24
229 Rev.Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004 ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO TRT-00628-2005-114-03-00-2-RO Publ. no “MG” de 20.08.2005 RECORRENTE: TELEMAR NORTE LESTE S/A RECORRIDO: UNIÃO FEDERAL EMENTA: AUTO DE INFRAÇÃO - COOPERATIVA - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS COM A PRESENÇA DE TODOS OS PRESSUPOSTOS DA RELAÇÃO DE EMPREGO. A ampliação de competência pela EC n. 45/04 trouxe para a Justiça do Trabalho a possibilidade de análise de fundo dos pressupostos aplicáveis à relação jurídica de direito público que se coloca em faixa tangencial ou sobreposta à relação jurídica de direito privado que é a relação de emprego. Assim, viabilizou-se a análise de elementos de fundo que são objeto de tutela pelas normas trabalhistas e da aplicação de uma sanção que decorre do exercício de poder de polícia pelo Estado. Vistos, relatados e discutidos os autos em destaque. Trata-se de recurso ordinário da empresa da sentença do MM. Juiz Federal da 16ª Vara da Justiça Federal - Seção Judiciária de Minas Gerais, que julgou improcedente a ação proposta pela recorrente. Contra-razões (f. 192/94). Declinada a competência para esta Justiça em razão da Emenda Constitucional n. 45/04 (f. 201). O d. MPT, em parecer da lavra das Dr as Advane de Souza Moreira, Sônia Toledo Gonçalves e Silvana Ranieri de Albuquerque Queiroz (f. 213/ 39). É o relatório. CONHECIMENTO Presentes os pressupostos de cabimento e de admissibilidade, conheço do recurso ordinário. RECURSO Trata-se de ação declaratória de inexigibilidade do auto de infração de n. 01041827, expedido pelo Ministério do Trabalho - Delegacia Regional do Trabalho em Minas Gerais. Alega a recorrente que em 11.01.02 recebeu notificação para o pagamento de multa em razão da contratação de pessoas por meio de cooperativas. NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO Alega a recorrente a nulidade do auto de infração, ao fundamento de que foi vedada à recorrente a produção de prova e o exercício pleno do direito ao contraditório. A recorrente apresentou defesa no processo administrativo (f. 68) e não mencionou ali qualquer aspecto probatório de que quisesse se valer que não tenha sido usado. No mérito, a defesa se limita a enfatizar a condição de cooperados dos prestadores de serviços e o simples pedido da produção de prova testemunhal e pericial não altera o fato de que a análise feita pelo agente da fiscalização (ver o parecer de f. 60/61) cumpriu seus objetivos.

ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL REGIONAL DO ... - TRT da 3ª Região · TRT-00628-2005-114-03-00-2-RO ... prova e o exercício pleno do direito ao contraditório. ... competencial está resolvida,

Embed Size (px)

Citation preview

229

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO

TRT-00628-2005-114-03-00-2-ROPubl. no “MG” de 20.08.2005

RECORRENTE: TELEMAR NORTELESTE S/A

RECORRIDO: UNIÃO FEDERAL

EMENTA: AUTO DE INFRAÇÃO- COOPERATIVA - PRESTAÇÃODE SERVIÇOS COM APRESENÇA DE TODOS OSPRESSUPOSTOS DARELAÇÃO DE EMPREGO. Aampliação de competênciapela EC n. 45/04 trouxe para aJustiça do Trabalho apossibilidade de análise defundo dos pressupostosaplicáveis à relação jurídica dedireito público que se colocaem faixa tangencial ousobreposta à relação jurídicade direito privado que é arelação de emprego. Assim,viabilizou-se a análise deelementos de fundo que sãoobjeto de tutela pelas normastrabalhistas e da aplicação deuma sanção que decorre doexercício de poder de políciapelo Estado.

Vistos, relatados e discutidos osautos em destaque.

Trata-se de recurso ordinário daempresa da sentença do MM. JuizFederal da 16ª Vara da Justiça Federal- Seção Judiciária de Minas Gerais, quejulgou improcedente a ação propostapela recorrente.

Contra-razões (f. 192/94).Declinada a competência para

esta Justiça em razão da EmendaConstitucional n. 45/04 (f. 201).

O d. MPT, em parecer da lavradas Dras Advane de Souza Moreira,Sônia Toledo Gonçalves e SilvanaRanieri de Albuquerque Queiroz (f. 213/39).

É o relatório.

CONHECIMENTO

Presentes os pressupostos decabimento e de admissibil idade,conheço do recurso ordinário.

RECURSO

Trata-se de ação declaratória deinexigibilidade do auto de infração de n.01041827, expedido pelo Ministério doTrabalho - Delegacia Regional doTrabalho em Minas Gerais. Alega arecorrente que em 11.01.02 recebeunotificação para o pagamento de multaem razão da contratação de pessoas pormeio de cooperativas.

NULIDADE DO AUTO DEINFRAÇÃO

Alega a recorrente a nulidade doauto de infração, ao fundamento de quefoi vedada à recorrente a produção deprova e o exercício pleno do direito aocontraditório.

A recorrente apresentou defesano processo administrativo (f. 68) e nãomencionou ali qualquer aspectoprobatório de que quisesse se valer quenão tenha sido usado. No mérito, adefesa se limita a enfatizar a condiçãode cooperados dos prestadores deserviços e o simples pedido da produçãode prova testemunhal e pericial nãoaltera o fato de que a análise feita peloagente da fiscalização (ver o parecer def. 60/61) cumpriu seus objetivos.

230

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

A competência do Fiscal doTrabalho abrange a possibilidade de eleproceder ao exame dos fatos e de definiro seu contorno jurídico. A impugnaçãopode ser exercida tanto na esferaadministrativa, como por meio depretensão deduzida perante o PoderJudiciário, como se fez neste caso.

A empresa poderia trazer para aesfera administrativa todos osinstrumentos e documentos para aprova de suas alegações. Há, de fato,pedido de produção de provatestemunhal na impugnaçãoadministrativa, mas esta é hipótese deaplicação restrita naquela searaconsiderando-se a presunção devalidade pela presença no local dofiscal.

Cabe observar que nestes autosprocedeu-se à oitiva de testemunhas (f.129/30), o que supre qualquer eventualvício do auto de infração.

VIOLAÇÃO AO INCISO LIII DOART. 5º E ART. 114 DA CF/88

Este processo talvez representeo acerto da alteração dos limites decompetência da Justiça do Trabalho.Para entender isto, é necessário avaliara composição específica do sistemajurídico.

A ordem jurídica, como sistemade normas, caracteriza-se pelaexistência da sanção, como elementode controle das condutas por meio delas(das normas) reguladas. Trata-se deuma organização complexa em que asrelações jurídicas se entretecem e sedifundem a partir do estabelecimento delinhas de tutela peculiares.

Uma destas faixas de proteçãoé aquela que se dirige ao trabalhosubordinado. Assim, destaca-se oDireito do Trabalho como um conjuntode regras que tem por objetivo

disciplinar estas relações que se situamna esfera inexoravelmente conflituosaentre capital e trabalho. Na montagemdeste sistema, portanto, se mesclamintervenções variadas que circulam nãoapenas na esfera pública como naesfera privada e, muitas vezes, de modosimultâneo. As relações jurídicasintercambiadas vão sendo construídaspara atingir o objetivo de máximaproteção. É assim que se deve entendera atuação do Estado quando, noexercício do poder de polícia, fiscalizaa atuação de entes privados, sob oprisma de uma determinada área deinteresse humano, e, apurando ainfração de normas, aplica a sanção. Éassim no exemplo reiteradamenteapontado pelo saudoso Prof. PauloNeves de Carvalho em suas aulas (o dofiscal que chega ao açougue e vê acarne apodrecida, contaminada e numato violento, mas autorizado pela ordemjurídica, a destrói). É assim quanto aoexercício da fiscalização das condiçõesde trabalho pelo Ministério do Trabalho.

Paulo Emílio Ribeiro de Vilhenaexplica com muita clareza como estasvárias relações jurídicas se interligampara atingir uma determinadadestinação:

Quando, porém, o Estado, comoordem jurídica, entendenecessário àquelas relaçõesjurídicas, que denominamosprivadas, agregar outra ou outrasrelações jurídicas, a elasapostas, em que o próprioEstado, já como sujeito dedireito, figura em um dos póloscomo titular de poderes edeveres jurídicos (Können-

Sollen), temos configurada umarelação de direito público.É o que, comumentedesignamos por relações

231

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

jurídicas criminais ouadministrativas, recobrindorelações jurídicas privadas.Em seu conjunto, compõem elasos institutos jurídicos ou civis oucomerciais ou trabalhistas (v.g.,leis que criam ilícito penal,sancionando aumento dealuguéis fora dos limitespermitidos; crimes de sonegaçãode mercadorias ou venda acimadas tabelas de preços, naeconomia popular; fraudes asalários-mínimos ou a outrasgarantias trabalhistas etc.).Tais relações jurídicaspresumem-se, em sua eficácia,munidas de sançõesnecessárias, e a falta deprocedimento (administrativo oupenal, desde que cientifique oórgão estatal encarregado)acarreta outra e nova sançãocontra o servidor, que tornou oórgão omisso.(VILHENA, Paulo Emílio Ribeirode. Direito público e direito

privado: sob o prisma dasrelações jurídicas. 2. ed. rev. eaum. Belo Horizonte: Del Rey,1996, p. 102-3)

Assim, quando se alterou acompetência desta Justiça paraestendê-la às “ações relativas àspenalidades administrativas impostasaos empregadores pelos órgãos defiscalização das relações de trabalho”,permitiu-se o exame de umdesdobramento da relação de empregoque se liga a uma faixa acessória(importante) na manutenção das linhastutelares, que é a relação jurídica dedireito público que se instala quando doexercício da fiscalização pelo Ministériodo Trabalho.

A questão da incongruência

competencial está resolvida, portanto,uma vez que os olhos que examinarãoas dimensões do conflito sãoexatamente aqueles mesmos que focamtodos os pressupostos e as injunçõesdecorrentes da relação de emprego.

Considerando isto, o exercício dopoder de polícia constitui decorrência daoutorga de competência expressa(formadora de relação jurídica de direitopúblico sobreposta ou tangencial) e aomissão do agente é passível até desanção e a alteração da competênciapara apreciar a impugnação leva àsuperação de qualquer incongruênciaque poderia haver no antigo regime.

VIOLAÇÃO AO INCISO II DOART. 5º DA CF/88

O fazer ou deixar de fazer senãoem virtude de lei é preceito que não seesgota na abstração.

O sistema jurídico regula (evaloriza) a relação de emprego e acooperativa. Cada um dos institutos,com sua expressão e tradição histórico-conceituais, tem uma significação e foiabsorvido a partir de uma necessidadepeculiar de tutela de interesse (maisuma vez). A relação de empregodisciplina o trabalho prestadoheteronomamente, em que odestinatário da força de trabalho tem ocontrole integral do onde, como, porque,quando (para usar uma idéia repisadana doutrina) a atividade é desenvolvida.A cooperativa constitui o ponto de apoiodo trabalho autônomo. Não há dúvidaque, em ambos os casos, o adversário(o vilão poder-se-ia dizer num, talvez,abuso de linguagem) é o capital. Sãomodos diferentes de estabelecerproteção e limites contra riscos demesma natureza.

Por isto, cabe, a partir do examede cada situação concreta, a verificação

232

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

de presença dos pressupostos de umou outro instituto. E não há nistoqualquer emocionalismo ou dimensãoexacerbadora a partir da constatação deque a cooperativa tem sido usada paradesvirtuar situações em que a proteçãoaplicável seria a da relação de emprego.

O parágrafo único do art. 442 daCLT não tem um valor absoluto queimpeça a análise de cada situaçãoconcreta. Ele só se realiza na avaliaçãodas circunstâncias como se dá emoutras vertentes da chamada zona gris,funcionando a representação comercial,o mandato, a corretagem, a parceriarural como exemplos de situações emque há a necessidade de avaliarestruturas reguladoras que secontrapõem ou que disputam a mesmadimensão problemática.

Não há, portanto, infração aodispositivo referido.

DIREITO MATERIALAPLICÁVELÀ ESPÉCIE

O fato de a recorrente ser umaex-estatal não gera qualquerconseqüência. Ao tempo dasapurações, ela já havia sido privatizadae não se lhe aplicam os dispositivos doart. 37 da CR/88, especialmente aquelesconcernentes à necessidade deaprovação em concurso público.Aquelas previsões não constituem umatributo que se tenha mantido quandoda transmutação de sua naturezajurídica. Retomando a citação (e o livro)de Paulo Emílio Ribeiro de Vilhena, nãohá uma norma jurídica que imponha aformação de relações jurídicas de direitopúblico no que concerne a qualqueraspecto da relação de emprego em quea autora figure como empregadora. Istonão ocorrerá, tampouco, quando sediscuta a sua posição na situação dosautos.

A aplicação da multa decorre, naforma do parecer, da constatação deque a empresa manteve trabalhadorsem registro (f. 58 e segs.). A justificativaé de que tais trabalhadores não seriamempregados, mas sócios cooperados daTecnocoop Sistemas - Cooperativa deTrabalho dos Profissionais deProcessamento de Dados Ltda.

O termo de f. 73 e segs. refere-se em sua cláusula primeira àcontratação de “horas” e de produtos.Não há a referência às pessoas. Noentanto, as horas não constituem umaentidade que produza por si e osparágrafos seguintes vão sinalizando anecessidade de participação daspessoas. Assim, o de n. 1.3 prevê que oresultado do “acervo dos trabalhos” seráda autora, o que evoca a idéia de que aprodução resulta de trabalho. Os“trabalhos” são realizados nasdependências da empresa, “de segundaa sexta-feira no horário comercial”(cláusulas 1.5 e 5.3), assim como é daautora a responsabilidade pela alocaçãodos equipamentos para odesenvolvimento deles (cláusula 1.7), oque indica o uso do estabelecimento darecorrente e a definição de horários queencontra no agente que trabalha aressonância da subordinação subjetiva.A cooperativa assume, pelo contrato, “osencargos trabalhistas” e o termo“empregadora” é, talvez por um atofalho, usado para qualificá-la (cláusula1.6, f. 74).

A cláusula 3.6 põe o ser humanoe as tradições e os limites do direito dotrabalho definitivamente em cena:

Para efeito de cálculo de horasprevistas, considerou-se umquantitativo estimado de 08 (oito)horas/dia e 168 (cento esessenta e oito) horas/mês porprofissional alocado. (f. 75)

233

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

Há, portanto, a necessidade dealocação de uma pessoa (umprofissional) que trabalhará por umquantitativo de oito horas/dia.

Na cláusula 4.2, prevê-se anecessidade de um número suficientede profissionais com qualif icaçãoprofissional e experiência mínima dedois anos, o que leva a presunção deque não é previsível ou eficiente umatroca ou instabilidade nas pessoasdestinadas à prestação dos serviços.Isto induz o encontro com a idéia depessoalidade e de subordinação a umamecânica de atuação que é propiciadae controlada pela recorrente (vejam-seno mesmo sentido as cláusulas 4.4, queestabelece critérios para a substituiçãode “membro da equipe”, e 4.11, que fixao número (“quantitativos deprofissionais”) e a habilitação dosprofissionais).

A testemunha ouvida informaque o contrato foi encerrado emnovembro/dezembro de 2001, informaque não eram os mesmos cooperadosque trabalhavam nas diversas fases deimplantação dos sistemas, “variando deacordo com a necessidade” e que elestrabalhavam “por hora, sem horário fixo”(f. 130). A prova oral não altera o sentidogeral que se pode atribuir aosdocumentos quanto à confirmação domodo de desenvolvimento da atividade.O pagamento por hora pode ser adotadona relação de emprego e a afirmaçãode que os trabalhadores não tinhamhorário fixo deve ser confrontada comas cláusulas do contrato que estimamuma jornada de oito horas/dia e queprevêem a prestação dos serviços nohorário dito comercial, franqueando aentrada deles no estabelecimento.

A subordinação é fixada pelocontrole da empresa-autora nodesenvolvimento das atividades, a partirda permanência dos trabalhadores no

seu estabelecimento para osdesenvolvimentos de rotinas que a elainteressavam diretamente por umperíodo considerável, que extrapola olimite mensal. Por outro lado, na figurados trabalhadores ela se revela nautilização de equipamentos da autora,no controle da produtividade, ainda quesob o rótulo da aferição temporal (veja-se a cláusula 6.3 - f. 77). Assim,considerando-se os aspectos jáavaliados, a subordinação faz-sepresente.

O salário é apenas um nome quese dá à contraprestação devida narelação de emprego. A autora retribuiuas horas-trabalho e a definição danatureza do vínculo faz com que se lhepossa atribuir esta nomenclatura. Aonerosidade é ínsita no contrato. Há umpreço e a previsão de que o quantitativoprofissional, para usar o eufemismo docontrato, receberá pagamentos pelosserviços prestados.

Como dito acima, a previsão decondições para a substituição demembros da equipe autoriza a ilação deque havia uma permanência naspessoas que desenvolviam asatividades contratadas. Isto é naturaltambém porque não se poderia imaginarque o fluxo das atividades e oconhecimento de suas peculiaridadesfossem traduzidos constantemente emrazão das mudanças. Por outro lado,não houve a juntada de qualquerlistagem que comprovasse a alteraçãodas pessoas dia-a-dia, de modo adesfigurar a pessoalidade que decorreda interpretação do contrato.

De tudo o que se examinoupercebe-se que houve atuação regularda União no exercício do poder depolícia administrativa, em faixa deatuação conexa à relação de direitoprivado que se forma entre empregadoe empregador. Os elementos de prova

234

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

autorizam a constatação de práticairregular da empresa ao deixar deregistrar pessoas em que sesintonizavam todos os pressupostos dosarts. 2º e 3º da CLT.

No que concerne à autorizaçãocontida na Lei n. 9.472/97, há anecessidade de avaliação doselementos de fato que cercaram aexecução da atividade a fim de aferir sehouve a configuração dos pressupostosidentificadores do trabalho por meio dacooperativa.

O sistema jurídico exige umainterpretação conformadora de modo acompatibilizar a existência de faixasdistintas de disciplina e de tutela. A Lein. 9.427/97 não constitui, portanto, umacarta branca, algo que, por si só,convalide e justifique a desconcentraçãodos núcleos de tutela do trabalho acritério da empresa.

Por isto, nego provimento aorecurso.

Fundamentos pelos quais,

conheço do recurso ordinário,rejeito a preliminar e, no mérito, nego-lhe provimento.

A TERCEIRA TURMA, àunanimidade, conheceu do recurso; pormaioria de votos, vencido em parte oJuiz Revisor, quanto a preliminar deviolação à CF/88, rejeitou aspreliminares; no mérito, semdivergência, negou-lhe provimento.

Belo Horizonte, 10 de agosto de2005.

MÔNICA SETTE LOPESRelatora

TRT-00154-2005-054-03-00-0-ROPubl. no “MG” de 03.09.2005

RECORRENTES: JUÍZO DA 10ª VARAFEDERAL DE BELO HORIZONTE (1)UNIÃO FEDERAL (2)

RECORRIDA: ESTRUTURAS,MONTAGENS E INSTALAÇÕESTÉCNICAS LTDA. - EMIT

EMENTA: AUTO DE INFRAÇÃO- ILEGALIDADE - CONCESSÃODE PRAZO PARA EXIBIÇÃO DEDOCUMENTOS. O art. 7º daPortaria n. 3.159/71 doMinistério do Trabalho é claroao estabelecer que “Ao Agenteda Inspeção do Trabalhocaberá a orientação técnica eesclarecimentos às empresas,ficando a seu critério aconcessão de prazo nãoinferior a 2 (dois) e nemsuperior a 8 (oito) dias, para aexibição de documentos”,colocando fim à controvérsia.Esta norma atende à finalidadeprecípua (art. 5º da Lei deIntrodução ao Código Civil) doinstituto da fiscalização dotrabalho, que é justamentefazer cumprir as normas deproteção ao trabalho e,somente em segundo plano,impor penalidade caso odescumprimento sejareiterado. Portanto, valendo-sede tal prerrogativa, o fiscal dotrabalho não pode voltar atráse autuar a empresa,circunstância que nãoconfigura anulação do atoilegal, mas abuso no poder depolícia que lhe é conferido.

Vistos os autos, relatado ediscutido o presente Recurso Ordinário,

235

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

em que figuram, como recorrentes,JUÍZO DA 10ª VARA DO TRABALHO DEBELO HORIZONTE e UNIÃO FEDERALe, como recorrida, ESTRUTURAS,MONTAGENS E INSTALAÇÕESTÉCNICAS LTDA. - EMIT.

RELATÓRIO

A MM. Juíza da 10ª Vara Federalde Belo Horizonte/MG, pela r. sentençade f. 124/132, cujo relatório adoto e aeste incorporo, julgou parcialmenteprocedente o pedido para anular osautos de infração elencados, e asnotificações de multas respectivas,submetendo-a ao duplo grau dejurisdição obrigatório.

A ré interpôs apelação às f. 134/137, sustentando a validade daspenalidades impostas, tendo em vistaque o fiscal do trabalho não estavaobrigado a conceder prazo aoempregador para cumprir as obrigaçõesque já deveriam estar adimplidas.

Contra-razões ausentes, apesarda regular intimação (f. 138).

O Ex.mo Desembargador FederalAntônio Ezequiel, relator por distribuiçãono TRF/1ª Região, declinou dacompetência para o julgamento em favordesta Justiça do Trabalho, em face daEmenda Constitucional n. 45/04 (f. 140).

Recebido, distribuído e autuado,o feito foi encaminhado ao MinistérioPúblico do Trabalho, que exarou o parecerde f. 147, pela confirmação do julgado.

É o relatório.

VOTO

1. Admissibilidade

Atendidos aos pressupostos deadmissibilidade da apelação perante oentão Juízo competente, dela conheçocomo recurso ordinário.

Conheço também da remessaoficial, eis que ao tempo da prolação dasentença ainda não vigorava a novaredação do inciso I do art. 275 do CPC,dada pela Lei n. 10.444/02, não sepodendo cogitar do valor da causa paraaferir o seu cabimento, pois as normasprocessuais têm vigência imediata, masnão atingindo os atos já consumados.Determino, pois, a retif icação daautuação para que conste comorecorrente também a 10ª Vara Federalde Belo Horizonte/MG.

2. Mérito

Dos quatro autos de infraçãoquestionados pela autora, a sentençaanulou dois, ao fundamento de que ofiscal do trabalho descumpriu o princípioda moralidade administrativa, por ter,primeiramente, concedido prazo àempresa para a exibição de documentose, voltando atrás, autuou-a.

As penalidades foram impostasem razão de o empregador não teratualizado as fichas de registro dedeterminados empregados (f. 13) e nãoter exibido as guias de recolhimento dacontribuição sindical patronal (f. 16).

O argumento da inicial fulcrava-se na Portaria n. 3.035/85 do Ministériodo Trabalho, que permite às empresasque têm filiais centralizar os documentosem apenas um estabelecimento. Aautora alegou que foi fiscalizada nocanteiro de obras, mas o fiscal negou-se a visitar a sua sede, onde seencontravam os documentos.

A sentença o rebateu, notandoque a norma regulamentar contémprevisão específica para “as empresasque, possuindo mais de umestabelecimento ou filial no mesmoMunicípio” (f. 18), o que não era o casoda autora, já que sua sede é em BeloHorizonte e o canteiro de obras se

236

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

encontrava em Ouro Branco/MG.Ademais, a referida Portaria excluiexpressamente da sua permissão oregistro de empregado, objeto de umdos autos questionados.

Entretanto, a MM. Juízamonocrática entendeu que houveviolação do princípio da moralidadeadministrativa, pois, ao notificar aempresa a exibir os documentos em diae local, sob pena de autuação imediata(f. 12), o fiscal obrigou-se neste sentido,não podendo no mesmo dia lavrar osautos de infração, como ocorreu.

E deste entendimentocompartilho, em que pesem os clarostermos do art. 628 da CLT, ao determinarque, salvo os casos de dupla visita (nãoconfigurados na espécie, conforme oart. 627 da CLT), “a toda verificação emque o Agente da Inspeção do Trabalhoconcluir pela existência de violação depreceito legal deve corresponder, sobpena de responsabilidadeadministrativa, a lavratura de auto deinfração.”

Ao conceder o prazo para aexibição dos documentos, cominando aautuação ao seu não-atendimento, oagente da fiscalização criou situaçãopeculiar mais favorável, impeditiva daimposição da penalidade, ainda maisem se considerando a peculiaridade járessaltada no que respeita à distânciaentre a sede da empresa e o canteirode obras, este que em verdade nãoconfigura precisamente“estabelecimento ou filial”, mas um localde trabalho em que a guarda dedocumentos certamente não é tão fácilquanto na situação normal de outrasempresas.

Por fim, o art. 7º da Portaria n.3.159/71 do Ministério do Trabalho éclaro ao estabelecer que “Ao Agente daInspeção do Trabalho caberá aorientação técnica e esclarecimentos às

empresas, ficando a seu critério aconcessão de prazo não inferior a 2(dois) e nem superior a 8 (oito) dias, paraa exibição de documentos”, colocandofim à controvérsia. Esta norma atendeà finalidade precípua (art. 5º da Lei deIntrodução ao Código Civil) do institutoda fiscalização do trabalho, que éjustamente fazer cumprir as normas deproteção ao trabalho e, somente emsegundo plano, impor penalidade casoo descumprimento seja reiterado.Portanto, a autuação não configuraanulação do ato ilegal, mas abuso nopoder de polícia que é conferido aoagente público.

Nego provimento.

CONCLUSÃO

Conheço da apelação comorecurso ordinário, bem como daremessa oficial, determinando aretificação da autuação para constarcomo recorrente também a 10ª VaraFederal de Belo Horizonte/MG. Nomérito, nego-lhe provimento.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho - 3ª Região, porsua TERCEIRATURMA, à unanimidade,em conhecer da apelação como recursoordinário, bem como da remessa oficial,determinando a retificação da autuaçãopara constar como recorrente tambéma 10ª Vara Federal de Belo Horizonte/MG; no mérito, sem divergência, emnegar-lhe provimento.

Belo Horizonte, 24 de agosto de2005.

MARIA CRISTINA DINIZ CAIXETARelatora

237

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

TRT-00134-2005-061-03-00-7-ROPSPubl. no “MG” de 26.07.2005

RECORRENTE: SINDICATO DOSTRABALHADORES EMHOSPITAIS, CLÍNICAS, CASASDE SAÚDE EESTABELECIMENTOS DESERVIÇOS DE SAÚDE NOESTADO DE MINAS GERAIS

RECORRIDO: SINDICATO DOSEMPREGADOS EMESTABELECIMENTOS DESERVIÇOS DE SAÚDE DEITAJUBÁ

Por se tratar de processo quesegue o rito sumaríssimo, dispensaelaboração de relatório.

Tudo visto e examinado, decide-se.

VOTO

Admissibilidade

Satisfeitos os pressupostos deadmissibilidade, conheço do recurso.

Não conheço, entretanto, dascontra-razões apresentadas pelorecorrido às f. 511/521.

É que, expedida a intimação em21.05.05, sábado (f. 509-v.), por forçada Súmula n. 262 do TST, o início doseu prazo deu-se no primeiro dia útilimediato (segunda-feira), 23.05.05, e acontagem, no subseqüente, terça-feira,ou seja, em 24.05.05, expirando-se em31.05.05 (segunda-feira).

Apresentadas em 01.06.05 (f.511), as contra-razões sãoinequivocamente intempestivas.

Mérito

Da nulidade da sentençaproferida por juízo incompetente

Cuida-se a espécie de apeloaviado contra a decisão de f. 467/474,que, atendendo a pedido formulado pelorequerido, declarou a extensão de suarepresentatividade aos Municípios deBrazópolis, Cristina, Delfim Moreira,Itajubá, Maria da Fé, Paraisópolis,Pedralva e Piranguinho, bem comodeterminou que o recorrente devolva aorecorrido os valores recolhidos a títulode contribuições sindicais.

O recorrente se insurge contra adecisão, argüindo, inicialmente, suanulidade, ao fundamento de queproferida por Juízo incompetente. Afirmater apresentado exceção deincompetência em razão do lugar, naforma como determina o art. 100, incisoIV, alínea “b”, do CPC, e não alínea “a”.

Diz que o Juiz teria utilizado doispesos e duas medidas, visto que, paraafastar a exceção, afirmou que orecorrente tem agência ou sucursal nacidade de Itajubá. Mas, em sentidocontrário, fundamentou o deferimentodo pleito, negando que ele (o recorrente)atuasse validamente no sul de Minas.Pede que se aplique, no caso, a alínea“a”, do referido dispositivo legal, paraque se considere incompetente aqueleJuízo a analisar o feito.

Sem razão, todavia.Se há algum vestígio de

incoerência, este é meramenteaparente. É que o Juízo de origem, aofixar a competência desta JustiçaEspecial, para apreciar o feito, de fato,apoiou sua decisão na EmendaConstitucional 45/04 (inciso III do art.114 da CF/88), de forma geral.

Aplicou, também, para definir acompetência, a norma advinda do incisoIV do art. 100 do CPC, em carátersubsidiário, tomando por base a alínea“b”, ao fundamento de que o sindicatoréu, por deter abrangência estadual,representa os trabalhadores de todo o

238

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

Estado, por isto é que poderia nomeardelegados sindicais para atuar em todoo Estado, definindo, a priori, seu campode atuação. Por isto que não se podeequiparar, neste particular, a umaempresa.

Comungo do mesmoentendimento do Juízo de origem.

É que uma empresa tem sede fixa,tanto quanto sucursais e filiais, por istoé que sua base territorial é previamentedefinida. Já o sindicato que representetrabalhadores de todo o Estado,certamente, que pode atuar em toda aextensão territorial do Estado, por isto quese aplica à espécie o disposto na alínea“b” do art. 100 do CPC, observadas aspeculiaridades da matéria de que setrata, combinado com o disposto no §1º do art. 75 do CC de 2002. Cuida-sede aplicação analógica da lei.

Isto não quer dizer, de formaalguma, que o réu represente,necessariamente, os empregados deItajubá, visto que outras regras regulama representação sindical in concreto.

Daí se concluir que: o réu é oSindicato dos Trabalhadores emHospitais, Clínicas, Casas de Saúde eEstabelecimentos de Serviços de Saúdedo Estado de Minas Gerais. Por isto éque pode representar todos osempregados do Estado de MinasGerais, de forma genérica. Fixa-se, pois,com base nesta hipótese, acompetência. Conclusão que se faz combase no princípio de que o direito deação é abstrato, não se confundindo asregras processuais de fixação decompetência e de condições da açãocom o direito material deduzido emJuízo.

Por isto é que, para daí se fixar arepresentatividade do sindicato e suaextensão, vai outro passo, que demandaanálise concreta da situação fática e dalegislação que se aplica à espécie.

Como bem apreendido peloJuízo a quo, “não há ainda, como critériode bom senso, querer que apenas asVaras do Trabalho de Belo Horizontejulguem todos os casos de controvérsiade representação sindical sempre queno pólo passivo estiver entidade comabrangência estadual e sede naquelacidade” (f. 453).

Rejeita-se, portanto, aincompetência alegada.

Da nulidade por cerceamentoao direito de defesa

Argúi, ainda, o recorrente anulidade do feito, por cerceamento dodireito de defesa, afirmando que, nainicial, o recorrido “...pretendeu estendersua base territorial por ter feito o registrono cartório de títulos e documentos epela falsa afirmação de nunca ter tido‘qualquer tipo de impugnação a sualegitimidade territorial’. Não apresentouo Autor o fato de que a ausência derepresentatividade era o fator ensejadorda extensão da base” (f. 496). Por istoentende que a sentença deferiu opedido com base em fundamentodiverso do constante na exordial,devendo ser anulada, porque ofendidoo direito de defesa do recorrente.

Em verdade, o Juízo, ao proferiruma decisão, deve analisar todas asquestões que ressaem dos autos, nãosendo obrigado a refutar todas asargumentações postas pelas partes,desde que explicite suas razões dedecidir. De idêntica forma, pode-seapegar a outros elementos fáticosevidenciados no processado, ainda quenão tenham sido alegados,expressamente, pelas partes. Aqui, nemuma coisa, nem outra, o Juízofundamentou, e bem, sua decisão, combase nos elementos fáticos normativospostos nos autos.

239

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

De forma muito específica,ressalte-se, constata-se que o recorridose referiu, sim, à questão da “melhorrepresentatividade da categoria”, comose constata de superficial análise aosfundamentos de f. 06.

Apenas para ilustrar, leia-se, in

verbis:

Assim sendo, indevida é aingerência do requerido naregião de abrangência doSindicato autor, sob qualquerprisma ou enfoque, até mesmopelo fato de que todos osfuncionários membros dacategoria profissional oradiscutida são, asseguradamente,melhores assessorados peloSindicato Autor, seja peloaspecto físico, seja pelorelacionamento com a entidadepatronal, através da realidadeinteriorana que muitas vezesdiverge e se contrasta com a vidada capital. (f. 06)

Posta assim a questão, semqualquer fundamento fático-normativo aalegação de nulidade posta pelorecorrente.

Do mérito

Insurge-se, especificamente,contra a decisão que declarou aextensão da base territorial do sindicatorecorrido e determinou a devolução dosvalores recolhidos dos empregados deItajubá, a título de contribuiçõessindicais, em favor do recorrido. O nógórdio da questão é a extensão da baseterritorial do recorrente, que se trata deum sindicato estadual, representantedos empregados em estabelecimentosde saúde de Minas Gerais.

Nas razões de decidir, a decisão

hostilizada, baseando-se no princípio daunicidade sindical, reconheceu caber aorecorrido a representatividade dosempregados na área de saúde dascidades de Brazópolis, Cristina, DelfimMoreira, Itajubá, Maria da Fé,Paraisópolis, Pedralva e Piranguinho,condenando, ainda, o recorrente a lhedevolver os valores recolhidos a títulode contribuições sindicais, em caráterde antecipação de tutela.

Contra tanto se insurge orecorrido, a meu ver, data venia, semrazão.

Vamos, então, à análise dosfatos e das provas vindos aos autos.

O recorrido é registrado noCartório de Registro e Títulos,Documentos e Pessoas Jurídicas deItajubá (f. 13) e fundado em 31.01.1989.

A declaração de f. 30 revela opedido de inclusão do referido sindicatono Arquivo de Entidades SindicaisBrasileiras - AESB, tendo sido deferido,com base territorial o Município deItajubá - MG.

Em defesa, o recorrente alegaque o único documento apresentadopelo autor, de requerimento de extensãode base territorial, formulado perante oMinistério do Trabalho e Emprego, foinegado, e afirma a obrigatoriedade deregistro da entidade sindical no órgãocompetente e a unicidade sindical.

Não se pode olvidar que aConstituição da República consagrou oprincípio da liberdade sindical - aninguém sendo dado filiar-se a esta ouaquela agremiação, senão por vontadeprópria. Por outro lado, limitou, de certaforma, a Carta Magna esta liberdade,consagrando, de igual maneira, aunicidade sindical.

Pois bem, se ao empregadocabe a liberdade de fi l iar-se, aosindicato é vedado estabelecer-se,concomitantemente a outro, numa

240

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

mesma base territorial. E como se defineesta fixação de base territorial? Emexistindo uma entidade sindical em dadaregião, outra não se pode estabelecer.Se uma entidade municipal, ou de umaregião, é estabelecida, a estadual, ali,não tem representatividade. Se há umaentidade de nível estadual, esta prefereàquela de abrangência nacional, eassim por diante.

Aqui o que temos é uma entidaderegional, pretendendo prevalecer sobreoutra, de caráter estadual.

O art. 8º da CF determina que oEstado não deverá exigir autorizaçãopara a fundação e o funcionamento deum sindicato, a não ser o registro noórgão competente. Não autoriza,entretanto, a criação de mais de umaorganização sindical, numa mesmabase territorial, esta que não poderá serinferior à área do Município. Enfim, sepor um lado não há se falar emautorização do Ministério do Trabalhopara fundação de um sindicato, somenteum pode existir em dada base territorial.

O sindicato não depende de avaldo Ministério do Trabalho para existir,embora seja o depositário de seusregistros, por força, inclusive, do quedetermina a Súmula n. 677 do C. STF.O referido Ministério acolheu aimpugnação que o recorrenteapresentou, relativamente àrepresentatividade do recorrido. Mas oque se constata, no presente caso, éque o recorrido está fundado,devidamente registrado no cartóriocompetente e inscrito perante a AESB.O depósito dos instrumentosnormativos, formulados com aparticipação dele, foi aceitoregularmente na DRT. A base territorialfixada abrange o Município de Itajubá eoutras cidades da região. Todaspróximas, pois que se situam na mesmaregião.

Ora, se o sindicato, quantomenor a região que representa, maisrente se encontra às bases, por certoque um sindicato regional tem maiorpossibilidade de atender aos anseiosdos representados, porquanto maisrente com a realidade que os cerca e,conseqüentemente, com seusinteresses e desejos.

Por isto é que entendo correta adecisão que, ao dirimir conflito deabrangência de extensão territorial entresindicato regional e estadual, entendeuque aquele, pela área que abrange, é“...quem melhor exercitava a funçãorepresentativa/negocial da categoriados empregados em estabelecimentosde saúde na região de Itajubá e cidadescircunvizinhas era o sindicato autor” (f.471).

O Juízo de origem lembrou, commuita propriedade, que:

...só se pode imaginar oreconhecimento de um sindicatoque tenha legitimidade,enquadrando-se neste patamarapenas aquele que exerçaadequadamente suas funções eprerrogativas, dentre elas,inequivocadamente, asprincipais são as derepresentação e negocial, cujoexercício concreto não aconteciapelo integrante do pólo passivo.(f. 471)

E acrescenta não existir direitoadquirido a uma base territorial“...quando se demonstra que, afora aquestão de anterioridade decontribuição ou do mero interessefinanceiro no recebimento decontribuições sindicais e de outros tipos,deixou de ocorrer a aplicação dasfunções peculiares de um sindicato” (f.478).

241

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

O princípio sociológico e asolução do sindicato maisrepresentativo vêm sendo utilizadoslargamente, na doutrina francesa, queadmite o pluralismo sindical, para dirimirquestões desta natureza. Aqui, nãosomente por questões físicas(proximidade da sede do recorrido comas cidades da região), mas também porquestões práticas (efetiva celebração deinstrumentos normativos aplicáveis àcategoria por longo tempo), leva àconclusão de que o recorrido está, defato, mais aparelhado para representara categoria, na região.

A preposta do recorrente, emaudiência, não soubera informar acercada existência de instrumentosnormativos negociados com hospitaisdas Regiões de Brasópolis,Paraisópolis, Cristina e Pedralva e,tampouco, soubera informar sobre aparticipação do sindicato (recorrente)em quaisquer reivindicações demelhoria de condições de trabalho ousalariais da região e nem soubera ondese localizam as cidades referidas (f.455). Isto revela, por si, que o recorrentenão participava dos problemas, dasdificuldades, e, muito menos, dosanseios dos supostos representados.

O enquadramento sindical,repita-se, não se faz formalmente. É quedepende de uma análise concreta dasituação fática, a respeito das condiçõesespecíficas de trabalho, de vida e dosinteresses e, dentro desta avaliação, éque se enquadra uma determinadacategoria. Por isto é que não é o direito,ou a lei, que define uma categoria, masos próprios grupos que se formamdentro de uma perspectiva de condiçõesde identidade e similaridade. Daí é queo estatuto do próprio sindicato é quedeverá fixar os limites de suarepresentatividade, observando, nomínimo, a área do Município.

O que dos autos ressai claro éque o recorrido celebrou inúmerosacordos coletivos com as entidades queagregam a categoria econômica daregião (f. 79/407). Nenhuma hipótese denegociação fora comprovada, de suaparte, pelo recorrido.

Tudo isto a reforçar a tese deque, efetivamente, o recorridorepresenta a categoria profissionaldaquela região, com eficiência.

Quanto aos aspectos formais,ressalte-se que, embora já dito que osindicato recorrido está regularmenteinscrito no registro de títulos,documentos e pessoas jurídicas desde14.02.1989 (f. 27), bem como inscritonos arquivos da AESB, desde 22.03.91(f. 30), não é isto que o autoriza arepresentar a categoria. Saliente-se queregistros de entidades sindicaisprocessados no Ministério do Trabalhoe o respectivo arquivamento no Arquivodas Entidades Sindicais Brasileiras nãotêm efeito constitutivo ou autorizativo,diante do princípio da liberdade sindical.São considerados, isto sim, para efeitode estatística e de controle de políticado governo, para o setor respectivo.

Em havendo dúvidas sobre oenquadramento, cabe ao PoderJudiciário dirimir a questão. Nãoprevalece, simplesmente, a decisão doMinistério do Trabalho, visto que aoEstado não compete mais interferir naorganização sindical. A se entender deoutra forma, estar-se-ia fossilizando umenquadramento sindical e impedindo aformação de sindicatos com área deabrangência menor, em direçãocontrária à liberdade sindical.

Quanto à devolução dos valoresrecebidos a título de contribuiçõessindicais, o recorrente alega a ausênciade prova do alegado pagamento. O juízode origem afirmou, de forma clara, queo deferimento consistia naqueles

242

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

valores devidos em decorrência decondenação judicial, cuja cópia vieraaos autos às f. 61/63. Já a cópia de f.65 demonstra que o feito respectivotivera a decisão transitada em julgado,visto que em fase de execução.

Cai por terra, então, a teserecursal, de ausência de prova dopagamento. Quanto ao valor, seráapurado em liquidação de sentença,como bem determinado pelo Juízo deorigem.

Por fim, no particular, o que severifica é que o recorrente pretendera areforma da decisão, para que o recorridodevolvesse o valor recebidoindevidamente, em face da corretaextensão de base territorial, na condiçãode pedido contraposto. Não fosse oinusitado do pleito, não só formal(inovação), como do ponto de vistamaterial, a manutenção da sentençahostil izada, por si, impediria aconcessão do pedido.

Diante de todo o exposto e portodos os ângulos pelos quais se analisea questão, não prospera o pleitorecursal, impondo-se, destarte, mantera decisão.

Desprovejo.

Conclusão

Conheço do recursoapresentado e, no mérito, NEGO-LHEPROVIMENTO.

Belo Horizonte, 21 de julho de2005.

WILMÉIA DA COSTA BENEVIDESRelatora

TRT-RO-00534-2005-036-03-00-2Publ. no “MG” de 17.08.2005

RECORRENTE: ELY PIRES SABIRRECORRIDA: UNIÃO FEDERAL

EMENTA: RECURSOADMINISTRATIVO -EXIGÊNCIA DE DEPÓSITOPRÉVIO CORRESPONDENTEAO VALOR DA MULTA - § 1º DOART. 636 DA CLT -INCONSTITUCIONALIDADEAFASTADA. Consoantereiterados julgamentos doExcelso Supremo TribunalFederal e do Egrégio SuperiorTribunal de Justiça, nasesferas próprias decompetência, a exigência dedepósito prévio parainterposição de recursoadministrativo constituipressuposto deadmissibilidade e garantiarecursal que não ofende osprincípios do contraditório eda ampla defesa, porquantoem processo administrativoregular a legislação pertinenteassegura a observância de taisgarantias constitucionais.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de recurso, interpostocontra decisão proferida pelo Ex.mo JuizFederal da 2ª Vara da SubseçãoJudiciária de Juiz de Fora/MG, em quefiguram: como recorrente, ELY PIRESSABIR; como recorrida, UNIÃOFEDERAL.

RELATÓRIO

O MM. Juiz Federal da 2ª Varada Subseção Judiciária de Juiz de Fora/MG, pela r. decisão de f. 90/93, cujo

243

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

relatório adoto, denegou a segurançapleiteada pela Impetrante Ely Pires Sabirnos autos do mandado de segurançaimpetrado contra a União Federal.

A Impetrante interpôs apelação(f. 95/99), alegando que é proprietáriade um terreno onde está sendoconstruído um edifício de apartamentos;em 10.02.2003, foi autuada pelafiscalização do Ministério do Trabalho,tendo-lhe sido aplicadas diversas multasque totalizam R$24.513,67; interpôsrecurso administrativo insurgindo-secontra a aplicação das penalidades,porém se negou seguimento a taisapelos, por falta de recolhimento dodepósito prévio correspondente ao valormencionado; trata-se, contudo, deimportância altíssima para os padrõesfinanceiros da apelante, o que inviabilizaa possibilidade de obter acesso ao duplograu de jurisdição previsto noprocedimento administrativo; devem serobservados os princípios docontraditório e da ampla defesa, comoinstrumentos assecuratórios de que oprocesso não se converterá em uma lutadesigual entre as partes; embora agarantia do depósito recursal sejaexigência constitucional, no caso emexame o valor exigido mostra-sedesproporcional e desarrazoado,onerando sobremaneira a recorrente einibindo o exercício do direito à ampladefesa, devendo ser afastada talexigência ou no mínimo atenuada.Conclui, ao final, que restoudemonstrada a existência do direitolíquido e certo de que seja anulado oato que negou seguimento ao recursoadministrativo interposto, do qual deveconhecer o órgão competente doMinistério do Trabalho.

Comprovantes de recolhimentode custas e porte de remessa e retornodos autos à f. 100 (códigos 5762 e8021).

A União Federal apresentoucontra-razões (f. 109/112), pugnandodesprovimento do recurso.

O douto Ministério PúblicoFederal, em parecer da Drª Raquel EliasFerreira Dodge, opinou pelo nãoprovimento da apelação (f. 117/118).

O Ex.mo Desembargador FederalAntônio Ezequiel, Relator designado noEgrégio Tribunal Regional Federal daPrimeira Região, com amparo naEmenda Constitucional n. 45/2004,declinou da competência em favor desteTribunal Regional do Trabalho daTerceira Região, determinando aremessa dos autos (f. 120).

O Ex.mo Juiz Corregedor desteTribunal, em exercício da Vice-Presidência, determinou que os autosfossem enviados a uma das Varas doTrabalho de Juiz de Fora, paraautuação, cadastramento e aquisição denúmero único, após o que deveriam serremetidos à 2ª Instância paradistribuição a uma das Turmasjulgadoras (f. 123).

O d. Ministério Público doTrabalho, em parecer da Drª MárciaCampos Duarte, opinou pelaconfirmação do julgado (f. 125).

Tudo visto e examinado.

VOTO

Admissibilidade

Conheço da apelação interpostacomo recurso ordinário, a teor do art. 2ºda Instrução Normativa n. 27/2005 doColendo TST.

Observo que o presentemandado de segurança tramitouperante a Justiça Federal até março de2005, quando foi declarada aincompetência material pelo Ex.mo

Desembargador do Tribunal RegionalFederal da 1ª Região (f. 120).

244

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

Evidentemente, portanto, que aapelação interposta em 01.09.2003 (f.95/99) deve ser aqui conhecida comorecurso ordinário, aplicando-se o prazode 15 dias, previsto no art. 508 do CPC,e não o prazo de 8 dias fixado pelaalínea “a” do art. 895 da CLT.

No que tange às custas,considero que foram regularmenterecolhidas, de acordo com a sentençaproferida, conforme documento de f. 100(código 5762). E não há falar emdepósito recursal, uma vez que se trataaqui de mandamus cuja segurança foidenegada, não havendo condenaçãoimposta à recorrente, salvo no que tangeaos ônus de sucumbência.

Destarte, encontram-sesatisfeitos todos os pressupostos deadmissibilidade do recurso, pelo quedele conheço.

Conheço também das contra-razões, regularmente apresentadas.

Mérito

Insurge-se a Impetrante Ely PiresSabir contra a r. sentença de f. 90/93,pela qual o MM. Juiz Federal denegoua segurança requerida, ressalvando seuentendimento pessoal em sentidooposto, porém curvando-se aoposicionamento mantido pelo ExcelsoSupremo Tribunal Federal e peloEgrégio Tribunal Regional Federal da 1ªRegião, que decidem pelaconstitucionalidade do depósito prévioexigido para interposição de recursoadministrativo.

Com efeito, a matéria encontra-se mesmo pacificada nos Tribunaispátrios, inclusive no Superior Tribunalde Justiça e no Supremo TribunalFederal.

O cerne da controvérsia consisteem se estabelecer se é ou nãoinconstitucional o § 1º do art. 636 da

CLT, segundo o qual “o recurso só teráseguimento se o interessado o instruircom a prova do depósito da multa.”

E o Excelso Supremo TribunalFederal, a quem compete a guarda daConstituição da República, já semanifestou em reiterados julgamentospela constitucionalidade da exigência detal depósito prévio e pela ausência deviolação aos princípios do contraditórioe da ampla defesa.

Em sessão plenária, os Ministrosdo STF indeferiram o pedido de medidaliminar de suspensão do artigo 93 daLei n. 8.212/91 (posteriormenterevogado pela Lei n. 9.639/98). Taldispositivo, em situação análoga à deque trata o § 1º do art. 636 da CLT, exigiaque o interessado instruísse o recursointerposto contra decisão do INSS quelhe aplicasse multa por infração adispositivo da legislação previdenciáriacom a prova do depósito da multaatualizada monetariamente, a partir dadata da lavratura (ADIN 1049-2-DF -Medida Cautelar - Requerente:Confederação Nacional dosTrabalhadores Metalúrgicos;Requeridos: Presidente da República eCongresso Nacional; DJ de 25.08.95).

Posteriormente, inúmeros outrosjulgados das diversas Turmas do STFforam proferidos no mesmo sentido: 1) RE230994, ANO-1998, UF-TO, TURMA-02,Min. MAURÍCIO CORRÊA, DJ 13.11.1998;2) RE 230099, ANO-1998, UF-RN,TURMA-02, Min. CARLOS VELLOSO, DJ11.12.1998; 3) RE 216008, ANO-1999, UF-RS, TURMA-01, Min. ILMAR GALVÃO, DJ05.02.1999; 4) RE 226229, ANO-1999, UF-GO,TURMA-01, Min. ILMAR GALVÃO, DJ05.02.1999; 5) RE 231844, ANO-1999, UF-RJ, TURMA-02, Min. MAURÍCIOCORRÊA, DJ 26.02.1999; 6) RE 234649,ANO-1999, UF-PI, TURMA-02, Min.MAURÍCIO CORRÊA, DJ 26.02.1999; 7)RE 239243, ANO-1998, UF-DF, TURMA-

245

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

01, Min. SYDNEY SANCHES, DJ05.03.1999; 8) RE 239317, ANO-1998, UF-DF,TURMA-01, Min. SYDNEY SANCHES,DJ 05.03.1999; 9) RE 231051 AgR, ANO-1998, UF-SC, TURMA-02, Min. MAURÍCIOCORRÊA, DJ 12.03.1999; 10) RE 210069,ANO-1998, UF-PA, TURMA-02, Min.MARCOAURÉLIO, DJ 03.12.1999; 10) RE210227, ANO-1998, UF-PA, TURMA-02,Min. MARCO AURÉLIO, DJ 03.12.1999;11) RE 210247, ANO-1998, UF-AM,TURMA-02, Min. MARCO AURÉLIO, DJ03.12.1999; 12) RE 210259, ANO-1999,UF-DF, TURMA-02, Min. MARCOAURÉLIO, DJ 03.12.1999; 13) RE210428, ANO-1999, UF-AP, TURMA-02,Min. MARCO AURÉLIO, DJ 03.12.1999;14) RE 216218, ANO-1998, UF-RS,TURMA-02, Min. MARCO AURÉLIO, DJ03.12.1999; 15) RE 216953, ANO-1998,UF-DF, TURMA-02, Min. MARCOAURÉLIO, DJ 03.12.1999; 16) RE217168,ANO-1998, UF-AM, TURMA-02,Min. MARCO AURÉLIO, DJ 03.12.1999;17) RE 218279, ANO-1999, UF-GO,TURMA-02, Min. MARCO AURÉLIO, DJ03.12.1999, dentre vários outros.

Apenas para ilustrar, transcrevoementa referente a um dos diversosjulgamentos da Suprema Corte:

EMENTA: EXTRAORDINÁRIO.INFRAÇÃO ÀS NORMASTRABALHISTAS. PROCESSOA D M I N I S T R A T I V O .CONTRADITÓRIO E AMPLADEFESA. PENALIDADE.NOTIFICAÇÃO. RECURSOPERANTE A DRT. EXIGÊNCIADO DEPÓSITO PRÉVIO DAMULTA. PRESSUPOSTO DEADMISSIBILIDADE EGARANTIA RECURSAL.AFRONTA AO ARTIGO 5º, LV,CF. INEXISTÊNCIA. 1. Processoadministrativo. Imposição de

multa. Prevê a legislaçãoespecial que, verificada ainfração às normas trabalhistase lavrado o respectivo auto, oinfrator dispõe de dez dias,contados do recebimento danotificação, para apresentardefesa no processoadministrativo (artigo 629, § 3º,CLT). Considerada insubsistentea impugnação exsurge aaplicação da multa mediantedecisão fundamentada (artigo635, CLT). Não observância aoprincípio do contraditório e à ampladefesa: alegação improcedente.2. Recurso administrativo perantea DRT. Exigência de comprovaçãodo depósito prévio. Pressupostode admissibilidade e garantiarecursal. 2.1. Ao infrator, uma veznotificado da sanção imposta emprocesso administrativo regular, éfacultada a interposição de recursono prazo de dez dias, que somenteserá acolhido se instruído com aprova do depósito prévio da multa(artigo 636, § 1º, CLT), exigênciaque constitui pressuposto de suaadmissibilidade. 2.2. Violação aoartigo 5º, LV, CF. Inexistência. Emprocesso administrativo regular,a legislação pertinente assegurouao interessado o contraditório e aampla defesa. A sua instrução coma prova do depósito prévio da multanão constitui óbice ao exercício dodireito constitucional consagradono artigo 5º, LV, por se tratar depressuposto de admissibilidadee garantia recursal, dado queaferida a responsabilidade doinfrator em decisão fundamentada.Recurso conhecido e provido.(RE 231320/SE, Rel. MinistroMaurício Corrêa, 2ª Turma, DJ06.11.98).

246

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

No mesmo sentido posiciona-seo Superior Tribunal de Justiça, emmatéria de sua competência, comorevelam seus recentes julgados:

EMENTA: TRIBUTÁRIO.AGRAVO REGIMENTAL NOAGRAVO DE INSTRUMENTO.RECURSO ADMINISTRATIVO.CONDICIONANTE DEDEPÓSITO PRÉVIO.LEGALIDADE. PRECEDENTESDO COLENDO STF E DESTACORTE SUPERIOR.I - Este Superior Tr ibunalpacificou entendimento, com aorientação plasmada peloSupremo Tribunal Federal, pelalegal idade econst i tucional idade dacondicionante do depósitoprévio para a interposição derecurso administrativo, uma vezque a Constituição Federal de1988 não garante o duplo graude jurisdição administrativa(ADIMC n. 1.049, ADINs n. 836-6/DF, 922/DF e 1.976/DF, RREEn. 210244/GO e 235833/GO).Precedentes: REsp n. 608.531/SP, Rel. Min. FRANCISCOPEÇANHA MARTINS, DJ de 20/09/2004; AGA n. 492.615/RJ,Rel. Min. FRANCIULLI NETTO,DJ de 06/09/2004; AGREsp n.608.089/SP, Rel. Min. LUIZFUX, DJ de 23/08/2004; AGA n.570.275/RJ, Rel. Min. CASTROMEIRA, DJ de 16/08/2004 eAGA n. 550.217/RJ, Rel. Min.JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,DJ de 24/05/2004.II - Agravo regimental improvido.(AgRg no Ag 641365- DJ01.07.2005 - Ministro FranciscoFalcão - Primeira Turma -julgamento 19.05.05)

EMENTA: DEPÓSITO PRÉVIOCOMO REQUISITO DEADMISSIBILIDADE DORECURSO ADMINISTRATIVO.INOCORRÊNCIA DE VÍCIO DEINCONSTITUCIONALIDADE.PRINCÍPIOS DOCONTRADITÓRIO E DAAMPLADEFESA PRESERVADOS.PRECEDENTES DO STF E STJ.1. O duplo grau obrigatório nãoé inerente ao contenciosoadministrativo, restandoconstitucional a exigência dedepósito prévio para fins deinterposição de recursoadministrativo. Precedentes doSTF. Precedentes: RE 311023-3/RJ, Relator Ministro MoreiraAlves, DJ de 18.09.01; RE215979/RS, Relator MinistroMaurício Corrêa, DJ de04.05.2001.2. A exigência do depósitorecursal administrativo não violaos princípios constitucionais docontraditório e da ampla defesa(art. 5º, LV) e do devido processolegal (art. 5º, LIV).3. Ao contribuinte, em sede deprocesso administrativo, após olançamento do crédito, concede-se a oportunidade de apresentardefesa, produzir todas as provasque julgar necessárias,preservando-se, assim, ascláusulas constitucionais pétreasdo contraditório e da ampladefesa.4. A exigência do depósito,malgrado legítimo, não impede oacesso à Justiça, amparado,inclusive, pela possibilidade derequerimento e concessão dagratuidade integral, consoanteprevisto pela Carta Magna eextensível às pessoas jurídicas

247

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

na forma da jurisprudênciamajoritária do E. STJ.5. O depósito prévio para ainterposição de um novo recursoevita a postergação da soluçãoadministrativa, mercê depropiciar objetiva e célerepercepção dos impostos pelaAdministração.6. Embargos de divergênciaacolhidos.(Processo EAg 459961 / RJ;EMBARGOS DE DIVERGÊNCIAEM AGRAVO 2004/0110451-8;Relator(a) Ministro LUIZ FUX(1122); Órgão Julgador S1 -PRIMEIRA SEÇÃO; Data doJulgamento 27/04/2005; Data daPublicação/Fonte DJ 16.05.2005p. 224)

EMENTA: PROCESSUAL CIVILE ADMINISTRATIVO - AGRAVOREGIMENTAL - RAZÕESRECURSAIS QUE NÃODEMONSTRAM QUALQUERDESACERTO NA DECISÃOMONOCRÁTICA - DEPÓSITOPRÉVIO - RECURSOADMINISTRATIVO.1. Deve ser mantida a decisãomonocrática que deu provimentoao recurso especial, nos termosdo art. 557 do CPC, aplicando ajurisprudência pacífica dasTurmas que compõem a PrimeiraSeção desta Corte, quanto àexigibilidade do depósito préviono recurso administrativo -Precedentes.2. A suspensão da exigibilidadedo crédito tributário, nos termosdo art. 151, III do CTN, decorreda interposição de recursoadministrativo. Este, por sua vez,tem como condição deadmissibil idade o depósito

prévio, nos termos da legislaçãoespecífica.3. O STJ e o STF, na esfera decompetência própria, concluírampela validade da exigência dodepósito prévio no recursoadministrativo.4. Agravo regimental improvido.(Processo AgRg no REsp686337 / SP; AGRAVOREGIMENTAL NO RECURSOESPECIAL 2004/0134307-8;Relator(a) Ministra ELIANACALMON (1114); Órgão JulgadorT2 - SEGUNDA TURMA; Data doJulgamento 22/03/2005; Data daPublicação/Fonte DJ09.05.2005, p. 360)

Vê-se, pois, que oposicionamento mantido pelos TribunaisSuperiores é o de que descabe cogitarde violação ao contraditório e à ampladefesa, porque a parte autuada, emprocesso administrativo regular, temoportunidade de apresentar defesa eproduzir as provas que entenderpertinentes, inexistindo garantiaconstitucional ao duplo grau dejurisdição administrativa. E o recursonão é vedado, desde que sejapreviamente instruído com o depósitogarantidor, pressuposto objetivo deadmissibilidade.

Nota-se, outrossim, que não setem feito distinção entre o empregadorpessoa física ou pessoa jurídica,tampouco o valor da multa aplicadapode ser levado em conta para fins deexigência ou não do depósito prévio, jáque é proporcional às infraçõesapuradas. Caso contrário, poderiahaver, isso sim, ofensa ao princípioconstitucional que assegura a igualdadede tratamento, e também ao próprio §1º do art. 636 da CLT, que nãoestabelece tais distinções.

248

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

Destarte, como bem ponderadopelo MM. Juiz Federal, estando amatéria pacificada no âmbito dosTribunais Superiores, não é razoávelsubmeter as partes a uma longa edispendiosa discussão cujo desfecho jáé de conhecimento geral.

ISTO POSTO, nego provimentoao recurso interposto pela Impetrante.

Fundamentos pelos quais,

ACORDAM os Juízes do TribunalRegional do Trabalho da TerceiraRegião, pela sua PRIMEIRA TURMA,preliminarmente, à unanimidade, emconhecer da apelação de f. 95/99 comorecurso ordinário; no mérito, semdivergência, em negar-lhe provimento.

Belo Horizonte, 08 de agosto de2005.

MARIA LAURA FRANCO LIMA DEFARIA

Relatora

TRT-00617-2005-110-03-40-1-AGPubl. no “MG” de 09.07.2005

AGRAVANTE: COMPANHIA ENERGÉTICADE MINAS GERAIS - CEMIG

AGRAVADO: DELEGADO REGIONAL DOTRABALHO DE MINAS GERAIS

EMENTA: MANDADO DESEGURANÇA - CONCESSÃOOU INDEFERIMENTO DELIMINAR - IRRECORRIBILIDADENO PROCESSO DO TRABALHO.Em caso de competênciaoriginária das Varas, a decisãoque concede ou indefere liminarem sede de mandado desegurança é irrecorrível, não

podendo, também, ser atacadapor meio de outro mandado desegurança. Isso porque oProcesso Trabalhista tem regraprópria acerca do agravo deinstrumento, afastando aaplicação do CPC na espécie,consoante o art. 769 da CLT,além de o agravo do processocomum ser incompatível com asnormas contidas no seu TítuloX, porquanto servível paraatacar decisões interlocutóriasque, no Processo do Trabalho,são irrecorríveis, como se vêdos arts. 522 do CPC e do § 1ºdo art. 893 da CLT. Por outrolado, a Lei n. 1.533/51, regedorado mandado de segurança, nãoprevê recurso para tal hipótese,circunstância que, em princípio,poderia autorizar a impetraçãode outro mandado desegurança, vedado, entretanto,pela OJ n. 140 da SBDI-II doTST. Registra-se que no casode competência origináriadeste Tribunal tem-se admitidocabimento de agravoregimental, com base no art.166, III, “b”, do RegimentoInterno, a despeito doentendimento consubstanciadona Súmula n. 622 do STF,expressa em contrário, e na OJn. 141 da SBDI-II do TST nosentido de que a concessão deliminar constitui faculdade dojuiz, no uso de seu poderdiscricionário e de cautela.

RELATÓRIO

Trata-se de agravo interposto àluz do § 1º do art. 557 do CPC, aplicávelao Processo Trabalhista, a teor do itemIII da IN 17/00 do TST e do art. 175 do

249

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

Regimento Interno deste Regional, que,adequando-o à sistemática aquireinante, alteraram o seu prazo de cincopara oito dias.

VOTO

Logo, o apelo é próprio,tempestivo e não sujeito a preparo.

Próprio, sim, porque ao agravode instrumento interposto da decisão dojuízo da 31ª Vara do Trabalho de BeloHorizonte, indeferidora de liminarrequerida em sede de mandado desegurança, neguei-lhe seguimento, combase no caput do art. 557 supra e noinciso IV do art. 95 do RegimentoInterno, fazendo-o pelas razõesexpostas à f. 247-v, de seguinte teor:

Em face da expressa previsãocontida no art. 897, “b”, da CLT,norma específica acerca do agravode instrumento no ProcessoTrabalhista, e considerando ostermos da OJ 141 da SBDI-II doTST no sentido de que aconcessão de liminar constituifaculdade do juiz, no uso de seupoder discricionário e de cautela,nego seguimento ao presenterecurso, com base no art. 557 doCPC, cujo texto encontra-serepetido no item IV do art. 95 doRegimento Interno deste Tribunal.

E nesta oportunidade ratifico oentendimento ali externado, uma vez queo agravo de instrumento trabalhista tem fimespecífico e restrito, afastando a aplicaçãodo CPC na espécie, à ausência de omissãoda CLT, além de o agravo de instrumentotratado no processo comum serincompatível com o Processo do Trabalho,na medida em que este não admiterecurso de decisões interlocutórias,consoante o § 1º do art. 893 da CLT.

Por outro lado, a Lei n. 1.533/51,regedora do mandado de segurança, nãoprevê o cabimento de recurso contra adecisão que concede ou denega liminar,por isso mesmo é que se aplica, noprocesso comum, a regra do art. 522 doCPC, expressa no sentido de que “Dasdecisões interlocutórias caberá agravo.”

Como referido agravo não cabenesta Justiça Especializada, a conclusãoé que, aqui, a decisão que concede oudenega a liminar é irrecorrível, não sendopassível nem mesmo de outro mandadode segurança, como está na OJ n. 140da SBDI-II do TST.

Diante disso, voto peloconhecimento e desprovimento doagravo, ressaltando que, embora oRegimento Interno determine a suaautuação e registro, entendi mais práticoautuá-lo e processá-lo nos própriosautos que lhe deram origem.

ISTO POSTO,

Conheço do agravo e nego-lheprovimento.

Fundamentos pelos quais,

O Tribunal Regional do Trabalhoda Terceira Região, em sessão ordináriada Quinta Turma, julgou o presenteprocesso e, preliminarmente, àunanimidade, conheceu do agravo; nomérito, por maioria de votos, negou-lheprovimento, vencido o Ex.mo Juiz LuizPhilippe Vieira de Mello Filho queentendia cabível mandado desegurança nestas hipóteses.

Belo Horizonte, 5 de julho de2005.

JOSÉ MURILO DE MORAISRelator

250

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

TRT-00006-2005-046-03-00-0-ROPubl. no “MG” de 14.07.2005

RECORRENTE: EMBRASIL -EMPRESA BRASILEIRADISTRIBUIDORA LTDA.

RECORRIDO: RUBEM AMARAL SOARES

EMENTA: LEGITIMIDADE ATIVA.R E P R E S E N T A Ç Ã OCOMERCIAL. Demonstrando osautos que o reclamante prestouserviços de representaçãocomercial por meio de pessoajurídica regularmenteconstituída e que efetivamentecelebrou o contrato derepresentação com a empresarepresentada, não tem elelegitimidade para postularindenizações previstas na Lei n.4.886/65 (Lei dos representantescomerciais autônomos) emrelação à representada. Mesmoconsiderando que, a partir daEmenda Constitucional n. 45/04,a Justiça do Trabalho passoua ser competente para julgarcontrovérsias de relação detrabalho de representantecomercial autônomo, essanova atribuição não alcançalitígios entre pessoasjurídicas, e, obviamente, nãolegitima que pessoa física, emnome próprio, pleiteie direitode outrem. Somente a empresarepresentante poderia pedireventuais direitos oriundos daruptura contratual, no juízocompetente.

Vistos, relatados e discutidos ospresentes autos de recurso ordinário,interposto de decisão proferida pelaVara do Trabalho de Almenara, em quefiguram, como recorrente, EMBRASIL -

EMPRESA BRASILEIRADISTRIBUIDORA LTDA. e, comorecorrido, RUBEM AMARAL SOARES.

RELATÓRIO

A Vara do Trabalho de Almenara,pela sentença de f. 272/278, julgouprocedente, em parte, a ação,condenando a reclamada a pagarindenização prevista nos arts. 27, “j”, e34 da Lei n. 4.886/65. Custas pela ré.

Embargos de declaraçãoopostos pela reclamada, f. 279/281,julgados improcedentes pela decisão def. 282/283.

Recorre a reclamada, f. 284/289,com a tese de que a prestação deserviços se deu através de pessoajurídica e que o autor não teria feitoprova da suposta ruptura contratual esua data. Custas e depósito recursalrecolhidos, f. 290/291.

Contra-razões pelo reclamante,f. 292/294.

Tudo visto e examinado.

VOTO

1. Admissibilidade

Preenchidos os pressupostosintrínsecos (cabimento, legitimação pararecorrer, interesse em recorrer einexistência de fato impeditivo ouextintivo ao poder de recorrer) eextrínsecos (tempestividade,regularidade formal e quitação dascustas e depósito recursal), conheço dorecurso.

2. Mérito

2.1. Ilegitimidade ativa

Ainda que sem honras depreliminar, a reclamada afirma que o

251

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

reclamante não lhe prestou serviços deforma direta, mas através da empresaAguiar e Soares Ltda., o que, em últimaanálise, indica ausência de legitimidadepara pleitear indenização pela rupturacontratual havida entre as duassociedades. De toda forma, tratando-sede matéria à qual cabe ao juiz conhecerde ofício em qualquer tempo e grau dejurisdição (§ 3º do art. 267 do CPC),passo à análise da legitimidade do autorquanto aos pedidos formulados no item09 da inicial.

A sentença admitiu que aprestação de serviços sempre se deupela pessoa física do reclamante e nãoatravés da empresa Aguiar e SoaresLtda.

Todavia, o documento de f. 247/254 demonstra que em 14.jun.1996 foicelebrado contrato de representaçãocomercial entre a Socol SociedadeComercial Magalhães e BoaventuraLtda. (representada) e Aguiar e SoaresRep. Ltda., presente por sua sócia MariaLúcia Aguiar Soares. Esclareça-se quea empresa Socol foi incorporada pelaré, tendo sido contra aquela que oreclamante dirigiu inicialmente a ação.

Os documentos de f. 242/246demonstram que a Aguiar e SoaresRepresentações Ltda. foi regularmenteconstituída em 25.set.1995, tendo comosócias as Sras Maria Lúcia A. Soares eMaria Ferreira Aguiar, figurando oreclamante como procurador (f. 256).

O próprio reclamante admite aconstituição da empresa, emboraalegue que tal se deu por solicitação daré (f. 264).

Em princípio, o contrato civilentre pessoas jurídicas para a prestaçãode serviços não é vedado noordenamento jurídico pátrio. O contratocelebrado às f. 247/254 nada tem deirregular, estabelecendo relação lícita derepresentação comercial.

Ainda que apenas o reclamanteexercesse a representação comercialperante a reclamada, conformedemonstrado pelo depoimento datestemunha Luiz Carlos de Matos, aprestação de serviços sempre se deuatravés da empresa Aguiar e SoaresRepresentações Ltda. Não vejoirregularidade em a representantedesignar uma única pessoa paraexercer as atividades inerentes àrepresentação de determinadaempresa. A existência de um únicopreposto exercendo as atividades derepresentação perante a empresarepresentada não desconfigura ocontrato livremente celebrado.

O interstício entre a data dacriação da empresa Aguiar e Soares(25.set.1995) e a efetivação do contratocom a ré (14.jun.1996) torna poucocrível a alegação de que a constituiçãodaquela se deu a pedido da ré. Mesmoque assim fosse, tal circunstância nãoafasta a licitude do contrato celebrado.Não se está aqui diante de possívelfraude a direitos celetistas, uma vez quea hipótese de relação de emprego já foiafastada em primeiro grau, seminsurgência do reclamante. Não háindício de vício de vontade, seja emrelação ao autor, seja em relação à suaesposa, que figura como sócia daempresa representante.

É igualmente lícito o exercício derepresentação comercial por pessoafísica ou jurídica (art. 1º da Lei n. 4.886/65). A modificação da forma derepresentação não permite verificarqualquer prejuízo ao representante,suficiente para desconstituir a validadede contrato regularmente celebrado.

Destarte, é irrelevante que oreclamante tenha prestado serviçosdiretamente à reclamada antes dacelebração do contrato derepresentação. O exercício da

252

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.40, n.70 (supl. esp.), p.229-252, jan./jun.2004

representação comercial através depessoa jurídica, ainda que emmodificação a situação pretérita, nãorepresentou fraude, como dito em linhastransatas.

É preciso ressaltar que nasrelações de trabalho em sentido lato,cuja competência foi abrangida por estaEspecializada após a EmendaConstitucional n. 45/04, não se estádiante do nítido desequilíbrio entre aspartes, como ocorre na relação deemprego. Em relações como a que seanalisa, fruto de representaçãocomercial, e que pode ser travada atémesmo entre duas empresas, acaracterização da fraude não prescindede demonstração cabal, especialmentedo prejuízo havido.

Como o pedido de indenizaçãose funda na suposta ruptura contratualhavida em outubro de 2003, oreclamante não é parte legítima paradeduzi-lo em juízo, pois postula emnome próprio direito da empresa Aguiare Soares Representações Ltda. Arelação de representação comercialsupostamente extinta em 2003 se deuentre a reclamada e a sociedade acimacitada. Somente esta poderia pedireventuais direitos oriundos da rupturacontratual, no juízo competente.

Provejo o recurso para extinguir,sem julgamento de mérito, os pedidosde indenização prevista na Lei n. 4.886/65, nos termos do inciso VI do art. 267do CPC e, em conseqüência, absolvera reclamada da condenação, invertidosos ônus da sucumbência; custas peloreclamante, isento.

3. Conclusão

O TRIBUNAL REGIONAL DOTRABALHO DA TERCEIRA REGIÃO,por sua Sexta Turma, à vista do contidona certidão de julgamento (f. retro),

preliminarmente, à unanimidade,conheceu do recurso; no mérito, semdivergência, deu-lhe provimento parareconhecer a ilegitimidade ativa doreclamante em relação aos pedidos deindenizações previstas na Lei n. 4.886/65, extinguindo o processo, quanto aeles, sem julgamento de mérito, nostermos do inciso VI do art. 267 do CPCe, em conseqüência, absolver areclamada da condenação, invertidos osônus da sucumbência; custas peloreclamante, isento.

Belo Horizonte, 04 de julho de2005.

RICARDO ANTÔNIO MOHALLEMPresidente e Relator