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Administração e

Planejamento em

Serviço Social

Itanamara Guedes Cavalcante

Ilma Cristina Silva Oliveira

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Jouberto Uchôa de MendonçaReitor

Amélia Maria Cerqueira UchôaVice-Reitora

Jouberto Uchôa de Mendonça JuniorPró-Reitoria Administrativa - PROAD

Ihanmarck Damasceno dos SantosPró-Reitoria Acadêmica - PROAC

Domingos Sávio Alcântara MachadoPró-Reitoria Adjunta de Graduação - PAGR

Temisson José dos SantosPró-Reitoria Adjunta de Pós-Graduaçãoe Pesquisa - PAPGP

Gilton Kennedy Sousa FragaPró-Reitoria Adjunta de Assuntos Comunitários e Extensão - PAACE

Jane Luci Ornelas FreireGerente do Núcleo de Educação a Distância - Nead

Andrea Karla Ferreira NunesCoordenadora Pedagógica de Projetos - Nead

Lucas Cerqueira do ValeCoordenador de Tecnologias Educacionais - Nead

Equipe de Elaboração e Produção de Conteúdos Midiáticos: Alexandre Meneses Chagas - Supervisor Ancéjo Santana Resende - CorretorAndira Maltas dos Santos – DiagramadoraClaudivan da Silva Santana - DiagramadorEdilberto Marcelino da Gama Neto – DiagramadorEdivan Santos Guimarães - DiagramadorFábio de Rezende Cardoso - WebdesignerGeová da Silva Borges Junior - IlustradorMárcia Maria da Silva Santos - CorretoraMarina Santana Menezes - WebdesignerMatheus Oliveira dos Santos - IlustradorPedro Antonio Dantas P. Nou - WebdesignerRebecca Wanderley N. Agra Silva - DesignerRodrigo Otávio Sales Pereira Guedes - WebdesignerRodrigo Sangiovanni Lima - AssessorWalmir Oliveira Santos Júnior - Ilustrador

Redação:Núcleo de Educação a Distância - NeadAv. Murilo Dantas, 300 - FarolândiaPrédio da Reitoria - Sala 40CEP: 49.032-490 - Aracaju / SETel.: (79) 3218-2186E-mail: [email protected]: www.ead.unit.br

Impressão:Gráfi ca GutembergTelefone: (79) 3218-2154E-mail: grafi [email protected]: www.unit.br

Banco de Imagens:Shutterstock

Copyright © Sociedade de Educação Tiradentes

C376a Cavalcante, Itanamara Guedes, Oliveira. Administração e planejamento em

serviço social/ Itanamara Guedes Cavalcante, Ilma Cristina Silva Oliveira – Aracaju : UNIT, 2011.

152 p.: il. : 22 cm.

Inclui bibliografia

1. Planejamento social. 2. Serviço social. I. Universidade Tiradentes – Educação à Distância II. Titulo.

CDU : 36:304.442

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Prezado(a) estudante, A modernidade anda cada vez mais atrelada ao

tempo, e a educação não pode ficar para trás. Prova disso são as nossas disciplinas on-line, que possibi-litam a você estudar com o maior conforto e comodi-dade possível, sem perder a qualidade do conteúdo.

Por meio do nosso programa de disciplinas

on-line você pode ter acesso ao conhecimento de forma rápida, prática e eficiente, como deve ser a sua forma de comunicação e interação com o mundo na modernidade. Fóruns on-line, chats, podcasts, livespace, vídeos, MSN, tudo é válido para o seu aprendizado.

Mesmo com tantas opções, a Universidade Tiradentes

optou por criar a coleção de livros Série Bibliográfica Unit como mais uma opção de acesso ao conhecimento. Escrita por nossos professores, a obra contém todo o conteúdo da disciplina que você está cursando na modalidade EAD e representa, sobretudo, a nossa preocupação em garantir o seu acesso ao conhecimento, onde quer que você esteja.

Desejo a você bom aprendizado e muito sucesso!

Professor Jouberto Uchôa de Mendonça

Reitor da Universidade Tiradentes

Apresentação

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SumárioParte 1: Administração e o Processo Histórico-Teórico

de Trabalho nas Organizações . . . . . . . . . . . . . . . . . .11

Tema 1: Principais Teorias da Administração . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

1.1 Abordagens conceituais de administração . . . . . . . . . . . . 14

1.2 Principais teorias de administração . . . . . . . . . . . . . . . . . .21

1.3 Transição: Teoria da administração para teoria das

organizações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

1.4 Modelos gerenciais na organização de trabalho . . . . . . . . . . .36

Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

Tema 2: Administração de serviços . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45

2.1 As funções de administração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

2.2 Gerenciando pessoas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

2.3 O serviço social na empresa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

2.4 Responsabilidade social nas empresas públicas e privadas . . 70

Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

Parte 2: Planejamento: Instrumento de Trabalho do Serviço Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

Tema 3: Planejamento Social: Aspectos Introdutórios . . . . . . . . . . 81

3.1 Conceituando e defi nindo planejamento social . . . . . . . . 81

3.2 Pilares do planejamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

3.3 Planejamento estratégico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96

3.4 Planejamento participativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

Tema 4: Gestão de Serviços Sociais em Órgãos Públicos e Privados . . . 113

4.1 A gestão dos serviços sociais na contemporaneidade. . . 113

4.2 Elaborando planos, programas e projetos sociais . . . . . . 121

4.3 Avaliação e controle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128

4.4 O planejamento nos processos de trabalho do serviço

social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138

Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146

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Ementa

Principais teorias da Administração: Abordagens conceituais de administração; Principais teorias de administração; Transição: Teoria da administração para teoria das organizações; Modelos gerenciais na organização de trabalho. Administração de serviços: As funções de administração; Gerenciando pessoas; O Serviço Social na empresa; Responsabilidade social nas empresas públicas e privadas. Planejamento social: aspectos introdutórios: Conceituando e defi-nindo planejamento social; Pilares do planejamento; Planejamento estratégico; Planejamento participativo. Gestão dos serviços sociais em órgãos públicos e privados: A gestão dos serviços sociais na contem-poraneidade; Elaborando Planos, programas e projetos sociais; Avaliação e controle; O planejamento nos processos de trabalho do Serviço Social.

Objetivos

Geral

Possibilitar conhecimento sobre procedimentos e técnicas administrativas que viabilizem a prática profissional quanto à organização, estruturação e implementação de serviços, programas e projetos sociais em organizações públicas e privadas

Específicos

• Compreender a importância do estudo da Administração e do Planejamento para a for-mação do assistente social;

Concepção da Disciplina

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• Possibilitar apreender conceitos e caracterizar o processo de planejamento no âmbito público, privado e das organizações da sociedade civil relacionando com a prática profissional;

• Capacitar para planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais;

• Refletir criticamente os modelos gerenciais

nas organizações e as demandas postas ao Serviço Social no contexto atual.

Orientação para Estudo

A disciplina propõe orientá-lo em seus procedi-mentos de estudo e na produção de trabalhos científi-cos, possibilitando que você desenvolva em seus traba-lhos pesquisas, o rigor metodológico e o espírito crítico necessários ao estudo.

Tendo em vista que a experiência de estudar a distância é algo novo, é importante que você observe algumas orientações:

• Cuide do seu tempo de estudo! Defina um horário regular para acessar todo o conteúdo da sua disciplina disponível neste material impresso e no Ambiente Virtual de Aprendi-zagem (AVA). Organize-se de tal forma para que você possa dedicar tempo suficiente para leitura e reflexão;

• Esforce-se para alcançar os objetivos pro-postos na disciplina;

• Utilize-se dos recursos técnicos e humanos que estão ao seu dispor para buscar escla-recimentos e para aprofundar as suas

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reflexões. Estamos nos referindo ao contato permanente com o professor e com os cole-gas a partir dos fóruns, chats e encontros presenciais, além dos recursos disponíveis no Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA.

Para que sua trajetória no curso ocorra de forma tranquila, você deve realizar as atividades propostas e estar sempre em contato com o professor, além de acessar o AVA.

Para se estudar num curso a distância deve-se ter a clareza de que a área da Educação a Distância pauta-se na autonomia, responsabilidade, cooperação e colaboração por parte dos envolvidos, o que requer uma nova postura do aluno e uma nova forma de con-cepção de educação.

Por isso, você contará com o apoio das equipes pedagógica e técnica envolvidas na operacionalização do curso, além dos recursos tecnológicos que contribuirão na mediação entre você e o professor.

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ADMINISTRAÇÃO E O PROCESSO HISTÓRICO-TEÓRICO DE TRABALHO NAS ORGANIZAÇÕESParte 1

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1 Principais Teorias da Administração

Estamos iniciando mais uma disciplina do curso de serviço social. Neste livro iremos refletir sobre a concepção teórica da admi-nistração, seus instrumentais e a sua aplicabilidade para o serviço social.

Neste sentido, para uma melhor compreensão acerca do tema, faz-se necessário entendermos a origem da teoria geral da admi-nistração, as principais teorias administrativas e a transição para a administração como técnica social (teoria das organizações).

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Administração e Planejamento em Serviço Social14

1.1 Abordagens conceituais de administração

A administração é uma ferramenta que é inerente ao cotidiano de todas as pessoas. Qualquer processo que venhamos a desenvolver precisamos planejar e administrar algo.

Podemos utilizar como exemplo uma simples reforma ou construção de uma casa. Paremos um pouco para pensarmos sobre isso.

Para realização dessa reforma, primeiro o engenheiro precisa planejar e projetar o que pre-tende fazer, depois contratar os profissionais ne-cessários (pedreiro, carpinteiro, eletricista, pintor, dentre outros), bem como escolher o fornecedor para a compra da matéria-prima (telha, cimento, madeira, etc).

Em seguida, o acompanhamento e adminis-tração de todo o desenvolvimento da obra são imprescindíveis para que o objetivo final seja alcançado.

Neste exemplo, podemos constatar que a ad-ministração está em tudo que fazemos ou pensa-mos em realizar, desde um evento, uma aula aca-dêmica, comercialização de algo, ou uma linha de produção.

Desta forma, para iniciarmos o nosso estudo, precisamos primeiramente compreender o que sig-nifica a palavra administração. Você poderia refletir alguns minutos sobre o que realmente seria a administração?

A palavra administração é derivada do latim ad (que significa direção, tendência para) e minis-ter (subordinação ou obediência), ou seja, significa aquele que realiza uma função abaixo do comando de outrem, isto é aquele que presta serviço a outro (CHIAVENATO1,2007, p 04).

1 Idalberto Chiavenato é o estudioso da área de administração mais conhecido no país.

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15Tema 1 | Principais teorias da administração

Esse autor também esclarece que administração é o processo ou meio de planejar, organizar, dirigir e controlar a ação de uma organização com a finalidade de alcançar os objetivos globais.

Por isso, como vimos, pensar em administração remete-nos a percebermos que a prática adminis-trativa sempre esteve presente no cotidiano de todas as sociedades. Esta prática é percebida desde o desenvolvimento e a realização das atividades domésticas, atividades como a pesca, e em todas as relações de produção estabelecida por cada povo.

Percebemos, também através da história da humanidade, que sempre houve alguma forma de associação entre os homens para que através do esforço conjunto atingissem os objetivos que isola-damente não seria possível.

Através dos dados históricos encontramos alguns exemplos de dirigentes que foram capazes de planejar e guiar milhares de trabalhadores na construção de monumentais obras, como Egito, Mesopotâmia, Assíria, bem como grandes estrate-gistas, a exemplo de Alexandre, o Grande2 (356 a.C – 323 a.C).

Estes modelos revelam-nos que no decorrer da história sempre existiu uma forma rudimentar de administrar as organizações.

Desta forma, podemos extrair uma primeira ideia de que o processo de administrar está for-temente vinculado a qualquer situação em que pessoas utilizam-se de determinados recursos para atingir um objetivo final.

A história revela-nos, também, que os prin-cipais acontecimentos que caracterizaram os primórdios da administração foram permeados pelos fatos sociais, econômicos e políticos que formavam o cenário onde estavam contidas as organizações do passado.

2 Uma das persona-lidades mais fasci-nantes da história. Responsável pela construção de um dos maiores impé-rios que já existiu. Sua inteligência e gênio estratégico se tornaram lendários.Fonte: www.educacao.uol.com.br/historia

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Administração e Planejamento em Serviço Social16

Neste período, não existiam organizações da forma como conhecemos hoje. A sociedade produzia suas mercadorias através de pequenas indústrias domiciliares, não havia divisão de trabalho e a produção estava a cargo dos artesãos.

Esses artesões eram responsáveis em definir qual seria a matéria-prima que seria utilizada, ir em busca dessa matéria-prima, confeccionar o material e vendê-lo nas proximidades.

Este modelo era básico e regido por regras próprias conforme suas necessidades e o mercado desses produtos girava em torno da região.

Desta forma, já podemos perceber que o primeiro método de organização foi o sistema do-méstico de produção. Neste modelo de sistema, o comerciante fornecia a matéria-prima aos traba-lhadores individualmente, que utilizando suas pró-prias ferramentas transformavam-nas em produtos para comercialização.

Este modelo era caracterizado pelo controle total dos artífices e artesãos em todas as fases da produção, ou seja, eles possuíam uma visão global do processo produtivo do início até a sua conclusão.

Por volta do início do século XVIII, houve um grande crescimento do mercado consumidor, refle-tindo na ampliação do comércio. Contudo, o siste-ma doméstico tornou-se insuficiente no suprimento das novas demandas de produção, o que possibili-tou o surgimento das fábricas.

Somente a partir da segunda metade do mesmo século, sob a forte influência da revolução industrial3 , que inicia com a invenção da máquina a vapor, houve a necessidade de organizar e controlar a produção em larga escala.

3 Aconteceu na Inglaterra e encerrou a transição entre feudalismo e capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção.Fonte:www.culturabrasil.

org/revolucaoindustrial.htm

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17Tema 1 | Principais teorias da administração

Esse fenômeno provocou o aparecimento e estruturação de grandes empresas e da moderna administração, ocasionando em rápidas e profundas mudanças econômicas, sociais e políticas.

O que se percebeu foi a grande mudança na forma de trabalho que alterou os padrões econô-micos e sociais da época. A habilidade do artesão foi substituída pela máquina, ocasionando uma produção com maior rapidez, melhor qualidade e menor custo.

Porém, a principal consequência da revolução industrial foi o surgimento da organização e de empresas modernas. A produção passa a ser em larga escala, atende-se a mercados mais distantes aperfeiçoando assim os meios de transporte.

Desta forma, com a revolução industrial desenvolvem-se novas formas de organização do trabalho, amplia-se a concorrência, e surge a necessidade de capacitação para a produção.

Por outro lado, no campo social, vários fo-ram os impactos ocasionados pela revolução in-dustrial. O desenvolvimento da máquina muda a relação homem com a natureza; cresce o êxodo rural e surgem os centros industriais e a produção familiar é substituída pela produção nas fábricas (MOTTA, 2001, p. 03).

A revolução industrial deu início à era indus-trial, que passaria a definir o modelo econômico mundial até o final do século XX. Este modelo eco-nômico seria o divisor e diferenciador entre os paí-ses industrializados dos países não industrializados.

A partir desses fatos as empresas sentiram a necessidade de maior estruturação no atendimento às demandas da sociedade. Estabeleceram, portanto, novas formas de pensar o processo administrativo no enfrentamento da concorrência pela busca do oferecimento de produtos com qualidade e menor custo.

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Administração e Planejamento em Serviço Social18

Com o progressivo crescimento do tamanho e da complexidade das empresas, a administração começou a vivenciar certos desafios e dificuldades para os seus dirigentes.

Esses fatos foram fundamentais no processo administrativo, pois serviram de berço para a estrutu-ração de estudos científicos com a finalidade de aper-feiçoar o processo de produção das organizações.

Nesse momento surgiu a necessidade de uma teoria da administração que permitisse ofe-recer modelos e estratégias adequadas à solução de cada problema empresarial. Assim, as teorias administrativas nasceram como pilar científico da administração.

E por falar em teoria da administração, ela nada mais é que um conjunto de ideias, princípios e normas que se complementam para levar a ciência administrativa ao cotidiano das pessoas e das organizações, com a finalidade de gerar desenvol-vimento, visando alcançar com eficácia e eficiência4 a produtividade e o lucro.

Essas teorias administrativas estabeleceram-se no início do século XX e influenciaram e contribuíram para o desenvolvimento das organizações.

Os primeiros esboços de uma teoria geral da administração, segundo Chiavenato (2007), surgiram com as seis variáveis básicas, chamada ênfase nas tarefas, na estrutura, nas pessoas, no ambiente, na tecnologia e nas competências e competitividade.

4 Conceito que será estudado no item 1.4 deste capítulo.

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19Tema 1 | Principais teorias da administração

Essas variáveis suscitaram diferentes teorias no desenvolvimento da teoria geral da administra-ção (TGA). Elas são constituídas dos principais com-ponentes do estudo da administração das empre-sas e o comportamento delas se estrutura de forma sistêmica e complexa em que cada qual influencia e é influenciada pelos demais componentes.

Cada teoria administrativa valorizou uma ou algumas dessas variáveis básicas. As principais teorias administrativas foram:

• 1903 – Administração científica;• 1909 – Teoria da burocracia;• 1916 – Teoria clássica da administração;• 1932 – Teoria das relações humanas;• 1947 – Teoria estruturalista;• 1951 – Teoria dos sistemas;• 1953 – Abordagem sociotécnica;• 1954 – Teoria neoclássica;• 1957 – Teoria comportamental;• 1962 – Desenvolvimento organizacional;• 1972 – Teoria da contingência.

Todas essas teorias administrativas foram importantes, pois surgiram como resposta aos pro-blemas empresarias de sua época. Essas respostas valorizavam uma ou algumas variáveis básicas da teoria geral da administração.

Esse avanço da ciência administrativa, que visava alcançar as rápidas mudanças ocorridas no mundo industrial, foi embrionado pela busca e adaptações necessárias para a sobrevivência das organizações em geral.

No próximo item estudaremos a importância de algumas teorias para a ciência administrativa, como também suas origens e precursores.

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Administração e Planejamento em Serviço Social20

LEITURA COMPLEMENTAR

CHIAVENATO, Idalberto. Administração: teoria, processo e prática. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

Nesta obra o aluno encontrará o conceito mais abrangente do surgimento da administração como ciência, bem como a reflexão do surgimento da teoria geral da administração (TGA)

MOTTA, Fernando C. Prestes. Teoria das organi-zações – evolução e crítica. São Paulo: Thomson, 2001.

Na primeira parte desta obra o aluno encontrará uma reflexão acerca da teoria administrativa e organizacional, seus precursores.

PARA REFLETIR

Como você viu neste tópico, o processo adminis-trativo sempre esteve presente na sociedade muito antes de se estabelecer enquanto ciência. Vimos também algumas transformações sociais e econô-micas ocasionadas pela revolução industrial.

Você consegue observar as mudanças geradas, por esta revolução, no comércio e nas organizações de seu município hoje? Realize uma pesquisa sobre essas mudanças locais e discuta com seus colegas.

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21Tema 1 | Principais teorias da administração

1.2 Principais teorias de administração

Estudamos no item anterior, que a partir do século XX a administração se estabelece como ciência. As bases que fundamentaram a abordagem clássica da administração foram oriundas das consequências ocasionadas pela revolução indus-trial onde exigiu a substituição do empirismo para as bases dos estudos científicos.

Os primeiros estudos e trabalhos na área da administração foram desenvolvidos por dois enge-nheiros. O primeiro foi o americano Frederick Taylor (1856 - 1915), responsável pelo início da escola da administração científica. Sua preocupação estava voltada para o aumento da eficiência da indústria através da racionalização do trabalho.

Em seguida, o francês Henri Fayol (1841-1925) que desenvolveu a teoria clássica, em que sua preocupação era aumentar a eficiência da empresa por meio de sua organização.

As ideias desses estudiosos constituíram as bases da abordagem clássica da administração, na qual se desdobram nas seguintes orientações:

• Escola da administração científica:

A abordagem da escola da administração científica era fundamentada nas tarefas da organi-zação, e seus principais métodos científicos eram a observação e a mensuração (CHIAVENATO, 2004).

Frederick Taylor foi o primeiro teórico da administração e considerado o fundador da moderna teoria geral da administração. Seus im-portantes seguidores foram: Gilbreth (1878-1972), Gantt (1861-1919), Emerson (1853-1931), Ford (1863-1947), Barth (1860-1939).

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Administração e Planejamento em Serviço Social22

A partir de então, toda a teoria das organizações foi fundamentada em seu trabalho ou dialogou com suas ideias.

Sua preocupação em elaborar uma ciência da administração teve como ponto de partida as experiências concretas de operários, com ênfase nas tarefas.

Seus estudos estão subdivididos, primei-ramente para a racionalização dos métodos5 e sistema de trabalho, até mais do que com a racio-nalização da organização do trabalho. E em seguida houve a preocupação em definir os princípios da administração6 aplicáveis a todas as situações da empresa.

Para Taylor, inicialmente era necessário abolir o desperdício e as perdas que as indústrias sofriam no processo de produção e elevar a produtividade através da utilização de métodos e de técnicas da engenharia industrial.

Constatou-se que os operários aprendiam como executar suas tarefas observando seus com-panheiros, o que levava a diferentes métodos para executar a mesma tarefa e em tempos diferenciados.

A análise científica feita sobre esse processo era de definir um método de trabalho mais ágil. (CHIAVENATO, 2007), ou seja, a ideia era que exis-tisse uma única maneira certa de realizar o trabalho.

A intenção era substituir o método empírico por método científico. Para isso, ele buscou anali-sar cientificamente os métodos mais rápidos e os instrumentos mais adequados para se chegar à má-xima eficiência, que recebeu o nome de Organização Racional do Trabalho (ORT).

Também foi verificado que não adiantava ra-cionalizar o trabalho dos operários se seus dirigen-tes (supervisores, chefes, gerente e/ou diretor) con-tinuavam atuando no mesmo empirismo de antes.

5 Publicação do livro Administração de Ofi cinas (1903).Fonte: www.infoescola.com/administracao_/administracao-cientifi ca

6 Publicação do livro Princípios de Administração Científi ca (1911) Fonte: www.infoescola.com/administracao_/administracao-cientifi ca

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23Tema 1 | Principais teorias da administração

Desta forma, para Taylor, os princípios da administração científica visavam definir o papel e o comportamento dos gerentes e chefes. Esses princípios são:

a) Planejamento: Planejar um método de trabalho em substituição a improvisação no processo de produção.

b) Preparo: Selecionar os trabalhadores conforme suas aptidões e treiná-los para produzirem em conformidade com o planejamento.

c) Controle: Supervisão para garantir a realização do trabalho utilizando o método estabelecido.

d) Execução: Deliberar atribuições e respon-sabilidades visando disciplinar a execução do planejamento.

Um dos mais conhecidos precursores da moderna administração e divulgador das ideias de Taylor foi Henry Ford7 (1863-1947) que iniciou seu trabalho como mecânico, chegando a engenheiro chefe.

Sua maior contribuição foi a iniciação da produção em série adotando a linha de montagem, que mundialmente, essa nova visão de trabalho, ficou conhecida como modelo fordista de produção.

O fordismo é um modelo de produção em massa que revolucionou a indústria automobilística na primeira metade do século XX. Sua ideia era tornar o automóvel tão barato que todos poderiam comprá-lo.

7 Para saber mais você poderá retornar ao livro nº 24, Acumulação Capitalista e Ques-tão Social. Série Bibliográfi ca Unit, 2010, p.84

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Administração e Planejamento em Serviço Social24

Para isso, ele utilizou os princípios de padronização e simplificação de Taylor e desen-volveu outras técnicas avançadas da época.

Ford inovou a organização do processo de trabalho por possibilitar a produção em grande quantidade de produtos acabados com qualidade e menor custo possível.

• Teoria clássica da administração:

Em 1916, o engenheiro Henry Fayol publica o livro intitulado “Administração geral e industrial”. Esta publicação em todos os aspectos comple-mentava os estudos e trabalhos desenvolvidos por Taylor, pois era destinado à organização como um todo.

Enquanto a administração científica caracteri-zava-se pela ênfase na tarefa executada pelo operá-rio (a racionalização dos métodos), a teoria clássica caracterizava-se pela ênfase na estrutura (raciona-lização da estrutura administrativa) que gerencia o processo de trabalho. Essas duas teorias possuíam os mesmos objetivos que era a busca da eficiência das organizações.

Para Fayol, a garantia da eficiência dependia da organização como um todo e da sua estrutura, sejam pelos órgãos (setores, departamentos, seções, outros) ou pelas pessoas (os ocupantes dos cargos e executores de tarefas).

Uma de suas contribuições foi o desenvol-vimento de uma análise lógico-dedutivo da admi-nistração. Ele classifica como funções do adminis-trador o planejar, organizar, coordenar, comandar e controlar. Porém, dessas funções deduzem os princípios da administração.

Em relação aos princípios administrativos, que visavam garantir uma maior produtividade, os que especialmente referem-se à organização,

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25Tema 1 | Principais teorias da administração

destacam-se o princípio de comando, da divisão do trabalho, da especialização e da amplitude de controle.

Esses princípios tinham como finalidade resolver os problemas ocasionados pelas relações entre funcionários, gerados pelas alterações das relações humanas de uma empresa.

Outro conceito levantado por Fayol está na diferença entre administração e organização. Para ele a administração é o todo do qual a organização é uma das partes. A administração abrange aspectos que a organização por si só não envolve como previsão, comando e controle (CHIAVENATO, 2007).

Algumas críticas foram atribuídas à teoria clássica, como:

a) Abordagem simplificada da organização formal;

b) Ausência de trabalhos para experimentos e mensuração para fundamentação científica às afirmações;

c) Mecanicismo da abordagem;

d) Abordagem incompleta da organização e a visualização como se fosse um sistema fe-chado, sem a influência do meio ambiente.

A passagem da administração científica para a teoria das relações humanas teve como pre-cursor o psicólogo industrial George Elton Mayo (1880 – 1949).

Mayo realizou importantes estudos acerca da influência dos fatores psicológicos no processo de produção. Seus estudos continuam, ainda hoje, a influenciar o estilo de gerenciamento das empresas.

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Administração e Planejamento em Serviço Social26

Ele defendia a necessidade de humanizar e democratizar a administração. Suas análises possu-íam como foco a ênfase nas pessoas.

A teoria das relações humanas ou escola hu-manística da administração surgiu nos Estados Uni-dos, e foi desenvolvida por Elton Mayo (1880-1949) após conclusões de uma série de experiências realizadas em uma fábrica de Hawthorne8.

Os estudos e experiências aconteceram entre os anos de 1924 e 1932, e se tentava estudar o impacto das condições físicas de trabalho (ilumina-ção e horários de trabalho) na produtividade dos operários. Mayo detectou que a produtividade se mantinha ou aumentava, quando a intensidade da luz aumentava em excesso ou era reduzida abaixo do aceitável.

Essa experiência permitiu o delineamento dos princípios básicos da escola de relações huma-nas. Neste estudo Mayo sugere um tipo de relação entre moral, satisfação e produtividade.

Estudamos anteriormente que na adminis-tração científica a ênfase estava focada na tarefa. Porém, na teoria clássica da administração vimos que a ênfase estava voltada para a estrutura orga-nizacional.

Neste momento, com o início do pensar em uma abordagem humanística, a administração muda novamente de foco, tendo como ênfase as pessoas que participam da organização. Ou seja, se antes havia uma preocupação com o método de trabalho, com a máquina, e com os princípios da administração, na abordagem humanística a priori-dade está voltada para uma preocupação com as pessoas.

A abordagem humanística começou a ser for-mulada após a morte de Taylor. As ideias de Mayo inspiraram toda uma linha administrativa, que ficou conhecida pelo nome de relações humanas.

8 Em 1927 foi reali-zada a experiência de Hawthorne numa fábrica da Western Eletric Company, situada em Chicago. A experiência de Hawthorne teve o objetivo de detectar a relação entre a intensidade da iluminação e a competência dos operários, medida por meio do ritmo de produção.Fonte: www.infoescola.com/administracao_/experiencia-

de-hawthorne

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27Tema 1 | Principais teorias da administração

Porém, só a partir da década de 1930, a teoria das relações humanas começou a ser aceita nos Estados Unidos. Esta teoria sofreu forte influência do desenvolvimento das ciências sociais9, principal-mente da psicologia.

As ideias de Mayo trouxeram um novo pensar e uma nova linguagem para a administração, como:

• O “homo economicus” é substituído pelo “homo social”. Para ele o homem deve ser compreendido como todo e seu comportamento não pode ser reduzido a esquemas mecanicistas.

• Começa a utilizar termos como moti-vação, liderança, comunicação, organi-zação e dinâmica de grupo. O homem passa a ser visto e movido por necessi-dades de segurança, aprovação social, afeto, prestígio e autorrealização.

O método e a máquina perdem o valor prioritário e são substituídos pela dinâmica de grupo. De uma forma ou de outra, houve uma “psicologização” das relações de trabalho.

LEITURA COMPLEMENTAR

FERREIRA, Delson. Manual de Sociologia – dos clássicos à sociedade da informação. São Paulo: Editora Atlas, 2009

Nesta obra o aluno poderá compreender o desenvol-vimento das ciências sociais, as abordagens teóricas e suas influências nas demais ciências.

9 Na década de 30, a vitalidade da sociologia durkhei-miana é atestada pela fecundidade de grandes temas e trabalhos com novos objetos de pesquisa como psicologia, eco-nomia e geografi a humana (FERREIRA, 2009, p. 78)

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Administração e Planejamento em Serviço Social28

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 7. ed. São Paulo: Campus, 2004.

Nesta obra o aluno, encontrará análises de diversas teorias da administração, suas características, possibilidades de aplicação e indispensáveis à prática administrativa.

PARA REFLETIR

As ênfases estudadas neste item (tarefas, estruturas e pessoas) estão presentes nas relações de trabalho no mundo contemporâneo.

Faça uma pesquisa pelas empresas do seu município e tente perceber e identificar nas relações de trabalho qual das ênfases estudadas são perceptíveis.

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29Tema 1 | Principais teorias da administração

1.3 Transição: Teoria da administração para teoria das organizações

No item anterior vimos que a influência da escola de relações humanas de Mayo inaugura a preocupação psicossocial no campo da administração. A partir desta influência poderemos considerar que a administração é uma técnica social de lidar com pessoas e processos.

Dentre as teorias e reflexões teóricas que influenciaram a concepção e o processo adminis-trativo, encontramos no final da década de 1940 o surgimento da teoria comportamental.

Essa teoria não é considerada uma teoria admi-nistrativa, e sim um movimento em que se preocupa em aplicar as ciências do comportamento na admi-nistração. Essa linha teórica ficou conhecida como behaviorismo10.

A palavra Behaviorismo deriva do termo inglês behaviour (Reino Unido) ou behavior (EUA) que significa comportamento, conduta. É, portanto, um termo universal que congrega correntes de pensamento na Psicologia que tem em comum o comportamento como objeto de estudo.

Desta forma, o behaviorismo enquanto teoria do comportamento adentrou fortemente na teoria administrativa, gerando uma nova concepção e novo enfoque dentro da teoria administrativa: a abordagem das ciências do comportamento (CHIA-VENATO, 2007).

Esta nova percepção possuía uma ideia mais ampla do enfoque das relações humanas. Sua ênfase estava voltada para as pessoas dentro do contexto organizacional, ou seja, essa teoria baseava-se no comportamento individual para esclarecer o comportamento organizacional.

10 Fonte: www.adminis-tradores.com.br/informe.../behaviorismo

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Entendia-se, portanto, que toda vida mental era refletida através dos atos, atitudes, gestos, pa-lavras, ou qualquer expressão do homem em relação a estímulos do meio ambiente.

Esse enfoque da abordagem comportamental possui duas concepções de mudança. Ela altera a preocupação que antes estava na estrutura para a preocupação com os processos organizacionais, por outro lado o enfoque do comportamento das pessoas na organização passa a ser visto com com-portamento organizacional como todo.

Assim, a teoria do comportamento suscitou novos conceitos como: motivação, liderança, comunicação, dinâmica de grupo, comportamento organizacional, dentre outros.

Este pensamento remete-nos, então, à com-preensão de que gerir a organização é gerir um sis-tema social, alicerçado no conhecimento dos meca-nismos da motivação humana e do funcionamento de sistemas sociais complexos.

Então, entender o papel de um gestor trans-cende a ideia de chefe hierárquico ou de um espe-cialista técnico, mas sim uma pessoa habilitada na condução de homens e capaz de motivar os indiví-duos que integram a organização.

Na década de 1960, após o surgimento da te-oria comportamental, alguns cientistas sociais e con-sultores de empresas desenvolveram uma abordagem dinâmica, democrática e participativa que foi denomi-nada de Desenvolvimento Organizacional (DO).

A pretensão desses estudiosos era realizar uma mudança das organizações de forma que estas se transformassem em sistemas sociais.

Este período foi percebido como o momento de repensar a teoria geral da administração e que sugeria a ênfase em outras variáveis, como ambiente e tecnologia. Assim, consolida-se a influência na teoria das organizações.

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31Tema 1 | Principais teorias da administração

A teoria das organizações, portanto, foi produto de uma alteração na teoria da adminis-tração, tendo como fundamento a evolução da sociologia, ciência política e da psicologia social nos Estados Unidos.

Esse movimento versava em um conjunto de ideias a respeito do homem, da organização e do ambiente, com a finalidade de proporcionar o cres-cimento e desenvolvimento das organizações.

A ideia era tentar estudar o sistema social em que a administração se exerce em face das determi-nações estruturais e comportamentais.

Relembremos que a preocupação que até então estava voltada para a produtividade (seja através das tarefas, estrutura ou pessoas), neste momento dá lugar à eficiência do sistema.

Assim, podemos definir que todas as insti-tuições são organizações e o que elas possuem em comum são os aspectos administrativos.

As organizações são sistemas sociotécnicos com a finalidade de cumprir uma tarefa. E as instituições são organizações que congregam normas e valores considerados fundamentais para a sociedade.

Essas organizações caracterizam-se por três aspectos importantes:

a) Objetivos: São resultados futuros que se pretende atingir, ou seja, são os alvos es-colhidos que se pretende alcançar em um determinado período.

b) Administração: Cada organização possui seus objetivos que diferenciam das de-mais organizações. Contudo, as organiza-ções assemelham-se na sua composição administrativa.

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c) Desempenho individual: As organizações são imaginações legais que por si só nada fazem, controlam ou planejam. São, por-tanto, as pessoas que decidem e planejam, isto é, movem e dinamizam a organização.

Peter Drucker (2001) pontua que:

Após a segunda guerra, come-çamos a perceber que admi-nistração não é administração de empresas. Ela é pertinente a todos os empreendimentos humanos que reúnem, em uma única organização, pessoas com diferentes conhecimentos e ha-bilidades. [...] A administração tornou-se a nova função social mundial. (Drucker, 2001, p. 27)

A administração, bem como suas funções tem sido constantemente influenciada diretamente pelo progresso dinâmico da ciência. No entanto, a admi-nistração ainda continua sendo a ferramenta básica para capacitação das organizações e o alcance dos objetivos organizacionais.

As organizações sempre existiram, desde a história antiga. Exemplos disso são os faraós que utilizaram as organizações para construírem as pi-râmides e os primeiros Papas que criaram uma igre-ja universal a fim de servir a uma religião universal.

Na sociedade moderna, as organizações es-truturavam-se com a finalidade de satisfazer uma diversidade de necessidades sociais e pessoais, dentre elas a de organizar-se. Desta forma, a partir do desenvolvimento do estudo da administração, os instrumentos de planejar, coordenar e controlar foram se aprimorando.

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33Tema 1 | Principais teorias da administração

Desta forma, podemos perceber que toda organização possui três elementos fundamentais para sua existência: pessoas, tarefas e administração.

Na administração encontramos a estruturação de funções essenciais no processo administrativo, como: planejamento, organização, liderança e con-trole do desempenho das pessoas, organizada para a tarefa. Outro ponto fundamental sobre as organizações é que elas existem dentro de um meio ambiente.

Mas o que realmente é organização? Você sabe que todos nós nascemos em organizações, somos educados por organizações e chegamos até a trabalhar em organizações. Isto é, a nossa socie-dade é uma sociedade de organizações.

Essa sociedade de organizações possui uma diversidade de finalidades e objetivos. Porém, mes-mo possuindo uma independência organizacional, existe uma necessidade de comunicação entre as demais organizações. Ou seja, as organizações con-tratam entre si os serviços para execução de suas próprias funções.

Desta forma, as organizações são vinculações sociais ou agrupamentos humanos constituídos de uma forma intencional vinculadas a um objetivo específico.

São esses objetivos que definem e caracte-rizam o tipo de organização, se são de natureza econômica ou de natureza social, criadas para ob-tenção de produtos ou serviços, com a finalidade de lucro ou não.

As organizações consideradas de natureza econômica possuem uma característica específica de empresa com a finalidade lucrativa. Porém, as organizações de natureza social estão voltadas às ações comuns ou consideradas de utilidade pública, firmadas em valores e normas sociais, sem finalidade lucrativa.

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Para uma melhor compreensão poderemos dividir os tipos de organizações como:

a) Primeiro setor (organizações do governo): São organizações geridas e administradas pelo governo e possuem como finalidade a prestação de serviços à comunidade em geral e sua manutenção se dá através de arrecadações de impostos, taxas e contribuições.

c) Segundo setor (organizações empre-sariais): Essas organizações possuem como finalidade o lucro e a comerciali-zação de produtos e/ou serviços. Essas organizações são classificadas conforme o seu tamanho, natureza jurídica e área de atuação.

c) Terceiro setor: É caracterizado pelas orga-nizações de utilidade pública, sem fins lu-crativos. São criadas por pessoas que não possuem nenhum vínculo com o governo. Nesta característica encontramos as Or-ganizações não-governamentais (ONG’s), organizações filantrópicas e outras formas de associações civis sem fins lucrativos.

Toda organização pode ser considerada como entidade social, por ser constituída por pessoas e é regida pelos objetivos, pois é delineada para al-cançar resultados.

A organização pode ser figurada, primeira-mente como organização formal que é baseada em uma divisão de trabalho natural. Ela é planejada, definida em organograma e legislação própria, ou seja, é formalizada oficialmente.

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35Tema 1 | Principais teorias da administração

Em segundo, a organização informal é a que surge espontaneamente entre as pessoas, solidi-fica-se nos costumes, tradições, ideais e normas sociais.

O estudo, técnicas e funções da administração são necessárias e importantes para as organizações, tendo em vista que:

a) As organizações precisam ser gerenciadas.

b) Possuem objetivos e metas a atingir.

c) Conseguem harmonizar objetivos conflitantes.

d) Permite que as organizações alcancem efi-ciência e eficácia.

LEITURA COMPLEMENTAR

DRUCKER, Peter F. O melhor de Peter Drucker – A administração. Tradução de Arlete Simille Marques. São Paulo: Nobel, 2001.

Nesta obra o aluno encontrará um condensado das ideias do autor, já relatada em outras obras, sobre as funções, fundamentos e responsabilidades da administração.

HELOANI, Roberto. “Organização do trabalho e administração: uma visão multidisciplinar”. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

Neste livro o aluno encontrará um estudo crítico das teorias de administração através do tempo.

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PARA REFLETIR

Como estudamos anteriormente, diversas são as organizações presentes na sociedade moderna.Observe e tente identificar, pelo tipo, quantas e quais são as organizações presentes no seu município. Fale com seu tutor para auxiliá-lo.

1.4 Modelos gerenciais na organização de trabalho

Neste item estudaremos alguns modelos gerenciais que influenciam na condução das organizações. Primeiramente se faz necessário entendermos o que significa a palavra modelo.

Quando pensamos no nosso cotidiano em modelo, podemos pensar em algo ou alguém que em algum momento nos serviu de exemplo, como professores, amigos, parente, etc.

Ou também, em modelo enquanto estrutura, a exemplo: modelo familiar, modelo político, modelo pedagógico, etc.

O grande dicionário da língua portuguesa (2010) define a palavra modelo como forma, molde ou aquilo que serve ou deve servir como objeto de imitação. Já gestão é a arte ou efeito de gerir, administrar, gerenciar ou dirigir.

Desta forma, poderemos extrair uma primeira ideia, de acordo com o significado dessas palavras, que modelo de gestão é, portanto, a arte de gerir ou gerenciar através de um exemplo que já existe, realizando as adequações necessárias em conformidade com as demandas de cada organização.

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37Tema 1 | Principais teorias da administração

Em um conceito mais elaborado, o modelo de gestão trata-se de um conjunto de entendimentos filosóficos permeado por conceitos administrativos que operacionalizam as práticas gerenciais nas organizações.

Observe que, a palavra ou o conceito de modelo carrega um conjunto de relações humanas e sociais, que a medida do tempo são estabelecidas com as pessoas. No campo da gestão, numa perspectiva mais instrumental, o gerir significa organizar, modelar os recursos financeiros e mate-riais da organização, bem como as pessoas que a compõem.

Pensando assim, num modelo de gestão são congregadas duas dimensões que estão sempre presentes, a forma que se refere à estrutura, confi-guração organizacional e função que é a finalidade, refletida nas tarefas que precisam ser executadas.

Uma das características do Modelo de Gestão é considerá-lo como uma ferramenta baseada em conhecimento e experiências anteriores como cam-po propício à elaboração de métodos e técnicas de administrar, adequando-os à organização em conformidade com suas necessidades, cultura e processos.

A finalidade maior dos modelos de gestão é promover e facilitar o alcance da eficiência, eficácia e efetividade. Esses indicadores são mensurados através de uma avaliação de desempenho do modelo de gestão adotado.

Compreendendo melhor esses três indicadores, poderemos perceber que:

• Eficiência: Significa realizar as tarefas de maneira coerente, relacionando os resul-tados com os recursos disponíveis, ou seja, fazer as coisas bem e corretamente.

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• Eficácia: Significa atingir os objetivos, relacionando-os com os fins e propó-sitos. Uma atividade foi eficaz quando se percebe que os objetivos propostos foram alcançados.

• Efetividade: É quando além de atingir os objetivos propostos, utilizando os recursos de maneira coerente, também proporcionou alguma contribuição à sociedade.

Quando as primeiras teorias da administração surgiram, no contexto da revolução industrial, os princípios da administração estavam voltados a indicar aos gerentes como administrar as empresas baseando-se nas tarefas a serem executadas.

Logo se buscou estabelecer um novo para-digma de qualidade. Para isso, o conhecimento co-meçou a ser embutido no cotidiano industrial, bem como nas novas técnicas de trabalho.

Neste período, o campo do conhecimento da administração foi se firmando, bem como o deline-ar dos primeiros modelos de gestão com o intuito de capacitar as organizações para uma maior efici-ência produtiva.

Nesta perspectiva, são desenhadas as primeiras percepções sistemáticas de modelos de gestão or-ganizacional. Conhecido como modelo de gestão tradicional, encontramos os modelos mecânico e orgânico.

Na constituição desses modelos, já estuda-dos no item anterior, os três importantes formula-dores do modelo mecânico de gestão são Taylor, Ford e Fayol. Neste modelo há centralização das decisões o que promove um controle hierárquico absoluto da rotina. Isso torna a organização pesa-da, lenta impedindo as mudanças e inovações.

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39Tema 1 | Principais teorias da administração

Logo após esse período, nova proposta de gestão se abre para o modelo orgânico. Influen-ciado pela abordagem humanística, esse modelo é caracterizado pela descentralização das decisões, redução da hierarquia, delegação de autoridade e responsabilidade para as pessoas.

A partir da segunda metade do século XX11, algumas crises abateram o sistema político e econômico o que foi refletido no enfraquecimento dos modelos administrativos. Isso levou ao surgi-mento de novas teorias que buscavam ampliar o foco de atenção a gestão. (FERREIRA, 2005).

Desta forma, percebeu-se a necessidade de modelos que vislumbrassem um ambiente organi-zacional mutável e diferenciado, no qual as empresas iriam adaptar-se visando à sobrevivência e crescimento.

Nos últimos 30 anos, as organizações come-çaram a se preocupar e se conscientizar da impor-tância da revisão dos seus modelos de gestão: as empresas privadas, motivadas pela sobrevivência no mercado devido competitividade, e as empresas públicas, motivadas pela capacidade de desempenhar bem a sua missão, que é o atendimento com qualidade na prestação de serviços destinados a sociedade.

Surgem, assim, os novos modelos de gestão em que suas principais características perpassam pela orientação para o cliente, estrutura organiza-cional flexível, estilo participativo de gestão enfo-cando o trabalho em grupo e relações de parceria com outras empresas.

Apresentaremos algumas características bási-cas dos novos modelos de gestão:

11 Os impactos e refl exos ocasiona-dos pela II guerra mundial (1939-1945)

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• Administração japonesa:

O primeiro modelo de gestão a ser estrutu-rado foi a administração japonesa. Este modelo foi considerado como um grande marco na história da administração.

No período pós II Guerra Mundial, o Japão precisou reestruturar suas indústrias, o que levou à superação, em um curto espaço de tempo, tornan-do-se um grande símbolo de evolução. Surge, en-tão, uma tendência de explicar a recuperação da in-dústria a partir do modelo japonês de organização, ou modelo Toyota de gestão ou ainda toyotismo12.

Sua principal característica foi a implantação da qualidade total, bem como o controle de quali-dade total e dos Círculos de Controle de Qualidade (CCQ).

Sua filosofia básica de gestão era pautada no trabalho em equipe, na relação de fidelidade com o funcionário, oferecendo-lhe participação nos lucros e garantia de emprego vitalício em troca de uma maior dedicação dos trabalhadores e qualidade total do processo.

• Gestão participativa:

É um modelo de gestão atual e contemporâ-neo no qual sua prioridade está nas pessoas, que fazem parte da organização.

No gerenciamento participativo existe um comprometimento individual com os resultados (eficiência, eficácia e qualidade). As condições organizacionais e os comportamentos gerenciais proporcionam um ambiente de estímulo à parti-cipação de todos os funcionários no processo de administrar.

12 Toyotismo é o modelo japonês de produção, criado pelo japonês Taiichi Ohno e implantado nas fábricas de automóveis Toyota, após o fi m da Segunda Guerra Mundial. Fonte: www.infoescola.com/

industria/toyotismo

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41Tema 1 | Principais teorias da administração

O objetivo desse modelo pretende melhorar a qualidade dos processos e da produtividade, utilizar a flexibilidade na utilização dos recursos e modificar o clima organizacional.

A forma de participação dos funcionários caracteriza-se da seguinte forma:

a) Nos círculos de controle de qualidade (CCQs);

b) Grupos semi-autônomos ou células de produção;

c) Grupos de melhoria contínua ou times de qualidade;

d) Comissão de fábrica.

• Gestão empreendedora:

O modelo de administração empreendedora teve seu marco no início de década dos anos de 1980, marcado pela pretensão em recuperar a com-petitividade das empresas americanas em relação às japonesas.

Surge a necessidade de “reinventar a organi-zação”, diante da exaustão de seu modelo de gestão tradicional. Desta forma, a gestão empreendedora possuía como filosofia de trabalho a busca da inova-ção direcionada para resultados através de equipes empreendedoras. Todos os funcionários da empresa passam a atuar como pequenos empreendedores.

Este modelo é extremamente predisposto às inovações e mudanças sempre as considerando como oportunidade ao invés de uma ameaça.

Esta linha de gestão defendia a ideia de busca constante de inovação gerencial, gestão estratégica e a relação inter empresarial marcada pela busca de parceria com outras empresas através de alianças estratégicas e terceirizações.

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Além disso, implantou horários flexíveis e buscou o desenvolvimento de um clima organiza-cional favorável, através de políticas transformado-ras de RH e do endomarketing12.

• Gestão virtual:

Como modelo de gestão contemporâneo e emergente, encontramos o que é caracterizado pe-las empresas virtuais, e que buscam oferecer serviço diferenciado, porém não se percebe os contornos da estrutura organizacional.

As principais características desse modelo es-tão na inovação em produtos e serviço, automação das funções administrativas e estilo participativo de gestão. Nesse modelo de gestão virtual encon-tramos como um dos exemplos os bancos virtuais, sendo este uma grande demanda para a sociedade contemporânea.

LEITURA COMPLEMENTAR

CARDOSO, Cármen; CUNHA, Francisco Carneiro da. Gerenciando processos de mudança: a arte de enfrentar e administrar resistências nas organizações. Recife: INTG, 1999.

O aluno encontrará alguns tipos de gestão, dentre elas o modelo de gestão participativa.

FERREIRA, Vitor Cláudio P. Modelos de gestão: série gestão de pessoas. Rio de Janeiro: FGV, 2005.

Esta obra apresenta uma visão ampla e reflexiva sobre alguns modelos de gestão e quais suas concepções.

12 É toda e qualquer ação de marketing voltada para a satisfação e aliança do público interno com o intuito de melhor atender aos clientes externos. Fonte:www.portaldomarketing.com.br/artigos/endomarketing.htm

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43Tema 1 | Principais teorias da administração

PARA REFLETIR

Procure identificar quais características, dos modelos estudados, você conhece. Relacione-as a organiza-ções do seu município.

Lembre-se de discutir com os colegas no encontro presencial.

RESUMO

Aprendemos neste item que a administração, en-quanto técnica, sempre esteve presente na dinâmica da sociedade desde a história antiga. A teoria geral de administração (TGA) surgiu por consequência da revolução industrial a qual exigiu a substituição do empirismo para as bases dos estudos científicos.

Os precursores da TGA estabeleceram os primeiros métodos administrativos a partir de diferentes ênfases, em que estudamos Taylor, Ford, Fayol e Mayo.

Por fim, vimos que as ideias desses estudiosos serviram para desenhar os modelos tradicionais de gestão. Em seguida, os novos modelos foram instituídos através de experiências e definidos como toyotismo, participativo, empreendedor. Atual-mente, em emersão está o modelo de empresa virtual.

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Administração de Serviços2Neste item estudaremos as ferramentas administrativas a partir

de suas funções e princípios, a estrutura de modelo de gestão de pessoas, como se estrutura o serviço social na empresa, bem como a responsabilidade social das organizações, em que é considerado um dos campos de atuação do assistente social.

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Administração e Planejamento em Serviço Social46

2.1 As funções de administração

Estudamos, anteriormente que o processo administrativo sempre esteve presente no cotidia-no e na dinâmica da sociedade.

Vimos no capítulo anterior que sempre houve a necessidade de estabelecer os métodos de organiza-ção do trabalho hierárquico. Administrar, então, pode ser estabelecido como um processo de aplicação de princípios e funções visando ao alcance de objetivos.

A administração não é uma atividade exe-cutora de ações, mas condutora de pessoas e de recursos humanos, técnicos e financeiros para a re-alização dos objetivos.

Na abordagem da teoria clássica, estabelecida por Fayol na qual há a ênfase na estrutura organiza-cional, a abordagem estava voltada para uma visão sintética, global e universal. Em outras palavras, a organização formal é estruturada de diferentes ór-gãos, suas relações e suas funções dentro do todo.

Ele definiu que, em uma organização, existem as funções administrativas e outras funções não ad-ministrativas ou funções operacionais. Na estrutu-ra organizacional cabe aos níveis mais elevados o predomínio das funções administrativas, sendo que, nos demais níveis e cargos predominam as demais funções, caracterizadas como não administrativas.

Toda empresa exerce seis funções básicas que são consideradas essenciais a toda organização:

• Funções técnicas (produção ou operações): É a parte da empresa que possui a finalidade

de realizar a transformação da matéria-prima em produtos ou serviços para atender às necessidades do cliente.

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47Tema 2 | Administração de serviços

• Funções comerciais (marketing):É responsável em estabelecer as relações en-

tre os clientes e a organização. Também, realiza pes-quisa para o desenvolvimento de produtos, bem como, estabelece política de preço, distribuição e divulgação ou publicidade e propaganda.

• Funções financeiras: É responsável por toda a política dos recur-

sos da organização. Possuem como responsabili-dade os financiamentos, investimentos, controle e condução dos recursos.

• Funções contábeis: São atribuições que atuam interligadas às fun-

ções financeiras, e são responsáveis pela realização dos inventários, registro, orçamento, balanços, custos e estatística da organização.

• Funções de segurança: A principal finalidade dessa função está em

proporcionar a proteção e preservação dos bens e das pessoas. Atualmente as organizações contempo-râneas têm atrelado essa função à gestão de pessoas.

• Funções administrativas:São atribuições que integram a hierarquia

maior às demais funções. As funções administra-tivas coordenam e comandam as outras cinco fun-ções (não administrativas), constituindo-se na mais importante.

As funções administrativas, desta forma, estabelecem as próprias atribuições e funções do administrador. Para Fayol, o ato de administrar é composto por cinco funções administrativas, como planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar.

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O papel e o trabalho de um administrador ou dirigente são estabelecidos através das tomadas de decisões, definição de metas, diretrizes e delegação de tarefas. Desta forma, as funções administrativas são fundamentais e sem elas o ato de administrar seria incompleto.

As várias funções do administrador ou diri-gente, consideradas numa perspectiva global, com-põem o processo administrativo. Ou seja, as ações de planejar, organizar, comandar, coordenar e con-trolar, quando consideradas separadamente consti-tuem em funções administrativas. Porém, quando visualizadas na sua abordagem total para o alcance dos objetivos, constituem, portanto em processo administrativo.

Desta forma, as funções administrativas não são estáticas, elas formam um processo ciclo ad-ministrativo e à medida que esse ciclo repete-se esse processo é realimentado criando contínuos ajustamentos das funções.

Essas funções são constituídas pelos seguin-tes elementos da administração:

• Planejamento: É considerado como método ou processo de

projeção do trabalho como deverá ser realizado, considerando os equipamentos e todos os recursos organizacionais.

No processo de planejamento, as decisões adotadas determinarão o destino da empresa, por isso o planejamento é considerado a primeira fun-ção administrativa e que também define e avalia o desempenho da empresa ou organização.

O processo de planejamento de uma organi-zação pode ser caracterizado em três perspectivas distintas, como planejamento estratégico, tático e operacional.

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49Tema 2 | Administração de serviços

• Organização:É a função administrativa que se relaciona

com as atribuições de tarefas, acumulação de tare-fas em equipe e distribuição dos recursos. Isto se dá através de estabelecimento de autoridade e de recursos necessários.

Ou seja, é o processo de estruturação e ar-rumação de toda cadeia organizacional, desde o fluxo de pessoas, matérias, rotinas até métodos de trabalhos, para que assim, os objetivos possam ser atingidos eficientemente.

No planejamento é definido que objetivos a empresa deve atingir, porém, na etapa da organiza-ção, são implantadas as formas e maneiras como esses objetivos serão realizados.

• Comando: Essa função está diretamente ligada a dirigir

e orientar pessoas. A finalidade é aperfeiçoar e dinamizar a empresa através da execução das tarefas de forma eficiente pelas pessoas.

Essa função administrativa é a que necessita envolver e utilizar influência de motivação das pessoas para o alcance dos objetivos.

• Coordenação: É considerada uma das importantes funções

do administrador, pois requer a necessidade de unir, harmonizar todos os atos e esforços para atingir os objetivos.

• Controle: Essa função envolve todo procedimento de

avaliação das atividades da organização com o in-tuito de mensurar o alcance dos objetivos. Desta forma são estabelecidos padrões e indicadores de desempenho.

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Administração e Planejamento em Serviço Social50

Essa função administrativa funciona como um indicador para apontar o momento em que é necessário realimentar os objetivos.

O controle deve se fundamentar no plano de trabalho estabelecido, acompanha os resultados obtidos e avalia se houve desvio de metas.

A função de controle pode ser caracterizada em duas perspectivas, em nível organizacional que avalia o desempenho das organizações, e como crescimento de vendas, lucratividade e investimentos. Porém, o controle em nível operacional avalia os métodos, as tarefas e as pessoas.

Ao estudarmos as funções administrativas precisamos atentar que o processo administrativo apresenta duas características importantes.

A primeira, o processo administrativo é cícli-co e repetitivo, e em cada ciclo a tendência é que haja o aperfeiçoamento constante.

A segunda característica é que o processo administrativo é interativo, ou seja, cada função interage com as demais em que influencia e é in-fluenciado pelas demais.

Para Fayol, a partir das funções do admi-nistrador, ele refletiu sobre sua própria experiên-cia como gerente e identificou algumas técnicas e métodos administrativos que se desdobraram nos princípios gerais da administração. Esses princípios são universais e aplicáveis a qualquer situação que o administrador se depare na organização e orien-tam como o administrador deve proceder.

Fayol listou 14 princípios gerais da administração (CHIAVENATO, 2007), quais são:

1. Princípio da divisão do trabalho: É o prin-cípio que consiste na especialização das tarefas e das pessoas. Consiste na dele-gação de tarefas específicas a cada órgão da empresa.

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51Tema 2 | Administração de serviços

2. Princípio da autoridade e responsabili-dade: Neste princípio, tanto a autorida-de como a responsabilidade completam-se. A autoridade é o poder decorrente da posição hierárquica ocupada pela pessoa, é o direito de dar ordem e esperar obediência. Porém, a responsabilidade é uma consequência natural da autoridade.

3. Princípio da disciplina: Neste princípio é estabelecido o respeito aos acordos entre a empresa e seus agentes.

4. Princípio da unidade de comando: Defen-de que cada pessoa deve receber ordens de apenas um superior, o chefe imedia-to. Refere-se ao princípio da autoridade única.

5. Princípio da unidade de direção: Defende que existe um só comando, chefe, e um só programa para um conjunto de opera-ções que tenham o mesmo objetivo.

6. Princípio da subordinação dos interesses individuais aos gerais: Os interesses ge-rais da empresa devem justapor aos inte-resses particulares das pessoas.

7. Princípio da remuneração do pessoal: Esse princípio defende que deve-se haver justa e garantida satisfação para os em-pregados, bem como para a organização como retribuição.

8. Princípio da centralização: Esse princípio refere-se à concentração da autoridade maior no topo da hierarquia da organização.

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Administração e Planejamento em Serviço Social52

9. Princípio da hierarquia ou cadeia escalar: Defende que a autoridade deve estar or-ganizada em uma hierarquia, ou seja, em escala hierárquica sendo que um nível hierárquico deve sempre estar ligado a um nível hierárquico superior.

10. Princípio da ordem: Defende que cada coisa possui o seu lugar, ou cada lugar é para uma coisa.

11. Princípio da equidade: Pregava que no tratamento com as pessoas a disciplina e a ordem melhorariam o comportamento dos empregados.

12. Princípio da estabilidade pessoal: Enten-de que a rotatividade do pessoal é preju-dicial para a eficiência da organização. A ideia é a manutenção das equipes como forma de proporcionar o seu desenvolvi-mento.

13. Princípio da iniciativa: É a capacidade de imaginar um plano e assegurar pessoal-mente o seu sucesso.

14. Princípio do espírito de equipe: É o prin-cípio de defesa do desenvolvimento e manutenção da harmonia entre as pesso-as dentro do ambiente de trabalho.

A administração, portanto, é caracterizada pelo enfoque prescritivo e normativo. O administra-dor, portanto, deve se posicionar em todas as situ-ações por meio do processo administrativo no qual os princípios gerais devem conduzir para a obtenção da eficiência, eficácia e efetividade da organização.

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53Tema 2 | Administração de serviços

LEITURA COMPLEMENTAR

CHIAVENATO, Idalberto. Administração nos novos tempos. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

Nesta obra o aluno encontrará uma leitura mais clara e atual das funções administrativas e o papel do administrador.

HOLLANDA, Janir et al. Introdução às práticas admi-nistrativas: o administrador no terceiro milênio. Rio de Janeiro: Senac nacional, 2003.

Nesta obra o aluno encontrará uma leitura explicativa sobre as funções administrativas

PARA REFLETIR

Com base no conteúdo estudado, como você percebe o papel de um gestor diante da estrutura e das relações de trabalho que estão sendo estabelecidas na sociedade contemporânea?

Compartilhe suas opiniões com seus colegas.

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Administração e Planejamento em Serviço Social54

2.2 Gerenciando pessoas

Vimos no capítulo anterior que as organi-zações são constituídas de pessoas e dependem delas para atingir seus objetivos e cumprir suas missões. Assim, o contexto da gestão de pessoas é formado por organização e pessoas.

Desta forma, ao pensarmos em gerenciamento de pessoas devemos nos reportar à política ou administração de recursos humanos de uma organização, ou seja, à área que administra a força de trabalho.

Destarte, a administração de recursos huma-nos é o conjunto de políticas e práticas indispensá-veis para conduzir os trabalhadores ao alcance dos objetivos organizacionais e individuais envolvendo a supervisão e coordenação de pessoas.

A administração de recursos humanos surgiu no início do século XX, em decorrência do cresci-mento e complexidade das tarefas na organização, bem como, dos impactos provocados pela revolu-ção industrial nas relações funcionário e patrão.

Sob a influência da industrialização clássica, neoclássica e da era de informação diferentes abor-dagens permearam o processo de como lidar com as pessoas dentro da organização. A administração de recursos humanos passou por três etapas distintas: relações industriais, recursos humanos e gestão de pessoas (CHIAVENATO, 2010).

Inicialmente, com a denominação de re-lações industriais, a finalidade era de realizar a mediação entre a organização e os trabalhadores visando a redução de conflitos gerados entre os objetivos organizacionais em detrimento dos objetivos individuais.

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55Tema 2 | Administração de serviços

A partir de 1950, esse conceito foi ampliado passando a ser denominado de administração de pessoal, que visava não mais intermediar conflito, mas possuía a preocupação de realizar o registro dos funcionários. Ou seja, era o setor responsável pelas rotinas trabalhistas e de administrar as pessoas em conformidade com a legislação desta área. Este setor também se responsabilizava pela realização de treinamentos, avaliação de desempenho, controle de faltas, entre outras tarefas.

A partir da década de 1970, surgiu o conceito de recursos humanos. Nesta nova concepção, a ideia não era somente cuidar da remuneração, avaliação e treinamento, mas possuía como preocupação o desenvolvimento organizacional como todo.

Então o departamento de recursos humanos era responsável também em proporcionar aos fun-cionários sua integração com a organização através da coordenação de interesses entre a empresa e os trabalhadores.

Desta forma, havia uma preocupação com o ambiente e qualidade de vida no trabalho, com as relações interpessoais, e com a cultura organizacional. Esses indicadores permeavam as atividades de recursos humanos na empresa.

A contribuição da teoria das relações humanas foi a ênfase em cultivar as boas relações humanas no ambiente de trabalho, a busca da realização de um tratamento mais humano às pessoas, através da adoção de processos administrativos mais democráticos.

Em seguida, uma nova visão surge, sob a influência da era da informação, que substitui o departamento de recursos humanos para o trabalho em equipe de gestão com pessoas.

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Esta nova concepção entendia que as pessoas deveriam participar da administração da empresa como parceiros e não apenas como um dos recursos. Caracteriza-se como modelo orgânico e flexível na estrutura organizacional na qual existe a predomi-nância das equipes multifuncionais de trabalho.

Esta área é interdisciplinar, pois envolve pro-fissionais diversos, seja do campo da pedagogia, psicologia, administração, entre outros. E é consi-derado também como espaço sócio ocupacional do serviço social.

O assistente social, como estrategista social, atua no âmbito organizacional subsidiando a orga-nização na elaboração, formulação e execução de políticas de gestão de pessoas.

Vamos entender um pouco as características e quais são os processos internos da gestão de pessoas.

Em uma organização, as pessoas que se co-locam em cargos de liderança desempenham as quatro funções administrativas, estudadas no item anterior. A gestão de pessoas procura, portanto, ajudar o administrador ou líder a desempenhar to-das essas funções através das pessoas que formam sua equipe (CHIAVENATO, 2010).

Outra característica da Gestão de pessoas é que podemos considerá-la como “uma via de mão dupla”, pois deve conduzir os funcionários a tra-balharem em prol da empresa para o alcance dos objetivos estabelecidos.

Por outro lado, os funcionários esperam re-ceber salários compatíveis com as funções desem-penhadas, bem como benefícios que os motivem a desempenhar suas tarefas.

Assim, o gerenciamento de pessoas deve ar-quitetar as condições de ambiente em que se estimule o capital humano e intelectual da organização de seus funcionários.

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57Tema 2 | Administração de serviços

Para isso são estabelecidos seis processos básicos da gestão de pessoas, onde existem uma relação e influência entre eles. Em relação aos pro-cessos encontramos:

• Processo de agregar pessoas:Constitui a primeira etapa do processo de

gestão de pessoas, que é utilizado para atrair e incluir novos funcionários na organização. O método utilizado para tal finalidade é o recrutamento e seleção.

O recrutamento é uma ação da empresa para estimular o mercado de recursos humanos (traba-lhadores) e dele extraírem os candidatos necessá-rios para o preenchimento de vagas oferecidas pela empresa.

Além de selecionar pessoas do mercado de trabalho, o processo de recrutamento e seleção po-derá também ser realizado dentro da organização mediante a promoção ou transferência para cargos vagos. Assim, o recrutamento poderá ser interno ou externo.

O recrutamento pode acontecer externamente, quando a busca para o preenchimento do cargo se dá fora da empresa. Ou recrutamento interno, quando a busca acontece entre os trabalhadores da empresa, com a finalidade de selecionar os aptos para a promoção ou transferência de cargo.

Desta forma, o recrutamento é considerado como o canal de condução dos candidatos para o processo seletivo.

Então, a primeira tarefa do recrutamento ex-terno é divulgar, no mercado de trabalho, a dis-ponibilidade de cargos que a organização preten-de oferecer. Essa função é considerada como um meio de comunicação, pois divulga oportunidades de emprego ao passo que atrai candidatos para o processo seletivo.

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Após a etapa do recrutamento, inicia o proces-so de seleção. Nessa etapa, é realizada a comparação entre as características de cada candidato, em confor-midade com as referencias especificas do cargo.

Para a realização da etapa da seleção, algu-mas técnicas poderão ser utilizadas como: aplica-ção de prova, análise de currículo, entrevista, dinâ-mica de grupo ou sociodrama simulando situações que poderão ser vivenciadas na empresa.

• Processo de aplicar pessoas:Após o processo de recrutamento, seleção e

contratação dos candidatos aprovados no processo seletivo, é necessário que essa pessoa passe por um processo de integração.

Esta etapa refere-se ao momento de socia-lização organizacional. Ou seja, é o período onde se estrutura o esquema de boas vindas aos novos funcionários.

Nessa etapa, o novo funcionário é posiciona-do ao cargo e as tarefas que serão desenvolvidas e a fixação da cultura organizacional, os valores, as normas e os padrões de comportamento adotados pela empresa. Sua principal finalidade é propiciar um ambiente favorável de acolhimento durante a fase inicial de trabalho.

Para realizar o processo de socialização, al-guns métodos são utilizados como: o processo se-letivo, conteúdo do cargo, supervisor como tutor, grupo de trabalho e o programa de integração.

• Processo de recompensar pessoas:É o processo utilizado para estimular e motivar

os funcionários através da satisfação de suas necessidades individuais adotando o sistema de recompensa, remuneração, benefícios e serviços sociais.

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59Tema 2 | Administração de serviços

O método de recompensa é o processo que compreende todas as formas de pagamento dadas aos funcionários em decorrência de seu trabalho.

A recompensa pode ser considerada como financeira (prêmios, comissões, salários) e não finan-ceira (férias, gratificações). A recompensa mais utili-zada é a remuneração total.

A remuneração total é um conjunto de recompensas quantificáveis que é constituída por três componentes:

a) Remuneração básica: É representada pelo salário mensal;

b) Incentivos salariais: São programas volta-dos a recompensar seus funcionários pelo bom desempenho de atividades;

c) Benefícios e serviços sociais: São formas in-diretas de compensação e podem ser con-sideradas como vantagens concedidas pela organização na forma de pagamento adi-cional. Os benefícios sociais constituem-se de serviços com o intuito de satisfazer os objetivos individuais, econômicos e sociais dos funcionários. Exemplo disso é a assistência médica, o seguro de vida, o ticket alimentação, o transporte, a previ-dência privada, entre outros.

• Processo de desenvolver pessoas:É o método de capacitar para o desenvolvi-

mento de competências, seja em nível pessoal ou profissional dos funcionários.

Segundo Chiavenato (2010), existe uma dife-rença entre desenvolvimento e treinamento. O trei-namento é sempre orientado para o presente, em que se busca melhorar as competências e habilida-des relacionadas diretamente com o cargo.

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O desenvolvimento de pessoas focaliza, geralmente, na preparação dos funcionários para o despertar de novas competências e habilidades que poderão ser desempenhadas no futuro.

• Processo de manter pessoas:São métodos utilizados para estimular condições

ambientais e psicológicas suficientes para um bom desempenho das atividades.

Essa concepção é permeada pelas concep-ções de cultura organizacional, clima, disciplina, higiene, segurança e qualidade de vida.

• Processos de monitorar pessoas:São métodos estabelecidos para acompanhar

e controlar o desenvolvimento dos funcionários e seus resultados. Um instrumento utilizado é o ban-co de dados com informações atualizadas sobre seus funcionários.

Outro ponto está em estabelecer regras para a demissão de um profissional, bem como adotar um controle em relação a objetivos e tarefas execu-tadas pelos funcionários como também um rígido controle de frequência dos empregados, o instru-mento mais adotado é o registro de cartão de ponto.

LEITURA COMPLEMENTAR

CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

O aluno encontrará nessa obra o conceito de modelo de gestão de pessoas e as tendências nessa área.

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61Tema 2 | Administração de serviços

STAREC, Claudio; GOMES, Elisabeth e BEZERRA, Jorge. Gestão estratégica da informação e inteligência competitiva. São Paulo: Saraiva, 2006.

O aluno encontrará na parte IV dessa obra análises sobre a gestão estratégica de RH.

PARA REFLETIR

Pesquise entre amigos e familiares os serviços so-ciais/benefícios que são oferecidos pelas empresas. Discuta com os colegas no encontro presencial os serviços sociais que você considerou em maior pre-dominância.

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2.3 O serviço social na empresa

Analisar a inserção do Serviço Social na em-presa requer compreender o processo de desen-volvimento econômico do país. O Brasil teve como principal característica de sua economia até 1930 a produção e exportação de produtos agrícolas, carac-terizando-se como país agroexportador14. Os países europeus foram os principais importadores dos nos-sos produtos agrícolas e exportadores de produtos manufaturados (industrializados) para o Brasil.

Com o advento da II Guerra Mundial que pro-vocou o desmantelamento da economia dos países europeus, consequentemente ocasionou mudanças na economia internacional, tais como incentivar os países agroexportadores a começarem a se indus-trializar, já que a Europa não conseguia mais ex-portar produtos manufaturados diante da quebra de muitas de suas indústrias e porque sua produ-ção estava voltada para a indústria bélica e para o abastecimento do mercado interno.

Portanto, podemos afirmar que a II Guerra Mundial ocasionou o processo de industrialização dos países agroexportadores, a exemplo do Brasil.

Esse processo ficou conhecido no Brasil como o período da Substituição das Importações, o que significa dizer que o país passou a produzir os produtos que eram importados, os produtos ma-nufaturados. Começa, assim, o processo de indus-trialização e urbanização do país que se concentrou na região sudeste nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Nos anos de 1940 surgiu no país o Sistema S15 que englobavam o Serviço Nacional de Aprendiza-gem Industrial (SENAI), o Serviço Social da Indústria (SESI), o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) e o Serviço Social do Comércio (SESC).

14 A economia ba-seada no latifúndio, na monocultura e na exportação dos produtos agrícolas para os países europeus.

15 Criado pelos empresários do comércio e da indústria, no momento pós -guerra, e visava assistir, através de prestação de serviços sociais e aperfeiçoamento técnico profi ssional de seus funcionários e familiares.

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63Tema 2 | Administração de serviços

Esse, então chamado Sistema S, tinha como principal objetivo promover ações de formação pro-fissional, qualificar mão de obra para atender as necessidades do mercado de trabalho, além dessa atuação começou a desenvolver atividades visando ao bem-estar social, incluindo saúde, educação, lazer, cultura, esporte, transporte e vestuário, através do SESC e do SESI.

É neste momento que se inicia a inserção do Serviço Social na Empresa, trabalhando com ações voltadas para qualificação da mão de obra, promoção da saúde, lazer, educação, transporte, enfim, do bem–estar social do trabalhador e sua família, visando, assim, resolver os conflitos que surgiram entre os operários e os patrões.

A intervenção do Serviço Social consolidou-se durante as décadas seguintes, principalmente na passagem dos anos de 1970 para 1980 com a con-solidação da industrialização do país, da organiza-ção e reivindicação dos trabalhadores por melhores condições de trabalho e vida, e da intervenção do Estado nas expressões da Questão Social por meio do desenvolvimento de políticas sociais que requi-sitaram uma ação técnica profissional.

Em 1970 o modelo de produção capitalista que predominava no país era o Taylorista/Fordista baseado na organização da produção rígida, verti-calizada, parcelada e em larga escala.

Nesse período o regime político vigente era a Ditadura Militar, que tinha como principais ca-racterísticas o cerceamento da liberdade, repressão política, o incentivo à industrialização e o desen-volvimento de políticas sociais assistencialistas, fragmentadas, setorializadas, apesar dessa política e da ação repressora do Estado os trabalhadores organizaram-se em diversos movimentos sociais, entre eles nas comissões de fábricas e sindicatos para lutar por melhores condições de trabalho, de vida e pelo fim do Regime Militar.

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Vale ressaltar, que a década de 1970 e 1980 foi de suma importância para construção da cidada-nia, é nessa ocasião que o nosso país vivencia um momento de grande efervescência de organização das classes subalternas que passa a se organizar nos movimentos sociais, movimentos populares, sindicatos e nos partidos políticos para reivindicar o fim da Ditadura Militar, a instauração da democra-cia, pela elaboração de uma legislação social que garanta direitos sociais, civis e políticos.

Nesse período vai existir uma expansão do Serviço Social nas empresas, o profissional de Serviço Social é inserido no quadro profissional, especificamente no setor de recursos humanos, tanto das empresas privadas como nas empresas públicas estatais para desenvolver um trabalho de cunho educativo e assistencial com o trabalhador e sua família.

A intervenção do Serviço Social visa mediar o conflito empregador/empregado desenvolvendo uma ação que beneficia o capital auxiliando no controle e disciplinamento do trabalhador, aumen-tando a produtividade e lucratividade e, ao mesmo tempo, colaborando com os trabalhadores com ações que permitem garantir a manutenção da força de trabalho por meio de benefícios que promovem o bem-estar do trabalhador e da sua família.

A partir dessa intervenção particular do Serviço Social na contradição capital/trabalho que o pro-fissional vai se perceber como trabalhador assala-riado que está submetido às mesmas condições de trabalho que os demais trabalhadores da empresa.

Neste sentido, o assistente social começa a problematizar as estratégias e objetivos desenvol-vidos pela empresa no sentido de qualificar sua prática profissional criando estratégias para forta-lecer o projeto político das classes subalternas16.

16 No fi nal da década de 1970 0 Serviço Social vai romper com o Conservadorismo, através do movimento de intenção de ruptura, neste período vai a adotar a teoria social crítica como aporte teórico para fundamentar sua formação e exercício profi ssional, cons-truindo base para consolidação do Projeto Ético Político profi ssional que tem como um dos princípios a defesa e fortalecimento das classes subalternas.

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65Tema 2 | Administração de serviços

No final da década de 1970 o sistema ca-pitalista entra em crise, suas altas taxas de lucro estão ameaçadas diante da crise do petróleo e da superprodução.

Diante desta crise o sistema capitalista pro-cura introduzir novos métodos de produção e ges-tão para alavancar as taxas de lucro, essa fase será denominada por alguns autores como processo de reestruturação produtiva do Capital ou de Terceira Revolução Industrial.

As principais características são:

a) A financeirização da economia;

b) A introdução de tecnologias avançadas no processo de produção;

c) A ênfase em processos informacionais;

d) A desregulamentação dos mercados;

e) A flexibilização do trabalho, expressas em novas modalidades de contratação (trabalho temporário e subcontratação);

f ) Desemprego estrutural;

g) Supressão dos direitos sociais;

h) Fusão de grandes empresas (empresas Multinacionais);

i) A desterritorialização da produção, ou seja, uma mesma indústria possui diversas fi-liais em outros países;

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j) Busca desenfreada por matérias-primas abundantes (recursos naturais);

k) Mão de obra barata e investimentos massivos em marketing.

Esse novo modelo de organização da produção é denominado de Toyotismo, baseado na organização flexível, horizontal, produção de acordo com a demanda, o que significou enxugamento da quan-tidade de trabalhadores na produção, a exigência de um trabalhador polivalente e altamente qualifi-cado, uma gestão centrada no discurso da colaboração e integração do funcionário, ou seja, deixa de ser um trabalhador para ser colaborador, fazer parte da empresa.

O Brasil vai iniciar a introdução desse novo modelo de organização da produção nos anos de 1980, mas sua consolidação aconteceu na década de 1990. Cabe mencionar que a década de 1990 é conhecida como período de introdução e con-solidação da Política Neoliberal que significou a minimização da ação do Estado na regulação da vida social e ampliação da intervenção do mercado na vida social.

Para isso, o empresariado brasileiro necessi-tou elaborar estratégias sociopolíticas para obter a legitimidade dos trabalhadores, neste sentido in-troduzir na gestão empresarial novas técnicas de trabalho baseada na filosofia do participacionismo e na colaboração dos trabalhadores na gestão, através da participação nos processos de decisão da produção e do diálogo direto entre patrão e trabalhador, buscando esvaziar o papel político dos sindicatos.

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67Tema 2 | Administração de serviços

As novas políticas desenvolvidas pelos recursos humanos das empresas podem ser resu-midas nos seguintes aspectos, segundo Amaral & Cesar (2009): crescimento dos investimentos em-presariais com a qualificação da força de trabalho; introdução de técnicas e métodos de gerencia-mento participativo, com forte apelo ao envolvi-mento dos trabalhadores com as metas empre-sariais; combinação do sistema de benefícios e serviços sociais com as políticas de incentivo á produtividade do trabalho; e adoção de práticas de avaliação e monitoramento do ambiente interno.

As mudanças no âmbito do gerenciamento do recurso humano trouxeram novas e velhas deman-das para o Serviço Social. Permanece o trabalho educativo voltado para mudanças de hábitos, atitu-des e comportamentos do trabalhador objetivando sua adequação ao processo de produção além de intervir no âmbito da vida privada do trabalhador, ambiente familiar e social, e participar da execução dos serviços sociais com intuito de promover o bem-estar social.

As novas configurações no modo de produção do sistema capitalista reforçam a visão da neces-sidade de a empresa contratar o profissional de serviço social por sua intervenção ter uma dimen-são pedagógica que pode ser utilizada para neutra-lizar os conflitos trabalhador/patrão, de intervir nos processos de reprodução material e espiritual da força de trabalho, por meio de ações que visam ao controle, disciplinamento do trabalhador.

Neste sentido traz para o Serviço Social o desafio de pensar em estratégias para que tais ob-jetivos sejam alcançados, provocando uma mudança de perfil profissional, deixando de ser mero executor para ser também formulador desses programas, o que significa dizer que o Assistente Social tem que

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Administração e Planejamento em Serviço Social68

se enquadrar nas novas requisições do mercado de trabalho que visam contratar um trabalhador que desenvolva várias funções, o denominado trabalhador polivalente.

Alguns programas empresariais de que o Serviço Social participa:

Programa de Treinamento e Desenvolvimento: promove formação, treinamento, capacitação do trabalhador, objetivando obter um trabalhador polivalente e aumentar a produtividade;

Programas participativos: estes programas são pautados na Gestão de Qualidade Total que visa à satisfação do cliente externo (consumidor) e do cliente interno (colaborador), visa promover ações que fomentem a participação do trabalhador dentro da ordem da empresa, sendo estimulados por meio de incentivos simbólicos e materiais, a exemplo do programa “O Colaborador do Mês”.

Programa de Qualidade de Vida: realização de ações socioeducativas e da promoção de serviços sociais, o enquadramento de hábitos e cuidados com a saúde, lazer, alimentação buscando a melhoria de vida do trabalhador visando ao aumento da produtividade.

Programa de Clima ou Ambiência organiza-cional: promove atividades que têm por objetivo identificar a percepção do trabalhador sobre o ambiente de trabalho, a organização, as condições e relações de trabalho.

As ações desenvolvidas pela empresa com a colaboração do serviço social visam aumentar a produtividade e disciplinar o trabalhador, através do discurso ideológico da participação e da colabo-ração do trabalhador. “O trabalhador faz parte da empresa”.

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69Tema 2 | Administração de serviços

LEITURA COMPLEMENTAR

AMARAL, Ângela Santana do; CESAR, Monica. O tra-balho do assistente social nas empresas Capitalistas. In: Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.

Neste artigo o aluno encontrará análises sobre a inserção do serviço social na empresa e de que forma as mudanças no mundo do trabalho afetam o profissional de serviço social.

AMARAL, Ângela Santana do; MOTA, Ana Elizabete(org). Reestruturação do Capital, fragmen-tação do trabalho do serviço social. In: A nova fábrica de consenso: ensaio sobre a reestruturação empresarial, o trabalho e demandas ao Serviço Social. 2. ed. São Paulo. Cortez, 2000.

Nesta obra o aluno vai encontrar uma análise do processo de reestruturação produtiva do sistema capitalista e seus impactos no mundo do trabalho com ênfase para os impactos no campo de trabalho do Serviço Social.

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PARA REFLETIR

As características apresentadas neste item sobre a inserção do serviço social na empresa: contra-dição capital/trabalhador, as fases do desenvolvi-mento econômico do país, as novas configurações no modo de produção capitalista, o trabalho de mediação do serviço entre empregador/empregado através da sua ação socioeducativa. Reúna um gru-po de estudantes e realize uma visita a uma empre-sa para conversar com a Assistente Social, conhecer a gestão da empresa e a atuação do Serviço Social neste espaço.

2.4 Responsabilidade social nas empresas públicas e privadas

O tema responsabilidade social nas empre-sas públicas (Estatais) e privadas entrou na agenda política e social do país na década de 1990, perí-odo de consolidação das mudanças no modelo de produção capitalista, de implantação do Neolibera-lismo na gestão do Estado, através da reforma do Estado, que provocou agravamento das expressões da questão social no país.

O surgimento do termo “Sociedade Civil e Terceiro Setor”, expressões que passaram a ser usadas para se referir a uma nova forma de gestão social na elaboração e execução dos serviços so-ciais, é decorrente dessas mudanças ocorridas na década de 1990.

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71Tema 2 | Administração de serviços

Os aspectos da política, economia e da forma de gerenciamento do Estado brasileiro, nos anos de 1990, fazem parte do processo de reestruturação do capital iniciado no final da década de 1970, nos países desenvolvidos que impuseram aos demais países um ajustamento as novas regras do capi-tal internacional, pelo intermédio dos organismos internacionais17, como FMI (Fundo Monetário Internacional), BM (Banco Mundial), etc.

As principais características dessa nova fase do sistema capitalista são a financerização da eco-nomia, a predominância do capital financeiro sobre o produtivo, a globalização da economia, a desre-gulamentação do mercado e a perda de soberania dos Estados-nação, novos métodos de gerencia-mento do Estado pautado na Hegemonia Neoliberal.

Na esfera da produção as empresas adotam novo padrão de produção e gerenciamento:

a) Investimentos em pesquisas científicas com intuito de reduzir gastos da produção por meio da introdução de novas tecnologias poupadoras de mão de obra e promotora do aumento da produtividade;

b) Desterritorialização da produção, ou seja, os núcleos de produção são transferidos das empresas matrizes, localizadas nos países desenvolvidos, para as empresas filiais nos países subdesenvolvidos;

c) O fortalecimento da relação entre o Estado e as empresas transnacionais. Neste sentido o Estado busca ofertar as melhores con-dições para que as indústrias se estabe-leçam no país, como legislação previden-ciária e trabalhista fraca que não protege

17 Esses órgãos são responsáveis pela elaboração e fi scalização de regras sobre a política econômica mundial.

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o trabalhador, a exemplo do baixo salário, e as isenções fiscais e tributárias. Aliado a essas características estão a abundância de matérias-primas e grande contingente de trabalhadores à procura de emprego.

d) Articulação com outras empresas menores, através da terceirização dos serviços e co-operação interempresas que fazem sur-gir as chamadas “empresas rede”. As grandes empresas lideram de forma hie-rárquica os diversos setores da produção e da comercialização de bens e serviços.

e) Articulação com o capital financeiro, o que significa dizer que o capital produtivo passa a investir parte dos seus lucros em outras fontes de rendimentos, como fundo de pensão, ações etc.

Podemos observar que a produção está organizada em escala global, o que significa dizer que o capital é internacional.

As empresas, além de comandarem a produção, e também o mercado, passam a atuar em outras esferas da vida social, através do fornecimento de bens e serviços, tais como: pesquisa, a criação de infraestrutura econômica e social, atividades culturais, serviços de assistência e de qualificação para os trabalhadores e todos que fazem parte da “empresa rede’.

Essa intervenção atinge os trabalhadores, acionistas, credores, investidores, Governos, con-sumidores e a comunidade em que atua, ou seja, onde está localizada a sede da empresa.

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Esse novo modelo de organização e gestão das empresas é dominado de “Corporate Governance ”18, significa que a empresa deve modificar seu relaciona-mento com todos os que estão envolvidos em suas atividades, potencializando o máximo a sua capacidade de articulação política.

Os princípios desse modelo de gestão “Governança Corporativa” são difundidos pelos organismos internacionais como FMI (Fundo Mone-tário Internacional), BM (Banco Mundial), BID (Banco Internacional de Desenvolvimento) que criam in-dicadores de sustentabilidade econômica e social que as empresas devem seguir para poder obter recursos financeiros, credibilidade no mercado e atração de novos parceiros, ações que contribuem para elevar a valorização dos lucros.

Um dos indicadores de sustentabilidade que se vincula à Governança Corporativa é a respon-sabilidade social empresarial, que atualmente vem sendo objeto de iniciativas dos empresários no Brasil e no mundo.

A responsabilidade social empresarial são ações desenvolvidas pelas empresas para atender tanto ao público interno (os trabalhadores) como ao publico externo (consumidores e comunidade).

As atividades destinadas ao seu público interno, os empregados, são: qualificação de mão de obra, plano de saúde, plano odontológico, acompanhamento psíquico social, etc. Podemos ca-racterizar esses benefícios como salários indiretos.

Já as atividades destinadas ao público externo, a comunidade, são: ações de proteção ao meio ambiente, ações assistenciais e emergenciais, como entrega de cesta básica, cursos de qualificação de mão de obra para adolescentes e jovens, etc.

18 Governança Corporativa

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Essas atividades são desenvolvidas, geral-mente, por Institutos e Fundações Empresariais, que são mantidos pelos recursos das empresas.

A responsabilidade empresarial e social serve para os empresários obterem mais lucros, através da isenção de alguns impostos pelo Governo, e do marketing que induz os consumidores a optarem por comprar produtos das empresas que desenvolvem esse tipo de prática.

Vale ressaltar, que a filantropia empresarial, ações de caridade por parte dos empresários, sempre existiu no mundo e no Brasil, a diferença é que na atualidade esse tipo de ação compõe as técnicas de gestão para a empresa aumentar sua lucratividade, seu controle sobre os trabalhadores e sua hegemo-nia na venda dos produtos no mercado.

Portanto, essa “filantropia” foi profissionalizada necessitando de técnicos para sua implementação, entre eles o Assistente Social, que já faz parte do quadro de funcionários da empresa e atua diretamente com a reprodução e controle da vida social deste.

A Responsabilidade empresarial e social vai se consolidar no país durante a década de 1990, período de mudança no padrão de produção, como já abordamos, e da implantação da Reforma do Estado por meio das administrações de Fernando Collor (1989) e de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002)

A Reforma do Estado introduziu um modelo de gestão baseado na redução dos gastos, ou seja, cortes nos investimentos na área social. Essa postura desresponsabilizou o Estado na elabo-ração, no financiamento e execução das políticas transferindo a responsabilidade para a sociedade.

Ao cidadão restou como opção para ter acesso aos serviços públicos, como educação, saúde, cultura, lazer, etc. o mercado, as organizações do Terceiro Setor e as políticas assistenciais do Estado.

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É neste contexto que o discurso da prática da responsabilidade empresarial e social ganha grande dimensão no país, já que vivemos numa sociedade marcada pela desigualdade social, po-breza, exclusão social e violência, que são geradas pelo sistema capitalista e pela ausência do Estado na elaboração de políticas públicas que garantam a efetivação dos direitos previstos na Constituição Federal.

As ações desenvolvidas pelas organizações do Terceiro Setor orientam-se pela solidariedade, cooperação, voluntariado, partindo do princípio de que a sociedade civil é harmoniosa, que não exis-te conflito de interesse entre as classes sociais. O lema é cada cidadão faz sua parte, é ter responsa-bilidade social.

Embasado nesse discurso é que a filantropia empresarial amplia suas ações na sociedade brasi-leira, com o slogan de que está fazendo sua parte e contribuindo para sanar os problemas sociais que existem no país.

Vale salientar que esse discurso serve para encobrir a responsabilidade da classe burguesa (empresários e latifundiários, banqueiros) no agra-vamento nas desigualdades sociais e para despo-litizar a luta das classes subalternas por melhores condições de vida e de trabalho.

Existem no Brasil organizações que têm por objetivo mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente res-ponsável e sustentável visando à construção de uma sociedade justa e sustentável, a exemplo do Instituto Ethos19, Abong20, Balanço Social, etc.

Um grande exemplo de uma prática de responsabilidade social empresarial é a campanha Criança Esperança promovida todos os anos pela Fundação Roberto Marinho em parceria com outras

19 Instituto Ethos de Empresas e Respon-sabilidade Social é uma organização sem fi ns lucrativos, caracterizada como Oscip (organização da sociedade civil de interesse público) criada em 1998

20 Associação Brasileira de organizações não governamentais.

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empresas e com a UNESCO. Uma campanha que visa arrecadar fundos que são depois repassados para diversas instituições e organizações sociais que trabalham com criança/adolescente.

Com essa ação a Rede Globo é isenta de pagar alguns impostos e as empresas que contri-buem financeiramente, como a empresa OMO, de sabão em pó, utilizar como marketing para poder vender seus produtos.

O profissional de Serviço Social mesmo trabalhando diretamente com essas ações precisa ter a capacidade investigativa para poder ir além da aparência e conseguir desvendar o real interesse que existe por trás deste discurso de cooperação.

O que as empresas visam desenvolvendo a prática de responsabilidade social empresarial é esconder a desigualdade social que é gerada pelo sistema capitalista.

O aporte teórico-metodológico do Serviço Social fundado na teoria social permite ao profis-sional compreender que a responsabilidade social empresarial se configura como uma das formas de enfrentamento as novas expressões (violência urbana, exploração sexual de menores, dependên-cia química, violência doméstica, pauperização, degradação ambiental, etc.) da questão social na atualidade.

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LEITURA COMPLEMENTAR

AMARAL, Ângela Santana do; CESAR, Monica. O tra-balho do assistente social nas fundações empre-sariais. In: Serviço Social: Direitos sociais e com-petências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.

Nesta obra o aluno vai encontrar uma análise sobre o papel e a função das fundações empresariais no Brasil e a atuação do Serviço Social neste espaço.

CESAR, Monica de Jesus. Serviço social reestrutu-ração industrial: requisições, competências e con-dições de trabalho do serviço social. In: A nova Fábrica de Consenso: ensaio sobre a reestruturação empresarial, o trabalho e demandas ao serviço so-cial.2. ed. São Paulo: Cortez, 2000.

Nesta obra o aluno vai encontrar uma análise sobre as novas requisições, demandas, e condições de trabalho impostas a partir do processo de reestru-turação do capital.

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PARA REFLETIR

As ênfases estudadas neste item (internacionalização do capital, mudança na produção, Reforma do Estado, Neoliberalismo, responsabilidade empresarial e social) estão presentes nas novas formas de gerenciamento das empresas capitalistas.

Realize uma pesquisa na internet (sites como Insti-tuto Ethos, relatório Balanço social, etc.) identifique quais são as empresas que realizam na sua gestão a técnica de responsabilidade empresarial e social.

RESUMO

Vivemos em uma sociedade de organizações, seja em atividades destinadas à produção de bens ou em prestação de serviços.

O assistente social, em uma organização, atua como estrategista social, auxiliando na ela-boração, formulação e execução de políticas de gestão de pessoas e de benefícios. Bem como, na gestão social, elaboração e execução dos serviços sociais, realizados pelo terceiro setor.

Na atual conjuntura, um dos grandes desafios do assistente social está na habilitação para definir e gerenciar políticas sociais atrelando os objetivos organizacionais aos interesses do trabalhador.

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PLANEJAMENTO: INSTRUMENTO DE TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL

Parte 2

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Planejamento Social: Aspectos Introdutórios3

A partir deste ponto, estudaremos sobre o planejamento e suas características e importância no processo administrativo.

O profissional de serviço social deve apropriar-se do método de planejamento como ferramenta fundamental no trabalho interventivo na realidade trabalhada.

3.1 Conceituando e definindo planejamento social

Na vida secular todos nós temos o costume de planejar alguma coisa, seja um aniversário, uma viagem, um casamento, ou uma formatura. Esse tipo de planejamento pode ser considerado como planejamento ocasional, no qual não se estabelece técnicas e métodos.

Então podemos refletir que o processo de planejamento é algo da natureza do ser humano e intrínseca à sua própria natureza racional e social.

Assim, o homem é capaz de pensar e agir refletindo no que está ocorrendo, construindo a partir de então seu futuro coletivo ou individual.

O homem, desta forma, projeta em sua mente o ato para de-pois executar e antes de qualquer ação ele planeja. Esse processo cíclico do planejar é conhecido como consciência teleológica.

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O exercício do planejar deve ser permanente e sistemático, com a finalidade de cumprir com efeti-vidade a missão organizacional. Ou seja, o processo de planejamento envolve a escolha de um destino, aonde se quer chegar, avaliação dos caminhos al-ternativos e decidir sobre qual direção especificam para alcançar o destino escolhido.

O termo planejamento, segundo o grande di-cionário unificado da língua portuguesa (2010), sig-nifica ato ou efeito de planejar, plano detalhado de trabalho. Porém, planejar significa traçar esquema, projetar, conjeturar.

Assim, o processo de planejar envolve uma forma de pensar, esse modo de pensar gera indaga-ções, que envolvem questionamentos sobre o que, como, onde, quem e por que fazer (OLIVEIRA, 2010).

A finalidade do planejamento é entendida como o desenvolvimento de processos, técnicas e comportamentos administrativos que possibilitam avaliar os resultados de futuras decisões no pre-sente em detrimento dos objetivos organizacionais.

Planejamento, portanto, é um processo con-tínuo e dinâmico no qual, várias ações integradas e intencionais são direcionadas, para possibilitar a tomada de decisões antecipadamente, através da tentativa de tornar realidade em um objetivo futuro.

A arte de planejar deve iniciar estabelecendo e definindo as estratégias e metas específicas. Essas estratégias representam as pretensões institucionais em ações práticas que lhe servirão de guia para caminhar na direção desejada.

O planejamento é permeado por princípios específicos que direcionam a organização aos objetivos estabelecidos. Esses princípios são:

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a) Participação: O planejamento deve ser elaborado por diversas áreas da organi-zação, e o responsável pelo planejamento deve facilitar o processo de elaboração entre os envolvidos.

b) Coordenação: Deve-se estabelecer uma rede interna, na qual todos os aspectos envolvidos no processo deverão atuar de forma independente.

c) Integração: Todos os níveis hierárquicos da organização deverão ser planejados de forma integrada.

d) Permanência: É importante buscar um plano em um determinado período de tempo.

O planejamento é um elemento imprescindível na vida do gestor. O planejamento deve ser flexível, podendo ser realimentado durante o processo para adaptar-se à realidade. Em uma organiza-ção, o planejamento pode apresentar-se em três diferentes tipos:

a) Planejamento estratégico: É um proce-dimento de responsabilidade dos níveis mais altos da organização no que se refe-re à adoção e formulação de objetivos, na escolha de ações necessárias para atingir os objetivos específicos e a consolidação das metas. Ou seja, o planejamento estratégico dar-se-á quando se decide os meios atra-vés dos quais a empresa atingirá os ob-jetivos. É a relação dos objetivos de longo prazo com as estratégias e ações para al-cançar tais objetivos, os quais refletem na empresa como todo.

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b) Planejamento tático ou funcional: Quando existe a necessidade de qualificar uma determinada área e não a empresa como todo, para a execução do planeja-mento estratégico. Exemplo: central de atendimento, setor de estoque, etc.Relaciona os objetivos de curto prazo com as estratégias a ações que afetam somente parte da empresa. É desenvolvido pelos níveis intermediá-rios, com a finalidade de utilizar eficien-temente os recursos disponíveis para o alcance dos objetivos preestabelecidos.

c) Planejamento operacional: É conside-rado o planejamento diário. É realizado pelos níveis inferiores, focalizando as ati-vidades cotidianas da empresa, através de planos de ação ou planos operacionais.

Sua previsão é de curto prazo e define tarefas específicas e é formalizado por meio de documentos inscritos, e define orçamento, cronograma, entre outros.

O profissional de serviço social, para o desen-volvimento de seu trabalho, possui como instrumento fundamental o planejamento.

Desta forma, como o administrador, o profissio-nal de serviço social possui a necessidade de conhe-cer e entender a realidade do processo de planeja-mento para elaborar suas intervenções.

Esse planejamento social pretende utilizar o planejamento estratégico, expandindo para os vários níveis da organização de uma forma harmônica.

Para elaborar uma proposta de intervenção, o assistente social deverá estabelecer uma dire-ção, conhecer e problematizar o objeto de ação profissional.

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Entendendo que o planejamento é um pro-cesso contínuo, dar-se-á, portanto, através da dinâ-mica de reflexão, decisão e ação.

a) Reflexão: Nesta etapa ocorre a delimitação do objeto, o conhecimento e estudo da realidade, construção do referencial teóri-co operativo, levantamento de prováveis hipóteses e coleta de dados.

b) Decisão: Neste momento é dada a escolha das alternativas, identificando as priorida-des de intervenção, definem-se os objetivos, estabele-se as metas, os prazos, organização e análises.

c) Ação: É o momento da implantação e exe-cução das decisões estabelecidas nas eta-pas anteriores, bem como definição dos parâmetros de avaliação e controle. Esta fase é considerada o ponto central do pla-nejamento.

d) Retomada da reflexão: Dar-se-á através da avaliação crítica das decisões adotadas, do processo de implantação e dos resultados alcançados na execução.

Ao realizar a análise desse processo cíclico do planejamento percebemos a existência de quatro dimensões que permeiam o processo do planejar: a dimensão da racionalidade, ético-política, valorativa e a dimensão técnico-administrativa.

Essas dimensões referem-se ao processo de planejar primeiro como algo racional, metódico e decorrente do uso da inteligência. Segundo, é um processo de tomada de decisões devendo levar em consideração as relações de poder e os interesses políticos dos diferentes grupos.

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Em terceiro lugar, o processo de planejamento é norteado por valores desenhados através da for-matação das decisões. Por último, o planejamento como uma função da administração é uma ativida-de inerente à organização que exprime na sua ação os objetivos organizacionais.

O serviço social é uma profissão com carac-terísticas de intervenção da realidade social. Para isso, há necessidade de uma habilitação crítico analítica, que proporcione a estruturação de seus objetivos de ação. Deve-se considerar as compe-tências teórico-metodológicas, técnico-administrati-vas e ético-políticas as quais possibilitam ao assis-tente social formas de pensar e agir suas funções profissionais.

O planejamento, portanto, deve ser considerado como uma ferramenta fundamental à prática do as-sistente social, por possibilitar a identificação, ao longo do tempo, das ações necessárias para o en-frentamento de desafios das problemáticas sociais.

Assim, o planejamento é uma ferramenta de investigação no serviço social com a finalidade de promover mudanças concretas da realidade.

Para o assistente social, o processo de pla-nejamento passa a ser um procedimento essencial para a compreensão das diversas realidades e ex-pressões da questão social, pois este deverá impri-mir em sua intervenção profissional um caminho, uma direção. Para isso, é imprescindível conhecer e problematizar o objeto de sua atuação.

A ação planejada define um caminho, horizonte direcionado pelo desbravamento de ações permeadas de intenções, porém, plenas de sentido. (FRAGA, 2010).

Como ainda bem define Fraga (2010), en-quanto a atitude investigativa é um movimento constante de busca, questionamentos, debruça-mentos, planejamento para atuar na profissão, a ação profissional é consequência e, ao mesmo tempo, subsídio para essa investigação.

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LEITURA COMPLEMENTAR

FRAGA, Cristina Kologeski. A atitude investigativa no trabalho do assistente social. In. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo, n. 101, pp. 40 – 64, janeiro/março, 2010

Nesta obra o aluno vai encontrar os componentes de trabalho do assistente social, dentre eles o processo investigativo, fundamental para elaboração da pro-posta de intervenção/planejamento do profissional.

OLIVEIRA, Djalma de P. Rebouças. Planejamento estratégico – conceitos, metodologia, prática. São Paulo: Atlas, 2010.

Nesta obra o aluno vai encontrar, na primeira parte, os conceitos, princípios e tipos de planejamento.

PARA REFLETIR

Vimos que o processo de planejamento é algo fundamental na atuação do assistente social.

Entreviste um profissional de serviço social, de qualquer área de atuação, sobre as influências do planejamento no seu cotidiano.

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3.2 Pilares do planejamento

No item anterior, estudamos que uma das principais características do planejamento está em delinear o futuro que deseja ser alcançado, ou seja, consiste em observar as oportunidades e os pro-blemas futuros para explorá-los e combatê-los.

Estudamos também que o planejamento é a primeira função administrativa que compõe o pro-cesso administrativo, define os objetivos, tarefas e recursos que serão utilizados.

Assim, o processo de planejamento inicia com a definição dos objetivos, estratégias, políti-cas, bem como o detalhamento dos planos para alcançá-los.

Estudamos também que o processo de plane-jamento é iniciado após a reflexão e tomada de um conjunto de decisões definidas mediante a realida-de ou situação em que se pretende intervir. A partir deste, elabora-se o processo de sistematização das ações e procedimentos que conduzirão ao alcance dos objetivos previstos.

Desta forma, o planejamento pode ser enten-dido como processo de previsão das necessidades que se precise para utilizar os recursos materiais e humanos disponíveis para o alcance dos objetivos estabelecidos.

Através do planejamento a empresa pode an-tecipar ações futuras através da definição de uma linha de ação e elaboração de um plano que conduza à realização dos objetivos estabelecidos.

Para isso é necessário que haja uma situação concreta na qual se pretende atuar, possuir conhe-cimento claro da situação e dos objetivos que se almeja alcançar e que os prazos e etapas estejam bem definidos.

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Essas decisões e objetivos são organizados, explicados e detalhados em documentos que representam grau decrescente de níveis de decisão: planos, programas e projetos. (BAPTISTA, 2007)

Baptista (2007) ainda sugere que quando o documento faz referência à proposta relacionada à estrutura organizacional de uma forma geral, caracteriza-se em um plano. Quando se refere a um setor, uma área ou região caracteriza-se programa. Porém, quando se detém no detalhamento das alternativas e ações de intervenção é considerado projeto.

Assim, podemos perceber que quanto maior abrangência e menor detalhamento o documento caracteriza-se como plano. E quanto menor o âmbito e maior o detalhamento considera-se um projeto.

Desta forma, o processo de planejamento é composto por plano, programa e projeto, sendo estes os meios de expressão do planejamento.

A diferença entre estas subdivisões do plane-jamento está caracterizada pelo nível de decisões, bem como no delineamento do processo de execução, vejamos:

• Plano:Segundo Baptista (2007), o plano descreve

as decisões de caráter geral do sistema. Deve ser elaborado em um formato claro e simples, e sua finalidade é nortear os demais níveis da proposta.

É um produto do planejamento que se carac-teriza como o elo entre o processo de planejamento e o processo de implementação do planejamento.

É o documento mais geral e abrangente e nele deve conter estudos, diagnósticos que identi-fiquem a situação a qual se direciona a execução, os programas e projetos, os objetivos, estratégias e metas. (TEIXEIRA, 2009).

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O plano, portanto, apresenta as decisões gerais, as diretrizes políticas e a implementação de estratégias. Este deverá responder as questões do tipo: o quê, quando, como, onde, pra quem e por quem.

Um plano pode ser caracterizado em quatro tipos:

a) Procedimentos: Quando um plano é rela-cionado com o método ou execução de trabalho. Este tipo de plano é considerado plano operacional e comumente é repre-sentado por fluxogramas.

b) Orçamentos: Quando um plano está rela-cionado com dinheiro, envolvendo receita e despesa, por um período de tempo. Este tipo de plano pode ser estratégico, tático ou operacional, como, por exemplo, um plano orçamentário.

c) Programa ou programações: São planos que possuem uma correlação entre tempo e atividade. Pode ser representado por cronograma ou agenda que detalha as ati-vidades que serão executadas.

d) Regras ou regulamentos: Quando um plano apresenta normas ou procedimen-tos de comportamento das pessoas em determinadas situações. Como exemplo, encontramos o plano de regulamento de pessoal ou plano de cargos e salários de uma empresa.

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91Tema 2 | Administração de serviços

• Programa:É considerado o aprofundamento do plano. É

o documento que indica um conjunto de projetos e detalha por setor a política, as diretrizes, metas e estratégias em que os resultados permitirão alcan-çar o objetivo maior.

Os objetivos setoriais do plano comporão os objetivos gerais do programa. E o programa, por-tanto, configura o quadro de referência do projeto.

As características básicas que compõem e estabelecem o programa são:

a) A formulação clara das funções efetiva-mente direcionadas aos setores ligados ao programa, deliberando as devidas res-ponsabilidades em sua execução;

b) A formulação de objetivos gerais e especí-ficos e a explicitação de sua coesão com as políticas, diretrizes e objetivos do plano e de sua relação com os demais programas do mesmo nível;

c) A definição da estratégia e a dinâmica de trabalho que serão adotados para a reali-zação do programa;

d) As atividades e os projetos que comporão o programa, incluindo a apresentação sumária de objetivos e de ações;

e) Definição dos recursos humanos, físicos e materiais a serem mobilizados para sua realização;

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f ) A apresentação das ferramentas adminis-trativas necessárias para sua implantação e manutenção do programa.

São considerados elementos básicos do programa:

a) Síntese das informações sobre a situação a ser modificada com a programação;

b) Formulação das funções destinadas aos setores;

c) Formulação dos objetivos gerais e específicos;

d) Estratégia e dinâmica de trabalho;

e) Recursos humanos envolvidos, físicos e materias;

f ) Medidas administrativas para a implantação;

• Projeto:É considerada a menor unidade do processo

de planejamento, na qual existe o detalhamento das estratégias a serem executadas. É conside-rada também como principal e importante etapa do processo de planejamento, pois sistematiza de forma racionalizada as decisões.

O projeto é o documento que organiza o desenho prévio da operacionalização de uma uni-dade de ação. É o instrumental mais próximo da execução, em que se deve conter o detalhamento das atividades a serem desenvolvidas, o estabele-cimento de prazos, a definição dos recursos mate-riais, financeiros e humanos.

Para elaboração de um projeto, inicialmente é necessário realizar um diagnóstico da realidade

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social, no qual se identifique o contexto sócio-histórico, as relações sociais e organizacionais, e em seguida planejar uma intervenção.

Os projetos podem variar de acordo com seus objetivos, como, por exemplo: projeto cultural, projeto social, projeto de pesquisa, projeto de trabalho ou intervenção.

Segundo Baptista (2007), para a elaboração de projeto é necessário elaborar um roteiro préde-terminado, onde constem as exigências próprias do órgão de execução ou de financiamento do projeto.

Desta forma, ao pensar em um projeto, deve-se atentar às qualidades essenciais em sua elaboração:

a) O projeto deverá ser simples e possuir uma redação clara, para que a compreensão da proposta seja perceptível para todos.

b) Deverá possuir objetividade e precisão nas informações. A metodologia deverá descrever o caminho escolhido, a forma que o projeto vai desenvolver.

c) Deverá detalhar toda a ação prevista para o alcance dos objetivos, ou seja, deverá apresentar as atividades que serão rea-lizadas e servir de guia para a execução, detalhando assim cada etapa da operação.

d) Deverá ser coerente e compatível com as partes do projeto, bem como, com os outros níveis do programa.

e) O cronograma deverá ter exatidão e apre-sentar o início e o fim de cada atividade.

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f ) Como etapa fundamental, o projeto deverá ser mensurado, isto é, deverá estabelecer indicadores de avaliação que constatarão a eficácia e eficiência da proposta.

Desta forma, no campo do serviço social, o planejamento é ferramenta essencial para estru-turação de trabalho ou de intervenção junto a usuários.

É considerado como uma das atribuições do assistente social elaborar planos, programas e pro-jetos mediante as demandas que surjam durante o exercício profissional.

Assim, o assistente social, no momento de elaborar, executar e avaliar qualquer plano, programa e projeto, deverá estruturar sua ação a partir de um processo contínuo de relação dialética e de realimentação teórico-prática.

Sobre esse assunto estudaremos mais adiante.

LEITURA COMPLEMENTAR

BAPTISTA, Myriam Veras. Planejamento social: Intencionalidade e instrumentação. São Paulo: Veras, 2007.

Nesta obra o aluno vai encontrar o referencial teóri-co que norteia a abordagem do planejamento, bem como a descrição e análise dos procedimentos do planejamento.

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95Tema 2 | Administração de serviços

TEIXEIRA, Joaquina B. Formulação, administração e execução de políticas públicas. In: Serviço Social: Direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.

Nesta obra o estudante vai encontrar uma rica análise sobre o planejamento no processo de elaboração, execução e avaliação das políticas públicas no Brasil

PARA REFLETIR

Estudamos que o processo de planejamento é constituído por pilares hierárquicos. Pesquise na internet modelos de plano, programa e projeto e observe a diferença de cada um.

Não se esqueça de compartilhar com seus colegas suas percepções, colocando seus comentários no fórum do AVA.

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3.3 Planejamento estratégico

Como estudamos no item anterior, o planeja-mento estratégico é um dos tipos de planejamentos, e que planejamento é a arte de planejar, de progra-mar as ações futuras.

Planejamento: planejar, programar, projetar, esboçar de forma intencional as ações que deseja-mos concretizar no futuro.

É a capacidade que só o ser humano tem de projetar e planejar as atividades que vai realizar.

Já aprendemos o que é o planejamento, agora precisamos entender o que é planejamento estra-tégico, portanto, é necessário compreendermos o que significa Estratégia.

Segundo Teixeira (2009), a palavra Estraté-gia pode ser definida: origem grega que significa strategia, o define como a arte militar de planejar e executar movimentos e operações de tropas, na-vios e/ou aviões, visando alcançar ou manter po-sições relativas e potenciais bélicos favoráveis a futuras ações táticas sobre determinados objetivos, ou seja, está vinculada à arte da guerra.

Podemos acrescentar a essa definição que Estratégia é a arte de aplicar os meios disponíveis com vista à consecução de objetivos específicos. A palavra estratégica significa dar sentido, valor a uma ação, ao que se planeja.

Neste sentido, rompe com a visão de que o planejamento é apenas um instrumento técnico neutro utilizado pelos órgãos públicos e pelas em-presas apenas para alcançar um determinado obje-tivo, mas que a elaboração e execução de um plane-jamento envolvem e refletem diversos interesses dos sujeitos envolvidos.

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97Tema 2 | Administração de serviços

O planejamento Estratégico é síntese de um processo que reflete não somente os diferentes inte-resses dos participantes, que muitas vezes são diver-gentes, mas o processo de disputa na condução do direcionamento, dos princípios que o planejamento deve conter que se materializa em um documento escrito que contém princípios, objetivos, metas, mas principalmente concepção política e a finalidade des-te planejar, ou seja, o que se pretende alcançar

Segundo Fritsch (1996), na atualidade o plane-jamento estratégico se traduz como o conjunto de regras de tomada de decisão para a orientação do comportamento de uma organização, visando atingir os objetivos com eficiência, eficácia e efetividade.

É uma técnica administrativa que por meio da análise do ambiente da organização permite identificar seus pontos fracos e fortes e criar uma estratégia/direção para que a organização possa aperfeiçoar seus recursos e potencialidades para atingir sua missão.

Alguns autores afrimam que o planejamen-to estratégico é um instrumento utilizado por uma Administração Estratégica que passou a ser utili-zado no final dos anos de 1960. A Administração Estratégica é um tipo de gerenciamento de uma instituição/organização que visa definir estratégicas políticas para a operacionalização do planejamento sendo que o objetivo deste é provocar mudanças.

Um dos componentes essenciais para ope-racionalização do planejamento estratégico é a participação21, já que o propósito deste é pro-vocar mudança no ambiente organizacional. Por-tanto, para atingir esse objetivo é necessário que todos que fazem parte da organização participem e sintam-se sujeitos do processo de mudança.

21 No próximo item iremos estudar o que é participação e o planejamento participativo como um tipo de planejamento que está vinculado ao planejamento estratégico.

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O planejamento é formalizado num documento escrito, o plano, que apresenta os objetivos da Ad-ministração Estratégica que é realizado por técnicos com a participação e comprometimento daqueles que compõem o ambiente organizacional.

Portanto, o plano significa um documento que reflete um processo, expressa um objetivo, o desejo de mudança, mas este não é suficiente para garanti-lo, só se torna possível com a participação e o envolvimento de todos que compõem o am-biente em que o plano será operacionalizado, seja uma empresa, um órgão público, Organização não governamental, um movimento social, um partido político, etc.

Segundo Fritsch (1996), podemos apontar al-gumas características do planejamento estratégico que são assinaladas como as principais:

a) É um método que orienta e preside as principais decisões de uma organização;

b) É um meio de estabelecer o propósito da organização em termos de missão, objeti-vos, programas de ação e prioridades de alocação de recursos;

c) É um instrumento para definição dos domí-nios de atuação da organização;

d) É uma resposta para otimização de opor-tunidades e forças; minimizar e eliminar ameaças e fraquezas, com a finalidade de alcançar um desempenho competitivo;

e) É um critério para diferenciar as tarefas gerenciais dos vários níveis hierárquicos da organização. (FRITSCH, 1996, p. 134).

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99Tema 2 | Administração de serviços

Podemos afirmar, portanto, que o planejamen-to estratégico introduz um novo tipo de pensar e conceber o planejamento por trazer transformações significativas na arte de planejar, a exemplo da des-burocratização, desconcentração, e a descentraliza-ção de poder. Essa partilha de poder na elaboração do planejamento só é possível porque o planeja-mento estratégico visa à participação de todos os sujeitos envolvidos na tomada de decisão.

O planejamento estratégico constitui-se como uma ferramenta importantíssima utilizada na con-temporaneidade pelas empresas capitalistas, visto que estas se orientam por um modelo de produção e gerenciamento flexível22, significa a adoção de uma gestão gerencial horizontal, ou seja, as decisões são construídas com a participação dos trabalha-dores, consumidores, parceiros, enfim, todos que estão relacionados com a empresa, outra caracte-rística deste tipo de gestão é a utilização do traba-lhador polivalente, sendo que este deve entender e desenvolver várias funções.

A introdução do planejamento estratégico na gestão pública significa um avanço no sentido da desburocratização dos serviços, rompimento da vi-são de que as ações/serviços ofertados pelo Estado são neutras, além de contar com a participação dos usuários na tomada de decisão.

O planejamento estratégico só é possível numa gestão pública que se orienta pelo princípio democrático, no nosso país isso é possível porque a Constituição Federal institui as diretrizes da cons-trução de um Estado democrático e de direito.

O Estado, portanto, caracteriza-se como uma arena de conflito de interesses das classes sociais, e a elaboração e operacionalização do planejamento estratégico vai refletir essa disputa de interesses. As classes sociais vão disputar qual tipo de estratégia

22 Estudamos tipos de modelo de produção e gerenciamento nos itens anteriores .2.3 e 2.4

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o Estado deve adotar a defesa da democratização e da universalização dos direitos sociais, como de-fende a classe trabalhadora, ou a minimização dos direitos sociais como defende a classe burguesa.

O planejamento estratégico é materializado no Estado Brasileiro a partir da institucionalização da participação e controle social da população so-bre o Estado, criando mecanismos de participação que busca ultrapassar a mera democracia represen-tativa, combinando mecanismos da democracia re-presentativa com a democracia participativa direta, a exemplo dos Fóruns (Criança/adolescente, da As-sistência social), conferências, dos diversos conse-lhos gestores e direitos, Grupos de trabalhos, etc.

São nestes espaços de participação direta e indireta, espaços colegiados (participação do poder governamental e da sociedade civil) que são cons-truídos os objetivos, as diretrizes, metas, definidos recursos para elaboração/execução das políticas públicas que são materializadas na oferta dos serviços públicos, como educação, saúde, lazer, cultura, habitação, etc.

Como definimos anteriormente as palavras planejamento e estratégia, podemos perceber que a definição de estratégia é muito apropriada quando nos referimos à utilização do planejamento estraté-gico na gestão do Estado, visto que este mate-rializa todo processo de mobilização, disputa, ne-gociação entre classes sociais dos seus interesses, muitas vezes divergentes, que são intermediados pelo Estado.

Neste podemos identificar algumas caracte-rísticas da operacionalização do planejamento estratégico na gestão pública:

a) Identificação do terreno ou cenário em que se desenvolverá a ação e tendências;

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b) Identificação de aliados, oponentes, inte-ressados, neutros e, em alguns casos, até inimigos, mapeando a natureza e consistências de seus vínculos;

c) Identificação do perfil das forças em con-fronto, seus recursos, suas técnicas, suas alianças (em magnitude e qualidade), sua capacidade operacional;

d) Identificação do tempo disponível (luta). (TEIXEIRA, 2009, p. 560).

O Serviço Social é uma das profissões que utiliza a técnica de planejar, pois está previsto no Código de Ética de 1993 e na Lei que regulamenta a profissão do Serviço Social o manuseio desta técnica nas realizações das suas atividades profissionais.

O planejamento estratégico pode ser um ins-trumento utilizado pelo Serviço Social para imple-mentar o seu projeto ético – político, ou seja, o planejamento é uma técnica e sua utilização depen-de do referencial teórico da finalidade/direção que se pretende dar a esse instrumento, ou seja, qual objetivo pretende-se atingir com sua utilização.

Neste sentido, o Serviço Social utiliza o plane-jamento estratégico embasado nas três dimensões que o fundamentam: dimensão teórico-metodoló-gica, ético-política e técnico-operativa em qualquer espaço sócio-ocupacional que o profissional atua visando promover na sua ação profissional a defe-sa da democracia, da participação popular, do con-trole social das classes trabalhadoras na tomada de decisão do Estado.

O Serviço Social busca, também, auxiliar as organizações da classe trabalhadora na luta pela universalização dos direitos sociais, no combate ao preconceito, a opressão, exploração, a desigualda-de social, visando à promoção da cidadania.

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LEITURA COMPLEMENTAR

FRITSCH, Rosangela. Planejamento estratégico: Instrumental para a intervenção do serviço Social. In: Revista serviço social e sociedade. São Paulo, n. 52, pp. 127-145, dezembro, 1996.

Nesta obra o estudante vai encontrar a definição de planejamento estratégico e uma análise da utilização deste instrumental pelo o Serviço Social.

TEIXEIRA. Joaquina Barata. Formulação, Administração e execução de políticas públicas. In: Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.

Nesta obra o estudante vai encontrar uma rica análise sobre o planejamento no processo de elaboração, execução e avaliação das políticas públicas no Brasil

PARA REFLETIR

Faça uma análise sobre algum plano de uma política pública, a exemplo do Plano Nacional de Políticas Públicas para as Mulheres, o Plano Nacional de Juventude, identifique qual estratégia/direção presente no plano, se defende os direitos sociais dos sujeitos, quais os objetivos, as diretrizes, metas, se prevê o controle social dos sujeitos interessados. Não se esqueça de colocar suas análises no fórum do AVA

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103Tema 2 | Administração de serviços

3.4 Planejamento participativo

O planejamento participativo é um dos tipos de planejamento e está diretamente ligado ao pla-nejamento estratégico.

Este tipo de planejamento é o mais recomen-dado ao Assistente Social, já que o Serviço Social defende a descentralização e desconcentração de poder e a participação e o controle social das clas-ses trabalhadoras na elaboração, execução e ava-liação das políticas sociais.

É necessário para compreendermos o que é o planejamento participativo definir o que é parti-cipação e os tipos de participação utilizados pelo Estado Brasileiro

Bordenave (1994)23 compreende participação como uma necessidade humana básica, assim como os homens necessitam comer, dormir e trabalhar.

Especificando a origem da palavra participação...

Participar é fazer parte de algum grupo ou associação, ou tomar parte numa de-terminada atividade, ou ainda, ter parte num negócio. Mas, ressalta que há dife-rença entre essas expressões, pois cada uma determina uma forma diferente de participar.

Existem duas formas de participação do homem na sociedade, a microparticipação e a macroparticipação

Microparticipação, quando o homem participa de grupos primários como família, grupo de amizade ou de vizinhança;

23 Para aprofun-damento da leitura ler BORDENAVE, Juan Diaz. O que é participação Social. São Paulo, Cortez, 1994.

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Administração e Planejamento em Serviço Social104

Macroparticipação, quando o homem participa de grupos secundários, como as associações pro-fissionais, sindicatos, empresas e ainda de grupos terciários, como os partidos políticos e movimentos de classe (BORDENAVE, 1994, p. 23).

Segundo o autor, a microparticipação é uma associação voluntária e visa benefícios pessoais e imediatos. Já a macroparticipação consiste na inter-venção das pessoas nos processos dinâmicos que constituem ou modificam a sociedade.

No Brasil, a participação e o controle social das classes trabalhadoras no processo de construção, implantação e avaliação das políticas públicas só foram institucionalizados no país, com a aprovação da Constituição de 1988, e pode ser caracterizada como uma das grandes conquistas dessas classes no processo de intervenção e controle sobre o Estado.

As formas de participação das classes traba-lhadoras na esfera estatal foram estabelecidas pelo próprio Estado, por meio do desenvolvimento de políticas públicas de integração, como nos mostra Ammann (2003).

A autora, ao fazer uma análise sobre a política de desenvolvimento de comunidade, afirma que este foi um tipo de planejamento participativo ela-borado pelo Estado para obter adesão das classes subalternas aos seus projetos.

O desenvolvimento de Comunidade surge no país nos anos de 1940, sob a orientação da política internacional do pós-guerra e sob a égide da estra-tégia oficial de integração do local e do regional na política nacional de desenvolvimento, modernização e industrialização, e se afirma como instrumento capaz de favorecer o consentimento espontâneo das classes trabalhadoras subalternas às estratégias definidas pelo Estado. (AMMANN, 2003, p. 193).

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A política de desenvolvimento de comunida-de proclama a participação popular como elemento necessário ao processo de desenvolvimento nacio-nal. Essa forma de participação estabelecida pelo Estado brasileiro permite-nos apreender a estratégia utilizada pelas classes dominantes que conduziam o Estado; estas visavam conseguir a legitimação das classes trabalhadoras por meio do discurso e de práticas de integração e desenvolvimento nacional, que servia para desmobilizar e controlar as classes subalternas.

As principais correntes de pensamentos sobre participação que o Estado referenciava-se para esta-belecer o processo de participação e controle social no país foram:

a) A participação é concebida com base na mi-crovisão social localista, desconectada dos processos decisivos e decisórios da socie-dade global;

b) Uma segunda postura é a de caráter refor-mista, aloca a participação nas instâncias ma-crossocietárias, de modo a provocar reformas em bases nacionais – porém ainda omite e disfarça as relações de dominação que regem as classes, fundamenta-se numa visão unitá-ria e harmônica do todo societário;

c) Participação como instrumento de integra-ção; esta é outra corrente que condiciona o desenvolvimento nacional à articulação de todas as instâncias do planejamento e de todas as organizações e grupos sociais que, partilhando de valores e objetivos ge-

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Administração e Planejamento em Serviço Social106

néricos comuns, assumem funções próprias e obrigações recíprocas dentro do seu papel e nível. (AMMANN, 2003, pp. 194-195).

Esta última concepção de participação foi a que fundamentou a utilização do planejamento par-ticipativo no Brasil.

O planejamento participativo do Estado foi executado por técnicos/funcionários do próprio Estado que realizava reuniões nas comunidades, estes técnicos já levavam para a comunidade o diagnóstico e as prováveis soluções dos problemas prontos, ou seja, a participação da comunidade era bem limitada.

Este tipo de participação originava a impres-são na população de que tinha o poder de parti-cipar e interferir nos rumos da nação, no entanto sua participação era manipulada pelo Estado para legitimar o projeto do grupo que o dirigia.

Vale ressaltar que existiriam outras tendências que se contrapõem ao conceito de participação es-tabelecido pelo Estado. Estas tendências, basea-das na visão heterodoxa, colocaram a participação como um processo que se opera no contexto histórico da realidade social e global. Entre os seguidores desta corrente, destacam-se:

a) “Prática social concreta, que detecta através dos atos cotidianos dos indivíduos e dos grupos sociais.” (LIMA apud AMMANN, 2003, p. 195)

b) “Processo mediante o qual as diversas ca-madas sociais tomam parte na produção, na gestão e no usufruto dos bens e ser-viços de uma determinada sociedade”. (AMMANN, 2003, p. 195).

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107Tema 2 | Administração de serviços

Podemos complementar essas concepções com a visão de participação democrático-radical utilizada por Gohn (2007)24, em que se constituem sujeitos sociais os quais lutam por cidadania, por melhoria da sua condição de vida, para ter acesso às políticas públicas.

É este tipo de participação que as classes trabalhadoras tentam implementar através das instâncias de controle democrático do Estado, como conselhos, conferências, fóruns, etc.

Podemos citar como exemplo de plane-jamento participativo, as conferências e os Conselhos gestores e de direitos, utilizado pelo Estado na atualidade no processo de construção, implementação e avaliação das políticas/programas sociais e que o assistente social participa diretamente tanto na condição de profissional como de cidadão.

A conferência é um espaço de participação direta, em que todos os cidadãos podem participar. Neste espaço são produzidos os objetivos, diretri-zes e metas da política pública que se materializam no plano de ação, a exemplo do Plano Nacional de Juventude.

O Plano Nacional de Juventude é um planejamento da Política Nacional de Juventude que contou com a participação de várias organizações juvenis, e diversos segmentos da população, no qual existem metas que devem ser alcançadas no prazo de dez anos.

As diretrizes e metas do Plano materializam-se na elaboração de programas e projetos sociais, a exemplo do PROJOVEM (Programa Nacional de Inclusão de Jovens), as proposições destes, assim como o acompanhamento e avaliação é realizada pelo Conselho Nacional de Juventude.

24 Para aprofunda-mento ler GOHN, Maria da Glória. Conselhos Gestores: Participação sociopolítica. São Paulo, Cortez, 2007. E, CAVALCANTE, Itanamara Guedes. Juventude em Pauta: o processo de construção da política pública de juventude em Sergipe. Dissertação de mestrado .UFPE. 2010a

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O Conselho é uma forma de participação re-presentativa, o que significa dizer que são as enti-dades que representam a classe trabalhadora que participa do conselho, este é um órgão colegiado e paritário, ou seja, é composto tanto por representan-te do Governo como da sociedade civil.

A sua função é propor, deliberar, fiscalizar e avaliar as políticas, programas e projetos sociais, a exemplo da proposição e aprovação do plano anual da política municipal de juventude, aprovação da im-plantação dos coletivos do PROJOVEM.

Portanto, podemos caracterizar a conferência e o conselho como espaço de planejamento parti-cipativo das políticas, programas e projetos sociais.

Além, desses tipos de planejamentos da políti-ca pública existem outros que participamos enquan-to profissionais como o planejamento participativo das instituições que fazem parte do chamado “Ter-ceiro Setor” que pode propor no seu planejamento a participação dos funcionários, colaboradores e os usuários que são atendidos pela instituição.

Outro exemplo são as empresas (estatais e privadas) que têm utilizado o planejamento partici-pativo como uma ferramenta para aumentar a produ-tividade do trabalhador, criando programa em que o trabalhador pode participar apontando os proble-mas e propondo sugestões de resoluções destes, o trabalhador se sente importante ao ver suas suges-tões incorporadas nas decisões da diretoria,

Além disso, estabelece métodos em que os consumidores possam participar da produção dos serviços, a exemplo do disque sugestões, pesquisa de avaliação, etc.

A técnica do planejamento participativo está presente no nosso cotidiano como profissional, es-tudante, cidadão. O que precisamos é refletir sobre a natureza desta participação, se é uma participação orgânica e qualificada.

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109Tema 2 | Administração de serviços

Participação orgânica é quando essa participação é assegurada pelos dispositivos legais, a exemplo da Constituição Federal de 1988 que prevê a participa-ção e o controle social da população sobre o Estado, e a elaboração de leis complementares como a Lei Orgânica da Assistência Social que prevê a institui-ção do conselho e da conferência como mecanismos disponíveis ao usuário para intervir nos rumos da Política Nacional de Assistência Social.

Participação qualificada é quando o cidadão tiver acesso às informações, códigos, legislações para que possa de fato ter uma intervenção qualifi-cada propositiva que proporcione mudanças.

Outra questão que devemos discutir é a qua-lidade da participação representativa, a exemplo dos conselhos e dos representantes políticos (pre-feitos, vereadores, deputados, senadores, Governa-dor Estadual e Federal) se nestes espaços os inte-resses do conjunto da classe trabalhadora estão representados.

Para garantir uma relação direta entre re-presentantes e representados nestes espaços é ne-cessária a construção de canais de participação direta com a base, a exemplo da criação de fóruns, plenárias, seminários e reuniões, etc.

O Serviço Social enquanto profissão partici-pa diretamente destes instrumentos de participa-ção estabelecidos pelo Estado, que caracterizamos como momentos do planejamento participativo, a exemplo dos conselhos, das conferências, fóruns, etc. assessorando os órgãos públicos no processo de construção/organização destes espaços contri-buindo parac democratização da relação Estado e sociedade civil visando contribuir para o fortaleci-mento do controle das classes trabalhadoras sobre o Estado.

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Administração e Planejamento em Serviço Social110

LEITURA COMPLEMENTAR

AMMANN, Safira Bezerra. Ideologia do desenvolvi-mento de comunidade no Brasil. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2003

Nesta obra o estudante vai encontrar uma análise sobre a política pública, desenvolvimento de comu-nidade elaborada e executada pelo Estado como um instrumento de participação das classes traba-lhadoras no desenvolvimento econômico nacional.

BORDENAVE, Juan Diaz. O que é participação social. São Paulo: Cortez, 1994.

Nesta obra o estudante vai encontrar a definição do que é participação, os tipos e formas de participação.

PARA REFLETIR

Realize uma pesquisa sobre as principais estraté-gias utilizadas pelo Estado, as organizações do ter-ceiro setor e as empresas para introduzir o planeja-mento participativo.

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111Tema 2 | Administração de serviços

RESUMO

Estudamos neste item que o planejamento é algo intrínseco na vida do homem. Esse tipo de planeja-mento é considerado como planejamento ocasional, na qual não se estabelecem técnicas e métodos.O profissional de serviço social utiliza-se do plane-jamento para o desenvolvimento de seu trabalho.Sendo assim, o assistente social possui a necessi-dade de conhecer e entender a realidade na qual se pretende intervir, para isso ele apropria-se do pro-cesso investigativo para estruturar sua intervenção.Assim, o planejamento é uma ferramenta de investigação e intervenção do serviço social com a finalidade de promover mudanças concretas da realidade.

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Gestão de Serviços Sociais em Órgãos Públicos e Privados4

4.1 A gestão dos serviços sociais na contemporaneidade

Para compreender o significado de gestão dos serviços sociais é necessário entendermos o significado de política social; Qual o seu objetivo/finalidade e; Quais os tipos de políticas sociais.

As políticas sociais são instrumentos que possibilitam a população ter acesso a bens e serviços produzidos pela sociedade capitalista.

Na literatura existem várias definições sobre política social25, estas definições são fundamentadas nas teorias sociais, como posi-tivismo/funcionalismo, fenomenologia, marxismo, cada uma tem um método de investigação e compreensão sobre a sociedade capitalista. Adotaremos neste trabalho a definição de Demo (1994), sobre Política Social que se fundamenta na teoria marxista.

Segundo o autor, a sociedade capitalista, que tem como pano de fundo a desigualdade social, o desenvolvimento da política social precisa atingir esta desigualdade, buscando reduzi-la ao mínimo.

25 Ver os textos da disciplina Política Social. BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2006.

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Administração e Planejamento em Serviço Social114

Nesse sentido, este defende que a política social seja:

• Preventiva e alcance as raízes dos problemas;

• Deve ser redistributiva de renda e poder;

• Ser equalizadora de oportunidades e;

• Sempre que possível, emancipatória, unindo, assim, autonomia econômica com a autonomia política.

As políticas sociais resultam do processo da luta de classes, que visam dar resposta a uma de-terminada situação e pode ser caracterizada, como:

• Filantrópica, são os serviços sociais oferta-dos pelas organizações não governamentais;

• Empresarial, são os serviços sociais ofertados pelo mercado;

• Pública, no sentido de ser executada pelo Estado, são os serviços ofertados por ele.

Podemos considerar as políticas sociais como

instrumentos construídos a partir das necessidades

e pelo embate das classes sociais que é interme-

diado pelo Estado, instrumentos que visam permitir

à população o acesso a serviços e bens produzidos

pela sociedade com o objetivo de garantir a manu-

tenção e reprodução da força de trabalho.

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115Tema 2 | Administração de serviços

Neste sentido, é importante compreendermos os tipos de políticas sociais que existem na nossa sociedade, pois cada tipo reflete uma forma de gestão social das políticas, ou seja, a forma de gerenciamento dos serviços sociais básicos, como educação, saúde, habitação, etc. que são ofertados à população.

Gestão social26 significa um conjunto de estratégias voltadas à reprodução da vida social no âmbito privilegiado dos serviços - embora não se limite a eles - na esfera do consumo social, não se submetendo à lógica mercantil. A gestão social ocupa-se, portanto, da ampliação do acesso à riqueza social – material e imaterial – na forma de fruição de bens, recursos e serviços, entendida como direito social, sob valores democráticos como equidade, universalidade e justiça social. (SILVA, 2004, p. 32)

No Brasil, atualmente, existem dois modelos de Gestão Social para gerenciar a oferta de serviços sociais: o primeiro, de universalização dos direitos sociais, baseado nos princípios constitucionais, referendado no Estado Democrático de Direito e; o segundo, privatização e filantropização27 dos serviços, baseado na Gestão Neoliberal referendado no Estado Gerencial ou no Estado Mínimo.

O primeiro modelo entrou em vigor no país em 1988 com aprovação da Constituição Federal, que traz consigo a afirmação da construção de um Estado Democrático e de Direito, partir dos princí-pios de universalização dos direitos sociais, civis e políticos e da garantia da participação da comuni-dade no controle das políticas públicas.

Consolidando a formulação de Política Pública como a principal forma de Gestão das Políticas Sociais, o que significa dizer que é o Estado o prin-cipal financiador e executor dos serviços sociais ofertados à população tais como educação, saúde, habitação, lazer, assistência social, cultura, etc.

26 Essa discussão será aprofundada na disciplina Gestão Social

27 Retorno à prática da fi lantropia, da caridade social.

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Administração e Planejamento em Serviço Social116

A organização das políticas públicas no Brasil é estruturada no modelo de Seguridade Social basea-do no tripé saúde, previdência e assistência social. Um sistema que conjuga políticas de caráter universais, redistributivas, contributivas e não contributivas.

Os princípios norteadores de gestão das políticas públicas são: a democratização e a des-centralização política - administrativa – financeiro; ou seja, a construção de uma gestão compartilhada entre trabalhadores, governo e prestadores de serviços, além da municipalização das políticas públicas.

A municipalização das políticas públicas vi-sam uma relação direta e horizontal do global (Es-fera Federal/Estadual) com o local (Esfera Munici-pal), dando ênfase ao poder local.

Esse modelo de gerenciamento das políti-cas públicas atribui importância ao poder local por entender que é nesta esfera que existe o contato direto com as necessidades da comunidade, assim como a comunidade tem mais condições de intervir diretamente no processo de elaboração, execução e avaliação da política pública, através das; instâncias de controle democrático: conselhos gestores; conse-lhos de direitos; conferências; orçamento participa-tivo, plano diretor, fóruns, etc.

A ideologia Neoliberal vai se contrapor à concepção de gestão social como espaço de con-solidação das políticas públicas, que visam garantir os direitos sociais assegurados na Constituição.

O sistema Neoliberal Gestão social e enten-dida como sinônimo de boa governança, o que significa a capacidade dos governos de realizar as reformas administrativas de ajustes econômicos e sociais, de acordo com o receituário do Consenso Washington28, que se fundamenta na necessidade

28 Consenso de Washington foi o termo utilizado para designar os pacotes de medidas econômicas e so-ciais que os países, especialmente os países Latino Ameri-cano sob a direção dos Estados Unidos, deveriam adotar para combater a crise econômica do capital, tem como principal medida o corte drástico nos investimentos na área social

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117Tema 2 | Administração de serviços

de implantação do projeto neoliberal que visa à consolidação do Estado mínimo, ou seja, um Estado amplo para defesa dos interesses do Capital e mínimo para os investimentos na área social.

As medidas econômicas e sociais do Consenso de Washington foram introduzidas no país partir dos Governos de Collor (1990) e Fernando Henrique Cardoso – FHC (1994-2003) por meio da Reforma Gerencial do Estado.

O Estado já não tem por missão servir toda a sociedade, mas fornecer bens e serviços a inte-resses setoriais e a clientes ou consumidores, pro-vocando o agravamento das desigualdades sociais entre os cidadãos e entre as regiões do país.

A sociedade civil e as ONG´s são chamadas a legitimar esse projeto pela suposta participação nas decisões. Daí a busca de intensificação do diá-logo com a sociedade civil.

A sociedade civil no discurso Neoliberal é identificada como Terceiro Setor. O Terceiro Setor29 significa um novo personagem para atuar nas se-quelas das expressões da Questão Social. É Cons-tituído por ONG´s, Fundações e Institutos empresa-riais, associações sem fins lucrativos que prestam serviços na área social.

Nesse modelo de gerenciar as políticas so-ciais o Estado transfere para a sociedade civil (Terceiro Setor) a responsabilidade de financiar e executar os serviços assistenciais, que tem como público alvo os grupos vulneráveis, como criança e adolescente, idoso, mulher, comunidades carentes, como também, desenvolver atividades em defesa do meio ambiente, promover o desenvolvimento de ações filantrópicas, focalizadas, imediatistas e descontínuas.

29 Para apro-fundamento ler MONTAÑO, Carlos. Das Lógicas do Estado às Lógicas da sociedade Civil: Estado e Terceiro Setor em Questão. Revista Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1999, vol.59.

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Administração e Planejamento em Serviço Social118

O Terceiro Setor fundamenta sua ação no discurso da solidariedade, da participação, do voluntariado, responsabilidade social, todos têm que fazer sua parte, o que significa o retorno à prática da filantropia para enfrentar as expressões da Questão Social.

Além dessa ação o Estado promove a privati-zação de políticas sociais que são lucrativas para o mercado, a exemplo da política de educação e saúde.

Neste sentido, existem três tipos de serviço sociais: o ofertado pelo mercado, para aqueles que podem pagar pelo o serviço; o ofertado pelo Ter-ceiro Setor, para os segmentos sociais excluídos da sociedade; e o ofertado pelo Estado apenas para os grupos mais vulneráveis da sociedade.

Vale ressaltar que o Neoliberalismo é uma tendência mundial, que surgiu no mundo a partir da década de 1970 com o processo de reestruturação produtiva do capital que necessitava aumentar as taxas de lucros. Neste sentido, o capital utiliza o Estado para desenvolver seu projeto aprovando Leis que retiram direitos (sociais, trabalhistas, previ-denciários) dos trabalhadores, privatizando empresas estatais e as políticas públicas, e tornando o Estado submisso aos interesses do capital internacional.

No Brasil esse processo de introdução do Ne-oliberalismo, através da Reforma do Estado, foi de-nominado por Behring (2006), como Contra-Reforma do Estado brasileiro, visto que o objetivo da reforma não é melhorar a vida da classe trabalhadora, mas retirar direitos e aprofundar a desigualdade social.

O projeto Neoliberal que foi conduzido por al-guns setores das elites brasileiras, encontrou resis-tência por parte dos movimentos sociais, populares e sindicais que promoveram várias manifestações para denunciar a sociedade, o que significa o projeto neoliberal e os impactos na vida da população mais pobre.

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119Tema 2 | Administração de serviços

O coroamento desta luta deu-se com a vitória do presidente, Luis Inácio Lula da Silva, em 2002, que representava, naquele momento, o projeto de oposição ao Neoliberalismo.

Na atualidade observamos que há uma ten-dência de resistência à continuidade do projeto Ne-oliberal na condução do Governo Federal. Há uma recuperação do papel do Estado como interventor nas questões relacionadas à economia e, especial-mente ao social.

Nos últimos anos os movimentos sociais en-contraram uma conjuntura favorável para incluir suas demandas na agenda pública, a exemplo das mulheres, dos negros, jovens, LGBTT, etc.

Podemos citar como exemplo a construção de alguns dispositivos legais que efetivam os direitos destes segmentos através do desenvolvimento das políticas públicas, como a criação da Secretaria Na-cional de Políticas Públicas para Mulheres, da apro-vação do Plano Nacional de Políticas para Mulhe-res, a Lei Maria da Penha; dos negros, a Secretaria Nacional promoção da Igualdade Racial: aprovação do Estatuto da Promoção de Igualdade Racial, os jovens, a criação da Secretaria Nacional de Juven-tude, o Plano Nacional de Juventude, o PROJOVEM, os LGBTT, o programa Brasil sem Homofobia, plano Nacional de cidadania LGBTT.

Além da construção de instrumentos que possibilitam efetivar o que alguns autores deno-minam de novos direitos sociais, jovens, mulher, negro, LGBTT, quilombola, existiu o aumento dos investimentos nas demais políticas públicas, como saúde, educação, habitação, cultura, lazer, etc.

Vale ressaltar que o Estado é uma arena de conflitos de interesses das classes sociais e de seus segmentos sociais, portanto, essas conquistas são permeadas de contradições. Não podemos afirmar

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Administração e Planejamento em Serviço Social120

que os direitos sociais foram universalizados e que temos um Estado de Bem- estar social como prevê a Constituição Federal, mas estamos dando passo importante no fortalecimento no nosso país da consolidação do Estado Democrático de Direito.

LEITURA COMPLEMENTAR

SILVA, A. A. A gestão da seguridade social no Brasil: entre a política pública e o mercado. São Paulo: Cortez, 2004.

Nesta obra o estudante vai encontrar uma análise sobre a gestão da Seguridade Social no Brasil contemporâneo,

DEMO, Pedro. Política social, educação e cidadania. Campinas, SP: Papirus, 1994

Nesta obra o estudante vai encontrar a definição do que é política social, sua função, natureza e os diversos tipos de política social e a análise da po-lítica social no Brasil.

PARA REFLETIR

As características apresentadas neste item como a de-finição de política social, sua função e natureza, os modelos de gestão das políticas/programas/serviços sociais no Brasil contemporâneo, possibilitam apren-der a forma de gerenciamento das políticas sociais.

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121Tema 2 | Administração de serviços

De posse desses novos conceitos aprendidos realize uma pesquisa na sua cidade ou Estado sobre os tipos de gestão das políticas/serviços sociais que são ofertadas à população.

4.2 Elaborando planos, programas e projetos sociais

A elaboração de planos, programas e projetos é uma das competências que o Assistente Social está habilitado a realizar, assim como prevê a Lei de Regulamentação da Profissão n° 8.862, de 7 de junho de 1993. De acordo com os art. 4º e art. 5°

Art. 4° Constituem competências do Assistente Social:

II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;

Art. 5º Constituem atribuições privativas do Assistente Social:

I - coordenar, elaborar, executar, supervisio-nar e avaliar estudos, pesquisas, planos, progra-mas e projetos na área de Serviço Social.

Portanto, a elaboração de planos, programas e projetos são instrumentos de trabalho do Assis-tente Social que são utilizados nos mais diversos espaços sócio-ocupacionais, como nas várias políticas sociais, empresas públicas e privadas, nas Organizações não Governamentais, nos movi-mentos sociais etc.

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Antes de descrever os elementos que compõem um plano, programa e projeto, vamos recordar brevemente alguns conceitos, já expostos no item anterior.

a) Plano: é um documento de registro das decisões, dos objetivos e diretrizes que devem ser atingidos em longo, médio e curto prazo, um documento de orientação

b) Programa: é a materialização dos objetivos do plano, através das proposições de ações que têm um tempo definido para ser realizadas.

c) Projetos: Pode ser denominada como a menor unidade do planejamento, e dentro de um programa podem estar contidos vários projetos, pois este deve ser execu-tado em curto prazo e visa dar resposta a um determinado problema

Vale ressaltar que plano, programa e projeto são partes integrantes do planejamento realizado por alguma instituição, órgão ou setor público e privado.

Para facilitar a compreensão de como se rea-liza o processo de elaboração de plano, programa e projeto e de sua inter-relação como exposto acima, podemos utilizar para exemplificar todo esse pro-cesso a Política Nacional para Mulheres desenvol-vida pelo Presidente Lula durante as suas gestões (2003-2006 e 2007-2010).

O Plano Nacional de Políticas Públicas para Mulheres foi elaborado e aprovado na I conferência Nacional de Políticas Públicas para Mulheres e reva-lidado na II Conferência, nele contém os objetivos, diretrizes e metas da Política.

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123Tema 2 | Administração de serviços

Os objetivos do Plano foram estruturados em quatro eixos de atuação:

1. Autonomia, igualdade no mundo do trabalho e cidadania,

2. Educação inclusiva e não sexista,

3. Saúde das mulheres, direitos sexuais e direitos reprodutivos,

4. Enfrentamento à violência contra as mulheres.

Vamos utilizar o primeiro eixo dos objetivos para exemplificar como se realiza a elaboração de um programa. A fim de atingir tal objetivo o Governo ampliou a atuação do PRONAF, criando mais uma linha de crédito para as mulheres, o Programa PRONAF-MULHER, com o intuito de pro-mover a igualdade de gênero do mercado de tra-balho e promove a autonomia econômica e política das mulheres

No entanto, para as mulheres acessarem o programa é necessário a elaboração de um projeto por parte das mulheres. Estas mulheres podem ou não fazerem parte de uma organização como MST, STTR30, associações e cooperativas de produtores.

No projeto precisa conter a justificativa, ou seja, apresentação do problema, das ações que serão realizadas com o dinheiro do crédito.

Esse é o procedimento adotado pelo Estado para poder efetivar um direito social, através da realização da política pública.

Agora que já compreendemos o que é um plano, programa e projeto e sua relação, vamos estudar quais são os elementos que compõem um projeto.

30 MST (Movimen-to dos Trabalha-dores Sem Terra. STTR Sindicato dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais.

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Precisamos sempre partir do pressuposto

que na construção de um plano, programa e proje-

to é necessária a participação de todos que serão

atingidos pela execução destes.

O Primeiro passo é convocar uma reunião

com todos aqueles interessados e com os que

serão público alvo do projeto. Nesta reunião será

discutido o porquê da necessidade de elaborar o

projeto, os objetivos e as ações. O projeto tem que

representar o interesse do coletivo.

Os elementos que devem conter num projeto:

a) Identificação do projetoDeve conter o Título do Projeto, o local e a

data (início e o término do projeto).

b) Identificação do proponente/executorNome, endereço completo, forma jurídica da

Instituição (no caso de uma associação o CNPJ). Além dessas informações deve ter também os da-dos do responsável pelo projeto, o coordenador, nome, endereço, CPF e RG.

Se o projeto for realizado em parceria com outros órgãos colocar também, mas especificando quem é o responsável pelo projeto.

c) Histórico de experiência da instituição propo-nente/executora.Alguns órgãos solicitarão o histórico da insti-

tuição, neste caso deve-se colocar as informações referentes a outros projetos já desenvolvidos pela instituição, descrevendo as atividades, público alvo, parceiros, resultados e o órgão que financiou.

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125Tema 2 | Administração de serviços

d) Caracterização do problema e justificativaNeste Item deve conter a apresentação do

problema, ou seja, o porquê da necessidade do projeto e sua importância para as pessoas que serão beneficiadas, os benefícios econômicos, so-ciais, políticos, culturais e ambientais que o projeto proporcionará.

e) Objetivo geral O objetivo é a apresentação da situação e o

que se deseja alcançar com o projeto.

f) Objetivos específicosOs objetivos específicos são os resultados

esperados. Devem ser executados no desenvol-vimento do projeto, através das metas e das atividades.

g) MetasAs metas estão diretamente relacionadas

com os objetivos específicos, as metas pretendem especificar como se deve fazer para atingi-los. As metas são resultados parciais dos objetivos, por isso cada objetivo específico deve conter mais de uma meta.

As metas são expressões de quantidade e qualidade e precisam estar bem definidas para poder definir com precisão os indicadores que serão utilizados para avaliar se os resultados foram alcançados.

h) Atividades As atividades estão diretamente relacionadas

com os objetivos específicos e com as metas, por isso, as ações precisam ser bem detalhadas, enu-meradas em ordem cronológica.

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Administração e Planejamento em Serviço Social126

i) Público alvo.São as pessoas que serão beneficiadas com

o projeto.

j) Plano de trabalho/MetodologiaEsse item é de suma importância para

avaliação/aprovação do projeto pela agência financiadora. Na elaboração da metodologia deve conter de forma detalhada o objetivo (finalidade do projeto), quem são os parceiros e de que forma o projeto será executado.

k) CronogramaO projeto tem início, meio e fim, tem um

período para ser executado, portanto, o cronograma vai definir quando cada ação será desenvolvida.

l) ResultadosÉ um impacto que o projeto causou na vida

das pessoas e na comunidade onde foi executado. É analisar se os objetivos específicos e gerais foram alcançados. É importante frisar a necessidade de publicizar os resultados nos mais diversos meios de comunicação.

m) Monitoramento/avaliaçãoÉ de suma importância para o desenvolvi-

mento do projeto, pois a população beneficiada, assim como os parceiros e demais agentes envolvi-dos no projeto podem avaliar permanentemente a execução das atividades proporcionando com isso não apenas o controle social, mas o aperfeiçoa-mento do projeto durante a sua execução, propondo soluções para problemas que vão surgindo.

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n) OrçamentoÉ um cronograma financeiro do projeto

detalhando quando e quanto cada ação vai gastar. É importante detalhar ao máximo a planilha de gastos.

o) ResumoÉ a apresentação sucinta do projeto, deve

conter os objetivos, a duração e o custo, e a justifi-cativa do projeto. É a síntese do projeto.

p) AnexosÉ o espaço para colocar informações que não

se enquadram nos item anteriores, assim como anexar documentos solicitados.

LEITURA COMPLEMENTAR

TENÓRIO, Fernando Guilherme. Elaboração de projetos comunitários: abordagem prática. São Paulo: Loyola, 2005.

BAFFI, Maria Adélia Teixeira. O planejamento em educação: revisando conceitos para mudar concep-ções e práticas. In:BELLO, José Luiz de Paiva. Pe-dagogia em Foco. Petrópolis, 2002. Disponível em: <www.pedagogiaemfoco.pro.br>. Acessado em: novembro de 2010.

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PARA REFLETIR

Neste Item podemos aprender a importância do plano, programa e projeto como instrumento na atuação do Serviço Social, assim como identificar um plano, programa, projeto e como se elaborar um projeto.

Forme um grupo de estudo e faça uma análise de um projeto identificando quais os elementos que o constituem e socialize no encontro presencial.

4.3 Avaliação e controle

A Constituição Federal de 1988 prevê a des-centralização administrativa – política – financeira das políticas sociais. Transfere para as esferas es-taduais e municipais parte da responsabilidade de elaborar, executar e avaliar as políticas, programas e projetos sociais contando com a participação po-pular, caracterizando como uma gestão comparti-lhada entre os entes federativos.

A participação das classes subalternas materializa-se através das instâncias de contro-les democráticos, a exemplo dos conselhos e das conferências31.

Podemos caracterizar os conselhos:

• Conselhos gestores ou conselhos de políticas sociais, a exemplo do conselho de saúde e educação, etc.

31 Além dessas instâncias existem outras como Ministério Público, orçamento participa-tivo, Fóruns, etc.

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129Tema 2 | Administração de serviços

• Conselho de direito, a exemplo dos conse-lhos criança e adolescente, da mulher, etc.

Sua composição é paritária, existem mem-bros que representam a administração pública e membros que representam a sociedade civil, por meio dos movimentos sociais, entidades dos usuá-rios, trabalhadores da política, entidades que pres-tam serviço na área, por isso que denominam de participação representativa, ou seja, porque são as entidades que participam representando a coletividade.

A função do conselho é propor e deliberar diretrizes para formulação de políticas, programas e projetos, fiscalizar sua execução e avaliar seus resultados.

As conferências são espaços de participação direta32, acontecem geralmente a cada dois anos e têm por objetivo discutir as diretrizes para construção da política pública e de avaliar sua implementação e seus resultados.

O controle Social efetiva-se por meio das ins-tâncias de controle democrático que garante a par-ticipação das classes subalternas em todos os processos da política pública, elaboração, exe-cução, monitoramento e avaliação. Permitindo que nas políticas, programas e projetos, os in-teresses e as necessidades dos usuários possam estar representados.

A avaliação é um procedimento técnico/po-lítico desenvolvido para avaliar a política pública desde a sua elaboração, implementação até os resultados alcançados.

Avaliar significa atribuir sentido, dar valor de jul-gamento a algo.

32 Todos podem participar

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Avaliar pressupõe determinar a valia o valor de algo; exige apreciar e estimar o mereci-mento, a grandeza, a intensi-dade, a força de uma política social diante da situação a que se destina. (BOSCHETTI, P. 578)

Segundo a autora, avaliar estabelece uma relação de causalidade entre um programa e seus resultados, e isso só pode ser obtido mediante o estabelecimento de uma relação causal entre a modalidade da política social avaliada e o seu sucesso e/ou fracasso tendo como parâmetro a relação entre objetivos, intenção, desempenho e alcance de objetivos, (BOSCHETTI, 2009. p. 577).

A partir desta compreensão sobre o que é ava-liação vamos estudar métodos utilizados nos pro-cessos avaliativos das políticas públicas no Brasil.

As metodologias e técnicas de avaliação das políticas sociais surgiram primeiro nos Estados Uni-dos na década de 1960 e só foi introduzida no Brasil na década de 1970/80, consolidando-se no nosso país na década de 1990 com uma lógica ge-neralista, fragmentada, buscando avaliar a eficiên-cia e eficácia da política social. Serviu como um instrumento argumentativo para que os Governos de orientação Neoliberal realizassem a Reforma do Estado Brasileiro

Segundo Arretche (2007), podemos destacar dois métodos utilizados para avaliar as políticas sociais no Brasil: A avaliação da política e a análise da política.

a) Avaliação da política - esse tipo avaliati-vo visa analisar o processo de tomada de decisão que resultou na implantação da política social, saber o porquê da política social.

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b) Análise da política - esse tipo avaliativo visa compreender as configurações da po-lítica, conhecer e explicar o seu significado, suas configurações, funções, abrangência e resultados.

Baseados nesses modelos avaliativos vão ser desenvolvidos pesquisas de avaliação para classi-ficar avaliação das políticas sociais de acordo com os seus objetivos, tais como efetividade, eficácia e eficiência. Classificando como ex-ante e ex-post, ou seja, pesquisas de impacto ou de processo, que são interna ou externa a depender de quem desenvolva a pesquisa.

a) Avaliação de Efetividade: é o estudo da relação entre a implementação de um programa e seus resultados alcançados. Procura verificar se tal política/programa social proporcionou mudanças na vida da população beneficiária.

b) Avaliação de Eficácia: é o estudo da relação entre os objetivos e instrumentos anuncia-dos de uma política/programa e os seus objetivos alcançados. É a avaliação da rela-ção entre as metas previstas e as atingidas, e dos instrumentos previstos na implemen-tação e aqueles realmente utilizados.

c) Avaliação de Eficiência: é o estudo da relação entre os esforços empregados de uma política/programa e os resultados obtidos. É a avaliação sobre a utilização dos recursos, se são bem ou mal utilizados. (ARRETCHE, 2007, pp. 31-34).

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Estes tipos de avaliação são fundamentados numa relação de custo-benefício, são construídos instrumentos para avaliar a relação de quanto foi gasto na política, quantas pessoas foram beneficia-das, quais resultados foram alcançados. Esta forma de avaliar é apenas quantitativa e não qualitativa, não se preocupa com outras questões do tipo se a política social conseguiu efetivar os direitos sociais ou qual o papel do Estado nesse processo.

Há nessa forma de avaliação a tentativa de transpor os métodos avaliativos que são utilizados para o mercado, a exemplo da relação custo-bene-fício, para avaliar as políticas sociais desconside-rando as particularidades, o significado e o con-texto de construção desta. As políticas sociais são mecanismos de redução das desigualdades sociais que visam garantir a efetivação dos direitos sociais tendo o Estado como garantidor desse processo.

Já existe no país uma produção literária pro-blematizando os limites desses tipos avaliativos, a exemplo da produção científica desenvolvida pelo Serviço Social.

A produção científica elaborada pelo Servi-ço Social questiona o alcance dessas avaliações, já que não discute o papel, a função e o tipo de po-líticas sociais, assim como qual o papel do Estado nesse processo.

Apoiada no método dialético da teoria mar-xista, autores do Serviço Social compreendem que a avaliação das políticas sociais tem que ser anali-sada de forma dialética, entendendo suas particula-ridades e o contexto social no qual estão inseridas, a relação das políticas, programas sociais com o Estado e as classes sociais. Portanto, o Serviço So-cial propõe uma ruptura com a visão linear e etapista dos modelos avaliativos que se baseiam apenas na perspectiva de verificar a relação custo e benefício da política social sem analisar a totalidade desta.

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133Tema 2 | Administração de serviços

Segundo Boschetti (2009) propõe, a avaliação da política social deve buscar compreender as seguintes questões:

1) a análise em sua totalidade;

2) a análise do caráter contraditório existente entre as determinações legais e a operacionalização da política social;

3) a articulação dos determinantes estrutu-rais que conformam a política social quanto das forças sociais e políticas que agem em sua formu-lação e execução.

Neste sentido, a autora estabelece três ele-mentos que devem compor o processo de avaliação das políticas sociais que possam dar conta dessas questões acima apontadas, são:

• Configuração e abrangência dos direitos sociais e benefícios

Busca analisar a natureza, a função dos direitos e benefícios que a política e o programa visa imple-mentar. A partir dos seguintes indicadores:

a) Natureza e tipo dos direitos e benefícios previstos ou implementados: se está pre-visto na legislação, se é um benefício que requer contribuição prévia ou se é um be-neficio não contributivo, se é executado sob a órbita do direito ou se é clientelista, se tem caráter universal ou seletivo.

b) Abrangência: número de pessoas que são beneficiadas. É necessário relacioná-lo com o universo da política/programa a que se destina para saber se é seletivo ou universal.

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c) Critério de acesso e permanência: permite analisar o grau de inclusão/exclusão da política, quanto mais rigorosos forem os critérios mais seletivos e focalizados serão os o programa.

Os critérios de acesso e permanência asso-ciados à abrangência são fatores fundamentais para determinar a universalidade das políticas e/ou programas sociais e a definir o tipo de direito.

d) Formas e mecanismos de articulação com outras políticas. A relação com as demais políticas sociais permite analisar se es-tas são capazes de assegurar ao cidadão suas necessidades (BOSCHETTI, 2009).

• Financiamento e gasto social

Este item permite compreender a estrutu-ra orçamentária, suas fontes e a natureza e os impactos dos direitos sociais, já que o modo de financiamento é definidor da natureza e do tipo de política. Isso ocorre a partir dos seguintes In-dicadores:

a) Fontes de financiamento: Identificar as fontes de financiamento, a origem dos recursos, ou seja, de onde são prove-nientes, principalmente dos impostos dos trabalhadores, ou se oneram os em-pregadores e o capital. Além disso, per-mite saber a procedência, se são recur-sos estaduais, municipais ou Federal e se têm uma rubrica específica;

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b) Direção dos Gastos: correspondem à análi-se da distribuição dos gastos, analisando a prioridade de recursos para programas, projetos, serviços, e a distribuição federa-tiva, ou seja, se existem regiões que têm prioridade no recebimento do recurso de acordo com os índices socioeconômicos.

c) Magnitude dos gastos: permite saber se existiu manutenção, redução ou aumento dos investimentos (BOSCHETTI, 2009).

• Gestão e Controle democrático

Este item visa analisar qual o tipo de gestão da Política/programa, se segue as diretrizes cons-titucionais de descentralização da política e de controle social. Isso ocorre a partir dos seguintes Indicadores:

a) Relação entre as esferas governamentais: analisar o tipo de relação entre as esferas. Se há autonomia, se tem definições de atribuições, de quem é a responsabilida-de do financiamento, se há superposição das ações, se existe estrutura institucional adequada (recursos humanos, físicos e fi-nanceiros) para implantação da política.

b) Relação entre o Estado e as ONG´S: sabe-mos que na atualidade existe a parceria do Estado com a sociedade civil na execu-ção das políticas sociais. Permite identifi-car se o Estado apenas repassa o recurso, se o Estado executa os serviços conjunta-mente, etc.

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c) Participação e Controle Social: permite ve-rificar se na implantação da política/programa pre-vê mecanismos de participação e controle social, como conferência, conselhos, reuniões, fóruns, etc., e o tipo desta participação, se é apenas consultiva ou é consultiva e deliberativa.

Portanto, é necessária na construção de meto-dologias de avaliação da política/programa a adoção de um referencial teórico que permita compreender as multicausalidades que determinam a elaboração de uma política social numa sociedade capitalista. A teoria marxista permite analisar a política social numa visão de totalidade numa relação dialética.

LEITURA COMPLEMENTAR

ARRETCHE. Marta. T. S. Tendências no estudo sobre avaliação. In: Avaliação de políticas sociais: uma questão em debate. Org. Elizabeth Melo Rico. 5. ed. São Paulo: Cortez, Instituto de Estudos Especiais, 2007.

Nesta obra o estudante vai encontrar uma análise das principais tendências de avaliação das políti-cas/programas sociais, a definição e os tipos de avaliação.

BOSCHETTI, Ivanete. Avaliação de políticas, programas e projetos sociais. In: Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.

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137Tema 2 | Administração de serviços

Nesta obra o aluno vai encontrar uma análise sobre as metodologias avaliativas lineares e a proposição de uma metodologia avaliativa baseada na teoria marxista que permite compreender a relação da política/programa social com o Estado e com as classes sociais.

PARA REFLETIR

Forme um grupo de pesquisa e realize uma pesqui-sa nos órgãos públicos de sua cidade (secretarias educação, saúde, assistência social etc.) para saber se existe algum tipo de avaliação da política e/ou dos programas sociais desenvolvidos no município. Procure e identifique qual tipo de avaliação e os indicadores que apresentam.

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4.4 O planejamento nos processos de trabalho do serviço social

As funções do trabalho do profissional de Serviço Social são estabelecidas na Lei de Regulamen-tação da profissão de assistente social que institui as balizas de ação profissional estabelecendo as suas competências.

No art.4º da Lei 8.862 de 07 de junho de 1993, no inciso II, encontramos como competência do assistente social: “Elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil”

As legislações que dispõem sobre a formação e a atuação do profissional do Serviço Social, como as Diretrizes Curriculares da ABEPSS 1996, o Código de Ética de 1993 e a Lei 8.862 1993 que regulamenta a profissão são componentes que consolidam o Projeto Ético Político da Profissão.

Essas legislações orientam a atuação profissio-nal dando suporte para que possam se concretizar as dimensões ético, político, teórico-metodológico, e técnico operativo-possibilitando ao Assistente Social a Capacidade investigativa e interventiva.

Na atualidade, o processo de reestruturação produtiva do sistema capitalismo trouxe novas con-figurações para o mundo do trabalho, assim como para a esfera estatal.

No mundo do trabalho assistimos a introdução de novas tecnologias que permitiu ampliar a pro-dutividade e ao mesmo tempo reduzir a quantidade de trabalhadores o que provocou a crise do empre-go estrutural (pessoas que jamais serão absorvidas no mercado de trabalho formal porque existe mais trabalhadores do que emprego), ampliação do mer-cado de trabalho na esfera dos serviços, flexibili-zação da legislação trabalhista e previdenciária, a necessidade de um trabalhador polivalente.

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139Tema 2 | Administração de serviços

As mudanças na esfera Estatal foram deno-minadas de o Estado Neoliberal, o que significou a redução do papel do Estado na intervenção da vida social, ou seja, o mercado passa a ser o novo regulador da vida social e não mais o Estado.

Além disso, existe uma grande redução dos investimentos nas políticas públicas transferindo a execução das políticas sociais para o mercado e o Terceiro Setor provocando o aumento da desigual-dade social e do agravamento das expressões da Questão Social no Brasil

O Assistente Social sofre os rebatimentos do processo de reestruturação produtiva do capitalis-mo, conhecido como a fase de financerização do Ca-pital, duplamente na condição de trabalhador e nos novos desafios postos para atuação profissional.

Primeiro, na condição de trabalhador assa-lariado sofre com as mudanças do mundo do tra-balho, como desemprego, subcontratação, trabalho temporário, prestador de serviço, etc. além de ter que se encaixar no perfil do mercado de ser um trabalhador polivalente.

Vale ressaltar que o Assistente Social tem como espaço privilegiado de atuação profissional as políticas sociais, especialmente as políticas sociais públicas, o que torna o Estado o maior empregador deste.

Segundo os novos desafios postos para atuação do profissional estão diretamente ligados as mudanças ocorridas na esfera Estatal, a partir da redução dos investimentos do Estado nas políticas públicas que provocaram alteração no mundo do trabalho do Assistente Social, como redução dos postos de trabalho e alteração no espaço sócio ocupacional passando a atuar nas políticas sociais de caráter empresariais e filantrópicas.

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Administração e Planejamento em Serviço Social140

Essas mudanças implicaram no surgimento de novas demandas sociais (aumento da paupe-rização, violência, etc.) e de novas formas de en-frentamento destas demandas por parte do Estado, que tem respondido com políticas sociais seletivas, residuais e focalistas.

Tais políticas (espaço de atuação do Assis-tente Social) impõem limites na atuação do Serviço Social, já que o profissional tem que enfrentar no seu cotidiano a escassez dos recursos financeiros e a burocratização e falta de transparência na gestão das políticas.

As mudanças ocorridas na Esfera Estatal trazem para a atuação do serviço social o desafio de materializar o Projeto Ético Político, da categoria, pois este visa a defesa da universalização dos direitos sociais, da consolidação das políticas públicas, da participação e controle social das classes subalternas sobre o Estado.

A dificuldade na materialização dos princípios do Projeto Ético, Político, consiste no agravamento das expressões da Questão Social que se encontra, na atualidade, como forma privilegiada de enfren-tamento da Questão Social a mercantilização e a fi-lantropização das políticas, o que significa dizer que a perspectiva do direito social contido nas políticas públicas garantido pelo Estado dar lugar à perspectiva das políticas como mercadoria e benesse.

No Brasil esse processo denominado de novas configurações do sistema capitalista tem como expressão o embate de dois projetos socie-tários, existente na atualidade.

O primeiro, o projeto de universalização dos direitos sociais e da consolidação do Estado como agente regulador da vida social pautado por um Estado Democrático e de Direito previsto na Consti-tuição Federal de 1988.

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141Tema 2 | Administração de serviços

E o segundo, o Projeto Neoliberal pautado pelo Estado Mínimo que tem como agente regulador da vida social o mercado.

Segundo Iamamoto (2009), diante desse processo de embate de projetos societários, que é determinado pela mudança na estratégia de acu-mulação do capital, hoje sob a hegemonia do ca-pital financeiro, em que no Brasil esse processo foi conduzido pelo Estado, através da Reforma do Estado, o Assistente Social tem que ter o seguinte perfil fundamentado nas três dimensões da profis-são ético–político, teórico-metodológico e técnico-operativa:

• Dimensão ético-político - ter o compro-misso com os valores democráticos, apoiar as lutas da classe trabalhadora, defender a universalização dos direitos sociais e a efetivação das políticas públicas universais.

• Dimensão Teórico-metodológico - fun-damentado na teoria social crítica, ter a capacidade investigativa para realizar estudo social e desvendar as causas das expressões da Questão Social.

• Dimensão Técnico-operativo – ter a capa-cidade interventiva de criar estratégias que possibilitem estimular a participação dos usuários, na defesa e no acesso aos direitos sociais.

Portanto, o Assistente Social tem que assumir um perfil crítico, criativo, comprometido com as lutas da classe trabalhadora, com a universalização dos direitos sociais, com a defesa intransigente

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da democracia, liberdade, igualdade, equidade e justiça social. Esses compromissos devem estar explícitos no seu projeto de trabalho.

A partir desta compreensão do perfil do Assistente Social na atualidade para intervir nas expressões da Questão Social iremos estudar os elementos que compõem um projeto de trabalho do assistente social.

Como em todas as áreas, o planejar ou proje-tar também está presente no cotidiano profissional de serviço social, sendo esta uma ferramenta im-prescindível na sua intervenção junto a usuários. O assistente social deverá estabelecer um projeto de trabalho como ferramenta para materialização do projeto ético político profissional.

Ao pensar na elaboração de sua intervenção profissional, o assistente social deverá estabelecer, primeiramente, uma direção de trabalho adotando uma atitude investigativa. Essa dimensão investi-gativa está diretamente relacionada com a dimen-são interventiva, sendo que uma interfere na quali-dade de trabalho da outra.

Para Fraga (2010), a atitude investigativa presente no cotidiano do assistente social precisa ser arquitetada na medida em que se permita uma ação reflexiva sustentada pela intencionalidade e pelo planejamento.

Ao imprimir o projeto de trabalho, o assis-tente social estabelece as diretrizes que delinearão sua intervenção e o compromisso assumido coleti-vamente junto às organizações da categoria. Este compromisso deverá ser firmado no que prevê os onze princípios fundamentais instituídos no código de ética Resolução CFESS nº 273/93 e embasado pelas prerrogativas da Lei 8862/93.

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Para formulação do projeto profissional o assistente social deverá primeiramente identificar a instituição ou organização de atuação. E em seguida, apontar quem são os usuários que serão contemplados através do projeto, que outros pro-fissionais estarão envolvidos e qual o pressuposto teórico que vai dar fundamentação ao trabalho.

O projeto de trabalho deverá ser escrito, documentado e constantemente acessado, avaliado e se necessário reavaliado e realimentado.

Na formulação do projeto profissional, deverá considerar como seu objeto de intervenção as expressões da Questão Social que deverão ser enfrentadas no projeto.

Os objetivos deverão indicar o que se pretende alcançar com a intervenção profissional. Através dos objetivos pode-se entender de uma forma clara, o que pretende a intervenção.

É importante também clarificar e quantificar, no projeto, as metas que deverão ser alcançadas. Essas metas deverão ter uma relação estreita com os ob-jetivos estabelecidos. Neste ponto, deve-se também estabelecer os indicadores de avaliação que serão mensurados, no qual medirá a efetividade da ação.

A Avaliação/Monitoramento é de suma impor-tância no desenvolvimento do projeto, pois permite ao usuário participar, contribuir e avaliar para a realização deste, haja vista, que é a vida do usuário que o projeto pretende atingir

Outro ponto que deve constar no projeto são os recursos utilizados durante a execução. Sejam recursos financeiros, recursos materiais ou recursos humanos.

Portanto, ao elaborar o projeto de trabalho o profissional deve articular as três dimensões que integram o Projeto Ético Político do Serviço Social ético-político, teórico-metodológico e técnico-operativo visando sempre promover a cidadania do usuário

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independente de qual espaço sócio- ocupacional esteja atuando, quer seja empresa pública e privada, instituições e organizações do Terceiro Setor e as políticas públicas

LEITURA COMPLEMENTAR

FRAGA, Cristina Kologeski. A atitude investigativa no trabalho do assistente social. In: Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo, nº 101, p. 40 e 64, janeiro/março 2010.

Nesta obra o aluno vai encontrar os componentes de trabalho do assistente social, dentre eles o pro-cesso investigativo, fundamental para elaboração do projeto de trabalho do assistente social.

IAMAMOTO, Marilda Villela. Os espaços sócio –ocu-pacionais. In: Serviço Social: Direitos sociais e com-petências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.

Nesta Obra o aluno vai encontrar uma discussão sobre a condição do Assistente como trabalhador Assalariado, análise sobre o processo de reestrutu-ração do capital, hoje sob a hegemonia do Capital financeiro e suas implicações para as condições de trabalho do Assistente Social.

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PARA REFLETIR

Estudamos que o processo de planejamento é necessário à elaboração de um documento que expresse os objetivos e metas para faciltar sua operacionalização.

Vamos elaborar um plano de trabalho? Vamos ima-ginar que você já é um assistente social de uma empresa ou organização e terá que elaborar um plano de trabalho.

Procure seu tutor para auxiliá-lo. Comente no fórum do AVA o que você achou do exercício. Aproveite para observar os comentários de seus colegas.

RESUMO

Nesse item estudamos o que é Gestão Social e aprendemos que ela está relacionada diretamente com o tipo de política social e de Estado.Nesse contexto aprendemos a importância da ava-liação e do controle social na elaboração e exe-cução das políticas sociais e como se elabora um plano, programa, projeto e a importância deste ins-trumento na atuação do Serviço Social.A atuação do profissional de Serviço Social deve estar sem fundamentada nas três dimensões que integram o Projeto Ético Político do Serviço Social ético-político, teórico-metodológico e técnico-ope-rativo visando promover o acesso dos usuários aos direitos sociais.

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Referências

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150 Administração e Planejamento em Serviço Social

Anotações

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Anotações

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Anotações

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