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1 DÉCIMA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº 0040383-74.2008.8.19.0021 Desembargador GILBERTO DUTRA MOREIRA Apelação Cível. Sumário. Indenização. Oferta de pacote de serviços de telefonia fixa e móvel celular, além de internet banda larga, denominado “Velox”. Contratação pelo consumidor que amargou a expectativa frustrada de fruição dos serviços de internet. Invocação do conhecido chavão de “inviabilidade técnica”. A propaganda enganosa de prometer a instalação do Velox, não cumprida, independente de quaisquer razões de ordem técnica, enseja danos morais. Frustração do consumidor na utilização dos serviços ofertados. Danos morais caracterizados. Indenização que se arbitra em R$ 4.650,00 (quatro mil, seiscentos e cinquenta reais), equivalente a 10 (dez) salários mínimos, para cada um dos autores, em observância aos critérios da punição/satisfação e da proporcionalidade/ razoabilidade. Ônus sucumbenciais que devem ser integralmente suportados pela ré, arbitrados os honorários em 10% (dez por cento) do valor da condenação. Provimento do recurso, para majorar a indenização. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 0040383-74.2008.8.19.0021, em que é apelante Antônio de Jesus Chaves e apelado Telemar Norte Leste S.A.. ACORDAM os Desembargadores da 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso.

Acordão Fornecimento Internet Banda Larga Fixo Inviabilidade Técnica

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Page 1: Acordão Fornecimento Internet Banda Larga Fixo Inviabilidade Técnica

1 DÉCIMA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº 0040383-74.2008.8.19.0021 Desembargador GILBERTO DUTRA MOREIRA

Apelação Cível. Sumário. Indenização. Oferta de pacote de serviços de telefonia fixa e móvel celular, além de internet banda larga, denominado “Velox”. Contratação pelo consumidor que amargou a expectativa frustrada de fruição dos serviços de internet. Invocação do conhecido chavão de “inviabilidade técnica”. A propaganda enganosa de prometer a instalação do Velox, não cumprida, independente de quaisquer razões de ordem técnica, enseja danos morais. Frustração do consumidor na utilização dos serviços ofertados. Danos morais caracterizados. Indenização que se arbitra em R$ 4.650,00 (quatro mil, seiscentos e cinquenta reais), equivalente a 10 (dez) salários mínimos, para cada um dos autores, em observância aos critérios da punição/satisfação e da proporcionalidade/ razoabilidade. Ônus sucumbenciais que devem ser integralmente suportados pela ré, arbitrados os honorários em 10% (dez por cento) do valor da condenação. Provimento do recurso, para majorar a indenização.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 0040383-74.2008.8.19.0021, em que é apelante Antônio de Jesus Chaves e apelado Telemar Norte Leste S.A..

ACORDAM os Desembargadores da 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso.

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2 DÉCIMA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº 0040383-74.2008.8.19.0021 Desembargador GILBERTO DUTRA MOREIRA

Trata-se de ação de obrigação de fazer e indenização, pelo rito sumário, ajuizada pelo Apelante em face da Apelada, alegando que aderiu ao plano “Oi Conta Total Light”, restando pactuado o fornecimento de 50 minutos de ligações interurbanas de celular, fixo local sem limites e internet banda larga, tendo a ré informado a necessidade de contratação de provedor. Ocorre que, após a instalação do modem, não logrou fruir dos serviços de banda larga “Velox”, tendo o preposto da ré informado a inviabilidade do local. Por tais razões, pretende “tutela antecipada” e indenização por danos morais no valor equivalente a 60 (sessenta) salários mínimos.

A gratuidade de justiça foi deferida por decisão monocrática de fls. 34/36.

Em audiência de conciliação, a ré apresentou contestação (fls. 46/78), invocando o descabimento de tutela antecipada e, no mérito, aduziu que em razão da inviabilidade técnica do local não é possível o fornecimento de serviço de internet banda larga, restando caracterizada a mera expectativa de direito, sem obrigatoriedade da instalação; que a condição de viabilidade técnica está prevista em cláusula contratual, que não pode ser discutida pelo usuário; que não há danos morais a serem indenizados, inexistindo defeito na prestação do serviço que não é essencial; que o mero inadimplemento contratual não legitima a indenização vindicada, impugnando, na eventualidade, o valor pretendido.

Na sentença de fls. 121/123, o douto Juízo a quo julgou procedente em parte o pedido, condenando a ré a indenizar os danos morais no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), rateadas as custas processuais e compensados os honorários advocatícios, face à sucumbência recíproca.

O autor apelou, às fls. 126/128, requerendo a reforma parcial da sentença, pretende a majoração da indenização para o valor equivalente a 10 (dez) salários mínimos.

Em contra-razões, a apelada prestigiou a sentença (fls. 130/136).

É o relatório.

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Com efeito, a relação jurídica estabelecida entre as partes encontra seu fundamento nas normas previstas no Código de Defesa do Consumidor (Lei Federal nº. 8.078, de 1990), que no seu art. 2º define consumidor in verbis:

Art. 2º - Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Consigne-se que embora o autor é usuário do serviço

prestado pela ré, podendo pleitear ressarcimento pelos danos em razão da existência de falha no serviço ofertado pela ré-apelada.

Assim, tem-se que o autor-apelante pleiteou a indenização em razão da oferta não cumprida, eis que contratou o pacote de serviços no intuito de utilizar os serviços Velox, não sendo a “inviabilidade técnica” escusa para o descumprimento do serviço ofertado.

Como bem destacado pelo douto Juízo a quo, verifica-se que a ré-apelada faltou com o dever de informação, eis que, no momento das tratativas, não cientificou o consumidor de eventual impossibilidade de instalação do serviço de banda larga em razão das características do local.

Assim, antes de ofertar o serviço e cobrar por ele, deve a prestadora certificar-se das condições técnicas adequadas. Do contrário não oferte, vez que o pacote de serviço inclui a cobrança do serviço de banda larga, que não fora prestado.

Dessa forma, constata-se que o apelante não cometeu qualquer infração contratual, sendo injusta a privação do serviço ofertado e contratado.

De fato, todo aquele que causar danos ao consumidor, independentemente de culpa, por defeitos relativos à prestação dos serviços, responde objetivamente pelos danos causados, salvo se comprovar a inexistência do defeito na prestação do serviço ou a culpa exclusiva do consumidor ou do terceiro, conforme a teoria do risco empresarial.

A propaganda enganosa de prometer a instalação do serviço Velox, não cumprida, independente de quaisquer razões de ordem técnica, enseja danos morais, eis que gera uma expectativa de utilização de um serviço muito necessário na via cotidiana de qualquer cidadão, expectativa esta que não será atendida.

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Ressalte-se, ainda, que a violação ao direito do consumidor-apelante ultrapassa o simples inadimplemento contratual e o mero aborrecimento, os quais, por sua vez, não devem ser considerados fenômenos naturais do seu cotidiano.

O dano moral encontra-se plenamente corporificado com a angústia, a revolta, a frustração e o abalo emocional amargados pelo apelante por não poder usufruir, no modo e tempo devidos, de todos os serviços que adquiriu.

Neste sentido, já decidiu este Egrégio Tribunal de Justiça:

DIREITO DO CONSUMIDOR. SERVIÇOS DE ACESSO À INTERNET. VELOX. NÃO IMPLEMENTAÇÃO. DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. OBRIGAÇÃO DE FAZER QUE SE IMPÕE. RESTITUIÇÃO EM DOBRO DOS VALORES PAGOS NO PERÍODO EM QUE OS SERVIÇOS NÃO FORAM PRESTADOS. DANO MORAL CONFIGURADO. DESPROVIMENTO DO RECURSO. 1 - Obrigando-se a prestadora de serviços de telefonia a prestar auxílio técnico para instalação do aparelho Velox, ainda que tenha o consumidor feito a opção de auto instalação, o não atendimento às reclamações deste configura o descumprimento contratual a ensejar a condenação de obrigação de fazer consubstanciada na efetiva implementação dos serviços de acesso à internet, bem como a de restituir, em dobro, os valores pagos no período em que os serviços não foram prestados (§ único do art. 42 do CDC). 2 - Configura-se o dano moral indenizável quando o descumprimento contratual é de tal ordem que extrapola os limites do mero aborrecimento, causando transtornos e incômodos anormais ao cotidiano do consumidor. Verba indenizatória fixada com moderação. Desprovimento do recurso. (Apelação cível 2008.001.05137 – JDS. Des. Álvaro Henrique Teixeira – 17/06/2008 – 1ª Câmara Cível). APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. RITO SUMÁRIO. Adesão pelo autor, ora apelado, de plano oferecido pela ré-recorrente intitulado "oi conta total", o qual agrega serviços de telefonia fixa e móvel, além de acesso à internet banda larga. Injustificada demora na instalação dos correspondentes equipamentos. Inércia da demandada que se opõe às inúmeras diligências do autor, que as implementou com a protolização de várias

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reclamações formuladas à ré, bem assim com o envio de diversos e-mails, tendo o demandante, ainda, contatado a Anatel e a Velox com vistas ao alcance de solução. Atuação lesiva ao consumidor que se verifica, também, com a cobrança dos serviços contratados antes de seu efetivo fornecimento. Acesso à internet que somente se tornou possível com a aquisição de modem pelo próprio demandante, já que a demandada não procedeu a entrega de tal componente, embora estivesse incluído na contratação. Conduta da ré que ultrapassa os lindes do simples inadimplemento contratual ou do mero aborrecimento. Dano moral configurado. Dever de indenizar. Verba de reparação fixada em R$ 8.000,00 (oito mil reais) e, portanto, em consonância com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Recurso manifestamente improcedente ao qual se nega seguimento. (Apelação Cível 2008.001.28002 – Des. Ernani Klausner – 11/08/2008 – 1ª Câmara Cível). APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM INDENIZATÓRIA. CONTRATAÇÃO DE SERVIÇO DE TELEFONIA E INTERNET. MUDANÇA DE ENDEREÇO DO CLIENTE COM PEDIDO DE REINSTALAÇÃO NÃO ATENDIDO. MANUTENÇÃO DA COBRANÇA POR SERVIÇOS NÃO PRESTADOS. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. INDEVIDA NEGATIVAÇÃO DO NOME DA AUTORA. DANO IN RE IPSA. DEVER DE INDENIZAR. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. Cuida-se de ação de cobrança cumulada com pedido indenizatório a pretexto da qual a autora visa à reinstalação dos serviços de telefonia e internet (Velox), além da retirada de seu nome dos cadastros restritivos de crédito, além da condenação da ré ao pagamento de indenização a títulos de danos morais. Sentença de procedência parcial. Relação jurídica existente entre as partes que é regida pelo Estatuto Consumerista, com todos os consectários a ele inerentes, como por exemplo, a facilitação dos meios de defesa, inclusive com a inversão do ônus da prova. Recorrente que deveria demonstrar que a prestação dos serviços de telefonia e internet se processaram com correção na residência da apelada. Não obstante a alegação da recorrente de que a autora/apelada não solicitou a transferência dos serviços para seu novo endereço, eis que, supostamente, teria se limitado a requer apenas a mudança do local de cobrança, esta não merece prosperar. Conteúdo probatório que não

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ampara a tese recursal, eis que a apelante não obteve êxito em trazer aos autos provas robustas que fossem capazes de corroborar suas alegações, de modo a afastar os fatos constitutivos do direito da apelada, não se desincumbindo, assim, do ônus que lhe impõe o artigo 333, inciso II do CPC. Desta feita, as cobranças realizadas pela apelante se afiguram ilegais, diante da ausência de prestação dos serviços contratados no endereço atual da apelada, devendo ser mantido o cancelamento das cobranças determinado na sentença a quo. Nesse sentido, cumpre à recorrente reparar os danos que, em decorrência de seu ato negligente, repercutiram de forma negativa na vida da apelada, em especial a privação do serviço de telefonia por tempo considerável, bem como a inclusão indevida de seu nome junto aos cadastros restritivos de crédito, fato este admitido pela própria apelante em suas razões recursais. Dano moral configurado. Observância dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade na fixação do quantum indenizatório. Sentença que merece plena confirmação. Negativa de seguimento ao apelo, nos termos do art. 557, caput do CPC.(Apelação Cível 2008.001.54609 – Des. Ismênio Pereira Castro – 12/11/2008 - 14ª Câmara Cível).

No que tange ao valor da indenização, tem-se que este

deve ser suficiente para coibir o abuso, não podendo, entretanto, ser causa de enriquecimento indevido do apelante, sendo certo que é incontroverso que o consumidor amargou a impossibilidade de utilização do serviço, além da cobrança indevida.

Desta forma, deve ser acolhida a pretensão recursal de majoração da indenização para o valor em R$ 4.650,00 (quatro mil seiscentos e cinqüenta reais), equivalente a 10 (dez) salários mínimos, quantia que se mostra mais adequada à hipótese e de acordo com os critérios de razoabilidade/proporcionalidade e satisfação/punição.

Por tais fundamentos, dá-se provimento ao recurso.

Rio de Janeiro, 13 de janeiro de 2010.

GILBERTO DUTRA MOREIRA Desembargador Relator

Certificado por DES. GILBERTO DUTRA MOREIRAA cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço www.tjrj.jus.br.Data: 14/01/2010 18:25:12 Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: 0040383-74.2008.8.19.0021 - Tot. Pag.: 6