382
REVISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO FUNDADA EM 1991

Revista 21 Do MPT

  • Upload
    lispi

  • View
    494

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 1/380

REVISTA

DOMINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

FUNDADA EM 1991

Page 2: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 2/380

COMISSÃO EDITORIAL

Maria Aparecida GugelMárcia Raphanelli de BritoAntonio Luiz Teixeira MendesCristiano Paixão Araujo Pinto

Secretária: Anamaria Damasceno Corrêa

Page 3: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 3/380

MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

REVISTADO

MINISTÉRIO PÚBLICODO TRABALHO

EDITADA PELA LTr EDITORA, EM CONVÊNIOCOM A PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO

E COM A ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOSPROCURADORES DO TRABALHO

OS ARTIGOS PUBLICADOS SÃO DERESPONSABILIDADE DOS SEUS AUTORES

REV. MPT — BRASÍLIA, ANO XI — Nº 21 — MARÇO 2001

RedaçãoProcuradoria-Geral do Trabalho

S.A.S. Quadra 4, Bloco L — 10º andar — sala 1012CEP 70070-900 — Brasília — DF

Telefone: (061) 314-8726 — FAX (061) 321-0499

e-mail: [email protected]

Page 4: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 4/380

Rua Apa, 165 - CEP 01201-904 - Fone (11) 3826-2788 - Fax (11) 3826-9180 São Paulo, SP - Bras il - www.ltr.com.br 

2001

(Cód. 2321.0)

Revista do Ministério Público do Trabalho / Procuradoria-Geral doTrabalho — Ano XI, n. 21 (março, 2001) — Brasília:

Procuradoria-Geral do Trabalho, 2000 — Semestral

1. Direito do Trabalho — Brasil. 2. Justiça do Trabalho — Bra-sil. I. Procuradoria-Geral do Trabalho.

Cód. 341.6865

Page 5: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 5/380

5

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO .................................................................................. 9

ESTUDOS

A ESCRAVIDÃO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA — A RE-PRODUÇÃO AMPLIADA ANÔMALA DO CAPITAL E A DE-

GRADAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHOJosé de Souza Mar tins ........................................................................ 13DISCRIMINAÇÃO DE RAÇA NAS RELAÇÕES DE TRABALHO NO

BRASILThereza Crist ina Gosdal ...................................................................... 21DISCRIMINAÇÃO NAS RELAÇÕES DE TRABALHO DST/AIDS E

SAÚDE DA MULHERCláudio Alcântara Meire les ................................................................. 41CONTRATAÇÃO FRAUDULENTA DE TRABALHADORES POR IN-

TERMÉDIO DE COOPERATIVAS DE TRABALHOAndré Cremonesi e Orlando de Melo ................................................ 53A LEGISLAÇÃO DE SAÚDE DO TRABALHADOR APLICÁVEL E

VIGENTE NO BRASILJoão Car los Teixei ra ............................................................................. 60LOS MENORES TRABAJADORES EN EL DERECHO LABORAL

MEXICANOJosé Dávalos ......................................................................................... 81A REFORMA NO INSTITUTO DA APRENDIZAGEM NO BRASIL —

ANOTAÇÕES SOBRE A LEI N. 10.097/2000Ricardo Tadeu Marques da Fonseca ................................................. 93AS ALTERAÇÕES NO CONTRATO DE APRENDIZAGEM: CONSI-

DERAÇÕES SOBRE A LEI N. 10.097/2000Bernardo Leôncio Moura Coelho ....................................................... 108AÇÃO CIVIL PÚBLICA NA JUSTIÇA DO TRABALHO: ALGUMAS

QUESTÕES CONTROVERTIDASRaimundo Simão de Melo .................................................................... 127A TUTELA DOS INTERESSES OU DIREITOS INDIVIDUAIS HO-

MOGÊNEOS PELA AÇÃO CIVIL PÚBLICA NA JUSTIÇA DOTRABALHO

Jonas Ratier Moreno ............................................................................ 140

Page 6: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 6/380

6

“ASTREINTES” — ESSA GRANDE DESCONHECIDAFrancisco Antônio de Oliveira ............................................................. 153PARADIGMAS DA RELAÇÃO ENTRE A SOCIEDADE E AS PES-

SOAS COM DEFICIÊNCIA

Mar ia Salete Fábio Aranha ................................................................. 160

JURISPRUDÊNCIA

Ministério Público do Trabalho — Reclamação — Desarquivamentodo Processo Administrativo Disciplinar (TST) ........................ 177

Ministério Público do Trabalho — Legitimidade — Recurso emMatér ia Administrativa (TST) .................................................... 180

Ministério Público do Trabalho — Mandado de Segurança — Or-dem de Reintegração de Empregado — Execução Definitiva

contra Ente Público (TST) ......................................................... 186Ministério Público do Trabalho — Prazo Recursal — Início — Con-

tagem (TST) ................................................................................. 191Ministério Público do Trabalho — Legitimidade para Recorrer —

Concurso Público — Sociedade de Economia Mista (TST) .. 194Execução — Descumprimento de Acordo em ACP — Imposição

de astreinte (TRT 4ª Região) .................................................... 198Ação Civil Pública — Legitimidade — Cooperativa de Trabalho —

Fraude (TRT 8ª Região) ............................................................. 201

Ministério Público do Trabalho — Liminar Concedida em ACP —Cassação em Mandado de Segurança — Reforma em AgravoRegimental do MPT (TRT 22ª Região) .................................... 218

INQUÉRITOS, TERMOS DE COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DECONDUTA, AÇÕES E DEMAIS ATIVIDADES

Recomendação Conjunta MPT/MPF/MPESP: Pessoa Portadora deDeficiência .................................................................................... 227

Mediação — Garantias e Direitos Trabalhistas (PRT 9ª Região) . 230

Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta — Cota — Pes-soa Portadora de Deficiência (PRT 1ª Região) ..................... 232

Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta — Traba-lho Forçado — Trabalhadores Brasileiros no Japão (PRT2ª Região) .................................................................................... 234

Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta — Normasde Segurança e de Medicina de Trabalho Portuário (PRT 11ªRegião) .......................................................................................... 236

Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta — Menor

Aprendiz (PRT 12ª Região) ....................................................... 239

Page 7: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 7/380

7

Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta — TransporteIrregular de Trabalhadores (PRT 20ª Região) ......................... 241

Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta — Exigênciade Atestado de Gravidez/Esterilização (PRT 21ª Região)... 243

Ação Civil Pública — Trabalho Portuário Avulso (PRT 1ª Região) ... 244Ação Civil Pública com Pedido de Antecipação de Tutela —

Revista Íntima de Trabalhadores (PRT 2ª Região) ........... 262Ação Cautelar Inominada de Bloqueio de Numerário e de Inalie-

nabilidade de Bens, com pedido de ordem liminar inaudita altera pars (PRT 4ª Região) ...................................................... 278

Ação Anulatória — Cobrança de taxa para custeio das comissõesde conciliação prévia intersindical (PRT 10ª Região) .......... 297

Ação Cautelar Inominada Preparatória de Execução de TAC —Garantia do Pagamento de Verbas Rescisórias (PRT 14ª

Região) .......................................................................................... 317Ação Civil Pública: Exigência de carta de fiança aos empregados

(PRT 15ª Região) ........................................................................ 325Reclamação Correicional: Prerrogativa Institucional do MPT de

Assento à Direita de Juiz (PRT 16ª Região) .......................... 340

ENTREVISTA

ENTREVISTA COM O PRESIDENTE DA SALA DO SOCIAL DO TRI-BUNAL SUPREMO DA ESPANHA, DON LUIS GIL SOARES ... 351

SEMINÁRIOSCarta de Campo Grande (Trabalhador Indígena) ............................ 367Car ta de Fortaleza (Trabalho Infantil) ............................................... 369Car ta de Belém (Trabalho Forçado) .................................................. 371Propostas: Seminário “A Formação e a Inserção no Mercado de

Trabalho da Pessoa Portadora de Deficiência e o Reabilitado” —Curi tiba .......................................................................................... 374

MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO .............. 377

Page 8: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 8/380

9

APRESENTAÇÃO

A Comissão Editorial da Revista do Ministério Público do Traba-lho, neste número, tem a honra de apresentar a seus leitores os es-tudos de três novos colaboradores Doutores José Dávalos, MariaSalete Fábio Aranha e José de Souza Martins, todos de renome na-cional e internacional em suas respectivas áreas, trazendo temas

atuais e que imbricam diretamente em nossa atividade, demonstran-do a salutar interdisciplinariedade com outras áreas de conhecimentocientífico.

Também como forma de demonstrar a abrangência de nossasatividades, trazemos recente Recomendação Conjunta dos Ministé-rios Públicos do Trabalho, Federal e Estadual de São Paulo,endereçada ao Banco Central para adequar as condições de seusclientes/usuários e trabalhadores portadores de deficiência; a sínte-se das discussões havidas, através de Cartas Institucionais, em Se-

minários que trataram de temas relacionados com o trabalho indíge-na, infantil e forçado.

Por fim, inédita entrevista do Presidente da Sala do Social doTribunal Supremo da Espanha, Don Luis Gil Soares, concedida aoProcurador Regional do Trabalho Rogério Rodriguez Fernandes Filho.

A Comissão.

Page 9: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 9/380

ESTUDOS 

Page 10: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 10/380

13

 A ESCRAVIDÃO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA 

— A REPRODUÇÃO AMPLIADA ANÔMALA DO 

CAPITAL E A DEGRADAÇÃO DAS RELAÇÕES 

DE TRABALHO (*)

José de Souza Martins(**)

O tema do trabalho forçado ainda inquieta a nossa consciência e per-turba nossa capacidade de interpretação dos problemas sociais. Durantemuito tempo, os teóricos das questões sociais consideraram, e muitos ain-da consideram, o problema das formas servis de trabalho um mero resíduode um passado condenado e em extinção, superado por formas modernas

e contratuais de convivência e de trabalho. Não obstante, chegamos aofinal do século com o débito moral de, provavelmente, duzentos milhões depessoas vivendo sob distintas formas de cativeiro no mundo. O que incluinão só efetivos trabalhadores, mas também outras formas de sujeição pes-soal, como a prostituição infantil, o tráfico de mulheres, o comércio de es-posas e o seqüestro e comércio de crianças para a guerra. Em 1993, orelatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho) estimava em maisde seis milhões o número de efetivos trabalhadores escravizados no mun-do, concentrados sobretudo na Ásia e na África. Extremos que sugeremuma grande amplitude de formas culturais de escravização contra as quais

tratados, leis e medidas repressivas têm podido pouco.Na Junta de Curadores do Fundo Voluntário das Nações Unidas con-

tra as Formas Contemporâneas de Escravidão temos recebido denúnciase pedidos de socorro de grupos humanitários até mesmo dos Estados Uni-

(*) Palestra no Seminário Internacional sobre “Trabalho Forçado, realidade a ser combatida”, pro-movido pelo Ministério Público do Trabalho. Belém (PA), 6 de novembro de 2000.(**) Professor Titular no Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e CiênciasHumanas da Universidade de São Paulo; Fellow de Trinity Hall e Professor Titular da CátedraSimón Bolivar da Universidade de Cambridge (Inglaterra, 1993/94); membro da Junta de Curadores

do Fundo Voluntário da ONU contra as Formas Contemporâneas de Escravidão.

Page 11: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 11/380

14

dos e da Europa, lugares em que a contratualidade das relações de traba-lho parecia institucionalizada e estabelecida. Portanto, estamos longe decompreender de modo substantivo esse fenômeno. Certamente, não é umfenômeno puramente residual. Prefiro tratá-lo como uma expressão tardia

de contradições próprias do desenvolvimento capitalista, que se manifes-tam em condições econômicas, sociais e culturais particulares. Certas “ne-cessidades” aparentemente secundárias do processo de reprodução am-pliada do capital estão se encontrando com sobrevivências culturais dopassado, que levam a uma refuncionalização da servidão.

Outro aspecto do problema a ser considerado é a sua chegada tardiaà consciência dos setores militantes e de esquerda da classe média, daselites e dos agentes de decisão política. No caso brasileiro, estamos bemlonge dos anos setenta, quando o país chegou a ter meio milhão de traba-

lhadores em regime de peonagem, principalmente na Amazônia. Época emque pouquíssimas vozes se levantaram para denunciar ou mesmo lastimaresse problema social. Um momento em que, é preciso que se diga, a servi-dão por dívida recriou um sistema de exploração do trabalho que contribuiupara intensificar o processo de acumulação não capitalista do capital nopaís. Bancos, indústrias e grandes empresas comerciais, que se tornaramproprietários de terra na Amazônia, estiveram envolvidos no uso do traba-lho cativo. Pelo menos um caso mostra a funcionalidade dessa anomalia: oprincipal dono de uma grande empresa aérea de hoje, começou a sua ri-queza transportando peões de Goiás para grandes fazendas do norte de

Mato Grosso, naquela época, grandes fazendas nominalmente acusadasde emprego de trabalho escravo.

Mas, a servidão por dívida e as formas não contratuais de exploraçãodo trabalho continuam tendo uma função nos setores intermediários e po-bres da economia. A terceirização do trabalho coloca esses setores a ser-viço do grande capital e das grandes empresas, o que nos põe diante deum verdadeiro sistema de exploração do trabalho vinculado à própria dinâ-mica do capitalismo. Esse é, certamente, o ponto mais grave. Não estamosapenas em face de episódios e surtos de violação dos direitos sociais e

dos direitos trabalhistas.A compreensão da persistência e mesmo da ressurgência de formas

servis de trabalho ou do trabalho forçado na sociedade contemporâneapede, há muito, uma explicação teórica. Pouco se fez nesse sentido. Ou osautores se perdem em considerações sobre a escravidão da Antigüidadeaté nós, suprimindo da História a sua historicidade e suas singularidades,divagando sobre uma concepção genérica e abstrata de escravidão. Ou seenredam nas dificuldades próprias de quem concebe o capitalismo comoum modelo puro, em que “perturbações” como essa só podem ser resultado

de sobrevivências destinadas a desaparecer com o próprio desenvolvimento

Page 12: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 12/380

15

capitalista. Minha suposição é justamente a de que a escravidão contem-porânea é, de certo modo, constitutiva desse desenvolvimento, forma deampliar e extremar a eficácia dos mecanismos de acumulação.

São muitas as ações de caráter humanitário no sentido de combatere extinguir as formas degradadas de trabalho; degradadas em relação aosvalores e, supostamente, à lógica da economia moderna. São poucas, com-parativamente, as ações de fiscalização do cumprimento das normas rela-tivas a esses valores e dos princípios jurídicos deles decorrentes. Nas Na-ções Unidas, o Grupo de Trabalho contra a Escravidão, criado pela Assem-bléia Geral, atua no sentido de fazer cumprir os tratados internacionais quehá décadas procuram transformar velhas relações de trabalho em relaçõescontratuais e igualitárias. O Brasil é um dos poucos países que nos últimosanos, através da criação do GERTRAF (Grupo de Repressão ao Trabalho

Forçado) e da ação dos Grupos Móveis tem procurado atuar repressiva eeducativamente no sentido de banir sobretudo a chamada escravidão pordívida ou peonagem.

Pessoas e instituições envolvidas nessas providências humanitárias,urgentes e necessárias, atuam geralmente na suposição de que a práticada escravidão nos dias de hoje resulta de um desvio de conduta em rela-ção aos princípios que a lei e a moral estabelecem. Essa interpretaçãoseria compreensível se o recurso ao trabalho escravo fosse apenas umaexceção ocasional no funcionamento deste ou daquele estabelecimentoagrícola ou industrial. No entanto, são claras as evidências de que o

revigoramento e a manutenção do trabalho escravo estão integrados naprópria lógica essencial de funcionamento do sistema econômico modernoe atual.

Retomo considerações teóricas que desenvolvi em meu livro “Fron-teira — A degradação do Outro nos confins do humano” (1) para expor essatese. A reflexão teórica, neste caso, é necessária para ampliar a compreen-são do problema e estabelecer um diagnóstico que permita ampliar, tam-bém, a eficácia da intervenção para resolvê-lo. Minha tese é a de que onúcleo explicativo da problemática da escravidão contemporânea está no

que Marx definia como composição orgânica do capital. É o capital de com-posição orgânica alta que regula a taxa média de lucro. Com base nessapremissa, minha hipótese é a de que, nos setores periféricos das economi-as subdesenvolvidas, que tendem à baixa composição orgânica do capital,a acumulação primitiva do capital tende a se tornar um componente deacumulação originária constante . Isto é, no sentido de que é lenta a supe-ração da acumulação originária por outras formas de acumulação de capi-tal, não necessariamente muito mais avançadas.

(1) José de Souza Martins , “Fronteira — A degradação do Outro nos confins do humano”, Editora

Hucitec, São Paulo, 1997.

Page 13: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 13/380

16

A forma da acumulação originária pode ser outra, mas sua funçãopermanece, recria-se nos setores e territórios em que o capital se expandede modo insuficiente, onde a expansão capitalista significa criar as condi-ções de reprodução ampliada do capital a partir de relações não capitalis-

tas de produção. É nesse plano que tem lugar o reaparecimento da escra-vidão ou a recriação de formas não contratuais de emprego da força de trabalho .

Na prática, esse modo anômalo de reprodução ampliada do capital épossível na própria lógica da reprodução capitalista do capital. Todo capitalbusca o lucro médio, não importa qual a sua composição orgânica. O lucromédio é expressão fenomênica da reprodução capitalista, expressão do quena consciência social se traduz como cálculo racional, cálculo capitalista.

A reprodução ampliada do capital deveria ocorrer onde estão estabe-

lecidas as condições sociais adequadas a que se dê, a que ocorra, isto é,onde as relações sociais são reguladas pelo princípio da igualdade jurídicae, portanto, pela contratualidade dos relacionamentos sociais essenciais,fundantes da estrutura social. A sociedade capitalista é a sociedade do contrato . Numa sociedade assim, a evolução “natural” das relações de tra-balho, isto é, trabalho assalariado, como fundamento do processo de acu-mulação, implica numa progressiva mudança na composição orgânica docapital. Isto é, implica no crescimento do capital constante em detrimentodo capital variável: mais máquinas, tecnologia e conhecimento técnico ecientífico — mais capital morto — em relação a dispêndios com a força de

trabalho — menos capital vivo.A tendência deveria ser a do capitalista investir crescentemente em

capital constante. Ou por incompetência ou porque atua num setor marginale precário do mercado, investir em capital constante pode se transformar emfonte de prejuízo. Essa não seria uma opção econômica racional nas cir-cunstâncias. Portanto, a alternativa acaba sendo a de reduzir os salários amenos do que é socialmente necessário à sobrevivência do trabalhador. Mas,como parte de um arranjo lógico: deprimir a proporção do capital variável emrelação ao conjunto do capital, de modo que o não é capital variável pareça

e funcione como capital constante alto. Portanto, o capital pode aí funcionarcomo capital de alta composição orgânica, como se fosse moderno, emboranão o seja. A conseqüência desse reequilíbrio fictício da composição orgâni-ca do capital, para que funcione como composição orgânica alta, resultanecessariamente em superexploração do trabalho. Isto é, resulta em paga-mentos do trabalho inferiores ao que é necessário à reprodução da própriaforça de trabalho — a dele e a de seus dependentes, no geral futuros tra-balhadores. No limite, a superexploração se manifesta sob a forma de es-cravidão, em particular quando os mecanismos culturais e ideológicos doauto-engano, da ilusão igualitária nas relações de trabalho, são corroídos

pela realidade crua da superexploração, da exploração do trabalho como

Page 14: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 14/380

17

extorsão e privação. Nesse momento, o trabalhador pode tomar consciênciade que é um escravo e se rebelar contra sua condição. É nesse momento,também, que mecanismos e meios de coação física e de repressão explici-tamente violenta são incorporados ao próprio processo de produção. Já

não tem força coativa o capataz ideológico e invisível que o trabalhadorregular, no processo racional de produção e de trabalho, carrega em suaconsciência. Esse capataz precisa, então, ser personificado por alguémque torne a coação visível, a repressão dolorosa, alguém que personifiqueo medo.

Pouco se tem discutido os aspectos propriamente sociológicos e an-tropológicos dessa mudança. São aqueles aspectos que negam sualinearidade e seu suposto caráter evolutivo e seu caráter puramente eco-nômico ou principalmente econômico. Aspectos como esses a que acabo

de me referir, aqueles que traduzem a crueza objetiva do processo econô-mico em ações sociais, processos interativos e concepções capazes deassegurar relações apropriadas a que essa crueza se efetive.

Alguns processos característicos do desenvolvimento capitalista re-cente no Brasil estão relacionados com essa dimensão da realidade. José Graziano da Silva demonstrou, num de seus estudos, que o aparecimentodo chamado “bóia-fria” (no sudeste e no sul) ou “clandestino” (no nordestecanavieiro) está diretamente relacionado com a modernização incompletado processo de produção. Há momentos desse processo que, por motivostécnicos, permanecem desproporcionalmente dependentes de trabalhohumano e de formas atrasadas de utilização da força de trabalho. O uso daforça de trabalho fica desproporcionalmente concentrado em momentosespecíficos do processo de produção — como a colheita do café, o corteda cana. Numa outra perspectiva, eu acrescentaria até mesmo o desmata-mento e a preparação do terreno para abertura de novas fazendas.

Ao mesmo tempo, o trabalho é intensamente substituído em outrosmomentos do processo de produção, por máquinas e equipamentos mo-dernos, conhecimento técnico e científico, defensivos, herbicidas etc. En-fim, o trabalho é substituído por meios poupadores de trabalho. Como con-

seqüência, desapareceu entre nós o colonato nas fazendas de café e amoradia nas fazendas de cana, praticamente desapareceu o trabalhadorresidente. Surgiu o emprego sazonal e precário, isto é, na verdade, o de-semprego sazonal, as migrações temporárias, os traficantes de mão-de-obra e todos os problemas sociais decorrentes, como a exploração do tra-balho infantil enquanto mão-de-obra complementar do trabalho adulto epaterno.

No que diz respeito ao tema deste seminário, essa é a pista paracompreendermos as causas estruturais do recrudescimento e dissemina-

ção das formas servis de emprego da força de trabalho.

Page 15: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 15/380

18

De um lado, a formação de excedentes populacionais temporáriosem regiões em que ocorreram essas mudanças. Mas, também, e sobretu-do, em regiões em que a pequena agricultura está em crise com a deterio-ração dos termos de intercâmbio entre produtos agrícolas e produtos in-

dustriais. Do que se sabe efetivamente sobre as regiões de recrutamentodas vítimas de trabalho forçado é que são regiões de agricultura familiarem crise. Nelas, há até mesmo o estímulo a que os jovens aceitem o apelodos recrutadores em troca do abono , que é a fonte originár ia da escravizaçãopor dívida. O que nos põe em face de formas coercitivas de trabalho com base em engajamentos voluntários .

Diferente do que acontece nas relações “normais” de trabalho assa-lariado (nas quais o auto-engano se recria cotidianamente e não entra emconflito consciente com a sociabilidade das relações de trabalho), na relação

servil moderna o auto-engano é originário, não é cotidiano, não entra na roti-na do trabalho, e envolve uma intensa teatralidade na fase do recrutamento.

Mas, em seguida, o autoengano é substituído pela violência física,pelo cerceamento da liberdade e pela negação de tudo que compõe o ima-ginário contratual das relações de trabalho. Então, a relação de trabalho setorna crua e violenta, sem necessidade de manutenção do disfarce da igual-dade jurídica ou da benevolência patronal. O que nos põe em face do quevem a ser a contrapartida da sociedade do contrato , que é a sociedade do trato (do costume, da palavra, da tradição, da confiança na palavra empe-nhada). A servidão moderna, em nossa sociedade, é viabilizada e revigora-

da pelo poder da tradição e pela função que ela exerce no processo dedesenvolvimento do capitalismo entre nós.

Portanto, estamos falando de uma irracionalidade social que cumpreuma função histórica na racionalidade econômica .

Minha hipótese é a de que isso é possível na medida em que a com-posição orgânica do capital, que tende historicamente a se tornar cada vezmais alta, impõe um limite ao uso de formas contratuais de trabalho. Nemtodas as atividades econômicas e nem todos os momentos do processo deprodução podem ser desempenhados de conformidade com o princípio

de que as relações de trabalho devem ser reguladas pelo contrato, pelaliberdade e pela igualdade. Isto é, ela carrega consigo um limite socialpara impor formas contratuais de trabalho. Esse limite muda com o desen-volvimento econômico e impõe, portanto, um limite mínimo de desenvolvi-mento social e de adaptação da mão-de-obra ao nível de composição or-gânica do capital. O que nem sempre é possível em setores periféricos daeconomia ou em regiões subdesenvolvidas e secundárias.

Além disso, havendo excedentes de mão-de-obra e havendo tarefasdo processo de produção que podem ser cumpridas em regime de trabalho

intensivo, o próprio mercado se encarrega de deprimir o valor da força de

Page 16: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 16/380

19

trabalho e viabilizar a servidão. Em nosso caso, a escravização ocorre so-bretudo em estabelecimentos econômicos com características de enclavesterritoriais, em que o trabalho se realiza em regime de confinamento dotrabalhador, o que o priva de referências sociais e espaciais para concreti-

zar seu direito à liberdade e sua liberdade de decisão quanto ao que éaceitável e o que não é. Não raro, a consciência patronal da violência queestá sendo praticada se materializa num corpo de segurança, uma força depistoleiros e jagunços que, por viverem numa cultura de crime e transgres-são, com mais facilidade e eficiência podem concretizar um componenteessencial da escravidão: a privação de direitos sobre o próprio corpo porparte do trabalhador. Coisa bem diferente do que ocorre com o trabalhoassalariado, em que o trabalhador entra nas relações de produção comosenhor de seu corpo e proprietário de sua força de trabalho, que vendesegundo regras de mercado e não sob coação.

Em sociedades como a nossa, em que o desenvolvimento social estácronicamente descompassado em relação ao desenvolvimento econômico ,a adaptação da mão-de-obra aos níveis cambiantes da composição orgâ-nica do capital é muito lenta. Não só em termos de educação, mas tambéme sobretudo em termos de ajustamento às características cambiantes domercado de trabalho. Há um certo anacronismo na força de trabalho quedeixa um número crescente de pessoas na condição de seres descartáveisem face das novas características do desenvolvimento econômico. É nouniverso dessas pessoas que se revigora a cultura do trato e com ela as

condições sociais adversas que propiciam e facilitam o seu recrutamentopor meio de formas não contratuais de trabalho, portanto, para o trabalho servil .

Não estou propondo uma explicação cultural para o problema do tra-balho forçado. Estou mostrando que o limite social próprio de determinadonível da composição orgânica do capital, que assegura e viabiliza as for-mas contratuais de emprego, fica ameaçado nos extremos do desenvolvi-mento do capital. Aí surge a possibilidade de escamotear a composiçãoorgânica do capital para incorporar à produção esses excedentes popula-cionais, ainda que temporariamente. Sem que isso afete a lógica da repro-dução ampliada do capital.

Sendo o nível do capital constante imposto por condições externasao empreendimento, por meio do mercado (e de artifícios como os incenti-vos fiscais e os subsídios), é por meio dele que se define a proporção docapital variável na composição orgânica. Os setores em que aparece o tra-balho forçado, são tendencialmente aqueles de composição orgânica bai-xa. Mas, a busca e a necessidade do lucro médio impõe a elevação dacomposição orgânica do capital. Onde essa elevação não é possível e ondeo capital ainda encontra meios de permanecer no setor econômico, na área

geográfica ou no ramo de produção em crise, o capitalista define o montan-

Page 17: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 17/380

20

te decrescente de capital que está disposto (e pode, racionalmente) gas-tar com a força de trabalho, com o pagamento de salários. Se ele encontracondições sociais adversas, que tornem os trabalhadores disponíveis pararecrutamento fora do âmbito do contrato, e se encontra condições culturais

“adversas”, para o trabalhador, fundadas na cultura do trato, pode recrutara força de trabalho de que necessita pagando aquilo de que dispõe. Nes-sas condições, a taxa normal de exploração da força de trabalho dá lugar àsuperexploração: o que o trabalhador custa para o capital implica que rece-ba menos do que é necessário à sua reprodução e de sua família. Em par-te, possível porque essa reprodução, via de regra, é assegurada pela agri-cultura familiar, pela produção direta dos meios de vida.

O capital obtém, assim, toda a força de trabalho de que necessita,mas ela lhe custará menos do que vale a sua reprodução. Com a redução

da participação do capital variável na composição orgânica do capital,essa composição se tornará falsamente alta. Isto é, estaremos em facede uma composição orgânica baixa do capital em que o capital funciona(e lucra) como se sua composição orgânica fosse realmente alta, comose fosse capital de um momento mais moderno e mais desenvolvido docapitalismo.

Dizendo de outro modo: o uso predatório da força de trabalho (parti-cularmente claro no trabalho infantil) permite às economias subdesenvolvi-das participar, com vantagens, da economia globalizada — fazendo comque o capital atrasado possa concorrer com o capital moderno. À custa,

porém, de graves, crescentes e insolúveis problemas sociais.Um ponto a considerar é o de que toda e qualquer interferência nes-

sa situação, em favor dos frágeis e das vítimas, é fundamental para que oemprego da força de trabalho se dê no âmbito das formas contratuais douso do trabalho. Esforços como o do GERTRAF e dos Grupos Móveis, mes-mo que em desencontro com a precariedade da consciência das vítimas,são essenciais. Essas ações representam o erguimento de uma barreiramoral, por meio do jurídico, em nome da sociedade, às formas indiscrimi-nadas e nem sempre éticas de reprodução ampliada do capital.

Esse é um modo, sem dúvida, civilizador, na relação entre a socie-dade e a economia, de dizer ao capital quem de fato manda, a coisa ou apessoa, mesmo nas sociedades pobres e desprotegidas, ou mesmo emrelação às populações pobres de países ricos.

Page 18: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 18/380

21

DISCRIMINAÇÃO DE RAÇA NAS RELAÇÕES DE 

TRABALHO NO BRASIL 

Thereza Cristina Gosdal(*)

 ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS DA DISCRIMINAÇÃO DE RAÇA — A ESCRAVIDÃO 

Não é possível falar-se em discriminação de raça no Brasil sem re-construir a história do Direito do Trabalho e nela o papel do trabalho escra-vo, já que a discriminação racial se verifica acentuadamente em relaçãoaos negros, índios e diversos mestiços.

Os manuais, em sua grande maioria, sequer colocam o trabalho es-cravo como inserto na história do Direito do Trabalho, remetendo-se à his-tória européia ocidental de modo universalizante e tomando como marcoinicial do trabalho que importa a este Direito especializado, a RevoluçãoIndustrial. Deste modo, são ignorados cerca de trezentos anos de nossahistória, em que o trabalho foi fundado na exploração de mão-de-obra es-crava e num processo de formação da classe trabalhadora e de industriali-zação que apresentou peculiaridades próprias, em muitos aspectos diver-sas das que se desenvolveram na Europa.

Inicialmente, é preciso considerar que a escravidão que se verificoua partir do século XVI nas colônias européias difere daquela praticada pe-los povos da antigüidade, porque inserida no capitalismo mercantil, voltadaà produção do lucro pela exploração do trabalho. Ao tratar da escravidãonegra no Brasil, Suely Queiroz (1) afirma que:

“(...) Ela submete, por exemplo, povos de níveis culturais muito diferentes, utilizando-os como simples máquinas de trabalho. Além 

(*) Procuradora do Trabalho e socióloga. Mestranda em Direito da Universidade Federal do Paraná.

(1) Queiroz, Suely Robles Reis de . “Escravidão Negra no Brasil”, pág. 6.

Page 19: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 19/380

22

disso, e, principalmente, não se filia a passado ou tradição alguma. Aescravidão surge no mundo ocidental quando perdera a razão de ser nesse mesmo mundo: daí provocar controvérsias e a busca de justifi- cativas através da história e da religião para legitimar-se.” (...).

Estas justificativas estão até hoje presentes na base da discrimina-ção de raça. No caso do Brasil, a escravidão foi o meio encontrado pelosportugueses para lucrar com a colônia, já que frustradas as primeiras ex-pectativas de encontrar ouro e prata, ou outros produtos preciosos paracomerciar.

O novo mundo precisava intensificar a reprodução do capital euro-peu, fornecendo produtos lucrativos. O açúcar era um produto raro, quedespertava o interesse do mercado e assegurava uma atividade rentável

aos portugueses. A produção estava estruturada no grande latifúndiomonocultor, que exigia mão-de-obra numerosa e trabalho permanente. Oescravo era um meio de produção. A Europa não dispunha de grande con-tingente de gente que pudesse ser deslocada para as colônias e submeti-da a condições de trabalho que tornassem lucrativo o empreendimento. Enada poderia impedir que trabalhadores livres se estabelecessem por con-ta própria, sem se sujeitar ao trabalho intenso desenvolvido na produçãodo açúcar.

Num primeiro momento foram escravizados os indígenas. O próprioColombo propôs, em carta escrita de Lisboa, em 1493, a introdução deíndios americanos como escravos na Espanha, tendo havido duas tentati-vas em Sevilha. A escravidão de índios foi gradualmente substituída pelade africanos, não apenas em razão da política de extermínio praticada con-tra os indígenas (na época da descoberta havia cerca de 2.500.000 indíge-nas; em 1970, havia cerca de 50.000); mas também porque após a invasãoholandesa muitos índios se voltaram contra os portugueses; por fim, e so-bretudo, porque a escravidão de índios não trazia lucros para Portugal,enquanto que o tráfico de negros revelou-se altamente lucrativo, tornando-se um fim em si mesmo.

Os portugueses foram pioneiros desta atividade, resultante da ex-pansão marítima do século XV, tendo monopolizado o tráfico de escravosdurante todo o século XVI e parte do século XVII. Posteriormente, o tráficopassou a ser realizado também por ingleses, holandeses e franceses. Noséculo XVIII, após a Guerra da Sucessão espanhola, a Inglaterra garantiuo controle do asiento, privilégio de fornecer escravos às colônias espa-nholas, dominando o comércio de escravos africanos.

A partir da descoberta do ouro no Brasil, os escravos também foramempregados na mineração. O ouro atraiu muitos imigrantes europeus, que

passaram a utilizar-se de escravos para trabalhos domésticos, artesanais

Page 20: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 20/380

23

e agrícolas. O que manteve o tráfico de escravos, mesmo após o declínioda mineração. Todas as atividades manuais do campo e cidade eram feitaspor escravos. Desenvolviam os trabalhos de agricultura, domésticos, mine-ração (inclusive técnicos das minas), criação de gado, comércio de panos

e sabão, marinheiros, transporte público (em rede ou cadeiras transporta-das por dois escravos) e outros.

No século XIX o Brasil colonial se tornou grande produtor de café. Aprimeira importante região de produção de café foi o Vale do Paraíba (SãoPaulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro). Mais tarde, São Paulo se tornou aprincipal área de produção de café. Nos cafezais, os escravos desenvolvi-am todas as atividades da cultura do café e ainda desenvolviam as culturasauxiliares, produzindo boa parte dos artigos que consumiam. As fazendasde café muitas vezes possuíam forjas e serralherias para a fabricação de

facas e foices; tecelagem do algodão de uso da escravaria; selaria, ondeera trabalhado o couro.

Após o período inicial, em que a Igreja Católica discutiu se os indíge-nas americanos tinham ou não alma, o que possibilitou que fossem escra-vizados, diversas bulas papais proibiram a escravização de índios, reco-mendando, porém, expressamente, a de negros. Havia inclusive a justifica-tiva de que a escravidão era praticada entre as próprias tribos africanas.Mas o caráter da escravidão entre os africanos era completamente diverso, já que não havia produção baseada na exploração do trabalho servil peloschefes africanos. Onde existia, tinha um caráter patriarcal, tanto que o pre-so escravizado, com o tempo, era incorporado à família do dono.

É provável que os primeiros africanos tenham sido introduzidos noBrasil entre 1516 e 1526, mas a entrada dos africanos escravizados ape-nas começou a ser notada a partir da segunda metade do século, com ainstalação do governo geral de Tomé de Souza. O número de escravosnegros introduzidos no Brasil durante o período da escravidão não é pací-fico entre os historiadores. Segundo Suely Queiroz (2) a maioria dos estudio-sos estima a vinda de três e meio milhões aproximadamente, sendo que apopulação do país no século XIX era de três milhões de habitantes. Estes

escravos eram de dois grupos de africanos, em especial: os bantos (gruposlocalizados ao sul da linha do Equador) e os sudaneses (grupos encontra-dos nas regiões mais ao norte do litoral africano). Dentre os sudaneseshavia muitos que sabiam ler e escrever (em caracteres que se assemelha-vam ao árabe) e que professavam o islamismo.

Quase não havia famílias estáveis, ou casamentos entre os africanostraficados para o Brasil, em sua maioria homens. As pessoas da mesmatribo, inclusive famílias, eram separadas, para dificultar a comunicação,

(2) Queiroz, Suely Robles Reis de . Obra citada.

Page 21: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 21/380

24

obrigando o escravo a aprender o português, ou tupi-guarani para se co-municar. Eram poucos os filhos que nasciam das uniões entre escravos,porque era comum o aborto entre escravas e elevada a mortalidade infantil.Na zona cafeeira, no século XIX, a mortalidade alcançava 88% das crian-

ças escravas. No Rio de Janeiro, no censo de 1872, esta taxa era 1,8%mais alta que a de natalidade(3). Os filhos de escravas costumavam serseparados das mães e vendidos em tenra idade. O tempo de vida do escra-vo também era muito reduzido. No fim do século XIX estimava-se comosendo de 5 a 7 anos a vida útil do escravo comprado jovem.

Várias foram as formas de reação contra a opressão e tentativas dereafirmação da identidade do negro africano. Houve formas passivas, comoo suicídio, o aborto e a resistência ao trabalho. Mas também houve formasde resistência ativa, mais rigorosamente repreendidas. As fugas foram fre-qüentes em todo o período escravista, formando-se quilombos. Também ha-via atentados contra a vida dos proprietários e familiares. As insurreiçõeseram a reação mais temida. Eram legalmente definidas como reunião devinte ou mais escravos, para obterem a liberdade à força. Porém, estas rebe-liões não obtiveram êxito e terminaram sendo abafadas. Além da vigilânciaexercida sobre os escravos nas fazendas e pelos capitães do mato, foi cria-da a Guarda Nacional para o combate às insurreições e a Guarda Policial,que recebia em dobro ou triplo, quando a tarefa era atacar quilombos.

LEGISLAÇÃO RELATIVA À ESCRAVIDÃO 

Pouco ou nada se estuda normalmente na área juslaboral sobre alegislação pertinente à escravidão, apesar da inegável importância da refe-rida legislação, que traz inclusive a previsão de alguns institutos hoje pre-sentes no Processo do Trabalho, como o reexame necessário e o valor dealçada. Daí a importância de se resgatar o tema ao tratar da discriminaçãode raça. Mais um esclarecimento se faz necessário: este tópico está quasetodo fundado na excelente obra de Lenine Nequete (4).

Na legislação portuguesa o escravo não tinha personalidade jurídica;

era tratado como bem móvel de seu dono. Era tratado como pessoa apenasquando réu de um crime; quando vítima, era tratado como objeto. Não po-dia queixar-se na justiça, nem testemunhar, somente prestar informações.Nas cartas d’El Rey, de 1688 e 1702, especificou-se que o escravo podiarecorrer à justiça para denunciar atividades subversivas de seu dono, ou afabricação de dinheiro falso; no caso de defloramento de uma virgem; ouse provasse maus-tratos injustos. Não era comum o escravo prevalecer-sedestas possibilidades.

(3) Bergmann, Michel . “Nasce um Povo”.

(4) Nequete, Lenine . “Escravos e Magistrados no Segundo Reinado”.

Page 22: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 22/380

25

A legislação portuguesa recomendava tratamento humano aos es-cravos, mas não havia um Código Negro, tal qual ocorria, por exemplo, naMartinica, em que se estipulava multa de 2 libras para quem cortasse opunho de um escravo; 5 libras para quem lhe cortasse as orelhas; 6 para a

língua; 30 para quem o enforcasse; 60 para quem o queimasse vivo. Aspenas e as infrações elencadas por si sós já revelam o tratamento conferi-do ao escravo africano. Havia regulamentos municipais contra excessivosmaus-tratos, como por exemplo, o de Goiânia, que proibia o castigo deescravos desde o recolher até às seis da manhã, mas neste caso a finali-dade da lei era tutelar a tranqüilidade dos livres. Ademais, na prática, estalegislação não era observada. Não há registro de senhor brasileiro quehouvesse sido multado por maus-tratos aos escravos. A forma de castigomais comum era o açoite, sendo que o Código Criminal do Império apenasestabelecia o limite máximo de cinqüenta chibatadas diárias. Nas cidades

os castigos eram delegados às autoridades e realizados em locais públi-cos, para servirem de exemplo. Nas fazendas, isoladas na área rural, eramcastigados pelos senhores, sem qualquer proteção do Estado.

As Ordenações Manuelinas regulamentavam a compra e venda deescravos no capítulo dedicado aos animais. Na realidade, a única proteçãodo escravo era o seu valor comercial, tanto que havia seguro contra a mor-te de escravos, resguardando o dono de prejuízos financeiros. Ainda, eraprática comum alforriar escravos velhos ou adoentados, que já não apre-sentavam mais potencial produtivo, abandonando-os à mendicância. Por

fim, havia roubo de escravos e era praxe ficar-se com escravos achados.A Ordenação do Reino, Livro 4º, Título 63, tratava da revogabilidade

da alforria concedida ao escravo em razão de ingratidão. Somente era pos-sível a revogação da alforria concedida sem ônus, se depois que fosseforro o escravo cometesse contra quem o forrou alguma ingratidão, em suapresença, ou em ausência, verbal ou de efeito real, ou por quaisquer dascausas de revogação da doação, que incluía desde o cometimento de injú-ria grave contra o doador e sua família, até ter tratado negócio ou ordenadocoisa, causando grande perda e dano ao doador em sua fazenda. Tambémpoderia ser revogada a alforria se, posto em cativeiro o patrono, não o re-misse o liberto, sendo possante para isto; ou estando em necessidade defome, não o socorresse.

A faculdade de revogar o benefício por ingratidão era somente dequem o deu, não podendo o seu herdeiro pretender revogá-lo. Quando aação já havia sido proposta pelo doador seus herdeiros podiam continuara demanda. Quando a manifestação de vontade de revogar a doação poringratidão pelo doador havia sido manifestada extrajudicialmente, ou seja,declarando perante testemunhas que pretendia revogar a doação, a situa-ção era mais complexa. Alguns autores entendiam que não era possível;

mas a Constituição de Justiniano previa a possibilidade, entendendo que

Page 23: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 23/380

26

somente se o doador se calou não era possível a ação por seus herdeiros.Havia exceções que possibilitavam aos herdeiros a ação, independente-mente de manifestação de vontade do doador, como quando tivesse morridode repente; ou quando estava impedido de propor a ação; ou quando fale-

cera ignorando a ingratidão cometida.A Lei n. 2.040, de 28 de setembro de 1871 (a Lei do Ventre Livre)

revogou expressamente o Livro 4º, Título 63, § 7º da Ordenação, que per-mitia a revogação da alforria por ingratidão, alcançando as cartas de alforriaquando se tornassem públicas ou conhecidas dos interessados. Porém,discutia-se se nos testamentos ou documentos mantidos em sigilo pelodoador podia ser desconstituída a liberdade, através de novo testamento,ou novo documento, ou por um ato subseqüente incompatível com a vonta-de manifestada de alforria, como a venda do escravo. Até o advento desta

lei, sequer se assegurava ao alforriado o direito de defesa na ação para arevogação. Havia cartas de alforria que previam expressamente a revoga-ção, caso o antigo escravo se recusasse a prestar certos serviços ao anti-go dono, ou se comportasse de modo pouco digno daquela graça. As car-tas quase sempre continham cláusulas prevendo a permanência do deverde obediência ao antigo dono. Os alforriados somente mantinham a liber-dade enquanto mantivessem certas normas de servilidade esperadaspelos brancos, estando sempre sujeitos à reescravização.

Quanto aos libertos nascidos no Brasil a questão era um pouco me-nos polêmica que quanto aos africanos, pois o art. 7º da Constituição não

previa dentre os casos de perda de direitos de cidadão brasileiro a ingrati-dão do liberto. Ao ser liberto, adquiria direitos de cidadão, podendo conser-var-se ou sair do território nacional, ter igualdade perante a lei, não passara pena de sua pessoa, ter direito de plena propriedade e direito de petição(embora não pudesse ser eleitor, nem votar ou ser votado em eleição paradeputado e senador).

A matéria não foi muito debatida nos Tribunais brasileiros. A primeiradecisão relativa a liberto nascido no Brasil é de 1857, reformando a senten-ça de origem, para considerar inaplicável a Ordenação, que previa a revoga-

ção da alforria por ingratidão, em face do disposto no art. 7º da Constituição.Quanto aos africanos, não há casos em nossos repertórios judiciários.

Havia casos de nulidade da alforria, como quando a alforria era con-cedida em fraude dos credores do libertante, da legítima de seus herdei-ros, ou da meação e direitos de sua mulher. E neste caso não se entendiada impossibilidade de retornarem ao cativeiro os libertos por serem cida-dãos brasileiros.

A partir desta Lei n. 2.040, de 1871, a falta de matrícula especial doescravo no tempo estabelecido (até 30 de setembro de 1873) importava

que ele fosse considerado liberto, a menos que o senhor conseguisse, atra-

Page 24: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 24/380

27

vés de ação ordinária (ou ação de escravidão), com citação e audiênciados libertos e de seus curadores, demonstrar que o descumprimento dodispositivo não ocorreu por sua culpa ou omissão. Verificada a ausência dematrícula de um escravo, podiam proceder os juízes de ofício, declarando a

liberdade do escravo. A ação de escravidão prescrevia em cinco anos.A ação declaratória de liberdade era chamada de ação de manuten-

ção. Devia ser requerida pelo promotor ou por qualquer cidadão; não podiaser requerida pelo próprio escravo, embora o Supremo Tribunal de Justiçao tenha admitido excepcionalmente.

Houve decisões das Cortes de então, as chamadas Relações, aco-lhendo a alegação de ignorância da lei como causa escusável para a au-sência do registro nas ações de escravidão ou de manutenção. O Decreton. 4.835, de 1º de dezembro de 1871, que regulamentava a Lei n. 2.040,

previa a possibilidade de o possuidor realizar a matrícula do escravo, masnão em seu próprio nome, e sim, em nome do senhor. Assim, a matrículafeita pelo possuidor em seu próprio nome, ou por quem não era proprietá-rio do escravo, deveria ser equiparada à ausência de matrícula, mas haviadecisões em sentido contrário.

Ao favor da liberdade do escravo podia ser oposto o benefício da res-tituição in integrum, quando a liberdade do escravo importasse lesão aopatrimônio de pessoas a quem a lei outorgava o referido benefício, comoos menores, os loucos e os ausentes. Mais tarde surgiu nova lei que eximiada prescrição o proprietário de boa-fé que não havia procedido a matrícula

do escravo, já que a lei que previa a necessidade da matrícula não tinhapor fim extinguir a escravidão, mas sim levantar a estatística da populaçãoescrava.

A Lei n. 3.270, de 28 de setembro de 1885, determinou novamente amatrícula dos escravos, estabelecendo no art. 1º que a matrícula deveriaconsignar a filiação do escravo, se conhecida. O que deu ensejo a deci-sões de juízes e Tribunais entendendo livres os escravos cuja filiação eraignorada por seus proprietários. Alguns entendiam que deveriam os juízesdeclarar livres os escravos, de ofício, sempre que da matrícula constassefiliação desconhecida; outros entendiam que a filiação desconhecida so-mente implicava uma presunção de liberdade, o que deveria ser avaliadoem processo contraditório. E isto porque somente podiam ser escravos osbrasileiros nascidos de escravas. Para os que entendiam pela presunçãode liberdade, era inadmissível a prova meramente testemunhal para a de-monstração da condição de escravo, sendo essencial a prova documental,constituída pela certidão de batismo ou justificação do juízo eclesiástico. Oônus da prova incumbia sempre a quem requeria contra a liberdade.

Segundo Rui Barbosa , após a proibição do tráfico, em 1831, até 1852,foram clandestinamente introduzidos no país cerca de quinhentos e ses-

senta mil escravos, que eram legalmente livres, já não se poderia legitimar

Page 25: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 25/380

28

a escravidão dos introduzidos pelo contrabando e de seus descendentes.Assim, não apenas a matrícula de filiação desconhecida militava em favorda liberdade do escravo, mas também quando a idade para ele declaradaera incompatível com o seu ingresso em território nacional antes da lei que

proibiu o tráfico, em 1831.A Lei n. 2.040/1871 também permitiu ao escravo a formação de um

pecúlio com o que recebesse de doações, legados e heranças, bem comocom o que obtivesse do seu trabalho e economias, mediante autorizaçãodo senhor. Com esse pecúlio podia pleitear sua alforria, ou pagar a indeni-zação fixada por arbitramento, na hipótese de não haver acordo. O pecúliodo escravo ficava em mão do senhor ou possuidor, vencendo juro de seispor cento ao ano. Para requerer o arbitramento o escravo devia exibir odinheiro ou título de pecúlios que totalizassem soma razoável. As decisões

 judiciais não aceitavam a liberalidade de terceiro para a alforria, excetocomo elemento para a constituição do pecúlio, ou como um começo depecúlio.

Conforme previa a Lei n. 2.040/1871, nas causas em favor da liberda-de o processo era sumário e havia recurso ex officio quando as decisõeseram contrárias à liberdade. O escravo sempre dispunha de apelação erevista, mas o senhor somente dispunha dos recursos quando o litígio trans-cendia a alçada (quando ultrapassava dois contos de Réis). Sem a confir-mação da sentença contrária à liberdade dos escravos, não poderia ocor-rer a matrícula dos mesmos, embora houvesse decisões em contrário. Ha-

via julgados entendendo que somente cabia a apelação de ofício nas açõesde liberdade em que o escravo fosse autor e a sentença fosse de improce-dência; nas ações de escravidão movidas pelo senhor que deixara de efe-tuar a matrícula dos escravos no período determinado sem culpa ou omis-são, não cabia a apelação ex officio, ainda que a sentença fosse contráriaà liberdade (embora coubesse a apelação voluntária). Para estes, uma coisaera a ação de liberdade, prevista na Lei n. 2.040, sumária e com apelaçãode ofício; outra era a ação de escravidão, prevista no Regulamento de 1º dedezembro de 1871, ordinária e sem determinação expressa de recursonecessário.

Em vista da polêmica instalada, e da necessidade prática de se deci-dir acerca da matrícula dos escravos, provocou-se o exame da matéria pelaSeção dos Negócios da Justiça do Conselho de Estado, que entendeu quea apelação ex officio havia sido estabelecida para todas as decisões con-trárias à liberdade. Primeiro porque as disposições endereçadas ao bemde algumas pessoas, utilidade pública, ou razões de humanidade, deveri-am ser interpretadas com extensão adequada a estes motivos, sendo queno caso de obscuridade, deveriam ser interpretadas no sentido mais con-forme à intenção do legislador; segundo, porque seria contraditório conce-

der a apelação necessária nos casos em que o escravo pretendia a liber-

Page 26: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 26/380

29

dade que ainda não tinha assegurada (ações de liberdade) e não concederquando já estava na posse da liberdade ou a tinha presumida e retornavaao cativeiro (ação de escravidão); terceiro, a lei não falava em ações deliberdade, mas em causas de liberdade, referindo-se ao objeto de favore-

cer a liberdade, não ao meio.Todo este debate, característico do ambiente jurídico, faz transparecer

um ideário desenvolvido para a manutenção da escravidão, e de conseqüên-cia, da posição do negro na sociedade da época, já que o discurso jurídicoestá relacionado às relações que se estabelecem no plano da sociedade.

Teixeira de Freitas publicou um comentário, pretendendo inconstitucio-nais a Lei n. 2.040 e o Regulamento n. 5.135. Afirmava que a libertação doventre dos filhos de mulher escrava, prevista no art. 1º da Lei não era casode desapropriação. E ao declarar livres os filhos de mulher escrava nascidos

a partir daquela data, privava os proprietários de indenização pelos filhosde escravas já concebidos no designado tempo. Os filhos nascidos em se-guida à promulgação da lei já se encontravam gerados e por isso, entendiao referido autor que a lei estava produzindo efeitos retroativos sobre pro-priedade já adquirida por acessão natural. Também criticava a possibilidadede a escrava ter livre apenas o ventre, afirmando que o ventre era parte dotodo indivisível mulher; a liberdade e a escravidão, eram para ele, indivisíveis.Esta crítica de Teixeira de Freitas , embora seja possível do ponto de vista jurídico, com a distância histórica que o transcurso do tempo nos permitemanter, revela-se inadequada do ponto de vista social e demonstra comclareza a estreita relação entre o discurso jurídico e as relações de poder.

O alvará de 10 de março de 1682, que tratava dos negros fugidos,dispunha no § 5º da prescrição da ação de escravidão, em cinco anos,contados da data em que a posse da liberdade se houvesse tornado pací-fica. O alvará, entretanto, era desconhecido dos praxistas e não se encon-trava em nenhuma coleção. Argumentava-se ainda que havia sido expedi-do especificamente para a situação do Quilombo dos Palmares, em Per-nambuco, e que não podia encurtar a prescrição decenal prevista na Orde-nação do Reino. E com isto, recusava-se o reconhecimento da ação movi-da pelos senhores para manterem seus negros na condição de escravos.

 A IDEOLOGIA DA ESCRAVIDÃO: A CONSTRUÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO DE RAÇA 

Como se observa da legislação relativa à escravidão, o negro escra-vo era considerado objeto, classificado como coisa, mercadoria. A lei ape-nas consagrava e legitimava as distinções sociais:

“(...) Como investimento cujo retorno deveria ocorrer no menor 

espaço de tempo possível, cabia ao negro trabalhar no limite de suas 

Page 27: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 27/380

30

forças. Ora, obtinha-se mais facilmente a compulsão necessária a tanto, anulando-lhe a individualidade, reduzindo-o à condição de máquina destituída de vontade própria e cegamente obediente a ra- zões inquestionáveis.

Daí estruturar-se um sistema de dominação em que coerção e repressão foram as técnicas de controle empregadas. (...)” (5).

Na Europa desenvolvia-se o trabalho livre. Como explicar então aaceitação do trabalho escravo nas colônias? Para isto desenvolveram-seidéias, valores, crenças, que se transformaram em representações coletivase universais. Para vários autores o preconceito de raça não existia antes doséculo XV(6). Havia intolerâncias religiosas, cisões entre fiéis e infiéis. Va-lendo-se das idéias de autores clássicos, como Platão e Aristóteles , que

percebiam a escravidão como um fenômeno natural (embora numa con-cepção diversa), a escravidão moderna buscou seu fundamento no dife-rente da cor branca. Às tradicionais justificativas para a escravidão, acres-ceu-se a justificativa da inferioridade racial. Dizia-se que o africano nãohavia se libertado do pecado original, invocando-se uma finalidadecivilizadora e cristianizadora para a escravidão negra. Trazer os negros daÁfrica para a América era um ato de caridade, que os libertava da barbárie,do estágio selvagem de civilização em que se encontravam. A superiorida-de dos brancos era uma recompensa de Deus, por serem cristãos.

Também se difundia a idéia de que o negro tinha o sangue mais es-

curo e o crânio menor que o branco, ou seja, apresentava uma fisiologia econformação cerebral inferiores ao branco. As raças não brancas estavamabaixo da branca na escala da evolução física. Outro argumento que selevantava para justificar a escravidão e anteriormente já abordado, era o deque ela já era praticada entre os próprios africanos.

Com o tempo e a transformação das relações sociais e dos interes-ses econômicos, o discurso escravista sofreu modificações. Após a primei-ra metade do século XIX criou-se no Brasil o mito de que a escravidão erabranda, devido à natural liberalidade de seu povo. Também se articulou a

idéia de que o cativeiro era um mal necessário, que sustentava a econo-mia. A liberdade, direito natural de todo homem, se concedida a um brutoselvagem como o negro, seria uma arma perigosa, voltada ao ódio contraas famílias e à perturbação da ordem pública. Somente deveria ser con-

(5) Queiroz, Suely Robles Reis de . Obra citada, pág. 36.(6) É o caso de Suely Queiroz , na obra já citada. E também, apenas para exemplificar, de Arnold M. Rose , em texto intitulado “A Origem dos Preconceitos”, no livro “Raça e Ciência II”, ColeçãoDebates, págs. 161-194. Para este autor, o racismo surgiu para justificar a escravidão negra nocapitalismo mercantil. Dizia-se que os negros pertenciam a uma raça que se encontrava na infân-cia e que era preciso fazê-los trabalhar para o seu próprio bem, mantendo-os num estado de

inferioridade em benefício da civilização.

Page 28: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 28/380

31

cedida a liberdade aos capazes de recebê-la e os cativos não estavampreparados para ela. Também se argumentava acerca do direito de pro-priedade sobre o escravo, que não podia ser arbitrariamente destruído.

Nem mesmo a Lei Áurea, de 13.5.1888, que pôs fim à escravidão,representou solução à situação do negro, que se viu obrigado a se manterou retornar às áreas rurais, para trabalhar por salários vis. Os fazendeirosdo Sul recorreram aos imigrantes estrangeiros, mas mantiveram a mentali-dade e a organização do antigo sistema. O advento da lei e da libertaçãoformal da escravidão não teve o condão de alterar de pronto uma mentali-dade construída em vários séculos de escravidão. A escravidão associouao trabalho uma conotação pejorativa, que se integrou na psicologia cole-tiva. O ex-escravo preferia muitas vezes estabelecer-se em locais distantese viver da caça e pesca, ou trabalhar apenas o necessário e permanecer

ocioso enquanto durasse a remuneração percebida, que sujeitar-se à rígi-da disciplina do trabalho. Estava reconstruindo sua identidade, após a bru-talidade da escravidão, para o que precisava recusar sua antiga condição.Para ele a liberdade significava a possibilidade de desobedecer, de não sesubmeter. Florestan Fernandes (7) pondera que o trabalho sob o regimeescravocrata pressupunha a perda da dignidade social, além da perda daliberdade. Segundo Emília Viotti da Costa , na introdução de seu livro quetrata da escravidão negra no Brasil(8):

“A escravidão marcou os destinos da nossa sociedade. Seus traços ficaram indeléveis na herança que nos legaram a cultura negra e as condições sociais nascidas do regime da escravidão. Passada essa fase, restaram, além do legado cultural, a concentração de ne- gros e mestiços e os problemas da integração do escravo emancipa- do no status de homem livre e na sociedade do branco, sua assimila- ção, sua aceitação pelo grupo branco e a necessária reformulação das atitudes recíprocas forjadas durante o período da escravidão.

A conduta e a mentalidade dos negros e mestiços, seus valores 

dominantes, seu comportamento social só podem ser entendidos hoje quando se tenha em conta o fenômeno da escravidão-abolição. Aabolição exigia a elaboração de uma nova autoconcepção de status e papéis sociais por par te dos negros e mestiços, a formação de novos ideais e padrões de comportamento. Ela implicava também a mudan- ça de comportamento do homem livre e branco diante do liberto, do negro não mais escravo. (...)” 

(7) Apud  Kowarick, Lúcio . “Trabalho e Vadiagem — A Origem do Trabalho Livre no Brasil”.

(8) Costa, Emília Viotti da . “Da Senzala à Colônia”, pág. 13.

Page 29: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 29/380

32

E mais adiante, na mesma obra, complementa a mesma autora(9),referindo-se aos escravos libertos pela Lei Áurea:

“(...) Para eles a liberdade implicava, antes de mais nada, o 

direito de ir embora, de se deslocar livremente, de abandonar a la- voura, de trabalhar onde, como e quando quisessem. Nos primeiros tempos, produziam muito menos do que antes. (...)” 

A abolição da escravidão não gerou a equiparação entre brancos enegros, nem destruiu o conjunto de valores sobre os quais se assentava aescravidão. O negro continuou sendo economicamente dependente e as“atitudes e representações sociais  que regulavam as relações entre as ra- ças” (10) somente foram se modificando aos poucos. Os estereótipos e ideárioassociados à cor permaneceram, como a afirmação da inferioridade men-tal, moral e social do negro. Ademais, a postura dos negros logo após alibertação veio reforçar o discurso daqueles que haviam sido prejudicadoseconomicamente com a libertação. Dizia-se que a indolência revelada eraa prova de que eram incapazes e carentes de tutela.

Nas áreas economicamente mais dinâmicas houve a preferência pelotrabalhador imigrante e seus descendentes, depois para o nacional livre, esó em última instância para o ex-escravo, que permanecia assim, num es-tado de marginalidade. Os ex-escravos formaram um contingentedesenraizado que realizava as tarefas mais desprezadas e pior remunera-

das e que somente foi incorporado ao processo produtivo a partir de 1930,quando a economia passou a apresentar maior grau de desenvolvimento ediversificação.

Lúcio Kowarick (11), em obra sobre a formação do trabalho livre no Bra-sil, demonstra que aqui a universalização do trabalho livre não se assentousobre um campesinato e atividade artesanal solidamente enraizados, talqual se verificou na Europa, mas sobre a escravidão. Para os brasileiroslivres (no período da escravidão ou imediatamente após o seu término)trabalhar para alguém era atividade própria de escravos, o que fez com queconstituíssem uma massa de indivíduos de várias origens e segmentossociais que não se transformou em força de trabalho. O trabalho livre eraacessório e intermitente no processo produtivo escravista. O segmento li-vre era visto pelos fazendeiros como vadio e desclassificado para o traba-lho. O sistema escravocrata gerava a exclusão dos brancos, mestiços, ín-dios e negros libertos, enfim, de todos os que não fossem senhores ou es-cravos. Daí a opção nas regiões economicamente dominantes, notadamente

(9) Costa, Emília Viotti da . Obra citada, pág. 509.(10) Costa, Emília Viotti da . Obra citada.

(11) Kowarick, Lúcio . “Trabalho e Vadiagem — A Origem do Trabalho Livre no Brasil”, pág. 11.

Page 30: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 30/380

33

São Paulo, pela mão-de-obra estrangeira na substituição dos escravos,que se submetia à disciplina do trabalho, ao invés do aproveitamento dostrabalhadores livres nacionais.

A grande questão histórica do século XIX foi a superação da produçãoescravista e do ideário por ela gerado. Ambos se encontram na base dadiscriminação racial no Brasil.

RAÇA, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO 

Os autores da antropologia em geral trabalham com o conceito deraça. Os evolucionistas trabalham com uma perspectiva que esteve pre-sente na formação do preconceito racial, já que situam a civilização oci-

dental européia num nível mais elevado de civilização e todas as socieda-des ditas primitivas como estando em diferentes etapas de uma escala paraalcançar o estágio da civilização. Segundo Lévi-Strauss (12) a perspectiva doevolucionismo social tenta suprimir as diferenças, ao pretexto de conhecê-las, por representarem diferentes estágios ou etapas de um desenvolvi-mento único, partido de um mesmo ponto e tendente a um mesmo fim. Avariedade das culturas ilustra os momentos deste processo. Assim, nãotrabalharemos com os conceitos trazidos por estes autores.

Feita esta exceção, cumpre esclarecer que não temos a preocupaçãode situar doutrinariamente os autores citados, ou de levantar as concepções deraça para as diversas correntes da Antropologia, que surge aqui apenas comoum saber complementar, que nos empresta conceitos para que possamoscompreender o fenômeno que enfrentamos no plano jurídico.

Segundo L. C. Dunn (13), para a biologia atual:

“(...) as raças são subdivisões biológicas de uma espécie úni- ca, a do Homo sapiens, dentro da qual as características hereditárias comuns a todas as espécies ultrapassam de longe as diferenças re- lativas e mínimas que separam as subdivisões. (...)” 

E mais adiante, complementa o referido autor(14):

“(...) é um grupo de indivíduos aparentados por casamentos entre si, isto é, uma população que se distingue das outras populações pela freqüência relativa de certas características hereditárias. (...)” 

(12) Lévi-Strauss, Claude . “Raça e História”.(13) Dunn, L. C. “Raça e Biologia”. In “Raça e Ciência II”, pág. 8.

(14) Dunn, L. C . Obra citada, pág. 17.

Page 31: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 31/380

34

A raça é essencialmente dinâmica, não podendo ser compreendidacomo diferenças fixas e absolutas, já que decorre sobretudo do desenvol-vimento da genética e hereditariedade biológica. O ser humano é produtocombinado da hereditariedade e do meio. Embora todos os homens des-

cendam de ancestrais comuns, há diferenças raciais, que são conjuntos decaracterísticas particulares que podem variar entre os indivíduos e podemmodificar-se por mutação ao longo das gerações. Os homens diferem entresi, assim como o meio em que se encontram situados apresenta diferen-ças, sendo que determinadas características biológicas se adaptam me-lhor a dadas condições ambientais que outras. Outros fatores interferem natransmissão de caracteres hereditários, como a flutuação genética, consti-tuída pela predominância acidental de certos genes nas coletividades pou-co numerosas; as migrações e os cruzamentos; o isolamento geográfico esocial, que fazem com que os indivíduos de um determinado grupo se ca-

sem entre si; os mais diversos fatores culturais.Os antropólogos ainda não chegaram a um acordo sobre a classifica-

ção racial da humanidade. Muitos se recusam a trabalhar com o conceitode raça, pela apropriação discriminatória que se fez do mesmo, tanto emtermos científicos, quanto pelo senso comum. Apenas para exemplificar,Boyd (15) (1950), com base na seqüência de genes, reconheceu as seguin-tes raças: européia ou caucásica; africana ou negróide; raça asiática oumongólica; ameríndia; australóide. Há outras classificações, fundadas napresença de semelhanças em relação a uma série selecionada de traços

físicos. Estas diferenças raciais têm pouca importância do ponto de vistada biologia, mas influem sobre a atitude dos povos, uns em relação aosoutros. Segundo Ralph Linton (16), com o descobrimento do Novo Mundo, noséculo XVI, a raça assumiu significação social, tornando-se critério para adeterminação de status  social. Os europeus buscaram racionalizar essadominação econômica e política, provando a si mesmos que subjugar ou-tros grupos raciais era natural e inevitável. Apropriaram-se de noções cien-tíficas que estavam sendo desenvolvidas, para justificar preconceitos.

Embora a diversidade biológica e cultural seja natural, o homem co-mum tem dificuldade para encará-la enquanto tal e para compreender ahumanidade como única, porque ele não realiza a sua natureza numa hu-manidade abstrata e sim nas culturas tradicionais(17):

“(...) Preso entre a dupla tentação de condenar experiências que o chocam afectivamente e de negar as diferenças que ele não compreende intelectualmente, o homem moderno entregou-se a toda 

(15) Apud Dunn, L. C . Obra citada.(16) Linton, Ralph . “O Homem — Uma Introdução à Antropologia”, pág. 56.

(17) Lévi-Strauss, Claude . “Raça e História”, pág. 24.

Page 32: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 32/380

35

a espécie de especulações filosóficas e sociológicas para estabele- cer vãos compromissos entre estes pólos contraditórios, e para aper- ceber a diversidade das culturas procurando suprimir nesta o que ela contém, para ele, de escandaloso e de chocante. (...)” (18)

Com o conceito de raça supra-elaborado, de características que dife-rem não apenas entre os indivíduos, mas ao longo do tempo, segundo di-versas variáveis, não se pode encontrar fundamento científico para o pre-conceito racial:

“(...) Do ponto de vista biológico, os seres humanos pertencem,portanto, a um único e mesmo círculo de casamento e tiram seus genes de um fundo comum. Os ódios e os preconceitos de raça não têm, por conseguinte, nenhuma justificação biológica. Devemos to- 

mar grande cuidado ao reconhecer estes preconceitos tais como são,e não tentar dissimular-lhes a natureza por intermédio de racionaliza- ções científicas.(...)” (19)

O preconceito constitui uma atitude interior do indivíduo ou grupo,uma idéia preconcebida acerca de algo ou alguém. O preconceito conduz àdiscriminação que consiste em infligir a certas pessoas um tratamento dife-renciado e imerecido, por ausência de conhecimento. Em geral o precon-ceito se presta a justificar a exploração econômica, a dominação política,ou a ocultar antagonismos de classe. Segundo Arnold M. Rose (20), o pre-conceito traz uma sensação de poder aos membros do grupo dominante,seja ele racial, nacional ou religioso. Os membros deste grupo, ainda queestejam no seu último escalão, sentem-se superiores aos membros da mi-noria. É uma vantagem ilusória, já que se abre mão de outras satisfaçõesde prestígio reais:

“(...) A ignorância, que é a base dos preconceitos, toma aspec- tos dos mais diversos. Ora são noções falsas referentes às caracte- rísticas físicas, tradições culturais ou crenças de um povo, ora verda- deiros mitos que fazem intervir faculdades sobre-humanas ou fraque- zas pueris. (...)” (21)

Segundo este mesmo autor, na obra já citada, o racismo é umconjunto de crenças populares, que compreendem as seguintes idéi-as: as diferenças físicas e intelectuais entre os d iversos grupos huma-

(18) Lévi-Strauss, Claude. Idem, ibidem .(19) Dunn, L. C . Obra citada, pág. 48.(20) Rose, Arnold M. “A Origem dos Preconceitos”. In “Raça e Ciência II”, pág. 165.

(21) Rose, Arnold M . Obra citada, pág. 165.

Page 33: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 33/380

36

nos consideram-se explicáveis pela biologia e hereditariedade, com umcaráter de imutabilidade; hábitos, atitudes, crenças, comportamentos ereações aprendidas estão determinadas antes do nascimento; todas asdiferenças que se podem observar de uma minoria relativamente a uma

maioria, são indícios de inferioridade; em casos de mestiçagem as cri-anças são inferiores aos seus pais de um e de outro grupo. É o precon-ceito formado com base em características raciais que se atribuem aum determinado grupo de indivíduos e que fundamenta a discrimina-ção racial.

O art. 1º da Convenção n. 111 da OIT, em seu art. 1º prevê que adiscriminação compreende toda “... distinção, exclusão ou preferência fundada em raça, cor, sexo, religião, opinião política, ascendência nacio- nal, origem social ou outra distinção, exclusão ou preferência especifi- 

cada pelo Estado-Membro interessado, qualquer que seja sua origem  jurídica ou prát ica e que tenha por fim anular ou al terar a igualdade de oportunidades ou de tratamento no emprego ou profissão.” E a Conven-ção da ONU/1966 sobre a Eliminação de todas as Formas de Discrimi-nação Racial, define a discriminação racial como sendo qualquer distin- ção, exclusão, restrição ou preferência baseados em raça, cor, descen- dência ou origem nacional ou étnica, que tenha por objeto ou efeito anu- lar ou restringir o reconhecimento, o gozo ou o exercício, em condições de igualdade, dos direitos humanos e liberdades fundamentais no domí- nio político, econômico, social e cultural ou em qualquer outro domínio 

da vida pública .A discriminação pode assumir feições diversas, efetivando-se direta,

ou indiretamente, ou consolidando-se em ações positivas. A discriminaçãodireta é aquela pela qual o tratamento desigual encontra-se fundado emcritérios proibidos. É, por exemplo, a não contratação de empregados ne-gros. A discriminação indireta é a que tem uma aparência formal de igual-dade, mas que em verdade cria uma situação de desigualdade. É o caso,por exemplo, do empregado de uma determinada nacionalidade que, em-bora admitido na empresa, não encontra possibilidades de ascensão pro-

fissional, em razão de sua nacionalidade.A ação afirmativa, ou discriminação positiva, por sua vez, compreen-

de um conjunto de medidas legais e de práticas sociais, destinadas a com-pensar uma situação de efetiva desigualdade em que se encontre um de-terminado grupo social, possibilitar o acesso ao sistema legal, tornandoviável para estes indivíduos o exercício de direitos fundamentais. É o casopor exemplo, de leis que assegurem a determinados grupos indígenas, outribais, uma cota mínima de inserção nas empresas. O Brasil não tem estetipo de previsão, mas prevê a cota mínima para as pessoas portadoras de

deficiência.

Page 34: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 34/380

37

LEGISLAÇÃO ATUAL E MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO 

A Convenção n. 111 da OIT, ratificada pelo Brasil, trata da discrimina-ção no emprego e profissão, prevendo em seu art. 2º, que qualquer mem- 

bro para o qual a presente convenção se encontre em vigor compromete- se a formular e aplicar uma política nacional que tenha por fim promover,por métodos adequados às circunstâncias e aos usos nacionais, a igualdade de oportunidades e de tratamento em matéria de emprego e profissão com o objetivo de eliminar toda discriminação nessa matéria .

A Constituição Federal de 1988 traz no art. 5º, caput , a previsão deque todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,alçando ainda à qualidade de objetivo fundamental da República promover o bem de todos, sem  preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quais- 

quer outras formas de discriminação (art. 3º, inciso IV). Por sua vez, o art.7º, inciso XXX do texto constitucional, em consonância com a Convenção111 da OIT, proíbe a diferença de salários, de exercícios de  funções e de critérios de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil. Porfim, no art. 5º, inciso XLII define como crime inafiançável e imprescritível aprática de racismo.

Do ponto de vista da legislação ordinária, a CLT contém dispositivosdestinados a coibir a discr iminação, como o art. 461, que prevê igual remu-neração para trabalho de igual valor, ou as vedações contidas no art. 373,com a redação dada pela Lei n. 9.799/99, no que diz respeito ao trabalho

da mulher. Há a Lei n. 7.716/89, com a redação dada pela Lei n. 9.459/97,que define os crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor. No art.3º do referido diploma legal encontra-se tipificado como crime o ato deimpedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a  qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de  serviços públicos, punível com pena de reclusão de dois a cinco anos. Oart. 4º da mesma lei prevê como crime o ato de negar ou obstar emprego em empresa privada, punível com a mesma pena do anterior.

A Lei n. 9.029/95, que proíbe a exigência de atestados de gravidez e

esterilização, e outras práticas discriminatórias, para efeitos admissionaisou de permanência da relação jurídica de trabalho, prevê em seu art. 1º,que Fica proibida a  adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito de acesso à relação de  emprego, ou sua manutenção, por moti- vo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação  familiar ou idade, res- salvadas, neste caso, as hipóteses de proteção ao menor prevista no inci- so XXXII do art. 7 º da Constituição Federal. E em seu art. 4º prevê que orompimento da relação de trabalho por ato discriminatório, possibilita aoempregado optar pela readmissão, com ressarcimento integral do períodode afastamento, ou a percepção em dobro da remuneração do período de

afastamento.

Page 35: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 35/380

38

Apesar de todos os dispositivos constitucionais e legais supra-expos-tos, a nossa realidade cotidiana revela que as práticas discriminatórias severificam rotineiramente, inclusive no que tange à discriminação racial, cujasconseqüências podem ser muito mais graves, do ponto de vista penal. É o

que pondera Márcio Túlio Viana (22):

“(...) Isso não significa, infelizmente, que as discriminações, entre nós, estejam com os dias contados. A lei é algo muito pequeno para mudar esse tipo de realidade, e o que melhor pode acontecer é a redução, bem modesta, da incidência de abusos.

É que tanto o jugo econômico quanto o jogo político desmen- tem, a cada instante, o ideal de isonomia, propondo soluções que acentuam a desigualdade em níveis nunca vistos. Basta notar a le- 

gião cada vez maior de excluídos, palavra terrível que marca os que não têm, sequer, cidadania. (...)’’ 

Dentre os instrumentos de que dispõe a sociedade para coibir as prá-ticas de discriminação no emprego, está o Ministério Público do Trabalho,inscrito na Constituição Federal de 1988 como função essencial à Justiça.Dispõe o art. 127 da CF/88: O Ministério Público é instituição permanente,essencial à função jurisdicional do Estado,  incumbindo-lhe a defesa da or- dem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Há duas formas de atuação do MPT, conforme se extrai dos

arts. 127 e 129 da Constituição Federal e arts. 83 e 84 da Lei Complementarn. 75/93, uma função preventiva e uma repressiva, judicial, ou extrajudicial.

Ao Ministério Público do Trabalho cabe investigar as práticas discri-minatórias em seara trabalhista, através dos procedimentos investigatóriose do inquérito civil público. O Inquérito Civil Público é instrumento instituídopelo art. 129, III da Constituição Federal e pela Lei n. 7.347/85, com finali-dade investigatória e regido pelo princípio inquisitivo. É um procedimentoadministrativo e interno do MPT, destinado à apuração dos fatos que pos-sam representar lesão a direito coletivo, difuso ou individual homogêneo,de natureza trabalhista. A discriminação é uma conduta, fundada num pre-conceito, não caracterizando assim, apenas a ofensa ao direito individual,mas lesão potencial de todos os empregados que venham a se encontrarnaquela determinada situação.

A discriminação sempre tem caráter genérico. O empregador que hojediscrimina um negro, preterindo-o numa promoção em razão de sua cor,por exemplo, terá o mesmo comportamento ao se deparar novamente comsituação semelhante. Os interesses tutelados são supra-individuais, ou seja,

(22) Viana, Márcio Túlio . “A Proteção Trabalhista contra os Atos Discriminatórios” (Análise da Lei

n. 9.029/95), pág. 356.

Page 36: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 36/380

39

comuns a uma coletividade, exigindo uma solução homogênea para a com-posição dos conflitos. Por isso, nestes casos há legitimidade para a atua-ção do Ministério Público do Trabalho.

Havendo conduta lesiva e não se obtendo o ajustamento da condutapela realização do Termo de Ajuste de Conduta, incumbe ao MinistérioPúblico do Trabalho o ajuizamento da ação correspondente. No caso dadiscriminação, a ação civil pública, ou a Ação Anulatória, quando o objetoseja cláusula discriminatória inserida em acordo ou convenção coletiva.

Além da atuação como órgão agente, o Ministério Público do Traba-lho tem a atuação como órgão interveniente, emitindo parecer circunstan-ciado nos processos trabalhistas que tramitam perante os Tribunais do Tra-balho, em sede recursal. A intervenção é obrigatória nos casos do art. 83,XIII, quando a parte for pessoa jurídica de Direito Público, Estado estran-geiro, ou organismo internacional. E também nos casos do art. 82, I doCPC (incapazes). Fora as hipóteses de parecer obrigatório, o Ministério Pú-blico do Trabalho emite parecer circunstanciado nos casos em que há inte-resse público, no que se podem enquadrar as hipóteses de discriminaçãono emprego. Esta intervenção tem caráter pontual, seletiva, incumbindo aoórgão do MPT decidir quando entende configurado o interesse público en-sejador de sua intervenção. Ainda na qualidade de custos legis, é possívela manifestação em primeiro grau, quando há interesses de menores e in-capazes, ou evidências de colusão, a pedido do Juízo, ou por iniciativa do

MPT, inclusive acompanhando audiências.Dentre as possibilidades de atuação preventiva, papel que tem se

mostrado cada vez mais relevante, está a promoção de seminários, pales-tras, audiências públicas, enfim, todo o trabalho informativo desenvolvido junto a empresas e sindicatos, de categor ia profissional e econômica, bemcomo junto ao público em geral. O trabalho de conscientização é essencialno combate a todas as formas de discriminação no emprego e a práticatem demonstrado desconhecimento da lei e das conseqüências das práti-cas discriminatórias, tanto por empregados quanto por empregadores. Tam-

bém se destaca aqui a participação do Ministério Público do Trabalho nosNúcleos de Combate à Discriminação no Emprego e de Promoção da Igual-dade de Oportunidades, embora os nomes sejam variáveis de um estadopara o outro, organizados pelo Ministério do Trabalho, com o apoio da Or-ganização Internacional do Trabalho, em todo o país.

O combate à discriminação no emprego não interessa apenas aosempregados, por ela diretamente atingidos (quando não co-partícipes, talqual se verifica muitas vezes nos casos de empregados portadores de HIV).A pessoa que sofre a discriminação se sente atingida em sua dignidade e

cidadania, nunca se esquecendo de tal ato. A par deste caráter de direito

Page 37: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 37/380

40

fundamental da não-discriminação, do direito a ser tratado como igual, adiscriminação traz prejuízos de ordem psicológica àquele que a pratica ede ordem econômica para a empresa e a sociedade como um todo.

Conforme pondera Arnold M. Rose (23) ocorre uma perda econômicade não se utilizar plenamente a produtividade da mão-de-obra e não satis-fazer inteiramente a procura. O preconceito enseja o agravamento dos pro-blemas sociais e conduz à perda de tempo; por exemplo, os poderes cons-tituídos ocupam-se em discutir e legislar a respeito das minorias. Os pre-conceitos ainda representam obstáculos aos intercâmbios culturais e inte-lectuais. “(...) Ter preconceitos é renunciar a uma impor tante parte do patri-mônio científico e cultural da humanidade, ao se recusar a encontrar aque-les que a detêm. Certamente ignora-se o que se perde desta forma, mas ofato permanece.(...)” O preconceito expressa uma insatisfação e como não

atinge a causa da insatisfação, atua em sua manutenção, pois impede queo interessado procure uma solução efetiva para o problema.

Para o referido autor, há ainda uma correlação entre os preconceitose a estreiteza de espírito e as diversas formas de rigorismo. O indivíduoque tem preconceitos é fechado a toda novidade e “incapaz de ter com seus semelhantes relações plenamente humanas”.

Esta incapacidade de manter relações plenamente humanas com ossemelhantes é um desafio que ainda se impõe, e que somente poderá sersuperado através do combate às diversas formas de discriminação, nota-damente a discriminação de raça.

(23) Rose, Arnold M . Obra citada, págs. 177-178.

Page 38: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 38/380

41

DISCRIMINAÇÃO NAS RELAÇÕES DE TRABALHO 

DST/AIDS E SAÚDE DA MULHER 

 ASPECTOS JURÍDICO-TRABALHISTAS NA 

DISCRIMINAÇÃO DA MULHER 

PORTADORA DE HIV/AIDS(*)

Cláudio Alcântara Meireles(**)

1. INTRODUÇÃO 

A realização desta Oficina significa o seguimento da estratégia esta-belecida em nível nacional, pelas entidades governamentais e organiza-ções não governamentais, objetivando promover a mobilização social edesenvolver ações sistematizadas e articuladas que garantam aos porta-dores de HIV e AIDS uma melhor qualidade de vida, favorecendo sua inte-gração social.

O Plano de Ação das Regiões Norte e Nordeste elaborado no Cursode Capacitação “Direito Sanitário: O Desafio da AIDS”, que se realizou emBrasília, no período de 21 a 25 de fevereiro de 2000, identificou, dentre asestratégias e atividades a serem desenvolvidas em nível estadual, a reali-zação de seminários estaduais de sensibilização, divulgação dos proble-mas relativos a HIV/AIDS através da imprensa, formalização de parceriasentre ONG e OG para atuar junto à comunidade, promoção da conscienti-zação dos portadores sobre seus direitos, levando-os à auto-organizaçãoe conscientização da sociedade sobre direitos e garantias dos portadoresde HIV/AIDS.

(*) Oficina “Discriminação nas Relações do Trabalho DST/AIDS e Saúde da Mulher”, realizada emparceria do MPT com os Ministérios da Indústria e da Saúde, em 12.12.2000, na DRT/CE.

(**) Procurador do Trabalho — 7ª Região.

Page 39: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 39/380

42

2. O TRABALHO DA MULHER 

Dada a especificidade da Oficina, necessário se faz tecer algumasconsiderações acercar do trabalho da mulher, antes de adentrar-se nos

temas discriminação e HIV/AIDS no Direito do Trabalho.No decorrer da história, a mulher sempre foi posta em posição de

inferioridade em relação ao homem. Na antigüidade, no seio de socieda-des patriarcais, a mulher livre, por vezes, sequer gozava de capacidade.Cite-se o Código de Manu (Índia), cujo art. 415 prescrevia, in verbis: 

“Uma mulher está sob a guarda de seu pai durante a infância,sob a guarda de seu marido durante a juventude, sob a guarda de seus filhos em sua velhice; ela não deve jamais conduzir-se à sua 

vontade”.

Quanto à participação da mulher nas atividades produtivas, no início,ressalvadas algumas exceções, seu trabalho restringia-se às tarefas do-mésticas. Paulatinamente a mulher foi ganhando espaço, até que, com aRevolução Industrial, ante o desenvolvimento da maquinaria e a necessi-dade capitalista de mão-de-obra barata, incrementou-se a inserção do tra-balho feminino, assim como o infantil, na fábricas.

Em recente reportarem de capa da revista Veja (8.11.2000), sob o

título “Elas Venceram”, foi ressaltada a ascensão feminina no Brasil emdiversas áreas de atuação profissional, nos indicadores de salário e rique-za e nas estatísticas de escolaridade. Entre os brasileiros que apresentamdeclaração de imposto de renda, as mulheres são maioria nas seguintesprofissões: assistentes sociais, fonoaudiólogos, recepcionistas, telefonis-tas, pensionistas, bibliotecários, arqueólogos, enfermeiros, nutricionistas,empregados domésticos, psicólogos, professores, serviços de tratamentode beleza, advogados e médicos. Há empate com os homens nas seguin-tes áreas: serventuários da justiça, técnicos de biologia, auxiliar de escritó-rio, dentistas, professores universitários, arquitetos, artistas plásticos, ser-

vidores públicos e jornalistas. Também registrou-se o fato de que elas fi-cam com a maioria dos novos empregos do país e seu salário cresce numritmo mais rápido do que o dos homens.

A normatização do trabalho da mulher no Brasil teve início, segundoSegadas Vianna , com o Decreto n. 21.417-A, de 17.5.32, que estabeleceu,entre outras medidas de proteção, as seguintes: proibição do trabalho no-turno, do trabalho nas minerações em subsolo, nas pedreiras e obras públi-cas e nos serviços perigosos e insalubres; assegurou o descanso de qua-tro semanas antes e quatro depois do parto com percepção de metade do

salário; estabeleceu os descansos diários, durante o trabalho, para alimen-

Page 40: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 40/380

43

tação e determinou que nos estabelecimentos em que trabalhassem pelomenos 30 mulheres com mais de 16 anos de idade haveria local apropriadodestinado à guarda dos filhos no período de amamentação.

É triste registrar que, ainda hoje, alguns desses direitos não são ob-servados pela maioria dos empregadores, como o referente ao local desti-nado à guarda dos filhos. Recentemente, essa matéria foi objeto de denún-cia, investigação e posterior celebração de Termo de Ajuste de Condutaperante o Ministério Público do Trabalho, na pessoa do Procurador quesubscreve.

A evolução da legislação nacional criou um amplo e minucioso orde-namento protetivo da mulher. Contudo, a linha recente de atuação do legis-lador aponta para a revogação de normas protetoras que provoquem dis-criminação, dificultando a inserção da mulher no mercado de trabalho. Foi

o que aconteceu com as normas que proibiam o trabalho feminino noturnoe em atividades perigosas ou insalubres, porquanto se considerou que nãomais haveria justificação objetiva para essa diferenciação. A tendência épermanecerem normas de proteção somente quanto à maternidade,incrementando-se as normas que prescrevem igualdade de tratamento paratrabalhadores de ambos os sexos.

Não se pode deixar de aproveitar a oportunidade para fazer uma re-flexão sobre o trabalho doméstico, eis que sua exclusão do regulamentoprotetivo foi mantida pela atual Constituição Federal. Afinal, consoanteregistra aquela reportagem da Veja, 90% (noventa por cento) dos empre-gados domésticos são mulheres. Sendo assim, os poucos direitos assegura-dos ao trabalhador doméstico não configuraria uma discriminação pejorati-va da mulher, com respaldo constitucional, já que essa categoria de traba-lhadores é composta em sua quase totalidade por mulheres? A especialfidúcia exigida para essa espécie de relação de emprego, que se desenvol-ve no seio da família, justificaria a discriminação, ou a falta de poder eco-nômico da categoria seria o fator determinante da discriminação?

As normas internacionais também seguiram a mesma tendência dasnacionais. Principiaram por estabelecer proteção especial à maternidade

(Convenção n. 3, de 1919; Recomendação n. 12, de 1921; Recomendaçãon. 67, de 1944; Convenção n. 103, de 1952), ao trabalho noturno (Conven-ção n. 4, de 1919; Recomendação n. 13, de 1921; Convenção n. 41, de1934) ou insalubre das mulheres (Recomendação n. 4, de 1919; Conven-ção n. 48, de 1935; Convenção n. 89, de 1948). Posteriormente, vieram asnormas prescritivas da igualdade entre o trabalho do homem e o da mulher(arts. 2º, 23 e 25 da Declaração Universal dos Direitos do Homem; Conven-ção n. 100, de 1951; Recomendação n. 90, de 1951; Convenção n. 111, de1958; Convenção da ONU sobre a eliminação de todas as formas de discr i-minação contra a mulher, de 1975 — Decreto n. 89.460/84; Convenção n.

156, de 1981; Convenção n. 170, de 1990).

Page 41: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 41/380

44

3. DISCRIMINAÇÃO 

Discriminar significa diferençar, distinguir, discernir, sendo discrimi-nação o ato ou efeito de discriminar (Ferreira , 1999, pág. 690). Contudo,

contemporaneamente, discriminação denota o tratamento desfavoráveldado, sem justa causa, a alguém ou à certa categoria de pessoas. Lima ,após apresentar os significados apontados pelos dicionaristas, expressa-se nos seguintes termos:

“Apesar desses significados de discriminação, na verdade o vo- cábulo tem, na órbita empírica, afeiçoada conotação pejorativa, ultra- passando e indo além do sentido de, simplesmente, ato de discrimi- nar, distinção, separação etc. O uso popular, por força da evolução 

natural da língua, tem-lhe imposto, em acréscimo, o emprego de lo- cuções e expressões adjetivadas ou adjetivadoras, mesmo implicita- mente, de tal modo que, hoje, discriminação tem o sentido de ato de discriminar ou diferenciar com pejoração, sem pertinência lógica ou preconceituosamente, para eliminar o indivíduo ou o objeto analisa- do mediante mero raciocínio subjetivo; distinção feita entre pessoas ou objetos, eliminando uns em benefício de outros, para satisfazer anseios e idéias preconcebidas; separação através de tirocínio sem balizamento objetivo; discernimento feito por alguém, que leva o indi- víduo ou o objeto distinguido à situação de inferioridade, embora,antes, fossem uns e outros iguais ou semelhantes entre si” (1997,págs. 32-33).

Indiscutível é esse sentido atual do vocábulo, tanto que a temática daOficina é visualizada sob o enfoque de diferenciação pejorativa. Relaciona-dos ao tema ora tratado estão o preconceito e a segregação. Preconceito é(Ferreira , 1999, pág. 1625):

“[De pre- + conceito.] S. m. 1. Conceito ou opinião formados 

antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fa- tos; idéia preconcebida. 2. Julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste; prejuízo. 3. P. ext. Superstição,crendice; prejuízo. 4. P. ext. Suspeita, intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões, etc.”.

Segregação, segundo o mesmo dicionarista (1999, pág. 1829), signi-fica: “Política que objetiva separar e/ou isolar no seio de uma sociedade as minorias raciais e, p. ext., as sociais, religiosas, etc.; discriminação racial.

(Segregação racial)”. Segregar significa, pois, marginalizar.

Page 42: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 42/380

45

Da exposição desses conceitos conclui-se que: 1. o preconceito é oelemento interno; 2. a discriminação é a exteriorização do preconceito; 3. asegregação é uma das formas de manifestação da discriminação. Na raizdo problema da discriminação está, portanto, o preconceito.

A discriminação, assim considerada como o tratamento diverso de-corrente de preferência abusiva, é vedada pelo ordenamento jurídico nacio-nal, a par da existência de normas internacionais que tratem da matéria.Contudo, as diferenças existem.

Montaigne , citado por Maria Aparecida Gugel em seu artigo “Discri-minação Positiva”, assevera que: “Não há no mundo duas opiniões iguais,dois fios de cabelo iguais, dois grãos de areia iguais. A mais universal das qualidades é a diversidade” (Ensaios).

O reconhecimento dessa diversidade está prescrito nos primeiros dis-

positivos da Constituição Federal. No art. 1º, inciso V, ao tratar do pluralis-mo político, e no art. 3º, inciso III, ao admitir a existência de desigualdadessociais e regionais.

O princípio da isonomia, que significa igualdade de tratamento, vemexpresso no caput do art. 5º, segundo o qual, “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. A condenação ao preconceito ea qualquer forma de discriminação está contida em diversas normas cons-titucionais, a partir do inciso IV do art. 3º.

O princípio da igualdade de tratamento, ao mesmo tempo em que

veda perseguições e discriminações, também proíbe favoritismos e privilé-gios. Como, então, admitir a existência de normas protetivas, que estabele-çam condições especiais a determinados grupos de pessoas? Há que sediferenciar a igualdade formal, jurídica, perante a lei, da igualdade real,material, social.

Pinho Pedreira salienta que o entendimento da igualdade no Brasil,desde os clássicos Rui Barbosa e Marnoco e Souza , até os autores moder-nos, tem acompanhado a evolução dos hodiernos sistemas constitucionais,que, acolhendo uma concepção valorativa da igualdade quanto ao conteúdoda lei e não à forma, obrigam o legislador a tratar de modo igual o igual e demodo desigual o desigual. Ademais, na aplicação do princípio da isonomia,devem ser consideradas apenas as diferenças essenciais, descartando-seas irrelevantes (abr. 1996, pág. 444).

Nesse sentido, distingue-se a discriminação negativa, ou pejorativa,que cria um desfavor à pessoa discriminada, da discriminação positiva, queé uma forma de assegurar a igualdade real, mediante a outorga de umaproteção ao grupo que se encontra em posição social desfavorável. Daísurge a chamada ação afirmativa como um conjunto de medidas legais epolíticas sociais que visa a eliminar a limitação de oportunidades de deter-

minados grupos sociais.

Page 43: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 43/380

46

Atualmente, há discriminação positiva na reserva legal de mercado,mediante cotas, para os portadores de deficiência física, tanto do setorpúblico (art. 37, VIII, CF/88) quanto do privado (Lei n. 8.213/91), bem comopara os menores aprendizes (art. 429 da CLT).

No plano internacional, há diversos tratados objetivando eliminar a dis-criminação em suas várias formas, quais sejam: a) Convenção da ONU sobrea Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, de 1966; b) Con-venção da ONU sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminaçãocontra a Mulher, de 1979; c) Convenção Interamericana para Prevenir, Punir eErradicar a Violência contra a Mulher — OEA, de 1994; d) Convenção n. 100da OIT, de 1951 — igualdade de remuneração para a mão-de-obra masculinae a mão-de-obra feminina por um trabalho de igual valor; e) Convenção n. 111da OIT, de 1959 — discriminação em matéria de emprego e profissão; f) Con-venção n. 159 da OIT, de 1983 — adaptação de ocupações e o emprego do

portador de deficiência. Há, ainda, duas Convenções da OIT não ratificadaspelo Brasil, que são a de n. 156 (igualdade de oportunidades e de tratamentopara homens e mulheres trabalhadores: trabalhadores com encargos e famí-lia) e a de n. 169 (povos indígenas e tribais em países independentes).

Buscando proteger e garantir a igualdade de tratamento e de oportu-nidade, o legislador constituinte albergou preceitos contendo discrimina-ção inversa em relação aos seguintes grupos sociais: a) homem/mulher(sexo-gênero); b) raça (cor-etnia); c) condição física, portador de deficiên-cia; d) idade. Normas de índole genérica podem servir de proteção a outrosgrupos, como o disposto no art. 5º, inciso X, que garante a inviolabilidade

da intimidade, e poderá assegurar ao trabalhador portador do vírus HIV edo acometido de AIDS o sigilo de sua condição de saúde, impedindo aprática de atos discriminatórios (Gugel , mar. 2000).

Em nível infraconstitucional, diversas normas proibitivas de discriminaçãonegativa foram editadas, merecendo relevância a Lei n. 9.029, de 13.4.95, queproíbe a exigência de atestados de gravidez e esterilização, e outras práticasdiscriminatórias, para efeitos admissionais ou de permanências da relação jurí-dica de trabalho, e dá outras providências. O art. 4º dessa lei faculta ao empre-gado dispensado por ato discriminatório optar entre a reintegração ou a percep-ção de indenização dobrada. A restrição que se cumpre fazer ao diploma legal é

a enumeração constante do art. 1º, que somente proíbe a adoção de práticadiscriminatória por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação fami-liar ou idade. Há necessidade, pois, de envidar-se um esforço hermenêuticointegrativo, visando a conferir a essa lei a maior abrangência possível, alcan-çando, inclusive, o trabalhador portador do vírus HIV ou doente de AIDS.

4. AIDS E O DIREITO DO TRABALHO 

Os aspectos da doença e da epidemia da AIDS concernem direta-

mente não só à questão da saúde e da previdência, mas também às rela-

Page 44: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 44/380

47

ções de trabalho, eis que a grande maioria das pessoas infectadas encon-tra-se na faixa etária entre 18 e 45 anos, ou seja, no auge da capacidadeprodutiva. Daí a necessidade de um maior contato dessa questão com oDireito do Trabalho.

De início, cumpre ressaltar que o portador do vírus HIV assintomá-tico é um sujeito sadio, porquanto não houve manifestação da doença.Dessa forma o HIV+ possui plena capacidade laborativa. Ademais, consi-derando as restritas hipóteses de possibilidade de contágio, em relação àmaioria das atividades laborativas, não há qualquer restrição para que otrabalhador infectado continue a prestar seus serviços normalmente.

Quanto ao doente de AIDS, a situação já é diversa. Manifestada a síndrome,o trabalhador poderá, paulatinamente, perder sua capacidade laborativa, atra-vessando períodos de incapacidade temporária, durante os quais fará jus ao

gozo de licença para tratamento de saúde com a percepção do benefício previ-denciário auxílio-doença. Caso a incapacidade se configure definitiva, caberá aconcessão de aposentadoria. Referidos benefícios previdenciários, a teor daLei n. 7.670/88, independem do período de carência, para o segurado que ma-nifestar a doença após sua filiação à Previdência Social. Também independe decarência a concessão de pensão por morte aos seus dependentes.

A Lei n. 7.670, de 8.9.1988, foi de crucial importância para os porta-dores da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA/AIDS), porquantoque lhe foram estendidos os vários benefícios ali especificados (licença,

aposentadoria, reforma militar, pensão especial e auxílio-doença), além dodireito ao levantamento dos valores correspondentes ao Fundo de Garan-tia por Tempo de Serviço.

Por se constituir um grupo alvo de discriminações negativas, o legisla-dor ordinário, tanto em nível federal, quanto estadual e municipal, tratou deeditar normas compensatórias, estendendo-lhe benefícios, proibindo a exigên-cia de testes para detecção do vírus HIV e regulando procedimentos adminis-trativos. Algumas dessas normas foram dotadas de sanção própria, conferin-do-lhe maior eficácia. Outras, por não disporem de sanção no próprio texto,

necessitam de interpretação integrativa, sob pena de tornarem-se ineficazes.Dentre as normas aludidas, enumeram-se as seguintes:

NORMAS TRABALHISTAS E PREVIDENCIÁRIAS 

NORMAS COMUNS A TODOS TRABALHADORES

NORMAS FEDERAIS

• Lei n. 3.738, de 4.4.60 — Pensão especial à viúva de militar acome-

tida de doenças graves.

Page 45: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 45/380

48

• Lei n. 7.670, de 8.9.88 — Estende aos portadores da SIDA/AIDS,benefícios referentes à Licença para Tratamento de Saúde, aposentadoria,reforma militar, FGTS e outros.

• Resolução n. 02, de 17.12.92 do Conselho Diretor do Fundo de Par-ticipação PIS/PASEP — Liberação do PIS/PASEP.

• Portaria Interministerial n. 3.195, de 10.8.88, dos Ministros do Tra-balho e da Saúde — Institui a Campanha Interna de Prevenção da AIDS —CIPAS.

NORMAS MUNICIPAIS

SÃO PAULO (SP)

• Circular n. 001/94, de 28.5.94, do Secretário Municipal de Saúde —Comunica a todos os servidores os direitos das pessoas com HIV/AIDS,instituídos pela Lei n. 7.670/88.

VITÓRIA (ES)

• Lei n. 4.101, de 3.1.94 — Proíbe a testagem sorológica e discrimi-nações no âmbito do trabalho dos portadores do vírus HIV.

NORMAS RELATIVAS AO SERVIDOR PÚBLICO CIVIL

NORMAS FEDERAIS

• Lei n. 8.112, de 11.12.90 — Dispõe sobre o regime jurídico dos

servidores públicos civis da União.• Portaria Interministerial n. 869, de 11.8.92 — dos Ministros da Saú-

de, Trabalho e da Administração — Proíbe a testagem para detecção dovírus HIV, nos exames pré-admissionais e periódicos de Saúde dos servi-dores públicos.

NORMAS ESTADUAIS E DO DISTRITO FEDERAL

DISTRITO FEDERAL

• Portaria n. 007, de 27.5.93, do Secretário de Saúde — Proíbe a

testagem para detecção do vírus HIV, nos exames pré-admissionais e perió-dicos de saúde dos servidores públicos.

ESPÍRITO SANTO

• Lei n. 4.038, de 23.12.87 — Incluiu a SIDA/AIDS na lista de doençasque acarretam aposentadoria integral.

RIO GRANDE DO SUL

• Portaria n. 03, de 10.3.93, do Secretário da Saúde e do Meio Ambi-ente — Normas sobre acidentes de trabalho com material potencialmente

contaminado com HIV.

Page 46: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 46/380

49

RIO DE JANEIRO

• Lei n. 1.290, de 12.4.88 — Inclui a SIDA/AIDS entre as doenças quepermitem aposentadoria com proventos integrais.

SANTA CATARINA• Lei n. 7.590, de 8.6.89 — Declara inválido para o serviço público

estadual o portador da SIDA/AIDS.

NORMAS MUNICIPAIS

GOIÂNIA

• Estatuto dos Servidores Públicos do Município de Goiânia, de 11.5.92 — Inclui a SIDA/AIDS entre as doenças que permitem aposentadoria comproventos integrais.

JOÃO PESSOA (PB)• Lei n. 1.549, de 16.1.94 — Cria o Sistema Municipal de Informações

de Esclarecimentos dos Funcionários Públicos Municipais.

RIO DE JANEIRO

• Lei n. 1.289, de 21.7.88 — Inclui a SIDA/AIDS entre as doenças quepermitem aposentadoria.

SANTOS

• Lei n. 99, de 10.12.93 — Cria função gratificada por local de traba-

lho, dentre eles, no Programa de Internação Domiciliar e Unidade de Refe-rência para pacientes.

NORMAS RELATIVAS AO SERVIDOR MILITAR

NORMAS FEDERAIS

• Lei n. 6.880, de 9.12.80 — Estatuto dos Militares.

• Portaria n. 12-DGS, de 25.1.89 do Ministério do Exército — Normaspara as perícias médicas relacionadas com a SIDA/AIDS.

NORMA ESTADUAL

RIO DE JANEIRO

• Lei n. 1.493, de 10.7.89 — Inclui a SIDA/AIDS entre as moléstiasque podem gerar reforma militar

NORMAS RELATIVAS AOS DEMAIS TRABALHADORES

NOTA INTRODUTÓRIA

NORMA FEDERAL

• Lei n. 8.213, de 24.7.91, Plano de Benefícios da Previdência Social

e dá outras providências.

Page 47: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 47/380

50

NORMAS PARA PROTEÇÃO DOS PORTADORES DO VÍRUS HIV/AIDS DE PRÁTICAS DISCRIMINATÓRIAS 

38. NORMA ESTADUAL

• Lei Estadual n. 12.595, de 26.1.1995 do Estado de Goiás.

39. NORMAS MUNICIPAIS

• Lei Municipal n. 6.858, de 1º.5.95 do Municipal de Belo Horizonte;

• Lei Municipal n. 7.299, de 28.4.94 do Município de Goiânia;

• Lei Promulgada n. 134, de 12.9.95 do Município de Natal;

• Lei Municipal n. 7.400, de 4.1.94, do Município de Porto Alegre.

Em relação à dispensa de trabalhador portador do vírus ou doente de

AIDS, os tribunais têm decidido que não há garantia no emprego, ou seja,não goza ele de estabilidade. Contudo, mesmo considerando inexistir essagarantia, prevalece o entendimento de que o despedimento não pode sermotivado pela situação de saúde do trabalhador. Comprovada a prática deato discriminatório, a dispensa é reputada nula, determinando-se o retornodo obreiro às atividades, ou o gozo de licença com percepção de auxílio-doença.Às vezes determina-se seja remunerado todo o período de afastamento;em outras, apenas a partir da data da propositura da ação. Veja-se, a esserespeito, as seguintes decisões:

“Ementa: Aplicação de multa ex officio — Não-cumprimento de obrigação de fazer — Violação do artigo quinto, inciso dois, da Cons- tituição Federal. Não ofende o princípio constitucional da legalidade a aplicação pelo juiz de multa, de ofício, pelo não-cumprimento de obrigação de fazer, consoante o disposto no parágrafo quarto do arti- go quatrocentos e sessenta e um do CPC. Embargos não conheci- dos. Reintegração — empregado portador do vírus da AIDS. Não obs- tante inexista no ordenamento jurídico lei que garanta a permanência no emprego do portador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida — AIDS, não se pode conceber que o empregador, munido do poder 

potestativo que lhe é conferido, possa despedir de forma arbitrária e discriminatória o empregado após tomar ciência de que este é porta- dor do vírus HIV. Tal procedimento afronta o princípio fundamental da isonomia insculpido no caput do artigo quinto da Constituição Fede- ral. Embargos não conhecidos.” 

“Ementa: Reintegração — Demissão — Empregado portador do vírus HIV. A AIDS é uma doença que está causando grande impacto na humanidade, e os portadores desta enfermidade sofrem, sem dú- vida, discriminação e dificuldade muitas vezes até para sobreviver.

Preocupa-me o aspecto de que é cada vez maior o número de 

Page 48: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 48/380

51

infectados por esta enfermidade no mundo todo. Porém, há outras enfermidades que também têm o mesmo impacto, não tanto quanto está observando-se hoje com o problema da AIDS — este, sem dúvi- da, muito mais pelo tratamento que vem sendo dispensado ao tema 

pela mídia do mundo todo — entendo que, a se conceder estabilida- de ao portador do vírus HIV, teremos que reconhecer, por questão de pura justiça, idêntica estabilidade a todos os portadores de outras doenças infecto-contagiosas que ainda hoje são consideradas infamantes, isto é, enfermidade cujos portadores dos vírus são segre- gados e discriminados pela humanidade. Dessas, a mais conhecida é a lepra (hanseníase). É difícil, do meu ponto de vista, sustentar a concessão desta estabilidade ao portador do vírus HIV. Reconheço que se trata de situação muito delicada, que exige uma dose de humanismo muito grande para o reconhecimento desta estabilidade.

Revista conhecida parcialmente, e desprovida.” “Ementa: Reintegração — Empregado portador do vírus da AIDS 

— Caracterização de despedida arbitrária. Muito embora não haja preceito legal que garanta a estabilidade ao empregado portador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, ao magistrado incumbe a tarefa de valer-se dos princípios gerais do direito, da analogia e dos costumes para solucionar os conflitos ou lides a ele submetidas. Asimples e mera alegação de que o ordenamento jurídico nacional não assegura ao aidético o direito de permanecer no emprego não é sufi- ciente a amparar uma atitude altamente discriminatória e arbitrária 

que, sem sombra de dúvida, lesiona de maneira frontal o princípio da isonomia insculpido na Constituição da República Federativa do Bra- sil. Revista conhecida e provida.” (Proc. RR, núm.: 0217791, ano: 95,acórdão núm.: 3.473, ano: 97, data: 14.5.97, Relator: Ministro Valdir Righetto). Recurso de Revista conhecido em parte e desprovido.” 

As fórmulas jurídicas normalmente conferidas aos casos de dispensadiscriminatória são as seguintes: a) a dispensa é nula, pois obstativa à aquisi-ção ao direito de gozo de benefícios previdenciários; b) a dispensa seria arbi-trária, aplicando-se, por analogia, o art. 165 da CLT (cipeiro); c) considerando

a inexistência de norma que autorize a reintegração, caberia apenas o paga-mento de indenização; d) se já cabia a concessão de auxílio-doença, o contra-to de trabalho deveria estar suspenso, o que impede a dispensa, cabendo areintegração; e) excedendo a prática do ato ao exercício regular do direitopotestativo de resilir unilateralmente o contrato, seria a dispensa abusiva, ateor do art. 160, inciso I, do Código Civil; f) os atos praticados pelo empregadornas relações de trabalho devem observar a finalidade social da propriedade edemais princípios e garantias sociais insertos na Carta Magna.

Deve ser ressaltado que o ônus da prova quanto à prática do ato

discriminatório é do empregado.

Page 49: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 49/380

52

5. CONCLUSÃO 

Do exposto, constata-se que a diversidade de normas garantidorasdos direitos das pessoas portadoras de HIV/AIDS é abrangente, tanto no

que concerne à concessão de benefícios, quanto à proibição de práticasdiscriminatórias. Contudo, ainda há necessidade de uma maior regulamen-tação em matérias específicas.

Ademais, algumas reflexões devem ser apresentadas para o debate.Indaga-se, por primeiro, se estaria o “operador do Direito” condenado alimitar a sua atuação à simples abordagem do aspecto normativo do temaposto para exame, como as questões trabalhistas da discriminação damulher portadora de DST/AIDS, ou poder-se-ia incluir ingredientes sociais,econômicos, psicológicos etc. Afinal, antes de ser advogado, juiz ou procu-rador se é um cidadão.

A expedição de normas não resolve qualquer problema, porque asleis são interpretadas por seres humanos. Sendo assim, no exercício her-menêutico prevalece predominante carga ideológica e preconceituosa, fa-zendo com que o resultado prático da norma decorra, em grande escala,das condições psicológicas, sociais, econômicas e espirituais do aplicadordo Direito. Às vezes esse aspecto será mais importante do que a norma emsi ou o conhecimento e preparo técnico do jurista. Por isso, à sensibiliza-ção deve ser reputada a prioridade máxima. Com ela, alcançar-se-á o con-vencimento jurídico e social de quem se objetiva ver comprometido com a

questão.

Page 50: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 50/380

53

CONTRATAÇÃO FRAUDULENTA DE 

TRABALHADORES POR INTERMÉDIO DE 

COOPERATIVAS DE TRABALHO 

André Cremonesi (*)

Orlando de Melo (**)

1. INTRODUÇÃO 

Ultimamente o Ministério Público do Trabalho tem tomado conheci-mento de que muitas empresas têm celebrado contrato de fornecimento demão-de-obra por intermédio de cooperativas de trabalho.

As denúncias geralmente são oriundas de juízes do trabalho, de sin-dicatos de categorias profissionais, dos trabalhadores, dos auditores fis-cais do trabalho, além dos próprios membros do Parquet Laboral quandoda emissão de parecer circunstanciado em sede de Recurso Ordinário.

Em vista de tais denúncias o Ministério Público do Trabalho tem ins-taurado Procedimentos Preparatórios ou Inquéritos Civis, a fim de averi-guar a situação fática existente, ou seja, se se trata de utilização de mão-de-obra por meio de verdadeiras cooperativas de trabalho ou se cooperati-vas de trabalho “de fachada”, constituídas para fraudar a legislação traba-lhista. Esse trabalho de investigação do Parquet  decorre de sua missão

constitucional de defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dosinteresses sociais e individuais indisponíveis, como previsto no artigo 127,caput , da Carta Republicana de 1988.

A proliferação desenfreada da contratação de trabalhadores coope-rados iniciou-se no meio rural. Como exemplo por demais conhecido pode-mos citar a atividade de colheita de laranjas no interior do Estado de SãoPaulo.

(*) Procurador do Trabalho 2ª Região.

(**) Procurador do Trabalho 2ª Região.

Page 51: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 51/380

54

Contudo, referida forma de contratação estendeu-se para o meio ur-bano através das chamadas cooperativas de serviços múltiplos.

Neste modesto trabalho tentaremos mostrar, à exaustão, que, ao con-

trário do que pode imaginar uma significativa parcela do empresariado, acontratação de trabalhadores “cooperados” não se revela a panacéia de to-dos os males que atingem a empresa no tocante à redução de seus custos.

É sabido que as cooperativas podem se apresentar de várias for-mas, como por exemplo: cooperativas de produção, cooperativas de consu-mo, cooperativas de crédito, cooperativas de trabalho.

No que respeita às cooperativas de trabalho, com raríssimas exce-ções, a burla tem sido uma triste constatação, especialmente quando setrate do descumprimento dos direitos trabalhistas constitucionalmente as-

segurados.Nesse passo, o trabalhador — parte mais fraca e, não raro, desem-

pregado — é forçado a aceitar tal irregularidade, que sobrevém através deum mascaramento da relação jurídica de fato existente, sendo inserido naempresa sob o rótulo de “cooperado”, numa época em que o desempregoatemoriza a população. Com isso, o trabalhador é submetido a toda sortede abusos e aviltamento, como por exemplo: falta de registro na CTPS,ausência de pagamento de férias, 13º salário, FGTS, jornada de trabalhoda categoria, piso salarial da categoria, etc.

Com atitude deveras reprovável e repugnante, o tomador dos servi-ços coloca à margem um dos princípios basilares do direito laboral, qualseja o princípio da primazia da realidade, onde há que se dar prevalênciado fato sobre o instrumento.

2. O VERDADEIRO COOPERATIVISMO COMO PRECONIZADO PELA 

CONSTITUIÇÃO FEDERAL E PELA LEI N. 5.764, DE 16.12.71

O legislador constituinte de 1988 procurou estimular o cooperativis-mo. Nesse passo, vejamos o disposto no artigo 5º, inciso XVIII, da CartaMagna:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer na-tureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paísa inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e àpropriedade, nos seguintes termos:

Inciso XVIII — a criação de associações e, na forma da lei, a de coo-perativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal

em seu funcionamento;

Page 52: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 52/380

55

Por outro lado, a Lei Maior, no Título VII que trata Da Ordem Econômi-ca e Financeira, assim preconizou no artigo 174, § 2º:

Artigo 174. Como agente normativo e regulador da atividade econô-mica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incen-tivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público eindicativo para o setor privado.

§ 2º A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas deassociativismo.

No plano infraconstitucional o diploma legal que rege o cooperativis-mo é a Lei n. 5.764, de 16.12.71.

É digno de registro que o cooperativismo como previsto na referidalei revela-se salutar, diferenciando das demais sociedades, na medida em

que revela, entre outras, as seguintes características: — o verdadeiro cooperado tem dupla qualidade em relação à coope-

rativa, a saber: é prestador e beneficiário dos serviços;

 — a adesão a uma cooperativa é ato voluntário por par te do interes-sado;

 — inexistência de objetivo de lucro;

 — variabilidade do capital social representado por quotas-partes;

 — limitação do número de quotas-partes do capital para cada asso-

ciado; — direito a voto nas assembléias gerais;

 — quorum para o funcionamento e deliberação das assembléias ge-rais baseado no número de associados e não no capital;

 — distribuição das sobras líquidas (superávit) anuais aos associa-dos, proporcionalmente às operações realizadas pelos mesmos;

 — prestação de assistência aos associados.

3. A FRAUDE 

As investigações desencadeadas pelo Ministério Público do Trabalhonos autos de Procedimentos Preparatórios e de Inquéritos Civis com a co-laboração da fiscalização do trabalho têm revelado toda sorte de mazelasque, juntos, perpetram as falsas cooperativas de trabalho e as empresastomadoras dos serviços dos cooperados.

Por vezes ouvimos protestos de que nem todas as cooperativas sãofraudulentas ou “de fachada”. Tal afirmativa pode ser entendida como cor-

reta, até porque não se pode dizer, de plano, sem uma profunda investiga-

Page 53: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 53/380

56

ção, se uma cooperativa de trabalho é ou não fraudulenta. Contudo, o Mi-nistério Público do Trabalho não abre mão de realizar minuciosa investiga-ção quando toma conhecimento de uma possível fraude na contratação detrabalhadores por meio de cooperativas de trabalho. Na prática, a maioria

esmagadora das cooperativas de trabalho são meras intermediadoras demão-de-obra terminando por fraudar direitos trabalhistas.

A título meramente exemplificativo — até porque a mente humananão encontra limites quando se trate de fazer o mal — podemos elencaralgumas situações retratadas em diligências realizadas pelos membros doParquet , que tornam a fraude evidente nessa relação jurídica triangular:

 — não raro, os trabalhadores são encaminhados às cooperativas detrabalho pelas próprias empresas tomadoras de mão-de-obra, o que des-caracteriza a adesão voluntária;

 — a relação do trabalhador com a cooperativa revela-se tão frágil queao serem perguntados sobre o atual endereço da cooperativa costumamdeclarar endereços desatualizados; nesse passo, uma vez cadastrados nacooperativa os trabalhadores jamais costumam participar da assembléiasa fim de exercer seu direito de voto, até porque lá nem comparecem;

 — sob a alegação de que os falsos cooperados trabalham por hora,as cooperativas costumam controlar a jornada de trabalho por meio de car-tões de ponto;

 — há cooperativas que elaboraram PCMSO — Programa de ControleMédico de Saúde Ocupacional, previsto na Norma Regulamentadora n. 7da Portaria n. 3.214/78 do Ministér io do Trabalho, obrigação essa afeta aostrabalhadores empregados;

 — pagamento de adicional de periculosidade a trabalhadores, rubri-ca devida quando da contratação de trabalhadores empregados que exer-çam funções de risco;

 — os trabalhadores são convocados a trabalhar em sábados e do-mingos o que faz com que, às vezes, laborem por quinze dias corridos semqualquer descanso, o que demonstra odiosa exploração de mão-de-obra;

 — o labor jamais revela-se eventual; ao revés, o falso cooperado tra-balha todos os dias da semana e com jornada prefixada;

 — a contraprestação dos serviços prestados pelos falsos coopera-dos é a paga, pouco importando quem efetua o pagamento, se tomadoraou cooperativa; aqui vale lembrar que, para perpetrar a fraude, as tomadorascostumam alegar ridiculamente que o trabalhador recebe sua remunera-ção diretamente da cooperativa e que, por isso, não se encontra preenchi-

do o requisito da onerosidade;

Page 54: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 54/380

57

 — quando faltam ao trabalho, os falsos cooperados não são substi-tuídos por outros trabalhadores; em razão disso, seus afazeres ficam pos-tergados para o dia de labor imediatamente seguinte;

 — quando são perguntados acerca de quem lhe dá ordens e de quem

fiscaliza seus trabalhos os falsos cooperados costumam responder que talatribuição sempre está afeta a gerentes, supervisores e chefes das empre-sas tomadoras;

 — as cooperativas têm verdadeiros “donos” que ditam, sozinhos, osseus destinos sem qualquer participação dos falsos cooperados;

 — há empresas que “desligam” todos os seus empregados, determi-nando-lhes para que formem uma cooperativa de trabalho e, da noite parao dia, por um simples expediente burocrático, passam de empregados a“cooperados”, isentando a empresa de obrigações e encargos previstos na

legislação obreira.

4. O PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 442 DA CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO ANTE O PRINCÍPIO DO CONTRATO REALIDADE 

Dispõe o parágrafo único do artigo 442 da Consolidação das Leis doTrabalho, inserido por meio da Lei n. 8.949/94:

Qualquer que seja o ramo de atividade da sociedade cooperativa,

não existe vínculo empregatício entre ela e seus associados, nem entreestes e os tomadores de serviços daquela.

Não podemos admitir que o dispositivo legal em comento dê guaridaa toda sorte de fraudes que são perpetradas por falsas cooperativas e to-madores de serviços de trabalhadores cooperados. Com efeito, na verdadeo referido dispositivo legal revela-se inócuo, na medida em que estiverempresentes os quatro requisitos da relação de emprego, a saber: habituali-dade, pessoalidade, onerosidade e subordinação. Nesse diapasão, apli-cam-se as sanções previstas no artigo 9º da Consolidação das Leis doTrabalho, in verbis :

Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo dedesvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na pre-sente Consolidação.

5. ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO 

Por primeiro, há que se trazer à colação os conceitos de direitos difu-sos e de direitos coletivos, previstos na Lei n. 8.078/90 (Código de Defesado Consumidor), de aplicação subsidiária à Lei n. 7.347/85 (Lei da Ação

Civil Pública).

Page 55: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 55/380

58

Por direitos difusos entende-se como aqueles transindividuais, denatureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e liga-das por circunstâncias de fato (artigo 81, inciso I da Lei n. 8.078/90).

De outra parte, entende-se por direitos coletivos aqueles transindivi-duais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo, categoria ou classede pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurí-dica base (artigo 81, inciso II da Lei n. 8.078/90).

In casu , os direitos lesados dos empregados denominados de “coo-perados” são de natureza difusa e coletiva o que, por si só, permite a atua-ção do Ministério Público do Trabalho.

Os direitos lesados são difusos na medida que impedem os potenciaiscandidatos a um emprego formal, grupo esse indeterminado.

Os direitos lesados são coletivos tendo em vista que, ao “aderirem” auma falsa cooperativa e prestarem serviços às empresas tomadoras, ostrabalhadores não têm seus direitos trabalhistas constitucionalmente asse-gurados, como por exemplo: férias com o terço constitucional, 13º salário,FGTS, descanso semanal remunerado, piso salarial da categoria, além deoutros direitos previstos em norma coletiva.

O Ministério Público do Trabalho, ao constatar a fraude, convoca asempresas tomadoras dos serviços dos denominados “cooperados” paratentativa de firmar Termo de Compromisso de Ajuste de Conduta às exi-gências legais, com fixação de astreinte em caso de descumprimento, se

devidamente firmado perante seus procuradores ou responsáveis.Se houver negativa em firmá-lo por parte da empresa tomadora dos

serviços, o Parquet Laboral ajuíza ação civil pública perante as Varas doTrabalho da Justiça do Trabalho, a fim de obter um provimento judicial deobrigação de não fazer consistente na abstenção dos tomadores de servi-ços de contratar trabalhadores por intermédio de cooperativas de trabalhoe estas de não fornecer mão-de-obra em condições fraudulentas.

Assim que ajuizada ação civil pública perante a Justiça do Trabalho,são expedidos ofícios ao Ministério Público Federal para apuração, em tese,

do crime previsto no artigo 203 do Código Penal (fraude a direitos traba-lhistas), em razão da lesão de natureza coletiva e ao Ministério PúblicoEstadual para a tomada de providências quanto à extinção, via judicial, dacooperativa considerada fraudulenta.

6. CONCLUSÃO 

Feitas essas colocações podemos concluir que:

a) o cooperativismo genuíno deve ser estimulado, especialmente quan-

do se trate de cooperativas de produção, de consumo e de crédito;

Page 56: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 56/380

59

b) no tocante às cooperativas de trabalho, a esmagadora maioria age,exclusivamente, na intermediação de mão-de-obra para fraudar direitos tra-balhistas;

c) o parágrafo único do artigo 442 da Consolidação das Leis do Tra-balho revela-se inócuo, quando estiverem presentes os requisitos da pes-soalidade, habitualidade, onerosidade e subordinação que caracterizam umarelação de emprego cedendo lugar ao comando do artigo 9º Consolidado;com efeito, o melhor é que o indigitado parágrafo único do artigo 442 daConsolidação das Leis do Trabalho fosse revogado pelo Poder Legislativo;

d) o Ministério Público do Trabalho, com o auxílio do Ministério doTrabalho, tem atuado, incansavelmente, investigando as cooperativas detrabalho fraudulentas através da instauração de Procedimentos Preparató-rios ou de Inquéritos Civis;

e) se constatada a fraude, as empresas tomadoras dos serviços doscooperados são intimadas a comparecer perante o Ministério Público doTrabalho, para firmar Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta;em não concordando com isso, é proposta Ação Civil Pública, a fim deobter um provimento judicial consistente na abstenção da contratação detrabalhadores por meio de cooperativas de trabalho fraudulentas e estasde não fornecer mão-de-obra no sentido de burlar a legislação trabalhista.

Page 57: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 57/380

60

 A LEGISLAÇÃO DE SAÚDE DO TRABALHADOR 

 APLICÁVEL E VIGENTE NO BRASIL 

João Carlos Teixeira(*)

Hodiernamente, em nosso ordenamento jurídico, a segurança, higie-ne e medicina do trabalho, foi alçada à matéria de direito constitucional,sendo direito social indisponível dos trabalhadores, ou melhor, direito pú-blico subjetivo dos trabalhadores, exercerem suas funções em ambiente detrabalho seguro e sadio, cabendo ao empregador tomar as medidas neces-sárias no sentido de reduzir os riscos inerentes ao trabalho, por meio denormas de saúde, higiene e segurança (inciso XXII do art. 7º).

O direito à saúde, ao trabalho, à segurança e à previdência socialestá previsto no art. 6º da Constituição da República. Os arts. 196 a 200 daCarta Constitucional dispõem que a Saúde é direito de todos e dever doEstado, garantir e promover a efetividade desse direito, mediante políticas,ações e serviços públicos de saúde, organizados em um sistema único,que podem ser complementados por outros serviços de assistência à saú-de prestados por instituições privadas. Tais ações e serviços são de rele-vância pública, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobresua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução serfeita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou

 jurídica de direito privado.Nos termos dos incisos II e VIII do art. 200 da CF/88, compete ao

sistema único de saúde, entre outras coisas, executar as ações de vigi-lância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalha-dor; e colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o dotrabalho. O art. 225 da Magna Car ta assegura o direito ao meio ambien-te ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida. O

(*) Procurador do Trabalho da PRT-1ª Região. Pós-graduado pela Universidade Cândido Mendes

e Especialista em Direito do Trabalho e Direito do Processo do Trabalho.

Page 58: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 58/380

61

meio ambiente de trabalho também encontra proteção jurídica nesse dis-positivo constitucional, especificamente no inciso V do §1º, que dispõe,in verbis :

“§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe aoPoder Público:

(...)

V — controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;” 

(nota: regulamentado pela Lei n. 8.974, de 5.1.95)

A interpretação sistemática do disposto nos arts. 6º, 7º, XXII, 196 a200 e art. 225, § 1º, V da Constituição da República não deixa dúvidas deque a saúde do trabalhador e o meio ambiente do trabalho foram tambémalçados a direito social de natureza constitucional e cujo cumprimento éimposto por lei ao empregador, conforme se verifica das prescrições dosarts. 154 a 201 da CLT (com redação dada pela Lei n. 6.514/77) e nasPortarias ns. 3.214/78 e 3.067/88 , que tratam das normas regulamentaresrelativas à segurança e medicina do trabalho urbano e rural, respectiva-mente, sendo certo que a efetividade do direito requer a firme atuação doPoder Público, no sentido de exigir e fiscalizar o cumprimento da lei.

Ninguém discute que as normas regulamentadoras de medicina esegurança no trabalho, estabelecidas em Lei ou em Portarias do Ministériodo Trabalho e Emprego são plenamente aplicáveis aos trabalhadores e àsempresas, sujeitos à relação de emprego regidas pela Consolidação dasLeis do Trabalho, instituída pelo Decreto-lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943.

Neste estudo, tentarei demonstrar que nosso ordenamento jurídicoautoriza a exegese de que tais normas também possam ser aplicáveis eexigíveis a outras relações de trabalho, tais como trabalhadores avulsos,

trabalhadores rurais não sujeitos à relação de emprego (parceiros rurais),sociedades cooperativas e servidores públicos civis.

 ALCANCE DAS NORMAS DE MEDICINA E SEGURANÇA DO 

TRABALHO 

Primeiramente, importa ressaltar que o direito social previsto no inci-so XXII do art. 7º da Magna Carta, a saber, o direito dos trabalhadoresurbanos e rurais à redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de

normas de saúde, higiene e segurança, constitui-se em um dos direitos e

Page 59: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 59/380

62

garantias fundamentais do indivíduo, eis que o Capítulo II — Dos DireitosSociais — está contido no Título II — Dos Direitos e Garantias Fundamen-tais — da Constituição da República Federativa do Brasil.

E, nos expressos termos do § 1º do art. 5º da CF, “as normasdefinidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”.

O e. jurista José Afonso da Silva  leciona que “por regra, as normasque consubstanciam os direitos fundamentais democráticos e individuaissão de eficácia contida e aplicabilidade imediata, enquanto as que definemos direitos sociais tendem a sê-lo também na Constituição vigente, masalgumas, especialmente as que mencionam uma lei integradora, são deeficácia limitada e aplicabilidade indireta.

“Então, [prossegue o jurista], em face dessas normas, que valor tem

o disposto no § 1º do art. 5º, que declara todas de aplicação imediata? Emprimeiro lugar, significa que elas são aplicáveis até onde possam, até ondeas instituições ofereçam condições para seu atendimento. Em segundo lu-gar, significa que o Poder Judiciário, sendo invocado a propósito de umasituação concreta nelas garantida, não pode deixar de aplicá-las, conferin-do ao interessado o direito reclamado, segundo as instituições existentes”(1).

Em outra passagem da mesma obra, afirma o e. jurista, citando dou-trina de Gomes Canotilho : “Por conseguinte, todas as normas que reco-nhecem direitos sociais, ainda quando sejam programáticas, vinculam os

órgãos estatais, de tal sor te que “o Poder Legislativo não pode emanar leiscontra estes direitos e, por outro lado, está vinculado à adoção das medi-das necessárias à sua concretização; ao Poder Judiciário está vedado, sejaatravés de elementos processuais, seja nas próprias decisões judiciais,prejudicar a consistência de tais direitos; ao Poder Executivo impõe-se, talcomo ao Legislativo, atuar de forma a proteger e impulsionar a realizaçãoconcreta dos mesmos direitos”(2).

No que diz respeito à integração das normas constitucionais que en-cerram direitos e garantias fundamentais, deve-se dar especial atenção ao

disposto no § 2º do art. 5º da Magna Carta, in verbis :

§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição nãoexcluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela ado-tados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativado Brasil seja parte.”

(1) Silva, José Afonso da. “Aplicabilidade das Normas Constitucionais”, 3ª ed., 3ª tiragem, p. 165,São Paulo, Malheiros Editores, 08-1999.

(2) Idem , p. 160.

Page 60: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 60/380

63

Do texto acima, extrai-se que o constituinte expressamente estabele-ceu que outros direitos e garantias estabelecidos em tratados internacio-nais firmados pelo Brasil também têm aplicação imediata, tão logo incorpo-rado ao nosso ordenamento jurídico interno.

As normas internacionais de trabalho são de dois tipos: convençõese recomendações; são criadas no seio da Organização Internacional doTrabalho, através de seu parlamento, a Conferência Internacional do Traba-lho, constituído por 4 delegados para cada Estado-Membro, sendo 1 repre-sentante dos trabalhadores, 2 do governo e 1 dos empregadores. As con-venções distinguem-se das recomendações, porque as convenções, umavez ratificadas, constituem fonte formal de direito, gerando direitos subjeti-vos individuais, principalmente nos países onde vigora a teoria do monismo jurídico e desde que não se trate de diploma meramente promocional ou

programático. Já as recomendações e as convenções não ratificadas cons-tituem fonte material de direito, porquanto servem de inspiração e modelopara a atividade legislativa nacional, os atos administrativos de naturezaregulamentar, os instrumentos de negociação coletiva, de laudo de arbitra-gem ou de decisões normativas dos tribunais do trabalho, dotados do po-der normativo, quando apreciam conflitos coletivos de interesse.

A convenção, após ter sido aprovada pelo Congresso Nacional (art.49, I, da CF), mediante Decreto Legislativo, está em condições de ser rati-ficada por ato soberano do Chefe de Estado. Uma vez ratificada a conven-ção, incorpora-se ao nosso ordenamento jurídico interno e entra em vigor

um ano após a data da ratificação. A convenção internacional equipara-sehierarquicamente à lei federal, conforme se depreende do art. 105, III, a )da CF.

A Constituição brasileira de 1988 adotou a teoria do monismo jurídi-co, em virtude da qual o tratado ratificado complementa, altera ou revoga odireito interno, desde que se trate de norma de aplicação imediata, ou seja,que a matéria nela versada trate de direitos e garantias fundamentais (§ 1ºdo art. 5º da CF).

Ora, a saúde, o trabalho e a segurança são direitos sociais insertos

no art. 6º da Lei Maior. O inciso XXII do art. 7º estatui que é direito dostrabalhadores urbanos e rurais a redução dos riscos inerentes ao trabalho,por meio de normas de saúde, higiene e segurança. Segundo a classifica-ção de José Afonso da Silva , tal dispositivo constitucional se enquadrariadentre as normas de eficácia limitada e aplicabilidade indireta, na medidaem que depende de uma norma integradora.

Tais normas, quando do advento da Constituição, já existiam e estãoinseridas nos arts. 154 e ss. da Consolidação das Leis do Trabalho, comredação dada pela Lei n. 6.514/77. Há ainda regulamentando essas normas

legais as Portarias ns. 3.214/78 e 3.067/88, emitidas com fulcro no art. 155,

Page 61: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 61/380

64

I, da CLT, que aprovaram as Normas Regulamentadoras das ações e servi-ços em matéria de saúde, higiene e segurança no trabalho urbano e rural — são as NRs e NRRs.

Portanto, o direito fundamental e social à redução dos riscos ineren-tes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança, previs-to no inciso XXII do art. 7º da Magna Carta, já está devidamente integradoe regulamentado nas normas supracitadas, e, assim, em plena condiçãode aplicabilidade imediata.

A plena aplicabilidade dessas normas aos trabalhadores regidos pelarelação jurídica de emprego estabelecida na CLT é questão pacífica nadoutrina. Procurarei, nas linhas seguintes, demonstrar que nosso direitopositivo autoriza a exegese de que tais normas também possam ser aplicá-veis e exigíveis a outras relações jurídicas de trabalho.

Em matéria de meio ambiente de trabalho, o Brasil ratificou as Con-venções 148, 152, 155 e 161. A Convenção 148, que trata da Contamina-ção do Ar, Ruído e Vibrações, foi ratificada em 14.1.82 e promulgada atra-vés do Decreto n. 93.413, de 15.10.86. A Convenção 152, que trata da Se-gurança e Higiene dos Trabalhos Portuários, foi ratificada em 17.5.90 epromulgada pelo Decreto n. 99.534, de19.9.90. A Convenção 155, que tra-ta da Segurança e Saúde dos Trabalhadores, foi ratificada em 18.5.92 epromulgada pelo Decreto n. 1.254/94. A Convenção 161, que trata dos Ser-viços de Saúde do Trabalho, foi ratificada em 18.5.90 e promulgada atravésdo Decreto n. 127, de 22.5.91.

Conforme já acima afirmado, a convenção, uma vez ratificada, inse-re-se no ordenamento jurídico pátrio com força de lei federal. Assim, vemela complementar, alterar ou revogar o direito interno, conforme seja o caso.

Assim, passaremos a analisar o conteúdo das Convenções 155 e 161,por tratarem de forma geral a questão da segurança e saúde no trabalho, eporque tais convenções foram ratificadas após a promulgação da vigenteCarta Constitucional, para verificar o alcance jurídico de suas normas.

A Convenção 155 dispõe, em seu art. 1, que ela se aplica a todas as áreas de  atividade econômica, facultando ao Estado-Membro, após consultaprévia às organizações sindicais de empregadores e trabalhadores inte-ressadas, excluir total ou parcialmente da sua aplicação determinadas áreasde atividade econômica. O art. 2 diz que ela se aplica a todos os trabalha- dores das áreas de atividade econômica abrangidas, facultando, da mesmaforma, a exclusão parcial ou total de categorias limitadas de trabalhadoresque apresentariam problemas particulares para sua aplicação. O art. 3 de-fine algumas expressões utilizadas no texto da norma:

a) a expressão “áreas de atividade econômica” abrange todas as áreas em que existam trabalhadores empregados, inclusive a administração 

pública; 

Page 62: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 62/380

65

b) o termo “trabalhadores” abrange todas as pessoas empregadas,incluindo os funcionários públicos; 

c) a expressão “local de trabalho” abrange todos os lugares onde ostrabalhadores devem permanecer ou onde têm que comparecer, e que es-tejam sob o controle, direto ou indireto do empregador;

d) o termo “regulamentos” abrange todas as disposições às quais a autoridade ou as autoridades competentes tiverem dado força de lei; 

e) o termo “saúde”, com relação ao trabalho, abrange não só a au-sência de afecções ou de doenças, mas também os elementos físicos ementais que afetam a saúde e estão diretamente relacionados com a segu-rança e a higiene no trabalho.

Outros dispositivos desta Convenção estabelecem a obrigatoriedade

de adoção de um política nacional em matéria de segurança e saúde dostrabalhadores e do meio ambiente de trabalho, com o objetivo de preveniros acidentes e os danos à saúde decorrentes do exercício do trabalho,reduzindo ao mínimo possível as causas dos riscos inerentes ao meioambiente de trabalho. Estabelece que as ações que devem ser empreendi-das a nível nacional, e. g. a inclusão das questões de segurança, higiene emeio ambiente de trabalho em todos os níveis de ensino e treinamento, e anível de empresa e. g. exigir dos empregadores todas as medidas necessá-rias para garantir o local de trabalho higiênico e seguro, bem como a segu-rança na operação do maquinário e equipamentos que estiverem sob seu

controle, entre outras medidas.A Convenção 161, que trata dos Serviços de Saúde do Trabalho, em

seu art. 1, apresenta as seguintes definições:

a) a expressão “serviços de saúde no trabalho” designa um serviço investido de funções essencialmente preventivas e encarregado de acon- selhar o empregador, os trabalhadores e seus representantes na empresa em apreço, sobre: 

i) os requisitos necessários para estabelecer e manter um ambiente de trabalho seguro e salubre, de molde a favorecer uma saúde física e mental ótima em relação ao trabalho; 

ii) a adaptação do trabalho às capacidades dos trabalhadores, levan- do em conta seu estado de sanidade física e mental; 

b) a expressão “representantes dos trabalhadores na empresa” de-signa as pessoas reconhecidas como tal em virtude da legislação ou daprática nacional.

O art. 2 estabelece a obrigatoriedade de o Estado-Membro definir,pôr em prática e reexaminar periodicamente uma política nacional coeren-

te com relação aos serviços de saúde no trabalho.

Page 63: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 63/380

66

O art. 3 dispõe que “Todo membro se compromete a instituir, progres- sivamente, serviços de saúde no trabalho para todos os trabalhadores, entre os quais se contam os do setor público, e os cooperantes das cooperativas de produção, em todos os ramos da atividade econômica e em todas as 

empresas; as disposições adotadas deverão ser adequadas e correspon-der aos riscos específicos que prevalecem nas empresas.

O art. 5 da referida Convenção elenca as funções que devem ser atri-buídas aos serviços de saúde, dentre as quais, destacamos:

 — identificar e avaliar os riscos para a saúde, presentes nos locaisde trabalho;

 — prestar assessoria no planejamento e na organização do trabalho,inclusive sobre a concepção dos locais de trabalho, a escolha, a manuten-ção e o estado das máquinas e equipamentos, bem como sobre o materialutilizado no trabalho;

 — prestar assessoria nas áreas da saúde, da segurança e da higieneno trabalho, da ergonomia e, também, no que concerne aos equipamentosde proteção individual e coletiva;

 — acompanhar a saúde dos trabalhadores em relação com o trabalho;

 — organizar serviços de primeiros socorros e de emergência; partici-par da análise de acidentes de trabalho e das doenças profissionais.

Destacamos essas funções, porque elas são compatíveis e correla-

tadas com as funções e atribuições dos Serviços Especializados em Enge-nharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT — NR-4) e daComissão Interna de Prevenção de Acidentes, e com as finalidades do Pro-grama de Prevenção dos Riscos Ambientais (PPRA — NR-9) e do Progra-ma de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO — NR-7).

O art. 6 estabelece a forma como devem ser instituídos os serviçosde saúde no trabalho: pela via da legislação; por intermédio de convençõescoletivas ou de outros acordos entre empregadores e trabalhadores inte-ressados; c) por todos os demais meios aprovados pela autoridade compe-tente após consultas junto a organizações representativas de empregado-res e trabalhadores interessados.

O art. 9 e s. estabelece as condições de funcionamento.

Em suma, de todo o exposto, podemos concluir com total segurançaque nossa legislação interna, consubstanciada na Lei n. 6.514/77 e nasPortarias ns. 3.214/78 e 3.067/88, atendem, de modo geral, às determina-ções das supra-analisadas Convenções, ao menos no que diz respeito aostrabalhadores e empregadores sujeitos ao regime jurídico da CLT.

No que diz respeito aos demais trabalhadores: autônomos, avulsos,

servidores públicos civis e trabalhadores organizados em cooperativas, as

Page 64: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 64/380

67

convenções internacionais supracitadas expressamente determina queesses também sejam contemplados e protegidos. No entanto, a situaçãodesses trabalhadores em relação à efetiva proteção da sua saúde e segu-rança no trabalho ainda se encontra em área cinzenta do nosso direito.

Nas linhas seguintes tentarei tornar menos obscura a proteção jurídi-ca da saúde desses trabalhadores, à vista dos preceitos constitucionais,convenções internacionais e legislação nacional vigentes no país.

SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS 

A vigente Carta Constitucional estendeu aos servidores públicos civisalguns direitos sociais assegurados aos trabalhadores urbanos e rurais.

O § 2º do art. 39, em sua redação original, dispunha in verbis :

“§ 2º Aplica-se a esses servidores o disposto no art. 7º, IV, VI,VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, SVIII, XIX, XX, XXII, XXIII e XXX.”

Destaca-se propositadamente os incisos XXII e XXIII por terem perti-nência ao tema ora tratado, os quais prevêem os seguintes direitos:

XXII — redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio denormas de saúde, higiene e segurança;

XXIII — adicional de remuneração para as atividades penosas,insalubres ou perigosas, na forma da lei;

Em relação aos servidores públicos civis da União, a matéria é citadano Título VI — Da Seguridade Social do Servidor — da Lei n. 8.112/90, noseu art. 185, I, h ), que dispõe, in verbis: 

“Art. 185. Os benefícios do Plano de Seguridade Social do ser-vidor compreendem:

I — quanto ao servidor:(...)

h) garantia de condições individuais e ambientais de trabalhosatisfatórias;”

O Capítulo II do citado Título VI trata dos diversos benefícios do ser-vidor público civil, nada dispondo todavia sobre a forma como se efetivaráa garantia de condições individuais e ambientais de trabalho satisfatórias.O parágrafo único do art. 184 da Lei n. 8.112/90 estabelece que os benefí-

cios serão concedidos nos termos e condições definidos em regulamento.

Page 65: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 65/380

68

Não tenho notícia de que esta matéria esteja regulamentada de modoespecífico para a Administração Pública Federal.

Conforme acima afirmado, as normas relativas à saúde, higiene esegurança no trabalho estão regulamentadas nos arts. 154 e s. da Conso-lidação das Leis do Trabalho, com redação dada pela Lei n. 6.514/77, e nasPortarias expedidas por órgãos competentes do Ministério do Trabalho.

Todavia, o art. 7º da CLT dispõe, in verbis :

“Art. 7º Os preceitos constantes da presente Consolidação,salvo quando for, em cada caso, expressamente determinado em con- trário, não se aplicam:

(...)

c) aos funcionários públicos da União, dos Estados e dos Muni-cípios e aos respectivos extranumerários em serviço nas próprias re-partições;

d) aos servidores de autarquias paraestatais, desde que sujei-tos ao regime próprio de proteção ao trabalho que lhes assegure si-tuação análoga à dos funcionários públicos.” (grifei)

Parece-nos que o supracitado dispositivo legal encontra-se parcial-mente revogado, ao menos no que diz respeito à aplicação das normasrelativas à Medicina e Segurança do Trabalho constantes da CLT.

Com efeito, a Constituição da República ao adotar a teoria do monismo jurídico em relação à ordem jurídica internacional e nacional, admitiu aautomática inserção na ordem jurídica interna das normas de tratados in-ternacionais aprovadas pelo Congresso Nacional, com força de lei ordiná-ria (art. 5º, § 2º c/c art. 49, I e art. 105, III, a ). Assim, a ratificação das Con-venções 148, 152, 155 e 161 e a inclusão do inciso XXII do art. 7º dentre osdireitos assegurados aos servidores públicos civis importa na expressaautorização de aplicabilidade dos preceitos relativos à medicina e segu-rança do trabalho constantes das citadas Convenções, da CLT e das Porta-

rias ns. 3.214/78 e 3.067/78 do MTb, aos servidores públicos civis.Tal exegese decorre do fato de que às normas constitucionais deve

ser atribuído o máximo de eficácia jurídica possível, pelo que o intérprete eaplicador da lei tem de afastar as dificuldades para concretizar os disposi-tivos da Lei Maior. Assim, enquanto não houver lei que complete certosdispositivos simplesmente enunciados pela Constituição, tem-se de aplicaro instituto deferido para outros sujeitos ou situações, tal com ele já está emvigor, conforme afirma o saudoso jurista e prof. Valentin Carrion, in Co-mentários à Consolidação das Leis do Trabalho, 23ª edição, pp. 44, São

Paulo, Saraiva, 1998.

Page 66: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 66/380

69

Tal interpretação se impõe de maneira mais acentuada, na medidaem que a EC n. 19 retirou dos servidores públicos o direito ao adicional deremuneração para as atividades penosas, insalbures ou perigosas. Assim,mais se reforça a nossa tese de que a esses servidores devem ser aplica-

das as normas relativas à medicina e segurança no trabalho previstas naCLT.

Outra razão lógica para tal aplicabilidade decorre do fato de que, coma edição da EC n. 19, os entes federados poderão admitir trabalhadorestanto pelo regime estatutário como pelo regime celetista, para laboraremnos respectivos órgãos da administração pública direta ou indireta. Sendoassim, parece-nos que não se coaduna com os princípios constitucionaisda dignidade da pessoa humana, do valor social do trabalho, da igualdadede todos perante a lei, da isonomia de tratamento e do direito de todos à

saúde, a coexistência de trabalhadores, a serviço de um mesmo órgão daadministração pública direta ou indireta, sendo que os celetistas teriam di-reito à proteção de sua saúde no trabalho, através das ações e serviços desaúde previstos nas normas regulamentares estabelecidas na CLT e nasPortarias do MTb, e aos estatutários tal direito não fosse assegurado.

TRABALHADORES AVULSOS 

Trabalhador avulso é aquele que, sindicalizado ou não, presta servi-ço de natureza urbana ou rural, a diversas empresas, sem vínculo empre-gatício, com a intermediação obrigatória do sindicato da categoria ou doórgão gestor de mão-de-obra, nos termos da Lei n. 8.630, de 25.2.93. Peloregulamento dos benefícios da Previdência Social (art. 6º, VI, do Decreto n.2.172, de 5.3.97) são considerados trabalhadores avulsos: o trabalhadorque exerce atividade portuária de capatazia, estiva, conferência e consertode carga, vigilância de embarcação e bloco; o trabalhador em alvarenga(embarcação para carga e descargo de navios); o trabalhador de estiva demercadorias de qualquer natureza(3), inclusive carvão e minério; o amarrador

de embarcação; o ensacador de café, cacau, sal e similares; o carregador debagagem em porto; o prático de barra em porto; o guindasteiro; o classifi-cador, o movimentador e o empacotador de mercadorias em portos; outrosassim classificados pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

A Constituição da República, em seu art. 7º, inciso XXXIV, asseguraa igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício per-manente e o trabalhador avulso. Em decorrência dessa isonomia de direi-

(3) Nesta categoria de trabalhador, pode ser incluído o assim conhecido “chapa”, desde que a

serviço de diversas pessoas físicas ou jurídicas.

Page 67: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 67/380

70

tos, os trabalhadores avulsos, além de outros direitos, gozam do direito àredução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,higiene e segurança (inciso XXII).

Com o advento da Lei n. 8.630/93, que regulamenta a exploração dosportos organizados e o trabalho portuário, os sindicatos dos trabalhadoresportuários deixaram de ser os administradores do fornecimento da mão-de-obra destes trabalhadores, função essa que passou à responsabilidadedo órgão gestor de mão-de-obra, que deve ser constituído, em cada portoorganizado. Àqueles sindicatos cabem a representação e a defesa dos in-teresses individuais e coletivos da categoria, a fim de entabular negocia-ção coletiva e firmar acordos ou convenções coletivas, por exemplo.

No que diz respeito à saúde e segurança no trabalho portuário, o art.3º da Lei n. 6.514/77, que deu nova redação a todos os artigos do Capítulo

V — Da Medicina e da Segurança no Trabalho, do Título II da CLT, já dispu-nha, in verbis :

“Art. 3º As disposições contidas nesta Lei aplicam-se, no quecouber, aos trabalhadores avulsos, às entidades ou empresas quelhes tomem o serviço e aos sindicatos representativos das respecti-vas categorias profissionais.”

Complementando a proteção da saúde dos trabalhadores portuários,giza o art. 9º da Lei n. 9.719, de 27.11.98, in verbis: 

“Art. 9º Compete ao órgão gestor de mão-de-obra (OGMO), aooperador portuário e ao empregador, conforme o caso, cumprir e fa-zer cumprir as normas concernentes à saúde e segurança do traba-lho portuário.

Parágrafo único. O Ministério do Trabalho estabelecerá as nor-mas regulamentadoras de que trata o caput deste art igo.”

A Lei n. 8.630/93 estabeleceu a possibilidade de os operadores por-

tuários contratarem diretamente os trabalhadores portuários por prazo in-determinado mediante relação de emprego. Neste caso, a responsabilida-de pelo cumprimento das normas de saúde e segurança recai diretamentesobre o operador portuário empregador.

Com relação ao trabalhador portuário avulso, o art. 19 da Lei n. 8.630/ 93 giza que compete ao órgão gestor de mão-de-obra zelar pelas normasde saúde, higiene e segurança.

A supracitada lei estabelece ainda a competência do Ministério doTrabalho e do INSS para observar o cumprimento das normas e condições

gerais de proteção ao trabalho portuário.

Page 68: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 68/380

71

A repartição das competências em relação às medidas de segurança esaúde no trabalho portuário encontra-se devidamente regulamentada na NR-29, sendo certo que tal norma alcança todos os trabalhadores portuários,com ou sem vínculo de emprego, bem como impõe a obrigação de os opera-

dores portuários, empregadores, tomadores de serviços e o OGMO cumpri-rem e fazerem cumprir a NR-29 no que tange à prevenção dos riscos deacidentes do trabalho e doenças profissionais nos serviços portuários.

SOCIEDADES COOPERATIVAS 

Nos termos do art. 3º da Lei n. 5.764/71, as sociedades cooperativassão constituídas por pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuircom bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de

proveito comum, sem objetivo de lucro. As cooperativas são constituídaspara prestar serviços aos associados, de forma a proporcionar-lhes melho-res condições de trabalho e renda, para promoção de sua ascensão sociale econômica.

Os trabalhadores que se unem voluntariamente para trabalharem soba forma do sistema do cooperativismo são considerados pela legislaçãoprevidenciária, como autônomos, posto que, na verdadeira relação coope-rativista, a relação jurídica entre os associados é societária, ou seja, oscooperados são os donos do empreendimento.

Conforme acima verificado, a Convenção 161, que trata dos serviçosde saúde do trabalho, determina a instituição dos serviços de saúde no trabalho para todos os trabalhadores, entre os quais se contam os do setorpúblico, e os cooperantes das cooperativas de produção, em todos os ra- mos da atividade econômica e em todas as empresas.

Diante deste dispositivo legal e considerando que a finalidade precípuadas sociedades cooperativas é a prestação de serviços aos cooperados, paraque estes logrem melhores condições de trabalho, é cediço que às socieda-des cooperativas deve incidir a obrigatoriedade de colocar à disposição dosseus cooperados os serviços de saúde, de que trata a Convenção 161, os

quais estão regulamentados nas NR 4 — Serviços Especializados em Enge-nharia de Segurança e em Medicina do Trabalho — SESMT, NR-5 — Comis-são Interna de Prevenção de Acidentes — CIPA, NR-7 — Programa de Contro-le Médico de Saúde Ocupacional — PCMSO e NR-9 Programa de Prevençãode Riscos Ambientais entre outras correlatas e interdependentes.

Caso se trate de cooperativa que exerça atividade de natureza rural,ou seja, agricultura ou pecuária, aplicam-se a elas as normas regulamen-tares relativas ao trabalho rural, tais como, NRR-2 — Serviço Especializa-do em Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural (SEPATR) e NRR-4 —

Comissão Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho Rural (CIPATR).

Page 69: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 69/380

72

A se pensar que tais serviços de saúde não devem ser asseguradosao trabalhador autônomo organizado em cooperativa, que vantagem teriao trabalhador autônomo ou eventual, em se unir a outros da mesma classede profissão, se, ainda assim, estaria totalmente afastado de um dos mais

importantes direitos sociais dos trabalhadores, a saber: o direito à saúde,higiene e segurança no trabalho.

É claro que aquelas normas deverão ser aplicadas e interpretadas,levando em conta que os trabalhadores beneficiados e a cooperativa, decerta forma, se confundem, posto que esta age no interesse exclusivo da-queles. Portanto, os custos de tais serviços devem ser suportados pelosfundos sociais de que trata o art. 28 da Lei n. 5.764/71.

Há ainda as cooperativas formadas por trabalhadores portuários avul-sos, registrados na forma da Lei n. 8.630/93, que podem, nos termos do

art. 17 da citada lei, se estabelecerem como operadores portuários para aexploração de instalações portuárias, dentro ou fora dos limites da área doporto organizado. Neste caso, a cooperativa, enquanto operadora portuá-ria, deverá observar o disposto no art. 9º da Lei n. 9.719, de 27.11.98, e asdisposições da NR-29 acima referidas.

Por derradeiro, é importante ressaltar que, neste tópico, estamos nosreferindo às verdadeiras sociedades cooperativas, que operam segundoos princípios do cooperativismo. As fraudoperativas, ou seja, as cooperati-vas fraudulentas, que somente se utilizam da nomenclatura cooperativa,com o nítido intuito de fraudar os direitos sociais dos trabalhadores, umavez que funcionam como verdadeiras empresas comerciais, devem ser tra-tadas como as empresas em geral, posto que os trabalhadores, ditos “coo-perados”, são, na realidade, empregados.

TRABALHADORES RURAIS SEM VÍNCULO EMPREGATÍCIO 

O caput do art. 7º da Magna Carta estabeleceu igual tratamento jurí-dico entre o trabalhador urbano e o rural. Todavia, é certo que muitos dosdireitos inseridos nos diversos incisos do referido artigo dizem respeito aostrabalhadores urbanos e rurais com vínculo empregatício. No entanto, nãose pode perder de vista que as normas de proteção da saúde e segurançado trabalhador são de ordem pública, isto é, de interesse público, geral dasociedade, devendo portanto ser observadas sempre que as condições detrabalho ofereçam risco à saúde ou à integridade física do trabalhador, in-dependentemente da natureza jurídica da relação de trabalho.

Partindo dessa premissa maior é que devem ser interpretadas asnormas que tratam da proteção à saúde do trabalhador e dos benefíci-os previdenciários decorrentes de doenças do trabalho ou acidente do

trabalho.

Page 70: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 70/380

73

Assim devem ser interpretados os arts. 1º, 13 e 17 da Lei n. 5.889/73,que dispõem, in verbis :

“Art. 1º As relações de trabalho rural serão reguladas por esta

Lei e, no que com ela não colidirem, pelas normas da Consolidaçãodas Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-lei n. 5.452, de 1º demaio de 1943.”

“Art. 13. Nos locais de trabalho rural serão observadas as nor-mas de segurança e higiene estabelecidas em portaria do Ministro doTrabalho.”

“Art. 17. As normas da presente Lei são aplicáveis, no que cou-ber, aos trabalhadores rurais não compreendidos na definição do art.2º, que prestem serviços a empregador rural.”

O art. 2º mencionado define quem é o empregado rural. Portanto, alei determina expressamente que suas disposições são aplicáveis aos tra-balhadores rurais sem vínculo de emprego, que estejam a serviço de em-pregador rural, que, nos termos do art. 3º, é a pessoa física ou jurídica,proprietária ou não, que explore atividade agroeconômica, em caráter per-manente ou temporário, diretamente ou através de prepostos e com auxíliode empregados.

A lei pretende, ao nosso ver, alcançar, e efetivamente alcança, outros

trabalhadores rurais, sem vínculo de emprego, tais como o parceiro, o meeiroe o arrendatário rurais, e o assemelhado, que exerçam suas atividades,individualmente ou em regime de economia familiar. Ora, a interpretaçãoconjunta desses três dispositivos legais, não deixa dúvidas de que, emtodos os locais de trabalho rural, independentemente da natureza jurídicada relação de trabalho rural existente, devem ser observadas as normas demedicina e segurança estabelecidas em portarias do Ministério do Traba-lho, as quais têm fundamento nos arts. 154 e s. da CLT. Portanto, essesdispositivos legais da CLT e as referidas portarias aplicam-se a todos oslocais de trabalho rural.

A responsabilidade pelo cumprimento de tais Normas Regulamenta-res Rurais (NRRs), ao nosso ver, recai sobre o empregador rural, se assimse puder qualificar o empreendedor rural, ou sobre o proprietário (sujeitodo contrato) do prédio rústico, objeto do contrato de arrendamento, meação ouparceria rural, na medida em que, nos termos do art. 21 da Convenção 155e art. 12 da Convenção 161 da OIT, as medidas de segurança e higiene ede acompanhamento da saúde do trabalhador não devem implicar em nenhumônus financeiro para os trabalhadores.

Ademais, nos termos do inciso VII do art. 11 da Lei n. 8.213/91, os

trabalhadores rurais citados no item anterior (produtor, parceiro, meeiro e

Page 71: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 71/380

74

arrendatário) são considerados segurados especiais, os quais gozam dosdireitos e benefícios decorrentes de acidente de trabalho, por força do art.19 da Lei n. 8.213/91, sendo a empresa (leia-se empresário) responsávelpela adoção e uso das medidas coletivas e individuais de proteção e segu-

rança da saúde do trabalhador, ex vi do § 1º do antes citado art. 19.

O PROBLEMA DA FISCALIZAÇÃO 

A Constituição estabelece, em seu ar t. 21, XXIV, que compete à Uniãoorganizar, manter e executar a inspeção do trabalho . A fiscalização do fielcumprimento das normas de proteção ao trabalho é de incumbência dasautoridades competentes do Ministér io do Trabalho, nos termos do ar t. 626da CLT. Vale notar que a Constituição e a Lei fazem menção à inspeção do

trabalho e proteção ao trabalho. Logo, imprópria se mostra a restrição daatuação do Ministério do Trabalho em fiscalizar apenas o trabalho subordi-nado (relação de emprego).

Por outro lado, as ações e serviços públicos de saúde, nos termos doart. 198 da Carta Magna, integram uma rede regionalizada e hierarquizadae constituem um sistema único de saúde, descentralizado, com direçãoúnica em cada esfera de governo. O art. 200 da CF dispõe, in verbis: 

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete , além de outras

atribuições, nos termos da lei:I — controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substânci-

as de interesse para a saúde e participar da produção de medica-mentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros in-sumos;

II — executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica,bem como as de saúde do trabalhador; 

(...)

VIII — colaborar na proteção do meio ambiente, nele compre-

endido o do trabalho.”

A Lei n. 8.080/89, que regula, em todo o territór io nacional, o conjuntodas ações e serviços públicos de saúde, que constitui o Sistema Único deSaúde, define no § 3º do art. 6º o conjunto de atividades que envolve asaúde do trabalhador, dentre as quais se encontra a participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde do trabalha- dor nas instituições e empresas públicas e privadas (inciso VI).

Por sua vez, o art. 159 da CLT prevê a possibilidade de delegação a

outros órgãos federais, estaduais ou municipais, mediante convênio autori-

Page 72: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 72/380

75

zado pelo Ministério do Trabalho, de atribuições de fiscalização ou orienta-ção às empresas quanto ao cumprimento das disposições constantes doCapítulo relativo à Segurança e Medicina do Trabalho.

O art. 154 da CLT estabelece ainda que a observância, em todos oslocais de trabalho, do disposto neste capítulo, não desobriga as empresasdo cumprimento de outras disposições que, com relação à matéria, sejamincluídas em códigos de obras ou regulamentos sanitários dos Estados ouMunicípios em que se situem os respectivos estabelecimentos, bem comodaquelas oriundas de convenções coletivas de trabalho.

Deve-se ainda atentar para o fato de que o Brasil é signatário daConvenção n. 81, que trata da Inspeção do Trabalho na Indústria e no Co-mércio, que em seu art. 5, a , giza:

“Art. 5. A autoridade competente deverá tomar medidas apro-priadas para favorecer:

a) a cooperação efetiva entre os serviços de inspeção, de umaparte, e outros serviços governamentais e as instituições públicas eprivadas que exercem atividades análogas, de outra parte.”

O art. 9 da Convenção n. 155 — Segurança e Saúde dos Trabalhado-res, dispõe:

“O controle da aplicação das leis e dos regulamentos relativos àsegurança, a higiene e o meio ambiente de trabalho deverá estar asse-gurado por um sistema de inspeção das leis ou dos regulamentos.”

E o art. 16 da Convenção 161 — Serviços de Saúde no Trabalho arre-mata:

“Art. 16. A legislação nacional deverá designar a autoridade ouautoridades encarregadas de supervisionar o funcionamento do ser-viços de saúde no trabalho e prestar-lhes assessoramento, uma vezinstituídos.”

Desta forma, verifica-se que encontra amparo constitucional e infra-constitucional a atuação dos órgãos públicos do sistema único de saúde nafiscalização dos serviços de saúde do trabalhador realizados nas institui-ções e empresas públicas e privadas. Todavia, a Lei n. 8.080/90 não atribuiamplo poder de polícia a tais órgãos, posto que não gozam do poder deimpor sanções às empresas que não cumprem as respectivas normas rela-tivas aos serviços medicina e segurança no trabalho. No entanto, mediante

convênio entre o órgão do Ministério do Trabalho e a Secretaria Estadual

Page 73: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 73/380

76

ou Municipal de Saúde pode-se delegar a atribuição de fiscalização dasnormas do capítulo de Medicina e Segurança no Trabalho, incluindo o po-der de autuar as empresas recalcitrantes.

Desta forma, a fiscalização e controle dos serviços de saúde e segu-rança do trabalhador, que devem ser assegurados a todos trabalhadoresnão sujeitos à relação de emprego, pode e deve ser exercida de formaampla e irrestr ita pelos agentes de f iscalização do Ministér io do Trabalho, emediante convênio, pelos demais órgãos públicos federais, estaduais oumunicipais do sistema único de saúde, para atuar na fiscalização das nor-mas de medicina e segurança do trabalho, nos termos do art. 159 da CLT.

CONSEQÜÊNCIAS DA NÃO OBSERVÂNCIA DAS NORMAS 

RELATIVAS À MEDICINA E SEGURANÇA NO TRABALHO 

Conseqüências do descumprimento das normas legais, convencio-nais, contratuais e regulamentadoras de segurança, higiene e medicina dotrabalho. O empregado dispõe de cinco comportamentos juridicamente tu-telados:

a) reclamar perante a CIPA e/ou SESMT (item 5.18.c da NR-5 eitem 9.4.2 da NR-9);

b) apresentar denúncia da irregularidade ao órgão local do Mi-nistério do Trabalho e Emprego ou do Ministério Público do Trabalho(inciso XXXIV, a do art. 5º da Magna Carta — direito de petição aosPoderes Públicos em defesa de direito ou contra ilegalidade ou abu-so de poder);

c) requerer judicialmente as providências para eliminação ouneutralização do agente agressivo (neste caso, a ação coletiva —ação civil pública — é mais recomendável e eficaz), ou a indenizaçãopor danos materiais e morais sofridos em decorrência de acidente detrabalho, através de ação individual;

d) interromper a prestação dos serviços ( jus resistente do em-pregado — item 3.1.1 da NR-3 c/c art. 161, § 6º da CLT);

e) postular a rescisão indireta do contrato de trabalho com ful-cro no art. 483 da CLT.

Em caso de acidente de trabalho, além da indenização a que temdireito pela legislação previdenciária, paga pela Previdência Social (teoriada responsabilidade objetiva), pode o empregador postular o pagamento

de indenização por danos materiais ou morais, em havendo a concorrência

Page 74: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 74/380

77

de dolo ou culpa do empregador quando da ocorrência do acidente de tra-balho (teoria da responsabilidade civil subjetiva), conforme se depreendedo inciso XXVIII do art. 7º e do inciso X do art. 5º da Magna Carta.

A responsabilidade civil alcança não só o real empregador, bem comotodos aqueles que, de alguma forma, possa ter contribuído para a ocorrên-cia do acidente. Assim, no caso de terceirização de serviços, podem res-ponder civilmente pelos danos causados ao trabalhador o empregador e otomador dos serviços. Tal responsabilidade, embora subjetiva, ou seja, de-pendente da prova de culpa, é solidária nos termos do art. 1.518 e seuparágrafo único do CC.

DANO MORAL COLETIVO (4)

A violação das normas trabalhistas de medicina e segurança no tra-balho configura um dano ao meio ambiente de trabalho, sendo certo que aredução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,higiene e segurança constitui-se em direito social dos trabalhadores urba-nos e rurais, nos exatos termos do inciso XXII do art. 7º da Magna Carta eobrigação do empregador, ex vi dos arts. 154 e seguintes da CLT.

A violação dessas normas colocam em risco a vida, a saúde e a inte-gridade física dos trabalhadores, que também fazem parte do meio ambi-

ente de trabalho, posto que a sua força de trabalho é um dos principaismeios de produção, que se encontram à disposição e sob a direção doempregador.

A proteção à saúde se estende também ao meio ambiente de trabalho,conforme se verifica do disposto no art. 200, inciso VIII da Magna Carta:

“Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outrasatribuições, nos termos da lei:

VIII — colaborar na proteção do meio ambiente, nele compre-endido o do trabalho.”

Ademais, o descuido do meio ambiente de trabalho, mediante a viola-ção das normas supracitadas, pode ainda caracterizar-se como infraçãopenal, nos termos dos arts. 14 e 15 da Lei n. 6.938/81 e arts. 14 a 17 da Lein. 7.802/89.

(4) Vide Monografia sobre ‘Dano Moral Coletivo na Relação de Emprego”, da pena do ar ticulista,publicada no Livro Temas Polêmicos de Direito do Trabalho e Processo do Trabalho, Editora LTr,

São Paulo, 2000.

Page 75: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 75/380

78

Convém enfatizar que, para a caracterização do dano moral coletivonesta hipótese, não é imprescindível que haja o efetivo dano à vida, à saú-de ou à integridade física dos trabalhadores, basta que se verifique o des-respeito às normas trabalhistas de medicina e segurança do trabalho e o

descuido das condições e serviços de higiene, saúde e segurança que in-tegram o meio ambiente de trabalho, para sua configuração. Não se tratade reparação de dano hipotético, mas sim de se atribuir à reparação umcaráter preventivo, pedagógico e punitivo, pela ação omissiva ou comissivado empregador, que represente séria violação a esses valores coletivos(direito à vida, à saúde, à segurança no trabalho) e que possa advir emdano futuro, não experimentado ou potencializado, em razão do acentuadoe grave risco de sua efetiva concretização, diante da concreta violação dassupracitadas normas trabalhistas.

RESPONSABILIDADE PENAL 

A inobservância das normas de segurança, higiene e medicina do tra-balho, a par de se constituir em contravenção penal, nos termos do § 2º doart. 19 da Lei n. 8.213/91, pode configurar o crime do art. 132 do CP (“Expora vida ou saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena — detenção detrês meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave”). Recente-mente, este dispositivo foi acrescentado de parágrafo único pela Lei n. 9.777,de 29.12.98, com a seguinte redação:

“Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terçose a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre dotransporte de pessoas para a prestação de serviços em estabeleci-mentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais.”

Os acidentes de trabalho podem ainda ter repercussões no direitopenal, mediante a tipificação dos crimes de homicídio, lesão corporal ou oscrimes de perigo comum, previstos nos arts. 250 a 259 do Código Penal,por conduta dolosa ou culposa do empregador ou dos responsáveis.

CONCLUSÕES 

1. A Constituição da República assegurou a todos os trabalhadoresurbanos e rurais o direito à redução dos riscos inerentes ao trabalho, pormeio de normas de saúde, higiene e segurança. A Constituição fala emtrabalhadores e não empregados. Logo, todos os trabalhadores devem go-zar desse direito, independentemente da natureza jurídica da relação detrabalho, posto que, sendo um direito fundamental e social do trabalhador,

a norma é de aplicabilidade imediata, § 2º do art. 5º da CF. As normas a

Page 76: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 76/380

79

que se refere o Constituinte estão contidas na Lei n. 6.514, de 22.12.77,que deu nova redação aos arts. 154 e s. da CLT, Capítulo V — Da Medicinae Da Segurança no Trabalho, do Título II, da CLT.

2. A Constituição da República, ao estender o direito social previstono inciso XXII do seu art. 7º aos servidores públicos civis, autorizou ex-pressamente a aplicação de tais normas aos servidores públicos, seja pelofato de se tratar de um direito social de aplicabilidade imediata, seja pelofato de que as Convenções 155 e 161, ratificadas pelo Brasil, que tratam demedidas de segurança e saúde no trabalho e dos serviços de saúde dostrabalhadores, expressamente determinam que seus dispositivos alcançamtodos os setores da atividade econômica, inclusive a administração públicae abrange todos os trabalhadores, inclusive os funcionários públicos. Asconvenções internacionais, uma vez ratificadas, inserem-se em nosso or-

denamento jurídico, com hierarquia de lei federal. Assim, resta parcialmen-te revogado o disposto no art. 7º, c  e d  da CLT, no que diz respeito aosdispositivos celetistas que tratam da medicina e segurança no trabalho.

3. Da igualdade de direitos entre trabalhador avulso e trabalhadorcom vínculo de emprego assegurada no inciso XXXIV do art. 7º da MagnaCarta, decorre que tais trabalhadores avulsos, organizados ou não em sin-dicato, ou em cooperativas, gozam do aludido direito ao meio ambiente detrabalho seguro e sadio (inciso XXII), aplicando-se-lhes as normas celetis-tas, as quais devem ser observadas pelos operadores portuários, tomado-

res dos seus serviços, órgão gestor de mão-de-obra (OGMO), pelos sindi-catos e pelas cooperativas, conjuntamente, conforme regulamentado nasLeis ns. 6.514/77, 9.719/98 e na NR-29.

4. Os trabalhadores rurais, sem vínculo de emprego, também fazem jus a tal direito, por força dos ar ts. 1º, 13 e 17 da Lei n. 5.889/73. A respon-sabilidade pela sua observância recai sobre o empregador rural ou sobre odono das terras cultivadas, em caso de arrendamento ou parceria rural, namedida em que, conforme previsto no art. 21 da Convenção 155 e art. 12da Convenção 161 da OIT, as medidas de segurança e higiene e de acom-

panhamento da saúde do trabalhador não devem implicar em nenhum ônusfinanceiro para os trabalhadores.

5. As sociedades cooperativas também devem observar as normasregulamentares de medicina e segurança no trabalho, porque foram cons-tituídas para que seus cooperados exerçam uma atividade econômica commelhores condições de trabalho e renda, sem a necessidade do patrãointermediário, para prestarem serviços aos seus associados, dentre os quaisos serviços de saúde, conforme expressamente determinado no art. 3º daConvenção 161 da OIT. Os custos de tais serviços de saúde devem ser

suportados pelos Fundos Sociais de que trata o art. 28 da Lei n. 5.764/71.

Page 77: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 77/380

80

6. A fiscalização pela observância e cumprimento das normas regu-lamentares sobre medicina e segurança no trabalho em todas as empresase entidades públicas e privadas, independentemente da natureza da rela-ção jurídica de trabalho, incumbe ao Ministério do Trabalho, que, mediante

convênio, pode delegar suas funções, incluindo o amplo poder de polícia,aos órgãos federais, estaduais e municipais que integram o sistema únicode saúde, a fim de fiscalizar os serviços de saúde e segurança no trabalhonaquelas mesmas empresas e entidades, nos termos do art. 159 da CLT.Dada a notória deficiência da fiscalização do trabalho, em razão da despro-porção entre a grande quantidade de empresas a serem fiscalizadas e onúmero de agentes de inspeção existentes, urge que as autoridades com-petentes tenham a vontade política de celebrar tal convênio, a fim de inte-grar os diversos órgãos incumbidos da fiscalização do cumprimento dasações e serviços de segurança e saúde no trabalho, de forma a tornar mais

eficiente esse serviço de inspeção, contribuindo assim para a efetividadedo direito dos trabalhadores ao meio ambiente de trabalho sadio e seguro, doque, em última análise, cogita o inciso XXII do art. 7º da Magna Carta. Talmedida se mostra necessária e urgente, a fim de se dar integral e fiel cum-primento às Convenções 81, 148, 152, 155 e 161.

7. A violação das normas de medicina e segurança no trabalho temconseqüências jurídicas nas áreas trabalhista, civil e penal. Na área traba-lhista, pode o trabalhador postular a rescisão indireta do contrato de traba-lho, com fulcro no art. 483 da CLT. Na área civil, o empregador pode ser

responsabilizado pela potencialização do risco de acidente de trabalho emrelação a todos os trabalhadores sujeitos aos agentes nocivos (dano moralcoletivo). Em caso de ocorrência de acidente de trabalho, além da respon-sabilidade civil pelos danos morais e patrimoniais sofridos pelo trabalhadorvitimado, o empregador ou quem tiver dado causa, por ação ou omissão,ao acidente pode ser responsabilizado criminalmente pelo ilícito penal querestar configurado do fato, tais como lesão corporal, homicídio culposo oucrime de perigo para a vida ou saúde de outrem, sendo que este se confi-gura pela simples exposição ao perigo direto e iminente.

Page 78: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 78/380

81

LOS MENORES TRABAJADORES 

EN EL DERECHO LABORAL MEXICANO 

José Dávalos(*)

El derecho del trabajo mexicano, nacido de la Constitución de 1917,es producto del movimiento revolucionario de 1910. Tiene caracteressociales que lo distinguen de las demás ramas jurídicas. Encontramos enesta rama del derecho los siguientes principios que le dieron ese profundosentimiento social:

I. El derecho del trabajo es un derecho protector de la clase trabaja-dora.

II. Es un derecho en constante expansión.

III. Es un mínimo de garantías sociales para los trabajadores.

IV. Es un derecho irrenunciable.

Bajo estos lineamientos podemos hacer un análisis sobre la situaciónlaboral de los menores trabajadores.

I. ANTECEDENTES DEL TRABAJO DE LOS MENORES 

El trabajo de los menores va de la mano con la historia del hombre.

Su esfuerzo ha contribuido a labrar el destino del mundo. En un principio sulabor fue de carácter doméstico, sea ayudando en las labores agrícolas oen los talleres del hogar como artesanos, carpinteros, herreros, panaderos,etc. Posteriormente surgieron pequeñas unidades organizadas a las quese les llamó talleres; ahí los menores participaban en calidad de aprendices.

No fue sino hasta mediados del siglo XVIII, en Europa, con la llegadade la Revolución Industrial, que los menores se incorporaron a la vida in-dustrial. Los talleres se suprimieron para dar paso a las grandes fábricas

(*) Professor de la Facultad de Derecho de la UNAM.

Page 79: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 79/380

82

mecanizadas. Pronto las remuneraciones que debían pagar a los adultos,hicieron que los patrones volvieran sus ojos al trabajo de las mujeres y delos menores, a quienes se pagaban salarios de miseria.

La explotación de los menores fue desmedida, las jornadas de trabajollegaron a ser hasta de 18 horas diarias, con un salario mucho menor delque se pagaba a un adulto, de ahí que el empresario empezara a preferir eltrabajo de los menores. Ante la respuesta social de enojo, los gobiernoscomenzaron a establecer edad mínima para laborar, que iba de los 8 a los12 años, y jornadas máximas que variaban de 8 a 12 horas diarias.

En México, en la época colonial, las Leyes de Indias, que fue la leyque rigió después de la conquista española, incluyeron algunas disposicio-nes referentes al trabajo de los menores, como es la prohibición del trabajode los menores de 14 años; como excepción se les admitía en la pastoreo deanimales, siempre que mediara la autorización de los padres. Posterior-mente, siendo México una nación libre y soberana, 1856, el artículo 33 delEstatuto Orgánico Provisional de la República Mexicana, expedido porIgnacio Comonfort, establecía 14 años como edad mínima para laborar.

II. PROTECCIÓN DEL MENOR TRABAJADOR EN LA CONSTITUCIÓN 

La Constitución mexicana establece el derecho del trabajo como una

garantía individual y como un derecho social. Esto es, una de las garantíasindividuales que todos tenemos, es ejercer el trabajo que más nos convengasiendo lícito, así lo señala el artículo 5º de la Constitución.

De igual manera el derecho del trabajo es visto por la Constitucióncomo un derecho social, un derecho de clase. El artículo 123 en su primerpárrafo establece: “Toda persona tiene derecho al trabajo digno y social-mente útil; al efecto se promoverán la creación de empleos y la organizaciónsocial para el trabajo, conforme a la ley.”

Nuestra ley suprema ordena en el artículo 123, Apartado “A”, Fracción

II: “…Quedan prohibidas: las labores insalubres o peligrosas, el trabajonocturno industrial y todo otro trabajo después de las diez de la noche, delos menores de dieciséis años”. Fracción III: “Queda prohibida la utilizacióndel trabajo de los menores de catorce años. Los mayores de esta edad ymenores de dieciséis tendrán como jornada máxima la de seis horas”.

Es decir, para el trabajo en general, la edad mínima para laborar esde catorce años. Los que son mayores de catorce y menores de dieciséis,sólo podrán trabajar seis horas, durante seis días a la semana como máxi-mo. Los que son mayores de 16 años podrán laborar a cualquier hora del

día y tener jornadas ordinarias.

Page 80: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 80/380

83

III. PROTECCIÓN DEL MENOR TRABAJADOR EN LOS CONVENIOS INTERNACIONALES 

La protección del trabajo de los menores, a nivel internacional, la

encontramos en los diversos convenios y recomendaciones de la Organi-zación Internacional del Trabajo, que pueden agruparse bajo los siguientesrubros: edad mínima, trabajo nocturno, y examen médico. México haaprobado estos instrumentos jurídicos:

a) Edad Mínima

Convenio 58. Edad mínima de admisión de los niños al trabajo maríti-mo (Diario Oficial de 22 de junio de 1951). Establece que los menores de15 años no podrán prestar servicios a bordo de ningún buque. El término

buque comprende todas las embarcaciones o barcos, cualquiera que seasu clase, de propiedad pública o privada, que se dediquen a la navegaciónmarítima; no están comprendidos los navíos de guerra.

Convenio 112. Edad mínima de admisión al trabajo de los pescado-res (Diario Oficial  de 25 de octubre de 1961). Los niños menores de 15años no podrán prestar servicios a bordo de barcos de pesca. Se entiendecomo barco de pesca todas las embarcaciones, buques y barcos, cualquieraque sea su clase, de propiedad pública o privada, que se dedique a lapesca marítima en agua salada.

Convenio 123. Edad mínima de admisión al trabajo subterráneo enlas minas (Diario Oficial de 18 de enero de 1968). Los menores de 16 añosno pueden ser empleados en la parte subterránea de las minas o en lascanteras. La mina es toda empresa, pública o privada, dedicada a laextracción de sustancias situadas bajo la superficie de la tierra, por méto-dos que implican el empleo de personas en trabajos subterráneos.

b) Trabajo Nocturno 

En lo referente al trabajo nocturno de los menores, México sólo haratificado el Convenio 90, relativo al trabajo nocturno de los menores en laindustria. Este Convenio prohibe emplear durante la noche, a los menoresde 18 años en empresas industriales, públicas o privadas, o en susdependencias.

c) Examen Médico 

En esta materia México ha ratificado los siguientes convenios:

Convenios 16. Examen médico obligatorio de los menores empleados

a bordo de los buques; que entró en vigor el 20 de noviembre de 1922. Los

Page 81: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 81/380

84

menores de 18 años no podrán ser empleados a bordo de buques, sin pre-via presentación de un certificado médico que pruebe su aptitud para dichotrabajo, firmado por un médico reconocido por la autoridad competente.

Convenio 124. Examen médico de aptitud de los menores para elempleo en trabajos subterráneos en las minas, de 1965. Para el empleo otrabajo subterráneo en las minas de personas menores de 21 años se debeexigir un examen médico completo de aptitud y posteriormente exámenesperiódicos a intervalos que no excedan de un año.

Son 6 los convenios que ha ratificado México de un total de 18 quecorresponden a la protección del trabajo de los menores. Se puede afirmarque el gobierno mexicano, en términos generales, sí ha adecuado sulegislación a lo preceptuado en los ordenamientos internacionales aproba-dos; de ahí que la no ratificación de los 12 convenios restantes se entienda

como una forma de evitar obligaciones internacionales que no puedancumplirse por el bajo desarrollo económico y social del país.

La Ley Federal del Trabajo señala en el artículo 6º que las leyes res-pectivas y los tratados celebrados y aprobados por el gobierno federal,conforme a las reglas establecidas en la Constitución, serán aplicables ala relación de trabajo en todo lo que beneficie al trabajador, a partir de lafecha de vigencia.

IV. REGLAMENTACIÓN EN LA LEGISLACIÓN MEXICANA 

a) Ley Federal del Trabajo 

Edad Mínima 

Está prohibido por mandato constitucional, como se ha visto ya, elempleo de menores de 14 años. Jurídicamente es nula la relación de trabajosi la persona tiene menos de 14 años. El patrón que conozca de la minoríade edad de su empleado debe separarlo del trabajo, ya que está en contra delo dispuesto por la Constitución y por la Ley; sin embargo tiene que pagarle

el salario y las demás prestaciones que le adeude, de otra manera estaríamosante un enriquecimiento ilícito.

Independientemente de la prohibición constitucional y legal, si se dala prestación de un servicio personal subordinado, existe la relación detrabajo y todas las consecuencias legales correspondientes. Si el patrón nolas acata, incumple el mandato laboral e incurre en responsabilidad laboraly en algunos casos hasta responsabilidad penal.

La prohibición del trabajo de los menores de 14 años comprende alos mayores de 14 y menores de 16, que no hayan terminado la educación

obligatoria, salvo que la autoridad correspondiente apruebe la ocupación del

Page 82: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 82/380

85

menor, por considerar que existe compatibilidad entre los estudios y eltrabajo (artículo 22). Se considera educación obligatoria, conforme alprimer párrafo del artículo 3º constitucional, la educación primaria y lasecundaria.

Es necesario precisar que la prohibición impuesta para la no utilizacióndel trabajo de los menores de catorce años no plantea una cuestión deincapacidad física, sino que es una medida de protección a la niñez. Setrata de asegurar la plenitud del desarrollo de las facultades físicas ymentales de los trabajadores, y la posibilidad de la conclusión normal delos estudios obligatorios. La Nación necesita salvaguardar el desarrollode los menores.

En ciertas actividades o trabajos, la Ley exige otra edad como míni-

mo para desempeñarlos. Ejemplo: está prohibida la ocupación del trabajode los menores de 15 años, y de 18 tratándose de pañoleros o fogoneros,en el trabajo de los buques (artículo 191); asimismo está prohibido laocupación de los menores de 16 años en el trabajo de maniobras de serviciopúblico en zonas bajo jurisdicción federal (artículo 267).

La razón por la cual se amplía la edad mínima de admisión en eltrabajo de los buques, como pañoleros o fogoneros, es el esfuerzo y des-treza que requiere su desempeño, además, implica pasar largos periodoslejos de la familia y la actividad es sumamente pesada; y en las maniobras

de servicio público, porque se produce un gran desgaste físico capaz deretardar el desarrollo normal de los menores.

Es necesaria la autorización para poder trabajar.

Los mayores de 14 y menores de 16 años, para poder prestar susservicios, requieren de la autorización de sus padres o tutores y a falta deellos, del sindicato al que pertenezcan, de la Junta de Conciliación yArbitraje, del Inspector del Trabajo o de la Autoridad Política (artículos 23,primer párrafo y 988).

Aunque sea menor, puede cobrar él mismo su salario 

Los menores trabajadores podrán, por sí mismos, percibir el pago desus salarios y ejercitar las acciones que les correspondan (artículo 23, se-gundo párrafo). En el derecho civil, los menores de 18 años no puedendisfrutar de sus bienes, de donaciones, o de herencias, sino hasta quecumplan la mayoría de edad. En el derecho del trabajo el hecho de percibirpersonalmente sus salarios confirma su calidad de trabajador y su capacidad

para poder ejercer todos sus derechos laborales.

Page 83: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 83/380

86

El cumplimiento de las normas que protegen a los menores es

especialmente vigilado 

El trabajo de los mayores de 14 y menores de 16 años se sujetará a

la vigilancia y protección especial de la Inspección del Trabajo (artículo173). Sólo podrá utilizarse el trabajo de los menores que presenten certifi-cado médico que acredite su aptitud para el trabajo; además, periódicamentedeberán someterse a los exámenes médicos que determine la Inspecciónde Trabajo (artículo 174).

En donde se puede y en donde no se puede trabajar 

Los menores de 16 años no pueden trabajar en:

I. Expendios de bebidas embriagantes de consumo inmediato (canti-

nas, bares, tabernas, etc.);II. Trabajos susceptibles de afectar su moralidad o sus buenas

costumbres (establecimientos denominados “giros negros”);

III. Trabajos ambulantes, salvo autorización especial de la Inspeccióndel Trabajo;

IV. Trabajos subterráneos (trabajos en minas) o submarinos;

V. Labores peligrosas o insalubres (laboratorios, basureros, gasolineras);

VI. Trabajos superiores a sus fuerzas y los que puedan impedir o re-

tardar su desarrollo físico normal (cargadores en empresas de mudanzas,bodegueros);

VII. Establecimientos no industriales después de las 10 de la noche(veladores, empresas de seguridad privada).

Los menores de 18 años tienen prohibido el trabajo nocturno industri-al (artículo 175, fracción II); el trabajo en el extranjero, a no ser que se tratede técnicos, profesionales, artistas, deportistas y, en general, de trabajadoresespecializados (artículo 29), y como se ha dicho, como pañoleros ofogoneros, en el trabajo de los buques.

Jornada de trabajo, tiempo extra y descanso semanal

Los menores trabajadores tienen una jornada especial de 6 horasdiarias que debe dividirse en periodos máximos de tres horas; entre cadaperiodo de la jornada se les deberá conceder un reposo de 1 hora, por lomenos (artículo 177).

La Ley prohibe el trabajo de los menores de 16 años en horasextraordinarias y en jornadas especiales los días domingo y de descanso

obligatorio. Si el patrón, contraviniendo la Ley, hace que el menor de 16

Page 84: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 84/380

87

años trabaje horas extras, cada hora deberá pagarla al triple; a los adultosles paga doble las primeras 9 horas extras acumuladas en una semana, y apartir de la 10ª hora extra se las paga al triple (artículo 178).

Para el caso de que un menor preste servicios en su día de descansosemanal o en día de descanso obligatorio como el 1º de enero o el 16 deseptiembre, se le remunerará en idéntica forma que a los adultos, es decir,con un salario triple (artículos 73, 75 y 178).

Estas prohibiciones se establecen con el fin de que el menor puedaestudiar, convivir con su familia y con sus amigos, practicar algún deporte,etc.; es decir, se trata de proteger el desarrollo normal familiar y social delmenor.

Vacaciones

Los menores de 16 años tienen derecho a un periodo anual devacaciones pagadas, como mínimo de 18 días laborables (artículo 179). Seles debe pagar una prima de 25% sobre los salarios que le correspondandurante el periodo de vacaciones.

Tomando en cuenta la frágil condición de los menores, el legisladordecidió establecer un periodo vacacional largo, desde el primer año deservicios, que les permitiera recuperarse de las fatigas propias del trabajo.El beneficio se hace más palpable si se considera que, con base en losderechos mínimos y conforme a la determinación de las vacaciones para

los adultos, de acuerdo al sistema de aumento progresivo consignado en elartículo 76, un mayor de 16 años tendría derecho a descansar durante 18días laborables, sólo cuando hubiera cumplido 19 años en el trabajo.

Obligaciones del patrón

Los patrones que ocupan a menores de 16 años tienen obligacionesadicionales, como son: exigir que se le exhiban los certificados médicosque acrediten que están aptos para el trabajo; llevar un registro de inspecciónespecial que contenga fecha de nacimiento, clase de trabajo, horario, salario

y otras condiciones generales de trabajo; distribuir el trabajo a fin de quelos menores dispongan del tiempo necesario para cumplir sus programasescolares; proporcionar capacitación y adiestramiento, y proporcionar a lasautoridades los informes que les soliciten.

Sanciones

El artículo 995 dispone “Al patrón que viole las normas que rigen eltrabajo de las mujeres y de los menores , se le impondrá multa por el equi-valente de 3 a 155 veces el salario mínimo general, calculado en los térmi-

nos del artículo 992”.

Page 85: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 85/380

88

La forma en que trascienden las violaciones a las normas protectorasdel trabajo de los menores, es a través de las actas que levantan losinspectores del trabajo, federales o locales, en las visitas periódicas quedeben practicar a las empresas.

Sin embargo, el panorama es nada halagador, toda vez que la faltade recursos humanos y económicos provoca que la Inspección del Trabajose convierta en un mecanismo poco eficaz, objeto de burla por parte de lospatrones. Urge que la Inspección del Trabajo empiece a ser una realidad.

Representación de los menores

En el derecho civil, las personas tienen capacidad para ejercitar susderechos a partir de los 18 años; es decir, no pueden, por sí mismas, de-mandar a persona alguna, ni ser demandadas. Estas acciones las realizan

sus representantes, sean sus padres, sus tutores, u otro representante quela ley establezca.

El derecho del trabajo no funciona así. La persona mayor de 16 añospuede demandar por sí misma al patrón que ha incumplido con la ley labo-ral incluyendo a los aspectos de la seguridad social. Pero el menor de 16años, sí requiere de un representante para demandar. Como hemos visto,sólo el menor de 16 y mayor de 14 años debe acreditar autorización porescrito para poder trabajar. Para ejercitar sus acciones debe hacerlo conun asesor jurídico; si no tiene asesor, la Procuraduría de la Defensa del

Trabajo le designará un representante (artículo 691).El mayor de 16 años puede celebrar contratos de trabajo, percibir

salario y todas las demás prestaciones derivadas de la relación laboralincluyendo las de la seguridad social. Asimismo puede desistirse de susacciones, es decir, si una vez que el menor interpuso la demanda ante eltribunal del trabajo llegara a tener un arreglo con el patrón, puede dejar sinefectos a esa demanda, pero lo que nunca podrá hacer es renunciar a susderechos como trabajador.

Trampas del patrón

Hemos insistido en que la Constitución y la Ley prohiben tajantementeel empleo de menores de 14 años. Sin embargo, los patrones al verse de-mandados por los menores de 14 años alegan que se le contrató porque elmenor manifestó tener la edad mínima requerida para trabajar. En este caso,aún cuando el menor no tenía la edad para contratar, se le deben pagartodas las prestaciones que la Ley establece.

Si se comprueba la prestación de un trabajo personal subordinado, elpatrón debe responder por la relación de trabajo. En ningún caso puede

haber renuncia de derechos por el solo hecho de que se contrató a un

Page 86: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 86/380

89

menor de 14 años, sea que el patrón conociera o no la verdadera edad deltrabajador; estaba obligado a conocerla, a nadie libera de responsabilidadla ignorancia de la ley.

De igual forma, no es válido el argumento del patrón cuando afirmaque al menor, por trabajar sólo 6 horas, debe pagársele la partecorrespondiente a esas horas y no el salario completo establecido para lostrabajadores que laboran 8 horas. El salario nunca podrá ser inferior al mí-nimo establecido en la empresa o al mínimo legal.

La Ley prohibe las horas extras para los menores de edad. En el casode que el patrón exija al menor que labore una jornada completa de ochohoras como todos los demás trabajadores mayores de edad, y no le pagalas dos horas extras, el menor puede exigir al patrón o ante la Junta el pagocorrespondiente. Además de las sanciones a que se haga acreedor el patrón

por violar la Ley.

V. MENORES SIN PROTECCIÓN 

a) Trabajo autónomo 

En el momento actual, el derecho mexicano del trabajo regula exclu-sivamente el trabajo subordinado. No se contemplan categorías sociales oeconómicas; el de la ley es un planteamiento jurídico.

Hemos visto que una característica de la relación de trabajo, es queel servicio debe prestarse de manera subordinada. En el trabajo subordina-do se presenta de manera clara la figura del patrón, a quien el trabajadorpuede y debe exigir todas las prestaciones legales que correspondan. Eltrabajador puede ser un menor.

Pero también existe, paralelamente, otra figura laboral: el trabajoautónomo o independiente, en el cual el trabajador no está subordinado anadie, es decir, desarrolla los servicios por cuenta propia. Este fenómeno

 jurídico rebasa, por ahora, el ámbito del derecho del trabajo.Si bien el derecho autónomo se presenta en todas las esferas de la

población, cobra especial importancia entre los menores. Son miles de niñoslos que deambulan por las calles realizando actividades como lustradores decalzado, limpiaparabrisas, vendedores de dulces y periódicos, cargadoresde bolsas con mercancía, payasitos “lanzallamas”, etc.

Este tipo de actividades no las realizan los menores por gusto, sinoque lo hacen por necesidades de subsistencia. Existen casos verdadera-mente consternantes, en que esos menores llegan, inclusive, a ser el sostén

principal de sus familias.

Page 87: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 87/380

90

b) Panorama actual

Los patrones que ocupan los servicios de los menores pretenden jus-tificar el incumplimiento de las disposiciones legales con el amañado argu-

mento de que al ocuparlos les están haciendo un favor, toda vez que searriesgan a ser sancionados por las autoridades, y que, por tanto, los me-nores deben ser agradecidos y no exigirles mayores prestaciones ni crearlesproblemas, ya que de lo contrario dejarían de utilizar sus servicios.

Hay graves injusticias en contra de los menores trabajadores de 14 a16 años, pero hay todavía más, y esto es denigrante, en contra de los niñosmenores de 14 años. Se usa el absurdo argumento de que como laConstitución y la Ley prohiben los servicios de estos niños, luego entonces,no puede reconocérseles la categoría de trabajadores. Lo cierto es quedesde el momento en que se ocupen los servicios de un menor de 14 años,o de cualesquiera otra persona, necesariamente se producen consecuen-cias jurídico-laborales.

El problema del trabajo de los menores constituye un mal endémicoque tiende a agravarse día a día, de tal forma que es urgente encontrar lasolución precisa, para que quienes se ven obligados a irrumpir en el mundodel trabajo, abandonando prematuramente su condición de niños,encuentren al menos alivio en sus fatigas y compensación a sus sacrificios.

Los niños no dejan escuchar su voz ni elevan su puño porque ni

siquiera tienen conciencia de las injusticias que padecen. Se atenta sinningún recato en contra de su salud física, intelectual y espiritual, porquelos menores ignoran que existe algún medio de protección.

Los adultos, principalmente los estudiosos del derecho del trabajo,pero en general todos aquellos que sientan respeto por la dignidad huma-na, debemos hacer frente común y tomar con entusiasmo la causa de ladefensa de los menores.

Lástima que muchas veces nuestro avance jurídico-social solamentelo encontremos en los códigos que contrastan con la realidad. ¡Cuanta falta

hace que las normas positivas se apliquen ya!

VI. UNA POSIBLE SOLUCIÓN 

Aparentemente la solución más sencilla sería que se garantizara elcumplimiento estricto de las normas legales protectoras del trabajo de losmenores; con ello no estaríamos actuando como juristas, pues el abogadodebe buscar la justicia y ciertamente esa actitud está muy lejos de la justicia.Es evidente que las imperiosas necesidades económicas actuales rebasan

la bondad de la legislación.

Page 88: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 88/380

91

Una medida formalista de aplicar a raja tabla la norma significaría,entre otras cosas, evitar el trabajo de los menores de 14 años, lo cual seríatanto como arrebatarles el pan de la boca y privarlos de la posibilidad decontribuir al sostenimiento de sus familias. Una propuesta como la anterior

haría que los menores respondieran con la expresión popular: “¡No meayudes compadre!”

Debemos tener presente que estos menores no trabajan por placer,lo hacen para poder cubrir sus necesidades vitales, por esto, la aplicaciónestricta de la norma sería en perjuicio de los niños a quienes se pretendeproteger.

Alguien podría sugerir que la solución consistiera en hacer el zapatoal tamaño del pie y no pretender ajustar el pie a la medida del zapato. Esdecir, si la realidad diaria demuestra que no se respeta la prohibición del

trabajo de los menores de 14 años, consecuentemente habría necesidadde reducir la edad mínima de admisión al trabajo a 8 o 10 años, por ejemplo.Pero esto equivaldría a sostener que debe admitirse jurídicamente el tráfi-co de órganos humanos o el tráfico de drogas, porque frecuentemente otodos los días se cometen estos delitos.

Nos encontramos ante un problema contundente, un panoramafrustante. Sólo vislumbramos una solución que comprendería a todos losmenores trabajadores, a los subordinados y a los autónomos. Se trata deuna medida de gran trascendencia social.

Pudiera optarse por la creación de patronatos , en los cuales quedaran

todos los sectores de las más diversas orientaciones y posibilidades, endonde confluyan las voluntades de todos cuantos desean colaborar en lamagna tarea de lograr que los niños que se ven obligados a trabajar, renun-ciando a las actividades propias de su edad, lo hagan en una ocupacióndecorosa y en condiciones de dignidad.

¿Que cuál sería el marco jurídico de este proyecto nacional? ¿Quecuál sería el sistema dentro del cual los menores se desarrollarían? ¿Quede dónde se tomarían los recursos materiales necesarios? ¿Que cuálesserían las formas de financiamiento? ¿Que si implicaría la creación de

talleres? ¿Que cómo hacer para no descuidar su formación escolar? ¿Quequé tipo de vigilancia y supervisión se adoptaría? Estas y otras preguntasestán en espera de respuesta. Muchas mentes, muchas voluntades, muchoscorazones habrán de ser los creadores de esta gran obra, de esta granempresa.

La solución que se propone seguramente deja abiertas muchas cues-tiones. Sin embargo, es una propuesta impulsada por la magnitud ycomplejidad del problema. A grandes males, grandes remedios. Se tieneque estructurar un proyecto de grandes alcances pero factible, ambiciosopero viable. Bien vale la pena cualquier empeño, cuando los destinatarios

de nuestra acción son los niños, depositarios del futuro de México.

Page 89: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 89/380

92

Cualquier país civilizado cuida su sangre nuevo. Un país cimentadosobre incongruencias en su andamiaje jurídico, no es una Nación que puedalograr avances reales. Se hace indispensable establecer caminos para lavida laboral de los menores trabajadores, cauces que puedan ayudar a

resolver los problemas de este país que padece muchas dolencias, comoésta de los menores que se ven obligados a trabajar para subsistir.

Sólo dando al menor lo que él merece, defendiendo la formación desu espíritu y el desarrollo de su cuerpo, de su capacidad física, es que lasociedad podrá contar con hombres y mujeres útiles a sí mismos y ala sociedad. Una solución de esta dimensión crearía el ambiente propicioen el cual aparecería el ciudadano nuevo con una mística de responsabili-dad, de trabajo, de solidaridad.

El trabajo a destiempo y la explotación de los niños, son el sometimi-ento brutal de la persona humana y la negación de su dignidad. Salvarlos

de estos flagelos es sembrar hoy, para muchos mañanas, la esperanza deun mundo mejor.

Solamente así podrá iluminarse en el rostro de millones de niños laalegría que se había eclipsado por la obscuridad de un camino equivocado.

La niñez es la flor de la vida. Su sonrisa no debe marchitarse por elagobio de las tareas y aflicciones prematuras.

I. BIBLIOGRAFÍA 

Carta Pastoral “Del Encuentro con Jesucristo a la Solidaridad con Todos”. Conferen-cia del Episcopado Mexicano. México, 2000.

Davalos, José. Un Nuevo Artículo 123. Sin Apartados, Editorial Porrúa, México, 1998.

 __________.Tópicos Laborales, 3ª ed., Editorial Porrúa, México, 1998.

Russomano, Mozart Victor. En la obra colectiva La Ciencia del Derecho Durante el Siglo XX . Instituto de Investigaciones Jurídicas. México, 1998.

OTRAS FUENTES 

Constitución Política de los Estados Unidos Mexicanos . Secretaría de Gobernación.México, 2000.

Climent Beltrán, Juan B. Ley Federal del Trabajo, Comentarios y Jurisprudencia.Editorial Esfinge, México, 2000.

PÁGINAS DE INTERNET 

http://www.inegi.gob.mxInstituto Nacional de Estadística, Geografía e Informáticahttp://www.ilo.orgOrganización Internacional del Trabajohttp://www.stps.gob.mx/ 

Secretaria del Trabajo y Previsión Social

Page 90: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 90/380

93

 A REFORMA NO INSTITUTO DA APRENDIZAGEM 

NO BRASIL: ANOTAÇÕES SOBRE A LEI N. 10.097/2000

Ricardo Tadeu Marques da Fonseca (*)

I. INTRODUÇÃO 

Nos últimos dias do século XX, os ventos do terceiro milênio imprimiramnovas palavras na Consolidação das Leis do Trabalho. A Lei n. 10.097, de 19de dezembro de 2000, consolidando a matéria já regulamentada pela Consti-tuição (art. 227), Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90) e pelaLei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n. 9.394/96), alterou o capítuloceletista que trata da aprendizagem, harmonizando-o com o ordenamento ju-

rídico outrora esparso e com as necessidades prementes da história.Segundo dados estatísticos divulgados na Folha de São Paulo de 4

de janeiro de 2001, criaram-se, no ano de 2000, 883 mil empregos, o querevelou não só o arrefecimento da recessão que tanto nos afligiu nos últi-mos anos, como também alguns fatos que devem ser atentamente obser-vados quando se trata de empregabilidade nos tempos que ora se iniciam.

Observa-se, segundo aquelas estatísticas, que os setores de servi-ços e de comércio geraram mais empregos que a indústria. Nesse período,o comércio foi responsável pela criação de, aproximadamente, 181 mil pos-

tos, enquanto o setor de serviços implementou cerca de 323 mil vagas.A indústria, ao seu turno, propiciou 261 mil vagas de janeiro a novem-

bro. Logo, a demanda por emprego qualificado é historicamente maior, atéporque os postos de trabalho, cujo desempenho funcional caracteriza-sepor tarefas mecanicamente repetitivas nas linhas de produção, vêm sendoprogressivamente ocupados por robôs que as executam com muito maioreficiência e produtividade.

(*) Procurador-Chefe do Ministério Público do Trabalho da 15ª Região. Especialista e Mestre emDireito do Trabalho pela Universidade de São Paulo. Professor de Pós-graduação da Universida-

de São Francisco em Campinas.

Page 91: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 91/380

94

A Constituição já previra, de forma clarividente, desde 1988, váriasprovidências que visaram ao atendimento das atuais contingências e quese concretizaram em medidas, como as seguintes: a) preservou os empre-gos em face da automação, na forma da Lei (art. 7.º, XXVII); b) estabeleceu

que a educação é direito de todos e dever do Estado, da família e da socie-dade, e deve visar o preparo para o exercício da cidadania e a qualificaçãopara o trabalho (art. 205); e c) garantiu prioritariamente aos adolescentes odireito à educação e à profissionalização (art. 227).

O direito à profissionalização é, portanto, prioritário, e assume muitomaior relevância, principalmente em se considerando que, conforme dadosestatísticos divulgados pela Revista Exame, em setembro de 1997, o tem-po médio de escolaridade da população brasileira é de cerca de 3 anos e 8meses, e que o direito à formação profissional é indissociável daquela.

De outra parte, a Emenda Constitucional n. 20 alterou os parâmetrosetários para o trabalho, fixando a idade mínima de 16 anos para o trabalhoem geral e a de 14 anos para aprendizagem. Segundo informações do IBGE,obtidas à época da Emenda em testilha, há, no Brasil, cerca de 4,8 milhõesde jovens entre 15 e 16 anos, 3 milhões entre 14 e 15 anos e outros 3milhões com idade inferior a 14 anos. Consta, outrossim, que cerca de2 milhões de jovens entre 14 e 16 anos necessitam prover a suplementa-ção da renda familiar e, para que possam se engajar no mercado de traba-lho, torna-se indispensável a qualificação profissional.

Neste estudo, procuraremos analisar o texto da Lei n. 10.097/2000,perquirindo suas razões históricas, doutrinárias e jurídico-formais, bemcomo confrontando-o com a redação anterior da CLT.

II. DO CONTEXTO INTERNACIONAL 

O trabalho infantil sempre ocupou a atenção prioritária nas discus-sões internacionais sobre trabalho. Desde que se criou a OIT (OrganizaçãoInternacional do Trabalho), em 1919, para justamente se buscar a uniformi-

zação das regras de competição internacional e de valoração do trabalhohumano, este assunto esteve em primeiro plano.

A estratégia adotada pela OIT foi espelhada em diversas Conven-ções e Recomendações que fixaram a idade mínima para o trabalho emsetores diversificados, como se segue: em 1919, Convenção n. 5 (indús-tr ia); 1920, Convenção n. 7 (trabalho marítimo); 1921, Convenção n. 10 (agri-cultura) e Convenção n. 15 (paioleiro e foguistas); 1932, Convenção n. 33(paioleiros e foguistas) e Recomendação n. 41 (trabalhos não industriais);1936, Convenção n. 58 (trabalho marítimo); 1937, Convenção n. 59 (revis-

ta-indústria), Convenção n. 60 (trabalhos não industriais) e Recomendação

Page 92: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 92/380

95

n. 52 (trabalhos industriais-empresas familiares); 1947, Convenção n. 83(trabalhos em territórios não metropolitanos); 1953, Recomendação n. 96 (tra-balho subterrâneo em minas); 1959, Convenção n. 112 (pescadores); 1965,Convenção n. 123 (trabalhos subterrâneos) e Recomendação n. 124 (traba-

lhos subterrâneos nas minas); 1973, Convenção n. 138 (todos os setores)e Recomendação n. 146 (todos os setores).

A Convenção n. 138 unificou a política internacional sobre trabalhoinfantil e pode ser sintetizada da seguinte maneira:

a) preconiza a idade mínima para o trabalho em 15 anos, com o mis-ter de garantir escolaridade mínima sem trabalho durante o primeiro grau;

b) admite que países em desenvolvimento adotem a idade de 14 anospara o trabalho e, excepcionalmente, a de 12 anos em caso de aprendizagem;

c) nesses casos, porém, os eventuais signatários devem implementarpolítica de elevação progressiva da idade mínima;

d) as atividades que afetem a integridade física ou psíquica, a preser-vação da moralidade, ou a própria segurança do adolescente devem serdesempenhadas somente a partir dos 18 anos. Tolera, no entanto, a idadede 16 anos em tais hipóteses, desde que o adolescente esteja submetido acursos profissionalizantes.

As mesmas razões que condicionaram a atuação da OIT no início do

século XX, persistem e recrudescem no século XXI. Um dos principais pro-blemas da competição internacional é o chamado dumping social, que con-siste na busca de preços competitivos no mercado à custa do aviltamentodo trabalho. A competição internacional não pode mais tolerar, em qual-quer dos seus níveis, a exploração de crianças ou adolescentes ou mesmode seus pais por meio de regimes despóticos de trabalho, até porque osefeitos do mencionado dumping social findam por propiciar, além da injustacompetição internacional, uma crise no próprio sistema produtivo que au-menta a quantidade de produtos e diminui, perversamente, a capacidadede consumo de um número cada vez mais crescente de pessoas.

Não é por outro motivo que a OIT está empreendendo esforços paraa ampliação do número de países que venham a ratificar sua Convenção138, e que a Organização fez editar a Convenção 182 que delibera sobre otrabalho intolerável de crianças e de adolescentes.

O trabalho infantil desestabiliza o processo competitivo internacionale conduz à marginalidade pessoas e economias. Alimenta uma espiral des-cendente de consumo e de empregabilidade, fenômenos muito comuns empaíses do terceiro mundo, cuja única oportunidade de curar tais mazelas

reside na educação profissionalizante.

Page 93: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 93/380

96

Outro aspecto que deve ser observado reside na própria dinâmica doprocesso produtivo que sofreu profundas transformações em razão da tec-nologia informatizada que alterou a demanda de mão-de-obra.

Um caminho possível de reversão do quadro atual pode ser segura-mente trilhado a partir da proposta de Domenico De Masi , em sua obra“Futuro do Trabalho ”. (1)

Com efeito, o sociólogo do trabalho italiano defende que a sociedadeinformatizada deve repensar a valoração do trabalho, uma vez que os ga-nhos da tecnologia foram obtidos pelo esforço de toda a Humanidade e,por isso mesmo, devem reverter em benefício de todos os homens, mulhe-res e crianças.

Segundo ele, a jornada de oito horas é compatível com o modelo de

produção mecanizada das linhas de produção desenvolvidas pela Revolu-ção Industrial, em que se estabelecia a produtividade pela inserção de vá-rios trabalhadores realizando movimentos continuados e repetitivos, propi-ciando a potencialização das máquinas, cujo desempenho se completavapela ação humana.

Propõe De Masi que a sociedade do terceiro milênio desenvolva ummodelo de convívio e de produção que incorpore os ganhos da automação,redimensionando-se o trabalho para jornadas reduzidas de quatro horasou seis horas que seriam mais consentâneas com a intervenção dos robôs.

O trabalho humano deve ser valorizado e não depreciado. O tempoque se deixa de trabalhar deve ser dedicado ao que chamou “ócio criativo”,propiciando lazer, cultura, atividade política, criativa, de forma mais inten-sa, ao maior número de pessoas.

Destarte, pugna pela distributividade dos ganhos da sociedade glo-balizada para todos.

As reflexões do pensador italiano já encontram eco na realidade dediversos países do Primeiro Mundo.

A França reduziu a jornada de trabalho, o governo espanhol abando-nou as formas precárias de contratação e vem oferecendo, com incentivosfiscais, os contratos por prazo indeterminado.

Os partidos trabalhistas têm ocupado a preferência dos países dacomunidade européia.

Tudo isso conduz a alternativas de preservação dos empregos emface das alterações estruturais da produção.

(1) De Masi, Domenico. “O Futuro do Trabalho: fadiga e ócio na sociedade pós-industrial”. Tradu-

ção de Yadyr Figueiredo. Rio de Janeiro: José Olympio; Brasília, DF: Ed. da UnB: 1999.

Page 94: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 94/380

97

A conclusão inelutável é de que ganham espaço os setores de servi-ço e de cultura e, mesmo na indústria, o trabalho de tecnologia de ponta.

Conforme já se viu acima, estes são os setores que empregarão do-

ravante, e a necessidade de qualificação do trabalhador se coloca comoprioritária, tanto sob o ponto de vista do desenvolvimento, quanto da pró-pria sobrevivência da sociedade moderna. Aqui está a única saída dianteda reestruturação do modelo produtivo trazida pela informatização.

A informação é a matéria-prima da nova ordem produtiva. Os traba-lhadores deverão ser devidamente educados para interferir crítica e ativa-mente no processo produtivo de bens culturais ou de consumo. A tendên-cia do incremento das atividades de serviço ou de cultura se materializounas estatísticas em nosso País, conforme acima demonstrado.

III. DO CONTEXTO BRASILEIRO 

A Constituição de 1988 revolucionou o tratamento dos brasileiros emidade infantil ou juvenil. Absorveu a doutrina internacional da proteção in-tegral das crianças e adolescentes por meio de emenda popular subscritapor um milhão e meio de cidadãos, a qual foi meramente referendada pelaAssembléia Constituinte.

O artigo 227 da Carta de 1988 fixa, como prioritária, a ação conjuntado Estado e da sociedade, a fim de garantir às crianças e aos adolescentescidadania plena. Assim reza o dispositivo em tela: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convi- vência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão ”.

A doutrina em análise concebe as crianças e os adolescentes como

cidadãos plenos, sujeitos de direitos e obrigações a quem o Estado, a famí-lia e a sociedade devem atender prioritariamente. Criaram-se os Conse-lhos Nacional, Estaduais e Municipais, justamente para implementar a açãoparitária entre o Estado e a sociedade na fixação das políticas de atendi-mento aos pequenos cidadãos.

Abandonou-se, portanto, a visão meramente assistencialista que ori-entava os Códigos de Menores de 1927 e de 1979. Esta legislação contem-plava aspectos inerentes ao atendimento de crianças e adolescentes ca-rentes ou infratores, estabelecendo política de assistência social ou de re-

pressão em entidades correicionais.

Page 95: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 95/380

98

Mas o conceito de cidadania que se quer implementar é o de queestes brasileiros, em razão de sua condição peculiar de pessoas em de-senvolvimento, devem ser atendidos, prioritariamente, em suas necessida-des também peculiares de cidadãos.

No que diz respeito ao trabalho, a doutrina da proteção integral trou-xe os seguintes reflexos:

a) Proibição de diferença de salários, de exercício de funções e decritério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil (artigo7º, inciso XXX, da Constituição Federal). Pela primeira vez, no ordenamen-to constitucional brasileiro, há a proibição da discriminação da idade nasrelações de trabalho. Não são mais aceitos programas assistenciais que semoldem em condições diferenciadas de trabalho em razão da idade e dacondição social, deixando, portanto, de ser recebido o chamado Programa

do Bom Menino, que se corporificava no Decreto-lei n. 2.318/86.

b) O artigo 227, § 3º, incisos I a III, estabelece “o direito à proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: I — idade mínima de dezesseis anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII; II — garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; III — garantia de acesso do trabalhador adolescente à escola ”.

c) A Emenda n. 20 elevou a idade mínima para o trabalho a 16 anos,abrindo um grande espaço social para a concessão do direito à profissio-nalização em relação aos jovens de 14 a 16 anos.

d) O direito à profissionalização passou a ser prioritário e, para suamaterialização, foi ele inserido no âmbito da política educacional, bem comoforam ampliadas as hipóteses legais de aprendizagem.

Em 1992, a Procuradoria Regional do Trabalho da 15ª Região rece-beu uma denúncia formulada pelo Ministério Público Estadual no sentidode que haveria, na cidade de Campinas, duas entidades de cunho assis-tencial cuja finalidade precípua seria a de inserir os adolescentes no mer-cado de trabalho, sem, no entanto, assegurar-lhes direitos trabalhistas.

Em audiências iniciais com ambas as entidades, notou-se que inspira-vam-se na idéia do trabalho assistencial e se mobilizavam no sentido dearregimentar adolescentes carentes, ministrar-lhes noções iniciais de etiqueta,higiene e formação profissional para, ao cabo de determinado período, inse-ri-los em empresas mediante o pagamento de bolsas, as quais repassavamaos adolescentes em valor sempre inferior ao do salário mínimo.

O aprofundamento das investigações deu-se devido à deliberação doConselho Superior do Ministério Público do Trabalho, o qual sugeriu aosProcuradores a busca progressiva da adequação dessas entidades às no-

vas diretrizes legais.

Page 96: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 96/380

99

Diversos estudos foram realizados na 15ª Região, pautando-se, apesquisa, pelo reconhecimento da evidente importância social da ativida-de realizada por essas entidades, as quais, verificou-se, já se instalaram,há décadas, em todo o Interior do Estado de São Paulo e mesmo em outros

Estados do País, demonstrando-se sérias, merecendo, por isso mesmo,respeito e uma ação pedagogicamente cuidadosa por parte do MinistérioPúblico do Trabalho.

Vários artigos foram produzidos, inúmeras palestras foram proferi-das, centenas de inquéritos civis foram instaurados, uma vez que, não obs-tante a relevância social dessas entidades, as questões inerentes ao cum-primento da legislação trabalhista permaneceram desatendidas. Os ado-lescentes prestam serviços nas empresas, conforme já dito, sem acompa-nhamento metódico por educadores nas atividades laborais, percebem re-muneração inferior ao mínimo legal, submetem-se à subordinação jurídica

com os tomadores, evidenciando-se, portanto, todos os elementos que fa-zem incidir a legislação trabalhista. Dela, porém, não se beneficiam.

O Ministério Público do Trabalho empenhou-se em buscar a adequa-ção destas entidades à nova sistemática jurídica trazida pela ConstituiçãoCidadã de 1988, considerando, acima de tudo, que várias denúncias dasociedade instigavam à urgente revisão dos programas assistenciais des-sas organizações não-governamentais sem fim lucrativo.

O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente(CONANDA) e o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescen-te (CONDECA) passaram a se manifestar oficialmente no sentido de insistirna adequação dessas entidades aos parâmetros legais contemporâneos oupropugnar pelo fechamento daquelas que permanecessem renitentes na uti-lização do velho modelo.

Recebemos notícias de adolescentes que se acidentavam no traba-lho e deixavam de ser atendidos pela Previdência; meninas queengravidavam era sumariamente dispensadas sem haver seus direitos.

Em dezembro de 1997, realizou-se, na sede da 15ª Região, uma au-diência pública, presidida pelo Dr. Raimundo Simão de Melo, então Procu-rador-Chefe, da qual participaram o Ilustríssimo Delegado Regional do Tra-

balho de São Paulo Dr. Antônio Funari Filho e as cem maiores entidades deguardas-mirins ou patrulheiros-mirins do Estado. Traçou-se, na oportunida-de, uma política estadual, capitaneada pelo Ministério do Trabalho e Em-prego e Ministério Público do Trabalho da 15ª e 2ª Regiões. Visava-se obtero registro dos adolescentes nas entidades, bem como o seu acompanha-mento por educadores no trabalho que desempenhariam junto às empre-sas conveniadas.

A ação foi bem sucedida, pois se obteve, por meio de negociaçãodireta entre as entidades e o Ministério do Trabalho e Emprego, ou da la-vratura de Termos de Ajustamento de Conduta perante o Ministério Público

do Trabalho, o registro de cerca de 10 mil adolescentes em CTPS. O mode-

Page 97: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 97/380

100

lo proposto em São Paulo acabou por repercutir em manifestações oficiaisde apoio e incentivo por parte do Conselho Paulista, em 28 de abril de1999, e do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente,em 12 de maio de 1999. Também houve menção honrosa por par te de uma

Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, criada com a finalidade de apu-rar denúncias sobre o trabalho de crianças e adolescentes no Brasil, queapresentou seu relatório final em 30 de junho de 1999.

Estes fatos, somados às circunstâncias já descritas, fizeram com queuma comissão pluriinstitucional composta por representantes do Ministériodo Trabalho e Emprego, Ministério Público do Trabalho, Ministério da Educa-ção e Cultura e Ministério da Previdência Social elaborassem o texto de umProjeto de Lei, que por fim foi apresentado pelo Excelentíssimo Presidenteda República, no início de 2000, ao Congresso Nacional, o qual o aprovouintegralmente, vindo a ser sancionado em 19 de dezembro daquele ano.

IV. DA LEI N. 10.097/2000

Esclareça-se, desde logo, que o trabalho desempenhado pela comis-são pluriinstitucional foi basicamente o de consolidar, no Diploma Obreiro,disposições esparsas que desde a edição do Estatuto da Criança e doAdolescente já vigoravam na órbita trabalhista, em razão do que dispõe oartigo 8º da CLT.

Visou-se, portanto, sintetizar a matéria, trazendo-a para o corpo daConsolidação das Leis do Trabalho, a fim de facilitar o seu conhecimento e

a sua aplicação pelos operadores do direito laboral.O artigo 62 do ECA passou a conceituar a aprendizagem, ampliando-

lhe o alcance, antes restrito ao contrato especial de trabalho, disciplinadodesde 1943, pelos artigos 429 e seguintes da CLT.

O estatuto infanto-juvenil propõe o seguinte conceito: “Considera-se aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada segundo as dire- trizes e bases da legislação de educação em vigor ”.

A concepção internacional de formação técnico-profissional, segun-do o Glossário da UNESCO, “é termo utilizado em sentido lato para desig- 

nar o processo EDUCATIVO quando este implica, além de uma formação geral, estudo de caráter técnico e a aquisição de conhecimento e aptidões práticas relativas ao exercício de certas profissões em diversos setores da vida econômica e social. Como conseqüência de seus extensos objetivos,o ensino técnico e profissional distingue-se da ‘formação profissional’ que visa essencialmente a aquisição de qualificações práticas e de conheci- mentos específicos necessários para a ocupação de um determinado em- prego ou de um grupo de empregos determinados ”(2).

(2) Oliveira, Oris de. “ O Trabalho Infanto-Juvenil no Direito Brasilei ro”. Trabalho Infant il. 2ª edição,

OIT, Brasil: 1993, p. 86.

Page 98: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 98/380

101

Logo, a remissão do artigo 62 ao conceito de formação técnico-pro-fissional rompeu com os limites estreitos do velho contrato de aprendiza-gem imaginado por Getúlio Vargas e possibilitou amplas experiências quea propiciem.

A Lei n. 9.394/96, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, vemna mesma seara ampliativa e, no seu artigo 40, propugna que “a educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especiali- zadas ou no ambiente de trabalho ”.

Regulamentando a presente disposição, o Decreto n. 2.208/97, emseu artigo 4º, reconhece que a educação profissional possa ser ministradapor instituições federais, públicas ou privadas, sem fins lucrativos.

Como se vê, a Lei de Diretr izes e Bases da Educação Nacional e sua

norma regulamentar conferiram ao Estado e à iniciativa privada o dever deexercitar diferentes estratégias que impliquem a ação coordenada de em-presas, Estado e sociedade civil, para que a educação profissionalizantese estenda ao maior número possível de pessoas.

Todos esses imperativos legais e constitucionais foram levados aocorpo da CLT, quando se estudou a alteração contida na Lei n. 10.097/ 2000, cuja análise ora se segue.

Inicialmente, convém um reparo concernente à terminologia da lei, queutiliza o vocábulo “menor” para se referir aos adolescentes por ela tutelados.Este termo é incompatível com a doutrina da proteção integral. A terminolo-gia constitucional e legal adota as palavras “criança” e “adolescente”.

O artigo 1º da lei supramencionada altera a redação dos artigos 402,403, 428 a 433 da CLT.

O artigo 402 passa a vigorar com a seguinte redação: “Considera-se menor para os efeitos desta Consolidação o trabalhador de quatorze até dezoito anos ”.

Incorpora-se, desta forma, a faixa de 14 a 18 anos de idade, comosendo a abrangida pela proteção obreira, sendo de se lembrar que somen-te se admite o trabalho aos adolescentes dos 14 aos 16 anos na condição

de aprendizes, de acordo com o fixado na Emenda Constitucional n. 20 econsolidado no novo texto do artigo 403.

O parágrafo único do artigo 403 proíbe o trabalho prejudicial à formaçãoe ao desenvolvimento físico, psíquico, moral e social do adolescente. Garantea supremacia da escola sobre o trabalho, em qualquer hipótese, assegurandohorário e local de trabalho compatíveis com a freqüência escolar.

O artigo 428 do novo texto legal conceitua a aprendizagem, absor-vendo todas as normas constitucionais e legais acima revistas, fazendo-onos seguintes termos: “Contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho 

especial, ajustado por escrito e por prazo determinado, em que o emprega- 

Page 99: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 99/380

102

dor se compromete a assegurar ao maior de quatorze e menor de dezoito anos, inscrito em programa de aprendizagem, formação técnico-profissio- nal metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psico- lógico, e o aprendiz, a executar, com zelo e diligência, as tarefas necessá- 

rias a essa formação ”.Assinale-se que o conceito em questão contempla toda construção

doutrinária que já se formulara sobre a natureza jurídica especial do con-trato de aprendizagem, uma vez que se trata de modalidade de contrato atermo, com prazo não superior a dois anos — parágrafo 3º do artigo 428 —e por escrito, com objeto diferenciado em relação a ambos os contratantes,visto que admite salário específico, garantido o salário mínimo hora — pa-rágrafo 2º — e impõe a prestação de serviços cujo escopo é o de favorecera aquisição de conhecimentos profissionalizantes pelo trabalhador maiorde 14 e menor de 18 anos.

O parágrafo 1º do artigo em tela exige, ainda, como pressuposto devalidade do contrato, tanto a anotação em Carteira de Trabalho como amatrícula e freqüência à escola; exige, ademais, a inscrição em programade aprendizagem desenvolvido sob a orientação de entidade qualificadaem formação técnico-profissional metódica. É que a escolaridade é ele-mento essencial à formação técnico-profissional, como é também a ativi-dade profissionalizante propriamente dita.

As modalidades que se constatam incidem na fixação de um prazo,na forma, na natureza das obrigações e na idade dos contratantes traba-lhadores.

As grandes inovações trazidas pelo Estatuto da Criança e do Adoles-cente, e agora consolidadas, residem na inserção do conceito de aprendi-zagem na esfera da lei trabalhista, posto que, até então, tal conceito sefazia por meio de decretos e portarias do Ministério do Trabalho e Empre-go, e na possibilidade de que o contrato de aprendizagem se trave entre oaprendiz e a empresa diretamente ou por intermédio de qualquer entidadeque ofereça um “programa de aprendizagem”, não necessariamente vincu-lada ao sistema S.

A aprendizagem deve conter formação técnico-profissional, confor-me já se viu, e, por isso, materializar-se por meio de trabalho que se façapor “atividades teóricas e práticas, metodicamente organizadas em tarefas de complexidade progressiva desenvolvidas no ambiente de trabalho ” (§ 4ºdo artigo 428 da CLT).

O próprio trabalho do aprendiz deve, portanto, desenvolver-se pormeio de uma dinâmica pedagogicamente orientada, sob o ponto de vistateórico e prático, conduzindo à aquisição de um ofício ou de conhecimen-tos básicos gerais para o trabalho qualificado.

Alterou-se o artigo 429 da CLT para se estabelecer que o percentualde aprendizes contratados pelas empresas de qualquer ramo da econo-

mia, poderá ser preenchido por intermédio do sistema S: Serviço Nacional

Page 100: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 100/380

103

de Aprendizagem na Indústria (SENAI), Serviço Nacional de Aprendiza-gem no Comércio (SENAC), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural(SENAR) e Serviço Nacional de Aprendizagem no Transporte (SENAT),mantendo-se o percentual de 5 a 15%.

Acresceu-se o § 1º-A, para se estabelecer que tal limite não incidiráquando o empregador for entidade sem fins lucrativos, que tenha por obje-tivo a educação profissional.

Aqui, é conveniente tratar de tema relativamente polêmico, qual seja,a incidência do artigo 68 do ECA, que regula o chamado “trabalho educativo”.

O trabalho educativo ocorrerá desde que o adolescente preste servi-ços em entidades sem fins lucrativos (governamentais ou não-governamen-tais) e que desenvolvam um programa em que a finalidade educacionalprepondere sobre a produtiva. O recebimento de uma bolsa educativa não

o descaracteriza.O trabalho educativo, desse modo, pode-se verificar tanto no interior

das entidades, apenas, quanto nas empresas, por intermédio das entida-des sem fins lucrativos. É necessária a inserção do adolescente num pro-cesso metódico que viabilize a sua formação profissional.

Considerando-se as características da legislação que regulamenta amatéria, se o trabalho educativo se desenvolve em empresas por intermé-dio das entidades, aproximar-se-á da aprendizagem empresarial, visto queo aspecto produtivo assumirá maior preponderância e, assim, ensejará odireito à proteção trabalhista e previdenciária, tal como dispõem o inciso II,do § 3º, do artigo 227 da Constituição Federal e o artigo 65 do ECA queconferem proteção aos aprendizes. Se o trabalho educativo se prestar, ape-nas, no interior das entidades aproximar-se-á da aprendizagem escolar,sendo desnecessária a concessão de direitos laborais.

O artigo 430 foi totalmente modificado, justamente para explicitar que,na hipótese de insuficiência dos serviços prestados pelo sistema S, o per-centual de contratação obrigatória de aprendizes nas empresas poderá serpreenchido por meio de terceirização, patrocinada por entidades sem finslucrativos, cuja finalidade seja a profissionalização.

Os adolescentes serão empregados pelas entidades e acompanha-dos por educadores, no trabalho que desenvolverão em empresas conve-niadas.

Esta prática já demonstrou fantásticos resultados, pois os programasde aprendizagem devem se desenvolver em cenários laborais devidamen-te equipados e com experiências concretas de trabalho. Tanto as máquinasquanto o trabalho propriamente dito, por vezes, não se podem obter sempesados ônus para as entidades do terceiro setor.

Destarte, o aprendizado teórico fica complementado pela indispen-

sável experiência prática que as empresas oferecem.

Page 101: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 101/380

104

Estas, de outra parte, têm atendida a sua demanda de mão-de-obraqualificada com a supervisão do sistema S ou das próprias entidades semfins lucrativos, aos quais cabe o acompanhamento profissionalizante do jovem trabalhador.

A experiência prática demonstrou, ademais, que a idéia da aprendi-zagem metódica no próprio emprego não atingiu bons resultados.

Assim, buscou-se dar cumprimento à determinação constitucional degarantir a profissionalização de adolescentes, com envolvimento da em-presa, da sociedade civil — por meio do terceiro setor — e do Estado, eisque são outorgadas às entidades do terceiro setor isenções sobre a folhade pagamento de seus funcionários (artigo 55 da Lei n. 8.212/91).

Com isso, o Estado incentiva a contratação de aprendizes, sem inci-

dência de encargos previdenciários, patronais ou Imposto de Renda, des-de que tais aprendizes sejam contratados por intermédio dessas entidadessem fins lucrativos.

No mesmo diapasão, o artigo 2º da Lei n. 10.097/2000 altera a Lei n.8.036/90, acrescentando o parágrafo 7º ao artigo 15, para reduzir o per-centual de contribuição patronal para o FGTS, de oito para dois por cento.

Visa-se, portanto, estimular a contratação de aprendizes, alargando-se as possibilidades por meio de uma ação orquestrada entre o Estado, asempresas e a sociedade organizada.

Os parágrafos do artigo 430 traçam parâmetros para que as entida-des do terceiro setor ou as escolas profissionalizantes possam validamen-te intermediar a contratação de aprendizes.

As entidades deverão possuir estrutura material adequada para ofe-recer programas de aprendizado. Estes devem se caracterizar por proces-sos que garantam experiências teóricas e práticas que poderão se desen-volver nas empresas conveniadas, desde que devidamente acompanhadospor educadores, aos quais competirá organizar as tarefas a serem desem-penhadas pelo adolescente aprendiz, conforme procedimento metódico e

conducente à aquisição de conhecimentos profissionalizantes.As entidades ainda deverão estar registradas no Conselho Municipal

de Direitos da Criança e do Adolescente e apresentar, ao final de cadacurso, o devido certificado de qualificação profissional.

O Ministério do Trabalho e Emprego deverá regulamentar em deta-lhes os requisitos para a habilitação das entidades não-governamentais.

O artigo 431 explicita que caso a contratação se dê por meio da enti-dade, o vínculo laboral não se formará com a empresa tomadora, mas,

como já dito, valerá para o preenchimento das cotas obrigatórias.

Page 102: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 102/380

105

O parágrafo único do dispositivo em tela foi vetado. Assegurava res-ponsabilidade solidária do tomador, nos seguintes termos: “O inadimple- mento das obrigações trabalhistas por parte da entidade sem fins lucrati- vos implicará responsabilidade da empresa onde se realizar a aprendiza- 

gem quanto às obrigações relativas ao período em que o menor esteve a sua disposição ”.

As razões do veto se fulcraram em dois argumentos: contradição en-tre o caput , que afasta o vínculo de emprego com o tomador e sua respon-sabilidade em caso de inadimplemento, bem como a jurisprudência crista-lizada no Enunciado 331 do Tribunal Superior do Trabalho, que asseguraresponsabilidade subsidiária do tomador.

Ora, nada impediria que a lei explicitasse a responsabilidade do to-mador, visto que a responsabilidade solidária, como é cediço, decorre do

contrato ou da lei. Ademais, não haveria qualquer contradição em se afas-tar o vínculo do tomador, mas se preservar a sua responsabilização legal-mente solidária.

O artigo 432 passou a ter a seguinte redação: “A duração do trabalho do aprendiz não excederá de seis horas diárias, sendo vedadas a prorro- gação e a compensação de jornada ”.

Visa-se com o dispositivo a primazia da escolaridade do adolescentesobre o trabalho, eis que a formação técnico-profissional opera-se priorita-riamente com a educação escolar.

O parágrafo 1º assim se lê: “O limite previsto neste artigo poderá ser de até oito horas diárias para os aprendizes que já tiverem completado o ensino fundamental, se nelas forem computadas as horas destinadas à aprendizagem teórica ”.

Não se compreende a razão do elastecimento da jornada para osadolescentes que já cumpriram o ensino fundamental. Tal dispositivo pare-ce-nos inconstitucional, por várias razões.

Com efeito, a escolaridade, em si mesma, é o valor tutelado pelaConstituição Federal e pelo próprio caput do dispositivo em análise. A Car-

ta Política assegura a educação a todos os adolescentes, sem distinção,fazendo-o nos artigos 208 e 227.

Tanto é verdade que o artigo 208, inciso I, reza que o ensino funda-mental é obrigatório e gratuito. Não afasta, contudo, a importância do ensi-no secundário; reafirma-a, aliás, ao preconizar a progressiva universaliza-ção do ensino médio gratuito, em seu inciso II.

Por outro lado, tal distinção é absolutamente antiisonômica, posto quevem em prejuízo da escolarização constitucionalmente preconizada e gerasituações díspares entre trabalhadores em idades protegidas e com a mes-

ma condição profissional.

Page 103: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 103/380

106

A nova redação do artigo 433 dirige-se às formas de extinção do con-trato de aprendizagem, que se dão nas seguintes hipóteses: no termo, cujoprazo máximo, como se viu, é de 2 anos, ou quando o trabalhador atingir18 anos, o que preponderará em relação à limitação temporal prefixada. A

rescisão antecipada poderá ocorrer quando o adolescente não alcançar asexpectativas inerentes à profissionalização, e ainda em casos de falta dis-ciplinar grave, ausência injustificada à escola que implique perda do anoletivo. Finalmente, em casos de pedido de demissão.

O parágrafo 2º estabelece que as indenizações dos artigos 479 e 480não incidem em casos de rescisão antecipada.

Como compatibilizar essa regra com o inciso I do artigo 7º da CF, queprotege a relação de emprego contra despedida arbitrária ou sem justacausa mediante indenização que, por hora, está balizada em 40% do Fun-

do de Garantia ou pelas normas inerentes ao contrato a termo?Evidentemente que não haverá indenizações nos casos de pedido dedemissão ou no cometimento de faltas graves, tanto disciplinares comoreferentes às ausências injustificadas na escola.

A dúvida emerge, portanto, no caso de inadaptação do adolescenteou de seu rendimento insuficiente, bem como no caso de despedida arbi-trária antecipada. Parece-nos que a única forma de harmonizar o presentedispositivo com o princípio constitucional da proteção contra despedidaarbitrária é a de se considerar a aplicação analógica do artigo 481 da CLT,fazendo com que, em tais casos, sejam devidos o aviso prévio e a indeni-

zação geral de 40% dos depósitos do FGTS.Resta ainda apreciar o artigo 3º da Lei n. 10.097, o qual revoga o

artigo 80, o § 1º do ar tigo 405 e os artigos 436 e 437 da Consolidação dasLeis do Trabalho.

A referência expressa à revogação do artigo 80 seria dispensável,uma vez que o parágrafo 2º do novo texto do artigo 428 já a fizera tacita-mente, ao contemplar o salário mínimo hora como padrão de remuneraçãodo adolescente.

Também seria dispensável a revogação expressa do parágrafo 1º do

artigo 405, eis que esta disposição sequer foi recepcionada pela nova or-dem constitucional, que proíbe qualquer trabalho insalubre ou perigoso paraadolescentes.

O artigo 436 também já estava tacitamente revogado pois apenava omédico do trabalho que injustificadamente não atestasse os requisitos ine-rentes ao artigo 418 da CLT, o qual, há muito, fora revogado pela Lei n.7.855/89. Portanto, o artigo 436, desde então, se tratava de norma vazia.

Correta foi, no entanto, a nosso ver, a revogação expressa do artigo437 da CLT, o qual destituía o pátrio poder de pais ou tutores que subme-

tessem os adolescentes a trabalhos que lhes fossem prejudiciais.

Page 104: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 104/380

107

De fato, a punição de que se cuida jamais foi aplicada, eis que propi-ciaria uma solução absolutamente iníqua e agravaria o problema social queeventualmente tenha gerado o trabalho pernicioso.

A privação do convívio familiar somente se justifica em caso de abso-luta impossibilidade de desenvolvimento de um processo de reeducaçãofamiliar.

V. CONCLUSÕES 

1 — A formação profissional de adolescentes é questão prioritária,posto que o mercado de trabalho do mundo informatizado demanda quali-ficação de trabalhadores que possam intervir criticamente no processo pro-dutivo, ou atuar nos setores de prestação de serviço e de comércio, os

quais demandam maior nível de preparação laboral, e têm-se apresentadocomo os que vêm ofertando maior oportunidade de trabalho.

2 — A Constituição Brasileira estimula a aprendizagem, garantindoproteção integral aos adolescentes trabalhadores, e não recepcionou omodelo de trabalho assistencial e desprotegido.

3 — A Lei n. 10.097/2000 nada mais fez senão trazer para a CLT ospreceitos constitucionais concernentes à doutrina da proteção integral, asdeterminações do Estatuto da Criança e do Adolescente (artigos 62, 65 e68), da Lei n. 9.394/96 (artigo 40) e do Decreto n. 2.208/97 (artigo 4º).

4 — A principal inovação trazida pela Lei n. 10.097/2000 reside napossibilidade de suplementação, por intermédio de entidades do terceirosetor da atividade do sistema S, no que diz respeito aos contratos formaisde aprendizagem.

5 — A fixação da jornada de 6 horas deve ser estendida a todos osadolescentes, mesmo àqueles que já concluíram o ensino fundamental,parecendo-nos inconstitucional o parágrafo 1º do artigo 432 da CLT, com aredação trazida pela lei em análise.

6 — O artigo 433 deve ser interpretado ampliativamente quanto à

indenização pela rescisão antecipada do contrato de aprendizagem, paraque se aplique, por analogia, o artigo 481 da CLT, fazendo incidir o avisoprévio e a indenização de 40% do FGTS, nos casos de despedida sem justa causa.

Page 105: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 105/380

108

 AS ALTERAÇÕES NO CONTRATO DE 

 APRENDIZAGEM: CONSIDERAÇÕES 

SOBRE A LEI N. 10.097/2000

Bernardo Leôncio Moura Coelho (*)

É necessário deixar claro que a legislação por si só não pode impedir otrabalho infantil. A legislação não pode ser considerada um f im, mas o come-ço da aplicação de um conjunto de medidas a fim de controlar e erradicar otrabalho infantil. Ela constitui a consagração dos valores e compromissos dasociedade e por isto não tem valor se não for aplicada. (Forum Nacionalde Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil. ‘‘Diretrizes para formulação deuma Política Nacional de Combate ao Trabalho Infantil’’).

1. INTRODUÇÃO 

A recente Lei n. 10.097, de 19 de dezembro de 2000, oriunda do Pro- jeto de Lei n. 2.845/2000, encaminhado ao Congresso Nacional pelo PoderExecutivo, do qual o Ministério Público do Trabalho participou ativamentede sua elaboração, alterou artigos da Consolidação das Leis do Trabalho eda Lei do FGTS, introduzindo modificações que buscam revitalizar e esti-mular o instituto da aprendizagem, consolidando as alterações promovidaspelas diversas leis publicadas após a sua primeira regulamentação.

A aprendizagem, desde as corporações de ofício, tem sido estimula-

da por todos os povos, pois que através dela preserva-se, de uma geraçãopara outra, o conhecimento dos ofícios. Nos dias de hoje passou a sernecessidade para a persecução de postos de trabalho, pois que o desen-volvimento tecnológico exige dos trabalhadores a detenção da mais varia-da formação profissional. No Brasil esta preocupação também não é recen-te tendo sido inserida expressamente no II PND(1).

(*) Procurador do Trabalho da 15ª Região, Mestre em Direito Constitucional pela Faculdade deDireito da UFMG, membro do Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil doEstado de São Paulo e da Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho daCriança e do Adolescente do Ministério Público do Trabalho.

(1) A realidade brasileira do menor, p. 44.

Page 106: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 106/380

109

Possibilitar aos adolescentes a profissionalização, não apenas o merotratamento assistencialista, significa investir no futuro brasileiro, pois queestes adolescentes farão parte da população economicamente ativaque produzirá as riquezas necessárias para o nosso desenvolvimento sus-

tentável que tanto necessitamos.Este avanço no tratamento da questão, que revolucionou todo o pen-

samento legal dominante, foi consentâneo com a adoção, pela Constitui-ção Federal de 1988, da teoria da proteção integral.

Segundo Cavallieri , haviam três teorias que buscavam justificar aaplicação de leis para as crianças, a saber:

a) doutrina da proteção integral, partindo dos Direitos da Criança re-conhecidos pela ONU, na qual a lei asseguraria a satisfação de todas asnecessidades das pessoas de menor idade, nos seus aspectos gerais;

b) doutrina do Direito Penal do “Menor”, pela qual o direito só se ocupado “menor” a partir do momento em que pratique um ato de delinqüência;

c) doutrina intermediária da situação irregular, em que os “menores”são sujeitos de direito quando se encontrarem em estado de patologia so-cial, definida legalmente.(2)

Adotávamos, sob a égide da Lei n. 6.697/79, a doutrina intermediáriada situação irregular, que era definida como o estado de patologia jurídico-social abordado por normas jurídicas através de diagnóstico — oudefinição —, terapia — ou tratamento — e profilaxia — ou prevenção.

A denominação “menores em situação irregular”, inclusive, foi a es-colhida pelo Instituto Interamericano da Criança, órgão da Organização dosEstados Americanos — OEA, no IX Congresso de 1948, realizado na Vene-zuela, que recomendou a adoção de normas adequadas a cada país naformulação de seus “códigos de menores”, os quais deveriam determinaras situações irregulares e as disposições tendentes a saná-las.

Campos lembra a oposição de Mendizábal Oses à posição brasileira,refutando-a por considerá-la feita sob uma perspectiva européia ondeinexiste o problema do “menor”.(3)

A doutrina da proteção integral, diferentemente das demais, concebea criança como um sujeito de direitos, não mais mero objeto de açõesassistencialistas, abordando a questão da criança como prioridade absolu-ta e a sua proteção como dever da família, da sociedade e do Estado.

Nosso estudo, como todo trabalho humano passível de erros e influ-enciado pela nossa leitura da realidade, tem como objetivo apresentar asalterações produzidas na aprendizagem após a edição desta lei, que con-solidou as mudanças legislativas ocorridas.

(2) Cavallieri, Alírio. “Direito do Menor: um direito novo”, p. 393.

(3) Campos, Nuno de . “Princípios de Direito do Menor”, p. 88.

Page 107: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 107/380

110

2. O CONCEITO DE APRENDIZAGEM 

A aprendizagem foi definida como “o contrato de trabalho especial,ajustado por escrito e por prazo determinado, em que o empregador se

compromete a assegurar ao maior de quatorze anos e menor de dezoitoanos, inscrito em programa de aprendizagem, formação técnico-profissio-nal metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psi-cológico, e o aprendiz, a executar, com zelo e diligência, as tarefas neces-sárias a essa formação”.

Convivemos, agora, com duas conceituações de aprendizagem, poisque o art. 62, do Estatuto da Criança e do Adolescente — ECA, já a definiacomo “a formação técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes ebases da educação em vigor”, não tendo sido este artigo revogado pelanova lei.

Nos termos da Lei de Introdução ao Código Civil — LICC, em seu art.2º, § 2º, “a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a pardas já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior”.

Também, no artigo antecedente do ECA, há disposição no sentido deque “a proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada por legislaçãoespecial, sem prejuízo do disposto nesta lei”.

A legislação especial a que se refere o art. 91 do ECA, não é apenas

aquela concernente ao trabalho em regime de emprego, nos moldes cele-tistas, mas todas aquelas que disciplinam o trabalho do adolescente, comoé o caso da norma em comento que trata da aprendizagem.

Qualquer divergência entre as normas não poderia ser analisada àluz da hierarquia, posto que ambas situam-se no mesmo plano, como leisordinárias. Mas não há divergências a serem sanadas na aplicação dasleis. A Lei n. 10.047 é uma lei especial que veio consolidar as disposiçõesrelativas à aprendizagem, não conflitando com as disposições constantesdo ECA.

Aliás, toda interpretação do ECA deve ser feita tomando-se comoparâmetro o art. 6º, no que é claro ao dispor que “na interpretação destalei, levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigênciasdo bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condiçãopeculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento”.

Limongi França vê na redação deste artigo uma repetição do art. 5º,da Lei de Introdução ao Código Civil — LICC “podendo-se, mesmo, afirmarque a parte final acrescentada, a saber, a alusão a ‘direitos e deveres indi-

viduais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como

Page 108: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 108/380

111

pessoas em desenvolvimento’ concerne a um realce de elementos que jáestão contidos nas duas expressões básicas da parte inicial da regra emapreço”.(4)

Ambas as definições estão centradas no caráter de formação técni-co-profissional que deve nortear o processo de aprendizagem, sendo acon-selhável minudenciar este conceito.

Para a UNESCO, ensino técnico-profissional pode ser conceituadocomo:

o termo utilizado em sentido lato para designar o processo educativo quando este implica, além de uma formação geral, estudos de cará- ter técnico e a aquisição de conhecimentos e aptidões práticas relati- 

vas ao exercício de certas profissões em diversos setores da vida econômica e social. Como conseqüência de seus objetivos extensos,o ensino técnico e profissional distingue-se da “formação profissio- nal”, que visa essencialmente a aquisição de qualificação prática e de conhecimentos específicos necessários para a ocupação de um determinado emprego ou de um grupo de emprego determinados.(5)

Para Oliveira , o ideal seria que os programas de aprendizagem, obe-decido um projeto pedagógico, tivessem condições objetivas para inserir

todos os adolescentes no mercado de trabalho senão inteiramente qualifi-cados ao menos pré-profissionalizados.(6)

Esta formação, como descrita no § 4º, do art. 428, caracteriza-se poratividades teóricas e práticas, metodicamente organizadas em tarefas decomplexidade progressiva, numa caracterização que já vem de longa data,como nos lembra Rosselet (7), “no mesmo dia de sua entrada numa carpinta-ria, o aprendiz começa por aprender a levar lá para cima, no madeiramentoda construção o abastecimento alimentar de seus companheiros mais ido-sos; a aprendiz de costureira passa seu tempo de joelhos a reunir os alfine-tes caídos no chão, e o aprendiz de padeiro põe-se a percorrer as ruascircunvizinhas com uma pesada cesta de entrega nas costas”, implicandonuma progressiva ampliação de suas atividades, até poder efetuar as ativi-dades de um ofício.

(4) Cury, Munir et al. (coords.). “Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado”, p. 38(5) “Glossário de Terminologia do Ensino Técnico e Profissional” apud Oliveira, Oris de, “O traba-lho da criança e do adolescente”, p. 86.(6) “O trabalho da criança e do adolescente”, p. 158.

(7) Rosselet, Jean. “ O Adolescente e o trabalho”, pp. 81-82.

Page 109: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 109/380

112

Quanto a estas atividades, convém ser relembrado o alerta de Olivei- ra , no sentido de que “se o exercício de uma atividade, de uma função, nãonecessitar de passar por este processo complexo, ele não é passível deaprendizagem.”(8)

3. A NOVA LEGISLAÇÃO: COMENTÁRIOS 

Algumas alterações constantes desta lei buscaram tão-somente ade-quar as normas contidas na Consolidação das Leis do Trabalho ao novodelineamento constitucional.

A partir da publicação da Emenda Constitucional n. 20, a idade míni-ma para admissão ao emprego passou para dezesseis anos, com permis-são para o ingresso com quatorze anos, desde que vinculado a um progra-

ma de aprendizagem.Esta mudança, embora represente um avanço social, não reflete a

realidade nacional, sendo a idade mínima superior, inclusive, ao que pre-ceitua a Organização Internacional do Trabalho — OIT. O aumento na ida-de mínima apenas refletiu as mudanças no sistema previdenciário nacionalque extinguiu a aposentadoria por tempo de serviço e instituiu idades míni-mas para a consecução do benefício previdenciário, de sessenta anos paraas mulheres e sessenta e cinco para os homens.

A intenção do legislador era retardar o ingresso dos adolescentes no

mercado de trabalho, evitando que o tempo de contribuição se prolongasseem demasia.

A Convenção n. 138 consubstancia o último posicionamento da OITquanto à idade mínima para admissão ao trabalho, preconizando a fixaçãoda idade de quinze anos, com o objetivo de garantir escolaridade mínimadurante o período de estudos.

Esta convenção representa um instrumento bastante flexível, conten-do disposições que:

 — permitem emprego ou trabalho de crianças em serviços leves, a

partir de 13 anos de idade; — permitem idades mínimas mais baixas (14 anos, em geral, e 12

anos para trabalho leve) no caso de países cuja economia e serviços edu-cacionais estejam insuficientemente desenvolvidos (pelo tempo que per-durar essa situação);

 — permitem sejam excluídas da Convenção limitadas categorias deemprego ou trabalho, a respeito das quais surjam problemas especiais comsua aplicação (enquanto existirem esses problemas);

(8) Cury Munir et alli , op. cit., p. 186

Page 110: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 110/380

113

 — autorizam Países-membros, cuja economia e serviços administra-tivos estejam insuficientemente desenvolvidos, a limitar, numa primeira eta-pa, o alcance da aplicação da Convenção, desde que aplicável, no mínimo,a mineração e pedreira; indústria manufatureira, construção; serviços de

eletricidade, gás e água; serviços sanitários; transporte, armazenamento ecomunicações; plantações e outros empreendimentos agrícolas explora-dos principalmente para fins comerciais.(9)

Ao adotarem idade inferior os Países-membros deverão justificar asua adoção em anexo à sua ratificação, devendo, porém, implementar ele-vação progressiva da idade mínima.

A fixação da idade de quatorze anos para a admissão como aprendiz,em qualquer atividade econômica, tem gerado problemas para o governobrasileiro ratificar a Convenção n. 138.

O motivo se baseia no fato de que o governo brasileiro é signatárioda Convenção n. 58, revisada, que fixa a idade mínima para admissão emtrabalho marítimo em quinze anos, gerando o choque entre os institutos,não permitindo a ratificação de nova convenção, pois que o Brasil aceita aadmissão aos quatorze anos.

A inserção do adolescente no mercado de trabalho é matéria que nãopode ser desconhecida por causa de sua complexibilidade. Valticos  reco-nhece que a idade mínima legal de admissão ao trabalho depende, emgrande medida, do grau de desenvolvimento econômico de cada país. (10)

Medidas que se pode qualificar de positivas, em um país desenvolvido, nãoo são em outro que se encontra em vias de desenvolvimento, e essencial-mente nocivas serão naqueles subdesenvolvidos, porque em um e em ou-tro, os recursos humanos hão de orientar-se em sentidos diferentes. (11)

O adolescente poderá ser contratado como aprendiz desde os qua-torze anos até os dezoito, pressupondo anotação na Car teira de Trabalho ePrevidência Social, matrícula e freqüência do aprendiz à escola, caso nãohaja concluído o ensino fundamental, e inscrição em programa de aprendi-zagem desenvolvido sob a orientação de entidade qualificada em forma-

ção técnico-profissional metódica, caso não seja adotada a AMPE, modali-dade na qual não há entidade ministrando informações teóricas para oaprendiz no processo, apenas a própria empresa.

Garantindo ao aprendiz o salário mínimo hora, foi revogada a dispo-sição contida no art. 80, da Consolidação das Leis do Trabalho, que dispu-nha ser devido ao aprendiz meio salário mínimo regional durante a primei-

(9) Organização Internacional do Trabalho. Pela abolição do trabalho infantil, p. 6.(10) Valticos, Nicolas. “Droit International du Travail”, pp. 444-445.

(11) Mendizábal Oses, Luís . Derecho de Menores: Teoría General, p. 344.

Page 111: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 111/380

114

ra metade da duração máxima prevista para o aprendizado do respectivoofício e, na segunda metade pelo menos dois terços do salário mínimoregional.

Quanto a este aspecto, da remuneração no período de aprendizagem,Martins defendia a tese de que o art. 80 da Consolidação das Leis do Traba-lho — CLT, não teria sido recepcionado pela Constituição Federal. “Entende-mos, porém, que esse artigo foi derrogado pela Constituição, pois esta esta-belece no inciso XXX do art. 7º a proibição de diferença de salário por motivode idade e não faz qualquer ressalva em relação ao aprendiz. Dessa forma,entendemos que o aprendiz, tanto na primeira metade do contrato, como nasegunda, deve perceber pelo menos um salário mínimo”.(12)

Oliveira entende que a redução salarial do aprendiz atende à peculia-ridade do contrato de aprendizagem e não à idade do adolescente, assim

“a formação técnico-profissional pode ser tida como uma contraprestaçãoe, também, porque o aprendiz não gasta todo o tempo trabalhando e seutrabalho passa por etapas em que o rendimento é progressivo, seu saláriopode sofrer uma redução”.(13)

No mesmo sentido de entendimento também trilha Süssekind , aoenunciar que “o menor aprendiz, na realidade, recebe salário-utilidade degrande valia e tem reduzida a duração normal do seu trabalho: ele se bene-ficia da formação metódica por conta do empregador ou de entidade de cujocusteio este participa, enquanto que o tempo dedicado à prestação deserviço é reduzido na razão direta da sua presença nos cursos e práticasde aprendizagem”.(14)

A questão do trabalho dos aprendizes é tão importante que a Comis-são Parlamentar de Inquérito – CPI destinada a apurar a responsabilidadepela exploração e prostituição infanto-juvenil, da Câmara dos Deputados,em seu relatório final, incluiu, no plano emergencial de atendimento à cri-ança e ao adolescente, a “fiscalização da atividade dos ‘menores aprendi-zes’, para evitar sua exploração no mercado de trabalho, [...]”.(15)

Sendo o contrato por prazo determinado, não poderá ser estipuladopor período superior a dois anos, revogando algumas disposições legaisque estipulavam alguns prazos de aprendizagem superior aos dois anos.

O contrato de aprendizagem não se aplica a todos os trabalhos, de-vendo a atividade estar inserida na relação constante de portaria do Minis-tério do Trabalho, que determina quais são as atividades sujeitas ao pro-cesso de aprendizagem.

(12) Martins, Sérgio Pinto. “Direito do Trabalho”, p. 426.(13) Oliveira, Oris de. “O trabalho infanto-juvenil no Direito Brasileiro”, p. 110.(14) Süssekind, Arnaldo  et alli. “Instituições de Direito do Trabalho”, pp. 387-388.

(15) Relatório Final, p. 86.

Page 112: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 112/380

115

Tendo em vista que o rol de atividades passíveis de aprendizagemencontra-se defasado em relação às atividades hoje desenvolvidas, a Pro-curadoria Regional do Trabalho da 9ª Região propôs alterações a fim deimplementar a aprendizagem metódica em outras atividades, proporcionan-

do a profissionalização do adolescente trabalhador.(16)

No sentido de fazer-se uma completa revisão na listagem das ativida-des que demandem aprendizagem, posicionou-se La Rocca , ao analisaras disposições do art. 62, manifestando-se que “devemos flexibilizar o en-tendimento, considerando aprendizagem como a formação para o desem-penho de qualquer função que possibilite o acesso do adolescente ao mer-cado formal de trabalho.”(17)

Não podemos nos posicionar favoravelmente a esta manifestação,pois que estaríamos abrindo as portas para uma possível fraude e jogando

os adolescentes no mercado de trabalho em funções precárias que nãopossibilitariam qualquer melhora em sua situação.

Há duas formas de aprendizagem: uma escolar e outra empresária.Pela primeira, o adolescente realiza curso em escolas profissionais, reali-zando estágio em empresas; na segunda, temos uma relação empresa-empregado, quando o adolescente é submetido, no próprio emprego, àaprendizagem metódica.

Esta segunda será realizada quando para o ofício ou ocupação nãoexistam cursos em funcionamento ou, havendo-os, não houver vagas oucurso na localidade.

Nestas hipóteses (não há vagas e curso na localidade), será emitidocertificado atestando o fato, possibilitando à empresa fornecer a aprendi-zagem, nos termos do programa elaborado pelo SENAI, SENAC, SENARou SENART.

A nova regração legal manteve a obrigatoriedade de contratação depercentuais de aprendizes, em percentuais que variam de cinco a quinzepor cento e, acertadamente, estipulou que este deverá ser tomado com

relação a cada estabelecimento.Exceção à regra acima são as microempresas, que estão dispensa-

das da obrigatoriedade de contratar aprendizes (art. 7º, do Decreto n.90.880/85), as empresas comerciais com menos de 10 empregados (De-creto n. 8.622/46).

O legislador, contudo, perdeu a oportunidade para atualizar os valo-res das multas por descumprimento deste preceito, para reforçar o seu cum-

(16) Cf. Ofício/Gab n. 147/97.

(17) Cury, Munir et alli , op. cit., p. 189

Page 113: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 113/380

116

primento. A sanção, segundo a doutrina, faz parte da norma mas, a partirdo momento em não mais impõe-se como elemento inibidor da prática denão realização da norma legal, significa a sua ausência.

O governo federal, dentro de sua política liberalizante, não mais exe-cuta multas que tenham valor globalizado inferior a R$1.000,00 e a multaestipulada para as empresas que não cumpram a cota de aprendizagemsitua-se em centavos, segundo o relato de alguns Auditores Fiscais doTrabalho.

Caberá ao Ministério Público do Trabalho – MPT, através da atuaçãode seu órgão agente, instaurar procedimentos para investigar tais fatos e,diante da recalcitrância das empresas, ajuizar competentes ações para ocumprimento da legislação, face à sua competência institucional.

Quanto à competência do Ministério Público do Trabalho para a pro-positura destas ações, a legislação é muito clara neste sentido, como bemsalientado em fundamentado artigo de Colucci , “[...] a Justiça do Trabalho écompetente para dirimir todas as lides que tenham por objeto discutir rela-ções de emprego, inclusive aquelas que se encontram forjadas em progra-mas de trabalho educativo ou outros programas socioeducativos previstosno ECA. Importa apenas identificar a relação de emprego subjacente”. (18)

Como previsto no art. 405, o trabalho do menor, em geral, não poderáser realizado em locais prejudiciais à sua formação, ao seu desenvolvi-mento físico, psíquico, moral e social e em horários e locais que não permi-tam a freqüência à escola, reafirmando as disposições já constantes dosartigos 63 e 67 do ECA.

Da mesma forma com que a nova legislação contemplou todas asempresas com a cota de aprendizagem, que não mais se limita aos estabe-lecimentos industriais, de transporte, comunicação e pesca, foi efetuadaalteração na legislação do FGTS, reduzindo a alíquota para dois por centonos casos de contratação de aprendizes.

A proposta de redução de encargos para a contratação de aprendi-

zes não é nova, já havendo manifestações neste sentido(19)

. É necessáriolembrar, também, o lado social desta contratações, pois que possibilitam aformação de mão-de-obra num contingente de pessoas que, na maioriadas vezes, não tem acesso ao sistema de ensino em sua plenitude.

No art. 430 encontramos a mais substancial mudança no instituto daaprendizagem.

(18) Colucci, Viviane . A atuação do Ministér io Público do Trabalho no combate ao trabalho infantilatravés dos fóruns temáticos, p. 79.(19) Dresch, Mariane Josviak . Trabalho educativo e aprendizagem, pp. 76-77. A autora faz referência

ao Projeto de Lei do Senado n. 142/95 que criava programas de estímulo ao primeiro emprego.

Page 114: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 114/380

117

Numa análise histórica perfunctória, constatamos que desde o Decre-to-lei n. 4.481, de 16.7.42, a aprendizagem sempre esteve vinculada ao Sis-tema “S”, atualmente composto por SENAI, SENAC, SENAR e SENAT, res-pectivamente, Serviço Nacional de Aprendizagem na Indústria, Serviço Na-

cional de Aprendizagem no Comércio, Serviço Nacional de Aprendizagemno Serviço Rural e Serviço Nacional de Aprendizagem nos Transportes.

Ao SENAI, criado pelo Decreto-lei n. 4.048, de 12.1.42, competia or-ganizar e administrar, em todo o país, escolas de aprendizagem paraindustriár ios (art. 2º), tendo como objetivo realizar, em escolas instaladas emantidas, ou em cooperação, a aprendizagem industrial a que estão obri-gadas as empresas da categoria econômica sob sua jurisdição (art. 1º,letra a , do Regimento Interno), enquanto ao SENAC, criado pelo Decreto-lei n. 8.261, de 10.1.46, competia organizar e administrar as escolas de

aprendizagem comercial (art. 1º), objetivando a realização da aprendiza-gem comercial.

O SENAR, foi inicialmente criado pelo Decreto n. 77.354, de 31.3.76,no âmbito do Ministério do Trabalho, e tinha por objetivo organizar e admi-nistrar os programas de formação profissional rural, sendo que este decre-to foi revogado. Posteriormente, foi recriado pela Lei n. 8.315, de 23.12.91,com o objetivo de organizar, administrar e executar o ensino da formaçãoprofissional rural (art. 1º). O SENAT, criado pela Lei n. 8.706, de 14.9.93,como entidade de direito privado, tinha como objetivo gerenciar, desenvol-

ver, executar e apoiar programas de aprendizagem (art. 3º).Através do Decreto n. 31.546, de 6.10.52, manteve-se a vinculação

ao Sistema “S”, prescrevendo em seu art. 2º que “entende-se como sujeitoà formação profissional metódica de ofício ou ocupação, o trabalhador menormatriculado em cursos do SENAI ou SENAC ou em curso por eles reconhe-cido nos termos da legislação que lhes for pertinente”, mas inovou ao per-mitir que a aprendizagem metódica pudesse ser feita no próprio empregoquando o ofício ou a ocupação não tenha previsão de curso em funciona-mento e quando não houver vaga ou não houver curso mantido na localida-

de (art. 2º, § 1º, letras a e b ).Esta situação veio a ser disciplinada através da Portaria n. 127, de

18.12.56, estabelecendo que a aprendizagem metódica no próprio empre-go “será como tal considerada se corresponde a um processo educacional,com o desdobramento do ofício, ou da ocupação, em operações ordenadasde conformidade com um programa, cuja execução se faça sob a direção deum responsável, em ambiente adequado à aprendizagem” (art. 2º), deven-do a empresa satisfazer os requisitos mínimos de aprendizagem, com oauxílio do SENAI e do SENAC (art. 2º e Regimentos Internos do SENAI e

SENAC).

Page 115: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 115/380

118

A utilização da aprendizagem metódica no próprio emprego – AMPE,como se percebe da legislação, funcionava de forma supletiva ao Sistema“S”, mas vinculado aos seus métodos e conteúdos, razão pela qual tal proce-dimento não tenha tido sucesso na sua implementação, ficando a cargo das

empresas do Sistema “S” a quase totalidade da formação dos aprendizes.Santos , ao analisar o art. 60, do ECA, concluiu que:

Uma visão, mesmo que panorâmica, sobre o sistema de formaçãoprofissional no País pode nos deixar perplexos e reafirmar a necessidadede fazer mudanças substanciais neste quadro. Desde Getúlio Vargas, quan-do se criou, em 1942, o SENAI e SENAC, se tem delegado à classe patro-nal a tarefa de formação de mão-de-obra especializada e necessária àsindústrias e ao comércio. Hoje, estes dois órgãos detêm a exclusividade daformação ou da supervisão dessa formação profissional, e isso significa

que o regime de aprendizagem só pode ser instituído sob sua chancela.Por serem órgãos patronais, a formação propiciada, certamente, vai

ao encontro de seus interesses. Além disso, a formação é excludente, pois,no caso dos adolescentes empobrecidos, os critérios rigorosos para o in-gresso nos cursos limitam o acesso de uma grande parcela dessa popula-ção à formação profissional naquelas instituições. (20)

Pudemos constatar esta realidade ao participarmos de seminário rea-lizado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, quando o representante doSENAI, após ser perguntado quanto ao custo de um curso, declinou o valor

mensal de, aproximadamente, R$ 250,00 (duzentos e cinqüenta reais), va-lor superior ao salário mínimo.(21)

Neste ponto, a nova redação do art. 430 demonstra toda a forçade sua inovação, posto que vinculou a aprendizagem ao disposto na Lei deDiretrizes e Bases da Educação, como preceitua o art. 62, do ECA.

Com efeito, a Lei n. 9.424, de 24.12.96, Lei de Diretrizes e Bases daEducação, no capítulo referente à educação profissional, prescreve em seuart. 40 que “a educação profissional será desenvolvida em articulação como ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em 

instituições especializadas ou no ambiente de trabalho” (grifos acrescidos).Regulamentando esta disposição, através do Decreto n. 2.208, de

17.4.97, estipulou que:

Art. 4º A educação profissional de nível básico é modalidade de edu-cação não formal e duração variável, destinada a proporcionar ao cidadãotrabalhador conhecimentos que lhe permitam reprofissionalizar-se, qualifi-

(20) Cury , Munir et. alii. (coords.), op. cit., pp. 184-185.(21) Seminário de Combate ao Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente. Painel

Formação Profissional. Anotações pessoais.

Page 116: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 116/380

119

car-se e atualizar-se para o exercício de função demandadas pelo mundodo trabalho, compatíveis com a complexidade tecnológica do trabalho, oseu grau de conhecimento técnico e o nível de escolaridade do aluno, nãoestando sujeita à regulamentação curricular.

Baseados nestes permissivos legais, incluíram-se as Escolas Técni-cas de Educação e as entidades sem fins lucrativos, que tenham por obje-tivo a assistência ao adolescente e à educação profissional, como entida-des aptas a fornecer aprendizagem aos adolescentes, aumentando-se oleque de oportunidades.

Deixou-se claro, porém, que estas entidades deverão contar com es-trutura adequada ao desenvolvimento dos programas de aprendizagem, deforma a manter a qualidade do processo de ensino, bem como acompanhare avaliar os resultados (art. 1º, do art. 430), em disposição similar àquela

contida na Portaria n. 127, que disciplinou a AMPE.Considero um avanço a inclusão das entidades que prestem assis-

tência aos adolescentes, pois que, no âmbito do Ministério Público do Tra-balho – MPT desenvolvemos um programa de regularização destas entida-des ao disposto no ECA, contando com mais de 10.000 adolescentes regu-larizados no interior do Estado, área de abrangência da Procuradoria Re-gional do Trabalho da 15ª Região.

Em análise acerca do trabalho educativo e aprendizagem Dresch  jámanifestava a posição adotada pela legislação, ao propor que “a aprendi-zagem não se limitaria à da CLT (arts. 80 e 429), mas a tomaria como umparadigma, ampliando as suas possibilidades, quais sejam, que outras ins-tituições a ministrassem, como por exemplo Universidades Federais e Es-taduais, CEFET’s etc.”(22)

Um aspecto que considero como positivo para o processo de apren-dizagem foi o fato de não haver regulamentação curricular (art. 4º, do De-creto n. 2.208/97), pois assim as entidades que ministrem os cursos não sesujeitam mais ao Sistema “S”.

A atuação da Procuradoria Regional do Trabalho da 15ª Região paraa regularização destas entidades mereceu elogios do Conselho Nacional

dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA, do Conselho Esta-dual dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONDECA e, também, daComissão Parlamentar de Inquérito sobre o trabalho de crianças e adoles-cente no Brasil, que assim assinalou no seu relatório final:

23 (Programas governamentais e não governamentais de in-serção de menores no trabalho) [...] A avaliação da legalidade dosprogramas deve contar sempre com a participação de representan-

(22) Dresch, Mariane Josviak , op. cit., p. 77

Page 117: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 117/380

120

tes do Ministério Público do Trabalho. Nesse sentido, cabe mencionaro caso das Guardas Mirins de São Paulo onde foram registrados,apenas nos últimos seis meses, nas entidades ou nas empresas, cer-ca de 10.000 adolescentes com contratos baseados no art. 68 do

ECA, com acompanhamento obrigatório de educadores e reforço es-colar nos Municípios de [...]. A regularização é uma ação conjunta daDelegacia Regional do Trabalho de São Paulo e da Procuradoria doTrabalho da 15ª Região.

Este permissivo legal fará com que o contingente de aprendizes cres-ça consideravelmente, proporcionando ao adolescente o ingresso no mer-cado de trabalho em condições mais satisfatórias, não apenas com a expe-riência de office-boy , nas suas experiências assistencialistas.

Inclusive, convém recordar que a função de office-boy , bem como asde empacotador e embalador, estão incluídas no Anexo II, da Portaria n.28, de 4.1.58, como ocupações que não demandam formação profissionalou aprendizagem metódica, não se prestando ao intento legal de aprendi-zagem.

A importância da capacitação destes adolescentes se revela quandocomparamos a taxa de desemprego ocorrida em sua faixa etária.

Segundo pesquisa da OIT, o desemprego entre as pessoas de 15 a17 anos é quase o triplo do grupo de 25 e mais anos.(23)

Se não existe o emprego, as oportunidades que surgem não se afigu-ram melhores pois, segundo estudo de Pochmann :

Na década de 1990, registra-se um aumento das ocupaçõesnão assalariadas, ainda que insuficiente para atender a oferta de jo-vens que ingressam no mercado de trabalho a cada ano. Para grandeparte dos casos, os postos de trabalho não-assalariados são precári-os, tendo em vista os baixos rendimentos, a instabilidade ocupacio-nal, as altas jornadas de trabalho e a ausência de mecanismos de

proteção social e trabalhista.(24)

concluindo que se verificou a piora das condições de acesso ao mer-cado de trabalho pelos trabalhadores das menores faixas etárias.

(23) Organização Internacional do Trabalho. Desemprego juvenil por níveis de educação, faixaetária e níveis de renda domiciliar no Brasil, 1990 e 1997 In Desemprego juvenil no Brasil: embusca de opções à luz de experiências internacionais, pp. 27-28.(24) Márcio Pochmann . Emprego e desenvolvimento juvenil no Brasil: as transformações nos anos90. In Organização Internacional do Trabalho (org.) Desemprego juvenil no Brasil: em busca de

opções à luz de experiências internacionais, pp. 37-58.

Page 118: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 118/380

121

Esta preocupação com o ingresso do adolescente no mercado de tra-balho sem a devida preparação também está presente nas consideraçõesdo Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil:

A qualificação profissional, principalmente de segmentos maisempobrecidos da população, de desempregados e de quem pretendeentrar no mercado de trabalho, oferece oportunidades de inserçãoprodutiva desde que estimulem o uso de metodologias e conteúdosmais flexíveis e adaptados às suas realidades e culturas.

Além da necessidade de proporcionar instrumentalização vol-tada para ocupações específicas e questões gerenciais, é precisoconsiderar a questão da formação básica, o que remete para a alfa-betização e para o reforço e aceleração escolar.

Conjugar qualificação profissional com elevação ou recupera-ção da escolarização básica impõe-se como essencial, uma vez quea educação possui hoje um caráter estratégico sob a ótica da cidada-nia e do acesso ao mundo do trabalho.(25)

De acordo com o § 3º, do art. 430, ficará a cargo do Ministério doTrabalho e Emprego a fixação de normas para avaliação da competênciadas entidades sem fins lucrativos que desenvolvam programas de aprendi-zagem.

Trata-se de norma em branco, que deverá ser completada por porta-ria ou outro regramento legal, onde deverão ser individualizadas as nor-mas para que a entidade possa desenvolver os programas, nos termosestabelecidos no § 1º.

Entendo que, apesar de tratar-se de norma relativa à aprendizagem,que a competência para ajuizar as ações competentes é do Ministério Pú-blico do Trabalho como já descrito e que o art. 4º, do Decreto n. 2.208/97,estabeleceu que ela não está sujeita à regulamentação curricular, a com-petência para fixar estas normas não está bem colocada no Ministério doTrabalho e Emprego.

Acho que a competência para a fixação destas normas deveria caberao Ministério da Educação, pois que o próprio ar t. 62, do ECA, que primeirodefiniu a aprendizagem e que serviu de parâmetro para a propositura dalei, determina que a aprendizagem deveria ser ministrada “segundo as di-retrizes e bases da legislação de educação em vigor”.

No Ministério da Educação se encontram os especialistas em educa-ção e que podem fornecer auxílio inconteste aos especialistas em trabalho,

(25) Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil. Diretrizes para formulação

de uma Política Nacional de Combate ao Trabalho Infantil, p. 31.

Page 119: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 119/380

122

alocados no Ministér io do Trabalho e Emprego, formulando as normas paraavaliação da competência da entidade para promover programas de apren-dizagem, cabendo a este último a fiscalização das entidades.

Ressalto que este posicionamento encontra-se amparado nas própri-as disposições constantes na LDB (Lei n. 9.394/96).

Ao estabelecer, no art. 3º, inciso IX, que a garantia de padrão dequalidade deve ser um dos princípios do ensino; no art. 7º, inciso I, que oensino é livre à iniciativa privada desde que exista avaliação de qualidadepelo Poder Público; e, no art. 9º, § 1º, ao criar na estrutura educacional oConselho Nacional de Educação, com funções normativas e de supervisãoe atividade permanente, atraiu para si o ônus de regulamentar o funciona-mento do ensino no país, não havendo na legislação qualquer delegação.

É necessário também que haja uma fiscalização efetiva nestas insti-tuições para acompanhar o desenvolvimento dos projetos de aprendiza-gem, como bem ressaltou Dal Rosso em estudo empreendido sobre o tema.

De acordo com Dal Rosso , a probabilidade de visita dos fiscais àsempresas seja de uma a cada três anos. Assim, “num intervalo de três anos,empresas podem ser criadas e encerradas. Como três anos é um valormédio, isto significa que inúmeros estabelecimentos jamais são sujeitos aqualquer inspeção do trabalho, prevalecendo as normas a critério dos em-pregadores, que é a parte mais forte”.(26)

Dal Rosso nos fala, ainda, da existência de uma inspeção social, que

deve preceder ou existir concomitantemente com a inspeção estatal. Elecritica o reducionismo que confere só ao Estado capacidade de vigilânciasobre as condições de trabalho. Considera distorção o fato de não haverlugar para a sociedade civil na inspeção do trabalho.(27)

Buscando sempre o trabalho protegido para os adolescentes, carac-terística nuclear do direito das crianças, estabeleceu-se, no projeto de lei,que o inadimplemento das obrigações trabalhistas por parte da entidadesem fins lucrativos implicará responsabilidade da empresa onde se realizara aprendizagem quanto às obrigações relativas ao período em que o me-

nor esteve a sua disposição.Ao sancionar a lei, porém, o Presidente da República vetou o pará-

grafo único do art. 431, sob o seguinte fundamento:

É manifesta a incoerência entre o disposto no caput do art. 431 — que admite a contratação por intermédio da entidade sem fim lu-crativo, estabelecendo que, neste caso, não haverá vínculo de em-

(26) Dal Rosso , Sadi. A inspeção do trabalho, p. 38.

(27) Op. cit., p. 11

Page 120: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 120/380

123

prego com o tomador de serviço – e a regra prevista no parágrafoúnico, que transfere a responsabilidade para o tomador de serviçocaso a entidade contratante não cumpra as obrigações trabalhistas.

Ora, não faz sentido admitir a contratação por entidade inter-

posta, sem vínculo de emprego com o tomador do serviço e, conco-mitantemente transferir para o tomador do serviço a responsabilida-de decorrente da contratação.

Por outro lado, a supressão do referido parágrafo único não acar-retará qualquer prejuízo aos trabalhadores, pois é pacífico o entendi-mento do Tribunal Superior do Trabalho no sentido de que o inadim-plemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, im-plica na responsabilidade subsidiária do tomador de serviços (Enun-ciado n. 331 do TST).

Como salientado nas razões do veto, a exclusão do parágrafo únicoaprovado pelo Legislativo, em nada altera a essência da proteção, pois queo entendimento de que o tomador dos serviços responde subsidiariamentepelos débitos trabalhistas, inclusive no caso do tomador ser órgão público,é dominante na mais alta corte trabalhista do país.

Contudo, seria importante tal vinculação estar inserida na legislação,como no caso previsto no art. 16, da Lei n. 6.019, de 3.1.74, pois que aefetiva proteção aos trabalhadores adolescentes não ficaria apenas fincadaem entendimento jurisprudencial.

Quanto à jornada de trabalho a ser desempenhada pelo aprendiz,ficou estabelecido, no art. 432, que ela não poderá exceder a seis horasdiárias, vedando-se a prorrogação e a compensação de jornada. O § 1ºpermite a inclusão de mais duas horas, se o aprendiz tenha completado oensino fundamental e desde que nelas forem computadas as horas desti-nadas à aprendizagem teórica, o que não nos parece adequado, posto queadotamos como ideal a jornada diária de seis horas para o aprendiz.

Se efetuarmos a comparação com o trabalhador adolescente, veremosque a este também é vedada a prorrogação, sendo possível o acréscimo deduas horas, com posterior compensação, ou até o máximo de doze horas,

por motivo de força maior, com ressalva expressa de que o seu trabalhoseja imprescindível ao funcionamento do estabelecimento.

É necessário ressaltar que, segundo o parágrafo único do art. 403, a jornada não poderá ser realizada em locais prejudiciais à sua formação, aoseu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social e em horários e locaisque não permitam a freqüência à escola.

Apesar da advertência de Magano , trazendo a experiência argentinade redução da jornada de trabalho dos aprendizes para seis horas quegerou, na prática, a eliminação da aprendizagem, entendo que a jornada

do aprendiz não poderia ser maior do que as seis horas já delineadas.

Page 121: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 121/380

124

Complementando estas disposições, o art. 63, do ECA, vincula a for-mação técnico-profissional aos princípios de garantia de acesso e freqüên-cia obrigatória ao ensino regular, de atividade compatível com o desenvol-vimento do adolescente e horário especial para o exercício das atividades.

O contrato de aprendizagem, por ser caracterizado como contratopor prazo determinado, extinguir-se-á ao término de seu prazo ou quandoo adolescente completar dezoito anos.

Os incisos do art. 433 enumeram as hipóteses de extinção antecipadado contrato de aprendizagem, a saber: a) desempenho insuficiente ou ina-daptação do aprendiz; b) falta disciplinar grave; c) ausência injustificada àescola que implique perda do ano letivo; d) a pedido do aprendiz.

Quanto a estas hipóteses, convém ressaltar apenas aquela penalida-de por falta disciplinar grave. Como a legislação não disciplinou o que seja

a falta disciplinar grave, teremos de nos utilizar a analogia e entender queas hipóteses aplicáveis são aquelas descritas no art. 482, da CLT, que enu-mera as causas de ocorrência de justa causa no decorrer da execução docontrato de trabalho.

A hipótese de desempenho insuficiente já se encontrava descrita norevogado art. 432, que ainda abrigava a hipótese de freqüência ao cursode aprendizagem, como formas extintivas do contrato.

Na ocorrência de qualquer dessas hipóteses, não haverá a aplicaçãodo disposto nos artigos 479 e 480, da CLT, que tratam das indenizações

devidas pelo empregador e pelo empregado decorrentes da ruptura anteci-pada dos contratos firmados a prazo determinado.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A nova legislação, consolidando as alterações que se processaramno instituto da aprendizagem, abre novas possibilidades para que os nos-sos jovens adquiram capacitação para entrar no mercado de trabalho, enele permanecer, para provocar uma ruptura no acesso apenas através de

colocações precárias e sem intuito de profissionalização.Esta situação vem sendo analisada pelo Ministério Público do Traba-

lho que criou, através da Portaria n. 299, de 10.11.2000, a CoordenadoriaNacional de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adoles-cente, demonstrando a importância que o tema vem merecendo dentro denossa instituição.

A experiência histórica demonstrou que o sistema de capacitaçãoprofissional montado pelos empresários (Sistema “S”) não atingiu justa-mente a população excluída dos processos de ensino, fazendo-se neces-

sária uma retomada de posição para corrigir o desvio que ocorreu.

Page 122: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 122/380

125

Devemos nos lembrar sempre que a profissionalização dos adoles-centes é um dever, segundo o art. 227, da Constituição Federal, e que acarga é imposta a todos.

A LDB prestigia a formação profissional dos adolescentes e promo-veu avanços que possibilitaram este novo rumo tomado.

A nova legislação representa um avanço, mas é necessário que sejapromovida uma mudança política também, e que estas crianças e adoles-centes não sejam jogados tão precocemente no mercado de trabalho, quelhes seja facultado continuar seus estudos, possibilitando-lhes o seu plenodesenvolvimento físico, psíquico, intelectual e moral.

Page 123: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 123/380

127

 AÇÃO CIVIL PÚBLICA NA JUSTIÇA DO TRABALHO:

 ALGUMAS QUESTÕES CONTROVERTIDAS 

Raimundo Simão de Melo(*)

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 

Sabidamente a concepção individualista liberal marcou a atuaçãoda Justiça do Trabalho, acostumada a julgar a tradicional reclamação tra-balhista, através da qual o trabalhador somente procura a reparação dosseus direitos violados, na maioria esmagadora dos casos, depois de res-cindido o contrato de trabalho, quando então, premido pela necessidadedecorrente do desemprego e diante da conhecida e insuportável demora

da solução judicial, submete-se a transações ruinosas. Após a CF/88, quealterou as funções do Ministério Público do Trabalho e, mais precisamen-te com a Lei Complementar n. 75/93, que as regulamentou, é que come-çaram a ser ajuizadas ações coletivas para defesa de interesses difusos,coletivos e individuais homogêneos no âmbito dessa Justiça Especializa-da. A partir de então, iniciaram-se grandes polêmicas sobre a aplicaçãodos novos institutos processuais, sendo que a primeira delas disse res-peito ao cabimento da ação civil púbica trabalhista, rejeitada por alguns,até mesmo pelos membros do Parquet, que diziam não caber essa açãona Justiça trabalhista. Foi preciso, para acabar com a celeuma, que a

LC n. 75/93 estabelecesse explicitamente sobre o seu cabimento na esferatrabalhista (art. 83, III).

Assim, devido à proliferação dos conflitos na complexa relação entrecapital e trabalho, bem como a criação de novos direitos sociais para ostrabalhadores (CF, arts. 7º usque 11), avulta a necessidade de instituiçãode novos e eficazes mecanismos de tutela desses direitos. O inquérito civil,em nível administrativo, e a ação civil pública, no âmbito da Justiça do Tra-balho, surgem, nos dias atuais, como instrumentos efetivos de defesa dos

(*) Procurador Regional do Trabalho/15ª R./Campinas. Professor de Direito e Processo do Trabalho.

Page 124: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 124/380

128

interesses e direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos(1) (art. 81e seguintes, do Código de Defesa do Consumidor). Não obstante isso, aação civil pública, por se tratar de instrumento de defesa dos interesses dasociedade, de caráter ideológico, ainda tem sido encarada por alguns ope-

radores do direito, em especial na esfera trabalhista, mediante uma visãopreconceituosa.

2. OBJETO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 

A ação civil pública, criada pela Lei n. 7.347/85 e ampliada pelo Códigode Defesa do Consumidor, para abranger quaisquer outros interesses difu-sos e coletivos, é um instrumento moderno e eficaz de atuação jurisdicionalna proteção dos interesses e direitos metaindividuais; tal se comprova pelos

eficientes resultados já apresentados, buscando-se, por meio dela, normal-mente, o cumprimento de uma obrigação de fazer ou não fazer com relaçãoà observância das normas trabalhistas, mediante cominação de multas diá-rias (artigo 11 da Lei n. 7.347/85), as chamadas astreintes do direito francês,pelo descumprimento do comando judicial. Essas multas, para o caso dedescumprimento das normas trabalhistas, são fixadas em valores elevadose cumulativos, com o objetivo de desestimular o descumprimento da ordememanada do Poder Judiciário; por isso, os resultados são efetivos, ao contrá-rio das penalidades aplicadas administrativamente, pela inspeção do traba-lho, cujos montantes, em certas situações, são irrisórios a ponto de incenti-

var o descumprimento da norma legal.Na ação civil pública trabalhista(2) também se pede, conforme o caso,

liminarmente (artigo 12, da Lei n. 7.347/85), a interdição de obras, locaisde trabalho ou até de toda uma empresa, quando, por exemplo, estiveremausentes requisitos mínimos de segurança do trabalho que coloquem emrisco iminente a saúde e vida dos trabalhadores (art. 161, da CLT) e, no julgamento definitivo, o pagamento de indenizações genéricas — materiaise morais — pelos danos já causados ao meio ambiente do trabalho (arts.225, § 3º, da CF, 14, § 1º, da Lei n. 6.938/81 e 6º, inciso VI, do CDC) ou a

qualquer outro interesse metaindividual trabalhista.É certo que a Justiça do Trabalho, em muitas regiões, como na 15ª,

por exemplo, já vem apreendendo a grande importância para a sociedade,

(1) Carlos Henrique Bezerra Leite, “Ministério Público do Trabalho — Doutrina, jurisprudência eprática”, p. 97. São Paulo: LTr, 1978.(2) Essa ação, na esfera trabalhista, por falta de regulamentação legal celetista, é regida pela Lein. 7.347/85, pelo CDC e pelo CPC, este, naquilo em que compatível (ar ts. 21 da Lei n. 7.347/85 e769, da CLT), uma vez que a Consolidação das Leis do Trabalho é omissa no tocante ao procedi-mento a ser adotado, embora os princípios gerais por ela traçados devam ser observados deforma a se adaptar aqueles modernos instrumentos legais às peculiaridades do direto e do pro-

cesso do trabalho.

Page 125: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 125/380

129

da atuação do Ministério Público do Trabalho, por meio dos inquéritos civise das ações civis públicas, cujo exemplo marcante deu o juiz do trabalho,Dr. Samuel Hugo Lima, da 8ª Vara do Trabalho de Campinas, apreciandopedido liminar em ação civil pública, de interdição das obras de um edifício,

que, após fazer constatação in locu , deferiu o pedido. Aquela empresa de-mandada, que há um ano vinha sendo instada administrativamente peloMTE a cumprir a lei, sem resultado positivo, em menos de um mês compa-receu à audiência com laudo técnico comprovando ter implementado asnormas de segurança do trabalho(3).

3. LEGITIMIDADE PARA AJUIZAMENTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 

É importante ressaltar que a ação civil pública não é instrumento ex-

clusivo do Ministério Público, havendo outros legitimados, com destaque,na área trabalhista, para os sindicatos (artigos 129, § 1º, da CF, 5º, da Lein. 7.347/85 e 82, inciso IV, do CDC), o que é importante e tem ensejado atéa atuação litisconsorcial destes com o Parquet na defesa dos direitos cole-tivos dos trabalhadores.

Embora ordinariamente as ações civis públicas venham sendo ajui-zadas pelo Ministério Público, pela possibilidade, no inquérito civil (estesim, de competência exclusiva do órgão ministerial), de colher provas ne-cessárias ao convencimento do Judiciário, existem casos em que os sindi-catos têm em mãos os elementos necessários e embasadores sobre o des-cumprimento das normas trabalhistas, muitas vezes consubstanciados eminspeções e laudos do Ministério do Trabalho e Emprego, devendo, desdelogo, ajuizar diretamente a respectiva ação. Nesse sentido vem progredindoa melhor jurisprudência trabalhista:

Ação Civil Pública — Legitimidade — A defesa dos interesses coletivos em juízo, através da ação civil pública, pode ser feita tanto pelo Ministério Público do Trabalho como pelos sindicatos, de vez que o ordenamento processual assegura a legitimidade concorrente 

de ambos (CF, art. 129, III, e parágrafo 1º, Lei n. 7.347/85, art. 5º, I e II (Processo TST-RR n. 316001/96.4, Ac. da 4ª Turma, de 22.02.2000,LTr 64-03/361/365, Relator: Min. Ives Gandra Martins Filho).

Esse entendimento é extremamente importante porque consagra areal vontade dos legisladores constituinte e ordinário no sentido de alar-gar cada vez mais o leque de legitimados para a defesa dos interessesmetaindividuais, o que aumentou efetivamente a responsabilidade dos sin-

(3) Cf. nosso, Segurança e meio ambiente do trabalho: uma questão de ordem pública. São Paulo:

Revista Literária do Direito , pp. 30/31, 1997.

Page 126: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 126/380

130

dicatos na defesa dos interesses das respectivas categorias. Há que sereconhecer, portanto, uma importante parceria entre o Ministério Públicodo Trabalho e os sindicatos na defesa dos interesses metaindividuais tra-balhistas.

4. DA COMPETÊNCIA MATERIAL PARA APRECIAÇÃO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 

Na defesa dos interesses metaindividuais, instaura o Parquet traba-lhista procedimentos prévios e inquéritos civis, realiza audiências públicase, não obtendo êxito, ajuíza ações civis públicas perante a Justiça do Tra-balho, porém, enfrentando dificuldades, v. g., numa ação civil pública inten-tada pelo MPT da 15ª Região, buscando a prevenção do meio ambiente do

trabalho, a primeira instância trabalhista deu-se por incompetente sob ale-gação de que a questão de segurança no trabalho dizia respeito a umarelação entre empregador e o Estado e, portanto, nada tinha a ver com arelação de trabalho.

Com efeito, convenceu-se o Tribunal Regional sobre o equívoco co-metido pela então JCJ, cujas razões ficaram consubstanciadas na seguin-te ementa de acórdão:

Ação Civil Pública — Normas de Higiene e Segurança — Com- 

petência — A Justiça do Trabalho é competente para conhecer e julgar ação civil pública, proposta pelo Ministério Público do Trabalho, quan- do o objeto da ação for norma de higiene e segurança não observada pela empresa. Tais normas aderem ao contrato de trabalho. Seu não cumprimento fere o caráter sinalagmático da relação contratual (4).

A questão da competência da Justiça do Trabalho para apreciar asações coletivas sobre prevenção ambiental e demais questões decorren-tes das relações de trabalho, parece hoje resolvida depois que os C. TST eSTF decidiram a favor dessa Justiça Especializada, assentando, também,

sobre a legitimidade do Parquet do trabalho para atuar na proteção dosimportantes interesses metaindividuais trabalhistas, cujas ementas, pelaimportância do assunto, merecem transcrição:

Justiça do Trabalho. Competência. Tratando-se da defesa de in- teresses coletivos e difusos no âmbito das relações laborais, a com- petência para apreciar a ação civil pública é da Justiça do Trabalho,nos termos do art. 114, da Constituição Federal/88, que estabelece 

(4) Processo TRT/15ª Região n. 7.905/93-9, Ac. n. 16.814/93, Relatora Juíza Eliana Toledo, DOESP

de 30.11.93.

Page 127: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 127/380

131

idoneidade a esse ramo do Judiciário para a apreciação, não somen- te dos dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empre- gadores, mas também de outras controvérsias decorrentes da rela- ção de trabalho (Processo n. TST-RR-402.469/97.1, acórdão, 5ª Tur-

ma, Rel. designado, Min. Thaumaturgo Cortizo, DJU de 7.8.1998).Competência. Ação Civil Pública. Condições de Trabalho. Tendo 

a ação civil pública como causa de pedir disposições trabalhistas e pedidos voltados à preservação do meio ambiente do trabalho e, por- tanto, aos interesses dos empregados, a competência para julgá-la é da Justiça do Trabalho (STF-RE n. 206.220-1. Rel. Min. Marco Aurélio,2ª Turma, 16.3.1999).

Amauri Mascaro Nascimento , em brilhante artigo doutrinal(5) assim se

manifesta sobre o tema, afirmando que:De acordo com a Lei Complementar n. 75/93, art. 83, III, cabe à Pro- 

curadoria da Justiça do Trabalho ingressar com inquérito civil e com ação civil pública para fins trabalhistas, dentre os quais está a aplicação de nor- mas sobre segurança e medicina do trabalho. E que a Justiça do Trabalho é competente para apreciar e decidir as mesmas questões aqui denomina- das ambientais e que não passam, como foi mostrado, de lides sobre con- dições de trabalho no sentido das regras de segurança e medicina do tra- balho, e entram no seu âmbito de competência por força do disposto na Constituição Federal, art. 114.

Desse modo, sempre que se tratar de conflito decorrente das rela-ções de trabalho, a competência para apreciar a ação civil pública corres-pondente é da Justiça do Trabalho, por força do que dispõe a ConstituiçãoFederal (art. 114, caput ).

5. COMPETÊNCIA FUNCIONAL E EFEITOS ERGA OMNES DA COISA JULGADA NA AÇÃO CIVIL PÚBLICA 

Com efeito, reconhecido o cabimento da ação civil pública trabalhis-ta, outra grande discussão, que parece não estar ainda resolvida, diz res-peito à competência funcional para o julgamento desta ação perante osórgãos da Justiça do Trabalho, formando-se duas correntes totalmente opos-tas: a primeira, sustentando ser de competência originária das então JCJs,hoje Varas Trabalhistas, com arrimo no artigo 2º, da Lei n. 7.347/85 (As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a cau- 

(5) A defesa processual do meio ambiente do trabalho, São Paulo: Revista LTr, ano 63, n. 5, pp.

583/587, 1999.

Page 128: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 128/380

132

sa ); a segunda, defendendo a competência dos TRTs e TST, pela seme-lhança da ação civil pública com o dissídio coletivo, aliás, única ação cole-tiva tradicionalmente conhecida na Justiça laboral.

A segunda tese foi inicialmente acolhida pelo TST (TST-ACP 92.867/ 93) numa ação civil pública ajuizada perante aquele órgão; esse entendi-mento, repudiado pela grande maioria dos membros do Ministério Públicodo Trabalho, por juízes trabalhistas de primeira instância e também por par-te da doutrina, foi logo abandonada por aquela Corte Trabalhista, que emmemorável decisão acolheu a competência originária da primeira instân-cia, assim ementando:

Ação civil pública  — Estagiários — Desvio de finalidade. A ação civil pública é de natureza ordinária e individual, pois envolve a apli- 

cação da legislação existente, o que implica dizer que, como qual- quer ação ordinária, o órgão competente para apreciá-la originaria- mente é, em virtude do critério da hierarquia, a Junta de Conciliação e Julgamento e não pode ser invocado, como causa de modificação da competência o fato de a ação ter sido ajuizada contra empresa de âmbito nacional ou a circunstância de o inquérito civil público ter sido instaurado a pedido de federação de âmbito nacional, abrangendo atividades e relações desenvolvidas nas circunscrições dos vinte e quatro Tribunais Regionais do Trabalho, haja vista que o objetivo da presente ação é a estipulação de uma obrigação de não fazer a ser 

imposta à divisão administrativa da CEF, que tem por sede a cidade de Brasília. Nesse sentido tem-se que a causa de pedir direta é a orientação administrativa da CEF de utilizar o estagiário como mão- de-obra substitutiva dos empregados regulares. Destarte, a regra de competência hierárquica a ser observada por analogia não está no âmbito da competência específica da Justiça do Trabalho, em especi- al a estabelecida no artigo segundo, inciso um, alínea a, da Lei sete mil, setecentos e um de vinte e um de dezembro de oitenta e oito,senão que está no artigo noventa e três da Lei oito mil e setenta e oito de noventa (Código de Defesa do Consumidor, que declara, res- salvando a competência da Justiça Federal, competir à Justiça local do foro do lugar da ocorrência do dano, quando de âmbito local, e, no foro da capital do Estado ou no do Distrito Federal para os danos de âmbito regional ou nacional). Parecem decisivas mais duas circuns- tâncias: primeira, o ato contra o qual se dirige a ação civil pública não foi praticado pelas superintendências regionais da Caixa, senão pela sua divisão administrativa nacional, com sede nesta capital federal.Assim, o comando sentencioso que porventura for emitido atingirá o próprio ato originário das supostas lesões à ordem jurídica laboral e 

aos interesses coletivos dos estagiários, e difusos daqueles que, in- 

Page 129: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 129/380

133

tegrantes da sociedade, são candidatos aos postos efetivos ora ocu- pados pelos estagiários. Segunda, é de extrema inconveniência que o primeiro grau de jurisdição seja o órgão de cúpula do Tribunal Su- perior do Trabalho, retirando das partes as oportunidades recursais,

com o sacrifício, inclusive, do princípio do duplo grau de jurisdição.Deve-se realçar, finalmente, que a competência do TST em mateira de dissídios coletivos resultou de imperativos lógicos e materiais de natureza diversa. Com efeito, não se poderia atribuir a qualquer Tri- bunal Regional do país o julgamento de dissídios coletivos cuja abran- gência fosse superior à jurisdição terr itorial do TST, sob pena de não- abrangência, por inteiro, da lide coletiva. Ação civil pública em que se declara a incompetência do Tribunal Superior do Trabalho para apre- ciar o feito (6).

Hoje, no entanto, começa a surgir e ganhar corpo perante o C. TST, epor conseqüência nos demais graus de jurisdição trabalhista, um terceiroentendimento intermediário entre as duas correntes anteriores; sustenta-se ser tal competência originária das Varas Trabalhistas quando o dano forlocal, ou seja, quando restringir-se à jurisdição do órgão julgador e, dosTribunais Regionais e do Tribunal Superior do Trabalho, quando o dano forde abrangência regional ou nacional, respectivamente. A fundamentaçãoconsta do acórdão, cuja ementa está assim redigida:

Competência Hierarquica para apreciação de ação civil pública: 

O art. 16 da Lei n. 7.347/85, com a redação que lhe deu a Lei n.9.494/97, ao dispor que a sentença prolatada em ação civil pública terá seus efeitos limitados à competência territorial do órgão prolator,admite exegese no sentido da limitação da sentença ao âmbito juris- dicional da Junta ou, o que condiz melhor com a natureza indivisível do provimento jurisdicional nessa modalidade de ação, a conclusão de que a competência originária de ser de Tribunal, se a abrangência de lesão for regional ou nacional ( Processo TST-RR n. 316001/96.4,Ac. da 4ª Turma, de 22.2.2000, Relator Min. Ives Gandra Martins Fi-

lho — LTr 64-03/361/365).Não bastasse isso, logo em seguida (em 29.2.2000) o C. TST impri-

miu alteração no seu Regimento Interno por meio da Resolução Adminis-trativa n. 686/2000, cujo artigo 6º estabeleceu:

Art. 6º À Seção Especializada em Dissídios Coletivos compete:

I — originariamente:

(6) Processo TST-ACP 154.931/94, Rel. Min. Ronaldo Lopes Leal, DJ de 29.11.1996, p. 47434.

Page 130: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 130/380

134

a) julgar os Dissídios Coletivos de natureza econômica e jurídi- ca, as Ações Civis Públicas e as Ações decorrentes de laudo arbitral que excedam a jurisdição dos Tribunais Regionais do Trabalho e es- tender ou rever suas próprias sentenças normativas, nos casos pre- 

vistos em Lei (grifamos)...

Referido entendimento, como expressamente consignado no acórdãoassinalado, arrimou-se sobre o alcance dos efeitos da coisa julgada, hoje“delimitada” pelo art. 16, da Lei n. 7.347/85, ao âmbito de jurisdição do juizda causa.

Nos parece, data venia, que essa posição não se sustenta cientifica-mente. É que, como decorre de lições processuais basilares, não se pode confundir regras de jurisdição e competência com os efeitos da coisa julga- 

da, quer nas ações individuais quer nas coletivas, pois tais efeitos se pro-duzem nos limites objetivos e subjetivos, envolvendo as partes do proces-so, onde quer que elas estejam, independentemente do âmbito de jurisdi-ção do juízo prolator da sentença (art. 472 do CPC) (7). Com maior razãoocorre no tocante às ações para defesa dos interesses metaindividuais,onde os efeitos da coisa julgada são sempre erga omnes ou ultra partes,como assevera Hugo Nigro Mazzilli, verbis: 

Não há como confundir a competência do juiz que julga a cau- 

sa com os efeitos que uma sentença pode produzir fora da comarca em que foi proferida, e que poderão tornar-se imutáveis com seu trânsito em julgado (imutabilidade do decisum entre as partes). As- sim, p. ex., uma sentença que proíba a fabricação de um produto nocivo que vinha sendo produzido e vendido em todo o País, ou uma sentença que proíba o lançamento de dejetos tóxicos num rio que banhe vários Estados — essas sentenças produzem efeitos em todo o País ou em mais de uma região do País, mas isso não se confunde com a competência para proferi-las, que deverá ser de um único juiz, e não de cada um dos milhares de juízes brasileiros, cada 

qual “dentro dos limites de sua competência terr itorial.” Admitir solu- ção diversa levaria a milhares de sentenças contraditórias, exata- mente contra os fundamentos e finalidades da defesa coletiva de interesses ...(8).

(7) ... A idéia de que as decisões proferidas pelos órgãos do Poder Judiciário somente podemproduzir efeitos em uma dada área geográfica é cientificamente infundada, sendo certo que aeficácia de tais provimentos está adstrita apenas aos limites objetivos e subjetivos da coisa julga- da, vinculando seus destinatários onde quer que os mesmos se encontrem.. (Proc. ACP1999.38.03.000350-6, da 2ª Vara da Justiça Federal da 1ª Região — Uberlândia/MG).

(8) In  A defesa dos interesses difusos em juízo . 11ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999, pp. 140-141.

Page 131: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 131/380

135

E isso decorre da natureza indivisível dos interesses difusos e coleti-vos, do que resta claramente que qualquer norma legal restritiva dessesefeitos, como a Lei n. 9.494/97 que alterou o ar t. 16 da Lei n. 7.347/85, paralimitar os efeitos da coisa julgada na ação civil pública ao âmbito de jurisdi-

ção do juízo prolator da sentença, é absolutamente inconstitucional porqueatrita frontalmente com vários dispositivos constitucionais na medida emque cria dificuldades para a proteção dos interesses difusos, coletivos eindividuais homogêneos(9). É oportuno lembrar, além do mais, que o quedetermina o efeito da coisa — erga omnes, ultra partes e inter partes  — é opedido e não o âmbito de jurisdição do órgão julgador (10).

Depois, não tem pertinência trazer regras ortodoxas de proteção dosdireitos individuais para o âmbito de proteção dos interesses transindividu-ais, de titulares dispersos na coletividade, por absoluta incompatibilidade,

uma vez que é simplesmente impossível pretender separar esses interes-ses e seus efeitos decorrentes das lesões sofridas. Como prelecionaMazzilli (11), seria buscar alento no impossível pretender separar a “polui-ção”, “os desmandos dos planos de saúde”, “os consumidores de determi-nado produto cancerígeno” em blocos distintos, como se a poluição, v. g.,pudesse ser separada e embalada em sacos plásticos e, posteriormente,medida ou contada para efeitos de ações distintas.

Cometer aos Tribunais do Trabalho a competência originária para aapreciação e julgamento da ação civil pública, por mera analogia com o

procedimento da ação de dissídio coletivo, de competência destes, pordeterminação legal, não tem qualquer pertinência; como se sabe, emboraem ambas as ações se defenda interesses coletivos lato sensu  (aspectoúnico da similitude), na ação dissidial, regida por peculiaridades excepcio-nais e próprias, cria-se, modifica-se ou interpreta-se direitos, enquanto quena ação civil pública aplica-se o direito preexistente.

Assim, a competência originária para julgamento da ação civil públi-ca na Justiça do Trabalho é das Varas trabalhistas, como juízos de primeirainstância, nos termos da Lei n. 7.347/85 (art. 2º), mesmo que o dano aosinteresses metaindividuais ultrapasse a jurisdição de um dado juízo; nessa

hipótese, competente será aquele que primeiro receber a ação, que se tor-na prevento (Aplica-se, aqui, o art. 472, do CPC — A sentença faz coisa  julgada às par tes as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros... — , por autorização do art. 19, da Lei n. 7.347/85).

(9) Francisco Antônio de Oliveira. “Ação civil pública — enfoques trabalhistas”, p. 214. São Paulo:Revista dos Tribunais, 1999.(10) Sobre a alteração introduzida no art. 16, da Lei n. 7.347/85, recomendamos o excelentetrabalho elaborado pelas ilustres procuradoras do trabalho da 2ª Região, Célia Regina C. Standere Elisa Maria Brant C. Malta; LTr 62-05/634.

(11) A defesa dos interesses difusos em juízo, p. 18.

Page 132: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 132/380

136

Nesse sentido e com relação especificamente às ações coletivas,estabelece o art. 6º, da Medida Provisória n. 1.984-23, várias vezes reedi-tada pelo Presidente da República, depois de se convencer da inconstitucio-nalidade da alteração introduzida no art. 16, da Lei n. 7.347/85, como vêm

reconhecendo a doutrina e jurisprudência, de norte a sul do país, na gran-de maioria dos casos em que a questão veio à tona. Referida MP introduziuo parágrafo único ao art. 2º da Lei n. 7.347/85, assim inscrito:

A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.

Outro entendimento seria da aplicação do CDC (art. 93, I e II) que esta-belece a competência do juízo do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer dano,

quando de âmbito local ou de um dos juízes do foro da capital do Estado ou doDistrito Federal, para os danos de âmbito regional ou nacional, respectiva-mente(12). Não obstante o louvável propósito presente nesse entendimento —evitar a apreciação e julgamento das ações coletivas pelos tribunais(13) —, con-cordamos com o mesmo somente em parte, porque referido dispositivo tratado procedimento das ações coletivas atinentes à defesa dos interesses indivi-duais homogêneos, cuja característica que os diferencia dos interesses difu-sos e coletivos, é a indivisibilidade, presente nestes e ausente naqueles.

Doutra parte, chega mesmo a ser incompreensível a aludida altera-

ção de entendimento levada a efeito pelo C. TST, no afã de defender a suacompetência originária para o julgamento das ações civis públicas de âm-bito nacional, assegurando a mesma por meio de Resolução Administrati-va, pois como é palmar, não é função dos tribunais “legislar”, muito menospara “alterar” disposição legal consagrada no ordenamento jurídico — oart. 2º da Lei n. 7.347/85 — e, especialmente em termos de competênciaabsoluta, matéria induvidosamente de ordem pública.

Expressando, certamente, o sentimento de grande parte da magis-tratura trabalhista de primeira instância sobre o tema, assim se expressouo ilustre juiz do trabalho e Livre-Docente, Jorge Luiz Souto Maior: 

O novo posicionamento do TST é equivocado, também, porque fere preceitos processuais já consagrados no ordenamento jurídico. Com efei- 

(12) Nesse sentido é o entendimento do ilustre colega Carlos Henrique Bezerra Leite, na pioneiraobra O Ministér io Público do Trabalho  — doutrina, jurisprudência e prática. São Paulo: LTr, pp. 117e 12, 1998.(13) Embora o art. 93, do CDC trate de normas atinentes às ações reparatórias de danos individu-almente sofridos com relação aos direitos individuais homogêneos, por falta de regulação especí-fica com relação aos interesses difusos e coletivos, é possível aplicar-se-lhes o mesmo proce-dimento, como tem reconhecido a jurisprudência em alguns casos (cf. Ada Pellegrini Grinover ,Código brasileiro de defesa do consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, 4ª ed., pp.

549 e 587/588. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995 ) .

Page 133: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 133/380

137

to, sem que haja disposição expressa em sentido contrário, tanto na Cons- tituição quanto na Lei ordinária, sem assim o permitir expressamente a norma constitucional, há de se entender que o conflito de interesses está sujeito à jurisdição comum, sendo a competência original do juízo de pri- 

meiro grau...A nova orientação do TST é equivocada porque nega vigência ao texto da Lei da ação civil pública e também porque não se confundem dissídio coletivo e ação civil pública (14).

Também na defesa da competência funcional da primeira instânciatrabalhista para conhecer da ação civil pública, já se manifestou o atualpresidente do TRT/2ª Região, o douto Francisco Antonio de Oliveira: 

... em sede de direitos difusos e coletivos, será competente para co- nhecer, instruir e julgar a ação a Junta de Conciliação e Julgamento onde foi editado o ato, onde ocorreu o fato ou o dano, pouco importando se aquele 

ato, aquele fato ou aquele evento danoso extrapola a base territorial da- quele Junta. A sentença que vier a ser proferida fará coisa julgada  ergaomnes e ultra partes(15).

Entendimento negando a competência do juízo de primeiro grau paraapreciar e julgar a ação civil pública, como parece cristalino, é ilegal e in-constitucional, pois fere de cheio os artigos 5º, LIII, 22, I e 113, da Consti-tuição Federal que, respectivamente, estabelecem sobre o juiz natural, acompetência privativa da União para legislar sobre matéria processual ecomete à Lei a disposição sobre jurisdição e competência dos órgãos daJustiça do Trabalho.

Nesse sentido e enfrentando na prática os efeitos processuais da re-ferida alteração, merece ser transcrita a laboriosa fundamentação expostaem razões de recurso ordinário, pela ilustre colega de Ministério Público doTrabalho, Abiael Santos Franco, assim vazada:

“O E. TST, ao estabelecer normas processuais relativas à com- petência, usurpou as atribuições próprias ao Poder Legislativo, ex- pressamente conferida pela Constituição Federal, em especial no seu artigo 113...

Ora, se por força de mandamento constitucional expresso, so- mente a Lei pode dispor sobre a competência dos órgãos da Justiça do Trabalho, parece claro que não poderia o TST normatizar a ques- tão. E, no caso, apenas Lei Federal poderia assim proceder, pois a competência para legislar sobre normas processuais e, conseqüen- 

(14) Ação civil pública trabalhista. Competência funcional. Brasília: Revista do Direito Trabalhista ,ano, 6, n. 8, pp. 9/10.(15) Da ação civil pública: instrumento de cidadania. Temas relevantes de direito material e pro- cessual do trabalho , Estudos em homenagem ao Professor Pedro Paulo Teixeira Manus (Coord.

Carla Tereza M. Romar e Otávio R. Sousa), São Paulo: LTr, p. 434.

Page 134: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 134/380

138

temente, sobre competência dos órgãos jurisdicionais, é Privativa da União, conforme comando constitucional do artigo 22, I.

Não obstante a inconstitucionalidade ora argüida seja extrema- mente clara, trazemos à colação o escólio de  Nelson Nery Júnior a respeito: 

‘Regimentos internos. São produções normativas do Poder Ju- diciário, previstas pela Constituição Federal, 96, I, destinadas a regu- lar o funcionamento administrativo  interna corporis do Tribunal. Não podem ter regra de direito processual, sob pena de ofensa à Consti- tuição Federal, 22, I’ (16). Claro que através do Regimento Interno po- dem os Tribunais estabelecer normas de organização judiciária alte- rando o que se denomina de competência interna (17), porém, nunca legislar sobre a competência funcional, matéria restrita à União 

Federal...como acima percucientemente explicitado, a delegação de competência jurisdicional por ato administrativo afronta o princípio consagrado pelo art. 5º, inciso XXXVI, consistente em reservar-se à Lei, e tão-somente à Lei, a possibilidade de definição de competên- cia  processual” (18).

Desse modo, entendemos que a melhor compreensão para a ques-tão é aquela que reconhece a competência funcional originária da primeirainstância trabalhista para as ações civis públicas, independentemente deos danos provocados serem de âmbito local, regional ou nacional; tal se

fundamenta no princípio do juiz natural, na necessária preservação do du-plo grau de jurisdição, na atécnica de uma extensão analógica em matériade competência absoluta, na conveniência de que uma ação de rito ordiná-rio, permeada de fatos relevantes e complexas questões jurídicas, passeantes pelo processo de “depuração” típico do primeiro grau de jurisdição,antes de subir ao reexame do Tribunal(19) e, finalmente, no respeito à Cons-tituição Federal.

Como se vê, é ao Judiciário que cabe a palavra final sobre a diver-gência com relação aos interesses metaindividuais, que precisa, para tan-

to, abandonar dogmas antigos e aceitar com menos dificuldade a aplicaçãodos modernos instrumentos processuais coletivos criados nos últimos tem-

(16) Nery Júnior, Nelson e Nery, Rosa Maria de Andrade. “Código de processo civil comentado”,comentário ao art. 93. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 506, 1996.(17) Cf. Cândido Rangel  et al., “a competência interna dos órgãos judiciários é problema da exis-tência de mais de um juiz (pessoa física) no mesmo juízo, ou de várias câmaras, turmas ouseções no mesmo Tribunal” ( in Teoria geral do processo, São Paulo, Malheiros Editores, 1997, pp.239/241).(18) Processo n. 626/2000, da 3ª Vara do Trabalho de Campinas/SP.(19) Rodolfo de Camargo Mancuso. “Ação civil pública trabalhista: análise de alguns pontos con-

trovertidos”, p. 72. Brasília: Revista do Ministério Público do Trabalho , n. 12, pp. 59/60, 1996.

Page 135: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 135/380

139

pos, voltados para o acesso mais rápido e eficaz à prestação jurisdicionalna defesa dos interesses indisponíveis da sociedade. A sua responsabili-dade é grande e os eventuais desacertos ficarão marcados na história parasempre...

É por isso que, imbuído do bom senso que é peculiar a uma CorteSuperior, o C. TST, antes que esse entendimento passasse a influenciar osdemais graus de jurisdição, em recente e louvável decisão (Resolução Ad-ministrativa n. 743/2000, art. 6º, I, a , de 27/10), revogou a Resolução Admi-nistrativa n. 686/2000, afastando do seu Regimento Interno “a competên-cia” para julgamento originário da ação civil pública; agora, fica por contada doutrina e da jurisprudência o acerto final sobre essa controvertida ques-tão no âmbito da Justiça do Trabalho(20), por meio do processo natural dediscussão e depuração de idéias, como é salutar na compreensão e afir-

mação do direito como fonte da experiência humana.

(20) Como sabido, é somente na Justiça trabalhista onde ainda se discute sobre tal questão,porquanto, nos demais ramos do Judiciário, diante dos termos cristalinos do art. 2º, da Lei n.7.347/85, não resta dúvida sobre a competência funcional do juízo de primeira instância para

apreciar e julgar a ação civil pública.

Page 136: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 136/380

140

 A TUTELA DOS INTERESSES OU DIREITOS 

INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS PELA AÇÃO CIVIL 

PÚBLICA NA JUSTIÇA DO TRABALHO 

Jonas Ratier Moreno(*)

1. INTRODUÇÃO 

Dois são os questionamentos para a utilização da Ação Civil Públicacomo instrumento de tutela dos direitos individuais homogêneos na Justiçado Trabalho. O primeiro é a falta de legitimidade do Ministério Público doTrabalho para a defesa dos interesses ou direitos individuais homogêneos;e, o segundo, que a via é inadequada. Ambos, em regra, têm como base a

Carta Magna que, nesses pontos, fala somente em proteção aos “interes-ses difusos e coletivos” (art. 129, III), sendo omissa quanto aos interessesindividuais homogêneos.

Com efeito, podemos identificar na doutrina e na jurisprudência trêscorrentes dispondo sobre a utilização da ação civil pública na Justiça doTrabalho, a saber: a primeira sustenta que a legitimação do Parquet parapromover a ação civil pública está delimitada pela norma constitucional àshipóteses dos interesses difusos e coletivos; a segunda que a norma cons-titucional não é taxativa, que o Ministér io Público do Trabalho também podepromover a ação civil pública para a defesa dos interesses individuais ho-mogêneos, porquanto o preceito constitucional do inciso IX, do art. 129,quando fala em “outras funções que lhe forem conferidas, desde que com-patíveis com sua finalidade” e que, nesse caso, enquadram-se os interes-ses individuais homogêneos, definidos no Código de Defesa do Consumi-dor; e, terceira , por fim, admite a legitimidade do Ministério Público do Tra-balho para a defesa dos interesses individuais homogêneos, com base noinciso IX, do art. 129. Todavia, por outro instrumento que não a ação civilpública, mas pela ação civil coletiva.

(*) Procurador do Trabalho, Especialista em Direito Processual do Trabalho/UFMS, lotado na PRT-

24ª Região (MS).

Page 137: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 137/380

141

2. A QUESTÃO DA LEGITIMAÇÃO DO PARQUET

Iniciaremos pela oposição à legitimação do Ministério Público do Tra-balho para a defesa dos interesses ou direitos individuais homogêneos.

Gonçalves aduz que: “ao receber a atribuição de defender os interes-ses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmentegarantidos, o Ministério Público do Trabalho não poderia atuar como repre-sentante dos trabalhadores ou como substituto processual.” Arremata, sus-tentando que “a representação dos trabalhadores, na defesa de seus direi-tos e interesses, coletivos ou individuais, cabe à entidade sindical, nos ter-mos do art. 81, item III, da Constituição”(1).

Sobre os limites constitucionais da ação civil pública, Martins (2) sus-tenta que “o alargamento do espectro da ação civil pública por força de lei

ordinária fere, violenta, macula a Constituição Federal. Não pode o Ministé-rio Público ter forças superiores àquelas que a própria Constituição lheofereceu”.

Essa oposição à legitimação do Parquet Trabalhista, também é en-contrada em alguns Tribunais Regionais do Trabalho, como, por exemplo,os prolatores dos seguintes julgados:

“Ação Civil Pública. Não se admite a ação civil pública, propos- ta pelo Ministério Público do Trabalho, com vistas a amparar direitos 

individuais, eis que tal ação tem por escopo salvaguardar os interes- ses coletivos e difusos, ou ainda quando se tratar de direitos indivi- duais indisponíveis ou de incapazes, não sendo cabível, portanto, na presente hipótese .” (TRT-23ª Região, CV-2399/97, Ac. TP 1225/98,Relatora Juíza Leila Boccoli).

“Ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho.Ilegitimidade. Interesses individuais homogêneos.  A propositura de ação civil pública pelo Ministério Público do Trabalho, requerendo seja a empresa ré condenada a observar a jornada de seis horas diárias,

para os empregados que laboram em turnos ininterruptos, não se in- sere na proteção dos direitos coletivos ou difusos disciplinados pelo art. 129, inciso III, da Constituição Federal e Lei Complementar n. 75/ 93, sendo o Órgão Parquet parte ilegítima para ajuizamento do feito .”(TRT-4ª Região — RO-339.922/96-6, Ac. n. 00339.922/96-6,Relator Juiz José Carlos de Miranda).

(1) Gonçalves, Aroldo Plínio . “Ação Civil Pública na Justiça do Trabalho”. In  Revista LTr n. 58,outubro de 1994, p. 1226.(2) Martins, Ives Gandra. “Ação Civil Pública — Limites Constitucionais”. In Revista do Ministério

Público do Trabalho. São Paulo: LTr, ano V, março de 1995, n. 9, p. 24.

Page 138: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 138/380

142

Entendemos, data venia , que não há como negar ao Ministério Públicodo Trabalho a legitimação para, através da ação civil pública, a defesa dosinteresses individuais homogêneos. A uma, por interpretação históricado dispositivo constitucional do inciso III, do art. 129; a duas, em razão de no

conceito de interesse ou direito coletivo também abarcar o de individuaishomogêneos como subespécie; a três, por interpretação ampliativa do incisoIX, do art. 129, da CF, que permite a legitimidade por norma infra-constitu-cional, “desde que compatíveis com a sua finalidade” e, por fim, pelo pró-prio inciso III apresentar uma acepção mais genérica ao utilizar: “outrosinteresses difusos e coletivos”. Vejamos o texto constitucional.

“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 

(...)

III — promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de ou- tros interesses difusos e coletivos; 

(...)

IX — exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representa- ção judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.” 

Retornando a 1988, não tinha o legislador Constituinte, naquela épo-

ca, o conceito claro do que era interesse ou direito individual homogêneo,que somente foi precisado mais tarde quando da regulamentação pelo Códi-go de Defesa do Consumidor, razão esta, clara, da não inclusão do mesmona redação do inciso III, do art. 129, da Constituição recém-promulgada.

Nessa linha, temos Mancuso que sustenta que “não se pode dizer, arigor, que a CF foi omissa quanto aos interesses “individuais homogêneos”,porque a Carta Magna é de 1988 e a expressão aparece no CDC (art. 81),texto em vigor a partir de 1990.”(3)

Mais, tal inclusão não foi necessária, porque no conceito de interes-

se coletivo podemos compreender também os interesses individuais ho-mogêneos, como subespécie daquele. Fato é que, ambos estão cingidos auma mesma relação jurídica-base e origem comum, como também são co-letivos, porque incluem grupos de indivíduos. Com muita propriedade,Donato afirma que “Não existe diversificação ontológica entre direitos einteresses coletivos e direitos e interesses difusos. Os direitos coletivos,em sua essência, guardam o selo originário de direitos difusos, não obs-

(3) Mancuso, Rodolfo de Camargo. “Sobre a Legitimação do Ministério Público em Matéria deInteresses Individuais Homogêneos”. In  “Ação Civil Pública” , coordenado por Milaré , Edis, São

Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, pp. 444-445).

Page 139: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 139/380

143

tante seus traços identificadores. Trata-se de gradação e não de exclusãode uns em relação a outros. Os direitos individuais homogêneos, a despei-to de sua natureza individual, trazem ressonância na coletividade.”(4)

Sobre a compreensão da natureza jurídica dessa espécie de interes-se ou direito, podemos tirar importante lição do voto do Ministro MaurícioCorrêa, do Excelso Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RecursoExtraordinário n. 163.231-SP, verbis :

“Quer se afirme na espécie interesses coletivos ou particular- mente interesses homogêneos, stricto sensu, ambos estão nitidamente cingidos a uma mesma relação jurídica-base e nascidos de uma mes- ma origem comum, sendo coletivos, explicitamente dizendo, porque incluem grupos, que conquanto atinjam as pessoas isoladamente, não 

se classificam como direitos individuais, no sentido do alcance da ação civil pública, posto que sua concepção finalística destina-se à proteção do grupo. Não está, como visto, defendendo o Ministério Público subjetivamente o indivíduo como tal, mas sim a pessoa en- quanto integrante desse grupo. Vejo, dessa forma, que me permita o acórdão impugnado, gritante equívoco ao recusar a legitimidade do postulante, porque estaria a defender interesses fora da ação definidora de sua competência. No caso agiu o Parquet em defesa do grupo, tal como definido no Código Nacional do Consumidor (artigo 

81, incisos II e III) e pela Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993), cujo artigo 25, inciso IV,letra a, o autoriza como titular da ação, dentre muitos, para a prote- ção de outros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveise homogêneos.(5)”

(4) Donato, Messias Pereira. “Ação Civil Pública”. In “Compêndio de Direito Processual do Traba-lho”, coordenação: Barros, Alice Monteiro . São Paulo: LTr, 1998, p. 801.(5) RE-163.231-SP: “16. No entanto, ao editar-se o Código de Defesa do Consumidor, pelo seuartigo 81, inciso II I, uma outra subespécie de direitos coletivos fora instituída, dessa feita, com a

denominação dos chamados interesses ou direitos individuais homogêneos assim entendidos osdecorrentes de origem comum.17. Por tal disposição vê-se que se cuida de uma nova conceituação no terreno dos interessescoletivos, sendo certo que esse é apenas um nomen iuris atípico da espécie direitos coletivos.Donde se extrai que interesses homogêneos, em verdade, não se constituem como um tertium genus , mas sim como uma mera modalidade peculiar, que tanto pode ser encaixado na circunfe-rência dos interesses difusos quanto na dos coletivos.18. Por isso mesmo Kazuo Watanabe (ob.cit, pág.196), que integrou a comissão que aprestou osestudos preliminares da então proposta do Código do Consumidor, haver afirmado que, no ponto,são “interesses ou direitos individuais homogêneos, os de origem comum, permitindo a tuteladeles a título coletivo. Origem comum não significa, necessariamente, uma unidade factual etemporal”, endossando igual escólio Hugo Nigri Mazzilli  (A Defesa dos Interesses Difusos emJuízo, Saraiva, pág. 10, 7ª edição, 1995), para quem “os interesses individuais homogêneos, em sen-

tido lato, na verdade não deixam de ser também interesses coletivos”.

Page 140: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 140/380

144

O último fundamento, decorre de uma interpretação da própria expres-são utilizada pelo legislador constituinte de 1988, que claramente abriu apossibilidade do Ministério Público “exercer outras funções que lhe foremconferidas, desde que compatíveis com a sua finalidade”. A defesa na ação

civil pública dos interesses individuais homogêneos pelo Parquet enquadra-se perfeitamente na norma constitucional supracitada, não podendo se taxarde inconstitucionais leis complementares ou ordinárias nesse sentido.

Mas, temos que o fundamento maior é o próprio inciso III, do ar t. 129,da CF, porquanto apresenta uma acepção mais genérica: “outros interes-ses difusos e coletivos”. Não tem cabida a interpretação restritiva do citadopreceito, caso contrário, o legislador não teria utilizado a expressão “ou-tros” após enumerar as hipóteses de proteção do “patrimônio social” e do“meio ambiente”, o que demonstra serem estes exemplificativos.

Para Mazzilli “inexiste, pois, sistema de taxatividade para a defesa deinteresses difusos e coletivos. Além das hipóteses já expressamente previs-tas nas diversas leis para a tutela judicial desses interesses (defesa do meioambiente, do consumidor, do patrimônio cultural, das crianças e adolescen-tes, das pessoas portadoras de deficiência, dos investidores lesados no mer-cado de valores mobiliários, de interesses ligados à defesa da ordem econô-mica ou à livre concorrência) — qualquer outro interesse difuso ou coletivopode ser defendido em juízo, seja pelo Ministério Público, seja pelos demaislegitimados do art. 51 da LACP e do art. 82 do CDC(6). Não restando dúvidas,assim, também quanto a sua aplicação no processo do trabalho.

19. Quer se afirme na espécie interesses coletivos ou particularmente interesses homogêneos,stricto sensu , ambos estão nitidamente cingidos a uma mesma relação jurídica-base e nascidosde uma mesma origem comum, sendo coletivos, explicitamente dizendo, porque incluem grupos,que conquanto atinjam as pessoas isoladamente, não se classificam como direitos individuais, nosentido do alcance da ação civil pública, posto que sua concepção finalística destina-se à prote-ção do grupo. Não está, como visto, defendendo o Ministér io Público subjetivamente o indivíduocomo tal, mas sim a pessoa enquanto integrante desse grupo. Vejo, dessa forma, que me permitao acórdão impugnado, gritante equívoco ao recusar a legitimidade do postulante, porque estaria adefender interesses fora da ação definidora de sua competência. No caso agiu o Parquet  emdefesa do grupo, tal como definido no Código Nacional do Consumidor (ar tigo 81, incisos II e III)e pela Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993), cujo

artigo 25, inciso IV, letra a , o autoriza como titular da ação, dentre muitos, para a proteção deoutros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos.20. E a respeito dessa nota que caracteriza os interesses difusos e coletivos, a transindividualidadee indivisibilidade, anotou J. C. Barbosa Moreira que os interessados nessa relação, tal qual a dosautos, “se põem numa mesma espécie de comunhão tipificada pelo fato de que a satisfação deum só implica por força a satisfação de todos, assim como a lesão de um só constitui, ipso facto ,lesão da inteira coletividade” (A Legitimação para a Defesa dos Interesses Difusos no Direito Bra-sileiro, Revista Ajuris 32/82), aduzindo, a propósito Ada Pellegrini Grinover , acerca dos interessescoletivos, no círculo protegido pela tutela estatal, que “a satisfação de um interessado implicanecessariamente a satisfação de todos, ao mesmo tempo em que a lesão de um indica a lesão detoda a coletividade”. (A Problemática dos Interesses Difusos, Editora Max Limonade, p. 31).” (Infor-mativo STF n. 80, in www.stf.gov.br).(6) Mazzilli, Hugo Nigro . “A Defesa dos Interesse Difusos em Juízo”. 9ª ed., São Paulo: Saraiva,

1997, p. 42.

Page 141: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 141/380

145

Outrossim, no espaço da legislação complementar, a legitimação doMinistério Público do Trabalho, para a defesa dos interesses ou direitosindividuais homogêneos, através da ação civil pública, data venia , não estácalçada na aplicação suplementar dos arts. 81, III e 82, I, do Código de

Defesa do Consumidor, como alguns sustentam.No caso, ela está baseada em norma expressa da Lei Orgânica do

Ministério Público da União (Lei Complementar n. 75/93), precisamente noart. 61, inciso VII, alíneas a e d , verbis :

“Art. 6º Compete ao Ministério Público da União: 

VII — promover o inquérito civil e a ação civil pública para: 

a) a proteção dos direitos constitucionais; 

(...)d) outros interesses individuais indisponíveis, homogêneos,

sociais, difusos e coletivos.” 

Como assinala Grinover , “a legitimação do Ministério Público é cons-titucionalmente assegurada e vem desdobrada pela Lei Orgânica do Minis-tério Público da União, que a ela se refere, entre as atribuições do Ministé-rio Público do Trabalho, no art. 83. Não seria sequer necessário, na verda-de, que houvesse essa especificação, mas é oportuno que tenha sido feita,porque deixa muito claro que, dentro da Instituição, que é uma, as atribui-

ções do Ministério Público do Trabalho são específicas para Ação CivilPública em geral, no campo da Justiça Trabalhista”. (7)

Portanto, indene de dúvidas que a legitimação do Ministério Públicodo Trabalho, integrante do Ministério Público da União, para a ação civilpública, decorre de preceitos da Lei Complementar n. 75/93 (art. 61, incisoVII, alíneas a  e d ), que são absolutamente claros e que não comportamoutra dicção, a não ser a da titularidade da ação civil pública para a prote-ção dos direitos constitucionais e outros interesses individuais indisponí- veis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos.

3. A JURISPRUDÊNCIA DOS TRIBUNAIS 

A jurisprudência dos tribunais pátrios, especialmente do excelso Su-premo Tribunal Federal, quanto ao tema — legitimação do Parquet para adefesa dos interesses ou direitos individuais homogêneos — não está pa-cificada, conforme podemos verificar nos seguintes precedentes:

(7) Grinover, Ada Pellegrini. “A Ação Civi l Pública no Âmbito da Justiça do Trabalho: Pedido, Efei-tos da Sentença e Coisa Julgada”. In Revista do Ministério Público do Trabalho em São Paulo.

São Paulo: Centro de Estudos, 1998, n. 2, p. 49.

Page 142: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 142/380

146

“Ementa: Recurso Extraordinário. Constitucional. Legitimidade do Ministério Público para promover ação civil pública em defesa dos interesses difusos, coletivos e homogêneos. Mensalidades escola- res: capacidade postulatória do Parquet para discuti-las em juízo.

1. A Constituição Federal confere relevo ao Ministério Público como instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Es- tado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrá- tico e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (CF, art. 127).

2. Por isso mesmo detém o Ministério Público capacidade pos- tulatória, não só para a abertura do inquérito civil, da ação penal pú- blica e da ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente, mas também de outros interesses difusos e coletivos (CF, art. 129, I e III).

3. Interesses difusos são aqueles que abrangem número inde- terminado de pessoas unidas pelas mesmas circunstâncias de fato e coletivos aqueles pertencentes a grupos, categorias ou classes de pessoas determináveis, ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica-base.

3.1. A indeterminidade é a característica fundamental dos inte- resses difusos e a determinidade a daqueles interesses que envol- vem os coletivos.

4. Direitos ou interesses homogêneos são os que têm a mesma origem comum (art. 81, III, da Lei n 8.078, de 11 de setembro de 1990), constituindo-se em subespécie de direitos coletivos.

4.1. Quer se afirme interesses coletivos ou particularmente in- teresses homogêneos, stricto sensu, ambos estão cingidos a uma mesma base jurídica, sendo coletivos, explicitamente dizendo, por- que são relativos a grupos, categorias ou classes de pessoas, que conquanto digam respeito às pessoas isoladamente, não se classifi- cam como direitos individuais para o fim de ser vedada a sua defesa em ação civil pública, porque sua concepção finalística destina-se à proteção desses grupos, categorias ou classe de pessoas.

(...)

Recurso extraordinário conhecido e provido para, afastada a alegada ilegitimidade do Ministério Público, com vistas à defesa dos interesses de uma coletividade, determinar a remessa dos autos ao Tribunal de origem, para prosseguir no julgamento da ação.” (STF- RE n. 163.231-3/SP, Relator Ministro Maurício Corrêa).

“Ministério Público. Taxa de iluminação pública do Município 

de Rio Novo-MG. Exigibilidade impugnada por meio de ação públi- 

Page 143: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 143/380

147

ca, sob a alegação de inconstitucionalidade. Acórdão que concluiu pelo seu não cabimento, sob invocação dos arts. 102, I, a, e 125, § 2º,da Constituição.

Ausência de legitimação do Ministério Público para ações da 

espécie, por não configurada, no caso, a hipótese de interesses difu- sos, como tais considerados os pertencentes concomitantemente a todos e a dada um dos membros das sociedades, como um bem não individualizável ou divisível, mas, ao revés, interesses de grupo ou classe de pessoas, sujeitos passivos de uma exigência tributária cuja impugnação, por isso, só pode ser promovida por eles próprios, de forma individual ou coletiva.

Recurso não conhecido .” (STF, Recurso Extraordinário n. 213.631-0-MG, Relator Ministro Ilmar Galvão, DJU de 7.4.2000).

Na jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, temos o exemplodo seguinte acórdão, verbis :

“Da legitimidade ativa do Ministério Publico do Trabalho parapropor ação civil pública para fins de recolhimento do FGTS. A LeiComplementar setenta e cinco de noventa e três estabelece expres-samente no artigo oitenta e três, inciso três, a competência do Minis-tério Público do Trabalho para propor “Ação Civil Pública no âmbito da Justiça do Trabalho, para defesa de interesses coletivos quando 

desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos . Emrazão desse preceito não conter manifestação no que pertine à defe-sa dos interesses individuais homogêneos, surgem algumas discus-sões no sentido de ter ou não o Parquet da Únião legitimidade para apropositura de ação civil pública para a defesa de interesses homo- gêneos , entendo que sendo o FGTS um direito constitucional garan-tido aos trabalhadores, o seu não recolhimento importa em lesão àordem jurídica e aos interesses sociais daqueles que com o seu tra-balho contribuem para a sua formação, pois o fundo de garantia temfinalidade de financiar projetos de interesse social, como habitação,

obras de saneamento e outros, e principalmente por constituir umpatrimônio de todos os trabalhadores brasileiros.” (TST — RR n. 8534/ 97-PA — Terceira Turma — DJU de 7.11.1997, p. 57514 — grifamos).

Também o Colendo Superior Tribunal de Justiça, quando chamado ase manifestar sobre os direitos individuais homogêneos dos servidorespúblicos estatutários, admitiu a legitimação do Parquet, conforme acórdãoadiante ementado:

“Processual Civil. Ação Civil Pública. Direitos e interesses indivi- 

duais homogêneos. Ministério Público. Legitimidade. Recurso especial.

Page 144: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 144/380

148

1. Há certos direitos e interesses individuais homogêneos que,quando visualizados em seu conjunto, de forma coletiva e impessoal,passam a representar mais que a soma de interesses dos respecti- vos titulares, mas verdadeiros interesses sociais, sendo cabível sua 

proteção pela ação civil pública.2. É o  Ministério Público ente legitimado a postular, via  ação

civil pública, a proteção do direito ao salário mínimo dos servidores municipais, tendo em vista sua relevância social, o número de pesso- as que envolvem a economia processual.

3. Recurso conhecido e provido.” (STJ, Recurso Especialn. 95347-SE, Relator Ministro Edson Vidigal, DJU de 1.2.1999).

Os Tribunais Regionais do Trabalho, da mesma forma que o C. TST,

ainda não produziram uma jurisprudência segura sobre o tema, todavia,merecem registro posições de vanguarda como, por exemplo, a do Regio-nal de Santa Catarina, conforme acórdão abaixo ementado:

“Ação Civil Coletiva. Natureza. Defesa de direitos e interesses individuais homogêneos. Legitimidade do Ministério Público do Tra- balho para ajuizá-la. Necessidade de uma interpretação sistemática e teleológica das normas constitucionais e infraconstitucionais que regulam a matéria.

Nos últimos quinze anos, o Brasil conheceu importantes inova- ções legislativas a respeito dos chamados direitos e interesses difu- sos e coletivos e dos mecanismos de tutela coletiva desses direitos,destacando-se a Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985, que disciplina a conhecida ação civil pública, e a Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990, que instituiu o Código de Proteção e Defesa do Consumidor.Este, entre outras novidades, introduziu um importante mecanismo de defesa coletiva para direitos individuais homogêneos: a ação civil coletiva (arts. 91 a 100). São características dessa última categoria de direitos ou interesses a possibilidade de perfeita identificação do 

sujeito, assim como da relação dele com o objeto do seu direito, sen- do que a ligação com os demais sujeitos decorre da circunstância de serem todos titulares individuais de direitos com “origem comum” e são divisíveis, pois podem ser lesados e satisfeitos de forma diferen- ciada e individualizada, satisfazendo ou lesando um ou alguns titula- res sem afetar os demais. Portanto, por serem individuais e divisíveis,fazem parte do patrimônio individual do seu titular e, por isso, são passíveis de transmissão por ato inter vivos ou mortis causa e, regra geral, suscetíveis de renúncia e transação. Quanto a sua defesa em  juízo, geralmente, são defendidos pelo próprio sujeito detentor do di- 

reito material, sendo que a defesa por terceiros será sob a forma de 

Page 145: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 145/380

149

representação ou, quando houver previsão legal, sob a forma de subs- tituição processual. Assim sendo, no que concerne à legitimidade do Parquet laboral para a propositura da ação civil coletiva, mostra-se mais coerente com o direito hodierno o entendimento de que o artigo 

83, inciso III, da Lei Complementar n. 75/93, ao dispor, entre outras atribuições, que é incumbência do Ministério Público do Trabalho “pro- por ação civil pública no âmbito da Justiça do Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos” (grifei), utilizou a expressão “interes- ses coletivos” na sua acepção  lato, abrangendo, outrossim, tanto os interesses coletivos stricto sensu, quanto os difusos e os individuais homogêneos, uma vez que não se poder restringir a legitimidade quefoi amplamente concedida pelo art. 129, inciso II, do Texto Ápice, semqualquer discriminação entre os diversos ramos do Parquet . À mes- ma conclusão chega-se após o exame do art. 6º, inciso VII, alínea “d”,da Lei Complementar n. 75/93, que, ao disciplinar os instrumentos deatuação do Ministério Público da União, em todos os seus ramos,aponta a ação civil pública para a defesa de “outros interesses indivi-duais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos”. Ade- mais, não há olvidar que, após a promulgação da Lex Fundamentalisde 1988, o Ministério Público foi guindado à “instituição permanente,essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e 

individuais indisponíveis”. Vale dizer, portanto, que, ao tutelar os di-reitos elencados ao trabalhador no art. 7º da Constituição Federalvigente, ele atua, sem dúvida alguma, na defesa dos direitos sociaise, por conseguinte, também na defesa dos direitos e garantias funda-mentais conferidos aos cidadãos, bem assim na concretização dosobjetivos fundamentais da República Federativa do Brasil previstosno art. 3º.”  (TRT 12ª Região — 1ª Turma — RO-V 5786/97, RelatorJuiz Dilnei Angelo Biléssimo — grifamos).

4. NOMENCLATURA — AÇÃO CIVIL PÚBLICA OU AÇÃO CIVIL COLETIVA?

Prosseguindo, sob o enfoque da utilização da ação civil pública comoinstrumento de defesa dos interesses ou direitos individuais homogêneos,existe a corrente que admite a legitimidade do Ministério Público do Traba-lho, com base no inciso IX, do art. 129, mas por outro instrumento que nãoa ação civil pública, a ação civil coletiva. Um dos seus representantes,Martins Filho , sustenta ser “imprópria a utilização da ação civil pública para

a defesa de interesses individuais homogêneos, não obstante haja previ-

Page 146: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 146/380

150

são legal da mesma nas Leis Orgânicas dos Ministérios Públicos da Uniãoe dos Estados. Pretendeu-se lastrear no inciso IX do art. 129 da Carta Mag-na a extensão aos interesses individuais homogêneos o rol dos interessesdefensáveis através da ação civil pública. Porém, dada a dicção restritiva

do inciso III do art. 129 da Constituição, temos que é possível a defesa dosinteresses individuais homogêneos pelo Ministério Público, com base noinciso IX, mas por outro instrumento que não a ação civil pública. E talinstrumento é a ação civil coletiva.” (8)

Contrária é a posição de Mancuso , para quem “os interesses indivi-duais homogêneos podem ser objeto de ação civil pública (ação coletiva)no âmbito da Justiça do Trabalho, quando a matéria sobre o qual incidemou em torno da qual gravitam, se enquadre, direta ou reflexamente, na com-petência constitucionalmente reservada à essa Justiça Especializada (CF,

art. 114)”.(9)

Pensamos que a discórdia é de mera nomenclatura e irrelevante paraa tutela dos interesses ou direitos individuais homogêneos (ao contrário dalegitimação do Parquet ). Todavia, como o presente estudo tem como obje-tivo clarear este ponto, passemos ao seu exame, centrado na tese de que,embora seja o Ministério Público legitimado para a defesa dos interessesindividuais homogêneos, o instrumento não pode ser a ação civil pública,mas uma ação denominada “ação civil coletiva”, extraída do Código deDefesa do Consumidor.

Com efeito, a nomenclatura decorre de expressa disposição da Cons-tituição Federal e da Lei Complementar, que especifica as atribuições doMinistério Público do Trabalho, como a de “promover o inquérito civil e aação civil pública para a proteção dos direitos constitucionais e outros inte-resses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos”(art. 61, inciso VII, alíneas a e d ).

Segundo, o termo “ação civil coletiva” é utilizado pelo legislador comosinônimo de “ação civil pública”. Na própria Lei n. 7.347/85, nos artigos 61,71 e 91, utiliza-se “ação civil” ; na Lei n. 8.078/90, os termos “defesa coleti-

va” (art. 81), “ações coletivas” (arts. 87, 103 e 104 ) e “ação civil coletiva”(art. 91); e, por fim, na Lei Complementar n.75/93, “ação civil coletiva” (inci-so XII, art. 61). Portanto, sob esse prisma não são espécies diferentes deações. Caso contrário, até por questão de técnica legislativa, o legisladorteria tomado o cuidado na utilização das expressões. Remontando ao Projeto

(8) Martins Filho, Ives Gandra. “Ação Civil Pública e Ação Civil Coletiva”. In  Revista LTr n. 59,novembro de 1995, pp. 1449-1450.(9) Mancuso, Rodolfo de Camargo. Apud Melo, Or lando de . “A Experiência da CODIN na PRT da2ª Região com a Ação Civil Pública”. In Revista do Ministério Público do Trabalho em São Paulo.

São Paulo: Centro de Estudos, n. 2, 1998, p. 100.

Page 147: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 147/380

151

Bierrenbach (10), embrionário da discussão da ação civil pública no legislati-vo federal, temos a utilização da expressão “ação civil” nos arts. 31 e 41.Ainda, na minuta do projeto encaminhado pelo Ministério Público do Esta-do de São Paulo(11) ao Governo Federal, que acabou sendo acolhido e en-

caminhado ao Congresso Nacional e posteriormente aprovado e converti-do na Lei n. 7.347/85, também é empregada a palavra ação civil como sinô-nima da ação civil pública.

Nery Júnior , um dos autores do anteprojeto da Lei da Ação Civil Pú-blica, sustenta que a expressão ação civil pública, diante do direito positivovigente, “é sinônima de ação coletiva”. Também, que, em relação às trêsespécies de direitos, “a lei brasileira conferiu a possibilidade de serem de-fendidos por intermédio de ação coletiva.”

Mais, a nomenclatura, à luz da lei, pouco importa se o objetivo é pro-teção dessa espécie de interesses ou direitos. Nesse sentido, expressa-mente dispõe o ar t. 83, da (Lei n. 8.078/90 — Código de Defesa do Consu-midor), verbis :

“Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este Código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela .”

Ora, se for utilizada na defesa dos interesses ou direitos individuais

homogêneos qualquer uma das expressões supramencionadas — comoexemplo “ação civil” — o julgador não poderá julgar extinto o feito sob ofundamento de que a via eleita é inadequada. Deve, na realidade, o mesmoatentar-se para o objeto de tutela pretendido.

Por outro lado, quando a Lei da Ação Civil Pública remete, supletiva-mente, ao Código de Defesa do Consumidor a “defesa dos direitos e inte-resses difusos, coletivos e individuais, no que for cabível”, não está admi-tindo expressamente que também a denominação da “ação civil pública”seja transmudada para outra qualquer, ainda que sinônima.

Ademais, a expressa disposição do art. 31, da Lei n. 7.347/85, esta-belece que a “a ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer” (grifamos). Ou seja,poderá ter como objeto, pedidos de natureza reparatória, cominatória oucondenatória genérica.

(10) Projeto de Lei n. 3.034, de 1984, in  ‘‘Ação Civil Pública”, coord. Milaré, Edis. São Paulo:Revista dos Tribunais, 1995, fac símile anexa, pp. 467-470.(11) Ofício n. 1.073/84, do Ministério Público do Estado de São Paulo, in  ‘‘Ação Civil Pública”,

coord. Milaré, Edis. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, fac símile anexa, pp. 472-481.

Page 148: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 148/380

152

Destarte, a utilização de nomenclaturas, em substituição à de açãocivil pública, tais como “ação civil”, “ação coletiva”, “ação civil coletiva” e“ação de defesa coletiva”, não tem qualquer relevância para a promoção dadefesa dos interesses ou direitos individuais homogêneos, porquanto se

tratam de expressões sinônimas daquela.

5. CONCLUSÃO 

a) Não há como negar ao Ministério Público do Trabalho a legitimaçãopara a defesa dos interesses individuais homogêneos através da ação civilpública na Justiça do Trabalho. Primeiro, por uma interpretação histórica dodispositivo constitucional, que, na época da sua redação (1988), o legisladornão tinha o conceito dessa espécie de interesse; segundo, em razão de no

conceito de interesse ou direito coletivo também abarcar o de individuaishomogêneos como subespécie, já que ambos estão nitidamente cingidos auma mesma relação jurídica-base e nascidos de uma mesma origem co-mum, sendo coletivos, explicitamente dizendo, porque incluem grupos, queconquanto atinjam as pessoas isoladamente; terceiro, por interpretação am-pliativa do inciso IX, do art. 129, da CF, que permite a legitimidade por normainfraconstitucional, desde que compatíveis com a sua finalidade e, por fim,do inciso III, do mesmo artigo da CF, também encerrar uma acepção maisgenérica ao utilizar: “outros interesses difusos e coletivos”.

b) No espaço da legislação complementar, a legitimação do Ministé-rio Público do Trabalho, para a defesa dos interesses ou direitos individuaishomogêneos, através da ação civil pública na Justiça do Trabalho, estácalçada em norma expressa da Lei Orgânica do Ministér io Público da União(Lei Complementar n. 75/93), precisamente no art. 61, inciso VII, alíneas a e d .

c) A utilização de nomenclaturas, em substituição de ação civil públi-ca, tais como “ação civil”, “ação coletiva”, “ação civil coletiva” e “ação dedefesa coletiva”, não tem qualquer relevância para a promoção da defesa

dos interesses ou direitos individuais homogêneos, porquanto são expres-sões sinônimas daquela.

Page 149: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 149/380

153

“ ASTREINTES” — ESSA GRANDE DESCONHECIDA 

Francisco Antonio de Oliveira(*)

1. O vocábulo “astreintes ” é de origem francesa e tem sido mantidonos outros idiomas, porque “no es de traducción fácil; por otra parte, el uso de la misma se há generalizado en nuestro léxico jurídico ”, como observaSantiago Cunchilios y Manterola , tradutor da obra de Josserand. Couture também não conseguiu vocábulo na língua castelhana: “Astreintes ” —Definición : Voz francesa que se usa como sinônimo de compulsión,constricción — Traducción — “Omissis ”.(1)

2. Desde o início do século XIX que a jurisprudência francesa criouas “astreintes ”, apesar da hostilidade da doutrina, sob a alegação de que,

tratando-se de uma pena, era violado o clássico preceito “nulla poena sine lege ”. Ensina Liebman que realmente no Direito francês não existe disposi-tivo legal expresso que autorize a imposição e a cobrança da referida penapecuniária. Sua origem é, tipicamente, “pretoriana”. Mas alastrou-se e con-sagrou-se definitivamente na França.(2)

3. As “astreintes ” correspondem a uma coação de caráter econômico,no sentido de influírem no ânimo do devedor, psicologicamente, para quecumpra a prestação a qual se nega a cumprir. Pode-se dizer que consistena combinação de tempo e dinheiro. À medida que o devedor retardar asolvência da obrigação, mais pagará como pena. Daí a conceituação de

Enrico Tullio Liebman: “Chamam-se “astreintes ” a condenação pecuniáriaproferida em razão de tanto por dia de atraso (ou qualquer unidade detempo, conforme as circunstâncias), destinada a obter do devedor o cum-primento da obrigação de fazer pela ameaça de uma pena suscetível deaumentar indefinidamente”.(3) E mais adiante, arremata o mestre: “Caracte-

(*) Juiz Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região.(1) Mendonça Lima, Alcides de. “Comentários ao Código de Processo Civil”, Edição Forense, vol.VI, tomo II/773, 1974.(2) Mendonça Lima, Alcides de . Ob. cit., p. 774.

(3) Liebman, Enrico Tullio . “Processo de Execução”, Ed. Saraiva, 1968, p. 169.

Page 150: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 150/380

154

rizam-se as “astreintes ” pelo exagero da quantia em que se faz a condena-ção, que não corresponde ao prejuízo real causado ao credor pelo inadim-plemento, nem depende da existência de tal prejuízo.(4) Constitui na reali-dade uma pena imposta com a finalidade cominatória, tendo como objetivo

primeiro o cumprimento da obrigação no prazo fixado pelo juiz.4. Segundo informações colhidas na maioria dos autores, esse siste-

ma foi assaz criticado pela doutrina francesa, uma vez que não encontrasupedâneo na lei e porque, encarado como forma de indenização, contra-ria o princípio da correspondência entre o dano e o ressarcimento. Mas averdade é que a jurisprudência permaneceu firme em dar-lhe aplicação.Por outro lado, nada há que possa por em dúvida a real eficácia das “astre- intes ” como meio de coação ao cumprimento da obrigação. Não tem cará-ter executório e visa ao cumprimento da obrigação pelo próprio executado.

5. Em que pesem as seriedades das objeções e a autoridade dosseus autores, o certo é que as “astreintes ” jamais deixaram de ser aplica-das, fato que vem em abono da assertiva de que o uso constante ou aaplicação de uma medida que venha a mostrar-se benéfica faz vôo de pás-saro grande, pairando acima das teóricas restrições da sua legitimidade.Além do mais, não obstante bem lançado o argumento, não convence detodo que a sanção em exame arrepia o princípio de que, sem lei anterior,não se qualifica ou legitima a pena. A verdade é que a sanção se circuns-creve aos bens do devedor, não se constituindo, ademais, uma coação àsua pessoa.

6. Não há negar que no poder conferido ao juiz de ordenar, condenar,impor, está implícita a faculdade ou “imperium ” de fazer cumprir a ordem, acondenação, ressalvadas, naturalmente as coações que envolvam diretaou indiretamente a pessoa do credor. Afigura-se-nos, por outro lado, queas “astreintes ” independem da iniciativa do interessado ou prejudicado. Ao juiz incumbe dirigir o processo de modo que assegure andamento rápido àlide. Por outro lado, não há negar que o pronto e justo desfecho da deman-da constitui interesse que extrapola a vontade das partes para constituir-seem propósito superior do Estado. Não se enxergue nessa iniciativa do ma-

gistrado uma resolução “extra petita ”, eis que a sanção cominada ao deve-dor recalcitrante não tem por escopo acautelar o interesse do credor, mastornar efetiva a prestação jurisdicional que o Estado deve ao indivíduo.

7. Entre nós, a CLT no seu art. 729 dispõe: “O empregador que deixarde cumprir decisão passada em julgado sobre a readmissão ou reintegra-ção de empregado, além do pagamento dos salários deste, incorrerá namulta de 3/5 (três quintos) a 3 (três) valores de referência por dia, até queseja cumprida a decisão”.

(4) Liebman, Enrico Tullio. Ob. cit., p. 170.

Page 151: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 151/380

155

Não obstante as modificações introduzidas pela Lei n. 5.889, de8.6.1.973, em seu art. 18, elevando a multa de 1/10 a 10 salários mínimosregionais, segundo a natureza da infração e a sua gravidade, não se con-seguiu ainda tirar aquele dispositivo da sua completa timidez.

Entre os juslaboralistas pátrios que maior contribuição têm oferecidosobre o assunto, sem dúvida, há de ser incluído o mestre Mozart Victor Russomano . Assim é que no art. 538 do anteprojeto de sua lavra, elabora-do em 1970, introduziu preceitos mais agressivos e consentâneos com arealidade atual.(5)

“Se a obrigação de fazer implicar a reintegração ou readmissão deempregado estável, o empregador, nos autos da própria execução, serácondenado a pagar-lhe salários de conformidade com a seguinte progres-são, a partir da data em que escoar o prazo previsto no art. 534, deste

Código:I — durante o primeiro trimestre de afastamento do trabalhador, o

salário contratual será pago com acréscimo de 50%;

II — a partir do segundo trimestre, inclusive, o salário contratual pas-sará a ser pago em dobro.

Parágrafo único. Se, no fim do semestre, o executado insistir na recusa,o trabalhador poderá optar pela conversão da reintegração ou readmissãoem indenizações por tempo de serviço, acrescidas do valor do aviso prévio.

Nessa hipótese, tomar-se-á como referência, no cálculo das indenizações,o salário do último mês de vigência do contrato individual de trabalho, naforma dos incisos I e II deste artigo”.

8. Em se cuidando de estabilitário, reconhecida a inexistência de faltagrave praticada pelo empregado, fica o empregador obrigado a readmiti-lono serviço e a pagar-lhe os salários a que teria direito no período de sus-pensão. Importa, pois, a estabilidade na perda pelo empregador do direitode resilição unilateral do contrato. Segundo ensinamentos de José Martins Catharino , a “perpetuidade” unilateral do contrato de emprego é uma cons-tante preocupação do legislador contemporâneo, visando a beneficiar oempregado.(6) Ainda de conformidade com preceitos ditados pelo art. 496do diploma laboral, tornando-se desaconselhável a reintegração do empre-gado estável, dado o grau de incompatibilidade entre ele e o empregador,resultante do litígio, e especialmente quando for o empregador pessoa físi-ca, poderá o juiz convertê-la em indenização em dobro. Ensina Délio Mara- nhão que essa norma, de caráter excepcional em relação à própria nature-za da estabilidade, não lhe infringe, todavia, a garantia, porque não se trata

(5) Russomano, Mozar t Victor . Ed. LTr 34/909.

(6) Catharino, José Martins . “Em Defesa da Estabilidade”, Ed. LTr, p. 63.

Page 152: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 152/380

156

de reconhecer ao empregador o direito de substituir, pela indenização, odireito de reintegrar, mas de faculdade atribuída ao juiz, em caso de incom-patibilidade evidente e insanável entre as partes, e a qual usará de acordocom o seu prudente arbítrio.(7) Russomano , comentando o assunto, ensina

que a reintegração é o corolário final, relevante e lógico da estabilidade,definida como direito de permanência na empresa. (8) E mais adiante, co-mentando os dizeres do art. 496, coerente com seus ensinamentos, ponde-ra que “não obstante, na elaboração do Projeto do Código de Processo doTrabalho que nos fora encomendado pelo Governo da República, atrevemo-nos a ir mais adiante, na defesa da reintegração: usando, em larga escala,pela primeira vez no nosso Direito Positivo, o sistema das astreintes , cria-mos um regime em que a recusa do empregador em cumprir a sentença dereintegração determinava, automaticamente, o aumento do salário, em pro-gressão crescente e proporcional ao prazo da recusa. Em poucos meses, a

situação se tornaria intolerável para o empregador e este se veria forçadoa obedecer à ordem do juiz, reintegrando o trabalhador”. (9)

9. É de se notar que as astreintes não se confundem com as perdas edanos que decorrem do inadimplemento da obrigação pelo devedor. En-quanto as perdas e danos são fixadas em valor exato e são, assim, defini-tivas, as astreintes não têm limites e se apresentam em caráter precário eprovisório, cessando no momento em que o devedor haja por bem de cum-prir a obrigação. Por outro lado, podem ultrapassar o valor da obrigação,enquanto as perdas e danos não devem superá-lo, sob pena de enriqueci-

mento sem causa.10. Vamos encontrar nas lições de Orlando Gomes que fere os princí-

pios da liberdade individual e da dignidade humana obrigar-se alguém acumprir em forma específica uma obrigação de fazer. A execução forçadade um facere é condenada pelo Direito, entre homens livres, desde as suasmais remotas origens, como está expresso no brocardo Nemo ad factum precise cogi potest . Continuando, diz o mestre baiano, citando Josserand ,que o Direito moderno, entretanto, conhece métodos legais de compeliralguém à execução de uma obrigação de fazer. Para tanto, formulou-se ateoria denominada das astreintes , que consiste em uma condenação pecu-niária, pronunciada à razão de “tanto” por dia, por semana, por mês ou porano de atraso, e que visa a vencer a resistência do devedor de uma obri-gação de fazer, exercendo pressão sobre sua vontade. E arremata: nãohá fortuna que possa resistir uma pressão contínua e incessantemente acen-tuada.(10)

(7) Maranhão, Délio . “Direito do Trabalho”, Ed. Fundação Getúlio Vargas, 1974, p. 296.(8) Russomano, Mozart Victor. “Estabilidade do Trabalhador na Empresa”, Ed. Konfino, 1970, p. 74.(9) Russomano, Mozar t Victor . Ob. cit., p. 76.(10) Gomes, Orlando e Gottschalk, Elson. “Curso de Di reito do Trabalho”, Ed. Forense, 1971,

p. 368.

Page 153: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 153/380

157

11. Cuidando do assunto, o Min. Arnaldo Süssekind  cita trecho doMin. Oscar Saraiva , quando no exercício do cargo de Consultor Jurídico doMinistério do Trabalho: “Nem se diga, quanto à reintegração, que se tratade uma obrigação meramente pessoal que, na forma do art. 1.060 do CC,

se pode resolver em perdas e danos por seu inadimplemento. Não só alegislação do trabalho é de ordem pública, e seus preceitos não podem serderrogados, pela vontade do obrigado, como hoje, no próprio campo doDireito Privado, encontramos várias modalidades de cumprimento compul-sório de obrigações pessoais por determinação de autoridade judicial; as-sim, a renovação das locações comerciais, a venda de terrenos adquiridosa prazo”. E finalmente, referindo-se ao ar t. 729 da CLT, arremata Süssekind que para tornar efetiva a reintegração do empregado, uma vez determina-da pela Justiça do Trabalho, prevê a lei brasileira a aplicação de multa aoempregador que descumprir essa obrigação.(11)

12. Abordando a matéria, Alcides de Mendonça Lima  informa que oDireito processual civil brasileiro desconhecia as astreintes  até o vigenteCódigo. O art. 1.005 do diploma revogado não as configurava, porque acominação pecuniária se achava subordinada a uma condição indispensá-vel: “que não exceda o valor da prestação”.(12) Contrariamente, a caracterís-tica das astreintes é poderem ser ilimitadas.

Em interessante artigo, o Desembargador paraibano Mário Moacyr Porto mostra a aplicação das astreintes  também no campo da Administra-ção. Assim comenta: “Aparentemente, o campo de astreintes se limitaria à

execução das obrigações de fazer, em face da circunstância de, no tocanteàs obrigações de dar, ser sempre possível ou viável o cumprimento diretoin natura das mesmas. Por outro lado, pareceria, ao primeiro exame, que amedida não alcançaria o Estado, em face dos privilégios que desfruta. Esteúltimo aspecto apresenta particular interesse, sabido que a AdministraçãoPública é, via de regra, pagadora impontual. Se entendermos as astreintes como uma pena privada, aplicá-la ao Estado recalcitrante suscita dúvidassérias quanto à sua viabilidade ou legalidade”. E conclui, estribado emFrejaville : “Se entendermos a astreintes como uma rigorosa apreciação doprejuízo tout court , não vemos como subtrair a Administração do salutarconstrangimento da sanção pecuniária”.(13)

13. Josserand , em síntese perfeita, dá-nos as principais característi-cas das astreintes :(14) a) A indenização do dano visa a substituir a execuçãoin natura , enquanto as astreintes visam a assegurar ao credor a execução; b) aindenização pressupõe a existência de um dano sofrido pelo credor, ao

(11) Süssekind, Arnaldo. “Instituições de Direito do Trabalho”, Ed. Freitas Bastos, 1974, vol. II/524.(12) Mendonça Lima, Alcides de. Ob. cit., p. 777.(13) Porto, Moacyr Mário . RT 394/29.

(14) Porto, Moacyr Mário . Ob. cit., pp. 30-31.

Page 154: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 154/380

158

qual o tribunal deverá referir-se na decisão, enquanto, em relação àsastreintes , não se faz mister a constatação de qualquer dano; c) as astreintes ,ao contrário da indenização do dano, não é fixada de acordo com o prejuí-zo sofrido pelo credor, mas, o que é bem diferente, consoante a fortuna, os

bens do devedor recalcitrante. A medida deverá adequar-se ao fim deseja-do e o juiz não precisa demonstrar, em sua decisão, que a sanção pecuniá-ria imposta corresponde exatamente ao dano que para o credor, resultouda demora no cumprimento da obrigação; d) “as astreintes têm uma eficá-cia transeunte, o que também assinala uma diferença fundamental com aindenização do dano; a decisão que a impõe não é passível de execuçãoprovisória. Seu fim é assegurar a execução; quando o resultado é alcança-do, desaparece a sua razão de ser; é suprimida ou reduzida. Poderá sermodificada pelo tr ibunal. É de natureza cominatória; se o devedor cumpre aobrigação, por nada mais responde.

14. O novo diploma processual, conforme preleciona Amauri Masca- ro Nascimento ,(15) “generaliza a pena pecuniária para todo e qualquer tipode obrigação de fazer ou não fazer”. E complementa o festejado juslabora-lista: “Assim, se o autor pede na reclamação trabalhista a concessão de umintervalo que a empresa não concede, cabe a pena pecuniária no pedidoinicial para o caso de descumprimento da sentença. Eis por que o Códigoaumenta a amplitude da pena pecuniária no processo trabalhista. Se elaantes era restrita e limitada, agora é ampla, genérica para toda e qualquerobrigação de fazer ou não fazer, desde que pedida na petição inicial”.

15. As astreintes substituem com vantagens a manu militari do Esta-do que recai diretamente sobre a pessoa do devedor, atentando contra asua liberdade. A vantagem que oferece é a de não criar ambiente de violên-cia física, ainda que se articule contra a vontade e se reflita sobre o patri-mônio do devedor.

Os artigos 287, 644, 645 do Código de Processo Civil cuidam do tema.Antes da modificação trazida pela Lei n. 8.953, de 13.12.1994, havia exigên-cia expressa no sentido de que o autor formulasse o pedido na petição inici-al. Embora a exigência ainda permaneça no art. 287, os artigos 644 e 645

foram redimensionados, dando poderes ao juiz para aplicar as astreintes  deofício, se omissa a sentença. O valor também poderá ser modificado pelo juiz na execução, verificado que se tornou insuficiente ou excessivo.

A timidez do Código Buzaid, antes da reforma de 1994, resultara nopouco uso do instituto, uma vez que o juiz ficava à mercê da parte ou doadvogado que deveria pedir para que a sentença condenasse. Relegava-se ao oblívio a obrigação de o Estado tomar todas as providências paraque a prestação jurisdicional se completasse de forma mais rápida possí-

(15) Nascimento, Amauri Mascaro. Ed. LTr 39/485.

Page 155: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 155/380

159

vel (arts. 125, II e III, 599 e 600 do CPC). Por outro lado, o art. 798 ampliavaos poderes do juízo para agir de ofício. Em artigo de doutrina publicado emfevereiro/78 na Revista dos Tribunais, v. 508/35, sob o título “As astreintes e sua eficácia moralizadora”, já defendíamos a sua aplicação de ofício pelo

 juiz da causa em sede trabalhista, tendo em conta o comando contido noart. 765 da CLT. Antes do Código atual, a aplicação das astreintes era pos-sível com base no Direito comparado (art. 8º da CLT).

16. A aplicação das astreintes  tem caráter facultativo. O juiz poderáacolher ou não o pedido do autor, como poderá concedê-las de ofício. Tudodependerá, naturalmente, das circunstâncias que cercam o caso concreto.

Por oportuno, lembre que o novo instrumento processual civil, subsi-diariamente aplicável no processo trabalhista ex vi , do art. 769 do diplomaconsolidado, veio ampliar os preceitos contidos no art. 729 da CLT, de modoa torná-lo mais consentâneo com a realidade atual.

17. AS  ASTREINTES E O GIZAMENTO DO ART. 920 DO C.C.

O tema foi objeto de Orientação Jurisprudencial n. 54 da Seção deDissídios Individuais do Colendo Tribunal Superior do Trabalho: “Multa esti-pulada em cláusula penal, ainda que diária, não poderá ser superior aoprincipal corrigido. Aplicação do art. 920 do Código Civil.”

O art. 920 do Código Civil por seu turno dispõe: “O valor da cominaçãoimposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação do principal.”Todavia, o dispositivo sobre o qual o Precedente busca suporte tem natureza jurídica de “cláusula penal”. A Lei de Usura (Decreto n. 22.626, de 7.4.1.933)assim define: “As multas ou cláusulas penais, quando convencionadas, repu-tam-se estabelecidas para atender as despesas judiciais e honorários deadvogados, e não poderão ser exigidas quando for intentada ação judicialpara a cobrança da respectiva obrigação (art. 8º). “Não é válida a cláusulapenal superior à importância de 10% do valor da dívida” (art. 9º).

Claro está que os requisitos que implementam a cláusula penal, tam-bém denominadas multas, não são os mesmos que consubstanciam as

astreintes . Daí ser inarredável a conclusão de que o tecido primevo quedeu alento ao art. 920 do Código Civil, não pode imiscuir-se em regênciasobre “multas” previstas em acordos, convenções, dissídios, ou acordosem dissídios coletivos, pelo simples fato de que de multa não se cuida, masde astreintes . Evidente o lapso ao utilizar o nomen juris. É o uso do termo“multa” no seu sentido vulgar, não jurídico, à calva de primor terminológico.

A cominação pecuniária prevista em norma coletiva tem naturezaconceitual de astreintes , embora utilizada a terminologia “multa”. Do queresulta que, na hipótese, não se permite a intromissão da norma civilistaprevista no art. 920 do CC. Estar-se-ia fazendo malabarismos exegéticos

com o objetivo de neutralizar cláusula moralizadora.

Page 156: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 156/380

160

PARADIGMAS DA RELAÇÃO ENTRE A SOCIEDADE 

E AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA 

Maria Salete Fábio Aranha(*)

A palavra “inclusão” invadiu o discurso nacional recentemente, pas-sando a ser usada amplamente, em diferentes contextos e mesmo comdiferentes significados. Este fato, ao invés de favorecer a compreensão sobreo processo a que a palavra se refere, tem feito dela um simples modismo,uso muitas vezes superficial de um rótulo, vazio de significação social.

Entretanto, não se pode ignorar o longo e importante processo histó-rico que a produziu, configurado numa luta constante de diferentes minori-as, na busca de defesa e garantia de seus direitos enquanto seres huma-

nos e cidadãos. Ignorar tal processo implica na perda de compreensão deseu sentido e significado.

Tendo então por objetivo favorecer a compreensão desse processo eestimular a reflexão e a discussão social a seu respeito, faz-se necessárioque se focalize o conjunto de mudanças de idéias que permeou sua história.

A relação da sociedade com a parcela da população constituída pe-las pessoas com deficiência tem se modificado no decorrer dos tempos,tanto no que se refere aos pressupostos filosóficos que a determinam epermeiam, como no conjunto de práticas nas quais ela se objetiva.

Ao se buscar dados sobre o tipo de tratamento dado às pessoas comdeficiência na Idade Antiga e na Idade Média, descobre-se que muito poucose sabe, na verdade. A maior parte das informações provêm de passagensencontradas na literatura grega e romana, na Bíblia, no Talmud e no Corão.Encontra-se, por exemplo, uma recomendação feita por Mohammed, no quartoverso do quarto sura, encorajando que se alimente e se abrigue “aquelesdesprovidos da razão”, tratando-os com amabilidade (Aranha , 1979).

(*) Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação, UNESP-Marília, Coordenadora doNúcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Atenção à Pessoa Portadora de Deficiência. Mestre emReabilitação Profissional, Doutora em Psicologia Experimental, pelo IPUSP, Pós-Doutorado em Rea-

bilitação Profissional, e-mail: [email protected]

Page 157: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 157/380

161

Na Esparta, os imaturos, os fracos e os defeituosos eram proposital-mente eliminados. Consta que os romanos descartavam-se de criançasdeformadas e indesejadas... em esgotos localizados, ironicamente, no ladoexterno do Templo da Piedade. “A prática do abandono à inanição, ou

eufemicamente, à ‘exposição’ foi admitida por Platão {Rep., 461 c}, por Aristó- teles {Polit., pág. 150, 1335b}... Da exposição, talvez escapassem os por-tadores de deficiências mentais não graves” (Pessotti , 1984, pág. 4). A buscade compreensão sobre tais procedimentos exige que estes sejam olhadosno contexto da organização sociopolítico-econômica então vigente na so-ciedade. As sociedades ocidentais, na Antigüidade, fundamentavam-seeconomicamente em atividades de agricultura, pecuária e artesanato. Es-tas, eram executadas pelo povo, massa populacional que não detinha qual-quer poder político, econômico e social. Apesar de responsáveis pela pro-dução e sobrevivência da sociedade, os homens do povo eram bens deposse e uso da nobreza, a quem pertenciam, serviam e obedeciam e porquem eram considerados sub-humanos. Assim, a sociedade contava comdois agrupamentos sociais: a nobreza — senhores que detinham o podersocial, político e econômico e os serviçais , servos ou escravos, considera-dos sub-humanos, dependentes economicamente. Nesse contexto, a vidahumana só tinha algum valor enquanto valorada pela nobreza, em funçãoda utilidade que tivesse para a realização de seus desejos e a satisfaçãode suas necessidades. A exposição era uma estratégia de eliminação dossub-humanos considerados inúteis. “Para Aristóteles , até mesmo os filhos

normais, excedentes, podem ser ‘expostos’, em nome do equilíbrio demo-gráfico, numa posição coerente com as linhas mestras aristocráticas eelitistas da Política, mas fatal para as pessoas portadoras de deficiências,principalmente quando essas viessem a implicar dependência econômica.”(Pessotti , 1984, pág. 4)

Assim observa-se, na Idade Antiga, a existência de uma organizaçãosociopolítica fundamentada no poder absoluto de uma minoria numérica,associada à absoluta exclusão da maioria, das instâncias decisórias e ad-ministrativas da vida em sociedade. A pessoa com deficiência, nesse con-

texto, como qualquer outra pessoa do povo, também parecia não ter impor-tância enquanto ser humano, já que sua exterminação (abandono ou expo-sição) não demostrava ser problema ético ou moral.

Kanner  (1964) relatou que “a única ocupação para os retardadosmentais encontrada na literatura antiga é a de bobo ou de palhaço, para adiversão dos senhores e seus hóspedes” (pág. 5).

Com o advento do cristianismo, a situação se modificou, pois todospassaram a ser igualmente considerados filhos de Deus, possuidores deuma alma e portanto merecedores do respeito à vida e a um tratamento

caridoso.

Page 158: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 158/380

162

A Bíblia traz referências ao cego, ao manco e ao leproso — a maioriados quais sendo pedintes ou rejeitados pela comunidade, seja pelo medoda doença, seja porque se pensava que Deus estava punindo os doentes.

A síntese de tais informações, entretanto, vai pouco além do fato deque a existência das pessoas hoje chamadas com deficiência era registra-da e conhecida. Ela nos diz que a abordagem ao diferente variava de grupoa grupo. Alguns, matavam-nos; outros, advogavam a convivência amigável;outros ainda, puniam-nos por considerarem a doença, a fraqueza e a defi-ciência resultantes de possessão demoníaca, sendo a punição a única for-ma de se livrar do pecado, da possessão e de se reparar os pecados. As-sim, observa-se que sua desimportância no contexto da organizaçãosociopolítico-econômica associava-se ao conjunto de crenças religiosas emetafísicas, na determinação do tipo de relação que a sociedade mantinha

com o diferente.Não há qualquer evidência de esforços específicos ou organizadospara se providenciar seu abrigo, proteção, tratamento e/ou capacitação.

Na Idade Média, o sistema de produção manteve-se praticamente omesmo que o que vigorava na Antigüidade, no sentido de estar fundamenta-do em atividades de pecuária, artesanato e agricultura. A grande diferençapassou a residir no fato de que o cristianismo veio provocar a formação deuma nova classe social, constituída pelos membros do clero. Estes, guardiõesdo conhecimento e dominadores das relações sociais, foram assumindo cadavez maior poder social, político e econômico, provenientes do poder maiorque detinham, de excomungar (vedando, assim, a entrada aos céus) aque-les que, por razões mais ou menos honestas, os desagradassem. Assim,conquistaram o domínio velado das ações da nobreza, através da qual co-mandavam a sociedade. Cabia ainda ao povo (servos) o trabalho, seja naprodução de bens e serviços, na constituição de exércitos, como no enrique-cimento do clero e da nobreza, sem a prerrogativa de participação nos pro-cessos decisórios e administrativos da sociedade.

Aparentemente, pessoas com deficiências físicas e/ou mentais eramignoradas à sua sorte, buscando a sobrevivência na caridade humana.

Devido a essa organização da sociedade sucederam-se, nesse período,dois importantes processos, decisivos na história da humanidade: a InquisiçãoCatólica e a conseqüente Reforma Protestante. Manifestações populares emtoda a Europa, aliadas a manifestações dentro da própria Igreja começaram aquestionar o abuso do poder e as inconsistências entre credo e ação, desvela-dos nas determinações e ações do clero. Tal processo se ampliou de tal forma,que passou a colocar em risco a hegemonia do poder da Igreja. Na tentativade se proteger de tal insatisfação e manifestações, esta inicia, em nome deDeus, um dos períodos mais negros da história da humanidade: o da caça e

exterminação dos que passou a chamar de hereges e “endemoniados”. Cartas

Page 159: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 159/380

163

papais (Pessotti , 1984) orientavam como tais pessoas podiam ser identifica-das, bem como determinavam como deviam ser tratadas. A estes, se reco-mendava uma “ardilosa inquisição, para obtenção de confissão de heresia”,torturas, açoites, outras punições severas, até a fogueira.

A indignação perante tal processo provocou a cisão dentro da própriaIgreja. Martinho Lutero liderando os membros do clero que rejeitavam talsituação e pretendiam uma nova ordem, então sob seu controle e poder,iniciou uma nova igreja, caracterizada por atitudes opostas: uma marcanterigidez ética, religiosa e moral, aliada à mais absoluta intolerância ao des-vio, o qual era carregado com a noção de culpa e de responsabilidade pes-soal. Conquanto poder-se-ia esperar alguma modificação mais substancialnas relações da sociedade com a deficiência, tal fato não se deu. Segundoo próprio Lutero, “o homem é o próprio mal quando lhe faleça a razão oulhe falte a graça celeste a iluminar-lhe o intelecto; assim, dementes e

amentes são, em essência, seres diabólicos”, considerando a pessoa comdeficiência e a pessoa doente mental seres pecadores, condenados porDeus. As ações conseqüentemente recomendadas eram o castigo, atravésde aprisionamento e açoitamento, para expulsão do demônio. (Pessotti , 1984)

Na realidade, a partir da Reforma Protestante dois sistemas político-religiosos passaram a coexistir e concorrer, dominando, por muito tempo, odirecionamento da história da humanidade (grandes navegações, desco-brimentos, repartição de áreas geográficas, colonizações). Ambos conce-biam a deficiência como fenômenos metafísicos, de natureza negativa, li-

gados à rejeição de Deus, através do pecado, ou à possessão demoníaca.No século XVI, a Revolução Burguesa, revolução de idéias, mudandoo modo clerical de ver o homem e a sociedade, trouxe em seu bojo a mudan-ça no sistema de produção, precedida pela derrubada das monarquias epela queda da hegemonia religiosa: o capitalismo mercantil. Iniciou-se a for-mação dos Estados modernos, com uma nova divisão social do trabalho:donos dos meios de produção e operários. Surge a burguesia, nova classe,constituída por pequenos empreendedores que começaram a enriquecer apartir da comercialização de seu trabalho. Assim, à existência da visão abs-trata, metafísica, do homem, soma-se uma nova visão, a da concreticidade.

No que se refere à deficiência, começaram a surgir novas idéias quantoà organicidade de sua natureza, produto de infortúnios naturais, conformeParacelso (1493-1541), Cardano (1501-1576) e jurisprudência de SirAnthony Fitz-Hebert (Pessotti , 1984, págs. 14-17). Assim concebida, pas-sou a ser tratada através da alquimia, da magia e da astrologia, métodosda insipiente medicina.

O primeiro hospital psiquiátrico surgiu nessa época e se proliferou,mas da mesma forma que os asilos e conventos, eram lugares para confi-nar, ao invés de tratar as pessoas. Tais instituições eram pouco mais do

que prisões.

Page 160: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 160/380

164

No século XVII, a organização socioeconômica foi se encaminhandopara o capitalismo comercial, fortalecendo o modo de produção capitalistae consolidando a classe da burguesia no poder. Passou-se a defender, noideário da época, a concepção de que os indivíduos não são essencial-

mente iguais e que se havia que respeitar as diferenças. Nisto se funda-mentou a classe dominante para legitimar a desigualdade social, a práticada dominação do capital e dos privilégios. A educação, conquanto seme-lhante ao padrão de ensino tradicional até então assumido exclusivamentepela Igreja, passou também a ser oferecida pelo Estado, com objetivos cla-ros de preparo da mão-de-obra que se mostrava necessária no ainda novomodo de produção.

Concomitantemente, novas idéias foram sendo produzidas tanto naárea da medicina, como na da filosofia e na da educação. Continuou o

fortalecimento da visão organicista, especialmente com a edição, em 1664,da obra Cerebri Anatome , produzido por Thomas Willis (1621-1675), queapresenta descrições anatômicas e morfológicas, além de propor concei-tos fisiológicos hipotéticos na explicação da deficiência mental. Locke (1632-1704), concomitantemente, surge também lutando contra o absolutismoteocrático, defendendo que o homem é uma tábula rasa a ser preenchidapela experiência. Ao assim fazer, fortaleceu a visão naturalista da atividadeintelectual, encaminhando a crença na educabilidade do deficiente mental.

A relação da sociedade com a pessoa com deficiência, a partir desse

período passou a se diversificar, caracterizando-se então por diferentestipos de iniciativa: de Institucionalização Total, de tratamento médico e debusca de estratégias de ensino.

Na Medicina, o século XVIII foi um período mais de assimilação e deconsolidação do conhecimento já produzido, do que de grandes descober-tas. Lentos avanços no conhecimento da fisiologia, da bioquímica e da pa-tologia foram obtidos e assim, sementes foram plantadas para o desenvol-vimento do campo da medicina preventiva.

A deficiência mental continuava sendo considerada hereditária e in-

curável e assim, a maioria das pessoas com deficiência mental eramrelegadas a hospícios, albergues, asilos ou cadeias locais. Pessoas comdeficiência física “ou eram cuidadas pela família ou colocadas em asilos”(Rubin & Roessler , 1978, pág. 7).

Dentre os primeiros passos dados, entretanto, na direção de mudaras características da relação da sociedade com as pessoas com deficiên-cia, encontram-se os esforços de Jacob Rodrigues Pereira, em 1747, natentativa de ensinar surdos congênitos a se comunicar. Tais tentativas fo-ram tão bem sucedidas que estimulou a busca de formas para lidar com

outras populações, especialmente a de pessoas com deficiência mental.

Page 161: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 161/380

165

Em meados de 1800, Guggenbuhl abriu uma instituição para o cuida- do  e tratamento  residenciais de pessoas com deficiência mental, emAbendberg, Suíça. Os resultados de seu trabalho chamaram a atenção paraa necessidade de uma reforma significativa no sistema, então vigente, da

simples internação em prisões e abrigos. Embora tenha deteriorado poste-riormente, este foi o projeto que deu origem à idéia e à prática do cuidado institucional para pessoas com deficiência mental, inclusive no continenteamericano. Da mesma forma que na Suíça, entretanto, de instituições paratratamento e educação, elas logo mudaram para instituições asilares e decustódia, ambientes segregados, denominados Instituições Totais, consti-tuindo o primeiro paradigma formal adotado na caracterização da relaçãosociedade — deficiência: o Paradigma da Institucionalização.

Este caracterizou-se, desde o início, pela retirada das pessoas com 

deficiência de suas comunidades de origem e pela manutenção delas em instituições residenciais segregadas ou escolas especiais, freqüentemente situadas em localidades distantes de suas famílias . Assim, pessoas comretardo mental ou outras deficiências, freqüentemente ficavam mantidasem isolamento do resto da sociedade, fosse a título de proteção, de trata-mento, ou de processo educacional.

Apesar de existirem desde o século XVI, as instituições totais nãoforam criticamente examinadas até o início da década de 60, quando Erving Goffman  publicou Asylums (tendo por título em português “Manicômios,Prisões e Conventos), que se tornou uma análise clássica das característi-

cas da instituição e de seus efeitos no indivíduo. Sua definição de Institui- ção  Total  é amplamente aceita até hoje — “um lugar de residência e de trabalho, onde um grande número de pessoas, excluídos da sociedade mais ampla por um longo período de tempo, levam juntos uma vida enclausurada e formalmente administrada” (Goffman, 1962, XIII).

O referido autor argumentou que estar institucionalizado é uma experi-ência que afasta significativamente o indivíduo da sociedade, bem como oliga à vida institucional, constituindo um estilo de vida difícil de ser revertido.

Desde a manifestação de Goffman , em 1962, muitos autores passa-

ram a publicar estudos que enfocavam tanto as características de uma Insti-tuição Total, como seus efeitos no indivíduo institucionalizado. A maioria dosartigos apresentam uma dura crítica a esse sistema, no que se refere a suainadequação e ineficiência para realizar aquilo a que seu discurso se propõefazer: favorecer a recuperação das pessoas para a vida em sociedade.

Vail (1966), enfatizou, por exemplo, no contexto institucional, a práti-ca de demandas irrealistas, na maioria das vezes inconsistentes com ascaracterísticas e exigências do mundo externo. Tal contexto torna a pessoaincapaz de enfrentar e administrar o viver em sociedade quando e se  ja-

mais sair da Instituição. Discutiu os procedimentos institucionais tais como

Page 162: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 162/380

166

o de admissão, sistemas de recompensa e de punição, a uniformidade demassa e a impersonalidade automatizada da interação entre os provedo-res de serviços e seus usuários. Pauline Morris  (1969), em relatório deestudo desenvolvido na Inglaterra, com o objetivo de identificar a amplitu-

de e a qualidade do atendimento institucional disponível para os deficien-tes mentais naquele país, reconheceu que embora se detectassem mudan-ças na filosofia do tratamento, os resultados das pesquisas “indicavam cla-ramente que estas não eram acompanhadas por mudanças corresponden-tes, nos serviços disponíveis para esses pacientes” (pág. 309). Os resulta-dos obtidos indicavam a existência de condições decadentes dos prédios,o uso de roupas comunitárias, a falta de incentivo e mesmo de permissãopara a manutenção de objetos pessoais, dados limitados e não fidedignossobre os pacientes, muito pouca estimulação e treinamento, o que leva apessoa a uma dependência infantil, o tratamento em massa, a falta de pes-

soal especializado, o isolamento da comunidade e a prática da criação deregras e regulamentações vindas de cima para baixo — feitas por pessoasque não se encontravam cientes das reais necessidades dos pacientes.

Além de estudos mais antigos indicarem conseqüências negativasda Institucionalização (Skeels & Dye , 1939; Kirk , 1958), Heber (1964) des-creveu distúrbios de personalidade (processo de construção de doençamental) também encontrados por Rosen, Floor e Baxter  (1972) em indiví-duos com deficiência mental institucionalizados. Dentre os distúrbios des-critos observou-se baixa auto-estima, ausência de motivação para a vida,desamparo aprendido e distúrbios sexuais.

Valerie J. Bradley , em 1978, apresentava a desinstitucionalização comoum movimento que havia se iniciado, na realidade, há muito tempo, tendoenvolvido passos e etapas diferentes, os quais se congregaram em seuencaminhamento:

1. a melhoria do sistema de recursos e serviços da comunidade;

2. a exigência dos consumidores pelo acesso a esses recursos eserviços;

3. o início do uso de antibióticos, que reduziu o índice de mortalidade

nas instituições;4. a resultante sobrecarga de pessoas institucionalizadas exigia que

ou se construíssem novas instituições, ou se criassem novas alternativascomunitárias.

Braddock , em 1977, havia proposto que “normalização é uma ideolo-gia — um conjunto de idéias que reflete as necessidades e aspiraçõessociais de indivíduos extraordinários na sociedade” (pág. 4). Ela presumia a existência de uma condição “normal”, representada pelo maior percen- tual de pessoas na curva da normalidade e uma condição de “desvio”, re- 

presentada por pequenos percentuais de pessoas, na mesma curva .

Page 163: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 163/380

167

Segundo a autora, “o local típico de residência é o lar privado doindivíduo; o modelo educacional normal (típico) é a educação convencio-nal, numa sala de aula comum; o modelo típico de emprego é o competiti-vo, para o auto-sustento. Em contraste marcante com tais arranjos — na

extremidade anormal do continuum de serviços — têm-se congregado asinstituições totais, o ensino segregado e a não participação no mercado detrabalho” (pág. 5).

Vê-se, portanto, que o questionamento e a pressão contrária à insti-tucionalização vinha, naquela época, de diferentes direções, determinadostambém por interesses diversos; primeiramente, tinha-se o interesse do sistema , ao qual custava cada vez mais manter a população institucionali-zada na improdutividade e na condição de segregação; assim, interessavapara o sistema político-econômico o discurso da autonomia e da produtivi-dade; tinha-se, por outro lado, o processo geral de reflexão e de crítica (sobre direitos humanos e mais especificamente sobre o direito das mino-rias, sobre a liberdade sexual, os sistemas de organização político-econô-mica e seus efeitos na construção das sociedades e da subjetividade hu-mana), que no momento permeava a vida nas sociedades ocidentais; so-mando-se a estes, tinha-se ainda a crescente manifestação de duras críti- cas, por parte da academia científica e de diferentes categorias profissio- nais , ao paradigma da Institucionalização.

Em suma, a literatura da época, nos países do mundo ocidental queprimeiro vivenciaram o processo da desinstitucionalização, indica que inte-

resses de diferente origem e natureza se congregaram na determinação daconstrução do processo. Poder-se-ia dizer que a luta pela defesa dos direi- tos humanos e civis das pessoas com deficiência utilizou-se das brechas criadas pelas contradições do sistema sociopolítico-econômico vigente  (oqual defendia a diminuição das responsabilidades sociais do Estado e bus-cava diminuir o ônus populacional) para avançar na direção de sua integra- ção na sociedade.

Tais processos, embora diversos quanto à sua natureza e motivaçãovieram a convergir, determinando, em seu conjunto, a reformulação de idéi-as e a busca de novas práticas no trato da deficiência.

Em função do incômodo  representado pela institucionalização emdiferentes setores da sociedade e à luz das concepções de “desvio” e de “normalidade” é que foi se configurando, gradativamente, um novo paradig-ma de relação entre a sociedade e a parcela da população representadapelas pessoas com deficiência: o Paradigma de Serviços .

Este teve, desde seu início, o objetivo de “ajudar pessoas com defici- ência a obter uma existência tão próxima ao normal possível, a elas disponibilizando padrões e condições de vida cotidiana próxima às normas e padrões da sociedade.” (American National Association of Rehabilitation

Counseling — ANARC, 1973).

Page 164: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 164/380

168

O princípio da normalização deu o apoio filosófico ao movimento dadesinstitucionalização, favorecendo tanto o afastamento da pessoa das ins-tituições, como a provisão de programas comunitários planejados para ofe-recer serviços que se mostrassem necessários para ajudá-la a adquirir as 

condições e os padrões da vida cotidiana o mais próximo do normal (esta- tístico), quanto possível .

Como principais resultantes do movimento começaram a surgir no-vas alternativas institucionais, então denominadas organizações ou enti-dades de transição — mais protegidas do que a sociedade externa, con-quanto menos protegida e menos determinante de dependência que umainstituição total típica.

Tais entidades foram planejadas e delineadas para promover a res-ponsabilidade e enfatizar um grau significativo de auto-suficiência da pes-

soa com deficiência, através do trabalho ou do preparo para o trabalho,envolvendo treinamento e educação especiais, bem como um processo decolocação cuidadosamente supervisionado.

O ambiente social planejado, que em muitos casos se constituía deexperiências de pequenos grupos especiais, era visto como instrumentofundamental para a promoção da normalização do indivíduo.

Ao se afastar do paradigma da institucionalização (não mais interes-sava sustentar uma massa cada vez maior de pessoas, com ônus público,em ambientes segregados; interessava desenvolver meios para que estespudessem retornar ao sistema produtivo), criou-se o conceito da integra- ção, fundamentado na ideologia da normalização , a qual advogava o “direi-to” e a necessidade das pessoas com deficiência serem “trabalhadas” a fimde que se assemelhassem o mais proximamente possível das característi-cas da normalidade, estatística e funcional. Assim, integrar , significava, sim,localizar no sujeito o alvo da mudança , embora para tanto se tomasse, muitasvezes, como necessárias, mudanças na comunidade. Estas, na realidade,não tinham o sentido de se reorganizar para favorecer e garantir o acessodo diferente a tudo o que se encontra disponível na comunidade para os

diferentes cidadãos, mas sim o de lhes garantir serviços e recursos quepudessem “modificá-los” para que estes pudessem se aproximar do “nor-mal” o mais possível.

Como exemplos das organizações provenientes dessa filosofia tem-se, por um lado, entidades assistenciais, Casas de Passagem e mesmoalguns Centros de Vida Independente; no âmbito da educação, as escolasespeciais e as classes especiais, mais claramente voltadas para o ensinodo aluno, visando sua ida ou seu retorno para as salas de aula comuns, noensino regular; na área profissional, os melhores exemplos são as oficinas

abrigadas e os centros de reabilitação.

Page 165: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 165/380

169

Nestas, equipes de diferentes profissionais oferecem treinamento paraa vida na comunidade, tais como atividades da vida diária (higiene, cuida-dos pessoais), atividades de vida prática (preparo de alimentos, limpezadoméstica, planejamento orçamentário, administração orçamentária) e ou-

tras habilidades consideradas necessárias para sua sobrevivência e paraa vida independente.

O modelo de atenção adotado passou a se constituir de três etapas : aprimeira , de avaliação , onde uma equipe de profissionais identifica o que,em sua opinião, necessita ser modificado no sujeito ou em sua vida, de for-ma a torná-lo o mais “normal” possível. A fase seguinte , conseqüência destae a ela conseqüente, chamada de intervenção (ensino, treinamento, capaci-tação, etc.), onde profissionais passam a oferecer atendimento formal e sis-tematizado ao sujeito em questão, norteados pelos resultados e decisõestomados na fase anterior. À medida que os objetivos vão sendo alcançadose a equipe considera que a pessoa se encontra pronta para a vida indepen-dente na comunidade, efetiva-se a última fase , constituída do encaminha- mento ou re-encaminhamento desta para a vida na comunidade.

Constata-se, assim, que embora se tenha passado a assumir a im-portância do envolvimento maior e mais próximo da comunidade no tratoda integração de seus membros com deficiência, o objeto principal da mu- dança centrava-se, ainda, essencialmente, no próprio sujeito .

O paradigma da Institucionalização se manteve sem contestação porvários séculos. O paradigma de Serviços, entretanto, iniciado por volta da

década de 60, logo começou a enfrentar críticas, desta vez provenientesda academia científica e das próprias pessoas com deficiência, organiza-das em associações e outros órgãos de representação.

Parte delas, provenientes das dificuldades encontradas no processo de busca de “normalização” da pessoa com deficiência . Conquanto muitos alcan-çavam os objetivos de vida independente e produtiva, quando submetidos àprestação de serviços formalmente organizada na comunidade, muitos aindamostraram que dificilmente se pode esperar que alcance uma aparência e umfuncionamento semelhante aos não deficientes, devido às próprias caracterís-

ticas do tipo de deficiência e de seu grau de comprometimento.Outra crítica importante referia-se à expectativa de que a pessoa com deficiência se assemelhasse ao não deficiente, como se fosse possível ao homem o “ser igual” e como se ser diferente fosse razão para decretar a menor valia enquanto ser humano e ser social .

Inúmeros autores foram em busca de compreensão sobre as razõesque determinam a desqualificação da pessoa com deficiência.

Dentre estas, tem-se a reflexão etológica, apontando que muitas es-pécies excluem aqueles que representam menor valor de sobrevivência

para a espécie (ex.: lêmures, elefantes).

Page 166: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 166/380

170

Tem-se ainda leitura da deficiência como uma condição social queembora aparentemente iniciada na consideração da diferença, é construídasocialmente, a partir da reação de desvalorização, por parte da audiên-cia social (Omote , 1995).

Aranha (1995) propõe ser a deficiência uma condição social caracte-rizada pela “limitação ou impedimento da participação da pessoa diferente nas diferentes instâncias do debate de idéias e de tomada de decisões na sociedade . A autora atribui o processo de desqualificação ao fato da pes-soa com deficiência ser considerada, no sistema capitalista, um peso àsociedade, quando não produz e não contribui com o aumento do capital.

Em função de tal debate, a idéia da normalização começou a ser ques-tionada. Ampliou-se a discussão sobre o fato da pessoa com deficiênciaser um cidadão como qualquer outro, detentor dos mesmos direitos de

determinação e usufruto das oportunidades disponíveis na sociedade, inde-pendente do tipo de deficiência e de seu grau de comprometimento.

De modo geral, passou-se a discutir que as pessoas com deficiência necessitam, sim, de serviços de avaliação e de capacitação, oferecidos no contexto de suas comunidades. Mas também, que estas não são as únicas providências necessárias , caso a sociedade deseje manter com essa par-cela de seus constituintes uma relação de respeito, de honestidade e de justiça. Cabe também à sociedade se reorganizar de forma a garantir o acesso de todos os cidadãos (inclusive os que têm uma deficiência) a tudo

o que a constitui e caracteriza, independente de quão próximos estejam donível de normalidade.

Assim, cabe à sociedade oferecer os serviços que os cidadãos comdeficiência necessitarem (nas áreas física, psicológica, educacional, soci-al, profissional). Mas lhe cabe, também, garantir-lhes o acesso a tudo deque dispõe, independente do tipo de deficiência e grau de comprometimen-to apresentado pelo cidadão.

Foi fundamentado nestas idéias que surgiu o terceiro paradigma, de-nominado Paradigma de Suporte . Fundamentado no princípio da diversida- 

de , tem-se caracterizado pelo pressuposto de que a pessoa com deficiên- cia, como qualquer outra, tem direito à convivência não segregada e ao acesso imediato e contínuo aos recursos disponíveis aos demais cidadãos .Para tanto, fez-se necessário identificar o que poderia garantir tais prerro-gativas. Foi nesta busca que se pensou na disponibilização de suportes,instrumentos que viabilizam a garantia de que a pessoa com deficiênciapossa acessar e usufruir de todo e qualquer recurso da comunidade. Ossuportes podem ser de diferentes tipos (suporte social, econômico, físico,instrumental) e têm como função favorecer o que se passou a denominar

inclusão social . Entendemos inclusão social como o processo de garantia 

Page 167: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 167/380

171

do acesso de todos a todas as instâncias da vida em sociedade, independen- te de terem ou não uma deficiência, do tipo de deficiência e de seu grau de comprometimento . Tem-se, como conseqüência lógica desta concepção anecessidade de se promover um ajuste mútuo, onde cabe à pessoa com

deficiência manifestar-se com relação a seus desejos e necessidades e àsociedade, identificar e mapear o conjunto de desejos e necessidades deseus cidadãos, investindo na implementação dos ajustes e providênciasnecessárias que possibilitem o acesso e a convivência de todos, no espa-ço comum, não segregado.

A inclusão parte do mesmo pressuposto da integração , que é o direi-to da pessoa com deficiência ter igualdade de acesso ao espaço comumda vida em sociedade. Diferem, entretanto, no sentido de que o paradigma de serviços , onde se contextualiza a idéia da integração, pressupõe o in- 

vestimento principal na promoção de mudanças do indivíduo, na direção de sua normalização . Obviamente que no paradigma de serviços tambémse atua junto a diferentes instâncias da sociedade (família, escola, comuni-dade). Entretanto, isto se dá na maioria das vezes em complementação aoprocesso de intervenção no sujeito. A ação de intervenção junto à comuni-dade tem mais a conotação de construir a aceitação e a participação exter-na como auxiliares de um processo de busca de normalização do sujeito.

Já o paradigma de suportes , onde se contextualiza a idéia da inclu- são , prevê intervenções decisivas e afirmativas, em ambos os lados da equação: no processo de desenvolvimento do sujeito e no processo de re- ajuste da realidade social . Conquanto, então, preveja o trabalho direto como sujeito, adota como objetivo primordial e de curto prazo, a intervenção  junto às diferentes   instâncias que contextualizam a vida desse sujeito nacomunidade, no sentido de nelas promover os ajustes  (físicos, materiais,humanos, sociais, legais, etc.) que se mostrem necessários  para que apessoa com deficiência possa imediatamente adquirir condições de aces- so ao espaço comum da vida na sociedade .

Embora se possa encontrar muitos equívocos devidos à insuficientecompreensão do conceito, contextualizado em seu processo histórico de

construção, a grande diferença de significação entre os termos integração e inclusão reside no fato de que enquanto que no primeiro se procura in-vestir no “aprontamento ” do sujeito para a vida na comunidade, no outro,além de se investir no processo de desenvolvimento do indivíduo, busca-sea criação imediata de condições que garantam o acesso e a participação da pessoa na vida comunitária, através da provisão   de suportes físicos,psicológicos, sociais e instrumentais .

Ao se propor integrar a pessoa com deficiência na sociedade, pres-supõe-se aprontar alguém tido como diferente, para inseri-lo em um grupo 

de pessoas, supostamente iguais .

Page 168: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 168/380

172

Ao se tratar da inclusão , entretanto, pressupõe-se um processo soci- al amplo , bidirecional, onde o foco principal da ação é a construção de um contexto social inclusivo, ou seja, uma sociedade acolhedora para todos,que garanta a todos a participação no debate de idéias e no processo de- 

cisório que permeia a vida coletiva .A inclusão social, portanto, não é processo que diga respeito somen-

te à pessoa com deficiência, mas sim a todos os cidadãos. Não haveráinclusão da pessoa com deficiência enquanto a sociedade não for inclusi- va , ou seja, realmente democrática, onde todos possam igualmente semanifestar nas diferentes instâncias do debate de idéias e de tomada dedecisões da sociedade, tendo disponível o suporte que for necessário paraviabilizar essa participação.

Assim, que as pessoas com deficiência freqüentem os serviços que

necessitem para seu melhor tratamento e desenvolvimento. Mas que a so-ciedade também se reorganize de forma a garantir o acesso imediato dapessoa, através da provisão das adaptações que se mostrem necessárias.

De nada adianta prever formalmente a igualdade de oportunidades,se a sociedade não garantir o acesso da pessoa com deficiência a essasoportunidades. Muitos são os suportes necessários e possíveis de imedia-to. Outros, demandam maior planejamento a médio e longo prazos. Todos,entretanto, devem ser disponibilizados, caso se pretenda alcançar umasociedade justa e democrática.

Não há modelos prontos, nem receitas em manuais. A sociedade bra-sileira ainda precisa tornar sua prática consistente com seu discurso legal .Há que buscar soluções para a convivência na diversidade que a caracteri-za, enriquece, dá sentido e significado. Há que efetivamente favorecer aconvivência e a familiaridade com as pessoas com deficiência, derrubandoas barreiras físicas, sociais, psicológicas e instrumentais que as impede decircular no espaço comum.

O Brasil mantém ainda, no panorama de suas relações com a parcelada população representada pelas pessoas com deficiência, resquícios do

paradigma da institucionalização total e uma maior concentração do para-digma de serviços. Em qualquer área da atenção pública (educação, saú-de, esporte, turismo, lazer, cultura) os programas, projetos e atividades sãoplanejados para pessoas não deficientes. Quando abertos para o deficien-te são, em geral, desnecessariamente segregados e/ou segregatórios, dei-xando para a pessoa com deficiência ou sua família quase que a exclusivi-dade da responsabilidade sobre o alcance do acesso.

Embora encontre-se na literatura brasileira divergência entre os au-tores sobre as concepções de integração e de inclusão, constata-se, a

partir da revisão aqui feita, que o país continua centrando na pessoa com

Page 169: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 169/380

173

deficiência os motivos e razões para sua segregação e exclusão. Busca-se aqui, sim, a integração, através da oferta de serviços, na comunidade,que objetivam “melhorar” o nível da pessoa com deficiência. Distante aindase está, entretanto, da implementação das adaptações, disponibilização

dos suportes e planejamento de ações que garantam o acesso imediatode todas as pessoas aos recursos e instâncias da vida em comunidade,tenham elas deficiência ou não, seja qual for o nível e o grau de compro-metimento.

A inclusão social da pessoa portadora de deficiência no Brasil, por-tanto, é um projeto a ser construído por todos: família, diferentes setoresda vida pública e população leiga. Necessita planejamento, experimenta- ção , de forma a se identificar o que precisa ser feito em cada comunidade,para garantir o acesso das pessoas com deficiência do local e de outras

comunidades aos recursos e serviços nela disponíveis. Não se instala pôr decreto, nem de um dia para o outro . Mas há que se desenvolver gradativae firmemente, caso se pretenda um país mais humano, justo e compromis-sado com seu próprio futuro e bem-estar. A democratização da sociedadebrasileira passa pela construção de efetivo respeito a essa parcela da po-pulação, que a duros custos procura conquistar a participação em um es-paço ao qual tem direitos garantidos.

Page 170: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 170/380

JURISPRUDÊNCIA

Page 171: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 171/380

177

 MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO — 

RECLAMAÇÃO — DESARQUIVAMENTO DO 

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR 

Processo n. TST-R-720409/00.2Acórdão Pleno

Reclamação — Decisão do TST sobre abertura de processo adminis- trativo disciplinar — Inobservância. A reclamação é medida destinada a garantir a autoridade de decisão do Tribunal (RITST, art. 274). Ao apreciar o requerimento de suspensão do pagamento dos proventos de aposenta- doria do Juiz Nicolau dos Santos Neto, formulado pelo Senado Federal, o TST, dando-se por incompetente, remeteu os autos ao TRT paulista para que apreciasse o pedido, bem como instaurasse, na forma da legislação específica, o processo administrativo disciplinar. Tendo o Regional con- siderado atendido o pedido dos senadores com a suspenção de proven- tos decorrente da ausência de recadastramento do referido magistrado,determinou o arquivamento dos autos, considerando que não seria ne- cessária a instauração do processo administrativo, de vez que o refer ido magistrado já sofre processo criminal e cível sobre os mesmos fatos.Como a existência de processos nas áreas cível e criminal não obsta nem inibe a abertura de processo na esfera administrativa, é de ser cum- prida a decisão plenária do TST. Reclamação julgada procedente.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de Reclamação n. TST-R-720409/00.2, em que é Reclaman-te Ministério Público do Trabalho eReclamado Tribunal Regional do Tra-balho da 2ª Região.

O Pleno do Tribunal Superior doTrabalho declarou-se incompetentepara atender ao requerimento do Pre-

sidente da Subcomissão do Judiciá-

rio, Senador Renan Calheiros, desuspensão do pagamento dos pro-ventos de aposentadoria do JuizNicolau dos Santos Neto, sob o fun-damento de que o TST não é o órgãoresponsável pelo pagamento dos pro-ventos de aposentadoria do aludidoJuiz, não o sendo, via de conseqüên-cia, para determinar a suspensão do

pagamento requerido. Ato contínuo à

Page 172: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 172/380

178

essa declaração de incompetência,o Tribunal Pleno determinou que aPresidência do 2º Regional tomasseas providências necessárias à apu-

ração dos fatos narrados nos autos,bem como a instauração, na forma daLOMAN, do respectivo processo admi- nistrativo disciplinar (fls. 32-34).

Julgando o expediente formula-do pelo eminente Senador RenanCalheiros, tombado sob o n. 25/00, o2º Regional entendeu que o pleito for-mulado pelo Presidente da Subcomis-são do Judiciário restou plenamente

atendido, na medida em que o Presi-dente do TRT da 2ª Região determi-nou, por despacho, a suspensão dos proventos de aposentadoria do aludi-do Juiz. Por outro lado, quanto à de-terminação de abertura de processoadministrativo disciplinar, entendeu oTribunal de origem que a existência de dois processos (cível e criminal) con-tra o Juiz Nicolau dos Santos Neto, tra-

mitando perante a Justiça Federal, sãosuficientes para que seja feita justiçaem relação ao juiz que denegriu a ima-gem do Judiciário Trabalhista, razãopela qual determinou o arquivamento do pedido (fls. 55-59).

O Ministério Público do Trabalhoingressa com reclamação , com baseno art. 274 do RITST, para garantir o

cumprimento da decisão do TST,que determinou a abertura do pro-cesso administrativo disciplinar.

VOTO

A decisão regional reconheceuque a decisão do TST determinou ainstauração de processo administrati- vo disciplinar. No entanto, entendeu

que o fato de já haver processo cri- 

minal correndo na Justiça Federal con-tra o magistrado em apreço, além deoutro na esfera cível objetivando o res-sarcimento do erário, já atenderia, jun-

tamente com a suspensão do paga- mento dos proventos de aposentado- ria, ao pedido formulado pelos sena-dores da República.

Ora, a existência de processosnas áreas cível e criminal não obsta nem inibe a abertura de processo naesfera administrativa , uma vez queo objetivo de cada um dos processos

é distinto: a aplicação de pena pelaesfera criminal, o ressarcimento doerário na esfera cível, e, no caso daesfera administrativa, a cassação , enão apenas a suspensão, dos pro-ventos de aposentadoria.

Assim, se, por um lado, o juízo de valor constante da decisão regio-nal sobre a abertura do processo

administrativo carece de fundamen-tação, por outro, ele sequer poderiaser feito, vez que o teor da decisãodo TST não foi no sentido de sugerir ao TRT que instaurasse o processo,mas no sentido de determinar  queele fosse instaurado.

Essa medida revela-se espe-cialmente necessária no atual mo-mento, tendo em vista que o magis-trado aposentado não mais se en- contra foragido , podendo se reca-dastrar regularmente, de forma queos proventos de sua aposentadoriapoderão voltar a ser pagos a qual-quer momento, o que impõe, commaior razão a instauração do proces-so administrativo disciplinar (que seapresenta como meio de resolver

definitivamente a questão).

Page 173: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 173/380

179

Portanto, verifica-se claramenteo descumprimento da decisão doTST pelo Regional, razão pela qual julgo procedente a reclamação, para

determinar o desarquivamento doProcesso TRT/SP n. 25/00, de modoa que se dê início ao processo ad-ministrativo disciplinar.

Isto Posto

ACORDAM os Ministros doEgrégio Pleno do Tribunal Superior

do Trabalho, por unanimidade, julgarprocedente a Reclamação, e deter-minar que o Tribunal Regional da 2ªRegião, desarquivando o processo

TRT/SP n. 25/00, dê início ao Pro-cesso administrativo disciplinar.

Brasília, 1 de fevereiro de 2001.

Wagner Pimenta, Ministro noexercício eventual da Presidência.Ives Gandra Martins Filho, Relator.

Page 174: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 174/380

180

 MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO — 

LEGITIMIDADE — RECURSO EM MATÉRIA 

 ADMINISTRATIVA (TST)

Processo n. TST-AIRMA n. 410.606/97.9Acórdão TP

Legitimidade do Ministério Público em recorrer de matéria adminis- trativa.

A legitimidade do Ministério Público é conferida pela Lei Complemen- tar n. 75/93, em razão do direito/dever de recorrer das decisões da Jus- tiça do Trabalho na qualidade de parte ou como  custos  legis quando entender necessário. Ademais, por definição constitucional, compete ao Ministério Público a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127 da Constituição).

Agravo de instrumento provido.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de Agravo de Instrumentoem Recurso em Matéria Administra-tiva n. TST-AIRMA n. 410.606/97.9,em que é Agravante Ministério Pú-blico do Trabalho da 8ª Região e Agra-

vada Associação dos Magistrados daJustiça do Trabalho da 8ª Região —AMATRA VIII.

O Ministér io Público do Traba-lho interpõe agravo de instrumentoao despacho que denegou seu re-curso ordinário, por falta de legitimi-dade de parte do recorrente e porconsiderar incabível o recurso na

espécie.

Nas razões de fls. 2/11, o agra-vante sustenta que o despacho agra-vado deve ser reformado, porquantoseria inquestionável sua legitimidadeem recorrer de decisão administrativaque deferiu a magistrados e servi-dores do Tribunal da 8ª Região dife-renças de vencimentos, no percen-tual de 10,94%, referente ao perío-do de abril de 1994 a janeiro de 1995,corrigido monetariamente, corres-pondente à diferença encontrada naoperação da conversão da URV emReal. Aduz que a legitimidade decorredo que preceitua o artigo 127 daConstituição, assim como o artigo

83, inciso VI, da Lei Complementar

Page 175: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 175/380

181

n. 75/93. Quanto à admissibilidadedo recurso em matéria administrativa,na forma exigida pelo Enunciado n.321 do TST, alega que foram viola-

dos pela decisão concessiva de di-ferenças remuneratórias os artigos62, parágrafo único, 96, inciso II, alí-nea b , e 169, Constituição; e 22 daLei n. 8.880/94.

Contraminuta, a fls. 173/177,argüindo preliminares de ilegitimidadede parte, irregularidade de represen-tação em face da falta de identifica-

ção profissional do procurador quesubscreveu o agravo, e inadequaçãoprocessual.

A Procuradoria-Geral da Jus-tiça do Trabalho, a fls. 185, opina peloconhecimento do agravo de instru-mento e, no mérito, preconiza o pro-vimento.

É o relatório.

VOTO

I — Preliminares Suscitadasem Contra-Razões

1 — Ilegitimidade do Ministé- rio Público em recorrer de matéria administrativa 

A prefacial será analisada como mérito do agravo.

2 — Falta de identificação pro- fissional 

Suscita o agravado a preliminarde irregularidade de representaçãoprocessual, sob o argumento de queo subscritor do agravo não teria ob-servado a exigência constante do

inciso XII do art. 43 da Lei n. 8.625/93,

uma vez que não foi juntado o termode posse e o documento comproba-tório do exercício funcional.

Sem razão o agravado.

Considerando que, no proces-so administrativo, não existe regraprocessual específica sobre a ques-tão, cabe a aplicação do entendi-mento pacificado na SDI desta Corte(Orientação Jurisprudencial n. 52),de que, sendo o subscritor do recur-so procurador da União, Estado,Município e Distrito Federal, de suas

autarquias e fundações públicas, édispensável a juntada de procuraçãoaos autos. Precedentes: EAI 106.987/ 94, Ac. 2.890/97, Min. Ronaldo Leal,DJ 5.12.97, decisão unânime (Seo procurador declara-se como tal, é obastante; devendo, quando possível,informar o número da matrícula ou juntar o ato de nomeação); ROAR89.859/93, Ac. 3.319/96, Min. Ar-

mando de Brito, DJ 2.8.96, decisãounânime (INSS); EAI 101.595/94, Ac.2.221/96, Min. Vantuil Abdala, DJ8.11.96, decisão unânime (INSS);EAGAI 82.996/93, Ac. 277/96, Min.Luciano Castilho, DJ 20.9.96, decisãounânime (Departamento de Águas eEnergia Elétrica); E-RR 21.394/91,Ac. 5.421/94, Min. Ney Doyle, DJ17.3.95, decisão por maioria (Fun-dação Universidade do Amazonas);AGERR 52.263/92, Ac. 3.373/93,Min. Guimarães Falcão, DJ 3.12.93,decisão unânime (INAMPS); ROAR34.197/91, Ac. 2.355/92, Min. ErmesP. Pedrassani, DJ 20.11.92, decisãopor maioria (Departamento de Águase Energia Elétrica); RE 197.800-7-RS, 1ª T.-STF, Min. Ilmar Galvão, DJ

4.4.97, decisão unânime (INSS);

Page 176: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 176/380

182

AGRE 175.427-4-SP, 2ª T.-STF, Min.Marco Aurélio, DJ 24.2.95, decisãounânime (INSS).

Exsurge daí a regularidade derepresentação do douto subscritor.

Assim, rejeito a prefacial.

3 — Inadequação Processual 

Aduz a agravada que inexisteprevisão legal que legitime a inter-posição de agravo de instrumento noprocesso administrativo e que não

cabe a aplicação do instituto da ana-logia, sendo incabível o agravo naespécie.

Conquanto não exista regraespecífica no procedimento adminis-trativo, que permita a interposição deagravo de instrumento a despachodo Presidente do Regional, quedenegou seguimento a recurso or-

dinário, admite-se, sim, a aplicação,por analogia, da hipótese prevista noart. 897, b , da CLT.

Ressalte-se que a existênciade previsão legal (art. 30, alínea p )no Regimento Interno do Regional,permitindo a interposição de recursopara o Tribunal ad quem , em maté-ria administrativa, e a inexistência de

previsão legal para o agravo de ins-trumento, não pode impedir a pres-tação jurisdicional requerida pelaparte que teve o recurso denegado.

Isto posto, rejeito a prefacial.

II — Conhecimento

Atendidas as formalidades deestilo, conheço do agravo de instru-

mento.

III — Mérito

Trata-se de agravo de instru-mento interposto pelo Ministério Pú-

blico do Trabalho da 8ª Região adecisão denegatória de recurso or-dinário em matéria administrativa,interposto a acórdão que deferiu amagistrados e servidores do Tribu-nal Regional diferenças de venci-mentos, no percentual de 10,94%,referente ao período de abril de 1994a janeiro de 1995, corrigido mone-tariamente, correspondentes à dife-

rença encontrada na operação daconversão da URV em Real.

O juízo de admissibilidade a quo denegou o recurso ordinário doagravante, aduzindo que não cabea atuação do Parquet em questõesinternas, que dizem respeito unica-mente ao TRT, sob o fundamento deque, verbis :

“I — O Ministério Público doTrabalho interpõe recurso contradecisão proferida por este E. Tri-bunal Regional, em processo ad-ministrativo, que deferiu aos ma-gistrados e servidores as diferen-ças de vencimentos, no percen-tual de 10,94%, do período de

abril/1994 a janeiro/1995, corrigi-das monetariamente, correspon-dente à diferença entre o resultadoda conversão da URV (UnidadeReal de Valor) em Reais, combase no dia 20.4.1994 e o obtidona operação de conversão combase no dia 30.4.1994 (ProcessoTRT 1.169/97 — Resolução n.

116/97, de 17 de julho de 1997).

Page 177: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 177/380

183

II — Ocorre que, à luz do art.8º, inciso VI, da Lei Complemen-tar n. 75, de 20 de maio de 1993,compete ao Parquet apenas “re-

correr das decisões da Justiça doTrabalho, quando entender ne-cessário, tanto nos processos emfor parte , como naqueles em queoficiar  como fiscal da lei, bemcomo pedir revisão dos Enunciadosda Súmula de Jurisprudência doTribunal Superior do Trabalho” .

III — Ora, no caso em tela, a

ilustrada Procuradoria não tem,data venia , legitimidade para re-correr, justamente porque, no pro-cesso referenciado, não funcionacomo “parte” e nem “oficiou comofiscal da lei”.

IV — Na verdade, a matériapertine ao âmbito interna corporis do E. Tribunal Regional, na medidaem que, à luz da Constituição

Federal, os tribunais gozam deautonomia administrativa e finan-ceira (art. 99, da CF/88), agindonos termos das atribuições quelhes são asseguradas pela CartaMagna ao Poder Judiciário (arts.92 a 100) e pela Lei Orgânica daMagistratura Nacional (Lei Com-plementar n. 35, de 14 de marçode 1979).

V — Pode o Ministério Públicorecorrer das decisões  jur isdicio- nais da Justiça do Trabalho, sejanos processos em que a Procu-radoria for parte , como naquelesem que a mesma oficiar como fis-cal da lei. Para poder recorrer dasdecisões administrativas da Jus-tiça do Trabalho, em que não te-

nha sido parte , nem tenha oficia- 

do como fiscal da lei, seria neces-sário que o Parquet exercesse o“controle externo” do Poder Judi-ciário, que não lhe é assegurado,

nos moldes que pretende com ainterposição do presente recurso.

VI — Embora instituição per-manente, essencial à função juris- dicional do Estado, com atribuiçõesde defender a ordem jurídica, oregime democrático e os interes-ses sociais e individuais indispo-níveis (art. 127, da CF/88), não

tem o Ministério Público do Tra-balho legitimidade  (repita-se)para interpor o apelo em apreço,à luz da legislação. Entendimentocontrário constituiria precedentecapaz de comprometer a autono- mia administrativa  dos tribunaisbrasileiros. Basta imaginar, porexemplo, situações em que os Tri-bunais, na sua atividade adminis-

trativa, como órgão autônomo,decidem pedidos de férias, licen-ças, remoções e outros assuntosinerentes à sua economia inter-na. Permitir que a Procuradoriainterfira nessa atuação seria in-viabilizar a administração do Ju-diciário.

VII — A rigor, não constitui atri-

buição da ilustrada Procuradoriaa de ser cientificada pessoalmen-te das decisões administrativas do Tribunal, pois o art. 84, incisoIV, da Lei Complementar n. 75/83,somente lhe assegura esse privi-légio “nas causas em que o ór-gão tenha intervido ou emitidoparecer escrito”, o que não é ocaso em questão. Quando muito,

o fato de o Parquet  funcionar,

Page 178: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 178/380

184

como ocorreu na hipótese, emsessões administrativas deste E.Regional, revela uma tradição queprocura manter o relacionamento

salutar com o Ministério Públicodo Trabalho e o propósito de im-primir a maior transparência nosatos praticados pela Corte. Essaliberalidade, porém, não constituiuma prerrogativa legal, muitomenos legitimidade para recorrerdas decisões administrativas emque não tenha sido parte, nemoficiado como fiscal da lei.

VII — Diferente é a hipóteseem que, por força legal ou regi-mental, o Ministério Público échamado a opinar  em processodisciplinar da magistratura. Por teroficiado, como fiscal da lei, pode,nesse caso, recorrer. Essa não éa situação dos autos.

IX — Já não fosse isso sufi-ciente, cumpre assinalar que “dasdecisões proferidas pelos Tribu-nais Regionais, em processo ad-ministrativo, cabe recurso para oTribunal Superior do Trabalho tão-somente para exame da legalidadedo ato” (cf. Enunciado n. 231 doC. TST).

X — In casu , o entendimentomajoritário desta Egrégia Corte

Regional foi no sentido de quehouve violação aos princípios dodireito adquirido e da irredutibili-dade de vencimentos de magis-trados e servidores, na conversãoda URV (Unidade Real de Valor)em Reais, em abril de 1994, combase no índice do dia 30.4.1994,e não do dia 20.4.1994, daí asdiferenças asseguradas, na deci-

são recorrida, em que pese a

Constituição Federal estabelecerque “os recursos corresponden-tes às dotações orçamentárias,compreendidos os créditos suple-

mentares e especiais, destinadosaos órgãos dos Poderes Legisla-tivo e Judiciário e do MinistérioPúblico, ser-lhes-ão entreguesaté o dia 20 de cada mês , na for-ma da lei complementar a que serefere o art. 165, § 9º (art. 168,da CF/88).

XI — Assim, o E. Regional, pordecisão majoritária, concluiu quehouve ofensa à Lei Fundamental,expressão maior da legalidade quea Administração Pública deve ob-servar” (fls. 133/134).

“Ante o exposto, nego segui-mento ao recurso interposto peloMinistério Público do Trabalho, àfalta de legitimidade de parte dorecorrente e porque o apelo é

incabível na espécie, conforme osfundamentos. Dê-se ciência” (fls.133/134 e 136).

Aduz o agravante que o des-pacho agravado deve ser reformado,porquanto seria inquestionável sualegitimidade em recorrer de decisãoadministrativa, em face do que de-termina o ar tigo 127 da Constituição,

assim como o artigo 83, inciso VI, daLei Complementar n. 75/93. Quantoà admissibilidade do recurso emmatéria administrativa, na formaexigida pelo Enunciado n. 321 doTST, alega que foram violados peladecisão concessiva de diferençasremuneratórias os ar tigos 62, pará-grafo único, 96, inciso II, alínea b ,e 169, Constituição; e 22 da Lei n.

8.880/94.

Page 179: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 179/380

185

Com efeito, a legitimidade doMinistério Público é conferida pelaLei Complementar n. 75/93, em ra-zão do direito/dever de recorrer das

decisões da Justiça do Trabalho naqualidade de parte ou como custos legis quando entender necessário.

Ademais, por definição consti-tucional, compete ao Ministério Pú-blico a defesa da ordem jurídica, doregime democrático e dos interessessociais e individuais indisponíveis(art. 127 da Constituição).

Na hipótese dos autos, discute-se procedimento administrativo queacarretaria aumento de despesascom pessoal, em face do deferimentode diferenças salariais, com base nopercentual de 10,94%, decorrente deconversão equivocada de vencimentosem URV, razão pela qual se encon-tra legitimada a atuação do Ministé-rio Público, na espécie, em defesa

do interesse público.Quanto ao cabimento do recur-

so, pela ótica do Enunciado n. 321

do TST, a hipótese será examinadaquando do exame do recurso principal.

Nessas condições, dou provi-mento ao agravo para determinar o

processamento do recurso ordinário.

IV — Conclusão

Dar provimento ao agravo deinstrumento.

Isto Posto

ACORDAM os Ministros doEgrégio Tribunal Pleno do TribunalSuperior do Trabalho, por unanimi-dade, rejeitar as preliminares de irre-gularidade de representação, emface da falta de identificação profis-sional do Procurador e de inadequa-ção processual, e, também por una-nimidade, dar provimento ao agravode instrumento para que se processeo recurso ordinário.

Brasília, 28 de setembro de

2000.Almir Pazzianotto Pinto, Presi-

dente. Ronaldo Leal, Relator.

Page 180: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 180/380

186

 MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO — 

 MANDADO DE SEGURANÇA — ORDEM DE 

REINTEGRAÇÃO DE EMPREGADO — EXECUÇÃO 

DEFINITIVA CONTRA ENTE PÚBLICO (TST)

Processo n. TST-RXOFROMS n. 615.607/99.5

Acórdão SBDI2

Mandado de Segurança. Ordem de reintegração. Decisão não sujeita ao duplo grau. Execução definitiva.

1. O ato do juiz pelo qual se determina reintegração de empregado em execução definitiva de sentença proferida contra ente público, ainda não transitada em julgado porquanto não sujeita ao reexame necessário pelo tribunal, conforme determinado pelo Decreto-lei n. 779/69, mostra- se abusivo e ilegal, ensejando a concessão da segurança requerida para o fim de tornar ineficaz o ato.

2. Recurso Ordinário do Ministério Público provido.

Vistos, relatados e discutidosestes autos do Recurso Ordinário emMandado de Segurança n. TST-RXOFROMS n. 615.607/99.5, em queé remetente Tribunal Regional do Tra-balho da 1ª Região, são recorrentes

Município de Petrópolis e MinistérioPúblico do Trabalho da 1ª Região,recorrido Sebastião Moura de Oliveirae autoridade coatora Juiz Presidenteda 2ª Junta de Conciliação e Julga-mento de Petrópolis.

O mandado de segurança foiimpetrado pelo Município de Petró-polis contra ato do Juiz Presidente

da 2ª Junta de Conciliação e Julga-

mento de Petrópolis-RJ, que deter-minou que a entidade demandada nareclamação trabalhista reintegrasseo então Reclamante sem que tal pe-dido constasse da inicial da reclama-tória, bem como do título exeqüendo.

Aduziu que o pedido da recla-mação trabalhista era meramentedeclaratório, no sentido de que fos-se reconhecido o vínculo emprega-tício com o município durante o pe-ríodo em que prestou serviços àempresa de vigilância (SERVIG),não tendo havido qualquer postula-ção do Autor para que fosse reinte-

grado no emprego, mesmo porque,

Page 181: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 181/380

187

quando do ajuizamento da reclama-ção trabalhista, ainda vigia o contra-to de trabalho, somente sobrevindoa notícia da demissão já na fase

executória. Concluiu sustentando quenão caberia a execução imediata do julgado com a determinação de rein-tegração do empregado, motivo porque reputou tal ato ilegal e abusivo,ferindo direito seu líquido e certo.

O TRT da 1ª Região, peloacórdão prolatado às fls. 80/83,denegou a segurança pretendida ao

entendimento assim ementado,verbis: 

“Não constitui ato abusivo ouilegal a determinação do Juízo daexecução em determinar a rein-tegração de empregado, para pos-sibilitar a opção de mudança deregime jurídico, objeto imediato

do pedido deferido” (fl. 80).

Foram opostos embargos dedeclaração pelo Ministério Públicodo Trabalho objetivando sanar con-tradição no julgado. Em suas razões,aduziu que, não obstante ter reco-nhecido que não houve o reexamenecessário da decisão rescindenda,

houve por bem o Regional denegara segurança pretendida, dando exe-cução imediata ao julgado, median-te a determinação de reintegraçãodo empregado, ofendendo, assim, oart. 475, II, do CPC.

Os declaratórios foram rejeita-dos à fl. 89, por concluir-se que nãohouve contradição no julgado a ser

sanada.

O Município de Petrópolis,inconformado com a decisão regio-nal, recorreu voluntariamente pelasrazões apresentadas às fls. 93/95,

limitando-se a ratificar os argumen-tos lançados na inicial no sentido daprocedência da ação.

O Ministério Público do Trabalhotambém interpôs recurso ordinárioàs fls. 96/99. Indicou ofensa ao art. 475,II, do CPC, bem como ao art. 1º, V,do Decreto-lei n. 779/69, com argu-mento de que, nos termos dos refe-

ridos dispositivos legais, a sentençaproferida contra as pessoas de di-reito público somente produz efeitosapós sua confirmação pelo tribunal.Requereu então, que fosse dado pro-vimento ao seu recurso, para con-ceder a segurança, cassando-se aordem de reintegração em execuçãodefinitiva de sentença não transita-da em julgado, e que determinar-se

a remessa dos autos ao TRT de ori-gem para que proceda ao duplo graude jurisdição, proferindo nova deci-são, nos termos do art. 475, II, doCPC e art. 1º, V, do Decreto-lei n.779/69.

Houve aditamento do recursoordinário pelo Município às fls. 100/ 101, que sustentou, inicialmente, aincompetência da Justiça do Traba-lho para apreciar o feito, uma vezque, ao reconhecer a condição deestatutário ao empregado, as verbaspostuladas passam a ser de nature-za estatutária, e não trabalhista.Acrescentou ainda que, sendo a sen-tença rescindenda meramente de-claratória, não cabe a sua execuçãoimediata. Por fim, aduz que a sen-

tença rescindenda não foi objeto de

Page 182: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 182/380

188

reexame necessário, não tendo tran-sitado em julgado, nos termos doDecreto-lei n. 779/69 e art. 475, II,do CPC.

Determinada a remessa ne-cessária dos autos.

Contra-razões apresentadasàs fls. 105/116, pelas quais o Recor-rido argúi a ilegitimidade do Minis-tério Público para recorrer, bemcomo o não-conhecimento do adita-mento do recurso realizado pelo

Município.A douta Procuradoria-Geral do

Trabalho manifestou-se às fls. 123/ 128 no sentido da rejeição das pre-liminares argüidas em contra-razõese pelo conhecimento e desprovimentodo recurso voluntário e da remessaoficial.

É o relatório.

VOTO

1. Preliminares argüidas emcontra-razões

1.1. Ilegitimidade do Ministério Público para recorrer 

Argúi o Recorrido a ilegitimida-

de do Ministério Público para recor-rer com argumento de não haver nahipótese interesse público a justifi-car sua intervenção no feito.

Veri f ica-se que as razõesexpendidas pelo Ministério Públicodirigem-se para a indicação de ofen-sa ao art. 475, II, do CPC, bem comodas normas contidas no Decreto-lei

n. 779/69.

Dessa forma, cumpre ao Minis-tério Público, como fiscal da lei, ve-lar pela sua observância nos casosconcretamente considerados. Não

está o Ministério Público, na hipóte-se, simplesmente a zelar pelos inte-resses das pessoas jurídicas de di-reito público, mas sim propugnandopela estrita aplicação das normas deordem pública, ora inobservadas.

Assim, a intervenção do Minis-tério Público no caso encontra am-paro legal — arts. 127 e 129 da

Constituição Federal de 1988 e 83,VI, da Lei Complementar n. 75/93,para atuar como fiscal da lei e emdefesa da ordem jurídica e do inte-resse público.

Rejeito a preliminar.

1.2. Preliminar de não-conhe- cimento do aditamento feito ao re- curso voluntário 

Argúi o Recorrido o não-co-nhecimento do aditamento feito peloMunicípio de Petrópolis às suas ra-zões recursais com argumento deque, com a interposição do apelohouve a preclusão consumativa doato de recorrer. Acrescenta aindaque o acórdão proferido no julga-mento dos embargos declaratórios

opostos pelo Ministério Público emnada alterou o julgado, pelo quenada justifica a emenda do recurso.

Razão assiste ao Recorrido.

Comungo do entendimentocorroborado pelo princípio da unir-recorribilidade processual, segundoo qual o recurso é uno, devendo aparte que o interpõe aviar seu incon-

formismo em peça única. Pelo que,

Page 183: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 183/380

189

uma vez protocolizado o apelo, ocorrea preclusão consumativa no tocanteao ato de recorrer.

Excepciona-se apenas a hipó-tese de ter havido oposição de em-bargos declaratórios pela parte con-trária, em cujo julgamento modificou-se a decisão anteriormente proferi-da, o que não ocorreu na espécie.

Dessa forma, acolho a prefa-cial suscitada e não conheço do adi-tamento recursal.

Por outro lado, conheço do re-

curso ordinário do Ministério Públi-co e do recurso voluntário do Muni-cípio, porque regularmente interpos-tos, e ainda da remessa oficial anteos termos do Decreto-lei n. 779/69,visto ter sido proferida nos autosdecisão desfavorável ao ente público.

2. Recurso Ordinário do Mi-nistério Público

Passo, inicialmente, ao examedo recurso ordinário do MinistérioPúblico por ensejar discussão acer-ca de matéria prejudicial.

Sustenta o douto MinistérioPúblico do Trabalho que o ato com-batido no mandamus é ilegal e abu-sivo visto que houve determinaçãode reintegração de empregado, dan-do-se cumprimento definitivo parauma sentença ainda não transitadaem julgado, na medida em que ain-da não submetida ao duplo grau de jurisdição, conforme determinado emlei, visto que foi proferida em desfa-vor de ente público, qual seja, o Mu-nicípio de Petrópolis.

Aduziu ainda que o art. 475, II,do CPC, condiciona a produção dos

efeitos da sentença proferida contra

as pessoas jurídicas de direito pú-blico à sua confirmação pelo tribu-nal, e que, na hipótese em comento,o Regional, no processo de conhe-

cimento, não conheceu do recursovoluntário por irregularidade de re-presentação e deixou de analisar omérito da reclamação trabalhista emreexame necessário.

Postula então a concessão domandado de segurança impetradocontra ordem de reintegração emexecução definitiva da sentença, visto

que não amparada em título execu-tivo transitado em julgado. Requerainda que sejam remetidos os autosao TRT de origem para que novadecisão seja proferida em reexamenecessário.

De fato, verifica-se nos autosque não houve o reexame necessá-rio da decisão exeqüenda, pela qualfoi reconhecido o vínculo emprega-tício do então Reclamante com oMunicípio no período em que pres-tou serviços à SERVIG, e conferindo-lhe o direito de opção fixado na LeiMunicipal n. 4.401/86.

Dessa forma, restou inobser-vado na hipótese o disposto no De-creto-lei n. 779/69 concernente àdeterminação de que as decisões

proferidas em desfavor dos entespúblicos fossem sujeitas a reexamepelo Tribunal, pelo que se deu cum-primento definitivo a uma decisãoainda não transitada em julgado.

Ante o exposto, dou provimentoao recurso ordinário do MinistérioPúblico para conceder a segurançarequerida, para anular a ordem de

reintegração do empregado, e deter-

Page 184: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 184/380

190

mino a remessa dos autos ao egré-gio TRT de origem para que proce-da ao reexame necessário da sen-tença conforme exigido pelo Decreto-

lei n. 779/69. Fica prejudicado o jul-gamento do recurso voluntário doImpetrante bem como da remessaoficial.

Isto posto

ACORDAM os Ministros daSubseção II Especializada em Dis-sídios Individuais do Tribunal Supe-rior do Trabalho, I — por unanimida-

de, rejeitar a preliminar de ilegitimi-dade do Ministério Público para re-correr como fiscal da lei; II — porunanimidade, acolher a preliminar denão-conhecimento do aditamento aoRecurso Voluntário suscitada emcontra-razões; III — por unanimida-

de, dar provimento ao Recurso Or-dinário do Ministério Público paraconceder a segurança requerida,anulando a ordem de reintegração

do empregado; IV — por unanimi-dade, determinar a remessa dosautos ao egrégio Tribunal Regionaldo Trabalho de origem para que pro-ceda ao reexame necessário da sen-tença conforme Decreto-lei n. 779/ 69; V — por unanimidade, julgar pre- judicado o julgamento do RecursoVoluntário do Impetrante bem comoa Remessa Oficial.

Brasília, 14 de novembro de2000.

José Luiz Vasconcellos, Vice-Presidente, no exercício da Presi-dência. Francisco Fausto Paula deMedeiros, Relator.

Page 185: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 185/380

191

 MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO — PRAZO 

RECURSAL — INÍCIO — CONTAGEM (TST)

Processo n. TST-AI-RO n. 494.912/-98.6Acórdão SBDI2/2000

Agravo de Instrumento. Recurso Ordinário. Tempestividade. Ministé- 

rio Público do Trabalho. Prazo Recursal. Termo Inicial.A contagem do prazo recursal para o Órgão do Ministério Público se 

inicia com o lançamento do ciente e não, com o recebimento dos autos na repartição administrativa desse Órgão. Agravo de instrumento a que se dá provimento.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de Agravo de Instrumentoem Recurso Ordinário n. TST-AI-RO

n. 494.912/98.6, em que é Agravan-te Ministério Público do Trabalho da15ª Região e Agravado Branco PeresCitros S/A.

O Exmo. Sr. Juiz Vice-Presi-dente do Tribunal Regional do Tra-balho da Décima Quinta Região,mediante o juízo de admissibilidadeproferido na decisão reproduzida afls. 11, negou seguimento ao recur-so ordinário interposto, pelo ÓrgãoRegional do Ministério Público doTrabalho, de acórdão proferido no julgamento de mandado de seguran-ça, sob o fundamento de que a res-pectiva interposição ocorrera fora doprazo legal.

Inconformado, o Órgão Regio-nal do Ministério Público do Trabalho

interpôs agravo de instrumento (fls.

02/08), com fulcro no art. 897 da CLT,buscando o regular processamentodo recurso ordinário. Sustentou, em

síntese, que a interposição do men-cionado recurso ocorrera no prazolegal (arts. 188 e 236, § 2º, do CPCe 18, II, h , da Lei Complementarn. 75/93), porque a intimação pes-soal do Ministério Público somenteocorre com a ciência do seu repre-sentante.

A Agravada ofereceu contra-

razões ao agravo de instrumento (fls.40/42).

O Ministér io Público do Traba-lho manifestou-se no sentido de quea defesa do interesse público, cau-sa ensejadora de sua intervenção,está concretizada nas razões recur-sais (fls. 51).

É o relatório.

Page 186: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 186/380

192

VOTO

1. Conhecimento

Atendidos os pressupostos le-gais de admissibilidade do agravo deinstrumento, dele conheço.

2. Mérito

Ministério Público do Trabalho.Tempestividade. Prazo recursal. Ter-mo inicial.

Mediante a decisão proferidaa fls. 11, o Exmo. Sr. Juiz Vice-Presi-

dente do Tribunal Regional do Tra-balho da Décima Quinta Região ne-gou seguimento ao recurso ordiná-rio interposto, pelo Órgão Regionaldo Ministério Público do Trabalho, doacórdão proferido no julgamento demandado de segurança, sob o se-guinte fundamento:

“Denego seguimento a ambos

os recursos (M. Público Federal eM. Público do Trabalho), eis queinterpostos a destempo” (fls. 11).

O Órgão Regional do Ministé-rio Público do Trabalho, em suas ra-zões de agravo de instrumento, alegouque o prazo recursal iniciara em15.1.1998 e terminara em 30.1.1998,visto a ciência da decisão proferida

no julgamento do mandado de se-gurança ter ocorrido em 14.1.1998e no art. 188 do CPC se estabelecero prazo em dobro para ele recorrer.Concluiu ser o recurso ordinário tem-pestivo, porque sua interposição sedera em 30.1.1998.

Em suas razões de contrarie-dade, a Agravada objetivou a manu-

tenção da decisão, sustentando que

a ciência do representante do Minis-tério Público do Trabalho ocorreraem 12.1.1998, data em que os autosforam encaminhados à Coordenado-

ria de Defesa dos Direitos Difusos eColetivos (fls. 12).

A controvérsia cinge-se a saberse a ciência da decisão ocorre nadata do lançamento do ciente do re-presentante do Ministério Público doTrabalho ou no dia do recebimentodos autos por uma repartição admi-nistrativa desse órgão.

Nos arts. 18, II, h , da Lei Com-plementar n. 75/93 e 41, IV, da Lei n.8.625/93 se registra, textualmente:

“Art. 18. São prerrogativas doMinistério Público da União:

II — processuais:

(...)

h) receber intimação pessoal-mente nos autos, em qualquerprocesso e grau de jurisdição nosfeitos em que tiver que oficiar”.

“Art. 41. Constituem prerroga-tivas dos membros do MinistérioPúblico, no exercício de sua fun-ção, além de outras previstas naLei Orgânica:

(...)

IV — receber intimação pessoalem qualquer processo e grau de jurisdição, através da entrega dosautos com vista”.

O termo inicial do prazo recur-sal para os membros do Ministério

Público, no exercício de sua função,

Page 187: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 187/380

193

é a data da aposição do ciente e não,o dia em que os autos são recebi-dos na repartição administrativa des-se órgão, porque a intimação pes-

soal é prerrogativa dos membros doMinistério Público, não podendo serexercida pelos servidores lotados nasecretaria que vier a receber os autos.

In casu , como a ciência da de-cisão ocorreu em 14.1.1998 (fls. 12),o prazo recursal iniciou em 15.1.1998(quinta-feira) e terminou em 30.1.1998 (sexta-feira). A interposição do

recurso ordinário ocorreu, portanto,tempestivamente, visto que realiza-da no dia 30.1.1998 (fls. 14).

Diante do exposto, dou provi-mento ao agravo de instrumento

para determinar o regular processa-mento do recurso ordinário, no efeitomeramente devolutivo.

Isto posto

ACORDAM os Ministros daSubseção II Especializada em Dis-sídios Individuais do Tribunal Supe-rior do Trabalho, por unanimidade,dar provimento ao Agravo de Instru-mento para, reformando o despachodenegatório, determinar o processa-mento do Recurso Ordinário no efeitomeramente devolutivo.

Brasília, 29 de agosto de 2000.

Ronaldo Lopes Leal, Ministrono exercício eventual da Presidên-cia. Gelson de Azevedo, Ministro Re-lator.

Page 188: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 188/380

194

 MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO — 

LEGITIMIDADE PARA RECORRER — CONCURSO 

PÚBLICO — SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA 

(TST)

Processo n. TST-RR n. 511.583/98.0

Acórdão (3ª Turma)

Ministério Público. Legitimidade para recorrer. Vínculo de emprego.Sociedade de Economia Mista. Empresa interposta. Concurso público.

A intervenção do Ministério Público, está autorizada, também, ante a natureza da lide, conforme emerge do art. 82, item III do CPC. Não é apenas pela qualidade da parte que se verifica a intervenção do Minis- tério Público. A controvérsia aborda hipótese de aplicação de norma re- lativa aos princípios que regem a administração pública, sendo indiscu- tível, portanto, o interesse público justificador da intervenção do Parquet,o que resulta na legitimidade para o recurso, como  custos legis, con- soante dispõem os arts. 499 do CPC e 83, VI da Lei Complementar n.75/93. Preliminar de não-conhecimento do Recurso de Revista argüida em contra-razões, rejeitada.

Vistos, relatados e discutidosestes autos de Recurso de Revista

n. TST-RR n. 511.583/98.0, em queé Recorrente Ministério Público doTrabalho da 4ª Região e são Recor-ridos Edmilson Souza dos Santos eCompanhia Riograndense de Sa-neamento — CORSAN.

O eg. TRT da 4ª Região man-teve a condenação da empresaquanto ao pagamento das diferenças

salariais decorrentes da relação de

trabalho havida entre o Reclamantee a Reclamada, tomadora de servi-

ços. Julgou que inviável o reconhe-cimento do vínculo de emprego, de-rivado de fraude, pela presença deinterposta pessoa, ante os termos doart. 37, II, da CF/88, entendendo,todavia, existentes os seus efeitostrabalhistas (fls. 400/406).

Recorre de Revista o Ministé-rio Público do Trabalho às fls. 408/ 

415, sob o argumento de que como

Page 189: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 189/380

195

custos legis tem a guarda da aplica-ção de norma de ordem pública, qualseja, o art. 37, II, da CF/88.

Neste contexto, alega que sen-

do nula a contratação de empregadospela administração pública sem aprévia aprovação em concurso pú-blico, a relação de trabalho não geraefeito, tendo, portanto, o Regionalviolado o disposto no art. 37, II, e § 2ºda CF/88, bem como divergiu deoutro julgado, o qual transcreve àsfls. 414/415.

Postula assim, a absolvição daReclamada na anotação na CTPSdo Reclamante.

O Recurso foi recebido pelodespacho de fls. 432/433, e contra-arrazoado às fls. 437/442, mediantea qual o Reclamante argúi prelimi-nar de não-conhecimento do Recur-so, por ilegitimidade ativa do Minis-tério Público para interposição da

Revista.A Procuradoria-Geral do Tra-

balho às fls. 450/451, opinou pelarejeição da prefacial argüida em con-tra-razões, bem como, pelo provi-mento do Recurso de Revista.

É o relatório.

VOTO

1 — Conhecimento

Recurso tempestivo.

1.1. Preliminar de não-conhe- cimento da revista por ilegitimidade do Ministério Público para o recurso — Argüição em contra-razões 

Às fls. 438/442, o Reclamante,em contra-razões, argúi preliminar

de não-conhecimento da Revista por

ilegitimidade do Ministério Públicopara o recurso, porquanto não evi-denciado o interesse público autori-zador da intervenção do MP, isto

ante a sua natureza jurídica de di-reito privado.

Entretanto, conforme emergedo art. 82, item III do CPC está auto-rizado a intervenção do MinistérioPúblico nas causas em que existirinteresse público evidenciado pelanatureza da lide ou qualidade daparte.

Assim, verifica-se que não éapenas pela qualidade da parte queautoriza a intervenção do MinistérioPúblico, como também, pela naturezada lide.

In casu , a controvérsia abordaa aplicação de norma relativa aosprincípios que regem a administra-ção pública, sendo indiscutível, por-

tanto, o interesse público justificadorda intervenção do Parquet , resultando,na legitimidade para o recurso, comocustos legis , autorizada pelos arts.499 do CPC e 83, VI da Lei Comple-mentar n. 75/93.

Com estes fundamentos rejeitoa preliminar.

1.2. Vínculo de emprego — 

Sociedade de Economia Mista — Empresa interposta — Art. 37, II da CF/88 — Efeitos 

O eg. Regional acerca da ma-téria asseverou:

“Relação de emprego. CORSAN.Contratação por empresa interpos-ta. Inobservância do art. 37, inciso

II, da Constituição Federal. Nuli-

Page 190: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 190/380

196

dade do contrato. Preservação dosefeitos enquanto vigente. A presta-ção laboral do autor à reclamada,de forma pessoal, direta, não even-

tual e subordinada, tipifica verdadeirarelação de emprego, na forma doart. 3º da CLT. No entanto, por nãoter o autor ingressado nos quadrosda reclamada através de concursopúblico, tem-se como desatendidoo art. 37, inciso II, da ConstituiçãoFederal, o que induz à declaraçãode nulidade do contrato. A impossi-bilidade de restituição das partes ao

statu quo ante e o princípio que vedao enriquecimento sem causa con-duzem à preservação dos efeitos ju-rídicos” (fl. 400).

Acrescentou, ainda, que a re-lação de trabalho iniciou-se em 1991.

O Ministério Público interpõeRecurso de Revista alegando que

uma vez sendo nula a contrataçãode empregados pela administra-ção pública, ante a ausência do re-quisito da necessária aprovação emconcurso público, a relação de traba-lho não gera efeito, tendo, portanto,o Regional violado o disposto no art.37, II, e § 2º da CF/88, bem comodivergido de outro julgado, o qualtranscreve às fls. 414/415 e colecio-

na às fls. 416/423.Postula assim, a absolvição da

Reclamada na anotação na CTPSdo Reclamante.

Por divergência, o Recursonão merece ser conhecido, ante ainespecificidade do aresto colacio-nado, uma vez que relativo a contratode estágio. Incide à espécie o Enun-

ciado 296 do TST.

Cuida-se de hipótese de rela-ção de trabalho iniciada em 1991 ecuja inviabilidade do reconhecimentodo vínculo de emprego esbarra no

óbice do art. 37, II, da CF/88, ques-tão já declarada pelo Regional, comose viu da transcrição acima. Assim,a discussão limita-se ao reconheci-mento dos efeitos da declaração danulidade.

Tendo a relação de trabalhoiniciado, após a promulgação daConstituição de 1988, impossível

reconhecer judicialmente o vínculode emprego, porquanto desatendidaa exigência da prévia aprovação emconcurso público para ingresso nosquadros da administração pública.

Nestas hipóteses, não há falarem efeitos de ordem trabalhista, res-salvando-se, apenas, o direito à con-traprestação pelos serviços presta-

dos, em respeito ao princípio queveda o enriquecimento ilícito.

O provimento de cargos ouempregos na Administração Públicapressupõe investidura regular. A teseda prevalência da “realidade” nãopode sobrepor-se à ordem constitu-cional (art. 37, inciso II, § 2º, da Car-ta Magna), que exige a prévia apro-vação em concurso público.

Desta forma, conheço do re-curso por violação do § 2º do art. 37da CF/88.

2 — Mérito

Como conseqüência do conhe-cimento por violação do § 2º do art.37 da CF/88, dou provimento ao re-curso para absolver a reclamada na

anotação na CTPS do Reclamante,

Page 191: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 191/380

197

isto em obediência aos estreitos li-mites do pedido formulado no Recur-so de Revista.

Isto posto

ACORDAM os Ministros da Ter-ceira Turma do Tribunal Superior doTrabalho, por unanimidade, rejeitara preliminar de não-conhecimento darevista, em face da ilegitimidade doMinistério Público para o recurso e,

no mérito dar-lhe provimento a fimde absolver a Reclamada na anota-ção na CTPS do Reclamante, istoem obediência aos estreitos limites

do pedido formulado no Recurso deRevista.

Brasília, 16 de agosto de 2000.

Ursulino Santos, Presidente.Carlos Alberto Reis de Paula, Re-lator.

Page 192: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 192/380

198

EXECUÇÃO — DESCUMPRIMENTO DE ACORDO 

EM ACP — IMPOSIÇÃO DE  ASTREINTE

(TRT 4ª   REGIÃO)

Acórdão n. 00039.732/98-3 AP

Astreinte. Multa por descumprimento de obrigação de fazer.

Possibilidade de apresentação de valores suplementares à execução promovida, tratando-se de relação continuada. Agravo de petição que se dá provimento.

Vistos e relatados estes autosde Agravo de Petição, interposto dedecisão do Exmo. Juiz do Trabalho,Presidente da MMª 2ª Junta de Con-ciliação e Julgamento de Santa Cruzdo Sul, sendo agravante MinistérioPúblico do Trabalho e agravado Ca-tedral Empresa de Transporte dePassageiros Ltda.

Inconformado com a decisãode fl. 86 (carmim), que denegou o pe-dido de execução de multa pelo des-cumprimento de obrigação de nãofazer, com previsão em acordo judi-

cial de fl. 45, o qual pôs fim à açãocivil pública intentada, agrava depetição o Ministério Público do Tra-balho, às fls. 90-93 (carmim).

Recurso hábil e tempestiva-mente interposto.

Notificada a parte adversa,não ofereceu resposta. Sobem para julgamento.

É o relatório.

Isto Posto:

Astreinte . Pena por descumpri-mento de obrigação de fazer. Elas-tecimento da execução.

O Ministér io Público do Traba-lho ajuizou Ação Civil Pública, compedido de Antecipação de Tutela,fundada em denúncia de várias irre-gularidades apuradas pelo órgão defiscalização do Ministério do Traba-lho, apuradas em face da requeridaCatedral Empresa de Transporte dePassageiros Ltda. No petitório da

ação, pleiteou facere  negativo porparte da empresa, no sentido destase “abster de”: manter trabalhadoressem registros, satisfazer as parce-las rescisórias e conceder fériasapós o prazo de lei, prorrogar jorna-da de trabalho além do limite legalou fixado em instrumento coletivo,dentre outros. Sucessivamente, paraa hipótese de descumprimento do

pedido principal, requereu fosse

Page 193: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 193/380

199

cominada multa na ordem de 1.000UFIRs por infração e por trabalha-dor flagrado em situação irregular,reversível ao FAT. As partes, na au-

diência da ata de fl. 45, compuse-ram o litígio, comprometendo-se arequerida a atender todos os itenspedidos, sob pena de incidência damulta postulada. Descumprido oacordo judicial, pela perpetração dasirregularidades apontadas na peçainicial, aplicou-se à empresa a san-ção pecuniária prevista, a qual re-sultou na penhora de que se temnotícia à fl. 62 dos autos. Ato contí-nuo, para satisfação da execução, foiautorizado o leilão judicial, fl. 69. Aeste tempo, contudo, nova manifes-tação do Ministério Público do Tra-balho veio comunicar permanecer arequerida descumprindo os termosda conciliação, razão da solicitação denova sanção pecuniária. O requeri-

mento foi indeferido pelo juízo daexecução, fl. 86 (carmim), ao argu-mento de esgotada a possibilidadede se acrescerem novos valoresàqueles já em execução, “tendo seexaurido a jurisdição com respeito àconciliação homologada pelo Juízo,que não produz efeitos ao infinito, emse tratando de relação de trato con-tinuado”. Inconformado com esta

decisão, submete o requerente aquestão ao 2º Grau de Jurisdição.Ressalta o caráter preventivo do pro-vimento perseguido na peça inicial,com vista a coibir ilegalidade que seperpetua. Elege o sistema dasastreintes como o remédio por ex-celência para obrigar ao adimple-mento o devedor de obrigação de

fazer ou não fazer, donde não se

pretender no presente processo“acrescer” valor à condenação, mastão-somente obter cumprimento daobrigação assumida pela empresa,

mediante acordo.

É de se acolher o apelo. Comefeito, tratando-se de relação conti-nuada como a retratada na peça ini-cial, e não delimitada a medida tem-poral em que a pena pecuniária foirequerida, usualmente “por dia deinfração”, cumpre dar provimento aorecurso da Procuradoria Regional doTrabalho para determinar o regularprocessamento da execução da mul-ta pelo descumprimento de obriga-ção de não fazer, com previsão emacordo judicial de fl. 45.

A ausência de tal parâmetro nopedido e, ainda, no título judicial apartir daí formado, tornou a multaexigível ad perpetum  no presenteprocesso, em face da perpetraçãodas irregularidades que lhe deramcausa. Além disso, a aplicação daastreinte prevista no título judicial re-porta-se a fatos com apuração cog-nitiva nos autos, não necessitandopara sua nova cominação nova in-vestigação, em outro processo.

A cominação de astreintes é omeio eficaz para coagir o réu a cum-prir com a obrigação de fazer des-cumprida; a jurisdição na execuçãonão se esgotou na cominação dapena pecuniária cujos cálculos foramapresentados pelo Ministério Públicodo Trabalho às fls. 50-51.

Razão pela qual, dá-se provi-

mento ao agravo de petição para

Page 194: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 194/380

200

determinar o regular processamentoda execução, na forma requerida napeça de fls. 71-73 (carmim) dos autos.

Ante o exposto,ACORDAM os Juízes da 2ª

Turma do Tribunal Regional do Tra-balho da 4ª Região: por unanimidade,dar provimento ao agravo de petiçãopara determinar o regular proces-

samento da execução, na forma re-querida na manifestação de fls. 71-73 (carmim) dos autos.

Intimem-se.

Porto Alegre, terça-feira, 23 demaio de 2000.

Jane Alice de Azevedo Macha-do, Juíza no exercício da Presidência.Alvaro Davi Boéssio, Juiz Relator.

Page 195: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 195/380

201

 AÇÃO CIVIL PÚBLICA — LEGITIMIDADE — 

COOPERATIVA DE TRABALHO — FRAUDE 

(TRT 8 ª   REGIÃO)

Acórdão: TRT/3ª T./RO n. 1.936/2000Recorrente: Pará Alimentos do Mar Ltda.Advogados: Dra. Maria da Graça Meira Abnader e outros

Recorridos: Ministério Público do TrabalhoProcurador: Dr. Lóris Rocha Pereira Júnior

COOPPEPA — Cooperativa dos Profissionais do Setor daPesca do Estado do Pará

Advogados: Dr. Glairson Dias Figueiredo e outros

I — Ação civil pública. Legitimidade do Ministério Público do Trabalho.

O Ministério Público do Trabalho está legitimado à defesa de interes- ses indisponíveis, homogênos, sociais, difusos e coletivos, de modo a 

poder intentar ação civil pública tendente ao resguardo do direito de integrantes de uma categoria profissional em serem reconhecidos como empregados e não falsos cooperados.

II — Cooperativas de trabalho. Falsidade.

Desde que o contrato firmado entre a Cooperativa e a Empresa de Pesca objetiva, tão-somente, a atividade de intermediação da mão-de-obra,sendo a empresa tomadora dos serviços única beneficiária do labor dos “cooperados”, estes, sequer, detentores dos meios de produção, não há dúvida de que se trata de intermediação fraudulenta de mão-de-obra.

1. RELATÓRIO

Vistos, relatados e discutidosestes autos de recurso ordinário,oriundos da Meritíssima Quinta Varado Trabalho de Belém, entre as partesacima destacadas.

O Ministér io Público do Traba-

lho ajuizou ação civil pública, com

pedido liminar, contra Pará Alimentosdo Mar Ltda. e COOPPEPA — Coo-perativa dos Profissionais do Setorda Pesca do Estado do Pará, reque-rendo fosse declarada a ilegalidadeda existência de tal cooperativa, deseus atos constitutivos e de todos osdocumentos por ela firmados e, con-

seqüentemente, a sua dissolução,

Page 196: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 196/380

202

seja declarada a ilegalidade da prá-tica de terceirização das atividadesda empresa Pará Alimentos do MarLtda., bem como a condenação desta

a arcar com os direitos dos trabalha-dores que, por meio da cooperativa,trabalharam e trabalham nos barcosda empresa, a declaração de inido-neidade da cooperativa ré, para ofornecimento de mão-de-obra e acominação de multa diária no valorde 10.000 (dez mil) UFIR — UnidadeFiscal de Referência por infraçãoe/ou por empregado, a ser cobrada,

em caso de descumprimento da obri-gação imposta na sentença, em fa-vor do FAT — Fundo de Amparo aoTrabalhador. O juízo de origem inde-feriu o pedido liminar formulado peloautor (folha 152). A ré Pará Alimen-tos do Mar Ltda. contestou, por es-crito; argüiu a questão preliminar deinépcia da petição inicial por impos-sibilidade jurídica do pedido e a

questão preliminar de ilegitimidadede parte do Ministério Público do Tra-balho, além de requerer seja extintoo processo, sem julgamento do mé-rito, ante a impropriedade da via elei-ta; no mérito, impugnou os pedidosda ação civil pública (folhas 154 a173). A COOPPEPA — Cooperativados Profissionais do Setor da Pesca doEstado do Pará contestou, por es-crito, impugnando os pedidos doautor (folhas 192 a 196). Foram to-mados os depoimentos das partes(folhas 212 a 214) e procedeu-se àoitiva de testemunhas (folhas 214 a216, 219 a 220).

O juízo de origem, à unanimi-dade, julgou procedentes, em parte,os pedidos da ação civil pública, extin-

guindo, sem julgamento de mérito, o

processo conforme o disposto noartigo 267, IV do Código de Proces-so Civil, em relação ao pedido dedecretação de dissolução da coope-

rativa ré; declarou a ilegalidade daprática de terceirização das ativida-des-fim da empresa requerida e de-terminar que esta se abstenha de talprática, por meio de cooperativa ouqualquer interposta pessoa físicaou jurídica; declarou que a coopera-tiva ré não seria detentora de res-paldo legal para celebrar contratos

com o único objetivo de fornecimen-to de mão-de-obra, devendo se abs-ter de tal prática; declarou, ainda, in-cidentalmente, a nulidade dos atosde formação e funcionamento da co-operativa ré, nos termos do ar tigo 9ºda Consolidação das Leis do Traba-lho; condenou as rés, em caso dedescumprimento de quaisquer destasobrigações, ao pagamento de mul-

ta, no valor de 2.000 (duas mil Uni-dade Fiscal de Referência — UFIR) porinfração e/ou por empregado, a re-verter ao Fundo de Amparo do Tra-balhador — FAT (folhas 224 a 230).

A ré Pará Alimentos do MarLtda. opôs embargos de declaração(folha 232), por entender existiriaomissão a ser suprida, os quais fo-

ram rejeitados conforme a sentençade folhas 235 a 236. Inconformada,recorre esta empresa a esta Egré-gia Corte (folhas 241 a 254, 120 a122). Requer sejam julgados total-mente improcedentes os pedidos dareclamação.

Apenas o autor apresentou con-traminuta e o fez regularmente (folhas

264 a 270 e certidão de folha 274).

Page 197: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 197/380

203

O Ministér io Público do Traba-lho, considerando a posição assumi-da na presente ação, entendeu serdispensável a emissão de parecer,

uma vez que o seu posicionamentoquanto à matéria já estaria devida-mente demonstrado na petição ini-cial e nos demais atos praticados noprocesso. Afirma que teria chegadoao seu conhecimento que as reque-ridas estariam a contrariar o dispostona sentença recorrida, conforme autode infração que juntou aos autos. Re-quer, assim, seja concedida tutela

específica, nos termos do artigo 461do Código de Processo Civil, com aexpedição de mandado judicial paraque a empresa ré se abstenha daprática de terceirização de suas ati-vidades-fim por meio de cooperati-va ou qualquer interposta pessoa fí-sica ou jurídica, sob pena de aplica-ção da multa cominada na sentença(folhas 277 e 278 a 284).

2. Fundamentos

2.1. Conhecimento 

Conhece-se do recurso ordiná-rio porque adequado, tempestivo,subscrito por advogado habilitado(folha 134) e foi realizado o preparocorretamente (folhas 255 a 256).

2.2. Questões Preliminares 

2.2.1. Impossibilidade Jurídica do Pedido 

Esclarece a recorrente que acooperativa ré fora criada com ob-servância das normas legais previs-tas na Lei n. 5.764/71, regularmente,motivo pelo qual não haveria comoprosperar o pedido de decretação danulidade de seus atos constitutivos

sem a participação de todos os co-

operados e que a decisão de even-tual dissolução iria repercutir direta-mente sobre o direito dos coopera-dos e, principalmente, sobre o direito

individual de se associarem em co-operativa. Alude que se observará talrepercussão quando a sentença de-clara incidentalmente a nulidade dosatos de formação e funcionamentoda cooperativa ré.

Alega que a simples negativado pedido de condenação da empre-sa a arcar com os direitos dos tra-

balhadores não seria suficiente aafastar esse fato impeditivo, por nãose tratar apenas de direitos trabalhis-tas, como antes esclarecido.

Requer, assim, a reforma dasentença para ser acolhida a ques-tão preliminar de impossibilidade ju-rídica do pedido, extinguindo-se oprocesso sem julgamento do mérito.

Rejeito a questão preliminar.Primeiro, porque a argumentaçãoutilizada pela recorrente confunde-se com o próprio mérito. Segundo, porseguir o posicionamento adotadopelo Excelentíssimo Juiz José MariaQuadros de Alencar(1), no que con-cerne à impossibilidade jurídica dopedido:

Equivoca-se também o sindi-cato réu quanto ao conceito depedido juridicamente impossível.

(1) Brasil. Tribunal Regional do Trabalho da8ª Região. Ação Rescisória n. 4.312/99.Autor: Ministério Público do Trabalho. Réus:Sindicato dos Médicos do Estado do Pará,Pró-Saúde Associação Beneficente deAssistência Social Hospitalar. Relator: JuizJosé Maria Quadros de Alencar, julgado

em 10 de fevereiro de 2000.

Page 198: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 198/380

204

Um pedido é juridicamente impos-sível quando for vedado pelo or-denamento jurídico vigente.

Preambularmente, permito-me

reiterar o que tenho sustentadoacerca do direito de ação.

Pelo menos desde a famosapolêmica Bernard Windscheidversus Theodor Muther(2) e desdo-bramentos posteriores, os siste-mas jurídicos ocidentais contem-porâneos passaram a considerara ação como um direito públicosubjetivo, tal seja o direito do in-

divíduo à tutela jurídica estatal.Por isso mesmo, como regra

geral, o cidadão terá sempre à suadisposição o direito de acionar oEstado-juiz em busca de uma dadaprestação jurisdicional. Somentepor exceção, esse direito poderáser-lhe negado, a exemplo do queocorre, no Brasil, com as dívidasde jogo ou apostas (artigos 1.477

e 1.478 do Código Civil), em que,embora exista um direito materiale uma pretensão, a lei não dá aocredor a ação de direito processu-al pela qual possa cobrar judicial-mente a dívida assim constituída.

Assim, em princípio, toda pre-tensão é, pois, acionável, no dizerde Pontes de Miranda (3), só com-

portando exceções quando há ex-pressa previsão legal. O remédio jurídico processual — prosseguePontes de Miranda  — é o meio

instrumental, que o direito formalpõe a serviço de pessoas queestejam em determinadas situa-ções, para que, com o uso dele,possam suscitar a decisão, aprestação jurisdicional(4) . Aliás,deve-se a esse eminente doutri-nador, com o seu Tratado da AçãoRescisória, de 1934, o acertar depassos que fez o Brasil com as

modernas concepções objetivis-tas, oriundas do direito europeucontinental(5).

Tenho por certo, diante de tudoo que é aqui exposto, que a açãoé mesmo um direito subjetivo pú-blico, que mereceu inclusive dig-nidade constitucional desde aConstituição Federal de 1946,prestígio que segue existindo —

e com renovado vigor — na Cons-tituição Federal de 1988, no incisoXXXV do artigo 5º, conforme oqual a lei não excluirá da apre-ciação do Poder Judiciário lesãoou ameaça a direito, que consa-gra o princípio do amplo acessoà justiça. É o que Teixeira   Filho denomina de “constitucionaliza-ção” do direito subjetivo público

de ação(6). Assim, para todo ecada direito, o Estado assegura a

(2) Windscheid, Bernard , Muther,Theodor . “Polémica sobre Ia “Actio”.Buenos Aires: Ediciones Jurídicas Europa-America — EJEA, 1974. Ver tambémChiovenda, Giuseppe . “La Acción en elSistema de los Derechos”. Valparaíso(Chile): EDEVAL, 1992, pp. 24-27.(3) Pontes de Miranda . “Comentários aoCódigo de Processo Civil”, 3ª edição re-vista e aumentada [atualização legislati-va de Sergio Bermudes]. Rio de Janeiro:

Forense, 1995, t. I, p. 110.

(4) Pontes de Miranda . Op. cit. (1995),p. 110.(5) Pacheco, José da Silva . “Curso deTeoria Geral do Processo”. Rio de Janeiro:Forense, 1985, p. 204.(6) Teixeira Filho, Manoel Antonio . “Peti-ção Inicial e Resposta do Réu”. São Paulo:

LTr Editora, 1996, p. 27.

Page 199: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 199/380

205

correspondente ação (ou recurso),independentemente de lei especi-al que a outorgue, conforme a li-ção de Rui Barbosa em “O Direito

do Amazonas”(7)

. As exceções aessa regra, reitero, devem estarprevistas no próprio ordenamento jurídico, e elas são raríssimas, aexemplo da já mencionada, ressal-vadas as situações anormais, emperíodos ditatoriais e autoritáriosde nossa história, o que não é,felizmente, a presente quadra.

Assim, todos têm o direito,

constitucionalmente assegurado,de buscar, perante o Estado-juiz,uma resposta para a questão emlitígio, através de ação, que temcomo objeto, o direito ao proces-so, que inclui o direito de afirmarsuas próprias razões, o direito aocontraditório, o direito de influirlicitamente na formação do con-vencimento do juiz, em suma, odireito ao amplo acesso à justiçae ao devido processo legal(8).

Por isso, divirjo da utilização daexpressão carência de ação porparte de inúmeros doutrinadores,porquanto a tenho por inadequa-da, pois ninguém pode, sob o nos-so atual ordenamento jurídico,carecer de ação(9) e menos aindacarecer do “direito” de ação(10).

Quando muito, podo-se afirmarque determinada ação não reúneas chamadas condições da ação,por lhe faltar algum dos requisi-

tos específicos (possibilidade ju-rídica, interesse de agir ou legiti-mação ad causam )(11).

Como antes referido, junta-mente com a legitimidade ad cau- sam , o interesse de agir, comocondições da ação, figura a pos-sibilidade jurídica do pedido. Cer-to é, porém, que embora existen-

tes clássicos exemplos de pedi-dos ditos juridicamente impossí-veis — como os acima citados,dívidas de jogo e apostas — oconceito de possibilidade jurídicado pedido e seu alcance é bas-tante controvertido na doutrina.

O problema acerca da existên-cia ou não de tal condição da açãonão reside em uma discussão me-

ramente teórica ou acadêmica,mas de grande importância, namedida em que se a decisão viera ser de mérito, em relação a elaocorrerá o fenômeno da coisa jul-gada material; caso contrário, sea decisão referir-se somente àcondição antes indicada a renova-ção da demanda será possível.

Também o exame da existên-cia ou não da possibilidade jurí-dica do pedido possui finalidadeprática, na medida em que não éconveniente o desenvolvimentooneroso de uma causa quando

(7) Apud  Pinto Ferreira . “Comentários àConstituição Brasileira”. São Paulo: Sa-raiva, 1989, v. 1, p. 141.(8) Cintra, Antonio Carlos , Grinover, Ada Pellegrini , Dinamarco, Cândido Rangel .“Teoria Geral do Processo”. São Paulo:Editora Revista dos Tribunais, 1976, p. 220.(9) Medeiros, Hor tencio Catunda  de . “Es-quema de Teoria Geral do Processo”. Riode Janeiro: Renovar, 1991, p. 16.(10) Pontes de Miranda . Op. cit. (1995),

p. 96.

(11) Ver, a propósito, Teixeira Filho,Manoel Antonio . “A Sentença no Proces-so do Trabalho”. 2ª edição, São Paulo: LTr,

1996, pp. 170-177.

Page 200: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 200/380

206

desde logo se afigura inviável, emtermos absolutos, o atendimentoda pretensão porque a ordem ju-rídica não prevê providência igual

à requerida, ou porque a ordem jurídica expressamente proíba amanifestação judicial sobre aquestão(12).

Esquematicamente, pode-seresumir em duas as correntesdoutrinárias acerca da possibili-dade jurídica do pedido. Uma de-las afirma que só mediante ex-pressa previsão legal (numerus 

clausus ) o pedido é juridicamen-te possível e outra, que só quan-do há proibição legal tem-se por jur idicamente impossível o pedi-do. Afeiçôo-me a esta última cor-rente, e por isso entendo que so-mente nos casos em que a lei ex-pressamente proíbe deve-se terpor juridicamente impossível opedido. Não se pode impedir aação apenas quando o funda-mento do pedido for injurídico,pois aí estar-se-á diante da impro-cedência e não da impossibilida-de jurídica do pedido. Se o direitonão protege determinado interes-se ou direito, deve o pedido ser julgado improcedente e não jur i-dicamente impossível. Em suma,como a seguir será demonstrado,o pedido poderá ser improcedente,

mas não juridicamente impossível.Com muita propriedade, Hum- 

berto  Thedoro  Júnior (13) restringea possibilidade jurídica do pedi-

do a aspecto meramente proces-sual, requisito prévio de admissi-bilidade ao exame da questão demérito. Explicita que o pedido for-

mulado pelo autor ao propor aação é dúplice: 1º) o pedido ime-diato, contra o Estado, que se re-fere à tutela jurisdicional; e 2º) opedido mediato, contra o réu, quese refere à providência de direitomaterial. Localiza-se, então, apossibilidade jurídica no pedidoimediato, na permissão ou não dodireito positivo à instauração

da relação processual, acerca dapretensão do autor. Diz tambémque esses seriam casos em quea lei não permite que a lide exis-tente entre as partes venha a juízo. Refere, ainda, que a distin-ção entre a possibilidade jurídicado pedido imediato e do pedidomediato encontra-se devidamenteprevista nos incisos II e III do ar-

tigo 295 do Código de ProcessoCivil.

Põe-se aqui também em des-taque o ensinamento Manoel  An- tonio  Teixeira  Filho (14), segundo oqual a clássica expressão pedido jur idicamente impossível, utiliza-da para designar aquela classede postulações que não podem

merecer a tutela jurisdicional, temsido mal interpretada, amiúde,tanto pela doutrina como pela ju-risprudência. O que esta expres-são está a significar — prossegueele — não é a falta de previsãolegal do direito invocado, mas a(12) Greco Filho, Vicente . “Direito Pro-

cessual Civil Brasileiro”. 13ª edição, SãoPaulo: Saraiva, 1998, tomo I, p. 85.(13) Theodoro Júnior, Humberto . “Cursode Direito Processual Civil”. 10ª edição,

Rio de Janeiro: Forense, 1993, t. I, p. 54.

(14) Teixeira Filho, Manoel Antonio. “Pe-tição Inicial e Resposta do Réu”. São

Paulo: LTr Editora, 1996, p. 276.

Page 201: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 201/380

207

existência de um veto, no orde-namento jurídico, à formulação dedeterminados pedidos. Conformetal ensinamento, ante o pedido ju-

ridicamente impossível não seriao caso de extinguir o processosem julgamento do mérito, pois,diante de veto à formulação dapretensão, parece àquele autorsem razão a possibilidade de ajui-zar novamente ação em iguaistermos, defendendo a rejeiçãomesmo do pedido, pondo fim aoprocesso com exame do mérito.

Desta forma, entende seria ocaso de se buscar inibir o autorde formular novo pedido, tendoem vista a existência de veto à talpostulação. O reingresso só se-ria permitido caso o veto antescitado fosse retirado do ordena-mento jurídico.

Referindo que a possibilidade

 jurídica do pedido tratar-se-ia deuma avaliação preliminar que o juiz deve fazer sobre a viabilida-de, em tese, da situação afirmadano processo pelo autor à luz doordenamento jurídico, José de Albuquerque Rocha (15) conclui,acertadamente, ao meu ver, quenos processos civil e trabalhistanão seria necessário, de início,

que a pretensão do autor, à qualeste pede a prestação jurisdicio-nal, encontre-se prevista de for-ma explícita em uma norma jurí-dica. Aponta, outrossim, que essaproteção pode não se originar dalei apenas, mas de outras fontes

formais de direito. Ressalta que oque não pode ocorrer é que o or-denamento jurídico negue ex-pressamente proteção à dada si-

tuação.Quanto à possibilidade jurídi-

ca no âmbito do processo do tra-balho, excelentes as considera-ções formuladas por Jorge Pi- nheiro Castelo (16), posicionando aquestão da possibilidade jurídicanão apenas em relação ao pedi-do, mas também no tocante àspartes e à causa de pedir, propon-do seja a demanda consideradacomo um todo.

Após citar inúmeros doutrina-dores, em suas manifestações so-bre o tema diz não teriam eles sedetido ao exame do problema dapossibilidade jurídica referente-mente aos dois aspectos relevan-tes considerados: possibilidade

 jurídica negativa e posit iva etipicidade prévia. Sustenta, emseguida, que diferem, pois, o ilí-cito civil e trabalhista do penal. Aconfiguração dos primeiros nãose condicionam à tipicidade dafigura legal prévia. Já o penal en-contra-se vinculado à típica figu-ra legal prévia.

Em princípio, pois, tanto no âm-

bito civil, quanto no trabalhista, apossibilidade jurídica afigura-se emtermos negativos: só haverá a im-possibilidade, quando o Estadonegar o direito de ação ao interes-sado, aprioristicamente.

(15) Rocha, José de Albuquerque . “Teo-ria Geral do Processo”. 2ª edição, São

Paulo: Editora Saraiva, 1991, p. 147.

(16) Castelo, Jorge Pinheiro . “O DireitoProcessual do Trabalho na Moderna Teo-ria Geral do Processo”. São Paulo: LTr

Editora, 1993, p. 208.

Page 202: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 202/380

208

Para Castelo (17), portanto, valea percepção de que o ilícito tra-balhista não é, necessariamente,condicionado pela figura típica,

ou seja, que a ação trabalhistagarante integralmente o ordena-mento jurídico trabalhista e nãoapenas as figuras típicas previa-mente traçadas pela lei, abre ho-rizontes ilimitados (até onde as-sim se possa entender que sejaa extensão do ordenamento jurí-dico) para o exercício do direitode ação e para a atuação da ati-

vidade jurisdicional. Alude, ainda,com acerto, que a noção de quea ação garante o ordenamento jurídico como um todo, coloca o juiz na posição de canal de co-municação com os anseios dasociedade.

Ora, no caso concreto não vis-lumbro qualquer veto legal — ex-presso ou implícito — à postula-

ção do autor. Não consta, pois, noordenamento jurídico qualquernegativa ao direito de ação aoautor, nada que impeça a postu-lação de seu pedido.

Tomando-se como base todosos ensinamentos antes mencio-nados, tenho por certo, pois, in-sistir impossibilidade jurídica dopedido, prévia condição à admis-sibilidade do exame do mérito dopresente feito.

2.2.2. Ilegitimidade Ativa do Ministério Público do Trabalho 

Discorda do entendimento do juízo de origem quanto ao reconhe-cimento da legitimidade de parte do

Ministério Público para ajuizar a pre-sente ação, ao entendimento de quenão se estaria diante de defesa deinteresse coletivo ou difuso. Enten-

de que o presente feito versaria so-bre direitos ou interesses individuaishomogêneos.

Afirma não se tratar de interes-se coletivo a ser tutelado, motivopelo qual não caberia ao MinistérioPúblico do Trabalho a sua defesa,porque a sua função não seria a derepresentar titulares de direitos e

interesses, mas de defender interes-ses coletivos, nas circunstâncias le-galmente previstas.

Após citar decisão sobre amatéria, pede seja declarado o Mi-nistério Público do Trabalho comoparte ilegítima, extinguindo-se o pro-cesso sem julgamento do mérito, nostermos do disposto no artigo 267, VIdo Código de Processo Civil, sobpena de violação do artigo 129, IIIda Constituição Federal e legislaçãoinfraconstitucional pertinente.

Uma vez mais, é de se rejeitara questão preliminar de ilegitimi-dade de parte do Ministério Público,conforme bem decidiu a MeritíssimaVara de origem.

Conforme dispõe o artigo 83,III da Lei Complementar n. 75, de 20de maio de 1993, compete ao Minis-tério Público do Trabalho, no exercí-cio de suas atribuições junto aos ór-gãos da Justiça do Trabalho, III —promover a ação civil pública, no âmbito da Justiça do Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quan- do desrespeitados os direitos cons- 

titucionalmente garantidos.(17) Op. cit., pp. 218-219.

Page 203: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 203/380

209

No presente feito, assim, per-feitamente configurada a legitimida-de ativa do Ministério Público, postoque alegou que as rés estariam a

fraudar a aplicação das normas tra-balhistas no que toca à ilegalidadeda existência da COOPPEPA — Coo-perativa dos Profissionais do Setorda Pesca do Estado do Pará, bemcomo a ilegalidade da prática de ter-ceirização das atividades da empre-sa recorrente.

Como bem ressaltou o juízo deorigem, ao contrário do que alega a

recorrente, busca o autor resguardar o direito dos integrantes do catego- ria profissional dos trabalhadores da atividade pesqueira em serem reco- nhecidos como empregados, espe- cialmente da empresa Pará Alimen- tos Ltda., caso tenham prestado ser- viços a ela na forma como dispõe o artigo 3º da CLT, evitando, assim,que a relação de emprego tenha sido 

encoberta em razão da intermedia- ção da mão-de-obra através da Co- operativa ré (sic , folha 226).

Conclui-se, igualmente à Me-ritíssima Vara de origem, que os in-teresses ora defendidos pelo Minis-tério Público não são individuais,estando legitimado para promoveração civil pública para defesa deoutros interesses individuais indis-

poníveis, homogêneos, sociais,difusos e coletivos.

Rejeito, assim, a questão pre-liminar de ilegitimidade de parte,pelos mesmos fundamentos da sen-tença recorrida.

2.3. Mérito 

Afirma a recorrente que tanto aprova testemunhal, como as declara-

ções prestadas pelas partes seriam

contraditórias e omissas, não evi-denciando a ilegalidade da terceiri-zação apontada pela sentença re-corrida.

Sob a rubrica Legalidade da Terceirização através de Cooperati- vas  (sic , em negrito, sublinhado, nooriginal, folha 247), diz a recorrentenada de ilegal haveria na terceiriza-ção de mão-de-obra através de co-operativas. Alude que o objetivo dascooperativas seria propiciar benefí-cios aos cooperados através da

união de esforços e capital. Afirmaseria da essência das cooperativaso fornecimento de mão-de-obra, asquais teriam sido reguladas pela Lein. 8.949, de 9 de dezembro de 1994.

Após citar decisões sobre amatéria, sustenta a licitude da for-mação da cooperativa, motivo peloqual entende descabida a declara-ção de ilegalidade dos contratos fir-mados por ela assim como a nuli-dade de seus atos de formação efuncionamento.

Sob a rubrica Legalidade da Terceirização no caso concreto (sic ,em negrito, sublinhado, no original,folha 249), assevera que a presenteação civil pública tivera como emba-samento fiscalização realizada pela

Delegacia Regional do Trabalho, aqual concluíra que a cooperativaatuaria em atividade-fim da empresa.

Apontando posicionamentosdoutrinários sobre a diferença entreatividade-meio e atividade-fim daempresa, afirma que seria temerá-rio o estabelecimento da legalidadeou ilegalidade da terceirização o fato

de ser aplicada em atividade que se

Page 204: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 204/380

210

possa considerar integrante da fina-lidade socioeconômica do emprega-dor, o que, a seu ver, seria o mesmoque reconhecer a existência de nor-

ma que estabelecesse tal limitação,em afronta ao disposto nos arts. 5ºe 170, II da Constituição Federal.

Afirma que a atividade-fim daempresa requerida seria a captura,a industrialização e comercializaçãode pescado, não estando, pois,adstrita à atividade de pesca.

Fazendo comentários sobre

sua atividade-fim, assevera a recor-rente que não se observaria qual-quer burla ou fraude à legislação tra-balhista, pois os cooperados exerce-riam a sua atividade de forma autô-noma, recebendo a equivalente con-traprestação. Ressalta que a parce-ria não estaria a acarretar prejuízoaos cooperados, mas sim aumentousuas possibilidades de trabalho e

rendimento.Invoca o princípio segundo o

qual inexistindo prejuízo, inexistirianulidade a ser declarada e o dis-posto no art. 174, § 2º da Constitui-ção Federal.

Entende que o Ministério Pú-blico do Trabalho estaria sendo usa-do pelo Sindicato dos Trabalhadores

em Empresas de Pesca em Belém,pois este teria a cooperativa ré comoameaça política.

Prossegue, afirmando que aparceria entre as rés não visaria àexploração do trabalho humano,muito pelo contrário e que não seestaria diante de intermediação ile-gal de mão-de-obra, como entendeu

o juízo de origem.

Assim, porque, a seu ver, ine-xistente qualquer fraude, a qual, in-clusive, deve restar comprovada enão apenas presumida, requer seja

reformada a sentença neste particu-lar, julgando-se improcedentes ospedidos da ação civil pública.

Uma vez mais, não tem razãoa recorrente. Conforme bem exami-nado pela Meritíssima Vara de ori-gem, tem-se que restou provado queo contrato celebrado entre a recor-rente e a cooperativa ré seria mes-mo destinado ao fornecimento demão-de-obra dos associados à re-corrente.

Para tanto, transcreve-se tre-cho do depoimento do preposto, queafirmou que (...) atualmente a em- presa possui 8 empregados; que esses empregados estão distribuí- dos no gerenciamento de frota,almoxarifado, tesouraria e carteira fiscal; que a reclamada mantém ape- nas esses 8 empregados desde fi- nal de 1997 ou início de 1998; que a reclamada celebrou contrato com a cooperativa reclamada em maio/98,após a formação da referida coope- rativa; que a reclamada nunca teve embarcação própria; que a reclama- da para exercer as suas atividades- fim, mantém contrato com a coope- rativa da seguinte forma: fornece os equipamentos necessários à ativida- de, como embarcação, utensílios de pesca, ou seja, embarcação arma- da e a cooperativa fornece a mão-de- obra; que o depoente não sabe infor- mar se a partir de maio a COOPPEPAmantém contrato apenas com a re- clamada; que a reclamada disponi- 

bilizou à cooperativa uma casa loca- 

Page 205: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 205/380

211

lizada no âmbito da empresa, na qual a cooperativa guarda utensíli- os de pesca e equipamentos referen- tes às embarcações que foram ad- 

 judicadas, salvo engano, nesta Jun- ta; que atualmente com a nova dire- toria da cooperativa, a mesma está se utilizando do imóvel num escritó- rio; que está em estudos a renova- ção do contrato com a Cooppepa que venceu em 5.5.99 (...) que os servi- ços contratados entre as duas recla- madas são realizados nas embarca- ções arrendadas pela Pará Alimen- 

tos; que o produto da pesca é vendi- do pela reclamada; que o preço da venda é ditado pelo mercado; que a cooperativa recebe 0,1675 centavos por quilo capturado mais 350 quilos de pescados por embarcação; que esse pescado é dado como cortesia aos cooperados (sic, folha 213).

Apenas a recorrente é quemse aproveita dos serviços prestados

pelos associados da cooperativa,desvirtuando o objetivo desta. Oscooperados, inclusive, sequer são osdetentores dos meios de produção,mas apenas prestam serviços à re-corrente.

Verifica-se, inclusive, medianteexame dos documentos de folhas 80a 128 dos autos que o contrato fir-mado entre as partes tinha mesmo

como o único objetivo o fornecimen-to de mão-de-obra, recebendo a co-operativa ré a quantia de R$ 0,16 (de-zesseis centavos) por quilograma depeixe capturado.

Ressalta-se que esta atividadede intermediação de mão-de-obraimpediu o reconhecimento de rela-ção de emprego que se configuraria

caso os trabalhadores fossem con-

tratados diretamente pela recorren-te, atraindo o disposto no art. 9º daConsolidação das Leis do Trabalho.

Porém, o que se deve ter sem-pre em mira para a solução de ca-sos como o presente, é o Princípioda Primazia da Realidade, que bus-ca, no contrato de trabalho, a subs-tância dos fatos e não agiganta aforma em condição sem a qual o di-reito não pode ser conferido à partelesada. A preocupação maior, segun-do tal princípio, é conseguir apurar

a realidade substancial dos fatos enão a aparente, formal. Prefere-se àforma, o conteúdo das relações detrabalho. Desta realidade o Judiciá-rio Trabalhista não pode fugir.

Assim, a Lei n. 5.764/71, quedefine a Política Nacional de Coo-perativismo e institui o regime jurídi-co das sociedades cooperativas, noart. 3º estatui que Celebram contra- 

to de sociedade cooperativa as pes- soas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro.

O art. 4º da mencionada Leitraz diversas características que ser-vem para diferir as cooperativas das

demais sociedades, o que tambémfoi objeto de preocupação da Porta-ria MT/GM n. 925/95, que trata dafiscalização das cooperativas de tra-balho com o intuito indubitável deimpedir que, sob o manto da nature-za de cooperativa, relações empre-gatícias venham a se formar à mar-gem das garantias mínimas do con-trato de trabalho. Tanto que no § 2º

do art. 1º, tal Portaria, ao referir-se

Page 206: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 206/380

212

ao Agente de Inspeção do Trabalho,determina que este verifique se asociedade cooperativa se enquadrano regime jurídico da Lei n. 5.764/ 

71, através da análise das caracte-rísticas que enumera, dentre asquais, um número mínimo de vinteassociados, prestação de assistên-cia aos associados, limitação do nú-mero de quotas-partes para cadaassociado, quorum para as assem-bléias, baseado no número de asso-ciados e não no capital e fornecimentode serviços a terceiros atendendo a

seus objetivos sociais.Transcrevo, ainda sobre a ma-

téria — cooperativas de trabalho —fundamentos do Excelentíssimo JuizJosé Maria Quadros de Alencar(18):

A relação de trabalho que res-tou provada nestes autos é bas-tante conhecida e já é abundantea doutrina sobre o tema.

Como subproduto da crise domodo de organização da produ-ção de bens e serviços, têm sur-gido os mais variados sucedâne-os das tradicionais relações detrabalho (terceirização, teletraba-lho, trabalho a tempo parcial, tra-balho voluntário, etc.). As coope-rativas de trabalho — verdadeirasumas, falsas outras — são tam-

bém produto dessa crise, e suaproliferação deve merecer aten-

ções e cuidados de todos os ope-radores do direito, inclusive do Mi-nistério Público e da Justiça doTrabalho. É sem perder de vista

esse cenário de crise e transiçãoque deve ser examinado o casodestes autos e tantos outros as-semelhados.

Assim, deve ser afirmado porprimeiro que não tem aplicação aeste caso concreto o polêmico pa-rágrafo único do art. 442 consoli-dado, introduzido pela Lei n.8.949, de 9 de dezembro de 1994.

De ser dito, ademais, que esseparágrafo é mesmo de todo inútile desnecessário, seja porqueapenas repete o que já era antesdito na legislação que regula associedades cooperativas(19), sejaporque o conceito legal de empre-gado e empregador — arts. 2º e3º consolidados — impede que osócio de cooperativa seja tido

como empregado desta ou deseus eventuais tomadores de ser-viço. Ressalve-se, entretanto, queas eventuais fraudes — as assimchamadas cooperfraudes — atra-em, como é óbvio, a incidência daregra do art. 9º consolidado.

Aliás, da forma como foi esseparágrafo inserido na Consolida-ção das Leis do Trabalho mais

parece que o legislador ordinárioestava abrindo caminho para asfraudes, o que provocou intensa

(18) Brasil. Tribunal Regional do Traba-lho da 8ª Região. Recurso Ordinário n.558/2000. Recorrente: Benedito MonteiroSilva. Recorrida: Cooperativa dos Profis-sionais do Setor de Pesca do Pará. Ad-vogado: Doutor Raimundo César RibeiroCaldas. Empesca Alimentos S.A. Rela-tor: Juiz José Maria Quadros de Alencar,

 julgado em 14 de abril de 2000.

(19) Ver art. 90 da Lei n. 5.764, de 16 dedezembro de 1971, que define a PolíticaNacional de Cooperativismo, institui oregime jurídico das sociedades coope-rativas, e dá outras providências: Qual-quer que seja o tipo de cooperativa, nãoexiste vínculo empregatício entre ela e

seus associados.

Page 207: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 207/380

213

reação e crítica, ensejando umamplo movimento em favor de suarevogação, através de projeto delei já em tramitação no Congres-

so Nacional, como dá notícia a li-teratura especializada(20). É curio-so notar, entretanto, que essamodificação da norma consolida-da teve origem em projeto de lei deDeputado Federal do Partido dosTrabalhadores, apresentado a pe-dido do Movimento dos Sem-Terra — MST, este preocupado com oque vinha acontecendo nas coo-

perativas por ele próprio implan-tadas, nos seus assentamentos.A iniciativa, aparentemente bemintencionada — a mesma boa in-tenção que, dizem, pavimenta ocaminho do Inferno — revelou-se,com o tempo, nefasta para os pró-prios trabalhadores, sendo hojerepudiada pela própria bancadapetista no Congresso Nacional,que agora intenta corrigir o equí-voco a que foi induzida pelo Mo-vimento Nacional dos Trabalhado-res Sem-Terra(21).

Apesar das boas intençõesdos parlamentares petistas, a mu-dança havida terminou produzin-

do um efeito colateral danoso elargamente adverso para os pró-prios trabalhadores, pois permi-tiu o surgimento de cooperativas

dedicadas quase exclusivamentea fraudar o vínculo de emprego.Tais cooperativas passaram a re-ceber as designações pejorativasde cooperfraude, fraudecoop,fraudoperativa, gatoperativa,pseudoperativa ou coopergato.Fortes são as correntes doutriná-rias e jurisprudenciais que conde-nam essa prática de intermedia-

ção de mão-de-obra através decooperativas, que funcionamcomo verdadeiras empresas delocação de mão-de-obra, igual atantas outras preexistentes, coma diferença que não recolhem osencargos sociais e a relação detrabalho é precarizada.

Em extensas e diversas regiões

do país tem-se feito uso dessamodalidade de intermediação. NoEstado de São Paulo tem-se no-tícias da ativa presença de coo-perativas que substituíram osagenciadores (gatos) de mão-de-obra (bóias-frias) na citricultura,provocando dura e intensa atua-ção do Ministério Público do Tra-balho da Décima Quinta Região.

No Estado do Ceará também tem-se utilizado maciçamente as co-operativas, que propiciam mão-de-obra barata para indústriasque são atraídas para ali se im-plantar, com forte apoio governa-mental (infra-estrutura e incenti-vos fiscais e creditícios), como dánotícia edição especial da revistaExame, onde esse Estado é cha-

mado de Ásia brasileira.

(20) In Revista Síntese Trabalhista. PortoAlegre-Rio Grande do Sul: Editora Sínte-

se Ltda., Ano VII, n. 81 págs. 24-26; mar./ 96; op. cit., Ano VII, n. 82, págs. 19-24;abr./96; op. cit., Ano VII, n. 85, págs. 11-21; jul./96; op. cit., Ano VIII, n. 94, págs.46-52 e 128-146; op. cit., Ano VIII, n. 99,pp. 104, verbete 10701; op. cit., Ano VIII,n. 101, pp. 83, verbete 10911; op. cit .,Ano VIII, n. 103, págs. 127-128; e op.cit ., Ano IX, n. 104, pp. 7-17.(21) In Revista Síntese Trabalhista. Por-to Alegre-Rio Grande do Sul, Editora Sín-tese Ltda., Ano VIII, n. 94, pp. 128-137 e

op. cit., Ano VIII, n. 103, pp. 127-128.

Page 208: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 208/380

214

Este Juiz Relator não desco-nhece os méritos e as vir tudes docooperativismo e está perfeita-mente informado de seus efeitos

positivos, quando corretamenteaplicados seus princípios. Tam-bém reconhece-se que existemcooperativas verdadeiras, quepraticam tais princípios, e contri-buem para a melhoria das condi-ções de vida de seus filiados. Aquimesmo nesta Egrégia Turma esteJuiz Relator já teve oportunidadede reconhecer isso.

Não é o caso destes autos,entretanto, onde, a toda evidên-cia, o que se tem é mesmo umafraude pura e simples, uma inter-mediação de mão-de-obra nosmoldes da conhecida terceiriza-ção, com a só diferença de queem lugar de uma empresa (ver-dadeira) tem-se uma cooperativa

(falsa). Sobre esse aspecto faz-se notar que há confissão expres-sa da Cooperativa reclamada,que já na defesa admite queatuou neste caso somente comoagenciador de mão-de-obra, sen-do esta responsável pela indica-ção do pessoal que iria viajar nasembarcações da Empesca S/A.(sic , folha 31). Dela — Cooperati-

va reclamada — também é a con-fissão de que a segunda reclama-da era responsável por ditar asnormas de sua [do reclamante]contratação (...), ou seja, esta [aCooperativa reclamada] nada temhaver (sic ) com a referida contra-tação ou administração do feridopacto laboral (sic , folha 32). Porisso conclui a defesa pedindo sua

exclusão da lide, já que a res-

ponsabilidade pela contratação egerenciamento do pacto laboralexistente foi reclamada Empesca S/A. (sic, negrito e caixa alta no

original, folha 32).A defesa da empresa reclama-

da também é uma verdadeira con-fissão da fraude praticada, tendoo cuidado de esclarecer que as-sim procedeu com assumido intui-to de reduzir custos com o não pa-gamento de encargos sociais (fo-lhas 33-34). Nesse passo convém

afirmar que a fraude — essa ououtras — não é a solução para acrise do setor pesqueiro, comoparece crer a reclamada-recorrida.

No caso concreto destes autosa origem espúria da Cooperativareclamada é denunciada já nosseus próprios atos constitutivos,onde é afirmado que o primeiro deseus objetivos sociais é congregar

profissionais da área da pesca, ex-empregados da empresa PromarPesca Industrial S/A., com créditospendentes junto à Justiça do Tra-balho do Estado do Pará, ofere-cendo-lhe condições para adqui-rir bens necessários à exploraçãoda atividade profissional, com a fi-nalidade de ressarcir os créditose explorar a atividade profissional,oferecendo-lhe trabalho e condi-ções necessárias para o melhordesempenho de suas funções (sic ,folha 155). Os objetivos sociais daCooperativa reclamada, a toda evi-dência, estão em desacordo comos arts. 3º e seguintes da Lei n.5.764, de 16 de dezembro de1971, que institui o regime jurídi-

co das sociedades cooperativas.

Page 209: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 209/380

215

Uma sociedade cooperativa, pordefinição, é composta de pesso-as que reciprocamente se obrigama contribuir com bens ou serviços

para o exercício de uma atividadeeconômica, de proveito comum,sem objetivo de lucro. Não é obje-tivo legalmente aceito o ressarci-mento de créditos e a exploraçãode atividade profissional doscooperativados, como pretende-ram os fundadores da Cooperativareclamada (art. 2º, I, do EstatutoSocial, folha 155).

À vista do Estatuto Social (fo-lhas 155-171) é possível afirmar,sem rodeios, que a Cooperativareclamada foi constituída parafraudar o vínculo de emprego —por melhor que tenha eventual-mente sido a intenção dos seusfundadores — afirmação que temlastro nas palavras de seu próprioPresidente, que confessou ter

sido a cooperativa criada com afinalidade de produzir para quefossem pagos os ex-trabalhado-res da Promar Pesca S/ A., em nú-mero de sessenta e três, tendosido colocados inicialmente qua-tro barcos à disposição de proprie-dade da Promar, um deles poste-riormente adjudicado pela própriaCooperativa reclamada, prosse-

guindo em sua narrativa e admi-tindo que ela cedia tripulaçõespara as empresas tomadoras deserviços (folha 174).

A fraude também fica cabal-mente demonstrada com umaatenta leitura do Contrato Parti-cular de Armação de EmbarcaçãoPesqueira (folhas 64-69) — cujanulidade deve mesmo ser decre-

tada, como requer o recorrente,

nos termos do ar t. 9º consolidado — pelo qual é possível constatarque:

a) as embarcações armadas

são da empresa reclamada-recor-rida (folha 65);

b) a empresa reclamada-recor-rida custeia todas as despesascom a pesca (folha 65), fornecetudo o mais que indispensável for(sic , folha 65), dá apoio e manu-tenção às embarcações (sic , folha68) e fornece mapas e demons-trativos gerenciais (folha 68);

c) a empresa reclamada-recor-rida paga os seguros das embar-cações (folha 66);

d) o pescado (piramutaba esilurídeos) capturado pertence to-talmente à empresa reclamada-recorrida (folha 66);

e) a empresa reclamada-recor-rida remunera os serviços presta-dos por produção (R$ 0,16/kg), àsemelhança do prêmio-produçãoestipulado na Convenção Coletivaque rege os contratos de empregodo setor pesqueiro (folhas 54-55);

f) a tripulação não é designa-da livremente pela Cooperativainterposta reclamada-recorrida,mas sim de comum acordo com aempresa reclamada-recorrida(sic , folha 67);

g) a empresa reclamada-recor-rida tem o direito de exigir e fis-calizar o cumprimento das obri-gações sociais da Cooperativareclamada-recorrida (folha 67); e

h) as tripulações recebem cor-tesia (50 kg de pescado), seme-lhante à prevista na CláusulaXXIV da Convenção Coletiva (fo-

lha 60).

Page 210: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 210/380

216

Tais características fornecemelementos adicionais que permi-tem caracterizar uma típica rela-ção de emprego, em verdade uma

típica terceirização fraudulenta,em atividade-fim da empresa re-clamada-recorrida.

Outros pontos que merecemainda consideração. Nota-se,assim, a contradição entre os ter-mos da defesa e o depoimentopessoal da empresa reclamada,onde é mencionada a existênciade um suposto — e não alegado — regime de parceria (folha 176).Igualmente deve ser notado queo preposto confessa que os pa-gamentos dos cooperados eramfeitos dentro da própria empresa(sic , folha 176), fato confirmadopela testemunha Senhor LeandroVasconcelos Ramos (folha 179).Por último — mas não menos im-

portante — esclareceu o prepos-to que o reclamante era antesempregado da empresa reclama-da-recorrida (folha 176).

O caso destes autos, portanto,em nada difere de tantos outros já conhecidos desta Egrégia Tur-ma e de outras Regiões.

A reclamada, a partir de um

dado momento, resolveu recrutarmão-de-obra através de coopera-tiva interposta, deixando de em-pregar diretamente os trabalhado-res para as atividades pesqueiraspor ela desenvolvidas, inclusive oreclamante-recorrente.

Neste caso — como em tantosoutros — o que se tem diante dos

olhos é mesmo uma pura e sim-

ples fraude ao vínculo de empre-go, com a utilização de falsa coo-perativa — vulgo cooperfraude oufraudecoop — que atrai a incidên-

cia do art. 9º consolidado, ao con-trário ao que entendeu o juízo re-corrido. Nesse falso regime coo-perativado, a cadeia de comandoe a subordinação técnica e hierár-quica se mantiveram íntegros,tendo no ápice a empresa recla-mada. A cooperativa reclamadafuncionava como simples longa manu  da empresa reclamada,como correia de transmissão dasordens que, em última instância,vinham da empresa reclamada-recorrida. Dela — empresa recla-mada-recorrida — era a atividadeeconômica, dela era a decisão depescar ou não pescar, e todo orestante daí derivava.

Nego, pois, provimento ao re-

curso, mantendo a declaração dailegalidade da prática de terceiri-zação com o fim de atender à ati-vidade-fim da recorrente. Man-tém-se, ainda, a determinação deque se abstenha da prática de talato, por meio da cooperativa ré ouqualquer outra interposta pessoafísica ou jurídica.

2.4. Tutela Específica O Ministér io Público do Traba-

lho afirma teria chegado ao seu co-nhecimento que as requeridas esta-riam a contrariar o disposto na sen-tença recorrida, conforme auto de in-fração que juntou aos autos. Requer,assim, seja concedida tutela espe-cífica, nos termos do art. 461 do Có-

digo de Processo Civil, com a ex-

Page 211: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 211/380

217

pedição de mandado judicial paraque a empresa ré se abstenha daprática de terceirização de suas ati-vidades-fim por meio de cooperati-

va ou qualquer interposta pessoafísica ou jurídica, sob pena de apli-cação da multa cominada na senten-ça (folhas 277 e 278 a 284).

Defiro o pedido de tutela es-pecífica, ante as provas constantesdos autos de que as requeridas nãoderam cumprimento à decisão daMeritíssima Vara de origem. Deter-

mino, assim, com a expedição demandado judicial para que a empre-sa ré se abstenha da prática de ter-ceirização de suas atividades-fim pormeio de cooperativa ou qualquer in-terposta pessoa física ou jurídica,sob pena de aplicação da multacominada na sentença (folhas 277 e278 a 284), como postulado peloautor.

Ante todo o exposto e em con-clusão, conhece-se do recurso ordi-nário; rejeito as questões prelimina-res de impossibilidade jurídica dopedido e de ilegitimidade de parte doMinistério Público; no mérito, negoprovimento ao recurso, mantendo asentença recorrida em todos os seustermos; defiro o pedido de tutela es-

pecífica, formulado pelo MinistérioPúblico do Trabalho, determinando aimediata expedição de mandado ju-dicial para que a empresa ré se abs-tenha da prática de terceirização desuas atividades-fim por meio de co-operativa ou qualquer interpostapessoa física ou jurídica, sob penade aplicação da multa cominada nasentença, determinando, ainda, a

remessa de cópias de peças dos

autos ao Ministério Público Esta-dual para as providências necessá-rias, tudo conforme os fundamentos.

3. ConclusãoPosto isto,

ACORDAM os Juízes da Ter-ceira Turma do Egrégio Tribunal Re-gional do Trabalho da Oitava Região,unanimemente, em conhecer do re-curso ordinário e rejeitar as questõespreliminares de impossibilidade ju-rídica do pedido e de ilegitimidade

de parte do Ministério Público; nomérito, sem divergência, em negarprovimento ao recurso, mantendo asentença recorrida em todos os seustermos; ainda, à unanimidade, emdeferir o pedido de tutela específi-ca, formulado pelo Ministério Públi-co do Trabalho, determinando a ime-diata expedição de mandado judi-cial para que a empresa ré se abs-

tenha da prática de terceirização desuas atividades-fim por meio de co-operativa ou qualquer interpostapessoa física ou jurídica, sob penade aplicação da multa cominada nasentença, determinando, ainda, aremessa de cópias de peças dosautos ao Ministério Público Estadu-al para as providências necessárias,tudo conforme os fundamentos.

Sala de Sessões da TerceiraTurma do Egrégio Tribunal Regionaldo Trabalho da Oitava Região.

Belém, 13 de setembro de2000.

José Maria Quadros deAlencar, Juiz Togado, no exercício daPresidência. Herbert Tadeu Pereira de

Matos, Juiz Convocado, Relator.

Page 212: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 212/380

218

 MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO — LIMINAR 

CONCEDIDA EM ACP — CASSAÇÃO EM MANDADO 

DE SEGURANÇA — REFORMA EM AGRAVO 

REGIMENTAL DO MPT (22 ª   REGIÃO)

Processo TRT AG n. 0827/2000

Acórdão TRT n. 0827/2000

Agravo Regimental — Cabimento.

O agravo regimental, na jurisprudência, tem sido admitido excepcio- nalmente, senão tolerado, com previsão em vários regimentos internos de tribunais, inclusive no Regimento Interno deste Tribunal, nos termos do art. 136, inciso II, como remédio processual destinado a afrontar deci- sões concessivas ou denegatórias de medida liminar, causadoras de gravame aos litigantes. Além do mais, possui a utilidade de evitar a su- perposição de vários  mandamus, que criam insegurança, estorvo ao 

procedimento, e descrédito do Judiciário, na medida em que a decisão atacada, estando fora dos limites da lei, ocasiona lesão por transgres- são a direito líquido e certo.

Tutela Liminar — Legitimidade — Não há que se falar em violência a direito líquido e certo da impetrante quando aplicada a tutela liminar com a observância das formalidades legais requeridas e dentro dos contornos da razoabilidade, cujo comando judicial está em plena har- monia com a diretriz legislativa que impõe a contratação de obreiros,sob o regime de celetista, para atender às suas atividades-fim. Ademais,

não se mostra, teoricamente, possível num mandado de segurança, di- ante de sua sistemática procedimental e natureza jurídica, que se con- tenta apenas com prova pré-constituída, a análise de irregularidades eventualmente cometidas, somente possível diante de uma instrução complexa.

Cassação de Liminar via Segurança — Perigo — Constitui perigo e deslize técnico manifesto a pretensão mandamental que incursiona na seara do mérito de decisão para dirimir questões factuais complexas a nível de mandado de segurança, vez que se estaria, além de atropelan- 

do a competência do juízo de origem para examinar o cabimento da 

Page 213: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 213/380

219

tutela de urgência, impingindo deletério inversor ao devido processo le- gal, porque, conforme pontifica o MPT, precipita “a atuação do Tribunal,trazendo ao seu conhecimento, através de processo de rito especial e urgente de competência originária da Corte (Mandado de Segurança), o 

mérito de matéria que ele somente deveria examinar em grau de recurso,depois de amplamente debatida na primeira instância”.

Vistos, relatados e discutidosos presentes autos de Agravo Regi-mental, figurando como agravanteMinistério Público do Trabalho —Procuradoria Regional do Trabalhoda 22ª Região e como agravado r.Despacho do Exmo. Juiz Relator doMS 801/2000.

1. RELATÓRIO

Relatório da lavra do eminenteJuiz Relator, adiante transcrito:

“Trata-se de Agravo Regimen-tal, interposto pelo Ministério Pú-

blico do Trabalho — ProcuradoriaRegional do Trabalho da 22ª Re-gião — Litisconsorte Passivo naAção de Mandado de Segurança(Processo n. 801/2000), ação estaem tramitação neste Regional.

Inconformado com o r. despa-cho do Juiz Relator concessivo deliminar, na ação em referência,

agrava regimentalmente o Minis-tério Público do Trabalho, susten-tando em suma o seu cabimento,tendo em vista precedentes sobrea matéria neste Tribunal; a ausên-cia de irreversibilidade da medi-da e prejuízo à impetrante caso oato atacado pelo Mandado de Se-gurança não se efetivasse, eis que

a multa aplicada, somente se tor-

naria exigível após o trânsito em julgado da decisão, nos termos do§ 2º da Lei n. 7.347/85. Alega tam-bém a ausência dos requisitospara a concessão liminar da se-gurança (despacho agravado) e odeferimento liminar extra petita visto que o despacho ora atacadobeneficiou a todas as partes dopólo passivo da Ação Civil Públi-ca e não apenas à Impetrante doMandado de Segurança. Diz, porf im, que sustando a l iminardeferida nos autos da Ação CivilPública, praticamente deu-se au-

torização à Impetrante para per-petrar e fomentar uma das maiscruéis formas de exploração damão-de-obra pelas famigeradas“cooperativas fraudulentas”. Pedea reconsideração do despacho,negando-se a liminar no MS 801/ 2000, restaurando-se a liminardeferida nos autos da citada Ação

Civil Pública.Conclusos os autos a esta

Relatoria para o juízo de retrata-ção, manteve-se o despacho Agra-vado (fl. 32).

À fl. 35, a d. PRT emitiu parecer,opinando pelo conhecimento e pro-vimento do Agravo Regimental.”

É o relatório.

Page 214: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 214/380

220

II. VOTO

Conhecimento

O agravo regimental é meio

extraordinário de que dispõe a par-te para insurgir-se contra despachoproferido por Juiz do Tribunal, des-de que não haja recurso específicoprevisto na legislação e desde queesteja dentro das hipóteses contem-pladas regimentalmente.

Tal modalidade excepcional derecurso encontrou repúdio por boa

parte da doutrina, ancorada na au-sência de previsão legal, principal-mente na enunciação recursal da Lein. 1.533/51, e a incompatibilidadecom o rito do mandamus . Acrescen-tam, ainda, a usurpação de compe-tência da União para legislar sobreprocesso (art. 22, inciso I, CF/88).

Sem embargo das respeitáveisponderações em contrário, o agravo

vertente, na jurisprudência, tem sidoadmitido, senão tolerado, com previ-são em vários regimentos internos detribunais, utilizando-se, na maioriados casos, como remédio processu-al destinado a afrontar decisões depresidentes de tribunais denegatóriasa seguimento de recurso, ato judicialque causa gravame aos litigantes edecisão do corregedor em correição

parcial.No Regimento Interno deste

Tribunal a situação sob análise en-contra-se, evidentemente, descritanos termos do art. 136, inciso II, in verbis :

“Art. 136. Exceto quando com-petir recurso previsto em lei, cabe

agravo regimental para o Tribu-

nal, no prazo de 8 (oito) dias,contados da publicação no órgãooficial:

I — ... omissis ....

II — do despacho que conce-der ou denegar medida liminar;”

Por sua vez, a criação dessemeio impugnativo no procedimento domandado de segurança, a despeito desua legalidade duvidosa, tem relevân-cia quando o ato judicial atacado vio-la direito líquido e certo da parte ad-

versa, fazendo com que, teoricamen-te, crie-se uma situação periclitante aponto de autorizar o manejo de outromandado de segurança.

Em tese, porque comungamosdo entendimento de a concessão oudenegação de liminar ao arrepio dalei ocasiona lesão por transgressãoa direito líquido e certo seja de queparte for. Não entendemos que tal

matéria seja ato discricionário domagistrado.

Presentes os elementos bási-cos do relevante fundamento e dopericulum in mora , imperativo se faza concessão. Da mesma forma, oseu deferimento ausentes os pres-supostos legais autorizadores. É atovinculado, portanto.

No entanto, esta anomalia,superposição de várias seguranças,deve ser evitada, visto que gera in-segurança, estorvo ao procedimen-to, e descrédito do Judiciário, razãopor que não se deve admitir.

Na mesma esteira:

“Não é admissível a impetra-ção de Mandado de Segurança

objetivando cassar liminar conce-

Page 215: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 215/380

221

dida em outro Mandado de Segu-rança, perante a mesma Corte,sob pena de desencadear-se umasucessão de pedidos, até que se

esgote a composição numéricada Corte, o que se traduziria emsolução absurda e incompatívelcom a própria natureza e funçãodo mandamus . O inconformismoou até mesmo a reparação doerro na concessão de liminar deveser alcançada por meio recursal,mediante agravo regimental, ourecurso ordinário” (TST — RO-AG112.027/94.1 — Ac. SDI 3.164/95,Rel. Juiz Convocado EuclidesAlcides Rocha — DJU 29.9.95)

Portanto, para a solução práti-ca do problema, socorre-se do agra-vo regimental.

Ademais, o agravo tem a utili-dade de preencher um vazio da leina medida em que, de forma célere,constitui um remédio contra lesão ouameaça a direito perpetrada a nívelde mandado de segurança.

Nem se alegue, argumento uti-lizado em geral, que contra a deci-são concessiva de liminar existemeio impugnativo específico, pedido

ao Presidente do Tribunal de suspen-são de sua execução, conforme odisposto no art. 4º, da Lei n. 4.348/ 64, que se mantida a decisão, po-der-se-ia interpor agravo, no prazode 5 (cinco) dias, este recebido ape-nas no efeito devolutivo.

É que tal pedido de suspensãotem aplicabilidade restrita a pessoas

de direito público interessadas e,

ainda assim, desde que para “evitar grave lesão à ordem, à saúde, à se- gurança, e à economia públicas”.

Logo, não figurando nesta re-lação processual pessoas de direitopúblico e não possuindo o Ministé-rio Público a qualidade de represen-tante de tais entes, impossível semostra a sua incidência à espécie.

Conclui-se então que o despa-cho que encerra concessão ou nãode liminar em mandado de segurançaé recorrível via agravo regimental.

Conhece-se, pois preenchidos ospressupostos subjetivos e objetivosde admissibilidade.

MÉRITO

Pretende o agravante a cassa-ção de liminar concedida em man-dado de segurança, inaudita altera 

pars , suspensiva de igual medidanos autos da Ação Civil Pública n.02-501/2000, que determinava à im-petrante a regularização da relaçãode emprego dos cooperados queprestaram, prestam ou venham pres-tar serviços à Caixa Econômica Fe-deral no Estado do Piauí, assim comoobstar a esta a contratação dessepessoal e proceder a rescisão con-

tratual de prestação de serviços coma cooperativa. Declarava, ainda, ainidoneidade da referenciada coope-rativa para atuar como empresa detrabalho temporário e impunha amulta diária de 500 UFIR’s em casode transgressão.

Argumenta o MPT, basicamen-te, a ausência de irreversibilidade e

de prejuízo da tutela cautelar con-

Page 216: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 216/380

222

cedida a nível de ação civil públicae da inocorrência de direito líquido ecerto da impetrante. Discorre sobrea probabilidade de êxito da ação civil

e os efeitos nefastos da liminar re-corrida. Circunstancia também acer-ca da questão da colisão dos direi-tos postos em conflito e deferimentode liminar sob a forma extra petita .

Realmente, merece provimen-to o apelo. Os fundamentos apresen-tados na liminar contrastada mostra-ram-se indignos de relevância e

 jur idicidade.Não há que se falar em violên-

cia a direito líquido e certo da impe-trante, segundo tenciona as razõesdo relator, por ferir o contraditório ea ampla defesa ao argumento sim-plório de que a ação civil pública “en- volve regular instrução do feito” . Aautoridade coatora utilizou-se decompetência e poder de cautela es-pecificamente fixados e previstos naLei n. 7.347/85, bem fundamentadoe com a observância das formalida-des legais requeridas e dentro doscontornos da razoabilidade.

Já se sedimentou que a meraconcessão de liminar, observados osrequisitos legais, não constitui su-pressão do devido processo legal e

da ampla defesa vez que existe pre-visão em lei, constituindo até umaimposição constitucional.

Ademais, é nos autos da açãocivil pública que deve ser apurada aresponsabilidade pelo eventual des-cumprimento ou não de normas tra-balhistas, é a autoridade apontadacomo coatora quem possui os me-

lhores meios instrutórios para efeito

de análise da qualificação da inter-mediação de mão-de-obra. Não semostra teoricamente possível nummandado de segurança, diante de

sua sistemática procedimental e na-tureza jurídica, que se contenta ape-nas com prova pré-constituída, aanálise de irregularidades eventual-mente cometidas, somente possíveldiante de uma instrução complexa.

Sobremais, o perigo e o deslizetécnico que apresenta a pretensãomandamental é manifesto. Incursionar

na seara do mérito da decisão, diri-mindo questões factuais complexas anível de mandado de segurança, es-tar-se, além de atropelando a compe-tência do juízo de origem para exami-nar o cabimento da tutela de urgên-cia, impingindo deletério inversor aodevido processo legal, porque, confor-me pontifica o MPT, precipita “a atua- ção do Tribunal, trazendo ao seu co- 

nhecimento, através de processo de rito especial e urgente de competên- cia originária da Corte (Mandado de Segurança), o mérito de matéria que ele somente deveria examinar em grau de recurso, depois de amplamente debatida na primeira instância”.

Quanto às “drásticas providên- cias de cunho satisfativo”, tem-se a

dizer que a cautelar regrada a nívelde ação civil pública tem carátersatisfativo, é de sua própria nature-za impor obrigações de dar, fazer enão fazer. Nada há de anomalia,existem vários casos em que a pró-pria lei autoriza a satisfatividade cau-telar. Cite-se outros exemplos, aliminar em mandado de segurançae as especificadas nos incisos IX e

X do art. 659 da CLT.

Page 217: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 217/380

223

De outro quadrante, equivoca-do o entendimento de que o ato daautoridade coatora redunda conse-qüências danosas e irreversíveis à

impetrante.Primeiro, averbe-se que o co-

mando judicial posto na ação civilestá em plena harmonia com a dire-triz legislativa que impõe a contrata-ção de obreiros, sob o regime cele-tista, para atender às suas ativida-des-fim.

Regra geral está em fiel obe-

diência com a Carta Magna, que, emdiversas passagens, protege “os va-lores sociais do trabalho” (art. 1º,inciso IV); coloca o trabalho comodireito social (art. 6º, caput ); enume-ra exemplificamente os direitos dostrabalhadores urbanos e rurais (art.7º, incisos); funda a ordem econô-mica na valorização do trabalho hu-mano enumerando como um dosseus princípios a busca do plenoemprego (art. 170, inciso VIII).

Tal superproteção dispensadaconstitucionalmente ao trabalhadorda relação de emprego impede qual-quer construção teórica no sentidode se assegurar, pior, ainda, comolíquido e certo, direito à contrataçãode prestadores de serviços pela via

cooperativa.Acresça, ainda, que, em parte

alguma, do parágrafo único do art.442 da CLT, garante contrataçõespor intermédio de cooperativas detrabalho sem vínculo empregatício.A inclusão de tal parágrafo único,perpetrado pela Lei n. 8.949/94, dis-põe, tão-somente e de maneira con-

fusa, que inexiste vínculo de emprego

entre a cooperativa e seus associa-dos, nem com estes e os tomadoresde serviços daquela.

Qualquer intérprete, em sãconsciência, não teria a coragem dese apegar e escorregar à letra friado referenciado dispositivo a pontode afirmar que as contratações rea-lizadas por intermédio de cooperati-vas de trabalho não formam relaçãoempregatícia com as empresas be-neficiárias de tal trabalho. Qualquerinvestida assim encontraria insupe-

rável obstáculo das normas-princí-pios constitucionais de proteção aotrabalho.

Seria esquecer a teoria docontrato-realidade, assim como aslutas centenárias, forjadas a durose pesados embates sociais, que cul-minaram com a emancipação docontrato de trabalho em relação aodireito civilista. Seria retroceder àbarbárie para colocar tal relação soba incidência da locação de serviços.

Concede-se o mandado desegurança quando demonstradode plano o direito líquido e certo doimpetrante. Em momento algum,desvencilhou-se de tal ônus. A pro-va documental apresentada em nadacontribui à legitimidade das contra-

tações.Não evidenciou a retidão da

terceirização efetuada. Ao contrário,carreados foram documentos de in-quérito civil público instaurado paratal fim, firmado com relatórios deagentes de inspeção e fiscalizaçãodo trabalho e depoimentos, que, ape-sar de sua natureza administrativa,

deve sempre encontrar respaldo na

Page 218: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 218/380

224

convicção do magistrado. Não seestá com isso a afirmar que os fatosnele arrolados constituem verdadeirrefutável, mas apenas a asseverar

que compõem peças informativas desupostas lesões à ordem jurídica la-boral que não se pode olvidar.

Sem embargo de não passar,quando de sua feitura, pelo crivo docontraditório e da ampla defesa,sempre é dotado de alguma relevân-cia jurídica. É bom que se remarqueque a sua instauração destina-se

não só à busca de adequação legaldo indiciado, mas também à colhei-ta de provas, de importância capitalpara o deslinde do litígio.

Oportuna também a admoes-tação feita pela Procuradoria do Tra-balho quanto à teoria da colisão dedireitos, a qual, em suma, determi-na a salvaguarda de um direito emdetrimento de outro segundo o grau

de relevância jurídica. Caso em quese deve optar pela a existência decontrato de emprego e não civil.

É que o “prejuízo será maior para o ordenamento jurídico traba- lhista se se admitir que as rés na ACP continuem, impunemente, as práticas irregulares denunciadas pelo  Parquet notadamente se se 

considerar o caráter alimentar dos direitos trabalhistas, bem assim a inafastabilidade dos direitos sociais,tais a proteção contra acidentes do trabalho, o FGTS, as férias, a jorna- da de trabalho, o respeito ao salário mínimo, a Previdência Social, etc.,que se vem negando aos trabalha- dores ditos “cooperados” bem como a falta de solvência ou garantia des- 

sas empresas, notadamente as tra- 

vestidas de “cooperativas” que per- mita a certeza de que, algum dia,repararão todos os direitos atual- mente sonegados.” (agravo)

Ao fim, no que se refere aocircunstanciamento de deferimentode liminar sob a forma extra petita ,não há razão para tal repulsa, já quese mostram indivisíveis os interes-ses e unificados pela decisão profe-rida nos autos da referenciada açãocivil pública. O regime listisconsorcialnecessário figura-se patente e, as-

sim, manejo de qualquer remédioprocessual a todos aproveitam ouprejudicam quando os interesses serevelam comuns.

Até porque impossível se afi-gura separar em compartimentosestanques por réu os efeitos de umadecisão que reconhece, ainda quetemporariamente, a legalidade de

prestação de serviços em que figu-ra de um lado o trabalhador e deoutro três pessoas jurídicas vincula-das contratualmente. Não há comofragmentar o ato judicial.

III. CONCLUSÃO

ACORDAM os Juízes do Egré-gio Tribunal Regional do Trabalho da

22ª Região, por unanimidade, conhe-cer do agravo regimental e, no mérito,por maioria, dar-lhe provimento paracassar os efeitos da liminar concedi-da no MS 801/2000.

Teresina, 4 de julho de 2000.

Francisco Meton Marques deLima, Juiz Presidente. Arnaldo BosonPaes, Juiz Convocado — Redator

Designado.

Page 219: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 219/380

I NQUÉRI TOS, TERM OS DE COM PROM ISSO DE 

AJUSTAM ENTO DE 

CONDUTA , AÇÕES E DEM AIS ATIVIDADES 

Page 220: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 220/380

227

Os representantes do Ministé-rio Público do Trabalho, do MinistérioPúblico Federal e do Ministério Pú-blico do Estado de São Paulo, nouso de suas atribuições constitucio-nais e legais de tutela dos interes-ses das pessoas portadoras dedeficiência estabelecidas na LeiFederal n. 7.853/89, regulamentadapelo Decreto n. 3.298/99 e

Considerando que há em trami-tação no Banco Central do Brasil es-tudos para uma nova regulamentaçãoda atividade de bancos e administra-dores de consórcio em face de seurelacionamento com clientes e usuá-rios destas mesmas instituições;

Considerando que inúmeras re-

clamações contra estas instituiçõesforam formuladas nos Ministérios Pú-blicos signatários da presente por pes-soas com deficiência, inclusive empre-gados, tais como a falta de acessibili-dade física às instalações, dificuldadede contratação dos serviços, em es-pecial por deficientes visuais, falta depreparo dos empregados de sobredi-tas instituições para o trato com clien-

tes com necessidades especiais;

RECOMENDAÇÃO CONJUNTA MPT/MPF/MPESP:

PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA 

Recomendação Ministério Público do Trabalho n. 4.380Recomendação Ministério Público Federal n. 12/2000Recomendação Ministério Público Estadual n. 23/2000São Paulo, 23 de outubro de 2000

Considerando que cabe aoMinistério Público a defesa dos in-teresses sociais e das pessoas por-tadoras de deficiência, nos termosdo art. 127 da Constituição Federale dos arts. 3º a 6º da Lei Federaln. 7.853/89;

Considerando que a Declara-

ção Universal dos Direitos Humanose a Declaração dos Direitos das Pes-soas Deficientes estabelecem comoprincípios fundamentais o respeito ea dignidade humana e a igualdadede direitos, sendo este último o sig-no fundamental da República (art. 5º,da CF);

Considerando que deve ficar asalvo o direito de ir e vir (art. 5º, XV,

da CF);Considerando que é expressa-

mente prevista na Lei Federal n.7.853/89 a garantia às pessoas por-tadoras de deficiência a igualdadede tratamento e oportunidade, justi-ça social, respeito à dignidade ebem-estar;

Considerando que ao Poder

Público e aos seus órgãos cabe as-

Page 221: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 221/380

228

segurar às pessoas portadoras dedeficiência o pleno exercício deseus direitos básicos que lhes pro-piciem bem-estar pessoal, social e

econômico;Considerando que o Programa

Nacional de Direitos Humanos lan-çado pelo Exmo. Sr. Presidente daRepública em 1996 tem como obje-tivo servir de guia para pautar asações do governo e as da socieda-de para a construção de um Brasilmais justo e tem como primeira pro-

posta a integração e articulação deações nacionais de atenção ao seg-mento das pessoas portadoras dedeficiência, em especial a remoçãode barreiras físicas que impedem oudificultam a locomoção;

Considerando que de acordocom a Lei Federal n. 8.078/90 (Có-digo de Defesa do Consumidor) éprincípio da Política Nacional de

Relações de Consumo a ação gover-namental no sentido de proteger efe-tivamente o consumidor, dentre ou-tros modos pela garantia de servi-ços com padrões adequados de qua-lidade (art. 4º, II, d); 

Considerando que a Lei Fede-ral n. 8.078/90 (Código de Defesa doConsumidor) também protege a dig-

nidade do consumidor, garantindo-lhe igualdade nas contratações (art.6º, II);

Considerando que competeaos bancos manter serviços compadrões adequados de qualidade, desegurança e desempenho (Lei Fede-ral n. 8.078/90, art. 4º, II, d); 

Considerando que a falta de

acesso físico às instalações de agên-

cias, quiosques e equipamentos deinstituições financeiras representaséria restrição aos direitos de ir e vire de receber um serviço adequado;

Considerando que a falta oudificuldade de acesso físico às ins-talações de agências, quiosques eequipamentos também representaobstáculo para o cumprimento, porestas, de relevante obrigação legalde contratação de empregados por-tadores de deficiência (Lei n. 8.213/ 91 e Decreto n. 3.298/99);

Considerando que os emprega-dos bancários portadores de defici-ência também gozam do direito à ple-na acessibilidade ao local de traba-lho, para o exercício de suas funções,dispondo dos apoios e procedimen-tos que se fizerem necessários (art.35, § 3º, do Decreto n. 3.298/99);

Considerando que a exigência

às pessoas portadoras de deficiên-cia, não civilmente incapazes, deinterposta pessoa para movimenta-ção de conta corrente implica emdiscriminação social inconstitucionale ilegal, passível, inclusive, de repa-ração individual e coletiva;

Considerando que não haven-do incapacidade civil, somente o cor-rentista, por expressa e voluntária

manifestação, pode optar pela nomea-ção de procurador para a prática deatos perante a instituição financeira;

Considerando que a Resolu-ção n. 2.025/93 do Conselho Mone-tário Nacional, tornada pública peloBanco Central do Brasil, contemplacomo discriminatórias as restriçõesnão isonômicas impostas a deficien-

tes visuais;

Page 222: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 222/380

229

Considerando que para pres-tação de serviço de qualidade pelasinstituições financeiras é necessárioque estas disponham de pessoal

treinado para atendimento de clien-tes com necessidades especiais,

O Ministér io Público do Traba-lho, o Ministério Público Federal e oMinistério Público do Estado de SãoPaulo resolvem recomendar, comfundamento no ar t. 6º, inciso XX, daLei Complementar n. 75/93, à Dire-toria de Normas do Banco Central

do Brasil, que na regulamentaçãodas atividades bancárias suso-refe-ridas faça constar às instituições fi-nanceiras a obrigatoriedade: 1) deadaptação de suas atuais e futurasinstalações (agências, quiosques eequipamentos) de acordo com asdiretrizes fixadas pelas normas daAssociação Brasileira de NormasTécnicas (em especial a NBR n.

9.050); 2) de que todo e qualquer tipode contrato bancário seja genéricoem face de pessoas portadoras dedeficiência civilmente capazes, semexigência de nomeação de procura-dores ou representantes para movi-mentação de contas correntes ououtros ativos, inclusive através douso de cartões magnéticos e che-ques, disponibilizando exemplar des-

tes contratos em braille; 3) de feiturae utilização de cartões magnéticoscom dizeres em relevo; 4) de treina-mento de seus funcionários ou deterceiros que lhes prestem serviçospara atendimento de clientes e usuá-rios com necessidades especiais.

Outrossim, informamos que có-pia desta recomendação está sen-do encaminhada ao Conselho Nacio-nal dos Direitos da Pessoa Portado-

ra de Deficiência — CONADE —, àOrganização das Nações Unidas —ONU —, à Organização Internacio-nal do Trabalho — OIT — e à Ordemdos Advogados do Brasil — OAB.

Lauro Luiz Gomes Ribeiro,Promotor de Justiça/SP.

Júlio César Botelho, Promotorde Justiça/SP.

Cândida Alves Leão, Procura-dora-Chefe da PRT da 2ª Região.

Geraldo Imediato de Souza,Procurador do Trabalho da 15ª Região.

Adélia Augusto Domingues,Procuradora do Trabalho da 2ª Região.

Eugênia Augusta GonzagaFávero, Procuradora da República.

Isabel Groba Vieira, Procura-

dora Regional dos Direitos do Cida-dão Substituta.

Alexandre Camanho de Assis,Procurador da República.

Ana Paula Mantovani, Procu-radora da República.

Guilherme Zanina Schelb, Pro-curador da República.

Humberto Jacques de Medei-ros, Procurador da República.

Valquíria Oliveira Quixadá Nu-nes, Procuradora da República.

Maria Eliane Menezes de Fa-rias, Procuradora Federal dos Direi-tos do Cidadão.

Page 223: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 223/380

230

Aos trinta e um dias do mês de janeiro de dois mil e hum, às quator-ze horas, na Sala de Divisão de Re-cursos Humanos da Usina Centraldo Paraná S/A. Agricultura Indústriae Comércio, situada à Rua UrbanoLunardelli, 875, Centro, Porecatu/PR,perante o Exmo. Sr. Dr. GláucioAraújo de Oliveira, Procurador doTrabalho comparecem o Dr. Glauco

Miguel Ferrigno, Gerente Administra-tivo, portador da OAB n. 24.923/PR,e o Sr. Jayme Planas Navarro, Ge-rente Financeiro, portador do CPF n.005046968-15, e as entidades sin-dicais abaixo elencadas, para elen-car os itens da proposta aprovadaem Assembléia dos trabalhadoresrealizada nesta data e com a plenaconcordância da Usina Central do

Paraná S/A.:1 — Salário dezembro/2000 —

A Usina Central do Paraná S/A. efe-tuará o pagamento referente ao mêsdez./2000 no próximo dia 7.2.2001(quarta-feira), a partir das 16h30min.,nos locais de costume;

2 — Rescisões Contratuais —A Usina Central do Paraná S/A., efe-

tuará o pagamento das rescisões

 MEDIAÇÃO — GARANTIAS E DIREITOS 

TRABALHISTAS (PRT 9 ª   REGIÃO)

Ata Audiência CODINProcedimento de Mediação n. 046/01

contratuais face à decorrência dotérmino da safra sucroalcooleira2000/2001, no próximo dia 7.2.2001(quarta-feira), na divisão de Recur-sos Humanos da empresa, Rua Ur-bano Lunardelli, 875, Porecatu/PR,a partir das 16h30min.;

2.1 — Se porventura existirempendências trabalhistas concernen-tes a todos os contratos de trabalho

firmados e rescindidos anteriormen-te a safra 2000/2001, compromete-se a empresa a quitar tais débitos tra-balhistas no mesmo prazo elencadono item 02, desde que a empresa sejanotificada pelos requerentes;

3 — Dias Parados — A UsinaCentral do Paraná S/A. efetuará opagamento dos dias de paralisação,ou seja, de 13 a 31 de janeiro de2001, considerando a média de pro-dutividade de cada trabalhador;

4 — FGTS — A partir do dia12 de fevereiro de 2001 o Fundo deGarantia por Tempo de Serviço rela-tivo às rescisões contratuais do tér-mino da safra 2000/2001 será dis-ponibilizado na média diária de 150trabalhadores, sendo os depósitos

relacionados diariamente e esta re-

Page 224: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 224/380

231

lação, que será fixada no portão n.01, também será enviada aos órgãosrepresentantes dos empregados;

4.1 — Face ao sistema opera-

cional na Caixa Econômica Federal,os depósitos serão efetuados respei-tando-se o setor de registro funcional;

4.2 — No ato da assinatura doContrato de Parcelamento do FGTS,a ser firmado com a Caixa Econômi-ca Federal, de imediato e em con-sonância com o aspecto legal do re-ferido, serão efetuados os depósitosatrasados em sua integralidade de

todos os contratos de trabalho res-cindidos sem justa causa ou por tér-mino de contrato ou safra.

5 — Salário janeiro/2001 — AUsina Central do Paraná S/A., com-promete-se a efetuar o pagamentodos salários retromencionados nodia 21.2.2001, à 16h30min., consi-derando-se os locais de hábito;

6 — Retorno ao trabalho — Oretorno ao trabalho ocorrerá no dia1º de fevereiro de 2001, respeitan-do-se os horários predeterminados;

7 — Comissão dos Trabalhado-res — As entidades sindicais indica-rão uma comissão de no máximo cin-co pessoas para tratar de caso acaso dos assuntos trazidos pelos tra-balhadores, que após estudo preli-minar, poderá ser encaminhado àDireção da empresa que deverá to-mar as devidas providências, desdeque lastreada em prova documental;

8 — Demissões — Qualquerdemissão efetuada pela Usina Cen-tral do Paraná S/A., será comunicadaà Comissão de Trabalhadores com adevida motivação do ato demissional;

9 — Acordo Coletivo de Traba-

lho — Fica pactuado entre os signa-

tários a continuidade das negociaçõesvisando a celebração de Acordo Co-letivo de Trabalho em aberto e os itensconstantes das pautas reivindicatóri-

as entregues à empresa; e também acláusula de horário de trabalho.

Nada mais havendo a ser trata-do, foi encerrada a presente audiên-cia, depois de lida, foi firmada pelospresentes.

Gláucio A. de Oliveira, Procu-rador do Trabalho PRT-9ª Região

Glauco Miguel Ferrigno, Diretor

FinanceiroJayme Planas Navarro, DiretorFinanceiro

Evandro Pinto Rodrigues, Pres.do Sind. dos Rodoviários de Londrina

Celso Fernandes de Mattos.Pres. do Sind. dos Trab. nas Empre-sas de Alimentação e Indústria dePorecatu e Região.

Helmuth Rosmam, Pres. Sind.dos Trab. Rurais de Porecatu.

Derval Luiz Zamparoni, Pres.Sind. Trab. Rurais de Florestópolis.

Divino Gonçalves, Pres. Sind.Trab. Rurais de Centenário do Sul

José Alves da Silva, Pres. Sind.Trab. Rurais da Alvorada do Sul

Claudinei de Carli, Pres. Sind.

Trab. Rurais de AstorgaAdelson Farias da Luz, Pres.

Sind. Trab. Rurais de N. S. Graças

Cleuson Ramos da Si lva,Pres. Sind. Trab. Rurais de Guaraci

Aparecido Calegari, Pres.Sind. Trab. Rurais de Colorado

Arnaldo Nascimento de Jesus,Pres. Sind. Trab. Rurais de Bela V.

Paraíso

Page 225: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 225/380

232

No sentido de conformar-se às

disposições constantes da Lei n.8.213/91 e do Decreto n. 3.298/99que regulamenta a Lei n. 7.853/89,a Companhia de Seguros Aliança doBrasil, com sede na Rua Araújo Por-to Alegre, 36, 7º andar, Rio de Ja-neiro-RJ, inscrita no CGC sob n.28.196.88910001-43, neste ato re-presentada na forma de seu Estatu-to Social, nos autos do Procedimen-

to Preparatório de Inquérito CivilPúblico n. 738/2000, instaurado poresta Procuradoria Regional do Tra-balho, compromete-se perante o Mi-nistério Público do Trabalho, de acor-do com o artigo 5º, § 6º da Lei n.7.347/85, com a redação que lhe deuo artigo 113 da Lei n. 8.078/90, comacompanhamento do Ministério Pú-blico do Trabalho e Emprego, atra-

vés de suas Delegacias Regionaisdo Trabalho, em assumir as seguin-tes obrigações:

1. No momento em que houvernecessidade de novas contrataçõesde empregados, oficiar as Delegaci-as Regionais do Trabalho do Minis-tério do Trabalho e Emprego, que porseus Núcleos ou assemelhados,

possuam Balcão de Empregos de

TERMO DE COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE 

CONDUTA — COTA — PESSOA PORTADORA 

DE DEFICIÊNCIA (PRT 1ª   REGIÃO)

pessoas portadoras de deficiência

ou possuam convênios com as Se-cretarias Estaduais de Trabalho, ouainda ao serviço de reabilitação doINSS, mediante protocolo, ou atra-vés da Internet ou qualquer outroprograma informatizado que aquelesórgãos possuírem para recebimen-tos de correspondência, indicando adisponibilidade de vagas e as exi-gências necessárias ao seu preen-

chimento, visando buscar candidatoque se enquadre nos termos dos ar-tigos 93 da Lei n. 8.213/91 e 36 doDecreto n. 3.298/99 (beneficiário rea-bilitado ou portador de deficiência),ficando a cargo do Ministério do Tra-balho e Emprego, através de suasDelegacias Regionais do Trabalhoque por seus Núcleos ou asseme-lhados possuam Balcão de Empre-

gos de pessoas portadoras de defi-ciência ou possuam convênios comas Secretarias Estaduais de Traba-lho ou do Serviço de Reabilitação doINSS, indicar por escrito os eventuaiscandidatos;

2. As Delegacias Regionais doTrabalho — Ministério do Trabalho eEmprego ou o Serviço de Reabilita-

ção do INSS deverá responder até o

Page 226: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 226/380

233

5º dia útil do recebimento da dispo-nibilidade da vaga. Se for negativa,a Empresa tem como cumprido oartigo 36 do Decreto n. 3.298/99 (be-

neficiário reabilitado ou por tador dedeficiência) relativamente àquelacontratação, podendo procedê-la emrelação a outro candidato;

3. Em havendo candidato a em-prego, beneficiário reabilitado ou por-tador de deficiência, a empresa secompromete a contratá-lo preferenci-almente, desde que atendidos os re-

quisitos do cargo e aprovado o candi-dato nos processos de dinâmica degrupo, entrevistas e avaliações neces-sárias ao preenchimento do cargo;

4. Preenchido o percentual es-tabelecido pelo artigo 93 da Lei n.8.213/91 e 36 do Decreto n. 3.298/ 99, a empresa fica dispensada daobrigação dos itens “1” e “3”, ficandoporém, ciente de que deverá mantero percentual de contratados porta-dores de deficiência que impõe a Lei;

5. A validade deste termo decompromisso é de dois anos da datada sua assinatura e abrange todasas dependências da Empresa, emtodo Território Nacional, produzindoefeitos em relação a cada inscriçãoda empresa no Cadastro Nacional de

Pessoas Jurídicas (CNPJ) que con-tiver, no respectivo estabelecimen-to, um número superior a 49 funcio-nários, consoante o artigo 36 doDecreto n. 3.298/99, facultada a as-sinatura de Termo Aditivo;

5.1. A cada seis meses a par-tir da validade do presente Termo,deverá a empresa comunicar ao Mi-

nistério Público do Trabalho, Procu-

radoria Regional do Trabalho da 1ªRegião e à Delegacia Regional do Tra-balho do Ministério do Trabalho eEmprego no Rio de Janeiro, a com-

provação do cumprimento do Compro-misso firmado em todo o Brasil;

6. Pelo descumprimento docompromisso assumido perante oMinistério Público do Trabalho a em-presa fica sujeita ao pagamento demulta no valor de R$ 1.000,00 (ummil reais), por empregado contrata-do em desatenção ao compromisso,

reversível ao FAT, Fundo de Amparoao Trabalhador, instituído pela 7.998/ 90, nos termos do artigo 5º, § 6º eartigo 13 da Lei n. 7.347/85;

7. O cumprimento é passívelde fiscalização pelo Ministério doTrabalho, na forma do § 5º do artigo36 do Decreto n. 3.298/99 e Ministé-rio Público do Trabalho;

8. A vigência do presente Ter-mo dar-se-á após 60 dias de suaassinatura, a fim de que a Empresa,neste período, tome as providênci-as internas necessárias.

Rio de Janeiro, 4 de outubro de2000.

Júnia Bonfante Raymundo,Procuradora do Trabalho, Coordena-

doria de Defesa dos Interesses Di-fusos e Coletivos

Odair Lucietto, Presidente

Sidney Dias da Silva, Diretor

Luiz Renato Almeida, Chefe doSetor de Fiscalização da DRT-RJ,Coordenador do Núcleo Cidadania eTrabalho DRT-RJ, Ministério do Tra-

balho e Emprego

Page 227: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 227/380

234

Compromisso que firma, pe-rante o Ministério Público do Traba-lho, representado pela ProcuradoraDra. Elisa Maria Brant de CarvalhoMalta, com base no artigo 5º, pará-grafo 6º, da Lei n. 7.347/85, comocompromissada a empresa Helio eRegina Viagens e Turismo Ltda., ins-crita no CGC sob o n. ...., estabele-cida na Rua Barão de Iguape, n. 212,6º andar, sala 62, Liberdade, SãoPaulo — SP, neste ato representadapelo sócio diretor Sr. Helio TasutomuYanagiya, brasileiro, casado, portadordo RG n. 17,258.472 — SSP/SP e doCPF/MF n. 052.491.238/64, residen-te e domiciliado na Av. Fagundes Fi-lho, 344, ap. 83, Vila Monte Alegre,São Paulo — SP, na forma seguinte:

I — Objeto

I.1 — Considerando-se que aHelio e Regina Viagens Turismo Ltda.veiculou anúncios de oferta de em-pregos para brasileiros no Japão,mediante a promoção no preço daspassagens de ida para aquele país,

bem como que ela trata-se de em-

TERMO DE COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO 

DE CONDUTA — TRABALHO FORÇADO — 

TRABALHADORES BRASILEIROS NO 

JAPÃO (PRT DA 2 ª   REGIÃO)

presa de agência de turismo, não seencontrando autorizada pelo Minis-tério do Trabalho e Emprego, ou poroutro órgão federal competente, aproceder a intermediação ou forne-cimento de mão-de-obra e de empre-gos no exterior, em benefício de pes-soas residentes no Brasil, já que asúnicas hipóteses previstas para in-termediação estão previstas na Lei

n. 6.019, de 3 de janeiro de 1974, quecuida do Trabalho Temporário nasempresas urbanas e, na Lei n. 7.102,de 20 de junho de 1983, que disci-plina a Segurança para estabeleci-mentos financeiros, empresas de vi-gilância e transportes de valores, aHelio e Regina Viagens e TurismoLtda. compromete-se a abster-sedefinitivamente da obrigação de não

fazer consistente em explorar, inter- mediar ou fornecer mão-de-obra e empregos para o exterior, inclusivepara o Japão, cessando, portanto, deagir, naquilo que a doutrina, pátria eestrangeira, intitulou chamar de mar- chandage .

I.2 — A empresa comprome-te-se, ainda, a dar ampla divulgação

dos termos acordados no presente

Page 228: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 228/380

235

compromisso de ajustamento, atra-vés de publicação em jornais deampla circulação, inclusive naqueleperíodico acostado às fls. 12 dos

autos (Empregos — Contatos noBrasil), devendo, no prazo de 20 (vin-te) dias comprovar nos autos essaimplementação.

II — Multa por Inadimplemento

II.1 — Pelo descumprimentodas obrigações ora assumidas

(subitens I.1 e I.2, do item I), a em-presa responderá pelo pagamen-to de multa no valor equivalente aR$ 5.000,00 (cinco mil reais), rea- justável até a data do efetivo paga-mento, por dia e por trabalhador en-viado irregularmente para o exteri-or, reversível ao FAT (Fundo de Am-paro ao Trabalhador), em conformi-dade com os artigos 5º, parágrafo 6º

e 13 da Lei n. 7.347/85;II.2 — A multa ora pactuada

não é substitutiva da obrigação queremanesce à aplicação da mesma.

III.3 — Na hipótese de não pa-gamento da multa aplicada, sua exe-cução se dará nos moldes do artigo876 da Consolidação das Leis doTrabalho, com a nova redação dada

pela Lei n. 9.958/2000.

III — Da fiscalização

A fiscalização do cumprimen-to do presente ajuste ficará a cargo

do Ministério Público do Trabalho e doMinistério do Trabalho e Emprego,por suas Delegacias Regionais.

IV — Da vigência

O presente compromisso temvigência imediata, a partir da suaassinatura e é firmado por prazo in-determinado.

Estando assim compromissada,a empresa Helio e Regina Viagens eTurismo Ltda. firma o presente instru-mento, na presença da Procuradorado Trabalho abaixo identificada, doMinistério Público do Trabalho, da Pro-curadoria Regional do Trabalho da 2ªRegião — São Paulo, Coordenadoriada Defesa dos Interesses Difusos eColetivos — CODIN, para que produ-za os seus legais e jurídicos efeitos.

São Paulo, 18 de dezembro de2000.

Elisa Maria Brant de CarvalhoMalta, Procuradora do Trabalho.

Helio e Regina Viagens e Tu-rismo Ltda.

De acordo:Dr. Jair Barbosa Martins,

OAB/SP 146.849

Page 229: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 229/380

236

Pelo presente instrumento, naforma do art. 5º, § 6º, da Lei n. 7.347,de 24 de julho de 1985, combinadocom o art. 876, da CLT, na redação quelhe deu a Lei n. 9.958/2000, de umlado, OGMO — Órgão Gestor deMão-de-Obra do Trabalhador Avulsodo Porto de Manaus, pessoa jurídi-ca de direito privado, sediada na RuaTaqueirinha n. 25, Centro, Manaus/ 

AM, CGC 00357340/0001-74, nesteato representada por Paulo RobertoBrandão, portador da CI n. 96.059 —SSP/AM, Diretor Executivo do OGMO,ora denominado compromitente, ede outro lado o Ministério Público doTrabalho, por meio do Procuradordo Trabalho infra-assinado e do Mi-nistério do Trabalho e Emprego/AM,por meio da Auditora Fiscal do Tra-

balho firmatária, ora denominadoscompromissários, celebram este Ter-mo de Ajuste de Conduta, estabele-cendo ao OGMO as seguintes obri-gações e prazos:

1. Elaborar e implementar oPCE e compor o PAM em conformi-dade com o previsto na NR-29, itens29.1.6.1, 29.1.6.2 e 29.1.6.3 da Por-

taria n. 53/97. Prazo: sessenta dias;

TERMO DE COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO 

DE CONDUTA — NORMAS DE SEGURANÇA E DE 

 MEDICINA DO TRABALHO — PORTUÁRIO 

(PRT 11ª   REGIÃO)

2. Realizar treinamento aos si-naleiros para aquisição de conheci-mento do código de sinalização in-ternacional previsto na NR-29, item29.3.6.7, da Portaria n. 53/97, deven-do os certificados de conclusão se-rem apresentados à autoridade com-petente do Ministério do Trabalhonos termos do art. 18, inciso III e art.19, inciso II da Lei n. 8.630, de

25.2.93, bem como juntada de suascópias ao presente procedimento.Prazo: sessenta dias;

3. Realizar a habilitação pro-fissional na função de guindasteiro,entre os TPAs da estiva, em quanti-dade suficiente de vagas de modo acumprir-se efetivamente o intervalolegal mínimo de 11 horas entre duas jornadas, devendo os certificados deconclusão serem apresentados àautoridade competente do Ministé-rio do Trabalho nos termos do art. 18,inciso III e art. 19, inciso II da Lei n.8.630, de 25.2.93, bem como a jun-tada de suas cópias ao presente pro-cedimento. Prazo: sessenta dias;

4. Observar, na escalação diá-ria do trabalhador portuário avulso,

um intervalo mínimo de onze horas

Page 230: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 230/380

237

consecutivas entre duas jornadas,ressalvadas as hipóteses previstasno art. 8º, da Lei n. 9.719/98. Pra-zo: sessenta dias para a categoria

dos estivadores, função de guindas-teiro; imediatamente para as demaiscategorias;

5. Promover treinamento aostrabalhadores portuários sobre se-gurança, saúde e higiene ocupacio-nal no trabalho portuário referente aprocedimentos de trabalho seguros,previstos na NR-29, item 29.1.4.2,alíneas a  e c  da Portaria n. 53/97,nos termos do art. 9º da Lei n. 9.719,de 27.11.98. Prazo: trinta dias;

6. Apresentar ao MinistérioPúblico do Trabalho e à autoridadecompetente em matéria de fiscaliza-ção do trabalho portuário a progra-mação de treinamento para o ano de2001 nas funções de guindasteiro,sinaleiro, mestria para estivadores,

içamento de cargas, arrumação eestiva técnica, bem como a progra-mação de treinamento referente aprocedimentos de trabalho seguro.Em todos os casos, destacando aquantidade de trabalhadores a se-rem alcançados. Prazo: trinta dias;

7. Dispor de serviço de atendi-mento de urgência vinte e quatrohoras, possuindo local adequado,

equipamentos e pessoal habilitadoa prestar os primeiros socorros eprover a rápida e adequada remoçãode acidentados, previstos na NR-29,item 29.5.1 da Portaria n. 53/97, nostermos do art. 9º da Lei n. 9.719, de27.11.98. Prazo: trinta dias;

8. Extinguir o sistema de câm-bio na escalação dos TPAs da cate-

goria de estivadores, passando a

mesma a ser escalada através derodízio numérico, de forma que nãohaja preterição dos trabalhadoresnas oportunidades de trabalho, tudo

nos termos do art. 5º, parágrafo úni-co do art. 7º, e art. 8º da Lei n. 9.719,de 27.11.98. A escalação dos con-ferentes de carga e descarga tam-bém deverá ser efetuada em rodízionumérico nos mesmos termos. Pra-zo: cento e vinte dias;

9. Promover, através do conse-lho de supervisão, o dimensiona-

mento do quantitativo de trabalhado-res necessários em todas as ativi-dades portuárias em que tem ges-tão, tanto do registro quanto do ca-dastro de TPAs, na forma do art. 24,§ 1º, inciso I, da Lei n. 8.630/93 demodo a respeitar os limites legaisde jornada de trabalho e o efetivo cum-primento do descanso intrajornadade 11 horas. Prazo: noventa dias;

10. Não aceitar as requisiçõesde TPAs após os horários-limites es-tabelecidos pelo OGMO, de forma queoperadores portuários efetivamentecumpram tais horários, considerandoo art. 5º da Lei n. 9.719/98 e o art. 18,inciso I da Lei n. 8.630/93, asseguran-do que não haja preterição de oportu-nidades de serviço do trabalhadoravulso, nos termos do parágrafo úni-

co do art. 7º, da Lei n. 9.719/98. Pra-zo: cumprimento imediato.

O descumprimento das cláusu-las 1, 2, 3 e 5, importam em multadiária de 200 (duzentas) UFIR, porcláusula, a contar do término do pra-zo nelas previsto; o descumprimen-to da cláusula 4 importará em multade 400 (quatrocentas) UFIR por tra-

balhador encontrado em situação ir-

Page 231: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 231/380

238

regular, a contar do término do pra-zo nela previsto; o descumprimentoda cláusula 6 importará em multa de500 UFIR; o descumprimento das

cláusulas 7, 8 e 9 importará em mul-ta diária de 400 UFIR, por cláusula,a contar do término do prazo nelasprevisto; o descumprimento da cláu-sula 10 importa em multa de 300UFIR, por irregularidade encontrada.

Em qualquer caso, as multas se-rão revertidas ao FAT — Fundo de Am-paro ao Trabalhador, nos termos do art.

5º, § 6º, e do art. 13, da Lei n. 7.347/85;A fiscalização do cumprimen-to do presente ajuste ficará a cargodo Ministério Público do Trabalho, doMinistério do Trabalho, através desuas Delegacias Regionais.

Este termo de ajuste, passadoem três vias, produzirá efeitos legaisa partir de sua celebração e terá efi-cácia de título executivo extrajudici-

al, na forma dos ar ts. 5º, § 6º, da Lein. 7.347/85, 585, VII, do CPC e 876,da CLT.

E por estarem de acordo, fir-mam o presente.

Manaus, 30 de outubro de2000.

Paulo Roberto Brandão, OGMO

do Porto de Manaus.Keilor Heverton Mignoni, Pro-

curador do Trabalho.

Maria de Nazaré Sodré dosSantos, Auditora Fiscal do Trabalho.

Page 232: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 232/380

239

O Sindicato das Indústrias deOlaria e Cerâmica para Construçãodos Vales do Itajaí e Tijucas, repre-sentado por seu presidente, o Sr.Danilo João Cavilha, RG n. 7/R —107.187 — SSI-SC, firma, neste ato,em nome da categoria que represen-ta, perante o Ministério Público doTrabalho, na pessoa da Excelentís-sima Procuradora Regional do Tra-balho, Dra. Viviane Colucci o presen-te Termo de Compromisso de Ajus-tamento de Conduta, conforme arts.127 e 129, inciso III, da Constituição

Federal e do art. 5º, § 6º, da Lei n.7.347/85, nos seguintes termos:

Cláusula Primeira — Objeto

As indústrias de Olaria e Cerâ-mica, ora representadas pelo Sindi-cato das Indústrias de Olaria e Cerâ-mica para Construção dos Vales do

ltajaí e Tijucas, comprometem-se:a) a não contratar diretamente

ou de forma terceirizada, menoresde 16 (dezesseis) anos, salvo nacondição de aprendiz (a partir dos14 anos);

b) a não contratar menores de18 (dezoito) anos, para a realizaçãode trabalho em condições insalu-

bres, perigosas ou penosas;

TERMO DE COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE 

CONDUTA: MENOR APRENDIZ (PRT 12 ª   REGIÃO)

c) a não submeter menores de18 (dezoito) anos à jornada noturnaou exigir-lhes jornada extraordinária,salvo nos casos permitidos por lei(compensação ou força maior);

d) a proceder ao remaneja-mento dos adolescentes que possu-em entre 16 e 18 anos e que traba-lham em condições adversas, con-forme item “b” acima, para ativida-des compatíveis com sua condiçãode ser em desenvolvimento, nos ter-mos do art. 407 da CLT;

e) a observarem a cota deaprendizagem de 5% a 15% do totalde empregados.

Cláusula Segunda — Multa

O descumprimento do dispostona cláusula primeira do presente ter-mo, sujeitará os representados pelo

Sindicato das Indústrias de Olaria eCerâmica para Construção dos Valesdo Itajaí e Tijucas, ao pagamento deuma multa de R$ 5.000,00 (cinco milreais), por trabalhador encontrado emsituação irregular, sendo que a refe-rida multa será cobrada pelo Minis-tério Público do Trabalho e revertidaao Fundo para Infância e Adolescen-te — FIA, Lei n. 7.347/85 e Estatuto

da Criança e do Adolescente — ECA.

Page 233: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 233/380

240

Cláusula Terceira — Fiscalização

A fiscalização do pactuado nes-te instrumento será efetuada pela

Delegacia Regional do Trabalho epelos Conselhos Tutelares.E por estarem assim ajusta-

dos, as partes assinam o presente“Termo de Compromisso de Ajustede Conduta” em 4 (quatro) vias deigual teor e forma.

Florianópolis, 30 de novembrode 2000.

Viviane Colucci, Procuradora

Regional do Trabalho.Danilo João Cavilha, Presidente

do Sindicato das Indústrias de Olariae Cerâmica para Construção dos Va-les do ltajaí e Tijucas.

Testemunhas:

Paulo Bolzan, Presidente doSindicato dos Trabalhadores nas In-dústrias da Construção e do Mobiliá-rio de Rio do Sul.

Renato José Lungen, Presi-dente do Sindicato dos Trabalhado-res nas Indústrias da Construção edo Mobiliário de Brusque.

Paulo Roberto Floriani, Presi-dente do Sindicato dos Empregados

nas Indústrias de Cerâmica para aConstrução de Tijucas.

Vanderlei dos Reis, Presiden-te da ACEVALE.

Page 234: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 234/380

241

Sr. Ivanilton Gonçalves Barbo-sa, caminhoneiro/proprietário do ca-

minhão, portador do RG n. 1.058.008-SSP/SE, inscrito no CIC/CPF n.557.353.045-34, residente e domici-liado na Rua Lagarto, s/n., PovoadoÁgua Fria, Salgado/SE, com telefo-ne para contato n. (079) 761-3016,tendo em vista as irregularidades de-nunciadas, constantes do InquéritoCivil Público (ICP) n. 117/2000, fir-

ma o presente Termo de Compromis-so de Ajuste de Conduta, perante oMinistério Público do Trabalho, porintermédio da Procuradoria Regionaldo Trabalho da 20ª Região, represen-tado pelo Exmo. Sr. Procurador doTrabalho, Dr. Cláudio Cordeiro Quei-roga Gadelha, nos termos e formaseguintes:

I — Objeto

O objeto deste instrumento é afixação de obrigação de não fazer,face ao descumprimento da ordem

 jurídica, no sentido da eliminação dotransporte irregular de trabalhadorespor veículos inaptos ao transporte de

pessoas.

TERMO DE COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE 

CONDUTA — TRANSPORTE IRREGULAR DE 

TRABALHADORES (PRT 20ª   REGIÃO)

II — Cumprimento dasObrigações

1. Ministério Público do Trabalho,diretamente e/ou através da DelegaciaRegional do Trabalho — Sergipe, ouatravés de outras autoridades públicas,acompanhará o fiel cumprimento dasobrigações deste instrumento, inclusi- ve mediante inspeções não previamen- te comunicadas , a qualquer tempo ehorário, nas formas legais.

2. O descumprimento do presen-te termo de compromisso sujeitará apessoa jurídica/física ao pagamento demulta no valor de R$ 1.000,00 (hummil reais), por pessoa transportada ir-regularmente.

3. A multa prevista acima deve-rá ser revertida ao FAT (Fundo deAmparo ao Trabalhador), nos termosdos artigos 5º, § 6º e 13 da Lei n.7.347/85, constituindo o presente do-cumento título executivo extrajudicial.

4. As penalidades expostas nopresente Termo de Ajuste de Condutanão se confundem, não se compen-sam e nem podem ser argumento paraa não quitação de multas administra-tivas ou indenizações outras, previs-tas em Leis, Normas Regulamentares,

Sentenças Judiciais, Normas Coleti-

Page 235: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 235/380

242

vas Autônomas ou Heterônomas e aqualquer outro título diverso por irre-gularidades similares ou iguais, fun-cionando apenas como efeito decor-

rente do presente Termo de Compro-misso de Ajuste de Conduta peranteo Ministério Público do Trabalho.

5. Da mesma forma, os Proces-sos Criminais e as Sanções Penaispostuladas pelos órgãos competen-tes do Poder Público, em face do des-respeito à ordem jurídica, relativa-mente ao trabalho de menores de 18

(dezoito) anos em citricultura, noâmbito das propriedades da reclama-da, não se confundem em qualqueraspecto com os termos do presentecompromisso, em face de sua natu-reza jurídica pública e obrigatória.

III — Vigência

As obrigações previstas no pre-sente Termo de Compromisso vigo-

rarão a partir da presente data e porprazo indeterminado, ficando assegu-rado o direito de petição de revisãodas cláusulas e condições, em qual-quer tempo, através de requerimen-to fundamentado ao Ministério Públi-co do Trabalho.

Aracaju (SE), quarta-feira, 6 desetembro de 2000.

Dr. Cláudio Cordeiro QueirogaGadelha, Procurador do Trabalho.

Sr. Ivanilton Gonçalves Barbosa.

Testemunhas:

Cláudio Manoel Chagas Melo.

Alan Almeida de Lima.

Page 236: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 236/380

243

Glaucio Ferreira Wanderley,

portador da Carteira de Identidaden. 76.781-SSP/RN, Gerente Adminis-trativo, representante da SIMAS In-dustrial S/A., inscrita no CGC/MFsob o número 08.406.621/0001-81,localizada na Av. Senador SalgadoFilho, 2.809, Natal-RN, perante o Mi-nistério Público do Trabalho — Pro-curadoria Regional do Trabalho da21ª Região, representado pelo Pro-

curador do Trabalho, Dr. NicodemosFabrício Maia, nos termos do art. 5º,§ 6º, da Lei n. 7.347/85, firma Com-promisso no seguinte sentido:

 — Abster-se de exigir, na for-ma do art. 2º da Lei n. 9.029/95, tes-te, exame, perícia, laudo, atestado,declaração ou qualquer outro proce-dimento relativo à esterilização ou

estado de gravidez.

TERMO DE COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE 

CONDUTA — EXIGÊNCIA DE ATESTADO DE 

GRAVIDEZ/ESTERILIZAÇÃO (PRT 21ª   REGIÃO)

 — Penalidade:

O descumprimento do presen-te Termo de Ajuste de Conduta su- jeitará a empresa ao pagamento damulta correspondente a 10.000 (dezmil) UFIR’s, reversível ao FAT (Fun-do de Amparo ao Trabalhador), nostermos dos arts. 5º, § 6º e 13 da Lein. 7.347/85.

Natal-RN, 8 de junho de 1998.Nicodemos Fabrício Maia, Pro-

curador do Trabalho, PRT 21ª Região.

Glaucio Ferreira Wanderley,SIMAS Industrial S/A.

Testemunhas:

Cleudson de Araújo Vale.

Mônica Alves Feitosa.

Page 237: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 237/380

244

O Ministério Público do Trabalho,

através da Procuradoria Regional doTrabalho, com sede na Av. Churchill, n.94, 11º andar, Castelo, Rio de Janeiro,RJ, CEP 22020-050, neste ato repre-sentado pelo Procurador do Trabalhoadiante assinado, com base nos arts.127 e 129, II e III da Constituição daRepública e nos arts. 1º, inc. IV e 3º, daLei n. 7.347/85, vem respeitosamente àpresença de Vossa Excelência ajuizar

Ação Civil Pública com Pedido Liminar contra 

Órgão Gestor de Mão-de-Obrado Trabalho Portuário Avulso dosPortos Organizados do Rio de Janei-ro, Sepetiba, Forno e Niterói, PessoaJurídica de Direito Privado, com sedena Avenida Rodrigues Alves, s/n.,Galpão Anexo aos Armazéns 12 e

13 do Porto do Rio de Janeiro, San-to Cristo, Rio de Janeiro, RJ, CEP20220-330, pelos motivos de fato ede direito a seguir aduzidos:

I — Dos Fatos apurados noInquérito Civil Público

A Delegacia Regional do Tra-

balho do Rio de Janeiro, através da

 AÇÃO CIVIL PÚBLICA — TRABALHO PORTUÁRIO 

 AVULSO (PRT 1ª   REGIÃO)

EXMO. SR. DR. JUIZ PRESIDENTE DA JCJ DO RIO DE JANEIRO-RJ

Unidade de Controle e Fiscalização

do Trabalho Marítimo e Portuário(FITMARP), apresentou denúncia aesta Procuradoria Regional do Tra-balho, dando conta de diversas irre-gularidades trabalhistas verificadasna área portuária.

A denúncia em questão noticia-va, em síntese: 1) o Sindicato dosOperadores Portuários do Estado do

Rio de Janeiro em negociação cole-tiva com os sindicatos obreiros trans-feriu para estes a gestão de mão-de-obra avulsa, como se o órgão degestão de mão-de-obra (OGMO) nãoexistisse; 2) trabalhadores registra-dos (“titulares”) são preteridos naescala, em benefício dos cadastra-dos (“suplentes”); 3) trabalhadoressão punidos com pena de suspen-

são pelos sindicatos; e 4) há descon-to abusivo na remuneração dos tra-balhadores em favor dos sindicatos.A denúncia veio acompanhada dediversos documentos que demons-tram o teor dos fatos narrados pelodenunciante (fls. 08/30).

A denúncia foi distribuída aoProcurador que subscreve a presen-

te petição. Pela apreciação prévia de

Page 238: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 238/380

245

fls. 31/32, determinou-se a instaura-ção de Inquérito Civil Público contrao Órgão Gestor de Mão-de-Obra, oSindicato dos Operadores Portuári-

os do Estado do Rio de Janeiro etodos os Sindicatos de Trabalhado-res Portuários Avulsos do Estado doRio de Janeiro, conforme relação defls. 31. O Inquérito Civil Público foiinstaurado pela Portaria n. 161, de23.9.97 (fls. 02).

Todos os inquiridos foram inti-mados para depor. O representante

legal do OGMO informou (fls. 36):

“que atualmente o operador portuário requisita as equipes de trabalho ao OGMO e este autori- za o sindicato a fornecer a mão- de-obra; que o sindicato respon- de ao OGMO com relação nomi- nal dos trabalhadores que integra- 

rão a equipe; que o OGMO con- fere se estes trabalhadores estão registrados ou cadastrados e tam- bém se há sobreposição de tra- balho em duas escalas simultâ- neas; que o OGMO não fiscaliza a correção da escala, nem confe- re se o trabalhador escalado se encontra efetivamente em seu posto de trabalho.” 

Portanto, em seu depoimento,o OGMO confirmou a parte da de-núncia que trata da transferência ile-gal da mão-de-obra para os sindica-tos obreiros, noticiando ainda quenão está cumprindo as atribuiçõesque a lei lhe confere, inclusive quan-to à correção e ao exato cumprimento

da escala.

O Presidente do Sindicato dosOperadores Portuários do Estado doRio de Janeiro (SINDOPERJ), emdepoimento pessoal, apresentou as

seguintes declarações:

“que as cláusulas das conven- ções coletivas de trabalho que atribuem aos sindicatos de tra- balhadores a elaboração da es- calação rodiziária foram negocia- das com o sindicato patronal,tendo em conta que este inter- 

preta a Lei n. 8.630/93 no senti- do de que compete ao OGMO elaborar a referida escala, sen- do todavia possível a este tercei- rizar a atividade”.

Estão juntados aos autos doinquérito civil público os acordos econvenções coletivas de trabalho(fls. 08/14) cujas cláusulas repassa-ram aos sindicatos de trabalhadoresportuários a administração do forne-cimento da mão-de-obra avulsa. Es-tes instrumentos, todavia, expiraramem 31.8.96, não tendo sido renova-dos até o presente momento.

Todos os sindicatos de traba-lhadores avulsos foram igualmenteouvidos através de seus representan-

tes legais e confirmaram, à unanimi-dade, que a escala em sistema derodízio dos trabalhadores portuárioslhes foi atribuída em instrumento nor-mativo celebrado com o sindicatopatronal. Também ficou demonstrado,pelos mesmos depoimentos, que sóconcorrem a esta escala os trabalha-dores sindicalizados. Veja-se, a pro-

pósito, o depoimento do representan-

Page 239: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 239/380

246

te do Sindicato dos Estivadores e Tra-balhadores em Estiva de Minérios doEstado do Rio de Janeiro:

“que todos os trabalhadores estivadores que entram na esca- la são sindicalizados.” 

No mesmo sentido o depoi-mento do representante do Sindica-to dos Vigias Portuários do Estadodo Rio de Janeiro:

“que todos os trabalhadores que participam da escala são as- sociados ao sindicato.” 

O representante do Sindicatodos Trabalhadores de Bloco nos Por-tos do Estado do Rio de Janeiro vaiainda mais longe:

“que todos os trabalhadores 

que participam da escala são as- sociados ao sindicato, indepen- dentemente da condição de regis- trado ou cadastrado, que se o tra- balhador não for associado, não tem como entrar na escala e re- ceber o pagamento.” 

Assim também foram as decla-rações do representante do Sindica-to dos Portuários Avulsos em Capa-tazia e Arrumadores no ComércioArmazenador do Município do Rio deJaneiro:

“que se o trabalhador não for associado (ao sindicato) não tem como entrar na escala, nem como receber pagamento através do 

OGMO.” 

Enfim, todos os onze sindica-tos de trabalhadores portuários avul-sos inquiridos no curso do inquéritoconfirmaram este mesmo fato, ou

seja de que só podem concorrer aospostos de trabalho oferecidos na fai-xa do Porto do Rio de Janeiro aque-les trabalhadores sindicalizados. Osdepoimentos encontram-se às fls.77/80 e 90/95 do ICP em anexo.

Os representantes legais de to-dos os sindicatos confessaram aindapunirem os trabalhadores sindicaliza-dos com suspensões, que importamem seu afastamento da escala. O pre-sidente do Sindicato dos PortuáriosAvulsos em Capatazia e Arrumadoresno Comércio Armazenador do Rio deJaneiro, confrontado com documentoque acompanhou a denúncia, sobresuspensão de dez dias imposta ao tra-balhador sindicalizado Derli Gonçal-ves, assim explicou-se:

“que o depoente tem conheci- mento dos fatos que levaram à suspensão do trabalhador Derli Gonçalves, podendo esclarecer que a punição ocorreu por ato de indisciplina em relação à pessoa do presidente do sindicato; que a punição implicou a perda do di- reito à participação na escala ro- diziária pelo período que durou a suspensão.” 

O representante legal do Sin-dicato dos Estivadores de Cabo Frio,Araruama, Macaé, Campos e Arrai-al do Cabo ratificou as mesmas in-formações:

“que o sindicato, em certas hi- 

póteses, suspende os seus as- 

Page 240: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 240/380

247

sociados, excluindo-os pelo perío- do de três a trinta dias da escala rodiziária; que a suspensão pode ser aplicada em casos de falta,

embriaguez, agressão ou outras; que a verificação da ocorrência de faltas está a cargo de contrames- tres associados ao sindicato.” 

Em suma, os sindicatos inqui-ridos confirmam que podem suspen-der da escala de trabalho os asso-ciados que, a seu critério, comete-rem faltas.

De outra parte, também restoucomprovada a ocorrência de descon-tos mensais (chamados Desconto deAssistência Social) em importânciasque variam entre 5% e 20,5% sobrea remuneração do trabalhador por-tuário. Descontos que a rigor sãoobrigatórios, pois, como visto, so-mente se o trabalhador se associarao sindicato poderá ter oportunidade

de concorrer aos postos de trabalho.Os sindicatos de trabalhadores avul-sos celebraram Convenção Coletivade Trabalho (fls. 69/73) prevendo orepasse automático dos referidosdescontos (cláusula 5ª, letra “f”), oque impossibilita qualquer oposiçãopor parte do obreiro:

“DAS — será descontada da 

remuneração do trabalhador por- tuário avulso, recolhida junto aos OGMOs e recolhido aos respecti- vos sindicatos, juntamente com o pagamento, os percentuais que ti- verem sido aprovados pelas as- sembléias de cada entidade sindi- cal, que deverá remeter ao OGMO,sob sua inteira responsabilidade, a listagem de TPA que estão sujei- 

tos ao desconto.” 

O inquérito civil público foi en-cerrado com relatório de fls., queconcluiu pelo ajuizamento, entre ou-tras, da presente ação civil pública.

II — Do Direito

Como é natural na atividadeeconômica dos portos, o número deoperações de carga e descarga éextremamente variável, em decor-rência da alteração de fatores comosazonalidade, número de embarca-

ções atracadas, tipo de carga trans-portada, prazos contratuais, entreoutros.

Em razão deste traço distintivo,a atividade laboral portuária é carac-terizada pela transitoriedade do ser-viço e variabilidade do número depostos de trabalho oferecidos. E, emconseqüência, é o principal setor

econômico a atrair os chamados “tra-balhadores avulsos”, ou seja, aque-les que prestam serviços em ummesmo local, para diversos empre-gadores, em períodos transitórios edistintos.

A Convenção 137 da Organiza-ção Internacional do Trabalho, da qualo Brasil é signatário (Decreto Legis-lativo n. 29/93, DOU de 23.12.93,seção I, pág. 20.213), estabelece prio-ridade de contratação em benefíciodo trabalhador portuário avulso quehabitualmente trabalha na faixa docais, como se vê do art. 3º daqueleinstrumento:

‘‘1. Registros serão estabele- cidos e mantidos em dia, para to- 

das as categorias profissionais de 

Page 241: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 241/380

248

portuários na forma determinada pela legislação ou a prática na- cionais.

2. Os portuários matriculados terão prioridade para a obtenção de trabalho nos portos.’’ 

De outra parte, a Constituiçãoda República, em seu artigo 5º, inci-so XIII, estabelece como direito fun-damental dos cidadãos brasileiros:

‘‘É livre o exercício de qualquer 

trabalho, ofício ou profissão, aten- didas as qualificações profissio- nais que a lei estabelecer.’’ 

A Lei n. 8.630/93, conhecidacomo “Lei de Modernização dos Por-tos”, estabelece os requisitos e con-dições para que qualquer cidadãopossa trabalhar em área portuária,compatibilizando assim o regramen-to da Convenção 137 da OIT com odispositivo constitucional acima re-ferido, nos seguintes termos:

‘‘Art. 26. O trabalho portuário de capatazia, estiva, conferência de carga, conserto de carga, bloco e vigilância de embarcações, nos portos organizados, será realiza- 

do por trabalhadores portuários com vínculo empregatício a prazo indeterminado e por trabalhado- res portuários avulsos.

Parágrafo único. A contratação de trabalhadores portuários de estiva, conferência de carga, con- serto de carga e vigilância de em- barcações com vínculo emprega- 

tício a prazo indeterminado será 

feita, exclusivamente, dentre os trabalhadores portuários avulsos registrados.

Art. 27. O órgão de gestão de mão-de-obra: 

I — organizará e manterá ca- dastro de trabalhadores portuári- os habilitados ao desempenho das atividades referidas no arti- go anterior; 

II — organizará e manterá o registro dos trabalhadores portuá- 

rios avulsos.§ 1º A inscrição no cadastro do 

trabalhador por tuário dependerá,exclusivamente, de prévia habili- tação profissional do trabalhador interessado, mediante treinamen- to realizado em entidade indica- da pelo órgão de mão-de-obra.

§ 2º O ingresso no registro do 

trabalhador portuário avulso de- pende de prévia seleção e res- pectiva inscrição no cadastro de que trata o inciso I deste artigo,obedecidas a disponibilidade de vagas e a ordem cronológica de ins- crição no cadastro.

§ 3º A inscrição no cadastro e o registro do trabalhador portuá- 

rio extingue-se por morte, apo- sentadoria ou cancelamento.

Art. 28. A seleção e o regis- t ro do t rabalhador portuár io avulso são feitos pelo órgão de gestão de mão-de-obra avulsa,de acordo com as normas que forem estabelecidas em contra- to, convenção ou acordo coleti- 

vo de trabalho.’’ 

Page 242: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 242/380

249

Assim, para que o trabalhadoresteja habilitado a trabalhar comoavulso na faixa do Porto, deverá es-tar devidamente inscrito no cadastro

do órgão a que alude a Lei (OGMO),após passar por treinamento profis-sional e seleção. Cumpridos estesrequisitos, estará disponível para otrabalho no Porto organizado.

Porém, como é sabido, a mão-de-obra registrada ou cadastradanormalmente é superior ao númerode postos de trabalho oferecidos.

Assim há necessidade de distribui-ção eqüitativa do trabalho a todos ostrabalhadores avulsos regularmenteinscritos, inclusive para atender aoprincípio constitucional da isonomia.Por esta razão, a Recomendação145 da OIT, ratificada pelo Brasilatravés do mesmo Decreto Legisla-tivo que aprovou a Convenção 131,assim dispõe:

“Distribuição de mão-de-obra: 

20. Exceto nos casos de em- prego regular ou permanente com um determinado empregador, de- veriam ser estabelecidos siste- mas de distribuição de mão-de- obra que: 

a) ...........................................

b) proporcionem a cada por- tuário registrado uma parte eqüi- tativa do trabalho disponível.’’ 

Portanto, além de registrado, otrabalhador avulso precisa ser “esca-lado” para trabalhar nas embarcaçõesque aportam no cais, tendo em vista quecada uma delas precisa de número

diverso de trabalhadores, com as mais

diferentes qualificações (animadores,conferentes, estivadores, vigias, etc.).É o que se denomina escala em sis-tema de rodízio ou “escalação rodiziá-

ria”, cujo objetivo, como já se viu, édar tratamento isonômico a todos ostrabalhadores avulsos registrados oucadastrados, que pelo dito sistematêm asseguradas as mesmas opor-tunidades de trabalho, em face da natu-reza transitória do serviço da catego-ria econômica.

No Brasil, historicamente a es-cala em sistema de rodízio era atri-buída aos sindicatos profissionais deavulsos, que detinham o monopóliodo fornecimento da mão-de-obraportuária. Era o que dispunha o § 1ºdo art. 266 da CLT, segundo o qual“sendo os serviços (de estiva) exe- cutados por operários sindicaliza- dos, organizarão os respectivos sin- dicatos o rodízio de operários, para 

que o trabalho caiba equitativamente a todos.” 

A Lei n. 8.630/93, em seu art.76, revogou expressamente estedispositivo e estabeleceu de formaclara e inequívoca que a “escalaçãorodiziária” dos trabalhadores por-tuários avulsos deve ser feita peloOGMO (Órgão de Gestão de Mão-de-Obra):

‘‘Art. 18. Os operadores portuá- rios devem constituir, em cada por- to organizado, um órgão de gestão de mão-de-obra do trabalho portuá- rio, tendo como finalidade: 

I — administrar o fornecimen- to de mão-de-obra do trabalhador portuário e do trabalhador portuá- 

rio avulso.’’ 

Page 243: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 243/380

250

Da mesma forma, a MedidaProvisória n. 1.630/97 dispôs:

‘‘Art. 7º O órgão gestor de mão- de-obra deverá, quando exigido pela Fiscalização do Ministério do Trabalho e do INSS, exibir as lis- tas de escalação diária dos traba- lhadores portuários avulsos, por operador portuário e por navio.

Parágrafo único. Caberá exclu- sivamente ao órgão gestor de mão-de-obra a responsabilidade pela exatidão dos dados lançados 

nas listas diárias referidas no caput deste artigo, assegurando que não haja preterição do traba- lhador regularmente registrado e simultaneidade na escalação.’’ 

No entanto, estes dispositivosestão sendo violados pelo réu, por conduta omissiva, na medida em quenão está o OGMO do Porto do Rio

de Janeiro efetuando a escalaçãorodiziária. E, diante desta omissão,os sindicatos profissionais estão as-sumindo para si o encargo, escalan-do os seus trabalhadores associa-dos, fato que tem impedido, inclusi-ve, que trabalhadores não sindicali- zados possam concorrer aos postosde trabalho, em clara e gravíssimaafronta ao inciso V, do art. 8º daConstituição, pelo qual

‘‘ninguém será obrigado a filiar- se ou manter-se filiado a sindicato.’’ 

Observe-se, a propósito, as játranscritas declarações prestadaspelos representantes legais dos di-versos sindicatos de portuários no

inquérito civil público instaurado pelo

Ministério Público. Todos admitemque só escalam os trabalhadores portuários que estejam devidamen- te sindicalizados , em violação ao

princípio constitucional acima refe-rido. Ora, se a Constituição determi-na ser livre o exercício de qualquertrabalho, atendidas as qualificaçõesprofissionais e se a respectiva leiregulamentadora da categoria exigeapenas os requisitos da pré-seleção,do treinamento e do registro em ór-gão competente, não pode o sindi-cato profissional estabelecer novos

e obscurantistas critérios de acessoaos postos de trabalho sem previsãolegal.

Ademais, o art. 75 da Lei n.8.630/93 revogou expressamente oinciso VIII do art. 544 da CLT, queassegurava ao trabalhador sindica-lizado preferência

‘‘para admissão nos serviços portuários e anexos, na forma da legislação específica.’’ 

E não poderia ser diferente,pois tal disposição, como visto, con-traria frontalmente o princípio da li-berdade sindical assegurado no inci-so V, do art. 8º da Carta da Repúbli-ca, podendo-se mesmo concluir que

 já se encontrava referida norma im-plicitamente revogada desde 5.10.88.

A escalação de trabalhadorespelos sindicatos é ainda fonte de inú-meros outros vícios, conforme sepode observar pelas autuações daDRT. De acordo com este documen-to os sindicatos não estariam obser-vando devidamente a preferência

de trabalhadores registrados (“titu-

Page 244: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 244/380

251

lares”) em relação aos cadastrados(“suplentes”). Outras discriminaçõestambém estão ocorrendo, como sus-pensão de trabalhadores da escala

pelos motivos mais estapafúrdios.Veja-se por exemplo o documento defls. 28 do ICP, através do qual o Sin-dicato dos Portuários Avulsos emCapatazia e Arrumadores no Comér-cio Amazenador no Município do Riode Janeiro suspende da escala pordez dias o trabalhador Derli Gonçal-ves “por desrespeito à pessoa do pre-sidente” daquela entidade sindical.

Argumentam as entidades sin-dicais ouvidas pelo Ministério Públi-co que o parágrafo único do artigo18 da Lei n. 8.630/93 permitiria atri-buir a escalação rodiziária aos sin-dicatos profissionais, através decláusula de instrumento normativo.O invocado dispositivo estabelece:

‘‘No caso de vir a ser celebrado contrato, acordo ou convenção coletiva de trabalho entre traba- lhadores e tomadores de servi- ços, este precederá o órgão ges- tor a que se refere o caput deste artigo e dispensará a sua inter- venção nas relações entre capi- tal e trabalho no porto.’’ 

Os sindicatos profissionais deportuários, em diversas regiões doPaís, têm se aproveitado deste dis-positivo legal para celebrar instru-mentos normativos com cláusulasque lhes atribuem o encargo da es-calação rodiziária. Isto no entantonão é possível. O parágrafo único doart. 18 da Lei n. 8.630/93 possibilita

aos representantes de empregados

e de empregadores negociar maté-ria atinente às “relações entre capi-tal e trabalho no porto”, vale dizer,remuneração e condições de traba- 

lho, como é natural ocorrer em qual-quer negociação coletiva, na esteirado que dispõe o art. 611 da CLT. Opróprio artigo 29 da Lei n. 8.630/93define o que pode ser objeto de ne-gociação coletiva entre os trabalha-dores portuários avulsos e os ope-radores portuários:

‘‘A remuneração, a definição das funções, a composição dos termos e as demais condições do trabalho portuário avulso serão objeto de negociação entre as entidades representativas dos tra- balhadores portuários avulsos e dos operadores portuários.’’ 

Portanto, claro está que ape-

nas a remuneração e as condiçõesde trabalho podem ser negociadascoletivamente e entre elas certamen-te não se inclui a escalação rodiziá-ria, já que esta não diz respeito à jornada de trabalho, mas sim ao pró-prio direito fundamental (CF, art. 5º,incs. I e XIII) de exercer a profissão e em igualdade de condições  comos demais integrantes da categoria

laboral. Evidentemente, jamais pode-ria o instrumento normativo prevale-cer sobre dispositivos da Constitui-ção da República.

Além disto, não seria razoáveladmitir que as partes pudessem dis-por sobre as atribuições de ordempública que a Lei n. 8.630/93 dele-gou ao OGMO , definido pelo mes-

mo diploma legal como entidade “de 

Page 245: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 245/380

252

utilidade pública ” (art. 25). Aliás, to- das  as atribuições do OGMO elen-cadas no art. 18 têm natureza deordem pública, pois além de “admi-

nistrar o fornecimento de mão-de-obra do trabalhador portuário avul-so” (inciso I), a Lei n. 8.630 delegaainda àquela entidade:

‘‘II — manter, com exclusivida- de, o cadastro do trabalhador por- tuário e o registro do trabalhador portuário avulso; 

III — promover o treinamento e a habilitação profissional do tra- balhador portuário, inscrevendo-o no cadastro; 

IV — selecionar e registrar o trabalhador portuário avulso; 

V — estabelecer o número de vagas, a forma e a periodicidade para acesso ao registro do traba- 

lhador portuário avulso; VI — expedir os documentos 

de identificação do trabalhador portuário; 

VII — arrecadar e repassar, aos respectivos beneficiários, os valo- res devidos pelos operadores por- tuários, relativos à remuneração do trabalhador portuário avulso e aos correspondentes encargos fis- cais, sociais e previdenciários.’’ 

Ora, como imaginar que o sin-dicato profissional pudesse atrairpara si o encargo de registro, sele-ção, treinamento, habilitação ou iden-tificação do trabalhador por simplesdisposição de instrumento normativoquando a lei cria um órgão específi-

co para tal mister — o OGMO, ora

requerido —? Seria tão absurdoquanto admitir, a título de exemplo,que um Sindicato de Engenheiros,por disposição de acordo ou conven-

ção coletiva de trabalho celebradocom o sindicato patronal, pudesseatribuir para si as funções do respec-tivo conselho de regulamentação pro-fissional, no caso o CREA.

De outra parte, uma análisedetida da MP n. 1.630/97 afasta qual-quer dúvida quanto à impossibilidadede os sindicatos profissionais conti-

nuarem a escalar os trabalhadoresportuários. O art. 5º do referido di-ploma estabelece:

‘‘A escalação do trabalhador portuário avulso, em sistema de rodízio far-se-á nos termos da Lei n. 8.630/93.’’ 

Em princípio, poderia imagi-

nar-se que o legislador, tal qual oConselheiro Acácio, estaria somen-te reafirmando o óbvio, ao asseve-rar que a escala dos trabalhadoresportuários se dará na forma da Lein. 8.630/93. E, em conseqüência,que estaria apenas mantendo ace-sa a dúvida lançada pela má inter-pretação do parágrafo único do art.18 daquele diploma, segundo a quala escala poderia ser disciplinada eminstrumento normativo. Consideran-do-se porém que a lei nova não tempor objetivo repetir de forma redun-dante outra lei vigente, só se podeconcluir que o dispositivo em ques-tão contém em seu âmago um silên- cio eloqüente , isto é, que deve serinterpretado restritivamente, no sen-

tido de que a escala em sistema de

Page 246: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 246/380

253

rodízio só se faz na forma da Lei (nocaso o inciso I, do art. 18 da Lei n.8.630) e nunca por Acordo ou Con-venção Coletiva de Trabalho.

E não é só. Se o parágrafo úni-co do art. 7º da MP 1.630/97 deter-mina que caberá exclusivamente aoOGMO assegurar que não haja pre-terição do trabalhador regularmenteregistrado e simultaneidade na esca-lação, não há possibilidade de seadmitir que a escala possa ser feitapor terceiros, primeiro porque a letra

da lei é clara quanto à exclusividadedo OGMO e segundo porque não te-ria este como verificar a correção dasescalas se não detivesse o seu ple-no controle. Fato aliás confessadopelo réu, conforme declarações trans-critas na seção anterior.

Ademais, se houve revogaçãoexpressa da legislação que atribuíaa escalação aos sindicatos, bem

como daquela que reconhecia o di-reito de preferência do trabalhadorsindicalizado, seria paradoxal admi-tir, por um subterfúgio na interpreta-ção da lei, que um acordo ou con-venção coletiva pudesse fazer retor-nar o status quo  ante . A menos quese queira crer no famoso adágio fran-cês — é preciso que se mude tudopara que tudo fique como está...

E, a bem da verdade, é exata-mente o que pretendem as entida-des sindicais de portuários avulsos.Estes sindicatos, como é notório,resistem a todo custo à efetiva im-plantação da lei, pois sua estritaobservância implicará na perda dopoder político decorrente do mono-pólio do fornecimento da mão-de-

obra. E, mais importante, no desa-

parecimento de recursos financeirosde elevadíssima monta, arrecadadosa rodo mensalmente pelas entidadessindicais. Isto porque os sindicatos

profissionais estipulam em nebulo-sas assembléias “descontos de as-sistência social” mensais , que variamentre 05% e 20% sobre a remune-ração dos trabalhadores, debitadosna fonte e repassados automati-camente pelos operadores portuá-rios. Como o trabalhador do cais,para poder ser escalado e receberseu ganha-pão, precisa necessaria-

mente ser associado ao sindicato,submete-se às taxas assistenciaisescorchantes que lhe são cobradas.Em alguns casos isso significa queo trabalhador paga até um quinto de seu salário ao sindicato para poder trabalhar!!! É o caso do Sindicatodos Portuários Avulsos em Capata-zia e Arrumadores no Comércio Ar-mazenador do Rio de Janeiro, que

cobra desconto de assistência soci-al mensal de seus associados naordem de 20,5%! Intimado a apre-sentar ao Ministério Público cópia deata da assembléia autorizatária docitado débito, informou o requeridoa esta Procuradoria que aquela te-ria sido realizada há mais de trintaanos e que a respectiva ata “não foilocalizada nos arquivos do sindica-to” (fls. 96 do ICP).

Portanto, está mais que de-monstrado que a escala rodiziária não é “condição de trabalho” negociá-vel entre as categorias econômica eprofissional, porque a Lei n. 8.630/93determina que a administração dofornecimento da mão-de-obra (ouseja, a administração da escala) é

atribuição exclusiva do OGMO.

Page 247: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 247/380

254

Ainda que, na mais absurdadas hipóteses, se pudesse admitircomo possível a estipulação de cláu-sula normativa delegatária da admi-

nistração da mão-de-obra portuáriaem favor de entidade sindical, nãohá, no presente caso, qualquer ins-trumento normativo em vigor regu-lando a matéria, tendo em conta queos últimos Acordos e ConvençõesColetivas de Trabalho da categoriavenceram em setembro/96, não ten-do sido renovados até o presentemomento.

Em resumo, o requerido, em face de sua conduta omissiva, está violando os arts. 5º, incs. I e XIII e 7º,XXXIV da Constituição da Repúbli- ca, bem como de inúmeros disposi- tivos trabalhistas da Lei n. 8.630/93,situação que deve ser prontamente reprimida pelo Poder Judiciário.

Requer assim o Ministério Pú-blico do Trabalho seja o réu conde-nado em obrigação de fazer , no sen-tido de elaborar a escala em siste- ma de rodízio dos trabalhadores re-gistrados no cadastro de que trata oinciso I do art. 18 da Lei n. 8.630/93,bem como a fiscalizar sua correção e estrita observância conforme pre-vê a MP n. 1.630/97.

III — Do Cabimento da Ação CivilPública

A Constituição da Repúblicaincumbiu ao Ministério Público daUnião defender a ordem jurídica, oregime democrático e os interessessociais e individuais indisponíveis

(art. 127).

Para a defesa de interessessociais difusos e coletivos, a Cons-tituição legitimou o Ministério Públi-co a promover a ação civil pública

(art. 129, III).A ação civil pública, regulada

pela Lei n. 7.347/85, disciplinou asações de responsabilidade por danosmorais e patrimoniais causados, en-tre outros, “a qualquer interessedifuso ou coletivo” (art. 1º, IV), deonde se depreende seu cabimento noâmbito do Direito do Trabalho, em que

os direitos transindividuais são am-plamente regulados e assegurados.

A Lei Complementar n. 75/93legitimou definitivamente o Ministé-rio Público do Trabalho a utilizar-seda ação civil pública para a defesade interesses coletivos (art. 83, III)e difusos (art. 6º, VII, d ). Mais es-pecificamente, a LC n. 75/93 previu

no inciso Ill do art. 83 o cabimentoda ação civil pública “quando des-respeitados os direitos sociais cons-titucionalmente garantidos”, que,como visto, estão sendo frontalmen-te violados.

No caso em exame, a condutaomissiva do requerido lesa tanto osdireitos coletivos dos trabalhadoresavulsos sindicalizados e regular-mente registrados pela não obser-vância da distribuição eqüitativa dotrabalho, como também os direitosdifusos dos trabalhadores não sin-dicalizados que potencialmente po-deriam ser admitidos no cadastro doOGMO, permanecendo em conse-qüência à margem do mercado detrabalho da categoria dos trabalha-

dores portuários.

Page 248: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 248/380

255

Sobre a questão, ensina Ives Gandra da Silva Martins Filho: 

“A defesa dos interesses cole- 

tivos em juízo, através da ação civil pública, pode ser feita tanto pelo Ministério Público do Traba- lho como pelos sindicatos, de vez que o ordenamento processual assegura a legitimidade concor- rente de ambos (CF, art. 129, § 1º,Lei n. 7.347/85, art. 5º, I e II). No entanto, o prisma pelo qual cada uma encara a defesa dos interes- ses coletivos é distinto: 

a) o sindicato defende os tra- balhadores que a ordem jurídica protege (CF, ar t. 8º, III); e 

b) o Ministério Público defen- de a própria ordem jurídica pro- tetora dos interesses coletivos dos trabalhadores (CF, art. 127)( in “Processo Coletivo do Traba- 

lho”, LTr Edit., 2ª edição, São Pau- lo, págs. 209/210).’’ 

O cabimento da ação civil públi-ca e a legitimidade do Ministério Pú-blico do Trabalho para propô-la em ca-sos que tais vem sendo pacificamen-te admitida na Justiça do Trabalho:

‘‘Ação Civil Pública — Ilegitimi- dade ativa  ad causam — Ação Civil Pública ajuizada pelo Minis- tério Público do Trabalho legitima- do a tanto na Lei Complementar n. 75/93, onde definida sua atua- ção na defesa de interesses co- letivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucional- mente garantidos (art. 83, III) ou 

interesses individuais indisponí- 

veis, homogêneos, sociais, difu- sos e coletivos (art. 6º, VII), na esteira do já estatuído na Carta Política, em seu art. 129, inciso 

III. Recurso improvido.Contratação de serviços por 

empresa interposta — Contra- tação de mão-de-obra pela R.através de empresas prestadoras de serviços para atendimento de necessidades permanentes e vin- culadas à atividade-fim da toma- dora, que se dá em total despre- 

zo a normas constitucionais pro- tetoras do trabalho e de acesso a empregos públicos através de concurso. Recurso improvido (TRT 4ª Região, Turma Especial,Ac. 95.010697-6, Rel. Juíza Carmen Camino, julgado em 16.5.96).’’ 

IV — Da Competência

Tratando-se de controvérsiasobre direitos coletivos entre traba-lhadores avulsos e empregadores(aqui configurado na pessoa doOGMO), a competência materialpara processar e julgar a presenteação é da Justiça do Trabalho, porforça do disposto no art. 114 daConstituição, inclusive quando osinteresses coletivos e difusos emcausa são defendidos pelo Ministé-rio Público do Trabalho, conforme li-ção do Ministro do C. TST, JoãoOreste Dalazen:

“Irrecusável a competência da Justiça do Trabalho para instruir e  julgar a ação civil pública ‘trabalhis- 

ta’, ajuizada pelo Ministério Públi- 

Page 249: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 249/380

256

co do Trabalho, objetivando res- guardar interesses difusos e inte- resses coletivos, se e quando vul- nerados os respectivos direitos 

sociais de matriz constitucional. O fomento constitucional e o baliza- mento para a acenada competên- cia repousam no preceito que per- mite à lei atribuir à Justiça Especia- lizada ‘outras controvérsias oriun- das da relação de trabalho’ (art. 114,segunda parte). Sobrevindo a Lei Complementar n. 75, de 20.5.93,esta elucidou o ramo do Poder Ju- 

diciário a quem cumpre submeter a ação civil pública ‘trabalhista’; dis- pôs que deve ser proposta ‘junto aos órgãos da Justiça do Trabalho’ (art. 83, caput e inciso III).

(...)

A lide estampada na ação civil pública ‘trabalhista’ oferece mati- zes diferentes, o que dificulta 

amoldá-la ao padrão normal de fixação da competência material da Justiça do Trabalho. Em primei- ro lugar, sobretudo na tutela dos interesses difusos, não repousa necessariamente sobre a existên- cia de uma relação de emprego,satisfazendo-se com a mera pos- sibilidade de que se configure. Alide dá-se em razão de um bem  jurídico próprio da relação empre- gatícia, porém esta não reclama existência atual, ou passada: pode ser futura” (“Competência Materi- al Trabalhista”, Ed. LTr, São Pau- lo, 1996).

No que diz respeito à compe-tência hierárquica desta JCJ para

apreciar o feito, necessário se faz

interpretar o disposto no art. 2º, daLei n. 7.347/85, que regulamentou aação civil pública, pelo qual “asações previstas nesta Lei serão pro-

postas no foro do local onde ocorrero dano, cujo juízo terá competênciafuncional para processar e julgar acausa.”

Inserindo-se este dispositivona Organização Judiciária da Justi-ça do Trabalho, conclui-se que o“juízo do foro do local” é a Junta deConciliação e Julgamento. É este o

entendimento do C. TST:

‘‘Ação Civil Pública — Estagiá- rios — Desvio de finalidade — AAção Civil Pública é de natureza ordinária e individual, pois como qualquer ação ordinária, o órgão competente para apreciá-la origi- nariamente é, em virtude do crité- rio da hierarquia, a Junta de Con- 

ciliação e Julgamento (...) TST- ACP-154.931/94.8, Acórdão SBDI-2 881/96.’’ 

Portanto, competente é estaJunta de Conciliação e Julgamentopara apreciar e julgar a lide.

V — Da Medida Liminar

O art. 12 da Lei n. 7.347/85,que instituiu a Ação Civil Pública,autoriza: “Poderá o juiz concedermandado liminar, com ou sem justi-ficação prévia, em decisão sujeita aagravo.”

De início, cabe ressaltar que amedida liminar prevista na ação civil

pública não tem  natureza cautelar;

Page 250: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 250/380

257

trata-se de típica hipótese de ante-cipação de tutela e, assim, devemestar presentes os requisitos do art.273 do CPC, conforme lição de Hum- 

berto Theodoro Júnior :

“A propósito, convém ressaltar que se registra, nas principais fontes do direito europeu contem- porâneo, o reconhecimento de que, além da tutela cautelar, des- tinada a assegurar a efetividade do resultado final do processo principal, deve existir, em deter- minadas circunstâncias, o poder do juiz de antecipar, provisoria- mente, a própria solução definiti- va esperada no processo princi- pal. São reclamos de justiça que fazem com que a realização do direito não possa, em determina- dos casos, aguardar a longa e inevitável sentença final.

Assim, fala-se em medidas provisórias de natureza cautelar e medidas provisórias de nature- za antecipatória; estas, de cunho satisfativo, e aquelas, de cunho apenas preventivo.

Entre nós, várias leis recentes têm previsto, sob a forma de limi- nares, deferíveis  inaudita alterapars, a tutela antecipatória, como,por exemplo, se dá na ação popu- lar, nas ações locatícias, na ação civil pública, na ação declaratória direta de inconstitucionalidade,etc.” ( in “As Inovações do Código de Processo Civil”, Ed. Forense,Rio de Janeiro, 1995, pág. 12).

No caso, estão presentes to-

dos os requisitos que ensejam o de-

ferimento de tutela antecipada. Oselementos do Inquérito Civil Públicoinstruído pelo Ministério Público re-velam que há prova inequívoca (art.

273 do CPC, caput ) de fraude aosdireitos constitucionais trabalhistasdos trabalhadores avulsos cuja mão-de-obra é intermediada pelo sindica-to. A maior delas, sem dúvida, sãoos depoimentos dos representanteslegais dos sindicatos de trabalhado-res avulsos, que confessam só es-calarem trabalhadores sindicalizados.Além dos depoimentos, as provas

documentais coligidas pela DRT re-velam de forma inconteste a violaçãoà liberdade sindical de que têm sidovítima os trabalhadores portuários.

Quanto ao requisito da veros- similhança  (art. 273, caput ), estadecorre da existência de provas ine-quívocas já mencionadas e da notó-ria ocorrência de intermediação de

mão-de-obra pelos sindicatos.De outra parte, há fundado re- 

ceio de dano irreparável ou de difícil reparação (CPC, art. 273, inc. I). Ostrabalhadores portuários cujos interes-ses coletivos são aqui representadospelo Ministério Público, necessaria-mente precisam pagar o “desconto deassistência social”, em valores escor-chantes, para poder ter acesso aospostos de trabalho. Estes valores, amanter-se o sistema atual, dificilmen-te poderão ser reavidos, dada a pre-cariedade patrimonial das entidadessindicais em questão.

Assim, preenchidos os requisi-tos legais, requer o Ministério Públi-co do Trabalho seja concedida medi-da l iminar determinando que o

OGMO assuma imediatamente o en-

Page 251: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 251/380

258

cargo de elaboração da escala emsistema de rodízio, nos termos do in-ciso I, do art. 18 da Lei n. 8.630/93.

VI — Pedido

Em face do exposto, requer oMinistério Público do Trabalho:

a) provisoriamente : imposiçãoliminar ao requerido Órgão Gestor deMão-de-Obra do Trabalho PortuárioAvulso dos Portos Organizados doRio de Janeiro, Sepetiba, Forno eNiterói de obrigação de fazer, con-sistente em elaborar a escala em sis-tema de rodízio dos trabalhadoresportuários avulsos, na forma do in-ciso I, do ar t. 18, da Lei n. 8.630/93;

b) definitivamente :

b.1) manutenção da medida li-minar requerida;

b.2) verificar a presença, nolocal de trabalho, dos trabalhadoresconstantes da escalação diária, nostermos do art. 6º, da Medida Provi-sória n. 1.630;

b.3) assegurar que não hajapreterição do trabalhador regular-mente registrado, nos termos do pa-rágrafo único do art. 7º da Medida

Provisória n. 1.630;

b.4) assegurar que não hajasimultaneidade na escalação, nostermos do parágrafo único do art. 7ºda Medida Provisória n. 1.630;

b.5) na hipótese de descumpri-mento da decisão, cominação demulta diária de 1.000 UFIRs, por diade descumprimento, reversível aoFAT (Fundo de Amparo ao Trabalha-dor) que é, na esfera trabalhista, oFundo compatível com aquele pre-visto no art. 13 da Lei n. 7.347/85.

VII — Requerimento Final

Requer-se a citação do réupara, querendo, responder à presen-te ação.

Protesta pela produção de to-das as provas em direito admitidas,inclusive depoimento pessoal do re-presentante legal do réu, que desde já requer.

Finalmente, pede-se sejam jul-gados procedentes todos os pedi-dos, atribuindo-se à causa, para finsde alçada, o valor de R$ 50.000,00.

Termos em que pede deferi-mento.

Rio de Janeiro, 28 de maio de1998.

Cássio Casagrande, Procura-

dor do Trabalho.

DECISÃO 

ACPU 967/98

Aos 31 dias do mês de outu-bro de 2000, às 14h10min., na sala

de audiências da 53ª Vara do Traba-

lho do Rio de Janeiro — RJ, sob apresidência do Exmo. Sr. Juiz do Tra-

balho, Dr. Otavio Amaral Calvet, fo-

Page 252: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 252/380

259

ram apregoadas as partes, Ministé-rio Público do Trabalho, reclamante,e Órgão Gestor de Mão-de-Obra doTrabalho Portuário Avulso dos Por-

tos Organizados do Rio de Janeiro,Sepetiba, Forno e Niterói — OGMO,reclamada, ausentes.

Submetido o processo a julga-mento a Vara proferiu a seguinte

SENTENÇA

Relatório

Ministério Público do Trabalhoajuizou ação civil pública em face deÓrgão Gestor de Mão-de-Obra doTrabalho Portuário Avulso dos Por-tos Organizados do Rio de Janeiro,Sepetiba, Forno e Niterói — OGMO,ambas as partes qualificadas nosautos supra , postulando, em sínte-se, os pedidos constantes do rol con-tido na exordial. Alçada fixada pelovalor atribuído à inicial. Apresentoua parte reclamada resposta. Docu-mentos foram juntados pelos litigan-tes. Firmado termo de acordo, res-tou suspenso o feito.

Ajuizou a parte ré ação caute-lar incidental, sendo ambos os fei-tos apensados. As fls. 215/217 foideterminada a separação dos autos

principais e deferida a liminar pos-tulada na exordial.

Manifestaram-se as partes. Emnova audiência, houve a juntada determo de acordo em caráter transitó-rio (fls. 350/352). Sem outras provas,considerou-se encerrada a instruçãoprocessual. Razões finais remissivas.Propostas conciliatórias infrutíferas.

É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO

Trata a presente demanda deimposição de obrigação de fazer à

parte ré consistente na elaboraçãoda escala em sistema de rodízio dostrabalhadores portuários avulsos,bem como a verificação da presen-ça no local de trabalho dos trabalha-dores constantes da escalação diá-ria e que seja assegurada a não pre-terição do trabalhador regularmenteregistrado e a não simultaneidade na

escalação.Os documentos de fls. 22/148

trazidos pela parte autora demons-tram à saciedade as irregularidadesalegadas na exordial no que diz res-peito à escalação da mão-de-obraportuária quando do ajuizamento daação bem como a não assunção peloOGMO/RJ de tais deveres, matéria,

aliás, confessada pela parte ré emsua manifestação de fls. 152/173,como pode ser observado pelos tre-chos abaixo, bem como pelo item 07de fl. 165, onde o réu registra nãopossuir estrutura na época para aassunção dos seus misteres

“Obviamente, devido aos em- bates iniciais, que redundaram 

em instauração de vários Pro- cessos Judiciais e outras medi- das necessárias em face daque- les que faziam quixotesca e rea- cionária oposição ao futuro, teve sua efetiva implementação atra- sada, o que aliás, é do conhe- cimento do próprio Delegado Regional do Trabalho no Rio de 

Janeiro, ...” 

Page 253: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 253/380

260

“Não pretendemos com isso defender as posições deles, antes pelo contrário, porém, apenas de- sejamos ponderar que o OGMO/ 

RJ está sendo implementado a duras penas, mas imbuído de ím- peto e desejo de acertar. O que não se pode fazer, é transferir a culpa pelos erros pretéritos. ...” 

“Destarte, impende destacar todo o interesse do OGMO/RJ em assumir definitivamente tais misteres...” 

“Ilmo. Sr. Julgador, inferimos clara e perfeitamente a necessi- dade da implementação da LMP,até porque, nós dela somos de- votos, todavia, entendemos que o ‘mal’ não está sendo atacado em sua fonte, qual seja, a intransigên- cia das lideranças laborais. Se a 

escalação e o rodízio da mão-de- obra ainda não cabem ao OGMO,é porque naquele momento nego- cial (1996), os laborais não acei- taram (e ainda hoje são refratári- os). Responsabilizar o OGMO,conferindo-lhe o ‘pecado original’,será aplicar a doutrina maquiavé- lica, qual seja a de que os meios 

 justificam os fins.” “... Logo, se o OGMO ainda não 

tem a integralidade de sua utiliza- ção, grande parte se deve àque- les que lhe fizeram e fazem franca oposição...” 

Por outro lado, insta observarque não há qualquer controvérsia

acerca da obrigação legal imposta

ao réu pelo art. 18 da Lei n. 8.630/ 93 em seu inciso I e pelos arts 5º e6º da Lei n. 9.719/98, verbis :

“administrar o fornecimento da mão-de-obra do trabalhador por- tuário e do trabalhador portuário avulso”.

“A escalação do trabalhador avulso portuário, em sistema de rodízio, será feita pelo órgão ges- tor de mão-de-obra”.

“Cabe ao operador portuário e 

ao órgão gestor de mão-de-obra verificar a presença, no local de trabalho, dos trabalhadores cons- tantes de escala diária”.

Quanto às argumentações daparte ré, no sentido de ausênciade culpa pela demora na assunção desuas atribuições, irrelevante qual-quer digressão neste sentido, pois o

fato em análise deve ser centrado nocumprimento ou não da norma legale, como já salientado acima, confes-sa a parte ré a irregularidade apon-tada na peça inaugural.

Dessa forma, há que se aco-lher integralmente o pedido formu-lado, mantendo-se a medida liminardeferida às fls. 215/217 e impondo àparte ré as seguintes obrigações de

fazer:a) elaboração da escala em

sistema de rodízio dos trabalhado-res portuários avulsos na forma daLei n. 8.630/93, art. 18, inciso I c/c.art. 5º da Lei n. 9.719/98;

b) verificação da presença, nolocal de trabalho, dos trabalhadoresconstantes da escalação diária na

forma do art. 6º da Lei 9.719/98;

Page 254: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 254/380

261

c) assegurar que não haja pre-terição do trabalhador regularmenteregistrado na forma do art. 7º, pará-grafo único da Lei n. 9.719/98;

d) assegurar que não haja si-multaneidade na escalação na for-ma do art. 7º, parágrafo único da Lein. 9.719/98.

Em caso de descumprimentodas presentes obrigações de fazer,fixa-se multa diária equivalente a1.000 UFIRs reversível ao FAT (Fun-do de Amparo ao Trabalhador).

No que diz respeito ao Termode Acordo em Caráter Transitórioanexado aos autos na última assen-tada, homologa-se, o mesmo umavez ratificado pelas partes acordan-tes, valendo registrar que a manu-tenção das disposições ali avença-das em nada conflitam com o cum-primento da presente sentença e daliminar deferida nos autos.

Por fim, defere-se o requeri-mento formulado pela parte autorano sentido de aplicação de multa pordescumprimento da liminar para operíodo de 17.10.00 a 2l.10.00 (datada realização do acordo provisório), já que as declarações do antigo di-retor executivo do OGMO/RJ estam-

padas no documento de fls. 342/343,por ele subscrito, bem como a notí-cia de que a escalação somente foiefetuada pelo réu após o acordo pro-visório supramencionado, levam o juízo à plena convicção de que no pe-ríodo acima apontado a parte ré dei-xou de cumprir a determinação judi-cial não efetuando a escalação da

mão-de-obra portuária avulsa.

Assim, comina-se, a multa de5.000 UFIRs ante o descumprimen-to da liminar pelo período de cincodias, nos termos da decisão de fls.

215/217.Registre-se que o documento

de fls. 342/343 somente tem validadequanto às declarações emitidas pelaspessoas que estavam presentes nomomento da realização da Ata dareunião e que a subscreveram, razãopela qual reconhece-se a impresta-bilidade do mesmo como prova, no

que diz respeito às supostas decla-rações do representante do Ministé-rio Público do Trabalho.

DISPOSITIVO

Isto posto, decide a 53ª Varado Trabalho do Rio de Janeiro — RJ,no mérito, julgar procedente o pedi-do para condenar o Órgão Gestor deMão-de-Obra do Trabalho PortuárioAvulso dos Portos Organizados doRio de Janeiro, Sepetiba, Forno eNiterói — OGMO no feito propostopor Ministério Público do Trabalhonas obrigações de fazer acima men-cionadas e impor a multa de 5000UFIRs por descumprimento da deci-são liminar, tudo conforme consta da

fundamentação supra  que integraeste decisum .

Custas pela parte reclamadano importe de R$ 1.000,00 calcula-das sobre o valor da causa fixado emR$ 50.000,00.

Partes cientes (Enunciado 197do C. TST). Nada mais.

Otavio Amaral Calvet, Juiz do

Trabalho.

Page 255: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 255/380

262

O Ministér io Público do Traba-lho, por sua Procuradoria Regional do Trabalho da 2ª Região, situada naRua Aurora, n. 955, 7º andar, SantaEfigênia, São Paulo — Capital, CEP01209-001, neste ato representadapelas Procuradoras do Trabalho adi-ante assinadas, com base nos arti-gos 127 e 129, inciso III, da Consti-tuição da República; no artigo 83,inciso III, da Lei Complementar n. 75/ 93, nos artigos 1º, inciso IV e ar tigo21 da Lei n. 7.347/85, nos artigos 82,inciso I e artigo 91 da Lei n. 8.078/ 90, além do art. 373-A, inciso VI, daConsolidação das Leis do Trabalhoe art. 5º, inciso X, da ConstituiçãoFederal, vem, respeitosamente àpresença de Vossa Excelência ajui-

zar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COMPEDIDO DE ANTECIPAÇÃO

DE TUTELA

Em face de Postal Service MalaDireta e Promoções Ltda., inscrita noCGC/MF sob o n. 01.944.464/0001-

19, com sede na Estrada da Aldeinha,

 AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE 

 ANTECIPAÇÃO DE TUTELA — REVISTA ÍNTIMA 

DE TRABALHADORES (PRT 2 ª   REGIÃO)

EXMO. SR. DR. JUIZ DA VARA DO TRABALHO DE BARUERI — SÃOPAULO

n. 691, Alphaville, Barueri, São Pau-lo, CEP 06465-100, pelos fundamen-tos de fato e de direito a seguiraduzidos:

I — Dos fatos

Em 15 de setembro de 2000,recebeu esta Procuradoria, repre-

sentação encaminhada pelo Minis-tério do Trabalho e Emprego — Sub-delegacia do Trabalho em Osasco,na pessoa da Sudelegada do Traba-lho Dra. Luciola Rodrigues Jaime,dando notícia de prática de desres-peito à honra e à intimidade de tra-balhadores por meio de revista ínti-ma vexatória (doc. 1).

Informou a DRTE que o pedi-do de fiscalização, originado pordenúncia anônima recebida na Sub-delegacia do Trabalho em Osasco,comprovou a veracidade da denún-cia, qual seja, que todos os empre-gados, homens e mulheres passa-ram por revista, sendo que estas ti-veram seus direitos mais violados do

que aqueles, na medida em que fo-

Page 256: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 256/380

263

ram submetidas a horrorosos cons-trangimentos por ocasião da revistaíntima.

Instaurado o procedimentopreparatório de Inquérito Civil Públi-co de n. 708/2000 (doc. 2) para veri-ficação das violações apontadas,incontinênti designou-se audiênciapara oitiva de pessoas declinadas nadenúncia anônima e no relatório dafiscalização encaminhados pelaDRT/SDT Osasco (docs. 3 e 4).

Na referida audiência, tomou-

se os depoimentos de Ivani FranchiniNarcizo, Gerente de Produção e,Roseli Martins Bastos, AssistenteAdministrativo da empresa denuncia-da (doc. 5). Ambas confirmaram aabusiva revista íntima que foram sub-metidas as empregadas, inclusiveelas próprias, não obstante a segun-da depoente houvesse alertado àspoliciais militares que o objeto fur-tado encontrava-se dentro de umenvelope.

Posteriormente, a empresaapresentou sua defesa (doc. 6),onde, em síntese, aduziu que jamaisordenou ou anuiu com a revista daforma que foi levada a efeito, juntan-do, na oportunidade, o Boletim deOcorrência lavrado perante a Polícia

Civil do Estado de São Paulo (doc.7), elaborado 02 (dois) dias após aocorrência dos fatos e, o Boletim deOcorrência feito pela Polícia Militardo Estado de São Paulo (doc. 8), queesteve no local no dia dos aconteci-mentos aqui relatados.

Após, determinou-se a expedi-ção de ofícios ao Ministério Público

Estadual e Corregedoria da Polícia

Militar, para que no âmbito de suasatribuições adotassem as providên-cias pertinentes em relação aos fa-tos ocorridos das dependências da

empresa no dia 01 de agosto de2000 (docs. 9 e10), agendando-se,ainda, na mesma oportunidade, dili-gência para inspeção na sede dainvestigada.

No dia da diligência, 31 de ou-tubro p. passado, tomou-se, aleato-riamente, o depoimento de 3 (três)empregados submetidos à revista no

dia dos fatos, além da oitiva do Sr.Cláudio Clarete Ferreira Jardim,Gerente Comercial da empresa in-vestigada (docs. 11/15).

Dos depoimentos colhidos porocasião da inspeção — Srs. DejaniraBatista Alberto, Cátia Camilo Santoroe Claudinei Ferreira Bispo —, pode-se constatar com segurança:

 — que todos os empregadospassaram por revista, pessoal ouíntima, no dia dos fatos;

 — que as empregadas mulhe-res passaram por horrorosos cons-trangimentos por ocasião da revista;

 — que as empregadas mulhe-res foram revistadas, em bloco, deseis em seis, ou seja, todas ao mes-

mo tempo; — que a Sra. Roseli acompa-

nhou parte da revista das emprega-das mulheres e após os fatos, teveseu contrato de trabalho rescindidocom a empresa denunciada;

 — que todas as empregadasmulheres foram submetidas à revis-ta íntima, grávidas ou não, menores

ou maiores, de tenra idade ou não;

Page 257: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 257/380

264

 — que as empregadas mulhe-res não concordaram com a revistaíntima, mas, não tiveram direito deopção;

 — que algumas mulheres fica-ram nervosas e outras foram maltra-tadas durante a revista;

 — que os empregados homensnão foram compelidos, por ocasiãoda revista, a desnudarem-se, talcomo aconteceu em relação às em-pregadas mulheres;

 — que o Sr. Cláudio acom-panhou toda a revista do setor deprodução.

Ouviu-se, também, no dia dainspeção, o depoimento de CláudioClarete Ferreira Jardim que informouviver maritalmente com a Sra. Marle-ne Ferreira da Silva (com quem, in-clusive, tem um filho), que figura comoprocuradora da empresa (doc.16),

mas, que hoje, é uma das proprietári-as da mesma (doc. 17) e, ao que tudoindica, há muito tempo já a vinha ge-rindo e administrando para todo equalquer efeito.

Posteriormente e consideran-do que no seu depoimento o já cita-do Sr. Cláudio Clarete Ferreira Jar-dim alegou que não determinou a

revista do modo como foi realizada,a fim de dissipar eventuais dúvidas,foram ouvidos os policiais militaresenvolvidos no acontecimento, paraauferir-se de quem partiu a ordempara a sua efetivação.

Pelos depoimentos (doc. 18),apurou-se que a determinação par-tiu do mencionado Sr. Cláudio, que

se intitulava o proprietário da empre-

sa, a quem inclusive foi alertado quea revista seria de sua inteira respon-sabilidade, já que a polícia militarsomente tem autorização para assim

proceder quando há alguma ocorrên-cia nas ruas e não no interior do es-tabelecimentos particulares.

Portanto, por todas as provascoligidas durante a investigação in-fere-se que a revista tal como ocor-reu, feriu o direito à intimidade dapessoa do trabalhador, à sua vidaprivada e à sua integridade moral, de

sorte que, face à constatação de le-são aos direitos coletivos dos empre-gados da Ré, por ato da empresa(já que a ordem para o procedimen-to ilegal partiu de pessoa que seintitulava seu proprietário), vítimasda realização de odiosas revistasvexatórias, ajuíza-se a presente açãocivil pública.

II — Do direito

O artigo 1º, inciso III da CartaFederal preceitua como um dos fun-damentos da República Federativado Brasil a dignidade da pessoa hu- mana. Por sua vez, o artigo 5º domesmo diploma legal, além de regis-trar que todos são iguais perante a 

lei , dispõe em seu inciso X, que “são invioláveis a intimidade, a vida pri- vada, a honra e a imagem das pes- soas, assegurado o direito à inde- nização pelo dano material ou mo- ral decorrente de sua violação” , ouseja, é direito fundamental da pes-soa humana a inviolabilidade da in-timidade, da vida privada, da honrae da imagem. E, até mesmo a ordem

econômica, caminhando na mesma

Page 258: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 258/380

265

diretriz, acentua que tem por fim as- segurar a todos existência digna (art.170, da Lei Magna).

De outro lado, infere-se da lei-tura do artigo 3º da Constituição Fe-deral que dentre os objetivos fun-damentais da República o legisla-dor constituinte elegeu no inciso III,“promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,cor, idade e quaisquer formas de discriminação” .

E, o legislador ordinário, tam-

bém preocupado com a humaniza-ção do trabalho, inseriu na Consoli-dação das Leis do Trabalho, atravésda Lei n. 9.799, de 26 de maio de1999, o artigo 373A, que no incisoVI estabelece, que é vedado proce- der o empregador ou preposto revis- tas íntimas nas empregadas ou fun- cionárias , valendo mencionar quepor força do princípio da igualdade,

por analogia, o citado artigo tambémé aplicável aos homens.

2.1. Da Vi olação àHonr a e Int imi dade 

dos Trabalhadores 

As normas supramencionadasconsubstanciam um arcabouço nor-mativo de proteção à honra e intimi-

dade, o que se coaduma com osobjetivos e fundamentos da CartaPolítica, que, por sua vez, fulminouo verdugo regime anterior, marcadopela violência, perseguição e discri-minação das pessoas.

A Constituição de 1988 —historia Alexandre de Moraes —afasta a idéia do “predomínio das

concepções transpessoalistas de

Estado e Nação, em detrimento daliberdade individual. A dignidade éum valor espiritual e moral inerenteà pessoa, que se manifesta singu-

larmente na autodeterminaçãoconsciente e responsável da própriavida e que traz consigo a pretensãoao respeito por parte das demaispessoas, constituindo-se um mínimoinvulnerável que todo estatuto jurí-dico deve assegurar, de modo que,somente excepcionalmente, possamser feitas limitações ao exercício dedireitos fundamentais, mas sempresem menosprezar a necessária es- tima que merecem todas as pesso- as enquanto seres humanos” (in Direito Constitucional, 4ª edição,Atlas, pp. 43/44).

Sob esse prisma, o contrato detrabalho não pode servir de veículopara que tais princípios sejam ma-culados. O poder diretivo do empre-

gador encontra seus limites quandoesbarra nos direitos e garantias fun-damentais. O caso em espécie re-trata hipótese de violação dos con-ceitos e princípios acima alinhava-dos, atinentes ao direito à privacida-de, considerado por José Afonso daSilva como todas as manifestaçõesda esfera íntima, privada e da per-sonalidade.

A revista praticada pela ré emrelação ao conjunto de trabalhado-res foi ilegal e, além de íntima emface das empregadas mulheres, foivexatória, resultando em um atenta-do à honra e intimidade dessas tra-balhadoras. Frise-se que conformedepoimentos colhidos, as emprega-das tiveram que desnudar-se coleti-

vamente (de 6 em 6), chegando al-

Page 259: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 259/380

266

gumas a serem maltratadas por oca-sião da revista e ao depois, foramalvos de chacotas e piadas dentrodo estabelecimento empresarial.

É oportuno trazer à colaçãonesse passo, o que disse a Juíza doTrabalho da 2ª Região, Maria InêsAlves da Cunha, in  “Direitos Imate-riais no Direito do Trabalho”, Genesis,Revista de Direito do Trabalho, n. 73,p. 79, in verbis: 

“... são notórias as revistas vexatórias a que são submetidos 

empregados de modo geral, e neste caso, o poder de fiscalização e dis- ciplinar do empregador não pode se sobrepor à garantia constitucional à intimidade. Vale dizer que, conquan- to tenha o empregador o direito de preservar sua propriedade, estabe- lecendo medidas preventivas para defesa de seu patrimônio, não po- dem tais expedientes servir unica- mente para satisfação de interesses baseados no comodismo”.

Ademais, qualquer revista, quenão seja justificada por bens maio-res a serem defendidos, como a vidahumana, é vexatória, impondo sériogravame à honra da pessoa revista-da. Esse é o entendimento de IvanAlemão, em artigo intitulado “Revis-

ta de empregados: obtenção de pro-va por meio ilícito”, publicado no“site” da Universidade Federal Flu-minense, para quem em toda revis-ta há o vexame ou incômodo.

Em síntese, a ré deve adequara sua conduta, a fim de que seja pre-servado o direito à honra e intimida-de dos empregados, de modo a se

abster de impor e permitir que os

mesmos sejam submetidos à revis-ta que impliquem em exposição departes íntimas do corpo, e ainda,contato físico.

2.2. D a di scr iminação 

Na opinião abalizada da Sub-procuradora-Geral do Trabalho, Dra.Maria Aparecida Gugel, falar sobre discriminação nas relações de tra- balho implica antes de identificar a Declaração Universal dos Direitos 

Humanos que em seus trinta artigos propõe como ideal comum e como objetivo a ser atingido por todos os povos e todas as nações que cada indivíduo e cada órgão da socieda- de se esforce, através do ensino e da educação, para promover o res- peito aos direitos e liberdades. En- tre eles o direito de ir e vir sem ser molestado; o direito de ser acusado 

dentro do devido processo legal e legítimo; o direito de exigir o cumpri- mento da lei; o direito de trabalhar e viver sem ser alvo de humilhações,violência, agressões, desrespeito,perseguições e discriminação (in Discriminação nas Relações do Tra-balho, Genesis, Revista de Direito doTrabalho, n. 79, p. 70).

Ora, in casu, do cotejo proba-tório, ainda que todos os emprega-dos do estabelecimento da ré te-nham sido havidos como suspeitos,as empregadas mulheres foram al-vos de discriminação em relação aosempregados homens, pois apenasestas foram submetidas à revistamais intensa, consistente em desnu-dar-se, ficar de cócoras, levantar e

abaixar por três vezes consecutivas.

Page 260: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 260/380

267

Referido critério, de cunho sub- jetivo, implica ainda em violência aoprincípio constitucional da isonomia,que delineia que todos são iguais 

perante a lei.De mais a mais, não se pode

olvidar que aos acusados são asse-gurados o contraditório e a ampladefesa, como preconiza o artigo 5º,inciso LV, da Carta Federal, de modoque pergunta-se, como excluir daincidência desse dispositivo os me-ros suspeitos?

Nesta esteira de raciocínio, for-çoso concluir que, nestes casos, otrabalhador é duplamente penaliza-do, primeiro porque, ao ser apontadocomo suspeito, em flagrante desres-peito ao princípio da presunção deinocência, é discriminado e tem a suahonra maculada, vez que, mesmoimplicitamente, é tratado como umacusado. Segundo porque, é vítima de

uma intromissão constrangedora dasua intimidade, dada a intensidadeda revista.

Também, não se justifica a re-vista sob a assertiva de que a em-presa estaria a tutelar seu patrimô-nio, pois como bem explana a ilus-tre colega Sandra Lia Simón, in  “AProteção Constitucional da Intimida-

de e da Vida Privada do Emprego”,Editora LTr, p. 147 e seguintes, quan-do fala sobre o assunto em comen-to, para que tal aconteça mister aexistência “de fatos concretos, como,por exemplo, a existência de “bens suscetíveis de subtração e oculta- ção, com valor material, ou que te- nham  relevância para o funciona-mento da atividade empresarial”,

enfatizando mais adiante que furtos

circunstanciais, mais ainda não jus-tificam a inspeção pela empresa por-que “se é eventual, não causarágrande prejuízo ao patrimônio do

empresário”, de um lado e, de outro,“porque pequenas “diminuições” no patrimônio fazem parte do risco do negócio”. Ademais, finaliza a colega,“a confiança deve ser a base da re- lação empregatícia, caso contrário o empregador é quem incorrerá na culpa  in eligendo e  in vigilando” ( grifos nossos).

De outro lado, não se podeescudar que na colisão, mesmo queaparente, de direitos fundamentais,deve prevalecer aquele ao qual o sis-tema jurídico e a sociedade dãomaior relevância, e que a salvaguar-da do bem jurídico seja fundamen-tal para a comunidade. Assim, nãoresta dúvida que o direito à intimi-dade, à dignidade e à honra dos tra-

balhadores, como pessoas, deveprevalecer sobre o direito à proprie-dade, que inclusive sob orientaçãoconstitucional deve obedecer à jus-tiça social.

É realmente cruel colocar-sena balança o direito de propriedadeem um lado e o direito à intimidadee à dignidade do ser humano no ou-tro lado. Não há mente sã que dirá

que a propriedade deve ter maioramparo em detrimento da intimida-de e dignidade do trabalhador.

Desta feita, em razão do deverde submissão aos princípios da pre-sunção de inocência e da isonomia,bem assim a supremacia do direitode dignidade da pessoa humana emcotejo com o direito de propriedade,

a atitude da ré não pode subsistir,

Page 261: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 261/380

268

devendo, assim, se abster da práticade qualquer ato discriminatório queimplique em tratamento desigual.

2.3. Da proibição infr aconsti tucional 

da revi sta ínt ima 

O art. 373-A da Consolidaçãodas Leis do Trabalho, ao tratar da pro-teção do trabalho da mulher, proibiu,em seu inciso VI, “proceder o empre- gador ou preposto a revistas íntimas nas empregadas ou funcionárias”.

Ou seja, toda e qualquer revis-ta íntima em mulheres é proibidapela legislação infraconstitucional.Conseqüentemente, toda revistapessoal e íntima deve ser declaradailegal.

E não se pode dizer que so-mente a revista realizada em mulhe-

res é ilegal. Isto porque o inciso I doart. 5º Constitucional assim dispôs:“homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”.

Portanto, deve a revista íntimaser tida como ilegal para ambos ossexos.

2.4. Do dano moral colet i vo 

A professora Alice MonteiroBarros obtempera que a Justiça do Trabalho tem entendido que as re- vistas consistentes em  abaixar acalça ou levantar a saia e abrir a blu-sa vêm sendo consideradas comoato ofensivo à intimidade do traba-

lhador, a ensejar indenização por

danos morais (artigo 5º, X, da Cons- tituição de 1988), como se infere da ementa que se transcreve :

“Dano moral. Caracterização.Revistas “completas”. Extrapolamen- to ao limite do poder potestativo do empregador. Danos morais sofridos.Desnecessária a publicidade do ato ilegal para caracterização. Constitui- se em ato abusivo da reclamada a realização de revistas “completas” (incluindo abaixar a calça/saia e abrir a camisa/blusa), extrapolando o limite do poder potestativo que detém, ainda que realizadas em lo- cais reservados. O ato ilícito ofende ao obreiro em sua intimidade psíqui- ca em seus valores subjetivos, exi- gindo a reparação. O poder potesta- tivo, nestes casos, deve ficar restri- to ao necessário, respeitando a dig- nidade e intimidade do trabalhador,a qual deve prevalecer sobre o ex- cesso de zelo com o patrimônio” (TRT — 9ª Reg., 1ª T., Ac. n. 3869/97,Rel. Juiz Wilson Pereira, DJPR21.2.97, p. 322). In Genesis, Revistade Direito do Trabalho, n. 66.

De fato, verifica-se no caso emtela que, além do dano causado acada empregado, houve, ainda, aocorrência de um dano genérico,causado a toda coletividade. Trata-

se de um prejuízo moral potencialde que foi alvo toda a coletividade detrabalhadores da Ré, assim como aprópria sociedade, na medida em queviolada a ordem social, conforme de-monstrado anteriormente. Configura-se, portanto, lesão não só a interes-ses coletivos, como também a inte-resses difusos daqueles que, no fu-turo, possam vir a ser admitidos pela

empresa.

Page 262: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 262/380

269

Quanto à discriminação, háque se observar, no caso, que oempregado (ou o virtual empregado)não pode ser tratado como “patrimô-

nio” ou bem de consumo suscetívelde ser meramente aplicado na pro-dução, vez que ele é um cidadão, ecomo tal deve ser tratado. Ao mes-mo tempo, deve o empregador aten-tar que o exercício da “atividade eco-nômica” há de se pautar pela obser-vância, dentre outros, dos princípi-os da boa-fé, dignidade humana e

não-discriminação, afugentando as-sim, a adoção de uma política dis-criminatória, pois é certo que o ho- mem é chamado e destinado ao tra- balho; mas, antes de tudo, o traba- lho está em função do homem e não o homem está em função do traba- lho (Laborem Exercens, Encíclicasobre o Trabalho Humano, Roma,1981, p. 23, citado por Alfredo J.

Ruprecht, in Os Princípios do Direi-to do Trabalho, LTr, p. 105).

A par disso, há que se levar emconta a afronta ao próprio ordena-mento jurídico, que, erigido pelo le-gislador como caminho seguro parase atingir o bem comum, é flagran-temente aviltado pela ré que, visan-do a proteção do seu patrimônio,

macula a honra e invade a esferaíntima dos empregados.

Como tais lesões amoldam-sena definição do artigo 81, incisos I eII, da Lei n. 8.078/90, cabe ao Minis-tério Público, com espeque nos arti-gos 1º, caput , e inciso IV e 3º da Lein. 7.347/85, propor a medida judici-al necessária à reparação do dano

e à sustação da prática.

Nesse passo, se afigura cabí-vel a reparação da coletividade dostrabalhadores, não pelas revistas emsi, mas pela ilicitude da forma que as

mesmas foram realizadas (revistasíntimas e vexatórias), e ainda peladiscriminação supramencionada.

Oportuno se torna dizer que,não somente a dor psíquica pode gerar danos morais, devemos ainda considerar que o tratamento transin- dividual aos chamados interesses difusos e coletivos origina-se justa- 

mente da importância desses inte- resses e da necessidade de uma efe- tiva tutela jurídica. Ora, tal importân- cia somente reforça a necessidade de aceitação do dano moral coletivo, já que a dor psíquica que alicerçou a teoria do dano moral individual acaba cedendo lugar, no caso do dano moral coletivo, a um sentimen- to de desapreço e de perda de valo- res essenciais que afetam negati- vamente toda uma coletividade. (...)Assim, é preciso sempre enfatizar o imenso dano moral coletivo causa- do pelas agressões aos interesses transindividuais, afeta-se a boa ima- gem da proteção legal a estes direi- tos e afeta-se a tranqüilidade do ci- dadão, que se vê em verdadeira sel- 

va, onde a lei do mais forte impera.Tal intranqüilidade e sentimen- 

to de desapreço gerado pelos danos coletivos, justamente por serem in- divisíveis, acarreta lesão moral que também deve ser reparada coletiva- mente. Ou será que alguém duvida que o cidadão brasileiro, a cada no- tícia de lesão a seus direitos, não se 

vê desprestigiado e ofendido no seu 

Page 263: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 263/380

270

sentimento de pertencer a uma co- munidade séria, onde as leis são cumpridas? Omissis.

A reparação moral deve se uti- lizar dos mesmos instrumentos da reparação material, já que os pres- supostos (dano e nexo causal) são os mesmos. (...) Com isso, vê-se que a coletividade é passível de ser in- denizada pelo abalo moral, o qual,por sua vez, não necessita ser a dor subjetiva ou estado anímico negati- vo, que caracterizariam o dano mo- ral da pessoa física ... (in, André deCarvalho Ramos, “A Ação Civil Pú-blica e o Dano Moral Coletivo).

No que tange à questão daresponsabilidade pelo dano morale patrimonial no campo dos inte-resses metaindividuais, assinalao eminente Juiz do Tribunal doTrabalho da 2ª Região, Dr. Fran-cisco Antonio de Oliveira, na obra“Ação Civi l Pública — Enfoque Trabalhistas”: 

3.2 — Da responsabil idade por danos 

A responsabilidade por danos causados está diretamente ligada a 

ato culposo ou doloso. Todo aquele que de forma alguma causar dano a alguém deverá indenizar na propor- ção do dano causado... O dano está,ligado a um ato ilícito... O objetivo da lei em caso é identificar aquele (ente público ou privado) que de al- guma forma tenha causado dano que malfira interesses difusos ou 

coletivos...

3.3 — Dos danos morais 

A discussão doutrinária sobrea possibilidade de indenização por

dano moral não mais subsiste. AConstituição de 1988 concedeu aindenização expressamente no art.5º, V e X, por dano moral ou de ima-gem e violação da intimidade, davida privada, da honra.

A Lei n. 7.347/85, quando desua concepção, limitava-se a falarem responsabilidade por danos, o

que poderia trazer divergências in-terpretativas sobre a inclusão ou nãode dano moral. Em boa hora a Lein. 8.884/94, agora em consonânciacom o direcionamento constitucional(art. 5º, V e X) modificou a redaçãoda redação do artigo 1º da Lei origi-nária para deixar expresso no caput a responsabilidade por danos moraise patrimoniais.

Destaque-se, ainda, que estedano, desferido potencialmente a umuniverso de pessoas que é impossí-vel de se determinar, tanto a priori,como a posteriori, deve ser repara-do in continenti , não se confundin-do, em absoluto, com as eventuaisreparações individuais que venhama ser impostas à Ré.

Isto significa dizer que, demodo algum o montante pecuniá-rio relativo à indenização genéricaaqui mencionada será deduzido decondenações judiciais que venhama imputar reparação individualpelo dano causado a alguém, poridênticos fatos. De igual forma, aindenização genérica aqui pleitea-da não quita, nem parcialmente, nem

muito menos, integralmente, qual-

Page 264: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 264/380

271

quer indenização conferida, ou aconferir, aos lesados efetivamente,pelos mesmos danos e fatos corre-latos.

Justifica-se a reparação gené-rica, não só pela dificuldade de sereconstituir o mal já impingido à co-letividade, mas também, por já terocorrido a transgressão ao Ordena-mento Jurídico vigente.

Necessário, portanto, um meioque, a um só tempo, não permita que

o transgressor exima-se da obriga-ção de reparar o mal causado sob oargumento de que seria impossívelindividualizar os lesados e permita,ao menos de forma indireta, que to-dos os atingidos pela conduta trans-gressora sejam ressarcidos pelosdanos sofridos.

Com o fim de solucionar es-

ses inconvenientes é que legisla-dor inseriu no artigo 13 da Lei n.7.347/85 a possibil idade de sercobrada indenização reversível aum fundo criado com a finalidadede proteção dos bens lesados,como preceitua o citado dispositi-vo, in verbis :

Art. 13. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Esta- duais de que par ticiparão neces- sariamente o Ministério Público e representantes da comunida- de, sendo seus recursos desti- nados à reconstituição dos bens 

lesados.

Nesse diapasão e, por oportu-no, transcreve-se a salutar lição deAntônio Augusto Melo de Camargo,Edis Milaré e Nelson Nery Júnior, in 

verbis: 

“Uma solução inovadora exigia também o problema da destina- ção da indenização: como o bemlesado é coletivo, como os inte-resses desrespeitados são difu-sos, seria tarefa impossível dis-tribuir a indenização por todos os

prejudicados (muitas vezes todaa coletividade).

Titular do direito à indenizaçãonão pode ser também o Estado-Administração, que muitas vezesé o causador direto do dano e quesempre será indiretamente res-ponsável por ele.

....

A alternativa que nos parece eficaz é a da criação de um fundo,constituído pela soma das indeni- zações que venham a ser fixadas e que deverá ser aplicado para a recomposição dos estragos perpe- trados contra os bens de uso co- letivo ” (A ação civil pública e a tu- tela jurisdicional dos interesses difusos. São Paulo: Saraiva, 1984,pp. 81 e 82) (grifamos).

Observe-se que atualmentevem se flexibilizando a idéia de “re-constituição dos bens lesados” cita-da na parte final do artigo 13, parase considerar como objetivo da in-denização e do fundo não somentea reparação daquele bem específi-

co lesado, mas de bens a ele rela-

Page 265: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 265/380

272

cionados. No presente caso, porexemplo, revertida a indenizaçãopara o FAT, não estar-se-á reparan-do especificamente o dano moral

causado à totalidade de trabalhado-res, mas o transgressor da OrdemJurídica estará beneficiando de for-ma indireta a classe operária, a qualfora atingida pela sua conduta. Comessa indenização o referido fundoterá maiores recursos para propor-cionar benefícios aos obreiros, emcontrapartida pelos danos sofridos.

Nesse sentido se posicionaHugo Nigro Mazzilli ao comentar oobjetivo do fundo a que se refere oartigo 13 da Lei da Ação Civil Públi-ca, a cuja lição nos reportamos:

“O objetivo inicial do fundo era gerir recursos para a reconstitui- ção dos bens lesados. Sua desti- nação foi ampliada: pode hoje ser 

usado para a recuperação dos bens, promoção de eventos edu- cativos e científicos, edição de material informativo relacionado com a lesão e modernização ad- ministrativa dos órgãos públicos responsáveis pela execução da política relacionada com a defe- sa do interesse desenvolvido.

....A doutrina se refere ao fundo 

de reparação de interesses difu- sos como fluid recovery, ou seja,alude ao fato de que deve ser usado com certa flexibilidade,para uma reconstituição que não precisa ser exatamente à da re- paração do mesmo bem lesado.

O que não se pode é usar o pro- 

duto do fundo em contrariedade com sua destinação legal, como para custear perícias.

Há bens lesados que são irre-cuperáveis, impossíveis de seremreconstituídos: uma obra de artetotalmente destruída; uma mara-vilha da natureza, como SeteQuedas ou Guaíra, para sempreperdida; os últimos espécimes deuma raça animal em extinção...Casos há em que a reparação dodano é impossível. É comovente

o provérbio chinês que lembrapoder uma criança matar um es-caravelho, mas não poderem to-dos os sábios recriá-lo...

Ao criar-se um fundo fluído,enfrentou-se o problema de ma-neira razoável. Mesmo nas hipó-teses acima exemplificadas, so-brevindo condenação, o dinheiroobtido será usado em finalidade

compatível com sua causa. As- sim, no primeiro exemplo, poderá ser utilizado para reconstituição,manutenção ou conservação de outras obras de arte, ou para con- servação de museus ou lugares onde elas se encontrem...” (A de- fesa dos interesses difusos em  juízo. 9ª ed. Ver. e atual., São Pau-

lo: Saraiva, 1997, pp. 153 e 154)(grifamos).

E, mais se justifica a condena-ção na reparação de danos genéri-cos quando se sabe que os empre-gados colocados na situação criadapela ré, submetidos à força à revistavexatória para atender a suposto in-teresse patrimonial da empresa, so-

frem do que se chame de “paralisia 

Page 266: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 266/380

273

social intimidativa do interesse de agir ”, em outras palavras, não podementrar em Juízo para contestarem osatos de sua empregadora, porque se

o fizerem serão prontamente identi-ficados e sumariamente demitidos.

Pelo exposto, requer-se a con-denação da empresa ao pagamentode indenização pelos danos genéri-cos causados, reversível ao Fundode Amparo ao Trabalhador (FAT),devendo o valor ser arbitrado, na for-ma do artigo 1.553 do Código Civil.

III — Da legitimidade e dointeresse de agir doMinistério Público doTrabalho

A legitimidade para a causa doMinistério Público advém concorren-temente dos preceitos contidos na

Lei Complementar n. 75/93, na Leida Ação Civil Pública e no Códigode Defesa do Consumidor.

A Lei Complementar n. 75/93(Estatuto do Ministério Público daUnião) estabelece:

Art. 83. Compete ao Ministé- rio Público do Trabalho o exercí- 

cio das seguintes atribuições jun- to aos órgãos da Justiça do Tra- balho: 

(...)

IV — promover a ação civil pú- blica no âmbito da Justiça do Tra- balho, para a defesa de interes- ses coletivos, quando desrespei- tados os direitos sociais constitu- 

cionalmente garantidos; 

Houve, com efeito, lesão a di-reito constitucionalmente garantido,de forma coletiva, por ato contínuo daempresa, já que a inviolabilidade

da intimidade e da honra são pre-ceitos constantes da Lei Maior.

Assim, age o Ministério Públi-co, ao propor as ações civis públi-cas, como guardião da ordem jurídi-ca e dos interesses indisponíveisdos trabalhadores constitucional-mente garantidos, como o direito àintimidade e à honra da pessoa hu-

mana. Busca-se coibir condutaatentatória dos postulados constitu-cionais da valorização do trabalho eda dignidade da pessoa humana (art.7º, art. 170, art. 193, da Constitui-ção Federal).

Com relação à adequabilidadedo rito processual ora eleito, eviden-cia-se a via da Ação Civil Públicacomo apta à satisfação da presentepretensão jurídica, tanto pelo artigosupracitado, como pelo próprio art. 1ºda Lei n. 7.347/85, que assim dispõe:

Art. 1º Regem-se pelas dispo- sições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de res- ponsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: 

(...)IV — a qualquer outro interes- 

se difuso ou coletivo; 

Ademais, o entendimento dealguns de que os interessados de-vem ingressar com ações individuaisa fim de postular seus direitos é fa-cilmente refutável, levando-se em

consideração que o próprio sentido

Page 267: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 267/380

274

da ação civil pública, que visa a pos-sibilitar o “pleno acesso à Justiça,especialmente daquelas demandas que, individualizadas, não ensejari- 

am ações individuais, mas cuja soma represente a macrolesão própria da ofensa a interesses difusos e coleti- vos (cf. Mauro Cappelletti e Bryant Garth, “O Acesso à Justiça”, Sérgio Antônio Fabris Editor, 1988, Porto Alegre).

Ressalte-se, ainda, que napresente demanda tem-se caracte-rizada não somente a lesão aos in-teresses coletivos dos trabalhadoresem questão, como também a lesãoà ordem jurídica, fato este que o Mi-nistério Público não pode abster-sede repudiar. De fato, cabe ao Parquet buscar, através do Poder Judiciário,além da reparação ao dano que osempregados da Ré sofreram, a re-paração ao dano sofrido por todasociedade, posto que a prática dis-criminatória, qualquer que seja, in-discutivelmente, afeta a ordem pú-blica, a qual deve calcar-se no prin-cípio da igualdade.

“A própria realidade forense encarregou-se de demonstrar o grande provei to socia l que adveio quando, a par de outros 

legitimados, também se cometeu ao Ministério Público a iniciativa da ação civil pública em defesa de interesses coletivos, difusos e individuais homogêneos, por- que, nesses anos todos de vigên- cia dos novos diplomas legais,das milhares de ações já movi- das, praticamente todas o foram por iniciativa ministerial”  (Hugo

Mazzilli, ob. cit., p. 222).

IV — Da antecipação da tutela

O art. 12 da Lei n. 7.347/85,que instituiu a Ação Civil Pública,

autoriza: “Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justi- ficação prévia, em decisão sujeita a agravo .”

De início, cabe ressaltar que amedida liminar prevista na ação ci-vil pública não tem natureza caute-lar, mas, cuida-se de típica hipótese de antecipação de tutela  e, desse

modo, devem estar presentes os re-quisitos do art. 273 do CPC, confor-me lição de Humberto TheodoroJúnior:

“A propósito, convém ressaltar que se registra, nas principais fontes do direito europeu contem- porâneo, o reconhecimento de 

que, além da tutela cautelar, des- tinada a assegurar a efetividade do resultado final do processo principal, deve existir, em deter- minadas circunstâncias, o poder do juiz de antecipar, provisoria- mente, a própria solução definiti- va esperada no processo princi- pal. São reclamos de justiça que fazem com que a realização do 

direito não possa, em determina- dos casos, aguardar a longa e inevitável sentença final.’’ 

Assim, fala-se em medidasprovisórias de natureza cautelar emedidas provisórias de naturezaantecipatória; estas, de cunho satis-fativo, e aquelas, de cunho apenas

preventivo.

Page 268: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 268/380

275

“Entre nós, várias leis recen- tes têm previsto, sob a forma de liminares, deferíveis inaudita alte-ra pars, a tutela antecipatória,

como, por exemplo, se dá na ação popular, nas ações locatícias, na ação civil pública, na ação decla- ratória direta de inconstituciona- lidade, etc.” ( in “As Inovações do Código de Processo Civil”, Ed.Forense, Rio de Janeiro, 1995, p.12). (grifamos)

No caso, estão presentes to-dos os requisitos que ensejam o de-ferimento de tutela antecipada. Oselementos do procedimento investi-gatório instruído pelo Ministério Pú-blico revelam que há prova inequí- voca  (art. 273 do CPC, caput ) daexistência de prática discriminatória,consubstanciada nos depoimentosprestados no curso da investigação,

bem como no Relatório da Fiscali-zação levada a cabo pela DRTE, jun-tos à presente ação.

Quanto ao requisito da veros- similhança  (art. 273, caput), estadecorre da existência de provas ine-quívocas já mencionadas.

De outra parte, há fundado re- ceio de dano irreparável ou de difí- 

cil reparação (CPC, art. 273, inc. I).Isto porque, conforme já visto, osdanos morais a que estão sujeitosos empregados vítimas da invasãoda intimidade e a perturbação dahonra perpetrada pela Ré, por suaprópria natureza não patrimonial,são, inegavelmente, de difícil repa-ração. Além disso, enquanto a em-

presa não for compelida a abster-

se dessa prática odiosa, os traba-lhadores poderão ser novamentesubmetidos ao ato constrangedorda Ré.

Ademais, o processo levarátempo para a instrução e demaisatos que lhe são per tinentes. Em ra-zão disso, necessário que sejam to-madas medidas acautelatórias parapreservar o tratamento isonômico, ahonra e intimidade dos trabalhado-res, devolvendo imediatamente aomesmos a dignidade de trabalhar

como qualquer cidadão, nos moldesda atual Carta Federal.

Cabe lembrar que o deferimen-to de tutela antecipatória e específi- ca de obrigação de não fazer já exis-te no processo do trabalho, pois oinciso IX do ar t. 659 da CLT autorizaao Juiz impedir, por medida idênticaa que ora se postula, a transferên-

cia ilegal do empregado até a deci-são final da ação.

Assim, nos termos do art. 12da Lei n. 7.347/85, requer-se, inici-almente, a concessão de medida li-minar inaudita altera pars  a fim deque seja imediatamente imposta àRé a obrigação de se abster de rea-lizar revistas indiscriminadas em

seus empregados, sem nenhumaprova ou suspeita do empregadoestar realizando algum ato ilícito,com o fito de assegurar-se a efetivi-dade do processo.

V — Pedido

Em face do exposto, requer o

Ministério Público do Trabalho:

Page 269: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 269/380

276

1. Liminarmente:

a) concessão de tutela anteci-pada, com imposição à Ré de obri-gação de não fazer, no sentido deabster-se, inclusive através de pre-postos, de qualquer forma de revis-ta pessoal (contato físico), íntima e/ ou vexatória, práticas essas consi-deradas violadoras da intimidade eda honra de todos seus empregados;

Abster-se de praticar qualquerato discriminatório em relação aosseus empregados, no sentido de não

submetê-los, durante a revista, a tra-tamento desigual;

c) na hipótese de descumpri-mento dos pedidos acima, a comi-nação de multa pecuniária de R$1.000,00 (hum mil reais), por empre-gado prejudicado e por dia de des-cumprimento, corrigidos monetaria-mente, reversível ao FAT (Fundo deAmparo ao Trabalhador), cr iado pelaLei n. 7.998/90.

2. Definitivamente:

a) manutenção da medida limi-nar requerida;

b) a condenação da Ré à in-denização por dano moral aos inte-resses difusos e coletivos dos em-pregados, apurada por uma conde-nação em dinheiro (Lei n. 7.347/85,art. 3º), a ser arbitrada pelo Juízo naforma do artigo 1.553 do Código Ci-vil Brasileiro, corrigida monetaria-mente até o efetivo recolhimento emfavor do Fundo de Amparo ao Tra-balhador, nos termos do art. 13 daLei antes citada;

c) na hipótese de descumpri-mento da decisão, cominação de mul-

ta diária de R$ 1.000,00 (hum mil reais),

por empregado prejudicado e por diade descumprimento, reversível ao FAT(Fundo de Amparo ao Trabalhador),criado pela Lei n. 7.998/90.

Ante ao exposto, deverá a Réser notificada para, querendo, com-parecer à audiência e nela apresen-tar a defesa que tiver, assumindo,caso não o faça, os efeitos decor-rentes da revelia e confissão, com oregular processamento do feito, atéo seu final, julgando-se os pedidostotalmente procedentes.

Protesta, o Ministério Público do Trabalho, pela produção de todasas provas em direito admitidas, es-pecialmente, o depoimento pessoalda ré, sob pena de confesso, oitivade testemunhas, juntada de novosdocumentos, perícia e outras maisque se fizerem necessárias duranteo transcurso da relação processual.

Requer-se, ainda, a intimaçãopessoal do Parquet dos atos proces-suais no presente feito, na qualidadede órgão agente, por força do dis-posto no artigo 18, inciso II, alíneah , da Lei Complementar n. 75/93, c/cartigo 236, parágrafo 2º, do Códigode Processo Civil.

Nestes termos, dando-se àcausa o valor de R$ 100.000,00 (cemmil reais), D. R. e A. esta, com os in-clusos documentos,

P. deferimento.

São Paulo, 12 de dezembro de2000.

Elisa Maria Brant de CarvalhoMalta, Procuradora do Trabalho da2ª Região — SP

Célia Regima Camachi Stan-der, Procuradora do Trabalho da 2ª

Região — SP

Page 270: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 270/380

277

“Vistos em Sessão.Os motivos trazidos aos autos

pelo Ministério Público autor, de-monstram-se relevantes para justifi-car a antecipação da tutela que orase concede nos termos do art. 461,§ 3º, do CPC, que é o dispositivo le-gal que regulamenta a antecipaçãode tutela que visa à obrigação denão fazer, como a pretendia.

Concede-se a antecipação di-ante da dificuldade de reparação dodano, caso se confirmem, e repitam,os fatos aduzidos na inicial.

Pelo exposto, os efeitos ante-cipados são concedidos nos seguin-tes termos:

a) impõe-se à empresa ré aobrigação de não proceder a qual-quer espécie de revista pessoal ínti-ma, com ou sem contato físico, des-de já consideradas violadoras da in-timidade, da honra e da dignidadehumanas, em seus empregadosatuais ou que venham a pertenceraos seus quadros;

DECISÃO 

b) impõe-se à empresa ré aobrigação de se abster da prática dequalquer ato discriminatório entreseus empregados atuais ou que ve-nham a pertencer aos seus quadros,quando submetidos a eventuais re-vistas ressalvadas as referidas noitem anterior, eis que aquelas estãoabsolutamente vedadas, a todos dis-pensando igual tratamento;

c) na hipótese de inobservânciadas obrigações acima, sem prejuízode quaisquer outras consequênciascivis ou criminais, fica estabelecida amulta pecuniária de R$ 1.000,00 (milreais), por cada ato violador ao em-pregado, atualizável monetariamentea partir da citação, revertendo-se asoma ao Fundo de Amparo ao Traba-lhador (Lei n. 7.998/90).

Expeça-se o competente man-dado.

No mais, aguarde-se a audiên-cia já designada.

I. Barueri, 10.01.2001.

(a) Maria Elizabeth MostardoNunes, Juíza Presidente”.

Page 271: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 271/380

278

O Ministério Público do Trabalho,com sede na Rua Ramiro Barcelos n.104, bairro Floresta, Porto Alegre/RS,CEP: 90018-000, pelas Procuradorasdo Trabalho que abaixo subscrevem,nos termos do art. 127 da CF, da Lei n.7.347/85, da Lei n. 8.078/90, da LeiComplementar n. 75/93, do artigo 769

da CLT c/c art. 798 do CPC, vem, res-peitosamente, propor a presente

AÇÃO CAUTELAR INOMINADADE BLOQUEIO DE NUMERÁRIOE DE INALIENABILIDADE DE

BENS com pedido de ordemliminar i naud i t a a l t era pars 

Contra Luiz Antonio Scarton,

brasileiro, casado, com endereço naRua Humberto Garzella, n. 41, Inde-pendência, Município de Ijuí, Estadodo RS, CEP 98700-000,como MedidaPreparatória da Ação Principal (AçãoCivil Coletiva), pelas questões de fatoe de direito que a seguir aduz:

I — Dos fatos

Por meio da imprensa e de

denúncia formalizada pelo Secretá-

 AÇÃO CAUTELAR INOMINADA DE BLOQUEIO DE 

NUMERÁRIO E DE INALIENABILIDADE DE BENS,

COM PEDIDO DE ORDEM LIMINAR  INAUDITA 

 ALTERA PARS (PRT 4ª   REGIÃO)

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DA VARA DO

TRABALHO DE IJUÍ/RS

rio de Estado do Trabalho, Cidada-nia e Ação Social, Tarcísio Zimer-mann, o Ministério Público do Traba-lho tomou conhecimento do fato deque trabalhadores brasileiros, con-tratados na Cidade de Ijuí e AugustoPestana — RS, para trabalharem em

uma fazenda na Venezuela, foramsubmetidos a condições análogas ade escravo.

Os trabalhadores retornaram aoBrasil, chegando no Rio Grande do Sulno dia 09.10.2000, ocasião em quecompareceram no Ministério PúblicoFederal e prestaram depoimentoperante o Procurador Regional dos Di-reitos do Cidadão da Procuradoria daRepública no Rio Grande do Sul, Dr.Marcelo Beckhausen e na presençados Procuradores do Trabalho, Dra.Eliane Lucina, Dra. Jane E. SousaBorges e Dr. Lourenço Andrade, doChefe da DELOPS — Departamentode Polícia Federal do Rio Grande doSul, Dr. Antônio João Ruschel e da es-crivã da Delegacia de Polícia Fede-

ral, Sra. Luciana Jop Cechin.

Page 272: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 272/380

279

Declararam os depoentes quealguns deles foram contratados peloSr. Luiz Antonio Scarton e outrospelo Sr. Rafael Scarton Strohschein,

encarregado dessa mesma fazenda,e que é sobrinho do primeiro e filhodo Sr. Egmar Strohschein. Consta,também, que o Sr. Luiz AntonioScarton é proprietário de pequenasfazendas em Ijuí e foi quem provi-denciou os passaportes e as passa-gens de ida de todos os trabalhado-res até a Venezuela.

Os senhores Carlos Lori San-

tana e Volmir Raugust trabalharamdo período compreendido entre 24de abril de 1999 e 26 de setembro de2000 e os trabalhadores SaleteCor tes Costa, Paula Costa Santana,Luiz Carlos Ferreira da Cruz, GilvanAlex Teixeira, Rosane Piaceski eMárcio André Rodrigues dos Santoslaboraram de 18 de janeiro de 2000a 26 de setembro de 2000, sem o

devido adimplemento de suas obri-gações trabalhistas, tais como salá-rios, férias, gratificações natalinas,horas extras, adicional noturno, den-tre outras.

Extrai-se dos depoimentos queo empregador prometeu, por diversasvezes, que pagaria os direitos traba-lhistas na próxima safra e, quandoesta chegava, alegava que não tinha

dinheiro. Quando os trabalhadoresperceberam que nada receberiampelo labor, comunicaram que queriamvoltar ao Brasil. O réu negou os meiospara que eles pudessem regressar,contrariando compromisso firmadoquando da contratação no sentido deque, caso pretendessem retornar aopaís, receberiam as passagens devolta. E mais, após os trabalhadores,

mediante o auxílio de seus familiares,

entrarem em contato com o Consu-lado do Brasil na Venezuela — o queoriginou um contato entre o vice-côn-sul e o Sr. Egmar Strohschein com o

objetivo de obter informações sobreo ocorrido – eles passaram a serameaçados pelo Sr. Rafael, que an-dava com uma escopeta no ombro,afirmando que “se alguém tomasse uma atitude mais severa, ele acaba- ria com a pessoa lá mesmo”. Em26.9.2000, os trabalhadores empre-enderam uma fuga, e conseguiramvoltar para o Brasil, chegando em

Porto Alegre em 06 de outubro de2000, com o auxílio de um fazendei-ro vizinho, do Consulado Brasileiro naVenezuela e do governo do Estadodo Rio Grande do Sul.

De todo o exposto e, tendo emvista as condições a que foram sub-metidos estes trabalhadores, verifica-se que a possibilidade de virem a tersatisfeitos, integralmente, os paga-

mentos de seus haveres trabalhistas,corre o sério risco de não se concre-tizar, já que os depoimentos presta-dos perante o Ministério Público Fe-deral serão encaminhados à PolíciaFederal para adoção das medidaseventualmente cabíveis no âmbito desuas atribuições, e a apuração dosfatos, pelas diversas instituições, po-derá redundar em ações empreendi-

das pelo réu tendentes à subtraçãodos efeitos da responsabilidade civil,criminal, bem como trabalhista, comrepercussões a serem suportadaspelo patrimônio do infrator, ora réu.

II — Da competência

Considerando que os traba-

lhadores foram aliciados em territó-

Page 273: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 273/380

280

rio nacional para prestarem serviçosem país estrangeiro, a primeira ques-tão a ser enfrentada é definir qual opaís que possui jurisdição para dizer

o direito. Dever-se-á estabelecer,preliminarmente, se as autoridadesnacionais são competentes paraapreciar a lide, ou se a lex fori reme-te o caso para apreciação por juris-dição estrangeira. “Cumpre não con- fundir competência da lei e compe- tência jurisdicional. Aquela diz res- peito ao problema de saber se a lei aplicável ao caso é a lei nacional ou 

a estrangeira. Esta se refere à com- petência do tribunal do país para jul- gar a questão. Como escreve Tullio Liebman, “pertencem à jurisdição brasileira todas aquelas causas que,segundo as regras internas de com- petência territorial, pertencem à competência de um juiz brasileiro”.Pouco importa que a lei aplicável seja a estrangeira. E, em tal hipóte- se, quando o juiz brasileiro tiver de aplicar a lei estrangeira “ter-se-á em vista à disposição desta, sem consi- derar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei” (artigo 16 da Lei de Introdução). (1) Ao Julgador, no planodo Direito Internacional Privado,cumpre duas tarefas antecedentes àapreciação do caso em concreto:

verificar se tem jurisdição e, a pos- teriori, definir o direito aplicável (na-cional ou estrangeiro).

Quanto à primeira questão,encontrará, na Lei de Introdução aoCódigo Civil Brasileiro, as normasdefinidoras do país que terá jurisdi-

ção e competência para apreciar alide. A competência internacional éregida pelo artigo 12, e seu parágra-fo primeiro, salvo exceções expres-

sas. “Dispõe o art.12 da Lei de Intro-dução ao Código Civil que: “É com- petente a autoridade judiciária bra- sileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cum- prida a obrigação.” E o art. 9º pre-ceitua que: “Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem”. Nostermos do art. 651, § 2º, da CLT, a

competência das Juntas do Conci-liação e Julgamento estende-se aosdissídios ocorridos em agência oufilial no estrangeiro, desde que oempregado seja brasileiro e não hajaconvenção internacional dispondoem contrário.”(2) O § 3º do art. 651 daCLT estabelece que “em se tratando de empregador que promova a rea- lização de atividades fora do lugar 

do contrato de trabalho, é assegurado ao empregado apresentar reclama- ção no foro da celebração do con- trato ou no da prestação dos respec- tivos serviços.” 

O Código de Processo Civil, noCapítulo II — Da Competência Inter-nacional em seu art. 88, disciplinasobre a competência da autoridade

 judiciár ia brasileira quando o réu,qualquer que seja sua nacionalida-de, estiver domiciliado no Brasil equando a ação se originar de fatoocorrido ou ato praticado no Brasil.

Ensina Eduardo Espínola que:“As obrigações são governadas, no

(1) Süssekind, Arnaldo. “Instituições deDireito do Trabalho”, 13ª ed., São Paulo:

LTr, 1992, pp. 173-174.

(2) Oliveira, Francisco Antonio. “Comen-tários aos Enunciados do TST”, 4ª ed.,

SP: Ed.RT, 1997, p. 544.

Page 274: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 274/380

281

seu nascimento, efeitos e extinção,pela lei cujo império foram constituí-das.”(3) No caso em exame, trabalha-dores nacionais foram aliciados em

território brasileiro, para prestaremserviços na Venezuela, por empre-gador brasileiro, domiciliado no Mu-nicípio de Ijuí/RS. Incontestável acompetência da Justiça brasileirapara apreciar a presente ação. Co-lhe-se a respeito jurisprudência denosso e.Tribunal:

“Empregado e empregador bra- sileiros, domiciliados no Brasil — Contrato de trabalho celebrado no Brasil para prestação de ser- viços no exterior — Competência da Justiça Brasileira para conhe- cer e julgar o feito  — Inteligênciados artigos 651, §§ 2º e 3º, da CLTe 88, II, do CPC (TRT 4ª Região-RO-96.033333-9- 4ª T., Relª JuízaBelatrix Costa Prado — J.6.5.1998).

Superada a definição sobre opaís que detém jurisdição no casoem concreto, a questão imediata éresolver qual o direito aplicável, seo nacional ou o estrangeiro. “Lem-bra Amílcar de Castro (Direito Inter- 

nacional Privado, Ed. Forense, 1968,p. 175, n. 252) que vários autoresafirmam que o direito que se deveobservar, a respeito do fundo e daforma do contrato de trabalho é o dolugar de sua conclusão, ou consti-

tuição (ius loci contractus ), nada im-portando o lugar da execução doserviço contratado.”(4)

O Enunciado n. 207 do c.TST,que dispõe a respeito do direito apli-cável, admite exceções, visando àrealização da justiça, sob pena desonegar-se os direitos sociais, pre-vistos na ordem jurídica brasileira, ahumildes trabalhadores, que foramexplorados em solo estrangeiro. A jurisprudência dominante pronuncia-se neste sentido:

“Contratação irregular — Tra- balho no exterior. A Lei n. 7.064/ 82, longe de ser inconstitucional,foi recepcionada pela nova ordemestabelecida com a promulgaçãoda Carta de 88. É que o EstadoSocial objetiva a proteção do tra-balho e do trabalhador, que nãopode ficar à deriva de interesses

empresariais obscuros. Na hipó-tese, a reclamada, Estacas FrankiLtda., é responsável pelo des-cumprimento das obrigações tra-balhistas, nada refletindo em de-trimento do trabalhador, uma liga-ção negocial difusa entre tal em-presa e o consórcio Gie Arispace.O princípio da lex loci executionisnão é absoluto (art.17 da LICC) e tem seu limite justamente para,como no caso, coibir fraude e aliciamento de nacionais para o trabalho a latere dos direitos so- ciais fundamentais . Argüição pre-liminar rejeitada e consideradairrelevante.” (§ 2º do art. 84 doRITRT/1ª Região). Recurso im-

(3) “A Lei de Introdução ao Código CivilBrasileiro”, 2ª ed., RJ:Renovar, 1995,

p. 335. (4) Idem nota 2.

Page 275: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 275/380

282

provido (TRT 1ª Região-RO10.257/93- 8ª T., Relª. Juíza Lenide S. P. Pereira, DORJ 15.2.1996).(Sem grifos no original.)

Octavio Bueno Magano, em bri-lhante artigo publicado na RevistaLTr 51-8/917-920, intitulado “Confli-tos de Leis Trabalhistas no Espaço(Lineamentos)”, esclarece sobre otema:

“Cumpre assinalar, por outrolado, que a prioridade atribuída à lex 

loci laboris não exclui sempre a apli-cação concomitante da lei comumdas partes contratantes, quando sejaesta mais favorável ao trabalhador.A incidência concomitante de ele-mentos de conexão diversos expli-ca-se pelo cuidado do Estado de ori-gem de não permitir que o seu súdi-to se submeta a condições de traba-lho inferiores ao padrão mínimo por

ele estabelecido. (Rodière, ob.cit., p.126). (...)

Quando é o caso, porém, detrabalhadores aliciados no Brasil,para trabalharem no exterior, o Es-tado se sente na obrigação de nãoos deixar ao desamparo, ante a pos-sibilidade de ficarem submetidos àlegislação de nível inferior à sua. Daí

a aplicação concomitante de doiselementos conexos: o da lex loci laboris e o da lei comum dos contra-tantes (Rodière, ob. cit., p. 126)(...)

Cumpre registrar, ainda, que aLei n. 7.064/82 possui campo de in-cidência circunscrito aos trabalhado-res vinculados a empresas presta-doras de serviços de engenharia e

outros serviços conexos. Mas por

isso que nela se refletem diretrizesuniversalmente adotadas, na solu-ção de conflitos especiais de leis tra-balhistas (Rodière, ob. cit., p. 127),

entendemos que, por analogia, deve ser aplicada em qualquer hipótese em que os trabalhadores domicilia- dos no Brasil sejam mandados para o exterior, ou em virtude de transfe-rência em decorrência de contratoadrede celebrado para o apontadoefeito.

Por último, é mister tecer algu-

mas considerações a respeito do cri-tério de seleção de normas aplicá-veis, quando se trata da incidência concomitante de dois elementos de conexão: o da territorialidade e o da lei comum das partes. A importância dessa questão sobressai ante a re- gra constante do artigo 3º, item II, da Lei n. 7.064/82, que manda aplicar a legislação trabalhista brasileira a tra- 

balhadores transferidos para o exte- rior, “quando mais favorável do que a legislação territorial, no conjunto de normas e em relação a cada maté- ria .” Desume-se da indigitada normaque ora aplicar-se-á a legislação bra-sileira, ora territorial, conforme a queseja mais favorável ao trabalhador. Eé exatamente por isso que se fala emaplicação concomitante de dois ele-

mentos de conexão.(...)À guisa de conclusão, pode-se

afirmar, sem rebuços, que o critérioaqui preconizado é o único compa-tível com a regra do art. 3º, n. II, daLei n. 7.064/82, onde se ordena a aplicação da legislação brasileira “quando mais favorável do que a le- gislação territorial, no conjunto de 

normas e em relação a cada maté- 

Page 276: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 276/380

283

ria.” Note-se que o  canon legal em tela não alude a cada preceito e sim a cada matéria, isto é, a cada con-  junto de normas agrupadas sob a 

forma de instituto jurídico.” Neste compasso, tem-se que

a lei aplicável, no caso em tela, é alei brasileira, como se demonstraráno curso da ação principal.

III — Da ação coletiva cautelar

Trata-se de ação coletiva cau-telar para a defesa de interesses in-dividuais homogêneos de emprega-dos lesados, promovida pelo Minis-tério Público do Trabalho. A compe-tência para apreciá-la é da Justiçado Trabalho, já que trata de questãoa qual reclama imperativamente auma atuação urgente do Parquet para o resguardo dos direitos indivi-

duais homogêneos destes emprega-dos, visando à reparação dos seushaveres trabalhistas, sonegados du-rante toda a contratualidade.

O Código de Defesa do Con-sumidor previu a possibilidade dedefesa coletiva de direitos subjetivosindividuais (arts. 91 a 100), atribuin-do aos entes legitimados do art. 82

o ajuizamento das ações civis cole-tivas, entre eles o Ministério Públi-co. Originariamente, no presente fei-to, incumbe à Vara do Trabalho deIjuí o dever de entregar a prestação jurisdicional, nos termos do inciso Ido art. 93 da Lei n. 8.079/90, Códigode Defesa do Consumidor (aplicávelsubsidiariamente à Lei de Ação Ci-

vil Pública, conforme autorização

contida no art. 21), que dispõe quea ação deve ser proposta no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local. O

ato ilícito de aliciamento destes tra-balhadores, sem a correspondenteanotação dos contratos de trabalho,ocorreu nos Municípios de Ijuí e Au-gusto Pestana, o que impõe comoforo competente a Vara do Trabalhoem Ijuí.

IV — Da legitimidade doMinistério Público doTrabalho

O Ministério Público é instituiçãopermanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, doregime democrático e dos interessessociais e individuais indisponíveis

(art. 127 da Constituição Federal).Para o cumprimento dessa missãoconstitucional, ao Ministério Públicoé conferida a legitimidade para pro-mover a ação civil coletiva (art. 21da Lei n. 7.347/85 e art. 91 da Lei n.8.078/90), cujo instrumento proces-sual é destinado à tutela dos inte-resses individuais homogêneos.

A Lei Complementar n. 75/93,Lei Orgânica do Ministério Públicoda União, em seu art. 6º, VII, d  c/ccaput do art. 84, expressamente atri-bui o dever de promover a ação civilpública para a proteção dos interes-ses individuais indisponíveis, homo-gêneos, sociais, difusos e coletivosao Ministério Público da União, ao

qual pertence o Ministério Público do

Page 277: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 277/380

284

Trabalho. Sobre o tema colhem-se osensinamentos do mestre ManoelAntonio Teixeira Filho, in verbis: 

“Entendemos, portanto, que o Ministério Público do Trabalho detém legitimidade para exercer a ação ci- vil pública devotada à defesa de inte- resses e direitos: a) difusos; b) cole- tivos; c) individuais homogêneos.Devemos reiterar nossa advertência quanto à possibilidade de estes últi- mos, a despeito de serem individuais,assumirem, no seu conjunto, feição coletiva, cuja violação poderá acar- retar graves perturbações à ordem  jurídica estabelecida (Constituição Federal, art.127). De qualquer forma,o precitado dispositivo constitucional atribui ao Ministério Público, também,a incumbência de empreender a de- fesa dos interesses individuais.” (5)

(Sem grifos no original.)

Hugo Nigro Mazzilli, dissertan-

do sobre o objeto de atenção do Mi-nistério Público, resume numa tríade:“a) ou zela para que não haja dispo- sição alguma de interesse que a lei considere indisponível; b) ou, nos casos em que a indisponibilidade é apenas relativa, zela para que a dis- posição daquele interesse seja feita conformemente com as exigências da lei; c) ou zela pela prevalência do 

bem comum, nos casos em que não haja indisponibilidade do interesse,nem absoluta nem relativa, mas es- teja presente o interesse da coleti- vidade como um todo na solução do problema. Dessa forma, as funções 

institucionais do Ministério Público devem ser iluminadas pelo zelo de um interesse social ou individual in- disponível, ou então, pelo zelo de um 

interesse difuso ou coletivo. Sua atuação processual dependerá ora da natureza do objeto jurídico da demanda, ora se ligará à qualidade de uma das partes, porque: a) de seus interesses não possam estas dispor, de forma absoluta ou limita- da; b) os titulares dos interesses em litígio padeçam de alguma forma de acentuada deficiência, que justifique e provoque a intervenção protetiva ministerial. Em suma, desde que haja alguma característica de indis- ponibilidade parcial ou absoluta de um interesse, ou desde que a defe- sa de qualquer interesse, disponível ou não, convenha a coletividade como um todo, será exigível a inicia- tiva do Ministério Público junto ao 

Poder Judiciário. (...) em todas as suas atividades o Ministério Público sempre atua na defesa do interesse público primário, em busca de rele- vantes valores democráticos, em especial assegurando o acesso do cidadão à prestação jurisdicional e à Justiça.” (6) (Sem grifos no original.)

Dificilmente estes emprega-

dos, amedrontados pelas ameaçassofridas, ingressarão com ações in-dividuais, pois temem até mesmo porsua integridade física, privando-seda proteção conferida pela lei, e frus-trando, em última análise, o fim pre-cípuo da legislação do trabalho, daí

(5) In  Curso de Processo do Trabalho:perguntas e respostas sobre assuntospolêmicos em opúsculos específicos,

n. 23: ação civil pública. — SP:LTr, p.19.

(6) In O Acesso à Justica e o MinistérioPúblico. 3ª ed., São Paulo: Saraiva, 1998,

pp. 16 e 29.

Page 278: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 278/380

285

exsurge a relevância social do inte-resse de toda a sociedade em verrespeitada a ordem jurídica.

Busca-se a tutela de direitosindividuais homogêneos decorrentesde origem comum, conforme concei-tuação do inciso III do art. 81, pará-grafo único, do Código do Consumi-dor — Lei n. 8.078/90, que, em ra-zão da repercussão social causadapelo flagrante desrespeito à legisla-ção do trabalho, merece ser tutela-do pela atuação do Ministério Públi-

co do Trabalho, segundo autorizaçãocontida no art. 6º, inciso XII, da Lein. 75/93, in verbis: “Art. 6º Compete ao Ministério Público da União: (...)XII — propor ação civil coletiva para a defesa de interesses individuais homogêneos.” 

As características principaisdos direitos individuais homogêneossão: a) possibilidade de tratamento

coletivo, não obstante a natureza in-dividual, em virtude de se originaremde uma situação comum, com feiçãohomogênea; b) englobam uma sériede indivíduos perfeitamente identifi-cados ou identificáveis; c) os interes-ses são divisíveis entre os sujeitos;d) a ligação entre os indivíduos de-corre da origem comum em razão daqual os interesses decorrem(7); e d)natureza reparatória. Colacionam-sesobre o tema as magistrais lições deAda P. Grinover: “(...) o interesse so- cial surge do fato de a controvérsia não ser tratada, de acordo com as 

categorias processuais clássicas,mas ser vista, no âmbito coletivo, não mais pela soma de interesses indivi- duais homogêneos, mas frente a um 

feixe de interesses de massa. É cer- to que cada interesse individual pode ter solução no plano do processo clássico, por intermédio de ações ou reclamações trabalhistas. Não há dúvida. Nesse caso, tratar-se-á in- questionavelmente de um direito,mais ou menos disponível, individu- al. Mas na medida que enfeixamos estes interesses individuais como um 

todo conduzindo-os conjuntamente à solução processual, estamos confe- rindo dimensão política ao tratamen- to coletivo dos interesses, que dei- xam, portanto, de pertencer ao pla- no meramente individual, para serem transportados ao plano social.

Essa é uma visão pela qual se  justificaria, de per si, a legitimidade 

do Ministério Público para a condu- ção em juízo dos interesses indivi- duais homogêneos, coletivamente tratados.” (8)

A jurisprudência do SupremoTribunal Federal pacificou a cizânia arespeito da legitimidade do MinistérioPúblico para a defesa dos interessesindividuais homogêneos, definindo-oscomo subespécie dos interesses co-letivos, transcreve-se, in verbis, emen-ta de v. Acórdão proferido:

“Recurso extraordinário. Cons- titucional. Legitimidade do Minis- 

(7) “Os Interesses Jurídicos Transindivi-duais: Coletivos e Difusos”, Xisto Tiagode Medeiros, Revista do Ministério Pú-blico do Trabalho do RN, n. 02, agosto

de 1999, Natal, RN, p. 21.

(8) “A ação civil pública no âmbito daJustiça do Trabalho: pedido, efeitos dasentença e coisa julgada”, Revista do Mi-nistério Público do trabalho, SP, n. 2,

1998, p. 50.

Page 279: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 279/380

286

tério Público para promover ação civil pública em defesa dos inte- resses difusos, coletivos e homo- gêneos. Mensalidades escolares: 

capacidade postulatória do parquet para discuti-las em juízo.

a) A Constituição Federal con- fere relevo ao Ministério Público como instituição permanente, es- sencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime de- mocrático e dos interesses so- 

ciais e individuais indisponíveis (CF, ar t. 127). 2. Por isso detém o Ministério Público capacidade postulatória, não só para abertu- ra do inquérito civil, da ação pe- nal pública e da ação civil pública para a proteção do patrimônio pú- blico e social, do meio ambiente,mas também de outros interesses difusos e coletivos (CF, art. 129, I 

e III). 3. Interesses difusos são aqueles que abrangem número indeterminado de pessoas unidas pelas mesmas circunstâncias de fato e coletivos aqueles que per- tencem a grupos, categorias ou classes de pessoas determiná- veis, ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação  jurídica base. 3.1. A indetermini- dade é a característica fundamen- tal dos interesses difusos e a determinidade a daqueles inte- resses que envolvem os coletivos.4. Direitos ou interesses homogê- neos são os que têm a mesma origem comum (art. 81, III, da Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990) constituindo-se em subes- 

pécie de direitos coletivos. 4.1.

Quer se afirme interesses coleti- vos ou particularmente interesses homogêneos, stricto sensu, am- bos estão cingidos a uma mesma 

base jurídica, sendo coletivos ex- plicitamente dizendo, porque são relativos a grupos, categorias ou classes de pessoas, que con- quanto digam respeito às pesso- as isoladamente, não se classifi- cam como direitos individuais para o fim de ser vedada em ação civil pública, porque sua concep- ção finalística destina-se à prote- 

ção desses grupos, categorias ou classes de pessoas. 5. As chama- das mensalidades escolares,quando abusivas ou ilegais, po- dem ser impugnadas por via de ação civil pública a requerimento do Ministério Público, pois ainda que sejam interesses homogêne- os de origem comum, são subes- pécies de interesses coletivos, tu- telados pelo Estado por esse meio processual como dispõe o artigo 129, inciso III, da Consti- tuição Federal. 5.1. Cuidando-se de tema ligado à educação, am- parada constitucionalmente como dever do Estado e obrigação de todos (CF, art. 205), está o Minis- tério Público investido da capaci- 

dade postulatória, patente a legi- timidade ad causam, quando o bem que se busca resguardar-se insere na órbita dos interesses coletivos, em segmento de extre- ma delicadeza e de conteúdo so- cial tal que, acima de tudo, reco- menda-se o abrigo estatal.”  Re-curso extraordinário conhecido eprovido para, afastada a alegada

ilegitimidade do Ministério Públi-

Page 280: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 280/380

287

co, com vista à defesa dos inte- resses de uma coletividade, de- terminar a remessa dos autos ao Tribunal de origem, para prosse- 

guir no julgamento da ação’’ (STF- RE 163231-3-SP, Pleno, Rel.: Min.Maurício Corrêa).(9)

Assim, não resta dúvida quan-to à legitimação do Ministério Públi-co para propor a ação cautelar pre-paratória da ação civil coletiva. A Lein. 8.079/90, que instituiu o Códigode Defesa do Consumidor, distinguetrês hipóteses de tutela coletiva es-tabelecidas no parágrafo único doseu art. 81, conceituando-as indivi-dualmente em cada um de seus in-cisos: “A defesa coletiva será exer- cida quando se tratar de: (....) III — interesses ou direitos individuais ho- mogêneos, assim entendidos os de- correntes de origem comum”, cujoconceito se amolda à espécie.Rodolfo de Camargo Mancuso (10),assim se manifesta sobre a matéria:“Um campo onde recentemente sevêm detectando interesses metain-dividuais de natureza coletiva é odas relações de trabalho. JoséEduardo de Souza Maia assinala:‘quando se fala em interesse coleti-vo, não podemos deixar de conside-

rar a área extensa dos interessessuperindividuais nas relações labo-rais’. Traz à colação artigo de IvesGandra da Silva Martis Filho, ondesão dados estes exemplos: a) (...);

b) (...); c) (...); d) (...); f) ‘utilização de trabalho escravo, no meio rural,sem pagamento de salários e com proibição de saída do local’.” Diante

do exposto, torna-se inquestionávela legitimidade do Ministério Públicopara promover, perante da Justiça doTrabalho, a defesa dos interessesindividuais homogêneos dos ex-em-pregados, violados em face do não-pagamento de seus direitos traba-lhistas, ainda mais, no caso em aná-lise, em que os serviços foram pres-

tados em um outro país e em condi-ções precárias, sem nenhum paga-mento de salário durante toda a vi-gência do pacto, sendo necessáriaa intervenção de autoridades brasi-leiras para trazer de volta os traba-lhadores.

V — Do cabimento da medida

cautelar e da liminar

O Ministério Público do Traba-lho ajuíza a presente medida caute-lar, com pedido de ordem liminarinaudita altera pars, cujo cabimentose justifica diante das condiçõesdegradantes a que foram submetidosos empregados do réu em afronta àdignidade da pessoa e em total des-

respeito ao ordenamento legal vi-gente. O empregador manteve estestrabalhadores em situação análogaa de escravos, dando-lhes apenasalimentação e obrigando-os a pres-tar serviços em jornadas extenuan-tes e em condições precárias. Alémdisso, era impossível o retorno dosmesmos para o Brasil por dois moti-

vos: ausência de dinheiro para arcar

(9) Genesis , Curitiba, 11(66): 889-931, junho 1998.(10) “Interesses Difusos — conceito elegitimação para agir”, São Paulo, 4ª ed.,

RT, p. 52.

Page 281: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 281/380

288

com os custos da viagem e reten-ção dos passaportes pelo encarre-gado da fazenda.

“Na realidade a ordem jurídica estatal oscila entre dois ideais, de certo modo inconciliáveis na prática: o ideal de justiça e o de efetividade dos direitos subjetivos. Na medida em que se atende a um deles, desa- tende-se, ou atende-se com menor eficiência ao outro. A busca de uma  justiça perfeita resulta, na prática,muitas vezes, em evidente injustiça,

uma vez que a demora na busca da verdade enseja aos litigantes mali- ciosos e desonestos amplas possi- bilidades de que a prestação juris- dicional se torne vazia de sentido,ou sensivelmente diminuída de va- lor, seja porque o demandado, sa- bendo-se sem razão, faz desapare- cer, enquanto a causa é debatida, as garantias patrimoniais com que con- 

tava o demandante para a satisfação de seu direito, seja porque o simples decurso do tempo se encarrega de tornar ilusório o reconhecimento ju- dicial da pretensão perseguida pela parte com sua ação.” (11)

Embasa sua pretensão no po-der geral de cautela conferido aosMagistrados, a respeito leciona omestre Manoel Antonio Teixeira Fi-lho, in verbis :(12)

“Estamos convencidos de que se o processo civil encontrou fortes motivos para conceder ao juiz um 

poder geral de cautela, o processo do trabalho, a fortiori, reclama para os juízes especializados idêntica potestade. A razão é lógica e se en- 

contra estampada no art. 765 da CLT, que atribui ao magistrado do trabalho “ampla liberdade na dire- ção do processo...”. Essa amplitude de liberdade, concedida pela lei, justifica não só o impulso oficial do  juiz, em relação a determinados atos do procedimento (p. ex., a inti- mação de testemunhas: art. 825,parágrafo único; o início da execu- 

ção: art. 878, caput etc.), mas a pró- pria necessidade de outorgar-lhe um genérico poder de acautelamen- to, destinado acima de tudo, a evi- tar que atos do réu possam causar aos interesses do autor lesões gra- ves e de difícil reparação.

Esse poder geral de cautela,previsto no art. 798 do CPC, pene- 

tra o processo do trabalho pelo per- missivo do art. 769 da CLT e se ajus- ta, com absoluta harmonia, à decla- ração contida no art. 765 do texto trabalhista.

Como exemplos de algumas situações em que será possível pe- dir-se ao juiz do trabalho uma provi- dência acautelatória inominada, re- lacionamos os seguintes: a) (...); b)impedir que o réu se desfaça de to- dos os seus bens, com o objetivo de frustrar a futura execução de senten- ça; c) (...); d)(...); e)(...); f) determi- nar a indisponibilidade, até certo valor, de dinheiro existente em con- ta bancária, caderneta de poupan- ça etc., pertencente ao réu, a fim de possibilitar seja satisfeita a execução 

vindoura.” 

(11) Silva, Ovídio A. Baptista da. “A AçãoCautelar Inominada no Direito Brasilei-ro”, RJ:Forense, 1992, pp.102/3.(12) “As ações Cautelares no Processo

do Trabalho”, 4ª ed., SP:LTr, 1996, p.166.

Page 282: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 282/380

289

Caso não ajuizada a presentemedida cautelar, o trâmite normal daação civil coletiva poderia tornar inó-cua a prestação jurisdicional, propi-

ciando a dilapidação do patrimôniodo devedor, o que frustraria futuraexecução judicial.

A concessão da liminar inau- dita altera pars  torna-se, diante doquadro atual, indispensável e inadiá-vel, sob pena de os trabalhadoressofrerem prejuízo irremediável, poiso processo principal se tornará inó-

cuo em face da ausência de benssuficientes para pagar o valor dacondenação, caso o réu tente sub-trair-se dos efeitos das condenaçõesimpostas nos âmbitos penal, civil etrabalhista.

De outro lado, não haverá con-seqüências práticas irreversíveispara o réu/devedor, pois, “se a me- dida cautelar deve durar enquanto 

existir o estado perigoso, então a exis- tência fundamental é que ela não crie uma situação fática definitiva ou uma situação cujos efeitos sejam irreversíveis. Quer dizer, a medida cautelar deverá ser em si mesma temporária, e igualmente temporária em seus efeitos.” (13)

São condições da ação caute-

lar o fumus boni iuris e o periculum in mora , podendo-se definir o primei-ro como “a plausibilidade do direitosubstancial invocado por quem pre-tenda a segurança”; o segundo“como um risco que corre o proces-

so principal de não ser útil ao inte-resse demonstrado pela parte, emrazão do periculum in mora , riscoesse que deve ser objetivamente

apurável.”(14)

O Julgador deve ter em menteque o “conceito de tutela cautelar é a exigência de que o direito acaute- lado seja tratado, no juízo da ação assegurativa, não como um direito efetivamente existente, e sim como uma simples probabilidade de que ele realmente existe. A urgência que 

é o verdadeiro “pano de fundo” a le- gitimar a jurisdição cautelar impõe que o julgador proveja baseado em cognição sumária e superficial que a doutrina costuma indicar como fumus boni iuris, impedindo a segu- rança que um julgamento fundado em prova plena, capaz de conduzir a um juízo de certeza. A exigência de cognição sumária, imposta pela 

natureza da tutela cautelar, insere-a definitivamente na classe dos pro- cessos sumários, sob dois aspectos: a demanda cautelar é sumária não só sob o ponto de vista material,como além disso exige uma forma sumária de procedimento, por via do qual ela se haverá de realizar. (...)

O juízo de simples verossimi- lhança desempenha, na verdade,uma função de relevância mais pro- funda, relativamente à tutela caute- lar e, de um modo geral, com rela- ção a todo o fenômeno jurisdicional.Pode-se dizer que o juízo de proba- bilidade do direito para cuja prote- ção se invoca a tutela assegurativa 

(13) Silva, Ovídio A. Baptista da. “Cursode Processo Civil — Processo Cautelar(Tutela de urgência)”, v. 3, 2ª ed., SP: Re-

vista dos Tribunais, p. 57.

(14) Theodoro Júnior, Humberto. “Proces-

so Cautelar”, 4ª ed., RJ: Forense, p. 73.

Page 283: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 283/380

290

(cautelar) é não apenas pressupos- to, mas igualmente exigência desta espécie de atividade jurisdicional.Com efeito, a proteção não apenas 

pressupõe a simples aparência do direito a ser protegido, mas exige que ele não se mostre ao julgador como uma realidade evidente e indiscutível.Quer dizer, a tutela cautelar justifica- se porque o juiz não tem meios de averiguar, na premência de tempo determinada pela urgência, se o di- reito realmente existe.” (15)

No caso concreto, o fumus boni iuris  restou sobejamente de-monstrado e caracterizado, decor-rendo das provas já produzidas nosautos do Inquérito Civil Público, ins-taurado pelo Ministério Público doTrabalho, e que denunciam a totalinobservância da legislação do tra-balho, submetendo diversos traba-lhadores a um regime de escravidão

na Venezuela: a) Termo de Declara-ção prestado perante o MinistérioPúblico Estadual, pelo Sr. LourençoRoge Santana (irmão do ex-empre-gado Carlos Lori Santana); b) Termode Declaração prestado pelo Sr.Carlos Lori Santana (ex-empregado),na Superintendência Regional daPolícia Federal em Roraima; c) Rela-tório do Coordenador do FGTAS/ 

SINE — Ijuí, que comprova o enca-minhamento, pelo SINE, de traba-lhadores ao réu, para prestarem ser-viços na Venezuela; d) Termo deDepoimento, prestado na Procurado-ria Regional dos Direitos do Cidadãoda Procuradoria da República no RS,por ex-empregados do réu. Sinale-

se, ainda, que estes trabalhadores,ao abandonarem suas cidades, des-fizeram-se de seus pertences, por-que pretendiam iniciar uma vida nova

em outro país, e encontram-se atu-almente com sérias dificuldades fi-nanceiras.

Em relação ao periculum in mora, corre-se o risco de ser frustra-da a satisfação dos direitos sociaisdestes trabalhadores, caso aguarde-se o final da demanda, causando-lhes grave lesão e de difícil repara-

ção, diante do provável desfazimen-to do patrimônio do requerido. Regis-tre-se que este temor se confirma,pois, em diligências feitas no Regis-tro de Imóveis de Ijuí, verificou-se queo réu não figura como proprietário debens imóveis neste município. A De-legacia de Trânsito de Ijuí informouque o réu possui apenas um veículo(marca Ford/ Belina, ano 1983).

Ademais, levando-se em contao longo período que os trabalhado-res ficaram à disposição do empre-gador, sem a percepção de qualquerdireito trabalhista, o quantum devidoexcede, e em muito, o valor de referi-dos bens, razão pela qual se tornaurgente e necessária a ordem limi-nar inaudita altera pars, requerida napresente ação cautelar, visando àgarantia dos créditos trabalhistas.

O Setor de Contabilidade des-ta Procuradoria calculou os créditostrabalhistas dos ex-empregados doréu, que empreenderam a fuga daVenezuela (Carlos Lori Santana,Salete Cortes Costa, Paula CostaSantana, Luiz Carlos Ferreira, GilvanAlex Teixeira, Volmir Raugust, Rosa-

ne Piaceski, Márcio André Santos),(15) Ob. cit., nota 13, pp. 58/9.

Page 284: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 284/380

291

chegando ao valor total de R$190.352,62 (cento e noventa mil, tre-zentos e cinqüenta e dois reais esessenta e dois centavos), valor

muito além do patrimônio encontra-do em nome do réu.

VI — Da medida liminar

Diante do exposto, e com baseno art. 804 do Código de ProcessoCivil, requer a Vossa Excelência aconcessão de ordem liminar inaudi- 

ta altera pars , para:1 — decretar a quebra do sigi-

lo bancário do réu, oficiando-se, comurgência, via fac-símile, ao BancoCentral do Brasil, para que informetodas as modalidades de contasbancárias (conta-corrente, conta-aplicação-financeira, conta-poupan-ça etc.) em nome de Luiz AntonioScarton, cujos dados pessoais sãoos seguintes: filho de Avelino Scartone Nelsinha Andreatta Scarton, RGn. 1025975473, CIC n. 39731480072;

2 — determinar, neste mesmoato, o bloqueio de dinheiro nas refe-ridas contas bancárias em nome doréu, no valor de R$ 190.352,62 (cen-to e noventa mil, trezentos e cinqüen-ta e dois reais e sessenta e dois cen-

tavos), a fim de ser assegurado ointegral pagamento dos haveres tra-balhistas destes ex-empregados,cujo depósito deverá ficar à disposi-ção desse MM. Juízo;

3 — decretar a quebra do si-gilo fiscal do réu, oficiando-se, comurgência, via fac-símile, à ReceitaFederal em Brasília, para que infor-

me todos os bens móveis e imóveis

em nome de Luiz Antonio Scarton(dados pessoais especificados noitem “1”);

4 — determinar a indisponibi-lidade dos bens móveis e imóveis,necessários para a integral satisfa-ção dos créditos trabalhistas dosempregados nominados nesta ação,efetuando-se, respectivamente, ocompetente depósito judicial com aintimação do depositário nos termosdo art. 148 e seguintes do CPC, e aaverbação de cláusula de inaliena-

bilidade no registro competente (art.167, II, 11 e art. 247, ambos da Lein. 6.015/73).

VII — Dos pedidos

Requer, ainda, o autor:

a) a citação do réu, após efeti-vado o bloqueio de numerário e de-

cretada a indisponibilidade de bensnecessários para a integral satisfaçãodos créditos trabalhistas destes em-pregados, para, querendo, contestara presente ação, sob as penas da lei;

b) a confirmação, em definiti-vo, da decisão liminar, no caso dodeferimento do mandado; e

c) independentemente da con-cessão ou não do mandado liminar,ao final, a procedência dos pedidosconstantes na presente ação, ouseja:

1 — determinar o bloqueio dedinheiro nas referidas contas ban-cárias em nome do réu, no valorde R$ 190.352,62 (cento e noven-

ta mil, trezentos e cinqüenta e dois

Page 285: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 285/380

292

reais e sessenta e dois centavos),a fim de ser assegurado o integralpagamento dos haveres trabalhis-tas destes ex-empregados, cujo

depósito deverá ficar à disposiçãodesse r. Juízo, intimando-se os ban-cos em que o réu possua dinheiro,para que cumpram a ordem judici-al no prazo que lhe for assinado;

2 — determinar a indisponibili-dade dos bens móveis e imóveis,declarados à Receita Federal, ne-cessários para a integral satisfaçãodos créditos trabalhistas dos em-

pregados nominados nesta ação,efetuando-se, respectivamente, ocompetente depósito judicial coma intimação do depositário nos ter-mos do art. 148 e seguintes doCPC, e a averbação de cláusula deinalienabilidade no registro compe-tente (art. 167, II, 11 e art. 247,ambos da Lei n. 6.015/73);

d) a intimação pessoal com aremessa dos autos nos termos doart. 18, II, h da Lei n. 75/93.

Requer, finalmente, seja im-primido o caráter sigiloso no presen-te processo, a teor do que dispõe o§ 1º do art. 38 da Lei n. 4.595, de

31 de dezembro de 1964.Não obstante a farta documen-

tação já juntada, o autor requer aprodução de todos os meios de pro-va em direito admitidos, especial-mente, o depoimento pessoal do réu,sob pena de confissão, juntada denovos documentos e oitiva de teste-munhas.

Dá-se à causa o valor de R$190.352,62 (cento e noventa mil, tre-zentos e cinqüenta e dois reais esessenta e dois centavos) para osefeitos legais.

Pede deferimento.

Porto Alegre, 19 de outubro de2000

Eliane Lucina Jane E. SousaBorges, Procuradora do TrabalhoProcuradora do Trabalho.

DECISÃO 

Vistos, etc. ...

Trata-se do procedimentoacautelatório no qual o MinistérioPúblico do Trabalho intenta bloqueio de numerário e de inalienabilidade de bens de Luiz Antonio Scarton, bus-cando as providências mediante or-dem liminar, inaudita altera pars.

Relata, basicamente, que tra-balhadores brasileiros estiveram a

serviço do requerido na Venezuela,

onde foram submetidos a condições

análogas a de escravos, sem quesequer as prerrogativas trabalhistasmínimas (dentre outras salários, fé-rias, natalinas, horas extras e adicio-nal noturno) tenham sido adimplidas.Assevera que a possibilidade de sa-tisfação dos haveres corre sério ris-co de não se concretizar. Discorresobre a competência para a deman-da e a legislação aplicável à espé-

cie. Fundamenta a propositura da

Page 286: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 286/380

293

ação coletiva cautelar, assegurando-se detentor de legitimidade a tanto.Expressa objetivamente quais asgarantias liminares pretendidas e

formula outros pleitos de estilo, ane-xando farta documentação compro-batória do alegado.

Os autos vêm conclusos aexame.

É o relatório.

Decide-se.

1. Legitimação do MinistérioPúblico

A teor das normas legais invo-cadas na inaugural, e na esteira daexaustiva fundamentação, ampara-da em doutrina e jurisprudência, tudodescrito às fls. 10 a 15 dos autos, oMinistério Público do Trabalho titu-lariza legitimidade à ação proposta.

2. Medida cautelar

Consoante estatuído no artigo798 do Código de Processo Civil, deaplicação subsidiária à espécie,pode o Juízo, quando houver fun-dado receio de que uma parte causaao direito da outra lesão grave e dedifícil reparação, determinar, alémdos procedimentos cautelares espe-cíficos, as medidas provisórias que  julgar adequadas .

Aos termos da legislação atual,faculta-se a opção entre a segurança proporcionada por um juízo de cer-teza com prova plena acerca do di-reito protegido, e a efetividade do direi- to , advinda da constatação de mera

aparência ou verossimilhança.

Inequívoca a opção exercidapelo legislador brasileiro, não obs-tante a estrutura adotada pelo Códi-go de Processo Civil de 1973 ao dis-

ciplinar as várias funções a serematendidas pelo processo, de certaforma limitada pois retida sob os tí-tulos de Processo de Conhecimen-to, Processo de Execução e Proces-so Cautelar.

É que a realidade social, a qualo direito necessariamente se adap-ta, tem demonstrado que as várias

funções jurisdicionais não constitu-em departamentos isolados, eis que,não raramente, se mesclam e inter-penetram, de acordo com as pecu-liaridades do caso concreto.

Por outro lado, é igualmenteinduvidoso que as regras processuaiscivis que tratam da função acautela-tória se aplicam ao Processo Traba-lhista, ante o silêncio da CLT no to-

cante à matéria. Não obstante aoserem transpostas sofrem elas anecessária adaptação, exigida emvirtude dos princípios peculiaresem que se alicerça este ramo dasciências jurídicas. É oportuno que sereproduza, aqui, a lição de GalenoLacerda, in Comentários ao Códigode Processo Civil, Ed. Forense, vol.VIII, 2ª edição, 1981:

“Por isso, a teor do art. 797 —‘só em casos excepcionais, expres-samente autorizados por lei, deter-minará o juiz medidas cautelares semaudiência das partes’ — ao transmu-dar-se subsidiariamente para o pro-cesso trabalhista, deverá ser inter-pretado de modo extensivo e condi-zente com os princípios sociais que

informam esse direito, e com o con-

Page 287: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 287/380

294

seqüente relevo e autonomia quenele adquirem os poderes do juiz,consubstanciados até, na execuçãode ofício. Não há necessidade, pois, de

autorização legal ‘expressa’ à inicia-tiva judicial cautelar. Esta há de en-tender-se legítima e implícita, em vir-tude da própria incoação executóriaque a lei faculta ao magistrado”.

Na senda dos ensinamentosde Ovídio A. Baptista da Silva, in Curso de Processo Civil, volume III,Sérgio Antonio Fabris Editor, 1993,

entende-se que “a tutela cautelar é uma forma de proteção jurisdicional que, em virtude da situação de ur- gência, determinada por circunstân- cias especiais, deve tutelar a simples aparência do direito posto em esta- do de r isco de dano iminente”.

É, pois a idéia do risco  quepreside a atividade acautelatória,assertiva essa com a qual concordao Professor Alcione NiederauerCorrea, in Das Ações Cautelares noProcesso do Trabalho, Ed. LTr, 1977:

“... o pleno conhecimento da natureza da pretensão cautelar pode levar-nos a uma melhor identificação das condições que o autor deve pos- suir para poder utilizar o remédio processual da cautela. E isso nos 

leva desde já, ao problema da segu- rança, considerada em si mesma,bem como aos princípios do fumus boni juris e do  periculum in mora.Ambos produzem, a despeito das teorias que informaram para explicá- los, uma única idéia: a do risco.” 

Assim é que, ao se examinaro cabimento de medida acautelató-

ria, há que se identificar, concreta-

mente, qual o interesse jurídico amea-çado de dano iminente, a exigir aproteção cautelar. Como assinalaOvídio A. Baptista da Silva, o requi-

sito de existência de “uma situaçãocautelanda” constitui a linha demar-catória que imprime, com nitidez, adistinção entre as doutrinas que en-tendem terem as medidas cautela-res a finalidade de servir, exclusiva-mente, de instrumento ao processoe àquela a qual se filia, de que estasmedidas objetivam a defesa do direi-to da parte que as postula. É pois,

necessária a indicação do interesseque o autor quer ver protegido.

O segundo requisito indispen-sável a fundamentar a pretensãoacautelatória consiste no periculum in mora , que Ovídio Baptista da Sil-va prefere denominar de perigo imi-nente de dano irreparável. Afirma-sea necessidade da tutela cautelar

quando o direito possa vir a sofrerdano irreparável, se obedecido oprocedimento ordinário.

Compõe ainda o elenco dospressupostos à admissibilidade datutela cautelar o fumus boni juris . O juízo cautelar não assegura um di-reito efetivamente existente, mas simum direito provável. Como revela

Ovídio A. Baptista da Silva, “A urgên- cia que é verdadeiro ‘plano de fun- do’ a legitimar a jurisdição cautelar,impõe que o julgador proveja basea- do em cognição sumária e superfici- al que a doutrina costuma indicar como  fumus boni juris, impedindo a segurança de um julgamento fun- dado em prova plena, capaz de con- duzir a um juízo de certeza”. A juris-

dição cautelar será, pois, sempre,

Page 288: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 288/380

295

um juízo de verossimilhança de di-reito para cuja proteção é invocadaa tutela cautelar, requisito este ple-namente suprido na prova por docu-

mentos colacionada aos autos.O poder geral de cautela, a que

se reporta o disposto no artigo 798,do CPC, é cabível no Processo doTrabalho.

Analisando-se a situação sub-metida ao exame do Juízo, tem-seque a exordial identifica, alongada edetidamente, a existência de uma

situação cautelanda. Há, induvidosa-mente, um interesse jurídico amea-çado de dano, representado, no caso,pelo justificável temor, em vista dasatitudes do requerido, de insucessona concretização (exeqüibilidade)dos direitos dos trabalhadores aopagamento das parcelas decorren-tes da força laborativa emprestada.Acha-se, igualmente, evidenciada a

fumaça do bom direito: os trabalha-dores apresentam-se credores deimportâncias devidas pelo requerido,em virtude do consumado e notórioinadimplemento noticiado nos autosatravés das várias oitivas promovi-das e reportadas nos termos dedeclarações juntados. De assinalar,por relevante, que se trata de verbascuja natureza alimentar é inegável.

Demais disso, a constataçãodas atitudes do requerido, represen-tando desapego ao respeito dasprerrogativas trabalhistas mínimasdos obreiros — donde supor-se,dada a demonstração de sua índolede inadimplente, querer manter-secomo tal no futuro, é inelutável —,consolida a existência de risco de

dano irreparável: configurar o peri- 

culum in mora , justificando a neces-sidade de urgência do provimento jur isdicional, acarretando as caute-laridades almejadas, medidas que

ora se deferem, presentes que es-tão os elementos de urgência e re-levância do provimento jurisdicionalcomo forma de eliminar o risco dedano irreparável a direitos prováveisdos trabalhadores.

Irrelevante para a recepção damedida, é mister assinalar, que seesteja tutelando direito anterior ou

posterior ao solucionamento da lideprincipal, a ser ajuizada. Interessa auma boa prestação jurisdicional, istosim, a situação concreta a ser obje-to de guarida do Estado, qualquerque seja o desfecho da matéria defundo.

De ponderar, por fim, que oextremo cuidado que se deve ter

com o deferimento de cautelas inau- dita altera pars , consubstanciado naorientação jurisprudencial contidano Enunciado de n. 04 da Súmulado C. TRT da 4ª Região (“A conces- são de medida cautelar, sem audi- ência prévia do réu, fora da hipóte- se de exceção prevista no art. 804 do CPC, atenta contra direito líquido e certo ao devido processo legal e 

ao contraditório que lhe é inerente.”),neste caso, resta cumprido, dada asubstanciosa articulação do Minis-tério Público fundamentada em far-ta prova, necessitando-se assinalaro entendimento de que, na espécie,eventual citação pode, de fato, fa-zer com que a medida se torne ine-ficaz e inócua. Ainda, tratando-se de

medida a qualquer tempo reversível

Page 289: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 289/380

296

 — desde, é claro, que circunstânciasfático-jurídicas o justifiquem —, nãohá risco de prejuízos ao demandado.

Acolho, portanto, a inicial, e de-termino a adoção cautelar das medi-das nela peconizadas, inaudita altera pars , até o limite dos pretensos crédi-tos, na ordem de R$ 190.352,62.

Ante o exposto, acatada aação de bloqueio de numerário e deinalienabilidade de bens, determino,in continenti , com as cautelas de es-tilo, inaudita altera pars , o seguinte:

a) desconsiderado o sigi lobancário do réu, oficialmente enca-minhando mandado ao Banco Cen-tral do Brasil para a obtenção urgen-te das informações retratadas nopleito “1”, à fl. 20;

b) ato contínuo, da mesma for-ma e modo, indisponibilidade do quehouver nas contas bancárias exis-

tentes em nome do requerido, aqualquer título, e sua posterior su- jeição a depósito judicial, consoan-te pleito “2”, à fl. 21, até o limite deR$ 190.352,62;

c) relevado o sigilo fiscal, mes-ma diligência para obtenção de in-formações imediatas sobre bensmóveis e imóveis do acionado, des-

de já decretada a sua indisponibili-dade, e demais providências preco-nizadas no item “4”, na fl. 21, a se-gunda providência (indisponibilida-de) no limite do quanto necessário acomplementar o montante dos pre-tensos créditos, acaso nas contasbancárias não houver importes sufi-cientes a isso.

Cumpridas as medidas acau-

telatórias, e somente depois de suaconsumação, terá vez o ato citatóriopreconizado na alínea “a”, na fl. 21,a que o réu conteste, nos termos,formas e cominações dos artigos802 e 803 do CPC.

Cumpra-se, observado o sigi-lo que ao procedimento se impõe emrazão de sua natureza, a par de re-querido à fl. 23.

Intime-se o requerente.Ijuí, 25 de outubro de 2000.

Cláudio Roberto Ost, Juiz doTrabalho Substituto.

Page 290: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 290/380

297

Ministério Público do Trabalho(Procuradoria Regional do Trabalho da10ª Região), pelos Procuradoresdo Trabalho ao final subscritos, vem,perante Vossa Excelência, com ful-cro nos arts. 129, inciso IX, da Cons-tituição Federal e 83, inciso IV, daLei Complementar n. 75/93, ajuizar

AÇÃO ANULATÓRIA(com pedido de antecipação

de tutela)

em face de Sindicato dos Emprega-dos no Comércio do Distrito Federal,com sede à SCS — Edifício JoséSevero — 7º andar — CEP 70326-900 — Brasília/DF, e Sindicato do

Comércio Varejista do Distrito Fede-ral — SINDIVAREJISTA, com sede àSCS — Quadra 06 — Edifício Fede-ração do Comércio — 4º andar —CEP 70300-500 — Brasília/DF, pelosseguintes fatos e fundamentos:

1. Dos fatos

Aos 4.4.2000, os réus pactua-

ram “Termo Aditivo à Convenção

 AÇÃO ANULATÓRIA — COBRANÇA DE TAXA PARA 

CUSTEIO DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO 

PRÉVIA INTERSINDICAL (PRT 10ª   REGIÃO)

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA PRESIDENTE DOEGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 10ª REGIÃO

Coletiva de Trabalho” por eles enta-bulada, “com a finalidade de consti-tuir e instalar as Comissões de Con-ciliação Prévia”, nos termos da Lein. 9.958/2000.

Criaram-se, assim, duas Co-missões de Conciliação Prévia decaráter intersindical, das quais ape-

nas uma foi instalada, tendo porsede, até o momento, o endereço doprimeiro réu.

Além de regulamentar o fun-cionamento das Comissões de Con-ciliação Prévia, o Termo Aditivo emreferência, em sua Cláusula Quinta,dispõe acerca do custeio daquelescolegiados, consignando:

“Cláusula Quinta — Para o custeio das Comissões de Conci- liação Prévia Intersindical, será cobrado das partes, a importân- cia de R$ 50 (cinqüenta reais),sendo que este valor será ratea- do na proporção de 75% do em- pregador e 25% para o empre- 

gado”. ( sic )

Page 291: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 291/380

298

Diante dos termos em que de-duzia mencionada Cláusula Quinta,instaurou-se a Representação n.0482/2000, no âmbito da Procura-

doria Regional do Trabalho da 10ªRegião.

Requereu-se, dos réus, pro-nunciamento, à luz do que dispostono art. 8º da Constituição Federal,acerca do procedimento adotado nocusteio das Comissões de Concilia-ção Prévia. Posicionaram-se, Sindi-catos Profissional e Patronal, nosentido de que, sendo omissa, a Lein. 9.958/2000, no que tange à fontede custeamento das Comissões deConciliação Prévia, e, por outrolado, não dispondo, os entes sindi-cais, de dotação orçamentária sufi-ciente para arcar com o ônus decor-rente da instalação e manutençãodaqueles colegiados, outra alterna-

tiva não lhes restou que não insti-tuir “taxa cujo valor é simbólico”.Tais manifestações acompanham ainicial.

Aos 7.12.2000, realizou-se au-diência no âmbito da PRT 10ª Região,quando, então, foi concedido prazoao Sindicato dos Empregados noComércio do DF a fim de que se ma-nifestasse “quanto à possibilidadeefetiva de eximir os comerciários dacobrança da taxa em discussão”. Aresposta foi negativa, consoantedemonstra petição ao final juntada.

Ante o exposto, e por entenderque o custeamento das Comissõesde Conciliação Prévia não pode ser

imposto aos trabalhadores, nos ter-

mos em que pactuado pelos réus, oMinistério Público do Trabalho ajuízaa presente actio .

2. Do direito

a) Acesso ao Poder Judiciário.Aspectos constitucionais-doutrinários 

Dispõe, o ar t. 5º, inciso XXXV,da Constituição Federal:

“XXXV — a lei não excluirá da 

apreciação do Poder Judiciário le- são ou ameaça a direito;’’ 

Trata-se do princípio da inafas-tabilidade do controle judicial, ou daproteção judiciária, o qual, segundoJosé Afonso da Silva , Curso de Di-reito Constitucional Positivo, 15ª ed.,São Paulo, Malheiros Editores, 1998,

pág. 431:

“constitui, em verdade, a prin- cipal garantia dos direitos subje- tivos. Mas ele, por seu turno, fun- damenta-se no princípio da sepa- ração de poderes, reconhecido pela doutrina como garantia das garantias constitucionais.’’ 

Paulo Bonavides , por seu tur-no Curso de Direito Constitucional,10ª ed., São Paulo, Malheiros Edito-res, 2000, pág. 507, sustenta que:

“quatro regras básicas fazem ainda da Constituição brasileira,do ponto de vista formal, uma das mais completas e ricas de instru- 

mentos e direitos para assegurar,

Page 292: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 292/380

299

se possível, a eficácia do Estado social assentado sobre as bases do Estado de Direito. São regras de máxima amplitude previstas no 

propósito de alicerçar essa última modalidade de Estado”, dentre as quais, “não menos significativa,mas de alguma ancianidade já em nosso direito constitucional, que sempre a tem reiterado desde a Constituição de 1946 (art. 141, § 4º),esta quarta regra fundamental: a lei não excluirá da apreciação do 

Poder Judiciário lesão ou amea- ça a direito (art. 5º, inciso XXXV).’’ 

Jorge Miranda , Manual de Di-reito Constitucional, Tomo IV — Direi-tos Fundamentais, 23ª ed., Coimbra:Coimbra Editora, 1998, pág. 244, aoapreciar o alcance da tutela jurisdi-cional à luz da Constituição portu-guesa de 1976, assim se manifesta:

“I — A inerência da tutela ju- risdicional dos direitos fundamen- tais ao Estado de Direito e a sua subjectivação explicam a plena sujeição ao regime reforçado dos direitos, liberdades e garantias.

II — Ficam, pois, vedadas 

quaisquer restrições ao direito de acesso a tribunal — e não só res- trições jurídicas por causa dessa natureza de direito mas também restrições econômicas por força da 2ª parte do art. 20, n. 1.

Este preceito não se limita, de resto, a impedir negativamente restrições, discriminações ou re- 

quisitos que tolham o acesso a 

tribunal. Mais do que isso, para que a justiça não possa ser de- negada ‘por insuficiência de mei- os econômicos’, ele impõe outros- 

sim ao Estado positivamente que crie condições para que todas as pessoas singulares e colectivas tenham possibilidade efectiva de defender os seus direitos e inte- resses em tribunal (embora aqui a Constituição, ao invés do que acontece com outros direitos econômicos, sociais e culturais,

não predisponha incumbências específicas com vista à sua con- cretização).’’ 

Em J. J. Gomes Canotilho , Di-reito Constitucional e Teoria da Cons-tituição, 3ª ed., Coimbra: Almedina,1998, págs. 268 a 271, encontramoslição ainda mais aprofundada:

“IV — O princípio da protecção  jurídica e das garantias proces- suais: 

‘Terceira dimensão do Estado de direito’, ‘pilar fundamental do Estado de direito’, ‘coroamento do Estado de direito’, são algu- mas das expressões utilizadas para salientar a importância, no 

Estado de direito, da existência de uma protecção jurídico-judiciária individual sem lacunas (...).

(...)

2. O princípio da garantia de via judiciária: 

Se perguntarmos pelo verda- deiro alcance da garantia da via 

 judiciária, constitucionalmente 

Page 293: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 293/380

300

consagrada (art. 20), a resposta pode reconduzir-se aos seguintes tópicos: 

a) Imposição jurídico-constitu- 

cional ao legislador: Visando o princípio uma me- 

lhor definição judiciário-material das relações entre Estado-cida- dão e particulares-particulares, e,ao mesmo tempo, assegurar uma defesa dos direitos ‘segundo os meios e métodos de um proces- so juridicamente adequado’, a 

abertura da via judiciária é uma imposição directamente dirigida ao legislador no sentido de dar operatividade prática à defesa de direitos. Esta imposição é de par- ticular importância nos aspectos processuais.

b) Função organizatório-material: 

A defesa de direitos através de tribunais representa também uma 

‘decisão fundamental organizató- ria’ (D. Lorenz), pois o controle  judicial constitui uma espécie de ‘contrapeso’ clássico em relação ao exercício dos poderes execu- tivo e legislativo.

c) Garantia de protecção ju- rídica: 

Verdadeiramente fundamental 

no princípio da abertura da via ju- diciária é a sua conexão com a defesa dos direitos: reforça o prin- cípio da efectividade dos direitos fundamentais proibindo a sua inexequibilidade ou eficácia por falta de meios judiciais. Esta efectiva protecção jurídica impli- ca um controle das questões de facto e das questões de direito,

suscitadas no processo, de forma 

a possibilitar uma decisão mate- rial do litígio feita por um juiz em termos juridicamente vinculantes.

d) (...)

e) Criação de um direito sub-  jectivo público: 

A defesa dos direitos e o aces- so aos tribunais não pode divor- ciar-se das várias dimensões re- conhecidas pela Constituição ao catálogo dos direitos fundamen- tais. O sentido global resultante da combinação das dimensões objectiva e subjectiva dos diretos fundamentais é o de que o cida- dão, em princípio, tem assegura- da uma posição jurídica subjecti- va cuja violação lhe permite exi- gir a protecção jurídica. Isto pres- supõe que, ao lado da criação de processos legais aptos para ga- rantir essa defesa, se abandone a clássica ligação da justiciabili- dade ao direito subjectivo e se 

passe a incluir no espaço subjec- tivo do cidadão todo o círculo de situações juridicamente protegi- das. O princípio da protecção ju- rídica fundamenta, assim, um alargamento da dimensão subjec- tiva, e alicerça, ao mesmo tem- po, um verdadeiro direito ou pre- tensão de defesa das posições ju- rídicas ilegalmente lesadas (...).’ 

Mais adiante, abordando otema “Meios de Defesa Jurisdicio-nais”, pronuncia-se, o ilustre consti-tucionalista português (ob. cit., págs.459 a 466):

“(...)

III — O direito à tutela jurisdi- cional: 

(...)

Page 294: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 294/380

301

1. Natureza do direito à protec- ção judicial: 

Pela própria arqueologia do 

due process verifica-se que este se concebia fundamentalmente como um direito de defesa do par- ticular perante os poderes públi- cos. Quando os textos constitucio- nais, internacionais e legislativos,reconhecem, hoje, um direito de acesso aos tribunais este direito concebe-se como uma dupla di- mensão: 1) um direito de defesa ante os tribunais e contra actos dos poderes públicos; 2) um di- reito de protecção do particular através de tribunais do Estado no sentido de este o proteger peran- te a violação dos seus direitos por terceiros (dever de protecção do Estado e direito do particular a exigir essa protecção).

A intervenção do Estado para defender os direitos dos particu- lares perante outros particulares torna claro que o particular só pode, em geral, ver dirimidos os seus litígios perante outros indi- víduos através de órgãos jurisdi- cionais do Estado. Esta ‘depen- dência’ do direito à protecção ju- 

dicial de prestações do Estado (criação de tribunais, processos  jurisdicionais) justif ica a afirma- ção corrente de que o conteúdo essencial do direito de acesso aos tribunais é a garantia da via  judiciária (= ‘garantia da via ju- dicial’, ‘garantia da protecção judi- cial’, ‘garantia da protecção jurí- 

dica através dos tribunais’).

a) O direito de acesso aos tri- bunais como direito de acesso a uma protecção jurídica individual: 

Uma primeira e ineliminável dimensão do direito à protecção  judiciária é a protecção jurídica individual. O particular tem o di- reito fundamental de recorrer aos tribunais para assegurar a defe- sa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos (...).

b) O direito de acesso aos tri- bunais como garantia institucional: 

Ao assegurar o direito de aces- so aos tribunais para defesa de direitos e interesses, o art. 20 da Constituição da República Portu- guesa inclui no seu âmbito nor- mativo a garantia institucional da via judiciária, isto é, de tribunais.O texto fundamental não fixa, de forma esgotante, os tipos de tri- bunais, nem contém uma discipli- na densa do chamado ‘direito constitucional judiciário’. Por isso,o direito de acesso aos tribunais é um direito fundamental formal que carece de densificação atra- vés de outros direitos fundamen- tais materiais. A interconexão en- tre ‘direito de acesso aos tribu- 

nais’ e ‘direitos materiais, aponta para duas dimensões básicas de um esquema referencial: 1) os direitos e interesses do particu- lar determinam o próprio fim do direito de acesso aos tribunais,mas este, por sua vez, garante a realização daqueles direitos e interesses; 2) os direitos e interes- 

ses são efectivados através dos tri- 

Page 295: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 295/380

302

bunais mas são eles que fornecem as medidas materiais de protecção por esses mesmos tribunais.

Desta imbricação entre direito de acesso aos tribunais e direi- tos fundamentais resultam dimen- sões inelimináveis do núcleo es- sencial da garantia institucional da via judiciária. A garantia insti- tucional conexiona-se com o de- ver de uma garantia jurisdicional de justiça a cargo do Estado. Este dever resulta não apenas do tex- 

to da Constituição, mas também de um princípio geral (‘de direi- to’, das ‘nações civilizadas’) que impõe um dever de protecção através dos tribunais como um corolário lógico: 1) do monopólio de coacção física legítima por parte do Estado; 2) do dever de manutenção da paz jurídica num 

determinado território; 3) da proi- bição de autodefesa a não ser em circunstâncias excepcionais defi- nidas na Constituição e na lei (...)

2. (...)

IV — Dimensões jurídico-cons- titucionais do direito ao processo eqüitativo: 

1. Direito a uma decisão fun- dada no direito: 

O direito de acesso aos tribu- nais implica o direito ao proces- so entendendo-se que este pos- tula um direito a uma decisão fi- nal incidente sobre o fundo da causa sempre que se hajam cum- prido e observado os requisitos 

processuais da acção ou recurso.

Por outras palavras: no direito de acesso aos tribunais inclui-se o direito de obter uma decisão fun- dada no direito, embora depen- 

dente da observância de certos requisitos ou pressupostos pro- cessuais legalmente consagra- dos. Por isso, a efectivação de um direito ao processo, não equivale necessariamente a uma decisão favorável; basta uma decisão fun- dada no direito quer seja favorá- vel quer desfavorável às preten- sões deduzidas em juízo.

2. Di re i to a pressupostos constitucionais materialmente adequados: 

A seqüência direito de acesso aos tribunais — garantia da via  judiciár ia — direito ao processo — direito a unia decisão fundada no direito, deixa intuir que todas estas dimensões do direito de 

acesso não são incompatíveis com a exigência de pressupostos processuais, ou seja, de um con-  junto de requisitos cuja verifica- ção e observância é necessário para um órgão judicial poder exa- minar as pretensões formuladas no pedido. Daí que, como se dis- se, o direito à tutela jurisdicionalnão se identifique com o direito

a uma decisão favorável, antes sereconduza ao direito de obter umadecisão fundada no direito sempreque se cumpram os requisitos le- galmente exigidos. Aqui, porém,surge uma nova e importante afloração do due process: o direi- to à tutela jurisdicional não pode ficar comprometido em virtude da exigência legal de pressupostos 

processuais desnecessários, não 

Page 296: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 296/380

303

adequados e desproporcionais.Compreende-se, pois, que o direi- to ao processo implique: 1) a proi- bição de requisitos processuais 

desnecessários ou desviados de um sentido conforme ao direito fundamental de acesso aos tribu- nais; 2) a exigência de fixação le- gal prévia dos requisitos e pressu- postos processuais dos recursos e ações; 3) a sanação de irregula- ridades processuais como exigên- cia do direito à tutela judicial.” 

Vê-se, pois, que o princípio dainafastabilidade do controle judicialé corolário do próprio Estado de Di-reito, inserindo-se, no caso brasilei-ro, no rol dos direitos e garantias in-dividuais. A despeito disso, confor-me lição de J. J. Gomes Canotilho antes mencionada, o direito à tutela judicial está condicionado à satisfa-ção dos requisitos legalmente fixa-dos. Ou seja, trata-se de princípio deíndole constitucional, cujo valor po-lítico-jurídico, todavia, não é abso-luto em si mesmo. Tal postulado —inserido no art. 5º, inciso XXXV, daConstituição da República — acha-se condicionado, em seu alcance econteúdo, pelos limites impostospelo ordenamento jurídico.

b) Condições da ação: Por ocasião do julgamento do

Mandado de Segurança n. 23.452/RJ,Rel. Min. Celso de Mello, DJU de12.5.2000, o excelso Supremo Tribu-nal Federal teve oportunidade de semanifestar, dentre outros temas, acer-ca do caráter não-absoluto dos direi-tos e garantias individuais, donde se

depreende que o legislador ordinário,

nos limites de sua competência, podefixar requisitos para o exercício dodireito de ação. Assim está redigidoo v. acórdão, no particular:

“(...)

Os direitos e garantias indivi- duais não têm caráter absoluto.Não há, no sistema constitucional brasileiro, direitos ou garantias que se revistam de caráter absoluto,mesmo porque razões de relevan- 

te interesse público ou exigências derivadas do princípio da convi- vência das liberdades legitima,ainda que excepcionalmente, a adoção, por parte dos órgãos es- tatais, de medidas restritivas das prerrogativas individuais ou cole- tivas, desde que respeitados os termos estabelecidos pela própria Constituição. O estatuto constitu- 

cional das liberdades públicas, ao delinear o regime jurídico a que estas estão sujeitas — e conside- rado o substrato ético que as in- forma — permite que sobre elas incidam limitações de ordem jurí- dica, destinadas, de um lado, a proteger a integridade do interes- se social e, de outro, a assegurar 

a coexistência harmoniosa das li- berdades, pois nenhum direito ou garantia pode ser exercido em detrimento da ordem pública ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros.” 

Mais especificamente quantoao acesso ao Poder Judiciário, posi-

cionou-se, o excelso STF, dentre inú-

Page 297: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 297/380

304

meros outros, nos autos do AGRRE-256911/SP, Rel. Min. Celso de Mello,DJU de 15.12.2000, in verbis: 

“(...)Direito de petição e direito de 

acesso ao Poder Judiciário. O di- reito de petição, fundado no art.5º, XXXIV, a, da Constituição não pode ser invocado, genericamen- te, para exonerar qualquer dos sujeitos processuais do dever de observar as exigências que con- 

dicionam o exercício do direito de ação, pois, tratando-se de contro- vérsia judicial, cumpre respeitar os pressupostos e os requisitos fixados pela legislação processu- al comum.” 

Ou seja, leis ordinárias, antesde retirar da apreciação do PoderJudiciário eventual lesão ou amea-

ça a direito, apontam o correto ca-minho a ser percorrido por aqueleque requer a prestação jurisdicional.

No âmbito doutrinário, outronão é o entendimento.

Nelson Nery Júnior , “Princípi-os do Processo Civil na ConstituiçãoFederal”, 4ª ed., São Paulo, RT,1997, págs. 93/94 — manifesta-se no

sentido de que “podemos verificar que o direito de ação é um direito cívico e abstrato, vale dizer, é um direito subjetivo à sentença  toutcourt, seja essa de acolhimento ou de rejeição da pretensão, desde que preenchidas as condições da ação.” 

Antônio Carlos de Araújo Cin- tra, Ada Pellegrini Grinover e Cândi- 

do R. Dinamarco , “Teoria Geral do

Processo”, 8ª ed., São Pauto, RT,1991, pág. 258 — sustentam que,“diferentemente da alemã, a doutri- na brasileira distingue com nitidez as 

condições da ação (...) e os pressu- postos processuais, incluindo ambos na categoria mais ampla dos ‘pres- supostos de admissibilidade do jul- gamento do mérito’”.

Quanto aos pressupostos pro-cessuais, referidos autores (ob. cit.,pág. 258) assim os identificam: “a)uma demanda regularmente formu-

lada (CPC, art. 2º; CPP, art. 24); b) acapacidade de quem a formula; c)a investidura do destinatário da de-manda, ou seja, a qualidade de juiz.A doutrina mais autorizada sintetizaesses requisitos nesta fórmula: umacorreta propositura da ação, feitaperante uma autoridade jurisdicio-nal, por uma entidade capaz de ser

parte em juízo.”No que respeita às condições

da ação, os professores Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pelle- grini Grinover e Cândido R. Dinamar- co (ob. cit., pág. 229) afirmam: “Em- bora abstrato e ainda que até certo ponto genérico, o direito de ação pode ser submetido a condições por 

parte do legislador ordinário. São as denominadas condições da ação (possibilidade jurídica, interesse de agir, legitimação  ad causam ), ou seja, condições para que legitima- mente se possa exigir, na espécie, o provimento jurisdicional.” 

Assim, condições da ação di-zem respeito à possibilidade de exer-

cício concreto do direito de ação.

Page 298: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 298/380

305

c) Lei n. 9.958/2000. Comis- sões de Conciliação Prévia. Condi- ção da ação trabalhista: 

A par das condições da açãoordinariamente consignadas peladoutrina processual civil e igualmen-te aceitas pelo Direito Processual doTrabalho — possibilidade jurídicado pedido, interesse de agir e quali-dade para agir —, o legislador ordi-nário, atento a sua competência, cui-dou, a nosso juízo, de erigir novacondição da ação trabalhista com o

advento da Lei n. 9.958/2000, a qual,acrescentando dispositivos à Conso-lidação das Leis do Trabalho, dispôs,dentre outros temas, sobre as Co-missões de Conciliação Prévia.

Assim preceituam, art . 625-D,caput e §§ 1º, 2º e 3º, da CLT, coma redação dada pela referida Lein. 9.958/2000:

“Art. 625-D. Qualquer deman- da de natureza trabalhista será submetida à Comissão de Conci- liação Prévia se, na localidade da prestação de serviços, houver sido instituída a Comissão no âmbito da empresa ou do sindi- cato da categoria.

§ 1º A demanda será formula- 

da por escrito ou reduzida a ter- mo por qualquer dos membros da Comissão, sendo entregue cópia datada e assinada pelo membro aos interessados.

§ 2º Não prosperando a con- ciliação, será fornecida ao em- pregado e ao empregador decla- ração da tentativa conciliatória 

frustrada com a descrição de 

seu objeto, firmada pelos mem- bros da Comissão, que deverá ser juntada à eventual reclama- ção trabalhista.

§ 3º Em caso de motivo rele- vante que impossibilite a obser- vância do procedimento previsto no caput deste artigo, será a cir- cunstância declarada na petição inicial da ação intentada perante a Justiça do Trabalho.” 

Dessa forma, entendemos que

a submissão de questões trabalhis-tas à Comissão de Conciliação Pré-via, antes do ajuizamento de recla-matória perante a Justiça do Traba-lho, passou a ser nova modalidadede condição da ação trabalhista —ou, quanto menos, uma vertente dointeresse de agir, eis que a deman-da poderia e deveria ter sido resol-vida sem a invocação do Poder Ju-diciário —, na medida em que dizcom o próprio exercício concreto dodireito de ação constitucionalmenteassegurado, e não, com processo ouprocedimento.

Embora relativamente escas-sa, a doutrina se divide no entendi-mento quanto à natureza jurídica daobrigação legal imposta de submis-

são das demandas trabalhistas, numprimeiro momento, a Comissão deConciliação Prévia, importando sa-lientar que, por força do disposto noart. 267, incisos IV e VI, do CPC ainobservância, quer das condiçõesda ação, quer dos pressupostos pro-cessuais, culmina, igualmente, coma extinção do processo sem julga-

mento do mérito.

Page 299: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 299/380

306

Sérgio Pinto Martins , “Comis-sões de Conciliação Prévia e Proce-dimento Sumaríssimo”, São Paulo:Editora Atlas, 2000, págs. 36 a 38 —

se pronuncia da seguinte maneira:

“A idéia de que o autor passe por uma tentativa de conciliação antes de ajuizar a ação não é nova. No Império, já havia preo- cupação com o enorme número de demandas, criando-se um sis- tema de conciliação prévia obri- gatória, para diminuir o número 

de processos. O art. 161 da Cons- tituição de 1824 previa que ‘sem se fazer constar, que se tem in- tentado o meio de reconciliação,não começará processo algum’.

(...)

Nota-se que o procedimento instituído representa condição da ação para o ajuizamento da recla- 

mação trabalhista. Trata-se de hi- pótese de interesse de agir, que envolve o interesse em conseguir o bem por obra dos órgãos públi- cos (Chiovenda, 1998:89).

Reza o inciso VI do art. 267 do CPC que o processo é extinto sem julgamento do mérito quan- do não concorrer qualquer das condições da ação, ‘como...’. Isso 

demonstra que as condições da ação não são apenas a possibili- dade jurídica do pedido, a legiti- midade das partes e o interesse processual, sendo a determina- ção legal exemplificativa e não exaustiva. A lei poderá estabele- cer outras condições para o exer- cício do direito de ação.

(...)

O procedimento criado pelo art. 625-D da CLT não é inconsti- tucional, pois as condições da ação devem ser estabelecidas em 

lei e não se está privando o em- pregado de ajuizar a ação, desde que tente a conciliação. O que o inciso XXXV do art. 5º da Consti- tuição proíbe é que a lei exclua da apreciação do Poder Judiciá- rio qualquer lesão ou ameaça a direito, o que não ocorre com as comissões prévias de conciliação.

Ada Pellegrini Grinover (1996: 94) menciona não ser inconstitu- cional a proposta que estabelece a tentativa obrigatória da conci- liação prévia, que não iria contra- riar o inciso XXXV do art. 5º da Constituição, pois ‘o direito da ação não é absoluto, sujeitando- se a condições (as condições da ação), a serem estabelecidas 

pelo legislador’. Não haverá inte- resse de agir da pessoa, postu- lando a tutela jurisdicional, se não for observado o caminho alterna- tivo da conciliação prévia, que seria uma situação bastante ra- zoável, não ficando mutilada a garantia constitucional do direito ao processo. Kazuo Watanabe (1980:49, 55 e 57) tem o mesmo 

pensamento. Tentada a concilia- ção e sendo esta frustrada, o empregado não estará impedido de ajuizar ação da Justiça do Tra- balho. A lei, inclusive, institui as comissões para conciliar, nada impedindo que, posteriormente, a postulação seja julgada pelo Po- der Judiciário. Não se estará sub- traindo da apreciação do Poder 

Judiciário a análise do dissídio.” 

Page 300: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 300/380

307

Maurício Rands , “As Comis-sões de Conciliação Prévia”, LTr 64-04/467 — igualmente entende tratar-se de condição da ação, embora

entenda que o “mesmo raciocínio aplica-se para os que pensam ser o requisito da tentativa conciliatória um pressuposto processual para o desenvolvimento válido e regular da futura ação trabalhista.” 

Otávio Brito Lopes , “As Comis-sões de Conciliação Prévia”, Brasília:Editora Consulex, 2000, pág. 89 —,

fazendo referência a João Augusto da Palma (“Novas Práticas Trabalhis-tas com Sumaríssimo & ConciliaçãoPrévia”, São Paulo: LTr, 2000. pág.113), pondera estarmos diante “de pressuposto processual, situação que difere da que ocorre com os dis- sídios coletivos, em relação aos quais a Constituição Federal con- 

templa a exigência do prévio exauri- mento da via negocial e a jurispru- dência enquadra como condição da ação.” 

Ives Gandra da Silva Martins Filho , “A Justiça do Trabalho do ano2000: as Leis ns. 9.756/1998, 9.957e 9.958/2000, a Emenda Constitucio-nal n. 24/1999 e a Reforma do Judi-

ciário”, LTr 64-02/166 — consignaentendimento no sentido de que aexigência em análise tem a conota-ção de “pressuposto processual para o ajuizamento de ação trabalhista,caso não seja bem sucedida a con- ciliação.” 

Cléber Lúcio de Almeida , “Co-missões de Conciliação Prévia —

Considerações sobre a Lei n. 9.958/ 

2000”, LTr 64-02/224 — consignaseu posicionamento nos seguintestermos:

“Da obrigatoriedade imposta pela lei resulta que, não sendo comprovada em Juízo a provoca- ção da comissão, o processo será extinto sem provimento de méri- to, por ausência de interesse de agir (segundo Chiovenda, ‘o inte- resse em conseguir o bem por obra dos órgãos públicos’) ou de pressuposto de constituição e desenvolvimento válido e regular do processo, salvo se for compro- vada a ocorrência de motivo rele- vante que impossibilitou a provo- cação da comissão, como permi- te o art. 625-D, § 3º.” 

Parece-nos, pois, ser possívelatribuir à obrigatoriedade de submis-

são das questões trabalhistas a Co-missão de Conciliação Prévia, antesdo ajuizamento de reclamatória, nomínimo, natureza jurídica de “pres- suposto de admissibilidade do julga- mento do mérito”, na feliz expressãoantes referida de Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover  eCândido R. Dinamarco .

d) Comissão de Conciliação 

Prévia. Custeio. Cobrança de taxas dos empregados que a ela se sub- metem: 

A argumentação até entãoapresentada teve por finalidade de-monstrar a constitucionalidade daLei n. 9.958/2000, no que instituiu asComissões de Conciliação Prévia,em que pese inexistir, até o momen-

to, sequer liminarmente, pronuncia-

Page 301: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 301/380

308

mento do excelso STF no bojo dasADIns ns. 2.139-7, 2.148-6, 2.160-5e 2.237-7, todas distribuídas aoExmo. Sr. Ministro Octavio Gallotti,

cujo objeto é exatamente a inconsti-tucionalidade de mencionado diplo-ma legal.

Pensamos constitucional a Lein. 9.958/2000, sob a perspectivamaterial, porque instrumento norma-tivo voltado simplesmente à fixaçãode nova condição para o exercíciodo direito de ação trabalhista, o que,

consoante anteriormente demons-trado, é pacificamente aceito peladoutrina e jurisprudência.

Por esse mesmo raciocínio,entendemos contrária ao disposto noart. 5º, inciso XXXV, da Carta Políti-ca a obrigação imposta no TermoAditivo à Convenção Coletiva enta-bulado pelos réus (Cláusula Quinta),no sentido de que os empregados

que se submeterem às Comissõesde Conciliação Prévia deverão con-tribuir para com seu custeio. Issoporque, mediante eloqüente silêncio,o legislador não incluiu, como con-dição da ação trabalhista, qualquerpagamento de valores, por parte deempregados, para que, submetendo-se àqueles colegiados, pudessemexercer, posteriormente, seu direitosubjetivo de invocar a prestação ju-risdicional.

Assim, se apenas o legislador,imbuído de razões estritamente jurí-dicas reveladoras do interesse soci-al, estaria apto, em princípio, a es-tabelecer condições para o exercí-cio da garantia constitucional deacesso ao Judiciário, não poderiam,

os réus, tê-lo feito, usurpando da

competência legislativa com respal-do em justificativas meramente eco-nômicas relacionadas aos gastosexistentes com o funcionamento das

Comissões de Conciliação Prévia.A cobrança de valores, dos

empregados — os quais, por expres-sa disposição legal, vêem-se obriga-dos a se submeter às Comissões deConciliação Prévia —, revela nítidaobstaculização de acesso ao PoderJudiciário. Não há que se falar, data venia , em valores simbólicos ou ra-

zoáveis cobrados dos trabalhadores,tampouco tem relevância o rateio dopagamento com empregadores, oumesmo se os valores são fixos ouvariáveis de acordo com o auferidoapós a conciliação exitosa, porquan-to a questão que se submete à aná-lise do Poder Judiciário é eminente-mente jurídica e diz com o própriodireito de requerer do Estado o exer-

cício de seu ofício jurisdicional.No plano doutrinário, poucas

manifestações a respeito da contro-vérsia, embora voltadas à não-acei-tação da cobrança sob crítica.

Otávio Brito Lopes  (ob. cit.,pág. 65) pondera que “os instituido- res das comissões de conciliação prévia devem arcar com os ônus fi- 

nanceiros decorrentes da sua im- plantação e do seu funcionamento.Não é lícito fazer recair sobre as partes o ônus do custeio das comis- sões, visto tratar-se de condição obrigatória para o exercício do direi- to de ação. A cobrança pode carac- terizar uma infração ao livre acesso ao Judiciário e não encontra ampa- 

ro legal nenhum.” 

Page 302: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 302/380

309

Em nota de rodapé, Otávio Brito Lopes apresenta, ainda, liçãode João Augusto da Palma (ob. cit.,pág. 112): “Em se tratando de órgão 

interno das empresas ou dos sindi- catos, as despesas decorrentes da existência e funcionamento das Co- missões cabem às empresas e aos sindicatos, respectivamente; a am- bos quando for Comissão Mista, pre- cisando no acordo coletivo o quan-tum da parcela de responsabilidade de cada um. Os trabalhadores não contribuirão diretamente para a ma- 

nutenção das Comissões, nem no ato do atendimento obtido, ainda que ocorra resultado patrimonial a seu favor. A lei não criou este custo aos obreiros. Indiretamente, pagarão cota-parte embutida na mensalida- de sindical.” 

Do estudo sobre a Lei Federaln. 9.958, de 12 de janeiro de 2000,

Comissão de Conciliação Prévia,patrocinado pela Associação dosAgentes da Inspeção do Trabalho deMinas Gerais — AAIT/MG e “elabo- rado a partir de diálogo com vários operadores do Direito interessados no tema, tais como Juízes do Traba- lho, Professores de Direito do Trabalho,Procuradores do Trabalho, Advoga- dos, Sindicalistas e representantes 

patronais” (págs. 06/07), extrai-se oseguinte posicionamento acerca dotema:

“1.5. Cobrança de taxas: 

Corolária dessa discussão so- bre os custos da Comissão é a possibilidade ou não de cobran- ça de uma certa quantia das par- 

tes que vão solicitar os seus ser- 

viços. É uma questão muito con- trovertida, sendo que a maioria dos operadores do Direito consul- tados entende que qualquer co- 

brança, seja na Comissão no âmbito da empresa, seja no do sindicato, é vedada. Na da empre- sa não pode haver nenhuma co- brança ao empregado. O patrão que arque com os custos. Na sin- dical, entende-se que esse será mais um serviço a ser prestado pelo Sindicato, já custeado pelas contribuições sindicais.” 

Sérgio Pinto Martins  (ob. cit.,pág. 25) defende o seguinte posicio-namento:

“A lei não menciona quem irá pagar o custo das comissões. Nos EUA, o custo da arbitragem é pago metade pela empresa e 

metade pelo sindicato de empre- gados, ou então só pela empresa.Será difícil cobrar um valor do empregado, ainda que simbólico,em função de que o trabalhador não possui numerário para esse fim. Na prática, acabará sendo a empresa. Não vejo inconstitucio- nalidade ou ilegalidade nessa co- brança, que inclusive poderia ser 

especificada na convenção ou no acordo coletivo. Poderia também haver mudança da lei para que a contribuição sindical também ti- vesse por objetivo o financiamen- to dos trabalhos das comissões,pois, segundo o art. 14 da Lei n.5.584/70, apenas a assistência  judiciária gratuita é prestada pelo sindicato e não a conciliação nas 

comissões. Parte da arrecadação 

Page 303: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 303/380

310

da contribuição sindical é destina- da ao custeio da assistência jurí- dica (art. 592, I, A, e II, A, da CLT)”.

e) Comissão de Conciliação Prévia. Cobrança de taxas dos em- pregados que a ela se submetem.Natureza jurídica: 

Ao longo das discussões tra-vadas perante o Ministério Públicodo Trabalho, percebeu-se que a tesedefendida pelos réus girava em tor-no, basicamente, da necessidade de

criar fonte de custeio para as Comis-sões de Conciliação Prévia, já quea Lei n. 9.958/2000 foi omissa noparticular, e o próprio Poder Públicocobra custas dos jurisdicionados afim de fazer frente às despesas de-correntes das demandas judiciais.

A argumentação relativa àscustas processuais não ficou devi-damente registrada perante o Minis-

tério Público do Trabalho, sendo que,apenas por ocasião da audiência dodia 7.12.2000, o ilustre representan-te do SINDIVAREJISTA/DF, Dr. AntônioAlves Filho, argumentou que, atéaquela data, quatrocentas concilia-ções haviam sido efetivadas perantea Comissão de Conciliação Préviacriada juntamente com o SINDICOM/ DF, “o que desonerou sensivelmente o Judiciário”, e “que a taxa cobrada da parte laboral não chega, às vezes,a 10% das custas processuais”.

Parece-nos, efetivamente, quese pretendeu e se conseguiu em-prestar contornos de custas proces-suais à taxa cobrada dos emprega-dos que se submetem à Comissãode Conciliação Prévia instituída pe-

los réus.

Ocorre que, também sob essaperspectiva tal cobrança não seviabiliza.

Dispõe, o ar t. 3º do Código Tri-butário Nacional:

“Tributo é toda prestação pe- cuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa ex- primir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade admi- nistrativa plenamente vinculada.” 

(grifamos)

Com base naquela normatiza-ção, a jurisprudência do excelsoSupremo Tribunal Federal pacificou-se no sentido de atribuir às custasprocessuais natureza tributária, namodalidade de taxa, consoante bemexpressam as seguintes decisões:

“Custas e emolumentos. Natu- reza jurídica. Necessidade de lei para sua instituição ou aumento.Esta Corte já firmou o entendi- mento, sob a vigência da Emen- da Constitucional n. 01/69, de que as custas e os emolumentos têm a natureza de taxas, razão por que só podem ser fixadas em lei,dado o princípio constitucional da 

reserva legal para a instituição ou aumento de tributo (...).” (RE- 116208/MG, Rel. Min. Moreira Alves, DJU de 8.6.1990)

“I. Taxa Judiciária: sua legitimi- dade constitucional, admitindo- se que tome por base de cálculo o valor da causa ou da condena- ção, o que não basta para sub- 

trair-lhe a natureza de taxa e 

Page 304: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 304/380

311

convertê-la em imposto: prece- dentes: ADIn 948-GO, 9.11.95,Rezek; ADInMC 1.772-MG, 15.4.98,Velloso (...).” (ADInMC-1.926/PE,

Rel. Min. Sepúlveda Pertence,DJU de 10.6.99)

“Constitucional. Tributário. Taxa Judiciária e Custas: Natureza Ju- rídica. (...) I — Taxa judiciária e custas: são espécies tributárias,classificando-se como taxas, re- sultando da prestação de serviço público específico e divisível e 

que têm como base de cálculo o valor da atividade estatal referi- da diretamente ao contribuinte,pelo que deve ser proporcional ao custo da atividade do Estado a que está vinculada, devendo ter um limite, sob pena de inviabili- zar o acesso de muitos à Justiça (...).” (ADIn 1.772/MG, Rel. Min.Carlos Velloso, DJU 8.9.2000)

“Ação direta de inconstitucio- nalidade. Taxa Judiciária. Nature- za Jurídica: Tributo da espécie taxa. Precedente do STF. Valor proporcional ao custo da ativida- de do Estado. Sobre o tema da natureza jurídica dessa exação, o Supremo Tribunal Federal firmou  jurisprudência no sentido de se tratar de tributo da espécie taxa (Representação 1.077). Ela resul- ta da prestação de serviço públi- co específico e divisível, cuja base de cálculo é o valor da ativi- dade estatal deferida diretamen- te ao contribuinte. A taxa judiciá- ria deve, pois, ser proporcional ao custo da atividade do Estado a que se vincula. E há de ter um li- 

mite, sob pena de inviabilizar, à 

vista do valor cobrado, o acesso de muitos à Justiça (...).” (ADIn 948/GO, Rel. Min. Francisco Rezek, DJU de 17.3.2000)

Percebe-se, assim, que as ta-xas cobradas dos empregados parao custeamento de Comissões deConciliação Prévia têm a mesmanatureza jurídica de custas proces-suais, de maneira que os réus incor-reram em explícita vulneração doprincípio constitucional da legalida-de (art. 5º, inciso II). Isso porquesomente a lei poderia instituir a co-brança do verdadeiro tributo estipu-lado no texto normativo ora impug-nado, o que não ocorreu. Ao contrá-rio, consoante anteriormente afirma-do, o legislador posicionou-se, noparticular, em eloqüente silêncio,não cabendo ao intérprete extrapolaros limites da vontade legislativa. Nãose pode olvidar, ainda, o princípio daestrita legalidade em face do dispos-to no art. 150, inciso I, da Carta Po-lítica, donde se depreende que so-mente os entes federados, median-te regular processo legislativo, po-derão aumentar ou exigir tributo, masdesde que lei o estabeleça.

3. Da especificação dos pedidos

Pretende, o Ministério Públicodo Trabalho, provimento jurisdicionalcom o fito de anular parcialmente aCláusula Quinta do Termo Aditivo àConvenção Coletiva de Trabalho en-tabulada entre os réus para o período1999/2000, de maneira a que sejaextirpada a cobrança de valores dos

empregados que se submeterem à

Page 305: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 305/380

312

Comissão de Conciliação Prévia aliinstituída, porquanto procedimentoafrontoso ao disposto na Constituiçãoda República, art. 5º, incisos II e XXXV.

4. Do cabimento da açãoanulatória e da legitimidade doMinistério Público do Trabalho

O procedimento dos réus cons-titui ofensa à ordem jurídico-trabalhis-ta, a nível coletivo, cuja tutela repou-sa no mister institucional do Ministé-

rio Público do Trabalho.A legitimidade do Ministério

Público do Trabalho para o ajuiza-mento da anulatória encontra respal-do nos arts. 127, caput , e 129, inci-so IX, da Constituição Federal e 83,inciso IV, da Lei Complementar n. 75/ 93, como instrumento para o exercí-cio de sua função de defensor daordem jurídica, do regime democrá-

tico e dos interesses sociais e indi-viduais indisponíveis.

Dos dispositivos mencionados,restam configurados o cabimento daação anulatória e a própria legitimi-dade do Ministério Público do Traba-lho para sua propositura.

A qualidade para agir decorreda circunstância de os interesses

transgredidos transcenderem a es-fera dos conflitos individuais paraabarcarem interesse afeto, de modoindistinto, a toda a sociedade.

5. Da competência da Justiça doTrabalho

Tendo em conta o disposto nos

arts. 113 e 114 da Carta Política, no

aspecto da competência dos Órgãosda Justiça do Trabalho, verifica-seque a Lei n. 8.984/95 estendeu acompetência daquela Justiça Espe-

cializada aos dissídios originados documprimento de acordo ou conven-ção coletiva, de forma que, tambémno tocante aos aspectos de legali-dade de cláusula constante em ins-trumento de negociação coletiva,passou, a Justiça do Trabalho, a po-der exercer jurisdição. Nesse contex-to, o art. 83, inciso IV, da Lei Comple-mentar n. 75/93 coloca à disposiçãodo Ministério Público do Trabalho oinstrumento da ação anulatória.

No que respeita à competên-cia funcional ou hierárquica, compe-te aos Tribunais Regionais do Traba-lho o julgamento de ações anulató-rias, nos termos da pacífica jurispru-dência do egrégio Tribunal Superiordo Trabalho, exemplificada pela de-

cisão prolatada nos autos do ROAA-210.970/95.2, Rel. Min. UrsulinoSantos, DJU de 10.5.96, in verbis: 

“Ação anulatória — Compe- tência do TRT para apreciar. É certo afirmar que os dispositivos da CLT pertinentes à competên- cia dos TRTs não prevêem de qual órgão é a competência fun- cional para julgamento de ação anulatória, mas tal não chega a causar estranheza, posto que so- mente a partir do advento da LC n. 75/93 é que surgiu a possibili- dade de propositura deste tipo de ação perante a Justiça do Traba- lho. Sendo assim, o que se deve perquirir é sobre a espécie de pro- 

vimento jurisdicional pedido, e,

Page 306: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 306/380

313

não há dúvida, este visa o inte- resse da categoria profissional,isto é, dos trabalhadores que a compõem, genericamente consi- 

derados. Não um interesse indi- vidual. Deste modo, é lícito afir- mar que, apesar da falta de invó- culo sentencial, a ação proposta assemelha-se ao provimento de uma rescisória de sentença norma- tiva, dado o caráter coletivo do con- vênio em que se insere a norma que se pretende desconstituir. E a 

 jurisdição trabalhista em questões coletivas sempre foi atribuição ori- ginária dos Tribunais, ao passo que as da JCJ sempre se restringiram aos dissídios de natureza indivi- dual. Recurso provido.” 

6. Da antecipação da tutela

Dispõe o art. 273 do CPC, que“o juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmen- te, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I — haja fundado receio de dano irrepa- rável ou de difícil reparação; ou II — 

fique caracterizado o abuso de direi- to de defesa ou o manifesto propó- sito protelatório do réu.” 

Tal medida é essencial em vis-ta do propósito da presente deman-da, a qual, para regularizar as rela-ções de trabalho, visa a obstar aconduta inconstitucional descrita nosautos relativa à cobrança de deter-

minados valores para que trabalha-

dores se submetam à Comissão deConciliação Prévia instituída pelosréus.

Na situação em exame, mais doque verossímeis, as alegações lan-çadas estão devidamente respalda-das no ordenamento jurídico-consti-tucional, na doutrina e na jurisprudên-cia de maneira que se impõe o ime-diato reconhecimento da violação dosprincípios da legalidade e da inafas-tabilidade do controle judicial (art. 5º,incisos II e XXXV, CF/88).

O fundado receio de dano ir-reparável ou de difícil reparação con-siste na circunstância de que, sen-do mantida a disposição inserta noinstrumento de negociação coletivaimpugnado, o acesso ao Poder Ju-diciário continuará sendo quotidiana-mente obstaculizado a um sem-nú-mero de integrantes da categoriaprofissional, os quais, obrigados a se

submeterem à Comissão de Conci-liação Prévia instituída pelos réus,antes de se socorrerem da jurisdi-ção estatal (Lei n. 9.958/2000),vêem-se compelidos ao pagamentode taxa a título de custeio daquelecolegiado, o que denota nítido óbiceà satisfação da condição da açãoerigida pelo legislador. A espera peloprovimento judicial definitivo revela-ria, nesse caso, a perpetuação dodesprestígio de princípios inscritosem nossa Carta Política.

A não-concessão da antecipa-ção da tutela comprometerá a utili-dade do processo, uma vez que osréus apenas serão obrigados a re-gularizar seu procedimento quandodo trânsito em julgado, o que leva

tempo suficiente para que muitos

Page 307: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 307/380

314

trabalhadores sofram irremediavel-mente as conseqüências dessa de-mora, ficando os atingidos, por con-seguinte, à margem da lei e ao de-

samparo da justiça. Não se pode ol-vidar, ainda, que o instrumento denegociação coletiva em referênciatem termo ad quem aos 31.1.2001.Aguardar a decisão final seria des-considerar a gravidade do problemasocial e aviltar a dignidade do traba-lhador e da própria Justiça do Tra-balho.

Discorrendo sobre os efeitosda antecipação da tutela, Teori Albi- no Zavascki, in “ Antecipação da Tu-tela”, Editora Saraiva, 1997, pág. 84,assevera que o “que se antecipa não é propriamente a certificação do di- reito, nem a constituição e tampou- co a condenação porventura postu- lada como tutela definitiva. Anteci- pam-se, isto sim, os efeitos executi- 

vos da futura sentença de procedên- cia, assim entendidos os efeitos que a futura sentença tem aptidão para produzir no plano da realidade. Em outras palavras: antecipa-se a eficá- cia social da sentença, não a eficácia  jurídico-formal”.

7. Do pedido

Ante o exposto, requer, o Mi-nistério Público do Trabalho:

1) concessão de tutela anteci-pada, por força do disposto no art.273 do CPC, a fim de que seja sus-pensa a eficácia da Cláusula Quintado Termo Aditivo à Convenção Co-letiva de Trabalho entabulada pelo

SINDIVAREJISTA/DF e SINDICOM/DF,

no que respeita à cobrança de valo-res dos empregados, a título de cus-teio da Comissão de Conciliação Pré-via Intersindical instituída pelos réus;

2) declaração de nulidade par-cial da Cláusula mencionada no itemanterior, a fim de que seja excluídade sua normatização a cobrança devalores, dos empregados, a títulode custeio da Comissão de Conci-liação Prévia Intersindical instituídapelos réus;

3) citação dos réus, na pessoade seus representantes legais, para,querendo, responderem aos termosdesta ação;

4) intimação pessoal do Minis-tério Público do Trabalho, por forçado disposto nos arts. 18, inciso II,alínea h , e 84, inciso IV, da Lei Com-plementar n. 75/93 e 236, § 2º, do

CPC;5) condenação dos réus no

pagamento das custas e demaisdespesas processuais decorrentesda sucumbência, protestando-sepela produção de todas as provasem Direito admitidas e essenciais aodeslinde da controvérsia.

Embora inestimável, atribui-seà causa o valor de R$ 100.000,00(cem mil reais).

Brasília, 10 de janeiro de 2000.

Erlan José Peixoto do Prado,Procurador do Trabalho.

Brasilino Santos Ramos, Pro-curador Regional do Trabalho, Procu-

rador-Chefe da PRT 10ª Região.

Page 308: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 308/380

315

DECISÃO 

Estabelece a cláusula norma-tiva impugnada:

“C láusu la Quin ta — Para custeio das Comissões de Con- ciliação Prévia Intersindical, se- rão cobrado das partes, a impor- tância de R$ 50 (cinqüenta reais),sendo que este valor será ratea- do na proporção de 75% do empre- 

gador e 25% para o empregado” ( sic — v. fl. 30).

Mesmo diante de uma análiseperfunctória, surge claro do textotranscrito que os sindicatos conve-nentes estabeleceram taxa compul-sória não prevista em lei e, ainda,fixaram critério de cobrança que, senão impede, dificulta o acesso ao

Poder Judiciário do já sofrido traba-lhador nacional.

De fato, ante o advento da Lein. 9.958/2000, inclina-se a doutrina — e, ao que parece, também a jur is-prudência — por definir como obri-gatória a submissão do conflito tra-balhista à Comissão de ConciliaçãoPrévia e que esse elemento compul-sório constituiria verdadeira condi-

ção especial da ação trabalhista ouentão, dependendo da corrente,pressuposto processual para o de-senvolvimento válido da reclamação.

Guardo, hoje, certa reservaquanto à essa posição. Não obstan-te, se o caminho que parece surgir éo da obrigatoriedade de provocaçãoanterior da Comissão de Concilia-

ção Prévia como condição para o

Na ação anulatória em epígra-fe, o Ministério Público deduz pedi-do de concessão de tutela antecipa-da, “a fim de que seja suspensa a eficácia da Cláusula Quinta do Ter- mo Aditivo à Convenção Coletiva de Trabalho entabulada pelo SINDIVA- REJISTA/DF e SINDICOM/DF, no que respeita à cobrança de valores,dos empregados, a título de custeio 

da Comissão de Conciliação Prévia Intersindical instituída pelos réus.” 

Trazendo, como questão defundo, a nulidade parcial de cláusulade instrumento normativo que esta-beleceu, em evidente afronta aosincisos II e XXXV do art. 5º da LeiMaior, cobrança de valores dos traba-lhadores com o objetivo de custear

Comissão de Conciliação PréviaIntersindical, argumenta o Autor es-tarem presentes os pressupostosnecessários à antecipação da tute-la judicial perseguida, uma vez pa-tente a verossimilhança das alega-ções e o fundado receio de dano ir-reparável ou de difícil reparação semantido o preceito impugnado, ca-

racterizado pela di f iculdade deacesso de trabalhadores ao Judiciá-rio até definitivo julgamento da de-manda anulatória.

A petição inicial vem instruídacom as peças de fls. 29/62.

Colocado o tema, antecipo atutela na forma pretendida pelo Mi-

nistério Publico.

Page 309: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 309/380

316

exercício do direito de ação ou com“pressuposto de admissibilidade do julgamento do mér ito”, não resta amenor dúvida, data venia , que a co-

brança de taxa onerando as partesenvolvidas dificulta — quando nãoimpede — o preenchimento do pres-suposto ou da condição da ação pre-vista na Lei n. 9.958/2000 e, nessatoada, limita o próprio exercício dodireito de ação.

Diante do exposto, constato,em face de prova inequívoca, a ve-

rossimilhança da alegação do autor,o que surge até mesmo diante da li-teralidade da cláusula atacada. E acada dia, tendo em vista o pagamen-to obrigatório de taxas não previs-tas em lei, mais e mais trabalhado-res — e também pequenos empre-gadores — encontram dificuldadesde acesso ao Judiciário Trabalhista,o que caracteriza dano irreparável

não apenas no plano individual, mastambém no aspecto social, a afastar

ainda mais o Brasil da trilha do quese pode considerar um Estado deDireito.

Antecipo a tutela na forma pos-tulada para determinar que os réusSindicato dos Empregados no Co-mércio do Distrito Federal (SINDICOM)e Sindicato do Comércio Varejista doDistrito Federal (SINDIVAREJISTA)abstenham-se de cobrar dos traba-lhadores a taxa prevista na CláusulaQuinta do Termo Aditivo à Conven-ção Coletiva de Trabalho firmadopelos réus em 4 de abril de 2000,ficando suspensa sua eficácia notema restrito ao objeto desta deman-da até ulterior deliberação.

Ciência ao Ministério Públicoe aos demandados, que serão cita-dos para responderem aos termosda ação no prazo de lei.

Brasília, 25 de janeiro de 2001.

Mário de Macedo FernandesCaron, Juiz Relator.

Page 310: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 310/380

317

O Ministér io Público do Traba-lho — Procuradoria Regional do Tra-balho da 14ª Região, situada na Ave-nida Guanabara, n. 3.480, ConjuntoSanto Antônio, Porto Velho/RO, CEP78904-130, por intermédio do procu-rador infra-assinado, com supedâ-

neo nos arts. 127, caput , e 129, IX,da Carta Magna; 5º, I, e 6º, XII, 84,caput e V, da Lei Complementar n.75/93; 566, II, 585, II, e 796 e se-guintes do Código de Processo Ci-vil; 5º, caput e § 6º, da Lei n. 7.347,de 24 de julho de 1985, e 876 e 877-A da Consolidação das Leis do Tra-balho, com redação dada pela Lei n.

9.958, de 12 de janeiro de 2000, vemperante Vossa Excelência ajuizar

AÇÃO CAUTELAR INOMINADAPREPARATÓRIA COMPEDIDO DE LIMINAR

em desfavor de Agel Goes & PereiraLtda., pessoa jurídica de direito

privado, inscrita no CNPJ/MF sob o

 AÇÃO CAUTELAR INOMINADA PREPARATÓRIA 

DE EXECUÇÃO DE TAC — GARANTIA DO 

PAGAMENTO DE VERBAS RESCISÓRIAS 

(PRT 14ª   REGIÃO)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DO TRABALHO DA —

VARA TRABALHISTA DE PORTO VELHO/RO

n. 84.629.732/0001-35, com sede naAvenida Brasília n. 2115, sala 103,Centro, nesta Capital, pelas razões defato e de direito a seguir expostas:

1 — Dos Fatos

O Ministério Público do Traba-lho, pela Procuradoria Regional doTrabalho da 14ª Região, instaurou oProcedimento Preparatório de Inqué-rito Civil Público n. 071/2000, em faceda empresa Agel Goes & PereiraLtda., para apuração de denúncia deinúmeras irregularidades trabalhistas.

Procedida à instrução do feito,

este Órgão constatou que a empre-sa vem desrespeitando vários direi-tos trabalhistas constitucionalmenteassegurados, praticando, reiterada-mente, as seguintes irregularidades:não pagamento de verbas rescisóri-as, atraso no pagamento de salári-os, não concessão de férias, nãopagamento de horas extraordináriase ausência de depósito do Fundo de

Garantia do Tempo de Serviço.

Page 311: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 311/380

318

A empresa, reconhecendo odescumprimento da legislação per-tinente, firmou, nos termos do art. 5º,§ 6º, da Lei n. 7347/85, o Termo de

Compromisso de Ajustamento de Con-duta — TAC n. 057/2000, em 18 desetembro passado, cujo teor se trans-creve textualmente:

“A Empresa Agel Goes & Pe-reira Ltda., Pessoa Jurídica de Direi-to Privado, inscrita no CNPJ/MF sobo n. 84.629.732/0001-35, com sedena Avenida Brasília, n. 2.115, sala

103, Centro nesta Capital, neste atorepresentada pelos sócios AdautoPereira de Lima, brasileiro, casado,empresário, residente e domiciliadona Rua 15, n. 3.667, Novo Horizon-te, nesta Capital, e Maria de JesusGoes Brito, brasileira, solteira, em-presária, residente e domiciliada naRua Manoel Laurentino de Souza, n.2.908, Embratel, nesta Capital, firma

o presente instrumento de Compro-misso, nos termos do art. 5º, § 6º,da Lei n. 7.348/85, perante o Minis-tério Público do Trabalho/Procurado-ria Regional do Trabalho 14ª Região,representado pelo Procurador doTrabalho, Exmo. Sr. Dr. SebastiãoVieira Caixeta, assumindo, sob aspenas da lei, as obrigações abaixoespecificadas:

1. A empresa se obriga a efe-tuar o pagamento de seus emprega-dos, impreterivelmente, até o quintodia útil do mês subseqüente ao ven-cido, conforme determina o art. 459da CLT;

2. A empresa se comprometea conceder férias remuneradas,acrescidas do adicional de 1/3 pre-

visto no art. 7º, inciso XVII, da Carta

Magna, devendo a fruição ocorrernos doze meses subseqüentes àdata em que o empregado tiver ad-quirido o direito, sob pena de paga-

mento em dobro da respectiva remu-neração, nos termos do disposto nosarts. 134 e seguintes da CLT;

3. A empresa se comprometea remunerar as horas extraordinári-as, que somente serão exigidas noscasos previstos nos arts. 59 e se-guintes da CLT, com o adicional depelo menos 50% (cinqüenta por cen-

to) da hora normal, de conformida-de com o preceituado no inciso XVIdo art. 7º da Constituição Federal;

4. A empresa se obriga a reco-lher, corretamente, o valor referenteao Fundo de Garantia do Tempo deServiço — FGTS, observados os dis-positivos contidos na Lei n. 8.036, de11 de maio de 1990, especialmenteo art. 15, e no Decreto n. 99.684, de

8 de novembro de 1990, além dasdemais normas pertinentes;

5. A empresa se comprometea efetuar, doravante, o pagamentodas verbas relativas a rescisões con-tratuais no prazo previsto no art. 477,§ 6º, da CLT;

6. A empresa se obriga a efe-tuar o pagamento dos valores refe-

rentes às rescisões contratuais pen-dentes, incluindo o saldo de salári-os, até o próximo dia 25, devendohomologar todas estas rescisões nosindicato da categoria, independen-temente do tempo de serviço dosempregados demitidos;

7. A empresa se comprometea comprovar o cumprimento da obri-

gação contida no item 6, encami-

Page 312: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 312/380

319

nhando a esta Procuradoria cópia dadocumentação respectiva, até o dia10 de outubro de 2000.”

“O presente Termo de Ajustede Conduta abrange todos os em-pregados da Empresa Agel Góes &Pereira Ltda. e tem vigência por pra-zo indeterminado.

“As partes convencionam queo descumprimento de qualquer obri-gação prevista no presente Termo deAjuste de Conduta sujeitará a Em-presa Agel Góes & Pereira Ltda. à

multa diária de 1.000 (mil) UFIRs(Unidades Fiscais de Referência),reversível ao FAT (Fundo de Ampa-ro ao Trabalhador), nos termos dosarts. 5º, § 6º, e 13 da Lei n. 7.347/ 85, ficando constituída em mora apartir do momento da constataçãodo descumprimento do Termo deCompromisso.

“As partes reconhecem ao pre-sente instrumento eficácia e força detítulo executivo extrajudicial, nos ter-mos do disposto nos arts. 5º, § 6º,da Lei n. 7.347, de 24 de julho de1985, e 585, inciso II, do Códigode Processo Civil, estando cientes deque o não cumprimento do presenteCOMPROMISSO ensejará sua exe-cução forçada perante a Justiça do

Trabalho, de conformidade com odisposto no art. 876 da CLT, com aredação dada pela Lei n. 9.958, de 12de janeiro de 2000, relativamente atodas as obrigações assumidas, se- jam de fazer, de não fazer ou de dar.”

Pelo instrumento acima, a em-presa ora ré se comprometeu, entreoutras obrigações, a efetuar o paga-

mento das verbas rescisórias pen-

dentes, incluindo o saldo de salári-os, até o dia 25.9.2000. Essa cláu-sula destinava-se, especialmente,mas não exclusivamente, aos ex-

empregados vinculados ao contratoque a requerida mantinha com a Te-lecomunicações de Rondônia S/A. —Teleron, os quais foram despedidossem justa causa, porém não lhes fo-ram pagas as verbas rescisóriasdevidas. Conforme acertado em au-diência, o aludido pagamento seriaefetivado com o dinheiro oriundo dorecebimento dos créditos que a ré

tinha com a Teleron (p. 71, fls. 41-2).Diante da notícia de que a

empresa requerida descumprira oTermo de Compromisso (v. Termo deAudiência de 17.10.2000, fls. 47 dopp. 71/2000), nova audiência foi de-signada, ocasião em que os sóciosda empresa confessaram o inadim-plemento das obrigações assumi-

das, deixando de ser pagas as res-cisões contratuais dos obreiros queprestavam serviço no interior do Es-tado. A requerida, por seus represen-tantes, requereram prazo até o dia10 de novembro passado para pa-gar as verbas rescisórias pendentes,alegando que não fizeram a quita-ção na data constante do Termo deAjuste de Conduta — TAC porque o

valor do depósito efetuado pelaTeleron foi debitado da conta corren-te pelo Banco Bradesco S/A. paraamortização de débitos relativos adesconto de duplicatas e chequeespecial (pp. 71/2000, fls. 55).

Realizada fiscalização pelaDelegacia Regional do Trabalho eEmprego — DRTE, o descumprimen-

to do TAC restou confirmado. Entre

Page 313: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 313/380

320

outras irregularidades, o Relatório deInspeção consignou que persistia ainadimplência das verbas rescisóri-as em relação a 20 (vinte) trabalha-

dores do interior do Estado.Não obstante a insistência

desta Procuradoria na composiçãoextrajudicial das lesões acima apon-tadas, estes trabalhadores permane-cem sem receber seus haveres tra-balhistas. Nesse período, a situaçãonão melhorou, ao revés foi agrava-da, pois também os trabalhadoresterceirizados ao Serviço de Apoio àsMicros e Pequenas Empresas noEstado de Rondônia — Sebrae/RO,cujo contrato se encerrou no últimodia 30 de novembro, não estão re-cebendo suas verbas rescisórias(idem , fls. 364-5 e 371-2).

A situação é tão delicada queo Sebrae/RO, por seu representante,compareceu a esta Procuradoria para

pedir a adoção de providências quegarantam o pagamento das verbasrescisórias dos trabalhadores que lheprestam serviço, asseverando que arequerida possui um crédito aproxi-mado de R$ 23.000,00, decorrente docontrato extinto, e que “não possuiuma garantia de que fazendo repas-ses das faturas diretamente a AgelGóes haveria quitação dos direitos

trabalhistas dos empregados, e as-sim o SEBRAE realizou pagamentode salários aos empregados da AgelGóes, diretamente, nos meses deAgosto e Setembro/2000”. Apresen-tou, também, planilha com a projeçãodos valores relativos às rescisões dosempregados da requerida à sua dis-posição, totalizando R$ 21.728,37,que poderiam ser pagos com o cré-

dito existente (idem , 364-5).

Há notícia, também, de queexistem créditos da requerida juntoà Superintendência da Zona Francade Manaus — Suframa, cujo contra-

to ainda se encontra em vigência.Nas provas colhidas, ficou ca-

racterizado também que a empresarequerida tem o hábito de não pré-avisar seus empregados da data dademissão, conforme se verifica dostermos de rescisão e de audiência juntados aos autos (idem , fls. 47-8,55-6 e 73-358).

A empresa ré não está reco-lhendo, corretamente, o Fundo deGarantia do Tempo de Serviço —FGTS, conforme atestou a fiscaliza-ção do trabalho (idem , 67-9).

Esse quadro fático demonstra,sem sombra de dúvida, o descum-primento do Termo de Ajuste de Con-duta n. 57/2000, denotando que a

requerida não tem compromisso coma legislação laboral, solenementedescumprida, e que pretende furtar-se ao pagamento dos débitos traba-lhistas, utilizando seus créditos paraoutras finalidades.

A empresa tem adotado a prá-tica de não pagar as verbas rescisó-rias para forçar o obreiro a ajuizarreclamação trabalhista, em que as

partes conciliam, quase sempre, emvalor inferior ao crédito efetivo do tra-balhador, que é compelido, por suadébil condição econômica, a aceitaro acordo (idem , fls. 385-7 e 392-9).

Importante ressaltar que a De-legacia Regional do Trabalho e Em-prego — DRTE, em agosto deste ano, já tentava resolver as reiteradas vio-

lações à legislação trabalhista medi-

Page 314: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 314/380

321

ante Termo de Compromisso, que foiintegralmente descumprido pela re-querida (idem , fls. 21).

Impõe-se, portanto, o ajuiza-mento da presente ação cautelarpreparatória de ação de execução doTermo de Compromisso de Ajusta-mento de Conduta, título executivoextrajudicial, visando à determina-ção de bloqueio dos créditos da re-querida para pagamento dos direi-tos dos obreiros.

2 — Do fumus bon i i u r is 

Os arts. 5º, § 6º, da Lei n.7.347/85 e 585, inciso II, do CPCoutorgam ao Termo de Compromis-so de Ajustamento de Conduta fir-mado perante o Ministério Públicoa eficácia de títu lo executivo extra- judicial .

Desse modo, o descumprimen-to do Termo de Compromisso dáensejo à sua execução forçada, cujoprocessamento, se celebrado peran-te o Ministério Público do Trabalho,incumbe à Justiça Especializada.

A recente Lei n. 9.958, de 12de janeiro de 2000, espancando asdivergências existentes, fixou, ex-pressamente, a competência da Jus-

tiça Obreira para a execução dosTermos de Ajuste de Conduta, nanova redação imprimida ao artigo876 da CLT, in verbis :

“Art. 876. As decisões passa-das em julgado ou das quais nãotenha havido recurso com efeito sus-pensivo; os acordos, quando nãocumpridos; os termos de ajuste de 

conduta firmados perante o Ministé- 

rio Público do Trabalho e os termosde conciliação firmados perante asComissões de Conciliação Préviaserão executados pela forma esta-

belecida neste capítulo. (NR)”A nova Lei dispôs, ainda, so-

bre a competência funcional paraprocessar e julgar a execução fun-dada no título executivo extrajudici-al firmado perante o Ministério Pú-blico do Trabalho, consignando que“é competente para a execução detítulo executivo extrajudicial o juiz

que teria competência para o proces-so de conhecimento relativo à maté-ria” (CLT, art. 877-A).

O Termo de Compromisso,consubstanciando título executivoextrajudicial, demonstra, de formainequívoca, a plausibilidade do direi-to invocado na presente cautelar.

Ademais, os direitos a seremresguardados decorrem da regularexecução e da ruptura sem justacausa do contrato de emprego. Arequerida não lhes pode opor senãoo fato extintivo do pagamento corres-pondente.

Por outro lado, os créditos dostrabalhadores têm natureza alimen-tar e são superprivilegiados na hie-rarquia creditícia, preferindo a todos

os demais, salvo os de natureza aci-dentária (CLT, art. 449, e Lei de Fa-lências, art. 102).

Preceitua o art. 186 do CódigoTributário Nacional que “o crédito tri-butário prefere a qualquer outro, sejaqual for a natureza ou o tempo daconstituição deste, ressalvados os créditos decorrentes da legislação 

do trabalho” (grifamos).

Page 315: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 315/380

322

Destarte, a cautela requerida émedida que se impõe para debelarum problema social premente e obri-gar a requerida ao cumprimento da

legislação trabalhista vilipendiada.Trata-se de caso excepcional

que justifica a concessão de liminarinaudita altera parte para preservara eficácia do Termo de Ajustamentode Conduta n. 057/2000 e garantir oefetivo recebimento dos créditos tra-balhistas pelos obreiros demitidos.

3 — Do per i cu lum i n mora 

O perigo da demora resta ca-racterizado pelo comportamento an-tecedente da requerida, que, tendorecebido valor suficiente da Teleron,não honrou os débitos relativos àsrescisões contratuais de seus ex-empregados.

Os fatos demonstrados amea-çam a eficácia da ação de execuçãoa ser promovida pelo Ministério Pú-blico do Trabalho, em defesa dos di-reitos dos trabalhadores. Há, pois, anecessidade premente de bloquear-se os créditos da requerente junto àSuframa e ao Sebrae, para garantira quitação dos créditos trabalhistasdos ex-empregados da requerida.

O reiterado descumprimentoda legislação trabalhista e, posteri-ormente, do Termo de Ajuste de Con-duta sinaliza a falta de vontade darequerida em honrar os débitos tra-balhistas, havendo fundado receiode que os valores recebidos sejamutilizados para outros fins, enquan-to os trabalhadores permanecem emcompleto estado de penúria, sem

receber o que lhes é devido.

Não é demais lembrar que arequerida recebeu quantia suficien-te para quitar as rescisões dos obrei-ros que prestavam serviço à Teleron

e não cuidou de efetuar o pagamen-to devido.

Esse estado de coisas impõe oprovimento liminar, determinando apenhora de todos os créditos da re-querida junto à Suframa e ao Sebraee sua imediata transferência paraconta à disposição desse ilustradoJuízo.

4 — Do Pedido

Por todo exposto, o MinistérioPúblico do Trabalho requer:

1) a concessão, inaudita altera parte , de liminar para determinar aimediata penhora de Todo e Qualquer Crédito da requerida junto à Superin-

tendência da Zona Franca de Manaus — SUFRAMA, com sede na AvenidaSete de Setembro n. 2.401, esquinacom a Avenida Jorge Teixeira, nestaCapital, e ao Serviço de Apoio àsMicros e Pequenas Empresas no Es-tado de Rondônia — SEBRAE/RO,com sede na Avenida Campos Salesn. 3.421, nesta Capital;

2) a expedição de mandado àSuframa e ao Sebrae para que nãoefetuem qualquer pagamento à em-presa requerida, transferindo os va-lores de que sejam devedores paraconta bancária à disposição do MM.Juízo;

3) a determinação à DelegaciaRegional do Trabalho e Emprego —DRTE para que proceda ao levanta-

mento, em caráter definitivo, dos

Page 316: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 316/380

323

valores atualizados de todos crédi-tos trabalhistas de cada um dosobreiros despedidos;

4) a intimação do Sindicato dos

Trabalhadores nas Empresas de Lo-cação em Geral, Prestação de Servi-ços de Limpeza e Conservação doEstado de Rondônia — Sintelps para,querendo, integrar a lide na qualidadede assistente litisconsorcial;

5) a citação da ré para, que-rendo, responder à presente ação,sob pena de revelia;

6) a procedência, em definiti-vo, do pedido cautelar ora formula-do, confirmando o deferimento da li-minar em todos os seus termos;

7) a condenação da requerida nopagamento das despesas processuais.

Para comprovar o exposto, re-quer a produção de prova por todosos meios em Direito admitidos, espe-cialmente a documental que acompa-

nha esta peça.

Atribui-se à causa o valor deR$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais),montante que se estima suficientepara pagamento das verbas resci-sórias dos trabalhadores demitidos.

Nesses termos, pede deferi-mento.

Porto Velho, 30 de novembrode 2000.

Sebastião Vieira Caixeta, Pro-curador do Trabalho.

Vistos, etc. ...

Requereu o autor concessãode medida liminar inaudita altera pars  em Ação Cautelar Inominadacom o fim de que seja determinadaa penhora de todo e qualquer crédi-to da requerida junto à Superinten-dência da Zona Franca de Manaus — SUFRAMA e ao Serviço de Apoioàs Micros e Pequenas Empresas noEstado de Rondônia — SEBRAE/ RO, bem como que seja determina-do que as mencionadas empresasnão efetuem qualquer pagamento àempresa requerida, transferindo osvalores de que sejam devedorespara conta bancária à disposiçãodeste Juízo. Requereu ainda seja

determinado à Delegacia Regional

DECISÃO 

do Trabalho e Emprego para que pro-ceda o levantamento, em caráter de-finitivo, dos valores atualizados detodos os créditos trabalhistas decada um dos obreiros despedidos; aintimação ao SINTELPS para, que-rendo, integrar à lide na qualidadede assistente litisconsorcial.

O art. 798 do CPC dispõe quepode o Juiz, além dos procedimen-tos cautelares específicos, determi-nar medidas provisórias que julgaradequadas, quando houver fundadoreceio de que uma das partes pode-rá causar ao direito da outra, lesãograve e de difícil reparação.

Vislumbra-se in casu  a ocor-rência do fumus boni juris e do peri- 

culum in mora eis que o salário sen-

Page 317: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 317/380

324

do a contraprestação pelo labor doempregado e considerando seu ca-ráter alimentar, é protegido por lei etendo prioridade sobre os demais

débitos, deve ser pago até o 5º diaútil do mês subseqüente ao venci-do, nos termos do ar tigo 459 da CLT,bem como, também não pode serrepassado aos obreiros o risco daatividade econômica da empresa,devendo esta arcar com o ônus decumprir com seu dever de pagar, noprazo legal, sua folha de pagamen-to e demais verbas trabalhistas, in 

casu , as rescisórias.É do conhecimento deste juízo

por meio de outras reclamações tra-balhistas que a empresa requeridanão vem cumprindo com o pagamen-to de verbas trabalhistas dos seusempregados, bem como a presenteação veio com farta documentaçãocomprovando a inadimplência da

empresa no pagamento das verbastrabalhistas de seus empregados.

Assim sendo, resta ao Juízoconceder a cautelar requerida inau- dita altera pars  nos termos do art.799 do CPC, vez que configurada ahipótese prevista no art. 798 do mes-mo diploma legal, para determinar aexpedição do Mandado de Bloqueioe Levantamento de todo e qualquercrédito da requerida junto à Supe-rintendência da Zona Franca de

Manaus — SUFRAMA e ao Serviçode apoio às Micros e Pequenas Em-presas no Estado de Rondônia —SEBRAE/RO, devendo constar no

referido mandado a determinaçãopara que as referidas empresas nãoefetuem qualquer pagamento à em-presa requerida, transferindo os va-lores de que sejam devedores paraconta bancária à disposição desteJuízo por vislumbrar-se, in casu , aocorrência do fumus boni juris e dopericulum in mora .

Expeça-se o respectivo man-dado para efetivação da medida.

Intime-se a Delegacia Regio-nal do Trabalho e Emprego para queproceda o levantamento, em caráterdefinitivo, dos valores atualizadosde todos os créditos trabalhistas decada um dos obreiros despedidos eo SINTELPS para, querendo, inte-grar à lide na qualidade de assisten-

te litisconsorcial.Cite-se a requerida para, que-

rendo, contestar a Ação, no prazo decinco dias, na forma prevista no art.802, II do CPC.

Dê-se ciência.

Porto Velho-RO, 4 de dezem-bro de 2000.

Marlene Alves de Oliveira, Juízado Trabalho respondendo pela 4ªVara do Trabalho de Porto Velho/RO.

Page 318: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 318/380

325

Ministério Público do Trabalho — Procuradoria Regional do Traba-

lho da 15ª Região, com sede na Ave-nida Marechal Carmona, 686, CEP13035-510, Vila João Jorge — Cam-pinas — SP, pela Procuradora do Tra-balho in fine  assinado (que deveráser intimado pessoalmente nos au-tos no endereço supra , nos termosdo artigo 18, inciso II, alínea h  daLei Complementar n. 75/93), comfundamento nos artigos 127, caput 

e 129, III, da Constituição da Repú-blica, combinados com os arts. 6º,VII, d e 83, III, da Lei Complementarn. 75/93, arts. 1º, IV, 12, 19 e 21 daLei n. 7.347/85 e arts. 81 e ss., daLei n. 8.078/90, vem, respeitosamen-te, pela presente, propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM

PEDIDO DE PROVIMENTOLIMINAR

em face das Lojas Colombo S/A. —Comércio de Utilidades Domésticas,inscrita no CGC/MF sob n. 89.848.543/ 0001-77, com filial nesta cidade deCampinas, na Rua Ferreira Penteado,n. 494, pelos fundamentos de fato e

de direito a seguir expostos:

 AÇÃO CIVIL PÚBLICA: EXIGÊNCIA DE CARTA DE 

FIANÇA DOS EMPREGADOS (PRT 15 ª   REGIÃO)

I — Dos Fatos

O Ministér io Público do Traba-lho recebeu denúncia (doc. 01 —termo de denúncia n. 0039/00), sobsigilo, noticiando que a ré estariacontratando trabalhadores atravésda empresa MGA Serviços Tempo-rários e Efetivos Ltda., requerendo,no ato da admissão, relação de do-cumentos, dentre os quais, carta defiança aos candidatos às vagas de

gerentes, coordenadores administra-tivos e caixas, conforme instrução daempresa (doc. 02).

A exigência foi justificada, con-forme xerocópia da carta de fiança(doc. 03), “pela responsabilidade emque possa incorrer aquele afiança-do, por ação ou omissão, no exercí-cio de suas atividades como funcio-nário da empresa”. Consta, também,na aludida “carta de fiança” a renún-cia ao benefício de ordem previstono artigo 1491, do Código Civil, so-mente perdendo “eficácia” após de-corridos 180 dias da rescisão docontrato de trabalho do afiançado.

Após ter recebido a denúncia,o Ministér io Público do Trabalho ins-taurou procedimento preparatório

(apreciação prévia — doc. 04), de-

Page 319: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 319/380

326

signando-se audiência a fim de se-rem colhidas informações comple-mentares, notadamente do Gerenteda empresa ré.

Na audiência realizada em23.8.2000, na sede da ProcuradoriaRegional do Trabalho, foi tomado odepoimento pessoal do Gerente dafilial de Campinas, Sr. Rodinei GarciaGuardado que confessou ser proce-dimento genérico em todas as filiaisdas Lojas Colombo a exigência decarta de fiança aos admitidos nas

funções de movimentação numeráriaretromencionadas.

O testemunho é eloqüente edá conta da ilegalidade praticadapela empresa (doc. 05 — termo deaudiência):

“... que é prática de admissão a empresa requerer carta de fian- 

ça para os cargos que exigem mo- vimentação de numerário que sãocaixa, gerência, coordenador ad-ministrativo, subgerência e ana-lista de crédito; que o valor da carta de fiança varia de acordo com a função, tendo como média o valor de R$ 15.000,00; que emalguns casos para a contrataçãode imediato, foram abertas algu-

mas exceções com a condiçãode, posteriormente, apresentar ascartas de fiança; que pelo quesabe não existe nenhum caso emque a carta de fiança tenha sidodispensada (...)

(...) que a contratação de fun-cionários geralmente é feita pelaprópria loja, mas no caso especí-

fico da denúncia, como envolvia

várias filiais foi contratada a em-presa MGA Serviços Temporáriose Efetivos Ltda.; que desde quetrabalha na empresa, desconhe-

ce a existência de uma reclama-ção trabalhista relacionada a car-ta de fiança”.

Diante das evidências ilegais, foiinformado ao preposto da ré a possi-bilidade de firmar Termo de Compro-misso de Ajustamento de Conduta,visando se abster de exigir as referi-

das cartas de fiança, o que não foipossível diante da informação de queseria “praxe utilizada pela empresa”(doc.05 — termo de audiência).

Após, foi concedido prazo paraa juntada dos contratos de trabalhode cada um dos cargos menciona-dos no depoimento pessoal presta-do por ocasião da audiência (doc. 06 — contratos de trabalho — filial Cam-

pinas), bem como para que se infor-masse, no prazo de 05 dias, sob aspenas da lei, a relação — com en-dereço — de todas as filiais, bemcomo o número de empregados atin-gidos pela conduta lesiva, cuja res-posta em 7.12.2000 (doc. 06).

II — Do Cabimento da Ação

A Ação Civil Pública tem porobjetivo resguardar, dentre outros, ointeresse difuso ou o coletivo lesa-do, nos exatos termos do dispostono art. 1º, IV, da Lei n. 7.347/85. Poroutra vertente, o Código de Defesado Consumidor, no art. 81, I, cuidade definir o conceito de direitos e

interesses difusos, como sendo “os 

Page 320: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 320/380

327

transindividuais, de natureza indivi- sível, de que sejam titulares pesso- as indeterminadas e ligadas por cir- cunstâncias de fato ”.

De igual maneira, busca defi-nir o conceito de direitos e interes-ses coletivos, no inciso II do mesmoartigo, como sendo “os transindivi- duais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou clas- se de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma rela- ção jurídica-base ”.

O que diferencia esses dois ti-pos de interesses, portanto, na es-fera trabalhista, é o fato de os seusintegrantes terem ou não um víncu-lo de emprego: na hipótese positiva,trata-se de interesse coletivo, casocontrário, tratar-se-á de interessedifuso (de uma massa formada porpessoas que ligam-se, tão-somente,por uma situação fática).

No caso concreto, a lesividadeatribuída ao procedimento da Ré afe-ta, potencialmente, não só os atuaisempregados da empresa que exer-çam as funções de gerente, coorde-nador administrativo e caixa — detodas as 275 filiais no Brasil, inclu-indo a filial de Campinas — local dodano; mas também todos aquelestrabalhadores que possam vir a pos-

tular um emprego junto à empresa,porquanto de todos pode vir a serexigida a assinatura de carta de fian-ça no momento e como condição daadmissão e, igualmente, na vigênciado contrato de trabalho dos atuaisempregados.

A empresa ré, após ser intima-da para apresentar o atual número

de empregados admitidos sob essa

condição, em todas as filiais que,pelo depoimento do Sr. Rodinei G.Guardado “tem previsão para a aber- tura de mais 03 filiais em Campinas,

totalizando aproximadamente 37 lo-  jas no Vale do Paraíba e região de Campinas ”, informou o MinistérioPúblico do Trabalho que existem 275filiais em todo o território nacional,273 gerentes, 268 coordenadoresadministrativos e 332 caixas, adotan-do o mesmo procedimento ilegal emexigir carta de fiança.

E, visando evitar a continuida-de da situação lesiva a todos osempregados admitidos e àquelescandidatos a uma das vagas é queo artigo 16, da Lei n. 7347/85 dis-põe que a sentença civil fará coisa julgada erga omnes , atingindo a es-fera jurídica de todos aqueles queestiverem, de alguma forma, envol-

vidos na matéria objeto, o que abran-ge todas as 275 filiais da empresaré em todo o território nacional.

É, de fato, incontestável que,premidos por dificuldades econômi-cas, cidadãos desempregados pos-sam, diante da oferta de um traba-lho, sujeitar-se a assinar carta de fi-ança se responsabilizando pelos ris-

cos da empresa que, segundo a lei,é ônus do empregador.

Do mesmo modo, aqueles que já prestam serviços à Ré, em faceda subordinação jurídica que carac-teriza a relação, e sob a perspectivade perderem sua única fonte de sus-tento, acabam submetendo-se à im-posição do empregador da assina-

tura dos referidos documentos.

Page 321: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 321/380

328

Há, de fato, como se vê, a acu-mulação de interesses difusos e co-letivos, de caráter trabalhista, a se-rem salvaguardados através da pre-

sente Ação Civil Pública, aplicando-se o artigo 16, da Lei n. 7.347/85.

III — Da Legitimidade doMinistério Público doTrabalho

Reza o art. 83, III, da Lei Com-plementar n. 75/93, que faz parte do

conjunto de atribuições do Ministé-rio Público do Trabalho:

“propor ação civil pública no âmbito da Justiça do Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quan- do desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos ”.

E, não seria necessário men-cionar que a expressão “interesses 

coletivos ” empregada pelo preceitosupratranscrito, tem caráter lato,abrangendo tanto os interesses co-letivos stricto sensu quanto os difu-sos, não se podendo restringir a le-gitimidade que foi amplamente con-cedida pelo artigo 129, III, da Lex Mater , sem qualquer discriminaçãoentre os diversos ramos do Parquet.

Examinando, ainda, o dispos-

to no art. 6º, VII, d da LC n. 75/93,conclui-se que, ao disciplinar os ins-trumentos de atuação do MinistérioPúblico da União, em todos os seusramos, aponta a ação civil pública paraa defesa de “outros interesses indivi- duais indisponíveis, homogêneos, so- ciais, difusos e coletivos .”

Na esfera trabalhista, pois, a

ação civil pública sempre será cabí-

vel quando o procedimento genéri-co da empresa importar ofensa aosdireitos sociais mínimos, constitucio-nalmente assegurados, de uma co-

letividade ou de uma massa de tra-balhadores, direitos estes que, sali-ente-se, têm natureza verdadeira-mente indisponível, porque inseridosno Título II da Constituição Federal,concernente aos Direitos e Garanti-as Fundamentais.

Sendo a hipótese in concreto ,como visto antes, de lesão a direi-

tos e interesses coletivos e difusosde empregados da ré e de trabalha-dores que venham a postular umemprego junto à empresa, obrigadosa assinarem “carta de fiança” trans-ferindo os riscos do empregador aestes trabalhadores — o que impor-ta franca tentativa de fraude aosseus direitos trabalhistas mínimos,constitucionalmente garantidos, ex-

surge a legitimidade ativa do Minis-tério Público do Trabalho de obstara prática desta conduta lesiva a to-dos.

IV — Do Direito

IV.1. Da Obr igação de não fazer e da 

reparação dos danos causados e 

da v iol ação legal 

A ação civil pública é, em es-sência, instrumento processual quevisa, através da apuração de respon-sabilidade por danos causados a in-teresses difusos ou coletivos, à re-paração dos bens lesados.

Nesta perspectiva, a condena-

ção em dinheiro, a que alude o art.

Page 322: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 322/380

329

3º da Lei n. 7.347/85, detém carátersecundário, quando contrastado comas condenações de fazer ou não fa-zer, também objeto da ação civil pú-

blica, provimentos estes que, repre-sentando uma tutela específica,constituem o meio verdadeiramenteadequado para a reparação do bemlesado e/ou a não continuidade daslesões.

Neste sentido, Camargo Fer- raz , Milaré e Nery Júnior: 

“... dever-se-á preferir, sempreque possível, a reparação in na- tura (isto é, aquela que conduzaà recomposição do statu quo ante ) à pecuniária (cf. Lei n. 6.398,de 31.8.81, art. 4º, VII)” (apud Rodolfo de Camargo Mancuso, in Ação Civil Pública , 4ª ed., SP, RT,1996, pp. 28/9).

Em que pese o aludido carátersecundário, há situações em que seimpõe a cumulação das condenaçõesem obrigação de fazer ou não fazere em obrigação de dar (indenização),quando esta for necessária à totalreparação dos bens lesados, pois,como leciona Ives Gandra Martins Filho , a ação civil pública:

“... tem por escopo resguardaro interesse coletivo lesado (por-tanto, em relação ao passado epresente, com repercussão nofuturo, pelo descumprimento dalegislação”(in  Processo Coletivodo Trabalho, SP, LTr, 1994, p. 157).

Desse modo, quando os prejuí-

zos aos interesses difusos e coleti-

vos já se tiverem tornado efetivos,impõe-se a indenização pelos danosirreparáveis ocorridos, sem prejuízoda tutela específica, com vistas a res-

tringir as lesões presentes e futuras.No caso em tela, o procedimen-

to genérico da Ré, exigindo de seusempregados e candidatos a empre-go nos cargos de gerente, coordena-dor administrativo e caixa exigindo aassinatura de carta de fiança consti-tui, de modo insofismável, tentativade fraude aos direitos sociais consti-

tucionalmente assegurados, por-quanto, além de servir de instrumen-to de pressão sobre os obreiros —obrigando-os a se sujeitarem a con-dições ilegais de trabalho —, ensejama efetiva burla de seus direitos patri-moniais/pecuniários e ao princípio deproteção ao salário.

As provas constantes desses

autos dão conta que essas pesso-as sofrem o risco de terem os seusrespectivos patrimônios penhora-dos e responsabilizados civilmentecom a eventual execução da cartade fiança.

Tal exigência fere os artigos 2º,9º e 462, todos da Consolidação dasLeis do Trabalho. A uma, porque aintenção é transferir aos obreiros osriscos inerentes à atividade empre-sarial, o que é expressamente proi-bido pelo art. 2º da CLT. Segundo,pois é justamente visando a coibireste tipo de prática que a CLT, emseu art. 9º, determina que quaisqueratos do empregador que tenham porfim o desvirtuamento, o impedimen-to ou a fraude aos direitos trabalhis-

tas serão nulos de pleno direito.

Page 323: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 323/380

330

A exigência também viola oartigo 462, da Consolidação das Leisdo Trabalho, que apenas confere aoempregador efetuar descontos nos

salários dos empregados em casode culpa, desde que essa possibili-dade tenha sido acordada ou naocorrência de dolo do empregado.Assim, o empregador somente po-derá se utilizar dos meios previstos nalegislação trabalhista para ressarcir-se dos danos morais ou materiaiscausados por seus empregados.

E, para tanto, qualquer empre-gador, poderá ajuizar medida judici-al perante esta Justiça Especializa-da quando se sentir lesado por al-gum empregado e os mecanismoslegais não permitirem o imediato eintegral ressarcimento do dano.

Nesse sentido, a jurisprudên-cia in verbis :

Ementa: “Carta de Fiança. Aexigência de carta de fiança do empregado, assinada por tercei- ro, é ilícita e ineficaz, por violar os arts. 9º e 462/CLT, pois os di- reitos de benefícios de ordem (art.1.491 do CCB) e de sub-rogação (art. 1.490 do CCB), atribuídos pelo Código Civil ao fiador, termi- nam por responsabilizar o próprio empregado. Recurso desprovido.Processo n. TRT-RO-0749/00’’ .Relator Juiz Saulo Emídio dosSantos. 2ª Vara do Trabalho deGoiânia — GO

E, ainda que não houvesseviolação literal de dispositivo legal,o certo é que haveria, sem sombra

de dúvidas, violação aos princípios

protetores do Direito do Trabalho,tais como o da proteção ao salário,da irrenunciabilidade de direitos e darazoabilidade.

Deveras, a intenção do legis-lador pátrio, ao elaborar a CLT, foi justamente transformá-la na grandeguardiã dos princípios, buscando aigualdade entre as partes da relaçãoempregatícia e, na sua impossibili-dade, optando por proteger a forçade trabalho do autoritarismo do po-der econômico detido pelos empre-

gadores.Sob esse prisma, prejuízos à

ordem jurídica trabalhista e ao valorsocial do trabalho — que, ao lado dadignidade da pessoa humana, cons-titui um dos fundamentos do próprioEstado Brasileiro (ar t. 1º, III e IV, CF) — já se efet ivaram, não havendocomo se reverter os efeitos das coa-ções já sofridas, coletivamente consi-deradas.

Cabe, então, para reparaçãodesse dano, a indenização previstano art. 13, da Lei n. 7.347/85, valedizer, em favor de um fundo, cujosrecursos sejam destinados à recons-tituição dos bens lesados, qual seja,in casu , o FAT — Fundo de Amparoao Trabalhador, criado pela Lei n.

7.998/90, para custeio do seguro-desemprego.

Levando-se em consideraçãoque atualmente existem em torno de800 empregados — dentre gerentes,coordenadores administrativos ecaixas nas 275 lojas da empresa ré — com salários variáveis, entende oMinistério Público do Trabalho que é

bastante razoável a fixação da in-

Page 324: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 324/380

331

denização pela lesão a direitos co-letivos desses trabalhadores e difu-sos o valor de R$ 50.000,00 (cin-qüenta mil reais).

Trata-se, na verdade, de inde-nização simbólica aos direitos difu-sos e coletivos, considerando-se quea Ré agiu com a intenção de fraudar alegislação laboral mediante a obten-ção de carta de fiança, cujo valorvariava de acordo com a função esalário de cada um dos empregadoslesionados.

Isto porque, não basta, tão-somente, o controle judicial posteriorà lesão. Necessárias, ante a compro-vação do comportamento fraudató-rio, genérico e reiterado do empre-gador, medidas também genéricas,que desestimulem tais atos.

Tal panorama está a exigir,aqui, a condenação da Ré, em obri-gação de não fazer, qual seja, deabster-se de exigir carta de fiança aosempregados que exercem as funçõesde gerente, coordenador administra-tivo e caixa, bem como de eventuaiscandidatos a empregos por ela ofe-recidos, na busca da obtenção desuas assinaturas, visando preservara ordem jurídica trabalhista.

Saliente-se que, com relação

à obrigação de não fazer, cabe acominação de multa pecuniária, parao caso de descumprimento respec-tivo, ex vi do disposto no art. 11, daLei n. 7.347/85, multa esta que,como esclarece Rodolfo Camargo Mancuso: 

“Não é sub-rogativa do cumpri- mento da obrigação específica, mas 

um meio de levar o devedor, mais 

cedo ou mais tarde, a prestar o fato,ou dele se omitir, na pressuposição de que, bem dosada a multa o deve- dor ficará desestimulado a resistir ao 

cumprimento do julgado ”, o que lhe atribui o caráter de astreinte (ob. cit.,p. 171).

IV.2. Do Dano M oral Colet ivo 

Além da indenização supra-re-ferida, o artigo 1º, da Lei n. 7.347/85prevê a tutela contra o dano moral

difuso ou coletivo, não havendo dú-vida que os empregados e os candi-datos a uma vaga na Ré sofreram eestão à mercê de sofrerem prejuízoem seu patrimônio subjetivo.

Isto porque, tal exigência cau-sa constrangimentos quase sempreincontornáveis aos trabalhadores. Oprimeiro, consistente no fato do tra-

balhador ser compelido a conseguirum fiador, o que não é uma tarefafácil, sob pena de não ser admitido,o que representa um prejuízo enor-me ao candidato a trabalho, mor-mente nestes tempos onde os em-pregos se rareiam em progressãogeométrica.

E, ultrapassado o primeiroobstáculo e apresentada a car ta defiança, o trabalhador, que já se en-contra em posição de inferioridadehierárquica em relação ao empre-gador, por ser este o detentor dopoder econômico, ainda estará co-agido em função da garantia con-cedida à empresa, a acatar passi-vamente os eventuais descontosimpostos pelo empregador, mesmo

quando injustos.

Page 325: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 325/380

332

Assim, o empregado afiança-do por um amigo ou parente próxi-mo ou mesmo pessoalmente, nãopoderá, de forma alguma, resistir às

investidas do empregador, quandoeste, injustamente, pretenda delereceber o ressarcimento de um dano.O trabalhador jamais ousará discor-dar de seus superiores hierárquicos,ainda que haja um motivo justo paratanto, pois ficará sempre com o re-ceio de a empresa executar a garan-tia, acionando judicialmente seu fia-dor ou ele próprio.

E, no caso em tela, houve arenúncia dos benefícios de ordem(art. 1.491 e seguintes, CC), o quefaz desaguar a responsabilidade di-reta, de qualquer modo, sobre oempregado.

Como se disse alhures, confor-me esclarecido pelo Sr. Rodinei (doc.05), serviriam como uma espécie de“garantia” para o contrato de traba-lho, sugerindo a falta de confiança,o desprezo e a discriminação des-ses empregados, a princípio consi-derados desonestos, ao extremo deterem de deixar um título de créditoassinado como forma de preservaro patrimônio da Ré em prejuízo aosseus direitos trabalhistas.

A Constituição Federal, em seuart. 170, valoriza o trabalho huma-no, como fundamento da ordem eco-nômica, e em seu art. 1º, dispõe so-bre o valor social do trabalho e a dig-nidade da pessoa humana.

Os fatos ocorridos não devemse repetir, sendo que as “cartas defiança” exigidas foram impostas de má-

fé, com a nítida intenção de fraudar

direitos trabalhistas e transferir osriscos da sua atividade econômica,não sendo praticados por um sim-ples administrador de pessoal, mas

sim, conforme confessado pelodepoimento (doc. 05), trata-se depraxe genérica da empresa ré. Odano moral, difuso ou coletivo, a quese refere a Lei n. 7.347/85, está ca-racterizado, sendo perfeitamenteaplicável a referida norma no casoem apreço.

A prática adotada pela Ré,

além de ofender a ordem jurídica tra-balhista, daí por que há necessi-dade de uma sanção que a impeçade persistir nos atos ilícitos, tambémexige a imposição de uma obrigaçãode pagar pelos prejuízos já causa-dos, inclusive de natureza extrapa-trimonial, como é o caso do danomoral coletivo.

Como tais lesões amoldam-se

na definição do artigo 81, incisos I eII, da Lei n. 8.078/90, cabe ao Minis-tério Público, com fundamento nosartigos 1º, caput , e inciso IV; e 3º daLei n. 7.347/85, propor a medida ju-dicial necessária à reparação dodano e à sustação da prática.

Cuida-se, na hipótese, de ‘danomoral potencial’ aos interesses difu-sos e coletivos, sobre o qual já semanifestou o Eg. TRT da 12ª Região,ao apreciar o Proc. TRT/SC/RO-V7.158/97 em caso análogo a esse,referindo-se a documentos em bran-co exigido pelo empregador. Trans-creve-se parte do voto do Exmo. Sr.Juiz Relator:

“A posse dos documentos, por 

si só, mormente pelo lapso de 

Page 326: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 326/380

333

abrangência e conteúdo possível,torna presumível a intenção frau- datória 

O prejuízo em potencial já é suficiente a justificar a actio.

Exatamente porque o prejuízo em potencial já é suficiente a jus- tificar a propositura da presente ação civil pública, cujo objeto,como se infere dos balizamentos atribuídos pela peça exordial ao petitum, é em sua essência pre- ventivo (a maior sanção) e ape- 

nas superficialmente punitivo, é que entendo desnecessária a pro- va de prejuízos aos empregados.

De se recordar que nosso or- denamento jurídico não tutela apenas os casos de dano in con- creto, como também os casos de exposição ao dano, seja ele físi- co, patrimonial ou jurídico, como se infere do Código Penal, do Código Civil, da CLT e de outros instrumentos jurídicos.

Tanto assim é que a CLT, em seu artigo 9º, taxa de nulos os atos praticados com o objetivo de frau- dar, o que impende reconhecer que a mera tentativa de desvirtu- ar a lei trabalhista já é punível.

Por fim, a alegação de que não houve dano moral é fato alheio aos presentes autos, que não trata de lesões individuais, es- pancáveis por via própria, mas de dano potencial aos emprega- dos, candidatos a emprego ou futuros empregados, decorrente da prática ilícita e, ainda, de da- nos causados a ex-empregados,

pela mesma prática.

Por fim, não se alegue a atipi- cidade. O artigo 9º da CLT esta- belece sanção contra os atos que objetivem fraudar direitos; o art.

11 da Lei n. 7.347/85 positiva a sanção, sem contar a aplicação subsidiária, imposta pelo CPC, do Código de Defesa do Consumi- dor, que também estabelece a cominação pretendida.” 

(Acórdão 2ª T. n. 98, ProcessoTRT/SC/RO-V 7158/97, J. 9.2.98,Rel. Juiz Marcus Pina Mugnaini,

DOE 13.4.98.)

Essa responsabilidade decor-rente da prática de ato ilícito implicauma condenação em dinheiro (art.3º, da Lei n. 7.347/85), cujo valor, aser arbitrado prudentemente por esteDouto Juízo, poderá levar em contaa natureza do ato ilícito, a gravidadeda lesão, o comprometimento do

bem jurídico violado, o salário men-sal e, principalmente, o próprio va-lor exigido pela Ré aos gerentes,coordenadores e caixas que, segun-do comprovou-se, tem como médiaa quantia de R$.15.000,00 — doc.05 (depoimento gerente).

Os valores das indenizaçõesdeverão ser revertidos em prol de umfundo destinado à reconstituição dos bens lesados , conforme previsto noartigo 13, da Lei n. 7.347/85. No casode interesses difusos e coletivos naárea trabalhista, como dito, esse fun-do é o FAT — Fundo de Amparo aoTrabalhador, que, instituído pela Lein. 7.998/90, custeia o pagamento doseguro-desemprego (art. 10) e o fi-nanciamento de políticas públicas

que visem à redução dos níveis de

Page 327: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 327/380

334

desemprego, o que propicia, deforma adequada, a reparação dosdanos sofridos pelos trabalhado-res, aqui incluídos os desemprega-

dos que buscam uma colocação nomercado.

V — Do Pedido de Liminar

Fumus boni juris . O materialprobatório acostado aos autos, cor-roborado pela demonstração da vio-lação de diversos dispositivos legais

(artigos 2º, 9º, 462, da CLT), expri-me a veracidade dos fatos narradose justifica plenamente a concessãoda liminar.

Os documentos colacionados,notadamente a carta de fiança e odepoimento pessoal do Gerente dafilial da empresa ré na cidade deCampinas, Sr. Rodinei Garcia Guar-dado, comprova a conduta genéricae lesiva da empresa, deixando verque, até a solução final da actio ,poderá continuar exigindo dos can-didatos a emprego e de seus empre-gados a assinatura de carta de fian-ça, o que, por si só, independente-mente da utilização ou não dos mes-mos, já importará lesão aos direitosdos trabalhadores, em face da coa-

ção que representa.Ademais, cumpre anotar que a

Constituição da República, atravésda orientação estampada nos artigos1º e 6º, prima pela efetiva observân-cia dos direitos sociais definidos noartigo 7º e incisos do mesmo Codex.

Portanto, cumpre, desde logo,impedir que tal possibilidade venha

a materializar-se e/ou continuar a se

perpetrar, através, exatamente, daconcessão do provimento liminar, nosentido da imposição imediata àRé da obrigação de não exigir carta

de fiança, sob pena de cominação demulta diária.

Periculum in mora . A continui-dade da ação da Ré causa danos dedifícil (ou impossível) reparação aosdireitos dos trabalhadores e ao pró-prio ordenamento jurídico laboral,haja vista que, a cada dia, trabalha-dores e candidatos à vaga de em-pregos são lesados, ficando sem aproteção das normas que lhes as-seguram os direitos trabalhistas.

Quanto mais tempo persistir aprática, maiores serão os lesadosem potencial e concretamente, nãosendo possível garantir a perfeitareparação dos danos que forem cau-sados durante o trâmite da presenteação civil pública, caso sejam per-

mitidas a continuidade da nociva prá-tica empresarial.

Presentes, pois, o periculum in mora  e o fumus boni juris , pressu-postos indispensáveis à concessãoda medida liminar prevista no artigo12, da Lei n. 7.347/85.

Além deste dispositivo legal, ocerto é que o ar tigo 461, do Códigode Processo Civil prevê a conces-são da tutela específica, ante a pre-sença da relevância do fundamentoda demanda e do justificado receiode ineficácia do provimento final.

Como se disse alhures, a rele-vância do fundamento, na hipóteseaqui versada, encontra-se inequivo-camente demonstrada pelo depoi-mento colhido durante o proce-

dimento investigatório.

Page 328: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 328/380

335

O justo receio de dano, a seuturno, verifica-se frente à real possi-bilidade da continuidade da exigên-cia, no curso da ação, de assinatu-

ras de novas cartas de fiança, nota-damente, porque, segundo constouno depoimento “tem previsão de abertura de mais 03 filiais em Cam- pinas ”, fora as demais 275 lojas emtodo o território nacional. (doc. 06)

VI — Do Pedido

Desta forma, requer o Ministé-rio Público do Trabalho, com funda-mento no art. 12, da Lei n. 7.347/85,liminarmente ou após justificaçãoprévia, a concessão de medida limi-nar para:

a) imposição imediata à Ré na obrigação de não fazer , no sentidode abster-se de exigir a assinatura de

carta de fiança ou qualquer outrodocumento que pressupõe coaçãomoral contra seus empregados oucandidatos a empregos por ela ofe-recidos, na busca de transferênciados riscos da atividade econômica,sob pena de fixação de multa de R$1.000,00 (hum mil reais) por carta defiança encontrada com assinatura do

trabalhador, na forma da Lei n. 8.078/ 90 e art. 461, § 4º, do CPC c/c art. 12,da Lei n. 7.345/85 (Multa Liminar);

b) abster-se de manter , sobsua guarda, ou fazer uso de quais-quer cartas de fiança já firmadas(exigidas dos atuais e ex-emprega-dos), sob pena de fixação de multade R$ 1.000,00 (hum mil reais) por

cada carta de fiança utilizada inde-

vidamente, na forma da Lei n. 8.078/ 90 e art. 461, § 4º, do CPC c/c art. 12,da Lei n. 73.45/85 (Multa Liminar);

Em caráter definitivo:

a) condenar a Ré na obriga- ção de não fazer , no sentido de abs-ter-se de exigir carta de fiança ouqualquer outro documento que pres-supõe coação moral contra seusempregados ou candidatos a em-pregos por ela oferecidos, sob penade multa definitiva de R$ 1.000,00(hum mil reais) por carta de fiança

encontrada com assinatura do tra-balhador, nos termos do artigo 11,da Lei n. 7.347/85;

b) condenar a Ré na obrigação de não fazer , no sentido de abster-se de manter, sob sua guarda ou fa-zer uso de quaisquer cartas de fian-ça já firmadas, utilizando-se somen-te dos meios previstos na legislaçãotrabalhista para ressarcir-se dos da-nos morais ou materiais causadospor seus empregados, sob pena defixação de multa definitiva de R$1.000,00 (hum mil reais) por carta defiança utilizada indevidamente, nostermos do ar t. 11 da Lei n. 7.347/85;

c) condenar a Ré na obriga- ção de recolher , em favor do FAT —Fundo de Amparo ao Trabalhador,

criado pela Lei n. 7.998/90, a títulode indenização pelos danos difusos já causados, nos termos do art. 13,da Lei n. 7.347/85, o valor de R$50.000,00 (cinqüenta mil reais), naforma da fundamentação constantedo item IV.1 retro ;

d) condenar a Ré na obrigação de recolher , em favor do FAT — Fun-

do de Amparo ao Trabalhador, cria-

Page 329: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 329/380

336

do pela Lei n. 7.998/90, a título de in-denização pelo dano moral coletivo,nos termos do art. 1º da Lei n. 7.347/ 85, o valor a ser arbitrado prudente-

mente por este Douto Juízo, levando-se em consideração os critérios para afixação deste valor, bem como os fun-damentos expostos no item IV.2 retro .

Finalmente, requer-se a cita-ção do Réu para contestar a ação,querendo, sob pena de incidir nosefeitos próprios da decretação de

revelia. Protestando-se provar o ale-gado por todos os meios de provaem direito permitidos, sem exceção;dá-se à presente ação o valor de R$

10.000,00.Nestes termos,

Pede deferimento.

Campinas-SP, 14 de dezembrode 2000.

Andréa Albertinase, Procura-dora do Trabalho.

CONCLUSOS 

Processo n. 2.230/2000-1

Nesta data faço os presentesautos conclusos à MMª Juíza do Tra-balho, Dra. Maria Angelica MinetoPires, em face do recebimento dapresente com pedido de liminar.

Campinas, 8 de janeiro de2001.

Diretora de Secretaria

Vistos, etc. ...

Ministério Público do Trabalho — Procuradoria Regional do Traba-lho da 15ª Região ajuizou Ação CivilPública em face de Lojas Colombo

S/A. Comércio de Utilidades Domés-ticas, alegando em síntese que arequerida vem exigindo de seusempregados ocupantes dos cargos degerentes, coordenadores administra-tivos e caixas, no ato da admissão, queassinem uma Carta de Fiança, atitu-de arbitrária e ilegal. Aduz que, ten-do instaurado o respectivo proces-so investigatório, tentou uma conci-

liação através da assinatura de ter-

mo de conduta, o que foi recusadopela empresa. Requer initio litis  esem audiência das adversas, medi-da liminar para:

1 — imposição à requerida deimediata obrigação de não fazer,qual seja, abster-se da exigência decarta de fiança aos empregados oucandidatos à vaga de emprego;

2 — imposição imediata à re-querida de abster-se de manter sobsua guarda ou fazer uso de quais-quer cartas de fiança já firmadas.

Recebida a presente, vieram

os autos conclusos para decisão damedida liminar requerida.

Antes de adentrarmos propria-mente no cerne da questão posta àapreciação, necessário se fazem al-gumas ponderações preliminares,sobre a legitimidade ativa do Minis-tério Público, no caso específico e acompetência funcional desta Vara do

Trabalho.

Page 330: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 330/380

337

1 — Legitimidade Ativa do MP

A vigente Constituição Federalde nosso País ( art. 127), incumbiu

ao Ministério Público a defesa daordem jurídica, do regime democrá-tico e dos interesses sociais e indi-viduais indisponíveis e lhe atribuiuentre outras a função de promover oinquérito civil público e a ação civilpública, para a proteção do patrimô-nio público e social, do meio ambi-ente e de outros interesses difusose coletivos.

A Lei Complementar n. 75/93no Capítulo II, artigo 83, inciso IIIdelega competência ao MinistérioPúblico do Trabalho para promovera ação civil pública no âmbito daJustiça do Trabalho para defesa deinteresses coletivos, quando desres- peitados os direitos sociais consti- tucionalmente garantidos.

Portanto, existindo uma lesãoda massa de trabalhadores e con-seqüentemente um ato lesivo dire-tamente oriundo do contrato de tra-balho, o Ministério Público do Tra-balho terá legitimidade para tutelaro direito correspondente em Juízo,exatamente como ocorre na hipóte-se examinada.

2 — Competência Material eHierárquica da Vara doTrabalho

A teor do artigo 114 da Cons-tituição Federal vigente a Justiça doTrabalho é competente para apre-ciar e julgar todas as relações sur-gidas da prestação do trabalho su-

bordinado.

O suporte do pedido do autorestá vinculado e aí como efeito desua causa, à relação empregatíciae ao desrespeito a direitos constitu-

cionais que aderiram aos contratosde trabalho.

Nesse sentido:

“Estando  o Ministério Público legitimado a propor ação civil públi- ca no âmbito da Justiça do Trabalho,em defesa de interesses coletivos,quando desrespeitados direitos so- ciais constitucionalmente garantidos,

não há que se falar em incompetên- cia desta Justiça Especializada para processar e julgar o feito, ainda que para solução da lide dependa anali- sar questões de direito civil. Aplica- bilidade dos arts. 114 da CF, 83,inciso III da Lei Complementar n. 75/ 93 e 2º da Lei 7.347/85. (TRT/SP 15ªRegião n. 28.273/94 — Ac. 1ª. T.17.443/95, Rel. Luiz Antonio Lazarim — DOE 11.9.95, pág. 81).

A competência funcional defluída hierarquia e jurisdição dos Ór-gãos do Poder Judiciário.

Tratando a presente ação dedireitos afetados por uma empresadentro da área de jurisdição destacidade, competente para julga-láoriginariamente a Vara do Trabalho,Órgão de primeiro grau (inteligênciado art. 2º da Lei n. 7.347/85).

3 — Da Medida Liminar —Direitos

Afetados 

O objetivo básico da medida

liminar é garantir provisoriamente um

Page 331: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 331/380

338

direito que se encontra na iminênciade ser lesado. Portanto, dois são osseus pressupostos: probabilidade deêxito da pretensão (fumus boni juris)

e o perigo de ficar comprometida,irremediavelmente, pela demora pro-cessual (periculum in mora).

O preposto da empresa Ré noseu depoimento trazido à colaçãoàs fls. 28 admite expressamente aexigência de carta de fiança dosempregados que ocupam ou sãocandidatos a ocupar cargos queexigem movimentação de numerá-

rio cujo valor médio varia em tornode R$ 15.000,00.

O documento de fls. 23 eviden-cia que aludida fiança é firmada pordívida futura e incerta em face daresponsabilidade que venha incorrero empregado por ação ou omissãono exercício de suas funções.

A atitude da requerida viola os

princípios constitucionais de prote-ção do trabalhador e que constitu-em fundamental exigência para oestabelecimento de condições dig-nas de trabalho.

Tal princípio resulta de normasimperativas e, portanto, de ordempública, que caracterizam a institui-ção básica do Estado nas relaçõesde trabalho, visando a opor obstá-

culos à autonomia de vontade.A primazia dos preceitos de

ordem pública na formação do con-trato de trabalho está expressamen-te enunciada no artigo 444 da CLT:

“As relações de trabalho po- dem ser objeto de livre estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às disposi- 

ções de proteção ao trabalho, aos 

contratos coletivos que lhe sejam aplicáveis e às decisões das autori- dades competentes”. (grifo nosso)

Isto porque, na formação docontrato de trabalho não ocorre aigualdade jurídica das partes pres-suposto do princípio da autonomiada vontade.

De fato, o trabalhador ínscio enecessitado de ganhar o seu susten-to e de sua família, máxime nessesdias difíceis de avassalador desem-prego, aceita qualquer imposição

para obter e muitas vezes manter oemprego.

A exigência da requerida quan-to à carta de fiança não tem qualquerprevisão legal e ninguém será obri-gado a fazer ou deixar de fazer algu-ma coisa senão em virtude de lei (art.5º, II da CF/88). É certo que a aceita-ção do empregado decorre de mani-festo vício de consentimento provo-cado pela coação econômica no atoda celebração do contrato.

Ora, o empregador na relaçãode emprego tem o poder de direçãoe comando da atuação do emprega-do, dispondo de sanções disciplina-res para a imediata tutela de seusdireitos em caso de violação dasobrigações assumidas pelo empre-

gado, não se caracterizando, pois aatitude da requerida, senão abusiva.

Nesse sentido, leciona comproficiência George Ripert1

“Quem, sem interesse legítimo,procura, intencionalmente, prejudi- car a outrem, abusa, certamente, do 

(1) ‘‘Instituições de Direito do Trabalho’’,

vol. 1, 14ª ed., pág. 217.

Page 332: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 332/380

339

direito de que é titular. E o exercício anti-social de um direito não pode ter a sanção do mundo jurídico-contem- porâneo.” 

Não se pode olvidar ainda, oprincípio da intangibilidade salarial(art. 70, X da CF/88) que protege osalário contra o empregador; con-tra credores e contra o próprio em-pregado.

Ao compelir o empregador aconstituir obrigação em favor daempresa, a requerida viola expres-samente tal princípio e também oart. 462 da CLT.

Ante o quanto supra-relatado,evidente o fumus boni juris.

No que tange ao perigo da de-mora, por certo o andamento normaldo feito demandará vários anos, oque levará a manutenção da situa-ção atual de violação dos princípiosde proteção ao trabalho e imposição

de injusta obrigação aos emprega-dos da requerida, alguns podendosofrer danos irreparáveis com a uti-lização do instrumento pela empre-sa, que sequer conta com critériosdefinidos.

Verificada a presença dos re-quisitos legais para sua concessão,deferimos a liminar requerida peloAutor, inaudita altera pars  determi-

nando à requerida que, nos limitesda jurisdição desta Vara do Trabalho:

a) se abstenha de exigir deseus empregados ou candidatos aemprego, carta de fiança ou qual-quer outro documento que tenha amesma finalidade;

b) se abstenha de manter, sobsua guarda ou fazer uso de quais-quer cartas de fiança já firmadas dosatuais e ex-empregados.

Nas duas hipóteses fixamosuma multa em favor do FAT no im-porte de R$ 10.000,00 por carta defiança encontrada ou que vier a serindevidamente utilizada.

Inclua-se o feito na pauta deUNAS.

Intimem-se as partes e cite-sea requerida.

Campinas, 12 de janeiro de2001.

Maria Angélica Mineto Pires,Juíza do Trabalho Substituta.

Page 333: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 333/380

340

O Ministér io Público do Traba-lho, através dos Procuradores queabaixo subscrevem, com sede naProcuradoria Regional do Trabalhoda 16ª Região, situada na Av. Mare-chal Castelo Branco, 657, São Fran-cisco, nesta capital vem perante V.Exa., fulcrado no artigo 127 da Cons-tituição Federal; artigo 23, inciso I,alínea c  e inciso III do RegimentoInterno dessa Egrégia Corte, apre-sentar:

RECLAMAÇÃO CORREICIONAL

em desfavor da Juíza do TrabalhoSubstituta Dra. Noélia Maria Martins

de Lacerda, quando no exercício dapresidência da 1ª Junta de Concilia-ção e Julgamento de São Luís, emvirtude de ato atentatório à boa or-dem processual e às prerrogativasdo Ministério Público da União, pra-ticado nos autos da Ação Civil Cole-tiva, autuada sob o n. 1.738/98 quetem como réus a Coliseu e Municí-pio de São Luís, pelos elementos

fáticos e jurídicos a seguir aduzidos:

RECLAMAÇÃO CORREICIONAL: PRERROGATIVA 

INSTITUCIONAL DO MPT DE ASSENTO À DIREITA 

DE JUIZ (PRT 16 ª   REGIÃO)

EXMO. SR. DR. JUIZ CORREGEDOR E PRESIDENTE DO TRIBUNALREGIONAL DO TRABALHO DA 16ª REGIÃO

I — Dos Fatos

1. O representante do Ministé-rio Público do Trabalho — Dr. Eduar-do Varandas Araruna — compareceuà audiência para instrução proces-sual, em virtude de ação proposta

pelo Ministério Público em face daColiseu e do Município de São Luísa fim de compeli-los a efetuar osdepósitos fundiários de seus empre-gados.

2. Logo no início da citada au-diência, requereu o Ministério Públi-co o cumprimento do disposto noartigo 18, inciso I, alínea a , da Lei

Complementar n. 75/93, no sentidode que lhe fosse cedido o assentoimediatamente à direita da Juíza quepresidia os trabalhos.

3. A Juíza Presidente disse queobservaria o que estivesse na Lei.De pronto, o membro do MinistérioPúblico mostrou-lhe a Lei Orgânicado Ministério Público da União, a

qual, após ler o dispositivo legal per-

Page 334: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 334/380

341

tinente, indeferiu o pedido do Minis-tério Público, sob o argumento deque tal prerrogativa só era reserva-da aos Procuradores do Trabalho,

quando interviessem no feito comofiscal da lei e que, quando o Minis-tério Público fosse parte, deveriasentar-se no lugar destinado aosreclamantes em geral. Acrescentouainda Sua Excelência, com um cer-to riso nos lábios, que já tinha sidopromotora de justiça e que estava ci-ente das prerrogativas do Ministério

Público. Disse também a magistradaque o local de audiências era muitopequeno e que haveria dificuldadespara acomodar o Membro do Parquet na forma como foi requerida.

4. A fim de evitar maior tumul-to processual e constrangimento, oMembro do Ministério Público limi-tou-se a protestar, decidindo tomar

as medidas cabíveis a posteriori .5. Tais fatos constaram em ata,

lavrada em 8 de março de 1999 (vide documento em anexo) conforme sevê na transcrição abaixo:

“Requereu o representante doMinistério Público do Trabalho,aqui presente, nos termos do ar-

tigo 18, inciso I, alínea a  da LeiComplementar n. 75/93, sentar-seà direita da MMª Presidente destaJCJ, tendo a presidente indeferi-do o pleito por entender que aprerrogativa do citado artigo éconferido ao membro do Ministé-rio Público somente quando eleatua quando é fiscal da lei. Em

seguida, o representante do Mi-

nistério Público do Trabalho re-quereu que fosse consignado oseu processo.” (leia-se protesto).

II — Do Direito

a) Do Cabimento da Reclama- ção Correicional 

A reclamação correicional temprevisão regimental e consiste emmeio de impugnação de atos judi-ciais que atentem contra a boa or-

dem processual ou que importem emgrave erro ou abuso de poder. Tal ins-tituto é originado da supplicatio  ro-mana que consistia em reclamaçãocontra irregularidades processuaispraticadas pelos juízes.

No caso específico desse Egré-gio Tribunal, o RITRT — 16ª Regiãoprevê a correição parcial para corri-

gir atos e despachos dos Presiden- tes de Junta, Juízes Substitutos e Classistas , contrários ao interesse público e às normas processuais,quando deles não caiba algum recur- so previsto em lei.

A Lei n. 1.553/51, artigo 5º, in-ciso II, também prevê, por via indi-reta a reclamação correicional, es-

tabelecendo que não será concedi-do mandado de segurança se hou-ver cabimento de recurso ou correi-ção parcial. De forma idêntica, a CLT,no seu artigo 709, inciso II, tambémprevê reclamações contra atos aten- tatórios à boa ordem processual .

A bem da verdade, emborahaja pequena variação conceitual,

quanto à correição parcial face ao

Page 335: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 335/380

342

regimento dos diversos pretórios tra-balhistas, é uníssono tanto na juris-prudência como na doutrina que talremédio é cabível, quando o ato ata-

cado se reveste de ilegalidade, des-de que não haja recurso próprio afim de corrigir a iniqüidade judicial,o que é exatamente a hipótesetrazida a descortino, consoante far-tamente se demonstrará no decor-rer destes arrazoados.

Veja-se o que a doutrina diz arespeito da matéria:

“... tem a correição parcial porfinalidade a emenda de erro ouabusos, que importarem inversãotumultuária dos atos e fórmulas deordem legal do processo, quandopara o caso não houver recurso.

<omissis> 

Embora não neguemos umacerta semelhança do instituto como recurso, sob tudo sobre o pris-ma teleológico, estamos inclina-dos a crer que se trata de remé-dio processual usado contra atosdo juiz prejudiciais à parte e paraos quais não prevê a lei recursoespecífico” — grifo apócrifo ( in Saad, Eduardo Gabriel , “DireitoProcessual do Trabalho”, SãoPaulo: LTr, 1994).

“Dos atos processuais pratica-dos com ofensa à ordem legal econtra os quais não seja previstorecurso previsto em lei, admite-sereclamação ao corregedor corres-pondente autoridade que praticouo ato irregular.” (Malta, Christovão Piragibe Tostes , “Prática do Pro-cesso Trabalhista”, 21ª edição.

Rio de Janeiro: Ed. Trabalhista.)

“... A correição parcial, comorecurso impróprio, deve ter hipó-teses e ritos previstos em regi-mento interno, por exato para as-

segurar as garantias processuaisdas partes ...” (Luiz Fernando Vaz ,in LTr, 57-07/846/848).

Como o ato guerreado é irre-corrível pela via recursal ordinária,eis que, no Processo do Trabalho, osdespachos incidentais de conteúdodecisório são irrecorríveis, nada res-ta ao Parquet senão manejar a pre-

sente correição parcial.b) Da Tempestividade da Me- 

dida 

Consoante reza o artigo 24 doRITRT-16ª Região, o prazo paraapresentação da reclamação correi-cional é de oito dias a contar da datada ciência do ato impugnado.

Ora, o indeferimento do pedido

do Parquet , quanto ao assento à di-reita da Juíza Presidente, ocorreuem 8 de março do corrente ano, fin-dando-se o prazo para apresentaçãoda reclamação correicional em16.3.99, estando por tanto, plena-mente tempestiva a presente irresig-nação.

c) Do Mérito 

c.1) Do Ato Contrário ao Inte- resse Público (art. 23, inciso III, 1ª parte, do RITRT — 16ª Região)

Consoante reza o artigo 27 daConstituição Federal, o MinistérioPúblico é a instituição permanenteessencial à função jurisdicional doEstado, incumbindo-lhe a defesa daordem jurídica, do regime democrá-tico e dos interesses sociais e indi-

viduais indisponíveis.

Page 336: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 336/380

343

Assim, a atuação do Parquet se pauta na defesa do interesse pú-blico primário que se confunde como interesse da própria sociedade.

Desta feita, as prerrogativas institu-cionais do Ministério Público, quan-do atua judicialmente, não consistemem privilégios pessoais de seusmembros, mas em uma forma de via-bilizar e garantir uma ação ministe-rial independente e hábil para atin-gir seu objetivo.

Qualquer ato que impeça o

Ministério Público de exercer suasprerrogativas garantidas em LeiComplementar à Constituição Fede-ral deve ser considerado como lesãoao próprio interesse público primá-rio, já que é este a célula nuclear daatuação do Parquet .

Oportuno citar os ensinamen-tos do grande mestre Pontes de Mi- randa :

“O Parquet é o órgão ou o con- junto de órgãos, pelo qual seexerce o interesse público em quea justiça funcione” (Pontes de Mi-randa, Comentários ao Código deProcesso Civil, Rio de Janeiro,Forense, 1973, t. 2, p. 2.222).

Diferente não é o entendimen-to de Liebman :

“O Ministério Público é, elepróprio, um órgão do Estado, aoqual cabe tutelar um específico in-teresse público, que tem por ob- jeto a atuação da lei por parte dosórgãos jurisdicionais nas áreas enos casos em que as normas ju-

rídicas são ditadas por razões de

utilidade geral ou social; trata-sede casos em que a concreta ob-servância da lei é necessária àsegurança e ao bem-estar da so-

ciedade, não podendo a tarefa deprovocar a sua aplicação pelos juízes ser deixada à iniciativa dosparticulares.”

Nestes termos, a suscitada le-sou o interesse público ao não ob-servar as prerrogativas do Parquet .

Ressalte-se que, ao membro

do Ministério Público não lhe é dadoa escolha do local do assento, atéporque é a lei que assim dispõe:

Art. 18. São prerrogativas dosmembros do Ministério Público daUnião:

I — institucionais:

a) sentar-se no mesmo plano

e imediatamente à direita dos juí-zes singulares ou presidentes dosórgãos colegiados perante osquais oficiem; (Lei Complementar n. 75/93).

A douta magistrada ao indeferiro pedido do Ministério Público violoua literalidade do texto legal, demons-

trando desrespeito e descaso a umadas instituições mais importantes daRepública Federativa do Brasil.

Os argumentos que serviramde sustentáculo para indeferimentodo pedido não têm como prevalecer,à míngua de absoluto respaldo legal.

Na verdade, para exercer assuas prerrogativas, é indiferente que

o Membro do Parquet  esteja, em

Page 337: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 337/380

344

 juízo como órgão agente ou interve-niente. É regra basilar de exegese jurídica que, onde a lei não limita ourestringe, não cabe ao intérprete

fazê-lo. Assim, o ar tigo 18, inciso I ealíneas não estabelecem nenhumacondição para que o membro do Mi-nistério Público possa sentar à direi-ta do Presidente do Colegiado. O sig-nificado do vocábulo oficiar é amplo,e abrange quaisquer formas de atua-ção do Ministério Público, seja elena qualidade de parte ou não. Casoo legislador quisesse retirar do Mi-

nistério Público as suas prerrogati-vas, quando o mesmo agisse comoparte, deveria tê-lo feito de formaexplícita.

Ademais, mesmo quando fun-ciona como parte (órgão agente), apostura do Ministério Público é to-talmente diversa dos litigantes co-muns, eis que o Parquet age impar-

cialmente em defesa do ordenamen-to jurídico, e não dos interesses pes-soais de seus membros. Por taismotivos, é que se diz que mesmoquando propõe a ação, o MinistérioPúblico não se despe da função defiscal da lei.

Dessa forma, em situação aná-loga, já decidiu o Superior Tribunalde Justiça:

Membros do Ministério Públi-co — Assento à Direita do Juiz.Toda a legislação de regênciaassegura aos membros do Minis-tério Público a prerrogativa de, noexercício de suas funções, tomarassento à direita dos juízes,desembargadores e ministros,

prerrogativas estas reconhecidas

em decorrência das relevantesfunções por ele desempenhadas.(Ministro Garcia Vieira, ROMS 96/ 0018133-0, Primeira Turma, publ.

em 15.12.97 no DJ).

O Tribunal Superior do Traba-lho, de forma mais enfática ainda,assim se expressou:

Ministério Público do Trabalho.Função Institucional. Órgão Agen-te e Órgão Interveniente. Ques-tão de Assento. Artigo 18, alíneaa  da Lei Complementar setentae cindo de noventa e três versus artigo oitenta e um do CPC. Ques-tão de ordem. Artigo sententa eoito, inciso dez, do RITST.

A função institucional do Minis-tério Público é a de garantir a de-fesa da ordem jurídica, do Regi-me Democrático e dos interesses

sociais e individuais indisponíveis(art igo cento e vinte nove da Car-ta Magna). Partindo dessa pre-missa constitucional, não pode-mos equiparar o membro do Mi-nistério Público às partes litigan-tes no Poder Judiciário, já que tan-to trazer-lhe, de certa forma, umgrande desconforto, uma vez queuma de suas funções institucio-nais é a de defender a ordem ju-rídica. Diante disso, entendo ca-bível e legal a atuação do Minis-tério Público do Trabalho, sejacomo órgão agente, seja como in-terveniente, sem necessitar des-pir-se de quaisquer das funçõesinstitucionais inerentes ao cargo,com as conseqüentes prerrogati-

vas atribuídas a seus membros,

Page 338: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 338/380

345

dentre elas a de “sentar-se nomesmo plano e imediatamente àdireita dos Juízes Singulares ouPresidentes do órgãos judiciários

perante os quais oficiem” (artigodezoito, alínea a , da Lei Comple-mentar n. 75/93). A lei fala em ofi-ciar, equivalendo a dizer que nãohouve distinção quando o Minis-tério Público do Trabalho for parteou interveniente, não sendo lícitoao interprete fazê-la. Por um oupor outro ângulo, o Ministério Pú-blico do Trabalho atua sempre

como “custos legis ”.É certo que em processo judi-

ciário compete ao juiz asseguraràs partes igualdade de tratamen-to (artigo cento e vinte e cinco,inciso I do CPC).

Não menos correto, todavia,que quando o Ministério Públicoage nesta ação na condição de

autor, não quer dizer que devamerecer o mesmo tratamento dis-pensado às partes de todo e qual-quer processo, eis que a sua mis-são não é a de obter um provi-mento jurisdicional a ele favorá-vel, mas sim um pronunciamento judicial em favor do bem comum,restabelecendo-se a ordem jurí-dica em prol da sociedade.

O artigo 81 do Código de Pro-cesso Civil comete ao MinistérioPúblico, quando no exercício dodireito de ação, os mesmos po-deres e ônus que as partes. Ocor-re, porém, que essa norma pro-cessual não possui força bastan-te para atingir prerrogativa do Mi-nistério Público criada mediante

Lei Complementar, vale dizer, di-

ploma legal dotado de hierarquiasuperior, sem falar, ademais, queaquela foi gerada no ano de 1973,enquanto esta em época recente

(1993) como fruto da vontade dolegislador constituinte de 1988.Não tenho dúvida em afirmar queo preceito adjetivo civil, nesteparticular, encontra-se derrogado.Não consigo, com a devida vênia,entender de maneira diversa seminfringir a Constituição Federal eo Estatuto do Ministério Públicoda União. Ora, a Lei Complemen-tar n. 75/93 elenca as prerrogati-vas dos membros do MinistérioPúblico, as quais são inerentes aoexercício de suas funções e irre-nunciáveis (art. 21), não fazendoqualquer ressalva quanto à con-dição em que atua o órgão minis-terial. Não cabe, pois, estabele-cer restrição desprovida de am-

paro jurídico e legal. Questão deordem conhecida para explicitarque o representante do Ministé-rio Público do Trabalho, ainda quena qualidade de autor da ação,deve desfrutar de todas as prer-rogativas institucionais, sentando-se junto ao Juiz Presidente, tam-bém nas audiências de instruçãoe conciliação. (TST, DC 204635/ 

95, Relator Ministro Roberto DellaManna).

c.2) Do Ato Tumultuário do Pro- cedimento 

Não devem ser consideradosatos tumultuários do procedimentoapenas aqueles atos que invertemà boa ordem processual. Ao revés, é

de se taxar também como atos judi-

Page 339: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 339/380

346

ciais tumultuários aqueles que des-respeitam o direito das partes nodecorrer da relação processual.

Como já sobejamente expostono item anterior, o ato ora impugna-do violou direito institucional do Mi-nistério Público da União, expondoseu membro ao constrangimentodiante dos jurisdicionados.

c.3) Considerações Finais 

O Ministér io Público do Traba-lho, mais precisamente os procura-dores que subscrevem esta reclama-ção correicional, respeitam e reco-nhecem a relevante função que oPoder Judiciário exerce face ao con-texto jurídico da atualidade.

Nesse diapasão, devemos es-clarecer que não se objetiva com apresente reclamação situar o Ministé-rio Público em oposição antagônica àMagistratura. Até porque, acreditamos

que as ambos podem em muito cola-borar para a efetivação da justiça e dapaz social. Com efeito, o juiz tem comodever, através da jurisdição, aplicar otexto legal. O Ministério Público, deforma similar, luta em favor do respei-to à ordem jurídica.

O que não se pode admitir éuma conduta desrespeitosa a umainstituição que tem um histórico delutas em favor do reconhecimentoaos direitos fundamentais do cida-dão, cuja relevância é reconheci-da, inclusive, pela ConstituiçãoFederal.

Outrossim, ressaltamos quenão se está discutindo apenas ques-tões de assento junto aos juízes,mas sim o reconhecimento das prer-

rogativas institucionais do MinistérioPúblico da União.

Alfim, é de se acrescentar queMinistério Público do Trabalho utili-zará de todos os meios recursaispossíveis para fazer valer o teor daLei Complementar n. 75/93.

III — Do Pedido

Ex positis , requer o MinistérioPúblico a procedência da presentereclamação a fim de que a Juíza doTrabalho Substituta Dra. Noélia Ma-ria Martins de Lacerda seja instada,através de decisão correicional, arespeitar as prerrogativas do Par- quet , mais especificamente aquela

preconizada pelo artigo 18, alínea a ,da Lei Complementar n. 75/93.

Nestes termos,

P. deferimento.

São Luís, 15 de março de1999.

Roberto Magno Peixoto, Procu-rador-Chefe. Eduardo VarandasAraruna, Procurador do Trabalho. Fá-bio de Assis Fernandes, Procuradordo Trabalho. Maurício Pessoa Lima,Procurador do Trabalho. Márcia Fari-as, Procuradora do Trabalho. VirgíniaSaldanha, Procuradora do Trabalho.

Page 340: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 340/380

347

Processo TRT n. CP 02/99

Correição ParcialReclamante: Ministério Público

Do Trabalho; Reclamado: Exma. Sra.Juíza Substituta Dra. Noélia MariaMartins de Lacerda

Vistos, etc.

Trata-se de correição parcialinterposta pelos representantes do

Ministério Público do Trabalho con-tra ato da Exma. Sra. Juíza NoéliaMaria Martins de Lacerda que inde-feriu o requerimento do Parquet tra-balhista quanto à aplicação do art.18.1, alínea a da Lei Complementarn. 75/93, no sentido de lhe ser cedidoassento imediatamente à direita daJuíza Presidente.

Instada a se manifestar acer-

ca do presente processo a MMª Juízaapresentou informações onde reba-te as afirmações do Ministério Pú-blico e aduz em síntese não ser hi-pótese de correição parcial.

A correição parcial tem comopressupostos de admissibilidadeato judicial que se configure aten-tatório à boa ordem processual ou

configure abuso de poder por açãoou omissão.

Boa ordem processual signifi-ca a efetivação da garantia do due process of law , não podendo haverinversões ou limitações na práticados atos pelas partes e pelo juiz.

O abuso do poder jurisdicional,segundo pressuposto, ocorre quan-

do há erro in procedendo , exercitan-

do o juiz os poderes que lhe foram

conferidos pela ordem jurídica alémdos limites ou impedindo ou criandoobstáculos ao exercício do direito dedefesa ou de ação dos litigantes.

Analisando os fatos observoque, apesar do desagradável e apa-rente desentendimento ocorrido noinício da audiência entre a MMª Juízae o douto Representante do Ministé-rio Público Laboral, não considero

que tenha havido ato judicial contrá-rio à boa ordem processual, princi-palmente porque a audiência trans-correu normalmente praticando a MMªJuíza e as partes os atos necessáriosà regular instrução do feito, não ha-vendo prejuízo que conduza a nulifi-car ou retificar qualquer ato proces-sual. A correição parcial visa exata-mente uma ordem correicional de

modo a corrigir o ato falho que preju-dicou o trâmite regular do processo.

No presente caso questiona-se o indeferimento do pedido doMPT para ter assento à direita daJuíza Presidente da JCJ em audiên-cia relativa a processo onde figuracomo autor. Como observa-se pelabem lançada decisão do colendo

TST sobre a matéria citada pelo Mi-nistério Público, o ato da Exma. Juízaestá em desconformidade com aposição institucional e legal doParquet,entretanto, por não ter o ato ocasio-nado nulidade ou mesmo prejuízoprocessual às partes, considerandoo princípio da instrumentalidade dasformas, não considero ocorrente ato judicial prejudicial à boa ordem pro-

cessual.

DECISÃO 

Page 341: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 341/380

348

Todavia, deve-se fazer a res-salva a todos os Juízes de 1ª instân-cia deste Tribunal que nas ações emque atuar o Ministério Público, de-

ver-se-á cumprir o disposto no art.18, I, alínea a da Lei Complementarn. 75/93, conforme entendimentoadotado pelos Tribunais Superioressobre a matéria.

A respeito do abuso de poderentendo que a decisão da MMª Juízanão está eivada de abuso de poder jurisdicional, pois apesar da interpre-

tação do referido dispositivo ter ge-rado um incidente com o MinistérioPúblico, nenhum prejuízo processu-al trouxe às partes ou nulidade foigerada, tendo, como destaquei aci-ma, seguido a audiência a seu cur-so regular.

Ressalto ainda que sobre ainterpretação da matéria existe dú-

vida objetiva, diante da falsa clare-za do dispositivo legal, permitindointerpretações diversificadas quan-to ao direito de assento à direita doJuiz Presidente nos Colegiados de

1ª instância trabalhista deste Regio-nal nos processos em que é parte oMinistério Público.

Portanto, afasto igualmente as

alegações de abuso de poder.Diante do exposto, não estando

presentes os pressupostos justificado-res da correição parcial, indefiro-a,porém, a fim de evitar futuras e des-necessárias colisões entre Juízes eMembros do MPT, aproveito para exor-tar aos Exmos. Srs. Juízes de 1ª ins-tância deste Tribunal Regional paraque garantam aos doutos Represen-tantes do Ministério Público assentoà direita da cadeira do Juiz Presiden-te da Junta em todos os processos emque funcionarem, como parte, interve-niente ou custos legis, com base noque dispõe o art. 18, I, alínea a da LeiComplementar n. 75/93.

Intime-se as partes do inteiroteor desta decisão, bem como oficie-

se aos demais Juízes sobre a res-salva aqui lançada.

São Luís, 26 de abril de 1999.

Gilvan Chaves de Souza, JuizCorregedor.

Page 342: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 342/380

ENTREVISTA

Page 343: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 343/380

351

RMPT) España ha cumplido enel año 2000 cien años de Seguir-dad Social(1) y veinte desde de el ini-

cial Estatuto de los Trabajadores(2).En la actualidad, tomando en consi-deración los postulados neolibera-les, parece tenderse a un cambio de latécnica del reparto, hacia la de capi-talización (elemento que permite elperfecto intercambio entre provisiónpública y privada), mientras, entre lastransformaciones operadas en elDerecho del Trabajo, se revivifica el

contrato individual:¿ Se puede pre-decir el retorno conjunto al DerecheoCivil?

Teniendo en cuenta, por unlado, la capitalización a la que setiende, sobre todo en algunas nacio-nes en materia de seguridad socialy después, de otro lado, el hecho depotenciar, o revivificar, el contratoindividual, lo que se pregunta si esto

puede predecir el retorno al derechocivil. Yo penso que no. Es cierto queel derecho del trabajo tiene, hatenido y tendrá identidad propia ydistinta del derecho civil. Evidente-mente, nace y se desgarra del dere-cho civil en la segunda mitad delsiglo XIX y a lo largo del siglo XX, aido cobrando plena identidad propiade forma tal que con todas las corri-

entes o influencias que puedan exis-

ENTREVISTA CON CEDI DA PELO M AGI STRADO E 

PRESID ENTE DA SALA DO SOCIA L D O TRIBUNAL

SUPREM O ESPAN HOL À REVISTA DO 

M I NI STÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO 

tir, de las que pueda deduzir estaautonomia propia del derecho deltrabajo, incluso puede lhegar aencontrarse en peligro, considero,repito que las características y con-diciones que son propias del dere-cho del trabajo le dan una difieren-cia, o le hacen diferente, de formamanifesta y clara del derecho civil.Yo creo que en el ámbito propio delderecho laboral es muy difícil quepueda desenvolverse con normali-

dad se lo sometemos a las pautas,o normas o criterios propios delderecho civil. Otra cosa es que no-minalmente dijésemos que se regiapor ele derecho civil pero, sin em-bargo, aplicásemos a las relacionesdel trabajo unas garantias y unasprotecciones que, en definitiva, sonlas que están dentro del derecho deltrabajo. Pero pienso, por outra par-

te, que estas garantias o sistemasprotectores son las que lo individua-lizan, lo que lo separa de las situa-ciones propias del derecho civil.Creo que, quizá, lo más caracterís-tico del derecho civil, sin perjuicio queesso tenga sus excepciones enalgunos supuesto, es el que las par-tes que intervienen en las relaciones jurídicas son partes que se encontran

aun mismo nível, en una situación

Page 344: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 344/380

352

de igualdad, por lo menos de igual-dad formal, mientras que por el con-trario, en el derecho del trabajo, elcontrato de trabajo es un contrato que

se da entre individuos que en estarelación non están en una situaciónde igualdad. De ahí, que sea precisopor parte de la ley, por parte del de-recho del trabajo, enmarcar estaspautas que eliminen esta diferenciainicial de situación.

RMPT) En la era de globaliza-ción en que se vive, con la consi-

guiente carrera por no sucumbir enla competencia ¿cuál es el papel quele corresponde al derecho garantistalimitativo de la libertad de decisión delempresario que ha venido siendo elDerecho del Trabajo? On en otros tér-minos ¿se hace prever el abandonode la tutela del trabajador como únicao principal función de la normativa la-boral?

La segunda pregunta yo creoque, practicamente, ha quedado con-testada con la primera porque sehabla como a final de todo lo que esel texto de la pregunta que si sepreve el abandono de la tutela deltrabajador como única y principalfunción de la normativa laboral. Re-pito, entonces, de acordo con lo que

acabo de mencionar al contestar laprimera pregunta que entiendo quenormalmente, no se abandonará latutela del trabajador. Obviamente sesi abandona la tutela del trabajador,desaparece el derecho del trabajo.Yo creo que es algo que va en la pro-pia esencia del derecho del trabajo,el tener ese sent ido de tutela,protección o garantia del trabajador.

Que también, por otra parte, en mi

opinión, esto no supone que nece-sariamente todo o problema que sesuscite entre trabajador y empresa-rio haja que darle la razón al traba-

 jador. Las normas del derecho deltrabajo son garantistas, son tutela-doras del trabajador. Pero, evidente-mente, cuando se suscita un proble-ma puede ser que el quien tenga larazón sea el empresario, mas puedetener razón el trabajador, obviamen-te. La tiene en muchas ocasiones,pero la puede tener también el em-presario, sino yo creo que sobrará-mos todos los jueces laborales. Bas-taria con, cuando surgiese un proble-ma, pues resolverlo en lo sentido dedar razones a los trabajadores. Elderecho precisamente consiste enempartir justicia y la justicia suponeque la razón corresponde, en unasocasiones a unos, y en otras ocasio-nes a otros distintos.

Ahora la pregunta añade unpunto, a mi modo de ver enormemen-te interesante porque empiezahablando de que nos encontramosen la era de la globalización. Indu-dablemente este problema de la glo-balización, o universalización, omundialización, como se le quierallamar, quer decir que supone quepor razones fundamentalmente eco-nómicas las relaciones internaciona-les, los países, a niveles económi-cos, están enormemente coesiona-dos, conectados unos con otros, deforma tal que, a lo mejor, en paísesen donde no existen normas proc-tetoras del trabajador de ningunaclase, se están llevando a cabo unaserie de actividades económicas que

inciden y influyen, necesariamente,

Page 345: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 345/380

353

en otros países. Por ejemplo, enestos momentos en España, en con-creto, hay empresas que están des-plazandose para que los productos

que ella misma vende al público sefabrique no ya en talleres, fábricaso empresas situadas dentro deEspaña, si no, al mejor, estos pro-ductos se fabrican, por lo menosalguna parte dellos, en países como,por ejemplo, Tailandia y, sobre todo,China, en concreto. Esto, obviamen-te, pues, incide económicamente, no juridicamente, mas en principio econo-

micamente, y la economia siempreva por delante del derecho, incide deforma muy forte y muy importante enestas relaciones de tipo, repito, eco-nómico. Entonces, que esto tengauna repercusión en el Derecho delTrabajo, pues puede ser que sí. Aca-bo de decir que la economia siempreva por delante del derecho deltrabajo. Lo que sucede es que, yo

creo, es obligado a todos los juristasy sobre todo los juristas que nosdesenvolvemos dentro del mundodel Derecho Laboral estar ojo a visor,estar alerta a fin de que se puedallegar a establecer, si es a nivel,mundial, pues a nivel mundial, unaserie de normas jurídicas quegaranticen, en definitivo, al trabaja-dor la protección que les es necesario.

RMPT) El principio de lex   fa- voris , según el artículo 3.3, del Es-tatuto de los Trabajadores¿puede serentendido como un principio gene-ral especi f ico del Derecho delTrabajo y, por ende, intangible, si sequiere preservar la autonomia enesta rama de la ciencia del Derecho?

Yo creo que, quizá, no llega a

tanto. Es uno de los principios gene-

rales que se manejan dentro delámbito del derecho del trabajo, comoel principio in   dubio   pro   operaria   y outra serie de principias que sirven

de pauta orientadora a la hora deaplicar el derecho del trabajo. Pero,yo creo, que tan paco es cuestión dedarle más importancia que esta.Concretamente, en nuestro país,está recogido especificamente por lanorma que se cita en la pregunta. Esdecir, pelo artículo 3.3 del Estatutode los Trabajadores. Pero, yo creoque no es más que una herramienta

más a la hora de interpretar las nor-mas laborales, las leys laborales. Noquiero decir, en mia opinión, que seatan enormemente consubstancial alDerecho del Trabajo que, necesaria-mente, no pueda existir, en torno almismo, la posibilidad de rectificar in pejus , es decir, hacia el peor, unadeterminada disposición, o normalaboral. Piensese, por ejemplo, hubouna época en que, en lo ámbito delos convenios colectivos, se enten-dia que un convenio colectivo pos-terior no podia establecer unascondiciones de trabajo inferiores alas que imponía el anterior. Sin em-bargo, hoy en día, se admite gene-ralmente que las partes que nego-cian el convênio colectivo, represen-

tantes de los empresarios o empre-sario, y representante de las traba- jadores son libres de concertar lascondiciones que entiendan, esto almenos sucede en nuestro país, queentiendan que corresponden a lassituaciones existentes, tengase encuenta que las condiciones econó-micas pueden ser distintas, no yaen relación con la empresa, que

también pueden serlo, sino también,

Page 346: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 346/380

354

incluso, en carácter general y queesto obligue a ciertas rectificacionessobre lo anterior, es decir, repito, yocreo que el principio de lex   favoris 

es un principio muy necesario deltro del ámbito del derecho del trabajopero que tan poco lo tenemos queinterpretar con un sentido de umaexcesiva relevancia, o importancia.Es uno do los principios, uno másde los que rigen dentro del ámbitodel Derecho Laboral.

RMPT) En Brasil, la jurispru-

dencia del Supremo Tribunal Fede-ral, a pesar de la existencia de ungran número de derechos laboralesconstitucionales (35 preceptos),viene siendo proclive a desestimarel recurso extraordinario (equivalen-te al de amparo en España), hastael punto de poder afirmar, estadísti-camente, la inexistencia del mismo.¿Cuál es su valoración respecto del

recurso de amparo en materia labo-ral en España?

El recurso de amparo en ma-teria laboral en España, hay quepartir del ámbito propio del recursode amparo, no ya reducirlo así enconexión con el Derecho del Trabajo,si no en un enfoque general de loque es el recurso de amparo. El re-

curso de amparo en nuestro país seda cuando una resolución judicial,una resolución administrativa, unacto de autoridad ha vulneradoalguno derecho fundamental de losque se recogen, concretamente, enla sección primera, del capitulo se-gundo, del titulo primero de la Cons-titución. Son artículos, cuatorce has-ta el veinte y nueve de la Constitui-

ción. Entonces, dentro de estos pre-

ceptos, de la violación destos precep-tos, es cuando se permite las interpo-siciones del recurso de amparo, re-curso de amparo que se caracteri-

za porque es un particular, no es unaentidad pública, no es parlamentode la nación, bueno el parlamen-to dificilmente lo hara, ningún parti-do politico o incluso, el mejor elpropio gobierno de la nación, o el go-bierno de una autonomia, de unacomunidad autónoma. Si no que setrata de un particular que consideraque su derecho fundamental ha sido

vulnerado y acude al Tribunal Cons-titucional en demanda de amparopara que esta deción que consideraque vulnera su derecho fundamen-tale sea anulada. Entonces, digotudo esto, porque en relación con elDerecho del Trabajo, non son dema-siados los derechos fundamentalesrecogidos en estos preceptos (quetengan relación en principio con elmundo do derecho laboral). En prin-cipio, la mayoria de los casos de dere-cho de amparo, del recurso de am-paro, se suelen apoyar, por un lado,en la vulneración de lo artículo cua-torce de la Constitución Española,que es lo que establece la igualdadante la ley de todos los españoles.Evidentemente, ahí entran todo los

supuestos de discriminación en eltrabajo y pueden entrar perfec-tamente a través del artículo cuator-ce de la Constitución, pero siemprecuando respondan as las condi-ciones y requisitos que se esta-blecen en este precepto. Otro granprecepto, digo gran incentivo que dalugar también a muchos recursos deamparo, son las cuestiones propias

de la tutela judicial efetiva, artículo

Page 347: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 347/380

355

veinte e cuatro de la Constitución yel texto utilizado estaria en muchasocasiones, cuando se alega la vul-neración de este precepto, sobre

todo, cuando se aducen, en la ám-bito del recurso de amparo aque-brantamiento de formas proces-suais. Alguna parte que entiendeque no ha sido llamada al procesoy se ha encontrado con una senten-cia contraria, o que se le ha privadode una prueba, o que se le ha pri-vado de la posibilidadad de efectuaruna determinada alegación, o de

interponer un determinado recurso,otro de los caminos precisamente eseste del artículo veinte y cuatro dela Constitución. Pero, ya fuera deesto, nos encontramos, sobre todo,otro ámbito muy importante que esel artículo veinte yocho de la Cons-titución, que es el que habla del de-recho a la sindicación y en el nume-ro segundo de esta artículo veinte

ocho, el derecho de huelga. Estospreceptos también, evidentemente,enormemente vinculados plenamen-te vinculados o relacionados con elDerecho del Trabajo, también handado lugar a bastantes demandasde amparo ante el Tribunal Consti-tucional y en relación con el dere-cho a la sindicación también entrael derecho a la negociación colec-

tiva, por quanto que entiende el Tri-bunal Constitucional que la nego-ciación colectiva es uno de losderechos propios del sindicato, deforma que si le priva a un determi-nado sindicato la atuación atravesde la negociación colectiva si estavulnerando el derecho de libertadsindical. Sin embargo, el derecho altrabajo está ya fuera de la sección

segunda, está en el artículo treinta

y cinco y el derecho a la negociacióncolectiva está en el artículo trientay sete. Están los dos, por tanto, fuerade esta sección primera, del capítu-

lo segundo, del título primero de laConstitución, con o que no puede laprivación del derecho del trabajo, nopuede dar lugar directamente a lainterposición de un recurso deamparo. Distinto es que por otroscaminos una ley pudiera vulnerar,sería una otra cuestión, sería unacuestión de constitucionalidad o deinconstitucionalidad. Pero, sin em-

bargo, repito, la posibilidad que estospuedan generar un recurso de am-paro, en puridad de concepto noexiste, sin perjuicio de la posibilidad,como toda norma jurídica, de quepueda ser interpretada en un senti-do más o menos forzado, vamos adecirlo así. Pero, repito, que los pre-ceptos que puedan tener sobre todorelación con el mundo del DerechoLaboral que están comprendidosdentro desta sección primera, delcapítulo segundo, del título primerode la Constitución, son los que an-tes dije, en cambio no el derecho deltrabajo del artículo 35 y el derechode la negociación colectiva del artí-culo 37.

RMPT) En España, como enBrasil, el procedimiento laboral sigue

el principio de oralidad. Sin embar-go, la práctica forense brasileña noha impedido que los abogados, conla consiguinte merma del principioreferido, lean las contestaciones.¿Además, la contestación escritapuede ser causa de retrasos sensiblesen la tramitación de los procesos latramitación de los procesos? ¿Cómose evitó en España la incorporación

subrepticia de constestación escrita?

Page 348: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 348/380

356

Habla ya de lo que es el pro-ceso laboral y evidentemente enEspaña el proceso laboral desdemucho tiempo atrás, desde que yo,

hace ya mucho años, que estoy, an-tes fue juez civil y penal, me pasé alo que entonces se denominava ma-gistratura del trabajo, nada menosque el año 1971, levo ya por tantotreinta años en la jurisdicción social.Desde siempre, y entonces, desdebastante antes, el proceso laboralse caracterizava por la oralidad y seaplica la oralidad en la instancia,

evidentemente en el tramite del recur-so ya no, nuestros recursos son esen-cialmente escritos tanto el recursode suplicación, que hoy en día se daante la sala de lo Social de los Tribu-nales Superiores de Justicia, comoel recurso de casación, en sus dosmodalidades, ante el Tribunal Supre-mo son fundamentalmente escritos.Sin embargo, el recurso en la ins-tancia, es un proceso marcadamen-te oral. El hecho de que, en Brasil,apesar de que la ley establezca laoralidad, después de hecho, no selleve a cabo esa oralidad, eso es yoque no acabo de comprender, porquecreo que, logicamente, se la ley exi-ge, por un lado, como dicen hoy endía, los operadores jurídicos, es

decir los abogados que puedan in-tervenir en el proceso han de cumpliresta ley e sobre todo, el juez que di-rige el proceso esta obligado acumplir la ley, lo logico es que lo exi- ja. Y es más, yo creo que en el ámbitodel derecho del trabajo la oralidadproduce indiscutible beneficios, po-drá debatirse si esta oralidad puedebeneficiar o no beneficiar a lo mejor

su aplicación en plenitud a todos los

procesos de cualquier jurisdición,dada la especial entidad de losprocesos, yo creo que el mundo delderecho laboral y sin perjuicio que

en el ámbito de la jurisdición socialpuedan existir pleitos de una com-plejidad grande, pero con todo en-tiendo, que el juicio verbal le da unaagilidad enorme al proceso y quepermite perfectamente a las partesdefenderse en plenitud de garanti-as. Repito, yo no sé que en Españase haya adaptado alguna medidaespecial con la finalidad de conse-

guir que se aplicase la oralidad. Laoralidad, no del Derecho del Trabajo,en el proceso laboral se ha ido apli-cando desde siempre, pero porquese ha entendido así, lo decía la ley,se ha cumplido, yo creo que debiaintentarselo lo mismo, se es que laley lo dice, si la ley brasileña disponede otra cosa, ya es otra cuestión. Yocreo que en muchas ocasiones in-cluso puede parecer el juez, o puedeser, no parecer, puede ser más có-modo para el juez la solución de leerla defensa, yo creó que en muchasocasiones, sobre todo en materiacivil así se hacia. Se estaba esta-blecido en la ley que fuese el juicioverbal, y se entregaba unos pa-pelitos con las notas correspondien-

tes. Peró a la larga, yo creo que per- judica a todos, se se hace comoinstitución, de forma generalizada,yo creó que es mucho más practicose acudir al juicio verbal, sobre todoen al ámbito laboral. Hoy en día enEspaña, en virtud de la nueva leyde enjuiciamento civil, que entró envigor hace pocos dias, hace un mes ypoquito más, sí que se ha apostado

decididamente por la oralidad, no

Page 349: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 349/380

357

con tanta intensidad como el proce-so laboral, pero, practicamente, de lasdos modalidades procesales bási-cas, lo que se llama juicio ordinario,

en buena parte es oral, y el juicio demenos entidad es verbal comple-tamente. Entonces, seguindo unpoco las pautas establecidas por elproceso del derecho laboral enEspaña, por mucho que les pese alos civilistas y a los administrativistasy a los procesualistas que no estenen el ámbito propio del proceso deltrabajo. El proceso del trabajo hasido la punta de lanza que ha idomarcando novedades, ha ido esta-bleleciendo innovaciones que hansido recojidas por otros órganos jur isdicionales, pero no de hoy, sinode siempre, pero esta ley de enjui-ciamento civil para mi es clarisimo,a pesar de ello, en la exposición nose hace ninguno reconocimiento de

esa contribuición que ha tenido elproceso laboral y la realidad es evi-dente, cualquier persona que loconozca lo creo que no pueda ne-gar esa influencia manifiesta en miaopinión.

RMPT) En suplicación, los Tri-bunales Superiores de Just ic iadeben formar su convicción atendien-do sólo a las pruebas periciales ydocumentales, excluyendo, por lotanto, la prueba oral — declaracionesde las partes y de las testigos, —producida en la primera instancia,criterio distinto al adoptado en laapelación civil. También en el ordencivil, as sentencias apelables tienenun límite cuantitativo mucho mayorque en el orden laboral. Desde el

punto de vista ideal ¿cómo compa-

ginar tal distinción con el principiode la unidad jurisdicional, consagradopor el artículo 117.5 de la ConstituciónEspañola?

El hecho de que el proceso la-boral en su conjunto tenga una seriede peculiaridades o particularidades,entiendo que no atenta, en absoluto,al principio de unidad jurisdicional elprincipio ya jurisdicional implica, osupone, que todos los tribunalesespañoles tienen una composiciónsimilar de tipo personal, no de tipo

orgánico, vamos a decirlo así, quieredecir, yo creo que lo que viene a sig-nificar que todos los tribunales en mipaís vienen a estar formados, pormiembros pertenecientes a la carre-ra judicial, no cabe la posibilidad deun Tribunal que esté fuera de la car-rera judicial. Ahora, bien, respectan-do totalmente el principio de unidad jurisd icional, em mia opinión, es

posible, y de hecho es así, que exis-tan una serie de distintos órganos jurisdicionales, cada uno de el loscon sus características propias deforma tal, que no es posible pensarque aplicamos el mismo proceso atodos, no es el mismo un proceso pe-nal, con todas sus características, queuno civil, que uno laboral, que unoadministrativo, entonces, en cadauno deses ámbitos, tenderemos queestablecer las instituciones procesa-les que mejor se adecue con lasexigencias del derecho material quese ventile o se discute, incluso losintereses personales que se venti-lan o se discuten en cada uno deeses órganos judiciales. Entonces,claro está, nos encontramos, por

ejemplo, a lo que se ven a referir la

Page 350: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 350/380

358

pregunta, de la diferencia existenteentre el segundo grado jurisdicionaleque, en el proceso civil, es la ape-lación, en la segunda instancia, al

ser una segunda instancia, el juez,el tribunal, mejor dito, porque es untribunal colegial, el que conoce dela segunda instancia, en los tribu-nales civiles, se coloca en la mismasituación en que se encontraba el juez de primera instancia, no es quevaya a repetir la prueba, la pruebaya lo tine allí, pueden praticarsealgunas pruebas, pero ya con carác-

ter excepcional en la apelación. Pero,el juez, se coloca para analisar elproblema estrito en la misma situa-ción en que se encontraba el juezde primera instancia. En cambio, enel orden laboral, el recurso, que se de-nomina recurso de suplicación, por-que corresponde a lo segundo grau,cuyo conocimiento se asigna a lassalas de los sociales de los tribuna-les superiores de justicia, esas salasde lo social se colocan no en la si-tuación en que se encontraban el juez de instancia, si no el juez deinstancia es el que fija los hechos ycon estos hechos como punto departida, sin perjuicio de que en elrecurso la parte puede impugnaralgunos basandose en documentos

de pericia sobrante el auto tiene queser impugnados expresamente ybasandose en esos, lo que contro-la exclusivamente es el derecho.Entonces, en este recurso, que esuno recurso de naturaleza extraor-dinaria, muy similar a la casación,se ha denominado, en ocasiones,pequena casación, el tribunal nopuede conocer del asunto con ple-

nitude de criterio, no tiene plena

facultad de cognición, tiene la cog-nición limitada, en la ora de conocerlo que las partes lle aleguen, tantoen lo que respecten a la posible re-

forma de (os hechos, como en lo querespecta a la existencia de posiblesinfracciones jurídicas en la senten-cia recorrida. Son dos modos dife-rentes de entender, pero yo creo queson dos modos que responden a lascaracterísticas propias de cada sis-tema, de cada orden jurisdicional, yque, repito, en mia opinión no existe

ningún tipo de atentado, en razón deesta diferencia con respecto al prin-cipio de unidade jur isdicional.

RMPT) Por la vía del artículo180 de la Ley de Procedimiento La-boral, ¿es posible al Ministerio Fis-cal incoar el proceso de tutela de losderechos fundamentales y libertadespúblicas?

En la Ley de ProcedimientoLaboral, viena a establecer, en elartículo 175, con relición al proce-so de tutela de derechos fundamen-tales es que e( ministerio fiscal, seráparte siempre en este tipo de proceso.Ahora, bien, lo norma, lo frecuentees que no sea el ministerio fiscal elactor, el demandante, en este pro-ceso. Se demanda, se apresentademanda por un trabajador o por unsindicato, o por una entidad más omenos próxima a los trabajadores,obviamente, y en el proceso es ne-cesario limar como parte el ministe-rio fiscal. Cuánto que el ministeriofiscal sea el demandante, pudieraserlo, pues creo que quizá no quepala posibilidad de negar esa facultad

a el ministerio fiscal se entiende que

Page 351: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 351/380

359

sea llegado a vulnerar alguno dere-cho de tutela de libertad sindical.Ahora, bien, en el supuesto de que lohiciese, repito, tampouco, lo afirmo

tajantemente, es una cuestión pelia-guda que requeriria para llegar a unasolución más firme un estudio másdetenido del que puedo disponer enesto momento, pero lo que sí, creoque, en el caso que se llegase a laconclusión de que sí esta perfecta-mente legitimado para demandar,para actuar como demandante, paraser él el que inicie el proceso de

tutela de libertad sindical el minis-terio fiscal tendría, creo, que actuarcon una cautela grande, por unarazón, por el hecho de que, normal-mente, es el derecho de tutela a lalibertad sindical se residencia, serecae, se asienta en una persona,en principio en una persona física,o una persona jurídica, como puedeser el sindicato. En un primer mo-mento son aquellos que ven violadosu derecho los que están más legi-timados para poder llevar a cabo lacorrespondiente reclamación antelos tribunales de justicia y si noopten, pudiera ser, a lo mejor, queestuviesen coartados o limitados porel ámbiente empresarial o por laactuación de la empresa, o por

cualquier otro tipo de circunstanciaque le diese más libertad al minis-terio fiscal. Yo creo que ahí seria enlos momentos en que estaria justifi-cada la actuación del ministerio fis-cal. Pero para esto, repito, que quizáno es demasiado adecuado que elministerio fiscal esté actuando deuna forma permanente, formulandodemandas a respecto. Lo lógico,

pienso, es dejar que esta facultad de

presentación de las demandas seaejercitada por aquellas personas aquién les correspondan el derecho,a las titulares dese derecho de li-

bertad sindical. Sin perjuicio de qué,si el fiscal llegase observar deter-minadas circunstancias que impidie-sen al ejercicio a quién ostenta elderecho, entonces poder ejercita él.

RMPT) El artículo 312, apar-tado 2, del Código Penal de 1995,último inciso(3 ), castiga a las que“empleen a súbditos extranjeros sin

permiso de trabajo en condicionesque perjudiquen, supriman o restrin- jan las derechos que tuviesen reco-nocidos por disposiciones legales,convenios y contrato individual”. Lasestadísticas revelan que en el hogarfamiliar es donde se emplea el mayorcontingente de inmigrantes ilegales,habriendo paso a un alto índice, oal menos a la potencialidad de que

así sea, de sujetos imputados, ¿oestá siendo el titular del hogar fami-liar? ¿O el empresario, en general, aefectos del artículo 42 de la Ley dePrevención de Riesgos Labolares(Ley 31/1995, de 8/11)?

El tema tiene mucha actuali-dad en nuestro país, es uno de losproblemas que tiene planteados en

estes momentos que es la forma deasimilar a los inmigrantes que enestes momentos están viviendoen España. Tlene gracia, y dijo quetiene gracia, bueno triste gracia,quizá, pero bueno, me refiro a elpunto de vista que España hasta muypoco tiempo fue más bien país quedaba inmigrantes, para que fuesena otros países, y, obviamente, a Ame-

rica. Cuantos y cuantos españoles

Page 352: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 352/380

360

cruzaran el charco para ir, bien al laArgentina, Venezuela, Perú, Chile,México, Brasil, obviamente, sobretodo de mi tierra, que soy galego.

Ahora, es posible darse conductasinclusas en el campo penal en elhogar familiar, pero yo creo que sonmuy pocas, es más, yo creo que lamayoria de los inmigrantes quevienen, es una opinión personal quea lo mejor no está constratada, o dehecho no está contrastada con lasdatos reales, pero yo creo que esasí, yo creo que la mayoria de losinmigrantes que vienen a trabajar enel hogar doméstico se suelen conbastante facilidad legalizar su situa-ción porque normalmente la personapara la que trabaja, pues da lasdatos adecuados y hacen las solici-tudes oportunas del permiso deresidencia y permiso de trabajo. Yocreo que en el hogar familiar no es

uno de los puntos en dónde puedapensarse que existe un nivel deexplotación grande. Yo creo que laexplotación de los inmigrantes se daen otros ámbitos, también repito quepuede darse en el ámbito familiar,pero, creo, que deben ser supuestosmanifiestamente excepcionales.

Con relación a la prevenciónde los riesgos laborales y el artículo42, que, si mal no recuerdo, se re-fiere a la responsabilidad de losempresarios, evidentemente, ya nosolo en relación con las inmigrantes,si no con cualquiera, indudablemen-te, la ley de prevención de riesgoslaborales, que es de noviembre delaño de 1995, es una ley muy avan-zada, es una ley que establece unos

sistemas protectores muy intensos,

quizá, a lo mejor, excesivamente,que cría muchas dificultades a laempresa. Pero, evidentemete, es unanecesidad de proteger devidamente

a los trabajadores y establecen unossistemas de responsabilidades muyduros, de forma tal que yo penso quesi se producen un accidente es muydificil, si llega a producirse el acci-dente, y por desgracia el nível desiniestralidad en España es enorme-mente elevado, pero cuando seproduce un accidente, con la ley deprevención de riesgos laborales enlas manos, creo que, es muy dificil ael empresario eludir algun tipo deresponsabilidad, sea la responsabi-lidad laboral, que se da en este ám-bito concreto, en un recargo de lasprestaciones de la seguridad social,seria lo que se denomina responsa-bilidad civil, a parte ya de responsa-bilidad de la seguridad social, o in-

cluso responsabilidad penal.Quiere decir, yo creo que tal

como esta la ley de prevención deriesgos laborales, es bastante dificilahora, repito, esto se aplica a todos.Lo que sucede es que la particulari-dad que pudiera apresentarse enrelación con el trabajo de los inmi-grantes es que como el empresario,vamos a decirlo así, no quiere deciresto que todos los empresarios losean, en absoluto, si no que deter-minados señores, sin escrúpulos, seaprovechan de la situación y enton-ces, pues, por primero, retribuyenmuy poco a los trabajadores, tambi-én esta que este empresario destascondiciones, o destas característi-cas, no se preocupa demasiado por

la prevención de los riesgos labora-

Page 353: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 353/380

361

les, es más, es cuasi seguro que nose va preocupar cuasi nada. Enton-ces, es claro que ahí sí que puedenentrar en plenitud las responsabilida-

des que la ley de prevención deriesgos viene a establecer.

RMPT) Ante la conocida exis-tencia de habitáculos en condicionesdeplorables en las que se alojan losextranjeros ilegales durante las tem-poradas en que realizan sus activi-dades laborales; ¿puede hablarsepropiamente de una condición deejercicio y desarrollo de la actividad

laboral, o de incumplimiento de lamisma, para efectos de norma penal,aun cuando el inmigrante de la hayasolicitado?

Esta es una pregunta muchointeresante, lo que paga es quequizá, sea dificil esta pregunta, quevoy a concretar un poco, a continuac-ción, sea dif ici l contestaria concarácter genérico, se habla de que

con muchas ocasiones a estos inmi-grantes el propio empresario le fa-cilita habitación, habitaciones segúnlas condiciones en muchas ocasio-nes íntimas, se esto pudiera llegaa tener la consideración a efectospenales, de condición de trabajo yesto pudiera dar lugar a la aplicacióndel Código Penal. Es dificil contes-tarlo logo de pronto, evidentemente

es claro, que la habitación, en rela-ción con un trabajo, que no tenganada que ver con esta habitación, noes una condición de trabajo. Lacondición de trabajo es aquella quese refiere especif icamente a laactividade laboral que desarolla eltrabajador. Yo creo que toda está enanalizar cada caso, y no descartoninguno, en analizar en cada caso

que tipo de vínculo o de relación puede

tener el trabajo con el servicio que sedesarrolla y con la habitación que harecibido del empregaria. Entonces, sihay ahí un vínculo bastante intenso

poderia llegar a entenderse que esuna condición de trabajo, pero repito,que sobre esta es dificil aventurarsesobre la marcha soluciones, estohabría que analizar en cada situa-ción, cada caso concreto, sus pro-pias circunstancias y, quizá, el puntode referencia puede ser buscar laposible conexión que este casopueda tener con el trabajo, hasta

el punto de llegar a poder le aplicar elcalificativo de condición de trabajo.

RMPT) ¿Hasta qué punto essensible el Tribunal Supremo a la ju-risprudencia del Tribunal de Justiciade la Comunidad Europea y así ala orientación conjunta de sus reso-luciones, que no pueden reflejar, enuna medida adecuada, las distintasrealidades económicas de las países

miembros?La pregunta se refiere a la

conexión entre el Tribunal SupremoEspañol y el Tribunal de Justicia dela comunidad europeay añade unpunto final que, creo, es manifesta-mente interesante. En primer lugar,en orden a la relación que mantene-mos, evidentemente, nosotros, encuanto aquellas decisiones adopta-

das por el Tribunal de Justicia de laUnión Europea que marque o que vela solución a un problema quenosostros tenemos, nosostros comonorma general aplicamos lo que dicela Unión Europea. Somos bastante,valga la expresión, obedientes a susdictados y en algunas ocasiones,sobre todo, en materia de seguridadsocial, es la que se suele dar con

más frecuencia, sobre todo por tra-

Page 354: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 354/380

362

bajadores españoles que emigraranen su momento a países comunitarios,Alemania, Francia, Bélgica y Holanda,después a la hora de obtener las

prestaciones de seguridad social,la serie de problemas que de ellosse derivan, la mayoria de los casos enque el Tribunal de Justicia de laUnión Europea se ha pronunciado enrelación con el Derecho del Trabajoespañol es en materia de seguridadsocial comunitaria. Entonces, repitoque nosotros, ne este punto, nosguste o no nos guste, porque algo

que se dice, un poco después, en lapregunta, creo que tiene mucharazón, nos guste o no nos guste, no-sotros aplicamos lo que el Tribunalde Justicia dice. Digo nos guste o nonos guste porque aquí dice laorientación conjunta de sus resolu-ciones, de uno o otro Tribunal y osde la Comunidad Europea que nopueden ref lejar en una medidaadecuada las distintas realidadeseconómicas de los países miembrosy tiendo que es muy dificil para elTribunal reflejar esta realidad, nosolo económica, si no jurídica, Hoyen día, y yo creo que en la UniónEuropea somos quince, por lo tantoquince legislaciones y vamos alimitarnos al ámbito de la seguridadsocial. Hay alguna sentencia, sobretodo en materia, por ejemplo, de

transmisión de empresas que tam-bién han tenido repercusión, pero, loque se da con más frecuencia, repi-to, es en el ámbito de la seguridadsocial y son quince normativas deseguridad social muy distintas. Cadauna de ellas, y yo la que conozco deverdad es la española y es un ver-dadero bosque normativo con unaserie muy compleja de disposiciones

y de instituciones. Entonces, pienso,

que un señor que esté en el Tribunalde Justicia de la Unión Europea, queno se va a limitar a la análisis de losderechos de la seguridad social de

cada país, si no que analiza absolu-tamente de todo y de todo los países,pienso que es dificil llegar a teneruna idea cabal y completa de lo quees la instituición de la seguridad so-cial de cada uno de estos países. Ypor eso, en no pocas ocasiones, laverdad es que las sentencias, sobretodo, repito, en materia de seguridadsocial tienen algunos puntos que noson demasiados asumibles por par-te de una persona experta en el De-recho Laboral de España.

RMPT) La realidad brasileñaha hecho nacer un procedimientosumarísimo que incrementa loslímites procesales, motivado desdeluego por la creciente litigiosidad enmateria laboral debido a una opción,

según una corriente de interpreta-ción del modelo económico adopta-do en Brasil. En España, la reformadel Estatuto de los Trabajadores, porla Ley 32/1984, supuso una dualiza-ción del mercado del trabajo, conincremento de las posibilidades decontratación temporal, mientras, lareforma que se produce en 1994(Ley 10), mantiene la búsqueda porla flexibilidad, pero en el ceño derelaciones laborales más estables,cambio que naturalmente se reflejaen una mayor inseguridad jurídica y,por lo tanto, en aumento de la liti-giosidad y presión por un procedi-miento laboral acelerado. ¿Hastaqué punto la ciencia procesal puedey debe responder a estímulos exóge-

nos tan coyunturales como la opción

Page 355: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 355/380

363

de un modelo económico dado yadaptado en el programa de uno uoutro gobierno?

Esta pregunta no la acabo de

comprender muy bién porque mes-cla un poco cuestiones de derechoprocesal, con cuestiones del derechosustantivo, en relación a las cuestio-nes, primero, de derecho sustantivo,yo entiendo que el Derecho delTrabajo es un derecho que está si-tuado en el ámbito de la empresa yla empresa es la entidad económicapor excelencia, y por tanto, enton-

ces, creo, con todas las limitacionesy todas las garantias que se quiera,pero, creo no puede elidir el Dere-cho del Trabajo la influencia de loeconómico. Yo creo que el económicomarca mucho lo que es la normativalaboral. Vamos explicar esta porqueesto suena demasiado neoliberal, yno es esta ni mi intención, ni mi modode pensar. Perco lo que sí creo, queasí como la economia, antes decia,iba del ante del derecho, yo creo quela economia también marca ciertascaracterísticas de actuación jurídicay en el Derecho del Trabajo tiene unaimportancia sin duda grande, repitoque esta no quiere decir que la eco-nomia sea la pauta orientadora delDerecho del Trabajo. La pauta orien-tadora del Derecho del Trabajo, antetodo e sobre todo, como la de todo

Derecho es la Justicia. Ahora bién,lo que sucede es que a la hora deestablecer o que es justo en el ám-bito del Derecho del Trabajo, creoque no se puede dejar de tener unojo posto en lo económico, porquesi nosostros prescindimos de la eco-nomia en el Derecho del Trabajo nosexponemos a construir un derechomuy bonito, que esté en el papel

como una protección absoluta a los

trabajadores pero que, a la hora dela verdad, este derecho sea realmen-te inaplicable por las razones quesean. Entonces, yo creo, que la em-

presa es una entidad, una entidaden la que están embarcados tantolos empresarios, porque son elloslos que la ponen en funcionamientoy en definitiva, vamos a decirlo así,son los proprietarios, si se quiereentre comillas, y los trabajadoresporque embarcan su proyeto de vidaen esta empresa y de la que obtieneel sustento fundamental de su vida.

RMPT) En Brasil, anualmente,son incoadas casi 2 millones dedemandas laborales, y es muy raroque se pueda respetar, en los Juz-gados Sociales el límite de 3.000procesos por ano.l,Cuál es la realidadestructural de la Justicia Social enEspaña?

En España, así de memoria,en datos muy aproximados, no son

exactos, de toda forma, quizá, yocreo que, aproximadamente, en losJuzgados de los Socieles se vienena dictar, y esto suponen que ven aentrar un poco más o menos de estonúmero de asuntos, en todos losJuzgados de lo Social de Españaentre 150.000 y 160.000 sentencias,anualmente, a nível de instancia. LasSalas de lo Social de los Tribunales

Superiores vienen a dictar entre50.000 y 60.000, quier decir, unatercera parte aproximadamente.

(1) La primera Ley de Accidentes de Trabajo esde 30 de enero de 1900.(2) La primera ley, que contempla el contratode trabajo basado en la desigualdad del traba- jador dependiente, es de 21 de noviembre de1931.

3) Cuyo elemento subjetivo es el dolo generico.

Page 356: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 356/380

SEMINÁRIOS 

Page 357: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 357/380

367

CARTA DE CAMPO GRANDE 

Este documento representa asconclusões extraídas das palestrase debates ocorridos durante o Semi-nário A Questão Indígena: Trabalho,Terra e Perspectivas, realizado nosdias 24 e 25 de agosto de 2000.

As nações indígenas, no Brasil,estão divididas em várias etnias quese diferenciam entre si por culturas,línguas, hábitos sociais e organizaçãoeconômica. Entretanto, todos essespovos têm em comum uma história deexploração econômica, exclusão so-cial, discriminação e pobreza.

No plano das normas interna-

cionais, com a superação da Conven-ção 107 pela Convenção 169 da Or-ganização Internacional do Trabalho,a comunidade juslaboralista mundialsubstituiu a política integracionistacom relação ao indígena pela neces-sidade de respeito à sua singularida-de étnico-social, permitindo a este umdesenvolvimento auto-sustentável.

No âmbito nacional, a Consti-tuição Federal de 1988 representauma verdadeira clivagem no tratodas questões indígenas, na esteirada tendência internacional, na me-dida em que reconheceu a autode-terminação dos povos indígenas, notocante à sua organização social,costumes, línguas, crenças, tradi-ções e os direitos originários sobre

as terras que tradicionalmente ocu-

pam. Todavia, a legislação infracons-titucional é anacrônica, não atenden-do mais às necessidades prementes doatual momento social.

Dessa forma, urge que os ór-gãos competentes dêem efetividade

aos princípios constitucionais e in-ternacionais pertinentes, oportuni-zando a participação de todos osenvolvidos, visando diminuir o hiatoexistente entre a realidade e a norma.

No setor trabalhista, há o casode Mato Grosso do Sul, em que, apósanos de amplas discussões e reuniõesentre diversos órgãos governamentais

e não-governamentais, chegou-se aodenominado “Pacto Social”, o qual, apartir da firme atuação do MinistérioPúblico do Trabalho, implicou a efeti-vação do modelo de “contrato de equi-pe”, que é a modalidade contratualmais adequada à realidade vivida pe-los índios que laboram nas usinas doEstado de Mato Grosso do Sul.

Pelo que se vê, quando se co-

memoram os 500 anos do descobri-mento do território sobre o qual seerigiu a sociedade brasileira, nãopodemos nos esquecer das socieda-des dos povos tribais que aqui exis-tiam desde tempos imemoriais.

A Terra, para o nativo, possuiuma importância de tal magnitudeque perder o seu habitat, acarreta a

extinção da própria nação indígena.

Page 358: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 358/380

368

Esta estreita ligação é de difícil per-cepção e compreensão pela socie-dade não-indígena. Para o índio, ter-ra representa a vida e esta é o bem

mais valioso do ser humano, o qualdeve prevalecer sobre o direito depropriedade.

Neste diapasão, a inclusão derecursos no orçamento da Uniãopara demarcação de terras indíge-nas torna-se crucial, ainda que amera demarcação não seja o ideal.Assim, a drástica diminuição dos re-

cursos orçamentários para este fim,que ocorreu entre os orçamentos de1999 e 2000, é extremamente pre- judicial.

Conforme expuseram os pa-lestrantes, debatedores e organiza-dores, as soluções para as questõesindígenas passam, necessariamen-te, pela realização de um novo en-contro dos envolvidos nesta questão

(um provável seminário), desta feitacom a participação dos índios, para

se buscar subsídios ao projeto de leido novo estatuto do índio, em trâmiteno Congresso Nacional, pelas ges-tões para ratificação da Convenção

169 da OIT e, ainda, pelos estudosde possibilidades práticas e jurídicasdos sindicatos entabularem acordos,convenções coletivas e ajuizar dis-sídios coletivos, nos quais as espe-cificidades do trabalhador indígenapossam ser contempladas.

Neste momento histórico épreciso que a sociedade brasileira,

pois esta é uma responsabilidadesocial não apenas dos empresários,encontre outras alternativas, alémdas acima referidas, para que osmilhares de índios existentes no Bra-sil tenham relações sociais maishumanas e justas, nestas incluídasas relativas à terra, ao trabalho e àcultura.

Campo Grande (MS), 25 deagosto de 2000.

Page 359: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 359/380

369

CARTA DE FORTALEZA 

PELO RESGATE DA CIDADANIA DAS CRIANÇAS E DOS  ADOLESCENTES QUE TRABALHAM 

Os Membros do Ministério Pú-blico do Trabalho, Maria de FátimaRosa Lourenço, Alpiniano do PradoLopes, Ana Elisa Alves Brito Segatti,

Bernardo Leôncio Moura, CláudiaMaria Rego Pinto R. da Costa, Cláu-dio Alcântara Meireles, DanielleCramer, Dirce Trevisi Prado Novaes,Daniela de Moraes do Monte Varan-das, Eliane Araque dos Santos,Evanna Soares, Fábio André de Fa-rias, Fernanda Maria Uchoa de Al-buquerque, Hilda Leopoldina Pinhei-ro Barreto, Ileana Neiva Mousinho,Inês Oliveira de Sousa, Jane Araújodos Santos Vilani, José Janguiê Be-zerra Diniz, Juliane Mombelli Rodri-gues, Keley Kristiane Vago Cristo,Loana Lia Gentil Uliana, Luiz Antô-nio Camargo de Melo, Luiz AntônioN. Fernandes, Maria Amélia BracksDuarte, Maria Auxiliadora de Sousae Sá, Maria Edlene Costa Lins, Mau-rício Pessoa Lima, Marisa Tiemann,Nicodemos Fabrício Maia, Pedro LuizSerafim da Silva, Ramon Bezerra dosSantos, Roberto Magno PeixotoMoreira, Silvana Martins Santos,Virgínia de Araújo Gonçalves, VilmaLeite Machado Amorim, VivianeColucci, Xisto Tiago de MedeirosNeto, representantes da Procurado-ria-Geral do Trabalho e de todas as

Procuradorias Regionais do Traba-

lho, na ocasião do Seminário “Com- bate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescennte — Avan- ços e Estratégias — Perspectivas para o Futuro — 10 Anos de ECA” ,na presença do Exmo. Procurador-Geral do Trabalho, Guilherme Mastr ichBasso, e da Exma. Corregedora-Ge-ral do Ministério Público do Traba-lho, Maria Aparecida Gugel,

Considerando que, conformepreceitua o artigo 227 da Constitui-ção Federal, à criança deve ser atri-

buída uma proteção especial e prio-ritária por sua condição de ser emdesenvolvimento;

Considerando que o Brasil ra-tificou a Convenção dos Direitos daCriança, assinada em Nova York, em1989, e, nestes termos, os direitosda infância devem ser concebidoscomo direitos fundamentais, relati-vos, portanto, a interesses difusos;

Considerando que a gestão deatendimento à criança e ao adoles-cente, a exemplo do que ocorre emrelação a todas as demais açõesgovernamentais na área da assistên-cia, deve ter como diretrizes “a des-centralização político-administrativa”e “a participação popular por meiode suas organizações representati-

vas, na formulação de políticas e no

Page 360: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 360/380

370

controle das ações de todos os ní-veis”, na forma prevista no art. 204,da Constituição Federal, e no Esta-tuto da Criança e do Adolescente,

Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990;Considerando que as diretri-

zes constitucionais e legais acimamencionadas resultaram na criaçãode novos espaços políticos de dis-cussão e articulação de ações, comoos fóruns, nacional e estadual, e co-missões, estaduais, regionais e mu-nicipais, de combate ao trabalho in-

fantil e proteção do adolescente notrabalho;

Considerando que referidoscomissões e fóruns temáticos con-gregam esforços da sociedade civile agências públicas, essas repre-sentando as diversas esferas degoverno;

Considerando que o Ministé-

rio Público do Trabalho, como “órgãoda sociedade”, possui atribuiçõesreferentes à defesa de interesses decrianças e adolescentes trabalhado-res, devidamente explicitadas na LeiOrgânica do Ministério Público daUnião e no Estatuto da Criança e doAdolescente;

Considerando que a retiradade crianças do trabalho impõe se- jam, concomitantemente, implemen-tadas medidas que visem o resgatepleno de sua cidadania, como aoportunidade de freqüência à esco-la e à jornada ampliada, o fortaleci-mento das famílias, por meio da qua-lificação dos pais e da criação de

programas de geração de rendas,bem como a profissionalização emsentido amplo, a fim de que ao ado-lescente seja garantida uma forma-

ção multifacetada que o torne aptoa enfrentar, no futuro, o mercado detrabalho;

Manifestam

O Compromisso de que as atri-buições do Ministério Público do Tra-balho, referentes ao combate do traba-lho infantil e da exploração do trabalhodo adolescente, sejam exercidas em

parcerias com as demais entidades,governamentais e não governamen-tais, a fim de que o conjunto integra-do de ações possa resgatar a cida-dania plena das crianças, bem comodos jovens que trabalham.

O Apoio à criação e à manu-tenção dos Fóruns e Comissões (emnível nacional, estadual, regional e

municipal) que visem o combate aotrabalho infantil e a proteção do ado-lescente no trabalho.

O Apoio à criação, no âmbitoda Procuradoria-Geral do MinistérioPúblico do Trabalho, de uma Coor-denadoria que reúna as informaçõesrelativas à atuação das Procurado-rias Regionais relacionadas com ocombate à exploração do trabalho

infanto-juvenil, além de lhes propor-cionar os meios necessários à efeti-vação desse trabalho, facilitando adiscussão conjunta de questões re-lacionadas ao tema.

Fortaleza, 29 de setembro de2000.

Page 361: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 361/380

371

CARTA DE BELÉM 

PELO RESGATE DA LIBERDADE E DA DIGNIDADE NO TRABALHO, COMO ELEMENTO DE JUSTIÇA E PAZ SOCIAL 

O Ministér io Público do Traba-lho, contando com a participação deMembros do Ministério Público Fe-deral e do Poder Judiciário Federal,além de integrantes do Ministério doTrabalho e Emprego, Polícia Federal,Ordem dos Advogados do Brasil —OAB, Organização Internacional doTrabalho, Poderes Executivo e Legis-lativo do Estado do Pará, IBAMA,INCRA, além de importantes segmen-tos da sociedade civil organizada,tais como a Confederação Nacionaldos Bispos do Brasil (CNBB), Comis-são Pastoral da Terra e a Federaçãodos Trabalhadores na Agricultura doPará — FETAGRI, realizou, nos dias6 e 7 de novembro de 2000, o Semi- nário Internacional: Trabalho força- do — Realidade a ser combatida , es-tando presentes o Exmo. Sr. Procu-rador-Geral do Trabalho, a Correge-dora-Geral do Ministério Público do

Trabalho, Subprocuradores, Procu-radores Regionais e Procuradoresdo Trabalho.

I — Dos Fatos Constatados:

I.1) Não obstante as grandesconquistas alcançadas no campo doDireito Positivo, tanto na esfera na-cional, como em patamares interna-

cionais, a realidade brasileira agri-

de, em pleno limiar do Século XXI,a literalidade dos Princípios Funda-mentais da República Federativa doBrasil, mormente no que se refere àdignidade da pessoa humana e ovalor social do trabalho (art. 1º,incisos III e IV da Lex Mater ), alémdos Direitos e Garantias Individuaise Coletivos relacionados no capítu-lo I do Título II da Constituição Fe-deral, as leis ordinárias em vigor eas Convenções 29 e 105, da Orga-nização Internacional do Trabalho,ratificadas pelo Brasil, evidenciando-se a continuidade da exploração dotrabalho forçado em diversas unida-des da federação;

I.2) O “trabalho forçado”, deno-minação genérica que abrange o tra-balho escravo stricto sensu , servil edegradante, serve de ignóbil instru-mento de produção e centralizaçãode riquezas em detrimento dos va-

lores transcendentais do trabalho edos primados mais basilares dos di-reitos naturais do ser humano, dian-te dos olhos semicerrados e aindaomissos do Estado Brasileiro;

I.3) Os trabalhadores subme-tidos à “moderna escravidão”, nãodeclarada, não percebem remune-ração suficiente para o seu susten-

to, nenhuma garantia trabalhista lhes

Page 362: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 362/380

372

é assegurada, além de laboraremem ambiente insalubre e/ou perigo-so, sujeitos a graves doenças ou aacidentes de trabalho, sem proteção

adequada;I.4) Assim, o trabalho forçado,

em seu conceito mais amplo, deveser entendido como aquele que con-templa, dentre outras, as seguintessituações:

•Utilização de trabalhadores,através de intermediação de mão-de-obra pelos chamados “gatos” e

pelas Cooperativas fraudulentas;•Utilização de trabalhadores

aliciados em outros Municípios ouEstados, pelos próprios tomadoresde serviços ou através de interpostapessoa, com promessas enganosase não cumpridas;

•Servidão de trabalhadorespor dívida, com o cerceamento de sua

liberdade de ir e vir e o uso de coaçãomoral ou física, para mantê-los notrabalho;

•Submissão de trabalhadoresa condições precárias de trabalho,pela falta ou inadequado forneci-mento de alimentação sadia e fartae de água potável;

•Fornecimento aos trabalha-

dores de alojamentos sem condiçãode habitabilidade e sem instalaçõessanitárias adequadas;

• Falta de fornecimento gratuitoaos trabalhadores de instrumentospara prestação de serviços, de equi-pamentos de proteção individual ede materiais de primeiros socorros;

•Não utilização de transporte

seguro e adequado aos trabalhadores;

•Não cumprimento da legisla-ção trabalhista, desde o registro docontrato na carteira de trabalho, pas-sando pela falta de cumprimento das

normas de proteção à saúde e se-gurança dos trabalhadores, até aausência de pagamento da remune-ração a eles devida;

•Coagir ou induzir trabalhadora se utilizar de armazéns ou servi-ços mantidos pelos empregadoresou seus prepostos.

I.5) Além da violação às nor-

mas trabalhistas, o fenômeno queenvolve o “trabalho forçado”, distantedos centros urbanos, não raro, vemacompanhado, de enfisemas sociaisde diversas ordens, tais como des-matamento ambiental, violência (in-clusive com casos registrados dehomicídios de trabalhadores), alcoo-lismo, como também completa des-tituição dos direitos civis básicos do

cidadão-trabalhador, como a perso-nalidade e capacidade jurídica;

I.6) Desafortunadamente, con-quanto exista ágil atuação do GrupoExecutivo de Repressão ao TrabalhoForçado — GERTRAF, vinculado aoMinistério do Trabalho, através dosgrupos móveis compostos de Audi-tores Fiscais do Trabalho, e a força da

atuação dos Membros do MinistérioPúblico do Trabalho e do Ministério Pú-blico Federal, nota-se ausência decoordenação efetiva entre os diver-sos órgãos estatais diretamente inte-ressados no combate a esse flagelosocial. Inexiste política governamen-tal eficaz para extirpar definitivamenteo trabalho forçado do seio da socie-dade. Com efeito, a relação entre os

diversos órgãos públicos, quando

Page 363: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 363/380

muito, limitam-se a convênios ouparcerias, quase nunca levados àrealidade dos fatos;

I.7) A política agrária da Re-pública Brasileira ainda não atingiuníveis satisfatórios, haja vista queexistem legiões de sem-terras , queservem para integrar o “exército” de“novos escravos”, dando azo à ex-ploração desumana do trabalho;

I.8) O instituto, hoje vigorante,da desapropriação das terras, ondese desenvolvem trabalhos forçados,

não atinge os fins aos quais se des-tina, haja vista que, inúmeras vezes,em vez de punição, traduz-se embonificação aos proprietários, faceàs vultosas indenizações que lhessão pagas.

II — Das Conclusões:

Ante aos fatos relatados, m ani-

festam-se nos seguintes termos:II.1) Apoio ao grupo móvel vin-

culado ao Ministério do Trabalho eEmprego, preconizando-se maioressubsídios por parte do Poder Exe-cutivo Federal a fim de agilizar eotimizar a atuação dos AuditoresFiscais do Trabalho;

II.2) Maior coordenação entre

os órgãos governamentais interes-sados na erradicação do trabalhoforçado, criando-se núcleos interins-titucionais;

II.3) Ênfase à atuação extraju-dicial do Parquet Trabalhista, mor-mente no que se refere à inspeção

ministerial in loco , bem como à subs-crição do Termo de Ajuste de Con-duta, haja vista que esta tem se re-velado mais célere e eficaz que a via

 judicial;I I .4) Concordância com a

interiorização do Ministério Públicodo Trabalho, implantando-se Sub- procuradorias  junto às Varas Traba-lhistas, cuja jurisdição abranja loca-lidades envolvendo focos de traba-lho forçado;

II.5) Alteração dos dispositivospenais voltados para a tipificaçãodos delitos que atentem contra a li-berdade individual (artigo 149 doCódigo Penal) e o trabalho (artigo197 do mesmo diploma), com majo-ração das penalidades cominadas;

II.6) Incentivo à implantação docondomínio de empregadores rurais,como alternativa econômica viávelpara melhorar a qualidade e as con-dições de trabalho no meio rural;

II.7) Reformas, inclusive nalegislação, com o objetivo de sebuscar maior rapidez no sistema dedesapropriação de terras, onde seexplore trabalho forçado, mas sem opagamento de qualquer indenização;

II.8) Reforma agrária mais efi-caz e célere, com a intenção de res-gatar o valor social da propriedadecomo interesse público maior, quepaira acima de quaisquer direitosindividuais privados.

Belém, 7 de novembro de 2000.

Page 364: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 364/380

374

PROPOSTAS 

Propostas extraídas do conjun-to de várias exposições havidas du-rante o seminário “A Formação e a Inserção no Mercado de Trabalho da Pessoa Portadora de Deficiência e o Reabilitado” , ocorrido na cidade de

Curitiba – Paraná, dias 29 e 30 denovembro de 2000:

 — Real ização de campanhanacional de sensibilização sobre aspotencialidades das pessoas porta-doras de deficiência;

 — Consideração da manuten-ção do benefício de prestação con-

tinuada quando da revisão da LeiOrgânica de Assistência Social (Lei n.8.742, de 7 de dezembro de 1993);

 — Recomendação ao SistemaS (SESI, SENAI, SESI, SENAR) eSecretarias Estaduais de Empregopara incrementar a formação pro-fissional das pessoas portadoras

de deficiência, tendo em vista quese utilizam de reservas do Fundo deAmparo ao Trabalhador;

 — Solici tação ao PLANFORque demonstre o quanto foi aplica-do e quanto avançou a qualificação

profissional da pessoa portadora dedeficiência;

 — Formulação de propostaaos bancos públicos para só conce-derem financiamentos a empresasprivadas que comprovem estar cum-prindo as cotas de reservas de vagasa pessoas portadoras de deficiência;

 — Projeto Legislativo de inclu-são na Lei de Licitações — Lei n.8.666/93 – o cumprimento de reser-va legal como condição para que asempresas participem de licitaçõespúblicas;

 — Adição do critério cumpri-mento de cotas de pessoas porta-doras de deficiência para a certifi-cação da ISO 9000.

Page 365: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 365/380

MEMBROS 

DO M IN I STÉRIO PÚBLI CO DO TRABALHO 

Page 366: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 366/380

377

Subprocuradores-Gerais doTrabalho

Luiz da Silva FloresJosé Alves Pereira FilhoJonhson Meira SantosJeferson Luiz Pereira CoelhoCesar Zacharias MartinsHeloísa Maria Moraes Rego PiresJorge Eduardo de Sousa MaiaOtávio Brito LopesGuiomar Rechia GomesSamira Prates de MacedoRonaldo Tolentino da SilvaGuilherme Mastrichi BassoMaria Guiomar Sanches de MendonçaMaria Aparecida Gugel

Maria de Fátima Rosa LourençoJosé Carlos Ferreira do MonteDiana Isis Penna da CostaLucinea Alves OcamposDan Caraí da Costa e PaesAntônio Carlos RoboredoFlávio Nunes Campos

MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Procurador-Geral do Trabalho: Guilherme Mastrichi Basso

Presidente da ANPT: Regina Fátima Bello Butrus

PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO

Procuradores Regional do Trabalho

Lélio Bentes CorrêaTerezinha Matilde Licks Prates

Procuradores Regionais de outrasPRTs em exercício na PGT

Edson Braz da Silva (Lot. PRT-18ª)Ivana Auxiliadora Mendonça Santos

(Lot. PRT-10ª)Gustavo Ernani Cavalcanti Dantas (Lot.

PRT-10ª)Evany de Oliveira Selva (Lot. PRT-

10ª)Márcia Raphanelli de Brito (Lot. PRT-

10ª)Eliane Araque dos Santos (Lot. PRT-10ª)Antonio Luiz Teixeira Mendes (Lot.

PRT-10ª)Adriane Reis de Araújo (Lot. PRT-10ª)Cristina Soares de Oliveira e A. Nobre

(Lot. PRT-10ª )

Page 367: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 367/380

378

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

SEDE: Rio de Janeiro/RJ

Procurador-Chefe: Aída Glanz

Procuradores Regionais doTrabalho

Carlos Alberto Dantas da FonsecaCosta Couto

Lício José de Oliveira

Robinson Crusoé Loures de M.Moura Júnior

Theócrito Borges dos Santos Filho

Regina Fátima Bello Butrus

Márcio Vieira Alves Faria

Márcio Octávio Vianna Marques

Reginaldo Campos da Motta

Jorge Fernando Gonçalves daFonte

Maria Thereza de Menezes Tinoco

Maria Vitória Süssekind Rocha

Inês Pedrosa de Andrade Figueira

Carlos Eduardo de Araújo Góes

Heleny Ferreira de Araújo Schittine

Aída Glanz

Enéas Bazo Torres

Procuradores do Trabalho

João Hilário ValentimMônica Silva Vieira de CastroAna Lúcia Riani de LunaCarlos Omar Goulart VillelaLuiz Eduardo Aguiar do ValeJúnia Bonfante RaymundoCynthia Maria Simões Lopes

Deborah da Silva FelixIdalina Duarte GuerraMaria Lúcia Abrantes FerreiraLisyane Motta Barbosa da SilvaTeresa Cristina D’Almeida BasteiroCássio Luis CasagrandeDanielle CramerJoão Carlos TeixeiraLuiz Carlos Rodrigues FerreiraLucia de Fátima dos Santos GomesDaniela de Morais do Monte VarandasAdriano de Alencar SaboyaSérgio Favilla de MendonçaJosé Claudio Codeço MarquesJosé Antonio Vieira de F. FilhoMaria Helena Galvão Ferreira GarciaEduardo Galvão de Andrea FerreiraHeloise Ingersoll SáIros Reichmann Losso

Marcelo de Oliveira RamosValéria Sá Carvalho da SilvaMarcelo José Fernandes da SilvaMaria Julieta Tepedino de BragançaCristiane Maria Sbalqueiro LopesRodrigo de Lacerda CarelliAlessandro Santos de MirandaAdriana Augusta de Moura Souza

Page 368: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 368/380

379

Procuradores do Trabalho

José Valdir MachadoLuiz Eduardo Guimarães BojartSandra Borges de MedeirosMarta Casadei MomezzoMaria Isabel Cueva MoraesSidnei Alves TeixeiraAlmara Nogueira Mendes

Paulo Cesar de Moraes GomesAndrea Ehlke MucerinoSuzana Leonel FarahLuiz Felipe SpeziNorma Profeta MarquesLuiza Yukiko Kinoshita AmaralLídia Mendes GonçalvesOrlando de MeloNelson Esteves Sampaio

Ana Francisca Moreira de SouzaSandenDébora Monteiro LopesSilvana Marcia Montechi V. de OliveiraVera Lúcia CarlosCélia Regina Camachi StanderLiliana Maria Del NeryElisa Maria Brant de Carvalho MaltaDébora ScattoliniDenise Lapolla de Paula Aguiar

AndradeRoberto Rangel MarcondesAntônio de Souza NetoMariza Mazotti de MoraesRicardo Bruel da SilveiraMarília Massignan CopplaDirce Trevisi Prado NovaesThereza Cristina GosdalMaria Beatriz Almeida Brandt

Adélia Augusto Domingues

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO

SEDE: São Paulo/SP

Procuradora-Chefe: Cândida Alves Leão

Procuradores Regionais do Trabalho

Erick Wellington Lagana LamarcaVera Lígia Lagana LamarcaDanton de Almeida SeguradoElizabeth Escobar PirroMariza da Carvalheira BaurNeyde Meira

Manoel Luiz RomeroMoysés Simão SzniferPedro Penna FirmeLaura Martins Maia de AndradeMaria José Sawaya de Castro P. do

ValeMarisa Marcondes MonteiroMaria Cecília Leite Oriente SeguradoOksana Maria Dziúra BoldoCristina Aparecida R. BrasilianoRuth Maria Fortes AndalafetRovirso Aparecido BoldoSandra Lia SimonMônica FuregattiMarilia RomanoCândida Alves LeãoMaria Helena Leão Crisi

Graciene Ferreira PintoEgle ResekAndréa Isa RípoliMarisa Regina Murad LegaspeZélia Maria Cardoso MontalMárcia de Castro GuimarãesIvani Contini BramanteWilian Sebastião Bedone

Page 369: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 369/380

380

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO

SEDE: Belo Horizonte/MG

Procurador-Chefe: Elcio Vilela Nogueira

Procuradores Regionais do Trabalho

Ângela Maria Gama e Mello de M.Pinto

Eduardo Maia Botelho

Maria Magdá Maurício Santos

Maria Christina Dutra Fernandez

Júnia Soares Náder

Júnia Castelar Savaget

Elson Vilela Nogueira

Procuradores do Trabalho

Roberto das Graças Alves

Yamara Viana de Figueiredo Azze

Marcia Campos Duarte Florenzano

Maria Amélia Bracks Duarte

José Diamir da Costa

Arlelio de Carvalho LageMaria Helena da Silva Guthier

Valéria Abras Ribeiro do Valle

Anemar Pereira Amaral

Lutiana Nacur Lorentz

Silvana Ranieri de AlbuquerqueQueiroz

Dennis Borges Santana

Cirêni Batista RibeiroGenderson Silveira Lisboa

Antônio Carlos Oliveira Pereira

Marilza Geralda do Nascimento

Maria Beatriz Chaves Xavier

Elaine Noronha Nassif

Maria do Carmo de Araújo

Ana Cristina Desirée B. F. T. Ribeiro

Antônio Augusto RochaJanuário Justino Ferreira

Valério Soares Heringer

Helder Santos Amorim

Joaquim Rodrigues Nascimento

Page 370: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 370/380

381

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO

SEDE: Porto Alegre/RS

Procuradora-Chefe: Elizabeth Leite Vaccaro

Procuradores Regionais do Trabalho

Marília Hofmeister Caldas

Vera Regina Della Pozza Reis

Dionéia Amaral Silveira

Jaime Antônio Cimenti

Sandra Maria Bazan de Freitas

Paulo Borges da Fonseca Seger

Eduardo Antunes Parmeggiani

Reinaldo José Peruzzo Júnior

Luiz Fernando Mathias Vilar

Elizabeth Leite Vaccaro

Victor Hugo Laitano

Procuradores do Trabalho

Beatriz de Holleben Junqueira Fialho

Vera Regina Loureiro Winter

Paulo Eduardo Pinto de Queiroz

Ana Luiza Alves Gomes

Lourenço Agostini de Andrade

Leandro Araújo

André Luis Spies

Silvana Ribeiro Martins

Zulma Hertzog Fernandes Veloz

Maria Cristina Sanchez GomesFerreira

Márcia Medeiros de Farias

Alexandre Correa da Cruz

Aline Maria Homrich SchneiderConzatti

Adriane Arnt Herbst

Denise Maria Schellenberger

Ivo Eugênio Marques

Viktor Byruchko Júnior

Jane Evanir Sousa Borges

Paulo Joares Vieira

Veloir Dirceu Furst

Marlise Souza Fontoura

Cristiano Bocorny Corrêa

Anestor Mezzomo

Alice Nair Feiber Sônego Borner

Page 371: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 371/380

382

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 5ª REGIÃO

SEDE: Salvador/BA

Procuradora-Chefe: Jorgina Ribeiro Tachard

Procuradores Regionais do Trabalho

Jorgina Ribeiro Tachard

Esequias Pereira de Oliveira

Lélia Guimarães Carvalho Ribeiro

Carlos Alfredo Cruz Guimarães

Virgínia Maria Veiga de Sena

Antônio Messias Matta de AragãoBulcão

Maria Adna Aguiar do Nascimento

Manoel Jorge e Silva Neto

Claudia Mar ia Rego P. Rodrigues daCosta

Adélia Maria Bittencourt Marelim

Procuradores do Trabalho

Maria da Glória Martins dos Santos

Cícero Virgulino da Silva Filho

Carla Geovanna Cunha Rossi

Edelamare Barbosa Melo

Adalberto de Castro Estrela

Jairo Lins de Albuquerque Sento-Sé

Maria Lúcia de Sá VieiraJeferson Alves Silva Muricy

Lucia Leão Jacobina Mesquita

Joselita Nepomuceno Borba

Luiz Alber to Teles Lima

Ana Emília Andrade Albuquerqueda Silva

Antônio Maurino Ramos

Luiz Antônio Nascimento FernandesSandra Marlicy de Souza Faustino

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 6ª REGIÃOSEDE: Recife/PE

Procurador-Chefe: José Janguiê Bezerra Diniz

Procuradores Regionais do Trabalho

Manoel Orlando de Melo GoulartValdir José Silva de Carvalho

Waldir de Andrade Bitu Filho

Aluízio Aldo da Silva Júnior

Eliane Souto Carvalho

José Janguiê Bezerra Diniz

Procuradores do Trabalho

Maria Angela Lobo GomesMorse Sarmento Pereira de Lyra

Neto

Pedro Luiz Gonçalves Serafim daSilva

Elizabeth Veiga Chaves

Maria Auxiliadora de Souza e Sá

Artur de Azambuja Rodrigues

Page 372: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 372/380

383

Procuradores Regionais do TrabalhoRaimundo Valdizar de Oliveira LeiteFernanda Maria Uchôa de Albu-

querque

Procuradores do TrabalhoHilda Leopoldina Pinheiro BarretoFrancisco Gerson Marques de LimaJosé Antonio Parente da SilvaClaudio Alcântara MeirelesFrancisca Helena Duarte Camelo

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 8ª REGIÃO

SEDE: Belém/PAProcuradora-Chefe: Célia Rosário L. Medina Cavalcante

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 9ª REGIÃOSEDE: Curitiba/PR

Procuradora-Chefe: Marisa Tiemann

Procuradores Regionais do TrabalhoCélia Rosário Lage Medina

CavalcanteJosé Cláudio Monteiro de Brito Filho

Procuradores do TrabalhoLoris Rocha Pereira JúniorAtahualpa José Lobato Fernandez

NetoLoana Lia Gentil UlianaAna Maria Gomes RodriguesMário Leite SoaresRita Moitta Pinto da CostaGisele Santos Fernandes GoesIzabel Christina Baptista Queiroz

Procuradores Regionais do Trabalho

Mara Cristina LanzoniAndré LacerdaLair Carmen Silveira da Rocha

Guimarães

José Cardoso Teixeira JúniorItacir LuchtembergMaria Guilhermina dos Santos V.

CamargoMarisa TiemannLeonardo Abagge FilhoAlvacir Corrêa dos SantosNeli AndoniniEdmilson Rodrigues Schiebelbein

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 7ª REGIÃO

SEDE: Fortaleza/CEProcuradora-Chefe: Fernanda Maria Uchôa de Albuquerque

Procuradores do Trabalho

Aluízio Divonzir MirandaJaime José Bilek IantasAmadeu Barreto AmorimLuiz Renato Camargo BigarelliBenedito Xavier da Silva

Rosana Santos MoreiraMariane Josviak DreschLuis Carlos Cordova BurigoLuercy Lino LopesMargaret Matos de CarvalhoRenee Araújo MachadoNelson ColaotoLuís Antônio VieiraEder SiversInajá Vanderlei S. dos SantosGláucio Araújo de Oliveira

Viviane Dockhorn Weffort

Page 373: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 373/380

384

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 10ª REGIÃOSEDE: Brasília/DF

Procurador-Chefe: Brasilino Santos Ramos

Procuradores Regionais do Trabalho

Paulo Roberto PereiraIvana Auxiliadora Mendonça SantosGustavo Ernani Cavalcanti DantasEvany de Oliveira SelvaMárcia Raphanelli de BritoEliane Araque dos SantosAntonio Luiz Teixeira MendesAdriane Reis de AraújoBrasilino Santos RamosCristina Soares de Oliveira e A. Nobre

Procuradores do Trabalho

Marcia Flávia Santini PicarelliRonaldo Curado FleuryRicardo José Macedo de Britto

PereiraMauricio Correia de MelloCristiano Otavio Paixão Araújo PintoSoraya Tabet Souto MaiorAroldo LenzaAdélio Justino LucasValdir Pereira da Silva

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 11ª REGIÃOSEDE: Manaus/AM

Procurador-Chefe: Faustino Bartolomeu Alves Pimenta

Procuradores do Trabalho

Ana Lúcia Barranco LicheskiJuliane Mombelli Rodrigues de

OliveiraFaustino Bartolomeu Alves Pimenta

Keilor Heverton Mignoni

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 12ª REGIÃOSEDE: Florianópolis/SC

Procurador-Chefe: Marcos Vinício Zanchetta

Procuradores Regionais do Trabalho

Leonardo Baierle

Marcos Vinício Zanchetta

Marilda Rizzatti

Viviane Colucci

Procuradores do Trabalho

Egon Koerner JuniorAngela Cristina Santos Pincelli

Cinara Graeff TerebintoAlexandre Medeiros da Fontoura FreitasCristiane Kraemer GehlenSilvia Maria ZimmermannJackson Chaves de AzevedoAdriana Silveira MachadoTeresa Cristina Dunka R. dos SantosMarcelo GoulartDulce Maris GalleJaime Roque PerottoniAndré Luiz Riedlinger Teixeira

Daniela Ribeiro Mendes Nicola

Page 374: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 374/380

385

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 13ª REGIÃO

SEDE: João Pessoa/PBProcurador-Chefe: Márcio Roberto de Freitas Evangelista

Procurador Regional do Trabalho

José Neto da Silva

Procuradores do Trabalho

Márcio Roberto de Freitas Evangelista

José Caetano dos Santos Filho

Rildo Albuquerque M. de Brito

Maria Edlene Costa Lins

Ramon Bezerra dos Santos

Eduardo Varandas Araruna

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 14ª REGIÃO

SEDE: Porto Velho/RO

Procurador-Chefe: Marcelo José Ferlin Dambroso

Procuradores do Trabalho

Marcelo José Ferlin Dambroso

Ricardo José das Mercês Carneiro

Ana Elisa Alves Brito SegattiSebastião Vieira Caixeta

Page 375: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 375/380

386

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

SEDE: Campinas/SP

Procurador-Chefe: Ricardo Tadeu Marques da Fonseca

Procuradores Regionais do Trabalho

Rogério Rodriguez Fernandez Filho

Ricardo Tadeu Marques da Fonseca

Raimundo Simão de Melo

Adriana Bizarro

Procuradores do Trabalho

Eduardo Garcia de QueirozJoão Norberto Vargas ValérioRenata Cristina Piaia PetrocinoClaude Henri AppyMaria Stela Guimarães de MartinAbiael Franco SantosRicardo Wagner Garcia

Fábio Messias VieiraAna Lúcia Ribas SaccaniAderson Ferreira SobrinhoSafira Cristina Freire Azevedo Carone

GomesLuís Henrique RafaelDimas Moreira da SilvaJosé Fernando Ruiz Maturana

Alex Duboc GarbelliniEleonora Bordini CocaMarcello Ribeiro SilvaVanessa Kasecker BozzaAndré CremonesiRonaldo José de LiraAcir Alfredo HackEliane LucinaJoão Batista Martins CésarBernardo Leôncio Moura CoelhoAndréa AlbertinaseIvan Sérgio Camargo dos SantosEliana Nascimento Minicucci

Rosemary Fernandes Moreira

Iara Teixeira Rios

Geraldo Emediato de Souza

Rogério Rodrigues de Freitas

Page 376: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 376/380

387

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 16ª REGIÃO

Sede: São Luís/MA

Procurador-Chefe: Roberto Magno Peixoto Moreira

Procuradores do Trabalho

Roberto Magno Peixoto Moreira

Maurício Pessoa Lima

Fábio de Assis Ferreira Fernandes

Virgínia de Azevedo Neves Saldanha

Márcia Andrea Farias da Silva

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 17ª REGIÃO

Sede: Vitória/ESProcuradora-Chefe: Carlos Henrique Bezerra Leite

Procuradores Regionais do Trabalho

Levi Scatolin

Carlos Henrique Bezerra Leite

Procuradores do Trabalho

Anita Cardoso da Silva

Maria de Lourdes Hora Rocha

Ronald Kruger Rodor

Estanislau Tallon Bózi

Keley Kristiane Vago CristoDulce Martini Torzecki

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO

Sede: Goiânia/GO

Procurador-Chefe: Jane Araújo dos Santos Vilani

Procuradores Regionais do Trabalho

Edson Braz da SilvaJane Araújo dos Santos Vilani

Procuradores do Trabalho

Elvecio Moura dos SantosCláudia Telho Corrêa Abreu

José Marcos da Cunha Abreu

Janilda Guimarães de Lima Collo

Mônica de Macedo Guedes LemosFerreira

Maria das Graças Prado Fleury

Page 377: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 377/380

388

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 19ª REGIÃO

Sede: Maceió/AL

Procurador-Chefe: Alpiniano do Prado Lopes

Procurador Regional do Trabalho

Rafael Gazzaneo Júnior

Procuradores do Trabalho

Vanda Maria Ferreira Lustosa

Cássio de Araújo Silva

Alpiniano do Prado Lopes

Virginia de Araújo Gonçalves

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 20ª REGIÃO

Sede: Aracaju/SE

Procuradora-Chefe: Vilma Leite Machado Amorim

Procuradores do Trabalho

Vilma Leite Machado Amorim

Hideraldo Luiz de Sousa Machado

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 21ª REGIÃO

Sede: Natal/RN

Procurador-Chefe: Xisto Tiago de Medeiros Neto

Procurador Regional do Trabalho

Xisto Tiago de Medeiros Neto

Procuradores do Trabalho

José de Lima Ramos Pereira

Nicodemos Fabrício MaiaJosé Diniz de Moraes

Fábio Leal Cardoso

Fábio André de Farias

Rosivaldo da Cunha Oliveira

Page 378: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 378/380

389

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 22ª REGIÃO

Sede: Teresina/PI

Procuradora-Chefe: Evanna Soares

Procurador Regional do Trabalho

Evanna Soares

Procuradores do Trabalho

Marco Aurelio Lustosa Caminha

João Batista Luzardo Soares Filho

João Batista Machado Júnior

Ileana Neiva Mousinho

José Wellington de Carvalho Soares

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 23ª REGIÃOSede: Cuiabá/MT

Procuradora-Chefe: Ines Oliveira de Sousa

Procuradores do TrabalhoInes Oliveira de SousaEliney Bezerra VelosoLuciana Marques CoutinhoQuézia Araújo Duarte de Aguiar

Ludmila ReisAntônio Carlos Cavalcante RodriguesMárcia Cristina Kamei

Procurador Regional do Trabalho

Luis Antônio Camargo de Melo

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 24ª REGIÃO

Sede: Campo Grande/MS

Procurador-Chefe: Luis Antônio Camargo de Melo

Procuradores do Trabalho

Darlene Dorneles de AvilaEmerson Marim ChavesJonas Ratier MorenoCícero Rufino PereiraSimone Beatriz Assis de RezendeCláudio Cordeiro Queiroga GadelhaErlan José Peixoto do Prado

Page 379: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 379/380

390

APOSENTADOS

Subprocurador-Geral do Trabalho

Afonso Henrique Luderitz de

MedeirosAntônio Henrique de Carvalho

ElleryCarlos Cezar de Souza NetoDarcy da Silva CamaraEdson Correa KhairEduardo Antonio de A. CoelhoEliana Traverso CalegariFernando Ernesto de Andrade Coura

Hegler José Horta BarbosaHélio Araújo de AssumpçãoInez Cambraia Figueiredo

de LaraJacques do Prado Brandão

João Pinheiro da Silva Neto

Júlio Roberto ZuanyLindalva Maria F. de CarvalhoMarcelo Angelo Botelho BastosMaria de Lourdes S. de AndradeModesto Justino de O. JúniorMuryllo de Brito Santos FilhoNorma Augusto PintoRaymundo Emanoel Bastos do

E. SilvaRoque Vicente FerrerSue Nogueira de Lima VerdeTerezinha Vianna GonçalvesValter Otaviano da Costa Ferreira

Procuradores Regionais do Trabalho

Adelmo Monteiro de Barros

Aldemar Ginefra MoreiraAlice Cavalcante de SouzaAmérico Deodato da Silva JúniorAnamaria Trindade BarbosaAntonio Carlos Penzin FilhoAntonio de Almeida Martins C. NetoAntonio Xavier da CostaAparecida Maria O. de Arruda BarrosAurea Satica KariyaCarlos Eduardo BarrosoCarlos José Principe de OliveiraCarlos Renato Genro GoldschmidtCesar Macedo de EscobarCliceu Luis BassettiClóvis MaranhãoDaisy Lemos DuarteDanilo Octavio Monteiro da Costa

Danilo Pio Borges de Castro

Djalma Nunes Fernandes

Eclair Dias Mendes MartinsEdson Cardoso de OliveiraElizabeth Starling de MoraesEmiliana Martins de AndradeEvaristo de Moraes FilhoEveraldo Gaspar Lopes de AndradeFabrício Correia de SouzaFrancisco Adelmir PereiraFernando de Araújo ViannaHelion VerriIlná Carvalho VasconcelosIvan José Prates Bento PereiraJoão Antero de CarvalhoJoão Carlos de Castro NunesJoão Carlos Guimarães FalcãoJorge da Silva Mafra FilhoJorge Luis Soares de Andrade

José André Domingues

Page 380: Revista 21 Do MPT

7/16/2019 Revista 21 Do MPT

http://slidepdf.com/reader/full/revista-21-do-mpt 380/380

José Eduardo Duarte SaadJosé Carlos Pizarro Barata SilvaJosé Francisco T. da Silva RamosJosé Sebastião de Arcoverde RabeloJuarez Nascimento F. de TavoraJúlia Antonieta de Magalhães CoelhoLeonardo Palarea CopiaMaria Aparecida PasqualãoMaria Beatr iz Coelho C. da FonsecaMaria Manzano MaldonadoMoema FaroMurillo Estevam Allevato

Nelson Lopes da SilvaNilza Aparecida MiglioratoOlavo Augusto Souza C. S. Ferreira

Paulo Rogério Amoretty SousaPerola StermanRaymundo Percival de M. P. BandeiraRegina Pacis Falcão do NascimentoRicardo KatharRuy Mendes Pimentel SobrinhoSebastião Lemes GorgesSérgio Teófilo CamposSilvia Saboya LopesSonia Pitta de CastroSueli Aparecida ErbanoThomaz Francisco D. F. da Cunha

Virgílio Antônio de Senna PaimVitório Morimoto

Wanda Souza Rago

Procuradores do Trabalho

Adilson Flores dos SantosAntonia Seiunas Checanovski

Aroldo Faria de LannesCantídio Salvador FilardiCarlina Eleonora Nazareth de CastroCarmo Domingos JateneDelmiro dos SantosEdson Affonso GuimarãesElza Maria Olivato FernandesEvandro Ramos LoureiroJoão Alfredo Reverbel Bento Pereira

José Henrique Gomes SalgadoMartinsJosé HoskenJosina Gomes Jeanselme Macedo

Katya Teresinha Monteiro SaldanhaLuiz Gonzaga TheophiloMarco Antonio Prates de MacedoMaria Auxiliadora Alves BrokerhoffMaria Celeida Lima RibeiroMaria de Nazareth ZuanyMaria Regina do Amaral VirmondMaria Zelia Abreu FonsecaMarilena MarzagãoMyrian Magdá Leal GodinhoNilza Varella de Oliveira

Roberto Herbster GusmãoRoland Cavalcanti de A. CorbisierSônia Costa Mota de Toledo PintoWalmir Santana Bandeira de Souza