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1a edição:2006
Direitos reservados desta edição:Programa de Pós-Graduação em Agroecologia da Universidade
Estadual do Maranhão – UEMA
Capa: [email protected]
Diagramação, fotolitos e impressão:Estação Produções Ltda( 3236-9177
O desenvolvimento rural como forma de ampliação dosdireitos no campo: princípios e tecnologias./ Organizado por Emanoel Gomes de Moura e Alana das Chagas Ferreira Aguiar.
– São Luís: UEMA, 2006.
(Série Agroecologia UEMA – volume II)
268 p.
ISBN: 85 - 86036-16-1
1. Economia. 2. Agricultura - Trópicos. 3. Cultivos decobertura. I. Moura, Emanoel Gomes de; Aguiar, Alana dasChagas Ferreira (orgs.). II. Título. III. Série.
CDU: 316.343.37
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SUMÁRIO
Apresentação. 7
Economia.ecológica.e.ecologia.política:.Uma.introdução. 9Clóvis Cavalcanti
Agroecologia.Cada.caso,.um.caso. 15Jorge Roberto Tavares de Lima
Importância.dos.mediadores.culturais.para.a.promoçãodo.desenvolvimento.social 27Delma Pessanha Neves
Metodologia.da.Pesquisa.Participativa.em.Agroecologia. 65João Carlos Canuto
Agroecologia:.principios.y.estrategias..para.una.agricultura.sustentable.en.la.América.Latina.del.siglo.XXI. 83Miguel Angel Altieri
O.ambiente.do.trópico.úmido.e.o.manejo.sustentáveldos.agrossistemas. 101Christoph Gehring
Sistema.agroecologico.rápido.de.evaluación.de.calidad.de.suelo.y.salud.de.cultivos.en.el.agroecosistema.de.café. 141Miguel A. Altieri
Clara Ines Nicholls
Utilização.de.leguminosas.anuais.em.sistemasagroecológicos. 161Edmilson J. Ambrosano • Nivaldo Guirado • Heitor Cantarella
Roberto A. Arevalo • Elaine B. Wutke • Fabrício Rossi
Paulo C. Doimo Mendes • Gláucia M. Bovi Ambrosano
Eliana A. Schammass • Dulcinéia E.Foltran • Anselmo J. Spadotto
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Plantio.direto.na.palha.de.leguminosas.em.aléiasuma.alternativa.para.o.uso.sustentável.dos.solosdo.trópico.úmido. 221
Altamiro Souza de Lima Ferraz Junior • Emanoel Gomes de Moura
Alana das Chagas Ferreira Aguiar
Importância.das.raças.naturalizadas.em.sistemasde.produção.familiar. 239
Arthur da Silva Mariante
A inuência da pós-graduação em agroecologiano ensino de ciências agrárias do Maranhão. 253José Augusto Silva Oliveira
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Apresentação
Na sociedade do conhecimento e da globalização a únicavantagem de pertencer ao grupo dos emergentes é que ainda nospode ser facultada a escolha do padrão de desenvolvimento a ser implementado. Muito embora possa parecer um desao insuperávelsustentar alternativas que favoreça a maioria e amplie os direitos detodos, não podem os responsáveis pela concepção e execução daspolíticas de desenvolvimento, aceitar passivamente a imposição de
modelos que concentram entre poucos os benefícios e distribuemgenerosamente as mazelas resultantes do uso indiscriminado dosrecursos.
Ocupando uma situação geográca que lhe faculta o domí-nio de uma grande diversidade de agroambientes, o Maranhãopode ser considerado um exemplo emblemático, onde os índicesde desenvolvimento humano são absolutamente não condizentescom suas disponibilidades de recursos naturais. Isto permite, entreoutras graves observações, armar que o Estado tem ao mesmotempo a oportunidade e a obrigação de denir e ofertar alternativaspara superar um enorme passivo social representado por um ex-pressivo contingente de famílias que sobrevivem no limite da linhade pobreza, praticando uma agricultura itinerante em fase de deca-dência absoluta, porque não consegue mais dignicar as atividadesagrícolas.
O Programa de Pós-Graduação em Agroecologia da Uni-versidade Estadual do Maranhão, que tem enfatizado a produção
do conhecimento e a troca de informação sobre a utilização dosagrossistemas do trópico úmido, no contexto do desenvolvimen-to sustentável, materializa sua contribuição para o debate sobre odesenvolvimento do Maranhão por meio da publicação do segun-do Volume da Série Agroecologia UEMA, na expectativa de que oaprofundamento da discussão conduza às melhores escolhas doponto de vista da maioria.
Os Organizadores
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ECONOMIA.ECOLÓGICA.E.ECOLOGIA.POLÍTICA:.
UMA.INTRODUÇÃO
Clóvis Cavalcanti *
Toda atividade humana, qualquer que seja ela, incide irrecor-rivelmente no ecossistema quer pelo lado da extração de recursos(caso em que a natureza funciona como fonte, como despensa),quer pelo do lançamento de dejetos sob a forma de matéria ouenergia degradada (caso em que atua como cesta de lixo, escoa-
douro, fossa, ralo).Percebido desse ângulo, é evidente que o processo econô-
mico − que opera dentro de um subsistema aberto envolvido peloecossistema global − tem que respeitar limites (quer os do forneci-mento de recursos, quer os da absorção de dejetos, além dos daprópria tecnologia). Daí, a noção de desenvolvimento sustentável :trata-se de promover a economia (e o bem-estar dos humanos) sem
causar estresses que o sistema ecológico não possa absorver.Na perspectiva da sustentabilidade ambiental, o tipo de pro-
cesso econômico que importa é aquele que produz bens e serviçoslevando em conta simultaneamente todos os custos (ou males) quelhes são inevitavelmente associados.
Um olhar para as evidentes interconexões do sistema eco-nômico com o ecológico, sem isolar um do outro, permite perceber
de que modo é possível chegar-se a um mundo sustentável ondea vida não se veja ameaçada de extinção nem considerada comouma externalidade. Esta é a tarefa para um modelo de desenvol-vimento novo, muita vezes considerado utópico, que estamos cha-mando − por cortesia dos ecólogos, de quem se tomou emprestadaa noção − de sustentável . É a tarefa também para uma ciência daeconomia de fundamentos ecológicos.
* Economista ecológico e pesquisador social da Fundação Joaquim Nabuco (Recife, PE);professor da Universidade Federal de Pernambuco.clovati@fundajgovbr
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Economia Ecológica e Ecologia Política: Uma introdução
No âmbito da realidade dos processos naturais, que ofere-ce a moldura última que abriga a economia, só pode durar parasempre aquilo que se comporta de acordo com os princípios defuncionamento do sistema natural (dentre os quais desponta o da
frugalidade) (Branco, 1999).Dá-se ao tema da sustentabilidade, muitas vezes, porém, um
signicado que contradiz sua própria essência, transformando-oem autêntico oximoro (como, com mais razão, na infeliz expressão“crescimento sustentável”).
Ou seja, passivo ambiental crescente e sempre mais infelici-dade humana.
Crescer, na perspectiva da macroeconomia, é sempre pos-sível (além de desejável), embora a teoria microeconômica mostreque o ótimo da produção impõe limites ao crescimento de uma r -ma – xando a escala que satisfaz às regras da maximização dolucro. Por que o mesmo não deveria valer para economias nacio-nais? Será que, do ponto de vista da economia nacional ou global,qualquer escala serve?
Existe considerável evidência de que os padrões de vida bra-
sileiros pioraram de 1965 a 2003, pelo menos quanto aos membrosmais pobres da sociedade (ver Torras, 2003). Pior, a renda nacionalverde (aquela que considera os impactos ambientais) foi invaria-velmente negativa para o quintil mais pobre – e, em determinadosmomentos, para o segundo e terceiro também – independentemen-te da taxa de desconto: o crescimento, em outras palavras, trou-xe miséria (“immiserizing growth”, na expressão de Jagdish Bha-
gwati). Isso signica que uma avaliação do desenvolvimento à luzde noções de sustentabilidade ambiental lança dúvidas sobre seo desempenho da economia brasileira pode ser rotulado de bemsucedido.
A preocupação quanto aos problemas ambientais mundiais,na verdade, pede mais do que a economia do meio ambiente podeoferecer. Precisa-se, de fato, de indicadores econômicos – ou eco-
lógico-econômicos – que incorporem estimativas de degradaçãoambiental (e também humana) e depleção de recursos: indicadores
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Clóvis Cavalcanti
de desenvolvimento sustentável , cujas grandezas sejam obtidaspor dedução do PIB do valor estimado dos recursos naturais esgo-tados e degradados (área orestal em diminuição, erosão do solo,mangues cortados para a criação de camarões, jazidas minerais
que se esgotam, etc.).O sistema de contas nacionais contabiliza corretamente a
depreciação do capital feito pelo homem (máquinas, fábricas), KH,
como um item do balanço negativo na determinação da renda na-cional, mas deixa de considerar a depreciação ou depleção do capi-tal natural (árvores, minerais, solo, água, ar), K
N. O consumo de tais
ativos é contado como renda, o que faz com que a verdadeira ren-
da nacional seja assim sobrestimada. Dessa forma, o desempenhoeconômico de um país ou região, em determinado período, podeaparecer, por exemplo, com uma robustez medida pelos critérioseconômicos usuais que é totalmente falsa (caso da Arábia Saudi-ta). De fato, se isso foi conseguido com venda de K
N, a despensa
do país ou região cou desfalcada. Quem é que se considerariamais rico por ter renda obtida da venda de seu patrimônio?
O Brasil, com sua multiplicidade de projetos de carcinocultura,turismo, resorts, loteamentos, expansão urbana, estradas costeirase muitos outros serve de triste ilustração de um desenvolvimentodesordenado das zonas de praia que tem efeitos destrutivos sériosinteiramente ignorados – ao mesmo tempo que apenas as virtudesdos projetos são decantadas e louvadas de todas as maneiras, atémesmo em propaganda ocial. Quando se atribuem preços aos re-cursos naturais – o que acontece com aqueles que têm mercadocomo o petróleo1 –, tais valores constituem invariavelmente umasubestimação. Na contabilidade econômica nacional tradicional,um valor zero é implicitamente conferido a todos os recursos danatureza, dando-lhes a condição de “bens livres”. O que leva a seu
Tal preço reete apenas trabalho e capital usados na perfuração, bombeamento, renação,etc. do petróleo. Ele não signica o valor do petróleo in situ , ou seja, o de sua formação eguarda por milhões de anos, valor esse que se toma como zero. Não é o óleo que a Petro-bras extrai na Bacia de Campos, estado do Rio de Janeiro, que é remunerado, por exemplo.
O pagamento que é feito a essa empresa corresponde ao custo de oportunidade do trabalhoe capital por ela empregados na retirada do produto, cujo valor em si, in situ , na visão ouparadigma dominante, continua sendo zero.
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Economia Ecológica e Ecologia Política: Uma introdução
uso excessivo, como é o caso dos bancos de pesca dos mares daTerra, que estão acabando.
O perigo de atribuir-se valor monetário a bens e serviços eco-lógicos é tanto de levar, por um lado, a que se acredite que eles
valem aquilo que os cálculos mostram, quanto de fazer, por ou-tro, pensar que ativos naturais possam ser assim somados a ativosconstruídos pelos humanos (ambos referidos à mesma base em di-nheiro), tornando-os substituíveis. Na essência do conceito, porém,a sustentabilidade ecológica deve ser vista como manutenção dosestoques físicos de capital natural (K
N), não a de seus correspon-
dentes valores monetários (Daly, 2002).
Encarando o processo econômico com tal ótica, a economiaecológica implica uma mudança fundamental na percepção dosproblemas de alocação de recursos e de como eles devem ser tra-tados, do mesmo modo que uma revisão da dinâmica do cresci-mento econômico.
Quando se trata da situação em que novos recursos estãosendo mobilizados, tema que se localiza no âmbito da macrodinâ-mica econômica, o caminho abre-se para a unicação sobre bases
biofísicas dos sistemas ecológicos e econômicos como formas in-terdependentes e coevolutivas. Essa é a principal tarefa e o desaocentral da economia ecológica.
Para tentar enfrentá-lo, esse campo de trabalho não deve ser visto como uma nova ciência ou nova disciplina baseada em hipó-teses e teorias compartilhadas por um conjunto amplo de prossio-nais, e sim como uma empreitada (ou cometimento) entre cientistas
naturais e sociais, junto com os atores envolvidos em ações con-cretas de promoção do desenvolvimento, para chegar-se a novoentendimento da realidade humana, tirando dele lições para ns deanálise e de política.
O novo entendimento incorpora referências como a da moldu-ra sistêmica (systems approach) ou teoria geral de sistemas; comoa das matemáticas não-lineares; como a da termodinâmica de não-
equilíbrio (non-equilibrium thermodynamics); como a da economiacomo uma ciência da vida.
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Clóvis Cavalcanti
Requer-se, com efeito, uma compreensão profunda da formacomo a atividade econômica depende de processos biogeofísicos,com os feedbacks que existem entre uma e outros (Rosnay, 975).
Tudo isso vai conduzir à discussão do problema central tra-
tado pela economia ecológica, qual seja, a sustentabilidade dasinterações entre sistemas econômicos (humanos) e ecológicos, oque impõe a necessidade de uma visão integrada, holística – umavisão que vá além das fronteiras territoriais normais das disciplinasacadêmicas. É nisso em que consiste o que o físico austríaco Fritjof Capra vem chamando de “alfabetização ecológica”.
A necessidade de informação sobre interações entre a eco-
nomia e o ecossistema tem como nalidade derradeira a identica-ção de políticas capazes de mitigar os impactos destrutivos sobreo ambiente de medidas para a realização do bem-estar social. Ouseja, em última análise, o sentido da economia ecológica é o deuma economia política da ecologia.
Referências Bibliográcas
BRANCO, S.M. Ecossistêmica: Uma Abordagem Integrada
dos.Problemas.do.Meio.Ambiente. São Paulo, Editora Edgar
Blücher, 2a ed. 1999.
DALY, H. Desenvolvimento Sustentável: Denições, Princípios,
Políticas. Cadernos.de.Estudos.Sociais, v.18, n.2, jul./dez.,
p.171-184, 2002.
ROSNAY, J.de. Le.Macroscope:.Vers.une.Vision.Globale. Paris,
Éditions du Seuil. 1975.
TORRAS, M. Welfare,.Inequality,.and.Resource.Depletion:.A.
Reassessment of Brazilian Economic Growth. Aldershot, Ingla-terra: Ashgate Publ. Ltd. 2003.
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AGROECOLOGIA.CADA.CASO,.UM.CASO
Jorge Roberto Tavares de Lima*
Um processo inconcluso -----------------------------------------------------------------------15A crise chega para car? ----------------------------------------------------------------------17
Educação a busca de uma base cientica ------------------------------------------------19
Reformas, em que direção? ------------------------------------------------------------------21
E a educação agroecológica? ----------------------------------------------------------------23
Para discutir o ensino da agroecologia nas ciências agrá-rias, propõe-se analisar a educação enquanto processo construídosocialmente. A analise considera que a estrutura do trabalho e daposse da terra se correlaciona com a oferta de ensino no país. Emseguida, constata-se a crise ambiental e mais que isto, civilizatória,uma vez que não se pode furtar de ligar o nosso processo de co-lonização, com as opções de desenvolvimento feitas ao longo do
tempo e que resulta nesta crise. Para nalizar, busca-se oferecer alguns elementos de uma possível estratégia de transição para umensino agroecológico.
Um.processo.inconcluso
Em 15351, quando a coroa portuguesa decide colonizar o
Brasil, dene duas estratégias: O latifúndio e a monocultura. Em2006, 471 anos depois convivemos com esta mesma estrutura fun-diária. Por que então, se formar prossionais para o latifúndio? Que
* Professor da UFRPE – Departamento de Educação.1 CAPISTRANO DE ABREU, J. (1988:37) –Caminhos antigos e povoamento do Brasil.Edi-tora da Universidade de São Paulo. Capistrano de Abreu em artigo publicado em 1899,“na era de 1530 o território entre o Maranhão e Santa Catarina foi dividido em 12 capitaniashereditárias, desiguais em superfície, limitadas toda a este pelo atlântico, o oeste pela linha
fantástica de Tordesilhas. Até então o Brasil estivera entregue a degredados, a desertores, atracantes de madeira que lhe deram o nome. Com o ano de 535 se iniciou um movimentocapital, que ainda hoje continua. “.
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Agroecologia, cada caso, um caso
necessidade há de especialista para a monocultura? A pesquisaé realizada nos paises centrais e a produção agrícola é a matériaprima para a indústria. Necessita de mais matéria prima se ampliaa área de cultivo. É bem verdade que com a chamada “revolução
verde” precisava de mais especialistas para assessorar os agricul-tores. Necessitava de prossionais para mudar padrões de vida ede consumo. Eram necessários bons vendedores. Buscava integrar a massa de agricultores ao mercado. Diga-se de passagem, esteprocesso obteve êxito. Depois vem o desemprego. Esta é a lógi-ca hegemônica do processo de civilizatório brasileiro. Hegemônicomais não uniforme. Porque neste processo entra, principalmente, o
campesinato.Inicialmente com as lutas dos povos tradicionais e posterior-
mente, com os negros. Lutas que permanecem até hoje. Depois sesomam, aquelas dos agricultores pobres, os deserdados, os nãoreconhecidos. São mamelucos, caboclos, ribeirinhos, sararás, par -dos, mulatos. Nem pretos e nem índios. Uma outra categoria indis-tinta, sem identidade, trabalhando na periferia da periferia.
Neste cenário, para que uma educação massiva e de quali-dade? Os lhos do latifúndio rural e urbano têm uma educação par -ticular ou muitos estudam no estrangeiro. Quando se amplia buscapor escolaridade a escola é criada para estes. Para formação depolíticos e homens públicos. Para dirigir e controlar o estado. Destaforma, quando se tem à expansão é para o latifúndio. A importânciaoferecida pelos diversos governos quanto a oferta de escolas para
a população pode ser exemplicada pelo caso de Recife. Nestacidade, até 1960 não havia uma rede pública de escolas. Dois anosdepois com o advento de uma certa ruptura com a oligarquia e osurgimento do movimento de cultura popular, da qual Paulo Freirefoi um dos expoentes, criam-se 20 escolas que oferecem 656 tur -mas para 19.646 alunos.2
A partir da segunda guerra mundial, as descobertas são inú-
meras. A economia cresce com a guerra e posteriormente com a re-2 TELES, José (2004) – Um movimento amado e odiado. Serie na trilha do golpe. Jornal doCommercio. Caderno C, s 6. de 02/02/2004. Recife. Pernambuco.
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Jorge Roberto Tavares de Lima
cuperação da Europa. Porém há um grande parque industrial comtendência a ociosidade e aí se volta para produção de insumos quí-micos e equipamentos para a agricultura. Vem a revolução verde.Nossas escolas acompanham o processo. Os currículos buscam
reproduzir e preparar os jovens, para a “modernidade”. O marketingde acabar com a fome, pelo aumento da produção, se mantém atéhoje. A produção efetivamente aumentou, mais também a fome. Atéporque fome não signica falta de comida, signica falta de opor -tunidade, falta de distribuição de riqueza. Resulta produto de ummodelo que produz, apenas, mercadoria.3
A crise chega para car?
Porém o encanto acabou, embora persista o marketing. Ago-ra este transgurado no que se chama o agronegócio. Embasadoquase sempre em uma tecnologia de ponta. Da engenharia genéti-ca. Muitas vezes, com muito GEN e com pouca ÉTICA. Porém, nãodá para ocultar e é crescente a crise ambiental. Crise, que atinge
todos. Pobres e ricos como já bem alertava BECK(998:)4
. Comoé também crescente, a crise econômica do agronegócio. Na ver-dade, um grande negócio para os grandes grupos transnacionaisde sementes e vendas de produtos químicos. Hoje, os principaisenvolvidos em pesquisas e no patenteamento de pretensas des-cobertas. Mesmo quando estas são partes da vida e em algunscasos os povos tradicionais já usavam e utilizavam há séculos. No
capitalismo, a ética também é uma mercadoria?Mais a crise é universal. É uma crise que ameaça a vida no
3 BOVE, J. y DUFOUR, F. (2001)– EL Mundo no es una mercancía. Los agricultores contrala comida basura. Conversaciones con Gilles Luneau – Edición Icaría & Antrazyt. AnalisisContemporâneo. Barcelona. Ë interessante os depoimentos e a militância destes campo-neses franceses contra o que denominam comida lixo. Investem contra lojas de Mcdonad’scomo ponto simbólico de uma modernidade, que não levam em consideração a vida. Preva-lece somente a produção de mercadorias.4 BECK, U. (998) – La sociedad del riesgo. Hacia una nueva modernidad. Paidós Básica.Barcelona.
“Se puede dejar fuera la miseria, pero no los peligros da era atómica. Ahí reside la novedosafuerza cultural y política de esta era. Su poder es el poder del peligro que suprime todas laszonas protegidas y todas las diferenciaciones de la modernidad.” Beck (998:)
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Agroecologia, cada caso, um caso
planeta. Ricos, pobres, todos estão contaminados e envolvidos coma ameaça de extinção. No período de 500 a 850 desapareciauma espécie a cada dez anos, a partir de 2000 desaparece uma, acada hora. É um processo violento de eliminar a vida. Muitas vezes
sem nos dar conta. Até sem a intenção. Somente vivendo destamaneira atual. Portanto, pode-se concluir. É uma crise de nossacivilização.
Neste quadro, e ao mesmo tempo, ao longo dos anos, comoanteriormente foi mencionado, pessoas, grupos vêm resistindo aeste processo insano. Luta-se pela vida. Inclusive dos seres hu-manos. Luta-se pela manutenção da vida na terra. Luta-se para se
garantir o direito de viver de nossos lhos, netos, bisnetos. Luta-separa se viver no cotidiano, porém mais que isto se luta pela possi-bilidade de se continuar a viver. Surge um sem número de estudosque revelam que os recursos são nitos e que há necessidade demudanças.5 Surge a medicina alternativa. Surge uma arquiteturaalternativa. Surge luta pela vida no planeta. Surge uma diversida-de de manifestações. Surge a agricultura alternativa. Surgem em
alguns poucos estados, políticas públicas de apoio a uma novaagricultura. Em muitos crescem as diculdades, capitaneados pelolatifúndio, agora transgurado em outros discursos, outras estraté-gias, porém com os mesmos arautos. Porém, cresce a agri-cultura.Surge a luta pela terra.
Merecem destaque, os camponeses pela sua luta e pela va-riedade de estratégias que usam para defender a vida. Uma peque-
na digressão. Ao adotar a expressão, camponês, estou assumindoa dimensão política e cultural que se encontra nesta expressão.Também destaco sua proibição de uso durante anos. Pequenosprodutores, caboclos, caipiras, lavrador e até mesmo agricultor fa-miliar foram expressões usadas para dispolitizar e minimizar a im-
5 SEVILLA – GUZMAN, E. y WOODGATE, G. (2002. pp 77 – 96) – “Desarrollo Rural Sos-tenible”: de la agricultura industrial a la agroecología. In REDCLIFT, M. &WOODGATE, G.(Cord.) – Sociologia del medio ambiente. Una perspectiva internacional. Madrid. Mcgraw Hill.
Fazem uma analise das origens e evolução do termo desenvolvimento sustentável, desta-cando na pg.81 uma relação de eventos de 1972 a 1992 que fundamentam um discursoocial sobre desenvolvimento sustentável
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Jorge Roberto Tavares de Lima
portância política, econômica, cultural do campesino no processocivilizatório brasileiro. Também é importante destacar que a expres-são agricultura familiar surge como um processo de resgate e comouma opção política, em determinado momento, de rearmação de
uma expressão política do campesinato.À medida que cresce a crise, necessariamente se buscam
alternativas. Para esta nova agricultura, surge um desao, a ne-cessidade de reconhecimento das culturas tradicionais e popularespela comunidade cientíca, pelos órgãos de ensino. Implica em sereconhecer e consolidar uma cultura da terra. Emerge a necessi-dade de uma construção de um processo educativo que prepare e
fundamente o homem a trabalhar a terra como parte dela. Exige-seque a medicina, a arquitetura, a engenharia, a agronomia, o direito,enm, as diversas áreas do conhecimento assumam uma nova for -ma expressão, uma nova cultura, um novo conhecimento, portanto,uma nova forma de vida. Um novo paradigma. Neste cenário, surgeo desao de uma educação agroecológica. Exige-se em realidade,uma epistemologia agroecológica.
Educação a busca de uma base cientica
As palavras anteriores exprimem um entendimento de umaconstrução histórica e social no processo educativo. Portanto, re-armamos que a educação reete um complexo movimento deconstrução/reconstrução, determinados por fatores de ordem eco-
nômica, social, político, cultural e histórico. Por isso mesmo é umaexpressão da sociedade. Por outro lado, a forma como se organiza,se concebe, se materializa o trabalho revela a sociedade em umdeterminado momento historicamente construído. Por exemplo, “aprática da medicina popular tem sido tradicionalmente uma prerro-gativa das mulheres, uma vez que a arte de curar, na família, estáusualmente associada às tarefas e ao espírito da maternidade.”
CAPRA6, 1982:116)6 CAPRA, F. (1998) - O Ponto de Mutação. Editora Cultrix. São Paulo.
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Agroecologia, cada caso, um caso
Com a preocupação de tornar cientica a medicina e com oprocesso de reestruturação do ensino médico nos EEUU, a partir do Relatório Flexner 7, de 90, aproximando-o de uma base cien-tíca constatou-se que a “instituição médica opunha-se veemen-
temente à admissão de mulheres, originando-se daí uma série deobstáculos contra o treinamento e a prática das médicas.”(CAPRA1982:152). São dois tipos de sociedades.
Em uma sociedade escravocrata, trabalho para os escravos.Os patrões se dedicavam a arte, a política, ao ócio. Na sociedadede hoje, os patrões donos dos meios de produção estão de um ladoe os trabalhadores do outro. Na agricultura familiar há uma diferen-
ciação no trabalho onde se consideram questões sexuais, étnicas,de geração. As “coisas da casa” são de responsabilidade da mulher e as relações com o mundo, com os negócios, coisas do homem.(HEREDIA, 1979)8.
A categoria social do trabalho reete-se na repartição defunções denidas pela produção, pela distribuição de poder e deriqueza, Portanto, também da propriedade. Se para os pobres,
trabalho signica produzir, para os ricos signica, gestão, política,apropriação dos resultados do processo produtivo. Para estes asFaculdades. Para os outros, Liceus, Corporações de ofícios, For-mação prossional. E esta prossionalização necessariamente nãopassa pela escola. Está fora. Estão diretamente sob o controle dopatrão, do empresário, como é o caso do sistema S (SESI, SENAI,SESC, SENAC, e agora mais recente SENAR e SESCOOP), com
recursos denidos e geridos pelo empresariado.7 O relatório Flexner, publicado em 90, encomendado pela American Mediacal Associa-tion, para estudar como dar uma sólida base cientica ao ensino da medicina e ao mesmotempo como canalizar recursos para as mesmas. O relatório apurou que apenas 20% esta-vam entre aquelas que poderiam denominar de padrões cientícos, sendo as outras obriga-das a fechar. Recomendava que “a moderna escola de medicina tinha de fazer parte de umauniversidade, com um corpo docente permanente, dedicado ao ensino e à pesquisa. Seuobjetivo primordial era a formação dos estudantes e o estudo das doenças, não a assistênciaaos enfermos. Assim, o diploma de doutor em medicina que a escola conferia certicava ocompleto domínio da ciência médica, não a capacidade para cuidar de pacientes.” “Com oavanço cientico. Se estabeleceu um vinculo entre a medicina e o big business que passou
a dominar até hoje todo sistema de assistência a saúde.” (CAPRA 982:5)8 ALÁSIA DE HEREDIA, Beatriz M. (1979) – A morada da vida. Editora Paz e Terra. Rio deJaneiro.
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Portanto, nosso ensino, nossa escola é para formação na ló-gica do latifúndio. É aquela que especializa. Reproduz tecnologias.Produz e convive com uma concepção ideológica da neutralidadepolítica. Nada mais político. O latifúndio, o capital nanceiro e o in-
dustrial agradecem. Porém a crise que não é do capital, este nuncaesteve tão bem, mais é uma crise de um modelo civilizatório, exigemudanças, correções de rumo. A crise ambiental e a possibilidadede morte no planeta terra fazem, com que muitos, sem distinção deraças, de posições sociais e econômicas queiram mudanças. Sur-gem e crescem os negócios orgânicos. Estima-se que o mercadonorte americano de produtos orgânicos movimentou em 2000, U$
8.0 bilhões e estima-se que chegue em 2010, em U$ 21,9 bilhões(SLOAN, 2002).9 As grandes corporações já iniciaram fortementesua inserção no mercado orgânico, fazendo com que estas estima-tivas sejam superadas em prazos menores que o previsto.
Reformas, em que direção?
Há um efetivo movimento em outras direções e por isso hánovos comportamentos na sociedade, exigem-se novos rumos edesta forma, o MEC vem realizando um esforço no sentido de mu-danças no ensino. Foram denidos os parâmetros nacionais nas di-versas áreas. O CNE10 vem denindo políticas para o ensino infantil,fundamental, médio, técnico, prossional e é importante destacar aResolução CEB nº 3 de 0//99 que xa as diretrizes nacionais
para o funcionamento das escolas indígenas e dá outras providên-cias. Ainda mais um destaque, o parecer 36/2001 de Edla de AraújoLira Soares, que analisa e propõe as diretrizes operacionais para aeducação no campo. Este documento que inicia com o poema deJoão Cabral de Melo Neto, Morte e vida de Severina, é um marco,que necessita ser mais bem conhecido. Agora mais recentementeo MEC vem tentando realizar a reforma universitária. Segundo o
9 Citado por Antonio Oswaldo Storel Junior em seu texto Políticas públicas e regulamentaçãode mercado orgânico.0 CNE – Conselho Nacional de Educação. CEB –Câmara de educação básica.
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Agroecologia, cada caso, um caso
MEC a reforma tem o objetivo de fortalecer a universidade pública,impedir a mercantilização do ensino superior, democratizar o aces-so dos jovens e garantir a qualidade do ensino. Segundo o secre-tario do Ministério “a reforma é uma iniciativa do atual governo, que
se comprometeu em revitalizar o ensino superior e vinculá-lo aodesenvolvimento do país.”11
Este é meu medo. O modelo de desenvolvimento delineadopelo governo tem um caráter distributivo e não de inclusão social. Omodelo dos empresários é ampliar a base de lucros, com reduçãodas taxas, impostos e tributos. Poucos falam da responsabilidadesocial destas empresas no desenvolvimento.Por outro lado, como
vimos discutindo anteriormente, o ensino principalmente público ereligioso sempre esteve vinculado às idéias desenvolvimentistasdo país. Os resultados deste desenvolvimento, não se precisa ser muito severo para constatar sua insustentabilidade. Então de quedesenvolvimento está se falando ou buscando? Por que não umensino, que, como sugere Capra (2003:20)12, nos ajude a ter “acompreensão dos princípios da organização que os ecossitesmas
desenvolveram para manter a teia da vida”?.Para continuar com exemplos. Nas licenciaturas é obrigatório
práticas de ensino de no mínimo 400 horas, estágio supervisionadode 400 horas e 200 horas de atividades complementares. Ou seja,exige-se uma prática com o mundo do trabalho a partir dos primei-ros semestres e que vai se ampliando até o último semestre do cur-so, onde se pretende que seja principalmente nas salas de aulas,
com os alunos exercitando suas competências como licenciados.Mais que tipos de aulas estão sendo oferecidas por estes jovens?Que tipo de ensino está reetindo? Será aquela da transmissão doconhecimento, que reproduz, memoriza, repete ou aquele de pro-dução de conhecimento, onde o ensino é uma forma de inclusãosocial e fortalecimento da cidadania, porque neste processo esta-11 www.mec.gov.br/reforma
2 CAPRA, Fritjof (2003) – Alfabetização ecológica: O desao para a educação do séculoXXI. InTRIGUEIRO, André(Org.) – Meio ambiente no século XXI. Editora Sextante. 3ª Edi-ção. Rio de Janeiro.
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mos preparando cidadãos com competência para criticar e recons-truir as relações sócias, políticas, e econômicas da sociedade.
Todos os demais cursos estão sendo reformulados. Sendocriada uma comissão de especialistas para denir um conjunto mí-
nimo de pontos a serem atendidos para cada curso. Na agrono-mia a discussão sobre a adoção do receituário agronômico é forte,principalmente no sistema CONFEA e na região sul do país. Osórgãos de regulamentação prossional como OAB, CREA, CRM eoutros estão discutindo esta reforma. A OAB, está realizando testespara habilitar seus prossionais. Porém a questão central é: Qual orumo a adotar? Qual a concepção que irá nortear estas mudanças?
Mantêm-se o paradigma Newtoniano? Ou busca-se fundamentar as mudanças a partir de outro paradigma?
E a educação agroecológica?
Creio que alguns podem estar se perguntando e a questãodo ensino da agroecologia? Quando irá tratar? Armo que a discus-
são é fundamentalmente losóca. Epistemológica. Que envolveum projeto civilizatório de sociedade. Portanto, envolve um projetode sociedade. Podemos até falar sobre um processo de transiçãopara uma educação agroecológica. Nesta transição poder-se-ia in-dicar alguns princípios. Mais talvez o primeiro princípio, o ponto departida fosse reintegrar o homem à natureza.
Altieri (2000)13 diz que agroecologia não se resume a uma
matriz produtiva. É também uma metodologia. Onde se tem osagroecossistemas como unidades de referência. Amplia quandoarma que agroecologia é um novo campo de conhecimento quese articula e se constitui de diversas ciências. Nesta perspectiva osprossionais formados na lógica agroecológica passam a ter outrasperspectivas, outras necessidades, outra formação. A exigência dodiálogo entre o conhecimento cientico e o popular e o tradicional, otrabalho inter e multidisciplinar são necessidades na construção de
3 Altieri, Miguel (2000) – Agroecologia. A dinâmica produtiva da agricultura sustentável.Editora Universidade. UFRGS. Porto Alegre.
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Agroecologia, cada caso, um caso
um novo saber e um novo desenvolvimento. De uma nova forma devida, de um mundo, onde se radicaliza a promoção da vida. Ondese estabelece o desenvolvimento como liberdade como nos ensinaSen (2000)14.
Para uma educação do futuro, MORIM (2000)15, nos indicasete os saberes. Destaca a necessidade de um aprofundamentosobre as cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão, onde desta-ca a necessidade de fazer conhecer o que é conhecer; os princípiosdo conhecimento pertinente, onde defende a necessidade de ser capazes de apreender os conhecimentos globais e fundamentaispara neles inserir os conhecimentos parciais e locais; Ensinar a
dimensão humana onde busca retomar a dimensão complexa ea identidade comum a todos os outros seres humanos; ensinar aidentidade terrena, sublinha a dimensão planetária do ser huma-no e, portanto, de uma identidade terrena; Enfrentar as incertezase ensinar a compreensão são dois pontos interessantes, uma vezque nem sempre saber signica compreender, como também saber não signica ter certezas. Para nalizar com a ética do gênero hu-
mano. São pontos que discute e aprofunda.A contribuição de Leff 16 (2001) vai na direção de uma cons-
trução de uma racionalidade ambiental onde se tenha um saber atravessado por estratégias de poder em torno da re-apropriação(losóca, epistemológica, econômica, tecnológica e cultural) danatureza. Desta forma, toma o ambiente como espaço onde se re-signica as concepções de progresso, de desenvolvimento e do
conhecimento para congurar uma nova racionalidade que se re-ete no campo da produção e do conhecimento, da política e daspráticas educativas. Porém destaca que ambiente não é ecologiamais a complexidade do mundo: é um saber sobre as formas deapropriação do mundo e da natureza através das relações de poder
14 SEN, Amartya (2000) – Desenvolvimento como liberdade. Editora Companhia das Letras.São Paulo.5 MORIN, Edgar (2000) – Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. Editora
Cortez. 2ª Edição: São Paulo. Unesco: Brasília. DF.16 LEFF, E. (2001)- Saber Ambiental. Sustentabilidad, racionalidad, complejidad, poder. Si-glo XXI/PNUMA/UNAMA. 3ª Edición. México.
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Jorge Roberto Tavares de Lima
que se inscreveram nas formas dominantes de conhecimento. Nesta perspectiva, Max-Neef (998)17 advoga um desenvol-
vimento e uma racionalidade que se baseia na solidariedade e nocompartir, como fundamento para novas relações entre as pesso-
as e acrescenta que como seres que utilizam linguagens comple-xas somos capazes de descrever, explicar situações, porém nemsempre as compreendemos. Em outro momento LEFF (2002)18 nosorienta “O trabalho pedagógico está associado principalmente àbusca de compreensão da diversidade de alternativas possíveis deação e dos processos de ajustamento e negociação entre os atoresenvolvidos.”
Para reforçar esta dimensão da complexidade ambientalShiva19 (2003:17), nos lembra “que as monoculturas ocupam pri-meiro as mentes e depois são transferidas para o solo”. Recomen-dando então que, preservar a diversidade corresponde sobretudoà produção de alternativas. Assim preservando a diversidade comouma forma de pensar, como um contexto de ação, permite o surgi-mento de opções.
Creio que é justo neste momento que estamos discutindouma proposta de educação, de uma epistemologia agroecológicaretomar a Paulo Freire20. Ele nos diz que ensinar não é transferir
conhecimentos. Que não há docência sem discência e que ensinar
é uma especifcidade humana. E também, que primeiro se faz àleitura do mundo e depois é que se faz da palavra.
Finalizando, podemos pensar em estruturar o ensino na gra-
duação a partir de dois eixos. O primeiro, com denição de linhasde conhecimento a serem trabalhadas e aí as diversas disciplinaspoderiam se inserir nestas áreas. O segundo, ter professores paracada área de conhecimento. Pode-se fazer um paralelo com o en-
17 MAX-NEFF, M.A.(1998) – Desarrollo a escala humana. Conceptos, aplicaciones y algu-nas reexiones. Icaria & Editorial Nordan-Comunidad. 2ª Edición. Barcelona.18 LEFF, E. (2002). - Epistemología ambiental. Cortez Editora. São Paulo.19 SHIVA, Vandana (2003)– Monoculturas da mente. Perspectivas da biodiversidade e da
biotecnologia. Editora Gaia:SÃO Paulo.20 FREIRE, Paulo (2003)– Pedagogia da Autonomia. Editora Paz e Terra. 26ª Edição. Riode Janeiro.
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Agroecologia, cada caso, um caso
sino na pós graduação que obrigatoriamente, têm-se as linhas depesquisas e os professores responsáveis por elas. Que estes eixossejam conseqüências de uma inserção da Universidade ou mesmodos cursos em seu ambiente, estabelecendo uma práxis na cons-
trução de conhecimentos, que necessariamente não precisam ser reaplicados em outros locais, porque cada caso é um caso e o queestabelece uma linha demarcatória e coerente são os princípios daagroecologia, como área de conhecimento.
Na agroecologia não se têm verdades, não se estimulam dog-mas, simplicações, generalizações e sim as buscas, as alternati-vas, as compreensões enquanto seres do e no mundo. Fazendo
uma analogia a Gliessman21, dizer que no primeiro momento deve-se diminuir a poluição, em seguida pode-se trabalhar por técnicas,ações alternativas e depois se pode chegar a redesenhar o mun-do. Redesenho, onde se tenha uma radicalidade na promoção davida. Neste mundo podemos ter então um ensino da agroecologiacomo um fato natural e conseqüente. Estamos em um processo detransição, de analises de possibilidades, de buscas de alternativas.
Porém, a crise do mundo nos impulsiona para não esperar peloamanhã. Vamos começar agora, vamos nos juntar a aqueles quetrabalham na transição. Vamos ampliar com nosso trabalho, com-petência e amor à construção de um novo mundo. Porque, outromundo é possível. E a educação agroecológica deve ou pode ter um lugar neste processo de reconstrução.
2 GLIESSMAN, S.(200) – Agroecología. Processos ecológicos em agricultura sustentá-vel. Editora Universitaria/UFRGS. 2ª Edição. Porto Alegre/RS/BRGliessman entende que a transição da agricultura convencional para a agricultura de baseecológica tem três fases. A primeira a diminuição do uso de insumos químicos e sua me-lhoria de eciência. A segunda etapa seria a busca de substituir os insumos químicos por biológicos ou outros s produtos alternativos da própria unidade familiar e nalmente a últimaetapa seria o redesenho das unidades familiares. Esta perspectiva, como anteriormente estádito, não se aplica para os grupos de assentados e agricultores tradicionais.A existência naAmazônia de tipos e grupos de agricultores tradicionais que já praticam a agroecologia é umfato inconteste, pouco conhecido pelas nossas academias e de forma geral desqualicados
pelo conhecimento convencional. Para estes, deveria ter políticas públicas voltadas paraseu fortalecimento e fomento como uma estratégia fundamental para uma nova realidadeno campo.
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IMPORTÂNCIA.DOS.MEDIADORES.CULTURAIS.PARA.A.
PROMOÇÃO.DO.DESENVOLVIMENTO.SOCIAL
Delma Pessanha Neves*
Os universos de signicação e as bases da interlocução---------------------------- 35
O papel da agroecologia ---------------------------------------------------------------------- 38
O caminho na direção da sustentabilidade ---------------------------------------------- 41
Aprendendo a partir de sistemas sustentáveis existentes --------------------------- 45
Agroecossistemas tradicionais como exemplos de funcionamento sustentável 46
A mediação como produção de novos universos de signicação ------------------ 49
Além da unidade de produção individual ------------------------------------------------- 50
Os mediadores e a consagração de novas fronteiras: ------------------------------- 54o agroecossistema sustentável ------------------------------------------------------------- 54
“Princípios orientadores: ---------------------------------------------------------------------- 56
O mediado enquanto convertido: um agricultor projetado --------------------------- 57
Considerações nais--------------------------------------------------------------------------- 62
O termo desenvolvimento social, quando associado ao mun-
do rural, abarca um campo distintivo de intervenção política e depesquisas referidas a signicados especícos, conforme, por umlado, os contextos de projeção de mudanças na organização sociale econômica, e, por outro, as virtudes prospectivas de promoção desegmentos populacionais, direta ou indiretamente articulados à ati-vidade agropecuária. Tais signicados, tendo em vista o caráter depromoção política de uma outra ordem social, são em grande par-te coletivamente construídos por contraposição a insatisfações ouconfrontações diante de outras tantas modalidades de intervenção,que conguram, nesses termos, organizações especícas de in-teresses condenáveis. Quando qualicado como desenvolvimentorural, geralmente se aplica preferencialmente a setores e segmen-tos considerados em posição secundária ou subalterna; e alude àequidade e a padrões mais justos de redistribuição e de acesso
* Professora do Curso de Pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal Flumi-nense e do Curso de Pós-graduação em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Susten-
tável da Universidade Federal do Pará. Pesquisadora do CNPq.?�*
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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social
a bens e recursos públicos, congurando, no atual contexto políti-co, alternativas de exercício de cidadania. Portanto, os meios paraesta redistribuição são denidos com base a produzir melhorias nascondições de vida e de produção de segmentos populacionais rela-
tivamente reconhecidos como mais pobres. Em consequência, pro- jetos intencionais ou planos e programas de desenvolvimento so-cial incidem geralmente sobre países reconhecidos por patamaresrelativamente inferiores de desenvolvimento econômico, razão pelaqual fazem menção a ações estatais em conformidade às assim re-denidas formas de organização de interesses sociais. Convocamnovos ou retomam antigos meios de minimização dos efeitos mais
perversos das desigualdades sócio-econômicas.1
No atual contexto e no campo de ações correspondentes aosinteresses propugnados no evento para o qual elaborei este texto, otermo desenvolvimento social rearma os signicados atribuídos aorural (muito além do agrícola), pensado pela multiplicidade de do-mínios interconectados. E se contrapõe aos signicados negativosatribuídos a processos convencionais de desenvolvimento agrícolaestrito senso, mormente os orientados pelo aumento da produção e
da produtividade como ns em si mesmos. O termo equivale então amudanças intencionais no chamado meio rural, inclusive, para cer-tos porta-vozes, por correções dos padrões de estruturação agrária.Pelos signicados assim advogados, fundamenta-se na referênciaa uma perspectiva sistêmica ou totalizante, denindo-se então pelaintervenção articulada sobre vários domínios sociais. Por contra-posição, pressupõe ainda a polarização entre as unidades sociais
de intervenção: não as unidades produtivas consagradas pela re-volução verde, mas a vida social ou comunitária, os modos de vidaa serem alterados ou supostamente cristalizados, as expressõesformais de cidadania, portanto, articulações que ultrapassam a as-sociação entre técnicas e recursos naturais, que denem sentidospara as unidades produtivas, posto que subordinadas e instrumen-tais à construção social de um novo homem, inclusive enquanto
consumidor. Para esta análise, vali-me de associações elaboradas a partir da leitura de Byres, 992;Corbridge, 1992; Harris, 1992; Johnstons, 1992 e Lipton, 1992.
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Delma Pessanha Neves
Em se tratando de expressão de investimentos políticos naconstrução de princípios reordenadores da sociedade, o termo de-senvolvimento social não é passível de denição geral. Seus con-teúdos são devedores do contexto político, do quadro de forças
sociais e de lutas, bem como da estrutura de oportunidades paraeleição ou emergência de questões e temas relevantes para rede-nição de interesses e redistribuição de recursos. A denição por -tanto deve ser da ordem da compreensão dos processos em jogo,dos atores em construção e reconhecimento e das alternativas econstrangimentos que nesta arena se exprimem ou se relevam. Aconstrução de signicados atribuídos à noção emerge do embate e
do debate, das controvérsias valorizadas para permitir a emergên-cia de novas perspectivas. As virtudes prospectivas consideradassão produtos de negociação e de possíveis imposições de forças(cf van der Ploeg et al, 2000: 391-408).
Tendo em vista o caráter de concorrência no campo de cons-trução de padrões de desenvolvimento social (no rural), muitas dascaracterísticas de cada modelo só se tornam explícitas pela análise
da inerente contraposição que as delimitam, e só se tornam com-preensíveis através da análise das formas de combate sob as quaisse objetivam.
Um investimento político desta envergadura também se tornadependente da criação de novos atores para o exercício de media-ção entre os universos de signicação que se contrapõem; dos quedevem ser articulados ou condenados em nome da rearmação de
novos valores, metas e referências econômicas e morais. Justi-ca-se assim a compreensão do papel dos mediadores, em grandeparte militantes fundamentais no exercício de constituição, de con-sagração e de divulgação de novos ideais, metas e modos de or-ganização, em geral agregados em torno de alianças estabelecidaspor redes de instituições ou movimentos associativos.
Neste artigo, tal como proposto pela equipe organizadora da
Semana de Agroecologia, considero algumas questões fundamen-tais ao entendimento do papel de mediadores sociais na constitui-
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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social
ção de novas formas de organização do mundo. E o faço tomandoalgumas questões explicitadas em textos considerados fundamen-tais à sistematização de um pensamento e de ações práticas cons-titutivas do saber reconhecido como atributo da agroecologia (cam-
po disciplinar e projeto político).O conhecimento produzido nesta disciplina também se orga-
niza a partir de valores que se assentam sobre uma reordenação deprincípios morais, de concepções de cidadania e de novas formasde solidariedade dos homens entre si e deles com a natureza. Con-sidero, a partir deste enfoque, os desdobramentos dos signicadosdas representações e das práticas no campo de saber construídas
para denição da agroecologia, tendo em vista a fundamentação deespecíco modelo de desenvolvimento social (rural).
A relativamente recente consagração deste campo de saber em grande parte deriva dos investimentos dos autores a ele alia-dos no sentido de delimitar as diferenças frente à agronomia, con-forme versão de Gliessman, abaixo apresentada, bem como incutir um novo modo de vida e de organização social para agricultores e
consumidores.“Ao longo dos anos 60 e 70, o interesse em aplicar a
ecologia à agricultura gradualmente ganhou ímpeto com a
intensicação da pesquisa de ecologia de população e de
comunidades, a inuência crescente de abordagens em nível
de sistemas e o aumento de consciência ambiental. Um si-
nal importante deste interesse em nível internacional ocorreu
em 1974, no primeiro Congresso Internacional de Ecologia,quando um grupo de trabalho desenvolveu um relatório inti-
tulado “Analise de Agroecossistemas.
Na medida em que mais ecologistas, nos anos 70, passa-
ram a ver sistemas agrícolas como áreas legítimas de estu-
do, e mais agronômos viram o valor da perspectiva ecológi-
ca, as bases da agroecologia cresceram rapidamente. Pelo
início dos anos 80, a agroecologia tinha emergido como umametodologia e uma estrutura básica conceitual distintas para
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Delma Pessanha Neves
o estudo de agroecossistemas. Uma inuência importante
durante este período veio dos sistemas tradicionais de cul-
tivo, de países em desenvolvimento, que começaram a ser
reconhecidos por muitos pesquisadores como exemplos im-
portantes de manejo de agroecossistemas, ecologicamentefundamentadas (por exemplo, Gliessman, 978a; Gliessman,
Garcia e Amador, 1981).
Com o crescimento de sua inuência, a agroecologia
contribuiu para o desenvolvimento do conceito de sustenta-
bilidade na agricultura. Enquanto a sustentabilidade fornecia
uma meta para focalizar a pesquisa agroecológica, a aborda-
gem de sistema integral da agroecologia e o conhecimentode equilíbrio dinâmico proporcionavam uma base técnica e
conceitual consistente para a sustentabilidade. Em 1984, di-
versos autores estabeleceram a base ecológica da sustenta-
bilidade nos anais de um simpósio (Douglass, 1984); esta pu-
blicação teve um papel destacado na solidicação da relação
entre a pesquisa agroecológica e a promoção da agricultura
sustentável.Hoje, a agroecologia continua a fazer conexão entre fron-
teiras estabelecidas. Por um lado, a agroecologia é o estudo
de processos econômicos e de agroecossistemas, por outro,
é um agente para as mudanças sociais e ecológicas comple-
xas que tenham necessidade de ocorrer no futuro a m de
levar a agricultura para uma base verdadeiramente sustentá-
vel” (Gliessman, 2000: 57).Não tenho qualquer pretensão de elaborar resenha so-
bre a recente e exuberante bibliograa vinculada ao tema;
tampouco etnografar modos de constituição de campo aca-
dêmico de produção de conhecimento e intenções políticas,
agregado pela categoria agroecologia. Adoto pretensões
mais modestas, visando melhor objetivar a análise sobre as
formas de constituição de mediações sociais e seus agentes,os mediadores sociais. Considero dois simultâneos eventos,
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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social
ocorridos no mês de abril de 2005, em São Luís do Maranhão,
que focalizavam o tema deste artigo. Pinço alguns excertos
de textos redistribuídos entre os participantes, com o objetivo
de xar o consenso em torno dos objetivos para os encontros
propugnados. Um deles foi o Curso de Agroecologia orga-nizado pelo MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário;
e o outro, a Semana de Agroecologia do Maranhão, base
científca para a agricultura e o desenvolvimento sustentável ,
organizada pelo Centro de Ciências Agrárias, Programa de
Pós-Graduação em Agroecologia da Universidade Estadual
do Maranhão, no qual proferi palestra, cujos conteúdos estão
aqui retrabalhados.No folder que apresentava a Semana de Agroecologia do Ma-
ranhão, os organizadores convocavam o engajamento dos partici-pantes a partir da seguinte construtiva armação de sentido:
“Motivados pelo desejo de estimular o debate e a apren-
dizagem coletiva acerca da construção de novos estilos de
agricultura sustentável, os promotores da Semana de Agro-ecologia do Maranhão convidam seus participantes para re-
etir sobre os desaos e oportunidades que este novo cam-
po de conhecimento, representado pela Agroecologia, pode
oferecer como alternativa ao desenvolvimento dos territórios
rurais do trópico úmido. Com suas especicidades, principal-
mente ambientais, mas também econômicas e sociais, estes
territórios estão a exigir estratégias de desenvolvimento in-compatíveis com o caráter social excludente da agricultura
convencional. Além disso, é necessário ir além da substitui-
ção pura e simples de produtos ou práticas não sustentáveis,
mas ativar o potencial endógeno e os sinergismos entre os
componentes dos agroecossistemas, para ampliar o leque de
opções das comunidades. Foi o que motivou a concepção
desta Semana, que esperamos, corresponda à expectativa
de todos aqueles que se preocupam com o fortalecimento da
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Delma Pessanha Neves
cidadania das famílias rurais” (Semana de Agroecologia do
Maranhão, 11 a 15 de abril de 2005).
Os participantes da Semana integraram-se assim para a cons-
tituição e reprodução de um conhecimento coletivo, comprometidoou destinado ao combate aos princípios da agricultura convencio-nal, no que tange à ampliação de formas de exclusão social sob osmais diversos aspectos. Reivindicavam uma prática produtiva quepermitisse ampliar o leque de opções entre recursos presentes emcada comunidade, cujos habitantes se encontravam cada vez maisempobrecidos pelos efeitos deletérios da especialização produtiva
e, no caso, do desmatamento que lhe subjaz.Quanto ao curso de agroecologia, entre outros textos redis-tribuídos, privilegiarei alguns dos capítulos do livro de Stephem R.Gliessman, sob título Agroecologia. Processos ecológicos em agri-
cultura sustentável , publicado pela editora da Universidade Federaldo Rio Grande do Sul em 2000, dado o caráter didático de divulga-ção de conhecimentos básicos e de avaliação de experiências. Se-
gundo os editores, o texto do livro é recomendado por adotar comoobjetivo o ensino da ecologia no contexto da agricultura e propug-nar reexões fundamentais para a transição à sustentabilidade.
Os extratos por mim selecionados são fundamentais à de-monstração dos modos de exercício da mediação porque, cor -rentemente, o termo tem sido interpretado de forma essencialista,enquanto ponto de união do diverso, perdendo o seu caráter de
processo social e dialético, para ressaltar aspectos sistêmicos oumecanicistas. Por esta perspectiva, o termo se restringe à alusãoà conciliação diante de divergências ou da intervenção de outremcom o objetivo de propor o acordo ou o compromisso. E assim sen-do, faz ressaltar a objetivação de sistemas de regulação instituídospara reduzir a dissonância entre visões de mundo e formas de com-portamento de distintos segmentos constitutivos das sociedades
complexas. Equivale à institucionalização de um sistema de regrasdestinadas a assegurar a hegemonia de uma ordem consagrada
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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social
ou em busca de consagração. Contempla fenômenos cuja objetivi-dade põe em jogo relações sociais estruturadas por interações ouinterseções que agregam redes ou pontos que se intercruzam ouque se confundem.
Adoto perspectiva diversa, construída a partir da crítica meto-dológica aos termos das denições acima comentadas. Os modosde construção dos signicados atribuídos ao termo agroecologia,sistematizados nos extratos selecionados, são demonstração cabalque a mediação não pode ser entendida de forma essencializada,como a acima qualicada. O que está em jogo é o confronto depontos de vista para constituição de um outro campo de produção
de signicados e referências comportamentais.Sob uma perspectiva analítica processualista, como a que
adoto, o termo mediação pode se referir a engajamentos e a mobili-zação de segmentos selecionados para reordenação de modos deconduta e de visão de sua posição social. Contempla os modos deconstituição e objetivação de um conjunto de princípios-guias paraas interpretações que tornem possível a comunicação intencionada,
interessada e negociada entre agentes vinculados a universos designicados diversos e divergentes. Instaura um patrimônio comumpara esta comunicação, constituindo os laços que permitem relati-vizar as especicidades de cada agente que aí acede por contra-posição ou por identicação de interesses. Opera como espaço deinstitucionalização do que pode ser partilhado, de modo a permitir ainteração a partir do debate e da comunicação em torno de temas
comuns que propiciem a troca de experiências. Nesse sentido, ostextos, o curso e a semana são recursos instrumentais à constru-ção de campos de mediação que venham a criar o convencimentode que o modelo de desenvolvimento agrícola, nesse debate qua-licado como tecnicista, produtivista e predador, deva ser cada vezmais encantonado pelo desastre que promete para bem pouco epelos tantos malefícios que já demonstrou sobre os homens e os
recursos naturais.
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Delma Pessanha Neves
Os universos de signicação e as bases da interlocução
Tanto na reordenação ou armação de determinados modosde integração, como nos contextos de questionamento da ordem
instituída, tal qual o caso do combate ao hegemônico desenvolvi-mento agrícola convencional ou produtivista, para a produção daadesão aos princípios da agroecologia, os investimentos destina-dos a produzir a interseção de agentes - dotados de interessesdivergentes e visões de mundo por vezes contraditórias - só al-cançam resultado pela negociação da concorrência ou da disputa.Portanto, nessas circunstâncias, campos de mediação, expressos
inclusive na objetividade dos textos, dos encontros, dos eventos,dos experimentos, devem ser constituídos para permitir o trânsitoentre fronteiras que explicitam a interseção; para anunciar e rea-lizar a desejada superação de práticas que explicitam malefícios,de modo a vir congurar novos sistemas de idéias e práticas sobhegemonização.
Nos textos abaixo, procuro demonstrar os investimentos acor -
dados no sentido de comprovar o necessário combate à agriculturaconvencional.
“Em escala global, a agricultura tem sido muito bem-suce-
dida, satisfazendo uma demanda crescente de alimentos du-
rante a última metade do século XX. O rendimento de grãos
básicos, como trigo e arroz, aumentou enormemente, os pre-
ços dos alimentos caíram, a taxa de aumento da produção de
alimentos excedeu, em geral, à taxa de crescimento popula-
cional, e a fome crônica diminuiu. Esse impulso na produção
de alimentos deveu-se, principalmente, a avanços cientícos e
inovações tecnológicas, incluindo o desenvolvimento de novas
variedades de plantas, o uso de fertilizantes e agrotóxicos, e o
crescimento de grandes infra-estruturas de irrigação.
A despeito de seus sucessos, contudo, nosso sistema de
produção global de alimentos está no processo de minar aprópria fundação sobre a qual foi construído. As técnicas, ino-
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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social
vações, práticas e políticas que permitiram aumentos na pro-
dutividade também minaram a sua base. Elas retiraram ex-
cessivamente e degradaram os recursos naturais dos quais a
agricultura depende: o solo, reservas de água e a diversidade
genética natural. Também criaram dependência de combus-tíveis fósseis não renováveis e ajudaram a forjar um siste-
ma que cada vez mais retira a responsabilidade de cultivar
alimentos das mãos de produtores e assalariados agrícolas,
que estão na melhor posição para serem os guardiões da
terra agricultável. Em resumo, a agricultura moderna é insus-
tentável - ela não pode continuar a produzir comida suciente
para a população global, a longo prazo, porque deteriora as
condições que a tornam possíveis” (Gliessman, 2000: 33).
A agricultura convencional é condenada porque, prati-
cando cultivo intensivo do solo, aumenta a taxa de erosão
por água e vento; funda sua racionalidade na monocultura;
baseia-se na aplicação de fertilizantes sintéticos. Através da
irrigação, bombeia mais rapidamente a água subterrânea do
que ela é renovada pela chuva; adota controle químico depragas e de ervas adventícias; manipula genomas de plan-
tas; polui o ambiente; ocasiona perda da diversidade gené-
tica; imprime perda de controle local sobre a produção agrí-
cola; cria incertezas aos produtores; e amplia a desigualdade
sócio-econômica em plano mundial (cf Gliessman, 2000).
Para comprovação dos efeitos perversos aludidos, de-
monstra Gliessman:
“Todas as práticas da agricultura convencional tendem a
comprometer a produtividade futura em favor da alta produ-
tividade no presente. Portanto, sinais de que as condições
necessárias para sustentar a produção estão sendo erodidas
devem car cada vez mais evidentes com o tempo. Hoje, na
verdade, há um grande cabedal de evidências de que essaerosão está ocorrendo. Na última década, por exemplo, to-
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Delma Pessanha Neves
dos os países nos quais práticas da “revolução verde” foram
adotadas em larga escala experimentaram declínios recen-
tes na taxa de crescimento anual do setor agrícola. Ademais,
em muitas áreas onde as práticas modernas foram instituídas
para cultivar grãos na década de 1960 (sementes melhora-das, monocultura e aplicação de fertilizantes), os rendimen-
tos começaram a se manter no mesmo nível e, até, decaíram
após os espetaculares aumentos iniciais. Globalmente, au-
mentos de rendimento têm-se mantido no mesmo nível para
a maioria das culturas, as reservas de grãos estão encolhen-
do e, na realidade, a produção de grãos por pessoa decli-
nou desde meados dos anos 80” (Blown, 997)( Gliessman,
2000: 40).
Não se tratando de signicado monolítico, a reexão sobreo termo desenvolvimento social, pensado a partir da proposta deadoção ampla dos pressupostos da agroecologia, deve considerar,questionadamente, a evidência que os signicados atribuídos ao
termo subentendem. Para tanto, a análise deve levar em conta asconcorrências que os signicados múltiplos expressam, articuladosde forma a, praticamente, fazer reproduzir as intenções. Na análise,não se pode perder de vista que, recorrentemente, cada atribuiçãode signicados associados ao termo desenvolvimento social é su-cessivamente defendida como mais moderna, mais correta, maisoriginal ou inovadora, mais justa, mais equitativa etc. Cada suces-
siva conguração de sentido para o desenvolvimento social fun-da-se na defesa de que é portadora de valores tão mais positivos,que nem sempre se submete ao mesmo exercício de avaliação deprodução de efeitos indesejáveis e perversos, porque inesperados.O autor por mim considerado para este exercício demonstrativo daprodução do campo de mediação (ou de recursos para superpor universos de signicações), anuncia estes cuidados e convida a
reetir sobre os limites da proposição, inclusive por investimentosque venham a minimizá-los.
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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social
“O.papel.da.agroecologia
“A agricultura do futuro deve ser tanto sustentável quan-
to altamente produtiva para poder alimentar a crescente
população humana. Esse duplo desao signica que nãopodemos simplesmente abandonar as práticas convencio-
nais como um todo e retomar as práticas tradicionais ou
indígenas. Embora a agricultura tradicional possa fornecer
modelos e práticas valiosos para desenvolver uma agricul-
tura sustentável, não pode produzir a quantidade de comida
requerida para abastecer centros urbanos distantes e mer-
cados globais, pelo seu enfoque de satisfazer necessidadeslocais e em pequena escala.
O que se requer, então, é uma nova abordagem da agri-
cultura e do desenvolvimento agrícola, que construa sobre
aspectos de conservação de recursos da agricultura tradicio-
nal local, enquanto, ao mesmo tempo, se exploram conheci-
mento e métodos ecológicos modernos. Esta abordagem é
congurada na ciência da agroecologia, que é denida comoa aplicação de conceitos e princípios ecológicos no desenho
e manejo de agroecossistemas sustentáveis” (Gliessman,
2000: 40).
Outro aspecto fundamental à compreensão do processo deconstrução de universos de signicação aglutinados em torno do
termo desenvolvimento social, atualmente proclamado no contextode denição de referências para políticas públicas, é que ele evocaproposições residuais ao processo de mundialização ou globaliza-ção. Os signicados hoje valorizados para denição de desenvolvi-mento social não deixam de agregar instrumentos que tornem pos-síveis a ampliação de rendimento nanceiro e dos serviços sociaisbásicos à vida familiar, tendo em vista certas constrições para a
constituição de mercados de trabalho; a construção de patamaresmorais de justiça social, tendo em vista os efeitos excludentes des-
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te caráter seletivo da inserção produtiva; de equilíbrio ecológico,dada a evidência dos efeitos deletérios sobre a reprodução dosrecursos naturais; e a constituição de aparatos institucionais quetornem possíveis a descentralização ou a desconcentração econô-
mica e, assim, a criação de alternativas produtivas e sociais maisamplas e integrativas, complementares ou superativas dos vaziosque o modelo de concentração da organização da produção ins-taura. Portanto, múltiplos signicados explicitam os diversos uni-versos de interseção e os diferenciados agentes que se encontramem disputa na constituição de projeções para a organização da so-ciedade. Deste campo de disputas relevam-se os fatores a serem
combatidos ou os recursos a serem realinhados sob diferenciadasperspectivas.
“Os princípios e métodos ecológicos formam a base da
agroecologia. Eles são essenciais para determinar: a) se
uma prática, insumo ou decisão de manejo agricola é susten-
tável, e b) a base ecológica para o funcionamento, a longo
prazo, da estratégia de manejo escolhida. Uma vez que es-ses estejam identicados, podem ser desenvolvidas práticas
que reduzam os insumos externos comprados, diminuam os
impactos de tais insumos quando usados e estabeleçam uma
base para desenhar sistemas que ajudem os produtores a
sustentar seus cultivos e suas comunidades produtoras.
Embora a abordagem ecológica comece focalizando com-
ponentes particulares de um sistema de cultivo e a ecologiade estratégias alternativas de manejo, ela estabelece, no pro-
cesso, a base para muito mais. Aplicada mais amplamente,
pode nos ajudar a examinar o desenvolvimento histórico de
atividades agrícolas em uma região e a determinar a base
para selecionar práticas mais sustentáveis adaptadas àquela
região. Também pode averiguar as causas de problemas que
resultaram de práticas insustentáveis. De forma mais amplaainda, ajuda-nos a explorar a base teórica para desenvolver
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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social
modelos que podem facilitar o desenho, teste e avaliação de
agroecossistemas sustentáveis. Em última instância, o co-
nhecimento ecológico da sustentabilidade dos agroecossis-
temas deve dar nova forma à perspectiva que a humanidade
tem da produção vegetal e animal, a m de que seja alcança-da, em nível mundial, a produção sustentável de alimentos”
(Gliessman, 2000: 54).
Portanto, reetir sobre produção de competências para odesenvolvimento social pela adoção de métodos agroecológicos,implica o estudo de representações e práticas, não para ampliar
julgamentos políticos e morais, mas para trazer a um público maisamplo, o exame da constituição de novos agentes e práticas sociaise de aparatos institucionais correspondentes. Pelo contrário, devefazer aparecer o que está submerso nos discursos e nas práticas eos modos de consentimento que asseguram a adesão dos escolhi-dos ou auto-impositivos beneciários.
Nos processos de desenvolvimento social, tanto a elaboração
do projeto como sua colocação em prática advogam a interligaçãode mundos diferenciados por saberes especializados. Mundos quenão se interligam imediatamente, dependendo então de múltiplasformas de mediação, isto é, da participação diferenciada de me-diadores. Portanto, esse projeto político se assenta na elaboraçãode certas equivalências fundamentais à produção de determinadosconsensos e códigos comuns, constituidores do espaço social da
mediação. Este próprio espaço só se torna reconhecido se seusagentes forem zelosos das diferenças que devem administrar, comvistas à produção do diálogo e de uma outra ordem social. Enm,sua objetivação implica a produção de crenças comuns que orien-tem os modos diferenciados de participação no projeto de mudançadas relações de força que, desse modo, estão a merecer condena-ção e/ou superação.
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Delma Pessanha Neves
O.caminho.na.direção.da.sustentabilidade
A única opção que nos resta é preservar a produtividade,
a longo prazo, da superfície mundial cultivável, enquanto mu-
damos os padrões de consumo e de uso dela para beneciar a todos, tanto produtores quanto consumidores, de forma
mais eqüitativa. A primeira parte deste desao futuro dene
o assunto do livro; a segunda, embora além do objetivo do
livro, dependerá, em parte, das reconceptualizações da agri-
cultura, aqui oferecidas.
A preservação da produtividade da terra agrícola, a longo
prazo, requer a produção sustentável de alimentos. A sus-tentabilidade é alcançada através de práticas agrícolas alter -
nativas, orientadas pelo conhecimento em profundidade dos
processos ecológicos que ocorrem nas áreas produtivas e
nos contextos mais amplos dos quais elas fazem parte. A par -
tir desta base, podemos caminhar na direção das mudanças
sócioeconômicas que promovam a sustentabilidade de todos
os setores do sistema alimentar” (Gliessman, 2000: 52).
Os termos reconhecidos como especícos ao campo da me-diação: a crença na sustentabilidade como valor
Para a análise dos modos de constituição dos campos demediação (e dos equivalentes mediadores e mediados), é precisodar a devida atenção aos recursos instrumentais à construção determos cujos signicados devem assegurar a comunicação entre osportadores das diferentes posições sociais neste espaço de interli-gação. Para efeitos do exercício aqui por mim apresentado, querodestacar a importância central do termo sustentabilidade, erigidocomo valor e meta.
“A sustentabilidade signica coisas diferentes para distin-
tas pessoas, mas há uma concordância geral de que ela tem
uma base ecológica. No sentido mais amplo, a sustentabili-dade é uma versão do conceito de produção sustentável – a
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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social
condição de ser capaz de perpetuamente colher biomassa
de um sistema, porque sua capacidade de se renovar ou ser
renovado não é comprometida.
Como a “perpetuidade” nunca pode ser demonstrada no
presente, a prova da sustentabilidade permanece sempre nofuturo, fora do alcance. Assim, é impossível se saber, com
certeza, se uma determinada prática é, de fato, sustentável
ou se um determinado conjunto de práticas constitui susten-
tabilidade. Contudo, é possível demonstrar que uma prática
está se afastando da sustentabilidade.
Com base no nosso conhecimento presente, podemos
sugerir que uma agricultura sustentável, pelo menos:- teria efeitos negativos mínimos no ambiente e não liberaria
substâncias tóxicas ou nocivas na atmosfera, água super-
cial ou subterrânea;
- preservaria e recomporia a fertilidade, preveniria a erosão e
manteria a saúde ecológica do solo;
- usaria a água de maneira que permitisse a recarga dos de-
pósitos aquíferos e satiszesse as necessidades hídricas doambiente e das pessoas;
- dependeria, principalmente, de recursos de dentro do agro-
ecossistema, incluindo comunidades próximas, ao substituir
insumos externos por ciclagem de nutrientes, melhor conser -
vação e uma base ampliada do conhecimento ecológico;
- trabalharia para valorizar e conservar a diversidade biológica
tanto em paisagens silvestres quanto em paisagens domes-
ticadas; e
- garantiria igualdade de acesso a práticas, conhecimento e
tecnologias agrícolas adequados e possibilitaria o controle
local dos recursos agrícolas” (Gliessman, 2000: 52).
Apresentando-se a sustentabilidade com valor passível deser internalizado sob padrões comportamentais, os agentes sociaisque investem na produção de sistema de crenças e normas, no
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mesmo ato devem mobilizar adesões e recrutar outros tantos mili-tantes. Por isso, além das denições, todo um trabalho político deprodução da adesão e de conversão deve permitir os engajamentosdos supostamente sempre mutáveis agricultores, agora privilegia-
dos porque desde outrora tradicionais ou distanciados das referên-cias produtivistas. Enm, da condição em que foram condenados,tornaram-se laureados como agentes básicos da reconstrução so-cial, e portadores de uma racionalidade social a ser preservada eredimensionada. E, nestes termos, ele não mais se integra comotradicional , mas como tradicional neste campo redenido, tradicio-
nal nos termos desejáveis ao projeto de implantação do modelo
agroecológico, isto é, reordenado para participar deste campo decrenças e práticas.
“A agroecologia proporciona o conhecimento e a meto-
dologia necessários para desenvolver uma agricultura que é
ambientalmente consistente, altamente produtiva e economi-
camente viável. Ela abre a porta para o desenvolvimento de
novos paradigmas da agricultura, em parte porque corta pelaraiz a distinção entre a produção de conhecimento e sua apli-
cação. Valoriza o conhecimento local e empírico dos agricul-
tores, a socialização desse conhecimento e sua aplicação ao
objetivo comum da sustentabilidade” (Gliessman, 2000: 54).
Como exercício de mediação, quando destinado à alteração
da ordem instituída, não pode ser assumido sem o questionamentode determinadas formas de dominação (econômica, política e ideo-lógica). Este conhecimento, por vezes elaborado pela desqualica-ção de saberes e modos de participação vis-à-vis outros tantos, écontextualmente valorizado diante da proposição de outras formasde integração. Esta desnaturalização é operada pela intermediaçãode agentes deslocados de outros aparatos institucionais, apresen-tados e auto-denidos como experts em processos de mudança.
Os agentes de desenvolvimento e a construída adesão do mediado
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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social
É importante no plano analítico a que me dedico, destacar acrença no pressuposto de que o mediado não pode se constituir emportador de um projeto político próprio, mesmo quando seu saber évalorizado. Depende assim de alianças com outros agentes que se
apresentam como portadores de intenções de construção de comu-nhão de interesses; que se apresentam como capazes de formular sistematicamente as demandas e como porta-vozes da crença naecácia e na legitimidade da proposição.
Ora, para que haja engajamentos, faz-se necessário cons-truir, difundir e internalizar sistemas de crenças, elaborados cole-tivamente, pois que destinados a deslocamento de posições; pois
que defendidos como capazes de colocar sob reexão, um modode constituição e de representação das diferenças. Faz-se entãomister, no quadro de minha proposta de análise, valorizar o reco-nhecimento das hierarquizadas posições ou das distâncias sociaisentre os agentes partícipes do processo de mudança social.
Dentre essas distinções, destaca-se a dos próprios agentesde desenvolvimento, cuja prática é devedora do postulado de que
toda mudança de posição social se objetiva por um trabalho edu-cativo. Mais que isto ainda, que se vêem como portadores da fun-ção (ou missão) pedagógica destinada a mudar comportamentose visões de mundo. Em conseqüência, cabe ao mediador construir e objetivar os sistemas de crenças que tornem factível a agrega-ção de segmentos diversos na construção de um projeto de desen-volvimento ou de mudança de posições na sociedade. Ou apoiar
aqueles segmentos dispostos a transitar e a incorporar referênciasde outros múltiplos domínios de vida social e a se comunicar comoutros diferenciados discursos.
Os agentes de desenvolvimento, por esta propriedade de po-sição, ao reivindicarem para si a integração de segmentos sociais,assumem, sob dupla direção, o papel de tradutores. Contudo, atradução não se apoia em princípios de reciprocidade. O agente de
desenvolvimento, no papel de tradutor, não pode se esquecer quevaloriza a transmissão de saber para tornar viável a instituição que
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Delma Pessanha Neves
representa; o sistema de crenças ao qual se alia; ou até a defesada posição que ocupa nesse campo.
Aprendendo.a.partir.de.sistemas.sustentáveis.existentes
O processo de identicação dos elementos de sustentabi-
lidade começa com dois tipos de sistemas existentes: ecos-
sistemas naturais e agroecossistemas tradicionais. Ambos
resistiram ao teste do tempo em termos de manutenção da
produtividade por longos períodos, e cada um oferece um
tipo diferente de base epistemológica.
Os ecossistemas naturais oferecem um ponto do refe-
rência importante para entender os fundamentos ecológicos
da sustentabilidade; os agroecossistemas tradicionais dão
exemplos abundantes de práticas agrícolas realmente sus-
tentáveis, e de como os sistemas sociais - cultural, político e
econômico - encaixam-se na equação da sustentabilidade.
Com base no conhecimento ganho a partir desses sistemas,
a pesquisa ecológica pode conceber princípios, práticas e
desenhos aplicáveis na conversão de agroecossistemas
convencionais insustentáveis em sustentáveis” (Gliessman,
2000: 566).
Aceitando o engajamento em processos de desenvolvimen-to, os reivindicados beneciários não podem ser pensados sob ametáfora da reação da esponja na água. Eles tentam reordenar os
objetivos, reconhecidos conforme seus interesses e saberes maisimediatos. Integram-se para tornar suas expectativas, valores epontos de vista factíveis e objetiváveis, para além de tornar seus osobjetivos apresentados no contexto dos processos de mudanças.Em conseqüência, nos termos da proposta de Gleissman (2000),deveria ser fundamental integrar o ponto de vista e as formas desaber dos agricultores, para evitar que a proposta de agroecologia
padeça dos mesmos limites de tantas rearmadas formas de popu-lismo ou de discurso laudatório de uma simples idealização política.
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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social
Nos termos da apresentação do texto por ele elaborado, o saber valorizado do agricultor tradiconal é apresentado sob avaliação eparâmetros orientadores da prática do pesquisador. A superar taislimitações, os agentes de desenvolvimento que tomam a agroeco-
logia como meta e método necessitam incorporar arcabouços te-óricos que lhes permitiam compreender os sistemas de saber dosagricultores segundo os parâmetros próprios aos contextos de pro-dução deste conhecimento.
Interligando partes que se tocam mas não perdem sua espe-cicidade, o exercício de mediação pelos agentes de desenvolvi-mento reivindica e reproduz, concomitantemente, a construção de
identidades e de distanciamento sociais. A análise do papel dosagentes de desenvolvimento, por consequência, é corolária à dosprocessos de mudanças, que implicam lutas sociais, recrudesci-mento ou emergência de conitos de interesses e idéias, fazendoassim expressar, entre aliados e compromissados, os modos deconstrução dos mesmos ou aproximados objetivos gerais.
Agroecossistemas.tradicionais.como.exemplos.de.funcionamento.sustentável
Numa boa proporção do mundo rural de hoje, práticas
e conhecimentos agrícolas tradicionais continuam sendo a
base para a maior parte da produção primária de alimentos.
A distinção existente entre os sistemas de produção tradi-
cionais e indígenas e os sistemas convencionais é que os
primeiros desenvolveram-se em épocas e locais onde não
havia disponibilidade de outros insumos além do trabalho
humano e dos recursos locais, ou onde foram encontradas
alternativas que reduziam, eliminavam ou substituíam insu-
mos humanos intensivos no uso de energia e de tecnologias,
comuns a grande parte da agricultura convencional de hoje.
O conhecimento incorporado em sistemas tradicionais reete
a experiência adquirida por gerações passadas, continuan-do, no entanto, a se desenvolver no presente, à medida que o
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ambiente ecológico e cultural das pessoas envolvidas passa
por um processo contínuo de adaptação e mudança (Wilken,
1988).
Muitos sistemas agrícolas tradicionais permitem satisfazer
as necessidades locais, contribuindo, também, no sentido deatender demandas de alimento em nível regional ou nacional.
A produção é feita de forma a enfocar não tanto a maximiza-
ção do rendimento e do lucro, mas, sim, a sustentabilidade
a longo prazo. Os agroccossistemas tradicionais vêm sendo
manejados há muito tempo, tendo sofrido diversas mudan-
ças e adaptações. O fato de ainda serem produtivos é uma
forte evidência em prol de uma estabilidade ecológica e so-cial, a qual poderia ser invejada pelos sistemas mecanizados
(Klee,980).
Estudos de agroecossistemas tradicionais podem con-
tribuir muito com o desenvolvimento de práticas de manejo
ecologicamente consistentes. Na verdade, o que sabemos
de sustentabilidade em termos ecológicos vem principalmen-
te do conhecimento gerado por tais estudos (Altieri, 1990).Que características dos agroecossistemas tradicionais os tor -
nam sustentáveis? Em que pese a diversidade desses agroe-
cossistemas em nivel global, podemos começar a responder
examinando o que a maioria dos sistemas tradicionais tem
em comum. Os agroecossistemas tradicionais
- não dependem de insumos externos, adquiridos no mercado;
- fazem uso intenso de recursos renováveis e disponíveis lo-calmente;
- enfatizam a reciclagem de nutrientes;
- tem impactos negativos mínimos ou benécos no ambiente
agrícola e fora dele;
- são adaptados ou tolerantes às condições locais, em vez de
dependentes de alteração ou controle intensos do ambiente;
- são capazes de tirar vantagem do espectro total de variaçãomicroambiental que ocorre nos limites do sistema de cultivo,
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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social
unidade produtiva e região;
- maximizam o rendimento sem sacricar a capacidade pro-
dutiva, a longo prazo, de todo o sistema e a habilidade dos
seres humanos de utilizarem seus recursos de forma ótima;
- mantém diversidade espacial e temporal e continuidade;- conservam a biodiversidade biológica e cultural;
- dependem de variedades locais de cultivo e freqüentemente
incorporam plantas e animais silvestres;
- usam a produção para suprir inicialmente as necessidades locais;
- são relativamente independentes de fatores econômicos ex-
ternos; e
- são construídos com base no conhecimento e cultura doshabitantes locais.
As práticas tradicionais não podem ser transplantadas dire-
tamente para regiões onde a agricultura ja foi “modernizada”,
nem pode a agricultura convencional ser convertida para se
encaixar exatamente no molde tradicional. Não obstante, as
práticas e agroecossistemas tradicionais contêm lições impor -
tantes no sentido de como devem ser desenhados os agroe-cossistemas sustentáveis modernos. Um sistema sustentável
não precisa ter todas as características delineadas, como ja
foi visto, mas deve ser desenhado de maneira que todas as
funções relacionadas a essas características sejam retidas.
Se devemos usar os agroecossistemas tradicionais como
um modelo para desenhar sistemas sustentáveis modernos,
devemos entendê-los em todos os níveis de sua organiza-ção, das plantas cultivadas ou animais, que existem individu-
almente no campo, até a região produtora de alimentos, ou
mais além. Os exemplos de práticas e métodos tradicionais
apresentados ao longo deste livro fornecem um ponto de par-
tida importante para que se possa avançar no sentido de en-
tender como a sustentabilidade ecológica é alcançada.
Os agroecossistemas tradicionais também podem ofere-cer lições importantes sobre o papel que os sistemas sociais
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desempenham na sustentabilidade. Para que um agroecos-
sistema seja sustentável, os sistemas culturais e econômi-
cos nos quais seus participantes humanos estão integrados
devem sustentar e encorajar práticas sustentáveis e não
criar pressões que as minem. A importância. desta relaçãoé revelada.quando sistemas tradicionais anteriormente sus-
tentáveis sofrem mudanças que os tornam insustentáveis e
ambientalmente destrutivos. Na maioria dos casos, a causa
primária é algum tipo de pressão social, cultural ou econômi-
ca. Por exemplo, é comum produtores tradicionais encurta-
rem períodos de pousio ou aumentarem seus rebanhos de
pastoreio em resposta a arrendamentos mais altos ou outraspressões econômicas, e essas mudanças causarem erosão
ou redução da fertilidade do solo.
É essencial que os agroecossistemas tradicionais sejam
reconhecidos como exemplos de aplicação do conhecimento
ecológico sosticado. Caso contrário, o assim chamado pro-
cesso de modernização na agricultura continuará a destruir
o conhecimento, já testado pelo tempo, que eles incorporam- conhecimento esse que deve servir como um ponto do par-
tida para a conversão a agroecossistemas mais sustentáveis
no futuro” (Gliessman, 2000: 568-57).
Desta complexidade de objetivação dos processos de mu-danças decorre a importância do estudo das práticas dos agentes
de desenvolvimento, ressaltando os sistemas de valores e idéiasque eles pretendem mudar e inculcar, em função dos quais as con-dições materiais dos beneciários são reelaboradas e adquirem ca-racterísticas especiais.
A.mediação.como.produção.de.novos.universos.de.signicação
A proposta metodológica que aqui apresento para entender o papel dos mediadores culturais só oferece resultados mais satis-
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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social
fatórios, comparativamente a tantas outras alternativas de enten-dimento, se também evitar reduções ou absolutizações sobre estaprópria mediação. Para tanto, a ação dos mediadores não pode ser reduzida a uma interseção ou a uma interligação, como se enquan-
to pontes, unissem ilhas, imagem metafórica bastante recorrente. Aação só se produz por novas construções e modos de gestão dascontradições derivadas da posição de interseção, como Gleissman(2000) demonstrativamente investe. Ela só se produz redenindoa articulação dos campos relevados para serem tangenciados outransversalizados. Ela só se objetiva se houver o reconhecimentodeste campo especíco de interação em que ela se opera. Agentes
como o autor devem, por conseguinte, disputar o reconhecimentodas formas de intervenção que preconizam, anunciando os decor-rentes sistemas de pensamento e ação que desejam ser alcança-dos.
Além.da.unidade.de.produção.individual
As discussões atuais sobre agricultura sustentável vão
bem além do que acontece dentro dos limites de qualquer
unidade produtiva individual (Ikerd, 993; Schaller, 993;
UNDP, 995). Um agricultor que passou a empregar práti-
cas sustentáveis sabe que a agricultura é mais do que uma
atividade de produção na qual o único objetivo é alcançar o
elevado rendimento de um cultivo em uma única safra - é pre-
ciso, além disso, manter as condições existentes na unidade
de produção agrícola que permitem que estes rendimentos
sejam obtidos de uma safra para a outra. Mas um produtor
não pode mais estar atento somente às necessidades de sua
unidade produtiva e acreditar que, a partir de uma interven-
cão somente neste nível, poderá lidar adequadamente com
as questões de sustentabilidade a longo prazo.
Em diversos aspectos, a agricultura é como um curso
d’água, ao longo do qual as unidades produtivas individuais
são como poços. Muitas coisas uem para dentro de uma
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unidade produtiva trazidas pelo curso d’agua, e muitas coisas
uem para fora dela também. Os produtores trabalham duro
para manter suas próprias explorações agrícolas bem produ-
tivas, sendo cuidadosos com o solo e com o que adicionam ao
ambiente agrícola e retiram como colheita; assim, cada poçono curso agrícola tem seu próprio zelador. Antigamente, cada
produtor podia manter seu poço no curso d’água funcionando
razoavelmente bem, e não tinha que se preocupar muito com
o que estava acontecendo a montante ou a jusante.
Mas, hoje, essa abordagem de “cada um cuida daquilo
que é seu” tem seus limites. Um motivo é que um produtor
individual tem cada vez menos controle sobre o que ui paradentro de sua unidade produtiva. Muitas coisas indesejáveis
vem de fora, incluindo agrotóxicos, sementes de ervas ad-
ventícias, doenças e água poluída de outras áreas. Além dis-
so, o produtor tem pouco controle sobre muitas das coisas
que necessita. Essas necessidades incluem mão-de-obra,
um mercado para os produtos agrícolas, água para irrigação
e terra agricultável. Como resultado dessas inuências - com-plicadas ainda mais por políticas agrícolas governamentais e
caprichos do clima e do mercado -, o curso d’água ca bem
turvo e o trabalho de manter seu próprio poço limpo torna-se
muito difícil.
Cada vez mais, o produtor precisa também considerar um
segundo problema: a maneira como cuida da unidade pro-
dutiva pode ter muitos efeitos a jusante. A erosão do solo eo esgotamento da água subterrânea podem afetar negativa-
mente unidades vizinhas. O uso inadequado ou ineciente
de agrotóxicos e fertilizantes pode contaminar a água e o ar,
bem como deixar resíduos potencialmente perigosos nos ali-
mentos. O grau de sucesso de cada produtor em sua própria
unidade produtiva também inuencia, de forma ampla, a via-
bilidade econômica e cultural da agricultura como um todo.Fatores tanto a montante quanto a jusante têm relações com-
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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social
plexas que, de distintas maneiras, afetam a sustentabilidade
de cada unidade produtiva.
A necessidade de se olhar para todo o “curso” signica
adotar uma abordagem sistêmica para alcançar a sustentabi-
lidade. Não podemos contentar-nos em enfocar basicamen-te o desenvolvimento de práticas e tecnologias desenhadas
para a unidade de produção agrícola individual. Quando no-
vas tecnologias são avaliadas prioritariamente com base em
sua capacidade de aumentar rendimentos e reduzir custos,
e, apenas secundariamente, por reduzir impactos ambien-
tais, elas têm uma baixa probabilidade de contribuir com a
sustentabilidade a longo prazo. Seus complexos impactos so-bre todo o sistema agrícola têm que ser incluídos na avalia-
cão” (Gliessman, 2000: 594-596).
Evidencia-se então que os agentes de desenvolvimento nãoatuam como o elo de união de mundos diferenciados e deles distan-ciados como tais. Eles próprios constróem as representações dosmundos sociais que pretendem interligar e o campo de relaçõesque torna possível este modo especíco de interligação. Múltiplossignicados vão então se ordenando para tornar viável o exercíciode mediação:
- O suposto beneciário não se constitui sem passar pela re-classicação, através de denições e de enquadramentos como osexplicitados: não basta ser tradicional, deve aderir aos anunciadossignicados da sustentabilidade.
- Os recursos materiais e culturais não são absorvidos semexercícios especícos de tradução e de reconhecimento de sen-tido, tal como demonstram os investimentos na oferta de cursos,de seminários, de congressos e na preparação correspondente aoexercício de representação política em conselhos de desenvolvi-mento local ou de associação.
- E os pesquisadores e extensionistas não são incorporados
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ao processo sem a construção de si mesmos como responsáveispráticos por estes modos de intervenção. Este necessário exercíciotambém se explicita pelos investimentos na constituição de apara-tos institucionais de prossionalização (cursos de pós-graduação e
especialização, seminários de construção de consensos sobre mo-delos de agricultura, assistência técnica, reuniões rearmadoras dasecundarização de concorrentes perspectivas de intervenção, mastambém de reconhecimentos de hegemonia, como é o caso do in-vestimento objetivado na Semana de Agroecologia do Maranhão).
Logo, o entendimento do papel do agente de desenvolvi-mento não pode estar reduzido às vinculações institucionais ime-
diatas. As instituições que os acolhem não podem ser pensadas por intenções autônomas que se impõem. A análise deve incorporar ascontribuições resultantes da socialização prossional dos agentesde desenvolvimento ou mediadores, posto que eles fazem intervir um conjunto outro de instituições e referências, todos assegurandosuporte e legitimidade às suas práticas (instituições estatais, reli-giosas, corporativas, acadêmicas etc).
Os agentes de desenvolvimento que advogam o métodoagroecológico são assim portadores de um amplo trabalho institu-cional, objetivado em cursos universitários de graduação e pós-gra-duação, mas também em acordos e parcerias institucionais (muitasdas vezes em plano internacional), em cooperativas, em organiza-ções não-governamentais, em sindicatos e em associações pros-sionais. Este amplo aparato institucional já indica o investimento
em processos de sedimentação de engajamentos e adesões, mastambém de gestão das contraposições e concorrências internas,especialmente entre os agentes de desenvolvimento que devemconviver imediatamente com visões contraditórias que subjazem àspráticas da instituição estatal.
Por força desta complexidade imposta à prática dos agen-tes de desenvolvimento, a sua compreensão deve contemplar os
efeitos e as estratégias de luta por contraposição e por adesão,construídas tanto por mediadores (agentes de desenvolvimento),
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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social
como por mediados (segmentos escolhidos para alteração de es-tilos de vida e de representação do mundo). O estudo desta prá-tica deve então incorporar a compreensão das relações que sãoconstruídas a partir dos signicados atribuídos aos recursos e aos
temas que são dela expressivos. Deve enfatizar conitos e tensõesenquanto problemas estruturantes das práticas dos agentes, diantede relações cuja dinâmica é a priori indenível, de desdobramentosinerentes e inesperados e de múltiplas formas de reapropriação deobjetivos e intenções.
Os.mediadores.e.a.consagração.de.novas.fronteiras:.o.agroecossistema.sustentável
Na produção de novos sistemas e valores, os agentes devemxar novas denições e referências, compatíveis com as intençõespropugnadas.
“O que é um agroecossistema sustentável? ... (respondida
de forma abstrata) um agroecossistema sustentavel (é) o que
mantém a base de recursos da qual depende, conta com umuso mínimo de insumos articiais vindos de fora do sistema
de produção agrícola, maneja pragas e doenças através de
mecanismos reguladores internos e capaz de se recuperar
de perturbações causadas pelo manejo e colheita.
Contudo, é bem diferente apontar um agroecossistema
real, identicando-o como sustentável ou não, ou determinar
por que, ou especicar exatamente como se pode construir um sistema sustentável em uma determinada biorregião. Ge-
rar o conhecimento e as capacidades necessárias para isso é
um dos principais desaos da ciência da agroecologia hoje.
A sustentabilidade é, em última instância, um teste do
tempo: um agroecossistema que continua produtivo por um
longo período de tempo sem degradar sua base de recursos
- quer localmente, quer em outros lugares - pode ser dito sus-tentável. Mas o que exatamente constitui um “longo período
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de tempo”? Como se determina se houve degradação de re-
cursos? E como pode ser desenhado um sistema sustentá-
vel, quando a prova da sua sustentabilidade está sempre no
futuro?
Apesar desses desaos, precisamos determinar o quese compreende por sustentabilidade. Em resumo, a tarefa é
identicar os parâmetros da sustentabilidade - características
especícas dos agroecossistemas que constituam peças-
chaves em seu funcionamento - e determinar em que nível
ou condição esses parâmetros devem ser mantidos para que
um funcionamento sustentável possa ocorrer. Através deste
processo, podemos identicar o que chamaremos de indica-dores de sustentabilidade - condições especícas do agroe-
cossistema, necessárias para a sustentabilidade, e indicado-
ras dela. Com tal conhecimento será possível prever se um
determinado agroecossistema pode, ou não, ser sustentável
a longo prazo, e desenhar agroecossistemas que tenham
a melhor chance de se mostrar sustentáveis” (Gliessman,
2000: 565).
Exaltam-se então as intenções normativas do conhecimentocientíco e a subordinação de saberes dos quais ele se nutre, mas,neste próprio ato, redimensionado.
“Os produtores agrícolas têm fama de ser inovadores e
experimentadores, desejosos de adotar novas práticas quan-
do percebem que ganharão algum benefício. Nos últimos
quarenta ou cinquenta anos, a inovação na agricultura tem
sido impulsionada principalmente pela ênfase em altos ren-
dimentos e no lucro da unidade produtiva, resultando em re-
tornos notáveis mas, também, numa ampla gama de efeitos
colaterais ambientalmente negativos. Apesar da continuida-
de dessa forte pressão econômica sobre a agricultura, muitos
produtores convencionais estão preferindo fazer a transição
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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social
para práticas que são mais consistentes ambientalmente e
tem o potencial do contribuir com a sustentabilidade da agri-
cultura a longo prazo” (National Research Council, 989)
(Gliessman, 2000: 571).
Reconhecida a tendência à adesão mediante ecácia legiti-mada e integração de novos valores, os mediadores da objetivaçãodo saber agroecológico anunciam princípios orientadores de novaspráticas:
“Princípios.orientadores:
O processo de conversão pode ser complexo, exigindomudanças nas práticas de campo, na gestão da unidade de
produção agrícola em seu dia-a-dia, no planejamento, no
marketing e losoa. Os seguintes princípios podem servir
como linhas mestras orientadoras neste processo geral de
transformação:
- Mover-se de um manejo de nutrientes cujo uxo passa atra-
vés do sistema, para um manejo baseado na reciclagem denutrientes, com uma crescente dependência em relação a
processos naturais, tais como a xação biológica do nitrogê-
nio a as relações com micorrizas.
- Usar fontes renováveis de energia, em vez das não reno-
váveis.
- Eliminar o uso de insumos sintéticos não renováveis oriun-
dos de fora da unidade produtiva, que podem potencialmentecausar danos ao ambiente ou a saúde dos produtores, assa-
lariados agrícolas ou consumidores.
- Quando for necessário, adicionar materiais ao sistema,
usando aqueles que ocorrem naturalmente, em vez de insu-
mos sintéticos manufaturados.
- Manejar pragas, doenças e ervas adventícias, em vez de
“controlá-las”.- Restabelecer as relações biológicas que podem ocorrer
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naturalmente na unidade produtiva, em vez de reduzi-las ou
simplicá-las.
- Estabelecer combinações mais apropriadas entre padrões
de cultivo e o potencial produtivo e as limitações físicas da
paisagem agrícola.- Usar uma estratégia de adaptação do potencial biológico e
genético das espécies de plantas agrícolas e animais às con-
dições ecológicas da unidade produtiva, em vez de modicá-
la para satisfazer as necessidades das culturas e animais.
- Valorizar na mais alta conta a saúde geral do ecossistema,
em vez do resultado de um determinado sistema de cultivo
ou safra.- Enfatizar a conservação do solo, água, energia e recursos
biológicos.
- Incorporar a idéia de sustentabilidade a longo prazo no de-
senho e manejo geral do agroecossistema.
A integração entre esses princípios cria uma sinergia de
interações e relações na unidade produtiva que conduz, pos-
teriormente, ao desenvolvimento das propriedades emer-gentes dos agroecossistemas sustentáveis....... A ênfase
em determinados princípios irá variar, mas todos eles po-
dem contribuir grandemente para o processo de conversão”
(Gliessman, 2000: 572).
O.mediado.enquanto.convertido:.um.agricultor.projetado
A idéia de que se trata de um processo de mudança paraproduzir um novo homem, um novo agricultor, fundamental aoaprendizado de novas possibilidades de articulação de recursos,é caracterizada pelo termo conversão. Este termo abarca o aban-dono de práticas construídas pela ordenação de fatores segundoo princípio do produtivismo, posto que referencia a absorção de
recursos naturais como insumos renováveis. Esta prepotente pre-tensão subordina a atividade humana a objetivos contextualizada-
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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social
mente valorizados e abandona a dimensão temporal da experiênciada humanidade. O termo conversão, complementarmente, inclui aexpressão pública da nova posição militante, que se orienta por uma temporalidade longa, ancorada em princípios de referência
holística, onde o homem e a natureza não se contrapõem, mas searticulam sob reprodução recíproca.
“Níveis.de.conversão
Para muitos produtores, a conversão rápida a um desenho
e manejo sustentáveis do agroecossistema não é possível
nem prática. Como resultado, muitos esforços de conversãoavançam em passos mais lentos na direção da meta derra-
deira da sustentabilidade, ou, simplesmente, adotam como
foco o desenvolvimento de sistemas de produção de alimen-
tos um pouco mais consistentes do ponto do vista ambiental.
Na diversidade de esforços de conversão observados, três
níveis distintos podem ser identicados (Hill, 985). Esses
níveis possibilitam a descrição dos passos dos produtores
na conversão de agroecossistemas convencionais e podem
servir como um mapa, delineando um processo do conversão
evolutivo, passo a passo. Também são úteis no sentido de
categorizar a pesquisa agrícola quando se relaciona à con-
versão.
Nível.1: Aumento da eciência de práticas convencionais a
m de reduzir o uso e o consumo de insumos escassos, ca-
ros ou ambientalmente danosos.
A meta desta abordagem é a utilização de insumos de
forma mais eciente, fazendo com que uma menor quanti-
dade se torne necessária, e reduzindo, ao mesmo tempo, os
impactos negativos de sua utilização. Esta abordagem tem
sido a ênfase principal de boa parte da pesquisa agrícola
convencional, resultando no desenvolvimento de numero-
sas tecnologias e práticas agrícolas. Exemplos desse tipo de
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perspectiva incluem: a) espaçamento e densidade ótimos,
maquinaria mais aperfeiçoada, monitoramento de pragas
que torne mais eciente a aplicação de agrotóxicos, melhor
sincronia entre diferentes atividades e cultivo de precisão vi-
sando à disponibilização ótima da água e fertilizantcs. Aindaque esforços desse tipo reduzam os impactos negativos da
agricultura convencional, não ajudam a quebrar sua depen-
dência em relação a insumos externos.
Nível.2: Substituição de insumos e práticas convencionais
por práticas alternativas.
A meta, neste nível de conversão, é substituir os produtos
e práticas baseados no uso intensivo de recursos e degra-dadores do ambiente por outros mais benignos. A pesquisa
sobre produção orgânica e agricultura biológica enfatiza tal
abordagem. Exemplos de práticas alternativas incluem o uso
de cultivos de cobertura xadores de nitrogênio, em substi-
tuição aos fertilizantes nitrogenados sintéticos; b) o uso de
agentes de controle biológico em vez de agrotóxicos; c) a
mudança para cultivo mínimo. Neste nível, a estrutura básicado agroecossistema não é grandemente alterada e, conse-
qüentemente, muitos dos mesmos problemas que ocorriam
em sistemas convencionais também ocorrem nestes siste-
mas baseados na substituição de insumos.
Nível.3: Redesenhar o agroecossistema de forma que ele
funcione baseado em um novo conjunto de processos eco-
lógicos.Neste nível, o desenho geral do sistema elimina as cau-
sas fundamentais de muitos problemas que ainda existem
nos níveis 1 e 2. Portanto, em vez de se encontrar maneiras
mais consistentes para resolver problemas, evita-se, em pri-
meiro lugar, que eles apareçam. Estudos de conversão de
sistemas em seu todo possibilitam um entendimento dos fa-
tores que limitam o rendimento em nível da estrutura e fun-ção dos agroecossistemas. Os problemas são identicados
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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social
e, portanto, prevenidos através de uma abordagem de dese-
nho e manejo internos, adequados ao tempo e ao lugar, em
vez da aplicação de insumos externos. Um exemplo disso é
a diversicação da estrutura e manejo da unidade do produ-
ção agrícola através do uso de rotações, cultivo múltiplo eagroorestação.
Em termos de pesquisa, os agrônomos e outros pesqui-
sadores agrícolas zeram um bom trabalho de transição do
nível 1 para o nivel 2, mas a transição para o nível 3 apenas
começou. A agroecologia fornece a base para este tipo de
pesquisa. E, no nal das contas, ela nos ajudará a encontrar
respostas para questões maiores, mais abstratas, tais comoo que é a sustentabilidade e como saberemos quando a tiver-
mos alcançado” (Gliessman, 2000: 572-575).
Tendo em vista as considerações apresentadas e à guisa decontribuição para constituição deste campo de saber e de ação polí-tica, proponho então as seguintes sugestivas questões: - Este agri-cultor tradicional (na pós-modernidade) deve se tornar um agentemais falante nos espaços de mediação, dado que, por essa formade inserção no campo, valoradamente qualicado pela preserva-ção da tradição, poderia tornar mais público os modos de consti-tuição de seu saber e de sua visão de mundo englobante. Nestaposição, poderia assim ser reconhecido por todas essas virtudese fundamentos que, como destaca Gliessman (2000), colaborampara o desenvolvimento do saber agroecológico. Assim qualicado
socialmente, seria importante que ele, como interlocutor, viesse acomparecer nesses encontros e eventos que conformam o campoda mediação; viesse a diretamente demonstrar sua gloricada con-tribuição à redenção ambiental. Tendo rearmada sua generosida-de para com a humanidade, virtude que poderia vir a ser por eleinternalizada, estaria dotado de outros recursos instrumentais à suaredimensão política ou à sua inserção na sociedade pós-moder-
na. Enm, o registro de unidades de experimentação participativas deveria ser mais divulgado e incorporado, tal como indicado pelo
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autor, para fazer aparecer as reexões mútuas (de mediadores emediados) e explicitar nos novos campos de saberes e práticas quevão no processo se congurando.
O agricultor, na condição de tradicional mobilizado à reconsti-
tuição sob outras bases sociais e à reordenação produtiva, dependedesses processos de troca e negociação entre extensionistas, pes-quisadores e agricultores experimentadores, que interligam, nes-ta experiência, diferentes universos de signicação. Mediadores,como estes apontados e os próprios agricultores que se integraramao novo campo social, e mediados, como os beneciários indiretossob conquista, articulam diferenciados processos de socialização,
intervenientes pela convivência contextual e pela inserção em es-truturas diversas de oportunidades e alternativas. A conjugação dossaberes, como demonstrou Gliessman (2000), equivale à constru-ção de um terceiro sistema de saber, mas também mediada pelospróprios agricultores. Convivendo frente a objetivos partilhados,esses agentes (mediadores e mediados) devem se equivaler en-quanto partes do mesmo campo, mas se diferenciar por modos deformação correspondentes à cada posição. Essa experiência par -
tilhada traz à tona diferentes recursos institucionais, expressos deforma mais eloqüente, como assinala Gliessman (2000), em unida-
des de experimentação participativa, redimensionadas como espa-ços públicos de trocas sistemáticas, como instituição local de sal-vaguarda de patrimônios culturais rearmados mediante reexõesdinâmicas e coletivas. Tais unidades se apresentam assim comoespaços sociais para o exercício da capacidade de comunicação e
interseção de universos de signicações diversas. Suas atividadesdevem guardar o tempo e a sistematicidade de encontros neces-sários ao longo processo de produção de novos saberes e novoshomens. Se a prática adotada se pautar na incipiência desses es-paços sociais, ela só rearmará o caráter tutelar de processos demediação. Nesta modalidade, eles são quase sempre condenados,porque fundamentados na exclusão de espaços de participação di-
reta dos mediados, que, nesta posição, restam tuteladados.
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Importância dos mediadores culturais para a promoção do desenvolvimento social
Considerações nais
Aos professores dos cursos de graduação e pós-graduaçãoem Agroecologia, como este da Universidade Estadual do Mara-
nhão, cujos representantes me concederam a honra da interlocu-ção, sugiro que incorporem, no quadro curricular, disciplinas dota-das de conteúdo que possam assegurar aos prossionais que aíse constituem, os fundamentos básicos para a compreensão dadiversidade de construção de saberes, especialmente daquelesqualicados como práticos ou próprios aos agricultores. Não bastareconhecer que eles sabem, porque este conhecimento é um dado
de sua existência social. É preciso compreender como eles sabem,como eles articulam princípios, como eles coletivamente elaboramlógicas e racionalidades sociais.
Através do levantamento dessas temáticas e questões, orga-nizadas enquanto proposta de análise sociológica sobre o papel dosagentes de desenvolvimento ou de mediadores correspondentesàs formas de objetivação de processos de mudança, suponho ter
apresentado alguma contribuição à constituição de competênciasinerentes a esta prática social. A análise só se tornou possível por contemplar, concomitantemente e corolariamente, o entendimentodo campo construído para a objetivação e a expressão da media-ção, isto é, para tornar possível a interligação de mundos que sãodesignados ao questionamento pelo ideário do desenvolvimento.2 E demonstra, por m, certa idealização e modelação do mediado
sob condição de convertido ou agente de sua conversão, mesmoque na prática sua contribuição esteja mais exaltada. Sua participa-ção não se fundamenta em adesão mas em negociação, condiçãoreivindicada exatamente pelos acúmulos de saber que soube pre-servar, a despeito da convivência relativa com tantos outros proces-sos hegemônicos de mudança social .
2 Para uma análise dotada de referências empíricas distintas, consultar outros textos de mi-nha autoria sobre esta temática : Neves, 985, 987, 993a, 993b, 995a, 995b, 997a ,1997b e 1998.
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Metodologia.da.Pesquisa.Participativa.em.Agroecologia
João Carlos Canuto*
Introdução -----------------------------------------------------------------------------------------65
Atores sociais e sistemas de interesse ----------------------------------------------------66
Valores, transdisciplinaridade e liderança circular --------------------------------------67
Questão socioecológica e agroecologia ---------------------------------------------------69
Agenda para a pesquisa participativa agroecológica -----------------------------------71
Observação e construção do conhecimento agroecológico --------------------------72
Diagnósticos participativos --------------------------------------------------------------------72
Algumas ferramentas de diagnóstico participativo --------------------------------------73
. Diagnósticos Rápidos Participativos - DRP--------------------------------------------73
2. Diagnósticos de agroecossistemas por indicadores de sustentabilidade ------74
Exemplo de ferramenta de diagnóstico ----------------------------------------------------76
Desenhos experimentais em projetos de pesquisa participativa --------------------76
Trabalho em unidades de experimentação participativa-------------------------------78
Considerações nais----------------------------------------------------------------------------82
Introdução
É muito importante começar destacando que o foco nos mé-
todos de pesquisa muitas vezes desvia nossa atenção de questõesmais fundamentais, tais como, quem está envolvido, a quem vaibeneciar a pesquisa ou que problemas são mais importantes emdeterminado contexto. Os métodos devem ser desenhados paradar conta destas questões e não têm sentido em si mesmos. Cabe
dizer também que os exemplos de aplicação de métodos apresenta-dos aqui nada mais são que referências, que podem indicar algunscaminhos dentro de um grande conjunto de possibilidades. São ascondições locais que denem os métodos: características sociais,econômicas e ecológicas locais, sistemas de interesse envolvidos,objetivos da pesquisa, entre outras. Deste modo, a metodologiadenida para um projeto pode traduzir-se em uma seqüência deoperações já aplicada em outros contextos, mas o mais provável é* Pesquisador Embrapa/Epagri.
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Metodologia da pesquisa participativa em Agroecologia
que constitua uma composição especíca de ferramentas, aplicávela uma situação local.
A concepção de métodos de pesquisa participativa em agroe-cologia impõe um duplo esforço: integrar tanto a complexidade so-
cial como a complexidade ecológica, freqüentemente negligencia-das nos esquemas clássicos de pesquisa cientíca. Este desao foiaceito por diversos pesquisadores e organizações, com resultadosmuito interessantes, e está inserido em um processo de qualica-ção metodológica crescente. Tal construção converge hoje para umdiálogo com a pesquisa clássica, buscando melhorar o rigor, sejana geração de dados como na forma de análise dos mesmos.
Embora, como foi dito, os métodos não tenham por si própriosuma autonomia ou importância maior que as questões ecológicase sociais de fundo, trazem em sua estrutura o reexo de delas, quefreqüentemente se encontram na forma de perguntas “submersas”e não respondidas. A opção “natural” do pesquisador formado emnossas escolas e no trabalho dentro das instituições tem sido a deprimar pelo método, já que as boas intenções da pesquisa seriamóbvias e indiscutíveis. O resgate de perguntas chave, colocadasantes da escolha dos métodos, sobre o quem e o para quê, temcolocado a todos os pesquisadores a necessidade de um processoque responda às necessidades das maiorias, que garanta um valor cientíco aceitável e que, além disso, promova o livre pensar e acriatividade humana.
Atores.sociais.e.sistemas.de.interesse
Um pesquisador ou uma instituição poderão dar muito oupouco valor ao conhecimento do contexto que envolve sua inova-ção: as pessoas, as relações sociais e culturais, a rede econômica,as condições ecológicas. Do ponto de vista da eciência, há umagrande probabilidade de que a pesquisa que considera o contextoacerte mais o alvo do que a que trabalha sob a orientação subjetiva
do pesquisador, que se ancora mais na tradição cientíca do que nainovação losóca e metodológica.
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João Carlos Canuto
Uma das peças para a leitura do contexto é a análise dosatores sociais e dos sistemas de interesse implicados no processo.Sem uma idéia sobre eles, é provável que cheguemos a respostasgenéricas e de difícil aplicação em locais ou situações sociais e
ecológicas especícas.Há uma enorme diversidade de valores e visões de mundo
entre diferentes grupos de atores. É importante que o pesquisador leve em conta esta diversidade e, em seguida, dedique-se a encon-trar as zonas de convergência de interesses. Com um mapa dosatores e das relações entre eles, o pesquisador tem um instrumentovigoroso para trabalhar centrado em necessidades reais.
O conhecimento dos sistemas de interesse em uma comu-nidade e a detecção dos temas convergentes ajudam na deniçãodo problema de pesquisa. Mais que isso: geram a necessidade dediálogo entre saberes. Um desconforto metodológico inicial podeocorrer mas é freqüentemente compensado pelo melhor ajuste efoco da pesquisa e pela maior aplicabilidade dos seus resultados.
O conhecimento dos atores não é tarefa fácil, não só pelo ain-da insuciente exercício metodológico, mas também porque: i. há
também contradições internas em uma comunidade ou grupo; ii. ossistemas de interesse não são imaculados, mas inuenciados pelamídia e por várias formas de socialização; iii. sempre se vericammudanças nos sistemas de interesse, conforme mudam as condi-ções externas. Ainda assim, um mapa de atores e relações sociaisessenciais constitui uma providência simples para evitar uma visãodemasiado subjetiva ou desfocada da realidade.
Valores,.transdisciplinaridade.e.liderança.circular
Estamos atualmente em uma encruzilhada civilizatória, ca-racterizada pela questão socioecológica (degradação ecológica eexclusão social simultâneas). Esta questão nos coloca a necessi-dade de uma opção ética pelas pessoas que sofrem os impactos
negativos do modelo econômico e social vigente, que são as maio-rias populacionais. Visões de mundo estáticas perdem efeito em
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Metodologia da pesquisa participativa em Agroecologia
um mundo de mudanças. Processos derivados destas visões demundo, como os métodos de pesquisa que ignoram o ambiente emque querem “depositar” seus achados, têm pouca possibilidade deserem socialmente apropriados.
A participação dos atores é condição de legitimidade da pes-quisa. Substituem-se as ações de intervenção unilateral por açõescom os agricultores. A legitimidade é também fruto de um bom ajusteentre os sistemas de interesse dos técnicos (pesquisadores, exten-sionistas, assessores) e dos agricultores. A participação dos agri-cultores não só não substitui a necessidade dos técnicos, como areforça e dá sentido. De parte dos agricultores, a possibilidade de
participação é um exercício de expansão da cidadania e de geraçãode oportunidades. É interessante para tanto que os agricultores pos-sam, de preferência, participar de todas as fases da pesquisa, comodiagnóstico, desenho, execução, acompanhamento e avaliação.
A convivência com idéias e experiências variadas é em si mes-mo um movimento transdisciplinar. A transdiciplinaridade perpassaas relações entre técnicos e agricultores e também as diferentesespecialidades cientícas. Especialistas têm uma responsabilida-de muito grande pois, articulados em convergências com outrosespecialistas, podem melhor dar conta da complexidade social eecológica.
Para alcançar resultados sociais não basta apenas a inclusãoformal de determinados especialistas nas equipes de pesquisa oudo contato entre técnicos e agricultores. É também fundamental in-vestir em formas mais democráticas de trabalho, na capacidade de
conviver com certos conitos e no exercício da liderança circular 1.Ela é qualidade própria de qualquer pessoa e nela todos os pontosde vista contém verdades. Como cada situação posta necessita dehabilidades especícas para sua solução, cada ator social se tornalíder naquela situação. Assim, agentes que detêm a liderança emdeterminado assunto, tornam-se aprendizes em outros. A liderançacircula e não é propriedade xa de ninguém. A liderança circular
1 Conceito desenvolvido em cursos ministrados por May East (Coordenadora deEducação do Projeto de Ecovilas da Fundação Findhorn na Escóciawww.ndhorn.org).
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se orienta pelo espírito de diálogo e não de debate. No debate háuma tentativa de convencimento, alguém que sabe e outro que nãosabe, um exercício de poder sobre. O diálogo, por sua vez, implicana revelação gradual de mais “camadas” de uma realidade, a partir
de um questionamento apreciativo, onde diversos pontos de vistasão importantes e onde se exerce um poder compartilhado, um po-
der com.
Questão.socioecológica.e.agroecologia
Na agricultura a questão socioecológica é sentida claramen-
te. A atividade econômica humana e a agricultura em particular es-tão inseridas em um modelo entrópico, em que o risco de ultrapas-sar a capacidade de regeneração natural dos recursos naturais éum dado real. A insustentabilidade da agricultura denominada demoderna aponta para a necessidade de criar alternativas sociais eecológicas que a superem.
Neste contexto a alternativa da aplicação da agroecologia
surge como resposta à questão socioecológica. Do ponto de vistada sustentabilidade social, a agroecologia tem base na utilizaçãode recursos locais, reduzindo a dependência externa de insumos,além da freqüente redução dos custos de produção e a geraçãode novas alternativas de mercado, trabalho e renda. Do ponto devista ecológico, as propostas agroecológicas mostram grande ca-pacidade de reciclagem de materiais, possibilitando um circuito
quase fechado de produção. A utilização de recursos renováveis,especialmente as fontes de energia baseadas na fotossíntese (emlugar do petróleo) é igualmente uma das vantagens da aplicação daagroecologia. Isto tudo se relaciona com a proposta de substituir osinsumos por processos e manejos, em que se aproveita o “efeito”da biodiversidade no equilíbrio dos agroecossistemas.
O debate conceitual sobre agroecologia é importante para
os rumos da própria pesquisa. Embora o conceito de agroecologiadeva ser amplo o bastante para reunir tendência diversas, estão em
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Metodologia da pesquisa participativa em Agroecologia
voga alguns conceitos que criam diculdades de compreensão e deação2. Estes conceitos são discutidos sucintamente a seguir:
•A agroecologia não pode ser conceituada como uma política
pública, embora possa constituir a inspiração central para al-
gumas políticas.•O entendimento da agroecologia como movimento social lhe
dá um status que não tem. A agroecologia efetivamente estácada dia mais inuenciando os movimentos sociais, porquehoje eles compreendem que a reforma agrária não é comple-ta quando se reproduz uma base tecnológica social e ecolo-gicamente inadequada.
•A agroecologia não é um novo pacote tecnológico, emboraconsidere a tecnologia como uma dimensão fundamental nodesenvolvimento dos sistemas agrários.
•A perspectiva agroecológica compreende muitas expressõesde agricultura ecológica (biológica, natural, orgânica, biodinâ-mica, permacultura, entre outras), não se identicando exclu-sivamente com nenhuma delas. Os diversos estilos de agri-
cultura de base ecológica aplicam, sob formas particulares ecom diferentes níveis de profundidade, os princípios agroeco-lógicos e de participação social.
Autores consagrados no tema3, bem como todo o acúmulodo debate atual, indicam que a agroecologia é um campo de co-nhecimento interdisciplinar que contém os princípios básicos para
o desenho e o manejo de agroecossistemas sustentáveis. È umaciência emergente que recebe as inuências da Ecologia, da Agro-
2 Ver uma discussão mais detalhada em Caporal, F. R. e Costabeber, J. A. Agro-
ecologia: alguns conceitos e princípios. 24 p. Brasília : MDA/SAF/DATER-IICA,2004.3 Por exemplo – entre outros: Altieri, M. A., Agroecologia: as bases científcas da
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nomia, das Ciências Humanas e de outras ciências. A agroecologiase institui na desconstrução das formas de produção que causamdegradação ecológica e social e na sua construção ou reconstru-ção, dentro de um paradigma de inclusão e sustentabilidade. Des-
te modo, identicar a agroecologia somente pela não utilização deagrotóxicos é reduzir em muito o seu alcance.
Agenda.para.a.pesquisa.participativa.agroecológica
Os instrumentos da pesquisa clássica respondem de formaparcial às necessidades da agricultura familiar e à complexidade
dos agroecossistemas. Portanto, há a necessidade de aproxima-ção das agendas de pesquisa dos agricultores e dos pesquisado-res, promovendo uma inversão de foco para acolher as demandasdos agricultores, a partir do desenvolvimento de conhecimentospara aplicação a sistemas reais.
Fatores políticos, econômicos e sociais devem ser superadospara o desenvolvimento da pesquisa participativa agroecológica. Aexpansão de linhas de pesquisa aplicada deve surgir na forma de
soluções práticas urgentes, para o combate à degradação ecológi-ca e à exclusão social. Associada à pesquisa aplicada, deve estar aciência básica, no sentido de alimentar o avanço do conhecimento,especialmente em temas estratégicos.
Nota-se hoje a emergência de uma signicativa quantidadede resultados experimentais que, ajustados a condições locais, po-dem ser apropriados pelos agricultores. Em complemento, existe
também uma grande quantidade de conhecimentos gerados pelospróprios agricultores e técnicos de organizações sociais, já testa-dos a campo e de adaptação relativamente fácil às condições dosagricultores de uma região.
Um esforço também fundamental é o que diz respeito à apli-cação local dos princípios ecológicos. A agroecologia, como conceitoou abstração, integra diversos preceitos gerais, mas a produção agrí-
cola exige um conhecimento ecológico e técnico “de terreno”, quedepende muito da qualicação cientíca em questões de Ecologia.
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Metodologia da pesquisa participativa em Agroecologia
A formação metodológica para o trabalho com a pesquisaprecisa igualmente desenvolver-se, de modo a conceber métodosde pesquisa coerentes com a diversidade ecológica e social da re-alidade.
Observação.e.construção.do.conhecimento.agroecológico
Na chamada agricultura moderna o conhecimento chega aosagricultores em pacotes e receitas, apresentadas como aplicativossimplicados, numa caixa-preta de difícil decodicação pelo agri-cultor. Práticas simplicadas estão relacionadas com formas simpli-
cadas de pensamento, onde o papel da observação é acessório.A agricultura com enfoque agroecológico se apresenta comoconhecimento de “código aberto”, onde o acesso é livre (domíniopúblico) e as modicações e ajustes podem ser feitos por qualquer ator social. Nestas condições surgem innitas possibilidades dedesenho e de gestão dos agroecossistemas. Aqui a observação écondição essencial.
O envolvimento dos agricultores em processos participativos
de pesquisa favorece a recuperação da capacidade de observação,tanto por parte dos agricultores como dos técnicos. Em conseqüên-cia, melhora também a capacidade de interpretação dos problemase de formulação própria de respostas. Com a pesquisa participativaca reforçada a posição de protagonismo social e a auto-estima dosagricultores, fatores fundamentais para a transição agroecológica.
Diagnósticos.participativos
O que são e para que servem os diagnósticos? Diagnósticossão processos de levantamento de sistematização de informaçõessobre determinada realidade e formam as bases para o desenho deprojetos de pesquisa. Os diagnósticos são sempre recortes da re-alidade e sua formatação depende dos objetivos das futuras ações
ou projetos. Os recortes podem representar a demarcação de limi-tes geográcos, temáticos e de detalhamento, por exemplo:
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João Carlos Canuto
•Diagnósticos gerais e territoriais, como locação e quantica-ção de infra-estruturas, mercados, cadeias produtivas, abran-gência e impacto de programas e políticas públicas, análisesregionais, análises de paisagem ou estudos em microbacias
hidrográcas.•Diagnósticos de comunidades, como conhecimento dos ato-
res, relações e estratégias de reprodução social, condiçõeseconômicas e ecológicas.
•Diagnósticos de agroecossistemas, incidindo mais pontual-mente nas dimensões ecológicas dos sistemas agrários.
•Diagnósticos de sistemas de cultivo ou criação, na esfera da
produção agropecuária.•Diagnósticos especícos sobre questões técnicas, como pro-
blemas de doenças, deciências minerais, propriedades dossolos, danos por insetos e outras.
Algumas.ferramentas.de.diagnóstico.participativo
Mencionamos anteriormente que a denição das ferramentasé decorrente das condições e dos objetivos de um trabalho. Nãohavendo fórmulas para a escolha dos instrumentos, podemos ape-nas nos orientar por referências metodológicas. Referências sãoentendidas como ferramentas utilizadas em outros contextos e quepodem servir de inspiração para a formulação de uma proposta dediagnóstico. O que normalmente ocorre são composições livres,
entre diversas ferramentas utilizadas em outros diagnósticos, paraaplicação em cada caso particular. Apresentamos a seguir duasdessas referências, que julgamos tenham uma relação mais diretacom a pesquisa agroecológica participativa.
1. Diagnósticos Rápidos Participativos - DRP
DRP são formas de diagnóstico que procuram obter o máxi-mo de informações relevantes sobre uma determinada realidade a
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Metodologia da pesquisa participativa em Agroecologia
partir de ferramentas de aplicação expedita. Alguns componentesdos DRP podem ser, por exemplo:
•Análise de atores e sistemas de interesse.
•Análise das relações externas (mercados, informação, serviços).•Mapas geográcos e temáticos.•Caminhadas transversais de avaliação de recursos ou impactos.•Recuperação da memória coletiva pela técnica da linha do
tempo.•Seminários de constituição das árvores de problemas e soluções.•Inventários dos recursos naturais.
•Fluxogramas de energia e materiais.•Mapas de ocupação dos solos e dos cursos d’água.•Ocinas de levantamento e priorização de demandas técnicas.•Reuniões de trabalho com base em visualização móvel.
2.Diagnósticos.de.agroecossistemas.por.indicadores.de.sustentabilidade
Os indicadores de sustentabilidade são formas objetivas deavaliar alguma característica importante para o entendimento deum agroecossistema. Devem ser de fácil compreensão e aplica-ção e dar respostas rápidas, integrando informações qualitativas equantitativas. Os agricultores devem participar da construção dosindicadores e apropriarem-se dos métodos. Muitos indicadores re-
lacionados com métodos da pesquisa clássica são de enorme im-portância. Nesse sentido podemos ver a relevância, por exemplo,de medir parâmetros de fertilidade de solos ou de avaliação de po-pulações de insetos.
As formas de análise de indicadores podem ser construídascoletivamente, apresentando-os na forma de matrizes, escalas devaloração, diagramas para registro e análise visual de indicadores4.
4 Por exemplo, desenhos de padrões de dano com graus crescentes de ataquede insetos, diagramas baseados em indicadores de sustentabilidade comparadaentre agroecossistemas.
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Exemplos de indicadores podem ser:•Cor, textura e estrutura do solo.•Fauna presente na planta ou no solo, indicando potencial de
predação.
•Níveis de dano econômico de ataque de doenças e insetos.•Cor e desenvolvimento de plantas, indicando deciências mi-
nerais.•Índices de biodiversidade, indicando o grau de estabilidade
do sistema.
Dentro de um diagnóstico, podemos compor o quadro de fer-
ramentas considerado pela equipe como o mais adequado paraentender a estrutura e o funcionamento de um sistema agrícola oucomunidade. O exemplo destacado a seguir (linha do tempo) deveestar integrado a este conjunto de instrumentos, ainda que aquiapareça como isolado. Busca somente ressaltar a riqueza históri-ca, muitas vezes negligenciada nos diagnósticos, em favor de umaleitura linear dos parâmetros atuais e mais aparentes de determi-
nadas variáveis. A compreensão mínima da história de uma comu-nidade ou da evolução de um problema técnico nos dá pistas decomo superá-lo. No caso da crise do “sistema abacaxi” abordado,a conclusão dos agricultores é a de que, sem a derrubada da mata,não há futuro para a continuidade da economia do abacaxi na re-gião. A partir da formulação deste impasse, foram levantados pelostécnicos presentes alguns argumentos iniciais com potencial para
desbloqueá-lo. Um deles propunha a inversão da lógica dos agricul-tores, no sentido de substituir a fertilidade do solo alimentada pelamata por técnicas agroecológicas de manejo do solo, como adu-bação orgânica, adubação verde, manejo de plantas de cobertura,caldas fertilizantes e outras. Embora com o cuidado de não intervir unilateralmente, este argumento abriu possibilidades de diálogo comos agricultores, pois eles não tinham em sua experiência, nenhuma
informação técnica que apontasse para a recuperação do cultivo doabacaxi na região, fora do sistema de derrubada e queima.
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Exemplo.de.ferramenta.de.diagnóstico
Linha do tempo para diagnóstico do cultivo do abacaxina Comunidade do Brilhante-SC.
Desenhos.experimentais.em.projetos.de.pesquisa.
participativa
Desenhos são as formas de planejamento para solução deproblemas levantados nos diagnósticos. Devem levar em conta pelomenos dois níveis. Em um sentido amplo, são formas de planeja-mento de ações de desenvolvimento de uma comunidade, o projetosocial mais abrangente. Em um sentido mais especíco, podem ser
considerados como o planejamento das ações técnicas, a elabora-ção de um projeto de pesquisa. Vê-se que um nível não pode des-
• 1945: início do cultivo:sistema de derrubada,queima e implantação.
• Nutrição suprida pelafertilidade natural.• Frutos de ótima quali-dade.• Venda a varejo em ca-minhões.• Renovação da lavouraa cada 12 anos.• Custo de produçãomuito baixo.• Rendimento de 100%
(um fruto por planta).• Cultivos alimentares ede renda: feijão, milho,banana, amendoim.
• Menos mata disponí-vel.• Pousio e rotação de
áreas (8 a 10 anos).• Manejo de capoeiras.• Renovação da lavouraa cada 5-8 anos.• Produtividade decres-ce mas que ainda com-pensa.• Aumento da demandade mão-de-obra.• Falta completa de ATER.
Lei ambiental (IBA-MA) proíbe derruba-da da mata.
• Redução drásticado plantio; áreas re-siduais com algumafertilidade.• Aumento de mão-de-obra.•Produtividade muitobaixa (20-30%).• Início da migraçãopara a cidade.•Importação do
abacaxi de zonaslongínquas por ex-agricultores, hojeatravessadores.• Aparecimento dabroca e doenças.
• Migração para acidade, apenas 3agricultores seguem
cultivando abacaxi.• Não há capital paraadubação química eagrotóxicos.• Agricultores nãoconhecem outrossistemas de culti-vo e de reposiçãoda fertilidade• Solução apontada:liberação da derruba-
da pelo IBAMA.
1945•.Oim
1960/80•.Oim
1990•.Oim
2005•.Oim
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conectar-se do outro, pois uma ação técnica não surte efeito socialse desconhece esta dimensão. Os desenhos de projetos sociaise de pesquisa têm sempre dois eixos de origem: o diagnóstico darealidade e a visão de futuro que coletivamente comungamos.
Na falta de modelos mais consolidados, agricultores familia-res e organizações sociais têm desenvolvido experimentos comdelineamentos experimentais relativamente simples e análises dedados qualitativas baseadas, por exemplo, em atributos visuais. Aconabilidade desta forma de experimentação vem se dando me-nos pelo rigor metodológico e mais por um ”acúmulo cultural”. Esteconhecimento produz-se no balanço entre acertos e erros ao longo
do tempo e na internalização das lições aprendidas na observaçãode diferentes situações, momentos e locais.
Hoje há falta de desenhos experimentais e formas de análi-se de dados inovadores inspirados conjuntamente nos métodos dapesquisa cientíca e na experiência acumulada pelos agricultores.Assim, um dos desaos é conjugar a participação com protocolosmínimos de experimentação, resguardando-se a conabilidade.
A construção de métodos participativos ainda está em suasetapas iniciais e há uma tendência de simplesmente negar os mé-todos clássicos. Nesse contexto cabem muitas perguntas. Comochegar a denições sobre o desenho experimental em um projetoparticipativo? Devemos manter categorias como parcelas, repeti-ções, testemunhas ou há alternativas a elas para uma nova pro-posta de delineamento? Devemos combinar fases de pesquisa em
estação experimental com fases de experimentação em unidadesexperimentação participativa com agricultores? Como vamos de-nir indicadores, instrumentos de registro e de análise de dadosrespeitando as formulações dos agricultores? Podemos optar por análises estatísticas consagradas? Podemos conjugar métodosquantitativos e qualitativos?
Acreditamos que há uma grande necessidade de integração
entre métodos e visões de mundo. Ao nos debruçarmos sobre oproblema da concepção de métodos de pesquisa adequados a um
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Metodologia da pesquisa participativa em Agroecologia
ambiente de participação, encontramos que grande parte dos pro-cedimentos consagrados não têm nenhuma característica intrín-seca que recomende sua exclusão. O que não está ainda claroé como estes métodos podem adequar-se a projetos de pesquisa
complexos e relacionados com as necessidades do desenvolvi-mento local.
Trabalho.em.unidades.de.experimentação.participativa
Como dissemos, são muitas as perguntas ainda não respon-didas, especialmente na questão do rigor cientíco. Embora as res-
postas sejam apenas embrionárias, nos arriscamos a apresentar as “boas qualidades” da pesquisa participativa, especicamente noâmbito das unidades de experimentação participativa.
As UEP são, para efeito prático, áreas físicas, conjuntos deparcelas experimentais em um cultivo ou propriedades rurais emrede. Estes sistemas agrícolas apresentam complexidades variáveis,como por exemplo: sistemas solo-planta, sistemas de cultivo ou cria-
ção, sistemas de produção (conjunto de sistemas de cultivo ou cria-ção), agroecossistemas, sistemas agrários (propriedades), sistemasterritoriais (comunidades, assentamentos, microbacias hidrográcas,recortes diversos de paisagem). Cada tipo de sistema, com sua com-plexidade característica, deve ter clara delimitação para que nossosprojetos tenham o foco e as respostas adequadas.
O trabalho na perspectiva das UEP tem como vantagem a
apropriação “natural” dos conhecimentos gerados no decorrer dosprojetos, de diversos modos: pela geração de resultados novos evalidados em condições reais; porque se constituem em unidadesde observação, sensibilização e intercâmbio; porque são a basepara eventos diversos de capacitação, como dias de campo, oci-nas, cursos e seminários.
Trabalhos em unidades de experimentação participativa per -mitem o aprofundamento das relações entre os atores envolvidos
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João Carlos Canuto
e facilita o convívio com a diversidade socioeconômica e cultural,a articulação social, o fortalecimento das convergências de interes-ses e da auto-estima dos agricultores.
As UEP têm algumas desvantagens em relação à pesquisa
cientíca, dado o seu estágio ainda incompleto de desenvolvimento,no que diz respeito à consolidação de métodos. O ajuste de instru-mentos clássicos aos propósitos da participação é uma das linhasde maior relevância hoje no contextos dos métodos participativos.Melhorar a compreensão destas ferramentas e exercitar sua inte-gração a projetos de pesquisa com objetivos de desenvolvimentosocial é um desao já assumido por algumas experiências de cons-
trução do conhecimento agroecológico5. Rigor lógico, qualidade dodelineamento amostral e uso correto das técnicas de análise dedados são características que não conitam obrigatoriamente coma abordagem participativa. Ao contrário, a integração metodológicasó tem a agregar valor, tanto para a pesquisa participativa, comopara a clássica.
O método é visto muitas vezes como domínio exclusivo dos
cientistas, o qual deve ser conservado contra ataques de vulga-rização. Entretanto, não há porquê temer que isto aconteça: oscientistas sempre estarão na linha avançada das construções me-todológicas. O que ocorre é que muitas vezes, fechados em seusgrupos e na sua nomenclatura, não podem ser compreendidospelos demais atores sociais com interesse no avanço da Ciência.Despontam atualmente argumentos em favor de uma ruptura desta
lógica. Pesquisadores, preocupados com os impactos do seu tra-balho, para além da elaboração de artigos cientícos de consumointerno na comunidade cientíca, procuram vias de diálogo comseus “públicos”, onde possam mostrar a relevância dos problemasem que trabalham. Para isto, desenvolvem formas de coleta, apre-sentação e análise dos dados que possam, o mais possível, ser
5 Ver, por exemplo, Arning, I. Guía metodológica para investigaciones agrícolas.Introducción a la investigación participativa e investigación científca. RAAA – Redde Acción en Alternativas a los Agroquímicos. 152 p. Lima : RAAA, 2001
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Metodologia da pesquisa participativa em Agroecologia
assimiladas pelos estudantes e novos pesquisadores6. Esta linhapode ser explorada ainda junto com agricultores, sempre que sepretenda facilitar a compreensão dos dados e das técnicas utiliza-das. A abertura desta caixa-preta, ainda que não seja tarefa fácil,
é a única maneira de permitir uma apropriação do conhecimentometodológico aos não cientistas. Não se trata da banalizazão dosmétodos, mas tampouco de garantir “reserva de mercado” aos pes-quisadores. Aliás, estes só têm a ganhar, quando suas pesquisas,além do rigor cientíco, se revestem de sentido pela geração derespostas úteis para o mundo real. Por outro lado, pesquisadoresclássicos envolvidos em pesquisa participativa têm notado que as
respostas mais cruciais freqüentemente não exigem um sosticadoarcabouço metodológico e mesmo que, em certos casos, tal sos-ticação somente serve para complexicar desnecessariamente osprojetos, além de impedir sua apropriação e uso por agentes domundo não científco (hipertroa do método como justicação daqualidade do projeto).
As unidades de experimentação participativa, sempre que
ultrapassados os entraves da integração e da compreensão dosmétodos, podem ser o lugar da construção de conhecimentos quefaçam sentido para sistemas reais. Além da geração propriamentedita de conhecimento novo, as UEP são próprias para a valida-ção de conhecimentos elaborados em outros locais ou em outrosmomentos, propiciando o ajuste, adequação e redesenho de umsistema, de uma tecnologia, insumo ou processo. Nelas são cria-das conexões entre os saberes populares e cientícos, que nãosão apenas tecnológicos, mas também conceituais e metodológi-cos. São fóruns de debates e lugares de aprendizado, onde há aoportunidade de exercitar a transdiciplinaridade. As unidades deexperimentação participativa possibilitam o desencadeamento de
6 Dentro deste tema, uma obra interessante é a de Magnusson, W. E. e Mourão,G. Estatística sem matemática. A ligação entre as questões e a análise. 126 p.Londrina : Editora Planta, 2003, onde podemos ver uma abordagem que auxilia na
aproximação dos pesquisadores aos métodos estatísticos por meio de visualiza-ções (uxogramas, grácos e outras formas de apresentação de dados), utilizandoo mínimo o recurso da matemática.
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João Carlos Canuto
processos de transição agroecológica, a partir da construção gra-dual de um nova matriz de conhecimentos orientados à sustenta-bilidade. Podem tornar-se faróis para a irradiação local e regionaldo conhecimento.
As UEP são formas interessantes de potencializar o desen-volvimento social, porque aumentam a sintonia entre demandas eprojetos, aproximando as pautas dos cientistas das necessidadesdos agricultores. Por terem as demandas sido denidas sobre con-textos reais, os resultados normalmente têm mais possibilidades deajustar-se àquele contexto.
Agricultores experimentadores têm um papel de grande rele-vância na pesquisa participativa. Contudo, devemos compreender
que todo e qualquer agricultor ou técnico envolvido em processosparticipativos têm importância especíca e que cada saber com-pleta o outro na construção do conhecimento. Por menos cientícoque seja, o agricultor detém, mais que qualquer outro ator, o co-nhecimento circunstanciado e histórico da sua região, propriedade,cultivo ou tecnologia. A decodicação desta visão muitas vezes énecessária e passa por conceitos cientícos dominados pelos pes-
quisadores. Mas o valor destas informações é fundamental paraalimentar diagnósticos e hipóteses cientícas. Os cientistas podemqualicar seus métodos aplicando-os à analise dos sistemas sociale ecologicamente complexos, por meio dos ajustes que as situa-ções reais normalmente exigem.
Unidades de experimentação participativa ganham um forteimpulso quando se relacionam entre si em redes. Criam-se solu-ções em diferentes situações e locais e elas circulam entre os nós
da rede, provocando uma aceleração do aprendizado, pois abremo leque de opções para os demais agricultores e técnicos. Estabe-lecem uxos de comunicação e articulam capacidades e interessescomuns que estavam ainda isolados. Aprofundam as relações entrepessoas e organizações e propiciam a reexão, entre os agriculto-res, sobre procedimentos e resultados obtidos em diversas realida-des. Em resumo, criam novas referências (no sentido de exemplos
que podem inspirar outras iniciativas, e não de receitas prontas)na irradiação do conhecimento gerado, para dentro e para fora da
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Metodologia da pesquisa participativa em Agroecologia
rede e impulsionam soluções criativas que não seriam produzidassem a contribuição de diversos pontos de vista. Vejamos abaixoalguns exemplos de referências que podem ser desenvolvidas epotencializadas em uma rede com interesse na construção do co-
nhecimento agroecológico:•Práticas de manejo (da planta, do solo, da água, da biodiver -
sidade).•Desenvolvimento de equipamentos ou insumos.•Desenhos de sistemas de cultivo ou de toda a propriedade.•Técnicas de acompanhamento econômico.•Modelos de diagnóstico de agroecosistemas.
•Delineamento experimentais novos.•Métodos de análise de dados experimentais.•Publicações (manuais técnicos, cartilhas, textos para deba-
te).•Métodos de animação comunitária e de comunicação tecno-
lógica•Métodos de levantamento e priorização de demandas.
Considerações nais
As aproximações entre pesquisadores e agricultores, neces-sárias para gerar respostas socioecológica para as maiorias rurais,estão em debate. Agricultores e pesquisadores têm chegado por diferentes caminhos ao conhecimento novo mas a descoberta daconexão sinergética entre eles ainda está por ser traçada7.
Como foi dito, as técnicas são apenas meios de conhecer o
mundo. Entretanto, por isso mesmo, podem contribuir grandemen-te para transformá-lo . Muito temos que aprender com os cientistase com o saber popular para formularmos sínteses metodológicasque, ao mesmo tempo, sejam confáveis, respondam a problemas
concretos e, ainda, não criem obstáculos à criatividade necessáriaao avanço da Ciência.
7 Canuto, J. C. A pesquisa e os desaos da transição agroecológica. Ciência e
Ambiente, (Especial: Agricultura Sustentável), v. 4, nº 27, p. 33-40., 2004.
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Agroecologia:.principios.y.estrategias..para.una.agricultura.
sustentable.en.la.América.Latina.del.siglo.XXI
Miguel Angel Altieri *
Introducción ---------------------------------------------------------------------------------------83
Los ultimos 10 anos -----------------------------------------------------------------------------84
El desao para la region en la primera decada del siglo XXI-------------------------89
Agroecologia y el diseno de agroecosistemas sostenibles ---------------------------91
Agroecologia y agricultura campesina -----------------------------------------------------93
Conclusiones--------------------------------------------------------------------------------------96
Preguntas para la discusion ------------------------------------------------------------------99
Introducción Durante “ la década perdida” y los anos 90s, América Latina
paso por periodos de crisis económica caracterizada por extraordi-narios costos ambientales y sociales, en la mayoría de los casos nocontabilizados por la economía neoliberal. A pesar de numerosos
proyectos internacionales/nacionales de desarrollo rural, la pobre-za, la inseguridad alimentaria, el deterioro de la salud y la degra-dación ambiental fueron problemas que continuaba aquejando a lapoblación rural. Cada vez se hacia mas evidente que los modelosconvencionales de modernización de la agricultura, basados enmonocultivo de- pendientes de un alto nivel de insumos agroquí-micos, eran un modelo no viable desde el punto de vista social y
ecológico.En la medida que los países Latinoamericanos se inserta-
ban en el orden económico internacional, el modelo agro expor -tador se expandía en ausencia de una distribución efectiva de lastierras, beneciando en primer lugar a los productores más ricosque controlaban los mejores terrenos. Estos cambios acentuaron
* Engenheiro Agrônomo, PhD em Entomologia e professor de Agroecologia do Departamen-
to de Ciência, Política e Manejo Ambiental da Universidade da Califórnia, Berkeley, [email protected]
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Agroecologia: principios y estrategias para una agricultura sustentable en la América Latina del siglo XXI
la brecha entre campesinos y agricultores empresariales desenca-denando una serie de procesos y tendencias preocupantes que sereejaban en el aumento de la pobreza rural, la inseguridad alimen-taria y la degradación de los recursos naturales. Este escenario no
ha cambiado desde que el nuevo siglo empezó y aun constituye undesaó inmenso para cientícos, políticos y agricultores para arti-cular una visión de una agricultura que sea económicamente viabley más competitiva pero que a la vez sea socialmente mas justa yecológicamente mas sana. Hay que reconocer que a pesar de lasdeciencias internas, fuerzas externas a la región como la globa-lización, la emergencia de la biotecnología y el creciente control
corporativo del sistema alimentario han jugado un papel clave endeterminar el paupérrimo estado del arte de la agricultura Latinoa-mericana a comienzos del siglo XXI.
Los.ultimos.10.anos
Desde la Cumbre de Rio hasta hoy, la situación de la agri-
cultura en América Latina no ha cambiado, mas bien se ha empe-orado:
•73 millones de los 123 millones de personas que habitan laszonas rurales aun viven en la pobreza, cifras que tienden aagravarse, especialmente entre la población indígena. La po-blación campesina en las laderas representa el 40-50% de lapoblación rural pobre.
•
La agricultura campesina ocupa unas 60 millones de hectá-reas, caracterizándose por un tamaño medio de nca de .8hectáreas ( las cuales se continúan subdividiendo), sistemasen los cuales se genera el 41% de la producción agrícola parael consumo domestico, o sea el 51% del maíz, 77% de losfrijoles y 61% de las papas. Esta producción campesina con-tinua subsidiando la demanda urbana por alimentos al recibir
precios bajos por sus productos. La caída de precios de losproductos campesinos, la falta de crédito y la distancia a mer-
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Miguel Angel Altieri
cados son todos factores que contribuyen al empobrecimien-to de los agricultores pequeños.
•Los campesinos además continúan siendo marginados por los avances tecnológicos; en México menos del 2 % adop-
taron variedades mejoradas y solo el 25 % han incorporadofertilizantes. En los Andes, menos del 10% de los campesi-nos han tenido acceso a fertilizantes y variedades nuevas depapas. En otras palabras la mayoría del campesinado aunmaneja sus sistemas con tecnologías de bajo insumo, en al-gunos casos por condiciones de pobreza, pero en muchoscasos voluntariamente por tradición etnoecologica.
•La producción de alimentos básicos ha crecido muy por de-bajo de la producción de forrajes para el ganado y de cultivoscomerciales (no tradicionales) para la exportación. Mientrasque los ingresos por exportación han declinado para café, ca-cao y algodón, las exportaciones de soya, ores y hortalizasse han incrementado entre 4-ll%.
•La tenencia de la tierra se torna cada vez mas concentrada
en manos de grandes empresarios y corporaciones quecontrolan las mejores tierras, suelos y recursos hídricos parala producción de cultivos de alto valor comercial. La falta deoportunidades económicas en el área rural forzan a la migra-ción de miles de personas, en especial jóvenes, contribuyen-do a la feminización y ancianizacion del agro.
•La agricultura comercial y de exportación ha conllevado al in-
cremento en el uso de agroquímicos. La región consume el9,3% de los pesticidas utilizados en el mundo. Solo en Améri-ca del Sur se invierten mas de 2.700 millones de dólares anu-ales en importación de pesticidas, muchos de ellos prohibidosen el norte por razones ambientales o de salud humana. Muypocos estudios han medido el impacto ambiental y social deesta intensicación agroquímica, pero se sospecha que su-
pera los 0 mil millones de dólares al ano, si se cuanticaranlos costos ambientales de contaminación de aguas y suelos,
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Agroecologia: principios y estrategias para una agricultura sustentable en la América Latina del siglo XXI
danos a la vida silvestre y el envenenamiento de personas.Estos costos no incluyen los impactos ambientales asociados(contaminación de aguas con nitratos, eutrozación de ríosy lagos, etc.) con el incremento del uso de fertilizantes nitro-
genados ni los problemas de salinizacion ligados al riego enzonas no apropiadas.
Hacia nes del siglo XX ya existían fuerzas que determina-ban no solo que se produce, cuanto y como, sino también que seinvestiga, como, por y para quien. Aunque hay muchas fuerzas en
juego, se podría armar que las principales son:
•La emergencia del sector privado como actor predominan-te en la investigación, y la dominancia del Mercado agrícolay tecnológico por un conglomerado de corporaciones que,combinado a un monopolio de patentes, tienen un control sinprecedente sobre la base biológica de la agricultura y del sis-tema alimentario en general. Los sistemas actuales de pro-
tección de derechos de propiedad intelectual han tendido aaumentar el costo de control de transferencia tecnológica nor-te-sur, los cuales pueden dejar a los países latinoamericanos( en especial el campesinado) literalmente fuera del ámbitodel acceso al nuevo conocimiento. De hecho, los derechoscorporativos sobre los genes obligan a cualquier instituciónpublica a negociar licencias con varias compañías biotecno-
lógicas antes de que estas puedan liberar al campo una va-riedad de cultivo genéticamente modicada, que pudiera ser de utilidad a agricultores pobres. Esta tendencia puede cons-tituir una oportunidad mas que un obstáculo para re-orientar la producción hacia una línea mas agroecologica basada enel bien común.
•Aunque se piensa que la apertura de la economía mundial
conjuntamente con la liberación arancelaria trae consigo laposibilidad de que los agricultores de la región puedan vender
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en mercados hasta ahora inaccesibles; Como sabemos estono es real ya que en la ausencia de subsidios, los preciosagrícolas tienden a aumentar y los primeros en beneciar -se son los agricultores del Norte cuya agricultura se subsidia
cada vez más. La globalización obliga a los países latinoame-ricanos a reducir los niveles de protección para los productosdomésticos y eliminar las barreras para la importación ilimita-da de productos europeos y norteamericanos. La experienciade Haití uno de los países más pobres es ilustrativa. En l986Haití importaba alrededor de 7000 toneladas de arroz, por-que la mayor parte se producía en la isla. Cuando abrió su
economía, la isla fue inundada por arroz subsidiado de USA,llegando a importar en l996, 196 mil toneladas de arroz a uncosto de US $ l00 millones anuales. No-solo Haití se hizodependiente de importar arroz sino que el hambre se incre-mento.
•La difusión de la biotecnología como paradigma tecnológi-co prioritario, desplaza a otros enfoques mas integradores
y holisticos en las universidades y centros de investigacióny la siembra masiva de cultivos transgenicos ( en especialen Argentina, Chile y por contrabando en Paraguay y Brasil)comienza a desencadenar un proceso con efectos socioeco-nómicos y ambientales más dramáticos que los experimen-tados con la Revolución Verde. En Argentina la siembra desoya transgenica resistente al Round-up al facilitar el manejo
de malezas, ha sido un instrumento efectivo para concentrar tierra, ya que la manera de sobrevivir en la agricultura de esepaís es hacerse cada vez más grande, con el consiguien-te aumento en área de soya transgenica, uso de glifosato yun decremento en el numero de propiedades agrícolas. EnMéxico la contaminación de variedades criollas de maíz enOaxaca es el primer signo de que la integridad genética del
centro de origen mundial de maíz se puede ver comprome-tida. En Chile, las corporaciones usan el doble verano del
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Agroecologia: principios y estrategias para una agricultura sustentable en la América Latina del siglo XXI
sur para multiplicar sus semillas transgenicas, en ausenciade todo monitoreo sobre posibles impactos del ujo de ge-nes en el polen sobre poblaciones de insectos lepidópteros oplantas silvestres emparentadas, o de los cultivos BT sobre
organismos benécos en el suelo. Los efectos ecológicos delos cultivos obtenidos vía ingeniería genética no se limitan ala resistencia de plagas o a la creación de nuevas malezaso razas de virus. Los cultivos transgénicos pueden producir toxinas ambientales que se movilizan a través de la cadenaalimentaria y que pueden llegar hasta el suelo y el agua afec-tando así a los invertebrados y probablemente alteren proce-
sos ecológicos como el ciclo de los nutrientes. Aún más, lahomogeneización en gran escala de los terrenos con cultivostransgénicos exacerbará la vulnerabilidad ecológica asociadacon la agricultura en base a monocultivos . No es aconsejablela expansión de esta tecnología a los países de la región.Hay fortaleza en la diversidad agrícola de muchos de estospaíses, la cual no debiera ser inhibida o reducida por el mono-
cultivo extensivo, especialmente si el hacerlo ocasiona seriosproblemas sociales y ambientales.
•La dominancia del Internet y otros medios modernos de infor-macion podrían abrir una avenida importante para el desar-rollo agrícola basado en el conocimiento, si es que estos me-dios no solo beneciaran a aquellos con acceso a capital y latecnología, dejando fuera del acceso al conocimiento a millo-
nes de pobres en la región. No hay duda que el conocimientocientíco de punta será cada vez más costoso, restringido ypoderoso. Las instituciones publicas dedicadas a la investi-gación y extensión agrícolas están cada vez mas debilitadassin posibilidades de resguardar de que el conocimiento lleguepor otras vías accesibles a los miles de agricultores de meno-res recursos. Por otro lado han surgido varias iniciativas de
base, como redes de agricultor a agricultor que han servidopara la difusión masiva de conocimiento agroecologico.
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Miguel Angel Altieri
Es claro que ha comienzos del siglo XXI la modernizaciónagrícola no ha ayudado a solucionar el problema generalizado dela pobreza rural, ni ha mejorado la distribución de la tierra agrícola.Las opciones que se han ofrecido para modernizar la agricultura
han sido buenas en el corto plazo para los agricultores de mejoresrecursos, pero no han sido adecuadas a las necesidades ni con-diciones de los campesinos. Todo esto en presencia de políticasagrarias sesgadas contra la agricultura campesina, favoreciendolos cultivos de exportación no tradicionales que desplazan a los notradicionales y a la producción de granos para consumo domestico.La integración de los países al mercado internacional ignora las
necesidades de los mercados locales-regionales y socaba las opor-tunidades de mejorar la balanza de pagos regionales a través de unprograma de seguridad alimentaria que podría establecer las basespara reducir la pobreza masiva y crear un modelo más equitativo ysustentable de desarrollo.
El desao para la region en la primera decada del siglo XXI
Toda visión seria y realista de la agricultura Latino America-na, ineduliblemente debe considerar los siguientes objetivos paramejorar la situación agrícola de la región:
•Reducir la pobreza•Conservar y regenar la base de recursos naturales (suelo,
agua, biodiversidad,etc.)•Promover la seguridad alimentaria a nivel local y regional•Potenciar (empower) las comunidades rurales para que parti-
cipen en los procesos de desarrollo•Crear alianzas institucionales que faciliten un proceso partici-
pativo y autóctono de desarrollo•Fomentar políticas agrarias que favorezcan el desarrollo agrí-
cola sustentable y los mercados locales
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Agroecologia: principios y estrategias para una agricultura sustentable en la América Latina del siglo XXI
Es importante recalcar que en esta visión de desarrollo sus-tentable no se trata de encajar la cuestión ambiental dentro de re-gímenes agrícolas ya establecidos, sino de buscar una sinergiareal entre ecología, economía y ciencias agrarias y de implementar
estrategias que vayan a la raíz de la pobreza, la degradación am-biental y la inequidad. Concretar esta visión signicara reorientar lainvestigación, enseñanza y extensión agrícolas para enfrentar losdesafíos de la gran masa de campesinos pobres y sus ecosistemasfrágiles, pero asegurando también la sustentabilidad de la agricul-tura comercial en zonas más favorables y en áreas intensivas deproducción. Para esto será necesario introducir una racionalidad
ecológica en la agricultura para minimizar el uso de insumos agro-químicos y transgenicos, complementar los programas de conser-vación de agua, suelo y biodiversidad, planicar el paisaje producti-vo en función de las potencialidades del suelo y clima de cada ecoregión, y potenciar el rol multifuncional de la agricultura como gene-radora de ingresos, alimentos y servicios ambientales y culturales.
Para promover los cambios necesarios, será importante que
los profesionales agrícolas que determinan políticas económicas yde manejo de recursos entiendan que:
•la maximización de los rendimientos y de la rentabilidad nose puede lograr sin considerar los limites ecológicos de laproducción, ni tampoco sin considerar la equidad de como losbenecios de la producción serán distribuidos entre los que
participan en el proceso de producción y consumo•los problemas de la sostenibilidad no se pueden considerar
aisladamente, ya que los sistemas de producción están liga-dos no solo a condiciones e instituciones locales, sino quetambién responden a presiones económicas y de mercado anivel nacional y global
•No será posible continuar realizando análisis económico que
excluya el valor de cambios en productividad o de las exter -nalidades asociadas a la intensicación agrícola. Ignorar los
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costos ambientales “escondidos” solo sobre valora las prac-ticas agrícolas degradantes y subestima el valor de practicasagroecologicas que conservan recursos.
•Las políticas agrícolas que ignoran la productividad y calidad
de los recursos naturales contribuyen a disminuir la sustenta-bilidad y a causar perdidas económicas signicativas. Cuan-do se incluyen los costos de la degradación ambiental en elcalculo de la rentabilidad agrícola, las practicas agroecologi-cas se perlan competitivas con las de corte convencional.
Para realizar un cambio importante de la trayectoria agrícola
en la región será fundamentar centrar acciones en las siguientesáreas:
•Desarrollo y difusión de practicas y tecnologías de base agro-ecologica
•Estimular organización social en comunidades rurales, facili-tar acceso a tierra y recursos productivos, así como a servi-
cios sociales e infraestructura•Reformar instituciones de investigación y de extensión, de
manera que la agenda de investigación responda a las nece-sidades y problemas locales.
•Cambios curriculares en las Universidades agrícolas parapreparar los profesionales del futuro con una sólida baseagroecologica
•Creación de sistemas de precios justos y de mercados soli-darios y locales, así como incentivos (micro crédito, etc) paraque los agricultores puedan adoptar practicas regeneradorasy comiencen la transición hacia una agricultura sustentable.
Agroecologia.y.el.diseno.de.agroecosistemas.sostenibles
Mucha gente involucrada en la promoción de la agricultura sus-tentable busca crear una forma de agricultura que mantenga la produc-
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Agroecologia: principios y estrategias para una agricultura sustentable en la América Latina del siglo XXI
tividad en el largo plazo a través de (Pretty 1997; Vandermeer, 1995):•Optimizar el uso de insumos localmente disponibles combi-
nando los diferentes componentes del sistema de nca, por ejemplo, plantas, animales, suelo, agua, clima y gente de ma-
nera tal que se complementen los unos a los otros y tenganlos mayores efectos sinérgicos posibles.
•Reducir el uso de insumos externos a la nca y los no reno-vables con gran potencial de daño al ambiente y a la salud deproductores y consumidores, y un uso más restringido y loca-lizado de los insumos remanentes, con la visión de minimizar los costos variables;
•Basarse principalmente en los recursos del agroecosistemareemplazando los insumos externos por reciclaje de nutrien-tes, una mejor conservación y un uso eciente de insumoslocales.
•Mejorar la relación entre los diseños de cultivo, el potencialproductivo y las limitantes ambientales de clima y el paisaje,para asegurar la sustentabilidad en el largo plazo de los nive-
les actuales de producción.•Trabajar para valorar y conservar la biodiversidad, tanto en
regiones silvestres como domesticadas, haciendo un usoóptimo del potencial biológico y genético de las especies deplantas y animales presentes dentro y alrededor del agroeco-sistema.
•Aprovechar el conocimiento y las prácticas locales, incluidas
las aproximaciones innovativas no siempre plenamente com-prendidas todavía por los cientícos, aunque ampliamenteadoptadas por los agricultores
La agroecología provee el conocimiento y la metodologíanecesaria para desarrollar una agricultura que sea, por un lado,ambientalmente adecuada y, por el otro lado, altamente producti-
va, socialmente equitativa y económicamente viable. A través dela aplicación de los principios agroecológicos, el desafío básico de
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Miguel Angel Altieri
la agricultura sustentable de hacer un mejor uso de los recursosinternos puede ser fácilmente alcanzado, minimizando el uso deinsumos externos y preferentemente generando los recursos inter -nos más ecientemente, a través de las estrategias de diversicaci-
ón que aumenten los sinergismos entre los componentes clave delagroecosistema.
El objetivo nal del diseño agroecológico es integrar los com-ponentes de manera tal de aumentar la eciencia biológica gene-ral, preservar la biodiversidad y mantener la capacidad productivay autorregulatoria del agroecosistema. El objetivo es diseñar unagroecosistema que imite la estructura y función de los ecosiste-
mas naturales locales; esto es, un sistema con una alta diversi-dad de especies y un suelo biológicamente activo; un sistema quepromueva el control natural de plagas, el reciclaje de nutrientes yuna alta cobertura del suelo que prevenga las pérdidas de recursosedácos.
Agroecologia.y.agricultura.campesina
Se estima que a nivel global, aproximadamente .9 a 2.2 milmillones de personas aún no han sido tocadas directa o indirecta-mente por la tecnología agrícola moderna. En América Latina laproyección es que la población rural permanecerá estable en 35millones hasta el año 2005, pero 6 por ciento de esta población espobre y la expectativa es que aumente. La mayor parte de la pobre-
za rural (cerca de 370 millones) se centra en áreas de escasos re-cursos, muy heterogéneas y predispuestas a riesgos. Sus sistemasagrícolas son de pequeña escala, complejos y diversos. La mayor pobreza se encuentra con más frecuencia en las zonas áridas osemiáridas, y en las montañas y laderas que son vulnerables desdeel punto de vista ecológico. Tales ncas y sus complejos sistemasagrícolas constituyen grandes retos para los investigadores.
Para que benecie a los campesinos pobres, la investigaci-ón y el desarrollo agrícolas deberían operar sobre la base de un
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Agroecologia: principios y estrategias para una agricultura sustentable en la América Latina del siglo XXI
enfoque «de abajo hacia arriba», usando y construyendo sobre losrecursos disponibles -la población local, sus conocimientos y susrecursos naturales nativos. Debe tomarse muy en serio las necesi-dades, aspiraciones y circunstancias particulares de los pequeños
agricultores, por medio de métodos participativos. Esto signicaque desde la perspectiva de los agricultores pobres, las innovacio-nes tecnológicas deben:
• Ahorrar insumos y reducir costos• Reducir riesgos• Expandirse hacia las tierras marginales frágiles
• Ser congruentes con los sistemas agrícolas campesinos• Mejorar la nutrición, la salud y el medio ambiente
Precisamente es debido a estos requerimientos que la agroe-cología ofrece más ventajas que la Revolución Verde y los métodosbiotecnológicos. Entre las características promisorias de las técni-cas agroecológicas esta el hecho que:
• Se basan en el conocimiento indígena y la racionalidad cam-pesina
• Son económicamente viables, accesibles y basadas en losrecursos locales
• Son sanas para el medio ambiente, sensibles desde el puntode vista social y cultural
• Evitan el riesgo y se adaptan a las condiciones del agricultor • Mejoran la estabilidad y la productividad total de la nca y no
sólo de cultivos particulares.
Hay miles de casos de productores rurales que, en asociacióncon ONGs y otras organizaciones, promueven sistemas agrícolasy conservan los recursos, manteniendo altos rendimientos, y que
cumplen con los criterios antes mencionados. Aumentos de 50 a100 por ciento en la producción son bastante comunes con la mayo-
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Miguel Angel Altieri
ría de métodos agroecologicos. En ocasiones, los rendimientos delos cultivos que constituyen el sustento de los pobres- arroz, frijoles,maíz, yuca, papa, cebada- se han multiplicado gracias al trabajo yal conocimiento local más que a la compra de insumos costosos, y
capitalizando sobre los procesos de intensicación y sinergia. Másimportante tal vez que sólo los rendimientos, es posible aumentar la producción total en forma signicativa diversicando los sistemasagrícolas, usando al máximo los recursos disponibles.
Muchos ejemplos sustentan la efectividad de la aplicación dela agroecología en el mundo en desarrollo. Se estima que alrede-dor de 1.45 millones de familias rurales pobres que viven en 3.25
millones de hectáreas han adoptado tecnologías regeneradoras delos recursos incluyendo en Brasil, 200,000 agricultores que usanabonos verdes y cultivos de cobertura duplicando el rendimiento delmaíz y trigo, y en Guatemala-Honduras donde 45,000 agricultoresusaron la leguminosa Mucuna como cobertura para conservacióndel suelo triplicando los rendimientos del maíz en las laderas. EnMéxico aproximadamente 00,000 pequeños productores de café
orgánico aumentaron su producción en 50 por ciento. Es claro queexisten muchos ejemplos de iniciativas para mejorar la seguridadalimentaria a nivel de comunidades, las cuales han emergido a pe-sar de la existencia del orden macro-económico imperante. Cadauna de estas iniciativas representa un “espacio de esperanza” (ofaro agroecologico) para la gente involucrada, que pese a su estadodisperso actual comienzan a constituirse en una masa critica que
desafía el orden imperante que perpetua el hambre y la inseguri-dad alimentaria. Muchas de estas iniciativas constituyen ejemplosexitosos de acción colectiva y representan lecciones valiosas deinnovación local. La sistematización de principios agroecologicos ysociales que soslayan el éxito de tales iniciativas puede contribuir ala emergencia de guías metodológicas para promover acciones ha-cia la seguridad alimentaria en otras comunidades afectadas por elhambre. De hecho a pesar de la diversidad de iniciativas a lo largo
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Agroecologia: principios y estrategias para una agricultura sustentable en la América Latina del siglo XXI
de América Latina, las experiencias exitosas comparten una seriede comonalidades metodológicas:
•Incluyen participación social activa sobre todo de mujeres y
jóvenes•Se basan en conocimiento tradicional y recursos locales•Usan enfoques y principios agroecologicos•Usan metodologías participativas en la generación tecnológica•Las comunidades están organizadas•Se fomentan los mercados locales•Se utilizan sistemas de micro-crédito y nanciamiento.
Aspectos comunes a todas estas iniciativas es el foco en lainnovación local, tecnologías y la conservación y uso recursos na-turales autóctonos, el énfasis en evitar el riesgo y la dependencia,el empoderamineto de las comunidades y la construcción de capitalhumano, fomentando que la juventud se quede en las áreas rurales.
Conclusiones La Agroecología provee una guía para desarrollar agroeco-
sistemas que tomen ventaja de los efectos de la integración de labiodiversidad de plantas y animales. Tal integración aumenta lascomplejas interacciones y sinergismos y optimiza las funciones yprocesos del agroecosistema tales como la regulación biótica de
organismos perjudiciales, reciclado de nutrientes y la producción yacumulación de biomasa, permitiendo así al agroecosistema sol-ventar su propio funcionamiento. El resultado nal del diseño agro-ecológico es mejorar la sustentabilidad económica y ecológica delagroecosistema, con un sistema de manejo propuesto a tono conla base local de recursos y con una estructura operacional acordecon las condiciones ambientales y socioeconómicas existentes. En
una estrategia agroecológica los componentes de manejo son diri-gidos con el objetivo de resaltar la conservación y mejoramiento de
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los recursos locales (germoplasma, suelo, fauna benéca, diversi-dad vegetal, etc.) enfatizando el desarrollo de una metodología quevalore la participación de los agricultores, el uso del conocimientotradicional y la adaptación de las explotaciones agrícolas a las ne-
cesidades locales y las condiciones socioeconómicas y biofísicas.No hay duda que aplicando los principios agroecologicos, una
gran cantidad de pequeños agricultores que viven en los ambientesmarginales de la región pueden producir mucho del alimento re-querido para la soberanía alimentaria. La evidencia es concluyente:nuevos enfoques y tecnologías lideradas por agricultores, gobier-nos locales y ONGs en todo el mundo ya están haciendo sucientes
contribuciones a la seguridad alimentaria a nivel familiar, nacionaly regional. Una gran variedad de métodos agroecológicos y partici-pativos en muchos países muestran resultados incluso ante condi-ciones adversas. El potencial incluye: aumento de los rendimientosde los cereales de 50 a 200 por ciento, aumento de la estabilidadde la producción por medio de la diversicación y la conservacióndel agua y del suelo, mejora de las dietas y los ingresos con apoyo
apropiado y difusión de estos métodos, y contribución a la seguri-dad alimentaria nacional y a las exportaciones.
Los casos resumidos son sólo un pequeño ejemplo de lasmiles de experiencias exitosas de agricultura sostenible implemen-tada a nivel local. Los datos muestran que los sistemas agroeco-lógicos, a través del tiempo, exhiben niveles más estables de pro-ducción total por unidad de área que los sistemas de altos insumos;
producen tasas de retorno económicamente favorables; proveenretornos a la mano de obra y otros insumos sucientes para unavida aceptable para los pequeños agricultores y sus familias; y ase-guran la protección y conservación del suelo, al tiempo que mejoranla biodiversidad. Lo que es más importante, estas experiencias queponen énfasis en la investigación agricultor-a agricultor y adoptanmétodos de extensión popular, representan incontables demostra-
ciones de talento, creatividad y capacidad cientíca en las comuni-dades rurales. Ello demuestra el hecho de que el recurso humano
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es la piedra angular de cualquier estrategia dirigida a incrementar las opciones para la población rural y especialmente para los agri-cultores de escasos recursos.
El escalonamiento de las iniciativas exitosas es necesario
para expandir los efectos positivos de estos “faros agroecologicos”para beneciar a miles de familias y comunidades adicionales. Ele-mentos esenciales a considerarse en el escalonamiento incluyen:
•Programas de educación popular •Alianzas entre comunidades y agencias externas (ONGs, uni-
versidades, servicios de extensión, etc.)
•Intercambios y redes agricultor-agricultor •Aplicación de principios agroecologicos•Políticas agrícolas conducentes y voluntad política local•Desarrollo de mercados justos locales-regionales•Fortalecimiento institucional, etc.
La difusión de estas miles de innovaciones ecológicas tam-
bién dependerá de las inversiones, políticas y cambios de actitudde parte de investigadores y de quienes toman decisiones. Losmayores cambios deben darse en políticas e instituciones de in-vestigación y desarrollo para asegurar la difusión y adopción de lasalternativas agroecológicas de manera equitativa, cosa que éstassean multiplicadas y escalonadas a n de que su benecio totalpara la seguridad alimentaria sostenible pueda hacerse realidad.
Deben desaparecer los subsidios y las políticas de incentivos quepromueven los métodos químicos convencionales. Debe objetarseel control corporativo sobre el sistema alimentario. Los gobiernos yorganizaciones públicas internacionales deben alentar y apoyar lasasociaciones positivas entre las ONG, universidades locales y or-ganizaciones campesinas para ayudar a los agricultores a lograr laseguridad alimentaria, la generación de ingresos y la conservación
de los recursos naturales.Se deben desarrollar oportunidades de mercado equitativas,
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Miguel Angel Altieri
con énfasis en el comercio justo y otros mecanismos que enlacenmás directamente a agricultores y consumidores a nivel local, y quegeneren un precio justo a los agricultores. El reto nal es incremen-tar la inversión y la investigación en agroecología y poner en prácti-
ca proyectos que hayan probado tener éxito para miles de agriculto-res. Sin embargo es critico que para que el escalonamiento alcanceniveles signicativos, las acciones comunitarias deberán ligarse amovimientos sociales que desafían las raíces de la pobreza, elhambre y la inseguridad alimentaria y que demandan derechos bá-sicos tales como acceso a la tierra, la soberanía alimentaria, servi-cios básicos de educación y salud, representación política, respeto
a la diversidad cultural.El escalonamiento masivo de las experiencias agroecologicas
debería generar un impacto signicativo en el ingreso, la seguridadalimentaria y bienestar medioambiental de la población en general,pero en especial de los millones de agricultores pobres a quienestodavía no ha llegado la tecnología agrícola moderna, y a los cualesla biotecnología no tiene nada que ofrecer.
Preguntas.para.la.discusion
1.Podría resumir cual fue la trayectoria y cual fueron los efectosde los programas de desarrollo agrícola en América Latina desde960 hasta el n del siglo XX? Podría hacer este análisis para supaís? Se diferencia de la situación general de América latina y
como?2.Cuales cree que serán los mayores impactos de la apertura eco-nómica, la biotecnología, los derechos intelectuales de propiedady la nueva informática el desarrollo de la agricultura en su país?
3.Describa algunos proyectos de desarrollo rural con base agroe-cologica en su zona, y analice cuales han sido los benecios queresultaron y las lecciones aprendidas de estas iniciativas?
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O AMBIENTE DO TRÓPICO ÚMIDO E O MANEJO
SUSTENTÁVEL.DOS.AGROSSISTEMAS
Christoph Gehring *
Introdução ---------------------------------------------------------------------------------------101
Os trópicos úmidos: riqueza biológica e miséria agrícola ---------------------------101
Caracterização dos recursos naturais dos trópicos úmidos ------------------------102
Ausência de restrições climáticos ---------------------------------------------------------102
Baixa fertilidade do solo----------------------------------------------------------------------105
Agricultura itinerante: sistema tradicional em crise -----------------------------------106
Soluções da crise ------------------------------------------------------------------------------110
Revolução verde ------------------------------------------------------------------------------- 111Sistemas agroorestais ----------------------------------------------------------------------113
Roça melhorada -------------------------------------------------------------------------------115
Assuntos especícos de manejo nos trópicos úmidos ------------------------------123
Nitrogênio ----------------------------------------------------------------------------------------123
Entradas de Nitrogênio -----------------------------------------------------------------------124
Fósforo -------------------------------------------------------------------------------------------125
O papel das árvores --------------------------------------------------------------------------127
Referências Bibliográcas-------------------------------------------------------------------129
Introdução.
Os.trópicos.úmidos:.riqueza.biológica.e.miséria.agrícola
As orestas primárias nos trópicos úmidos equatoriais des-
tacam-se como o bioma terrestre com a maior biomassa e maior biodiversidade do mundo. Estimativas conrmam que a biomassaaérea total nestas orestas varia entre 250 e 450 t ha-1, de acordocom diferentes metodologias de avaliação (Fearnside, 1992). Me-nores valores são encontrados na periferia semi-úmida (estaçãoseca expressiva) (Alves et al., 997; Gerwing & Farias, 2000), e emáreas oligotrócas como no sul da Venezuela (Saldarriaga et al.,1988; Jordan, 1989). Pode ser acrescentada nestes valores ainda* Prof. Dr. do Programa de Pós-Graduação em Agroecologia, UEMA.cgehring@uemabr
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O ambiente do trópico úmido e o manejo sustentavel dos agrossistemas
a biomassa radicular (Cairns et al., 1997). A biodiversidade chega avalores recordes nos ‘hotspots’ de diversidade como na AmazôniaPeruana e Equatoriana com valores de até 250 espécies vascula-res por ha.
O grande paradoxo e ao mesmo tempo o grande desao paraa agroecologia dos trópicos úmidos é a grande disparidade entreesta luxúria biológica das matas equatoriais de um lado, e do ou-tro a baixa produtividade e a baixa sustentabilidade da agriculturafamiliar neste mesmo bioma. Em grande parte dos trópicos úmidoscoincidem uma pobreza rural indigna com problemas severos dedegradação ambiental. Em outras palavras, ainda não se conse-
guiu tecnologias capazes de transformar a alta produtividade bio-lógica inerente a este bioma em uma produtividade agrícola satis-fatória. Pelo contrario, a substituição da oresta equatorial nativapor sistemas agrícolas com base na derruba-e-queima) ou pastoris(não tratado neste artigo) caracteriza-se pela baixa eciência deutilização dos recursos naturais e suas conseqüências degradantesque colocam em questão a sustentabilidade ecológica e socioeco-nômica destas formas de uso da terra. É esta disparidade entre ariqueza biológica e a miséria socioeconômica que constitui a gran-de necessidade e o grande desao da agroeologia tropical.
A seguir serão apresentados alguns dos fatores responsáveispor esta disparidade, seguidos por uma caracterização da formadominante da agricultura familiar dos trópicos úmidos – a agricul-tura itinerante – que se encontra em crise, e por uma discussão dediferentes possíveis soluções para reverter este quadro.
Caracterização.dos.recursos.naturais.dos.trópicos.úmidosAusência de restrições climáticos
Uma das características mais fascinantes dos trópicos úmidosequatoriais é a ausência de qualquer tipo de restrição climática quepossa limitar a atividade biológica, fato que diferencia esta zona do
resto do mundo, notadamente dos trópicos semi-áridos e áridos, edas zonas temperadas ou boreais. São justamente estas condições
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Christoph Gehring
climáticas altamente favoráveis que possibilitam a grande produti-vidade e biodiversidade das suas orestas nativas já mencionadas.Destacam-se (i) a umidade suciente, (ii) temperaturas ideais, e (iii) a alta energia solar.
Umidade sucienteA zona de baixa latitude geográca que forma os trópicos úmi-
dos equatoriais caracteriza-se pela combinação de altas taxas deprecipitação (normalmente acima de 2000 mm por ano), e por umadistribuição bimodal destas chuvas, o que resulta em condiçõesper-úmidas com mais de nove meses úmidos (precipitação � eva-
potranspiração) e com pouca severidade da época seca (ausênciade períodos longos sem chuva). Já pelas periferias norte e sul dazona equatorial, a duração e a intensidade da estação seca aumen-tam e viram fatores limitantes para a vegetação. Segundo Raich etal. (99) e Sombroek (200), a duração da estação seca é maisdecisivo do que as taxas absolutas de precipitação anual para abiomassa da oresta Amazônica. A menor biomassa nas periferias
destas orestas deve-se à redução do período de crescimento, e àsadaptações custosas que são necessárias para enfrentar a épocaseca, tais como a caída sazonal das folhas e a formação de raízesprofundas.
Temperaturas.ideaisAs temperaturas mínimas dos trópicos úmidos equatoriais e
de baixa altitude nunca (sob condições normais) atingem valoresmenores do que 18°C, com médias tipicamente perto de 27°C, fai-xa de temperatura que pode ser considerada ideal para a maio-ria das plantas, animais e microorganismos. Isto contrasta com asmenores temperaturas nas altitudes elevadas (orestas equatoriaisdas zonas montanhosas) e nas zonas temperadas e boreais, ondea falta de calor é um fator limitante para os organismos. Outra ca-racterística dos trópicos é que a variação sazonal de temperatura émenor do que a variação diária.
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O ambiente do trópico úmido e o manejo sustentavel dos agrossistemas
Alta.energia.solar A zona tropical é a parte do mundo que recebe o máximo
de energia solar, e ela é a única região do mundo que desfruta deum excesso dessa energia (Figura ). No entanto, a radiação solar
incidente na superfície da terra é menor do que nos desertos dostrópicos, por causa da cobertura atmosférica por nuvens.
Figura . Balanço mundial da radiação solar, indicando o excesso nos trópicos úmidos(Lutgens & Tarbuck, 200).
A utilização da energia solar pela mata primária atinge a qua-se totalidade, com a captura da luz ocorrendo em vários estratos dodossel, e somente uma fração muito pequena da radiação fotosin-teticamente ativa (PAR = photosynthetic active radiation, ondas de
radiação entre 300 - 700 nm de cumprimento) chegando até o chão(Nicotra et al., 1999). As diversas estratégias da melhor captação eutilização da luz são um fator regulador decisivo para a seqüênciataxonômica durante a regeneração secundária (capoeiras desen-volvendo após a perturbação da mata original, veja cap. III). Nafase inicial da sucessão secundária, as gramíneas do tipo C
4que
requerem pleno acesso à luz alcançam altas taxas fotossintéticas,
e nas fases posteriores da sucessão as árvores, cipós e palmeiraspioneiras maximizam a captura da luz através das suas folhas lar -
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Christoph Gehring
gas e horizontais e do seu crescimento rápido até o dossel (Fine-gan, 1996; Denslow & Guzman, 2000).
Baixa fertilidade do solo
Cerca de 80% dos solos dos trópicos úmidos são conside-rados de baixa fertilidade (Sanchez, 976). A grande maioria des-tes solos pertence às classes dos Oxisolos e Ultisolos (taxonomiados EUA), respectivamente aos Ferralsolos (taxonomia da FAO)ou Latossolos (taxonomia Brasileira). Estes solos caracterizam-sepelo alto grau de intemperização, resultando na dominância de ca-olinita, hematita, goetita, e – em última conseqüência – de gibsita
e de areia quartzosa. Do lado da química do solo são decisivos abaixa CTC, o baixo pH (tipicamente <5.5 na camada supercial dosolo), problemas com toxicidade de Al (as vezes também toxicidadede Mn ou Fe), a xação de fósforo nos sesqui-óxidos de ferro oualumínio, e os baixos teores de matéria orgânica e dos nutrientescontidos nela (Chauvel et al., 1987; Richter & Babbar, 1991; Szottet al., 1991).
No entanto, a capacidade de retenção de água destes solos érelativamente baixa (Sombroek, 200). Exceção destas condiçõesfísicas favoráveis são solos com camadas impeditivas que domi-nam entre outros uma grande parte do centro do estado de Mara-nhão (Moura, 2004).
Embora razoáveis sob condições naturais ou após um usomanual da terra, as propriedades físicas do solo estão sujeitas a
severa degradação em decorrência de modos inadequados de pre-paro da terra como a compactação por máquinas pesadas ou aretirada da camada orgânica supercial do solo.
A baixa fertilidade química dos solos dos trópicos úmidos éconseqüência das condições climáticas acima descritas que cau-sam uma forte e profunda intemperização desses solos, além dolongo tempo de atuação do intemperismo nos substratos desses
solos com origem em sua maioria de rochas do pré-cambrio com�500 milhões anos de idade, como é o caso na bacia Amazônica
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O ambiente do trópico úmido e o manejo sustentavel dos agrossistemas
e em grandes partes da África. As fortes chuvas trazem consigosérios problemas de lixiviação de nutrientes móveis como NO
3-, K+,
Ca2+ e Mg2+ (Hölscher et al., 997) e de denitricação (veja cap.V.). A constante umidade junto com as temperaturas favoráveis
dão origem a taxas muito rápidas de decomposição da matéria or -gânica do solo, o que exige um manejo eciente e uma constantereposição desta matéria orgânica (Lavelle et al., 993). Como jámencionado, a infertilidade dos solos equatoriais contrasta com aluxuriosa vegetação natural crescendo acima deles, constituindoum desao chave para a disciplina da agroecologia dos trópicosúmidos.
Embora grandes partes dos solos equatoriais sejam inférteis,existem importantes exceções. (i) Regiões vulcânicas e geologi-camente mais novas como a região andina e as cordilheiras daAmérica central dão origem a solos mais férteis classicados comoAndisolos. (ii) Os solos da várzea (ecossistema semi-aquático àbeira de rios barrentos) recebem uma ‘adubação’ anual pelos sedi-mentos oriundos dos Andes, porém sofrem de grandes perdas deNitrogênio pela denitricação (Kreiblich & Kern, 2003). (iii) A terra
preta de índio forma pequenas e médias manchas dispersas pelaAmazônia equatorial. Características deste solo são o alto teor eespessura da matéria orgânica e os altos teores de fósforo, o quepermite uma agricultura intensiva e bastante produtiva nestes so-los (Smith, 980; Lehmann et al., 2003). Enquanto sua extensãogeográca não é muito expressiva, seu modo de origem antrópicoé um assunto fascinante porém só parcialmente entendido, assun-
to que possa servir como um modelo para um manejo sustentáveldos solos equatoriais e que por isto entrou no foco de pesquisas(http://www.css.cornell.edu/faculty/lehmann/terra_preta/TerraPreta-network.htm).
Agricultura.itinerante:.sistema.tradicional.em.criseA agricultura itinerante de derruba-e-queima é a forma de uso
de terra mais importante nos trópicos em geral e mais ainda nostrópicos úmidos. A sua importância socioeconômica é central, pois
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Christoph Gehring
ela sustenta uns 300-500 milhões de pessoas e representa cercade 30% da área agrícola do mundo ou 40% da área agrícola dostrópicos (Brady 1996). Somente na Amazônia Brasileira, esta formade uso da terra afeta mais de 10 milhões de hectares, sustenta
meio milhão de famílias e providencia cerca de 80% da produçãoalimentar da região (Serrão 1995).
A agricultura itinerante representa uma forma de uso de terrabastante controversa, pois ela tem duas faces contrastantes:
Alta eciência no âmbito da agricultura familiar A agricultura itinerante é uma forma sustentável e altamente
eciente de agricultura sob condições de baixa pressão demográ-ca. Evidência de sua sustentabilidade ecológica nessas condiçõesé o fato que ela vem sido praticada pelos povos indígenas da Ama-zônia faz cerca de 12.000 anos (Meggers, 1984). Trata-se de umaeciente adaptação agronômica aos predominantes solos inférteisdos trópicos úmidos, pois conta com o efeito fertilizante da queimapela entrada direta de nutrientes e pelos efeitos alcalinizantes dacinza, que aumentam temporariamente a disponibilidade de fósforo
e eliminam a toxicidade de Al (Figura 2), além da acelerada minera-lização da matéria orgânica do solo por causa das altas temperatu-ras da queima (Palm et al., 1996; Giardina et al., 2000a).
Figura 2. Efeitos da queima: mudanças do pH em diferentes profundidades, e dinâmica doalumínio e das bases trocáveis em Khade, Ghana (Nye & Greenland, 960).
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O ambiente do trópico úmido e o manejo sustentavel dos agrossistemas
Este surto de fertilidade sustenta um a dois anos de culti-
vação nos trópicos úmidos, nos trópicos semi-áridos este período
geralmente é mais extenso. Após este tempo a área é abandonada
e entra em pousio até o próximo ciclo produtivo. Em termos da uti-
lização da mão-de-obra, a roça é uma maneira bastante ecientede preparo de terra. O fogo elimina temporariamente as ervas ad-
ventícias e a ocorrência de pragas. A combinação destes fatores
produtivos possibilita colheitas razoáveis com baixas exigências de
mão-de-obra e sem custos nanceiros. Portanto, do ponto de vista
do pequeno agricultor pode-se considerar esta forma de manejo
como racional e adequada para suas necessidades, o que explica
a dominância desta forma tradicional de uso da terra até hoje.
Efeitos.degradantes.da.queimaO lado negativo e degradante da agricultura itinerante é inti-
mamente associado aos efeitos deletérios da queima (Kleinman et
al., 995). Benéca no curto prazo como acima delineado, a quei-
ma causa perdas pesadas de matéria orgânica e de nutrientes, no-
tavelmente dos nutrientes mais voláteis como N e S (Mackensen
et al., 1996; Hölscher et al., 1997). As emissões de CO2
e de N2O
contribuem signicantemente para o ‘efeito estufa’ (Houghton et al.,
2000; Grace, 2004). O fogo também reduz a biodiversidade, elimina
muitas espécies orestais não-adaptadas ao fogo, e causa a domi-
nância e persistência de espécies ruderais agressivas e bem adap-
tadas a estas condições como Imperata brasiliensis e Paspalummelanospermum (gramíneas), Pteridium aquilinum (samambaia)
ou Orbygnia phalerata (palmeira babaçu).
O.papel.chave.das.capoeirasA capoeira (vegetação secundária espontânea) como vegeta-
ção de pousio joga um papel central no agroecossistema da agri-
cultura itinerante, pois ela recupera a perda do potencial produtivosofrida pela derruba, queima e breve fase de cultivação. As funções
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Christoph Gehring
da capoeira são diversas, sendo as mais importantes (i) a reacumu-
lação de biomassa e de nutrientes (Brown and Lugo, 1990; Palm et
al., 1996; Szott et al., 1999), (ii) a supressão por assombramento
contínuo de espécies ruderais agressivas e de seus bancos de se-
mentes (de Rouw, 1995; Gallagher et al., 1999), e (iii) a diminuiçãoda ocorrência de pragas e doenças. A regeneração da capoeira
ocorre em várias etapas de sucessão com diferentes composições
orísticas e estruturais (Saldarriaga et al., 988; Finegan, 996;
Gehring et al., 2005a). A dinâmica e o estado de regeneração da
capoeira constituem fatores determinantes para o sucesso do pró-
ximo cíclo de cultivação e para a sustentabilidade deste agroecos-
sistema. Por outro lado, a dinâmica de regeneração é relacionadanegativamente com a intensidade do uso anterior da terra (Aide et
al., 1995; Steininger, 2000; Gehring et al., 2005a) e da intensidade
e duração da estação seca (Zarin et al., 2001) e positivamente re-
lacionada com a fertilidade do solo (Gehring et al., 1999; Davidson
et al., 2004).
A.crise.da.agricultura.itineranteEmbora sustentável sob baixa densidade demográca e lon-
gos períodos de pousio, a agricultura itinerante entrou numa crise
ambiental e socioeconômica em muitas regiões tropicais, particu-
larmente no estado do Maranhão. Isto se deve em primeiro lugar
ao encurtamento do tempo de pousio, causando uma regeneração
incompleta da capoeira, o que torna a agricultura itinerante insus-tentável e resulta numa degradação deste agroecossistema. Esta
regeneração incompleta dá início a um ‘círculo vicioso’ de degrada-
ção, fato que se agrava pela enfraquecida dinâmica de regenera-
ção das capoeiras após tempos insucientes de regeneração (Fi-
gura 3).
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O ambiente do trópico úmido e o manejo sustentavel dos agrossistemas
Figura 3. O círculo vicioso de degradação na agricultura itinerante.
Além da degradação ambiental provocada pela regeneraçãoincompleta das capoeiras, a crise da agricultura itinerante leva con-sigo sérias conseqüências socioeconômicas, sendo responsávelpela diminuição ou estagnação da produtividade agrícola no âmbitoda agricultura familiar, associada a uma severa pobreza rural nas
regiões dominadas por esta forma tradicional de uso da terra.
Soluções.da.criseA procura por alternativas à agricultura itinerante tem sido um
foco de pesquisas envolvendo gerações de agrônomos e agroe-cólogos desde a época colonial. Em 957, a FAO condenou o-cialmente a agricultura itinerante como forma desgastante de uso
da terra e dos recursos humanos, e como uma causa principal dadegradação do solo. A crescente crise da agricultura itinerante deufôlego a pesquisas e programas políticos direcionados a substituir este sistema tradicional da agricultura familiar. A lista das possí-veis alternativas é longa e ampla, fato compreensível em face dacomplexidade e das especicidades locais deste agrossistema.As soluções propostas podem ser classicadas nas seguintes três
categorias: () Revolução verde, (2) Sistemas agroorestais, e (3)Roça melhorada.
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Revolução.verdeO elemento chave da chamada ‘revolução verde’ que entrou
em vigor a partir dos anos 60 são as variedades de grãos de altaprodutividade (HYV = high yielding varieties), notavelmente de ar-
roz (desenvolvidos pelo IRRI, Filipinas) e de milho (desenvolvidospelo CIMMYT, México). Ao contrário das variedades tradicionais, ascaracterísticas comuns destas HYV são a alocação prioritária doscarboidratos xados pela fotossíntese nos grãos em contraposiçãoa uma alocação reduzida nas caules e raízes, altas demandas por nutrientes facilmente disponíveis em combinação com respostasexpressivas à adubação, e susceptibilidade a fatores de estresse
proporcionados por pragas, doenças ou ervas adventícias.Saltos de produtividade pela implantação da revolução verde
foram atingidos especialmente nos trópicos semi-áridos e áridos sobirrigação como no Punjab na Índia, e em propriedades médias e gran-des com suciente acesso a capital e tecnologia. A revolução verdeenfrenta os seguintes obstáculos para constituir uma alternativa bemsucedida para a agricultura itinerante nos trópicos úmidos:
- Os solos ácidos e inférteis e a alta precipitação aumentam osriscos de perda de nutrientes por lixiviação, denitricação ou -xação de fósforo (veja capítulos II.2 e V). Estes fatores foramdecisivos pelo fracasso do famoso experimento demonstrativoda revolução verde iniciado pelo grupo de Sanchez em Yurima-guas, Amazônia Peruana (Sanchez et al., 1983).
- A baixa variabilidade genética das HYV junto com os altos teoresde nutrientes e baixos teores de compostos secundários (espe-cialmente de lignina e de outros polifenóis) nas folhas aumentama susceptibilidade por pragas e doenças. Avanços na procura ena introdução de genes de resistência na matriz genética conse-guiram amenizar somente parte destes problemas até agora.
- Os pulsos de nutrientes proporcionados pelas adubações agra-vam os problemas de infestação por ervas adventícias, e a baixa
estatura típica pelos HYV tende a diminuir a sua tolerância pelaconcorrência imposta pelas ervas (Lodge et al., 1994).
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O ambiente do trópico úmido e o manejo sustentavel dos agrossistemas
- As altas demandas por insumos (fertilizantes, agrotóxicos, semen-tes híbridas) é proibitivo no âmbito da agricultura familiar comseu componente forte de subsistência. Programas de créditopara pequenos agricultores freqüentemente obtiveram pouco
sucesso (da Veiga, 1999).- O ‘pacote’ revolução verde apresenta altos riscos produtivos e
nanceiros que são contrários à demanda principal por seguran-ça alimentar desta forma tradicional da agricultura familiar.
MecanizaçãoUm assunto especial da ‘agricultura convencional’ é a ques-
tão da mecanização, freqüentemente concebida como elemento damodernização e do progresso na agricultura. No entanto, as expe-riências que envolvem o preparo mecânico da terra (destocagem,aração e gradagem) têm obtidos na sua grande maioria resultadosnegativos ou até catastrócos nos trópicos úmidos, devido a proble-mas de compactação do solo pelas máquinas pesadas, pela inter -rupção dos canais naturais dentro do solo que são cruciais para asua drenagem (Moura, 2004), e pela retirada da na camada orgâ-nica supercial do solo (Figura 4).
Figura 4. Preparo mecanizado da terra: efeito degradante da retirada da camada orgânicasupercial do solo na produtividade agrícola. No lado direito baixa produtividade do milho
mesmo com adubação química, no lado esquerdo o milho crescendo encima da matériaorgânica que foi removida pelo trator. Foto: PA ‘Tico Tico’ 2005.
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Ao contrário disso, semeadoras, colhedores e máquinas deprocessamento dos produtos (descascadores, despolpadores etc)de baixo custo e de tecnologia adaptada podem proporcionar gran-des avanços na eciência e no rendimento por trabalho ou então
na qualidade e na agregação de valor dos produtos da agriculturafamiliar.
Sistemas agroorestaisSistemas agroorestais representam o campo clássico de
atuação da agroecologia tropical. Eles se mostram como uma for-ma de uso da terra altamente sustentável e produtivo em todos os
trópicos úmidos, comprovando assim seu grande potencial e suaviabilidade para a agricultura familiar. O grau de complexidade ga-rante a sustentabilidade dos sistemas agroorestais, mas ao mes-mo tempo proporciona problemas na sua implantação e execução(Vandermeer et al., 1998).
Em termos socioeconômicos, a fase de instalação tem semostrada a fase mais crítica nos sistemas agroorestais, pois os
investimentos nanceiros e de mão de obra coincidem com umafase de geração de renda ainda baixa e com benefícios ainda nãovisíveis, constituindo um sério obstáculo para a implementação edifusão destes sistemas. Por outro lado, os benefícios dos sistemasagroorestais sobre a fertilidade do solo e na resistência a pragase doenças tendem a aumentar ao decorrer dos anos, fato contrárioaos sistemas ‘convencionais’ de uso da terra (Young, 997).
O grande potencial dos sistemas agroorestais torna-se evi-dente também pelo grande número e pela ampla abrangência dossistemas nos trópicos úmidos:
Sistemas.em.aléiasSistemas agroorestais em aléias (‘alley cropping’) tem seu
origem tradicional em áreas montanhosas da Ásia, e foram propa-gados pelo IITA (Nigéria) a partir dos anos 70 (Yamoah et al., 1986;Kang et al., 990; Ong, 994). Eles constituem uma das formas
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O ambiente do trópico úmido e o manejo sustentavel dos agrossistemas
mais simples dos sistemas agroorestais compostos de linhas deleguminosas arbóreas regularmente podadas, e das culturas anu-ais nas ‘aléias’. Grande parte das abundantes experiências comesta tecnologia foi conduzida na África ocidental sob Alsolos com
fertilidade maior do que os Oxisolos e Ultisolos predominantes nostrópicos úmidos (Szott et al., 99). Em áreas mais áridas, a altademanda por água pelo componente arbóreo mostra-se freqüente-mente o fator limitante principal para plantios em aléias (Singh etal., 1989). Os sistemas em aléias são apresentados e discutidoscom mais detalhe por Ferraz Junior em outra seção deste livro.
Sistemas agroorestais tradicionaisSistemas agroorestais tradicionais são um fenômeno pan-
tropical. Exemplos famosos são os sistemas com seringeira (‘junglerubber’) na ilha de Sumatra, Indonésia (Van Noordwijk et al., 997),sistemas complexos sob solos vulcânicos em Java (Christanty etal., 1986), e os sistemas de café e de cacau sombreado na Américacentral (Alpizar et al., 986). Sistemas agroorestais indígenas na
Amazônia ocorrem especialmente na margem ocidental no Peru eEquador (Coomes & Burt, 997). Um caso especíco e quase oni-presente nos trópicos úmidos são os agroorestas de quintal (‘ho-megardens’; Schroth et al., 200).
Características comuns destes sistemas agroorestais tradi-cionais são a grande complexidade, a alta diversidade taxonômicae funcional, a estraticação vertical aérea e radicular, a baixa sus-ceptibilidade a pragas, doenças e infestação por ervas adventícias,
a ciclagem fechada de nutrientes dentro do agroecossistema, e emconclusão a sua sustentabilidade ecológica. Por outro lado, a suagrande complexidade exige um alto grau de sosticação no mane-
jo, um fator impeditivo para a implementação destes sistemas emoutras regiões com produtores sem os necessários conhecimentostradicionais. Além disto, a grande diversidade de produtos agrícolase orestais geradas por sistemas de tal complexidade impõe um
desao muito grande e as vezes até intransponível para o escoa-mento e a venda de todos os produtos assim gerados.
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Sistemas (agro-)silvopastorisA integração do componente de produção animal nos siste-
mas agroorestais, e a combinação dos componentes orestais epastoris têm mostrado amplamente sua eciência e sustentabilida-
de. O componente arbóreo fornece uma fonte de ração, conforto(sombra) para os animais, e geralmente tende a melhorar a quali-dade do solo, a ciclagem dos nutrientes, a biodiversidade e a hete-rogeneidade do agroecossistema. Mais adequado para as necessi-dades da agricultura familiar do que o gado de corte são o gado deleite, e os pequenos animais como aves, cabras e ovinos.
Roça.melhoradaSubstituir a roça por sistemas agroorestais para enfrentar
a crise da agricultura itinerante pode ser uma estratégia arrisca-da, pois isto representa a implantação de um sistema de produçãocompletamente novo, com conseqüentes problemas operacionaise com uma adequação ambiental nem sempre ideal para as situa-ções locais. Sendo menos drástico, medidas direcionadas a melho-
rar o sistema existente da roça oferecem uma boa alternativa paraenfrentar a crise da agricultura itinerante. No entanto, esta linha depesquisas não tem recebida suciente respaldo até agora.
Otimizar a prática da derruba-e-queimaEm áreas de baixa ou média intensidade de uso de terra,
medidas relativamente simples de otimização podem ser ecientes
para reduzir os problemas de degradação causada pela roça. Iden-ticar e implementar o tempo ideal de pousio é potencialmente umaestratégia para maximizar os ‘lucros ecológicos’ obtidos pela rege-neração da capoeira, sem desperdiçar tempo adicional de pousio(que equivale a roças em outras áreas).
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O ambiente do trópico úmido e o manejo sustentavel dos agrossistemas
Figura 5. Pontos de ‘deexão’ como critério de um tempo de pousio ideal, baseados em cro-noseqüências de capoeiras após a agricultura de derruba-e-queima em Zaire (África central;Bartholomew et al., 1953).
Segundo Bartholomew et al. (1953), o tempo ideal de pousio
se caracteriza pelo ‘ponto de deexão’ das curvas de recuperação(Figura 5). Porém, a maioria dos estudos posteriores não suportaesta tese de um ponto de deexão comum para as propriedadesmais importantes da capoeira. Em vez disto, a acumulação da bio-massa (Figura 6) e dos estoques de nutrientes aéreos parece to-mar a forma assintótica de uma curva de saturação, a importânciada FBN parece ser constante no decorrer da sucessão secundária
(Gehring, 2003; Gehring et al, 2005b), e a sucessão botânica tipica-mente toma uma dinâmica bastante irregular com as seqüências dedominância por diferentes espécies de pioneiras de variados esta-dos da sucessão (Finegan, 1996; Guariguata & Ostertag, 2001). Naprática, fatores socioeconômicos como a proximidade à casa e afacilidade de acesso, como também o custo da derruba manual sãofatores decisivos para o agricultor determinar o tempo de pousio
ideal e a localização adequada da próxima roça (Mertz, 2002).
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Tempo de pousio (anos)
0 5 10 15 20 2550
100
150
200
250
Derruba-e-queima no primeiro cíclo
Capoeira após uso mais intenso
Capoeira sob terra morena de índio
Figura 6. Acumulação da biomassa aérea após a agricultura de derruba-e-queima noprimeiro ciclo (roça de mata primária) na Amazônia central. A acumulação ocorre numa
curva de saturação com taxas iniciais extremamente rápidas (Biomassa aérea total = 44.4+ 131.94 * log10 (anos de pousio), R2=0.86, p0.001) seguido por uma diminuição da velo-cidade em capoeiras velhas. Três áreas com uso de terra mais intensa (duas queimadas) e
uma área sob solo mais fértil (terra morena de índio) servem para comparações.Fonte: Gehring et al. (2005a).
Tamanhos da roça que não sejam muito grandes (p.ex. até ha) facilitam a recolonização proveniente das margens orestadas,a conservação de árvores isoladas dentro da roça pode exercer umefeito similar de ‘núcleos de regeneração’ pela atração de aves emorcegos dispersores de sementes de espécies orestais (Gue-vara et al., 992; Belsky & Canham, 994). A inclusão gradual dasmargens de oresta e a formação de núcleos de regeneração são
estratégias importantes do manejo tradicional da roça desenvolvi-dos por povos indígenas da Amazônia (Posey, 1986; Denevan etal., 1987; Unruh, 1988; 1990).
De qualquer modo, devem ser evitados estragos causadospor práticas abusivas de agricultura como o preparo mecanizado daterra ou um tempo de cultivação extenso demais.
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O ambiente do trópico úmido e o manejo sustentavel dos agrossistemas
‘Slash-and-mulch’ para substituição do fogo:‘Fresador orestal’ e ‘Feijão abafado’
A questão do uso de fogo é bastante ambivalente, com as
vantagens agronômicas de curto prazo (efeito fertilizante, elimina-ção das ervas adventícias e das pragas, eciência da mão-de-obra),contrastando com os efeitos devastadores e degradantes no agro-ecossistema (perdas graves de nutrientes e da matéria orgânica,redução da biodiversidade e dominância de pioneiras agressivas,emissão de CO
2). Colocado de outra forma, o fogo é o principal
fator degradante responsável pela crise da agricultura itinerante,
e ao mesmo tempo o maior obstáculo para o desenvolvimento e aimplantação de técnicas alternativas que sejam não somente eco-logicamente sustentáveis mas também socio-econômicamente vi-áveis.
A eliminação do fogo na agricultura itinerante requer a práti-ca do ‘slash-and-mulch’, utilizando a biomassa aérea da capoeiraderrubada como adubação verde em vez de queima-la. Além de
melhorar o sistema da roça, o slash-and-mulch também constitui ométodo preferível de preparo da terra para iniciar sistemas agroo-restais.
Uma opção tecnológica para estes ns foi desenvolvida peloprojeto ‘SHIFT-Capoeira’ (hoje projeto ‘Tipitamba’, Embrapa-CPA-TU), para a derruba e trituração mecanizada de capoeiras da ZonaBragantina (ao leste de Belém, PA) com um trator puxando um ‘fre-
sador orestal ’.
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Figura 7. Efeitos da eliminação do fogo pelo slash-and-mulch: Balanço de nutrientes de umcíclo de 8½ anos (7 anos de pousio + 1½ anos de cultivação, biomassa aérea da capoeira:
46,5 t ha-1) na Zona Bragantina (Amazônia oriental). Fonte: Sommer (2000)
A substituição do fogo pelo slash-and-mulch diminui drastica-mente as perdas de nutrientes e resulta num balanço de nutrientesequilibrado (Figura 7). A ausência dos efeitos da queima implica aausência do aumento do pH (Figura 2). Pelo contrário, a decom-
posição do material vegetal tende a diminuir o pH. Conseqüen-temente, devem ser utilizados outras variedades de arroz, milho,feijão e mandioca que sejam melhor adaptadas à acidez do solodo que as variedades tradicionais da roça queimada (Kato, 998a+b). Ocorre inicialmente uma imobilização de nutrientes, porquea madeira como o componente principal da capoeira triturada temuma ampla razão de C:N e C:P. Portanto recomenda-se uma adu-
bação química inicial. Devido à liberação lenta dos nutrientes domaterial triturado, recomenda-se também a inversão da seqüência
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O ambiente do trópico úmido e o manejo sustentavel dos agrossistemas
de cultivos, iniciando com a mandioca (tradicionalmente o cultivonal), seguido pelos grãos. A manutenção da matéria orgânica e aconservação dos nutrientes do solo permite uma extensão da fasede cultivação (Kato et al., 999). Contrário à derruba-e-queima que
depende de um período seco para conseguir uma boa queima, opreparo de terra com o fresador orestal pode ser feita em qualquer época do ano. O maior teor de matéria orgânica também signicauma melhor retenção de água no solo, o que possibilita a extensãodo período de cultivação para dentro da estação seca. Isto traz avantagem de poder produzir fora da época e deste modo conseguir preços melhores para os produtos (Freitas, 2004).
Uma grande desvantagem do fresador orestal são os altoscustos envolvidos (média de R$ 645.- / ha), que tornam esta tec-nologia socioeconômicamente inferior ao uso tradicional da derru-ba-e-queima, além do fato que os altos investimentos de capitalsejam inacessíveis para grandes partes da agricultura familiar dostrópicos úmidos como um todo (Freitas, 2004). Além disto, a produ-tividade agrícola obtida pelo preparo de terra com fresador orestal
continua sendo inferior ao da roça queimada, mesmo com aduba-ção suplementar. Outra desvantagem é que o fresador orestal nãopermite a roça seletiva (veja abaixo).
Uma promissora alternativa ao preparo de terra com fresador orestal encontra-se no ‘feijão abafado’, uma técnica tradicional deslash-and-mulch praticada em várias regiões da Amazônia e tam-bém da América Central (conhecido lá como ‘frijol tapado’; Thurs-
ton et al., 1994; Lopes & Celestino, 2003). Neste sistema, o feijãocaupí é semeado à lanço dentro da capoeira que posteriormenteé derrubada sobre os sementes. O feijão acelera a decomposiçãoda biomassa, além de nanciar a roça pela sua safra de grãos. Aroça com feijão abafado é possível somente em capoeiras baixase médias (até ~3 anos de idade) e no auge da estação chuvosa,ela pode ser combinada com a prática da roça seletiva (veja abai-
xo). Em analogia ao fresador orestal, o preparo de terra com fei- jão abafado não traz consigo benefícios de aumento do pH pela
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queima. Por isto, uma calagem pode fazer sentido para tempos decultivação mais extensos. Embora bastante promissor, a técnica dofeijão abafado não foi sucientemente pesquisada até agora.
Enriquecimento.de.capoeiraA capoeira como vegetação espontânea de pousio na agri-
cultura itinerante representa um grande potencial de melhoramentodeste agroecossistema. Enriquecimento da capoeira com espéciesde valor econômico (fruteiras, madeira de lei, plantas medicinais)ou ecológico (especialmente leguminosas xadoras de N
2) podem
(i) valorizar a capoeira e torná-la em um componente produtivo do
agroecossistema, e/ou (ii) possibilitar um encurtamento da fasede pousio em uma maneira sustentável (Raintree & Warner, 986;Brienza, 1999; Denich et al., 2000). Uma possibilidade é o plantiode espécies de rápido crescimento e alta demanda por luz (p.ex.caju, pupunha, cedro, teca, Acacia mangium) junto com o cultivonal da roça (tipicamente a mandioca). Outra é o plantio de madeirade lei junto com a roça, primeiro propagado na época colonial em
Birma (hoje Myanmar, sudeste da Ásia) como sistema ‘taungya’.Um problema do sistema taungya é a lentidão de crescimento demuitas espécies orestais de alto valor, implicando um prazo detempo longo demais para as necessidades imediatas da agriculturafamiliar. Além do enriquecimento pelo plantio junto com e dentroda roça, o enriquecimento de capoeiras altas também é uma op-ção interessante. Isto envolve o plantio no sub-bosque de espécies
tolerantes à sombra (p.ex. café, cacau, cupuaçu, andiroba) em ca-poeiras destinadas à preservação permanente, resultando na valo-rização econômica das reservas legais.
A opção de manejo de enriquecimento de capoeira não deveser vista isoladamente, pois ela ganha em eciência ou até somentefaz sentido em combinação com outras formas de manejo melho-rado da roça, especialmente a substituição do fogo como maneira
de preparo de terra.
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O ambiente do trópico úmido e o manejo sustentavel dos agrossistemas
Roça.seletivaOnde possível, a roça seletiva constitui uma técnica mais e-
ciente do que o plantio por sementes ou mudas para o enriqueci-mento de capoeiras. Na roça seletiva, o produtor poupa algumas ou
todas as árvores ou palmeiras de valor ecológico ou econômico queocorrem espontaneamente dentro da sua capoeira. A roça tem queser feita sem o uso de fogo (feijão abafado, veja acima). Dependen-do das espécies, as copas devem ser parcialmente podadas parareduzir os problemas de sombreamento e de concorrência radicu-lar com os cultivos anuais da roça. A densidade ideal das plantasremanescentes é outro ponto crítico de manejo da roça seletiva.
Este sistema faz sentido somente em capoeiras não severamentedegradadas onde ainda ocorrem espécies de valor econômico ouecológico. Destacam-se as seguintes vantagens da roça seletivafrente ao plantio de enriquecimento de capoeira: (i) não envolvecustos nanceiros para mudas ou sementes, (ii) alta eciência emrelação ao trabalho, e (iii) favorecimento das espécies nativas daregião. Embora ocorra ocasionalmente na agricultura tradicional
(Wilken, 977), a roça seletiva não foi sucientemente pesquisadaaté agora.
A roça de liberação ao redor de plantas benécas é outra for -ma da roça seletiva. Esta medida é promissora especialmente emcapoeiras degradadas como os ‘babaçuais’ (formação muito densade palmeiras juvenis de babaçu, Orbygnia phalerata). Além disso,pode favorecer a leguminosa nativa ‘sabiá’ (Mimosa caesalpinii-
folia), interessante por sua xação biológica de N2, seu potencialcomo planta melífera e seu papel como fonte de renda (estacasde boa qualidade). Nas recuperação de capoeiras degradadas, aroça de liberação é um manejo complementar com os plantios deenriquecimento de capoeiras.
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Assuntos especícos de manejo nos trópicos úmidosNitrogênio
O Nitrogênio do solo encontra-se quase inteiramente em for-mas orgânicas. O Nitrogênio ‘disponível’ para as plantas representa
somente uma pequena fração do Nitrogênio do solo, tipicamenteem torno de -2% do N-total. A denição do N ‘disponível’ em cadamomento equivale ao N-mineral (NH
4+ e NO
3-) extraível por M de
KCl. Porém, a quantidade de N-mineral é altamente variável no de-correr do tempo, com variações diurnas e sazonais em função daumidade e aeração do solo, além de uma série de outros fatores.Por isto, a mineralização potencial de N durante uma incubação
aeróbica dá uma medida melhor sobre a capacidade do solo defornecer NH
4+ e NO
3- (Groot & Houba, 1995). Além deste N-mine-
ral, a aquisição de N-orgânico por micorizas e possívelmente pelosraízes representa uma fonte de Nitrogênio ainda largamente deco-nhecida porém possivelmente de grande importância (Chapin et al.,1993; Näsholm et al., 1998).
As estratégias de manejo de Nitrogênio devem 1) evitar per-
das de N, e 2) maximizar as entradas de N:
Perdas de NitrogênioAs maiores perdas de Nitrogênio ocorrem devido à (i) quei-
ma, (ii) lixiviação de NO3
-, e (iii) volatilização anaeróbica (denitri-cação):
(i) Queima: As perdas de nutrientes devido à queima são par-
ticularmente altas para o Nitrogênio, devido à sua volatilida-de. Hölscher et al. (1997) estimam as perdas dos estoquesaéreos de N em 97% de uma capoeira de 7 anos de ida-de, tendo a queima como a causa principal de perda. Con-seqüentemente, a procura por alternativas ao uso de fogo(veja capítulos anteriores) é um pré-requisito para um ma-nejo sustentável do N.
(ii) Lixiviação:A roça com (e em menor escala sem) queimaaumenta drasticamente a disponibilidade de NO
3- justamen-
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O ambiente do trópico úmido e o manejo sustentavel dos agrossistemas
te na fase inicial do ciclo quando a demanda por N pelos cul-tivos ainda é pequeno. Junto com as fortes chuvas isto traz operigo de perdas pesadas de NO
3- por lixiviação. Concentra-
ções elevadas de NO3
- em 1,5 até 4 metros de profundidade
indicam uma adsorção parcial deste NO3- lixiviado no sub-solo (Schroth et al., 200; Lehmann et al., 2004). As árvorespodem obter acesso a este NO
3- e bombeá-lo de volta para
o (agro-)ecossistema (veja cap. V.3).(iii) Denitricação: Além dos problemas de lixiviação de NO
3-,
as fortes chuvas dos trópicos úmidos provocam o perigo decriar um ambiente anaeróbico no solo, com conseqüentes
perdas de N2O (um gás com efeito estufa) e N2 pelo pro-cesso da denitricação (Szott et al., 99; Groffman, 995).Uma maneira de reduzir os problemas de denitricação é aformação de um horizonte orgânico ‘A’ bem expressivo, quepossa reduzir a ocorrência de condições anaeróbicas.
Entradas de Nitrogênio
A capoeira como vegetação de pousio recupera as perdas deN provocadas pela roça. A Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN)pela simbiose entre a maioria das espécies de leguminosas e bac-térias nodulíferas (Rhizobium, Bradyrhizobium, Sinorhizobium eoutros) representa o mecanismo mais importante de entradas deN (Gehring et al., 2005b). Existem ainda indicações que as raízesprofundas das capoeiras possam recuperar uma parte do NO
3- lixi-
viado durante a roça e acumulado no sub-solo (Schroth et al., 2001;Lehmann, comm. pessoal).A FBN pela simbiose entre leguminosas e bactérias nodulí-
feras constitui o mecanismo principal de FBN. Conseqüentemente,as leguminosas formam um componente chave em quase todos ossistemas agroorestais. No entanto, existem outros caminhos daFBN sendo a mais importante a FBN associativa com gramíneas
do tipo C4 (Christiansen-Weniger, 1991; Baldani et al., 1997), pal-meiras e samambaias (Virginia and Delwiche, 1982; Baldani et al.,
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997), além da FBN na losféra por Cyanobactérias (Carpenter,992; Freiberg, 998), e da FBN nos rumens de várias espécies decupim (Tayasu, 1997).
As quantidades de Nitrogênio xados pela FBN são regula-
das pela complexa interação de uma série de fatores: (i) Existemgrandes diferencias na susceptibilidade pela FBN simbiótica e nasquantidades de N
2xados entre espécies, variedades ou estirpes
de plantas hospedeiras e entre os microorganismos envolvidos(Sprent, 1995; de Souza et al., 1997). (ii) A disponibilidade de P édecisiva pela FBN, devida às altas exigências da FBN por energia(Israel, 1987; Giller & Wilson, 1991). Esta interação entre N e P obri-
ga-nos a entender e manejar juntos esses dois nutrientes chaves.Segundo Cole & Heil (98), cada kg de P adubado pode acres-centar 7 kg de N adquiridos pela ação da FBN. (iii) Diretamenteou indiretamente a FBN depende da disponibilidade de outros nu-trientes como Ca, Mg, S e Mo (Giller & Wilson, 99; Chalk, 2000).(iv) A disponibilidade de energia (luz) é decisiva para a FBN por causa das suas altas exigências energéticas (Izaguirre-Mayoral et
al., 995); (v) A FBN requer a ausência de substâncias alelopáticas(Halsall et al., 995) e um ambiente físico favorável (nem alagado,nem seco, temperaturas do solo abaixo de 50°C). (vi) Devido aosaltos custos de energia e de nutrientes, a FBN é rigidamente regu-lada pela disponibilidade ou falta de N-mineral (Chalk, 2000).
Diferente da situação do fósforo, o aumento da disponibi-lidade de Nitrogênio por adubação deve ser evitado ou utilizado
somente como o último recurso, pois constitui um insumo extre-mamente custoso em termos nanceiros (em torno de R$ ,50 / kgde N) e em energia fóssil requerida para sua produção. Além disto,grandes partes do Nitrogênio adubado podem ser logo perdidaspelos processos de perdas de Nitrogênio acima listados.
Fósforo
A baixa disponibilidade de fósforo para as plantas tem sidoidenticada como o principal fator nutritivo limitante. Na maioria dos
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O ambiente do trópico úmido e o manejo sustentavel dos agrossistemas
trópicos úmidos esta baixa disponibilidade de fósforo supera atéos problemas de falta de Nitrogênio (Cochrane & Sanchez, 1982;Vitousek, 982; Gehring et al., 999). Como é o caso com o Nitro-gênio, somente uma pequena fração do P do solo está disponível
para as plantas. Foram desenvolvidos uma série de diferentes mé-todos de extração para a determinação do P ‘disponível’ para ossolos ácidos dos trópicos úmidos como Mehlich I e III, Bray I e II ea extração por resinas sintéticas. Além do P diretamente disponívelpara as plantas, é importante conhecer os pools menos lábeis quepossam fornecer o P de médio a longo prazo. Para estes ns foi de-senvolvida a extração seqüencial de Hedley (Tiessen & Moir, 993;
Johnson et al., 2003).A baixa disponibilidade de P se deve à forte xação do PO
43-
pelos óxidos de ferro (hematita e goetita) e de alumínio (gibsita)nas condições ácidas (pH < 5,5) que prevalecem nos Oxisolos eUltisolos (Latossolos) típicos para grandes partes da Amazônia, daÁfrica central e do sudeste da Ásia.
Em muitos casos, uma calagem e/ou uma adubação inicial
de fósforo é um pré-requisito para iniciar um sistema agroorestalcom subseqüente ciclagem eciente do fósforo e dos outros nu-trientes (McGrath et al., 2001). A adubação com fósforo de rocha(apatita) com sua lenta liberação do PO
43- é mais aproveitável para
a vegetação e por isto mais eciente. Embora seja um produto maisbarato na sua produção do que os adubos de P de alta solubilidade(‘super-fosfato simples’ e ‘super-fosfato triplo’), o fósforo de rocha é
incomum nos mercados agrícolas do interior do Brasil e custos detransporte tem grande impacto nos seus custos. Um fator decisivopara reduzir a xação de fósforo é a acumulação e a manutençãoda camada orgânica do solo, pois o P-orgânico forma pools lábeisde P que são extremamente importantes para a vegetação (Sel-les et al., 1997; Giardina et al., 2000b; Lawrence & Schlesinger,2001).
Embora uma adubação com P seja inevitável em muitos ca-sos, as várias adaptações de plantas a uma baixa disponibilidade
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de fósforo no solo oferece um importante instrumento de manejo.Sistemas agroecológicos devem priorizar espécies de alta eciên-cia de aquisição de P, como uma alta alocação em raízes nas,exsudação de ácidos orgânicos complexadores de P, raízes pro-
teoides, e – de importância fundamental nos trópicos úmidos – umaeciente associação com micoriza do tipo vesicular-arbuscular como na mandioca e na maioria das árvores e palmeiras nativasda Amazônia (Chapin, 1980; St John & Coleman, 1983; Lajtha &Harrison, 1995; Vance et al., 2003).
O.papel.das.árvores
Tanto nos sistemas agroorestais, como também - de formadiferente - na roça e na roça melhorada conta-se fortemente com asfunções ecológicas favoráveis exercidas pelo componente das árvo-res e das palmeiras, que devem garantir a sustentabilidade ecoló-gica destes agroecossistemas. Os efeitos positivos do componentearbóreo são diversos, como a acumulação de biomassa, de matériaorgânica e de nutrientes contidos nela (Nair, 1989), a ciclagem (pelapoda ou pela serapilheira) dos nutrientes, o melhoramento do micro-
clima, a FBN pelas leguminosas arbóreas, e um sistema radicular profundo que serve como uma ‘rede de segurança’ e ‘bombeia’ osnutrientes lixiviados do sub-solo de volta ao agroecossistema (Palm,1995; Buresh & Tian, 1998; Schroth et al. 2001).
Por outro lado, a alta competitividade das árvores representaum problema crucial de manejo nos sistemas agroorestais, poisela pode reduzir indevidamente a produtividade dos cultivos anuais
(Sanchez et al., 996). Problemas de sombreamento exigem ummanejo eciente de podagem. As podas também reduzem tempo-rariamente a concorrência radicular pelas árvores (Schroth et al.,200), embora podas repetidas possam provocar uma indesejáveldistribuição vertical mais supercial das suas raízes (Lehmann,2003; mas veja Bayala et al., 2004). Pelo menos em teoria, uma ar-quitectura radicular complementar com uma dominância das raízesmais profundas pode reduzir o problema da concorrência radicular
por água e nutrientes exercida pelas árvores (Rao et al., 993; Akin-nifesi et al., 999). Ao contrário dos trópicos úmidos, a concorrência
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O ambiente do trópico úmido e o manejo sustentavel dos agrossistemas
por água freqüentemente inviabiliza tentativas de implementar sis-temas agroorestais nos trópicos semi-áridos (Figura 8).
Figura 8. Produtividade de grãos e de madeira em sistemas agroorestais hipotéticos sobregimes diferentes de precipitação, resultados de modelagem obtidos por van Noordwijk &
Lusiana (1999).
As árvores fornecem o Nitrogênio mas concorrem por água.(A) Uma maior precipitação é associada à transição gradual deágua para Nitrogênio como fator limitante principal. Sob baixa pre-cipitação a concorrência por água pelas árvores é maior do queseus efeitos positivos como fornecedores de Nitrogênio. (B) O ren-dimento das árvores é menor em sistemas agroorestais do que emmonoculturas por causa da concorrência pelas culturas de grãos.
Embora as árvores muitas vezes tendam a reduzir a produti-
vidade dos cultivos anuais, elas também fornecem produtos (frutas,madeira etc) e serviços ambientais (manutenção da fertilidade dosolo, supressão das ervas adventícias). Existem diferentes modosde calcular a eciência socioeconômica destes sistemas em com-paração com monocultivos. O mais importante é o ‘land equivalentratio’ (LER) de Trenbath (974), discutido ou reformado em Van-dermeer (1989), Blair (1998) e García-Barrios & Ong (2004). Umavantagem do componente arbóreo produtivo a frente dos cultivos
anuais é a menor variação sazonal e inter-anual, o que reduz osriscos de produção para o pequeno produtor.
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SISTEMA.AGROECOLOGICO.RÁPIDO.DE.EVALUACIÓN.
DE.CALIDAD.DE.SUELO.Y.SALUD.DE.CULTIVOS.EN.EL.
AGROECOSISTEMA.DE.CAFÉ
Miguel A. Altieri *
Clara Ines Nicholls**
Introducción -------------------------------------------------------------------------------------141
Los indicadores de sostenibilidad --------------------------------------------------------- 144
Estudios de caso -------------------------------------------------------------------------------153Literatura citada --------------------------------------------------------------------------------159
IntroducciónUno de los objetivos porque muchos agricultores realizan
una conversión desde un sistema de café convencional de mono-cultivo manejado con insumos agroquímicos, a un sistema mas di-versicado con arboles de sombra , es lograr una producción de ca-lidad y estable, poco dependiente de insumos extremos, de manerade bajar los costos de producción y a la vez conservar los recursosnaturales de la nca, tales como suelo, agua y agrobiodiversidad1.El objetivo nal de los investigadores que desarrollan y promueventécnicas de manejo orgánico, es llegar a diseñar agroecosistemasque posean una alta resistencia a plagas y enfermedades, una altacapacidad de reciclaje y de retención de nutrientes , así como altosniveles de biodiversidad (Gliessman l998). Un sistema más diversi-cado , con un suelo rico en materia orgánica y biológicamente ac-tivo, se considera un sistema no degradado, robusto y productivo.En otras palabras, un agroecosistema de café, rico en biodiversidadla cual a partir de una serie de sinergismos subsidia la fertilidadedaca, la toprotección y la productividad del sistema, se dice ser sustentable o saludable (Fernández y Muschler l999).
* PhD en Entomología y profesor de Agroecología en el Departamento de Ciencia, Políticay Manejo Ambiental de la Universidad de California, Berkeley, Estados Unidos.**
PhD en Controle Biologico de Plagas y investigadora en el Departamento de Ciencia,Política y Manejo Ambiental de la Universidad de California, Berkeley, Estados [email protected]
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Sistema agroecologico rapido de evaluacion de calidad de sueloy salud de cultivos en el agroecossistema de café
Uno de los desafíos que enfrentan tanto agricultores, comoextensionistas e investigadores es saber cuando un agroecosiste-ma es saludable, o mas bien en que estado de salud se encuentradespués de iniciada la conversión a un manejo agroecologico?
Investigadores que trabajan en agricultura sostenible, hanideado una serie de indicadores de sostenibilidad para evaluar elestado de los agroecosistemas (Gómez et al. l996, Masera et al.1999). Algunos indicadores desarrollados, consisten en observa-ciones o mediciones que se realizan a nivel de nca para ver si elsuelo es fértil y conservado y si las plantas están sanas, vigorosas yproductivas. En otras palabras, los indicadores sirven para tomarle
el pulso al agroecosistema.En este articulo presentamos una metodología para diag-
nosticar en cafetales la calidad del suelo y la salud del cultivo usan-do indicadores sencillos. Se utilizan indicadores especícos paralos cafetales de la zona de Turrialba, Costa Rica, aunque con pocasmodicaciones la metodología es aplicable a una gama de agroe-cosistemas en varias regiones. Los indicadores aquí descritos se
eligieron porque son relativamente fáciles y prácticos de utilizar por agricultores, además de:
• ser relativamente certeros y fácil de interpretar • ser sucientemente sensitivos para reejar cambios ambien-
tales y el impacto de practicas de manejo sobre el suelo yel cultivo
• ser capaces de integrar propiedades físicas, químicas y bio-
lógicas del suelo• poder relacionarse con procesos del ecosistema, como por
ejemplo capturar la relación entre diversidad vegetal y es-tabilidad de poblaciones de plagas y enfermedades (Altieril994).No hay duda que muchos agricultores cafetaleros poseen
sus propios indicadores para estimar la calidad del suelo o el estadotosanitario de su cultivo. Algunos reconocen ciertas malezas que
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Miguel Angelo Altieri • Clara Ines Nicholls
indican por ejemplo un suelo ácido o infertil. Para otros la presenciade lombrices de tierra es un signo de un suelo vivo, y el color de lashojas reeja el estado nutricional de las plantas. En una zona comoTurrialba, se podría compilar una larga lista de indicadores locales.,
el problema que muchos de estos indicadores son especícos desitio y cambian de acuerdo al conocimiento de los agricultores o alas condiciones de cada nca. Por esto es difícil realizar compara-ciones entre ncas, usando resultados provenientes de indicadoresdiferentes.
Con el objetivo de superar esta limitante, hemos selecciona-do indicadores de calidad de suelo y de salud del cultivo, relevantes
a los agricultores y a las condiciones biofísicas de los cafetales dela zona de Turrialba, Costa Rica. Con estos indicadores ya biendenidos, el procedimiento para medir la sostenibilidad es el mis-mo, independiente de la diversidad de situaciones que existen enlas diferentes ncas de la región diagnosticada. La sostenibilidad
se dene entonces como un conjunto de requisitos agroecologicosque deben ser satisfechos por cualquier nca, independiente de las
diferencias en manejo, nivel económico, posición en el paisaje, etc.Como todas las mediciones realizadas se basan en los mismos in-dicadores, los resultados son comparables de manera que se pue-de seguir la trayectoria de un mismo agroecosistema a través deltiempo, o realizar comparaciones entre ncas en varios estados detransición. Quizás los mas importante es que una vez aplicados losindicadores, cada agricultor puede visualizar el estado de su nca
observando que atributos del suelo o de la planta andan bien o mal
en relación a un umbral preestablecido. Cuando la metodología seaplica con varios agricultores, se puede visualizar las ncas quemuestran valores tanto bajos como altos de sostenibilidad . Estoes útil para que los agricultores entiendan porque ciertas ncas secomportan ecológicamente mejor que otras, y que hacer para mejo-rar los valores observados en ncas con valores menores.
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Sistema agroecologico rapido de evaluacion de calidad de sueloy salud de cultivos en el agroecossistema de café
Los.indicadores.de.sostenibilidad Una vez denidos los requerimientos de sostenibilidad de
los cafetales (diversidad de cultivos, suelo cubierto y rico en materia
orgánica, baja incidencia de enfermedades, etc.), se seleccionaron
10 indicadores de calidad de suelo y 10 de indicadores de saluddel cultivo. Estos indicadores fueron discutidos con agricultores
miembros de la Asociación de Productores Orgánicos de Turrialba
(APOT) y validados con los agricultores en cinco ncas de miem-
bros de APOT, por los autores de este trabajo y por 18 profesiona-
les que atendieron un curso internacional de agroecologia realizado
en CATIE, Turrialba del 20-25 de Agosto del 2001.
Cada indicador se estima en forma separada y se le asignaun valor de 1 a l0 (siendo 1 el valor menos deseable, 5 un valor
moderado o medio y 10 el valor mas preferido) de acuerdo a las
características que presenta el suelo o el cultivo según atributos a
observar para cada indicador (Tabla 1). Por ejemplo en el caso del
indicador estructura de suelo, se asigna un valor 1 a aquel suelo
que es polvoso, sin gránulos (o agregados) visibles, un valor 5 a
un suelo con algo de estructura granular, y cuyos granulos se rom-
pen fácil bajo una suave presión con los dedos, y un valor 0 a un
suelo able y granulosos. Com agregados que mantienen su forma
aun después de humedecidos y sometidos a una presión leve. Por
supuesto que se pueden asignar valores entre 1 y 5 o 5 y l0, según
las características observadas. Cuando un indicador no es aplica-
ble para la situación, simplemente no se mide, o se reemplaza si esnecesario por otro que el investigador y el agricultor estimen mas
relevante.
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Tabla 1. Indicadores.de.calidad.de.suelo.y.salud.de.cultivos.en.cafetales,.con.sus.características.y.valores.correspondientes
Calidad.de.suelo
1. EstructuraValor establecido Característica Valor en el campo
1 Suelo polvoso, sin granulosvisibles
5Suelo suelto com pocos
granulos que se rompen alaplicar presión suave
10
Suelo friable y granular,agregados mantienen formas
después de aplicar presiónsuave, aun humedecidos
2. Compactación e infltración
Valor establecido Característica Valor en el campo1 Compacto, se anega
5Presencia de capa compacta
delgada, agua inltralentamente
10 Suelo no compacto, agua
inltra fácilmente3. Profundidad del suelo
Valor establecido Característica Valor en el campo1 Subsuelo casi expuesto
5 Suelo supercial delgado(menos de 10cm)
10 Suelo supercial másprofundo (mas de 10-cm)
4. Estado de residuosValor establecido Característica Valor en el campo
1Residuo orgánico presenteque no se descompone o
muy lentamente
5Aun persiste residuo delano pasado en vías de
descomposición
10
Residuos en varios estadosde descomposición,
pero residuos viejos biendescompuestos
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5. Color, olor y materia orgánica
Valor establecido Característica Valor en el campo
1
Suelo de color pálido, conolor malo o químico, y no senota presencia de materia
orgánica o humus
5
Suelo de color café claroo rojizo, sin mayor olor y
con algo pasado en vías dedescomposición
10
Suelo de color negro o caféoscuro, con olor a tierra
fresca, se nota presenciaabundante de materia
orgánica y humu6. Retención de humedad
Valor establecido Característica Valor en el campo1 Suelo se seca rápido
5 Suelo permanece seco enépoca seca
10 Suelo mantiene algo dehumedad en época seca
7. Desarrollo de raícesValor establecido Característica Valor en el campo
1 Raíces poco desarrolladas,enfermas y cortas
5Raíces de crescimiento algo
limitado, se vem algunasraíces nas
10
Raíces com buencrecimiento, saludables y
profundas, com abundantepresencia de raíces nas
8. Cobertura de suelo
Valor establecido Característica Valor en el campo1 Suelo desnudo
5Menos de 50% del suelo
cubierto por residuos,horajasca o cubierta viva
10 Mas del 50% del suelo comcobertura viva o muerta
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9. Erosión
Valor establecido Característica Valor en el campo
1Erosión severa, se nota
arrastre de suelo y presenciade cárcavas y canalillos
5 Erosión evidente pero baja
10 No hay mayores signos deerosión
10. Actividad biológica
Valor establecido Característica Valor en el campo
1
Sin signos de actividadbiológica, no se vem lombrices
o invertebrados (insectos,arañas, centipides, etc.)
5 Se vem algunas lombrices yartrópodos
10Mucha actividad biológica,
abundantes lombrices yartrópodos
Promedio Calidad de suelo
Salud.del.cultivo
1. Apariencia
Valor establecido Característica Valor en el campo
1
Cultivo clorotico odescolorido con signos
severos de deciencia denutrientes
5
Cultivo verde claro, con
algunas decoloraciones10 Follage color verde intenso,
sin signos de deciencia
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2. Crecimiento del cultivo
Valor establecido Característica Valor en el campo
1
Cultivo poco denso, decrecimento pobre. Tallos y
ramas cortas y quebradizas.
Casi no hay crecimiento defollaje nuevo
5
Cultivo más denso perono muy uniforme, con
crecimiento nuevo y conramas y tallos aun delgados
10Cultivo denso, uniforme,
buen crecimiento com ramasy tallos gruesos y rmes
3. Resistencia o tolerancia a estrés (sequía, lluvias intensas,
ataque de plagas, etc.)
Valor establecido Característica Valor en el campo
1Susceptibles, no se
recuperan bien después deun estrés
5 Sufren en época seca omuy lluviosa, se recuperanlentamente
10Soportan sequía y lluviasintensas, recuperación
rápida
4. Incidencia de enfermedades
Valor establecido Característica Valor en el campo
1Suspeptibles a
enfermedades, mas del 50%de plantas com síntomas
5 Entre 20-45% de plantas comsíntomas de leves a severos
10Resistentes, menos del 20%
de plantas com síntomasleves
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5. Competencia por malezas
Valor establecido Característica Valor en el campo
1 Cultivos estresados domina-dos por malezas
5 Presencia media de male-zas, cultivo sufre algo decompetencia
10
Cultivo vigoroso, se sobre-pone a malezas, o male-
zas chapeadas no causanproblemas
6. Rendimiento actual o potencial
Valor establecido Característica Valor en el campo
1 Bajo com relación alpromedio de la zona
5 Medio, aceptable10 Bueno o alto
7. Diversidad genética
Valor establecido Característica Valor en el campo
1Pobre, domina una sola
variedad de café5 Media, dos variedades
10 Alta, mas de dosvariedades
8. Diversidad vegetal
Valor establecido Característica Valor en el campo1 Monocultivo sin sombra
5 Com solo una especie desombra
10
Com mas de 2 especiesde sombra, e incluso
otros cultivos o malezasdominantes
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Sistema agroecologico rapido de evaluacion de calidad de sueloy salud de cultivos en el agroecossistema de café
9. Diversidad natural circundante
Valor establecido Característica Valor en el campo
1 Rodeado por otros cultivos,campos baldíos o carretera
5
Rodeado al menos en un
lado por vegetación natural
10Rodeado al menos en un50% de sus bordes por
vegetación natural
10. Sistema de manejo
Valor establecido Característica Valor en el campo
1 Monocultivo convencional,
manejado con agroquímicos5 En transición a orgánico,
con sustitución de insumos
10Orgánico diversicado,
con poco uso de insumosorgánicos o biológicos
Promedio Salud del Cultivo
También en la medida que el usuario se familiariza con la me-todología, las observaciones se pueden hacer mas agudas usandoalgunos instrumentos adicionales. Por ejemplo, en el caso del indica-dor 0 de calidad de suelo, además de observar directamente signosde actividad biológica (presencia de invertebrados y lombrices), esposible aplicar un poco de agua oxigenada a una muestra de suelo yver el grado de efervescencia. Si hay poca o nada de efervescencia, esto indica que ese suelo tiene poca materia orgánica y poca acti-vidad microbiana. Cuando hay bastante efervescencia, entonces elsuelo es rico en materia orgánica y en vida microbiana . También sidespués de la adición de unas 2-3 gotas de ácido hidroclorico no hayefervescencia, entonces lo mas probable es que no hay presenciade carbonatos en el suelo, un dato importante en la estimación delindicador 5 de calidad de suelo.
Los indicadores de salud del cultivo se reeren a la aparien-cia del cultivo, el nivel de incidencia de enfermedades, la tolerancia
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Miguel Angelo Altieri • Clara Ines Nicholls
del cultivo a estrés (sequía u otro factor) y a malezas, crecimientodel cultivo y raíces, así como rendimiento potencial. Las observa-ciones sobre niveles de diversidad vegetal (numero de especies dearboles de sombra, e incluso malezas dominantes), diversidad ge-
nética (numero de variedades de café), diversidad de la vegetaciónnatural circundante, y tipo de manejo del sistema (ej. en transición aorgánico con mucho o poco insumos externos) se hacen para eva-luar el estado de la infraestructura ecológica del cafetal , asumiendoque un cafetal con mayor diversidad vegetal y genética , un manejodiversicado que aprovecha las sinergias de la biodiversidad y queesta rodeado por vegetación natural tiene condiciones de entorno
mas favorables para la sostenibilidad (Guharay et al. 2001).Una vez que se asignan los valores a cada indicador, se su-
man los valores obtenidos y se divide por el numero de indicadoresobservados , y se saca un valor promedio de calidad de suelo y otrode salud del cultivo. Las ncas que den valores de calidad de sueloy o de salud del cultivo inferior a 5 se consideran que están por debajo del umbral de sostenibilidad , y que por lo tanto ameritan ma-
nejos que corrijan aquellos indicadores que exhiben valores bajos.Los valores de los indicadores son mas fáciles de observar gra-cando los valores observados en cada nca en una gura tipo ame-
ba , en la que es posible visualizar el estado general de la calidaddel suelo o la salud del cultivo, considerando que mientras mas seaproxime la ameba al diámetro del circulo (valor 0) mas sosteniblees el sistema. La ameba permite también observar que indicadores
están débiles (bajo 5) de manera de poder priorizar el tipo de inter -venciones agroecologicas necesarias para corregir ciertos atributosdel suelo, el cultivo o el agroecosistema. A veces interviniendo paracorregir un solo atributo (incrementando la diversidad de especieso el nivel de materia orgánica en el suelo) es suciente para corre-gir una serie de otros atributos. La adición de materia orgánica por ejemplo, además de incrementar la capacidad de almacenamiento
de agua, puede aumentar la actividad biológica del suelo, la que asu vez puede mejorar la estructura del suelo
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Sistema agroecologico rapido de evaluacion de calidad de sueloy salud de cultivos en el agroecossistema de café
Los promedios de varias ncas se pueden gracar, permitien-do visualizar el estado de las ncas en relación al umbral 5 de ca-lidad de suelo y salud de cultivo (Figura ). Esto permite identicar además las ncas que presentan promedios altos, transformándo-
se así en una especie de faros agroecologicos, en los cuales seráimportante entender cuales son las interacciones y sinergismosecológicos que explican porque el sistema funciona bien. Lo claveaquí no es tanto que los agricultores copien las técnicas que usa elagricultor faro, sino mas bien que emulen los procesos e interaccio-nes promovidos por la infraestructura ecológica de esa nca, queconllevan al éxito del sistema desde el punto de vista de calidad
de suelo y salud tosanitaria. Puede ser que en la nca faro la cla-ve es la alta actividad biológica o la gran cobertura viva del suelo.Los agricultores circundantes no necesariamente tienen que usar elmismo tipo de compost o cobertura que el agricultor faro, mas biendeben usar técnicas a su alcance pero que conlleven a optimizar los mismos procesos.
Figura 1. Comparación de promedios de indices de calidad de suelo y salud de cultivos envarios cafetales en Turrialba, destacando las ncas faros.
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Miguel Angelo Altieri • Clara Ines Nicholls
Estudios.de.casoFinca de Don Guillermo Campos, San Juan del Sur, Turrialba
Un grupo de 6 agrónomos visito la nca de Don Guillermo
el 23 de Agosto del 2001, por un periodo de 4 horas. Durante estetiempo los agrónomos junto al agricultor aplicaron la metodologíapara medir los indicadores de calidad de suelo y salud de cultivo endos secciones de la nca: un cafetal con sombra (principalmenteporo y plátanos) manejado orgánicamente por 4 anos y un cafetalconvencional sin sombra con dos anos de transición a orgánico. LaTabla 2 presenta los valores asignados a cada indicador. El sistema
convencional presenta un promedio de 5.7 para calidad de suelo yde 4.4 para salud del cultivo. El sistema orgánico presenta prome-dios positivos en cuanto a calidad de suelo, pero bajo en cuanto asalud del cultivo, aunque siempre algo superior al sistema conven-cional.
Tabla 2. Valores.asignados.a.los.indicadores.de.calidad.de.sue -
lo.y.salud.de.cultivo.en.un.cafetal.orgánico.y.otro.en.transición.en la nca de Don Guillermo Campos, San Juan del Sur, Tur-rialba
Indicadores Valor
Calidaddel suelo
Orgánico Transición
. Estructura y textura 10 9
2. Compactación e inltración 10 7
3. Profundidad del suelo 10 10
4. Estado de residuos 9 65. Color, olor y M.O. 8 6
6. Retención de humedad 10 5
7. Desarrollo de raíces 9 4
8. Cobertura del suelo 10 3
9. Erosión 10 5
10. Actividad biológica 9 3
Promedio 9.5 5.8
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Sistema agroecologico rapido de evaluacion de calidad de sueloy salud de cultivos en el agroecossistema de café
Salud delcultivo
1. Apariencia 10 4
2. Crecimiento del cultivo 9 1
3. Tolerancia al estrés 9 3
4. Incidencia de enfermedades 10 5
5. Competencia por malezas 9 56. Rendimiento actual/potencial 10 6
7. Diversidad genética 1 8
8. Diversidad vegetal 5 2
9. Diversidad natural circundante 4 4
10. Sistema de manejo 8 4
Promedio 7.5 4.2
La ameba para calidad de suelo (Figura 2) permite compa-rar ambas ncas, en la que se nota claramente que la nca orgáni-ca tiene mejor calidad de suelo que la convencional en transición, lacual requiere mejoras en cuanto a cobertura de suelo, incrementode actividad biológica y condiciones edacas para optimizar el de-sarrollo radicular.
En cuanto a salud del cultivo, los dos agroecosistemas re-quieren intervenciones claves para incrementar la diversidad gené-tica y de especies, así como diversicación de los linderos del ca-fetal, aunque el cafetal en transición requiere manejos adicionalespara mejorar el vigor y apariencia del café y disminuir la incidenciade enfermedades como el ojo de gallo (Figura 3).
Después de este diagnostico los agrónomos discutieron jun-to al agricultor los problemas que el considerara como prioritariosde atención en el cafetal en transición y el tipo de intervenciones arealizar para superar tales limitantes. Entre las opciones discutidasse destacan: a) trazado de curvas de nivel y elevar la cobertura delsuelo, b) usar otros tipos de abono orgánico tales como fermen-tados y lombricompost, c) diversicar las especies de sombra, d)rodear el cafetal con cercas vivas y e) creación de bancos de forrajede manera de lograr la integración animal para el reciclaje de bio-masa y producción in-situ de boñiga.
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Una Comparacion entre la nca de Don Edgar Rodríguez yDon.Germán.Mora,.en.Chitaria,.Turrialba
Otro equipo de agrónomos participantes del curso, realizo un
diagnostico de dos ncas aledañas:a. la nca de don Germán Mora que posee un cafetal en tran-
sición a orgánico, con sombra de laurel, poro y plátano, eincluso secciones con maíz y frijol entre el café. En medio dela propiedad hay un establo con 5 vacas que producen boñi-ga la cual se usa directamente como abono o como insumopara preparados foliares fermentados. La nca esta rodeada
casi en su totalidad por bosque secundariob. La nca de Don Edgar Rodríguez, un cafetal en transición
con sombra rala de poro, rodeada por un lado por bosquenatural y por el otro por otros cafetales convencionales.
Como se observa en la Figura 4, ambos cafetales muestranvalores de indicadores de calidad de suelo superiores al umbral,
aunque la nca de Don Edgar exhibe valores mayores, debido prin-cipalmente a que el suelo es mas rico en materia orgánica y tienemayor cobertura.
Los valores asignados a indicadores de salud del cultivo enambas ncas están también en la mayoría de los casos sobre el um-bral 5, destacándose la nca de Don Germán por tener una mayor diversidad genética, de especies y un entorno mas diversicado,
lo que posiblemente explica la menor incidencia de enfermedadesobservada (Figura 5).En las reuniones con los agricultores se discutieron varias
opciones de manejo para incrementar los valores de algunos in-dicadores observados. En el caso de la nca de Don Germán seplanteo:
• establecer zanjas de inltración
• sembrar cultivos de cobertura (abono verde) en áreas ero-sionadas
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Sistema agroecologico rapido de evaluacion de calidad de sueloy salud de cultivos en el agroecossistema de café
• diversicar con arboles frutales y cultivos anuales dondesea posible
Para la nca de don Edgar se propuso:• iniciar la producción del lombricompost
• introducir animales, quizás pollos para la producción de es-tiércol
• diversicar con arboles frutales y cultivos anuales que ten-gan valor comercial
Figura.2.Ameba representativa del estado de calidad de suelo de los cafetales en la ncade Don Guillermo, San Juan del Sur, Turrialba.
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Figura.3.Ameba representativa del estado de salud de cultivo en dos cafetales en la ncade Don Guillermo Campos, San Juan del Sur, Turrialba.
Figura.4.Comparación de indicadores de calidad de suelo entre dos cafetales en transiciónen Chitaria, Turrialba.
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Sistema agroecologico rapido de evaluacion de calidad de sueloy salud de cultivos en el agroecossistema de café
Figura.5.Comparación de indicadores de calidad de cultivo entre dos cafetales en transici-ón en Chitaria, Turrialba.
Conclusiones
Como estimar la sostenibilidad de agroecosistemas es hoy endía una preocupación prioritaria de muchos investigadores agrico-las. Se han ideado muchas listas de atributos a medir que permitanestimar la productividad, estabilidad resiliencia, y adaptabilidad deagroecosistemas (Masera et al. l999), pero existen pocas metodo-logías rápidas que usen unos pocos indicadores que puedan ser utilizadas por agricultores y que a la vez les permita observar elestado de sus agroecosistemas y tomar decisiones de manejo parasuperar limitantes detectadas.
La metodología aquí presentada es una herramienta prelimi-nar para evaluar la sostenibilidad de cafetales de acuerdo a valoresasignados a calidad de suelo y salud del cultivo. La metodología in-volucra una actividad participativa y es aplicable a una amplia gamade agroecosistemas en una serie de contextos geográcos y socio-económicos, siempre y cuando se reemplacen algunos indicadores
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Miguel Angelo Altieri • Clara Ines Nicholls
por otros que sean relevantes para la situación en cuestión.La metodología permite medir la sostenibilidad en forma com-
parativa o relativa, ya sea comparando la evolución de un mismosistema a través del tiempo, o comparando dos o mas agroecosis-
temas bajo diferentes manejos o estados de transición. La compa-ración de varios sistemas permite a un grupo de agricultores identi-car los sistemas mas saludables,tornándose estos en una especiede faros demostrativos donde los agricultores e investigadores in-tentan descifrar los procesos e interacciones ecológicas que po-siblemente explican el mejor comportamiento de estos sistemasfaros. Esta información después se traduce a practicas especicas
que optimizan los procesos deseados en los cafetales que exhibenvalores promedios por debajo del umbral.
Literatura.citada
ALTIERI, M.A. Agroecology:.the.science.of.sustainable.agriculture. Westview Process, Boulder. l995.
FERNANDEZ, C.E.; MUSCHLER, R. Aspectos de sostenibilidadde los sistemas de cultivo de café en America Central. In:Bertrand, B. (Ed.). Desaos de la cacultura en CentroAmerica.San Jose, Costa Rica: IICA-PROMECAFE-CIRAD, l999.
GLIESSMAN, S.R. Agroecology:.ecological.processes.in.
sustainable.agriculture. Ann Arbor Press, Michigan, l998.
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GUHARAY, F.; MONTERROSO, D.; STAVER, C. El diseno ymanejo de la sombra para la supresion de plagas en cafetales de
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Sistema agroecologico rapido de evaluacion de calidad de sueloy salud de cultivos en el agroecossistema de café
America central. Agroforesteria.en.las.Americas, v. 8, p.22-29,2001.
MASERA, O.; ASTIER, M.; LOPEZ-RIDAURA, S. Sustentabilidad.
y.manejo.de.recursos.naturales:.el.marco.de.evaluacion.MESMIS. Mundiprensa, GIRA, UNAM, Mexico D.F. 999.
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UTILIZAÇÃO.DE.LEGUMINOSAS.ANUAIS.EM.SISTEMAS.
AGROECOLÓGICOS
Edmilson J. Ambrosano*
Nivaldo Guirado**
Heitor Cantarella***
Roberto A. Arevalo**
Elaine B. Wutke***
Fabrício Rossi **
Paulo C. Doimo Mendes**
Gláucia M. Bovi Ambrosano****
Eliana A. Schammass*****
Dulcinéia E.Foltran**
Anselmo J. Spadotto**
Introdução ---------------------------------------------------------------------------------------162
Uso de leguminosas -------------------------------------------------------------------------- 164
Benefícios da adubação verde ------------------------------------------------------------- 167
Eciência do uso do nitrogênio das leguminosas
usadas na adubação verde -----------------------------------------------------------------169
Resultados de pesquisa sobre leguminosas adubo verde
nos agroecossistemas incluindo cana-de-açúcar, citros,arroz e jacarandá-mimoso-------------------------------------------------------------------171
Pesquisas com leguminosas adubos verdes em cana-de-açúcar ----------------171
Experiência de Piracicaba com cana-de-açúcar orgânica --------------------------187
Pesquisas com leguminosas adubos verdes em citros ------------------------------ 190
Uso adequado dos adubos verdes em citros -------------------------------------------190
Ciclagem de nutrientes -----------------------------------------------------------------------191
Efeitos químicos no solo --------------------------------------------------------------------- 192
Efeitos físicos no solo ------------------------------------------------------------------------ 192Efeitos biológicos ------------------------------------------------------------------------------ 192
Adubação verde em citros -------------------------------------------------------------------193
* APTA/Pólo Regional Centro Sul-Piracicaba, Diretor do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvi-mento C.P. 28 – 13400-970- Piracicaba, SP. ambrosano@aptaregionalspgovbr ** APTA/Pólo Regional Centro Sul-Piracicaba/Tietê/Presidente Prudente, C.P. 28 – 13400-970- Piracicaba, SP.*** APTA/IAC- Centro de Solos e Recursos Agroambientais, C.P. 28 - 13001-970- Campinas, SP
**** UNICAMP/FOP- Depto. de Odontologia Social, Bioestatistica, C.P. 52 -13414-903- Pi-racicaba, SP.***** Instituto de Zootecnia, Bioestatística, Rua Heitor Penteado, 56 -13460-000- Nova Odessa, SP.
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
Manejo dos adubos verdes ----------------------------------------------------------------- 194
Sistemas recomendados -------------------------------------------------------------------- 195
Considerações nais--------------------------------------------------------------------------196
Outras culturas ---------------------------------------------------------------------------------196
Pesquisas com leguminosas adubos verdes em arroz ------------------------------197
Pesquisas com leguminosas adubos verdes em hortaliças ------------------------200
Conclusões --------------------------------------------------------------------------------------200
Pesquisas com essências orestais -----------------------------------------------------201
Jacarandá-Mimoso ----------------------------------------------------------------------------201
Conclusão ---------------------------------------------------------------------------------------205
Fatores limitantes à implantação e desenvolvimento de leguminosas -----------205
Temperatura ------------------------------------------------------------------------------------- 205
Solo------------------------------------------------------------------------------------------------205Disponibilidade hídrica -----------------------------------------------------------------------206
Conclusão ---------------------------------------------------------------------------------------206
Referências Bibliográcas-------------------------------------------------------------------208
IntroduçãoA conservação do solo sempre foi uma grande preocupação
da comunidade e está freqüentemente ligada ao sucesso ou fra-casso das civilizações e no decorrer da história da agricultura foramdesenvolvidas muitas práticas conservacionista e de mínimo revol-vimento do solo atingindo sua plenitude com o plantio direto sobrea palha, o que tem garantido um excelente controle da erosão epara tanto foram realizados os estudos sobre rotação de cultivos eplantas de cobertura e adubação verde.
A evolução social da coletividade moderna está na depen-dência cada vez maior dos recursos naturais, contudo as praticasagrícolas muitas vezes arruínam, destroem, o bem mais preciosodos agroecossistemas que é o solo. Relatos bíblicos de mais detrês mil anos descrevem solos férteis onde hoje estão localizadosos desertos da Pérsia (Irã), Mesopotâmia e Norte da África.
A denição mais difundida sobre adubação verde é aquela
que diz: “Denomina-se adubo verde a planta cultivada, ou não, coma nalidade precípua de enriquecer o solo com sua massa vege-
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Edmilson José Ambrosano et al.
tal, quer produzida no local ou importada” (Kiehl, 959). Emboraconsidere-se como adubação verde o cultivo de varias espéciesvegetais, naturais ou cultivadas, as leguminosas (Fabaceae) são asplantas mais utilizadas para essa nalidade.
No Brasil está prática já era recomendada por Dutra, 99que publicou o trabalho “Adubos verdes: sua produção e modo deemprego”, destacando o efeito melhorador dessa prática, que eraum fato universalmente aceito e que seu êxito dependia apenas aescolha das plantas a utilizar para esse m.
A partir desse trabalho o assunto mereceu atenção dentrodos vários programas realizados no Instituto Agronômico, intensi-
cando-se com Neme que, no período de 934 a 958, conduziu vá-rios projetos visando a determinar quais as principais leguminosaspara cobertura e produção de adubo verde, estudando, ao mesmotempo, os efeitos da matéria orgânica sobre a produção do milho,em várias localidades do estado de São Paulo. Nestes trabalhosdestacaram-se como produtoras de massa verde a mucuna-preta,a crotalária paulina e o feijão-de-porco, sendo que a mucuna sedestacou também por ter proporcionado aumentos signicativos naprodução do milho que se seguiu ao adubo verde. Foi notado tam-bém o efeito da mucuna no controle do nematóide .
Com a prática da adubação verde, é possível recuperar afertilidade do solo proporcionando aumento do teor de matéria or-gânica, da capacidade de troca de cátions e da disponibilidade demacro e micronutrientes; formação e estabilização de agregados;melhoria da inltração de água e aeração; diminuição diuturna da
amplitude de variação térmica; controle dos nematóides e, no casodas leguminosas, incorporação ao solo do nutriente nitrogênio (N),efetuada através da xação biológica (Igue, 984).
Durante as últimas décadas, devido a intensicação doscultivos e aumento da disponibilidade de fertilizantes químicos debaixo custo, houve um declínio no uso da adubação verde (Singhet al., 1991).
O manejo inadequado do solo pode trazer, com os cultivos,sérias conseqüências, exaurindo-o de suas reservas orgânicas e
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
minerais, transformando-o em terras de baixa fertilidade. Nos so-los tropicais, susceptíveis a esse fenômeno, torna-se necessário oemprego constante de práticas que visam minimizar esse problema(Mello & Brasil Sobrinho, 1960).
Atualmente, observa-se a procura de um sistema de pro-dução agrícola que seja capaz de recuperar a fertilidade do solo,incluindo a utilização de leguminosas como cobertura no outono-inverno, que têm apresentado resultados satisfatórios, na obtençãode renda extra e quanto aos efeitos benécos na cultura subse-qüente (Bulisani et al., 1987).
No Brasil, a prática da adubação verde vem sendo utilizada
há mais de 30 anos com excelentes resultados sob as mais diver -sas condições de produção (Miyasaka, 984), sendo observadosresultados positivos, quanto ao fornecimento de N para a culturaseguinte, nas culturas do milho, cultivada após a soja, (Mascare-nhas et al., 1986) algodão após a soja, cana-de-açúcar após a soja,em áreas de reforma, e milho após o tremoço, (Tanaka et al., 992;Kanthack et al., 99 ; Pereira et al., 988; Gallo et al., 983 e
1986).Embora encontre-se dados de pesquisa obtidos nas mais
diversas instituições do país, indicando o efeito favorável na produ-ção agrícola, a prática da adubação verde ainda continua restrita aum reduzido número de agricultores (Freitas et al., 1984).
Uso.de.leguminosas
Na adubação verde, a razão da preferência pelas legumino-sas é principalmente, pelo fato destas em simbiose com bactériasdo gênero Rhizobium e Bradyrhizobium, xarem N do ar em quan-tidade suciente para satisfazer suas necessidades e gerar exce-dentes para a cultura que a sucede. Sua composição química e re-lação Carbono (C)/N são outras importantes características. Assimas leguminosas, em comparação com as gramíneas, são mais ricas
em N, fósforo (P), potássio (K) e cálcio (Ca). Porém, a adubaçãoverde não supre o solo em relação às suas deciências minerais
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Edmilson José Ambrosano et al.
totais. Em solos decientes em P, K, Ca, Mg, há necessidade de seaplicar os referidos elementos, de preferência nas culturas econô-micas usadas em sucessão ou rotação. Por outro lado, é precisoter cuidado com o desequilíbrio na fertilidade, principalmente em
função da disponibilidade de N, em determinada fase da decompo-sição da matéria orgânica.
A incorporação de restos vegetais pobres em N nem sem-pre proporciona os resultados esperados, isto porque a ora micro-biana não tem à sua disposição quantidade suciente de N paraseu desenvolvimento. A porção de N não utilizada pelas bactériasé que, transformada em nitratos, ca disponível para as plantas
cultivadas ou para sofrer perdas por lixiviação. A leguminosa emdecomposição apresenta proporção mais favorável à biologia dosolo e conseqüente efeito positivo nas lavouras.
Segundo Franco & Souto (1984) as leguminosas comumen-te usadas em adubação verde, xam em média, 88 kg de N/ha/ano, sendo estes adicionados ao solo, podendo assim racionalizar o uso de N. Com esta prática pode-se recuperar a fertilidade do
solo, perdida devido ao manejo inadequado e à adoção de mono-cultivo, obter N para a cultura seguinte e evitar, assim, adubos alta-mente solúveis que podem poluir o ambiente (Kohl et al., 97).
Além dessa associação é conhecida, também, a capacida-de das leguminosas em formarem relações simbióticas mutualisti-cas com fungos, dando origem às micorrizas. Essas são relaçõesfundamentais na agricultura ecológica, que não dispõe de insumos
solúveis e prontamente disponíveis para as plantas. Com isso asleguminosas tem uma grande vantagem: as micorrizas proporcio-nam aumento na área explorada pelas raízes, colaborando para odesenvolvimento de plantas mais tolerantes à seca, com maior ca-pacidade de nutrição, principalmente de fósforo, nitrogênio e outroselementos essenciais e a xação biológica do nitrogênio é garanti-da pelas bactérias (rizóbio).
É de fundamental importância para a agricultura ecológicaque se tenham plantas micorrizadas, e isso é muito fácil de se obter
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
pois são raras as famílias de plantas em que não se observa essetipo de associação. Sua presença é constatada em 80% das espé-cies vegetais estudadas até o momento, (Azcón et al., 1991).
Os fungos formadores de micorrizas são simbiontes obrigató-
rios e não crescem fora das raízes. Devido a isso, até pouco tempopassavam desapercebidos pelos microbiologistas e, levando-se emconta que também não são produzidas mudanças morfológicas nasraízes, sua presença foi tampouco detectada pelos siologistas.Em contraste com a grande quantidade e diversidade de plantasque formam micorrizas, somente umas 150 espécies de fungo sãoresponsáveis pela infecção dessas plantas.
Além dos benefícios citados acima as micorrizas são impor-tantes, também, no combate as doenças causadas pelo complexode fungos de solo. A planta micorrizada adquire uma certa resistên-cia a infecção pelos fungos patogênicos. Se pensarmos um sistemaconduzido ecológicamente onde os adubos verdes utilizados emrotação de cultivos propiciam um equilíbrio de elementos nutrientesno solo e juntamente com as plantas micorrizadas atuando na pro-
teção contra os fungos patogênicos, teremos uma completa prote-ção dessas plantas.
Uma das razões para essa proteção contra os fungos patogê-nicos das plantas micorrizadas são listadas por Azcón, 1999 comosendo: a melhor nutrição da planta assegurada pelas micorrizas;uma grande competição por sitios de infecção que agora estão to-mados pelas micorrizas; a competição por fotossintetizados; mu-
danças siológicas e anatômicas do sistema radicular e nalmentea presença das micorrizas desencadeia uma resposta do sistemade defesa da planta, que tenta se defender da própria infecçãodas micorrizas até que elas possam ser identicadas e aceitas pelohospedeiro.
Outro fato importante a considerar é o sistema radicular dasleguminosas que pode alcançar elevadas profundidades com capa-
cidade de absorver água e extrair elementos minerais destas cama-das do solo, proporcionando assim, uma reciclagem e redistribui-
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Edmilson José Ambrosano et al.
ção de nutrientes. Contudo, o efeito das raízes na adubação verdeé pouco estudado devido às diculdades em se obter os dados.
Deve-se considerar também a proteção oferecida pelacobertura vegetal, as menores amplitudes diuturnas da variação
térmica do solo, a proteção ao impacto das gotas da chuva e aoescorrimento supercial, proporcionando uma temperatura no solomais estabilizada e protegendo o solo contra importantes perdas denutrientes, de água e do solo.
Sendo assim, um sistema de rotação de culturas empregan-do leguminosas traz, além dos benefícios citados, incremento naprodutividade e economia de adubo nitrogenado na cultura que a
sucede no esquema de sucessão ou de rotação.O fato de certas leguminosas serem más hospedeiras de
nematóides formadores de galhas e a facilidade de produção desementes contribuem para a difusão de seu uso em sistemas deprodução. A ação das leguminosas sobre os nematóides segun-do Mascarenhas et al. (1984), pode ser caracterizada sob dois as-pectos: primeiro, pela ação direta na inadequada hospedagem de
algumas espécies e segundo, pelo maior equilíbrio microbiológicoque as leguminosas utilizadas conferem ao solo por ocasião da dis-tribuição da tomassa. Veja a seguir outros benefícios da adubaçãoverde.
Benefícios da adubação verdeCom a prática da adubação verde poderemos alcançar a sus-
tentabilidade agrícola na medida em que a fertilidade do solo podeser preservada e até incrementada pelos seguintes benefícios:i) Protege o do solo contra a erosão, com o terreno coberto
com planta ou palha a energia das gotas da chuva é dissipa-da, impedindo a desagregação e evitando o encrostamentodo solo;
ii) Aumenta a inltração de água no corpo do solo, possibilitan-
do maior armazenamento e evitando o escorrimento super-cial;
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
iii) Possibilita o aumento da matéria orgânica do solo, pelo usocontinuo dessa prática;
iv) Diminui a amplitude de variação térmica do solo, mantendouma temperatura mais amena no solo o que permite o cres-
cimento dos microrganismo e o retorno da vida no solo;v) Funciona como um arador biológico, uma vez que as raízes
das leguminosas são profundas e a sua decomposição fu-tura cria galerias e macroporos que são interessantes parapromover o crescimento de microrganismos em profundida-de e com isso romper barreiras físicas do solo;
vi) Promove a reciclagem de nutrientes pelo crescimento vi-
goroso do sistema radicular das leguminosas ela tem ca-pacidade de explorar uma volume maior de solo e com issopromover uma eciente reciclagem de nutrientes. Foramencontradas raízes de lablabe a até 3,4 metros de profundi-dade o que comprova essa exploração maior de volume dosolo;
vii) Promove o aumento da CTC efetiva do solo e na disponibili-
dade de macro e micronutrientes;viii) Colabora para a diminuição da acidez potencial do solo com
conseqüente aumento na soma de bases e no V%;ix) Atua na redução da população de plantas daninhas pelosprocessos de supressão e alelopatia;
x) Melhora a eciência no aproveitamento de adubos mineraispelas culturas seguintes e diminui a lixiviação, principalmen-
te de nitrogênio;xi) Promove a integração das atividades agrícolas, uma vez que
as leguminosas podem ser utilizadas como forragem na ali-mentação de animais;
xii) Atua no controle de tonematóides, principalmente aquelesformadores de galhas e cisto, e na redução de inóculos dedoenças e pragas, atuando na quebra de seu ciclo;
xiii) Fornece nitrogênio para as culturas seguintes pelo processode xação biológica do nitrogênio e liberar cálcio e magnésio
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para a solução do solo. Veja a seguir como que eciênciao nitrogênio da leguminosa passa para as outras plantas,quanto ca no solo e quanto é perdido para fora do sistemasolo planta.
Eciência do uso do nitrogênio das leguminosasusadas.na.adubação.verde
Fala-se muito no benefício do fornecimento de nitrogêniocom a prática da adubação verde, contudo são poucos os trabalhosque quanticam a transferência de nitrogênio para os diversos com-partimentos do sistema agrícola.
Com o uso de técnica nuclear, usando-se de marcador 15
N,foi possível quanticar a passagem do nitrogênio da leguminosapara o solo, para planta e para fora do sistema (Ambrosano, 1995).O estudo foi feito em casa de vegetação usando o milho como plan-ta subseqüente a adubação verde, em dois tipos de solo, um argi-loso e outro arenoso, e os resultados foram os seguintes:
i) A eciência da adubação verde chegou a 36 %, isso signi-
ca que do total de nitrogênio adicionado pela leguminosa,36% passa para a cultura seguinte;ii) Em solo arenoso a mineralização do nitrogênio foi maior
sendo maior, também, a transferência desse N para asplantas de milho;
iii) A decomposição foi muito rápida não havendo predominân-cia de imobilização de nitrogênio;
iv) A adubação verde contribui para economia da matéria orgâ-nica original do solo, economizando-se, assim, o N originaldo solo.
Em estudos desenvolvidos no IAC utilizando-se as legumino-sas mucuna-preta e crotalária júncea, incorporadas em dois solossendo um de textura argilosa e outro arenosa, com posterior cultivode milho pode-se observar que de 60 a 80% do nitrogênio da legu-minosa permanece na matéria orgânica do solo, de 15 a 30% vaipara a planta do milho e de 5 a 10% se perde do sistema solo plan-
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
ta. Nestes estudos utilizando-se de isótopo traçados (15N) pode-sedeterminar com precisão que o fornecimento de nitrogênio para omilho se da de forma constante no tempo.
Outras observações importantes foram que o nitrogênio mi-
neraliza preferencialmente da nova fonte de N e preserva o nitro-gênio nativo do solo, que a mucuna preta teve maior participaçãodo nitrogênio recuperado no milho e que o solo de textura arenosafacilitou a mineralização e liberação de N para o milho.
Conra os principais resultados na Figura .
Figura.1 Balanço de nitrogênio proveniente de adubação verde em cultura de milho. A,B – Crotalaria juncea, Latossolo Roxo; C,D – Crotalaria juncea, Podzólico Vermelho Amarelo;E,F – Mucuna preta, Latossolo Roxo; G,H - Mucuna preta, Podzólico Vermelho Amarelo.
O fato da fonte de nitrogênio orgânica vinda do adubo verdeter uma liberação constante evita desequilíbrios nutricionais o quepossibilita a obtenção de plantas mais equilibradas e menos ata-cadas por pragas e doenças. Veja a seguir alguns resultados depesquisa com adubo verde.
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Resultados.de.pesquisa.sobre.leguminosas.adubo.verde.nos.agroecossistemas incluindo cana-de-açúcar, citros, arroz e
jacarandá-mimoso
Pesquisas.com.leguminosas.adubos.verdes.em cana-de-açúcar
O Brasil é um dois maiores produtores de cana-de-açúcar do mundo, atendendo aos mercados internos e externos de açúcar,o que representa importância como geração de divisas e, substitui-ção de alguns derivados de petróleo pelo etanol nacional (Muraokaet al., 1995).
Com a expansão da cultura canavieira e incorporação de
novas áreas, geralmente de baixa fertilidade para a produção deaçúcar e energia renovável, é de fundamental importância recu-perar e manter a fertilidade para alcançar produções econômicas.Nesta oportunidade, os adubos verdes poderão exercer um papelde destaque como condicionadores do solo, fornecedores de nu-trientes, N no caso de leguminosas, além de exercer controle con-tra nematóides e plantas daninhas.
No estado de São Paulo, o estudo do comportamento dacana-de-açúcar em sucessão a adubos verdes foi iniciada por Car-doso (956), que vericou um maior rendimento nesta gramíneaapós o cultivo de Crotalaria juncea do que após mucuna-preta. Emoutras regiões testadas, as duas espécies tiveram rendimentos se-melhantes, mas sempre superiores as espécies guandu, lablabe etestemunha.
Wutke & Alvarez (968) observaram que o resíduo de Cro-
talaria juncea proporcionou aumento da produtividade da cana-de-açúcar e, para o primeiro corte, o efeito da leguminosa foi superior ao N mineral. Em estudo semelhante Caceres (994), arma que aadubação verde teve efeito sobre a produtividade da cana-de-açú-car apenas no primeiro corte.
Mascarenhas et al. (1998), em estudos realizados em Sa-
les Oliveira (SP), mostraram que a cana, após crotalária e mucunaforam os melhores tratamentos. Outra vantagem atribuída a aduba-
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
ção verde, com as espécies Crotalaria juncea e mucuna-preta, é ofato de ambas atuarem no controle de nematóides M. incógnita e M.
javanica (Sharma et al. 1984).Campos (1977) instalou ensaios demonstrativos em solos
do tabuleiro do norte do estado do Rio de Janeiro, e obteve resul-tados positivos utilizando Crotalaria juncea e lablabe. Apesar douso de ambas as leguminosas terem proporcionado aumentos nasproduções de cana, o autor recomenda a C. juncea como a maisrústica, resistente às condições climáticas adversas.
O aumento de produtividade da cana-de-açúcar com a incor-poração de leguminosas ao solo ocorrem devido aos diversos bene-
fício que advêm desta prática (Myasaka, 984 E Myasaka & Okamo-to, 1993), e principalmente pelos teores de nutrientes essenciais queas leguminosas contêm. Estas apresentam elevados valores de N eK
2O que poderão proporcionar a total substituição da fertilização mi-
neral para a cana-de-açúcar, pelo menos até o primeiro corte (Glóriaet al., 980 e Albuquerque et al., 980), (Quadro ).
Mascarenhas et al. (1994) estudaram um sistema de suces-
são de culturas envolvendo um único cultivo das leguminosas Cro-talaria juncea, mucuna-preta e soja, e tratamentos sem legumino-sas (pousio), com ou sem a aplicação de N mineral. Em seguida, acana-de-açúcar foi implantada e efetuados três cortes. Nos últimoscultivos, a produtividade de cana-de-açúcar após a mucuna-preta ecrotalária foram semelhantes e superiores aos demais tratamentos.Na média dos três cultivos de cana-de-açúcar, as sucessões com
crotalária e mucuna proporcionaram acréscimos de produtividaderespectivos de 27 e 25 t/ha de cana e 3,0 e 3,2 t/ha de açúcar,quando comparados com a testemunha, sem adubo verde. Por ou-tro lado, com a aplicação de N houve aumento de somente 9,0 t/hade cana e 1,1 t/ha de açúcar, comprovando os benefícios físicosque o pré-cultivo das leguminosas traz à cana-de-açúcar.
Com a soja não foram proporcionadas as mesmas taxas de
incremento, provavelmente devido à menor capacidade de produ-ção de matéria orgânica, do que por outros adubos verdes testados.
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O sistema radicular menos vigoroso e a ineciência no controle denematóides podem, também, ter contribuído.
Os acréscimos médios na produtividade de cana-de-açúcar em relação aos tratamentos sem adubo verde foram de 22%, 20%, 7%
e 4%, após, respectivamente, crotalária, mucuna, pousio+N e soja.Em outro estudo de rotação de culturas, Mascarenhas et al.
(1994) efetuaram cultivo na cana-de-açúcar sucedendo a dois anosde leguminosas, crotalária, mucuna e soja consecutiva ou asso-ciativamente, e dois anos de pousio com ou sem a aplicação de Nmineral, com o objetivo de avaliar o efeito de dois anos de legumi-nosas no controle de nematóides, principalmente M. javanica.
Nesse ensaio, o cultivo de cana-de-açúcar, sucedendo adois anos de crotalária, dois anos de mucuna e soja-mucuna, foi omelhor tratamento, não diferindo entre si, quando se avaliaram osrendimentos médios bianuais da cana-de-açúcar. Quando o segun-do cultivo da leguminosa foi soja, independente da espécie anterior,a produtividade da cana-de-açúcar foi menor que a dos tratamen-tos testados. Isso pode signicar que o efeito da matéria orgânica
produzida pela mucuna no primeiro cultivo já havia desaparecido,mesmo com o posterior cultivo da soja.
Os tratamentos soja-soja e mucuna-soja proporcionaramrespostas estatisticamente semelhantes entre si e ligeiramente su-periores ao pousio-pousio + N mineral, provavelmente pela mesmacausa apontada anteriormente, ou seja, a baixa produção de ma-téria orgânica da soja. A testemunha pousio-pousio foi o pior trata-
mento, e os demais tratamentos apresentaram acréscimos percen-tuais de 39% (crotalária-crotalária), 33% (mucuna-mucuna), 27%(mucuna-soja), 26% (soja-soja) e 20% (pousio-pousio).
Não obstante o pequeno retorno em produção de cana paraos tratamento sucedendo a soja, economicamente este leva vanta-gem devido à possibilidade de venda dos grãos, uma vez que suaprodutividade de massa é pequena (Figura 2). Trabalhos mais
recentes realizados na APTA/Pólo Centro Sul rearmam que a adu-bação verde exerce um importante papel na recuperação da fer -
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
tilidade do solo proporcionando aumento da capacidade de trocade cátions, disponibilidade de macro e micronutrientes; formação eestabilização de agregados; melhoria da inltração de água e aera-ção; diminuição diuturna da amplitude de variação térmica; controle
de nematóides e, no caso de leguminosas, incorporação do nutrien-te nitrogênio ao solo através da xação biológica.
Quadro. 1 Quantidades de nutrientes deixados no solo pelasleguminosas.
Espécies N P K Ca Mg S __________________ KG HA-1______________________
Mucuna-preta 215 37 102 133 142 31Crotalaria juncea 234 35 76 78 90 46Soja 38 13 33 61 23 9
Figura.2 Análise econômica da rotação de cultivo em cana-de-açúcar (Fonte: Mascarenhas, 1994)
Observa-se do Quadro 2 o efeito das mucunas nas caracterís-ticas químicas mais importantes que ajudam a melhorar a fertilidadedo solo, além da conhecida habilidade de fornecimento de nitrogênioatravés da FBN.
Nota-se que a presença do adubo verde provocou algumasalterações no solo que puderam ser detectadas pela análise do
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solo, sendo elas: observa-se um incremento signicativo na somade bases, devido ao aumento de cálcio e magnésio e conseqüente-mente, os tratamentos com mucuna apresentaram maiores valoresde CTC. A presença de ácidos orgânicos na massa vegetal pode
ser a causa dessa mudança. Observou-se, também um acréscimosignicativo na acidez potencial da testemunha, sem leguminosacomo adubo verde.
Quadro.2 Resultado de análise de solo coletado na profundidadede 0-20 cm na época da colheita das mucunas.
Tratamento K Ca Mg H+Al CTC SB----mmolcdm3----
Mucuna anã 0,43 b 41,8 ab 28,0 ab 19,50 ab 89,83 ab 70,27 abMucuna Preta 0,30 b 39,0 ab 27,0 ab 18,16 b 84,65 ab 66,30 abMucuna Cinza 0,43 b 34,0 b 23,3 b 20,67 ab 78,65 b 57,76 bMucuna Verde 0,26 b 45,6 a 33,3 a 18,50 ab 97,98 a 79,26 aTestemunha 0,8 a 34,0 b 22,8 b 21,33 a 79,37 b 57,63 b
C.V.% 43,79 20,86 27,56 11,83 15,76 23,29
Médias seguidas de letras distintas na vertical diferem entre si pelo teste de Duncan (p0,05)OBS: Esses dados são de experimentação em campo – APTA/Pólo Centro Sul -Piracicaba
Com o objetivo de quanticar a produtividade da cana-de-açúcar, cultivada em sistema de rotação com leguminosas, foi ins-
talado um experimento em Piracicaba, SP, em área do Pólo Re-gional Centro-Sul (DDD/APTA), durante os anos de 2000 e 2001.A rotação da cana-de-açúcar foi realizada com sete culturas, dasquais seis leguminosas: amendoim Tatu, amendoim IAC-Caiapó,Crotalária júncea, mucuna-preta, soja, girassol, feijão mungo e umtratamento testemunha. Cada parcela foi constituída por 5 linhasde 10 metros de comprimento, espaçadas 1,35 metros entre si. O
delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizadoscom cinco repetições.
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
O Quadro 3, contém as características do solo no qual o ex-perimento foi instalado.
As leguminosas foram incorporadas ao solo com o auxilio deum triturador em meados de abril de 2001 e em seguida planta-
da a cana-de-açúcar (variedade IAC-87-3396). Porém devido a umveranico prolongado, houve a necessidade de replantio da cana-de-açúcar na primeira quinzena de outubro de 2001. Após o de-senvolvimento, durante 12 meses, a cana-de-açúcar foi colhida emsetembro de 2002, sendo avaliado o peso em kg de uma amostrade cana-de-açúcar contendo 10 colmos de cana e sua produtivida-de em Mg ha-1.
Quadro.3.Características do solo de instalação do experimento.Pólo Regional Centro-Sul (DDD/APTA), Piracicaba – SP.2000 –2001.(médias dos tratamentos)
Mo pH P K Ca Mg H+Al SB CTC Vg dm-3 CaCl
2Mg dm-3 ---- mmol
cdm-3 ------- %
Solo semadubo verde
1* 17 5 9 0,4 17 11 34 28,4 62,7 452 17 4,7 4 0,3 15 7 42 22,3 64,6 35
Solo comadubo verde
1 21 5,6 12 0,2 32 20 22 52,2 74,7 702 17 5,2 7 0,7 22 15 31 37,7 68,5 55
*Profundidade de amostragem 1= 0-20 cm e 2= 20-40 cm
A produtividade do material vegetal (verde e seco) e de grãosdas culturas utilizadas em rotação com cana-de-açúcar também fo-ram avaliadas.
No Quadro 4 são apresentadas as produtividades do materialvegetal (verde e seco) e de grãos e porcentagem de infecção por FMVA das culturas utilizadas em rotação com cana-de-açúcar.
Pode-se observar no Quadro 4 e Figura 3, em relação a pre-sença de micorrizas nas raízes, uma maior porcentagem (72%)
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encontradas nas raízes do tratamento 2 (amendoim IAC-Caiapó)seguido do tratamento 7 (girassol – IAC Uruguai).
Quanto a produção de massa seca, no total da soma da parteaérea com a raiz, observa-se a maior produção do girassol IAC -
Uruguai (15.100 Mg ha-1), seguida da Crotalária juncea ( 0.542 Mgha-1 ). Já a produção de grãos alimentícios foi maior no tratamento6 (soja IAC-17), 1.805 Mg ha-1 .
Pelo Quadro 5, observa-se que os melhores resultados de pro-dutividade da cana-de-açúcar ocorreram após rotação com: girassolIAC-Uruguai (138,9 Mg ha-1), amendoim IAC- caiapó (135,1 Mg ha-1),soja IAC-17 (135 Mg ha-1) e Crotalária juncea (3,72 Mg ha-1).
Quadro. 4 Produtividade de material vegetal verde e seco bemcomo a produtividade de grãos de culturas utilizadas em sistemade rotação com cana-de-açucar. IAC/APTA. Piracicaba. 2002.
Trat. Micorrizas M verde (Mg ha-1) M seca M verde M seca Produção% PA PA RA RA Mg ha-1
1* 62 2.370 1.609 33 12 1.287
2 72 7.165 1.905 51 21 1.1924 49 17.960 6.231 1.133 4.311 -5 62 20.160 5.247 321 69 -6 57 15.532 5.436 156 78 1.8057 70 21.090 14.404 1.924 696 -8 55 9.340 4.920 509 255 966
*=amendoim Tatu, 2=amendoim IAC-Caiapó, 4=Crotalária júncea, 5=mucuna-preta,6=soja, 7=girassol, 8=feijão mungo e um tratamento 3=testemunha
No Quadro 5 são apresentados o peso (kg), de amostras decana-de-açúcar e sua produtividade em Mg ha-1.
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
Quadro.5 Dados referentes ao peso em kg de uma amostra decana-de-açúcar contendo 15 colmos de cana e produtividade emMg ha-1. IAC/APTA. Piracicaba. 2002.
Tratamentos kg/amostra ProduçãoMg ha-1
Amendoim Tatu 17,5 B 121,1 BAmendoim IAC-Caiapó 19,6 AB 135,1 ABTestemunha sem adubo verde 13,8 C 95,2 CCrotalária júncea 19,1 AB 131,7 ABMucuna-preta 17,7 B 122,5 BSoja IAC-17 19,6 AB 135,0 ABGirassol IAC- Uruguai 20,2 A 138,9 A
Feijão Mungo ( M146) 17,8 B 123,1 BC.V (%) 8,63 8,68
Obs: Médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste Duncan a5% de probabilidade.
Figura.3 Percentagem de infecção natural das raízes por micorrizas das espéciesutilizadas em rotação com cana-de-açúcar
Os resultados obtidos da cana planta indicam um incrementode produtividade na cana-de-açúcar quando se faz a rotação comgirassol IAC-Uruguai, soja IAC-17, amendoim IAC-Caiapó e Crota-lária juncea. Há uma grande evidência de que as relações micro-
biológicas possa estar afetando positivamente o desempenho dacana-de-açúcar nessa rotação.
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Isso também ca evidente com o comportamento dos insetospragas e a Figura 4 apresenta os dados de colmos infestados combroca da cana-de-açúcar, onde o tratamento com crotalária júnceaapresenta o menor índice de infestação.
Figura.4 Índice de infestação média de Diatraea saccharalis (broca da cana-de-açúcar)em colmos de cana submetidas a rotação com leguminosas em áreas de reforma
A prática da adubação verde com leguminosas na culturada cana-de-açúcar é recomendada durante a reforma do canavial(Cardoso, 1956), proporcionando as seguintes vantagens: não im-plica na perda de um ano agrícola; não interfere na germinação da
cana; apresenta custos relativamente baixos; promove aumentossignicativos nas produções de cana e de açúcar em pelo menosdois cortes; protege o solo contra a erosão e evita a multiplicaçãode plantas daninhas.
Figura.5 Número de nematóides do gênero pratylenchus amostrados em 10g de raízes dacana-de-açúcar (variedade IAC-87-3396) nos diferentes tratamentos
de rotação com leguminosas.
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
Nota-se da Figura 5 a tamanha especicidade das interaçõesmicrobiológicas que ocorrem nos agroecossistemas. Pode-se ob-servar que a Crotalária júncea apresentou comportamento seme-lhante a testemunha, sem a presença de adubo verde e isso se
explica pelo fato dessa planta ser muito eciente no controle denematóides formadores de galhas e ter pouca ou nenhuma eci-ência no controle do pratylenchus. A mucuna-preta apresentou umcontrole intermediário contudo as espécies de amendoim, tanto oIAC Tatu, como o IAC Caiapó, apresentaram um controle muito e-ciente que aliado ao fato de apresentarem muita interação com asmicorrizas acarretou um bom incremento de produtividade da cana-
de-açúcar (Quadro 5).Diversas leguminosas podem ser usadas na adubação verde,
sendo a denição da espécie condicionada a adaptação local, àprodução de massa verde, ao preço e a facilidade da obtenção desementes.
Na Região Centro-Sul do país, as leguminosas mais empre-gadas são: Crotalaria juncea, mucuna-preta, soja e amendoim. No
Nordeste, a mucuna-preta tem merecido especial atenção.Outro sistema de cultivo utilizado na cana-de-açúcar é o cul-
tivo intercalar, segundo Romanini, citado por Lombardi & Carvalho,1981. As culturas mais freqüentes são feijão, soja e amendoim, por aumentarem o excedente econômico do produtor sem alteraremsignicativamente a produtividade da cana-de-açúcar. Em geral, asnão-leguminosas têm um efeito competitivo, o que pode diminuir a
produtividade da cana-de-açúcar.Esse sistema difere do uso de leguminosas para a adubação
verde, pois, nesse caso, o retorno econômico aparece no aumentoda produtividade da cana e açúcar, bem como na economia de Nmineral.
Com a rotação cana-soja, nas áreas de reforma do canavial,a semeadura da soja é efetuada em outubro, permanecendo na
área até fevereiro, mantendo uma cobertura num período crítico demuita chuva. A receita da soja cobre praticamente 60% dos custos
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de produção da cana, além de dispensar a adubação nitrogenadana cana-planta.
Antes de efetuar o plantio da leguminosa, devemos lembrar de vericar se o controle de ervas foi efetuado com herbicidas, pois
muitos produtos usados recentemente podem ser prejudiciais àsleguminosas.
Vericar, também, a necessidade de correção de alguns ele-mentos do solo através da análise química, pois as leguminosassão exigentes em P, Ca e Mg, além de serem pouco tolerantes àacidez do solo.
A leguminosa adubo verde deve ser incorporada quando 50%
das plantas apresentarem orescimento, e recomenda-se o plantioda cana-de-açúcar 20 dias após esta operação.
Com relação a eciência de utilização do nitrogênio deriva-do do adubo verde, Ambrosano et. al., 2003 e 2004, desenvolveramum estudo onde a Crotalária júncea foi marcada com 15N, em umensaio conduzido diretamente no campo, e determinaram que onitrogênio derivado do adubo verde é utilizado de forma constante
e variando conforme a presença de umidade no solo e parte daplanta observada.
As maiores porcentagens de Nitrogênio na Planta Provenien-te da Fonte marcada (NPPF %) foram encontradas após 8 mesesde plantio da cana para os tratamentos com adubo verde sem N-mi-neral e adubo verde com N-mineral e foram respectivamente 15,31e 8,36% (Figura 6 e Quadro 6)
A maior recuperação do nitrogênio foi encontrada na colheita,18 meses após o plantio sendo que o tratamento N-mineral apre-sentou 34,8% e na soma N-mineral mais N-crotalária apresentou39,9% (Quadro 6)
Os tratamentos alteraram signicativamente atributos dosolo promovendo aumento nos teores de Ca e Mg, Soma de Basese Saturação de Bases com declínio na acidez potencial (Quadro
7). Na cana-de-açúcar parte aérea, aumentando teores de Ca e K(Quadro 8).
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
Quadro.6 Nitrogênio na planta proveniente da fonte marcada dofertilizante (NPPF%), quantidade de nitrogênio na planta provenien-te da fonte marcada (QNPPF em g kg-1e kg ha-1) e recuperação donitrogênio (R em %) em função do nitrogênio aplicado nas diferen-
tes amostragens.
TratamentosNPPF QNPPF R
% kg ha-1 %---------------Amostragem 1 (29 de outubro de 2001)------------
Sem adubo verde com Nmineral*
4.98 B 1.85 B 2.64 A
Com adubo verde* e com Nmineral
18.36 A 11.21 A 5.72 A
Com adubo verde* e sem Nmineral
15.31 A 6.91 AB 3.53 A
Com adubo verde e com Nmineral*
7.24 AB 3.56 AB 5.09 A
C.V. % 25.55 48.00 54.03----------------Amostragem 2 (20 de fevereiro de 2002)---------------
Sem adubo verde com Nmineral*
13.09 A 14.63 A 20.89 AB
Com adubo verde* e com N
mineral
13.51 A 16.34 A 8.34 BC
Com adubo verde* e sem Nmineral
10.70 A 12.24 A 6.25 C
Com adubo verde e com Nmineral*
15.13 A 24.53 A 35.05 A
C.V. % 18.06 55.72 20.57------------------Amostragem 3 (28 de maio de 2002)-------------------
Sem adubo verde com Nmineral*
12.03 A 16.11 A 23.01 A
Com adubo verde* e com Nmineral 8.09 B 11.08 A 5.66 B
Com adubo verde* e sem Nmineral
7.58 B 10.73 A 5.47 B
Com adubo verde e com Nmineral*
13.20 A 21.65 A 30.93 A
C.V. % 33.97 35.44 21.06----------------Amostragem 3 colmos (28 de maio de 2002)------------------
Sem adubo verde com Nmineral*
14.84 A 4.16 A 5.94 A
Com adubo verde* e com Nmineral
4.02 B 0.94 B 0.48 B
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183
Edmilson José Ambrosano et al.
TratamentosNPPF QNPPF R
% kg ha-1 %----------------Amostragem 3 colmos (28 de maio de 2002)------------------
Com adubo verde* e sem Nmineral
3.24 B 0.79 B 0.41 B
Com adubo verde e com Nmineral*
10.82 A 3.87 A 5.52 A
C.V. % 24.97 38.06 21.34-----------------Amostragem 4 colmos (24 de agosto de 2002)-----------------Sem adubo verde com N
mineral*10.46 A 24.06 A 34.38 A
Com adubo verde* e com Nmineral
6.99 A 19.29 A 9.85 B
Com adubo verde* e sem N
mineral
8.17 A 17.27 A 8.82 B
Com adubo verde e com Nmineral*
10.32 A 21.06 A 30.08 A
C.V. % 39.42 42.84 22,80
Médias seguidas de letras distintas na vertical em cada época de amostragem, diferem entresi pelo teste de Tukey (p<0,05) *Fonte de N marcada com 5N
0
5
10
15
20
25
30
amostra1 amostra 2 amostra 3 amostra 3C amostra 4C
Épocas.de.Amostragem
N P P F %
Sem AV + N* Com AV* + N
Com AV* - N Com AV + N*
Figura.6 NPPF% (Nitrogênio na Planta Proveniente da Fonte marcada*) nas diferentesamostragens.
OBS: 3C e 4C se referem as observações feitas no colmo da cana-de-açúcar
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
No Quadro 6 são apresentados os resultados de nitrogêniona planta proveniente da fonte marcada do fertilizante (NPPF %),quantidade de nitrogênio na planta proveniente da fonte marcada(QNPPF em kg ha-) e a recuperação do nitrogênio (R em %) em
função do nitrogênio aplicado nas diferentes amostragens. Obser-va-se na primeira época de amostragem uma tendência clara deestar havendo um sinergismo para as fontes de nitrogênio quandoaplicadas juntas (Figura 6).
Observa-se também que três meses antes da colheita (amos-tra 3, colmos) a percentagem de nitrogênio na planta provenienteda fonte orgânica nos colmos da cana-de-açúcar foram baixas, me-
nores que 5% e na época da colheita ela aumentou para aproxima-damente 10%. Essa característica foi observada com menor inten-sidade nas épocas intermediárias de amostragem. Essa tendênciaporém não foi conrmada pela análise estatística, como pode-seobservar na Quadro 6; entretanto, na primeira época de amostra-gem, (8 meses após plantio), essas diferenças foram detectadaspela análise estatística mostrando claramente maior porcentagem
de nitrogênio na cana-de-açúcar proveniente da fonte orgânica denitrogênio.
Resultados semelhantes foram obtidos por Muraoka et al.(2001) utilizando uma fonte orgânica aplicada ou não juntamentecom fonte mineral. Foram utilizadas duas leguminosas, Mucuna-preta e Crotalária júncea e duas doses de N mineral, 40 e 80 kgde N/ha na forma de uréia e concluíram os autores que os adubos
verdes proporcionaram melhor uso do N mineral, sobretudo nasaplicações em cobertura, resultando em eciência de utilização doN-fonte de até 79%.
A maior percentagem de nitrogênio na cana-de-açúcar pro-veniente da Crotalária Júncea na primeira amostragem, pode in-dicar que na condição de baixa disponibilidade hídrica em que foisubmetida a cultura, o nitrogênio foi garantido pela fonte orgânica,
uma vez que esse valor foi cerca de cinco vezes maior ao da fontemineral (Figura 6).
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Edmilson José Ambrosano et al.
Esse fato não reetiu na recuperação do nitrogênio, uma vezque na primeira amostragem não se observou diferença da fonte denitrogênio na porcentagem de N recuperado pela cana-de-açúcar (Quadro 6). Nas amostragens posteriores a recuperação foi maior
para os tratamentos com N-mineral. Na colheita a recuperação to-tal (N-Adubo verde + N-mineral) foi de 39,93 % (Quadro 6) .
Com relação ao nitrogênio recuperado pela cana-de-açúcar,apesar de os valores mostrarem-se um tanto baixo, em torno de30% para o N-mineral e 9% para o N-orgânico, estes estão de acor-do com os resultados da literatura Trivelin et al. (1995) e (1996)encontraram valores semelhantes, entre 19 a 43% com fertilizan-
tes minerais Aquamônia e Uréia em soqueira de inicio e de nalde safra. Segundo os autores para a cana-de-açúcar, uma grandeparcela do N acumulado pode ter origem na xação biológica donitrogênio e do N mineralizado no solo (N nativo).
Outro destaque importante que se pode dar aos resultadosdo Quadro 6 e Figura 6 é que nas épocas intermediárias de amos-tragem houve uma tendência de inversão dos resultados da pri-
meira amostragem, devido à ocorrência de maior disponibilidadehídrica.
Na colheita nal não se observou diferença entre as fontes denitrogênio o que pode estar indicando, independente da forma de Naplicada, que a percentagem de N na cana-de-açúcar provenientedas duas fontes foram semelhantes, isto é, apresentaram a mesmautilização pela cultura. Em adição pode-se dizer que quando se efe-
tua a adubação verde, em proporções semelhantes às do presenteestudo, pode-se suprimir a fertilização mineral nitrogenada de co-bertura em cana-planta.
As diferenças entre as quantidades de nitrogênio na cana-de-açúcar provenientes das fontes marcadas (Quadro 6) foram maispronunciadas e diferentes na primeira amostragem, onde a Crotalá-ria júncea forneceu maior quantidade de nitrogênio para a cultura.
Não houve diferença entre o fornecimento de nitrogênio da Crotalá-ria júncea complementada ou não com N mineral. Vericou-se, ain-
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
da, queda na recuperação de nitrogênio mineral, em comparaçãoao nitrogênio da Crotalária.
Na última amostragem as diferenças entre tratamentos noNPPF desapareceram, e se observa nitidamente uma crescente
diluição do N-fontes na planta de cana-de-açúcar que cresce ra-pidamente. Outro fator que deve estar contribuindo com esses re-sultados observados na primeira época de amostragem pode ser aconservação da umidade nos tratamentos com adubo verde e estaumidade estar favorecendo atividade microbiológica, o crescimentoda cana-de-açúcar e o melhor aproveitamento do nitrogênio, con-tudo não foram feitas medidas da umidade a m de dar suporte a
estas inferências.
Quadro.7. Caracterização química do solo (profundidade de 0-20cm) na época do plantio e da colheita da cana-de-açúcar
Amostragem de solo feita na época de plantio da cana-de-açúcar Tratamento pH Ca Mg H+Al SB V
CaCl2
------------------mmolc/dm3------------------- ----- % -----
Testemunha 5,1 ab 20,5 ab 14,5 ab 37,8 a 35,4 ab 48,2 aS.A.-15N 4,7 b 15,8 b 9,8 b 47,0 a 25,9 b 36,0 a
C.J. -15N +S.A.
5,3 a 24,8 a 17,8 a 32,0 a 42,8 a 55,8 a
C.J.-15N 5,0 ab 18,0 ab 13,0 ab 39,0 a 31,4 ab 44,5 aMédia 5,0 19,8 13,8 39,0 33,9 46,1C.V.% 5,12 7,55 10,76 20,77 6,81 22,52
Amostragem de solo feita na época de colheita da cana-de-açúcar Testemunha 5,0 ab 17,8 a 14,0 ab 39,8 ab 32,2 a 44,5 ab
S.A.-
15
N 4,7 b 15,3 a 9,8 b 46,5 a 25,4 a 35,8 bC.J. -15N +S.A.
5,6 a 24,7 a 26,8 a 25,5 b 44,4 a 67,5 a
C.J.-15N 5,0 ab 19,0 a 15,3 ab 36,3 ab 34,5 a 48,5 ab
Média 5,0 18,0 16,4 37,0 33,5 49,1C.V.% 8,00 30,88 15,18 25,87 32,45 29,57
Médias seguidas de letras distintas na vertical em cada época de amostragem, diferem peloteste de Tukey (P 0,05)
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Edmilson José Ambrosano et al.
Quadro.8.Teores de N, K, P, Ca, Zn e B em colmos de cana-de-açúcar na época da colheita
Tratamento N K P Ca Zn B
Teores determinados em colmos de cana-de-açúcar na colheita---------------g kg-1---------------- --mg kg-1--
Testemunha 7,2 a 3,3 b 0,8 a 1,6 b 10,9 a 12,1 a
S.A.-15N 8,1 a 6,7 a 0,9 a 1,7 b 15,3 a 14,9 a
C.J.-15N 7,7 a 7,1 a 0,9 a 1,8 b 13,3 a 14,8 a
C.J. -15N + S.A. 8,8 a 8,5 a 1,0 a 2,4 a 13,7 a 15,4 a
Média 8,0 6,4 0,9 1,88 13,3 14,3
C.V.% 11,52 27,89 15,61 8,14 19,80 18,00
Médias seguidas de letras distintas na vertical em cada época de amostragem, diferem peloteste de Tukey (P 0,05)
Experiência de Piracicaba com cana-de-açúcar orgânicaO presente estudo visa encontrar alternativas que viabilizem
a obtenção de tecnologia para produção agroecológica de cana-de-açúcar, tornando possível a certicação ecológica do produto nal.
Instalou-se o experimento em Piracicaba, SP, em área doPólo Regional Centro-Sul (DDD/APTA), de junho de 2000 a outubrode 2001. constando de seis tratamentos: (1-Testemunha, 2-conven-cional, 3-composto orgânico, 4-composto biodinâmico, 5-torta deltro e 6-adubo verde), com delineamento em blocos casualizadose seis repetições, totalizando 36 parcelas , tendo cada parcela 5linhas de 10 metros de comprimento, com espaçamento de 1,35m
entre si. Antes do plantio da cana-de-açúcar (variedade RB72-454),os tratamentos de 2 a 6 foram cultivados com adubo verde, tre-moço branco (Lupinus albus), roçado no momento do plantio dacana-de-açúcar. Nos tratamentos 3,4,5,6, foi plantado mucuna-anã(Mucuna deeringiana) nas entrelinhas do cultivo da cana-de-açú-car, cana-planta.
No Quadro 9 são apresentados os dados de rendimento do
tremoço (ton/ha), nos tratamentos de 2 a 6 do presente estudo.Observa-se pelos dados data que houve diferenças no rendi-
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
mento (ton/ha) do tremoço entre as parcelas, sendo que a parcelareferente ao tratamento 2 apresentou o maior rendimento (5,6 ton/ha), apesar de não ter sido realizada qualquer tipo de adubação noplantio deste adubo verde.
Quadro.9 Resultados dos pesos das parcelas experimentais (ton/ha) de tremoço branco. Pólo Regional Centro-Sul (DDD/APTA). Pi-racicaba – SP, junho de 2000 a outubro de 2001.
Tratamento Bloco I Bloco II Bloco III Bloco IV Bloco V Média--------- ton/ha -------
1(Testemunha)2(Convencional) 4,00 1,50 2,40 2,70 3,40 5,60
3(Orgânico) 2,00 4,20 2,70 3,50 2,70 3,004(Biodinâmico) 2,70 2,30 2,60 3,00 2,70 2,705(Torta de ltro) 2,60 4,20 3,10 3,60 2,80 2,886(Adubo verde) 5,30 3,10 3,10 3,60 2,80 3,58
Média 3,32 3,06 2,78 3,28 2,88
A soqueira da cana-de-açúcar foi colhida em setembro nasafra 2001/2002 sendo que os dados de altura e diâmetro do colmo
podem ser observadas no Quadro 0.Pelos dados do Quadro 0 observa-se uma diferença signi-cativa na altura da cana-de-açúcar soca sendo que o tratamento 3apresentou a menor altura de plantas e os tratamentos convencio-nal e testemunha com as maiores alturas. Não se observou diferen-ças signicativas entre o diâmetro dos colmos da cana-soca.
Os resultados de rendimento (ton/ha) da cana-de-açúcar,
cana planta e soqueira nos diferentes tratamentos, podem ser ob-servados no Quadro .Os melhores rendimentos na cana planta foram observados
nos tratamentos convencional e testemunha, os quais apresentaramum rendimento de 93,8 e 70,4 toneladas/hectare respectivamente.Quadro.10 Dados de diâmetro do colmo em mm e altura de plantasem m nos diferentes tratamentos (Média de 15 colmos). Pólo Re-
gional Centro-Sul (DDD/APTA). Piracicaba – SP, safras 2000/2001e 2001/2002.
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Edmilson José Ambrosano et al.
Tratamentos Diâmetro (mm) Altura (m)Soqueira
1(Testemunha) 26,38 A 2,72 A2(Convencional) 26,75 A 2,74 A3( Composto Orgânico) 27,03 A 2,29 B
4( Composto Biodinâmico) 27,53 A 2,55 AB5(Torta de Filtro) 27,23 A 3,39 AB6(Adubo verde) 27,02 A 2,58 ABC.V.(%) 4,00 9,90
Médias seguidas de letras distintas na vertical diferem entre si pelo teste de Duncan (p0,05)
Os tratamentos utilizando compostos orgânicos alcançaramem média 65,6 toneladas/hectare. O desenvolvimento da mucuna-
anã plantada nas entrelinhas dos tratamentos (3,4,5 e 6) logo apóso plantio da cana-de-açúcar (cana-planta), ocasionou uma con-corrência dessa leguminosa com a cana-de-açúcar, provocandoum lento desenvolvimento inicial e prejudicando o perlhamentoda cana-de-açúcar, não permitindo que esta se desenvolvesse como seu máximo potencial, interferindo nos resultados nais de rendi-mento da cana planta. Contudo a cultura da cana-de-açúcar deveser encarada como um cultivo perene e nesse caso a adubação
verde feita pela mucuna-anã deve ter provocado o incremento deprodutividade na soqueira fazendo com que as diferenças observa-das da cana-planta desaparecesse.
Quadro.11 Rendimento de cana-de-açúcar, cana planta e soquei-ra, em toneladas/hectare nos diferentes tratamentos. Pólo Regio-nal Centro-Sul (DDD/APTA). Piracicaba – SP, safras 2000/2001 e2001/2002.
Tratamentos Rendimento (ton/ha)Cana planta Soqueira
1(Testemunha) 70,4 B 147,43 A2(Convencional) 93,8 A 146,41 A3( Composto Orgânico) 66,4 B 146,28 A4( Composto Biodinâmico) 62,7 B 154,22 A5(Torta de Filtro) 67,7 B 145,84 A6(Adubo verde) 52,4 C 165,83 A
C.V.(%) 8,67 11,31Médias seguidas de letras distintas na vertical diferem entre si pelo teste de Duncan (p0,05)
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
Os resultados de rendimento de cana-de-açúcar (toneladas/hectare), referentes a cana-planta, demonstram que os tratamentosnos quais não se plantou a leguminosa (mucuna-anã) nas entreli-nhas, apresentaram os maiores rendimentos , devido ao melhor
desenvolvimento da cana-de-açúcar que não sofreu concorrênciada leguminosa em sua fase inicial de crescimento, porém o efeitobenéco dessa prática foi sentido com incremento de produtividadena soqueira. Aconselha-se a semeadura racional desta leguminosanas entrelinhas de cana-de-açúcar, em sua fase inicial de desenvol-vimento para não causar concorrência com a cana-de-açúcar umavez que essa pratica se mostrou altamente benéca.
Pesquisas.com.leguminosas.adubos.verdes.em.citrosNo Estado de São Paulo, também chamado “Pomar do Mun-
do”, grandes áreas são ocupadas com laranja sendo plantadoscerca de 670 mil hectares que produzem mais de 15 milhões detoneladas que são em grande parte exportados e ajudam no su-perávit da balança comercial Brasileira. Não obstante se observa
uma retração na área plantada e a necessidade de melhorar cadavez mais a produtividade dos pomares com menor custo e foi pen-sando nessa redução de custo que a prática da adubação verdepode colaborar com o agricultor garantindo a redução dos insumosimportados como fertilizantes e herbicidas.
Uso.adequado.dos.adubos.verdes.em.citros
Na atualidade ocorre uma tendência mundial da busca de ali-mentos saudáveis, provenientes de uma agricultura feita com práti-cas agrícolas que produzam a mínima degradação ambiental.
Neste contexto e buscando reduzir os custos de produção,a utilização de adubação verde ou seus princípios devem ser incre-mentados no Brasil, da mesma forma que os trabalhos cientícosmostram os efeitos benécos desta prática milenar na agricultura.
Os efeitos benécos da adubação verde são observadosquando ocorre freqüência de sua aplicação e podem ser destacados:
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Edmilson José Ambrosano et al.
Ciclagem.de.nutrientesA prática da adubação verde permite uma maior ciclagem
de nutrientes para as camadas mais superciais do solo o que éimportante para a cultura de citros.
Na cultura de citros o emprego de adubos verdes intercalarescontribui para a redução da aplicação de nitrogênio mineral, sendoa Crotalária juncea o mais indicado para pomares em formação.
Observa-se da Quadro 2 as quantidades médias de nutrien-tes que são incorporadas aos solos.
Apesar de não ter sido observado alteração signicativa daprodução de frutos pela diminuição da adubação nitrogenada, os
tratamentos com crotalária e guandu apresentaram as maiores pro-duções, veja detalhes na Quadro 4.
A adubação verde também reduz a incidência de plantas da-ninhas e incrementa a reciclagem de nutrientes em pomares decitros.
Quadro.12 Quantidade média de nutrientes incorporados ao solo
pelas leguminosas após quatro anos de semeadura intercalar aocitros.
Tratamentos Macronutrientes Micronutrientes
N P2O
5K
2O Ca Mg S B Cu Fe Mn Zn
----------------kg ha-1----------------- ---------------g ha-1---------------
C. júncea 183,4 39,2 204,4 104,8 52,4 13,1 236 92 4.153 721 275
C. spectabilis 44,3 10,2 56,1 38,4 9,8 3,4 74 30 561 170 64
Guandu 143,6 29,9 131,3 54,7 20,5 9,6 157 82 3.119 506 144Mucuna preta 85,6 18,8 72,6 39,2 14,2 6,4 93 64 8.095 612 103
Mucuna anã 91,0 15,3 54,6 31,5 14,0 7,0 91 74 5.768 714 105
Labe labe 67,4 19,2 69,3 41,7 19,3 7,1 93 32 4.565 578 100
Feijão de porco 169,4 30,6 137,9 108,9 30,3 10,9 169 42 4.005 780 133
Obs: Quantidade de nutrientes considerando plantio em área total, para área de citros utili-zada, considerar 50% dos valores..Silva, 1995.
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
Efeitos.químicos.no.soloA fertilidade do solo é bastante inuenciada pelos efeitos dos
adubos verdes, tais como: aumento do teor de matéria orgânica dosolo ao longo dos cultivos, pela adição da tomassa.
Atua na redução do alumínio e acidez potencial proporcio-nando um incremento da saturação por base do solo.
Observa-se da Quadro 3 o efeito da adubação verde sobrea redução do H+Al o que acarreta um signicativo aumento do pHe na saturação por bases do solo na área de projeção da copade citros. Os resultados são claros em mostrar o efeito benécona redução da acidez potencial nos tratamentos com utilização de
adubos verdes.
Efeitos.físicos.no.soloA prática da adubação verde proporciona aumento na porosi-
dade total do solo, inuenciando principalmente, na macroporosida-de e redução na densidade do solo. Como conseqüência observa-seum aumento da capacidade de armazenamento de água no solo.
Quadro.13 Resultado das análises químicas de solo na projeçãoda copa de citros, nos anos agrícolas de 90/91, 91/92 e 92/93.
ElementoAnalisado
Tratamento
H+Al
mmolcdm-3
Ano NPK 2NPKCrotaláriaJúncea
GuandúMucuna
PretaMucuna
anãFeijão de
Porco90/91 42ab 49a 34b 37ab 40ab 38ab 43ab91/92 60ab 70a 40c 43c 42c 42c 47bc
92/93 56ab 68a 40c 37c 42bc 40c 50bcC.V.% 19,09
Médias seguidas por letras distintas na horizontal, não diferem estatisticamente pelo teste detukey (p<0,05) Silva, 995.
Efeitos.biológicos. A utilização da adubação verde, segundo Silva et al. 1999,
pode vir a constituir num dos métodos mais baratos no controle denematóides, principalmente Meloidogyne, desde que se escolha as
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Edmilson José Ambrosano et al.
espécies adequadas de plantas no sistema. Algumas espécies con-tribuem para o incremento populacional enquanto outras como ascrotalárias, mucunas e guandu, reduzem sua população no solo.
O manejo associado com vegetação espontânea roçadas
por todo ano e com uso do feijão-de-porco plantado nas águas eroçado na seca, apresentaram os melhores graus de colonizaçãoradicular por fungos MAs, quando comparados aos métodos me-cânicos de controle do mato, por criar condições mais favoráveis,no solo, para a permanência e multiplicação desse fungos. Destes,o manejo da leguminosa nas ruas da cultura apresentou o maior grau de colonização radicular em relação à vegetação espontânea
(Carvalho et al. 1995).
Adubação.verde.em.citrosTrabalhos clássicos conduzidos por Rodrigues (957 e
1969), citados por Neves (1998), mostram que o uso contínuo daadubação verde e cobertura morta propiciou aumentos signicati-vos na produtividade de citros, quando comparados com práticas
como gradagens, herbicidas e arações.
Quadro.14 Produção de Frutos de Laranja Pêra (MG ha-1) em Po-mar com Diferentes Cultivos Intercalares.
Tratamentos Produção de frutos, em Mg ha-1
90/91 91/92 92/93 MédiaNPK 2,34 15,11 18,80 12,08a2N, PK 3,19 14,60 19,99 12,59aCrotalaria juncea 3,85 19,09 21,81 14,92aCrotalaria spectabilis 1,60 13,68 16,66 10,65aGuandu 3,08 18,12 23,02 14,74aMucuna-preta 3,49 18,80 19,63 13,97aMucuna-anã 2,59 17,49 19,08 13,05aLablabe 2,14 14,82 17,57 11,51aFeijão-de-porco 1,68 13,84 18,18 11,22a
Médias seguidas por letras distintas não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey(p0,05). Silva, 1995.
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
O Quadro 4, extraído de Silva et al 999, nos dão uma visãoclara do potencial da adubação verde e da possibilidade de reduçãoda adubação química sem prejuízo na produtividade de laranja Pêra.
Manejo.dos.adubos.verdes A semeadura dos adubos verdes em pomares novos pode ser realizado com auxilio de grade leve, pois as raízes dos citros aindanão atingiram a área intercalar, mas em plantas adultas essa práti-ca poderá ser prejudicial. Sempre que possível adote técnicas comoo escaricador para quebrar camadas mais compactadas e remover plantas daninhas ou plantio direto. O capricho na época de semeadurairá garantir o stand ideal e o melhor crescimento das plantas.
Geralmente não se deve adubar os adubos verdes a não ser para corrigir alguma deciência ou se faz parte do manejo da adu-bação dos citros.
O Quadro 5 apresenta um guia para a implantação idealdas leguminosas adubos verdes no cultivo intercalar dos citros
Recomendações baseadas no peso de 1000 sementes eadaptados para citros.
Quadro.15 Densidade de sementes e espaçamentos das legumi-nosas mais utilizadas em sistemas de produção com citros.
Espécies Sementes Densidade Espaçamento Semear Cortar (kg/ha) (sem./m. linear) entre linhas (m) meses meses
Crotalaria júncea 30 25 0,5 9/12 3/4Crotalaria spectabilis 15 38 0,5 9/12 3/4Cajanus cajan – Guandu 50 17 0,5 9/12 4/5Cajanus cajan – Guandu anão 25 20 0,5 9/12 3/4Mucuna aterrima - M. preta 65 4 0,5 9/12 4/5Mucuna deeringiana – M.anã 80 8 0,5 9/12 3/4
Dolichos labe-labe –Lablabe 60 13 0,5 9/12 3/4Canavalia ensiformis – Feijão de Porco 100 5 0,5 9/12 3/4
Milheto Africano 15 70 0,3 9/12 3/4Nabo forrageiro 15 30 0,3 3/5 7/8
Recomendações baseadas no peso de 1000 sementes e adaptados para citros. SILVA (1995)
A época ideal para o corte dos adubos verdes é quando es-tiverem em pleno orescimento, por apresentarem maiores teores
de nutrientes na parte aérea e relação C/N baixa, devendo o mate-rial car sobre a superfície do solo protegendo-o.
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Edmilson José Ambrosano et al.
Sistemas.recomendadosA semeadura dos adubos verdes nos pomares novos ou
áreas de renovação ou implantação admitem semeadura em áreatotal, obtendo-se assim maior produção de biomassa e proteção do
solo sendo que as mudas de citros podem ser plantadas em áreamanejada ou intercalar ao adubo verde. A sugestão para esse sis-tema é utilizar ou feijão guandu ou crotalária júncea semeadas en-tre setembro-dezembro (ideal outubro-novembro). O feijão guandupode permanecer na área por mais de um ano e procedendo destaforma pode-se optar por semear rua sim, rua não, para facilitar ostratos culturais no citros.
Em caso de semeadura intercalar em pomares já instala-dos porém em fase de formação pode-se utilizar adubos verdes deverão, Crotalária júncea ou feijão guandu, no sistema rua sim, ruanão até o quarto ano ou se optar por uma planta de porte menor (feijão guandu anão, Crotalária breviora, feijão-de-porco ou labla-be pode-se semear em todas as ruas.
Para pomares em produção a melhor opção é feita por plan-
tas de baixo porte e de preferência utilizando se de práticas de cul-tivo mínimo como plantio direto na palha para não provocar danosnas raízes de citros que nessa idade já invadiram a área centraldas ruas. Nesse caso pode-se semear em todas as ruas e os tratosculturais do citros sendo feito sem diculdades com os implementospassando por sobre as leguminosas. Vale ressaltar que para poma-res mais velhos e mais fechados o feijão-de-porco tem se adaptado
muito bem nessas condições. O manejo nesse caso deve ser feitocom as plantas em pleno orescimento que pode ser feito entreabril e maio, liberando o pomar para os meses de décit hídrico,lembrando que a losoa desse manejo é máxima produção de bio-massa no verão e cobertura morta no inverno.
O manejo de plantas de cobertura no inverno também podeser pensado para citros sendo que os melhores resultados foram
obtidos com a utilização de nabo forrageiro plantado de março amaio com grandes benefícios para promover descompactação do
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
solo e com intensa produção de ores que abrigam e alimentaminimigos naturais para o equilíbrio biológico de pragas e doençasnos pomares. Outra opção interessante é o uso de mistura de plan-tas de cobertura os chamados coquetéis que tem sido preferido
principalmente pelos produtores orgânicos, observe a Figura 7 paramelhor compreender esse sistema.
Ago. Set. Out Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. JulEspécies espontâneas
Leguminosas e oucoquetel de verão
Nabo forrageiro e oucoquetel de inverno
Figura 7. Esquema de manejo de sistemas de adubos verdes em Citros
Considerações naisDiante das informações apresentadas pode-se recomendar a
prática da adubação verde em citros, principalmente nas áreas demenor fertilidade do solo ou depauperadas pelo uso continuado emuitas vezes submetidos a erosão. essa prática bem aplicada, po-
derá contribuir para a recuperação da fertilidade do solo, melhoriada produtividade e conservação do solo e outros benefícios como oaumento da biodiversidade do sistema agrícola.
Outras.culturasMondardo & Lavina (1998), demonstraram em estudos reali-
zados com mandioca, que as leguminosas C. mucronata, C. ochro-
leuca e o guandu não inuenciaram positivamente a produção des-ta cultura nos quatro primeiros anos, sendo necessário a utilizaçãoda adubação química recomendada.
Segundo Miller (1998), a mandioca em cultivo intercalar commucuna e crotalária proporcionou apenas um maior controle deplantas daninhas, mas não obtiveram melhoras no estado nutricio-nal da planta no mesmo ciclo.
Wutke (998), estudando o feijoeiro em rotação com milho
e adubação verde armou que a utilização da mucuna-preta e daCrotalária juncea no outono-inverno tem efeitos favoráveis para o
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Edmilson José Ambrosano et al.
feijoeiro em sucessão, relativamente aos teores foliares de potás-sio, cobertura vegetal do solo e índice de área foliar.
A rotação de feijão com milho e adubos verdes também fa-voreceu a redução da resistência do solo à penetração, a manuten-
ção do teor normal de matéria orgânica do solo e a possibilidade deredução da acidez e o aumento da saturação por bases em profun-didade.
Pesquisas.com.leguminosas.adubos.verdes.em.arrozExperimentos foram realizados em Pindorama e Votuporanga
nas Estações Experimentais do IAC com o objetivo de avaliar a e-
ciência das leguminosas Crotalária júncea e Mucuna-preta, usadascomo adubos verdes para suprir de N a cultura do arroz, estudar ainteração com outra fonte de N (uréia) e estudar o fracionamentodiante da nova forma de cultivo com adubo verde.
Inicialmente se cultivaram as leguminosas nos tratamentosexperimentais correspondentes e simultaneamente foram produzi-das leguminosas marcadas com 15N em área adjacente ao experi-mento. As leguminosas foram cortadas logo após o orescimento e
sua massa vegetal foi incorporada supercialmente antes do plan-tio do arroz. O fertilizante nitrogenado foi aplicado fracionadamente(5+25 ou 30+50 kg N ha-1). Tanto uréia-15N como leguminosas-15N,foram aplicadas em sub-parcelas dentro de cada parcela principal.
Pode-se observar que as leguminosas são excelentes fontesde N, sendo equivalente a 40 kg N ha-1 como uréia para produçãode grãos de arroz. A produtividade obtida com a combinação mu-
cuna preta e 40 kg N ha-1 superou o produzido com 80 kg N ha-1 . Ambas proporcionaram praticamente a mesma quantidade de Npara o arroz sendo 26 e 25% do N do grão proveniente da Mucuna-preta e Crotalária Júncea, respectivamente em Pindorama e 38 a37% em Votuporanga. Estas leguminosas podem suprir grandesquantidades de N ( 49 kg N ha-1 , Crotalária e 362 kg N ha-1 , mu-cuna-preta). Os adubos verdes proporcionaram melhor uso do N do
fertilizante nas aplicações de cobertura, permitindo uma eciênciade até 79%.
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
Veja mais detalhes das produtividades de arroz no Quadro 6e Figura 8.
Recentes trabalhos de pesquisas tem demonstrado o ganhoem produtividade com a rotação de cultivos utilizando–se de legu-
minosas e os Quadros abaixo adaptados de Mascarenhas et al.(1998) e Tamiso et al. (2001) podem resumir esse efeito em cultu-ras de cereais e hortaliças respectivamente.
Quadro.16 Efeito dos Adubos Verdes Crotalária e Mucuna-Preta quan-do aplicados em conjunto com N-uréia ou separadamente na produtivi-dade de grãos de arroz cultivados em Pindorama e Votuporanga
Locais
Tratamentos Votuporanga PindoramaAnálise
conjunta--------------kg N ha-1----------- ----------------------grão, kg ha-1------------------------------T
10 1830 1936 1883d
T2
80 (30+50) 3183 (74%) 3900 (101%) 3542abT
340(15+25) 2513 (37%) 2944 (52%) 2727c
T4
adubo verde Mucuna (AVm) 2459 (34%) 3080 (59%) 2770c
T5
adubo verde Crotalária (AVc) 2480 (35%) 3495 (80%) 2988bc
T6AV
m+ N (15+25) 3517 (92%) 4183 (116%) 3850a
T7AV
c+ N (15+25) 3034 (66%) 3314 (71%) 3174bc
CV% 18,72 19,62 19,34
Médias seguidas por letras distintas diferem entre si pelo teste de Duncan (P 0,05).OBS: Os valores entre parêntesis nas colunas de grãos, correspondem aos incrementos emrelação a testemunha.
Figura.8 Efeito dos adubos verdes crotalária e mucuna-preta quando aplicados emconjunto com n-uréia ou separadamente na produtividade de grãos de arroz cultivados em
Pindorama e Votuporanga
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Edmilson José Ambrosano et al.
Mascarenhas et.al, (1998) trabalharam em Pindorama, SPem um solo Podzólico vermelho amarelo, fase arenosa, o mesmoutilizado no experimento acima com arroz, e avaliaram o efeito darotação entre milho, soja e arroz, com e sem crotalária júncea de
outono-inverno. A soja (leguminosa) não respondeu com aumentosde produtividade porém o arroz e milho (gramineas) tiveram suasproduções acrescidas quando comparadas com o monocultivo des-sas culturas (Quadro 7).
Tamiso et al. (2001) trabalharam em Piracicaba, SP em umaassociação de solo Latossolo vermelho escuro + Podzólico verme-lho escuro Latossólico e avaliaram o efeito da adubação verde com
tremoço, crotalária júncea e chicharo nas culturas de pimentão, ce-noura, couve-or e alface.
Quadro.17 Produção (kg ha-1) de milho, arroz e soja, no terceiro anode experimentação, sob diferentes rotações das referidas culturas,intercaladas ou não com crotalária júncea em Pindorama, SP.
Tratamentos Milho Arroz SojaSeqüência de rotação/anos ------------------kg ha-1---------------------1 2 3
S/C A/C M 7470 aS A/C M 7045 aS A M 7595 aM M M 5384 bM S/C A/C 2996 aM S A/C 2746 aM S A 2735 aA A A 1901 b
A/C M S/C 4610 aA/C M S 4694 aA M S 4029 aS S S 4280 a
C.V. (%) 10,64 11,90 9,74
Médias seguidas por letras distintas, nas colunas, diferem entre si pelo teste de Duncan a5%. C= Crotalária júncea, M= milho, A= arroz e S= soja
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
Pesquisas.com.leguminosas.adubos.verdes.em.hortaliçasO presente estudo foi desenvolvido na Estação Experimen-
tal de Agronomia de Piracicaba (IAC), atual Pólo Centro Sul/APTA,utilizando leguminosas adubos verdes para o cultivo orgânico de
hortaliças.O delineamento experimental adotado foi de blocos ao aca-
so em esquema fatorial envolvendo dois fatores: tratamentos(testemunha, tremoço, chícharo e crotalária) e hortaliças (alface,pimentão, cenoura e couve-or), com 3 repetições. Cada parce-la experimental tinha 9,0 m2.Os adubos verdes foram semeados alanço, durante o segundo semestre de 2000, e após 100 dias incor-
porados, uniformizando a produção de massa verde das parcelas,adotando para o tremoço 20 t/ha, o chícharo adotou metade destadose e a crotalária 7,0 t/ha. Sobre a palhada desses adubos verdesforam semeadas as culturas hortícolas avaliando-se a produtivida-de de cada cultura em função da adubação verde anteriormenteutilizada.
Nota-se do Quadro 8 que o tremoço e a crotalária foram
os adubos verdes que apresentaram os melhores resultados paraas culturas de alface, couve-or e pimentão, porém na cultura doalface o tratamento com crotalária não diferiu da testemunha. In-teressante notar que a cultura de cenoura não se beneciou daadubação verde.
Conclusões Verica-se que para hortaliças de folhas, como é o caso daalface, o tremoço branco foi o adubo que apresentou melhores re-sultados, possuindo como limitação à ocorrência de doenças, masque na grande maioria das vezes não se manifestam em folhosas.
Após o plantio de adubos verdes recomenda-se o plantiode culturas que não exigem muito preparo de solo ou que sejamcultivadas pelo sistema de mudas, como as folhosas e as hortaliçasde frutos, excluindo-se deste grupo às hortaliças de raízes e as queexigem semeadura direta.
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Edmilson José Ambrosano et al.
Quadro.18 Produtividade das culturas de cenoura, pimentão, cou-ve-or e alface em função da adubação verde.
Parte da planta Tratamentos Erro padrão C.V.Testemunha Crotalária Tremoço Chicharo %
Alface
----------------------------------- g ------------------------------CabeçaVerde 134,88 b 154,33 ab 210,13 a 157,19 ab 8,99 18,90Raízes verde 23,00 a 20,00 a 25,33 a 28,00 a 1,65 23,70Raízes seca 1,67 a 2,00 a 2,00 a 2,33 a 0,21 37,27
Pimentão----------------------------------- g -----------------------------------
Peso verde total 1602,20 c 3460,00 ab 4429,60 a 2171,80 bc 191,85 22,76Número de frutos 21,33 c 45,67 ab 59,00 a 30,33 bc 2,60 23,04Peso total por fruto 74,65 a 75,57 a 75,68 a 71,67 a 0,99 4,64
Cenoura----------------------------------- g ------------------------------
Peso verde total 4710,00 a 4516,70 a 4913,30 a 4963,30 a 112,71 8,17Peso verde parte aérea 2033,00 a 1890,00 a 2300,00 2270,00 a 109,49 17,84
Peso verde de raízes 2676,70 a 2626,70 a 2613,30 a 2693,30 a 48,74 6,36Couve-or
----------------------------------- g ------------------------------
Número de plantas 6,67 a 4,67 a 7,67 a 7,00 a 0,67 35,81Peso verde total 2505 a 1537 a 4483 a 2960 a 414,79 49,98Peso verde de cabeça 370,40 b 326,77 c 477,00 a 446,50 a 4,69 4,11
Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Duncan (P�0,05)
Pesquisas com essências orestaisJacarandá-Mimoso
Avaliou-se o desenvolvimento da espécie orestal Jacarandá- Mimoso (Jacaranda mimosifolia) em consórcio com os adubos ver-des Crotalária Breviora (Crotalaria breviora DC ), Crotalária juncea(Crotalaria juncea L.) e Calopogônio (Calopogonium muconoides) .O experimento foi instalado no Pólo Regional Centro Sul de Piraci-caba (APTA). O ensaio foi conduzido de forma inteiramente casuali-
zado e as mudas uniformizadas quanto a altura e desenvolvimentoinicial. Os requisitos utilizados para a avaliação do desenvolvimentodo Jacarandá - Mimoso (Jacaranda mimosifolia) foram a altura daplanta , diâmetro e amostras de folhas do terço médio superior daespécie com e sem a utilização dos adubos verdes.
Observou-se diferença altamente signicativa para todas as va-riáveis avaliadas, indicando uma grande superioridade dos tratamen-
tos submetidos ao sistema com adubação verde. Nota-se um aumentode 72 % na altura das plantas que cresceram sob os tratamentos com
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
adubo verde e o peso das folhas apresentou valores duas vezes maior que a testemunha sem adubo verde (Quadros 9 e 2).
Observa-se também que nos tratamentos testemunhas so-mente 52,6% das plantas atingiram a altura de 1,20m indicando
mais uma vez a superioridade das leguminosas.Observa-se da Quadro 22 o bom desempenho das legumino-
sas que produziram 455 e 2593 kg de material vegetal seco por hectare de parte aérea e 77 e 35 kg de material vegetal seco por hectare de raízes respectivamente nos anos de 2002 e 2003. Em2003 não se observou diferença entre o peso verde e seco das fo-lhas amostradas contudo ainda se observa diferença na altura das
plantas e diâmetro (Quadro 20).Na Figura 9 é apresentado o gráco da porcentagem de plan-tas que cresceram mais que 1,20 metros em função da aplicaçãoou não do adubo verde.
Figura.9 Gráco das porcentagens de plantas com e sem adubo verde no ano de 2002.
Observa-se da Figura 9 que nos tratamentos testemunhassomente 52,6% das plantas atingiram a altura de 1,20m indicandomais uma vez a superioridade dos tratamentos com adubo verde.
Observa-se do Quadro 22 o bom desempenho das legumino-sas que produziram 455 e 2593 kg de material vegetal seco por
hectare de parte aérea e 77 e 35 kg de material vegetal seco por hectare de raízes respectivamente nos anos de 2002 e 2003.
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No Quadro 23 são apresentadas análises de terra para ca-racterizar o solo do experimento. Nota-se contudo uma tendênciade melhoria do solo nos tratamentos com adubo verde pois os in-dicativos de acidez potencial nos solos com adubo verde são bem
menores que os sem adubo verde, o que indica uma transformaçãoquímica no solo como observado por outros autores (Ambrosano,2003; Sakai, 2004).
Quadro.19 Efeito dos adubos verdes na altura do Jacarandá mi-moso em dois anos de amostragem
Tratamento 2002 2003
Altura Desvio Padrão Altura Desvio Padrão---------------------------------m------------------------------
Com adubo verde 2,23 a B 0,2975 3,83 a A 0,6826Sem adubo verde 1,30 b B 0,2569 1,99 b A 0,7568
C. V. % 11,2521
Médias seguidas de letras distintas (minúscula na vertical e maiúscula na horizontal) diferementre si pela análise de variância (p<0,05).
Quadro.20 Efeito dos adubos verdes no diâmetro do Jacarandámimoso, medido aos 1,20 m de altura do solo, em dois anos deamostragem
Tratamento 2002 2003Diâmetro Desvio Padrão Diâmetro Desvio Padrão
---------------------------------mm------------------------------Com adubo verde 7,19 a B 1,7107 20,73 a A 2,8011
Sem adubo verde 4,01 b B 1,5184 11,99 b A 5,3665C. V. % 14,8135
Médias seguidas de letras distintas (minúscula na vertical e maiúscula na horizontal) diferementre si pela análise de variância (p<0,05).
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Utilização de leguminosas anuais em sistemas agroecológicos
Quadro.21 Efeito dos adubos verdes no peso verde, média de 4folhas amostradas no terço médio da copa do Jacarandá mimoso,em dois anos de amostragem
Tratamento 2002 2003Peso verde Desvio Padrão Peso verde Desvio Padrão
---------------------------------g------------------------------Com adubo verde 96,23 a A 36,7228 51,00 a B 24,6872Sem adubo verde 23,45 b B 31,3741 45,79 a A 35,0348
C. V. % 31,3367
Médias seguidas de letras distintas (minúscula na vertical e maiúscula na horizontal) diferementre si pela análise de variância (p<0,05).
Quadro.22 Produção de material vegetal dos adubos verdes por ciclo anual de plantio.
Ano Parte aérea RaízesMassas -� M. verde M. seca M. verde M.seca
Espécies (kg /ha) (kg /ha) (kg /ha) (kg /ha)Mistura de Crotalária,Breviora e Calopogônio
2002 5896 1455 301 77
Crotalária júncea 2003 12880 2593 660 35
Quadro.23 Resultado de análise de solo nos diferentes tratamen-tos e profundidades de coleta
Solo sem adubo verde Solo com adubo verdeVariáveis 0-20 cm 20-40 cm 0-20 cm 20-40 cm
PH 4,6 4,6 4,65 4,65
M.O. (g dm –3
) 21 23 21,5 22P (mg dm-3) 7 8,5 12 15,5K (mmolc dm-3) 1,15 1,2 1,05 1,05Ca (mmolc dm-3) 18,5 19,5 17,5 20,5Mg (mmolc dm-3) 11,5 11,5 9 12H + Al (mmolc dm-3) 52,5 52,5 47 44,5SB (mmolc dm-3) 31,15 32,2 27,5 33,5CTC (mmolc dm-3) 83,65 84,7 74,5 78,2V % 37 38 37 42,5
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Edmilson José Ambrosano et al.
ConclusãoO uso da adubação verde promoveu maior desenvolvimento
do Jacarandá mimoso podendo-se transformar em uma prática usu-almente para sistemas agroorestais envolvendo plantas arbóreas.
Fatores.limitantes.à.implantação.e.desenvolvimento.de.leguminosas
Não se considerando os fatores sócio-econômicos e culturaisà implantação dos sistemas agrícolas que incluam leguminosascomo cobertura do solo, no período de outono-inverno, podem ser apontados como fatores limitantes ao pleno desenvolvimento das
plantas:
TemperaturaAs diversas espécies vegetais estão divididas segundo adap-
tação térmica em leguminosas de verão e de inverno, incluindo,nas primeiras as mais conhecidas, cuja semeadura é efetuada naprimavera-verão; e outras menos conhecidas de semeadura no ve-
rão-outono.
SoloApesar das leguminosas apresentarem ampla adaptação
quanto ao tipo de solo, elas são exigentes a um mínimo de fertilida-de do solo, traduzido principalmente por uma disponibilidade ade-quada de cálcio (Ca), magnésio (Mg), fósforo (P) e potássio (K).
Dos poucos ensaios de adubação mineral executados comleguminosas adubos verdes, (Mascarenhas et al., 994), ca pa-tente que plantas dessa família respondem mais à fertilidade dosolo do que à adubação direta. Por esse motivo, nos sistemas queenvolvem rotação com aquelas plantas, a cultura econômica prin-cipal é a que deve ser racionalmente adubada, não se podendoprescindir do monitoramento de fertilidade do solo através de sua
análise periódica, enquanto a leguminosa aproveitaria o efeito re-sidual daquela adubação. Ainda em relação à disponibilidade de
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nutrientes, deve-se considerar a presença em níveis tóxicos dealumínio e manganês. Segundo as pesquisas, as leguminosas sãomais sensíveis relativamente às gramíneas, portanto exigem quan-tidades mais elevadas de corretivo para imobilizá-lo. Por outro lado,
as gramíneas são mais sensíveis à toxicidade de alumínio do queas leguminosas.
Disponibilidade.hídricaA quantidade e a distribuição pluvial irão denir o maior ou
menor desenvolvimento da planta no outono-inverno. Consideran-do-se a implantação das culturas já no nal da estação chuvosa,
portanto em condição marginal de distribuição hídrica, é normal,principalmente para semeaduras mais tardias, a ocorrência de dé-cit acentuado, tanto mais freqüente e intenso quanto mais ao nortedo paralelo 22oS. Assim, semeaduras mais antecipadas em senti-do inverso a essa tendência são garantia de menor risco.
A fase crítica na implantação das leguminosas é, sem dúvida,a da germinação e emergência das plântulas, ocasião em que a fal-
ta de água restringe ou impede a obtenção de população adequa-da. Posteriormente, pela natureza do sistema radicular, pela menor demanda de água devido ao avançar do outono-invernno e peloestádio de desenvolvimento das plantas, exceto a soja no oresci-mento e fruticação e a crotalária nas fases iniciais de crescimento,os prejuízos por deciência hídrica são poucos aparentes.
ConclusãoO equilíbrio biológico e de nutrientes do solo pode ser obtidocom a adoção de varias práticas como por exemplo a utilização daadubação verde, a compostagem, a máxima reciclagem de matériaorgânica, utilização de húmus de minhoca e outras práticas como oplantio direto que, também, podem colaborar em muito. A integra-ção entre agricultura e pecuária de grandes e pequenos animais,
a piscicultura e a recuperação de matas ciliares e de refugio quevisam restabelecer o equilíbrio de insetos diminuindo a preocupa-
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ção com controles alternativos das pragas e doenças que atacamas principais culturas.
A utilização de leguminosas no sistema agroecológico promo-ve uma reciclagem de nutrientes devido a sua grande capacidade
de exploração de solo promovendo um maior equilíbrio nutricionalpara as plantas contribuindo para uma maior resistência, do siste-ma, ao aparecimento de pragas e doenças.
Procurou-se demonstrar, através de resultados de pesquisa,que as leguminosas utilizadas em adubação verde, apesar da xa-ção de enormes quantidades de nitrogênio, este é fornecido paraas culturas em sucessão de maneira constante e equilibrada cola-
borando para uma melhor nutrição deste elemento, tão importantee de difícil aplicação em sistemas agroecológicos.
A tríplice simbiose observada no sistema, planta-bactéria-fungo micorrizico, é de fundamental importância para o equilíbriobiológico e colabor, também, para que a utilização de leguminosasadubo verde garanta uma maior proteção às plantas contra pragase doenças.
Devemos estar sempre atentos as novas oportunidades e al-ternativas que se apresentam, principalmente para agricultura fa-miliar como é o caso dos feijões, feijão-adzuki e feijão-mungo, quealém de fácil produção pode ser comercializado na forma de brotode feijão, com maior valor agregado, e tudo isso realizado dentroda propriedade restabelecendo e mantendo a agricultura familiar,fazendo rotação de cultivos e introduzindo nitrogênio no sistema.
Agradecimentos:.Aos Técnicos de Apoio à Pesquisa Cientíca e Tecnológica ÂngelaMaria C. da Silva, Gilberto Farias, Benedito Mota, e Maria Apareci-da C. de Godoy.
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PLANTIO.DIRETO.NA.PALHA.DE.LEGUMINOSAS.EM.ALÉIAS.
UMA.ALTERNATIVA.PARA.O.USO.SUSTENTÁVEL.DOS.SOLOS.
DO TRÓPICO ÚMIDO
Altamiro Souza de Lima Ferraz Junior *
Emanoel Gomes de Moura**
Alana das Chagas Ferreira Aguiar ***
Introdução ---------------------------------------------------------------------------------------221
Alternativas para a agricultura itinerante ------------------------------------------------ 222
Considerações Finais -------------------------------------------------------------------------235
Referências Bibliográcas-------------------------------------------------------------------236
IntroduçãoO Trópico Úmido é caracterizado pela presença de solos in-
temperizados, com baixa concentração de nutrientes disponíveis eacidez elevada, características que se traduzem em baixa fertilida-de natural. As condições climáticas prevalecentes são marcadaspor altas temperaturas e precipitações pluviométricas elevadas econcentradas durante quatro meses (Figura 1). Esses processosfavorecem a intemperização do material de origem, a lixiviação dosnutrientes e a decomposição da matéria orgânica do solo, que res-ponde pela maior fração da capacidade de retenção dos elementosnecessários para o crescimento vegetal. Nestas condições, a ma-nutenção dos níveis de produtividade das lavouras em patamareseconômicos aceitáveis depende muito da conservação e do aumen-to dos teores de matéria orgânica, para a construção da fertilidade
do solo. Os agricultores familiares ao utilizarem a roça itinerante,com pousio prolongado, favorecem a recuperação da produtivida-de, que fora reduzida durante o cultivo feito após a deposição dascinzas resultante da queima da biomassa da capoeira. A presença
* Prof. Dr. em Solos e Nutrição de Plantas; Programa de Pós-Graduação em Agroecologia,Universidade Estadual do Maranhão. E-mail: [email protected] ** Prof. Dr. em Agronomia; Programa de Pós-Graduação em Agroecologia, UniversidadeEstadual do Maranhão. E-mail: [email protected] *** Doutora em Agronomia/Agricultura. Programa de Pós-Graduação em Agroecologia, Uni-versidade Estadual do Maranhão. E-mail: [email protected]
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Plantio direto na palha de leguminosas aléias uma alternativa parao uso sustentável dos solos do trópico úmido
dos tocos, das raízes e dos drenos naturais melhora a drenagemdas áreas da lavoura tradicional permitindo uma melhor aeração dosolo e superando as condições de anaerobiose promovidas peloexcedente hídrico, muito comum durante o período chuvoso.
O sistema de agricultura itinerante foi responsável pela ma-nutenção do Estado do Maranhão entre os maiores produtores dearroz de sequeiro do Brasil, quando havia terra disponível e mui-tas áreas com vegetação exuberante. Nas últimas duas décadas, osistema de agricultura de derrubada e queima entrou em colapso.A concentração fundiária, capitaneada pela pecuária bovina e pelouso da terra como reserva de valor, contribuiu para o desequilíbrio
do sistema de corte e queima. A redução do período de pousio emsolos de baixa fertilidade natural, não permite uma restauração daprodutividade das áreas destinadas ao cultivo do que resulta lavou-ras menos produtivas. Hoje as expressões “É roça!” e “Quer melevar para a roça!” associam a roça maranhense à pobreza e aotrabalho penoso. Pela mesma razão o Estado do Maranhão ostentaum dos piores indicadores de desenvolvimento humano do país.
O plano da FAO para reduzir a pobreza sugere quinze medi-
das simples entre as quais se destacam: “o fornecimento de adubospara agricultores pobres” e o nanciamento para plantar árvores “oreorestamento ajuda a enriquecer o solo para a agricultura, pre-serva as fontes de água e fornece lenha para uso doméstico”.
Nesta mesma linha Sanchez (2002), defende o subsídio parao investimento em sistemas agroorestais que promovam a ele-vação da fertilidade do solo como uma ação mais eciente com-
parados aos programas de ajuda internacional para o controle deendemias efetuados no continente africano que gastam bilhões dedólares sem combater efetivamente, a fome e as mazelas dela de-correntes.
Alternativas.para.a.agricultura.itineranteAs alternativas para a agricultura itinerante pressupõem o
cultivo de uma mesma área por períodos prolongados. Isso implicana substituição dos benefícios da queima por estratégias que resul-
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Altamiro Ferraz Jr. • Emanoel Moura • Alana Aguiar
tem em benefícios no mínimo equivalentes. Entre os benefícios dofogo podem ser citadas a limpeza da área, a correção e fertilizaçãodo solo, a redução do número de capinas para controle de ervasadventícias e o controle de pragas e doenças
A agricultura convencional não tem sido uma alternativa desucesso à agricultura itinerante uma vez que preconiza a substi-tuição das sinergias proporcionadas pela biodiversidade dos ecos-sistemas naturais, presentes no trópico úmido, por ações pontuaisaltamente dependentes de insumos externos ao agroecossistema,tais como: o monocultivo, a ressaturação dos colóides do solo viauso maciço de corretivos e fertilizantes solúveis, os controles quími-
cos de ervas daninhas, pragas e doenças e o estreitamento da basealimentar e genética. Esse modelo de agricultura tem, na verdade,contribuído para o desequilíbrio das dimensões da sustentabilida-de, uma vez que é concentrador de renda e fortemente excludente,porque sua viabilidade é extremamente dependente da escala deprodução. Do ponto de vista ambiental é notório que esse modelodestrói as bases dos recursos naturais dos quais depende a ativida-
de agrícola e acirra a pressão exercida sobre os recursos naturaispela parcela da população pobre excluída do processo produtivo.
Os sistemas de produção com bases agroecológicas surgemcomo alternativas promissoras à agricultura de corte e queima, umavez que estes estão mais ao alcance da grande maioria dos agricul-tores familiares, pois têm por base pressupostos diferentes daque-les da agricultura convencional: policultivo, otimização de sinergias,
otimização do uso dos recursos internos, diversicação da basegenética, ciclagem de nutrientes e menor dependência de combus-tíveis fósseis.
Dentre os sistemas agroecológicos o sistema de cultivo emaléias que consiste em plantar culturas de interesse econômiconas entrelinhas de espécies arbóreas, principalmente leguminosas,vem sendo estudado pelo World Agroforestry Centre (ICRAF) e
pelo International Institute of Tropical Agriculture (IITA) a partir dos
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Plantio direto na palha de leguminosas aléias uma alternativa parao uso sustentável dos solos do trópico úmido
trabalhos do Doutor Bit Kang e por vários centros de pesquisa emdiferentes partes do mundo. Esse sistema apresenta as seguintesvantagens: i) fornecimento de biomassa para cobertura do solo nafase de plantio porque possibilita alta produção de biomassa, du-
rante o período seco; ii) alta capacidade de ciclagem de nutrientes;iii) aumento da matéria orgânica do solo; iv) aumento da capacidadede aeração do solo v) controle de ervas adventícias; vi) e aumentoda fertilidade do solo. Esse sistema foi adaptado para as condiçõesdo Norte do Maranhão e vem sendo testado pelo grupo de pesquisado Programa de Pós-Graduação em Agroecologia da UniversidadeEstadual, desde 996, em experimentos em estação de pesquisa
e nas áreas de produtores. O maior desao consiste em somar asvantagens do cultivo em aléias aos benefícios do plantio direto napalha e criar um novo sistema que atenda as especicidades desolo e clima da região Centro Norte do Maranhão.
Experimentos de longa duração com o plantio direto em regi-ões de clima mais ameno e na região de cerrado têm mostrado inú-meras vantagens como o aumento nos teores de matéria orgânica,
redução da erosão e ganhos de produtividade. Os agricultores quedecidem por este sistema já dispõem de pacotes desenvolvidospela pesquisa de órgãos públicos e privados que contemplam equi-pamentos apropriados, técnicas de correção de solos, variedadesespecícas para plantio direto, o que tem facilitado a adoção dessatécnica em larga escala pelos produtores de grãos do Brasil.
A formação da palhada, o controle de ervas adventícias e o
uso de herbicidas dessecantes e pré-emergentes são os principaisgargalos desse sistema de cultivo. No Trópico Úmido, nas condi-ções do Estado do Maranhão, fatores como o regime de chuvas ca-racterizado por um período seco prolongado com alto décit hídrico,implica em limitações ao crescimento das espécies de anuais quepoderiam ser utilizadas para cobertura do solo no início do períodochuvoso, quando do plantio da safra principal, isto diculta a ado-ção do sistema de plantio direto pelos pequenos agricultores.
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Altamiro Ferraz Jr. • Emanoel Moura • Alana Aguiar
Levando em conta essas condições o primeiro experimentoda UEMA com o sistema de cultivo em aléias associado ao plantiodireto teve início no ano de 996, com o apoio nanceiro do BNB-FUNDECI, para avaliação do comportamento de quatro espécies
de leguminosas arbóreas: Inga edulis, Clitoria fairchildiana Howard,Leucaena leucocephala e Cajanus cajan, sob nossa coordenação.Os resultados deste experimento revelaram que a leguminosa Clito-ria fairchildiana Howard (Figura 1), de ocorrência espontânea na regiãoCentro-Norte do Estado do Maranhão, permitiu elevadas produções debiomassa e altos aportes de nutrientes ao solo (Quadros e 2), bemcomo produtividades relativamente altas de arroz nos três primeiros
anos (Figura 2) e de milho no quarto ano (Figura 3).
Figura.1 Cultivo do milho em aléias de Clitoria fairchildiana Howard na UEMA,ano de 2005.
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Plantio direto na palha de leguminosas aléias uma alternativa parao uso sustentável dos solos do trópico úmido
Quadro.1 Produção de massa vegetal seca dos ramos de quatroleguminosas arbóreas utilizadas em sistema de cultivo em aléias,em ARGISSOLO VERMEHO-AMARELO Distróco na UEMA.
Leguminosas1996 1997 1998 1999 2001 2002
Matéria seca Mg ha-1
Inga edulis 0,00b* 0,88c 3,21b 3,27c 4,95c 4,20c
Leucaena lecochephala 0,04b 3,50b 6,39a 8,21b 6,61b 6,80b
Cajanus cajan 0,97a 8,50a 3,55b 2,43c 0,00d 1,95c
Clitoria fairchildiana 0,22b 6,98a 7,64 a 12,40a 10,82 a 10,20a
* Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença signicativa ao nível de 5% peloteste Tukey.
Quadro..2 Nutrientes adicionados através da poda dos ramos dasleguminosas, total de quatro cortes por ano (Ferraz Jr, 2000)
Leguminosas
1996 1997 1998 1999
N P N P N P N P
Kg ha-1
I. edulis 0 b 0 b 20,71d 1,60 d 94,37 b 5,33a 115,69b 4,91b
L. leucocephala 1,19b 0,08b 98,18 c 6,44 c 247,67 a 12,59ab 402,29 a 17,32a
C. cajans 31,33a 3,10a 290,10a 20,4 a 136,28 b 8,09 bc 151,41b 8,62 b
C. fairchildiana 6,47b 0,46b 214,77 b 13,47 b 264,88 a 13,98a 471,35 a 21,45a
* Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença signicativa ao nível de 5% pelo testeTukey.
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Altamiro Ferraz Jr. • Emanoel Moura • Alana Aguiar
Figura 2. Produção de arroz em casca (Mg ha-1), média de duas variedades, em cultivosolteiro (testemunha) e em aléias de leguminosas durante três anos (Ferraz Junior, 2000).*Letras iguais nas mesmas colunas não diferem signicativamente entre si, pelo teste deTukey a 5%.
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
I. edulis L. leucocephala C. cajan C. fairchidiana Testemunha
Tratamentos
P r o d u ç ã o
d e g r ã o s ( k
g
h a -
1 )
AG 405 BR 106
Aa
Ba
Aa
Bab
Aa Bbc
Aa
Ba
Ab Bc
Figura 3. Produção de grãos de grãos de dois genótipos de milho cultivados em aléias dequatro espécies de leguminosas e em cultivo solteiro, em ARGISSOLO VERMELHO AMA-RELO Distróco na UEMA (Leite, 2002). *Letras maiúsculas se referem a diferença entregenótipos, letras minúsculas se referem a diferença entre tratamentos. Médias seguidas damesma letra não diferem entre si (P<0,05), segundo o teste de Tukey.
Os níveis de produtividade obtidos no primeiro ano de cultivoforam superiores àqueles reportados por Kato et al.(999) em solos
arenosos do Estado do Pará. A maior produção de grãos ocorreucom o plantio do arroz nas entrelinhas da Clitoria fairchildiana, não
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Plantio direto na palha de leguminosas aléias uma alternativa parao uso sustentável dos solos do trópico úmido
diferindo das parcelas com Cajanus cajan, Leucaena leucocephala e testemunha, porém superando as aléias de Inga edulis (Figura 1).Estes dados mostram que no primeiro ano de cultivo, utilizando-seadubação química a produtividade de arroz não responde à adição
de resíduos orgânicos de leguminosas e ainda que a adição deresíduos com baixos teores de N como os de Inga edulis, tendem areduzir a produtividade.
No segundo ano (1998) a produtividade do arroz mantevetendência semelhante àquela observada no ano anterior (1997). Asmaiores produções de grãos foram observadas nas parcelas comadições de Clitoria, Cajanus e Leucaena, e as parcelas com aléias
de Inga edulis não diferiram da testemunha. Estes dados indicamque no segundo ano somente o tratamento com aléias de Clitoria
fairchildiana alcançou níveis de produção de grãos signicativa-mente superiores àqueles obtidos com o cultivo solteiro, apesar da adição signicativa de matéria seca das demais leguminosas(Quadro ).
No terceiro ano o plantio de arroz em aléias de Clitoria fairchil-
diana, Cajanus cajan e Leucaena leucocephala resultou em pro-duções de grãos signicativamente superiores àquelas observadasna testemunha e nas parcelas com Inga edulis (Figura 2).
Observou-se uma queda dos níveis de produtividade nosanos de 1998 e de 1999, comparado ao primeiro ano, embora apoda das leguminosas tenha fornecido altas quantidades de ma-téria seca, N e P nesses dois anos, quantidades estas superiores
àquelas adicionadas no ano de 1997. Entretanto, as leguminosasamenizaram a queda de produtividade do arroz, no terceiro ano decultivo contínuo (Figura 2), comparado à testemunha que recebeusomente adubação química.
Considerando que a ausência de rotação de culturas nos trêsanos de plantio de arroz, pode ter inuenciado nas reduções dasprodutividades, no ano de 2001 procedeu-se o cultivo de duas va-
riedades de milho, AG 405 e BR 106, entre as aléias de legumi-nosas. Os dados obtidos mostraram que a adição de matéria seca
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Altamiro Ferraz Jr. • Emanoel Moura • Alana Aguiar
pelas leguminosas Clitoria fairchildiana, Leucaena leucochephala eInga edulis, contribuiu para elevação da produtividade de milho emrelação ao cultivo solteiro (Figura 3), com maior resposta do milhohíbrido comparado à variedade (Leite, 2002). Neste experimento
avaliaram-se as produtividades e o peso de 1000 grãos dos doisgenótipos nas duas linhas de plantio no centro da parcela, bemcomo nas duas linhas adjacentes às leguminosas, para aferir o efei-to da competição interespecíca entre as plantas de milho e as le-guminosas em aléias. As variáveis peso de 000 grãos e produçãode grãos (Quadro 3) não diferiram entre as linhas, sugerindo quenão houve competição interespecíca (milho x leguminosa).
Os resultados desse trabalho assemelham-se aqueles en-contrados por Jeanes et al. (996) e Akinnifesi et al. (999) es-tudando a competição entre a Leucaena leucocephala e o milho,esses autores concluíram que a eciência de uso do N foi maior para as plantas de milho crescidas adjacentes às aléias de Leuca-ena leucocephala, na estação chuvosa e o contrário foi observadodurante a estação seca. Provavelmente os altos índices pluviomé-
tricos durante o ciclo da cultura do milho impediram a competiçãointerespecíca.
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Plantio direto na palha de leguminosas aléias uma alternativa parao uso sustentável dos solos do trópico úmido
Quadro 3 - Efeito de quatro espécies de leguminosas na produçãode grãos nas linhas da cultura do milho.
TratamentosProdução de grãos (Mg.ha-1)
L1 L2 L3 L4 XLI. edulis 5,72 Aa 5,67 Aa 5,67 Aa 5,23 Aa 5,66 aL. leucocephala 5,26 Aa 5,78 Aa 5,67 Aa 5,71 Aa 5,60 aC. cajan 4,31 Aa 3,81 Aa 3,72 Aa 4,54 Ac 4,09 bC. fairchildiana 5, 84 Aa 6,11 Aa 5,80 Aa 5,50 Aa 5,81 aTestemunha 4,40 Aab 3,35 Bab 3,02 Ab 4,41 Ab 3,79 bXG 5,11 A 4,95 A 4,77 A 5,14 AI. edulis 323,80Aa 316,99Aa 319,62Aa 313,14Aa 318,39aL. leucocephala 312,87Aa 322,79Aa 318,77Aa 312,18Aa 316,65aC. cajan 288,48Aa 267,94 Ba 273,63Aa 287,08Aa 279,28b
C. fairchildiana 332,57Aa 327,60Aa 332,50Aa 325,98Aa 329,66aTestemunha 284,61Aa 254,27Ca 258,82Ba 294,23Aa 272,99bXG 308,47A 297,92A 300,67A 306,52A
XL = média das leguminosas; XG = média dos genótipos; L1 e L4, distantes 0,5m das linhasdas leguminosas;L2 e L3 distantes 1,5m das linhas das leguminosas*Letras maiúsculas se referem a diferença entre tratamentos (ler verticalmente), letras mi-núsculas se referem a diferença entre linhas de milho (ler horizontalmete). Médias seguidasda mesma letra não diferem entre si (P<0,05), segundo o teste de Tukey.
Outro aspecto favorável do cultivo em aléias é a supressãodas ervas adventícias que contribui fortemente para a redução dapenosidade do trabalho na agricultura familiar. Isto foi evidencia-do pela contagem, pesagem e identicação das ervas adventícias,efetuadas ao nal do ciclo do milho no ano de 200, os resultadosobtidos mostraram que a adição de biomassa da leguminosa Clito-
ria fairchildiana suprimiu as ervas daninhas de forma muito ecaz,praticamente anulando a competição com a cultura do milho e anecessidade de controle (Figura 4) (Ferraz Jr et al . 2001)
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Altamiro Ferraz Jr. • Emanoel Moura • Alana Aguiar
0
20
40
60
80
100
120
140
CLITORIA INGA LEUCAENA CAJANUS TESTEMUNHA
TRATAMENTOS
M A T É R I A S E C A D A S E R V A S A D V E N T Í C I A S ( g m -
2 )
B
A
AB
A
AB
Figura 4. Densidade de ervas adventícias em aléias de quatro leguminosas arbóreas,avaliada ao nal do ciclo da cultura do milho na UEMA, Ferraz Jr. et al. (200).
Observou-se também uma modicação nas proporções dasespécies de ervas adventícias, com predominância da gramíneaEragrostis pilosa, nas parcelas sem adição de ramos de legumino-sas e Commelina sp naquelas que receberam adições de biomassadas leguminosas.
Os resultados obtidos nos levaram a propor um novo projeto,
desta vez feito em áreas de assentamento no município de Mirandado Norte, distante 30 Km da Capital, São Luís, utilizando o siste-ma de cultivo em aléias com a leguminosa Clitoria fairchildiana Ho-ward. No campo, este sistema mostrou aos pesquisadores e agri-cultores sua viabilidade para o uso continuado do solo no trópico,com elevada produtividade, mesmo para culturas mais exigentescomo o milho. Neste experimento, implantado em um PLINTOS-SOLO ARGILÚVICO Distróco, após três anos de plantio das legu-minosas foram obtidas produtividades de milho em torno de 5.500kg.ha-1, com baixo nível de insumo empregado.
Este trabalho em área de produtores foi alvo de vários diasde campo com assentados das áreas próximas e de outros municí-pios, onde os instrutores enfatizaram a importância da matéria or-gânica para a construção da fertilidade do solo. Atualmente, perce-bemos que vários agricultores estão plantando leguminosas como
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Plantio direto na palha de leguminosas aléias uma alternativa parao uso sustentável dos solos do trópico úmido
a Clitoria fairchildiana e outras autóctones em sistema de aléias,para melhoria da fertilidade do solo.
Além dos resultados positivos e da grande expectativa cria-da junto aos agricultores, a experiência permitiu retirar importantes
observações a respeito do manejo sustentável de agroecossiste-mas nas condições especícas do trópico úmido, levando em contaos princípios da Agroecologia:
i) As mesmas características de clima que favorecem a produ-tividade das árvores leguminosas e aumenta a quantidadede material para cobertura, contribuem para o aumento daagressividade das ervas daninhas, principalmente quandose aumenta a fertilidade do solo. Isto diculta a aceitação doplantio direto pelos agricultores porque aumenta os traba-lhos de capina.
ii) O uso da Clitoria fairchildiana apesar de sua perfeita adapta-bilidade e de sua grande capacidade de produção, aumentaa demanda provisória por Nitrogênio no sistema, por causa
da menor qualidade de seus resíduos, daí sua maior durabi-lidade na superfície do solo.
iii) O plantio todo ano da mesma área contínua, oportuniza oaumento da incidência de algumas pragas, que se antes jáeram importantes, agora sem a agricultura itinerante e semo uso do fogo, se transformam em ameaça concreta, princi-palmente no caso da cangapara (Tibraca limbativentis Stal)
no arroz, da mosca branca (Bemisia sp) na abóbora, da la-garta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) no milho e da va-quinha (Cerotoma arcuata) no feijão caupi.
No que tange aos itens (i) e (ii), uma estratégia promissoraseria a inclusão junto ao cultivo da safrinha, normalmente implanta-da depois do pico das chuvas, de uma leguminosa anual que man-
tenha o solo coberto entre o nal e o início do período chuvoso se-guinte. Além disso, os resíduos dessa leguminosa deverão auxiliar
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Altamiro Ferraz Jr. • Emanoel Moura • Alana Aguiar
em qualidade e quantidade as deciências do material adicionadocom o corte da leguminosa arbórea, bem como superar o balançonegativo de N causado pela colheita do feijão.
A possibilidade de controle das ervas espontâneas por supres-
são ou por efeito alelopático como sugerido por Inderjit e Keating(999) foi testada, na mesma área escolhida para este projeto, uti-lizando quatro leguminosas de cobertura no nal do período chuvo-so. Das quatro leguminosas testadas o tratamento onde foi utiliza-do feijão-de-porco como cultura de cobertura apresentou a menor densidade o menor número de espécie e as menores diversidade ebiomassa de ervas adventíceas, como se verica na Quadro 4.
Quadro. 4. Efeitos das espécies usadas como cultura coberturasobre a densidade, número de espécies, índice de diversidade deShannon-Wiener e biomassa das ervas espontâneas. Os dados re-presentam média e os valores entre parênteses o erro padrão*.
Tratamento Densidade Nº de espécies Diversidade Biomassa
Plantas m-2 espécies m-2Índice deShannon-
Wiener g m-2
Mucuna 59,0 (±12,2) 5,2 (±1,1) 1,0 (±0,2) 377,9 (±93,8)
Guandu 51,8 (±11,3) 5,2 (±1,7) 0,9 (±0,4) 392,9 (±58,4)
Feijão-de-porco 44,8 (±6,1) 3,8 (±0,8) 0,8 (±0,2) 158,6 (±49,8)
Calopogônio 53,4 (±9,5) 6,4 (±1,6) 1,0 (±0,2) 414,6 (±24,4)
Controle 73,8 (±16,5) 6,4 (±1,1) 1,0 (±0,2) 428,4 (±122,8)
*Adaptado de Araújo (2004)
Das quatro leguminosas anuais semeadas junto à cultura dofeijão caupi, apenas o feijão de porco (Canavalia ensiformes) resis-tiu aos rigores do período seco apresentando melhor desempenhona supressão das ervas, que normalmente produzem neste período
as sementes que irão infestar a lavoura seguinte. Mucuna preta, fei- jão guandu anão e calopogônio, não apresentaram nenhum efeito
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Plantio direto na palha de leguminosas aléias uma alternativa parao uso sustentável dos solos do trópico úmido
sobre o controle de ervas e foram pouco produtivos neste período.Também quanto ao aporte de nutrientes o feijão de porco se
mostrou muito superior às outras leguminosas como se pode veri-car na gura 5, o que sugere ser esta espécie adequada para com-
pensar o efeito imediato na xação do N2 resultante da aplicaçãodos resíduos do sombreiro.
0
10
20
30
40
50
60
70
Mucuna preta Feijão guandu Feijão-de-porco Calopogônio
N P K Ca Mg
Figura.5 Capacidade potencial de aporte ou ciclagem de N, P, K, Ca e Mg da parte aéreade leguminosas cultivadas em um sistema de aléias com sombreiro,
Miranda do Norte - MA, 2003.
O uso da leguminosa feijão de porco, em consórcio com ofeijão caupi cultivados ao nal da estação chuvosa, em aléias desombreiro, permite uma formação de palhada abundante, suciente
para suprimir as ervas adventícias, o que favoreceu o estabeleci-mento da lavoura por meio do semeio direto, sem aplicação de her-bicidas e com pouco esforço para controle de plantas adventícias.
O plantio de espécies leguminosas arbóreas em aléias, comdiferentes qualidades de resíduos, pode favorecer o plantio dire-to com maior eciência, porque permite a combinação de espéciede difícil decomposição, que funcionaria como supressora das er-
vas adventícias, com uma segunda de alta qualidade de resíduo,que entraria no sistema como espécie adubadora. Esta hipótese
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Altamiro Ferraz Jr. • Emanoel Moura • Alana Aguiar
foi testada em experimento na área da Universidade Estadual doMaranhão e constatou que a combinação Sombreiro+Leucena semostrou mais promissora para as condições do experimento, commaior produtividade de grãos de milho (Quadro 5).
Quadro.5 Produtividade do milho ao longo de quatro anos (dadosde Aguiar, 2006).
TratamentosAnos
2003 2004 2005 2006
Produtividade de grãos, Mg ha-1
Sombreiro + Guandu 1,08 1,77 2,88 3,00 a
Leucena + Guandu 1,28 1,72 2,71 3,75 a
Acácia + Guandu 1,39 2,20 2,69 3,50 a
Sombreiro + Leucena 1,37 2,00 3,33 3,80 a
Leucena + Acácia 0,94 2,58 2,66 3,20 a
Testemunha 1,72 1,54 1,84 1,50 b
F 2,55 ns 1,10 ns 2,25 ns *
CV (%) 30 24 20 33
ns, * = não signicativo, signicativo a 5% de probabilidade, respectivamente.Letras diferen-tes na mesma coluna indicam diferença signicativa ao nível de 5% pelo teste Tukey.
Considerações.Finais
No Estado do Maranhão, as condições adversas à atividadeagrícola praticada no modelo de monocultivo da Revolução Verdepodem ser superadas caso os estilos de agricultura, respeitem aspeculiaridades locais, e otimizem as vantagens que se traduzempor ausência de décits hídricos acentuados no período de cultivo,energia solar abundante, alta biodiversidade e a existência de umgrande número de variedades adaptadas a essas condições. A Agro-
ecologia como abordagem sistêmica tem adotado o conhecimentoda realidade, como ponto crucial para o redesenho de sistemas de
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Plantio direto na palha de leguminosas aléias uma alternativa parao uso sustentável dos solos do trópico úmido
produção que otimizem essas vantagens, aproveitando os sabereslocais e os utilizando na estruturação de sistemas produtivos sus-tentáveis. Estes sistemas não podem excluir o uso de leguminosasadaptadas como a Clitoria fairchildiana Howard e outras que ainda
não tiveram o seu potencial revelado. O sistema de plantio direto napalha de leguminosas em aléias por considerar as especicidadesdo trópico úmido pode se constituir em um ponto de partida paraa busca da sustentabilidade dos sistemas produtivos familiares sefor construído conjuntamente com os agricultores aproveitando osconhecimentos locais e respeitando suas preferências.
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Seropédica, 2000.
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Altamiro Ferraz Jr. • Emanoel Moura • Alana Aguiar
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IMPORTÂNCIA.DAS.RAÇAS.NATURALIZADAS.EM.SISTEMAS.
DE.PRODUÇÃO.FAMILIAR
Arthur da Silva Mariante*
Resumo ------------------------------------------------------------------------------------------239
Introdução ---------------------------------------------------------------------------------------241
Programa conservação e uso de recursos genéticos animais ---------------------242
Criopreservação--------------------------------------------------------------------------------244
Caracterização genética ---------------------------------------------------------------------245
Papel das raças naturalizadas na pecuária brasileira --------------------------------248
Conclusões --------------------------------------------------------------------------------------250
Referências Bibliográcas-------------------------------------------------------------------251
Resumo O Brasil possui diversas raças de animais domésticos que
se desenvolveram a partir de raças trazidas pelos colonizadoresportugueses logo após o descobrimento. Ao longo dos últimos cin-co séculos, estas raças foram submetidas à seleção natural em
determinados ambientes, a ponto de apresentarem característicasespecícas de adaptação a tais condições, sendo hoje conhecidascomo “crioulas”, “locais” ou “naturalizadas”. A partir do nal do sé-culo XIX e início do século XX, passaram a ser importadas algu-mas raças exóticas, selecionadas em regiões de clima temperadoque, embora mais produtivas, não possuíam as características deadaptação, resistência a doenças e a parasitas encontradas nas
raças consideradas “naturalizadas”. Pouco a pouco, através decruzamentos absorventes, as raças exóticas foram substituindo asraças naturalizadas, fazendo com que estas últimas estejam hojeameaçadas de extinção. Este fato fez com que alguns criadorese pesquisadores passassem a dar a merecida importância às ra-ças “naturalizadas”, pela sua adaptação ao ambiente, em grandeparte, hostil da região tropical do país. Com a nalidade de evitar o
* Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia – Caixa Postal 02372. 70770-900 Brasília, DF.mariante@cenargenembrapabr
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Importância das raças naturalizadas em sistemas de produção familiar
desaparecimento dessas raças, a Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuária - Embrapa criou um projeto de pesquisa denominado“Conservação e Uso de Recursos Genéticos Animais”, coordena-do pelo Centro Nacional de Pesquisa em Recursos Genéticos e
Biotecnologia – Cenargen, localizado em Brasília. Conseguiu-se,desta forma, estabelecer uma verdadeira rede de Núcleos de Con-servação, espalhados por todo o país, nos quais são conservadosanimais de raças “naturalizadas” das seguintes espécies animais:bovinos, eqüinos, asininos, ovinos, caprinos, suínos e bubalinos.Foram criados, ainda, um Banco de Germoplasma Animal (BGA),responsável pelo armazenamento de sêmen e de embriões e um
Laboratório de Genética Animal (LGA), responsável pela caracteri-zação genética do material genético recebido pelo BGA. Enquantoo Banco de DNA conta com aproximadamente 5.000 amostras dasdiversas espécies animais, o BGA contabiliza, hoje, cerca de 52.000amostras de sêmen e 250 embriões. Conscientizar os diversos seg-mentos da sociedade sobre a importância da conservação animalé um dos principais objetivos deste trabalho. Neste sentido, o pro-
grama de conservação, em conjunto com a Universidade de Bra-sília, criou a disciplina Conservação e Uso de Recursos GenéticosAnimais, no mestrado em Produção Animal daquela Universidade,o que tem feito que um grande número de estudantes desenvolvamsuas teses utilizando as raças “naturalizadas”. Com o excelentedesempenho que a pecuária brasileira vem apresentando, que po-siciona o Brasil como o primeiro exportador de carne bovina e de
aves, torna-se, cada vez mais importante, a conservação das raçasnaturalizadas que, uma vez geneticamente caracterizadas, serãode fundamental importância para a segurança alimentar, pelas im-portantes características de resistência a doenças e a ecto e endo-parasitas, que acumularam após cinco séculos de seleção natural.A inserção das raças naturalizadas nos sistemas de produção exis-tentes, além de ser de extrema importância para a inclusão social,
é um fator determinante para o sucesso de sua manutenção. Cabeaos pesquisadores mostrar aos criadores que grande parte dessas
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Arthur da Silva Mariante
raças poderá desempenhar um importante papel em determinadosnichos de mercado. Exemplos europeus, como o valor diferenciadoalcançado pela carne bovina e pelo presunto de raças ibéricas, pre-cisam ser seguidos no país para que este objetivo seja alcançado.
Espera-se que estas raças, hoje ameaçadas de extinção, possamser utilizadas como importante fonte de genes para os programasde melhoramento animal. Que características econômicas impor -tantes como rusticidade, adaptabilidade a determinadas condiçõesambientais, resistência à enfermidades e outras, possam ser con-rmadas, estudadas, salvaguardadas e, acima de tudo, utilizadasem benefício da sociedade. A utilização dos recursos genéticos ani-
mais é fundamental para sua manutenção. Não existe conservaçãosem utilização!
IntroduçãoA maioria das espécies de animais domésticos foi introdu-
zida no Brasil por sucessivas viagens dos colonizadores. Um nú-mero muito reduzido de espécies animais, então consideradas do-mésticas, existiam no período pré-colonial, embora os indígenas
tivessem o hábito de domesticar algumas delas. Esta ausência deanimais considerados domésticos pelos europeus do ano de 1500,foi indicada na Carta de Achamento do Brasil, enviada por Pero Vazde Caminha, ao Rei Dom Manuel, em abril de 1500:
“O povo desta terra não lavra, nem cria, nem aqui há boi,
nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qual-
quer outra alimária, que costumada seja ao viver dos homens;
nem comem senão desse inhame que aqui há muito e des-
sas sementes e frutos que a terra e as árvores de si lançam;
e com isso andam tais e tão rijos e tão nédios, que o não
somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos.”
Passados cinco séculos, o Brasil possui hoje diversas raçasde animais domésticos que se desenvolveram a partir das raçastrazidas pelos colonizadores portugueses. Durante este período,estas raças foram submetidas à seleção natural em determinados
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Importância das raças naturalizadas em sistemas de produção familiar
ambientes, a ponto de apresentarem características especícas deadaptação a tais condições. Estas raças aqui desenvolvidas passa-ram a ser conhecidas como “crioulas”, “locais” ou “naturalizadas”.
A partir do nal do século XIX e início do século XX, pas-
saram a ser importadas raças exóticas, selecionadas em regiõesde clima temperado. Embora mais produtivas, estas raças exóticasnão possuíam as características de adaptação, resistência a do-enças e a parasitas encontradas nas raças consideradas “natura-lizadas”. Pouco a pouco, através de cruzamentos absorventes, asraças exóticas foram substituindo as raças naturalizadas, fazendocom que estas últimas estejam hoje ameaçadas de extinção.
Esta ameaça fez com que alguns criadores e pesquisadorespassassem a dar a merecida importância às raças “naturalizadas”,pela sua adaptação ao ambiente, em grande parte, hostil da regiãotropical do país.
Programa.conservação.e.uso.de.recursos.genéticos.animais
Com a nalidade de evitar o desaparecimento dessas raças,a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa criouum projeto de pesquisa denominado “Conservação e Uso de Re-cursos Genéticos Animais”, coordenado pelo Centro Nacional dePesquisa em Recursos Genéticos e Biotecnologia – Cenargen, lo-calizado em Brasília. Conseguiu-se, desta forma, estabelecer umaverdadeira rede de Núcleos de Conservação, espalhados por todo
o país. Esta Rede de Núcleos de Conservação engloba diversosCentros de Pesquisa da Embrapa, Universidades, Empresas Es-taduais de Pesquisa, assim como produtores privados, com umacoordenação, a nível nacional, por parte do Cenargen.
Os Núcleos de Conservação, organizados em forma de proje-tos de pesquisa, estão espalhados por todo o país. Atualmente estesprojetos fazem parte da RENARGEN – Rede Nacional de Recursos
Genéticos. Os projetos vêm sendo desenvolvidos, na sua maioria,em Centros de Pesquisa próximos aos habitats onde os animais
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foram naturalmente selecionados ao longo desses últimos séculos,foi a solução encontrada para tentar salvar os pequenos efetivospopulacionais de cada uma dessas raças ameaçadas de extinção.A articulação com estes Núcleos de Conservação (Bancos de Ger-
moplasma) é feita através de contatos entre os Curadores de Germo-plasma de produto sediados no Cenargen e os Curadores de Bancosde Germoplasma, que normalmente são os líderes dos projetos depesquisa. Na atual estrutura do Sistema de Curadorias, existem doisCuradores da área animal: um para animais de grande porte (bovi-nos, bubalinos, eqüinos e asininos) e um para animais de pequenoporte (ovinos, caprinos e suínos).
Os objetivos do programa de conservação e uso de recur-sos genéticos animais tem os seguintes objetivos:
1. Identicar e caracterizar fenotipicamente Núcleos de Con-servação, estabelecendo sua distribuição geográca, di-versidade e variabilidade genética, para os grupos animaisameaçados de extinção;
2. Monitorar os Núcleos de Conservação animal já existentes;
3. Implantar novos Núcleos de Conservação de raças que por-ventura venham a ser identicadas como ameaçadas deextinção;
4. Conservar ex situ o material genético por meio da criopre-servação de sêmen e de embriões;
5. Caracterizar geneticamente as raças envolvidas no Progra-ma; e
6. Aumentar a conscientização dos diversos segmentos da so-ciedade, sobre a importância da conservação de recursosgenéticos animais.
Atualmente o Programa Conservação e Uso de Recursos Ge-néticos Animais contempla sete espécies, estando suas principaisraças apresentadas na Tabela 1. É importante que se esclareçaque os animais da espécie bubalina foram introduzidos mais recen-
temente, e das cinco raças existentes no Brasil, duas estão amea-çadas, razão pela qual foram incluídas no programa.
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Importância das raças naturalizadas em sistemas de produção familiar
Tabela.1.Espécies e raças incluídas no Programa de Pesquisa “Con-servação e Uso de Recursos Genéticos Animais” do Brasil – 2005.
Espécie Raça Região do país
BovinosMocho Nacional SudestePantaneiro Centro-Oeste (Pantanal)Curraleiro ou Pé-duro NordesteCrioulo Lageano Sul
Bubalinos Baio NorteCarabao Norte
AsininosJumento Nordestino ouJegue Nordeste
Jumento Brasileiro Sudeste
Eqüinos
Pantaneiro Centro-Oeste (Pantanal)Lavradeiro NorteCampeiro SulMarajoara NortePuruca NorteBaixadeiro NordesteNordestino Nordeste
Caprinos
Azul NordesteCanindé NordesteGurguéia NordesteMarota NordesteMoxotó NordesteRepartida Nordeste
OvinosCrioulo Lanado SulMorada Nova NordesteSanta Inês Nordeste
Suínos
Canastra BrasilCaruncho BrasilMonteiro Centro-Oeste (Pantanal)
Moura BrasilNilo BrasilPiau BrasilPirapitinga BrasilTatu Brasil
CriopreservaçãoO Banco de Germoplasma Animal (BGA), localizado na Fa-
zenda Experimental do Cenargen foi criado em 983 e é o res-
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ponsável pelo armazenamento de sêmen e embriões das diversasraças de animais domésticos ameaçadas de extinção do Brasil.Para que se possa coletar sêmen, embriões e ovócitos das espé-cies e/ou raças de animais domésticos em perigo de extinção, é ne-
cessário que se disponha de Núcleos de Conservação onde essematerial será coletado, razão pela qual tanto a conservação in situ quanto a criopreservação são de extrema importância e se comple-mentam. Assim sendo, quando o local onde o Núcleo está sendoconservado dispõe de recursos humanos e físicos para a coleta econgelamento do material genético, esse trabalho é feito no própriolocal, e quando isto não é possível, alguns animais são transferidos
temporariamente para a Fazenda Experimental do Cenargen ondea coleta é processada.
Sabe-se que para algumas das raças, o número de tourosdoadores é menor do que o recomendado por SMITH (1984) que éde 25 doadores por raça, e de 100 doses/touro. Lamentavelmente,ao se iniciar o trabalho de conservação ex situ , algumas destasraças nem chegavam a contar com tal número de machos. Assim
sendo, embora em muitos casos tenham sido coletadas muito maisdo que as 100 doses/touro recomendadas, o foram de um reduzidonúmero de touros. Atualmente estão armazenadas no BGA cercade 52.000 doses de sêmen e 250 embriões de diversas raças dediferentes espécies animais.
A medida em que os Núcleos de Conservação vão sendo am-pliados ou que novos rebanhos vêm sendo identicados, a meta é
coletar a maior quantidade possível de animais, a m de a armaze-nar uma grande variabilidade genética.
Caracterização.genética
Nos últimos 10 ou 15 anos, foi constatado que o uso e a pre-servação dos recursos genéticos animais são inseparáveis. Houveuma conscientização da importância das raças domésticas na bio-
diversidade mundial devido aos genes e combinações gênicas queestas possuem e que podem ser úteis na agricultura do futuro. O
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Importância das raças naturalizadas em sistemas de produção familiar
progresso e o desenvolvimento futuro da pecuária para as necessi-dades humanas é dependente da variabilidade genética existenteentre e dentro das raças e populações. A presença e a freqüênciadas formas alélicas é a base para a variação genotípica (Danell,
1994). Assim sendo, a perda de um único tipo ou raça comprometeo acesso a seus genes e combinações genéticas únicas, pois cadaraça ou população representa, provavelmente, uma combinaçãoúnica de genes (National Research Council, 1993). Deste modo, avisão que se tem atualmente é a de manter a diversidade máximado pool genético de cada espécie prevenindo, assim, necessidadesimprevistas para o desenvolvimento de sistemas de produção sus-
tentáveis, uma vez que não é possível predizer com objetividadequais características poderiam ser necessárias no futuro (Barker,1994; Hall & Bradley, 1995; National Research Council, 1993).
Como já mencionado, as características que as raças natura-lizadas desenvolveram a partir da seleção natural a que estiveramsubmetidas nos últimos quatro ou cinco séculos, lhes conferiramuma boa adaptação aos ambientes tropicais. Assume-se, portanto,
que devem manter um pool gênico que lhes permitiu sobreviver emdeterminadas regiões tropicais. Desta forma, um estudo aprofunda-do, mediante a caracterização genética de suas populações, pode-rá auxiliar no desenvolvimento e acompanhamento racional de pro-gramas de melhoramento animal, bem como na sua preservação econservação. Os ganhos na eciência econômica, os quais podemser resultado da utilização deste material genético, podem superar
os custos requeridos na conservação destas raças/populações.Por muito tempo, no Brasil, a caracterização das diferentes
raças de animais domésticos existentes era baseada, quase queexclusivamente, em características morfológicas e produtivas,sendo que estas podem ser inuenciadas pelo meio ambiente emuitas vezes são insucientes para distinguir raças puras. No quese refere à caracterização genética, até o momento a maioria dostrabalhos tem sido feita com animais de raças comerciais, que con-
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Arthur da Silva Mariante
tam com inuentes Associações de Criadores. Até recentemente,os poucos trabalhos de caracterização genética envolvendo raçasnaturalizadas incluíam, fundamentalmente, estudos citogenéticos,grupamentos sangüíneos e polimorsmo protéico.
Tendo em vista esta lacuna existente na caracterização ge-nética das raças naturalizadas, no início de 1998 implantou-se, noCenargen, o Laboratório de Genética Animal, com a missão de ca-racterizar e avaliar, a nível molecular, as espécies e/ou raças deanimais em perigo de extinção, visando a manutenção, a conserva-ção e a disponibilidade da diversidade genética.
Sabe-se que embora algumas raças naturalizadas recebam
diferentes denominações e habitem distintas regiões, apresentamfenótipos semelhantes que levantam dúvidas em relação a suasidentidades como um grupo racial ou um tipo nativo distinto. Estaspopulações podem ser ou não geneticamente similares. Mesmo quepertençam à mesma raça, pelo isolamento geográco e sua adapta-ção a nichos diferentes ecológicos, poderão ter acumulado diferen-tes alelos devido à deriva genética. Assim, a caracterização genética
irá permitir a identicação destes grupamentos genéticos únicos que,por muito tempo, caram isolados em seu meio ambiente.
A decisão nal da escolha das raças e indivíduos a seremconservados deve levar em conta quaisquer informações viáveissobre: (a) características de interesse econômico; (b) característi-cas de adaptação; (c) presença de genes únicos; e (d) importânciada raça nos sistemas de produção local ou regional.
Os resultados da caracterização genética poderão, então,dirimir dúvidas existentes, quanto à identicação de alguns grupa-mentos raciais. Como exemplo de dúvida, pode ser mencionadoo caso das raças Crioulo Lageano, Franqueiro e Junqueira, todasportadoras de chifres de tamanho avantajado, e que alguns cria-dores insistem em armar tratar-se da mesma raça, ao passo queoutros dizem tratar-se de raças distintas. A caracterização genética
permitirá que sejam traçadas estratégias em cima de fatos e nãode conjeturas.
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Importância das raças naturalizadas em sistemas de produção familiar
. Até o momento, quatro teses de mestrado envolvendo ca-racterização genética (RAPD) já foram desenvolvidas no LGA: duassobre raças bovinas, uma sobre uma raça eqüina e uma sobre ra-ças caprinas, enquanto que quatro teses de doutorado envolvendo
raças naturalizadas de diferentes espécies, mas utilizando micros-satélites estão em andamento.
Papel.das.raças.naturalizadas.na.pecuária.brasileiraDurante a elaboração do Informe Nacional sobre a Situação
dos Recursos Genéticos Animais do Brasil (Mariante et al ., 2003),documento solicitado ao Brasil pela FAO, para compor o documen-
to “Situação Mundial dos Recursos Genéticos Animais” a ser publi-cado por aquele Organismo Internacional, foi feito um levantamentosobre as raças utilizadas na pecuária brasileira, bem como a pro-porção entre as raças comerciais e naturalizadas.
Na Tabela 2 pode ser visto o número de raças criadas noBrasil, bem como a proporção entre as comerciais (aqui identica-das como exóticas) e as consideradas naturalizadas.
Tabela.2.Número de raças das diferentes espécies criadas no Brasil
EspécieNúmero de Raças
Raças Exóticas Raças NaturalizadasBovinos de corte 46 6Bovinos de leite 12 1Bubalinos 3 2Eqüinos 16 7
Asininos 0 3Caprinos 10 7Ovinos 13 10Suínos 20 12Aves � 30 5
Pela sua enorme população, cuja estimativa para o ano de2003 ultrapassava as 180 milhões de cabeças (ANUALPEC 2003),
pela diversidade de raças existentes e por ser criada em todos osestados da federação, a espécie bovina é, sem a menor dúvida,
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Arthur da Silva Mariante
a espécie mais estudada dentre todos os animais domésticos noBrasil. Informações geradas pelos cerca de 20 programas de me-lhoramento animal existentes no país, têm sido exaustivamenteanalisados, e seus resultados levados aos criadores, auxiliando-os
na seleção de seus rebanhos.Todas as raças já foram caracterizadas fenotipicamente, no
entanto a caracterização genética iniciou mais recentemente. Aprincípio, com trabalhos de caracterização bioquímica e mais tarde,com marcadores moleculares (PCR e microssatélites), sendo queatualmente o país já está engajado em estudos genômicos destaespécie. O alto valor alcançado por animais elite em leilões, reali-
zados em geral por ocasião de grandes exposições agropecuárias,tem permitido que biotecnologias avançadas de reprodução sejamcada vez mais utilizadas, sendo que algumas propriedades priva-das contam com suas próprias equipes, trabalhando em laborató-rios com equipamentos de última geração.
A partir de 2003, o país passou a ocupar a primeira posiçãoentre os maiores exportadores de carne. É, portanto, importante
que se busque alternativas que permitam a manutenção do paísneste patamar produtivo.
Segundo Euclides Filho et al. (2003) a busca por melhoria naeciência de produção de carne, associada à necessidade de as-segurar a adaptabilidade e o atendimento a um mercado cada vezmais exigente em qualidade de produto nal tem causado um au-mento na utilização de cruzamentos envolvendo raças naturaliza-
das. Vários são os trabalhos demonstrando que a utilização destasraças contribui para um aumento na adaptabilidade dos rebanhos,devido a suas características de resistência ao calor e ecto e endo-parasitas (Wilkins, 993; Mariante et al ., 1990).
Com o excelente desempenho da pecuária brasileira, torna-se cada vez mais importante a conservação das raças naturaliza-das que, uma vez geneticamente caracterizadas, serão de funda-
mental importância para a segurança alimentar, pelas importantescaracterísticas de resistência a doenças e a ecto e endoparasitas,
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Importância das raças naturalizadas em sistemas de produção familiar
que acumularam após cinco séculos de seleção natural. Para a ma-nutenção das raças naturalizadas, sua inserção nos sistemas deprodução existentes é fundamental, e para que isto aconteça, cabeaos pesquisadores mostrar aos criadores que grande parte dessas
raças poderá desempenhar um importante papel em determinadosnichos de mercado. O exemplo europeu, em que se pratica um va-lor diferenciado para a carne de origem controlada, como é o casodas raças Retinta, na Espanha, e Barrosã, em Portugal, precisamser seguidos no país. Para tanto, é necessário que se estude ascaracterísticas de carne de cada uma das raças naturalizadas.
É chegado o momento para a inserção de genes das raças
naturalizadas brasileiras nas raças especializadas. Os resultadosde diversas pesquisas estão comprovando o sucesso de sua utili-zação. É, portanto, necessário que se una esforços em termos daconservação e utilização dessas raças, o que certamente ocasiona-rá um aumento em seus efetivos populacionais.
Espera-se que estas raças, hoje ameaçadas de extinção,possam ser utilizadas como fonte de genes importantes para os
programas de melhoramento animal. Que característica econômi-cas importantes como rusticidade, adaptabilidade a determinadascondições ambientais, resistência à enfermidades e outras, pos-sam ser descobertas, estudadas, salvaguardadas e, acima de tudo,utilizadas em benefício da sociedade. A utilização dos recursos ge-néticos animais é fundamental para sua manutenção. Não existeconservação sem utilização!
Conclusões
As raças naturalizadas além de permitirem a inclusão so-cial são repositórios de genes. Os pesquisadores envolvidos nestetrabalho não têm a menor dúvida de que será nessas raças que seirá buscar os genes que irão atender demandas especícas, na for -
mação de animais que aliarão a produtividade das raças exóticas asuas características de adaptação e resistência.
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Arthur da Silva Mariante
A diminuição do risco de extinção das raças “naturalizadas”está intimamente ligada à sua inserção nos atuais Sistemas deProdução. Para que se tenha maior sucesso em sua inserção nossistemas de produção, é preciso que se identique a característica
mais marcante de cada uma das raças naturalizadas, e um nichoeconômico correspondente, que permita agregar valor ao produto,atraindo o interesse dos criadores.
Existe uma necessidade premente de se alimentar a popu-lação mundial, sempre crescente, ao mesmo tempo em que se dêcondições para a conservação dos recursos naturais. Como a pro-dução animal está prestes a se tornar na mais importante atividade
agrícola em termos de produção econômica, é imperioso que essecrescimento seja sustentável, pois do contrário, o meio ambiente irásofrer, comprometendo o bem estar humano.
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A INFLUÊNCIA DA PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOLOGIA
NO.ENSINO.DE.CIÊNCIAS.AGRÁRIAS.DO.MARANHÃO
José Augusto Silva Oliveira*
Graduação Versus Pós-Graduação no Contexto Educacional Brasileiro ------253
Plano Nacional de Pós Graduação - 2005-2010 -------------------------------------254
Vertentes e Objetivos Atuais da Pós-Graduação ------------------------------------255
Contexto Atual da Pós-Graduação Nacional -------------------------------------------255
A Expansão do Ensino de Graduação ---------------------------------------------------257
O Programa de Pós-Graduação em Agroecologia da UEMA ---------------------259
Um Pouco da História do Programa de Pós-Graduação
em Agroecologia da UEMA ------------------------------------------------------------------260Preocupação Atual do Curso: --------------------------------------------------------------260
Estrutura do Curso: --------------------------------------------------------------------------- 261
Integração com a Graduação -------------------------------------------------------------- 262
A Visão de Futuro ------------------------------------------------------------------------------262
Referências Bibliográcas-------------------------------------------------------------------266
Graduação Versus Pós-Graduação no Contexto EducacionalBrasileiro
Uma recuperação histórica da política nacional de Pós-Graduação, por meio da análise das principais questões levanta-das pelos Planos Nacionais de Pós-Graduação (PNPGs), possi-bilita inferir que apenas com a construção do IV Plano Nacional
de Pós Graduação de 1996, incorporou-se, mais enfaticamente,a preocupação com a integração entre Pós-Graduação e Gradua-ção.
Ao contrário do ensino de Graduação, que vinha passandopor um acentuado processo de expansão desordenada, os PlanosNacionais de Pós Graduação.imprimiram uma direção macro-po-lítica para a condução da Pós-Graduação, através da realização
* Professor do Departamento de Economia Rural da UEMA. [email protected]
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A inuência da pós-graduação em agroecologia no ensino de ciências agrarias no Maranhão
de diagnósticos e de estabelecimento de metas e de ações, quaissejam:
• Desenvolvimento da Pós-Graduação e do Sistema de Ensi-
no Superior a partir de orientações dos PNPGs;• Integração da Pós-Graduação no interior do sistema univer-
sitário, institucionalizando a atividade de pesquisa em diver -sas instituições;
• Aumento da capacitação do corpo docente do ensino supe-rior, através de programas direcionados para essa nalidade.
• Construção de um amplo sistema de bolsas no país e no ex-
terior, que tem contribuído para a qualicação e reproduçãodo corpo docente e de pesquisadores.
• Estruturação de uma política de apoio nanceiro aos progra-mas de Pós-Graduação.
• Participação sistemática de representantes da comunidadeacadêmica nos processos de formulação da política de Pós-Graduação.
• Implantação de um sistema nacional de avaliação dos pro-gramas realizado por meio de julgamento de pares.
• Integração do ensino à pesquisa, estabelecendo-se um nú-mero limitado de disciplinas articuladas com as respectivaslinhas de pesquisa dos cursos.
• Criação de um eciente sistema de orientação de disserta-ções e de teses.
• Articulação da comunidade acadêmica nacional com rele-vantes centros da produção cientíca internacional.
Plano Nacional de Pós Graduação - 2005-2010Com o Plano Nacional de Pós Graduação - 2005-2010, foi
constatado que a Pós-Graduação nacional pôde expandir-se e con-solidar-se no espaço de poucas décadas, mas que, por outro lado,
a Graduação foi exposta ao sabor das conjunturas, sem o suportede uma política educacional mais sistemática e adequada. Outra
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Jose Augusto Silva Oliveira
constatação importante foi o reconhecimento de que, preservando aespecicidade de cada nível de ensino, haverá uma maior integraçãoda Pós-Graduação com a Graduação o que será altamente benécopara ambos os níveis, mas essa integração será de responsabilidade
das instituições que ministram os cursos nos dois níveis.
Vertentes e Objetivos Atuais da Pós-Graduação
• Capacitação do corpo docente para as instituições de Ensi-no Superior.
• Qualicação dos professores da educação básica.
• Especialização de prossionais para o mercado de trabalhopúblico e privado.
• Formação de técnicos e pesquisadores para empresas pú-blicas e privadas.
• Fortalecimento das bases cientíca, tecnológica e de inovação.• Formação de docentes para todos os níveis de ensino.• Formação de quadros para mercados não acadêmicos.
Contexto Atual da Pós-Graduação NacionalEvolução do Sistema Nacional de Pós-Graduação: I Cursos
O segmento público é responsável por 82% da oferta dos cur -sos de mestrado e por 90% dos cursos de doutorado. O número dealunos matriculados conheceu um aumento expressivo, uma vez
que passou de 67.820 em 1996 para 112.214 em 2003, represen-tando um crescimento de 65% no período.
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A inuência da pós-graduação em agroecologia no ensino de ciências agrarias no Maranhão
Evolução do Sistema Nacional de Pós-Graduação: II Alunos Titulados
Número de Cursos Segundo as Regiões, 1996-2004 - III MESTRADO
Número de Cursos Segundo as Regiões, 1996-2004 – IV DOUTORADO
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Jose Augusto Silva Oliveira
Número de Cursos Segundo a Grande Área do Conhecimento-V MESTRADO
Número de Cursos Segundo a Grande Área do Conhecimento-VI DOUTORADO
A.Expansão.do.Ensino.de.Graduação.A taxa bruta de matrícula no ensino superior se aproxima de
16% - 3,89 milhões de alunos matriculados - o que evidencia a ne-cessidade de sua expansão, considerando as metas do Plano Na-cional de Educação. Enquanto a população discente cresceu 220%no período 990-2002, na área privada o aumento foi de 250%.
O Crescimento da população discente nas instituições estaduaisno mesmo período foi de 440%. No mesmo período, se observou
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A inuência da pós-graduação em agroecologia no ensino de ciências agrarias no Maranhão
uma grande proliferação de instituições privadas de baixa qualida-de, enquanto ocorria uma deterioração qualitativa na área pública,afetada em suas nanças pela crise scal do Estado. Fonte: (INEP/MEC).
Na tentativa de corrigir estas distorções o Plano Nacional deEducação 200-200 e a Reforma Universitária 2006 enunciam anecessidade de discussão das bases para um processo de integra-ção disciplinar que promova no futuro a possibilidade de mobilidadeentre os programas de Graduação e Pós-Graduação e se pautampela constatação de que é indispensável melhorar a qualidade doensino, para o que constitui instrumento adequado à instituciona-lização de um amplo sistema de avaliação associada à ampliação
dos programas de Pós-Graduação, cujo objetivo é qualicar osdocentes que atuam na educação superior. Uma Pós-Graduaçãoconseqüente com o princípio constitucional da igualdade de opor-tunidades supõe o uxo de uma educação básica forte, qualicada,equânime e democrática, que atenda a necessidade de capaci-tação de docentes, tanto para a educação básica quanto para asuperior, A Avaliação da Pós-Graduação, realizada sob o recorte
das áreas/subáreas do conhecimento, deverá considerar também adimensão institucional, considerando os contextos e a globalidadedo perl e do desenvolvimento da Pós-Graduação.
Determinar que o projeto pedagógico institucional evidencie aarticulação da pesquisa com as demais atividades acadêmicas, con-tinua sendo uma das tarefas centrais da Pós-Graduação brasileira.
Qualicação do Corpo Docente do Ensino Superior - 2003
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O Programa de Pós-Graduação em Agroecologia da UEMA
A concepção do atual Programa de Pós-Graduação em Agro-ecologia não derivou de um processo espontâneo do aumento da
pesquisa cientíca e do aperfeiçoamento da formação de quadros,mas foi produto de uma deliberada ação indutiva, como uma alter-nativa [novo.paradigma] ao desenvolvimento agrícola regional edo Maranhão, em particular. Motivaram a criação desse Programao esgotamento do modelo de ciência predominante em função dacrise de conabilidade nas bases estruturantes de seu conhecimen-to e a insustentabilidade temporal do modelo de desenvolvimento
rural e de agricultura convencional, em virtude de sua dependênciade recursos não renováveis e limitados. A noção de paradigma é normalmente utilizada para estabelecer uma diferenciação entredois momentos ou dois níveis do processo de conhecimento cien-tíco (Capra, 982).
A agroecologia é tecnológica, mas também é alternativaà produção agrícola em grande escala e ao paradigma cientíco
“tradicional” e unidisciplinar. No paradigma agroecológico evolui-separa além da técnica, recorrendo a elementos sócio-histórico-cultu-rais que embasem suas argumentações cientícas. O núcleo, por excelência, da produção tecnológica alternativa é a agricultura fa-miliar, porque a Agroecologia incorpora à produção a dimensão his-tórico-social, os valores culturais e o senso comum inerentes aosagricultores familiares.
Como enfoque cientíco e estratégico de caráter multidiscipli-nar, a agroecologia apresenta a potencialidade para fazer orescer novos estilos de agricultura e processos de desenvolvimento ruralsustentáveis que garantam a máxima preservação ambiental, res-peitando princípios éticos de solidariedade sincrônica e diacrônica(Caporal e Costabeber, 2004).
O paradigma agroecológico representa a linha de um posicio-
namento sócio-ambiental que contempla a necessidade de novosmodos de desenvolvimento rural e de agricultura que assegurem
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A inuência da pós-graduação em agroecologia no ensino de ciências agrarias no Maranhão
maior sustentabilidade ecológica e eqüidade social, por isso exi-ge mudança de posicionamento para uma abordagem cientícaque leva em conta aspectos não apenas disciplinares. Um currí-culo acadêmico interdisciplinar deve englobar, portanto, áreas do
conhecimento que remetam a questionamentos quanto à própriatecnicação cientíca do conhecimento, a partir do campo histórico-social..Um Pouco da História do Programa de Pós-Graduaçãoem.Agroecologia.da.UEMA
O Programa obteve aprovação pela UEMA, em 1994, pe-
las resoluções n°
021/1994-CEPE/UEMA e n°
117/1994-CONSUN/UEMA e em 1996 foi instalado o Curso de Mestrado em Agroeco-logia, com funcionamento autorizado pelo Conselho Estadual deEducação, em 2000, por intermédio da Resolução n° 408/2000, de7 de dezembro de 2000.
Foi recomendado pela Coordenação de Aperfeiçoamento dePessoal de Nível Superior em 2001 pela Resolução n° 283/2002-
CEE, de 12 de novembro de 2002 e reconhecido pelo ConselhoNacional de Educação em 2002, conforme o Parecer CNE/CES n° 153/2002.
Obteve o reconhecimento do Ministério da Educação em2002, conforme a Portaria n° 2530, de 4 de setembro de 2002.A Avaliação trienal realizada pela CAPES em dezembro de 2004manteve o reconhecimento do Curso.
Preocupação.Atual.do.Curso:O Curso de Mestrado em Agroecologia busca a formação de
prossionais com uma compreensão aprofundada sobre a estrutu-ra, o funcionamento e o manejo dos agroecossistemas tropicais, in-tegrando os fundamentos conceituais, os critérios e parâmetros daAgroecologia, a partir de uma metodologia interdisciplinar. Denecomo seus objetivos, entre outros, o desenvolvimento de projetos e
estudos que levem à compreensão dos problemas e minimizem os
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Jose Augusto Silva Oliveira
conitos entre o produtivo e o ecológico, compatibilizando a econo-mia e a ecologia no contexto do desenvolvimento sustentável. Parao cumprimento destes objetivos o Curso pretende:
• ampliar, na região, o quadro de mediadores capazes de en-
tender, investigar e promover o desenvolvimento territorial apartir da interação entre o conhecimento cientíco dos pro-cessos socioculturais, econômicos e ecológicos envolvidosno desenho e redesenho de sistemas agrícolas sustentá-veis;
• aumentar a base de conhecimento sobre a natureza, o fun-cionamento e os indicadores de qualidade e de sustenta-
bilidade dos agrossistemas do trópico úmido, para melhor aproveitar suas interações biológicas, os sinergismos deseus componentes e os saberes locais vinculados aos siste-mas tradicionais;
• promover, em parceria com outros atores sociais locais eexternos, um processo constante de análises e reexões,gerando conceitos, conhecimentos, estratégias, metodolo-
gias e técnicas agroecológicas localmente apropriadas paraapoiar processos de desenvolvimento do espaço rural na re-gião de transição entre o trópico úmido e o semi-árido.
Estrutura.do.Curso:O Curso de Mestrado em Agroecologia, Área.de.Concen-
tração.Agroecologia, está estruturado em um currículo multi/inter -
disciplinar integrando Disciplinas nas áreas de Ciências Agrárias,Sociais e Ambientais, que constituem as bases de sustentação dequatro Linhas.de.pesquisa:..........................................................
I) Ecossistemas e Agroecossistemas TropicaisII) Sistemas de Produção AgroecológicosIII) Desenvolvimento Sustentável dos Territórios RuraisIV) Ecologia de Insetos, Fitopatógenos e Ervas Espontâneas
em Agroecossistemas.
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A inuência da pós-graduação em agroecologia no ensino de ciências agrarias no Maranhão
A estrutura de capacitação discente é orientada para a forma-ção acadêmica de ensino e pesquisa, concentrando esforços nosecossistemas da região de transição entre a Amazônia e o Nordes-te brasileiro. Para cumprimento de seus objetivos o Programa de-
senvolve vários Projetos de pesquisa nanciados pelo CNPq, BNBe FAPEMA.
Integração.com.a.Graduação.O programa de Pós-Graduação em Agroecologia se integra
às atividade de ensino e pesquisa da Graduação em Agronomia eVeterinária por meio de diversas atividades:
• Inserção da Agroecologia como disciplina nos cursos deGraduação em Agronomia e Medicina Veterinária (disciplina opta-tiva, CH 60h).
• Professores envolvidos diretamente no ensino nos cursos deGraduação em Agronomia e Medicina Veterinária, além docurso de Biologia.
• Professores dos cursos de Graduação titulados ou em titula-ção pelo Programa.• Alunos dos cursos de Graduação envolvidos em projetos de
pesquisa gerando monograas.• Alunos de Graduação participando em projetos nanciados
por órgãos de fomento à pesquisa cientíca e tecnológica.• Ex-alunos dos cursos de Graduação titulados ou em titula-
ção pelo Programa.• Fortalecimento e expansão da iniciação cientíca, participa-ção ativa dos professores/pesquisadores
• Prática de seminários e discussões em grupos envolvendoos alunos de Graduação e de Pós-Graduação.
A.Visão.de.FuturoA expectativa do Programa de Pós Graduação da UEMA pode
ser dividida em áreas distintas nas quais se aguarda seja atingida
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várias metas. Na área cientíca se espera um expressivo aumentodo conhecimento sobre as alternativas para o uso sustentável dosagrossistemas no trópico úmido, em todas as dimensões, incluindo oindispensável aumento do capital social. Áreas como reciclagem de
nutrientes e uxos da matéria orgânica, controle biológico de pragase doenças, uso de espécies nativas em sistemas agroorestais, tam-bém terão ampliadas suas abordagens para as condições de preci-pitação e temperaturas altas. Para aumentar a produção cientíca,o Programa pretende utilizar estratégias que incluem a readequaçãoda sua infra-estrutura de apoio à pesquisa, principalmente na áreade fracionamento de matéria orgânica e análise de Carbono e Nitro-
gênio, aproveitando a experiência do Grupo consolidado.Na área cientíca , portanto, a principal meta será a formação
de uma base a partir da qual a publicação de artigos de qualidadeque conduzirão o Programa ao nível de publicação adequado paraa criação do Doutorado, o que deverá resultar da conjunção devários processos e situações:
a) Seleção de alunos com potencial para desenvolvimento dosprojetos, a partir da projeção nacional do Programa;
b) Exigência de que cada aluno apresente artigo dentro das nor -mas de revista qualis A, quando da entrega da dissertação;
c) Garantia de bolsas de estudos (CAPES ou FAPEMA) paratodos os candidatos;
d) Estrutura laboratorial e de revisão bibliográca adequada;
e) Integração de todos os alunos e professores aos projetosem andamento e a serem aprovados, no sentido da focaliza-ção dos objetivos do programa;
f) Utilização de Co-orientadores de alto nível, para interagir com pesquisadores e alunos completando as lacunas exis-tentes nas áreas mais decientes do Programa.
Todas essas metas devem se materializar por meio da publi-cação prevista de artigos em revistas nacionais e internacionais.
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A inuência da pós-graduação em agroecologia no ensino de ciências agrarias no Maranhão
Também se pretende continuar a publicação anual da “Série Agro-ecologia” como forma de dar continuidade à proposta de democra-tizar o conhecimento gerado por alunos e professores do Curso,principalmente na expectativa de contribuir para o redirecionamen-
to do ensino da Agricultura da região, nos níveis médios e de gra-duação.
O principal resultado ambiental esperado com a maturaçãodo Programa reside na possibilidade de substituição do sistema decorte-queima utilizado pela maioria dos agricultores da região parapreparo da área de plantio, com impactos decisivos sobre a biodi-versidade, os níveis de gases na atmosfera, os teores de matéria
orgânica do solo e sobre a vazão de nascentes, igarapés e até derios importantes como o Itapecuru, responsável pelo abastecimentode 70 % da água consumida na capital São Luís.
A produção de alimentos nas regiões mais densamente povo-adas do trópico úmido se faz, em sua quase totalidade, às custasda degradação ambiental, porque combina a ausência de tecnolo-gias localmente apropriadas, com a falta de recursos nanceiros
dos agricultores, chegando a um ciclo vicioso onde quanto maispobre a população maior a pressão sobre os recursos naturais equanto mais degradado o ambiente mais pobre a população.
Historicamente, as alternativas que se tem oferecido a essesagricultores são as práticas convencionais representadas pela apli-cação de corretivos e adubos químicos após o preparo do solo comaração e gradagem. Em condições de alto índice pluviométrico,
em solos de baixa fertilidade natural e com alta susceptibilidade àcompactação, este modelo carrega inúmeras desvantagens locaiscomo o aumento do alagamento, devido à quebra da continuidadedos poros do solo, à queima da matéria orgânica pela exposição dosolo aos rigores do sol equatorial e a recompactação da camadarevolvida pelo impacto das chuvas torrenciais típicas da região dotrópico úmido. Do ponto de vista ambiental verica-se que nenhum
dos dois modelos compatibiliza o uso dos recursos naturais coma sustentabilidade ambiental, como comprova as imensas áreas
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degradadas que resultaram de antigos “campos agrícolas” aban-donados no segundo ano de cultivo, de processos de queimadasrepetidas com tempos de pousios cada vez menores, ou de pasta-gens mal conduzidas.
No Maranhão mais da metade da população sobrevive daagricultura, portanto do ponto de vista econômico-social, as metasmais importantes será a ampliação da capacidade do Programa for -necer subsídios cientícos às entidades responsáveis pela condu-ção das políticas públicas do Maranhão, destinadas à elevação doIDH da sua população agrícola, cuja importância política aumenta acada publicação do PNUD. A ampliação das discussões a respeito
das causas da triste posição que o Maranhão ocupa e das soluçõespara a sua ascensão na tabela nacional, abre cada vez mais impor-tantes espaços nas agendas da sociedade maranhense. Portanto,o estabelecimento de modelos alternativos de geração de rendasagrícola, e não agrícola, adequados às especicidades regionaisdessa enorme e densamente povoada região do trópico úmido, é omaior desao e objetivo do Programa de Pós-Graduação em Agro-
ecologia da Universidade Estadual do Maranhão.
• Evoluir para a consolidação de uma base de conhecimentos e de
alternativas para a instalação e manejo de agroecossistemas tro-
picais sustentáveis, a partir de princípios agroecológicos (Referên-
cia em Agroecologia).
• Enfatizar o engajamento e adesões das comunidades rurais a um
conjunto de crenças comuns consensuadas, capazes de ofertar cidadania e dignidade às famílias que se dedicam à agricultura, a
partir do uso sustentável dos agroecossistemas.
• Ampliar o quadro de mediadores capazes de entender, investigar
e promover o desenvolvimento territorial, integrando o conheci-
mento cientíco na construção de sistemas agrícolas sustentáveis
e os saberes locais vinculados aos sistemas tradicionais.
• Aumentar o conhecimento sobre a natureza, o funcionamento e osindicadores de qualidade e de sustentabilidade dos agrossistemas
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A inuência da pós-graduação em agroecologia no ensino de ciências agrarias no Maranhão
do trópico úmido.
• Gerar conceitos, estratégias, metodologia e técnicas agroecológi-
cas apropriadas aos processos de desenvolvimento rural dos terri-
tórios da região de transição entre o trópico úmido e o semi-árido.
• Intervir, via iniciação cientíca e atividades de ensino e extensão,para a melhoria da qualidade da Graduação em ciências agrárias
praticada na UEMA.
Para cumprir esses objetivos o Programa instituiu o Cursode Mestrado em Agroecologia, Área.de.Concentração.Agroecolo -gia, estruturado em um currículo multi/interdisciplinar que abrange
desde os ecossistemas naturais, passando pelo manejo agroecoló-gico de ecossistemas até o desenvolvimento rural. Formatado comdisciplinas nas áreas de Ciências Agrárias, Sociais e Ambientais oCurso constituiu uma base que se sustenta em quatro Linhas.de.pesquisa:..........................................................
I) Ecossistemas e Agroecossistemas TropicaisII) Sistemas de Produção Agroecológicos
V) Desenvolvimento Sustentável dos Territórios RuraisVI) Ecologia de Insetos, Fitopatógenos e Ervas Espontâneas
em Agroecossistemas..........................................................
Referências Bibliográcas
CAPRA, F. O ponto de mutação. A ciência, a sociedade e a
cultura.emergente São Paulo, Cultrix, 996.
CAPORAL, F.R.; COSTABEBER, J.A. Agroecologia:.alguns.conceitos.e.princípios. Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA, 24p.2004.
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