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Ministério Público do Estado de Pernambuco Promotorias de Justiça Criminal e de Defesa da Cidadania da Capital Rua 1º de Março nº 100 – Santo Antonio – Recife/PE – CEP: 50010-070 – Fone (81) 3182-7273 1 de 31 Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da Vara da Fazenda Pública da Capital O Ministério Público do Estado de Pernambuco, representado pelos Promotores de Justiça que a presente subscrevem, no uso de suas atribuições legais em defesa dos interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis, notadamente do patrimônio público, diante do que consta das peças de informação em anexo (Inquérito Civil nº 01/2009), na forma e com fundamento nos artigos 37, 127 e 129, III, da Constituição da República combinados com os artigos 1º, inciso IV e 5º da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985 (Lei da Ação Civil Pública); 1º e 25, inciso IV, alínea a da Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público); 1º e 4º, inciso IV, alínea a da Lei Complementar nº 12, de 27 de dezembro de 1994 (Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de Pernambuco) e nos dispositivos legais adiante invocados, vem a presença de Vossa Excelência propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA pelas razões de fato e de direito adiante aduzidas contra SILVIO COSTA FILHO, brasileiro, pedagogo, atualmente exercendo o mandato de deputado estadual e exvereador da cidade do Recife, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda sob o numero 035.007.20439. DOS FATOS

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 Excelentíssimo  Senhor  Juiz  de  Direito  da                    Vara  da  Fazenda  Pública  da  Capital                                  O  Ministério  Público  do  Estado  de  Pernambuco,  representado  pelos  Promotores  de  Justiça  que  a  presente  subscrevem,  no  uso  de  suas  atribuições  legais  em  defesa  dos  interesses  difusos,   coletivos   e   individuais   indisponíveis,  notadamente  do  patrimônio  público,  diante  do  que  consta  das  peças  de  informação  em  anexo  (Inquérito  Civil  nº  01/2009),  na  forma  e  com  fundamento  nos  artigos  37,  127  e  129,  III,  da  Constituição  da  República  combinados  com  os  artigos  1º,  inciso  IV  e  5º  da  Lei  nº  7.347,  de  24  de  julho  de  1985  (Lei  da  Ação  Civil  Pública);  1º  e  25,  inciso  IV,  alínea  a  da  Lei  nº  8.625,  de  12  de   fevereiro  de  1993   (Lei  Orgânica  Nacional  do  Ministério  Público);   1º   e  4º,  inciso   IV,   alínea   a   da   Lei   Complementar   nº   12,   de   27   de   dezembro   de   1994   (Lei  Orgânica  do  Ministério  Público  do  Estado  de  Pernambuco)  e  nos  dispositivos  legais  adiante   invocados,   vem   a   presença   de   Vossa   Excelência   propor   a   presente  AÇÃO  CIVIL  PÚBLICA  POR  ATO  DE   IMPROBIDADE  ADMINISTRATIVA   pelas  razões  de  fato  e  de  direito  adiante  aduzidas  contra    SILVIO  COSTA  FILHO,  brasileiro,  pedagogo,  atualmente  exercendo  o  mandato  de  deputado  estadual  e  ex-­‐‑vereador  da  cidade  do  Recife,  inscrito  no  Cadastro  de  Pessoas  Físicas  do  Ministério  da  Fazenda  sob  o  numero  035.007.204-­‐‑39.    DOS  FATOS  

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 Breve  Introdução    Os  fatos  de  que  tratam  a  presente  Ação  Civil  Pública  tornaram-­‐‑se  públicos  em  05  de  agosto  de  2008,  quando  o  Jornal  do  Commércio  publicou  a  matéria  “Auditoria  atinge  Vereadores”,  através  da  qual  se  deu  conhecimento  à  sociedade  recifense  de  Auditoria  Especial  realizada  pelo  Tribunal  de  Contas  do  Estado  de  Pernambuco  sobre  as  verbas  indenizatórias   recebidas   pelos   Vereadores   da   Cidade   do   Recife   nos   exercícios  financeiros  de  2006  e  2007.  Tal  processo,    amplamente  divulgado  por  todos  os  meios  de   imprensa,   chocou   a   comunidade   recifense   e   ficou   conhecido   como   o  Caso   das  Notas  Frias.    Cabe  aqui   esclarecer  que,   ainda  no   início  dos   trabalhos   investigativos  do  TCE  e   em  face   da   gravidade   das   informações   colhidas   por   seus   Auditores,   aquela   Corte   de  Contas,   através   do   Diretor   de   Controle   Municipal,   encaminhou   o   expediente   TC-­‐‑DCM  nº  373/2006,   relativo  a   irregularidades  na  aplicação  dos  recursos  decorrentes  da   Verba   Indenizatória   por   parte   de   um   grupo   de   vereadores   e,   deste   modo,   o  Ministério   Público   de   Pernambuco,   pela   Promotoria   de   Justiça   de   Defesa   da  Cidadania   da   Capital,   instaurou   o   Procedimento   de   Investigação   Preliminar   nº  12/2007,  para  apuração  dos  referidos  fatos,  o  qual  foi  convertido  no  Inquérito  Civil  nº  01/2009.    Foram  ainda  realizadas  outras  diligências  por  parte  do  Ministério  Público.      Assim,  após   tais   investigações,  o  Ministério  Público  Estadual   restou  convencido  da  ocorrência   de   ato   de   improbidade   administrativa   perpetrado   pelo   demandado  consistente  no  desrespeito  aos  princípios  da  Administração  Pública,  na  violação  dos  deveres  de  honestidade  e  lealdade  à  Instituição  Câmara  de  Vereadores,  bem  assim  na  apropriação   indevida   de   recursos   públicos   em   razão   do   exercício   do   mandato   de  vereador  da  Cidade  do  Recife.    Elementos  da  investigação  conduzida  pelo  Tribunal  de  Contas  do  Estados  na  Auditoria  Especial  nº  0605226-­‐‑5      O  Tribunal  de  Contas  do  Estado  de  Pernambuco  em  obediência  à  Decisão  nº  88/09,  da  Segunda  Câmara  daquela  Corte,  encaminhou  ao  Ministério  Público  Estadual  cópia  

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da  Auditoria  Especial  nº  0605226-­‐‑5,  a  qual  cuidava  de  uma  análise  aprofundada  das  contas  da  Câmara  no  exercício  de  2006.    Tal   Auditoria   Especial   foi   determinada   pelo   então   Relator,   Auditor   Ruy   Ricardo  Harten,   em   face   da   CI   nº   095/2006,   que,   na   oportunidade,   identificou  “irregularidades   (...)   durante   a   auditoria   de   acompanhamento   da   gestão  orçamentária,   financeira,   contábil   e   patrimonial   dos   exercícios   de   2006   e   2007,  especificamente   no   que   se   refere   às   verbas   de   gabinete   –   atualmente   denominadas  verbas  indenizatórias”.    O  item  2.2  do  Relatório  de  Auditoria  elaborado  pelos  Técnicos  do  Tribunal  de  Contas  apresenta  uma  Contextualização  da  Verba  de  Gabinete  após  a  CF  de  1988  e  a  aplicação  conferida  pela  Câmara  de  Vereadores,   o  qual,  pela   sua  pertinência   e  didática  é  aqui  parcialmente  reproduzido.  Sem  embargo,  destacam  os  Auditores  que:    

Um  dos  maiores  destaques  da  CF/88  foi  a  expressiva  autonomia  concedida  aos  municípios  da  Federação.  Por  conseqüência,  as  Câmaras  Municipais  se  apropriaram  de  um  volume  bastante  considerável  da  receita.      Muito   embora   os   Legislativos   fossem   e   ainda   sejam   dependentes  economicamente   do   Executivo   quando   o   assunto   é   orçamento,   o   que   se  observava  eram  gastos  crescentes    com  a  função  legislativa  e,  em  especial,  com  a  remuneração  dos  vereadores.    À  medida  que  tais  gastos  iam  surgindo,  os  debates  os  acompanhavam.  Era  de   se   perquirir   a   necessidade   do   volume   desses   gastos   se   comparadas   a  ações  primárias  como  saúde  e  educação.    É   fato   a   intenção   do   legislador   em   controlar   os   gastos   das   Câmaras  Municipais,   e   o   resultado   foi   a   imposição   de   diversos   limites,   com  destaque,  no  caso  deste  relatório,  para  a  Emenda  Constitucional  nº  25/00  promovendo   mudanças   profundas   com   a   introdução   do   art.   29   –   A   da  Constituição  Federal  que  estabeleceu  uma  base  de  cálculo  para  o  repasse  feito   a  Câmara   e   que   desse   repasse,   não   poderia   ser   gasto  mais   de   70%  com  folha  de  pagamento.      Tendo   em   vista   que   os   dispêndios   do   Poder   Legislativo   são  majoritariamente   de   natureza   remuneratória,   haja   vista   sua   função  

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essencial,  principal   ou  precípua   ser   legislar   e   fiscalizar  os  atos  do  Poder  Executivo,  não  tendo  atribuições  de  construir  escolas,  hospitais,  estradas  -­‐‑  nem   tão   pouco,   gastos   com   a   manutenção   destas   espécies   de   serviços  públicos  -­‐‑  a  Câmara  Municipal  do  Recife  passou  a  instituir  as  chamadas  verbas  de  gabinetes  ou  verbas  indenizatórias  de  apoio  ao  exercício  parlamentar,  com  o  fito  de  não  “desperdiçar”  parcela  dos  30%  restantes  do  seu  repasse,  promovendo  aquisições  das  mais  variadas.  Algumas  delas,  como   será   apresentado,   desrespeitam   princípios   elementares   de   gestão  pública;   já   outras   nem   sequer   aconteceram   e   são   acobertadas   pela  utilização  de  documentos  fiscais  inidôneos.    A  verba  em  questão  corresponde  a  um  valor  prefixado,  pago  mensalmente  aos  Membros  do  Legislativo,  e  destina-­‐‑se  -­‐‑  ao  menos  em  tese  -­‐‑  ao  custeio  de  manutenção  dos  gabinetes  parlamentares.    Assim  dizia  a  Lei  Municipal  nº  17.092/2005  (fls.09):    Art.   1º   -­‐‑  As   despesas   de   apoio   realizadas   pelos   gabinetes   de  Vereadores  serão  custeadas  por  verba  de  gabinete  na  forma  instituída  pela  Lei  15.887,  de  5  de  abril  de  1.994  com  regulamentação  e  alterações  constantes  desta  Lei.    Art.  3º  -­‐‑  O  valor  mensal  com  as  despesas  de  apoio  aos  gabinetes,  através  da   verba   disciplinada   nesta   Lei,   ficará   limitado   ao  montante   de   até   R$  14.365,00  (quatorze  mil,  trezentos  e  sessenta  e  cinco  reais).  (Grifo  nosso)    A   partir   de   1º   de   janeiro   de   2006,   com   o   advento   da   Lei  Municipal   nº  17.159/2005   (fls.15),   foram   mantidos   os   valores   mas   a   sistemática   do  suprimento   individual,   prevista   até   então   como   forma   de   descentralizar  tais   recursos,   foi   alterada,   passando-­‐‑se   a   ter   caráter   de   indenização.  Em  outras   palavras,   o   vereador   realiza,   repita-­‐‑se,   em   tese,   os   gastos   com   a  manutenção  do  seu  gabinete  e  requisita  o  ressarcimento/reembolso  destas  despesas   mediante   documentação   comprobatória   no   valor   de   até   R$  14.365,00.        Diz  a  referida  lei:    

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Art.   1º   -­‐‑   A   verba   de   que   trata   a   Lei   17.092,   de   20   de   maio   de   2.005,  mantido   o   limite   de   valor   ali   previsto   e   a   possibilidade   de   seu  contingenciamento   por   meio   de   Resolução,   fica   transformada   em   verba  indenizatória   do   exercício   parlamentar,  destinada   exclusivamente   ao  ressarcimento  das  despesas  relacionadas  ao  exercício  do  mandato  parlamentar.    Art.   2°   -­‐‑   O   ressarcimento   das   despesas   relacionadas   com   o   exercício  parlamentar  será  efetivado  mediante  solicitação  formulada  pelo  Vereador,  dirigida   à   Comissão   de   Controle   Interno,   instruída   com   a   necessária  documentação  fiscal  comprobatória  da  despesa.    Art.  16  -­‐‑  Esta  Lei  entra  em  vigor  em  1°  de  janeiro  de  2006.1  (Grifamos).    A  partir  de  janeiro  de  2007,  por  meio  da  Resolução  N.º  702/2006  (fls.17),  de  23/12/2006,  a  Câmara  Municipal  do  Recife  reduziu  o  valor  desta  verba  para  R$  6.685,00.  Esse  valor  vigorou  apenas  por  quatro  meses  (janeiro  a  abril/07),   tendo   em   vista   que   ao   final   do   mês   de   abril,   a   Câmara  Municipal   editou  uma   outra   resolução   (Resolução  N.º   233/2007,   fls.18)  majorando  o  valor  da  verba  para  R$  10.090,00.          

Na  seqüência,  os  Auditores  destacam  as  Irregularidades  e  Deficiências  detectadas  e   assim   classificadas:   a)   Notas   Fiscais   Inidôneas;   a.1)   Notas   fiscais   de  estabelecimentos   diversos   preenchidas   pela   mesma   pessoa;   a.2)   Notas   fiscais  irregulares;  a.3)  Notas  fiscais  de  estabelecimentos  fechados  e/ou  inexistentes;  b)  Dos  gastos   com   combustíveis;   c)   Gastos   indevidos   com   alimentação;   d)   Das   despesas  irregulares   com   promoção   pessoal;   e)   Atuação   ineficiente   do   Controle   Interno;   f)  Descentralização   orçamentária   e   financeira   indevida   dos   recursos   para  manutenção  dos  gabinetes.    

No   caso   específico   do   demandado,   observa-­‐‑se   que,   no   período   analisado,   o   então  vereador   percebeu,   a   título   de   Verba   Indenizatória,   o   montante   de   R$   55.577,34,  assim  distribuídos:    

mai/06   13.777,02    

jun/06   13.817,99    

1 Lei Municipal nº 17.159/2005.

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jul/06   13.968,00    

jan/07   14.014,33    No  entanto,  para  fazer  jus  a  sua  percepção,  o  demandado  utilizou  25  (vinte  e  cinco)  Notas   Fiscais   inidôneas   no   valor   total   de   R$   51.430,00   (cinqüenta   e   um   mil,  quatrocentos   e   trinta   reais),   oriundas   das   seguintes   empresas:   Aurimendes  Bezerra   da   Silva   (Barraco),   Bar   e   Restaurante   Prestígio,   Comercial   Sette,  Danielle   Crhistine   Silva   Mascarenhas,   Galeteria   Alvorada,   Mansão   do  Matuto,  Marcia   Lourenço   Neres   (Comercial   Lourenço),   Osvaldo   Gomes   de  Lima   (Bar   do   Caboclinho),   Papelaria   Baraúna,   Posto   Leão   da   Ilha,   Posto  Lupp,  Valgráfica  e  WR  Gráfica  e  Editora.    Ainda   de   acordo   com   aquele   órgão   de   Controle   Externo,   as   irregularidades  constatadas  foram  as  seguintes:    Notas   Fiscais   emitidas   por   Aurimendes   Bezerra   da   Silva   (Barraco)   –   o  demandado   fez   uso   das   Notas   Fiscais   nº   5721   e   5724,   supostamente   emitidas   em  07/01/2007   e   10/01/2007,   nos   valores   de   R$     356,00   e  R$     367,00.  Contudo,   tais  notas   fiscais   fazem  parte  do,   assim  definido  pelo  TCE,  Grupo  B  de  Notas  Fiscais  inidôneas2.    No  que   se   refere   à  Nota  Fiscal  nº  5721,   trata-­‐‑se  de  documento   fiscal  de  numeração  superior  a  Nota  Fiscal  nº  5712.  Contudo,  esta  segunda  nota  fiscal  foi  emitida  em  data  posterior,  contrariando  a  ordem  cronológica  de  sua  emissão.    Notas  Fiscais  emitidas  pelo    Bar  e  Restaurante  Prestígio  –  o  demando  fez  uso  das  Notas   Fiscais   nº   9239,   9253   e   9299,   supostamente   emitidas   em   16/05/2006,  19/06/2006  e  19/01/2007,  nos  valores  de  R$    750,00,  1.700,00  e    76,00.  Contudo,  tais  

2 Conjunto composto por 50 Notas Fiscais oriundas das empresas Aurimendes Bezerra da Silva (Barraco), Bar e Restaurante Prestígio, Danielle Crhistine Silva Mascarenhas, Derby Refeições (Galeteria Alvorada), E S de Oliveira Lanchonete (Tempero da Torre), EBCT, Edvaldo Vieira da Silva (Gráfica Angelin), Elenilza Viviane Miranda (Novo Horizonte), Luciano de Paula Lima (TGS Formulários), Marcia Lourenço Neres (Comercial Lourenço), Osvaldo Gomes de Lima (Bar do Caboclinho), Papelaria Brasil, Papelaria Joaquim Nabuco, Papelaria Unimax, Paraíso da Carne de Sol, Posto Total Boa Viagem e WR Gráfica e Editora - cujo o preenchimento foi produzido pelo mesmo punho, conforme apurado no Laudo de Exame Documentoscópico (Grafoscópico) emitido pelo Setor Técnico Científico da Superitendência Regional do Departamento de Polícia Federal no Estado de Pernambuco (Laudo Pericial nº 380/2008 – SETEC/SR/DPF/PE

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notas   fiscais   fazem  parte  do,  assim  definido  pelo  TCE,  Grupo  N  de  Notas  Fiscais  inidôneas3.    Ainda:  no  que  se  refere  a  Nota  Fiscal  nº  9253,  a  equipe  de  Auditoria  localizou  a  via  do  Contribuinte  na  qual  consta  que  a  mesma   foi   emitida  em    12/08/05  no  valor  de  R$  50,00.   Razão   pela   qual   o   senhor   Kan   Wing   Yat,   proprietário   do   estabelecimento,  forneceu  declaração  às  fls.  658  da  referida  Auditoria  Especial,  na  qual  informa  não  ter  emitido  a  referida  nota  fiscal.    A   propósito   das   Notas   Fiscais   oriundas   de   tal   estabelecimento,   os   Auditores  consignaram  que   em   resposta   ao  Ofício  TC/DCM/AUD/AR  nº   10/2008   (fls.649)   o  proprietário  apresentou  os  talonários  contendo  as  2ª  vias  das  notas  solicitadas  (fls.650  a   657),   que   confrontadas   com   as   notas   fiscais   apresentadas   pelos   vereadores   com  numeração  correspondente  (fls.659  a  666),  verificou-­‐‑se  que  estas  últimas,  constantes  das  prestações  de  contas  da  verba  indenizatória,  eram  falsas,  pelos  seguintes  motivos:  o  layout  e  a  grafia  das  notas  eram  diferentes;  os  valores,  as  quantidades  e  a  data  não  correspondiam;   a   descrição   do   produto   também   era   diferente,   enquanto   na   via  fornecida   pelo   estabelecimento   os   produtos   são   discriminados   (galeto,   picanha   etc.),  nas   vias   dos   vereadores   as   discriminações   são   genéricas:   “refeição   completa”   ou  “almoço  completo”.  Ademais,  ao  apresentar  ao  proprietário  as  vias  que  contínhamos,  o   mesmo   declarou   não   reconhecer   e,   portanto,   não   ter   emitido   tais   notas.   (vide  declaração  fls.658).  Ressaltamos,  ainda,  que  as  notas   falsas  relacionadas  abaixo  nem  ao  menos  guardam  coerência   entre   a  numeração   e   a  data   em  que   foram  emitidas,   a  exemplo  das  notas  nº  9243   (30/03/07),   9253   (19/06/06)   e   que   os  valores   são  muito  superiores  aos  das  notas  verdadeiras,  não  condizentes  com  a  movimentação  de  venda  do  estabelecimento,  segundo  o  proprietário.      Notas   Fiscais   emitidas   pela   empresa  Comercial   Sette   –   o   demandado   fez   uso   das  Notas  Fiscais  nºs  1332  e  1314,  supostamente  emitidas  em  20/7/2006  e  16/6/2006,  nos  valores   de  R$     3.500,00   e   4.650,00.  Contudo,   a   primeira   nota   fiscal   faz   parte   do  

3 Conjunto composto por 17 Notas Fiscais oriundas das empresas Bar e Restaurante Prestígio, Posto Lupp, Valgráfica, Churrascaria e Pizzaria Mansão do Matuto, Papelaria Baraúna, Comercial Sette, Osvaldo Gomes de Lima (Bar do Caboclinho), Danielle Crhistine Silva Mascarenhas e Marcia Lourenço Neres (Comercial Lourenço) - cujo o preenchimento foi produzido pelo mesmo punho, conforme apurado no Laudo de Exame Documentoscópico (Grafoscópico) emitido pelo Setor Técnico Científico da Superitendência Regional do Departamento de Polícia Federal no Estado de Pernambuco (Laudo Pericial nº 380/2008 – SETEC/SR/DPF/PE

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Grupo   N   de   Notas   Fiscais   inidôneas,   assim   definido   pelo   TCE,   enquanto   a  segunda  nota  fiscal  faz  parte  do  Grupo  O  de  Notas  Fiscais  inidôneas4.    Em  relação  ao  citado  estabelecimento  restou  consignado  no  Relatório  Preliminar,  que  duas  observações  se  fazem  necessárias:  a  primeira  é  o  fato  de  inexistir  estabelecimento  no   endereço   indicado,   e   a   segunda   diz   respeito   à   verificação   de   grafia   idêntica   em  vários   grupos   de   notas,   comentado   no   subitem   3.1.1.   deste   relatório.   Embora   se  encontre   apenas  uma   residência  no   endereço   indicado,   foram  apresentadas  12  notas  fiscais   que   somam   a   quantia   de  R$   44.100,90.   (dentre   as   quais   as   utilizadas   pelo  demandado).                          

     Notas   Fiscais   emitidas   pela   empresa  Danielle  Christine   Silva  Mascarenhas   –   o  demandado   fez   uso   das   Notas   Fiscais   nº   388   e   393,   supostamente   emitidas   em  15/01/2007  e  17/01/2007,  nos  valores  de  R$  341,00  e  R$  261,00.  Contudo,  tais  notas  fiscais   fazem   parte   do,   assim   definido   pelo   TCE,   Grupo   N   de   Notas   Fiscais  inidôneas.    

4 Conjunto composto por 5 Notas Fiscais oriundas das empresas Comercial Sette, Derby Refeições (Galeteria Alvorada), Posto Leão da Ilha e Aurimendes Bezerra da Silva (Barraco) - cujo o preenchimento foi produzido pelo mesmo punho, conforme apurado no Laudo de Exame Documentoscópico (Grafoscópico) emitido pelo Setor Técnico Científico da Superitendência Regional do Departamento de Polícia Federal no Estado de Pernambuco (Laudo Pericial nº 380/2008 – SETEC/SR/DPF/PE

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Segundo  consta  do  Relatório  de  Auditoria,  até  o  dia  14/02/2008,  não  haviam  ainda  sido  emitidas  notas  fiscais  com  tal  numeração.  

   Com   efeito,   consta   do   referido   documento   que   Em   resposta   ao   Ofício  TC/DCM/AUD/AR   nº   04/2008   (fls.   749)   o   proprietário   apresentou   os   talonários  contendo   as   2as   vias   das   notas   solicitadas,   no   entanto,   nenhuma   delas   tinha   sido  emitida  ainda,  na  data  da  visita,   conforme  cópias  em  branco   fornecidas  pelo  mesmo  (fls.   750   a   754).   Portanto,   constatou-­‐‑se   que   as   notas   constantes   das   prestações   de  contas   da   verba   indenizatória   (fls.756   a   764),   eram   falsas,   também   pelos   seguintes  motivos:  o  layout  das  notas  eram  diferentes  e  o  número  da  autorização  para  emissão  de   notas   fiscais   não   coincidia.   Ademais,   ao   apresentar   ao   proprietário   as   vias   que  contínhamos,   o   mesmo   declarou   não   reconhecer   e,   portanto,   não   ter   emitido   tais  notas.  (vide  declaração  fls.  755).  Ressaltamos,  ainda,  que  as  notas  falsas  relacionadas  abaixo   possuem,   em   alguns   casos,   numeração   duplicada   emitida   para   vereadores  diferentes,  a  exemplo  das  notas  nº  388  e  393  e  que  os  valores  são  muito  superiores  aos  das   notas   verdadeiras,   não   condizentes   com   a   movimentação   de   venda   do  estabelecimento,  segundo  o  proprietário.              

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             Nota  Fiscal  emitida  pelo  estabelecimento  Derby  Refeições  (Galeteria  Alvorada)  –  o  demandado  fez  uso  da  Nota  Fiscal  nº  4995,  supostamente  emitida  em  20/07/2006,  no  valor  de  R$  1.390,00.  

 No  tocante  a  este  documento  fiscal,  têm-­‐‑se  que  a  Autorização  para  Impressão  de  Documento  Fiscal   –  AIDF  nº   013-­‐‑93042/2005   é   inexistente.  De   igual  modo,   faz  parte  do  Grupo  O  de  Notas  Fiscais  inidôneas.    A   propósito   das   Notas   Fiscais   oriundas   de   tal   estabelecimento,   os   Auditores  consignaram  que  Em  resposta  ao  Ofício  TC/DCM/AUD/AR  nº  08/2008   (fls.639)  o  proprietário   apresentou   os   talonários   contendo   as   2as   vias   das   notas   solicitadas  (fls.640  a  642),  que  confrontadas  com  as  notas   fiscais  apresentadas  pelos  vereadores  com   numeração   correspondente   (fls.644   a   648),   verificou-­‐‑se   que   estas   últimas,  constantes   das   prestações   de   contas   da   verba   indenizatória,   eram   falsas,   pelos  seguintes   motivos:   o   layout   e   a   grafia   das   notas   eram   diferentes;   os   valores,   as  quantidades  e  a  data  não  correspondiam;  a  descrição  do  produto  também  era  diferente,  enquanto  na  via  fornecida  pelo  estabelecimento  os  produtos  são  discriminados  (galeto,  picanha   etc.),   nas   vias   dos   vereadores   as   discriminações   são   genéricas:   “refeição  completa”.  Ademais,  ao  apresentar  ao  proprietário  as  vias  que  contínhamos,  o  mesmo  declarou  não  reconhecer  e,  portanto,  não  ter  emitido  tais  notas.   (vide  declaração   fls.  643).   Ressaltamos,   ainda,   que   as   notas   falsas   relacionadas   abaixo   nem   ao   menos  guardam  coerência  entre  a  numeração  e  a  data  em  que  foram  emitidas,  a  exemplo  das  notas  nº  7540  (29/08/07)  e  8201  (13/04/07)  e  que  os  valores  são  muito  superiores  aos  das   notas   verdadeiras,   não   condizentes   com   a   movimentação   de   venda   do  estabelecimento,  segundo  o  proprietário.      Notas  Fiscais  emitidas  pela  empresa  Churrascaria  e  Pizzaria  Mansão  do  Matuto  –  o   demandado   fez   uso   das  Notas   Fiscais   nº   969   e   974,   supostamente   emitidas   em  19/05/2006  e  14/07/2006,  nos  valores  de  R$  1.200,00  e  1.110,00.  Ainda  conforme  os  auditores,  tais  notas  fiscais  fazem  parte  do  Grupo  N  de  Notas  Fiscais  inidôneas.    

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 Notas   Fiscais   emitidas   pela   empresa   Marcia   Lourenço   Neres   (Comercial  Lourenço)  –  o  demandado  fez  uso  da  Nota  Fiscal  nº  407,  supostamente  emitidas  em  23/01/2007,  no  valor  de  R$  4.515,00.    

     Em   relação   à   citada   empresa   os   auditores   do  TCE   firmaram  que,  de   acordo   com  os  dados   do   SINTEGRA,   o   estabelecimento   encontra-­‐‑se   não   habilitado   (Ativo  Cancelado)   pela   SEFAZ-­‐‑PE   (fls.786)   Em   consulta   ao   sistema   da   Junta   Comercial  (JUCEPE)   foram   encontrados   um   Requerimento   de   Cancelamento   da   empresa   por  motivo   de   Fraude   (fls.787),   o   Boletim   de   Ocorrência   n°   07E0325000029   (fls.802),  bem  como  o  Parecer  JUCEPE  nº  38/2007  (fls.795),  nos  quais  a  suposta  proprietária  do  estabelecimento  declara  nunca  ter  aberto  a  referida  empresa  e  que  foi  informada  da  existência   da   mesma   por   um   auditor   fiscal   que   esteve   em   sua   residência   para  constatar  o   endereço  da   empresa.  Tal   informação   também   foi   confirmada  através  de  circularização   com   a   Secretaria   da   Fazenda,   a   qual   informa   através   do   Ofício   nº  12/2008   –   DRR   –   I   RF   (fls.807   a   812)   que   a   citada   empresa   teve   sua   inscrição  cancelada   por   declarações   inexatas   em   documentos   apresentados   à   SEFAZ   e   por  obtenção  de  inscrição  estadual  por  meio  de  fraude,  dolo  e  simulação.  Ressalta-­‐‑se  que  

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somente  na  amostra  referente  ao  exercício  de  2007  (7  meses)  foram  apresentadas  pelos  vereadores   58   notas   fiscais   que   totalizaram   R$   168.108,75   desta   empresa  “fantasma”.    Ainda  conforme  os  auditores,   tais  notas   fiscais   fazem  parte  do  Grupo  N  de  Notas  Fiscais  inidôneas.    

Notas   Fiscais   emitidas   por  Osvaldo  Gomes   de   Lima   (Bar   do  Caboclinho)   –   o  demandado  fez  uso  da  Nota  Fiscal  nº  291,  supostamente  emitida  em  04/01/2007,  no  valor  de  R$  334,00.  Entretanto,  conforme  constatado  pela  Auditoria,  ela  faz  parte  do  Grupo  N  de  Notas  Fiscais  inidôneas.    Nota  Fiscal  emitida  pela  Papelaria  Baraúna  -­‐‑  o  demandado  fez  uso  da  Nota  Fiscal  nº  5664,  supostamente  emitida  em  19/05/2006,  no  valor  de  R$  4.500,00.  Entretanto,  conforme   constatado   pela   Auditoria,   ela   faz   parte   do  Grupo  N   de  Notas   Fiscais  inidôneas.    Além   disto,   a   Autorização   para   Impressão   de   Documento   Fiscal   –   AIDF   nº  001.00780/2005  pertence  a  Gustavo  Henrique  Travassos.        Nota  Fiscal  emitida  pelo  Posto  Leão  da  Ilha  -­‐‑  o  demandado  fez  uso  da  Nota  Fiscal  nº  213,  supostamente  emitida  em  20/07/2006,  no  valor  de  R$  4.000,00.  Entretanto,  conforme   constatado   pela  Auditoria,   ela   faz   parte   do  Grupo  O   de  Notas   Fiscais  inidôneas.    Além   disto,   a   Autorização   para   Impressão   de   Documento   Fiscal   –   AIDF   nº  003.02269/2004  pertence  à  empresa  J.  D.  Material  de  Contrução.    Notas  Fiscais  emitidas  pelo  Posto  Lupp  –  o  demandado  fez  uso  das  Notas  Fiscais  nº  1153,  1127,  1140,  1145  e  1157,  supostamente  emitidas  em  13/06/2006,  18/05/2006,  19/05/2006,   08/06/2006   e   16/06/2006,   nos   valores   de   R$   2.001,92,     1.800,00,    1.800,00,   1.400,80   e   597,28.  Entretanto,   conforme   constatado   pela   Auditoria,   elas  fazem  parte  do  Grupo  D5   (a  primeira  Nota  Fiscal)   e  N   (as  demais  NFs)  de  Notas  Fiscais  inidôneas.  

5 Conjunto composto por 2 Notas Fiscais oriundas das empresas Posto Lupp e WR Gráfica e Editora- cujo o preenchimento foi produzido pelo mesmo punho, conforme apurado no Laudo de Exame Documentoscópico (Grafoscópico) emitido pelo Setor Técnico Científico da Superitendência Regional

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 Além   disto,   a   Autorização   para   Impressão   de   Documento   Fiscal   –   AIDF   nº  001.04302/2004  pertence  à  empresa  Osvaldo  Gomes  de  Lima  ME.    

 

     Nota  Fiscal  emitida  pelo  empreendimento  Valgráfica  –  o  demandado  ainda   fez  uso  das   Notas   Fiscais   nº   4318,   4331   e   4323,   supostamente   emitidas   em   18/05/2006,  18/06/2006  e  19/07/2006,  nos  valores  de  R$  3.780,00,  3.500,00  e    4.000,00.    Ocorre  que  as  Notas  Fiscais  nº  4318  e  4323  são  clones  posto  que  conforme  apurado  junto   ao   referido   estabelecimento   as   verdadeiras   Notas   Fiscais   foram   emitida   em  07/07/04,  nos  valores  de  R$  170,00  e  200,00.    No  que  concerne  à  Nota  Fiscal  nº  4331,  tem-­‐‑se  que  a  mesma  é  falsa  posto  que  a  AIDF  que  consta  em  seu  rodapé  de  nº  3.0874/50-­‐‑8  não  corresponde  à  verdadeira  autorização  fiscal  concedida  sob  o  nº  0887/83.    Acerca   das   Notas   Fiscais   da   referida   gráfica,   consta   o   seguinte   no   Relatório   de  Auditoria:   Em   resposta   ao   Ofício   TC/DCM/AUD/AR   nº   17/2008   (fls.681)   o  proprietário  apresentou  os  talonários  contendo  as  2as  vias  das  notas  solicitadas  (fls.  

do Departamento de Polícia Federal no Estado de Pernambuco (Laudo Pericial nº 380/2008 – SETEC/SR/DPF/PE

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682  a  688),  que  confrontadas  com  as  notas  fiscais  apresentadas  pelos  vereadores  com  numeração  correspondente  (fls.690  a  698),  verificou-­‐‑se  que  estas  últimas,  constantes  das  prestações  de  contas  da  verba  indenizatória,  eram  falsas,  pelos  seguintes  motivos:  o  layout  e  a  grafia  das  notas  eram  diferentes;  os  valores,  as  quantidades  e  a  data  não  correspondiam;  o  número  da  autorização  da  Prefeitura  para  emissão  de  notas  fiscais  não  coincidia;  a  descrição  do  serviço  também  era  diferente.  Ademais,  ao  apresentar  ao  proprietário  as  vias  que  contínhamos,  o  mesmo  declarou  não  reconhecer  e,  portanto,  não  ter  emitido  tais  notas.  (vide  declaração  fls.  689).    Por  derradeiro,  cabe  o  registro  de  que  tal  documento  fiscal  faz  parte  do  Grupo  N  de  Notas  Fiscais  inidôneas.    Notas  Fiscais  emitidas  pela  WR  Gráfica  e  Editora  –  o  demandado  fez  uso  da  Nota  Fiscal  nº  656,  supostamente  emitida  em  22/01/2007,  no  valor  de  R$  3.500,00.      Entretanto,   consta   do   Relatório   de   Auditoria   que   em   resposta   ao   Ofício  TC/DCM/AUD/AR   nº   18/2008   (fls.   727)   o   proprietário   apresentou   os   talonários  contendo  as  2  as  vias  das  notas  solicitadas  (fls.  728  a  737),  que  confrontadas  com  as  notas  fiscais  apresentadas  pelos  vereadores  com  numeração  correspondente  (fls.  739  a  748),   verificou-­‐‑se   que   estas   últimas,   constantes   das   prestações   de   contas   da   verba  indenizatória,  eram  falsas,  pelos  seguintes  motivos:  o  layout  e  a  grafia  das  notas  eram  diferentes;   os   valores,   as   quantidades   e   a   data   não   correspondiam;   o   número   da  autorização  da  Prefeitura  para  emissão  de  notas  fiscais  não  coincidia;  a  descrição  do  serviço   também   era   diferente;   o   estabelecimento,   até   a   data   da   visita,   não   havia  emitido  a  nota  fiscal  de  nº  678  (a  última  NF  emitida  foi  a  nº  675  –  vide  NF  nº  676  em  branco   fls.737).  Ademais,   ao   apresentar   ao   proprietário   as   vias   que   contínhamos,   o  mesmo   declarou   não   reconhecer   e,   portanto,   não   ter   emitido   tais   notas.   (vide  declaração  fls.738).  Ressaltamos,  ainda,  que  as  notas  falsas  relacionadas  abaixo  nem  ao  menos  guardam  coerência   entre   a  numeração   e   a  data   em  que   foram  emitidas,   a  exemplo   das   notas   nº   656   (22/01/07)   e   658   (16/01/07)   e   que   os   valores   são  muito  superiores  aos  das  notas  verdadeiras,  não  condizentes  com  a  movimentação  de  venda  do  estabelecimento,  segundo  o  proprietário.    

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   No  tocante  à  Nota  Fiscal  nº  656,  consta  no  estabelecimento  correspondente  2ª  Via  da  mesma   no   valor   de   R$   395,00,   emitida   em   10/01/2008,   em   nome   de   Concórdia  Veículos,  sendo  a  via  apresentada  pelo  vereador  clonada.      Por   fim,   verifica-­‐‑se   que     tal   documento   fiscal     faz   parte   do  Grupo  D   de   Notas  Fiscais  inidôneas.    Cumpre  enfatizar  que  o  conjunto  de  25  notas  fiscais  acima  descrito  corresponde  à  R$  51.430,00   (cinqüenta   e   um  mil,   quatrocentos   e   trinta   reais),   o   que   equivale   a  93%  do  total  da  Verba  Indenizatória  percebida  no  período  de  maio  a  julho  de  2006  e  janeiro  de  2007  pelo  réu.    Ante  tais  evidências  e  em  que  pese  as  razões  expendidas  na  defesa  do  demandado  na  dita  Auditoria  Especial,  o  Tribunal  de  Contas  do  Estado,  em  sessão  realizada  em  05  de  fevereiro  de  2009,  concluiu  a  sua  análise  e,  à  unanimidade  dos  integrantes  da  sua  2ª  Câmara,  assim  decidiu:    

Julgo  IRREGULARES  as  contas  objeto  da  presente  Auditoria  Especial  realizada   nas   verbas   indenizatórias   de   apoio   ao   gabinete   da  Câmara  Municipal  do  Recife,  quando:    I.  DETERMINO  aos  vereadores  abaixo  referidos  que  restituam  aos  cofres  municipais   os   valores   relativos   às   despesas   impugnadas,   atualizados  monetariamente,   a   partir   do   primeiro   dia   do   exercício   financeiro  

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subseqüente  ao  das  contas  ora  analisadas,  segundo  os  índices  e  condições  estabelecidos  na  legislação  local  para  atualização  dos  créditos  da  Fazenda  Pública  Municipal,  no  prazo  de  15  (quinze)  dias  do  trânsito  em  julgado  à  presente  deliberação,  encaminhando  cópia  da  Guia  de  Recolhimento  a  este  Tribunal  para  baixa  do  débito.  Não  o  fazendo,  que  seja  extraída  Certidão  do   Débito   e   encaminhada   ao   atual   Prefeito   do   Município,   que   deverá  inscrever  o  débito  na  Dívida  Ativa  e  proceder  a  sua  execução,  sob  pena  de  responsabilidade:    Notas  Fiscais  Inidôneas  VEREADOR    VICENTE  MANOEL  LEITE  ANDRÉ  GOMES  -­‐‑  R$  44.093,27    II.  APLICO,  aos  vereadores  e  membros  da  Comissão  de  Controle  Interno  devidamente  nominados  abaixo,  multa,  nos  termos  do  artigo  73,  incisos  I,  II  e  III,  da  Lei  Estadual  n°12.600/04,  pelas   irregularidades  citadas  e  nos  valores   descritos   no   corpo   principal   deste   voto,   em   favor   do   Fundo   de  Aperfeiçoamento   Profissional   e   Reequipamento   Técnico   do   Tribunal,  conta   corrente   nº   9500322,   Agência   nº   1016,   Banco   nº   356,   Real   S/A,  valor  a  ser  recolhido  no  prazo  de  15  (quinze)  dias  do  trânsito  em  julgado  da  presente  decisão,  oportunidade  em  que  deverá  ser  encaminhada  a  este  Tribunal  a  respectiva  guia  de  quitação  para  baixa  do  débito:    Irregularidade:  Notas  Fiscais  Inidôneas  Hipótese   Normativa:   ato   de   gestão   ilegal,   ilegítimo   ou  antieconômico   de   que   resulte   injustificado   dano   à   Fazenda   (art.  73,  II,  da  Lei  Orgânica  deste  Tribunal)    VEREADOR  VICENTE  MANOEL  LEITE  ANDRÉ  GOMES  -­‐‑  R$  9.000,00    Irregularidade:  Notas  Fiscais  Inidôneas  Hipótese  Normativa:   ato   praticado   com   grave   infração   a   norma  legal   ou   regulamentar   de   natureza   contábil,   financeira,  orçamentária,   operacional   ou   patrimonial   (art.   73,   III,   da   Lei  Orgânica  deste  Tribunal)    VEREADOR  

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ANDRÉ  FERREIRA  RODRIGUES  -­‐‑  R$  2.500,00  ANTÔNIO  LUIZ  DA  SILVA  NETO  -­‐‑  R$  5.000,00  AUGUSTO  JOSE  CARRERAS  CAVALCANTI  DE  ALBUQUERQUE  -­‐‑  R$  2.500,00  CARLOS  FREDERICO  GOMES  FRED  OLIVEIRA  -­‐‑  R$  4.000,00  DANIEL  PIRES  COELHO  -­‐‑  R$  3.000,00  EDUARDO  AMORIM  MARQUES  DA  CUNHA  -­‐‑  R$  5.500,00  ELEDIAK  FRANCISCO  CORDEIRO  -­‐‑  R$  2.500,00  FRANCISMAR  MENDES  PONTES  -­‐‑  R$  3.000,00  GILVAN  CAVALCANTI  DA  SILVA  -­‐‑  R$  5.000,00  GUSTAVO  VASCONCELOS  NEGROMONTE  -­‐‑  R$  5.500,00  JOÃO  ALBERTO  DE  FREITAS  MARINS  -­‐‑  R$  3.000,00  JOSE  ERIBERTO  MEDEIROS  DE  OLIVEIRA  -­‐‑  R$  2.500,00  LIBERATO  PERREIRA  COSTA  JUNIOR  -­‐‑  R$  5.500,00  LUIZ  CARLOS  CAVALCANTI  PIRES  -­‐‑  R$  3.000,00  LUIZ  EUSTÁQUIO  RAMOS  NETO  -­‐‑  R$  5.500,00  LUIZ  HELVÉCIO  DE  SANTIAGO  ARAÚJO  -­‐‑  R$  5.500,00  LUIZ  VIDAL  SILVA  -­‐‑  R$  5.500,00  MARCOS  ANTONIO  DE  SOUZA  MENEZES  -­‐‑  R$  2.500,00  MOZART  JULIO  TABOSA  SALES  -­‐‑  R$  2.500,00  OSMAR  RICARDO  CABRAL  BARRETO  -­‐‑  R$  4.500,00  ROMILDO  JOSE  FERREIRA  GOMES  FILHO  -­‐‑  R$  6.000,00  SEVERINO  GABRIEL  BELTRÃO  -­‐‑R$  2.500,00  SILVIO  SERAFIM  COSTA  FILHO  -­‐‑  R$  5.000,00  VALDIR  FACIONI  -­‐‑  R$  4.000,00  HENRIQUE  JOSÉ  LEITE  DE  MELO  -­‐‑  R$  6.000,00  

 Entre  os  considerandi  da  referida  decisão,  destacam-­‐‑se:      CONSIDERANDO  que  foram  utilizadas  como  comprovantes  da  despesa  notas  fiscais  “clonadas”,  notas  de  estabelecimentos  fechados  ou  inexistentes,  notas  com  numeração  repetida,  notas  de   estabelecimentos  diversos  preenchidas   com  a  mesma  grafia,  notas  grosseiramente   falsificadas,   dentre   tantas   outras   irregularidades,   o   que   configura   o  ato  de  improbidade  administrativa  previsto  no  art.  9º,  XI,  da  Lei  Federal  nº  8.429/92;    CONSIDERANDO   que,   apesar   de   quase   todos   os   vereadores   responsáveis   pela  prestação   de   contas   com   base   em   notas   fiscais   inidôneas   terem   devolvido   os  respectivos  recursos  aos  cofres  da  Prefeitura  Municipal,  as  irregularidades  subsistem,  

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porquanto   a   devolução   voluntária   dos   recursos   significa   reconhecimento   da  irregularidade  cometida  (presunção  legal  de  veracidade  do  alegado);    Merece  menção  o  Item  V  da  referida  Decisão,  o  qual  determinou  a  remessa  de  cópia  da  Auditoria  Especial  ao  Ministério  Público  de  Pernambuco.    Da  devolução  dos  valores  apropriados      O   demandado,   uma   vez   notificado   nos   autos   da   Auditoria   Especial   acima  mencionada,  recolheu  o  valor  indicado  no  Relatório  Prévio.    Com  efeito,  consta  dos  autos  da  referida  Auditoria  Especial  o  comprovante  bancário,  relativo   ao   valor   de   R$   51.430,00,   depositado   pelo   demandado   na   Conta  Única   do  Município  em  15  de  julho  de  2008.    Tal   devolução,   no   entanto,   não   constitui   óbice   à   propositura   da   presente   ação   civil  pública  por   ato  de   improbidade   administrativa,   conforme  delineado  no   artigo  12  da  Lei  de  Improbidade  Administrativa.        DO  DIREITO        Conforme   leciona   Norberto   Bobbio,   “a   distinção   entre   bem   comum   (bonum  commune)   e  bem  próprio   (bonum  proprium)   é,   aliás,   aquela   que  desde  Aristóteles  serve  para  distinguir  as  formas  de  governo  boas  das  formas  de  governo  corruptas:  o  bom  governo  é  aquele  que  se  preocupa  com  o  bem  comum,  o  mau  olha  o  próprio  bem,  vale-­‐‑se  do  poder  para  satisfazer  a  interesses  pessoais”6.    Em  consonância  com  tal  premissa,  o  constituinte  originário  estabeleceu,  no  artigo  37,  que   a   administração  pública   direta   e   indireta   de  qualquer  dos  Poderes   da  União,  dos   Estados,   do   Distrito   Federal   e   dos   Municípios   obedecerá   aos   princípios   da  legalidade,  impessoalidade,  moralidade,  publicidade  e  também  que  (...)       6 Norberto Bobbio, in Teoria Geral da Política, Editora Campus, 15ª Tiragem , 2000, página 219

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§   4º   -­‐‑  Os   atos   de   improbidade   administrativa   importarão   a   suspensão   dos   direitos  políticos,  a  perda  da  função  pública,  a  indisponibilidade  dos  bens  e  o  ressarcimento  ao  erário,  na  forma  e  gradação  previstas  em  lei,  sem  prejuízo  da  ação  penal  cabível.      Trata-­‐‑se  de  uma  opção  clara  e  direta  no  sentido  de  que  a  gestão  da  coisa  pública  deva  se  guiar  pela  consecução  do  bonum  commune  referido  por  Norberto  Bobbio.  De  resto,  aspiração  comum  ao  nosso  povo  e,  fundamentalmente,  fator  legitimador  do  exercício  do   poder,   vez   que   aproveitar   o   exercício   de   cargo   ou  mandato   eletivo   para,   através  dele,   implementar   o   bonum   proprium   macula   a   representação   eleitoralmente  concedida  pela  população.    No  espectro  infraconstitucional,  foi  promulgada  a  Lei  nº  8.429/92  que  dispõe  sobre  as  sanções   aplicáveis   aos   agentes   públicos   nos   casos   de   enriquecimento   ilícito   no  exercício   de   mandato,   cargo,   emprego   ou   função   na   administração   pública   direta,  indireta  ou  fundacional.    No  tocante  à  delimitação  dos  sujeitos  ativos  da  improbidade  administrativa,  têm-­‐‑se  no  artigo  2º  que  reputa-­‐‑se  agente  público,  para  os  efeitos  desta  lei,  todo  aquele  que  exerce,  ainda  que  transitoriamente  ou  sem  remuneração,  por  eleição,  nomeação,  designação,  contratação   ou   qualquer   outra   forma   de   investidura   ou   vínculo,   mandato,   cargo,  emprego  ou  função  nas  entidades  mencionadas  no  artigo  anterior.    Na  outra  ponta,  são  passíveis  de  sofrer  ato  de  improbidade  administrativa,  nos  termos  do  artigo  1º  da  citada  lei,  a  administração  direta,  indireta  ou  fundacional  de  qualquer  dos   Poderes   da   União,   dos   Estados,   do   Distrito   Federal,   dos   Municípios,   de  Território,   de   empresa   incorporada   ao   patrimônio   público   ou   de   entidade   para   cuja  criação   ou   custeio   o   erário   haja   concorrido   ou   concorra   com  mais   de   cinqüenta   por  cento  do  patrimônio  ou  da  receita  anual.    Pois  bem.    A  conduta  de  Silvio  Costa  Filho  demonstra  à  saciedade  que  este  é  sujeito  ativo  do  ato  de  improbidade  administrativa  pelo  uso  reiterado  de  notas  fiscais  inidôneas  para  fins  de  percepção  da  verba  indenizatória  pelo  exercício  de  mandato.    O   demandado,   na   qualidade   de   parlamentar   municipal   e   por   força   do   contido   nos  artigos   1º   e   2º   da   Lei   nº   8.429/92,   deve   responder   pelos   atos   de   improbidade  administrativa  praticados.  

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 Resta   patente   que,   no   campo   delineado   na   Lei   de   Improbidade   Administrativa,   tal  conduta   pode   ser   praticada   por   vereador   (sujeito   ativo)   em   detrimento   da   sua  Instituição  –  Câmara  Municipal  (sujeito  passivo).  Efetivamente  a  hipótese  em  tela.    Assente   a   pertinência   subjetiva   na   presente   contenda,   cabe-­‐‑nos   demonstrar   a  correspondência  entre  os  atos  acima  descritos  e  os  dispositivos  legais  delimitadores  do  ato  de  improbidade  administrativa.  É  o  que  se  segue.    Da   leitura   do   artigo   9º,   inciso   XI,   têm-­‐‑se   que   constitui   ato   de   improbidade  administrativa  importando  enriquecimento  ilícito  auferir  qualquer  tipo  de  vantagem  patrimonial   indevida   em   razão  do   exercício  de   cargo,  mandato,   função,   emprego   ou  atividade   nas   entidades   mencionadas   no   art.   1°   desta   lei,   e   notadamente:   XI   -­‐‑  incorporar,   por   qualquer   forma,   ao   seu   patrimônio   bens,   rendas,   verbas   ou   valores  integrantes  do  acervo  patrimonial  das  entidades  mencionadas  no  art.  1°  desta  lei.    Sem  muito  esforço,  observa-­‐‑se  a  plena  coincidência  entre  o  citado  dispositivo:  ato  de  improbidade  administrativa  consubstanciado  em  enriquecimento  ilícito  com  o  caso  em  comento.    Sustenta  Emerson  Garcia7  que  quatro  são  os  elementos  formadores  do  enriquecimento  ilícito  sob  a  ótica  da  Improbidade  Administrativa:    

l O  enriquecimento  do  agente;    

l Que   se   trate   de   agente   que   ocupe   cargo,   mandato,   função,   emprego   ou  atividade   nas   entidades   elencadas   no   artigo   1º,   ou   mesmo   o   extraneus   que  concorra  para  a  prática  do  ato  ou  dele  se  beneficie;    

l A   ausência   de   justa   causa,   devendo   se   tratar   de   vantagem   indevida,   sem  qualquer   correspondência   com   os   subsídios   ou   vencimentos   recebidos   pelo  agente  público;    

l Relação  de  causalidade  entre  a  vantagem  indevida  e  o  exercício  do  cargo.    Tais  elementos  estão  efetivamente  configurados  na  hipótese  sob  análise:  o  demandado  –  agente  político  -­‐‑  incorporou  verba  pública  a  seu  patrimônio,  com  isto  gerando  o  seu   7 Emerson Garcia, in Improbidade Administrativa, Lúmen Júris, 2ª Edição, 2004, página 270

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enriquecimento,   não   havendo   justa   causa   para   que   ele   dispusesse   do   referido  numerário  e  sendo  certo  que  o  seu  acesso  ao  dito  enriquecimento  decorreu  do  exercício  do  mandato,  posto  que,  não  sendo  vereador,  não  obteria  à  Verba  Indenizatória.    Neste  ponto,  cumpre  evidenciar  o  significativo  Acórdão  do  Tribunal  Regional  Federal  da  5ª  Região  acerca  de  hipótese  similar  a  da  presente  demanda:    

AC  Nº  357235  -­‐‑  RN  (2002.84.00.005125-­‐‑0)  APTE:  MARCELINO  DA  SILVA  ANDRADE  ADV:  EDUARDO  SERRANO  DA  ROCHA  E  OUTRO  APDO:  MINISTÉRIO  PÚBLICO  FEDERAL  APDO:  CAIXA  ECONÔMICA  FEDERAL  RELATOR:   DESEMBARGADOR   FEDERAL   CESAR   CARVALHO  (CONVOCADO)  EMENTA  APELAÇÃO.  AÇÃO  DE  IMPROBIDADE  ADMINISTRATIVA.  ART.  9º,   XI,   DA   LEI   N.º   8.429/92.   ENRIQUECIMENTO   ILÍCITO  ADVINDO   DA   APROPRIAÇÃO   DE   VALORES   AOS   QUAIS   SE  TEM   ACESSO   EM   RAZÃO   DO   CARGO   OCUPADO.   ALEGADO  ESTADO   DE   NECESSIDADE.   NÃO   COMPROVAÇÃO.  RESSARCIMENTO   EFETUADO   APENAS   QUANDO  DESCOBERTO   O   ATO   DE   IMPROBIDADE.   COMINAÇÃO   DE  PENAS   CUMULATIVAS   TENDO   EM   CONTA   O   GRAU   DE  CULPABILIDADE   E   REPROVABILIDADE   DA   CONDUTA.  OBEDIÊNCIA   AOS   PRINCÍPIOS   DA   RAZOABILIDADE   E  PROPORCIONALIDADE.   INDEPENDÊNCIA  ENTRE  AS  SEARAS  CRIMINAL   E   NÃO-­‐‑CRIMINAL.   VALOR   DA   MULTA   FIXADO  DENTRO  DO   PERMISSIVO   LEGAL   ESCULPIDO   PELO  ART.   12,  III,   DA   LEI   N.º   8.429/92.   SENTENÇA   QUE   SE   MANTÉM   POR  SEUS  PRÓPRIOS  FUNDAMENTOS.  RECURSO  IMPROVIDO.  -­‐‑   Funcionário   público   que,   valendo-­‐‑se   do   cargo   ocupado,   apropria-­‐‑se   de  montante  do  qual   tinha  posse  pratica  o  ato  de   improbidade  previsto  pelo  art.  9º,  XI,  da  Lei  n.º  8.429/92.  -­‐‑   Estado   de   necessidade   não   configurado   por   inexistência   de   provas   do  perigo  eminente  aventado.  Ademais,  ainda  que  houvesse  comprovação,  a  existência   de   alternativas   legais   para   saldar   as   supostas   dívidas   seria  evento   apto   a   afastar   o   estado   de   necessidade   nos   moldes   em   que   foi  sugerido.  

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-­‐‑   No   caso   dos   autos,   dadas   as   peculiaridades   observadas,   o   grau   de  culpabilidade   do   agente   e   de   reprovabilidade   do   ato   perpetrado,  consistente   no   enriquecimento   ilícito,   mais   do   que   cabível   a   cominação  cumulativa   de   sanções,   sendo   irrelevante   a   resposta   dada   na   seara  criminal.  -­‐‑  A   independência   entre   as   searas   criminal   e   não-­‐‑criminal   inviabiliza   a  exigência  de  tratamento  simétrico.  -­‐‑  As  penalidades   aplicadas  prestigiaram  os  princípios  da   razoabilidade   e  proporcionalidade  e  não  o  contrário.  -­‐‑  Sentença  que  se  mantém  por  seus  próprios  fundamentos.  -­‐‑  Apelação  improvida.  ACÓRDÃO  Vistos  e  relatados  estes  autos  em  que  são  partes  as  acima  indicadas,  decide  a  Primeira  Turma  do  egrégio  Tribunal  Regional  Federal  da  5ª  Região,  por  maioria,   negar   provimento   à   apelação,   nos   termos   do   voto   do   relator   e  notas   taquigráficas   constantes   dos   autos,   que   integram   o   presente  julgado.  Recife,  06  de  setembro  de  2007  (data  do  julgamento).  DESEMBARGADOR  FEDERAL  CESAR  CARVALHO  RELATOR  (CONVOCADO).  

 Em   outra  mão,   a   ação   perpetrada   pelo   demandado   atentou   contra   os   princípios   da  legalidade,   impessoalidade   e   da   moralidade.   Todos   norteadores   das   atividades   da  administração  pública.    Segundo  Celso  Antonio  Bandeira  de  Mello,  “o  princípio  da  legalidade  explicita  a  subordinação  da  atividade  administrativa  à   lei   e   surge  como  decorrência  natural  da  indisponibilidade  do   interesse  público,  noção  esta  que,  conforme   foi  visto,   informa  o  caráter  da  relação  de  administração”.      Em  outra  oportunidade,  obtempera:  “fora  da  lei,  portanto,  não  há  espaço  para  atuação  regular   da   Administração.   Donde,   todos   os   agentes   do   Executivo,   desde   o   que   lhe  ocupa   a   cúspede   até   o   mais   modesto   dos   servidores   que   detenha   algum   poder  decisório,   hão  de   ter   perante   a   lei   -­‐‑   para   cumprirem  corretamente   seus  misteres   -­‐‑   a  mesma   humildade   e   a   mesma   obsequiosa   reverência   para   com   os   desígnios  

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normativos.  É  que  todos  exercem  função  administrativa,  a  dizer,  função  subalterna  à  lei,  ancilar  -­‐‑  que  vem  de  ancilla,  serva,  escrava8.      Assim  é  que,  ao  agente  político  não  é  possível,  ao  seu  bel  prazer  e  sob  o  pretexto  de  se  ressarcir  de  gastos   inerentes  à   função  parlamentar,   apropriar-­‐‑se   sem   justa   causa  de  verbas   públicas   mediante   o   ardil   consubstanciado   na   utilização   sistemática   de  documentos  falsos  para  materializar  uma  despesa  fictícia.    No   caso   concreto,   é   inafastável   a   desconformidade   da   conduta   realizada   com   o  princípio  constitucional  acima  invocado.    No  tocante  à  impessoalidade,  é  oportuno  relembrar  a  sempre  valiosa  lição  de  Hely  Lopes   Meirelles,   segundo   a   qual   este   princípio   “referido   na   Constituição   de   1988  (artigo  37,  caput),  nada  mais  é  que  o  clássico  princípio  da  finalidade,  o  qual  impõe  ao  administrador   público   que   só   pratique   o   ato   para   o   seu   fim   legal.   E   o   fim   legal   é  unicamente   aquele   que   a   norma   de   direito   indica   expressa   ou   virtualmente   como  objetivo  do  ato,  de  forma  impessoal”  9    No  caso  sob  exame,  é  incontrastável  que  o  referido  parlamentar  municipal,  quando  da  utilização  de  documentos  falsos  para  a  percepção  da  verba  indenizatória,  subverteu  o  princípio  da  finalidade  de  modo  a  favorecer-­‐‑se  diretamente.    No   tocante   ao   princípio   da   moralidade   é   necessário   observar   o   ensinamento   de  Maria  Sylvia  Zanella  de  Pietro  no  sentido  em  que  “não  é  preciso  penetrar  na  intenção  do   agente,   porque   do   próprio   objeto   resulta   a   imoralidade.   Isto   ocorre   quando   o  conteúdo   de   determinado   ato   contrariar   o   senso   comum   de   honestidade,  retidão,  equilíbrio,  justiça,  respeito  à  dignidade  do  ser  humano,  à  boa-­‐‑fé,  ao  trabalho,  à  ética  das  instituições.  A  moralidade  exige  proporcionalidade  entre  os  meios  e  os  fins  a  atingir;  entre  os  sacrifícios  impostos  à  coletividade  e  os  benefícios  por  ela   auferidos;  entre  as  vantagens  usufruídas    pelas  autoridades  públicas   e  os  encargos  impostos  à  maioria  dos  cidadãos.  Por  isso  mesmo,  a  imoralidade  salta  aos   olhos   quando   a   Administração   Pública   é   pródiga   em   despesas   legais,   porém  inúteis,   como   propaganda   ou  mordomia,   quando   a   população   precisa   de   assistência  médica,   alimentação,   moradia,   segurança,   educação,   isso   sem   falar   no   mínimo  indispensável   à   existência   digna.  Não   é   preciso,   para   invalidar   despesas   desse   tipo,   8 Celso Antonio Bandeira de Mello in “Desvio de Poder”, in RDP 89/24, p. 24. e “Discricionariedade e Controle Jurisdicional”, Malheiros Editores, 2ª ed., 1993, p. 50. 9 Hely Lopes Meirelles. Direito Administrativo brasileiro, 21ª Edição, São Paulo, Malheiros, 1995, página 82

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entrar  na  difícil  análise  dos  fins  que  inspiraram  a  autoridade;  o  ato  em  si,  o  seu  objeto,  o   seu   conteúdo,   contraria   a   ética   da   instituição,   afronta   a  norma  de   conduta   aceita  como   legítima   pela   coletividade   administrada.   Na   aferição   da   imoralidade  administrativa,  é  essencial  o  princípio  da  razoabilidade10”.    À  toda  evidência  que  a  conduta  do  demandado  ofende  ao  senso  comum  de  honestidade  e   justiça  do   cidadão   recifense   trabalhador   e  pagador  de   seus   impostos.  Revela  ainda  má   fé   escancarada   na   conduta   do   demandado   e   profundo   desequilíbrio   entre   o   seu  aproveitamento  da  res  publica  e  o  ônus  imposto  ao  cidadão  seja  pela  carga  tributária,  seja  pela  ausência  e  ou  deficiência  na  prestação  de  serviços  próprios  do  ente  municipal  em  virtude  da  sempre  recorrente  limitação  orçamentária.      Da  Responsabilidade  do  Réu      Conforme  expressa  Emerson  Garcia,  o  dolo  necessário  à  configuração  da  improbidade  administrativa  corresponde  à  vontade  livre  e  consciente  dirigida  ao  resultado  ilícito11  Deste   modo,   observa-­‐‑se   pelo   conjunto   probatório   que   o   demandado,   consciente   e  voluntariamente,  aproveitou  do  exercício  do  mandato  de  vereador,  para  se  apropriar  de   verba   pública:   Verba   Indenizatória   instituída   mediante   a   Lei   Municipal   nº  17.159/2005.  Cumpre   notar   que   as   elementares   de   deslealdade   e   desonestidade  também  estão  presentes  na  conduta.    Assim   é   que   temos   os   elementos   necessários   para   o   enquadramento   da   conduta  narrada   no   presente   caso   como   ato   de   improbidade   administrativa   que   importa   em  enriquecimento  ilícito  e  em  desrespeito  aos  princípios  que  norteiam  a  Administração  Pública.      Do   Dano   Moral   suportado   pelo   Poder   Legislativo   municipal   e   pelos  cidadãos  recifenses      

10 Maria Sylvia Zanella di Pietro, in Discricionariedade administrativa na Constituição de 1998. São Paulo, Atlas, 1991, pagina 111

11 Emerson Garcia, in Improbidade Administrativa, Editora Lumen Júris, 2ª Edição, página 296

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A   apropriação   indevida   de   recursos   provenientes   do   pagamento   de   verba  indenizatória,   indubitavelmente,   constituiu   uma   inversão   do   exercício   do   mandato  parlamentar.  Sem  embargo,  o  interesse  privado  do  demandado  se  sobrepôs  ao  interesse  público,  o  qual,  repita-­‐‑se,  deve  sempre  nortear  a  atuação  do  ente  público.    Indo  além.  A  utilização  de  documentos   fiscais   inidôneos  para   justificar  a  percepção,  em  sua  integralidade,  da  dita  verba  revela  um  total  descompromisso  com  aqueles  que  o  demandado  deveria  representar.    Em   outra   vertente,   nunca   é   demais   lembrar   a   dramática   realidade   dos   serviços  públicos   ofertados   à   população,   os   quais   ainda   se   encontram   distantes   da   meta   de  universalidade  prevista  constitucionalmente  nas  áreas  essenciais  de  saúde  e  educação,  sempre   premidos   pela   reserva   do   possível   conforme   alegação   eterna   do   Poder  Executivo  quando  acionado  judicialmente  a  atendê-­‐‑los.    Mais  ainda.  A  ação  deliberada  de  apropriação  de   recursos  públicos   engendrada  pelo  demandado   atingiu   frontalmente   a   credibilidade   do   próprio   Poder   Legislativo  municipal.  Vamos  reconquistar  o  apoio  do  povo,  fazer  com  que  a  sociedade  acompanhe  os  trabalhos  da  Câmara  e  compreenda  o  papel  do  Legislativo.  [...]  A  Casa  vai  voltar  a  ter  a  simpatia  que  merece.  [...]  Seremos  transparentes  não  só  com  as  contas,  mas  com  nosso   trabalho:  Estas   foram  as  palavras  do  ex-­‐‑Presidente  da  Câmara  de  Vereadores,  Múcio  Magalhães,  em  entrevista  ao  Diário  de  Pernambuco  (edição  de  02  de  fevereiro  de  2009),  na  qual  enfatiza  a  árdua  tarefa  de  reconstruir  frente  à  população  a  imagem  da  Câmara  de  Vereadores  após  a  veiculação  do  Escândalo  das  Notas  Frias.    Sem  embargo,   as   conseqüências   foram  sentidas  ainda  no  processo   eleitoral  de  2008,  no  qual  grande  parte  dos  vereadores  envolvidos  no  atos  irregulares  apurados  através  da   Auditoria   Especial   nº   0605226-­‐‑5   não   obteve   a   renovação   do   seu   mandato.   A  questão  foi  destacada  na  imprensa  local,  conforme  se  observa  na  matéria  do  Diário  de  Pernambuco  (edição  de  06  de  outubro  de  2008)12.    Posto  isto,  resta  patente  que  a  imagem  da  Câmara  Municipal  restou  maculada  e  que  os   cidadãos   recifenses   tiveram  que   suportar   intensa   frustração   em   face   do   completo  desvirtuamento   do   exercício   do   mandato   parlamentar   por   parte   de   um   grupo   de  vereadores,  entre  os  quais  o  demandado.  

12 Dos 26 atuais vereadores da capital que constam na auditoria do Tribunal de Contas como responsáveis por um rombo de mais de R$ 1 milhão em emissão de notas fiscais frias, 14 foram reeleitos. Os doze restantes foram derrotados nas urnas ou não lançaram candidatura. Diário de Pernambuco, 06/10/2008

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 Em  socorro  a  tal  situação,  têm-­‐‑se  no  direito  positivo  o  seguinte:    Orlando   Gomes13   estabelece   que   a   expressão   dano   moral   deve   ser   reservada  exclusivamente  para  designar  o  agravo  que  não  produz  qualquer  efeito  patrimonial.  Será   dano  moral   a   lesão   sofrida   ao   patrimônio   ideal,   em   contraposição   ao  material.  Daí  a  necessidade  de  ressarcir,  sendo  cumuláveis  os  ressarcimentos  por  dano  moral  e  patrimonial  oriundos  do  mesmo  fato.    Yussef   Said   Cahali14   caracteriza   o   dano   moral   como   a   privação   ou   diminuição  daqueles   bens   que   têm   um   valor   precípuo   na   vida   do   homem   e   que   são   a   paz,   a  tranqüilidade  de  espírito,  a  liberdade  individual,  a  integridade  física,  a  honra.  Diz  que  há  dano  que  afeta  a  parte  social  do  patrimônio  moral  (honra)  e  o  dano  que  diz  respeito  a  parte  afetiva  do  patrimônio  moral  (dor,  tristeza).    Em  outro  prisma,  é  oportuno  observar  que  o  atual  Código  Civil  estabelece  a  reparação  do   dano   moral   no   seu   artigo   186:   aquele   que,   por   ação   ou   omissão   voluntária,  negligência   ou   imprudência,   violar   direito   ou   causar   dano   a   outrem,   ainda   que  exclusivamente  moral,  comete  ato  ilícito.    Já  a  Constituição  da  República,   em  seu  artigo  5º,  V,  assegura  o  direito  de   resposta,  proporcional  ao  agravo,  além  da  indenização  por  dano  material,  moral  ou  à  imagem.    Destaque-­‐‑se  que  a  reparação  por  dano  moral  pode  se  dar  inclusive  quando  atingido  os  ditos  direitos  e  interesses  difusos.    Como  assenta  Alberto  Bittar  Filho,  consiste  o  dano  moral  coletivo  na  injusta  lesão  da   esfera  moral   de   uma   dada   comunidade,   ou   seja,   na   violação   antijurídica   de   um  determinado  círculo  de  valores  coletivos.  Quando  se  fala  em  dano  moral  coletivo,  está-­‐‑se   fazendo  menção  ao   fato  de  que  o  patrimônio  valorativo  de  uma  certa  comunidade  (maior   ou   menor),   idealmente   considerado,   foi   agredido   de   maneira   absolutamente  injustificável   do   ponto   de   vista   jurídico.   Tal   como   se   dá   na   seara   do   dano   moral  individual,   aqui   também   não   há   que   se   cogitar   de   prova   da   culpa,   devendo-­‐‑se  responsabilizar  o  agente  pelo  simples  fato  da  violação  (damnum  in  re  ipsa).”     13 Orlando Gomes, in Direito das Obrigações, Rio de Janeiro, Forense, 12ª edição, 1990, n.195, pág. 332 14 Yussef Said Cahali, in Dano Moral, 2ª edição, São Paulo, Revista dos Tribunais, pág. 20

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Nesta  linha,  têm-­‐‑se  a  oportuna  análise  do  Procurador  Regional  da  República,  André  de  Carvalho  Santos,  quando  sustenta  que  é  preciso  sempre  enfatizar  o  imenso  dano  moral   coletivo   causado   pelas   agressões   aos   interesses   transindividuais.  Afeta-­‐‑se   a  boa-­‐‑imagem  da   proteção   legal   a   estes   direitos   e   afeta-­‐‑se   a   tranqüilidade   do   cidadão,  que   se   vê   em   verdadeira   selva,   onde   a   lei   do   mais   forte   impera.   (...)     Tal  intranqüilidade   e   sentimento   de   desapreço   gerado   pelos   danos   coletivos,   justamente  por   serem   indivisíveis,   acarreta   lesão   moral   que   também   deve   ser   reparada  coletivamente.  Ou  será  que  alguém  duvida  que  o  cidadão  brasileiro,  a  cada  notícia  de  lesão   a   seus   direitos,   não   se   vê   desprestigiado   e   ofendido   no   seu   sentimento   de  pertencer  a  uma  comunidade  séria,  onde  as  leis  são  cumpridas?  A  expressão  popular  o  Brasil   é   assim   mesmo   deveria   sensibilizar   todos   os   operadores   do   Direito   sobre   a  urgência  na  reparação  do  dano  moral  coletivo.15    Com   acerto,   Emerson   Garcia   sustenta   que   é   indiscutível   que   determinados   atos  podem  diminuir  o  conceito  da  pessoa  jurídica  junto  à  coletividade,  ainda  que  não  haja  uma  repercussão  imediata  sobre  o  seu  patrimônio.16    Segundo  Hugo  Nigro  Mazzilli,  com  a  nova  redação  do  caput  do  art.  1°  da  lei  de  ação  civil   pública,   hoje   não   só   os   danos   patrimoniais,   como   os   danos   morais   devem  expressamente  ser  objeto  da  ação  de  responsabilidade,  devendo-­‐‑se  considerar  todas  as  conseqüências  decorrentes  da  quebra  da  moralidade  administrativa.    Nelson  Nery  Júnior  afirma  que  muito  embora  o  CDC  6°  VI  já  preveja  a  possibilidade  de  haver  indenização  do  dano  moral  coletivo  ou  difuso,  bem  como  sua  cumulação  com  o  patrimonial  (STJ  37),  a  LAT  88,  modificando  o  caput  da  LACP  1°,  deixou  expressa  essa   circunstância   quanto   aos   danos   difusos   e   coletivos,   que   são   indenizáveis   quer  sejam  patrimoniais,  quer  sejam  morais,  permitida  sua  cumulação.    Enfrentando   o   tema,   a  Segunda  Turma  do  Superior  Tribunal   de   Justiça  decidiu  do  seguinte  modo:    

RECURSO  ESPECIAL  Nº  960.926  -­‐‑  MG  (2007⁄0066794-­‐‑2)      RELATOR   :   MINISTRO  CASTRO  MEIRA  RECORRENTE:  MINISTÉRIO  PÚBLICO  FEDERAL  

15 André de Carvalho Santos, in “A ação civil pública e o dano moral coletivo” Direito do Consumidor, vol. 25 – Ed. RT, pg. 83 16 Emerson Garcia, in Improbidade Administrativa, Editora Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2004, 2ª Edição, página 470

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RECORRIDO   :   MANOEL  FERREIRA  BRANDÃO  ADVOGADO   :   MAURO   JORGE   DE   PAULA   BOMFIM   E  OUTRO  RECORRIDO   :   SELMI  JOSÉ  RODRIGUES  ADVOGADO   :   RÚSVEL  BELTRAME  ROCHA  E  OUTRO  EMENTA  ADMINISTRATIVO.   IMPROBIDADE   ADMINISTRATIVA.   DANO  AO   ERÁRIO.   MULTA   CIVIL.   DANO   MORAL.   POSSIBILIDADE.  PRESCRIÇÃO.  (...)  3.   Não   há   vedação   legal   ao   entendimento   de   que   cabem   danos  morais   em   ações   que   discutam   improbidade   administrativa   seja  pela  frustração  trazida  pelo  ato  ímprobo  na  comunidade,  seja  pelo  desprestígio   efetivo   causado   à   entidade   pública   que   dificulte   a  ação  estatal.  4.   A   aferição   de   tal   dano   deve   ser   feita   no   caso   concreto   com   base   em  análise   detida   das   provas   dos   autos   que   comprovem   efetivo   dano   à  coletividade,   os   quais   ultrapassam   a   mera   insatisfação   com   a   atividade  administrativa.  5.  Superado  o  tema  da  prescrição,  devem  os  autos  retornar  à  origem  para  julgamento   do   mérito   da   apelação   referente   ao   recorrido   Selmi   José  Rodrigues   e   quanto   à   ocorrência   e  mensuração   de   eventual   dano  moral  causado  por  ato  de  improbidade  administrativa.  6.  Recurso  especial  conhecido  em  parte  e  provido  também  em  parte.      ACÓRDÃO      Vistos,   relatados   e   discutidos   os   autos   em   que   são   partes   as   acima  indicadas,   acordam   os   Ministros   da   Segunda   Turma   do   Superior  Tribunal  de  Justiça,  por  unanimidade,  conhecer  parcialmente  do  recurso  e,   nessa   parte,   dar-­‐‑lhe   parcial   provimento   nos   termos   do   voto   do   Sr.  Ministro   Relator.   Os   Srs.   Ministros   Humberto   Martins,   Herman  Benjamin,  Carlos  Fernando  Mathias  (Juiz  convocado  do  TRF  1ª  Região)  e  Eliana  Calmon  votaram  com  o  Sr.  Ministro  Relator.  

   Brasília,  18  de  março  de  2008  (data  do  julgamento).        Ministro  Castro  Meira  Relator  

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 Destaca-­‐‑se  o  seguinte  trecho  contido  no  voto  do  Relator:    

“Esta   Corte   de   Justiça   pacificou   a   sua   jurisprudência,   reconhecendo   a  possibilidade   de   dano   moral   contra   a   pessoa   jurídica,   nos   termos   da  Súmula  227,  que  assim  preconiza:      'ʹA  pessoa  jurídica  pode  sofrer  dano  moral.'ʹ      Nada  justifica  a  exclusão  da  pessoa  jurídica  de  direito  público,  já  que  um  ato  ímprobo  pode  gerar  um  descrédito,  um  desprestígio  que  pode  acarretar  o   desânimo   dos   agentes   públicos   e   a   descrença   da   população   que,  inclusive,   prejudique   a   consecução   dos   diversos   fins   da   atividade   da  Administração   Pública,   com   repercussões   na   esfera   econômica   e  financeira.”    

Ora,   a   ação   empreendida   pelo   demandado   promoveu   incontrastavelmente   uma  mácula  na  imagem  da  Câmara  Municipal  do  Recife,  a  qual  constitui  verdadeiro  dano  moral   coletivo.   E   não   se   deve   olvidar   da   frustração   a   qual   foram   submetidos   os  cidadãos  recifenses  ao  ver  o  poder  legislativo  municipal  desvirtuado  no  cumprimento  de  sua  missão  institucional.    Assim,  havendo  o  dano  moral  coletivo,  necessário  se  faz  o  seu  ressarcimento,  o  qual,  conforme  lição  de  Emerson  Garcia,  deverá  ser  feito  com  o  arbitramento  de  numerário  compatível  com  a  qualidade  dos  envolvidos,  as  circunstâncias  da  infração  e  a  extensão  do  dano.    

 DOS  PEDIDOS  

   Ante   todo  o   exposto,  depois  de   autuada   e   recebida  a  presente  petição   inicial   com  os  documentos   que   a   instruem   (arts.   282/283   do   Código   de   Processo   Civil),   requer   o  Ministério  Público  a  Vossa  Excelência  seja  julgada  procedente  a  presente  ação  para:    1. nos  termos  do  artigo  12,  I,  da  Lei  nº  8.429/92,  condenar  o  réu  na  suspensão  dos  direitos  políticos  de  oito  a  dez  anos,  pagamento  de  multa  civil  e  proibição  de  contratar  com  o  Poder  Público  ou  receber  benefícios  ou  incentivos  fiscais  ou  

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creditícios,   direta   ou   indiretamente,   ainda   que   por   intermédio   de   pessoa  jurídica  da  qual  seja  sócio  majoritário,  pelo  prazo  de  dez  anos;    

2. sucessivamente,   na   remota   hipótese   de   não   ser   acolhido   o   pedido   acima  formulado,  nos  termos  do  artigo  12,  III,  da  Lei  nº  8.429/92,  condenar  o  réu  na  suspensão  dos  direitos  políticos  de  três  a  cinco  anos,  pagamento  de  multa  civil  de  cem  vezes  o  valor  da  remuneração  percebida  pelo  agente  e  proibição  de  contratar  com  o  Poder  Público  ou  receber  benefícios  ou   incentivos   fiscais  ou  creditícios,   direta   ou   indiretamente,   ainda   que   por   intermédio   de   pessoa  jurídica  da  qual  seja  sócio  majoritário,  pelo  prazo  de  três  anos;    

3. condenar  a  ressarcir  os  danos  morais  suportados  pela  Cidade  do  Recife  e  seus  cidadãos   mediante   o   pagamento   de   quantia   não   inferior   a   R$   514.300,00  (quinhentos  e  catorze  mil  e  trezentos  reais).  

 Seja   o   valor   relativo   à   multa   civil   destinados   aos   cofres   da   Fazenda   da   Cidade   do  Recife.      Dos  Requerimentos  Finais  

   Como  medida  de  ordem  processual,  requer  a  notificação  e  posterior  citação  para  que,  querendo,  apresente  resposta,  no  prazo  legal,  sob  pena  de  presumirem-­‐‑se  verdadeiros  os  fatos  ora  alegados  (art.  17  da  Lei  n.  8.429/1992)  do  demandado:      Silvio   Serafim   da   Costa   Filho,   residente   na   Rua   Vigário   Barreto,   127,  apartamento  3201,  Edf.  Barreto  Costa,  Espinheiro,  Recife,  PE;  e    A   intimação  do  Município  do  Recife,  na  pessoa  do  seu  Procurador-­‐‑Chefe,  para  que,  querendo,  intervenha  nos  presentes  autos;    Requer,  por  derradeiro:      O  recebimento  da  presente  ação  sob  o  rito  ordinário;  

 Isenção  de  custas,  emolumentos,  honorários  e  outras  despesas  na  conformidade  do  que  dispõe  o  artigo  18  da  LACP;  

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 Condenação   do  Réu   no   pagamento   das   custas   processuais,   honorários   advocatícios,  estes  calculados  à  base  de  20%  (vinte  por  cento)  sobre  o  valor  total  da  condenação  e  demais  cominações  de  direito  decorrentes  da  sucumbência;    A  produção  de  todos  os  meios  de  prova  em  direito  permitidos.    Dá  à  causa  o  valor  de  R$  514.300,00  (quinhentos  e  catorze  mil  e  trezentos  reais).      Nestes  Termos  P.     Deferimento    Recife,  12  de  janeiro  de  2012.        

Charles Hamil ton Santos Lima

26º  Promotor  de  Justiça  de  Defesa  da  Cidadania  da  Capital  

Luci la Varejão Dias Mart ins

15ª  Promotora  de  Justiça  de  Defesa  da  Cidadania  da  Capital  

   

Ana Joêmia Marques da Rocha 14ª  Promotora  de  Justiça  de  Defesa  da  Cidadania  da  Capital