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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO25ª Câmara
Registro: 2015.0000369450
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento
nº 2092613-83.2015.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é
agravante CLARO S/A, são agravados JHOSIR GASPAROTTO e DÉBORA
THEREZINHA DE MOURA GASPAROTTO.
ACORDAM, em 25ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de
Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao
recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este
acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores
VANDERCI ÁLVARES (Presidente) e EDGARD ROSA.
São Paulo, 28 de maio de 2015.
Hugo CrepaldiRELATOR
Assinatura Eletrônica
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SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO25ª Câmara
Agravo de Instrumento nº 2092613-83.2015.8.26.00002
Agravo de Instrumento nº 2092613-83.2015.8.26.0000Comarca: São PauloAgravante: Claro S/AAgravados: Jhosir Gasparotto e Débora Therezinha de Moura GasparottoVoto nº 11.908
AGRAVO DE INSTRUMENTO AÇÃO INDENIZATÓRIA Infiltrações na unidade residencial dos autores em tese provocadas pela antena da agravante, situada na laje do Condomínio corréu Inexistência de prescrição
Interrupção do prazo diante de interpelação extrajudicial (art. 202, inc. V, do CC) Com relação à agravante, ainda, aplicável o art. 27 do CDC, porquanto os autores qualificam-se como consumidores por equiparação (art. 17 do CDC)
Danos suportados em razão da atividade empresarial da agravante Inversão do ônus da prova, dada a verossimilhança das alegações e hipossuficiência técnica Inversão que implica inverter os custos periciais Ônus que, uma vez desincumbido, gera presunção de veracidade Negado provimento.
Vistos.
Trata-se de Agravo de Instrumento interposto
por CLARO S/A, nos autos da ação indenizatória que lhe movem JHOSIR
GASPAROTTO e DÉBORA THEREZINHA DE MOURA GASPAROTTO,
objetivando a reforma da decisão proferida pela MM. Juíza de Direito da 11ª
Vara Cível do Foro Central da Comarca de São Paulo, Dra. Cristiane Amor
Espin, que (i) afastou o pedido de reconhecimento de ilegitimidade passiva
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do CONDOMÍNIO; (ii) afastou o pedido de reconhecimento de prescrição em
face da agravante; (iii) determinou a realização de prova pericial, nomeando
o Sr. Perito; (iv) fixou as custas processuais em R$ 2.500,00; (v) determinou
que os réus arquem com o custeio (fls. 48/52).
Sustenta a agravante o equívoco da decisão ao
afastar a prescrição e impor aos réus o custeio da perícia. Aduz que não
houve qualquer comunicação extrajudicial, o que impede a suspensão do
prazo prescricional, além do fato de que já providenciou reparos na
residência dos autores há cinco anos.
Afirma que inaplicável o Novo CPC, motivo pelo
qual não é possível inverter o custeio da prova. Ademais, não há dificuldades
de os autores arcarem com as custas, já que não foram merecedores do
benefício da gratuidade. Requer, assim, a observância do art. 33 do atual
CPC.
Recurso tempestivo, acompanhado de
documentos, tramitou sob a concessão do efeito suspensivo pleiteado,
porquanto presentes os requisitos autorizadores.
Dispensadas as informações e a contraminuta,
os autos foram encaminhados à mesa.
É o relatório.
Pelo que consta dos autos, em 7 de maio de
2014 os autores ajuizaram a presente demanda indenizatória, por meio da
qual sustentam que desde 2010 vem sofrendo com problemas de
infiltrações em sua residência a qual corresponde à unidade 162 do
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CONDOMÍNIO réu , infiltrações provenientes da falta de manutenção da
antena instalada no CONDOMÍNIO pela corré CLARO.
Essa realidade de que o problema era
proveniente da antena evidenciou-se no curso de uma ação judicial que a
vizinha dos autores lhes promoveu. No laudo produzido naquela
oportunidade, foi apontada como causa dos problemas de infiltração a falta
de manutenção da antena situada no CONDOMÍNIO.
Aduzem os autores que esperaram cerca de
dois anos pelas tentativas de resolução extrajudicial dos problemas, todas
sem sucesso, o que ensejou o ajuizamento da ação.
Finda a fase postulatória, sobreveio a decisão
saneadora agravada, a qual, dentre as resoluções tomadas, (i) afastou o
pedido de reconhecimento de prescrição formulado por parte da agravante e
(ii) incumbiu aos réus o ônus de pagamento das custas periciais.
Insurge-se a agravante contra esses dois
pontos, porém sem razão.
Quanto à alegada prescrição, discordamos,
data venia, dos fundamentos utilizados pelo Juízo a quo, na medida em que
a pretensão indenizatória surgiu desde a ocorrência do dano, sem depender
da negativa de resolução extrajudicial para tanto. Afinal, considerando a
teoria da actio nata, o termo inicial da pretensão é a efetiva lesão do direito
tutelado, o que ocorreu, in casu, com o início das infiltrações.
Todavia, é preciso considerar as causas
interruptivas da prescrição, dentre as quais, aquela prevista no art. 202, inc.
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V, do Código Civil, que afirma restar interrompida a prescrição “por qualquer
ato judicial que constitua em mora o devedor”.
Tanto a doutrina quanto a jurisprudência, de
maneira acertada, conferem interpretação extensiva à referida causa de
interrupção, inserindo nela também hipóteses de interpelação extrajudicial.
Nesse sentido é entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
CIVIL. SEGURO DE VIDA EM GRUPO. APOSENTADORIA POR
INVALIDEZ. NEGATIVA DA SEGURADORA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.
PRESCRIÇÃO ANUAL. SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO DO PRAZO
PRESCRICIONAL. POSSIBILIDADE.
1. Nos termos da Súm. 278/STJ, "o termo inicial do prazo prescricional,
na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência
inequívoca da incapacidade laboral".
2. Na hipótese, o marco inicial da contagem deve ser a data da
concessão da aposentadoria - 21 de nov./03 -, momento em que o
acórdão entendeu ser o conhecimento inequívoco da incapacidade total e
permanente do segurado. Entender de forma diversa demandaria o
revolvimento fático-probatório dos autos, o que encontra óbice na Súmula
7/STJ.
3. Segundo a jurisprudência pacífica do STJ, "o pedido do pagamento de
indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que o
segurado tenha ciência da decisão" (Súm. 229 do STJ).
4. Portanto, presente causa suspensiva da prescrição, não há falar em
violação ao caput do art. 202 do CC no que tange à limitação da
interrupção da prescrição por apenas uma vez.
5. No caso, colhe-se dos esclarecimentos prestados no inquérito policial
que a seguradora acabou por inequivocamente reconhecer o direito do
recorrido, apesar de entender que a responsabilidade pela indenização
seria de sua precedente, justamente em razão da data da celebração da
apólice, havendo, portanto, causa interruptiva da prescrição.
6. Apesar das diversas causas interruptivas previstas no art. 202 do
Código Civil, tem-se conferido interpretação ampliativa com relação
ao sobredito rol, notadamente quanto à interpelação extrajudicial
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como forma de interromper a prescrição.
7. Ademais, sobre outra ótica, a instauração de inquérito policial para
apuração do crime de estelionato supostamente perpetrado acabaria por
suspender a prescrição até a apuração do fato tido como delituoso.
8. A jurisprudência desta Corte vem reconhecendo que a
responsabilidade da seguradora deve ocorrer desde o acometimento da
doença incapacitante, mesmo que a aposentadoria por invalidez tenha se
dado após o término do prazo contratual.
9. Recursos especiais a que se nega provimento.
(REsp 1173403/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 09/12/2014, DJe 18/12/2014 grifou-se)
E tal entendimento é reforçado pela doutrina:
“Mais importante que a previsão dos atos de constituição em mora pela
via judicial é a questão de reconhecer-se também à interpelação
extrajudicial o efeito de interromper a prescrição. O art. 202, V, ao referir-
se somente ao ato judicial dá a ideia de ser atributo apenas da
interpelação processada em juízo aquela eficácia interruptiva. Se, para o
novo Código, não é apenas o protesto judicial que interrompe a
prescrição (pois, o protesto extrajudicial de títulos tem a mesma forma),
não há razão para deixar de reconhecer igual eficácia também às
interpelações extrajudiciais, operadas por via do Registro de Títulos e
Documentos, ou entregues pessoalmente ao obrigado, mediante recibo
ou protocolo. É que, em outro passo, o Código de 2002 flexibilizou
também a forma de constituir em mora o devedor, quando se tem
necessidade de lançar mão da interpelação. Antigamente, entendia-se
que tal interpelação, por falta de previsão em lei, em sentido contrário,
somente poderia ser sob a forma judicial. Com o Código atual, “a mora se
constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial” (art. 397,
parágrafo único). Equiparou-se, em eficácia jurídica, a interpelação
extrajudicial à interpelação judicial. Ora, interpelar e protestar são
expedientes que correspondem aos mesmos objetivos: comprovar a
manifestação de vontade do credor e preservar seus direitos diante do
devedor. Por esse meio, o credor faz chegar ao obrigado a pretensão de
haver o que lhe cabe, diante da obrigação existente entre as partes.”
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(Humberto Theodor Júnior, In “Comentários ao Novo Código Civil”, v. III,
tomo II, 4ª ed., pp. 313-314).
Por uma questão de coerência sistemática,
portanto, haja vista que o CC 2002 confere ampla eficácia, para fins de
constituição em mora, da interpelação extrajudicial, nada impede que esta
seja suficiente à interrupção da prescrição o que se coaduna inclusive com
a finalidade da prescrição que, privilegiando a segurança jurídica, pune a
inércia do titular do direito. Ora, em caso de interpelação extrajudicial, rompe-
se a inércia, o que permite considerar interrompida a prescrição.
In casu, não faltaram interpelações
extrajudiciais ou seja, manifestações de vontade que deixaram clara a
vontade dos credores de perseguirem o seu direito. A título de exemplo, cita-
se o documento de fls. 125 e-mail enviado pelo CONDOMÍNIO à
agravante cobrando um posicionamento quanto aos danos provocados na
unidade dos agravados, enviado em maio de 2012 e o de fls. 130 e-mail
enviado pelo coautor ao CONDOMÍNIO especificando o orçamento da
quantia necessária a recompor seus danos, cobrando uma posição sobre o
tema.
Assim, interrompida a prescrição ainda em
2012, não há que se falar da pretensão exercida em 2014.
Em verdade, com relação especificamente à
agravante, sequer toda essa discussão precisaria ser travada o que
fizemos apenas para afastar, desde logo, eventuais alegações de prescrição
também pelo CONDOMÍNIO, já que a matéria é cognoscível de ofício em
razão do que dispõe o art. 27 CDC, que estipula prazo de cinco anos para
prescrição de pretensões indenizatórias inseridas no contexto consumerista.
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Nesse ponto, é preciso investigar a
possibilidade de aplicação do CDC em face da agravante no caso em
comento.
Em casos atinentes à relação de consumo,
cuidou o legislador pátrio de estabelecer um sistema de normas e princípios
destinados à proteção e efetivação dos direitos do consumidor, parte
identificada como merecedora de regramento especial pelo próprio Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, que em seu artigo 48 determinou a
elaboração, pelo Congresso Nacional e em cento e vinte dias da
promulgação da Constituição, de Código de Defesa do Consumidor.
O tratamento especial conferido ao consumidor
deve-se à sua condição de vulnerabilidade e à consequente necessidade de
abrandamento do desequilíbrio da relação, restando nítido o interesse social
inerente à Lei nº 8.078/90, bem como plenamente justificável a
caracterização de suas normas como de ordem pública.
Dentre as espécies de proteção conferidas a
esta classe hipossuficiente, encontra-se a responsabilidade pelo fato do
produto e do serviço, a qual “decorre da exteriorização de um vício de
qualidade, vale dizer, de um defeito capaz de frustrar a legítima expectativa
do consumidor quanto à sua utilização ou fruição” (DENARI, Zelmo, “Código
brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos autores do
anteprojeto”, org. por Grinover, Ada Pellegrini, 9ª ed., Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2007, p. 183).
Uma vez que em diversas ocasiões os
produtos oferecidos e serviços prestados podem atingir ou prejudicar não
somente o consumidor stricto sensu, isto é, aquele definido pelo artigo 2º do
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Código de Defesa do Consumidor como toda pessoa que adquire ou utiliza
produto ou serviço como destinatário final, mas também indivíduos
estranhos à relação jurídica de consumo, criou o legislador a figura do
consumidor por equiparação, consoante artigo 17 do diploma legal, in
verbis:
“Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores
todas as vítimas do evento.”
Trata-se do denominado bystander, isto é,
aquela ou aquelas pessoas que, conquanto não pertençam à relação de
consumo direta, sofrem prejuízos por ocasião de defeitos intrínsecos ou
extrínsecos do produto ou serviço.
Com efeito, tal proteção, seguindo o espírito
que motiva a própria lei, justifica-se na posição preponderante do fornecedor
e na correlata vulnerabilidade dos terceiros, vítimas do evento danoso e
merecedoras do tratamento especial, com vistas a suavizar o desequilíbrio
das circunstâncias de cada parte.
Acerca do tema, preleciona Claudia Lima
Marques:
“O ponto de partida desta extensão do campo de aplicação do CDC é
duplo. De um lado, a observação de que muitas pessoas, mesmo não
sendo consumidores stricto sensu, podem ser atingidas ou prejudicadas
pelas atividades dos fornecedores no mercado. Estas pessoas, grupos e
mesmo profissionais podem intervir nas relações de consumo de outra
forma, a ocupar uma posição de vulnerabilidade. Mesmo não
preenchendo as características de um consumidor stricto sensu, a
posição preponderante (machtposition) do fornecedor e a posição de
vulnerabilidade dessas pessoas sensibilizaram o legislador e, agora, os
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aplicadores da lei. De outro, que o destinatário final não é sempre o
contratante, logo, os antigamente denominados terceiros contratuais são
hoje consumidores. E com a equiparação de outros agentes a
consumidores, estes 'terceiros' tendem a desaparecer.
(...)
A proteção do terceiro, bystander, foi complementada pela disposição do
art. 17 do CDC, que, aplicando-se somente à seção de responsabilidade
pelo fato do produto e do serviço (arts. 12 a 16), dispõe: 'Para efeitos
desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do
evento'. Logo, basta ser 'vítima' de um produto ou serviço para ser
privilegiado com a posição de consumidor legalmente protegido pelas
normas sobre responsabilidade objetiva pelo fato do produto presentes
no CDC.” (in “Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo
regime das relações contratuais”, 6ª ed., São Paulo: RT, 2011, pp.
381-383)
In casu, a figura dos autores enquadram-se
com perfeição a do consumidor por equiparação, pois sofreram danos em
razão do exercício da atividade da empresa ré, na medida em que a
instalação e manutenção da antena são condutas que compõem a sua
empresa.
Sendo aplicável à agravante o CDC, aplica-se
a pretensão em face dela exercida o art. 27 do Código de Defesa do
Consumidor, sendo inquestionável a inocorrência da prescrição.
A aplicabilidade do CDC é premissa, ainda,
para resolver a questão seguinte, qual seja, a da possibilidade de inversão
do ônus de custeio da prova pericial.
De início, considerando a configuração da
relação de consumo por equiparação entre agravante e agravados, a
inversão do ônus da prova não está fundada em legislação ainda não
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vigente em nosso ordenamento, mas no próprio CDC.
E possível a inversão do ônus da prova com
base tanto na verossimilhança das alegações dos autores, quanto em sua
hipossuficiência: a verossimilhança tem por base o laudo produzido em
outra ação, o qual indicou como responsável pelos danos a falta de
manutenção da antena da agravante (fls. 141/154), e a hipossuficiência é
técnica, tendo a agravante melhores condições técnicas de produzir prova
que lhe seja favorável, dada a habitualidade com que instala antenas em
prédios.
Invertido o ônus, pertinente também atribuir à
agravante a responsabilidade pelo custeio dos honorários periciais.
Questionando a ré sobre a causalidade das infiltrações, é seu o dever de
fazer prova do fato, desconstituindo assim a verossímil alegação dos
autores.
Note-se que atribuir ao consumidor
hipossuficiente o pagamento dos honorários periciais, mesmo diante da
inversão do ônus de prova, tornaria inócua a aplicação da regra protetiva
prevista na legislação consumerista, porquanto não se facilitaria
efetivamente a defesa da parte vulnerável, fazendo letra morta do
dispositivo invocado.
Com bem ressaltou o E. Des. Rizatto Nunes,
“uma vez determinada a inversão, o ônus econômico da produção da prova
tem de ser da parte sobre a qual recai o ônus processual. Caso contrário,
estar-se-ia dando com uma mão e tirando com a outra” (In “Comentários do
Código de Defesa do Consumidor”, Saraiva, 2000, p. 127).
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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO25ª Câmara
Agravo de Instrumento nº 2092613-83.2015.8.26.000012
Tal entendimento melhor se coaduna com os
escopos do processo, proporcionando que a prova seja realmente
produzida, e, assim, atinja-se a solução mais próxima da verdade possível,
contribuindo para a efetividade do instrumento estatal de solução de
controvérsias.
Observa-se, entretanto, que, por meio desse
entendimento, atribuiu-se à agravante o ônus de custeio da perícia. Isso
implica dizer, pelo próprio respeito ao conceito de ônus, que se trata de um
imperativo de próprio interesse. Em outras palavras, a agravante não é
obrigada a arcar com as custas periciais, mas, uma vez deixando de fazê-lo,
sofrerá as consequências de não ter se desincumbido de seu ônus,
presumindo-se verdadeiras as afirmações feitas pelos autores
Note-se que, por caminhos diversos, chega-se
à solução prática igual àquela adotada atualmente pelo Superior Tribunal de
Justiça, segundo a qual “a parte ré, neste caso, a concessionária, não está
obrigada a antecipar os honorários do perito, mas se não o fizer, presumir-
se-ão verdadeiros os fatos afirmados pelo autor” (AgRg no REsp
1042919/SP, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA,
julgado em 05/03/2009, DJe 31/03/2009).
Seguindo-se nossa linha de raciocínio,
segundo a qual a inversão do custeio da prova pericial se dá em razão da
inversão do ônus da prova, e considerando que entre agravados e o
CONDOMÍNIO inexiste relação de consumo, descabida a parte da decisão
que incumbiu a ambos os réus, agravante e CONDOMÍNIO, o custeio.
Todavia, em observância ao princípio que veda a reformatio in pejus,
mantém-se a decisão também nesse ponto.
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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO25ª Câmara
Agravo de Instrumento nº 2092613-83.2015.8.26.000013
Pelo exposto, nego provimento ao recurso.
HUGO CREPALDIRelator
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