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AILTON WELLER SILVA DOS SANTOS O CONTROVERSO REGIME DE PAGAMENTO DE PRECATÓRIOS: DECISÃO DO STF NAS ADIS Nº 4.357 E 4.425 E POSSÍVEIS ALTERNATIVAS DE RESOLUÇÃO Presidente Epitácio - SP 2015

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DECISÃO DO STF NAS ADIS Nº 4357 E 4425 E SOLUÇÕES PARA O REGIME DE PAGAMENTO DE PRECATÓRIOS

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AILTON WELLER SILVA DOS SANTOS

O CONTROVERSO REGIME DE PAGAMENTO DE PRECATÓRIOS: DECISÃO DO STF NAS ADIS Nº 4.357 E 4.425 E POSSÍVEIS ALTERNATIVAS DE

RESOLUÇÃO

Presidente Epitácio - SP

2015

AILTON WELLER SILVA DOS SANTOS

O CONTROVERSO REGIME DE PAGAMENTO DE PRECATÓRIOS: DECISÃO DO STF NAS ADIS Nº 4.357 E 4.425 E POSSÍVEIS ALTERNATIVAS DE

RESOLUÇÃO

Trabalho de conclusão de curso

apresentado à banca examinadora do Curso

de Direito da Faculdade de Presidente

Epitácio para a obtenção do grau de Bacharel

em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Édson Aparecido

Carvalho

Presidente Epitácio/SP

2015

FOLHA DE APROVAÇÃO

RESUMO

Atualmente, a questão das dívidas do Estado provenientes de decisões judiciais, requisitadas por precatórios, é considerada um dos maiores problemas político-institucionais brasileiro, haja vista a falta de descrédito no seu regime de pagamentos que através dos anos previu diversas moratórias, bem como pela falta de respeito às decisões proferidas pelo Poder Judiciário. Suponha-se que o leitor é servidor público e ajuíze uma ação em face da Fazenda Pública decorrente de vencimentos atrasados não pagos ou, ainda, imagine que é um particular e ingresse com um processo para condenar o Estado a pagar danos morais sofridos por ação da polícia militar, o pronunciamento judicial é favorável e condena o Governo ao pagamento de precatórios, daí o seu crédito é inscrito na fila e é só aguardar amargos anos na fila de credores de precatórios, assim como ver diversas leis entrando em vigor para postergar mais ainda o prazo de pagamento. Constata-se que, desde o advento da Constituição Federal de 1988, foram criadas várias formas de pagamento, assim como passaram se vários governantes e o problema não foi resolvido. O Supremo Tribunal Federal foi chamado várias vezes para intervir nesta situação, seja através de pedidos de intervenção federal e sequestro de verbas públicas, seja por meio de diversas ações para declarar que as leis criadas para solucionar iam de encontro com os direitos conferidos pela Carta Magna. No ano de 2009, através de uma emenda constitucional, apelidada de PEC do Calote, foi criado regime especial e esticado o prazo de pagamento para 15 anos. Foram ajuizadas ações perante o STF questionando a legitimidade de suas normas, e, o Supremo, em decisão proferida em 2013, declarou parcialmente inconstitucional a emenda referida. No corrente ano, a corte decidiu como ficariam os efeitos da decisão e determinou o adimplemento da dívida até 2020. Foram buscadas várias alternativas para solução do problema mencionado e encontradas como possíveis de aplicação: a intervenção federal; o sequestro de valores; aplicação de multa processual por ato atentatório ao exercício da jurisdição; aplicação de sanções referentes a Lei de Improbidade Administrativa, Leis de Crimes de Responsabilidade de Chefes do Executivo; a Judicialização; o Ativismo Judicial; o uso de recursos provenientes de depósitos judiciais ou administrativos; uma maior atuação do Ministério Público; várias propostas de alteração à constituição federal; entre outras. Por fim, conclui-se pela existência de vários meios coercitivos e de resolução do problema, para que não seja a alegação de falta de recursos um problema insanável e impeditivo de aquisição, por parte dos cidadãos, de direitos conquistados pela via judicial.

Palavras-chave: Precatórios. Emenda do Calote. Declaração de Inconstitucionalidade. Meios alternativos de solução.

ABSTRACT

This final project will focus on the state's debts arising from judicial decisions. It appears that currently the debt arising from precatórios consists of one of Brazil's political and institutional problems, given the lack of disbelief on your payment system that over the years has provided various moratoria, as well as the lack of respect for decisions handed down by the judiciary. Suppose that the reader is a public servant and ajuíze an action in the face of Public Finance due to unpaid arrears salaries or even imagine that it is a particular and join a lawsuit to condemn the state to have suffered moral damage by the military police . The Court decision is favorable and condemns the Government to pay writ, then your credit is registered in line and just wait bitter years in line for writ of creditors, as well as see various laws coming into force for further postponing the deadline for payment. Since the advent of the Constitution of 1988, it was created several forms of payment, and passed to various rulers and the problem has not been resolved. The Supreme Court was asked several times to intervene in this situation, either through requests for federal intervention and hijacking of public funds, whether through several actions to declare that the laws created to solve ran counter to the rights conferred by the Constitution. In 2009, through a constitutional amendment, dubbed SGP Ice Cap has been set up special arrangements and stretched the period of payment for 15 years. Actions were filed before the Supreme Court questioning the legitimacy of their standards, and the Supreme in a ruling in 2013 declared partially unconstitutional the said amendment. This year, the court ruled as would be the effects of the decision and determined the debt due performance by 2020. Several alternatives were sought to solve the mentioned problem and found as possible application: federal intervention; the kidnapping of values; application of procedural fine for atentatório act to exercise jurisdiction; sanctions regarding the Administrative Misconduct Law, Responsibility Crimes Laws of the Chief Executives; the Legalization; the Judicial Activism; the use of resources from administrative or judicial deposits; greater role of the prosecutor; Several amendments to the federal constitution which have been filed; among others. Finally, indicate the existence of several coercive methods and problem solving, that is not the claim of lack of resources one insurmountable problem and impediment to acquisition by the citizens of rights won through the courts.

Keywords: Writ. Amendment of the Ice Cap. Declaration of unconstitutionality. Alternative media solution.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 05

2 DEFINIÇÃO DE PRECATÓRIOS .................................................................... 10 2.1 ESPÉCIES DE PRECATÓRIOS ................................................................................ 11 2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ........................................................................................ 13 2.3 EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 62/2009 ................................................................ 19

3 DECISÃO DO STF: DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE E MODULAÇÃO DE SEUS EFEITOS .......................................................................... 22

4 MEIOS DE SOLUÇÃO OU RELATIVIZAÇÃO ................................................. 26 4.1 SANÇÕES A CHEFES DO PODER EXECUTIVO ........................................................ 26 4.2 MULTA PROCESSUAL DO CPC (CONTEMPT OF COURT) ......................................... 31 4.3 SEQUESTRO DE VALORES .................................................................................... 33 4.4 INTERVENÇÃO FEDERAL ...................................................................................... 34 4.5 JUDICIALIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO ................................................................... 36 4.5.1 Intervenção do Custus Legis ........................................................................ 38

5 ATIVISMO JUDICIAL ....................................................................................... 39 5.1 PROPOSTAS DE EMENDAS À CONSTITUIÇÃO FEDERAL ........................................... 41 5.2 UTILIZAÇÃO DE DEPÓSITOS JUDICIAIS ................................................................... 44 5.3 OUTROS MEIOS SANEADORES .............................................................................. 45

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 47

ANEXOS .......................................................................................................... 48 ANEXO A - Dívida consolidada – União, Estados e Municípios ................. 49 ANEXO B - Dívida oriunda da Justiça Estadual (Estados e Municípios) ... 50

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1 INTRODUÇÃO

Os entes federados estão inadimplentes há décadas para com as partes que

venceram suas respectivas demandas na Justiça. Aquele ditame da Constituição

Federal que obriga a inclusão, dos valores referentes às requisições de precatórios

recebidas até 1º de julho, na lei orçamentária do exercício seguinte, para pagamento

até o último dia deste exercício, não vem sendo respeitado pelos Chefes de

Governo. É com pesar ver credores aguardando anos para conseguir um

pronunciamento judicial e, ao conseguirem uma decisão favorável, esperarem mais

ainda, em virtude da falta de vontade dos agentes políticos em saldarem as dívidas

decorrentes de precatórios.

Nota-se que vige no país certo hábito de desrespeito ao pagamento de

precatórios, isso por obra da criação de diversos ministérios de governo e tantos

outros órgãos, de um aumento avassalador de cargos em comissão, de teses que

não garantem efetividade aos direitos adquiridos dos cidadãos e uma atividade

legiferante que constantemente cria leis aniquiladoras de garantias conquistadas

pelo povo, as quais são objeto de diversas ações diretas de inconstitucionalidade.

Há argumentos muitos para o seu não pagamento. Podemos citar o

inadimplemento para não quebrar a ordem de apresentação do débito, quando

algum credor vem a desistir de seu crédito, o que faz o Poder Público negar

pagamento aos demais; e o não pagamento da quantia para não acarretar

extrapolação do limite de 60% de gastos com pagamento de pessoal, no tocante a

direitos e vantagens de servidores, com base no artigo 19, incisos I e II, da Lei

Complementar 101/2000. Mas as escusas maiores referem-se à falta de recursos

para pagamento de débitos e a não possibilidade de saldá-los em detrimento de

outras áreas essenciais, logo, a dificuldade apontada pelos governantes é de ordem

econômico-financeira.

O Ministro do STF, Carlos Ayres Brito, na decisão que declarou parcialmente

inconstitucional a emenda nº 62/09, proferiu os seguintes dizeres:

De posse de alguns dados dos últimos dez anos (receitas correntes líquidas, pagamento anual de precatórios e estoque da dívida vencida e vincenda), minha conclusão foi a de que, o mais das vezes, não falta dinheiro para o pagamento de precatórios. Em alguns casos, fica até evidente que o montante atual da dívida é resultado da falta de

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compromisso dos governantes quanto ao cumprimento das decisões judiciais. (ADI 4.357, Relator Ayres Brito, j. 14/03/13, DJ 26/09/14).

No julgado, o iminente ministro ainda apontou que no Distrito Federal, Espírito

Santo e Rio Grande Sul, as despesas com publicidade e propaganda são superiores

àquelas com precatórios, por exemplo, o DF, em 2007, pagou R$1,7 milhão em

precatórios e R$ 103,8 milhões em publicidade e propaganda. Já em 2008, essas

despesas foram de R$ 6,57 milhões em precatórios e de R$ 152,8 milhões em

publicidade e propaganda.

Neste passo, não é de se assustar que, segundo dados do CNJ, levantados

até junho de 2014, considerando o valor histórico acumulado, a dívida gira em torno

de R$ 97, 3 bilhões (Anexo A). Em relação à pesquisa, a Justiça Comum apontou

débito de R$94,9 bilhões, a Justiça Trabalhista R$1,9 bilhões e a Justiça Federal

R$487,4 milhões. O mais gritante visto no lançamento foi constatar que a dívida de

São Paulo – Estados e Municípios, consoante dados repassados pelo TJ-SP (Anexo

B), corresponde a R$46,7 bilhões em precatórios, o que corresponde a 49% do total

dos precatórios devidos pela Justiça Comum. Conforme observado (Anexo B), o

problema maior é com os Estados e Municípios que pagam muito lentamente,

apesar do disposto no artigo 100, § 2º, da CF.

Atualmente, a dívida acumulada é considerada um dos maiores problemas

político-constitucionais desde o advento da CF/88.

O problema parece ser insanável a primeira vista, pois o próprio Poder

Público contribui para o desrespeito aos direitos dos cidadãos conquistados por via

judicial. Para Nelson Jobin (Revista de Direito Administrativo, Precatórios: O

caminho do “meio”, Editora Atlas, p. 133), o problema está longe de ser meramente

jurídico, as eventuais soluções a serem propostas não podem ser de natureza

apenas jurídica.

Infelizmente, é de discordar de tal posicionamento, tendo em vista que a

legislação está pronta e possibilita o pagamento dos credores. Como visto, o que

ocorre é o emprego de recursos em áreas supérfluas, as quais só servem para

publicizar o trabalho do Governo.

Constata-se, ainda, a indiferença dos governantes às decisões judiciais. Os

Chefes dos Poderes Executivos das 3 esferas, notadamente, estadual e municipal,

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esquivam-se de encarar a realidade causada em face do não adimplemento dos

precatórios. O próprio Poder Legislativo, com a ajuda do Poder Executivo, planeja e

consolida para que esta situação fique cada vez mais caótica. É o Estado

(Executivo) descumprindo as ordens do próprio Estado (Judiciário).

O problema se caracteriza pela falta de interesse político em ver adimplidas

as dívidas do Estado decorrentes de sentenças judiciais. A constituição de 88,

quando de sua promulgação, através do artigo 33, § único, dos ADCT, prescreveu,

em relação aos precatórios em atraso, uma espécie de moratória (pagamento no

prazo máximo de 8 anos). Instituiu como fonte de recursos, para o pagamento desta

dívida, à emissão pelas entidades devedoras de títulos de dívidas públicas, a cada

ano, no exato momento do dispêndio, desde que não computáveis para efeito do

limite global de endividamento. Entretanto, devido à corrupção e falta de descaso da

atuação política não teve êxito, pois a emissão das letras teve como destino outros

fins, totalmente desvirtuado daquele proposto pelo Constituinte Originário, o que

ensejou a época na CPI dos Precatórios.

Por volta do ano 2000, foi introduzido o artigo 78 aos ADCT, prevendo a

segunda moratória do Poder Público com prazo de 10 anos, no tocante aos créditos

pendentes na data da promulgação da EC nº 30, bem como os precatórios

referentes a processos ajuizados até 31/12/99. Já em 2009, com a criação do art. 97

do ADCT, a terceira moratória, esta com prazo de 15 anos, em relação a todos os

créditos vencidos e vincendos. A título de exemplo, suponha-se que um cidadão

ingresse com processo no ano de 2010 e obtém sentença definitiva favorável no ano

de 2014, este mesmo cidadão deverá aguardar até 2029 para receber seus créditos.

Isso contando com um prazo de 4 anos para decisão da demanda, o que na prática

é bem mais dilatado, devido ao sistema recursal falido e os privilégios processuais

da Fazenda Pública em juízo.

No ensinamento de Gilmar Mendes, estas contínuas moratórias patrocinadas

por interesse das entidades estatais devedoras comprometem a credibilidade na

Justiça e representam anacronismo que o Brasil deveria sepultar, se quiser

incorporar-se à contemporaneidade (Tratado de Direito Constitucional, Vol. I, 2012,

p. 1547).

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No momento, devido ao descrédito no sistema de pagamentos, vige um

mercado negro de aquisição de precatórios, em que investidores os compram por

valores aviltantes. Para a Corregedora Nacional de Justiça, Eliana Calmon:

A compra e venda de precatórios tornou-se uma chaga nacional devido à injustiça para com aqueles que aguardam há anos e anos o respectivo pagamento. Premidos pela pobreza e pelas necessidades da vida, temendo a morte na fila de espera, são levados a negociar os seus créditos por preço vil em um comércio que agora tem os atravessadores e, como concorrente, o próprio Estado. (Manual de Precatórios: Racionalização de Procedimentos. Disponível em www.cnj.jus.br).

Na decisão do agravo regimental, interposto na Intervenção Federal nº 506-

0/SP, o ministro Marco Aurélio, vencido em seu voto, argumentou que se o Supremo

não adotasse uma providência efetiva, as decisões judiciais se tornariam, quando

em face do Estado, “simplesmente líricas”, pois, não era concebível que, após

expedido o precatório, não houvesse previsão orçamentária para liquidação do

débito e que o Estado simplesmente alegasse a ausência de recursos, ao fazer uma

comparação com os cidadão que continuam pagando impostos.

Conquanto a norma constitucional relativa ao pagamento de precatórios seja

de eficácia plena e aplicabilidade imediata, a prática atual é bem diferente do

insculpido na Carta Magna, que prevê a obrigatoriedade de inclusão, no orçamento

das entidades de direito público, de verba necessária ao pagamento de seus

débitos, oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de precatórios

judiciários apresentados até 1º de julho, fazendo-se o pagamento até o final do

exercício seguinte.

O trabalho abordará um pouco sobre o emblemático sistema de pagamento

de precatórios e sua evolução histórica até os dias atuais.

Versará, também, acerca das decisões proferidas pelo Supremo Tribunal

Federal em sede de controle concentrado, ao julgar as ADIS nº 4.357 e 4.425.

Por fim, apontará algumas soluções e modos de relativização para o regime

de pagamento das dívidas do Estado, como por exemplo, a possibilidade de punir

governantes com base na Lei de Responsabilidade e a de Improbidade

Administrativa, aplicação de multa processual por ato atentatório à dignidade da

justiça, sequestro de valores, intervenção federal, judicialização, maior atuação do

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Ministério Público, ativismo judicial, propostas de emenda à constituição,

refinanciamento de dívidas pela União, entre outros.

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2 DEFINIÇÃO DE PRECATÓRIOS

Os precatórios são requisições de pagamentos realizadas pelo Poder

Judiciário para cobrar das entidades federadas, autarquias, fundações públicas e

sociedades de economia mista prestadoras de serviço público, o pagamento de

valores devidos em razão de condenação judicial transitada em julgado. Pela

doutrina de Pedro Lenza, o precatório é o instrumento para se cobrar um débito do

Poder Público, em virtude de sentença judiciária (Direito Constitucional

Esquematizado, 17ª Ed., 2013, p. 838). Pelos ensinamentos de Humberto Theodoro

Júnior, os precatórios substituem a execução forçada, trata-se de execução

imprópria, pois não há penhora e arrematação, ou seja, é sem expropriação ou

transferência de bens, em face da indisponibilidade dos bens públicos (Curso de

Direito Processual Civil, 16. Ed., v. 2, p. 261).

Nos dizeres do Ministro do STF, Luiz Fux:

a finalidade do regime constitucional de precatórios reside em dois objetivos essenciais, quais sejam, possibilitar aos entes federados o adequado planejamento orçamentário para a quitação de seus débitos e a submissão do Poder Público ao dever de respeitar a preferência jurídica de quem dispuser de preferência cronológica (RE 889173, Rel. Ministro Luiz Fux, j. 08/08/2015, DJ de 17/08/2015).

De acordo com o artigo 30, § 7º, da LRF, os precatórios judiciais não pagos

durante a execução do orçamento em que houverem sido incluídos integram a

dívida consolidada, para fins de aplicação dos limites para o endividamento.

Cabe, enfim, diferenciá-los dos títulos públicos, pois, estes são letras

financeiras do Tesouro Nacional, os quais são negociáveis no mercado financeiro.

Já o precatório é o meio para se obter um crédito obtido através de pronunciamento

judicial, do qual já não caiba mais recurso, transmitido de um Poder para outro, a fim

de ser incluído no orçamento devedor do sucumbente, para que este, após, realize o

depósito ao transmitente, que adequará o crédito na ordem respectiva de credores,

conforme a espécie de precatório.

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2.1 ESPÉCIES DE PRECATÓRIOS

Em primeiro lugar, antes de adentrar nas modalidades de precatórios, cabe

salientar que as obrigações de pequeno valor, devidas pelas Fazendas Públicas,

estão excluídas do regime tema central. Estas são os pequenos créditos decorrentes

de sentença judicial, as quais devem ser pagas através de RPVs (Requisições de

Pequeno Valor) no prazo de 60 dias da intimação do ente devedor. A fixação, ou

melhor, a definição de obrigação de pequeno valor foi deixada pelo Constituinte

Derivado ao juízo do ente político respectivo. Na esfera federal, de acordo com os

artigos 3º e 17º, da Lei nº 10.259/01, é de 60 salários mínimos. Para as Fazendas

Públicas Estaduais e Municipais, como não houve edição de lei disciplinadora, vale o

definido pelo Artigo 87, dos ADCT, cuja redação segue:

Art. 87. Para efeito do que dispõem o § 3º do art. 100 da Constituição Federal e o art. 78 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias serão considerados de pequeno valor, até que se dê a publicação oficial das respectivas leis definidoras pelos entes da Federação, observado o disposto no § 4º do art. 100 da Constituição Federal, os débitos ou obrigações consignados em precatório judiciário, que tenham valor igual ou inferior a: I - quarenta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Estados e do Distrito Federal; II - trinta salários mínimos, perante a Fazenda dos Municípios.

Ainda sobre requisições de pequeno valor, no caso de ações plúrimas, o

montante da execução, referente a cada litisconsórcio facultativo, não é considerado

como precatório:

EMENTA: REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR – AÇÕES PLÚRIMAS OU COLETIVAS - DESMEMBRAMENTO DO CRÉDITO DOS AUTORES. Na execução dos créditos trabalhistas em ações plúrimas contra entes públicos, considera-se o valor devido a cada credor individualmente, sendo irrelevante se a soma dos créditos objeto da execução ultrapasse o conceito de pequeno valor. É que o litisconsórcio ativo e as ações coletivas têm por finalidade a economia e celeridade processual, evitando a repetição de demandas idênticas. Todavia, este recurso não pode prejudicar o trabalhador no recebimento do seu crédito próprio, destacado dos demais litisconsortes. Desta forma, a interpretação literal do § 4º do art. 100 da Constituição não é a que deve prevalecer, pois o § 3º do mesmo artigo visou precipuamente tornar mais eficiente e ágil a execução contra os entes públicos, dispensando expedição de precatório nos casos de créditos definidos em lei como de pequeno

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valor. (AP 715006 01600-1991-011-03-00-9, TRT 3ª Região, 1ª Turma, Relator Marcus Moura Ferreira, j. 18/12/06, DJ 24/01/07)

No que tange aos precatórios, estes se dividem em: precatórios alimentares

comuns, precatórios alimentares preferenciais e precatórios comuns.

Os precatórios alimentares comuns são aqueles pagos com preferência sobre

os demais, nisso incluindo os honorários advocatícios. (RE 470.407/DF, Relator

Ministro Marco Aurélio, j. 09/05/06, DJ 13/10/06).

Confira a redação do § 1º, do Artigo 100, da CF:

§ 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles referidos no § 2º deste artigo.

De acordo com o § 2º, do Artigo 100, da Carta Maior, os precatórios

alimentares preferenciais são dotados de mais favoritismo ainda, tendo em vista que

seus titulares são pessoas com 60 anos de idade ou mais, ou portadores de doença

grave, estes com supedâneo na legislação própria, pois tem preferência sobre todos

os demais créditos, até o valor equivalente ao triplo das requisições de pequeno

valor. Nessa situação, é admitido o fracionamento do precatório excepcionalmente,

de modo que é possível receber como RPV e o restante como precatório, seguindo-

se a ordem cronológica de apresentação.

Os precatórios comuns, por sua vez, são residuais, derivam de decisões

acerca de desapropriações, tributos, indenizações por dano moral, entre outros, e

seguem a regra do caput, do Artigo 100, da Constituição Federal.

Por fim, cabe diferenciar precatório complementar de suplementar. Precatório

complementar trata-se de nova requisição quando o pagamento do crédito dá-se de

forma parcial e tem que ser acrescentado para a devida satisfação do valor

exequendo. Por sua vez, precatório suplementar é uma nova solicitação quando o

valor é inteiramente pago, no entanto, devido a mora no adimplemento, tem de ser

corrigido através de juros e correção monetária.

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2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

O termo precatório advém do latim “precare” ou “precatoriu”, que significa

rogar, pedir, solicitar algo. Trata-se de instituto ancião no Brasil e originalmente

brasileiro. Surgiu no Direito Imperial pela lei infraconstitucional e foi mantido nas

Ordenações do Reino, sendo conservado posteriormente no Direito Republicano

pelo Decreto nº 3.048, o qual inicialmente tinha por finalidade regulamentar tão

somente questões pertinentes à Justiça Federal. À época, a péssima

regulamentação sobre a matéria permitia protecionismos e abusos para com seus

credores, ficando o pagamento dos precatórios ao arbítrio da boa vontade do

Executivo e do Legislativo.

Na época da Constituição Federal de 1824 havia dúvidas sobre precatório

judicial e o que é chamado hoje de carta precatória, os quais eram tratados como

institutos similares, o que não deixa de ser verdade, tendo em vista a origem da

palavra, mas que se deixe bem claro que o primeiro é o rogo para o pagamento de

uma dívida do Estado, enquanto o segundo é a solicitação judicial de um magistrado

para outro, a fim de que se cumpra ato judicial. Neste período, houve

regulamentação que estabeleceu serem os bens públicos da Fazenda Federal

impenhoráveis. Antes desta lei, os bens públicos eram executados da mesma forma

que contra qualquer outra pessoa.

Na carta de 1891, houve a previsão de intervenção federal para assegurar

que a dívida do Estado fosse paga, em caso de descumprimento de determinação

judicial. Na hipótese da medida ser decretada, era colocado um interventor para ficar

no lugar do Chefe do executivo para solucionar o problema. Existia, ainda, no caso

de não pagamento por mais de 2 anos, uma espécie de intervenção federal

automática, conforme segue:

Art.6º - O Governo federal não poderá intervir em negocios peculiares aos Estados, salvo: IV - para assegurar a execução das leis e sentenças federaes e reorganizar as finanças do Estado, cuja incapacidade para a vida autonoma se demonstrar pela cessação de pagamentos de sua dívida fundada, por mais de dous annos. § 3º Compete, privativamente, ao Supremo Tribunal Federal requisitar do Poder Executivo a intervenção nos Estados, a fim de assegurar a execução das sentenças federaes (nº IV)."

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Na Constituição de 1934 foi prevista possibilidade de o Presidente da

República responder por crime de responsabilidade caso praticasse atos

atentatórios às leis orçamentárias e ao cumprimento de decisões judiciárias, sob

pena de perda do cargo, assim como foi constitucionalizado o tema precatórios e

definida ordem cronológica de apresentação para o pagamento dos precatórios, com

vedação expressa de designação pessoal para a destinação dos recursos, a fim de

dar efetividade ao seu adimplemento. Confira:

Art. 182 - Os pagamentos devidos pela Fazenda federal, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão na ordem de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, sendo vedada a designação de caso ou pessoas nas verbas legais. Parágrafo único - Estes créditos serão consignados pelo Poder Executivo ao Poder Judiciário, recolhendo-se as importâncias ao cofre dos depósitos públicos. Cabe ao Presidente da Corte Suprema expedir as ordens de pagamento, dentro das forças do depósito, e, a requerimento do credor que alegar preterição da sua precedência, autorizar o sequestro da quantia necessária para satisfazê-lo, depois de ouvido o Procurador-Geral da República.

A Constituição de 1946 incluiu as outras Fazendas Públicas na

responsabilidade de pagamento dos precatórios, para que tal determinação seja

respeitada, previsão de dotação orçamentária específica, como também passou a

competência de expedição das ordens de pagamento para o Tribunal Federal de

Recursos, no que tange à competência federal:

Art. 204 - Os pagamentos devidos pela Fazenda federal, estadual ou municipal, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão na ordem de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, sendo proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos extra-orçamentários abertos para esse fim. Parágrafo único - As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão consignados ao Poder Judiciário, recolhendo-se as importâncias à repartição competente. Cabe ao Presidente do Tribunal Federal de Recursos ou, conforme o caso, ao Presidente do Tribunal de Justiça expedir as ordens de pagamento, segundo as possibilidades do depósito, e autorizar, a requerimento do credor preterido no seu direito de precedência, e depois de ouvido o chefe do Ministério Público, o sequestro da quantia necessária para satisfazer o débito.

Em 1967 foi introduzida a obrigatoriedade das entidades federadas incluírem

em seus orçamentos a verba necessária para o pagamento de seus débitos

oriundos de decisão judicial:

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Art. 112 - Os pagamentos devidos pela Fazenda federal, estadual ou municipal, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão na ordem de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos extra-orçamentários abertos para esse fim. § 1º - É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público, de verba necessária ao pagamento dos seus débitos constantes de precatórios judiciários, apresentados até primeiro de julho.

Pela Carta vigente, o Constituinte de 1988 excepcionou os créditos

alimentares da regra dos precatórios para que fossem pagos imediatamente, devido

ao seu caráter imprescindível. Determinou a correção de seus valores na data de 1º

de julho e ordem de pagamento até o final do exercício seguinte. No entanto,

parcelou as dívidas vencidas em 8 anos, com base no Artigo 33 dos Atos das

Disposições Constitucionais Transitórias, conforme segue:

Art. 33. Ressalvados os créditos de natureza alimentar, o valor dos precatórios judiciais pendentes de pagamento na data da promulgação da Constituição, incluído o remanescente de juros e correção monetária, poderá ser pago em moeda corrente, com atualização, em prestações anuais, iguais e sucessivas, no prazo máximo de oito anos, a partir de 1º de julho de 1989, por decisão editada pelo Poder Executivo até cento e oitenta dias da promulgação da Constituição.

Dez anos após, a Constituição Federal foi alterada através da emenda nº

20/98, a qual acrescentou a não aplicação do regime de pagamento por precatórios

no tocante a obrigações definidas em lei como de pequeno valor:

Art. 100 - .................................................................................. § 3º - O disposto no "caput" deste artigo, relativamente à expedição de precatórios, não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em lei como de pequeno valor que a Fazenda Federal, Estadual ou Municipal deva fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado."

A emenda constitucional inovou ao a prever a dispensa de precatório para os

créditos de pequeno valor, ao colocar proteção constitucional ao pequeno crédito. A

CF apenas veda, no tocante ao caso acima, aos créditos de valor superior a RPV, o

seu fracionamento, de modo que o dono do crédito exequendo tenha por finalidade

recebê-lo das duas formas, consoante supedâneo legal do Art. 100, da CF, em seu §

4º. Pelo que se extrai do tema, a dispensa de precatório para os valores

16

mencionados é considerada pelo poder reformador como suportável pelos cofres

públicos, independentemente do número de pequenos créditos que se apresentarem

no decorrer do exercício financeiro.

A emenda constitucional nº 30 de 2000, conceituou precatórios alimentares,

determinou a regra dos RPVs para o Distrito Federal, autorizou que os entes

públicos fixassem valores distintos para obrigações de pequeno valor, permitiu a

cessão de créditos e criou o crime de responsabilidade do Presidente do Tribunal no

caso de retardamento ou frustração da liquidação regular de precatórios, bem como

pode responder perante o Conselho Nacional de Justiça. Determinou que as

dotações orçamentárias e os créditos abertos fossem consignados diretamente ao

Poder Judiciário, com vistas a não frustração da execução por precatórios, haja vista

que a este Poder não interessa a retenção do crédito. Entretanto, mais uma vez

aumentou o prazo, que dessa vez passou a ser de 10 anos, gerando uma afronta

total aos princípios tanto pregados pela Carta Libertadora, pois o Poder Constituinte

Reformador não teria tal atribuição, com base nos pilares das cláusulas pétreas, ao

suprimir direitos dos cidadãos assegurados pelo Constituinte à época de 1988, o que

fez o Supremo suspender a eficácia do artigo 2º, da emenda citada, que introduziu o

artigo 78 aos ADCT. Segue a previsão legal do dispositivo e a decisão que

cautelarmente suspendeu sua eficácia:

Art. 78. Ressalvados os créditos definidos em lei como de pequeno valor, os de natureza alimentícia, os de que trata o art. 33 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e suas complementações e os que já tiverem os seus respectivos recursos liberados ou depositados em juízo, os precatórios pendentes na data de promulgação desta Emenda e os que decorram de ações iniciais ajuizadas até 31 de dezembro de 1999 serão liquidados pelo seu valor real, em moeda corrente, acrescido de juros legais, em prestações anuais, iguais e sucessivas, no prazo máximo de dez anos, permitida a cessão dos créditos.

MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 2º DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 30, DE 13 DE SETEMBRO DE 2000, QUE ACRESCENTOU O ART. 78 AO ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS. PARCELAMENTO DA LIQUIDAÇÃO DE PRECATÓRIOS PELA FAZENDA PÚBLICA. 1. O precatório de que trata o artigo 100 da Constituição consiste em prerrogativa processual do Poder Público. Possibilidade de pagar os seus débitos não à vista, mas num prazo que se estende até dezoito meses. Prerrogativa compensada, no entanto, pelo rigor dispensado

17

aos responsáveis pelo cumprimento das ordens judiciais, cujo desrespeito constitui, primeiro, pressuposto de intervenção federal (inciso VI do art. 34 e inciso V do art. 35, da CF) e, segundo, crime de responsabilidade (inciso VII do art. 85 da CF). 2. O sistema de precatórios é garantia constitucional do cumprimento de decisão judicial contra a Fazenda Pública, que se define em regras de natureza processual conducentes à efetividade da sentença condenatória transitada em julgado por quantia certa contra entidades de direito público. Além de homenagear o direito de propriedade (inciso XXII do art. 5º da CF), prestigia o acesso à jurisdição e a coisa julgada (incisos XXXV e XXXVI, do art. 5º, da CF). 3. A eficácia das regras jurídicas produzidas pelo poder constituinte (redundantemente chamado de originário) não está sujeita a nenhuma limitação normativa, seja de ordem material, seja formal, porque provém do exercício de um poder de fato ou suprapositivo. Já as normas produzidas pelo poder reformador, essas têm sua validez e eficácia condicionadas à legitimação que recebam da ordem constitucional. Daí a necessária obediência das emendas constitucionais às chamadas cláusulas pétreas. 4. O art. 78 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, acrescentado pelo art. 2º da Emenda Constitucional nº 30/2000, ao admitir a liquidação em prestações anuais, iguais e sucessivas, no prazo máximo de dez anos dos precatórios pendentes na data de promulgação” da emenda, violou o direito adquirido do beneficiário do precatório, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Atentou ainda contra a independência do Poder Judiciário, cuja autoridade é insuscetível de ser negada, máxime no concernente ao exercício do poder de julgar os litígios que lhe são submetidos e fazer cumpridas as suas decisões, inclusive contra a Fazenda Pública, na forma prevista na Constituição e na lei. Pelo que a alteração constitucional pretendida encontra óbice nos incisos III e IV do § 4º do art. 60 da Constituição, pois afronta a separação dos Poderes” e os direitos e garantias individuais”. 5. Quanto aos precatórios que decorram de ações iniciais ajuizadas até 31 de dezembro de 1999”, sua liquidação parcelada não se compatibiliza com o caput do art. 5º da Constituição Federal. Não respeita o princípio da igualdade a admissão de que um certo número de precatórios, oriundos de ações ajuizadas até 31.12.1999, fique sujeito ao regime especial do art. 78 do ADCT, com o pagamento a ser efetuado em prestações anuais, iguais e sucessivas, no prazo máximo de dez anos, enquanto os demais créditos sejam beneficiados com o tratamento mais favorável do § 1º do art. 100 da Constituição. 6. Medida cautelar deferida para suspender a eficácia do art. 2º da Emenda Constitucional nº 30/2000, que introduziu o art. 78 no ADCT da Constituição de 1988. (ADI 2356/MC DF, Relator Ministro Ayres Brito. j. 25/11/10, DJ 06/04/10).

A EC nº 37/2002 vedou a expedição de precatório fracionado para fins de

recebimento de RPV e precatório sobre o mesmo crédito, de modo que seu

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pagamento não se faça pelas duas formas. Acrescentou também os artigos 86 e 87

aos ADCT:

Art. 86. Serão pagos conforme disposto no art. 100 da Constituição Federal, não se lhes aplicando a regra de parcelamento estabelecida no caput do art. 78 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, os débitos da Fazenda Federal, Estadual, Distrital ou Municipal oriundos de sentenças transitadas em julgado, que preencham, cumulativamente, as seguintes condições: I - ter sido objeto de emissão de precatórios judiciários; II - ter sido definidos como de pequeno valor pela lei de que trata o § 3º do art. 100 da Constituição Federal ou pelo art. 87 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias; III - estar, total ou parcialmente, pendentes de pagamento na data da publicação desta Emenda Constitucional. § 1º Os débitos a que se refere o caput deste artigo, ou os respectivos saldos, serão pagos na ordem cronológica de apresentação dos respectivos precatórios, com precedência sobre os de maior valor. § 2º Os débitos a que se refere o caput deste artigo, se ainda não tiverem sido objeto de pagamento parcial, nos termos do art. 78 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, poderão ser pagos em duas parcelas anuais, se assim dispuser a lei. § 3º Observada a ordem cronológica de sua apresentação, os débitos de natureza alimentícia previstos neste artigo terão precedência para pagamento sobre todos os demais. Art. 87. Para efeito do que dispõem o § 3º do art. 100 da Constituição Federal e o art. 78 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias serão considerados de pequeno valor, até que se dê a publicação oficial das respectivas leis definidoras pelos entes da Federação, observado o disposto no § 4º do art. 100 da Constituição Federal, os débitos ou obrigações consignados em precatório judiciário, que tenham valor igual ou inferior a: I - quarenta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Estados e do Distrito Federal; II - trinta salários-mínimos, perante a Fazenda dos Municípios. Parágrafo único. Se o valor da execução ultrapassar o estabelecido neste artigo, o pagamento far-se-á, sempre, por meio de precatório, sendo facultada à parte exequente a renúncia ao crédito do valor excedente, para que possa optar pelo pagamento do saldo sem o precatório, da forma prevista no § 3º do art. 100.

Em 2009 houve nova mudança no regime mencionado, conforme se verá a

seguir.

19

2.3 EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 62/2009

Com a entrada em vigor da emenda constitucional nº 62 de 2009, também

chamada de "Emenda do Calote", foi mudada a disciplina do pagamento das dívidas

judiciais da Fazenda Pública. O art. 100 da CF foi consideravelmente modificado,

além de ter sido acrescentado o art. 97 aos ADCT, o que permitiu aos Estados,

Distrito Federal e Municípios adotarem um regime especial de pagamento de

precatórios.

Deste modo, entre as principais modificações estão:

a) no momento da expedição dos precatórios, independentemente de

regulamentação, deles deverá ser abatido, a título de compensação, valor

correspondente aos débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida

ativa e constituídos contra o credor original pela Fazenda Pública

devedora, incluídas parcelas vincendas de parcelamentos, ressalvados

aqueles cuja execução esteja suspensa em virtude de contestação

administrativa ou judicial. Para tanto, antes da expedição dos precatórios,

o Tribunal solicitará à Fazenda Pública devedora informação sobre os

débitos que preencham as tais condições, para resposta em até 30 (trinta)

dias, sob pena de perda do direito de abatimento;

b) faculdade dada ao credor, conforme estabelecido em lei da entidade

federativa devedora, de entrega de créditos em precatórios para compra

de imóveis públicos do respectivo ente federado;

c) atualização de valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo

pagamento, independentemente de sua natureza, pelo índice oficial de

remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de

compensação da mora, por juros simples no mesmo percentual de juros

incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a incidência

de juros compensatórios;

d) previsão de Lei complementar a fim de disciplinar regime especial para

pagamento de crédito de precatórios de Estados, Distrito Federal e

Municípios, dispondo sobre vinculações à receita corrente líquida e forma

e prazo de liquidação;

20

e) possibilidade de a União assumir débitos, oriundos de precatórios, de

Estados, Distrito Federal e Municípios, refinanciando-os diretamente,

ainda que a seu critério exclusivo e na forma de lei;

f) inclusão do art. 97 ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,

com a previsão de regime especial transitório de pagamento dos

precatórios, enquanto não editada a lei complementar mencionada, para

os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que, na data de publicação

da EC nº 62/09, estivessem inadimplentes na quitação de precatórios

vencidos. Por este regime poderiam saldar os precatórios, vencidos e a

vencer, através de deposito mensal, em conta especial criada para tal fim,

de 1% a 2% do valor calculado percentualmente sobre as respectivas

receitas correntes líquidas, apuradas no segundo mês anterior ao mês de

pagamento; ou pela adoção do regime especial pelo prazo de até 15

(quinze) anos, caso em que o percentual a ser depositado na conta

especial criada para saldar os precatórios corresponderia, anualmente, ao

saldo total dos precatórios devidos, acrescido do índice oficial de

remuneração básica da caderneta de poupança e de juros simples no

mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança

para fins de compensação da mora, excluída a incidência de juros

compensatórios, diminuído das amortizações e dividido pelo número de

anos restantes no regime especial de pagamento;

g) administração pelo Tribunal de Justiça respectivo das contas

especiais utilizadas para o pagamento em regime especial;

h) possibilidade de pagamento dos precatórios por meio do leilão, nas

modalidades de deságio, ordem crescente de valor e acordo em câmara

local de conciliação;

i) oportunidade de compensação automática com débitos líquidos lançados

pela Fazenda contra credores, até onde se compensarem;

j) responsabilidade do chefe do Poder Executivo na forma da legislação de

responsabilidade fiscal e de improbidade administrativa;

k) proibição para os entes federativos, enquanto perdure a omissão, de

contrair empréstimo externo ou interno e impedimento de receber

21

transferências voluntárias; retenção pela União de os repasses relativos

ao Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal e ao Fundo de

Participação dos Municípios; e

l) pagamento preferencial de créditos de natureza alimentícia cujos titulares

tenham, na data de expedição do precatório, 60 anos ou mais ou sejam

portadores de doença grave, limitada ao triplo do montante do crédito de

pequeno valor, admitido o fracionamento para esses fins, devendo o

restante ser pago na ordem cronológica regular.

O já tormentoso método de pagamento dos débitos devidos pelas entidades

federativas, oriundos de sentença judicial, passou a ser ainda mais questionado com

a introdução de regime especial que previa o pagamento em até 15 anos, leilões

para priorizar o credor disposto a dar mais desconto (o que permitiria a redução

drástica do valor) e a reserva, no orçamento de estados e municípios, de um valor

irrisório, variável entre 1% e 2% para quitação das dívidas. Pela regulamentação

anterior dos precatórios, a previsão era de pagamento imediato, entretanto,

constantemente, era descumprida pelos Estados, Distrito Federal e Municípios, os

quais não sofriam qualquer punição.

Devido à nova redação do art. 100 da CF e a introdução do art. 97 ao ADCT,

por meio da emenda supra, à materialidade das suas normas passou a ser

questionada (principalmente a que institui o regime especial de pagamento, cujo

prazo foi esticado para quinze anos) e foram propostas quatro Ações Diretas de

Inconstitucionalidade, com destaque para as ADIS nº 4.357 e 4.425, com alegações

de afronta ao devido processo legislativo, ofensa aos princípios da igualdade, da

dignidade da pessoa humana, da separação dos poderes, da razoável duração do

processo, da coisa julgada, do ato jurídico perfeito, da moralidade, da eficiência, da

razoabilidade e da proporcionalidade.

22

3 DECISÃO DO STF: DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE E

MODULAÇÃO DE SEUS EFEITOS

O STF, na data de 14 de março de 2013, no julgamento das ADIs nº 4357 e

4425, declarou integralmente inconstitucional os §§ 9º, 10º, e 15º, do Artigo 100, da

CF, bem como o Artigo 97 e parágrafos dos ADCT; e parcialmente inconstitucional

os §§ 2º e 12º, da Constituição, como também, por arrastamento o Artigo 1º-F, da

Lei nº 9.494/97 (Diploma que disciplina a aplicação da tutela antecipada em face

contra a Fazenda Pública).

No tocante ao § 2º, do Artigo 100, da CF, o Supremo considerou parcialmente

inconstitucional a previsão de que seria considerada a idade da pessoa igual ou

maior de 60 anos na data da expedição do precatório, ao entender que violaria o

princípio da igualdade, porquanto a pessoa que fosse idosa na época da expedição

acabaria vindo a ser pela demora do processo de pagamento, de modo que deveria

ser estendida a preferência para todos os credores que completassem a idade

referida, enquanto aguardavam o pagamento do precatório alimentar.

O § 12º da Constituição foi declarado parcialmente inconstitucional, pois prevê

que os precatórios pagos em atraso, para fins de correção monetária e aplicação de

juros de mora, deveriam esposar os índices e percentuais que são aplicados às

cadernetas de poupança. No caso, entendeu o STF que a atualização pela

caderneta de poupança não seria capaz de manter o valor real da condenação, ou

melhor, não evitaria a perda do poder aquisitivo da moeda. Logo, o STF declarou

inconstitucional a expressão “índice oficial de remuneração básica da caderneta de

poupança”, ao interpretar ser violadora da garantia da coisa julgada (o valor real do

crédito previsto pela condenação não seria aquele recebido no momento do

adimplemento), afronta a proteção à propriedade (ao não conceder direito à

correção monetária justa) e iria de encontro com o princípio da isonomia, pois, no

último caso, é concedido ao Poder Público correção de seus créditos tributários pela

Taxa SELIC, cujo rendimento é superior, enquanto ao cidadão é dado ter seus

valores corrigidos pela caderneta de poupança, o que provocaria "enriquecimento

sem causa" do Estado às custas dos valores dos administrados.

23

Em relação aos §§ 9º e 10º, do Texto Maior, o pretório excelso verificou que

havia uma espécie de compensação compulsória dos precatórios com tributos, e

declarou integralmente inconstitucional, no sentido de haver uma enorme

superioridade processual à Fazenda Pública e violaria a garantia do devido processo

legal, do contraditório, da ampla defesa, da coisa julgada, da isonomia e afetava o

princípio da separação dos poderes.

O parágrafo 15º previa a possibilidade de criação de um regime especial para

pagamento dos precatórios pelos Estados, Distrito Federal e Municípios, com a

determinação de que até a edição de lei complementar disciplinadora valeria o

disposto no Artigo 97 dos ADCT, conforme redação que segue:

§ 15. Sem prejuízo do disposto neste artigo, lei complementar a esta Constituição Federal poderá estabelecer regime especial para pagamento de crédito de precatórios de Estados, Distrito Federal e Municípios, dispondo sobre vinculações à receita corrente líquida e forma e prazo de liquidação.

Tal modo de pagamento era demais vantajoso às entidades federadas, com a

possibilidade de realização de uma espécie de “leilão de precatórios”, em que os

credores que se dispusessem a oferecer mais descontos em seus créditos,

receberiam bem antes que os demais. Com isso, criou-se uma exceção a ordem

cronológica de apresentação, credores de longa data que não concedessem

deságios ficavam para trás, na espera do recebimento de seus valores.

Ao julgar o tema, o STF declarou a inconstitucionalidade do § 15º, da CF, e

todo o artigo 97, dos ADCT, ao considerar que o regime introduzido infringia: os

valores do Estado de Direito, do devido processo legal, do acesso ao Poder

Judiciário, da razoável duração do processo, da moralidade administrativa, da

impessoalidade e da igualdade. No que diz respeito à moratória de 15 anos, o

Guardião da Constituição entendeu haver transgressão aos princípios da

razoabilidade e proporcionalidade, ao impor aos credores nova dilatação do prazo

para pagamento de suas garantias.

Por fim, os pagamentos deveriam continuar a ser feitos com base nos critérios

da Emenda Constitucional 62, ao menos até que o STF definisse o que fazer com os

precatórios que já vinham sendo quitados sob essas regras. Portanto, ficou sub

judice a modulação dos efeitos temporais da decisão, que é, consoante

24

jurisprudência do STF, o instrumento que visa à acomodação otimizada entre o

princípio da nulidade das leis inconstitucionais e outros valores constitucionais

relevantes.

Em 25 de março de 2015, o Supremo concluiu o julgamento acerca da

modulação acima mencionada, e, apesar da declaração de inconstitucionalidade de

vários dispositivos da emenda constitucional nº 62 de 2009, o regime introduzido

vigorará por mais 5 exercícios financeiros, iniciando-se a partir de 1º de Janeiro de

2016.

Na decisão mencionada, o STF deu eficácia prospectiva e fixou como marco

inicial à data de conclusão do julgamento, ou seja, 25/03/2015, mantendo válidos os

precatórios expedidos e pagos até a data citada.

Em relação à correção pelo índice oficial de remuneração básica da

caderneta de poupança, ficou válida a sua aplicação até a data do julgamento, após

isso, aos créditos tributários deverão incidir a taxa SELIC e aos precatórios comuns

a taxa do IPCA-E, tendo por espeque no último caso, a edição do artigo 27, da Lei

Federal nº 12.919/2013 (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e artigo 27, da Lei nº

13.080/2014. Como marco temporal, para o precatório federal a TR (índice da

caderneta de poupança) foi aplicada até 31/12/2013. Já para os precatórios

referentes aos Estados e Municípios, o marco temporal será a data do julgamento,

após tal data aplica-se a taxa do IPCA-E.

No tocante ao regime especial de pagamento, até a data da decisão referida,

consideram-se válidas as compensações com tributos, os leilões e os pagamentos à

vista por ordem crescente de crédito previsto na emenda constitucional impugnada.

Após isso, não será admitida a quitação dos créditos pelas modalidades referidas.

Com relação à possibilidade de acordos diretos, ficou mantida, em havendo

observância a ordem de preferência dos credores e de acordo com previsão legal da

própria Fazenda Pública devedora, respeitando, ainda, redução máxima de 40% do

valor do crédito atualizado.

No caso da compensação compulsória tributária com precatórios, declarou

válidas às realizadas até a data do julgamento, após isso, não serão mais válidas,

permitindo-se somente as compensações volitivas por parte do titular do precatório.

25

Durante os 5 exercícios financeiros ficaram mantidas a vinculação de

percentuais mínimos da receita corrente líquida (receitas advindas de tributos,

contribuições, patrimônio, agropecuária, industrial, serviços, transferências

correntes, exploração de petróleo ou gás natural e outros recursos minerais), ou

seja, 1% dessa receita será depositado em conta específica para tal fim; e as

sanções para o caso de não liberação no prazo dos recursos destinados ao

adimplemento (sequestro de verbas, compensação automática de tributos,

responsabilidade do Chefe do Poder Executivo respectivo na LRF ou improbidade,

proibição de contratar empréstimo interno ou externo, impedimento de receber

transferências voluntárias, retenção pela União dos repasses relativos ao fundo de

participação).

Por fim, o STF delegou ao CNJ competência para apreciar proposta

normativa disciplinadora da utilização cogente de 50% dos recursos da conta de

depósitos judiciais tributários e possibilidade de compensação de precatórios

vencidos, próprios ou de terceiros, com o estoque de créditos inscritos em dívida

ativa até a data de 25/03/2015, por opção do titular do crédito. Atribui, também,

competência ao CNJ para monitorar e supervisionar o pagamento dos precatórios

pelos entes públicos.

A respeitável decisão proferida nas ADIs nº 4.357 e 4.425 foi além do

esperado, tendo em vista que em diversas ocasiões o STF indeferiu pedidos de

intervenção federal, sob a alegação de que os Estados se encontravam em

dificuldade financeira. Resta, agora, aguardar se serão cumpridas as determinações.

No próximo capítulo serão apontadas medidas aptas a sanear e abrandar

este caótico problema institucional, do qual os cidadãos não contribuíram para isso.

26

4 MEIOS DE SOLUÇÃO OU RELATIVIZAÇÃO

4.1 SANÇÕES A CHEFES DO PODER EXECUTIVO

Com base nas atuações de tantos Chefes de Executivo que vão de encontro

com os ditames das leis impostas, necessário se faz responsabilizá-los nas esferas

política, administrativa e penal. Ao verificar o ordenamento jurídico pátrio, são

encontradas sanções para o descumprimento da regra de pagamento de

precatórios. Na Lei de Responsabilidade Fiscal, no capítulo dos crimes contra o livre

exercício dos poderes constitucionais, é tipificada a conduta de opor-se diretamente

e por fatos ao livre exercício do Poder Judiciário, consoante artigos 4º, incisos II, V,

VI e VII; e 6º, inciso V:

Art. 4º São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentarem contra a Constituição Federal, e, especialmente, contra: II - O livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e dos poderes constitucionais dos Estados; V - A probidade na administração; VI - A lei orçamentária; VII - A guarda e o legal emprego dos dinheiros públicos; Art. 6º São crimes de responsabilidade contra o livre exercício dos poderes legislativo e judiciário e dos poderes constitucionais dos Estados: 5 - opor-se diretamente e por fatos ao livre exercício do Poder Judiciário, ou obstar, por meios violentos, ao efeito dos seus atos, mandados ou sentenças;

São também previstos crimes contra o cumprimento das decisões judiciárias,

conforme artigo 12 e incisos:

Art. 12. São crimes contra o cumprimento das decisões judiciárias: 1 - impedir, por qualquer meio, o efeito dos atos, mandados ou decisões do Poder Judiciário; 2 - Recusar o cumprimento das decisões do Poder Judiciário no que depender do exercício das funções do Poder Executivo; 3 - deixar de atender a requisição de intervenção federal do Supremo Tribunal Federal ou do Tribunal Superior Eleitoral; 4 - Impedir ou frustrar pagamento determinado por sentença judiciária.

27

Conforme artigo 2º, da Lei de Improbidade administrativa, ao dispor que

reputa-se agente público aquele imbuído de mandato em um dos Poderes, é

plenamente aplicável o diploma referido ao Presidente da República, Governadores

e Prefeitos. No que competem às irregularidades no cumprimento do pagamento de

precatórios, há previsão na Lei 8.429/92, artigo 11, incisos I e II. Frise-se que a não

inclusão no orçamento da verba referente aos créditos caracteriza o disposto no

inciso II, e deixar de pagá-lo, dando outra destinação, de relevância ou não, é

definida pelo inciso I, da lei mencionada:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente: I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência; II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;

Quem incorrer na conduta do artigo acima transcrito deverá ressarcir

integralmente o dano, se houver, perderá a função pública, terá suspenso os seus

direitos políticos pelo prazo de três a cinco anos, deverá pagar multa civil de até cem

vezes o valor da remuneração percebida e será proibido de contratar com o Poder

Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio

majoritário, pelo prazo de três anos.

Cabe esclarecer, com relação aos diplomas referidos, que o Supremo

Tribunal Federal adotou o posicionamento de não se aplicar, a Lei de Improbidade

Administrativa, ao Presidente da República e Governadores quando a mesma

conduta já for punida pela Lei dos Crimes de Responsabilidade. Então, para que não

haja aplicação da Lei 8.429/90, deve haver conduta punível dos agentes políticos

mencionados na Lei nº 1.079/50 e Lei de Improbidade. Confira:

Ementa: RECLAMAÇÃO. USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CRIME DE RESPONSABILIDADE. AGENTES POLÍTICOS. I. PRELIMINARES. QUESTÕES DE ORDEM. 1. Improbidade administrativa. Crimes de responsabilidade. Os atos de improbidade administrativa são tipificados como crime de responsabilidade na Lei nº 1.079/1950, delito de caráter político-administrativo. 2. Distinção entre os regimes de responsabilização político-administrativa. O sistema constitucional brasileiro distingue o regime

28

de responsabilidade dos agentes políticos dos demais agentes públicos. A Constituição não admite a concorrência entre dois regimes de responsabilidade político-administrativa para os agentes políticos: o previsto no art. 37, § 4º (regulado pela Lei nº 8.429/1992) e o regime fixado no art. 102, I, c, (disciplinado pela Lei nº 1.079/1950). Se a competência para processar e julgar a ação de improbidade (CF, art. 37, § 4º) pudesse abranger também atos praticados pelos agentes políticos, submetidos a regime de responsabilidade especial, ter-se-ia uma interpretação ab-rogante do disposto no art. 102, I, c, da Constituição. (Rcl. 2.138/DF, Tribunal Pleno. Rel. Min. Nelson Jobim, Rel. p/ acórdão Gilmar Mendes, j. 13/06/07, DJ 18/04/08)

Entendimento contrário é esposado pelo Superior Tribunal de Justiça. Para

esta corte, os agentes públicos, com exceção do Presidente da República,

respondem pela Lei de Improbidade, assim como pela Lei nº 1.079/50.

Em relação aos Chefes dos Poderes Executivos Municipal, o Decreto Lei nº

201/1967 define crimes que se amoldam ao inadimplemento dos precatórios:

Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores: XII - Antecipar ou inverter a ordem de pagamento a credores do Município, sem vantagem para o erário; XIV - Negar execução a lei federal, estadual ou municipal, ou deixar de cumprir ordem judicial, sem dar o motivo da recusa ou da impossibilidade, por escrito, à autoridade competente;

E pela posição adotada pelo STJ os prefeitos podem responder

simultaneamente por atos improbidade e crimes de responsabilidade definidos na lei

acima. Confira:

ACÓRDÃO: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PREFEITO. APLICAÇÃO DA LEI N. 8.429/92 E DO DECRETO N. 201/67 DE FORMA CONCOMITANTE. ATO IMPROBO QUE TAMBÉM PODE CONFIGURAR CRIME FUNCIONAL. INEXISTÊNCIA DE BIS IN IDEM. JUÍZO SINGULAR CÍVEL E TRIBUNAL DE JUSTIÇA. INAPLICABILIDADE DO PRECEDENTE DO STF (RECLAMAÇÃO N. 2.138/RJ) IN CASU. 3. A responsabilidade do prefeito pode ser repartida em quatro esferas: civil, administrativa, política e penal. O código Penal define sua responsabilidade penal funcional de agente público. Enquanto que o Decreto-Lei n. 201/67 versa sua responsabilidade por delitos funcionais (art. 1º) e por infrações político-administrativas (art. 4º). Já a Lei n. 8.429/92 prevê sanções civis e políticas para os atos ímprobos. Sucede que, invariavelmente, algumas condutas encaixar-se-ão em mais de um dos diplomas citados, ou até mesmo nos três,

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e invadirão mais de uma espécie de responsabilização do prefeito, conforme for o caso. 4. A Lei n. 8.492/92, em seu art. 12, estabelece que "Independentemente das sanções penais, civis e administrativas, previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito" [...] a penas como suspensão dos direitos políticos, perda da função pública, indisponibilidade de bens e obrigação de ressarcir o erário e denota que o ato improbo pode adentrar na seara criminal a resultar reprimenda dessa natureza. 5. O bis in idem não está configurado, pois a sanção criminal, subjacente ao art. 1º do Decreto-Lei n. 201/67, não repercute na órbita das sanções civis e políticas relativas à Lei de Improbidade Administrativa, de modo que são independentes entre si e demandam o ajuizamento de ações cuja competência é distinta, seja em decorrência da matéria (criminal e civil), seja por conta do grau de hierarquia (Tribunal de Justiça e juízo singular). 6. O precedente do egrégio STF, relativo à Rcl n. 2.138/RJ, cujo relator para acórdão foi o culto Ministro Gilmar Mendes (acórdão publicado no DJ de 18 de abril de 2008), no sentido de que "Se a competência para processar e julgar a ação de improbidade (CF, art. 37, § 4º) pudesse abranger também atos praticados pelos agentes políticos, submetidos a regime de responsabilidade especial, ter-se-ia uma interpretação ab-rogante do disposto no art. 102, I, "c", da Constituição", não incide no caso em foco em razão das diferenças amazônicas entre eles. 7. Deveras, o julgado do STF em comento trata da responsabilidade especial de agentes políticos, definida na Lei n. 1.079/50, mas faz referência exclusiva aos Ministros de Estado e a competência para processá-los pela prática de crimes de responsabilidade. Ademais, prefeito não está elencado no rol das autoridades que o referido diploma designa como agentes políticos (Precedentes: EDcl nos EDcl no REsp 884.083/PR, Relator Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJ de 26 de março de 2009; REsp 1.103.011/ES, Relator Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, DJ de 20 de maio de 2009; REsp 895.530/PR, Relator Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJ de 04 de fevereiro de 2009; e REsp 764.836/SP, Relator Ministro José Delgado, relator para acórdão ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, DJ de 10 de março de 2008). 8. O STF, no bojo da Rcl n. 2.138/RJ, asseverou que "A Constituição não admite a concorrência entre dois regimes de responsabilidade político-administrativa para os agentes políticos: o previsto no art. 37, § 4º (regulado pela Lei n° 8.429/1992) e o regime fixado no art. 102, I, "c", (disciplinado pela Lei n° 1.079/1950)" e delineou que aqueles agentes políticos submetidos ao regime especial de responsabilização da Lei 1.079/50 não podem ser processados por crimes de responsabilidade pelo regime da Lei de Improbidade Administrativa, sob pena da usurpação de sua competência e principalmente pelo fato de que ambos diplomas, a LIA e a Lei 1.079/1950, preveem sanções de ordem política, como, v. g., infere-se do art. 2º da Lei n. 1.079/50 e do art. 12 da Lei n. 8.429/92. E, nesse caso sim, haveria possibilidade de bis in idem, caso houvesse dupla punição política por um ato tipificado nas duas leis em foco. 9. No caso sub examinem, o sentido é oposto, pois o Decreto n. 201/67, como anteriormente demonstrado, dispõe sobre crimes funcionais ou de responsabilidade impróprios (art. 1º) e também a

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respeito de infrações político-administrativas ou crimes de responsabilidade próprios (art. 4º); estes submetidos a julgamento pela Câmara dos Vereadores e com imposição de sanção de natureza política e aqueles com julgamento na Justiça Estadual e com aplicação de penas restritivas de liberdade. E, tendo em conta que o Tribunal a quo enquadrou a conduta do recorrido nos incisos I e II do art. 1º do diploma supra ("apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito próprio ou alheio" e "utilizar-se, indevidamente, em proveito próprio ou alheio, de bens, rendas ou serviços públicos"), ou seja, crime funcional, ressoa evidente que a eventual sanção penal não se sobreporá à eventual pena imposta no bojo da ação de improbidade administrativa. Dessa forma, não se cogita bis in idem. 10. Recurso especial conhecido e provido. (REsp 1066772/MS, Relator Ministro Benedito Gonçalves, j. 25/08/09, DJ 03/09/09)

Em relação aos Governadores dos Estados foi tomado como exemplo a

Constituição do Estado de São Paulo, que assim rege:

Artigo 48 - São crimes de responsabilidade do Governador ou dos seus Secretários, quando por eles praticados, os atos como tais definidos na lei federal especial, que atentem contra a Constituição Federal ou a do Estado, especialmente contra: (NR) V - a probidade na administração; VI - a lei orçamentária; VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.

No Código Penal é tipificada a conduta de emprego irregular de verbas

públicas quando o administrador dá aplicação diversa da estabelecida em lei, tendo

por espeque o artigo 315, cuja pena é de detenção de 1 a 3 meses, ou multa. E por

que não enquadrar a atuação dos mandatários no crime de prevaricação, previsto no

Artigo 319. Note que a ação de deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou

praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento

pessoal, se amolda a conduta de não inclusão na lei orçamentária de requisição de

precatório.

Na Lei Complementar nº 64/90 (Lei de Inelegibilidade) é estabelecida a

inelegibilidade de 8 anos para os que tiverem suas contas, relativas ao exercício de

mandato, rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de

improbidade administrativa.

Em considerando o precatório alimentar, decorrente de vencimentos de

servidores públicos, pela Constituição Federal, no capítulo dos direitos sociais, há

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configuração de crime por sua retenção dolosa, com base na proteção constitucional

conferida ao salário.

Verifica-se que há meios coercitivos para o cumprimento do pagamento por

precatórios, porém, na prática nada acontece, e a dívida vai se acumulando como se

fosse bola de neve. Deveria, portanto, o Ministério Público, imbuído de sua função

constitucional, encarregar-se de processar os responsáveis por esse desrespeito

institucional.

4.2 MULTA PROCESSUAL DO CPC (CONTEMPT OF COURT)

Uma multa processual (parágrafo único do art. 14 do CPC) pode ser o caminho

para forçar os pagamentos dos débitos judiciais da Fazenda Pública. Pois, por

décadas, diversos governantes vêm descumprindo os ditames judiciais no que tange

aos precatórios, o que configura ato atentatório ao exercício da jurisdição (contempt

of court).

Com sua aplicação aos administradores públicos, independente do mandato,

cargo ou função pública que ocupe, visa a fortalecer a ordem judicial e sua utilização

nos precatórios forçaria o cumprimento da decisão exequenda, sob pena de

pessoalmente, os chefes do Poder Executivo respectivo, arcarem com multa

processual de até vinte por cento sobre o valor do próprio precatório. Veja a redação

do CPC:

Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo: V - cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final. Parágrafo único. Ressalvados os advogados que se sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB, a violação do disposto no inciso V deste artigo constitui ato atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa em montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e não superior a vinte por cento do valor da causa; não sendo paga no prazo estabelecido, contado do trânsito em julgado da decisão final da causa, a multa será inscrita sempre como dívida ativa da União ou do Estado.

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A multa do CPC, pelo não pagamento de precatórios, é instituto cogente para

fazer cumprir ás sentenças proferidas contra a Fazenda Pública, especialmente

quando descumprir adimplemento de créditos derivados de tais pronunciamentos

judiciais:

ACÓRDÃO: MULTA PELO NÃO PAGAMENTO DO PRECATÓRIO. É o juízo da execução quem deve decidir acerca do pedido formulado para aplicação de multa em decorrência do não pagamento do precatório já expedido e não o Presidente do Tribunal de Justiça. Este, apenas determina, com a formação do precatório, o seu pagamento, após realizado o depósito pelo devedor, nos moldes do § 2º do art. 100 da CF/88. Tendo sido rejeitado o pedido formulado em primeiro grau, dá-se provimento ao recurso para o fim de cominar a multa prevista no parágrafo único do inciso V do art. 14 c/c o inciso III do art. 600 e 601, todos do CPC, pelo não pagamento do precatório. À unanimidade, deram provimento. (Ag nº 70004974572, 1ª Câmara Cível, Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Relator: Roque Joaquim Volkweiss, j. 20/11/2002)

Entretanto, o Superior Tribunal de Justiça vem tendo entendimento diverso do

acima esposado, com a argumentação de já haver instituto previsto na Constituição

para compelir o ente devedor a cumprir o pagamento por meio de precatórios:

Ementa: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. ATRASO NO PAGAMENTO DE PRECATÓRIO. MULTA POR ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA. NÃO CABIMENTO. 1. Esta Corte já se manifestou no sentido de que o não pagamento do precatório no prazo não configura, por si só, resistência injustificada à ordem judicial, tampouco ato atentatório à dignidade da jurisdição. 2. Registre-se, ademais, que há outros meios coercitivos previstos constitucionalmente a serem adotados pelo Judiciário em caso de atraso injustificado no pagamento dos precatórios. 3. Recurso especial provido. (REsp nº 1225772-SP, Ministro Relator Mauro Campbell Marques, j. 12/04/11, DJ 27/04/11)

Como será comentada a seguir, a utilização de outros meios coercitivos não

vem sendo acatada para forçar a Fazenda Pública pagar os seus débitos. Com isso,

fica difícil para o cidadão ter seus créditos adimplidos, pois, se não há aplicação de

meios necessários para obrigar os Chefes dos Executivos, nunca se verão pagas as

quantias exorbitantes que já se somam os precatórios.

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4.3 SEQUESTRO DE VALORES

Há, ainda, na constituição previsão de sequestro de verbas públicas para o

pagamento de precatórios. Trata-se de instrumento eficaz para tutelar o credor

preterido, quando há violação na ordem cronológica de pagamento. Confira a

redação do artigo 731 do atual CPC:

Art. 731. Se o credor for preterido no seu direito de preferência, o presidente do tribunal, que expediu a ordem, poderá, depois de ouvido o chefe do Ministério Público, ordenar o sequestro da quantia necessária para satisfazer o débito.

Nota-se que será deferida a cautelar mencionada em havendo casos de

desconsideração ao direito de precedência (quebra na ordem de pagamento, ou

seja, adimplindo crédito mais recente em prejuízo de mais antigo). Caberá a sua

utilização, também, nos casos de não pagamento de parcela no prazo, quando há

parcelamento. Neste sentido:

Ementa: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. VENCIMENTO DO PRAZO PARA PAGAMENTO DE PRESTAÇÕES DE PRECATÓRIO COMPLEMENTAR SUJEITO AO PARCELAMENTO DE QUE TRATA O ART. 78 DO ADCT. EXCLUSÃO DOS JUROS COMPENSATÓRIOS EM CONTINUAÇÃO. 1. O § 4º do art. 78 do ADCT permite o deferimento do pedido de sequestro quando vencido o prazo para pagamento de uma ou mais das prestações anuais do precatório complementar de natureza não alimentar sujeito ao parcelamento de que trata o referido artigo. Decidiu com acerto o Tribunal de origem, ainda quando considerou que o sequestro para satisfação de prestações do precatório complementar de natureza não alimentar não viola a ordem cronológica prevista no caput do art. 100 da Constituição da República, na medida em que o sequestro não insere novo precatório na fila ordenada cronologicamente, (g.n.). 2. Segundo o regime da moratória previsto no artigo 78 do ADCT, o montante apurado no inicio da execução será decomposto em, no máximo, dez prestações anuais. Todavia, no momento de efetuar-se o pagamento de cada uma dessas parcelas, não haverá incidência de um novo percentual de juros compensatórios ou moratórios, salvo quanto a esses últimos, se não for realizado o pagamento dentro do prazo constitucional estabelecido. 3. Recurso ordinário provido, em parte, para desconstituir a ordem de sequestro, tão somente no que diz respeito à satisfação dos juros compensatórios. (RMS 23374/SP, Relator Ministro Mauro Campbell Marques, j. 07/12/10, DJ 03/02/11)

O instituto do sequestro é um meio interessante para se fazer valer às

decisões judiciais de pagar pela Fazenda Pública. No entanto, a sua admissibilidade

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é muito restritiva, o que deveria ser ampliado a fim de dar efetividade aos

pronunciamentos judiciais, bem como para salvaguardar direitos violados,

principalmente em relação a créditos alimentares.

4.4 INTERVENÇÃO FEDERAL

A intervenção federal seria um saneamento drástico para o problema. Tem

por finalidade proteger a estrutura federativa contra atos destrutivos das unidades

federadas (IF 4.677). Para o ministro do Supremo, Celso de Mello, a intervenção tem

por funções:

a) tornar efetiva a intangibilidade do vínculo federativo, b) fazer respeitar a integridade territorial das unidades federadas, c) promover a unidade do Estado Federal, e d) preservar a incolumidade dos princípios fundamentais proclamados pela Constituição da República. (IF 3.977, Relator Maurício Corrêa, j. 05/11/03, DJ 30/04/04)

No entendimento do Ministro do STF, Cezar Peluso, a intervenção é o

antídoto contra o abuso de poder (na modalidade desvio de finalidade ou de poder)

e a ilegalidade. (IF 4.640, j. 29/03/12, DJ 25/04/12).

Pode ser conceituada também como a subtração temporária da autonomia

estatal, de modo que possa ser afastado o desvirtuamento de conduta por parte de

um dos Poderes, para que possa prevalecer o sistema de freios e contrapesos.

Neste caso, ao Judiciário cabe o último pronunciamento acerca do conflito.

Na Constituição da República, precisamente em seu art. 34, tem-se hipótese

de intervenção federal em casos de extrema necessidade, como no caso de seu

inciso VI, na hipótese da desobediência de determinação judicial.

No entanto, a jurisprudência da Suprema Corte tem esposado a orientação de

ser pressuposto bastante ao acolhimento de intervenção federal a atuação estatal

voluntária e dolosa com objetivo de descumprir decisão judicial transitada em

julgado, assim também como não a configura quando há ausência temporária de

recursos financeiros.

INTERVENÇÃO FEDERAL. Pagamento de precatório judicial alimentar. Descumprimento voluntário e intencional. Não ocorrência.

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Inadimplemento devido a insuficiência transitória de recursos financeiros. Necessidade de manutenção de serviços públicos essenciais, garantidos por outras normas constitucionais. Precedentes. Fundamento subsidiário para o indeferimento da inicial. Pedido indeferido por ilegitimidade ativa. Agravo improvido. Não se justifica decreto de intervenção federal por não pagamento de precatório judicial, quando o fato não se deva a omissão voluntária e intencional do ente federado, mas a insuficiência temporária de recursos financeiros. (IF 4.677, Rel. Cezar Peluso, j. 29/03/12, DJ 13/01/12)

Em posição contrária, o Ministro do STF, Marco Aurélio, argumenta que:

Pouco importa se o Estado, mediante a atuação do Executivo, procede com a intenção de postergar a liquidação dos precatórios. A intenção em si é estranha ao julgamento de intervenção. O que se deve verificar é se houve ou não descumprimento de decisão judicial. (IF nº 3.977, relator Ministro Maurício Corrêa, j. 05/11/03, DJ 30/04/04).

Em outra oportunidade o mesmo Ministro votou pelo deferimento da medida,

ao considerar não haver previsão expressa do elemento subjetivo na carta magna,

ou seja, a intenção direta e específica em descumprir ordem judicial:

Se formos à Carta da República – e estamos diante de pedidos de intervenção que dizem respeito ao descumprimento de pronunciamentos judiciais, tendo em conta obrigação de dar, prestações alimentícias –, vamos constatar que a intervenção é motivada pelo descumprimento de ato judicial. Não há na Constituição o elemento subjetivo, tampouco a necessidade de apurar-se o dolo do Estado. Cheguei mesmo a dizer que, se um governante, tendo recursos, deixasse de satisfazer decisões judiciais, principalmente a revelarem prestações alimentícias, deveria estar em um manicômio, deveria estar interditado. (IF nº 5.114, relator Ministro Cezar Peluso, j. 28/03/12, DJ 06/09/12)

Insta dizer que já houve vários pedidos de intervenção federal: alguns no

sentido de ser descabida a orientação firmada pelo supremo de que somente a

conduta dolosa da Fazenda Pública em protelar o pagamento seria justificadora do

deferimento da medida excepcional interventiva, porquanto apoiadora do Estado a

não cumprir suas obrigações. Alegam, ainda, que o ditame da carta maior,

determinador de pagamento de precatório judicial até o final do exercício seguinte

não é princípio, mas sim regra, e, logo, não se admite flexibilidade. (IF 4.640, Rel.

Ministro Cezar Peluso, j. 29/03/12, DJ 25/04/12).

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No julgamento da intervenção federal nº 4.677, em face do Estado da

Paraíba, o Ministro Cezar Peluso considerou não haver intenção estatal na quitação

de dívidas, com base em dificuldades financeiras, pois a atuação do Chefe do

Executivo estava pautada nos limites do possível. Crítica deve ser feita ao

entendimento do iminente ministro, haja vista que um requisitório de crédito

alimentar visa a fomentar uma existência minimamente decente, tendo por

supedâneo à dignidade da pessoa humana, um dos objetivos principais do Estado

Brasileiro. Logo, não há sustentar tal atuação pelo Executivo sem a comprovação

objetiva da incapacidade econômica financeira do ente público.

O que deveria ser adotado para os julgados de intervenção federal, no caso

de descumprimento do pagamento de precatórios, seria a perícia técnico-contábil, a

fim de verificar se houve ou não intenção, o que foi requerida na IF nº 3.977, julgada

em 05/11/03, da relatoria do Ministro Maurício Corrêa, entretanto, indeferida.

A intervenção federal, conquanto haja subtração momentânea da autonomia

do ente devedor, poderia ser ação reparadora, em sendo deferido o pedido de

intervenção federal, da eficiência das decisões do Poder Judiciário, a fim de que os

pronunciamentos e requisições judiciais sobre os precatórios tenham o resultado

almejado para os credores.

4.5 JUDICIALIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO

O termo Judicialização ficou famoso após diversas decisões do Poder

Judiciário conferindo direitos referentes à saúde e disciplinando a política brasileira.

Existe no país uma cultura de judicialização, ou seja, os cidadãos esperam no

Judiciário a conquista de um direito seu que entenda violado. E, no mais das vezes,

diante da omissão de execução e informação por parte do Poder Executivo, o

particular consegue ver seu direito realizado por meio dos órgãos judiciais.

Para quem ache que a judicialização constitui invasão em outro Poder, deve

se levar em conta que as decisões judiciais são fontes do direito e, mais ainda, o

Poder Judiciário não pode se esquivar de decidir a questão a ele posta nos

processos, de acordo com o princípio da indeclinabilidade da jurisdição, segundo o

qual ao juiz é vedado se escusar de julgar alegando lacuna da lei. Por mais que se

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possa pensar ser uma interferência indevida, o Judiciária atua respaldado em uma

união entre os 3 Poderes para obtenção de resultados positivos. Deve se verificar

como legitimação para a judicialização o princípio do resultado como superior ao da

formalidade.

E por que não pensar em uma Judicialização da Administração para

conseguir a alocação de dívidas de precatórios no orçamento, bem como o seu

pagamento. O Poder Judiciário, em certos casos, devido ao descrédito total nos

outros poderes constituídos, deve atuar legislando e administrando até que se

resolva. Confira a decisão seguinte:

PROCESSUAL CIVIL. TUTELA ANTECIPADA. MEIOS DE COERÇÃO AO DEVEDOR (CPC, ARTS. 273, §3º E 461, §5º). FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS PELO ESTADO. BLOQUEIO DE VERBAS PÚBLICAS. CONFLITO ENTRE A URGÊNCIA NA AQUISIÇÃO DO MEDICAMENTO E O SISTEMA DE PAGAMENTO DAS CONDENAÇÕES JUDICIAIS PELA FAZENDA. PREVALÊNCIA DA ESSENCIALIDADE DO DIREITO À SAÚDE SOBRE OS INTERESSES FINANCEIROS DO ESTADO. 1. É cabível, inclusive contra a Fazenda Pública, a aplicação de multa diária (astreintes) como meio coercitivo para impor o cumprimento de medida antecipatória ou de sentença definitiva de obrigação de fazer ou entregar coisa, nos termos dos artigos 461 e 461A do CPC. Precedentes. 2. Em se tratando da Fazenda Pública, qualquer obrigação de pagar quantia, ainda que decorrente da conversão de obrigação de fazer ou de entregar coisa, está sujeita a rito próprio (CPC, art. 730 do CPC e CF, art. 100 da CF), que não prevê, salvo excepcionalmente (v.g., desrespeito à ordem de pagamento dos precatórios judiciários), a possibilidade de execução direta por expropriação mediante sequestro de dinheiro ou de qualquer outro bem público, que são impenhoráveis. 3. Todavia, em situações de inconciliável conflito entre o direito fundamental à saúde e o regime de impenhorabilidade dos bens públicos, prevalece o primeiro sobre o segundo. Sendo urgente e impostergável a aquisição do medicamento, sob pena de grave comprometimento da saúde da demandante, não se pode ter por ilegítima, ante a omissão do agente estatal responsável, a determinação judicial do bloqueio de verbas públicas como meio de efetivação do direito prevalente. 4. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp 912042 RS, relator Ministro Teori Albino Zavascki, j. 04/09/07, DJ 27/09/07)

Repare que neste caso, o STJ determinou o sequestro de dinheiro a fim de

conferir ao particular à aquisição de medicamentos, com base na primazia do direito

à saúde. Agora, suponha que a parte autora da ação supra seja titular de créditos

oriundos de precatórios, não deveria ter o mesmo tratamento, tendo em vista que

estão nas filas de pagamento credores de precatórios alimentícios, que sentem

38

necessidades tais quais a falta de dinheiro para pagamento de medicamentos, bem

como de tantas outras coisas vitais para a dignidade da pessoa humana. Por isso,

deve sim o Judiciário, através da Judicialização da Administração, ser o salvaguarda

dos administrados para fazer efetivar tantos e outros direitos previstos que ainda não

foram cumpridos como o deveria ser.

4.5.1 Intervenção do Custus Legis

Algo que na realidade deveria ocorrer, mas não acontece, é no tocante ao

Ministério Público, que na função de custos legis deveria ter o cuidado de exigir que

a lei fosse cumprida (em relação ao tema) para que sejam atendidas as

necessidades da sociedade, conforme determina a legislação vigente. Nota-se que

os MPs das duas esferas (federal e estadual) não estão exercendo o mister que lhes

foi conferido, pois não estão processando os agentes políticos, com base nas leis

que definem os crimes de responsabilidade ou na lei de improbidade administrativa.

O MP com base nessas premissas da Lei de improbidade deveria promover a

ação judicial cabível. Para isso não se precisaria de muita apuração, pois, devida a

publicidade e transparência, obrigatória para os órgãos governamentais, é amplo o

conhecimento dos atos referentes à execução orçamentária. Bem como há

prestação de contas por parte do PR, governadores e prefeitos, e neste caso as

irregularidades se revelam.

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5 ATIVISMO JUDICIAL

O ativismo judicial para muitos seria uma espontaneidade do Poder Judiciário,

ou seja, este poder agindo por conta própria, o que esbarraria com o princípio da

inércia.

Mas em um melhor sentido deve ser considerado o ativismo judicial como o

fenômeno do protagonismo judiciário, com uma atuação que respeita a harmonia

entre os Poderes, bem como os princípios e garantias insculpidos na Constituição

Federal. Ocorre que, diante da inércia da atividade legiferante e considerando o

clamor do povo, faz se necessário uma atuação mais positiva por parte dos órgãos

judiciais. O ativismo judicial deve ser não excessivo, não deve ser sufocador da vida

política e tampouco esvaziar as funções parlamentares. Não se trata de usurpação

legislativa negativa, mas sim positiva, haja vista a necessária e cogente aplicação

dos princípios e garantias presentes no ordenamento jurídico. Ora, se os poderes

que tem atribuição para agir não o fazem para efetivá-los, seja por interesses

próprios ou outra causa, deve o Judiciário atuar para garanti-los.

Como argumento para a aceitação do instituto mencionado, aponta-se a

doutrina de Ferdinand Lassale, para ele a Constituição deve ser vista conforme o

aspecto da relação entre os fatos sociais dentro do Estado. Para o jurista havia uma

constituição real ou efetiva, que é a soma dos fatores reais de poder que regem uma

determinada nação, e uma constituição escrita, a qual não passa de uma folha de

papel. (Que é uma Constituição? Ano 1933, p. 28). Nesse contexto, a constituição

escrita deveria ceder caso não harmonizasse com a constituição real ou efetiva. Em

outras palavras, a CF deve representar o efetivo poder social, e, para isso, faz se

mister a intervenção do Judiciário. Através disso, os órgãos judiciais realizam várias

audiências públicas, a fim de consultar os interessados.

Com base nos argumentos acima esposados, é indicado o Conselho Nacional

de Justiça para tentar mitigar os problemas apresentados com o pagamento de

precatórios. Este órgão, através da EC nº 45/04, também chamada reforma do

Judiciário, foi criado a fim de exercer papel de fiscalização e controle da atuação

administrativa e financeira, bem como o cumprimento dos deveres funcionais dos

magistrados, consoante artigo 103-B, in verbis:

40

Artigo 103-B........................................................................ § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura.

O CNJ dentro destes anos vem se destacando através de várias conquistas,

como por exemplo, a vedação ao nepotismo, a transparência dos gastos do Poder

Judiciário, a fiação de metas de produtividade, regulamentação de teto salarial,

divulgação anual das estatísticas do Poder Judiciário, entre outros não tão menos

importantes.

Na decisão do STF, acerca da modulação dos efeitos temporais da

declaração de inconstitucionalidade de dispositivos da EC nº 62/09, foi delegada

competência ao CNJ para disposições em relação aos precatórios.

Abaixo, segue o teor referente a delegação de competência:

EMENTA: QUESTÃO DE ORDEM. MODULAÇÃO DOS EFEITOS TEMPORAIS DOS EFEITOS DE DECISÃO DECLARATÓRIA DE INCONSTITUCIONALIDADE (LEI 9.868/99, ART. 27). POSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE ACOMODAÇÃO OTIMIZADA DE VALORES CONSTITUCIONAIS CONFLITANTES. PRECEDENTES DO STF. REGIME DE EXECUÇÃO DA FAZENDA PÚBLICA MEDIANTE PRECATÓRIO. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 62/2009. EXISTÊNCIA DE RAZÕES DE SEGURANÇA JURÍDICA QUE JUSTIFICAM A MANUTENÇÃO TEMPORÁRIA DO REGIME ESPECIAL NOS TERMOS EM QUE DECIDIDO PELO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 6. Delega-se competência ao Conselho Nacional de Justiça para que considere a apresentação de proposta normativa que discipline (i) a utilização compulsória de 50% dos recursos da conta de depósitos judiciais tributários para o pagamento de precatórios e (ii) a possibilidade de compensação de precatórios vencidos, próprios ou de terceiros, com o estoque de créditos inscritos em dívida ativa até 25.03.2015, por opção do credor do precatório. 7. Atribui-se competência ao Conselho Nacional de Justiça para que monitore e supervisione o pagamento dos precatórios pelos entes públicos na forma da presente decisão. (ADI 4.357 , Relator Ministro Ayres Brito, j. 25/03/15, DJ 06/08/15)

Em que pese à decisão supra, o Conselho Nacional de Justiça desde 2010

vem através de portarias e resoluções colaborando para diminuir o problema atual. A

portaria 12/2010 institui grupo de trabalho para estudo e apresentação de sugestões

de medidas administrativas relativas à implementação do regime especial de

precatórios que versa a EC nº 62/09. Através da portaria 41/2011 foi criado

41

comissão especial para levantamento de informações sobre fundo de reservas para

pagamento de dívidas fundadas estaduais e precatórios.

Por sua vez, através de várias portarias criaram datas para correições em

vários Estados, a fim de verificar os setores de precatórios dos Tribunais;

promoveram reuniões com juízes da Fazenda Pública, procuradores dos estados e

representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); convocaram reuniões

com prefeitos e procuradores jurídicos dos municípios devedores; realizaram

audiências conciliatórias para o pagamento de precatórios; e dispuseram sobre a

primeira Assembleia do Fórum Nacional de Precatórios – FONAPREC.

Notadamente, o Conselho Nacional de Justiça criou a Resolução nº 115/2010,

alterada pelas resoluções nº 123/2010 e 145/2012, a fim de fiscalizar os entes da

Federação quanto ao pagamento de precatórios, a qual institui cadastro de

Entidades Devedoras Inadimplentes e criou um comitê gestor, integrado por um juiz

estadual, um juiz federal e um juiz trabalhista, para auxiliar os presidentes de

tribunais no controle dos pagamentos. De modo que, a lista de credores inclui os

detentores de créditos alimentícios, ou seja, cidadãos que têm direito a receber dos

cofres públicos diferenças salariais, aposentadorias e pensões atrasadas, além dos

cidadãos e empresas que contestaram com sucesso, na Justiça, os valores das

indenizações geradas por desapropriações de imóveis. O CNJ estipulou sanções

para tentar coibir a inadimplência tal como os órgãos públicos inadimplentes ficam

proibidos de receber repasses regulares ou extraordinários do Governo Federal. A

Resolução que o CNJ baixou, padroniza os formulários para expedição de

precatórios em todo o País. E, para organizar de forma mais eficiente as listas de

pagadores, a resolução do CNJ também estabeleceu critérios e medidas práticas

para a formalização de convênios entre tribunais e entidades públicas.

5.1 PROPOSTAS DE EMENDAS À CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Passarão a ser analisadas algumas propostas de emenda constitucional,

algumas arquivadas e outras ainda em trâmite, que podem ser um meio para mitigar

ou excluir o problema do pagamento de precatórios.

42

Em 2004 foi proposta a emenda à constituição nº 290, de autoria do Deputado

Federal Eduardo Sciarra, a qual era bem ousada e, se fosse aprovada, seria a

solução para o inadimplemento do Poder Público. A PEC mencionada previa a

admissão do sequestro de valores no caso de não pagamento do precatório até o

exercício seguinte ao da decisão exequenda. Mais ainda, introduziria a possibilidade

de penhora de bens públicos desafetados, no caso de não obtenção pelo sequestro

da verba necessária ao adimplemento. A proposta não teve êxito, pois foi arquivada,

tendo em vista que esbarrava no princípio da indisponibilidade dos bens públicos.

Pela PEC nº 329/04 da Câmara Federal, de autoria do deputado Celso

Russomano, havia a previsão de ampliação do uso do instituto do sequestro de

valores, no tocante aos precatórios alimentares, ao introduzir uma nova hipótese de

quebra do direito de precedência, no caso de pagamento de precatório comum, em

havendo precatório alimentar além do exercício financeiro seguinte ao da sua

apresentação. Havia também a possibilidade de suspensão de direitos políticos por

8 anos de Chefes do Executivo, que descumprissem o pagamento de créditos

alimentares. Também não vingou e foi arquivada.

A proposta nº 467/2005, de autoria do Deputado Carlos Souza, visava à

alteração dos artigos 34, 35, 36 e 100, da CF, para punir a Fazenda Pública e seus

administradores. Para o artigo 35, que versa acerca do instituto da intervenção

federal, incluía o inciso V, explicitando nova hipótese, conquanto já haja a

possibilidade no caso de desrespeito a ordem judicial. Veja a redação:

Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando: V – deixar de incluir, no orçamento das entidades de direito público, a verba necessária ao pagamento de seus débitos oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de precatórios judiciários, apresentados até 1º de julho, ou deixar de realizar o pagamento até o final do exercício seguinte.

Além disso, acrescentava ao parágrafo 7º do Artigo 100, da Constituição, a

responsabilidade não só do presidente do Tribunal que expede a requisição, mas

também do Chefe do Executivo que deixasse de incluir na lei orçamentária anual a

verba necessária ao pagamento dos precatórios requisitados ou deixasse de fazer o

respectivo pagamento, porquanto a previsão existente se omite quanto a este último.

A PEC mencionada também não prosperou e foi arquivada.

43

No ano de 2006, a deputada Edna Macedo apresentou a proposta de emenda

à constituição nº 501, a qual tinha por intenção retirar os idosos e portadores de

doença grave ou incapacitante do regime de pagamento por precatórios, com vistas

a dar aos seus titulares preferência máxima de pagamento. Tal PEC foi devolvida

por não contar o número mínimo de assinatura, com base no artigo 60, inciso I, da

Carta Magna.

Por sua vez, as PECs nº 36/07, 69/07, 243/08 e 176/12, tinham por fim dar

aos já aposentados e idosos a não aplicação de pagamento por precatórios, para

que não ganhassem apenas um pronunciamento judicial favorável, mas sim o

crédito. Estas também não foram em frente.

A PEC nº 33/08 do Senador Geovani Borges visou estipular um piso mínimo

para pagamento de dívidas do Estado. O limite era de 500 salários mínimos, exceto

para os casos de Municípios com menos de 100 mil eleitores, a fim de que valores

que não ultrapassassem este piso fossem pagos sem o sistema de precatórios.

Porém, a proposta foi arquivada.

A PEC nº 84/11 oferecida pelo Senador Paulo Paim pretendia dar preferência

ao pagamento de precatórios para pensionistas e dependentes de pessoas idosas.

A proposta 100/11 de titularidade do senador Paulo Paim ainda tramita pelo

Congresso Nacional e prevê possibilidade de utilização de créditos em precatórios

para o pagamento de financiamentos habitacionais perante a Caixa Econômica

Federal, através de cessão de créditos.

Pelo Senado Federal tramita proposta de emenda nº 23/2012, que tem por

intenção incluir pessoas portadoras de deficiência e mulheres pobres responsáveis

pela provisão do lar na hipótese do artigo 100, § 2º Da Constituição Federal,

conforme dispõe a seguir:

Art. 100 - .................................................................................. § 2º. Os débitos de natureza alimentícia serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo do fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, devendo o restante ser pago na ordem cronológica de apresentação do precatório, aos seguintes titulares, na forma da lei: I – que tenham sessenta anos de idade ou mais na data de expedição do precatório; II - sejam portadores de doença grave;

44

III - sejam portadores de deficiência, sem meios de prover à própria manutenção; IV – às mulheres pobres responsáveis por ou arrimos de família.

Por fim, as boas propostas não foram aprovadas ou ainda continuam em

trâmite nas casas legislativas, fazendo com que continue o problema para os

credores de verem uma solução. Ao contrário disso, foram propostas outras

emendas que favorecem amplamente ao Estado inadimplente e que foram

positivadas, para declínio do sistema e consequentes declarações de

inconstitucionalidade de suas inovações.

5.2 UTILIZAÇÃO DE DEPÓSITOS JUDICIAIS

Uma ótima lei foi aprovada pelo Congresso Nacional, cuja proposta legislativa

é de autoria do senador José Serra, trata-se da Lei Complementar 151/2015, que

autoriza o uso de depósitos judiciais para pagamento de precatórios dos Estados.

De acordo com a lei os governadores poderão sacar até 70% dos depósitos

judiciais ou administrativos sem necessidade de autorização judicial, com vistas ao

pagamento de precatórios, dívidas previdenciárias e investimentos. Confira os

dispositivos da referida lei:

Art. 2o Os depósitos judiciais e administrativos em dinheiro referentes a processos judiciais ou administrativos, tributários ou não tributários, nos quais o Estado, o Distrito Federal ou os Municípios sejam parte, deverão ser efetuados em instituição financeira oficial federal, estadual ou distrital. Art. 3o A instituição financeira oficial transferirá para a conta única do Tesouro do Estado, do Distrito Federal ou do Município 70% (setenta por cento) do valor atualizado dos depósitos referentes aos processos judiciais e administrativos de que trata o art. 2o, bem como os respectivos acessórios. § 1o Para implantação do disposto no caput deste artigo, deverá ser instituído fundo de reserva destinado a garantir a restituição da parcela transferida ao Tesouro, observados os demais termos desta Lei Complementar. Art. 7o Os recursos repassados na forma desta Lei Complementar ao Estado, ao Distrito Federal ou ao Município, ressalvados os destinados ao fundo de reserva de que trata o § 3o do art. 3o, serão aplicados, exclusivamente, no pagamento de: I – precatórios judiciais de qualquer natureza;

45

Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça, o montante de depósitos

judiciais atualmente é de R$ 127 bilhões. Em audiência pública referente à Ação

Direta de Inconstitucionalidade, o Ministro do STF, Gilmar Mendes informou que a

Caixa Econômica Federal apresentou nos autos, através de ofício, o montante de R$

12,2 bilhões oriundos de depósitos judiciais na Justiça Federal, R$15,8 bilhões

referentes a Justiça Estadual e 19,8 bilhões na Justiça do Trabalho. Já o Banco do

Brasil informou que seu montante em depósitos judiciais está em torno de R$ 90,9

bilhões provenientes da Justiça nos Estados e 19,7 bilhões da Justiça Trabalhista.

Ora, ao considerar que a dívida de precatórios está em torno de R$97,3

bilhões e há R$127 bilhões referente a depósitos judiciais, a porcentagem de 70%

deste último montante seria de R$88,9 bilhões e, com isso, se usado para o

pagamento dos precatórios, amenizaria muito esta dívida histórica. Muito válida a

inovação legislativa, se bem que foi proposta a ADI 5.072 para contestar a lei

referida e está pendente de julgamento no Supremo Tribunal Federal.

5.3 OUTROS MEIOS SANEADORES

Como meios de relativização do problema do inadimplemento e morosidade

no pagamento de precatórios, podem ser propostas leis que visem a disciplinar uma

valorização para o precatório, tornando atraente a sua circulação no mercado.

Por sua vez, podem ser autorizados pelo Governo Federal financiamentos de

casas através de quitação por precatórios, visto que muitos brasileiros ainda não

possuem sua casa própria.

Em relação à compensação de precatórios com débitos tributários, a teor do

art. 100, § 9º, da CF, também seria uma via adequada para, ao menos, relativizar a

demora no recebimento dos créditos, fazendo com que incida sobre todas as

espécies de tributos, bem como respectivas multas.

Já a inovação do § 11º, do artigo 100, da CF, foi excelente ao prever a

utilização de precatórios para compra de imóveis públicos, tendo em vista que os

Estados e municípios brasileiros possuem um acervo imobiliário constituído, entre

outras modalidades, por uma série de imóveis dominicais, rurais e urbanos, os quais

46

não se prestam à realização das finalidades públicas, e que, dessa forma,

constituem-se em dinheiro público desperdiçado, quando poderiam ter uma

destinação socialmente responsável. Nesse contexto, a dação em pagamento,

prevista no art. 356, e seguintes do Código Civil, pode liberar a administração

pública de uma dívida materializada em precatório judicial sem ter de desembolsar

dinheiro, por meio da transferência do domínio de um bem imóvel, com avaliação

prévia do valor de mercado sem onerar, portanto, os cofres públicos.

No que tange a cessão de créditos, esta foi um meio introduzido pelo

Constituinte Reformador para poder viabilizar a situação dos credores, que tivessem

interesse em ceder o precatório. Entretanto, é uma alternativa que caiu em

descrédito, ante a desconfiança de investidores para com a prontidão no

pagamento, o que faz haver um preço muito baixo na aquisição de tais créditos.

Portanto, somente em havendo uma maior celeridade no pagamento pela via dos

precatórios para solucionar a questão.

Outra alternativa viável seria a federalização dos débitos (art. 100, § 16, da

Carta Magna), em que a seu critério exclusivo e na forma de lei, a União poderá

assumir débitos, oriundos de precatórios, de Estados, Distrito Federal e Municípios,

e refinanciá-los diretamente, tendo em vista que a Fazenda Federal está mais em

dia com seus débitos decorrentes de precatórios. Para isso foi editada a Lei

Complementar nº 151/2015, que dispõe sobre critérios de indexação dos contratos

de refinanciamento de dívidas celebrados entre a União, Estados, o Distrito Federal

e Municípios.

Em ultima ratio, caso nada seja feito para melhorar a situação dos

precatórios, cabe ao credor requerer ao tribunal Internacional condenação do Estado

Brasileiro, com fulcro no desrespeito aos direitos humanos, porquanto o

descumprimento e a postergação sem medida de créditos alimentares vai de

encontro a direitos fundamentais garantidos pela Carta Magna.

47

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como se nota o problema de pagamento de precatórios é histórico em no

país. Leis e atitudes de governantes levaram a atingir a este patamar gigantesco de

dívida. Desde o advento da Constituição atual, foram propostas alternativas que só

postergaram o adimplemento dessas dívidas. Vinte e sete anos depois, a dívida que

já era grande se tornou maior ainda. Através de três moratórias decorrentes de

emendas constitucionais, o prazo que era de 8 anos passou para 15 anos.

Felizmente, o STF nas ações diretas de inconstitucionalidade decretou o seu

fim, para que a dívida acumulada tenha fim até o ano de 2020. No entanto, faltou

atuação mais forte por parte do pretório excelso durante estes anos, como por

exemplo o deferimento de diversos pedidos de intervenção federal e sequestro de

verbas públicas.

Espera-se o fim do calote do Poder Público em face dos administrados, como

também que o próprio credor usufrua do seu crédito, não que seja uma poupança

para seus filhos, netos e bisnetos, como é atualmente.

Através das soluções apontadas, buscou-se mostrar que há no ordenamento

jurídico vigente alternativas para a resolução do problema, bem como existem

inúmeras propostas positivas para inovação no mundo do Direito. O que se espera,

na prática, é o fim da situação caótica reinante no país, para que os direitos e

garantias tanto preconizados pela Constituição Federal sejam, enfim, uma realidade

positiva, ao invés de serem apenas previsões normativas.

48

ANEXOS

49

ANEXO A – DÍVIDA CONSOLIDADA

PODER JUDICIÁRIO

Conselho Nacional de Justiça

GABINETE DO CONSELHEIRO FABIANO SILVEIRA

Tabela 1. Dívida consolidada – União, Estados e Municípios

PRECATÓRIOS - CUMPRDEC 6533-70.2010

Valor da dívida em R$

(consideradas todas as modalidades de precatórios)

União Estados Municípios TOTAL

JUSTIÇA - 131.055.138,79 356.398.722,25 487.453.861,04

FEDERAL

JUSTIÇA 495.302.944,76

51.579.586.928,01 42.871.299.608,00 94.946.189.480,77

COMUM

JUSTIÇA DO

440.149.448,00 1.037.579.546,53 462.836.190,90 1.940.565.185,43 TRABALHO

TOTAL 935.452.392,76 52.748.221.613,3

3 43.690.534.521,15 97.374.208.527,24

Gráfico 1. Dívida consolidada – União, Estados e Municípios

Gráfico 2. Dívida consolidade conforme segmento do Poder Judiciário

50

ANEXO B – DÍVIDA DE ESTADOS E MUNICÍPIOS

PODER JUDICIÁRIO

Conselho Nacional de Justiça

GABINETE DO CONSELHEIRO FABIANO SILVEIRA Tabela 3. Dívida oriunda da Justiça Estadual (Estados e Municípios)

JUSTIÇA ESTADUAL

TRIBUNAL Entes Estaduais e DF Entes Municipais TOTAL

TJSP 21.432.187.478,36 25.278.290.603,28 46.710.478.081,64

TJPR 5.918.602.973,26 6.982.497.484,18 12.901.100.457,44

TJRS 6.902.954.473,14 838.662.831,93 7.741.617.305,07

TJMG 3.403.286.220,93 1.300.158.973,17 4.703.445.194,10

TJDFT 3.652.419.318,68 - 3.652.419.318,68

TJBA 1.820.516.875,57 543.639.851,79 2.364.156.727,36

TJSC 1.854.609.030,88 459.852.410,73 2.314.461.441,61

TJRO 1.386.378.952,46 280.431.404,40 1.666.810.356,86

TJRJ 661.097.026,11 835.625.894,74 1.496.722.920,85

TJMS 1.042.893.632,26 427.253.106,68 1.470.146.738,94

TJPB 1.116.025.990,06 143.343.186,01 1.259.369.176,07

TJGO 918.210.297,64 150.816.108,19 1.069.026.405,83

TJPI 1.016.687.743,82 10.511.010,34 1.027.198.754,16

TJAM 705.456.995,53 215.048.820,70 920.505.816,23

TJSE 445.518.552,02 287.454.597,15 732.973.149,17

TJRN 393.459.822,16 194.594.801,89 588.054.624,05

TJPE 420.722.285,68 158.279.310,77 579.001.596,45

TJMT 347.245.043,94 227.728.781,62 574.973.825,56

TJCE 382.466.776,96 177.002.436,36 559.469.213,32

TJES 169.676.867,29 285.231.538,38 454.908.405,67

TJAL* 410.870.836,61 22.875.577,10 433.746.413,71

TJMA 267.393.088,89 126.161.756,26 393.554.845,15

TJPA 187.855.003,49 103.773.339,04 291.628.342,53

TJTO 177.066.671,93 33.183.082,48 210.249.754,41

TJAC 78.841.714,20 82.957.932,29 161.799.646,49

TJAP 69.109.962,01 48.317.275,77 117.427.237,78

TJRR 50.452.612,81 5.188.174,07 55.640.786,88

TOTAL 55.232.006.246,69 39.218.880.289,32 94.450.886.536,01

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