199

Alfabetização Conteúdo e Forma

Embed Size (px)

Citation preview

Iniciais.indd

Apoio:Ricardo CarvalhoValria FernandesCOORDENAO DE DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL Cristine Costa BarretoDESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL E REVISO EDITORATereza QueirozCOORDENAO EDITORIALJane CastellaniREVISO TIPOGRFICAPatrcia PaulaILUSTRAOAndr DahmerCAPAAndr DahmerPRODUO GRFICAAndra Dias FiesFbio Rapello Alencar

Marta da Costa Lima RgoAnna Maria OsborneCOORDENAO DE PRODUOAnna Carolina da Matta MachadoJorge MouraMaria Helena HatschbachPROGRAMAO VISUAL COORDENAO DE LINGUAGEM Maria Anglica AlvesRonaldo dAguiar SilvaCyana Leahy-DiosCOORDENAO DE AVALIAO DO Material DidticoELABORAO DE CONTEDODepartamento de ProduoFundao Cecierj / Consrcio CederjRua Visconde de Niteri, 1364 Mangueira Rio de Janeiro, RJ CEP 20943-001Tel.: (21) 2299-4565 Fax: (21) 2568-0725PresidenteMasako Oya MasudaVice-presidenteMirian CrapezCoordenao do Curso de Pedagogia para as Sries Iniciais do Ensino FundamentalUNIRIO - Adilson FlorentinoUERJ - Eloiza Gomes

MATERIAL DIDTICO Dbora Barreiros

R343a Rgo, Marta da Costa Lima. Alfabetizao: contedo e forma 2. v. 2 / Marta da Costa Lima Rgo; Ricardo Carvalho; Valria Fernandes. Rio de Janeiro: Fundao CECIERJ, 2008. 165p.; 19 x 26,5 cm. ISBN: 85-7648-168-5 1. Alfabetizao. 2. Literatura infantil. 3. Latim. 4. Lngua portuguesa. 5. Ortografi a. 6.Tecnologia. 7. Projetos pedaggico. I. Carvalho, Ricardo. II. Fernandes, Valria. III.Ttulo. CDD: 370.1

Copyright 2005, Fundao Cecierj / Consrcio Cederj Nenhuma parte deste material poder ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio AVALIAO DO MATERIAL eletrnico, mecnico, por fotocpia e outros, sem a prvia autorizao, por escrito, da Fundao.DIDTICOAna Paula Abreu Fialho2008/1Referncias Bibliogrfi cas e catalogao na fonte, de acordo com as normas da ABNT.

UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIROReitor: Almy Junior Cordeiro de CarvalhoUERJ - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIROReitora: Ricardo VieiralvesUFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEReitor: Roberto de Souza SallesUFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO Universidades ConsorciadasGoverno do Estado do Rio de JaneiroSecretrio de Estado de Cincia e TecnologiaGovernadorAlexandre CardosoSrgio Cabral Filho

RIO DE JANEIROReitor: Alosio TeixeiraUFRRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIROReitor: Ricardo Motta MirandaUNIRIO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIROReitora: Malvina Tania Tuttman

Alfabetizao: Aula 12 O Latim e o surgimento da Lngua Portuguesa_______________ 19Aula 13 Ortografi a: por que no pronunciamos como escrevemos? ______33Contedo e Forma 2Volume 2

SUMRIOAula 11 Literatura Infantil e Alfabetizao 3 parte __________________ 7

Aula 14 Oralidade, escrita e ortografi a___________________________ 53Aula 15 A troca de letras nas sries iniciais ________________________73Aula 16 Chegando mais perto das formas ortogrfi cas_______________ 95Aula 17 Projetos pedaggicos em alfabetizao 1 parte__________ 115Aula 18 Projetos pedaggicos em alfabetizao 2 parte__________ 123Aula 19 Projetos pedaggicos em alfabetizao 3 parte__________ 139Aula 20 Alfabetizao e tecnologia 1 parte ____________________ 147Referncias ______________________________________ 157

de Alfabetizao 2 e, ainda, da Aula 21 de Alfabetizao 1. Portanto, se restou alguma dvida, ou se voc encontrou alguma dificuldade na execuo das atividades propostas nas aulas citadas, sugerimos que faa uma nova leitura e tire suas dvidas com o tutor do seu plo.Literatura Infantil e Alfabetizao 3 parteEsperamos que, ao final desta aula, voc seja capaz de: Identificar, nas atividades propostas, o trabalho com os conceitos apresentados nas Aulas 9 e 10, sobre leitura, literaridade do texto e gosto pela leitura. Planejar atividades que levem ao desenvolvimento das habilidades de leitura, de escrita e que tambm desenvolvam o gosto pela leitura, utilizando adequadamente o texto literrio em sala de aula.11objetivosAULAMeta da aulaEnfocar atividades pedaggicas para trabalho com texto literrio na escola. Pr-requisitosPara que os objetivos desta aula sejam atingidos, indispensvel a leitura e compreenso das Aulas 9 e 10

INTRODUO Dando continuidade s discusses acerca da Literatura Infantil e da Alfabetizao sempre lembrando que no h receitas prontas para a conduo do processo de aprendizagem , ampliaremos, nesta aula, a lista de sugestes de atividades relacionadas leitura de textos literrios. Tendo como ponto de partida a discusso acerca de alguns procedimentos pedaggicos especficos para o trabalho com o texto literrio na sala de aula, nossa pretenso, no entanto, no ultrapassa o limite da sugesto de algumas possibilidades de se passar do campo das idias e do discurso para o da ao. Cabe, portanto, a voc refletir sobre o contedo das Aulas 9, 10 e 11, procurando estabelecer a relao com o seu trabalho em sala de aula, sem perder de vista os procedimentos pedaggicos que precisam ser modificados ou adaptados, de modo a se afinarem com o objetivo de formar um leitor autnomo, crtico, reflexivo e para a vida toda."Que perfil de leitor pretendo formar?""Sim, mas que atividades levaro a isso?""Como desenvolver essas atividades com os alunos?"" s eliminar esse item, acrescentar esse outro, adaptar essa etapa...""Ufa! Finalmente! Agora, mos obra!"

C E D E R JQue tal uma paradinha para refletir acerca da leitura como produo de sentidos, concepo trabalhada tanto nas aulas de Lngua Portuguesa quanto nas de Alfabetizao? Para ajud-lo(a) a pensar sobre isso, leia o depoimento de Roger Chartier, que transcrevemos a seguir.Leitura silenciosa um momento mgico de encontro do leitor com o texto. Leitura em voz alta uma transposio do universo escrito para a oralidade atravs da decodificao do signo lingstico. Leitura/Compreenso e interpretao a possibilidade de o leitor fazer estabelecer relaes entre o texto lido e sua forma prpria de compreender, de interpretar o mundo. Leitura sempre apropriao, inveno, produo de significados (CHARTIER, 1998).!Para voc conhecer um pouco o trabalho de Roger A. Chartier, leia A aventura do livro do leitor ao navegador, publicado pela Editora Unesp em 1998.

!Roger A. Chartier Nasceu em Lion, Frana, em 1945.Diretor da Escola de Altos Estudos em Cincias Sociais, em Paris, e professor especializado em Histria das prticas culturais e Histria da leitura, Roger Chartier um dos mais conhecidos historiadores da atualidade, com obras publicadas em vrios pases do mundo. Sua reflexo terica inovadora abriu novas possibilidades para os estudos em histria cultural e estimula a permanente renovao nas maneiras de ler e fazer a Histria.Chartier foi professor convidado de numerosas universidades estrangeiras (Princeton, Montreal, Yale, Cornell, Johns Hopkins, Chicago, Pensilvnia, Berkeley, dentre outras.) e publicou no Brasil os seguintes livros: Histria da vida privada, vol. 3: da Renascena ao Sculo das Luzes (Companhia das Letras); Cultura escrita, literatura e histria (Artmed), Formas do sentido - Cultura escrita: entre distino e apropriao (Mercado de Letras), Os desafios da escrita (Unesp), A aventura do livro (Unesp), A beira da falsia (Editora da Universidade), Do Palco Pgina (Casa da Palavra), A ordem dos livros (UnB), Histria da leitura no mundo ocidental (tica), Prticas da leitura (Estao Liberdade), O poder das bibliotecas: a memria dos livros no Ocidente (sob a direo de M. Baratin e C. Jacob, Ed. UFRJ) e Leituras e leitores na Frana do Antigo Regime (Unesp).Acesse www.editoraunesp.com.br/template/noticias_551.htm e voc encontrar uma entrevista com esse conceituado professor.O que ele dizSobre a liberdade do leitor diante do texto, Chartier diz:Apreendido pela leitura, o texto no tem de modo algum, ou ao menos totalmente, o sentido que lhe atribui seu autor, seu editor ou seus comentadores. Toda a histria da leitura supe, em seu princpio, esta liberdade do leitor que desloca e subverte aquilo que o livro tenta impor. Mas esta liberdade leitora no , jamais, absoluta. Ela cercada por limitaes derivadas das capacidades, das convenes e hbitos que caracterizam, em suas diferenas, as prticas de leitura. Os gestos mudam segundo os tempos e lugares, os objetos lidos e as razes de ler. Novas atitudes so inventadas, outras se extinguem. Vrias rupturas dividem a longa histria das maneiras de ler. Elas colocam em jogo a relao entre o corpo e o livro, os possveis usos da escrita e as categorias individuais que asseguram sua compreenso (1998).

C E D E R J

Alfabetizao: Contedo e Forma 2 | Literatura Infantil e Alfabetizao 3 parteAULA 11

109A ESCOLA E OS OBSTCULOS FORMAO DO LEITOR PROFICIENTEA escola, como espao comprometido com a educao do indivduo e historicamente vinculada leitura e escrita, deve considerar as mltiplas possibilidades expressivas, com as quais o aluno j interage e por meio das quais concebe o mundo, para delas fazer emergir o universo da escrita.Como voc pde ver nos mdulos de Lngua Portuguesa, cabe, ainda, escola viabilizar a aprendizagem da variedade culta da lngua. No entanto, no se devem desconsiderar as diferentes linguagens que se multiplicam como mediadoras das relaes do homem com seus pares e com o mundo, gerando novas formas de aquisio e construo de conhecimentos. necessrio que se tenha clareza do que leitura, de como esta se processa, das metodologias e recursos disponveis para a formao de leitores, a fim de que se opte por esta ou por aquela estratgia, de maneira a se oferecerem condies de interao entre os conhecimentos prvios, os objetivos e as capacidades que o leitor j possui, ou que ainda precisa adquirir, para constituir-se como leitor proficiente. fundamental que o ponto de vista do aluno no seja neutralizado pelo do professor que, muitas vezes, diminuindo-o ou negando-lhe voz, faz valer apenas as suas idias e os seus argumentos, considerando-os como as nicas verdades passveis de emanar do texto. A imposio da leitura do professor um obstculo formao de um leitor autnomo, crtico, apto ao exerccio pleno da cidadania, impedindo que o aluno se constitua como sujeito diante do outro, capaz de expressar suas opinies e de conscientizar-se de si, de seu papel social e do mundo.Sugesto de leituraA Secretaria Municipal de Educao/RJ, em parceria com a Multirio, no ano de 2004, distribuiu nas suas unidades escolares, um fichrio com vinte e quatro textos abordando temas muito interessantes e de grande contribuio para o trabalho do professor do Ensino Fundamental. Recomendamos a leitura desse material, intitulado Caderno do Professor, que est disponvel na biblioteca do seu plo.A seguir, listamos os itens do Caderno do Professor que consideramos mais pertinentes s discusses levantadas nas nossas aulas de Alfabetizao. Linguagem e escola. A lngua me. Questes de linguagem. Linguagem escrita. Educomunicao. O que leitura? Leitura e produo de significados na escola. Falar, ler e escrever. Avaliar para qu? Organizao do trabalho pedaggico na educao infantil. A escola como lugar de desenvolvimento e aprendizagem.Vamos continuar a conversaO qu e como fazer.Para comear, vamos rever um trecho da Aula 10.Ensinar a gostar de ler privilegiar o espao da leitura na sala de aula, incentivar o aluno provocando sua curiosidade, propor atividades ldicas, explorar o texto em nveis profundos.Por a, voc j pode perceber que o espao reservado leitura deve ser priorizado nas atividades desenvolvidas em sala de aula. Perceba que estamos nos referindo, aqui, ao sentido amplo da concepo de leitura: o de produo de sentidos. Dessa maneira, qualquer atividade que possibilite criana inserir-se no mundo simblico de sua cultura e interpretar suas expresses, gestos e posturas, produzindo e partilhando sentidos a partir da sua interao com o mundo e com os seus pares sociais, uma atividade de leitura e, como tal, permite a essa criana o acesso a novos conhecimentos.Um breve comentrioNeste momento, voc deve estar dizendo: Sim, eu j sei disso; mas o que devo fazer? Como devo fazer? Para aplacar um pouco sua ansiedade, adiantamos que, especificamente nas Aulas 18, 19 e 20, voc encontrar respostas para essas duas questes. Nelas sero apresentadas sugestes de atividades e diretrizes para a organizao de projetos pedaggicos em que a leitura trabalhada prioritariamente. Por enquanto, nesta aula, ficaremos no plano das discusses tericas."Sim, entendi. Mas que atividades desenvolver? Como vou fazer isso com as crianas?"

Pondo lenha na fogueira...Pensando no estgio em que voc deve se encontrar aps a leitura das aulas anteriores, at este momento, e para descontrair um pouquinho, leia o trecho do poema "Cntico Negro", de Jos Rgio, que transcrevemos a seguir.Ah, que ningum me d piedosas intenes! Ningum me pea definies! Ningum diga: vem por aqui! A minha vida um vendaval que se soltou. uma onda que se alevantou. um tomo a mais que se animou... No sei por onde vou, No sei para onde vou, Sei que no vou por a!Saber por qual caminho no ir j um bom comeo. Portanto, tenha um pouco de pacincia, d uma paradinha na leitura, beba uma gua gelada e, s ento, retome a leitura.Agora, vamos pr um pouco de ao nesta aula...ATIVIDADE1. Considere a situao a seguir.As crianas sentadas em crculo, no cho, ouvem a professora ler um conto de fadas. Ao terminar a leitura, a professora pergunta se a crianada gostou da histria. Gostamos! respondem entusiasmados. Na semana que vem tem mais. Vou escolher uma histria to linda como esta; mas agora vamos sentar nas cadeirinhas e voltar pra aula, porque temos muito trabalho pela frente. Chega de brincadeiras!A partir dos conhecimentos que voc construiu a respeito do trabalho com a leitura na escola, comente o procedimento da professora, que no perde muito tempo com a leitura, pois tem um extenso programa a seguir. Fundamente seus argumentos com a leitura que voc j fez nesta e nas Aulas 9 e 10.___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________COMENTRIO Sua resposta deve apontar para as inmeras possibilidades de trabalho e de aprendizagem que a professora, com seu procedimento diante do texto, vetou s crianas. muito importante que voc leve seu texto para discutir com os colegas de turma e com o tutor do plo. Assim, voc ter maior garantia de ter, efetivamente, compreendido as discusses apresentadas nas Aulas 9,10 e 11.LEITURA: UMA DELICIOSA BRINCADEIRA DE APRENDERA expresso brincadeira coisa sria, muito usada quando o assunto a Educao Infantil, verdadeira. O desenvolvimento da criana depende do ldico, e as brincadeiras e jogos so formas de sua equilibrao com o mundo.!Para voc saber mais a respeito da importncia do ldico no processo de aprendizagem da criana, recomendamos que leia Uma criana aprende melhor brincando (p.32), no livro Pr-escola e Alfabetizao, de Adriana Flvia Santos de Oliveira Lima, publicado pela Editora Vozes, em 2002.Adriana Flvia S. de Oliveira Lima Graduada em Pedagogia pela Universidade Santa rsula, ps-graduada em Mtodos de Pesquisa em Cincias Sociais e Mestre em Filosofia da Educao pela Fundao Getulio Vargas. Por mais de uma dcada, desenvolveu projetos educacionais e sociais com populaes menos favorecidas no Rio de Janeiro. Atualmente, orienta o Centro de Desenvolvimento de Estudos e Pesquisas, mantenedor do Colgio Oliveira Lima, em Fortaleza, Estado do Cear, sua terra natal.O que ela dizConsiderar a aprendizagem uma tarefa sisuda no significa que fique mais sria, apenas um preconceito existente em nossas escolas. A criana aprende melhor brincando, e TODOS os contedos podem ser ensinados atravs de brincadeiras e jogos, em atividades predominantemente ldicas.

Agora, vamos continuar a conversa...O trabalho com texto em sala de aula pode e deve ser visto como uma tarefa prazerosa. Para criar um clima favorvel, antes de apresentar um texto para leitura turma, um bom caminho o da provocao. Para isso, selecione uns trs ttulos e pendure, pelos corredores da escola e nas salas de aula, cartazes que instiguem a curiosidade das crianas. Vamos supor que um dos ttulos selecionados por voc seja Alguns medos e seus segredos, de Ana Maria Machado, publicado pela Nova Fronteira em 1984.!Antes de continuarmos, vamos saber um pouquinho sobre esse livro?Alguns medos e seus segredos traz uma seleo de trs histrias que abordam o medo natural que toda criana sente: Me com medo de lagartixa, Com licena, seu bicho-papo e O lobo mau e o valente caador. Com 30 pginas, esta obra conquistou o selo 1984 Altamente Recomendvel Fundao Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

Que tal a sugesto? As trs histrias so deliciosamente divertidas. E quem, criana ou adulto, no guarda, s vezes, bem escondido, um medinho de o que quer que seja? Velho-que-vem-com-um-saco, caldeiro de bruxa, gigante-que-come-criana, lobo mau, bicho-papo... Ai, que medo! Prosseguindo a conversa, com a proposta de estimular a curiosidade das crianas...Considerando o livro Alguns medos e seus segredos, confeccione alguns cartazes conforme os modelos que sugerimos a seguir.

Bem, voc j tem trs sugestes. Agora use sua criatividade para criar outros cartazes. Caso a escola tenha uma emissora de rdio, utilize-a para divulgar alguns dados da biografia da autora ou para dizer coisas do tipo: Oi, galera da turma 102! Algum a tem medo de bicho-papo? Pois, se tem, vai deixar de ter. No dia 10, vamos ouvir umas histrias deliciosas e engraadas sobre esse sujeitinho. diverso certa!E, no dia marcado, apresente o livro turma e leia de uma das histrias, reservando as outras duas para um outro dia. Ao final da leitura, faa algumas perguntas como, por exemplo, Algum sentiu medo? Por qu?; O que acharam do jeito de a autora escrever? Alguma palavra que vocs no conheam? Qual?. E deixe que os pequenos expressem livremente os sentidos que produziram do texto. Voc ver que eles faro muitas perguntas e muitos comentrios. Aproveite o clima de dilogo para sugerir-lhes atividades, tais como dramatizar a histria, desenhar outros seres assustadores, falar sobre os seus medos ou os de seus amigos e familiares, falar sobre filmes de terror, cantar msicas de bicho-papo e de lobo mau, confeccionar mscaras, fazer caretas uns para os outros e, se forem alfabetizados, escreverem frases de advertncia, como: Cuidado! Lobomau!.Converse com a turma sobre a vida e o trabalho da autora, pois Ana Maria Machado tem uma vida bastante interessante e um volume de trabalhos publicados como o de poucos escritores.So inmeras as possveis atividades diante de um bom texto; portanto, associe a sua criatividade das crianas e divirta-se, pois aulas desse gnero costumam render e todos aprendem muito com elas, inclusive o professor.!Vamos falar um pouco desta escritora fantstica: Ana Maria Machado.Antes, porm, vale a informao de que todos os dados sobre o livro Alguns medos e seus segredos e a biografia de Ana Maria Machado podem ser encontrados no site www.anamariamachado.com.br. Acesse-o para conhecer mais sobre a escritora e a sua obra. Voc ir descobrir coisas bem interessantes e poder repass-las aos seus alunos. Boa pesquisa!Na vida da escritora Ana Maria Machado, os nmeros so sempre generosos. So 33 anos de carreira, mais de 100 livros publicados no Brasil e em mais de 17 pases, somando mais de dezoito milhes de exemplares vendidos. Os prmios conquistados ao longo da carreira de escritora tambm so muitos, tantos que ela j perdeu a conta. Tudo impressiona na vida dessa carioca nascida em Santa Tereza, no dia 24 de dezembro.O que ela dizAprendi a ler sozinha, com menos de cinco anos. Depois de deixar minha professora e minha me assustadas (acharam que poderia fazer mal!), comecei a mergulhar em leituras como o Almanaque do Tico-Tico e os livros de Monteiro Lobato. Foi nesse perodo que encontrei o livro que marcaria a minha vida para sempre: Reinaes de Narizinho.Era uma boa aluna e vivia ganhando prmios em geral livros, da famlia. Uma das minhas redaes foi to elogiada e premiada que a mostrei em casa. Meu tio Nelson, que estava l, levou o texto para o meu tio Guilherme, folclorista e essa acabou sendo a minha estria literria. Devidamente assinado e aumentado, por encomenda da revista Folclore, saiu publicado meu Arrasto, sobre as redes de pesca artesanal em Manguinhos. O meu orgulho supremo foi que a revista no falava que o texto tinha sido feito por uma menina de doze anos.

R E S U M OA partir da leitura das idias de Roger Chartier, a certeza que ns j alimentvamos de que a leitura do aluno no pode e no deve ser enjaulada pelo professor , passa a ter uma fundamentao terica, deixando de ser apenas produto da nossa observao e intuio de professores. Os famosos exerccios de interpretao com gabaritos de respostas absolutamente controladas pelo professor perdem completamente o sentido e do lugar discusso de leituras possveis e diversas a partir de um mesmo texto. Como ler a riqueza e a diversidade das histrias de Ana Maria Machado com 30 ou 40 alunos e querer que todos cheguem s mesmas concluses e compreendam tudo exatamente do mesmo jeito? Antes de considerarmos erradas as respostas dadas por nossos alunos, que so diferentes das nossas, ou apenas inesperadas, precisamos nos interrogar se elas so ou no cabveis, a partir da leitura do texto.A alternativa do trabalho criativo com as contaes de histria e atividades de compreenso e aprofundamento da leitura, seguidas de registros escritos produtivos e prazerosos, pode ser mais poderosa que mil provas e trabalhos com data marcada sobre livros paradidticos que foram leitura obrigatria do bimestre.Se conseguirmos parar e refletir sobre o que a escola faz com a leitura, ficar mais fcil compreender por que as crianas adoram manusear livros, ouvir histrias e descobrir os motivos pelos quais, na medida em que crescem, perdem no apenas o gosto pela leitura, mas tambm o prazer de estar na companhia de livros. Se talvez as professoras do Ensino Fundamental contassem histrias para seus alunos diariamente, como se faz com os pequenos, com o mesmo entusiasmo e prazer, talvez os mais velhos tivessem outra relao com a leitura, independentemente da sua idade.ATIVIDADE FINALEscreva aqui uma sugesto de atividade criada por voc para o trabalho com um livro de Literatura Infantil, sua escolha. Para melhor execuo desta tarefa, sugerimos que releia a Aula 21 de Alfabetizao1.Objetivo

Descrio da atividade

Forma de registro

COMENTRIOSua atividade deve contemplar o carter ldico da aprendizagem, ou seja, deve ser planejada em forma de brincadeira. A dinmica precisa envolver as crianas, despertar sua curiosidade e seu interesse. Lembre-se de que estamos falando de crianas na fase inicial da leitura e da escrita, independentemente de idade, pois sabemos que a realidade de nossas escolas diversa. Por esse motivo, pense em uma atividade que atenda a diferentes grupos. No esquea: brincadeira coisa sria, e toda criana gosta! AUTO-AVALIAOSe voc conseguiu realizar as tarefas sem dificuldades, parabns! Voc est se sentindo seguro(a) ao utilizar novas alternativas para o seu trabalho com o texto literrio em sala de aula. Caso voc tenha encontrado dificuldades, significa que ainda precisa de mais um pouco de tempo para acreditar em seu potencial e na possibilidade criativa de mudar os procedimentos ao oferecer uma leitura aos seus alunos. Seja perseverante! Voc ter, nas prximas aulas, oportunidade de rever alguns conceitos e de elaborar projetos de atividades que envolvam a leitura em sala de aula.Alfabetizao: Contedo e Forma 2 | Literatura Infantil e Alfabetizao 3 parteAlfabetizao: Contedo e Forma 2 | Literatura Infantil e Alfabetizao 3 parteAULA 11

10 C E D E R J18 C E D E R JC E D E R J 17disciplina Alfabetizao 1, que tratam da histria da escrita. L voc ir relembrar como a escrita alfabtica foi inventada pelos gregos e difundida pelo povo romano. Aproveite para observar a diferena entre as letras do alfabeto grego e do alfabeto latino oriundo do povo romano.O Latim e o surgimento da Lngua Portuguesa Esperamos que, aps o estudo do contedo desta aula, voc seja capaz de: Identificar as contribuies do Latim na formao da Lngua Portuguesa e seu processo de elaborao grfica. Estabelecer comparaes entre as primeiras escritas desenvolvidas pelos portugueses no sculo XVI e a escrita produzida nas escolas. Desenvolver uma noo crtica sobre os processos de dominao pela lngua oral e escrita. 12objetivosAULAMeta da aulaDiscutir a relao entre lngua e poder no processo de consolidao da Lngua Portuguesa.Pr-requisitos Para favorecer um bom desempenho nos estudos deste texto interessante voc retornar leitura das Aulas 8 e 9 da

INTRODUO Pega carona nessa ca... com U ou com L?Sou eu!No, sou eu!Chega! Eu j me decidi!Eu vou com o sinnimo... Com voc no tem erro...

Toda pessoa inserida no mundo letrado, em alguma situao de escrita, j teve dvidas com relao letra que deveria usar ao escrever uma determinada palavra. A ilustrao mostra bem a preocupao de um sujeito que, na hora de registrar um determinado vocbulo do trecho da msica Lindo balo azul de Guilherme Arantes, hesita na escolha da letra. A personagem se v diante de uma questo: que letra usar para grafar a palavra CAUDA/CALDA? Por no conseguir encontrar resposta perante a competio entre as duas letras, L ou U, o cangaceiro opta pelo uso do sinnimo, evitando, assim, o enfretamento com sua dificuldade ortogrfica.A fuga do erro ortogrfico, substituindo uma palavra pelo seu sinnimo, parece ser uma estratgia que resolve o problema em um nvel mais imediato, mas no nos deixa tranqilos diante de situaes nas quais imprescindvel saber grafar determinadas expresses em um texto escrito. No que tange incerteza de nosso amigo cangaceiro, em relao grafia correta da palavra destacada, veremos que suas dvidas tm procedncia. Sabemos que, em nosso sistema de escrita, h letras que representam um mesmo som, como no caso de L e U no contexto grfico mencionado. Observa-se que, em nossa lngua, existem palavras que apresentam a mesma pronncia, porm com grafias e significados distintos, como no exemplo de CALDA (doce formado da soluo de acar com gua que vai ao fogo) e CAUDA (parte traseira de cometas e animais). Alm do mais, nosso sistema de escrita misto, isto , nosso modo de escrever as palavras est fundamentado tanto por critrios fonticos quanto por critrios etimolgicos. Para escrever, no basta somente saber o valor sonoro das letras e suas combinaes, mas dominar um conjunto de regras e normas que ditam uma maneira correta de grafar as palavras em nossa sociedade. Tal fenmeno, reconhecido como ortografia (estudo da escrita convencionalmente correta), fruto de muitas disputas e controvrsias entre gramticos e estudiosos da Lngua Portuguesa. Convm no esquecer, ainda, que as formas de registro de um idioma se modificam no percurso da histria, visto que toda lngua sofre transformaes quando est sendo pronunciada e escrita por seus usurios. Sabendo que a padronizao de toda e qualquer linguagem no organizada de forma neutra, voc observar, nesta aula, acontecimentos e discursos que atuaram como determinantes na consolidao da Lngua Portuguesa e na cristalizao de normas e de regras de seu registro culto. Detendo-se sobre o processo de desenvolvimento da Lngua Portuguesa e de sua ortografia, investigaremos fatores que condicionaram a elaborao das normas ortogrficas. Voc, professor, poder compreender melhor a complexidade do ensino ortogrfico na escola, bem como as dificuldades vivenciadas pelos alunos no processo de apropriao de saberes referentes norma culta. Bons estudos e sigamos em frente!O LATIM E O SURGIMENTO DA LNGUA PORTUGUESALNGUA PORTUGUESAOlavo Bilacltima flor do Lcio, inculta e bela, s, a um tempo, esplendor e sepultura(...) Amo-te, rude e doloroso idioma,Em que da voz materna ouvi: meu filho! E em que Cames chorou, no exlio amargo, O gnio sem ventura e o amor sem brilho!LNGUACaetano VelosoFlor do Lcio sambdromoLusamrica latim em pO que queres e o que pode essa lngua?Os trechos dos poemas que acabamos de ler remetem para a expresso flor do Lcio. O primeiro poeta compara a Lngua Portuguesa a uma flor que nasceu em um jardim chamado Lcio. Esta flor demonstra-se inculta e bela diante de um canteiro que fecundou tantas outras flores. Por ser a ltima flor deste jardim, vive um tempo de esplendor e ao mesmo tempo de sepultura. Caetano nos interroga sobre o poder desta flor que vive em constante transformao, misturando palavras de diferentes origens e de diferentes formas: Qual ser o poder desta lngua? Tentaremos responder a essa pergunta, quando nos aprofundarmos, um pouco mais, nos estudos sobre a origem de nossa lngua e sua dinmica no percurso da histria.Para incio de conversa, a Lngua Portuguesa deriva do Latim, lngua arcaica que comeou a ser falada, inicialmente, por um grupo de pessoas que vivia em uma pequena cidade, localizada na regio central da pennsula itlica, chamada Lcio. Por volta do sculo V a.C., esta regio, considerada o bero do Latim, foi invadida por povos guerreiros que constituiriam, tempos mais tarde, a nao romana. Apesar de o Latim se consolidar como lngua oficial de Roma por volta do sculo III a.C., ela s se consagrou como lngua clssica e erudita entre os anos 81 a.C e 17 d.C., perodo no qual grandes produes literrias foram desenvolvidas por Horcio, Ccero, Ovdio e outros.Na histria da humanidade, Roma tornou-se uma grande potncia, passando a invadir e dominar todas as cidades que encontravam pela frente. Todos os grupos subjugados por esse Imprio, acabavam sendo obrigados a se comunicar pelo Latim trazido pelos conquistadores. O fato de o idioma ser bastante dinmico e ter um sistema de escrita organizado fez com que os diferentes povos dominados adotassem o Latim como lngua corrente. Isto aconteceu, principalmente, com os grupos que viviam situados na Pennsula Ibrica. Cada regio dominada passou a falar o Latim de uma forma peculiar, visto que acrescentavam outros elementos de suas lnguas primitivas na composio da lngua romnica imposta. neste contexto que vo surgir diversos dialetos derivados do Latim, que posteriormente tornaram-se lnguas independentes, como: o Francs, o Italiano, o Portugus, o Espanhol e o Romeno.J deu para perceber o motivo pelo qual Olavo Bilac, para denomina a Lngua Portuguesa a ltima flor do Lcio. O Portugus foi uma das ltimas lnguas derivadas do Latim a ser falada no continente europeu (estas lnguas so chamadas neolatinas). Vejamos, neste momento, se reconhecemos alguns elementos do Latim em nossa lngua, a partir da leitura de um texto escrito que apresentamos a seguir. Trata-se de uma orao que se encontra na Bblia. Voc consegue identificar? Pater noster, qui est in coelis, sanctificetur nomen tuum. Adveniat regnum tuum, fiat voluntas tua sicut in coelo et in terra. Panem nostrum cottidianum da nobis hodie et dimitte nobis debita nostra, sicut nos dimittimus debitoribus nostris. Et ne nos inducas in temptationem, sed libera nos a malo. Amen.Se voc disse Pai-nosso, acabou de ganhar um sorriso do autor, pois acertou em cheio nosso enigma proposto. Agora, aproveite para comparar o texto em Latim com a traduo em Lngua Portuguesa que apresentaremos a seguir. Voc poder reconhecer uma srie de elementos do Latim que se encontram presentes, ainda hoje, em nosso idioma.Pai-nosso, que estais no cu, santificado seja o vosso nome. Venha a ns o vosso reino. Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no cu. O po nosso de cada dia nos dai hoje. Perdoai-nos as nossas dvidas assim como ns perdoamos aos nossos devedores. E no nos deixeis cair em tentao, mas livrai-nos do mal. Amm. ATIVIDADES1. Voc deve ter percebido que o Latim apresenta alguns vocbulos parecidos com os utilizados em nossa lngua. Que palavras voc destacaria como semelhantes ao nosso vocabulrio?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________RESPOSTA COMENTADA Encontramos na orao escrita em Latim, muitas palavras semelhantes a algumas da Lngua Portuguesa, como por exemplo: pater, terra, cottidianum, libera, amen etc.2. O que voc diria a respeito do significado das palavras abaixo:a) paterb) voluntasc) panemRESPOSTA COMENTADA possvel perceber que as palavras destacadas do origem a outras palavras que se encontram na Lngua Portuguesa: a) pater: pai, paternidade, ptria; b) voluntas: vontade, voluntrio c) panem: po, panificadora, panificao. 3. Observando a disposio das letras nos vocbulos grafados, que formas grficas lhe parecem estranhas em relao escrita do idioma portugus? Comente a respeito das palavras que colocamos no quadro a seguir.Tuun sicut et cottidianum dimitte______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________RESPOSTA COMENTADA Do ponto de vista grfico, nossa forma de escrever diferente do Latim. Em nosso sistema ortogrfico no encontramos, na atualidade, u dobrado; no usamos o t no final de slabas sem acompanhamento de vogal; no temos o uso de consoantes como t, grafada duas vezes, para expressar um nico som. Voc poder encontrar outras diferenas, alm daquelas que destacamos. PENNSULA IBRICAA histria da Lngua Portuguesa est relacionada com as ocupaes dos diversos povos que viveram na Pennsula Ibrica. Os primeiros habitantes que se instalaram nessa regio foram os bascos, os lgures e os beros. Em seguida vieram os celtas, os fencios e os gregos. A Pennsula Ibrica foi, tambm, objeto de disputa entre os cartagineses e romanos, ficando sob o domnio destes ltimos. Com a queda do Imprio Romano no sculo V d. C., ela sofreu ataques de povos brbaros: suevos e visigodos. No sculo VIII enfrentou a invaso dos rabes durante cinco sculos.

A FORMAO DE UMA IDENTIDADE A PARTIR DA LNGUA ESCRITAComo vimos, o Latim deu origem s lnguas neolatinas: Portugus, Espanhol, Italiano, Francs e o Romeno. Com a queda do Imprio Romano e as constantes invases dos mulumanos na PENNSULA IBRICA, o Latim falado nesta regio sofreu diversas transformaes, fecundando, entre outras lnguas, o Galego-portugus e o Castelhano. Com o passar do tempo, as novas formas de oralizar as palavras fizeram com que as camadas menos cultas fossem desconhecendo, quase que totalmente, o dialeto latino que deu origem a sua lngua contempornea. Apesar disto, as grandes obras e os documentos oficiais destas regies (dominadas pelos romanos) continuavam sendo escritos em latim. Sendo assim, a fora da lngua latina no deixa de existir no campo da cultura escrita por toda a Idade Mdia. Essa tradio se perpetuou por longos anos, na medida em que a Igreja, guardi do saber ocidental acumulado pela humanidade, fez do Latim uma lngua de poder. Para se exercer qualquer funo intelectual ou religiosa nas sociedades feudais era preciso aprender a ler e a escrever a lngua latina nos mosteiros. Dessa forma, a Igreja concentrava em suas mos uma grande quantidade de informaes que no podiam ser lidas em outra lngua que no fosse a proferida nas escolas monsticas.Os registros escritos da lngua falada no dia-a-dia eram bem pouco usados, visto que no havia uma preocupao com o ensino da escrita na lngua verncula. Os textos escritos na lngua do povo, que foram produzidos na Idade Mdia, na verdade no eram para ser lidos, mas para serem ouvidos. Da a presena de um sistema de pontuao que orientasse a entonao das falas escritas no ato da leitura. Podemos dizer que, enquanto o Latim era considerado a lngua da sabedoria, as lnguas maternas eram tratadas como expresso de afetividade a ser cantada em trovas e versos nos momentos de congregao. Para ilustrar as afirmaes aqui apresentadas, tomamos como referncia uma crnica escrita nesse perodo a respeito da morte do filho do rei de Leo e Castela, Afonso VI. Na batalha de Ucls (1008), em que foi derrotado pelos mouros, Afonso VI, conquistador de Toledo, rei de Leo e Castela, perdeu um filho querido. A crnica latina em que narrado este acontecimento interrompe o texto latino para reproduzir a lamentao do rei na sua prpria lngua materna: Ay meu fillo! Ay meu fillo, alegria do meu coraon e lume de meu ollos, solaz de mia velhece! Ay meu espello em que me soia veer e com que tomaba gran prazer! Ay meu herdeiro mor. Cavaleiros u me lo leixastes? Dade-me o meu fillo, Condes!. Qualquer leitor entende que o rei de Leo e Castela se estava queixando em galego que era a sua lngua afetiva, a sua lngua de criao... (SARAIVA, 1999, p. 9).Com a unificao dos estados e a consolidao das monarquias no final da Idade Mdia, inicia-se um amplo processo de valorizao das lnguas nacionais. Muitos textos escritos testamentos, ttulos de vendas e obras literrias deixam de ser escritos em Latim para serem escritos na lngua vulgar. Tal processo ajuda a consolidar as lnguas, tornando-as posteriormente smbolo de identidade das naes. Sobre reconhecimento de Portugal, como pas unificado, Cmara Jr. (1975, p. 19) afirma que ...no sculo XI, separou-se do reino de Leo e Castela o condado de Portugal, cujo centro era a regio do Porto (Portu Cale). O novo pequeno reino consolidou, por sua vez, como lngua nacional o seu romano peculiar, que constituiu a lngua portuguesa. No extremo norte do litoral atlntico, porm, a regio da Galiza, em que se falava o mesmo romano, continuou praticamente subordinada ao reino de Leo e Castela e at hoje conserva o galego como dialeto regional, sob o domnio oficial do castelhano. Depois de muitas lutas internas entre as dinastias rivais, no ano de 1290, o rei de Portugal D. Diniz fundou a primeira universidade em Coimbra, decretando o uso obrigatrio da Lngua Portuguesa em seu condado. A consolidao da lngua escrita significou, ainda mais, a afirmao da identidade desse povo. Observa-se que os primeiros escritos no apresentavam uniformidade, visto que no havia uma forma nica de escrever as palavras. Cada usurio da Lngua Portuguesa escrevia as palavras de acordo com sua pronncia, tendo como referncia a escrita latina.A disposio das letras e a forma como eram escritas palavras em Latim, muitas vezes, no correspondiam aos sons produzidos na Lngua Portuguesa. Surge, ento, a necessidade de se pensar maneiras de adequar as letras grafadas aos sons que eram pronunciados na lngua verncula. Os escribas portugueses, influenciados pelo sistema alfabtico de outros pases, acrescentaram novas letras ao seu sistema de escrita, incorporando, em seu cdigo grfico, outras letras que no estavam vinculadas ao alfabeto latino. Como nos diz Cagliari (1996, p.84):...Ao transpor do Latim para o Portugus as idias ortogrficas latinas da poca, era preciso fazer alguns ajustes, uma vez que o Portugus tinha vogais e consoantes que no se encontravam no Latim. A imaginao criativa das pessoas comeou a encontrar solues, indo buscar em todas as lnguas a que podiam ter acesso. Assim surgiram os dgrafos com H (talvez por influncia do Italiano), o C-cedilha (por influncia do Espanhol) o Jota (por influncia do Francs) e os acentos agudo e circunflexo para diferenciar qualidades voclicas do tipo , , , (certamente influncia do rabe)."Lngua Portuguesa"

Atravs de um longo processo, os usurios da Lngua Portuguesa foram construindo uma forma de grafar, convencionalmente, a lngua verncula. Havia muitas divergncias sobre o melhor uso das letras na escrita dos vocbulos. De um lado, encontramos os adeptos da escrita de acordo com a tradio latina; de outro, os que lutavam pela inovao do sistema de escrita com base no idioma falado. Como no existia uma gramtica neste perodo, cada indivduo escrevia como bem entendia. Nesse perodo, possvel encontrar, em um mesmo texto, vocbulos sendo grafados de trs modos diferentes (bons, bns, bons), comprovando a falta de estabilidade no uso das letras para registrar as palavras. ATIVIDADES4. Conhea um pouco mais a grafia do incio do sculo XVI, lendo um fragmento da carta de Pero Vaz Caminha enviada ao El-Rei D. Manuel no ano de 1500. Em seguida, tente traduzi-la para a forma de escrita que conhecemos hoje. ...afeiam deles he seerem pardos maneira dauermelhados de bons rrostros e bons narizes bem feitos. / amdam nuus sem nenhuua cubertura, nem estiman nhuua coussa cobrir nem mostrar suas vergonhas, estam aerqua disso com tamta inocemia como teem em mostrar orrostro. / traziam ambos os beios de baixo furados e metidos por les senhos osos doso brancos de compridam dhuua mao travessa e de grossura dhuua fuso dalgodam e aguda na pta coma furador. / mete nos pela parte de dentro do beio e hquei lhes fica antre obeio eos demtes he feito coma rroque denxadrez e em tal maneira o trazem aly emcaxado que lhes nom da paixo nem lhes torua afala nem comer nem beber...______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA Traduo do texto apresentado: ... a feio deles serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixar de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso so de grande inocncia. Ambos traziam o beio de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mo travessa, e da gordura de um fuso de algodo, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beio; e a parte que lhes fica entre o beio e os dentes feita a modo de roque de xadrez. E trazem-nos ali encaixado de sorte que no os magoa, nem lhes pe estorvo no falar, nem no comer e beber...5. Que diferenas voc observa entre a grafia da carta de Pero Vaz Caminha e a escrita que temos nos dias de hoje? Retire do texto aspectos que no correspondam nossa maneira de escrever. Em seguida faa comentrios sobre diferenas entre o nosso modo de grafar e o que se encontra na carta. ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

RESPOSTA COMENTADASe observarmos a grafia de Caminha, identificaremos diversos aspectos que distanciam o Portugus escrito de 1500 perante as convenes ortogrficas que conhecemos na atualidade. Primeiramente, observa-se que a palavra bons foi grafada neste pequeno trecho de duas formas diferentes: bons e bons comprovando a forma instvel de grafar as palavras. Muitas palavras so segmentadas de forma diversa das convenes que conhecemos hoje: afeiam (a feio), orrostro (o rosto), dalgodam (de algodo). Utilizam-se dois r no incio de palavras, como no caso de rroque. Encontra-se o uso de vogal dobrada, como nuus (nus), nhuua(nenhuma) etc. possvel afirmar que neste perodo no h ainda uma preocupao ntida com a ortografia das palavras. Se comparssemos os escritos de diferentes escribas, poderamos ressaltar outras diferenas sobre as diversas formas de grafar os documentos escritos.

CONCLUSOObservamos que a construo de um sistema grfico padronizado no se fez da noite para o dia em Portugal. O fato de cada pessoa escrever do modo como pronunciava as palavras, fez com que a forma de dividir as palavras nas frases, bem como a escolha das letras para grafar as palavras, seguissem a intuio de quem escrevia. Se por um lado, os textos respeitavam o estilo de cada um, permitindo que se expressassem de acordo com a variedade lingstica utilizada em seu dia-a-dia, por outro, a leitura desses textos tornava-se mais difcil para quem no utilizava o mesmo dialeto. Apesar de os portugueses falarem o mesmo idioma, o uso da lngua em cada classe social, em cada regio, em cada faixa etria se manifestava de maneira distinta. Considerando que uma nao se compe de falares distintos, os gramticos do sculo XV, visando consolidao da Lngua Portuguesa, pensam formas para padronizar a escrita a fim de evitar ambigidades. Com isso ressalta-se uma questo poltica: que dialeto ser privilegiado para padronizar a linguagem escrita? Certamente o da classe dominante. A partir do texto que lemos, podemos deduzir que as relaes de opresso lingstica encontram-se tambm nas prticas desenvolvidas pela escola. Quando o professor valoriza um determinado dialeto, impedindo que outros dialetos manifestem-se, ele est estabelecendo uma relao de poder, ou pelo menos reproduzindo uma relao opressiva. Na medida em que desconsideramos outras formas de manifestao verbal, tanto no campo da oralidade, como no campo da escrita, impedimos que os sujeitos recriem a sua linguagem a partir de sua perspectiva. Se por um lado, necessrio normatizar um sistema de cdigos para que a linguagem se torne mais eficaz diante das variaes, por outro lado necessrio considerar as diferenas envolvidas no processo de elaborao de novos saberes que a escola busca produzir.R E S U M OToda lngua est em constante transformao, sendo determinada por fatores econmicos, polticos, culturais e sociais. A constituio de um idioma est vinculada s relaes de poder entre as diversas instncias que compem um Estado. No percurso da histria, possvel perceber que o processo de dominao dos romanos, sobre outros povos, fez com que o Latim se tornasse a lngua hegemnica no continente europeu entre os sculos III a.C e V d.C. Observa-se, entretanto, que a apropriao da lngua, imposta pelos povos dominados, sofreu transformaes, promovendo a construo de novos dialetos e idiomas. Cada grupo, a partir de seus saberes consolidados, e no contato com outras civilizaes, acabou por desenvolver uma dinmica prpria, elaborando uma forma singular de se expressar. Um dos meios de consolidao da lngua reinventada foi a produo de registros escritos de acordo com o discurso oral. A Igreja tentou impedir que esse fato acontecesse, dificultando a democratizao dos saberes produzidos pela humanidade nas escolas monsticas. Graas a um amplo processo de resistncia, os portugueses, assim como outras naes, conseguiram adaptar o sistema de escrita latina para a sua lngua materna, adotando uma nova forma de expresso verbal pela via do discurso escrito. A partir deste movimento, desenvolve-se um processo de valorizao da produo de textos escritos em sua prpria lngua materna. ATIVIDADE FINALA partir da leitura realizada, faa um pequeno texto que discuta a seguinte frase: A lngua pode ser um instrumento de dominao." _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________

AUTO-AVALIAOEsperamos que voc tenha estabelecido relaes crticas sobre o processo de formao do idioma Portugus e sua consolidao no plano da escrita. Caso ainda tenha alguma dificuldade, faa uma nova leitura do texto. Se a dvida persistir, rena-se com um grupo de alunos do curso para discutir o tema, ou, ento, consulte o tutor. Bons estudos! INFORMAES SOBRE A PRXIMA AULA Nossa discusso sobre o surgimento da grafia impressa em Lngua Portuguesa est apenas comeando. Na prxima aula, voc acompanhar os estudos dos primeiros gramticos para organizar um sistema grfico uniformizado, bem como a tentativa de elaborao de um acordo ortogrfico entre os diversos pases que falam a Lngua Portuguesa. At l!

Alfabetizao: Contedo e Forma 2 | O Latim e o surgimento da Lngua Portuguesa AULA 12

30 C E D E R JC E D E R J 29XVIII em Portugal. A valorizao da cultura greco-latina na Renascena estava a todo vapor. No Brasil tambm ocorria a formao de uma identidade nacional graas miscigenao entre ndios, negros e brancos. Aproveite para relembrar as concepes de mundo que vigoravam neste perodo nos livros de Histria, nas aulas que voc j teve sobre o assunto e em filmes que dialogam com esse tempo.Ortografia: por que no pronunciamos como escrevemos? Esperamos que, aps o estudo do contedo desta aula, voc seja capaz de: Analisar as diferentes transformaes ocorridas no sistema ortogrfico do portugus, considerando os perodos fontico, etimolgico e simplificado. Construir o conceito de ortografia por meio da observao das propriedades do sistema ortogrfico da Lngua Portuguesa. Acompanhar, no desenvolvimento histrico, fatores importantes que desencadearam a institucionalizao da ortografia em Portugal e no Brasil. Reconhecer a influncia da cultura negra e indgena na formao da Lngua Portuguesa falada no Brasil. 13objetivosAULAMeta da aulaRefletir sobre as propriedades da ortografia da Lngua Portuguesa a partir das transformaes de seu sistema grfico ocorridas em seu processo histrico.Pr-requisitos Nesta aula, retrataremos as primeiras discusses que visavam institucionalizao da ortografia entre os sculos XVI e

INTRODUO Antes de estudarmos as questes histricas em torno da construo das normas ortogrficas, voc j pensou nas diferenas entre a linguagem escrita e a linguagem falada? Como podemos distingui-las?Aprofundaremos a discusso sobre a diferena entre a linguagem escrita e a falada a fim de entender a insero da ortografia nas sociedades letradas. Compreendendo a ortografia como um recurso que visa padronizao da escrita das palavras, indagamos: Por que ser que a escrita no representa fielmente a pronncia das palavras? Por que no escrevemos as palavras tal como pronunciamos? Com certeza existem razes histricas e culturais envolvidas no processo da institucionalizao ortogrfica nas sociedades. Para investigarmos um pouco mais sobre esse assunto, comearemos nossa aula com a narrao de duas histrias que nos ajudaro a refletir sobre os diferentes aspectos que constituem o funcionamento da oralidade e da escrita no processo de comunicao. QUANDO A FALA DIFERENTE DA ESCRITAReza a lenda que um homem muito rico, quando estava quase morrendo, escreveu em uma tabuleta o seu ltimo desejo, da seguinte forma:Deixo os meus bens minha irm no ao meu sobrinho jamais ser paga a conta do alfaiate nada aos pobres

Como no teve tempo para pontuar sua escrita, as trs pessoas mais prximas do defunto resolveram reclamar seus direitos ao juiz da cidade. A confuso estava armada. Irm, sobrinho e alfaiate trouxeram cada um, ao seu modo, novas tabuletas, apresentando a verso correta do testamento com as palavras do falecido.Deixo os meus bens minha irm. No ao meu sobrinho, jamais ser paga a conta do alfaiate, nada aos pobres.Deixo os meus bens minha irm? No! Ao meu sobrinho. Jamais ser paga a conta do alfaiate, nada aos pobres.

Deixo os meus bens minha irm? No! Ao meu sobrinho? Jamais! Ser paga a conta do alfaiate, nada aos pobres.

A discusso levou longas horas e no se chegou a nenhuma concluso. Foi quando um grupo de pessoas esfarrapadas chegou ao tribunal alegando ter a soluo para o caso. O juiz, diante do impasse, escuta a populao e decreta como vlida a seguinte verso do testamento:Deixo os meus bens minha irm? No! Ao meu sobrinho? Jamais! Ser paga a conta do alfaiate? Nada! Aos pobres.

(Texto adaptado de LEITE, 1973, p. 84)No muito longe daquelas bandas, um casal mineiro conversa em sua pequena choupana. Observe a forma como expressam as palavras em seu cotidiano. Escrevemos as palavras tal como a conversa foi escutada. Para voc entender melhor, leia o texto em voz alta. C K CAF? K. P P P? P P! P P PO? P P POKIN S. QFOM KOT. PCV! N!Se voc reparou bem, com apenas 97 caracteres ns conseguimos transcrever a fala dos camponeses de uma forma compacta. Leremos agora uma segunda verso do mesmo fato, acrescentando outros elementos grficos de forma que voc faa a leitura somente com os olhos. Voc quer caf? Quero. Pode pr p? Pode pr. Pode pr po? Pode pr um pouquinho s. Que fome que eu estou! Olha para voc ver! Nossa Senhora Aparecida do Perptuo Socorro! As duas situaes que acabamos de relatar demonstram que as palavras no contexto escrito e oral se organizam de formas distintas. Quando nos expressamos pela fala, nos apoiamos em um contexto extralingstico. O discurso oral permite a observao da entonao, das pausas e das expresses de quem fala, pois ocorre o contato direto com o usurio da lngua. J no texto escrito, no encontramos esses recursos para apoiar a nossa interpretao sobre o que est sendo dito. preciso escutar com os olhos, isto , observar os recursos grficos que representam pausas e entonaes para nos aproximarmos do discurso produzido. Como vemos, a simples reproduo dos elementos lingsticos Deixo os meus bens minha irm no ao meu sobrinho jamais ser paga a conta do alfaiate nada aos pobres no se mostra suficiente para chegar perto da entonao que o defunto daria ao enunciado, se estivesse vivo. No segundo texto, o dialeto mineiro tal como falado, em uma situao comunicativa espontnea, foi transformado em um texto escrito. Todas as falas transcritas foram grafadas de acordo com a pronncia do usurio da lngua. Comparando as duas formas de transcrever a conversa, possvel observar a distncia entre oralidade e escrita no plano da representao grfica padronizada. Voc j imaginou como seria a escrita dos vocbulos se eles estivessem condicionados ao dialeto de cada regio? Como o mineiro, o carioca e o pernambucano escreveriam a palavra tio? Com certeza escreveriam bem prximo da maneira como pronunciam: tio, tchio, tiu. Com tantas variedades, teramos diversas formas de grafar as palavras. Para cada regio, seriam necessrios dicionrios e livros escritos em cada variedade lingstica falada. Podemos dizer que as diferenas dialetais foram uma das causas que levou padronizao grfica das palavras. Este processo teve como fundamento a escolha de um registro lingstico padro que neutralizasse as diversas possibilidades de grafar os vocbulos da lngua. Pode-se dizer que este processo ocorreu em Portugal e no Brasil de uma forma bastante conturbada. Houve muitas disputas entre a Igreja e os gramticos dos dois pases para que a ortografia viesse a se consolidar no sculo XX. Veremos como alguns conjuntos de prticas sociais possibilitaram a sedimentao ortogrfica do idioma portugus.TENTATIVAS DE CRISTALIZAO ORTOGRFICAPodemos caracterizar o desenvolvimento da ortografia da Lngua Portuguesa em trs fases: perodo fontico (do sculo XII ao sculo XVI); perodo pseudo-etimolgico (sculo XVI at 1904); perodo simplificado ou misto (1904 at os dias de hoje). Como voc viu na aula anterior, durante os primeiros sculos de existncia, Portugal no tinha uma forma padro de escrever as palavras. Apesar da instabilidade na forma de grafar os vocbulos havia, nesse pas, dois grupos de escribas, defensores de idias diferentes sobre o modo de registrar os textos escritos na lngua materna. O primeiro segmento defendia a tradio da escrita cannica e, por isso, adotava como referncia os rigores do latim, obedecendo, assim, escrita pautada em um modelo etimolgico. O segundo segmento adotava o registro de acordo com os sons pronunciados. Julgavam que as letras que no correspondessem a nenhum som em sua lngua deveriam ser eliminadas (ex:elle, teer). Buscando uma identidade prpria na forma de grafar as palavras, este grupo passou a defender a organizao de uma gramtica que descrevesse e valorizasse a lngua falada pelos portugueses. A disputa entre as duas vertentes prevaleceu durante sculos, predominando com mais fora, em cada momento da Histria, uma das duas perspectivas assinaladas. Veremos como isso aconteceu, puxando um pouco mais o fio da Histria.PERODO FONTICOA escrita fontica teve o seu momento de auge no sculo XVI, quando os portugueses, influenciados pelos espanhis, buscaram um afastamento do latim e maior aproximao com a grafia hispnica que registrava as palavras de acordo com a pronncia de seu idioma. Neste contexto, surgem as primeiras gramticas de cunho racionalista escritas por Ferno de Oliveira no ano de 1536 e por Joo de Barros em 1540. O projeto destes dois gramticos visava normatizao do uso grfico da lngua portuguesa, promovendo maior uniformidade nos materiais impressos. Ferno de Oliveira, na edio de sua Gramtica da lngua portugueza, chamou a ateno para o desenvolvimento de um tipo de escrita que fosse mais prtica e menos erudita. Para justificar o uso da representao grfica de cada som pronunciado, este gramtico fez um amplo estudo fontico da lngua falada. Assumindo o mesmo prisma, Joo de Barros defendeu a criao de regras ortogrficas que levassem os indivduos a grafar somente as letras que pronunciavam, eliminando assim, todas as letras desnecessrias que estavam contidas nas palavras. Sua proposta ortogrfica determinava a queda do h no incio de palavras, a distino do uso do m e do n antes de p e b.Apesar de a obra destes dois mestres ter produzido uma ampla reflexo sobre a lngua vulgar, cultivando o ideal da escrita fontica, a aceitao dos princpios divulgados em suas gramticas no foi consensual perante a comunidade letrada. Certamente, a fora do movimento renascentista que primava pela cultura clssica latina e a oposio da Igreja no favoreceram a consolidao da escrita fontica.A ao da Igreja no contexto da Contra-Reforma marcar profundamente o processo de legitimao da norma do portugus por instrumentos institucionais. Com o estabelecimento definitivo da Inquisio em 1547, uma estrutura censria ser desenvolvida, e atingir o todo da produo literria e cientfica no pas. Data da mesma poca o primeiro rol de livros proibidos. Saraiva relata que as obras tinham que passar por trs instncias censrias antes de serem licenciadas, com ou sem alteraes, pelo Santo Ofcio, o Ordinrio eclesistico e o Pao. A gramtica de Barros foi listada no ndex de obras proibidas; Ferno de Oliveira foi preso e condenado pelo Tribunal do Santo Ofcio; no contexto da Contra-Reforma, a valorizao das lnguas vulgares frente ao latim constitua heresia, por incitar ao protestantismo. A partir da promulgao, em 1564, do Conclio de Trento, a represso intelectual intensifica-se (SOUZA, 2004, p. 5).PERODO ETIMOLGICO Os defensores da escrita etimolgica acreditavam que o latim era a lngua mais perfeita na face da terra, sendo considerada a lngua dos sbios e das cincias. Evitando a influncia do castelhano sobre a Lngua Portuguesa e buscando maior aproximao grfica com as palavras escritas em latim, os gramticos da nova gerao investiam na sedimentao grfica de forma semelhante indicada pela Igreja. De acordo com Cavaliere (2000):No importava se dada letra presente no radical de origem j no representava fonema: seu uso era imperioso para marcar o vnculo da forma atual com a tradio lingstica do portugus. Eis o motivo por que surgiram as letras mudas, os grupos helnicos, a dupla representao de fonemas grficos e os demais fatos ortogrficos... (p. 197).Neste perodo, destaca-se a gramtica de Pro de Magalhes Gandavo, Regras que ensinam a maneira de escrever a orthographia da lngua portuguesa, em 1574. Este livro tinha o objetivo de fornecer instrues ortogrficas de acordo com a tradio romnica, mesmo para aquele que no soubesse o latim. Seguindo a mesma linha didtica, temos, em 1576, a publicao da Orthografia da lngua portuguesa, escrita por Duarte Nunes Leo. Observa-se neste estudo uma srie de recomendaes sobre o modo de grafar as palavras, tendo como referncia principal a gramtica latina.

O pice da ortografia etimolgica ocorreu no sculo XVIII com a publicao da Orthographia ou a arte de escrever e pronunciar com acerto de Joo Moraes Feyj, em 1734. O uso da ortografia etimolgica predominou nos sculos XVIII e XIX de forma avassaladora. Escrever de acordo com a etimologia era chique. O grande problema, neste perodo, foi a divergncia entre os gramticos sobre a definio do verdadeiro timo (origem) das palavras. Muitos vocbulos que no eram de origem greco-latina passaram a ser grafados com ph, a bel prazer. Foi o caso de soph, que na verdade era de origem rabe (uff). Muitos lingistas preferem chamar esse perodo de pseudo-etimolgico, visto que no havia rigor cientfico que justificasse a sedimentao grfica dos vocbulos da maneira como eram apresentados. PERODO SIMPLIFICADO OU MISTOAt o incio do sculo XX, em Portugal, cada indivduo ainda escrevia da forma como queria. Alguns aderiam escrita etimolgica, outros escrita fontica e outros misturavam as duas grafias. Era possvel encontrar, nos materiais impressos, uma grande diversidade de formas grficas. Alguns gramticos mais moderados, observando a crescente falta de critrio para grafar as palavras, organizaram uma proposta voltada para a normatizao das regularidades existentes na lngua, considerando aspectos relevantes das duas vertentes. Concluiu-se que o sistema de escrita deveria ser misto, isto , deveria ter uma grafia prxima da pronncia, considerando, de forma relativa, as razes das palavras e suas derivaes. Tal movimento tem como marco histrico a publicao dos estudos do foneticista portugus Gonalves Viana, a Gramtica nacional, no ano de 1904. Em 1911, o governo portugus convocou uma comisso de fillogos e gramticos, incluindo Gonalves Viana, para sacramentar um sistema de ortografia simplificado. O decreto estabelecido pelo governo, obrigando todos a escrever de acordo com o sistema de normas institudo gerou bastante polmica. Houve bastante rejeio dos adeptos da escrita etimolgica. Voc j viu a nova reforma ortogrfica que os portugueses instituram...Imagina, querem retirar th, ph e o rh. Como a gente vai escrever theatro, pharmacia? Que coisa mais sem estylo! To querendo retirar as consoantes mudas. A gente no vai mais escrever septe, sancto, prompto... ora pois...

No Brasil a resistncia foi maior ainda, visto que a Academia Brasileira de Letras, criada em 15 de dezembro de 1886, no foi sequer consultada. Muitos intelectuais repudiaram a proposta ortogrfica organizada pelos portugueses. Depois de longas conversas entre a Academia de Cincias de Lisboa e Academia Brasileira de Letras, foi assinado um acordo ortogrfico entre as duas naes no dia 30 de abril de 1931, no chegando, entretanto, a promover a unificao ortogrfica entre os dois pases. Podemos dizer que, no Brasil, ainda havia uma srie de divergncias sobre a forma de grafar as palavras. A prpria imprensa e os escritores, muitas vezes, no chegavam a nenhum consenso sobre o modo de escrever as palavras. Em 1943, o ministro Gustavo Capanema estabeleceu um decreto, adotando como o sistema da ortografia nacional, o Vocabulrio ortogrfico da lngua portuguesa (VOLP) publicado em 1940, organizado pela Academia de Cincias de Lisboa, com ligeiros acrscimos e substituies realizados pelos brasileiros.A ortografia usada no Brasil se rege pelas Instrues para a Organizao do Vocabulrio Ortogrfico da Lngua Portuguesa, aprovadas pela Academia Brasileira de Letras em 12 de agosto de 1943, e que o Governo Federal mandou adotar oficialmente (Lei no 2.623, de 21-10-1955).Em dezembro de 1943, a ABL fez publicar o Pequeno vocabulrio ortogrfico da lngua portuguesa (PVOLP), em edio da Imprensa Nacional do Rio de Janeiro... Em 18 de dezembro de 1971, o Presidente da Repblica sancionou a Lei no 5.675, que simplificou a acentuao grfica, especialmente nos homgrafos e certos derivados. Em novembro de 1981, a Academia fez publicar o Vocabulrio ortogrfico da lngua portuguesa (VOLP), muito mais extenso, mas necessariamente obediente s Instrues, e que apesar disso, corrige uma srie de contradies do PVOLP. Adivirta-se que so as Instrues, e no os dois vocabulrios, que tm fora de lei (KURY, 1988, pp. 13-14).ATIVIDADES1. Identifique as caractersticas das trs tendncias histricas envolvidas na construo do sistema ortogrfico da Lngua Portuguesa, colocando, entre parnteses, (PF) para perodo fontico, (PE) para perodo etimolgico e (PS) para o perodo simplificado. a) ( ) Corrente que defende tanto os aspectos fonticos como os etimo-lgicos na consolidao de um sistema ortogrfico padronizado.b) ( ) A escrita das palavras deve ser padronizada de acordo com o seu uso na histria, obedecendo a sua forma grfica primitiva.c) ( ) Momento histrico cuja grafia das palavras era determinada pelacorrespondncia biunvoca entre letra/som.d) ( ) Deve-se escrever segundo os princpios fonticos, mas no se deve abandonar as tradies. Palavras grafadas com h (que no representa nenhum som) devem ser mantidas por razes etimolgicas e pela fora do uso.RESPOSTA a) (PS); b) (PE); c) (PF); d) (PS).2. De acordo com a leitura do texto, coloque (F) para falso e (V) para verdadeiro.a) ( ) Os gramticos de distintas pocas tinham, em comum, o objetivo de unificar a grafia das palavras para que todos escrevessem da mesma forma.b) ( ) Durante a Contra-Reforma a Igreja valorizou a escrita fontica, pois esta promovia o ensino do latim.c) ( ) A escrita fontica consolida-se como um sistema grfico de repre-sentao dos sons da fala tal como eles existem. Por isso conservou formas grficas como hoje, harmonia etc. d) ( ) Toda proposta ortogrfica desenvolvida a partir de critrios arbitr-rios, portanto corresponde a uma viso idealizada da lngua escrita. RESPOSTA a) (V); b) (F); c) (F); d) (V).UM BREVE COMENTRIO: importante observar que a disputa entre os gramticos promoveu uma grande reflexo sobre os critrios para padronizar a grafia da Lngua Portuguesa. Tais fundamentos serviram de base para a formulao dos princpios que regem o nosso sistema ortogrfico na atualidade.No Brasil existiu uma corrente de pensadores que defendeu a existncia de um portugus brasileiro, devido s diferenas entre o portugus lusitano e o portugus falado no Brasil. Tal movimento ganhou maior visibilidade no sculo XIX com autores do Romantismo, como Jos de Alencar. A mesma proposta foi reafirmada no Modernismo por Mario de Andrade que promoveu o projeto Gramatiquinha da fala brasileira. O lingista Marcos Bagno apresentou no livro chamado Portugus ou brasileiro? uma srie de reflexes sobre a distncia entre o idioma portugus expresso e o falado. Aprofundaremos mais essa questo, trazendo um pouco de nossa histria.PORTUGAL E BRASIL: AS MUITAS FORMAS DE FALARQuando os portugueses chegaram nas terras brasileiras no ano de 1500, muitas lnguas eram faladas pelas tribos que por aqui habitavam (auaque, karib, tupi, o j, dentre outras). Isso fez com que os contatos entre os europeus e os ndios ocorressem em uma esfera multilnge. Os contatos se acirraram com a chegada dos jesutas no Brasil.O Padre Manuel da Nbrega incentivou os estudos do tupi, mas nunca pde aprend-lo, por ser gago. Numa carta datada de 1549, escreveu: trabalhamos de saber a lngua deles, e nisto o Padre Navarro nos leva vantagem a todos. Temos determinado de ir viver s aldeias, quando estivermos mais assentados e seguros e aprender com eles a lngua e il-los (sic) doutrinando pouco a pouco. Trabalhei por tirar em sua lngua as oraes e algumas prticas de Nosso Senhor e no posso achar lngua (intrprete) que mo saiba dizer, porque so eles to brutos que nem vocbulos tm. Espero de as tirar o melhor que puder com um homem (Diogo lvares, o Caramuru), que nesta terra se criou de moo (PEAD, 2004).

No sculo XVI, havia no Brasil muitas lnguas faladas pelos ndios. Os jesutas, em seu processo de catequese, buscaram a identificao de aspectos comuns entres as diversas lnguas. Eles observaram que muitas lngua indgenas foram derivadas do tronco lingstico tupi-guarani. Da juno de aspectos destas duas lnguas, formulou-se a lngua falada por toda costa brasileira denominada nheengatu. Segundo historiadores, o Nheengatu, ao lado do portugus, foi a lngua mais falada e escrita no Brasil, entre os sculos XVI e XVIII, visto que a educao neste perodo encontrava-se nas mos dos missionrios. Diferente da Europa, onde os estudos eram realizados por meio do latim, nas misses, inicia-se o processo educacional expresso pela lngua indgena. Os jesutas elaboram gramticas, dicionrios, tradues de oraes, hinos e peas teatrais na lngua dos ndios. Data de 1595 a publicao de Arte de gramatica da lingoa mais usada na costa do Brasil feyta pelo padre Ioseph de Anchieta da Cpanhia de IESU.Os registros lingsticos que circulam na colnia sofrem uma srie de modificaes, na medida em que incorporam contribuies das lnguas africanas (nag, quimbundo, congoesa, yorub) e de lnguas europias. As novas formas lingsticas vo sendo transmitidas aos descendentes. medida que ocorre esse processo de miscigenao, o nheengatu se consolida como marca de identidade dos habitantes que aqui moravam.

MARQUS DE POMBALFoi o primeiro ministro de Portugal entre os anos de 1750 e 1777. Para obter um maior controle sobre a Colnia, ele expulsou os jesutas no ano de 1759 e proibiu o registro na lngua nheengatu.

Tal lngua passa a ser interditada quando os jesutas so expulsos do Brasil pela Coroa portuguesa no ano de 1759. Desejando unificar e garantir o poder poltico da Colnia, sob um vis absolutista, o MARQUS DE POMBAL decreta a proibio do nheengatu nas escolas e em todos os registros escritos da esfera pblica. As cidades que tivessem nomes indgenas deveriam troc-los para nomes expressos no idioma portugus.Apesar de a lngua geral ser considerada um dialeto proibido, em muitas regies do interior, onde a Coroa no tinha maior controle poltico, prevaleceu a oralizao da lngua geral. Neste processo houve a mistura do nheengatu com o portugus fazendo emergir uma forma tipicamente brasileira de falar, o dialeto caipira. Para se expressar por meio do portugus imposto pela Coroa, tanto ndios, como africanos e mestios tiveram de ajustar a sintaxe e a articulao dos fonemas de sua lngua pronncia da Lngua Portuguesa. De acordo com Martins (2003, p. 5), os ndios tinham dificuldade para pronunciar o R e o L no final das palavras e por isso faziam a sua supresso. Para oralizar as palavras animal, quintal, cantar, fugir e querer eliminavam o som final, dizendo ento: anim cant, fugi, e quer. Outro aspecto marcante no processo de apropriao do portugus, foi a dificuldade de os ndios pronunciarem as consoantes dobradas. Da que, no dialeto caipira, orelha tenha se tornado oria (uma consoante em vez de trs; quatro vogais em vez de trs), coalho seja coaio, colher tenha virado cui, os olhos sejam o zio... E no Nordeste ainda se ouve a suave ful no lugar da menos suave flor. Uma abundncia de vogais em detrimento das consoantes, at mesmo com a introduo de vogais onde no existiam. Exatamente o contrrio da evoluo da sonoridade da lngua de Portugal, em que predominam os speros sons das consoantes. No Brasil, a lngua portuguesa ficou mais doce e mais lenta, mais descansada, justamente pela enorme influncia das sonoridades da lngua geral, o nheengatu (MARTINS, 2003).Todo processo de apropriao cultural envolve transformaes entre os agentes que apresentam saberes diferentes. Neste sentido, todo saber lingstico constitudo nas terras brasileiras se consolidou a partir das interaes e das trocas constantes entre os usurios das lnguas que eram faladas no pas. possvel observar a forte contribuio dos ndios na formao do vocabulrio e no modo suave de pronunciar o idioma oficial. Outra influncia marcante na constituio da lngua falada no interior do Brasil foi a da cultura negra. Seguindo o paradigma da lngua africana, os negros que aqui chegavam, ao se apropriarem do portugus, imprimiam modificaes no modo de construrem as frases expressas. De acordo com estudos lingsticos, muitas das lnguas africanas como o nag e o quimbundo tinham um sistema de flexo diferente da Lngua Portuguesa. Como em suas lnguas no ocorriam flexo de nmero e nem de verbo, eles transferiram esse conhecimento para a sua forma de falar o portugus. Ressalta-se, tambm, as aglutinaes de artigos no plural com um vocbulo comum da lngua. Veja nos exemplos a seguir:1 AGLUTINAO DE SONS: zoreia, zunha, zoo (as orelhas, as unhas, os olhos), donde formaes como zoi (=olhar);2 FLEXO DO VERBO: eu canto, mas tu, ele, ns, eles canta; 3 FLEXO DE NMERO: as mui chegou.

Como vemos, a Lngua Portuguesa falada no Brasil sofreu diversas transformaes. Muitos autores da literatura brasileira defenderam a existncia de uma lngua genuinamente brasileira. Tal proposta justificada, na medida em que o contato do portugus com outras lnguas no percurso da histria fez a lngua falada no Brasil diferente da falada em Portugal. Em muitos momentos, os alunos quando estudam a lngua materna em nossas escolas no reconhecem o idioma ditado nas gramticas como a lngua corrente utilizada no seu dia-a-dia. Estes alunos estranham determinadas construes frasais e a ortografia de determinadas palavras consagradas em Portugal. ATIVIDADE3. Observamos que o nheengatu foi a lngua mais falada por ndios, negros e portugueses no perodo colonial no Brasil. Pesquise a influncia das lnguas africanas e indgenas na formao da lngua falada no Brasil e defina o papel da gramtica no processo de homogeneizao de uma lngua._____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________RESPOSTA COMENTADA A linguagem escrita apresentada nas gramticas, em muitos momentos, demonstra-se distante da forma como a lngua oral se apresenta no cotidiano. preciso compreender que todo processo de apropriao de novos elementos lingsticos distante da realidade imediata implica mudanas graduais que no correspondem cpia de um modelo, visto que a lngua viva e dinmica. A gramtica, de certa maneira, apresenta-se como instrumento de opresso que impe a forma da classe dominante como a fala correta. CONCLUSODe acordo com estatsticas recentes, a lngua portuguesa falada e grafada por mais de 200 milhes de pessoas no mundo. Ela se apresenta como lngua oficial no Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, Guin-Bissau, Moambique, So Tom e Prncipe compondo assim, a CPLP (Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa). Alm destes pases, o idioma se mantm como a lngua de pequenos grupos em Macau, Goa e Timor. fricaEuropaAmrica do SulPortugalBrasilGuin-BissauAngolaMoambiqueSo Tom e PrncipeCaboVerde

Desde o incio do sculo XX ocorreram muitas tentativas de unificar a ortografia da Lngua Portuguesa entre os pases que se expressam por meio deste idioma. Entretanto, as diferenas de pronncia, modo de realizao das construes frasais, vocabulrio, e forma de grafar as palavras apresentam muitas singularidades do ponto de vista lingstico. A organizao de um acordo impe uma srie de concesses dos diversos grupos que se comunicam por meio do idioma. Em termos econmicos, a unificao representa maior expanso do mercado editorial, visto que o alcance de materiais impressos com uma padronizao ortogrfica favorece o intercmbio entre os pases que falam a Lngua Portuguesa. Por outro lado, homogeneza-se o que h de mais vivo e singular na lngua de um povo, a sua diversidade. Unificar um sistema ortogrfico significa estabelecer um decreto, obrigando todos os pases a escreverem de uma nova forma, em que o padro ser determinado por um modelo de lngua arbitrrio e idealizado.ATIVIDADE FINALNesta aula fizemos um longo passeio pela histria da ortografia no Brasil e em Portugal. Muitas questes ainda podem ser mais aprofundadas por voc. Pense e investigue um pouco mais sobre o assunto, refletindo sobre os diferentes registros lingsticos encontrados no Brasil. Imagine que voc tenha de fazer um parecer acerca dos pontos positivos e pontos negativos sobre a adoo de um sistema ortogrfico unificado para os pases que falam a Lngua Portuguesa. Qual seria sua posio? Coloque no quadro a seguir os pontos que voc julga relevantes quando se deseja adotar um sistema ortogrfico. Em seguida escreva um pequeno texto argumentativo, defendendo uma posio favorvel ou desfavorvel ao acordo ortogrfico proposto pela CPLP (Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa).PONTOS POSITIVOS SOBRE O USO DA ORTOGRAFIA UNIFICADA PONTOS NEGATIVOS SOBRE O USO DA ORTOGRAFIA

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ RESPOSTA Esperamos que voc demonstre uma posio crtica diante do fato da diversidade lingstica. Toda lngua sofre variaes lingsticas, mas o registro escrito padro tende a se aproximar da forma como fala s classes que detm poder. A tentativa de homogeneizao acaba por estabelecer o padro lingstico, sob a tica de quem detm maior prestgio social e poltico. R E S U M OO desentendimento entre os gramticos e a mistura de critrios sobre o modo de grafar as palavras foi to grande que at o incio do sculo XX no se tinha conseguido firmar uma ortografia comum para as sociedades lusfonas. Mesmo que, no percurso da histria, houvesse o predomnio da representao fontica, a grafia das palavras nunca seria espelho da fala. Toda representao grfica de uma lngua elege uma variedade lingstica ideal para ser transcrita, deixando de lado outras formas de retratao da mesma. No Brasil, desprezam-se as variedades lingsticas dos grupos de menor prestgio social do ponto de vista econmico. Apresenta-se como forma grfica uma variedade idealizada que, de fato, no corresponde fala dos brasileiros. Tal procedimento se agrava, ainda mais, se pensarmos numa srie de padres lingsticos estabelecidos a partir da Lngua Portuguesa falada em Portugal. Alguns lingistas no Brasil defendem a existncia de um portugus brasileiro, visto que as palavras e o uso da lngua neste pas diferem do portugus lusitano. Para os defensores de um idioma portugus brasileiro, a gramtica, assim como sua ortografia, deveria ser guiada por um padro distinto, promovendo estudos mais prximos da lngua falada pelos brasileiros. AUTO-AVALIAOSe voc conseguiu compreender as relaes de poder envolvidas na escolha de um sistema de escrita entre os gramticos e a Igreja, voc est de parabns. importante, tambm, ter refletido sobre as diversas formas de dominao atravs da lngua falada e escrita no Brasil pelo decreto do Marqus de Pombal. Se voc entendeu que nesse processo houve resistncia, e a apropriao do idioma portugus pelos brasileiros se deu de uma forma singular, sinal que houve uma aprendizagem bastante satisfatria. Caso no tenha feito essas relaes, tente relembrar algumas passagens do texto, relacionando com situaes de opresses lingsticas vividas no interior da escola. Bons estudos.INFORMAES SOBRE A PRXIMA AULAFoi dado o pontap inicial para discutirmos sobre o ensino da ortografia na escola. Na prxima aula, estudaremos os tipos de "erros" ortogrficos que as crianas mais cometem quando esto no processo inicial da alfabetizao. Investigaremos as concepes que as crianas elaboram para se apropriarem da escrita de acordo com os rigores da ortografia.

Alfabetizao: Contedo e Forma 2 | Ortografia: por que no pronunciamos como escrevemos? AULA 13

46 C E D E R JC E D E R J 45

pelas crianas nas sries iniciais. Aproveite para retomar a noo de erro e sua relao com o fracasso escolar, apresentada nas Aulas 29 e 30 da disciplina Afabetizao 1. L voc observar que, do ponto de vista lingstico, no existe erro, visto que cada variedade dialetal apresenta uma lgica distinta, no devendo ser considerada nem melhor ou pior que o dialeto padro. No entanto, do ponto vista ortogrfico, a questo do erro revela-se como fator de investigao a ser considerado em nossas prximas aulas. Oralidade, escrita e ortografia Esperamos que, aps o estudo do contedo desta aula, voc seja capaz de: Analisar os erros produzidos pelas crianas nas sries iniciais do ponto de vista lingstico. Apresentar crticas ao ensino difusor da noo de escrita como espelho da pronncia. Estabelecer relao entre o modo de compreenso da escrita desenvolvida pela criana com estratgias que ampliem o domnio ortogrfico. Apresentar justificativas do uso da hipossegmentao e hipersegementao nos textos desenvolvidos pelas crianas. Possveis intervenes pedaggicas diante da concepo de linguagem escrita desenvolvida pelas crianas. Reconhecer causas dos erros ortogrficos provenientes de transcrio fontica, segmentao das palavras.14objetivosAULAMeta da aulaEstabelecer um referencial terico para analisar os erros ortogrficos cometidos pelas crianas no processo de apropriao das convenes do sistema de escrita.Pr-requisitos Nesta aula, apresentaremos os erros mais recorrentes, no processo de apropriao das normas ortogrficas, produzidos

INTRODUO Ms de julho. A campainha toca, e os alunos saem mais cedo da escola. Era um dia de sol, e todos os professores da escola X estavam em uma sala bem ampla para discutir sobre o trabalho realizado durante o primeiro semestre. Prazer e dvida se misturam quando os olhos se encontram para mais um momento de troca e deciso. dia do Conselho de Classe, quando os professores iro refletir sobre o sucesso e as dificuldades existentes no processo de ensinoaprendizagem. O orientador pedaggico, recm chegado escola, dinamiza a reunio e aproveita para conhecer um pouco mais sobre a concepo de linguagem oral e escrita que os professores desenvolvem nas prticas de ensino da leitura e produo de texto. Inicia-se o Conselho com a fala da professora Dalva, que mostra a produo de textos de dois alunos.VARIAO LINGSTICA E SEGMENTAO DAS PALAVRAS NOS TEXTOS ESPONTNEOSEuvi um monto marvado A menina saiu.

bem gandi A menina caiu no cho.

ozoio deli iera roxo A menina era Talita.

aboca no ti denti Talita amiga de Ana.

os pinhonhos avuava Ana gosta de cantar na lagoa.

nacabessa deli Ana bonita.

elitava ma ciguri Mariana

do aubu. Sebastio Mariana Dalva Veja, eu tenho alunos como a Mariana, que faz uma produo de texto maravilhosa. Voc no v nenhum erro de ortografia, enquanto alunos como o Sebastio escrevem e falam tudo errado. Orientador Pedaggico Acho que teremos de pensar um pouco sobre tudo isso. Ser que podemos definir uma boa produo de texto somente pelo critrio do rendimento ortogrfico de palavras memorizadas? Rosa D pra perceber que o texto da Mariana mais legvel.A gente passa os olhos e consegue ler imediatamente. No texto do Sebastio a gente tem de decifrar as palavras. Ele no d espaamento entre uma palavra e outra. Isso dificulta a leitura. Orientador Pedaggico Mas se a gente reparar do ponto de vista da estruturao do texto e do contedo, as duas produes escritas apresentam diferenas. Veja, o Sebastio fez a descrio da figura de um monstro malvado que viu em um lbum de figurinhas. Ele capaz de relatar um fato com coeso e coerncia de forma criativa, enquanto Mariana fez frases soltas que seguem o modelo da cartilha. Rosa Mas a Mariana j escreve tudo direitinho, ela bastante caprichosa. s a gente estimular. Na segunda srie, ela vai escrever muito bem... J o Sebastio um problema srio!Dalva Acho que o Sebastio precisa ser encaminhado para um fonoaudilogo. A famlia dele fala tudo errado. Isto est prejudicando o seu rendimento ortogrfico, pois ele escreve como fala. Pinhonho no lugar de piolho, ciguri, no lugar de figurinha. Marvado no lugar de malvado. Alm disso, escreve tudo junto. Nesta turma, eu tenho dez alunos que escrevem igual ao Sebastio. Acho que vou ter de reprov-los.Orientador Pedaggico Acredito que a questo aqui no reside na aprovao ou reprovao de alunos, mas na reflexo sobre o que tem sido feito para os alunos superarem suas dificuldades no campo da escrita. Em primeiro lugar, importante frisar o trabalho com a escrita de forma significativa. Trazer o mundo letrado o tempo inteiro para dentro da escola: histrias em quadrinhos, contos de fadas, textos cientficos, cartas, bilhetes, agendas etc. A criana, para escrever, tem de compreender os diferentes usos da escrita no cotidiano. A escola deve funcionar como um laboratrio, onde as crianas possam testar as diversas possibilidades de usos da linguagem oral e escrita. O processo de produo de texto tem de levar em conta o interlocutor (para quem o texto est sendo escrito). bom que os alunos pensem sobre a escolha das palavras no ato da composio de seu texto... Aos poucos, as crianas vo percebendo que, para cada situao comunicativa, preciso usar formas lingsticas distintas. atravs destas atividades que o aluno vai compreendendo a necessidade de usos mais formais da linguagem em situaes especficas de comunicao.Dalva Quer dizer que basta as crianas escreverem textos espontneos para que possam dominar as convenes do cdigo escrito? No preciso propor atividades voltadas para a compreenso da ortografia nas sries iniciais?Orientador Pedaggico Claro que sim. A ortografia precisa ser trabalhada e discutida na sala de aula paralelamente ao trabalho de produo de texto. Principalmente nas turmas de crianas de classes populares que trazem para a escola formas orais que se distanciam do registro escrito padro. Rosa Acho que no podemos fazer muita coisa no campo da ortografia, no... As crianas j trazem esse defeito de casa; elas falam como as pessoas de suas famlias. evidente que isso vai refletir na escrita. Aqui na escola, o aluno tem de aprender a copiar as palavras certas. Ler tal como est escrito no livro; s assim ele vai apresentar um bom desempenho ortogrfico... e conseqentemente a produo de um bom texto. Orientador Pedaggico Podemos combater o velho mito de que a escrita espelho da pronncia. No falamos da mesma forma como as palavras so registradas no papel. Podemos aprofundar essa discusso, conhecendo um pouco mais alguns estudos das Cincias da Linguagem (Lingstica, Psicolingstica, Sociolingstica, Fonologia etc.) voltados para a questo do domnio ortogrfico. Geralmente tratamos os erros grficos como se fossem provenientes dos mesmos motivos. Existem diferentes obstculos e dificuldades envolvidos no processo de apropriao do sistema ortogrfico. Para dominar o cdigo escrito nestes termos, preciso estar atento concepo de linguagem que est por trs das prticas desenvolvidas no interior da escola. Proponho que faamos um estudo sobre os vrios tipos de erros ortogrficos cometidos pelas crianas quando esto se apropriando das formas grficas padronizadas... O Conselho de Classe que acabamos de retratar traz uma srie de questes para serem refletidas a respeito do ensino da escrita na escola. Encontramos na produo de texto escolar uma srie de erros ortogrficos. Isto tem a ver com o movimento natural de aproximao e ajuste que o aprendiz desenvolve para escrever de acordo com as normas e convenes grficas. medida que a criana vai descobrindo que a escrita no espelho da fala e o professor a apia em suas indagaes, ela vai tomando conscincia de que existe uma srie de convenes que devem ser seguidas para se escrever um texto. Seus saberes sobre a escrita ganham novas dimenses, passando a automatizar a grafia correta. Buscaremos compreender a lgica que a criana estabelece para grafar as palavras de acordo com as normas ortogrficas. Nesse sentido, os erros que as crianas cometem so pistas que nos indicam a forma como a criana est se apropriando do sistema de convenes grficas. ATIVIDADES1. Relacione o trecho da fala do orientador pedaggico com a proposta dos PCN de Lngua Por