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241 Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg. - Belo Horizonte, 30 (60): 241-315, Jul./Dez.99 ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO TRT/ARG-278/99 Publ. no “MG” de 03.12.1999 AGRAVANTES: ARAKEN HANRIOT DA CUNHA E OUTROS AGRAVADOS: CONSTRUTORA MENDES LTDA. E OUTRO EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL - AÇÃO RESCISÓRIA - LEGITIMIDADE ATIVA - TERCEIRO JURIDICAMENTE INTERESSADO. Efetivamente, não há campo legal para credores múltiplos do mesmo devedor atacarem, via ação rescisória, decisões ou atos judiciais que beneficiem um dos credores do devedor comum, ao único argumento e motivo de serem também credores e terem interesse ou expectativa em se garantir com o mesmo bem ou patrimônio alienado na ação rescindenda. A disputa pelos bens penhoráveis, fora dos casos de juízo universal ou coletivo, dá-se na forma da precedência das penhoras, não havendo como um terceiro intervir em processos alheios para impedir, inibir, atrasar ou alterar a ordem das coisas. Quando, no entanto, a alegação é de conluio entre o devedor e suposto credor preferencial, com uso indevido ou abusivo da ação judicial com fito de lesar terceiros, transferindo ardilosamente patrimônio que garantiria legitimamente os lesados, o direito individual subjetivo de ação desses existe, inequívoco. O que me afigura ser o caso presente. Onde o art. 487, do CPC, ao ditar que tem legitimidade para propor a ação rescisória o “terceiro juridicamente interessado”, não só já tem em si mesmo o alcance retro exposto - de reconhecer explicitamente ao terceiro que se suponha burlado por uma treta ou ardil, armados para lesá-lo, a titularidade de direito da ação específica para desfazer a trama - como vem sistematicamente envolvido na regra geral de direito da qual evoluiu para explicitar a regra particular. Regra geral insculpida constitucionalmente nos incisos XXXIV e XXXV, da Carta Magna, reconhecida a condição de direitos fundamentais de cidadania os de petição ao Poder Público e de acesso ao Judiciário para combater lesão ou ameaça a direito. E de novo repetida no art. 3º, da lei dos ritos, reconhecendo-se o interesse - seja ele jurídico, econômico ou moral - como elemento bastante para autorizar as pessoas legitimadas a agirem na sua defesa ou de outros. Além do que, a notícia de fato com conotação de ofensa à dignidade judicial e de crime ou fraude contra terceiros, veiculada na petição inicial com argumentos escorados em análise razoável de fatos concretos, é suficiente para

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Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg. - Belo Horizonte, 30 (60): 241-315, Jul./Dez.99

ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO

TRT/ARG-278/99Publ. no “MG” de 03.12.1999

AGRAVANTES: ARAKEN HANRIOT DACUNHA E OUTROS

AGRAVADOS: CONSTRUTORA MENDESLTDA. E OUTRO

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL- AÇÃO RESCISÓRIA -LEGITIMIDADE ATIVA - TERCEIROJURIDICAMENTE INTERESSADO.Efetivamente, não há campolegal para credores múltiplos domesmo devedor atacarem, viaação rescisória, decisões ouatos judiciais que beneficiem umdos credores do devedorcomum, ao único argumento emotivo de serem tambémcredores e terem interesse ouexpectativa em se garantir como mesmo bem ou patrimônioalienado na ação rescindenda. Adisputa pelos bens penhoráveis,fora dos casos de juízo universalou coletivo, dá-se na forma daprecedência das penhoras, nãohavendo como um terceirointervir em processos alheiospara impedir, inibir, atrasar oualterar a ordem das coisas.

Quando, no entanto, aalegação é de conluio entre odevedor e suposto credorpreferencial, com uso indevidoou abusivo da ação judicialcom fito de lesar terceiros,transferindo ardilosamentepatrimônio que garantirialegitimamente os lesados, odireito individual subjetivo deação desses existe, inequívoco.

O que me afigura ser o casopresente.

Onde o art. 487, do CPC, aoditar que tem legitimidade parapropor a ação rescisória o“terceiro juridicamenteinteressado”, não só já tem emsi mesmo o alcance retroexposto - de reconhecerexplicitamente ao terceiro quese suponha burlado por umatreta ou ardil, armados paralesá-lo, a titularidade de direitoda ação específica paradesfazer a trama - como vemsistematicamente envolvido naregra geral de direito da qualevoluiu para explicitar a regraparticular. Regra geralinsculpida constitucionalmentenos incisos XXXIV e XXXV, daCarta Magna, reconhecida acondição de direitosfundamentais de cidadania osde petição ao Poder Público ede acesso ao Judiciário paracombater lesão ou ameaça adireito. E de novo repetida noart. 3º, da lei dos ritos,reconhecendo-se o interesse -seja ele jurídico, econômico oumoral - como elementobastante para autorizar aspessoas legitimadas a agiremna sua defesa ou de outros.

Além do que, a notícia defato com conotação de ofensaà dignidade judicial e de crimeou fraude contra terceiros,veiculada na petição inicialcom argumentos escoradosem análise razoável de fatosconcretos, é suficiente para

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despertar no Estado ointeresse e o dever de melhorapurar, para as providênciasque se fizerem necessárias eresguardo da moralidade eautoridade do Poder.

Patente, pois, a legitimidadedos agravantes em propor açãorescisória contra aquele termode conciliação homologado noprocesso trabalhista. Háinteresse jurídico, e nãomeramente econômico, namedida em que se alega queeste processo trabalhista nãoteve outro objetivo senão o defraudar a execução. Quantomais sendo esta preexistente,em trâmite na Justiça Comumentre os agravantes e aprimeira agravada.

Agravo Regimental a que sedá provimento.

Vistos, relatados e discutidos osautos em destaque, DECIDE-SE:

ARAKEN HANRIOT DA CUNHAe outros, num total de 23 litisconsortes,qualificados às f. 2/3 interpõem opresente Agravo Regimental contradecisão do Ex.mo Juiz Relator queindeferiu petição inicial de açãorescisória e extinguiu o processo, porilegitimidade ativa, com base no art. 267,inciso VI, c/c o art. 487, inciso II, do CPC.

Sustentam serem parteslegítimas para aquele ajuizamento eimpugnam o valor majorado, ex officio,

da causa.Pedidos de assistência judiciária

deferidos à f. 373.Contraminuta do segundo

Agravado com preliminares deirregularidade de representação

processual e ausência de autenticaçãodos documentos apresentados, no quese refere à rescisória; deserção doagravo por ausência de pagamento dascustas. No mérito, insiste na manutençãoda decisão agravada e que seja mantidoo novo valor fixado para a causa. Requera intimação da 9ª Vara Cível, da JustiçaComum, para comprovação de que háexecução e penhora de dois lotes, nãohavendo, por isso, prejuízo aosAgravantes.

Regularmente notificada napessoa de seu proprietário (f. 397/8), aprimeira Agravada manteve-se silente.

Parecer do d. MPT peloconhecimento e provimento do recurso.

DECISÃO

1 - Irregularidade de representaçãoprocessual.Os instrumentos de mandatode f. 30 a 48 contêm poderes para o foroem geral, o que habilita o outorgado àprática de todos os atos processuaispróprios do mandato, onde e quando aargüição de irregularidade não adentraao campo do abuso dos poderes. Alémdisso, não existe a exigência legal depoderes específicos para o ajuizamentode ação rescisória.

Rejeito.

2 - Ausência de autenticação dedocumentos. Primeiro, não há nulidadeou vício na utilização de cópia nãoautenticada. Porque as lides judiciaisregem-se, sempre e em tudo, pelosprincípios do contraditório e finalidadedos atos.

Segundo, aqui, ao contrário doque afirma a parte adversa, osdocumentos apresentados estãoautenticados.

Rejeito.

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3 - Ausência de pagamento decustas. Além de não haver estaexigência legal na interposição de agravoregimental, às partes foi deferida aassistência judiciária (f. 373). O queprevalece, para todos os efeitos.

Rejeito.Recurso próprio e tempestivo,

partes legítimas, bem representadas,sem vícios ou nulidades a proclamar ousanar.

Conheço.Os efeitos da ausência de defesa

da primeira Agravada são mitigados,ante a redação do art. 509, parágrafoúnico, do CPC.

4 - Mérito. Devo dar provimentoao agravo pois, sem embargo daerudição com que lavrada a decisãorecorrida, vejo legítimo interesse jurídicodos autores no exercício do direitoindividual subjetivo de ação, muito acimado mero interesse de fato ou puramenteeconômico, como proclamado no textosob ataque. Além de enfocar matéria queé do interesse também do Judiciário, naapuração dos fatos, face às acusaçõeslançadas.

Efetivamente, não há campo legalpara credores múltiplos do mesmodevedor atacarem rescisoriamentedecisões ou atos judiciais quebeneficiem um dos credores do devedorcomum, ao único argumento e motivo deserem também credores e tereminteresse ou expectativa em se garantircom o mesmo bem ou patrimônioalienado na ação rescindenda. A disputado espólio, fora dos casos de juízouniversal ou coletivo, dá-se na forma daprecedência das penhoras, não havendocomo um terceiro intervir em processospara impedir, inibir, atrasar ou alterar aordem das coisas.

Quando, no entanto, a alegaçãoé de conluio, com uso indevido ouabusivo da ação judicial, com o fito delesar terceiros, transferindoardilosamente patrimônio que garantirialegitimamente os lesados, o direitoindividual subjetivo de ação dessesexiste, inequívoco.

O que me afigura ser o casopresente.

Onde o art. 487, do CPC, ao ditarque tem legitimidade para propor a açãorescisória o “terceiro juridicamenteinteressado”, não só já tem em si mesmoo alcance retro exposto - de reconhecerexplicitamente ao terceiro que se suponhaburlado por uma treta ou ardil, armadospara lesá-lo, a titularidade de direito daação específica para desfazer a trama -como vem sistematicamente envolvidona regra geral de direito da qual evoluiupara explicitar a regra particular. Regrageral insculpida constitucionalmente nosincisos XXXIV e XXXV, da Carta Magna,reconhecida a condição de direitosfundamentais de cidadania os de petiçãoao Poder Público e de acesso aoJudiciário para combater lesão ouameaça a direito. E de novo repetida noart. 3º, da lei dos ritos, reconhecendo-seo interesse - seja ele jurídico, econômicoou moral - como elemento bastante paraautorizar as pessoas legitimadas aagirem na sua defesa ou de outros.

Portanto, o art. 487 constituidesdobramento particularizado dessasnormas amplas, das quais deriva e àsquais compõe. Devendo ser entendidaem conjunto e dentro do sentido da suaexistência.

Assim, o exercício dos direitosfundamentais não é indiscriminado,abusivo, mas na forma regulamentada.Que pode ampliar o uso, mas nãorestringir, impedir ou suprimir.

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Pelo que, repete-se, o que setenha por lesado com forjado acordojudicial para possibilitar a transferênciade patrimônio e assim frustrar suaexecução, não pode ser impedido deapresentar seu pleito ao juiz do Estado.

Tratando-se, o pleito, de questão decomplexidade e dependente de provas,que, por isto, não pode e não deve serobstada, in atrio, pelo Relator, aofundamento de falta de interesse jurídico,mas levada a julgamento, observado odevido processo legal. Sem ficar oEminente Relator e também a EgrégiaSeção Julgadora impedidos de, na épocae fase próprias, retomarem esta e todas asdemais questões relacionadas com ascondições da ação em si e do seu exercício.

Além do que, a notícia do fato comconotação de ofensa à dignidade judiciale de crime ou fraude contra terceiros,veiculada na petição inicial com argumentosescorados em análise razoável de fatosconcretos, é suficiente para despertar noEstado o interesse e o dever de melhorapurar, para as providências que sefizerem necessárias e resguardo damoralidade e autoridade do Poder.

Incorporo, por pertinente e namesma linha, a fiel análise fática e jurídicado Ilmo Procurador Regional Dennis BorgesSantana no parecer exarado nestes autos:“Em síntese, o que alegam os recorrentesé que a ação trabalhista e respectivo termode conciliação tiveram como objetivo afraude à execução preexistente noprocesso cível, em que são partes osagravantes e a 1ª agravada."

Patente, pois, a legitimidade dosagravantes em propor ação rescisória contraaquele termo de conciliação homologado noprocesso trabalhista. Há interesse jurídico,e não meramente econômico, na medida emque se alega que este processo trabalhistanão teve outro objetivo senão o de fraudar

a execução, repita-se, preexistente, emtrâmite na Justiça Comum entre osagravantes e a primeira agravada.

A SDI do Col. TST em matériasemelhante assim decidiu:

"EMENTA: O exeqüente que, emprocesso civil, tem seu créditorelegado a segundo plano, por viade reserva de numerário para asatisfação de crédito trabalhista,tem legitimação para propor açãorescisória considerados osveementes indícios de colusãodas partes na reclamatória." (TST,ROAR 66874/92, Red. Desig.Min. José Luiz Vasconcellos, Ac.SDI, DJ 30.08.96, p. 30880)

O mais, é mérito, que pertenceàs fases seguintes do processo.

Ficando prejudicada a questão dovalor da causa, eis que volta a prevaleceraquele atribuído na petição inicial, umavez tornada insubsistente a decisãoagravada que, assim, cai como um todo.

Dou provimento ao agravo,autorizando o processamento da açãorescisória.

A SEÇÃO ESPECIALIZADA, porunanimidade, rejeitou as preliminaresargüidas e conheceu do agravoregimental; no mérito, sem divergência,deu-lhe provimento, autorizando oprocessamento da ação rescisória.

Belo Horizonte, 23 de novembrode 1999.

ANTÔNIO ÁLVARES DA SILVAPresidente

PAULO ARAÚJORelator

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TRT/RO-20081/98Publ. no “MG” de 09.07.1999

RECORRENTES: 1º - JOÃO ALVES VIEIRA2ª - RODOBAN SEGURANÇA ETRANSPORTE DE VALORES LTDA.

RECORRIDOS: OS MESMOS

EMENTA: ADICIONAIS DEINSALUBRIDADE EPERICULOSIDADE -CUMULAÇÃO - PEDIDOSUCESSIVO. Se na inicial oReclamante pede o pagamentoem conjunto dos adicionais deinsalubridade e periculosidade,nesta ordem, cabe ao juiz,julgando improcedente acumulação, examinar oadicional de insalubridade,primeiro indicado no pedido,somente alcançando o depericulosidade, posterior, senão acolher aquele anterior.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de Recurso Ordinário,oriundos da MM. 1ª Junta de Conciliaçãoe Julgamento de Belo Horizonte, em quefiguram, como recorrentes e recorridos,João Alves Vieira e Rodoban Segurançae Transporte de Valores Ltda., como aseguir se expõe:

I - RELATÓRIO

A r. sentença, julgandoparcialmente procedentes os pedidos,deferiu ao Reclamante adicional deinsalubridade em grau máximo, comreflexos, diferenças de horas extras sobobservação dos cartões de ponto erecibos colacionados, com adicional de60%, com repercussões, com correçãomonetária pelos índices do primeiro dia

do mês seguinte ao trabalhado. Viaembargos declaratórios, fixou emR$1.500,00 os honorários periciais,esclareceu o inacolhimento dacumulação de adicionais deinsalubridade e periculosidade, comagasalhamento daquele por pedido emprimeiro lugar, o que encerra a opção doAutor.

Recorre o Reclamante, alegandoque o laudo apontou a insalubridade e apericulosidade, devendo prevalecer omais benéfico ao empregado, que é odeste, diante do salário auferido,sublinhando que a opção é do laboristae, não, do juízo, sem que oportunidadepara tanto lhe fosse dada, pelo que sedeverá proceder à reforma com alcancereflexo do adicional de periculosidade emrepousos, 13º salários, férias com umterço, FGTS e 40%, horas extras e avisoprévio. Sucessivamente, pede que oadicional de insalubridade repercuta nocálculo das horas extras, pugnando pelaatualização monetária pelos índices dosmeses de trabalho.

A Reclamante também interpõerecurso, alegando falhas quecomprometem o laudo, a começar peladesativação do setor em que trabalhavao Reclamante, quando necessária aanálise concreta das condições docontrato, pondo em destaque que nãohouve descrição detalhada dos supostosagentes químicos com os quais oempregado mantinha contato, tempo deexposição diante da jornada, mais a nãocaracterização da nocividade pelasatividades reveladas, descredenciandoa percepção do adicional deinsalubridade em grau máximo aindaporque a manipulação é da substância,o fabrico da mesma, que difere demanuseio, de contato, sem embargo dofornecimento de EPIs necessários.

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Acrescenta rearbitramento doshonorários periciais para patamaresmódicos, insurge-se contra diferenças dehoras extras, não prevalecendo ademonstração do Autor, de todo modohavendo de ser observada acompensação da jornada, consideradassuplementares as excedentes das 44semanais pela média de três semanasseguidas. Aduzindo descabidos osreflexos, pretende a correção monetáriapelos índices do quinto dia do mêssubseqüente.

As contra-razões foramapresentadas, e o Ministério Públicooficiou.

É o relatório.

II - VOTO

1. Admissibilidade

Atendidos os pressupostos decabimento e admissibilidade, conheço deambos os recursos.

2. Mérito

2.1. Recurso do Reclamante

A primeira questão é a daprevalência do adicional depericulosidade, como substrato de sermais benéfico ao empregado, havendocumulação dele e do de insalubridade.

Embora a inicial tenha exposto otrabalho sob nocividade e também sobpericulosidade (f. 04, item 3), o pedidodeduzido foi de “adicional deinsalubridade e/ou adicional depericulosidade, durante todo o período,com reflexos nas parcelas de RSR’s, 13ºsalário, férias + 1/3, FGTS + 40%, horasextras e aviso prévio” (f. 04, terceira eúltima pretensão).

A sentença proscreveu acumulação dos adicionais. Com isto,erradicou o pedido de adicionais deinsalubridade E de periculosidade, aliásirrecorridamente - porque a matéria nãoé objeto de insurreição pelo Autor.

Sobejou, assim, aquele pedido deadicional de insalubridade OU adicionalde periculosidade.

A crítica que é endereçada àdecisão, da opção por adicionais ser doempregado, é, d.v., incorreta, uma vezque o Juízo não exerceu ato substitutoda eventual vontade do Reclamante.

Ao contrário, a r. sentença bemapreende, e aplica, a ordem sucessivados pedidos, o que eqüivale à lembrançada disposição da lei processual nosentido do pleito sucessivo vir a seralcançado quando o que lhe antecedeseja refutado.

Como se vê, a questão é daimperatividade da norma legal, enquantoa exordial não alinha a potencialidadede prevalência do melhor resultadofinanceiro. Como a jurisdição não podeser prestada de ofício (art. 2º/CPC), e aoEstado Jurisdicional apenas competedirimir o litígio que lhe seja submetido,sem interferir na formulação de pedido,a decisão ora Recorrida atém-se àclássica res in judicio deducta.

No concernente à pretensãosucessiva do recurso, das horas extrasrefletirem no adicional de insalubridade,há que se volver à inicial para conferirque este foi o pedido deduzido.

Ilustrativamente, o que almeja oRecorrente é que as horas extrascresçam o valor do adicional deinsalubridade, porque busca arepercussão daquelas, neste, e a oraçãosentenciada da base de cálculo daqueleadicional ser imutável faz-seirrespondível.

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É verdade que o recursoargumenta que o trabalho sobnocividade, em prorrogação de jornada,não exclui a insalubridade.

Ao dizer que “o labor realizado emsobrejornada não deixa de serinsalubridade porque já remunerado deforma extraordinária”, o Recorrente expõe“que a parcela relativa ao adicional deinsalubridade deve integrar a base decálculo das horas extras, mormenteconsiderando-se a inexistência dequalquer vedação legal nesse sentido”.

O que tudo isto quer dizer, d.v., éque em sede de recurso o Autor altera opedido que formulou, o que encontraóbice na prescrição da lei processual,que a tanto não admite, ou consente.

O pedido inicial foi de reflexo dasextras no adicional de insalubridade, e orecurso muda para este adicional sercomputado na base de cálculo das horassuplementares.

A inalterabilidade do pedido, bemcomo a interpretação restritiva (que nãopermite maleabilidade e ou extensividade),são obstáculos invencíveis.

O Juízo não pode alterar, ouaceitar alteração do pedido, sendoimutável a litiscontestação.

O pedido de correção monetáriapelos índices dos próprios meses detrabalho tem óbice no Precedente 124,da Eg. Seção de Dissídios Individuais daCorte Superior.

Nego provimento.

2.2. Recurso da Reclamada

O combate à insalubridade, comalcance de várias deduções, recebe, depronto, a verificação da perícia.

O laudo aponta que oReclamante, na atividade de mecânico,realizava manutenções corretivas e

preventivas em veículos, comdesmontagem, reparos, consertos,revisões e montagens de peças eengrenagens dos diversos conjuntos,limpeza e lavagem de peças utilizandoóleo diesel (f. 87, IV).

O perito assevera que “ficouevidenciado o contato permanente comóleos e graxas minerais” (f. 87, V, iníciodo 1º §), e informa que “a Reclamada nãoforneceu EPIs [...] indispensáveis àneutralização da ação nociva à saúde dosprodutos químicos por ele manipulados”,salientando ter sido constatado “que nãohavia no local (oficina mecânica) àdisposição dos mecânicos, cremeprotetor para as mãos” (f. 88).

A circunstância da oficina termudado de local não altera o conteúdo dainformação pericial, mais porque apontadono laudo a mantença das “mesmascaracterísticas de funcionamento” (f. 88).

As impugnações ao trabalhopericial soam no vazio, d.v., porquequalquer delas consegue alçar ainvalidade e ou a ineficácia do trabalhorealizado.

A questão que toma vulto dizrespeito à própria revelação do laudo, nosentido da atestação de que oReclamante MANTINHA CONTATOPERMANENTE COM ÓLEOS EGRAXAS MINERAIS (f. 87).

No concernente a isto aREGULAMENTAÇÃO LEGAL éexpressa, prevendo que o emprego(contato) desses agentes contendohidrocarbonetos aromáticos TIPIFICAMA INSALUBRIDADE EM GRAU MÉDIOe, não, em grau máximo.

O anexo 13, da NR-15, nadisposição sobre hidrocarbonetos eoutros compostos de carbono, classificacomo insalubridade de grau médio o“emprego de produtos contendo

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hidrocarbonetos aromáticos comosolventes ou em limpeza de peças”.

Há que ser visto que naclassificação da nocividade de graumáximo, a norma indica “manipulação dealcatrão, breu, betume, antraceno, óleosminerais, óleo queimado, parafina ououtras substâncias cancerígenas afins”.

Desde logo visível a distinçãoentre EMPREGAR PRODUTOS(PRONTOS!) e MANIPULAR ESSE EAQUELES EXAUSTIVAMENTEAPONTADOS.

O QUE ENFATIZO É QUE ADISTINÇÃO ENTRE EMPREGAR EMANIPULAR É DA LEI.

Dizem, com esmerado acerto, osjuristas, que quando a lei distingue, ointérprete tem de distinguir, da mesmaforma que onde a lei não distingue, aointérprete não é dado distinguir.

Reporto-me, transcrevendo, o art.197, da CLT:

“Os materiais e substânciasempregados, manipulados outransportados nos locais detrabalho [...]”.

Deste modo, não é possível,juridicamente, d.v., deixar-se de fazer adistinção que a própria lei faz.

Quando o legislador diz demateriais e substâncias EMPREGADOS,de materiais e substânciasMANIPULADOS e de materiais esubstâncias TRANSPORTADOS, eleestá dispondo cada um com suadistinção própria, sem credenciarsinônimos.

Acerca dos processos deinterpretação, CARLOS MAXIMILIANO(Hermenêutica e Aplicação do Direito,Forense, 9ª edição), contribui para quenão se renita na indistinção:

“Por umas normas seconhece o espírito das outras.Procura-se conciliar as palavrasantecedentes com asconseqüentes, e do exame dasregras em conjunto deduzir osentido de cada um.

Em toda ciência, o resultadodo exame de um só fenômenoadquire presunção de certezaquando confirmado, contrasteadopelo estudo de outros, pelomenos dos casos próximos,conexos; à análise sucede asíntese; do complexo deverdades particulares,descobertas, demonstradas,chega-se até à verdade geral.

Possui todo corpo órgãosdiversos; porém a autonomia dasfunções não importa emseparação; operam-se,coordenados, os movimentos, eé difícil, por isso mesmo,compreender bem um elementosem conhecer os outros, sem oscomparar, verificar a recíprocainterdependência, por mais queà primeira vista pareçaimperceptível. O processosistemático encontra fundamentona lei da solidariedade entre osfenômenos coexistentes.

Não se encontra um princípioisolado, em ciência alguma; acha-se cada um em conexão íntimacom outros. O Direito objetivo nãoé um conglomerado caótico depreceitos; constitui vastaunidade, organismo regular,sistema, conjunto harmônico denormas coordenadas, eminterdependência metódica,embora fixada cada uma no seulugar próprio. De princípios

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jurídicos mais ou menos geraisdeduzem corolários; uns e outrosse condicionam e restringemreciprocamente, embora sedesenvolvam de modo queconstituem elementosautônomos operando em camposdiversos.

[...]Confronta-se a prescrição

positiva com outra de queproveio, ou que da mesmadimanaram; verifica-se o nexoentre a regra e a exceção, entreo geral e o particular, e destemodo se obtém esclarecimentospreciosos. O preceito, assimsubmetido a exame, longe deperder a própria individualidade,adquire realce maior, talvezinesperado. Com esse trabalhode síntese é melhorcompreendido.

O hermeneuta eleva o olhar,dos casos especiais para osprincípios dirigentes a que eles seacham submetidos; indaga se,obedecendo a uma, não violaoutra; inquire das conseqüênciaspossíveis de cada exegeseisolada”.

Por último, recordo do princípiojurídico de que a lei não contém termosinócuos, nem inúteis, para arrematar queem se tratando de emprego, de contato,de produtos prontos contendohidrocarbonetos aromáticos, ainsalubridade é de grau médio, diante doque provejo o recurso.

Os honorários periciais, fixadosem R$1.500,00 (f. 152), d.v., sãoredutíveis, sem afetar o trabalhorealizado, pelo que os rearbitro emR$800,00.

A respeito de horas extras, não éexata a alegação do recurso, estando oscartões de ponto pontilhando o trabalhosuplementar.

A r. Sentença acolheu asdiferenças das suplementares.Determinou que na apuração delas“deverão ser observadas as folgasconcedidas a título de compensação dashoras extras prestadas, durante operíodo de vigência do instrumentonormativo que prevê referidacompensação” (f. 141).

Quando o recurso pede aobservância da compensação pelaaferição das jornadas de trabalho dassemanas subseqüentes àquela em queprestadas as horas suplementares, narealidade está invocando a cláusula 29ªe seu § 1º, da Convenção Coletiva deTrabalho de 1997/1998 (f. 52).

Tendo em vista que a r. decisãofixou-se apenas no § 2º, da referidacláusula, porque a compensação estáautorizada por instrumento normativotanto pelo alcance das duas semanasseguintes à da prestação do trabalhosuplementar, como pelas folgas("admite-se, ainda, folgacompensatória..."), provejo o apelo.

As horas extras são habituais,pelo que geram reflexo. Alcançam osrepousos semanais porque estesdevem ser quitados como os dias detrabalho, consoante interpretação doEnunciado 172 - sendo certo queaqueles são incluídos no salário mensal,e este não retribui trabalhoextraordinário.

No tocante à correçãomonetária, provejo o recurso, paradeterminar sejam observados osíndices do quinto dia do mês seguinteao trabalhado, na linha do Precedente124/SDI, que aplico.

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III - CONCLUSÃO

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, por sua Segunda Turma,unanimemente, em conhecer de ambosos recursos; no mérito, sem divergência,em negar provimento ao do reclamante;por maioria de votos, vencidos em parteos Ex.mos Juízes Fernando Antônio deMenezes Lopes e Fernando AntônioFerreira, em dar provimento parcial aoapelo da reclamada para reduzir ao graumédio o adicional de insalubridade, oshonorários periciais a R$800,00, paradeterminar que na apuração das horasextras gerando as diferenças se observea compensação objeto do caput e § 1º,da cláusula 29ª, do instrumentonormativo (f.52), bem como paradeterminar que a correção monetáriadeverá observar o índice após o quintodia útil do mês subseqüente ao daprestação de serviços, mantido o valorarbitrado à condenação.

Belo Horizonte, 15 de junho de1999.

ANTÔNIO FERNANDO GUIMARÃESPresidente e Relator

TRT/RO-8295/98Publ. no “MG” de 09.10.1999

RECORRENTES: COMPANHIACERVEJARIA BRAHMA EOUTRO (1)JOSÉ LUIZ PINTO DE OLIVEIRA (2)

RECORRIDOS: OS MESMOS

EMENTA: APOSENTADORIAPOR INVALIDEZ - CONTRATODE TRABALHO - EFEITOS -PRESCRIÇÃO. Define-se najurisprudência pátria oentendimento de que aaposentadoria por invalideztem o caráter de aposentadoriaprovisória, em razão dapossibilidade de recuperaçãodo trabalhador e do seu retornoao trabalho, razão pela qualesta não é causa de cessaçãodo vínculo empregatício, masapenas de suspensão dosefeitos do pacto laboral. Asuspensão do contrato,contudo, não inibe o direito deação, para vindicar eventuaisdireitos que, porventura,preexistiam a ela oucontinuaram a gerar mesmo noseu curso. Disso decorre,também, a fluência daprescrição que, na hipótese, éparciária.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de recurso ordinário, em quefiguram como recorrentes COMPANHIACERVEJARIA BRAHMA E OUTRO (1) eJOSÉ LUIZ PINTO DE OLIVEIRA (2) ecomo recorridos OS MESMOS.

RELATÓRIO

A MM. 2ª JCJ de Betim, sob apresidência da Ex.ma Juíza Drª MaristelaÍris da Silva Malheiros, através dasentença de f. 210-216, cujo relatórioadoto e a este incorporo, julgouprocedente, em parte, a reclamatória,para declarar a nulidade da rescisão docontrato de trabalho do reclamante coma primeira reclamada e condenar,

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solidariamente, as duas reclamadas apagar ao reclamante, no prazo legal, comjuros e correção monetária, observando-se quanto a esta os índices do mês daconstituição do débito, as seguintesparcelas: diferenças da complementaçãoà aposentadoria por invalidez, parcelasvencidas e vincendas. Autorizada adedução do Imposto de Renda, se cabívelsobre o valor apurado, não havendoincidência de contribuição previdenciária.

A reclamada foi condenadatambém ao pagamento das custasprocessuais.

Inconformadas, ambas as partesinterpõem recurso. As reclamadas,argüindo, preliminarmente, aincompetência desta JustiçaEspecializada para examinar e julgar ospedidos ligados à complementação deaposentadoria, bem como a prescriçãototal do direito de reclamar do autor.Quanto ao mérito, insurgem-se contra aanulação da suposta rescisão ocorridaem 1989 e o deferimento das diferençasde complementação de aposentadoria.Pedem, também, a reforma da decisãoa qua no que tange aos índices decorreção monetária.

As custas processuais foramquitadas e realizado o depósito recursal(f. 231-232).

O reclamante, por sua vez, pedeque sejam acatados os cálculosindicados na inicial, conforme determinao entendimento do Enunciado 328, do TST,uma vez que as reclamadas não cumprirama determinação judicial de juntada dedocumentos aos autos (f. 238-239).

Contrariedade recíproca: às f.234-237, pelo reclamante, que pede onão-conhecimento do recurso patronal,por apócrifo e deserto, pugnando, quantoao mérito, pelo seu desprovimento e, àsf. 241-243, pelas reclamadas.

A d. PRT, às f. 245-252, atravésde parecer circunstanciado da lavra doilustre Dr. Antônio Carlos OliveiraPereira, manifesta-se pelo conhecimentodos recursos, rejeição das preliminaressuscitadas e, no mérito, pelodesprovimento de ambos os apelos.

É o relatório.

VOTO

Admissibilidade

Preliminar de não-conhecimentodo apelo das reclamadas porirregularidade de representação edeserção

Diz o reclamante em contra-razões que o apelo das reclamadas nãopode ser conhecido, primeiro, porirregularidade de representação e,segundo, porque o reclamado InstitutoBrahma de Seguridade Social nãoefetuou o depósito recursal, tendo estesido realizado tão-somente pelaCompanhia Cervejaria Brahma, primeirareclamada.

Não tem razão o reclamante.Primeiramente, no que alude à alegadairregularidade de representação, verifica-se dos instrumentos procuratórios de f.190-191 que o subscritor do apelopatronal acha-se devidamente habilitadopara tanto, razão pela qual não há falar-se em recurso inexistente. Tampouco éo caso de se falar em recurso apócrifo,conforme alegado em contra-razões,uma vez que as razões recursais foramdevidamente assinadas pelo procuradordas reclamadas.

Melhor sorte não assiste aorecorrente no que respeita à alegadadeserção, pelo fato de o segundoreclamado não ter realizado o depósito

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recursal. Tratando-se de condenaçãosolidária e considerando-se que asreclamadas são empresas do mesmogrupo, conforme afirmado na exordial,inexigível é o duplo depósito recursal,uma vez que este já foi realizado pelaprimeira reclamada (f. 232).

Rejeito, por isso, a prefacial emtela.

Conheço dos recursos, porquepróprios e tempestivos, atendidos osdemais requisitos legais deadmissibilidade.

MÉRITO

Recurso das reclamadas

Da incompetência da Justiçado Trabalho

As reclamadas argúem aincompetência desta Justiça Especializadapara conhecer e julgar questões alusivasa eventuais diferenças de pagamento decomplementação de aposentadoria.

Sem razão.A segunda reclamada é entidade

de previdência privada instituída epatrocinada pela primeira, de quem oreclamante era empregado. A filiação doautor à segunda ocorreu em virtude desua condição de empregado da primeira.

Ora, versando o litígio sobre direitoà complementação de aposentadoriainstituída em razão do contrato de trabalhoque o reclamante manteve com a primeirae não sobre benefício previdenciárioassegurado pela Previdência pública oupor entidade de previdência privadaestranha ou não vinculada àempregadora, inegável é a competênciamaterial desta Justiça Especializadapara conhecer e julgar o feito.

Rejeito a preliminar em tela.

Da prescrição

Renovam as reclamadas asalegações da defesa no sentido de que apretensão do autor está baseada emsuposto ato do empregador ocorrido em1989 e alteração havida em 1980 e 1990nos estatutos do IBSS, portanto há maisde quinze anos da propositura desta ação,impondo-se, por isso, que seja declaradaa prescrição total com a extinção do feito,nos termos do artigo 269, inciso IV, doCPC. Requer, caso assim não se entenda,que seja declarada a prescrição total dodireito de reclamar do autor, uma vez queo mesmo desligou-se da reclamada em1993, portanto há mais de dois anos dapropositura da presente ação.

Primeiramente, quanto ao pedidodeclaratório de nulidade do atorescisório, não há que se cogitar deprescrição, haja vista que as açõesdeclaratórias são imprescritíveis.

Quanto à complementação deaposentadoria, mister se faz registrar queo reclamante foi aposentado por invalideze esta não é causa de cessação do vínculoempregatício, ao revés, apenas suspendeos seus efeitos em face da possibilidadede recuperação do trabalhador econseqüente retorno ao trabalho.

Ora, o pedido do autor refere-sea diferenças relativas à suplementaçãode aposentadoria, oriunda de normaregulamentar, restando afastada aprescrição total.

Impende analisar se a suspensãodo contrato, decorrente da aposentadoriapor invalidez, é, também, causa inibitóriaao curso da prescrição, ainda que parciária.

Forte entendimento doutrinário ejurisprudencial sustenta não correr aprescrição, estando suspenso o contrato detrabalho, embasando-se no que dispõe oart. 170, inciso I, do Código Civil Brasileiro:

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“Art.170 - Não corre igualmente:I - pendendo condição

suspensiva”.

De sua vez, diz o art. 118, domesmo diploma legal:

“Subordinando-se a eficácia do atoà condição suspensiva, enquantoesta não se verificar, não se teráadquirido o direito, a que ela visa”.

Ora, a condição suspensivaaludida no art. 118, que impede o fluxo doprazo de prescrição é aquela que, comodiz a norma legal, estando a eficácia doato a ela subordinada, enquanto acondição não se verifica não se adquireo direito a que ela visa. Daí que, nãohavendo adquirido o direito, não cabe açãocolimando protegê-lo ou reivindicá-lo.

Se a suspensão do contrato, deregra, também suspende a aquisição decertos direitos, ou não os contempla, emrelação aos preexistentes à suspensãoou aos que continuam a ser gerados,mesmo na sua vigência, quanto a essesnão há óbice ao exercício do direito deação destinada a resguardá-los ouvindicá-los.

No plano jurisprudencial, como jáaludido, colhe-se o entendimento de nãocorrer a prescrição na hipótese sobexame:

“PRESCRIÇÃO - NÃO SECONTA NO PERÍODO EM QUEO RECLAMANTE ESTEVELICENCIADO, POR ACIDENTEDO TRABALHO” - TRT - 8ª Reg.Rel. Juíza Lygia Simão LuizOliveira - in LTr. 61/04/547.“Aposentadoria - Suspensão doContrato de Trabalho - Interrupçãoda prescrição bienal. A

aposentadoria por invalidez éprovisória, só se tornandodefinitiva após cinco anos, casonão seja cancelada. Logo, nesseinterregno, o contrato de trabalhopermanece vigente, mas apenassuspenso - arts. 475, da CLT, e47, da Lei n. 8.213, Súmula n. 217,do STF, e Enunciado n. 160, doTST. Conseqüentemente, durantea suspensão do contrato, nãocorre a prescrição bienal previstano art. 7º, XXXIX, ‘a’, da CF”-TRT-22ª Reg. Rel. Juiz FranciscoMeton Marques de Lima - in LTr.61-04/569 (grifamos).

Reafirme-se que a aposentadoriapor invalidez, atualmente, só se efetivaem razão do implemento de idade e queo aresto se refere à prescrição bienal, jána vigência da CF/88.

Como a aposentadoria porinvalidez apenas suspende o contrato,não há falar em prescrição extintiva total,bienal. Mas, quanto à extintivaqüinqüenal, parcial, em havendo direitospreexistentes ou os adquiridos no cursoda suspensão, não há impedimento aoexercício do direito de ação destinada aprotegê-los ou persegui-los judicialmente.

É o caso de complementação daaposentadoria, paga no fluir dasuspensão contratual e suas diferençasaqui pleiteadas.

Na sua clássica obra A

Prescrição no Direito do Trabalho, JoséLuiz Ferreira Prunes registra:

“Interessa indagar, para estudoda prescrição, se continuam ounão os prazos prescricionaiscorrendo quando da suspensãoou interrupção do contrato. Aoque tudo indica, devemos apenas

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obedecer as disposições legaissobre a matéria e, nestas, nãotemos como causa interruptiva oususpensiva da prescrição ainterrupção ou suspensão docontrato. A jurisprudência,contudo, não é pacífica” - ob. cit.

página 219.

Após transcrever arestosconflitantes acerca do tema, quesustentam não fluir ou fluir o prazoprescricional, estando o contratosuspenso, conclui ele ser exato oentendimento de que a suspensão docontrato não suspende o fluxoprescricional.

Penso que a lição deve serinterpretada em termos de prescriçãoparciária, já que a total, visto não havera extinção do contrato, não pode serconsiderada. En. 347/TST.

Dentro desses termos e dosfundamentos retro aduzidos, reputocorreta sua doutrina.

Provejo, em parte, os recursos dasreclamadas, para se aplicar a prescriçãoparciária qüinqüenal, observada a data doajuizamento da ação.

Aplicável à hipótese o Enunciado327, do Colendo TST.

Da anulação da rescisão docontrato

Embora as reclamadas tenhamsustentado em suas defesas (f. 124-129e 130-138) que o contrato de trabalhodo autor não foi rescindido na data emque informa na exordial (20. jan. 89), masem 1993, data em que a aposentadoriado obreiro perdeu a presunção detemporária para tornar-se definitiva, aanotação contida na CTPS do obreiro (f.60) desmente tal assertiva.

Conforme salientado alhures, aaposentadoria por invalidez tem o caráterde aposentadoria provisória, em razãoda possibilidade de recuperação dotrabalhador, não sendo causa decessação do vínculo empregatício, masapenas de suspensão dos efeitos dopacto laboral.

De notar-se que no sistema legalde aposentadoria anterior havia aprevisão expressa de retorno doempregado no prazo de cinco anos daconcessão do benefício. Todavia, coma edição da Lei 8.213/91, houvesignificativa alteração dessa regra, eisque mesmo após os cinco anos deafastamento é possível o retorno dotrabalhador ao emprego. Essapossibilidade, porém, não perduraindefinidamente.

Segundo preleciona Luiz CarlosAmorim Robortella, Doutor em Direitopela USP e membro da AcademiaNacional de Direito do Trabalho, in

Aposentadoria e Contrato de trabalho,Revista LTr. N. 59, v. 07, julho/95, p. 921:

“O Regulamento dos Benefíciosda Previdência Social (Decreto n.611, de 21. jul. 92) dispõe no art.44, que a aposentadoria porinvalidez será mantida enquantoperdurar a incapacidade para otrabalho, obrigando o seguradoaos exames e tratamentosproporcionados pelo INSS,exceto tratamentos a partir doscinqüenta e cinco anos de idade...Poder-se-ia, por isso, ad

argumentandum, sustentar que,após cinco anos de benefício, odireito perdura somente até 55anos de idade eis que, depoisdesse limite, não é obrigatória arevisão médica.”

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A propósito, esse entendimentoé consagrado no Tribunal Superior doTrabalho, em acórdão com a seguinteementa:

“A aposentadoria por invalidez sóse torna definitiva, quando seconverte na de velhice, porimplemento de idade.” (Acórdãodo TST-ERR 2.606/72 em 23. out.73 - Rel. Min. Orlando Coutinho)

Por conseguinte, considerando,no caso em exame, que o autor nasceuem 21. jun. 51 (f. 59), somente em 21.jun. 2006 o mesmo terá a suaaposentadoria por invalidez transformadaem aposentadoria definitiva.

Assim, cai por terra o argumentodas recorrentes no sentido de que no anode 1993 a aposentadoria do reclamanteperdeu a presunção de temporária paratornar-se definitiva.

Isto considerado, incensurável ar. decisão recorrida que declarou anulidade da rescisão de contrato entreautor e reclamada, por se encontrar ocontrato de trabalho suspenso, até aconversão da aposentadoria por invalidezem definitivo ou até o retorno do mesmoao serviço em caso de recuperaçãoantes da data acima mencionada.

Nada a prover, neste aspecto.

Da complementação deaposentadoria

Considerando que tanto asreclamadas quanto o reclamante seinsurgem contra a r. sentença recorridano que alude à complementação deaposentadoria - as primeirassustentando que o suplemento devidodeve ser analisado sob a ótica doregulamento em sua atual versão,

consoante vem sendo corretamenteobservado, e o autor sustentando quedeve prevalecer os cálculos indicados nainicial ou seja, a complementação deveser de R$323,53 (valor complementopago + diferença a pagar), requerendo,ainda, a aplicação do Enunciado 328/TST. Os apelos, nesse ponto, serãoapreciados conjuntamente.

É certo, pelo que se infere daanálise das normas regulamentarestrazidas aos autos (Fundo Social daCompanhia Cervejaria Brahma, f. 05-07e Regulamento Básico de Benefícios doIBSS, f. 10-25) que o autor, aposentadopor invalidez, não tem direito a receberos mesmos rendimentos auferidos naativa.

A bem de ver, nos moldes doRegulamento do Fundo Social da Cia.Cervejaria Brahma, assegurou-se apenaso pagamento de um auxíliocorrespondente a 4% por ano de serviço,calculado sobre o salário, ordenado ouhonorário recebido por ocasião daaposentadoria, até o teto de 100% dosalário, ordenado ou honorário, nãohavendo previsão para complemento deaposentadoria por invalidez. Ademais, abase de cálculo do auxílio ali previsto, seaplicada à situação do reclamante,aposentado por invalidez, com número deanos de serviço inferior ao teto de 100%,não lhe garantiria qualquer complemento.Decorre, daí, que se aplica ao caso dodemandante o Regulamento do IBSS (f.16-23), que estabelece critério distintopara apuração do complemento deaposentadoria por invalidez.

Nos termos dos artigos 13 e 14,deste regulamento, a complementaçãoda aposentadoria por invalidez éconcedida durante o período em que forgarantida a aposentadoria por invalidezpela previdência oficial e consiste numa

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renda mensal correspondente aoexcesso do salário-real-de-benefício,referido no artigo 11, sobre o valor daaposentadoria por invalidez concedidapela Previdência Social. Por sua vez, osalário-real-de-benefício, tal comodefinido no artigo 11, § 1º (f. 19),corresponde à média aritmética simplesda remuneração do interessado,referente ao período abrangido pelosdoze últimos meses anteriores ao daconcessão da prestação, sendo que odécimo terceiro salário e eventuaisgratificações não se incluem no cálculodo salário-real-de-benefício.

Segundo previsto, ainda, nosartigos 35 e 36, do citado Regulamento(f. 23), assegurou-se que as prestaçõesdevem ser reajustadas nas épocas emque forem concedidos aumentossalariais coletivos aos empregadosativos da patrocinadora (1ª reclamada),aplicando-se o mesmo percentual, queincidirá sobre o salário-real-de-benefíciomencionado no artigo 11, deduzindo-sedeste o valor do benefício percebido pelaPrevidência Oficial. Estabeleceu mais o§ 2º, do referido artigo 36, que quando ovalor do benefício pago pela PrevidênciaOficial for superior ao salário-real-de-benefício, a suplementação serásuspensa até que volte a haver diferençaem favor do participante.

Todavia, em que pese asrecorrentes tenham aduzido em suasdefesas que pagaram o suplemento deaposentadoria com base na diferençaentre o salário padrão e o valor pago pelaPrevidência Oficial, não demonstraram,conforme lhes competia, que o saláriopadrão tivesse valor idêntico ao salário-real-de-benefício, bem assim que sobreestes estivessem sendo aplicados osreajustes nas condições previstas nosartigos 35 e 36, do Regulamento.

A propósito, nesse particular,correta a aplicação da pena de confissãoàs reclamadas, uma vez que, emboratenha havido determinação judicial paraque as mesmas exibissem as folhas decomplemento (f. 199-200), asrecorrentes quedaram-se inertes. Nemmesmo a tabela dos reajustes coletivosaplicados no âmbito da empresa veio aosautos. Via de conseqüência, nãocomprovando as recorrentes a corretabase de cálculo, devidas são asdiferenças deferidas.

Por outro lado, não obstante odescumprimento por parte dasreclamadas acerca da determinaçãojudicial, não há como se acatar apretensão do reclamante no sentido deserem adotados os valores constantesda exordial, uma vez que as diferençasdeferidas pela r. decisão de origem têmsupedâneo no Regulamento juntado àsf. 17-23, salientando-se, inclusive, queos cálculos constantes da peça deingresso são meramente ilustrativos esequer fizeram parte do pedido (f. 03-04).

Quanto ao pedido do autor deaplicação, à hipótese, do Enunciado 328/TST, não há como se lhe dar guarida,ante a total ausência de similaridadeentre a orientação ali contida e o temaora tratado. Desprovejo.

DA CORREÇÃO MONETÁRIA

Pretendem as recorrentes, emseu apelo, que a atualização monetáriados créditos trabalhistas objeto dacondenação incida somente a partir doquinto dia útil do mês subseqüente aoda prestação de serviços.

Assiste-lhes razão. A matériarestou pacificada através do Precedenten. 124, da SDI, do Col. TST, in verbis:

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“CORREÇÃO MONETÁRIA -SALÁRIO - ART. 459, CLT. Opagamento dos salários até o 5ºdia útil do mês subseqüente aovencido não está sujeito àcorreção monetária. Se essa datalimite for ultrapassada, incidirá oíndice da correção monetária domês subseqüente ao daprestação dos serviços.”

Por essa razão, provejo o apelopatronal para determinar que a correçãomonetária das verbas objeto dacondenação se faça pelos índicescorrespondentes ao 5º dia útil do mêssubseqüente ao de competência, nosestritos termos do Precedente acimatranscrito e se observar a prescriçãoquinqüenal.

CONCLUSÃO

Isto posto, conheço dos recursos,rejeito as preliminares suscitadas e, nomérito, provejo parcialmente o recursodas reclamadas para determinar quesejam observados, na liqüidação, osíndices de correção do quinto dia útil domês subseqüente ao do vencimento daobrigação, conforme Precedente 124, daSDI/TST, e a prescrição qüinqüenal;nego provimento ao recurso doreclamante, mantendo, quanto ao mais,a r. decisão de origem. Reduzo o valorda condenação para R$1.500,00 e ascustas processuais para R$30,00.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da Terceira Região,pela sua Quinta Turma, preliminarmente,à unanimidade, conhecer dos recursos;sem divergência, rejeitar as preliminares

suscitadas; no mérito, por maioria devotos, dar provimento parcial ao recursodas reclamadas para determinar quesejam observados, na liqüidação, osíndices de correção do quinto dia útil domês subseqüente ao do vencimento daobrigação, conforme Precedente 124, daSDI/TST, e a prescrição qüinqüenal,vencido o Ex.mo Juiz Levi Fernandes Pinto;sem divergência, negar provimento aorecurso do reclamante, mantendo, quantoao mais, a r. decisão de origem, reduzindoo valor da condenação para R$1.500,00e as custas processuais para R$30,00.

Belo Horizonte, 20 de setembrode 1999.

LUIZ PHILIPPE VIEIRA DE MELLOFILHO

Presidente ad hoc e relator

TRT/HC-36/99Publ. no “MG” de 27.11.1999

IMPETRANTE: JOSÉ SÉRGIOMEIRELES CAMPOS (DR)

PACIENTE: JOSÉ ALVES DE ARAÚJOIMPETRADO: MM. JUÍZO DA 4ª JCJ DE

CORONEL FABRICIANO

EMENTA: HABEAS CORPUS -DEPOSITÁRIO - OBSTÁCULOJUDICIAL - DECISÃODENEGATÓRIA ANTERIOR -RELEVÂNCIA DA ARGÜIÇÃO -PREVALÊNCIA DA LIBERDADEINDIVIDUAL À MERAPRESUNÇÃO DE INFIDELIDADE- WRIT CONCEDIDO. Mostrando-se impossível ao depositáriojudicial proceder à entrega do bemconstrito em virtude de sua

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arrematação em processodistinto, movido contra a mesmaexecutada, revela-se inviável asua prisão, por não ter dado causaao obstáculo judicial que frustroua entrega do bem penhorado aoexeqüente-adjudicatário. Adecisão denegatória da medida,proferida em processo anterior,não elide o reexame judicial dasinceridade do pedido, seremanesce a discussão em tornoda ilegalidade e do abuso depoder atribuídos à d. autoridadeapontada como coatora. Oreexame é possível porque adecisão do habeas corpus nãoproduz coisa julgada e nem influi,em regra, sobre a marcha doprocesso com que tem afinidade,podendo ser renovado, desde quecalcado em motivo outro que nãoconstou do processo anteriorou desde que ocorram novosfundamentos, documentalmenteprovados, que possamcomprometer a última decisãoproferida. A dúvida crucial,instigante e atormentadora arespeito do desvio aleivoso dobem depositado favorece aliberdade individual do paciente,por ser bem irrenunciável eindisponível, muito embora sepossa perquirir, à luz de novasprovas, a responsabilidadepatrimonial do depositário emface do Juízo da Execução, oumesmo o prejuízo que, por doloou culpa, tenha atribuído àspartes e sua conseqüentereparação. Writ concedido comesta finalidade.

Vistos etc.

RELATÓRIO

JOSÉ SÉRGIO MEIRELESCAMPOS (DR) impetra, em favor deJOSÉ ALVES DE ARAÚJO, ambosqualificados à f. 02, ordem de HABEAS

CORPUS contra ato do Ex.mo JuizPresidente da MM. 4ª JCJ de CORONELFABRICIANO, alegando, em síntese,que:

1. em data de 23.01.97, época emque exercia o cargo de gerenteadministrativo na DESMONTEC -SERVIÇOS DE DESMONTE ETERRAPLANAGEM LTDA, na ex-empregadora, foi compulsoriamentenomeado depositário de um compressorde ar da marca ATLAS, para uso emdemolições, de forma arbitrária e emfrontal contrariedade ao que dispõe o art.5º, III, da CF/88, posto que não estavaautorizado “a assumir qualquerresponsabilidade decorrente de assuntosjurídicos envolvendo a referida Empresa”;

2. posteriormente, em 19.03.97,referido bem foi entregue a Hélio PintoMorais, em virtude de arrematação porele efetuada nos autos do processo n.00144/97, em curso perante a MM. 1ªJCJ de Cel. Fabriciano;

3. mais tarde, em 31.10.97, foidispensado do emprego, informandodisto ao d. Juízo impetrante, queentretanto, “postergou todas as súplicasdo Paciente, passando, com isto, suavida a transformar-se num verdadeirocalvário, eis que ficou desempregado ena mira desta Especializada;

4. demais disso, embora o únicomotor de propriedade da empresa (aDESMONTEC) tenha o n. XA-350, “nãose sabe de onde a meirinha ALICEBARRETO tirou o n. XA-160, constantedo respectivo mandado de penhora;

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5. em 22.09.99, por determinaçãoda Ex.ma Juíza Sandra Maria GenerosoThomaz, foi expedido mandado de prisãodo paciente, por 90 (noventa) dias;

6. sendo trabalhador, exemplarchefe de família e cônscio dos seusdeveres, está, juntamente com sua prole,em total desespero, na iminência de serpreso a qualquer momento e lançadoentre bandidos, fruto de incontestável“erro judiciário”, enquanto o proprietárioda executada, Sr. Wesley de SouzaBartório, acha-se com sua empresafuncionando regularmente, delaauferindo lucros, “em sua confortávelresidência”.

Em face do exposto, requer “sejadado PROVIMENTO ao presenteHABEAS CORPUS, com deferimento deLIMINAR, EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO DAORDEM DE HC CONCEDIDA, cassandoo hostilizado decreto de prisão emdesfavor do Paciente”.

Com a inicial, procuração edocumentos (f. 08/93).

Pelo despacho de f. 96, oeminente Juiz Relator concedeuliminarmente a ordem requerida, do quefoi informado, via telefônica, o d. Juízoimpetrado (f. 97), que prestou asinformações de f. 98/100.

A i. PRT opinou em sessão peloconhecimento e concessão da medida.

É o relatório, da lavra do eminenteJuiz Relator.

VOTO

Não havendo questõespreliminares a ser dirimidas, impõe-se oexame meritório do assunto.

O eminente Juiz Relator esposoutese jurídica favorável à denegação doWRIT, abaixo transcrita:

“Saliento, para logo, que opaciente, em real verdade, não meparece estar agindo com lisura esinceridade no feito.

Ora, consoante destacado à f. 98,pela digna autoridade apontada comocoatora, em nenhum momento eleinsurgiu-se contra a compulsoriedade dasua nomeação, sendo valioso pontuarque esta ocorreu em 23.01.97, conformeinformado pelo próprio paciente (f. 04).Portanto, há mais de dois anos...

Nada obstante, só em 04.03.99,quando o MM. Juízo da 24ª JCJ de BHjá havia deferido a adjudicação daquelebem, foi que o paciente compareceu aosautos para dizer que ele havia sidoentregue a outra pessoa, ex vi deexecução processada perante a MM. 1ªJCJ desta Capital, e que não mais eraempregado da executada.

Ora, no mínimo faltou zelo aopaciente, que agiu com displicência eexagerado sossego. Para não dizer emconluio com o executado, pois disto nãohá prova nos autos.

A alegada arbitrariedade danomeação, porque contrária à suavontade e sem que estivesse autorizadoa assumir o encargo, é de valor nenhum,d.v., pois se o proprietário da executadaestava viajando quando da penhora - eé o paciente quem informa - disto resultaóbvio, a todas as luzes, que a pessoamais indicada para ser o fiel depositárioera ele próprio, posto que, à época,ocupava o cargo de gerenteadministrativo na empresa (cf. f. 04, 2ªlinha).

E se assim não pareceu a ele,que indicasse quem, a seu Juízo, melhorpudesse desempenhar o encargo. Senão o fez, é porque emprestouassentimento à sua nomeação, agoratardiamente inquinada de arbitrária.

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Diversamente do que acredita opaciente, não prestigia a lógica, nem obom senso, imaginar-se possa odepositário, por fas ou nefas, escusar-se do encargo, pois, fosse comopretende, bastaria ninguém aceitá-lo e,assim, estaria abortada a possibilidadede a execução seguir seu curso, ficandoo Juízo, dessarte, a determinarinocuidades...

Ora, é óbvio que se ninguémaceita desempenhar o relevante munus,por razões judiciosas ou não, o processoficará estagnado e o devedor - commodos de esperto - irá beneficiar-se daprópria torpeza, deixando o credor noincômodo papel de tolo.

Afora isto, considero e valorizo ainformação de que o paciente já assumiuo compromisso de providenciar outrobem nas mesmas condições do que foidado em penhora, para o que requereue lhe foi deferido prazo de 15 dias, que,entretanto, esvaiu-se in albis. E tambémaquela de que a prisão somente foidecretada após a decisão proferida noHC n.28/99, de que foi relatora a MM.Juíza Denise Alves Horta, denegando aordem e cassando a liminar antesconcedida (cf. f. 100). Isto apóstranscorrido o prazo para que o pacienteindicasse a localização do bem.

Assim, inócuas as determinaçõespara entrega do bem, a providência nãopoderia ser outra que não a ordem deprisão, pois sabido e consabido que aintimação judicial não traduz sugestãocavalheiresca de atitude oucomportamento. Ao revés disto, é ordemcoercitiva do Estado, derivada do seupoder de império, pelo que deve sercumprida, ainda que manu militari.

Na lição de Alcides MendonçaLima, é evidente o interesse jurídico epolítico do Estado no cumprimento de

suas decisões judiciais, pena de decairde sua autoridade de gestor da vidasocial, com inevitável descrédito e outrasconseqüências deletérias para osjurisdicionados.

Já proclamou Ihering, do alto desua insuspeita autoridade de juristaportentoso, que o direito nasceu pararealizar-se. Vale dizer, para ser de utilidadeà vida coletiva, elemento propiciador dejustiça e bem estar social. Assim, não éadmissível supor que possa realizar-se(efetivar-se), ficando o comando de suasnormas apenas no campo das intenções,sem atuar como aquela força ética deque fala Filommesi Guelfi - garantidorade efetividade e concreção da regragenericamente imposta.

A irresignação do paciente meparece precária e frágil, d.v., resultadode hermenêutica apressada e, por istomesmo, inaceitável.

Demais disso, é preceito de leique ao Juiz compete, privativamente,executar suas próprias decisões eaquelas proferidas pela Junta (CLT, art.659, II). E, para tanto, sendo o caso, teráque determinar até mesmo a nomeaçãocompulsória de depositário, pois, doutromodo, será um Juiz pela metade, o queesvazia a inconsistente alegação de anomeação do paciente tipificar ofensa aoart. 5º, III, da CF/88.

Se o paciente, gerente deempresa, não aceita ser depositário, oque se haverá de dizer dos que nada têma ver com o assunto?

Em face dessas razões, denego aordem vindicada, cassando, pois, a liminarantes concedida”. (transcrição literal datese jurídica exposta pelo d. Juiz Relator)

A d. maioria, todavia, encampoua tese jurídica exposta pelo eminenteJuiz Júlio Bernardo do Carmo, abaixomencionada.

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1 Comentários, 1976. Tomo X, p. 285. ApudTEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execuçãono Processo do Trabalho, LTr, 1989, p. 362.2 Primeiras Linhas sobre Proc. Civil, nota 737.Op. cit., p. 362.

3 Op. cit., p. 362.4 Derecho Procesal Civil, ed. 1970, BuenosAires, III, p. 162.

Assiste inteira razão ao eminenteJuiz Relator ao conceder nenhuma oupouca valia ao fato de o paciente ter sidonomeado compulsoriamente depositáriojudicial, uma vez que se trata deincidente corriqueiro na execuçãotrabalhista e que tem como escopocompletar-se a formalidade do auto depenhora, máxime quando o nomeadonão aponta escusas aceitáveis paradespojar-se do munus.

Teixeira de Freitas, na suaabalizada condição de jurista dos maisrenomados de nosso país, já afirmavacom sagacidade que a penhora deve serreal e filhada, ou seja, consuma-se coma efetiva e corporal apreensão dos bense entrega deles à Justiça, ou a quem estaos mandar entregar1.

No mesmo diapasão alinha-se oensinamento de Salvatore Satta, eis quepara ele o ato executivo da penhora, doponto de vista formal, constitui-se daprocura e da escolha de bem (suficientepara atender à execução), assim comode sua efetiva apreensão. Materialmente,porém, consiste na subtração do bemapreendido à administração do devedor,mercê da entrega a um depositário2.

O nosso diploma processual civil,em seu art. 664, caput, efetivamentedispõe que “a penhora será consideradafeita mediante a apreensão e depósitodos bens.”

A necessidade do depósitojudicial, que não se confunde com ocontrato civil de depósito, é ressaltadapelo insigne jurista pátrio Manoel AntônioTeixeira Filho com estas palavras:

“... sejam os bens móveis ouimóveis - desde que corpóreos -impõe-se a sua retirada da possedo devedor e conseqüentecolocação sob a guarda de outrapessoa, a quem a lei chama dedepositário. Esse procedimento écompreensível, porquanto,apreendidos os bens, por ordemjudicial, estes devem sersubtraídos do poder do devedor,como medida tendente, sob umaspecto, a exercer sobre ele umacerta pressão, tendo em vista ofato de que, com isso, não poderáusar e gozar dos bens; sob outro,a evitar que ditos bens sedeteriorem, se percam etc., emdecorrência de ocasionaldesmazelo do devedor, no quetoca à conservação dosmesmos3”.

Bem por isso é que Gian AntônioMicheli preleciona que a penhora tornajuridicamente ineficaz eventualtransferência dominial do devedor sobreos bens apreendidos, a par de submeter,fisicamente, a coisa a uma custódiaobrigatória, que pode ser atribuída a umterceiro, ao credor ou ao devedor, masque, em qualquer caso, investe o sujeitode particulares poderes (de caráterpúblico), que o colocam, junto ao juiz,como seu auxiliar4.

Como ressaltado supra, emborao devedor possa eventualmente ficarcomo depositário dos bens constritos, talmedida mostra-se na práticadesaconselhável, em face doantagonismo de interesses que se

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5 Op. cit., p. 364.

originam e se concentram na mesmapessoa. Isto porque, o depositário judicialtem como precípua função a de zelar econservar o bem depositado em suasmãos, para futuramente restarassegurado o escopo finalístico doprocesso executório, sendo que a recusainjusta em exibi-lo em Juízo, quandodemandado, poderá importar emaplicação de pena de prisão, em face dainfidelidade do depósito; já o devedor,como é curial, é de sua característicaprocurar resistir juridicamente àexecução, opondo-se aos atos do juízoe às pretensões do credor, ao passo que,em sendo depositário, deve agirprecipuamente em colaboração com oJuízo Executório, de quem, realmente,é auxiliar. Daí porque, não se mostrandoaconselhável reunir-se na mesmapessoa as condições de devedor e dedepositário judicial, é que na prática oJuízo da Execução prefere nomeardepositário uma terceira pessoa,estranha ao feito, sendo que na áreatrabalhista é comum nomear-se umgerente ou preposto ou até mesmo umsimples empregado, sem que istoimporte contorno ao dever inarredávelque o depositário tem de conservar ezelar pelo bem constrito, até que omesmo venha a ser transferido para opoder de quem de direito, seja por forçade hasta pública, adjudicação ou deremição.

E como ressalta Manoel AntônioTeixeira Filho, não ficando o devedor naposse dos bens que lhe forampenhorados, (art. 666, CPC), caberá aooficial de justiça escolher um depositário,nomeando-o, e depositando os bens sobsua custódia5.

Como se dessume da abalizadadoutrina citada, a nomeação compulsóriado depositário, seja pelo oficial de justiça,seja pelo próprio Juiz, é medida legal queprocura alcançar os escopospublicísticos do processo executório, nãopodendo, bem por isso, ser atacada pelavia peregrina do habeas corpus, atéporque se acomete deveres e encargosao depositário, nem por isso lhe imiscuina liberdade de ir e vir, que continuaintangível e incontestável.

Tirante este ponto deconvergência, ouso divergir, quanto aomais, do substancioso voto do eminenteJuiz Relator, pois a mim me parece queexiste uma peculiaridade nos autos quemilita em prol do paciente e tolhe apossibilidade de coarctar-se-lhe aliberdade individual, mesmo em face desua indiscutível qualidade de depositáriojudicial, teúdo e manteúdo.

Veja-se que na exordialesclarece o paciente que,posteriormente ao encargo assumido dedepositário judicial, ainda quecompulsório, o bem constrito foi retiradodas dependências da firmaempregadora do paciente, o queocorreu em data de 19 de março de1997, e entregue a Hélio Pinto Morais,arrematante do mesmo bem, nos autosdo processo n. 01/00144/97, por forçade cumprimento de mandado deentrega de bens determinado nareclamatória trabalhista em trâmiteperante a MM. 1ª JCJ de CoronelFabriciano.

Acrescenta mais o paciente que,atualmente, o dito bem penhoradoencontra-se com Hélio Pinto Morais, naárea interna da USIMINAS, setor deACIARIA, unidade Intendente Câmara,Rodovia 381, Km 210, bairro Horto,Ipatinga, MG, por ordem judicial.

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E finalmente observa o pacienteque, em data de 31 de outubro de 1997,foi o mesmo demitido da firmaDESMONTEC - SERVIÇOS DEDESMONTE E TERRAPLANAGEMLTDA., sendo que esta última éreclamada nos autos do processo n. 04/90006/99, conforme ação trabalhista comtrâmite na 24ª JCJ de Belo Horizonte,MG, onde é reclamante Sebastião Josédo Carmo, sendo que a execução emapreço se processa por precatóriaperante a MM. 4ª JCJ de CoronelFabriciano, onde efetuou-se igualmentea penhora do bem já arrematado edefinitivamente entregue ao arrematante,conforme alhures ressaltado.

As peças carreadas aos autosevidenciam satisfatoriamente que pendedúvida cruel sobre a mesmeidade oudiversidade do bem constrito, a qual seexplica, nas exatas palavras do própriopaciente, porque “O que vemacarretando polêmica é o número dereferência XA-160 que constou nomandado de penhora e avaliação, quefoi colocado não se sabe porque, pois, ocerto seria XA-350, com o número delataria (patrimonial) 1.77, que conferecom o número do bem penhorado,conforme mandado de penhora n. 01/97.Mas na verdade isto causou confusão àOficiala de Justiça que colocou o númeroXA-160, a seu bel prazer.” (f. 29/30)

As declarações de f. 43 e 44 dosautos evidenciam que o bem constritoora exigido do paciente já teria sidoarrematado, tanto que em uso pela M.Roscoe, em seu canteiro de obras, naárea interna da Usiminas, sendo queEduardo Tadeu Fernandes Souzatestemunha a entrega do bem aoarrematante Hélio Pinto Morais, dandoares de credibilidade às asserções dopaciente.

O despacho judicial noticiado àsf. 56 dos autos não ostenta certeza arespeito da mesmeidade ou diversidadedo bem constrito, pois se ali se diz,primeiramente, que os bens descritos nomandado de entrega de bens n. 164/97,expedidos nos autos do processo n. 144/97, em curso perante a 1ª JCJ de Cel.Fabriciano, não se identificam com osbens penhorados nos autos da CartaPrecatória, que está a motivar a ameaçade prisão do paciente, logo a seguir,dando ares da falta de convicção arespeito do antes alegado, o juiz daexecução, se penitencia, e acrescentaque “De mais a mais, se a descrição dobem no auto de penhora de f. 08 nãocorrespondia à realidade, deveria odepositário ter levantado a questão naocasião devida, qual seja, naoportunidade da penhora e depósitorealizado.” (sic, f. 56)

A transcrição parcial do d.despacho verberado é feitapropositalmente, isto para deixarincontroverso que pende dúvida, mesmono espírito do Juiz da Execução, sobrea lisura do procedimento do depositário,quando este alega que foi desapossadodo bem constrito por força dearrematação efetuada em outro processotrabalhista, sendo que a entrega do bemestá comprovada nos autos, pairandodúvida tormentosa apenas a respeito deser o dito bem entregue ao arrematanteo mesmo bem penhorado no processotrabalhista oriundo de Belo Horizonte,que ora se executa via precatória.

A mim me parece que a dúvidacrucial, instigante e atormentadora arespeito do desvio aleivoso do bemdepositado favorece a liberdadeindividual do paciente, por ser bemirrenunciável e indisponível, muitoembora se possa perquirir, à luz de

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6 Minha Formação no Recife, p. 283.7 Apud SIDOU, J. M. Othon. As Garantias

Ativas dos Direitos Coletivos, Segundo a Nova

Constituição, Forense, 3ª ed., p. 142.

novas provas, a responsabilidadepatrimonial do depositário em face doJuízo da Execução, ou mesmo o prejuízoque, por dolo ou culpa, tenha atribuídoàs partes e sua conseqüente reparação.

E assim é porque, nas candentespalavras de Rui Barbosa, recolhidas porGilberto Amado6, resulta suprema aimportância do habeas corpus entre asnações livres. As outras garantiasindividuais contra a prepotência sãofaculdades do ofendido. Este é o deverde todos pela defesa comum. Ninguémpode advogar essa exceção singular àsleis do processo. Ninguém pode advogarsem procuração a causa de outrem. Paravaler, porém, à liberdade seqüestrada,não há instrumento de poderes queexibir: o mandato é universal; todos osrecebem da lei; para o exercervalidamente, basta estar no País. Ospróprios juízes são obrigados a mandá-la restituir ex officio, se no curso dequalquer processo lhes constar, portestemunho fidedigno, caso deconstrangimento ilegal. O paciente podenão requerer a liberdade; pode,resignado, ou indignado, desprezá-la;pode até, por desvario, rejeitá-la. Éindiferente. A liberdade não entra nopatrimônio particular, como as coisasque estão no comércio, que se dão,trocam, vendem ou compram: é umverdadeiro condomínio social; todos osdesfrutam sem que ninguém o possaalienar; e, se o indivíduo degenerado, arepudia, a comunhão, vigilante, areivindica7".

O caso dos autos retrata situaçãosemelhante, onde deve ser privilegiada aliberdade individual do paciente, máximeporque, documentos novos acostadosaos autos, evidenciam que a dúvida arespeito do desapossamento do bemconstrito, por força de decisão judicial, éséria e fundada, não se podendo, à luzdas garantias constitucionais, postas àdisposição dos cidadãos, preferir-se asatisfação do crédito trabalhistaexeqüendo, com imposição de mandadoprisional eventualmente atrabiliário, aoideário sempiterno de liberdade quehabita a consciência dos indivíduos.

Impossível, ainda, comungar-secom a assertiva posta no d. despachoverberado, no sentido de que a questãoenvolvendo o desapossamento do bemconstrito, por obstáculo judicial, estariapreclusa, por não ter sido aviventada nomomento oportuno, isto porque encontra-se a mesma conexa a um direitopersonalíssimo de liberdade, pois a nãose dar crédito a esta dúvida candenteque emerge dos autos, corre o pacienteo risco irremediável de ser coarctado emseu sacrossanto direito de ir e vir, e emse tratando da defesa de um direitoassim tão portentoso, nenhuma leipoderia incorporar o habeas corpus aseus dispositivos caducários. Aliás, seriauma absurdidade. Seria o mesmo quelimitar no tempo o exercício da liberdade,que é em si, absoluta, inviolável eintangível. Portanto, o direito de pedir aordem é imprescritível, máxime quandose acrescentam novos argumentossuscetíveis de evidenciar a ausência dejusta causa para o ato prisional.

Urge, finalmente, deixar assenteque não podem igualmente impressionaras palavras contidas no voto do eminenteJuiz Relator e abaixo novamentetranscritas:

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“Afora, isto, considero e valorizoa informação de que o paciente jáassumiu o compromisso deprovidenciar outro bem nasmesmas condições do que foi dadoem penhora, para o que requereue lhe foi deferido prazo de 15 dias,que, entretanto, esvaiu-se in albis.E também aquela de que a prisãosomente foi decretada após adecisão proferida no HC n. 28/99,de que foi relatora a MM. JuízaDenise Alves Horta, denegandoa ordem e cassando a liminarantes concedida (cf. f. 100).” (sic)

Quanto ao primeiro argumento, ofato de o depositário comprometer-se aprovidenciar outro bem, nas condições doque foi dado em penhora, não obnubila oseu direito de perseguir na via peregrinado habeas corpus a intangibilidade desua liberdade locomotora, até porque apromessa feita é restrita ao campo de umaeventual responsabilidade patrimonial dodepositário, suscetível ainda de seraferida pelo Juízo da Execução.

Quanto ao segundo argumento,tenho para mim que a decisãodenegatória da medida, proferida emprocesso anterior, não elide o reexamejudicial da sinceridade do pedido, seremanesce a discussão em torno dailegalidade e do abuso de poder atribuídosà d. autoridade apontada como coatora.

O reexame é possível porque adecisão do habeas corpus não produzcoisa julgada e nem influi, em regra, sobrea marcha do processo com que temafinidade, podendo ser renovado, desdeque calcado em motivo outro que nãoconstou do processo anterior ou desdeque ocorram novos fundamentos,documentalmente provados, que possamcomprometer a última decisão proferida.

A dúvida crucial, instigante eatormentadora a respeito do desvioaleivoso do bem depositado favorece aliberdade individual do paciente, por serbem irrenunciável e indisponível, muitoembora se possa perquirir, à luz denovas provas, a responsabilidadepatrimonial do depositário em face doJuízo da Execução, ou mesmo o prejuízoque, por dolo ou culpa, tenha atribuídoàs partes e sua conseqüente reparação.

Em face do exposto, conheço doHABEAS CORPUS e, no mérito,concedo a ordem vindicada para,ratificando a liminar, cassar a ordem deprisão imposta pela d. autoridadeapontada como coatora, devendo oJuízo da Execução, doravante, restringir-se a apurar a eventual responsabilidadepatrimonial do depositário, inclusive oressarcimento de prejuízos que possa teracarretado às partes.

Prejudicado o pedido dedeferimento dos benefícios daassistência judiciária gratuita, em face daconcessão da ordem impetrada.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua QuartaTurma, por maioria de votos, concedeua ordem vindicada, mantendo a liminarconcedida, vencido o Ex.mo Juiz Relator.

Belo Horizonte, 05 de novembrode 1999.

LUIZ OTÁVIO LINHARES RENAULTPresidente

JÚLIO BERNARDO DO CARMORedator

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TRT/AP-856/99Publ. no “MG” de 23.07.1999

AGRAVANTE: VICENTE PAULA REZENDEAGRAVADOS: ISLAN NETO (1)

VIPAR PROMOÇÕES LTDA. (2)

EMENTA: RECURSO - ALÇADA- AGRAVO DE PETIÇÃO. Airrecorribilidade do recurso nasações de alçada estende-setambém à fase de execução,pois o art. 4º, da Lei 5.584/70, éno sentido de que nenhumrecurso cabe nessas ações,salvo se versarem sobrematéria constitucional. Oobjetivo da referida lei é agilizara prestação jurisdicional. Comoo agravo de petição é recurso,dele não se conhece quando ovalor atribuído à causa forinferior a dois salários mínimosvigentes na sede do Juízo àépoca da postulação.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de Agravo de Petição,em que figuram, como agravante,VICENTE PAULA REZENDE e, comoagravados, (1) ISLAN NETO; (2) VIPARPROMOÇÕES LTDA.

RELATÓRIO

Contra a r. decisão de f. 126/129,proferida pela MM. Juíza Presidente da19ª JCJ de Belo Horizonte, que julgouprocedentes, em parte, os embargos deterceiro opostos, agrava de petição oembargante (f. 130/134).

Alega que, na qualidade de sócioquotista da empresa executada, não podefigurar no pólo passivo da demanda.Segundo o agravante, nos termos do art.

135, do Código Tributário Nacional, aresponsabilidade subsidiária somenteocorre na hipótese de fraude à lei, aocontrato ou atos excessivos. Sustenta ainvalidade de sua citação, ao argumentode que seu nome não consta da certidãode dívida ativa, cujo título executivo refere-se à pessoa jurídica, da qual foi ou é sócioquotista. Alega que não foi chamado paraintegrar o processo trabalhista e, assim,apresentar sua defesa, para efeito dodisposto no inciso III, do art. 135, do CTN eart. 592, II, do CPC. Afirma que,supostamente, ocorreu o não pagamentode débito trabalhista, referente à pessoajurídica, fato que não se equipara àssituações havidas a partir de atos praticadoscom excesso de poder, em infração à lei,ao contrato ou ao estatuto social, situaçãotípica da teoria da desconsideração dapersonalidade jurídica.

Contraminuta às f. 136/141,argüindo, preliminarmente, a irrecorribilidadeda decisão proferida em embargos deterceiro, bem como a deserção do apelo.Pugna pela improcedência do recurso epela aplicação ao agravante da multa porlitigância de má-fé.

À f. 144, a d. Procuradoriasalienta inexistir interesse público capazde justificar a intervenção do MinistérioPúblico no presente feito, propondo-sea fazê-lo, caso necessário.

É o relatório.

VOTO

Preliminar de não conhecimento- Processo de alçada

Em contraminuta, o agravado argúio não conhecimento do agravo de petição,alegando tratar-se de processo dealçada, que não é passível de recurso.

Assiste-lhe razão.

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Verifica-se de f. 06 que, na petiçãode embargos de terceiro, consideradaação incidente do processo executório,foi atribuída à causa o valor de R$200,00.Como essa quantia não excede de duasvezes o salário mínimo vigente na sededo Juízo, à época do ajuizamento daação (novembro/98), trata-se de dissídiode alçada. É sabido que as decisõesproferidas nesses processos sãoirrecorríveis, salvo quando versaremsobre matéria constitucional (art. 2º, §§3º e 4º, da Lei 5.584, de 26.06.70), o quenão é o caso dos autos.

É certo que parte da doutrina(ALMEIDA, Isis de, na obra Manual de

Direito Processual do Trabalho, SãoPaulo: LTr, 3ª ed., p. 319), argumenta “...que o fato de não caber recurso dassentenças nessas reclamações nãosignifica que a irrecorribilidade se estendaà execução, onde será admitido o agravode petição das decisões nos embargosdo executado ou do exeqüente, pois aintenção do legislador foi evitar a longaperegrinação de uma ação de pequenovalor pelas instâncias de conhecimento”.

Data venia, não mais nos filiamosa esse entendimento.

É que, sendo o agravo de petição,na execução, equivalente ao recursoordinário, no processo de conhecimento,formula-se nos mesmos moldes deste,ou seja, a irrecorribilidade do recurso nasações de alçada estende-se também àfase executória.

Frise-se que o § 4º, do art. 2º, daLei 5.584/70, não determinou a faseprocessual na qual caberia recurso nasações de alçada.

Seria, portanto, contraditórioimpedir o recurso apenas na fase cognitiva,porquanto estaríamos contrariando oobjetivo maior da Lei, que é o de umaprestação jurisdicional mais ágil.

Veja-se, a propósito, a orientaçãojurisprudencial:

“Falta de alçada. A teor do contidono § 4º, do art. 2º, da Lei 5.584/70, incabível a interposição derecurso (inclusive o de agravo depetição) nos feitos de alçadaexclusiva da instância original.”(TRT-PR-AP-0876/91, Ac. 2ª T.4405/92, Rel. Juiz ErnestoTrevisan, DJPR 19.06.92, p. 58,Julgados Trabalhistas

Selecionados Irany Ferrari e

Outro, v. II, p. 122)

Neste sentido, aliás, já meposicionei como relatora no AP-1460/96.

Por todas essas razões, entendoque o agravo de petição interposto nãopode ser conhecido, por incabível.

Pelo exposto, nego provimentoao agravo de petição.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua Seção Especializada,por maioria de votos, em não conhecerdo agravo de petição, por incabível,vencidos os Ex.mos Juízes AntônioMiranda de Mendonça e Paulo Araújo.

Belo Horizonte, 06 de julho de1999.

ANTÔNIO ÁLVARES DA SILVAPresidente

ALICE MONTEIRO DE BARROSRelatora

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TRT/RO-18952/98Publ. no “MG” de 03.09.1999

RECORRENTES: 1. REDE FERROVIÁRIAFEDERAL S/A2. FERROVIA CENTROATLÂNTICA S/A

RECORRIDOS: OS MESMOS EARCANJO GERALDO DA COSTA

EMENTA: INVENÇÃO. Ter-se-áabrangência maior com âncoraem Paolo Greco e PaoloVercellone (Le invenzioni e imodelli industriali), nalembrança do que encarecem,no sentido de que a invenção éoperar a imaginação fora docampo da realidadefenomênica, isto é, fora daexperiência, sem que oresultado tenha confirmaçãonos fatos exteriores. Enfim, nacaracterização da invençãopelo momento da suacriatividade, ou conceptividade- idéia, na linguagem dosjuristas.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de Recurso Ordinário,oriundos da MM. 2ª Junta deConciliação e Julgamento de SeteLagoas, MG, em que figuram, comoRecorrentes, Rede Ferroviária FederalS/A e Ferrovia Centro Atlântica S/A, e,como Recorridos, Os mesmos e ArcanjoGeraldo da Costa, como a seguir seexpõe:

RELATÓRIO

A sentença de f. 456-77 julgouos pedidos procedentes, em parte,deferindo adicional de horas extras e

incidências reflexas, bem comoindenização por utilização de invento doReclamante, arbitrados honoráriospericiais no importe de R$6.000,00,conhecendo dos declaratórios aviadospela Ferrovia Centro Atlântica S/A, masnegando-lhes provimento (f. 503-04),gerando os recursos de f. 484-500 e516-49.

Recolhimento das custasprocessuais e depósito recursal às f. 501-02 e 550-51.

Apresentadas contra-razões (f.507-11, 512-15, 553-57), a d.Procuradoria Regional do Trabalhosugere a declaração da competênciamaterial da Justiça do Trabalho paradirimir pleitos de dano moral e utilizaçãode inventos, abstendo-se do parecercircunstanciado quanto ao mais, por nãovislumbrar interesse público a proteger(f. 559).

É o relatório.

VOTO

1. Admissibilidade

Atendidos os supostos(cabimento, leg i t imação pararecorrer, interesse em recorrer einexistência de fato impeditivo ouext in t ivo ao poder de recorrer ,recolhimento de custas processuais,depósito recursal e regular idadeformal) , conheço dos recursosinterpostos.

2. Mérito

2.1. Recursos das Reclamadas

Analiso ambos os recursosconcomitantemente por conterembasicamente as mesmas matérias.

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2.1.1. Competência material daJustiça do Trabalho

2.1.1.1. Dano moral

Ainda que se cuide de matériade ordem pública, por tal razãoinvocável de ofício pelo aplicadorjurídico, a competência material destaEspecializada para dirimir conflitointersubjetivo de interesses acerca deindenização por dano moral decorrenteda ambiência laborativa, por mimdefendida, não deve ser habilitada àdialética, pois a improcedência dopedido ao par foi proclamada no Juízoprimo (f. 465), sem insurgência doReclamante, passando, pois, emjulgado.

Pouco útil o dispêndio deatividade jurisdicional neste sentido.

2.1.1.2. Invento

A matéria veio estatuída ad

tempus, anteriormente à Independênciado Brasil, por via de Alvará de 28 de abrilde 1809, em todo o compartimento doDireito Constitucional Pátrio, naConsolidação das Leis do Trabalho (art.454), em normas extravagantes,renovando o veio tuitivo, isto pela Lei n.5.772/71 e pela vigente Lei n. 9.279/96,que revogou expressamente aqueloutra.Não há como repelir a competênciamaterial da Justiça do Trabalho noparticular, ficando apenas frisado que atessitura delineada pela jurisprudênciahodierna, incluindo a Excelsa SupremaCorte Constitucional, tem em linha deconta a decorrência natural com ocontrato de trabalho. E não se desprezeque o reclamo é de indenização calcadaem alegação de invento criado peloReclamante.

Esclareço apenas que,obviamente, não se pode decidir acercade concessão de patente e de veioaguerrido ao campo comercial, ouindustrial da exploração dos aparelhospor aquele a quem o órgão específicodeitar a titularidade. O objeto imediatoda ação visa os frutos do alegadoprivilégio de invenção e não é o dedesconstituir o ato administrativo que fezpor registrá-lo, afetando mediatamenteos interesses do titular do direitoreconhecido.

A competência, nesse nível, éprópria da Justiça Laboral.

2.1.2. Nulidades da sentença

2.1.2.1. Julgado ultra petita

Com efeito, excessos são glosadosna instância revisora, não ensejandonulidade, em razão dos princípios doaproveitamento, transcendência einstrumentalidade das formas.

2.1.2.2. Negativa de prestaçãojurisdicional

A parte não tem o direito a todosos esclarecimentos que entendernecessários em sede de embargabilidade.Há, reverenciando os instrumentosconducentes ofertados para o uso salutardo contraditório, essencialmente aatração da quadra do artigo 535, do CPC,sendo defeso repisar a dialéticaalmejando antíteses do julgado, pois atanto o artigo 836, da CLT, veda.

A paga do débito jurisdicional foiofertada com exação na Unidadeprimeva.

Não há nulidade a ser decretada,mormente diante dos termos do artigo794, da CLT c/c o artigo 249, do CPC.

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2.1.3. Legitimidade de partepassiva - Responsabilidade -Sucessão

Ao sustentar a inexistência de: (a)sucessão e de (b) solidariedade,pretende-se é a extinção do processosem julgamento de mérito com base noinciso II, do artigo 295, do CPC.

Na condição de vencedora deprocesso de licitação, a Ferrovia CentroAtlântica arrendou os bens vinculados àprestação de serviço público e obteve aqualidade de concessionária dotransporte ferroviário vinculado à malhacentro-leste, isto é, por transferência,passou a ter o direito de explorar otransporte ferroviário naquela malha.

De posse dos bens arrendados,notadamente da via permanente(conjunto de instalações e equipamentosque compõem a infra e superestruturada ferrovia), a Recorrente valeu-se defarta mão-de-obra por si admitida epreparada, sem que houvesse soluçãode continuidade na prestação dotransporte. E toda a unidade produtivaprosseguiu em seus objetivos semqualquer percalço, como se nenhumaalteração houvesse acontecido natitularidade da empresa.

Em recente trabalho, o ProfessorMaurício J. Godinho Delgado alertaque “...não se verifica qualqueróbice à incidência das regrascogentes da alteração subjetivado contrato de emprego em casosde arrendamento de empresas ouestabelecimentos. Produz-se, nocaso, a sucessão trabalhista emdireção ao novo titular provisóriodo estabelecimento”. (Introdução

do Direito do Trabalho, LTr, SP,1995, p. 343)

Na mesma linha, o ProfessorRibeiro de Vilhena leciona:

“Toma-se titularidade não nosentido de domínio, propriedadedo fundo patrimonialcompreendido na atividade ou nonegócio. A titularidade dizrespeito ao exercício dedeterminada atividade.

Esse exercício poderá resultarda qualidade de proprietário,locatário, arrendatário,cessionário, comodatário,concessionário etc., desde que seextreme bem o interesse visadopelo empreendedor daquele quebeneficia o proprietário, o quecedeu, arrendou, deu emcomodato etc.

A desvinculação deinteresses, a incomunicabilidadede participação nos resultados daatividade, a autonomia deposições jurídicas e econômicasentre o proprietário do bem cedidoe aquele que o explora constituema linha de demarcação bastantepara fixar quem seja - um ou outroou ambos - empregador.”(Relação de Emprego. Estrutura

Legal e Supostos. Ed. Saraiva,SP, 1975, p. 66)

Délio Maranhão, in Direito do

Trabalho, 17ª Edição, Editora FundaçãoGetúlio Vargas, pp. 93/96, aponta doisrequisitos essenciais para que se operea sucessão trabalhista:

“a) que uma unidadeeconômico-jurídica passe de umpara outro titular; b) que não hajasolução de continuidade naprestação de serviços.”

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Presentes os supostos, asucessão opera-se ope legis, sob osauspícios do doutrinador consultado,inspirando-se em Arnaldo Süssekind,entra a enfatizar: “Sendo irrelevante ovínculo entre o sucedido e o sucessor ea natureza do título que possibilitava aotitular do estabelecimento a utilizaçãodos meios de produção neleorganizados. O que importa é o fatoobjetivo da continuidade. Daí a sucessãoentre empresas concessionárias deserviço público; em caso dearrendamento; de pessoa de direitopúblico por pessoa de direito privado evice-versa; em caso de falência; por meiode encampação, absorção ou fusão.”

Portanto, irrelevantejuridicamente a qualidade dearrendatária da Ferrovia CentroAtlântica, sendo de todo inoperante eineficaz que no Programa Nacional deDesestatização haja a cláusula 7.2.isentando-a dos “PASSIVOSTRABALHISTAS”, verbis:

“As obrigações trabalhistasda RFFSA para com seusempregados transferidos para aCONCESSIONÁRIA, relativas aoperíodo anterior à data datransferência de cada contrato detrabalho, sejam ou não objeto dereclamação judicial, continuarãode responsabilidade da RFFSA.”

No entanto, lembre-se que:

“... a dissociação patrimonialque, aparente e formalmente, sedá entre o empreendedor - quemassume os riscos da atividadeeconômica e por elajuridicamente responde - e oproprietário dos bens que a

compõem (imóveis, maquinaria,fundo de comércio, mercadoriasetc.) pode resguardar umafinalidade escusa, para fraudar asleis imperativas, com o objeto deeximir de qualquerresponsabilidade o patrimônio emjogo, o qual se incrementará como trabalho do empregado”.(VILHENA, Ribeiro de, ob. cit., p.66)

A questão é regida por normasde ordem pública, consubstanciadas nosartigos 10 e 448, da Consolidação dasLeis do Trabalho, inadmitidoras dapretendida irresponsabilidade, já quecontra elas não vale a vontade de quemquer que seja.

Convém ter em mente que ordempública é aquela parcela intocável dopróprio ordenamento jurídico (VILHENA,Ribeiro de, ob. cit., p. 145, citandoGerhard Kegel), ou, na visão deMaximiliano, que permite a sua melhorcompreensão através do processo dedistinção entre a ordem pública e aordem privada, assinalando que:

“... entre as primeiras ointeresse da sociedadecoletivamente consideradasobreleva a tudo, a tutela domesmo constitui o fim principal dopreceito obrigatório; é evidenteque apenas de modo indireto anorma aproveita aos cidadãosisolados, porque se inspira antesno bem da comunidade do que nodo indivíduo; e quando o preceitoé de ordem privada sucede ocontrário: só indiretamente serveo interesse público, à sociedadeconsiderada em seu conjunto; aproteção do direito do indivíduo

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constitui o objetivo primordial”.(Hermenêutica e Aplicação do

Direito, Ed. Freitas Bastos, 5ª ed.,p. 265)

Ineficaz - reafirmo -, a cláusulainserida no instrumento do ProgramaNacional de Desestatização, cláusula7.2., ante a despersonificação doempregador e a inimportância daalteração na estrutura empresarial,conforme a inteligência dos artigos 2º,10 e 448, da CLT.

O fato constatado amolda-se aofigurino de especial sucessão, ainda quetrintenária (prazo de vigência docontrato).

A alteração na estrutura jurídicatem enfoque próprio pelas luzes das leistrabalhistas, conforme elucidado alhures,sendo de bom alvitre que se repita amenção a “qualquer alteração...”.

O entendimento atine com o fatode um ter assumido a unidadeeconômico-jurídica daqueloutro.

Ferrara Júnior (Teoria de la

Hacienda Mercantil, Madrid, 1950) bemafirma ser irrelevante o título jurídico emvirtude do qual o titular doestabelecimento utiliza os bensorganizados para o exercício de suaatividade econômica, e entre nós, Pontesde Miranda (Tratado, Rio, 1964)escreveu: “o que teria de se dizer no art.448 [...] é que a mudança de titularidade[...] não atinge o contrato de trabalho [...]porque não só à mudança do direito depropriedade se há de aludir; há outrasmudanças de titularidade [...] como nocaso de usufruto ou de locação, e a estepropósito acrescenta Antônio Lamarca(Contrato Individual de Trabalho, SãoPaulo, 1969) tratar-se de sucessãoprovisória, cessando a locação volta atitularidade ao antigo empregador".

E é fácil sopesá-la, pois ser intuitu

personae o vínculo obrigacional deemprego, com a onerosidade que lhe éínsita, é pressuposto que condiz aoempregado (CLT, art. 3º) e Délio Maranhão(Direito do Trabalho, 8ª edição) sinala:“excepcionalmente, pode o contrato detrabalho ser concluído intuitu personae

em relação, também ao empregador”, desorte que aquela pressuposição, nocaso, alcança estritamente o Autor, nãosendo palco da excepcionalidadeconcedida doutrinariamente.

O Excelso Supremo TribunalFederal teve ensejo de afirmar (RE24.484, Ministro Ribeiro da Costa):

“Qualquer o modo por que seprocesse, a mudança, alteração outransformação da empresa não produza rescisão dos contratos de trabalho quemantém com seus empregados. AOACERVO, TOTAL OU PARCIALMENTEADQUIRIDO, QUANDO MANTIDA AUNIDADE ORGÂNICA, OU SEJA, ACAPACIDADE EM PERMITIR AEXPLORAÇÃO DO MESMO RAMO DENEGÓCIO OU DE OUTRO SIMILAR,VINCULAM-SE OS DIREITOS DOSEMPREGADOS, ORIUNDOS DOSCONTRATOS DE TRABALHO”, tendo ainda,por seu douto Plenário, consagrado que:

“A SUCESSÃO DEEMPREGADORES SUPÕE ATRANSFERÊNCIA DO NEGÓCIO, OUSEJA, DE UMA UNIVERSALIDADE.NÃO HÁ FALAR, POIS, EM SUCESSÃONA HIPÓTESE DE SIMPLES VENDAOU CESSÃO DE COISASSINGULARES.” (Ação Rescisória 501)

O Colendo Tribunal Superior doTrabalho, Pleno (E-RR-1.161/70,Ministro Arnaldo Süssekind), proclamou:

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“A TRANSFERÊNCIA DE PARTEDA EMPRESA, REPRESENTADA PORTODA UMA ORGANIZAÇÃOPRODUTIVA, DESTACÁVEL COMOUNIDADE ECONÔMICA,CARACTERIZA A SUCESSÃO.”

Como se vê, a exegese que pertineao instituto da sucessão trabalhista nãose pauta pela literalidade dos artigos 10e 448 Consolidado, mas ao quesubstancialmente eles e cada qual delesdispõem nas consentâneas intelecções.

É a incidência da teoria dadespersonalização da pessoa jurídicaque, ainda que em síntese, logo seexpõe, complementarmente, para oentendimento.

As palavras conceituais do Prof.Serick bem exprimem o alcance de quese expõe decisoriamente a este respeito:“A jurisprudência há de enfrentar-secontinuamente com os casos extremosem que resulta necessário averiguarquando pode prescindir-se da estruturaformal da pessoa jurídica para que adecisão penetre até o seu própriosubstrato e afete especialmente seusmembros.”

Acrescento a concisão do Prof.Requião: esta teoria “... não visa anulara personalidade jurídica, mas somenteobjetiva desconsiderar no caso concreto,dentro de seus limites, a pessoa jurídica,em relação às pessoas ou bens queatrás dela se escondem. É o caso dedeclaração de ineficácia especial dapersonalidade jurídica paradeterminados efeitos, prosseguindotodavia a mesma incólume para seusoutros fins legítimos”.

Daí o maior relevo, no âmbito doDireito obrigacional do Trabalho, daquelateoria captada na exegese do jus dicere

da sucessão trabalhista.

O certo é que interesses do queassume e se instala não ficam a salvoporque ubiquados às prestações deordem pública do Direito do Trabalhopátrio.

Inútil a pretensão da Recorrente,ante a despersonificação do empregadore a inimportância da alteração naestrutura empresarial.

Os empregados absorvidos têmdireito de ação contra as Recorrentes, antea conjugação da exploração de atividadee patrimônio. A responsabilidade dasucessora decorre do exercício daatividade-fim do empreendimento,desenvolvida pela outra empresa.

A responsabilidade exclusiva nãoé matéria de que se possa valer aRecorrente para agravar a situação dalitisconsorte, consoante já dito alhures.Inviável litígio intestino. Réus confrontamo direito material vindicado pelo autor.Não podem, no processo em que sãolitisconsortes, digladiar entre si, porquealém de não terem interesse processual- que se estabelece em face dapretensão posta em juízo - falta aqualquer deles legitimidade inclusive pordesdobrar aquela, que é a exauridarelação trilateral em paralelismo de lideinconcebida. Aliás, legitimidade(titularidade ativa e passiva - terceiracondição da ação), consoante Liebman,sendo a “pertinência subjetiva da ação”,reluz caráter de ordem processual, cujainobservância impede o juiz de teracesso ao julgamento do mérito, o quenada tem a ver com a justiça ou injustiçado pedido ou existência/inexistência dodireito material controvertido entre oslitigantes (pólos contrapostos). Comoagudamente expõe Theodoro Júnior,depois de assinalar “Mesmo que a parteesteja na iminência de sofrer um danoem seu interesse material, não se pode

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dizer que exista o interesse processualse aquilo que se reclama do órgãojudicial não será útil juridicamente paraevitar a temida lesão.”

A matéria posta pela parte,timbrada na ausência desses supostos,não tem como possa ser conhecida eensejar providência particularizada nacontenda entre réus. O digladiarem-seos litisconsortes entre si, em disputa queuma faz contra o outro para acometerresponsabilidade exclusiva, refugindo àlide, ressoa litígio intestino em processojudicial com manifesto despropósito.

Mantenho a r. decisão de primeirograu.

2.1.4. Prescrição

O marco prescricional tem portemporalidade a data do ajuizamento daação em 21 de agosto de 1997, nostermos do artigo 7º, inciso XXIX, letra “a”,da Constituição Federal, que assim seenuncia: “Inciso XXIX - ação, quanto acréditos resultantes das relações detrabalho, com prazo prescricional de:cinco anos para trabalhador urbano, atéo limite de dois anos após a extinção docontrato; ...” Acolher outro entendimentomalfere o preceito constitucional.

Consoante se depreende, fixou olegislador constituinte o prazoprescricional de cinco anos para as açõesrelativas a créditos trabalhistas, desdeque o ajuizamento da reclamatória ocorradentro do biênio posterior à extinção docontrato. E há que se entender a normado art. 7º, inciso XXIX, letra “a”, da CF,no sentido de que a prescrição se contaa partir da extinção do contrato em si, enão da relação de emprego.

O provimento é parcial, paradeclarar inexigíveis eventuais direitosanteriormente a 21 de agosto de 1992.

2.1.5. Inventos - Indenização -Honorários periciais

A Rede Ferroviária Federal S/Asustenta que não há prova do inventoalegado pelo Autor, conforme diversasvezes mencionado; o copiador defuração e o gabarito conferidor de alturasempre foram usados em suas oficinas;o laudo foi reiteradamente impugnadopor não demonstrar credibilidade, sendosolicitada nova perícia; o Peritoposiciona-se acerca da autoria dosinventos, pelo que apurou junto aoscolegas de trabalho do Reclamante, quepoderiam ser adredemente instruídosnas oficinas visitadas, entre 1985 e 1992,desprezados os requisitos legais,especialmente o prazo decadencial doart. 7º, da Lei n. 5.772/71, caindo nodomínio público; e o § 1º, do artigo 6º,da mesma lei, prevê que uma invençãoé considerada nova quando nãocompreendida pelo estado da técnica; oparecer técnico portado pela Recorrenteprova a anterior existência de ambos osaparelhos; os artigos 18 e 19, do mesmodiploma, prevêem as análises dospedidos de exame e privilégio de inventopelo INPI e publicação do resultado paraposterior expedição da carta de patentee somente após a obtenção destedocumento há considerar-se a autoria doinvento; é condição sine qua non oregistro no órgão competente para quese possa falar validamente em autoria;veda-se o uso de recursos, meios, dadosmateriais, instalações ou equipamentosdo empregador (art. 90, da Lei n. 9.279/96), somente podendo desenvolver apeça ferroviária dentro da oficina daReclamada, pois não existe oficina deoutra ferrovia dentro do Estado de MinasGerais, sendo imprestáveis asinformações do perito (f. 452); mesmo

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assim, nem esta prova foi feita peloAutor; os critérios utilizados pelaexpertise para fixar o valor daindenização foram fixados porprofissional que não detém acompetência para tanto, são insegurose desbordantes do pedido; os honoráriospericiais são extremamente altos.

A Ferrovia Centro Atlânticaevidencia a desinteligência com oscritérios da indenização periciada e aausência de patente dos inventos,pressuposto essencial para ser dono esomente assim é que o Reclamante podesuscitar exame da lesão a direito seu. Ese o Recorrido de fato inventou taisaparelhos, o fez pelo desenvolvimentode sua função de artífice de manutençãoe só poderia tê-lo feito com a utilizaçãode meios e materiais das Reclamadas.Por isso é incongruente a adotadainvenção livre, ou seja, realizada semrelação com o contrato de trabalho e semo uso de meios do empregador, o quetambém não cai bem com a declaradacompetência material com norte narelação de emprego. O direito doempregado só se iniciará se oempregador deixar de explorar asmáquinas a partir de um ano após aconcessão da patente.

A proteção dos direitos relativosà propriedade industrial perfaz-semediante a concessão de patente deinvenção, por atração impositiva doinciso I, do artigo 2º, da Lei n. 9.279, de14.05.96, publicada no DOU de15.05.96, que regula direitos eobrigações relativos à propriedadeindustrial, vigente a teor do artigo 243ibidem, e nestes autos ficou evidenciadodesde o exórdio que há mero pedido deconcessão protocolado perante oInstituto Nacional de PropriedadeIndustrial (f. 24 e 35), tendo sido

apurado que até a presente data correo processo administrativo afim, nãosendo permitido falar-se noperfazimento do ato jurídico, ainda quena sede administrativa, pois não sedescura de que o caso poderá evoluiraté o pronunciamento jurisdicional, naforma do inciso LV, do artigo 5º, daConstituição Federal.

A lei prevê a análise do pedidode exame e privilégio de invento peloINPI e publicação do resultado paraposterior expedição da carta de patentee somente após a obtenção destedocumento há considerar-se a autoria doinvento, sendo esta a condição sine qua

non que se possa falar validamente emautoria. Mas, vale minudenciar que o queconstitui objeto de propriedade industrialé o bem incorpóreo (idéia), daídecorrendo indutivamente a titularidadedos dividendos financeiros deladecorrentes, são os direitos do autor –personalíssimos - como fruto da criaçãocientífica (artística ou literária) e,certamente, não sob o crivo destaEspecializada.

Devo verificar se o quadro fáticoatrai a incidência da proteção do direitorelativo à propriedade industrial, sobprivilégio pro tempore.

Colho da Lei n. 9.279/96 oasseguramento da relação de pertençaao Autor a invenção nas condiçõesnormatizadas.

Invenção (do Latim, inventio, deinvenire) traz os signos de achar,descobrir. Na técnica jurídica, éassimilável como a ação de achar o queestava oculto. É a criação de coisa nova,no sentido comercial, constituindo-se empropriedade do inventor, que o tornaexclusivo no direito de exploraçãomercadológica, aí, sim, mediante aconcessão de patente.

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Inventor, segundo induvidosa liçãodo Mestre PONTES DE MIRANDA, “... nosentido da legislação sobre propriedadeindustrial [...] é a pessoa que cria objeto,e.g., aparelho ou processo, de queprovenha produto novo, meio novo, ou novaaplicação. A atividade inventiva não ésuscetível de outra definição que a seguinte:criação de que emanem resultadosnovos para a indústria. Não importa sederivou de investigações metódicas e deensaios de solução do problema que sequer ou tem de resolver, no estado atualdo desenvolvimento industrial...”. (inComentários à Constituição de 1967,Editora Revista dos Tribunais, Tomo V)

A descoberta, por outro lado,envolve a coisa encontrada por acaso.Revela apenas o que ainda não seconhecia. Todavia, aí a descoberta nãose considera invenção (inciso I, do art.10, da Lei n. 9.279/96).

Quem inventa, segundo o mesmodoutrinador, “... dá ao mundo novo objetoutilizável, ou meio para se chegar anovos objetos utilizáveis, ou a novasaplicações úteis... a engenhosidade,ainda que mínima, há de existir,manifesta na invenção mesma emrelação ao estado anterior.

O que importa é que a atividadeinventiva ultrapasse o que o técnico daespecialidade podia, tal como estava atécnica no momento, achar. O que todosos técnicos da especialidade, no momento,podiam achar não é invenção: não inventao que diz ter inventado o que qualquertécnico da especialidade acharia. Porquetal achado estaria dentro da técnica domomento, sem qualquer quid novum”.

Surge, com a invenção, novaindústria, meio novo, embora não sejanovo o resultado, proporcionandodesenvolvimento industrial ao ser postaem prática. A técnica é mais rica.

Inescondível nestes autos quehouve criação de um novo meio, commelhor resultado, na linha demanutenção de vagões. Quando nada,posso referir à eliminação de etapas, fáciltransporte, fácil confecção das peças aserem substituídas e embutidas nosvagões, atuação menos rústica dosempregados da oficina da Ferrovia,possibilitando, sim, rendimento eprodutividade. Tanto que estava emplena operacionalidade quando dasapurações técnicas. O laudo foi eficazneste aspecto.

Quanto à autoria, os colegas doReclamante reportam-se aos aparelhoscomo “do Arcanjo” e tal aspecto é ornadode credibilidade, pois retirado livrementedas diligências realizadas e asReclamadas nada provam acerca dainveracidade, sendo este lugar propíciopara a aplicação do art. 429, do CPC.Não por isso, paradigmática a atuaçãoda peça de bloqueio: “...o Reclamantedescobriu meios para facilitar asatividades advindas de sua condição deartífice de manutenção... Seu ‘invento’foi oriundo da atividade de trabalho, poiscertamente se o Reclamante nãoexercesse a função de artífice, não teriadescoberto tais máquinas...” .(f. 60)

O Reclamante criou os objetosutilizáveis na atividade empresarial de queprovieram meio e resultados novos comengenhosidade, o que, uma vez mais,pode ser aferível através dos documentos(fotos apresentadas pelo perito e pelaparte-ré) que demonstram a evolução natécnica utilizável com vantagem derivadado processo técnico, não havendo espaçopara sustentar justaposição de processoou meio e nem simples mudança deforma. O efeito técnico evidenciou-se,traduzindo-se em progresso, economia,segurança maiores.

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Do ato de inventar resultamdireitos, numa apreensão jurídicairreparável, não se havendo de deixar aorelento a questão sob os auspíciosinformadores do Direito do Trabalho e asua abrangência diante da situação queenvolve os partícipes da relaçãoempregatícia.

O Eminente GAMA CERQUEIRA(Privilégios de Invenção, e tambémTratado de Propriedade Industrial), teveoportunidade de professar:

“... se a idéia, a concepção,pertencem ao empregado, seforem fruto de sua inteligência, sea realização do invento tiver sidoum fato pessoal; se a invençãofor estranha ao trabalho para queo inventor foi contratado, apropriedade deve serreconhecida, embora a invençãotenha sido feita no curso dos seusserviços, com prejuízo do tempoque a eles devia consagrar, e queo inventor se tenha utilizado dosinstrumentos à sua disposição,aproveitando-se das facilidades àseu alcance, proporcionadas pelopatrão. Do mesmo modo se ficarprovado que houve cooperaçãoentre patrão e empregado, que ainvenção é o resultado dacolaboração de ambos, de seutrabalho comum, não resta dúvidaque a propriedade deve tocar aosdois em comunhão”. (grifosacrescidos)

MOZART VICTOR RUSSOMANO(Comentários...) preleciona:

“O princípio geral é de que ainvenção pertence ao autor,porque é fruto de seu trabalho, de

suas tentativas, de seuraciocínio... das horas gastas.Esse princípio, porém, sofre nãouma revogação, mas umarefração, quando o invento se dáno decurso de um contratoindividual de trabalho, isto é, emmomento no qual o empregadoestá prestando serviços embenefício de outrem, com materialalheio, dirigido, fiscalizado esubordinado ao empregador. Osresultados do trabalho de umempregado, por outro princípiogeral, pertencem ao empregador.O invento em serviço resulta daatividade do empregado. Poder-se-ia, portanto, sem grandeesforço de dialética, concluir pelaatribuição ao empregador dodireito de propriedade dainvenção.A primeira solução feriria asubordinação hierárquica em queo empregado se coloca perantea empresa; a segunda soluçãoseria contrária ao espírito doDireito do Trabalho, pois nãoseria razoável atribuir-se aoeconomicamente poderoso osdireitos e as vantagens queresultam da capacidadeinventiva, do espírito de pesquisae de observação do empregado,economicamente fraco.Chegou a lei, por isso, a umasolução intermediária e essasolução veio a ser, mais tarde,expressamente, adotada peloantigo Código de PropriedadeIndustrial, que repetiu, palavrapor palavra, em seu art. 65 eparágrafo único, os conceitosconstantes do dispositivo emepígrafe.

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Sempre que o empregadoalcançar uma invenção fora dotrabalho e que não tenha relaçãocom a atividade desenvolvidapela empresa, o direito depropriedade da invenção é seu,exclusivamente seu. A ele teráchegado por esforço próprio,usando seus recursos exclusivos,desvinculado por inteiro dapessoa do empregador. Ainvenção não dirá, nem direta,nem indiretamente, respeito aocontrato de trabalho, não sendo,por isso, atingida pelasubordinação hierárquica em queesse contrato o coloca.Ao contrário, se o trabalhador foiadmitido pela empresa parapesquisa científica, com o intuitoimediato de explorar idéias eexperimentar hipóteses, osresultados a que chegue oempregado serãoexclusivamente de propriedadedo empregador.A orientação de sua atividade terásido dada pela empresa e paraaquele fim determinado. Todos osriscos econômicos foram sofridospelo empregador, com o fito únicode realizar a invenção. Nãohaveria como atribuir-se aoempregado, nessaeventualidade, qualquer direitosobre os resultados obtidos (art.454, parte final).Entre os casos em que oempregado tem todo o direito dainvenção - porque ela não tem amenor relação com a empresa oucom seu contrato individual detrabalho - e os casos em que odireito pertence, por inteiro aoempregador - porque o contrato

foi celebrado, exatamente, paraencontrá-la - existem osfenômenos híbridos, que exigemsolução também híbrida.Se o empregado, noDESEMPENHO DEATIVIDADES RELATIVAS AOSEU CONTRATO, EMBORAESSAS ATIVIDADES NÃOSEJAM DIRIGIDAS A UMAPESQUISA CIENTÍFICA, inventaprocessos de produção, modelos,produtos etc., a propriedade dainvenção pertencerá, em partesiguais, ao empregado e aoempregador.A exploração do invento - nesteúltimo caso, em que apropriedade do mesmo pertenceao empregado e ao empregador,em cotas idênticas - cabe aoempregador. Ele possui aempresa organizada e temrecursos econômicosindispensáveis à aplicação doinvento. De modo que aprerrogativa que a lei lhe dá,derivada da circunstância de sero detentor do poder diretivo doestabelecimento, vai embenefício do próprio empregado,porque propicia maioroportunidade de gozo dainvenção.” (Somente os grifosforam acrescidos)

Tem aplicação à espécie o artigo42, da Lei n. 5.772/71, em razão da datanoticiada de uso do invento a partir de1992.

Evidenciam os elementos dositens 2.3. e 2.4. do laudo de f. 347-48(documentos de f. 361-63), que indica afuração tendo como guia o prato-peãoantigo e para a medição de altura o

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tempo da operação é praticamenteidêntico, usando ambos os métodos, sóque o novo elimina etapas,proporcionando comodidade nodesempenho das tarefas. Trata-se deatuação nova, conforme o artigo 8ºibidem, eis que a criatividade é fatordecisivo no mundo empresarial denossos dias, frente à competitividadeexistente.

O lugar onde foi desenvolvido oprojeto pelo Autor, a tese recursal perde,pois, consistência, o que, em sedelaboral, não arranha o artigo 90, da Leinova, que manteve em essências talaspecto da Lei velha.

O que vulnera nosesclarecimentos de f. 384-85 o relatoacerca de que o gabarito conferidor dealtura não estava em uso na unidade deDivinópolis e o que se constatou foi o usode um dispositivo que elimina umaoperação de medição através de trena,para medir distância da régua sobre ostrilhos até a marcação com giz no centroda mandíbula. É o que se pode denominarde uso do engenho humano paraaprimorar técnica até então usada,naquela unidade. E isto é força atrativado revigorado artigo 91, da Lei 9.279/96,ou seja, propor a propriedade comum empartes iguais, porquanto do cotidianolaborativo ressurgiu o aprimoramentoobjeto do engenho, a ressalva legal é quea “exploração do objeto da patente, nafalta de acordo, deverá ser iniciada peloempregador dentro do prazo de 1 (um)ano, contado da data de sua concessão,sob pena de passar à exclusivapropriedade do empregado a titularidadeda patente, a não ser que sobrevenhamas hipóteses de falta de exploração porrazões legítimas” do interessado (grifei).Esta a norma que entendo consentâneapara a aplicação ao caso concreto.

Esclareço que não há crise delegalidade protagonizada por conflito deleis no tempo, pois a lei nova, sob cujasluzes analiso a pretensão, revogouexpressamente a Lei n. 5.772/71 e previua transição dos fatos pendentes em seucontexto, sendo certo que o pedido doReclamante perante o órgão competentepara o registro da patente foi feito emjulho/93, estando ainda em trâmite.

Efetivamente, ocorreu um invento- modelo de utilidade -, cuja autoria é doReclamante.

Daí posso retirar paraposicionamento válido e regular destaEspecializada que os autos ofertam comnotável comodidade o envolvimento deum artífice de manutenção, que ofertousua operosidade laborativa em setoresde oficina da parte-Reclamada deantanho. Ali chegou, por óbvio,encontrando sistema dedesenvolvimento e comutação da forçade trabalho indicada pelo empregador.

Luzidia a contra-argumentaçãoempresária através do parecer autuadoa partir de f. 415, quando esclarece aexistência de sistema de manutenção devagões com marcação de prato novo efuração e auxílio de furadeira vertical decoluna no local apropriado, conformefazem ver os documentos de f. 425contrapostos ao transferidor de furaçãode f. 426, 427 e 420. E que o gabarito foicriado dentro do ambiente de serviço (cf.f. 416) e ambos os aparelhos hoje em usoem Sete Lagoas (MG) - e apenas um emDivinópolis (MG) - foram aperfeiçoadospela empresa, porque o original erabastante rústico (item 3, de f. 452).

Reforço que ajustes queaprimorem o objeto do engenho,conforme sinala a prova, são atosulteriores, que não interferem naconfiguração do invento.

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Posto isto, faltaria apenasquantificar a compensação pecuniária.

O que se pretende é aindenização por perdas e danos, a serliqüidada por arbitramento, consistenteem parcela sobre o lucro obtido pelasReclamadas pelas cópias e uso dosrespectivos inventos a partir de julho/92,levando em conta os lucros cessantesque o Reclamante teria auferido se asviolações não tivessem ocorrido, bemcomo em função dos benefícios queforam pela empresa auferidos emdetrimento dos privilégios dapropriedade do Reclamante.

A primeira parte do pedido éinatendível, ante os termos da Lei dePatentes (§ 2º, do art. 91, ou no conjuntodo Capítulo XIV, do Título I).

A segunda parte do pedido(indenização pelos benefícios que forampela empresa auferidos em detrimentodos privilégios da propriedade),submete-se aos termos da Lei dePatentes, velha e nova, ante o princípioiura novit curia. Aqui, enfatizo adistintividade do valor retributivo napropriedade comum, como é o caso.

Garante o ordenamento aoempregador o direito exclusivo dalicença de exploração, assegurado aoempregado justa remuneração,vedando qualquer t ipo deincorporação, e nada além. A próprianorma afasta a participação em ou deresultados de forma clara, e nãoconcebe tergiversações. Não hápossibilidade de transpor os umbraisda norma e isto implica, data venia, nanecessidade de ser reparada a r.sentença.

As partes nada dispuseram sobreo valor retributivo do invento. Aestipulação da remuneração há de serfeita aqui.

Recorrer-se à enunciação do art.460, da CLT, é impossível, porquantoinexiste a função de inventor que possaser referenciada. E como se tem ahipótese do invento casual - nalinguagem do douto Antônio Lamarca -,nem se poderia incursionar em setoresde pesquisas onde a invenção possa serínsita a fim de buscar-se a quantificaçãoremuneratória do Reclamante. Aliás, aprópria lei aplicável incompatibiliza umatal concepção, ao distinguir,enfaticamente, as situações quecontemplam inventos por parte de quemtenha sido contratado com tal finalidadeou possibilidade e daquele que,fortuitamente e sem se compreenderfuncionalmente em setor ou atividadecom aquela previsão.

A exegese do § 1º, do artigo 40,da Lei n. 5.772/71, atualmente convoladaem premiação combinando o parágrafoúnico, do artigo 93, com o artigo 88, daLei n. 9.279/96, irradia efeitos para seencontrar a justa remuneração devida.Isto porque a atividade potencial deinvento e para tal contratado tem comocompensação do trabalho ou serviçoprestado a remuneração ou salárioajustado.

Certo que a remuneraçãoauferida pelo Reclamante no curso doemprego retribuiu-lhe serviçossubordinados prestados e condizentesestritamente com o contrato de trabalhohavido. Igualmente certo que foi naquelaoficina de manutenção que ocorreu oinvento, ou em razão de nela atuar.

Faço questão de enfatizar que alei versou a hipótese de remuneração eo conceito desta é peculiar ao âmbitoda relação de emprego, significando agama retributiva do empregado nocontexto da contraprestação dotrabalho.

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Quando a Lei se arrima,definindo, na remuneração, o faz porqueexatamente abarca empregado eempregador em face de invento nãoinserido na possibilidade do contratolaboral. Ela se volta àquela exegeseexposta, pois do contrário, diria que aparticipação do obreiro na co-propriedadecorresponderia à meação da exploração,pelo menos, e porque de propriedadecondominial em partes iguais já dispôs.

A norma legal distingue ahipótese de ser requerido o privilégio noestrangeiro. Distintamente, elacondiciona um tal procedimento àgarantia de remuneração ao empregado-inventor (§ 2º, do artigo 42, da Lei 5.772/71). Fica claro que a retribuição éindependente da preconizada no caput.

Ao invento corresponderá acorrespondente paga remuneratória aoempregado até esgotado o prazo legaldo privilégio. Arbitrando o valor, entendodevam as Reclamadas pagar aoReclamante quantum mensalcorrespondente ao salário da função deartífice de manutenção e também o 13ºsalário, observada a proporcionalidade(ou o que lhe suceder, ainda que sob aalteração de nomenclatura na empresa,abarcando reajustes e aumentos de todaordem e independentemente de causaou motivação). O termo a quo remontaao prazo prescricional proclamado e nãojulho/92. O termo ad quem, ou o prazode duração do privilégio, como houveinvenção de modelo de utilidade, o prazoé de 15 (quinze) anos, a teor do artigo40, caput da Lei n. 9.279/96. O termo finalserá o mês de julho de 2007 (Lei n. 810/49, artigo 1º).

As parcelas vencidas até aliqüidação serão apuradas parapagamento integral com juros eatualização monetária.

As parcelas vincendas, ou asmensalidades que não se incluírem naliqüidação, deverão ser pagas pelasReclamadas ao Reclamante diretamente,sob créditos bancários mensais comousual, facultado desonerarem-se daobrigação sucessiva mediantepagamento antecipado correspondenteao tempo que restar até o termo final,pagando mensalidades, com observânciados 13º salários de cada ano, pelo saláriovigente na data da antecipação.

A menção à liqüidação não induzseja ou possa ser apenas uma.Ordinariamente será feita uma, incluindoas prestações vencidas, com a execuçãoforçada se necessário. Oinadimplemento das demais que lheseguirem, acaso verificado, ensejará aexecução das parcelas mensaisinseridas na mora até esgotar-se o direitoà indenização compensatória.

Os honorários periciais ficamreduzidos a R$1.000,00, sujeitos àatualização monetária até a época dopagamento, ante a sua parca influênciapara o desate da questão, adequando-se, ainda, à realidade econômica do País.

2.1.6. Horas extras - Reflexos

Discordam as Recorrentes daexigência de acordo escrito para avalidade da compensação de horasextras com folgas, pois a partir da novaordem constitucional permite-se acordotácito. A jornada praticada tornou-secondição inserida no contrato de trabalhodo Recorrido, não se podendo havercomo extra a hora laborada após a oitavadiária.

Entendo, igualmente, que aatuação sindical é essencial para opropósito compensatório ao par, nostermos da CF, inciso XIII, do art. 7º.

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Veio aos autos uma folha danorma coletiva (f. 173), que desserve aocotejo, por tratar-se de mera parte doinstrumento. Do documento desconheço.

Reflexos têm caráter de pedidoacessório, que segue a sorte doprincipal.

Portanto, nego provimento.

3. Conclusão

Conheço dos recursos; declaro acompetência material da Justiça doTrabalho para dirimir o pedido deindenização por utilização de invento; nomérito, provejo-os parcialmente, paradeclarar inexigíveis eventuais direitosanteriormente a 21 de agosto de 1992;reduzir os honorários periciais paraR$1.000,00, atualizáveis até opagamento; arbitrar a justa remuneraçãono quantum mensal correspondente aosalário da função de artífice demanutenção e também o 13º salário,observada a proporcionalidade (ou ovalor que lhe suceder, ainda que sob aalteração de nomenclatura na empresa,abarcando reajustes e aumentos de todaordem e independentemente de causaou motivação). O termo a quo remontaao prazo prescricional proclamado; otermo final será o mês de julho de 2007.

Em liqüidação, observar-se-ão:

a) as parcelas vencidas até aliqüidação serão apuradas parapagamento integral com juros eatualização monetária;

b) as parcelas vincendas, ou asmensalidades que não se incluírem naliqüidação, deverão ser pagas pelasReclamadas ao Reclamantediretamente, sob créditos bancáriosmensais como usual, facultadodesonerarem-se da obrigação sucessiva

mediante pagamento antecipado,correspondente ao tempo que restar atéo termo final, pagando mensalidades,com observância dos 13ºs salários decada ano, pelo salário vigente na datada antecipação;

c) a menção à liqüidação nãoinduz seja ou possa ser apenas uma.Ordinariamente será feita uma, incluindoas prestações vencidas, com a execuçãoforçada se necessário. Oinadimplemento das demais que lheseguirem, acaso verificado, ensejará aexecução das parcelas mensaisinseridas na mora até esgotar-se o direitoà indenização compensatória,lembrando que a Lei Tuitiva faculta aformação de autos em apartado.

Valor da causa reduzido paraR$92.000,00, custas recolhidas.

Motivos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da Terceira Região,pela sua Primeira Turma, preliminarmente,à unanimidade, em conhecer de ambosos recursos; sem divergência, em declarara competência da Justiça do Trabalho paradirimir o pedido de indenização porutilização de invento e, por maioria devotos, em dar provimento parcial aorestante do mérito de ambos paradeclarar inexigíveis eventuais direitosanteriormente a 21 de agosto de 1992;para reduzir os honorários periciais paraR$1.000,00 (um mil reais), atualizáveis atéo pagamento; para arbitrar a justaremuneração no quantum mensalcorrespondente ao salário da função deartífice de manutenção e também o 13ºsalário, observada a proporcionalidade (ouo valor que lhe suceder, ainda que sob aalteração de nomenclatura na empresa,

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abarcando reajustes e aumentos de todaordem e independentemente de causaou motivação), determinando que otermo a quo remonta ao prazoprescricional proclamado; o termo finalserá o mês de julho de 2007; e, emliqüidação, observar-se-ão: a) asparcelas vencidas até a liqüidação serãoapuradas para pagamento integral comjuros e atualização monetária; b) asparcelas vincendas, ou as mensalidadesque não se incluírem na liqüidação,deverão ser pagas pelas Reclamadas aoReclamante diretamente, sob créditosbancários mensais como usual, facultadodesonerarem-se da obrigação sucessivamediante pagamento antecipado,correspondente ao tempo que restar até otermo final, pagando mensalidades, comobservância dos 13º salários de cadaano, pelo salário vigente na data daantecipação; c) a menção à liqüidação nãoinduz seja ou possa ser apenas uma; e,ordinariamente, será feita uma, incluindoas prestações vencidas, com a execuçãoforçada se necessário; o inadimplementodas demais que lhe seguirem, acasoverificado, ensejará a execução dasparcelas mensais inseridas na mora atéesgotar-se o direito à indenizaçãocompensatória, lembrando que a LeiTuitiva faculta a formação de autos emapartado; reduzindo o valor da causapara R$92.000,00 (noventa e dois milreais), custas já recolhidas, vencidosparcialmente os Ex.mos Juízes Revisor eDenise Alves Horta, quanto aoshonorários periciais.

Belo Horizonte, 16 de agosto de1999.

EMÍLIA FACCHINIPresidente e Relatora

TRT/MS-120/99Publ. no “MG” de 06.08.99

IMPETRANTE: CRUZEIRO ESPORTECLUBE

IMPETRADA: MM. JUÍZA PRESIDENTEDA 20ª JCJ DE BELO HORIZONTE

EMENTA: MANDADO DESEGURANÇA - AÇÃOCAUTELAR - LIMINAR -JOGADOR DE FUTEBOL -PASSE LIVRE. Fere direitolíquido e certo a decisão liminarque confere prestaçãosatisfativa em obrigação defazer. O deferimento liminar,em ação cautelar, de passelivre a jogador de futebolimplica em desfazer umarelação de trabalho e permitirque outra se constitua sempossibilidade de desfazimentodos atos respectivos, se a açãoprincipal tiver desfechodiverso. Segurança concedida.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de Mandado de Segurança,em que figuram como, ImpetranteCRUZEIRO ESPORTE CLUBE, e comoImpetrada MM. JUÍZA PRESIDENTE DA20ª JCJ DE BELO HORIZONTE.

RELATÓRIO

“CRUZEIRO ESPORTE CLUBEimpetra mandado de segurança contradecisão proferida pela JUÍZAPRESIDENTE EM EXERCÍCIO NA 20ªJCJ DA CAPITAL que, nos autos da açãocautelar inominada, processo n. 415/99,deferiu liminar em favor do jogador defutebol CLAUDEMIR VITOR, concedendo-lhe o passe livre (decisão de f. 72/76).

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Pretende o impetrante arevogação da liminar aduzindo serimprópria a utilização de cautelar paratutela de cunho satisfativo. Sustenta quea controvérsia acerca do término dovínculo empregatício e passe do jogadornão pode ser examinada via medidacautelar.

Aduz, ainda, que a Resolução n.01/96, do INDESP, perdeu a eficácia evigência com o advento da Lei 9.615, de24.03.98 (Lei Pelé), já que esta revogou,expressamente, a Lei 8.672, de 6 dejulho de 1993 (Lei Zico). Entende que oprocedimento a ser adotado narenovação de contrato com o atletaprofissional de futebol e cessão do‘passe’ deve respeitar a Lei 6.354, de02.09.76, regulamentada pelo artigo 9º,da RDI 01/91, expedida pelaConfederação Brasileira de Futebol.

Requer, ao final, a cassação daliminar concedida em 1ª instância e, casomantida esta, pugna pela prestação decaução ao argumento de que faz jus aorecebimento de indenização asseguradaao clube detentor do passe do atleta, nostermos do artigo 13, da Lei 6.354/76.

Atribuiu à causa o valor deR$1.000,00.

Foram juntados aos autos osdocumentos de f. 12/105, estando adecisão ora hostilizada nas f. 82/85.

Às f. 106/107 foi concedidaliminar favorável ao impetrante.

A autoridade coatora prestouinformações às f. 127/130.

O atleta, ora litisconsorte, semanifestou às f. 114/125.”

Adoto o bem elaborado relatóriodo MM. Juiz Relator, acrescentando-lheapenas que, conforme certidões dejulgamento de f. 153 e 159, a Eg. SeçãoEspecializada, por maioria de votos,rejeitou a preliminar de extinção do

processo, sem julgamento do mérito, pormim argüida de ofício; e ainda pormaioria de votos, decidiu-se manter ovalor de R$1.000,00 atribuído à causa;e no mérito, ainda por maioria, concedeu-se a segurança para manter a liminarconcedida nestes autos, cabendo-me aredação do acórdão.

O parecer da D. PRT é pelocabimento da medida, não concessão dasegurança, suspendendo a liminarconcedida pelo I. Relator, comrestabelecimento da liminar antesdeferida pela autoridade impetrada.

FUNDAMENTOS

Admissibilidade do mandamus

Presentes os pressupostosobjetivos e subjetivos de admissibilidade,conheço do presente mandado desegurança, nos termos da Lei n. 1.533/51.

MÉRITO

As ações cautelares sãopreparatórias ou incidentais (art. 800, doCPC) e são sempre dependentes doprocesso principal (art. 796, do mesmoCódigo).

No caso presente, a açãoproposta seria preparatória (f. 28) daação principal que seria ajuizada em 30dias (f. 28). Mas, de preparatória, nãose trata, posto que aqui mesmo já seesgotou toda a pretensão que só caberiana alegada ação principal, como seconstata pelo rol de pedidos constantesdo item VIII, de f. 27/28, de “a” a “e”, nadasobrando para a ação futura.

Nem se vislumbra aqui que tipode preparo se impunha para viabilizar oajuizamento da ação principal, sendo amedida de total inutilidade ou necessidade.

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Dissertando sobre o tema, ensinaPontes de Miranda: - “MedidasPreventivas Preparatórias - Sendopreparatórias (necessárias ou úteis) ecomo tais propostas, as medidascautelares têm de ficar dependentes dapropositura da ação a que servem.” (InComentários ao Código de Processo

Civil, tomo XII, p. 78)Todavia, como já salientado, aqui

nada se previniu, nada se preparou etudo se pediu, como se a ação fosseindependente de qualquer pleito futuro,antecipando-se a formulação dos pedidosque só seriam próprios da ação principal.

Então, ou a presente cautelarteria que ser recebida e autuada comoreclamatória trabalhista (ação principal) outeria que ser extinta de plano, à vista da“ausência de pressupostos de constituiçãoe desenvolvimento válido e regular doprocesso” (art. 267, IV, do CPC).

Contudo e, lamentavelmente, aoinvés da extinção sumária do processo,concedeu-se liminar inaudita altera pars

satisfativa do direito que só poderia serpleiteado na ação futura, como sehouvesse risco iminente de que, sem amedida, lesão irreparável viesse atingiro direito do autor da ação.

Ora, as cautelares, como ésabido, visam tão-somente assegurar aeficácia da decisão definitiva que vier aser proferida na ação principal. Nunca,a tutela satisfativa do direito perseguido.

Nesse sentido, já se pronuncioua Eg. 1ª Turma do TRT da 1ª Região,em recente acórdão: “Pergunta-se, porexemplo: se o processo cautelar tem porescopo assegurar o resultado útil de umoutro processo - de conhecimento ouexecução - poder-se-á emprestar-lheefeito satisfativo quando só este possaassegurar aquele resultado?” (LTr -Janeiro/99, p. 70)

Bem lembradas, igualmente, sãoas decisões apontadas na inicial, às f. 04/05: “Não pode o Juiz, sob o pretexto deevitar dano, decidir, no processo cautelar,aquilo que só poderia ser debatido,equacionado e resolvido na ação própria,pena de, ao emitir pronunciamento denatureza satisfativa, desvirtuar afinalidade daquela medida provisória,que é a de assegurar o resultado eficaz,operante do processo principal.”

Outra. “A medida cautelar nãopode antecipar a prestação jurisdicionalpleiteada no processo principal, o queequivaleria a conceder à cautelar caráterde execução provisória de uma sentençaque ainda não existe, e que poderá nemvir a existir. Somente em casosexcepcionais, geralmente vinculados aodireito de família e expressamenteprevistos em lei, é admissível a medidacautelar com efeito satisfativo.”

Por tudo isto já se tem a medidado desacerto da decisão ora atacada, portolher, completamente qualquer gesto dereação do impetrante, em discutir, nodevido processo legal, a pretensão doautor daquela ação, aqui litisconsorte, deobter “passe livre”. Daí, a manifesta lesãoa direito líquido e certo do impetrante,constitucionalmente assegurado a todosem geral, ao devido processo legal e àampla defesa (art. 5º, LIV e LV, da CF/88).

Pelo exposto, concedo asegurança impetrada, para manter aliminar deferida nestes autos às f. 106/107.Custas pela União, no importe de R$20,00,calculadas sobre R$1.000,00, imune.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da 3ª Região, pelasua SEÇÃO ESPECIALIZADA, em julgaro presente feito e, por maioria de votos,

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em rejeitar a preliminar de extinção doprocesso por perda de objeto, argüidade ofício pelo Ex.mo Juiz Antônio Mirandade Mendonça, vencidos os Ex.mos JuízesArgüente e Sérgio Aroeira Braga; ainda,por maioria em manter o valor atribuídoà causa na inicial, R$1.000,00, vencidosos Ex.mos Juízes Relator e Revisora. Nomérito, por maioria, após voto dedesempate proferido pelo Ex.mo JuizAntônio Fernando Guimarães, emconceder a segurança, mantendo aliminar deferida nesses autos, vencidosos Ex.mos Juízes Relator, Revisora eWanderson Alves da Silva. Custas, pelaUnião, no importe de R$20,00,calculadas sobre R$1.000,00, valoratribuído à causa na inicial. IMUNE.

Belo Horizonte, 06 de julho de1999.

ANTÔNIO ÁLVARES DA SILVAPresidente e Relator

ANTÔNIO MIRANDA DE MENDONÇARedator

TRT/RO-14163/98Publ. no “MG” de 17.11.1999

RECORRENTES: ROGÉRIO DE PAULAPEREIRA (1)ORDÁLIA CHAVES DA SILVABARBOSA (2)

RECORRIDOS: OS MESMOS

EMENTA: JOGO DO BICHO -APONTADOR E CAPTADOR DEJOGOS - ESTABELECIMENTOABERTO AO PÚBLICO -VÍNCULO LEGAL. O apontadore captador de jogo do bichonão traduz atividade ilícita que

venha a desnaturar o vínculoempregatício, quando estãopreenchidos todos osrequisitos do art. 3º, da CLT,tais como a subordinação,onerosidade e nãoeventualidade. Aliado a isso,temos que o estabelecimentoera aberto ao público com opleno conhecimento dasautoridades, equivalente àcentena de jogos de azarcriados pelo Governo. Se oapontamento e captação dejogos de azar em sentido amplofor considerado ilegal, asdiversas empresas que fazemtal trabalho para as CaixasEconômica Federal eEstaduais, teriam seusempregados enquadradoscomo contraventores penais.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de recursos ordinários,interpostos de decisão da MM. Junta deConciliação e Julgamento de Ribeirãodas Neves, em que figuram comorecorrente ROGÉRIO DE PAULAPEREIRA (1) e ORDÁLIA CHAVES DASILVA BARBOSA (2) e, como recorridos,OS MESMOS.

RELATÓRIO

Inconformados com a decisão daMM. JCJ de Ribeirão das Neves,recorrem ambos os litigantes.

O reclamado recorre e diz que nãoseria possível o reconhecimento do vínculodiante da ilicitude do objeto face àsdisposições do art. 82, do Cód. Civil; quea defesa afirmou que jamais houveadmissão e nem dispensa, ficando claroque a reclamante era apontadora de jogo

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do bicho, envolvida na contravenção penal;cita julgados; ademais, a própria recorridainformou quanto à pessoalidade, que erasubstituída pelo seu filho, sendo certo queo trabalho deveria ser realizadopessoalmente; assim, inexiste o vínculopela falta de pessoalidade, o que tambémimplica em serem indevidas as parcelasrescisórias; que são indevidos os repousose feriados deferidos, por falta de provas.

Feito o depósito recursal e pagasas custas.

A reclamante recorreadesivamente, dizendo que a médiamensal do salário era de R$465,12,como está no doc. de f. 5 e apesar dissofoi deferido o salário mínimo deR$120,00 da época da rescisão; que asdiversas loterias exploram os jogos e arecorrente cumpria horários de 8 às19:30 ou 20 horas. Pede o provimentoquanto aos salários e horas extras.

Apresentadas contra-razões e oparecer da ilustrada Procuradoria Regionaldo Trabalho, da lavra da Drª ElianeNoronha Nassif, é pela improcedênciadiante da inexistência do vínculo passívelde ser juridicamente aceito.

É o relatório.

VOTO

1 - Recurso do reclamado

A - Conheço do recurso porqueaviado a tempo, estando regulares odepósito recursal e o pagamento dascustas.

B - Preliminar de nulidade -Ilicitude do objeto

Muito se tem discutido a respeitodo tema em relação aos apontadores ecaptadores do jogo do bicho, como sendo

uma atividade ilegal e a relação delescom os chamados banqueiros do jogodo bicho, como sendo ilícita, atraindo aaplicação do art. 82, do Cód. Civil.

Entendo que a atividade doapontador é idêntica à dos demaistrabalhadores que são empregados dascasas lotéricas na realização dos jogosexplorados pela Caixa EconômicaFederal, sendo todos eles jogos de azar.

A se entender como atividadeligada à contravenção penal, todosesses trabalhadores das casas lotéricasestariam nessa condição e a própriaCaixa Econômica Federal, assim comoas Caixas Estaduais, seriam osbanqueiros dos jogos, envolvendo aindaos agentes e dirigentes políticos quecriaram e mantém a centena de jogosque se realiza no País, todos comabsoluta identidade com o exercitadopelas partes.

O problema, ao que tudo indica,é apenas de natureza tributária e nãopenal, pois se há alguma criação doparticular para determinada atividade ese ela é lucrativa, só se torna legal sefor explorada pelo Governo, poucoimportando aos agentes públicos quantoaos seus efeitos.

Nem se diga que poderiam sercomparadas as atividades com a dostraficantes em relação aos seusdistribuidores e nem das prostitutas emrelação ao prostíbulo, já que no primeirocaso é atividade criminosa, enquantoque no segundo caso inexiste o vínculode natureza trabalhista, registrando-se,por oportuno, ultima ratio, que órgãos dogoverno não atuam nestas áreas, demodo a coonestar sua exploração porterceiros, residindo aí o grandediferenciador das situações focalizadas.

Certo é que as autoridadespúblicas deixam tais estabelecimentos

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abertos, tanto que a prova revela queeram feitos os jogos em uma loja,estabelecimento que ficava aberto aopúblico em geral.

Não se pode esquecer ainda queo Governo está de há muito tentandoexplorar diretamente tal atividade, nabusca de lucros, só que tem encontradoobstáculos, por se tratar de jogo muitopopular e que é feito informalmente,muito ligado à confiança recíproca doapostador com o explorador da atividade.

Assim, entendo que a atividadenão é ilícita e nem o seu objeto, para finstrabalhistas, aliás, na esteira da decisãounânime da conspícua 1ª Turma doColendo Tribunal Superior do Trabalho,prolatada no processo RR-331.179/1996.1, a seguir transcrita:

“EMENTA: VÍNCULOEMPREGATÍCIO - TRABALHADOREM JOGO DO BICHO. Inobstante ailicitude da atividade desenvolvidapela Reclamante, tolerada pelosusos e costumes pela nossasociedade, esta prestou serviçospermanentes remunerados e soba dependência da Empresa-ré. Adespeito dessas considerações,é o Reclamante empregado,dentro do contrato-realidade, nãopodendo, pois, a empregadorabeneficiar-se da própria torpeza.Recurso a que se negaprovimento.” (In DJU 01.10.99, f. 84)

Nego provimento.

C - Preliminar de inexistênciada relação de emprego

O reclamado questiona o aspectoda impessoalidade, invocando odepoimento pessoal da reclamante à f. 20.

Realmente, ela disse que ficavasozinha no estabelecimento e que senecessitasse sair, o seu filho a substituía,sendo ela própria quem fazia seu horáriode trabalho.

Entendo que estes fatos não sãosuficientes para descaracterizar ovínculo, tratando-se de meracolaboração de membro da família, o quese justifica porque a reclamantetrabalhava sozinha no estabelecimento.

Os aspectos decorrentes sãoanalisados na parte relativa ao mérito,mas não têm a força de excluir o vínculoempregatício, que se encontra presenteno caso vertente.

Rejeito.

D - Mérito

No mérito, entendo que osrepousos remunerados e feriados, foramindevidamente acolhidos, visto que areclamante confessou que ficava sozinhano estabelecimento e era ela quem faziasua jornada de trabalho, agindo cominteira liberdade, sem qualquerfiscalização por parte do empregador.

Entendo ainda que a r. sentençaequivocou-se inteiramente quanto à datade admissão, pois a reclamantemencionou à f. 20 que começou atrabalhar em 25.01.96 e como oreclamado questiona os direitosdeferidos à f. 35, pedindo sua exclusão,fica retificada a r. sentença neste ponto,limitando os direitos da autora ao períodode 25.01.96 a 21.03.98.

Prevalece o depoimento daautora, mesmo que a testemunha ouvidaà f. 21, tenha mencionado que areclamante trabalhava nessa atividadehá mais de 10 anos, mas não se sabese foi com o reclamado, já que poderiatrabalhar com outro banqueiro.

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A multa do art. 477, da CLT,também é excluída, pela forte discussãoprocessual a respeito do vínculo, seproibido ou não, se existente ou não,consoante ensinamento da egrégia 2ªTurma do Excelso Superior Tribunal doTrabalho, proferido no processo RR-482.741/1998.5, a saber:

"EMENTA: MULTA DO ARTIGO477, DA CLT - CONTROVÉRSIAACERCA DO LIAMEEMPREGATÍCIO. A matériatratada teve cunho nitidamentecontrovertido, eis que a discussãogirou em torno da existência, ounão, da relação de emprego, nãose podendo aferir, de tal sorte, oextrapolamento do prazo para opagamento das parcelasrescisórias. Nesse contexto,somente após a decisão quedeclarou a existência da relação deemprego, é que se pode considerarcomo iniciado o prazo previsto nodispositivo celetário para a efetivaquitação das verbas rescisórias,pelo que, no período anterior, nãohá que se falar em atraso na suasatisfação pelo empregador.Recurso parcialmente conhecido eprovido." (In DJU 01.10.99, f. 137)

Pelo exposto, dou provimentoparcial ao recurso para excluir dacondenação os repousos e feriadoslaborados, bem como a multa do artigo477, da CLT, fixando ainda como data deadmissão o dia 25.01.96, limitando osdireitos deferidos a esse lapso temporal.

2 - Recurso da reclamante

A - Conheço do apelo adesivo,porque aviado a tempo.

B - Mérito

A reclamante pretende que ossalários sejam fixados no valor quecolocou na inicial e que as horas extraslhe sejam deferidas.

No que tange às horas extras, odepoimento pessoal da reclamante éclaro, sendo confessa quanto ao fato deque era ela quem fazia seu horário, semqualquer interferência de ninguém.

O valor do salário mencionado nainicial foi contestado, sendo certo que ospapéis de f. 5, não revelam o salárioobtido, sendo apenas possivelmente, omovimento da loja, o qual era aindaobjeto da colaboração do filho dareclamante.

Correta a sentença ao fixar osalário mínimo como base de cálculo dosdireitos deferidos.

Nego provimento.Pelo exposto, conheço de ambos

os recursos, rejeito as preliminares denulidade do contrato e de inexistência darelação de emprego, e, no mérito, douprovimento parcial ao recurso doreclamado para excluir da condenaçãoos repousos e feriados trabalhados, amulta do artigo 477, da CLT, bem comopara reduzir os direitos deferidos aoperíodo de 25.01.96 em diante e negoprovimento ao recurso da autora,mantendo o mesmo valor estimado dacondenação.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua Terceira Turma, àunanimidade, conhecer do recurso doreclamado; por maioria de votos, vencidaa Juíza Maria Cecília Alves Pinto, quantoà relação de emprego, rejeitar a

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preliminar de nulidade - ilicitude doobjeto, bem como de inexistência darelação de emprego; no mérito, semdivergência, dar-lhe provimento parcialpara excluir da condenação os repousose feriados trabalhados, a multa do artigo477, da CLT, bem como para reduzir osdireitos deferidos ao período de 25.01.96em diante; unanimemente, conhecer dorecurso da autora; no mérito, porunanimidade, negar-lhe provimento,mantido o valor estimado dacondenação.

Belo Horizonte, 22 de outubro de1999.

JOSÉ MIGUEL DE CAMPOSPresidente e Relator

TRT-SCR/3 - PP-008/1998Publ. no “MG” de 25.08.1999

INTERESSADA: OFICIALA DOCARTÓRIO DO 1º OFÍCIO DEREGISTROS DE IMÓVEIS DEUBERABA

ASSUNTO: MANDADO DE REGISTRODE PENHORA DE BEM IMÓVEL.QUALIFICAÇÃO REGISTRÁRIANEGATIVA

EMENTA: PENHORA -REGISTRO - CRÉDITOTRABALHISTA - PREFERÊNCIA- LEGALIDADE. Tem o créditotrabalhista preferência sobrequalquer outro, seja qual for anatureza ou o tempo daconstituição deste (CTN, art.186). A penhora existente sobrebem imóvel em processo deexecutivo fiscal não impede que

o mesmo bem seja constritopara garantia da execução noprocesso do trabalho. Namesma situação encontra-se obem gravado por cédula decrédito comercial ou industrial(CLT, art. 889; Lei n. 6.830/80).Nestas circunstâncias élegítima a ordem judicial quedetermina o registro da penhorarealizada sobre bem imóvel paraa garantia do crédito trabalhista.

A i. Oficiala do Cartório doPrimeiro Ofício de Registros de Imóveisde Uberaba-MG ofereceu representaçãocontra o MM. Juiz Presidente da 1ª Juntade Conciliação e Julgamento deUBERABA-MG e formulou pedido deprovidências, tendo em vista a expediçãode três mandados para registro depenhora efetuada sobre bens imóveispara a garantia da execução referente atrês processos.

A i. Oficiala considerou negativaa qualificação registrária em relação aosseguintes processos:

359/97, onde figuram comopartes Osmar Camilo + 06 e Indústria eComércio de Calçados Vera Cruz Ltda.,cujo mandado de registro de penhora foirecebido e prenotado aos 06 de agostode 1997, mas não registrado,considerando que o imóvel se achavaindisponível, por força do artigo 53, daLei n. 8.212/91, em razão de averbaçõesde registros de outras penhoras oriundasda Justiça Federal.

268/97, em que figuram comopartes Sebastiana de Oliveira Resende+ 05 e Santo Ignácio Transportadora ePrestadora de Serviços Ltda., em relaçãoao qual houve a prenotação, nãohavendo o registro da penhora por nãose achar registrada a aquisição dos

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imóveis penhorados em nome deLeonaldo Ignácio Faria (sócio) e MariaAparecida Peres Faria, o que, segundoa Oficiala, desatendia o princípio dacontinuidade, conforme disposto na Lei6.015/73, artigos 195, 222 e 237.

1148/96, onde figuram comopartes José Alves de Oliveira + 01 eSoldatec - Máquinas e EquipamentosIndústria Ltda. + 01, cujo mandado foiprenotado e não registrada a penhorapor estar o imóvel gravado com hipotecacedular de 1º grau, sem concorrência deterceiros, a favor do Banco América doSul, ao amparo da Lei n. 6.840/80, art.5º e Decreto-lei n. 413/69, art. 57.

Pondera a i. Oficiala querestando esgotadas as tentativas deentendimento com a Junta deConciliação e Julgamento consultou oMM. Juiz de Direito Dr. RicardoCavalcante Motta e o Dr. GilbertoValente da Silva, assessor jurídico doInstituto de Registro Imobiliário doBrasil, os quais ratif icaram asdevoluções, com confirmação textual doúltimo de que os três mandados nãoeram, realmente, passíveis de registrono Cartório imobiliário.

Alega, ainda, que aguardou asuscitação de dúvida perante o serviçoregistral, a teor dos artigos 198 eseguintes, da Lei 6.015/73, o que nãoocorreu.

Requereu, afinal, providênciaspara que não se repetissem esses atosde constrangimento emanados daPresidência de JCJ, que demonstrou nãoconhecer o Instituto do Registro deImóveis no Direito Civil bem como a Lein. 8.935/94, de Notários e Registradores.

Citou doutrina e jurisprudência arespeito dos princípios da sistemáticaregistral imobiliária em defesa da suatese.

Instada a se manifestar arespeito, a autoridade indigitada pelarequerente prestou informações,aduzindo a perda do objeto do presentepedido de providências, considerandoque o procedimento adotado foi revistoe transferido aos exeqüentes o ônus dearcar com a efetivação do registro daspenhoras, nos termos do Provimento 14/88 desta Corregedoria. Quanto ao mais,entende que a recusa do Cartório éjustificável apenas no pertinente àausência de encadeamento dominial(processo 268/96), o que poderia ter sidosanado com o registro da aquisição, jáque havia escritura pública lavrada.

Intimada a se manifestar sobre asinformações prestadas pela autoridadeapontada, a interessada deixoutranscorrer in albis o prazo concedido.

À f. 202 determinou o Ex.mo JuizCorregedor a reunião, a este, dosprocessos n. PP-42/98, PP-46/98 e PP-48/98, com vistas aos Juízesinteressados para manifestação.

O MM. Juiz Presidenterequerente no processo n. PP-48/98informou, à f. 241, que a dúvida queoriginou aquele pedido de providênciasfora resolvida.

Às f. 243, exarou o i. Vice-Corregedor, à época, novo despacho,determinando a expedição de ofícios àsautoridades responsáveis pelos pedidosde providências que mencionou, para semanifestarem no prazo de cinco dias,sob pena de se considerar o seu silênciocomo desistência dos pedidosformulados nos processos n. PP-42/98e PP-46/98.

Sem manifestação dasautoridades apontadas, foram os autosconclusos a esta Vice-Corregedoria.

É o relatório.DECIDO.

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Em relação aos processos cujareunião foi determinada, eles nãoensejam mais qualquer providência, sejaem razão do ofício de f. 241, relativo aoprocesso n. PP-48/98, seja pela ausênciade manifestação das autoridadesrequerentes, que resultou na desistênciapresumida, conforme determinaçãocontida no r. despacho de f. 243, in fine.

O mesmo ocorre quanto aoprocesso 268/96, que não teve cumpridoo mandado de registro da penhora porconstatada a ausência do requisito dacontinuidade dos registros de domínio,considerando as informações da doutaautoridade requerida.

Já no que tange à recusa da i. Oficialaem registrar as penhoras com fundamentona indisponibilidade advinda do artigo 53,§ 1º, da Lei 8.212/91, e da existência doônus real proveniente de hipoteca cedularde 1º grau, sem concorrência de terceiros,a matéria merece melhor exame.

Primeiramente, é de se destacarque tanto o direito material como o direitoprocessual do trabalho são regidos pornormas próprias e peculiares, constantesdo estatuto consolidado, das leis esparsasque os regem e de outras que se lhesaplicam subsidiariamente. No processode execução trabalhista, maisespecificamente, são fontes subsidiárias oprocesso civil, por força do artigo 769, daCLT, e a Lei n. 6.830/80, do executivo fiscal,em face da determinação contida no artigo889, também da CLT, este ora transcrito:

“Aos trâmites e incidentes daexecução são aplicáveis, naquiloem que não contravierem aopresente Título, os preceitos queregem o processo dos executivosfiscais para a cobrança judicialda dívida ativa da FazendaPública Federal.”(Negritamos)

No âmbito do direito material dotrabalho, a prestação laboral não podedeixar de ser considerada sob o enfoquedo artigo 1º, inciso IV, da ConstituiçãoFederal, que tem o trabalho na conta dedireito fundamental a ser protegido evalorizado pelo Estado Democrático deDireito.

É de conhecimento amplo que asubsistência humana tem a sua fonteessencial no trabalho. Daí a conceituaçãoda sua natureza como alimentícia. É dosalário - expressão originada do termo sal,adotado nos primórdios das relações detrabalho como forma de contraprestação- que resulta o meio de sobrevivência dotrabalhador e da sua família.

Além disso, o trabalho é tambéma fonte primordial geradora das riquezas- bens e serviços. A humanidade sedesenvolveu e progrediu unicamente emfunção do trabalho. Por isso, o salárioprecede, em proteção e em privilégio, àscontribuições previdenciárias e aostributos. Sem aquele, estes inexistiriam.Por igual razão, também ao créditohipotecário.

O capital sem o trabalho torna-se estéril. E o trabalho, ao lado do direitoà vida e à liberdade, são os bens maioresdo ser humano que cumpre ao Estadoproteger.

Por isso, o crédito resultante daprestação laboral a tudo precede eprefere, consoante expresso, como deoutra forma não poderia ser, no artigo 186,do Código Tributário Nacional, verbis:

“O crédito tributário prefere aqualquer outro, seja qual for anatureza ou o tempo daconstituição deste, ressalvadosos créditos decorrentes dalegislação do trabalho.”(grifamose negritamos)

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No mesmo sentido, o artigo 449,§ 1º, da CLT, dispõe, verbis:

“Na falência, constituirão créditosprivilegiados a totalidade dossalários devidos ao empregado ea totalidade das indenizações aque tiver direito.”

A seu turno, o Decreto-lei n.7.661/45 - Lei de falência - com aalteração introduzida pela Lei n. 3.726/60, dispõe no seu artigo 102, verbis:

“Ressalvada, a partir de 2 dejaneiro de 1958, a preferência doscréditos dos empregados, porsalários e indenizaçõestrabalhistas, sobre cujalegitimidade não haja dúvida, ouquando houver, em conformidadecom a decisão proferida pelaJustiça do Trabalho, e depoisdeles, a preferência por encargosou dívidas da massa (art. 124), aclassificação dos créditos, nafalência, obedece à seguinteordem:I - créditos com direitos reais degarantia;II - privilégio especial sobredeterminados bens;III - créditos de privilégio geral;IV - créditos quirografários.§ 1º. Preferem a todos os créditosadmitidos à falência a indenizaçãopor acidente do trabalho e outroscréditos que, por lei especial,gozarem essa prioridade.”

Diante dessas considerações, éde se concluir que os créditos tributário,previdenciário ou hipotecário não podemconcorrer preferencialmente sobre ocrédito advindo do trabalho prestado,

pouco importando a época em que elestenham se constituído. Na disputajudicial, o privilégio maior, não havendoindenizações por acidente de trabalho,sempre envolverá salários eindenizações trabalhistas.

Outro, aliás, não tem sido oentendimento da Eg. SDI do C. TST,conforme assentado no julgamento do RO-MS 45373, Ac. 2.612, de 27.10.92, verbis:

“O crédito trabalhista goza desuperprivilégio e está colocado naordem de preferência acima dopróprio executivo fiscal, sócedendo lugar ao créditoacidentário. A preferênciatrabalhista opõe-se, inclusive,contra credores com garantia real- penhor, anticrese, hipoteca etc.- e subsiste ainda que agarantia tenha sido constituídaantes.” (negritamos)

Nesse contexto, a invocação daLei 8.212/91 (art. 53, § 1º) e do Decreto-lei n. 413/69 (art. 57) pela i. Oficiala,como fundamento para a recusa doregistro, não pode ser respaldada poresta Corregedoria.

Analisemos, pois, os argumentoscontidos na representação do Cartório.

Diz a i. Oficiala que o preceito doart. 53, § 1º, da Lei n. 8.212/91, tornaindisponível o bem penhorado naexecução da dívida ativa da União.

Porém, o sentido daindisponibilidade prescrita naquelanorma não tem o alcance que se lhepretendeu dar.

Tal indisponibilidade não dizrespeito aos credores, mas ao devedor,que tem suspenso o direito asseguradoao proprietário pelo artigo 524, do CódigoCivil - usar, gozar, dispor e reaver.

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Também não se pode ter porimpenhorável o bem assim tornadoindisponível, diante do comando legalinserido no artigo 649, do CPC, e noartigo 30, da Lei 6.830/80, aplicável,como dito alhures, ao processo dotrabalho, e que merece transcrição:

“Sem prejuízo dos privilégiosespeciais sobre determinadosbens, que sejam previstos em lei,responde pelo pagamento dadívida ativa da Fazenda Públicaa totalidade dos bens e dasrendas, de qualquer origem ounatureza, do sujeito passivo, seuespólio ou sua massa, inclusiveos gravados por ônus real oucláusula de inalienabilidade ouimpenhorabilidade, seja qual fora data da constituição do ônus ouda cláusula, excetuadosunicamente os bens e rendas quea lei declara absolutamenteimpenhoráveis.”

Tal dispositivo não pode serinterpretado dissociado do queprescrevem o artigo 10 dessa mesma lei,o artigo 649, do CPC, o artigo 449, daCLT, e o 184, do CTN.

Ora, se o devedor possui umúnico bem imóvel passível depenhora, exist indo tal constr içãoproveniente de processo executivofiscal, preferir-lhe-á nova penhora queseja feita para a garantia de débitotrabalhista, sob pena de perderem asua própria razão de ser todos osdispositivos legais aqui analisados etranscritos, tornando-os preceitosabsolutamente inúteis no nossoordenamento jur ídico, o que,convenhamos, conf l i ta com asmelhores regras de hermenêutica.

Não se pode deixar de salientarque o artigo 649, do CPC, mandadoobservar também pelos artigos 184, doCTN, e 10 e 30, da Lei n. 6.830/80, nãoinclui os bens declarados indisponíveisno rol dos impenhoráveis, donde seconcluir, que tal indisponibilidade coageo devedor e não o credor.

O outro fundamento invocadopela i. Oficiala é o artigo 57, do Decreto-lei 413/69, por remissão ao artigo 5º, daLei n. 6.830/80.

A hipoteca oriunda de cédulacomercial ou industrial não torna o bemdado em garantia impenhorável, aindamais em se tratando de penhora para agarantia de crédito trabalhista.

É que o artigo 60, do citadoDecreto-lei, também dispõe, verbis:

“O emitente da cédula manterá emdia o pagamento dos tributos eencargos fiscais, previdenciários etrabalhistas de sua responsabilidade,inclusive a remuneração dosempregados, exibindo ao credoros respectivos comprovantessempre que lhe forem exigidos.”

Daí resulta a responsabilidade invigilando do credor cedular.

Por fim, merece menção decisãodo C. STJ no sentido de que:

“A impenhorabilidade dos bensvinculados à cédula de créditoindustrial, prevista no Decreto-lein. 413/69, não prevalece diante decréditos tributários e trabalhistas.”(3ª Turma, Recurso Especial n.55.196-RJ, rel. Min. CláudioSantos, julgado em 06.06.95)

Do acórdão, merece destaqueainda a seguinte passagem:

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“Com efeito, fulcrou-se a sentençaapelada, exclusivamente, nocomando do art. 57, do Decreto-lein. 413, de 1969, para reconhecerimpenhoráveis os imóveisvinculados à cédula de créditoindustrial, mesmo em face acrédito trabalhista. Aí, a meu ver,o equívoco da sentença, porquea jurisprudência remansosa dosnossos Tribunais vem entendendoque a reserva de impenhorabilidadediscriminada no citado art. 57 cedevez aos créditos trabalhistas etributários, em face do privilégioabsoluto do fisco, estatuído nosarts. 184 e 186, do CTN, privilégioeste que somente é superado peloscréditos de natureza trabalhista,como o de que ora cuidamos.Ainda que o legislador tivessepretendido emprestar caráterabsoluto à impenhorabilidadeinstituída no art. 57, do Decreto-lei n. 413, imperioso reconhecesseque o teria feito inutilmente emface da hierarquia dos diplomas.O CTN, que instituiu o privilégiopara os créditos tributários, quecedem vez apenas aostrabalhistas, é Lei Complementar,enquanto o diploma que gerou aimpenhorabilidade é um simplesdecreto-lei, sem força para alteraras disposições do CTN. Assim,indiscutível que o art. 57, doDecreto-lei n. 413 não derrogou osarts. 184 e 186, do CTN.Desta maneira, ainda que sepossa reconhecer que o citadoart. 57 estabeleceu hipótese deimpenhorabilidade absoluta, talnão pode prosperar em face daprevalência da norma de maiorhierarquia que o CTN.

Na verdade, penso que o Decreto-lei n. 413 dispõe, como não poderiadeixar de fazer, a respeito deoperações especiais entreparticulares, as quais não podemprevalecer em detrimento doprincípio que garante a FazendaPública e o crédito trabalhista.Assim, não vejo mesmo qualquerincompatibilidade entre o que vemdisposto no CTN e no art. 57, doDecreto-lei n. 413, que cuidam dematérias diversas. E mesmo queassim não fosse, o princípio daprevalência da hierarquia dasnormas, como dito antes,solucionaria a questão (f. 372/373).Estou convencido do acerto doacórdão recorrido. De fato, ajurisprudência desta Corte estáfirmada no sentido de que aimpenhorabilidade das cédulas decrédito industrial, prevista noDecreto-lei n. 413/69, nãoprevalece diante de execuçãofiscal (Precedentes: RESP 36.080,DJ de 12.09.94, RESP 13.703, DJde 04.10.93, dentre outros).Assim sendo, considero que aocrédito trabalhista deve serconferido o mesmo tratamento dadoao crédito fiscal que se encontraexpressamente excepcionado pelomencionado decreto-lei. Demaisdisso, o próprio Código TributárioNacional estabelece em seu art. 186que ao crédito tributário prevaleceo crédito trabalhista napreferência legal ali estatuída.Desta feita, não vislumbrada aalegada vulneração à lei federalinvocada, não conheço do recurso.”

O segundo e derradeiro obstáculoerigido pela i. Oficiala no processo 1148/

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96, além da hipoteca cedular, foi no sentidode que se realizou penhora em bens nãoda reclamada, mas de pessoas físicas.

Nas suas informações, a d.autoridade requerida esclareceu terhavido decisão que determinou apenhora de bens dos sócios dareclamada, decisão cujo mérito a i.Oficiala não tem autoridade nemcompetência para discutir ou questionar.

A propósito, merece transcriçãoa seguinte decisão do Eg. ConselhoSuperior da Magistratura no julgamento daApelação Cível n. 34.336-0/7, de Limeira,DOE-PJ n. 211 de 01.11.96, verbis:

“Não se discute, como bem postona decisão atacada, que ao Juizcompete, com exclusividade, fixaro direito passivo e o alcance daexecução ou arresto dos bens.Em caso semelhante ao ora emcomento, deixou assentado esteConselho Superior da Magistraturaser inteiramente estranha à esferade atribuições do registrador, oudo Juízo administrativo daCorregedoria Permanente, aquestão concernente a saber sefoi - ou não - devida a extensãodos efeitos da execução à pessoaque é mencionada no título. É-lhe,ademais, defesa essa indagação,sob pena de intromissão indevidana órbita soberana da atuaçãojurisdicional (Apelação Cíveln.12.807-0/6 de Limeira, Rel.Des. Onei Raphael).Exige-se, apenas e tão-somente,decisão expressa do Juízo daexecução, ou do processo cautelar,estendendo seus efeitos a terceiroscom responsabilidade patrimonial,que não o devedor obrigado.Havendo tal decisão, cuja correção

não cabe ao registrador discutir,colmatada estará a lacunaexistente entre o título e o registro,assim como preservado restaráo princípio da continuidade.Como frisado em recentes votosproferidos nas Apelações Cíveis n.33.111.0/3-00 e 33.474.0/9-00,ambas da Comarca de Limeira,não pode o direito registráriopermanecer infenso à figura daineficácia da alienação feita emfraude de execução, hipótese emque o patrimônio de terceiro sujeita-se à satisfação de crédito em quefigura como obrigado o alienante.Seguindo idêntico raciocínio,deve o direito registrário, decaráter nitidamente instrumental,se afeiçoar às demais figuras deextensão da responsabilidadepatrimonial a bens de terceiro noprocesso de execução. Não podeignorar a antiga distinção entre asfiguras do débito e daresponsabilidade (Schuld und

Haftung), introduzidas por Brinzno final do século passado, eacolhida em nosso direito positivosob a ótica processual da sujeiçãode bens de terceiro, que não odevedor, à execução (cf. artigo592, do Código de Processo Civil).Possível, assim, oreconhecimento a nível registrárioda chamada responsabilidadesecundária, que atinge terceirosque não figuram como partes noprocesso de execução, masapesar disso suportam suasconseqüências, não podendosubtrair seus bens do destino queos aguarda (Liebman, Manuale di

Diritto Processuale Civile, 3ªEdição, Milão, 1973, v. I, p. 65).

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[...]Não se exige, em consonânciacom doutrina e jurisprudênciamajoritárias, o ajuizamento deação específica para declaraçãode ineficácia da alienação, ouextensão da responsabilidade abens de terceiros, que podem,assim, ser reconhecidas nospróprios processos cautelar ou deexecução (RT 697/82, RJTJESP88/283, 139/75).Isso, porém, não quer dizer possamser arrestados ou penhoradosindiscriminadamente bens deterceiros, cuja responsabilidadepatrimonial secundária estásubordinada a prévia decisão, aindaque incidente, nos autos dosprocessos cautelar ou de execução.Admitir o ingresso do mandado dearresto diretamente no registro, semprévia decisão judicial reconhecendoa extensão da responsabilidadea terceiros, significaria conferir aoregistrador a atribuição de delinearos limites da sujeição passiva damedida cautelar, em manifesta eindevida invasão de matéria típicada seara jurisdicional”.

Por último, não prospera tambéma referência da ilustre Oficiala à consultafeita por esta Corregedoria à Eg.Corregedoria Geral do Tribunal deJustiça do Estado de Minas Gerais,porquanto o parecer que dela resultoulimitou-se a disciplinar o pagamento dosemolumentos devidos pelo registro daspenhoras em imóveis e da necessidadede mandado específico para a suaefetivação, sem cogitar de matériasemelhante à tratada nesta decisão.

Assim, não se vislumbra, diantedas razões supra, nenhuma ilegalidade nas

ordens judiciais emanadas da autoridadejudiciária trabalhista para o registro daspenhoras, que deverão ser cumpridas e quedeverão continuar sendo expedidas parao integral cumprimento das sentençastransitadas em julgado nos processos decompetência desta Justiça Especializada.

Todavia, reste bem claro que acompetência para determinar aos Oficiaisdo Registro de Imóveis a prática ouabstenção de qualquer ato que implique nocumprimento das normas contidas nalegislação do registro público é da Eg.Corregedoria Geral do Tribunal de Justiçado Estado de Minas Gerais, limitando-seesta Corregedoria Regional a não impedir,como se pretendeu com o pedido formuladona peça vestibular, que os Ex.mos JuízesPresidentes das Juntas de Conciliaçãoe Julgamento da 3ª Região ordenem,quando entenderem de direito, efundamentadamente, o registro da penhorarealizada sobre bem imóvel, na formaprescrita pelo artigo 659, § 4º, do CPC.

Diante do exposto, não procedema representação e o pedido deprovidências formulados pela i. titular do1º Cartório de Registro de Uberaba-MG.

Oficie-se à Eg. CorregedoriaGeral do Tribunal de Justiça do Estadode Minas Gerais, remetendo-se-lhe cópiadesta decisão.

Dê-se ciência à d. Autoridaderequerida, aos Ex.mos Juízes queformularam os pedidos reunidos a estesautos e à i. requerente.

Publique-se na forma regimental.

Belo Horizonte, 18 de agosto de1999.

TARCÍSIO ALBERTO GIBOSKIJuiz Vice-Corregedor

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TRT/RO-5261/99Publ. no “MG” de 06.11.1999

RECORRENTE: PROSOLDA GASESLTDA.

RECORRIDO: VILMAR DIAS SOARES

EMENTA: PODER INSTRUTÓRIODO JUIZ - ARTIGOS 130, DOCPC, E 765, DA CLT. “O usodas faculdades instrutóriaslegais não é incompatível coma preservação daimparcialidade do juiz. Talexpressão, bem compreendida,não exclui no órgão judicial avontade de decidir comjustiça, e portanto a de darganho de causa à parte quetenha razão. A realização daprova pode ajudá-lo a descobrirqual delas a tem, e esse não éo resultado que o direito hajade ver com maus olhos. Demais a mais, no momento emque determina uma diligência,não é dado ao juiz adivinhar-lheo êxito, que tanto poderá sorrira este litigante como àquele.”(MOREIRA, Barbosa)

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de Recurso Ordinário,interposto de decisão da MM. Junta deConciliação e Julgamento de Araguari/MG, em que figuram, como recorrente,PROSOLDA GASES LTDA. e, comorecorrido, VILMAR DIAS SOARES.

RELATÓRIO

A douta Junta de Conciliação eJulgamento de Araguari/MG, presididapelo MM. Juiz Dr. Emerson José AlvesLage, pela r. sentença de f. 111/117, cujo

relatório adoto e a este incorporo, julgouprocedente, em parte, o pedido,reconhecendo o vínculo empregatícioentre as partes pelo período de 01.07.96a 15.12.97 e condenando a reclamada apagar ao reclamante as verbas de avisoprévio; 6/12 de 13º salário proporcional/96; 13º salário integral/97; férias vencidas+ 1/3; 6/12 de férias proporcionais + 1/3;FGTS + 40% de todo o contrato (incluindoaviso prévio indenizado e 13º salário); emulta do art. 477/CLT. Determinado oregistro da CTPS do reclamante, pelareclamada, assim como o fornecimentodas guias TRCT/01 e CD/SD.

Inconformada, a reclamadaapresentou recurso ordinário de f. 119/133, objetivando a reforma do julgado.Argúi, preliminarmente, a nulidade da v.sentença, por cerceamento de defesa,por ter sido o julgamento contrário àsprovas dos autos e por ter sido indeferidaa prova pericial requerida pelorecorrente, sem justificativa, com ofensaaos arts. 332 e 420, do CPC. Aofundamento de que restaramdemonstradas as nulidades e os errosda v. sentença, alega serem indevidasas parcelas da condenação.

Contra-razões oferecidas às f.137/138.

O d. Ministério Público doTrabalho, em parecer de lavra do i.procurador Dr. Genderson SilveiraLisboa, de f. 140, manifestou-se peloprosseguimento do feito, nos termos daLei Complementar 75/93.

É o relatório.

VOTO

Admissibilidade

Conheço do recurso, eis queaviado a tempo e modo.

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MÉRITO

Preliminar de nulidade dasentença - Cerceamento de defesa

Conforme ata de f. 93/95, o d.Colegiado de primeiro grau deferiu aoreclamante o prazo de três dias preclusivospara juntada do contrato social da empresaProsolda Comércio e RepresentaçõesLtda., que foi juntado, tempestivamente,às f. 109/110 dos autos.

Não há falar em nulidade. Nãoimporta que a v. sentença invoque odocumento juntado à f. 110. O queimporta é a busca da verdade real.

Quando a lei processual exigeque os documentos sejam juntados coma inicial ou com a defesa, ela se dirigeàs partes, impondo-lhes tal ônus, o quenão impede o juiz de autorizar a juntadade documentos em outra oportunidade.Se o documento juntado, por autorizaçãodo juiz, beneficia qualquer das partes,trata-se de conseqüência produzida pelaprova que trouxe aos autos elementosde formação de convencimento do Juízo.

A propósito das alegações recursaisquanto à possibilidade de produção daprova, já me manifestei em artigodoutrinário, publicado no Boletim Doutrinae Jurisprudência do TRT, 3ª Região, v.16 - n. 1, com razões que invoco e adotocomo fundamentos de decidir, verbis:

“As doutrinas constitucional eprocessual vêm mostrando, comsuporte em postuladosconstitucionais do Estado dedireito, que os princípiostradicionais do Direito ProcessualCivil têm contribuído, muita vez,para que não seja atingido o fimúltimo do processo, que é servirde instrumento para realização da

justiça. Fundada em razõesconstitucionais, ADA PELLEGRINIGRINOVER, por exemplo, ensinaque os princípios da iniciativa daparte, da imparcialidade do juiz edo contraditório, característicosdo chamado processo liberal,'podem não ser suficientes paragarantir um processo justo'.”

No terreno específico da atividadeprobatória, a iniciativa do juiz, que secontrapõe à clássica disponibilidade totaldas provas, não se opõe a qualquer dosconhecidos princípios clássicos doprocesso civil, não os contradiz nem osdesacata, constituindo, ao contrário, atémesmo atitude que deve ser adotada paraque se concretize a presença efetivadestes princípios na estrutura processual.CÂNDIDO DINAMARCO, proclamando asuperação da inércia do julgador naatividade instrutória, exige do juiz uma"postura instrumentalista" capaz deconduzir o processo a resultadosatisfatório. Com isto, a atuação dojulgador, eliminando as desigualdadeseconômicas acaso existentes entre aspartes, impõe ao processo solução maisconsentânea com a verdade, fazendoprevalecer o princípio da igualdade realem lugar da proclamada igualdade formal.

A preocupação com aimparcialidade tem constituído, no caso,a base maior e mais forte da resistênciaa este tipo de atuação do juiz, já que adeterminação da produção de prova pelojulgador, independentemente dequalquer manifestação das partes, poderepresentar "interesse" em ver produzidaesta prova, de modo a beneficiaralgumas delas. Todavia, o "interesse",no caso, está limitado apenas àprodução mesma da prova e à funçãodesta enquanto elemento esclarecedor

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ou revelador da verdade. E não passadaí. O resultado, na realidade, foge aopoder do juiz e independe de prognóstico- embora este possa ser vislumbrado emalgumas hipóteses.

A propósito, ensina BARBOSAMOREIRA:

“O uso das faculdadesinstrutórias legais não éincompatível com a preservaçãoda imparcialidade do juiz. Talexpressão, bem compreendida,não exclui no órgão judicial avontade de decidir com justiça, eportanto a de dar ganho de causaà parte que tenha razão. Arealização da prova pode ajudá-lo a descobrir qual delas a tem, eesse não é o resultado que o direitohaja de ver com maus olhos. Demais a mais, no momento em quedetermina uma diligência, não édado ao juiz adivinhar-lhe o êxito,que tanto poderá sorrir a estelitigante como àquele.”

Na mesma linha, é preciosa alição de BEDAQUE a respeito:

“... quando o juiz determina arealização de alguma prova, nãotem condições de saber, deantemão, seu resultado. Oaumento do poder instrutório dojulgador, na verdade, não favorecequalquer das partes. Apenasproporciona uma apuração maiscompleta dos fatos, permitindo queas normas de direito material sejamatuadas corretamente. E tem mais:não seria parcial o juiz que, tendoconhecimento que a produção dedeterminada prova possibilitará oesclarecimento de um fato

obscuro, deixe de fazê-lo e, comtal atitude, acabe beneficiando aparte que não tem razão? Para elenão deve importar que vença oautor ou o réu. Importa, porém, saiavitorioso aquele que, efetivamentetenha razão, ou seja, aquele cujasituação da vida esteja protegidapela norma de direito material, poissomente assim se pode falar quea atividade jurisdicional realizoucompletamente sua função.

A posição doutrinária pertinenteà iniciativa do juiz no âmbito daatividade instrutória é de ser postatendo em vista o Direito Processualcomo um todo, isto é, consideradocomo um sistema único deconhecimento independentementede suas ramificações (processocivil, processo do trabalho, processopenal etc.). E se na esfera do DireitoProcessual Civil a doutrina revela anecessidade da pronta intervençãodo julgador na produção de provas,maior razão há de caber para aadoção de tal procedimento noprocesso do trabalho, ondesabidamente as partes encontram-se em situação de desigualdadematerial e processual. Ainda queassim não seja, vale dizer, mesmoque não se entenda presente estadesigualdade, a atuação do juizno processo do trabalho, nocampo específico da prova, nãopode ser tratada de modo diversoe, do mesmo modo que noprocesso civil, deve ser tal quecontribua de modo efetivo paraque seja reproduzida nos autosa relação substancial em suapureza. E para tanto esta atuaçãoreclama atividade incessante nocampo da investigação”.

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Por outro lado, estão presentes,no julgado, os requisitos do art. 832, daCLT, não havendo falar em nulidade dav. sentença por fundamentaçãoinconsistente, ou mesmo em cerceio dodireito de defesa por julgamentocontrário às provas dos autos. A v.sentença está devidamentefundamentada, e as provas apreciadas,cumprindo considerar atendida aexigência prevista no art. 93, IX, da CF/88. O convencimento do julgador ficouexplícito através da fundamentação,que culminou na condenação dareclamada.

Com efeito, após analisar cadaum dos argumentos expendidos nadefesa, entendeu a MM. Junta que nãohá motivo para reconhecimento dainépcia da inicial e, afastando ailegitimidade da parte e a carência daação, reconheceu o vínculoempregatício entre o reclamante ereclamada, em face dos elementosprobatórios dos autos.

Estão presentes, no caso, ascondições da ação: possibilidade jurídicado pedido, legitimidade das partes eevidente interesse de agir. Assim, nãohá falar em nulidade da v. sentença eem retorno dos autos à d. JCJ de origempara que seja reaberta nova instrução.

Tampouco há como prosperar aalegação da recorrente de que ainda háum erro grave na v. sentença, que a tornatambém passível da cassação requerida,que consiste no fato de ter o MM. Juízoindeferido o pedido de prova pericial semembasamento suficiente em outrasprovas dos autos.

A lei dispõe que as partes têmassegurado o direito de uso de todos osmeios de prova para formarem oconvencimento de suas alegações.Todavia, não se anula o processo

quando o indeferimento da provarequerida ocorre devido à suadesnecessidade, por já conterem osautos os elementos necessários àprolação da sentença.

A finalidade processual da provaé convencer o julgador, que podedispensar ou deixar de levar em contauma prova quando já tenha chegado aalguma convicção acerca do fato que sequis provar. Cabe ao juiz admitir ou nãoa produção de provas e até mesmodeterminá-las de ofício, sempre tendocomo parâmetro a formação do seuconvencimento.

Como se vê das razões finais dareclamada, apresentadas por escrito àsf. 97/101, foi realmente requerida aperícia grafológica nos documentosjuntados pelo reclamante, mas, comoconsta da referida petição, se se fizessenecessário à convicção do Juízo,cumprindo ressaltar que a instrução foiencerrada, f. 95, após as partes teremdeclarado não haver outra prova aproduzir, além da prova que seria juntadapelo reclamante (grifamos).

Deste modo, não era mesmonecessário que se fizesse períciagrafológica, em vista das outras provasproduzidas, tendo o MM. Juízo deprimeiro grau, de resto, e sob todo equalquer aspecto, agido com fulcro nosartigos 130, do CPC, e 765, da CLT, nãohavendo falar em ofensa aos arts. 332 e420, do CPC.

No caso, não há vício na decisãode 1º grau, nem no procedimentoinstrutório, não restando caracterizado oalegado cerceio de produção de provas.Portanto, não há falar em nulidade dadecisão e conseqüente retorno dos autosà origem para reabertura da faseinstrutória.

Rejeito.

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Parcelas da condenação

Alega o reclamante, na inicial,que foi inicialmente admitido paratrabalhar como vendedor/cobrador dareclamada em 01.11.94 e demitido em14.02.96, com quitação das verbasrescisórias, sendo readmitido em01.07.96, na mesma função, semanotação da CTPS, e dispensado semjusta causa em 15.12.97, sem avisoprévio e sem receber qualquer valor atítulo de verbas rescisórias.

Em sua defesa, f. 61, a reclamadanega o vínculo de emprego com oreclamante, desde o seu afastamento,em 14.02.96, quando foi efetuado oacerto rescisório. Argúi as preliminaresde inépcia da inicial, carência da açãopor parte do reclamante e a ilegitimidadeda reclamada para figurar no pólopassivo da demanda, afirmando aindaque o reclamante, na verdade, prestouserviços para outra empresa distinta -PROSOLDA COMÉRCIO EREPRESENTAÇÕES LTDA. -, comodemonstram os documentos juntadospelo próprio autor.

A prova testemunhal produzidafoi no sentido de que o reclamantesempre prestou serviços para a empresareclamada - PROSOLDA GASES LTDA.- com sede em Araguari.

Assim é que a primeiratestemunha do reclamante, ao serinquirida, f. 94, informou que faziacompras de oxigênio e máscaras, dentreoutros materiais, para o Hospital Sto.Antônio - onde trabalhou de 1987 a 1996- que as comprava diretamente dareclamada, e que era o reclamante quemrealizava as visitas e a comercializaçãodos produtos; que era o autor quemrealizava a venda, entrega e cobrançados materiais vendidos ao hospital e era

chamado para dar manutenção nosequipamentos do hospital, sendoprocurado para estes serviços emAraguari, na empresa reclamada. Disse,ainda, a depoente que, mesmo após suasaída do hospital, em 1996, continuou air à reclamada e sempre via o reclamantelá trabalhando.

A segunda testemunha, por suavez, disse que trabalhou na reclamadade agosto/97 a dezembro/98,diretamente com o reclamante, queprestava serviço como vendedor.Informou, ainda, que existe umaempresa do mesmo dono, Sr. José deOliveira Campos, na cidade deUberlândia; “... que a empresa deUberlândia também tem nome deProsolda, mas não sabe a suadenominação completa; que o Sr.Orciano é filho do Sr. José de Oliveira ea Srª Milta, esposa do mesmo; que nãosabe se referidas pessoas são sócias emUberlândia e Araguari; que o recte.trabalhou até dezembro de 1997; que erao sócio José de Oliveira quem efetuavaos pagamentos ao recte.; que era omesmo senhor quem dava ordens deserviço ao recte.”.

Tais depoimentos evidenciamque o reclamante realmente prestouserviços para a reclamada -PROSOLDA GASES LTDA. - em suasede em Araguari, na Av. Cel. Belchiorde Godoy e confirmam as alegações doreclamante, contidas em seudepoimento de f. 93, no sentido de quetrabalhou para a reclamada, emAraguari, na função de vendedor deoxigênio e material para solda; que seussalários eram pagos em Araguari, pelodono da empresa, Sr. José de OliveiraCampos, pai de Orciano Campos (queé sócio e toma conta da empresa deUberlândia).

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Verifica-se, pelo documento de f.110, que os sócios da PROSOLDACOMÉRCIO E REPRESENTAÇÕESLTDA., empresa sediada em Uberlândia,eram Milta da Silva Sales Campos eOrciano José de Campos Neto,cumprindo assinalar que a própriatestemunha da reclamada informou queo dono da empresa reclamada é o Sr.José de Oliveira e que, em Uberlândia,era atendido pelo Sr. Orciano, filho doSr. José de Oliveira.

Embora a prova documental -pedidos e notas juntados aos autos - leveao entendimento de que o reclamanteprestou serviços exclusivamente para aempresa Prosolda Indústria eRepresentações Ltda., como alegado nadefesa, prevalecem, no caso, osdepoimentos das testemunhas trazidaspelo reclamante, que são seguros ecoerentes, convencendo quanto ao fatode que houve, realmente, vínculo deemprego entre as partes, no períodoindicado na inicial. E, como fundamentadopela v. sentença, o fato de se emitir todosos controles de venda em nome dapessoa jurídica sediada em Uberlândia/MG, não tem o condão de afastar oreconhecimento da relação de empregoentre o autor e a reclamada, poisevidenciado ficou que, embora possuindopersonalidades jurídicas distintas,compunham-se as empresas, narealidade, em um “conglomerado” (o quevem a ser testificado até mesmo pelosdocumentos de f. 24, onde se percebe opreenchimento de orçamentos/pedidosem nome de um grupo denominado de“Organização Campos Neto”).

Infere-se ainda, da prova dosautos, que as duas empresas, a deAraguari - PROSOLDA GASES LTDA. -e a de Uberlândia - PROSOLDAINDÚSTRIA E REPRESENTAÇÃO LTDA.

- possuem os mesmos sócios e asmesmas finalidades sociais, formandoum grupo econômico, como disposto no§ 2º, do art. 2º, da CLT, o que implicariano reconhecimento da solidariedadepassiva quanto aos créditos do empregado.

Assim, correta a v. sentença aoreconhecer o vínculo empregatício entreas partes, de 01.07.96 a 15.12.97,mediante a remuneração média mensalde R$600,00 (média comissionalauferida pelo empregado), determinandoa anotação, pela reclamada, do contratode trabalho na CTPS do reclamante,fazendo constar o cargo de vendedor.

Tendo em vista que a reclamada,na defesa, limitou-se a negar a relaçãode emprego, são devidas as parcelas deaviso prévio; 6/12 de 13º salárioproporcional/96; 13º salário integral/97;férias vencidas + 1/3; 6/12 de fériasproporcionais + 1/3; FGTS + 40% de todoo contrato; multa do art. 477/CLT, assimcomo o fornecimento das guias TRCT/01 e CD/SD.

Desprovejo.Isto posto, conheço do recurso,

rejeito as preliminares argüidas e nego-lhe provimento.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, pela sua QuartaTurma, à unanimidade, conheceu dorecurso; sem divergência, rejeitou aspreliminares argüidas; no mérito,unanimemente, negou-lhe provimento.

Belo Horizonte, 13 de outubro de1999.

MÁRCIO FLÁVIO SALEM VIDIGALPresidente ad hoc e Relator

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TRT/AP-1485/99Publ. no “MG” de 23.10.1999

AGRAVANTE: FUNDAÇÃO JOÃOPINHEIRO

AGRAVADA : ALCIONE DE CASTRODIAS BICALHO

EMENTA: PRECATÓRIO -INSTRUÇÃO NORMATIVA TSTN. 11/97 - CONCEITO DE ERROMATERIAL OU ARITMÉTICOAINDA PASSÍVEL DECORREÇÃO EM SEU ÂMBITO.Não é só a sentençacondenatória genérica que fazcoisa julgada formal e material,mas também a decisão judicialdefinitivamente proferida nafase de liqüidação que declarao valor líqüido da obrigaçãodevida pelo réu. Uma vezsuperada a etapa processualreservada para a impugnação,pelas partes, da expressãoaritmética dos direitosdeferidos na fase deconhecimento, estes valoreslíqüidos também transitam emjulgado, só podendo serrevistos, de ofício ou arequerimento das partes, paraa correção de merasinexatidões materiais ou aretificação de simples erros decálculo, nos termos dosincisos V e VIII, “b”, daInstrução Normativa TST 11/97.Não se enquadra na categoriade erro material ou aritmético,porém, a discussão em tornodos critérios de apuração doquantum debeatur e dosvalores aritméticos delesdecorrentes, questões que só

podem ser validamentesuscitadas pelas partesatravés de ação rescisória que,com base no inciso V, do artigo485, do CPC, e invocando aprimazia da coisa julgadaformada em primeiro lugar nafase de conhecimento, viseexatamente desconstituir acoisa julgada formadaposteriormente na fase deliqüidação. Portanto, no âmbitoestreito do Precatório (meroprocedimento administrativodestinado à requisição,mediante ofício do PoderJudiciário dirigido aorepresentante do ente ou órgãopúblico executado, dosrecursos necessários àsatisfação do julgado), sópoderão ser apontados ecorrigidos, de ofício ou arequerimento dos litigantes,NÚMEROS QUE ESTEJAMERRADOS, isto é, que nãocorrespondam, estritamente doponto de vista aritmético,àqueles critérios de cálculo jáestabelecidos em definitivo.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de agravo de petiçãointerposto de decisão oriunda da 8ª Juntade Conciliação e Julgamento de BeloHorizonte-MG, em que figuram comoagravante FUNDAÇÃO JOÃOPINHEIRO e, como agravada, ALCIONEDE CASTRO DIAS BICALHO.

RELATÓRIO

Ao de f. 72/73, acrescento que,em decorrência do disposto na Ordemde Serviço n. 01/98 da Vice-Presidência

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deste Eg. Tribunal, a MM. Juíza noexercício da Presidência da 8ª JCJ deBelo Horizonte-MG, Drª Flávia CristinaRossi Dutra, rejeitou os pedidos deextinção da execução por falta de títuloexecutivo e de retificação dos cálculosde liqüidação formulados pela FundaçãoRural Mineira Ruralminas às f. 10/15 dosautos do Precatório decorrente daexecução movida nos autos dareclamação contra ela ajuizada porAlcione de Castro Dias Bicalho, nostermos da fundamentação de f. 72/73.

Inconformada, a executadaagravou de petição (f. 78/85), pleiteandoa reforma da decisão agravada.

Contraminuta às f. 86/89, onde aagravada pleiteou seja a agravanteconsiderada litigante de má-fé, sendo-lhe aplicada a multa de 20% que serialegalmente prevista.

O d. Ministério Público doTrabalho manifestou-se de formacircunstanciada, pelo conhecimento eprovimento parcial do agravo (f. 93/94).

Tudo visto e examinado.

VOTO

Admissibilidade

Conheço do agravo de petiçãoapenas em parte, quanto às alegaçõesda existência de erros materiais noscálculos de liqüidação homologados queensejaram o presente Precatório.

Dele não conheço, entretanto,quanto à alegação da agravante deinexistência de título executivo aofundamento de que não teria havidotrânsito em julgado da sentençaexeqüenda pois, embora tivesse amesma declarado de modo expressoserem inaplicáveis à reclamada osprivilégios processuais previstos no

Decreto-lei n. 779/69 (dentre os quais orecurso ordinário ex officio), teveordenada pelo MM. Juízo de origem suaexecução nos termos do artigo 730 eseguintes do CPC, através do presentePrecatório o que, a seu ver, configurariacontradição que atrairia a aplicação doentendimento consagrado na Súmula423/STF.

O quadro fático-processualdelineado nos presentes autos é muitoclaro: toda a discussão em exame foisuscitada pela agravante nos autos doPrecatório TRT/SJ/02089/94 (expedidona já distante data de 27.09.94 eatualizado somente até 31.07.94, f. 09,sem que tenha sido quitado até apresente data, quase cinco anos depois)e não nos autos da execução trabalhistaque lhe deu origem, na qual foi elacondenada a satisfazer os créditostrabalhistas reconhecidos como devidosà reclamante por decisão já transitadaem julgado e que também já foi liqüidadaem definitivo. Nessas circunstâncias e aesta altura daquele procedimento,descabia e descabe qualquerquestionamento ou recurso, em seu restritoâmbito, que não versassem estritamentesobre erros materiais dos cálculos deliqüidação que lhe deram origem.

E isto, por uma razão muitosimples: O PROCESSO JUDICIAL E SEUCORRESPONDENTE PROCEDIMENTO(tanto em sua fase cognitiva quanto emsua posterior fase executiva) JÁCHEGARAM AO FIM. Em outras palavras,o referido Precatório não corresponde,exatamente, a um prolongamentodaquele processo judicial tudo o queseria possível discutir, na fase daliqüidação do crédito trabalhista, já foi alidefinitivamente discutido, para só depoisser expedida aquela simples requisiçãode numerário ao órgão público devedor.

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Se for possível à executada argüirvalidamente alguma questão denatureza processual no planojurisdicional, deverá fazê-lo no processooriginal (ou, se for o caso, por meio deação rescisória, meio autônomo deimpugnação judicial da coisa julgada) -jamais nos autos do Precatório, que é,por definição, mero instrumentoadministrativo destinado a concretizar,no plano da realidade, os direitostrabalhistas de expressão monetáriaobjeto da condenação, através darequisição ao órgão público condenadodo numerário necessário para asatisfação de seu débito, por ofíciofirmado pelo Presidente do Tribunal sobcuja jurisdição tramitou aquele processo.

A natureza não jurisdicionaldessa atividade dos Presidentes dosTribunais Regionais (objeto desucessivas delegações de poderes aoVice-Presidente deste Tribunal, peloartigo 39, de seu Regimento Interno, edeste ao MM. Juízo da correspondenteexecução, através da referida Ordem deServiço n. 01/98) foi expressamentereconhecida e proclamada pelo próprioCol. Tribunal Superior do Trabalho emsua Instrução Normativa n. 11/97(editada por sua Resolução n. 67,publicada no DJU de 02.05.97, e queveio uniformizar procedimentos para aexpedição de Precatórios e Ofíciosrequisitórios referentes às condenaçõesdecorrentes de decisões trânsitas emjulgado contra a Fazenda Pública), ondeassim se estabeleceu em seu inciso V,in verbis:

“V - Os precatórios de requisiçãode pagamento serão dirigidos peloJuiz da execução a quem competeo cumprimento do Precatório, aoPresidente do Tribunal Regional

do Trabalho, QUE, NOEXERCÍCIO DE ATIVIDADEADMINISTRATIVA, EXAMINARÁAS SUAS FORMALIDADESEXTRÍNSECAS.”

A clareza de tal dispositivotambém não deixa dúvidas de que aoPresidente ou ao Vice-Presidente doTribunal (e ao MM. Juiz de origem no casopresente, por força da referida delegaçãode poderes) não mais cabia examinar oaspecto INTRÍNSECO daqueleexpediente (ou seja, o conteúdo do títuloexecutivo judicial que lhe deu origem, jáliqüidado em definitivo), por se tratar dematéria resguardada pela coisa julgadaformada na fase de conhecimento e porigual sepultada pela mesma preclusãomáxima consumativa ensejada pelacompleta superação de sua fase deliqüidação, que antecedeu de imediatoa expedição daquele Precatório.

Embora ainda fosse possível acorreção de inexatidões materiais ou aretificação de erros aritméticos pelaautoridade judicial responsável pelaexpedição do Precatório (como tambémprevê expressamente o inciso VIII, “b”,da mesma Instrução Normativa do TST),razão pela qual o presente agravo éconhecido em parte quanto a estamatéria, verifica-se que a ora agravanteinsiste em argüir tardiamente temadiverso, de natureza eminentementeprocessual (o não trânsito em julgado dadecisão condenatória objeto daexecução, questão totalmente fora decontexto que, em tese, somente seriapassível de novo exame judicial em sedede ação rescisória).

Repita-se: admitir a pretensão daora recorrente eqüivaleria a reabrir, emprocedimento meramente administrativo,toda a discussão judicial sepultada pela

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coisa julgada formal e materialdefinitivamente formadas. Em outraspalavras, corresponderia a tolerar arediscussão, em autos distintos daquelesda execução e inclusive em sederecursal, de toda e qualquer questãoprocessual que a criatividade daexecutada houvesse por bem desuscitar, com intuito meramenteprotelatório ou não, em manifestaafronta, repita-se, à coisa julgadaconstituída não só na fase deconhecimento como também na fase deliqüidação do crédito exeqüendo. O que,por sua vez, também seria a negaçãodo princípio da celeridade processualque aquela Ordem de Serviçodeclaradamente procurou prestigiar.

Neste mesmo sentido já decidiuo próprio Superior Tribunal de Justiça,in verbis:

“O Presidente do Tribunal, noprocessamento do requisitório depagamento, exercita função deíndole administrativa, nãoalbergando decisões edecorrentes recursos de naturezajurisdicional. Descortinados errosou defeituosa formação doprecatório, determinará oencaminhamento ao juiz daexecução. Compete ao juiz doprocesso de execução, comatividade jurisdicional, apreciar asquestões surgidas ou, pelopagamento, sentenciar aextinção, perante o qual, senecessário, serão interpostos osrecursos cabíveis para o tribunalcompetente.” (RSTJ 76/235,apud Theotônio Negrão, Código

de Processo Civil e legislação

processual em vigor, 29ª edição,p. 476, nota 5b ao artigo 575)

Embora isto faça parte do examede mérito da questão processual aquiexpressamente não conhecida, não sepode deixar de se fazer referência àcircunstância, muito bem acentuada pelaagravada em sua contraminuta, às f. 87/88, de que neste caso não houve orecurso ordinário ex officio previsto noinciso V, do artigo 1º, do Decreto-lei n.779/69, pelo singelo mas mais quesuficiente motivo de que a decisão deprimeiro grau proferida na fase deconhecimento (transcrita às f. 21/27 eposteriormente reformada pelo r.Acórdão Regional exeqüendo de f. 28/34, complementado pelo de f. 35/36)havia sido inteiramente favorável àagravante, tendo julgado improcedentestodos os pedidos iniciais.

Conheço pois do presente agravode petição apenas em parte, quanto àalegação da existência de errosmateriais nos cálculos de liqüidação queserviram de base ao presente Precatório.

MÉRITO

Em relação à matéria do agravode petição que foi conhecida, alega aexecutada o seguinte: os equívocosapontados nos cálculos de liqüidaçãohomologados constituem erros materiaisou aritméticos cuja correção é admissívela qualquer tempo, inclusive no âmbitodo presente precatório, uma vez queimplicam em violação aos verdadeiroslimites da coisa julgada nestes autosformada e em enriquecimento sem causado agravado; em suma, teriam sidoirregularmente inseridos no cálculo deliqüidação parcelas indevidas e índicesnão deferidos na sentença exeqüenda,a saber: teria havido apuração de jurossobre juros, nos sucessivos cálculos def. 185, 187, 189 e 205; devem ser

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excluídos os valores constantes doscálculos de liqüidação relativos aoperíodo posterior a 01.07.90, termo finaldo período de estabilidade provisóriareconhecido em favor da exeqüente; ovalor do salário pago por ocasião dadispensa utilizado teria sido superior aoúltimo valor salarial comprovado nosautos.

Sem qualquer razão, data venia.A simples leitura das razões

recursais acima sintetizadas permiteconstatar que, apesar de todo o esforçodialético da agravante, não aponta ela enem pretende aqui tão-somente “acorreção de inexatidões materiais ou aretificação de erros de cálculo”, únicoobjeto de discussão admissível norestrito âmbito dos Precatórios, naexpressa redação do já citado inciso VIII,da Instrução Normativa n. 11/97, doColendo Tribunal Superior do Trabalho.

Ao deferir parcialmente a MedidaCautelar requerida na ADIn n. 1662intentada precisamente contra aquelepreceito da referida Instrução NormativaTST 11/97 apenas para interpretá-lo emconsonância com a Constituição Federal,o Excelso Supremo Tribunal Federalunanimemente proclamou que “acorreção em tela deve se referir apenasàs diferenças resultantes de errosmateriais ou aritméticos ou deinexatidões dos cálculos dosPrecatórios, não podendo ser atinenteao critério adotado para a elaboração docálculo ou a índices de atualizaçãodiversos dos que foram utilizados emprimeira instância” (DOU de 20.03.98),como já restou bem salientado na r.decisão proferida às f. 19/20 destesautos pelo então Ex.mo Juiz Vice-Presidente e atual Presidente deste E.Tribunal, Dr. Dárcio Guimarães deAndrade.

No entanto, a forma de cômputodos juros de mora, a inclusão de parcelasposteriores ao termo final da condenaçãoque teria sido fixado na fase deconhecimento e a utilização de valorsalarial errôneo como base de cálculodas parcelas da condenação sãoquestões de direito que exigiriaminterpretação dos limites e do conteúdoda sentença exeqüenda (definitivamenteacertada na fase de liqüidação hojetambém já encerrada por completo) eque evidentemente não se enquadramna definição acima, dada pela nossamais alta Corte de Justiça. O que de fatopretende a agravante é, de formaindevida, reabrir os debates sobre aforma como foi feita a conta, atraindo aincidência do que dispõe a respeito oartigo 473, do CPC, que proclama ser“defeso à parte discutir, no curso doprocesso, as questões já decididas, acujo respeito se operou a preclusão.”

É preciso explicitar e denunciar,de uma vez por todas, o grave efundamental erro de perspectivacometido pela agravante ao pretender,de forma extemporânea, reabrir toda adiscussão sobre os cálculos deliqüidação quando já expedido oPrecatório a eles correspondente. Comose sabe, a fase de liqüidação só énecessária quando a sentença quecondenou o réu ao cumprimento de umaobrigação de dar, já transitada emjulgado, foi genérica - isto é, quando nãoquantificou, em valores monetários, osdireitos a que o autor faz jus. Nestesentido, portanto, a liqüidaçãocomplementa a sentença condenatóriaem elemento essencial - o valor daobrigação - que ainda faltava para queela de fato se tornasse o título executivojudicial a ser satisfeito na execuçãopropriamente dita. Por isso, aliás, a

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doutrina e a jurisprudência dominantesconsideram que a liqüidação, nestesentido, é uma continuação da fase deconhecimento, sendo uma necessáriacomplementação da mesma na qualainda se decide uma parcela limitada,mas sumamente importante, do mesmomérito da causa apreciado em todos osseus demais contornos na fase cognitivado litígio (repita-se, a expressãomonetária do direito reconhecido emfavor do autor), com a conseqüência deque aquela decisão homologatória daliqüidação, depois de superada a faseem que pode ser impugnada validamentepelas partes, também transita emjulgado, só podendo ser desconstituídaatravés de ação rescisória.

Por todos, confira-se oensinamento a respeito de CÂNDIDORANGEL DINAMARCO:

“Da natureza da sentença deliqüidação, que é atogenuinamente cognitivo, decorrea conclusão natural de que ela ésuscetível de obter a autoridadede coisa julgada material. Trata-se de sentença meramentedeclaratória como outra qualquere razão alguma haveria paradeixar de ser assim.É sempre útil lembrar que adeclaração contida na sentençade liqüidação é a mesma quetambém haveria na sentençacondenatória, caso o juiz tivessechegado a proferir condenaçãoordinária (condenação por valordeterminado): pôr em dúvida aincidência da coisa julgadamaterial sobre a sentença deliqüidação seria o mesmo quequestionar se fica ou não cobertapor essa autoridade a declaração

do quantum, contida nacondenação ordinária.A autoridade de coisa julgadasobre o quantum debeatur não seaplica com exclusividade àsentença que julgue a liqüidaçãopor artigos. A maior nitidez queesse procedimento oferece paraa compreensão de que existe umefetivo julgamento de mérito nãodiferencia tal sentença emrelação às suas congêneres. Assentenças dadas em outrasformas de liqüidação também sãodeclaratórias como ela e nadaexiste que autorize qualquerdistinção quanto a isso.Conseqüência importantíssima éo cabimento da ação rescisória,COMO ÚNICA VIA ADEQUADAPARA INFRINGIR A SENTENÇADECLARATÓRIA DO QUANTUM

DEBEATUR TRÂNSITA EMJULGADO (QUALQUER QUETENHA SIDO A ESPÉCIE DELIQÜIDAÇÃO).” (destaque nossoin Execução Civil, MalheirosEditores, 3ª edição, rev., at. eampl., 1993, pp. 559/560)

Neste mesmo sentido seposiciona de forma pacífica ajurisprudência, na esteira dos seguintesprecedentes do próprio SupremoTribunal Federal:

“(A ação rescisória) é o meioprocessual próprio para adesconstituição de decisãohomologatória da liqüidação desentença, ainda que por cálculodo contador, já que ahomologação, nessa hipótese,fixa os limites do arestoexeqüendo: é, conseqüentemente,

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uma sentença de mérito.” (STF, 1ªTurma, RE 87.109-8-SP, RelatorMinistro Cunha Peixoto, DJU25.04.80, p. 2.805, apud TEIXEIRAFILHO, Manoel Antônio, in Ação

Rescisória no Processo do

Trabalho, LTr, 1991, p. 138)

“A decisão homologatória fazcoisa julgada, não se podendoreabrir o debate, depois do seutrânsito em julgado, para incluirnovas verbas na condenação”(nem, acrescentamos, para retirarverbas expressamente incluídasna condenação em decorrênciadaquela decisão - STF, 2ª Turma,RE 102.839, Relator MinistroFrancisco Rezek, DJU 07.06.85, p.8891,apud, DINAMARCO,CândidoRangel, op. cit., p. 560).

De tudo isto forçosamente seconclui que, ao contrário do querepetidamente afirma a agravante, nãoé somente a sentença condenatóriadefinitiva proferida na fase deconhecimento que transita em julgado,tanto no processo comum como noprocesso do trabalho. Se aquela foiilíqüida, também faz coisa julgada formale material a decisão que homologou oscálculos de liqüidação que vieramcomplementá-la (transformando-a,somente então, no título executivojudicial buscado pelo autor), assim quetenha sido superada a fase processuallegalmente prevista para que as partes,sob pena da mesma preclusão máxima,impugnem os valores deles constantes.Superada esta fase, seja pela ausênciade impugnação, seja pelo julgamentodefinitivo, em todos os graus dejurisdição, dos embargos à execuçãointerpostos com esta finalidade, nada

mais poderá ser discutido no mesmoprocesso (ou no Precatório deledecorrente) a respeito dos critérios deapuração do quantum debeatur e dosvalores aritméticos deles decorrentes (sópodendo ser apontados e corrigidos, deofício ou a requerimento dos litigantes,NÚMEROS QUE ESTEJAM ERRADOS,ISTO É, QUE NÃO CORRESPONDAM,MATEMATICAMENTE APENAS,ÀQUELES CRITÉRIOS DE CÁLCULODEFINITIVAMENTE ESTABELECIDOS).

Por isto mesmo, aliás, é que oeventual conflito entre a primeira coisajulgada formada na fase deconhecimento e a outra coisa julgadatambém configurada na fase deliqüidação só poderá ser resolvido foradeste processo, através de açãorescisória que busque desconstituir asegunda daquelas decisões transitadasem julgado exatamente por ofender acoisa julgada formada em primeiro lugar,nos precisos termos do inciso V, do artigo485, do CPC.

Se nas execuções contra osdevedores em geral (conduzidas deacordo com o procedimento previsto nosartigos 884 e seguintes, da CLT) seriaevidentemente inadmissível que, depoisde julgados em definitivo os embargos àexecução e as impugnações ao cálculointerpostos pelo devedor, estes, na fasede alienação forçada de seus bens jápenhorados, voltassem a peticionar paraalegar ofensa à coisa julgada formada nafase de conhecimento e para novamentediscutir os critérios de apuração de seudébito, a situação não é diversa apenasporque a execução se processou, namesma etapa da satisfação propriamentedita do crédito trabalhista, na formadistinta prevista no artigo 730 e seguintes,do CPC, para os órgãos públicos, porserem seus bens impenhoráveis.

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Como o Precatóriocorrespondente, por definição, só éexpedido pelo Juízo da execução apósa superação definitiva da fase deacertamento do título executivo judicial,é simplesmente absurda a tentativa daexecutada de, no âmbito daqueleprocedimento meramente administrativo,pretender rediscutir a forma de apuraçãode seu débito e alegar ofensa à coisajulgada da fase cognitiva ou apossibilidade de enriquecimento semcausa do exeqüente.

Diga-se com todas as letras: osvalores líqüidos expressos noPrecatório são, também por definição,a correta expressão, quantitativa emonetária, da mesma coisa julgadaformada na fase de conhecimento e quetambém a integram. Portanto, tornadosos mesmos definitivos pela superaçãoda fase processual em que era possívelàs partes impugná-los, não podem elesser considerados ofensivos à mesmacoisa julgada formada na fase cognitivado processo, de que são exatamentesua expressão matemática, razão pelaqual inexiste, portanto, a violaçãoconstitucional insistentemente alegadapela recorrente. Pelos mesmos motivosdeve também ser repelida, pordescabida e gratuita, a afirmação daagravante de que o recebimentodaqueles valores pelo exeqüenteconstituiria enriquecimento sem causa:ao contrário, isto significará, pura esimplesmente, a satisfação de seusdireitos judicialmente reconhecidos,dando-se por fim cumprimento à coisajulgada formada nos presentes autos.

Por derradeiro, ressalte-se quecabe em primeiro lugar à própriaexecutada, enquanto integrante daAdministração Pública, fiscalizar osatos de seus agentes, devendo apurar

em seu próprio âmbito administrativoa responsabil idade pela falta decumprimento do dever ou peloprocedimento irregular daqueles que,por ação ou omissão, t iveremporventura causado prejuízo aos cofrespúblicos na inadequada defesa de seusinteresses em Juízo. A necessidade deresguardar a moralidade administrativae o patrimônio público, invocada nasrazões recursais da agravante, deveser implementada através de medidastomadas contra aqueles que tinham porfunção bem defender na esfera judicialseus interesses enquanto órgãopúblico e zelar pelo bom andamentodos processos em que ela figuravacomo parte, evitando lesõesdesnecessárias e indevidas aos cofrespúblicos. Razão pela qual éinteiramente desfocada sua atitudeneste feito, voltando-se de forma tardiae imprópria contra uma sentençalíqüida já transitada em julgado emprejuízo de uma reclamantehipossuficiente que, agindo de boa-fé,aguarda há quase cinco anos parareceber seu crédito líqüido e certoobjeto do presente Precatório,expedido com estrita observância dodevido processo legal.

A conduta da recorrente nestefeito, ao argüir nulidade processual queteria ocorrido ainda na fase deconhecimento (com a agravante de,neste caso, ser ela flagrantementedescabida, como bem demonstrou aparte contrária em sua já citadacontraminuta) e ao impugnar oscálculos de liqüidação muito depois dodecurso do prazo previsto em lei paratanto, configura tentativa de afrontar acoisa julgada e de se oporart i f iciosamente à execução,caracterizando a prática de ato

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atentatório à dignidade da justiça, nostermos do artigo 600, II, do CPC.Contudo, diante da relat ivacomplexidade da matéria, consideroapropriado que, pelo menos por ora,fique aquela parte apenas advertida deque não deve persistir nesta condutaque, caso reiterada, ensejará que lheseja aplicado o disposto no artigo 601,do mesmo diploma processual comum,subsidiariamente aplicável ao processodo trabalho nos termos do artigo 769,da CLT.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes doTribunal Regional do Trabalho daTerceira Região, pela sua PRIMEIRATURMA, por maioria de votos, emconhecer em parte do agravo, apenasquanto à alegação da existência deerros materiais no cálculo de liqüidaçãoque serviu de base ao presentePrecatório, vencida a Ex.ma Revisora; nomérito, sem divergência, em negar-lheprovimento, ficando ainda advertida aagravante para que, nos termos dafundamentação, não persista em suaconduta processual, sob pena decaracterização de ato atentatório àdignidade da justiça.

Belo Horizonte, 03 de setembrode 1999.

EMÍLIA FACCHINIPresidente

JOSÉ ROBERTO FREIRE PIMENTARelator

TRT/RO-17973/98Publ. no “MG” de 02.07.1999

RECORRENTE: LEÔNIDAS ANTÔNIOPEREIRA

RECORRIDA: IGREJA PENTECOSTALDEUS É AMOR

EMENTA: RELAÇÃO DEEMPREGO - PRESTAÇÃO DESERVIÇOS RELIGIOSOS -INEXISTÊNCIA. Não geravínculo empregatício entre aspartes a prestação de serviçosna qualidade de pastor, semqualquer interesse econômico.Nesta hipótese, a entrega devalores mensais não constituisalário, mas mera ajuda decusto para a subsistência doreligioso e de sua família, demodo a possibilitar maiordedicação ao seu ofício dedifusão e fortalecimento da féque professa. Recursoordinário a que se negaprovimento.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de Recurso Ordinário,sendo recorrente LEÔNIDAS ANTÔNIOPEREIRA e, recorrida, IGREJAPENTECOSTAL DEUS É AMOR.

RELATÓRIO

A d. 1ª JCJ de Sete Lagoas/MG,sob a presidência da MM. Juíza MaristelaÍris da Silva Malheiros, pela sentença def. 108/112, cujo relatório adoto e a esteincorporo, julgou improcedente areclamação trabalhista.

Inconformado, recorre oreclamante (f. 118/122), pleiteando oreconhecimento do vínculo empregatício

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e a condenação da reclamada aopagamento de verbas rescisórias, fériasde todo o período, acrescidas de 1/3, 13ºsalário de 1997, indenização substitutivado seguro-desemprego, FGTS, RSRs eferiados, horas extras e reflexos, salário-família, indenização por dano moral eintegração das comissões nas parcelasresilitórias. Requer ainda a anotação desua CTPS.

A reclamada não apresentoucontra-razões, embora regularmenteintimada para tanto (certidão de f. 125,verso).

Manifestação da d. ProcuradoriaRegional do Trabalho, pelo Dr. Robertodas Graças Alves, às f. 127, peloprosseguimento do feito.

É o relatório.

VOTO

Juízo de admissibilidade

O recurso é próprio e tempestivo,regularmente processado, pelo que deleconheço, esclarecendo que o reclamantefoi isento do pagamento das custasprocessuais (acórdão de f. 42/43,proferido em decisão ao agravo deinstrumento interposto).

Juízo de mérito

Sustenta o reclamante, orarecorrente, a existência de verdadeirarelação de emprego entre as partes. Afirmaque foi contratado pela reclamada paraexercer as funções de pastor e vendedorde livros, fitas cassete, discos e CDs,recebendo salário fixo e comissão de 5%sobre as vendas realizadas. Alega que erasubordinado à reclamada, tendo recebidoadvertência. Aduz que o documento de f.13 demonstra o pagamento de salário,

sendo mero artifício a utilização, pelareclamada, do termo “sustento pastoral”.Argumenta que o pagamento habitual de13º salário comprova a existência dovínculo empregatício, ante a naturezanitidamente trabalhista da parcela. Relataque era subordinado a horário de trabalho,sendo o seu descumprimento sujeito apenalidades. Colaciona jurisprudência emdefesa de sua tese e pleiteia a condenaçãoda reclamada ao pagamento de todasas parcelas elencadas na petição inicial.

Improcedem, todavia, asalegações do reclamante.

Não caracteriza o vínculo deemprego a prestação de trabalho pastoral.Considera-se, nesta hipótese, que aprestação de serviços não tem intuitolucrativo, mas apenas religioso, de difusãoe fortalecimento da fé que professa. Opróprio reclamante confessou, em seudepoimento pessoal, que não tinhainteresse financeiro na prestação dosserviços de pastor, não havendo que secogitar em relação de emprego.

Assim é que declarou oreclamante: “... era também pastor daIgreja reclamada; optou por ser pastorpor vocação religiosa, sem qualquerinteresse financeiro; enquanto pastor,limitou-se a difundir seu credo religiosopor opção própria”. (f. 97)

Não há que se falar, ainda, napercepção de salários. Embora seja esteo termo usado no documento de f. 13,restou claro nos autos que o reclamanteprestava seus serviços sem qualquerinteresse financeiro, no puro intuito dedifusão da sua fé. Neste caso, opagamento de valores mensais aoobreiro destinava-se apenas ao sustentopessoal e de sua família, de forma aliberá-lo de preocupações financeiras,para que pudesse dedicar-seinteiramente ao seu ofício religioso.

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Convém ressaltar que os demaisrecibos juntados aos autos referem-seao “sustento pastoral”, e não a salário.Eventual incorreção lançada em simplesautorização de pagamento da Igrejareclamada não altera a sua naturezajurídica, que continua a ser de ajuda decusto pelos serviços religiososprestados.

Da mesma forma, não é indícioda existência de verdadeiro contrato detrabalho entre as partes a simplespercepção de 13º salário. Conforme jáexposto, o próprio autor admitiu aprestação desinteressada de serviços,pelo que o pagamento de um auxílioanual, denominado de 13º salário, nãoinduz à existência de vínculoempregatício entre as partes.

Por outro lado, a simplesexistência de subordinação não é capazde caracterizar, neste caso, a relação deemprego entre as partes. Como bemobservou o d. Juízo de origem, é naturala existência de subordinação em umaorganização religiosa hierárquica, comoé o caso da reclamada. A hierarquiaexistente em uma Igreja justifica asujeição de seus membros a ordens epenalidades, advindas das autoridadessuperiores, sem que tal fato importe emrelação de emprego. Vale observar quea subordinação aqui existente é deíndole hierárquico-religiosa, totalmentediversa daquela encontrada em umaverdadeira relação de emprego, quedecorre do poder diretivo doempregador, a quem cabe organizar osmeios de produção.

Ademais, não restaram provadasas suas alegações, no sentido de queera sujeito a controle de horários. Assimé que declarou Álvaro Henrique deOliveira Campos, testemunha arroladapelo próprio autor: “... não tinha o

reclamante jornada pré-determinadapela reclamada, mas tinha que atenderaos chamados da Igreja” (f. 98). Nomesmo sentido, informou AdãoRodrigues Ferreira que: “... não sesubordinava o reclamante a qualquerhorário na Igreja reclamada, pois elepróprio determinava o tempo que ia darassistência à Igreja; pregava oreclamante, no máximo, dois a três diaspor semana”. (f. 99)

Restou provado, pois, que oreclamante agia como senhor do seutempo, atendendo às suas ocupaçõespastorais e espirituais como melhor lheconviesse. Ainda que assim não fosse,é natural que uma entidade religiosa comum mínimo de organização estabeleçahorários para cultos e atendimento aosfiéis, sem que tal fato possa importar emestabelecimento de horário de trabalhoa ser cumprido.

Resta a ser analisado, pois, oexercício da função de vendedor delivros, fitas, discos e CDs para areclamada.

Sustentou o reclamante, em seudepoimento pessoal de f. 97, querealizava tais funções por interessefinanceiro, sofrendo fiscalização porparte da reclamada. No entanto, nãologrou provar as suas alegações.

As testemunhas arroladas pelareclamada foram uníssonas ao afirmarque o reclamante não exercia taisatividades. Assim é que declarou AdãoRodrigues Ferreira: “... nunca exerceu oreclamante a função de vendedor delivros, fitas, discos ou CDs para areclamada; mantinha a Igreja umalivraria, onde os fiéis voluntários vendiamaos demais adeptos da Igreja osprodutos acima mencionados, semqualquer participação do autor” (f. 98/99).No mesmo sentido, informou Adão Lopes

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de Macedo que: “... não comercializavao reclamante livros para a reclamada;possui a reclamada um pequeno cômodoonde vende livros para seus própriosadeptos, cujas vendas são feitas por umvoluntário da Igreja” (f. 99).

Robustos e coerentes taisdepoimentos, merecem mais crédito queas declarações prestadas pela únicatestemunha arrolada pelo autor. Comefeito, tais declarações mostram-se pordemais frágeis e contraditórias, sendoinsuficientes para embasar acondenação.

Assim é que declarou ÁlvaroHenrique de Oliveira Campos: “...quando conheceu o reclamante, em1989, o mesmo era pregador dareclamada, nada recebendo por suaspregações; a partir de determinadotempo, ainda no ano de 1989, passou acumular o mister de pregador evangélicocom a função de responsável pelasvendas da livraria; enquanto responsávelpelas vendas, o interesse do reclamanteera tão-somente financeiro, pois poucoimportava pela difusão ou não do ensinoreligioso a que professava; quando seresponsabilizou pelas vendas, recebiasalário, cujo valor desconhece; nadasabe informar sobre a participação ounão do autor no valor das vendas; comoera o depoente 2º tesoureiro dareclamada, teve conhecimento de haversido o reclamante convidado para dirigira livraria, mediante pagamento desalário; ... o reclamante recebiapagamento mesmo que não houvesselucro na livraria” (f. 98).

Ora, como pode a testemunhaalegar desconhecimento dos valorespagos, se era tesoureiro da reclamada?Ademais, as declarações prestadas, nosentido de pagamento de um salário fixo,mesmo quando não houvesse lucro na

livraria, mostram-se contraditórias comas alegações da peça inicial, no sentidode que o reclamante recebia comissãosobre as vendas efetuadas.

Não comprovado o labor comovendedor, não há que se cogitar emreconhecimento do vínculo empregatícioe, tampouco, no pagamento das parcelaspostuladas.

Convém ressaltar que, mesmo sefosse provado o exercício das atividadesde vendedor, o mesmo não importa emrelação de emprego, sendo merocorolário do seu ofício de pastor. De fato,é natural que os professantes de uma féprocurem difundi-la, por meio dapropagação de material religioso edoutrinário, sem que se caracterize afigura do vendedor empregado.

Desprovejo.Em face do exposto, conheço do

recurso ordinário para, no mérito, negar-lhe provimento, mantida íntegra a v.sentença hostilizada, por seus própriose jurídicos fundamentos.

Motivos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua Segunda Turma, àunanimidade, em conhecer do recurso;sem divergência, em negar-lheprovimento.

Belo Horizonte, 01 de junho de1999.

ANTÔNIO FERNANDO GUIMARÃESPresidente

EDUARDO AUGUSTO LOBATORelator