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A LITERATURA NO FLUXO MIDIÁTICO: OBSERVAÇÕES SOBRE A ADAPTAÇÃO A LITERATURA NO FLUXO MIDIÁTICO: OBSERVAÇÕES SOBRE A ADAPTAÇÃO DE DE REINAÇÕES DE NARIZINHO REINAÇÕES DE NARIZINHO Gleiton Candido Souza (Mestre – UFMS) Márcia M. Gomes (Doutora – UFMS) RESUMO: RESUMO: O presente trabalho tem por finalidade estudar a transmutação de um texto literário para o audiovisual, ressaltando elementos que nos permitem ver a adaptação como outra obra, e não somente como uma cópia de outro texto. Como aporte teórico, para a análise são utilizadas as contribuições da literatura comparada, da teoria da adaptação e da hipertextualidade, através de autores como Claus Clüver, Tania Carvalhal, Robert Stam e Gerard Genette. O objeto de análise é a adaptação da obra Reinações de Narizinho (1931), de Monteiro Lobato, para o audiovisual televisivo intitulado No reino das Águas Claras, produzido e exibido pela TV Globo em 2001. PALAVRAS-CHAVE: PALAVRAS-CHAVE: Adaptação; Reinações de Narizinho; No reino das Águas Claras. Introdução Introdução Considerado o pai da Literatura Infantil brasileira, Monteiro Lobato, é o criador do Sítio do Picapau Amarelo, lugar onde acontecem as aventuras vividas por Pedrinho e Narizinho, netos de Dona Benta, juntamente com a boneca de pano Emília e o sabugo de milho Visconde de Sabugosa, além de Tia Nastácia e muitos outros personagens que aos poucos vão sendo introduzidos nas obras. Com uma linguagem acessível às crianças, Lobato rompeu com as convenções que existiam no Brasil no início do século XX, que mantinha um caráter prioritariamente didático e utilitário nos livros infantis, como apontam Marisa Lajolo e Regina Zilberman em Literatura Infantil Brasileira, Histórias e Histórias. A obra infantil lobatiana tornou-se um marco da literatura brasileira, sendo seus livros, ainda hoje, a principal referência quando se quer utilizar um modelo de Literatura Infantil brasileira. E tal é a importância de sua obra infantil que, desde os primórdios da televisão brasileira, ela vem sendo adaptada e hoje é considerada um marco na programação televisiva voltada para as crianças. Entre suas obras infantis,

ADAPTAÇÃO Narizinho

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  • A LITERATURA NO FLUXO MIDITICO: OBSERVAES SOBRE A ADAPTAOA LITERATURA NO FLUXO MIDITICO: OBSERVAES SOBRE A ADAPTAO DEDE REINAES DE NARIZINHO REINAES DE NARIZINHO

    Gleiton Candido Souza

    (Mestre UFMS)

    Mrcia M. Gomes

    (Doutora UFMS)

    RESUMO:RESUMO: O presente trabalho tem por finalidade estudar a transmutao de um texto literrio para o audiovisual, ressaltando elementos que nos permitem ver a adaptao como outra obra, e no somente como uma cpia de outro texto. Como aporte terico, para a anlise so utilizadas as contribuies da literatura comparada, da teoria da adaptao e da hipertextualidade, atravs de autores como Claus Clver, Tania Carvalhal, Robert Stam e Gerard Genette. O objeto de anlise a adaptao da obra Reinaes de Narizinho (1931), de Monteiro Lobato, para o audiovisual televisivo intitulado No reino das guas Claras, produzido e exibido pela TV Globo em 2001.

    PALAVRAS-CHAVE: PALAVRAS-CHAVE: Adaptao; Reinaes de Narizinho; No reino das guas Claras.

    IntroduoIntroduo

    Considerado o pai da Literatura Infantil brasileira, Monteiro Lobato, o criador

    do Stio do Picapau Amarelo, lugar onde acontecem as aventuras vividas por Pedrinho

    e Narizinho, netos de Dona Benta, juntamente com a boneca de pano Emlia e o

    sabugo de milho Visconde de Sabugosa, alm de Tia Nastcia e muitos outros

    personagens que aos poucos vo sendo introduzidos nas obras. Com uma linguagem

    acessvel s crianas, Lobato rompeu com as convenes que existiam no Brasil no

    incio do sculo XX, que mantinha um carter prioritariamente didtico e utilitrio nos

    livros infantis, como apontam Marisa Lajolo e Regina Zilberman em Literatura Infantil

    Brasileira, Histrias e Histrias.

    A obra infantil lobatiana tornou-se um marco da literatura brasileira, sendo

    seus livros, ainda hoje, a principal referncia quando se quer utilizar um modelo de

    Literatura Infantil brasileira. E tal a importncia de sua obra infantil que, desde os

    primrdios da televiso brasileira, ela vem sendo adaptada e hoje considerada um

    marco na programao televisiva voltada para as crianas. Entre suas obras infantis,

  • Reinaes de Narizinho considerada uma das mais importantes, por reunir em um

    nico volume as primeiras histrias que este autor escreveu para crianas. nela que

    Emlia comea a falar, o Visconde criado, as crianas conhecem o Reino das guas

    Claras, a Emlia se casa com o Rabic, entre outros acontecimentos que apresentam

    os personagens do Stio do Picapau Amarelo.

    O presente trabalho tem como objetivo refletir a cerca das adaptaes de

    obras literrias para o audiovisual televisivo, a partir da anlise da adaptao feita pela

    TV Globo em 2001 de Reinaes de Narizinho, sob o ttulo de No Reino das guas

    Claras, que apresenta os quatro captulos iniciais da obra, que relatam a ida de

    Narizinho e Emlia ao fundo do mar. Neste artigo discutiremos a respeito da

    transposio de um texto de um suporte para outro, no caso do livro para a televiso,

    abordando questes como o dilogo que se estabelece entre o texto escrito por

    Lobato e o audiovisual televisivo. Para tanto, abordaremos primeiramente a relao

    interartes, vez que se tratam de dois objetos artsticos diferentes. Em um segundo

    momento, discorreremos a respeito do fluxo miditico por onde a literatura circula e,

    finalmente, analisaremos a obra Reinaes de Narizinho e sua adaptao No Reino

    das guas Claras, embasando-nos, para tal, nos aportes da Teoria da

    Intertextualidade, da Teoria da Adaptao e da Literatura Comparada, tomando como

    referncia as contribuies de Claus Clver, Tanea Carvalhal, Robert Stam, entre

    outros.

    Vale ressaltar que o objeto de anlise, ou seja, o programa audiovisual, no

    aqui analisado na forma como foi exibido pela TV Globo, mas sim atravs do DVD

    produzido e lanado pela Som Livre e Globo Marcas. Dessa maneira, no

    abordaremos a sua forma de apresentao descontnua e fragmentada pelos

    intervalos comerciais e ganchos que ligam os blocos e os captulos com vistas a

    prenderem a ateno do telespectador. O DVD apresenta a obra audiovisual completa,

    sem cortes, o que nos permite analisar a adaptao em si e seus elementos de

    transmutao, como estrutura da narrativa e adequao histrico cultural.

    O trabalho desenvolvido em trs partes. Em primeiro lugar, se focaliza na

    estrutura da narrativa, identificando os trechos do livro aproveitados pela televiso. Os

    captulos e seus subttulos foram distribudos em uma tabela comparativa na qual

    apresentamos os fatos contidos ou no no livro. Tambm veremos como a televiso

    apresenta uma histria que provm de outro suporte, que em nosso caso o livro, e

    como se d a apresentao dos personagens, do cenrio e demais elementos

    utilizados para a composio das cenas. Em segundo lugar, se discute acerca da

  • adequao histrico cultural feita pela adaptao, onde so observados os elementos

    que aproximam as adaptaes da realidade da poca na qual foram produzidas, as

    mudanas na linguagem, no cenrio, no figurino, nos objetos includos no universo da

    adaptao, de maneira a entender como a nova obra visa estabelecer uma

    aproximao com o telespectador atual.

    Em fim, veremos que as obras literrias adaptadas para o audiovisual no

    tm que necessariamente ser fiis ao texto fonte. Com esta viso foram criadas as

    adaptaes da TV Globo, de modo a dialogar com a obra de Monteiro Lobato e

    tambm com o pblico, uma vez que no possvel transportar as situaes tal e qual

    esto no livro. Assim, as adaptaes criam obra derivadas em seu formato especfico,

    que devem ser valorizadas enquanto elementos da cultura da mdia e que lidam com

    as especificidades do novo suporte, ainda que mantendo elementos de identificao

    do suporte da obra de partida.

    Adaptao: um estudo interartesAdaptao: um estudo interartes

    Em seu artigo Inter Textus / Inter Artes / Inter Media1, Claus Clver (2006)

    menciona que, como comparatista, trabalha com a comparao da Literatura com

    algo que, mesmo sendo de outra ordem em relao Literatura, se submete

    juntamente com esta a um conceito geral chamado arte. Atualmente o estudioso atua

    em uma rea que recebe o nome de Estudos Interartes, rtulo este que, segundo esse

    autor, torna-se cada vez mais equivocado e questionvel (2006, p. 12), e, como

    afirma, enquanto a Literatura permanecer como o ponto de referncia dominante, h

    boas razes para considerar o Comparatismo como o espao adequado para os

    Estudos Interartes (2006, p. 13).

    No inicio do ensaio Comparatismo e interdisciplinaridade, Carvalhal (2003)

    nos lembra de que na poca do surgimento da literatura comparada, esta aproximava

    obras e autores de duas literaturas distintas e perseguia a mudana de um elemento

    literrio de um territrio a outro, atravs de fronteiras nacionais, e analisava as

    circunstncias dessa mudana. Hoje, devido s mudanas metodolgicas, atribuda

    literatura comparada a possibilidade de mover-se entre vrias reas, apropriando-se

    de diversos mtodos, exigidos pelos objetos que coloca em relao (CARVALHAL,

    2003, p. 35). Segundo a autora, o primeiro passo na ampliao dos estudos de

    literatura comparada foi o das relaes interartsticas, ou seja, das relaes mltiplas

    1 Ensaio publicado na revista Aletria, Revista de Estudos de Literatura, n 14, Jul/Dez. 2006.

  • que podem existir entre a obra literria e outros meios de expresso artstica.

    Utilizando o que sugere Etienne Souriau, em A correspondncia das artes (1947), j

    no mais a diversidade lingustica que serve de base a comparao, mas a

    diversidade de linguagens ou de formas de expresso, prprias e divergentes

    (CARVALHAL, 2003, p. 37). Como outra forma de expresso artstica, o audiovisual

    contribui para essa interdisciplinaridade a que se refere literatura comparada, e

    permite ao comparatista ampliar seu campo de estudo, ou dilatar seu campo de ao.

    Compreendendo um pouco mais o conceito comparatista e a relao entre o

    que podemos aqui chamar de textos, acrescentando a adaptao, que um texto

    apresentado em outro formato, Clver indica que:

    Independente dos tipos de textos e formas de relacionamentos envolvidos e dos interesses de estudo, a incluso direta ou indireta de mais de uma mdia com diversas possibilidades de comunicao e representao e de vrios sistemas sgnicos, bem como cdigos e convenes a eles associados, lana continuamente questes sobre a base comparatista e as relaes analgicas nas funes e efeitos dos meios encontrados (2011, p. 14).

    O estudo da adaptao de uma obra literria para o audiovisual algo que se

    insere, ento, no campo nos Estudos Interartes, no qual o estudioso utiliza de teorias

    anlogas para analisar os elementos especficos dessas relaes, como a

    Intertextualidade, a Literatura Comparada e a Teoria da Adaptao.

    Carvalhal discorre sobre o conceito de intertextualidade, que um dos

    aspectos bsicos da teoria textual, que o comparatista utiliza para o estudo das

    relaes literrias. Tal termo, cunhado por Kristeva, explicado como uma

    propriedade do texto literrio que, segundo a autora, "se constri como um mosaico de

    citaes, como absoro e transformao de outro texto" (KRISTEVA apud

    CARVALHAL, 2003, p. 72). O texto visto, assim, como "dilogo de vrias escrituras"

    e passa a ser coletivizado, sendo suas relaes estabelecidas no conjunto dos textos.

    Dessa forma, a noo fez "fortuna crtica" e se transladou ao domnio comparatista,

    fortalecendo a solidariedade existente entre as formas de investigao do literrio. A

    intertextualidade passou a ser um conceito indispensvel investigao entre os

    diversos textos.

    Distanciando-se do sentido restrito com que o termo foi inicialmente

    empregado, Carvalhal explica o conceito de intertextualidade "como todas as

    interaes possveis entre todos os fenmenos culturais", permitindo entender que ler

    um texto lan-lo num espao interdiscursivo e na relao dos vrios cdigos que

    so constitudos pelo dilogo entre textos e leituras. Tal conceito, segundo Carvalhal

  • (2002), contribuiu para os estudos de literatura comparada, modificando as leituras

    dos modos de apropriao, absores e transformaes textuais, alterando tambm o

    entendimento da migrao de elementos literrios, revertendo noes de fontes e

    influncias. Sendo assim, a apropriao de determinados modelos necessria

    constituio de uma certa obra e, por meio dela, alimenta a literatura a que pertence.

    O reconhecimento recente de que a intertextualidade sempre significa

    tambm intermidialidade, segundo Clver, foi decisivo para as exigncias associadas

    hoje aos Estudos Interartes. Assim sendo, os Estudos Interartes partem dos estudos

    de fontes at chegar em todas as formas possveis de aproveitamento ocorridas nas

    fronteiras entre mdias. Os Estudos Interartes abrangem, alm disso, aspectos

    transmiditicos como possibilidades e modalidades de representao, expressividade,

    narratividade, questes de tempo e espao em representao e recepo (CLVER,

    2006, p. 14).

    Adaptao de obras literrias e o fluxo miditicoAdaptao de obras literrias e o fluxo miditico

    Existem vrias possibilidades de representao dos livros em outras mdias.

    Sandra Reimo (2004, p. 92) aponta que "as representaes dos livros em outras

    mdias podem se dar de vrias formas, como referncias, aluses, adaptaes de

    obras literrias a diferentes suportes materiais da comunicao, etc". Um exemplo

    disso so as obras de Monteiro Lobato, as quais circulam em mdias diferentes: em

    livros, inicialmente; no cinema, com os filmes Os faroleiros (1920), O Comprador de

    fazendas (1951 e 1974), O Saci (1952), Jeca Tatu (1959) e O Picapau Amarelo

    (1973); na televiso, com adaptaes das obras infanto-juvenis produzidas pela TV

    Tupi (1952-1963), pela TV Cultura (1964), pela TV Bandeirantes (1967-1969), pela TV

    Globo (1977-1986/2001-2007), e na srie Contos da Meia Noite2, da TV Cultura, com o

    conto oralizado O Bugio Moqueado (2004); ou nos quadrinhos, em desenho animado e

    na Internet. Sobre esta variedade de suportes onde pode transitar o mesmo texto

    fonte, Clver afirma que:

    Especialmente interessante e igualmente irrepresentvel a existncia de vrias transposies do mesmo texto-fonte no apenas em diversos gneros (inclusive gneros no-artsticos), mas tambm em diversas mdias: as relaes intertextuais entre todas essas verses podem influenciar consideravelmente a recepo de uma determinada transposio. (2006, p. 33).

    2 A srie Contos da Meia-Noite foi exibida nos anos de 2003 e 2004 na TV Cultura, de segunda a sexta-feira no horrio da meia-noite e apresentava uma leitura audiovisual de autores nacionais. Em cada programa era apresentado um conto de um autor brasileiro oralizado por um ator ou atriz. O conto O Bugio Moqueado foi oralizado pela atriz Giulia Gam.

  • Poderamos, ento, dizer que a obra de Monteiro Lobato multimiditica.

    Segundo Karl Prmm (1988), citado por Clver (2006), nesses casos o autor do texto-

    fonte aparentemente o autor com talento mltiplo, que na mudana de suporte

    miditico substitudo por algum que dispe habitualmente de vrios canais e

    deles se serve sem preconceito (PRMM, 1988 apud CLVER, 2006, p. 34).

    Com relao s obras tidas como multimiditicas, houve um tempo em que a

    fidelidade obra escrita era uma exigncia de quem conhecia e admirava o escritor da

    obra filmada; cobrana essa que, segundo Xavier (2003), vem perdendo terreno nas

    ltimas dcadas, "pois h uma ateno especial voltada para os deslocamentos

    inevitveis que ocorrem na cultura, mesmo quando se quer repetir, e passou-se a

    privilegiar a idia do 'dilogo' para pensar a criao das obras, adaptadas ou no" (p.

    61). Segundo Hlio Guimares, essa viso primeira de fidelidade nega a prpria

    natureza do texto literrio, que a possibilidade de suscitar interpretaes diversas e

    ganhar novos sentidos com o passar do tempo e a mudana das circunstncias

    (GUIMARES, 2003, p. 93). Dessa maneira, o autor da adaptao relativamente

    livre para interpretar, fazendo valer mais a apreciao da adaptao como uma nova

    experincia, j que existe uma distncia temporal entre o livro e a adaptao. de se

    esperar, portanto, que "a adaptao dialogue no s com o texto de origem, mas com

    seu prprio contexto, inclusive atualizando a pauta do livro, mesmo quando o objetivo

    a identificao com os valores nele expressos" (XAVIER, 2003, p. 62).

    Dessa maneira, a fidelidade deixa de ser a forma predominantemente de

    abordagem dos textos derivados e cede espao apreciao do audiovisual como

    uma nova experincia perceptiva. Ou seja, quando o meio trocado, so includas

    tambm outras linguagens que, por sua natureza e forma de funcionamento, trazem

    outros elementos para o novo produto, que no necessariamente estavam no anterior.

    Sobre esses outros elementos expressivos advindos com a outra linguagem, Stam nos

    diz que:

    A passagem de um meio unicamente verbal como o romance para um meio multifacetado como o filme, que pode jogar no somente com palavras (escritas e faladas), mas ainda com msica, efeitos sonoros e imagens fotogrficas animadas, explica a pouca probabilidade de uma fidelidade literal, que eu sugeriria qualificar at mesmo de indesejvel (2008, p. 20).

    Dessa forma, nos cabe refletir tambm a respeito do receptor desses textos:

    um que l e o outro escuta e v, de modo que os dois suportes solicitam do receptor

    competncias diversificadas e proporcionam deleites diferentes (GOMES, 2009, p.

    103). Assim falar em fidelidade nos dias de hoje j no to recorrente, uma vez que

  • as mesmas caem no contnuo redemoinho de transformaes e referncias

    intertextuais, de textos que geram outros textos num interminvel processo de

    reciclagem, transformao e transmutao, sem um ponto de origem visvel (STAM,

    2008, p. 22).

    O comparatista e estudioso de cinema James Naremore prope uma anlise

    baseada no dialogismo intertextual, onde todo texto forma uma interseo de

    superfcies textuais, tecidos de frmulas annimas, variaes nessas frmulas,

    citaes conscientes e inconscientes, conflaes e inverses de outros textos

    (NAREMORE apud DINIZ, 2005, p.17). Assim, se analisarmos a fundo essa trama

    intertextual, veremos que todos os pontos de intertextualidade observados em um

    texto, ou em uma adaptao, referem-se mais ao nosso repertrio de textos do que

    aos pr-textos neles contidos, uma vez que o repertrio de cada leitor que dar

    sentido ao texto lido ou assistido.

    Uma vez que todo texto um amlgama de outras referncias (diretas ou indiretas, conscientes ou no), a adaptao se configura como uma estratgia determinada de apreender um texto-fonte e transmut-lo em outros contextos expressivos(SILVA; FREIRE, 2007, p. 8).

    Como afirma Robert Stam (2006, p.28), as noes de dialogismo e

    intertextualidade nos ajudam a transcender as contradies insolveis da fidelidade,

    e tambm da excluso no apenas de todos os tipos de textos suplementares como

    tambm a resposta dialgica do leitor/espectador. Robert Stam utiliza em seus

    estudos sobre a adaptao a obra de Grard Genette, terico que estuda a

    transtextualidade, termo mais inclusivo que a intertextualidade, pois se refere a tudo

    aquilo que coloca um texto em relao com outros textos, seja essa relao manifesta

    ou secreta (GENETTE, 2006, p. 7). Genette ainda postula cinco tipos de relaes

    transtextuais a intertextualidade, a paratextualidade, a metatextualidade, a

    arquitextualidade e a hipertextualidade ; todos eles, segundo Stam, so sugestivos

    para a teoria e anlise da adaptao, sendo a hipertextualidade, possivelmente, o tipo

    mais relevante para o estudo da adaptao.

    desde a percepo de adaptao como dilogo intertextual e como

    hipertexto que analisaremos, a seguir, a adaptao da obra Reinaes de Narizinho

    (1931), aplicando a teoria estudada de forma a identificar pontos aproveitados da obra

    pela adaptao e outros acrescentados, como uma leitura atual da obra de Monteiro

    Lobato.

  • Algumas observaes sobre a adaptao de Algumas observaes sobre a adaptao de Reinaes de NarizinhoReinaes de Narizinho

    Monteiro Lobato soube, como poucos em sua poca, entender o que se

    passava pela mente dos pequenos, criando um mundo onde as crianas podiam morar

    atravs de uma leitura que elas entendiam. Os livros de leitura para crianas que

    existiam no Brasil at o incio do sculo XX, tinham um carter estritamente didtico, e

    Lobato quem d o pontap inicial para mudar essa realidade. Em 1921, ainda dentro

    desta literatura escolar, vem luz sua obra de estria, A menina do Narizinho

    Arrebitado, Segundo Livro de Leitura para Uso das Escolas Primrias: Sem que

    ningum suspeitasse, com ele estava sendo criada a Literatura Infantil Brasileira diz

    Coelho (1991, p. 222). Nesse pequeno livro predominava o pensamento racional sobre

    o pensamento mgico; porm, ao longo dos anos foi sendo modificado por Lobato,

    que foi gradativamente conquistando seu estilo e se conscientizando de que o mundo

    das crianas diferente do mundo que os adultos vem. Deixando-se impregnar pela

    psicologia infantil, vai enfraquecendo em suas obras os limites entre o mundo real e o

    maravilhoso, a ponto de eles desaparecerem por completo.

    Atravs das sucessivas revises, Lobato foi retirando dessa obra os traos da

    literatura utilitria, chegando a transformar o livro. Seus ensinamentos passaram a

    fazer parte da prpria trama fabular. As histrias que se seguem quela foram

    organizadas por Lobato em um nico volume, Reinaes de Narizinho, publicado em

    1931, e que mesmo sendo lanada anos mais tarde no perdeu sua primogenitura,

    permanecendo como o livro inaugural da coleo das obras completas de Monteiro

    Lobato para crianas.

    Dessa forma, Reinaes de Narizinho (1931) considerado o carro chefe dos

    livros infantis de Monteiro Lobato, pois traz como primeiro captulo o livro3 que deu

    origem s histrias do Stio do Picapau Amarelo. O livro formado por onze captulos

    que foram publicados isoladamente durante os anos de 1920 a 1931, e reunidos em

    um nico volume na mesma ordem cronolgica em que foram publicados, como

    mostra o quadro abaixo, apresentado por Denise Bertolucci (2008).

    EDIO ISOLADA AS REINAES DE NARIZINHO (1931)

    TTULO DATA TTULO DOS CAPTULOS

    A menina do Narizinho Arrebitado

    1920 Narizinho Arrebitado

    3 A Menina do Narizinho Arrebitado, lanado em 1920 o primeiro livro infantil de Monteiro Lobato. Em 1921 o mesmo livro relanado com o nome Narizinho Arrebitado apresentando novas aventuras de seus personagens.

  • Narizinho Arrebitado 1921 O stio do Picapau Amarelo

    O Marqus de Rabic 1922 O Marqus de Rabic

    O noivado de Narizinho 1928 O casamento de Narizinho

    Aventuras do prncipe 1928 Aventuras do Prncipe

    O gato Flix 1928 O gato Flix

    Cara de coruja 1928 Cara de Coruja

    O irmo de Pinquio 1929 O irmo de Pinquio

    Circo de Escavalinho 1929 O circo de Escavalinho

    A pena de papagaio 1930 A pena de Papagaio

    O p de pirlimpimpim 1931 O p de Pirlimpimpim

    A adaptao para a televiso foi o primeiro episdio da nova temporada do

    seriado Stio do Picapau Amarelo, lanado pela TV Globo no dia 12 de outubro de

    2001 com o ttulo No Reino das guas Claras (2001), que em total teve durao de

    uma semana. O mesmo episdio foi lanado pela Som Livre e Globo Marcas no

    formato DVD, em 2006, o qual analisaremos logo em seguida.

    O episdio No reino das guas Claras apresenta a adaptao dos quatro

    primeiros captulos do livro Reinaes de Narizinho. No incio da adaptao observa-

    se momentos de adequao histrico cultural, com a insero de um computador no

    escritrio de Dona Benta, indicando a inteno do adaptador de aproximar realidade

    das crianas de hoje a histria escrita h mais de 80 anos. Dona Benta utiliza o

    computador para se comunicar com amigos, como Gilberto Gil e Pel (personalidades

    pblicas contemporneas), e principalmente com seu neto Pedrinho, que mora na

    cidade com a me e passa as frias no Stio com a av.

    A primeira cena em que Narizinho aparece com Emlia, a boneca de pano que

    ainda no anda e nem fala, no p de jabuticaba, cena descrita no incio do segundo

    captulo do livro. Diferentemente da maioria das ilustraes presentes na obra de

    Lobato, a boneca da adaptao possui tamanho de uma criana de cerca de 6 anos

    de idade. O tamanho da boneca pode ser explicado pelo fato da atriz que a

    interpretava ter sete anos de idade, na poca de produo do episdio, e indicativo

    da opo da produo de no usar efeitos especiais para mostr-la sempre do

    tamanho diminuto, concorde ao de uma boneca corrente, assim quando ela se

    transforma em boneca andante e falante o tamanho permanece o mesmo.

  • Adicionalmente, aps 50 anos da primeira adaptao das histrias do Stio, a boneca

    Emlia volta a ser interpretada por uma criana, assim como o foi no filme O Saci, de

    1952, pois nas outras adaptaes para a televiso ela foi interpretada por atrizes

    adultas: na TV Tupi, Lucia Lambertini e Dulce Margarida (1952-1962); na TV Cultura,

    Lucia Lambertini (1964); na TV Bandeirantes, Zodja Pereira (1967); TV Globo, Dirce

    Migliaccio (1977), Reny de Oliveira (1978-1982) e Suzana Abranches (1983-1986).

    Na sequncia, a adaptao retoma o primeiro captulo do livro para

    apresentar o encontro de Narizinho com o Prncipe Escamado, o soberano do Reino

    das guas Claras. Tudo descrito como no livro, e mesmo as falas permanecem as

    mesmas. O Prncipe Escamado escala o rosto de Narizinho na companhia do mestre

    Cascudo, um besouro que vive no Reino das guas Claras. A novidade apresentada

    nessa adaptao so os efeitos de animao: o besouro construdo por computao

    grfica, j o Prncipe interpretado por um ator que tem o tamanho reduzido com o

    efeito proporcionado pelo croma-key, recurso que permite que a imagem captada por

    uma cmera possa ser inserida sobre outra, criando a impresso de primeiro plano e

    fundo, assim o Prncipe tem seu tamanho reduzido.

    A entrada de Narizinho no mar onde est localizado o Reino das guas

    Claras atravs do ribeiro que fica no Stio: envolta numa bolha de ar a menina entra

    no palcio do Prncipe Escamado. Atravs de efeitos especiais, peixes em animao

    nadam ao lado dos atores, o efeito da gua em tom azulado se movimentando

    tambm criado por animao e at uma baleia aparece ao fundo, tudo feito graas

    aos efeitos especiais de hoje. A utilizao desses efeitos produzem resultados

    imagticos diferentes da primeira vez em que a TV Globo adaptou a obra de Lobato,

    onde o fundo do mar era composto artesanalmente com recortes de panos, com

    pedaos de plstico e tiras de papel crepom, alm de bolhas de sabo que caam do

    teto.

    Outro ponto de adequao realidade da poca so as filhas da costureira

    da corte, que falam grias como: p me; d um tempo; ah me, qual ?; que

    vacilo, a; a gente queria ver uma mudana radical; no rolo, a; p, mame,

    muito careta a; o que torna a linguagem da adaptao mais prxima das crianas de

    hoje. Essa uma das formas de atualizar a narrativa, no sentido de traz-la para o

    contexto contemporneo, de aproxim-la do pblico ao qual ela se dirige, e, portanto,

    de torn-la mais inteligvel ao receptor de seu tempo. Essa aproximao se d por

    meio da insero de cenrios familiares, da nfase nas problemticas e questes

    vigentes tratadas na obra fonte, no uso de terminologias e expresses idiomticas

  • comuns, na substituio de palavras mais eruditas por um vocabulrio coloquial e

    compartilhado. Esses elementos do uma nova roupagem e revigoram, renovam, no

    sentido de conferir uma aparncia de novo, os elementos apresentados na obras-

    fonte.

    nesse sentido que pode ser lido, tambm, o uso de efeitos especiais, ou

    seja, como expresso da intencionalidade da obra de aproximar-se ao receptor a que

    se dirige, aos padres estticos aos quais est habituado, s suas exigncia do uso

    das tecnologias vigentes para a representao dos elementos narrados na obra-fonte.

    Esse movimento em direo atualizao pode ser observado, por exemplo, no

    redemoinho que se forma ao redor do Saci todas a cada vez que ele surge no seriado

    televisivo. Como personagem fantstico, ele adentra em cena de forma que acentua

    essa sua faceta fantstica: em lugar de entrar pela porta, como os demais seres

    mundanos, ele chega com um vento forte, indicando tambm que semeia

    tempestades, o que alude ao seu carter ldico e travesso.

    Nesse caso, outro elemento que acena s mudanas que ocorrem da

    passagem da escrita representao audiovisual, e que acentua a encenao, que

    no livro certos acontecimentos so descritos por personagens que contam

    determinados fatos, j na adaptao esses fatos acontecem no tempo real da

    adaptao, sem a narrao de outro personagem. Esse o caso da passagem do livro

    em que Emlia narra seu encontro com Dona Carochinha e leva uma bordoada na

    cabea; j na adaptao esta passagem atuada, substituindo a imaginao do

    receptor na reconstruo da cena. A passagem da descrio para a ao, no sentido

    de atuao, de colocar em ato algo descrito, algo prprio da linguagem audiovisual,

    e se manifesta, como caracterstica, nas adaptaes de livro para o cinema, a

    televiso, o teatro.

    Como No Reino das guas Claras foi o primeiro episdio da nova adaptao

    do programa Stio do Picapau Amarelo, outros personagens que no fazem parte

    dessa obra em especfico, mas fazem parte do universo lobatiano, foram incorporados

    na adaptao, como o Tio Barnab, o Saci e a Cuca. No caso da fico seriada

    televisiva, h um elenco fixo, pertencente ao universo lobatiano, que participam em

    geral dos diversos episdios apresentados, diferena da obra literria, em que o Saci

    e a Cuca, por exemplo, se fazem presentes exclusivamente no livro O Saci, e no

    participam, em nenhum momento, em Reinaes de Narizinho.

    Alguns subttulos foram suprimidos na adaptao, talvez por economia de

    tempo, uma vez que cada histria tinha a durao de uma semana. O que vale frisar

  • que a ingenuidade e a fantasia do livro Reinaes de Narizinho foram mantidas. Na

    seguinte tabela so apontados os captulos adaptados e seus respectivos subttulos,

    para identificarmos os pontos de aproveitamento e o no aproveitamento do texto

    fonte.

    Reinaes de Narizinho (1931) No Reino das guas Claras (2001)

    Captulo I Narizinho Arrebitado Narizinho Aparece os personagens em seu cotidiano Uma vez... Adaptado No palcio Adaptado como no livro O bobinho Adaptado A costureira das fadas Adaptado A festa e o Major Adaptado A plula falante Adaptado

    Captulo II O Stio do Picapau Amarelo As jabuticabas A cena de Narizinho na jabuticabeira a

    primeira em que aparece a menina e a boneca, h uma inverso na sequncia do livro.

    O enterro da vespa No adaptado A pescaria No adaptado As formigas ruivas No adaptado Pedrinho Adaptado A viagem No adaptado O assalto No adaptado Tom Mix No adaptado As muletas do besouro No adaptado Saudades No adaptado A rainha No adaptado A volta No adaptado

    Captulo III O Marqus de Rabic Os sete leitezinhos No adaptado O pedido de casamento Adaptado O noivado de Emlia Adaptado O casamento Adaptado O jantar de Ano-Bom No adaptado

    Captulo IV O Casamento de Narizinho A doena do Prncipe Adaptado O pedido Adaptado Os brincos do Marqus Adaptado A chegada Adaptado Apuros do Marqus Adaptado O vestido maravilhoso Adaptado Vem vindo o socorro Adaptado

    Observa-se na tabela acima que grande parte do texto fonte foi usada na

    adaptao para a televiso. No entanto, No Reino das guas Claras no uma cpia

    fiel ao texto de partida, pois houve modificao nas falas, nas sequncias de

    acontecimentos, no figurino dos personagens, entre outros. A adaptao gera outra

  • obra, realizada para outro suporte miditico, o que exige mudanas para transmutar o

    texto de um livro para a linguagem audiovisual, onde nem sempre o que escrito para

    ser lido ou pode ser transferido tal qual para aquilo que visto e ouvido.

    Voltando a Genette, pensemos na adaptao No Reino das guas Claras

    como um elemento hipertextual, que transforma um texto anterior ou hipotexto.

    Segundo Stam, Adaptaes cinematogrficas [acrescento as televisivas], nesse

    sentido, so hipertextos derivados de hipotextos pr-existentes que foram

    transformados por operaes de seleo, amplificao, concretizao e efetivao

    (2006, p. 33). Assim, podemos entender a adaptao como um outro texto. Nas

    palavras de Stam, Todas essas transformaes transtextuais ilustram a idia de

    Genette de que a hipertextualidade reflete a vitalidade de artes que incessantemente

    inventam novos circuitos de significados a partir de formas mais antigas (2006, p. 35).

    Observamos neste trabalho, atravs dos Estudos Interartes, a relao que h

    entre artes distintas, que independente de estarem em mdias diferentes nos lana

    questionamentos sobre a base comparatista. Dessa forma, a literatura comparada nos

    possibilita correlacionar literatura e audiovisual, assim como a Teoria da Adaptao

    nos fornece subsdios para compreender os elementos de um texto transmutados para

    outro suporte, no caso a televiso. Alm disso, o conceito de hipertextualidade de

    Genette auxilia a explicar que a adaptao um hipertexto, que modifica um texto

    anterior ou hipotexto. Tais teoria possibilitam um entendimento de que a obra

    adaptada outra obra, outro texto proposto em outro suporte, que apesar de se

    basear num livro, independe deste, podendo o novo autor utilizar-se do livro apenas

    para aproveitar o tema.

    Vemos na adaptao analisada que, muito mais que manter a fidelidade ao

    texto original, foi mantido um dilogo entre as duas obras, pois cada uma possui suas

    particularidades e, em se tratando de adequao histrico-cultural, podemos classific-

    las individualmente, uma literria e outra audiovisual. Alguns episdios da obra literria

    no foram transmutados para o audiovisual, mas a adaptao mostrou elementos

    suficientes para o reconhecimento da obra original de Monteiro Lobato.

    Referncias bibliogrficasReferncias bibliogrficas

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