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IDA Nº 70069054021 (Nº CNJ: 0115596-66.2016.8.21.7000) 2016/CÍVEL 1 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA AGRAVO DE INSTRUMENTO. PLANO DE SAÚDE. REAJUSTE DAS MENSALIDADES. GEAP. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. Em sede de cognição sumária, é possível concluir que o reajuste da mensalidade aplicado pela ré não observa o necessário equilíbrio contratual, podendo ocasionar, inclusive, a impossibilidade de a parte agravada dar continuidade ao cumprimento do pacto, expondo a proteção de sua saúde a risco desnecessário. Requisitos autorizadores da antecipação de tutela art. 300 do NCPC. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. AGRAVO DE INSTRUMENTO QUINTA CÂMARA CÍVEL Nº 70069054021 (Nº CNJ: 0115596- 66.2016.8.21.7000) COMARCA DE PORTO ALEGRE SINDICATO TRABALHADORES PROCESSAMENTO DE DADOS DO RS-SINDPPD/RS AGRAVANTE GEAP AUTOGESTAO EM SAUDE AGRAVADO ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar provimento ao agravo de instrumento. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além da signatária, os eminentes Senhores DES. JORGE ANDRÉ PEREIRA GAILHARD E DES. LÉO ROMI PILAU JÚNIOR. Porto Alegre, 31 de agosto de 2016.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PLANO DE SAÚDE. REAJUSTE … · autorização legal para a medida ou que os percentuais sugeridos pela autor seriam suficientes e capazes de não causar grave

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IDA Nº 70069054021 (Nº CNJ: 0115596-66.2016.8.21.7000) 2016/CÍVEL

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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PLANO DE SAÚDE. REAJUSTE DAS MENSALIDADES. GEAP. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. Em sede de cognição sumária, é possível concluir que o reajuste da mensalidade aplicado pela ré não observa o necessário equilíbrio contratual, podendo ocasionar, inclusive, a impossibilidade de a parte agravada dar continuidade ao cumprimento do pacto, expondo a proteção de sua saúde a risco desnecessário. Requisitos autorizadores da antecipação de tutela – art. 300 do NCPC. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO.

AGRAVO DE INSTRUMENTO

QUINTA CÂMARA CÍVEL

Nº 70069054021 (Nº CNJ: 0115596-66.2016.8.21.7000)

COMARCA DE PORTO ALEGRE

SINDICATO TRABALHADORES PROCESSAMENTO DE DADOS DO RS-SINDPPD/RS

AGRAVANTE

GEAP AUTOGESTAO EM SAUDE

AGRAVADO

A CÓR DÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Quinta Câmara

Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar provimento

ao agravo de instrumento.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além da signatária, os eminentes

Senhores DES. JORGE ANDRÉ PEREIRA GAILHARD E DES. LÉO ROMI

PILAU JÚNIOR.

Porto Alegre, 31 de agosto de 2016.

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DES.ª ISABEL DIAS ALMEIDA, Relatora.

R E L AT ÓRI O

DES.ª ISABEL DIAS ALMEIDA (RELATORA)

Trata-se de agravo de instrumento interposto por SINDICATO

DOS TRABALHADORES EM PROCESSAMENTO DE DADOS DO RIO

GRANDE DO SUL – SINDDPP/RS contra decisão das fls. 185-186, que

indeferiu o pedido de tutela antecipada, nos autos da ação civil pública

ajuizada em desfavor de GEAP AUTOGESTÃO EM SAÚDE, nos seguintes

termos:

Inicialmente, registro que a ação civil pública foi ajuizada em 07 de março de 2016, antes, portanto, da vigência do novo Código de Processo Civil.

Por isso, deixo de designar audiência prévia de conciliação, uma vez que a medida exigiria, de início, a emenda da inicial para fins de manifestação do que exigido no art. 319, inciso IV, do NCPC, providência que iria de encontro ao princípio da celeridade.

De qualquer modo, se for do interesse das partes, a audiência de conciliação poderá ser designada a qualquer momento no curso do processo.

Os pressupostos que autorizavam a antecipação dos efeitos da tutela, antes previstos no art. 273 do CPC/73, transferiram-se, no que se aplica ao caso concreto, para o art. 330 do NCPC, que trata de tutela de urgência.

Com isso, cumpre examinar a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. No que se refere à probabilidade do direito, é certo entender que não resta efetivamente cristalina a violação de princípios constitucionais e cláusulas

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gerais, como é o caso da boa-fé objetiva, o que demanda então exame cuidadoso acerca da alteração das contribuições.

E isso, na esteira da concepção de probabilidade, permite entender que antes da suspensão dos efeitos, é razoável assegurar que a parte contrária justifique as medidas tomadas e as razões a amparar os referidos reajustes.

Não impressiona agora, exatamente, a indicação de que algumas faixas suportaram valores maiores do que o percentual indicativamente anunciado.

Veja-se que a resolução, a partir dos seus considerandos, indica a necessidade de manutenção de equilíbrio atuarial, o que demonstra a existência de estudo técnico a amparar, para cada faixa, um determinado percentual de reajuste a fim de garantir o equilíbrio econômico-financeiro dos planos e a própria solvência da Fundação.

Não conhecidos os estudos e demais dados, prematura seria, de todo o modo, a conclusão, mesmo provisória, no sentido de que não há lastro e autorização legal para a medida ou que os percentuais sugeridos pela autor seriam suficientes e capazes de não causar grave desequilíbrio nas contas do plano.

No mais, cumpre destacar que os próprios beneficiários titulares também têm assento no Conselho de Administração do GEAP – art. 16, § 1º, do Estatuto – fls. 66-67, o que em tese afastaria a incidência das regras do Código de Defesa do Consumidor dada a natureza da instituição ré e sua finalidade.

A indicada violação das regras do Código, então, não parece tão clara e, com ela, mantida a maior relevância da responsabilidade dos integrantes do plano a partir da sua participação na gestão do mesmo.

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Portanto, não se indica suficiente a probabilidade do direito alegado a amparar o pedido de suspensão dos efeitos da Resolução/GEAP/CONAD nº 099/2015, ainda que de forma parcial.

Diante do exposto, indefiro o pedido de tutela provisória de urgência.

Intime-se. Cite-se.

Em razões de agravo (fls. 02-23), o autor reitera as razões

vertidas no pedido inicial e acrescenta a ausência de comunicação clara

acerca do reajuste aplicado, acarretando a nulidade do aumento. Discorre,

ainda, sobre a vedação dos reajustes aos idosos, tecendo considerações

legais e ressaltando a presença dos requisitos autorizadores da concessão

da tutela provisória de urgência. Registra que desde 2014, os reajustes que

vem sendo impostos são superiores aos enunciados, e em quantias bem

superiores à inflação e aos incides que a ANS costuma autorizar para planos

individuais. Destaca a aplicação das regras do CDC e assevera ter ocorrido

onerosidade excessiva em desfavor do consumidor. Pede o provimento.

Na decisão das fls. 192-194, o agravo foi recebido no efeito

devolutivo.

Realizado pedido de reconsideração pelo agravante (fls. 197-

198), foi mantida a decisão que negou a concessão da liminar quando do

juízo de admissibilidade (fls. 200-201v).

A agravada oferece contrarrazões às fls. 207-220 e esclarece

sua condição de plano de autogestão operando planos na modalidade

coletiva e discorre sobre os critérios atuariais que norteiam os reajustes, sob

pena de inviabilizar a manutenção do plano. Menciona a realização de

estudos atuariais que resultaram na Resolução GEAP/CONAD n° 099/15.

Destaca que o percentual de reajuste não foi aleatoriamente fixado e

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discrimina as tabelas de custeio dos planos. Pede a manutenção da decisão

recorrida.

Vieram conclusos os autos.

Parecer do Ministério Público no sentido do provimento (fls.

344-345).

É o relatório.

V O TO S

DES.ª ISABEL DIAS ALMEIDA (RELATORA)

O presente agravo de instrumento foi interposto em 11-04-

2016, relativamente à decisão proferida em 06-04-2016, portanto já sob a

égide do NCPC.

Em breve síntese, cuida-se, na origem, de ação civil pública

promovida pelo Sindicato ora agravante em desfavor da parte agravada que,

ao defender sua legitimação extraordinária, ressalta a abusividade dos

reajustes impostos aos planos de saúde mantidos pelos substituídos, em

decorrência da alteração da faixa etária e sob fundamento na necessidade

de manutenção de equilíbrio atuarial. Em sede de antecipação de tutela,

pretende sejam suspensos os efeitos da Resolução/GEAP/CONAD n°

099/2015 que autorizou os reajustes substituindo-se pelo índice de 13,55%

ou, subsidiariamente para que seja aplicado o reajuste de 20%, tal como

indicado pela ANS para fins de determinação da inflação média para 2016.

Ao indeferir a concessão do efeito ativo, na decisão das fls.

192-194, manifestei ao final:

Nos termos do que dispõe o art. 300 do novo Código de Processo Civil, dois são os requisitos, não cumulativos, para a concessão da tutela de urgência: quando houver elementos nos autos que evidenciem a probabilidade do direito reclamado (fumus boni iuris)

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e/ou houver perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo (periculum in mora).

Observa-se, portanto, que o legislador alterou os requisitos exigidos no Código de Processo Civil de 1973, que condicionava a concessão de antecipação de tutela à existência de prova inequívoca capaz de convencer o juiz a respeito da verossimilhança das alegações.

No tocante à probabilidade do direito, Luiz Guilherme Marinoni leciona que a probabilidade que autoriza o emprego da técnica antecipatória para a tutela dos direitos é a probabilidade lógica – que é aquela que surge da confrontação das alegações e das provas com os elementos disponíveis nos autos, sendo provável a hipótese que encontra maior grau de confirmação e menor grau de refutação nesses elementos. O juiz tem que se convencer de que o direito é provável para conceder tutela provisória.”1.

Com efeito, neste momento processual, penso que deva ser priorizado o contraditório, observando-se que o agravo de instrumento possui trâmite célere e os reajustes já ocorrem há mais de dois anos.

Diante do pedido de reconsideração pelo agravante, assim

exarei na decisão da fl. 200:

Contudo, embora os reajustes questionados pelo agravante sejam recentes, segundo informa o peticionário, não se pode olvidar cuidar-se de demanda que envolve diversos consumidores (mais de cem sindicalizados, como salienta o próprio agravante) e conta com a intervenção necessária do Ministério Público, motivo por que considero prudente aguardar o contraditório e a manifestação do parquet.

1 MARINONI, Luiz Guilherme et al. Novo Código de Processo Civil Comentado. 1ª edição. Editora

Revista dos Tribunais. p. 312.

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Reitero, como dito na decisão que indeferiu o pedido de concessão de tutela antecipada, que o agravo de instrumento, seguindo seu rito normal, não é de longo processamento razão pela qual não vislumbro razões para, no atual momento, lançar mão da faculdade prevista no art. 1.019, inciso I, do NCPC.

Portanto, mantenho a decisão das fls. 192-194, por seus próprios fundamentos acrescidos aos ora expostos.

Com efeito.

Pois bem. A demanda sub judice tem como objeto a declaração

de abusividade do aumento da mensalidade de plano de saúde de acordo

com a faixa etária. No caso, a parte demandada editou a

Resolução/Geap/Interventor/N. 02 estabelecendo novos valores de

contribuição integral para os planos de saúde por si administrados a partir de

fevereiro de 2014, reajustando a mensalidade dos contribuintes em mais de

238% da quantia que era até então cobrada.

Além disso, a Resolução/GEAP/CONAD nº 099, de 17.11.2015

ora impugnada expressamente estabeleceu a necessidade de majoração

das contribuições dos beneficiários para fins de garantir o equilíbrio

econômico-financeiro dos planos, o que deverá ser melhor esclarecido

durante a instrução processual.

Importa consignar que os contratos de planos e seguros de

saúde estão submetidos ao Código de Defesa do Consumidor, nos termos

do art. 35 da Lei 9.656/98, pois envolvem típica relação de consumo.

Ou seja, não obstante se tratar de plano de autogestão privado

incide o Código de Defesa do Consumidor sobre o contrato entabulado entre

as partes – os representados e a operadora - haja vista a prestação de

serviços mediante o pagamento de uma contribuição mensal.

No mote:

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APELAÇÃO CÍVEL. SEGURO. PLANO DE SAÚDE. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E DA LEI 9.656/98. ENTIDADE DE AUTOGESTÃO. COBERTURA SECURITÁRIA. PLANO REFERÊNCIA. 1. O objeto principal do seguro de saúde é a cobertura do risco contratado, ou seja, o evento futuro e incerto que poderá gerar o dever de indenizar por parte da seguradora. Outro elemento essencial desta espécie contratual é a boa-fé, na forma do art. 422 do Código Civil, caracterizada pela lealdade e clareza das informações prestadas pelas partes. 2.Há perfeita incidência normativa do Código de Defesa do Consumidor nos contratos atinentes aos planos ou seguros de saúde, como aquele avençado entre as partes, podendo se definir como sendo um serviço a cobertura do seguro médico ofertada pela demandada, consubstanciada no pagamento dos procedimentos clínicos decorrentes de riscos futuros estipulados no contrato aos seus clientes, os quais são destinatários finais deste serviço. Inteligência do art. 35-G da Lei 9.656/98. Aliás, sobre o tema em lume o STJ editou a súmula n. 469, dispondo esta que: aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde. 3. O fato de o contrato ter sido entabulado com entidade de autogestão não descaracteriza a relação como de consumo, porquanto a ré se amolda na definição de fornecedor delineada no artigo 3º, caput, e a parte autora enquadra-se no conceito de consumidor fornecido pelo artigo 2º, ambos do Código de Defesa do Consumidor, sendo o serviço prestado mediante remuneração. 4.O contrato possui previsão expressa de cobertura para exames complementares e serviços de apoio diagnóstico, o que abrange o procedimento cuja cobertura se busca nesta ação. 5.Incidência da legislação atual atinente aos planos e seguros privados de assistência à saúde em razão da adequação do contrato a esse regramento jurídico, pois em função do seu caráter de ordem pública, têm as normas em questão aplicação imediata ao caso em concreto. 5.Portanto, aplicável ao caso em exame as exigências mínimas previstas no plano-referência de que trata os artigos 10 e 12 da legislação dos planos de saúde, bem como a Resolução Normativa nº. 211/2010 da ANS. Negado provimento ao apelo. (Apelação Cível Nº 70051577229, Quinta Câmara Cível, Tribunal de

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Justiça do RS, Relator: Jorge Luiz Lopes do Canto, Julgado em 19/12/2012)

Apelação cível. Seguros. Plano de saúde. Contrato coletivo. Operadora de autogestão. Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor. Inteligência da súmula 469 do STJ. Remodelação do custeio que resultou em um reajuste de 100%. Disposição que coloca o consumidor em desvantagem exagerada ao permitir que o fornecedor varie o preço de maneira unilateral. Afronta ao art. 51, inc. IV e X, do CDC. Estabilidade das cláusulas contratuais. Necessidade de observância da equidade na readequação da relação contratual. Apelo não provido. (Apelação Cível Nº 70054936893, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ney Wiedemann Neto, Julgado em 11/11/2013)

Em sede de cognição sumária, é possível concluir, pela

Resolução/Geap/Interventor/N. 02 e pelos demonstrativos de pagamentos,

que a partir de fevereiro de 2014 a mensalidade do plano de saúde vem

sofrendo reajustes sucessivos desde 2014 ofendendo o necessário equilíbrio

contratual, podendo ocasionar inclusive a impossibilidade de a parte

agravada dar continuidade ao cumprimento do pacto, expondo a proteção de

sua saúde a risco desnecessário, e da mesma forma a

Resolução/GEAP/CONAD nº 099, de 17.11.2015 que estabelece a

necessidade de majoração das contribuições dos beneficiários para fins de

garantir o equilíbrio econômico-financeiro dos planos

Aplicável à hipótese o art. 47 do CDC, que estabelece a

necessidade de interpretação das cláusulas contratuais de forma mais

favorável ao consumidor.

Assim, muito embora ainda viável discussão mais profunda da

tese n o decorrer do feito, na espécie, além da verossimilhança das

alegações da parte autora, há perigo de dano irreparável, uma vez que a

manutenção da cobrança abusiva das mensalidades poderia deixar todos os

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representados pelo Sindicato ora agravante sem assistência à saúde, em

decorrência da excessiva onerosidade, o que implicaria violação ao direito à

vida e, por consequência, ao princípio da dignidade da pessoa humana, que

assegura a todos as mínimas condições para uma existência digna.

Daí por que entendo presentes os requisitos para a

antecipação da tutela, previstos no art. 300 e incisos do CPC, devendo ser

reforma a decisão agravada.

Na linha, o seguinte precedente:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PLANO DE SAÚDE. GEAP. TUTELA ANTECIPADA. REAJUSTES ABUSIVOS. 1.Aplicável ao caso o CPC/73 em razão da data de intimação da decisão recorrida. Orientação do Eg. STJ. 2.A atividade securitária objeto dos autos está abrangida pelo Código de Defesa do Consumidor, consoante disposição do artigo 3º, § 2º, bem como no art. 35 da Lei n.º 9.656/98 e Súmula nº 469 do Superior Tribunal de Justiça. 3.A concessão da antecipação de tutela pressupõe prova inequívoca da verossimilhança da alegação e fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, a teor do disposto no art. 273 do CPC/73. 4.Sistema de autogestão que não veda a aplicabilidade da medida. inteligência do artigo 51 do CDC. 5.A jurisprudência deste colegiado firmou entendimento no sentido de ser abusivo reajuste operado por operadoras de plano de saúde em casos como o dos autos, sendo prudente o restabelecimento dos legítimos interesses e das expectativas do consumidor ao menos enquanto pendente discussão judicial. DERAM PROVIMENTO AO RECURSO. (Agravo de Instrumento Nº 70068700806, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Léo Romi Pilau Júnior, Julgado em 25/05/2016)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. SEGUROS. GEAP-FUNDAÇÃO DE SEGURIDADE SOCIAL. REAJUSTE NA MENSALIDADE DO PLANO. ABUSIVIDADE. APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO

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CONSUMIDOR. 1. Os planos ou seguros de saúde estão submetidos às disposições do Código de Defesa do Consumidor, enquanto relação de consumo atinente ao mercado de prestação de serviços médicos. Isto é o que se extrai da interpretação literal do art. 35 da Lei 9.656/98. Súmula n. 469 do STJ. 3. A estabilidade das cláusulas contratuais a que está submetido o consumidor deve ser respeitada, em especial nos contratos de prestações sucessivas, como é o caso dos autos. Nessa seara, com base no artigo 51, incisos IV, X e XV, § 1º, do CDC, reconhece-se a possibilidade jurídica de discutir a abusividade dos valores cobrados atinente ao plano de saúde contratado. 4. Há perigo efetivo de dano irreparável aos conveniados do referido plano, em função de haver a verossimilhança do direito alegado. Isso se deve ao fato de que a vida é o bem maior a ser protegido, sendo que as cláusulas contratuais discutidas são restritivas de direito e se não suspensas, poderiam atentar ao princípio da dignidade da pessoa humana, o qual norteia qualquer relação jurídica, deixando ao desamparo os beneficiários do plano de saúde em discussão. Dado provimento ao agravo de instrumento. (Agravo de Instrumento Nº 70064174568, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Luiz Lopes do Canto, Julgado em 07/04/2015)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PLANO DE SAÚDE. TUTELA DE URGÊNCIA. GEAP. OPERADORA DE AUTOGESTÃO MULTIPATROCINADA. RESOLUÇÃO/INTERVENTOR Nº 02/2013. REAJUSTE DAS MENSALIDADES. ABUSIVIDADE. I. Tendo a decisão recorrida sido publicada depois da entrada em vigor o Código de Processo Civil de 2015, aplicam-se ao presente recurso as normas deste novo diploma processual, na forma do art. 1.046, caput, do CPC/2015. II. Os contratos de planos de saúde estão submetidos às normas do Código de Defesa do Consumidor. Inteligência do art. 35-G, da Lei n° 9.656/98, e da Súmula 469, do STJ. III. Em sede de cognição sumária, mostra-se abusivo o reajuste unilateral das mensalidades do plano de saúde da agravante, sendo que o suposto desequilíbrio econômico-financeiro preconizado na Resolução da agravada deverá ser melhor esclarecido durante a

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instrução da lide. Aplicação dos arts. 47 e 51, X, § 1°, II e III, do CDC, e art. 15, § 3°, do Estatuto do Idoso (Lei n° 10.741/2003). IV. Estando presentes os requisitos previstos no art. 300, caput, do CPC/2015, deve ser deferida a tutela de urgência postulada. AGRAVO PROVIDO, EM DECISÃO MONOCRÁTICA. (Agravo de Instrumento Nº 70068963024, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge André Pereira Gailhard, Julgado em 07/04/2016)

Ante o exposto, dou provimento ao agravo de instrumento para

deferir a tutela antecipada, suspendendo os reajustes previstos na

mencionada Resolução (n° 99/2015), devendo ser mantidos os valores

praticados pela agravada antes da sua vigência, até julgamento final do feito

originário.

É o voto.

DES. JORGE ANDRÉ PEREIRA GAILHARD - De acordo com o(a)

Relator(a).

DES. LÉO ROMI PILAU JÚNIOR - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. JORGE LUIZ LOPES DO CANTO - Presidente - Agravo de

Instrumento nº 70069054021, Comarca de Porto Alegre: "DERAM

PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: JULIANO DA COSTA STUMPF