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AJES – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NOSSOS PRIMEIROS ANOS NA ESCOLA: A ALFABETIZAÇÂO E O LETRAMENTO Autora: AGNA FERNADES BACANI Orientadora: Prof.ª Ma.MARINA SILVEIRA LOPES POCONÉ/2012

AJES - Cursos de Graduação e Pós Graduação · Este trabalho aborda o tema alfabetização e letramento nas séries iniciais do ensino fundamental com enfoque nas concepções

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AJES – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

NOSSOS PRIMEIROS ANOS NA ESCOLA: A ALFABETIZAÇÂO E O

LETRAMENTO

Autora: AGNA FERNADES BACANI

Orientadora: Prof.ª Ma.MARINA SILVEIRA LOPES

POCONÉ/2012

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AJES – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

NOSSOS PRIMEIROS ANOS NA ESCOLA: A ALFABETIZAÇÂO E O

LETRAMENTO

Autora: AGNA FERNADES BACANI

Orientadora: Prof.ª Ma.MARINA SILVEIRA LOPES

“Trabalho apresentado como exigência parcial para obtenção do Título de Especialização em: Gestão e Práticas Pedagógicas”.

POCONÉ/2012

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AJES – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________

_________________________________________________

___________________________________________________ ORIENTADORA

Prof.ª Ma.MARINA SILVEIRA LOPES

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RESUMO

Este trabalho aborda o tema alfabetização e letramento nas séries iniciais do ensino fundamental com enfoque nas concepções de alfabetização utilizada pelo educador e sua proposta pedagógica na 4ª série da Escola Rural Manuel Gomes da Silva localizada no Município de POCONÉ-MT. Foi realizada a pesquisa bibliográfica, relacionando as ideias dos teóricos com os principais conceitos que envolvem alfabetização e letramento nas séries iniciais. Realizamos também a pesquisa de campo, onde analisamos o material didático do educador e a sua proposta pedagógica. O resultado obtido na pesquisa nos possibilitou compreender em qual concepção está embasada a prática do educador. E se a proposta pedagógica de alfabetização e letramento é um ensino de qualidade nas séries iniciais do ensino fundamental. Palavras-chave: Poconé, Alfabetização, Letramento, Ensino Fundamental.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 5

CAPÍTULO I: A ALFABETIZAÇÃO, O LETRAMENTO E AS CONCEPÇÕES DE

LINGUAGENS .......................................................................................................................... 3

1.1 - COMPREENDENDO A ALFABETIZAÇÃO E O LETRAMENTO ............................... 3

1.2. As concepções de linguagem e a alfabetização ................................................................... 5

1.2.1 Linguagem como expressão do pensamento ..................................................................... 5

1.2.2. – Linguagem como meio Objetivo para a comunicação .................................................. 8

1.2.3 – Linguagem como processo de interação verbal ............................................................ 10

2.0 - ANALISANDO O LIVRO DIDÁTICO DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

NAS SÉRIES INICIAIS. .......................................................................................................... 12

CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 19

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 20

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INTRODUÇÃO

Este trabalho trata da alfabetização e letramento nas séries iniciais do Ensino

Fundamental com enfoque nas concepções de alfabetização utilizada pelo educador

e sua proposta pedagógica na 4ª série da Escola Rural Manuel Gomes da Silva

localizada no Município de POCONÉ-MT.

A Educação é algo muito importante, assim a educação sistematizada

aquela que se aprende na escola deve ganhar atenção especial, principalmente no

início dela. As crianças ao entrarem para a escola já vêm com conhecimentos

prévios, o que deve ser considerado pelo professor. É neste momento que o aluno

vai associar o seu conhecimento prévio ao novo conhecimento e assim construir seu

aprendizado.

É fundamental que o educador reflita sobre a prática de alfabetização e

letramento, pois, e a partir dos anos iniciais que a criança desenvolve sua

capacidade cognitiva. E essa pesquisa tem por objetivo investigar em qual

concepção de alfabetização está embasada a prática de ensino do professor e sua

proposta de trabalho. Assim sendo, a alfabetização e letramento devem ser

analisados como dois processos de conhecimento que envolve a prática social. Por

isso, devem ser bem trabalhada pelos professores atuantes. Pensando nisso foi que

resolvi investigar melhor como acontece a alfabetização e letramento nas séries

iniciais do ensino fundamental.

A hipótese levantada e de que o educador pesquisado esteja trabalhando de

acordo com o método Tradicional de Ensino, com visões ultrapassadas que não

condiz com a realidade do aluno.

Este estudo foi desenvolvido utilizando o método estudo de caso, pois o

mesmo requer um estudo aprofundado apresentando descrição detalhada sobre

alfabetização e letramento nas séries iniciais. Dando continuidade, a pesquisa

bibliográfica fornece através de materiais escritos informações, conhecimentos e

suportes teóricos sobre determinado assunto. Ela é realizada com a intenção de

buscar informações e conhecimento antecipados em acima de um problema, para se

procurar uma resposta ou basear em hipóteses.

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Para a coleta de dados, utilizamos a pesquisa bibliográfica e analisamos o

livro didático adotado pelo educador nas séries iniciais e suas propostas

pedagógicas de alfabetização. Para isso acontecer, baseamos na pesquisa de

campo e nas ideias de: Soares; Possari e Neder, Travaglia e outros.

Essa pesquisa tem por objetivo propor aos educadores uma orientação e

reflexão da própria prática e que estejam atentos e atualizados em relação ao

processo educativo de alfabetização e letramento. Além disso, verificar em qual

concepção está embasado o seu trabalho.

Sabendo da importância da alfabetização e letramento no ensino fundamental

e tendo em vista tais fatos, este projeto investigou: qual a concepção de

alfabetização e letramento apresentada pelo educador na escola da zona rural

Manuel Gomes da Silva no município de Poconé-Mt e suas propostas pedagógicas.

Sendo assim, este trabalho contribuiu para o aprimoramento de nossos

conhecimentos na área de linguagem.

Este trabalho investigou sobre alfabetização nas séries iniciais, que nos

possibilitou ampliar nossos conhecimentos e além de tudo refletir sobre a própria

prática, construindo novas ideias e postura pedagógica. Este trabalho está dividido

em dois capítulos: o primeiro descreve as ideias dos teóricos em relação à

alfabetização e letramento; o segundo capítulo analisa o livro didático adotado pelo

professor e sua concepção de alfabetização e letramento.

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CAPÍTULO I

A ALFABETIZAÇÃO, O LETRAMENTO E AS CONCEPÇÕES DE LINGUAGENS

1. COMPREENDENDO A ALFABETIZAÇÃO E O LETRAMENTO

A sociedade letrada apresenta grandes desafios às pessoas que dela

depende, pois exigem uma versão ampla e crítica sobre os recursos a sua volta.

Podemos citar a TV, os jornais, letreiros, nas placas das ruas e outros. Para

aprofundar esse assunto, (Soares, apud Ribeiro, 2003, p. 92) diz:

Alfabetização e letramento são, pois processos distintos, de natureza essencialmente diferente, entretanto, são interdependentes e mesmo indissociáveis. A alfabetização - a aquisição de tecnologia da escrita - não procede nem é pré – requisito para o letramento, isto é, para a participação em práticas sociais de escrita, tanto assim que analfabetos podem ter certo nível de letramento: não tendo adquirido a tecnologia da escrita, [...].

Conforme diz a autora, alfabetização e o letramento são dois processos

distintos, mas que caminham juntos, o sentido não é igual, mas um depende do

outro no processo de aprendizagem. O letramento é conhecido como prática social

de escrita a pessoa não precisa ser alfabetizado para fazer leitura do mundo,

enquanto a alfabetização precisa da tecnologia da escrita e de um professor para

ensiná-lo.

Compreendemos que, a alfabetização só acontece através da aquisição da

escrita. É através da alfabetização que aprendemos a ler escrever e utilizar as

diferentes linguagens como: a linguagem escrita, a oral e a visual. Além disso, a

aprendizagem acontece na escolarização em situação formal, com a presença de

um professor e também em casa e em outras situações dentro da sociedade como:

em placas de rua, símbolos etc.

Segundo (TFOUNI, 2004, p.9)

O letramento, por sua vez, localiza os aspectos sócio-históricos da aquisição da “escrita". Entre outros casos, procura estudar e descrever o que ocorre nas sociedades quando adotam um sistema de escritura de maneira restrita ou generalizada; procura ainda saber

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quais práticas psicossociais substituem as práticas “letradas” em sociedades ágrafas. Desse modo, a letramento tem por objetivo investigar não somente quem é alfabetizado, mas também quem não é alfabetizado, e nesse sentido desliga-se de verificar o individual, e centraliza – se no social [...].

Nesse sentido, a letramento busca relatar os fatos linguísticos que acontecem

na sociedade. O letramento faz parte da vida não só de todos os alfabetizados, mas

também de todos aqueles que não são alfabetizados. O letramento abandona a

investigação individual, enfocando sempre o lado social do ser humano. A

alfabetização e o letramento estão relacionados com a vida do ser humano e é

indispensável para a aprendizagem de cada um. Alguns estudiosos dizem que o

letramento acompanha a alfabetização, tendo uma visão mais ampla de socialização

e interação por parte do indivíduo.

A autora nos afirma que esses processos, são distintos, porém caminham

juntos, o sentido não é igual, mas há uma relação dialética entre eles os quais

sintetizam o processo de aprendizagem. O letramento é conhecido como prática

social de escrita. A pessoa não precisa ser alfabetizada para fazer uma leitura do

mundo, enquanto a alfabetização precisa da tecnologia da escrita e de um professor

para ensiná-la.

Para TFOUNI (2004, p.9)

A Alfabetização refere-se à aquisição da escrita enquanto habilidades, para leitura, escrita e as chamadas práticas de linguagem. Isso é levado a efeito em geral, por meio do processo de escolarização e, portanto da instrução formal. A alfabetização pertence, assim, ao âmbito do individual.

Compreendemos que a alfabetização só acontece pro meio da aquisição da

escrita. É pela alfabetização que aprendemos a ler, escrever e utilizar as diferentes

linguagens. A linguagem é um processo de interação entre as pessoas, é através da

linguagem que nós seres humanos nos comunicamos uns com os outros, segundo

POSSARI E NEDER (2005, p. 18), ela é “um processo de construção social [...]

produto da interação entre os homens”. A Linguagem está intimamente relacionada

à alfabetização e ao letramento. O processo da alfabetização geralmente acontece

na escola com a presença de um professor.

O letramento, por sua vez, localiza os aspectos sócio-históricos da aquisição da escrita. Entre outros casos, procura estudar e descrever o que ocorre nas sociedades quando adotam um sistema de escritura de maneira

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restrita ou generalizada; procura ainda saber quais práticas psicossociais substituem as práticas “letradas” em sociedades ágrafas. Desse modo, o letramento tem por objetivo investigar não somente quem e alfabetizado, mas também quem não e alfabetização e nesse sentido desliga se de verificar o individual e centraliza – se no social.[...]. (TFOUNI, 2004, p.9).

Nesse sentido, o letramento busca relatar os fatos linguísticos que acontecem

sociedade. Encontram elementos que se relacionam não só com todos os

alfabetizados, mas também com todos aqueles que não são alfabetizados. O

letramento abandona a investigação individual, enfocando sempre o lado social do

ser humano.

1.1. As concepções de linguagem e a alfabetização

Sabemos que a linguagem é um instrumento que serve para comunicarmos

uns com os outros. E que é repleta de códigos e regras que serve para transmitir

uma mensagem ao receptor. A seguir falaremos sobre três tipos de linguagens na

alfabetização: a linguagem como expressão do pensamento; a linguagem como

meio objetivo para a comunicação e a linguagem como processo de interação

verbal.

1.1.1 Linguagem como expressão do pensamento

Esse tipo de linguagem é visto como um ato puramente individual, ou seja,

vem do interior do pensamento do sujeito, que depois é conhecida com o ajuda de

códigos e signos. Afirmando essa expressão de pensamento, NEDER (apud,

POSSARI ; NEDER, 2005 p.21) argumenta: “A linguagem é uma faculdade divina. O

homem já nasce com a capacidade de exteriorizar seu pensamento, que é gerado

no seu psiquismo".

Nessa argumentação, a autora nos passa a ideia de que, o sujeito ao

nascer já traz consigo a capacidade de aprender ou não. Se o indivíduo não aprende

é porque não pensa. Dando continuidade, para essa concepção de pensamento a

aprendizagem segundo POSSARI e NEDER (2005, p.250), “[...] é um conjunto de

regras que deve ser pronto e acabado por aqueles que querem falar e escrever

corretamente, não considera outras variedades de língua a não ser a língua padrão”.

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Sendo assim, compreendemos que a língua padrão é o ponto principal para

essa gramática. Serve como suporte para o ensino, prescreve o que é certo e o que

é errado, impõem regras, prescreve receitas e faz descrições através de definições e

conceitos. Essas regras são seguidas por aqueles que querem escrever e ler

corretamente. Para essa concepção, o ensino é tradicional, ou seja, na alfabetização

o objetivo é levar o aluno a dominar a língua padrão, com correções formais da

linguagem.

Contudo, para essa concepção o aluno sabe ler e escrever quando ele

domina a língua escrita e a oral, quando o aluno distingue a relação entre sons e

letras. O aluno alfabetizado produz textos repetindo a história que leu, usando as

mesmas palavras que ele aprendeu anteriormente. Em relação ao ensino, os livros

didáticos de alfabetização e letramento são todos direcionados aos professores com

intuito de repassar o conhecimento aos alunos. Os educados apenas seguem aquilo

que o professor planejou sem direito de expor suas ideias. Podemos citar como

exemplo, a cartilha Eu Gosto de Ler e Escrever, ela traz metodologia mecanizada,

tornando o ensino acumulativo e memorizado. Sabemos que o livro didático é

apenas um instrumento de ensino para orientar o professor e não uma forma única

para a aprendizagem do educando.

Sobre o livro didático, Ilibe (1986, p.76) comenta:

[...] o mais importante veículo das idéias que tomaram corpo, na lingüística moderna foi os livros didáticos. É sabido que o professor secundário atua numa dependência muito grande em relação ao livro didático; por isso o livro didático é um meio potencial de renovação do ensino, é um espelho bastante fiel da prática corrente. Se examinarmos os livros didáticos mais recentes, compararmos com os que se editavam há vinte anos notará algumas diferenças óbvias [...] Mas é fácil perceber essas diferenças são na maioria das vezes o resultado de uma concessão à moda, o que é prontamente confirmado pelo fato de que o objetivo principal continua sendo o ensino da nomenclatura gramatical.

Ao ler esta citação, o autor nos passa a ideia de que o livro didático sempre

foi o guia do educador. Os livros didáticos recentes são diferentes daqueles livros

editados há vinte anos, mas todos eles continuam ensinando nomenclatura

gramatical. Atualmente notamos nas escolas a dependência do professor para com

o livro didático, não são 100%, mas a maiorias dos educadores procuram suporte

nos livros, mas por outro lado existem professores que usam o livro didático como

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via para a transformação do ensino, um apoio para buscar novos caminhos de

pesquisa para o ensino.

A linguagem é vista como um ato puramente individual, ou seja, vem do

interior do pensamento do sujeito, que depois é conhecida com o ajuda de códigos e

signos. Para corroborar com essa expressão de pensamento “A linguagem é uma

faculdade divina o homem já nasce com a capacidade de exteriorizar seu

pensamento que é gerada no seu psiquismo.” (NEDER apud POSSARI; NEDER,

linguagem 2, 2005, p.21).

Nessa argumentação, NEDER nos dá a ideia de que, o sujeito ao nascer já

traz consigo a capacidade de aprender ou não. Se o indivíduo não aprende é porque

não pensa. Os teóricos desta concepção acreditam que a aprendizagem é um

conjunto de regras que deve ser seguidas por aqueles que querem falar e escrever

corretamente, não consideram outras variedades de língua a não ser a língua

padrão. NEDER e POSSARI afirmam ainda que, “a unidade mínima de significação

para essa gramática é a palavra” (NEDER apud POSSARI ; NEDER, 2005, p.22).

Compreendemos que a palavra constitui parte principal para a gramática

normativa. Esta gramática é o suporte para o ensino, considerando a língua padrão

a correta, ela prescreve o quê é certo e o quê é errado. Impõem regras, prescreve

receitas e faz descrições por meio de definições e conceitos. Essas regras são

seguidas para escrever e ler corretamente. Para essa concepção, o ensino e

prescritivo ou tradicional, ou seja, tem como objetivo na alfabetização, levar o aluno

a dominar a língua padrão, com correções formais da linguagem. Nessa concepção

os erros são inaceitáveis, o aluno tem que escrever e ler corretamente. Isso parece

claro na fala abaixo de Soares (2003, p.15) que diz:

Ler e escrever significa domínio da “mecânica” da língua escrita; nessa perspectiva, alfabetizar significa adquirir a habilidade de codificar a língua oral em língua escrita (escrever) e de decodificar a língua escrita em língua oral (ler). A Alfabetização seria um processo de representação de fonemas em grafemos (escrever) e de grafemos em fonemas (ler).

Sendo assim, para essa concepção o aluno sabe ler e escrever quando ele

domina a língua padrão escrita e a oral, quando o aluno distingue a relação entre

sons e letras. O aluno alfabetizado reproduz textos repetindo a história que leu,

usando as mesmas palavras que ele aprendeu anteriormente.

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Em relação aos livros didáticos, são todos direcionados aos professores, com

intuito de repassar o conhecimento aos alunos, é um guia do professor nos

momentos de planejamento, os alunos apenas segue aquilo que o professor

planejou. Podemos citar como exemplo a cartilha, ela traz metodologia mecanizada

tornando o ensino acumulativo e memorizado. Sabendo que o livro didático é

apenas um instrumento de ensino para orientar o professor e não uma forma única

para alfabetizar o educando.

1.1.2. Linguagem como meio Objetivo para a comunicação

Na página anterior falamos do ensino tradicional, onde a linguagem é

construída no pensamento, no interior do indivíduo, não há interação nem

socialização. O homem é individual e refleti sobre si mesmo. Essa linguagem é muito

praticada pelos docentes nas escolas. A seguir, abordaremos um pouco sobre o

ensino da linguagem como meio objetivo para a comunicação. Nessa concepção de

linguagem, a relação sujeito-objeto é de fora para dentro, é através da linguagem

que o sujeito constrói o seu pensamento para comunicar com outros.

Segundo Geraldi, (1999, p.41),

A linguagem é instrumento de comunicação: essa concepção está ligada à teoria da comunicação e vê a língua como código (conjunto de signos que se combinam segundo regras) capaz de transmitir ao raptor certa mensagem. Em livros didáticos, é a concepção confessada, nas instruções ao professor, nas instruções, nos títulos embora em geral seja abandonada nos exercícios gramaticais’.

Entendemos que, a linguagem como meio objetivo para a comunicação

valoriza tanto o texto escrito como também a expressão oral que é um meio para a

comunicação e reconhece que não existe certo ou errado, ou seja, nessa opinião

considera a norma–padrão. Essa concepção nos relata a transmissão de

conhecimento do falante ao ouvinte. O falante já tem em sua mente uma mensagem

e leva até a pessoa com quem deseja falar. O ouvinte recebe essa mensagem que

logo transforma em informações.

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Em relação a essa concepção de linguagem, TRAVAGLIA (2002, p.22)

relata:

Para essa concepção o falante tem em sua mente uma mensagem a transmitir a um ouvinte, ou seja, informações que quer que cheguem ao outro. Para isso ele a coloca em código (codificação) e a remete para o outro através de um canal (ondas sonoras ou luminosas). O outro recebe os sinais codificados e os transforma de novo em mensagem (informações). É a codificação’.

Nessa citação, o autor fala da transmissão de mensagem do falante para o

ouvinte. O remetente já tem na sua mente uma mensagem e leva até ao

destinatário, que é expressa através de códigos que são levados pelas ondas

sonoras ou luminosas. Nessa concepção de linguagem, a gramática descreve fatos

linguísticos tendo como básico o conceito de estrutura. O falante usa a linguagem

relativamente no momento de estruturar sua fala, procurando colocar de forma

ordenada as palavras pronunciadas no ato da comunicação.

Por isso, quanto mais contatos dos sentidos com os meios físicos e sócio–

culturais, mais conhecimentos e valores vão sendo cunhados na mente do sujeito.

Logo, quanto mais diversidades de experiências em termos de estratégias e

materiais didáticos, mais rapidamente o aluno adquire conhecimento e incorpora os

valores ao desempenho de seu papel ou profissão na sociedade moderna.

Ressaltando, ensinar para essa concepção é reconhecer as habilidades e

valores por meio de estímulos manipulados durante a utilização da material didático

e aprender é aplicar as habilidades e os valores adquiridos nas relações sociais do

convívio da escola, do trabalho e da vida. Cabe ao educador promover todo

atendimento pedagógico aos alunos das séries iniciais e realizar atividades em que

atuem como professores facilitadores da aprendizagem no processo de ensino. A

respeito do ensino descritivo, TRAVAGLIA (2002, p. 39) comenta: ‘‘Ensinar a língua

materna é ensinar o aluno a pensar, a raciocinar, a desenvolver o raciocínio

científico, a capacidade de análise sistemática dos fatos e fenômenos na natureza e

na sociedade’’.

De acordo com o autor, entendemos que o educador deve provocar o

desenvolvimento de raciocínio do aluno, criando oportunidades para que este

desenvolva sua capacidade e habilidade de aprendizagem no cotidiano.

Para isso, o livro didático é uma forma de expressão da linguagem que

auxilia o aluno no seu aprendizado, que são adquiridas através de símbolos imagens

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e textos. O ser humano precisa essencialmente de símbolos e imagens para

aprimorar seus conhecimentos. Além disso, existem atividades que permitem a

tradução das informações propostas. Ex: Palavras compostas de letras e sílabas,

vocabulários, orações e frases. A linguagem escrita é caracterizada por ser

produzida pela mão e recebida pelos olhos, ou seja, precisamos olhar para poder

escrever determinado texto.

1.1.3. Linguagem como processo de interação verbal

A base epistemológica nesse processo de conhecimento de educação é a

dialética, em que há uma relação recíproca entre o indivíduo e o meio, ele vai se

interagindo com a cultura e com a sociedade de modo geral. Segundo TRAVAGLIA

(2002, p.23), “Nessa concepção o que o indivíduo faz ao usar a língua não é tão

somente traduzir e exteriorizar um pensamento ou transmitir informação a outrem.

Mas sim realizar ações agir, atuar, sobre o interlocutor (ouvinte / leitor)”.

Compreendemos que, o conhecimento no processo de interação verbal

desenvolve na mente do sujeito a partir de suas interações como meio e no decorrer

do processo de sua existência. Cada indivíduo ao fazer o uso da língua não é

apenas para levar informação ou manifestar seus pensamentos, mas sim, para

realizar suas ações e atuar dentro da sociedade da qual está inserida.

A linguagem é usada nesse processo como meio comunicativo e interativo

entre os indivíduos. Entretanto, nas séries iniciais do ensino fundamental a criança

interage uma com a outra ocupando lugares sociais e construindo junto, novos

conhecimentos. Como diz GERALDI (1999, p.41), “A língua é uma forma de

interação: mais do que possibilitar uma transmissão de informações de um emissor a

um receptor, a linguagem é vista como um lugar de interação humana”.

Entendemos que, para haver uma boa interação entre os sujeitos utilizamo-

nos da língua, ou seja, referimos a língua falada que depois é representada pela

escrita. Cada grupo tem a sua língua e com o passar do tempo sofre modificações e

nós acompanhamos esse processo. É através da linguagem que realizamos o

diálogo entre as pessoas, tanto na escola como na sociedade em geral. Dessa

forma, devemos nos preocupar com o ensino da linguagem, pois, ela nos mantém

em contato com o mundo e faz com que o homem se relacione melhor.

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Conforme TRAVAGLIA (2002, p. 28) que diz:

A terceira concepção de gramática é aquela que considerando a língua como um conjunto de variedades utilizadas por uma sociedade de acordo com o exigido pela situação de interação comunicativa em que o usuário da língua está engajado, percebe a gramática como o conjunto das regras que o falante de fato aprende e das quais lança mão ao falar.

Conforme a fala acima, a linguagem como processo de interação verbal leva

em consideração as variedades linguísticas que aluno faz uso de acordo com cada

situação. Nesse processo, o aluno constrói seu próprio pensamento e a

aprendizagem é contínua. A relação de reciprocidade é permanente, tudo depende

da interação do aluno com o meio para desenvolver sua capacidade de aprender.

Essa concepção de educação é contemporânea, onde o educador nas

séries iniciais é mediador da aprendizagem de seus alunos, ambos ensinam e

aprendem. O conhecimento só se desenvolve no sujeito a partir das interações com

o meio, na participação e diálogo e no decorrer de sua existência. Sendo assim,

esse ensino tem como objetivo formar alunos comunicativos e competentes,

tornando leitores e escritores críticos na situação problema do dia-a-dia.

No processo de interação verbal, ensinar é levar o aluno a construir

conhecimentos e valores a partir de suas experiências de vida e, aprender é

assimilar conhecimentos e valores, por meio das experiências pessoais, nas

relações sociais, na família e na escola.

O processo de interação verbal tem como objetivo ajudar o aluno a aumentar

seus conhecimentos, aprendendo novas habilidades linguísticas e considerando

também suas experiências prévias.

Anteriormente falamos de três concepções de linguagem: a linguagem como

expressão do pensamento; a linguagem como meio objetivo para a comunicação e a

linguagem como processo de interação verbal. É importante também que o

educador saiba em quais desses processos de linguagem citado anteriormente ele

se adapta melhor para ser um bom profissional.

Deve-se conhecer um pouco de cada concepção e estar buscando sempre o

melhor, um ensino de qualidade, não medir esforços em buscar novas informações,

novos conteúdos de aprendizagem. Assim, o educador estará contribuindo para uma

educação transformadora.

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A seguir, no segundo capítulo falaremos sobre a análise do livro didático de

alfabetização e letra mento utilizado em sala de aula pelo professor.

2.0 - ANALISANDO O LIVRO DIDÁTICO DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

NAS SÉRIES INICIAIS.

Para dar fundamento a este trabalho realizamos uma análise do livro didático

na escola municipal, Manuel Gomes da Silva que fica localizada no município de

Poconé-MT. Tendo como objetivo, verificar em qual concepção de alfabetização e

letramento está embasado o ensino do educador e suas propostas pedagógicas.

Essa análise também nos fará refletir sobre a importância de envolver a

comunidade no processo participativo da tomada de decisão e ação referente ao

livro didático. Fazendo essa integração da família, escola e comunidade num

trabalho comum, interdisciplinar e harmonioso, a educação se torna prazerosa. O

envolvimento de ambas as partes, estará contribuindo para uma educação mais

produtiva, despertando atitudes, transformações, segurança e autoconfiança no

ensino-aprendizagem tanto do professor como dos alunos.

O livro didático analisado foi à cartilha, Eu gosto de Ler e Escrever de Célia

Passos e Zeneide Silva. Vide figura 01. Ele é adotado pela Escola Rural Manuel

Gomes da Silva localizada no Município de POCONÉ-MT. Como metodologia da

alfabetização, 1º ano do Ensino Fundamental.

Figura 01: Livro Didático Fonte: PASSOS e SILVA

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Esta cartilha está organizada em dois blocos: O primeiro, da lição 1 a 20, em

que são trabalhadas as palavras que contém as famílias silábicas de mais fácil

compreensão para o aluno. Após a vigésima lição é trabalhada a escrita do alfabeto.

O segundo bloco vai da lição 21 a 41, tendo à mesma seqüência, porém as sílabas

são mais complexas, ou seja, a criança leva mais tempo para assimilar. São

trabalhados também os dígrafos.

Para analisar esta cartilha utilizamos da pesquisa de campo, da pesquisa

bibliográfica e fundamentação teórica de grandes autores. Além disso, a cartilha de

alfabetização foi analisada os textos, as atividades de leitura, a gramática, produção

textual e alguns aspectos do livro como um todo.

Ao iniciar a análise da cartilha Eu gosto de Ler e Escrever, observamos que

os textos trazem uma aglomeração de frases que levam o aluno a repetição e

decoração desses textos.

Vejamos um exemplo: Texto A foca p.31.

“A foca Fafá é a foca Fábio deu o fio à foca A foca babou no fio. O fio ficou babado”.

Ao estudar este texto, notamos que não têm coerência e apresenta uma

proposta para codificar sílabas, palavras e frases, sem a finalidade de construir

conhecimentos significativos. Textos como este não atrai a atenção das crianças por

que apresentam palavras ou frases embaraçosas que levam o aluno a não

compreensão do mesmo.

Sendo assim, é preciso que os educadores criem oportunidades

diferenciadas de ensino, oferecendo conteúdos de qualidade e com significação

textual, a fim de que os alunos sejam leitores e produtores críticos da realidade e

não apenas um repetidor de tudo que aprendeu. Trabalhando a codificação e

decodificação na cartilha fica explícito a dificuldade da prática do letramento.

Que segundo Soares (2003, p.44) diz, “[...] O estado ou condição de quem

interage com diferentes portadores de leitura e de escrita, com diferentes gêneros e

tipos de leitura e de escrita, com as diferentes funções que a leitura e a escrita

desempenham na nossa vida”.

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Assim, entendemos que o letramento vai além saber, ler e escrever, fazendo

uso da leitura e da escrita em diferentes momentos do nosso dia-a-dia, como na rua,

no mercado ou na própria escola.

Dessa forma, entendemos que, alfabetização e letramento são dois

processos que caminham juntos, um precisa do outro para o processo de ensino–

aprendizagem, pois, o letramento complementa a alfabetização com suas

variedades de leitura e escrita, facilitando assim a compreensão e aprendizagem

dos alunos nas séries iniciais.

Contudo, se a cartilha de alfabetização trabalhar apenas sílabas, frases ou

textos sem significações, a dificuldade desse aluno em ser alfabetizado, ou melhor,

essa própria realidade ficará a mercê de opiniões alheias.

Notamos também que o livro didático analisado trabalha a alfabetização

apenas para ensinar a ler e escrever (copiar), pois não leva em conta o contexto que

a criança usa para se expressar no cotidiano. A criança segue aquilo que está

escrita no livro, ou seja, reproduz e o professor avalia o que ele conseguiu

reproduzir. No entanto; alfabetização vai muito mais além do que ler e escrever, é

um processo longo.

Que segundo Possari e Neder (Fascículo 3, 2003, p.26) comenta que

“Alfabetizar, em nosso ver, significa apresentar ao aluno mais um código do qual se

utilizará para interagir. Esse código pressupõe conhecimento da língua oral.

Todavia, a língua escrita pressupõe outras regras, outra elaboração.”.

De acordo com as autoras, a alfabetização é um processo contínuo de

apresentação de códigos e esses levam o aluno a interagir com o mundo. O código

aprendido pelo aluno dá suporte a novos conhecimentos da língua oral. Portanto, é

indispensável à mediação do professor na aprendizagem dos educandos desde

séries inicias até a sua formação.

Na análise da cartilha, percebemos ao contrário do que diz as autoras. As

atividades apresentadas não levam os alunos à compreensão do texto, porque não

apresentam nenhuma maneira em que o aluno possa refletir ou produzir textos.

Dessa forma, o educando não encontra caminhos para a interação com o

texto, ficando apenas na memorização.

Vejamos outro exemplo na página 78:

“Leia, copie e separe as sílabas: rabo, rico, rifa”

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Como vimos, essas atividades levam os alunos à memorização, sendo meros

repetidores de conhecimentos, não tem suas próprias opiniões. Observamos

também que o aluno não expõe sua criatividade, pois é uma atividade de forma

mecânica, de pura repetição e decodificação de palavras do texto.

Visando uma aprendizagem mais produtiva, é necessário que o professor utilize

propostas de livros didáticos que leve o aluno a alfabetização e ao letramento, que

desenvolvam nos alunos habilidades para lidar com a diversidade de textos.

Nesse sentido, Soares (2003, p.69) Ressalta:

Essas habilidades devem ser aplicadas diferenciadamente por diversos tipos de matérias de leitura: literatura, livro didático, obras técnicas, dicionários, listas, enciclopédias, quadros de honorários, catálogos, rótulos, jornais, revistas, anúncios, cartas formais e informais, cardápios, sinais de transito, sinalização urbana, receitas[...].

Nesse contexto, podemos entender que há várias maneiras de se fazer

leitura numa sala de aula, não ficando apenas no livro didático, proporcionando

assim uma leitura mais prazerosa e um ensino-aprendizagem de qualidade. Além

desses materiais de leitura há outras possibilidades para que a criança aprenda a ler

e escrever, ampliando assim o seu vocabulário e a interagir com diversos textos.

Notamos na análise do livro didático que as atividades gramaticais não têm o

texto como suporte, elas direcionam o aluno a memorização de sílabas, valorizando

o ensino tradicional. Exemplo: Sapo

Podemos perceber que, quanto mais possibilidades o professor oferecer a

criança, mais produtividade ela vai ter. Memorizar o ensino atualmente não tem

contribuído para a melhoria de nossa sociedade fundamental valorizar a linguagem

oral nas séries iniciais.

Segundo Soares, (2003, p. 24),

A criança que ainda não se alfabetizou, mas já folheia livros, finge lê-los, brinca de escrever, ouve histórias que lhes são lidas, esta rodeada de material escrito e percebe seu uso e função essa criança e ainda “analfabeta” por que aprendeu a ler e a escrever, mas já penetrou no mundo do letramento, já é de certa forma letrada.

De acordo com a citação acima, a criança mesmo sem saber ler e escrever

ela é considerada letrada, porque este em contato com diversos materiais escritos

entende a utilidade de cada um deles. Exemplo: rótulos de embalagens de

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alimentos, de produtos de limpeza e outros. A criança reconhece esses rótulos

porque estão sempre a sua volta no dia-a-dia e isso facilita o letramento. Por isso, o

educador deve levar em conta todos os conhecimentos prévios dos alunos,

valorizando tanto a linguagem verbal como a não-verbal, pois, as duas são

importante para a aprendizagem.

Para Soares (2003, p. 45), “As pessoas se alfabetizam, aprendendo ler e a

escrever, mas não necessariamente incorporam a prática da leitura e da escrita, não

necessariamente adquirem competências para usar a leitura e a escrita, para

envolver-se com as práticas sociais de escrita”.

Nesse sentido, compreendemos que as pessoas podem saber ler e escrever,

mas não faz uso desses conhecimentos socialmente, sendo necessários estímulos

na escola como fora dela. Leituras mecanizadas não instigam aluno a pensar.

Veja um exemplo na página 43: A goiaba é de Gugu; Gugu abafou a goiaba;

A goiaba ficou boa; Gugu deu a goiaba ao gago.

Este tipo de trabalho, a memorização dos alunos impossibilitando de usar sua

própria criatividade, pois o texto traz tudo pronto e acabado. Além disso, a ilustração

é pouco enriquecida com mínimo de cores, apresentando textos pequenos e com

aglomeração de palavras. No livro que analisamos, percebemos a necessidade do

enriquecimento dos conteúdos tantos nos desenhos como nos próprios textos e que

o professor atuante pesquise livros bons, onde o mesmo possa atrair a atenção dos

alunos.

Segundo Possari e Neder (2005, p. 27) “Cabe refletir também que essas

formas de expressão não verbal chegam às pessoas antes mesmo de elas falarem e

escreverem.” Então, como falamos anteriormente a linguagem verbal e a não verbal

é fundamental nas séries iniciais para a construção de novos conhecimentos na

aprendizagem do educando. Em relação à linguagem Possari e Neder (2005, P.77)

ainda acrescentam: “A aquisição de saberes, entre eles a língua, assim com o

desenvolvimento e a socialização dos indivíduos, depende da linguagem verbal e

não verbal: visual, sonora, gestual pictórica”.

Entretanto, no material didático utilizado pela educadora não foi possível

constatar atrações pelas figuras ou textos. As figuras são conhecidas, porém a

maneira que ela propõe, a prática do professor é que foge da realidade dos alunos.

Sabemos que as ilustrações dos textos devem ser apresentadas de acordo

com o interesse da criança, pois é ela que fará a leitura da mesma.

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Falando dessa proposta do livro, Barbosa (1994, p.53) afirma: “O único

objetivo das cartilhas é colocar em evidência a estrutura da língua escrita, tal como é

concebida pelos métodos de alfabetização, por isso as cartilhas tendem a

apresentar uma escrita sem significado”.

Sendo assim, entendemos a importância do livro para a alfabetização, dos

quais se preocupa com a estrutura da língua escrita das figuras e dos sentidos

lógicos. Na alfabetização, é fundamental que o educador estimule suas aulas com

figuras e com muitas cores, só a escrita não é suficiente para uma boa

aprendizagem.

Assim, entendemos que a criança nos seus primeiros anos escolares não

diferencia a função do texto a da figura, para ela é apenas um desenho ou uma

figura. Com o passar do tempo e a ajuda do educador é que ela conseguirá

diferenciar ambas. É importante que o professor valorize esse momento de

aprendizagem de cada criança, é através desse contato é que o aluno vai interagir

demonstrando sua construção de conhecimento.

E para isso acontecer, o livro didático deve ser de qualidade, com ilustrações

significativas e textos construtivos, que levam o aluno a produzir, criar novos

conhecimentos considerando aquilo que a criança já sabe e oferecendo condições

para que o aluno não fique só no ensino mecanizado, sempre tendo uma visão da

realidade que o cerca.

Segundo TRAVAGLIA (2002, p. 38). “O ensino prescritivo objetivo, leva o

aluno a substituir seus próprios padrões de atividades lingüísticas consideradas

erradas, inaceitáveis, por outros considerados corretos, aceitáveis (...)”.

Portanto, o ensino prescritivo não considera as variedades lingüísticas,

predominando assim a língua padrão. A criança não constrói pensamentos, segue

as normas gramaticais do livro apresentado. Em relação à cartilha, Barbosa (1994,

p.54) diz: “[...] que podem ser dividida em três tipos: “Cartilha sintética” de soletração

ou silabação, cartilha analíticas de palavração ou sentenciarão”, “cartilha mistas ou

analíticas sintéticas”.

Sendo assim, entendemos que linguagem faz parte da nossa realidade de

todos os seres humanos e só podemos ser compreendidos pela linguagem.

A linguagem, então, numa concepção semiótica, pode ser conceituada como todas as formas (signos) olhares, gestos, expressões faciais, cores, luzes, ruídos, imagens fixas (desenhos, pinturas, fotos), imagem em

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movimentos (filmes) língua falada, língua escrita, etc. De que me utilizo para interagir com os outros. (POSSARI ; NEDER, 2005, p. 22).

Podemos perceber no depoimento acima a importância que as autoras

ressaltam sobre a linguagem, é ela que move os indivíduos para a construção e

reconstrução das habilidades e conhecimentos. E as características apresentada na

cartilha pesquisada não mostra isso, apenas decoração por parte do aluno.

Os educados futuramente será eterno repetidor de pensamentos

alheios, não tendo uma visão própria da realidade. Segundo TRAVAGLIA (2002, p.

22), “Portanto para essa concepção, o modo como o texto, que se usa em cada

situação de interação comunicativa, está constituído não depende em nada de para

quem se fala, em que situação se fala (onde, como, quando), para que se fale.”

De acordo com a fala acima, a concepção de linguagem como

expressão de pensamento está embasada numa concepção tradicional e, na cartilha

analisada nos possa esse conceito, ou seja, não levam em conta os conhecimentos

prévios dos alunos. O material analisado não considera a linguagem do texto nem os

fatores a quem se destina. Enfim, encerramos esta pesquisa da cartilha eu “Gosto

de Ler e Escrever”, ressaltando a importância da linguagem na alfabetização e

letramento dos educando nas séries iniciais do ensino fundamental.

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CONCLUSÃO

A pesquisa realizada procurou investigar em qual concepção de alfabetização

e letra mento está embasada a proposta de trabalho do educador e verificou-se que

é a tradicionalista. Os aspectos observados foram os textos, frases, palavras,

ilustrações e atividades em geral.

Ao analisarmos o livro, constatamos que o texto não tem significações e sim

uma proposta para que os alunos da alfabetização memorizem, ou seja, para

codificar e decodificar. Notamos que essa atividade não leva o educando a uma

aprendizagem de qualidade, porque são apenas cópias e repetições de palavras,

contém ilustrações, mas não trabalha o sentido lógico do texto.

Observou-se também a linguagem verbal e a não verbal, permanecendo na

maioria das vezes a linguagem verbal, pois esta trabalha com muitos textos e uma

aglomeração de frases evidenciando assim o ensino tradicional.

Portando, concluímos que a concepção de alfabetização e letra mento nas

séries iniciais apresentada na cartilha “Eu gosto de ler e Escrever” está embasada

no ensino de linguagem como expressão do pensamento e a proposta pedagógica

do professor em exercício também e racionalista.

Assim, este trabalho contribuiu para refletirmos sobre a escolha do livro

didático na prática pedagógica, tendo uma nova visão de alfabetização e letramento

nas séries iniciais. Além disso, ajudou a aprimorar nossos conhecimentos e a buscar

novas propostas de trabalho, valorizando o trabalho com os alunos e a sociedade,

não ficando a mercê da cartilha. Sabemos que existem bons livros de alfabetização,

para isso educador tem que saber escolher o livro didático para seu trabalho em sala

de aula, nunca desanimar, estar pesquisando e inovando a prática.

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