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PLANO DE MANEJO DA ARARA-AZUL-DE-LEAR (Anodorhynchus leari)

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PLANO DE MANEJO DA

ARARA-AZUL-DE-LEAR

(Anodorhynchus leari)

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© IBAMA 2006. O material contido nesta publicação não pode ser reproduzido, guardado pelo sistema “retrieval” ou transmitido dequalquer modo ou por qualquer outro meio, seja eletrônico, mecânico, de fotocópia, de gravação ou outros, sem a prévia autorização,por escrito, do Coordenador da Coordenação de Proteção de Espécies da Fauna.

© dos autores 2006. Os direitos autorais das fotografias contidas nesta publicação são de propriedade de seus fotógrafos.

EdiçãoINSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS

Centro Nacional de Informação, Tecnologias Ambientais e EditoraçãoEdições Ibama

SCEN, Trecho 2, Bloco B, Edifício-sede do IbamaCEP 70818-900 – Brasília-DF

Tel.: (61) [email protected]

Diretoria de Fauna e Recursos PesqueirosCoordenação-Geral de Fauna

Coordenação de Proteção de Espécies da FaunaSCEN, Trecho 2, Bloco A, Edifício-sede do Ibama

70.818-900 – Brasília, DF – [email protected]

http://ibama.gov.br

Cemave/Ibama (Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação das Aves Silvestres)Floresta Nacional da Restinga de Cabedelo

BR-230, Km 10Mata da Amem

58.310-000 – Cabedelo – ParaíbaTel.: 83 3245-5001

[email protected]/cemave

COLABORADORProaves (Associação Brasileira para a Conservação das Aves)

Sede – SCLN 315, Bl. B, Sala 21170774-520 – Brasília – DF

Tel.: 61 3273.0959Escritório Regional de São Paulo

R. Lacedemônia, 34904634-020 – São Paulo – SP

Tel: 11 [email protected]

www.proaves.org.br

República Federativa do BrasilPresidente

LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA

Vice-PresidenteJOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA

Ministério do Meio Ambiente

MinistraMARINA SILVA

Secretário-ExecutivoCLÁUDIO ROBERTO BERTOLDO LANGONE

Secretário de Biodiversidade e FlorestasJOÃO PAULO RIBEIRO CAPOBIANCO

Diretor do Programa Nacional de Conservação daBiodiversidadePAULO YOSHIO KAGEYAMA

Gerente da Gerência de Recursos GenéticosLÍDIO CORADIN

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais RenováveisPresidenteMARCUS LUIZ BARROSO BARROS

Diretor de Fauna e Recursos PesqueirosRÔMULO JOSÉ FERNANDES BARRETO MELLO

Coordenador-Geral de FaunaRICARDO JOSÉ SOAVINSKI

Coordenador de Proteção de Espécies da FaunaONILDO JOÃO MARINI-FILHO

Chefe do Centro Nacional de Pesquisa para a Conservaçãodas Aves SilvestresJOÃO LUIZ XAVIER DO NASCIMENTO

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Brasília, 2006

Série Espécies Ameaçadas – nº 4

Yara de Melo Barros (Ibama)Simone Fraga Tenório Pereira Linares (Proaves)

Antônio Emanuel Barreto Alves de Sousa (Cemave/Ibama)Joaquim Rocha dos Santos Neto (Cemave/Ibama)

Pedro Scherer Neto (Museu de História Natural Capão da Imbuia)Carlos Abs Bianchi (Ibama)

Onildo João Marini-Filho (Ibama)João Luiz Xavier do Nascimento (Cemave/Ibama)

ColaboraçãoAndrei Langeloh Roos (Cemave/Ibama)

Comitê Internacional para Conservação e Manejo da Arara-Azul-de-LearCristina Yumi Miyaki (USP - SP)

Don Brightsmith (Texas A&M University)Gláucia Moreira (Fundação Biodiversitas)Kilma Manso da Rocha (Polícia Federal)

Maria Flávia Conti Nunes (Cemave/Ibama)Mieko Ferreira Kanegae (Cemave/Ibama)

PLANO DE MANEJO DA

ARARA-AZUL-DE-LEAR

(Anodorhynchus leari)

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P699 Plano de manejo da arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) /Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos NaturaisRenováveis, Coordenação de Espécies da Fauna. – Brasília:Ibama, 2006.

78 p. ; il. color. : 29 cm. (Série Espécies Ameaçadas, 4)

ISBN 85-7300-

1. Plano (Planejamento). 2. Aves. 3. Ornitologia. 4. Extinção.5. Espécies. I. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dosRecursos Naturais Renováveis. II. Coordenação de Proteçãode Espécies da Fauna – COFAU. XI. Título. XII. Série.

CDU (2.ed.)598.2

Catalogação na FonteInstituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Coordenação das Edições IbamaCleide Passos

Coordenação técnica da Série Espécies AmeaçadasOnildo Marini Filho

Revisão técnica do documentoComitê Internacional para Conservação e Manejo da Arara-Azul-de-Lear

Revisão de textoMaria José Teixeira (Edições Ibama)

Compilação, organização e revisão finalYara de Melo Barros

Normalização bibliográficaHelionidia C. Oliveira

Capa/projeto gráfico e diagramaçãoPaulo Luna

Ilustração da capaMarcos Antônio Santos-Silva, Dr. rer. [email protected]

MapasNoêmia Regina Santos do NascimentoElaborados nas dependências do Centro de Sensoriamento Remoto-CSR/Ibama

Pedidos de exemplares deste documento, dúvidas e sugestões devem ser encaminhados para:Onildo João Marini-Filho ([email protected])

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

Agradecimentos

Agradecemos aos membros doComitê Internacional para Conservação eManejo da Arara-Azul-de-Lear pela revisãodo documento, ao pesquisador Nigel Collar(BirdLife International) pelas discussões evaliosos comentários e ao David Waugh, daFundação Loro Parque, pela revisão dodocumento em inglês.

A equipe de campo do Programade Conservação da Arara-Azul-de-Lear(Cemave-Ibama/Proaves) agradece o carinhoe apoio de diferentes setores da sociedade,que direta ou indiretamente têm colaboradona luta pela sobrevivência desta espécie:Câmara Municipal de Jeremoabo, EscritórioRegional do Ibama em Juazeiro e em PauloAfonso, escolas nos municípios deJeremoabo, Canudos e Euclides da Cunha,Escola Estadual Agrotécnica de Jeremoabo,Estação Ecológica do Raso da Catarina,Exército Brasileiro, fábrica de rações paraaves Trill, Fazenda Santana, Fazenda SerraBranca, Fundação Biodiversitas, FundaçãoBio Brasil, Fundação Garcia D’Ávila,Gerências Executivas do Ibama na Bahia,Pernambuco e em Sergipe, Joca Informática,Prefeitura Municipal de Jeremoabo, PNUD(Programa das Nações Unidas para oDesenvolvimento), Rádio Vaza-Barris,Restaurante Zé de Raul, Mercearia AntônioLima, Parrots International, Fundação

Lymington, Posto Pé de Serra, Posto Paloma,Programa de Erradicação do Trabalho Infantil– Peti/Jeremoabo, Universidade do Estado daBahia – Uneb/Paulo Afonso e a todos aquelesque trabalham como voluntários ecolaboradores, principalmente os moradoresdas cidades de Jeremoabo e Canudos.

Ao João Cláudio de Castro Araújo,primeiro biólogo de campo do Projeto Arara-Azul-de-Lear, que trabalhando no início doprojeto, em condições muito difíceis, obtevedados importantes sobre a espécie, nossoespecial agradecimento.

Agradecemos especialmente ao Sr.Moacir de Jesus (in memorian) pelos anos dededicação e serviços prestados em prol daarara-azul-de-lear na Fazenda Serra Branca,em Jeremoabo.

Agradecemos a cooperação e oempenho dos mantenedores de araras-azuis-de-lear integrados ao Programa de Cativeiro:Fundação Parque Zoológico de São Paulo,Fundação Riozoo, Fundação Lymington, CraxSociedade de Pesquisa em Vida Silvestre e AlWabra Wildlife Preservation.

Agradecemos ao Fundo Nacional doMeio Ambiente pelo financiamentoconcedido ao Programa de Conservação daArara-Azul-de-Lear e à Fundação Loro Parquepelo financiamento de diversas atividadesdeste Programa em 2006.

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

Sumário

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1113141719

23

27

272831

33

35363737394040434446475052535456575960

Lista de siglas e abreviaçõesLista de figurasMembros do Comitê Internacional para Conservação e Manejo da Arara-Azul-de-LearAnodorhynchus leariApresentação

PARTE 1 – INFORMAÇÕES GERAIS

1. Introdução

2. Informações sobre a espécie2.1 Morfologia2.2 Distribuição e habitat

2.2.1 Uso e ocupação do solo2.2.2 Terras indígenas

2.3 Alimentação2.4 Deslocamentos e dormitórios

2.5 Reprodução

3. Status3.1 Natureza3.2 Cativeiro

4. Ameaças e fatores limitantes4.1 Captura4.2 Perda de habitat4.3 Caça

5. Conservação5.1 Envolvimento governamental5.2 Áreas protegidas5.3 Conservação in situ5.4 O Programa de Cativeiro

PARTE 2 – PLANO DE CONSERVAÇÃO

Objetivos

Objetivos específicos1. Proteção da espécie e seu habitat2. Políticas públicas, legislação e envolvimento governamental3. Pesquisa in situ

3.1 Reprodução, genética e doenças

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

3.2 Status populacional3.3 Alimentação3.4 Deslocamentos3.5 Ameaças3.6 Reintrodução

4. Pesquisa ex situ5. Conscientização pública6. Colaboração e divulgação7. Referências bibliográficas

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

Lista de siglas e abreviaturas

Arie Área de Relevante Interesse EcológicoCBSG Grupo de Especialistas em Reprodução em Cativeiro/IUCNCGFAU Coordenação-Geral de Fauna/IbamaCGFIS Coordenação-Geral de Fiscalização/IbamaCGUC Coordenação-Geral de Unidades de Conservação/IbamaCemave Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação das Aves Silvestres/IbamaCites Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna

Selvagens em Perigo de ExtinçãoCofau Coordenação de Proteção de Espécies da Fauna/IbamaDipro Diretoria de Proteção Ambiental/IbamaDirec Diretoria de EcossistemasEmater Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da BahiaEmbrapa Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaEsec Estação EcológicaFNMA Fundo Nacional do Meio AmbienteFunai Fundação Nacional do ÍndioGerex Gerência Executiva/IbamaIbama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenováveisIUCN União para a Conservação MundialMapa Ministério da Agricultura, Agropecuária e AbastecimentoMMA Ministério do Meio AmbienteMRE Ministério das Relações ExterioresOSU Universidade Estadual do OregonProaves Associação Brasileira para a Conservação das AvesRPPN Reserva Particular de Patrimônio NaturalSnuc Sistema Nacional de Unidades de ConservaçãoUC Unidade de ConservaçãoUFF Universidade Federal FluminenseUSP Universidade de São Paulo

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

Lista de figuras

Figura 1 – Arara-azul-de-lear. Foto: Mark L. Stafford (www.parrotsinternational.org).Figura 2 (A e B) – Habitat da arara-azul-de-lear. Fotos: Programa de Conservação da Arara-

Azul-de-Lear.Figura 3 (A e B) – Mapa de distribuição da arara-azul-de-lear.Figura 4 – Licuri Syagrus coronata. Foto: Programa de Conservação da Arara-Azul-

de-Lear.Figura 5 – Cocos de licuri: a) frutos inteiros; b) frutos cortados transversalmente; c)

frutos perfurados. Fotos a e c: Programa de Conservação da Arara-Azul-de-Lear; Foto b: Luciano Moreira Lima.

Figura 6 – Araras-azuis-de-lear alimentando-se em licurizeiro. Foto: Mark Stafford(www.parrotsinternational .org).

Figura 7 – Arara-azul-de-lear voando com cocos de licuri no bico. Foto: Mark Stafford(www.parrotsinternational .org).

Figura 8 – Araras-azuis-de-lear alimentando-se de cocos de licuri, no chão. Foto:Adriano Paiva.

Figura 9 – Toca Velha, município de Canudos. Foto: Yara Barros.Figura 10 – Serra Branca, município de Jeremoabo. Foto: Yara Barros.Figura 11 – Ninho de araras-azuis-de-lear, em paredões. Foto: Pedro Lima.Figura 12 – Flutuação do tamanho populacional registrado entre 1979 e 2006.Figura 13 – Plantação de milho atacada por araras-azuis-de-lear. Foto: Monalyssa

Camandaroba.Figura 14 – Equipe do Programa de Conservação da Arara-Azul-de-Lear realizando

avaliação das perdas em plantações de milho. Foto: Joaquim Rocha dosSantos Neto.

Figura 15 – Arara-azul-de-lear alimentando-se de espiga de milho em árvore próximaao milharal. Foto: Pedro Lima.

Figura 16 (A e B) – Ressarcimento de produtores que perderam a produção devido a ataquesde araras. Foto: Monalyssa Camandaroba.

Figura 17 – a) base de pesquisa do Cemave/Ibama em Jeremoabo, Bahia; b) base decampo na Fazenda Serra Branca em Jeremoabo. Fotos: Joaquim Rocha dos Santos

Neto.Figura 18 – Pesquisadores do Programa de Conservação da Arara-Azul-de-Lear

realizando censos simultâneos nos dormitórios de araras-azuis-de-lear.Foto: Programa de Conservação da Arara-Azul-de-Lear.

Figura 19 – Pesquisadores do Programa de Conservação da Arara-Azul-de-Learrealizando estudos sobre o comportamento reprodutivo da arara-azul-de-lear. Foto: Joaquim Rocha dos Santos Neto.

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Figura 20 – Experimento de plantio de licuris. Foto: Joaquim Rocha dos Santos Neto.Figura 21 – Atividades de educação ambiental desenvolvidas: a) palestras; b) curso

de professores; c) festa de São João, em Jeremoabo, tendo a arara-azul-de-lear como tema; d) evento junto ao Programa de Erradicação doTrabalho Infantil; e) passeata; f) apresentação em feira do semi-árido. Fotos:Programa de Conservação da Arara-Azul-de-Lear.

Figura 22 – Aves em adaptação para soltura: a) viveiro de adaptação; b) tratadorvestido para descaracterizar a forma humana; c) aves alimentando-se emlicurizeiro dentro do viveiro. Fotos: Joaquim Rocha dos Santos Neto.

Figura 23 (A e B) – Centro de reprodução de araras-azuis-de-lear na Fundação ParqueZoológico de São Paulo. Fotos: Fernanda Junqueira Vaz.

Figura 24 (A e B) – Centro de reprodução de araras-azuis-de-lear na Fundação Riozoo. Fotos:Denise Monsores.

Figura 25 (A e B) – Centro de reprodução de araras-azuis-de-lear na Fundação Lymington.Fotos: William Wittkof.

Figura 26 (A e B) – Centro de reprodução de araras-azuis-de-lear na Crax Sociedade dePesquisa. Fotos: Roberto Azeredo.

Figura 27 (A, B e C) – Centro de reprodução de araras-azuis-de-lear na Al Wabra WildlifePreservation. Fotos: Al Wabra Wildlife Preservation.

Figura 28 (A e B) – Araras-azuis-de-lear em Harewood Hall. Fotos: Lorenzo Crosta.Figura 29 – Filhote de arara-azul-de-lear que eclodiu na Al Wabra Wildlife

Preservation, em 2006. Foto: Al Wabra Wildlife PreservationFigura 30 – Arara-azul-de-lear resgatada após ter sido alvejada na asa. Foto: Yara Barros.Figura 31 – Centro de Quarentena na Praia do Forte, Bahia. Foto: Yara Barros.Figura 32 – Endoscopia realizada em arara-azul-de-lear: no detalhe, imagem obtida

através de endoscopia do testículo de um macho adulto. Foto: Yara Barros;Foto detalhe: André Vilella.

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

Membros do Comitê Internacional para aConservação e o Manejo da Arara-Azul-de-Lear

(Anodorhynchus leari)

Coordenador-Geral deFauna

Coordenador-Geral deUnidades de Conservação

Coordenador de Proteçãode Espécies da Fauna

Coordenador-Geral deFiscalização

Chefe do Cemave

Representante

Representante

Representante

Representante

Representante

Representante

Representante

Representante

Representante

Representante

Carlos Bianchi

Pedro Scherer Neto

Ricardo Bomfim Machado

Rick Jordan

Yara de Melo Barros

Otávio Manoel Nolasco deFarias

CGFAU/Ibama

CGUC/Ibama

COFAU/Ibama

CGFIS/Ibama

Cemave/Ibama

Fundação Biodiversitas

Fundação Parque Zoológicode São Paulo

Fundação Riozoo

Sociedade Brasileira deOrnitologia

Busch Gardens

Fundação Garcia D’Ávila

Crax Sociedade de Pesquisada Fauna Silvestre

Proaves

Fundación Loro Parque

Al Wabra Wildlife

Preservation

Oregon State University

Museu de História Natural

Capão da Imbuia

Conservação Internacional

Hill Country Aviaries

E

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

MEMBROS EFETIVOS

Nome/Cargo Instituição Endereço eletrônico

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Cristina Yumi Myiaki

Wanderlei de Moraes

Lorenzo Crosta

Yves de Soye

USP

Itaipu Binacional

Itália

Bird Life International

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

CONSULTORES

Nome/Cargo Instituição Endereço eletrônico

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

Apresentação

O Brasil é o país que detém a maiorbiodiversidade em todo o mundo. Ao mesmotempo, a intensificação de atividadeshumanas, como a expansão desordenada decidades e o aumento da fronteira agrícolasobre áreas preservadas têm gerado fortepressão sobre as diversas paisagens e biomasbrasileiros. As principais conseqüências destasações são perda, degradação e fragmentaçãode habitats, que se refletem no aumento donúmero de espécies presentes na ListaNacional das Espécies da Fauna BrasileiraAmeaçadas de Extinção, oficializada pelaInstrução Normativa nº 3 do MMA, de 27 demaio de 2003.

Zelar pela conservação dessariqueza nacional é responsabilidade de cadacidadão brasileiro, porém as iniciativas emedidas a serem adotadas para reverter oquadro devem ser tomadas de maneiraorganizada e conjunta, em prol de um objetivocomum. Assim, a união de esforços degovernos, da sociedade civil e das instituiçõesde ensino e pesquisa, visando à conservaçãoda nossa biodiversidade, representa um passoimportante nessa jornada.

Com o propósito de mudar asituação de ameaça, o Instituto Brasileiro doMeio Ambiente e dos Recursos NaturaisRenováveis e o Ministério do Meio Ambientecriaram a Série Espécies Ameaçadas, que écomposta por planos de ação, planos demanejo e outras contribuições relevantes paraa proteção e a conservação da fauna brasileiraameaçada de extinção. Os três primeiros

números desta Série abordaram, em ordemde publicação, o mutum-do-sudeste Craxblumenbachii, os albatrozes e petréis (OrdemProcellariiformes) e o pato-mergulhão Mergusoctosetaceus.

O quarto número desta Série é oPlano de Manejo da Arara-Azul-de-Lear(Anodorhynchus leari), espécie CriticamenteAmeaçada, endêmica da Caatinga baiana. Aestimativa populacional atual é de apenascerca de 600 aves na natureza e 40conhecidas em cativeiro. As principaisameaças a esta espécie são a perda de habitate a captura para o comércio ilegal.

O Plano apresenta informaçõessobre a biologia da espécie, identifica seusprincipais fatores de ameaça e propõe umasérie de medidas para a implementação emdiversas áreas temáticas, identificando atorespotenciais e seguindo uma escala de prazose prioridades, com o principal objetivo deconservar a espécie em longo prazo. EstePlano deverá ser revisado periodicamente,como forma de monitorar e avaliar o sucessodas ações executadas e atualizar asnecessidades de conservação.

Agradecemos a todos os quetrabalharam pela formulação deste Plano, emtodas as suas fases, demonstrandocomprometimento com a conservação dabiodiversidade brasileira, e ao Fundo Nacionaldo Meio Ambiente, que viabilizou apublicação deste documento.

MARCUS LUIZ BARROSO

BARROSPresidente do Ibama

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Parte 1INFORMAÇÕES

GERAIS

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

O gênero Anodorhynchus éatualmente composto por três espécies: aarara-azul-pequena (A. glaucus), atualmenteextinta e que ocorria originalmente no Suldo Brasil e países vizinhos; a arara-azul-grande(A. hyacinthinus), que possui populaçõesdisjuntas no Brasil e a arara-azul-de-lear (A.leari), que ocorre no Sertão da Bahia.

A espécie-alvo do presente Plano deManejo é a arara-azul-de-lear, Anodorhynchusleari (Bonaparte, 1856), que já foi consideradauma espécie mal conhecida, sendo a sua pátriaignorada por mais de um século. Sua descriçãofoi feita por Bonaparte em 1856, a partir deum exemplar taxidermizado depositado noMuseu de Paris, de procedência conhecidaapenas como Brasil, e outro exemplar existenteno Zoológico de Anvers, na Bélgica, deprocedência desconhecida. Por mais de umséculo todas as aves que chegaram a zoológicose museus americanos e europeusapresentavam procedência incorreta. Até1978, apenas indivíduos em cativeiro deorigem incerta eram conhecidos (Sick et al.,1979; Yamashita 1987). A primeira informaçãosobre a sua área de ocorrência foi encontradaem Juazeiro, na Bahia, onde Olivério Pinto,em uma de suas excursões ao Nordestebrasileiro, encontrou um exemplar emcativeiro, cuja procedência era supostamente“do sul do rio São Francisco, em sua margemdireita” (Pinto, 1950). Todavia, essasinformações não satisfaziam a comunidadecientífica brasileira, o que motivou a realizaçãode diversas expedições aos sertões baiano epernambucano (Collar et al., 1992).

Em dezembro de 1978, finalmentea espécie foi localizada no nordeste do estado

da Bahia, ao sul do Raso da Catarina (Sick etal., 1979; Sick & Teixeira 1980; Sick et al.,1987), em uma precária situaçãopopulacional.

A área inicial de distribuição daespécie foi delimitada como tendo um raiode 8.000 km2, sendo o rio Vaza-Barris oprincipal marco referencial.

Atualmente a arara-azul-de-learencontra-se Criticamente Ameaçada (IUCN,2004), sendo incluída no Apêndice I daConvenção sobre o Comércio Internacionalde Espécies da Flora e Fauna Selvagens emPerigo de Extinção (Cites). Também consta dalista brasileira oficial de espécies da faunabrasileira ameaçada de extinção comoCriticamente em Perigo (MMA, 2003).

No momento são desenvolvidos doisprojetos de conservação in situ, um deles é oPrograma de Conservação da Arara-Azul-de-Lear, do Ibama, desenvolvido em parceriapelo Cemave/Ibama (Centro Nacional dePesquisa para a Conservação das AvesSilvestres) e pela Proaves (Associação Brasileirapara a Conservação das Aves), no municípiode Jeremoabo, e um programa desenvolvidono município de Canudos pela FundaçãoBiodiversitas. O Ibama coordena o Programade Cativeiro da espécie.

2. Informações sobre aespécie

2.1 Morfologia

A arara-azul-de-lear (Figura 1) medeentre 70 e 75 cm e pesa em torno de 900

Introdução

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

gramas, de acordo com Sick (1997). Dadosobtidos a partir de 40 aves em cativeiromostraram que os machos pesam em média882,24 gramas (n=17, s = 44,96) e as fêmeaspesam em média 789,09 gramas (n=23, s =68,33) (Y. Barros, com. pess., 2006).

Possui o bico negro, possante, semdente e a cauda muito longa. A cabeça e opescoço são azul-esverdeados, a barriga

azul-desbotada, as costas e o lado superiordas asas e da cauda azul-cobalto. Anelperioftálmico amarelo-claro, pálpebra azul-clara, branca ou levemente azulada, barbelaquase triangular em forma de nódoaamarela-enxofre clara, situada de cada ladoda base da mandíbula, mais pálida que oanel perioftálmico (Sick, 1997; Collar et al.,1992).

2.2 Distribuição e habitat

A região de ocorrência de A. leariencontra-se no domínio morfoclimático dascaatingas (Ab’Saber, 1977) em uma chapadacom altitudes de 380 a 800 metros (Yamashita,1987), onde se encontram desfiladeiros eparedões formados pelos cursos d’água deregime intermitente que cortam a região (Sicket al., 1987). As araras utilizam esses paredõesde arenito como dormitório e local dereprodução (Figura 2).

Figura 1 – Arara-azul-de-lear.

A espécie é endêmica do Nordesteda Bahia, com ocorrência histórica e atualregistrada nos municípios de Canudos, Uauá,Paulo Afonso, Euclides da Cunha, Jeremoabo,Sento Sé e Campo Formoso. (Figura 3 A e B).A área destes municípios perfaz um total de34.272 km2, nos quais residem 319.981habitantes, o que representa uma densidadepopulacional média de 9,34 habitantes/km2

(Tabela 1). Atualmente, a maior parte dapopulação é encontrada nos municípios deCanudos e Jeremoabo.

Mar

k L.

Sta

fford

(w

ww

.par

rots

inte

rnat

iona

l.org

)

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

Tabela 1: População e densidade populacional da área de ocorrência da arara-azul-de-lear.

Município População Área (km2) Densidade (hab/km2)

Campo Formoso

Canudos

Euclides da Cunha

Jeremoabo

Paulo Afonso

Sento Sé

Uauá

TOTAL

61.942

13.761

53.885

34.916

96.499

32.461

26.517

319.981

6.806

2.985

2.325

4.761

1.574

12.871

2.950

34.272

9,10

4,61

23,17

7,33

61,31

2,52

8,99

9,34

Fonte: IBGE, Resultados da Amostra do Censo Demográfico, 2000.

Na busca de populações rema-nescentes de uma outra espécie de araraendêmica do Sertão nordestino, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), M. da Ré e P.Antas obtiveram notícias, em 1992 e 1993,respectivamente, da presença de rema-nescentes de Anodorhynchus leari na regiãoda Serra da Borracha (Curaçá) e na Serra daCana Brava (Uauá), que provavelmenteseriam aves ligadas à população das regiõesde Canudos e Jeremoabo (P. Antas, com. pess.,2006).

Em 1994, Pedro Lima (com. pess.) ecolaboradores teriam localizado umapopulação de 25 aves em Campo Formoso,mas não houve registros posteriores dessasuposta população. Munn (1995) reporta osmunicípios de Sento Sé e Campo Formosocomo áreas de ocorrência da espécie. Emagosto e setembro de 2005, o Cemave/Ibamarealizou uma expedição de busca a novosdormitórios e/ou sítios de reprodução emserras dos municípios de Uauá, Sento Sé eCampo Formoso. Essas buscas basearam-seem conversas com moradores locais e pessoasque haviam trabalhado como guias emexpedições de buscas anteriores. Foramchecadas serras e áreas com concentração delicurizeiros e/ou que poderiam ser utilizadascomo dormitório pelas araras, especialmentelocais onde havia registro histórico de

ocorrência da espécie. Foram utilizadasimagens de satélite da região para orientar odeslocamento e as buscas. Durante aexpedição foram distribuídos material dedivulgação, camisetas e bonés.

Na região das serras da Borracha edo Jerônimo não foram encontrados indíciosde araras pernoitando ou alimentando-se.Segundo informações dos moradores locais,não há registro de araras na região há muitotempo. Há na região uma grandeconcentração de licurizeiros, principalmentena Serra da Borracha, ma eles encontram-seem vegetação fechada, não disponível paraexploração, por araras. Além disso, aconformação das serras não apresenta ascaracterísticas de proteção contra o vento eo Sol (estrutura tipo “saco”), como as utilizadaspor araras nas cidades de Jeremoabo eCanudos.

Sento Sé e Campo Formosoapresentam grande quantidade de serras dearenito com alguns paredões protegidos doSol e do vento e disponibilidade de licuri emáreas abertas, apresentando características dehabitat adequadas à arara-azul-de-lear. Combase em informações de moradores, foramlocalizadas duas araras alimentando-se naregião. Apesar das buscas não foi encontradoo local de pernoite dessas aves. Novasexpedições devem ser realizadas para

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

verificar se elas pernoitam na região, e casoelas representem uma população isolada,estratégias de manejo e proteção adequadasdevem ser estabelecidas (Programa deConservação da Arara-Azul-de-Lear, 2005).

Alguns dos municípios de ocorrênciada espécie (Paulo Afonso, Jeremoabo,Canudos e Uauá) compõem a regiãoconhecida como “Raso da Catarina”, situadana porção mais seca do território baiano. ORaso da Catarina foi considerada uma zonade ocupação muito fraca, aproximadamenteum habitante por quilômetro quadrado, epredominância de médias propriedades (100a 200 ha). O relevo na área é plano, em formade tabuleiro, marcadamente cortado por valessecos e ravinas, sendo o suporte-tabuleiroque deu à região a denominação de “Raso”.Os entalhes profundos nos tabuleiros são oscanyons. A região está em uma zona detransição entre os climas árido e semi-árido,caracterizada pela escassez de chuvas. Oregime de chuvas caracteriza-se portorrencialidade e irregularidade, comamplitudes anuais entre 400 e 600 mm,concentradas no período mais frio do ano,apresentando um déficit hídrico constante(www.ibama.gov.br). As temperaturas variamentre 15 e 45ºC (Yamashita, 1987).

A vegetação em toda a área deocorrência da espécie é de Caatinga sobreareia, com vegetação predominantementearbustiva densa entrelaçada com áreas deCaatinga arbórea e afloramentos rochosos,apresentando alto número de endemismos ealta riqueza de espécies raras/ameaçadas(Giulietti, 2004). Observam-se três estratosbem definidos (Eagler, 1952; Rizzini, 1997;A. E de Sousa, com. pess., 2006):

Estrato herbáceo – até 1,0 m dealtura formado principalmente pelasbromeliáceas macambira (Bromelia laciniosa),caroá (Neoglaziovia variegata) e croatá(Bromelia karatas) e também pelas cactáceasquipá (Opuntia inamoena) e coroa-de-frade(Melocactus bahiensis).

Estrato arbustivo – estratodominante nesta fisionomia com alturavariando de 2 a 4 m, com ocorrência deespécies como pinhão (Jatropha sp.), juremas(Mimosa acutistipula, M. verrucosa e M. cf.hostilis), marmeleiro (Croton sp.), velame(Croton campestris), catingueira (Caesalpiniapyramidalis), pereiro (Aspidospermapirifolium) e as cactáceas madacaru (Cereusjamacaru), xique-xique (Cephalocereusgounellei) e facheiro (Pilosocereuspachycladus).

Estrato arbóreo – encontradoprincipalmente na base de morros e na mataciliar do rio Vaza-Barris (altura entre 6 e 15m), destacando-se as seguintes espécies:joazeiro (Zizyphus joazeiro), umbuzeiro(Spondias tuberosa), umburana-de-espinho(Bursera leptophloeos), baraúna (Schinopsisbrasiliensis), mulungu (Erythrina velutina),aroeira (Astronium urundeuva), angico(Anadenanthera macrocarpa), caraibeira(Tabebuia caraiba), licuri (Syagrus coronata) ealgaroba (Prosopis juliflora – exótica invasora).

O Ministério do Meio Ambiente(MMA, 2002) identificou áreas prioritáriaspara a conservação, utilização sustentável erepartição de benefícios da biodiversidadebrasileira, com base nos seguintes critérios:diversidade biológica, integridade dosecossistemas e oportunidades para ações deconservação, e a avaliação de opções parausos sustentáveis compatíveis com aconservação da diversidade biológica. Deacordo com estes critérios, a região do Rasoda Catarina foi considerada uma área deextrema importância para a conservação deaves e de importância muito alta para aconservação da flora da Caatinga, devido àriqueza de espécies, o alto número deendemismos, a riqueza de espécies raras e/ou ameaçadas, a alta fragilidade intrínseca dosistema e o alto grau de pressão antrópica.Por causa destas características érecomendada a sua proteção integral (MMA,2002; Sá, 2004; Giulietti, 2004; Pacheco,2004).

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

Figura 2 (A) – Habitat da arara-azul-de-lear.

Pro

gram

a de

Con

serv

ação

da

Ara

ra-A

zul-d

e-Le

ar.

Figura 3 (A e B) – Mapa de distribuição da arara-azul-de-lear.

2.2.1 Uso e ocupação do solo

A pecuária, geralmente praticada deforma extensiva, constitui importante atividadeeconômica, com destaque para os rebanhos

de caprinos, ovinos, bovinos e aves. Os maioresrebanhos de caprinos e ovinos estão situadosnos municípios de Sento Sé e Canudos,enquanto Euclides da Cunha e Campo Formosodestacam-se na bovinocultura. Este último

Figura 2 (B) – Habitat da arara-azul-de-lear.

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município, juntamente com Paulo Afonso,concentra a maior produção avícola daregião (Tabela 2). A atividade apícola tambémse destaca, com a maior produção de melnos municípios de Paulo Afonso e Jeremoabo(Tabela 2).

Embora a região esteja despontandopara a fruticultura irrigada, aproveitando opotencial hídrico dos rios São Francisco e Vaza-Barris, ainda predomina a agricultura desubsistência, com o cultivo de milho, feijão emandioca. Em lavouras permanentes destacam-se os cultivos de banana, coco-da-bahia emanga (Tabela 3). A região começa a produziruva de excelente qualidade, especialmente nomunicípio de Sento Sé. Nas lavourastemporárias, além das culturas de subsistênciamencionadas, são cultivados cebola, tomate,melancia e melão (Tabela 4). Também existemalguns cultivos de hortaliças nas margens do rioVaza-Barris. O uso de agrotóxicos é intenso,principalmente nos cultivos de cebola e tomate,situação preocupante em virtude dos danos quecausam à saúde e ao ambiente.

Recentemente foi implantada emJeremoabo uma fábrica de beneficiamentode sucos de frutas. Este empreendimentodeverá incrementar a fruticultura irrigada daregião, cuja maior parte da produção éatualmente vendida para outras áreas, emespecial para o estado de Sergipe.

A atividade agrícola em geral éprecedida de desmatamentos, com corteselet ivo para a extração de lenha emadeira em tora. A prática de queimadas,que são feitas sem nenhum controle, écomum na região. Os agricultores tambémcolhem os f rutos do umbuzei ro (S.tuberosa) que são comercializados innatura; Sento Sé é o maior produtor deumbu da região.

Euclides da Cunha destaca-se naprodução de cocos de licuri (Tabela 5), quesão geralmente comercializados em cordões,ou seja, os cocos são quebrados, a casca éretirada e o endosperma é furado e colocadoem um cordão.

Tabela 2: Produção da pecuária dos municípios da área de ocorrência da arara-azul-de-lear.

Fonte: IBGE, Produção da Pecuária Municipal, 2003.* Cabeças

40.390

23.200

4.610

16.043

42.148

30.572

21.300

178.263

17.695

49.300

10.830

29.158

12.583

62.617

37.172

219.355

9.398

1.910

1.447

2.648

1.403

6.970

3.825

27.601

CampoFormoso

Canudos

Euclidesda Cunha

Jeremoabo

PauloAfonso

Sento Sé

Uauá

Total

32.474

19.400

47.160

27.926

13.776

21.043

7.943

169.722

39.267

14.700

11.730

15.100

28.098

20.363

17.100

146.358

1.097

2.820

5.840

7.803

4.133

3.851

1.980

27.524

317

649

1.927

2.472

1.860

2.137

396

9.758

198

29

35

55

169

53

34

573

9.260

-

15.000

26.313

50.000

1.474

-

102.407

Mel deabelha

(kg)

Município Bovinos* Suínos* Ovinos* Caprinos* Galinhas*

Galos,frangos,frangas

e pintos*

Vacasorde-

nhadas*

Leitede vaca

(millitros)

Ovos degalinha

(mildúzias)

8.807

32.400

22.500

25.905

13.152

52.366

27.815

182.945

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

1.900

300

-

920

280

5.500

-

8.900

Tabela 3: Principais lavouras permanentes dos municípios da área de

CampoFormoso

Canudos

Euclidesda Cunha

Jeremoabo

PauloAfonso

Sento Sé

Uauá

Total

16

5

130

210

-

-

-

361

40

4.800

30

1.680

348

1.400

2

8.300

10

240

15

140

60

35

1

501

Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal, 2003.

Tabela 4: Principais lavouras temporárias dos municípios da área de ocorrênciada arara-azul-de-lear.

Quanti-dade(mil

frutos)

Município Quanti-dade(ton)

Áreacolhida

(ha)

Quanti-dade(ton)

Áreacolhida

(ha)

Áreacolhida

(ha)

Quanti-dade(ton)

Áreacolhida

(ha)

Quanti-dade(ton)

Áreacolhida

(ha)

Quanti-dade(ton)

Áreacolhida

(ha)

24.840

24.880

100

1.650

1.600

3.599

16

56.685

1.380

1.555

10

110

80

122

2

3.259

3

2

39

84

-

-

-

128

60

30

25

-

-

-

5

115

10

6

5

-

-

-

1

22

270

200

120

3.000

150

6.570

20

10.330

18

5

4

120

10

365

1

523

704

-

-

-

110

4.800

-

5.614

32

-

-

-

5

150

-

187

Banana Castanha-de-caju Coco-da-baía Laranja Manga Uva

Município

948

-

-

-

170

36.000

-

37.154

82

-

-

-

10

2.000-

2.09

2

1.770

322

18.932

2.700

-

186

174

24.084

CampoFormoso

Canudos

Euclidesda Cunha

Jeremoabo

PauloAfonso

Sento Sé

Uauá

Total

Quan-tidade(ton)

Áreacolhida

(ha)

Quan-tidade(ton)

Áreacolhida

(ha)

Quan-tidade(ton)

Áreacolhida

(ha)

Quan-tidade(ton)

Áreacolhida

(ha)

Quan-tidade(ton)

Áreacolhida

(ha)

Quan-tidade(ton)

Áreacolhida

(ha)

Quan-tidade(ton)

Áreacolhida

(ha)

3.448

650

22800

25000

-

200

550

52648

27.000

5.400

42.000

1.650

1.500

12.000

-

89.550

2.250

300

3.000

110

200

1.000

-

6.860

-

-

-

14

-

450

-

464

162

-

-

2.250

-

2.500

-

4.912

12

-

-

90

-

100

-

202

650

258

21.854

2.160

-

120

117

25.159

1.215

600

22.300

12.000

-

100

450

36.665

95

15

-

46

10

100

-

266

-

-

-

210

-

9.000

-

9.210

Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal, 2003

Campo FormosoCanudosEuclides da CunhaJeremoaboPaulo AfonsoSento SéUauá Total

Tabela 5: Extração vegetal e silvicultura dos municípios da área de ocorrênciada arara-azul-de-lear.

Cebola Feijão Mandioca Melão Melancia Milho Tomate

12282045

-7040

215

32-

250-2-

35319

4213

12020

-2

188

12.8707.000

71.00010.000

2.7002.6765.800

112.046

-1.3001.4001.150

-690

1.1005.640

Umbu(ton)

Licuri(ton)

Carvão(ton)

Lenha(m3)

Madeira emtora (m3)

Fonte: IBGE, Produção da Extração Vegetal e Silvicultura, 2003.

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2.2.2 Terras indígenas

Na área de ocorrência da arara-azul-de-lear existem duas etnias indígenas, osPankararé e os Kaimbé:

1. Pankararé: possui duas reservasdemarcadas na área:

!!!!! Brejo do Burgo – reserva com17.924 ha e 793 habitantes (dados de 1992).Esta terra foi demarcada e já foi encaminhadapara o Ministério da Justiça para a

homologação. Abrange os municípios deGlória, Paulo Afonso e Rodelas.

!!!!! Pankararé – reserva com 29.597ha e cerca de 1.400 habitantes. Esta terra foidemarcada em 1986 e registrada em 1996.Localiza-se no limite norte da Esec do Rasoda Catarina (Figura 3 A).

2. Kaimbé: possui uma terrachamada Massacará (Figura 3 A), em Euclidesda Cunha, com 8.020 ha e 1.200 habitantes.Esta terra foi demarcada em 1987 e registradaem 1988.

2.3 Alimentação

O principal item alimentar da arara-azul-de-lear é o coco da palmeira licuri,Syagrus coronata (Figura 4). Manchas delicuris, distribuídas nos municípios de Euclidesda Cunha, Jeremoabo, Canudos, Sento Sé eCampo Formoso, são utilizadas como pontosde alimentação pelas araras (C. Yamashita,com. pess.).

A área de distribuição do licuri vaido norte de Minas Gerais, ocupando toda aporção oriental e central da Bahia, até o sulde Pernambuco, incluindo os estados deSergipe e Alagoas (Noblick, 1986). Bondar(1938) calculou que existiam na época deseu estudo cerca de cinco bilhões delicurizeiros no estado da Bahia, podendo serencontrados até 1.000 pés, por hectare, emcertas regiões.

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A espécie frutifica o ano todo sendoque nos meses de março, junho e julhoapresentam maior frutificação, caracterizandoo período da safra (Bondar, 1938; Noblick,1986). Sick et al. (1987) afirmam que a safrade cocos de licuri nas áreas de ocorrência daarara-azul-de-lear acontece entre fevereiroe abril; a equipe de campo do Programa deConservação da Arara-Azul-de-Lear obteveo mesmo dado para a região da Serra Branca,em Jeremoabo.

Os cachos de cocos de licuri têm emmédia 1.357 frutos, sendo o comprimento eo diâmetro médios dos cocos de 2,0 e 1,4cm, respectivamente, de acordo com Crepaldi(dados não publicados, apud Crepaldi et al.,2001). Os cocos do licuri (Figura 5a) possuemem média 6,2 gramas (Brandt & Machado,1990). As araras utilizam principalmente cocosque ainda apresentam coloração esverdeada,mas já se encontram repletos de endospermasólido (Brandt & Machado, 1990). Os cocos

são abertos por meio de cortes transversaisperfeitos (Yamashita, 1987) (Figura 5b) ealguns são perfurados ainda muito verdes(Figura 5c), possuindo apenas endospermalíquido em seu interior, que é utilizado pelasararas.

Figura 4 – Licuri Syagrus coronata. Foto: Programa de Conservação da Arara-Azul-de-Lear.

Figura 5 – Cocos de licuri: a) frutos inteiros

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Crepaldi et al. (2001) obtiveram aseguinte composição nutricional do fruto dolicuri (polpa e amêndoa):

As aves alimentam-se dos cocos naprópria palmeira (Figura 6), ou cortam partesdo cacho e voam com eles no bico para outrasárvores (Figura 7) ou se alimentam no chão(Figura 8).

Mark Stafford (com. pess., 2006) fezum vídeo das aves alimentando-se e quemostra o uso de ferramentas para abrir oscocos de licuri. As araras usam pequenospedaços de madeira e/ou folhas da própriapalmeira, ou gravetos, que são usados comocunha para facilitar a abertura dos frutos

Foto 5 b) frutos cortados transversalmente; Foto 5 c) frutos perfurados

Parâmetros analisados

Composição centesimal

Umidade (%)

Cinzas (%)

Lipídeos (%)

Nitrogênio (%)

Proteínas (%)

Carboidratos totais (%)

Composição vitamínica

Xantofila

á-caroteno

â-caroteno (ìg.g -1)

Valor pró-vitamina A (ER)

á-tocoferol (ìg.g -1)

Ácido ascórbico

Valor calórico (Kcal.100g-1)

77,4 ± 0,16

1,4 ± 0,06

4,5 ± 0,3

0,5

3,2

13,2

traços

traços

26,1 ± 0,7

4,4 ± 0,1

3,8 ± 0,4

traços

108,6

28,6 ± 0,38

1,2 ± 0,01

49,2 ± 0,08

2,2 ± 0,01

11,5 ± 0,03

9,7

Não detectado

Não detectado

Não detectado

Não detectado

Não detectado

Não detectado

527,3

Média e desvio-padrão

Polpa Amêndoa

Figura 6 – Araras-azuis-de-lear alimentando-se emlicurizeiro.

Mar

k L.

Sta

fford

(w

ww

.par

rots

inte

rnat

iona

l.org

)

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

áreas de alimentação conhecidas foi geradoum polígono convexo mínimo (White &Garrot, 1990), através da ligação entre ospontos mais externos (Figura 3 A e B); estepolígono tem uma área de aproximadamente4.183 Km2 (calculado considerando-se aProjeção de Albert para a América do Sul) eengloba todas as áreas de alimentação. Opolígono convexo mínimo é o método maiscomum para estimar a área de vida (Mohr,1947 apud White & Garrot, 1990).

São apontados como fontesalimentares esporádicas da arara-azul-de-lear,o pinhão (Jatropha pohliana), o umbu(Spondias tuberosa), o mucunã (Dioclea sp.)e a baraúna (Schinopsis brasiliensis) (Sick etal., 1987). Brandt e Machado (1990)registraram o consumo de milho (Zea mays)enquanto verde e a equipe de campo doPrograma de Conservação da Arara-Azul-de-Lear faz registros constantes da utilização desterecurso pelas araras.

descascados e alcançar o endosperma. Asararas inicialmente marcam ou penetramparcialmente o coco com a mandíbula,empurram a “cunha” para dentro da partemarcada e então repetem o procedimentouma segunda vez, para abrir o coco. Usandoeste tipo de ferramenta, uma arara-azul-de-lear pode abrir um coco de licuri e retirar oendosperma, a cada 20 segundos.

Segundo Brandt e Machado (1990),uma arara adulta dispende em média 25segundos para abrir um coco e retirar oendosperma. Entretanto, a atividade pode serinterrompida por alguns instantes quando oindivíduo observa os arredores, coça-se, mudade posição ou assume outro comportamento.Assim, uma arara consome em média 118cocos de licuri, por hora de forrageamento, oque representa em média 350 frutos de licuri,por dia. Durante a atividade pelo menos umadas araras do grupo fica sem se alimentar,provavelmente servindo de “sentinela”(Yamashita, 1987), permanecendo pousada emgalhos mais altos de árvores grandes e serevezando com outras araras nessa função.No entanto, informações obtidas a partir deobservações recentes (M. Stafford, com. Pess.,2006) indicam que as aves podem consumiruma quantidade menor de frutos, e que asfêmeas que estão alimentando os filhotes quedeixaram o ninho recentemente consomempelo menos duas vezes a quantidade diáriade licuri consumida normalmente. Adivergência nos dados obtidos indica anecessidade de realização de novas pesquisassobre a estimativa de consumo diário de cocosde licuri.

A atividade de forrageamentoocorre principalmente entre 6:00 e 9:00horas e entre 14:00 e 16:00 horas (Brandt &Machado, 1990).

Brandt e Machado (1990)identificaram oito áreas de alimentaçãoutilizadas pela espécie, cobrindo umasuperfície de 140 km2. Até o momento jáforam identificadas cerca de quarenta áreasde alimentação utilizadas pelas araras-azuis-de-lear. À partir dos pontos de localização das

Figura 7 – Arara-azul-de-lear voando com cocos delicuri, no bico.

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Figura 8 – Araras-azuis-de-lear alimentando-se decocos de licuri, no chão.

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2.4 Deslocamentos edormitórios

São conhecidas duas áreas dedormitório da arara-azul-de-lear, sendoconsiderada a possibilidade de existência deoutras localidades. Os dormitórios sãoconstituídos de cavidades naturais emparedões de arenito. Os locais utilizados comodormitórios (que também são sítios dereprodução) são: a Toca Velha (EstaçãoBiológica de Canudos), uma RPPN (ReservaParticular de Patrimônio Natural) localizadano município de Canudos (Figura 9),propriedade da Fundação Biodiversitas, e aFazenda Serra Branca, no município deJeremoabo (Figura 10), propriedade do Sr.Otávio Nolasco, adjacente a Estação Ecológicado Raso da Catarina, uma Unidade deConservação Federal. A localização das duasáreas pode ser observada na Figura 3 A.Araújo (1996) também observou araras-azuis-de-lear pernoitando em árvores no municípiode Euclides da Cunha, fato já relatadoanteriormente por moradores locais. Brandte Machado (1990) registraram que osdormitórios distam cerca de 12 a 32 km dasáreas de alimentação.

O deslocamento diário é iniciadoquando as aves deixam seus abrigos noturnos

à primeira luz do dia, partindo aos bandospara as áreas de alimentação. No final da tardeos bandos retornam aos abrigos, chegandologo após o pôr-do-sol (Sick et al., 1987).Durante as horas mais quentes do dia elasgeralmente permanecem em árvores altas esecas ou à sombra das folhas dos pés de licuri.Neste período podem ocorrer interaçõessociais (Brandt & Machado, 1990). Em noitesde Lua cheia as araras podem retornar maistarde, sendo registrado bandos regressandopara os dormitórios até as 19 horas, ou mais(Cemave, dados não publicados).

O deslocamento sazonal é poucoconhecido, mas provavelmente estárelacionado à disponibilidade alimentar e/oufatores climáticos. Em 1993, devido à intensaseca, os bandos ampliaram bastante a áreade forrageamento, chegando até asproximidades de Euclides da Cunha (J. Hart,com. pess.).

Araújo (1996) conduziu estudossobre padrões diários de deslocamento daespécie e estimou algumas possíveis rotas devôo diárias (distância em linha reta entre doispontos), que incluem as áreas de alimentaçãoe pernoite. Estas rotas variaram entre 24,86km e 169,45 km, por dia. Rigueira e SchererNeto (1997) reportam que àquela época asararas percorriam cerca de 80 km de seuslocais de pernoite até as áreas de alimentação.

Figura 9 – Toca Velha, município de Canudos.

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arro

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Censos simultâneos mensaisrealizados em 1998 indicaram que no iníciodo período seco (agosto) o número de ararasnos dormitórios tradicionais diminuiu, sendoque havia mais aves pernoitando na TocaVelha. Também foi registrado um númeromaior de aves na Serra Branca durante operíodo reprodutivo (setembro a abril)(Relatório FNMA, 1999). Este padrão tambémfoi observado durante os censos realizadosem 2003 e 2004 (Menezes et al., no prelo;Santos Neto et al., 2005), além da queda nonúmero total de araras registradas nos mesesde julho e agosto. Estes dados sugerem apossível utilização de um dormitóriodesconhecido, contudo, expedições de buscaa este suposto novo dormitório não forambem-sucedidas até o momento (Menezes etal., no prelo; Santos Neto et al., 2005).

Araújo (1996) sugere que as variaçõesobservadas na utilização dos dormitórios podemser devidas ao uso de árvores para pernoite emalguns períodos do ano.

2.5 Reprodução

As informações sobre a biologiareprodutiva da arara-azul-de-lear sãorelativamente escassas, mas passaram a sermais detalhadas após o estabelecimento do

Figura 10 – Serra Branca, município de Jeremoabo.

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Programa de Conservação da Arara-Azul-de-Lear, em Jeremoabo, no ano de 2001.

Em geral, o período reprodutivo deaves que ocorrem em ambientes áridosparece estar intimamente relacionado aoinício das chuvas (Immelmann, 1963; Keast& Marshall, 1954), pois existem vários fatoresimportantes para a reprodução que estãoassociados à chuva, tais como: mudanças nosuprimento de alimento, umidade e fisionomiado meio ambiente. No caso da arara-azul-de-lear, o período de reprodução tem início entresetembro e outubro, prolongando-se até abril.Esta época coincide com a maiorprodutividade do licuri (Sick et al., 1987).Brandt e Machado (1990) relatam a ocorrênciade cópulas em novembro.

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Figura 11 – Ninho de araras-azuis-de-lear, emparedões.

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A arara-azul-de-lear nidifica emcavidades existentes em paredões (Figura 11).Vários casais podem se reproduzir em ummesmo paredão que contenha diversascavidades. Yamashita (1987) observou um parem atividade reprodutiva em um paredãoisolado do resto do grupo, indicando um certoterritorialismo na área de reprodução. Deacordo com as observações feitas por Hart(1992), dois ou três pares em atividadereprodutiva se localizaram numa mesma área,contudo os pares em cada cavidade não seviam; a autora observou uma mudançacomportamental muito grande no bandodurante a estação reprodutiva; alguns paresmal se toleravam e passaram a ocupar umaárea de dormitório muito mais ampla.

Conforme mencionado no itemanterior os dois sítios de reproduçãoconhecidos são a Toca Velha e a Fazenda SerraBranca.

Hart (1992) relata que o períodoobservado entre a eclosão do ovo e o inícioda saída do filhote do ninho foi de 87 dias,tempo inferior ao observado em A.hyacinthinus, mas não há descrição dametodologia utilizada para a obtenção destesdados nem o número amostral de ninhos/filhotes. Segundo Brant e Machado (1990),duas aves jovens foram observadas no períodode julho a outubro de 1988 e em maio de1989. Cinco filhotes foram produzidos portrês pares diferentes, sendo que um parproduziu um filhote e dois pares produziramdois. Hart (com. pess.) observou dez novosfilhotes na população do Raso da Catarina,em junho de 1994.

Até o momento, o monitoramentode ninhos de araras-azuis-de-lear foi feitoapenas através de observações externas, como registro do comportamento dos casais e onúmero de filhotes que deixam cada ninho;ainda não foram realizadas checagens dointerior das cavidades para registro deconfiguração interna dos ninhos, tamanhos depostura e biometria dos ninhegos. Estesestudos estão previstos para a estaçãoreprodutiva de 2006/2007.

Na estação reprodutiva de 1995/1996 foram encontrados seis ninhos na Toca

Velha e dois na Serra Branca, e na estaçãoreprodutiva de 1996/1997 foram observadosdois casais nidificando na Toca Velha e oitona Serra Branca (Araújo, 1996), mas os ninhosnão foram monitorados. Na época, o númerode aves reprodutivas representava 20% dapopulação total, mas não é possível afirmarse todos os ninhos ativos foram localizados,portanto o número real de ninhosprovavelmente foi maior.

Estudos preliminares de biologiareprodutiva foram conduzidos por umaequipe, sob a coordenação do Comitê, naestação reprodutiva de 1997/98. Os dadosreferentes a este estudo são apresentadosabaixo e constam do Relatório FNMA (1999).

Foram monitorados quatro ninhos,totalizando aproximadamente 1.500 horas deobservação, durante quatro meses. Um dosninhos foi abandonado e foi registrado sucessoreprodutivo em dois deles: um produziu dois eo outro três ninhegos. Neste período, foiregistrado o tempo de permanência de pelomenos um indivíduo do casal dentro e/ou na áreado ninho, a data em que o ninhego começou aaparecer na entrada do ninho e a data e onúmero de filhotes que deixaram o ninho.

O período reprodutivo foi divididoem três fases distintas:

Fase 1. Do início da atividade doninho até a primeira vocalização do filhote;

Fase 2. Da primeira vocalização dofilhote até a sua aparição na abertura doninho;

Fase 3. Da visualização do filhote naabertura do ninho até a sua saída do ninho;

A tabela abaixo mostra o índicemédio de permanência de pelo menos umdos pais, dentro do ninho, em relação aotempo total de observação nas três fases doperíodo reprodutivo:

Tempo de permanência depelo menos umdos pais dentro do ninho

Ninho 1

Ninho 2

Fase 1

34,72%

29,15%

Fase 2

43,90%

25,79%

Fase 3

43,79%

28,92%

NINHO

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Durante a estação reprodutiva de2001/2002, Sam Williams (com. pess., 2006)observou 23 ninhos ocupados, sendo que pelomenos seis produziram dois filhotes cada. Eleregistrou um total de 29 ninhegos na entradados ninhos, nesta estação.

Na estação reprodutiva 2003/2004foi feito o monitoramento detalhado de doisninhos; o comportamento de vigília do casal foiintenso durante a reprodução, permanecendopelo menos um dos indivíduos, como vigia, naabertura do ninho (Amaral et al., 2005).

Na estação reprodutiva de 2004/2005foi realizada uma busca mais completa de ninhose foram registradas 56 cavidades ocupadas naSerra Branca e 11 na Toca Velha. Nove ninhosforam monitorados durante toda a estaçãoreprodutiva, tendo sido registrado um sucessoreprodutivo de 1,22 filhote/ninho monitorado,e a estimativa de incremento populacionalfoi de cerca de 80 indivíduos (Santos Neto etal., 2005).

Em 2006, até o mês de abril, haviamsido avistados 41 ninhegos na abertura dosninhos na Serra Branca (J. Santos Neto, com.pess., 2006).

3. Status

3.1 Natureza

Uma das grandes incógnitasrelacionadas a esta espécie é o seu tamanhopopulacional no passado. Hart (1992) afirmaque há cerca de um século a arara-azul-de-lear era comum na Bahia, baseada em relatosde antigos moradores da região sobre bandosnumerosos em vôo. No entanto,considerando que os parâmetros utilizadospara julgar como numerosos taisagrupamentos são desconhecidos, é difícilestabelecer comparações ou mesmo avaliartendências a partir desta afirmativa.

Foram conduzidos vários censosdesde a década de 1970 para estimar otamanho populacional de araras-azuis-de-lear.Nesses censos foram utilizadas diversasmetodologias que nem sempre sãocomparáveis e/ou descritas, mas os dadosapresentados sugerem um aumento

populacional rápido e constante, além deuma melhora no conhecimento dosdormitórios e, sobretudo, um aprimoramentoda metodologia de contagem.

Em 1979, Sick et al. estimaram em60 indivíduos a população de araras-azuis-de-lear presente no Raso da Catarina.Yamashita (1987) verificou através de censosque a população total apresentava um númeromínimo absoluto de 60 aves, e um númeromáximo estimado de 200. Por meio de várioscensos realizados nos dormitórios de A. leari,Brandt e Machado (1990) estimaram que apopulação não ultrapassava 60 indivíduos. D.S. Gardner (1990, com. pess.) reporta umapopulação de 66 aves, enquanto que B. M.Whitney (1991, com. pess.), baseado eminformações de moradores locais, especulouque a população da espécie variava entre 50e 100 aves. Não existe descrição dametodologia de contagem utilizada para aobtenção destes números. Araújo e SchererNeto (1997) realizaram censos simultâneosnas duas áreas de dormitórios conhecidas(Toca Velha e Serra Branca) e registraram 95aves. No mesmo ano, em uma expedição àregião, J. Hart (com. pess.) observou pelomenos 117 indivíduos. Araújo (1996) apontouque, naquela época, os números obtidos noscensos podiam não ser precisos devido àequipe de contagem reduzida e à falta deum conhecimento mais aprofundado dosdormitórios. Também não há registro dametodologia utilizada nestes censos.

Em 1998, uma equipe de camposob a orientação do Comitê para aConservação da Arara-Azul-de-Lear realizou12 censos simultâneos mensais, sendo que omaior número de indivíduos observado foide 181 aves. Para a realização dos censos foiutilizado um observador na Toca Velha e trêsna Serra Branca, posicionados em locaisestratégicos. Cada censo envolveu de dois atrês dias de contagens, sendo feitas duasdiárias, uma no horário de saída das ararasdo dormitório (em torno de 5:30h) e outrano horário de retorno das aves (em torno de17:00h). Ao final de cada censo os dados eramcomparados e contabilizados para se chegara um número mínimo absoluto de aves. Em

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dois meses (janeiro e julho), os censossimultâneos também incluíram o municípiode Sento Sé, mas não foram observadasararas-azuis-de-lear no local (Relatório FNMA,1999).

Em 2001 (maio/junho) um censoque durou três dias de contagens (tambémduas contagens diárias) realizadas por 11pesquisadores distribuídos entre Serra Branca(três pontos de contagem) e Toca Velha (doispontos de contagem), coordenado peloCemave/Ibama, elevou de 170 para 246 onúmero de araras-azuis-de-lear conhecidasna natureza (Nascimento et al., 2001). Apósa implementação, naquele mesmo ano, doPrograma de Conservação da Arara-Azul-de-Lear, foram realizados mais dois censos(setembro e dezembro) nos mesmos locais,sendo que o número máximo observado foide 280 aves, em dezembro (Relatório ProjetoArara-Azul-de-Lear, 2003). A metodologiausada foi a mesma descrita para os censos de1998.

Em 2002, utilizando a mesmametodologia, o Programa de Conservação daArara-Azul-de-Lear realizou quatro censos(março, julho, setembro e dezembro), sendo431 o número máximo de aves observadasnaquele ano (em julho). No censo de julho,além das contagens nos dois dormitóriostradicionais, foram realizadas buscas pornovos dormitórios. Três equipes percorreramlocais de ocorrência histórica da espécie nosmunicípios de Sento Sé e Campo Formoso, etambém na Estação Ecológica do Raso daCatarina, e na Terra Indígena dos Pankararé(no limite norte da Estação Ecológica), comos seguintes resultados:

- Campo Formoso – apenas relatosde araras, no passado.

- Sento Sé – foram observadas duasararas em Sento Sé, na Fazenda Barbudo,voando alto, passando a oeste da serraexistente na fazenda e indo em direção aorio São Francisco. Também foram registradasvocalizações de araras na Serra da Faveleira.

- Esec do Raso da Catarina –foram encontrados vestígios de alimentaçãode araras-azuis-de-lear (ver item 5.2.1), masnão foram observadas araras.

- Terra Indígena dos Pankararé –a equipe que visitou a área observou queexistem muitos licurizeiros na área eencontraram vestígios de alimentação deararas em algumas áreas, mas nessa visita nãoforam observadas araras-azuis-de-lear.

No censo de setembro foramrealizadas buscas de novas áreas deocorrência da espécie, no município deCuraçá (BA), nas serras da Borracha e do Juáe na Gruta de Patamuté, mas apesar da regiãoapresentar abundância de licurizeiros, não foiencontrado nenhum indício da presença dasaves; de acordo com relatos de moradoreslocais, araras-azuis-de-lear foram vistas nolocal há quatro ou cinco anos, alimentando-se de frutos de mandacaru (C. jamacaru)(Relatório Projeto Arara-Azul-de-Lear, 2003).M. da Ré (com. pess., 1996) afirma que a Serrada Borracha seria o limite das distribuiçõeshistóricas da ararinha-azul (C. spixii) e daarara-azul-de-lear.

Em 2003 e 2004, os censossimultâneos da espécie ocorreram comperiodicidade mensal, a partir do mês demarço, e a metodologia foi revisada. Passarama ser utilizados pelo menos quatroobservadores na Toca Velha (três pontos decontagem) e no mínimo dez observadores naSerra Branca, com novos pontos de contagemque permitem uma visão mais ampla (setepontos de contagem). Cada censo envolveudois dias de contagem, com duas contagensdiárias. Em 2003, o número de exemplaresna natureza chegou a aproximadamente 435indivíduos (Menezes et al., no prelo). De2004 em diante, as equipes que participamdos censos utilizam rádios de comunicaçãonos pontos em que existe a possibilidade deas araras serem avistadas por mais de umaequipe, para evitar a duplicidade decontagem.

Em 2005 foram realizados doiscensos, sendo 570 o número máximo deindivíduos avistados (Cemave, dados nãopublicados). Em cada censo foram realizadasquatro contagens, duas ao anoitecer e duasao amanhecer, sendo sete pontos decontagem na Serra Branca e quatro na TocaVelha.

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Em 2006 foram realizados, atéjunho, cinco censos simultâneos (comexceção do mês de maio), e o númeromáximo registrado foi de 652 aves.

A Figura 12 mostra a flutuação dotamanho populacional de 1979 até 2006 e aTabela 6 apresenta uma compilação das

informações disponíveis sobre os censosrealizados entre 1998 e 2006.

Observações realizadas em campoindicam que existe uma única população deararas-azuis-de-lear que se desloca entre osdois dormitórios conhecidos e,possivelmente, alguns ainda desconhecidos.

Figura 12 – Flutuação do tamanho populacional registrado entre 1979 e 2006.

0

100

200

300

400

500

600

700

1979 1987 1990 1997 1998 2001 2003 2004 2005 2006

Anos

Nu

mero

máxim

od

eaves

ob

servad

as

*TV – Toca Velha**SB – Serra Branca

Tabela 6 – Informações sobre os censos realizados entre 1998 e 2006.

1998

2001

2002

2003

2004

2005

2006

12

3

4

10

8

2

5

181

280

431

435

498

570

652

1

5

4

4

4

4

4

3

6

8

8

10

10

10

1

2

3

3

3

3

3

3

4

6

6

7

7

7

Número decensos

realizados

Númeromáximo

de ararasobservado

Número mínimo deobservadores utilizado

Número de pontos decontagem

TV* SB** TV* SB**

ANO

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3.2 Cativeiro

Atualmente existem 40 indivíduosincluídos no Programa de Cativeiro,coordenado pelo Ibama, distribuídos emcinco Centros de Reprodução no Brasil e noexterior.

O Criadouro Ernani’s Jungle, no Riode Janeiro, possui dois exemplares que aindanão estão integrados ao programa e o Ibamaestá buscando reverter esta situação. Existemduas fêmeas no Busch Gardens (Flórida –Estados Unidos), instituição que faz parte doComitê Internacional para Conservação eManejo da Arara-Azul-de-Lear e que foiconvidada pelo Ibama a integrar o Programade Cativeiro, mas ainda não se posicionousobre a questão. Esta instituição obtevesucesso na reprodução da espécie em 1982;as duas aves mantidas no Busch Gardensatualmente são descendentes de aves quesaíram do Brasil “pré-convenção”, ou seja,antes que o Brasil ratificasse a Cites, portanto,a sua situação nos Estados Unidos é legal. Hárumores da existência de aves escondidas noMéxico, na Suíça e em outros países daEuropa, e o Ibama está investigando asinformações. Existem ainda dois indivíduosjovens na Fazenda Serra Branca, Jeremoabo,sendo preparados para um experimento desoltura monitorada, conduzido pelo Programade Conservação da Arara-Azul-de-Lear.

4. Ameaças e fatoreslimitantes

Em curto prazo, as maiores ameaçasà arara-azul-de-lear são a retirada das avesda natureza para o comércio ilegal e o fatode elas serem abatidas quando atacamplantações de milho. Em longo prazo, a maiorameaça para a espécie é a degradação dohabitat, que resulta na diminuição da fontedo alimento principal da espécie, o licuri.

Cada fator de ameaça estáclassificado, por importância, obedecendo auma escala de cinco pontos, de acordo comHeredia et al. (1996):

! Crítico – um fator que pode levarà extinção da espécie em 20anos ou menos;

! Alto – um fator que pode causarum declínio de >20% dapopulação em 20 anos oumenos;

! Médio – um fator que podecausar um declínio de <20% dapopulação em 20 anos oumenos;

! Baixo – um fator que afeta aespécie apenas localmente;

! Desconhecido – um fator queparece afetar a espécie, mas nãose sabe a extensão.

4.1 CapturaImportância: Crítica

Uma das principais ameaças àconservação da espécie é sua captura paraatender à demanda do comércio ilícito,dentro e fora do país. Devido à sua raridade,a arara-azul-de-lear é uma das espécies deaves mais cobiçadas.

Na região da Reserva Indígena dosPankararé (ao norte da Estação Ecológica doRaso da Catarina) existem relatos dereprodução há cerca de vinte anos, quandoas últimas araras nascidas nos paredões dareserva foram capturadas para venda emSalvador (J.L.X. Nascimento e P.C. Lima, com.pess.).

Existem registros de apreensões em1998 (oito aves), 1999 (sete aves), 2000 (trêsaves), 2004 (seis aves) e 2005 (duas aves). Noentanto, acredita-se que os animais que sãoapreendidos representem apenas umapequena parte do total de aves retiradas danatureza.

Com a utilização de cordas ostraficantes descem nos paredões onde estãoos ninhos e retiram os ninhegos. Algunspossuem a abertura grande o suficiente parapermitir a entrada de uma pessoa. Aves adultaspodem ser capturadas nos ninhos edormitórios em redes que são içadas durantea noite, fechando a saída dos ninhos/

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dormitórios deixando as aves presas na redequando deixam a cavidade pela manhã.

Uma outra forma de captura deadultos ocorre em áreas de alimentação. Osapanhadores utilizam ceva de milho paraatrair as aves, que são então capturadas comredes. Existe a possibilidade de aves seremcapturadas com tiros nas asas.

A irregularidade na fiscalização nasáreas de ocorrência da espécie comprometea sua proteção. Atualmente são realizadas,pelo Ibama, operações esporádicas defiscalização, mas é necessário que elas setransformem em uma prática rotineira eintegrada às ações da Estação Ecológica doRaso da Catarina.

Infelizmente, quando traficantes sãopresos com araras-azuis-de-lear, os infratorespermanecem menos de 24 horas na prisão,sendo liberados em seguida, o que dificulta otrabalho de proteção das aves. Atualmente,quando uma pessoa é encontrada comanimais da fauna silvestre brasileirainfringindo a Lei nº 9.605, de 12 de fevereirode 1998 (Lei de Crimes Ambientais), ela éconduzida a uma delegacia onde é lavradoum Termo Circunstanciado de Ocorrência(TCO). No TCO são apresentadas as provas(animais silvestres, gaiolas, petrechos de caça,etc.). As pessoas envolvidas com o crime sãointerrogadas pelo delegado e liberadas ao finaldo interrogatório. Cabe aos infratores apenasa obrigação de assinar um Termo deCompromisso que prevê a sua apresentaçãoà Justiça Federal ou Estadual, quando foremsolicitados. Na ocasião são oferecidaspossibilidades de “penas alternativas” paraevitar que fiquem presos em caso decondenação, tais como: fornecimento decestas básicas, por um determinado período,para instituições filantrópicas (abrigos,creches, etc.) e/ou prestação de serviços paraa comunidade (realizando trabalhos emcolégios públicos, creches, abrigos, etc.). Esteartifício jurídico chama-se “transação penal”(K. Manso, com. pess., 2006). A falta derelação entre a pena convertida e o crimecometido deram origem a uma iniciativado Ibama, em colaboração com o FundoBrasileiro para a Biodiversidade (Funbio), que

culminou na criação de uma carteira deprojetos a serem financiados por meio doprocesso de conversão de multas, para queelas revertam-se em ações de conservaçãodas espécies. Essa iniciativa deve seroficializada em breve (O.J. Marini-Filho, com.pess., 2006).

O tráfico de animais é considerado“crime de menor potencial ofensivo”, cujaspenas são inferiores a um ou dois anos dedetenção. A Lei nº 9.605/98 prevê penas deseis meses a um ano de detenção para estetipo de crime e o delegado não pode deixaro infrator preso após o seu interrogatório nemsequer arbitrar uma fiança. Com relação aoaspecto administrativo é lavrado um Auto deInfração e a multa aplicada varia de R$ 500,00a R$ 5.000,00, por espécime apreendido. Noentanto, raramente as multas são pagas, poisna ausência de pagamento a únicapenalidade é a inclusão do nome do infratorna Dívida Ativa da União, o que apenas oimpede de prestar concurso público, assumircargos comissionados no governo federal oucontrair empréstimo em bancos federais.Mesmo assim, depois de cinco anos o valorprescreve. O infrator pode ainda recorrer dasmultas e negociar os seus valores. Usualmenteos infratores conseguem um “atestado depobreza”, que geralmente é aceito pela justiçae a multa cancelada (K. Manso, com. pess.,2006).

Conforme o exposto, é fundamentalpara a conservação da fauna silvestre no Brasilmodificar a Lei de Crimes Ambientais demodo a considerar a caça, a captura e ocomércio ilegal (tráfico) de espéciesameaçadas como infrações gravíssimas,sujeitas à prisão, sem fiança. É também desuma importância que haja campanhas deesclarecimento associadas a incentivos, paraque haja colaboração com os programas deconservação.

4.2 Perda de habitatImportância: Crítica

O bioma Caatinga tem um históricode ocupação humana bastante antigo.

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Também é o ambiente menos representado emtermos de áreas protegidas. Pouco ainda se sabesobre a porcentagem de perda da coberturavegetal original e, conseqüentemente, não sãoconhecidos a área de vegetação originalremanescente nem o estado de conservaçãoem que o ecossistema se encontra.

As principais atividades queameaçam o ambiente natural são a retiradada vegetação nativa para a implantação deagricultura e de pecuária extensiva decaprinos e de bovinos, bem como a retiradade lenha para o abastecimento de cerâmicas,olarias e padarias.

As áreas de ocorrência da arara-azul-de-lear estão situadas entre importantesmunicípios da região onde existe significativaocupação humana: Euclides da Cunha,Jeremoabo, Canudos, Uauá, Paulo Afonso eSento Sé.

Não há o recrutamento de licuris emáreas onde há a presença de gado, devido ao

sobrepastoreio, e ao fato de o gadoalimentar-se dos frutos que caem e dasplântulas. Essa falta de renovação naturalpode comprometer o suprimento alimentarpara a espécie, visto que muitas daspalmeiras adultas das áreas de alimentaçãoapresentam sinais de senescência(Yamashita, in Collar et al., 1992).

A diminuição na quantidade delicuris disponível tem como uma dasconseqüências a utilização de milho comofonte de alimento, pelas araras (Figura 13).O ataque a plantações de milho já haviasido apontado como um problema porBrandt e Machado (1990) devido àimagem negat iva das araras pe losprodutores rurais. Neste mesmo trabalho,numa tentativa de quantificar os prejuízoscausados pelo a taque das araras , aplantações de milho, os autores chegarama índices de mais de 40% de espigasafetadas, em cada milharal.

Figura 13 – Plantação de milho atacada por araras-azuis-de-lear.

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

A equipe do Programa deConservação da Arara-Azul-de-Lear, em visitaà terra indígena dos Pankararé, em 2002,obteve relatos dos índios de que naslocalidades conhecidas como Baixa Fechadae Baixa do Chico, há 30 ou 40 anos haviaroças de milho freqüentadas por muitas araras;se esta informação for correta, sugere que autilização de milho (e provavelmente aescassez de licuris) é bem antiga.

Em 2005 este Programa realizou umestudo dos ataques de araras-azuis-de-lear amilharais nos municípios de Jeremoabo,Canudos, Euclides da Cunha, Uauá, Sento Sée Campo Formoso (Santos Neto, 2005). Foirealizada a quantificação dos danos eregistradas a intensidade dos ataques, apresença de árvores altas utilizadas pelas“sentinelas” e para as araras se alimentarem,o levantamento de densidade de plantio, autilização de métodos de espanto e a

presença de pés de licuri nas roças e nasredondezas (Figura 14). Os resultadosindicaram que os ataques se concentraramnos municípios de Canudos (povoado doRasinho) e Jeremoabo (povoado de ÁguaBranca). As perdas registradas foram de 30 a73% do plantio. Em 2004 no povoadoDuninha (Jeremoabo) houve uma perda de87,15% da produção em decorrência deataques de araras. A maior intensidade dosataques ocorre nos meses de junho a agosto,quando há uma diminuição dadisponibilidade de licuris, e também em áreaspróximas a pés de licuri, ou outras árvoresaltas, onde as “sentinelas” podem ficarpousadas. São para essas árvores que araraslevam as espigas após as retirarem do pé(Figura 15), mas também foram feitos registrosde araras alimentando-se no chão, semprecom a presença de “sentinelas” nas árvoresaltas.

Em todas as propriedades ondeforam constatados prejuízos é praticada aagricultura familiar voltada exclusivamentepara a subsistência. Como não apresentamnenhum tipo de irrigação, os plantios são feitosapenas durante a estação chuvosa.

Os métodos de espanto utilizadossurtem algum efeito no início, mas logo asararas se habituam e passam a não se assustar.Com isso, o método mais eficiente tem sidoa presença de pessoas correndo pela roça eespantando as araras. Os agricultores, para

proteger a produção, às vezes atiram nas aves,ocasionando graves lesões e, por vezes, até amorte.

O Programa de Conservação da Arara-Azul-de-Lear e o Comitê Internacional paraConservação e Manejo da Arara-Azul-de-Learrealizaram em 2006, em caráter experimental,o ressarcimento de produtores que tiveramprejuízos comprovados pelo ataque de araras.O ressarcimento foi feito com sacas de milho(Figura 16 A e B). Foram ressarcidos 18produtores, com cerca de dez toneladas de

Figura 14 – Equipe do Programa de Conservaçãoda Arara-Azul-de-Lear realizando avaliação dasperdas em plantações de milho.

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Figura 15 – Arara-azul-de-lear alimentando-se deespiga de milho em árvore próxima ao milharal.

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milho. A Parrots International e a FundaçãoLymington financiaram este experimento, mas essaé uma medida emergencial, pois é necessária aimplementação de estratégias para aumentar

a disponibilidade de licuris para as araras, emmédio e longo prazo; a Fundação Loro Parqueestá financiando a implementação destasestratégias.

Queimadas para a rebrota de pastose derrubadas de árvores para obter lenha eoutros fins também constituem uma grandeameaça ao ecossistema. Os licuris encontram-se geralmente situados em áreas abertas,bastante secas e com ventos constantes, quesão tradicionalmente queimadas. Umaqueimada de maior porte pode dizimar apopulação de licuris de uma determinadaárea, em poucos dias (Whitney in Collar etal., 1992). Outra ameaça é a exploração dasfolhas e frutos imaturos do licuri, que sãousados pelos fazendeiros da região, noinverno, como suplemento alimentar para ogado (Yamashita in Collar, 1992), podendolimitar o suprimento das araras.

A Lei municipal nº 302 de 29/05/2002 protege a palmeira do licuri da queimae do corte no município de Jeremoabo, e elaé considerada árvore-símbolo pelapreservação da arara-azul-de-lear. Atualmenteestá tramitando no Ibama uma portaria queamplia a proibição do corte, prevendo apenasa utilização sustentável do licuri.

Assim, estudos de disponibilidadealimentar, programas que encorajem osproprietários de terra a proteger as palmeirasde licuri e a promover a sua regeneração são

Figura 16 (A e B) – Ressarcimento de produtoresque perderam a produção devido a ataques deararas.

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Figura 16 (B)

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vitais para a conservação da arara-azul-de-lear, em longo prazo.

4.3 CaçaImportância: Baixa

A caça de animais silvestres é umaprática comum na área de ocorrência daarara-azul-de-lear, e muito difícil de sercombatida, pois trata-se de uma região muitopobre, onde a caça de subsistência representauma fonte alternativa de proteína. Tambémocorre a caça para o comércio.

Existem alguns registros de caça deararas na região do Raso da Catarina, pelosíndios Pankararé, porém são casos esporádicoscom apenas algumas comprovações. Um dosíndios informou que as araras quefreqüentavam as roças há 30 ou 40 anosteriam abandonado a região devido a pressãode caça. Relatos apontam que há cerca deoito anos uma arara foi caçada para que assuas penas fossem utilizadas em umavestimenta por um indígena (J.L.X.Nascimento e P.C. Lima, com. pess.). Nestecaso, um fator agravante é que as açõespraticadas pelos índios não se enquadram nalegislação comum, pois a Constituição Federal

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e a Lei nº 6.001 (de 19 de dezembro de 1973)“garantem aos índios e comunidadesindígenas a posse permanente das terras quehabitam, reconhecendo-lhes o direito aousufruto exclusivo das riquezas naturais e detodas as utilidades naquelas terras existentes”.Dessa forma, é necessária a realização detrabalhos de conscientização nascomunidades indígenas com áreas deocorrência da arara-azul-de-lear.

Em 1988 um morador da regiãoatirou num bando de araras que passava,apenas para treinar a mira. Uma ave morreue a sua pele encontra-se hoje depositada noMuseu Nacional no Rio de Janeiro.

Os impactos causados pela caça sópoderão ser minimizados medianteprogramas de educação ambiental, geraçãode fontes alternativas de renda e fiscalizaçãosistemática.

5. Conservação

5.1 Envolvimentogovernamental

O Ibama vem desenvolvendoatividades voltadas à conservação da arara-azul-de-lear desde 1993, com a criação deum Grupo de Trabalho e posteriormente deum Comitê, cuja composição e estrutura sãorevisadas periodicamente. Também sãoconduzidas ações de conservação in situ eex situ.

Com o objetivo de estabelecerestratégias para a conservação da arara, foicriado pelo Ibama, em 1993, um Grupo deTrabalho Especial para elaborar, discutir eimplementar ações para a conservação daespécie e de seu ambiente. Em 1999 foiinstituído o Comitê para a Recuperação e oManejo da Anodorhynchus leari Arara-Azul-de-Lear e Anodorhynchus hyacinthinusArara-Azul-Grande (Portaria Ibama no 59, de15 de julho de 1999), que em 2001 teve asua composição alterada pela Portaria Ibamano 727 (de 8 de maio de 2001); o Comitêtinha as seguintes atribuições: (1) estabelecerestratégias de conservação da espécie e de

seu habitat, objetivando o estabelecimentode populações sustentáveis; (2) definirestratégias de manejo da população emcativeiro objetivando contribuir para aconservação da espécie na natureza; (3)analisar e emitir parecer sobre projetosrelacionados à espécie.

Em 2003 os Comitês foramseparados e foi criado um especificamentepara a arara-azul-de-lear (Comitê paraConservação e Manejo da Arara-Azul-de-LearAnodorhynchus leari – Portaria Ibama nº 435,de 27 de maio de 2003); a composição desteComitê foi revista no mesmo ano (PortariaIbama nº 1.203/03-n, de 16 de outubro de2003).

Em 2005 foi publicada nova portariacom renovação dos membros participantes,incluindo novos mantenedores e parceiros,sendo então instituído o Comitê Internacionalpara Conservação e Manejo da Arara-Azul-de-Lear Anodorhynchus leari (Portaria Ibamanº 12, de 18 de março de 2005).

A primeira proposta de um plano deação para a conservação da arara-azul-de-learfoi elaborada em 1995, por Sônia Rigueira ePedro Scherer Neto, com a colaboração deoutros membros do Grupo de TrabalhoEspecial em Anodorhynchus leari.

Em 1997 foi elaborado um plano deação contemplando as principais açõesemergenciais para a conservação da espécie,sendo elas: monitoramento da populaçãoselvagem e o estudo do comportamentoreprodutivo, recuperação e manejo do licuri esuplementação alimentar para as araras,intensificação da fiscalização, continuidadedas atividades de conscientização eenvolvimento das comunidades locais noprocesso de conservação da arara-azul-de-lear.

Em 2000, foi elaborado o documento“Propostas para o Desenvolvimento Futuro doProjeto Conservação da Arara-Azul-de-Lear,Anodorhynchus leari”, com sugestão de açõesem campo e cativeiro.

Em 2001 foi estabelecido peloIbama o Programa de Conservação da Arara-Azul-de-Lear em Jeremoabo, Bahia,executado em parceria com o Cemave/Ibama

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e a Proaves; o Cemave é responsável pelacoordenação das atividades de campo.Atualmente o Programa é mantido comrecursos do Ibama, do Fundo Nacional doMeio Ambiente, da Proaves e da FundaçãoLoro Parque (Tenerife/Espanha). A CGFAU/Ibama coordena o Programa de Cativeiro daespécie.

Em 2003 foi realizada a “I Reuniãopara o Estabelecimento de Estratégias deProteção das Araras-Azuis-de-LearAnodorhynchus leari”, com representantes doIbama-sede (Fauna, Fiscalização e Unidadesde Conservação), e da Gerência Executivada Bahia, para a definição de um plano detrabalho interno integrado visando à proteçãoda espécie. Como resultado foramidentificadas ações prioritárias para aconservação da espécie, como: aimplementação efetiva da Estação Ecológicado Raso da Catarina e sua ampliação,trabalhos de fiscalização intensiva,especialmente em períodos e localidades emque as aves estão mais vulneráveis,monitoramento das atividades de traficantesconhecidos e implementação de ações dedesenvolvimento sustentável da região. Estasações ainda não foram executadas.

5.2 Áreas protegidas

O Sistema Nacional de Unidades deConservação (Snuc) estabelece critérios enormas para a criação, implantação e gestãodas unidades de conservação no Brasil. Asunidades integrantes do Snuc dividem-se emdois grupos com características específicas:

I – Unidades de Proteção Integral,cujo objetivo é preservar a natureza, sendoadmitido apenas o uso indireto dos seusrecursos naturais, com poucas exceções. Sãolistadas nesta categoria: estação ecológica,reserva biológica, parques nacional, estaduale municipal, monumento natural e refúgio devida silvestre.

II – Unidades de Uso Sustentável,cujo objetivo é compatibilizar a conservaçãoda natureza com o uso sustentável de parcelados seus recursos naturais. São listadas nestacategoria: área de proteção ambiental, área

de relevante interesse ecológico, florestanacional, reserva extrativista, reserva defauna, reserva de desenvolvimentosustentável e reserva particular do patrimônionatural (Snuc, 2004).

Existem cinco unidades deconservação na área de ocorrência da arara-azul-de-lear, mas apenas quatro estãoefetivamente implementadas:

1. Estação Ecológica do Raso daCatarina;

2. Estação Biológica de Canudos;3. Área de Relevante Interesse

Ecológico Cocorobó;4. Área de Proteção Ambiental

Serra Branca;5. Parque Estadual de Canudos.

5.2.1 Estação Ecológica doRaso da Catarina

Esta unidade está na categoriaEstação Ecológica – Esec (proteção integral),cujo objetivo é preservar a natureza e realizarpesquisas científicas, sendo admitido apenaso uso indireto de seus recursos naturais, semvisitação pública. É uma UC Federal, criadapelo Decreto nº 89.268, de 3 de janeiro de1984, com uma área de 99.772 ha quecorresponde à segunda maior área deunidade de conservação do estado da Bahia.Ela está incluída nos municípios de Jeremoaboe Paulo Afonso.

O relevo é plano, em forma detabuleiro, marcadamente cortado por valessecos e ravinas, sendo que o suporte-tabuleiroé que deu à região a denominação de “Raso”.Os entalhes profundos nos tabuleiros são oscanyons. A periferia no platô, sobretudo nasporções sul e oeste, sofreu violenta erosãofacilitada pela natureza dos sedimentos deformação essencialmente arenosos(www.ibama.gov.br/siucweb).

Um dos principais sítios dereprodução da espécie, a Serra Branca,encontra-se no limite sudoeste da estação.

Em 2002, durante a realização deum censo, foi realizada uma incursão à áreapara verificar a presença de araras-azuis-de-

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lear no local. No entanto, apenas parte daunidade foi amostrada. Os resultados da visitaindicaram uma abundância de palmeiras delicuri na Esec, mas o tipo de formação na qualse encontram (área de Caatinga densa, semárvores emergentes que possam ser utilizadaspara o pouso de sentinelas) dificulta autilização pelas araras. Foi observado quevários moradores do entorno utilizam aunidade para o estabelecimento de roças eáreas de pastagem para caprinos e bovinos; apresença de gado foi uma constante em todasas áreas visitadas no interior da Esec. Existemlocais dentro da unidade onde as roças (milhoe feijão) substituíram a vegetação original, masos pés de licuri foram mantidos, ficandoexpostos e utilizados pelas araras. Oproprietário de uma das roças (na localidadede Logradouro) relatou que as ararasalimentam-se dos frutos de licuri, sem, noentanto, atacar a plantação de milho. Em umaroça próxima um outro produtor perdeu a suacolheita devido a ataques de araras. Énecessária uma avaliação de todos osparedões existentes na porção sudoeste daEsec para determinar uma possível ocupaçãopor araras. Um fator limitante para essaavaliação é a dificuldade de acesso à área (Y.Barros, com. pess., 2006).

O principal problema é que asituação fundiária da Esec não está totalmenteregularizada, o que dificulta a sua proteção ea das araras. De acordo com a Diretoria deEcossistemas/Ibama, os limites da Esec estãosendo revistos e o Plano de Manejo da unidadedeve ser concluído até o final de 2006.

Durante a “I Reunião para oEstabelecimento de Estratégias de Proteçãodas Araras-Azuis-de-Lear Anodorhynchusleari”, realizada pelo Ibama em 2003, foiidentificada a necessidade urgente daimplementação efetiva da UC.

5.2.2 Estação Biológica deCanudos

Esta área está na categoria ReservaParticular de Patrimônio Natural – RPPN (usosustentável) criada em área privada, gravadaem caráter de perpetuidade, com o objetivo

de conservar a diversidade biológica. Acriação de uma RPPN é um ato voluntáriodo proprietário que decide constituir a suapropriedade, ou parte dela, em uma RPPN,sem que isto ocasione perda do direito depropriedade. Nesse tipo de unidade deconservação são permitidas a pesquisa e avisitação com objetivos turísticos, recreativose educacionais (Snuc, Ibama).

Esta estação localiza-se nomunicípio de Canudos e foi criada em 1989,com 160 hectares e é um dos sítios denidificação e pernoite da arara-azul-de-lear.A Estação Biológica de Canudos, tambémconhecida como “Toca Velha”, é propriedadeda Fundação Biodiversitas, dispõe de duasbases de campo para pesquisadores e émantida pelo Fundo Judith Hart (G. Moreira,com. pess., 2006).

5.2.3 Área de Relevante InteresseEcológico Cocorobó

Esta área está na categoria Área deRelevante Interesse Ecológico – Arie (usosustentável), que são em geral de pequenaextensão, com pouca ou nenhuma ocupaçãohumana, com características naturaisextraordinárias ou que abrigam exemplaresraros da biota regional, e têm como objetivomanter os ecossistemas naturais deimportância regional ou local e regular o usoadmissível dessas áreas, de modo acompatibilizá-lo com os objetivos deconservação da natureza.

Ela foi criada pela ResoluçãoConama nº 005, de 5 de junho de 1984, masa Diretoria de Ecossistemas/Ibama informouque a sua implementação ainda está emestudo. (Conama é o Conselho Nacional doMeio Ambiente, órgão consultivo edeliberativo do Sistema Nacional do MeioAmbiente – Sisnama).

5.2.4 Área de ProteçãoAmbiental Serra Branca

Esta área está na categoria Área deProteção Ambiental – APA (uso sustentável),que são em geral extensas, com certo grau

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de ocupação humana, dotadas de atributosabióticos, bióticos, estéticos ou culturais,especialmente importantes para a qualidadede vida e o bem-estar das populaçõeshumanas, e têm como objetivos básicosproteger a diversidade biológica, disciplinaro processo de ocupação e assegurar asustentabilidade do uso dos recursos naturais.

É uma UC estadual criada em2001 por meio do Decreto estadual nº 7.972,de 05/06/01, com 67.234 ha no municípiode Jeremoabo, limitado ao sul pelo rio Vaza-Barris e ao norte pela Esec do Raso daCatarina.

Esta UC tem como objetivo protegera arara-azul-de-lear e possibilitar a formaçãode um corredor ecológico com a Esec do Rasoda Catarina (www.semarh.ba.gov.br). AFazenda Serra Branca, um dos principais sítiosde reprodução e dormitório da espécie,encontra-se nesta APA.

5.2.5 Parque Estadual deCanudos

Esta área está na categoria ParqueEstadual – PE (proteção integral) que tem comoobjetivo básico a preservação de ecossistemasnaturais de grande relevância ecológica ebeleza cênica, possibilitando a realização depesquisas científicas e o desenvolvimento deatividades de educação e interpretaçãoambiental, de recreação em contato com anatureza e de turismo ecológico.

É uma UC estadual criada em 1986pelo Decreto estadual nº 33.333, de 30/06/86, com 1.321 ha e está localizada nomunicípio de Canudos.

5.3 Conservação in situ

Estudos preliminares sobre a espécieforam conduzidos inicialmente por JudithHart, em 1986, em parceria com a FundaçãoBiodiversitas, incluindo a realização decensos, trabalhos de envolvimento e deconscientização da população local, aquisiçãode um dos sítios de reprodução da espécie(Toca Velha) e um projeto-piloto de manejodo licuri.

Em 1995 e 1996 o Ibama, emparceria com a Fundação Biodiversitas,retomou os trabalhos de campo com oestabelecimento de um biólogo na cidade deCanudos, para o desenvolvimento das seguintesatividades: levantamento de áreas dealimentação, busca de novos sítios de pernoitee reprodução, censos periódicos, colaboraçãoem operações de fiscalização, envolvimentodas comunidades locais e manutenção daplantação de licuris, realizada anteriormente.

Em 1997 e 1998, com recursosprovenientes do Fundo Nacional do MeioAmbiente (FNMA), o Ibama, em parceria coma Fundação Biodiversitas criou o ProjetoArara-Azul-de-Lear, com o estabelecimentode uma equipe no campo, em tempo integral,para desenvolver trabalhos com a espécie.

Os trabalhos realizados incluíramestudos sobre:

! dinâmica populacional: censosperiódicos;

! comportamento reprodutivo:monitoramento de ninhos para aobtenção de dados sobreincubação, permanência dosfilhotes no ninho, cuidado parentale recrutamento populacional;

! alimentação: aprimoramento dolevantamento dos sítios de ali-mentação da espécie, registran-do a localização e determinan-do área das manchas de licuriutilizadas pelas araras, início deestudos sobre fenologia desta es-pécie de palmeira e realizaçãode um plantio experimental delicuris;

! fiscalização: aumento da eficiênciada fiscalização para coibir acaptura e o tráfico de araras-azuis-de-lear, por meio da realizaçãoconjunta de expedições periódicasde fiscalização com as autoridadeslocais.

Após este período, devido à ausênciade recursos, houve uma descontinuidade nostrabalhos de campo.

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A partir de 2001 foi criado peloIbama o Programa de Conservação da Arara-Azul-de-Lear, executado em parceria peloCemave/Ibama e pela Proaves. O Cemave/Ibama coordena o programa de acordo comdiretrizes do Comitê Internacional para aConservação e o Manejo da Arara-Azul-de-Lear. Algumas ações têm a participação daFundação Biodiversitas.

Entre 2001 e 2006 as atividadesvêm sendo executadas com recursos doIbama, do Fundo Nacional do Meio Ambiente(FNMA) e da Proaves. Em 2006 a FundaçãoLoro Parque tornou-se também uma dasprincipais instituições financiadoras doprograma, que também recebeu doações daParrots International e da FundaçãoLymington.

No período entre 2001 e 2006 asprincipais ações desenvolvidas foram:

! Implantação de infra-estruturapara os trabalhos de campo, pormeio da instalação de uma basede pesquisa no município deJeremoabo (Figuras 17a e 17b) eestabelecimento de uma equipede campo em tempo integral;

! Realização de censos simultâneosperiódicos, objetivando omonitoramento populacional, aidentificação de padrões dedeslocamento e variação sazonalna utilização dos dormitóriostradicionais (Figura 18) e arealização de buscas depopulações remanescentes oude outras localidades utilizadaspara dormitório;

! Realização do estudo dareprodução da espécie, paraobter dados sobre a biologiareprodutiva, mapeamento deninhos e avaliação do incrementoanual da população na natureza(Figura 19);

! Realização de experimentossobre o cultivo de licuris parasubsidiar o seu manejo de forma

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Figura 17 – a) base de pesquisa do Cemave emJeremoabo, Bahia;

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Figura 19 – Pesquisadores do Programa deConservação da Arara-Azul-de-Lear realizandoestudos sobre o comportamento reprodutivo daarara-azul-de-lear.

Figura 18 – Pesquisadores do Programa deConservação da Arara-Azul-de-Lear realizandocensos simultâneos nos dormitórios de araras-azuis-de-lear.

Figura 17 – b) base de campo na Fazenda SerraBranca em Jeremoabo.

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a assegurar suprimento alimentarpara as araras-azuis-de-lear, emlongo prazo (Figura 20). Oprimeiro experimento foirealizado em 1998, pelo ProjetoArara-Azul-de-Lear, que plantou600 mudas de licuri na FazendaSanta Ana, um dos sítios dealimentação conhecidos daespécie. As mudas foram doadaspela Fundação BioBrasil. Devidoa um longo período de estiagem,houve problemas para a irrigaçãodas mudas e a maior parte doplantio foi perdida. Em 2004, oPrograma de Conservação daArara-Azul-de-Lear realizou umarevitalização deste plantio, pormeio do transplante de mudas,irrigação suplementar nas épocasde maior estiagem (foi construídoum poço artesiano) e adubaçãoorgânica. Foi também implantadoum segundo campo experimentalem uma área de dois hectares naFazenda Serra Branca. As mudasforam fornecidas pela Chesf(Companhia Hidroelétrica do SãoFrancisco). Avaliações realizadasno primeiro campo experimentalmostram que as perdas estãodentro de uma margem aceitável(cerca de 30%), comprovando sera técnica de transplante umaalternativa viável para o licuri;após a recuperação da áreaobservou-se licurizeiros emfloração e em frutificação.

O segundo campo experimental foiimplantado em parceria entre o Programa deConservação da Arara-Azul-de-Lear, escolase a prefeitura de Jeremoabo. Foram plantadas250 mudas de licuri e cerca de 20 mudas deespécies nativas que são utilizadas para pousopelas araras que ficam como sentinelasdurante a alimentação do bando. Participaramda atividade 52 alunos e oito professores. Asplantas vêm sendo irrigadas e avaliaçõesposteriores mostram que as perdas foram

mínimas, abaixo de 2% (Programa deConservação da Arara-Azul-de-Lear, 2006);

! Realização de um experimentode savanização e poda foliar delicuris para incrementar aprodução e permitir o acesso dasararas às palmeiras;

! Estimativa dos danos causadospelos ataques de araras àsplantações de milho nos municípiosde Jeremoabo, Canudos e Euclidesda Cunha, como subsídio para abusca de alternativas paraminimizar os impactos;

! Realização de atividades deeducação ambiental (Figura 21)na região de ocorrência dasararas-azuis-de-lear, com aelaboração de material dedivulgação, palestras e oficinas deartes em escolas da região,programa diário de rádio, Jornalda Arara-Azul-de-Lear, passeatas,cursos de capacitação deprofessores e participação emfestas e eventos locaistradicionais, como a Festa de SãoJoão, em Jeremoabo, que é aprincipal festa da cidade; nestaépoca o número de pessoas nacidade aumenta bastante pelachegada dos visitantes. Em 2005o tema foi a arara-azul-de-lear,indicando o envolvimento dopoder público local com aquestão da conservação daespécie;

Figura 20 – Experimento de plantio de licuris.

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

Figura 21– Atividades de educação ambientaldesenvolvidas: a) palestras;

b) curso de professores;

c) festa de São João em Jeremoabo, tendo a arara-azul-de-lear como tema;

d) evento junto ao Programa de Erradicação doTrabalho Infantil;

e) passeata;

f) apresentação em feira do semi-árido.

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! Divulgação, com a publicação deartigos científicos e palestrasdentro e fora do Brasil;

! Preparação de duas aves pararealização de experimento-pilotode soltura monitorada de araras-azuis-de-lear: durante a realizaçãode censos em março de 2003, naFazenda Serra Branca, foram

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encontrados dois filhotes caídosdo ninho. Eles estavam machu-cados e debilitados e foramlevados para a base do Cemave/Ibama em Jeremoabo, ondereceberam cuidados veterináriosprestados pela equipe daFundação Riozoo. Em abril, osdois filhotes foram levados paraa Fazenda Serra Branca ealocados em um viveiro, nocampo, para a interação com asararas livres. Em novembro de2003 os filhotes passaram paraum recinto maior, de 15m X 5mX 5m, para o exercício damusculatura de vôo e preparaçãopara uma possível reintrodução.Como principal componentedeste experimento de soltura asaves estão recebendo rigorosotreinamento para adquiriraversão a humanos epredadores, visto que elasapresentavam sinais demansidão. O projeto de solturamonitorada forneceria subsídiose possibilitaria o teste demetodologias para possíveisreintroduções futuras de araras-azuis-de-lear e está em discussãopelo Ibama e pelo Comitê(Figura 22)

Desde 1989 a FundaçãoBiodiversitas conduz um programa para aconservação in situ da arara-azul-de-lear naEstação Biológica de Canudos (Toca Velha).As ações desenvolvidas na região incluemeducação ambiental, pesquisa sobre a biologiada espécie e, principalmente, um trabalhointenso de fiscalização. Eles têmacompanhamento contínuo de pesquisadorese funcionários da Biodiversitas. As principaisatividades realizadas na Estação e em seuentorno são (G. Moreira, com. pess., 2006):

Figura 22 – Aves em adaptação para soltura: a)viveiro de adaptação;

Figura 22 – b) tratador vestido para descaracterizara forma humana;

Figura 22 – c) aves alimentando-se em licurizeirodentro do viveiro.

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

! Fiscalização: uma equipepermanente de quatrofuncionários da Biodiversitasrealiza a fiscalização diária nasáreas utilizadas pelas araras noslimites da Estação. Também sãorealizadas esporadicamenteoperações mais abrangentesvistoriando um número maior deáreas realizadas em conjuntocom a equipe de agentes fiscaisdo Ibama;

! Censos: na Toca Velha existemtrês pontos de contagem dasararas que pernoitam no local:Saco I, Saco II e Esquentada. Oscensos são realizados emparceria com o Programa deConservação da Arara-Azul-de-Lear.

! Busca de novos dormitórios: em2005 foram realizadas duasexpedições conjuntas doPrograma de Conservação daArara-Azul-de-Lear e daBiodiversitas, para a localizaçãode áreas potenciais dedormitórios das araras. Osresultados dessas buscas nãoapontaram nenhum novo localde ocorrência da espécie,entretanto algumas áreas foramindicadas como potenciais nomunicípio de Canudos: BomJardim, Raso, Rasinho e Rosário.

! Educação ambiental: realizaçãode palestras para alunos de 1º e2º graus, abordando temas comoa conservação da arara-azul-de-lear, o tráfico de animais e adisposição correta do lixo. Agerente responsável peloPrograma em Canudos realizapalestras e oficinas de trabalhopara alunos dos colégios daregião. Algumas visitas monitoradassão realizadas na Estação. Foicriado pela Biodiversitas emCanudos o espaço “A Toca daArara-Azul-de-Lear”, que dispo-

nibiliza acervo de materiaiseducativos (vídeos ambientais,livros, cartilhas) para consulta dealunos e professores da região;

! Parcerias com universidades: aFundação Biodiversitas disponi-biliza apoio logístico (hospeda-gem, pessoal de campo, veícu-lo) para a realização de pesqui-sas na Estação. Atualmente naárea estão sendo desenvolvidospor pesquisadores da Universida-de Estadual de Feira de Santana(BA) dois projetos sobre apolinização e a produção de mel.

O Sr. Otávio Nolasco, proprietárioda Fazenda Serra Branca, tem desenvolvidopor muitos anos trabalho de proteção das avesnesta área, com a presença de vigilantes quepatrulham a região para coibir a ação detraficantes. Também fornece alimentaçãosuplementar para as araras (milho e licuri) emsua fazenda, em uma tentativa de manter asaves em segurança nos limites da SerraBranca.

5.4 O Programa de Cativeiro

5.4.1 Objetivos:

! o manejo das aves em cativeiro,como uma única população, parao aumento da população cativade forma genética e demogra-ficamente sustentável;

! aumento da reprodução da es-pécie em cativeiro como resul-tado de pesquisa;

! através de educação ambiental eoutras atividades, aumentar aconscientização e o conheci-mento, bem como a arrecadaçãode recursos para a conservaçãoin situ.

Além disso, como o número de avesdessa espécie na natureza é reduzido, apopulação em cativeiro tem o papel de

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constituir uma “população de segurança”,caso catástrofes venham a dizimar a populaçãoselvagem e/ou reduzir drasticamente seusnúmeros.

5.4.2 Centros de reprodução

O Programa de Cativeiro écoordenado pela Coordenação de Proteçãode Espécies da Fauna/Ibama e contaatualmente com cinco Centros deReprodução:

! Zoológico de São Paulo (SãoPaulo, Brasil) – doze aves (Figura 23)

! Fundação Riozoo (Rio de Janeiro,Brasil) – onze aves (Figura 24)

Fundação Lymington (São Paulo) –seis aves (Figura 25)

Figura 23 – a) Centro de reprodução de araras-azuis-de-lear na Fundação Parque Zoológico deSão Paulo.

Figura 23 – b)

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Figura 24 – a) Centro de reprodução de araras-azuis-de-lear na Fundação Riozoo.

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Figura 25 – a) Centro de reprodução de araras-azuis-de-lear na Fundação Lymington.

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

! Crax Sociedade de Pesquisa emVida Silvestre (Belo Horizonte, Brasil) – duasaves (Figura 26)

Figura 25 – b)

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Figura 26 – Centro de reprodução de araras-azuis-de-lear na Crax Sociedade de Pesquisa.

! Al Wabra Wildlife Preservation(Doha, Qatar) – nove aves (a propriedadedestas aves foi devolvida ao Governobrasileiro e a instituição tornou-se um doscentros de reprodução da espécie) (Figura 27).

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Figura 27 – a) Centro de reprodução de araras-azuis-de-lear na Al Wabra Wildlife Preservation.

Figura 27 – b)

! Harewood Hall (Leeds, Inglaterra)– três aves (a propriedade destas aves foidevolvida ao Governo brasileiro e a instituiçãotornou-se um dos Centros de Reprodução daespécie) (Figura 28).

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Figura 28 – a) Araras-azuis-de-lear em Harewood Hall.

Figura 28 – b)

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Em julho de 2006, um casalmantido pela Al Wabra Wildlife Preservationrealizou a postura de três ovos. Esse casal émantido em um recinto com as dimensões de17,5 m de comprimento, 5 m de largura e 8 mde altura. Uma das extremidades do recintopossui uma parede artificial de cor similar àdos paredões da Serra Branca, com cavidadesartificiais simulando ninhos naturais. Os túneisentre a abertura da cavidade e a câmaraoológica têm cerca de 4 metros deprofundidade, e a temperatura fica mais amenaà medida que as aves se aprofundam nele.

Os ovos foram retirados, pois foiobservado que os pais não estavam incubandode forma apropriada. Eles foram incubadosartificialmente e substituídos por ovos falsos,que o casal incubou até alguns dias após asuposta data de eclosão do terceiro ovo, eentão eles mesmos os retiraram do ninho. Oprimeiro ovo era fértil, o segundo infértil e oterceiro não iniciou o desenvolvimento,embora fosse fértil. Durante a incubação

artificial, foi observado que os ovos nãoestavam perdendo peso suficiente;normalmente é esperado e desejável que elespercam de 15% a 16% durante a incubação,mas mesmo com o uso de técnicas paraaumentar essa perda - como fazer umpequeno orifício na região da câmara de ar -a perda de peso final do ovo que eclodiu foide cerca de 9%. Como resultado, o filhotedentro do ovo ficou muito grande para fazera rotação natural para a eclosão, e teve queser ajudado para sair dele pela equipe daAWWP. O filhote eclodiu com 19,26 gramas,e está sendo criado na mão (Figura 29). Ostrês ovos apresentavam cascas muito espessas,o que explica a pouca perda de peso. Operíodo de incubação desse ovo foi de 28dias, mas considerando que a eclosão foidificultada e prolongada pela espessura dacasca do ovo, é possível que sob condiçõesnormais o período de incubação seja menor(Al Wabra Wildlife Preservation, dados nãopublicados).

Figura 29 – Filhote de arara-azul-de-lear que eclodiu na Al Wabra Wildlife Preservation em 2006.

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

Esta é a primeira ocorrência desucesso reprodutivo entre as aves queintegram o Programa de Cativeiro.

5.4.3 Procedência das aves

Com exceção do filhote que nasceuno Qatar, em 2006, todas as outras araras queintegram o Programa de Cativeiro são oriundasda natureza, provenientes de repatriações,resgates e apreensões. A maioria tem idadeestimada de sete a oito anos de idade.

!!!!! Repatriações

Em 1996 duas aves apreendidas naFrança seriam repatriadas, no entanto, umamorreu no aeroporto antes da repatriação ea outra retornou ao Brasil.

Em 2001 duas aves foramrepatriadas de Singapura, após anos de batalhajudicial.

Atualmente, existem três aves naInglaterra que foram apreendidas em 1998,com o Sr. Henry Sissen. Desde então oGoverno brasileiro vem empreendendoesforços para a sua repatriação. Finalmente,em 2005, após longa batalha judicial na qualo Sr. Sissen permaneceu disputando a possedas aves, elas foram declaradas propriedadeda coroa e o Governo Britânico concordoucom a repatriação. Para assegurar que as avespudessem ser repatriadas sem representarriscos à população em cativeiro no Brasil, oIbama solicitou exames de saúde completos,seguindo orientações do Dr. Lorenzo Crosta,consultor veterinário oficial do Programa deCativeiro. Exames realizados com as aves em2001 acusaram a presença de herpes vírus(Pacheco Disease – PDV). De acordo comCrosta (in litt., 2005), “é muito difícil assumirque uma ave é negativa para a doença apósjá ter sido diagnosticada como positiva. Aúnica chance, de acordo com cientistasmundialmente reconhecidos é manter asaves isoladas e realizar testes de duas a quatrovezes por ano. Se o resultado for negativopor alguns anos, geralmente considera-se queas aves estão livres de PDV”. Outra

preocupação do Ibama é que as aves fazemparte de uma coleção na qual foramdiagnosticados alguns casos de PDD(Proventricular Dilatation Disease), doençaextremamente perigosa que ainda não foidiagnosticada no Brasil. Considerando estecenário e após consulta ao ComitêInternacional para Conservação e Manejo daArara-Azul-de-Lear o Ibama reconheceuoficialmente Harewood Hall – onde as avesestão alojadas – como um Centro deReprodução. Será assinado um acordo deempréstimo entre Ibama e Harewood Hall,em que essa instituição devolve a propriedadedas aves ao Governo brasileiro. Elas serãomanejadas dentro do Programa de Cativeiro.

!!!!! Resgates

Entre 2001 e 2002 o Ibama resgatouna natureza três aves com ferimento em umadas asas – provavelmente alvejada porprodutores – enquanto estavam alimentando-se em plantações de milho. Nos três casos foinecessária a amputação de parte ou datotalidade da asa (Figura 30), o queimpossibilitou o retorno delas à natureza,levando-as a integrar o Programa de Cativeiro(Y. Barros, com. pess.).

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Figura 30 – Arara-azul-de-lear resgatada após tersido alvejada na asa.

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Mesmo sem amputar, é muito difícildevolver à natureza aves que tiveram lesõesgraves na asa. Considerando que de acordocom Araújo (1996) essas aves precisam voaraté 169 km/dia, as que não têm asas emperfeitas condições têm poucas chances desobrevivência. Em 2006 foi resgatada umaoutra ave, também com ferimento na asa.

!!!!! Apreensões

Conforme mencionado anteriormen-te, acredita-se que apenas uma pequena par-cela das aves retiradas da natureza seja apre-endida.

As apreensões de araras-azuis-de-lear realizadas no Brasil foram (Y. Barros, com.pess.):

• 1998: oito aves em Rondônia;• 1999: duas aves na Bahia, cinco

aves no Rio Grande do Sul;• 2000: três aves em Minas Gerais;• 2004: seis aves em São Paulo;• 2005: duas aves em Minas

Gerais.

5.4.4 Manejo

Em julho de 2001 foi realizado emCuritiba o Workshop para o Estabelecimentode Estratégias para o Manejo das Araras-Azuis-de-Lear (Anodorhynchus leari), resultando noPlano de Manejo em Cativeiro da Arara-Azul-de-Lear, que definiu algumas normas para ofuncionamento do Quarentenário e dosCentros de Reprodução da espécie. Este Planopode ser revisado quando necessário peloComitê Internacional para Conservação eManejo da Arara-Azul-de-Lear.

As aves que integram o Programasão manejadas como de uma única população,apesar de estarem em diferentes Centros deReprodução. A recomendação atual do Planode Manejo é que cada Centro tenha nomáximo quatro casais de araras-azuis-de-learcomo forma de segurança contra catástrofesou doenças.

Para atender aos programas decativeiro da arara-azul-de-lear e da ararinha-azul, está em fase final de construção umCentro de Quarentena na Praia do Forte,Bahia (Figura 31).

Por este Centro de Quarentenadevem passar todas as aves destas espéciesantes de serem destinadas aos centros dereprodução no Brasil, tendo em vista quequalquer ave resgatada, confiscada e/ourepatriada deve ser considerada potencialmenteexposta a outras aves e possivelmenteportadora de agentes infecciosos, o querepresenta um risco para a população emcativeiro.

A Praia do Forte conta com estruturanecessária para a manutenção doquarentenário e tem boas condições deacesso, inclusive em relação ao Aeroporto deSalvador, o que facilita muito o trânsito dasaves assim como o de técnicos eequipamentos. A área foi doada ao Ibama pelaFundação Garcia D’Ávila, que também doouum terreno onde será construído um Centrode Reprodução de Araras-Azuis.

As aves que integram o Programa deCativeiro passam por exames anuais desaúde, padronizados, realizados pelo Dr.Lorenzo Crosta, consultor veterinário oficialdo Programa. Os exames incluem análiseshematológicas, bioquímicas, histológicas,virológicas e endoscopias, conforme onecessário (Figura 32).

Figura 31 – Centro de Quarentena na Praia do Forte,Bahia.

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

Está em fase de elaboração o Livrode Registro Genealógico (Studbook) das avesque integram o Programa de Cativeiro. Osmantenedores deste Livro (Studbook keepers)são Mathias Reinschmidt (Fundação LoroParque), Ryan Watson (Al Wabra WildlifePreservation) e Onildo João Marini-Filho(COFAU – Ibama).

5.4.5 Análises genéticas

A Dra. Denise Monnerat Nogueira,professora-visitante da Faculdade deVeterinária da Universidade FederalFluminense, realizou análises citogenéticasdas araras-azuis-de-lear descrevendo ocariótipo da espécie e comparando-o com ode Anodorhynchus hyacinthinus. Foramestudados quatro indivíduos, dois machos eduas fêmeas. A análise citogenética foi feita apartir de cultura, de curta duração, de bulbode penas jovens. O número diplóideencontrado foi 2n = ± 70, sendo 22

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Figura 32 – Endoscopia realizada em arara-azul-de-lear: no detalhe, imagem obtida através deendoscopia do testículo de um macho adulto.

macrocromossomos, e os restantes,microcromossomos. No cariótipo parcial ospares de autossomos 1,7 e 10 sãometacêntricos; os pares 2, 3, 4, 5, 6 e 9 sãosubtelocêntricos e o par 8 é submetacêntrico.O cromossomo sexual Z é um metacêntricode tamanho correspondente ao 5o par e ocromossomo W um submetacêntrico detamanho correspondente ao 9º par. Ocariótipo de A. leari foi similar ao padrãoencontrado para A. hyacinthinus (Nogueiraet al., 2004).

A Dra. Cristina Miyaki, docente daUniversidade de São Paulo, e sua equipefizeram análises genéticas das araras-azuis-de-lear. Presti (2006) analisou amostras de A. learicom marcadores nucleares (microssatélites) emitocondriais (citocromo b, regiãocontroladora e ATPase 8) para estimar asimilaridade genética entre indivíduos destaespécie. Foram testados 14 pares de “primers”de microssatélites, sendo que 11 geraramprodutos de amplificação, mas somentequatro se mostraram polimórficos e semdesvio do equilíbrio de Hardy-Weinberg. Nãofoi encontrada variação entre as seqüênciasde DNA mitocondrial. Apesar da baixavariabilidade encontrada nos lócus demicrossatélites, foi possível estimar asimilaridade entre os indivíduos de A. leari.Assim, os quatro lócus polimórficos demicrossatélites foram utilizados para calcularíndices de similaridade simples e de r (quedevem refletir o parentesco) para todos ospares de indivíduos. Os resultados obtidos pelaequipe serão utilizados na orientação daescolha dos casais reprodutores do Programade Cativeiro, para minimizar o endocruzamentoe manter a heterozigosidade e a diversidadegenética do plantel. A Tabela 7 mostra o índicede similaridade entre machos e fêmeas queintergram o Programa de Cativeiro.

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Tabela 7 – Índice de similaridade simples (acima) e índice r (abaixo) entremachos e fêmeas que participam do Programa de Cativeiro. As aves estão

listadas pelo seu número de Studbook (Presti, 2006).

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0.75

0.546

0.5

-0.088

0.75

0.538

0.375

-0.203

0.625

0.0262

0.375

-0.592

0.625

0.128

0.5

-0.130

41

0.5

-0.440

0,75

0.463

0,75

0.427

0,375

-0.019

0,375

-0.329

0,375

-0.199

0,625

-0.014

0,375

-0.492

0,75

0.130

0,75

0.476

0,625

0.204

0,75

0.555

0,75

0.469

0.5

0.096

0,375

-0.015

0,625

0.055

0.5

-0.036

0,5

-0.415

0,625

0.336

47

0.5

0.042

0.375

-0.356

0.625

0.284

0.875

0.784

0.375

-0.507

0.25

-0.577

0.875

0.727

0.625

0.073

0.75

0.334

0.5

0.115

0.5

0.105

0.875

0.808

0.5

0.105

0.875

0.805

0.25

-0.512

0.5

-0.289

0.375

-0.314

0.5

0.056

0.375

0.234

48

0.375

-0.051

0.125

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0.625

0.551

0.625

0.438

0.125

-0.419

0.125

-0.465

0.625

0.512

0.5

0.238

0.5

0.271

0.25

-0.427

0.375

-0.006

0.625

0.350

0.25

-0.437

0.625

0.343

0.125

-0.429

0.25

-0.414

0.125

-0.560

0.375

-0.041

0.375

-0.038

51

0.5

-0.103

0.5

0.164

0.375

-0.538

0.375

-0.203

0.5

0.367

0.5

0.175

0.5

0.004

0.375

-0.043

0.625

0.107

0.875

0.795

0.5

-0.035

0.5

0.101

0.75

0.586

0.5

0.088

0.375

-0.004

0.75

0.528

0.625

0.390

0.625

0.129

0.375

-0.075

52

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0.385

0.375

-0.036

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0.25

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-0.336

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0.093

0.25

-0.500

0.375

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0.25

-0.470

0.25

-0.327

0.625

0.264

0.375

-0.073

0.5

0.328

0.5

0.194

0.375

-0.160

0.375

-0.066

0.25

-0.192

53

0.375

-0.375

0.5

0.133

0.5

0.086

0.625

0.377

0.5

0.026

0.25

-0.527

0.625

0.220

0.375

-0.433

0.75

0.373

0.75

0.575

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0.356

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0.625

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56

0.5

0.208

0.375

-0.633

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0.273

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-0.315

0.375

0.088

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0.338

0.625

0.521

0.5

-0.032

0.375

-0.298

0.375

-0.309

0.375

-0.315

0.375

-0.309

0.5

0.167

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0.369

0.375

-0.471

0.5

0.217

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-0.804

64

0.5

-0.171

0.625

0.336

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0.300

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0.364

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0.031

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23

0.625

0.273

0.375

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0.276

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-0.310

0.375

-0.182

0.5

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0.625

0.170

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0.439

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-0.015

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-0.566

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0.375

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0.5

-0.356

0.375

-0.181

0.5

0.391

0.75

0.478

0.25

-0.771

0.5

0.045

0.25

-0.739

Índices baixos - casais com menor probabilidade de parentesco (ISS d” 0,375 e r d” -0,20)Índices medianos – casais com probabilidades intermediárias de parentesco (0,35 d” ISS d” 0,625 e –0,20 d” r d” 0,20)Índices altos – casais com maiores probabilidades de parentesco (ISS e” 0,625 e r e” 0,20)

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

5.4.6 Revisão de dados para aanálise de viabilidadede população e habitat

O Ibama está planejando realizarum PHVA (Análise de Viabilidade dePopulações e Habitat) para a arara-azul-de-lear em um futuro próximo.

Durante a realização do PHVA, osdados disponíveis sobre a arara-azul-de-learserão utilizados para avaliar a probabilidadeda sua extinção e obter um melhorentendimento dos fatores de risco que afetama espécie, bem como avaliar as váriasestratégias possíveis de manejo possíveis. Oprograma Vortex será utilizado para arealização das simulações.

A seguir a relação dos dados queserão utilizados para as simulações. A relaçãoengloba tanto os dados que estão disponíveispara a espécie atualmente quanto algumasestimativas. Eles necessitam de revisão,complementação e confirmação à medidaque os trabalhos de campo forem gerandoinformações que possam tornar mais acuradoo conhecimento sobre a espécie.

! Número de populações: 1;! Tamanho inicial da população:

650 indivíduos;! Capacidade de suporte do

ambiente: estima-se acapacidade de suporte em 800aves, com uma perda anual decapacidade de suporte de 0,5%;

! Catástrofes – estima-se que umtipo de catástrofe possa afetar aespécie – a ocorrência de doisanos consecutivos de seca. Aestimativa é que isto aconteceriaa cada quinze anos e não afetaria

a sobrevivência das aves, masreduziria a reprodução em 50%;

! Sistema reprodutivo: monogamia;! Idade da primeira reprodução: 8

anos;! Idade máxima reprodutiva: 28

anos;! Média de vida: 35 anos;! Número máximo de filhotes, por

ano: 2;! Razão sexual no nascimento:

50%;! Proporção de fêmeas

reprodutivas: 42% (considerandoque, para as araras, a taxa deindivíduos reprodutivos em umapopulação é de cerca de 20%);

! Número de filhotes: uma ave em80% dos casos, duas aves em19,5% dos casos e três aves em0,5% dos casos;

! Taxas de mortalidade (para os doissexos): • 0 ano - 35%;• 1 a 2 anos - 5%;• 2-8 anos - 1%;• Adultos: 3%.

! Retirada de aves da natureza: aestimativa é ocorrer todo ano,com a remoção de pelo menos20 aves, sendo 55% fêmeas e45% machos (baseado em dadosdas aves atualmente em cativeiro,procedentes da natureza. Essesdados podem não refletir arealidade da remoção de aves).

Os dados e estimativas apresentadassão passíveis de alterações e quaisquerinformações que possam torná-los maisprecisos podem ser encaminhadas ao Ibama.

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Parte 2PLANO DE CONSERVAÇÃO

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

6. Objetivos

A meta deste Plano de Manejo éassegurar permanentemente a manutençãodas populações da arara-azul-de-learAnodorhynchus leari em sua área deocorrência original, garantindo a integridadede seu habitat e a sua proteção na natureza,além do manejo das aves em cativeiro comode uma única população, visando a umcrescimento populacional viável.

Em longo prazo, o objetivo é reduzirao máximo o nível de ameaça sobre aespécie.

Para atingir estas metas são propostosobjetivos específicos em diferentes áreastemáticas, conforme descrito a seguir.

Objetivos específicos

Cada objetivo específico recebeuum nível de prioridade, um prazo e umaindicação dos possíveis atores envolvidos paraa sua execução.

A escala de prioridades indica arelevância qualitativa do objetivo para aconservação da espécie e possui quatroníveis:

!!!!! Fundamental – um objetivoespecífico cujo cumprimento éindispensável para o programa deconservação da espécie;

!!!!! Alta – um objetivo específicocujo cumprimento tem alto

impacto sobre o programa deconservação da espécie;

!!!!! Média – um objetivo específicocujo cumprimento tem médioimpacto sobre o programa deconservação da espécie;

! Baixa – um objetivo específicocujo cumprimento tem baixoimpacto sobre o programa deconservação da espécie.

Os prazos para que cada objetivoespecífico seja alcançado têm sete categorias:

! Imediato – deve ser alcançadono próximo ano;

! Curto – deve ser alcançado nospróximos 1-3 anos;

! Médio – deve ser alcançado nospróximos 1-5 anos;

! Longo – deve ser alcançado nospróximos 1-10 anos;

! Em andamento – um objetivoque já está sendo implementadoe que deve continuar;

! Concluído – um objetivo que foiconcluído durante a preparaçãodo Plano de Ação (no entanto,tais ações podem necessitar derevisão ou serem repetidas deacordo com o desenvolvimentodas circunstâncias, no futuro);

! Contínuo – um objetivo que,uma vez iniciado, deve sermantido durante todo oprograma de conservação.

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Em curto prazo, as prioridades paraa conservação da arara-azul-de-lear são reduzira retirada de aves da natureza, por traficantes,e evitar que as araras sejam abatidas porprodutores de milho. Por estes motivos aaplicação de leis que proíbem a captura, arealização de fiscalização e proteção dos sítiosde nidificação e dormitórios, e um trabalhode conscientização e ressarcimento dosprodutores rurais são de extrema importância.Em médio e longo prazo, a degradação dohabitat representa a maior ameaça.

A população de araras-azuis-de-learestá aparentemente aumentando, mas énecessário continuar e aprimorar omonitoramento das populações reprodutivase a total, para determinar com certeza a taxade crescimento. Dessa forma, são vitais paraa conservação da espécie estudos dedisponibilidade de alimento, programas queincentivem os donos de terra a preservaremo licuri e trabalhos de manejo voltados àregeneração desta espécie de palmeira.

Os objetivos específicos sãodivididos nas seguintes áreas:

1. Proteção da espécie e seuhabitat;

2. Políticas públicas, legislação eenvolvimento governamental;

3. Pesquisa in situ;4. Pesquisa ex situ;5. Conscientização pública;6. Colaboração e divulgação.

1. Proteção da espécie e seuhabitat

1.1 Ampliar a extensão de áreasprotegidas no âmbito do Snucdentro da área de ocorrência daarara-azul-de-lear, de modo queáreas importantes de nidificação,pernoite e alimentação sejamlegalmente protegidas.

Prioridade: FundamentalPrazo: Imediato

Atores: Ibama, MMA e órgãosestaduais de meio ambiente.

1.2 Regularizar a situação fundiáriada Estação Ecológica do Raso daCatarina, rever seus limites eimplementar efetivamente estaunidade de conservação.

Prioridade: FundamentalPrazo: CurtoResponsável: Ibama.

1.3 Reduzir ou eliminar a capturade araras nos ninhos, dormitóriose áreas de alimentação, com arealização de operaçõesperiódicas de fiscalização eproteção na área de ocorrênciada arara-azul-de-lear.

Prioridade: FundamentalPrazo: Contínuo

Atores: Ibama, polícias e órgãos defiscalização estaduais e municipais.

1.4 Implementar um sistema devigilância contínua durante aestação reprodutiva nos sítios denidificação da arara-azul-de-lear.

Prioridade: FundamentalPrazo: ContínuoAtores: Ibama, ONGs e polícias.

1.5 Promover a atualização dosagentes de fiscalização por meiode cursos sobre o programa deconservação da arara-azul-de-lear, de forma a permitir que asações de fiscalização sejamintegradas com o trabalho deenvolvimento da comunidadedesenvolvido pelospesquisadores, sem causar umaimagem negativa dos órgãos defiscalização junto a populaçãolocal.

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

mitigadoras e compensatóriasque gerem benefícios para aconservação desta espécie eseu habitat.

Prioridade: AltaPrazo: Curto e contínuo

Atores: Ibama, MMA, órgãosambientais estaduais e municipais, MinistérioPúblico e empreendedores.

2.5. Incentivar a adoção de práticasagrícolas eficazes e de baixoimpacto ambiental na região deocorrência da arara-azul-de-lear.

Prioridade: MédiaPrazo: Curto

Atores: Ibama, ONGs, instituiçõesde pesquisa, Embrapa, Emater e Mapa.

2.6. Submeter ao licenciamentoambiental atividades deecoturismo e outras ações dedesenvolvimento econômicoregional potencialmenteprejudiciais a espéciesameaçadas, de modo que nãoproduzam impacto negativosobre estas espécies.

Prioridade: MédiaPrazo: Médio

Atores: Poder Legislativo comsugestões do Ibama, MMA, Ministério doTurismo e órgãos estaduais e municipais deturismo e de meio ambiente.

3. Pesquisa in situ

3.1 Reprodução, genética e doenças

3.1.1 Efetuar buscas de novos sítiosde reprodução e/ou dormitórios da arara-azul-de-lear.

Prioridade: MédiaPrazo: ContínuoAtores: Ibama, ONGs e polícias.

2. Políticas públicas,legislação e envolvimentogovernamental

2.1 Disponibilizar recursos gover-namentais para os trabalhos deconservação da arara-azul-de-lear.

Prioridade: FundamentalPrazo: ContínuoAtores: Ibama e MMA.

2.2.Modificar a lei de crimesambientais de modo a conside-rar a caça, a captura ou o co-mércio ilegal (tráfico) de espé-cies ameaçadas como infraçõesgravíssimas sujeitas à prisão,sem fiança.

Prioridade: FundamentalPrazo: Curto

Atores: Poder Legislativo comsugestões do Ibama e do MMA.

2.3. Fortalecer a legislação vigentede proteção da fauna, emespecial aquela referente àproteção da arara-azul-de-leare seu habitat.

Prioridade: AltaPrazo: Imediato

Atores: Poder Legislativo comsugestões do Ibama e do MMA.

2.4. Assegurar que a análise, olicenciamento e a aprovação deempreendimentos econômicosa serem desenvolvidos na áreade ocorrência da arara-azul-de-lear contemplem medidas

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

doeste da Estação Ecológicado Raso da Catarina, para ava-liar a sua possível utilizaçãocomo dormitório e/ou sítio denidificação pelas araras-azuis-de-lear.

Prioridade: AltaPrazo: Imediato

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.1.6 Efetuar estimativas anuais dotamanho da populaçãoreprodutiva.

Prioridade: AltaPrazo: Contínuo

Atores: Atores: Ibama, ONGs einstituições de pesquisa.

3.1.7 Realizar um estudo sanitáriodas aves na natureza (coletan-do sangue de adultos eninhegos), para identificar asdoenças que ocorrem na po-pulação selvagem, incluindoo estudo da possibilidade deocorrência de herpes vírusendêmico.

Prioridade: AltaPrazo: Contínuo

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.1.8 Coletar amostras de sanguede filhotes e aves adultas nanatureza para traçar o perfilh e m a t o l ó g i c o ,hematoquímico e genético dapopulação.

Prioridade: AltaPrazo: Médio

Prioridade: FundamentalPrazo: Imediato

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.1.2 Efetuar o mapeamento e acaracterização dos ninhos utili-zados pela arara-azul-de-lear,considerando conformação in-terna, altura, orientação daabertura, umidade e tempera-tura, entre outros.

Prioridade: FundamentalPrazo: Curto

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.1.3 Monitorar ninhos ativos e es-tudar o tamanho dos grupospara a obtenção de dadossobre o comportamentoreprodutivo, o tamanho depostura, as taxas de eclosão ede fecundidade, o período deincubação, a ontogenia pós-embrionária e o sucessoreprodutivo anual nos dife-rentes sítios de nidificação.

Prioridade: FundamentalPrazo: Contínuo

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.1.4 Estimar as taxas derecrutamento anual.

Prioridade: FundamentalPrazo: Contínuo

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.1.5 Conduzir a avaliação das áre-as de paredões na porção su-

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.1.9 Implantar microchips emtodas as aves (adultos efilhotes) manuseadas, paraacompanhamento, caso elassejam capturadas portraficantes e posteriormenteapreendidas.

Prioridade: MédiaPrazo: Médio

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.1.10 Avaliar a necessidade deefetuar manejo em ninhosvisando ao aumento dosucesso reprodutivo pormeio do manejo dosegundo ou terceiro ovo e/ou ninhegos.

Prioridade: MédiaPrazo: Longo

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.2 Status populacional

3.2.1 Realizar censos mensaissimultâneos nos dormitóriosconhecidos para verificar avariação sazonal no tamanhoda população e darcontinuidade aos estudos depadrões de utilização dosdormitórios.

Prioridade: FundamentalPrazo: Contínuo

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.2.2 Realizar busca de novaspopulações da arara-azul-de-lear, utilizando imagens desatélite, mapas topográficos eferramentas como o GARP(Genetic Algorithm for RuleSet Production).

Prioridade: AltaPrazo: Imediato e contínuo

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.3 Alimentação

3.3.1 Atualizar o mapeamento erealizar o monitoramento dasáreas de alimentação daarara-azul-de-lear.

Prioridade: FundamentalPrazo: Contínuo

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.3.2 Realizar estudos de fenologiados licuris nas áreas deocorrência da arara-azul-de-lear.

Prioridade: FundamentalPrazo: Curto e contínuo

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.3.3 Realizar estudo sobre aecologia alimentar da arara-azul-de-lear, aumentando oconhecimento sobre acomposição da dieta e a suavariação sazonal.

Prioridade: AltaPrazo: Imediato

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

implementar medidaspreventivas para minimizar oimpacto do consumo demilho, pela espécie.

Prioridade: Alta

Prazo: Imediato e contínuo

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.3.8 Realizar estudo da capacida-de de suporte das áreas dealimentação utilizadas pelaarara-azul-de-lear.

Prioridade: Alta

Prazo: Curto

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.3.9 Desenvolver experimentosde cultivo de licurizeiros parao estabelecimento demetodologias adequadas demanejo para o plantio e otransplante.

Prioridade: Alta

Prazo: Contínuo

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.3.1 0 Efetuar o manejo delicurizeiros (plantio,transplante e recuperação)para assegurar suprimentoalimentar para as aves, emlongo prazo.

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.3.4. Realizar análise nutricionaldas plantas utilizadas comoalimento pela arara-azul-de-lear, para a determinação dosrequerimentos nutricionaisda espécie.

Prioridade: AltaPrazo: Imediato

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.3.5. Realizar estudo do consumode licuri pelas araras-azuis-de-lear, ao longo do ano.

Prioridade: Alta

Prazo: Imediato

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.3.6 Conduzir busca de novasáreas de alimentação daarara-azul-de-lear e incluir nabusca a Estação Ecológica doRaso da Catarina.

Prioridade: Alta

Prazo: Imediato e contínuo

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.3.7 Identificar as áreas de plantiode milho na região deocorrência da arara-azul-de-lear que estão sujeitas aataque, pelas araras, e

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

Prioridade: Alta

Prazo: Contínuo

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.3.11 Quantificar os prejuízoscausados por eventuaisataques às plantações demilho, pelas araras, e aplicaras medidas mitigatórias ecompensatórias necessárias.

Prioridade: Alta

Prazo: Contínuo

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.3.12 Avaliar a possibilidade defornecer alimentaçãosuplementar para a arara-azul-de-lear em locaisseguros, durante os períodosde escassez de alimento,para minimizar os ataques aplantações de milho.

Prioridade: Alta

Prazo: Curto

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.3.13 Realizar estudo sobre ainfluência do tamanho dogrupo na eficiência doforrageamento.

Prioridade: Média

Prazo: Curto

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.4 Deslocamentos

3.4.1 Realizar estudo dos desloca-mentos diários e sazonais dasararas-azuis-de-lear por meiode estudos de radiotelemetriacom adultos e jovens.

Prioridade: Média

Prazo: Curto

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.5 Ameaças

3.5.1 Realizar uma análise maisabrangente das ameaças àarara-azul-de-lear (caça,captura, perda de habitat,predadores) nos sítios dealimentação, reprodução edormitórios.

Prioridade: Alta

Prazo: Curto

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.5.2 Avaliar a atitude da populaçãolocal, especialmente dosprodutores de milho, paradeterminar os riscos e asoportunidades.

Prioridade: Média

Prazo: Curto

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.6 Reintrodução

3.6.1 Identificar sítios de solturaadequados que atendam aosrequerimentos de habitat daa r a r a - a z u l - d e - l e a r(especialmente presença deparedões e disponibilidadede licuris).

Prioridade: Baixa

Prazo: Longo

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

3.6.2 Realizar experimentos desolturas monitoradas nos sítiospreviamente identificados,visando ao desenvolvimentode estratégias e metodologiasadequadas para possíveisreintroduções futuras deararas-azuis-de-lear.

Prioridade: Baixa

Prazo: Longo

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesde pesquisa.

4. Pesquisa ex situ

4.1 Realizar curso de qualificaçãopara gerenciadores de livros deregistro genealógico e assegurarque o gerenciador tenha àdisposição as ferramentasnecessárias de manejo de

populações.

Prioridade: Fundamental

Prazo: Imediato

Atores: Ibama.

4.2 Atualizar o livro de registrogenealógico e a base de dadossobre a arara-azul-de-lear emcativeiro.

Prioridade: Fundamental

Prazo: Imediato

Atores: Ibama e instituiçõesparceiras.

4.3 Revisar, atualizar e aprimorar oPlano de Manejo em Cativeiroda Arara-Azul-de-Lear.

Prioridade: Alta

Prazo: Imediato

Atores: Ibama, mantenedores einstituições parceiras.

4.4 Realizar um Estudo deViabilidade de Populações eHabitat (PHVA) para a arara-azul-de-lear.

Prioridade: Alta

Prazo: Curto

Atores: Ibama, CBSG(IUCN) e

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

parceiros.

4.5 Implementar o Plano de Mane-jo em Cativeiro revisado emtodos os centros de reproduçãoda arara-azul-de-lear já estabe-lecidos e nos que forem cria-dos futuramente.

Prioridade: Alta

Prazo: Contínuo

Atores: Ibama, mantenedores einstituições parceiras.

4.6 Investir no aprimoramento doscentros de reprodução da arara-azul-de-lear já estabelecidos.

Prioridade: Alta

Prazo: Contínuo

Atores: Ibama, mantenedores einstituições parceiras.

4.7 Realizar exames de saúdeanuais padronizados de todas asararas-azuis-de-lear incluídas noPrograma de Cativeiro.

Prioridade: Alta

Prazo: Contínuo e emandamento

Atores: Ibama, mantenedores econsultor veterinário oficial.

4.8 Estabelecer um quarentenáriopara araras-azuis na Praia doForte (Bahia, Brasil).

Prioridade: Alta

Prazo: Em andamento

Atores: Ibama e ONGs.

4.9. Elaborar proposta para aconstrução e operação de umCentro de Reprodução deAraras-Azuis na Praia do Forte(Bahia, Brasil).

Prioridade: Média

Prazo: Imediato

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesparceiras.

4.10 Implantar e operacionalizar umCentro de Reprodução deAraras-Azuis na Praia do Forte(Bahia, Brasil).

Prioridade: Média

Prazo: Curto

Atores: Ibama, ONGs e instituiçõesparceiras.

4.11 Implementar um programa deexibição pública de exemplaresda arara-azul-de-lear, dentro efora do Brasil, para aconscientização pública e aarrecadação de recursos.

Prioridade: Média

Prazo: Curto

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

Atores: Ibama, mantenedores einstituições parceiras.

4.12 Coletar amostras de sangue dasaves em cativeiro para traçar eaprimorar o conhecimentohematológico, hematoquímicoe genético desta população.

Prioridade: Média

Prazo: Contínuo

Atores: Ibama, mantenedores,instituições parceiras e instituições depesquisa.

4.13 Estabelecer centros dereprodução de araras-azuis-de-lear no exterior, mediantea assinatura de acordos deempréstimo com potenciaismantenedores estrangeiros,numa avaliação caso a caso,visando à arrecadação derecursos para trabalhos deconservação in situ e ex situda arara-azul-de-lear.

Prioridade: Média

Prazo: Contínuo

Atores: Ibama, mantenedores einstituições parceiras.

4.14 Maximizar o sucessoreprodutivo das aves inseridasno Programa de Cativeiro pormeio de aprimoramento domanejo.

Prioridade: Média

Prazo: Contínuo

Atores: Ibama, mantenedores,instituições parceiras e instituições depesquisa.

4.15 Buscar a inclusão, no Programade Cativeiro, de todas as avesconhecidas.

Prioridade: Baixa

Prazo: Curto

Atores: Ibama.

4.16 Investigar informações sobrepossíveis aves de paradeirodesconhecido, em cativeirodentro e fora do país.

Prioridade: Baixa

Prazo: Contínuo

Responsável: Ibama.

4.17 Determinar as condiçõesreprodutivas das aves noPrograma de Cativeiro.

Prioridade: Baixa

Prazo: Contínuo

Atores: Ibama, mantenedores,instituições parceiras e instituições depesquisa.

4.18 Estabelecer novos centros dereprodução da arara-azul-de-lear no Brasil.

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

Prioridade: Baixa

Prazo: Longo

Atores: Ibama e instituiçõesparceiras.

5. Conscientização pública

5.1 Desenvolver de maneiracontínua atividades deeducação ambiental na regiãode ocorrência da arara-azul-de-lear.

Prioridade: Fundamental

Prazo: Contínuo

Atores: Ibama, ONGs, instituiçõesde pesquisa e órgãos estaduais e municipaisde meio ambiente e educação.

5.2 Desenvolver programas parapromover a melhoria daqualidade de vida daspopulações humanas na regiãode ocorrência da arara-azul-de-lear.

Prioridade: Alta

Prazo: Contínuo

Atores: Ibama, ONGs, instituiçõesde pesquisa e órgãos estaduais e municipais.

5.3 Desenvolver atividades deeducação ambiental nasreservas indígenas que existemna área de ocorrência da arara-azul-de-lear, especialmenteaquelas das etnias Pankararé eKaimbé.

Prioridade: Alta

Prazo: Contínuo

Atores: Ibama, ONGs, Funai eórgãos estaduais e municipais de meioambiente e educação.

6. Colaboração e Divulgação

6.1 Criar uma comissão dearrecadação de recursos para oprograma.

Prioridade: Fundamental

Prazo: Concluído

Atores: Ibama, parceiros e Comitê.

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Plano de Manejo da Arara-azul-de-lear

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