ALATAS_ a Definição e Os Tipos de Discursos Alternativos_2010

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    A R T I G O S

    A definio e os tipos de discursos alternativos

    The definition and types of alternative discourse

    Syed Farid Alatas

    Introduo

    Este artigo ini cia-se com o pressu posto de que a te oria da de pendnciaacadmica fornece um enquadramento adequado para a compreenso das rela-es en tre as comuni dades de cincias socia is no Norte e no Sul (Ala tas, 2006:cap. 3). Sugiro que ns, acadmicos, pouco podemos fazer a respeito das dimen-ses estruturais e materiais desta dependncia, pois no estamos no comandodas instituies e do Estado. Contudo, h muito a ser feito nos nveis intelectuale terico. Nestes nveis, prticas culturais e tradies de conhecimento no-oci-

    Agradecemos a Farid Alatas pela cesso de alguns de seus artigos para o Ncleo de Estudos Perifricos e

    Conexes Sul, para serem traduzidos ao portugus. A obra de Farid tem um grande reconhecimentointernacional, e graas receptividade das editoras da revistaEstudos Histricos, este texto, traduzido e editadopor Cludio Pinheiro e Joo Maia, o primeiro a ser publicado em portugus.Syed Farid Alatas professor do Departamento de Sociologia e do Departamento de Estudos Malaios daUniversidade Nacional de Cingapura ([email protected]).Artigo recebido em 30 de junho de 2010 e aprovado para publicao em 27 de agosto de 2010.

    Est. Hist., Rio de Ja neiro, vol. 23, n 46 p. 225-245, julho-dezembro de 2010.

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    dentais podem ser consideradas como fontes potenciais para conceitos e teorias,o que iria diminuir a dependncia acadmica diante dos poderes globais dascincias sociais. Portanto, fica evidente que a emergncia e o incremento dos dis -cursos alternativos equivalem a um processo de universalizao e internaciona-

    lizao das cincias sociais. Tambm deve ficar claro que os discursos alternati-vos dizem respe ito boa cincia so cial, pois eles so mais conscien tes da rele vn -cia dos contextos locais e dos problemas derivados do controle discursivo do po-der pelas cincias socia is. Como tais, os discursos alternativos podem ser teispara a prpria cincia social ocidental. Estes discursos acredi tam-se alternativosao que conside ram ser o ca rter orientalista ou europocn trico das cincias so-ciais do Norte, das quais as cincias sociais do Sul so dependentes. O artigo for-nece exemplos do que podemos considerar dis cursos alternativos.

    O anseio por discursos alternativos

    O discurso sobre o estado das cincias sociais no Terceiro Mundo noemerge de um movimento intelectual, mas sim de um grupo diversificado deacadmicos e ativistas de uma grande variedade de disciplinas nas cincias hu -manas. Seja o anseio por criatividade intelectual endgena (Alatas, 1981), poruma tradio autnoma de cincias sociais (Alatas, 2002), por descolonizao(Boehmer, 1995; Zawiah, 1994), pela globalizao (Bell, 1994; Hudson, 1977;Taylor, 1993), pela sacralizao, pela nacionalizao, ou ainda pelaindigenizao1das cincias sociais (Atal, 1981), todos tm se mostrado preocupados com o ori-entalismo e o eurocentrismo, com a irrelevncia dos discursos dominantes e coma gerao de discursos alternativos.

    Deve ser ressaltado, hoje em dia, que o eurocentrismo e o orientalismonas cincias sociais no consistem em afirmaes flagrantemente racistas ou pre-conceituosas, fundadas em dicotomias simplistas como Oriente-Ocidente,avanado-atrasado e civilizado-brbaro. Na verdade, elas se traduzem no estatu-to marginal de pensadores e conceitos no-ocidentais e nas construes proble-mticas que so o resultado da imposio de conceitos e teorias europeias (Ala-tas, 2006: cap.6). Dois destacados exemplos desse programa no contexto asiticoso a nacionalizao e a indigenizao das cincias sociais.

    A nacionalizao das cincias sociais

    A definio de nacionalizao das cincias sociais pode ser mais bemcompreendida por meio do delineamento de exemplos proeminentes da China ede Taiwan.

    Syed Farid Alatas

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    A sociologia foi introduzida na China no comeo do sculo XX por in-termdio da traduo do livroStudy of Sociology, de Her bert Spencer, em 1903(Gran sow, 1985: 140; Gipou loux, 1989: 52). A disciplina foi abo lida em 1952, e omaterialismo histrico a substituiu (Gipouloux, 1989: 55-56). A teoria marxista

    deveria dar conta de todos os fenmenos polticos, econmicos, sociais e psicol -gicos (Lin, 1987: 127). A dis cipli na foi res tabe lecida em 1979 a partir da per cep-o de que o rpido crescimento econmico previsto para as duas ltimas dca-das do sculo XX, que vinha acompanhado por mudanas fundamentais em es-tilos de vida, valores e mentalidades, demandava a restaurao da sociologia (Gi-pouloux, 1989: 56). A nacionalizao da sociologia na China tomou a forma desinicizao.2

    Clamores por uma sociologia sinicizada tm sido ouvidos na China des-de 1930, embora o que se entendesse por sinicizao variasse enormemente.Para alguns, a sinicizao significava pesquisa social orientada para a reforma da

    sociedade. Para outros, referia-se a estudos comparados de comunidades (Gran-sow, 1993: 101). Uma abordagem mais te ri ca via a sinicizao como es tando en -raizada em uma cultura nacional chinesa (Gransow, 1993: 101-102). esta lti-ma compreenso que corresponde nacionalizao das cincias sociais, porqueenvolve a incorporao de aspectos especficos da sociedade chinesa na sociolo -gia como uma dis ciplina (Lin, 1987: 130). Deve-se dis tinguir essa definio doque fossem simplesmente as atividades intelectuais e profissionais de socilogosna China.

    Para Lin, a sinicizao da sociologia deveria ser avaliada em funo dograu de generalidade alcanado por caractersticas chinesas e de sua introduo

    na sociologia (Lin, 1987: 130). Essa noo passou a ser atacada por igualar cultu-ra e cultura tradicional chinesa em termos neoconfucianos. Argumentava-se queera necessria uma escola chinesa de sociologia, uma sociologia nacional, que in-corporasse elementos tradicionais, modernos, nacionais e estrangeiros (Gran-sow, 1993: 108). De acordo com ou tra li nha de pensamento, o res surgimento dasociologia chinesa deveria ser relacionado ao estabelecimento de uma sociologiamarxista sinicizada (Cheng & So, 1983: 484). O programa de sinicizao seria le -gitimado pelas demandas de um socialismo de vis chins.

    Tal sociologia comportava trs posies (Gipouloux, 1989: 60-61;Gransow, 1985: 145). A primeira era a si nicizao dos obje tos e mtodos da so -

    ciologia, que se traduzia no estudo das leis de desenvolvimento da formao so-cial que constitua a nao chinesa. A segunda envolvia a unidade entre teoria eprtica com base marxista e experincias estrangeiras. J a terceira posio in-clinava-se para a indigenizao da sociologia, mas insistia tambm na necessi-dade de internacionalizao da disciplina. A sociologia chinesa mal tinha co-meado a se equipar com uma orientao que lhe fornecia especificidade e co-

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    nhecimento da sociolo gia estrangeira, e a sociedade chinesa ainda era muitofragmentada (Gipouloux, 1989: 61).

    A indigenizao das cincias sociais tomou forma em Taiwan no co-meo da dcada de 1980. interessante notar que naquele momento os ter -

    mos indigenizao (bentuhua) e sinicizao (zhongguohua) eram intercambi-veis aos olhos dos observadores europeus. Enquanto a maioria dos escritorestaiwaneses do perodo usava o termo sinicizao das cincias sociais,3oscomentrios europeus sobre estes trabalhos utilizavam o termo indigeniza-o (Schmutz, 1989; Gransow, 1993) para des crever o mesmo movi mento(Chen, 1993, 1994).

    Na verdade, a distino importante para os taiwaneses. C. K. Hsu no-tou que sinicizao a recontextualizao da teoria ocidental tomando a Chinacomo ponto de referncia. Taiwan, tendo sua prpria histria e cultura, bemcomo suas prprias necessidades de recontextualizao, referia-se mais ade-

    quadamente a uma indigenizao (Hsu, 1991: 35).4Hsu daria nfase a Tai-wan como tpico central de uma cincia social indigenizada, da a inadequaodo termo sinicizao. A recente mudana formal de nome da Associao Chi -nesa de Sociologia de Taipei para Associao de Sociologia Taiwanesa5foi umaevidncia simblica desta posio. O uso do termo indigenizao em todos es -tes casos consistente com nacionalizao, pois o Estado-nao o ponto de re -ferncia.

    A indigenizao das cincias sociais

    Entretanto, outros proponentes da indigenizao sustentam que teoriase conceitos podem ser derivados das experincias histricas e prticas culturaisde vrias culturas no-ocidentais, seja cultura definida de forma contgua aoEstado-nao ou de qualquer outra forma (Enriquez, 1994; Fahim & Helmer,1980; Lee, 1979; Ala tas, 1993a). Indi genizao, con tudo, um termo amor fo.No se refere nem a uma perspectiva terica, nem a um movimento intelectual.Na verdade, uma categoria frouxa que subsume os trabalhos de vrios autoresoriundos de uma ampla gama de disciplinas das cincias humanas, todos eles

    preocupados com o problema da irrelevncia e com a gerao de tradies cient-ficas alternativas.O projeto de indigenizao visa contribuir para a universalizao das

    cincias sociais no apenas reconhecendo, mas insistindo que todas as culturas,as civilizaes e as experincias histricas podem ser consideradas como fontesde ideias. Isso realizado a partir da auto-conscincia a respeito da dependncia

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    cultural e do etnocentrismo (Kim, 1996). Se entendermos indigenizao dessaforma, torna-se claro que ela um pr-requisito para a universalizao das cin-cias sociais e para a manuteno de padres internacionalmente reconhecidos deexcelncia acadmica. Na verdade, indigenizao tem sido frequentemente defi -

    nida nesses prprios termos. Na Coreia dos anos 1970, aca dmicos fo ram des -pertados para a necessidade de uma sociologia coreana mais criativa (Shin,1994).6L, indigenizao refere-se ao procedimento que parte do desenvolvi -mento histrico da sociedade coreana em direo teoria universal (Shin, 1994:21), [...] at o ponto em que podemos di gerir e assimilar proveitosamente as coi-sas estrangeiras [...], tendo como pano de fundo cultural e social a realidade dopas (Kwon, 1979: 21). Sem pro jetos au tctones ao re dor do mun do, um con-junto de discursos nativos (ocidental) que domina. Ademais, o projeto indigeni-zador deve ser realizado ao nvel das pressuposies ontolgicas, epistemolgi-cas e axiol gicas, bem como da teoria emprica. Kyong-Dong Kim (1996) apre-

    senta um inventrio de exemplos de cincias sociais autctones, baseadas emconceitos derivados da tradio clssica da China e da Coreia e em prticasencontradas na vida cotidiana do povo coreano.

    A definio de discursos alternativos

    Embora as vrias demandas por nacionalizao, indigenizao, criativi-dade intelectual endgena, descolonizao, globalizao ou sacralizao dascincias sociais possam ter diferentes nomes, todas elas compartilham do esforo

    para criticar e transcender os elementos eurocntricos e orientalistas que infor-mam as cincias sociais. Portanto, ns nos referimos a esses discursos como al-ternativos porque eles se colocam em contraste e em oposio ao que consideramser os discursos dominantes, em sua maioria euro-americanos.

    Assim, a ideia de discursos alternativos, tal como apresentamos, deveser entendida como um termo coletivo e descritivo, referido quele conjunto dediscursos que emergiu em oposio ao que se considerava ser a cincia social eu-rocntrica e euro-americana. Todavia, os objetivos dos discursos alternativosno devem ser en tendidos em termos ne gativos, isto , como limita dos a um des-colamento em relao ao controle metropolitano neocolonial. Deve tambm ser

    entendido de forma positiva, em relao contribuio dos sistemas de pensa-mento no-ocidentais para teorias e ideias. As prticas culturais e o pensamentono-ocidental de vem ser vistos como fon tes de te orizao, do mesmo modo que oconhecimento ocidental no deve ser rejeitadoin toto.Aqui h uma afirmao ex-plcita de que teorias e conceitos podem ser derivados de experincia histrica eprticas culturais de vrias culturas no-ocidentais, seja este conceito definido

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    de forma contgua ao Estado-nao ou de quaisquer outras formas (Enriquez,1994; Fahim & Hel mer, 1980; Lee, 1979; Alatas, 1993a).

    Podemos ento formular uma definio de discursos alternativos comosendo aqueles discursos informados por experincias histricas e prticas cultu-

    rais nativas, do mesmo modo que as cincias sociais ocidentais o so. Ser alterna-tivo demanda uma virada para a filosofia, epistemologia, histria, arte e outrosmodos de conhecimento nativos, todos eles fontes potenciais de conceitos e teo-rias das cincias sociais. Acreditamos que tais atividades podem diminuir a de-pendncia intelectual diante dos ncleos dominantes das cincias sociais noAtlntico Norte. Entretanto, muitos interessados ou proponentes dos discursosalternativos no acreditam que isso constitua uma rejeio da cincia social oci-dental. Hetnne, por exemplo, su gere que a soluo para o imperialismo acadmi-co no se livrar de forma definitiva de conceitos ocidentais, mas adotar umacompreenso mais realista das cincias sociais ocidentais, entendendo-as como

    reflexo de contextos histricos e geogrficos particulares (Hettne, 1991: 39).Se entendermos os discursos alternativos desta maneira, fica claro queeles so pr-requisitos para a universalizao das cincias sociais e para a manu-teno de padres internacionalmente reconhecidos de excelncia acadmica.Deveria ser bvio, portanto, que os discursos alternativos se referem boa cin-cia. A cincia social dominante e suas alternativas crticas, que vieram ento a setor nar parte do pr priomainstream, emergiram na Eu ropa Ocidental e nos Esta-dos Unidos como respostas originais e criativas s condies nas quais surgiram.Para alm do fato de que essas teorias eram, das mais diversas formas, excessiva -mente eurocntricas, as con dies no Oci dente, e em quaisquer outros lugares,no eram comparveis s existentes nos sculos XVIII e XIX. Os novos contex-tos exigem que se criem alternativas aomainstream. O que se est chamando dealternativo o que relevante para seu ambiente, criativo, no-imitativo e origi-nal, no-essencialista, anti-eurocntrico e autnomo em relao ao Estado e aoutros grupos nacionais ou transnacionais (Alatas, 2006: 82-83).

    Se entendermos discursos alternativos dessa forma, possvel imaginarque h uma necessidade do seu uso no prprio estudo das sociedades ocidentais, medida que os problemas de falta de originalidade e criatividade afligem emgeral tambm o Ocidente.

    Desenvolvendo discursos alternativos

    O problema com muitos textos escritos sobre esses temas que h poucotrabalho orientado para a construo de teorias e conceitos alternativos, ao passoque h muita discusso sobre a necessidade de tais alternativas.

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    Tendo definido discursos alternativos, necessrio agora ser mais con-cre to e especfico por meio de exemplos que mos trem como seri am esses discur-sos. Cada um dos tipos de irre levncia isto , no-originalidade, redundncia,impreciso, inaplicabilidade, mistificao, mediocridade e alienao podem

    afetar as cincias sociais em termos de meta-anlise, metodologia, teoria, estudosempricos, e cincias sociais aplicadas (Alatas, 2006). Assim, discursos alternati-vos ou cincia social relevante tambm podem ser gerados em cada um desses n-veis. Entretanto, nas passagens abaixo meus exemplos limitam-se aos nveisterico e metodolgico.

    Na verdade, h vrios graus de alternatividade (alternativeness). No n-vel mais simples possvel, as cincias sociais relevantes na sia insistiram naaplicao criativa e cuidadosa de conceitos e teorias ocidentais aos contextos lo -cais. Um exemplo seria o trabalho de Karl Wittfogel,Despotismo oriental, no qualo autor desenvolve e aplica criativamente a teoria de Marx sobre os modos de

    produo asiticos. De acordo com a sua anlise, o controle centralizado sobreum recurso-chave como a gua deu lugar a uma estrutura de classes particular e aum Estado burocrtico caracterizado por uma forma extrema de despotismo.Tais imprios hidrulicos, devido centralizao extrema, no tinham umaaristocracia independente, como a existente no feudalismo europeu (Wittfogel,1957). Podemos no con cordar com essa tese, mas o ponto que sustento aqui dizrespeito aplicao criativa de uma teoria originalmente ocidental situaochinesa. Nesse caso, contudo, no podemos ainda falar em discursos alternativosse omainstreamno for interpelado, criticado e subvertido ou se um conjuntoalternativo de conceituaes e teorias no for apresentado.

    Num nvel supe rior de alternatividade e, portanto, de universalidade, mtodos e teorias tanto locais como ocidentais so aplicados a contextos locais.Em outro nvel de alternatividade e universalidade, mtodos e teorias sejam lo-ca is, ocidentais ou autctones podem ser aplicados tambm a um mesmo con-texto.

    Antes de comear a considerar alguns exemplos de cada nvel de alterna-tividade, gostaria de enfatizar que a aplicao criativa de mtodos e teorias oci-dentais no deve ser conside ra da como algo de menor significao do que os dis-cursos alternativos. O melhor exemplo que tenho em mente a culturologia(culturology) de Huang Wen-Shan. Este um dos raros momentos em que, no

    campo da teoria, um pensador asitico foi levado a srio pelos gigantes do pensa -mento ocidental. Huang era um defensor da delimitao de uma cincia singulardedicada ao estudo do fenmeno cultural, isto , a culturologia. Entre seus traba-lhos esto Collec ted Essays on Culturology(1939), Theoretical Trends of Culturology(1959),System of Culturology(1968),Essays on Cul ture(1972) eIntroduction to Cul-turology (1989).

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    Neste ltimo, Huang discute o desenvolvimento histrico da culturolo-gia, analisa aspectos das teorias de Alfred L. Kroeber e Leslie White e reflete so-bre as perspectivas para a organizao da culturologia como uma nova cincia.Pitirim Sorokin alinhava-se visivelmente s vises de Huang sobre a importn-

    cia da culturologia, mas no subscrevia sua excessiva nfase nas diferenas esingularidades dos sistemas social e cultural e a preferncia por um estudo decada um destes sistemas sociais atravs diferentes cincias da culturologia e dasociologia (Sorokin, 1966: 391). A despeito das crticas de Sorokin, os esforosde Huang para promover o campo da culturologia foram levados a srio e incor-porados pelo socilogo russo (Sorokin, 1966: 205, 389-391).

    O mtodo local e as teorias aplicadas realidade local

    Uma das histrias chine sas mais influentes, oShih chi(Registros His-tricos) de Ssu-ma Chien (145? 86? a. C.), baseia-se em uma historiografiamarcadamente distinta das histrias ocidentais (Hardy: 1994). Ao descobrirque antigas histrias eram inadequadas tarefa de escrever uma histriacompreensiva do mundo, Ssu-ma Chien desenvolveu um novo mtodo quedividia o passado em cinco sesses:

    1) Doze Anais, que registravam os reinos e dinastias e seusgovernantes; 2) Dez Quadros, que correspondiam a eventos de uma crono-

    logia nica; 3) Oito Tratados, que ofereciam relatos de aspectos especficosda economia, sociedade e cultura; 4) Trinta Casas Dinsticas, que proviamrelatos da ascenso e queda de grandes famlias e de suasfiefs;75) Se tentaBiografias, que discutiam a histria de indivduos conectados por circuns-tncias histricas, conexes familiares, ocupaes, geografia etc. (Hardy,1994: 21-22).

    De fato, oShih chino atende a quatro dos requerimentos bsicos da his-toriografia ocidental. Primeiramente, percebe-se a falta de unidade da voz narra-tiva. H um importante gradiente de variaes em cada captulo e a ausncia deuma voz nica reconstruindo a histria. Em segun do lugar, no h coernciaconsistente entre as narrativas. Em algumas sesses falta at mesmo uma estru-tura narrativa clara, com comeo-meio-fim, que conferisse inteligibilidade dian -te da multiplicidade e do caos de fatos. Terceiro: no h uma narrativa unificada.Para acompanhar , por exemplo, qualquer evento histrico em particular, os lei-

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    tores precisam remeter-se a diversos captulos e, assim, acessar os relatos rele-vantes. Quarto: h uma falta de consistncia nas narraes. H mltiplas narra -tivas da mesma histria que, frequentemente, se contradizem mutuamente, re -sultando em diferentes verses do mesmo evento (Hardy, 1994: 24-25). Seria v-

    lido apresentar verses competiti vas dentro de um mesmo relato histrico, comoSsu-ma Chien parece fazer? Ou deveramos nos esforar por oferecer uma apre-sentao verdadeira do passado como na tradio ocidental? Penso que no estouem posio de res ponder a essa indagao. O ponto, contudo, , como notaHardy, queShih chino apenas um desafio, mas um contra-exemplo da histori-ografia ocidental (Hardy, 1994: 35).

    Outro exemplo, desta vez terico, seria o conceito de redes graduadas,de Hsiao-tung, desenvolvido para explicar a prevalncia do egosmo entre oscamponeses da China pr-revolucionria (Lee, 1992: 84). De fato, essa ideia seriamuito importante ao considerarmos que as teorias sociais chinesas diferem sig-nificativamente das teorias sociais ocidentais, j que no se baseiam em uma di-cotomia tradicional-moderno. A ausncia de tal dicotomia foi a base para a visode que o desenvolvimento industrial da China moderna assentava-se nas empre-sas individuais, encontradas em milhes de vilas, e que essa industrializaodeva ser descentralizada em reas rurais, ao invs de concentrada em centros ur -banos (Gan, 1994).

    Consideremos tambm o exemplo do conceito demin-joong. Esse umtermo que guarda certa semelhana com o conceito gramisciano de subalter-no. Os trabalhos de intelectuais do ps-colonialismo, tal como exemplificado

    no trabalho dos intelectuais dos chamados estudos subalternos,8

    partem de umdiscurso modernizador naquilo que consideram como o desafio de reverter com-preenses elitistas da historiografia e substitu-las por perspectivas subalternas(Prakash, 1992: 8). Ao faz-lo, localizam a ao da mudana no insur gente ousubalterno (Spivak, 1987: 197). Similarmente,min-joongrefere-se queles queso politicamente oprimidos, eco nomicamente explorados e contra os quais pesadiscriminao social (Han, 1992: 439). Esse grupo no corresponde exatamenteao proletariado, j que inclui membros da classe mdia que so vitimados de v-rias formas e que se identificam com as massas (Han, 1996).

    Outro exemplo de teorias derivadas de tradies locais vem dos estu-

    dos de comunicao na sia. Intelectuais chineses, japoneses e coreanos tmolhado para conceitos indgenas comobao(reciprocidade, em chins),bian(mudana, em chins),guanxi(inter-relao, em chins),ke qi(po li dez, em chi-ns),miantz(face, em chins),amae(expanso da mensagem e das necessidadesde aceitao da mensagem, em japons),enryo-sasshi(formas de comunicaointerpessoal, em japons),en(relao predestinada, em japons),omoiyari(sen-

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    sibilidade altrustica, em japons) e uye-ri (reciprocidade complementar ouobrigatria, em coreano) (Chen, 2006: 8).

    Nesse aspecto, seria importante reconhecer as fontes de teorias e concei -tos de dentro do domnio das experincias histricas e das prticas culturais lo-

    cais. importante aqui, ademais, atentar para a distino feita por KimKyong-Dong no contexto das cincias sociais coreanas entre a tradio clssica(confucionismo, filosofia etc.) e o mundo do discurso popular, distino que su-gere duas vias.9Exemplos da utilizao do primeiro como um recurso para a teo-rizao estariam na dialticaying-yang(Kim, 1994a) e no desen volvimento deum modo de anli se cr tico da ti ca confucionista (Kim, 1996, 1994b).

    Kim fez uma importante contribuio ao ultrapassar o uso do confucio-nis mo como um tema de es tudos para con siderar o con fucionismo como um arti-fcio de conceitualizao. Ele se refere, por exemplo, ao uso consciente e incons -ciente de elementos confucionistas de construo do Estado pela elite governan -

    te para a racionalizao da prtica de governo centralizada e autoritria. Simulta-neamente, Kim tambm usa o enquadramento geral de anlise baseado na ideiada dialticaying-yang. Nesse enquadramento, democratizao e liberalizao sovistas como termos de uma interao dialtica entre foras que tentaram reter opoder de monopolizar a tomada de decises e influenciar outros e foras que ten-tam mudar a distribuio de poder e influencia a vi gente (Kim, 1991: 138). Odesafio aqui seria desenvolver um modo de anlise dialtico que seja diferentedos existentes.

    O mundo do discurso popular como um recurso para as teorias sociais econceitos cientficos remete a ditados e terminologias do discurso popular e dalinguagem cotidiana que no apenas refletem a herana cultural, mas tambm aspercepes culturais de fenmenos sociais particulares (Kim, 1995: 173). Umexem plo do tra balho feito por Kim nes sadmarche o estudo de imagens cultura-is do ser velho e da velhice na Coreia, ten do como re ferncia provrbios e ditoscoreanos (Kim, 1995).

    Nesse ponto importante afirmar que a gerao de teorias e conceitos apartir de culturas e prticas locais deve ser considerada como uma contribuiopara a cin cia so cial univer sal. Como explicado por Chen (2008: 13-14), essesconceitos so simultaneamente micos e ticos. Muitos fenmenos nas cinciassociais requerem uma conceituao mica, devido maneira particularista na

    qual so expressos e experimentados. Contudo, devido sua universalidade, hainda um nvel no qual esses conceitos so ticos. O conceito de face, por exem-plo, existe em todas as sociedades. Pesquisas mostram que o significado de face eas regras que determinam seu comportamento diferem de cultura para cultura.Nesse nvel o conceito de face mi co. Entretan to a pes quisa tambm mostraque a face ocupa o mesmo papel em todas as culturas. Esse o nvel no qual a face

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    um con ceito tico (Chen, 2008: 14). Na medida em que a pes qui sa com con cei-tos micos enriquece nossa compreenso do tico, e que h um relacionamentodialtico e dialgico entre os dois (Chen, 2008: 19), a contribuio se d pela uni-versalizao dos conceitos.

    Aplicao de uma teoria ocidental e no-ocidentala uma realidade local

    Um exemplo disso a aplicao da teoria histrica da formao do Esta-do de Ibn Khaldn, que incorpora conceitos e teorias da cincia social ocidental.Ibn Khaldn estudou a formao e o declnio dos Estados norte-africanos, paraos quais desenvolveu uma teoria original. Depois de observar as diferenas naorganizao social das sociedades nmades (mrn ) e das sedentrias(mrn), depreendeu a evoluo natural da civilizao nmade para a civi-lizao sedentria, visto que a cultura sedentria o objetivo da vida beduna eo objetivo da civilizao uma cultura sedentria e refinada (1378/1981:371[1967, vol 2: 291]).10Fundamental para essa teoria o conceito de asabiyyahousentimento de grupo. Somente uma sociedade com forte asabiyyahpoderia do -minar ou tras (1378/1981:139, 154 [1967, Vol.1:284, 313]). Aqui, asabiyyahre fe-re-se ao sentimento de solidariedade entre os membros de um grupo que deri-vado do conhecimento de que eles compartilham uma mesma descendncia.Alm da descendncia, contudo, h outras consideraes. Considerando que osbedunos possuam asabiyyahsuperior, eles poderiam superar os grupos seden-

    trios e estabelecer suas prprias dinastias. Uma vez que eles se tornaram partede populaes assentadas e vivendo em reas urbanas, cresceram acostumadosaos modos de vida urbana e gradualmente experimentaram uma eroso de sua`asabiyyah. Isso, por sua vez, afetou sua fora militar e sua habilidade de gover-nar. Sua posio enfraquecida significou que eles eram vulnerveis a ataques denovos grupos pr-urbanos de bedunos, dotados de uma asabiyyahrelativamen-te mais forte.

    Em um trabalho anterior sobre Ibn Khaldn, indiquei um caminhopara a integrao de uma perspectiva de modo de produ o na teoria khaldnia-na sobre a formao do Estado, consideran do, como campo de aplicao, a hist-

    ria iraniana. Enquanto o sistema econmico safvida do Ir foi lido em ter mos deconceitos marxistas, suas dinmicas tm sido descritas nos termos das teorias so-bre formao do Estado desenvolvidas por Ibn Khaldn. A economia polticasafvida pode ser caracterizada em termos de um modo de produo tributriocomo o dominante em um sistema-mundo secundrio baseado no Estado. O tra-balho de Ibn Khaldn oferece um quadro terico mediante o qual po demos

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    compreender o surgimento e as dinmicas do imprio global dos Safvidas (Ala-tas, 1993b).

    Aplicao de teorias locais e ocidentais a realidades locais

    Contudo, as aplicaes da teoria de Ibn Khaldn no deveriam estarconfinadas a sociedades rabes, norte-africanas ou da sia ocidental. As dinmi-cas de formao e declnio do Estado elaboradas dentro dos quadros desse modode produo khaldniano podem tambm ser reconsideradas em termos de en -quadramentos de tempos histricos daquilo que Turchin denomina de ciclo deIbn Khaldn (Tur chin, 2003: 173-196; Tur chin & Hall, 2003), e aplica das his -tria da China e da sia Central. Essa uma onda secular que tende a afetar associedades com elites originadas de grupos nmades adjacentes e que opera em

    uma escala de tempo de aproximadamente quatro geraes ou um sculo (Tur-chin & Hall, 2003: 53). Eles discutem quatro dinastias Chinggisid que se enqua-dram na teoria khaldniana de ascenses e quedas cclicas de Estados: a dinastiaYuan da China, os Jagatai do Turquesto, os Il-Khans do Ir, e os Juchids das es-tepes de Kipchak. Todas essas dinastias passaram pelo ciclos khaldnnianos t-picos, de aproximadamente cem anos.

    Aplicao de teorias no-ocidentais a realidades locais

    Outro nvel de alternatividade refere-se aplicao de ideias geradas emuma sociedade no-ocidental e aplicadas a outra sociedade no-ocidental. Umexemplo o esforo do socilogo indiano Benoy Kumar Sarkar, que rejeita a di-cotomia estereotipada sobre as religies chinesas e indianas em favor da ideia deuma unidade asitica das religies. Esse era o tpico de sua pesquisa em ChineseReligion through Hindu Eyes. De acor do com a di cotomia,

    [...] a engenhosidade da raa hindu essencialmentemetafsica e no-secular, [enquanto] os chineses so uma nao alta-

    mente pragmtica, sem nenhum impulso transcendental. Os povos dandia so acusados de cultivarem exclusivamente as ideias e sentimen -tos ba seados em con ceitos do Eter no, Infinito e do Devir; por outrolado, para o povo chins, o valor da moralidade obscureceu completa-mente as demandas de crena; obrigaes com os vizinhos substiturama precedncia de obrigaes em relao a Deus (Sarkar, 1916/1988: 1).

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    Sarkar prope o estudo sistemtico da sociologia asitica que envolveriao estudo histrico e comparado do budismo sino-japons e do hindusmo mo -der no com o intuito de pro var a hiptese de que os budismos na China e no Japoso variedades da mesma f, conhecida como hindusmo tntrico e purnico

    (Sarkar, 1988 [1916]: 304).

    Teoria universal desenvolvida localmente

    O nvel mais alto de alternatividade e universalidade refere-se aplica-o de teorias geradas localmente, integradas tanto a teorias no-ocidentaisquanto a ocidentais, para realidades locais e extra-locais. Um exemplo disso ateoria khaldniana. Do ponto de vista da sia Oriental, contudo, a teoriakhaldniana um exemplo de teoria no-ocidental integrada teoria ocidental,tendo aplicao possvel realidade local. E como poderamos considerar as teo-rias originadas na sia, no Extremo Oriente ou na China, que possuem, de fato, opotencial para aplicao universal? J mencionamos acima a histria de Ssu-maChien. Nesse exemplo, o mtodo dos estudos histricos que foi confinado Chi-na tambm poderia ser aplicado ao estudo de outras histrias. Outro exemploimportante de teorias potencialmente universais que emergiram de contextoslocais vem do pensador filipino do sculo XIX, Jos Rizal.

    Jos Rizal (1861-1896) foi um pensador que teorizou o desenvolvimentosocial e poltico de uma forma original, no realizada, anteriormente, por seuspares ocidentais. Ainda que tenha vivido durante o perodo de formao do Oci-dente e, particularmente, das cincias sociais europeias, Rizal desenvolveu umaperspectiva muito singular na apreciao da dimenso colonial na modernizaoda sociedade filipina do sculo XIX. Ele foi original ao considerar tanto os pro -blemas que levanta, como no tratamento dado a eles. Um caso em particular seutratamento da questo da indolncia dos filipinos. Ainda que no fosse um so-cilogo tout court, Rizal conseguiu construir uma teoria sociolgica atravs deseus trabalhos, que consistiria em trs reas. Primeiro, investe em uma crticaacerca da construo colonial espanhola da sociedade e da histria filipinas. Pos-teriormente, numa teoria da natureza e das condies da sociedade colonial. Fi-

    nalmente, discute o significado e as necessidades da emancipao. No pensa -mento de Rizal, o corrupto governo colonial espanhol e seus oficiais oprimem eexploram os filipinos, enquanto imputam o atraso das Filipinas alegada pre-guia de seu povo. Contudo, o projeto de Rizal era mostrar que os filipinos eram,de fato, uma sociedade relativamente avanada nos tempos pr-coloniais e queseu atraso era um produto do colonialismo.11

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    Concluso

    Identificar o anseio por discursos alternativos nas cincias sociais asiti-cas no significa sugerir que a sia seja uma entidade culturalmente homognea

    e que possa haver um ramo peculiar das cincias sociais na sia. O que isso suge-re, contudo, que as cincias sociais, tanto quan to outras formas de conhecimen-to, so sociais e histricas por natureza. Sugere, ademais, que as cincias sociaisproduzidas em muitas sociedades da sia devem se tornar relevantes para reali-dades histricas e sociais (Lee, 1996). Uma forma desse projeto ser atingido seriarecorrer tanto s tradies filosficas quanto aos discursos populares dessassociedades para desenvolver teorias e conceitos cientficos relevantes e originaispara as cincias sociais.

    Isso faz parte de um esforo para criar uma cincia social livre da depen-dncia cultural e do etnocentrismo e que seja verdadeiramente universal (Kim,

    1996). O objetivo, portanto, no o de substituir o eurocentrismo por outra cinciasocial igualmente etnocntrica. O pressuposto de que existam conceitos e teoriasaplicveis somente ao fenmeno asitico implica que asiticos e no-asiticos fos-sem to diferentes uns dos outros que demandariam universos tericos separadospara explic-los. Como ressalta Kuo, tal argumento resultaria em pesquisadorescolocando-se no mesmo dilema no qual eles colocaram os intelectuais europeus(Kuo, 2008: 9).

    Tambm necessrio evitar, na crtica s cincias sociais tal como confi -guradas no Ocidente, homogeneizar o pensamento ocidental.12Conforme Bura-woy observou, h paralelos entre tradies no pensamento ocidental e as alterna-

    tivas que vm sendo propostas no Sul. Por exemplo, a teoria crtica feminista e ade raa poderiam ser consideradas uma forma de discurso alternativo tantoquanto os escritos de Ibn Khaldn ou Jos Rizal.

    Por vrios anos, compartilhei, com a colega Vineeta Sinha, a docncia deuma disciplina de sociologia clssica, no Departamento de Sociologia da Uni-versidade Nacional de Cingapura. O programa desse curso refletia sobre o reco-nhecimento do problema tanto do eurocentrismo quanto do androcentrismonas rotinas de ensino das cincias sociais. Um dos motes do curso era mostrar aosestudantes que, alm dos homens brancos europeus como Marx, Weber eDurkheim havia tambm mulheres brancas europeias, alm de homens e mu-

    lheres no-europeus e no-brancos que, no sculo XIX, teorizaram sobre a natu-reza das sociedades modernas emergentes (Alatas & Sinha, 2001).13

    De fato, lecionar essa disciplina terminou sendo a base para o reconheci-mento de que h tradies alternativas aomainstreamden tro do prprio Ociden -te. Alm disso, apontamos para nossos estudantes, ao lon go dos anos, que o Oci -dente no deveria ser compreendido em um sentido ocidentalista, mas apenas

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    como uma categoria oportuna para referir-se ao ncleo duro das cincias sociaisdas potncias centrais, como os Estados Unidos, Gr-Bretanha e Frana (Alatas,2006: 39, nota 1).

    Os problemas estruturais que dificultam o esforo de criar discursos al-

    ternativos e tradies autnomas em cincias sociais ou seja, contrapor a de-pendncia acadmica tm sido discutidos tendo a nao com a unidade da an-lise. Isso posto, Burawoy pergunta qual a base de crtica e o fundamento socialque os discursos alternativos teriam. Minha resposta ime diata que fundamentosocial to nacional como transnacional. A luta por discursos alternativos estprecisamente na tenso entre a necessidade de ser relevante diante de condieslocais, nacionais ou regionais, por um lado, e o desejo de produzir ideiasuniversais, por outro.

    Tambm necessrio evitar uma viso homogeneizadora das cinciassociais. Como apontado por Burawoy, h diferenas entre as cincias sociais em

    termos da na ture za de seu al cance imperial. Pode-se di zer que a economia e acincia poltica so mais imperialistas, enquanto a antropologia e a sociologia somais sensveis ao problema da irrelevncia.

    Finalmente, deve ser ressaltada a necessidade de evitar o problema doauto-orientalismo (Lie, 2001: 256-257). O perigo de se passar do reconhecimen -to da especificidade cultural do fenmeno social para a negao da possibilidadede conceitos universais devido internalizao de vises orientalistas por inte-lectuais do chamado Oriente. A viso da singularidade do Oriente to difundi-da que omainstreamdas cincias sociais torna-se irrelevante, configurando umareao extrema ao problema do orientalismo. A trans for ma o do ponto de vis ta

    do nativo em um critrio de julgamento de tal modo que o co nhe cimento oci-dental rejeitado no na base de sua utilidade, fora ou preciso, mas por suasorigens culturais ou nacionais (Alatas, 2006: 110) um aspecto do problema donativismo.

    Notas

    1.N. do T.: O deba te sobre the indigeni-zation of social sciences surgiu nos anos1980, principalmente a partir do trabalhode intelectuais africanos e asiticos quebuscavam construir teoria sociolgica a

    partir das crenas e formas de vida de gru-pos sociais no-ocidentais. Tal debate nodeve ser confundido com estudos sobrepopulaes originrias do territrio brasi-leiro, conhecidas de forma genrica no

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    senso comum como indgenas, emborahaja espao para este dilogo. Para uma re-ferncia da discusso, ver o artigo do soci-logo Akinsola Akiwowo (1999).

    2.N. do T.: Farid Alatas refere-se ao con-ceito de sinicization. Neste caso, opta-mos por uma traduo literal para facilitara leitura.

    3. O comeo do movimento de sinicizaonas cincias sociais taiwanesas foi marcadopela realizao de uma conferncia em1982. Cf. Yan e Wen (1982) e Sun (1993).

    4. Agradeo ao Dr. Hsu por traduziralgumas passagens do artigo para mim.

    5. Isso ocorreu em 16 de dezembro de 1995.

    Entendo que a partir do nmero 19, oChinese Journal of Sociology ser conhecidocomo Taiwanese Journal of Sociology(comunicao do dr. Michael Hsiao Hsin-Huang.

    6.Agradeo muito a Kwon Eun-Young pe-la traduo dessa e de outras passagens docoreano.

    7. N. do T.: Fief (ou fee, feoff, fiefdom)sistema feudal medieval correspondia aformas de contraprestao dadas por um

    suserano em retribuio pela lealdade dovassalo. Geralmente tinham a forma deglebas de terra, mas podiam correspondertambm a ttulos de nobreza, a um direitode explorao (de caa ou pesca, por exem -plo), qualquer coisa de valor doada por umsenhor.

    8. N. do T. Os estudos subalternos foramuma corrente historiogrfica indiana cujofoco recaa na leitura e na observao doconceito gramsciano de subalternidadee sua aplicabilidade s sociedades do

    Sudeste asitico. Sua principal preocu-pao era restituir, em dois nveis, a voz degrupos subalternos que haviam sido tra-

    dicionalmente excludos das narrativas daconstruo da nao e da mem ria nacio-nal indiana: como personagens histricosrelevantes e como temas da historiografiado subcontinente. O grupo editou uma re-

    vista homnima intitulada The SubalternStudies, que lanou 12 nmeros entre 1982e 2005. O auge dessa es cola deu-se nos anos1980, quando logrou construir fortes inter -locues com omainstreamacadmico in-ternacional. Muitos de seus autores dis-persaram-se em universidades norte-ame-ricanas e europeias ao longo dos anos,mantendo, entretanto, vnculos de pes-quisa e relaes intelectuais com a acade-mia indiana. As discusses tericas inspi-raram a releitura de vrias historiografiasde academias perifricas e so conside-radas uma das mais importantes contri-buies ao campo dos estudos ps-colo-niais.

    9. Kim Kyong-Dong, 21 de junho de 1996(comunicao oral em conferncia) e Kim:1996a.

    10.O nmero de pginas entre parntesesrefere-se traduo em ingls de Ro-senthal para Muqaddimah, de IbnKhaldn.

    11. Para uma discusso acerca da socio-logia de Rizal, ver Alatas (2010) e tambmRizal (1963a; 1963b; 1963c).

    12.O que se segue so respostas aos co -mentrios feitos por Michael Burawoysobre meu Alternati veDiscourses in Asian

    Social Science (Alatas, 2006) comuni-cao pessoal, 9 de janeiro de 2009.

    13. Nesse trabalho discutimos a expe-rincia dessa disciplina, concentrando-nos no contexto eurocntrico. O curso

    focava o pensamento social de HarrietMartineau, Karl Marx, Max Weber, EmileDurkheim e Jos Rizal.

    Syed Farid Alatas

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    A definio e os tipos de discursos alternativos

    Est. Hist., Rio de Janeiro, vol. 23, n. 46, p. 225-245, julho-dezembro de 2010.

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    ResumoO artigo parte do problema da dependncia acadmica e a forma como issoafeta as Cincias Sociais de maneira universal. Farid Alatas indica que osacadmicos pouco podem fazer a respeito das dimenses estruturais e

    materiais dessa dependncia, pois no esto no comando das instituies e doEstado. Contudo, sugere que h muito a fazer nos nveis intelectual e terico.O artigo apresenta o conceito dediscursos alternativoscomo fonte para umacincia social autnoma e criativa. Estes discursos acreditam-se alternativosao que consideram ser o carter orientalista ou eurocntrico das cinciassociais do Norte, das quais a estrutura das cincias sociais do Sul de pen dente. O ar tigo fornece exem plos do que podem ser consideradosdiscursos alternativos, levando em conta outras modalidades de narrativa eimaginao da vida social.Palavras-chave:discursos alternativos; teoria social; eurocentrismo.

    AbstractThe ar ticle departs from the problem of aca demic dependency and how doesit affect social sciences globally. Farid Alatas suggests that scholars cannot domuch at the structural or material level of academic dependency as they areneither in charge of institutions nor the state. However, there is more that canbe done at the intellectual or theoretical level. The article presents theconcept ofalternative discoursesas source for a creative and autonomous socialscience. These are discourses that present themselves as alternatives to whatthey regard as the Orientalist or Eurocentric social sciences of the North onwhich the Southern social sciences are dependent. Exam ples of what may beconsidered as alternative discourses are provided, taking into account othertypes of narrative and imagination of social life.Key words: alternative discourses; social theory; Eurocentrism.

    RsumLarticle a comme point de dpart la dpendance acadmique et la faoncomment cela affecte universellement les sciences sociales. Farid Alatassignale que les acadmiciens ne peuvent presque rien faire par rapport aux

    dimensions structurelles et matrielles de cette dpendance, puisquils ne sontpas aux commandement des institutions dtat. Par contre, il sugre quil y abeaucoup faire aux niveaux intellectuel et torique. Larticle prsente leconcept dediscours alternatifscomme source pour une science socialeautonome et crative. Ces discours se croient alternatifs par rapport ce quils

    Syed Farid Alatas

    244 Est. Hist., Rio de Janeiro, vol. 23, n. 46, p. 225-245, julho-dezembro de 2010.

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    considrent tre le caracter orientaliste, ou eurocentrique, des sciencessociales du Nord, desquelles la structure des sciences sociales du Sud estd pen dan te. Larticle fournit des exemples de ce qui peut tre considerdiscours alternatif, considrant dautres modalits de narration et imagination

    de la vie sociale.Mots-cls:discours alternatifs; torie sociale; eurocentrisme.

    A definio e os tipos de discursos alternativos