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AGRICULTURA URBANA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO: UM ESTUDO
DE CASO DO BAIRRO DE MADUREIRA
Gustavo Bezerra de Brito1
Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ
1 –INTRODUÇAO
A agricultura urbana se caracteriza no espaço global percorrendo escalas,
demarcando territórios, arquitetando redes e alterando paisagens. Como o próprio nome
sugere, indica ações e práticas comuns ao meio rural no espaço urbano ou no seu
entorno (periurbano). O presente trabalho trata do tema da agricultura urbana (AU) na
cidade do Rio de Janeiro e apresenta o exemplo de uma localidade no bairro de
Madureira. As práticas adotadas no local chamam atenção não apenas por se
desenvolverem em pequenas áreas, mas também por sua produção em pequena escala
ser destinada para consumo próprio e/ou para venda destinando-se, nesse caso, para a
reprodução da estrutura familiar. Essas práticas agrícolas não estão desunidas da
dinâmica da cidade, mas sim integradas ao ecossistema urbano.
É preciso frisar ainda que a pesquisa está em andamento e que a hipótese
levantada é a de que atividade agrícola praticada nestas áreas do bairro de Madureira
acabam atribuindo uma lógica espacial diferente a do restante do bairro. A importância
que é atribuída à geração de renda e à força de trabalho é fundamental para a
continuidade da prática agrícola.
Dessa forma, primeiramente será abordada a conceitualização da agricultura
urbana, suas especificidades e como esta se configura no espaço urbano. Depois de
1 Graduando em Geografia pela UERJ/Bolsista do Núcleo de Estudos de Geografia Fluminense (NEGEF-
UERJ)
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caracterizar o conceito-chave, partiremos para a espacialização proposta da atividade no
bairro de Madureira. Com base nisso, destacaremos a importância das práticas agrícolas
no espaço urbano não só como moldadora desses espaços, mas também como força
atuante na permanência de populações no seu local de origem, indo de encontro aos
atores sociais envolvidos, compreendendo o porquê dessa configuração espacial e os
elementos que as favorecem. O objetivo central deste trabalho é entender como a prática
da Agricultura Urbana provoca transformações e adaptações no espaço urbano, levando
em consideração seu aspecto variável. Ainda, se a atividade responde aos anseios dos
agricultores, cogitando se poderia ser uma maneira de abrandar a pobreza e a
desigualdade existente na cidade do Rio.
Diante do exposto, será apresentada a situação atual do projeto, os resultados
(parciais) obtidos, entendendo como a dinâmica da prática interfere na vida dos
membros das hortes e a metodologia utilizada durante o trabalho. A título de conclusão,
será apresentada a revisão bibliográfica utilizada durante o trabalho.
2 - FORMULAÇÃO CONCEITUAL
A agricultura urbana, como o próprio nome sugere, indicaações e práticas
comuns ao meio rural no espaço urbano ou no seu entorno (periurbano). A questão da
conceitualização de agricultura urbana é ainda debatida por diversos autores. Por ser um
conceito bastante adotado por organismos nacionais e também internacionais é
importante um estudo mais detalhado a fim de trazer maior coerência e funcionalidade
ao tema.
Dessa forma, na compreensão de Machado & Machado (2002) a definição de
agricultura urbana refere-se à “localização dos espaços dentro e ao redor das cidades ou
áreas urbanas. Entretanto, a atividade agrícola dentro das cidades não é só uma questão
espacial, mas também social, ambiental e econômica, intrínseca das populações, ainda
que timidamente se expresse nas áreas onde é concebida. Nesta perspectiva, Aquino &
Monteiro (2005)elucida:
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Os principais pontos para a definição da agricultura urbana são as atividades econômicas desenvolvidas, categorias e subcategorias de produtos (alimentares e não alimentares), características locacionais (intra ou periurbanas), tipos de áreas onde a agricultura urbana é praticada, tipos de sistemas de produção e destino dos produtos e escala de produção.(AQUINO & MONTEIRO, 2005, p. 187)
Diante disso, é importante frisar que as atividades econômicas são fontes de
renda para muitas famílias e pessoas que participam da AU. A possiblidade de produção
em escala comercial, especializada ou diversificadaem feiras e mercados de pequeno e
médio porte, torna-se uma opção fundamental quando se trata de geração de renda.
Além disso, os produtos destas atividades são diversos e podem ter valor nutritivo ou
não. Podem ser produzidas, desde que o ambiente satisfaça as exigências climáticas,
hortaliças, legumes, plantas ornamentais e medicinais (como é o caso de algumas hortas
na área estudada, em Madureira).
Não podemos esquecer que, embora haja muitas divergências quando se trata do
tema, um elemento de coesão nas conceitualizações de agricultura urbana é a
localização da atividade e sua proximidade com a cidade. Ainda nessa perspectiva,
podemos deduzir que a agricultura urbana não é distinguida da rural apenas pelo fator
locacional e que não é apenas um processo espacial típico das cidades, mas sim uma
atividade que age em consonância e que está integrada através de diversas
determinantes ao ecossistema urbano. Dessa forma, podemos comparar as
características-chave da agricultura rural e urbana/periurbanas na tabela 1:
Tabela 1: Contraste entre agricultura rural e urbana/periurbana
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Fonte: modificado de Campilanet al (2002) apud Aquino & Monteiro (2005).
A tabela 1 apresenta uma comparação entre diferentes tipos de agricultura em
seus respectivos cenários. Praticada em áreas rurais (dita tradicional) e em áreas
urbanas/periurbanas. A diferença é notável em diversos aspectos, desde sua organização
espacial, perpassando a dedicação dos membros à atividade, até o apoio que ambas
recebem da sociedade. O contraste se faz presente no próprio objetivo da produção: em
áreas rurais, há o predomínio da produção para a exportação (que recebe grande apoio
governamental) e para um mercado consumidor em grande escala, apesar de existir uma
parcela de agricultores que produzem seus próprios alimentos. Já em áreas urbanas, a
subsistência e a geração de renda através da venda dos produtos para feiras ou mercados
menores é o que chama a atenção. Também é possível observar que a prioridade da AU
na agenda governamental é baixa em relação à agricultura praticada em áreas rurais.
Isso advém de uma falta de interesse político na atividade, pois é comumente praticada
por famílias de baixa renda, que veem na agricultura urbana um meio de sustento (seja
alimentício ou econômico).
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Além disso, Lovo&Santadreu (2007) cogitam que os aportes teóricos e
conceituais podem ser tratados a partir de uma visão multidimensional e multifuncional
da agricultura urbana, onde se discute e considera seu potencial de produção,potencial
ecológico, de respeito à diversidade cultural e social de populações locais e de
segurança alimentar. Seguindo por este caminho, a combinação desses fatores é que dá
o tom para a própria proposta da agricultura urbana.
Ao contrário do senso comum, a produção de alimentos não se dá apenas nas
zonas rurais, mas também nas zonas urbanas e periurbanas do país. Seguindo nessa
linha de raciocínio, Descheret al (2007) afirma que apesar do interesse pelas práticas
agrícolas urbanas ser recente, ela já vem sendo praticada há muito tempo. Evidencias
sugerem que a agricultura urbana complemente a agricultura rural e aumente a
eficiência da provisão nacional de alimentos, já que(DRESCHER ET AL (2007):
� Oferece produtos que a agricultura rural não pode proporcionar tão eficientemente, por exemplo: produtos muito perecíveis, ou produtos de exportação que devem ser entregues rapidamente depois de colhidos;
� Pode substituir os alimentos importados destinados ao consumo urbano, o que permite poupar divisas estrangeiras;
� Pode liberar terras agrícolas rurais para a produção de produtos destinados à exportação; e
� Pode reduzir a pressão para o cultivo de novas áreas rurais, aliviando a carga sobre as terras rurais marginais ou em pousio e sobre as florestas.
Assim, a AU cumpre seu papel de ser uma possibilidade viável e importante,
complementando a agricultura em áreas rurais e trabalhando de maneira direta e indireta
na sociedade.
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Nada obstante, as definições do conceito de agricultura urbana mais frequentes
encaminham especialmente à compressão de Mougeot (2006) que apresenta alguns
fatores importantes na formulação da noção na Figura 1:
Fonte: Mougeot, 2006.
Na perspectiva de Mougeot (2006), as determinantes apresentadas na Figura 1
são frequentes nas definições de Agricultura Urbana e as interações entre a
comercialização/processamento da produção com o espaço e o tempo é fundamental
para entender como se dá a atividade. Por isso, sugere um amadurecimento do conceito
de Agricultura Urbana, tendo em vista que essas determinantes e justificativas pouco
diferenciam a AU da atividade agrícola em meio rural.
Ainda chama a atenção para uma indispensabilidade de aprofundamento da
concepção de agricultura urbana. Chama a atenção para uma falta de aprofundamento
das diferenças entre agricultura urbana e agricultura rural e como essa falta pode gerar
implicações na formulação do conceito. Ainda adiciona:
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Não é a localização, urbana, que distingue a AU da agricultura rural, e sim o fato de que ela está integrada e interage com o ecossistema urbano. Essa integração com o ecossistema urbano não é captada na maioria das definições do conceito de AU, e menos ainda é desenvolvida em termos operacionais. Ainda que a natureza das concentrações urbanas e de seus sistemas de abastecimento de alimentos tenha mudado, a necessidade da AU de interagir adequadamente com o resto da cidade, por um lado, e com a produção rural e as importações, por outro, continua sendo tão decisiva hoje como era há milhares de anos. (MOUGEOT, 2006, pg. 4).
E prossegue a argumentação:
A agricultura urbana é a praticada dentro (intraurbana) ou na periferia (periurbana) dos centros urbanos (sejam eles pequenas localidades, cidades ou até megalópoles), onde cultiva, produz, cria, processa e distribui uma variedade de produtos alimentícios e não alimentícios, (re)utiliza largamente os recursos humanos e materiais e os produtos e serviços encontrados dentro e em torno da área urbana, e, por sua vez, oferece recursos humanos e materiais, produtos e serviços para essa mesma área urbana.(MOUGEOT, 2006, p. 5).
É possível inferir que a prática da Agricultura Urbana atribui uma lógica
diferente a um espaço já dotado de racionalidade urbana. As relações pessoais e as
trocas comerciais se tornam diferentes e mais dinâmicas do que é usualmente conferido
a centros urbanos. Portanto, o convívio e o relacionamento nas áreas onde a atividade é
desempenhada é distinto do restante da cidade. À AU é atribuída a responsabilidade da
promoção de uma certa consciência ambiental a partir das inúmeras vantagens que são
inerentes da prática (reciclagem do lixo, segurança alimentar, educação ambiental,
manutenção de micro-climas...), atenuando disparidades econômicas e sociais.
3 - O EXEMPLO DE MADUREIRA
A localidade escolhida para trabalho é uma área no bairro de Madureira na
cidade do Rio de Janeiro (Figura 2):
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Figura 2: Localidade escolhida para o trabalho em Madureira, entre a rua Isaias e
Carolina Machado
Fonte: Google Maps, 2014
Madureira, localizado na zona norte do Rio, atualmente é um grande centro
comercial no subúrbio carioca, ligado a diversos outros pontos da cidade. E para
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entender um pouco mais sobre Madureira, é necessário contextualizarcomo surgiram os
espaços suburbanos no Rio.Em 1858 foi inaugurado o primeiro trecho da Estrada de
Ferro D. Pedro II (atual E. F. Central do Brasil) ligando a estação central a Queimados,
cortando todo o subúrbio da cidade, inclusive o atual bairro de Madureira. A ferrovia
desencadeou todo o progresso de ocupação destas áreas e, por consequência, a criação
dos bairros que se localizavam próximos às estações.
Na atualidade, o bairro se encontra totalmente inserido numa lógica urbana e de
comércio forte. À exceção de algumas áreas, que pertencem à Companhia de Luz –
Light, em que há cultivo de espécies de hortaliças e plantas medicinais, atualmente
aproveitadas para subsistência e abastecimento local nas feiras e mercados próximos. A
permanência dessas hortas nessa área tão intensamente urbanizada da cidade se
apresenta como um vestígio do período rural no bairro de Madureira. Na Figura 3 é
facilmente possível identificar o terreno:
Figura 3: Terreno da Light onde se encontra a prática da AU, na rua Carvalho de Sousa
Fonte: Trabalho de campo (2014)
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Nesses terrenos, encontram-se pequenas moradias que formam um aglomerado
de casas, onde os membros dividem espaço de poucos centímetros entre as torres
elétricas de alta tensão e as hortas comunitárias. Através da pesquisa de campo, foi
constatado que grande parte da produção agrícola recolhida nas hortas é de plantas
medicinais, que são vendidas no Mercadão de Madureira, onde há uma demanda grande
para os produtos.
4–OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
� Entender como a prática da Agricultura Urbana provoca
transformações/adaptações no espaço urbano da cidade do Rio de Janeiro,
levando em consideração seusaspectos socioeconômicos no bairro de Madureira;
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
� Elucidar o contraste inerente de práticas agrícolas dentro de uma metrópole
como a do Rio de Janeiro, na tentativa de compreender como se dá a
permanência/resistência dos membros das hortas no espaço geográfico;
� Avaliar o perfil socioeconômico dos membros das hortas do bairro de
Madureira, destacar as consequências, positivas e negativas, da prática agrícola
na vida cotidiana das pessoas que estão inseridas na atividade;
� Caracterizar que tipo de relação foi estabelecida entre os produtores e o restante
do bairro de Madureira, analisando como os produtores se veem no espaço
urbano enquanto agricultores e citadinos.
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5 – METODOLOGIA
Para se analisar como a prática da Agricultura Urbana provoca
transformações/adaptações no espaço urbano, inicialmente é necessária a revisão
bibliográfica de literatura de base, a fim de fundamentar teórica e metodologicamente o
trabalho. Serão utilizados ainda trabalhos de campo e registros fotográficos da
localidade escolhida. Além disso, a aplicação de entrevistas e questionários com
famílias/residentes na horta e pessoas que vivem nos arredores é fundamental para a
formulação do projeto.
Em suma, a pesquisa se caracteriza como a apresentação do exemplo da
localidade já mencionada, com o objetivo de elucidar as diferentes consequências da
prática agrícola no espaço da cidade. Assim, é pretendido analisar os dados obtidos
através de uma abordagem qualitativa, buscando entender a conjuntura local,
considerando-a na sua realidade socioeconômica.
6 - SITUAÇÃO ATUAL DO PROJETO
O projeto encontra-se em andamento e já contou com trabalhos de campo afim
de recolher materiais como registros fotográficos, gravações e entrevistas com os
membros das hortas. Há, no entanto, certa dificuldade no contato com os residentes. Por
o terreno da atividade ser de propriedade da Light, os agricultores sentem-se receosos
em fazer contato, tendo em vista que a poucos anos várias famílias tiveram que
abandonar a área por exigência da empresa. A dificuldade de iniciar uma conversa é
grande, porémhá uma rede de pessoas que vivem nas redondezas e estão dispostas a
conversar e que fazem contato frequente com os membros das hortas.
7 - BIBLIOGRAFIA
REFERÊNCIAS
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AQUINO, M. Adriana; MONTEIRO, Dennis. Agricultura Urbana. Disponível em:
<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/recursos/AgrobCap8ID-pnzxpPBUJz.pdf>.
Acesso em: 27/06/2014.
DRESCHER, A. W; JACOB, P. & AMEND, J. Segurança Alimentar Urbana:
Agricultura urbana, uma resposta à crise?. In: Revista de Agricultura Urbana. 2006.
Disponível em: <www.agriculturaurbana.org.br>. Acesso em: 19/06/2014.
LOVO, A & SANTADREU, I. Panorama da Agricultura Urbana e Periurbana no
Brasil e Diretrizes para sua Promoção. Disponível em:<www.rede-
mg.org.br/article_get.php?id=100>. Acesso em: 29/06/2014.
MACHADO, C. T. de T. & MACHADO, A. T. Agricultura urbana e Periurbana.
Disponível em: <http://www.embrapa.com.br>. Acesso em: 27/06/2014.
MACHADO, C. T. de T. & MACHADO, A. T. Agricultura Urbana. Disponível em
<www.cpac.embrapa.br/download/275/t>. Acesso em 20/06/14.
MOUGEOT, L. J. A. Agricultura urbana: Conceito e Definição. In: Revista de
Agricultura Urbana. 2006. Disponível em: <www.agriculturaurbana.org.br> . Acesso
em: 20/06/2014