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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS O Ministério Público do Estado de São Paulo por este subscritor, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, assistindo o interesse do adolescente D. G. S. , filho de D. L. S. e S. G. S., nascido em / /1995, natural de São José dos Campos, com fundamento nos artigos 196 e 227, ambos da Constituição Federal; no artigo 18, incisos I e V, da Lei n.º 8.080/90; e nos artigos 4.º, 11 e 19, todos da Lei n.º 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, PARA CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA em face da Prefeitura de São José dos Campos , pessoa jurídica de direito público interno, com domicilio na Rua José de Alencar, n.º 123, Vila Santa Luzia, neste Município e Comarca de São José dos Campos, representada pelo Excelentíssimo Senhor Prefeito Eduardo Pedrosa Cury.

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EXCELENTSSIMA SENHORA DOUTORA JUZA DE DIREITO DA VARA DA INFNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DE DIADEMA - SP

EXCELENTSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA INFNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DE SO JOS DOS CAMPOS

O Ministrio Pblico do Estado de So Paulo por este subscritor, vem respeitosamente presena de Vossa Excelncia, assistindo o interesse do adolescente D. G. S., filho de D. L. S. e S. G. S., nascido em / /1995, natural de So Jos dos Campos, com fundamento nos artigos 196 e 227, ambos da Constituio Federal; no artigo 18, incisos I e V, da Lei n. 8.080/90; e nos artigos 4., 11 e 19, todos da Lei n. 8.069/90 (Estatuto da Criana e do Adolescente), propor a presenteAO CIVIL PBLICA, PARA CUMPRIMENTO DE OBRIGAO DE FAZER, COM PEDIDO DE ANTECIPAO DOS EFEITOS DA TUTELA

em face da Prefeitura de So Jos dos Campos, pessoa jurdica de direito pblico interno, com domicilio na Rua Jos de Alencar, n. 123, Vila Santa Luzia, neste Municpio e Comarca de So Jos dos Campos, representada pelo Excelentssimo Senhor Prefeito Eduardo Pedrosa Cury.1. DOS FATOS

1.1 Segundo documentao encaminhada em 19.03.2010 Promotoria de Justia da Infncia e da Juventude pela Coordenadoria da Enfermaria do Departamento de Pediatria do Hospital Municipal Dr. Jos de Carvalho Florence, o adolescente D. G. S., portador de encefalopatia crnica no progressiva secundria a anoxia perinatal grave e seqela de acidente vascular cerebral, deu entrada naquele nosocmio em 01.09.2008, com pneumonia grave. De acordo com os referidos papis, o jovem foi submetido a entubao orotraqueal e transferido para a UTI peditrica, devido a insuficincia respiratria aguda grave. Conforme o apontado relato, aps 01 ano e 29 dias, em 29.09.2009, o paciente deixou o setor de terapia intensiva e foi removido para a enfermaria peditrica. Mencionou-se, no entanto, que, apesar da remoo, D. no se desvencilhou da necessidade do uso de equipamento de ventilao mecnica.

Em resumo, o parecer mdico encaminhado ao Ministrio Pblico aponta, em relao ao assistido:

Diagnstico Nuclear:

- Encefalopatia crnica no progressiva.

Diagnsticos Satlites:

- Seqela neurolgica de acidente vascular isqumico.

- Epilepsia sintomtica.

- Tetraplegia Espstica.

- Deformidade da coluna vertebral - vcio de postura.

Diagnstico relacionado internao atual:

- Insuficincia respiratria aguda grave, que evoluiu para insuficincia respiratria crnica, o que faz com que o adolescente necessite atualmente de ventilao mecnica.

Tratamento preconizado a longo prazo:

- Manter o uso de medicao antiepiltica.

- Solicitar, a cada 06 meses, exames sricos de controle de distrbios metablicos secundrios ao uso de medicao antiepiltica, bem como os nveis sricos de medicao antiepiltica.

- Acompanhamento de equipe multidisciplinar: Fonoaudilogo

Fisioterapeuta (respiratrio e motor)

Pediatra

Neurologista Clnico

Dentista

Psiclogo

Dispositivos invasivos:

- Gastrostomia

- Traqueostomia

Concluindo o parecer mdico, a representante do Departamento de Pediatria do Estabelecimento Hospitalar em que D. encontrava-se internado avaliou favoravelmente quanto possibilidade de ser o adolescente encaminhado a internao domiciliar - comumente denominada home care, evidenciando-se o CID G93.1 (Leso enceflica anxica).

Concomitantemente, apresentou-se oramento detalhando os valores referentes internao domiciliar pretendida pelo departamento de pediatria.

1.2 Diante da comunicao feita pelo rgo subordinado Secretaria de Sade deste Municpio, a Promotoria de Justia da Infncia e da Juventude de So Jos dos Campos, em 03.05.2010, enviou ofcio solicitando ao ento Secretrio de Sade do Municpio os bons prstimos de incluir o adolescente em programa de internao domiciliar.

1.3 Em resposta sobredita solicitao, o ento Secretrio-Adjunto de Sade, em 12.08.2010, informou que, to logo D. recebesse alta hospitalar, seria acompanhado pelo PHD (Programa de Hospitalizao Domiciliar), ressalvando que o adolescente somente no foi inserido no aludido programa devido sua necessidade de ventilao mecnica, nada objetando quanto s demais necessidades do paciente.

1.4 A Promotoria de Justia da Infncia e da Juventude notificou a me de D. para que providenciasse o fornecimento de home care para seu filho.

1.5 A senhora S. compareceu no Ministrio Pblico munida de Relatrio Mdico para solicitao de home care, datado de 30.09.2010, em que mdica do Hospital Municipal Dr. Jos de Carvalho Florence taxativamente aponta D. como portador de condio prioritria para internao domiciliar.

1.6 Diante do novo relatrio mdico, a Promotoria de Justia da Infncia e da Juventude de So Jos dos Campos, em 19.10.2010, enviou ofcio novamente solicitando ao ento Secretrio de Sade do Municpio os bons prstimos de, no prazo de 10 dias, incluir o adolescente em programa de internao domiciliar.

1.7 O ento Secretrio de Sade de So Jos dos Campos, em resposta referida solicitao, em 14.12.2010, informou quanto impossibilidade de atendimento quanto ao solicitado, esclarecendo que o Programa de Hospitalizao Domiciliar no dispe de equipamento de ventilao mecnica. Afirmou, ainda, que, em face do que dispem os critrios para incluso de paciente em sistema de internao domiciliar, preconizados no manual SEIS - Diretrizes para Regulamentao da rea de Servios Extra Institucional de Sade no Brasil, haveria a necessidade de mobilizao diuturna de profissional de enfermagem junto ao paciente, o que escaparia do protocolo do PHD.

1.8 A Promotoria de Justia da Infncia e da Juventude de So Jos dos Campos, em 24.11.2011, enviou ofcio novamente solicitando ao ento Secretrio de Sade do Municpio os bons prstimos de, no prazo de 10 dias, incluir o adolescente em programa de internao domiciliar.

1.9 Em resposta ltima solicitao, o atual Secretrio de Sade, em 22.12.2011, colacionou relatrio mdico em que se atesta a condio de estabilidade clnica de D. Alm disso, fez juntar Relatrio Informativo oriundo da Secretaria de Desenvolvimento Social da Prefeitura de So Jos dos Campos, em que se sugere que a Secretaria de Sade deste Municpio fornea o equipamento mdico (ventilador mecnico), imprescindvel sade do jovem e necessrio a seu retorno ao convvio familiar.

1.9.1 Na referida comunicao, revela-se que a famlia de D. atendida pelos seguintes programas de auxlio social e complementao de renda: SOSAM, BPC, Bolsa Famlia, Programa Municipal de Renda Mnima.

1.10 A Promotoria de Justia da Infncia e da Juventude de So Jos dos Campos, em 20.01.2012, enviou ofcio ao Hospital Municipal Dr. Jos de Carvalho Florence, solicitando informes atualizados quanto ao estado clnico ao atual estado clnico do adolescente.

1.11 Em resposta, a Coordenadoria da Enfermaria do Departamento de Pediatria atestou que D. encontra-se sem intercorrncias graves, aguardando home care.

1.11.1 A equipe mdica atestou que o jovem vem recebendo dieta Fibersorcer, vitaminas e sintomticos por gastrostomia, alm de respirao mecnica por traqueostomia.2. DAS CONSIDERAES

2.1 D., jovem tetraplgico com severas limitaes neurocognitivas e motoras, internado h cerca de trs anos e meio, est h quase dois anos entrevado em um leito hospitalar, inerte, espera de providncias que possibilitem seu retorno para casa.

2.1.1 Tal perodo j representa mais da metade da adolescncia do garoto.

2.1.2 A indicao de internao domiciliar lastreia-se em sucessivos pareceres emitidos pela equipe mdica que o acompanha h longo tempo (Departamento de Pediatria do Hospital Municipal de So Jos dos Campos).

2.2 Durante o referido lapso, o Municpio, tambm inerte, demonstrou no ter inteno em providenciar o faltante a concretizar a internao domiciliar de D.

2.3 A famlia de D. pobre, acompanhada e atendida h tempos pela Rede de Proteo Social do Municpio.

2.3.1 Apesar disso, seus pais possuem moradia em condies dignas, apta a receber e acolher o jovem D.

2.3.2 Os parentes do adolescente, em momento algum do calvrio por que vem ele passando, deixaram-no, demonstrando que so, sim, uma famlia, na mais pura acepo.

2.3.3 O regime de visitas hospitalares impe, h anos, severo sacrifcio aos irmos de D., que, assim como ele, tambm so adolescentes e, para manterem limitadssimo convvio com o paciente, tem que se deslocar, com freqncia, ao hospital em que o irmo est internado.

2.4 A Municipalidade reconhece sua natural obrigao de propiciar, em carter universal, a internao domiciliar de pacientes joseeses, tanto assim que tem devidamente estruturado propalado Programa de Hospitalizao Domiciliar.

2.5 D. j possui mobilizado exclusivamente em seu favor o equipamento de ventilao mecnica, cuja impossibilidade de fornecimento argida pela Municipalidade como bice ao atendimento da demanda sob exposio. Em outras palavras, o Municpio j disponibiliza a ventilao mecnica a D., s no o faz sob a rubrica de hospitalizao domiciliar, o que, por si, no bice a que no possa passar a faz-lo. O referido equipamento, enquanto utilizado por D., no ter utilidade a qualquer outra pessoa, j que seu emprego absolutamente individual. Em caso de no aquisio de novo ventilador mecnico, cumpre to somente Municipalidade desafetar o aparelho usado por D. de um para outro de seus servios de sade.

2.6 D. est h bastante tempo ocupando um leito de enfermaria peditrica, que poderia estar sendo utilizado por outra criana ou adolescente deste Municpio.

2.7 irrefutvel que o convvio familiar pleno (at ento privado a D.) s trar benefcios ao adolescente.

2.8 So Jos dos Campos est entre os municpios mais ricos de nosso pas e deve assumir os nus e bnus de tal condio.3. DO DIREITO

3.1 Como adolescente, D. est amparado pelo Estatuto da Criana e do Adolescente.

Assim, aplicam-se a este jovem joseense os artigos 4., 11 e 19 do mencionado diploma, a saber:

Art. 4. dever da famlia, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Pblico assegurar, com absoluta prioridade, a efetivao dos direitos referentes vida, sade, alimentao, educao, ao esporte, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria. ()() Art. 11. assegurado atendimento mdico criana e ao adolescente, atravs do Sistema nico de Sade, garantido o acesso universal e igualitrio s aes e servios para promoo, proteo e recuperao da sade.

1. A criana e o adolescente portadores de deficincia recebero atendimento especializado.

2. Incumbe ao Poder Pblico fornecer gratuitamente queles que necessitarem os medicamentos, prteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitao ou reabilitao. ()() Art. 19. Toda criana ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua famlia () (destaques nossos)

3.2 No caso vertente, a responsabilidade do Municpio de So Jos dos Campos est, ainda, lastreada na Lei n. 8.080/90, que disciplina em seu artigo 18:

Art. 18. direo municipal do Sistema de Sade (SUS) compete:

I - planejar, organizar, controlar e avaliar as aes e os servios de sade e gerir e executar os servios pblicos de sade; (...)V - dar execuo, no mbito municipal, poltica de insumos e equipamentos para a sade;

Obviamente os ditames das Lei n. 8.069/90 e 8.080/90 encontram arcabouo na Constituio Federal.

"Art. 196. A sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao. (destaque nosso)Art. 227. dever da famlia, da sociedade e do Estado assegurar criana, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito vida, sade, alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria, alm de coloc-los a salvo de toda forma de negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso. 1 O Estado promover programas de assistncia integral sade da criana, do adolescente ():

Assim, a violao do direito do jovem D sade, direito esse de ndole constitucional e infra-constitucional, flagrante.

Ao refundarem a Repblica Federativa do Brasil em 1988, nossos Constituintes elencaram a cidadania e a dignidade da pessoa humana como fundamentos da democracia a ser instalada. Arrolaram como objetivos fundamentais da nova Repblica: a construo de uma sociedade livre, justa e solidria; a garantia do desenvolvimento nacional; a erradicao da pobreza e da marginalizao; a reduo das desigualdades sociais e regionais; e, ainda, a promoo do bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao.

Ora, aqueles que se propem a cumprir estes objetivos, com tais princpios, devem criar as condies que permitam e favoream o desenvolvimento integral da pessoa, portanto, a viabilidade da vida, que implica, dentre outras coisas, a promoo, a defesa e a recuperao da sade individual e coletiva.

Por tal razo, tanto a infncia e juventude como a sade mereceram tratamento especial na Constituio Federal, com sees prprias e notada nfase no acesso universal e igualitrio s aes e servios, aliada prioridade decorrente da peculiar condio de pessoas em desenvolvimento que so todas as crianas e adolescentes .

Sob esse aspecto, oportuno o trecho de acrdo do E. Supremo Tribunal Federal, no Recurso Especial n. 267.612RS, de que foi relator o Ilustre Ministro CELSO DE MELLO:

Nesse contexto, incide, sobre o Poder Pblico, a gravssima obrigao de tornar efetivas as prestaes de sade, incumbindose promover, em favor das pessoas e das comunidades, medidas preventivas e de recuperao que, fundadas em polticas pblicas idneas, tenham por finalidade viabilizar e dar concreo ao que prescreve, em seu art. 196, a Constituio da Repblica.

O sentido de fundamentalidade do direito sade que representa, no contexto da evoluo histrica dos direitos bsicos da pessoa humana, uma das expresses mais relevantes das liberdades reais ou concretas impe ao Poder Pblico um dever de prestao positiva que somente se ter por cumprido pelas instncias governamentais, quando estas adotarem providncias destinadas a promover, em plenitude, a satisfao efetiva da determinao ordenada pelo texto institucional.

Vse, desse modo, que, mais do que a simples positivao dos direitos sociais que traduz estgio necessrio ao processo de sua afirmao constitucional e que atua como pressuposto indispensvel sua eficcia jurdica (JOS AFONSO DA SIL VA, "Poder Constituinte e Poder Popular", p. 199, itens ns. 20121, 2000, Malheiros) recai, sobre o Estado, inafastvel vnculo institucional consistente em conferir real efetividade a tais prerrogativas bsicas, em ordem a permitir, s pessoas tios casos de injustificvel inadimplemento da obrigao estatal, que tenham elas acesso a um sistema organizado de garantias instrumentalmente vinculado realizao, por parte das entidades governamentais, da tarefa que lhes imps a prpria Constituio.

Mostrase, portanto, inequvoca a existncia de competncia do requerido no fornecimento da medicao, servio e equipamento de que trata o caso em tela, por imposio constitucional e legal.

Por fim, importa ressaltar que a Lei n. 8.069/90, em seu artigo 19, prev ser direito subjetivo de toda criana e de todo adolescente o direito de ser criado e educado no seio de sua famlia.

Busca a famlia de D. poder voltar para casa com ente querido e ali dele cuidar da melhor forma possvel. O Direito ampara, com segurana e suficincia, essa nobre pretenso, cabendo ao Judicirio reconhec-la.4. DA ANTECIPAO DA TUTELA

Est patente, no caso em julgamento, que o adolescente D. G. S., atualmente com 16 (dezesseis) anos de idade, necessita, urgentemente, da medicao, equipamentos e servios, de uso contnuo e domiciliar, descritos nos documentos mdicos que instruem esta inicial. A urgncia evidente quando se constata que a criana j recebeu alta mdica h quase dois anos e, em ambiente hospitalar, encontra-se em permanente situao de risco para sua vida e sade, propenso a infeces e contaminaes tpicas em ambientes como o que hora se encontra.

Ademais, como j expendido, cada dia ou semana, durante a adolescncia, equivale a parcela temporal relativamente substancial, considerado o carter efmero de tal fase da vida, especialmente quando, para o jovem, tal transcorrer se d longe de sua famlia.

Impese, diante do que foi exposto, a concesso da tutela antecipada, como forma de se evitar a ocorrncia de prejuzo maior para o adolescente, restando patentes, nesse particular, os requisitos relativos ao fumus boni iuris e o periculum in mora.

No que tange ao primeiro pressuposto, pelos documentos que instruem a inicial e pela legislao mencionada, constatase que existe no s a aparncia do bom direito, mas sim, prova inequvoca dos fatos aqui articulados e do direito a ser amparado. Buscase com a presente ao garantir a efetividade do comando constitucional e estatutrio no que diz respeito vida, sade e convivncia familiar do adolescente.

Quanto ao segundo requisito, qual seja, o risco de dano irreparvel ou de difcil reparao em caso de demora na prestao jurisdicional, restou igualmente demonstrado, pois a falta do tratamento domiciliar devidamente ministrado por profissionais de sade habilitados e dotado do devido equipamento comprometer o desenvolvimento do adolescente que necessita amadurecer inserido no ambiente familiar, a fim de que possa desenvolver com plenitude as suas potencialidades.

Assim, uma vez satisfeitos os requisitos legais, tornase imprescindvel a concesso da antecipao de tutela pleiteada. Somente uma pronta resposta do Poder Judicirio, consistente na determinao da imediata aquisio e fornecimento dos referidos equipamentos, servios e medicao, poder impedir que seja violado o direito fundamental vida, sade e convivncia familiar de D. Tal providncia no pode e no deve aguardar o julgamento final do feito, sob pena do provimento jurisdicional tornarse imprestvel.

Cumpre notar que no h se falar em necessidade de aplicao da regra traada pelo artigo 2. da Lei n 8.437/92.

O prprio ttulo da Lei n 8.437/92 - "Dispe sobre a concesso de medidas cautelares contra atos do Poder Pblico e d outras providncias - j espanca eventual alegao neste sentido.

Basta o mnimo esforo exegtico para concluir que a audincia do representante legal da pessoa jurdica de direito pblico, no prazo de 72 horas, exigida apenas no caso de CAUTELARES, o que no ocorre na presente demanda, em que a liminar est sendo requerida NO BOJO DA AO PRINCIPAL.

Em sntese, se no h cautelar, no h falar na incidncia da Lei n 8.437/92.

Mesmo que assim no fosse, no se busca oposio contra "atos do Poder Pblico", como dispe a Lei n. 8.437/92, mas sim combater sua omisso.

Ademais, a presente ao busca tutelar direito pblico subjetivo sade de paciente menor de idade que, h anos, permanece internado em hospital. A urgncia da prestao jurisdicional , portanto, inequvoca e no autoriza a utilizao de instrumentos e interpretaes jurdicas de cunho meramente protelatrio que apenas provocam o retardamento da efetivao de um direito tutelado por normas constitucionais e legais.

No sentido da liminar que se pleiteia, o Exmo. Sr. Desembargador da Cmara Especial do Tribunal de Justia do Estado de So Paulo, Dr. Roberto Solimene, em processo congnere ao que ora se intenta, ao apreciar Agravo de Instrumento interposto contra cumprimento de sentena definitiva concessiva de tutela idntica do caso ora telado, foi peremptrio ao afastar os argumentos expendidos pela Municipalidade de Itanham (Proc. 0278139-02.2011.8.26.0000 - 3. Vara Judicial de Itanham).

Pelo exposto, o Ministrio Pblico do Estado de So Paulo requer a Vossa Excelncia que seja deferido o pedido de antecipao dos efeitos da tutela para determinar ao Municpio de So Jos dos Campos a aquisio e o fornecimento, ao adolescente D. G. S., de modo contnuo, enquanto perdurar o tratamento, em atendimento domiciliar, a medicao, insumos, servios e equipamentos necessrios plena consecuo de suas necessidades mdicas, abaixo relacionados, no prazo de 05 (cinco) dias, sob pena de fixao de pena de multa diria, no valor equivalente a R$ 1.000,00 (mil reais), pelo no cumprimento da obrigao, sem prejuzo de caracterizao de crime de desobedincia:

- Manter o uso de medicao antiepiltica.

- Solicitar, a cada 06 meses, exames sricos de controle de distrbios metablicos secundrios ao uso de medicao antiepiltica, bem como os nveis sricos de medicao antiepiltica.

- Dieta Fibersorcer

- Acompanhamento de equipe multidisciplinar:

Fonoaudilogo

Fisioterapeuta (respiratrio e motor)

Pediatra

Neurologista Clnico

Dentista

Psiclogo Auxiliar e Supervisor de Enfermagem

Equipamento: gua de injeo 10 ml - 02 ampolas/ms.

gua deionizada 1000 ml - 03 litros/semana. lcool 70% 1 litro/ms Cnula metlica p/ traqueostomia n. 5 curta - 1 unid./ms Cloreto de Sdio 0,9 % 10 ml - 8 ampolas/dia. Clorexidina alcolica 1000 ml 1 litro/ms. Compressa 7,5 x 7,5 cm - 7 unid./dia. Equipo 2 vias poliflex - 1 unid./ 72 h. Equipo macro gotas - 1 unid./dia. Fita Hipoalrgica micropore 100 mm x 10 m - 1 rolo/ 15d. Fixador para cnula traqueostomia adult. - 1 unid./ quinzena Frasco para nutrio 300 ml - 2 unid./48 h Hipoclorito de sdio 1% 1000 ml - 1 l / 15 d. Luva cirrgica n. 8 estril 3 unid. Ms. Luva de ltex p/ procedimento 1 cx / semana Luva plstica para procedimento desc. estril - 02 pcts./semana. Seringa descartvel s/ ag 10 cc - 2 unid./quinzena. Seringa descartvel s/ ag 20 cc - 2 unid./dia. Sonda de aspirao n. 10 - 15 unid./dia. Sonda Foley n. 22 01 unid. / quinzena.

Xylestesin 2% gel 01 tubo ms.

Aspirador Mster.

Base Umidificadora.

Bipap.

Cilindro de oxignio 7m3.

Concentrador de oxignio para macronebulizao.

Kit acessrios para macronebulizao (cobrana 1x).

No break.

Oximetro eltrico.

Suporte de soro.

Cilindro de oxignio.

Equipamento de ventilao mecnica.

Dispositivos invasivos:

- Gastrostomia

- Traqueostomia

5. DO PEDIDO

Diante de todo o exposto e do constante da documentao inclusa, que desta petio faz parte integrante, REQUER o Ministrio Pblico do Estado de So Paulo:

I - a procedncia da presente ao civil pblica, condenando-se o Municpio de So Jos dos Campos a que:- adote em definitivo o procedimento cuja imposio foi objeto de pedido liminar, sob pena de responder por multa diria, nos moldes j referidos;- se submeta ao pagamento das custas, emolumentos, encargos e demais despesas processuais, inclusive eventuais percias requeridas no curso do processo;

II - a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos ao Ministrio Pblico, vista do disposto no artigo 18 da Lei n. 7.347/85 e artigo 87 da Lei n. 8.078/90;

III - sejam as intimaes do autor feitas pessoalmente, mediante entrega dos autos no Gabinete da 15. Promotoria de Justia de So Jos dos Campos, com atribuio para Defesa dos Direitos da Infncia e da Juventude.

IV - Requer-se, ainda, a citao do demandado, nas pessoas do Excelentssimo Senhor Prefeito Municipal para, querendo, no prazo legal, responder a presente ao, sob pena de revelia e confisso.

Protesta, por fim, caso necessrio, pela produo de todos os meios de prova admitidos em Direito, em especial juntada de novos documentos, percia e prova testemunhal.

D-se causa, para fins meramente fiscais, o valor de R$ 1.000,00 (mil reais).

So Jos dos Campos, 25 de janeiro de 2012.

JOO MARCOS COSTA DE PAIVA

Promotora de Justia