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Afirmativa 34

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Revista Afirmativa 34

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4 Afirmativa Plural • Edição 34

EsporteA África no centro das atenções do governo Lula - ministroMiguel Jorge .................................................................................56

PerfilUma família unida contra o preconceito - DulcinéiaNovaes ........................................................................................58

CulturaA mente por trás de um sucesso ............................................62

EmpreendedorismoO inusitado pode dar certo .....................................................64

OpiniãoUm outro jeito de viver - Rosenildo Gomes Ferreira ..............66

AfirmativoHeróis de ontem e de hoje ......................................................68

Preto e BrancoRobson de Souza .....................................................................70

ndice

Entrevista EspecialDJ Afrika Bambaataa .................................................................8

CapaFaculdade Zumbi na luta e na raça ........................................10

Festa na Zumbi .........................................................................18

Cidadania

122 anos de abolição - que liberdade é essa? .....24

Medalha do Mérito Cívico Afrobrasileiro marca oDia da Abolição ............................................................. 26

Reafirmando o compromisso ......................................28

Homenageados com a Medalha do Mérito Cívico

Afrobrasileiro ................................................................30

Deus-poeta - ministro Carlos Ayres Britto ......................51

Academias de Polícia estudarão racismo ....................52

Afirmativa Plural é uma publicação da Afrobras - Sociedade AfroBrasileira de Desenvolvimento Sócio Cultural, Centro de Documen-tação, através da: Editora Unipalmares Ltda., CNPJ nº 08.643.988/0001-52. Com periodicidade bimestral. Ano 7, Número 34 - Av. San-tos Dumont, 843 - Bairro Ponte Pequena - São Paulo/SP - Brasil -CEP 01101-080 - Tel. (55 - 11) 3229-4590. www.afrobras.org.br

CONSELHO EDITORIAL: José Vicente • Francisca Rodrigues• Ruth Lopes • Raquel Lopes • Cristina Jorge • Nanci Valadares deCarvalho • Humberto Adami • Sônia Guimarães.

DIREÇÃO EDITORIAL E EXECUTIVA: Jornalista FranciscaRodrigues (Mtb.14.845 - [email protected])

FOTOGRAFIAS: J. C. Santos • Márcia Minillo e Divulgação.

COLABORADORES: Dulcinéia Novaes ([email protected]) e Rosenildo Gomes Ferreira ([email protected]).

REDAÇÃO: Rejane Romano (Mtb. 39.913) - [email protected]) • Eliane Almeida (Mtb. 39832) - [email protected] • Daniela Gomes (Mtb. 43168) - [email protected] • Monica Santos (Mtb. 031066) - [email protected] • Tel. (11) 3229-4590

ASSINATURA E ANÚNCIOS: Rejane Romano ([email protected]) Tel. (11) 3229-4590

PUBLICIDADE: Maximagem Mídia Assessoria em ComunicaçãoTel.(11) 3229-4590.

CAPA: J.C. Santos

EDITORAÇÃO: Alvo Propaganda e Marketing ([email protected]).

IMPRESSÃO E ACABAMENTO: IBEP Gráfica

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editorial

Esta revista tem a sua edição fixa-da no mês de maio, quando a comu-

nidade faz uma parada para refletir so-bre o Dia 13 de Maio - Abolição da Escra-

vatura no Brasil, um dos últimos países adeclarar a liberdade aos negros e a “apagar”

oficialmente essa mancha da nossa história. Danossa história, não da nossa realidade, do nosso

dia a dia, quando os negros continuam, em plenoséculo XXI, recebendo salários menores do que os

brancos, tendo menos acesso aos bancos escolares,sendo menos representados em todas as esferas da so-ciedade, pública e privada.

Como sempre buscamos fazer, nesta edição procuramosmostrar a realidade desse Brasil. Uma realidade dura, masque vem juntando “negros de todas as cores” que dese-jam mudar esse cenário.E estamos mudando. Vejamos: em março tivemos a tercei-

ra formatura de alunos da Faculdade Zumbi dos Palmares,

formando uma classe de administra-dores, que já estão ‘colorindo’ as grandesempresas e mudando o cenário desse país.O negro começa a aparecer, a estar em locaisde visibilidade e não apenas nos bastidores.E foi o que aconteceu na última semana demaio. A 17ª edição do Fashion Rio levou, depoisdo “fiasco” de anos anteriores, um símbolo do res-peito à diversidade brasileira. O estilista Walter Ro-drigues utilizou apenas modelos negras em seu desfilee falou da necessidade de terem mais modelos negros,uma vez que essa etnia é metade da população. Já é umgrande avanço nesse segmento.E voltando ao 13 de Maio, momentos de reflexão, emo-ção e conquista de vitórias marcaram a cerimônia deentrega da Medalha do Mérito Cívico Afrobrasileiro, rea-lizada no último dia 14 de maio no Salão Nobre do Ho-tel Maksoud Plaza, em São Paulo, pela Afrobras e Zumbidos Palmares.

no curso de Administração (veja nesta edição). Somandotodas, são quase 600 alunos, 80% negros autodeclarados,a maioria empregada nas empresas parceiras da Zumbi.Um número recorde de estudantes negros formados jun-tos, um recorde em colocação no mercado de trabalho. Outra mudança: Em 2010 acordos importantes já fo-ram efetivados e em muitos outros já foi dado o pri-meiro passo. Neste primeiro semestre empresas comoa Ford e a Mercedes Benz já contam com alunos daZumbi em sua grade de trainnes. Aproximações sig-nificativas estão sendo feitas com construtoras, es-critórios de advocacia, e até a Petrobras, por meioda sua Universidade. Além das parcerias reafirma-das com o banco Bradesco, que em maio efetivou

26 alunos da Zumbi (de um total de 30) e con-tratou mais 30 estagiários, para a 6ª turma do

Programa de Trainee Executivo Jr. da Zum-bi. E temos ainda o Itaú Unibanco que em

meados de agosto contratará mais umaturma de estagiários da faculdade. A

mudança é lenta, mas está sendofeita e registrada. E como diz

o reitor da Zumbi, JoséVicente, “Estamos

Durante a cerimônia, o prefeito reafirmou em assinatura denovo protocolo, a cessão de espaço para a Faculdade Zum-bi dos Palmares dentro do terreno que é ocupado pelo ClubeTietê, uma grande vitória não apenas para a Zumbi, maspara toda a comunidade negra. “A Faculdade Zumbi dos Palmares se tornou uma refe-rência em termos de qualidade e educação. A prefeituraexpressa a vontade da cidade de que a Zumbi tenha tran-quilidade em realizar seus investimentos e continuar for-mando jovens com excelência para contribuir com odesenvolvimento do país”, disse o prefeito a 300 pes-soas presentes ao evento, entre autoridades, persona-lidades, artistas, alunos e cidadãos que trabalham emprol do projeto educacional da Zumbi. Por esses eoutros motivos, acreditamos que o Brasil está mu-dando, e o melhor de tudo, os negros estão fa-zendo a revolução através de uma arma quenão tem similar: a Educação.

Sem Educação, não há Liberdade!

Boa leitura a todos!

Francisca RodriguesEditora Executiva.

Educação para a liberEducação para a liberEducação para a liberEducação para a liberEducação para a liberdade,dade,dade,dade,dade,para a cidadaniapara a cidadaniapara a cidadaniapara a cidadaniapara a cidadania

ditorial

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8 Afirmativa Plural • Fev/Março • 2010

entrevista especial

No último mês de abril, a Facul-dade Zumbi dos Palmares recebeu avisita do criador do movimento hiphop, DJ Afrika Bambaataa.

Durante a visita, o DJ conheceuas instalações da faculdade, conver-sou com alguns alunos, visitou omemorial “Heróis Negros de TodosNós” e concedeu entrevista a Afir-mativa Plural.

Nascido no bairro do Bronx, emNova York como Kevin Donovan,Afrika Bambaataa se tornou conhe-cido quando, ainda na década de 70,pegou mixagens criadas por músicosjamaicanos e adicionou rimas de pro-testo contra a situação vivida pelopovo negro nos guetos americanos.

A movimentação criada nas ruasdo Bronx cresceu, o hip hop atingiumilhares de pessoas nos Estados Uni-dos e no mundo e ganhou propor-ções inimagináveis, se tornando umnegócio que movimenta milhões dedólares. Em entrevista a AfirmativaPlural, Afrika Bambaataa fala sobreo hip hop e o poder de transforma-ção que a população negra pode ter,

a partir do momento que passar aobter o conhecimento, que para ele éo quinto elemento da cultura hip hop.

Afirmativa Plural: Qual a impor-tância da sua visita hoje na Faculdade Zum-bi dos Palmares e o que significa para vocêconhecer a primeira faculdade negra no país?

Afrika Bambaataa: Eu semprevenho aqui, pois o Brasil é como sefosse minha segunda casa e eu vejoque essa faculdade negra é extrema-mente importante para a nação bra-sileira e acredito que nós precisamosde mais faculdades negras não ape-nas em todo o Brasil, mas tambémem toda a América do Sul.

Eu também tento criar aqui umainstituição para o nosso povo, cha-mada Universal Zulu Nation, queatende a diversas pessoas ao redor domundo. Lá nos temos aulas comovocês tem aqui na faculdade e desen-volvemos diversas atividades e par-cerias com universidades.

Nós precisamos trabalhar juntose desenvolver políticas no Brasil paratrazer conscientização para a popu-lação negra aqui.

Como pressionar o governo fe-deral a olhar para a situação do nos-so povo que ainda é precária e nóssabemos que a população negra énumerosa, mas ainda não é quemdetermina coisas no Brasil.

Afirmativa Plural: Você criou o hiphop na década de 70 no Bronx. Você foipioneiro ao misturar música jamaicana comrimas que protestavam contra o sistema.Esse movimento cresceu e é um grande ne-gócio hoje, nós podemos falar sobre hip hopcoreano, hip hop espanhol, hip hop brasi-leiro. O que você acha que mudou nesses40 anos e o que ainda está lá?

Afrika Bambaataa: Uma das pre-missas da Zulu Nation é “apenasfaça”. Nós viajamos ao redor do pla-neta divulgando esse movimento quenós chamamos de cultura hip hop, que nos permite um pouco de amor,paz, união e diversão.

E com isso nós também divulga-mos o que nós chamamos de quintoelemento do hip hop, que na ZuluNation, nós chamamos de conheci-mento, cultura e entendimento.

E para isso temos que entender

umbiZnos palcos da

Por Daniela Gomes

Criador do Hip Hop, DJ Afrika Bambaataa visita Faculdade Zumbi dos Palmares

Por Daniela Gomes

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entrevista especial

o conhecimento como liberdade eigualdade e trabalhar para transfor-mar o negativo em positivo, usandoas ciências, a matemática, as artes euma força superior. Então nós ten-tamos levar essa mensagem para onosso povo, assim como a todos ospovos da humanidade.

Afirmativa Plural: Mas sua cria-ção se tornou um negócio, uma grande in-dústria que visa apenas o dinheiro e muitas

vezes não fala mais sobre conhecimento, massobre mulheres, sexo e sobre ostentação. Oque você acha disso?

Afrika Bambaataa: Mas isso nãoé o hip hop real, isso são apenas cer-tos rappers e certos programas queexistem no rádio, que pegam apenasum aspecto do movimento que é amúsica e chamam de hip hop.

E uma das coisas que nós luta-mos na Zulu Nation é contra esse

tipo de programa que tenta massificaras pessoas e imprimir característicasnegativas, como o tratamento ofen-sivo que é dado às mulheres, ou coi-sas que são ditas que incitam as pes-soas a serem agressivas, que nós lu-tamos e incentivamos as pessoas aprotestar contra esse tipo de progra-ma de rádio e televisão, que na ver-dade nos desequilibra.

Afrika Bambaataa ao lado doícone Zumbi dos Palmares.

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Faculdadena luta e

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Zumbina raça

Por Rejane Romano

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O diploma de um curso superiorrepresenta um grande passo na vidade qualquer estudante. Mas, na vidade um estudante negro ele exerceuma importância ainda maior. É opassaporte para a possibilidade deuma vida diferente, a oportunidadede mudar a história. Esse feito repre-senta também respeito perante a co-munidade e familiares.

Ainda em 2010 o Brasil não con-seguiu alcançar as metas do PlanoNacional de Educação.

No que tange ao negro as metasestão ainda mais distantes.

Para permitir o maior acesso dosnegros à graduação, há 6 anos a Fa-culdade Zumbi dos Palmares deuinício a primeira turma do curso deAdministração. Com uma propostainovadora a faculdade buscou osmelhores profissionais do mercadopara garantir um ensino de qualida-de. Além de incluir em sua grade ma-térias que resgatassem a história dopovo negro.

Ao todo são 600 novos profis-sionais, que encontram um merca-do de trabalho mais plural, devidoàs parcerias efetuadas entre a Zum-bi e instituições financeiras para oPrograma de Estágios. Buscas pornovas parcerias são realizadas atodo instante.

A colaçãoNo dia 17 de março deste ano, os

formandos que estiveram presentesno Memorial da América Latina, emSão Paulo, puderam ver e sentir queo sonho havia se tornado realidade.

Tendo como mestre de cerimô-nia a atriz Valquíria Ribeiro, a festacontou com a participação de auto-ridades, personalidades e principal-mente de pais e mães orgulhosos que

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Geraldo Alckmin

O Brasil precisa de

bons profissionais e

vocês se sacrificaram

em jornadas duplas,

alguns em até jornada

tripla e esse é um

momento muito

importante na vida

da gente.

Geraldo Alckmin

viam seus filhos conquistarem o tãoesperado diploma.

Ao som do coral Zumbi dos Pal-mares que entoou a canção Joy Full,Joy Full, os formandos realizaram suagrande entrada na cerimônia.

Após a abertura oficial com aapresentação do hino nacional, o se-cretário municipal de educação, Ale-xandre Shneider, representando oprefeito Gilberto Kassab, ressaltoua importância da educação no pro-cesso de conquista da liberdade.“Tudo que essa instituição conse-guiu fazer não só a educação, mas aentrada no mercado de trabalho,através de uma série de parceiros queestão aqui, mostra que é possíveltransformar a sociedade através daeducação”. declara.

Primeiro governante a apoiar acriação da faculdade, o ex-governa-dor de São Paulo, Geraldo Alckmin,foi escolhido pelos formandos comoseu paraninfo e homenageado pelosalunos e pela instituição. Alckmin res-saltou a alegria em participar da his-tória da Zumbi desde o início atéchegar ao momento da formatura daterceira turma. “O Brasil precisa debons profissionais e vocês se sacrifi-caram em jornadas duplas, alguns ematé jornada tripla e esse é um mo-mento muito importante na vida dagente”, declara.

Patrono escolhido pelos alunos,o professor Jarbas Nascimento re-lembrou o início da criação da facul-dade e ressaltou a importância de es-tar com os alunos em um momentotão especial. “É uma honra poderestar com vocês nesse momento tãosonhado historicamente desde mui-tos anos atrás, hoje é um dia de mui-ta alegria para todos nós”.

Escolhido como orador da tur-

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Para que vocês

estejam aqui hoje

com seus

familiares muitos

foram literalmente

imolados e deram

suas vidas.

Milton Gonçalves

ma, o aluno José Carlos Ferreira des-tacou a importância que a conquistados formandos tem não apenas paraeles e suas famílias, mas para a socie-dade brasileira como um todo. Paraencerrar o discurso, o formando re-lembrou as palavras de Barack Oba-ma, Yes We Can (sim nós podemos),uma demonstração da força e da gar-ra que motiva a cada aluno.

As instituições parceiras, que atra-vés de seus programas de estágio permitiram a entrada desses jovensno mercado de trabalho, foram ho-menageadas nas pessoas de seus re-presentantes. O Bradesco, represen-tado pelo vice-presidente José LuizAcar Pedro e o Santander, represen-tado pela superintendente de RH,Maria Cristina Carvalho.

A superintendente do GrupoSantander Brasil, destacou a impor-tância do programa de estágio quan-to à contribuição com a diversida-de. “O José Vicente foi um visio-nário. Ainda lembro dele falandocom o nosso presidente Fábio Bar-bosa. Ele mostrou o sonho. E osonho se materializou muito rápi-do porque tinha uma crença portrás. A educação realmente traz aliberdade. Já na primeira turma dos40 estagiários, efetivamos 37 alu-nos. Isso nos motivou a continuareste projeto. Eles mostram que po-dem ser os líderes do futuro nessepaís. Hoje me emocionou quandouma aluna me abraçou e disse quecomeçou com o estágio e hoje é ge-rente”, relata Maria Cristina.

Momento de grande emoção, oator Milton Gonçalves, foi o grandehomenageado da noite. Em seu dis-curso, Milton ressaltou a responsa-bilidade que esses alunos têm paracom aqueles que sofreram durante

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Alexandre Shneider, Valquíria Ribeiro, e José Vicente

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toda a história do Brasil, pela con-quista da liberdade. “Para que vocêsestejam aqui hoje com seus familia-res muitos foram literalmente imola-dos e deram suas vidas”.

Ao final do emocionante discur-so, Milton foi homenageado pelo co-ral Zumbi dos Palmares, com a can-ção Happy Day.

Mesmo antes de subir ao palco,a mestre de cerimônia, Valquíria Ri-beiro estava honrada com o convi-te. “A partir do momento que sou-

be que meu nome foi levantado porestes alunos para participar, issomexeu com meu emocional. Ver essaterceira turma se formando e quehoje a faculdade possui mais de 1600alunos é ver que o projeto esta dan-do certo”.

O reconhecimento aos pais foirealizado através da distribuição debotões de rosas, para cada família.A homenagem foi seguida pelo ju-ramento, realizado pela formandaPaula Fernanda Corrêa e também

pela entrega dos canudos, que foi feitapelas autoridades que compunhama mesa.

Encerrando a noite, o reitor JoséVicente, relembrou em seu discursoo histórico da faculdade, destacan-do a participação das personalida-des presentes e os esforços de cadaaluno que se formou.

“Nós saldamos uma dívida comZumbi. Essa noite Zumbi dos Pal-mares foi honrado.”

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FestaZumbi

na

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Por Daniela Gomes e Mônica Santos

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O baile de gala de formatura paraqualquer formando é sempre noitede grande festa. A última etapa é comcerteza o dia mais esperado das cele-brações e não foi diferente para a ter-ceira turma de Administração da Fa-

culdade Zumbi dos Palmares. Vesti-dos como reis e rainhas nagôs, prínci-pes e princesas zulus, pais, familiarese professores compartilharam da ale-gria de ver o sonho se consolidar.

“É uma vitória, realização. Aque-

la que estamos buscando”, afirma amais nova bacharel em administração,Luciana Andrade.

O espaço escolhido para dançara tradicional valsa foi o Círculo Mili-tar, em São Paulo.

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Foi possível notar a emoção noolhar de todos, em uma das rarasocasiões em que se pôde ver tantosjovens negros usando o elegante blacktie e comemorando a conquista doensino superior.

O que para muitos era conside-rado distante, naquele momento, era

a mais pura realidade.Era exatamente esse o pensamen-

to da formanda Maria BernardeteBernardo Marcelino que brindava suaprimeira graduação. “Quando eu co-mecei, achei que eu não ia continu-ar, porque pensava que era muitotempo, quatro anos.

Passou muito depressa”. Não sópassou depressa, como Bernadetesoube aproveitar bem o que apren-deu na faculdade e para ela a idadeestá longe de ser um obstáculo paravencer novos desafios.

Muito feliz, ao lado do marido,ela diz que acabou o curso de admi-

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nistração e já montou um negóciopróprio. Quando pergunto: Qual é onegócio?, a jovem senhora de cabe-los bem cuidados, que não demons-tra seus 56 anos, com um sorriso deorgulho responde: “Uma pousada nolitoral”. A mulher, negra, mãe, espo-sa e agora empresária enfatizou.

“Vou ter meu negócio graças a

Faculdade Zumbi dos Palmares. Eufalo para todos assim, nunca desistade seus sonhos.

Para mim foi um sonho que es-tou realizando”.

Fazer parte da terceira turma docurso de administração foi motivo debrinde. Entre lágrimas e sorrisos, Tâ-nia Costa, disse que naquela hora foi

que percebeu de fato tudo o que es-tava acontecendo. “Agora que estácaindo a ficha, que estou perceben-do que a gente conseguiu, que vousentir saudades de todo mundo. Sãomuitas lembranças. A Zumbi é umarecordação fantástica, porque a gen-te precisa ser guerreiro para estudar,trabalhar”, concluiu.

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À moda Samba RockPor todo o salão, o ritmo que se

ouvia era o samba-rock, considera-do por quem entende de black music,uma tradição afro-paulistana.

De acordo com o integrante dacomissão de formatura, DermevalOliveira Santos Filho, 39, a escolhafoi pelo fato da dança ter feito parteda rotina dos alunos. “O samba-rocksempre esteve presente com a gentena faculdade. Todo mundo fazia aulalá. É uma homenagem a todos”.

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cidadania

Por Eliane Almeida

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Em 1888, o Brasil abolia oficial-mente a escravidão. Com um poucode atraso é bem verdade já que, em1789, era redigida a Declaração dosDireitos do Homem e do Cidadãocomo fruto da Revolução Francesa ea liberdade era um dos fatores maisdiscutidos. Depois de sustentado du-rante mais de três séculos o mito deCam e respeitadas as bulas papais,nasce no horizonte a esperança dediscutir o papel do homem, nas suasespecificidades e a valorização da li-berdade para o status de ser humano.

De acordo com o professor Ar-mand Mattelart* “a suposta igualda-de perante a lei é prejudicada pelasdesigualdades econômicas e culturaisno contexto das relações de poder”.

A Declaração dos Direitos doHomem e do Cidadão aprovada pe-los revolucionários franceses, discu-tia, em diversas instâncias, os mais va-riados tipos de liberdade. A liberda-de de expressão, a liberdade de culto,o direito à propriedade, à segurançae à liberdade de ir e vir.

Impasses legais para alegitimação da igualdadede direitos

Foi como força de trabalho es-cravo que o negro africano passou afazer parte da sociedade brasileira.Com o status de coisa, o negro cativoteve negado todos os direitos esta-belecidos pelos seus livros sagrados,ritos grupais, e até os determinadospelo homem branco na Declaraçãodos Direitos do Homem e do Cida-dão. Se era “coisa” como podia terdireitos? A discussão sobre os direi-tos dos negros enquanto pessoa pas-sou por leis que criavam ações palea-tivas para seus sofrimentos.

A lei do Ventre Livre e do Sexa-genário são exemplos disso. Atual-mente, de acordo com o InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística(IBGE), a população brasileira pos-sui 51% de negros auto-declarados,o que caracteriza maioria absoluta.

A criação de leis paleativas aindaacontece como a lei que trata o racis-mo como crime inafiançável, mas quetem problemas sérios na caracteriza-ção do crime.

A lei 10.639/2003, que instituicomo obrigatório o ensino, em to-dos os níveis, de História da África eCultura Africana e Afrobrasileira atéhoje não está sendo implantada acontento. Apesar de grandes institui-ções públicas e privadas ofereceremos cursos de capacitação aos profes-sores da rede pública, o argumentopara a não efetivação da lei é a faltade material e capacitação.

Black is Beautiful A auto-declaração garante ao ne-

gro perceber-se em lugar de perten-cimento sem que tenha problemascom sua aceitação nos grupos dosquais faz parte.

Ao saber-se negro sua atitude mudae tudo a sua volta muda também. É ocaso da aceitação pelo cabelo crespoque por tanto tempo foi discrimina-do e, atualmente, é símbolo de per-

tencimento e aceitação da negritude.Numa releitura do Movimento BlackPower da década de 1960, o Blackvolta com força total tornando os be-los rostos negros ainda mais belosemoldurados pelas mechas crespas,legadodos antepassados africanos. Anegritude da pele é cuidada por no-vas linhas de produtos que hidratame dão mais vida ao tom café e suasvariações. Moda e tendências inspi-radas na cultura africana fazem par-te do dia a dia do brasileiro.

Não é difícil ver pessoas de cabe-los muito lisos carregarem contentesseus dread looks de origem negrajamaicana. É a África fazendo a ca-beça do mundo.

E a luta continua ...Muito foi conquistado, mas ain-

da há muito para ser feito.O negro conquistou sua liberda-

de jurídica, mas ainda não se liber-tou dos grilhões do preconceito ra-cial e social imposto pela sociedadebranca elitista.

Já pode se auto-declarar negrosem prejuízo de ser taxado de coisa.Pode deixar seu cabelo crespo semprecisar se render aos tratamentos dealisamento para embranquecer-se.Pode frequentar faculdades públicase privadas, pois tem garantido seudireito à educação de qualidade.

Conquista altos postos em gran-des empresas provando que o pre-conceito racial é a doença que fazcom que a sociedade brasileira nãocresça como poderia caso já tivessedado a oportunidade a aqueles queconstruíram o país.

cidadania

* ex-professor da Université Paris VIII. Ex-pre-sidente do Observatório Francês de Mídia.

Ao saber-se

negro sua atitude

muda e tudo a

sua volta muda

também.

“”

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cidadaniacidadania

Medalha do Méritomarca o dia da

aboliçãoDa Redação

Momentos de reflexão, emoçãoe conquista de vitórias marcaram acerimônia de entrega da Medalha doMérito Cívico Afrobrasileiro, realiza-da no último dia 14 de maio no Sa-lão Nobre do Hotel Maksoud Plaza,em São Paulo.

Evento obrigatório no calendá-rio de autoridades e personalidadesque demonstram preocupação coma real inclusão de toda a populaçãobrasileira, a medalha foi criada pelaONG Afrobras há 13 anos, com oobjetivo de homenagear autoridadese personalidades que contribuemcom a inclusão e valorização do ne-gro brasileiro. Desde o início, o even-to foi marcado pela reflexão em tor-no da história de luta do povo negro,mesmo antes da abolição.

A emoção tomou conta do ambi-

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cidadania

ente quando a mestre de cerimônias,Eliane Almeida, pediu um minuto desilêncio em honra às vítimas da escra-vidão e chamou ao palco o casal qui-lombola José Rodrigues e Maria daGuia, lideranças políticas na comuni-dade do Quilombo de Ivaporunduva,na região do Vale do Ribeira, emEldorado/SP que receberam flores deum casal de alunos da Zumbi.

Dando início a entrega da Co-menda, o reitor da Faculdade Zumbidos Palmares e presidente da Afro-bras, José Vicente, convidou ao pal-co a Comissão de Outorga, formadapelo presidente da Ford, Marcos Oli-veira, o presidente da Previ, SergioRosa, a atriz Isabel Fillardis, o pre-sidente da Fiat e da ANFAVEA – As-sociação dos Fabricantes de VeículosAutomotores, Cledorvino Belini, o

cantor Simoninha, o diretor da Fun-dação Bradesco, Mario Hélio de Sou-za e o diretor executivo do BancoBradesco, Milton Matsumoto.

Durante a cerimônia, foram cha-mados 26 alunos da Zumbi que fo-ram efetivados pelo Bradesco e mais30 novos estagiários contratados pelomesmo banco.

Eles foram apresentados ao pú-blico presente e receberam uma sal-va de palmas pela conquista. Comorepresentante dos alunos, VanessaSantos, do quinto semestre de admi-nistração, agradeceu a oportunidadedada pela Zumbi e ressaltou maisuma vez a importância do projeto.

O presidente do Bradesco, LuizCarlos Trabuco Cappi ressaltou a im-portância do negro na sociedade bra-sileira e enfatizou que a Lei Áurea foi

apenas um ponto de partida para alibertação do negro.

“No século 21, nós temos a obri-gação de fazer do Brasil, o país daesperança”, declarou.

Em mais um momento de honraàqueles que lutam pela diversidade noBrasil, José Vicente, reitor da Zumbidos Palmares, convidou ao palco aspersonalidades para receber a meda-lha. (Veja os homenageados nas páginasseguintes). Ao final da Cerimônia, maisuma conquista foi apresentada pelovice-presidente da Mercedes Benz,Jackson Schneider, que assinou for-malmente o convênio para contrata-ção de alunos da faculdade. No me-lhor estilo Zumbi, a cerimônia foi en-cerrada com um show da cantoraThulla Melo, que embalou a todoscom clássicos da black music.

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cidadania

No último dia 14 de maio, duran-te a Cerimônia de Entrega da Meda-lha do Mérito Cívico Afro Brasileiro,realizada pela Afrobras e FaculdadeZumbi dos Palmares, a Zumbi rece-beu um presente da cidade de SãoPaulo. Durante a cerimônia, o prefei-to reafirmou em assinatura de novoprotocolo, a cessão de espaço para aFaculdade Zumbi dos Palmares den-tro do terreno que é ocupado peloClube Tietê, uma grande vitória nãoapenas para a Zumbi, mas para toda acomunidade negra..

O prefeito afirmou que a cidadede São Paulo se sente feliz em per-mitir a continuidade do projeto. “AFaculdade Zumbi dos Palmares setornou uma referência em termos dequalidade e educação. A prefeituraexpressa a vontade da cidade de quea Zumbi tenha tranquilidade em rea-lizar seus investimentos e continuar

formando jovens com excelênciapara contribuir com o desenvolvimen-to do país”, disse.

Em novembro de 2009, foi encer-rada a cessão do terreno ao clube queé da prefeitura. Os trâmites legais es-tão sendo definidos na justiça. No dia30 de maio de 2008, o prefeito Gil-berto Kassab anunciou pela primeiravez a cessão de parte da área do Clu-be de Regatas Tietê para a FaculdadeZumbi dos Palmares.

O anúncio e a assinatura do Pro-tocolo de Intenção foram feitos peloprefeito na sede da Prefeitura, e con-tou com as presenças do então minis-tro da Previdência Social, Luiz Mari-nho e do ministro dos Esportes,Orlando Silva, dos Secretários deGoverno Clóvis Carvalho, de Espor-tes Walter Feldman, de RelaçõesInstitucionais Antônio Carlos Malufe,e de Negócios Jurídicos, Luiz Anto-

eafirmando oDa Redação

nio Guimarães Marrey. Na ocasião,Kassab declarou: “Estamos assinan-do um protocolo de intenções peloqual a Prefeitura passa para a Facul-dade Zumbi dos Palmares a respon-sabilidade pela gestão de uma áreapública de cerca de 20 mil metros qua-drados que, até então, vinha sendo ad-ministrada pelo Clube Tietê”. Estaafirmação voltou a ser confirmada nomês de novembro do mesmo ano,durante a cerimônia de premiação doTroféu Raça Negra 2008, onde Kassabsalientou a cessão da área à faculdade,refletindo sobre a importância do tra-balho realizado pela Faculdade Zum-bi dos Palmares na cidade de São Pau-lo, que segundo o prefeito, tem a mai-or diversidade de raças do Brasil.

A assinatura do último protocolofoi publicada no último dia 18 de maio,na edição de número 91 do DiárioOficial do município de São Paulo.

ompromissoc

Page 29: Afirmativa 34

cidadania

Assinatura do protocolo de intenções de cessão de espaço para aFaculdade Zumbi dos Palmares.

A Faculdade Zumbi

dos Palmares se

tornou uma referência

em termos de

qualidade e

educação.

Gilberto Kassab

“”

Edição 34 • Afirmativa Plural 29

Page 30: Afirmativa 34

cidadania

brigado pelo carinho e

pela gentileza desta

medalha. Acho que é

noite de agradecer,

mas é noite também de desejar

um futuro melhor para toda

obra que a Zumbi dos Palmares

faz. Mas também é um dia de

acreditar que hoje é melhor do

que ontem e amanhã será

melhor para a integração de

todos nós. Viva o Brasil e viva a

integração.

”Luiz Carlos Trabuco CappiPresidente do Bradesco

O

30 Afirmativa Plural • Edição 34

Page 31: Afirmativa 34

cidadania

u quero dizer que com

muito orgulho a Caixa

recebe essa homenagem

da Zumbi dos Palmares,

não só por esse grande desafio

que temos nos últimos anos, no

trabalho com os estagiários - hoje

são 1200 do Pro-Uni - mas

também pela implementação de

todas as políticas internas de

promoção e encarreiramento que

permitem aos negros da Caixa

participarem hoje ativamente da

carreira da instituição.

Esse realmente é um momento

muito especial e que muito nos

orgulha.

”Maria Fernanda CoelhoPresidente da CaixaEconômica Federal

E

Edição 34 • Afirmativa Plural 31

Page 32: Afirmativa 34

cidadania

uma grande satisfação, uma

grande honra receber esta

medalha. A Petrobras é uma

empresa que nasceu do

movimento social. Nesse sentido que

andando e subindo os diversos

degraus da corporação, nós

conseguimos chegar nesse governo à

presidência da Petrobras

Distribuidora. Este é um momento

muito especial, até porque semana

passada, tivemos a chance em

Recife, de lançar um navio construído

no Brasil. Um navio muito especial a

quem foi dado o nome João Cândido.

É mais uma homenagem a negros

heróis brasileiros e nós fazemos isso

com muita galhardia. Temos muito

interesse de ver esse esforço da

Zumbi de integração para fazer de

fato um país de todos.

”José de Lima AndradePresidente da Petrobras BR Distribuidora

É

32 Afirmativa Plural • Edição 34

Page 33: Afirmativa 34

cidadania

Brasil ainda é um país

com muitas

desigualdades, as coisas

estão mudando, mas

ainda é preciso fazer mais. É claro

que as instituições do estado e

governo federal, têm grande

responsabilidade em trabalhar esse

sistema, mas só isso não basta.

Nós precisamos praticar o que

pregamos sobre responsabilidade

social. Estou aqui hoje para afirmar

que a infraestrutura brasileira vai

demandar grandes oportunidades e

o nosso compromisso é agir num

movimento que transformará o

Brasil incluindo os alunos da Zumbi

nesse processo.

”Paulo GodoyPresidente da ABDIB – AssociaçãoBrasileira da Infra-Estrutura e Indústriasde Base

O

Edição 34 • Afirmativa Plural 33

Page 34: Afirmativa 34

cidadania

uma enorme honra e

uma emoção estar

aqui e gostaria de

passar minha

mensagem para os jovens da

Faculdade Zumbi dos

Palmares. É através da

educação e desse trabalho

que a Zumbi está fazendo que

vocês terão oportunidades de

melhorarem suas vidas. Esse

trabalho tem uma importância

absolutamente fundamental.

As diferenças estão aí, as

dificuldades estão aí, as

discriminações estão aí,

dissimuladas ou não. É através

de ações como essa, é através

da educação que mostraremos

nossa cara, nosso potencial e

capacidade.

Nelson Narciso FilhoDiretor da Agência Nacional dePetróleo

É

34 Afirmativa Plural • Edição 34

Page 35: Afirmativa 34

cidadania

ós somos um país que de

certa maneira está sendo

redescoberto pelo mundo.

Devemos aproveitar e

vemos que não estamos preparados

porque não temos todos cidadãos

com um capital intelectual e social, à

altura do futuro que nós temos. É

emblemático estarmos aqui

celebrando a Zumbi dos Palmares.

Precisamos pensar que esse país

precisa de uma educação inclusiva,

que nos dê competência e não

discrimine. Fico muito feliz em nome

da instituição e em meu nome por

receber esta medalha. Isso nos

motiva a enfrentar essa luta de

maneira muito mais efetiva.

Antonio Jacinto MathiasVice-presidente da Fundação ItaúCultural

N

Edição 34 • Afirmativa Plural 35

Page 36: Afirmativa 34

cidadania

uma grande honra

receber esse prêmio em

nome do Consulado dos

Estados Unidos, da

Embaixada aqui no Brasil e do

governo americano. Nós temos

uma grande parceria com a

Afrobras, com a Zumbi dos

Palmares e com o trabalho a

favor da inclusão social e da

equidade racial. A Secretária

de Estado Hillary Clinton

visitou a Zumbi para dar

evidência nesse compromisso

do governo americano.

Mesmo tendo um presidente

afro-americano o combate ao

racismo é um trabalho que

também continua nos Estados

Unidos, como aqui no Brasil e

nós temos que caminhar

juntos nessa tarefa.

”Thomas WhiteCônsul dos Estados Unidos daAmérica em São Paulo

É

36 Afirmativa Plural • Edição 34

Page 37: Afirmativa 34

cidadania

José Vicente me

contou em uma

ocasião a dificuldade

que foi concretizar o

sonho da Zumbi dos Palmares

e da dificuldade de colocar

esses jovens no mercado de

trabalho. Ele perguntou como

poderíamos ajudar. Questionei

o meu pessoal sobre quantos

negros haviam no corpo

gerencial e diretivo da empresa

e a resposta era sempre de que

não se encontravam

profissionais preparados.

Pensei: então vamos preparar e

assim nós vamos montar

estágios específicos com a

Zumbi e efetivá-los. Gostaria de

agradecer em nome da

Mercedes Benz pela

oportunidade que vocês estão

nos dando de sermos mais

abertos e mais amplos.

Jackson SchneiderVice-Presidente da Mercedes Benz

O

Edição 34 • Afirmativa Plural 37

Page 38: Afirmativa 34

cidadania

e sinto extremamente

honrado. O lema da

Zumbi dos Palmares é

que sem educação

não há liberdade. Acho que

temos que perguntar: que

educação? Sem educação

para a liberdade, não há

liberdade, sem educação para

a cidadania, não há cidadania.

Um desafio que todos nós

temos de fazer é uma

completa reformulação do

nosso sistema educacional,

do currículo das escolas, das

universidades e talvez vocês

possam deslanchar esse

processo de fazer com que

nossos currículos escolares

formem cidadãos

preocupados com a

sociedade, com a injustiça

social.

Oded GrajewPresidente do Instituto Ethos

M

38 Afirmativa Plural • Edição 34

Page 39: Afirmativa 34

cidadania

u quero agradecer a

todos que fazem parte

desse movimento

brasileiro que é a

Faculdade Zumbi dos Palmares,

pelo reconhecimento ao nosso

trabalho, que só é possível

porque a população de Suzano

decidiu dar um testemunho

concreto da sua capacidade de

superar as diferenças, ao me

eleger. Eu tenho tentado honrar

os compromissos assumidos

com a população, sobretudo

porque pesa sobre nós essa

responsabilidade. A cobrança

sobre os políticos negros é

maior e isso também é algo que

nós precisamos superar. Eu

tenho a certeza de que a nossa

presença na política tem a

capacidade de transformar a

opinião das pessoas.

Marcelo CândidoPrefeito de Suzano / SP

E

Edição 34 • Afirmativa Plural 39

Page 40: Afirmativa 34

cidadania

com muita honra e

satisfação que recebo

essa comenda e isso

me impõe um desafio

adicional que é continuar

mantendo os esforços ativos

para a transformação de uma

realidade, que é a realidade

dos negros no Brasil. Porque

se esse país já decolou para

manter-se no ar, esse avião

precisa de duas asas, 50% da

população desse país são

constituída de negros, esse

avião precisa dessas duas

asas para decolar.

”Osvaldo NascimentoDiretor do setor público da IBM

É

40 Afirmativa Plural • Edição 34

Page 41: Afirmativa 34

cidadania

13 de Maio é uma data

que temos que sublinhar

e nunca mais esquecer.

Porque é uma data que

mais do que libertar um povo, ela

marca um regime que nos apartou

que nos colocou em lados

diferenciados. Precisamos estar

sempre zelando pela inclusão do

negro no Brasil, o país deve isso.

Argumentos políticos acharemos

para todos os gostos, mas essa

dívida foi escrita com o sangue

dos nossos antepassados, eles

pagaram com a vida o sonho de

liberdade. Esse sonho foi

depositado nas mãos da Zumbi

dos Palmares com a qual nós

temos que estar unidos, porque

só a união vai trazer a superação.

”Henrique Nelson CalandraDesembargador do Tribunalde Justiça de São Paulo

O

Edição 34 • Afirmativa Plural 41

Page 42: Afirmativa 34

cidadania

u quero dizer que o

Brasil tem passado

por uma revolução.

Uma revolução

silenciosa, pacífica, uma

revolução para o bem do

Brasil e que são frutos de

ações coletivas, processos

coletivos. Mas nesses

processos, indivíduos

exercem papéis

fundamentais. Há láureas

conferidas aos indivíduos

que podem ser traduzidas

em uma medalha e um

troféu. Mas há láureas que

são conferidas apenas pela

história. A história é sua

credora reitor José Vicente.

Primeiro pelo grande

brasileiro que você é,

segundo pelas

transformações individuais e

coletivas que tem impresso

na história

desse país.

”Hédio Silva JúniorAdvogado e ex-Secretário deJustiça e Cidadania do Estado deSão Paulo

E

42 Afirmativa Plural • Edição 34

Page 43: Afirmativa 34

cidadania

uma grande honra e

uma grande

responsabilidade ser

homenageado dessa

forma. Eu digo que a

autoestima é uma das mais

fortes ferramentas para se

chegar aonde a gente quer.

Isso acaba sendo um

detalhezinho, mas que é muito

importante para o que a gente

chama e vê como massacre

cotidiano de várias formas, que

atua exatamente na autoestima.

Daí a grande importância de ter

a Zumbi e a Afrobras que

atuam exatamente na

autoestima invertendo o jogo.

Colocando a autoestima, a

cidadania e um Brasil melhor,

mais justo e no topo.

Rosenildo Gomes FerreiraJornalista da Revista Isto É Dinheiro eConselheiro da Faculdade Zumbi dosPalmares

É

Edição 34 • Afirmativa Plural 43

Page 44: Afirmativa 34

cidadania

u estou muito honrado

e surpreso com essa

homenagem porque

nós jornalistas

desempenhamos um papel

secundário. Nós vivemos um

momento peculiar no Brasil,

onde percebemos uma inclusão

maior, capaz de trazer melhorias

para todas as camadas sociais,

mas ao mesmo tempo há uma

reação que se manifesta de

maneira feroz quando se fala em

inclusão. Eu não consigo

compreender o Brasil se

realizando de verdade sem

inclusão, porque é uma questão

de eficiência econômica. Sem

oportunidade, o Brasil nunca vai

saber qual é o seu potencial real.

Nós que temos voz, temos que

estar abertos para ceder, porque

cedendo agora todos nós

vamos ganhar no futuro.

Sergio LirioJornalista Revista Carta Capital

E

44 Afirmativa Plural • Edição 34

Page 45: Afirmativa 34

cidadania

uma honra para mim

receber uma

condecoração tão

significante como esta

medalha. A inclusão da

população negra em nossa

sociedade é importante, não

apenas para a população

afrodescendente, mas para

todos os brasileiros para que

tenhamos uma sociedade

mais justa.

Miguel IgnatiosPresidente da Associação dosDirigentes de Marketing e Vendas doBrasil

É

Edição 34 • Afirmativa Plural 45

Page 46: Afirmativa 34

cidadania

uito obrigada à

família Afrobras.

Um dia eu

conversando com

o José Vicente, quando a

Afrobras ainda oferecia

cursinho pré-vestibular, ele me

mostrou o sonho de uma

faculdade. E eu perguntei se

ele não achava que estava

sonhando muito alto. Então

ele me falou: só realiza quem

sonha. Hoje é um momento

muito especial em que nosso

prefeito está assinando a

nossa casa e o sonho se

tornou realidade. Muito

obrigada e que Deus aumente

mais a nossa luz.

Marisa MouraEmpresária e Conselheira daFaculdade Zumbi dos Palmares

M

46 Afirmativa Plural • Edição 34

Page 47: Afirmativa 34

cidadania

uero agradecer de

coração ao José

Vicente e parabenizar a

todos da Afrobras e da

Faculdade Zumbi dos Palmares,

porque eu tenho um sonho antigo

que eu tenho certeza que é o

mesmo de vocês: ver a maioria

do povo negro com as mesmas

oportunidades que eu tive de

estudar, de trabalhar, de ter uma

vida digna. Infelizmente a maioria

ainda não tem, mas com esse

trabalho de vocês, das empresas

e de todos nós, um dia esse

sonho vai se realizar. Muito

obrigado.

Abel NetoJornalista TV Globo

Q

Edição 34 • Afirmativa Plural 47

Page 48: Afirmativa 34

cidadania

brigado pela

homenagem. Eu

gostaria de

parabenizar os

homenageados e dizer que a

Polícia Militar é uma pirâmide

com 100 mil homens e no topo

da pirâmide, no alto escalão

estão 61 Coronéis e eu estou

entre eles. E eu consegui isso

com estudo e com educação.

Então eu aconselho a todos da

Zumbi a estudarem e não

perderem as oportunidades que

as empresas parceiras da

faculdade estão dando. E dizer

que o sucesso só vem antes do

trabalho no dicionário.

Trabalhem!

Hervando Luiz VelozoCoronel da Polícia Militar doEstado de São Paulo

O

48 Afirmativa Plural • Edição 34

Page 49: Afirmativa 34

cidadania

u quero agradecer e

dizer que me sinto

muito honrada em

receber esta

homenagem e em oferecer a

minha música como

contribuição em toda essa

história. Muito obrigada e

parabéns à Zumbi dos

Palmares.

”Thulla MeloCantora e Conselheira da FaculdadeZumbi dos Palmares

E

Edição 34 • Afirmativa Plural 49

Page 50: Afirmativa 34

cidadania

Gilberto KassabPrefeito de São Paulo

uero agradecer essa

homenagem e a reparto

com todos os colegas

da prefeitura, com os

secretários. É evidente que me

sinto feliz por recebê-la. Quero

afirmar que desejo que este

trabalho desenvolvido pela

Afrobras e pela Zumbi dos

Palmares possa realmente atingir

seu objetivo. Todos sabemos que

o Brasil é um país diferenciado,

onde a diversidade convive de

uma maneira muito mais intensa

do que na grande maioria dos

demais países, mas não podemos

nos conformar, até porque temos

que avançar muito mais.

A Afrobras e a Zumbi têm dado a

sua contribuição, o seu exemplo

e, com a sua liderança, nós

podemos queimar etapas e atingir

mais rapidamente as nossas

metas de um País mais justo.

Muito obrigado e parabéns pelo

trabalho.

Q

50 Afirmativa Plural • Edição 34

Page 51: Afirmativa 34

Edição 34 • Afirmativa Plural 51

Chamavam à primeira igreja de matriz.Não matriz dos seios fartos de leite,Mas de fé transbordante na divindade doCristo.Eu não tinha tanta fé assim na liturgia damissaNem nos milagres dos entristecidos santos,Mas no som dos sinos a tinir solenesnos ouvidos da praça.

foto

: Gil

Ferr

eira

/SCO

/STF

Ainda assim a minha fé no som dos sinosNão era maior que a minha ligação no batuqueDos pés dos escravos a clamar por aboliçãoNos versos que eu lia desse meu deus-poetaQue foi Antônio de Castro Alves.Cada poema era em si mesmo uma catedralE nessas tantas catedrais de Castro AlvesFoi que dobrei os meus joelhos de crente radicalna liberdade.

* ministro vice-presidente do Supremo Tribunal Federal

Por Carlos Ayres Britto*

cidadania

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52 Afirmativa Plural • Edição 34

cidadania

Uma disciplina sobre o tema “com-bate ao racismo” será implementadaem todas as Academias de Polícia doBrasil com o objetivo de formar umanova cultura e um novo profissionalque fará uma abordagem diferente auma pessoa negra sem ver nesta umindivíduo criminoso.

Esta foi uma das principais açõesresultante da IV Conferência do Pla-no de Ação Conjunto Brasil - Esta-dos Unidos para Eliminação da Dis-criminação Étnico Racial e Promoçãoda Igualdade, que aconteceu nos dias20 e 21 de maio, em Atlanta, no Esta-do da Georgia (EUA) e foi divulgadapelo Ministro da Secretaria Especialde Promoção da Igualdade Racial(Seppir), Elói Ferreira.

Segundo o ministro, só quandoforem feitos e entregues os relató-rios dos grupos de trabalho que par-ticiparam da conferência, será pos-sível quantificar e estabelecer metaspara o plano de ação.

A conferência aconteceu no cam-pus da Morehouse, tradicional Uni-versidade negra norte-americana, emAtlanta, onde estudou um dos maio-res líderes dos direitos civis, MartinLuther King Jr. Atualmente a univer-sidade, só para homens, conta com800 alunos, informou Robert Fran-klin, presidente da Morehouse.

A conferência, que tem como ob-jetivo propor metas para um plano deação conjunto Brasil - Estados Uni-dos para eliminação da discriminaçãoetnico-racial, reuniu representantesda sociedade civil e faz parte do Pla-no assinado em março de 2008, quan-do do Governo George W.Bush pelaentão Secretária de Estado, Conde-leeza Rice e pelo ministro da Seppir,Edson Santos.

Arturo Valenzuela, Secretário Ad-junto para Assuntos das Américas(EUA), ressaltou ser este um camponovo para os diplomatas, mas falouda importância da participação nesta

IV Conferência, da sociedade civil edo setor privado, além dos governosdos dois países.

“Nosso desafio será justamenteincluir esses setores no planejamen-to”, observou Valenzuela, acrescen-tando que a partir de agora haveráreuniões técnicas semestrais e umaanual para debater os diversos temas,principalmente educação, saúde, se-gurança e mercado de trabalho.

Cerca de 40 representantes e li-deranças da sociedade civil de váriossetores brasileiros como Saúde, Edu-cação, Segurança, participaram daConferência.

O Embaixador do Estados Uni-dos no Brasil, Thomas Shannon, tam-bém presente à conferência, disseestar entusiasmado em trabalhar como Brasil neste tema e que está otimis-ta e acreditando no sucesso de açõesque serão definidas neste encontro.

Em sua palestra, Shannon afir-mou que um dos motivos que lhe dá

olíciaestudarão

racismo

academiasdep Por Francisca Rodrigues e Mônica Santos*

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Edição 34 • Afirmativa Plural 53

esperança no sucesso é o fato de a so-ciedade civil estar trabalhando em con-junto com os governos brasileiro eamericano, assim como a participaçãodos empresários neste plano.

Exemplo disso, segundo o embai-xador, foi a presença dos empresáriosna reunião promovida pela Secretariade Estado norte-americana, HillaryClinton, quando esteve em São Pauloe se encontrou com pessoas de poderpolítico e financeiro em sua visita a

Faculdade Zumbi dos Palmares. “Areunião com estes empresários, alémde alunos e professores foi muitoproveitosa, além de ter sido televisio-nada em rede mundial. O tópico des-sa ação é fundamental e o que a Se-cretária encontrou na FaculdadeZumbi dos Palmares e o que disse,forjou o futuro, afirmou o embaixa-dor. Na sua opinião, Brasil e EUApodem ser exemplo para o resto domundo, ao ver que a inclusão racial

pode ser feita e que isto é uma diplo-macia inovadora, social, que aproveitaas relações humanas. À medida queas sociedades se conectem – povo, go-verno, congresso-, poderemos ter umasociedade mais justa e igualitária”,destacou Shannon.

* as jornalistas Francisca Rodrigues e MônicaSantos foram aos EUA convidadas pela embai-xada daquele país. Participaram de reuniões emWashington e Atlanta, Georgia.

Da esquerda para a direita: Ministro da Secretaria Especial de Promoçãoda Igualdade Racial (Seppir), Elói Ferreira, Arturo Valenzuela,Secretário Adjunto para Assuntos das Américas (EUA) e ThomasShannon, Embaixador dos Estados Unidos no Brasil.

cidadania

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56 Afirmativa Plural • Edição 34

esporte

A partir de 11 de junho, aberturada primeira Copa do Mundo de Fu-tebol no continente africano, os olhosdo mundo estarão voltados para aÁfrica do Sul.

Mas, por outras razões, desde oinício de seu mandato, em 2003, opresidente Luis Inácio Lula da Silvajá tinha sua atenção voltada para aÁfrica, o que gerou resultados con-cretos e muito positivos.

Da sua posse até hoje, Lula visi-tou 19 países africanos – nunca, um

governante brasileiro tinha ido tan-tas vezes à região.

Durante seu governo, tambémforam abertas, ou reativadas, 12 em-baixadas no continente

A prioridade dedicada à Áfricareflete, principalmente, a preocupa-ção do Presidente, que trabalhou in-cansavelmente para resgatar uma dí-vida histórica e a separação inaceitá-vel do Brasil com nossos irmãos afri-canos. Essa preocupação transfor-mou-se em um dos principais eixos

das políticas externa e comercial doatual governo, e que buscam ampliara cooperação e o comércio para alémdos países chamados desenvolvidos.

Essa postura é também a expres-são internacional das ações afirmati-vas que o presidente Lula implemen-ta em nosso País e que, entre outrasrealizações, levaram à criação do Mi-nistério da Igualdade Racial e o esta-belecimento de cotas para afrodes-cendentes nas universidades.

A merecida atenção do governo

com a África foi uma das razões doexcepcional crescimento do fluxocomercial do Brasil com essa região.

Entre 2002 e 2008, a corrente decomércio do nosso País com os paí-ses da África Subsahariana cresceuimpressionantes 500%, de US$ 2,99bilhões para US$ 17,21 bilhões.

Devido à crise financeira interna-cional, houve um recuo da 34,2% em2009, quando foram comercializados

US$ 11,26 bilhões. Mas no primeirotrimestre de 2010, já se verificou umarecuperação: a corrente de comérciofoi de US$ 2,84 bilhões, mais 21,5%em relação aos três primeiros mesesde 2009, quando o fluxo foi de US$2,34 bilhões.

Em obediência à prioridade esta-belecida pelo Presidente Lula, o Mi-nistério do Desenvolvimento Indús-tria e Comércio Exterior liderou, des-

de 2003, missões empresariais a novepaíses dá África Subsahariana, quecontribuíram para o grande aumen-to do nosso fluxo comercial com aregião. Haverá, no mínimo, mais umamissão, ainda este ano.

Essas viagens têm como objeti-vos o aumento do comércio, a pro-moção de investimentos bilaterais ea realização de seminários de coope-ração em áreas de interesse.

fricaáa

no centro das atençõesdo Governo Lula

Por Miguel Jorge*

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Edição 34 • Afirmativa Plural 57

Em novembro de 2009, uma des-sas missões empresariais visitou aÁfrica do Sul, Moçambique e Ango-la. A delegação brasileira, que coor-denei, foi integrada por 86 empresá-rios brasileiros de oito setores eco-nômicos e representantes de outrosórgãos do governo.

Em Johanesburgo, realizamosuma grande rodada de negócios en-tre empresários brasileiros e sul afri-canos, já que há um grande interessede nossas empresas de aumentar ocomércio com a África do Sul. Elas

são atraídas por um mercado cres-cente e pela posição estratégica des-se país no comércio africano.

Brasil e África do Sul são duasimportantes democracias.

Têm economias estáveis, indus-trializadas e com agronegócios for-tes. Compartilham, também, o desa-fio de fazer com que as riquezas che-guem às camadas mais pobres de suaspopulações, com geração de empre-go e renda, num ambiente de justiçasocial. Os dois países passaram porum processo de amadurecimento ins-

titucional, nos últimos trinta anos, eestabeleceram a inclusão social comometa central de suas políticas públi-cas. A Copa o Mundo será mais umaoportunidade de aproximação entreo Brasil, África do Sul e todo o con-tinente africano. Estou torcendo mui-to para que a nossa Seleção – commuitos jogadores afrodescendentes –chegue ao Hexa.

* ministro do Desenvolvimento, Indústria e Co-mércio Exterior.

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Miguel Jorge

Page 58: Afirmativa 34

58 Afirmativa Plural • Edição 34

perfil

Dionísio Filho,54 anos, o Djonga,como é conhecido, começou a carrei-ra aos 13 anos, na equipe dente de lei-te da Portuguesinha, em Ribeirão. Pas-sou por alguns times pequenos do in-terior paulista e logo passou a jogarem times grandes: Atlético Mineiro,depois o Internacional de Porto Ale-gre. Na capital gaúcha, nasceu o pri-meiro filho Cristiano, em 1979.

Por força da profissão de jogador,a família recém-aumentada mudou-separa Curitiba, no Paraná. As mudan-ças obrigaram Sueli a transferir o Cur-so de Letras para a Universidade Fe-deral do Paraná, onde se formou.

Mulher atuante, a professora de Por-tuguês não descuidava do marido.

Exercia o papel de assessora deDjonga, cuidando de cada detalhe: aimagem, o modo de falar, a posturadiante das adversidades.

O trabalho de Sueli se refletia nofato de Dionísio se expressar de for-ma diferente dos demais jogadores(com um português corretíssimo!), fu-gindo dos jargões e lugares comuns.

“Isto tornou o Dionísio um joga-dor com um discurso diferenciado,sem que ele perdesse o bom humor, ojeitão descontraído. Enfim, adequar alinguagem mais polida ao perfil dele”,

diz orgulhosa dos resultados, a pro-fessora Sueli. E fez dos filhos, o quesó uma mulher corajosa é capaz defazer: um filho professor e advogado,consciente das causas; uma filha jor-nalista, voluntariosa, de personalida-de forte. Sueli conta que ela e Dioní-sio criaram os filhos conscientizando-os para o tipo de sociedade que elesteriam de enfrentar. “Porque ser ne-gro, numa sociedade onde predomi-na a colonização européia, não deixade ser um enfrentamento. Estudaramem colégio particular, sempre frequen-taram a alta sociedade sem, no entan-to, deixarem de lado o comprometi-

uma famílianidacontra o

preconceitoPor Dulcinéia Novaes *

Sueli e Antonio Dionísio Filho conheceram-se em Belo Horizonte quando ela ainda era

estudante de Letras (UFMG) e ele jogador de futebol. Começava aí uma bela história de luta

e de vida, há 33 anos. Sueli Dionísio agora é professora universitária, Doutora em Literatura.

Dionísio filho, o Djonga, hoje aposentado dos gramados, é comentarista esportivo. Da união

nasceram dois filhos: Cristiano e Bibiana. Uma família negra que deu certo.

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Edição 34 • Afirmativa Plural 59

perfil

mento com as questões da negritude”,argumenta. E nesta mesma linha o ca-sal segue educando o caçula da famí-lia, Márcio Eduardo, de 10 anos. Eleestuda em colégio particular e quer tri-lhar os passos de Djonga: quer ser jo-gador de futebol. Treina no gol.

“Quero ser um jogador famosoigual meu pai”, costuma dizer cheio deorgulho e admiração. Márcio é filho docoração. Carinhoso, dengoso, amado.“Nosso filho caçula é um presente deDeus para a família”, resume a mãe.Para Sueli não foi fácil dividir-se entrea criação dos filhos, as aulas em colé-gios e universidades, a atenção à car-reira do marido. Mas conseguiu fazerum Mestrado e, com mais sacrifício ain-da, um doutorado pela Universidade

Federal de Santa Catarina. CristianoDionísio, 30 anos, o primogênito, for-mou-se em Direito pela PontifíciaUniversidade Católica do Paraná. Enum discurso eloquente, ele assim seautodefine: “Meu nome é CristianoDionísio, brasileiro, casado, advogadoe professor universitário. Negro. Eusou eu e minhas circunstâncias. Dian-te disso minha africanidade, minhaidentidade negra, sem dúvida, é deter-minante na construção de como re-conheço a mim e interpreto o mundono qual estou inserido”.

Desde menino Cristiano disse aque veio. Durante todo ensino funda-mental, foi representante de turma.No Ensino Médio não perdeu o espí-rito de liderança. Ainda na adolescên-

cia, foi capitão do time de basquete(esporte por que optou) e na univer-sidade foi presidente do centro aca-dêmico. Nunca teve medo de se ex-por, dar a cara à tapa. Mas até resol-ver ingressar na carreira política foium longo caminho, com alguns per-calços, fases de investimento na vidapessoal, na vida profissional e mo-mentos decisivos. Confessa, no entan-to, que a vontade de voltar para a po-lítica ressurgiu ao acompanhar o pro-cesso de eleição de Barack Obama:“Não só pelo fato de ele ser negro,mas por representar uma outra visãopolítica. Foi a soma desses fatores, osdiscursos dele... Não há caminho fá-cil. Há caminho certo e, via de regra,é o caminho mais difícil a ser perse-

Da esquerda para direita: Márcio Eduardo,Sueli, Djonga, Cristiano e Bibiana

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guido, mas é o único que se justifica.Desejo contribuir com a constru-

ção política de nossa sociedade por re-conhecer que a política é importanteferramenta para o atendimento dasmais legítimas demandas sociais e,principalmente, de resgate e repara-ção de erros e ilícitos históricos”.

A educação que recebeu dos pais,hoje se reflete no comportamento deCristiano. Ele lembra que em casa osexemplos ligados à raça negra eramsempre referências positivas: nas ar-tes, no esporte, na música.

A valorização da autoestima erabem trabalhada. E é o que pretendepor em prática, quando tiver filhos,segundo ele.

Percepções de vida que não sãodiferentes em Bibiana Dionísio, jor-nalista, 24 anos. Aquela que a mãedefiniu como voluntariosa, de perso-nalidade forte.

Ela herdou do pai, a ousadia, oatrevimento. É independente e maisprática para as coisas da vida. Bibianaé formada em Comunicação Socialpela Pontifícia Universidade Católicado Paraná e trabalha como produtorae editora na TV Educativa.

Ela conta que a escolha do cursode Jornalismo foi por acaso. Mas gos-tou muito do curso. Tanto que hoje éprofissional dedicada, e até costumadizer: “Não me vejo fazendo outracoisa”. Quanto à educação recebidaem casa, reafirma que a questão da au-toestima sempre foi bem trabalhada.

“Cresci numa Curitiba preconcei-tuosa com pobre, com negro, com aaparência. Talvez não tenhamos sen-tido na pele, explicitamente o precon-ceito racial por vivermos uma outrarealidade. Ora, para ser bem sincera,parece que a vida se empenhou emme preservar desse tipo de problema.E se houve, ocorreu tão veladamente

que não me atingiu, nem sequer foipercebido por mim. De qualquer for-ma, estou pronta para enfrentar qual-quer obstáculo nesse sentido”.

Quanto ao posicionamento donegro na sociedade, conclui: “O ne-gro precisa se entender melhor, bus-car seu espaço – e muitas coisas de-pendem de oportunizar o acesso àeducação. As conquistas vêm da von-tade de cada um. E sabemos que, cer-tos preconceitos perpetuados, só se-rão superados a longo prazo”.

É esta família que enche de or-gulho Dionísio Filho, o Djonga.“Educação aqui em casa sempre foiprioridade”, diz ele, com voz firme ediscurso enfático.

Dionísio atribui à esposa Sueligrande parte do sucesso, pelo supor-te, pelo conhecimento que ela temproporcionado desde o começo dacarreira dele, além de ser peça funda-mental na educação dos filhos.

Defensor ferrenho da negritude,Djonga não mede palavras e não levadesaforo para casa, quando falam malda raça negra. O que tiver de falar, falana hora! Lembra que, quando era jo-gador de futebol, por várias vezes foivítima de racismo: “A gente não tinhacomo provar. E a crônica esportivaduvidava quando a gente falava queera xingado dentro de campo. Veja ocaso do Danilo, do Palmeiras, queofendeu o Manoel do Atlético Para-naense. Caso de racismo! E não ve-nha dizer que a demissão do Andra-de, técnico do Flamengo não foi ra-cismo?! Não tenho dúvidas de que foipreconceito. Quem comanda futebolconsidera que negro é só pra jogar,dar espetáculo, não para comandar.No meio esportivo, infelizmente, ain-da há muito preconceito. Espero queum dia isso acabe. Nem que seja paraa geração dos meus tataranetos!”

Quando parou de jogar foi treina-dor das equipes de base do ParanáClube (96/97), auxiliar técnico (98/99) e também atuou como técnicointerino da equipe principal. Tambémfoi treinador do Tuna-Luso de Belémdo Pará, Comercial de Ribeirão Preto,Francana (de Franca), entre outros.

Com toda essa experiência pro-fissional, ele não caiu de pára-quedasna crônica esportiva. É comentaristada Rádio Banda B há 10 anos, já foicomentarista free-lancer da RPCTV, afi-liada da Rede Globo. Atualmente éum dos titulares do programa de te-levisão Show de Bola, da Rede Mas-sa, tem uma coluna no Jornal Gazetado Povo, tem um blog , e tem aindao Programa de Rádio Sangue Bom,que une música e entrevistas.

Não trabalha pouco. E está sepreparando para a segunda Copa doMundo (esteve pela primeira vez naAlemanha em 2006). Agora está an-sioso para conhecer a África doSul.“Eu tenho que ir mesmo, porqueme considero um analista de futebol.Não estou nesta profissão por acaso.Vivi todas as etapas dela. Não sou umteórico”. E conclui: “Ir à Copa do Mun-do na África é uma questão de reco-nhecimento pelo trabalho realizado”.

E a eterna guardiã, a ProfessoraDra. Sueli, mãe de Márcio Eduardo,Bibiana e Cristiano, mulher de Djon-ga, revela: “Ver a família bem encami-nhada, cada filho ocupando o lugarque lhe é de direito, o Dionísio bemsucedido nas atividades dele, só pos-so dizer que é uma realização plena”.

Toda essa maturidade reflete naconstrução da família – o que nãoparece pouco.

* jornalista, repórter da RPCTV, afiliada daRede Globo no Paraná. Mestre em Comunica-ção e Linguagens. Professora Universitária.([email protected])

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cultura

A história da adolescente negra,analfabeta, abusada pelos pais e queencontra uma nova perspectiva atra-vés da escrita, fez de Preciosa um su-cesso nos Estados Unidos e no mun-do, e garantiu ao filme, o Oscar demelhor roteiro adaptado. Mas todo osucesso de Preciosa não seria possí-vel se não fosse a mente criativa deSapphire, escritora norte-americanaque é a autora do drama.

Segundo a autora, a idéia para oenredo surgiu ao realizar um traba-lho no serviço social americano e ob-servar a vida das centenas de adoles-centes atendidas no local. O toquefinal foi inspirado no livro Quarto deDespejo, da autora negra CarolinaMaria de Jesus. Dali, Sapphire trouxepara Precious sua válvula de escape, osdiários que permitem a personagemexteriorizar seus conflitos. Em entre-vista exclusiva à Afirmativa Plural,Sapphire conta a história de sua carrei-ra e sobre o sucesso de Preciosa.

Afirmativa Plural: Como se iniciousua carreira como escritora? Qual foi suatragetória até criar Preciosa?

Sapphire: Eu era parte de ummovimento em Nova York onde, no início dos anos 90, as pessoas iam a

um clube para recitar poesia e um dospoetas mais famosos Pedro Pietry,escreveu um livro chamado Porto RicoObtuary que influenciou muitos poe-tas americanos a escrever em uma lin-guagem das ruas.

A idéia para escrever o livro sur-giu quando eu estava trabalhando noserviço social como mediadora en-tre as crianças e a sociedade. Eu tra-balhei como professora no Brooklin,no Harlem e no Bronx.

Nesses lugares, os alunos falavamcomigo e eu ouvia histórias e tentavaajudá-los e essas histórias nunca saí-am da minha cabeça.

Em 1993 eu parei de ensinar evoltei para a academia para fazer mi-nha pós-graduação e comecei a es-crever o livro Preciosa, que foi pu-blicado em 1996.

A diferença nesse romance é quevocê não tem uma linguagem tradi-cional nos diálogos você tem a visãode um poeta e os diálogos são orga-nizados com essa concepção.

É uma visão da poesia baseadana linguagem do povo, é a voz ver-dadeira das crianças nas ruas.

O que nós vemos no começo dolivro é que Precious não pode ler ou

escrever e nós vemos seu progresso.Ela se abre como uma flor e co-

meça a escrever e fazer valer sua voz,falar por si mesma e contar sua pró-pria história.

E para mim isso é o mais impor-tante porque na nossa cultura Preciousé uma mulher invisível, ela não é amulher que está na televisão ou nosfilmes, ela não está nos livros, na his-tória da trajetória racial dos EUA. Émuito importante para mim que a vozdela seja ouvida.

Afirmativa Plural: O que signifi-cou para você ver o seu livro se tornar umgrande sucesso e ganhar o Oscar?

Sapphire: É muito excitante emuito importante, pois por causa dofilme o livro chegou a muitos luga-res que não tinha ido antes.

O livro foi publicado 13 anosatrás, mas agora chegou ao Brasil, aChina, uma das maiores populaçõesdo mundo.

O livro e o filme estão chegandonesses lugares e o mundo está vendopobreza, violência, abuso sexual decrianças e violência em geral, analfa-betismo. O livro não é importanteapenas por isso, mas também porquetrata da questão racial.

a mentepor trásde um sucesso

Por Daniela Gomes

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Afirmativa Plural: Muitas pes-soas criticaram o filme por passar umaimagem ruim do negro. Qual a sua opiniãosobre isso?

Sapphire: Em 2000 eu era pro-fessora em Connecticut e criei umaclasse sobre mulheres escrevendodiários e ensinei alguns livros, en-tre eles Silvia Plath e Carolina Mariade Jesus e eu tinha cerca de 50 estu-dantes na minha classe, africanos,americanos e brasileiros. Dentre osalunos brasileiros, tinha um alunoque era um garoto branco e rico etodos os estudantes amaram o livroQuarto de Despejo, amaram a ma-neira como ela traduziu a favela parao mundo e o estudante brasileiro dis-se que aquilo não era verdade, que ascoisas não eram tão ruins assim,quando na verdade elas não eramruins para ele.

Isso é o que eu queria dizer, nóstemos Oprah, nós temos Obama, masnós também temos Precious, ela é a

nossa criança no escuro (em referên-cia ao título dado a Quarto de Despe-jo em inglês, Child of the Dark).

Afirmativa Plural: Você afirmouem algumas entrevistas que o livro Quartode Despejo: Diário de uma favelada, deCarolina Maria de Jesus te inspirou a es-crever Preciosa. Como o trabalho dela cha-mou sua atenção?

Sapphire: É necessário ler o li-vro e ver o filme, porque no filmevocê pode ver a personagem escre-vendo em seus diários e partes do li-vro são a transcrição dos diários dePrecious e isso foi inspirado nas pala-vras da Carolina Maria de Jesus. Paramim foi extremamente importanteesse processo de uma mulher escre-vendo sobre a própria vida, isso foiuma inspiração nos dois casos.

Elas são totalmente diferentesmas ambos são livros para os afro-americanos aprenderem sobre os po-vos negros nas Américas, porque elessão descendentes de escravos e por

isso têm os mesmos problemas.Afirmativa Plural: Nós temos pou-

cos autores afro-americanos traduzidos parao português. Em sua opinião por que issoacontece?

Sapphire: Porque você precisa deum marketing, as editoras brasileirasnão estão interessadas em traduzir oslivros dos afro-americanos, a maio-ria deles acha que esses livros nãovendem e eles não vêem cores, elesvêem dinheiro.

A gente precisa criar um marke-ting para divulgar a literatura afro-americana, afro caribenha e brasilei-ra. Essa não é uma relação apenasentre Brasil e EUA, para mim comouma mulher negra, uma descenden-te da escravidão africana, é a questãoda diáspora. Essa conexão é impor-tante, porque a língua não nos une,mas essa é a conexão que nos une.Nós lutamos por uma voz, por umacriatividade e eu acho que esse é ocomeço de um progresso.

Cena da atriz Mo’Nique, ganhadorado Oscar melhor atriz coadjuvante pelofilme Preciosa.

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empreendedorismo

Duas culinárias distintas dividin-do um mesmo espaço.

Quem poderia imaginar que umrestaurante italiano e japonês pudes-sem conviver harmoniosamente nummesmo lugar? Quem? Alguém moti-vado e totalmente dedicado a empre-ender e a “dar certo”.

Este alguém se chama SuzimarNiv, proprietária do restaurante I Pia-tti, com filiais em Botafogo e na Bar-ra da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Toda essa história de sucesso co-meçou ainda na infância, quando ospais faziam questão que os cinco fi-lhos estudassem em escola particular.

A mãe costureira e o pai dono deum pequeno estacionamento, no cen-tro do Rio, já apostavam na educa-ção como trampolim para uma vidamelhor. Desde este período, o em-preendedorismo já era um traço mar-cante na vida de Suzi, como é conhe-cida entre amigos. Ela customizou,com a ajuda da mãe costureira, umascortinas que o pai havia ganhado eas transformou em bolsas para reven-der. Já na vida adulta, pegou dinhei-ro emprestado e abriu uma loja deroupas em Ipanema, um dos bairrosmais chiques do Rio. Como o fatura-mento era pouco, resolveu apostar

seus investimentos na área da alimen-tação. Abriu um restaurante que ser-via pizzas e massa.

Nesta época ela fazia de tudo parao negócio dar certo. Desde a limpe-za, venda e até cozinhava.

Para se aprofundar na parte ad-ministrativa, Suzi superou os própri-os esforços e durante a noite voltoua cursar Direito. Para se aperfeiçoar,ainda fez faculdade de Gastronomiae especialização em Administração eAtendimento. Essa empreendedoranata não parou por aí. Na constantebusca por benfeitorias no restauran-te ela buscou orientação no SEBRAEe no SENAC. Foi desta forma que elasoube aproveitar as oportunidades epercebeu a carência de um restau-rante especificamente italiano emseu entorno. A idéia deu tão certoque ela e o sócio tiveram que expan-dir para outras unidades.

Mesmo assim o sentimento deque algo podia ser feito permaneciapresente na vida da proprietária, quepesquisava constantemente outrosrestaurantes a fim de analisar o ser-viço, bem como o tipo de culinária.“Foi desta forma que descobrimosum restaurante japonês que estavafalindo. O chef estava sem saber o

que fazer, precisando trabalhar. Foiquando atinei em utilizar um espaçoocioso no segundo piso”, diz Suzi.

Para lidar com a diferença entreculinárias tão distintas a solução foimontar um restaurante em cada an-dar. Essa receita já vem dando certohá muito tempo.

O I Piatti Italiano já está em ple-no funcionamento há 22 anos e o IPiatti Japonês há 12 anos.

Relatando os fatos desta formadá a entender que tudo transcorreufacilmente. Somente quem viveu odia a dia destes acontecimentos sabedas dificuldades enfrentadas. “A fal-ta de conhecimento mais profundona área foi o maior complicador etambém pouco dinheiro para segu-rar os primeiros meses”, analisa.

As complicações continuam pre-sentes. “Mesmo passados tantos anos,ainda me olham com estranhamentoe algumas vezes acham que só traba-lho como gerente e não sócia de doishomens brancos, um judeu e um cea-rense. E algumas pessoas chegam aindagar como tive condição de sersócia”, relata.

Como contornar essas situações?Suzi responde com veemência, “pre-cisamos ser melhor em tudo para ser-

pode

o inusitado

darcertoPor Rejane Romão

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empreendedorismo

mos reconhecidos e mesmo assim,em alguns momentos precisamos nosimpor e defender o nosso espaçocom unhas e dentes! Mostrar que es-tamos sim entre os empresários”.

Para reforçar estes projetos e iralém, agora como presidente da As-

sociação Comercial Empresarial deBotafogo, a empresária divide o tem-po entre os dois restaurantes, os tra-balhos para a Associação, reuniões noConselho Estadual de Segurança Pú-blica, na organização de eventos nascomunidades Pacificadas do Rio (San-

Suzimar Niv com chefItamar da culinária italianano I Piatti em Botafogo.

ta Marta, Tabajaras e Cidade de Deus),reuniões dos Pólos de Gastronomia de Botafogo e da Barra e uma PósGraduação.

Ufa! A inspiração para realizartantas ações é simples como diz Suzi,“Eu me amo. Eu me aprovo”.

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opinião

O jeito como os moradores deuma cidade se relacionam com o es-paço público, de certa forma, explici-ta o grau de desenvolvimento de umasociedade. Recentemente, fiz um giropelo interior do Japão. Até então,quando se falava no país do sol nas-cente as imagens que vinham à minhacabeça eram relacionadas a luminososgigantescos anunciando toda sorte deprodutos eletrônicos, calçadas coalha-das de gente indo e vindo não se sabede onde ou para onde e as ruas atu-lhadas de carros. Enfim, um cenáriopropício para o caos e a desordem.Mas não foi isso que eu vi na prática.Em Nagoia, a primeira escala de mi-nha viagem, pude comprovar, na prá-tica, que as propaladas virtudes daeducação japonesa: ordem, discipli-na e civilidade se manifestam a todomomento. Quer seja no motorista de

um outro

de viver

Por: Rosenildo Gomes Ferreira*

carro que nunca buzina e ainda espe-ra pacientemente o pedestre atraves-sar a rua, mesmo quando não há umsemáforo indicando a preferência, ouna mais completa ausência de detri-tos nas ruas. Isso apesar de não seobservar mais que três latas de lixodurante uma caminhada de três qui-lômetros entre a área comercial chi-que de Sakae e o centro da cidade. Éigualmente pequeno o número de ga-ris. Pichações emporcalhando as pa-redes de casas, monumento ou osprédios públicos, nem pensar.

As surpresas não pararam por aí.Nos deslocamentos pelo interior daprovíncia de Aichi me deparei comuma cena insólita para os padrões oci-dentais. Na falta de grandes áreas li-vres, os terrenos situados entre as qua-dras residenciais se convertem emplantações de trigo, aveia e hortaliças.

Mas não há guardas, vigias, cercas,nada, absolutamente nada, divisandoa plantação do restante. Entre dar avolta no quarteirão e “cortar cami-nho” pela plantação, a opção, peloque vi, era sempre a primeira. Mes-mo que isso custasse percorrer 300,500 metros a mais sob o inclementecalor da primavera com cara de verão.

Quem não tem condições de com-prar ou arrendar áreas, explicou-me aguia, usa o espaço do jardim ou mes-mo a varanda de casa para garantirparte de seu suprimento de hortaliçase legumes. E não se trata de falta derecursos para alimentação. À exceçãodo bife de Kobe, uma iguaria bastan-te cara, a alimentação é relativamentebarata. A arquitetura amigável das ca-sas, que abusa das linhas retas e dassacadas, remete a despojamento e umminimalismo no qual parece só haver

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espaço para as coisas realmente essenciais para umavida digna. Um cenário semelhante me esperavaem Quioto, a última escala da viagem de nove dias.

Voltei ao Brasil a tempo de ver, pela TV, asimagens de mais uma grande tragédia anuncia-da. Dessa vez, as vítimas foram os moradoresde uma comunidade chamada de Morro doBumba, em Niterói (RJ). Ali, soterrados em meioa escombros de construções precárias e monta-nhas de lixo enterradas por sucessivas adminis-trações, emergiu a primeira das vítimas em situ-ações como essa: a verdade. Primeiro tentaramculpar São Pedro, já que a catástrofe teria ocor-rido por conta das fortes chuvas que atingiam oGrande Rio. Depois trataram de ressaltar a “ir-responsabilidade” das vítimas que teriam inva-dido o local sem medir os possíveis riscos. Porfim, descobriu-se que não foram São Pedro,tampouco os moradores os culpados por essatragédia. Mas sim um misto de desprezo pelospobres e a certeza da impunidade por parte dequem constrói carreira política ou empresarial,tratando seres humanos como massa de mano-bra para projetos pessoais.

Talvez não seja preciso viajar ao outro ladodo mundo para descobrir que uma vida pautadapelo respeito é possível. Temos bons exemplosem alguns lugares dos Estados Unidos, da Euro-pa e até mesmo de nosso País. Mas o Japão éemblemático até mesmo quando se fala em tra-gédia. Lá, o homem público de qualquer esca-lão, que se envolve em atos de corrupção, porexemplo, ou coloca os interesses pessoais acimado bem comum, tem chances reais de ir parar nacadeia. Quer tenha roubado o equivalente a R$ 1ou a R$ 1 milhão. Muitos, cobertos pelo mantoda vergonha, acabam até mesmo adotando a so-lução radical como o suicídio. Não precisamoschegar a tanto. Contudo, acho que está na horade a lei atingir a todos. Pobres, ricos, políticos,magistrados. Todos que mereçam pagar por seusmalfeitos com cadeia ou perda dos bens amea-lhados de forma ilegal. Só depende de nós.

* repórter da revista Isto É Dinheiro e membro do ConselhoCurador da Faculdade Zumbi dos Palmares ([email protected])

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Rosenildo Gomes Ferreira

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afirmativo

Da Redação

O olhar de satisfação e o sorriso de contentamento doreitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, José Vicente, nãosão por acaso . Em seis anos de existência a Faculdade Zum-bi assume notoriedade nacional e internacionalmente.

Para alcançar este patamar, há tempos muitos esforçostêm sido empenhados. Noites sem dormir, horas e horasde trabalho, finais de semana dentro da faculdade, feria-dos... Ir além das forças.

É assim que mais um dos projetos da Zumbi ganhavida. A Intervenção Cultural “Heróis Negros de TodosNós”, em comemoração ao dia 21 de Março, Diada Luta pela Eliminação da DiscriminaçãoRacial, surge como um relato

heróishojede ontem

e dehistórico dos feitos do povo negro nos últimos anos. Pro-va disso é o paralelo traçado na exposição de fotos sobre aconquista do presidente dos EUA, Barack Obama e as vi-tórias cotidianas da Faculdade.

Segundo o reitor, a idéia da exposição surgiu a partir dodesejo de contribuir para que o público tivesse mais elemen-tos para reconhecer aqueles que ao longo da história fize-ram muito para que as vitórias existentes hoje fossem alcan-çadas. Uma proposta de transformar cada espaço físico da

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afirmativo

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faculdade num ambiente para informação, reflexão e re-percussão sobre a trajetória e feitos de personagens nacio-nais e internacionais que contribuíram de maneira rele-vante na luta para a conscientização e valorização do negrobrasileiro. A inauguração da Intervenção Cultural, realiza-da no dia 26 de abril contou com a presença de represen-tantes do consulado dos EUA, T.J.Dowling, diretor de im-prensa, David Brooks, Cônsul para Assuntos Políticos, De-neyse Kirkpatrick, vice-cônsul dos EUA e a cantora Va-nessa Jackson que fez a abertura do evento.

Um dos pontos altos da exposição é a seleção de fotos,produzidas pelo fotógrafo oficial da Casa Branca, Pete deSouza, sobre a vida do Presidente Barack Obama, que fo-ram doadas pelo Consulado Americano e, mostra momen-tos que retratam o dia a dia do presidente.

Ainda antes de iniciar a cerimônia de abertura do even-to, o diretor de imprensa do consulado americano, expli-cou a importância desta ação. “Para nós é muito importan-te mais esta ação da Faculdade Zumbi dos Palmares, estaque é a única faculdade para afrodescendentes brasileira.Nos EUA temos uma longa história na luta pela integraçãoda raça negra. O presidente Obama é o marco de todosestes esforços. A parceria entre o Consulado e a Zumbi

teve como ponta pé inicial a visita da secretária de estadoHillary Clinton, mas há outras possibilidades mais para fren-te, como por exemplo, intercâmbios e bolsas de estudo”,declara T.J. Dowling.

Durante seu discurso, José Vicente, ressaltou a impor-tância da colaboração dos grandes parceiros para que a his-tória dos heróis negros e a trajetória da faculdade fossemcontadas através de imagens tão significativas. “Nós con-seguimos sintetizar a trajetória do negro e demarcamos queao longo dos anos, nós andamos bem, chegamos a um lu-gar importante e que a partir de agora talvez seja possívelir mais adiante, porque as coisas já estão melhores e a his-tória já foi mais benigna com todos nós. Agora, já criamospelo menos um alicerce importante”, declara.

Idealizada pela direção da faculdade e organizada pelodepartamento de comunicação, a exposição é apenas oinício de um projeto que a longo prazo irá agregar muitosoutros feitos dos heróis negros do passado e daquelesque ainda estão por vir.

De acordo com a diretora de Comunicação, FranciscaRodrigues, a expansão da exposição de fotos da Zumbiserá constante. “A Zumbi não pára. Temos ainda muitasfotos de festas, visitas...É uma história muito grande. Quem

sabe um “museu” seja capaz de comportar toda nossahistória!”, ressalta Francisca Rodrigues.

Fotos

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preto e branco

Robson Souzade

Nascido em São Vicente, regiãopraiana de São Paulo, o craqueRobinho faz história desde os 9anos de idade quando marcou 73gols numa temporada de futsal. Daíem diante, o talento inigualável é amarca do atleta que não se limita afazer gols, mas sim de presentearaos expectadores dos jogos queparticipa com o verdadeiro “futebolmoleque”.

São dribles e mais dribles quedeixam os adversáriosdesconcertados e porque não dizer,verdadeiramente irritados comtamanho dom.

Em 2002, com apenas 18 anos,Robinho levou o Santos FutebolClube à conquista do CampeonatoBrasileiro, título que o time já nãoalcançava há 18 anos.

Recentemente ajudou, mais umavez, o time que o revelou. OCampeonato Paulista 2010 é doSantos e o Robinho é do Brasil.

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