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Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 1 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia ISSN 2178-1281 ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS: REINTERPRETANDO SUA HISTÓRIA POR MEIO DE IMAGENS Francisca das Chagas Sobrinho Monteiro 1 RESUMO: O presente artigo trata da trajetória de Águas Lindas de Goiás, uma cidade do Entorno do Distrito Federal, que tem uma população formada basicamente de imigrantes, principalmente nordestino que sofreram um duplo processo de repulsão populacional: do nordeste para Brasília e, posteriormente, de Brasília para o Entorno do Distrito Federal. Constitui-se portanto, um povo que encontra-se em contínua busca de sua história, para a partir dela formar uma identidade própria, processo este que teve início com a emancipação (1995) e que vem tendo continuidade a cada vitória conquistada, por menor que pareça aos olhos daqueles que, diferentemente desta pesquisadora, não são atores sociais deste drama. PALAVRA-CHAVE: Águas Lindas de Goiás, Entorno do Distrito Federal, crescimento populacional. INTRODUÇÃO: A cidade conhecida como Águas Lindas de Goiás aparece com frequência na mídia, por ser uma das 19 cidades goianas que fazem parte do Entorno do Distrito Federal e por apresentar uma série de problemas que são comuns a todas elas, como o crescimento desordenado, a apropriação inadequada dos espaços públicos, a violência, dentre outros. Entretanto, embora estes problemas tenham sbido aordados em alguns momentos, eles não são o objetivo principal deste artigo, que visa fazer uma análise de como ocorreu o surgimento, a emancipação e posterior desenvolvimento desta cidade. Para alcançar tal objetivo um dos mecanismos utilizados foram as fotografias que permitiram traçar um paralelo entre a década de 1970, época da construção da BR-70 que margeia a cidade, passando pela década de 1990, quando ocorreu a emancipação, culminando com o ano 2011. Este recorte temporal permite contatar que no decorrer dos anos a cidade foi passando por sucessivas mudanças, principalmente no que diz respeito à ocupação dos espaços que em sua maioria em fazendas improdutivas e que gradativamente foram sendo loteadas e cujos lotes foram vendidos para imigrantes provenientes, em sua maioria do Distrito Federal. 1 Professora Titular do Estado de Goiás, graduada em História pela UCG, Especialista em Formação Sócio-Econômica do Brasil, pela Universo Salgado de Oliveira, mestranda em História pela PUC-GO.

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Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e

Psicologia – ISSN 2178-1281

ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS: REINTERPRETANDO SUA HISTÓRIA POR MEIO DE IMAGENS

Francisca das Chagas Sobrinho Monteiro 1

RESUMO:

O presente artigo trata da trajetória de Águas Lindas de Goiás, uma cidade do Entorno do Distrito Federal, que tem uma população formada basicamente de imigrantes, principalmente nordestino que sofreram um duplo processo de repulsão populacional: do nordeste para Brasília e, posteriormente, de Brasília para o Entorno do Distrito Federal. Constitui-se portanto, um povo que encontra-se em contínua busca de sua história, para a partir dela formar uma identidade própria, processo este que teve início com a emancipação (1995) e que vem tendo continuidade a cada vitória conquistada, por menor que pareça aos olhos daqueles que, diferentemente desta pesquisadora, não são atores sociais deste drama. PALAVRA-CHAVE: Águas Lindas de Goiás, Entorno do Distrito Federal, crescimento populacional.

INTRODUÇÃO:

A cidade conhecida como Águas Lindas de Goiás aparece com frequência na mídia, por ser uma das 19 cidades goianas que fazem parte do Entorno do Distrito Federal e por apresentar uma série de problemas que são comuns a todas elas, como o crescimento desordenado, a apropriação inadequada dos espaços públicos, a violência, dentre outros.

Entretanto, embora estes problemas tenham sbido aordados em alguns momentos, eles não são o objetivo principal deste artigo, que visa fazer uma análise de como ocorreu o surgimento, a emancipação e posterior desenvolvimento desta cidade.

Para alcançar tal objetivo um dos mecanismos utilizados foram as fotografias que permitiram traçar um paralelo entre a década de 1970, época da construção da BR-70 que margeia a cidade, passando pela década de 1990, quando ocorreu a emancipação, culminando com o ano 2011.

Este recorte temporal permite contatar que no decorrer dos anos a cidade foi passando por sucessivas mudanças, principalmente no que diz respeito à ocupação dos espaços que em sua maioria em fazendas improdutivas e que gradativamente foram sendo loteadas e cujos lotes foram vendidos para imigrantes provenientes, em sua maioria do Distrito Federal.

1 Professora Titular do Estado de Goiás, graduada em História pela UCG, Especialista em Formação

Sócio-Econômica do Brasil, pela Universo Salgado de Oliveira, mestranda em História pela PUC-GO.

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1. ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS: REVISITANDO SUAS ORIGENS.

A área onde atualmente se localiza o município de Águas Lindas de Goiás pertencia ao Distrito de Santo Antônio do Descoberto, que por sua vez fazia parte, até a década de 1980 do município de Luziânia. Após o seu desmembramento em relação à Luziânia, Santo Antônio do Descoberto continuou mantendo anexada ao seu município as terras onde está localizada Águas Lindas de Goiás, que no período era conhecida como "Parque da Barragem", devido à barragem existente no rio Descoberto e que faz divisa entre Goiás e Distrito Federal.

Foto: Kim Irsen

A fotografia à direita, retirada do alto (embora seja da década de 1970 e em preto e branco) representa uma legibilidade que permite identificar os elementos naturais e artificiais presentes. Ao fundo pode-se perceber o bioma cerrado, característico da região; um homem próximo a um caminhão, um trator à direita deste; o solo revirado e árvores derrubadas em decorrência da construção da BR 070 no trecho que liga atualmente Águas Lindas a Girassol. Não é possível perceber a existência de residências nos arredores da obra, mas pelo fato de não ser uma fotografia em movimento, é possível observar nitidamente o traçado da futura BR nos primórdios de sua construção, dando a impressão pelos vestígios, que outrora este trecho fora estrada de chão.

Segundo Dubois (1993, p. 26) "a imagem fotográfica não é um espelho neutro, mas um instrumento de transposição de análise, de interpretação e até de transformação do real, como a língua, por exemplo, e assim, também, culturalmente codificada.

Apesar da construção da BR, que facilitou muito o acesso a esta área, até a década de 1980 só existiam fazendas e chácaras em sua maioria improdutivas, cujos proprietários moravam em Luziânia, Anápolis ou Goiânia. Dentre estas merecem destaque as fazendas Camargo, Braz, Jardim Brasília e Cachoeirinha, que ficavam abandonadas, sendo utilizadas como áreas de lazer em períodos de férias e/ou feriados.

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Foto: Kim Irsen

A fotografia acima demonstra uma moradora de uma destas fazendas

da época. A fotografia focou principalmente as imagens da mulher e da criança (aparentemente uma menina). A mulher é uma jovem senhora, o que é claramente percebido pelas linhas do rosto. Não é uma foto de estúdio, mas percebe-se que a "atriz social" fez pose, chegando mesmo a tentar esboçar um sorriso tímido. Ela encontra-se na cozinha da casa, pois aos fundos encontra-se um fogão a lenha, (com pouca luminosidade) a lenha, inclusive com um pedaço de lenha bem visível. Os buracos existentes na parede são usados para expelirem a fumaça proveniente do fogão. A estação do ano é possivelmente primavera ou verão, pois a criança usava somente calcinha e a mulher trajava apenas um vestido (do cotidiano e de acordo com a moda da época) o que seria impossível no inverno, época em que faz muito frio nesta região.

Houve um tempo em que era costume escolher a melhor roupa para tirar retrato. Nossos netos não verão nossas imagens como as que nos deixaram nossos avós: todo mundo perfilado, bem arrumadinho, de banho tomado e cabelo penteado, num retrato bem cuidado feito por profissionais. O nó da gravata, o lenço no bolso do paletó ou o cravo na lapela, as rendas mais finas, as melhores jóias, até o cordão de ouro com a medalhinha, tudo exigia cuidados num ritual que talvez, emprestasse às pessoas o ar circunspecto dos "álbuns de família". Hoje, se alguém escolhe uma roupa especial para fotografar, talvez pegue aquela mais velha e surrada, um saudável indício de uma atitude diante da vida. Mas o mais comum é o retrato ocasional, feito pelo parente ou amigo, sem nenhum ritual. Sinal dos tempos. (KUBRUS LY, 1982, p. 64).

À medida que o tempo foi passando, muitas destas fazendas foram vendidas para a imobiliária Marajó e loteadas, no entanto, os altos preços cobrados não permitiam as pessoas de baixo poder aquisitivo comprá-los, o que favoreceu o processo de invasões uma vez que algumas dessas fazendas encontravam-se praticamente abandonadas em decorrência do descaso de seus proprietários e da distância destas em relação aos municípios em que moravam.

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Com o aumento das invasões surge também a especulação imobiliária que passou a aproveitar-se da extrema pobreza dos imigrantes que chegavam a estes novos loteamentos, como o Jardim Brasília (um dos setores da atual cidade) e o Camping Clube.

Foto: Kim Irsen

A fotografia acima retrata a paisagem da fazenda onde atualmente se

localiza o setor Camping Clube antes de ser loteado. Nela pode-se perceber que a vegetação original encontra-se ainda intacta até onde é possível visualizar no horizonte, as imagens representadas são legíveis, permitindo identificar algumas espécies características do cerrado goiano.

As primeiras levas de imigrantes chegaram aos poucos e se instalaram às margens da BR 070, onde surgem as primeiras habitações, que eram pequenos barracos, em sua maioria de madeirite, feito nos fundos dos lotes e que progressivamente eram ampliados ou construía-se uma pequena casa de tijolos na frente do lote.

As poucas estradas existentes não contavam com asfalto, sendo, portanto lamacentas e apresentavam dificuldades de tráfego no período de chuvas e também no período da seca em virtude da intensa poeira.

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Foto: Secretaria Municipal de Obras

Entretanto, apesar de todas as adversidades a população de Águas

Lindas ia aumentando, mesmo sendo privada de usufruir do mínimo necessário para sua sobrevivência como água tratada, energia elétrica, rede de esgoto, serviço de ônibus, correios, telefones, etc; faltava praticamente tudo e os serviços existentes eram insuficientes para atender a toda demanda populacional.

Nesta euforia de crescimento populacional e quiçá econômico, surge a primeira Associação de Moradores do Entorno de Brasília (ASMEB) que tinha como presidente o senhor Ordalino Melo Garcia e como secretário o senhor Avelino Carlos de Meneses que posteriormente se transformaram em primeiro prefeito e primeiro secretário de educação respectivamente.

No entanto, o fato de ainda não ser um município emancipado, de certa forma, dificultava o desenvolvimento geral desta parte do Entorno do Distrito Federal, que foi administrada por três sucessivos políticos escolhidos pelo prefeito de Santo Antonio do Descoberto.

Finalmente a almejada emancipação concretizou-se no dia 12/10/1995.

A Assembléia Legislativa do Estado de Goiás decreta e eu sanciono a seguinte lei: art. 1º. Fica transformado em Município, com o topônimo de Águas Lindas de Goiás, o atual Distrito do mesmo nome do município de Santo Antônio do Descoberto, deste Estado. (Diário Oficial, Goiânia, 20 de dezembro de 1995). Luiz Alberto Maguito Vilela.

2. ÁGUAS LINDAS: AS DIFICULDADES A SEREM SUPERADAS.

Com a emancipação veio a exigência de se realizarem eleições

municipais para prefeito e vereadores, o que ocorreu em 1996, sendo eleito o morador antigo Orando Melo Garcia e nove vereadores.

O prefeito recém-eleito tinha a incumbência de solucionar problemas sociais e econômicos que assolavam a população, como o crescimento populacional desordenado, péssimo estado de conversação das poucas escolas existentes, falta de qualificação dos professores e de postos de saúde (pois o hospital até os dias atuais ainda não foi construído), falta de segurança pública o que fez com que a

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violência se proliferasse, característica pela qual a cidade se tornou nacionalmente conhecida.

Outro problema sério foi o surgimento de novos loteamentos, sem nenhuma regularização (atualmente são 70 bairros, ou setores).

Foto: Secretaria Municipal de Obras

A fotografia acima (que aparentemente é uma fotografia aérea) mostra

o centro urbano de Águas Lindas no final da década de 1990. Do lado esquerdo pode ser observado o setor Pérola, com as margens da rodovia sendo utilizada para o desenvolvimento precário do comércio; ainda é possível visualizar muita vegetação, o que mostra que existiam muitos terrenos desocupados.

A BR ainda não estava duplicada nem possuía passarelas, o que tornava freqüentes os atropelamentos, geralmente com vítimas fatais. Atualmente a BR encontra-se duplicadas e algumas passarelas foram construídas.

A eleição de 2000 teve como prefeito eleito o senhor José Zito Gonçalves de Siqueira (juntamente com vereadores) que assume a liderança de um município com uma estrutura econômica e social bem mais evoluída do que há quatro anos atrás, quando assumiu o primeiro prefeito. No entanto, alguns problemas como o crescimento gradativo da população e, conseqüentemente a ocupação desordenada dos espaços públicos persistiam.

A educação em Águas Lindas continuava em caos, onde em decorrência da grande demanda de alunos e do número insuficientes de escolas, algumas delas funcionavam com o "turno da fome", pois necessitavam cederem o espaço físico, a partir das 15:00 horas para os alunos da rede estadual de ensino, uma vez que este dispunha somente de três prédios próprios.

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Foto: Secretaria Municipal de Obras

Nesta fotografia fica evidente o descaso das autoridades

governamentais para com a cidade e com a população. Nestes barracos de madeirite funcionava uma feira livre, onde eram vendidos alimentos, frutas e verduras, sem nenhuma higiene, pois a legibilidade das imagens permite verificar também água das chuvas e dos esgotos improvisados bem ao fundo dos barracos, rodeados por uma espessa camada de lixo.

Para Barthes (1984, p. 29) A "vida privada" não é nada mais que essa zona de espaço, de tempo, em que não sou uma imagem, um objeto. O que preciso defender é meu direito político de ser um sujeito.

Uma série de denúncias feitas no programa dominical de televisão da Rede Globo, Fantástico, pelo então vereador Rogemberg fez com que o prefeito José Zito de Siqueira fosse afastado da prefeitura de Águas Lindas, sendo substituído pelo interventor Cézar Gomes, uma vez que para que o seu vice-prefeito José Pereira Soares assumisse era necessário que o prefeito tivesse sido cassado, o que não era o caso.

A intervenção chega ao fim em 31/12/2003, quando o prefeito afastado retorna à prefeitura. Nas eleições municipais de 2004 é eleito então vice-prefeito José Pereira Soares para assumir o mandato 2005/2009.

3. ÁGUAS LINDAS: PERSPECTIVAS.

Águas Lindas encontra-se atualmente no mandado de seu quarto prefeito, Geraldo Messias. Nestes quinze anos de emancipação a cidade tem vivenciado melhoras significativas (quando comparadas à época da emancipação) como a construção de mais escolas municipais e estaduais, 17º Batalhão de Polícia Militar, creches, sistema de telefonia fixo e móvel, agências bancárias (Brasil, Bradesco, Itaú, Caixa), Cartório, três linhas de ônibus interestaduais, ônibus coletivos, delegacias, abastecimento de água e energia, postos de saúde.

No entanto, apesar de toda evolução o hospital público encontra-se inacabado há quatro anos, não existem redes de esgoto e o sistema de coleta de lixo é deficiente.

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Mesmo assim, os moradores de Águas Lindas têm comemorado intensamente a duplicação da BR 070, que outrora ceifou tantas vidas e a parceria da prefeitura com o governo federal, fez com que a cidade fosse beneficiada com o projeto "Minha Casa Minha Vida", construídas em praticamente todos os setores da cidade, o que tem proporcionado um benefício duplo: dificulta a ocorrência de terrenos vazios e proporciona à população de baixo poder aquisitivo a oportunidade de comprarem suas casas próprias, livrando-se dos incômodos aluguéis.

Foto: Mauro Bezerra de Oliveira Foto: Mauro Bezerra de Oliveira

A primeira fotografia mostra uma casa do Projeto "Minha Casa Minha Vida.

A segunda fotografia retrata a BR 070 depois da duplicação. Ao fundo é possível perceber o rio Descoberto, onde fica localizada a barragem que serve de limite entra Águas Lindas e o Distrito Federal.

À primeira vista, esta perspectiva pode parecer pouco, mas para quem não tinha nada e que foi tantas vezes expulso de seus locais de moradias por não fazerem parte de um determinado espaço, esta é a oportunidade de, finalmente sentirem-se inseridos em uma comunidade que os acolheu, por que de certa forma, é formada por indivíduos que possuem uma história de vida semelhante e quero agora irão continuar escrevendo-a coletivamente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os fatores que contribuíram para o surgimento e posterior crescimento de Águas Lindas de Goiás foram sem dúvida econômicas e sociais.

No entanto, independentemente dos fatores que fizeram com que uma cidade e uma sociedade surgisse do nada, ambas têm pretensão de continuarem crescendo dentro da dinâmica que incentiva cada vez mais a urbanização e, conseqüentemente o surgimento dos grandes conglomerados urbanos. E como é interessante acompanhar esta evolução por meio de fotografias. Poder traçar paralelos, ativar lembranças adormecidas pelas décadas de intensas transformações que, em determinados momentos fazem esquecer como tudo era ainda mais difícil do que nos dias atuais.

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As fotografias mostram claramente que entranhadas nos obstáculos existia também a esperança de que algum dia as coisas poderiam melhorarem.

Hoje, é possível perceber que esta esperança conduziu a uma significativa mudança não só do espaço físico, das ruas e habitações, mas também da forma de pensar e agir de seus habitantes, que agora percebem-se como agentes ativos deste processo de rupturas política com um passado de dependência e responsáveis diretos por um futuro de intensas conquistas.

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