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Entenda a decisão do STF que declarou a inconstitucionalidade parcial da EC 62/2009 terça-feira, 9 de abril de 2013 Olá amigos do Dizer o Direito, Vamos hoje comentar sobre o julgamento do STF que declarou inconstitucional alguns dispositivos da Constituição Federal inseridos pela Emenda Constitucional 62/2009, que trata sobre os precatórios. Trata-se de assunto difícil e denso. Iremos apenas destacar os pontos principais para que vocês entendam o que foi decidido. Ainda haverá muitas implicações decorrentes deste julgado, mas ainda é cedo para avaliarmos com segurança. Regime de precatórios Se a Fazenda Pública Federal, Estadual, Distrital ou Municipal for condenada, por sentença judicial transitada em julgado, a pagar determinada quantia a alguém, este pagamento será feito sob um regime especial chamado de “precatório” (art. 100 da CF/88). EC 62/2009 A EC 62/2009 alterou o art. 100 da CF/88 e o art. 97 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da CF/88 prevendo inúmeras mudanças no regime dos precatórios. As modificações impostas pela EC 62/2009 dificultaram o recebimento dos precatórios pelos credores e tornaram ainda mais vantajosa a situação da Fazenda Pública. Por esta razão, a alteração ficou conhecida, jocosamente, como “Emenda do Calote”. ADI Foram propostas quatro ações diretas de inconstitucionalidade contra esta previsão:

ADI 4357 Precatórios dívidas fazenda correção

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Entenda a deciso do STF que declarou a inconstitucionalidade parcial da EC 62/2009

tera-feira, 9 de abril de 2013Ol amigos do Dizer o Direito,Vamos hoje comentar sobre o julgamento do STF que declarou inconstitucional alguns dispositivos da Constituio Federal inseridos pela Emenda Constitucional 62/2009, que trata sobre os precatrios.Trata-se de assunto difcil e denso. Iremos apenas destacar os pontos principais para que vocs entendam o que foi decidido. Ainda haver muitas implicaes decorrentes deste julgado, mas ainda cedo para avaliarmos com segurana.Regime de precatriosSe a Fazenda Pblica Federal, Estadual, Distrital ou Municipal for condenada, por sentena judicial transitada em julgado, a pagar determinada quantia a algum, este pagamento ser feito sob um regime especial chamado de precatrio (art. 100 da CF/88).EC 62/2009A EC 62/2009 alterou o art. 100 da CF/88 e o art. 97 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias (ADCT) da CF/88 prevendo inmeras mudanas no regime dos precatrios.As modificaes impostas pela EC 62/2009 dificultaram o recebimento dos precatrios pelos credores e tornaram ainda mais vantajosa a situao da Fazenda Pblica. Por esta razo, a alterao ficou conhecida, jocosamente, como Emenda do Calote.ADIForam propostas quatro aes diretas de inconstitucionalidade contra esta previso: ADI 4357/DF Conselho Federal da OAB e Associao dos Magistrados Brasileiros (AMB); ADI 4425/DF Confederao Nacional das Indstrias CNI; ADI 4400/DF Associao Nacional dos Magistrados da Justia do Trabalho (Anamatra); ADI 4372/DF Associao dos Magistrados Estaduais (Anamages).Legitimidade para propor ADIOs legitimados para propor ADI esto previstos no art. 103 da CF/88:Art. 103. Podem propor a ao direta de inconstitucionalidade e a ao declaratria de constitucionalidade:I - o Presidente da Repblica;II - a Mesa do Senado Federal;III - a Mesa da Cmara dos Deputados;IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Cmara Legislativa do Distrito Federal;V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;VI - o Procurador-Geral da Repblica;VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;VIII - partido poltico com representao no Congresso Nacional;IX - confederao sindical ou entidade de classe de mbito nacional.Legitimados universais e no-universais (especiais)A jurisprudncia do STF construiu a tese de que alguns desses legitimados poderiam ajuizar aes diretas de inconstitucionalidade questionando leis ou atos normativos que tratassem sobre todo e qualquer assunto. Tais legitimados seriam, portanto,legitimados ativos universais.Por outro lado, o STF afirmou que os demais legitimados, ao proporem a ADI, deveriam comprovar que possuem legtimo interesse na ao. So, por isso, chamados delegitimados ativos especiais. Este legtimo interesse que precisa ser demonstrado chamado depertinncia temtica.Legitimados ativos da ADI e ADC

UNIVERSAIS (NEUTROS)ESPECIAIS (NO UNIVERSAIS)

So aqueles que podem propor ADI e ADC contra leis ou atos normativos que versem sobre qualquer matria, sem a necessidade de comprovar interesse especfico no julgamento da ao.So aqueles que somente podem propor ADI e ADC contra leis ou atos normativos que tratem sobre matrias que digam respeito s funes ou objetivos do rgo ou entidade. O autor especial ter que provar o seu interesse especfico no julgamento daquela ao.Ter que ser provada a pertinncia temtica entre a norma impugnada e os objetivos do autor da ao.

Quem so os legitimados universais: Presidente da Repblica; Mesa do Senado e Mesa da Cmara; Procurador-Geral da Repblica; Conselho Federal da OAB Partido poltico com representao no CN.Quem so os legitimados especiais: Mesa de Assembleia Legislativa ou da Cmara Legislativa do DF; Governador de Estado/DF; Confederao sindical; Entidade de classe de mbito nacional.

O STF j decidiu que, quando o Governador de um Estado impugna lei de outro Estado, ele dever demonstrar que h uma repercusso do ato para os interesses do seu Estado. Isso a pertinncia temtica (ADI 2.747, Rel. Min. Marco Aurlio, julgado em 16/5/2007).A entidade de classe de mbito nacional (ex: Associao Nacional dos Defensores Pblicos), por ser um legitimado especial, dever provar que a legislao questionada guarda relao de pertinncia temtica com as finalidades institucionais dessa entidade (ADI 2.903, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 1/12/2005).No caso que estamos analisando, o STF no conheceu (julgou extintas sem apreciao do mrito) as aes propostas pela Anamages e pela Anamatra, por considerar que no havia pertinncia temtica (relao direta) entre o assunto tratado pela EC 62/2009 e os fins institucionais dessas entidades de classe.Quanto AMB, embora esta igualmente no detenha legitimao universal, o STF considerou que havia pertinncia temtica, pois uma das alegaes na petio inicial da ADI da AMB era a de que a EC 62/09 violava o princpio da separao de Poderes, sendo a defesa do Judicirio nacional uma das finalidades desta associao. Ademais, entre as finalidades previstas no Estatuto da AMB est a defesa do Estado democrtico e a preservao dos direitos e garantias individuais e coletivos.Inconstitucionalidade formalA CF/88 determina que a proposta de emenda constitucional seja discutida e votada, em cada Casa do Congresso Nacional,em dois turnos de votao, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, 3/5 dos votos dos respectivos membros ( 2 do art. 60).No Senado, a EC 62/2009 foi votada e aprovada, em dois turnos de votao. No entanto, estes dois turnos aconteceram no mesmo dia, ao longo de duas sesses legislativas ocorridas com menos de 1h de intervalo entre ambas. A estratgia utilizada pelos parlamentares foi a seguinte: aps votar a PEC em 1 turno, o Presidente da Casa encerrou a sesso legislativa e, na mesma noite, aps alguns minutos, abriu uma nova sesso legislativa e votou a proposta em 2 turno.Diante disso, os autores da ADI alegavam que houve violao regra do 2 do art. 60 da CF/88.O STF concordou com a tese?NO. Neste ponto, prevaleceu o voto do Min. Luiz Fux. O Ministro afirmou que a exigncia constitucional de dois turnos de votao existe para assegurar a reflexo profunda e a maturao das ideias antes da modificao de documento jurdico com vocao de perenidade (a CF). No entanto, a partir dessa finalidade abstrata, no possvel se extrair a exigncia de que imprescindvel a existncia de interstcio mnimo entre os turnos. Em outras palavras, a CF/88 no exigiu um tempo mnimo entre as duas votaes.O constituinte, quando quis, exigiu expressamente intervalo mnimo, conforme se pode observar, em dois casos: para criao de lei orgnica municipal (art. 29, caput, da CF/88) e da Lei Orgnica do DF (art. 32, caput, CF/88). No caso de aprovao de EC, o Texto Constitucional no fez esta mesma exigncia. Houve, portanto, um silncio eloquente do texto constitucional.Assim, para o Ministro, quando o 2 do art. 60 fala em dois turnos, ele est apenas exigindo a realizao de duas etapas de discusso.No caso da EC 62/2009, esta regra foi cumprida porque as votaes ocorreram em duas sesses distintas.Vale ressaltar que existe uma norma no Regimento Interno do Senado determinando o intervalo de 5 dias teis entre os turnos de votao, mas o STF entendeu que a sua inobservncia est sujeita apenas ao controle feito pelo prprio Congresso e no do Poder Judicirio.Caput e 1 do art. 100 da CF/88O regime de precatrios tratado pelo art. 100 da CF, assim como pelo art. 78 do ADCT.No caput do art. 100 consta a regra geral dos precatrios, ou seja, os pagamentos devidos pela Fazenda Pblica em decorrncia de condenao judicial devem ser realizados na ordem cronolgica de apresentao dos precatrios. Existe, ento, uma espcie de fila para pagamento dos precatrios:Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Pblicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentena judiciria, far-se-o exclusivamente na ordem cronolgica de apresentao dos precatrios e conta dos crditos respectivos, proibida a designao de casos ou de pessoas nas dotaes oramentrias e nos crditos adicionais abertos para este fim. (Redao dada pela EC 62/09)Obs: no h qualquer inconstitucionalidade no caput do art. 100 da CF, que permanece vlido e eficaz.No 1 do art. 100 previsto que os dbitos de natureza alimentcia gozam de preferncia no recebimento dos precatrios. como se existisse uma espcie de fila preferencial: 1 Os dbitos de natureza alimentcia compreendem aqueles decorrentes de salrios, vencimentos, proventos, penses e suas complementaes, benefcios previdencirios e indenizaes por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentena judicial transitada em julgado, e sero pagos com preferncia sobre todos os demais dbitos, exceto sobre aqueles referidos no 2 deste artigo. (Redao dada pela EC 62/09).Obs: no h qualquer inconstitucionalidade no 1 do art. 100 da CF, que permanece vlido e eficaz. 2 do art. 100 da CF/88O 2 do art. 100 prev que os dbitos de natureza alimentcia que tenham como beneficirios pessoas com 60 anos de idade ou mais ou portadoras de doenas graves tero uma preferncia ainda maior. como se fosse uma fila com superpreferncia.Recapitulando:Os dbitos da Fazenda Pblica devem ser pagos por meio do sistema de precatrios.* Quem pago em 1 lugar: crditos alimentares de idosos e portadores de doenas graves.* Quem pago em 2 lugar: crditos alimentares de pessoas que no sejam idosas ou portadoras de doenas graves.* Quem pago em 3 lugar: crditos no alimentares.Obs1: a superprioridade para crditos alimentares de idosos e portadores de doenas graves possui um limite de valor previsto no 2 do art. 100. Assim, se o valor a receber pelo idoso ou doente grave for muito alto, parte dele ser paga com superpreferncia e o restante ser quitado na ordem cronolgica de apresentao do precatrio. Esta limitao de valor foi considerada constitucional pelo STF.Obs2: dentro de cada uma dessas filas, os dbitos devem ser pagos conforme a ordem cronolgica em que os precatrios forem sendo apresentados.Obs3: os dbitos de natureza alimentcia so aqueles decorrentes de salrios, vencimentos, proventos, penses e suas complementaes, benefcios previdencirios e indenizaes por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil.Obs4: em que momento analisada esta idade de 60 anos para que a pessoa passe a ter a superpreferncia?Segundo a redao literal do 2 do art. 100, para que o indivduo tivesse direito superpreferncia, ele deveria ser idoso (60 anos ou mais) no dia daexpedio do precatriopelo juzo. Veja a redao do 2: 2 Os dbitos de natureza alimentcia cujos titulares tenham 60 (sessenta) anos de idade ou maisna data de expedio do precatrio, ou sejam portadores de doena grave, definidos na forma da lei, sero pagos com preferncia sobre todos os demais dbitos, at o valor equivalente ao triplo do fixado em lei para os fins do disposto no 3 deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante ser pago na ordem cronolgica de apresentao do precatrio.Ocorre que, entre o dia em que o precatrio expedido e a data em que ele efetivamente pago, so passados alguns anos. Desse modo, comum que a pessoa no seja idosa no instante em que o precatrio expedido, mas como o processo de pagamento to demorado, ela acaba completando mais de 60 anos de idade durante a espera.Diante disso, esta expressona data de expedio do precatrioconstante no 2 do art. 100 da CF/88 foi declarada INCONSTITUCIONAL. O STF entendeu que esta limitao at a data da expedio do precatrio viola o princpio da igualdade e que esta superpreferncia deveria ser estendida a todos os credores que completassem 60 anos de idade enquanto estivessem aguardando o pagamento do precatrio de natureza alimentcia.Obs5: o restante do 2 do art. 100 da CF foi declarado constitucional e permanece vlido. 9 e 10 do art. 100 da CF/88Segundo o 10 do art. 100, antes de expedir o precatrio, o Tribunal solicitar Fazenda Pblica devedora que informe se existem dbitos lquidos e certos, inscritos ou no em dvida ativa e constitudos contra o exequente. Em outras palavras, o Tribunal indagar Fazenda se o beneficirio original do precatrio possui dbitos com o Poder Pblico.Ex: determinada sentena transitou em julgado condenando o Estado do Amazonas a pagar 500 mil reais a Joo. Antes de expedir o precatrio, o Tribunal deveria indagar Fazenda Pblica amazonense se Joo devia algum valor lquido e certo ao Estado do Amazonas. Veja: 10. Antes da expedio dos precatrios, o Tribunal solicitar Fazenda Pblica devedora, para resposta em at 30 (trinta) dias, sob pena de perda do direito de abatimento, informao sobre os dbitos que preencham as condies estabelecidas no 9, para os fins nele previstos.(Includo pela Emenda Constitucional n 62/09).Se existissem dbitos, estes seriam abatidos do valor a ser pago pela Fazenda Pblica. Assim, o 9 previa uma compensao entre o que era devido pela Fazenda e o que era devido pelo exequente.Voltando ao nosso exemplo, Joo tinha a receber 500 mil reais, mas possua uma dvida de 100 mil com a Fazenda estadual. Logo, haveria uma compensao e o precatrio seria expedido no valor de 400 mil.Veja o que diz o 9: 9 No momento da expedio dos precatrios, independentemente de regulamentao, deles dever ser abatido, a ttulo de compensao, valor correspondente aos dbitos lquidos e certos, inscritos ou no em dvida ativa e constitudos contra o credor original pela Fazenda Pblica devedora, includas parcelas vincendas de parcelamentos, ressalvados aqueles cuja execuo esteja suspensa em virtude de contestao administrativa ou judicial.(Includo pela Emenda Constitucional n 62/09).O STF entendeu que os 9 e 10 do art. 100 so INCONSTITUCIONAIS.Para o Supremo, este regime de compensao obrigatria trazido pelos 9 e 10, ao estabelecer uma enorme superioridade processual Fazenda Pblica, viola a garantia do devido processo legal, do contraditrio, da ampla defesa, da coisa julgada, da isonomia e afeta o princpio da separao dos Poderes. 12 do art. 100 da CF/88Como j vimos, entre o dia em que o precatrio expedido e a data em que ele efetivamente pago, so passados alguns anos. Durante este perodo, obviamente, se a quantia devida no for atualizada, haver uma desvalorizao do valor real do crdito em virtude da inflao. Com o objetivo de evitar essa perda, o 5 do art. 100 determina que o valor do precatrio deve ser atualizado monetariamente quando for pago.Como calculado o valor da correo monetria e dos juros de mora no caso de atraso no pagamento do precatrio?A EC n. 62/09 trouxe uma nova forma de clculo prevista no 12 do art. 100: 12. A partir da promulgao desta Emenda Constitucional,a atualizao(obs: correo monetria)de valores de requisitrios, aps sua expedio, at o efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, ser feita pelondice oficial de remunerao bsica da caderneta de poupana, e, para fins decompensao da mora(obs2: juros de mora), incidiro juros simples nomesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupana, ficando excluda a incidncia de juros compensatrios.(Includo pela Emenda Constitucional n 62/09)Desse modo, o 12 determinava que a correo monetria e os juros de mora, no caso de precatrios pagos com atraso, deveriam adotar os ndices e percentuais aplicveis s cadernetas de poupana.Regra semelhante est prevista no art. 1F da Lei n. 9.494/97:Art. 1-F. Nas condenaes impostas Fazenda Pblica, independentemente de sua natureza e para fins de atualizao monetria, remunerao do capital e compensao da mora, haver a incidncia uma nica vez, at o efetivo pagamento, dos ndices oficiais de remunerao bsica e juros aplicados caderneta de poupana. (Redao dada pela Lei n 11.960/09)O 12 do art. 100, inserido pela EC 62/09, tambm foi questionado. O que decidiu a Corte?O STF declarou a inconstitucionalidade da expresso ndice oficial de remunerao bsica da caderneta de poupana, constante do 12 do art. 100 da CF.Para os Ministros, o ndice oficial da poupana no consegue evitar a perda de poder aquisitivo da moeda.Este ndice fixadoex ante, ou seja, previamente, a partir de critrios tcnicos no relacionados com a inflao considerada no perodo. Todo ndice definidoex ante incapaz de refletir a real flutuao de preos apurada no perodo em referncia.Dessa maneira, como este ndice (da poupana) no consegue manter o valor real da condenao, ele afronta garantia da coisa julgada, tendo em vista que o valor real do crdito previsto na condenao judicial no ser o valor real que o credor ir receber efetivamente quando o precatrio for pago (este valor ter sido corrodo pela inflao).A finalidade da correo monetria consiste em deixar a parte na mesma situao econmica que se encontrava antes. Nesse sentido, o direito correo monetria um reflexo imediato da proteo da propriedade.Vale ressaltar, ainda, que o Poder Pblico tem seus crditos corrigidos pela taxa SELIC, cujo valor supera, em muito, o rendimento da poupana, o que refora o argumento de que a previso do 12 viola a isonomia.Como vimos acima, o art. 1-F. da Lei n. 9.494/97, com redao dada pelo art. 5 da Lei n. 11.960/2009, tambm previa que, nas condenaes impostas Fazenda Pblica, os ndices a serem aplicados eram os da caderneta de poupana.Logo, com a declarao de inconstitucionalidade do 12 do art. 100 da CF, o STF tambm declarou inconstitucional, por arrastamento (ou seja, por consequncia lgica), o art. 5 da Lei n. 11.960/2009, que deu a redao atual ao art. 1-F. da Lei n. 9.494/97.O STF tambm declarou a inconstitucionalidade da expresso independentemente de sua natureza, presente no 12 do art. 100 da CF, com o objetivo de deixar claro que, para os precatrios de natureza tributria se aplicam os mesmos juros de mora incidentes sobre o crdito tributrio.Assim, para o STF, aos precatrios de natureza tributria devem ser aplicados os mesmos juros de mora que incidem sobre todo e qualquer crdito tributrio. 15 do art. 100 da CF/88O grande problema e a vergonha deste pas no que tange aos precatrios diz respeito aos Estados e Municpios. Existem Estados e Municpios que no pagam precatrios vencidos h mais de 20 anos. Tais dvidas se acumulam a cada dia e, se alguns Estados fossem obrigados a pagar tudo o que devem de precatrios, isso seria muito superior ao oramento anual.Na Unio e suas entidades a situao no to deficitria e os precatrios no apresentam este quadro absurdo de atraso.Pensando nisso, a EC n. 62/09 acrescentou o 15 ao art. 100, afirmando que o legislador infraconstitucional poderia criar um regime especial para pagamento de precatrios de Estados/DF e dos Municpios, estabelecendo uma vinculao entre a forma e prazo de pagamentos com a receita corrente lquida desses entes. Veja a redao do dispositivo: 15. Sem prejuzo do disposto neste artigo, lei complementar a esta Constituio Federal poder estabelecer regime especial para pagamento de crdito de precatrios de Estados, Distrito Federal e Municpios, dispondo sobre vinculaes receita corrente lquida e forma e prazo de liquidao. (Includo pela Emenda Constitucional n 62, de 2009).O objetivo era que este regime especial previsse uma forma dos Estados/DF e Municpios irem reduzindo esta dvida de precatrios sem que o oramento dos entes ficasse inviabilizado.A EC n. 62/09 incluiu ainda o art. 97 ao ADCT prevendo um regime especial de pagamento dos precatrios enquanto no fosse editada a lei complementar. Confira:Art. 97. At que seja editada a lei complementar de que trata o 15 do art. 100 da Constituio Federal,os Estados, o Distrito Federal e os Municpios que, na data de publicao desta Emenda Constitucional, estejam em mora na quitao de precatrios vencidos, relativos s suas administraes direta e indireta, inclusive os emitidos durante o perodo de vigncia do regime especial institudo por este artigo,faro esses pagamentos de acordo com as normas a seguir estabelecidas, sendo inaplicvel o disposto no art. 100 desta Constituio Federal, exceto em seus 2, 3, 9, 10, 11, 12, 13 e 14, e sem prejuzo dos acordos de juzos conciliatrios j formalizados na data de promulgao desta Emenda Constitucional. (Includo pela Emenda Constitucional n 62/2009)O regime especial institudo pelo art. 97 do ADCT prev uma srie de vantagens aos Estados e Municpios, sendo permitido que tais entes realizem uma espcie de leilo de precatrios no qual os credores de precatrios competem entre si oferecendo desgios (descontos) em relao aos valores que tm para receber. Aqueles que oferecem maiores descontos iro receber antes do que os demais.Assim, o regime especial excepcionou a regra do art. 100 da CF/88 de que os precatrios deveriam ser pagos na ordem cronolgica de apresentao. Logo, se algum estivesse esperando h 20 anos, por exemplo, para receber seu precatrio, j seria afetado por este novo regime e, para aumentar suas chances de conseguir logo seu crdito, deveria conceder um bom desconto ao ente pblico.Leonardo da Cunha afirmou, com razo, que a EC n. 62/09 previu uma espcie de moratria ou concordata para os Estados/DF e Municpios (DIDIER JR., Fredie;et. al.Curso de Direito Processual Civil.Salvador: Juspodivm, 2013, p. 764). Da a alcunha dada, de forma justa, por sinal, de emenda do calote.No vamos dar mais detalhes sobre como era este regime especial pelo fato de que ele perdeu importncia, uma vez que foi considerado inconstitucional pelo STF.O Supremo declarou inconstitucionais o 15 do art. 100 da CF/88 e todo o art. 97 do ADCT.Com a EC n. 62/09, o Poder Pblico reconheceu que descumpriu, durante anos, as ordens judiciais de pagamento em desfavor do errio. Admitiu, ainda, que existem inmeras dvidas pendentes, as quais se prope a pagar, mas de forma limitada a um pequeno percentual de sua receita.Por fim, fica claro que, com o comportamento inadimplente do Poder Pblico e com o novo regime institudo, o objetivo foi forar os titulares de precatrios a participarem dos leiles, concedendo descontos ao errio em relao a valores que so devidos por fora de deciso judicial transitada em julgado.O STF concluiu que a EC n. 62/09, ao prever este calote, feriu os valores do Estado de Direito, do devido processo legal, do livre e eficaz acesso ao Poder Judicirio e da razovel durao do processo. Alm disso, mencionou-se a violao ao princpio da moralidade administrativa, da impessoalidade e da igualdade.Afirmou-se que, para a maioria dos entes federados, no falta dinheiro para o adimplemento dos precatrios, mas sim compromisso dos governantes quanto ao cumprimento de decises judiciais. Nesse contexto, observou-se que o pagamento de precatrios no se contraporia, de forma inconcilivel, prestao de servios pblicos. Alm disso, arrematou-se que configuraria atentado razoabilidade e proporcionalidade impor aos credores a sobrecarga de novo alongamento temporal dos crditos que tm para receber.A deciso do STF foi tomada por maioria de votos.ResumindoDispositivos declarados integralmente inconstitucionais: 9 do art. 100 da CF/88 10 do art. 100 da CF/88 15 do art. 100 da CF/88 Art. 97 (e pargrafos) do ADCT Art. 1-F. da Lei n. 9.494/97Dispositivos declarados parcialmente inconstitucionais: 2 do art. 100 da CF/88 12 do art. 100 da CF/88Quanto ao 2 do art. 100 da CF/88, foi declarada inconstitucional a seguinte expresso:na data de expedio do precatrioQuanto ao 12 do art. 100, foram declaradas inconstitucionais as seguintes expresses: ndice oficial de remunerao bsica da caderneta de poupana independentemente de sua naturezaOs demais dispositivos permanecem vlidos e eficazes.Modulao dos efeitosDurante os debates, surgiu a discusso se a presente deciso deveria ter seus efeitos modulados. Os Ministros resolveram, no entanto, que iriam deliberar sobre isso apenas mais para frente, quando fossem provocados.Vale ressaltar que alguns Estados, que figuravam no processo comamicus curiae, j ingressaram com pedidos para que haja a modulao dos efeitos da deciso. Vamos aguardar para verificar se o STF ir aceitar este pedido feito pelosamicie como ocorrer esta modulao.DvidasA presente deciso complexa e ir gerar consequncias ainda no totalmente conhecidas. Inmeras dvidas tm surgido, mas ainda muito cedo para arriscar respostas. Por enquanto, importante conhecer apenas o que j foi decidido e que consta acima.Processos a que se referem a explicaoSTF. Plenrio. ADI 4357/DF, ADI 4425/DF, ADI 4372/DF, ADI 4400/DF, rel. Min. Ayres Britto, 6 e 7/3/2013.