Algumas Questo Es Europe i As

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  • 7/24/2019 Algumas Questo Es Europe i As

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    Algumas questes europeias

    No continente onde nasceu e vicejou a democracia, as eleies para o Parlamento Europeu

    so, para alm de alguns tmidos referendos num ou noutro pas, o nico arremedo de participaocvica que regularmente pedido aos cidados da Unio, no mbito desta.

    Estes, na generalidade dos pases, devolvem o carinho e respeito revelados pelos seus lderes

    e representantes, com expressivos ndices de absteno.

    Tudo estaria bem se a Unio Europeia se mantivesse uma organizao internacional assente

    na soberania dos estados que a integram e no tendesse, confessadamente, a absorver partes

    significativas da mesma, ao ponto de se afirmar o primado da legislao comunitria e,

    inclusivamente, se concretizarem alteraes do regime constitucional no sentido da respectiva

    submisso aos ditames europeus cfr. art. 8 n. 4 da C.R.P.;

    Tudo estaria bem, de igual modo, se mais de 50% da legislao aplicada em Portugal no fosse

    produzida pela Unio;

    Tudo estaria bem, finalmente, se as polticas da Unio Europeia no fossem utilizadas pelos

    polticos nacionais como pretexto para as consequncias da suaprepotncia, da sua falta de viso e

    da sua incompetncia1.

    Para nos evidenciarmos como os bons alunos da Europa liquidmos alegremente parte

    significativa do tecido produtivo nacional (v.g. a pesca, a agricultura, a indstria de reparao

    naval) e, deslumbrados como um provinciano em Paris, no aproveitmos a oportunidade para os

    reconverter.

    Entretanto, nenhum dos partidos ou candidatos concorrentes s eleies para o Parlamento

    Europeu acha este peso da legislao comunitria inadmissvel e nenhum partido ou candidato

    defendeu o j esquecido princpio de subsidiariedade. Pelo contrrio, quase todos defenderam mais

    competncias para a Unio.

    Entretanto, Espanha, que realizou um percurso de integrao idntico ao nosso, afirmou-se,

    sob a liderana de Felipe Gonzlez e de Jos Maria Aznar, como potncia nas pescas, na

    agricultura, na moda e at, quem o poderia prever, na gastronomia.

    Na rea do Direito Intelectual e em particular no do Direito de Propriedade Industrial,

    passou-se e parece continuar a passar-se o mesmo.

    Nuestros hermanoslograram conseguir a instalao no seu pas em Alicante - do Instituto

    de Harmonizao do Mercado Interno, a mais bem sucedida instituio nesta matria, que se tornou,

    em meia dzia de anos, na instituio de referncia mundial ao nvel do registo de marcas, j que

    ela que tramita e concede a Marca Comunitria e o Desenho e Modelo Comunitrios um nico

    registo (comunitrio) vigora em todos os pases da Unio.

    Mais importante do que isso, no abdicaram e muito bem, do Castelhano como lngua de

    trabalho na marca e no modelo e desenho comunitrios.

    1 Ainda recentemente, as estranhas sanes e solues da colectivizante lei de gesto dos recursos aquferos foram

    justificadas pela imposio europeia

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    Ns, numa altura em que tnhamos ainda poder de veto, numa Unio mais pequena,

    prescindimos do Portugus para o efeito, assim traindo o nosso desgnio estratgico e os nossos

    parceiros lusfonos.

    Quem quiser pedir uma marca comunitria, ou contestar um pedido, faa-o em Ingls,

    Francs, Alemo ou Castelhano, se quiser.

    Entretanto, com a denominada patente comunitria, instituto jurdico h anos para sair do

    papel, tudo aponta para que venha a acontecer o mesmo: abdicarmos do Portugus como lngua

    oficial e de trabalho. Ora, isto grave, muito grave.

    Pequeno, pobre e perifrico, Portugal tem 3 principais activos que podem fazer a diferena

    em relao a outros pases:

    1. - Capacidade de atraco turstica, com um clima agradvel e uma paisagem natural

    atraente, mas em acelerada degradao, fruto de criminosas polticas de ordenamento do

    territrio;

    2.

    - Vocao atlntica e universal, do pas e do seu povo;3.

    - E a lngua, nossa ptria, a 4 mais falada a nvel mundial, que nos faz integrar uma outra

    entidade internacional a C.P.L.P. de que somos os representantesna Europa.

    Abdicar desta trair os nossos parceiros, de quem tantas vezes nos reclamamos irmos;

    E dar-lhes razes principalmente a Moambique, Guin-Bissau, Timor e Macau para

    desinvestirem no Portugus;

    Abdicar desta comprometer os esforos para tornar o Portugus uma lngua de trabalho na

    O.N.U.;

    Abdicar desta , nesta rea, afastar a comunidade industrial, tcnica e cientfica lusfona do acesso,

    na sua lngua, principal base de dados de conhecimentos tcnicos e cientficos e ao estado da arte,

    frustrando assim um dos primeiros fins que desde sempre justificaram a criao e a manuteno do

    sistema de patentes a divulgao e o depsito do conhecimento tcnico-cientfico.

    Quanto s marcas e aos modelos ou desenhos comunitrios estamos conversados. O mal est

    feito e resta-nos ver a caravana passar. Quanto s patentes, ainda no. Mas a nossa posio afigura-

    sepericlitante. Seno vejamos:

    No espao da Unio Europeia (UE), a proteco (dos inventos) atravs da patente

    actualmente assegurada atravs de dois sistemas:a) - os sistemas nacionais de patentes de cada um dos pases que a integram, os quais

    podem considerar-se harmonizados;

    b) - e o sistema europeu de patentes.

    1 A Patente Europeia

    A Conveno de Munique sobre a Patente Europeia EPC (assinada nessa cidade em

    5/10/1973, e que entrou em vigor a 7/10/1977 sendo que a verso em vigor a do acto de reviso de

    29/11/2000), que instituiu o Sistema Europeu de Patentes, ou mais simplesmente, a Patente

    Europeia cfr. http://www.epo.org/ -, estabelece um processo nico de concesso de patentes na

    Europa (incluindo a Turquia).

    Esta conveno instituiu oInstituto Europeu de Patentes - IEP, atravs do qual, recorrendo

    denominada Via Europeia, os inventores com interesse em registar os seus inventos em diversos

    pases europeus podem, para o efeito, depositar um nico pedido de patente, equivalendo o mesmo

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    a pedidos de patente nacionais nos pases que o requerente designar no respectivo pedido de entre

    os 35 estados contratantes da Patente Europeia (Art.2(2)EPC), que incluem os 27 estados

    comunitrios.

    O IEP o ramo executivo da Organizao da Patente Europeia OPEouEPO(em Ingls,

    como acaba por ser mais conhecida), um corpo intergovernamental regido pela EPC, cujosmembros so os seus estados contratantes e que, em traos gerais, analisa os pedidos e concedeas

    patentes, que se tornam em seguida patentes nacionais, sujeitas s regras e s jurisdies de cada

    pas.

    O IEP supervisionado pelo Conselho de Administrao, que o ramo legislativo da

    Organizao da Patente Europeia e composto por delegados de todos os estados contratantes.

    Com a apresentao do pedido, o requerente tem que pagar as taxas devidas ao IEP e

    apresentar uma traduo do fascculo da patente, nomeadamente o Resumo, a Descrio, asReivindicaese, caso necessrio, as legendas dosDesenhos, numa das lnguas oficiais da Patente

    Europeia, que so o Ingls, o Francs e o Alemo.

    Aps a concesso da Patente Europeia, para que a patente produza efeitos num Estado

    Contratante designado, o requerente dever pagar as respectivas taxas nacionais e apresentar uma

    traduo do fascculo da patente para a respectiva lngua oficial desse Estado Contratante.

    Evidentemente, o sistema nico de pedido e anlise de patentes veio trazer enormes

    benefcios em termos de uniformidade de avaliaes e de reduo de custos para os requerentes.

    Trouxe, tambm, ganhos significativos em termos de celeridade no processo de registo.

    Ainda assim, tais ganhos no tm sido considerados suficientes pelos maiores utilizadores

    do sistema, que se queixam, particularmente:

    a) Dos gastos com as tradues dos fascculos em cada um dos pases designados (cerca de

    22 tradues, se os designar a todos);

    b) Dos investimentos, financeiros e em recursos humanos, em caso de litgios a tratar pelos

    sistemas judiciais de cada pas;

    c) Das diversas e diferentes solues jurdicas alcanadas em cada um dos pases, por vezes

    contraditrias em casos semelhantes.

    2 A Patente Comunitria

    Rapidamente surgiu, portanto, a ideia da criao da Patente Comunitria. Tal patente, nica

    para toda a Comunidade, tem vindo a ser objecto de discusso desde h cerca de 30 anos, mas tem

    sempre esbarrado, entre outras questes, no problema lingustico. De facto, o direito europeu

    baseia-se no princpio do multilinguismo e na proibio de discriminao entre Estados-membros,

    mas os principais entusiastas da mesma contrapem que tal figura s ser til e atractiva se puder

    dispensar a maior parte das lnguas oficiais da Unio.

    Nesta fase, a Patente Comunitria apresentada pela Proposta de Regulamento da Comisso

    de 1 de Agosto de 2000, que prope, em traos gerais, que a prpria Unio Europeia adira e seja

    encarada como um Estado Contratante da Conveno de Munique, apresentando-se o respectivo

    territrio (o conjunto dos 27) em termos unificados, no mbito da Patente Europeia. De acordo com

    aquela proposta, a

    patente comunitria seria concedida pelo IEP enquanto patente europeia,

    designando o territrio da Comunidade em vez dos de cada Estado-Membro.

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    A patente comunitria teria, assim, carcter unitrio e autnomo: - uma nica patente em

    toda a Comunidade, caso em que a patente comunitria s poderia ser concedida, transferida ou

    anulada com efeitos em toda a Unio.

    Ademais e ao contrrio do que sucede no caso da Marca Comunitria e do Desenho e

    Modelo Comunitrios, prev-se para a Patente Comunitria a instituio de um sistema nico ecentralizado de resoluo de litgios, mediante a criao de uma jurisdio comunitria de

    propriedade intelectual centralizada, com duas instncias, para garantir a unicidade do Direito e, em

    particular, da prpria jurisprudncia.

    Tal tribunal - o Tribunal Comunitrio de Propriedade Intelectual - nada teria que ver com

    o Tribunal de Justia (da(s) Comunidade(s) Europeia(s)) - CVRIA (nem com o seu Tribunal de

    Primeira Instncia) e teria competncia exclusiva para certas aces, v.g. os litgios relativos

    contrafaco na Unio Europeia e a validade da Patente Comunitria.

    A proposta contempla ainda o j mencionado regime lingustico simplificado, que o mesmo

    dizer que no se exige uma traduo da Patente Comunitria em todas as lnguas comunitrias,devendo a mesma ser concedida, nos termos da Conveno de Munique, numa das lnguas de

    processo do Instituto (ingls, alemo ou francs), para evitar os controversos e elevados custos

    associados s tradues.

    Considerando o teor das propostas, compreende-se, assim, a resistncia oposta por inmeros

    pases, pouco dispostos a abdicar das suas lnguas e/ou das suas jurisdies. Alis, mesmo os trs

    grandes Reino Unido, Frana e Alemanha no se entendem quanto localizao do tal Tribunal

    Comunitrio de Propriedade Intelectual, dada a enorme relevncia e influncia que este iria/ ter.

    Por outro lado, as grandes multinacionais que se dedicam I&D e que por isso pedem

    patentes em muitos pases, tm usado o seu enorme peso para conseguir vencer tais resistncias, em

    ordem a obter um sistema nico e mais barato de as registar em toda a Unio (estima-se que se

    alcanaria, em mdia, uma economia de 40 % em relao aos custos actuais com a patente

    europeia).

    Face ao impasse, tem sido adoptada uma tctica de pequenos passos, discretos, que permita

    vencer resistncias nacionais, uma a uma, caso a caso.

    Comeou-se pela questo da lngua no mbito da Conveno de Munique para a Patente

    Europeia, em que os trs grandes R.U., Frana e Alemanha - esto unidos, jogando todo o seu

    peso no convencimentode pequenos e mdios pases.

    Refiro-me ao Acordo de Londres relativo aplicao do artigo 65 da Conveno de

    Munique.

    3 O Acordo de Londres

    Trata-se de um acordo opcionaldestinado expressamente a reduzir os custos relacionados

    com as tradues da Patente Europeia, dispensando-as.

    Este acordo comeou a ser preparado em 1990 no mbito da EPO e viu a luz do dia na

    conferncia intergovernamental dos pases membros da EPC que teve lugar em 24 e 25/6/1999 emParis. Foi concludo na conferncia intergovernamental que teve lugar em Londres em 17/10/2000,

    adoptando, pois, o nome desta cidade.

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    Sumariamente, aps entrada em vigor que ocorreu no dia 1 de Maio de 2008 -, os pases

    membros da EPC e signatrios do Acordo de Londres, adoptando os idiomas oficiais do EPO

    Ingls, Francs e Alemo -, passaro a dispensar, total ou parcialmente, na fase nacional, as

    tradues dos fascculos para o seu prprio idioma, quando diferente.

    Actualmente j ratificaram ou aderiram ao Acordo de Londres 16 pases: Alemanha,Crocia, Dinamarca, Eslovnia, Frana, Islndia, Letnia, Liechtenstein, Litunia, Luxemburgo,

    Mnaco, Pases Baixos, Reino Unido, Sucia, Sua e mais recentemente a Hungria (que aprovou a

    proposta de adeso no passado dia 20 de Abril).

    Os pases mediterrneos, incluindo a Espanha, que no aceita a possibilidade do Castelhano

    (a lngua mais falada em todo o mundo) ficar excludo, tm feito a oposio mais firme ao

    documento.

    Surpreendentemente, Portugal, o pas (atrs de Espanha) que mais tem a perder com este

    acordo, atravs da voz autorizada do Instituto Nacional de Propriedade Industrial, tem dito que

    Portugal est pronto para ratificar o Acordo de Londres.2

    Desconhece-se a posio do Governo, que no tem respondido s interpelaes da A.C.P.I..

    Desconhece-se, tambm, qual seja a posio dos partidos, dos deputados na Assembleia da

    Repblica, do Senhor Presidente da Repblica, quanto a esta matria e nem uma s vez vimos os

    candidatos a deputados europeus a debater ou a assumir compromissos em relao a ela.

    Ora, estas e outras coisas tambm passam pelo Parlamento Europeu, que alis tem tido um

    desempenho assinalvel em assuntos relacionados com o Direito Intelectual.

    4 - As patentes desoftware

    H alguns anos atrs, a Comisso Europeia, por iniciativa do Comissrio do Mercado

    Interno Frits Bolkestein, sensvel s enormes e poderosas presses no sentido de alargar o mbito

    das patentes aos programas de computador software 3, tomou uma iniciativa de propor uma

    directiva acerca da matria.

    No mbito do processo de co-deciso, apoiado pela indignao e levantamentode alguma

    sociedade civil europeia, o Parlamento Europeu rejeitou com estrondo a proposta de directiva de

    patentes de software, em 6 de Julho de 2005.

    Portanto, no existem patentes de software na Europa, ou ser que existem?

    A resposta a esta questo no to clara como primeira vista poderia parecer. Vejamos:

    Tal como acontece noutras matrias, tambm em relao s patentes temos uma separao

    de poderes(como que inspirada por)Montesquieu:

    a) - O legislativo, ou melhor, no caso a legislao: - A Conveno da Patente Europeia (e

    as legislaes nacionais) que estabelece que o softwareno patentevel;

    2 Segundo nos tem dado conta o Senhor Presidente daACPI - Associao dos Consultores de Propriedade Industrial,Senhor Dr. Csar Bessa Monteiro.

    3Mtodos matemticos e programas para computadores so protegidos pelo Direito de Autor, estando afastados, na

    maioria das legislaes, do mbito de patenteabilidade. Cfr. Art. 52 do nosso C.P.I. e art. 52 n. 2 c) da Conveno daPatente Europeia.

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    b) O executivo: - A Organizao da Patente Europeia que tem admitido patentes de

    software;

    c) Ojudicial: - Os tribunais (nacionais) que na sua maioria tm declarado a invalidade das

    patentes de softwareadmitidas pela EPO, nos casos que lhes so submetidos.

    Resultado, os actuais titulares de patentes de software reconhecidas pelo executivo, contra alegislao, receiam submeter os seus casos ao judicirio, com receio de verem as suas patentes

    invalidadas, principalmente depois de 2005.

    5 - O EPLA Acordo Europeu em matria de Litgios sobre Patentes

    Trata-se de uma proposta para um novo sistema de resoluo de litgios em matria de

    patentes, que visaria fazer face aos dois problemas j atrs mencionados: Os custos relacionados

    com litgios idnticos em vrios pases e as diversas e diferentes solues jurdicas alcanadas em

    cada um dos pases, por vezes contraditrias em casos semelhantes.

    Acresce e para alguns aqui reside o cerne do problema que tais solues jurdicasdiversas e por vezes contraditrias resultam do facto de, ao longo dos anos, o EPO, atravs das suas

    Cmaras Tcnicas de Recurso (TBA - Technical Boards of Appeal) terem reconhecido a

    patenteabilidade de matrias muito controversas, como as relacionadas com o software e a

    biotecnologia. Sucede que boa parte dos tribunais nacionais simplesmente no reconhecem a

    validade de tais patentes.

    De facto, o sistema europeu de patentes tem sido acusado de ter aligeirado os seus critrios

    na concesso de patentes, nomeadamente em matrias anteriormente data da celebrao da

    Conveno de Munique reconhecidas como no patenteveis e, para desagrado das grandes

    multinacionais, habituadas maior tolerncia das autoridades dos Estados Unidos nesta matria,

    tem cado nalgum descrdito em alguns sistemas judiciais de estados contratantes.

    O EPLA resolveria o problema do seguinte modo:

    1. Seria criado, pelos estados contratantes da Conveno de Munique, um Tribunal Europeu

    em matria de Patentes, ou melhor, uma nova organizao internacional denominada, em

    InglsEuropean Patent Judiciary(EPJ), que passaria integrar esse tribunal4e um Conselho

    de Administrao5;

    2. Sendo os seus juzes designados pela EPO, naturalmente provenientes das supracitadas

    Cmaras Tcnicas de Recurso;

    3.

    A Unio Europeia, como anteriormente previsto para a Patente Comunitria, assinaria aConveno da Patente Europeia e o EPLA, como entidade contratante;

    4. E os tribunais nacionais dos estados contratantes perderiam a sua jurisdio sobre as

    matrias relacionadas com patentes.

    Os opositores da criao de patentes em matria de software e biotecnologia rapidamente

    argumentaram que a EPLA no passava de mais uma tentativa de criar tais institutos, desta vez por

    via jurisprudencial.

    De facto, com a adeso da Unio Europeia ao EPLA, a interpretao do ECJ prevaleceria em

    todos os estados membros no sendo, sequer, susceptvel de ser afastada por directiva ou

    regulamento comunitrios.

    4Vrios tribunais de primeira instncia e uma de recurso.

    5Associado ao Conselho de Administrao da Organizao da Patente Europeia - EPO

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    Acresce que, na actual redaco (2000) da Conveno de Munique - art. 33 n. 1 b) - os

    Regulamentos de Implementao da Conveno da Patente Europeia podem ser alterados pelo

    Conselho de Administrao do EPO, o que refora significativamente o seu prprio poder,

    tornando-o auto-suficiente e virtualmente insusceptvel de controlo.

    Esta nova abordagem foi, naturalmente, recebida com grandes reservas, nomeadamente pelo

    Parlamento Europeu, que em Outubro de 2006 aprovou por larga maioria uma resoluo

    manifestando preocupaes pela prtica da EPO na concesso de patentes e pela falta de controlo

    democrtico no sistema de patentes, o que constituiu um srio revs para o EPLA.

    Alis, j em 2000 o Parlamento Europeu criticara a falta de separao de poderes na EPO:

    "Considering that the EPO is an institution acting as judge and party, where the attributions and

    procedures have to be revised. [...] Demand the revision of rules of function of the EPO in order to

    guarantee that this institution can publicly justify the accountability in the exercise of its functions [...]." 6

    6 - OULPS - Unified Patent Litigation System

    Face s derrotas nas propostas anteriores, a Comisso (com o apoio do EPO), retomando a

    referida estratgia dos pequenos e nviospassos, passou a propor o seu prprio Sistema Unificado

    para aResoluo de Litgios em matria de Patentes.

    Para tanto formulou uma recomendao ao Conselho para que a instrua com directivas de

    negociao em ordem poder concluir um acordo internacional que crie o referido sistema (UPLS)(Pode ler essa recomendao no seguinte endereo electrnico: http://ec.europa.eu/internal_market/indprop/patent/index_en.htm ).

    Trata-se, agora, de uma iniciativa comunitria, da Comisso Europeia e no da EPO, como

    aconteceu com o EPLA.

    E no que respeita ao contedo? Existiro diferenas, considerando que as propostas de

    criao da patente comunitria sempre previram um tribunal nico?

    Tal como o moribundo EPLA, o UPLS prope a criao de uma estrutura judicial

    supranacional com as mesmas caractersticas daquele:

    1. Um sistema judicial nico, com regras processuais especficas, integrando juzes

    especializados;

    2. Jurisdio exclusiva em matrias de infraco ou validade de patentes europeias e, no

    futuro, de patentes comunitrias;

    3. Caso julgadouniversal, em todos os territrios onde a patente objecto da deciso esteja em

    vigor.

    Como se v, aparentemente as diferenas de regime no so de monta. Mas a proposta muito

    recente e far, como as outras, o seu caminho, com opositores declarados Espanha e os seus

    mais entusiastas apoiantes os pases escandinavos.

    E o deputado que o meu estimado leitor acabou de eleger - directamente ou por via da

    absteno -, estar minimamente ciente disto? E ter opinio? E o que far quando tiver que votar?

    6Resoluo de Maro de 2000, acerca da clonizaohumana.

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    7 - E se lhe cortassem a internet?

    Num outro exemplo expressivo, tambm relacionado com o Direito Intelectual e com a

    liberdade de acesso internet, os deputados europeus tiveram recentemente 6/5 p.p. - um papel

    crucial na defesa da Unio Europeia como um espao digno dos seus valores.

    Por sugesto da Frana, na sequncia da legislao nacional que preparara - lei Hadopi -, a

    qual consagrava o denominado modelo da resposta graduals violaes de direitos de propriedade

    intelectual7, a Comisso Europeia preparou a proposta de directiva relativa a um quadro

    regulamentar comum para as redes e servios de comunicaes electrnicas, tambm conhecido

    por Pacote Telecom - um conjunto de medidas legislativas referentes ao mercado europeu das

    telecomunicaes.

    Com essa proposta pretendia-se, entre vrias outras matrias, combater a partilha no

    autorizada de ficheiros contendo obras sujeitas a Direitos de Autor e Direitos Conexos, atravs da

    possibilidade de, mediante deciso administrativa, os ISPs (operadoras e fornecedores de acesso internet) procederem ao corte do acesso internet a um utilizador que apresentasse um

    comportamento considerado imprprio.

    Para isso importava determinar se, nos dias de hoje, o acesso internet deve ser considerado

    um direito fundamental e em consequncia protegido como tal, ou se, pelo contrrio, pode ser

    considerado um servio comercial idntico a tantos outros, em que os utilizadores, enquanto

    consumidores, tm a liberdade de escolher a proposta comercial que mais lhes agrade de entre

    aquelas que os operadores, de acordo com as regras da concorrncia, disponibilizam no mercado.

    Em consequncia, devem os ISPs garantir a uniformidade e neutralidade das redes e do seu

    servio, ou podero gerir os fluxos em funo dos clientes e da utilizao que eles faam da

    internet?

    Sobre a livre utilizao da internet, reconhecendo que o acesso a ela hoje um bem

    essencial, foi apresentada pela Comisso parlamentar responsvel (com a iniciativa do deputado

    Guy Bono), com o apoio do GUE/NGL, IND/DEM, dos Verdes/ALE e de vrios liberais, uma

    proposta de emenda quela (proposta de) directiva propondo a consagrao do princpio de que os

    utilizadores finais devem poder aceder a - e distribuir - quaisquer contedos e utilizar quaisquer

    aplicaes e/ou servios de sua eleio, em conformidade com as disposies relevantes da

    legislao comunitria e com o direito substantivo e o direito processual nacionais.

    Esta redaco destinou-se a substituir o texto original, que garantia apenas ... a capacidade

    dos utilizadores finais de acederem e distriburem informao e de utilizarem as aplicaes e os

    servios sua escolha.

    E quanto questo da possibilidade do corte de acesso internet, foi proposta uma clusula

    impondo o reconhecimento do princpio de que, na falta de deciso judicial prvia, no pode ser

    imposta qualquer restrio aos direitos e liberdades fundamentais dos utilizadores finais, previstos,

    designadamente, no artigo 11 da Carta dos Direitos Fundamentais da Unio Europeia, em

    matria de liberdade de expresso e de informao, salvo quando esteja em causa a segurana

    pblica, caso em que a deciso judicial pode ser ulterior.

    Contra esta proposta os socialistas do PSE (onde se inclui o PS portugus), os populares do

    PPE/DE (onde se incluem os nossos PSD e PP) e alguns liberais (do Grupo ALDE) apresentaram,

    7E que acabou por tambm ser rejeitada pelaAssemble Nationale.

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    em linha com a Comisso e com o Conselho, uma emenda subscrita que previa que As medidas

    tomadas relativas ao acesso a ou utilizao de servios e aplicaes atravs de redes de

    comunicaes electrnicas respeitaro os direitos e as liberdades fundamentais das pessoas

    singulares, inclusive no que diz respeito privacidade, liberdade de expresso e ao acesso

    informaoe ao direito a um julgamento pronunciado por um tribunal independente e imparcial,

    estabelecido por lei e agindo nos termos de um processo equitativo, em conformidade com o artigo6. da Conveno Europeia para a Proteco dos Direitos do Homem e das Liberdades

    Fundamentais.

    N.B. que nesta emenda era admitido o corte do acesso internet sem prvia deciso judicial,

    reconhecendo-se o direito a um julgamento equitativo a posteriori, i.e. depois de a internet ter sido

    cortada.

    Em suma, tal como em relao lei francesa, que inspirou a proposta de directiva, o debate

    acendeu-se em relao s condies em que um cidado pode ver o seu servio de acesso internet

    cortado pelo prestador do mesmo, ou por uma entidade administrativa, como punio por uso

    indevido, ou considerado como tal.

    Naturalmente, ao longo do processo negocial as presses das indstrias de contedos e de

    telecomunicaes, da Frana, da Comisso e do Conselho foram surgindo para que o PE se

    inclinasse no sentido da possibilidade de restrio de servio, em detrimento da garantia de

    prestao do mesmo como bem essencial.

    Contrariando o negociado entre Comisso, e os grupos parlamentares do PSE e do PPE, os

    deputados europeus votaram8favoravelmente o texto original da emenda 138 que coloca em causa o

    modelo da resposta gradual francesa i.e. a proposta de apenas permitir o corte de acesso internet

    mediante deciso judicial e no por autoridades administrativas ou da livre gesto de fluxos pelos

    ISPs.9

    O texto consagra expressamente que na falta de deciso judicial prvia, no pode ser

    imposta qualquer restrio aos direitos e liberdades fundamentais dos utilizadores finais, previstos,

    designadamente, no artigo 11 da Carta dos Direitos Fundamentais da Unio Europeia, em

    matria de liberdade de expresso e de informao, salvo quando esteja em causa a segurana

    pblica, caso em que a deciso judicial pode ser ulterior.

    O balano da votao da emenda 138 foi de 407 votos a favor, 57 contra e 171 abstenes.

    Sabe o meu estimado leitor que deputados Portugueses votaram num e noutro sentido?

    10

    Esabe que chegaram a existir clivagens dentro dos grupos parlamentares, com votos opostos entre

    8 Com algumas peripcias, j que tudo estava preparado para que a emenda dos pequenos grupos nem chegasse a servotada, para evitar os constrangimentos para os deputados dos grandes partidos que resultariam da acusao de, emvsperas de eleies, terem votado contra um direito fundamental dos utilizadores da internet. De facto, a lista de votopreparada pelos servios previa que se votasse em primeiro lugar a proposta resultante do compromisso do PSE com o

    PPE/DE e a Comisso, ficando a outra prejudicada pelo voto antecedente, o que acabou por no acontecer.

    9O facto de o PE ter votado uma alterao proposta da Comisso no significa que a mesma seja acolhida, podendoresultar apenas num adiamento na adopo do projecto proposto pela Comisso. Cabe agora ao Conselho aceitar ou no

    a proposta do PE, tendo em conta o significado poltico da votao. Se aquele no aceitar o projecto vai para

    conciliao. Sucede que, normalmente, os casos de a conciliao no produzem resultados

    10407 votos a favor:GUE/NGL: Ilda Figueiredo, Miguel Portas, Pedro Guerreiro

    PPE-DE: Ribeiro e CastroPSE: Ana Gomes, Armando Frana, Edite Estrela, Elisa Ferreira, Emanuel Jardim Fernandes, Francisco Assis, Jamila

  • 7/24/2019 Algumas Questo Es Europe i As

    10/10

    deputados do mesmo partido? Tem noo de que estas questes podero afectar ou alterar as nossas

    liberdades e o nosso dia-a-dia?

    Nesta, p.e., estaria e poder ainda vir a estar em causa no espao europeu o livre acesso

    internet como o conhecemos hoje.

    Lisboa, 5 de Junho de 2009

    Pedro Branco da CruzAdvogado Especialista em Direito de Propriedade IntelectualAgente Oficial de Propriedade IndustrialDocente [email protected]

    Madeira, Joel Hasse Ferreira, Manuel dos Santos, Paulo Casaca

    57 votos contra:PPE-DE: Assuno Esteves, Joo de Deus Pinheiro, Vasco Graa Moura171 abstenes:PPE-DE: Duarte Freitas, Lus Queir, Srgio Marques, Silva Peneda(segundo o blogue de Renato Soeiro, em http://renatosoeiro.blogspot.com/2009/05/os-votos-dos-eurodeputados-portugueses.html)