23
11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO VICENTE DEFESA DOS IDOSOS E DE PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS EXMO. SR. DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, por seu representante ao final assinado vem respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fundamento no art. 522 do Código de Processo Civil, interpor recurso de AGRAVO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE EFEITO ATIVO, em face da decisão interlocutória de fls. 337, dos autos nº 590.01.2011.003857- 9/000000-000 (controle nº 2006/2011), proferida pelo MM. Juiz de Direito da Vara da Fazenda Pública da Comarca de São Vicente, nos autos da AÇÃO CIVIL PÚBLICA que promove contra a FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Em anexo, seguem as razões do inconformismo, esclarecendo que a signatária ainda não foi formalmente intimada da decisão agravada, conforme documentos em anexo. 1

Agravo de Instrumento com pedido de efeito ativo

  • Upload
    vunga

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Agravo de Instrumento com pedido de efeito ativo

11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO VICENTEDEFESA DOS IDOSOS E DE PESSOAS

PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS

EXMO. SR. DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, por seu representante ao final assinado vem respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fundamento no art. 522 do Código de Processo Civil, interpor recurso de AGRAVO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE EFEITO ATIVO, em face da decisão interlocutória de fls. 337, dos autos nº 590.01.2011.003857-9/000000-000 (controle nº 2006/2011), proferida pelo MM. Juiz de Direito da Vara da Fazenda Pública da Comarca de São Vicente, nos autos da AÇÃO CIVIL PÚBLICA que promove contra a FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO.

Em anexo, seguem as razões do inconformismo, esclarecendo que a signatária ainda não foi formalmente intimada da decisão agravada, conforme documentos em anexo.

Tendo em vista a nova redação dada ao art. 522 do CPC pela lei 11.187/05 que dispõe que “das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando

1

Page 2: Agravo de Instrumento com pedido de efeito ativo

11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO VICENTEDEFESA DOS IDOSOS E DE PESSOAS

PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS

será admitida a sua interposição por instrumento”, requer-se que seja o presente recebido como agravo de instrumento, pois a decisão que indeferiu o pedido de tutela antecipada, para determinar a suspensão da execução da obra já iniciada no Fórum de São Vicente, estritamente nos aspectos questionados nos dois pareceres técnicos do CAEX, para o fim de obrigar o Estado a adotar, em prazo a correr da citação, as providências necessárias para a devida correção e complementação do projeto de acessibilidade do prédio do Fórum da Comarca de São Vicente, causa ao autor grave lesão.

Tal providência evitará o desperdício de dinheiro público, com a execução de obra que posteriormente terá que ser refeita e, de outro lado, já possibilitará em menor espaço de tempo o acesso de pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida a todas as dependências do prédio do Fórum de São Vicente.

Cumpre anotar conforme a farta documentação contida no inquérito civil que instruiu a petição inicial, que o Estado vem protelando injustificadamente à adequação do projeto em execução do prédio do Fórum de São Vicente às normas de acessibilidade e sua execução no estado em que se encontra, além de não garantir a plena acessibilidade às pessoas portadoras de deficiências ou com mobilidade reduzida, importará em injustificado aumento no custo final da obra, com desperdício de dinheiro público, conduta que deve ser rechaçada pelo Judiciário.

Por isso, a tutela antecipada se faz necessária, pois até o trânsito em julgado da decisão de mérito desta causa muito provavelmente pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida não estarão mais entre nós para exercer um direito há muito posto na Constituição Federal e nas leis infraconstitucionais, já que muitas padecem de males progressivos e irreversíveis.

Diante da injustificável omissão do Estado perante a ordem jurídica vigente, faz-se imperiosa a concessão de tutela antecipada, nos termos do art. 273, do Código de Processo Civil, amoldando-se o caso em tela, sobretudo, na hipótese do art. 461, § 3º, do Código de Processo Civil.

Segundo Nelson Nery (Código de Processo Civil Comentando, 6ª Ed., Ed. RT, 2002, pág. 763), aduz que a tutela específica “pode ser

2

Page 3: Agravo de Instrumento com pedido de efeito ativo

11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO VICENTEDEFESA DOS IDOSOS E DE PESSOAS

PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS

adiantada, por força do CPC 461 § 3º, desde que seja relevante o fundamento da demanda (fumus bonis juris) e haja justificado receio de ineficácia do provimento final (periculum in mora). É interessante notar que, para o adiantamento da tutela de mérito, na ação condenatória em obrigação de fazer ou não fazer, a lei exige menos do que para a mesma providência na ação de conhecimento tout court (CPC 273). É suficiente a mera probabilidade, isto é, a relevância do fundamento da demanda, para a concessão da tutela antecipatória da obrigação de fazer ou não fazer, ao passo que o CPC 273 exige para as demais antecipações de mérito: a) a prova inequívoca; b) o convencimento do juiz acerca da verossimilhança da alegação; c) ou o periculum in mora (CPC 273 II) ou o abuso de defesa do réu (CPC 273 III)”.

Cumpre destacar que não há qualquer óbice a que o Estado promova tal adequação, na medida em que o artigo 65 da Lei nº 8666/96 (lei de licitações) é claro em permitir a alteração dos contratos, com as devidas justificativas, nos seguintes casos:

“I - unilateralmente pela administração:

A) quando houver modificação do projeto e das especificações, para melhor adequação técnica aos seus objetivos;.”.

 Além disto, o parágrafo 1º do referido artigo também

estabelece que o contratado ficará obrigado a aceitar, nas mesmas condições contratuais, os acréscimos ou supressões que se fizerem necessárias nas obras, serviços ou compras, até 25% do valor inicial atualizado do contrato ou até 50% em caso de reforma de edifício ou do equipamento e, no caso em tela, evidente que as adequações sugeridas pelo CAEX não iriam impor a empresa executora do projeto das obras de acessibilidade do fórum de São Vicente um acréscimo de 25% do valor do contrato.

Por fim, acrescento que a concessão da tutela antecipada não significa ingerência indevida do Poder Judiciário sobre o Poder Executivo, na medida em que a discricionariedade administrativa é relativa e encontra limites, principalmente quando se comprova com clareza ofensa a lei vigente pelo Estado, podendo, haver, nesta hipótese, decisão judicial impondo o cumprimento da lei, como é o caso dos autos.

3

Page 4: Agravo de Instrumento com pedido de efeito ativo

11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO VICENTEDEFESA DOS IDOSOS E DE PESSOAS

PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS

Feitas tais considerações, requer-se a concessão de efeito ativo ao presente agravo, determinando-se à agravada a imediata suspensão da execução da obra já iniciada no Fórum de São Vicente, estritamente nos aspectos questionados nos dois pareceres técnicos do CAEX, bem como para obrigar que o ESTADO DE SÃO PAULO, em prazo razoável de 60 (sessenta) dias, a contar da data de sua intimação, adote as providências necessárias para a devida correção e complementação do projeto de acessibilidade do prédio do Fórum da Comarca de São Vicente e de suas dependências, de acordo com os pareceres técnicos do CAEX e com a observância das normas da ABNT, inclusive, a norma ABNT NBR 9050:2004 e NM 313:2007, garantindo a plena acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência e com mobilidade reduzida, fixando-se-lhe astreintes no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), por dia de atraso, na hipótese de descumprimento desta obrigação.

Termos em que,

P. deferimento.

São Vicente, 22 de março de 2011

AMIRA MUSTAFA EL HAGE Promotora de Justiça

4

Page 5: Agravo de Instrumento com pedido de efeito ativo

11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO VICENTEDEFESA DOS IDOSOS E DE PESSOAS

PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS

AGRAVANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO – COMARCA: SÃO VICENTEAGRAVADO: FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULOPROCESSO DE ORIGEM n nº 590.01.2011.003857-9/000000-000 (controle nº 2006/2011) -VARA DA FAZENDA PÚBLICA

EGRÉGIO TRIBUNAL:

COLÊNDA CÂMARA:

DOUTA PROCURADORIA DE JUSTIÇA;

O Ministério Público ingressou com ação civil pública em face da Fazenda Pública Estadual, postulando a condenação dela na obrigação específica de fazer, consistente na adoção das providências necessárias para a devida correção e complementação do projeto de acessibilidade que está sendo executado no prédio do Fórum da Comarca de São Vicente e de suas dependências, de acordo com os pareceres técnicos do CAEX que instruíram a petição inicial e com a observância das normas da ABNT, inclusive, a norma ABNT NBR 9050:2004 e NM 313:2007, bem como a sua condenação a corrigir e refazer as obras de acessibilidade que por ventura venham a ser executadas no curso da demanda no prédio e nas dependências do Fórum de São Vicente com a inobservância das considerações feitas nos pareceres técnicos do CAEX que instruíram a petição inicial, bem como com a inobservância das normas da ABNT, inclusive, a norma ABNT NBR 9050:2004 e NM 313:2007.

A pretensão foi instruída com os autos do inquérito civil nº 63/2008, onde foram elaborados dois pareceres técnicos pelo Centro de Apoio

5

Page 6: Agravo de Instrumento com pedido de efeito ativo

11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO VICENTEDEFESA DOS IDOSOS E DE PESSOAS

PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS

Operacional à Execução – CAEX, órgão do Ministério Público do Estado de São Paulo a respeito do projeto e memorial descritivo alusivos às obras de acessibilidade que estão sendo executadas no prédio do Fórum de São Vicente.

Nestes pareceres técnicos, elaborados pelo engenheiro Arnaldo Hirofumi Yamashita, foi constatado que o projeto elaborado e que está sendo executado neste momento no Fórum de São Vicente não atendia todos os requisitos exigidos pela legislação que visa oferecer condições de acessibilidade às pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida.

Contudo, por entender que “a prova apresentada não é forte o bastante para ser julgada inequívoca, ou seja, que não deixe nenhuma dúvida”, e que seria necessária a realização de perícia para verificar “se as obras estão ou não adequadas”, o juiz de primeiro grau indeferiu o pedido de tutela antecipada formulado na petição inicial, consistente na determinação da suspensão da execução da obra já iniciada no Fórum de São Vicente, estritamente nos aspectos questionados nos dois pareceres técnicos do CAEX, para o fim de obrigar o Estado a adotaras providências necessárias para a devida correção e complementação do projeto de acessibilidade do prédio do Fórum da Comarca de São Vicente.

A decisão “a quo” deve ser cassada, visto que há de uma análise mais aprofundada das provas juntadas, vê-se que foram devidamente comprovados os fatos alegados na petição inicial, conforme passo a expor.

Dos Fatos:

O prédio do Fórum de São Vicente, situado na Av. Jacob Emerick, nº 1.367, Parque Bitaru, São Vicente, por se tratar de construção não recente, com dois pavimentos, não possui as necessárias adaptações arquitetônicas para o acesso e permanência de pessoas portadoras de deficiências ou de necessidades especiais.

O Conselho Nacional de Justiça, ao julgar o Pedido de Providências nº 1.236, em 10.04.2007 expediu determinação aos órgãos do Poder Judiciário, inclusive ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, para que promovessem estudo da situação atual de todas as suas dependências e adotassem as medidas

6

Page 7: Agravo de Instrumento com pedido de efeito ativo

11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO VICENTEDEFESA DOS IDOSOS E DE PESSOAS

PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS

necessárias à solução dos problemas constatados, para visando garantir o acesso de idosos e de pessoas portadoras de deficiências.

Em virtude disto, foi instaurado o inquérito civil nº 63/2008 no âmbito da 11ª Promotoria de Justiça da Comarca de São Vicente, com o objetivo de assegurar a plena acessibilidade de toda e qualquer pessoa ao prédio do Fórum, principalmente daquelas com deficiência ou mobilidade reduzida.

Durante a tramitação do referido inquérito civil, verificou-se que em 29 de julho de 2009 o Governo do Estado e São Paulo, por intermédio da Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania contratou a Companhia Paulista de Obras e Serviços – CPOS para a realização de serviços técnicos de engenharia, visando a elaboração de documentação para as obras e serviços de acessibilidade a serem realizados em 33 Fóruns do Estado de São Paulo, inclusive para São Vicente.

Juntada a cópia do projeto realizado pelo CPOS com as adequações que serão realizadas para a acessibilidade do Fórum de São Vicente, foi requisitada a análise do mesmo por perito engenheiro do Centro de Apoio Operacional à Execução – CAEX, órgão do Ministério Público do Estado de São Paulo.

Elaborado parecer técnico pelo engenheiro Arnaldo Hirofumi Yamashita sobre as condições de acessibilidade do projeto a ser executado, em 08.03.2010 foi constatado pelo referido perito do CAEX que o mesmo não atendia todos os requisitos exigidos pela legislação que visa oferecer condições de acessibilidade às pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida.

A conclusão técnica foi a seguinte:

“Face ao exposto, para que a edificação proporcione acessibilidade com

autonomia e segurança a todas as pessoas, deve-se:

_ Adequar o projeto da rampa do acesso principal, da rampa de interligação

entre os Blocos 1 e 2, e da Rampa B ao item 6.5 da NBR 9050;

_ Prever instalação de guia de balizamento e piso tátil de alerta em todas as

rampas conforme dispõem os itens 6.5.1.7 e 5.14.1.2 da NBR 9050;

_ Considerar piso com inclinação superior a 5% como rampas (item 6.1.1) e

7

Page 8: Agravo de Instrumento com pedido de efeito ativo

11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO VICENTEDEFESA DOS IDOSOS E DE PESSOAS

PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS

adequar o projeto para atender aos parâmetros do item 6.5 da NBR 9050;

_ Prever a instalação de portas do tipo corrediça horizontal automática e

posicionamento das botoeiras no elevador em conformidade com especificações da NM 313:2007;

_ Projetar sanitários acessíveis com entrada independente em todos os

pavimentos conforme dispõe o Artigo 22, § 2°, do Decreto Federal n° 5.296/04, e em número que

atenda o mínimo de 5% determinado pelo item 7.2.2 da NBR 9050;

_ Rever o projeto dos sanitários acessíveis de modo a garantir área junto à

bacia para transferência diagonal, lateral e perpendicular (item 7.3.1.1), e adequar o puxador

horizontal de porta (item 7.3.8.5), de acordo com a NBR 9050;

_ Garantir a reserva de no mínimo de 2% do total de vagas de estacionamento

para veículos utilizados por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida.

Ressalte-se que há diversos aspectos não analisados devido à ausência no

projeto básico apresentado. Os elementos relacionados abaixo devem ser adequados ou

instalados de acordo com os parâmetros estabelecidos na NBR 9050.

_ Sinalização visual direcional dos ambientes e equipamentos acessíveis - item

5.5;

_ Sinalização visual e tátil, por meio de informações em Braille e texto ou figuras

em relevo, nos ambientes, portas e corrimãos - itens 5.6, 5.9, 5.10 e 5.12;

_ Sinalização por meio de piso tátil de alerta - item 5.14;

_ Sinalização visual na borda do piso de degraus - item 5.13;

_ Corrimãos e guarda-corpos das escadas - item 6.7;

_ Dispositivo de sinalização de emergência nos sanitários acessíveis - item

7.2.1;

_ Mobiliário (bebedouros, aparelhos telefônicos, balcões de atendimento) -

seção 9.

Em virtude disto, foi encaminhado por esta promotoria de justiça ofício ao dd. Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania, solicitando que fosse revisto e alterado o projeto de acessibilidade a ser executado no Fórum de São Vicente nos aspectos apontados no parecer técnico do CAEX.

8

Page 9: Agravo de Instrumento com pedido de efeito ativo

11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO VICENTEDEFESA DOS IDOSOS E DE PESSOAS

PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS

Não obstante isto, o Governo do Estado determinou a abertura de procedimento licitatório em 06.05.2010 – concorrência pública nº 02/10, para fins de execução da obra, de acordo com o projeto supra questionado.

A Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania prestou novas informações e enviou novo projeto e memorial descritivo da obra, sustentando que todas as exigências técnicas e legais para dotar de plena acessibilidade o Fórum de São Vicente teriam sido observadas naqueles documentos.

Contudo, realizado parecer técnico complementar pelo CAEX em 10.01.2011 sobre o novo projeto e memorial descritivo apresentado pela Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, constatou-se que não houve alteração significativa do projeto original com referência a maior parte das desconformidades apontadas anteriormente, principalmente no que diz respeito as seguintes:

_ Rampa irregular no acesso principal;

_ Ausência de interligação acessível entre os Blocos 1 e 2;

_ Ausência de informações relativas à inclinação da Rampa C e do piso do

corredor adjacente;

_ Contradição em relação à norma técnica a ser adotada para a instalação do

elevador;

_ Diversas irregularidades no que se refere aos sanitários, conforme apontado

nos dois relatórios;

_ Ausência de informações quanto ao total de vagas de estacionamento;

_ Omissão com relação à instalação de sinalização visual na borda dos

degraus;

_ Omissão com referência à instalação de dispositivo de sinalização de

emergência nos sanitários acessíveis.

Reitere-se ainda a recomendação para o atendimento da ABNT NBR NM

313:2007 para proporcionar autonomia e segurança ao maior número de usuários possível,

considerando que esta dispõe que as portas devem ser do tipo corrediça horizontal automática,

permitindo a utilização autônoma por pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. De

acordo com o Memorial Descritivo, na pág. 87, as portas de pavimento serão de eixo vertical.

9

Page 10: Agravo de Instrumento com pedido de efeito ativo

11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO VICENTEDEFESA DOS IDOSOS E DE PESSOAS

PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS

Conforme bem demonstrado nos dois pareceres técnicos do CAEX as obras previstas para a adequação do Fórum de São Vicente não seriam suficientes para garantir o pleno direito da pessoa portadora de deficiência, o idoso, a gestante ou a pessoa com mobilidade reduzida de acesso a todas as dependências daquele prédio, pois o projeto a ser executado não observou as normas técnicas e legislação vigente que versam sobre acessibilidade.

II. DO DIREITO:

O art. 129, III, da Constituição Federal, legitima o Ministério Público a promover ação civil pública em proteção de interesses difusos e coletivos, assim como a Lei nº. 7.347/85 (art. 1º, IV, e art. 5º).

Já a Lei nº. 7.853/89, em seu art. 3º, tratando especificamente da proteção dos interesses coletivos e difusos de pessoas portadores de deficiência confere ao Ministério Público a legitimidade da ação civil pública para a proteção desses direitos.

A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei nº. 8.625/93) atribuiu ao Ministério Público a função de promover a ação civil pública destinada à proteção, prevenção e reparação de danos causados a interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos, mesmo regramento previsto no art. 103, inciso VIII, da Lei Complementar Estadual nº. 734/93.

Assim, na medida em que a questão discutida nesta ação diz respeito a todas as pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida tem o Ministério Público legitimidade ativa para propô-la, principalmente porque busca tutelar o direito de um número indeterminado de pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida de terem acesso a um prédio público (o prédio do Fórum).

Não se pode perder de vista que é necessário tratar todos com isonomia, principalmente as pessoas portadoras de deficiência e com mobilidade

10

Page 11: Agravo de Instrumento com pedido de efeito ativo

11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO VICENTEDEFESA DOS IDOSOS E DE PESSOAS

PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS

reduzida, propiciando-lhes desenvolvimento digno e autônomo, conforme está garantido na Constituição Federal, no art. 227, § 2º:

“A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência”.

A Lei nº. 7.853/89 que, em outras regulamentações, dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social e institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas atribuiu ao Poder Público à responsabilidade de assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico (art. 2º), e determinou que os órgãos e entidades da administração direta dispensassem, no âmbito de sua competência e finalidade, tratamento prioritário e adequado aos assuntos referentes a tais direitos (art. 2º, parágrafo único).

Essa mesma lei assegura “na área das edificações: a) adoção e a efetiva execução de normas que garantam a funcionabilidade das edificações e vias públicas, que evitem ou removam os óbices às pessoas portadoras de deficiência, permitam o acesso destas aos edifícios, a logradouros e aos meios de transporte” (art. 2º, parágrafo único, inciso V, letra “a”).

A Lei nº 10.098 de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção de acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, determina que:

Art. 11. A construção, ampliação ou reforma de edifícios públicos ou privados destinados ao uso coletivo deverão ser executadas de modo que sejam ou se tornem acessíveis às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.

11

Page 12: Agravo de Instrumento com pedido de efeito ativo

11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO VICENTEDEFESA DOS IDOSOS E DE PESSOAS

PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS

Parágrafo único. Para os fins do disposto neste artigo, na construção, ampliação ou reforma de edifícios públicos ou privados destinados ao uso coletivo deverão ser observados, pelo menos, os seguintes requisitos de acessibilidade:

I – nas áreas externas ou internas da edificação, destinadas a garagem e a estacionamento de uso público, deverão ser reservadas vagas próximas dos acessos de circulação de pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que transportem pessoas portadoras de deficiência com dificuldade de locomoção permanente;

II – pelo menos um dos acessos ao interior da edificação deverá estar livre de barreiras arquitetônicas e de obstáculos que impeçam ou dificultem a acessibilidade de pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida;III – pelo menos um dos itinerários que comuniquem horizontal e verticalmente todas as dependências e serviços do edifício, entre si e com o exterior, deverá cumprir os requisitos de acessibilidade de que trata esta Lei; e

IV – os edifícios deverão dispor, pelo menos, de um banheiro acessível, distribuindo-se seus equipamentos e acessórios de maneira que possam ser utilizados por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.

Já o decreto nº 5.296 de 02 de dezembro de 2004, que regulamentou a Lei nº 10.098/2000, dispõe que:

Art. 11. A construção, reforma ou ampliação de edificações de uso público ou coletivo, ou a mudança de destinação para estes tipos de edificação, deverão ser executadas de modo que sejam ou se tornem acessíveis à pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.

§ 1o As entidades de fiscalização profissional das atividades de Engenharia, Arquitetura e correlatas, ao anotarem a responsabilidade técnica dos projetos, exigirão a responsabilidade profissional declarada do atendimento às

12

Page 13: Agravo de Instrumento com pedido de efeito ativo

11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO VICENTEDEFESA DOS IDOSOS E DE PESSOAS

PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS

regras de acessibilidade previstas nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT, na legislação específica e neste Decreto (grifei).

§ 2o Para a aprovação ou licenciamento ou emissão de certificado de conclusão de projeto arquitetônico ou urbanístico deverá ser atestado o atendimento às regras de acessibilidade previstas nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT, na legislação específica e neste Decreto (grifei).

Vê-se pelas normas legais acima citadas que é atribuição do Poder Público a obrigação de “derrubar” todas e quaisquer barreiras arquitetônicas que impeçam, de alguma forma, o desenvolvimento autônomo da pessoa portadora de deficiência e que ao elaborar seus projetos de reforma deve necessariamente observar as normas técnicas de acessibilidade da ABNT e da legislação específica sobre este tema.

No mesmo sentido é a Constituição do Estado de São Paulo, conforme art. 277:

“Cabe ao Poder Público, bem como à família, assegurar à criança, ao adolescente, ao idoso e aos portadores de deficiência, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e agressão”.

No art. 280 da Constituição do Estado de São Paulo o direito de acesso pleno aos órgãos públicos é mais explícito:

13

Page 14: Agravo de Instrumento com pedido de efeito ativo

11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO VICENTEDEFESA DOS IDOSOS E DE PESSOAS

PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS

“É assegurado, na forma da lei, aos portadores de deficiências e aos idosos, acesso adequado aos logradouros e edifícios de uso público, nem como aos veículos de transporte coletivo urbano”.

A Lei Estadual nº. 9.086/95, regulamentando os dispositivos da Constituição do Estado de São Paulo, dispõe em seu art. 1º, que os órgãos da Administração Direta e Indireta do Estado deverão adequar seus projetos, suas edificações, suas instalações e seu mobiliário ao uso de pessoas portadoras de deficiências, observadas as normas NBR 9050 da Associação Brasileira de Normas Técnicas –ABNT (grifei).

E a Lei Estadual nº. 11.263, de 12.11.2002, fixou prazo e estabeleceu requisitos mínimos para a construção, ampliação e reforma de edifícios públicos e privados destinados ao uso coletivo e regras para a acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.

“Art. 11 – A construção, ampliação ou reforma de edifícios públicos ou privados destinados ao uso coletivo deverão ser executados de modo a que sejam ou se tornem acessíveis às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.

Parágrafo único – Para os fins do disposto neste artigo, na construção, ampliação ou reforma de edifícios públicos ou privados destinados ao uso coletivo deverão ser observados, pelo menos, os seguintes requisitos de admissibilidade:

1 – nas áreas externas ou internas da edificação, destinadas à garagem e a estacionamento de uso público, deverão ser reservadas vagas próximas dos acessos de circulação de pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que transportem pessoas portadoras de deficiência com dificuldade de locomoção permanente;

14

Page 15: Agravo de Instrumento com pedido de efeito ativo

11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO VICENTEDEFESA DOS IDOSOS E DE PESSOAS

PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS

2 - pelo menos um dos acessos do interior da edificação deverá estar livre de barreiras arquitetônicas e de obstáculos que impeçam ou dificultem a acessibilidade da pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida;

3 - pelo menos um dos itinerários que comuniquem horizontal e verticalmente todas as dependências e serviços do edifício, entre si e com o exterior, deverá cumprir os requisitos de acessibilidade de que trata esta lei;

4 - os edifícios deverão dispor, pelo menos, de um banheiro acessível, distribuindo-se seus equipamentos e acessórios de maneira a que possam ser utilizados por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.

Art. 12 – Os locais de espetáculo, conferências, aulas e outros de natureza similar deverão ser acessíveis às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida e dispor de espaços reservados para pessoas que utilizam cadeira de rodas, e de lugares específicos para pessoas com deficiência auditiva e visual, inclusive acompanhante, de acordo com a NBR 9050 da ABNT, de modo a facilitar-lhes as condições de acesso, circulação e comunicação.

Art. 23 – A administração pública estadual direita e indireta destinará, anualmente, dotação orçamentária para as adaptações, eliminações e supressões de barreiras arquitetônicas existentes nos edifícios de uso público de sua propriedade e naqueles que estejam sob sua administração ou uso.

§ 1º - A implementação das adaptações, eliminações e supressões de barreiras arquitetônicas referidas no “caput” deste artigo deverá ser iniciada a partir do primeiro ano de vigência desta Lei e completada em até quatro anos.” (original sem negrito)

Como visto já se esgotou o prazo final estipulado pelo art. 23, § 1º, da Lei Estadual nº. 11.263/02, para que os prédios públicos da Administração

15

Page 16: Agravo de Instrumento com pedido de efeito ativo

11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO VICENTEDEFESA DOS IDOSOS E DE PESSOAS

PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS

Estadual, direta ou indireta, estejam completamente adaptados às normas de acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.

E aqui na Comarca de São Vicente, o que se verifica é que as obras que eram tão almejadas, que acabam de ser iniciadas e que deveriam servir para conferir plena acessibilidade ao Fórum, não são adequadas e suficientes para a supressão das barreiras arquitetônicas existentes, vez que o projeto a ser executado, deixou de observar as normas técnicas da ABNT, além de ser omisso em diversas questões, conforme demonstraram os pareceres técnicos do CAEX.

Diante de tal constatação e visando evitar o dispêndio de dinheiro público, com a execução de obra que posteriormente terá que ser refeita, era indispensável o ajuizamento da presente ação civil pública para que seja o projeto de acessibilidade do Fórum de São Vicente alterado e completado, de acordo com as recomendações técnicas contidas nos dois pareceres do CAEX.

Cumpre destacar que não há qualquer óbice a que o Estado promova tal adequação, na medida em que o artigo 65 da Lei nº 8666/96 (lei de licitações) é claro em permitir a alteração dos contratos, com as devidas justificativas, nos seguintes casos:

“I - unilateralmente pela administração:

A) quando houver modificação do projeto e das especificações, para melhor adequação técnica aos seus objetivos;.”.

 Além disto, o parágrafo 1º do referido artigo também

estabelece que o contratado ficará obrigado a aceitar, nas mesmas condições contratuais, os acréscimos ou supressões que se fizerem necessárias nas obras, serviços ou compras, até 25% do valor inicial atualizado do contrato ou até 50% em caso de reforma de edifício ou do equipamento e, no caso em tela, evidente que as adequações sugeridas pelo CAEX não iriam impor a empresa executora do projeto das obras de acessibilidade do fórum de São Vicente um acréscimo de 25% do valor do contrato.

16

Page 17: Agravo de Instrumento com pedido de efeito ativo

11ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO VICENTEDEFESA DOS IDOSOS E DE PESSOAS

PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS

Por fim, acrescento que a concessão da tutela antecipada não significa ingerência indevida do Poder Judiciário sobre o Poder Executivo, na medida em que a discricionariedade administrativa é relativa e encontra limites, principalmente quando se comprova com clareza ofensa a lei vigente pelo Estado, podendo, haver, nesta hipótese, decisão judicial impondo o cumprimento da lei, como é o caso dos autos.

Feitas tais considerações, requer-se a reforma da decisão atacada liminarmente e, no mérito, o provimento do presente agravo, determinando-se à agravada a imediata suspensão da execução da obra já iniciada no Fórum de São Vicente, estritamente nos aspectos questionados nos dois pareceres técnicos do CAEX, bem como para obrigá-la a, em prazo razoável de 60 (sessenta) dias, a contar da data de sua intimação, a adotar as providências necessárias para a devida correção e complementação do projeto de acessibilidade do prédio do Fórum da Comarca de São Vicente e de suas dependências, de acordo com os pareceres técnicos do CAEX e com a observância das normas da ABNT, inclusive, a norma ABNT NBR 9050:2004 e NM 313:2007, garantindo a plena acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência e com mobilidade reduzida, fixando-se-lhe astreintes no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), por dia de atraso, na hipótese de descumprimento desta obrigação.

Termos em que,

Pede deferimento.

São Vicente-SP, 22 de março de 2011

Amira Mustafa El Hage

Promotora de Justiça

17