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SALVADOR SÁBADO 22/1/2011 SALVADOR REGIÃO METROPOLITANA A9 CAMINHADA Católicos, evangélicos, adeptos do candomblé e da umbanda estiveram unidos pela primeira vez no evento Adeptos de religiões diversas pediram juntos por tolerância ARIVALDO SILVA Um chamamento ao diálogo inter-religioso e à convivên- cia pacífica entre os diversos credos reuniu ontem pela manhã, na orla marítima de Salvador, representantes do povo-de-santo, de igrejas evangélica e católica e da um- bamda para a 4ª Caminhada contra a Intolerância Religio- sa e pela Paz. Concentradas no Largo da Sereia, em Itapuã, aproximadamente 150 pes- soas, vestindo branco, segui- ram até a Lagoa do Abaeté. A caminhada celebra o Dia Nacional contra a Intolerân- cia, em memória de mãe Gil- da, sacerdotisa do Terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum, que morreu há 11 anos, comple- tados ontem, devido ao agra- vamento dos seus problemas de saúde, após sofrer um in- farto. O fato ocorreu um dia depois que mãe Gilda assinou a procuração para a abertura do processo contra a Igreja Universal do Reino de Deus, por causa da reportagem in- titulada “Macumbeiros char- latões lesam o bolso e a vida dos clientes”, publicada no jornal Folha Universal. Uma das organizadoras do movimento, a ialorixá Jaciara Santos Ribeiro, filha de mãe Gilda e sua sucessora no ter- reiro, disse que a novidade na caminhada este ano é a am- pliação do diálogo com as ou- tras religiões. “Este é o ano de Oxum, orixá feminino que traz maior entendimento”. Para o pastor Fernando Car- neiro, da Igreja Evangélica Antióquia, localizada no bair- ro Tororó, o diálogo inter-re- ligioso é o principal objetivo da caminhada. “Essa reunião de diversos credos é impor- tante para a conscientização e para levantar a bandeira do respeito ao outro. Nossa par- ticipação é justamente para quebrar o discurso da demo- nização, tão presente nas re- ligiões hegemônicas", salien- tou o evangélico. O cortejo era puxado por cânticos de candomblé entoa- dos do alto de um pequeno trio elétrico, onde estavam reunidos os líderes religiosos. Diretor-executivo da organi- zação ecumênica Koinonia, Rafael Soares de Oliveira, dis- se que o evento é importante para reafirmar a comunhão entre todos. “A liberdade re- ligiosa é um direito das pes- soas. A intolerância é um cân- cer que não pode ser alimen- tado. Somos a favor da união entre religiões a fim de isolar quem é intolerante e se as- sume como tal”. Ilhéus O caso da ialorixá Bernadete Souza Ferreira, do terreiro de candomblé Ilê Axé Odé Ominwa, de Ilhéus, sul do Es- tado, que foi agredida por sol- dados da Polícia Militar em outubro do ano passado, ain- da não teve definição. Segun- do Bernadete, até agora não houve resposta. “Após a reu- nião com o governador Jac- ques Wagner, em outubro, po- lícias Militar e Civil deram um prazo de 30 dias para entregar o relatório de investigação do caso”. Bernadete e outras li- deranças religiosas irão se reunir, em Ilhéus, para tratar do assunto. COLABOROU JULIANA DIAS Jaciara Santos Ribeiro: “Esse é o ano de Oxum, orixá feminino que traz maior entendimento” A novidade na caminhada este ano é a ampliação do diálogo com as outras religiões O cortejo era puxado por cânticos de candomblé entoados de um trio elétrico A caminhada celebra o Dia Nacional contra a Intolerância, em memória de mãe Gilda Arestides Baptista / Ag. A TARDE S. FRANCISCO DO CONDE Falhas em projeto barram construção de residências GEORGE BRITO Falhas de projeto e pendência de documentos impedem a liberação dos recursos para a construção de 70 casas des- tinadas a famílias de sem-teto do distrito de Caípe de Cima, no município de São Francis- co do Conde, a 60 quilôme- tros de Salvador. A informação é da Caixa Econômica Federal (CEF), em resposta à matéria, publicada na edição de ontem de A TAR- DE, denunciando o atraso de três anos para início das obras, que motivou a mani- festação, na manhã de an- teontem, de 150 sem-teto na porta da Companhia de De- senvolvimento Urbano do Es- tado da Bahia (Conder), em Narandiba. Em nota enviada pela as- sessoria de comunicação, a CEF afirma que o atraso se deve “à apresentação de pro- jeto de drenagem incomple- to, ausência de projeto de ter- raplanagem e projeto estru- tural, ausência de licencia- mento ambiental e ausência da declaração de viabilidade dos projetos apresentados de água, esgoto e energia elétrica pela prefeitura e concessio- nárias dos serviços públicos do Estado”. Segundo a CEF, a Conder foi avisada das pendências no ano passado e elas “deveriam obrigatoriamente ser resolvi- das até a verificação do pro- cesso licitatório, para garantir a exequibilidade da obra”. A apresentação dos projetos e documentos é necessária, ex- plica a Caixa, para a avaliar a compatibilidade com a pla- nilha orçamentária aprovada em junho de 2009. A diretora de Habitação da Conder, Adalva Tonhá, admi- tiu anteontem que houve “inadequações” nos projetos, sem ter detalhado quais se- riam elas. A previsão, segun- do Tonhá, é que as obras ini- ciem no final de fevereiro.

Adeptos de religiões diversas pediram juntos por tolerância

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Matéria publicada na página A9, do Jornal A TARDE, do dia 22/01/2011. Arivaldo Silva. Foto: Arestides Baptista. Um chamamento ao diálogo inter-religioso e à convivência pacífica entre os diversos credos reuniu ontem pela manhã, na orla marítima de Salvador, representantes do povo-de-santo, de igrejas evangélica e católica e da umbamda para a 4ª Caminhada contra a Intolerância Religiosa e pela Paz. Concentradas no Largo da Sereia, em Itapuã, aproximadamente 150 pessoas, vestindo branco, seguiram até a Lagoa do Abaeté.

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Page 1: Adeptos de religiões diversas pediram juntos por tolerância

SALVADOR SÁBADO 22/1/2011 SALVADOR REGIÃO METROPOLITANA A9

CAMINHADA Católicos, evangélicos, adeptos do candomblé eda umbanda estiveram unidos pela primeira vez no evento

Adeptos de religiõesdiversas pediramjuntos por tolerânciaARIVALDO SILVA

Um chamamento ao diálogointer-religioso e à convivên-cia pacífica entre os diversoscredos reuniu ontem pelamanhã, na orla marítima deSalvador, representantes dopovo-de-santo, de igrejasevangélica e católica e da um-bamda para a 4ª Caminhadacontra a Intolerância Religio-sa e pela Paz. Concentradas noLargo da Sereia, em Itapuã,aproximadamente 150 pes-soas, vestindo branco, segui-ram até a Lagoa do Abaeté.

A caminhada celebra o DiaNacional contra a Intolerân-cia, em memória de mãe Gil-da, sacerdotisa do Terreiro IlêAxé Abassá de Ogum, quemorreu há 11 anos, comple-tados ontem, devido ao agra-vamento dos seus problemasde saúde, após sofrer um in-farto. O fato ocorreu um diadepois que mãe Gilda assinoua procuração para a aberturado processo contra a IgrejaUniversal do Reino de Deus,por causa da reportagem in-titulada “Macumbeiros char-latões lesam o bolso e a vidados clientes”, publicada nojornal Folha Universal.

Uma das organizadoras domovimento, a ialorixá JaciaraSantos Ribeiro, filha de mãeGilda e sua sucessora no ter-reiro, disse que a novidade nacaminhada este ano é a am-pliação do diálogo com as ou-tras religiões. “Este é o ano deOxum, orixá feminino quetraz maior entendimento”.

Para o pastor Fernando Car-neiro, da Igreja EvangélicaAntióquia, localizada no bair-ro Tororó, o diálogo inter-re-ligioso é o principal objetivoda caminhada. “Essa reuniãode diversos credos é impor-tante para a conscientização epara levantar a bandeira dorespeito ao outro. Nossa par-ticipação é justamente paraquebrar o discurso da demo-nização, tão presente nas re-ligiões hegemônicas", salien-tou o evangélico.

O cortejo era puxado porcânticos de candomblé entoa-dos do alto de um pequenotrio elétrico, onde estavamreunidos os líderes religiosos.Diretor-executivo da organi-zação ecumênica Koinonia,Rafael Soares de Oliveira, dis-se que o evento é importantepara reafirmar a comunhãoentre todos. “A liberdade re-

ligiosa é um direito das pes-soas. A intolerância é um cân-cer que não pode ser alimen-tado. Somos a favor da uniãoentre religiões a fim de isolarquem é intolerante e se as-sume como tal”.

IlhéusO caso da ialorixá BernadeteSouza Ferreira, do terreiro decandomblé Ilê Axé OdéOminwa, de Ilhéus, sul do Es-tado, que foi agredida por sol-dados da Polícia Militar emoutubro do ano passado, ain-da não teve definição. Segun-do Bernadete, até agora nãohouve resposta. “Após a reu-nião com o governador Jac-ques Wagner, em outubro, po-líciasMilitareCivilderamumprazode30diasparaentregaro relatório de investigação docaso”. Bernadete e outras li-deranças religiosas irão sereunir, em Ilhéus, para tratardo assunto.

COLABOROU JULIANA DIAS

Jaciara SantosRibeiro: “Esseé o ano deOxum, orixáfeminino quetraz maiorentendimento”

A novidade nacaminhada esteano é aampliação dodiálogo com asoutras religiões

O cortejo erapuxado porcânticos decandombléentoados de umtrio elétrico

A caminhadacelebra o DiaNacional contraa Intolerância,em memória demãe Gilda

Arestides Baptista / Ag. A TARDE

S. FRANCISCO DO CONDE

Falhas em projeto barramconstrução de residências

GEORGE BRITO

Falhas de projeto e pendênciade documentos impedem aliberação dos recursos para aconstrução de 70 casas des-tinadasafamíliasdesem-tetodo distrito de Caípe de Cima,no município de São Francis-co do Conde, a 60 quilôme-tros de Salvador.

A informação é da CaixaEconômica Federal (CEF), emresposta à matéria, publicadana edição de ontem de A TAR-DE, denunciando o atraso detrês anos para início dasobras, que motivou a mani-festação, na manhã de an-teontem, de 150 sem-teto naporta da Companhia de De-senvolvimento Urbano do Es-tado da Bahia (Conder), emNarandiba.

Em nota enviada pela as-sessoria de comunicação, aCEF afirma que o atraso sedeve “à apresentação de pro-jeto de drenagem incomple-to, ausência de projeto de ter-

raplanagem e projeto estru-tural, ausência de licencia-mento ambiental e ausênciada declaração de viabilidadedos projetos apresentados deágua,esgotoeenergiaelétricapela prefeitura e concessio-nárias dos serviços públicosdo Estado”.

Segundo a CEF, a Conder foiavisada das pendências noano passado e elas “deveriamobrigatoriamente ser resolvi-das até a verificação do pro-cessolicitatório,paragarantira exequibilidade da obra”. Aapresentação dos projetos edocumentos é necessária, ex-plica a Caixa, para a avaliar acompatibilidade com a pla-nilha orçamentária aprovadaem junho de 2009.

A diretora de Habitação daConder, Adalva Tonhá, admi-tiu anteontem que houve“inadequações” nos projetos,sem ter detalhado quais se-riam elas. A previsão, segun-do Tonhá, é que as obras ini-ciem no final de fevereiro.