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QUATRO AMIGOS, TRÊS PARTIDOS GERAÇÃO SUB-30. AMIZADES À PROVA DE DIFERENÇAS POLÍTICAS São a nova geração que se está a afirmar no PS, PSD e CDS. Mas antes estiveram juntos no associativismo estudantil. E a ligação ainda resiste. Por Margarida Davim Acrescer Com Francisco, a JP passou de 17 mil para 22 mil filiados. A maior Jota é a JS com 31 mil. a JSD tem 30 mil militantes ESTIVERAM TODOS [UNTOS CONTRA AS MUDANÇAS NAS REGRAS DAS BOLSAS NO TEMPO DE MARIANO GAGO Margarida, Francisco e Pedro estavam juntos no dia em que a Facul- dade de Direito de Lis- boa foi fechada a cadeado em pro- testo contra as mudanças nas re- gras da atribuição de bolsas impos- tas pelo ministro Mariano Gago. Eram três amigos e dirigentes asso- ciativos do mesmo lado de uma luta estudantil que também mobili zava Ivan, que era então presidente da Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico. Neste grupo de universitários estavam aqueles que são hoje os protago- nistas sub-30 da política nacional. E que, apesar de todas as diferen- ças, continuam amigos. Quase 10 anos depois. Margarida Balseiro Lopes é líder da JSD, Fran- cisco Rodrigues dos Santos lidera a Juventude Popular, Pedro Costa é autarca numa junta de freguesia do PS e Ivan Gonçalves é o secretário- -geral da JS. Todos estão na política para ficar e Margarida e Ivan até

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QUATROAMIGOS,

TRÊSPARTIDOS

GERAÇÃO SUB-30. AMIZADES À PROVA DE DIFERENÇAS POLÍTICAS

São a nova geração que se está a afirmar no

PS, PSD e CDS. Mas antes estiveram juntosno associativismo estudantil. E a ligação

ainda resiste. Por Margarida Davim

AcrescerCom Francisco,

a JP passoude 17 mil para22 mil filiados.A maior Jota é

a JS com 31 mil.

a JSD tem 30mil militantes

ESTIVERAMTODOS[UNTOS

CONTRA AS

MUDANÇASNAS REGRASDAS BOLSASNO TEMPO

DE MARIANOGAGO

Margarida,

Francisco e

Pedro estavam juntosno dia em que a Facul-dade de Direito de Lis-

boa foi fechada a cadeado em pro-testo contra as mudanças nas re-gras da atribuição de bolsas impos-tas pelo ministro Mariano Gago.Eram três amigos e dirigentes asso-ciativos do mesmo lado de umaluta estudantil que também mobilizava Ivan, que era então presidenteda Associação de Estudantes do

Instituto Superior Técnico. Neste

grupo de universitários estavam

aqueles que são hoje os protago-nistas sub-30 da política nacional.E que, apesar de todas as diferen-

ças, continuam amigos.Quase 10 anos depois. Margarida

Balseiro Lopes é líder da JSD, Fran-cisco Rodrigues dos Santos lidera a

Juventude Popular, Pedro Costa é

autarca numa junta de freguesia doPS e Ivan Gonçalves é o secretário-

-geral da JS. Todos estão na políticapara ficar e Margarida e Ivan até já

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são deputados, pelo que não é difí-cil adivinhar que se continuem acruzar na vida partidária, sempreem lados diferentes da barricada

ideológica. Mas todos asseguramque as diferenças não impedem a

amizade. E há episódios que pro-vam que um socialista pode até

ajudar um centrista a tirar uma dú

vida sobre os parceiros de coliga-ção do PSD.

Foi o que aconteceu em 2013

quando Francisco Rodrigues dos

Santos era candidato à junta de

Carnide, em Lisboa, numa coliga-ção com o PSD. Depois de umanoitada que acabou em casa de Pe-dro Costa, o centrista convenceu o

socialista a percorrer a freguesia a

que se estava a candidatar para verse os parceiros de coligação tinhammesmo posto o único cartaz com asua cara que estava previsto. "An-dámos horas às voltas", recordaPedro. "Não descobrimos o cartaz,

porque estava no meio de um bair-ro social, o Padre Cruz, que foi o

único sítio aonde não fomos", con-ta Francisco.

A história é só mais uma de mui-tas as que unem o líder da Juventu-de Popular e o filho do primeiro--ministro. "Eu e o Francisco somosmuito amigos mesmo, é um dos

meus melhores amigos", confessaPedro Costa. "Ficámos amigos ape-

sar da política", concorda Francisco

Rodrigues dos Santos, que se re-corda de uma brincadeira que fa-ziam no bar da Faculdade. "Simu-lávamos sessões da Assembleia da

República", lembra o centrista, quetinha debates com os socialistasPedro Costa e Pedro Saraiva, hojeassessor de Fernando Medina naCâmara de Lisboa, mas tambémcom outros colegas. "Lembro-mede que havia um miúdo do PCP. E

nós tentávamos imitar os tons de

vozes e o formalismo. O conteúdodo debate era sério, mas nós ría-mo-nos multo."

O ambiente altamente politizadoda Faculdade de Direito de Lisboaé, de resto, apontado por Francisco,Pedro e Margarida como responsá-vel pelo seu despertar para a políti-ca. Mas nas lutas para a associaçãoacadémica, as cores partidáriasficavam de fora, pelo menos paraestes três. "Fiz parte de uma direc

ção que era encabeçada por um

independente, tinha um vogal queera do BE, um vice-presidente queera do PS e eu era do PSD e nãohavia problema nenhum", relata

Margarida Balseiro Lopes.

OFrancisco Rodrigues

dos SantosO líder da Juventude Popularera ala-direito na equipa de

futebol da Faculdade

©Margarida Balseiro

LopesA líder da JSD era tesoureira

na associação académica

ePedro Costa

Ao vogal da Junta de Campode Ourique ainda falta umacadeira para acabar o curso

FamíliasO avô de Fran-

cisco era autar-ca do PSD, o

irmão de Marga-rida é dirigente

local do PS, o pai

de Pedro é pri-meiro-ministro

PEDRO E

FRANCISCOÉRAMOS

MAIS POPU-LARES NA

FACULDADEDE DIREITO,MARGARIDA,

AMAISAPLICADA

Chocolate e políticaEste ambiente sem tensões entre asdiferentes facções foi mesmo res-

ponsável pela aproximação de

Francisco Rodrigues dos Santos ePedro Costa. "Conhecemo-nos porcausa de um bolo de chocolate",revela Pedro. Francisco tinha feito

brigadeiros para distribuir peloscolegas numa acção de campanhapara a sua lista. "Passei a noite todaa enrolar brigadeiros." De manhã,achou por bem ir dar um a um co-lega que estava na altura numa lis-ta adversária - mais tarde estariamna mesma lista. Pedro aceitou e foiaí que conversaram pela primeiravez. "E o bolo estava muito bom",

garante o socialista entre risos.

Dessa vez, a massa dos brigadei-ros tinha sido feita por aquela quena altura era a namorada de Fran-cisco, mas por várias vezes foi o

agora líder da Juventude Popular afazer o Jantar do vogal socialista da

Junta de Campo de Ourique. "Jan-távamos muitas vezes em casa O

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O dele e era ele que fazia o jantar.Entre nós os dois só podia ser ele.

porque eu sou muito mau", confes-sa Pedro Costa.

Francisco c conservador e do

Sporting, Pedro é liberal e do Ben-fica, mas ambos eram muito popu-lares na Faculdade. "Afirmei me naFaculdade não com a muleta da Jo-ta [só iria para a JP mais tarde], mas

pelas interacções sociais. Fui ga-nhando protagonismo. Era um fe-nómeno carismático", declaraFrancisco, que se lembra de PedroCosta também ter muitos amigos.

"O Pedro é muito simpático, mui-to extrovertido, é muito fácil al-guém dar-se bem com ele", dizBalseiro Lopes. Ivan Gonçalves quesó conheceu Francisco já como lí-der da Jota, também lhe reconhecea simpatia. "Lu e o Francisco so-mos amigos. Cada um defende as

suas ideias e as suas estruturas,mas isso não impede que sejamosamigos", diz sem hesitar o líder da

Juventude Socialista.

Rodrigues dos Santos explicacomo vê as coisas na política,

apesar das amizades que os unem:"O Ivan é meu adversário porquerepresenta o socialismo. A Marga-rida é minha concorrente, não é

minha adversária, porque o CDS

pode lançar uma OPA ao PSD,como aconteceu nas autárquicasem Lisboa."

Costa conta que foi com Marga-rida que aprendeu a negociar."Ajudou-me a compreender que é

fundamental que encontremos

pontos em comum em vez de nosestarmos a focar na diferença",afirma o socialista, que escreveuisso mesmo na fita de final de cur-

so de Balseiro Lopes. O que nuncaaconteceu foi trocarem aponta-mentos. "A Margarida era muitoboa aluna e a que gostava mais deDireito entre os três, mas não melembro de lhe pedir apontamen-tos", afiança Pedro Costa, que ain-da tem de fazer o exame de Direi-to Internacional Privado em Se-tembro para acabar o curso.

Margarida até só ficou mais

próxima de Ivan depois de sairda Faculdade. "Fui trabalhar parauma empresa onde estava a na-morada dele." Mas hoje encon-tram-se com frequência em deba-tes e estão ambos no parlamento."Já fizemos algumas viagens jun-tos como deputados para repre-sentar os nossos partidos", dizIvan Gonçalves, que recusa a ideiade que as várias jotas possam es-tar em concorrência. "O maiordesafio que nós temos é comuma todas as juventudes partidárias,é apelar à participação dos jo-vens", defende o socialista.

OIvan Gonçalves

O líder da JS era presidenteda Associação de Estudantes

do IST onde estudou

Engenharia Biológica

Amizades centristasPedro, o socialista que temmuitos amigos no CDS

Chicão não é o único amigocentrista de Pedro Costa. "Por

um acaso da vida tenho mui-tos amigos na JuventudePopular. Dois vice-presidentessão muro meus amigos", con-fessa o autarca socialista deCampo de Ourique, que revela

que Francisco Laplaine Guima-rães vai até ser seu padrinhode casamento, em Setembro.

Chicãoéo nome peloqual os amigostratam Frarcis-co, que assumeque isso pode

ter que vercom os seus

1,75 m. "Um ho-

mem é do ta-

manho do seu

sonho", brinca

PEDRO E

FRANCISCOSIMULAVAM

DEBATESPARLAMEN

TARES NOBARDA

FACULDADE

O amigo secretoNo futuro, todos querem continuar

ligados à política. Francisco Rodri-

gues dos Santos não esconde quegostaria de ser deputado, "A JP temmuita qualidade e faz sentido queesteja representada no parlamen-to." E Pedro Costa assume que querser cabeça-de-lista à junta onde jáestá cm exclusividade: "Sc o PS en-tender que eu sou o candidato maisbem colocado para a Junta de Fre-guesia de Campo de Ourique, euestarei disponível."

Para já, vão-se cruzando na As-sembleia Municipal de Lisboa,onde Rodrigues dos Santos está

como deputado e na qual Costa

participa quando é preciso fazeruma substituição no PS. Se Francis-co for eleito deputado em 2019,Pedro vai aproveitar para lhe oferecer um livro em resposta a um

presente que recebeu do amigo hádois ou três natais. "Houve um Na-tal em que, num amigo secreto, eleme ofereceu um livro do AdelinoAmaro da Costa. Estou à espera delhe oferecer o livro do Mário Soa-res. Talvez quando ele for eleito

deputado..." O