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Memórias da Revolução 25 de Abril 04 e 05 A k adémicos Suplemento do JORNAL DE LEIRIA, da edição 1241, de 24 de Abril de 2008 e não pode ser vendido separadamente. Ana Drago Socióloga e Deputada “Cada um de nós devia responsabilizar-se pelo que acontece à sua volta” 06 e 07 26 FOTO: ANDREIA MATEUS Ilustração Nayara Siler e Filomena Cardoso 1º Ano Design Gráfico e Multimédia ESAD.CR

Akadémicos 26

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Edição N.º 26 do Jornal Akadémicos Kapa: 25 de Abril - Memórias da Revolução

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Memórias da Revolução25 de Abril 04 e 05

AkadémicosSuplemento do JORNAL DE LEIRIA, da edição 1241,de 24 de Abril de 2008 e não pode ser vendido separadamente.

Ana DragoSocióloga e Deputada

“Cada um de nós devia responsabilizar-se pelo que acontece à sua volta”

06 e 07

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IlustraçãoNayara Siler e Filomena Cardoso

1º Ano Design Gráfi co e Multimédia ESAD.CR

MÚSICA

7 de Maio, 21:30Música do MundoNancy Vieira estará no Teatro José Lú-cio da Silva a 7 de Maio para apresentar o seu novo álbum Lus. A cantora cabo--verdiana trará sons típicos do seu país, como a morna, o funaná, a coladeira e o batuque. 10 euros.

22 de Maio, 21:30David FonsecaO músico canta para Leiria a 22 de Maio. Na primeira parte do espectáculo, actua com Rita Redshoes. Uma combinação prometedorae a não perder. Até 15 euros, no Teatro José Lúcio da Silva.

CINEMA

Até 30 de AbrilDuas irmãs, um ReiO fi lme conta a história de duas irmãs que são usadas pelo pai com o objectivo de reforçar o poder da família, aproveitando-se do facto de o rei Henrique VIII ser mulherengo. O jogo de sedu-ção e intriga desencadeado pelas irmãs Bolena acaba por levar à divisão de Inglaterra. Nos cinemas O Paço.

Até 11 de MaioRECNuma madrugada comum, uma re-pórter e o seu cameraman, que acom-panham uma operação de um corpo de bombeiros, acabam por fi car presos num prédio em chamas enquanto uma série de acontecimentos macabros ocorrem. Em exibição no Cine-Teatro de Monte Real de 9 a 11 de Maio, este promete ser um grande sucesso do cinema espanhol que irá certamente deixar os espectadores agarrados à cadeira.

TEATRO

Festival de Teatro JuvenilEm cena no palco do Teatro Miguel Franco, OED (28 de Abril) e O Amor na adolescência (30 de Abril).

02 JORNAL DE LEIRIA 24.04.2008

Como dizer, hoje, a jovens estudantes de uns 20 anos, cujos pais estavam, na melhor das hipóteses, a iniciar a adolescência em 1974, o que foi e o que signifi ca, agora, o 25 de Abril? A linguagem que se utilizou na época – e que, por vezes, ainda se utiliza – não conseguirá fazê-los entender o fenómeno e, talvez, nem sequer lhes desperte a atenção, habituados que estão à especta-cularidade de guerras propagandísticas quase em directo, às fomes ao longe, às prisões injustas e arbitrárias como se fi cções fossem. As coisas não são só o que são, de facto, ou o que foram. São também o que se faz delas e com elas. Poderemos dizer que o 25 de Abril foi um tsunami, correspondente a uma explosão militar com o apoio profundo da sociedade portuguesa, que via os seus fi lhos a correrem, e muitos a não voltarem, para uma guerra que militarmente não resolveria o problema colonial; a passar a salto para os países de uma Europa onde havia emprego e onde os emigrantes conseguiam pecúlio sufi ciente para viver e muitos deles se estabelecerem de volta à sua terra; se sentia amordaçada na sua iniciativa pessoal, na expressão do seu pensamento e da não tomada em conta das suas opiniões para construir um país que afi nal era de todos. Esse tsunami fez nascer países que, de um modo geral, ainda buscam ar-duamente um caminho sem tutores e que, com frequência, na sua caminhada para o futuro, entram em muitos becos sem saída. Depois vem o estabelecimento de um ciclo histórico-político, onde ainda estamos, em que a democracia é pilar essencial, mas não é só da democracia política que precisamos; a englobação numa Europa que terá de se modifi car muito sem perder a sua matriz de ponte, de entendimento, de espaço de

convivência de povos e culturas, de pátria de liberdades tão elementares como a igualdade de direitos e dignidade dos sexos e de espírito de iniciativa. Que foi, então, o golpe militar do 25 de Abril? Foi o defl agrar, foi a chispa que deu origem a uma reacção em cadeia, que modifi cou imenso a sociedade portuguesa e, também, o mapa político mundial. Que é, então, o regime gerado pelo golpe militar em que hoje vivemos? É um regime onde não há delito de opinião, onde há liberdades múltiplas, onde, de uma maneira geral, as neces-sidades básicas vão sendo asseguradas a uma faixa alargada da população, onde as pessoas podem gerir uma parte do seu futuro sem constrangimentos de sexo, raça, religião, estatuto social, opinião. Responder-me-eis que, por vezes, a democracia poderá ser quase tão arrogante como a ditadura. Acenarei que sim. Insistireis que há desigualdades que diminuíram, mas que outras se acentuaram e novas nasceram. Também acenarei que sim. Gritareis que certas liberdades estão ameaçadas, que mui-tas situações relativas ao singrar na vida peiam, hoje, mais os jovens que nunca; que, por vezes, parece haver vontade de desistir de alterar o estado das coisas porque a inércia do sistema é imensa, muitas das justiças apregoadas são coisa de programa sem correspondência real. Mas o 25 de Abril não é algo que nos foi dado feito e acabado: é algo que vamos construindo no nosso dia-a-dia. E são os construtores, especial-mente os que mais participam, aqueles que terão a possibilidade de deixar aos vindouros o signifi cado do 25 de Abril. Espero que não queirais fi car de fora desta fotografi a da História. Vós sois, também, uma parte dos constru-tores do 25 de Abril.

Abertura Oratio Pro Rostris*

Eduardo Fonseca

VÂNIA MARQUESUma agenda do mês

Director:José Ribeiro [email protected]

Director Adjunto:João Nazá[email protected]

Coordenadora de RedacçãoAlexandra [email protected]

Coordenadora PedagógicaCatarina [email protected]

Apoio à EdiçãoAlexandre [email protected]

Secretariado de RedacçãoÂngela Duarte

Redacção e colaboradoresAndreia Mateus, André Mendonça, Carina Francisco,David Sineiro, Élio Salsinha, Jorge Bastos, Paulo Amendoeira, Rafael Costa, Sara Vieira, Vânia Marques, Tiago Gomes, Tiago Santos, João Matias, Tiago Gil, Dina Mota, Maria João Vieira

Departamento Gráfi coJorlis - Edições e Publicações, ldaIsilda [email protected]

MaquetizaçãoLeonel Brites – Centro de Recursos Multimédia ESE–[email protected]

Ilustrações 25 de Abril – ESAD.CRIsabel Barreto Fernandes (Coord.)Nayara Siler, Filomena Cardoso, Inês Silva, Ruben Rodrigues, Ana Catarina Lopes, Luís Favas, Cláudia Pereira, Margarida Campos

Presidente do Instituto Politécnico de LeiriaLuciano de [email protected]

Presidente do Conselho Directivo da ESEJosé Manuel [email protected]

Directora do Curso de Comunicação Sociale Educação MultimédiaAlda Mourã[email protected]

Os textos e opiniões publicados não vinculam quaisquer orgãos do IPL e/ou da ESE e são da responsabilidade exclusiva da equipa do Akadémicos.

[email protected]

Vai lá, vai...

* Discurso aos jovens

Está a dar

“Sinto-me muito contente por ver os meus caloiros a trajar pela primeira vez!” É assim que Damien Pires, aluno do 2º ano de CSEM, fala sobre a Serenata. De facto, a primeira noite da Semana Acadé-mica de Leiria (SAL) foi recheada de emoção, quer por parte daque-les que vestiam o traje académico pela primeira vez quer por parte dos seus padrinhos, orgulhosos por ver os seus “protegidos” atin-girem o “ponto mais importante das suas vidas como estudantes”. Damien realça ainda que “o me-lhor da SAL é o espírito académico que se vive”. Apesar de marcada pelo mau tempo, que levou ao cancelamento dos concertos de quinta-feira, bem

como ao adiamento das noites de sexta e sábado para segunda e ter-ça-feira, o balanço da SAL acabou por ser positivo. Para Bruno Car-mo, aluno da ESE e vencedor do prémio Boémio do Ano 2006, a semana académica só poderia ser “a melhor semana do ano”. Segurando a capa na mão es-querda e uma cerveja na direita, Bruno, que frequenta o seu últi-mo ano como estudante, destaca a noite de tunas como a sua preferi-da. “Cheguei a fazer parte de uma tuna. Penso que ver tunas é sem-pre uma noite especial. Sobressai mais o espírito académico”. Po-rém, mostra-se ainda mais nostál-gico quando questionado sobre o desfi le de quarta-feira. “É sempre

um dos melhores momentos da SAL e este ano não foi excepção”, adianta. O cortejo das viaturas das vá-rias escolas do IPL, decoradas com temas relacionados com os cursos, percorreu algumas das ruas da cidade, com muitos gritos, água e cerveja à mistura. Melancólico, Bruno diz que sentiu um misto de alegria e tristeza. “Estou feliz por pertencer a esta comunidade académica mas, ao mesmo tempo, triste por saber que a vou abando-nar no fi nal do ano lectivo.” A SAL voltou a marcar a despe-dida dos fi nalistas à vida académi-ca, bem como a estreia dos agora corvos no maior evento da acade-mia estudantil leiriense.

Está a dar

Konsumo Obrigatório

Nem tudo o que parece é, e quem pensa que o esquecido não volta, engana-se. Uma prova disso é o regresso da moda dos discos de vinil. Situado na Rua Sá de Miranda, em Lei-ria, a Only Music é o novo conceito de loja de música. Podemos encontrar os mais va-riados géneros musicais, desde o pop ao hard rock. Garantido é encontrar discos “em vias de extinção”. O proprietário, João Pinto, mestre na área da música (tocou numa banda), ga-rante que os discos de vinil ainda são uma moda, principalmente para os coleccionis-tas, embora o vinil atraia vários tipos de pú-blico. Aberto aos dias úteis das 10 às 20 ho-ras e aos sábados das 15 às 20 horas, o es-tabelecimento também dá oportunidades de negócio aos clientes, pois aceita discos de vinil e DVDs musicais novos e usados à con-signação, e quem não tiver oportunidade de se deslocar ao espaço, pode encomendar os artigos via Internet (ebay e miau).

É frequente ouvir a expressão “ando à procura daquele disco há anos” por parte dos clientes que, quando vão à Only Music, demonstram uma enorme satisfação quando o encontra. Apesar do desenvolvimento das novas tecnologias, João Pinto mostra-se sa-tisfeito por não haver possibilidade de adqui-rir discos de vinil através de downloads. Qualquer informação adicional contacte [email protected]. É lá que estão os “discos da moda”.

Only MusicVira o disco e toca o mesmo

CARINA FRANCISCO E SARA VIEIRA

03JORNAL DE LEIRIA 24.04.2008

FOTO: JOÃO MATIAS

TIAGO SANTOS

Chuva não estraga festaSemana Académica de Leiria

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FOTO: JOÃO MATIASFOTO: FERNANDO SANTOS

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04 JORNAL DE LEIRIA 24.04.2008

Está a dar

De lenço branco na mão, Salgueiro Maia, tenta falar com o ofi cial, Junqueira Reis, comandante dos blindados na Ajuda, que vinham tentar salvar o regime. Reis dá ordem para disparar sobre Maia. O al-feres recusa. Este foi, talvez, o momento chave para o suces-so dos militares da revolução que, na madrugada de 25 de Abril, abandonaram os seus quartéis para pôr cobro a qua-renta e oito anos de ditadura em Portugal. O brigadeiro Reis é detido e o regimento de cavalaria nº7, até aí afecto ao regime e, anteriormente, conside-rado inimigo dos revoltosos, junta-se ao Movimento das

Forças Armadas (MFA). Sal-gueiro Maia e os seus mili-tares acercam-se assim do Quartel da GNR, no Largo do Carmo, onde Marcello Cae-tano se refugiou assim que soube do Golpe de Estado. Salgueiro Maia, entretanto já dentro do Quartel, chega à fala com Marcello Caeta-no pedindo-lhe a rendição. Este, só aceita render-se a um oficial superior. António Spínola, General das FA, che-ga e Marcello acede. Dá-se fi-nalmente a queda do regime, confirmado por um comuni-cado do MFA que, através da rádio, informava constante-mente o povo das ocorrên-cias da revolução.

Memórias de uma ditadura

Como meio de controlar a oposição, Salazar cria meca-nismos repressivos: A polícia política (PIDE) e a censura. Es-tas instituições “controlavam” e “apagavam” tudo o que se opunha ao regime. A censu-ra surge então como medida para manter a pureza doutri-nária das ideias expostas e de-fender a moral e os bons cos-tumes. Tudo o que atentasse contra o regime era proibido. Nenhuma palavra ou ima-gem era publicada sem passar pelo conhecido “lápis azul” da censura. Segundo Joaquim Vieira, jornalista, natural de Leiria, “a oposição não tinha

lugar nos media, muito menos na televisão porque a censura não permitia”. Outro meio de garantir a ordem e evitar oposições ao regime foi a polícia política. A PIDE tinha muito poder, afi r-mando-se mesmo que, esta polícia era um Estado dentro do Estado. Inspirava um cli-ma de terror tão grande que o povo até em casa tinha medo, como refere José Inácio, 51 anos: “Até a mais simples con-versa de café não podia mexer com política. Havia um clima de grande desconfi ança uma vez que podíamos denunciar alguém, como também, nos podiam denunciar a nós sem termos feito nada.

ANDRÉ MENDONÇA

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Golpe de Cravos

Depois do golpe militar de 28 de Maio de 1926, Portugal e os portugueses assistem à criação do regime autoritário de inspiração fascista – a ditadura militar. Em 1928 entra para o regime, António de Oliveira Salazar. Exerce o cargo de ministro das fi nanças, conseguindo reabilitar as fi nanças portuguesas, impondo uma forte austeridade e um rigoroso controlo dos gastos públicos. Ganha assim fama e prestígio entre o povo. Assume o poder em 1933, remodelando o regi-me, mas mantendo a ideologia, dando-lhe o nome de Estado Novo. Salazar passa então a controlar o país, assumindo o

papel de Presidente do Conselho, cargo que ocupou durante 41 anos. Graves lesões cerebrais, causadas por uma apara-tosa queda, em 1968, retiram-lhe o poder. É substituído por Marcello Caetano que chefi a o governo até ao golpe militar do MFA, em 25 de Abril de 1974. O regime caracterizava-se por ser autoritário, nacionalista e conservador. “Para cada braço uma enxada, para cada família o seu lar, para cada boca o seu pão”. (Salazar, na apresentação do Plano de Fo-mento, em 28 de Maio de 1953). Esta ideologia marcou todo um regime.

Estado Novo

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Alunos de Design Gráfi co e Multimédia ilustram 25 de Abril

Foi há 34 anos

E daí até a PIDE nos ir buscar a casa, era uma questão de tempo. Muitas vezes, até em casa tínhamos medo de falar do regime”. Os cidadãos sa-biam das técnicas que a Polí-cia utilizava para castigar os opositores: tortura, pressões de natureza física e psicológica. A correspondência era violada e os telefones postos sob escuta. Constata-se o medo que o povo tinha nas palavras de Custódio Rodrigues, quando questio-nado sobre se alguma vez ti-nha sido vítima das acções da PIDE: “Não, nunca falei. Sem-pre tive a noção que a PIDE tinha muitos ouvidos, por isso não me atrevia sequer a tocar em assuntos que sabia que me podiam comprometer”.

O movimento por detrásdo golpe

A Guerra Colonial travada durante 13 longos anos foi a “gota de água”, contribuindo de forma decisiva para o 25 de Abril. Tudo porque os solda-dos estavam insatisfeitos por continuarem a ser recrutados para uma guerra que não ti-nha fi m a vista, e que para eles fazia cada vez menos sentido enquanto o povo agoniava pelo impasse e por ver cons-tantemente os fi lhos da terra partirem sem regresso. Os jovens da altura rece-avam a guerra, como afi rma José Inácio, para quem o 25 de Abril representou, para além da liberdade, “o fi m da Guerra Colonial. Principal-mente porque todos os jo-vens, incluindo eu, tinham receio de serem recrutados. Fiquei bastante descansado com o fi nal da guerra pois ti-nha a certeza que assim não ia ser enviado”. Mas outros não tiveram a mesma sorte. “Sabíamos que era um gran-de risco ir para lá (Ultramar) pois muitos não voltavam, tal como aconteceu com um amigo.” Nasce então o movimen-to dos capitães, em Julho de 1973. O impasse em que se encontrava a Guerra Colonial

começou também a pesar so-bre o exército. Os progressos da frente revolucionária na Guiné, o encarniçamento da guerra em Moçambique e a persistente condenação in-ternacional pela ONU, deram a muitos ofi ciais de carreira a convicção de que estavam a remar contra a maré, a lutar contra uma causa perdida. Este sentimento transformou um movimento de ofi ciais, iniciado por meras questões de promoção na carreira, no movimento que derrubou o regime. Estes ofi ciais acredi-tavam que, ao restaurar as liberdades cívicas, a tão dese-jada solução para o problema colonial chegaria. Depois de uma tentativa precipitada, em Março, que as forças governamentais debe-laram com facilidade, o MFA preparou minuciosamente a operação militar que, na ma-drugada do dia 25 de Abril de 1974, viria a por um ponto fi nal no Estado Novo.

Operação “Fim–Regime”

A operação “Fim-Regime” do Movimento das Forças Ar-madas decorreu sob a coorde-nação do major Otelo Saraiva de Carvalho, de acordo com o plano previamente defi nido. A comunicação social teve um papel determinante no golpe de Estado. “Logo pela manhã ouvi na rádio uma canção que até aí era censu-rada. Achei estranho, ainda para mais porque foi repetida durante toda a manhã”, re-corda José Inácio. Depois da transmissão, pela rádio, das canções-se-nha (E depois do Adeus, de Paulo de Carvalho, cerca das 23 horas, e Grândola Vila Mo-rena, de Zeca Afonso, hora e meia mais tarde), as unidades militares saem dos quartéis para cumprirem, com êxi-to, as missões que lhes esta-vam destinadas. Estava dado o mote para o movimento avançar defi nitivamente. Às 4:26 horas é emitido o pri-meiro comunicado do MFA.

Apesar dos insistentes pe-didos para a população civil se recolher em casa, a multi-dão invade as ruas, em apoio aos militares, a quem distri-buí cravos vermelhos. Esta fi cará para sempre conhecida como a Revolução dos Cra-vos, sinónimo da revolução mais pacífi ca que o Mundo já conheceu.

05JORNAL DE LEIRIA 24.04.2008

Em Leiria, os dois semanários da época O Mensageiro e o Região de Leiria não fi caram indiferentes ao acon-tecimento. O jornal O Mensageiro de 2 de Maio dá destaque à revolução escolhendo como título de 1ª página “Triunfou o movimento das forças armadas”. O Região de Leiria na edição de 27 de Abril cobre o aconteci-mento com uma peque-na caixa de texto “Ùlti-ma hora”. Só na edição de 4 de Maio chama o tema à primeira página, dando no interior conta da manifestação de apoio ao MFA na Praça Rodrigues Lobo.

Imprensa em Leiria

TORRADO, António, O Veado Florido, (1994, 2ª Ed.)Civilização Editora.

ANDRADE, Eugénio de, História da Égua Branca, (1986)Asa Editora.

A pesquisar

Centro de Documentação 25 de Abril – Univ. CoimbraMais informações: http://www.uc.pt/sibuc/Bibliotecas

Sobre LiberdadeSUGESTÕES DE LEITURA, por Cristina Nobre

Quando alguém falava mal do governo, no dia seguinte não se ouvia falar nessa pessoa. Pura e simplesmente desaparecia.

José, 62 anos

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Foi a partir dessa data que as mulheres portuguesas se puderam libertar do humilhante estatuto de menoridade a que estavam sujeitas.

Fátima, 52 anos

Por vezes, tínhamos de dar voltas à cabeça para interpretar o que é que algumas notícias nos queriam transmitir.”

Carlos, 71 anos

Antes do 25 de Abril as associações de estudantes ti-nham um importante papel de resistência política. Consi-dera que esse papel se perdeu com o passar dos tempos? Não, acho que se alterou. Hoje vivemos numa socieda-de democrática. Esse processo de politização que se fazia nas universidades para uma pe-quena elite está mais difundido pela sociedade. Temos jornais, temos telejornais, as pessoas na sociedade discutem políti-ca, esse processo de politização alargou-se. Agora, as associa-ções de estudantes têm outro papel, representam mais direc-tamente aquilo que são os inte-resses dos estudantes num de-terminado contexto, nas suas instituições. Continua a ser uma escola de politização, essa participação, essa responsabi-lização, esse envolvimento.

Nasceu depois de 1974. O que representa para si a revolução? Representa a data que pos-sibilitou que eu tivesse nascido numa sociedade mais aberta, que pudesse discutir, ter opi-nião crítica sobre as políticas seguidas, que eu pudesse es-colher também a forma como vou construindo a minha vida e o meu percurso enquanto pessoa e enquanto cidadã. Mas o projecto de democratização que o 25 de Abril trouxe con-tinua, em parte, por cumprir porque a democracia, mais do que um regime político institu-ído, é uma ideia. Julgo que essa ideia e essa vontade ainda se mantêm actuais.

Que diagnóstico faz ao es-tado de saúde da democracia? Há um grande problema

hoje na sociedade portuguesa, mas penso que ele atravessa também toda a Europa ociden-tal. A política e a participação democrática não são aquilo que deviam ser. Cada um de nós devia responsabilizar-se pelo que acontece à sua volta e isso não acontece. A nossa socieda-de civil é fraca porque, a seguir ao 25 de Abril, as pessoas de-positaram as expectativas nos partidos. As pessoas acharam que construir o seu projecto de vida, construir o seu projecto de democracia, era de alguma forma acreditar nos partidos, votar nos partidos. Em parte, os partidos que foram respon-sáveis pela governação nos últimos 30 anos afunilaram o leque de escolhas e as pessoas hoje têm a percepção de que as políticas seguidas quer pelo PS, quer pelo PSD, são muito parecidas e que votar ou não é mais ou menos a mesma coisa. Entrei no Bloco de Esquerda porque achei que era preciso uma força política que entras-se nos lugares onde se decidem as coisas e confrontasse os po-deres instituídos. Esse é o meu caminho. Ou seja, pensei que era preciso responsabilizar-me por isso. Compreendo que exis-ta a sensação de que a política e quem governa não é credível, mas continuo a acreditar que é possível criar uma outra forma de participação política. Esse bipartidarismo foi o que mais contribui para o di-vórcio entre as pessoas e o sis-tema? Penso que sim. Existem poucos movimentos sociais para confrontar os partidos, parece que os partidos ocu-pam todo o espaço da políti-ca, não havendo mais política

para além disso. E a sociedade portuguesa é conservadora, está articulada em redes de clientelismo que o poder polí-tico nunca soube desarticular. Aliás, alimentou-as como for-ma de perpetuar o seu poder.

E como avalia a comunica-ção social hoje? A informação livre e inde-pendente é fundamental para a democracia, é aquilo que permite que as pessoas tomem as suas decisões.É claro que há diferentes formas de tratar os partidos políticos. Não tenho

a pretensão que tratem o Blo-co de Esquerda que têm 6,3 ou 6,4 por cento da mesma forma que tratam o Governo ou o Partido Socialista. Considero que tem de haver uma diferen-ciação. Agora, parece-me ab-solutamente claro que há um excesso de comunicação mui-to apostada nas iniciativas do Governo. Também devo referir a forma como a comunicação social gosta de trabalhar sobre os confl itos internos e as que-relas pessoais que não trazem uma única ideia política. Pare-ce um jogo de telenovela, não sei quem não gosta de não sei

quem, que é amigo de não sei quem, que jantou com não sei quem... como se fossem perso-nagens de telenovela. Eu diria que, em termos de informação, não é assim tão importante para ocupar tanto tempo.

O que poderia ser feito para aproximar as pessoas, nome-adamente os jovens, da classe política? Deviam criar-se mais me-canismos de participação. É necessário que exista uma ética na forma como nos comporta-mos na política, mas é funda-mental que as pessoas exijam não apenas votar de quatro em quatro anos, mas participar como construtoras das soluções políticas. E isso tem de ser con-quistado: as pessoas têm de en-contrar formas de organização, de defesa dos seus interesses. Eu creio que os partidos, em geral, são estruturas até bastante frá-geis, se forem verdadeiramente confrontados por movimentos fortes.

Qual a melhor homenagem que podemos fazer aos que lu-taram pela liberdade? É vivê-la em todos os seus domínios e não nos restringir-mos a nós próprios, não pen-sarmos que não vale a pena. É perceber o quanto esses direi-tos são frágeis, como a demo-cracia é frágil, como tem de ser defendida a cada momento.

Como chega a deputada do Bloco de Esquerda na Assem-bleia? O Bloco surgiu em 1999. Comecei a participar em Coim-bra enquanto estudante uni-versitária e depois houve um momento em que me propuse-ram fazer parte das listas para

06 JORNAL DE LEIRIA 24.04.2008

Sentado no mochoSentou, vai ter k explicar

“A nossa sociedade civil é fraca”Ana Drago, socióloga e deputada

É um dos rostos da nova geração de

políticos portugueses. “Sentada no Mocho”, em plena Assembleia

da República, Ana Drago diz que não

basta “votar de quatro em quatro

anos” e defende o desenvolvimento de

outros “mecanismos de participação”

PAULO AMENDOEIRA, RAFAEL COSTA E TIAGO GOMESFOTOS: ANDREIA MATEUS

As mulheres preenchem a bancada, votam, mas falam pouco, digamos que protagonizam muito pouco o debate político

a Assembleia da República pelo Círculo Eleitoral de Lisboa. Eu já tinha acabado o curso, estava a viver em Lisboa, fazia ainda a parte curricular do mestrado e aceitei ser a quinta da lista. Co-mecei em Setembro de 2002. Estive quatro ou cinco meses e passei a estar muito mais envol-vida na construção do Bloco.

O trabalho como deputado deve ser exaustivo. Consegue arranjar tempo para fazer ou-tras coisas? Neste momento não. Acre-dito que ser deputado de uma bancada que tem 80 deputa-dos seja bastante mais simples e mais leve. Numa bancada que tem poucos deputados é muito trabalhoso, as solicitações são muitas, e portanto sinto que não tenho tempo para muito mais.

Considera que os portugue-ses estão preparados para voltar a ter uma primeira-ministra? É uma das grandes dúvidas que tenho. Não sei. Em mui-tos aspectos a sociedade por-tuguesa continua a ser muito conservadora e conformista. Vamos ver também o que sig-nifi cam as eleições dos EUA. Apesar de tudo temos esta pos-

sibilidade de termos um presi-dente negro ou uma mulher.

Considera que as mulheres es-tão sufi cientemente represen-tadas na Assembleia da Repu-blica? Não. Hoje temos uma re-presentação de mulheres superior, mas se formos ver o tempo que essas mulheres ocupam no debate político em Plenário, é muito pouco. As mulheres preenchem a bancada, votam, mas falam pouco. Digamos que protago-

nizam muito pouco o debate político. A mais recente proposta de lei apresentada pelo Bloco de Esquerda não vai criar um certo facilitismo no acesso ao divórcio? O maior sinal de conserva-dorismo que existe em Portugal é a forma como as pessoas rea-gem sobre as situações dos ou-tros, pensando sempre que eles não podem fazer aquilo que lhes apetece. Portanto, toda a gente pensa que é preciso ter mão nos professores ou ter mão nos funcionários públicos, ou ter mão nos estudantes ou ter mão em quem está casado. A ideia de que alguém casado pode fazer aquilo que quer as-susta as pessoas e eu não con-sigo entender porquê. O que pergunto é “Quem é o Estado, quem é a comunidade política, para dizer a alguém que não quer continuar a estar casado, vais ter de continuar a estar casado?”. Deve ser um acto de vontade: não porque o outro lhe bateu ou porque o outro não cumpre os seus deveres, mas porque não quer, não quer. É facilitismo? Claro que é facili-tismo, é dizer que as pessoas são donas da sua vida.

07JORNAL DE LEIRIA 24.04.2008

Kultos

A Bússola Dourada (The Golden Compass) é um novo fi lme de fantasia na esteira de fi lmes como O Senhor dos Anéis, As Crónicas de Narnia e Eragon. Originária dos famosos livros His Dark Mate-rials de Philip Pullman, a história segue as aven-turas de Lyra Belacqua (Dakota Blue Richards), uma rapariga de um mundo paralelo, que des-cobre um artefacto misterioso que a levará a em-barcar numa demanda para salvar o seu tio, Lord Asriel (Daniel Craig). O fi lme está repleto de gran-des nomes de Hollywood que se juntam a Daniel Craig (Casino Royale, Munich) no ecrã, como Nico-le Kidman (Eyes Wide Shut / The Others), Eva Green (Casino Royale / Kingdom of Heaven), Sam Elliott (The Big Lebowski / Ghost Rider), Christopher Lee (Star Wars II e III / The Lord of the Rings). Conta ainda com os talentos vocais de Ian McKellen (The Lord of the Rings / X-Men), Freddie Highmore (Finding Neverland / Charlie and the Chocolate Fac-tory) e Kathy Bates (Misery / Titanic). Ao contrário das Crónicas de Narnia, aqui existe uma história coerente e com um signifi -cado muito maior para o espectador com mais de 12 anos. Apesar de não dever revelar muito

mais, recomendo este fi lme a todos os que gos-tam de fi lmes como O Senhor dos Anéis, pois. Em-bora nenhuma história possa rivalizar com a de Tolkien, esta é a que chega mais perto. O que mais diferencia o universo do fi lme do nosso, é o facto de todas as pessoas terem um animal (dae-mon) que os acompanha sempre e que faz parte da sua própria “alma”. O fi lme leva Lyra a explo-rar diferentes regiões do seu mundo, onde cada vez mais membros se juntam à sua demanda, ao bom estilo de um Role-Playing Game. O realizador fez um bom trabalho, nada de genial, mas bom no estilo de Hollywood. No entanto, estamos a falar de um fi lme, e a nível de guião, muitas coi-sas tiveram, obviamente de ser sacrifi cadas nesta transição. Como fi lme, e não como adaptação, A Bússola Dourada aguenta-se como uma proposta forte, cheia de representações de alto nível, com um destaque especial para o sempre espectacular Ian McKellen na voz do majestoso urso blindado Iorek Byrnison. O som também está irrepreensí-vel, assim como os efeitos especiais, vencedores de um Óscar. Fica o aviso ao espectadores; o fi lme é o primeiro de uma série de três, pelo que não é muito conclusivo, mas deixa certamente água na boca para os próximos. Se gostam de fantasia, não o deixem escapar! 8/10

A Bússola Dourada

DAVID SINEIRO

DR

Existem poucos movimentos sociais para confrontar os partidos, parece que os partidos ocupam todo o espaço da política, não havendo mais política para além disso.

KURTAS

“Não sou pessoa de uma única escolha, nem de dizer este é o livro da minha vida, este é o meu prato preferido, acho que as coisas têm de ter variedade, se não, não dão prazer.”

Estão a decorrer até ao dia 16 de Maio as candidaturas para o concurso Anteciparte 08. Podem participar todos os alunos fi nalistas em 2008 ou que concluíram os seus cursos em 2007 e 2006 e que estejam ainda fora do circuito comer-cial, com trabalhos em pintu-ra, desenho, gravura, fotogra-fi a, escultura, instalação, vídeo e outros meios de expressão. Os artistas seleccionados terão possibilidade de partici-par no evento fi nal que decor-

-rerá de 6 a 16 de Novembro no Museu da Cidade, em Lis-boa. O Anteciparte é um es-paço de exposição e venda de obras de arte que pretende ser uma montra de novos talen-tos, possibilitando a exposição e divulgação alargada do seu trabalho. No fi nal da mostra, o júri atribuirá ainda o prémio Anteciparte 2008 que consisti-rá numa viagem a uma cidade de referência no panorama das artes. Mais informações em www.anteciparte.com.

O Instituto Politécnico de Leiria (IPL) en-trou com o pé direito no Campeonato Nacio-nal Universitário de Surf e Bodyboard, que de-correu nos passados dias 29 e 30 de Março na Praia da Rainha – Caparica. O IPL fez-se re-presentar por nove atletas e venceu com uma dobradinha no surf. Marco Silva, aluno da Escola Superior de Tecnologia do Mar (ESTM) e Ricardo Santos, da Escola Superior de Artes e Design (ESAD), lutaram até à última onda pelo lugar mais alto do pódio. A vitória sor-riu a Ricardo Santos, que não escondeu o seu contentamento… «A etapa correu-me muito bem». O algarvio referiu ainda estar «muito contente pelo facto de o IPL ter apostado em mais uma modalidade, juntando alunos de to-das as escolas». Para terminar, Ricardo Santos deixou um repto a todos os participantes nesta

etapa para se inscreverem na próxima, visto que «é muito bom o convívio entre todos, seja um bom ou um razoável praticante de qual-quer uma das modalidades». O Campeonato Nacional Universitário de Surf e Bodyboard se-gue agora rumo a Norte, mais precisamente à Praia da Barra (Aveiro), onde no próximo fi m-de-semana se disputa a 2ª etapa.

IPL na vice liderança da zona sul da LUFO IPL venceu a Associação Académica da Uni-versidade da Beira Interior por contundentes 9-3, naquela que terá sido a melhor exibição da época para o conjunto orientado por Tó Co-elho. Com este resultado o conjunto de Leiria ascendeu ao segundo lugar da zona Sul, depen-dendo apenas de si para conseguir um lugar na fi nal four da Liga Universitária de Futsal.

Arte a concurso

08 JORNAL DE LEIRIA 24.04.2008

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JORGE BASTOS

Triunfo nas areias da CaparicaSurf e Bodyboard

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Criatividadeem multimédiaO prémio ZON Criativi-dade em Multimédia é uma iniciativa da ZON Multimédia (serviços de telecomunicações), e tem como principal objectivo incentivar e contribuir para o desenvolvimento da indústria multimédia e audiovisual em Por-tugal. Existem três tipos de categorias na apre-sentação dos trabalhos: aplicações, conteúdos multimédia e curtas--metragens. Os trabalhos deverão ser entregues até dia 3 de Outubro. Os vencedores ganham prémios no valor total de 200 mil euros. Para mais informações consultar o site www.zon.pt/premio/home.aspx.

I Jornadas Científi cas de Espeleologia O Instituto Politécnico de Leiria, através da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG), promo-ve juntamente com a Federação Portuguesa de Espeleologia as I Jorna-das Científi cas de Espele-ologia, sob o tema Maciço Calcário Estremenho. O encontro decorrerá entre os dias 1 e 4 de Maio na ESTG.

Prevenção do cancro do colo do úteroA Escola Superior de Saúde, em colaboração com a Sanofi Pasteur MSD, empresa dedica-da exclusivamente à investigação de vacinas, está a realizar sessões de esclarecimento sobre prevenção do cancro do colo do útero nas escolas do Instituto Po-litécnico de Leiria, duas das quais tiveram lugar no dia 18 de Abril. No dia 16 de Maio é a vez da Escola Superior de Tecnologia do Mar, em Peniche, e da Escola Su-perior de Artes e Design, nas Caldas da Rainha.A entrada é livre.

ÉLIO SALSINHA

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