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www.autoresespiritasclassic Alfred Erny O Psiquismo Experimental le Psychisme experimental 1895 Eugene Bodin Os barcos Conteúdo resumido

Alfred Erny - O Psiquismo Experimental

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Alfred Erny - O Psiquismo Experimental

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Alfred Erny - O Psiquismo Experimental

www.autoresespiritasclassicos.comAlfred ErnyO Psiquismo Experimentalle Psychisme experimental

1895

Eugene Bodin

Os barcos

Contedo resumido

Alfred Erny foi mais um dos ousados pesquisadores dos fenmenos supranormais que no recearam enfrentar o desdm, a ironia e os ataques dos representantes da cincia materialista.

O Psiquismo Experimental uma obra esprita clssica, publicada originalmente em francs, pela editora Flammarion, em Paris, no ano de 1895. Nela o autor faz uma exposio compacta dos principais fenmenos medinicos investigados pelos grandes pesquisadores do sculo XIX, alm de suas prprias experincias psquicas, e analisando-os luz do entendimento cientfico e esprita existentes poca.Em seus estudos, Alfred Erny procurou sempre colocar-se em posio intermediria na avaliao dos fenmenos medinicos, evitando os dois extremos: a credulidade excessiva de alguns espiritualistas apaixonados e a no menos nociva incredulidade dos materialistas, que s vem o nada no fim desta vida.

O autor afirma que os fenmenos psquicos rasgam horizontes inteiramente novos e escapam a todas as leis estabelecidas pela cincia materialista. E com este trabalho procura reforar a afirmativa dos grandes psiquistas: a de que os nossos mortos esto mais vivos do que ns, porque a morte apenas o trmino de uma experincia e o retorno a uma vida mais ampla e to ou mais real do que esta nossa existncia passageira.Sumrio

5Prefcio

7Introduo

Primeira Parte O Psiquismo Vulgar

11I Os fenmenos psquicos

20II Psicologia dos incrdulos

20Os cpticos

22As pessoas bem equilibradas

23Os pseudocientistas

24Os teoristas

24Os ignorantes

24Os pedantes e os circunspectos

25Os imbecis

25Os indiferentes

27III Escrita automtica e escrita direta. Opinies dos professores F. Myers e Elliott Cowes

39IV A psicometria. Resumo dos trabalhos do Dr. Buchanan e de W. Denton

Segunda Parte O Alto Psiquismo

44I O corpo psquico. Opinies dos antigos e dos modernos

48II Os fenmenos psquicos da morte. Curiosas experincias

53III Fantasmas dos vivos e dos mortos

59IV A teleplastia ou materializao

591 Estudo de 1858 a 1872

662 Katie King. Carta de William Crookes

74V Formas materializadas

741 Continuao do estudo, de 1874 a 1893. Cartas de Alfred Russel Wallace

912 Opinies e teorias

96Concluses

97Movimentos de objetos sem contato

98Premonio psquica

100O Congresso Psquico de Chicago

105Documentos diversos

108Materializaes

109Fotografias psquicas

110Experincias do Dr. Oliver Lodge

112A identidade dos Espritos

128Apndice

Prefcio

Dedico este livro ao meu confrade e amigo Victorien Sardou, cuja simptica aprovao me assistiu no decurso deste longo e penoso trabalho.

Como William Crookes, o ilustre qumico ingls, e o nosso velho amigo Eugne Nus, Sardou nunca mudou de convices, a despeito dos fceis gracejos que espritos malignos julgavam dever atirar-lhe.

Afortunadamente os tempos mudaram, e bem longe vai o momento em que Eugne Nus publicava a sua obra intitulada Coisas do Outro Mundo. Ento, era preciso coragem para escrever um livro sobre fenmenos que o mundo cientfico olhava com desdm e que o pblico ridiculizava ou reputava uma hbil prestidigitao.

Atualmente o movimento psquico se acentua todos os dias, como de uma feita me dizia Sardou: Cessou a indiferena e, quando mesmo a esse ponto ainda no houvssemos chegado, no se vos poderia recusar o mrito de haverdes, com alguns outros, contribudo para semelhante resultado.

De fato, em toda parte essas questes importantes e complexas esto na ordem do dia.

Muitos sbios, outrora cpticos, tm sido forados a render-se realidade dos fatos, e de ano em ano aumenta o nmero dessas adeses. Dentro em pouco dizia um clebre professor ingls somente os ignorantes negaro esses fenmenos.

Era esse justamente o pensamento de Sardou, que assim me escrevia em 1892:

No repugna aos incrdulos e aos ignorantes emitir, ao acaso, para pr fim a discusses que lhes no agradam, asseres sem valor, que o vulgo acolhe sem exame e repete complacentemente, dando-se por feliz em escapar, por essa forma, obrigao de observar e de criar uma opinio baseada em experincias srias.

Graas a experincias dessa natureza que, na Europa e na Amrica, tantos homens de cincia e tantos professores tm podido formar uma opinio e afirm-la ousadamente, como se ver no captulo primeiro deste livro.

Para esta obra precisei compulsar e traduzir mais de trezentos artigos ou volumes publicados na Inglaterra, na Amrica e na Alemanha.

Era um trabalho enorme e dos mais difceis; mas segui o exemplo do finado Eugne Nus, que assim me escrevia em 1892:

Muitos anos h que vivo a esmiuar coisas ingratas, certo de que da no tirarei honra ou proveito, mas sem lamentar um minuto sequer desse tempo. Fazei como eu: s em vs mesmos procurai a satisfao dos vossos trabalhos. Tudo mais subjetivo, pura iluso: maya, como dizem os hindus.

Terminando, agradeo publicamente a Victorien Sardou a aceitao da dedicatria deste livro, e a William Crookes e Alfred Russel Wallace, dois grandes sbios ingleses, a permisso que me concederam de publicar as suas importantssimas cartas particulares.

21 de dezembro de 1894.

Alfred Erny

Introduo

O Materialismo est em plena decadncia. Triunfante em todo o decurso do sculo XIX, ele se desmorona lentamente, de um modo irrevogvel.

Debalde os campees dessa estreita doutrina ainda expem as suas concepes pessimistas: j ningum com elas se ilude.

Frios nos deixa a Filosofia, e a prpria Metafsica j pouco poder tem sobre ns.

O que queremos atualmente so fatos e no teorias. De 15 anos para c o impulso do Espiritualismo tem sido to grande, que acabar por vencer todas as resistncias, pois esse movimento vertiginoso, como tudo nos nossos dias.

Vou fazer um breve resumo das origens do que chamarei psiquismo experimental, a fim de poder depois estudar a fundo os fenmenos de mais elevada natureza.

De 1850 a 1890, muitos sbios americanos, ingleses, alemes, russos, italianos, etc., iniciaram a marcha, afrontando cheios de coragem todas as suas vicissitudes. Outros, melhor aparelhados para a luta, seguiram aquele exemplo fecundo, atirando-se de forma audaciosa ao trabalho, e o seu nmero vai aumentando proporo que o tempo passa.

Infelizmente para a Frana, quase todos os seus sbios tm sido vtimas da epidemia materialista, que tamanhas assolaes causou nos sculos XVIII e XIX.

Os nossos sbios escrevia Yveling Rambaud, em 1886 no valem menos do que os dos outros pases; porm no se acham familiarizados com vrios fenmenos que a antigidade conhecia perfeitamente.

O receio de ser alvejado pelo ridculo paralisa os mais corajosos e os mais empreendedores. Alguns temem tambm perder ou comprometer uma situao laboriosamente adquirida ou penosamente conquistada; a outros desgosta demolir teorias seculares, como se elas fossem velhas casas imprestveis.

Finalmente, a filosofia materialista e cptica, que h muito tempo constitui o ensino cientfico, uma das principais causas desse retardamento no estudo dos fenmenos psquicos.

Ao passo que, h um sculo, sob o impulso dos sbios, a cincia fsica tem dado passos gigantescos, a cincia psquica se tem conservado letra morta para a maior parte deles.

H duzentos anos dizia um sacerdote budista do Tibet a um doutor ingls estudais a matria sob todas as suas formas; ns, h mais de dez mil anos, estudamos a alma e as suas faculdades.

Nos Estados Unidos, na Alemanha, na Inglaterra, na Rssia, etc., os sbios no temem o ridculo, antes o desprezam completamente.

Aqueles que fria e metodicamente se tm ocupado dos fenmenos psquicos que me prestaram justamente a maior soma de auxlios. A princpio absolutamente incrdulos, todos eles se viram forados a render-se evidncia. Nesses diversos pases houve alguns recalcitrantes; mas a exceo confirma a regra. Ver-se-, pela lista que hei de apresentar, que ela no se compe de nomes sem significao.

Na Frana, na Inglaterra e na Amrica, muitos doutores perderam uma boa ocasio de francamente confessarem suas opinies. Sirva-lhes de consolao a lembrana de que Galileu escapou de ser queimado e Fulton foi preso como louco.

Em geral essa a sorte daqueles que se adiantam sua poca e no se curvam s opinies correntes. Colocados na vanguarda, so os batedores que recebem os primeiros golpes.

Depois que se estudaram certos fenmenos psquicos que oferecem os hipnotizados, o aspecto das coisas mudou; pouco a pouco se tornar indispensvel estudar os fenmenos outrora qualificados de espritas, e que, mudando de nome, se tornaro finalmente cientficos.

Amparou-me nesse rido trabalho a viva animao de muitos espiritualistas, inclusive V. Sardou e E. Nus. Em 1892 escrevia-me este ltimo: Pensai apenas na utilidade do vosso trabalho. No cuideis do mal que ele vos pode causar.

Certamente pensei tambm em todo o mal que poderiam dizer do meu livro; mas pouco importa o ridculo, desde que eu consiga atingir o meu fim.

Foi meu intento reunir um grande nmero de fatos estudados e verificados por sbios e experimentadores acima de qualquer suspeita, e depois apresent-los em toda a sua evidncia.

Por extraordinrios que sejam os fenmenos que vou estudar, nem por isso so menos dignos de interesse, pois muitas vezes a verdade parece inverossmil. Apesar da absoluta m vontade dos homens de cincia, que afetam desdenhar desses fatos, no possvel neg-los e cada vez mais pueril de torna a obstinao em rir dos fenmenos psquicos.

Espero que as experincias por mim citadas pouca dvida deixem s pessoas de boa f, porque afastei cuidadosamente tudo quanto me pareceu baldo de solidez.

Quanto aos ignorantes ou aos incrdulos obstinados, eles so incorrigveis, e perdido seria o tempo que se gastasse em procurar convenc-los.

Eles negaro mesmo o que os maiores sbios afirmarem. Como So Tom, todos eles querem ver e tocar. Foi, sem dvida, dessa categoria de indivduos que disse Maquiavel: H trs espcies de crebros: os primeiros so os que, por si mesmos, compreendem a razo de ser das coisas; os segundos so os que reconhecem a verdade, quando demonstrada por outros; os ltimos so os que so incapazes de compreender; naturalmente estes formam a maioria.

O inconveniente desses fenmenos a dificuldade de observ-los pelos processos chamados cientficos.

Quando se pede a certos sbios que faam experincias, eles estabelecem logo condies, ignorando entretanto:

1)quais so tambm as condies em que se pode produzir o fenmeno;

2)por que o fluido psquico atua em um caso e em outros no;

3)enfim, por que os fenmenos so contrariados ou anulados, quer pelo estado da atmosfera, quer pelo dos mdiuns ou das pessoas presentes.

Como se ignoram em parte as leis que regem esses fenmenos, impossvel estud-los em condies fixas ou preestabelecidas.

Possuindo cada corpo humano uma quantidade maior ou menor de fluidos, estes ltimos podem muitas vezes neutralizar-se mutuamente, resultando da novas dificuldades para o observador.

O que, durante muito tempo, prejudicou e sempre prejudicar o estudo desses fenmenos so as fraudes de alguns mdiuns.

Mas que tem isso de extraordinrio? Tudo se falsifica, inclusive o diamante e a letra bancria. E porventura isso destri o valor do verdadeiro diamante e da letra bancria? Tudo pode ser falsificado, e as falsificaes so os piores inimigos da verdade.

Os falsos mdiuns julgaram proveitoso explorar esse novo terreno. Na Amrica e na Inglaterra, certos indivduos muito prticos assenhorearam-se dessa indstria e dela tiraram belos proventos. A ambio do lucro, o amor ao dinheiro constituram sempre poderosos incentivos ao dolo.

Alguns sbios, afeitos observao dos hospitais e dos hospcios de alienados, imaginam que os mdiuns so histricos ou doentes. Puro engano! A verdade que a mediunidade um dom. A organizao do mdium diferente da dos demais seres humanos; aquele tem percepes psquicas mui especiais e delicadas, duma extrema sensibilidade; porm, abusando dessas qualidades, o seu estado geral se ressentir do excesso, de um modo extremamente notvel.

A fora psquica se esgota, como a fora vital; em geral, desde que um mdium se acha doente, cessam os fenmenos, e s reaparecem quando ele se restabelece.

Depois de freqentes sesses, um mdium pago tem esgotadas as suas foras... psquicas; e, se os fenmenos no se produzem (o que o mdium sabe perfeitamente que no depende de si) ecomo, apesar de tudo, preciso viver, ele recorre a artifcios que cedo ou tarde sero descobertos e o arruinaro completamente, qualquer que tenha sido a boa f de que haja usado em experincias anteriores.

Quanto a mim, prefiro os mdiuns que no recebem paga: s esses oferecem garantias certas contra a fraude, pois nenhum interesse pode lev-los a enganar. Infelizmente, esses mdiuns no se acham ao alcance de todo o mundo; porm, aqueles que desejam investigar os fenmenos, bem depressa chegam a conhecer os sensitivos dessa natureza.

Sobre os fenmenos chamados espritas, que melhor denominar psquicos, porque nem sempre intervm neles os espritos, pesa ainda a desconsiderao que por muito tempo oprimiu o magnetismo.

Do mesmo modo que o magnetismo foi batizado de hipnotismo, o que em Frana se chama espiritismo, e na Amrica e na Inglaterra espiritualismo, acabar por denominar-se psiquismo, e ser um dia para o Espiritismo o que a Qumica para a Alquimia.

A despeito dos numerosos fatos estudados e observados no mundo inteiro, a escola materialista se obstina em negar esses fatos, principalmente porque eles destroem a maior parte das suas teorias fisiolgicas. As geraes futuras ho de pasmar da obstinao de certos sbios, e no prximo sculo as teorias materialistas parecero to ridculas como as de Faraday e de Jobert de Lamballe sobre as pancadas provenientes de fora psquica.

H cem anos toda a nossa educao, todas as nossas idias afastavam quase todo o mundo do estudo desses fenmenos. A rotina muito fcil de seguir e os preconceitos so difceis de vencer.

Sei perfeitamente que alguns doutores e professores se ocupam com essas questes, mas suspeito muito dos seus preconceitos de escola.

To enraizada se acha a sua educao materialista e to refratrio s novidades o seu meio cientfico, que bem difcil lhes ser afrontar de viseira erguida a velha rotina e as chapas decrpitas.

Li o seguinte em um livro dos Srs. Binet e Fr, acerca do magnetismo:

O estudo das paralisias por sugesto abre Psicologia horizontes inteiramente novos; esses fatos desorientam os psiclogos e escapam a todas as leis mentais por eles estabelecidas, porque no se acham compreendidos no quadro estreito de suas classificaes.

O mesmo se pode dizer dos fenmenos psquicos: eles rasgam horizontes inteiramente novos e escapam a todas as leis estabelecidas pela cincia materialista, porque no os comporta o quadro estreito de suas classificaes.

No meu estudo psquico procurei ser imparcial, guardando o meio termo entre a credulidade excessiva de alguns espiritualistas e a incredulidade ainda mais exagerada dos materialistas e positivistas, que no vem alm... do seu corpo.

Primeira Parte

O Psiquismo Vulgar

Captulo I

Os fenmenos psquicos

Compreende o estudo dos fenmenos psquicos uma srie de fatos que parecem estranhos e sobrenaturais, quando se ignoram as leis que os regem. Podemos grup-los em cinco categorias:

1)os fenmenos de tiptologia, ou pancadas psquicas respondendo inteligentemente a perguntas;

2)os fenmenos de transportes, levitaes e movimentos de objetos sem contato;

3)a escrita automtica e a escrita direta;

4)a psicometria, fenmenos de um gnero inteiramente novo e com algumas relaes com a telepatia e com o sonambulismo;

5)a teleplastia, ou aparies de formas materializadas e tangveis: fenmenos ainda pouco conhecidos em Frana e de carter muito complexo.

No me ocuparei com os fenmenos de sonambulismo e de hipnotismo, pois eles so estudados diariamente por duas escolas rivais, cujas concluses so um pouco divergentes.

Resumamos rapidamente as experincias antigas.

De 1851 a 1854, um qumico de Filadlfia, o professor Robert Hare, estudou os fenmenos psquicos em condies rigorosas de observao cientfica. Usou de instrumentos especiais que imaginara para provar que a fora posta em jogo era unicamente a das pessoas presentes s experincias. O resultado foi, porm, o contrrio do que ele desejava.

O professor Hare era, nessa poca, extremamente cptico e, apesar disso, se viu obrigado a constatar que esses fenmenos eram dirigidos por inteligncias sobre cuja natureza no concordam as opinies.

Robert Hare apenas fez experincias com mdiuns privados, o que era uma grande vantagem. Nas condies em que fiz as minhas experincias diz ele seria impossvel a um mdium, por sua vontade ou por sua fora muscular, mover corpos pesados ou agir sobre o indicador colocado no disco do meu aparelho. A nica explicao que posso dar desses fenmenos que a inteligncia presente pode, pela volio, privar os corpos inertes da fora de inrcia e mov-los pela vontade.

A propsito das pancadas psquicas que se produzem sem contato, Robert Hare observa tambm que esse o meio empregado pelos desencarnados para manifestarem sua presena.

Esse meio se assemelha ao que empregaria uma pessoa para atrair noite a vossa ateno: bater porta. Desde que ela perceba que a ouviram, deixar de bater.

Vinte anos depois de Robert Hare, de 1870 a 1874, William Crookes, qumico clebre por suas descobertas (entre outras o tlio e a matria radiante), fez tambm experincias em aparelhos especiais.

Recomendo veementemente a leitura do seu livro Researches in the phenomena of spiritualism queles que porventura ainda no o tenham lido.

Em 1889, depois de longo silncio, Crookes decidiu-se a publicar (nos boletins da Society for Psychical Researches, de Londres) diversas experincias que confirmam as que ele outrora publicara. Afirma ele:

So constataes exatas de fatos que julgo ainda do maior interesse para a Cincia. Seja como for, publicando-as, mostrarei que no mudei de opinio e que, revendo com calma as experincias que fiz h aproximadamente vinte anos, nada tenho a retratar ou a modificar.

Sabendo perfeitamente que diversos mdiuns tm sido apanhados em flagrante delito de fraude, eu estava prevenido com D. Home (clebre mdium). Entretanto devo reconhecer que nunca pude descobrir qualquer espcie de artifcio. A realidade e a fora dos fenmenos, em minha presena obtidos por Home, parecem-me antes fortalecidos que enfraquecidos pelas polmicas relativas aos prestidigitadores e s diversas fraudes de mdiuns que tm sido descobertos depois das minhas experincias. O resultado dessas discusses transformar vagas possibilidades de iluso ou de erro em verdades precisas. Os fenmenos produzidos por Home diferem completamente da categoria das chamadas maravilhas que se podem obter por meio de mveis, molas ou habilidades de escamoteao.

De acordo com os meus estudos cientficos, posso afirmar que nenhuma razo existe para negar a priori a realidade dos fenmenos que descrevi. Os que pretendem que atualmente conhecemos todas as foras fsicas do Universo, ou mesmo a maior parte dessas foras, mostram uma estreiteza de vistas que no deveria existir mais num sculo em que o acrscimo incessante dos nossos conhecimentos diariamente faz sobressair o crculo imenso da nossa ignorncia sobre tantas coisas.

Como se v, nada mais preciso que as novas afirmaes de W. Crookes a respeito das suas opinies que maravilharam o mundo cientfico, de 1870 a 1874.

Ele acredita ainda naquilo em que acreditava ento. A sua carta a Paul Marin, publicada na Iniciao (1892), constitui ainda uma prova disso. Ademais, Crookes dignou-se dirigir-me uma carta importantssima, que se encontrar no captulo das materializaes.

Prestaram verdadeiro servio aos espiritualistas aqueles que pretenderam explicar os fenmenos psquicos por meio da prestidigitao. S as pessoas de preconceitos enraizados podem enganar-se ainda a esse respeito e fingir que no vem as diferenas intrnsecas e radicais que existem entre o fenmeno real e o imitado.

As 11 sesses que W. Crookes se decidiu publicar em 1889 diferem pouco das que se encontram no livro de que falei. Elas se realizaram em casa de Crookes ou de miss Dunglas, amiga de sua famlia. Em todas Home serviu de mdium.

Entre as principais experincias, pode-se citar o aumento ou diminuio, vontade, do peso de uma mesa.

Em uma das sesses, a Sra. de W. Crookes tirou o seu colar de coral e colocou-o sobre uma mesa. Um instante depois o colar moveu-se, erguendo-se em espiral.

Vrias vezes, Crookes e seus amigos viram mos luminosas.

Na sesso de 22 de maio de 1871 Crookes constata que ele e sua mulher sentiram uma pesada mo apoiar-se sucessivamente em seus joelhos (as mos de Home se achavam sobre a mesa e a sala estava iluminada; toda fraude era, pois, impossvel). Alguns minutos depois a mesa se ergueu vrias vezes, e no mesmo momento diversas pessoas, com o auxlio de uma vela, examinaram as mos e os ps de Home, enquanto a mesa se elevava, e constataram que os trs ps da mesa se achavam no ar.

Quando terminaram as experincias, vimos continua Crookes um pequeno sof mover-se de repente e ficar a 6 polegadas de distncia de miss Dunglas. A cadeira desta comeou a mover-se, ficando depois como que pregada ao soalho. Crookes tentou mov-la, porm ela resistiu a todos os esforos.

Em 1892 houve em Milo sesses clebres, em que os mesmos fenmenos se reproduziram.

Nove sbios experimentaram com uma mdium italiana, Euspia Paladino, e os resultados obtidos desorientaram do modo mais completo o mundo cientfico. O fenmeno de levitao de uma mesa se produziu como na casa de Crookes e, circunstncia ainda mais convincente, pde-se fotografar a mesa no momento em que ela ficou no ar por alguns segundos. Numa das fotografias v-se o Dr. Charles Richet, que segura uma das mos, os joelhos e um p da mdium, de quem o professor Lombroso segura a outra mo.

Duma feita, observou-se que a mais pesada das cadeiras (10kg), que se achava a 1 metro da mesa e por detrs da mdium, se aproximou do Sr. Schiaparelli, que se ergueu para recoloc-la no seu lugar; mas, apenas ele se sentara de novo, a cadeira recomeou a mover-se na sua direo. Convm notar a analogia desses fenmenos com os obtidos na casa de miss Dunglas. o que se chama movimentos de objetos sem contato.

Quando uma mesa se ergue no ar ou acontece o mesmo a um mdium, tem-se o fenmeno da levitao. A mais curiosa explicao desses fenmenos dada pelos iguis da ndia. Segundo eles, a levitao depende da diferena entre as polaridades eltricas ou magnticas e o corpo humano que tem uma polaridade diferente da da Terra, de sorte que elas se podem anular em certos casos.

Isso quer dizer que, se a Terra e o corpo chegam ao mesmo estado de polaridade, o corpo fica em estado de elevar-se na atmosfera.

Em todos os casos, o que parece certo que a fora psquica muitas vezes anula ou neutraliza a lei da gravitao. Um testemunho no menos curioso o do abade de Meissas, doutor em teologia. Eis o que dizia ele em um artigo no Figaro:

minha vista ergueram-se mesas, quando todas as mos se haviam afastado delas.

Vi uma avanar repentinamente pelo menos 25 centmetros, sem contato de espcie alguma. As condies da experincia excluam qualquer possibilidade de fraude.

Alis, esses fatos so atestados por tantas pessoas srias e dotadas de esprito crtico, que os considero como absolutamente demonstrados. A cincia oficial nega esses fatos, o que a dispensa de os explicar. Voltemo-nos, pois, para a cincia dos investigadores, cincia da vanguarda, cuja misso transpor de sculo a sculo, no caminho do progresso, as barricadas da cincia oficial.

E os fenmenos psquicos? Bastar, para explic-los, o estudo das foras magnticas?

A mesa que fala (por pancadas) serve evidentemente de rgo a uma inteligncia.

Que inteligncia essa? Grande problema, cuja soluo fornecer, garanto-vos, luzes inesperadas fisiologia e psicologia.

Alguns tm dito: um demnio que fala. Se preciso fosse, eu mostraria a fraqueza do raciocnio que os leva a essa concluso. No, no preciso ir procurar to longe. Considero como muito mais provvel que, pelo menos nos casos ordinrios, entrem em jogo apenas o esprito do mdium e os dos assistentes. Apenas a mesa serve de rgo a um fenmeno psquico que se opera num dos assistentes.

Mesmo nos casos ordinrios, a teoria do abade de Meissas (sugerida por Eugne Nus, h muito tempo) est em completa contradio com os experimentadores que hei de citar, inclusive R. Hare, W. Crookes, C. Varley, Stainton Moses, F. Myers, E. Cowes, Hellenbach, Aksakof, Brofferio, etc. Diferem as opinies destes ltimos sobre a qualidade real dessas inteligncias que se manifestam, mas todos reconhecem que elas so exteriores ao ser humano.

Com mais forte razo deve-se reconhecer isso nos casos extraordinrios, como os da escrita automtica ou direta, dos transportes, das materializaes, etc.; mas diz o abade que desses nunca viu um s, o que apenas prova que ele nunca viu trabalhar um poderoso mdium.

A esse respeito, o abade de Meissas estou certo sabe muito mais do que disse; mas o que ele escreveu j denota alguma coragem, sobretudo na sua posio, e no seria conveniente exigir-lhe mais.

O Sr. Lemerle, antigo aluno da Escola Politcnica, publica na Iniciao, de maro de 1893, uma srie de experincias que corroboram inteiramente as que acabo de citar. Em pleno dia, uma jardineira muito pesada, de carvalho macio, elevou-se a 7 ou 8 centmetros do solo, achando-se as mos do mdium a 10 centmetros acima dela.

Uma mesa foi atirada violentamente para cima. Movimentos de pequenos objetos, sem contato, foram diz Lemerle observados nas mesmas excelentes condies. No houve contato de espcie alguma, nem das mos, nem do corpo, nem das pernas, nem dos ps do mdium.

O engenheiro eletricista Cromwell Varley, que teve a iniciativa do cabo transatlntico, fez experincias do mesmo gnero. Afirma ele:

Vi muitas vezes mover-se uma mesa quando ningum a tocava, e ainda mais vezes vi mesas e outros objetos elevarem-se do solo.

A maior parte dessas experincias foram observadas em pleno dia ou em plena luz.

Temos provas esmagadoras desses fenmenos e seria pueril neg-los.

Um romancista ingls, Hamilton Ad, teve com D. Home uma sesso particular, a que assistiu Alphonse Karr (homem muito espirituoso, diz Ad, porm dos mais obstinados e dos mais cpticos de Frana). A sesso se realizou nos arredores de Nice em um chal cuja sala estava brilhantemente iluminada.

Uma grande lmpada repousava sobre uma mesa to pesada que Ad mal pde ergu-la ligeiramente com as duas mos. O que mais surpreendeu Ad e os outros assistentes, muito cpticos na sua maior parte, foi verem pesada poltrona, colocada numa extremidade do salo, comear a mover-se circularmente, seguida por outro mvel.

Em seguida a grande mesa ergueu-se a 3 ou 4 ps do soalho. Alphonse Karr colocou-se sob a mesa e, depois de ter ele examinado tudo com cuidado, esta desceu vagarosamente.

Ad confessa que ele e seus companheiros ficaram inteiramente confundidos, pois era materialmente impossvel produzir por fraude aquele resultado. Alphonse Karr, que no dia seguinte foi visitar o romancista ingls, confessou-lhe que estava inteiramente desorientado e parecia muito contrafeito por se ver forado a reconhecer o fato.

Para Ad, que era to cptico como a maior parte dos assistentes, esse problema permaneceu como questo insolvel.

O Dr. Ochorowicz, to clebre pelo seu livro sobre A Sugesto Mental, teve tambm sesses particulares com Euspia Paladino. Essas sesses se realizaram em Roma, na casa do pintor Siamiradski (amigo do doutor) e foram ainda mais surpreendentes que as de Milo. A notcia delas foi publicada em um jornal de Varsvia pelo Dr. Ochorowicz, que atribui grande importncia a todos esses fenmenos, cuja realidade garante. Ele cr numa renascena da Cincia e est firmemente convencido de que o homem no acaba na superfcie do seu corpo.

O Dr. Hans Bartle relatou no Berliner Tagleblatt, de 21 de dezembro de 1891, as suas duas sesses particulares com Euspia, em plena luz.

A mdium tinha as mos presas e os seus ps eram retidos pelos dos Srs. Fiori e Hirsch. Apesar de tudo, produziram-se os mais estranhos fenmenos, que maravilharam o doutor.

Um professor espanhol, Manuel Otero Acevedo, realizou, em 1890, em Npoles, vrias sesses com a mesma mdium. Achavam-se presentes os professores Cintus e Camano, alm de um literato. As sesses foram efetuadas num quarto da casa habitada pelo espanhol, o qual estava certo de que nada fora adrede preparado. Seguros os ps e as mos da mdium, esta caiu logo em letargia; depois se ergueu no ar, de modo que foi possvel passar a mo entre seus ps e o soalho. Tendo sido depois colocada em posio horizontal, um travesseiro, sem contato de mo humana, foi repentinamente colocar-se-lhe sob a cabea. O professor cobriu com seu leno um vaso cheio de argila e conjurou as inteligncias invisveis a produzirem na argila a impresso de trs dedos. Com espanto seu, foi obtido o resultado que se desejava, e o professor deixou Npoles convencido da realidade dos fenmenos.

Para dar uma idia dos movimentos de objetos sem contato, no conheo nada mais sugestivo do que a narrao do Conde de Larmandie, relativa a fenmenos que se produziram no castelo de la Sudrie (propriedade de sua famlia).

Esses fatos foram presenciados por 14 pessoas, pertencentes famlia do conde e pela sua criadagem. Viu-se, entre outras coisas, um pedao de madeira, que estava no canto dum quarto, vir cair aos ps do conde e de sua irm, depois de haver batido no teto. Vrias vezes o mesmo objeto saltou e foi chocar-se contra a porte, o soalho e as paredes.

A irm do conde, que o tratara como a um farsista, veio na tarde seguinte, com toda a famlia, sala assombrada. No fim de alguns instantes, os mesmos fenmenos se renovaram, ainda mais intensamente do que na vspera.

Pouco a pouco os fenmenos chegaram a produzir-se em pleno dia, o que tornou a observao mais fcil e a verificao mais clara aos olhos dos incrdulos.

Em 1870 os fenmenos recomearam com um carter ainda mais estranho.

Um pedao de cera, que se achava no patamar da escada, rolou ruidosamente de cima abaixo. Quando o conde e sua irm se dirigiam aos aposentos assombrados, eram precedidos por uma chuva de pedras que no podiam vir dos tetos, os quais se achavam em perfeito estado de conservao.

O que d valor s minhas afirmaes diz o conde so as fontes imediatas das minhas verdicas narraes. De fato, pode-se ter perfeita confiana na sinceridade do conde.

Seria, alis, simplesmente infantil imaginar que, por espao de trs meses, 14 pessoas tivessem estado alucinadas, volvendo depois inteiramente ao seu estado normal.

Para terminar este captulo, reproduzirei alguns testemunhos de sbios, professores e doutores de todos os pases. Todos eles, aps uma fase de maior ou menor cepticismo, acabaram rendendo-se evidncia.

Muitas vezes se afirma que no se contam pessoas instrudas ou homens de cincia entre aqueles que atestam a realidade dos fenmenos psquicos. Isso verdade quando se trata simplesmente das pessoas instrudas que pertencem escola materialista. O mesmo no se d, porm, quanto quelas que se filiam a outros credos.

Todos aqueles que passo a citar declaram-se, depois de investigaes pessoais, perfeitamente certos da realidade desses fenmenos. Nem todos se dizem espiritualistas, porm todos afirmaram a verdade desses fatos.

Na Inglaterra, podemos citar os professores Morgan, W. Gregory, os Drs. Robert Chambers, Lockhart, Robertson, o professor Oliver Lodge (da Sociedade Real de Londres). Eis o que diz este ltimo:

A barreira que separa os dois mundos (espiritual e material) pode desmoronar-se gradualmente, como muitas outras barreiras, e assim chegaremos a uma percepo mais elevada da unidade da Natureza; As coisas possveis no Universo so to ilimitadas como o prprio Universo. O que sabemos nada , comparado com o que nos falta saber. Se nos contentarmos com o meio terreno conquistado atualmente, trairemos os direitos mais elevados da Cincia.

Diz tambm o prof. W. O. Barret. de Dublin (ex-presidente da Sociedade de Pesquisas Psquicas de Londres:

Receio que os fenmenos espiritualistas (ou psquicos) no possam ser demonstrados pelos simples mtodos fsicos de investigao, mas no est longe o dia em que eles sero aceitos como parte integrante do mundo duplo de matria e inteligncia em que vivemos.

Nesse caso, o pensamento humano ter progredido de forma extraordinria, e a deplorvel disposio de esprito materialista, que reina em nossos dias, ser substituda por uma atitude menos orgulhosa em relao s coisas do infinito.

Ainda na Inglaterra, M. Chalis (professor de Astronomia em Cambridge), Alfred Russell Wallace (mulo de Darwin), William Crookes (um dos qumicos e sbios mais clebres desse pas), Fredrich Myers (um dos mais brilhantes professores de Cambridge);

Na Alemanha e na ustria, os filsofos e escritores: J. A. Fichte, Baro de Hellenbach, professor Zllner, Dr. Carl du Prel (de Munique), doutor Ciriax;

Na Sua, o professor Perty (de Berna);

Na Sucia, os Drs. Tarnebm e Eslanel (da Universidade de Estocolmo).

Eis o que dizem eles:

S aqueles que no examinaram os fenmenos psquicos se atrevem a neg-los, mas s um profundo estudo pode explic-los. No sabemos at onde nos pode levar a causa dessas manifestaes, s vezes vulgares, nem tampouco de que esferas da Natureza ela nos pode abrir o caminho; mas parece decorrer da histria de todos os tempos que ela nos deve conduzir a resultados importantes.

Na Rssia, Aksakof, o prof. Boutlerow, Bodisco, o Dr. Ochorowicz. Este ltimo fez, numa nova revista polaca, uma confisso muito clara e que o honra pela sua franqueza:

Quando me lembro de que em certa poca eu me admirava da coragem de W. Crookes em sustentar a realidade dos fenmenos medinicos, quando reflito, sobretudo, que li as suas obras com o sorriso estpido que iluminava a fisionomia dos seus colegas ao simples enunciado dessas coisas, coro de vergonha por mim mesmo e pelos outros.

Na Itlia, todos os sbios italianos que assistiram s experincias de Milo, entre os quais Csar Lombroso, que teve tambm a coragem de penitenciar-se nestes termos:

Depois de ter visto repelidos por certos sbios fatos como os da transmisso do pensamento e da transposio da sensibilidade, a cuja constatao eu assistira, julguei que o meu cepticismo relativamente aos fenmenos espritas era da mesma natureza que o de outros sbios pelos fenmenos hipnticos.

Estudemos e preservemo-nos do erro que consiste em acreditar que todos os mdiuns so falsificadores e que somente ns somos sbios, pois infelizmente essa pretenso nos poderia arrastar ao erro.

A suspeio de fraude, que todos julgam sempre muito natural, sobretudo s almas vulgares, constitui a explicao mais simples, a mais cmoda para todos, e nos poupa o trabalho de pensar e estudar.

Devemos fazer justia a Lombroso; mas as explicaes que ele deu dos fenmenos tm o vcio capital de nada absolutamente explicarem. Eis o que dizia a esse respeito LEclair, em abril de 1892:

A excurso do Sr. Lombroso prova uma coragem e uma sinceridade louvveis, porm absolutamente insuficiente. Como estamos longe de Crookes e de Rochas!

Na Amrica, poderamos citar muitos nomes, mas apenas darei a opinio do reverendo Minot Savage (presidente da Sociedade de Pesquisas Psquicas dos Estados Unidos):

Afirmo que os diversos fenmenos por mim citados (no seu livro) so verdadeiros e no simples resultado de artifcios e fraudes.

Quando, dum modo indiscutvel, os objetos se movem sem ao muscular e os instrumentos soam sem contato, nenhuma explicao encontro para esses fatos que no seja a da influncia invisvel.

Na Frana, Camille Flammarion, o Dr. Paul Gibier e muitos outros se tm abertamente declarado favorveis realidade dos fenmenos. O Dr. Dariex, que dirige com talento os Annales des Sciences Psychiques, mais reservado, assim como o Dr. Charles Richet, porque assim o exige a posio deles. O Sr. Richet reconhece a realidade dos fenmenos, mas diz o seguinte, depois de haver assistido s sesses de Milo:

Por mais absurdas que sejam as experincias feitas com Euspia, parece-me impossvel atribuir esses fenmenos a uma fraude consciente ou inconsciente, ou a uma srie de fraudes.

a demonstrao por absurdo: Credo quia absurdum.

Dizia E. Gautier, no Figaro:

O Sr. Charles Richet talvez o nico dos sbios tidos por tais (pelo menos em Frana) que ousam transpor o prtico do mistrio. Com efeito, no seu relatrio sobre essas experincias, o Sr. Richet constata que no ser essa a primeira vez que se achar em desacordo com a maioria, talvez mesmo com a quase unanimidade dos seus colegas.

, pois, natural que ele tenha sido prudente, para no ter contra si todos os seus excelentes colegas.

As pessoas que desconhecem esses fenmenos dizem muitas vezes que os mdiuns so hbeis prestidigitadores. , pois, conveniente dar as prprias confisses destes ltimos, desprovidas de artifcios, as quais induziro reflexo aqueles que no tiverem muitos preconceitos enraizados.

Em 1877, Samuel Bellachini, clebre prestidigitador, fez perante um tabelio a declarao seguinte, que assinou com testemunhas:

Levado pelo desejo de pessoas altamente colocadas, e no meu prprio interesse, estudei a mediunidade em pleno dia e noite. Certifico que esses fenmenos foram por mim examinados com o maior cuidado e que neles nada encontrei que lembrasse, mesmo de longe, os passes de prestidigitao. Nas condies em que os observei, era impossvel usar dos recursos dessa arte.

O no menos clebre prestidigitador Jacob, escrevendo a um jornal em 1881, disse o seguinte:

Afirmo que os fenmenos medinicos so absolutamente verdadeiros e de ordem intelectual. Os Srs. Robin e Robert Houdin, tentando imitar esses fatos, apenas conseguiram apresentar ao pblico pueris e grotescas imitaes desses fenmenos; s os obstinados e os ignorantes podem pensar de outro modo.

Em diversas capitais, certos prestidigitadores tentaram imitar esses fenmenos, mas seus resultados foram to pueris como os assinalados pelo Sr. Jacob. Um deles, para exibir os seus pseudofenmenos numa casa particular, declarou que precisava de dois grandes fardos com o peso de 4.000 libras!A verdade que um prestidigitador precisa de um teatro provido de maquinismos, ou pelo menos de aparelhos preparados, e mesmo de comparsas, enquanto o mdium apenas entra com a sua pessoa e os seus dons psquicos.

Ademais, o prestidigitador nunca mal sucedido em suas imitaes de fenmenos, enquanto o mdium ignora sempre se as manifestaes se realizaro ou no.

Quanto aos prestidigitadores que ganham a vida exibindo suas habilidades mais ou menos engenhosas, so pessoas demasiado interesseiras para que possam dar uma opinio imparcial. Nas suas narrativas, apenas se encontram as banalidades correntes sobre os fatos psquicos, porque, por necessidades do ofcio, eles os confundem sempre com as suas escamoteaes.

Antigamente os sbios no indagavam se esses fatos eram do domnio natural, embora desconhecido; eles os condenavam como sobrenaturais ou os tratavam como coisas sem valor.

Atualmente muitos sbios se ocupam com esses fenmenos e os estudam com cuidado. Alis, os numerosos fatos recolhidos por mim formaro julgo eu um conjunto que levar a refletir, e sobretudo a indagar sem prevenes.

Disse Humprey Davy que os fatos so mais teis quando contradizem as teorias correntes do que quando as confirmam.

Esperemos que estas palavras sejam ouvidas e que os sbios materialistas no continuem a guiar-se pelas suas teorias.

Agora que esto conhecidas as opinies dos sbios e das pessoas srias, vou, para provocar riso, passar em revista os detratores.

Captulo II

Psicologia dos incrdulos

Os cpticos

Ordinariamente, os cpticos pertencem a duas categorias: ou so pessoas demasiado malignas, e que no ocultam essa qualidade, ou so indivduos to sbios que imaginam que nada est acima da sua cincia. Estes ltimos, aferrados s suas teorias, no consentem em abandon-las; a cavaleiro nas suas teses, desdenham descer dessas alturas e majestosamente se revestem do que chamam cincia oficial.

Com eles perdem-se inutilmente o tempo e a lgica; porque, a todas as provas que se lhes fornece, respondem: impossvel!.

Se uma notabilidade cientfica afirmar a um cptico ter visto em condies de rigorosa observao (estando o mdium seguro pelos ps e pelos braos) uma cadeira ou qualquer outro objeto mover-se sem contato, ele retorquir incrdulo: Tendes certeza de que vistes isso? Pois, se assim , trazei-me o mdium para que eu verifique por mim mesmo o fenmeno.

pretenso habitual do cptico ver sempre melhor do que os mais.

Se concedido for o que ele pede, de duas uma: ou o fenmeno se produzir, e ele o explicaria simplesmente como uma alucinao, ou (o que muitas vezes acontece) o fenmeno no poder reproduzir-se, e ele tratar o mdium de charlato.

Seja como for, o cptico apenas se convencer de que pretenderam zombar dele, e mesmo possvel que conserve um secreto ressentimento contra aquele que pretendeu oper-lo da catarata materialista.

A esse propsito, escreve Florence Marryat, escritora distinta, filha de conhecido capito e romancista ingls:

H duas categorias de pessoas cuja influncia prejudicial relativamente ao espiritualismo tem sido incontestavelmente maior que o auxlio que lhes tm prestado muitos homens de cincia: so os entusiastas e os cpticos. Os primeiros crem em tudo o que vem ou ouvem, sem se darem ao trabalho de obter provas da realidade dos fenmenos; vo de casa em casa referindo as suas experincias, de um modo to ingnuo que parecem absurdas.

Acreditam em tudo o que dizem os espritos, como se estes fossem semideuses, em vez de serem, como na maioria dos casos, espritos de natureza menos elevada do que a nossa, e que no puderam erguer-se acima da esfera celeste.

a esta categoria de espiritualistas que os jornais satricos tm procurado ridicularizar, com razo talvez.

Entre outras histrias, o Punch falava de uma viva inconsolvel que um mdium fizera entrar em comunicao com o finado esposo:

John, s feliz? murmurava ela.

Oh, sim! Muito mais feliz do que na Terra, quando vivia contigo.

Ento deves estar no Paraso; no assim?

Ah! no. Pelo contrrio.

Que marido indelicado para com a sua pobre viva!

Compe-se dos puros cpticos a segunda categoria de que fala Florence Marryat:

Eles no fazem tanto mal como os ingnuos; porque, em regra geral, se acham to endurecidos ou tm a inteligncia to estreita, que vo alm do seu fito e invalidam completamente as suas opinies.

O cptico nega tudo, porque, talvez uma nica vez, constatou uma fraude. Se um mdium mente, todos os mdiuns devem mentir. Se uma experincia falha, todas devem falhar. Se ele no pode obter uma prova de identidade dos espritos, ningum, depois dele, poder consegui-la.

Um cptico julga que o seu testemunho deve ser aceito e crido; porm nunca acreditar no testemunho alheio. Quando vai assistir a uma experincia psquica, sempre com a preocupao de descobrir a fraude. Toda a sua inteligncia converge para esse resultado maravilhoso e, se ele nada consegue descobrir, acredita que o iludiram habilmente. Julgando sempre por antecipao, est certo do que vai acontecer, sem se dar ao trabalho de experimentar qualquer coisa que seja.

De tal modo se acham os cpticos convencidos da sua infalibilidade, que duvidam mesmo do testemunho dos seus sentidos.

De uma feita, perguntou F. Marryat ao Dr. H..., seu amigo, o que pensaria ele se visse experincias concludentes; e ficou estupefata ouvindo-o declarar que no acreditaria nos seus olhos e nos seus ouvidos.

Entretanto no podeis saber que existo retorquiu ela seno me vendo, tocando, ouvindo. Quem vos garante que neste momento os vossos sentidos no vos enganam, como numa experincia psquica?

A esse argumento claro e preciso (ad hominem, poder-se-ia dizer) o Dr. H. apenas respondeu com um sorriso desdenhoso, com o qual significava, sem dvida, que a julgava muito fraca de esprito para merecer uma discusso; mas, realmente, o bom doutor no sabia o que responder.

A verdade que, afinal de contas, o Dr. H., como muitos outros sbios, no desejava ser convencido.

Um dia confessou-o ele nestes termos: Se eu acreditasse na realidade desses fenmenos, isso derribaria todas as teorias sobre as quais se baseia a minha cincia. o modelo de cptico cientfico. Ele no quer mudar as suas teorias e os seus hbitos, porque isso o constrange, e lhe parece mais cmodo negar tudo.

Quando falais a um cptico sobre os fenmenos psquicos, ele toma um ar zombeteiro.

Se lhe sois simptico, pergunta-vos com comiserao: Como podeis acreditar em tais coisas?. Se o cptico tem esprito prtico, logo fala em tolice e futilidade. Se no est bem disposto, chama-vos esprita, o que , segundo ele, a maior das injrias. La Rochefoucault visava evidentemente os cpticos de certa ordem, quando dizia:

As inteligncias medocres condenam ordinariamente tudo o que lhes excede o alcance.

O cptico cientfico, em geral, fala de cima.

Quando se digna falar um instante desses fenmenos, mal os menciona, pois esses fatos vulgares, diz ele, no merecem que neles se insista. Se alguns deles condescendem em tratar de tais coisas, fazem-no geralmente de muito mau humor ou vos oferecem toda a espcie de banalidades habituais em se tratando de semelhantes assuntos.

Um filsofo cptico escreveu uma vez longo artigo em que confundia as coisas psquicas mais elementares. o filsofo sem o saber... oculto.

Existe ainda uma espcie de cpticos que declaram no conhecer o artifcio usado pelos mdiuns, mas que esse artifcio existe, e se entregam a gracejos cuja leveza lembra perfeitamente um elefante caminhando entre ovos.

Outro tipo de cptico o do discursador de salo ou de clube. Esbraveja contra a credulidade ilimitada dos homens ou contra o pseudomisticismo que, na sua opinio, nos torna joguetes dos mdiuns e dos sonmbulos. Assim perora o discursador, que geralmente nenhuma palavra sabe das coisas psquicas, e a torto e a direito delas fala, como um cego pode falar das cores. Nada diverte tanto como ouvi-lo falar sobre fenmenos dos quais em nenhum est suficientemente firmado. Se, entre todos esses fatos exclama ele com desespero , um estivesse bem provado, eu me renderia evidncia... mas esse fato no aparece.

Envio essa categoria de incrdulos ao n de fevereiro de 1893 dos Annales des Sciences Psychiques, onde encontraro, no um s fato, porm numerosos fatos, atestados numa ata assinada por tantos quantos sbios, sos de corpo e de esprito, se pode desejar.

Apesar de todas as provas possveis, estou bem certo de que, lendo esse relatrio, os cpticos encontraro objees a todo o instante.

Pelo que dizem certos cpticos, logo que se afastem as causas de alucinao ou fraude, os fenmenos no se produzem mais.

Isso inteiramente falso. Os fenmenos s se produzem em determinadas condies magnticas e atmosfricas, bem conhecidas dos experimentadores srios, mas inteiramente desconhecidas dos ignorantes.

A escurido necessria a essas manifestaes dizem ironicamente os cpticos . A luz impede tudo e, para ser-se iluminado, devem-se proscrever as lmpadas.

Outra inexatido. Os mais simples fenmenos psquicos (pancadas), como os mais extraordinrios (movimentos de objetos sem contato, escrita direta), podem ser produzidos em plena luz, e mesmo em pleno dia.

Provam-no as experincias do Sr. Lemerle e de muitos outros. Eu mesmo tive demonstraes irrecusveis, nas melhores condies de luz.

As pessoas bem equilibradas

Nada mais divertido que a audcia das pessoas que se intitulam bem equilibradas. Para elas, no existem fenmenos; existe apenas uma categoria de ingnuos, da qual modestamente se excluem. Todo aquele que se entrega s pesquisas psquicas um evadido de Charenton ou um candidato Salptrire. Desde que algum se afasta um pouco das idias vulgares, no passa de um desequilibrado. verdadeiramente tocante a sua comiserao pelos psiquistas; provm alis de uma certa altivez natural s pessoas que ignoram esses fenmenos, pois julgam-se muito superiores s que supem ver neles uma hbil prestidigitao.

O homem bem equilibrado pensa ter o crebro infinitamente mais so do que o desses desengonados psiquistas, que acreditam em quimeras.

Todos aqueles que se comprazem dizem eles com as hipteses relativas ao pretenso sobrenatural ou se mergulham na teoria insondvel da continuao da vida aps a morte, revelam crebros mal equilibrados, cujas funes se acham atrofiadas.

Assim falam os ltimos discpulos da escola materialista ou positivista. Podem iludir-se mutuamente; mas dentro de 20 ou 30 anos as suas fileiras, cada vez mais rarefeitas, chegaro ao nada, que eles tanto prezam. Daqui a um sculo ou dois, quando muito, os materialistas sero estudados como fsseis, segundo dizia o presidente da Sociedade de Pesquisas Psquicas, nos Estados Unidos.

Outrora, o homem bem equilibrado atribua os poderes chamados sobrenaturais (e que apenas so supranormais ou anormais, o que muito diferente) aos mgicos negros, brancos ou cinzentos e aos feiticeiros de todos os gneros. Em nossos dias foram tratadas como charlates pessoas que curavam por meio do magnetismo, no porque operassem curas maravilhosas, mas porque no possuam diploma.

Disse um grande filsofo austraco, baro Hellenbach:

H homens que vivem na iluso de que sabem e adivinham tudo, e por isso declaram impossvel o que no compreendem logo; e todos os fatos do mesmo gnero so considerados como fraudes abominveis. Essa espcie de sbios esquece constantemente, ou mais provavelmente ignora o que dizia Gauss:

Se, atirando um livro cabea de algum, ouvirmos um som cavernoso... no devemos concluir que ele provm do livro, porm sim da cabea, que oca.

Encontram-se tambm muitas pessoas que, nada compreendendo, tm um pendor natural para o incompreensvel, pelo menos no seu ponto de vista. Elas experimentam grande satisfao verificando que, se lhes desconhecida a explicao dos fatos, no podem outros, apesar da sua cincia, explic-los de um modo natural.

Como se v, no so destitudas de sentido as palavras do baro de Hellenbach.

Ele escreveu, alis, grande nmero de livros filosficos de grande interesse, alguns dos quais so consagrados aos fenmenos psquicos.

Os pseudocientistas

Afirma William Stainton Moses, professor na Universidade de Oxford e, posteriormente, no Kings College, (falecido em 1892):

H diversos gneros de opositores aos fenmenos psquicos.

Entre os mais curiosos se encontram, sobretudo, os pseudocientistas, que consideram os mdiuns como patifes vulgares e os experimentadores como simples papalvos, provavelmente porque estes ltimos no empregam os mtodos chamados cientficos, que, como se sabe, so infalveis (embora modificados continuamente).

Os pseudocientistas nos mimoseiam com longos discursos sobre as leis da Natureza, que pretendem conhecer profundamente.

Pode-se ainda compreender nesta categoria o grupo daqueles que, sabendo alguma coisa de fsica e qumica, se encarregam de explicar os fatos do modo mais simples do mundo.

Eis o que diz Crookes do pseudo-sbio:

O pseudo-sbio faz profisso de saber tudo.

Nenhum clculo lhe perturba a serenidade; nenhuma experincia para ele difcil. Nada de leituras longas e laboriosas, nada de tentativas pessoais para exprimir em linguagem clara o que eleva o esprito. Fala com volubilidade de todas as cincias, submergindo o seu ouvinte nos termos electro-biologia, psicologia, magnetismo animal, etc., verdadeiro abuso de palavras, que mostra antes ignorncia do que saber.

Os teoristas

Essa categoria se compe dos organizadores de planos; so os pretensiosos do psiquismo. Evidentemente no falo daqueles que tm procurado e tm dado explicaes de possvel utilidade, mas dos que no admitem discusso sobre as suas teorias. Se insinuardes delicadamente que talvez lhes falte conhecimento do assunto de que tratam, logo tomaro modos de dignidade ultrajada e vos diro naturalmente que, se as teorias deles fossem convenientemente compreendidas, seriam imediatamente aceitas.

Os teoristas sabem o fim do fim e o porqu do como. Do lies a Deus e lhe provam de um modo irrefutvel que a sua obra digna de lstima e que deveria ser recomeada sobre novas bases, mais slidas ou mais cientficas.

Em todas essas teorias h muita coisa que faz rir e que diverte.

Os ignorantes

a pior espcie de incrdulos. Muitas vezes, mesmo, se vangloriam de o ser e aproveitam a situao especial em que se acham para fazer perguntas ridculas sobre a Terra e o Cu.

Levar-vos-o parede a propsito de Deus e da criao, forar-vos-o a explicar-lhes de que se ocupa a gente na eternidade e s se daro por satisfeitos se fizerdes a biografia de todos os habitantes do Cu, apresentando-lhes tambm um plano topogrfico da localidade.

Os ignorantes vos perguntaro por que um mdium necessrio nas experincias psquicas; por que cada um no pode ser mdium de si mesmo; por que, enfim, o fenmeno no se pode realizar desta ou daquela forma e vos explicaro como tudo se deveria passar.

A tolice humana incomensurvel, e em profundidade o mar no se lhe pode comparar, porque em alguns lugares deste se encontra fundo, ao passo que a estupidez humana insondvel.

Os pedantes e os circunspectos

Estes existem em todas as corporaes, quer literrias, quer cientficas, quer de outras espcies. a pior espcie de sbios. Vaidosos dos seus prprios conhecimentos, pairam acima do vulgo, pois tm a cincia infusa. So os Trissotins do mundo cientfico. Todos os que no pensam como eles tm no seu dizer crebros de solidez, equilbrio e qualidade medocres.

Os imbecis

Imbecil! substantivo e adjetivo de dois gneros diz o dicionrio, que acrescenta esta observao tpica: fraco de esprito.

Jules Noriac, no seu livro A tolice humana, escreveu sobre os imbecis apreciaes inteiramente satisfatrias (menos para eles). Aqueles que desejarem informaes acerca dessa interessante categoria de contribuintes podero ler com proveito Noriac, porque ele era forte de esprito.

O imbecil naturalmente altivo de sua incredulidade e a considera grande honra.

E, realmente, os imbecis tm alguma razo para ser orgulhosos, pois os Evangelhos dizem: Felizes os pobres de esprito, pois deles o reino do cu.

Qualquer pessoa ao corrente das coisas ocultas sabe perfeitamente que essas palavras foram pronunciadas no ponto de vista esotrico ou simblico... para serem compreendidas pelo vulgo.

O sentido real ou esotrico (palavra que significa secreto) s era revelado aos discpulos.

De outro modo, se se tomassem essas palavras ao p da letra, os infelizes ricos de esprito (embora pobres de dinheiro) no teriam outro refgio seno o purgatrio, pois o cu, em tal companhia, depressa se tornaria um inferno.

Os imbecis so as pessoas mais difceis de contentar. Em uma sesso psquica criticam as menores coisas, a torto e a direito. Nas experincias, acham tudo mau ou duvidoso e ficam cada vez mais convencidos da sua superioridade.

Os indiferentes

Formam estes a enorme, a imensa maioria.

So pessoas muito ocupadas, que lutam pela vida... ou pela fortuna. Desde pela manh at noite, trabalham sem descanso e no dispem de um minuto. Este mundo os absorve de tal sorte, que no tm um minuto para pensar no outro. Entretanto, muitos tm filhos, e os cuidados do futuro os preocupam tanto como os seus prprios negcios. Quer se trate de um grande banqueiro ou de um pobre operrio, vivem lutando dia a dia: uns temendo ganhar menos ou esperando ganhar mais, e outros receando sempre no ganhar coisa alguma. Todos esses so indiferentes s coisas psquicas e no h motivo para nos admirarmos disso. a caa ao dinheiro ou ao pedao de po.

H ainda os egostas, aos quais a sobrevivncia da alma tanto mais indiferente quanto s a vida lhes parece interessante.

Poderamos estudar ainda numerosas categorias de indiferentes, mas todos vo ter ao mesmo fim.

Em suma, os incrdulos de toda sorte representam uma quantidade que se no deve desprezar; mas, medida que os fenmenos psquicos se tornarem mais conhecidos, o nmero desses incrdulos ir sempre diminuindo.

Passemos agora ao estudo detalhado dos fenmenos psquicos mais curiosos e menos conhecidos.

Captulo III

Escrita automtica e escrita direta. Opinies dos professoresF. Myers e Elliott Cowes

Quando um mdium apia um lpis sobre o papel e sente sua mo escrever sem que ele exera qualquer ao muscular, d-se o que os psiquistas chamam escrita automtica ou passiva: ela difere quase sempre da escrita habitual do mdium.

Quando se obtm uma comunicao sem o auxlio da mo de psiquista, quer sobre papel branco, quer entre duas ardsias atadas e lacradas, tem-se o que se denomina psicografia (ou escrita direta).

Este ltimo fenmeno infinitamente mais impressionante do que o primeiro, pois sempre possvel supor (e houve, realmente, quem supusesse) que as idias do mdium ou dos assistentes se refletem na mensagem escrita automaticamente.

Na psicografia, pelo contrrio, sendo sempre escrita a mensagem diretamente sobre um papel ou sobre uma ardsia, s possvel explic-la pela ao consciente de uma inteligncia invisvel, tanto mais que a mensagem muitas vezes escrita em lngua ignorada do mdium e dos assistentes. H quase sempre duas ou trs pancadas para indicar que a operao est terminada, o que prova evidente da presena de uma inteligncia que no a do mdium ou as dos assistentes. Ademais, no se v ningum escrever a mensagem.

Agora vou passar em revista as opinies dos experimentadores ingleses, americanos, etc., que estudaram esses curiosos fenmenos.

Comecemos por Fredrich Myers, o brilhante professor de Cambridge, lder da Sociedade de Pesquisas Psquicas de Londres. Eis o que diz da escrita automtica:

O estudo de numerosos casos desse gnero me convenceu de que a hiptese menos improvvel que uma certa influncia sobre os habitantes da Terra pode ser exercida pelas personalidades sobreviventes de homens mortos.

O que me fortificou nesta crena foi o estudo da escrita automtica. Observei que, em todas as variedades desse fenmeno, o contedo dessas mensagens parece vir de trs fontes diferentes:

A primeira de todas o crebro daquele que escreve; tudo aquilo que nele entrou pode sair, embora esteja esquecido.

A segunda que h uma pequena proporo de mensagens que parecem telepticas, isto , indicam fatos que o autmato ignora completamente, mas que so conhecidos de alguma pessoa viva que est em relao com ele ou assiste sesso.

A terceira que resta pequeno nmero de mensagens que me impossvel explicar dos dois modos precedentes: mensagens que contm fatos desconhecidos daquele que escreve e de seus amigos ou parentes, mas conhecidos de uma pessoa morta, s vezes completamente estranha ao ente vivo que escreve. No posso neste caso escapar convico de que, por mais indiretas que paream essas indicaes, s personalidade de um morto podem ser devidas tais mensagens.

Como se v, o professor Myers acredita, em certos casos, numa relao possvel entre um ente morto e um vivo. Mas todas as escritas automticas no devem ser atribudas a desencarnados, como pensam muito facilmente certos espritas que no tm conhecimento de fatos que relatarei adiante.

A nossa personalidade humana, no ponto de vista psquico, to desconhecida como o era h sessenta anos o interior da frica, e foi esse terreno da personalidade psquica que escolheu a sociedade de que o Sr. Myers faz parte. Deve-se-lhe fazer justia, pela habilidade com que ps em relao com os fatos reconhecidos e admitidos pela cincia exata esse fenmeno da escrita automtica, que parecia inadmissvel aos sbios.

O ilustre professor de Cambridge escreveu dois ou trs artigos sobre esse assunto nos boletins da sua sociedade; recomendo-os aos que sabem o ingls.

F. Myers um homem prudente, no muito exigente com os seus leitores; escreveu para uma classe de indivduos pouco ao corrente dos fenmenos ou cheios de preconceitos antigos e solenes, que por isso mesmo so os mais difceis de arrancar. Acrescenta ele:

Creio tambm que existem provas evidentes de uma espcie de ao ou de influncia exercida pelas personalidades sobreviventes dos mortos. Encontram-se traos dessa influncia em certas mensagens escritas automaticamente, as quais nos do esclarecimentos oriundos de fontes desconhecidas do subconsciente.

Essa declarao do professor Myers representa um grande progresso, pois reconhece que em certos casos h uma ao incontestvel dos mortos sobre os vivos. Alm disso, constata que o subconsciente ou a subconscincia no basta para explicar todos os fatos, como imaginam certos sbios.

Nos fenmenos de escrita automtica, como nos de escrita direta, penso que a verdade est, como sempre, entre os extremos, isto , entre aqueles que reconhecem a realidade dos fenmenos atribuindo-os mais ou menos ao do homem, e os que, mais corajosos, afrontam os preconceitos acreditando na interveno de inteligncias desencarnadas e invisveis.

Infelizmente, essas inteligncias invisveis esto para ns inteiramente mascaradas. Ignoramos absolutamente com quem tratamos; somos vistos e no vemos (e mesmo quando vejamos os olhos de um mascarado, isso no nos adianta muito). A inteligncia invisvel sabe quem somos e ns ignoramos quem ela . Pode zombar de ns e enganar-nos sem que o possamos perceber, pelo menos em geral, pois em muitos casos podemos certificar-nos da identidade da inteligncia presente. Todavia, aconselho as pessoas que s fazem experincias por distrao a se acautelarem convenientemente, pois a simples prudncia nos induz a desconfiar de interlocutores invisveis.

Do que devem, sobretudo, desconfiar da autenticidade dessas mensagens assinadas pelo esprito dum Voltaire... sem esprito, pelo duma Joana dArc falando como uma peixeira, ou pelo de Plato dizendo graolas.

Tanto quanto possvel julgar numa questo to delicada, podemos admitir que, se as mensagens vm de parentes mortos ou de pessoas amigas, poucas probabilidades h de sermos enganados.

Passemos agora ao professor Elliott Cowes, um dos mais ilustres homens de cincia dos Estados Unidos. Diz ele:

No Universo toda parcela de matria obedece lei de gravidade (ou a uma lei particular) que tende a atra-la para o centro da Terra. Se, pois, observardes um caso em que uma parcela de matria (mesmo no caso de no ser maior que uma cabea de alfinete) se move num sentido qualquer, provando que h uma fora contrariando ou anulando a lei da gravidade, tereis passado o Rubicon que separa o material do espiritual.

Elliott Cowes foi por muito tempo incrdulo e encontrou na Califrnia o seu caminho de Damasco. Durante a sua estada na antiga terra do ouro, o professor assistiu a vrias experincias, que descreve assim:

Falarei primeiro de certos fenmenos que podem parecer estupefacientes, porque parecem contrariar as leis da Natureza, tal como so estas formuladas pela cincia moderna.

A menos que se queira negar a evidncia dos sentidos, a escrita direta produzida sobre ardsias um fato cuja realidade incontestvel e que eu afirmo sem reservas.

Para aceitar as conseqncias lgicas desses fatos, tenho que modificar as minhas idias acerca dos movimentos que a matria pode produzir em certas circunstncias.

No falo como espiritualista ou teorista de qualquer espcie, mas como homem de cincia que procede a experincias sobre os fenmenos psquicos.

Quanto escrita direta, houve muitas vezes fraudes cometidas, e isso fez com que duvidassem desse gnero de fenmenos; mas posso declarar que, nas experincias feitas em minha presena, vi, em pleno dia, um pedao de lpis, a algumas polegadas de mim, erguer-se e mover-se sem ser por ningum tocado, e depois comear a escrever por si mesmo sentenas legveis e inteligveis, que faziam supor uma direo inteligente.

Alm disso, esse fenmeno foi tambm observado por vrias outras pessoas presentes, cuja vista to boa quanto a minha.

Na escrita automtica, pelo contrrio, as frases so traadas por um lpis que se acha na mo de uma pessoa que no tem conscincia do que escreve. As duas experincias so absolutamente dessemelhantes.

No fiquei inteiramente convencido de que todas as mensagens eram escritas por uma inteligncia desencarnada; mas, por outro lado, constatei casos em que obtive comunicaes de coisas desconhecidas do mdium e de mim mesmo.

Centenas de fatos idnticos me foram provados e reconheo que o meu conhecimento das cincias fisiolgicas e filosficas no me d nenhuma explicao desses fatos. Portanto, no posso admitir, para a escrita direta, seno a teoria que supe uma inteligncia invisvel.

Vejo-me na alternativa de negar o testemunho dos meus sentidos ou de renunciar a todos os meus conhecimentos sobre a gravitao, a inrcia, a fora motriz e os outros atributos da matria.

No posso guardar silncio sobre esses fatos, porque isso seria uma vileza moral.

Elliott Cowes , nas suas afirmaes, to audaz como W. Crookes, e essa prova de coragem cientfica faz imensa honra a ambos.

As experincias de Elliott Cowes foram feitas com mdiuns particulares, o que d ainda maior valor s suas asseres.

* * *

Como exemplos curiosos de mensagens automticas, citarei muitos fatos impressionantes, o primeiro dos quais referido pelo baro de Hellenbach (filsofo austraco) no seu livro intitulado ONascimento e a Morte.

Achando-me no campo, fui visitar a baronesa Adelina Vay (mdium que nesse momento se ocupava de psicografia). Perguntei-lhe se poderia obter uma comunicao do baro Henikstein, recentemente falecido.

Recebi uma resposta inteiramente de acordo com o seu modo de escrever e com a feio do seu esprito e, medida que a comunicao ia sendo redigida, a caligrafia se assemelhava cada vez mais do meu amigo. Por fim, o mdium escreveu Dabru No, termo eslavo que significa bom dia, e do qual o baro usava especialmente comigo. Alm disso, a assinatura era escrita do modo abreviado que ele costumava usar. O mdium no conhecia o meu amigo.

Os dois outros casos foram constatados por Hugh Junior Brown, ingls da Austrlia, cuja boa f e probidade so bem conhecidas em Melbourne.

Um dia, em sua casa, quiseram experimentar a escrita automtica. Duas pessoas tomaram um lpis, porm esperaram em vo. Passaram ento o lpis e o papel filha mais velha do Sr. Brown, a qual tinha 11 anos de idade. Apenas pegara no lpis, sua mo comeou a mover-se, e ela exclamou: Oh mam, como estou com medo! Minha mo escreve contra a minha vontade!. O Sr. Brown e sua senhora tranqilizaram a criana, dizendo-lhe que nada havia a temer; olhando o papel, encontraram uma comunicao assinada pela irm mais velha do Sr. Brown. A letra era diferente da da menina. Aquela senhora morrera antes do nascimento da criana.

O Sr. e a Sra. Brown obtiveram do mesmo modo vrias mensagens, das quais a mais curiosa foi a seguinte: Um dia a mo da menina apoderou-se do lpis, tomando-o entre o segundo e o terceiro dedos, com a haste entre o polegar e o indicador, e ps-se a escrever em caracteres que ao Sr. Brown pareceram chineses.

Tendo mostrado o papel a um chins com quem tinha relaes, respondeu-lhe: Est mal escrita, mas em parte legvel. Como o Sr. Brown indicasse o modo bizarro pelo qual sua filha segurara o lpis, respondeu o chins: , de fato, assim que se segura o lpis na China.

Penso que este fato impressionar os mais incrdulos. Escrever chins j extraordinrio para uma australiana de 11 anos, que ignora essa lngua; escrev-lo, porm, pegando a caneta ou o lpis do mesmo modo que os chineses ainda mais surpreendente.

Cada vez que a punham a escrever, a filha do Sr. Brown declarava que sentia um como entorpecimento no brao. Tendo o Sr. Brown perguntado a razo desse fato, a inteligncia invisvel respondeu que ela suspendia as relaes entre o crebro e os nervos do brao, de modo a poder dirigir a mo.

Em 1893, o reverendo Minot Savage, presidente da Sociedade de Pesquisas Psquicas dos Estados Unidos, publicou um pequeno livro em que nos d algumas das suas experincias pessoais. Algumas de entre elas so eminentemente impressionadoras. Narra o Sr. Savage:

Primeiro caso Morrera recentemente uma de minhas amigas de infncia. Vivia em outro ponto dos Estados Unidos e o psquico ou mdium (que no era pblico) ignorava a existncia dessa pessoa. Inesperadamente anunciou sua presena, escrevendo automaticamente uma carta. Como eu no pensava nessa pessoa, disse mentalmente: Dai-me o vosso nome. Imediatamente me foram dados seus nomes de batismo e de famlia. Tive ento com ela uma conversao que parecia to real como entre pessoas vivas. As respostas correspondiam exatamente s perguntas mais ntimas. Havia, em todos os detalhes, dados, indicaes de identidade perfeitamente incompreensveis para um estranho como o mdium; porm eu fiquei muito impressionado. Se um caso de telepatia, mais do que espantoso.

Segundo caso As indicaes dadas no eram nem podiam ser conhecidas quer pelo mdium, quer por mim. S depois a sua exatido pde ser verificada. E desta vez a telepatia nada tem que ver com isso.

Eu estava com um mdium particular, cujo poder intermitente. Um amigo morto se declarou presente e eu quis logo p-lo prova. Perguntei se esse suposto esprito sabia onde nesse momento se achava sua irm. A resposta foi que ele nada sabia, mas que podia informar-se. Quinze minutos se passaram; depois, foi dado um sinal.

Tendes a resposta?

Sim! Minha irm est em casa, prestes a sair.

A resposta era exatamente contrria ao que eu supunha, e o mdium nada sabia dessas coisas.

Imediatamente escrevi uma carta irm de meu falecido amigo, pedindo que me dissesse o que fizera em tal dia hora indicada, reservando-me para explicar-lhe depois o motivo de tal pergunta.

Respondeu ela: No dia de que falais eu estava em casa, pouco mais ou menos hora que mencionais, e preparava-me para fazer uma visita.

Terceiro caso Um esprito, que dizia ser o de uma senhora que eu conhecera desde a sua infncia, anunciou-me que sua irm Maria experimentava uma das maiores dores de sua vida; depois, como que a contragosto, acrescentou que essa provao lhe vinha de seu marido. Eu nunca vira nem conhecera este ltimo, nem tampouco o conhecia o mdium. Escreveu-se uma carta a essa senhora e a resposta, que vinha com a nota Particular, dava todos os detalhes em questo.

Quarto caso Este um dos mais notveis, como valor cientfico. Um cavalheiro e uma senhora visitam um mdium; apenas em letargia, este ltimo exclama:

Vossa tia est ali. Ela acaba de morrer.

No possvel disseram os dois visitantes , porque, neste caso, nos teriam telegrafado imediatamente.

Sim respondeu o mdium , vossa tia est ali e me afirma que faleceu esta manh, s duas horas. Acrescenta que j vos foi passado um telegrama, que encontrareis em vossa casa, quando voltardes.

Com efeito, de volta a sua casa, a muitas milhas da, entregaram-lhe um telegrama anunciando a morte da tia, exatamente hora indicada pelo mdium.

Este ltimo caso independente da escrita automtica ou direta; mas, como atestado tambm pelo reverendo Sr. Savage, eu no quis separ-lo dos outros.

* * *

O reverendo Stainton Moses muito escreveu sobre assuntos psquicos.

No seu livro intitulado Psychography, d exemplos muito curiosos de escrita automtica; encontrar-se-o extratos dele no livro do meu falecido amigo Eugne Nus: Choses de lautre Monde.

* * *

Vou agora referir algumas experincias com Eglington, poderoso mdium, que foi detratado, como quase todos os mdiuns pblicos; mas em favor de quem esmagadora a massa dos testemunhos.

Em 1885 Eglington foi recebido na casa do Dr. Nichols, que se achava em condies excepcionais para as suas pesquisas psquicas. Eis o que este diz:

Produzia-se escrita direta sobre papel de meu uso (com as minhas iniciais) ou sobre cartes, dos quais eu rasgava uma ponta, conservando-a para depois poder assegurar-me da sua autenticidade, adaptando a cada uma o pedao correspondente. A escrita foi feita na minha presena e na de pessoas da minha famlia, quer numa caixa fechada a cadeado, quer, a maior parte das vezes, entre duas ardsias ligadas (o som de um lpis escrevendo entre duas ardsias muito caracterstico).

Uma vez, em plena luz, o doutor colocou um carto e uma ponta de lpis aparado numa caixa, que fechou. Depois apoiou as mos sobre a caixa, enquanto duas senhoras prendiam as de Eglington. Obteve-se uma mensagem em alemo, lngua que tanto os assistentes como o mdium ignoravam, pelo que o doutor foi obrigado a recorrer a um alemo para que a traduzisse.

O fato espantoso diz o doutor ; mas, alm das pessoas que a ele assistiram e, como eu, o constataram, aqueles que me conhecem no duvidaro da sua veracidade. Nenhuma teoria pode explic-lo, e o pblico tem que aceitar forosamente uma das duas concluses: ou eu menti odiosamente, ou essas quatro linhas foram escritas por um poder invisvel. Quanto a explic-lo pela escrita simptica ou pelo uso de tinta invisvel, desafio qualquer prestidigitador a fazer o mesmo em idnticas condies, tanto mais que ningum, inclusive o mdium, sabia que eu pediria uma mensagem em alemo.

Esse caso muito impressionante, pois supondo que um mdium possa ler no pensamento dos assistentes (como Pickman e Cumberland), isso no lhe daria o conhecimento das lnguas.

Uma sesso notvel se realizou em presena do Sr. Dawson Rogers (um dos fundadores da Sociedade de Pesquisas Psquicas), o qual diz o seguinte:

Posso afirmar que conheo os recursos mais sutis da prestidigitao; mas, no caso em questo, no tenho a menor dvida de que a fraude era impossvel. A sesso realizou-se em minha casa, com todas as precaues imaginveis. Obteve-se escrita direta num livro fechado.

Uma das sesses mais curiosas de Eglington verificou-se em 1884, na casa de uma senhora de posio, e entre os assistentes achavam-se Lady X., a Marquesa de Z. e o Sr. Gladstone. O grande estadista ingls disse a Eglington que no era absolutamente cptico acerca da possibilidade dos fenmenos psquicos e que acreditava em foras sutis, com que as nossas fracas inteligncias no podiam lutar. Manteve, pois, atitude reservada e de curiosidade. O Sr. Gladstone havia, ao que parece, feito experincias de leitura do pensamento, as quais foram suficientes para provar-lhe que havia na Natureza foras desconhecidas e no reconhecidas.

A sesso foi realizada em plena luz, e a dona da casa, a senhora O., trouxe duas ardsias como as que se usam nos colgios. Respostas a diversas perguntas foram escritas nessas lousas, quer Eglington as segurasse debaixo da mesa ou sobre esta, vista de todos. Pediram ao Sr. Gladstone que escrevesse uma pergunta numa dessas lousas, o que ele fez, entregando a ardsia voltada, de modo que Eglington no pudesse ler o que estava nela escrito. Colocou-se esta ardsia sobre outra, e entre elas um pedao de lpis, ligando o conjunto. Quase no mesmo instante comeou o rudo da escrita.

O Sr. Gladstone parecia intrigado; mas, quando se separaram as lousas e ele viu que a resposta sua pergunta estava exata, o espanto se tornou em estupefao.

evidente que, numa casa particular e com essas lousas pertencentes Sra. O., toda fraude, sobretudo em plena luz, era impossvel, tanto mais quanto o Sr. Gladstone no perdia de vista Eglington, e os seus olhos penetrantes o observavam com cuidado. Houve tambm respostas em espanhol, francs e grego. Ora, Eglington pouco sabia de francs e nenhuma palavra das outras duas lnguas.

Terminadas as experincias, enquanto as trs senhoras conversavam, o Sr. Gladstone entreteve-se com Eglington a respeito de assuntos psquicos. Este insistiu com o Sr. Gladstone acerca da ridcula atitude de certos homens de cincia que negam os fatos, a priori, e recusam examin-los. Eis o sentido geral do que respondeu o Sr. Gladstone:

Sempre pensei que os homens de cincia, apesar dos seus grandes e nobres trabalhos, tm exageradas inclinaes para desprezar fatos que parecem em contradio com seus mtodos estabelecidos e muitas vezes negam o que no se do ao trabalho de examinar. Muitos no pensam neste ponto importante: que existem provavelmente na Natureza foras que eles ignoram!

Esta censura do grande homem de Estado no deve ter provocado o riso em certos sbios ingleses; verdade que eles riem muito poucas vezes!

A notcia desta sesso repercutiu profundamente na Inglaterra e no estrangeiro. Como era de esperar, o Sr. Gladstone viu-se submergido num dilvio de cartas. A inundao tomou propores tais que o Daily News publicou a seguinte nota oficiosa: O Sr. Gladstone encarregou-me de dizer-vos que ele no se julga obrigado a entrar em detalhes e que no emitiu concluses acerca dos fatos de que falais. (Assinado) Horcio Seymour.

Essa resposta diplomtica tinha por fim desviar do Sr. Gladstone a clera dos pseudo-sbios, que se amontoavam sobre o esprito demasiado livre do great old man (como lhe chamam os ingleses). Na opinio dos velhos carolas anglicanos ou puritanos, o Sr. Gladstone se entregara feitiaria.

No pensar das pessoas bem equilibradas, ele fora vtima dos escamoteadores e dos ilusionistas. Desde ento, o Sr. Gladstone tornou-se membro da Sociedade de Pesquisas Psquicas, prova evidente de que essas questes lhe despertavam vivo interesse.

* * *

Outras experincias muito curiosas e do mesmo gnero realizaram-se na casa do Sr. Wedgewood (antigo vice-presidente da Sociedade de Pesquisas Psquicas), e ele garante a realidade dos fenmenos e a impossibilidade de fraude, nas condies em que as experincias foram feitas.

* * *

Um aspecto curioso da escrita direta a rapidez com que a mensagem se produz, na quinta ou sexta parte do tempo que poderia gastar o escrevente mais clere.

* * *

Escreve o professor J. Hyslop (dos Estados Unidos):

Nunca fui adepto do Espiritismo; portanto, a escrita automtica que obtive nunca dependeu de idias preconcebidas.

Tambm nunca me achei em estado hipntico. A escrita difere da minha e produzida com uma rapidez que me seria impossvel imitar. Os pensamentos no so meus e freqentemente esto em oposio com os que me so mais caros. Em certos casos, foram-me dadas indicaes inteiramente pessoais, em que s acreditei depois que a sua realidade me foi provada por pessoas de quem as ouvi e que ignoravam as minhas experincias.

Em outras circunstncias, assinaturas lanadas no fim das mensagens assemelhavam-se tanto ao autgrafo real das pessoas que se diziam seus autores, que amigos dessas pessoas mortas ficavam confundidos de surpresa ao compararem as letras. Acresce que eu no conhecia essas pessoas.

Nunca posso obter vontade escrita automtica. Muitas vezes nada obtenho, ou apenas consigo algumas palavras como falta o poder ou as condies so ms.

Uma nova escola, que tomou o nome de fisiologia-psicologista, tenta explicar a escrita automtica pelo subconsciente, palavra nova (mais trabalho para a Academia), aplicada a uma segunda personalidade que se manifestaria nos sensitivos submetidos s experincias magnticas.

Essa teoria, absolutamente hipottica, foi unanimemente condenada por quantos se tm ocupado de psiquismo.

Com efeito, que vem a ser um eu inferior que, por momentos, seria mais senhor do nosso crebro do que o eu superior? possvel que o homem tenha duas conscincias, porque tudo nele por assim dizer duplo; mas essa subconscincia s admissvel se inferior e secundria, como a alma animal nos sistemas budista e ocultista. Essa subconscincia poderia ser ento puramente instintiva, como a dos animais; seria isso um ltimo vestgio da evoluo; mas, logicamente, ela deve estar submetida conscincia superior. De outra forma, o homem seria uma dualidade mal equilibrada, em que cada conscincia agiria a seu modo, sem que a outra soubesse o porqu. Seria o cmulo da confuso intelectual.

, sobretudo, inadmissvel que o subconsciente saiba coisas que o superconsciente ignora. Eis o que escrevia a esse respeito um mdico ingls:

lgico acreditar que, desde o nosso nascimento at a nossa morte, temos dentro de ns outra personalidade de que nada sabemos, mas que tem conscincia de todos os atos de nossa vida, assim como dos feitos e dos gostos dos nossos parentes ou amigos mortos?

Se o nosso subconsciente que se manifesta, por que no o diz? Com que fim nos ilude?

Eis ainda o que dizia um jornal religioso-filosfico dos Estados Unidos:

O superconsciente nada sabe do subconsciente que, pelo contrrio, est ao corrente de tudo o que faz o outro e alm disso tem idias e opinies que o tornam completamente independente do seu co-associado. Realmente, no h sequer a sombra de uma prova de que essa teoria seja verdadeira.

O subconsciente uma escapatria muito cmoda; mas, em vez de tudo explicar, obscurece tudo. No ignoremos as experincias hipnticas feitas na Frana, mas os experimentadores tm sempre lidado com doentes ou histricos, isto , com pessoas em estado mrbido.

perfeitamente exato. O que se obtm de tais pessoas so fenmenos mrbidos e no psquicos. Esses doentes ou loucos caem na alada da medicina curativa e no do psiquismo experimental. Sobretudo necessitam de abonador.

Quando um mdium est doente no se obtm mais fenmenos psquicos; s quando ele torna sade os fenmenos reaparecem. Este resultado foi muitas vezes averiguado por Stainton Moses, doutores Gully e Nichols e muitos outros; prova exuberante de que os mdiuns no so doentes, como supem certos doutores, que os confundem com a sua clientela.

Alfred Russel Wallace (mulo de Darwin e membro da Sociedade Real de Londres) condena tambm o subconsciente, como uma hiptese balda de prova e consistncia.

Stainton Moses, no seu livro intitulado Psychography, parece ter medocre confiana no subconsciente, pois diz o seguinte:

A teoria da ao de uma nova conscincia formada pela inteligncia dos assistentes, ou por uma subconscincia, se apenas h uma pessoa, uma hiptese que muitas vezes foi apresentada para ser outras tantas vezes inutilizada pelos fatos. esta a sorte de todas as teorias.

Depois da morte de Moses, um de seus amigos, F. Myers (o professor de Cambridge, que j citei) escreveu o seguinte:

Antes da poca em que deixou a Sociedade de Pesquisas Psquicas, Moses me permitiu examinar toda a srie das suas escritas automticas, sobretudo aquelas que continham as provas sobre as quais baseou o seu livro Spirit Identity (Identidade dos espritos), e em parte alguma verifiquei que os casos publicados fossem diferentes dos originais. Pelo contrrio, creio que esses casos, se fossem estudados de modo mais completo, teriam produzido provas ainda mais frteis do que o autor imaginava.

O atestado de um homem do valor de Myers da mais alta importncia.

Com esse delicioso sistema de subconsciente, um marido enganado no teria mais o direito de vingar-se do amante de sua mulher, pois este poderia apelar para o seu superconsciente, que nada sabia.

Todos os assassinos e ladres poderiam alegar que o seu subconsciente o nico culpado, pois o superconsciente nada soube, nada viu e no teve a conscincia de resistir.

Afirma Stainton Moses:

Toda vez que eu estava doente, toda vez que eu sofria, os fenmenos perdiam todo o valor e toda a clareza. Logo que eu me restabelecia, o efeito contrrio se produzia. O que se obtm dos doentes, dos histricos ou dos loucos apenas uma srie de divagaes de crebros ou de organismos desequilibrados.

Aconselho os hipnotizadores a que meditem essas linhas de Moses e reflitam sobre o espantoso artigo que o Sr. Labouchre (membro da Cmara dos Comuns) publicou no seu jornal Truth.

Trata-se da confisso feita por um dos sensitivos mais notveis de Londres, no ponto de vista hipntico. Diz o Sr. Labouchre:

Carecem de sensitivos os doutores e professores que se entregam s experincias de hipnotismo, e por isso formou-se uma categoria de pessoas que os exploram com uma habilidade sem igual.

O sensitivo que me fez a sua confisso era uma estrela na sua profisso; figurou em sesses particulares, com sbios hipnotizadores ansiosos por chegarem a resultados exatos, e todos confessam que este sensitivo os deixou perplexos.

Que prova tinha eu de que no havia sido enganado tambm? Numerosas provas. Alm disso, ele ofereceu-se para simular em minha presena todos os fenmenos hipnticos.

Esses recursos diz o sensitivo so uma questo de prtica; basta exercitar-se neles com cuidado.

Acreditais perguntou o Sr. Labouchre que todos os sensitivos sejam, como vs, prestidigitadores?

No todos, porm muitos respondeu ele rindo . Eu os conheo e sei o que devo julgar.

Alm disso, este sensitivo me garantiu que em Paris, como em Londres e em outros lugares, o hipnotismo tinha os seus exploradores.

O Sr. Labouchre termina o seu artigo dizendo ter verificado e constatado que todos os expedientes descobertos por ele haviam sido empregados, quer em pblico, quer com sbios. Isso prova que os falsos mdiuns encontraram os seus parceiros nos falsos sensitivos.

Um doutor ingls, o Sr. H., diz ter tido a prova de que diversos sensitivos de um doutor hipnotista de Paris o haviam enganado muitas vezes, e a esse respeito publicou dois artigos no Times.

Certos sbios acham muito natural tratar os mdiuns de farsistas, charlates, prestidigitadores e outros ttulos amveis.

Eles podero ver, pelo que acabo de relatar, que os melhores sensitivos, hipnotizveis, so, s vezes, puros comediantes desempenhando seus papis conforme seus interesses e revelando o segredo quando se retiram do negcio.

Outros experimentadores fizeram as suas hipnotizadas representar todos os papis imaginveis, sugerindo-lhes que elas eram tal ou tal personagem, do qual tomavam imediatamente o porte, a linguagem e o tom. Trata-se de saber se esses experimentadores no foram a seu turno vtimas do logro, como simples Gerontes psiclogos. evidente que eles tomam precaues; mas, como no Barbeiro de Sevilha, muitas vezes a precauo intil, e uma mulher, fingindo estar hipnotizada, tem mais malcia no seu dedo mnimo do que muitos sbios, mesmo de preveno.

Segundo esse novo gnero de charlatanismo, o verdadeiro subconsciente seria o experimentador, horrivelmente logrado pela hipnotizada, que seria superconsciente das suas espertezas.

Infelizmente, os hipnotizadores nunca confessam que podem ser to crdulos como os espritas e que tambm possvel engan-los. Crem tudo explicar com o subconsciente, que um enigma, e que no d a chave da escrita automtica e ainda menos da escrita direta.

Quanto a esta ltima, h nela uma ao semimaterial fora de todos os sub ou superconscientes, e s por dois modos se pode explicar esse gnero de escrita:

1)pela ao de uma inteligncia invisvel, qualquer que seja ela;

2)pela ao do corpo psquico do mdium, destacando-se dele e agindo por meio dos seus rgos psquicos.

Este ltimo caso apresenta-se, segundo creio, mais comumente do que se pensa; mas, se a mensagem escrita numa lngua desconhecida do mdium e dos assistentes, s h uma explicao admissvel: a interveno de uma inteligncia invisvel. Nada prova, alis, que essa inteligncia esteja perto de ns; pode agir de muito longe, como acreditava Robert Hare, e talvez de um modo semiteleptico.

Quanto auto-sugesto, no explica absolutamente nada; mas um biombo muito cmodo para disfarar o que no se compreende ou o que no se quer admitir.

Nas Recordaes de um Magnetizador, do Conde de Maricourt, encontrar-se-o fatos bastante curiosos e bem documentados de escrita automtica. Alguns de entre eles apresentam este aspecto caracterstico: foram escritos por uma pessoa viva e com todos os caracteres da sua escrita, diferente da do mdium.

Essas duas mensagens prediziam a morte de uma pessoa em tal data e tal poca. admissvel que o subconsciente dessas pessoas ou do mdium fosse avisado dessa morte prxima, enquanto o superconsciente nada sabia dela? A questo se resolve muito simplesmente.

O mais provvel haver a dois casos do que se poderia chamar telepatia automtica.

O Sr. Stead, diretor da Review of Reviews de Londres, obteve repetidamente mensagens desse gnero. Constatou que, servindo-se da sua prpria mo, em lugares distantes, amigos lhe haviam escrito de um modo automtico, dizendo o que pensavam ou desejavam dele. Um deles, a quem havia encontrado e que no ousara confessar-lhe embaraos de dinheiro, lhos comunicou automaticamente. Quando o Sr. Stead mostrou ao seu amigo uma comunicao escrita com a prpria letra deste, ficou aturdido, como era natural.

Certas pessoas podero supor que o Sr. Stead um ledor de pensamentos, como Pickman ou Cumberland, ou nos viro ainda fa