16
189 Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, SP - CEP 13278-181 [email protected] [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Publicação: 30 de junho de 2011 Trabalho realizado com o incentivo e fomento da Anhanguera Educacional Sílvia C. M. Trevisani Maria José de Castro Silva Curso: Letras FACULDADE ANHANGUERA DE CAMPINAS - UNIDADE 4 Trabalho apresentado no 10º Congresso Nacional de Iniciação Científica CONIC. Trabalho apresentado no evento Interno de Iniciação Científica em 2010. RESUMO A presente pesquisa teve por objetivo, acompanhar, analisar e identificar qual a contribuição que o Projeto Biblioteca Aberta pode trazer para o letramento dos participantes, no sentido de conduzi-los, a aprender a ler o mundo e compreender seu contexto, a partir da diversidade de gêneros literários, incentivando-os ao hábito da leitura e da escrita, desenvolvendo as habilidades e comportamentos que se estendem desde o simples decodificar de sílabas ou palavras até ler um grande clássico da literatura. Os diversos textos e os livros do acervo serviram como instrumento de trabalho, ampliando dessa forma as oportunidades de conhecimentos literários. Nos encontros realizados durante o projeto Biblioteca Aberta “Zilda Arns” que ocorreram no primeiro semestre do corrente ano, os participantes foram introduzidos no mundo da literatura tendo sua atenção voltada para leitura e produção de textos. O desempenho dos participantes, considerado satisfatório, foi avaliado por meio de sua participação e produção literária, tendo como auxílio os protocolos respondidos pelos alunos a cada encontro. Palavras-Chave: leitura; escrita; contextualização; mediação; compreensão. ANUÁRIO DA PRODUÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE Vol. 13, N. 17, Ano 2010 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: UM ESTUDO DE CASO DO PROJETO BIBLIOTECA ABERTA

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: UM ESTUDO DE CASO …repositorio.pgsskroton.com.br/bitstream/123456789/1155/1/artigo 14.pdf · Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento

Embed Size (px)

Citation preview

189

Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, SP - CEP 13278-181 [email protected] [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Publicação: 30 de junho de 2011

Trabalho realizado com o incentivo e fomento da Anhanguera Educacional

Sílvia C. M. Trevisani Maria José de Castro Silva

Curso: Letras

FACULDADE ANHANGUERA DE CAMPINAS - UNIDADE 4

Trabalho apresentado no 10º Congresso Nacional de Iniciação Científica – CONIC. Trabalho apresentado no evento Interno de Iniciação Científica em 2010.

RESUMO

A presente pesquisa teve por objetivo, acompanhar, analisar e identificar qual a contribuição que o Projeto Biblioteca Aberta pode trazer para o letramento dos participantes, no sentido de conduzi-los, a aprender a ler o mundo e compreender seu contexto, a partir da diversidade de gêneros literários, incentivando-os ao hábito da leitura e da escrita, desenvolvendo as habilidades e comportamentos que se estendem desde o simples decodificar de sílabas ou palavras até ler um grande clássico da literatura. Os diversos textos e os livros do acervo serviram como instrumento de trabalho, ampliando dessa forma as oportunidades de conhecimentos literários. Nos encontros realizados durante o projeto Biblioteca Aberta “Zilda Arns” que ocorreram no primeiro semestre do corrente ano, os participantes foram introduzidos no mundo da literatura tendo sua atenção voltada para leitura e produção de textos. O desempenho dos participantes, considerado satisfatório, foi avaliado por meio de sua participação e produção literária, tendo como auxílio os protocolos respondidos pelos alunos a cada encontro.

Palavras-Chave: leitura; escrita; contextualização; mediação; compreensão.

ANUÁRIO DA PRODUÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE

Vol. 13, N. 17, Ano 2010

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: UM ESTUDO DE CASO DO PROJETO BIBLIOTECA ABERTA

190 Alfabetização e letramento: um estudo de caso do Projeto Biblioteca Aberta

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. 13, N. 17, Ano 2010 • p. 189-204

1. INTRODUÇÃO

Letramento é muito mais que alfabetização, pois expressa o estado, ou uma condição de

quem interage com diferentes gêneros e tipos de leitura e com as diferentes funções que a

leitura desempenha na própria vida e nas mais variadas práticas sociais. Dessa forma,

para Freire (1994, p.8) “Aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é antes de mais nada,

aprender a ler o mundo, compreender seu contexto, não numa manipulação mecânica de

palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade”.

Assumindo-se que o letramento se dá pela leitura em sua dimensão simbólica e

destacando-se sua utilização em seus aspectos sociais, entende-se que o processo de

alfabetização inicia-se muito antes do período de escolarização e por meio,

principalmente, da mediação do adulto. Nesse sentido, a criança vai gradativamente

identificando a natureza e as funções da escrita, e o resultado se dá pela qualidade das

interações do sujeito com a leitura e com a escrita, como ainda salienta Tfouni, (1995, p.

20): “Enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo, ou

grupo de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de

uma sociedade”.

Ferreiro (2003) ao fazer uma oposição ao termo letramento salienta:

Há algum tempo, descobriram no Brasil que se poderia usar a expressão letramento. E o que aconteceu com a alfabetização? Virou sinônimo de decodificação. Letramento passou a ser o estar em contato com distintos tipos de texto, o compreender o que se lê. Isso é um retrocesso. Eu me nego a aceitar um período de decodificação prévio àquele em que se passa a perceber a função social do texto. Acreditar nisso é dar razão à velha consciência fonológica. (FERREIRO, 2003, p. 30)

Note-se, no entanto, que a oposição da autora refere-se somente ao risco da

dissociação entre o aprender a escrever e o usar a escrita. Como defensora de práticas

pedagógicas contextualizadas e significativas para o sujeito, o trabalho de Ferreiro, assim

como o dos estudiosos do letramento, lutam para o resgate das efetivas práticas sociais de

língua escrita o que faz da oposição entre eles, apenas uma questão de conceito.

Salienta Leite (2001), que:

Em função disso, quem sabe a diretriz pedagógica mais importante no trabalho (... dos professores), tanto na pré-escola quanto no ensino médio, seja a utilização da escrita verdadeira nas diversas atividades pedagógicas, isto é, a utilização da escrita, em sala, correspondendo às formas pelas quais ela é utilizada verdadeiramente nas práticas sociais. Nesta perspectiva, assume-se que o ponto de partida e de chegada do processo de alfabetização escolar é o texto: trecho falado ou escrito, caracterizado pela unidade de sentido que se estabelece numa determinada situação discursiva (LEITE, 2001, p. 25).

Caso a prática da leitura e da escrita não estejam acompanhadas de sua devida

compreensão, o seu uso torna-se repetitivo e não permite ao seu usuário a competência

para envolver-se nas práticas sociais inerentes à escrita, ou seja, fica à margem da

Sílvia Cristina Martins Trevisani, Maria José de Castro Silva 191

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. 13, N. 17, Ano 2010 • p. 189-204

sociedade por não conseguir ler livros, jornais, revistas, redigir um ofício, um

requerimento, uma declaração, ainda, sente dificuldade para preencher um formulário ou

escrever uma simples carta, também não consegue encontrar informações num catálogo

telefônico, num contrato de trabalho, numa conta de luz, ou até compreender uma bula de

remédio.

A dificuldade dos alunos em relação à leitura, interpretação de textos e imagens

ocasiona apreensão e dificuldade de assimilação. O estímulo à leitura tem como objetivo a

formação de leitores competentes, capazes de ler e compreender qualquer tipo de texto

com propriedade e só assim exercer a plena cidadania.

Muitos leem, mas não conseguem compreender o que leram, apenas decodificam

os signos da língua, ou seja, são alfabetizados funcionais. Conseguem ler pequenos textos,

mas à medida que se deparam com textos que apresentam maior complexidade, as

dificuldades de interpretação e compreensão aparecem. Portanto, se as crianças forem

estimuladas a ler, o hábito e o gosto pela leitura podem ser desenvolvidos, auxiliando-as

na apropriação do texto e na compreensão em todas as disciplinas.

O aluno precisa entender que um texto deve ser produzido por alguém e para

alguém, não só para se falar sobre alguma coisa ou assunto. Portanto, “a leitura de um

texto não é mera decodificação de sinais gráficos, mas a busca de significações, marcadas

pelo processo de produção de texto e também marcadas pelo processo de produção de

sua leitura” (ORLANDI, 1983, p.20).

Nesse contexto, a necessidade de se formar leitores críticos e bons produtores de

textos, vai ao encontro do objetivo central do Projeto Biblioteca Aberta “Zilda Arns” pelas

análises detalhadas dos estudos direcionados à arte de ler e escrever que fizeram parte

desta pesquisa na qual se observou a oralidade e a escrita da comunidade envolvida.

Dessa forma, os trabalhos relacionados aos gêneros literários tiveram por

objetivo além de sugerir ou relembrar vivências que possam servir como contexto para a

compreensão de contos, poesias, crônicas e romances e ainda, para que desse

entendimento, pudessem surgir novos modelos de expressão, numa integração entre

atuar e narrar, estimulando a geração de novas produções. Nos Parâmetros Curriculares

Nacionais (1998) está salientada a importância da leitura em diversas situações para que

sejam desenvolvidas capacidades de comunicação e expressão, além de valores de outras

culturas, que estimulem comportamentos éticos e responsáveis.

A criança tem que ler para criar-se, informar-se e para aprender a aprender, pois,

infere Silva (2009):

192 Alfabetização e letramento: um estudo de caso do Projeto Biblioteca Aberta

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. 13, N. 17, Ano 2010 • p. 189-204

Quanto à promoção da leitura nas escolas, creio que o maior desafio dos professores resida na reaproximação do cognitivo com o afetivo. Quero dizer: ensinar a ler e, ao mesmo tempo, ensinar a gostar de ler. Amarrar a amalgamar as dimensões afetivas e cognitivas da leitura a partir de uma didática rigorosa e prazerosa, de sedução e encantamento. Promover processos de “interfacilitação”, fazendo que o gosto da leitura, o amor pela escrita resulta da combinação dinâmica, recíproca e equilibrada dessas dimensões. Fazer que a passagem da “desconhecença” para a “sabença” seja gostosa, envolvente e impactante. (SILVA, 2009, p.102)

Há evidências de que a exposição de crianças e jovens à multidisciplinaridade de

textos cria um ambiente de leiturização, permitindo a prática de diferentes leituras, desde

a argumentativa até o quadrinho narrativo. Assim, entende-se que para o aprimoramento

da leitura, o Projeto Biblioteca Aberta “Zilda Arns” em seus encontros, além de incentivar

os hábitos da leitura e da escrita, desenvolve as habilidades e comportamentos que se

estendem desde simplesmente decodificar sílabas ou palavras até ler um grande clássico

da literatura.

Nesta linha, de acordo com Geraldi, (2008, p.107-108)

[...] é possível que esta prática de leitura se faça pelo processo de interlocução com textos/autores, desenvolvendo atividades de leitura de quatro tipos: Leitura – busca de informações; Leitura – estudo de textos; Leitura do texto – pretexto; Leitura – fruição do texto.

2. OBJETIVO

2.1. Objetivo Geral

Analisar por meio dos trabalhos realizados com os participantes do Projeto Biblioteca

Aberta “Zilda Arns”, qual a contribuição efetiva para a formação de indivíduos letrados e

capacitados para o domínio da leitura e da escrita.

2.2. Objetivos Específicos

• Por meio de acompanhamento e protocolos específicos avaliar qual o teor crítico exibido pelo aluno a partir de textos especialmente selecionados para essa finalidade.

• Observar quais os gêneros literários mais agradáveis às crianças e adolescentes participantes do projeto.

3. METODOLOGIA

O Projeto Biblioteca Aberta acontece em oito encontros realizados aos sábados e, neste

semestre, foi desenvolvido na unidade com a participação de mais de cem alunos com

idades entre oito e treze anos, oriundos de escolas estaduais e municipais. Para este

Sílvia Cristina Martins Trevisani, Maria José de Castro Silva 193

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. 13, N. 17, Ano 2010 • p. 189-204

estudo foram observadas as atividades de trinta alunos durante os referidos encontros

semanais. O material necessário ao desenvolvimento da pesquisa foi o acervo

especialmente adquirido para o Projeto e também textos que tratam dos diversos gêneros

literários, que foram apresentados de forma contextualizada, aguçando o raciocínio e

habilidade dos participantes na elaboração de suas argumentações e reflexões.

Além disso, foram utilizados protocolos em formas de fichas de leitura e

avaliação geral, em que foram registradas as observações das atitudes, desempenho e as

ações realizadas no encontro e seus respectivos resultados.

4. DESENVOLVIMENTO

Os dados foram coletados por meio da proposta de textos que sugeriam um desafio ao

imaginário dos participantes, privilegiando a cada encontro, um gênero literário, dentre

os quais se destacaram: poesia, conto, crônica, teatro, música, artigos jornalísticos,

histórias em quadrinhos e fábulas. Após a leitura e a explicação do tema sugerido, foram

adotadas dinâmicas de leituras e produções de textos para compreensão do conteúdo, de

forma individual, conforme mostram as figuras 1 e 2, ou em grupo, como é apresentada

na Figura3.

Figuras 1 e 2. Atividades Individuais – Leitura de livros e produção de texto a partir de tirinhas do jornal.

194 Alfabetização e letramento: um estudo de caso do Projeto Biblioteca Aberta

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. 13, N. 17, Ano 2010 • p. 189-204

Figura 3. Atividades em grupo – Exposição de trabalhos no Jornal Correio Popular.

Infere Chalita, (2005, p. 14) “[...] que o encanto dessas narrativas possa tocar a

criança mais pura e ancestral de todos os leitores, despertando-a e fazendo com que

permaneça acordada para sempre”. Assim, a prática da leitura no Projeto Biblioteca

Aberta vinculou-se aos livros disponíveis em acervo próprio, visto que estes fizeram parte

dos procedimentos para a realização de todas as atividades.

Os protocolos de observação solicitavam que fossem respondidos, a cada

encontro, questões sobre o título e autor do livro lido e o quanto a obra foi apreciada pelo

leitor e, ainda, o que mais gostou do livro lido. Pediam, ainda, informações sobre as

atividades desenvolvidas no encontro e se tais atividades foram do agrado do

participante. Em outro protocolo, disponibilizado ao final dos oito encontros, questionava

o aluno sobre seus hábitos de leitura anteriores à participação no projeto. Também

requeria informações sobre qual o gênero literário mais apreciado pelo participante.

Dessa forma, o organograma a seguir procurou retratar o mais proximamente

possível o caminho percorrido pelo participante para que o objetivo de contribuir

efetivamente para a sua formação como sujeitos letrados e capacitados para o domínio da

leitura e da escrita fosse atingido.

Sílvia Cristina Martins Trevisani, Maria José de Castro Silva 195

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. 13, N. 17, Ano 2010 • p. 189-204

PARTICIPANTE / ALUNO

LEITURA

LETRAMENTOALFABETIZAÇÃO

LIVROS JORNAISPROFESSOR MEDIADOR

anotação anotação anotação

TEXTOS DIVERSOS

PRODUÇÃO DE TEXTOS

anotação

Alfabetização e Letramento: Um estudo de caso do Projeto Biblioteca Aberta

Figura 4. Organograma com as etapas para atingir ao objetivo da pesquisa.

Para a compreensão de como os encontros do projeto Biblioteca Aberta “Zilda

Arns” contribuíram para a formação do letramento e da capacidade para o domínio da

leitura e da escrita, apresenta-se a seguir os gêneros literários que foram tratados nos

encontros.

Para se trabalhar com poesias, apresentou-se a sua história, forma e gêneros, bem

como, a importância deste tema para a formação do leitor. A poesia utilizada para o

trabalho foi a de autoria desta pesquisadora que vai transcrita na íntegra. A escolha da

referida poesia apontou que um texto pode ser muito mais do que uma simples

representação poética, que além de ser uma atividade lúdica, pode ensinar e letrar.

Nuvenzinha e Temporal (versos livres)

Nuvenzinha era boazinha e estudiosa.

Temporal era maldoso e preguiçoso.

Nuvenzinha era pequenina e animada.

Temporal era grande e mal-humorado.

Nuvenzinha era doce como o mel.

Temporal irritado e amargo como fel.

A Nuvenzinha mandava chuva de mansinho,

e o Temporal mandava chuva com trovões.

Ela era benção para a lavoura.

Ele varria tudo como a vassoura.

196 Alfabetização e letramento: um estudo de caso do Projeto Biblioteca Aberta

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. 13, N. 17, Ano 2010 • p. 189-204

Nuvenzinha tinha muitos amigos,

e Temporal tinha muitos inimigos.

Nuvenzinha perguntou para Temporal:

- Por que você não muda, fica legal e ganha moral?

E ele respondeu:

- Quem então fará o mal?

Ela logo entendeu e nada respondeu.

Temporal até queria ser legal,

porém, enganava-se que era mais legal ser mau.

E assim, Nuvenzinha ficou velhinha sendo boazinha,

e Temporal continuou velhaco fazendo o mal.

As músicas foram apresentadas por suas letras em diversas canções. Viajou-se no

tempo para descobrir a música através da poesia, voltou-se ao passado, na Idade Média,

em que as histórias eram cantadas e não contadas.

Para o trabalho com esse gênero literário foi utilizada a música “Do seu lado” do

compositor Nando Reis, cujo trecho segue:

“O amor é o calor Que aquece a alma O amor tem sabor Prá quem bebe a sua água...”

A canção e sua letra foram analisadas em seus versos de amor comparando-a aos

versos de Luiz Vaz de Camões:

“Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer”.

O estudo sobre os contos foram realizados utilizando-se o Conto: “Sonho” de

autoria de Santos (2009, p.19), além da proposta de leitura e interpretação, aproveitou-se

para tratar das variedades linguísticas.

Para apresentar o tema Fábulas, foi apresentada a orientação teórica e as

características predominantes das narrativas curtas, nas quais as personagens são

animadas e inanimadas, na maioria, animais e, sempre ao final, são mostrados uma lição

de moral. Trabalhou-se o texto: “Lição do Ratinho” de autor desconhecido.

Para complementar e enriquecer o conhecimento dos participantes apresentou-se

o jornal como fonte de informações, enfatizou a importância de se fazer a hemeroteca da

notícia e de estar sempre atualizados no dia a dia e na escola, orientando-os em pesquisas

e trabalhos.

Sílvia Cristina Martins Trevisani, Maria José de Castro Silva 197

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. 13, N. 17, Ano 2010 • p. 189-204

As Crônicas foram apresentadas, por meio de uma orientação teórica, suas

origens e características. Selecionou-se a biografia do escritor Fernando Sabino e um de

seus textos “A última Crônica”.

Para se falar de História em Quadrinhos, utilizou-se um trabalho diferenciado,

ou seja, apresentou-se o tema por indução. Aproveitou-se duas tirinhas, uma do Recruta

Zero, que tratava de problemas ambientais, especificamente a poluição da água e a outra

do Hagar, que se tratava de um texto com frases ambíguas.

5. RESULTADOS

Os temas tratados proporcionaram para os participantes, além da leitura prazerosa, a

reflexão e a compreensão dos textos através de atividades de interpretação e produção,

levando-os a conhecer a grande variedade de gêneros textuais disponíveis, a prática e o

uso destes no dia a dia As atividades dirigidas às crianças passaram por um processo

natural de leitura em grupo ou individual, um momento de reflexão e questionamento, no

qual cada participante interagia e solicitava ajuda, caso a atividade proposta fosse de

difícil compreensão, levando em conta as diferentes faixas etárias dos participantes, ou até

mesmo nível de alfabetização, pois nem todos tinham um bom domínio da leitura.

O tema poesias foi trabalhado por meio do poema de versos livres “Nuvenzinha

e Temporal”, conforme já mencionado, para a qual foram propostas atividades,

sugerindo-se que fossem grifadas todas as palavras desconhecidas pelas crianças, após a

leitura, as mesmas foram pesquisadas no dicionário e discutidas. Investigou-se também a

interpretação e a exploração do texto, quanto aos elementos de gênero, número e grau.

No contexto da poesia, foi possível, por meio do questionamento de um participante por

meio da seguinte pergunta: “Professora, um homem que faz mal para alguém é mau?”,

abordar a interpretação de palavras como “mal” e “mau”.

Dessa forma, reforçam-se as ideias de Leite (1988) nas quais a utilização da

escrita, deve corresponder às formas pelas quais ela é utilizada nas práticas sociais.

As músicas foram apresentadas por suas letras em diversas canções. A

comparação dos dois autores, Nando Reis e Luiz Vaz de Camões foi realizada

observando-se épocas, escolas literárias e o destaque do sentimento de amor, tanto na

letra da canção “Do seu lado” como nos versos de Camões “O amor é fogo que arde sem

se ver”. Em outro exemplo, a letra da música Monte Castelo, de Renato Russo foi

mostrada em seu diálogo com Camões e o trecho bíblico do Novo Testamento (I Aos

Coríntios – cap.13).

198 Alfabetização e letramento: um estudo de caso do Projeto Biblioteca Aberta

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. 13, N. 17, Ano 2010 • p. 189-204

Portanto, ao comparar épocas diferentes mostrando o mesmo sentimento, evoca-

se Tfouni, (1995) quando mostra que o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos da

aquisição de uma sociedade.

O estudo sobre os contos foram realizados utilizando-se o Conto: “Sonho” de

autoria de Santos (2009, p.19), além da proposta de leitura e interpretação, aproveitou-se

para tratar das variedades linguísticas. Interessante relatar que na data do encontro em

que se tratou deste gênero, o autor, conhecido por “Bié o prosador”, esteve presente,

comentando um pouco de sua vida, mostrando que as expressões em estudo faziam parte

do vocabulário que carrega por ser “mineiro” e carrega o sotaque dos “Grotões das

Gerais”, conforme se verifica na Figura5.

Na oportunidade, houve a interação com os participantes, que ficaram fascinados

com a presença do autor, fazendo-lhe muitas perguntas, que excediam o simples trabalho

inicialmente proposto:

P: - Com quantos anos o senhor começou a escrever?

P: - O que o senhor mais gosta de escrever? Contos ou poesias?

P: - O senhor faz contos da sua vida ou inventa?

O autor emocionou-se com as crianças e foi muito gentil, oferecendo livros e

autógrafos para os participantes. Concluiu-se que o contato com o autor despertou ainda

mais o gosto pela leitura, ratificando que se as crianças forem estimuladas a ler, o hábito e

o gosto pela leitura podem ser desenvolvidos, auxiliando-as na assimilação e

compreensão dos sentidos do texto.

Geraldi infere que a reflexão da linguística se dá junto com a leitura,

compreendida como não mecânica, para se tornar

[...] construção de uma compreensão de sentidos veiculados pelo texto, e à produção de textos, quando esta perde seu caráter artificial de mera tarefa escolar para se tornar momento de expressão da subjetividade de seu autor, satisfazendo necessidades de comunicação à distância ou registrando para outrem e para si próprio suas vivências e compreensões do mundo de que participa. (GERALDI,1996, p. 66)

Sílvia Cristina Martins Trevisani, Maria José de Castro Silva 199

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. 13, N. 17, Ano 2010 • p. 189-204

Figura 5. Bate-papo e interação com o escritor Gabriel Araújo dos Santos – Bié o prosador.

As crianças reconheceram nos textos, um estilo próprio do autor e os recursos

que ele utilizou para envolver o leitor. Ou seja, as crianças, por intermédio dos textos

selecionados vão

[...] internalizando os usos e funções da escrita e promovendo o desenvolvimento de funções psicológicas que permitirão o domínio da escrita. É nesse sentido que Vygotsky afirma que a imitação é uma das formas das crianças internalizarem o conhecimento externo. (REGO, 1995, p. 111)

As propostas para apresentar o tema Fábulas foram: a leitura em voz alta do

texto “Lição do Ratinho” de autor desconhecido, o debate sobre o tema induzindo o

raciocínio das crianças sobre o tema e a produção de uma fábula, a partir de uma notícia

de jornal.

A atividade que solicitava a produção de uma fábula a partir de uma notícia do

jornal foi muito rica, pois, trabalharam-se várias habilidades, como a leitura, os gêneros, e

a hierarquia. Os participantes se preocuparam com que animal poderia, por exemplo, usar

numa notícia que envolvesse o presidente do Brasil, surgindo colocações bem pertinentes,

do tipo:

P: - Professora, o Presidente tem que ser o leão que é o Rei da Floresta.

P: - Professora, fulano colocou um elefante como motorista num acidente de

carro, ele tem que colocar um cachorro, porque o elefante só caberia se fosse numa carreta.

Foi uma atividade muito interessante e apresentou resultados surpreendentes,

mostrando as possibilidades de a atividade ter colaborado com o letramento dos

participantes, pois tais pressupostos vão ao encontro das ideias de Leite (2001) na qual se

assume que o ponto de partida e de chegada do processo de alfabetização escolar é o

texto: trecho falado ou escrito, caracterizado pela unidade de sentido que se estabelece

numa determinada situação discursiva.

Para complementar o trabalho com o jornal, salientando-se a sua importância no

dia a dia e na escola, os participantes foram orientados para o seu manuseio em pesquisas

200 Alfabetização e letramento: um estudo de caso do Projeto Biblioteca Aberta

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. 13, N. 17, Ano 2010 • p. 189-204

e trabalhos. A partir dessas informações, sugeriu-se que reconhecessem os diferentes

temas abordados em matéria jornalística; organizassem o material de pesquisa por temas

e por textos jornalísticos relevantes para cada um.

A atividade foi realizada, com exemplares de um jornal da cidade. Os alunos

foram questionados sobre o significado de uma hemeroteca, o que ela contém, como

organizá-la, então, novamente discutiu-se sobre a organização do jornal (manchetes,

páginas principais, chamadas...)

As sugestões para esta atividade foram os temas: Esportes, Saúde, Meio

Ambiente, crônicas, artigos, textos opinativos. Os alunos iniciaram o trabalho conforme o

tema escolhido, recortando e organizando com a orientação da pesquisadora. Foram

também orientados sobre as informações que a citada hemeroteca deve conter: a matéria,

a fonte, o jornal, a data, a editoria e a página. Foi uma atividade satisfatória, pois foi

possível visualizar os objetivos sendo alcançados. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais

(1998) está salientada a importância da leitura em diversas situações para que sejam

desenvolvidas capacidades de comunicação e expressão, além de valores de outras

culturas, que estimulem comportamentos éticos e responsáveis.

As atividades propostas com o tema Crônicas, primeiramente, por meio de uma

orientação teórica, suas origens e características, utilizando-se como já mencionado

anteriormente a biografia do escritor Fernando Sabino e um de seus textos “A última

Crônica”.

Após a leitura, permearam as questões relativas aos seus pontos determinantes,

identificando valores morais e sociais. A seguir, sugeriu-se que os participantes criassem a

crônica deles a partir de uma cena ou de uma notícia jornalística. Houve muita interação

para a realização desta atividade, tendo em vista que os participantes conseguiram

associar o aprendizado com os diversos cronistas destacados no jornal. Esta atividade

despertou o interesse das crianças também para outros tipos de leitura e logo para

produção de textos, conforme demonstrado na Figura6.

Para complementar a atividade, sugeriu-se que os participantes escolhessem

dentre os livros pertencentes ao acervo do projeto, algum livro que permitisse o

entendimento e a importância do contato com distintos tipos de textos, e o compreender o

que se lê.

No contexto em questão, o objetivo de analisar qual a contribuição do projeto

Biblioteca Aberta “Zilda Arns” para a formação do letramento e da capacidade para o

domínio da leitura e da escrita, puderam ser claramente observados visto que a atividade

foi realizada de forma adequada.

Sílvia Cristina Martins Trevisani, Maria José de Castro Silva 201

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. 13, N. 17, Ano 2010 • p. 189-204

Figura 6. Produção de texto a partir da leitura de jornais.

As Histórias em Quadrinhos, tão apreciadas pelos participantes, foram

ressaltadas pelas questões morais e ambientais que nelas podem estar inseridas,

induzindo-os a reflexão. A partir dos questionamentos, interações e criação de suas

próprias tirinhas, as crianças chegaram ao objetivo da atividade, que era identificar o tema

proposto. Oportunamente, apresentou-se aos participantes a biografia de Ângelo

Agustini, o pioneiro dos quadrinhos brasileiros, além disso, um breve relato da evolução

desse gênero até os dias de hoje.

Como leitura individual, as crianças puderam escolher uma das muitas revistas

pertencentes ao acervo e concluída a atividade, sugeriu-se uma visita à Biblioteca da

unidade. As crianças mostraram-se eufóricas e aproveitaram a atividade. Organizadas

em fila, puderam andar entre os corredores da biblioteca, e conhecer a organização da

mesma. No término da visita, possibilitou-se um bate-papo com a bibliotecária que

respondeu as diversas dúvidas e curiosidades dos pequenos leitores, conforme é

apresentada na Figura 7.

202 Alfabetização e letramento: um estudo de caso do Projeto Biblioteca Aberta

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. 13, N. 17, Ano 2010 • p. 189-204

Figura 7. Conhecendo a Biblioteca.

Dessa forma o trabalho realizado no decorrer do Projeto Biblioteca Aberta “Zilda

Arns” mostrou a possibilidade de a criança descobrir a escrita como momento natural de

seu desenvolvimento, levando-a a compreensão interior dessa atividade culturalmente

partilhada. Nas palavras de Vygotsky (1989, p. 133, 134), “que mais importante que o

hábito de “mãos e dedos”, é o significado da escrita para criança como uma nova e

complexa forma de atividade cultural”.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o desenvolvimento do Projeto Biblioteca Aberta “Zilda Arns”, pôde-se

compreender a importância de um mediador, que domine a ortografia, o conceito ou a

instrução na qual o aprendiz ainda encontra dificuldades possibilitou-se, assim, aos

participantes a apropriação de atitudes fundamentais na construção de leitores e

escritores. Proporcionou, também, o desenvolvimento do gosto pela leitura, utilizando-se

diversos gêneros textuais e livros de literatura geral, possibilitando o alcance do

imaginário da criança por meio da ficção e da metáfora.

Propiciou aos participantes escrever para muitos leitores, uma vez que todas as

atividades de produção eram socializadas em grupo, o que representou uma novidade à

criança habituada a escrever para um único leitor, o professor.

Ainda, as atividades desenvolvidas estimularam os participantes a perceberem

através de marcas textuais a tipologia textual, atividade essa que parte da observação de

diferentes textos para identificar a características que os distinguem e as que os

aproximam, e o uso de cada gênero no dia a dia e na sociedade. Permitiu-se que os

participantes elaborassem de forma escrita às percepções do que foi lido e manifestassem

suas opiniões e significados.

Sílvia Cristina Martins Trevisani, Maria José de Castro Silva 203

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. 13, N. 17, Ano 2010 • p. 189-204

Possibilitou-se, a partir da constatação da necessidade da troca de textos com os

colegas, a percepção do valor da releitura e da reescrita para transformar o texto em um

ser animado sempre disponível para ser relido e reinventado.

Concluiu-se que o referido projeto contribuiu para, além de despertar o gosto e

prazer pela leitura, ajudar a solucionar problemas relacionados ao insuficiente

aproveitamento escolar. Puderam-se perceber razões positivas para as crianças

participantes que se mostraram conscientes e participativos a cada encontro. Os textos

produzidos ou desenhados pelos participantes, depois de avaliados, foram devolvidos no

encerramento do projeto, expondo e apresentando os trabalhos elaborados pelas crianças.

O evento de encerramento foi elaborado pensando no aprendizado.

A festa de encerramento contou com a presença de pais e convidados dos

participantes e foi alegrada com as canções “Super fantástico” e “Meteoro”, apontadas

pelas crianças por votação, momento em aproveitou-se para ressaltar a importância da

troca de ideias e a liberdade de escolha.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, João Ferreira de. BÍBLIA SAGRADA O antigo e o Novo Testamento, Editora Central Gospel. Santo André - São Paulo, 2006.

BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais da Língua Portuguesa. Brasília: MEC E SEF, 1997.

CHALITA, Gabriel. Pedagogia do amor: a contribuição das histórias universais para a formação de valores das novas gerações. São Paulo: Editora Gente, 2005.

FERREIRO, E. A escrita antes das letras. In: SINCLAIR, H. (Org.). A produção de notações na criança – linguagem, número ritmos e melodias. São Paulo: Cortez, 1990, p.19-70.

FERREIRO, E. Afabetização em processo. 5.ed. São Paulo: Cortes e Editores Associados, 2003, p.30.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 29.ed. São Paulo: Cortez, 1994.

______. Pedagogia do oprimido, 12.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

GERALDI, João Wanderley. Linguagem e ensino: Exercícios de militância e divulgação. Campinas: Mercado de Letras, ALB, 1996

______. Portos de Passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

______. O texto na sala de aula. São Paulo: Editora Ática, 2008, p. 107-108.

LEITE, Sérgio Antônio da Silva. Alfabetização e Letramento: Contribuições para as práticas pedagógicas. Campinas: Editora Komedi, 2001.

______. Alfabetização e fracasso escolar. São Paulo: Edicon, 1988.

NÓVOA, Antônio. Formação de professores e profissão docente, In: ______. Os professores e a sua formação, 3.ed. Temas de educação, vol. 1. Lisboa: Dom Quixote, 1997.

ORLANDI, E. A produção da leitura e suas condições. Leitura: Teoria e Prática, ano 2, n.1, p.20-5, abr. 1983.

204 Alfabetização e letramento: um estudo de caso do Projeto Biblioteca Aberta

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. 13, N. 17, Ano 2010 • p. 189-204

REGO, Teresa Cristina. Vigotsky: Uma Perspectiva Histórico-Cultural. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1995.

SANTOS, Araújo dos Santos. Zé Balão e suas histórias. Editora Adonis: 2009, p.19.

SILVA, Ezequiel Theodoro. Leitura e Formação: Criticidade e leitura. São Paulo: Global Editora, 2009.

SOARES, M. B. Letramento / Alfabetitismo. Presença Pedagógica, v. 2, n.10, 1996.

TFOUNI, L.V. Letramento e alfabetização. São Paulo: Cortez, 1995.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

OUTRAS FONTES

COLELLO, Silvia Gasparian – Alfabetização e Letramento: Repensando o Ensino da

Língua Escrita – FEUSP – disponível em:

http://www.hottopos.com/videtur29/silvia.htm - acesso em 13/01/2010.

http://www.fisica.ufpb.br/~romero/port/ga_lvc.htm (Camões - acesso 07/07/2010).

http://www.cifraclub.com.br/nando-reis/do-seu-lado/

http://letras.terra.com.br/renato-russo/176305

http://www.cifraclub.com.br/a-turma-do-balao-magico/super-fantastico/

http://letras.terra.com.br/luan-santana/

http://cariricaturas.blogspot.com/2009/10/ultima-cronica-fernando-sabino.html