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123 Itinerários, Araraquara, n. 33, p.123-137, jul./dez. 2011 “AGORA EU QUERO CANTAR”: UM POEMA NARRATIVO DE MÁRIO DE ANDRADE José Batista de SALES * RESUMO: O poema narrativo possui longa tradição na literatura ocidental e desta fonte derivam algumas obras com relevante contribuição para o processo de formação da literatura brasileira. Como parte de um estudo mais amplo, que teve como objetivo estudar o poema narrativo brasileiro contemporâneo, em suas peculiaridades formais, temáticas e, principalmente, do estatuto de seu narrador, o artigo analisa um poema de Mário de Andrade, em que aborda as peculiaridades formais e temáticas, além de tecer considerações sobre o lugar do poeta na historiografia literária nacional. PALAVRAS-CHAVE: Literatura brasileira. Poesia brasileira. Poesia narrativa. Introdução: antecedentes e explicações Na modalidade literária conhecida por poema narrativo, de longa tradição na literatura ocidental, há obras consideradas relevantes para a formação da literatura brasileira. Entre essas, são dignas de nota O Uraguai (1769), de Basílio da Gama (1741-1795), Caramuru (1781), de Santa Rita Durão (1722-1784) e I-Juca Pirama (1851), de Gonçalves Dias (1823-1864. Adicionalmente, também podemos mencionar os poemas herói-cômicos, “O desertor” (1771), de Silva Alvarenga (1749–1814) e “Reino da estupidez” (1774), de Francisco de Melo Franco (1757– 1823). O poema narrativo caracteriza-se como a manifestação literária em verso na qual se realiza a narração ficcional de fatos ou de ações antropomorfizadas, com traços dramáticos, cômicos ou sérios e pode ser de alcance universal, regional ou local, dada a presença ou a ausência de grandiosidade. Dessa forma, o poema narrativo pode ser classificado como épico, heróico ou herói-cômico. O épico compõe-se de ações heróicas, realizadas por personagens ilustres, as quais possuem inegável força guerreira, são portadoras de expressivo poder (econômico, religioso) e, invariavelmente, virtuosas. Segundo os tratados de poética (ARISTÓTELES, 1984), todos esses predicados devem ser vazados em linguagem solene e, para tanto, o verso heróico, ou hexâmetro dactílico é o mais adequado. * UFMS – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Departamento de Educação. Três Lagoas – MS – Brasil. 79620-270 – [email protected]

Agora Eu Quero Cantar_um Poema Narrativo de Mário de Andrade

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  • 123Itinerrios, Araraquara, n. 33, p.123-137, jul./dez. 2011

    AGORA EU QUERO CANTAR: UM POEMA NARRATIVO DE MRIO DE ANDRADE

    Jos Batista de SALES*

    RESUMO: O poema narrativo possui longa tradio na literatura ocidental e desta fonte derivam algumas obras com relevante contribuio para o processo de formao da literatura brasileira. Como parte de um estudo mais amplo, que teve como objetivo estudar o poema narrativo brasileiro contemporneo, em suas peculiaridades formais, temticas e, principalmente, do estatuto de seu narrador, o artigo analisa um poema de Mrio de Andrade, em que aborda as peculiaridades formais e temticas, alm de tecer consideraes sobre o lugar do poeta na historiografia literria nacional.

    PALAVRAS-CHAVE: Literatura brasileira. Poesia brasileira. Poesia narrativa.

    Introduo: antecedentes e explicaes

    Na modalidade literria conhecida por poema narrativo, de longa tradio na literatura ocidental, h obras consideradas relevantes para a formao da literatura brasileira. Entre essas, so dignas de nota O Uraguai (1769), de Baslio da Gama (1741-1795), Caramuru (1781), de Santa Rita Duro (1722-1784) e I-Juca Pirama (1851), de Gonalves Dias (1823-1864. Adicionalmente, tambm podemos mencionar os poemas heri-cmicos, O desertor (1771), de Silva Alvarenga (17491814) e Reino da estupidez (1774), de Francisco de Melo Franco (17571823).

    O poema narrativo caracteriza-se como a manifestao literria em verso na qual se realiza a narrao ficcional de fatos ou de aes antropomorfizadas, com traos dramticos, cmicos ou srios e pode ser de alcance universal, regional ou local, dada a presena ou a ausncia de grandiosidade. Dessa forma, o poema narrativo pode ser classificado como pico, herico ou heri-cmico.

    O pico compe-se de aes hericas, realizadas por personagens ilustres, as quais possuem inegvel fora guerreira, so portadoras de expressivo poder (econmico, religioso) e, invariavelmente, virtuosas. Segundo os tratados de potica (ARISTTELES, 1984), todos esses predicados devem ser vazados em linguagem solene e, para tanto, o verso herico, ou hexmetro dactlico o mais adequado.

    * UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Departamento de Educao. Trs Lagoas MS Brasil. 79620-270 [email protected]

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    At os anos 1750, as realizaes poticas circunscreviam-se obedincia de um cdigo retrico rgido, de carter prescritivo, de forma que a imitao dos modelos consagrados pela tradio era o objetivo a ser alcanado por todo poeta interessado no reconhecimento por seus pares. Dentro deste ambiente esttico e ideolgico, o poema pico representava um fenmeno de legitimao das regras, valores e costumes de determinada sociedade e respectivo poder (HANSEN, 2008).

    Entretanto, com o passar do tempo e as transformaes sociolgicas e culturais, houve relevante transformao na produo, compreenso e avaliao desses poemas, o que atingiu as categorias estruturais, denominadas elementos de quantidade e de qualidade, como invocao, dedicatria, indicao de finalidade, eplogo, maravilhoso e valores clssicos, estabelecidas pelos tratadistas, principalmente Aristteles (1984). Embora tais eventos no retirem dos poemas contemporneos o tom pico, podero implicar importantes questionamentos sobre as categorias de heri e, especialmente, a de narrador, com consequncias a respeito do prprio gnero, na recepo e atribuio de sentidos dessas obras.

    O poema objeto deste estudo, Agora eu quero cantar, de Mrio de Andrade (1987), mantm poucas relaes estruturais e temticas com os poemas narrativos clssicos. Contando apenas com a proposio, os demais elementos de quantidade e de qualidade, como invocao, dedicatria, indicao de finalidade, eplogo inexistem. Essas transformaes estruturais e temticas resultam de profundas mudanas histricas, nos mbitos da poltica (revoluo burguesa), da economia (modo capitalista de produo), da filosofia, da cincia e, no campo da esttica, so decorrentes da emergncia da potica moderna. Igualmente, no h, de maneira explcita, referncias ao pensamento, ao carter, dignidade ou propriedade do heri e nem das personagens. Existe apenas uma leve caracterizao, apesar de se tratar de um ser sem nenhuma distino ou comportamento marcial.

    Assim, o objetivo do texto o de verificar (identificar e sistematizar) em Agora eu quero cantar a existncia de um modo narrativo de aes antropomorfizadas, a existncia de conflito e tenses, a fim de compreender seu dilogo com a tradio, entre a filiao e a ruptura, e sua aproximao com a cultura popular, com ateno especial ao estatuto do narrador, e suas implicaes para ampliao da obra potica de Mrio de Andrade.

    Agora eu quero cantar

    Trata-se de longo poema composto por duzentos e dois versos brancos em redondilha maior, divididos em estrofes irregulares. Embora o primeiro verso possa dar um tom abrupto ao poema, trata-se da proposio:

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    Agora eu quero cantarUma histria muito tristeQue nunca ningum cantou,A triste histria de Pedro,Que acabou qual principiou.

    (ANDRADE, 1987, p.372)

    A fbula sobre a vida de um operrio, desde o seu nascimento, passando pelo encanto diante do ambiente escolar, seguido pela frustrao por no poder estudar; mais tarde, o casamento e, finalmente, sua morte. Apesar das indicaes cronolgicas, o tempo total da fbula indeterminado. O heri no pessoa superior segundo os moldes clssicos, mas um popular. Por isso, seus pensamentos no so sublimes ou nicos, porm ordinrios. Seus costumes e dignidade originam-se de valores modernos, como a importncia atribuda aos estudos, dedicao ao trabalho e formao da famlia. um heri que se submete s ordens vigentes, no obstante o fracasso de sua existncia.

    uma composio de estrutura prpria da literatura oral, como indica o ttulo retirado do primeiro verso e o recurso ao refro. Mas a presena de alguns elementos do poema clssico, como proposio e a meno a homens clebres, proporcionam um dilogo antittico muito significativo entre o clssico e o popular, de modo que o poema faz uma espcie de passagem entre o modelo clssico e o poema narrativo moderno.

    A proposio um elemento estrutural de fundamental importncia para as regras de composio potica do perodo clssico, mas sua presena neste poema contm forte sentido antittico. Assim, na estrofe inicial, o primeiro verso a manifestao do poeta popular que se apresenta ao pblico e diz diretamente o que pretende: Agora eu quero cantar. (ANDRADE, 1987). Entretanto, o objeto de seu canto no grandioso, no sobre os grandes feitos hericos. Por outro lado, o terceiro verso, Que nunca ningum cantou (ANDRADE, 1987), lembra o verso Que outro valor mais alto se alevanta, da terceira estrofe do Canto I, em que se situa a preposio d Os Lusadas, de Lus de Cames (1988). Tal aproximao, entretanto, no tem o propsito de emulao, caracterstico das relaes literrias do perodo clssico, mas o de enfatizar a anttese entre valores culturais institucionalizados e valorizados pela tradio, da qual a concepo de heri pico seria o modelo, e a cultura popular, a literatura oral, da qual o heri do poema modernista seria o representante. O protagonista que a proposio anuncia corrobora o sentido antittico anunciado. Desta maneira, ocorre a caracterizao do heri do poema, com aspectos claramente opostos do heri clssico.

    O heri pico caracteriza-se por forte sentimento humanista, como generosidade, prudncia, fora e valor guerreiro, mas no possui individualidade,

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    no manifesta um objeto ou desejos pessoais. Suas aes so prprias de uma personagem corajosa e nobre, embora sempre em conformidade e em defesa da ordem vigente e o heri de Agora eu quero cantar caracterizado como o oposto dessas qualidades: fraco, pobre, imprudente, falto de inteligncia e conformado com o estabelecido. (HANSEN, 2008, p.59). Desde o nascimento, Pedro (o heri do poema) sofre os mais variados reveses, caracterizados at em sua compleio fsica. No se identifica com nenhuma instncia de poder e no representa qualquer valor tradicional.

    Deste modo, por um lado, na proposio do pico camoniano, o assunto o superlativo do carter, dos costumes e das aes do heri, conforme expressa a mencionada estrofe camoniana, que se prope a cantar os maiores feitos at ento realizados, capazes de superar todos os heris j conhecidos:

    Cessem do sbio Grego e do TroianoAs navegaes grandes que fizeram;Cale-se de Alexandro e de TrajanoA fama das vitrias que tiveram;Que eu canto o peito ilustre Lusitano,A quem Netuno e Marte obedeceram:Cesse tudo o que a Musa antiga canta,Que outro valor mais alto se alevanta.

    (CAMES, 1988, p.9)

    Doutro lado, na proposio do poema de Mrio de Andrade, pelo contrrio, apresenta-se uma histria insignificante e triste, que nunca despertou o interesse de nenhum poeta ou cantador, prpria de uma agreste avena ou frauta ruda (CAMES, 1988, p.10), certamente devido a sua pouca importncia, pois acabou qual principiou. O ltimo verso da estrofe tambm se constitui em importante tenso, pois equipara os sentidos de acabar e de principiar, j caracterizando a insignificncia da vida do heri.

    Agora eu quero cantarUma histria muito tristeQue nunca ningum cantou, A triste histria de Pedro,Que acabou qual principiou.

    (ANDRADE, 1987, p.372, 377)

    Na segunda estrofe, tem continuidade o propsito de opor as qualidades entre o heri clssico e a personagem do poema moderno.

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    No houve acalanto. ApenasUm guincho fraco no quartoAlugado. O pai falou,Enquanto a me se limpava:- Pedro. E Pedro ficou.Ela tinha o que fazer,Ele inda mais, e outro nomeAli ningum procurou,No pensaram em Alcebades,Floriscpio, Ciro, Adrasto,Que-d tempo pra inventar!- Pedro. E Pedro ficou.

    (ANDRADE, 1987, p.372)

    O heri do poema no nasce em um castelo. Trata-se de um ser fraco, miservel, sem a menor relevncia guerreira, que no provm de estirpe nobre e seu nome comum impossibilita a relao com os de grandes nomes da Histria, sejam mitolgicos, como Alcebades (Hrcules) ou Adrasto, ou reais, como Ciro, imperador persa.

    Outra oposio relevante entre a caracterizao do heri pico clssico e a do poema de Mrio de Andrade se d ao comparar o acmulo de qualidades do pico, por meio de aes e de descries do carter e costume (o pio Enias; o divino Ulisses) com o heri de Agora eu quero cantar, que designado por uma srie de negativas ou de diminuio de seus atributos. assim que, inicialmente, incapaz de berrar, ao nascer, emite apenas um guincho fraco e o nome Pedro particularizado pelo diminutivo, Pedrinho.

    Em seguida, surgem as designaes de falta, de carncia, de todas as negativas: falou tarde; se chorava, apanhava, aprendeu a emudecer, brincou pouco, dificuldades de aprendizagem; impossibilitado de estudar, perda de dentes, perda de um dedo, perda de duas namoradas, doenas, at a desgraa ordinria; aquisio de pequeno terreno e distante do centro que tudo dificultou, filho invlido por acidente (ANDRADE, 1987). As qualidades da personagem vo se dispersando, desmontando-se, desagregando-se.

    As epopeias reconhecidas como modelares, Odisseia, Eneida e Os Lusadas, embora apresentem divergncia quanto narrao em media res ou ultima res, invariavelmente trazem o heri em longas e bem sucedidas viagens, num sentido de evoluo ou de linearidade. Nessas, pode ocorrer um ou outro revs, mas invariavelmente h sempre um conjunto de aes bem sucedidas, o heri chega ao porto desejado, j experiente e vivido, motivo pelo o qual reverenciado.

    Mas o poema Agora eu quero cantar no trata, todavia, de uma viagem, porm de um percurso existencial nada sublime, marcado por interrupes,

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    recomeos e finalizado por morte pouco gloriosa. A narrao est dividida em cinco partes ou fases da vida do heri, demarcadas pelos refros.

    A cada ciclo, o refro inicial registra e delimita situaes de otimismo e de esperana, seguidas pela narrao dos percalos e limitaes do heri e finaliza com outro refro, registro de mais um fracasso. A primeira parte, que se inicia com o nascimento do heri, assim se encerra:

    A noite escura chegou, Como nica respostaUm sono bruto o prostrou

    (ANDRADE, 1987, p.372)

    A segunda parte, narrao da curta experincia escolar do heri, marcada inicialmente pelo entusiasmo diante da descoberta da cincia, de outras crianas e, no final, pelo registro de sua tristeza ao ser obrigado a abandonar a escola para trabalhar, assim se inicia:

    Para a serra se voltou: - Havia de ter, decerto,Uma vida bem mais lindaPor trs da serra, pensou.

    (ANDRADE, 1987, p.373).

    E com estes versos registra o final do ciclo:

    E quando a noite chegou,Como nica respostaUm sono bruto o prostrou.

    (ANDRADE, 1987, p.374)

    O refro, alm de indicar a natureza oral e musical da obra, materializa a ideia de que a vida do heri, homem ordinrio, no se transforma, no possui perspectiva de mudana, mas se movimenta em crculos. Portanto, se, de modo geral, a importncia do refro reside na caracterizao de um tipo de composio, o poema narrativo de extrao popular; neste poema especialmente, tem a funo de corroborar para o sentido da obra como um todo.

    Ao final do poema, o heri, carente de linhagem nobre, de atributos singulares e de aes sublimes, simboliza o homem popular, de vida ordinria repleta de sofrimento, de humilhaes, sem perspectivas de transformao. assim que o narrador j no se refere apenas ao nome Pedro, mas a vrios, indiferentemente:

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    Pedro, Joo, Manduca, Antonio, materializando tal insignificncia, pois quem tem vrias denominaes, no conta com nenhuma:

    Mas um dia desses, sempreIgual ao que ontem passou,Pedro, Joo, Manduca, noSe sabe porque, AntonioPara o plano se voltou:- Talvez houvesse, quem sabe,Uma vida bem mais calmaAlm do plano, pensou.

    (ANDRADE, 1987, p.377)

    Com exceo da parte primeira, que se inicia com o nada glorioso nascimento do heri, todas as fases iniciam-se com o registro de esperana de superao, sonho de Uma vida bem mais linda. Mas o encerramento de cada fase, viagem ou ciclo, termina de forma semelhante: o registro do cansao, da derrota: Um sono bruto o prostrou.

    Reforam a ideia do fracasso inexorvel do homem pobre sem possibilidades de melhora os advrbios sempre e Igual. O narrador registra o processo de degradao do heri do poema, para intensificar a anttese com o heri pico clssico. Aqui, em lugar de divino, pio, ilustre, atributos de Ulisses, Enias e Vasco da Gama, Pedro recebe os eptetos de burro, idiota, besta, para finalmente ser dado como objeto da Histria Natural, como simples animal, vegetal ou mineral. Nada de humano. (ANDRADE, 1987).

    Por fim, o sentido de aniquilamento do heri sintetizado por meio da ltima palavra: Igual (Tinha outro tmulo... Igual). Este sentido reforado ainda por que lembra a primeira estrofe do poema em seu quinto verso Que acabou qual principiou. Ou seja, ao unir as pontas do final com a do incio do poema, retoma-se a ideia de circularidade, a metfora da vida do heri: morreu como nasceu: miservel.

    O narrador, de tipo heterodiegtico, relata eventos ocorridos no passado, sobre os quais tem domnio onisciente, mas no endossa os valores ideolgicos e econmicos que oprimem o heri, indicando claramente seu distanciamento. Todavia, no final, aproxima-se do protagonista e dirige-lhe a voz, para demonstrar sua indignao diante da fortuna da personagem. Embora possa parecer tratar-se apenas de dilogo retrico, plausvel compreender que os percalos sofridos pelo heri afetam a sensibilidade do narrador e contribuem para sua experincia.

    Esta tenso importante porque sinaliza as peculiaridades do narrador dos poemas narrativos de Mrio de Andrade. Neste poema, o narrador ainda se

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    distancia no tempo e no espao, mas se mostra sensibilizado pelas aes do heri e, indiretamente, antagoniza-se com a ordem opressora da fbula. Por meio de repeties de vrios vocbulos, potencializa a sua indignao, aproximando-se daquele narrador lrico que procura registrar o seu ponto de vista:

    Havia, Pedro, era a morte,Era a noite mais escura,Era o grande sono imenso;Havia, desgraado, haviaSim, burro, idiota, besta,Havia sim, animal,Bicho, escravo sem histria,S da Histria Natural!...

    (ANDRADE, 1987, p.377)

    O vocbulo havia repetido quatro vezes; era, trs e sim, duas, em meio gradao no quinto verso da estrofe Sim, burro, idiota, besta, que servir para o narrador retirar da vida de seu heri qualquer atributo humano, reduzindo-o a item da Histria Natural.

    Entretanto, na crnica brasileira e em toda a tradio ocidental, o nome Pedro, retirado das narrativas do Novo Testamento da tradio judaico-crist, muito significativo. De acordo com aqueles textos, Jesus teria escolhido entre seus apstolos o pescador Simo Bar Jonas para continuar seu evangelho: tu s pedra e sobre esta pedra edificarei a minha igreja [...] (BIBLA, Mateus, 16-18, p.26) que, assim, passou a chamar-se Pedro. Traduzido do aramaico, keph: rocha, pedra, o nome bblico tem seus sentidos metafricos explorados h dois milnios em todo o ocidente1.

    Expandindo o sentido figurado, atribui-se a Pedro as qualidades de fortaleza moral, simplicidade e objetividade; disciplina, obstinao e determinao. Na Histria brasileira, constam inmeros Pedros, desde o capito das naus lusitanas que descobriram nossas terras, Pedro lvares Cabral, passando por personagens literrias eruditas e populares, at os dois imperadores, Pedro I e seu filho Pedro II.

    Longe de ser exaustivo, lembramos que na literatura nacional algumas personagens denominadas Pedro tambm adquiriram destaque, como Pedro Missioneiro, de O tempo e o vento (1949), de rico Verssimo (19051975); Pedro Bala, de Capites da areia (1937), de Jorge Amado (1912-2001). O enigmtico enxadeiro Pedro Orsio, do conto Recado do Morro (ROSA, 1956), e o Vaqueiro Pedro, do conto Sequncia (ROSA. 1962), ambos de Guimares Rosa. Na msica popular brasileira, possivelmente Pedro Pedreiro, de Chico Buarque de Holanda

    1 Cf. Gurios (1981, p.199).

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    (1944-), seja a criao literria de curta extenso que melhor elaborou toda a tradio do nome Pedro, como figura humana simples, rude, explorada, obstinada e relegada ao abandono e desinteresse de toda a sorte. Na literatura latino americana, destaca-se Pedro Pramo, personagem da novela de mesmo ttulo (1955), do mexicano Juan Rulfo (1917-1986).

    Segundo a tradio popular, Pedro tambm o porteiro do Cu e est presente em obras consideradas seminais da literatura de cordel, como A chegada de Lampio no cu (1959), de Rodolfo Coelho Cavalcante2 e O grande debate de Lampio com So Pedro, de Jos Pacheco3. O folclorista Cmara Cascudo (1988, p.457-458) v na personagem pcara Pedro Malasartes um avatar do apstolo de Cristo.

    De qualquer modo, ao fim deste poema, o narrador elimina de sua personagem todo e qualquer trao idealizante. Tanto os atributos do heri fabuloso da cultura clssica, quanto as qualidades beatas inspiradas no apstolo judaico-cristo. E, ainda, ao mostrar-se indignado com a sua fortuna, desconhece qualquer atributo humanizante da personagem, fazendo-a retornar ao significado original de seu nome, rocha, pedra.

    Embora o poema realize a passagem entre o modelo clssico e o moderno, enquanto poema narrativo, e estabelea significativas tenses entre os valores das duas civilizaes, o Pedro de Mrio de Andrade no se reveste de nenhum atributo elaborado pela cultura ocidental nem os valores clssicos erigidos durante o perodo pago, nem os modernos, em elaborao a partir da era crist. Acabou-se como comeou: pedra, apenas um objeto da Histria Natural. Keph.

    O narrador

    O narrador do poema pico clssico, obediente a um cdigo retrico rgido criado para legitimar valores e costumes de determinada sociedade e respectivo poder (HANSEN, 2008), no manifesta juzo exclusivo de ordem esttica, poltica ou ideolgica e desta maneira as partes de qualidade como proposio, invocao e dedicatria do bem a medida de sua insero no universo clssico.

    Desde a proposio, o narrador posiciona o seu canto como manifestao de aderncia ou perfilhamento ao sistema em vigor e de maneira emulativa, como o faz Cames, em Os Lusadas. Na invocao, o narrador registra sua adeso ao cdigo retrico ao recorrer a um ser superior rogando engenho e arte para estar altura da grandeza dos feitos hericos. Na dedicatria, o tom cerimonioso com que o narrador dirige-se ao homenageado, reconhecendo-o como herdeiro de homens ilustres e suas aes picas, firma a obedincia do narrador ao conjunto de aes representadas na obra. 2 Cf. Wanke (2003).3 Cf. Gasto (2002).

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    Neste sentido, o distanciamento cronolgico dos eventos por parte do narrador corrobora a validao das aes do heri, legitimadas pela passagem do tempo, como atitudes modelares segundo determinada sociedade, e que devem ser seguidas pelos psteros.

    O narrador do poema narrativo clssico est submetido ao preceito de representar valores, aes e paixes previamente codificados por uma hierarquia h muito estabelecida. De tal modo que no h espao, nesta voz, para a dubiedade, para avaliaes, juzos crticos ou judicativos, embora no se pode ignorar que [...] os enunciados picos so pseudo-referenciais e no representam estados de coisas empricas ou coisas de fato (HANSEN, 2008, p.18).

    O narrador deste poema de Mrio de Andrade guarda pouqussimas semelhanas com o narrador pico clssico, como j notamos pelas ausncias das partes de quantidade, proposio, invocao; e as de qualidade, costumes e pensamentos. Evidentemente que a ausncia destes elementos deve-se, entre outras causas, pelas transformaes sociais e culturais ocorridas nos ltimos dois sculos e meio, determinadas pelo advento do Iluminismo e tudo o mais que surgiu de seu bojo. J no h mais condies para a voga daquele regime retrico rgido e o poeta no se v e nem se limita a arauto do passado e das tradies. Neste mundo em construo, o poeta (o narrador) procurar firmar-se como portador de pensamento original, prprio e independente, embora infeliz diante das transformaes em curso impostas pelo regime poltico e econmico orientado pelo mercado e pela imposio da mais valia.

    Assim, se o maior afastamento cronolgico entre o narrador e os eventos narrados no poema narrativo clssico representa atitudes de observao e de aceitao daquele mundo j elaborado, com leis estveis e sem possibilidades de questionamento, o menor distanciamento temporal entre o narrador e os eventos narrados em Agora eu quero cantar pode representar o desejo (e a possibilidade) de participao e de elaborao de novos paradigmas num mundo ainda em construo. Alm disso, de modo muito particular, pode ser a metfora dos acontecimentos sociais, polticos e estticos vividos durante o movimento modernista, do qual o autor de Amar: verbo intransitivo (1927) foi um dos fundadores.

    Nesse poema, o reduzido afastamento entre o narrador e os eventos narrados est marcado pela presena de dilogo entre narrador, personagens e narratrio e pela imerso gradativa do narrador no espao diegtico da fbula, que resultam em alteraes no estatuto do mesmo. Esta transformao sinaliza para novos modos de relacionamento entre o registro culto, urbano e europeizado da literatura com o de fontes populares e de extrao oral, em que o narrador internaliza o sentido dos dados estruturais da fbula, transformando-os em elementos constitutivos de sua vivncia individual no meio scio-cultural em que se insere.

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    Agora eu quero cantar: um poema narrativo de Mrio de Andrade

    A narratividade

    Sem poder contar com as partes de quantidade que sustentam a narratividade do poema narrativo clssico, esta composio de Mrio de Andrade marcada por um novo conjunto de caractersticas estruturais que lhe garantem peculiar natureza narrativa. No que diz respeito ao discurso potico, a presena de refros e a repetio de versos caracterizam fortemente a natureza circular das composies e ao mesmo tempo constroem o clima de dilogo entre narrador e ouvinte, especficos da narrativa oral (TOLEDO, 1970).

    No discurso especificamente narrativo, nota-se a trama simples, enredo linear e curto, clara articulao entre personagem e espao, em que este, alm de servir de cenrio, tem funo determinante na configurao social e psicolgica do primeiro e h explorao da ao do tempo.

    Embora a personagem receba tratamento relativamente superficial, no se constitui propriamente um tipo ou figurante, possivelmente porque no esto em causa as virtudes ou defeitos, mas as suas aes. Cujas aes, por sua vez, como elemento da estrutura narrativa que confere consistncia ao poema, so representadas pontualmente. Ou seja, no poema h uma nica ao e em redor desta o narrador explora o conflito gerador de tenso.

    Por narrar in ultima res, o narrador apresenta os eventos encadeados linearmente, sem nenhuma espcie de inverso e recorre, aparentemente, focalizao externa, sugerindo limitar-se descrio e narrao objetivas, distantes e equilibradas dos eventos. H, porm, quebra desta regra e o narrador aproxima-se da personagem protagonista, localiza-se no mesmo espao e tempo da fbula, por meio da focalizao onisciente, elabora algumas consideraes subjetivas sobre o que v e narra, proporcionando instantes de contido lirismo.

    Em Agora eu quero cantar, o narrador recorre descrio de elementos espaciais para delimitar as fases da vida do heri e, tambm, para enfatizar a permanente tenso entre o presente e o futuro ou o sonho de transformao manifestado pela personagem.

    Por trs do quarto alugadoTinha uma serra muito altaQue Pedro nunca notou,

    (ANDRADE, 1987, p.373)

    Havia de ter, decerto,Uma vida bem mais lindaPor trs da serra, pensou.

    (ANDRADE, 1987, p.373)

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    Jos Batista de Sales

    Desta maneira, parece-nos que o conjunto de elementos estruturais, como a linearidade da narrativa, personagens, tratamento pontual de um nico conflito, explorao do espao de maneira a sugerir o desenlace das aes, forma uma cerrada organicidade suficiente que garante o modo narrativo do poema.

    Esta mesma organicidade corrobora a compreenso segundo a qual o estatuto do narrador heterodiegtico representa um narrador potico-narrativo voltado para o objetivo (a arte) de contar uma histria, de apresentar um conjunto de aes, sem atribuir, entretanto, nenhum tratamento tico, poltico ou moral. Ou, dito de outra maneira, o narrador no manifesta nenhuma reao, distanciando-se significativamente do narrador prprio do poema pico clssico, que se identifica e se perfilha com os valores em vigor.

    O encantamento pelo ato de contar ou pelos eventos da histria, prprio da narrativa oral, pode resultar em aparente naturalidade (ausncia de arte) deste poema. Entretanto, h um nvel de tenso latente entre o popular (narrativas orais) e o erudito do mundo urbano (narrativa escrita, o clssico), vivido pelo intelectual e poeta modernista.

    Embora traduza uma das mais relevantes proposies do modernismo brasileiro, no mbito especfico do poema narrativo, trata-se de um fenmeno frequente no dilogo entre a literatura erudita e as manifestaes culturais de origem popular. De tal forma, a composio do poeta citadino concretiza um [...] duelo entre duas grandes tendncias que governam a tradio oral no seu conjunto: o esforo do cantor para reter em todos os pormenores o legado recebido e o impulso interno que o solicita a dar livre curso imaginao prpria, sentindo-se co-autor da obra annima com que se recreia (COELHO, 1983, p.960).

    Concluso

    De modo geral, Agora eu vou cantar poderia ser entendido, por um lado, como uma espcie de deslumbramento do homem culto e urbano diante da singeleza da cultura popular. Ou do homem de letras, de formao europeizada que, impregnado pelo projeto esttico modernista, mostra-se surpreendido pelas peculiaridades da cultura popular, pelos fatos de linguagem, pelas criaes rtmicas e musicais.

    Por outro lado, o que poderia ser um problema ou falha a indicar frios artifcios, constitui-se claro exemplo de realizao esttica. Porque, considerando o poema aqui analisado como parmetro, por meio do domnio de fenmenos da linguagem, do entrelaamento da tcnica narrativa erudita com a da cultura oral que se revelam os fatores da narratividade e o poema adquire sua importncia no interior da proposta modernista realizada pelo autor, podendo ser considerando uma possvel passagem do modelo clssico para o poema narrativo moderno.

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    Agora eu quero cantar: um poema narrativo de Mrio de Andrade

    Assim, a transformao de narrador heterodiegtico em homodiegtico, medida que se reduz a distncia entre o narrador e o objeto narrado (tempo e espao), uma espcie de materializao do projeto esttico modernista, uma vez que o eu-narrador abandona sua posio de mero observador e se posiciona como elemento e personagem. No se trata mais de um observador curioso ou deslumbrado diante da exuberante natureza e exotismo cultural, mas um narrador que se constri na prpria especificidade da fbula.

    Talvez os estudos de Walter Benjamim (1985) e seus conceitos de experincia (Erfahrung) e vivncia (Erlebnis) ao refletir sobre as condies da narrativa em tempos modernos possam contribuir para o enriquecimento da compreenso sobre esta criao de Mrio de Andrade. O poema Agora eu quero cantar exemplifica o que tambm ocorre em outros poemas narrativos do autor, como a tenso existente entre a concepo de narrativa voltada para trazer alguma experincia ao leitor envolvido por um ambiente rural e artesanal e os valores sociais e estticos encampados pelo narrador criado pela narrativa resultante das transformaes impostas pela economia capitalista que, de certa forma, constituiu-se numa espcie de Leitmotiv do movimento modernista de 1922.

    No se trata simplesmente de uma negao da cultura popular em seu contexto original, mas de uma viso modernista em que esta cultura no tomada ingenuamente como manifestao extica ou pitoresca, segundo compreenso nacionalizante e patrioteira, e nem tomada como manifestao verdadeira e legtima, de vis fascista e xenfobo, como preconizava certas correntes internas do movimento modernista brasileiro.

    Ao entrar em contato com expresses lingusticas, elementos da fauna, da flora e heris populares, o narrador os pe a circular na mesma esteira do erudito e do mundo regido pela escrita, resultando em tenso que sustenta estruturalmente os poemas e ainda os retira da simples recolha. Assim, o poema narrativo aqui analisado transforma-se em nova realizao esttica, questionadora e polifnica. No mais pea de catlogo de exotismo regionalista.

    SALES, J. B. de. Agora eu quero cantar: a narrative poem by Mrio de Andrade. Itinerrios, Araraquara, n.33, p.123-137, July/Dec., 2011.

    ABSTRACT: The narrative poem has a long tradition in Western literature and from this source derive some works with significant contribution to the process of formation of the Brazilian literature. As part of a larger study, which aimed at studying the contemporary Brazilian narrative poem, in its formal peculiarities, thematic narrative and especially the status of its narrator, this paper presents the analysis of a poem by

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    Jos Batista de Sales

    Mrio de Andrade, in which he addresses the formal and the thematic peculiarities, and considers the poets place in the national literary historiography.

    KEYWORDS: Brazilian literature. Brazilian poetry. Narrative poetry.

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