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Adolescência Estágio de transformações psicológicas, físicas e sociais da criança para a vida adulta 1 Eudson Souza Menezes 2 A adolescência é um período de significativas transformações para o indivíduo. Esse período marca a transição da criança para a vida adulta. Assim como essas duas fases, a adolescência é caracterizada por especificidades que merecem o estudo da Psicologia do Desenvolvimento. O adolescer como é denominado por Outeiral (1994) é um período de transformações biopsicossocial. Dessa maneira novas demandas são exigidas para esse individuo que sai da infância e almeja ir a vida adulta. Para Outeiral a raiz etimológica da palavra adolescência dá indícios sobre a natureza dessa fase: A palavra “adolescência” tem uma dupla origem epistemológica e caracteriza muito bem as peculiaridades desta etapa de vida. Ela vem do latim ad (a, para) e olescer (crescer, significando a condição ou processo de crescimento, em resumo o indivíduo apto a crescer. Adolescência também deriva de adolescer, origem da palavra adoecer. (OUTEIRAL, 1993, p. 16) O que o autor refere-se a adolescência é que esse período pode significar o florescer pleno para a vida adulta do individuo ou o início de inadaptações para o período da vida seguinte. Nessa perspectiva, a psicanalista argentina 1 Trabalho apresentado a disciplina Psicologia do Desenvolvimento II do Curso de Psicologia da Universidade Federal do Maranhão, ministrada pela Professora Nilma. 2 Bacharelando do Curso de Psicologia da Universidade Federal do Maranhão.

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Adolescência

Estágio de transformações psicológicas, físicas e sociais da criança para a vida adulta1

Eudson Souza Menezes2

A adolescência é um período de significativas transformações para o indivíduo. Esse

período marca a transição da criança para a vida adulta. Assim como essas duas fases, a

adolescência é caracterizada por especificidades que merecem o estudo da Psicologia do

Desenvolvimento. O adolescer como é denominado por Outeiral (1994) é um período de

transformações biopsicossocial. Dessa maneira novas demandas são exigidas para esse

individuo que sai da infância e almeja ir a vida adulta.

Para Outeiral a raiz etimológica da palavra adolescência dá indícios sobre a natureza

dessa fase:

A palavra “adolescência” tem uma dupla origem epistemológica e caracteriza muito bem as peculiaridades desta etapa de vida. Ela vem do latim ad (a, para) e olescer (crescer, significando a condição ou processo de crescimento, em resumo o indivíduo apto a crescer. Adolescência também deriva de adolescer, origem da palavra adoecer. (OUTEIRAL, 1993, p. 16)

O que o autor refere-se a adolescência é que esse período pode significar o florescer

pleno para a vida adulta do individuo ou o início de inadaptações para o período da vida

seguinte. Nessa perspectiva, a psicanalista argentina Aberastury (Apud RANGERL et al.

2012, p. 5) argumenta que a adolescência é um período de difícil definição. Ainda segundo a

autora, a conceituação de adolescência deixou de ser caracterizada por ser um período

cronológico para se caracteriza como um quadro de estruturação psíquica. Essa elasticidade

desse período que deixou de ser cronológico para abranger a estruturação psíquica foi devido

ao fato que na clínica verificou-se que uma parcela de indivíduos que cronologicamente são

considerados como adultos apresentam problemas de adaptação social típicos da adolescência.

Tanto para Freud quanto para Erickson (Apud RANGEL et al. 2012, p. 4), a

adolescência é caracterizada por uma crise de identidade. As novas exigências dessa fase

deixam o jovem sem um referencial seguro para a ação. Ele não criança e nem adulto. Ele

precisa busca autonomia e, ao mesmo tempo,respeitar a autoridade dos pais. Então nesse

continum entre a vida de criança e a vida de adulto, o adolescente se sente irremediavelmente

perdido.

1 Trabalho apresentado a disciplina Psicologia do Desenvolvimento II do Curso de Psicologia da Universidade Federal do Maranhão, ministrada pela Professora Nilma.2 Bacharelando do Curso de Psicologia da Universidade Federal do Maranhão.

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É nessa perspectiva que Aberastury (Apud RANGEL et al.2012, p. 4) considera a

adolescência como um período de transformação que podem assumir uma conotação

patológica. Para o psiquiatra norte-americano Milton Erickson (Cf. HALEY, 1991, p. 64), a

adolescência é caracterizada pela entrada do jovem em uma rede social complexa que exigem

uma variedade de comportamentos. Dentre esses comportamentos, o comportamento do

namoro é um requisito essencial. É nessa fase que alguns jovens podem se deparar com

deficiências reais ou imaginárias que podem obstar o seu pleno desenvolvimento. Em sua

abordagem estratégica, Milton Erickson buscava uma completa modificação da imagem

corporal que os seus jovens pacientes tinham sobre si mesmos. Além disso, outro fator que

esse psiquiatra considerava para o pleno desenvolvimento do adolescente era a desvinculação

desse jovem do circulo familiar (pai e mãe) e a construção de sua própria rede de relações

sociais.

Retomando a uma discussão da adolescência pelo viés psicanalítico, Anna Freud

(Apud RANGEL et al. 2012, p.3) destaca que a diferenciação entre o normal e o patológico na

adolescência é de difícil identificação. Portanto, para identificar na prática clinica a patologia

na formação do adolescente, é preciso que o psicólogo consiga descrever todas as redes de

relações que esse jovem construiu até a sua vinda a esse profissional para apresentar a sua

queixa inicial.

Para Knobel (1992) há dez manifestações que o psicólogo clínico, assim como o

psicopedagogo, pode identificar o desenvolvimento da adolescência como normal. busca de

si mesmo e de identidade; tendência grupal; necessidade de intelectualizar; fantasias;

crises religiosas; deslocalização temporal; evolução sexual manifesta; atitude social

reivindicatória; contradições sucessivas em todas as manifestações de conduta;

separação progressiva dos pais; constantes flutuações de humor e estado de ânimo.

Diante do exposto acima, pode-se constatar que para esse teórico que algumas

atitudes que para os pais são consideradas como indício de desajuste por parte do adolescente

são na verdade evidencias de um desenvolvimento saudável. Então, dessa maneira, o

psicólogo na sua atividade clínica com adolescentes deve identificar essas manifestações na

conduta dos seus pacientes para estabelecer em caso de um desenvolvimento patológico

intervenções para superar esse estado patológico.

Porém, no caso de não haver qualquer desenvolvimento patológico, cabe ao

profissional identificar como os pais desses adolescentes agem sobre os seus filhos. É preciso

identificar quais as expectativas que os pais têm sobre os filhos. Assim, um trabalho

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terapêutico com adolescente tem que atua não apenas sobre o jovem, mas em alguns casos

sobre os pais desses adolescentes.

Abordando os aspectos sociais, autores como Bock (2001, Apud OZELLA &

AGUIAR, 2008, p. 98) vêem a adolescência como uma construção sócio-histórica. A

identidade que o adolescente concebe sobre si mesmo e sobre os outros é afetada sobretudo

pela idéias vigentes em sua cultura e em seu meio social. Assim como destacado por Ozella &

Aguiar (2008), a adolescência é caracterizada como um período de crise de identidade. O que

essas autoras destacam é que esse discurso é assimilado pelos adolescentes como

característico dessa fase de desenvolvimento.

Seguindo ainda essa linha de pensamento, Löwy argumenta que muitas das supostas

faces da adolescência, em especial da crise de identidade, são construções do mundo

capitalistas que ver o jovem adolescente como consumidor. Dessa forma, o capitalismo

constrói uma identidade do adolescente calcada sob o consumo. Além dessa construção, as

raízes reais dos problemas pertencentes em relação a adolescência são representados como

aspectos de normalidade desse período. Ozella & Aguiar (2008) destacam que a adolescência

é vista de maneira diferenciada entre os jovens das diversas classes sociais. Os anseios e as

dúvidas desses jovens refletem segundo essas autoras as condições materiais em que esses

adolescentes estão socialmente envolvidos.

A adolescência é um período que se apresenta como multifacetado, pois é um

período de transição biológica, psicológica e social. Novas exigências são postas na vida do

adolescente que geralmente causam embaraços a esse adolescente. Desprende-se da família,

adquirir autonomia e criar uma identidade são desafios que o adolescente tem que atravessar

para se constituir em adulto.

REFERÊNCIAS

ABERASTURY, A; KNOBEL, M. Adolescência normal: um enfoque psicanalítico. 10 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

BOCK, A. M. B.; GONÇALVES, M. G. M.; FURTADO, O. (orgs.) Psicologia ciohistórica:uma perspectiva crítica em psicologia. São Paulo: Cortez, 2001. p. 97-110.

HALEY, Jay. Terapia não-convencional: as técnicas psiquiátricas de Milton H. Erickson. 2 ed. São Paulo: Summus, 1991.

OZELLA, Sérgio & AGUIAR, Wanda Maria Junqueira de. Desmitificando a concepção de adolescência. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, v.38, n. 133, p. 97-125, jan./abr. 2008.

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LÖWY, M. As Aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen: marxismo e positivismo na sociologia do conhecimento. 4.ed. São Paulo: Busca Vida, 1990.

OUTEIRAL, J. M. O adolescer: estudos sobre a adolescência. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

RANGEL et al. Adolescência: construindo uma identidade. Revista Conhecimento Online. Novo Hamburgo, v. 1, mar. 2012.