744
UNIVERSIDADE DE ÉVORA DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA ACTORES, ESTRATÉGIAS E DESENVOLVIMENTO LOCAL CONFLITOS E CONSENSOS NO MUNICÍPIO DE PALMELA NO LIMIAR DO SÉCULO XXI (I VOLUME) TESE PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM SOCIOLOGIA SOB A ORIENTAÇÃO DA PROFESSORA DOUTORA MARIANA DE JESUS MARTINS DE TORRES VAZ FREIRE CASCAIS ESTA TESE NÃO INCLUI AS CRÍTICAS E SUGESTÕES FEITAS PELO JÚRI ANTÓNIO PEDRO SOUSA MARQUES 2006

ACTORES, ESTRATÉGIAS E DESENVOLVIMENTO LOCAL

Embed Size (px)

Citation preview

  • UNIVERSIDADE DE VORA

    DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA

    ACTORES, ESTRATGIAS E DESENVOLVIMENTO LOCAL CONFLITOS E CONSENSOS NO MUNICPIO DE PALMELA

    NO LIMIAR DO SCULO XXI

    (I VOLUME)

    TESE PARA OBTENO DO GRAU DE DOUTOR EM SOCIOLOGIA

    SOB A ORIENTAO DA PROFESSORA DOUTORA

    MARIANA DE JESUS MARTINS DE TORRES VAZ FREIRE CASCAIS

    ESTA TESE NO INCLUI AS CRTICAS E SUGESTES FEITAS PELO JRI

    ANTNIO PEDRO SOUSA MARQUES

    2006

  • iii

    NDICE

    RESUMO ................................................................................................................................ IX

    ABSTRACT ............................................................................................................................ XI

    NDICE DE FIGURAS, QUADROS E GRFICOS........................................................... XIII

    FIGURAS .............................................................................................................................. XIII QUADROS............................................................................................................................. XIV GRFICOS .......................................................................................................................... XVIII

    AGRADECIMENTOS..................................................................................................... XXVII

    INTRODUO..........................................................................................................................5

    I PARTE...................................................................................................................................13

    1 - TRAAR O OBJECTO DE INVESTIGAO.................................................................15

    2 - AS ABORDAGENS SOCIOLGICAS E ECONMICAS SOBRE O ESPAO ............19

    2.1 - A ABORDAGEM DA SOCIOLOGIA .....................................................................................19 2.1.1. - A Sociologia Clssica ...........................................................................................19 2.1.2 - A Sociologia Espacial ............................................................................................20 2.1.3 - A Sociologia Urbana: seu desenvolvimento terico................................................22 2.1.4 - A Escola de Chicago..............................................................................................23 2.1.5 - A Sociologia Urbana Britnica ..............................................................................26 2.1.6 - O ps-Guerra e o declnio da Sociologia Urbana anglo-saxnica ..........................30 2.1.7 - A Sociologia Urbana da Europa continental ..........................................................35 2.1.8 - Das crticas ao modelo nova Sociologia Urbana.................................................39 2.1.9 - A emergncia da Sociologia do Territrio: ............................................................44 Da construo do Espao construo do Territrio .......................................................44 2.1.10 - O conceito de Territrio ......................................................................................48 2.1.11 -Sociologia do Territrio - Novos olhares sobre velhas e novas questes:

    a anlise dos territrios em mutao ................................................................................50 2.1.12 - Uma nova anlise sobre as relaes entre os espaos sociais rural e urbano.......50

    2.2 - A ABORDAGEM DA ECONOMIA .......................................................................................58 2.2.1 - Da economia regional aos sistemas produtivos locais............................................58 2.2.2 - O Espao homogneo.............................................................................................60 2.2.3 - O Espao polarizado..............................................................................................60

  • iv

    2.2.4 - O Espao da dependncia ......................................................................................62 2.2.5 - O Espao territrio................................................................................................63

    3 - ESPAO REGIONAL E ESPAO LOCAL

    DA ANLISE DO SISTEMA ANLISE DOS ACTORES ................................................67

    4 - MUDANA SOCIAL, MODERNIDADE E GLOBALIZAO ......................................69

    5 - A SOCIOLOGIA FACE GLOBALIZAO:

    DAS TEORIAS CLSSICAS S TEORIAS ACTUAIS ........................................................73

    6 - O PROCESSO DE GLOBALIZAO..............................................................................85

    7 - OS PROCESSOS DE GLOBALIZAOTCNICA, ECONMICA

    E FINANCEIRA ....................................................................................................................107

    7.1 - OS FLUXOS DE INTEGRAO .........................................................................................107 7.2 - A FRAGMENTAO E/OU EXCLUSO..............................................................................109 7.3 - A REDEFINIO DE FUNES........................................................................................110

    8 - DA CRISE GLOBAL S ESTRATGIAS LOCAIS ......................................................117

    8.1 - DESENVOLVIMENTO REGIONAL.....................................................................................119 E DESENVOLVIMENTO LOCAL ...............................................................................................119 8.2 - QUE INDICADORES PARA A ANLISE DO DESENVOLVIMENTO LOCAL? .............................124

    9 - OS PARADIGMAS DO DESENVOLVIMENTO E A ANLISE DO LOCAL ............129

    9.1 - O EVOLUCIONISMO ......................................................................................................130 9.2 - O HISTORICISMO ..........................................................................................................133 9.3 - O ESTRUTURALISMO ....................................................................................................135 9.4 - UMA NOVA PERSPECTIVA DE ABORDAGEM ....................................................................137

    10 - IDENTIDADE, PERTENA E PARTICIPAO........................................................141

    10.1 - OS ACTORES NO SISTEMA DE ACO LOCAL:

    DA CONSTRUO DA IDENTIDADE PARTICIPAO NAS TOMADAS DE DECISO .....................141 10.1.1 - A construo da identidade................................................................................141 10.1.2 - A participao ..................................................................................................149

    10.2 - AS IDENTIDADES COLECTIVAS E AS CAPACIDADES DE ACO.......................................151

    11 - AS REPRESENTAES DO DESENVOLVIMENTO:

    PERSPECTIVAS DOS ACTORES .......................................................................................153

  • v

    11.1 OS VRIOS TIPOS DE REPRESENTAES.......................................................................153 11.1.1 - A representao optimista..................................................................................153 11.1.2 - A representao centralizadora .........................................................................154 11.1.3 - A representao macroeconmica......................................................................154

    11.2 -AS REPRESENTAES ALTERNATIVA DO DESENVOLVIMENTO:.......................................155 PARTICIPAO E CONSCIENCIALIZAO DOS ACTORES ..........................................................155

    11.2.1 - A aco para o desenvolvimento ........................................................................156 11.2.2 - Diversidade de actores e de lgicas de aco.....................................................157 11.2.3 As hipteses de investigao .............................................................................165

    12 - FORMAS DE ORGANIZAR E GERIR O TERRITRIO ...........................................167

    12.1 - URBANISMO E PLANEAMENTO URBANO.......................................................................169 12.2 - TEORIAS DO URBANISMO............................................................................................172

    12.2.1 - O Pr-urbanismo. ..............................................................................................173 12.2.2 - O urbanismo funcional da primeira metade do sculo XX .............................175 12.2.3 - O urbanismo racional do ps-Guerra................................................................179

    12.3 - PLANEAMENTO ESTRATGICO: ...................................................................................182 ACO E/OU RECONCILIAO ENTRE ACTORES ? ...................................................................182

    12.3.1 - As Correntes do Urbanismo: do ps-Guerra aos nossos dias ............................182 12.3.2 - O Planeamento Estratgico: sua gnese.............................................................185

    12.4 - A METODOLOGIA DO PLANEAMENTO ESTRATGICO....................................................187 12.4.1 - Operacionalizao do Plano Estratgico ...........................................................189 12.4.2 - A Avaliao do Planeamento .............................................................................195

    II PARTE ...............................................................................................................................199

    13 - METODOLOGIA UTILIZADA NA PESQUISA EMPRICA......................................201

    13.1 - A ANLISE DOCUMENTAL ........................................................................................202 13.2 - A OBSERVAO DIRECTA SIMPLES ..............................................................................203 13.3 - A ANLISE DAS ESTRATGIAS DOS ACTORES DO MUNICPIO DE PALMELA.....................203

    13.3.1 - A construo das variveis ................................................................................205 13.3.2 - A escolha dos actores e a construo do guio da entrevista..............................213 13.3.3 - A aplicao do mtodo MACTOR.......................................................................216

    III PARTE..............................................................................................................................225

    14 - PLANEAMENTO URBANSTICO E ESTRATGIA DE ACTORES:

    PARA ONDE VAI PALMELA?............................................................................................227

    14.1 - O PODER LOCAL EM PORTUGAL: COMPETNCIAS E INTERVENES ..............................227

  • vi

    14.1.1 - Do Municpio romano reconquista crist ........................................................227 14.1.2 - O perodo medieval............................................................................................228 14.1.3 - Da reforma manuelina revoluo liberal.........................................................229 14.1.4 - O perodo liberal ...............................................................................................230 14.1.5 - A 1 Repblica ...................................................................................................232 14.1.6 - O Estado Novo...................................................................................................232 14.1.7 - A situao aps a Constituio de 1976 .............................................................235 14.1.8 - A participao dos Cidados .............................................................................239

    14.2 - AS FIGURAS DE PLANEAMENTO...................................................................................241 14.2.1 - O mbito nacional .............................................................................................246 14.2.2 - O mbito regional..............................................................................................250 14.2.3 - O mbito municipal...........................................................................................255

    14.3 - AS PRINCIPAIS FIGURAS DE PLANEAMENTO NO MUNICPIO DE PALMELA.......................271

    15 - DINAMISMO PRODUTIVO E IMPACTOS TERRITORIAIS NO

    MUNICPIO DE PALMELA ................................................................................................279

    15.1 - DINMICAS PRODUTIVAS NA PENNSULA DE SETBAL ................................................279 15.2 - PORTUGAL NA SEGUNDA METADE DO SCULO XIX:.....................................................279 AS RELAES CAPITALISTAS QUE EMERGEM .........................................................................279 15.3 - A PRODUO AGRCOLA ............................................................................................280 15.4 - OS PRIMRDIOS DA INDUSTRIALIZAO ......................................................................282 15.5 - AS UREAS DCADAS DO PLO INDUSTRIAL DE SETBAL : ..........................................283 A DCADA DE SESSENTA E O INICIO DE SETENTA .................................................................283 15.6 - ENTRE CRISES E RECONVERSES .................................................................................285

    16 - PALMELA - DINAMISMOS SCIO-ESPACIAIS

    ALTERAES DOS FACTORES DE LOCALIZAO:

    DA ENDOGENEIDADE EXOGENEIDADE....................................................................291

    16.1 - CABEA DE SANTIAGO E ESPADA .............................................................................291 16.2 - O AUTOCENTRAMENTO AGRCOLA: ARROTEAMENTOS E COLONIZAO ........................292 16.3 - A SITUAO ACTUAL:.................................................................................................295 OS DESAFIOS EUROPEUS E AS RESPOSTAS DA AGRICULTURA LOCAL........................................295 16.4 - UM MUNICPIO EXPORTADOR DE MO-DE-OBRA ..........................................................302 16.5 - OS NOVOS FACTORES DE LOCALIZAO E....................................................................303 O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAO DE PALMELA .................................................................303 16.6 - AS DESLOCAES PENDULARES ..................................................................................321

  • vii

    17 - IMPACTOS TERRITORIAIS DA LOCALIZAO PRODUTIVA ...........................327

    17.1 - UM MUNICPIO QUE SE METROPOLIZA .........................................................................327 17.2 - DIFERENCIAO SOCIO-URBANSTICA: ........................................................................333 PALMELA E A PENNSULA DE SETBAL.............................................................................333 17. 2 - A VOLKSWAGEN AUTOEUROPA.................................................................................340

    17.2.1 Os critrios de escolha para a localizao do projecto......................................344 17.2.2 O conceito de just in time em sequncia ...........................................................347 7.2.3 Produo, exportao e impactos na economia portuguesa .................................354

    17.3 - VISTEON ....................................................................................................................362 17.3.1 - Fbrica de componentes electrnicas.................................................................362 17.3.2 - Fbrica de compressores ...................................................................................362 17.3.3 - Unidade de produo de plsticos......................................................................362

    18 - DINMICA URBANSTICA .........................................................................................389

    18.1 ACESSIBILIDADES ......................................................................................................389 18.2 - CRESCIMENTO DA ACTIVIDADE INDUSTRIAL ................................................................390 18.3 - AS REAS URBANAS CONSOLIDADAS...........................................................................393 18.4 - AS REAS URBANAS DE GNESE ILEGAL (AUGI).......................................................398

    19 - DO EXISTENTE AO DESEJVEL:

    AS ESTRATGIAS DE ACTORES DO MUNICPIO DE PALMELA ..............................401

    19.1 - AS RELAES DE FORA E AS POSIES RELATIVAS DOS ACTORES ...............................404 19.1.1 - Grau de influncia e de dependncia dos actores ...............................................408 19.1.2 - A relao de foras entre os actores ..................................................................413 19.1.3 - O balano lquido das influncias por cada par de actores ................................415

    19.2 - A IMPLICAO DOS ACTORES......................................................................................419 19.2.1 - Grau de implicao e mobilizao dos actores...................................................420

    19.3 - GRAU DE MOBILIZAO E DE CONFLITUALIDADE..................................................423 DOS OBJECTIVOS ..................................................................................................................423 19.4 DAS CONVERGNCIAS E DIVERGNCIAS DOS ACTORES AO.....................................432 POSICIONAMENTO DOS ACTORES: SUAS ALIANAS E CONFLITOS.............................................432

    19.4.1 Matriz de Divergncias entre Actores................................................................432 19.4.2 Matriz de Convergncias entre Actores .............................................................436

    CONCLUSO........................................................................................................................451

    BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................463

    LIVROS E ARTIGOS .........................................................................................................463

  • viii

    OUTRA INFORMAO ...........................................................................................................487 STIOS NA INTERNET ............................................................................................................491

    NDICE REMISSIVO ...........................................................................................................493

  • ix

    RESUMO

    As mudanas verificadas no panorama mundial, intensificadas nas duas ltimas dcadas do

    sculo passado, tm sido as principais responsveis pelas transformaes nas estruturas sociais,

    econmicas e tecnolgicas.

    As teorias sobre o desenvolvimento econmico e social, que a Sociologia e a Economia,

    construram pacientemente durante dcadas necessitam cada vez mais de ser reequacionadas, uma vez que

    at as velhas naes industrializadas devem ser vistas como estando em vias de desenvolvimento.

    Tais situaes levaram necessidade de se proceder a novas formas de mobilizao do potencial

    humano, que se distinguem dos modos anteriores de pensar o desenvolvimento e, que podem ser

    corporizadas a partir de um conjunto iniciativas locais.

    Essas formas de aco e de modernizao do tecido econmico, de requalificao dos espaos

    urbanos, dos programas de formao profissional, da insero das regies marginalizadas na estratgia

    global do Estado passam a deter um lugar de mxima importncia nas estratgias de cada Pas e de cada

    Regio.

    Perante este conjunto de questes de carcter econmico e social, pareceu importante proceder-se

    construo de um objecto terico que incidisse sobre a anlise das estratgias dos actores locais perante

    os desafios impostos por uma sociedade que se apresenta cada vez mais globalizada.

    O objecto emprico deste estudo recaiu sobre o municpio de Palmela atravs da anlise da

    estratgia dos seus actores e os desafios estratgicos que lhes so lanados.

    Procurou-se assim dar conta de uma possvel articulao entre essas estratgias, o planeamento

    urbanstico e o desenvolvimento local.

    Os processos de desenvolvimento observados quer no municpio de Palmela, quer nos restantes

    municpios que constituem a Pennsula de Setbal no se produziram de forma linear.

    Ao proceder a uma proposta de aco virada para as questes do desenvolvimento local toma-se

    necessrio detectar as representaes que os actores locais estabelecem, em torno desse mesmo

    desenvolvimento escala da sociedade local.

    Os desafios estratgicos apresentam-se no municpio de Palmela como resultados das estratgias

    produzidas pelos actores localizados, ou com influncia local, onde se d a confrontao de interesses e

    de lgicas contraditrias.

    Palavras-chave: Actores Locais, Desenvolvimento Local, Urbanismo, Planeamento Estratgico,

    Estratgia de Actores, Objectivos Estratgicos, Desafios Estratgicos

  • x

  • xi

    ABSTRACT

    Changes occurred, world-widely, during the last two decades of the last century have generated

    modifications in the social, economical and technological structures being observed.

    Theories on the economical and social development built, peacefully, by Sociology and Economy

    for several decades, have to be more and more re-equated, once, even the old industrialized nations should

    be considered on the way to development.

    It raises, then the need of proceeding with new methods of manpower mobilization, different

    from the former ways of thinking on development, which may he materialized starting from the local

    initiatives.

    Those acting and up-dating systems of the economical tissue, in addition to the urban areas

    classification, the professional training programmes, the inclusion of the despising areas in the global

    strategy of State, as well as the support to the people, sociality discriminated, become to own a position of

    greatest importance in the strategies of each Country and Area.

    In view of this set of subjects, from economical and social nature, it seemed important to proceed

    to the building of a theorical object based on the analysis of the local dynamics of development in

    Palmela: perspectives and strategies of the local and social actors.

    The empiric object of this research was the municipality of Palmela through the analysis of the

    actors strategies.

    Being so, the intention was to report an eventual relation among those dynamics, the local

    development and the urbanism.

    The development methods observed, not only in the municipality of Palmela, but also in the

    remaining ones of Setbal Peninsula were not created in a linear way.

    By making a proposal of action forwarded to the subjects of a local development, it is necessary

    to detect the representations performed by the local actors in turn of this very same development

    according to the local society.

    Nevertheless any kind of homogenous category is found among the new social actors, but a

    variety of social strengths is ascertained creating a great number of actors.

    The Strategical Challenges verified in the municipality of Palmela present themselves as results

    of strategies created by the established actors or with local influence, where interests and contradictor

    logics are brought face to face.

    Key-Words: Local Actors, Local Development. Urbanism, Strategical Planning, Strategic of

    Actors, Strategical Objectives, Strategical Challenges

  • xii

  • xiii

    NDICE DE FIGURAS, QUADROS E GRFICOS

    FIGURAS

    FIGURA 1 O MUNICPIO DE PALMELA NO CONTEXTO REGIONAL ...........................................1 FIGURA 2 O MUNICPIO DE PALMELA E AS FREGUESIAS QUE O CONSTITUEM.....................3 FIGURA 3 O OBJECTO TERICO DA INVESTIGAO.................................................................11 FIGURA 4 - O CAMPO GLOBAL SEGUNDO ROLAND ROBERTSON ..............................................78 FIGURA 5- CARACTERSTICAS GERAIS DO PLANEAMENTO ESTRATGICO..........................193 FIGURA 6 AS FASES HIERARQUIZADAS DO PLANEAMENTO.................................................194 FIGURA 7 A ANLISE DAS ESTRATGIAS DOS ACTORES DO MUNICPIO DE PALMELA ..223 FIGURA 8 ESTRUTURAS VERTICAIS DO ESTADO EM PORTUGAL (ANTES E PS 1976) .....238 FIGURA 9 - HIERARQUIA DAS FIGURAS DE PLANEAMENTO EM PORTUGAL ........................270 FIGURA 10 PLANTA DE LOCALIZAO DA AUTOEUROPA (PENNSULA DE SETBAL)....345 FIGURA 11 PLANTA DE LOCALIZAO DA AUTOEUROPA (MUNICPIO DE PALMELA)....346 FIGURA 12 PLANTA DE LOCALIZAO DA AUTOEUROPA E DO PARQUE INDUSTRIAL...346 FIGURA 13 O CLUSTER AUTOMVEL NA REGIO DE LISBOA E VALE DO TEJO ................350 FIGURA 14 - PERMETROS URBANOS DO MUNICPIO DE PALMELA........................................395 (REDES URBANAS PRINCIPAL E SECUNDRIA) ..........................................................................395 FIGURA 15 - MUNICPIO DE PALMELA: DISTRIBUIO ESPACIAL DAS AUGI E DOS NOVOS CLANDESTINOS, POR PERMETRO URBANO..................................................................399

  • xiv

    QUADROS

    QUADRO 1 - A TRAJECTRIA DA GLOBALIZAO SEGUNDO ROLAND ROBERTSON ...........83 QUADRO 2 - A RELAO ENTRE FORMAS DE ORGANIZAO SOCIAL E A

    TERRITORIALIDADE .........................................................................................................................88 QUADRO 3 - CONCEITOS DE GLOBALIZAO...............................................................................97 QUADRO 4 - EVOLUO DAS CONCEPES SOBRE O ESPAO ...............................................120 QUADRO 5 - DISCURSOS E CORRENTES DE PENSAMENTO SOBRE O DESENVOLVIMENTO

    LOCAL ................................................................................................................................................137 QUADRO 6 - FORA POLTICA E MOBILIZAO DOS VRIOS TIPOS DE

    ASSOCIATIVISMO FACE S FORMAS DE GESTO DO TERRITRIO ........................................163 QUADRO 7 - TIPOLOGIAS DE ACO E SUAS CARACTERSTICAS...........................................164 QUADRO 8 - DISCURSO SOBRE A ACO PBLICA....................................................................191 QUADRO 9- AS VARIVEIS DA INVESTIGAO..........................................................................207 QUADRO 10 ACTORES QUE CONSTITURAM A AMOSTRA INTENCIONAL...........................216 QUADRO 11 RELAO ENTRE VARIVEIS E ACTORES ..........................................................221 QUADRO 12 O MUNICPIO NO ESTADO SOCIAL-CORPORATIVO ...........................................233 QUADRO 13 EVOLUO DAS FIGURAS DE PLANEAMENTO URBANSTICO

    EM PORTUGAL .................................................................................................................................243 QUADRO 14 - PROGRAMA NACIONAL DA POLTICA DE ORDENAMENTO DO TERRITRIO248 QUADRO 15 - PLANO SECTORIAL DE ORDENAMENTO DO TERRITRIO ................................249 QUADRO 16 - PLANO ESPECIAL DE ORDENAMENTO DO TERRITRIO ...................................251 QUADRO 17 PLANO REGIONAL DE ORDENAMENTO DO TERRITRIO .................................252 QUADRO 18 - PLANO INTERMUNICIPAL DE ORDENAMENTO DO TERRITRIO.....................259 QUADRO 19 - PLANO DIRECTOR MUNICIPAL ..............................................................................261 QUADRO 20 - PLANO DE URBANIZAO E PLANO DE PORMENOR.........................................267 QUADRO 21 PENNSULA DE SETBAL E CONTINENTE...........................................................285 POPULAO ACTIVA POR SECTORES DE ACTIVIDADE (1960-2001) ........................................285 QUADRO 22 - PENNSULA DE SETBAL........................................................................................287 POPULAO ACTIVA DESEMPREGADA, POR TIPO DE DESEMPREGO (1981-20001) ..............287 QUADRO 23 - EVOLUO DO EMPREGO E DO NMERO DE

    ESTABELECIMENTOS(1982-2000)....................................................................................................289 QUADRO 24 PENNSULA DE SETBAL SUPERFCIE AGRCOLA UTILIZADA, N DE EXPLORAES E SUA DIMENSO 1999 .........297 QUADRO 25 MUNICPIO DE PALMELA SUPERFCIE AGRCOLA UTILIZADA, POR FREGUESIA 1999 ...................................................297

  • xv

    QUADRO 26 PENNSULA DE SETBAL SUPERFCIE AGRCOLA UTILIZADA E SUAS FORMAS DE UTILIZAO 1999......................298 QUADRO 27 PENNSULA DE SETBAL POPULAO ACTIVA AGRCOLA POR MUNICPIOS - 1999 ........................................................299 QUADRO 28 PENNSULA DE SETBAL PRODUTORES AGRCOLAS, POR GRUPOS DE IDADE E POR MUNICPIO 1999 .....................300 QUADRO 29 PENNSULA DE SETBAL PRODUTORES AGRCOLAS, POR NVEIS DE INSTRUO E POR MUNICPIO 1999..............301 QUADRO 30 MUNICPIO DE PALMELA POPULAO ACTIVA COM PROFISSO, POR SECTORES DE ACTIVIDADE,

    ANOS DE 1930 A 2001 (EM %) ..........................................................................................................302 QUADRO 31 EVOLUO DO NMERO DE ESTABELECIMENTOS NO MUNICPIO DE

    PALMELA, EM VALORES ABSOLUTOS (1991-2001).....................................................................306 QUADRO 32 EVOLUO DO NMERO DE ESTABELECIMENTOS NO MUNICPIO DE

    PALMELA, EM PERCENTAGEM (1991-2001) .................................................................................306 QUADRO 33 EVOLUO DO EMPREGO NO MUNICPIO DE PALMELA, EM VALORES ABSOLUTOS(1991-2002) ..........................................................................................307 QUADRO 34 EVOLUO DO EMPREGO NO MUNICPIO DE PALMELA, EM VALORES PERCENTUAIS (1991-2002) ......................................................................................307 QUADRO 35 DESLOCAES PENDULARES COM ORIGEM NO MUNICPIO DE PALMELA

    PARA OS MUNICPIOS QUE FORMAM A GRANDE REA METROPOLITANA

    DE LISBOA/SUL (2001) VALORES ABSOLUTOS E PERCENTUAIS ..............................................321 QUADRO 36 - DESLOCAES PENDULARES COM ORIGEM NO MUNICPIO DE PALMELA

    PARA OS MUNICPIOS QUE FORMAM A GRANDE REA METROPOLITANA DE

    LISBOA/NORTE (2001) VALORES ABSOLUTOS E PERCENTUAIS..............................................322 QUADRO 37 TOTAL DAS DESLOCAES PENDULARES COM ORIGEM NO MUNICPIO DE PALMELA (2001) VALORES ABSOLUTOS E PERCENTUAIS .....................................................322 QUADRO 38 DESLOCAES PENDULARES COM ORIGEM NOS MUNICPIOS QUE FORMAM

    A GRANDE REA METROPOLITANA DE LISBOA/SUL E COM DESTINO AO MUNICPIO

    DE PALMELA (2001) VALORES ABSOLUTOS E PERCENTUAIS ..............................................323 QUADRO 39 DESLOCAES PENDULARES COM ORIGEM NOS MUNICPIOS QUE

    FORMAM A GRANDE REA METROPOLITANA DE LISBOA/NORTE E COM DESTINO AO

    MUNICPIO DE PALMELA (2001) VALORES ABSOLUTOS E PERCENTUAIS .........................324

    QUADRO 40 TOTAL DAS DESLOCAES PENDULARES TENDO COMO DESTINO O MUNICPIO DE PALMELA VALORES ABSOLUTOS E PERCENTUAIS (2001) .......................324 QUADRO 41 BALANO DAS DESLOCAES PENDULARES PALMELA GRANDE REA METROPOLITANA DE LISBOA SUL - PALMELA (2001)..............325

  • xvi

    QUADRO 42 BALANO DAS DESLOCAES PENDULARES PALMELA GRANDE REA METROPOLITANA DE LISBOA NORTE - PALMELA (2001) ........325 QUADRO 43 BALANO TOTAL DAS DESLOCAES PENDULARES (2001) ...........................326 QUADRO 44 EVOLUO DA POPULAO DA PENNSULA DE SETBAL,

    POR MUNICPIOS (1940 -2001) .........................................................................................................328 QUADRO 45 EVOLUO DA POPULAO DA PENNSULA DE SETBAL,

    POR MUNICPIOS (1940 -2001) TAXAS DE CRESCIMENTO MDIO ........................................329 QUADRO 46 EVOLUO DA POPULAO NO MUNICPIO DE PALMELA, POR FREGUESIAS (1930-2001)..........................................................................................................331 QUADRO 47 PENNSULA DE SETBAL DENSIDADE POPULACIONAL, POR MUNICPIOS (1981-2001).....................................................335 QUADRO 48 - PENNSULA DE SETBAL REPARTIO DA POPULAO SEGUNDO A DIMENSO DOS LUGARES, 1981-2001 (EM %) 336 QUADRO 49 AUTOEUROPA - EVOLUO DA FBRICA E DOS PRODUTOS.........................341 QUADRO 50 AUTOEUROPA INVESTIMENTO INICIAL ...............................................................342 QUADRO 51 AUTOEUROPA EMPREGO DIRECTO E EMPREGO NO

    PARQUE INDUSTRIAL E NOS SERVIOS CONTRATADOS .........................................................344 QUADRO 52 AUTOEUROPA - REAS DO PROJECTO, EM M2 ..................................................347 QUADRO 53 - PRINCIPAIS INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS NO FABRICO DE

    COMPONENTES, QUE ACOMPANHARAM NO INCIO PROJECTO AUTOEUROPA...................349

    QUADRO 54 FORNECEDORES DE COMPONENTES PARA A AUTOEUROPA ..........................352 QUADRO 55 PREO DA VW SHARAN NOS PASES DA ZONA EURO (2006) ...........................356 QUADRO 56 EMPRESAS COM SEDE NA REGIO, POR CAE....................................................364 QUADRO 57 EMPRESAS COM SEDE NA REGIO INDSTRIA TRANSFORMADORA ..................................................................................................368 QUADRO 58 SOCIEDADES COM SEDE NA REGIO , POR CAE ...............................................370 QUADRO 59 SOCIEDADES COM SEDE NA REGIO INDSTRIA TRANSFORMADORA ...................................................................................................372 QUADRO 60 PESSOAL AO SERVIO NAS SOCIEDADES COM SEDE NA REGIO .................374 QUADRO 61 - PESSOAL AO SERVIO NAS SOCIEDADES COM SEDE NA REGIO INDSTRIA TRANSFORMADORA ..................................................................................................376 QUADRO 62 VOLUME DE NEGCIOS NAS SOCIEDADES COM SEDE NA REGIO,

    POR CAE (2003) ..................................................................................................................................381 QUADRO 63 - VOLUME DE NEGCIOS NAS SOCIEDADES COM SEDE NA REGIO

    INDSTRIA TRANSFORMADORA .................................................................................................383 QUADRO 64 - COMRCIO INTERNACIONAL DECLARADO, POR MUNICPIO DE SEDE

    DOS OPERADORES (2003) ................................................................................................................385

  • xvii

    QUADRO 65 - MUNICPIO DE PALMELA - EVOLUO DOS EDIFCIOS E DOS

    ALOJAMENTOS, POR FREGUESIAS (1991-2001) ............................................................................391 QUADRO 66 - MUNICPIO DE PALMELA AGLOMERADOS DA REDE URBANA PRINCIPAL SECUNDRIA................................................394 QUADRO 67 - MUNICPIO DE PALMELA REPARTIO DAS AUGI E NOVOS CLANDESTINOS, POR FREGUESIAS ..................................398 QUADRO 68 - VARIVEIS DA ANLISE EMPRICA......................................................................403 VARIVEIS INTERNAS.....................................................................................................................403 VARIVEIS EXTERNAS....................................................................................................................404 QUADRO 69 MATRIZ DOS MEOS DE ACO DIRECTOS..........................................................406 QUADRO 70 MATRIZ DAS POSIES VALORIZADAS ACTORES OBJECTIVOS (2 MAO)...406 QUADRO 71 - DESAFIOS ESTRATGICOS E OBJECTIVOS ASSOCIADOS..................................407 QUADRO 72 COMPARAO ENTRE AS RELAES DE FORA (RI) E A MEDIDA EXACTA DE FORA (I) DE CADA ACTOR ...............................................................418 QUADRO 73 - ORDENAO DOS OBJECTIVOS SEGUNDO O GRAU DE MOBILIZAO.........426 QUADRO 74 - ORDENAO DOS OBJECTIVOS SEGUNDO O GRAU DE CONFLITUALIDADE429 QUADRO 75 CLASSIFICAO DOS OBJECTIVOS SEGUNDO O SEU GRAU DE MOBILIZAO E CONFLITUALIDADE.....................................................................................431 QUADRO 76 - MATRIZ VALORIZADA DE DIVERGNCIAS ACTORES ACTORES (2 DAA) ...433 QUADRO 77 - MATRIZ VALORIZADA E PONDERADA DE DIVERGNCIAS

    ACTORES ACTORES (3 DAA)........................................................................................................435 QUADRO 78 - MATRIZ VALORIZADA DE CONVERGNCIAS

    ACTORES ACTORES (2 CAA) .......................................................................................................437 QUADRO 79 - MATRIZ VALORIZADA PONDERADA DE CONVERGNCIAS

    ACTORES ACTORES (3 CAA).......................................................................................................439 QUADRO 80 - INDICADORES DE AMBIVALNCIA DE ACTORES..............................................441 QUADRO 81 - MATRIZ DAS PROXIMIDADES ENTRE ACTORES..............................................445 QUADRO 82 GRUPOS ESTRATGICOS DE ACTORES ................................................................446 QUADRO 83 RECONSTRUO DA 2 MAO SEGUNDO OS GRUPOS ESTRATGICOS.............449

  • xviii

    GRFICOS

    GRFICO 1 - MUNICPIO DE PALMELA EVOLUO DO NMERO DE EMPRESAS, POR RAMO DE ACTIVIDADE (1991-2002)..............309 GRFICO 2 MUNICPIO DE PALMELA EVOLUO DO EMPREGO, POR SECTORES DE ACTIVIDADE (1991-2002) ...............................311 GRFICO 3 MUNICPIO DE PALMELA EMPRESAS AGRCOLAS E MO-DE-OBRA AGRCOLA (1991-2002) ...........................................313 GRFICO 4 MUNICPIO DE PALMELA EMPRESAS INDUSTRIAIS E MO-DE-OBRA INDUSTRIAL (1991-2002) .....................................314 GRFICO 5 MUNICPIO DE PALMELA EMPRESAS E MO-DE-OBRA DA CONSTRUO E OBRAS PBLICAS (1991-2002).................315 GRFICO 6 MUNICPIO DE PALMELA EMPRESAS E MO-DE-OBRA DO COMRCIO , HOTELARIA E RESTAURAO (1991-2002).316 GRFICO 7 MUNICPIO DE PALMELA EMPRESAS E MO-DE-OBRA DE TRANSPORTES E COMUNICAES (1991-2002) .................317 GRFICO 8 MUNICPIO DE PALMELA EMPRESAS E MO-DE-OBRA BANCRIA E DOS SEGUROS (1991-2002) ..................................318 GRFICO 9 MUNICPIO DE PALMELA EMPRESAS E MO-DE-OBRA DE SERVIOS COMUNIDADE (1991-2002) ..............................319 GRFICO 10 MUNICPIO DE PALMELA TOTAL DAS EMPRESAS E DA MO-DE-OBRA (1991-2002)..........................................................320 GRFICO 11 - EVOLUO DA POPULAO NO MUNICPIO DE PALMELA, POR FREGUESIAS (1930-2001)..........................................................................................................332 GRFICO 12 PENNSULA DE SETBAL REAS INDUSTRIAIS OCUPADAS (1991) .......................................................................................338 GRFICO 13 AUTOEUROPA - DISTRIBUIO POR PASES DOS FORNECEDORES DE

    COMPONENTES ................................................................................................................................353 GRFICO 14 AUTOEUROPA - PRODUO DE VECULOS (1995-2005).....................................355 GRFICO 15 AUTOEUROPA OS MERCADOS DO PRODUTO AUTOEUROPA ......................358 GRFICO 16 - AUTOEUROPA PRODUO DE VECULOS POR MARCAS (2005)...................359 GRFICO 17 - AUTOEUROPA PRODUO POR MARCAS (JANEIRO A ABRIL DE 2006).......360 GRFICO 18 - AUTOEUROPA CONTRIBUIO PARA O VALOR ACRESCENTADO

    NACIONAL .........................................................................................................................................360 GRFICO 19 - AUTOEUROPA CONTRIBUIO PARA O PIB PORTUGUS .............................361

  • xix

    GRFICO 20 MUNICPIO DE PALMELA

    EVOLUO DO NMERO DE EMPRESAS - 2001-2004..................................................................365 GRFICO 21 EVOLUO DAS EMPRESAS DE INDSTRIAS

    TRANSFORMADORAS 2001-2004.....................................................................................................369 GRFICO 22 MUNICPIO DE PALMELA - EVOLUO DO NMERO

    DE SOCIEDADES 2001-2005..............................................................................................................371 GRFICO 23 MUNICPIO DE PALMELA EVOLUO DO NMERO DE SOCIEDADES DE

    INDSTRIAS TRANSFORMADORAS 2001-2004 ............................................................................373 GRFICO 24 MUNICPIO DE PALMELA EVOLUO DO NMERO DE EMPREGADOS NAS SOCIEDADES 2000-2003 ...........................................................................................................375 GRFICO 25 MUNICPIO DE PALMELA EVOLUO DO NMERO DE EMPEGADOS NAS

    SOCIEDADES DE INDSTRIAS TRANSFORMADORAS 2000-2003.............................................377 GRFICO 26 MUNICPIO DE PALMELA VOLUME DE VENDAS NAS SOCIEDADES (EM MILHARES DE EUROS) 2000- 2003 ..........................................................................................378 GRFICO 27 MUNICPIO DE PALMELA VOLUME DE VENDAS NAS SOCIEDADES DE INDSTRIAS TRANSFORMADORAS (EM MILHES DE EUROS) 2000-2003.........................379 GRFICO 28- GRAU DE INFLUNCIA DIRECTA E DE INFLUNCIA DIRECTA E INDIRECTA 409 GRFICO 29 GRAU DE DEPENDNCIA DIRECTA E DE DEPENDNCIA DIRECTA E

    INDIRECTA........................................................................................................................................411 GRFICO 30 -PLANO DAS INFLUNCIAS E DAS DEPENDNCIAS ENTRE ACTORES...............................................................................................................................412 GRFICO 31 - INDICADOR DA RELAO DE FORA ENTRE ACTORES...................................415 GRFICO 32 - BALANO LQUIDO DAS INFLUNCIAS POR CADA PAR DE ACTORES ............416 GRFICO 33 - MXIMA INFLUNCIA E MXIMA DEPENDNCIA DIRECTA E INDIRECTA DE CADA ACTOR ..............................................................................................................................418 GRFICO 34 - MEDIDA EXACTA DE FORA DE CADA ACTOR..................................................419 GRFICO 35 - IMPLICAO E MOBILIZAO DOS ACTORES ...................................................422 GRFICO 36 - HISTOGRAMA DA MOBILIZAO DOS ACTORES SOBRE OS OBJECTIVOS..424 GRFICO 37 - DIVERGNCIAS ENTRE ACTORES DE 2 ORDEM ...............................................434 GRFICO 38 - DIVERGNCIAS ENTRE ACTORES DE 3 ORDEM ...............................................436 GRFICO 39 - CONVERGNCIAS ENTRE ACTORES DE 2 ORDEM ...........................................438 GRFICO 40 - CONVERGNCIAS ENTRE ACTORES DE 3 ORDEM ...........................................440 GRFICO 41 - DISTANCIAS LQUIDAS ENTRE OBJECTIVOS.....................................................442 GRFICO 42 - DISTANCIAS LQUIDAS ENTRE ACTORES ..........................................................444

  • xx

  • xxi

    Aos meus Pais Leonel e Idalina

    minha Esposa Maria Jos e aos meus Filhos

    Rita e Joo o meu presente e o meu futuro,

    dedico este trabalho com todo o Amor e

    Carinho que merecem.

  • xxii

  • xxiii

    Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce Fernando Pessoa, Mensagem (1934)

  • xxiv

  • xxv

    preciso rejeitar, tanto a ideia parsoniana de uma sociedade organizada em

    torno de um conjunto de valores especificados em normas sociais e encarnadas em

    organizaes, estatutos e papis, como a ideia oposta de uma vida social dividida em

    dois mundos completamente separados, correspondentes a duas classes sociais, de modo

    que tudo o que parecesse ser comum ao conjunto de uma sociedade no passaria de uma

    iluso, servindo os interesses da classe dominante.

    Alain Touraine, O Retorno do Actor, p. 69

    A sociedade em rede a sociedade em que ns vivemos. No uma sociedade

    composta por cibernautas solitrios e robs em telecomunicao. Nem sequer a terra

    prometida das novas tecnologias que resolvem os problemas do mundo com a sua

    magia. , simplesmente, a sociedade em que estamos a entrar, desde h algum tempo,

    depois de termos transitado na sociedade industrial durante mais de um sculo. Mas,

    da mesma forma que a sociedade industrial coexistiu durante vrias dcadas com a

    sociedade agrria que a precedeu, a sociedade em rede mistura-se, nas suas formas,

    nas suas instituies e nas suas vivncias, com os tipos de sociedade de onde surgiu.

    Mais ainda, (...) um trao essencial da sociedade em rede que se organiza

    globalmente e os seus nveis de desenvolvimento so muito diferentes em cada pas. Nem

    todas as pessoas, nem todas as actividades, nem todos os territrios esto organizados

    segundo a estrutura e a lgica da sociedade em rede.

    Manuel Castells A Sociedade em Rede, in Gustavo Cardoso et alli,

    A Sociedade em Rede em Portugal, p. 19

  • xxvi

  • xxvii

    AGRADECIMENTOS

    Um trabalho de ndole acadmica, como este que aqui se apresenta, pressupe

    que tenha havido um conjunto de esforos que foram desenvolvidos quer por parte de

    quem o produziu quer por parte de quem o ajudou a tomar forma.

    Ao longo destes cinco anos de recolha, de sistematizao e de reflexo sobre

    estudos, teorias, metodologias de investigao e de dados empricos, muitos foram os

    contributos e apoios recebidos e, sem os quais, teria sido impossvel a sua

    materializao num documento escrito pronto para ter a sua apresentao e discusso

    crtica.

    H, contudo, contributos de natureza diversa que no podem nem devem deixar

    de ser realados. Por essa razo, desejo expressar os meus sinceros agradecimentos.

    Em primeiro lugar, dirijo-me minha orientadora, a Professora Doutora

    Mariana Cascais, por ter aceite a orientao de um trabalho que lhe foi proposto por

    um desconhecido do meio acadmico da Universidade de vora e, por esse facto, os

    meus agradecimentos por ter acreditado nas minhas capacidades de trabalho e de

    investigao; quero ainda expressar-lhe o meu reconhecimento, relevando a sua total

    disponibilidade na orientao deste trabalho, onde sempre ressalvou a minha

    independncia, quanto s orientaes terico-metodolgicas, e cuja presena contnua

    foi sentida atravs do seu esprito humanista e dos conselhos prticos tendentes

    melhoria do trabalho.

    Em segundo lugar, dirijo aos meus agradecimentos aos membros do Conselho

    Cientfico do Departamento de Sociologia da Universidade de vora, por terem aceite o

    meu projecto de investigao, revelando tambm a sua abertura face ao estudo de um

    territrio localizado fora do contexto espacial do Alentejo.

    No quero deixar de agradecer aos organismos pblicos e s empresas privadas

    nacionais e estrangeiras (que se encontram em Portugal), pela informao que mantm

    disponvel para consulta na Internet e que se tornou fundamental para este estudo.

    Embora no fosse minha a inteno de provar a qualidade da informao presente nos

    vrios stios virtuais que consultei, verifiquei que possvel realizar uma recolha

  • xxviii

    significativa de informao (estatstica ou outra) sem haver a necessidade de nos

    deslocarmos para outros locais, pelo que o desafio que feito s Sociedades da

    Informao cada vez maior perante uma crescente exigncia por parte dos

    investigadores.

    No seguimento do que acabei de referir, manifesto os meus agradecimentos ao

    Conservatoire Nationale des Artes et Mtiers e ao Laboratoire dInvestigation en

    Prospective Stratgie et Organisation, de Frana, por terem disponibilizado

    gratuitamente e on-line o software MACTOR, tornando possvel a concretizao prtica

    deste projecto.

    Tambm cole Nationale des Pontes et Chaussees de Frana., um

    agradecimento muito especial, pela forma simptica e graciosa, com que disponibilizou

    bibliografia que se encontrava indisponvel em Portugal, e que foi muito pertinente para

    a minha reflexo terica sobre as questes da Sociologia do Territrio.

    Tendo esta investigao como objecto de estudo os actores e as suas estratgias

    face ao desenvolvimento local para o municpio de Palmela, no quero deixar de

    agradecer aos seguintes actores sociais locais: Cmara Municipal. de Palmela, atravs

    do Sr. Antnio Pombinho; Associao do Comrcio e Servios do Distrito de Setbal, na

    pessoa da Dr. Isabel Cruz; Associao de Viticultores do Concelho de Palmela, na

    pessoa da sua Presidente, Dr. Lurdes Atalaia; Frum da Indstria Automvel de

    Palmela, na pessoa da sua Directora Geral, Dr. Marina Peliz; Associao para o

    Desenvolvimento Rural da Pennsula de Setbal, na pessoa da sua Coordenadora, Dr.

    Manuela Sampaio; Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela., na pessoa do seu

    Presidente, Sr. Jorge Mares; Adega Cooperativa de Palmela, nas pessoas do seu

    Presidente, Sr. Antnio Fernandes e do seu Enlogo, Eng Lus Oliveira; empresa

    alem Autoeuropa do grupo Volkswagen AG, , na pessoa da Directora do Gabinete de

    Relaes Pblicas & Assuntos Governamentais, Dr. Carmo Jardim; Sociedade

    Filarmnica Palmelense Loureiros, atravs do seu Presidente, Sr. Rogrio Almeida;

    Regio de Turismo da Costa Azul., atravs da Dr. Maria Clara Rebola, que com a sua

    colaborao tornaram possvel parte deste trabalho.

    No quero deixar de referir e de agradecer a interveno do meu Amigo Carlos

    Rocha junto da Autoeuropa, de modo a que fosse possvel a realizao da entrevista

  • xxix

    junto daquela empresa.

    Ao meu Colega e Amigo Dr. Jos Antnio Cabrita os meus agradecimentos por

    me ter convencido a apresentar o projecto de doutoramento na Universidade de vora.

    Aos meus Professores, que me acompanharam ao longo de todo o meu percurso

    acadmico, o meu reconhecimento pelos conhecimentos que transmitiram.

    Aos meus Amigos que, nos momentos bons e menos bons, partilharam o seu

    caminho com o meu.

    Como o Socilogo no tem de ser necessariamente ateu, quero manifestar o meu

    agradecimento a Deus pela concesso da Sua Luz Divina que me iluminou no caminho

    do Conhecimento dando-me, nos momentos mais difceis, a Fora e o nimo para

    concretizar este projecto de investigao.

    Finalmente minha Famlia, porque os ltimos so sempre os primeiros, quer

    nas nossas preocupaes, quer nos nossos pensamentos, dirijo uma palavra de carinho e

    de profundo agradecimento, quer pelo estmulo que me foi dado quer pela compreenso

    que mostrou ao longo destes anos em que me dediquei concepo, pesquisa e

    redaco deste trabalho e que muitas horas retiraram ao nosso convvio.

    Palmela., Junho de 2006

    Antnio Pedro Sousa Marques

  • xxx

  • 1

    Figura 1 O municpio de Palmela no contexto regional

  • 2

  • 3

    Figura 2 O municpio de Palmela e as freguesias que o constituem

  • 4

  • 5

    INTRODUO

    O texto que aqui se apresenta constitui o relatrio do projecto de investigao

    denominado Actores, Estratgias e Desenvolvimento Local conflitos e consensos no

    municpio de Palmela no limiar do sculo XXI que foi desenvolvido na Universidade de

    vora entre os anos de 2001 e 2006 e cujo objectivo central foi a obteno do grau de

    Doutor em Sociologia.

    O interesse manifestado pelas temticas relacionadas com as questes territoriais

    remonta ao perodo da minha licenciatura em Sociologia onde foram apreendidas as

    problemticas tericas que nos anos oitenta do sculo passado preenchiam a Sociologia

    Rural e a Sociologia Urbana.

    As reflexes e as redefinies ocorridas no campo terico-conceptual destes dois

    ramos especializados da Sociologia conduziram construo de uma nova Sociologia

    a Sociologia do Territrio na qual adquiri os conceitos e desenvolvi as problemticas

    tericas de abordagem e que se traduziram num trabalho de investigao conducente

    obteno do grau de Mestre nessa nova rea do conhecimento sociolgico.

    Quando surgiu a hiptese de realizar um projecto de investigao conducente ao

    doutoramento, tal assentou no apenas nas questes de valorizao pessoal e

    profissional, como pesou o facto de reter um conjunto de interrogaes que tenho feito

    sobre as causas das mudanas sofridas no territrio do municpio de Palmela e sobre as

    estratgias desenvolvidas por parte dos actores que interagem neste territrio.

    Poder-se- ento dizer que o meu interesse por este projecto nasceu da minha

    dupla condio: a de cidado e a de socilogo.

    Digamos que no foi tarefa fcil para mim enquanto socilogo, proceder a uma

    demarcao emocional do objecto emprico que estive a estudar, sobretudo, quando esse

    espao o meu espao social, econmico, cultural e simblico, detentor de atributos

    objectivos e subjectivos. nessa pluralidade de espaos que desenvolvo processos

    variadssimos de interaco enquanto cidado e onde tambm corro o risco de participar

    mais com olhar de socilogo do que de simples cidado.

  • 6

    na condio de cidado palmelense, ou palmelo,1 que tenho vindo a

    acompanhar, desde h muito tempo, o desenrolar de um conjunto de transformaes

    diversas e complexas que tm sido responsveis pela alterao substancial da face do

    municpio de Palmela, um territrio que durante vrios sculos viveu essencialmente da

    agricultura e que, no limiar do sculo XXI denota uma pluralidade de formas de

    desenvolvimento que podero assumir, embora no necessariamente, contornos de

    grande conflitualidade entre os variadssimos actores movidos por interesses diferentes e

    diversos.

    Estas minhas interrogaes e preocupaes enquanto cidado so, qui, idnticas

    s de muitos que so naturais deste lugar ou que nele h muito habitam, e que vem com

    bons ou com maus olhos, a implantao industrial, as vias de comunicao que rasgam

    os vinhedos, o aumento populacional e a descaracterizao das localidades, ou aumento

    da poluio e a degradao da paisagem.

    Este conjunto de preocupaes levou-me, enquanto socilogo, a realizar um

    projecto de investigao que grosso modo se inscrevesse na temtica sobre o

    desenvolvimento local.

    A temtica que presidiu e orientou este projecto de investigao foi escolhida

    uma vez que as suas problemticas e abordagens tericas apresentam-se, em meu

    entender, como as mais inteligveis e promissoras reflexes que tornaram possvel dar

    resposta no s s minhas velhas preocupaes, enquanto cidado comum, como foram

    capazes de responder pergunta de do municpio de Palmela acerca do

    desenvolvimento que se est a operar nesse territrio?

    Esta questo que possibilitou uma reflexo em torno no s do desenvolvimento

    local viria a remeter, necessariamente, para uma outra questo que lhe est associada: a

    participao dos actores locais nesse processo desenvolvimento.

    Neste sentido, surgiram um grupo de questes, que embora complementares, no

    deixam de ser pertinentes para que a investigao atingisse inteligibilidade nas suas

    concluses.

    1 - Embora Palmelense seja o termo mais adequado para designar formalmente o natural de Palmela, Palmelo pode ser usado como um termo popular que tanto pode designar o vento forte que sopra do lado de Palmela em direco a Lisboa, ou seja no sentido sul para sueste , ou ainda um natural desse lugar que Ferno Lopes na Crnica de D. Joo I chamou logar tam forte e tam maao de filhar

  • 7

    Deste modo, procedeu-se construo de um objecto terico que incidiu sobre as

    estratgias de actores e a anlise das dinmicas locais de desenvolvimento em Palmela, tendo em

    considerao os seguintes aspectos: que alianas e conflitos existem entre actores? Perante a

    diversidade de interesses procurou-se determinar a existncia (ou no) de alianas e/ou

    de conflitos por parte dos actores que interagem neste territrio. Por outro lado, que tipo

    de consensos so mobilizadores?, ou seja, sabendo que existem consensos, procurou-se

    perceber quais os que se apresentam como os mais mobilizadores.

    Havendo actores que apresentam maior peso ao nvel dos vrios tipos de influncias

    exercidas e sofridas, pretendeu-se saber se existe uma hierarquizao dentro dos

    actores sociais locais em termos de influncias indirectas sobre os outros ? e se essa

    hierarquia a existir, percepcionada pelos actores ?

    Em termos de enquadramento conceptual, a pesquisa delimitou trs ns problemticos

    fundamentais:

    - a problemtica da dinmica territorial onde se pretendeu dar conta dos problemas que os

    processos de globalizao e internacionalizao da economia levantam ao nvel da redefinio dos

    espaos de deciso e de Poder;

    - a problemtica do desenvolvimento local, procurou apresentar as questes que se prendem

    com a identidade e com a participao dos actores nas polticas locais e detectar as suas estratgias

    nos projectos de desenvolvimento local e no controlo destes sobre as exogeneidades;

    - a problemtica do urbanismo, que foi entendida como a capacidade de definio e gesto

    de um projecto territorial assente na diversidade dos interesses e dinmicas urbanas por parte de

    municpios sujeitos a presses exgenas e endgenas.

    A orientao metodolgica que presidiu a esta investigao insere-se no que se

    denomina por investigao-aco.

    A questo fundamental que apresentada pelas metodologias de investigao-

    aco, em matria de produo de conhecimento, assenta na relao que estabelecida

    entre o investigador e o objecto de estudo.

    Esta aproximao metodolgica especfica assente na investigao-aco

    constituiu o elemento central para a recolha e tratamento de informao desta

    investigao, centrada numa dinmica de relacionamento e de permanente colaborao

  • 8

    entre o investigador e os actores envolvidos.

    Contudo, coube ao investigador o papel catalizador para criar as condies

    favorveis anlise das problemticas e s tomadas de conscincia das condies que se

    encontram subjacentes aos factos estudados, criando estmulos que levassem

    participao dos actores sociais envolvidos, no processo de investigao.

    O trabalho encontra-se estruturado em trs partes:

    A primeira parte consiste no enquadramento terico-conceptual da pesquisa.

    Nela procura-se introduzir o tema, recorrendo s questes tericas que foram sendo

    abordadas pela Sociologia e da Economia sobre o espao e suas mutaes; um

    terceiro captulo debrua-se sobre o Espao Regional e Espao Local: da anlise do

    sistema anlise dos actores conducente anlise das principais transformaes

    sociais e econmicas provocadas pelos processos de globalizao e como as teorias da

    Sociologia contriburam para a sua anlise.

    Perante um conjunto de aspectos decorrentes dos processos de globalizao

    abordam-se as questes que possam levar compreenso da crise global s estratgias

    locais e o surgimento dos paradigmas do Desenvolvimento e a Anlise do Local.

    Para uma melhor percepo em torno das questes do desenvolvimento local e da

    parcerias a serem estabelecidas entre os actores locais, apresenta-se um captulo sobre

    identidade, pertena e participao e um outro sobre as representaes do

    desenvolvimento e as perspectivas dos actores.

    Esta primeira parte termina com um captulo sobre as formas de organizar e

    gerir o territrio que incide sobre a evoluo das teorias sobre o urbanismo e

    particularmente sobre o planeamento estratgico.

    Nesta primeira parte estabelecem-se as hipteses de trabalho, que aps a

    abordagem terica, foram confrontadas com a realidade emprica.

    Na segunda parte descrevem-se os procedimentos metodolgicos que presidiram

    escolha das tcnicas, das variveis e da amostra intencional, tendentes determinao

    das estratgias de actores do municpio de Palmela e ao trabalho emprico que foi realizado.

    Quanto metodologia utilizada refere-se a importncia da recolha e anlise documental,

  • 9

    assim como a observao directa na construo das variveis utilizadas e na escolha dos actores,

    tornando assim possvel uma utilizao do mtodo MACTOR.

    A terceira parte apresenta o trabalho emprico.

    Inicia-se com um ttulo denominado Planeamento Urbanstico e Estratgia de

    Actores: para onde vai Palmela ?, que comea com a histria do Podel Local em

    Portugal, seguindo-se as Figuras de Planeamento em Portugal e no municpio de

    Palmela.

    Seguem-se alguns captulos que procuram articular os processos de

    desenvolvimento verificados na Pennsula de Setbal e o municpio de Palmela de modo

    a dar conta, quer da sua insero, quer da sua especificidade, em termos comparativos,

    no que respeita a alguns aspectos do seu desenvolvimento. O primeiro captulo incidiu

    sobre o Dinamismo produtivo e impactos territoriais no municpio de Palmela, e

    nele se revelam a pluralidade de processos de desenvolvimento, diversos e diferenciados,

    que tm caracterizado este espao regional; analisou-se em seguida os Dinamismos

    Scio-Espaciais do Municpio de Palmela, nomeadamente: as Alteraes dos Factores

    de Localizao, os Impactos Territoriais da Localizao Produtiva; a dinmica

    urbanstica merece alguma ateno na medida que poder contribuir para algumas

    explicaes em torno da questo da centralidade geoestratgica do municpio no espao

    da Pennsula de Setbal, e dos seus crescimentos urbanos - legal e de gnese ilegal.

    A terceira parte termina com o captulo Do Existente ao desejvel: as

    estratgias de actores do municpio de Palmela onde apresentam e comentam os

    resultados obtidos no trabalho de campo.

    Na concluso apontam-se as grandes questes que o trabalho revelou e so

    retomadas as interrogaes iniciais, discutindo-se a importncia da participao dos

    actores locais no desenvolvimento do municpio de Palmela.

  • 10

  • 11

    Figura 3 O Objecto Terico da Investigao

    Especificidades Locais Conflitos/Consensos Gesto e Planeamento Estratgico

    Estado Internacionalizao da Planeamento Urbanstico Economia Pblico

    Autarquias

    Articulaes Dinmica Os Actores e o Dinmica dos Sistema de Gesto Territorial Grupos e Deciso

    Desenvolvimento Local Projecto de

    Descontinuidades Privado Cidade

    Empresas Mudana Social e

    Desenvolvimento Local Promotores

    Mobilidades Imobilirios Associaes Patronais e Profissionais

    Associaes Culturais

    Mudana de Actores Jogos de Actores Actores de Mudana

  • 12

  • 13

    I PARTE

  • 14

  • 15

    1 - TRAAR O OBJECTO DE INVESTIGAO

    O mundo das ltimas duas dcadas apresentou uma diferena abismal face aos

    aspectos que o caracterizaram nos perodos que se seguiram ao final da II Grande

    Guerra.

    Mais recentemente verificaram-se grandes mudanas ao nvel social, econmico e

    tecnolgico. A acrescentar ao rol de transformaes verificadas, h a assinalar uma nova

    readequao dos espaos econmicos nacionais e transnacionais em que a reunificao

    alem, a desagregao do bloco ideolgico-poltico-econmico-militar da Europa de

    Leste, os conflitos tnicos nos Balcs e a formao do espao poltico-econmico da

    Unio Europeia, se apresentam como paradigmticos quer para a compreenso das

    dinmicas da globalizao, quer para repensar o contexto de polticas econmicas e o

    lanamento de um novo olhar sobre os papis que os espaos locais podem vir a

    desempenhar neste novo contexto.

    Durante dcadas, a Sociologia e a Economia desenvolveram teorias em torno da

    questo do desenvolvimento econmico, colocando em dicotomia os pases ricos

    industrializados e desenvolvidos e os pases do terceiro mundo, pobres,

    subdesenvolvidos e altamente dependentes das lgicas dominantes dos primeiros.

    Face a uma conjuntura econmica de profundas transformaes, onde os sintomas

    de crise no so alheios, h que reequacionar toda esta questo, ou seja, h que

    considerar a problemtica do desenvolvimento em primeira prioridade, e abandonar a

    ideia, por ora j cristalizada, que essa questo exclusiva do terceiro mundo. A reflexo

    leva Jos Arocena1 a afirmar que mesmo as velhas naes industrializadas devem, elas

    tambm, ser vistas como estando em vias de desenvolvimento.

    Hoje, as questes sobre o desenvolvimento ganham maior pertinncia se

    considerarmos as frmulas j ensaiadas ou postas em prtica: as polticas anti-

    inflacionrias e monetrias, que se traduziram em pequenos xitos ou em grandes

    1 - Cf. AROCENA, Jos (1986) - Le Dveloppement par lInitiative Locale, Paris, LHarmattan, p. 11

  • 16

    endividamentos por parte dos vrios pases que constituem o sistema mundial.

    Estamos ento perante a necessidade de procurar novas formas de mobilizao do

    potencial humano, necessariamente diferentes dos modos anteriores de pensar o

    desenvolvimento, e que podem ser corporizadas a partir de iniciativas locais.

    Ao debate sobre as questes do desenvolvimento econmico interessa,

    simultaneamente, o problema da criao de riqueza e o problema do emprego. Estas duas

    questes parecem estar intimamente relacionadas com a forma de planear e gerir um

    territrio. Da que quando se fala no actor principal, sempre envolvido nestas questes, a

    referncia feita ao governo local. Todavia, o governo local no pode trabalhar

    independentemente, quer dos outros nveis de governo regionais ou nacional quer de

    outros actores no governamentais.

    Se aceitarmos o princpio de que a mudana estrutural o maior estmulo

    aco,1 ento os Governos, os agentes econmicos e as pessoas no podero ficar

    impassveis, nem deixar que as vrias formas da economia sejam alteradas sem a sua

    participao.

    Esta capacidade de iniciativa tem a sua emergncia a partir dum contexto de

    crise, ao mesmo tempo que apela a uma grande mobilizao dos actores locais face a um

    conjunto de questes que podem funcionar como agentes estimuladores para a aco 2

    e que se passam a descrever:

    a) A internacionalizao dos mercados

    b) O impacto da mudana das condies dos mercados na estrutura industrial

    c) A reestruturao econmica e o desenvolvimento

    d) A presso fiscal

    e) A actividade local

    f) O aumento da sensibilidade s questes ambientais

    g) A reestruturao do welfare

    h) A presso demogrfica

    1 - BENNET, Robert J.; KREBS, Gunter (1991) - Local Economic Development, Londres e Nova York, Belhaven Press, p. 8 2 - Foram adoptados os estimuladores para a aco propostos por BENNET, Robert J.; KREBS, Gunter (1991) - idem, pp. 8-11

  • 17

    Perante este conjunto de questes, pareceu importante proceder construo de

    um objecto terico que incida sobre a anlise dos actores e suas estratgias face ao

    desenvolvimento local. O objecto emprico o municpio de Palmela, um dos nove

    municpios que constituem a denominada Pennsula de Setbal.

    Palmela um municpio que j no rural, mas que ainda no urbano,

    possuindo uma rea de 461.82 Km2, que faz dele o maior municpio, em superfcie, da

    Pennsula de Setbal. A sua posio, no ponto de vista geogrfico, a de charneira ente o

    Alentejo e a Pennsula de Setbal, fazendo confluncia com sete dos nove municpios

    que a constituem.1

    Esta caracterstica geogrfica contribuiu para que se verifiquem nos tempos mais

    recentes duas realidades perfeitamente distintas. A zona oriental, marcadamente rural e

    com um tipo de habitat semelhante ao do Alentejo e a zona ocidental, mais

    industrializada e mais urbanizada.

    Durante mais de um sculo, este municpio assentou num modelo de

    desenvolvimento baseado no autocentramento agrcola, verificando-se, ainda hoje, um

    peso bastante significativo por parte do sector agrcola na sua economia.

    Todavia, os incentivos que a agricultura tem vindo a receber, bem como a sua

    insero no espao metropolitano de Lisboa, tem vindo a contribuir para que se tivessem

    processado alteraes significativas neste sector.

    Palmela foi mantendo, at h poucos anos, uma incipiente industrializao, pelo

    que durante a crise verificada em toda a Pennsula de Setbal, esta se manteria imune.

    Tal situao deve-se essencialmente ao facto das suas unidades produtivas no se

    inscreverem nos sectores mais atingidos, como sejam a indstria naval, a montagem de

    automveis, a siderurgia.

    Os anos oitenta viriam, contudo, a contribuir para que o municpio se abrisse

    procura de novos espaos, por parte de empresas que, atradas pelos incentivos da

    Operao Integrada de Desenvolvimento da Pennsula de Setbal, (OID/PS) rumavam

    Pennsula, e em particular ao municpio de Palmela, que lhes oferecia ptimas condies

    urbansticas, merc da construo de infra-estruturas de circulao que entretanto foram

    1 - Exceptuam-se os municpios de Almada e Seixal.

  • 18

    sendo realizadas.

    J os anos noventa se mostraram cruciais no s para o municpio de Palmela,

    como para os restantes municpios que integram a Pennsula de Setbal. Em 1995, com o

    incio da produo na fbrica Autoeuropa localizada no municpio de Palmela, novo

    flego foi sentido, sobretudo em matria de investimentos e de criao de empregos.

    Na primeira dcada do novo milnio e perante uma estrutura produtiva

    dependente estruturalmente do exterior, num pas que teima em no definir estratgias e

    objectivos especficos de desenvolvimento torna-se cada vez mais pertinente a anlise

    das estratgias de actores face ao futuro do territrio em que interagem.

    Esta pertinncia j comeou a ganhar importncia ao nvel da anlise sociolgica

    sobre o desenvolvimento local, assistindo-se ao apelo territorializao das relaes

    sociais e ao entrosamento destas com a internacionalizao das economias, e na

    polarizao das decises em regies ou cidades globais.

  • 19

    O Espao tem uma definio histrica, tem uma definio econmica,

    tem uma definio social Antnio Simes Lopes,

    Desenvolvimento Regional, p. 23

    2 - AS ABORDAGENS SOCIOLGICAS E ECONMICAS SOBRE O ESPAO

    A problemtica sobre o espao tem vindo a manter-se viva no seio das vrias

    cincias. A sua abordagem vai da Fsica Geometria, da Economia Sociologia, para

    apenas citarmos algumas abordagens e reflexes temticas. Cada disciplina desenvolve

    novos conceitos e novos mtodos de anlise de modo a responder aos novos problemas

    de organizao socio-econmicos dos territrios locais 1

    2.1 - A ABORDAGEM DA SOCIOLOGIA

    2.1.1. - A Sociologia Clssica

    Se nos debruarmos sobre os estudos que a Sociologia produziu sobre as questes

    urbanas, depressa nos apercebemos que nos escritos daqueles que habitualmente

    apelidamos de fundadores da cincia sociolgica - Karl Marx, mile Durkheim e Max

    Weber - raramente se d conta da sua preocupao em torno dessas questes. Raramente,

    pois a excepo parcial vai para Max Weber. 2

    Este desinteresse pelo fenmeno urbano no significa o desinteresse da

    Sociologia sobre as questes do espao ou sobre as questes rurais e urbanas.

    Aparentemente estaremos perante uma situao de paradoxo. Mas na realidade o

    que se verifica algo de muito diferente. Hoje, a influncia de Karl Marx, de mile

    1 - GUERRA, Isabel Pimentel (1991) - Changements Urbains et Mode de Vie dans la Pninsule de Setbal de 1974 a 1986, Tese de Doutoramento, Tours, Universit Franois Rabelais, p. 17 2 - Cf. SAVAGE, Mike; WARDE, Alan (2002) Sociologia. Urbana., Capitalismo e Modernidade, Oeiras, Celta, p. 8

  • 20

    Durkheim e de Max Weber que se faz sentir quer sobre a Sociologia, quer sobre ns,

    socilogos, muito maior que aquela que se sentiu no incio do sculo passado.

    Se verdade que Karl Marx nunca reivindicou o estatuto de socilogo, tambm

    no menos verdade que a prpria Sociologia ocidental s reparou e atribuiu interesse

    sociolgico aos seus escritos h pouco mais de quarenta anos, tendo tomado em relao

    aos mesmos uma posio crtica, ao considera-los deterministas e equvocos.1

    J Max Weber s viria a ser revelado e os seus escritos metodolgicos

    conhecidos, a partir da dcada de trinta do sculo passado, pela mo de Talcott Parsons.

    At essa dcada Max Weber no passava de um socilogo histrico especializado.2

    Finalmente, mile Durkheim , dos trs autores, aquele que possui uma elevada

    influncia no desenvolvimento da Sociologia enquanto cincia e enquanto disciplina

    acadmica, uma vez que foi um dos fundadores de uma das primeiras revistas de

    Sociologia.3

    Independentemente destes trs autores, a Sociologia surge no incio do sculo

    passado com um elevado interesse sobre a natureza da vida urbana e com a anlise dos

    problemas urbanos, sejam o desemprego, a pobreza, as tenses sociais, os factores de

    desenraizamento, o congestionamento, entre outros.4

    2.1.2 - A Sociologia Espacial

    O espao deve ser entendido como um mediador indispensvel na anlise das

    relaes sociais.5 A especificidade de que detentor reside na capacidade em induzir

    recortes prprios e indispensveis, a partir dos quais se formam situaes especficas e

    se exprimem de formas diferentes as relaes sociais, contribuindo, portanto, para

    instituir posies de desigualdade mas, tambm, novas relaes sociais que se

    configuram na relao com o espao, ou seja, no uso que dele fazem.6

    Esta reflexo em torno do espao tem, nos ltimos anos, recebido contribuies

    1 - idem 2 - idem, p. 9 3 - idem 4 - idem 5 - GUERRA, Isabel Pimentel (1987) - A Territorializao das Relaes de Produo - elementos para a anlise da vida social local., Provas de Aptido Pedaggica e Capacidade Cientfica, Lisboa., ISCTE, p. 4 6 - idem

  • 21

    de duas correntes fundamentais de pesquisa sociolgica, uma que se denominou

    Sociologia Espacial e cujo objecto de anlise incide sobre a materializao do espao; e

    a Sociologia Urbana, que procura compreender as significaes e os efeitos provocados

    pelas concentraes humanas ao nvel das relaes sociais.

    Enquanto a Sociologia Espacial procura estabelecer uma articulao entre uma

    teoria geral e uma teoria urbana introduzindo na questo urbana algumas das grandes

    problemticas da teoria geral da sociologia,1 e nalguns casos, entre uma teoria geral e a

    cidade, a Sociologia Urbana est perante uma cidade j produzida e confronta-se com a

    descontinuidade entre os conceitos de base social - que tem a ver com a definio da

    existncia de interesses comuns - e de fora social - assente na conscincia desses

    interesses e na fabricao de meios para os satisfazer.2

    Os impasses em que a Sociologia Espacial caiu parecem residir nas dificuldades

    em contornar ou, qui, sair da especificidade material do espao e da influncia que

    este exerce sobre as relaes sociais. Por outro lado, as dificuldades em construir um

    corpo conceptual especfico prendem-se com a relao que mantm com o espao

    conceptual da sociologia geral, que destri a especificidade e a prpria identificao do

    espao enquanto objecto sociolgico e possuidor de identidade prpria.

    Por sua vez, a Sociologia Urbana teve, desde o seu nascimento, na corrente

    culturalista da Escola de Chicago, um objecto terico especificamente urbano, partindo

    do pressuposto que o espao urbano detentor de caractersticas prprias, que

    constrange ou incentiva determinados comportamentos urbanos.

    As duas perspectivas em presena, que partem de valorizaes diferentes sobre os

    processos de produo e apropriao social do espao urbano, so unnimes ao

    pressupor que o espao um elemento de mediao indispensvel, a partir do qual se

    criam situaes particulares e se exprimem estruturas sociais.3

    O espao no algo abstracto. Tambm no uma pgina em branco sobre a qual

    so inscritas as aces desenvolvidas pelos grupos e pelas instituies. , acima de tudo,

    um espao social produtor de relaes sociais e que contribui para que as desigualdades

    e os interesses sociais sejam institucionalizados.

    1 - idem p. 7 2 - idem, p. 8 3 - idem, p. 20

  • 22

    2.1.3 - A Sociologia Urbana: seu desenvolvimento terico

    A Sociologia Urbana est muito longe de possuir uma estrutura cientfica unitria

    e a sua j longa histria no pode, nem deve, ser apresentada como um mero repositrio

    acumulado de conhecimentos tericos e de estudos empricos realizados ao longo de

    dcadas, e que convergem para a formao de corpo orgnico da disciplina.

    Seria, por outro lado, extremamente simplista afirmar que, embora a Sociologia

    Urbana esteja atenta a um conjunto de fenmenos sociais alvo de uma definio unvoca,

    existe no seu interior um nmero definido de paradigmas alternativos, cabendo a cada um

    uma interpretao diferente em relao aos restantes.

    O que na realidade se verifica no mbito da Sociologia Urbana um acervo

    heterogneo de conceitos, de resultados de pesquisas empricas, que se mostram

    diversificados e diferentes na medida em que so o produto de questes e de problemas

    que foram formulados de modo diferente.

    Esta diferena sobre o modo de pensar os problemas est intimamente

    relacionada com um conjunto de aspectos: os contextos nacionais em que decorrem, os

    momentos historicamente distintos que produzem os debates e os problemas sociais e

    territoriais que decorrem em formaes sociais e culturais diferentes e nem sempre

    passveis de comparao.

    No que se refere s tradies tericas que se podem encontrar no seio da

    Sociologia Urbana, Alfredo Mela (1999) prope duas, que no seu entender se apresentam

    parcialmente diferentes:

    a) a tradio terica norte-americana, partilhada com acentuaes especficas

    pelos socilogos anglo-saxnicos;

    b) a tradio terica europeia-continental, detentora de perfis especficos, e onde

    cabem os socilogos urbanos franceses, italianos e alemes.1

    1 - Cf. MELA, Alfredo (1999) - A Sociologia. das Cidades, Lisboa., Editorial Estampa, p. 20

  • 23

    2.1.4 - A Escola de Chicago

    A tradio terica da Sociologia Urbana norte-americana encontra-se intimamente

    relacionada com a chamada Escola de Chicago.1

    A Escola de Chicago desempenhou um papel de extrema importncia na

    consolidao e na confirmao da Sociologia Urbana enquanto ramo especfico da

    Sociologia.

    Em 1915, Robert Ezra Park publica no American Journal of Sociology o artigo The

    City: Suggestions for the Investigation of Human Behavior in the City Environment,

    um artigo revelador das preocupaes que a Escola de Chicago detinha em relao vida

    urbana e no qual apresentado um programa de investigao de Sociologia Urbana.

    A partir dessa altura, ao longo dos anos vinte e seguintes, decorrem na Escola de

    Chicago dois domnios de investigao:

    O primeiro domnio de investigao desenvolveu um extenso trabalho emprico

    sobre a cultura urbana, tentando determinar a especificidade do urbanismo como modo

    de vida.

    Esses estudos centraram-se sobre os diversos comportamentos verificados na

    comunidade urbana, entre a vizinhana, sobre a delinquncia, sobre a mobilidade intra-

    urbana, a vida nos bairros fortemente segregados etnicamente, etc.

    Estes estudos foram realizados por Robert Ezra Park, Ernest Burguess, Rodrick

    McKenzie e principalmente por Louis Wirth, e representaram as primeiras anlises de

    Sociologia Urbana.

    O segundo domnio de investigao teve como representantes Ernest Burgess e

    Rodrick McKenzie.

    Enquanto Burguess desenvolveu um conjunto de trabalhos sobre a forma urbana,

    com recurso cartografia ecolgica, das reas naturais de Chicago, tentando construir

    uma teoria cientfica do crescimento urbano e da estruturao espacial baseada nas

    cidades norte-americanas, Rodrick McKenzie, incrementou um conjunto de trabalhos de

    cariz etnogrfico, que incidiram sobre os vrios grupos sociais existentes na cidade de

    1 - Nome pelo que ficou conhecido o Departamento de Sociologia. da Universidade de Chicago (fundada em 1892) e que bastante cedo passou a ter um elevado reconhecimento cientfico nos EUA.

  • 24

    Chicago.

    O outro domnio de investigao da Escola de Chicago foi desenvolvido por

    Rodrick McKenzie, com recurso s tcnicas etnogrficas. Trata-se do lado menos

    conhecido dentro da Sociologia Urbana, pese embora a sua grande influncia se tenha

    sentido mais ao nvel da Antropologia Urbana.

    Estas etnografias, que tiveram o seu aparecimento a partir da dcada de vinte,

    incidiam sobre os vastssimos aspectos da vida da cidade de Chicago e procuraram dar

    resposta s questes que anos antes Robert Ezra Park levantara. Por outro lado, estas

    etnografias apresentavam grandes pormenores da vida urbana da cidade, ao mesmo

    tempo que escolhiam algumas populaes-alvo para os seus Estudos: os mais

    desfavorecidos, os desprotegidos e os que no se fixavam.1

    McKenzie procurava demonstrar que a localizao no espao no era apenas um

    produto dos recursos e das funes de cada grupo em termos de actividade na

    competio, como tambm estava associada a um ciclo ecolgico de invaso-

    competio-sucesso-acomodao, vlido no apenas para as actividades e reas de

    residncia, mas tambm para os grupos tnicos (ethnic succession e residential

    invasion). A diferena entre esses processos e as formas naturais de competio (vlidas

    para plantas e animais) residiria na capacidade humana de transformar as condies

    ambientais.

    Ao longo das dcadas de quarenta e cinquenta, Amos Hawley, ao proceder a uma

    nova anlise da ecologia urbana, reduziu a nfase na competio, aumentando a

    importncia da cooperao.

    O modelo de Ernest Burgess foi, contudo, o que tornou a Escola de Chicago mais

    conhecida.

    Este modelo, como j foi referido acima, assentava nos padres do uso do solo da

    cidade de Chicago, procurando configurar os padres bsicos de segregao social nas

    cidades contemporneas.

    Baseado em quatro zonas concntricas, formava uma representao ideal-tpica

    do crescimento da cidade. No meio da cidade estava previsto a existncia do centro de negcios

    da cidade. Numa zona de transio, j afastada desse centro, uma outra rea concntrica

    1 - Cf. SAVAGE, Mike; WARDE, Alan (2002) - Op.cit. p.11

  • 25

    caracterizada pela decadncia urbana, onde se observava uma invaso por parte dos

    negcios e da indstria.

    Esta situao no se mostrava atractiva para os residentes. Ento aqueles que

    eram possuidores de alguns recursos econmicos recorriam zona residencial dos

    trabalhadores, ou seja, uma zona mais perifrica que antecedia os subrbios onde a

    chamada classe mdia se apresentava em predominncia.

    Ao elaborar este modelo, Ernest Burgess quer relevar a importncia dos processos

    ecolgicos, ou seja, medida que as cidades se expandem, sucessivas invases

    ocorrem simultaneamente ao extravasar das pessoas daquelas que eram as suas reas

    para outras, levando competio entre diferentes comunidades e alterao da forma

    urbana.1

    curioso verificar que, quase um sculo aps este modelo ter sido apresentado,

    assiste-se em Portugal, em matria de Planeamento Municipal, a estratgias semelhantes,

    rompendo com um passado onde as periferias sem qualidade eram dominantes em torno

    das grandes cidades. O Planeamento Municipal pressionado urbanisticamente pelos

    agentes imobilirios apresenta nos seus territrios zonas destinadas a condomnios

    fechados, alguns deles junto a campos de golfe, etc.2

    Os temas-chave, ainda hoje relevantes, que derivam da experincia da Escola de

    Chicago, no se referem teoria ecolgica formalizada nem s primeiras verses do

    mtodo etnogrfico urbano, mas constituem, antes, trs elementos substantivos

    interrelacionados: a sociation, as formas variveis que esta toma na modernidade e, por

    ltimo, a reforma social.

    Se para a primeira Escola de Chicago a estruturao do espao era vista como um

    produto da luta dos indivduos e grupos por recursos escassos, j para a segunda verso

    da tradio ecolgica a distribuio scio-espacial foi entendida como uma adaptao

    funcional de cada espao particular a transformaes provocadas na sociedade urbana

    como um todo.

    A sociedade seria ento um sistema que, buscando equilbrio, imprimiria funes

    1 - idem, p. 10 2 - So os exemplos dos condomnios da Herdade da Aroeira, no municpio de Almada, da Quinta do Peru, no municpio de Sesimbra ou da Herdade do Montado, no municpio de Palmela, todos eles junto a campos de golfe.

  • 26

    diversas a cada uma de suas partes.

    Uma transformao em determinada configurao espacial representaria uma

    mudana homeosttica das partes daquele sistema.

    2.1.5 - A Sociologia Urbana Britnica

    No Reino Unido, o desenvolvimento da Sociologia Urbana s assumiu interesse

    acadmico quando esta foi instituda, nos anos sessenta do sculo passado, como matria

    leccionada no ensino superior.

    Todavia, de realar que embora se tenha verificado esta entrada tardia no mundo

    acadmico, no Reino Unido, tal como nos Estados Unidos, havia uma longa tradio ao

    nvel da pesquisa social, sobretudo nas questes que lhe so colaterais, ou sejam, as

    questes relacionadas com a natureza, as causas e consequncias dos problemas

    urbanos.1

    As preocupaes dos analistas sociais de ento assentavam nas questes da

    pobreza urbana e no seu recenseamento, na tentativa de perceberem quais as causas

    terica que poderiam explicar a pobreza nos meios urbanos. Mas, contrariamente ao que

    poderamos supor, este estilo de trabalho apresentava-se mais prximo, do que hoje

    chamamos de jornalismo de investigao, do que dos mtodos etnogrficos utilizados

    pela Escola de Chicago.

    De todos estes reprteres do social, dis