pertinente ao presente caso.

MPE-ES / 2013 / VUNESP Explique brevemente o que vêm a ser a denominada cláusula da reserva do possível, a proibição do retrocesso e o mínimo existencial. Em seguida, mencione uma situação jurídica concreta de atuação do Promotor de Justiça em relação a algum desses institutos.

MPE-BA / 2012 / MPE-BA A Empresa XY MINERAÇÕES ASSOCIADAS procedeu à exploração mineral de amianto por três décadas, de 1940 a 1968, no Município de Bom Jesus da Serra – BA, em mina localizada na Fazenda São Félix, com uma área de 700 hectares. A lavra destinava-se à produção de telhas e caixas d’água de amianto, fonte principal do abastecimento do mercado nacional. Após o término da vida útil da mina “São Feliz do Amianto”, a empresa XY MINERAÇÕES ASSOCIADAS identificou uma nova área de exploração econômica do amianto, no Estado de Goiás, e interrompeu as atividades de lavra na Bahia. Posteriormente, em 1971, celebrou contrato de compra e venda do imóvel rural referido, com Manoel de Jesus e Maria dos Santos, por preço simbólico, pois o casal era muito pobre. No contrato restou inserido, na cláusula IV, que os compradores destinariam à vendedora, integralmente, toda a renda paga pela exploração futura de reservas minerais encontradas no terreno. A área foi utilizada para pecuária de ínfimo porte, e nunca foi objeto de medidas mitigadoras dos impactos ambientais ensejados. Cabe esclarecer que o amianto ou asbesto é uma fibra mineral sedosa, com favoráveis propriedades físico-químicas para exploração comercial. Ocorre que o asbesto possui microfibras que ficam suspensas no ar, penetram nas vias respiratórias e não são repelidas pelo organismo humano, podendo acarretar doenças graves como: a asbestose, que torna o pulmão fibrosado e sem elasticidade; o mesotelioma, forma rara de tumor maligno, e o câncer de pulmão. Tais doenças levam muito tempo para se manifestar, aproximadamente 30 anos após o contato com a fibra. Estão expostos ao risco não apenas os trabalhadores, mas também os familiares que lavam suas roupas sujas de amianto e, de um modo geral, todas as pessoas que têm contato com o pó

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daquela fibra, em razão da possibilidade de inalação. A Organização Mundial de Saúde – OMS afirma que não é possível o uso controlado e seguro do amianto. No mundo, mais de 48 países já baniram o amianto, e, no Brasil, alguns Estados e Municípios, por intermédio de legislação, condenaram a sua utilização. A exploração mineral do amianto na Fazenda São Félix resultou na formação de uma cratera gigantesca, com um quilômetro de extensão e oito de profundidade, com corte vertical, levando inclusive ao afloramento do lençol freático, que corresponde à cava da área de exploração, a qual ficou a céu aberto, com encostas instáveis, pela ausência da recomposição do relevo e da vegetação. A visão da área traduz a existência de um verdadeiro “canyon” com um lago no fundo, que guarda certa beleza cênica, em que pese aos riscos de queda de animais e pessoas no local, é objeto de visitação pela população, como área de lazer. A matéria rejeitada do processo de lavra (“bota-fora”) encontra-se depositada aleatoriamente por toda a área da fazenda São Felix. O rejeito do amianto foi utilizado também em fundações de construções, no Município de Bom Jesus da Serra, em passeios públicos e no acostamento da estrada que liga esse Município a Poções. A comunidade local vive o receio de ter contraído, ou vir a contrair, doenças graves relacionadas ao amianto. Já há registro de falecimento de dois extrabalhadores da XY MINERAÇÕES, em decorrência das doenças ligadas ao amianto, e centenas se queixam de problemas respiratórios, sem conseguir realizar os exames médicos necessários para o diagnóstico das doenças relacionadas com o mineral (RX, espirometria e tomografia computadorizada), dentre esses cento e dez ex-trabalhadores. O Ministério Público instaurou Inquérito Civil instruído com laudos técnicos do IMA – Instituto do Meio Ambiente, do IBAMA e FUNDACENTRO, que confirmam os dados já relatados e recomendam a elaboração e implantação de Plano de Restauração da Área Degradada – PRAD, por equipe técnica multidisciplinar, observando os danos ao ar, ao solo, à fauna, à flora e à água, com acompanhamento, manutenção e avaliação das etapas do PRAD, e anunciam a existência de um percentual de 40% de danos ambientais irrestauráveis e reconhecem os graves riscos à saúde, da população. A tentativa de firmar TAC –Termo de Ajustamento de Conduta foi frustrada. A Empresa XY MINERAÇÕES ASSOCIADAS alega não ter qualquer responsabilidade sobre os danos ambientais ou a saúde, por que: a) ocorreu a prescrição; b) não agiu com culpa, e, à época, não estava em vigor a Lei de Política Nacional de Meio Ambiente, que estabelece a responsabilidade objetiva; c) com a sucessão da empresa, a responsabilidade é dos adquirentes, e constou do contrato a assunção do passivo ambiental por estes; d) está amparada pela excludente de responsabilidade do “risco do desenvolvimento”; e) se existir responsabilidade civil é do Estado, pela negligência na fiscalização, pois este foi comunicado do fechamento da mina; f) cabe ao Estado cuidar da saúde pública, e o Ministério Público não tem legitimidade para atuar na defesa de direitos individuais homogêneos prescritos de ex-trabalhadores; g) não se deve falar em danos morais coletivos ambientais, porquanto não há previsão no ordenamento jurídico brasileiro, nem precedente na jurisprudência do STJ. Considere que você é o Promotor de Justiça que presidiu o Inquérito Civil e deliberou, juntamente com o Ministério Público Federal e do Trabalho, propor uma Ação Civil Pública visando à reparação integral dos danos ao meio ambiente e à saúde. Em forma de dissertação, oferte a contra argumentação jurídica das teses arguidas pela Empresa XY MINERAÇÕES ASSOCIADAS LTDA, indique quem deve figurar no polo passivo da Ação e redija o pedido da Ação Civil Pública.

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MPE-SC / 2012 / MPE-SC Autos nº 2012.080165-3, de Quilombo-SC - Contrarrazões de Apelação - Colenda Câmara, Eminente Desembargador Relator: O Ministério Público ingressou com Ação Civil Pública com pedido liminar contra o Município de Quilombo, postulando em favor de ERMUNDINO MIMOSO RUIZ, brasileiro, casado, comerciário, portador de Artrite Reumatóide, com 60 anos de idade, o fornecimento dos medicamentos Humira (Adalimumabe) 40 mg e Avara (Leflunomida) 20 mg ao dia. Antes do ingresso da presente ação civil pública, o Ministério Público instaurou Inquérito Civil nº 001/2012 – Comarca de Quilombo/SC (fls. 10/50), em que foram apurados os fatos narrados na inicial, constando: (1) declaração do beneficiário dos medicamentos (fls. 12/13) informando, mesmo cientificado acerca do crime de falsidade ideológica e de suas sanções, não ter condições financeiras para arcar com o custo dos medicamentos e sustento de sua família; (2) receituário de médico vinculado ao SUS (fl. 14) em que atesta a enfermidade do mesmo, portador de Artrite Reumatóide, necessitando o uso diário dos medicamentos Humira (Adalimumabe) 40 mg e Avara (Leflunomida) 20 mg; (3) Estudo Social (fls. 15/17), constando do laudo firmado pela Assistente Social do Ministério Público que ERMUNDINO possui situação socioeconômica modesta, com esposa e dois filhos menores, vivendo em residência alugada, com um rendimento familiar mensal de R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais). O togado a quo deferiu a liminar pleiteada (fl. 55). O réu apresentou contestação (fls. 57/68). Houve impugnação (fls. 70/77). Foi proferida sentença (fls. 79/89), julgando procedente o pedido, confirmando a liminar, impondo ao Município de Quilombo que mantenha o fornecimento gratuito e contínuo dos medicamentos requeridos na inicial, na dosagem prescrita pelo médico. Irresignado, no prazo legal, recorreu o Município de Quilombo, às fls. 90/100, repisando o teor da contestação, não acatada na sentença de primeiro grau, arguindo: I - em preliminar, I.1 - Falta de interesse de agir, pela não demonstração de prévio acionamento da via administrativa por parte do beneficiário dos medicamentos; I.2 - Necessidade de chamamento da União e Estado ao processo, alegando a solidariedade dos entes federados, devendo a prestação dos remédios requeridos ser custeada por todos, e, em consequência, a incompetência da Justiça Estadual para julgar o feito, com a aplicação da Súmula 150 do STJ: “Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas” e, também, em relação a necessária aplicação da Súmula 23 do TJSC: “Nas ações aforadas em desfavor do Estado e/ou dos Municípios para obtenção de medicamentos, afigura-se plausível o pedido de chamamento ao processo da União Federal pelos coobrigados, o que torna, de rigor, a remessa do feito à Justiça Federal, órgão jurisdicional competente para a apreciação do incidente processual”; I.3 – Não há produção de prova inequívoca que demonstre eficazmente a necessidade do medicamento pretendido, ou seja, a antecipação dos efeitos da sentença sem prévia e segura confirmação do alegado por meio de prova pericial, que não ocorreu no presente caso, leva a efeito o cerceamento de defesa; I.4 – O Ministério Público não tem legitimidade ativa para atuar no polo ativo da demanda em nome de interesse individual, como no presente caso, de fornecimento gratuito de medicamento ao Sr. ERMUNDINO MIMOSO RUIZ; e, II- no mérito, o apelante afirma: II.1 – ser impossível fornecer medicamentos que não estejam padronizados nos programas oficiais, violando o princípio da igualdade, privilegiando o pleito individual em detrimento de toda a população usuária do SUS;

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II.2 – o alto custo dos medicamentos, não havendo recursos suficientes para tal (reserva do possível), além de haver a necessidade de previsão orçamentária; II.3 - a violação ao princípio da Separação dos Poderes com a indevida interferência de um Poder nas funções do outro; II.4 - não foi provado a insuficiência de recursos do Sr. ERMUNDINO para requerer a gratuidade do fornecimento dos medicamentos, pois tem rendimento superior ao salário mínimo; II.5 - e, em caso de desprovimento do recurso, que seja determinado ao beneficiário dos medicamentos a contracautela, pelo menos a cada três meses, a fim de evitar o desperdício do dinheiro público. É o relatório. Inicialmente cumpre consignar que o recurso interposto pelo Município é próprio, tempestivo e preenche os demais requisitos de admissibilidade, razão pela qual merece ser conhecido. (...) (SENDO O/A PROMOTOR/A DE JUSTIÇA QUE SUBSCREVE A PRESENTE, COMPLETE AS CONTRARRAZÕES, MANIFESTANDO-SE SOBRE AS PRELIMINARES, MÉRITO E CONCLUSÃO – REQUERIMENTO FINAL.)

MPE-GO / 2010 / MPE-GOComo Promotor(a) de Justiça, atuando na defesa dos direitos do cidadão, discorra sobre a possibilidade de aplicação da “teoria da reserva do possível” na implementação de políticas públicas que concretizem o direito do cidadão à saúde.

MPT / 2010 / MPTDescreva as funções dos direitos fundamentais, explicitando também a sua articulação com o princípio da dignidade da pessoa humana, indicando, quanto a este, abrangência conceitual, conteúdo, aplicabilidade, dimensões e alcance.

MPE-BA / 2012 / MPE-BADeterminado Município do Estado da Bahia, com mais de cem mil habitantes, desde a assunção do atual Prefeito, ocorrida em janeiro de 2008, custeava as despesas de transporte e arcava com bolsas de estudo integrais para que jovens, na idade de 18 a 24 anos, pudessem frequentar a faculdade privada da cidade mais próxima, a duzentos quilômetros. Isso havia sido compromisso de campanha desse Gestor, já que só existiam instituições de ensino superior na capital do Estado ou em outras cidades de grande porte, todas muito distantes daquele Município. Também atendia à reivindicação de um grupo significativo de famílias, que lhe entregou um “abaixo-assinado”, argumentando que o auxílio financeiro do Município permitiria que os jovens permanecessem na cidade de origem, com seus familiares, evitando gastos com moradia e hospedagem em outra cidade. Por tais razões, assim que assumiu, o Prefeito determinou a inclusão da despesa no projeto de lei orçamentária que iria apresentar à Câmara de Vereadores, para votação, pois até então não era concedido esse auxílio no Município. Em março de 2008, no início do ano letivo, o Gestor autorizou o empenho, e passou a assinar mensalmente as notas de empenho para pagamento da despesa, a ser feita com as verbas da Educação. O Conselho de Acompanhamento do Fundeb, no ano de 2009, ao analisar a prestação de contas de 2008, não concordou com o pagamento, porque não eram despesas de manutenção e desenvolvimento de ensino. Levou então o caso ao Promotor de Justiça, mediante representação, que instaurou inquérito civil em julho de 2009. Durante a tramitação, o Promotor de Justiça constatou que

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além dos fatos representados, ocorria o seguinte: a) os pagamentos relacionados à educação vinham sendo determinados e realizados pela Secretaria de Finanças; b) o Município, no ano de 2008, não recebera complementação da União, como Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB);. c) era precária a situação das escolas do ensino fundamental da rede municipal pública quanto à infraestrutura. Todas necessitavam de reformas, sobretudo telhados, banheiros, redes hidros sanitária e elétrica. Nenhuma unidade escolar tinha extintor de incêndio; d) o Prefeito continuava a determinar o pagamento do transporte e das bolsas de estudo aos estudantes de ensino superior, no ano de 2009, muito embora já no mês de julho desse ano, quando foi instaurado o inquérito civil, não houvesse mais recursos orçamentários dotados à Secretaria Municipal de Educação; e) havia atraso no pagamento dos salários dos profissionais do magistério do ensino fundamental, referente ao salário dos meses de março e abril e ao 13º salário, de 2008. O Promotor de Justiça procedeu à oitiva do Prefeito. Este declarou que não podia deixar mais de cinquenta jovens sem educação superior, porque além de terem direito subjetivo de conseguir a conclusão do curso, a educação era dever de todos, inclusive do Município. Negou-se a fazer qualquer acordo com o Promotor de Justiça. Negou-se a prestar informações e disponibilizar os documentos contábeis requisitados pelo Promotor de Justiça e anunciados como imprescindíveis à investigação, no ofício nº 60/2009, quais sejam o envio do relatório de execução orçamentária e o detalhamento de despesas na área de Educação, incluindo a folha de pagamento de contratados e concursados. Isso porque, apesar de ter recebido a cópia da portaria do inquérito civil e estar o ofício requisitório devidamente fundamentado, o Prefeito entendia que o Ministério Público do Estado não teria legitimidade para investigar a questão. Enfatizou, ao final de seu depoimento que se viesse a apresentar tal prova documental somente o faria ao Procurador da República, quando requisitado por este. Você é o(a) Promotor(a) de Justiça da cidade, em promotoria única ou exclusiva, com atribuições tanto criminais como cíveis, e está com os autos do inquérito civil em fase de finalização. Analise separadamente: a) representação do Conselho de Acompanhamento do Fundeb quanto à legitimidade e acerto de sua fundamentação jurídica, posicionando-se sobre o acolhimento das razões jurídicas ou não; b) se os pagamentos com as dotações da Secretaria de Educação, mas efetuados pela Secretaria de Finanças, atendem à legislação educacional e indique como você procederia, na condição de Promotor de Justiça, de acordo com a legislação institucional do Ministério Público e Lei da Ação Civil Pública, frente ao entendimento do Prefeito quanto à falta de legitimidade do Parquet Estadual, bem assim diante de sua recusa em prestar informações, fazendo constar os fundamentos jurídicos e avaliando a eventual responsabilidade civil, penal e administrativa que vislumbrar em toda a situação apresentada.

MPE-GO / 2010 / MPE-GODisserte a respeito da constitucionalidade do controle de políticas públicas pelo Ministério Público na concretização dos direitos fundamentais de segunda dimensão e a substituição do sujeito constitucionalmente atribuído, como sanção ao descumprimento das disposições constitucionais.

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MPT / 2008 / MPT Disserte sobre as garantias fundamentais de direitos humanos violadas nas hipóteses de trabalho infantil, referindo as origens de tais garantias em diplomas internacionais, bem como as implicações para com dispositivos da Constituição Federal.

MPE-MG / 2012 / MPE-MGMarcelo Pedroso Goulart utiliza-se da expressão “uso democrático do direito” para falar da aplicação e interpretação da normatividade de maneira contextualizadora, sendo tal normatividade “apenas um dos indicadores do justo”, devendo “ser trabalhada à luz das expressões axiológicas da sociedade e da pauta de valores que informa o operador, o mesmo ocorrendo na interpretação do fato”. Joaquim Herrera Flores diz que, para a construção de uma teoria crítica dos direitos humanos, deve-se abandonar o paradigma da “negatividade dialética”, de corte hegeliano. Tal paradigma implica simplesmente negar e desqualificar “todos os pressupostos teóricos e práticos das formas tradicionais – hegemônicas e dominantes – de abordar os direitos humanos”. Em contrapartida, propõe o paradigma da “afirmação ontológica e axiológica”, que implica, como método, a reapropriação dessas formas como via de positivação das práticas sociais, com uma abordagem teórica e da práxis numa perspectiva crítica e contextualizada, “ampliando suas deficiências e articulando-as com tipos diferentes de práticas de maior conteúdo político, econômico e social”. No modelo constitucional brasileiro e na construção política que se desenvolve a partir de então, o Ministério Público sedimenta-se cada vez mais como um agente de transformação social. A partir dessas premissas, indaga-se: quais são os limites de atuação e de compromisso do Ministério Público com o projeto democrático da Constituição de 1988, principalmente fugindo das armadilhas da ideologia, para a construção de alternativas reais no sentido do desenvolvimento político, social e econômico? Comente.

MPE-SC / 2010 / MPE-SC Na condição de membro do Ministério Público, você foi procurado por pessoa idosa (65 anos) reclamando que a operadora do seu plano de saúde praticou reajuste por faixa etária, ou seja, levou a efeito cláusula contratual que estabelecia aumento da mensalidade de acordo com a idade do beneficiário (tal reajuste foi aplicado no dia do seu aniversário). Pergunta-se: qual a solução jurídica para o impasse e os fundamentos legais a serem utilizados em favor do beneficiário (faça referência aos princípios constitucionais que regem a matéria). Não se faz necessária a elaboração de peça processual!

MPE-MG / 2011 / MPE-MG O papel do Ministério Público junto aos enfrentamentos sociais, cada vez mais complexos na contemporaneidade, é de extrema importância, envolvendo enorme gama de atuações. Há mais de trinta dias em greve, servidores da rede municipal de saúde pleiteiam reposição salarial. O Executivo municipal argumenta, dentre várias questões, que a Lei de Responsabilidade Fiscal inviabiliza quaisquer aumentos salariais. Por sua vez, o Sindicato dos servidores municipais assevera que a Lei Federal XL/09 não admite salário inferior a seiscentos reais para os servidores

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do SUS em todo o território nacional. Acresce-se a toda essa discussão, o clamor dos cidadãos pela aplicação do art. 6º da Constituição Federal. Considerando a incumbência e a função constitucional do Ministério Público (art. 127 e 129), enfrente o tema e as justificativas de todos os envolvidos no conflito, utilizando-se em sua argumentação dos CONCEITOS de justiça, validade, vigência, efetividade e aplicabilidade das normas jurídicas.

MPE-BA / 2012 / MPE-BA Qual o estágio atual da discussão sobre a possibilidade ou não da prisão civil do devedor fiduciante de coisa móvel?

MPE-PA / 2014 / FCC Duas semanas após ter sido deflagrada grave por ocupantes de cargos públicos de natureza administrativa em órgãos da Administração direta estadual, e não havendo acordo entre o sindicato da categoria e os dirigentes dos órgãos em questão quanto às demandas apresentadas, promoveu-se dissídio coletivo, perante a justiça do Trabalho, em sede do qual se reconheceu a ilicitude do movimento, sob o fundamento de que o direito à greve dos servidores púbicos é assegurado em norma constitucional que, para produzir efeitos, carece de regulamentação legal ainda não existente. Diante dessa situação, indaga-se: Caberia ao sindicato valer-se, em tese, de alguma ação diretamente perante o Supremo Tribunal Federal, para viabilizar o exercício do direito de greve dos membros da categoria? Em caso afirmativo, qual seria e sob quais fundamentos? Em caso negativo, por quê? Justifique sua resposta, à luz da disciplina constitucional da matéria.

MPE-GO / 2010 / MPE-GO Disserte, em no máximo 02 (duas) laudas, a respeito da constitucionalidade do controle de políticas públicas pelo Ministério Público na concretização dos direitos fundamentais de segunda dimensão e a substituição do sujeito constitucionalmente atribuído, como sanção ao descumprimento das disposições constitucionais.