Algodão ecológico

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    1Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

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    2 Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Repblica Federativa do Brasil

    Luiz Incio Lula da Silva

    Presidente

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    Lus Carlos Guedes Pinto

    Ministro

    Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    Conselho de Administrao

    Luis Carlos Guedes Pinto

    PresidenteSilvio Crestana

    Vice-Presidente

    Alexandre Kalil Pires

    Hlio Tollini

    Ernesto Paterniani

    Cludia Assuno dos Santos Viegas

    Membros

    Diretoria Executiva da Embrapa

    Silvio Crestana

    Diretor-Presidente

    Tatiana Deane de Abreu SJos Geraldo Eugnio de Frana

    Kepler Euclides Filho

    Diretores Executivos

    Embrapa Algodo

    Robrio Ferreira dos Santos

    Chefe Geral

    Napoleo Esberard de Macdo Beltro

    Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento

    Maria Auxiliadora Lemos Barros

    Chefe Adjunto de Administrao

    Jos Renato Cortez Bezerra

    Chefe Adjunto de Comunicao e Negcios

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    3Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuriaCentro Nacional de Pesquisa de Algodo

    Documentos 163

    Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a

    Convivncia com Insetos Fitfagos:

    Possibilidade ou Realidade?

    Cristina Schetino BastosFbio Akiyoshi SuinagaMelchior Naelson Batista da SilvaRaul Porfirio de Almeida

    Campina Grande, PB.

    2006

    ISSN 0103-0205

    Dezembro, 2006

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    4 Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Exemplares desta publicao podem ser solicitados :

    Embrapa AlgodoRua Osvaldo Cruz, 1143 CentenrioCaixa Postal 174CEP 58107-720 - Campina Grande, PBTelefone: (83) 3315-4300Fax: (83) [email protected]://www.cnpa.embrapa.br

    Comit de Publicaes

    Presidente:Napoleo Esberard de Macdo BeltroSecretria: Nvia Marta Soares GomesMembros: Cristina Schetino Bastos

    Fbio Akiyoshi SuinagaFrancisco das Chagas Vidal NetoLuiz Paulo de CarvalhoJos Amrico Bordini do AmaralJos Wellington dos SantosNair Helena Castro ArrielNelson Dias Suassuna

    Supervisor Editorial: Nvia Marta Soares GomesReviso de Texto: Cristina Schetino BastosTratamento das Ilustraes: Geraldo Fernandes de Sousa FilhoCapa: Flvio Trres de Moura/Maurcio Jos Rivero WanderleyEditorao Eletrnica: Geraldo Fernandes de Sousa Filho

    1 Edio

    1 impresso (2006) 1.000 exemplares

    Todos os direitos reservadosA reproduo no autorizada desta publicao, no todo ou em parte, constituiviolao dos direitos autorais (Lei n 9.610)

    EMBRAPA ALGODO (Campina Grande, PB)

    Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:Possibilidade ou Realidade?, por Cristina Schetino Bastos e Outros. Campina

    Grande, 2006.

    68p. (Embrapa Algodo. Documentos, 163)

    1. Algodo-Cultivo Agroecolgico. 2. Inseto Fitfagos-Convivncia.

    I. Bastos, C.S. II. Suinaga, F.A. III. Silva, M.N.B. da IV. Almeida, R.P. de. V.Ttulo. VI. Srie.

    CDD633.51

    Embrapa 2006

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    5Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Autores

    Cristina Schetino Bastos

    D.Sc., Eng. Agrn. Embrapa Algodo, Rua Osvaldo Cruz, 1143,

    Centenrio, 58107-720, Campina Grande, PB, CEP 58107-720.

    E-mail: [email protected]

    Fbio Akiyoshi Suinaga

    D.Sc., Eng. Agrn. Embrapa Algodo

    E-mail: [email protected]

    Melchior Naelson Batista da Silva

    D.Sc., Eng. Agrn. Embrapa Algodo

    E-mail: [email protected]

    Raul Porfirio de Almeida

    D.Sc., Eng. Agrn. Embrapa AlgodoE-mail: [email protected]

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    6 Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

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    7Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Apresentao

    O cultivo do algodoeiro no Nordeste do Brasil constitui-se ematividade de suma importncia para a agricultura regional, uma vez que

    realizado tanto em extensas reas quanto em pequenas propriedades.

    Todavia, no passado a importncia da cultura para a economia da regio foi

    infinitamente maior. Atualmente, em virtude dos altos custos de produo

    e da mudana do sistema de cultivo vigente, a regio Nordeste perdeu

    parte de sua importncia na produo desta Malvaceae no cenrio

    nacional.

    As presses exercidas por um mercado e sociedade cada vez mais

    exigentes do ponto de vista de qualidade ambiental tm fomentado a

    adoo de modelos de produo estabelecidos em bases ecolgicas. Neste

    sentido, o cultivo do algodoeiro seguindo os preceitos da agroecologia tem

    se tornado uma realidade principalmente entre os pequenos agricultores

    familiares do semi-rido nordestino. O cultivo realizado desta maneira, tem

    permitido a incluso destes agricultores na cadeia produtiva do algodoeiro

    por estar em consonncia s suas demandas e potencialidades. Assim, j

    uma realidade em estados como o Cear e, mais recentemente, a Paraba.

    Muitos dos agricultores que participam da experincia de cultivo do

    algodoeiro em sistema agroecolgico tm ressaltado como uma das

    limitaes deste tipo de cultivo o convvio com herbvoros que ocorremassociados cultura, j que a mesma hospeda grande diversidade

    deorganismos. Sendo assim, esta publicao objetiva apresentar os

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    principais mtodos de convvio com herbvoros passveis de serem

    empregados em perodos de transio para cultivos agroecolgicos. Vale

    ressaltar que esta iniciativa no tem a pretenso de exaurir o assunto e, de

    outra forma, apenas chama a ateno para algumas das possibilidades

    neste aspecto.

    Robrio Ferreira dos SantosChefe Geral da Embrapa Algodo

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    9Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Sumrio

    Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos

    Fitfagos: Possibilidade ou Realidade?................................................... 11

    1. Introduo ..................................................................................... 11

    2. O cultivo do algodoeiro no contexto da agroecologia...........................16

    3. O cultivo agroecolgico do algodoeiro e a convivncia com herbvoros

    que ocorrem infestando as culturas....................................................20

    4. Mtodos de controle alternativo de herbvoros que ocorrem

    infestando o algodoeiro ................................................................... .22

    4.1 Inseticidas botnicos................................................................... 23

    4.2 Controle biolgico....................................................................... 29

    4.3 Controle cultural......................................................................... 34

    4.4 Uso da resistncia de plantas a insetos........................................ 45

    4.5 Uso de feromnios/armadilhas..................................................... 48

    4.6 Combinao de tticas............................................................... 49

    5 Concluses....................................................................................... 49

    6 Referncias bibliogrficas.................................................................. 50

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    11Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a

    Convivncia com Insetos Fitfagos:

    Possibilidade ou Realidade?

    Cristina Schetino BastosFbio Akiyoshi SuinagaMelchior Naelson Batista da SilvaRaul Porfirio de Almeida

    1. Introduo

    O cultivo do algodoeiro constitui-se na maior atividade fornecedora de fibra

    para diversos fins, funcionando como instrumento de incluso social no

    Nordeste do Brasil. A produo mundial oriunda do seu cultivo, em 2003,

    foi da ordem de 21 milhes de toneladas de fibra (FAO, 2005). A cultura

    considerada a principal fornecedora de fibra s indstrias txteis, sendoresponsvel por atender cerca de 50% da demanda global por fibras

    (MYERS, 1999). Dados da FAO (2006) demonstram que na safra de 2005

    o Brasil ocupou o sexto lugar na produo mundial de fibra algodo,

    produzindo 1.195.500 toneladas mtricas de fibra, o que correspondia a

    cerca de 5,09% da produo mundial de algodo. Apesar desta posio em

    relao ao cenrio mundial, a produtividade brasileira apresenta-se prxima

    aquelas alcanadas pelos principais pases produtores situando-se em torno

    de 2.906 kg/ha (CONAB, 2006). O Mato Grosso considerado o principal

    Estado produtor do pas e tambm o que alcana as maiores produtividades

    e que possui a maior rea plantada (CONAB, 2006). No Nordeste, a Bahia o principal estado produtor e o segundo maior estado em produo e rea

    no Brasil (CONAB, 2006).

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    Dados da previso da produo total de fibra do algodoeiro na safra 2005/

    2006 demonstram que enquanto o estado da Bahia responde por cerca de

    88,78% da produo total do Nordeste, o estado da Paraba responsvel

    por cerca de 1,55% deste percentual, sendo o quarto estado em volume

    produzido, o segundo em rea plantada e o quinto em produtividade obtida

    do Nordeste. Os estados que possuem as maiores produtividades do

    Nordeste (Bahia, Maranho e Piau) alcanam patamares prximos a 3.000

    kg de algodo em caroo/ha. Todavia, a produtividade mdia do algodo

    produzido na Paraba, se situa em torno de 800 kg de algodo em caroo/

    ha (CONAB, 2006).

    Pelo exposto percebe-se uma grande concentrao das reas de cultivo doalgodoeiro e de alta produtividade na regio do cerrado brasileiro, sendo as

    produtividades alcanadas ou mantidas nestes locais custa de altos

    investimentos. Todavia, a situao em termos de rea plantada e

    distribuio da produo no pas nem sempre apresentou este panorama,

    como verificado nos dias atuais. Entre 1975 a 1982 a rea total cultivada

    com algodo moc no Brasil oscilava entre 2.000.000 a 2.500.000 ha e a

    rea cultivada com algodo herbceo se situava em torno de 1.500.000 ha

    (IBGE, 1978; 1982, 1983). A partir de 1983, devido a entrada do bicudo

    do algodoeiro no Brasil (BARBOSA et al, 1986; RAMALHO et al., 2000) a

    rea cultivada com algodoeiro moc foi reduzida significativamente paraquase a metade j na safra 1983/1984 (IBGE, 1986). A rea cultivada com

    o algodoeiro herbceo no sofreu queda to drstica neste mesmo perodo,

    mantendo-se estvel em torno dos valores cultivados anteriormente, apesar

    de tambm ter sofrido queda durante alguns perodos especficos (IBGE,

    1986).

    A entrada do bicudo do algodoeiro, portanto, pode ser considerada um

    propulsor das alteraes verificadas nos padres de cultivo at ento

    adotados. A medida que a praga se disseminou pelo Nordeste as reas com

    algodoeiro foram sendo deslocadas para outras regies e as variedades de

    hbito semi-perene ou mocs (principais variedades cultivadas nesta regio)

    foram sendo gradualmente substitudas por outras de ciclo anual ou

    precoce. A regio perdeu grande parte de sua expressividade em termos de

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    produo no cenrio nacional, fazendo com que muitos agricultores fossem

    segregados do sistema produtivo, j que a cultura era e continua sendo

    explorada principalmente por produtores que possuem pequenas

    propriedades o que leva a cultura a receber a denominao de cultura de

    incluso social no Nordeste brasileiro.

    Atualmente, a caracterstica do sistema de cultivo do algodoeiro em

    vigncia nas principais regies produtoras a forte dependncia em

    insumos externos (fertilizantes e pesticidas sintticos), que incrementam o

    custo de produo da cultura, estimado em cerca de 1.700,00 dlares/ha

    em algumas cidades do Mato Grosso (RICHETTI et al., 2006) e, determina

    o limiar de lucro da cultura. Dada a esta caracterstica, o cultivo doalgodoeiro vem se tornando cada vez mais restrito a uma pequena parcela

    dos constituintes do sistema produtivo, que respondem pela produo em

    larga escala, j que a adoo destas tecnologias pelos pequenos

    agricultores que compem a maior parte do sistema produtivo do semi-rido

    nordestino restrita.

    Entretanto, apesar do volume de produo obtido nas reas cultivadas por

    agricultores familiares do semi-rido nordestino no se aproximar do grande

    volume de produo obtido no cerrado, a contribuio dada por estes

    membros do sistema produtivo do algodoeiro no pequena. Segundodados do IBGE de 1996, das 17.930.890 pessoas ocupadas em atividades

    agrcolas no Brasil, 8.210.809 estavam associadas a atividades agrcolas

    desenvolvidas na regio Nordeste, contra apenas 1.018.201 pessoas

    empregadas em lavouras no Centro-Oeste do Brasil. Essa situao

    demonstra que a atividade agrcola desenvolvida no Nordeste, funciona

    como fixadora do homem no campo e, como tal, deve ter as condies

    restritivas a sua continuidade minimizadas ou suplantadas, a fim de

    continuar contribuindo para o desenvolvimento social da regio.

    Sendo assim, solues que possibilitem a reinsero dos agricultores no

    sistema produtivo atualmente vigente podem representar a condio para

    sua continuidade como participantes da cadeia produtiva. Tais solues

    devem ser especficas e devem visar atender as demandas especficas

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    locais, incorporando as limitaes de capital e clima inerentes a estes

    produtores.

    O desenvolvimento de cultivares modernas, com elevada exigncia por

    insumos para manifestao de seu mximo potencial produtivo, contribuiu

    para alavancar a produo do algodoeiro no Cerrado brasileiro. Todavia,

    considerando que as necessidades destes componentes do sistema

    produtivo so diferentes, toda esta tecnologia no pode ser simplesmente

    transferida para outras regies que possuem limitaes ambientais no

    verificadas naquelas regies e so compostas por produtores com

    condies scio-econmicas totalmente diferentes daquelas presentes no

    Cerrado. Entretanto, apesar da aparente diversidade de metas a seremalcanadas, em ambos os casos, objetiva-se o desenvolvimento de uma

    tecnologia apropriada capaz de agregar obteno de potencial produtivo e

    sustentabilidade. Neste peculiar, o cultivo do algodoeiro estabelecido em

    bases agroecolgicas, desponta como uma soluo vivel para o semi-rido

    nordestino e oferece uma alternativa de cultivo para regies consideradas

    de baixos ndices pluviomtricos.

    Em suas vrias concepes, a agroecologia tem sido proposta como uma

    nova disciplina que define, classifica e estuda os sistemas agrcolas de uma

    perspectiva ecolgica e scio-econmica (ALTIERI, 1989a). Esta concepo

    tem permitido um melhor entendimento, e de maneira totalmenteintegrada, dos vrios fatores que governam a produo agrcola e o

    desenvolvimento de novas tecnologias que possibilitem manipular estes

    fatores de uma forma ambientalmente desejvel (LOWRENCE et al., 1984).

    Em particular, a conduo das lavouras de acordo com a concepo

    moderna, faz com que elas sejam consideradas agroecossistemas instveis

    e, principalmente, que apresentem dificuldades para efetuar reciclagem de

    nutrientes, promover a conservao do solo e possibilitar o manejo das

    populaes de pragas e doenas. O funcionamento do sistema depende de

    uma contnua interveno humana. Como resultado as plantas selecionadas

    para o cultivo, freqentemente, no conseguem se reproduzir sem aassistncia humana e so incapazes de competir com as espcies

    espontneas sem um controle adequado (ALTIERI, 1989a).

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    15Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Os agroecossistemas sustentveis, por sua vez, se estabelecem em

    premissas que preconizam a conservao dos recursos renovveis, a

    adaptao da agricultura ao ambiente, e a manuteno de um nvel

    sustentvel de produtividade. Para isso o sistema deve: limitar a incluso de

    energia e recursos; empregar mtodos de produo que restaurem

    mecanismos homeostticos que levem estabilidade comunitria, otimizar

    a taxa de retorno e reciclagem de matria orgnica e nutrientes, maximizar

    a capacidade de mltiplo uso da terra e garantir um fluxo eficiente de

    energia; encorajar a produo de itens alimentares adaptados conjuntura

    natural e scio-econmica; reduzir os custos e aumentar a eficincia e a

    viabilidade econmica de pequenas e mdias propriedades, promovendo,

    assim, um sistema agrcola diversificado e potencialmente resistente

    (ALTIERI, 1989a). Logo, considerando que o sistema possui a caracterstica

    de envolver a integrao de muitas prticas (culturas de cobertura,

    consorciao e rotao de culturas, uso de fertilizantes e inseticidas

    naturais, controle biolgico, etc.) em um sistema global, de forma a

    favorecer a sustentabilidade, essas premissas vo de encontro s

    necessidades dos agricultores do semi-rido nordestino, que no possuem

    condies de adotar um sistema amplamente dependente de insumos

    externos, dada sua condio scio-econmica.

    Vrios pases tm apresentado experincias positivas no cultivo doalgodoeiro estabelecido de acordo com padres agroecolgicos. No Brasil,

    poucos grupos vm desenvolvendo aes no sentido de viabilizar a

    produo do algodoeiro de acordo com princpios agroecolgicos. No

    Nordeste brasileiro, mas especificamente no semi-rido Cearense o Esplar

    propaga o cultivo do algodoeiro arbreo estabelecido em bases ecolgicas

    desde 1989. Esta regio destaca-se por apresentar condies climticas

    favorveis reduo da incidncia de pragas do algodoeiro que, de certa

    forma, tem viabilizado o cultivo seguindo-se tais prerrogativas. Entretanto,

    mesmo nestas reas, o principal problema enfrentado a convivncia com

    herbvoros, considerando que o algodoeiro possui cerca de 30 espcies compotencial de se tornarem pragas da cultura (ALMEIDA & SILVA, 1999;

    GALLO et al., 2002).

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    Na atualidade, o principal inseto com potencial de se tornar uma praga

    severa dos cultivos, desviando a produo esperada da obtida, o bicudo

    do algodoeiro,Anthonomus grandis (Coleoptera: Curculionidae), face

    dificuldade em se desenvolver tticas alternativas que sejam eficientes e de

    pronto uso em condio de campo. Alm do bicudo do algodoeiro, o

    curuquer do algodoeiro,Alabama argillacea (Lepidoptera: Noctuidae),

    possui surtos freqentes de ocorrncia nas lavouras algodoeiras do semi-

    rido nordestino. Outros herbvoros tambm ocorrem associados aos

    cultivos, todavia o alcance do status de praga menos freqente.

    Sendo assim, toda e qualquer alternativa que venha a possibilitar a melhor

    convivncia com os herbvoros nos cultivos de algodoeiro estabelecidossegundo os princpios agroecolgicos, contribuir para a sustentabilidade e

    ampla adoo do sistema.

    2. O cultivo do algodoeiro no contexto da agroecologia

    O problema da fome e da pobreza rural nos pases em desenvolvimento tem

    sido atribudo principalmente a baixa produo das culturas. Tentativas de

    resolver o problema da fome tm priorizado o desenvolvimento de um

    sistema pelo qual a agricultura de baixa produtividade e direcionada

    subsistncia seja transformada em agricultura comercial de altaprodutividade, com o cultivo de espcies destinadas obteno de lucros.

    Aps a segunda guerra mundial, medidas que objetivavam acelerar esse

    processo de transformao foram amplamente divulgadas e essas incluam

    alteraes nas prticas agronmicas de cultivo, adoo da mecanizao

    nas atividades agrcolas e uso de sementes melhoradas, pesticidas e

    fertilizantes (ALTIERI, 1989a).

    Esse processo de ampla difuso tecnolgica contribuiu para aumentar a

    dependncia tecnolgica dos pases em desenvolvimento, alm de

    beneficiar principalmente as culturas destinadas exportao. Nas reasonde a converso de agricultura de subsistncia para agricultura comercial

    ocorreu, um grande nmero de problemas ecolgicos e sociais surgiu como

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    conseqncia e estes incluam: perda de auto-suficincia, eroso gentica,

    perda de conhecimento agrcola tradicional, permanncia na condio de

    pobreza rural, etc (TOLEDO et al., 1985). No caso especfico do algodoeiro,

    esses problemas foram de magnitude considervel uma vez que o

    desenvolvimento de cultivares altamente produtivas deu-se paralelamente

    ao incremento nos custos sociais e ambientais do cultivo, os quais no se

    refletiram na elevao significativa dos preos alcanados e afetaram

    seriamente a vida e a sade das pessoas e a qualidade do ambiente

    (MYERS, 1999).

    Dentre a ampla gama de problemas advindos do cultivo convencional do

    algodoeiro, o uso excessivo de pesticidas talvez o mais srio e a principalmotivao para que muitas pessoas e organizaes procurem por

    modificaes nos padres atualmente aceitos. Embora detenha apenas

    cerca de 2 a 3% da rea cultivada do planeta, entre 1983 e 1994, o

    cultivo do algodoeiro foi responsvel pelo consumo de 10 a 12% dos

    pesticidas vendidos no mundo, chegando, em 1994, a registrar um

    crescimento de consumo da ordem de 11% sobre os valores da dcada

    anterior (MYERS, 1999). Dados relativos venda anual de defensivos

    agrcolas no Brasil por cultura no ano de 1998, indicavam que o mercado

    de defensivos comercializados para uso no algodoeiro movimentava um

    montante total de US$ 136.054.000, sendo US$ 97.293.000 gastos naaquisio de inseticidas, US$ 1.332.000 gastos na aquisio de acaricidas,

    US$ 312.000 gastos na aquisio de fungicidas, e US$ 32.707.000 gastos

    na aquisio de herbicidas e 4.410.000 gastos na aquisio de outros

    produtos que incluem antibrotantes, reguladores de crescimento, leo

    mineral e espalhante adesivo. O gasto total com defensivos para

    tratamento de sementes foi da ordem de US$ 6.135.000, sendo

    5.239.000 gastos para aquisio de inseticidas e US$ 896.000 gastos para

    aquisio de fungicidas (IBGE, 1999). O montante gasto nesta safra

    correspondeu a cerca de 6% do volume total de defensivos agrcolas

    comercializados no pas para as mais diversas lavouras. O algodoeiro ficouem sexto lugar em termos de montante gasto para aquisio de pesticidas

    em geral e em quarto lugar em termos de montante gasto para aquisio de

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    pesticidas usados no tratamento de sementes (IBGE, 1999). O uso de

    inseticidas predomina em relao aos demais pesticidas, seja a nvel

    regional ou mundial: o algodoeiro foi responsvel pelo consumo de cerca de

    17% do volume total de inseticidas comercializados no Brasil em 1998 e de

    24% do volume total de inseticidas comercializados no mundo em 1994

    (MYERS, 1999; IBGE, 1999).

    Em decorrncia deste uso massivo de pesticidas o cultivo do algodoeiro tem

    sido apontado como causa de inmeros e graves acidentes ambientais

    conhecidos no mundo inteiro, como nos casos do Mar de Aral no

    Usbequisto, do Imperial Valley na Califrnia, do Vale do Caete no Peru e,

    especialmente, no Brasil nas regies do Iguatu no Cear e em Santa Helenaem Gois e outros (LIMA, 1995).

    Sendo assim, esforos tm sido envidados por vrias instituies dos mais

    diversos locais do mundo na tentativa de tornar o processo de produo do

    algodoeiro com menor potencial de causar danos ao ambiente e a

    humanidade. Desde o final dos anos 80 e incio dos anos 90 pases como a

    Austrlia, Argentina, Brasil, Egito, Estados Unidos, Equador, Grcia, ndia,

    Israel, Moambique, Nicargua, Paraguai, Peru, Senegal, Tanznia, Turquia,

    Uganda, Zimbbue, Zmbia, dentre outros, iniciaram suas experincias de

    emprego do manejo agroecolgico do algodoeiro (LIMA, 1995).

    Na ultima dcada, agricultores que cultivavam o algodoeiro em sistema

    convencional comearam a enfrentar problemas decorrentes da exausto

    do solo e evoluo de resistncia de pragas a inseticidas ou dos baixos

    preos alcanados pelo algodo no mercado, o que motivou sua migrao

    para o sistema estabelecido em bases ecolgicas (MYERS, 1999).

    A experincia do semi-rido nordestino em relao ao cultivo do algodoeiro

    segundo os moldes agroecolgicos, restrita a alguns locais. Na regio do

    semi-rido Cearense, o Esplar propaga o cultivo do algodoeiro estabelecido

    em bases ecolgicas desde 1990. Entre 1990 e 1996, o Esplarimplementou o projeto de Pesquisa e Desenvolvimento intitulado Manejo

    ecolgico do algodoeiro moc (Gossypium hirsutum L. r. marie galante

  • 7/23/2019 Algodo ecolgico

    19/70

    19Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Hutch.) visando a convivncia com o bicudo e este projeto contou com a

    participao direta de agricultores familiares de diferentes municpios

    cearenses, com quem as bases do manejo agroecolgico foram discutidas e

    a conduo das reas experimenais foi negociada (LIMA & OLIVEIRA,

    s.i.t.). Com base nos primeiros resultados desta pesquisa iniciou-se, em

    1994, a difuso da proposta apoiada por uma linha de financiamento (US$

    150,00 ha) do Plano de Desenvolvimento Agroecolgico e Participativo dos

    Pequenos Produtores de Tau, CE, implementado pela Associao de

    Desenvolvimento Educacional e Cultural de Tau (Adec) que congrega

    agricultores familiares daquele municpio. Cerca de 250 ha de lavouras

    conduzidas por 130 agricultores obtiveram recuperao dos solos e um

    nmero considervel destes agricultores assimilou algumas das tcnicas

    preconizadas como o plantio em nvel e o uso da leucena no consrcio com

    algodo. Foram constatados aumentos de cerca de 90% no nmero de

    agricultores que passaram a adotar o plantio em nvel e de 198% dos que

    passaram a utilizar a leucena nos cultivos, em comparao ao perodo

    anterior difuso da proposta agroecolgica em Tau (SOUSA, 1999).

    A propagao do cultivo do algodoeiro nos moldes agroecolgicos continua

    a ser conduzida pelo Esplar e atualmente o projeto conta com agricultores

    que adotam o sistema e possuem suas propriedades localizadas nos

    municpios de Chor, Tau e Massap1 . Essa iniciativa teve o mrito decolocar o Esplar e as organizaes de agricultores familiares em contato

    com o mercado emergente de algodo orgnico. Assim, entre 1993 e 1994

    a ADEC vendeu para a Filobel Indstrias Txteis do Brasil, de Jundia, SP,

    10,5 toneladas de algodo em pluma, produzidos sem qualquer insumo

    qumico e destinados fabricao de camisetas de algodo orgnico (LIMA

    & OLIVEIRA, 2000).

    Apesar da adoo do cultivo agroecolgico do algodoeiro estar restrita a

    algumas reas do semi-rido nordestino, considerando as premissas bsicas

    contidas no modelo preconizado que prev o alcance da sustentabilidade

    ambiental, econmica e social (SENA, 2002), a implantao e disseminao

    1P.J.B.F. LIMA, Inform. Pessoal. Chor-CE, 25/05/2005.

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    20/70

    20 Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    do sistema em outras regies do semi-rido podem contribuir para melhoria

    da qualidade de vida dos produtores envolvidos na cadeia produtiva do

    algodoeiro, reduzindo sua segregao e/ou marginalizao. Considerando a

    experincia positiva constatada em alguns locais do semi-rido cujos

    produtores apresentam muitas similaridades com os produtores de outras

    regies do semi-rido, acredita-se que a adoo do sistema possa

    apresentar tantos benefcios nestes locais quanto queles verificados nas

    demais regies.

    Todavia, a migrao de um sistema vigente (convencional) para outro,

    prev uma fase de transio na qual muitos insumos utilizados em cultivos

    convencionais devem ser substitudos por outros possveis de seremadotados em cultivos agroecolgicos. Em uma fase posterior ou mais

    avanada na transio do sistema vigente para o cultivo agroecolgico a

    necessidade de utilizao de insumos para convivncia com herbvoros

    tende a ser minimizada ou totalmente eliminada. Logo, algumas formas de

    minimizar a competio com herbvoros durante esta transio passaro a

    ser abordadas.

    3. O cultivo agroecolgico do algodoeiro e a convivncia

    com herbvoros que ocorrem infestando as culturas

    Em termos gerais, pode-se aumentar a produo pela expanso da rea

    plantada, pelo aumento da produo por unidade de rea plantada de

    culturas individuais (geralmente atravs do aumento no uso de insumos) ou

    atravs da realizao de mltiplas safras por ano. Qualquer que seja a

    estratgia utilizada a produo influenciada pelo manejo adotado, pelo

    ambiente e pelo gentipo da cultura. O manejo inclui o arranjo da cultura

    no tempo e no espao e as tcnicas culturais adotadas. O ambiente

    compreende as variveis de solo e clima modificveis atravs do manejo. O

    gentipo da cultura inerente variedade escolhida e sua faixa de

    adaptao (ALTIERI, 1989b).

    Dentre as mudanas no gentipo passveis de serem implementadas pode-

    se optar pela escolha de espcies j disponveis, pela introduo de novas

  • 7/23/2019 Algodo ecolgico

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    21Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    culturas e pela seleo e melhoramento de variedades mais adaptadas s

    condies do cultivo. A mudana no ambiente inclui a adoo de medidas

    tais como o plantio na estao e momento corretos, a utilizao da

    populao de plantas, espaamentos e configurao timas, a alterao na

    competio com outros organismos vivos, o preparo correto do solo e em

    tempo certo e as mudanas nas condies do solo (ALTIERI, 1989b).

    Apesar destas estratgias apresentarem-se de maneira isolada a alterao

    em qualquer uma delas ter influncia direta sobre uma outra estratgia

    adotada. Isso equivale a dizer que a alterao no estado nutricional das

    plantas, dos gentipos plantados, da combinao de gentipos ou espcies

    utilizadas, por exemplo, tero grande influncia na competio estabelecida

    entre as culturas exploradas e seus competidores, como por exemplo osinsetos herbvoros.

    Logo, estratgias que visem melhorar o resultado obtido a partir da

    explorao das culturas ao mesmo tempo que contribuam para reduzir as

    perdas advindas do cultivo, so as almejadas dentro de qualquer sistema de

    cultivo.

    Considerando que o algodoeiro atacado por uma gama de artrpodes

    herbvoros com potencial de causar srias perdas cultura, o grande

    paradigma da adoo do manejo agroecolgico do algodoeiro passa a ser o

    melhor convvio com tais competidores. Nesse particular, todas asestratgias que possibilitem uma melhoria nos retornos obtidos com as

    culturas presentes no cultivo agroecolgico devem ser compatveis com a

    idia de reduo da competio imposta por herbvoros. Sendo assim, a

    adoo de combinaes de plantas, selecionando-se os melhores gentipos

    e a implementao de fertilizaes do solo devem almejar criar um

    ambiente favorvel planta e aos organismos benficos e desfavorvel aos

    herbvoros. Dessa forma, a populao remanescente de herbvoros que

    ocorra infestando os cultivos, pode ser mantida abaixo do nvel de dano

    econmico, atravs da adoo do controle alternativo com o uso de plantas

    inseticidas, feromnios de insetos, liberao de inimigos naturais e adoo

    de medidas de controle cultural, j que qualquer mtodo de controle possui

    sua eficincia potencializada em condio de baixa densidade populacional

    dos organismos-alvo.

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    22 Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Adicionalmente, a filosofia do manejo integrado de pragas possui premissas

    gerais (de integrao de tticas para melhor convvio com as pragas) que

    podem ser aplicadas tanto ao cultivo tradicional como ao manejo

    agroecolgico. A filosofia prev que em situaes em que se almeje alterar

    o status de um dado inseto de praga para no-praga, vrios tipos de

    estratgias podem ser desenvolvidas e estas incluem: no fazer nada,

    reduzir a densidade populacional da praga, reduzir a suscetibilidade da

    cultura injria imposta pela praga, combinar a reduo na densidade

    populacional com a reduo na suscetibilidade da cultura (PEDIGO, 2002).

    Cada uma destas estratgias pode ser implementada de vrias maneiras

    atravs da adoo de tticas disponveis ao manejo integrado de pragas.

    Assim, dentro da concepo de manejo agroecolgico do algodoeiro a

    estratgia de reduo das densidades populacionais de pragas pode ser

    alcanada atravs da reduo da adequabilidade do habitat para a praga ou

    atravs da reduo nos potenciais de reproduo e sobrevivncia das

    populaes de pragas. A implementao da estratgia de reduo da

    suscetibilidade da cultura injria imposta pela praga normalmente envolve

    alterao na adequabilidade da planta hospedeira aos insetos ou a adoo

    do manejo ecolgico (manipulao do ambiente em que o hospedeiro se

    desenvolve). Por fim, a combinao das duas ltimas estratgias

    mencionadas anteriormente a que conduz a um programa integrado, no

    qual vrias tticas so includas (PEDIGO, 2002).

    4. Mtodos de controle alternativo de herbvoros que

    ocorrem infestando o algodoeiro

    Dentre os mtodos utilizados no controle alternativo de pragas, e que

    possuem potencial de serem empregados no cultivo agroecolgico do

    algodoeiro, encontram-se o controle atravs do emprego de plantas

    inseticidas, o controle biolgico de pragas atravs da introduo e

    conservao de inimigos naturais, o controle cultural atravs da catao de

    estruturas infestadas que funcionem como forma de disseminar algumas

    pragas ou atravs do manejo da populao de plantas e o controle

    comportamental de insetos. Estes mtodos de controle podem ser utilizados

  • 7/23/2019 Algodo ecolgico

    23/70

    23Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    isoladamente ou em conjunto, podendo ainda ser integrados a outras

    prticas de manejo que atuem reduzindo a populao de insetos herbvoros

    ou favorecendo o estabelecimento de populaes de inimigos naturais.

    4.1 Inseticidas botnicos

    Uma das alternativas ao uso de inseticidas sintticos para o convvio com

    insetos-praga em cultivos agroecolgicos tem sido o uso de inseticidas

    botnicos. Sua utilizao na agricultura diminui os custos de produo,

    preserva o ambiente e os alimentos da contaminao qumica, tornando-se

    prtica adequada agricultura sustentvel e contribuindo para oaprimoramento da qualidade de vida das populaes envolvidas.

    Segundo Jacobson (1989) dentre as espcies de planta mais utilizadas,

    atualmente, como fonte de aleloqumicos, encontram-se as famlias

    Meliaceae, Rutaceae, Asteraceae, Annonaceae, Lamiaceae e Canellaceae.

    O neem,Azadirachta indicaA. Juss., planta sub-tropical, da famlia

    Meliaceae, tambm conhecida como Margosa tree ou Indian Lilac,

    nativa das regies ridas da sia e frica, dentre as espcies vegetais

    com atividade inseticida, a mais estudada (AHMED & GRAINGE, 1986;

    SCHMUTTERER, 1988, 1990; SAXENA, 1989; MORDUE & BLACKWELL,1993). A espcie, j introduzida no Brasil, possui vrios cultivos em

    pequenas e grandes propriedades localizadas no Semi-rido Nordestino,

    onde a cultura vm demonstrando boa adaptao s condies de cultivo

    locais.

    A azadiractina (tetranortriterpenide) constitui-se no mais importante

    princpio ativo usado para o controle de inseto, sendo obtida da semente de

    neem, (JACOBSON, 1989). A principal fonte de azadiractina so os frutos,

    que apresentam maior ao sobre os insetos. A casca, as folhas e o leo

    das sementes tambm possuem essa ao (BRUNETON, 1995). Compostosextrados de neem controlam mais de 400 espcies incluindo insetos,

    nematides, fungos, bactrias e viroses (NATIONAL, 1992).

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    24/70

    24 Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Na cultura do algodoeiro, espcies comoEarias vittella

    (SOJITRA & PATEL,

    1992; GUPTA & SHARMA, 1997), Helicoverpa zea, Spodoptera frugiperda

    (MAREDIA et al. 1992), Spodoptera littoralis(MEISNER & NEMNY, 1993),

    Myzus persicae(FENG & ISMAN, 1995), Helicoverpa armigera

    (JEYAKUMAR & GUPTA, 1999), Bemisia argentifolii, Bemisia tabacie

    Aphis gossypii(COUDRIET et al., 1985; FLINT & PARKS, 1989; BUTLER et

    al., 1991; KTATTAK et al, 2001), Emrasca devastans(KTATTAK et al,

    2001) eAnthonomus grandis(SIIOWLER et al., 2004) tem sido alvo de

    estudos com neem.

    Aspecto positivo aliado a ao do neem sobre os insetos fitfagos

    evidenciado em relao seletividade de inimigos naturais. SegundoSchmutterer (1990), o neem apresenta considervel seletividade para

    inimigos naturais de pragas, especialmente parasitides e predadores, como

    tambm podem ser misturados com outros bioprodutos, como inseticidas

    base de Bacillus thuringiensisou como sinergistas para aumentar sua

    eficcia.

    Extratos de neem so usualmente seguros para insetos benficos, tais

    como abelhas, predadores e parasitides, mamferos e para o ambiente.

    (AHMED & GRAINGE, 1986; TANG et al., 2002), sendo uma interessante

    opo para programas de manejo integrado de pragas adotados em cultivosagroecolgicos, uma vez que, apresentam um menor impacto sobre os

    agroecossistemas por serem seletivos podem ser integrados ao controle

    biolgico de pragas (STARK & RANGUS, 1994; TANG et al., 2002).

    Formulaes a base de neem j esto disponveis no mercado brasileiro,

    podendo ser adquiridas facilmente (NATURAL RURAL, 2006).

    A maioria dos agricultores que adotam o cultivo agroecolgico do

    algodoeiro propagado pelo Esplar, utilizam o extrato de folhas de Neem ou o

    leo extrado da semente no controle de pragas que infestam as culturas

    (LIMA & OLIVEIRA, dados no publicados). Alm disso, os agricultores

    utilizam o angico.

    Alguns pases como da sia e da frica, tm utilizado o leo obtido de

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    25Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    culturas como a soja, o milho, o girassol, o amendoim, o arroz e mesmo o

    leo extrado da semente de algodo como inseticidas de contato, visando a

    proteo de sementes de leguminosas em condio de armazenamento. O

    mtodo tem apresentado bom potencial por ser barato e facilmente obtido

    por pequenos agricultores (SHAAYA & KOSTJUKOVSKY, 1998).

    Considerando que a praga mais severa do algodoeiro, em condio de

    campo, um membro da ordem Coleoptera, da qual fazem parte

    importante pragas das culturas em condio de armazenamento,

    pesquisadores da Embrapa Algodo testaram em ensaios preliminares de

    laboratrio o efeito do leo de algodo sobre adultos do bicudo do

    algodoeiro, encontrando alta mortalidade de insetos (100%) aps cerca de

    5 minutos da aplicao do leo bruto sobre o inseto2 . O leo bruto foi ento

    submetido a pesquisas visando formulao de um produto capaz de ser

    miscvel em gua e este novo produto possui potencial de ser utilizado

    como um dos inseticidas botnicos para convvio com o bicudo do

    algodoeiro no cultivo agroecolgico do algodoeiro. O modo de ao destes

    leos foi atribudo principalmente alterao na respirao, resultando em

    sufocamento do inseto. No caso dos ovos de insetos, o leo causa

    coagulao do protoplasma atravs da penetrao pelo microfilo (SHAAYA

    & KOSTJUKOVSKY, 1998). Dentre 16 leos testados quanto sua

    atividade inseticida contra Callosobruchus chinensis o leo cru da semente

    de algodo foi o que mais contribuiu para a mortalidade de ovos do

    caruncho (99% de mortalidade) e para a reduo na emergncia de

    adultos, como conseqncia (1%) (SHAAYA & KOSTJUKOVSKY, 1998).

    Outras espcies que j possuem ao inseticida relatada contra herbvoros

    que atacam o algodoeiro so includas na Tabela 1.

    Algumas espcies de importncia local possuem o potencial de serem

    exploradas e dentre estas tm-se: oAgave, a manioba, o timb e outras

    espcies que compem a vegetao nativa do semi-rido. Para isso, faz-se

    necessrio a realizao de bioensaios de toxicidade em laboratrio e a

    2R.P. de Almeida, Inform. Pessoal. Embrapa Algodo, 9/05/2005.

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    Tabela

    1.

    Relaodeinseticidasdeorigemn

    atu

    ralquepossuemt

    oxicidadeparaalgu

    nsherbvorosqueatacam

    oalgodoeiro.

    Continua...

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    27/70

    27Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Tabela

    1.

    Continuao.

    Continua...

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    28 Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Tabela

    1.

    Continuao.

    Fonte:DEV&

    KOUL,

    1997.

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    29/70

    29Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    campo, a fim de levantar-se dosagem efetiva, formas de extrao e

    aplicao, dentre outras informaes.

    4.2 Controle biolgico

    Outra ttica alternativa de controle de pragas do algodoeiro a

    conservao e liberao de inimigos naturais das pragas. Esta ttica

    definida como controle biolgico. Teoricamente o controle biolgico

    considerado como a relao estabelecida entre dois ou mais organismos na

    qual um organismo denominado inimigo natural, age predando, parasitando

    ou competindo com um outro organismo, denominado praga, o qual tem seu

    crescimento populacional impedido ou reduzido. Este conceito parece se

    enquadrar melhor ao agroecossistema algodoeiro, onde se constata que os

    inimigos naturais ao exercerem sua ao de controle podem manter as

    densidades populacionais de insetos-praga abaixo do nvel de dano

    econmico. Contudo sua ao mais freqente, diz respeito a limitao do

    crescimento populacional, mas no a ponto de reduzi-lo a densidades abaixo

    do nvel de dano econmico. Um exemplo desta afirmativa a mortalidade

    do bicudo do algodoeiro (de at - 70%) por inimigos naturais e fatores

    ambientais, e parasitismo de ovos da lagarta das mas (de at - 99%), que

    apesar de serem considerados excelentes em nvel de campo, no so

    suficientes para evitar danos econmicos provocados por estas pragas

    devido s particularidades como ataque s partes reprodutivas das plantas

    (FLINT & DREISTADT, 1998; KING et al., 1996).

    Estes ndices podem ocorrer no agroecossistema algodoeiro sem serem

    percebidos, mas em muitos casos podem ser explorados mediante

    identificao, coleta, criao e liberao desses inimigos naturais, visando

    incrementar as atividades de predao, parasitismo ou competio exercida

    por estes organismos, reduzindo os danos e esforos dispendidos no

    controle de pragas. O controle biolgico de pragas tem especial

    aplicabilidade no manejo agroecolgico do algodoeiro, j que normalmenteeste sistema no adota o controle qumico de pragas, uma das principais

    restries ao uso do controle biolgico no cultivo convencional. Esta ttica

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    30 Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    do MIP pode ser implementada atravs de estratgias que objetivem a

    conservao dos inimigos naturais nos agroecossistemas ou atravs de

    liberaes inundativas/inoculativas de inimigos naturais. A obteno de

    controle efetivo contra as principais pragas que ocorrem infestando os

    cultivos se d atravs dos inimigos naturais das pragas que podem ser

    predadores ou parasitides.

    Dentre as alternativas que tm sido exploradas mais intensivamente em

    termos de liberaes inoculativas/inundativas esto a utilizao de

    parasitides do gnero Trichogramma e predadores do gnero Podisus, j

    que estes insetos j possuem metodologia para criao massal

    estabelecida, tornando as liberaes factveis de serem realizadas(ALMEIDA, 1998; ZANUNCIO et al., 2002).

    A liberao de Trichogrammacomo agente de controle biolgico de ovos de

    lepidpteros-praga tem sido considerada por mais de 100 anos apesar da

    criao massal desse parasitide da ordem Hymenoptera no ter sido

    proposta na Amrica do Norte antes de 1920. Apesar do gnero

    Trichogrammano ser o nico grupo a ser usado em liberaes inundativas,

    a maior parte do entendimento de como tais liberaes devem ser

    realizadas originaram-se de estudos com este minsculo parasitide de

    ovos. Atualmente, liberaes inundativas para o controle de pragas estosendo investigadas em mais de 50 pases e o uso comercial relatado em

    mais de 32 milhes de ha/ano (PARRA & ZUCCHI, 2004; ALMEIDA, 1998;

    SMITH, 1996).

    As vrias espcies que compem o gnero Trichogrammaso parasitides

    de ovos polfagos, sendo capazes de parasitar ovos de pelo menos 10

    ordens de insetos entre as quais incluem-se importante pragas da cultura do

    algodoeiro. Em relao ao complexo de lagartas que so capazes de

    infestar as folhas e as mas do algodoeiro, este apresenta grande

    potencial de utilizao, e vrios estudos tem apontado para a elevada taxa

    de parasitismo alcanada por este parasitide quando se destinam ao

    controle de tais pragas. O xito na utilizao do Trichogrammatem sido

    verificado tanto em liberaes inundativas quanto naquelas visando o

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    31Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    incremento (SMITH, 1996; ALMEIDA, 2000; PARRA & ZUCCHI, 2004).

    A eficincia de parasitismo normalmente alcanada pela utilizao de

    Trichogrammavisando a conteno de surtos populacionais do complexo de

    lagartas das mas da ordem de 70 a 80% para as lagartas do gnero

    Heliothis/Helicoverpae de 4 a 52% para as do gnero Pectinophora,

    podendo alcanar at 100% de parasitismo de ovos do curuquer do

    algodoeiro (A. argillacea) (SMITH, 1996; ALMEIDA, 2000). Todavia, essa

    eficincia pode se alterar dependendo dos demais componentes do sistema

    de produo adotados, j que a utilizao destes constitui-se em apenas um

    dos componentes deste sistema de produo e do manejo de pragas como

    um todo. Logo, a utilizao de prticas culturais que favoream oestabelecimento/disseminao do parasitide podem atuar como sinergistas

    da ao de controle exercida pelos mesmos, incrementando-a.

    Os insetos do gnero Trichogramma apresentam grande potencial de serem

    utilizados no cultivo agroecolgico do algodoeiro, pois vem sendo utilizado

    por agricultores que cultivam a cultura neste sistema (LIMA & OLIVEIRA,

    s.i.t.) e possuem alta eficincia contra o curuquer do algodoeiro, praga de

    ampla ocorrncia no semi-rido nordestino.

    Os agricultores que adotam o cultivo do algodoeiro propagado pelo Esplar

    utilizam liberaes de parasitides de ovos de Lepidoptera pertencentes ao

    gnero Trichogramma (LIMA & OLIVEIRA, dados no publicados).

    Percevejos predadores Podisus(Pentatomidae, Asopinae) so comuns nos

    mais variados ecosistemas agrcolas predando lagartas e larvas de

    diferentes espcies de herbvoros-praga e no praga (TORRES et al., 1996).

    Esses predadores atingem densidades em condies naturais capazes de

    exercer controle eficiente, porm, na fase final dos surtos das pragas. Entre

    os vrios fatores que contribuem para este resultado a disponibilidade de

    alimento (ocorrncia de herbvoros presas) e o tempo para o aumento

    populacional desses para serem eficientes. A estratgia adotada paraminimizar as irregularidades de sincronia de ocorrncia entre as pragas e

    inimigos naturais a liberao de inimigos naturais na fase inicial do

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    32/70

    32 Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    aparecimento das pragas nas lavouras (BELLOWS & HASSELL, 1999). As

    liberaes sejam essas inundativas (grande nmero de predadores

    esperando-se obter controle eficaz de imediato) ou inoculativas (pequena

    quantidade de predadores esperando-se incrementar populaes naturais

    com o objetivo de regular populaes das pragas) possuem o objetivo de

    incrementar a populao natural bem como, antecipar ao significativa de

    controle exercida sobre as pragas.

    Uma fmea de P. nigrispinus, em condies de campo, confinada em

    plantas de algodoeiro apresenta uma taxa de predao de 0,017 lagartas

    de quarto nstar deA.argillacea/hora, consumindo de 9 a 22 lagartas deA.

    argillaceade quarto nstar durante a fase ninfal e de 34 a 74 lagartasdurante a fase adulta. Quando alimentados com lagartas deA. argillacea

    podem viver de 1 a 2 meses e produzirem, em mdia, 300 ovos. Em

    condies ideais de produo massal podem viver at 3 meses e produzir

    de 600 a 900 ovos/fmea (OLIVEIRA et al., 2002).

    Embora estejam comumente associados a surtos de lagartas desfolhadoras

    do algodoeiro, podem ocorrer na lavoura predando outras pragas

    importantes da cultura. O comportamento de predao normalmente est

    relacionado ao tamanho ou nstar no qual o predador se encontra. Enquanto

    ninfas de segundo e terceiro nstares so capazes de predar pulges, ovosem geral, ninfas de outros percevejos e lagartas ou larvas pequenas, os

    predadores adultos concentram sua alimentao nas larvas independente

    do tamanho destas. .

    Os percevejos do gnero Podisustambm apresentam grande potencial de

    serem utilizados no controle de pragas do algodoeiro cultivado

    agroecologicamente. Por serem predadores generalistas so capazes de se

    alimentarem de uma ampla gama de presas contribuindo para reduzir a

    possibilidade destes organismos alcanarem o status de praga.

    Outros organismos com potencial de serem empregados de maneirainoculativa ou inundativa nos cultivos agroecolgicos incluem as bactrias

    Bacillus thuringiensis que possuem uma formulao comercial disponvel

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    33Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    para utilizao em pulverizao contraHeliothis virescens

    eAlabama

    argillacea (ANDREI, 2005).

    As viroses ocorrem com determinada frequncia em larvas e lagartas. No

    caso das pragas do algodoeiro, tem-se constatado relativo sucesso no

    controle da lagarta das mas, H. virescens, com a utilizao do vrus da

    poliedrose nuclear (NPV), o qual j possui formulao comercial na

    Austrlia e China, porm no no Brasil. Existe ainda uma formulao de

    vrus comercializada no Brasil para o controle de S. frugiperda (VALICENTE,

    1991).

    O fungo do gnero Beauveria tambm j possui formulao que vm sendocmercializada no Brasil para uso contra lagartas desfolhadoras, mosca-

    branca e caros (NATURAL RURAL, 2006). Todavia h que se considerar a

    restrio de uso associada a estes organismos (dependncia de alta

    umidade relativa para que ocorra infeco dos organismos).

    Apesar da utilizao de agentes de controle biolgico de forma inundativa

    e/ou inoculativa constituir-se em uma estratgia para convvio com

    herbvoros em cultivos agroecolgicos, aquelas estratgias que objetivem o

    estabelecimento de inimigos nos cultivos devem ser preferidas, pois

    potencializam a ao de organismos j incidentes nos cultivos. Vrias

    medidas podem ser utilizadas de forma a favorecer a permanncia de

    inimigos naturais nos agroecossistemas algodoeiros cultivado de acordo

    com princpios agroecolgicos. Dentre estas podem ser citadas o aumento

    da diversidade de plantas atravs da rotao de culturas ou policultivos ou

    plantas de cobertura, manejo da vegetao em torno dos campos para

    atender s necessidades de organismos benficos, fornecimento de

    recursos suplementares aos organismos benficos, estabelecimento de

    corredores de plantas (corredores biolgicos) que atraiam organismos

    benficos de matas prximas ou da vegetao natural para reas centrais

    das lavouras, seleo e implantao no campo de faixas de plantas

    diferentes dos cultivos, cujas flores respondam s exigncias dos

    organismos benficos (ALTIERI & NICHOLLS, 2004).

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    34 Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    4.3 Controle cultural

    O controle cultural pode ser definido como a manipulao proposital do

    ambiente a fim de reduzir as taxas de incremento das pragas e as injrias

    provocadas s culturas. O controle cultural, normalmente envolve a

    manipulao de fatores ambientais que j existem e no implica na adio

    de novos fatores (como inseticidas sintticos ou botnicos ou inimigos

    naturais). A idia por trs desta ttica de manejo a de encontrar pontos

    fracos no ciclo de desenvolvimento dos insetos e explor-los. Esses pontos

    fracos podem ser padres comportamentais para completar o

    desenvolvimento ou para localizar abrigo adequado (PEDIGO, 2002).

    Medidas gerais

    Aps a entrada do bicudo do algodoeiro nos EUA (em torno de 1890 a

    1893), a principal medida decorrente das investigaes iniciais envolvendo

    a biologia e manejo do bicudo, foi a implementao de um sistema de

    supresso empregando vrias tticas. As tticas especficas empregadas

    para favorecer o escape da cultura do ataque do bicudo envolviam a

    utilizao de variedades precoces associadas destruio dos restos

    culturais, medidas que ainda so consideradas componentes-chave nos

    sistemas atuais de manejo da praga. O conceito de cultura armadilha foi

    introduzido mais tarde por cientistas, e objetivava obter controle sobre o

    bicudo no incio da estao de cultivo. A pesquisa cientfica demonstrou

    ainda que a queima controlada e a limpeza dos locais de oviposio, com

    catao de botes cados ao solo, constituam-se em medidas eficientes na

    reduo das populaes da praga. A ltima medida , provavelmente, a que

    mais contribuiu para um declnio nos nveis populacionais do bicudo no Delta

    do Mississippi a partir de 1950 (KING et al., 1996). Boa parte destas

    medidas ainda continua a ser utilizada por pequenos agricultores,

    principalmente por aqueles que adotam o cultivo agroecolgico do

    algodoeiro, j que as pequenas reas e a disponibilidade da mo de obra

    familiar, facilitam sua implementao.

    Os agricultores que adotam o cultivo agroecolgico propagado pelo Esplar

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    35Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    realizam a coleta de botes florais cados ao solo e sua destruio a cada

    trs ou quatro dias. Como resultado da adoo desta medida, apesar do

    bicudo do algodoeiro estar presente nos cultivos, ele no se multiplicam a

    ponto de se tornarpragas (ELZAKKER, 1999).

    Pases como a Austrlia, adotam um programa envolvendo o uso de

    culturas armadilhas tais como gro de bico (usadas na primavera) e feijo

    guandu (usadas no vero) objetivando minimizar o movimento de

    Helicoverpa armigera para as lavouras de algodo e minimizar a migrao

    destes insetos do algodo para outras culturas (AUSTRALIA CENTRAL

    HIGHLANDS COTTON GROWERS AND IRRIGATORS RESEARCH AND

    TECHNICAL GROUP, 1999). De maneira similar, estudos conduzidos emUganda com culturas armadilhas (sorgo, milho e feijo Phaseolus vulgaris)

    circundando as lavouras de algodo demonstraram que a maioria das

    pragas do algodo foram atradas para as culturas armadilhas e que a

    populao de artrpodes predadores foi consideravelmente maior nas reas

    circundadas com culturas armadilhas do que nas reas cultivadas de

    maneira isolada (HENEIDY & SEKEMATTE, 1996). Alguns autores tm

    sugerido ainda a utilizao de faixas ou de campos com algodo em

    seqncia a colheita das lavouras, algo que funcionaria como atrativo das

    populaes migrantes do bicudo do algodoeiro. Neste caso, medidas de

    controle podem ser adotadas contra a praga reduzindo o nmero de insetosque infestam os cultivos subseqentes (SOARES et al., 1994). No Brasil,

    trabalho realizado por Soares & Arajo (1993) demonstrou que campos de

    algodo implantados tardiamente eram muito mais atacados pelo bicudo do

    algodoeiro, algo que resultou em maior absciso de botes e pequena

    formao de mas.

    Uma outra medida de controle cultural facilmente implementada e que

    possui potencial de ser utilizada no manejo de herbvoros em sistemas

    agroecolgicos envolve a manipulao da data de plantio. Ensaios realizados

    no Egito demonstraram que a data de plantio afetava significativamente as

    populaes de insetos sugadores no algodo. O algodo plantadoantecipadamente permitia o incremento na propagao de insetos

    sugadores. Todavia, as mas maturavam mais cedo o que permitia

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    36 Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    escapar do ataque da lagarta rosada (IBRAHIM, 1997). Na frica o plantio

    antecipado associado destruio de soqueiras desempenham papel vital

    no manejo das pragas-chave do algodoeiro naquela regio (JAVAID, 1995).

    Cultivo consorciado ou policultivo

    O policultivo envolve o crescimento simultneo de duas ou mais culturas na

    mesma rea. Este sistema de cultivo largamente empregado em pases

    em desenvolvimento (KAREL, 1993). Na Amrica Latina os pequenos

    agricultores, em sua maioria descapitalizados, no dispem de tecnologia e

    rea suficientes para cultivos muito intensos. Assim, eles adotam o

    policultivo como alternativa reduo de custos, diversificao da dieta,estabilidade de produo, diminuio dos riscos, eficincia no uso da mo-

    de-obra, intensificao da produo com recursos limitados, ao aumento de

    retorno com adoo de baixos nveis de tecnologia e ao melhor

    aproveitamento de rea (uso eficiente da terra) (ALTIERI, 1989b).

    Dentre as vantagens do policultivo a mais citada a reduo do ataque de

    pragas, pois insetos herbvoros normalmente alcanam maiores densidades

    populacionais em monocultivo do que em estandes com diversidade de

    culturas (VANDERMEER, 1989; COLL & BOTTREL, 1994). Este aspecto

    relevante, principalmente para pequenos agricultores que passam a adotar

    o cultivo agroecolgico do algodoeiro, devido ao maior estabelecimento de

    inimigos naturais e, conseqentemente, a obteno de menores perdas

    decorrentes do ataque de insetos (QUINDER & SANTOS, 1996). Alm

    disso, possibilita a melhor utilizao da rea atravs do cultivo

    concomitante de culturas alimentares e geradoras de renda.

    Algumas teorias foram geradas na tentativa de explicar a razo pela qual

    os policultivos contribuem para reduo no ataque de insetos-praga e

    aumento na densidade de inimigos naturais.

    A primeira tentativa foi feita em meados do sculo XVII com a teoriadenominada estabilidade-diversidade, a qual sugeria que quanto maior fosse

    a diversidade biolgica de uma comunidade maior seria sua estabilidade

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    37Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    (MACARTHUR, 1995; PIMENTEL, 1961; ANDOW, 1991). Estudos

    posteriores indicaram que tal teoria provavelmente teria surgido a partir da

    crena de que a grande variabilidade biolgica da natureza deveria ter

    algum propsito na ordenao do mundo (ANDOW, 1991). Desde ento

    outras teorias vem sendo geradas para explicar tal relao, entretanto,

    verifica-se nestas que no possvel generalizar o comportamento dos

    diversos organismos envolvidos.

    Segundo Tahvanainen & Root (1972), as razes para que alguns insetos-

    praga apresentem menores populaes em culturas cultivadas em

    policultivo do que em monocultivo, se deve maior diversidade destes

    agroecossistemas. Esta maior diversidade pode reduzir as populaes dosinsetos-praga devido maior dificuldade encontrada por estes em localizar

    seus hospedeiros, mudanas no microclima da cultura e incremento das

    populaes de inimigos naturais (ALTIERI, 1993). A maior dificuldade

    encontrada pelos insetos-praga em localizar seus hospedeiros nos

    policultivos se deve ao fato de que o encontro da planta hospedeira pelos

    insetos envolve percepo olfativa de substncias volteis emitidas pelas

    plantas. Sendo assim, a emisso de volteis por plantas no hospedeiras e

    constituintes do policultivo pode dificultar a localizao da planta-

    hospedeira pelo inseto-praga (ALTIERI, 1993).

    O policultivo pode ainda interferir nos estmulos visuais, reduzindo o

    contraste entre plantas e o solo, tornando as plantas hospedeiras mais

    difceis de serem localizadas. Alm disso, durante a procura por seu

    hospedeiro, o herbvoro perde tempo procurando em plantas no

    hospedeiras e, como conseqncia, emigra do policultivo mais rapidamente

    do que do monocultivo. O policultivo pode ainda aumentar o sombreamento,

    proteger da dessecao pelo vento, reduzir as temperaturas mdias e levar

    a modificaes no micro-habitat que podem afetar o movimento de

    herbvoros e a atividade de inimigos naturais (ANDOW, 1991).

    A teoria da concentrao do recurso diz que muitos herbvoros,

    especialmente aqueles com uma estreita faixa de hospedeiros, so mais

    encontrados e permanecem por mais tempo em hospedeiros mais

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    38 Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    concentrados, isto , que ocorrem em faixas de cultivos largas, densas ou

    puras (ROOT, 1973). Portanto, a menor concentrao do recurso ou planta

    hospedeira aumenta a dificuldade do inseto em localiz-la.

    A teoria da aparncia da planta considera que a efetividade das defesas

    naturais das plantas so reduzidas pelos mtodos agrcolas, isto , o

    monocultivo faz com que as plantas fiquem mais aparentes para os

    herbvoros. Uma cultura pode se tornar mais ou menos aparente de acordo

    com a diversidade do cultivo ou atravs de cultivos de alta densidade

    (ALTIERI, 1993).

    A teoria da cultura armadilha, diz que a presena de uma segunda espcie,serviria para atrair a praga que normalmente seria detrimental para as

    espcies principais e portanto, largamente aplicada herbvoros

    generalistas (AIYER, 1949; VANDERMEER, 1989).

    A hiptese dos inimigos considera que inimigos naturais so mais

    abundantes em policultivos, contribuindo para maior reduo na populao

    das pragas (ROOT, 1973). O aumento da abundncia de inimigos naturais

    se deve a maior diversidade de herbvoros e outras fontes alimentares

    como nctar e plen e melhores condies de abrigo, microclima, disperso

    e reproduo nestes sistemas (ROOT, 1973; ANDOW & RISCH, 1985;

    SHEENAN, 1986; BUGG et al., 1987, ANDOW, 1991). Entretanto, como a

    densidade populacional dos inimigos naturais dependente das densidades

    das pragas nas culturas, pode ser que outros fatores que no apenas o

    sistema de cultivo influencie na densidade dos inimigos naturais presentes

    no cultivo. Como exemplo de tais fatores, pode-se citar a presena ou no

    de presas em densidades satisfatrias para alimentao dos inimigos

    naturais.

    Em muitos policultivos a tendncia que a densidade populacional de

    pragas especializadas em se alimentar de uma das culturas reduza, sendo

    que o mesmo no verificado em relao a herbvoros generalistas. Essecomportamento foi observado por Bastos et al. (2003) ao cultivar o milho e

    o feijo em consrcio.

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    39Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Diversos estudos realizados nas mais variadas regies onde se cultiva

    algodo, empregando diferentes espcies e arranjos no policultivo

    demonstraram que o consrcio do algodoeiro com culturas como o caupi, o

    pepino, o trigo, o girassol, a canola, as leguminosas Vicia villosa, Vigna

    radiata, Vigna mungoe Cyamopsis tetragonoloba,a soja,o feijo de porco,

    o sorgo forrageiro e o granfero, o alho, a pimenta (Capsicum annum), a

    alfafa (Medicago sativa) e com o milho atuaram reduzindo as densidades

    populacionais das pragas Helicoverpa armigera,Amrasca devastans,Aphis

    gossypii,A. craccivora, Myzus persicae, Thrips tabaci,Amrasca biguttula,

    Bemisia tabaci,A. biguttula biguttulae Creontiades dilutus. Alm de reduzir

    as perdas devido ao ataque de insetos sugadores e do complexo de lagartas

    que atacam as mas, a adoo de policultivos contribuiu ainda para elevar

    as densidades populacionais de parasitides e predadores das mais diversas

    espcies, incluindo Chrysoperla carnea, Microplitis rufiventris,Zele

    nigricornis,Z. chlorophthalma, Tachina larvarum[Exorista larvarum] e

    Strobilomyia aegyptia[Peribaea orbata] e os predadores Araneae,

    Coccinellidae e Chrysopidae (SAMINATHAN et al., 2003; KATOLE &

    YADGIRWAR, 2002; SAMINATHAN et al., 2002; GABR & SOURIAL,

    2001; MOTE et al., 2001; XIA-JING et al., 2000; PARAJULEE &

    SLOSSER, 1999; SAMINATHAN et al., 1999; JAMBHRUNKAR et al.,

    1998; SHALABY et al., 1988; CHAKRAVARTHY et al., 1997; MENSAH &

    KHAN, 1997; PARAJULEE et al., 1997; SURESH & DASON, 1996; OMAR

    et al., 1993; SURESH et al., 1993; WANG et al., 1993; WU et al., 1991).

    Existe uma ausncia de estudos que avaliem os efeitos de cultivos

    consorciados sobre a entomofauna associada ao algodoeiro, em condies

    brasileiras, a despeito do potencial que este sistema possui de atuar

    reduzindo as perdas decorrentes do ataque de herbvoros. Todavia,

    considerando que muitas espcies utilizadas para o consrcio com o

    algodoeiro em outros pases e que possuem potencial de reduzir o ataque de

    pragas ou atrair inimigos naturais tambm so cultivadas nas condies

    brasileiras, este poderia representar um ponto de partida para estudosdessa natureza. Dentro do contexto da agroecologia, a adoo dos

    policultivos mais do que representar apenas uma ttica do MIP das

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    40 Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    culturas, pode ser o grande diferencial para o atingimento da

    sustentabilidade preconizada pelo sistema. O bicudo do algodeiro, por

    exemplo, tem sido mantido em densidades aceitveis nas reas de cultivo

    agroecolgico do algodoeiro propragado pelo Esplar atravs da adoo de

    medidas de precauo que incluem introduo de diversidade no campo

    atravs do plantio em linhas paralelas s de algodo de espcies como a

    leucena, gergelim, girassol, milho e plantas do gnero Vigna (ELZAKKER,

    1999).

    Manejo da fertilidade do solo

    O surgimento de problemas oriundos da adoo do excesso de fertilizaofez com que aumentassem os estudos em relao ao efeito da nutrio das

    plantas sobre a suscetibilidade das culturas ao ataque de herbvoros,

    buscando-se alternativas que fossem viveis economicamente e mais

    equilibradas no fornecimento dos nutrientes necessrio ao desenvolvimento

    das plantas.

    So conhecidos os efeitos do excesso de nitrognio presente nas plantas,

    aumentando a suscetibilidade destas ao ataque de pragas (RAM & GUPTA,

    1992; FAGOTTI et al., 1994; CRUTCHFIELD et al., 1995; ROTH et al.,

    1995; WIER & BOETHEL, 1995). Similarmente, plantas que crescem em

    condies de estresse ambiental, incluindo plantas nutricionalmente

    debilitadas ou que derivam de condies no favorveis a seu crescimento

    e desenvolvimento normal, geralmente so mais atacadas por insetos

    herbvoros (WHITE, 1974, 1978 e 1984; TOUMI et al., 1984; MATTSON e

    HAACK, 1987). Portanto, adubaes mais equilibradas no fornecimento de

    nutrientes so recomendadas, ainda mais em se tratando de cultivo

    segundo os moldes agroecolgicos, por razes j explicitadas

    anteriormente.

    Phelan et al. (1996) constataram que parte das diferenas de aceitao

    das plantas de milho por Ostrinia nubilalis era atribuda ao balano mineraldas plantas. Estes autores verificaram ainda, que um balano timo destes

    minerais era mais provvel de ocorrer em solos manejados organicamente.

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    41Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Logo, uma alternativa, no caso da adoo do manejo agroecolgico do

    cultivo, seria a utilizao de adubao orgnica e/ou de fontes naturais de

    nutrientes obtidas atravs das rochas de origem. Mesmo nos cultivos

    convencionais o uso da adubao orgnica do solo poderia contribuir para

    um maior equilbrio do sistema, j que enquanto a adubao mineral

    disponibiliza prontamente os nutrientes s plantas, a adubao orgnica

    libera-os lentamente, por depender da mineralizao dos mesmos pelos

    microorganismos do solo (BRADY, 1989). Alm disso, a adubao orgnica

    apresenta normalmente baixo custo j que o agricultor utiliza materiais

    oriundos da propriedade os quais geralmente no seriam reaproveitados.

    Aliado a este fato, o uso da adubao orgnica permite que haja reciclagem

    de parte dos nutrientes extrados pelas plantas.

    A Tabela 2 ilustra o papel dos nutrientes na alterao da suscetibilidade

    das plantas a insetos.

    H teorias que consideram a nutrio da planta como um todo, como

    preponderante sobre o comportamento adotado por insetos herbvoros. A

    hiptese do balano carbono-nutriente, considera que plantas com rpido

    crescimento, em locais de alta disponibilidade de nutrientes tendem a ter

    como fator limitante ao seu crescimento o carbono e no o nitrognio

    (BRYANT et al., 1983). Assim, elas tendero a alocar menos esqueletoscarbonados para a defesa e investir mais no crescimento acelerado para

    que escapem do dano de insetos (BRYANT et al., 1983). O baixo

    investimento destas plantas na defesa talvez seja a nica estratgia

    possvel, da qual pode depender o seu esforo reprodutivo (PRICE, 1997). E

    os compostos carbonados do metabolismo secundrio so considerados

    mais efetivos na defesa destas plantas ao ataque de herbvoros

    especializados ou adaptados (BRYANT et al., 1983). Isso porque compostos

    nitrogenados do metabolismo secundrio se constituem na principal defesa

    destes tipos de vegetais (BRYANT et al., 1983) e exercem pouco ou

    nenhum efeito sobre tais herbvoros.

    A fertilizao das plantas pode afetar ainda a incidncia de inimigos

    naturais no cultivo. Segundo Flint et al. (1979) a fertilizao das plantas

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    42/70

    42 Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Tabela 2. Nutrientes presentes no tecido vegetal e sua influncia na manifestao

    de resistncia ao ataque de insetos.

    Continua...

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    43/70

    43Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Tabela 2.Continuao...

    pode afetar a produo de compostos volteis oriundos do metabolismo

    secundrio, que exercem efeitos atrativos sobre inimigos naturais. Muitos

    desses compostos j so conhecidos como o cariofileno que liberado por

    plantas de algodo e funciona como composto atrativo do bicho lixeiro,Chrysoperla carnea, considerado um dos inimigos naturais chave das pragas

    do algodoeiro (FLINT et al., 1979).

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    44 Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Maior abundncia de besouros predadores da famlia Carabidae foram

    encontrados por Crcamo et al. (1995) em parcelas cultivadas em regime

    orgnico do que naquelas cultivadas em regime qumico, o que foi atribudo

    a ausncia de uso de herbicidas e fertilizantes qumicos nas parcelas

    cultivadas em regime orgnico, j que estes teriam efeitos negativos sobre

    os inimigos naturais. De maneira similar, Hesler et al. (1993) verificaram

    maiores taxas de predao de pragas por Belostoma flumineum, Notonecta

    spp. e Thermonectus basillaris em cultivo orgnico de arroz do que em

    cultivo convencional.

    Comparando-se sistemas convencionais (com rotao de culturas), sistemas

    integrados (com menor uso de fertilizantes e pesticidas e cultivo reduzidoda terra) e sistemas orgnicos (que no utiliza pesticidas ou fertilizantes

    qumicos) quanto a riqueza e diversidade em inimigos naturais, verificou-se

    que populaes de carabdeos e caros predadores foram mais abundantes

    nos sistemas integrados e orgnicos, do que nos sistemas convencionais,

    havendo porm pequeno efeito destes sistemas, na diversidade destes

    predadores (BOOJI & NOORLANDER, 1992).

    Considerando que a nutrio da planta possui forte influncia sobre a

    incidncia de herbvoros e de inimigos naturais, essa mais uma das

    ferramentas que pode ser utilizadas em sistemas de manejo agroecolgicopara contribuir para a sustentabilidade, atravs da obteno de plantas

    nutricionalmente equilibradas que sofrero menos na competio com

    insetos, obtendo melhores ndices produtivos. Todavia Tingey & Singh

    (1980) observam que apesar dos possveis efeitos isolados que cada

    nutriente pode ter no comportamento de insetos, alterando a

    suscetibilidade do hospedeiro, a complexa interao entre os nutrientes e

    com outros fatores sugere que o balano entre os nutrientes que deve ser

    considerado quando da avaliao do efeito de fertilizaes sobre insetos.

    Isso equivale a dizer que qualquer desbalanceamento mineral que leve ao

    incremento dos nveis de compostos simples de baixo peso molecular, pode

    melhorar a performance de insetos herbvoros, ao passo que substncias de

    estrutura complexa como celulose, hemicelulose e lignina geralmente

    reduzem a adequabilidade das plantas aos insetos (PHELAN et al., 1996).

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    45Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    4.4 Uso da resistncia de plantas a insetos

    O cultivo tradicional do algodoeiro, tanto em pequena quanto em larga

    escala, fortemente dependente de insumos externos, principalmente de

    inseticidas (SUINAGA, 2004). Neste panorama, a utilizao do controle de

    insetos por resistncia gentica consiste em uma prtica salutar pois uma

    ttica efetiva, econmica e sustentvel dentro da filosofia do manejto

    agroecolgico das pragas. Segundo Norris & Kogan (1980), as principais

    vantagens desta ttica de manejo de pragas so: o custo do controle est

    incluso na aquisio da semente; requer menor esforo na sua utilizao,

    quando comparado com outros mtodos; no adicionar custos de

    aplicao;mtodo de controle compatvel com a maioria dos outrosmtodos e; considerado especfico para determinado inseto, no possuindo

    efeito deletrio sobre os insetos benficos.

    A resistncia de plantas a herbvoros pode ser devida a trs mecanismos:

    antibiose, antixenose e tolerncia (PAINTER, 1951). Na antibiose, a planta

    exerce efeitos adversos sobre a biologia do inseto, tais como, reduo no

    peso corporal e alongamento do ciclo de vida. Na antixenose, o inseto

    apresenta menor preferncia de alimentao ou oviposio no gentipo

    resistente. Por outro lado, na tolerncia, a planta reage ao ataque do inseto

    atravs da emisso de novos perfilhos, estruturas reprodutivas entre outrosefeitos.

    As causas da resistncia de plantas podem ser fsicas, qumicas e

    morfolgicas. No entanto, raramente um nico fator responsvel pela

    resistncia de uma planta a pragas. Fatores morfolgicos de resistncia

    interferem fisicamente na seleo do hospedeiro, alimentao, digesto e

    oviposio do inseto. As barreiras fsicas ou deterrentes aos insetos

    manifestam-se, por exemplo, como tricomas (glandulares ou no-

    glandulares), presena de cera na superfcie foliar, presena de slica nos

    tecidos, entre outras caractersticas (NORRIS e KOGAN, 1980).

    Para o caso especfico do algodoeiro, Wilson & Wilson (1975) evidenciaram

    a resistncia de espcies de algodoeiro cultivadas no Velho Mundo e no

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    46 Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    cultivadas (Gossypium arboreum, G. herbaceum, G. thurberi, G.

    armourrianum, G. trilobume G. somalense) lagarta rosada. Neste mesmo

    enfoque, Lukefahr et al. (1975), observou que as principais causas desta

    resistncia, estavam condicionadas a ausncia de nectrios nas nervuras

    basais das folhas (sem nectrios extra florais), a presena de folhas com

    lbulos estreitos, semelhantes s folhas da quiabo (okra) e a alta densidade

    de glndulas de pigmentos nas folhas. Soares et al. (1998) revisaram a

    influncia da ausncia de nectrios no somente sobre a populao de

    pragas do algodoeiro como ainda sobre a densidade populacional de muitos

    inimigos naturais.

    Com referncia aos fatores morfolgicos de resistncia ao bicudo, especial

    destaque deve ser dado aos caracteres colorao vermelha das folhas e do

    caule do algodoeiro, brctea frego e a folha okra. A colorao vermelha

    das folhas e do caule do algodoeiro foi um dos primeiros caracteres da

    planta a ser reconhecido conferindo resistncia ao bicudo, devido a no

    preferncia deste inseto em atacar plantas que possuem esta caracterstica

    (REDDY & WEAVER JUNIOR, 1975). Niles (1980) descreveu a

    caracterstica frego, composta por brcteas estreitas, alongadas e

    retorcidas, que se curvam para fora da estrutura frutfera. Assim a

    resistncia ao bicudo mediada atravs da menor atratividade a oviposio

    em plantas que possuem este tipo de brctea. As plantas de algodoeiro

    com folhas okra, por sua vez, devido a reduo de at 40% na massa

    foliar, permitem a passagem de mais de 70% da radiao solar incidida,

    reduzindo assim a umidade relativa do ar e aumentando a temperatura do

    solo, fatores que em conjunto auxiliam na morte por desidratao das

    formas jovens deste inseto (MATTHEWS & TUNSTALL, 1994).

    As caractersticas morfolgicas presentes em plantas de algodoeiro,

    tambm podem interferir na resistncia ao ataque das lagartas das mas.

    A ausncia de tricomas, a densidade de glndulas de pigmentos no boto

    floral e a ausncia de nectrios, condicionaram o menor ataque destaslagartas aos gentipos do gnero Gossypiumdetentores destas

    caractersticas (HA et al., 1987; SMITH, 1992).

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    47Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    Os fatores qumicos da resistncia podem agir de duas formas sobre o

    inseto, influenciando o comportamento ou alterando sua fisiologia (DENT,

    1991). Os fatores que afetam o comportamento do inseto podem atuar

    como atraentes, arrestantes, estimulantes e deterrentes. Determinados

    compostos da planta podem tambm atuar como inibidores de processos

    fisiolgicos dos insetos, bem como causar intoxicao. A gama de

    respostas desencadeadas por essas substncias sobre os insetos so

    variadas e complexas (DENT, 1995).

    Dentre os diversos compostos produzidos pelo metabolismo secundrio das

    plantas, o gossipol, o xido de cariofileno, o hemigossiplone e os quatro

    tipos de heliocides (H1, H2, H3 e H4) apresentaram efeitos de antibiosecontra o complexo das lagartas da mas e do bicudo (STIPANOVICH et

    al., 1986). Diversos estudos a respeito da toxicidade destes compostos

    esto disponveis na literatura, entretanto poucos relatam as alteraes nas

    caractersticas biolgicas do inseto (VIEIRA & LIMA, 1999). Dentre estes,

    Kuznetsova (1986), avaliando a alimentao de lagartas de H. virescensde

    quarto nstar, observou maior alimentao destas lagartas em cultivares

    com baixas concentraes de gossipol. Em cultivares com alto teor desta

    substncia, este autor notou um menor consumo do contedo interno da

    ma, evidenciando assim, o efeito de inibio alimentar desta substncia.

    A expresso da maioria dos caracteres que conferem resistncia s pragas

    est sob controle gentico, entretanto, outros caracteres governados pela

    ao do ambiente podem tambm interferir na manifestao da resistncia

    (KOGAN, 1982). Dentre os fatores influenciados pelas variaes

    ambientais, encontram-se a assincronia entre a biologia do inseto e a

    fenologia da planta hospedeira, representados pela precocidade das

    variedades, rpida maturao das estruturas reprodutivas/produtivas, a

    tolerncia a seca, etc. As principais causas de pseudoresistncia (PAINTER,

    1951) ao ataque do bicudo, encontradas nas variedades de algodoeiro

    Precoce 1; Precoce 2 e CNPA 7 H so a precocidade e a rpida maturao

    das estruturas reprodutivas/produtivas (VIEIRA & LIMA, 1999).

    Assim, programas de melhoramento que contemplem em seus objetivos, a

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    48 Cultivo Agroecolgico do Algodoeiro e a Convivncia com Insetos Fitfagos:...

    avaliao da resistncia dos gentipos de algodoeiro a insetos, podem

    contribuir para o soerguimento da cultura do algodo no Nordeste, com

    nfase especial no aumento da sustentabilidade do agroecossistema, como

    nica forma de alcanar a equidade e a incluso social do sertanejo

    cotonicultor.

    4.5 Uso de feromnios/armadilhas

    Os feromnios constituem-se em infoqumicos mediadores de interao

    entre dois indivduos da mesma espcie (ao intraespecfica) ou uma

    substncia secretada por um indivduo para o exterior e recebida por um

    segundo indivduo da mesma espcie provocando uma reao especfica(comportamentos definido) ou um processo de desenvolvimento fisiolgico

    definido (VILELA & DELLA LUCIA, 2001; KARLSON & LSCHER, 1959).

    Algumas espcies que ocorrem infestando o algodoeiro j possuem seu

    feromnio identificado, sendo estes comercializados e recomendados para

    utilizao em programas de manejo de pragas com fins, principalmente, de

    amostragem. Este o caso do bicudo do algodoeiro, da lagarta rosada do

    algodoeiro e de Spodoptera frugiperda(ANDREI, 2005). Todavia, alguns

    estudos demonstram ser possvel o uso destas substncias objetivando

    controle atravs de coleta massal e/ou confundimento de adultos (MELLET

    et al., 2003; MAFRA-NETO & HABIB, 1996; KOSTANDY, 1995;CAMPION, 1994; EL DEEB et al., 1993; KEHAT & DUNKELBLUM, 1993,

    ALVARADO et al., 1991). Entretanto, antes que esta aplicao possa se

    tornar uma realidade no Brasil, faz-se necessrio o desenvolvimento de

    estudos que busquem informaes acerca do nmero de armadilhas e ou

    dispositivos de liberao a serem utilizados/ha, intervalo de troca de

    armadilhas ou dispositivos de liberao, tipos de formulao mais

    eficientes, dentre outros. Uma outra possibilidade a ser explorada seria o

    desenvolvimento de formulaes do tipo atrai&mata que congreguem a

    utilizao de feromnios com inseticidas botnicos ou microbianos.

    No mercado brasileiro, h ainda a disposio dos agricultores armadilhasadesiva amarelas e azuis que so recomendadas para o controle de mosca

    branca e tripes, respectivamente (NATURAL RURAL, 2006).

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    4.6 Combinao de tticas

    Apesar de muitas destas medidas terem sido descritas de maneira isolada,

    o cultivo agroecolgico prev sua utilizao de maneira conjunta ou dentro

    de um sistema global. Assim, vrias experincias relatam, por exemplo, o

    efeito sinrgico que muitas destas estratgias quando utilizadas

    conjuntamente. Mensah (2002) verificou que a utilizao da espcie

    Medicago sativa em consrcio com o algodo que por sua vez recebia

    pulverizao com o suplemento alimentar Envirofeast(o qual serve para

    atrair e reter predadores), contribuiu para reduzir o nmero de ovos de

    Helicoverpa spp., o nmero de larvas muito pequenas e pequenas (primeiro,

    segundo e terceiro nstares), o nmero de larvas mdias e grandes (quarto equinto nstares) e resultou em uma produtividade de algodo que foi

    significativamente maior do que a produtividade nas parcelas no tratadas

    com Envirofeaste que s possuam as duas culturas cultivadas em

    associao. De maneira similar, Feng (2001) verificou que a implementao

    de um programa chamado Regulao e Manejo Ecolgico de Pragas

    (RMEP) no norte da China e que consistia na adoo integrada de vrias

    prticas de manejo ecolgico, contribua para manuteno das pragas em

    baixas densidades populacionais.

    5 Concluses

    Em face do grande nmero de alternativas que podem ser utilizadas para

    convvio com herbvoros que infestam o algodoeiro nas fases de transio

    de cultivos convencionais para cultivos agroecolgicos, e considerando a

    experincia positiva de alguns agricultores que j adotam o cultivo nestes

    moldes, acredita-se que estes possam ser facilmente implementados em

    outras regies. O grande desafio que cientistas e agricultores tero que

    enfrentar no entanto, diz respeito busca conjunta e participativa de

    alternativas locais que garantam o sucesso da iniciativa. Muitas

    experincias relatadas aqui podem servir como referncia, mas no devem

    constituir-se em meros modelos a serem aplicados em outras regies. Esse

    deve ser o grande paradigma a ser quebrado por cientistas e agricultores,

    conjuntamente.

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