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ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 187 DISTRITO FEDERAL V O T O (s/ pedido formulado pela Associação Brasileira de Estudos Sociais do uso de Psicoativos - ABESUP ) O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO - (Relator): Registro que admiti , formalmente, como “amici curiae” (fls. 143 e 669), a Associação Brasileira de Estudos Sociais do Uso de Psicoativos - ABESUP (fls. 120/121) e o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais – IBCCRIM (fls. 634/639), cujos pronunciamentos, dando especial ênfase às liberdades constitucionais de reunião e de manifestação do pensamento, convergem, em seus aspectos essenciais, no sentido pretendido pela autora da presente argüição de descumprimento de preceito fundamental. I . A intervenção do amicus curiae : pluralização do debate constitucional e extensão e limites dos poderes processuais desse terceiro interessado no âmbito dos processos de fiscalização abstrata de constitucionalidade , no entanto, Senhor Presidente, outra questão prévia a ser analisada e que se refere à extensão e aos limites dos poderes processuais de que se acha investido o “amicus curiae”.

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ADPF 187 - Julgamento Amicus

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  • ARGIO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 187 DISTRITO FEDERAL

    V O T O

    (s/ pedido formulado pela Associao Brasileira de Estudos Sociais do uso de Psicoativos - ABESUP)

    O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO - (Relator): Registro

    que admiti, formalmente, como amici curiae (fls. 143 e 669), a

    Associao Brasileira de Estudos Sociais do Uso de Psicoativos -

    ABESUP (fls. 120/121) e o Instituto Brasileiro de Cincias Criminais

    IBCCRIM (fls. 634/639), cujos pronunciamentos, dando especial nfase

    s liberdades constitucionais de reunio e de manifestao do

    pensamento, convergem, em seus aspectos essenciais, no sentido

    pretendido pela autora da presente argio de descumprimento de

    preceito fundamental.

    I. A interveno do amicus curiae: pluralizao do debate constitucional e extenso e limites dos poderes processuais desse terceiro interessado no mbito dos processos de fiscalizao abstrata de constitucionalidade

    H, no entanto, Senhor Presidente, outra questo prvia

    a ser analisada e que se refere extenso e aos limites dos poderes

    processuais de que se acha investido o amicus curiae.

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    Essa indagao se impe pelo fato de a ABESUP

    claramente ampliar o objeto da presente demanda, delimitado, com

    preciso, pela douta Procuradoria-Geral da Repblica, que postula,

    unicamente, seja dado, ao art. 287 do Cdigo Penal, interpretao

    conforme Constituio de forma a excluir qualquer exegese que

    possa ensejar a criminalizao da defesa da legalizao das drogas,

    ou de qualquer substncia entorpecente especfica, inclusive atravs

    de manifestaes e eventos pblicos (fls. 14 grifei).

    Com efeito, a ABESUP pretende o reconhecimento da

    legitimidade jurdica, com a conseqente declarao de ausncia de

    tipicidade penal, de determinadas condutas (fls. 188/189), tais como

    o cultivo domstico, o porte de pequena quantidade e o uso em mbito

    privado da maconha; a utilizao de referida substncia para fins

    medicinais, inclusive para efeito de realizao de pesquisas mdicas;

    o uso ritual da maconha em celebraes litrgicas; a utilizao da

    substncia canbica para fins econmicos, admitidos, quanto a ela, o

    plantio, a exportao e importao, a distribuio ou a venda de

    insumos ou de produtos dela oriundos, sem qualquer vinculao ao

    consumo da planta propriamente dito; ou, ento, a submisso de tais

    pleitos a um processo prvio de regulamentao via SENAD/CONAD, com

    a participao democrtica dos rgos e entidades que manifestem

    interesse no assunto.

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    A ABESUP tambm pleiteia a concesso, de ofcio, em

    carter abstrato, de ordem de habeas corpus em favor de quaisquer

    pessoas que incidam nos comportamentos anteriormente referidos

    (fls. 151).

    Destaco, para efeito de registro, esse pleito que a

    Associao Brasileira de Estudos Sociais do Uso de Psicoativos

    ABESUP deduziu nos presentes autos (fls. 188/189):

    Seja concedida ordem de habeas corpus de ofcio, em carter abstrato, interpretando a Lei 11343/2006, em destaque seus artigos 2 e 28, de modo a garantir eficcia aos preceitos constitucionais implcitos e os estabelecidos nos artigos 5, caput e inciso VI; 6; 170; 196 e 197, da Carta Federal, a fim de que seja reconhecida a atipicidade:

    a) do cultivo domstico da cannabis e do porte de pequena quantidade, sendo vedado expressamente o comrcio, admitindo-se o uso to-somente no mbito privado (...);

    b) do uso da cannabis para fins medicinais, em sentido lato, englobando, tambm, a possibilidade de realizao de pesquisas mdicas;

    c) do uso religioso da cannabis, na qualidade de sacramento inerente ao ritual;

    d) da utilizao para fins econmicos, admitindo o plantio, a exportao e importao, a distribuio ou a venda de insumos ou produtos oriundos do cnhamo, sem qualquer vinculao no que diz respeito ao consumo da planta propriamente dito; ou

    e) alternativamente, caso a Corte julgue conveniente, que realize o dimensionamento dos

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    efeitos da deciso, condicionando todos os pleitos acima lanados, excetuado o da liberdade de expresso, a um processo prvio de regulamentao via SENAD/CONAD, com a participao democrtica dos rgos e entidades que manifestem interesse no assunto. (grifei)

    Entendo que o amicus curiae, no obstante o

    inquestionvel relevo de sua participao, como terceiro

    interveniente, no processo de fiscalizao normativa abstrata, no

    dispe de poderes processuais que, inerentes s partes, viabilizem o

    exerccio de determinadas prerrogativas que se mostram unicamente

    acessveis s prprias partes, como, p. ex., o poder que assiste, ao

    argente (e no ao amicus curiae), de delimitar, tematicamente, o

    objeto da demanda por ele instaurada.

    Sabemos que entidades dotadas de representatividade

    adequada podem ingressar, formalmente, em sede de argio de

    descumprimento de preceito fundamental, na condio de terceiros

    interessados, para efeito de participao e manifestao sobre a

    controvrsia constitucional suscitada por quem dispe de

    legitimidade ativa para o ajuizamento de referida ao

    constitucional.

    Esse entendimento, que reconhece a possibilidade de

    participao do amicus curiae na argio de descumprimento de

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    preceito fundamental, igualmente perfilhado por ilustres autores,

    como o eminente Ministro GILMAR FERREIRA MENDES (Argio de

    Descumprimento de Preceito Fundamental: Comentrios Lei n. 9.882,

    de 3-12-1999, p. 126, item n. 04, 2007, Saraiva), cujo magistrio,

    no tema, merece ser reproduzido:

    A Lei n. 9.882/99 faculta ao relator a possibilidade de ouvir as partes nos processos que ensejaram a argio (art. 6, 1). Outorga-se, assim, s partes nos processos subjetivos um limitado direito de participao no processo objetivo submetido apreciao do STF. que, talvez em decorrncia do universo demasiado amplo dos possveis interessados, tenha pretendido o legislador ordinrio outorgar ao relator alguma forma de controle quanto ao direito de participao dos milhares de interessados no processo.

    Em face do carter objetivo do processo, fundamental que no s os representantes de potenciais interessados nos processos que deram origem ao de descumprimento de preceito fundamental, mas tambm os legitimados para propor a ao, possam exercer direito de manifestao. Independentemente das cautelas que ho de ser tomadas para no inviabilizar o processo, deve-se anotar que tudo recomenda que, tal como a ao direta de inconstitucionalidade e a ao declaratria de constitucionalidade, a argio de descumprimento de preceito fundamental assuma, igualmente, uma feio pluralista, com a ampla participao de amicus curiae. (grifei)

    Tal como assinalei em decises anteriores (ADI 2.130-MC/SC,

    Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJU 02/02/2001), a interveno do

    amicus curiae, para legitimar-se, deve apoiar-se em razes que

    tornem desejvel e til a sua atuao processual na causa, em ordem

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    a proporcionar meios que viabilizem uma adequada resoluo do

    litgio constitucional.

    Impe-se destacar, neste ponto, por necessrio, a idia

    nuclear que anima os propsitos teleolgicos que motivam a

    interveno do amicus curiae no processo de fiscalizao normativa

    abstrata.

    No se pode perder de perspectiva que a interveno

    processual do amicus curiae tem por objetivo essencial pluralizar

    o debate constitucional, permitindo que o Supremo Tribunal Federal

    venha a dispor de todos os elementos informativos possveis e

    necessrios resoluo da controvrsia, visando-se, ainda, com tal

    abertura procedimental, superar a grave questo pertinente

    legitimidade democrtica das decises emanadas desta Corte, quando

    no desempenho de seu extraordinrio poder de efetuar, em abstrato, o

    controle concentrado de constitucionalidade, tal como destacam, em

    pronunciamento sobre o tema, eminentes doutrinadores (GUSTAVO

    BINENBOJM, A Nova Jurisdio Constitucional Brasileira, 2 ed.,

    2004, Renovar; ANDR RAMOS TAVARES, Tribunal e Jurisdio

    Constitucional, p. 71/94, 1998, Celso Bastos Editor; ALEXANDRE DE

    MORAES, Jurisdio Constitucional e Tribunais Constitucionais,

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    p. 64/81, 2000, Atlas; DAMARES MEDINA, Amicus Curiae: Amigo da

    Corte ou Amigo da Parte?, 2010, Saraiva, v.g.).

    Valioso, a propsito dessa particular questo, o

    magistrio expendido pelo eminente Ministro GILMAR MENDES (Direitos

    Fundamentais e Controle de Constitucionalidade, p. 503/504, 2 ed.,

    1999, Celso Bastos Editor), em passagem na qual pe em destaque o

    entendimento de PETER HBERLE, para quem o Tribunal h de

    desempenhar um papel de intermedirio ou de mediador entre as

    diferentes foras com legitimao no processo constitucional

    (p. 498), em ordem a pluralizar, em abordagem que deriva da abertura

    material da Constituio, o prprio debate em torno da controvrsia

    constitucional, conferindo-se, desse modo, expresso real e efetiva

    ao princpio democrtico, sob pena de se instaurar, no mbito do

    controle normativo abstrato, um indesejvel deficit de

    legitimidade das decises que o Supremo Tribunal Federal venha a

    pronunciar no exerccio, in abstracto, dos poderes inerentes

    jurisdio constitucional.

    Da, segundo entendo, a necessidade de assegurar, ao

    amicus curiae, mais do que o simples ingresso formal no processo

    de fiscalizao abstrata de constitucionalidade, a possibilidade de

    exercer o direito de fazer sustentaes orais perante esta Suprema

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    Corte, alm de dispor da faculdade de submeter, ao Relator da causa,

    propostas de requisio de informaes adicionais, de designao de

    perito ou comisso de peritos, para que emita parecer sobre questes

    decorrentes do litgio, de convocao de audincias pblicas e, at

    mesmo, a prerrogativa de recorrer da deciso que tenha denegado o

    seu pedido de admisso no processo de controle normativo abstrato,

    como esta Corte tem reiteradamente reconhecido.

    Cumpre rememorar, nesta passagem, a irrepreensvel

    observao do eminente Ministro GILMAR MENDES, no fragmento

    doutrinrio j referido, constante de sua valiosssima produo

    acadmica, em que expe consideraes de irrecusvel pertinncia em

    tema de interveno processual do amicus curiae (op. loc. cit.):

    V-se, assim, que, enquanto rgo de composio de conflitos polticos, passa a Corte Constitucional a constituir-se em elemento fundamental de uma sociedade pluralista, atuando como fator de estabilizao indispensvel ao prprio sistema democrtico.

    claro que a Corte Constitucional no pode olvidar a sua ambivalncia democrtica. Ainda que se deva reconhecer a legitimao democrtica dos juzes, decorrente do complexo processo de escolha e de nomeao, e que a sua independncia constitui requisito indispensvel para o exerccio de seu mister, no se pode deixar de enfatizar que aqui tambm reside aquilo que Grimm denominou de risco democrtico (...).

    que as decises da Corte Constitucional esto inevitavelmente imunes a qualquer controle democrtico. Essas decises podem anular, sob a invocao de um direito superior que, em parte, apenas explicitado no processo decisrio, a produo de um rgo direta e

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    democraticamente legitimado. Embora no se negue que tambm as Cortes ordinrias so dotadas de um poder de conformao bastante amplo, certo que elas podem ter a sua atuao reprogramada a partir de uma simples deciso do legislador ordinrio. Ao revs, eventual correo da jurisprudncia de uma Corte Constitucional somente h de se fazer, quando possvel, mediante emenda.

    Essas singularidades demonstram que a Corte Constitucional no est livre do perigo de converter uma vantagem democrtica num eventual risco para a democracia.

    Assim como a atuao da jurisdio constitucional pode contribuir para reforar a legitimidade do sistema, permitindo a renovao do processo poltico com o reconhecimento dos direitos de novos ou pequenos grupos e com a inaugurao de reformas sociais, pode ela tambm bloquear o desenvolvimento constitucional do Pas.

    ...................................................

    O equilbrio instvel que se verifica e que parece constituir o autntico problema da jurisdio constitucional na democracia afigura-se necessrio e inevitvel. Todo o esforo que se h de fazer , pois, no sentido de preservar o equilbrio e evitar disfunes.

    Em plena compatibilidade com essa orientao, Hberle no s defende a existncia de instrumentos de defesa da minoria, como tambm prope uma abertura hermenutica que possibilite a esta minoria o oferecimento de alternativas para a interpretao constitucional. Hberle esfora-se por demonstrar que a interpretao constitucional no nem deve ser um evento exclusivamente estatal. Tanto o cidado que interpe um recurso constitucional, quanto o partido poltico que impugna uma deciso legislativa so intrpretes da Constituio. Por outro lado, a insero da Corte no espao pluralista ressalta Hberle que evita distores que poderiam advir da independncia do juiz e de sua estrita vinculao lei. (grifei)

    Na verdade, consoante ressalta PAOLO BIANCHI, em estudo

    sobre o tema (UnAmicizia Interessata: Lamicus curiae Davanti Alla

    Corte Suprema Degli Stati Uniti, in Giurisprudenza

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    Costituzionale, Fasc. 6, nov/dez de 1995, Ano XI, Giuffr), a

    admisso do terceiro, na condio de amicus curiae, no processo

    objetivo de controle normativo abstrato, qualifica-se como fator de

    legitimao social das decises do Tribunal Constitucional,

    viabilizando, em obsquio ao postulado democrtico, a abertura do

    processo de fiscalizao concentrada de constitucionalidade, em

    ordem a permitir que, nele, se realize a possibilidade de

    participao de entidades e de instituies que efetivamente

    representem os interesses gerais da coletividade ou que expressem os

    valores essenciais e relevantes de grupos, classes ou estratos sociais.

    Essa percepo do tema foi lucidamente exposta pelo

    eminente Professor INOCNCIO MRTIRES COELHO (As Idias de Peter

    Hberle e a Abertura da Interpretao Constitucional no Direito

    Brasileiro, in RDA 211/125-134, 133):

    Admitida, pela forma indicada, a presena do amicus curiae no processo de controle de constitucionalidade, no apenas se reitera a impessoalidade da questo constitucional, como tambm se evidencia que o deslinde desse tipo de controvrsia interessa objetivamente a todos os indivduos e grupos sociais, at porque ao esclarecer o sentido da Carta Poltica, as cortes constitucionais, de certa maneira, acabam reescrevendo as constituies. (grifei)

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    por tais razes que entendo que a atuao processual

    do amicus curiae no deve limitar-se mera apresentao de

    memoriais ou prestao eventual de informaes que lhe venham a

    ser solicitadas ou, ainda, produo de sustentaes orais perante

    esta Suprema Corte.

    Essa viso do problema que restringisse a extenso

    dos poderes processuais do colaborador do Tribunal - culminaria

    por fazer prevalecer, na matria, uma incompreensvel perspectiva

    reducionista, que no pode (nem deve) ser aceita por esta Corte, sob

    pena de total frustrao dos altos objetivos polticos, sociais e

    jurdicos visados pelo legislador na positivao da clusula que,

    agora, admite o formal ingresso do amicus curiae no processo de

    fiscalizao concentrada de constitucionalidade.

    Cumpre permitir, desse modo, ao amicus curiae, em

    extenso maior, o exerccio de determinados poderes processuais.

    Esse entendimento perfilhado por autorizado

    magistrio doutrinrio, cujas lies acentuam a essencialidade da

    participao legitimadora do amicus curiae nos processos de

    fiscalizao abstrata de constitucionalidade (GUSTAVO BINENBOJM, A

    Nova Jurisdio Constitucional Brasileira, p. 157/164, 2 ed.,

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    2004, Renovar; GUILHERME PEA DE MORAES, Direito

    Constitucional/Teoria da Constituio, p. 207/208, item n. 4.10.2.3,

    4 ed., 2007, Lumen Juris, v.g.), reconhecendo-lhe o direito de

    promover, perante esta Corte Suprema, a pertinente sustentao oral

    (FREDIE DIDIER JR., Possibilidade de Sustentao Oral do Amicus

    Curiae, in Revista Dialtica de Direito Processual, vol. 8/33-

    -38, 2003; NELSON NERY JR./ROSA MARIA DE ANDRADE NERY, Cdigo de

    Processo Civil Comentado e Legislao Extravagante, p. 1388, 7 ed.,

    2003, RT; EDGARD SILVEIRA BUENO FILHO, Amicus Curiae: a democratizao

    do debate nos processos de controle de constitucionalidade, in

    Direito Federal, vol. 70/127-138, AJUFE, v.g.) ou, ainda, a faculdade

    de solicitar a realizao de exames periciais sobre o objeto ou sobre

    questes derivadas do litgio constitucional ou a prerrogativa de

    propor a requisio de informaes complementares, bem assim a de pedir

    a convocao de audincias pblicas, sem prejuzo, como esta Corte j o

    tem afirmado, do direito de recorrer de decises que recusam o seu

    ingresso formal no processo de controle normativo abstrato.

    Cabe observar que o Supremo Tribunal Federal, em assim

    agindo, no s garantir maior efetividade e atribuir maior

    legitimidade s suas decises, mas, sobretudo, valorizar, sob uma

    perspectiva eminentemente pluralstica, o sentido essencialmente

    democrtico dessa participao processual, enriquecida pelos

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    elementos de informao e pelo acervo de experincias que o amicus

    curiae poder transmitir Corte Constitucional, notadamente em um

    processo - como o de controle abstrato de constitucionalidade - cujas

    implicaes polticas, sociais, econmicas, jurdicas e culturais so

    de irrecusvel importncia, de indiscutvel magnitude e de

    inquestionvel significao para a vida do Pas e a de seus cidados.

    Como anteriormente salientado, o amicus curiae pode

    recorrer da deciso denegatria de seu ingresso formal no processo de

    controle abstrato, no podendo, contudo segundo jurisprudncia ainda

    prevalecente nesta Corte, impugnar as demais decises proferidas em

    sede de fiscalizao concentrada (ADI 2.359-ED-AgR/ES, Rel. Min. EROS

    GRAU ADI 3.105-ED/DF, Rel. Min. CEZAR PELUSO ADI 3.934-ED-AgR/DF,

    Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, v.g.):

    AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMBARGOS DE DECLARAO OPOSTOS POR AMICUS CURIAE. AUSNCIA DE LEGITIMIDADE. (...).

    1. A jurisprudncia deste Supremo Tribunal assente quanto ao no-cabimento de recursos interpostos por terceiros estranhos relao processual nos processos objetivos de controle de constitucionalidade.

    2. Exceo apenas para impugnar deciso de no- -admissibilidade de sua interveno nos autos.

    3. Precedentes. 4. Embargos de declarao no conhecidos.

    (ADI 3.615-ED/PB, Rel. Min. CRMEN LCIA grifei)

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    certo, no entanto, que h autores eminentes, como o

    ilustre Professor GUSTAVO BINENBOJM (Temas de Direito Administrativo

    e Constitucional, p. 182/187, 2008, Renovar), que sustentam a

    possibilidade de o amicus curiae poder impugnar, em sede recursal,

    qualquer deciso proferida na causa em que tenha sido formalmente

    admitido, como se v do fragmento a seguir reproduzido:

    Como se v, muito mais que um mero colaborador informal, o amicus curiae, tal como disciplinado pela Lei n 9.868/99, intervm nos autos do processo da ao direta, passando a integrar a relao processual na condio de terceiro especial.

    Assim, a primeira prerrogativa processual que se reconhece ao amicus curiae a de apresentar manifestao escrita sobre as questes de seu interesse atinentes ao direta em curso, que ser junta aos autos do processo. (...).

    Mas os poderes processuais do amicus curiae no se cingem apresentao de razes escritas.

    No que toca possibilidade de realizao de sustentao oral, pelo patrono do amicus curiae, o Supremo Tribunal Federal recentemente reviu seu posicionamento anterior, passando a admiti-la. (...).

    ...................................................

    Consignadas, assim, as faculdades de o amicus curiae manifestar-se por escrito ou oralmente, resta examinar a possibilidade de o amicus curiae insurgir-se contra as decises proferidas no curso e ao final da ao direta, atravs dos recursos cabveis.

    Cumpre, em primeiro lugar, examinar a possibilidade de o postulante a amicus curiae se insurgir, pela via recursal prpria, contra a deciso do relator que no o admite no feito em tal qualidade. (...).

    ...................................................

    Resta, ainda, indagar da possibilidade de o amicus curiae recorrer das demais decises - interlocutrias e final - proferidas nos autos da ao direta.

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    O art. 499 do Cdigo de Processo Civil assegura legitimidade recursal ao Ministrio Pblico e ao terceiro prejudicado. Reconhecendo, hoje, a doutrina e a jurisprudncia, a natureza jurdica de terceiro especial ao amicus curiae, no h como se lhe negar a legitimidade recursal para manifestar sua insurgncia contra as decises que no acolherem seus argumentos.

    Ensina Srgio Bermudes que a finalidade dos recursos a de proporcionar o aperfeioamento das decises judiciais. Assim, no h motivo lgico para que, ao amicus curiae, seja assegurado o direito de apresentar seus argumentos, por escrito e oralmente, perante o Tribunal e, como desdobramento natural, no possa se insurgir contra as decises que contrariem tais argumentos, por meio dos recursos cabveis. evidente que, em sede de controle de constitucionalidade, tal aperfeioamento se torna ainda mais desejvel. De fato, diante do impacto e da repercusso poltica, econmica e social de uma deciso declaratria de inconstitucionalidade, ainda maior o interesse do Estado-Jurisdio e da sociedade como um todo no sentido de que as decises sejam submetidas ao mais rgido escrutnio.

    A referncia ao terceiro do art. 499 do Cdigo de Processo Civil designa o estranho ao processo, titular da relao jurdica atingida (ainda que por via reflexa) pela sentena. evidente que as entidades e rgos que eventualmente venham a figurar como amicus curiae, podem sofrer impactos diretos em razo da deciso em controle abstrato, podendo, at mesmo, perder direitos antes reconhecidos pela lei atacada. Dessa forma, o amicus curiae titular de um direito passvel de ser atingido - ao menos potencialmente - por acrdo declaratrio de inconstitucionalidade, possuindo, assim, legitimidade recursal como terceiro interessado, aplicando-se, analogicamente, o art. 499 do CPC.

    Deve-se destacar, todavia, que, mesmo a se entender que no haja, num caso qualquer, impacto direto sobre direito subjetivo do amicus curiae, haver legitimidade recursal deste, pois, para que seja o terceiro apto a recorrer, basta que a sua esfera jurdica seja atingida pela deciso, embora por via reflexa, o que, evidentemente, sempre ocorrer.

    Ademais, interessante notar que a participao do amicus curiae, que j era aceita antes mesmo do advento

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    da Lei 9868/99, , fundamentalmente, uma decorrncia do princpio democrtico. Pode-se dizer, assim, que a interveno do amicus curiae, com os meios e recursos prprios assegurados aos terceiros em geral, representa garantia do exerccio democrtico da jurisdio constitucional. Em sntese, a interveno do amicus curiae constitui uma das mltiplas faces da garantia do acesso Justia (CF, art. 5, XXXV) no mbito de um Estado Democrtico de Direito (CF, art. 1).

    ...................................................

    Por derradeiro, alm das prerrogativas processuais at aqui mencionadas, poder o amicus curiae suscitar, perante o relator, a adoo das providncias instrutrias previstas no art. 9, 1, 2 e 3, da Lei n 9.868/99. Confira-se o teor do dispositivo, verbis:

    Art. 9 Vencidos os prazos do artigo anterior, o relator lanar o relatrio, com cpia a todos os Ministros, e pedir dia para julgamento.

    1 Em caso de necessidade de esclarecimento de matria ou circunstncia de fato ou de notria insuficincia das informaes existentes nos autos, poder o relator requisitar informaes adicionais, designar perito ou comisso de peritos para que emita parecer sobre a questo, ou fixar data para, em audincia pblica, ouvir depoimentos de pessoas com experincia e autoridade na matria.

    2 O relator poder, ainda, solicitar informaes aos Tribunais Superiores, aos Tribunais federais e aos Tribunais estaduais acerca da aplicao da norma impugnada no mbito de sua jurisdio.

    3 As informaes, percias e audincias a que se referem os pargrafos anteriores sero realizadas no prazo de trinta dias, contado da solicitao do relator.

    A dico do dispositivo clara: poder o relator adotar uma ou algumas de tais providncias instrutrias, de ofcio, previamente ao julgamento final da ao. Ora, se o relator pode ex officio determinar quaisquer daquelas providncias, os interessados admitidos nos autos - representante, representados, Advogado-Geral da Unio, Procurador-

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    -Geral do Estado, Ministrio Pblico, amicus curiae - podero, a qualquer tempo antes do julgamento, requerer a sua adoo. O amicus curiae recebe o feito no estado em que se encontra quando de sua admisso; no havendo se iniciado, ainda, o julgamento final da causa, poder ele requerer as providncias instrutrias que lhe parecerem relevantes para o deslinde da questo constitucional. (grifei)

    Observo, no entanto, que a ABESUP, formalmente admitida

    como amicus curiae, busca, com os pleitos anteriormente referidos,

    ampliar o contedo material do pedido, do nico pedido, formulado pela

    douta Procuradoria-Geral da Repblica, procedendo, assim, de modo

    incompatvel com a sua posio jurdica na presente relao processual,

    eis que, embora sequer ostentando qualidade para fazer instaurar o

    processo de controle abstrato, por ausncia de legitimao ativa (CF,

    art. 103, IX, c/c o art. 2, I, da Lei n 9.882/99), inovou o objeto

    da demanda, como se fora verdadeiro litisconsorte ativo (e no

    terceiro interessado ou especial), dilatando-lhe, tematicamente, a

    esfera de sua abrangncia, o que se revela processualmente

    inadmissvel, sob pena de romper-se a prpria estabilidade da

    relao processual objetiva que se consolidou, no caso, com a

    impugnao ao pedido feita pelo ora argido.

    Vale referir, no ponto, a manifestao apresentada pelo

    Instituto Brasileiro de Cincias Criminais IBCCRIM, tambm

    formalmente admitido como amicus curiae, cujo teor bem revela a

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    sua correta percepo do objeto da presente ao constitucional, tal

    como foi ele delineado, de modo claro e preciso, pela douta

    Procuradoria-Geral da Repblica (fls. 718/719):

    O objeto desta ADPF no se confunde com o objeto das reunies ou manifestaes que, sob contnua ameaa de represso do Poder Pblico, justificaram a presente medida. As polticas pblicas envolvidas no debate em torno da cannabis sativa como substncia de uso proscrito no Brasil (polticas criminais e de sade) esto margem da discusso, nesta via.

    A temtica jurdica submetida apreciao desse Supremo Tribunal Federal situa-se em domnios normativos superiores, de feio constitucional; mais precisamente, no mbito das liberdades individuais: esto em pauta os direitos fundamentais de reunio e de manifestao, enquanto projees da liberdade de expresso, em cujo ncleo essencial incluem-se as faculdades de protesto e de reivindicao, pressupostos de uma sociedade livre, aberta e pluralista.

    Nessa perspectiva, as manifestaes que, sob ilegtima expanso normativa dos limites do art. 287 do Cdigo Penal, vm sofrendo censura estatal poderiam ter por contedo matrias reivindicatrias as mais diversas (v.g., a descriminalizao do aborto, da eutansia ou de qualquer outra conduta incriminada sobre a qual a sociedade esteja dividida); ainda assim, o objeto da ADPF persistiria o mesmo.

    preciso, outrossim, que fique claro: a proteo judicial ora postulada no contempla e nem poderia faz-lo a criao de um espao pblico circunstancialmente imune ao fiscalizatria ordinria do Estado; menos ainda se propugna que, no exerccio das liberdades ora reivindicadas, manifestantes possam incorrer em ilicitude de qualquer espcie, como, por exemplo, consumir drogas. O espectro de liberdade que se objetiva ver assegurado aquele inerente portanto, adequado e necessrio aos direitos fundamentais implicados, sem que da decorra implcita permisso prtica de conduta que se possa

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    traduzir em violao s normas integradoras do Direito em vigor. (grifei)

    II. O uso ritual de plantas alucingenas e de drogas ilcitas em celebraes litrgicas

    No desconheo, no entanto, Senhor Presidente, o relevo

    das questes suscitadas pela Associao Brasileira de Estudos

    Sociais do Uso de Psicoativos ABESUP e que se referem, dentre

    outros temas, ao uso cerimonial de plantas e substncias

    alucingenas ou psicoativas nas celebraes litrgicas, na

    qualidade de sacramento inerente ao ritual, como expressamente

    salientado por esse mesmo amicus curiae.

    claro que esse tema, intimamente conexo ao postulado

    fundamental da liberdade religiosa, considerada esta em suas

    mltiplas projees, como aquela que compreende a proteo

    constitucional das manifestaes litrgicas (CF, art. 5, inciso VI,

    in fine), poder constituir objeto de eventual processo de controle

    abstrato, instaurvel por quem disponha de qualidade para agir.

    Cumpre referir, no entanto, ainda que para efeito de

    mero registro, que, no Brasil, esse tema envolvendo o uso ritual,

    em celebrao litrgica, no contexto de cerimnia religiosa (como as

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    do Santo Daime, Unio do Vegetal e Barquinha), da Ayahuasca ou

    Huasca (bebida com efeitos psicoativos) constituiu objeto de

    apreciao pelo Conselho Nacional de Polticas sobre Drogas, que

    considerou legtima a utilizao religiosa de tal substncia,

    havendo estabelecido, em ato prprio, que o seu uso restrito a

    rituais religiosos, em locais autorizados pelas respectivas direes

    das entidades usurias, vedado o seu uso associado a substncias

    psicoativas ilcitas (Resoluo CONAD n 1/2010).

    A Resoluo em causa, ao assim definir o tema, preserva

    a liberdade religiosa, cujo contedo material compreende, na

    abrangncia de seu amplo significado, dentre outras prerrogativas

    essenciais, a liberdade de crena (que traduz uma das projees da

    liberdade de conscincia), a liberdade de culto, a liberdade de

    organizao religiosa, a liberdade de elaborao de um corpus

    doutrinrio e a liberdade contra a interferncia do Estado, que

    representam valores intrinsecamente vinculados e necessrios

    prpria configurao da idia de democracia, cuja noo se alimenta,

    continuamente, dentre outros fatores relevantes, do respeito ao

    pluralismo.

    Cabe ressaltar, neste ponto, que a matria veiculada

    nessa proposta da ABESUP, embora no componha nem se inclua no

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    objeto da presente demanda, parece haver sensibilizado, j em 1971,

    a comunidade internacional, pois a Conveno de Viena sobre

    Substncias Psicotrpicas, assinada pelo Brasil, na capital

    austraca, em 1971, formalmente incorporada ao ordenamento positivo

    nacional (Decreto n 79.388/77), admitiu a possibilidade, desde que

    oferecida a pertinente reserva (faculdade no utilizada por nosso

    Pas), de utilizao lcita de plantas silvestres que contenham

    substncias psicotrpicas (...) em rituais mgicos e religiosos

    (...) (Artigo 32, n. 4).

    interessante acentuar, por oportuno, considerado o

    que estabelece a Conveno de Viena, que o Estado brasileiro, ao

    editar a sua nova Lei de Drogas, embora no havendo manifestado,

    formalmente, qualquer reserva ao Artigo 32, n. 4, do texto

    convencional, excluiu, assim mesmo, da norma de proibio inscrita

    em referido diploma legal, o uso ritual de plantas alucingenas em

    celebraes religiosas, desde que obtida, para tanto, autorizao

    legal ou regulamentar, como resulta claro do art. 2, caput, da

    Lei n 11.343/2006, que assim dispe:

    Art. 2. Ficam proibidas, em todo o territrio nacional, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a explorao de vegetais e substratos dos quais possam ser extradas ou produzidas drogas, ressalvada a hiptese de autorizao legal ou

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    regulamentar, bem como o que estabelece a Conveno de Viena, das Naes Unidas, sobre Substncias Psicotrpicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente ritualstico-religioso. (grifei)

    O exame do preceito legal ora reproduzido revela que se

    trata de expressiva inovao introduzida em nosso sistema de direito

    positivo, pois reflete a preocupao do Poder Pblico em respeitar a

    liberdade religiosa e, notadamente, em manter inclumes os rituais e

    as celebraes litrgicas de qualquer denominao confessional, em

    ordem a excluir a possibilidade de interveno repressiva do Estado

    motivada por atos que, registrados durante o culto, possam culminar

    em utilizao cerimonial de bebidas ou de plantas alucingenas cujo

    consumo seja dogmaticamente qualificado como prtica essencial, em

    termos espirituais, segundo os cnones e as concepes teolgicas

    formulados com apoio no corpo doutrinrio que d sustentao terica

    a uma particular comunidade de fiis.

    Observo, a ttulo de mera ilustrao, que a Suprema

    Corte dos Estados Unidos da Amrica, em 2006, no julgamento do

    caso Gonzales v. O Centro Esprita Beneficente Unio do Vegetal

    (546 U.S. 418), que se referia utilizao ritual da Ayahuasca

    pelos seguidores do Centro Esprita Beneficente Unio do Vegetal,

    entidade religiosa fundada no Brasil, com representao no Estado do

    Novo Mxico (EUA), proferiu deciso unnime (8 x 0) que reconheceu,

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    no contexto do direito fundamental liberdade religiosa, a

    possibilidade do uso litrgico de referida bebida (sacramental

    tea), no obstante identificada por seus notrios efeitos

    psicoativos, afastando a incidncia, nesse caso especfico, de

    estatutos federais norte-americanos, como o Religious Freedom

    Restoration Act (RFRA).

    Tal discusso, porm, embora proposta pela ABESUP (que,

    para tanto, ampliou, indevidamente, o objeto da presente demanda),

    no est em causa neste processo, como enfatizado em passagem

    anterior deste voto, no tendo pertinncia, portanto, na presente

    sede processual.

    H de se reconhecer, ainda, a inadequao do habeas

    corpus para o fim postulado pela ABESUP, eis que impetrado, na

    espcie, em carter abstrato, sem vinculao concreta a um caso

    especfico, objetivando garantir a ausncia de represso estatal,

    por efeito do pretendido reconhecimento, mediante deciso desta

    Suprema Corte, da atipicidade penal de determinadas condutas, tais

    como o cultivo domstico, o porte de pequena quantidade e o uso em

    mbito privado da maconha; a utilizao de referida substncia para

    fins medicinais, inclusive para efeito de realizao de pesquisas

    mdicas (o que, aparentemente, j se acha previsto no art. 2,

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    pargrafo nico, da Lei n 11.343/2006); o uso ritual da maconha em

    celebraes litrgicas; a utilizao da substncia canbica para

    fins econmicos, admitidos, quanto a ela, o plantio, a exportao e

    importao, a distribuio ou a venda de insumos ou de produtos dela

    oriundos, sem qualquer vinculao ao consumo da planta propriamente

    dito.

    Cumpre rememorar, neste ponto, que a jurisprudncia do

    Supremo Tribunal Federal tem advertido, presente tal contexto, em

    que se evidencia a absoluta indeterminao subjetiva dos pacientes,

    com ausncia de uma dada e especfica situao concreta, que no se

    revela pertinente o remdio constitucional do habeas corpus,

    quando utilizado, como sucede na espcie, sem que se demonstre a

    real configurao de ofensa imediata, atual ou iminente, ao direito

    de ir, vir e permanecer de pessoas efetivamente submetidas a atos de

    injusto constrangimento (RTJ 135/593, Rel. Min. SYDNEY SANCHES

    RTJ 136/1226, Rel. Min. MOREIRA ALVES - RTJ 142/896, Rel. Min. OCTAVIO

    GALLOTTI RTJ 152/140, Rel. Min. CELSO DE MELLO RTJ 180/962, Rel.

    Min. CELSO DE MELLO, v.g.).

    Por tais razes, no considerarei a ampliao do objeto

    da demanda proposta pela ABESUP, cingindo-me, unicamente, no

    julgamento da controvrsia constitucional, ao exame do pedido, tal

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    como estritamente delimitado pela eminente Senhora Procuradora-Geral

    da Repblica, em exerccio.

    Nesse sentido, o meu voto.