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Letícia Viola ALIENAÇÃO PARENTAL Centro Universitário Toledo Araçatuba - SP 2015

ALIENAÇÃO PARENTAL · RESUMO O trabalho abordará as principais características e consequências da Alienação Parental, tema pelo qual, embora já introduzido em nosso ordenamento

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Page 1: ALIENAÇÃO PARENTAL · RESUMO O trabalho abordará as principais características e consequências da Alienação Parental, tema pelo qual, embora já introduzido em nosso ordenamento

Letícia Viola

ALIENAÇÃO PARENTAL

Centro Universitário Toledo

Araçatuba - SP

2015

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Letícia Viola

ALIENAÇÃO PARENTAL

Monografia apresentada como requisito parcial para

obtenção do grau de bacharel em direito à Banca

Examinadora do Centro Universitário Toledo sob a

orientação do Professor Renato Alexandre da Silva

Freitas.

Centro Universitário Toledo

Araçatuba - SP

2015

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BANCA EXAMINADORA

_________________________________

Prof.

_________________________________

Prof.

_________________________________

Prof.

Araçatuba, ____ de ___________ de 2015.

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AGRADECIMENTO

Agradeço, na essência, a Deus por todos os aparatos fornecidos e pela virtude por ele

agraciada. O caminho até então traçado é marcado pela fé que o Senhor me deposita e que

regra, com a perfeição divina, os meus passos e os meus objetivos.

Agradeço, principalmente, a meus pais, os quais são dignos de todo meu esforço. Pai,

Mãe, vocês são a razão de todos os pressupostos que adquiri com a vida e os quais foram

proporcionados pelos senhores que, com toda humildade, são essenciais para minha vida

social e profissional.

Agradeço, ainda em tempo, aos meus familiares e aos meus amigos que me

acompanharam e me deram a força necessária para a conclusão do bacharelado.

Agradeço, também, a minha eterna e queria Avó, que alimenta minha esperança, meus

passos, minha essência e meu destino, que certamente está sendo trilhado e delineado pela

senhora e isso, me conforta e me deixa segura para continuar, continuar e continuar...

Por fim, agradeço ao meu orientador e professor Renato Alexandre da Silva Freitas

que, com maestria, exerce a função jurídica com toda especialidade e dedicação e que foi

essencial para a elaboração do trabalho em comento. O senhor, certamente, é o exemplo que

me espelharei no mundo jurídico e da justiça.

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RESUMO

O trabalho abordará as principais características e consequências da Alienação Parental, tema

pelo qual, embora já introduzido em nosso ordenamento jurídico pela Lei 12.318/2010, ainda

merece atenção. Neste sentido, de forma sucinta, serão também apresentadas possíveis

soluções para a preservação do vínculo parental entre filhos e pais separados que vivenciaram

ou ainda vivenciam a esta devastadora situação.

Palavras-Chave: Alienação Parental, características, consequências, soluções.

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ABSTRACT

The work will address the main characteristics and consequences of Parental Alienation,

theme by which, although already entered in our legal system by Law 12.318/2010, still

deserves attention. In this sense, in a nutshell, will be also presented possible solutions for the

preservation of parental bond between children and parents separated that experienced or still

experience this devastating situation.

Key Words: Parental Alienation, characteristics, consequences, solutions.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 05

I - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DE FAMÍLIA ..................................... 06 1.1 Influências do Direito Romano e Canônico nas famílias brasileiras ......................... 06

1.2 A família no Código Civil de 1916 ........................................................................... 08

1.3 A família com a promulgação da Constituição de 1988 ............................................ 09

1.4 Perspectivas para o Direito de Família ...................................................................... 10

1.5 Princípios do Direito de Família ................................................................................ 11

1.5.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ............................................................ 12

1.5.2 Princípio da Igualdade entre os cônjuges ............................................................... 13

1.5.3 Princípio do melhor interesse da criança e dos adolescentes ................................. 15

1.5.4 Princípio da Afetividade ......................................................................................... 19

1.5.5 Princípio da Paternidade responsável e do Planejamento Familiar ........................ 21

II - A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL .................................................... 24 2.1 Conceitos e aspectos introdutórios ............................................................................ 24

2.2 Diferença entre Síndrome da Alienação Parental e Alienação Parental .................... 27

2.3 Personagens da Alienação Parental ........................................................................... 28

2.4 Condutas do genitor alienador ................................................................................... 31

2.5 Consequências ........................................................................................................... 33

2.6 Tratamentos ............................................................................................................... 36

III - ASPECTOS RELEVANTES DA LEI DA ALIENAÇÃO PARENTAL ............ 39 3.1 Da definição e dos atos caracterizadores da Alienação Parental ............................... 39

3.2 Do procedimento ....................................................................................................... 41

3.3 Da prova..................................................................................................................... 42

3.4 Das medidas de proteção ........................................................................................... 43

3.5 Da competência ......................................................................................................... 44

IV - GUARDA COMPARTILHADA ............................................................................ 47 4.1 Historia da Guarda Compartilhada ............................................................................ 47

4.2 Guarda Compartilhada no Brasil ............................................................................... 48

4.3 Diferença entre Guarda Compartilhada e Guarda Alternada.....................................51

4.4 Aspectos positivos e negativos da Guarda Compartilhada........................................ 54

4.4.1 Vantagens da Guarda Compartilhada ...................................................................... 54

4.4.2 Desvantagens da Guarda Compartilhada ................................................................. 57

4.5 Casos práticos em que a Guarda Compartilhada fora fixada..................................... 58

CONCLUSÃO .................................................................................................................. 63

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 65

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INTRODUÇÃO

Abordaremos, neste trabalho, os aspectos relevantes quanto a introdução e a própria

Lei 12.318/2010. Para tanto, o primeiro capítulo tratará das transformações vivenciadas pelas

famílias brasileiras no decorrer da evolução histórica, elencando suas principais

características, a concepção que atualmente a figura da família vem tendo e expectativas

futuras. Neste mesmo capítulo serão traçado, ainda, os principais princípios que norteiam as

relações familiares.

No segundo capítulo trataremos da Alienação Parental, desertando a respeito do

conceito, dos personagens que a integram, os atos caracterizadores, as consequências, dos

tratamentos e medidas disponibilizadas pelo Poder Público, da analisa de casos simulares,

bem como a orientação jurisprudencial quanto ao tema.

No terceiro capítulo será destinado para a analise dos aspectos mais relevantes da Lei

12.318/2010, discorrendo, para tanto, sobre as condutas caracterizadoras da Alienação

Parental, do procedimento a ser adotado, da tramitação prioritária das demandas, da prova,

mais especificamente quanto a pericia feita por equipe multidisciplinar, das medidas

inibitórias, bem como em relação a competência para o julgamento de tais ações.

O quarto e ultimo capítulo tratará da guarda compartilhada, demonstrando os aspectos

históricos de sua introdução no ordenamento jurídico brasileiro, estabelecendo seu conceito,

distinguindo-a da guarda alternada, elencando suas vantagens e desvantagens, relacionando

casos e incluindo orientações jurisprudências a respeito do tema. Neste capítulo será

estabelecida que a fixação da guarda compartilhada mostra-se como uma das melhores

soluções para a minimização das consequências da Alienação Parental, mormente quanta esta

permitirá que os filhos de pais separados tenham contato com ambos os genitores, o que

permitirá, por conseguinte, a continuidade das relações parentais.

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I – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DE FAMÍLIA

É notório que Direito de Família, como um dos grandes ramos do Direito, ciência

dinâmico que é, também, foi suscetível de inúmeras mudanças no decorrer da evolução da

humanidade.

Ademais, o objeto do Direito de Família, ou seja, a própria família, as relações

interpessoais entre seus membros, não guarda relação alguma com algo estático, uniforme,

pelo contrário possuiu uma mutabilidade inexorável, apresentando-se por meio de inúmeras

estruturas familiares diferenciadas, que foram idealizadas com valores e expectativas de cada

momento histórico que se consagraram razão pela qual, não há como se falar em estabilidade

e muito menos homogeneidade entre as famílias.

Desta forma, é indiscutível a presença da família no surgimento de qualquer

sociedade, até mesmo quanto à origem do próprio Estado.

1.1 - Influências do Direito Romano e Canônico nas famílias brasileiras

No Brasil, em princípio, as estruturas familiares tiveram grande influência dos núcleos

familiares instituídos no Direto Romano, segundo qual a família era uma entidade organizada

e controlada mediante o pátrio poder, ou seja, naquela época, o pai/marido, como figura

masculina, é quem possuía o poder de mando, devendo os demais membros da família

sujeitar-se-á sua autoridade.

A família romana não era instituída por elos de afetos entre seus membros, embora

estes pudessem existir, mas sim, pela religião doméstica também denominada de culto

familiar, na qual os integrantes da família cultuavam os mesmos deuses e antepassados.

Sílvio de Salvo Venosa dispõe (2007, p. 4) “Por muito tempo na história, inclusive

durante a Idade Média, nas classes nobres, o casamento esteve longe de qualquer conotação

afetiva. A instituição do casamento sagrado era um dogma da religião doméstica”.

Neste contexto, é importante frisar que era o pai, detentor do pater poder, quem

realizava e organizava esses rituais; a mulher nem mesmo podia cultuar seus antepassados ou

os deuses que cultuava com seus genitores.

Sendo, assim, os princípios que vigoravam entre as famílias romanas era o do

autoritarismo e do matrimônio, não dando brecha alguma para a igualdade e autonomia de

direitos entre marido e mulher, ficando esta submetida aos caprichos do esposo, bem como

responsável somente pelos afazeres de casa e a criação da prole.

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Quanto aos filhos, também, havia tratamento diferenciado, os filhos homens gozam de

mais direitos de que as filhas mulheres, aqueles herdavam todos os bens deixado pelo pai,

enquanto a filha não possuía nem mesmo o direito de sucessão. Ademais, cabe ressaltar que

quando as filhas se casavam deveriam se deslocar para a família do marido, na medida em que

os filhos traziam suas esposas para o âmbito familiar já existente.

Embora tais preceitos não vigorem com tanta magnitude quantos em tempos atrás é

possível, ainda, perceber alguns de seus resquícios na legislação vigente, na medida em que o

Código Civil Brasileiro confere aos pais o pátrio poder em relação aos direitos inerentes a

seus filhos menores não emancipados.

Por outro lado, na era do Direito Canônico, época esta em que as diretrizes da

sociedade eram ditadas pela religião, a igreja tinha papel influenciador entre os desígnios da

família. O Direito brasileiro incorporou vários ideais daquele momento histórico, inclusive,

no que tange as invalidades do casamento.

A igreja pregava a perpetuação do casamento, afirmando que este só poderia ser

dissolvido pela morte, na medida em que esta união teria sido concebida por meio de benção

divina, ou seja, realizada por Deus, passando, assim, a combater tudo que eventualmente

poderia desagregar o casamento. Neste sentido havia o sacrifício dos entes familiares, a fim

de manter a união conjugal.

No mesmo sentido é a lição de Arnoldo Wald (2000, p. 13) “Na doutrina canônica, o

matrimônio é concebido como sacramento, reconhecendo-se a indissolubilidade do vínculo e

só se discutindo o problema do divórcio em relação aos infiéis, cujo casamento não se reveste

de caráter sagrado”.

O Direito Canônico, com forte influência do cristianismo, deu maior autoridade à

figura masculina do marido, deixando a mulher, mais uma vez, em estado de penumbra. Neste

sentido é a lição de Rodrigo da Cunha Pereira.

A influência ou autoridade da mulher era quase nula, ou diminuída de toda a forma:

não se justificava a mulher fora de casa. Ela estava destinada a inércia e a

ignorância. Tinha vontade, mas era impotente, portanto, privada de capacidade

jurídica. Consequentemente, na organização familiar, a chefia era indiscutivelmente

do marido. Este era também o chefe da religião doméstica e, como tal, gozava de um

poder absoluto, podendo inclusive vender o filho ou mesmo matá-lo (2003, p.61).

O direito canônico foi instituído com normas imperativas que tiveram fundamento na

vontade divina ou até mesmo sob os caprichos do monarca, pregavam a perpetuação do

casamento, possuindo este como principal objetivo a procriação.

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1.2 - A família no Código Civil de 1916.

Editado por Clóvis Bevilaqua, o Código Civil de 1916, o primeiro Código Civil

brasileiro, regulava a matéria de Família em três grandes temas: o casamento, relações de

parentesco e os direitos protetivos – tutela e curatela.

Inobstante ao grande passo que introduziu na legislação vigente a época, o Código

Civil de 1916 foi alvo de inúmeras críticas, haja vista ter se pautado em ideais e perspectivas

do século anterior a sua promulgação.

Tal condex rejeitou regras concretizadas pelo período colônia, no entanto manteve os

ideias nas tradições romanas e canônicas. Neste sentido o Código de 1916 fazia distinção

entre filhos legítimos, ilegítimos, adotados e os naturais, pregavam que o casamento seria

instituto indissolúvel, no entanto, reconhecia, mediante decisões judiciais, a convivência de

pessoas como marido e mulher sem terem se casados, situação esta que era denominada de

concubinato.

Segundo Carlos Roberto Gonçalves:

O Código Civil de 1916 e as leis posteriores, vigentes no século passado, regulavam

a família constituída unicamente pelo casamento, de modelo patriarcal e

hierarquizada, ao passo que o moderno enfoque pelo qual é identificada tem

indicado novos elementos que compõem as relações familiares, destacando-se os

vínculos afetivos que norteiam a sua formação (2005, p. 16).

No mesmo sentido são as lições de Gustavo Tepedino:

O Código Civil de 1916 é fruto de uma doutrina individualista e voluntarista que,

consagrada pelo Código de Napoleão e incorporada pelas codificações posteriores,

inspiraram o legislador brasileiro, quando na virada do século, redigiu o nosso

primeiro Código Civil (2004, p. 23).

Versão acompanhada também pelo Iminente Professor Sílvio de Salvo Venosa:

A mulher dedicava-se aos afazeres domésticos e a lei não lhe conferia os mesmos

direitos do homem. O marida era considerado o chefe, o administrador e o

representante da sociedade conjugal. Nosso Código Civil de 1916 foi fruto direito

dessa época. Os filhos submetiam-se à autoridade paterna, como futuros

continuadores da família, em uma situação muito próxima da família romana (2007,

p. 14).

Neste mesmo contexto, houve um grande passo em favor da mulher, a edição da Lei nº

4.121/64, a qual ficou conhecida como o Estatuto da Mulher Casada. Esse diploma conferiu a

mulher uma série de direitos, bem como estipulou, de certa forma, igualdade, ainda que

mínima. Mais a frente houve a edição da Lei do Divórcio n.º 6.515/77 que derrubou a ideia de

que o casamento era perpétuo e indissolúvel, como assim pregava o direito canônico.

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Referida Lei trouxe grandes avanços, a saber, faculdade de adoção do patrimônio do

marido, a possibilidade de o homem/ex-marido pleitear alimentos, bem como a alteração do

regime de comunhão universal bens para o regime de separação parcial de bens quando não

tivesse sido adotado qualquer regime.

1.3 - A Família com a promulgação da Constituição Federal de 1988.

A evolução significativa da família no Brasil se deu com a promulgação da

Constituição Federal de 1988, a qual por sua vez rechaçou inúmeros paradigmas, introduzindo

no país uma nova ideologia.

A Carta Magna sedimentada em valores sociais, pautada na igualdade, liberdade,

buscando a plenitude do princípio da dignidade humana deu a tão sonhada proteção especial

que o Direito de Família há muito tempo almejava.

A família passou então a receber a proteção constitucional e estatal, como por

exemplo, nos dizeres dos artigos 5º e 226 da Constituição Federal, os quais consagraram não

só a família constituída pelo casamento, mas toda e qualquer modalidade de família que tenha

como alicerce a afetividade entre seus membros, dando a estes direitos e obrigações iguais na

sociedade conjugal.

Houve, ainda, a imposição da igualdade entre os filhos (§ 6º do art. 227), rechaçando

qualquer discriminação em razão do sexo, bem como se advindos do casamento ou não,

assegurando-lhes direitos iguais.

Desta forma, as grandes mudanças trazidas pelo pós-modernismo, tais como a

globalização, novas crenças e culturas, a família mudou significativamente, deixaram de ser

entendidas como entidades patriarcais, hierarquizadas, comprometidas exclusivamente pelo

vínculo matrimonial, econômico e reprodutivo, passando a serem compreendidas sob uma

nova ótica.

Neste momento histórico em que vivemos, a família deve estar interligada por laços de

afetividade, amor, fraternidade, solidariedade, igualdade, confiança recíproca, ser uma

estrutura que propicie o real desenvolvimento da personalidade de seus membros, para que só

assim alcance o seu real objetivo, a tão sonhada felicidade.

Desta forma, é possível observar que a evolução se deu de tal maneira que rompeu

com vários paradoxos, introduzindo no ordenamento jurídico brasileiro, novos arranjos

familiares que em tempos remotos seriam inimagináveis, tais como as famílias monoparentais

– um dos genitores e prole e famílias homoparentais – companheiros do mesmo sexo.

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Em razão da constitucionalização do Código Civil e, por conseguinte o Direito de

Família, os princípios que norteiam as relações familiares devem estar completamente ligados

aos valores e ideologias consagradas na Carta Magna, a fim de que a interpretação de tais

normais familiares sejam irradiadas pelas garantias consagradas pela Lei Maior.

1.4 - Perspectivas para o Direito de Família

Atualmente o Direito de Família encontra-se disciplinado no Código Civil, a partir do

artigo 1.511 até o artigo 1.783, no Código de Processo Civil, na Constituição Federal, além

que estar respaldado em diversas leis esparsas, tais como a Lei da Alienação Parental – Lei nº

12.318/2010, Lei da Guarda- Lei nº 11.698/2008 e Lei dos Alimentos Gravídicos – Lei nº

11.804/2008.

No ano de 2007, o Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM idealizou o

Projeto de Lei nº 2285/2007, protocolizado no Congresso Nacional pelo Deputado Federal

Sérgio Barradas Carneiro, a qual tem como objetivo principal o enquadramento da legislação

brasileira de família com a real situação dos novos arranjos familiares.

Além da adequação legislativa, o Projeto de Lei referido acima, pretende

compartimentar toda legislação de Direito de Família em um mesmo condex, que ficaria

conhecido como “Estatuto das Famílias”.

O Projeto de Lei nº 2285/2007, foi recebido e apensado no Projeto de Lei nº 674/2007,

que faz referência à necessidade de alterações no dispositivo 226 da Constituição Federal,

bem como ao Projeto de Lei nº 6584/2013, a qual pretende a instituição de uma semana

nacional de valorização da família, sendo que do dia dezesseis de outubro do ano de 2013, até

a presente data, não teve qualquer andamento processual.

Com a eventual aprovação do “Estatuto das Famílias” as normas de direito material,

patrimonial, procedimental e processual, relativas às entidades familiares, ficariam reunidas

em um só instrumento.

Na redação do Projeto é possível verificar várias mudanças significativas, tais como a

inclusão das famílias monoparentais e pluriparentais, bem como o reconhecimento da união

homoafetiva como símbolo de unidade familiar.

Desta forma, verificamos que o Direito de Família é um dos ramos do direito que mais

sofre alterações em decorrência do tempo, adequando-se as necessitas do dia-a-dia da família

brasileira.

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1.5 - Princípios do Direito de Família

Ante a constitucionalização das normas de direito de família, na qual possibilitou

maior intervenção estatal, bem como maiores garantias de efetividade de tais instrumentos, os

princípios tornam-se importantíssimos meios de interpretação nas relações particulares, dentre

elas aquelas que se consolidam dentro do próprio seio familiar, funcionando, assim, como

verdadeiros pilares no ordenamento jurídico, razão pela qual sua aplicação é de inexorável

magnitude.

Antes de analisar cada um dos princípios de forma individualizada é necessária sua

definição, tema este tratado com excelência pelo ilustre Robert Alexy, que afirma o seguinte:

O ponto decisivo na distinção entre regras e princípios é que princípios são normas

que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível dentro das

possibilidades jurídicas e fáticas existentes. Princípios são, por conseguinte,

mandamentos de otimização, que são caracterizados por poderem ser satisfeitos em

graus variados e pelo fato de que a medida devida de sua satisfação não depende

somente das possibilidades fáticas, mas também das possibilidades jurídicas. O

âmbito das possibilidades jurídicas é determinado pelos princípios e regras

colidentes. Disponível em: www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10552

(Acesso: 09.08.2015)

Para Maria Berenice Dias a distinção entre princípios e regras é:

Os princípios são normas jurídicas que se distinguem das regras não só porque têm

alto grau de generalidade, mas também por serem mandatos de otimização. Possuem

um colorido axiológico mais acentuado do que as regras, desvelando mais

nitidamente os valores jurídicos e políticos que condensam. Devem ter conteúdo de

validade universal. Consagram valores generalizantes e servem para balizar todas as

regras, as quais não podem afrontar as diretrizes contidas nos princípios. (2015, p.

40)

Agora já podemos começar a destrinchar os princípios que norteiam o Direito de

Família, há autores que distinguem os princípios em dois grupos: os princípios gerais

aplicáveis ao Direito de Família, compreendendo os princípios da dignidade da pessoa

humana, princípio da igualdade e princípio da vedação do retrocesso e os princípios espécies

suscetíveis de aplicação nas relações familiares, consubstanciado nos princípios da

afetividade, princípio da solidariedade familiar, princípio da função social da família,

princípio da proteção à criança e adolescente, princípio da convivência familiar, princípio da

intervenção mínima do Estado e o princípio da proteção ao Idoso.

Embora exista um vasto campo de princípios, daremos ênfase aos que mais se

destacam nas relações jurídicas familiares.

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1.5.1 - Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana constitui o elemento primordial da

comunidade familiar, a fim de viabilizar o pleno desenvolvimento e a realização de todos seus

membros, estando devidamente estampando no artigo 1°, inciso III, da Constituição Federal.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos

Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de

Direito e tem como fundamentos:

(...)

III - a dignidade da pessoa humana;

A renomada autora Maria Helena Diniz (2010, p. 23) afirma o seguinte a respeito do

referido princípio: “(...) que constitui base da comunidade familiar (biológica e socioafetiva),

garantindo, tendo, tendo por parâmetro a afetividade, o pleno desenvolvimento e a realização

de todos os seus membros, principalmente da criança e do adolescente.”

Os autores Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho definem este princípio

como sendo:

Princípio solar em nosso ordenamento, a sua definição é missão das mais árduas,

muito embora arrisquemo-nos a dizer que a noção jurídica de dignidade traduz um

valor fundamental de respeito à existência humana, segundo as suas possibilidades e

expectativas, patrimoniais e afetivas, indispensáveis à sua realização pessoal e à

busca da felicidade (2014, p. 157).

O renomado autor Flavio Tartuce dispõe seguinte sobre o princípio em comento:

Ora, não há ramo Direito Privado em que a dignidade da pessoa humana tem maior

ingerência ou atuação do que o Direito de Família. Por certo que é difícil a

concretização exata do que seja o principio da dignidade da pessoa humana, por

tratar-se de clausula geral, de um conceito legal indeterminado, com variantes de

interpretação (2014, p.45)

Este princípio teve grande repercussão no caso dos “arremessos de anões” na França,

segundo o qual, na década de 1990 um determinado estabelecimento de diversão possuía

como uma das formas de entretenimento o arremesso de anões. A prefeitura da cidade quando

teve conhecimento a respeito dos fatos embargou tal prática, sustentando que a conduta

violaria a Declaração Europeia de Direitos Humanos, entretanto, o Tribunal de Versalhes

rechaçou os embargos, sendo mais a frente reformada a decisão pelo Conselho de Estado da

França, que definitivamente proibiu a conduta, sustentando que a dignidade de um homem

não interessa só ele, mas a toda comunidade.

Deve, ainda, ser ressaltado que o princípio em comento estabelece uma

despatrimoniaização, ou seja, deixa de dar valor aos bens matérias e patrimônios envolvidos

nas lides, para valorizar a pessoa humana, evento este que vem sendo denominado de

Personificação do Direito Privado.

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Neste sentido, a renomada autora Maria Berenice Dias:

Na medida em que a ordem constitucional elevou a dignidade da pessoa humana a

fundamento da ordem jurídica, houve uma opção expressa pela pessoa, ligando

todos os institutos à realização de sua personalidade. Tal fenômeno provocou a

despatrimonialização e a personalização dos institutos jurídicos, de modo a colocar a

pessoa humana no centro protetor do direito (2015, p. 44).

Desta forma, a aplicação desse princípio no âmbito familiar se faz necessária,

mormente quando ele só será pleno e efetivo se alcançar os vários ramos do direto e

principalmente o direito de família, no qual a pessoa humana é uma das bases estruturadoras.

1.5.2 - Princípio da Igualdade entre os cônjuges

É sabido por todos que o sexo sempre foi fator de grande discriminação na sociedade

antiga e, que embora a Carta Magna de 1988 tenha dado um enorme passo no tocante a

igualdade de deveres e diretos entre homens e mulheres, por exemplo, a mitigação da culpa no

momento da separação, ainda há no Brasil, onde as garantias e direitos quase nunca saem do

papel, fortes indícios de que a segregação ainda permanece.

É neste sentido que devemos nos preocupar, mormente quando a igualdade deve ser

alcançada de modo pleno, não bastante, para tanto, que a constituição brasileira a insira

expressamente em seu texto e irradie comandos normativos aos demais diplomas. A igualdade

entre cônjuges tem que sair do papel e se materializar nas casas de todas as famílias, devendo

ser respeitada não só pelo fato de ser tida como direito fundamental assegurados a todos, mas

pelo fato de ser um dos principais pilares de um Estado democrático.

A respeito do tema Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvaldo relatam, in verbis;

A reclamação pela isonomia substancial plena entre homem e mulher é

contemporânea, resultando dos inúmeros avanços sociais e culturais. Deixando de

estar submetida ao jugo masculino, a mulher reclama direitos e proteção igualitárias,

pondo fim a qualquer tipo de discriminação. É a superação definitiva do caráter

patriarcal do Direito das Famílias (2013, p.118).

Neste sentido, Flavio Tartuce (2014, p. 76) “Na verdade, no tocante ao princípio da

igualdade entre homem e mulher, a grande dificuldade reside em saber até que ponto vai essa

igualdade no plano fático e concreto”.

Desta forma, é assegurado no artigo 1.565 do Código Civil e no artigo 226, § 7º da

Constituição Federal, a igualdade entre os cônjuges no planejamento familiar, cabendo só a

eles tomarem as decisões no âmbito familiar, as quais devem pautarem-se sempre no bom

senso e na livre manifestação de ambos, buscando, assim, viabilizarem os grandes objetivos

da família, a felicidade e o afeto entre seus membros.

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Neste sentido, Maria Helena Diniz:

Com este princípio desaparece o poder marital, e a autocracia do chefe de família é

substituída por um sistema em que as decisões devem ser tomadas de comum acordo

entre conviventes ou entre marido e mulher, pois os tempos atuais requerem que a

mulher e o marido tenham os mesmo direitos e deveres referentes à sociedade

convivencial ou conjugal (...) O patriarcalismo não mais se coaduna com a época

atual, nem atende aos anseios do povo brasileiro; por isso, juridicamente, o poder do

marido é substituído pela autoridade conjunta e indivisa, não mais se justificando a

submissão legal da mulher. Há uma equivalência de papeis, de modo que a

responsabilidade pela família passa a ser dividida igualmente entre o casal (2010,

p.20).

É claro que referida liberdade é limitada, tendo em vista que em determinadas ocasiões

o Estado deverá se fazer presente, como por exemplo, na obrigação que este detém de

disponibilizar à todos recursos suficientes para a educação e saúde, o que não vem

acontecendo faticamente.

A Constituição Federal consagra o princípio da igualdade entre os cônjuges em

diversos artigos, dentre os mais famosos se destaca o artigo 5º, inciso I e o artigo 226, § 5º.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos

seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta

Constituição;

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente

pelo homem e pela mulher.

Por outro lado, com a constitucionalização das normas de direito de Família, o Código

de Direito Civil também passou a consagrar o princípio da igualdade entre os cônjuges, como

assim prevê seu artigo 1.511 “O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na

igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”. A respeito do tema Maria Berenice Dias:

Atendendo à ordem constitucional, o Código Civil consagra o princípio da igualdade

no âmbito do direito das famílias, que não deve ser pautada pela pura e simples

igualdade entre iguais, mas pela solidariedade entre seus membros. A organização e

a própria direção da família repousam no princípio da igualdade de direitos e

deveres dos cônjuges (CC 1. 5 1 1 ) , tanto que compete a ambos a direção da

sociedade conjugal em mútua colaboração ( C C 1 . 567) . São estabelecidos deveres

recíprocos e atribuídos igualitariamente tanto ao marido quanto à mulher (CC 1 .

566) (2015, p. 47).

Deve ser ressaltado que o princípio da igualdade entre os cônjuges alcançam também

os indivíduos que vivem em união estável, a qual em razão de suas características e

peculiaridades também foi reconhecida pela Carta Magna como unidade familiar, sendo a ela

resguardado todos os direitos e obrigações que foram conferidos a sociedade conjugal

consagrada pelo casamento civil, conforme, assim, prevê o artigo 226, § 3º, bem como pelos

artigos 1.723 a 1.727 do Código Civil.

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15

Flávio Tartuce discorre a respeito de alguns exemplos da aplicabilidade do princípio

em comente:

Diante do reconhecimento desse igualdade, como exemplo pratico, o marido ou

companheiro pode pleitear alimentos da mulher ou companheira, ou mesmo vice-

versa. Além disso, um pode utilizar o nome do outro livremente, conforme

convenção das partes (art. 1.656, § 1º, do CC).

No que concerne aos alimentos, reconhecendo esta igualdade, há julgados anteriores

do Tribunal de Justiça de São Paulo apontando que a mulher apta a trabalhar não

terá direito a alimentos em relação ao ex-cônjuge. Em alguns casos, a jurisprudência

paulista entende que haverá direito à pensão somente por tempo razoável para sua

recolocação no mercado de trabalho. (2014, pgs. 69-70)

Destarte, o princípio da igualdade entre os cônjuges é de fundamental importância no

ambiente familiar, mormente quando proporciona a ambos os genitores a possiblidade de

exercerem com equivalência as diretrizes no núcleo familiar.

1.5.3 - Princípio do melhor interesse da criança e do adolescente

Antes de analisar as peculiaridades desse princípio é importante ser observado que ele

também poderá receber a nomenclatura de princípio da proteção integral da criança e do

adolescente. Ademais, deve ser consignado, ainda, que referido pilar também será usado

como instrumento na proteção das pessoas idosas, assegurando a estas os mesmos direitos.

O princípio do melhor interesse da criança e do adolescente é aquele que confere as

crianças, assim, compreendidas aquelas que possuem até 12 (doze) anos de idade e, aos

adolescentes, os quais compreende a faixa etária dos 12 (doze) anos completos até os 18

(dezoito) anos, uma maior proteção em razão da situação de vulnerabilidade e imaturidade

que referidos indivíduos possuem quando ainda encontram-se em fase de desenvolvimento.

Maria Helena Diniz (2010, pgs. 23-24), sustenta que o princípio em comento permite o

pleno desenvolvimento da personalidade da criança e do adolescente e é instrumento de

solução de conflitos advindos da separação ou divórcio dos genitores, bem como aqueles que

envolvam a guarda e o direito de visita.

Para tanto, o legislador no artigo 227 da Constituição Federal quis oferecer proteção

total e absoluta ao infanto-adolescência, mormente quando inseriu uma série de condutas com

o objetivo de melhor garantir a eficácia dos diversos direitos e garantias ali explanadas.

Dentre os tais direitos consagrou-se: a educação, a saúde, a alimentação, o lazer, a cultura, o

respeito, a liberdade, a profissionalização, a dignidade e a conivência família. Direitos estes

que devem ser promovidos pela família, sociedade e Estado, havendo, assim, a existência de

uma responsabilidade solidária.

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É importante destacar que o legislador descreveu de forma minuciosa, até mesmo

conceituando, algumas dos direitos assegurados no artigo 227 da Carta Magna no Estatuto da

Criança e do Adolescente, estando eles expressamente previstos nos artigo 16, 17 e 18 e

correspondem ao direito à liberdade, ao respeito e à dignidade da pessoa humana,

respectivamente.

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:

I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as

restrições legais;

II - opinião e expressão;

III - crença e culto religioso;

IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;

V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;

VI - participar da vida política, na forma da lei;

VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.

Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física,

psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem,

da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos

pessoais.

Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os

a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou

constrangedor.

Com isso o legislador não deixou existir margem para futuras controversas a respeito

do que compreenderia cada um desses direitos, introduzindo de forma expressa a definição de

cada de cada um deles, assegurando sua auto-aplicabilidade e facilitando a tarefa de

interpretação do interprete.

Igualmente, observamos que o princípio ora em comente é consagrado no artigo 3º

Convenção Internacional dos Direitos da Criança, in verbis:

Art. 3- Os Estados Partes certificar-se-ão de que as instituições, os serviços e os

estabelecimentos encarregados do cuidado ou da proteção das crianças cumpram os

padrões estabelecidos pelas autoridades competentes, especialmente no que diz

respeito à segurança e à saúde das crianças, ao número e à competência de seu

pessoal e à existência de supervisão adequada.

Desta forma, verificamos que o princípio em tela deve ser usado como norte pelos

julgadores no momento de decidirem conflitos que envolvem interesses de crianças e

adolescentes, mormente quando em razão da pouca maturidade e consequentemente especial

vulnerabilidade, não possuem, ainda, o necessário discernimento para distinguir o que é certo

e o que e errado, levando muitas das vezes a serem enganados, manipulados, expostos a

situações que nem sempre compreendem.

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17

Quanto à implementação desses direitos Maria Berenice dispõe:

A forma de implementação de todo esse leque de direitos e garantias, que devem ser

assegurados pela família, pela sociedade e pelo Estado, está no ECA (L8. 069/1

990), microssistema que traz normas de conteúdo material e processual, de natureza

civil e penal, e abriga toda a legislação que reconhece os menores como sujeitos de

direito. O Estatuto rege-se pelos princípios do melhor interesse, paternidade

responsável e proteção integral, visando a conduzir o menor à maioridade de forma

responsável, constituindo-se como sujeito da própria vida, para que possa gozar de

forma plena dos seus direitos fundamentais (2015, p. 50).

A Lei nº 11.698, de 13 de Junho de 2008 alterou significativamente os artigos 1.583 e

1.584 do Código Civil, e com esta alteração houve o reconhecimento implícito do princípio

em tela. A referida alteração dispõe que em caso de dissolução da sociedade conjugal a

eventual culpa de algum dos cônjuges não será critério utilizado para a estipulação da guarda,

mormente quando deverá ser aplicado o princípio do menor interesse da criança e do

adolescente.

A aplicabilidade do princípio do melhor interesse da criança e do adolescente é

reconhecido perante as decisões proferidas pelos Tribunais:

Ementa: Agravo de instrumento. Cumprimento de sentença. Levantamento de

expressiva quantia autorizado na origem que excede a administração ordinária dos

bens da filha menor pelos pais. Princípio do melhor interesse da criança e do

adolescente. Movimentação dos valores depositados que exige prévia autorização

judicial, uma vez comprovada a necessidade da menor, com posterior prestação de

contas. Necessidades ordinárias já supridas pela pensão mensal depositada em conta

indicada pelos pais. Determinação de levantamento dos valores depositados, porém,

que se mantém com relação ao importe dos honorários advocatícios. Decisão

reformada. Recurso provido. (TJ-SP Agravo de Instrumento / Indenização por Dano

Material nº 2232217-93.2014.8.26.0000 - Relator: Claudio Godoy - 1ª Câmara de

Direito Privado – São Paulo - Data do julgamento: 28/04/2015); Disponível em:

<http://tj-sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/184865540/agravo-de-instrumento-ai-

22322179320148260000-sp-2232217-9320148260000 > Acesso em: 03.04.2015.

Vejamos ainda:

Ementa: AÇÃO DE REGULAMENTAÇÃO DE VISITA Pretensão do genitor em

face da genitora da criança Sentença de procedência em parte Irresignação da ré

Cabimento em parte Inequívoca animosidade entre as partes Recomendável

regulamentar também o horário de visitas no aniversário da menor Fixação da

retirada ao meio-dia e devolução às 16h que atende ao interesse de ambas as partes e

ao da filha Mantida a divisão do período de férias entre os pais Princípio do melhor

interesse da criança e do adolescente Recurso provido em parte. ( TJ-SP Apelação /

Regulamentação de Visitas nº 0003149-77.2012.8.26.0165 - Relator: Walter Barone

- 7ª Câmara de Direito Privado – Comarca Dois Córregos - Data do julgamento:

09/04/2015);

Disponível em: <http://tj-sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/180969079/apelacao-

apl-31497720128260165-sp-0003149-7720128260165/inteiro-teor-180969090>

Acesso em: 03.04.2015.

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18

Nesse sentido, foi o entendimento do Tribunal de Justiça de São Paulo:

Ementa: Separação judicial litigiosa, cumulada com alimentos, promovida pelo

cônjuge varão. Sentença de procedência em parte da ação e da reconvenção. Apelo

da cônjuge virago. Cerceamento de defesa - inocorrência. Não aproveitamento de

oportunidade para declinar a pertinência das provas requeridas. No mérito, não

provimento. Mantido decreto de separação judicial, fundado na insustentabilidade e

ruptura da vida em comum aliada ao decurso temporal do prazo de afastamento,

desprovido de atribuição de culpa às partes. Inconformismo da ré limitativo à

difusão de versões sobre o comportamento do requerente, sem comprovação. Guarda

de filha comum. A despeito do teor de dispositivo da Lei do Divórcio (art. 10, § Io),

sobrelevam os princípios de igualdade entre homem e mulher, sobretudo quanto ao

estabelecimento de entidade familiar, e a proteção do melhor interesse à criança,

sustentado à tutela constitucional e especial (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Pedido cumulado de arbitramento de alimentos à filha. Admissibilidade. Ausência

de impugnação específica quanto ao valor fixado. Partilha de bens. Não

demonstração da existência de certos bens (fundo de comércio e motocicleta) e da

propriedade exclusiva de bem automóvel. Presunção de esforço comum no

amealhamento do patrimônio da sociedade conjugai, regida pela comunhão parcial,

não elidida. Recurso desprovido. Apelo do cônjuge varão. Repartição de bem

automóvel em proporção igualitária, sem descontos oriundos de alienação de antigo

veículo partilhado. Posse do bem a ser conservada com a ré até a divisão. Recurso

provido em parte. (TJ-SP Apelação / Dissolução nº 0272319-70.2009.8.26.0000 -

Relator: Piva Rodrigues - 9ª Câmara de Direito Privado – Mauá - Data do

julgamento: 10/08/2010). Disponível em:

https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=4763066&cdForo=0&vlCaptc

ha=pvikh Acesso em: 03.04.2015.

Por outro lado, o princípio do melhor interesse da criança e adolescente abrange

também os idosos, assim, intitulados aqueles que detêm mais de 60 (sessenta) anos de idade e

que em razão das condições debilitadas de saúde necessitam de uma maior proteção.

O direito a saúde é o ponto crucial no tocante aos diretos que são assegurados aos

idosos, mormente quando é por meio desse que os demais direitos se materializarão, tendo em

vista que o direito à saúde é de ordem essencial e em razão das dificuldades biológicas que

acometem esta faixa etária deve ter sua implementação de forma efetiva e eficaz.

A dignidade humana do idoso só será atingida quando houver concessão prioritária do

direito à saúde e, por conseguinte a possiblidade de atribuir aos idosos uma melhor qualidade

de vida, desfrutando dessa fase com maior comodidade e bem-estar.

O legislado também quis dar uma maior proteção as pessoas que encontram-se nesta

faixa etária, criando para tanto, um microssistema que consagra uma série de prerrogativas e

direitos, o qual ficou intitulado como Estatuto do Idoso (Lei nº 10. 741 de 2003). As normas

inseridas na Lei nº 10.741/2003 definem direitos e garantias fundamentais, razão pela qual

terão aplicabilidade imediata, nos termos do artigo 5º, §1º, da Constituição Federal.

No artigo 3º da referida lei elenca os direitos que devem ser assegurados com

“absoluta prioridade”, são eles: à vida, á alimentação, á educação, à cultura, ao esporte, ao

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lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, á dignidade, ao respeito e a convivência familiar e

comunitária.

Quanto à prioridade o legislador fez questão de elencar algumas medidas no parágrafo

único do artigo 3º, in verbis:

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e

privados prestadores de serviços à população;

II – preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas

específicas;

III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a

proteção ao idoso;

IV – viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do

idoso com as demais gerações;

V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do

atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de

manutenção da própria sobrevivência;

VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e

gerontologia e na prestação de serviços aos idosos;

VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações

de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento;

VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais.

IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda.

Desta forma, verificamos que o princípio em questão é importantíssimo para Direito

de Família, mormente quando ressalta no princípio da igualdade, ou seja, tratar os iguais de

forma igual e os desiguais de forma desigual de acordo com sua desigualdade. Neste sentido,

as crianças, adolescentes e idosos, em razão das peculiares características que lhes acometem

nesta fase da vida, merecem especial proteção do Estado, da família e da sociedade.

1.5.4 - Princípio da Afetividade

Com a constitucionalização do Direito de Família, o conceito de dessa unidade

modificou-se plenamente, não podendo mais ser apenas compreendida como aquela instituída

pelo casamento ou pela união estável.

As famílias agora podem ser compostas de várias formas, ou seja, podem ser formar

por vários arranjos, tais como a família matrimonial, família informal, família homoafetiva,

família monoparental, família parental, família pluriparental, família paralela, família

eudemonista.

Embora existam uma diversidade enorme de modelos de família, cada qual com suas

respectivas peculiaridades, há um ponto em comum entre todas elas, o afeto. O afeto é o

elemento estruturador de toda e qualquer família, o qual agrega todos os membros de uma

unidade familiar que para juntos possam alcançar a tão almejada felicidade. Desta forma,

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20

podemos concluir que o afeto é elemento indispensável à caracterização da família, sem o

qual a família deixa de existir.

A respeito do tema, Anthony Oliveira de Pontes dispõe:

O núcleo família no decorrer das gerações nos mostra uma força voltada para os

sentimentos e afeições de cada membro da família, que sempre valorizam as afetivas

funções que assim a caracterizam. Surgindo várias formas de famílias sendo assim

de uma ótica mais igualitária no que se aborda sobre sexo e a idade, mostrando-se

mais maleável em seus tempos e em seus membros, deixando um ar de liberdade,

contendo consequentemente certa intolerância para regras e mais voltada para os

desejos. Com isso no que se refere à família e matrimonio podemos ressaltar que

surgiram novas formas suscetíveis apenas pela forma que tem por base os proveitos

afetivos e próprios do seu corpo. A irmandade do afeto contrasta com o modelo

antigo, que era envolvido na parte matrimonial da família. Em decorrência disso, a

afetividade no meio jurídico entrou em pauta, tentando formalizar as relações

familiares da sociedade atual.

(Disponível em: <http://www.arcos.org.br/artigos/principio-da-afetividade/> -

Acesso em 12.08.2015)

É importante notarmos que o princípio da afetividade não encontra-se de forma

expressa no texto constitucional ou em outro diploma, no entanto, tal fato não impede de ser

reconhecido como princípio fundamental.

A respeito do tema, o renomado professor Rodrigo Cunha Pereira discorre:

Embora o princípio da afetividade não esteja expresso na CFB, ele se apresenta

como um princípio não expresso, [...]; nela estão seus fundamentos essenciais, quais

sejam: o princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), da solidariedade (art.

3º, I), da igualdade entre os filhos, independentemente de sua origem (art. 227, § 6º),

a adoção como escolha afetiva (art. 227, § 5º e 6º), a proteção à família

monoparental, tanto fundada nos laços de sangue quanto por adoção (art. 226, § 4º),

a união estável (art. 226, § 3º), a convivência familiar assegurada à criança e ao

adolescente, independentemente da origem biológica (art. 227), além do citado art.

226, § 8º. Como se vê, a presença explícita do afeto em cada núcleo familiar, que

antes era presumida, permeou a construção e se presentifica em vários dispositivos

constitucionais e infraconstitucionais (2011, p.195).

Flávio Tartuce afirma:

Desta forma, apesar de falta de sua previsão expressa na legislação, percebe-se que a

sensibilidade dos juristas é capaz de demonstrar que a afetividade é um princípio do

nosso sistema. Como é cediço, os princípios jurídicos são concebidos como

abstrações realizadas pelos intérpretes, a partir das normas, dos costumes, da

doutrina, da jurisprudência e de aspectos políticos, econômicos e sociais(2014, p.

94).

Desta forma, embora o princípio da afetividade não esteja expressamente condito nos

textos positivados, é tido como valor que deve embasar toda e qualquer unidade familiar. A

família é o início de todo ser humano, é no seio familiar que os sujeitos, ainda em fase de

crescimento, tirarão suas primeiras experiências e terão como parâmetros os membros da

família, ou seja, estes serão exemplos a serem seguidos pelas crianças e adolescentes ainda

em desenvolvimento.

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Neste sentido, o afeto é o sentimento de deve reinar em todas lares. Ademais, este

sentimento deve ser perpetuado até em situações que envolvam o divorcio dos genitores e a

estipulação de guarda e visitas, mormente quando é nessas ocasiões que a família encontram-

se mais fragilizadas, sendo as crianças e os adolescentes, os membros mais vulneráveis as

modificações que referidas situações podem acarretar.

1.5.5 - Princípio da Paternidade responsável e do Planejamento Familiar

O princípio da paternidade responsável encontra-se guarita na Constituição Federal em

seu artigo 227, § 7º, no entanto, também encontra respaldo em outros diplomas, a saber, no

Estatuto da Criança e do Adolescente (artigo 3º, 4º e 27) e no Código Civil (artigo 1.566,

inciso IV).

O princípio da paternidade responsável baseia-se na ideia de que os pais devem ser

responsáveis a assegurar as crianças e adolescentes os direitos e garantias fundamentais

abrangidos pela Carta Magna, ou seja, assegurar o mínimo para subsistência daqueles, não

deixando tal responsabilidade apenas há cargo da sociedade e do Estado. Os pais, na

qualidade de genitores ou pais adotivos, devem utilizar de todas as maneiras possíveis para

garantir aos filhos um desenvolvimento regular e saudável, direcionando a personalidade das

crianças por meio de princípios de ordem moral e ética.

Um exemplo interessante da aplicação do princípio da paternidade responsável é a

irrevogabilidade do reconhecimento de filhos, conforme assim dispõe o artigo 29 da Lei nº

8.560/92. Nesse sentido o reconhecimento de filho é perpetuo não sujeito a alteração, até

mesmo porque não existiria sentido o legislador elencar diversas garantias as crianças e

adolescentes e possibilitar que estas venham a frustrarem-se emocionalmente em razão do

abandono de um dos supostos genitores.

O princípio da paternidade responsável encontra-se interligado com o princípio do

planejamento familiar, segundo o qual o legislador busca evitar a construção de unidades

familiares sem as devidas condições de amparo e formas de sustento. No entanto, não é o que

estamos vendo no cenário brasileiro, mormente quando a população, por desleixo e em até

muitos casos ignorância, deixa de tomar as medidas cabíveis e necessárias para a edificação

de uma estrutura familiar prospera, sedimentada em condições mínimas de subsistência.

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A dificuldade do brasileiro esbarra em diversos paradigmas, como exemplo a pobreza,

a falta de informação, ausência de afeto entre os membros da família, ausência de politicas

públicas de conscientização, bem como pela inexperiência de vida.

A respeito do tema, Cardin (2010), apresentou as barreiras que influência a sociedade

brasileira:

Segundo estatísticas, estima-se que 6 milhões de brasileiros não têm, sequer, registro

de nascimento; 27 milhões de crianças brasileiras estão vivendo na miséria; em 95%

das cidades do semiárido a taxa de mortalidade infantil supera a média nacional, que

é de 33 mortes para cada mil crianças nascidas vivas, antes de completarem um ano

de idade; nessa mesma região, 46% das crianças são analfabetas e 42% não têm

acesso à água potável; de 80 a 100 mil crianças estão em abrigos à espera de adoção.

Segundo o Ministério da Educação, 1 milhão e 800 mil jovens entre 15 e 17 anos

estão fora da escola, e o dado mais alarmante: em relação ao total de nascimentos

registrado no norte do país, entre 2003 e 2006, 1,47% é de mães menores de 14

anos.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), anualmente, no mundo todo, 14 a

15 milhões de adolescentes com idade compreendida entre 15 e 19 anos tornam-se

mães prematuramente. Destas, cerca de 30% realizam abortamento. Esses

nascimentos correspondem a 10% de todos os nascimentos mundiais.

Em âmbito mundial, mais de 1/3 das gravidezes não são planejadas. Todos os anos

quase 1/4 das mulheres grávidas decide fazer aborto. Pesquisa realizada no Hospital

Pérola Byington, em São Paulo, referência no tratamento de mulheres vítimas de

violência sexual, mostra que 43% dos atendimentos diários se referem a meninas

com menos de 12 anos que engravidaram depois de estupro. O Brasil é recordista

em abortos clandestinos, sendo estimado em 1 milhão o número de abortos por ano e

cerca de 17% das mulheres brasileiras com idade entre 18 e 24 anos encerraram sua

primeira gravidez em clínicas clandestinas.

(Disponível em:<https://pesquisandojuridicamente.wordpress.com/2010/09/12/do-

planejamento-familiar-da-paternidade-responsavel-e-das-politicas-

publicas/#sdfootnote32sym> Acesso: 27 de maio de 2015)

Ainda em relação às barreiras vivenciados pelos brasileiros, a Unicef traz informações

interessantes:

O Brasil possui uma população de 190 milhões de pessoas, dos quais 60 milhões

têm menos de 18 anos de idade, o que equivale a quase um terço de toda a

população de crianças e adolescentes da América Latina e do Caribe. São dezenas de

milhões de pessoas que possuem direitos e deveres e necessitam de condições para

se desenvolverem com plenitude todo o seu potencial.(...)

Com 98% das crianças de 7 a 14 anos na escola, o Brasil ainda tem 535 mil crianças

nessa idade fora da escola, das quais 330 mil são negras. Nas regiões mais pobres,

como o Norte e o Nordeste, somente 40% das crianças terminam a educação

fundamental. Nas regiões mais desenvolvidas, como o Sul e o Sudeste, essa

proporção é de 70%. Esse quadro ameaça o cumprimento pelo País do ODM 2 – que

diz respeito à conclusão de ciclo no ensino fundamental.

O Brasil tem 21 milhões de adolescentes com idade entre 12 e 17 anos. De cada 100

estudantes que entram no ensino fundamental, apenas 59 terminam a 8ª série e

apenas 40, o ensino médio. A evasão escolar e a falta às aulas ocorrem por diferentes

razões, incluindo violência e gravidez na adolescência. O país registra anualmente o

nascimento de 300 mil crianças que são filhos e filhas de mães adolescentes.(...)

As crianças e os adolescentes são especialmente afetados pela violência. Mesmo

com os esforços do governo brasileiro e da sociedade em geral para enfrentar o

problema, as estatísticas ainda apontam um cenário desolador em relação à violência

contra crianças e adolescentes. A cada dia, 129 casos de violência psicológica e

física, incluindo a sexual, e negligência contra crianças e adolescentes são

reportados, em média, ao Disque Denúncia 100. Isso quer dizer que, a cada hora,

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cinco casos de violência contra meninas e meninos são registrados no País. Esse

quadro pode ser ainda mais grave se levarmos em consideração que muitos desses

crimes nunca chegam a ser denunciados.

(Disponível em: <http://www.unicef.org/brazil/pt/activities.html> Acesso: 28 de

maio de 2015)

Neste sentido, podemos observar que a família é o pilar de toda e qualquer sociedade,

sendo por meio dela que os novos integrantes serão inseridos. Desta forma, a personalidade de

cada um desses novos sujeitos se orientarão pelos comportamentos adotados por aqueles que

os antecederam, razão pela qual, é indispensável à presença dos referidos princípios no âmbito

familiar, a fim de que as crianças e adolescentes sejam criados sob condições regulares de

desenvolvimento, não se pede aqui que os filhos sejam criados no luxo, mas apenas que exista

condições viáveis ao amadurecimento saudável e que os pais possam transmitir

conhecimentos e experiências suficientes a viabilizar a felicidade entre os membros do núcleo

familiar.

A família assume, assim, papel inimaginável na produção de cada um dos indivíduos

que compõem a sociedade, bem como será lhe atribuído uma parcela de culpa quando estes

indivíduos deixam de agir conforme os ditames legais.

Destarte, insta salientar que o planejamento familiar é de livre manifestação do casal,

não devendo existir qualquer forma coercitiva por parte de instituições privadas devendo o

Estado apenas disponibilizar os recursos necessários para o exercício desse direito.

Ademais, deve ser observado que a ausência dos princípios da paternidade responsável

e do planejamento familiar pode ter como consequência a alienação parental, tema de ordem

pública, que fora introduzido no ordenamento jurídico recentemente, por meio da edição da

Lei nº 12.318/2010, a qual desdobra, de forma exemplificativa, condutas que dificultam a

convivência de crianças ou adolescentes com um dos genitores; tema que será mais bem

aprofundado nos capítulos seguintes, onde veremos os principais aspectos da citada síndrome,

bem como suas consequências e possíveis soluções.

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II - SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Neste capítulo realizaremos uma análise a respeito dos aspectos mais relevantes sobre

a síndrome da alienação parental.

2.1 - Conceito e aspectos introdutórios

Foi o Doutor Richard Alan Gardner quem definiu a Síndrome da Alienação Parental.

Richard foi um renomado médico-psiquiatra norte-americano, que em 2003 suicidou-se em

razões de distúrbios comportamentais causados pelo estágio avançado da doença Distrofia

Simpático-Reflexa. O ilustre médico é autor de inúmeros livros e artigos, ficando reconhecido

por seu brilhantismo na psiquiatria infantil.

Richard visualizou que em razão da dissolução da sociedade conjugal, em especial

pela disputa da guarda, é estabelecido entre os ex-companheiros uma situação de aversão,

inimizade, até mesmo ódio, um em relação ao outro, o que acaba, por muitas vezes,

ultrapassando a relação de ambos e instalando-se nas relações parentais que possuem com os

filhos menores. Tal insatisfação reflete no ambiente familiar e, geralmente, o genitor que

detém a guarda começa a utilizar a criança e/ou adolescente com uma ferramenta, introduzem

na mente dos pequenos, ideias mirabolantes a respeito do outro – falsas memorias, o que, por

conseguinte, traz inúmeras consequências negativas ao desenvolvimento daqueles.

O principal objetivo do genitor que introduz nos filhos ideias contrárias em relação ao

outro, é o enfraquecimento dos laços afetivos entre ambos, laços afetivos estes que devem ser

preservados pela família, mormente quando é a partir desses que a personalidade dos filhos

são estimuladas. Neste sentido, é necessário que haja um bom, ou ao menos razoável,

convívio entre os pais, baseado no diálogo e compreensão, que será primordial para a

formação de um ambiente adequado para a criação dos filhos.

Ricard Gardner (2002) discorre o seguinte:

A Síndrome da Alienação Parental (SAP) é um distúrbio da infância que aparece

quase exclusivamente no contexto de disputa de custódia de crianças. Sua

manifestação preliminar é a campanha denegritória contra um dos genitores, uma

campanha feita pela própria criança e que não tenha nenhuma justificação. Resulta

da combinação das instruções de um genitor (o que faz a “lavagem cerebral,

programação, doutrinação”) e contribuições da próprio criança para caluniar o

genitor-alvo. Quando o abuso e/ou a negligência parentais verdadeiras estão

presentes, a animosidade da criança pode ser justificada, e assim a explicação de

Síndrome de Alienação Parental para a hostilidade da criança não é aplicável.

(Disponível em: <http://www.alienacaoparental.com.br/textos-sobre-sap-1/o-dsm-

iv-tem-equivalente> - Acesso em: 23.06.2015)

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Maria Berenice Dias também fala a respeito do tema, in verbis:

Quem lida com conflitos familiares certamente já se deparou com um fenômeno que

não é novo, mas que vem sendo identificado por mais de um nome: síndrome de

alienação parental - SAP, alienação parental ou implantação de falsas memórias.

Muitas vezes, quando da ruptura da vida conjugal, se um dos cônjuges não consegue

elaborar adequadamente o luto da separação, com o sentimento de rejeição, ou a

raiva pela traição, surge o desejo de vingança que desencadeia um processo de

destruição, de desmoralização, de descrédito do ex-parceiro. Sentir-se vencido,

rejeitado, preterido, desqualificado como objeto de amor, pode fazer emergir

impulsos destrutivos que ensejarão desejo de vingança, dinãmica que fará com que

muitos pais se utilizem de seus filhos para o acerto de contas do débito conjugal

(2009, p. 418).

Os renomados autores Washington de Barros Monteiro e Regina Beatriz Tavares da

Silva (2012, p. 413) também definem a expressão Alienação Parental “dá-se o nome de

alienação parental às estratégias do pai ou da mãe que desejam afastar injustificadamente os

filhos do outro genitor, ao ponto de desestruturar a relação entre eles”.

Neste sentido, verificamos que o grande prejudicado pela prática de tais condutas

acaba sendo os filhos, que são estimulados a romper relações com um dos genitores, servindo

de instrumento para a concretização da vingança almejada pelo outro genitor, mormente

quando este não consegue se estabilizar após a dissolução da sociedade conjugal, impondo

várias barreiras, seja no tocante a imposição de regime de visitas, seja quando a fixação da

guarda, para que a relação parental seja completamente arruinada.

É neste contexto de litígio e disputas que surge a Síndrome da Alienação Parental,

distúrbio pela qual, muitas famílias convivem, conduto, não sabem ao certo o que quer dizer.

Quanto ao desconhecimento sobre o que seria a Alienação Parental, Paulo Paim (2010) relata:

Para alguns o tema pode ser até mesmo desconhecido, mas ele é de grande

importância. Principalmente se pensarmos que as vítimas da alienação parental terão

problemas no futuro. Ou seja, é um ciclo vicioso que precisamos quebrar e com

urgência. E isso cabe a nós, já que as crianças e adolescentes, enquanto vítimas

ficam desamparadas.

(Disponível em: <http://www.senadorpaim.com.br/verImprensa.php?id=216-paim-

alerta-para-problemas-da-alienacao-parental> – Acesso em: 15.07.2015)

Paim (2010), ainda sustenta:

Qualquer separação afeta tanto os filhos quanto o casal. Por isso, não podemos

deixar de lembrar que a maioria de nossa gente não tem condições financeiras de dar

um acompanhamento psicológico para seus filhos em casos de separação, seja ela

amigável ou não.

(Disponível em:<http://www.senadorpaim.com.br/verImprensa.php?id=216-paim-

alerta-para-problemas-da-alienacao-parental> – Acesso em: 15.07.2015)

Foi diante disso e em razão da grandeza com que tais atitudes pode ocasionar nas

vidas dos pequenos, foi introduzido em nosso ordenamento em 26 de agosto de 2010 a Lei n°

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12.318, que será vista de forma mais detalhada no capitulo apropriado. Referida Lei discorre

sobre vários aspectos da Síndrome da Alienação Parental, inclusive a conceituando em seu

artigo 2°, in verbis:

Art. 2º -. Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação

psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos

genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua

autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao

estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

Com a leitura do referido artigo devendo ressaltar que a Alienação Parental não é

apenas a interferência realizada entre próprios pais, mas poderá decorrer também de quem

quer que seja que detenha a guarda ou vigilância do menor, mas o objetivo é único, afastar a

criança e/ou adolescente da convivência familiar com o outro genitor, utilizando para tanto de

vários artifícios, que na maioria dos casos ser verificado pela calunia, desmoralização, em

síntese, qualquer atitude denegritória em relação ao ex-companheiro.

Quanto às manobras utilizadas pelos genitores, bem como os outros sujeitos indicados

pelo artigo acima referido, Igor Nazarovicz Xaxá tece algumas considerações:

Neste contexto, tudo o que puder ser utilizado contra o outro genitor, será utilizado.

Desde as acusações brandas, como “ele não presta”, “ela não te ama”, “ele não quer

saber de você”, até as mais serias, como falsas denuncias de incesto e violência. A

criança e convencida da existência desse fato e o repete como tendo realmente

acontecido (2008, p. 13).

Por derradeiro, devemos, ainda, ter em mente que a SAP requer que o Poder Judiciário

atue em conjunto com uma equipe especializada, também denominada de interdisciplinar, em

especial com o auxílio de psicólogos e psiquiatras, que darão sustentação para as futuras

decisões judiciais.

Neste sentido, Luciana de Paula Gonçalves Barbosa e Beatriz Chaves Ros de Castro:

A construção do Direito moderno, desencadeada a partir da transformação das

monarquias em repúblicas, deu-se calcada na figura do Estado, com função de

assegurar a ordem pública e regular a convivência social. Ao longo dessa

construção, o Direito incorporou ideais e conceitos de outras áreas, como Psiquiatria

e Psicologia (2013, p. 66).

Elas ainda vão além:

Inicialmente, as contribuições da Psicologia na Justiça ancoraram-se no âmbito das

psicopatias, nos casos exames criminológicos e na produção de psicodiagnósticos

individuais (p. ex.: réu, pais, mães, crianças e adolescentes). Em seguida, somaram-

se outros campos de atuação, incluindo-se a avaliação da família em situações de

disputa de guarda e de regulamentação de visitas entre ex-côjuges.

Entende-se que a interdisciplinaridade e o trabalho conjunto do operador do Direito

e os serviços psicossociais no contexto Judiciário representa um avanço em favor

das Famílias e da Justiça (2013, p. 66).

Desta forma, em razão do elevado índice de divórcios que acometem as famílias em

todos os países do mundo, a Síndrome da Alienação Parental deve ser estudada com mais

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atenção, requerendo do Estado, por meio do Poder Judiciário, uma maior intervenção,

mormente quando as consequências da instalação deste distúrbio irão ocasionar impactos

gritantes no futuro das crianças e adolescentes.

2.2 - Diferença entre Síndrome da Alienação Parental e Alienação Parental

Embora aparentemente as expressões Síndrome da Alienação Parental e Alienação

Parental tenham conotação similar, não é pacifico sobre tal afirmação entre os profissionais da

área médica e os da área do Direito. Diante disso analisaremos as posições de alguns autores

quanto ao conceito de cada uma das expressões.

Juliana Ferla Guilhermano, em seu trabalho de conclusão de curso discorreu a respeito

das distinções entre as expressões:

Cabe destacar a diferença entre Alienação Parental e a Síndrome da Alienação

Parental, sendo a primeira a campanha denegritória feita pelo alienador com intuito

de afastar os filhos do alienado, e a segunda consiste nos problemas

comportamentais, emocionais e em toda desordem psicológica que surge na criança

após o afastamento e a desmoralização do genitor alienado, os quais serão tratados

no terceiro capítulo do trabalho. (2012, p. 06)

A Advogada, Juliana Rodrigues de Souza afirma o seguinte sobre a expressão

Síndrome da Alienação Parental:

A expressão Síndrome da Alienação Parental duramente criticada por não estar

prevista nem no CID-10, nem no DSM IV, ou seja, não é reconhecida como uma

categoria diagnosticada e também não é considerada uma síndrome médica válida.

Síndrome significa um distúrbio, sintomas que se instalam em consequência da

extrema reação emocional ao genitor, cujos filhos foram vítimas (2014, p. 113).

Neste sentido, verificamos que a expressão Síndrome da Alienação Parental está

associada às consequências psicológicas e emocionais que os filhos podem ser submetidos, ou

seja, ela deriva das atitudes praticadas pelo genitor com o objetivo de desencadear a ruptura

do vínculo parental entre o filho e o outro. Desta forma, para que exista a Síndrome da

Alienação Parental é necessário que antes tenha existido a própria Alienação Parental, que

como já falado traduz nas condutas exercidas por um dos pais, no sentido de romper os laços

afetivos. Estas também são as lições de Priscila M. P. Corrêa da Fonseca, in verbis:

Aquela geralmente é decorrente desta, ou seja, a alienação parental é o afastamento

do filho de um dos genitores, provocado pelo outro, via de regra, o titular da

custódia. A síndrome da alienação parental, por seu turno, diz respeito às seqüelas

emocionais e comportamentais de que vem a padecer a criança vítima daquele

alijamento. (Disponível em: <http://www.priscilafonseca.com.br/?id=59&artigo=6>

– Acesso em: 10.07.2015)

Desta forma, verificando que as expressões não são sinônimas, ou ao menos este é o

entendimento que vem predominando, é necessário uma maior difusão a respeito do tema, a

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fim de que o diagnostico realizado pela equipes interdisciplinares sejam mais rápidos, o que

por sua vez, tornará os tratamentos cada vez mais eficazes, minimizando, desta forma, as

consequências negativas que as crianças e adolescentes levarão para o futuro.

No mesmo contexto também foram as conclusões de Jordana Santos Araújo (2010, p.

12):

Cabe ressaltar, neste momento, que, além, dessa família já sofrer com a dissolução

do seu casamento, ela sofrerá, demasiadamente, com a falta de tratamento

terapêutico e médico, já que a causa da alienação, tanto das crianças, quanto dos

genitores não será identificada corretamente. Além disso, é um prejuízo ao sistema

legal, pois priva a rede legal de um diagnóstico mais específico da SAP, que poderia

ser mais útil às cortes para tratar tais famílias. Concluí-se, diante disto, que a correta

utilização seja do termo AP, seja do termo SAP é de extrema importância face às

conseqüências e seqüelas sombrias que elas podem trazer à vida das pessoas que

sofrem com esses parecidos, porém distintos, males, não se tratando, portanto, de

uma mera questão de utilização de termos por parte de advogados, tementes a não

aceitação de suas documentações pelo Juiz, como por parte dos próprios médicos,

insistentes em não utilizar doenças e termos existentes, porém, não devidamente

registrados em manuais ou literaturas médicas. (Disponível em:

<http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2010_

2/jordana_araujo.pdf> - Acesso 15.07.2015)

2.3 - Personagens da Alienação Parental

A Alienação Parental requer presença de pelo menos três indivíduos, dentre eles o

genitor alienador, também denominado de genitor alienante, o genitor alienado e a criança

e/ou adolescente alienado. Cada um desses personagens terá determinado papéis na instalação

da Síndrome da Alienação Parental. Para isto, é necessário analisarmos cada um desses

personagens.

Assim, o genitor alienante será aquele que introduzirá na criança e/ou adolescente

ideais de hostilidade em relação ao outro genitor, o alienador é manipulador e tentará de tudo

para romper com os laços de afetividade existente entre aqueles, ele buscará ter o amor dos

filhos de forma exclusiva, usando isso como instrumento de vingança pela dissolução da

sociedade conjugal.

O alienador transparece a ideia de uma pessoa superprotetora, que preza sempre pelo

melhor interesse da prole, contudo, tal percepção tem como único e exclusivo objetivo, a

manipulação dos pequenos contra o ex-cônjuge. O genitor alienador utilizará de diferenças

artimanhas e jogos para desequilibrar os sentimentos que filhos detêm em relação ao outro

genitor. Há aqueles que sustentam que as condutas tendenciosas são involuntárias, enquanto

outros preferem afirmar que só podem ser intencionais.

Trindade discorre a respeito do genitor alienador, elencando algumas características:

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Sob essa mesma perspectiva, é possível afirmar que para o genitor alienante é uma

questão de vida ou morte ter esse controle sobre os filhos e de destruir a relação

deles com o outro genitor. Em outras palavras, para ele o outro cônjuge é um invasor

que deve ser afastado a qualquer preço. Importante lembrar que essa trajetória tem

intuito de excluir, separar, dividir e destruir o outro genitor da vida dos filho.

O genitor alienador, ao ser examinado por um especialista, oferece grande

resistência, pois teme que este possa descobrir suas manipulações, suas cenas, seus

jogos. Durante a avaliação, ele pode cometer falhas em seu raciocínio como

indicadores para a identificação da síndrome. Por exemplo: quando os olhos do

avaliado choram, mas a boca ri. (2004, pgs. 159-160)

Por outro lado, temos a figura do genitor alienado, que na maioria dos casos será o

genitor que não detém a guarda dos filhos. É ele quem sofrerá com as atitudes que o alienador

introduzir na mente dos pequeninos, sendo afastado cada vez mais do convívio familiar com a

prole.

O genitor alienado também pode ser considerado como vítima da síndrome da

alienação parental, mormente quando os filhos, após a introdução das manipulações e jogos,

passam a ver o genitor alienado como um estranho. Muitas das vezes, os artifícios instituídos

pelo alienador são tão bons, que a criança não quer nem mais ter contato com o outro genitor,

acabando por acreditar nas percepções introduzidas pelo alienador.

Por derradeiro, temos de outro lado os filhos. Estes são utilizados pelo genitor

alienador como mecanismos de retaliações contra o ex-companheiro; eles são as maiores

vítimas da alienação parental, mormente quando as condutas perpetradas pelo alienador

desdobrarão consequências momentâneas e principalmente futuras nas vidas dos pequenos.

Ademais, deve ser ressaltado que quando o objetivo do alienador é alçando – afastamento dos

filhos com o ex-cônjuge – a prole perderá a oportunidade de conviver com o genitor, o que

nunca mais poderá ser recuperado, mormente quando não podemos voltar no tempo e fazer o

que deixamos de fazer no passado. As perdas são enormes e insuscetíveis de regeneração.

Destarte, após ser atingido o objetivo do alienador os filhos passam a possuir apenas

sentimentos negativos contra o genitor alienado, como os sentimentos de raiva e ódio,

passando a ter os mesmos sentimentos que o genitor alienador tem para com o outro genitor, e

com isto as crianças e adolescentes acabam sempre recusando aos afetos e possibilidades de

contado.

A prole após algum tempo da “lavagem cerebral” passa a transmitir sozinhos os

ensinamentos de hostilidade ensinados pelo alienador, o que torna, ainda, mais difícil a

tentativa do genitor alienado de se aproximar dos filhos.

A obra de François Podevyn (2001), traduzida pela Apase, esquematizou a

possibilidade de existir três estágios da alienação parental em relação aos filhos, elencando as

características dos pequenos em casa etapa, in verbis:

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Estágio I

Leve

Neste estágio normalmente as visitas se apresentam calmas, com um pouco de dificuldades na

hora da troca de genitor. Enquanto o filho está com o genitor alienado, as manifestações da

campanha de desmoralização desaparecem ou são discretas e raras. A motivação principal do

filho é conservar um laço sólido com o genitor alienador (GARDNER3, §20).

Estágio II

Médio

O genitor alienador utiliza uma grande variedade de táticas para excluir o outro genitor. No

momento de troca de genitor, os filhos, que sabem o que genitor alienador quer escutar,

intensificam sua campanha de desmoralização.

Os argumentos utilizados são os mais numerosos, os mais frívolos e os mais absurdos. O genitor

alienado é completamente mau e o outro completamente bom. Apesar disto, aceitam ir com o

genitor alienado, e uma vez afastados do outro genitor tornam a ser mais cooperativos

(GARDNER3, §27 y 28).

Estágio III

Grave

Os filhos em geral estão perturbados e frequentemente fanáticos.

Compartilham os mesmos fantasmas paranóicos que o genitor alienador tem em relação ao outro

genitor.

Podem ficar em pânico apenas com a ideia de ter que visitar o outro genitor. Seus gritos, seu

estado de pânico e suas explosões de violência podem ser tais que ir visitar o outro genitor é

impossível.

Se, apesar disto vão com o genitor alienado, podem fugir, paralisar-se por um medo mórbido, ou

manter-se continuamente tão provocadores e destruidores, que devem necessariamente retornar ao

outro genitor.

Mesmo afastados do ambiente do genitor alienador durante um período significativo, é impossível

reduzir seus medos e suas cóleras. Todos estes sintomas ainda reforçam o laço patológico que têm

com o genitor alienador (GARDNER3, §38).

(Fonte: Disponível em: <http://www.apase.org.br/94001-sindrome.htm> - Acesso em: 18.07.2015)

Neste sentido, verificamos que a síndrome da alienação parental apresenta-se de forma

gradativa, o que pode vir a ser um aspecto positivo em relação aos tratamentos a serem

dispensados a criança e/ou adolescente alienados. Dessa forma, quanto mais cedo for

diagnosticada, menores serão as consequências negativas que atingiram os pequenos,

aumentando, assim, a possibilidade e rapidez na manutenção do convívio parental entre filhos

e o genitor alienado.

A obra de François Podevyn (2001), traduzida pela Apase, levou em consideração os

estágios de evolução que a alienação parental pode percorrer, apresentando, para tanto, um

quadro sobre as alternativas legais e terapêuticas para o tratamento daquela, sendo, inclusive,

salientado que a atuação psicoterapêutica dever ser acompanhada por um procedimento legal,

ou seja, requer o suporte do Poder Judiciário, in verbis:

Estágio Medidas Legais Medidas Terapêuticas

I- Leve Nenhum Nenhum

II- Médio

1)- Deixar a guarda principal com o genitor alienador.

2)- Nomear um terapeuta para servir de intermediário

nas visitas e para comunicar as falhas ao tribunal.

3)- Estabelecer penalidades para a supressão de visitas.

a) uma penalidade financeira (redução da pensão

alimentícia).

b) o pagamento de uma multa proporcional ao tempo das

visitas suprimidas.

1)- O terapeuta responsável pelo controle das

visitas, deve conhecer a Síndrome de

Alienação Parental.

2)- Deve aplicar um programa terapêutico

preciso.

3)- Deve relatar as falhas diretamente aos

juízes

4)- O tribunal executar as sanções previstas

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c) uma breve reclusão ao cárcere.

4)- Em caso de desobediência constante e reincidência,

além da prisão, passar a guarda para o outro genitor.

III- Grave

1)- Transferir a guarda principal para o genitor alienado.

2)- Nomear um psicoterapeuta para intermediar um

programa de transição da guarda do filho.

3)- Eventualmente ordenar um local de transição.

Mesmo enfoque que o estágio médio.

(Fonte: Disponível em: <http://www.apase.org.br/94001-sindrome.htm> – Acesso em: 18.07.2015)

Diante disso, verificamos que as consequências vivenciadas pelos sujeitos alienados

podem ter graus diferentes, o que permite que a atuação do Estado, bem como de equipe

especializada, de forma eficiente, possa diminuir os efeitos que os comportamentos

introduzidos pelo alienador podem ocasionar na vida de todos.

2.4 - Condutas do genitor alienador

Como já dito anteriormente, na maioria dos casos o genitor alienador é aquele que

detém a guarda dos filhos. Ele se utilizará de vários instrumentos para tentar romper as

relações afetivas existentes entre os filhos e o ex-convivinte.

Denise Maria Perissini da Silva, na obra O drama da criança diante da ruptura familiar

situações (2009, p. 58), elenca algumas frases utilizadas pelo genitor alienador na

manipulação dos pequenos:

- "Cuidado ao sair com seu pai. Ele quer roubar você de mim"...

- “Sua mãe abandonou vocês “...

- "Seu pai não se importa com vocês"...

- "Você não gosta de mim! Me deixa em casa sozinha para sair com seu pai"...

- "Sua mãe não me deixa refazer minha vida"...

- "Seu pai me ameaça, ele vive me perseguindo"...

- "Seu pai tenta sempre comprar vocês com brinquedos e presentes"...

- "Seu pai não dá dinheiro para manter vocês"...

- "Seu pai é um bêbado"...

- "Sua mãe é uma vagabunda"....

- "Seu pai é desprezível"...

- "Seu pai é um inútil"...

- "Sua mãe é uma desequilibrada"...

- "Vocês deveriam ter vergonha do seu pai"....

- "Cuidado com seu pai ele pode abusar de você"...

- "Peça pro seu pai/ mãe comprar isso ou aquilo"...

- "Eu fico desesperada quando vocês saem com seu pai"...

- "Seu pai bateu em você, tente se lembrar do passado"...

- "Seu pai bateu em mim, foi por isso que me separei dele"...

A utilização dessas frases pelo alienador são constantes e realizadas de forma

impactantes, tanto é, que com o passar do tempo a criança e/ou adolescente as toma para si,

incorporando-as como verdadeiras e as consequências vão além do afastamento dos filhos

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com o outro genitor, elas terão reflexos para o futuro da prole, marcando como cicatriz a

infância e adolescência dos filhos.

A obra de François Podevyn (2001), traduzida pela Apase, elencou outros

comportamentos utilizados pelo alienador:

a)-Recusar de passar as chamadas telefônicas aos filhos;

b)-Organizar várias atividades com os filhos durante o período que o outro genitor

deve normalmente exercer o direito de visitas.

c)-Apresentar o novo cônjuge aos filhos como sua nova mãe ou seu novo pai.

d)-Interceptar as cartas e os pacotes mandados aos filhos.

e)-Desvalorizar e insultar o outro genitor na presença dos filhos.

f)-Recusar informações ao outro genitor sobre as atividades em que os filhos estão

envolvidos (esportes, atividades escolares, grupos teatrais, escotismo, etc.).

g)-Falar de maneira descortês do novo conjugue do outro genitor.

h)-Impedir o outro genitor de exercer seu direito de visita.

i)-“Esquecer” de avisar o outro genitor de compromissos importantes (dentistas,

médicos, psicólogos).

j)-Envolver pessoas próximas (sua mãe, seu novo conjugue, etc.) na lavagem

cerebral de seus filhos.

k)-Tomar decisões importantes a respeito dos filhos sem consultar o outro genitor

(escolha da religião, escolha da escola, etc.).

l)-Trocar (ou tentar trocar) seus nome e sobrenomes.

m)Impedir o outro genitor de ter acesso às informações escolares e/ou médicas dos

filhos.

n)Sair de férias sem os filhos e deixá-los com outras pessoas que não o outro

genitor, ainda que este esteja disponível e queira ocupar-se dos filhos.

o)-Falar aos filhos que a roupa que o outro genitor comprou é feia, e proibi-los de

usá-las.

p)-Ameaçar punir os filhos se eles telefonarem, escreverem, ou a se comunicarem

com o outro genitor de qualquer maneira.

q)-Culpar o outro genitor pelo mau comportamento dos filhos.

(Disponível em: <http://www.apase.org.br/94001-sindrome.htm> -Acesso:

18.07.2015)

Deve ainda ser ressaltado que o artigo 2°, paragrafo único, da Lei n° 12.18/2010

também traz um rol exemplificativo de condutas que caracterizam a Alienação Parental, in

verbis:

Art. 2o Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além

dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados

diretamente ou com auxílio de terceiros:

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da

paternidade ou maternidade;

II - dificultar o exercício da autoridade parental;

III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;

IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;

V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança

ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;

VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós,

para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;

VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a

convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou

com avós.

A utilização destes comportamentos, bem como as frases acima transcritas são apenas

um rol exemplificativo, tendo em vista que o alienador pode imaginar - dentro de sua mente

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perturbada - uma série de condutas que podem vir a dificultar o convívio entre pai/mãe e

filho.

Neste sentido, Jorge Trindade (2010, p. 29): “Da mesma forma que é difícil descrever

todos os comportamentos que caracterizam a conduta de um alienador parental, conhecer um

a um de seus sentimentos é tarefa impossível.”

2.5 – Consequências

Como já analisado verificamos que a Alienação Parental exige ao menos três

personagens, genitor alienador, genitor alienado e filhos alienados. Vimos também que o

genitor alienador, por meio de manipulações, introduz nos filhos sentimentos negativos em

relação ao outro genitor.

Nesse sentido, as condutas perpetradas pelo alienador não causam sofrimento apenas

aos pequenos - embora sejam eles as maiores vítimas - mas também ao outro genitor,

mormente quando este deixa de estabelecer o convívio parental com seus filhos em razão de

tais comportamentos.

Desta forma, as crianças e adolescentes são os personagens que terão maiores

problemas com as consequências que a alienação parental possa ocasionar, especialmente

pelo fato de que na maioria dos casos a manipulação é realizada quando os filhos ainda têm

tenra idade, não tendo os mesmos, maturidade suficiente para discernir o que é certo ou

errado, muito menos o que é verdade e o que não é, podendo, assim, serem facilmente

enganados, passando a crer naquilo que o alienador os ensina.

A Advogada, Valéria Reani (2010) apresenta algumas consequências negativas que a

Alienação Parental pode casar as crianças:

Apresentar distúrbios psicológicos como depressão, ansiedade e pânico.

Utilizar drogas e álcool como forma de aliviar a dor e culpa da alienação.

Cometer suicídio.

Apresentar baixa auto-estima.

Não conseguir uma relação estável, quando adultas.

Possuir problemas de gênero, em função da desqualificação do genitor atacado.

Quando adulto, o filho perceberá que fez uma grande injustiça ao genitor

alienado, e passará a odiar o genitor alienante. (Disponível em:

<http://www.valeriareani.com.br/?p=3062> – Acesso em: 18.07.2015)

Neste sentido, verificamos que essas consequências estão intimamente ligadas ao

psicológico dos filhos, podendo variar conforme o nível e intensidade com que os

comportamentos do alienador são apresentados. Ademais, deve ser destacado que as

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consequências se diferenciam conforme o contexto familiar, bem como a personalidade do

filho, que na maioria dos casos ainda não estará formada em razão da tenra idade.

A obra de François Podevyn (2001), traduzida pela Apase, também apresenta algumas

das consequências vivenciadas pelos filhos:

Os efeitos nas crianças vítimas da Síndrome de Alienação Parental podem ser uma

depressão crônica, incapacidade de adaptação em ambiente psico-social normal,

transtornos de identidade e de imagem, desespero, sentimento incontrolável de

culpa, sentimento de isolamento, comportamento hostil, falta de organização, dupla

personalidade e às vezes suicídio. Estudos têm mostrado que, quando adultas, as

vítimas da Alienação tem inclinação ao álcool e às drogas, e apresentam outros

sintomas de profundo mal estar. (Disponível em: <http://www.apase.org.br/94001-

sindrome.htm> -Acesso: 18.07.2015)

Maria Berenice Dias nos ensina:

Os efeitos que a síndrome pode ocasionar nos filhos, variam de acordo com a idade

da criança, com as características de sua personalidade, com o tipo de vínculo

anteriormente estabelecido, e com sua capacidade de resiliência (da criança e do

cônjuge alienado), além de inúmeros outros fatores, alguns mais explícitos, outros

mais recônditos. Porém, numa sociedade que aceita as patologias do corpo, mas não

os problemas da existência, a única via possível de expressar os conflitos

emocionais se dá em termos de enfermidade somática e comportamental. Esses

conflitos podem aparecer na criança sob forma de ansiedade, medo, insegurança,

isolamento, tristeza e depressão, comportamento hostil , falta de organização,

dificuldades escolares, baixa tolerância à frustração, irritabilidade, enurese,

transtorno de identidade ou de imagem, sentimento de desespero, culpa, dupla

personalidade, inclinação ao álcool e às drogas, e em casos mais extremos, ideias ou

comportamentos suicidas. (2010, p. 24)

Os psicólogos Larissa A. Tavares Vieira e Ricardo Alexandre Aneas Botta (2013)

relatam quais seriam as consequências vivenciadas pele prole:

Como consequência da Alienação Parental, o filho pode desenvolver problemas

psicológicos e até transtornos psiquiátricos para o resto da vida. Alguns dos efeitos

devastadores sobre a saúde emocional, já percebidos pelos estudiosos, em vítimas de

Alienação Parental, são: vida polarizada e sem nuances; depressão crônica; doenças

psicossomáticas; ansiedade ou nervosismo sem razão aparente; transtornos de

identidade ou de imagem; dificuldade de adaptação em ambiente psicossocial

normal; insegurança; baixa autoestima; sentimento de rejeição, isolamento e mal

estar; falta de organização mental; comportamento hostil ou agressivo; transtornos

de conduta; inclinação para o uso abusivo de álcool e drogas e para o suicídio;

dificuldade no estabelecimento de relações interpessoais, por ter sido traído e usado

pela pessoa que mais confiava; sentimento incontrolável de culpa, por ter sido

cúmplice inconsciente das injustiças praticadas contra o genitor alienado.

(Disponível em: <https://psicologado.com/atuacao/psicologia-juridica/o-efeito-

devastador-da-alienacao-parental-e-suas-sequelas-psicologicas-sobre-o-infante-e-

genitor-alienado> Acesso em: 18.07.2015)

Por fim, o Advogado Marco Antônio Garcia de Pinho (2009), levando em

consideração dados estatísticos apresentados pelo IBDFAM, também elencou uma série de

consequências auferidas com a instalação da Alienação Parental:

1) Isolamento-retirada: A criança se isola do que a rodeia, e centra-se nela mesma,

não fala com quase ninguém e se o faz, é de forma muito concisa, preferindo estar

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sozinha no seu quarto, em vez de brincar com outras crianças, mormente se filho

único, perdendo o único outro referencial e passando a viver somente com o pai ou

com a mãe, sentindo-se literalmente sozinha e abandonada, abandono e vazio a que

nos referimos que não pode ser suprido por qualquer figura senão a do próprio pai.

2) Baixo rendimento escolar: Por vezes associado a uma fobia à escola e à ansiedade

da separação - a criança não quer ir à escola, não presta atenção nas aulas, mas

também não incomoda os seus companheiros, não faz os deveres com atenção,

apenas quer sair de casa, a apatia que mostra relativamente às tarefas que não são do

seu agrado alarga-se a outras áreas e isto é detectado a posteriori, não de imediato,

mormente quando na fase das visitações.

3) Depressão, melancolia e angústia: Em diferentes graus, mas em 100% dos casos

ocorre e infelizmente é recorrente.

4) Fugas e rebeldia: Produzem-se para ir procurar o membro do casal não presente,

por vezes para que se compadeça do seu estado de desamparo e regresse ao lar ou

pensando que será más feliz ao lado do outro progenitor.

5) Regressões: Comporta-se com uma idade mental inferior à sua, chama a atenção,

perde limites geralmente impostos pela figura paterna, perde o „referencial‟, e

mesmo pode regredir como „defesa psicológica‟ em que a criança trata de „retornar‟

a uma época em que não existia o conflito atual, e que recorda como feliz.

6)Negação e conduta anti-social: ocorrem em simultâneo - por um lado a criança, (e

mesmo as mães quando em processo de separação ou recém separadas, o que pode

levar até mais de 5 anos para „superar em parte‟) nega o que está a ocorrer (nega que

os seus pais se tenham separado apesar da situação lhe ter sido explicada em

diversas ocasiões e finge compreender e assimilar e mesmo negar e ignorar mas

internaliza), e, por outro lado sente consciente ou inconscientemente que os seus

pais lhe causaram dano, o que lhe dá o direito de o fazer também, provocando uma

conduta anti-social.

7) Culpa: Por mais de 75% das vezes, a criança se sente culpada, hoje ou amanhã,

em regra mais tarde, pela situação, e pensa que esta ocorre por sua causa, pelo seu

mau comportamento, pelo seu baixo rendimento escolar, algo cometido, e pode

chegar mesmo a auto castigar-se como forma de autodirigir a hostilidade que sente

contra os seus pais, inconscientemente.

8) Aproveitamento da situação-enfrentamento com os pais: Por vezes, a criança trata

de se beneficiar da situação, apresentando-a como desculpa para conseguir os seus

objetivos ou para fugir às suas responsabilidades ou fracassos. Por vezes, chega

mesmo a inventar falsas acusações para que os pais falem entre si, apesar de saber

que o único resultado destas falsas acusações será piorar o enfrentamento entre os

seus genitores. E se o „exemplo‟ vem de casa, o que dizer de uma mãe que nem

sequer tenta dialogar e tentar conciliar em prol do filho...

09) Indiferença: A criança não protesta, não se queixa da situação, age como se não

fosse nada com ela, sendo esta outra forma de negação da situação. (Disponível em:

<http://jus.com.br/artigos/13252/alienacao-parental> - Acesso e: 19.07.2015)

As consequências vivenciadas pelos filhos são as mais diversas possíveis, mormente

quando a variedade de comportamentos que o alienador pode ter é infinita. Conduto, os pais

alienados também podem sofrer muito com tais condutas, como por exemplo, a perda de

confiança em si mesma por não conseguirem lidar com referida situação, bem como pelo alto

índice de estresse em razão dos constantes conflitos vivenciados entre ele e o genitor

alienador.

Destarte, é visivelmente constatado que as consequências negativas que a instalação da

Alienação Parental acarreta nas vidas dos personagens alienados são extremamente vorazes,

de forma que as implementações de tratamentos devem ser imediatos e eficientes, a fim de

minimizar os efeitos trazidos por tais situações. Diante disso, no próximo tópico analisaremos

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os tratamentos possíveis para a recuperação ou minimização das sequelas deixadas pela

Alienação Parental, tanto em relação aos alienados, quanto em relação ao próprio alienador.

2.6 - Tratamentos

É nítida a necessidade de tratamento para aqueles que sofreram com as consequências

negativas da Alienação Parental, bem como para aquele que a próprio edificou. Neste

contexto a aliança entre os profissionais da saúde (equipe multidisciplinar) e os profissionais

do Direito é de extrema importância.

O tratamento psicológico, seja ele individual ou familiar, talvez seja uma das grandes

alternativas, tendo em vista que as consequências inseridas pela Alienação Parental estão

intimamente relacionadas ao psicológico dos alienados, requerendo a analisa de profissionais

especializados.

Outra alternativa decorre da fixação pelo Juízo da Terapia Compulsória, medida esta

que esta inserida no artigo 6º da Lei da Alienação Parental. Conduto, referido tratamento já se

encontrava a disposição dos magistrados, mormente quando o artigo 461, caput, do Código de

Processo Penal também prevê a possibilidade da implantação do tratamento compulsório

como medida de assegurar o cumprimento do princípio do melhor interesse da criança e

adolescente.

O Advogado e também Psicopedagogo, Douglas Phillips Freitas, discorrendo a

respeito do tratamento compulsório de pais em Alienação Parental afirmou o seguinte:

O Juiz, a pedido do Advogado, e sob tais fundamentos, pode determinar a realização

de TERAPIA COMPULSORIA aos pais para que tratem os distúrbios e condutas

motivadores da conduta alienatória pratica por um ou ambos, a fim de tornarem-se,

na medida do possível, pais propiciadores de uma família mais saudável e

equilibrada. Não é objetivo de tal tratamento a reconciliação entre pai e mãe, para

tornarem-se marido e mulher novamente, mas, a conscientização dos mesmos que,

embora não sejam mais marido e mulher, não deixaram de ser pais, e, por tal,

possuem compromissos inerentes a tal função e um responsabilidade impar em face

ao desenvolvimento psicológico – e físico – de seu filho, que não é culpado pela

falência daquela relação.A lei da Alienação Parental outorga tal possibilidade à luz

da regra trazida em seu artigo 6º onde dita que “caracterizados atos típicos de

alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou

adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá,

cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou

criminal” aplicar de forma irrestrita e ampla a “utilização de instrumentos

processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso”, e,

em seus incisos, destaca, entre eles: “III – estipular multa ao alienador” e “IV –

determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial” (Disponível em:

<http://www.douglasfreitas.adv.br/dl_file.php?arquivo=down/arq_65_20120401_02

1733.doc&arq_id=65> – Acesso em: 02.08.2015).

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A atuação do profissional da saúde mental é de tão importância, que embora o

dispositivo 5°, caput, da Lei 12.318/2010 mencione que a perícia psicológica ou

biopsicossocial será determinada quando o juiz julgar necessário vem nos dias de hoje

tornando-se uma obrigatoriedade, mormente quando os magistrados não possuem

conhecimento especializado e precisam de pessoas que possam verificar a existência dos

indícios caracterizadores da Alienação Parental, a fim de que haja um diagnóstico preciso

sobre o caso em concreto, devendo ser elaborado para tanto um laudo pericial, que segundo o

§ 1º do dispositivo acima mencionado deverá conter:

O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial,

conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame

de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação,

cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da

forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação

contra genitor.

Contudo, há vários autores que veem na Guarda Compartilhada um ótimo instrumento

para a solução da Síndrome da Alienação, mormente quando possibilita o convivência com

ambos os pais, permitindo que a criança e/ou adolescente possa tirar suas próprias conclusão a

respeito dos sentimentos que sentem por cada um de seus genitores, não deixando, assim,

serem facilmente manipulados.

Neste sentido, Ana Carla Pinho (2011, p. 11):

Instituindo-se a guarda compartilhada, preservam-se as relações parentais e afasta-se

a probabilidade de alienação parental, haja vista que se garante à criança e ao

adolescente a presença ativa e atuante de ambos os genitores em suas vidas, ou seja,

permite que estes exerçam conjuntamente a paternidade responsável, dialogando de

maneira contínua sobre o interesse dos filhos. Porém, para que a guarda

compartilhada possa ser adotada, é essencial que haja uma convivência pacífica

entre os ex-cônjuges e que estes, aptos a separar as questões de conjugalidade e

parentalidade, estejam de fato atentos ao melhor interesse de seus filhos. (Disponível

em: <http://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_direito/article/view/1639/1150> -

Acesso em: 26.07.2015)

Cabe destacar que previa o artigo 9º da Lei 12.318/2010 a possibilidade de as partes

utilizarem da mediação para a solução do conflito, podendo, inclusive, valer-se de tal

mecanismo antes ou no decorrer do processo. O procedimento adotado para a prática da

mediação encontrava-se disposta nos parágrafos do mencionado dispositivo. A redação do

dispositivo era a seguinte:

Art. 9° As partes, por iniciativa própria ou sugestão do juiz, do Ministério Público

ou do Conselho Tutelar, poderão utilizar-se do procedimento da mediação para a

solução do litigio, antes ou no curso do processo judicial.

§1º O acordo que estabelecer a mediação indicará o prazo de eventual suspensão do

processo e o correspondente regime provisório para regular as questões

controvertidas, o qual não vinculará eventual decisão judicial superveniente.

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§2º O mediador será livremente escolhido pelas partes, mas o juízo competente, o

Ministério Público e o Conselho Tutelar formarão cadastros de mediadores

habilitados a examinar questão relacionadas à alienação parental.

§3º o Termo que ajustar o procedimento de mediação ou que dele resultar deverá ser

submetido ao exame do Ministério Público e à homologação judicial.

No entanto, o retro dispositivo fora vetado, sendo as razões as seguintes:

O direito da criança e do adolescente à convivência familiar é indisponível, nos

termos do art. 227 da Constituição Federal, não cabendo sua apreciação por

mecanismos extrajudiciais de solução de conflitos.

Ademais, o dispositivo contraria a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, que prevê a

aplicação do princípio da intervenção mínima, segundo o qual eventual medida para

a proteção da criança e do adolescente deve ser exercida exclusivamente pelas

autoridades e instituições cuja ação seja indispensável. (Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/Msg/VEP-513-10.htm>

- Acesso em: 26.07.2015)

Essas foram algumas das alternativas encontradas pelo Poder Judiciário brasileiro,

juntamente com profissionais dedicados a área da saúde mental, para minimizar e prevenir as

consequências devastadora que a Alienação Parental pode acarretar aos personagens que

integram esta relação conflituosa.

III - ASPECTOS RELEVANTES DA LEI DA ALIENAÇÃO PARENTAL

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Em razão da falta de legislação pertinente em relação à Alienação Parental e pela não

percepção desses casos pelos julgadores brasileiros, fez com que a sociedade se voltasse para

a necessidade de positivar tal situação.

Desta forma, foi elaborado pelo Deputado Federal Regis de Oliveira o anteprojeto nº

4053/2008, para a criação da Lei que dispusesse a respeito do tema. Quando da apresentação

do referido, Regis de Oliveira justificou da seguinte maneira, in verbis:

A presente proposição, além de pretender introduzir uma definição legal da

alienação parental no ordenamento jurídico, estabelece rol exemplificativo de

condutas que dificultam o efetivo convívio entre criança e genitor, de forma a não

apenas viabilizar o reconhecimento jurídico da conduta da alienação parental, mas

sinalizar claramente à sociedade que a mesma merece reprimenda estatal.(...)

A idéia fundamental que levou à apresentação do projeto sobre a alienação parental

consiste no fato de haver notória resistência entre os operadores do Direito no que

tange ao reconhecimento da gravidade do problema em exame, bem assim a

ausência de especificação de instrumentos para inibir ou atenuar sua ocorrência. São

raros os julgados que examinam em profundidade a matéria, a maioria deles do Rio

Grande do Sul, cujos tribunais assumiram notória postura de vanguarda na proteção

do exercício pleno da paternidade (...).

(Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/601514.pdf> - Acesso:

01.08.2015)

Neste sentido, verificamos que o legislador pretendia com a consagração da Alienação

Parental em Lei, levar ao conhecimento das famílias brasileiras de que as condutas que

caracterizam a referida síndrome merecem atenção e reprimenda estatal. Ademais, a

positivação da tal situação permitiria que os magistrados deixassem de lado o

conservadorismo e reconhecessem a gravidade que a Alienação Parental pode acarretar nas

vidas de todos os que integram a família.

Diante disso, em 26 de agosto de 2010, foi sancionada a Lei 12.318∕2010, que embora

tenha poucos dispositivos (11 artigos, tenho sido os artigos 9º e 10º revogados), trouxe a tona

situações já vivenciadas pela família brasileira, que há tempo requeriam do Estado uma maior

intervenção. Destarte, após termos analisado os aspectos inerentes a Alienação Parental, no

tocante a suas consequências, seus personagens, bem como tratamentos disponíveis, mostra-se

necessário um exame de algumas peculiaridades da Lei 12.318/2010.

3.1 - Da definição e dos atos caracterizadores da Alienação Parental

Não muito diferente de outras leis ordinárias, a Lei nº 12.318/10 também trouxe em

sua redação o conceito do que viria ser a Alienação Parental, in verbis:

Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação

psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos

genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua

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autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao

estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

Pela leitura do retro dispositivo verificamos que o legislador de forma simples e

eficiência nos informa que a Alienação Parental será a situação vivenciada entre criança e∕ou

adolescente com seus genitores ou qualquer um que detenha sua guarda ou vigilância, sendo

utilizado por esses personagens manobras manipuladoras, a fim de colocar aqueles contra

determinadas pessoas. A consequência de tais atitudes é devastadora, especialmente no

aspecto psicológico, mormente quando insere nos pequenos ideais negativos, que

influenciaram de forma maciça a formação de suas personalidades.

Verificamos também que não existe apenas o genitor alienador, o legislador inclui no

dispositivo a possibilidade de toda e qualquer pessoa que possa ter convívio com as crianças e

adolescentes ainda em desenvolvimento, poder praticar atos tendentes a caracterizar a

instalação da Alienação Parental. Ademais, como já constatado anteriormente a Alienação

Parental, na maioria dos casos, acontece quando as crianças e∕ou adolescentes ainda são

pequenos e imaturos, sendo estas circunstâncias favoráveis para a manipulação dos pequenos.

Neste sentido, Fábio Vieira Figueiredo e George Alexandridis afirmam:

Com base em estudo doutrinário do tema, o legislador firmou o conceito de

alienação parental no corpo da Lei nº 12.318/2010, em seu art. 2º, do qual podemos

extrair que essa interferência prejudicial na formação psicológica do menor não é

exclusividade dos genitores, mas sim de todo e qualquer parente que tenha o

convívio com o menor e que possa dessa relação criar o mecanismo de quebrar o

vinculo com o genitor e o menor. A lei cita, neste caso, as pessoas dos avós e de

qualquer um que tenha a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou

vigilância. (2014, p. 50)

Embora o legislador afirme que o sentimento de repúdio se destine a um dos genitores,

é plenamente possível que outras pessoas sofram em decorrência de tal situação, a exemplo

desses temos os avós.

No mesmo sentido, Juliana Ferla Guilhermano, no Trabalho de Conclusão de Curso

(2012, p 11).

Passando à análise dos artigos de tal lei, no caput do artigo 2º há a definição de

Alienação Parental, aparecendo em seus incisos métodos exemplificativos utilizados

pelo alienador. Tal artigo também não restringe somente aos pais os atos de

Alienação Parental, indicando qualquer pessoa que detenha a guarda da criança

como um possível alienador, incluindo os avós. (Disponível em:

<http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2012_

1/juliana_guilhermano.pdf>. – Acesso: 08.07.2015)

Desta forma, o legislador não tratou do tema de forma taxativa, utilizou de noções

exemplificativas, como vimos quando se referiu que a alienação parental decorrerá da

interferência na formação psicológica dos pequenos, razão pela qual permitiu que o

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magistrado, em conjunto com profissionais de saúde mental possam verificar as mais diversas

formas de interferência que o alienador possa utilizar.

O artigo 2º além de trazer a definição da Alienação Parental, em seu parágrafo único

apresenta de modo exemplificativo um rol com algumas situações que se caracterizadas

evidenciarão a instalação daquela, são elas:

Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos

assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou

com auxílio de terceiros:

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da

paternidade ou maternidade;

II - dificultar o exercício da autoridade parental;

III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;

IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;

V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança

ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;

VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós,

para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;

VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a

convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou

com avós.

Os incisos elencados pelo parágrafo único do artigo 2º denotam a preocupação do

legislador em manter o convívio entre pais e filhos mesmo após a dissolução da sociedade

conjugal. Na redação do retro dispositivo verificamos que o legislador enaltece o princípio do

melhor interesse da criança e adolescente, mormente quando preconiza a necessidade de estes

viverem de forma harmônica com ambos genitores ou quem quer que detenha sua guarda ou

vigilância.

3.2 - Do procedimento

O artigo 4º da Lei nº 12.318/2010 prevê a possibilidade de o julgamento de Alienação

Parental ser realizado mediante ação autônoma ou por meio de incidental, tendo inclusive,

tramitação prioritária, in verbis:

Art. 4o Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de ofício,

em qualquer momento processual, em ação autônoma ou incidentalmente, o

processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o

Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da

integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua

convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o

caso.

Parágrafo único. Assegurar-se-á à criança ou adolescente e ao genitor garantia

mínima de visitação assistida, ressalvados os casos em que há iminente risco de

prejuízo à integridade física ou psicológica da criança ou do adolescente, atestado

por profissional eventualmente designado pelo juiz para acompanhamento das

visitas.

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Acertou mais uma vez o legislador ao determinar a tramitação prioritária do feito em

razão da existência dos indícios de ato de alienação parental. E assim o é porque já constatado

que os traumas vivenciados pelas crianças e adolescentes não são de fácil reversão e em

muitos casos a reversão nunca acontece, havendo apenas uma minoração das consequências.

Ademais, a tramitação prioritária encontra escopo no princípio da razoável duração do

processo (artigo 5º, inciso LXXVIII da Constituição Federal), permitindo desta forma, que os

autos tenham uma instrução mais rápida e eficiente, para que só assim, possam ser tomadas as

medidas convenientes para cada caso.

Neste sentido, Fábio Vieira Figueiredo e George Alexandridis:

A discussão sobre a alienação parental, pela grande repercussão fática que evidencia

na pessoa do menor, necessita de uma tramitação célere, tanto assim que a norma

determina sua tramitação de forma prioritária às demais demandas em curso naquele

juízo, como forma de garantir a efetividade á luz do inciso LXXVIII do art. 5º da

Constituição Federal. Importante consignar que a prioridade na tramitação não deve

colidir com a proteção do contraditório e da ampla defesa, garantias também

constitucionalmente asseguradas, nos termos do inciso LV do art. 5º da Carta Magna

de 1988 (2014, p. 67).

No mesmo dispositivo também verificamos que será possível a visita assistida, ou seja,

a criança e/ou adolescente alienado poderão visitar o genitor ou qualquer outra pessoa que

tenha sofrido com a alienação. Note-se que o direito de visitação assistida pode acontecer

durante a tramitação do feito, conduta não será determinado quando atestado por profissional

especializado que tal procedimento possa ocasionar risco a integridade física ou psicológica

dos pequenos.

A possibilidade de visita assistida tem como objetivo a aproximação dos filhos com o

adulto alienado, permitindo com isto a recuperação, pelo menos singela, dos sentimentos de

afeto existentes entre ambos antes da ruptura prematura.

3.3 - Da prova

O artigo 5º dispõe sobre a possibilidade de perícia psicológica ou biopsicossocial.

Art. 5o Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma

ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou

biopsicossocial.

§ 1o O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial,

conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame

de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação,

cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da

forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação

contra genitor.

§ 2o A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados,

exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou

acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental.

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§ 3o O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência de

alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do laudo,

prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em justificativa

circunstanciada.

Como a percepção da Alienação Parental pelo julgador no caso em concreto é muito

difícil, a necessidade do auxílio de uma equipe multidisciplinar é quase que um requisito

obrigatório. Desta forma, requer o magistrado a colaboração de profissionais especializados

na área de saúde mental, como por exemplo, psicólogos, assistentes sociais e psiquiatras.

Ademais, verificamos que os nobres julgadores, embora possuam notavel saber juridico, não

possuem qualificação suficiente para fixar de forma eficiente o melhor tratamento ao caso.

Dainte disso, há a necessidade de um trabalho em conjunto, a fim de ser proferida uma

decisção que supra as deficiências encontradas pelos profissionais acima citados no âmbito

familiar.

Neste sentido, Sandra Bacarra (2011) em uma palestra realizada na OAB∕DF relatou:

“Apesar de a lei prever apenas a possibilidade, a perícia deve ser requisitada em todos os

casos, pois o juiz é um profissional do Direito, ele não tem que ter esse preparo, ele não é

psicólogo”. (Disponível em: <http://www.oabdf.org.br/noticias/palestrante-defende-pericias-

em-casos-de-alienacao-parental/> - Acesso em: 01.08.2015)

3.4 - Das medidas de proteção

O artigo 6º e parágrafo único da Lei nº 12.318/2010 traz um rol exemplificativo de

medidas que podem ser adotadas pelo julgador depois de detectada a Alienação Parental.

Vejamos:

Art. 6o Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que

dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou

incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente

responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais

aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:

I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;

II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;

III - estipular multa ao alienador;

IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;

V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;

VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;

VII - declarar a suspensão da autoridade parental.

Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou

obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar

para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das

alternâncias dos períodos de convivência familiar.

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Deve ser ressaltado que a fixação de qualquer uma dessas medidas não exclui a

possibilidade de responsabilização civil e criminal do alienador. Ademais, existe a

possibilidade de fixação de duas ou mais medidas de forma cumulativamente, devendo o

julgador analisar as peculiaridades do caso em concreto. Neste contexto a realização da

perícia mostra-se necessária e eficiente, mormente quando é através dos laudos e relatórios

que o juiz poderá ter acesso à intimidade e o convívio entre os membros da família.

Desta forma, deve o julgador analisar de forma criteriosa e com o auxílio dos

profissionais especializados, a melhor medida para inibir a prática de atos que configurem

Alienação Parental.

3.5 - Da competência

Conforme dispõe o artigo 8º, é irrelevante para fixação da competência das ações de

Alienação Parental, a alteração do endereço da criança e do adolescente, in verbis:

Art. 8 - A alteração de domicílio da criança ou adolescente é irrelevante para a

determinação da competência relacionada às ações fundadas em direito de

convivência familiar, salvo se decorrente de consenso entre os genitores ou de

decisão judicial.

Referido dispositivo diz respeito sobre a impossibilidade de alterar a competência da

ação pela modificação do domicílio da criança e do adolescente. Neste ponto, o legislador

anteviu que a mudança de domicílio poderia ser utilizada pelo alienador como instrumento

para diminuir a convivência e os laços de afetos existentes entre o pai∕mãe e filhos.

Conduto, deve ser ressaltado a possibilidade de alteração da competência pelo

consenso entre os genitores ou por decisão judicial, como assim prevê a parte final do retro

dispositivo.

Frise-se que a lei foi omissa a respeito de qual seria a vara competente para o

julgamento de tais demandas, dando margem a várias posições; há aqueles que sustentam que

caberia as Varas Especializadas da Infância e da Juventude, enquanto outros sustentam a

competência da Vara Civil de Família e Sucessões.

Neste sentido, Marina Croce Guilhermino e Ivone Juscelina de Almeida, no trabalho

de conclusão de curso - Meios alternativos para Solução de Conflitos gerados pela Síndrome

da Alienação Parental (2006), relataram brilhantemente a respeito do tema. Vejamos:

Havia entendimentos de que a Vara da Infância e Juventude seria a detentora da

competência, pois os menores alienados estariam em situação de risco diante do

abuso, ainda que somente de âmbito moral. Além disso, baseavam esse

entendimento nos artigos 98 c/c 148 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Contudo, o juízo da Infância e da Juventude tem sua competência definida na

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legislação especial sobre menores, bem como a de fiscalizar, orientar e apurar

irregularidades de instituições, organizações governamentais e não governamentais,

abrigos, instituições de atendimento e entidades congêneres que lidem com 29

menores, garantindo-lhes medidas de proteção (Desa. Áurea Brasil, Conflito de

Competência 1.0000.13.087667-5/000). Já a Vara de Família em competência para

processo e julgamento de questões relativas ao estado de pessoa e ao Direito de

Família, ou seja, àquela é especial à esta. Assim, temos que, via de regra, a

competência para as Ações Declaratórias de Alienação Parental é da Vara de

Família, uma vez que, por mais que a criança esteja senda vítima de abuso moral, a

mesma não está em situação de risco, que é aquela que envolve abandono ou risco,

sendo que na maioria das vezes, os menores estão sob a responsabilidade de um dos

genitores. Além disto, em casos incidentais a outros processos, mais nítida ainda é a

percepção da competência da Vara de Família, visto que isto surge em ações de

Divórcio, Guarda ou Regulamentação de Visitas, todas de competência daquele

juízo.

(Disponível em: <http://www.viannajr.edu.br/files/uploads/20150225_145812.pdf>

- Acesso em: 01.08.2015)

A jurisprudência é no sentido que seria competente a Vara da Infância e Juventude, in

verbis:

EMENTA: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA - AÇÃO DE

ALIENAÇÃO PARENTAL - PRETENSÃO DE CUMPRIMENTO DO ACORDO

QUE DEFINIU AS VISITAS PATERNAS - MENORES EM SITUAÇÃO DE

RISCO - NÃO CONFIGURAÇÃO - ART. 98 DO ECA - ART. 60 DA LCE 59/01 -

VARA CÍVEL/DE FAMÍLIA COMPETENTE. 1. As ações que visam à

regulamentação do direito de visita, regra geral, tramitam perante a Vara de Família

(art. 60 da LCE 59/01). Somente quanto a criança se encontrar em situação de risco,

tal como descrito no art. 98 do ECA, é que a competência será deslocada para a Vara

da Infância e Juventude. 2. Crianças que, embora possam estar sofrendo restrição em

seu direito de convivência familiar saudável, encontram-se devidamente assistidas

por sua mãe, que inclusive constituiu nova família, inexistindo provas ou alegações

quanto à exposição a maus tratos, ou a situações que importem ameaça às suas

integridades físicas e mentais. 3. Competência do juízo suscitado. (TJMG – Acordão

– 100001308766750002014681416 - 5ª CÂMARA CÍVEL - Relatora Desa. Áurea

Brasil, julgado em 26/06/2014)

Disponível em: <http://www.tjmg.jus.br> acesso em: 20-04-2015.

Nesse sentido, vejamos:

EMENTA: MEDIDA DE PROTEÇÃO INTENTADA PELO MINISTÉRIO

PÚBLICO EM FAVOR DE MENORES. SÍNDROME DE ALIENAÇÃO

PARENTAL. INTERESSE DE MENORES. LEGITIMIDADE. COMPETÊNCIA

DA VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE. RECONHECIMENTO.

DECISÃO QUE ARQUIVOU O FEITO. DESCABIMENTO. REFORMA. 1. Tendo

em vista o disposto nos artigos 141 e 201, VIII, da Lei n° 8.069/1990 c/c artigo 82, I,

do CPC, o Ministério Público tem legitimidade para figurar no pólo ativo de ação

em que se pleiteia a adoção de medidas protetivas contra alienação parental. 2.

Conjugando-se o disposto no artigo 98, II, com as determinações do artigo 148, §

único, d, ambos do ECA, tem-se a competência do Juízo da Infância e da Juventude

para conhecer, processar e julgar medida de regulamentação de visita, que busca

coibir alienação parental promovida pela mãe contra o pai. 3. Impõe-se a reforma da

decisão que determinou o arquivamento dos autos em que se pleiteou medida

protetiva para menores, se restar verificado a plausibilidade de eles estarem em

situação de risco, especificamente em síndrome de alienação parental. 4. Recurso

provido. (Apelação Cível N° 1.0114.10.014405-3/001 - Comarca De Ibirité -

APELANTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS -

APELADO(A)(S): M.A.V.C. - RELATOR: EXMO. SR. DES. VIEIRA DE BRITO.

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Número do 1.0114.10.014405-3/001 Númeração 0144053- Relator: Des.(a) Vieira

de Brito Relator do Acordão: Des.(a) Vieira de Brito Data do Julgamento:

26/05/2011 Data da Publicação: 03/08/2011).

Disponível em: <http://www.tjmg.jus.br> acesso em: 20-04-2015.

Diante do contexto apresentado, bem como pela exposição das medidas que pode o

Estado tomar quando da caracterização da Alienação Parental, é necessário a análise de uma

das grandes alternativas encontradas para diminuir a ocorrência deste distúrbio nas famílias

brasileiras, a Guarda Compartilhada.

IV - GUARDA COMPARILHADA

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Neste capítulo analisaremos os principais aspectos da guarda compartilhada,

relacionando os aspectos positivos e negativos que a sua fixação pode vir a trazer para

ambiente familiar.

A guarda compartilhada surgiu com o fito de servir de instrumento apto a reequilibrar

as relações parentais entre pais e filhos, exigindo que os deveres que os pais detinham quando

da construção da sociedade conjugal permaneçam após a dissolução desta. Os papéis dos

genitores devem ser preservados, a fim de que haja uma continuidade na relação familiar após

mesmo a separação, possibilitando, por conseguinte o desenvolvimento saudável das crianças

ainda em fase de crescimento, consagrando, assim, um dos pilares do Direito de Família, o

princípio do melhor interesse da criança e do adolescente.

4.1 - História da Guarda Compartilhada

Como já analisado neste trabalho, a família recebeu influência dos vários momentos

históricos vividos por nosso país, bem como, recepcionou inúmeros reflexos de diversos pais.

Inicialmente, a guarda da prole era destinada ao homem, que detinha o pater poder no

âmbito familiar, nesta época a mulher encontra-se dissociada das responsabilidades inerentes

ao comando conjugal, mantinha-se nas atividades do lar.

Por outro lado, com as inúmeras transformações ocorridas no decorrer da evolução da

sociedade, a mulher introduziu-se no mercado de trabalho, dando início as novas mudanças

que estavam por vir em relação aos costumes, valores, ideais sociais e, por sua vez, veio a

desencadear a grande ruptura no modelo de família existente. Neste âmbito houve a

necessidade de uma readequação dos arranjos familiares para se enquadrar aos anseios sociais

vividos pela nova sociedade, buscando impor um equilíbrio entre os genitores quantos às

questões que envolvam a criação e educação dos filhos.

Com o passar do tempo, com a industrialização e globalização, o homem passou há

dispensar mais tempo para o trabalho externo, dando, assim, a oportunidade de a mulher, em

caso de separação, ter a guarda dos filhos, mormente quando verificou-se que o sexo

feminino, na maioria dos casos, tinha uma maior sensibilidade para com a prole. Neste

contexto fático, o homem ficou responsável pela manutenção das necessidades materiais da

família, enquanto a mulher ficou incumbida de dedicar-se aos afazeres do lar, dedicando aos

cuidados dos filhos, ficando, assim, mais tempo com eles.

O instituto da guarda, como se percebe, também sofreu com as inúmeras e constantes

mudanças com que a cultura brasileira foi submetida, contudo seus fins não conseguiram

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acompanhar o desenvolvimento gradual que a sociedade vem vivenciando. Foi com esse

descompasso e com as críticas em relação à guarda única, que surgir novas teorias no campo

do direito, psicologia e sociologia, as quais acabaram por sustentarem que nem sempre a

atribuição da aguarda a mãe seria o reflexo do melhor interesse da criança e do adolescente.

Estas críticas evidenciavam que com a guarda única haveria a perpetuação da desigualdade

entre homens e mulheres e a coexistência de um desequilíbrio no exercício da relação

parental.

Diante disso, o protagonista, inicialmente, vivido pela figura do pai retorna

demasiadamente as responsabilidades que até então estavam sendo direcionadas as mães. Tal

cenário é desencadeado pela vontade de ambos os genitores exercerem sobre a prole as

mesmas responsabilidades, ainda, que não estejam juntos matrimonialmente. Nesse sentido, o

instituto da guarda compartilhada foi instituído, instrumento pelo qual possibilitou que os pais

e mães de filhos separados pudessem exercer em pé de igualdade as responsabilidades e

deveres impostos pela legislação vigente, decidindo de forma conjunta as diretrizes da vida da

criança e adolescente ainda em desenvolvimento.

4.2 - Guarda Compartilhada no Brasil

No ordenamento jurídico brasileiro, a guarda compartilhada foi introduzida

recentemente com o advento da Lei n° 11.698/2008 que, por sua vez, incluiu a redação do

artigo 1.583 e parágrafos e artigo 1.584, ambos do Código Civil, in verbis:

Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada.

§ 1o Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a

alguém que o substitua (art. 1.584, § 5o) e, por guarda compartilhada a

responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que

não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns.

§ 2o Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve ser dividido

de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista as condições

fáticas e os interesses dos filhos.

§ 3º Na guarda compartilhada, a cidade considerada base de moradia dos filhos será

aquela que melhor atender aos interesses dos filhos.

§ 5º A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os

interesses dos filhos, e, para possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores

sempre será parte legítima para solicitar informações e/ou prestação de contas,

objetivas ou subjetivas, em assuntos ou situações que direta ou indiretamente afetem

a saúde física e psicológica e a educação de seus filhos.

Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser:

I – requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles, em ação

autônoma de separação, de divórcio, de dissolução de união estável ou em medida

cautelar; (Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).

II – decretada pelo juiz, em atenção a necessidades específicas do filho, ou em razão

da distribuição de tempo necessário ao convívio deste com o pai e com a mãe.

(Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).

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§ 1º Na audiência de conciliação, o juiz informará ao pai e à mãe o significado da

guarda compartilhada, a sua importância, a similitude de deveres e direitos

atribuídos aos genitores e as sanções pelo descumprimento de suas cláusulas

§ 2º Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho,

encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a

guarda compartilhada, salvo se um dos genitores declarar ao magistrado que não

deseja a guarda do menor.

§ 5º Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da

mãe, deferirá a guarda a pessoa que revele compatibilidade com a natureza da

medida, considerados, de preferência, o grau de parentesco e as relações de

afinidade e afetividade.

§ 6º Qualquer estabelecimento público ou privado é obrigado a prestar informações

a qualquer dos genitores sobre os filhos destes, sob pena de multa de R$ 200,00

(duzentos reais) a R$ 500,00 (quinhentos reais) por dia pelo não atendimento da

solicitação.

Deve ser ressaltado que muito embora tenha a Lei introduzida expressamente à guarda

compartilhada no sistema jurídico vigente, já era possível sua aplicação. Para tanto, bastava

uma leitura atenciosa e sistemática em relação às diretrizes evidenciadas pelo Constituição

Federal de 1988 (artigo 226, §5º), pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (artigo 21), bem

como pelo Código Civil (artigo 1.586), conjugando-a aos princípios aplicáveis ao Direito de

Família, em especial, o princípio do melhor interesse da Criança e do Adolescente.

A guarda única era o que prevalecia antes do ingresso da Lei anteriormente

mencionada, ou seja, quando da segregação da sociedade conjugal a guarda dos filhos

deveriam ser fixadas ao pai ou a mãe. Conduto, com as mudanças e acentuações que a Lei

ocasionou, a fixação da guarda não fica restrita apenas nos casos em que há a dissolução do

casal, mas também em qualquer situação que os genitores não mais convivam sobre o mesmo

teto, conforme dispõe a redação do §1° do artigo 1.583 do Código Civil.

A introdução da guarda compartilhada no ordenamento jurídico brasileiro veio, de

certo modo, minimizar as consequências que a dissolução da vida conjugal pode ocasionar

aos filhos, resguardando, desta forma, a primazia do interesse da prole, mormente quando

possibilita que ambos os genitores continuem desempenhando seus papeis no

desenvolvimento e educação dos filhos.

Neste sentido, o papel do pai não se restringirá apenas no pagamento em dia da pensão

alimentícia fixada ou acordada judicialmente, ele poderá, melhor dizendo, deverá exercer as

responsabilidades impostas pelo Constituição Federal, bem como pelos demais diplomas que

assegurem as crianças e adolescentes direitos.

Deve ser ressaltado, que embora a Lei 11.698/2008 tenha instruído e disciplinado a

guarda compartilhada, com a inclusão dos artigos acima transcritos no Código Civil, houve

um novo e grande passo quanto à fixação da guarda quando da dissolução da sociedade

Page 53: ALIENAÇÃO PARENTAL · RESUMO O trabalho abordará as principais características e consequências da Alienação Parental, tema pelo qual, embora já introduzido em nosso ordenamento

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conjugal. Esse passo se deu com a promulgação da Lei 13.058/2014, que em síntese, estipula

como regra a fixação da guarda compartilhada no caso de separação dos pais.

A Lei 11.058/2014 vem a alterar o Código Civil no tocante as mudanças que a Lei

10.406/2002 tinha realizado, ou seja, a Lei 10.406/2006 estipulava que a guarda

compartilhada só seria imposta quando existisse uma boa convivência entre os genitores após

a separação. No entanto, agora permanece que a fixação da guarda compartilhada alcançará

para qualquer dissolução, inclusive, as litigiosas.

Desta forma, vigora no ordenamento de que a guarda compartilhada é regra, conduto,

deve ser salientado que nada impede que o Juiz ao analisar o caso em concreto ou quando os

pais abrirem mão dela, fixar a guarda única, levando sempre em conto o melhor interesse da

criança e do adolescente. No entanto, em razão do conservadorismo do Judiciário, a fixação

da guarda compartilhada ainda é demasiadamente pequena.

Destarte, o Juiz não julgará o caso apenas com seus conhecimentos técnicos, deverá

ter o auxílio de uma equipe interdisciplinar, que realizará um estudo psicológico e social do

litigio, a fim de verificar a possibilidade ou não da fixação da guarda compartilhada, que no

momento é a regra imposta pelo ordenamento.

O número de decisões que fixam a guarda compartilhada, ainda continue sendo

irrisório. Carlos Madeiro (2012), na Uol, renomado site de notícias traz dados do IBGE de

2011 que apontam que 87,6 % dos divórcios celebrados no Brasil tem a guarda da prole

fixada a mãe.

O referido site ainda afirma:

Há Estados em que a guarda compartilhada dos filhos é mais frequente. No Pará

(8,9%) e no Distrito Federal (8,3%), por exemplo, são registrados os maiores

índices, que superaram a casa dos oito pontos percentuais. Já Sergipe (2,4%) e Rio

de Janeiro (2,8%) tiveram as menores taxas. (Disponível em:

<http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/12/17/ibge-guarda-

compartilhada-de-filhos-dobra-em-2011-mas-ainda-representa-so-54-do-total.htm> -

Acesso 30/06/2015)

Neste sentido, o gráfico seguinte, extraído do mesmo site, ilustra bem a situação

vivenciada pelas famílias brasileiras:

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(Fonte: Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/12/17/ibge-guarda-

compartilhada-de-filhos-dobra-em-2011-mas-ainda-representa-so-54-do-total.htm> - Acesso 30/06/2015)

Por outro lado, Marcella Centofanti (2014), tece considerações a respeito do tema,

introduzindo novos dados do IBGE quanto ao percentual de filhos de pais separados que

houve a fixação da quadra compartilhada; elas afirmar “Atualmente, segundo o IBGE, com

base em estatísticas do Registro Civil de 2013, apenas 7,73% dos filhos de casais separados

vivem sob regime de guarda compartilhada. Na maioria dos casos, 85,07%, a criança ainda

fica com a mãe, e em 5,35%, com o pai.” (Disponível em:

<http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/guarda-compartilhada-o-que-muda-com-a-nova-lei/> -

Acesso em: 08.07.2015)

Como constatado, embora tenha sido elencada como regra, a guarda compartilhada

ainda pede atenção, mormente quando vem prevalecendo a imposição da guarda única.

4.3 - Diferença entre Guarda Compartilhada e Guarda Alternada

É necessário distinguirmos esses dois institutos para compreender a viabilidade e

adequação da fixação da guarda compartilhada.

A guarda alternada se caracteriza como sendo aquela em que haverá uma alternância

de guarda entre os genitores, ou seja, cada um dos genitores terá um determinado período de

tempo para exercer de modo exclusivo a guarda, possibilitando, assim, que ambos os pais,

mesmo que no momento não detenha a guarda, possa exercer sobre a prole os direitos e

deveres decorrentes dela, mantendo, desta forma, a continuidade da convivência familiar,

preservando também o melhor interesse da criança e do adolescente. É importante

destacarmos que a guarda alternada não encontra previsão no ordenamento pátrio.

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A renomada Rosângela Paiva Spagnol (2004), distingue de forma brilhante a guarda

alternada da guarda compartilhada:

Não poucas pessoas envolvidas no âmbito da guarda de menores, vislumbram um

vínculo entre a Guarda compartilhada e guarda alternada, ora, nada há que se

confundir, pois, uma vez já visto os objetos do primeiro instituto jurídico, não nos

resta dúvida que dele apenas se busca o melhor interesse do menor, que tem por

direito inegociável a presença compartilhada dos pais, e nos parece que,

etimologicamente o termo compartilhar, nos traz a ideia de partilhar + com =

participar conjuntamente, simultaneamente. Ideia antagônica à guarda alternada,

cujo teor o próprio nome já diz Diz-se de coisas que se alternam, ora uma, ora outra,

sucessivamente, em que há revezamento. Diz-se do que ocorre sucessivamente, a

intervalos, uma vez sim, outra vez não.

(Disponível em: <http://www.pailegal.net/guarda-compartilhada/mais-a-

fundo/analises/389-filhos-da-mae-uma-reflexao-a-guarda-compartilhada> - Acesso:

07.07.2015)

Paulo Lôbo (2009) conceitua a guarda alternada:

Nesta, o tempo de convivência do filho é dividido entre os pais, passando a viver

alternadamente, de acordo com o que ajustarem os pais ou o que for decidido pelo

juiz, na residência de um e de outro. Por exemplo, o filho reside com um dos pais

durante o período escolar e com o outro durante as férias, notadamente quando as

residências forem em cidades diferentes. Alguns denominam essa modalidade de

residências alternadas.

(Disponível: <http://direitosdasfamilias.blogspot.com.br/2009_08_01_archive.html>

- Acesso em 12.08.2015)

A alternância na guarda não é vista com bons olhos pelos juristas brasileiros, sendo

alvo de várias críticas. Dentre as inúmeras opiniões pode ser ressaltar que as crianças e

adolescentes que são submetidas a guarda alternada acabam vivendo de um lado por outro,

não estabelecendo razies em nenhuma das residências de seus pais, o que acaba abalando o

psicológico e trazendo insegurança aos filhos.

Nesses casos, é muito comum que os pais, para manter os filhos cada vez mais

próximos, acabam realizando todos os caprichos impostos pela criança, o que por sua vez,

torna os filhos mimados, imaturos, fazendo o que querem e o que não querem, não há uma

imposição de deveres à prole, ou seja, os pais deixam de exercer de forma funcional as

diretrizes que a Constituição os impõe.

É neste contexto que nossos crianças e adolescentes estão sendo criados, onde os pais

deixam de educar para realizar os caprichos desejados pelos filhos e assim, de forma

enganosa, imaginam estreitar as relações parentais existentes ou ao menos tentar estimula-las.

A guarda alternada insere uma falsa percepção sobre a real convivência entre os

genitores e a prole, é como se a criança não tivesse a quem recorrer quando necessário,

mormente quando a cada tempo esta com um dos pais, não há uma estabilidade nem física

nem emocional, o que pode ocasionar uma série de consequências negativas, como por

exemplo, a imaturidade, desorientação, confusão dos sujeitos ainda em desenvolvimento.

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Quanto à guarda alternada, Eduardo de Oliveira Leite sustenta:

Em nível pessoa o interesse da criança é prejudicado porque o constante movimento

de um genitor a outro cria uma incerteza capaz de desestruturar mesmo a criança

mais maleável e a mudança constante de guarda, certamente, provocará eventuais

conflitos sobre a criança que precisa de segurança e estabilidade (2003, p. 259).

Desta forma, a imposição da guarda alternada nada beneficia o crescimento e

desenvolvimento da criança e do adolescente, pelo contrário, apenas vê as necessidades dos

adultos, que muito das vezes, por ocasião da separação, acabam praticando atos apenas em

proveito próprio. A jurisprudência brasileira é unânime em recolher que a fixação da guarda

alternada nada contribui para a formação da prole, in verbis:

EMENTA: GUARDA DE MENOR COMPARTILHADA - IMPOSSIBILIDADE -

PAIS RESIDINDO EM CIDADES DISTINTAS - AUSÊNCIA DE DIÁLOGOS E

ENTENDIMENTO ENTRE OS GENITORES SOBRE A EDUCAÇÃO DO FILHO

- GUARDA ALTERNADA - INADMISSÍVEL - PREJUÍZO À FORMAÇÃO DO

MENOR. A guarda compartilhada pressupõe a existência de diálogo e consenso

entre os genitores sobre a educação do menor. Além disso, guarda compartilhada

torna-se utopia quando os pais residem em cidades distintas, pois aludido instituto

visa à participação dos genitores no cotidiano do menor, dividindo direitos e

obrigações oriundas da guarda. O instituto da guarda alternada não é admissível em

nosso direito, porque afronta o princípio basilar do bem-estar do menor, uma vez

que compromete a formação da criança, em virtude da instabilidade de seu

cotidiano. Recurso desprovido. (TJMG - Apelação Cível nº 1.0000.00.328063-3/000

– rel. Des. LAMBERTO SANT´ANNA – Data do acordão: 11/09/2003 Data da

publicação: 24/10/2003).

Disponível em: <http://www.tjmg.jus.br> acesso em: 20-04-2015.

AGRAVO DE INSTRUMENTO - FILHO MENOR (5 ANOS DE IDADE) -

REGULAMENTAÇÃO DE VISITA - GUARDA ALTERNADA

INDEFERIDAINTERESSE DO MENOR DEVE SOBREPOR-SE AO DOS PAIS -

AGRAVO DESPROVIDO. Nos casos que envolvem guarda de filho e direito de

visita, é imperioso ater-se sempre ao interesse do menor. A guarda alternada,

permanecendo o filho uma semana com cada um dos pais não é aconselhável pois

´as repetidas quebras na continuidade das relações e ambiência afetiva, o elevado

número de separações e reaproximações provocam no menor instabilidade

emocional e psíquica, prejudicando seu normal desenvolvimento, por vezes

retrocessos irrecuperáveis, a não recomendar o modelo alternado, uma caricata

divisão pela metade em que os pais são obrigados por lei a dividir pela metade o

tempo passado com os filhos´ (RJ 268/28). (TJSC - Agravo de instrumento n.

00.000236-4, da Capital, Rel. Des. Alcides Aguiar, j. 26.06.2000). Disponível em:

<http://www.tjsc.jus.br> acesso em: 20-04-2015.

Ementa: APELAÇÃO - Guarda "Alternada" - Modificação para "Unilateral" - O

compartilhamento exige uma perfeita harmonia entre os cônjuges, com ampla

possibilidade de diálogos e concessões mutuas, de modo especial nas decisões

relacionadas ao menor que devem ser tomadas de comum acordo e sem qualquer

imposição de um sobre o outro. Assim, inviável quando ambos os pais, em ação e

reconvenção, pretendem expressamente a guarda unilateral do menor. Doutrina e

jurisprudência que, em princípio, repudiam o sistema de guarda "alternada". Estudos

psicossociais que demonstram que ambos os genitores possuem condições de

permanecer com o filho - Menor que prefere ficar com o pai - Prevalência do

interesse do menor. Ação Improcedente. Decisão Reformada. Parcial provimento ao

recurso da autora, provido o adesivo do réu. (TJSP – Apelação com Revisão-

Modificação de Guarda de Menor n. 9104655-89.2008.8.26.0000 – São Paulo – 3º

Câmara de Direito Privado Relator Egidio Giacoia- j. 06.10.2009). Disponível em:

<http://www.tjsp.jus.br> acesso em: 20-04-2015.

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54

Neste sentido, verificamos que a fixação da guarda alternada requer, sobretudo, uma

relação muito harmoniosa entre os ex-conciventes, o que nos dias de hoje é muito complicado

de se encontrar. Ademais, devemos ter em mente que a imposição dela pode vir a ocasionar

várias consequências negativas ao crescimento das crianças, sendo em razão disso que muitos

magistrados veem o assunto com cautela.

Por outro lado, temos a guarda compartilhada que, por sua vez, veio romper

paradigmas e instalar uma nova concepção, ela como já visto anteriormente, foi inserida pela

Lei nº 11.698/2008 e é a regra prevista em nosso ordenamento jurídico para as dissoluções

conjugais, mesmo inexistindo acordo entre os pais. A introdução deste instituto veio a alterar

os artigos já comentados impondo-a como regra e deixando a guarda unilateral como exceção.

O ponto diferenciador entre a guarda compartilhada e a guarda alternada é que a

criança na guarda compartilhada não será transferida a cada final de semana para uma casa e

outra, pelo contrário, será assegurado finais de semana para o genitor que não residir com o

filho, para que com isso posso ser mantido a convivência familiar, ou seja, a visita será

mantida normalmente, conduto, a criança ainda terá como referência apenas um lar e não

como na guarda alternada, onde os filhos são inseridos a cada período em uma casa.

Diante disso, devemos ter em mente que as consequências da guarda alternada é

patente, mormente quando retira das crianças referências básicas importantíssimas, como por

exemplo, alimentação, costumes familiares, confusões emocionais e abalo psicológico.

4.4 - Aspectos negativos e positivos da Guarda compartilhada

É necessário analisarmos as condições positivas e negativas da imposição da guarda

compartilhada, tendo em vista que estes aspectos deverão nortear as decisões judiciais quando

da fixação da guarda compartilhada.

4.4.1 - Vantagens da Guarda Compartilhada

A separação conjugal requer do magistrado quando da fixação da guarda uma análise

de todas as circunstâncias que troneiam a vida das crianças e adolescentes ainda em fase de

desenvolvimento. Neste sentido, como já falado anteriormente, o julgador se utilizará de uma

equipe multidisciplinar para verificar o que melhor atenderá os interesses daqueles.

Diante disso, a guarda compartilhada verifica-se como umas das possibilidades para

minimizar as consequências negativas que a separação dos genitores pode vir ocasionar na

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vida da prole, permitindo, por conseguinte, que ambos possam participar das decisões que

envolvam a criação e educação dos filhos em comum.

O renomado autor Waldyr Grisard Filho dispõe que em relação aos pais a guarda

compartilhada oferece inúmeros benefícios:

Em relação aos pais a guarda compartilhada oferece múltiplas vantagens. Além de

mantê-los guardadores e lhes proporcionar a tomada de decisões conjuntas relativas

ao destino dos filhos, compartilhando o trabalho e as responsabilidades,

privilegiando a continuidade das relações entre cada um deles e seus filhos,

minimiza o conflito parental, diminui os sentimentos de culpa e frustração por não

cuidar de seus filhos, ajuda –os a atingir os objetivos de trabalharem em prol dos

melhores interesses morais e materiais da prole. Compartilhar o cuidado aos filhos

significa conceder aos pais mais espaço para suas outras atividades (2009, p. 222)

Outro aspecto relevante é que a fixação da guarda compartilhada diminui os abalos

psíquicos que a separação pode vir a provocar, mormente quando permite que a criança tenha

acesso a ambos os genitores, mesmo que em relação a um o período seja reduzido, mas

permitindo que a criança possa ter contato tanto com o pai quanto com a mãe.

Paulo Lôbo (2009, pgs. 179-180) elenca algumas vantagens que a guarda

compartilhada pode proporcionar:

São evidentes as vantagens da guarda compartilhada: prioriza o melhor interesse dos

filhos e da família, prioriza o poder familiar em sua extensão e a igualdade dos

gêneros no exercício da parentalidade, bem como a diferenciação de suas funções,

não ficando um dos pais como mero coadjuvante, e privilegia a continuidade das

relações da criança com seus dois pais. Respeita a família enquanto sistema, maior

do que a soma das partes, que não se dissolve, mas se transforma, devendo continuar

sua finalidade de cuidado, proteção e amparo dos menores. Diminui,

preventivamente, as disputas passionais pelos filhos, remetendo, no caso de litígio, o

conflito conjugal para seu âmbito original, que é o das relações entre os adultos. As

relações de solidariedade e do exercício complementar das funções, por meio da

cooperação, são fortalecidas a despeito da crise conjugal que o casal atravesse no

processo de separação.

Lôbo (2009, p. 180) ainda sustenta que a fixação da guarda compartilhada é a

modalidade de guarda que melhor atende aos princípios constitucionais, bem como aqueles

que norteiam o Direito de Família.

Do ponto de vista dos princípios constitucionais da solidariedade do melhor

interesse da criança e da convivência familiar, a guarda compartilhada é

indiscutivelmente a modalidade que melhor os realiza. A guarda compartilhada, por

ser preferencial, apenas deve ser substituída pela guarda unilateral quando se

evidenciar que não será benéfica ao filho, dadas as circunstâncias particulares e

pessoais.

Referido autor vai além e discorre a respeito de alguns aspectos que devem ser

colocados em prática para que a imposição da guarda compartilhada tenha sentido para as

crianças e adolescentes, in verbis:

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Para o sucesso da guarda compartilhada é necessário o trabalho conjunto do juiz e

das equipes multidisciplinares das Varas de Família, para o convencimento dos pais

e para a superação de seus conflitos. Sem um mínimo de entendimento a guarda

compartilhada pode não contemplar o melhor interesse do filho.

O uso da mediação é valioso para o bom resultado da guarda compartilhada, como

tem demonstrado sua aplicação no Brasil e no estrangeiro. Na mediação familiar

exitosa os pais, em sessões sucessivas com o mediador, alcançam um grau

satisfatório de consenso acerca do modo como exercitarão em conjunto a guarda. O

mediador nada decide, pois não lhe compete julgar nem definir os direitos de cada

um, o que contribui para a solidez da transação concluída pelos pais, com sua

contribuição. (LÔBO, 2009, p. 180)

A brilhante autora, Maria Berenice Dias, elenca algumas vantagens asseguradas pela

guarda compartilhada:

O maior conhecimento do dinamismo das relações familiares fez vingar a guarda

conjunta ou compartilhada, que assegura maior aproximação física e imediata dos

filhos com ambos, mesmo quando cessado o vínculo de conjugalidade. Garante, de

forma efetiva, a corresponsabilidade parental, a permanência da vinculação mais

estrita e a ampla participação de ambos na formação e educação do filho, o que a

simples visitação não dá espaço. O compartilhar da guarda dos filhos é o reflexo

mais fiel do que se entende por poder familiar. (DIAS, 2015, p. 525)

Por fim, cabe destacar uma pesquisa realizada em um site brasileiro sobre as vantagens

que a modalidade de guarda em analise pode propiciar aos pais e filhos. O site é intitulado

como Pai Legal (Disponível: http://www.pailegal.net – acesso 13.07.2015), sendo escrito por

um pai, que após a dissolução da sociedade conjugal, introduz inúmeros artigos a respeito de

como é a vida dos pais após o término do relacionamento, dando, inclusive, dicas e

alternativas de como os indivíduos que encontraram-se nesta situação devem lidar com os

problemas cotidianos. Nesta pesquisa o autor elenca várias vantagens relacionadas com

fixação da guarda conjunta:

a) Redução do estresse e maior produtividade dos filhos;

b) Melhor qualidade de vida;

c) Redução na fuga de escola e por, conseguinte, maior grau de alfabetização;

d) Diminuição nas prisões de menores;

e) Redução de problemas comportamentais;

f) Redução na duração processual.

Guilmane, (apud ABREU, 2003), é assistente social e a autora do livro “O Serviço

Social no Poder Judiciário de Santa Catarina”, também apresenta um rol dos benefícios da

guarda compartilhada em prol aos pais, in verbis:

Proporciona uma percepção mais realista das necessidades dos filhos;

Ressalta a estima perante os pais;

Favorece a qualidade da relação entre pais e filhos;

Favorece a divisão das responsabilidades parentais;

Proporciona maior segurança para os pais e oferece oportunidades de crescimento;

Favorece a tomada de decisão comum e reduz os recursos aos tribunais;

Como vantagens da guarda compartilhada para o(s) filho(s), a autora coloca:

Propicia acesso a ambos os pais;

Reduz o sentimento de perda ou de abandono;

Diminui a pressão sobre a criança que não terá que escolher entre um e outro;

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Será mais fácil falar “tchau” para o pai ou a mãe;

Elimina os conflitos de lealdade;

Garante a manutenção de relações e ligações com as duas famílias e os avós

paternos e maternos,

Expõe aos filhos a especificidade de cada um dos pais;

garante a permanência dos cuidados parentais;

(Disponível em: http://www.apase.org.br/91007-priorizando.htm. Acesso em:

13.07.2015).

Abreu (2003) elenca outra vantagem “Outra vantagem observada é que a guarda

compartilhada não sobrecarrega apenas um dos genitores como acontece na guarda

monoparental, única, exclusiva, modalidade na qual o cônjuge não guardião vai se

distanciando cada vez mais da vida do(s) filho(s).” (Disponível em: <www.apase.org.br> –

Acesso em: 13.07.2015)

Diante disso, após a análise das vantagens e benefícios que a imposição da guarda

compartilhada pode assegurar as crianças e adolescentes ainda em crescimento, trona-se

necessário tecer algumas considerações a respeito dos aspectos negativos da fixação de tal

modalidade, a fim de verificarmos o real sentido de tal instituto, buscando de forma imparcial

analisa-lo, demonstrando seus pós e contras.

4.4.2 - Desvantagens da Guarda Compartilhada

Como qualquer outra modalidade de guarda, a compartilhada também recebe inúmeras

críticas.

Neste sentido, verificamos que a primeira delas é no sentido de que a guarda conjunta,

como é também intitulada a guarda compartilhada, não poderá ser fixada de modo indistinto,

pelo contrário, deverá assegurar sempre o melhor interesse da prole, mormente quando já

analisado anteriormente, cada família detém seus princípios e crenças próprios, o que serve

para uma pode vir a não ser apropriada a outra, devendo ser analisado o caso em concreto

para a imposição da melhor modalidade de guarda a respectiva família.

Sendo assim a guarda conjunta sempre levará em consideração o que for melhor para o

desenvolvimento da criança e do adolescente, não interessando os anseios dos genitores, que

no momento estarão em uma situação delicada – separação.

Eliane Riberti Nazareth diserta contra a fixação da guarda compartilhada quando as

crianças são ainda muito pequenas, in verbis:

Quando as crianças são muito pequenas... Até quatro, cinco anos de idade, a criança

necessita de um contexto o mais favorável possível para o delineamento satisfatório

de sua personalidade. Conviver ora com a mãe ora com o pai em ambientes físicos

diferentes requer uma capacidade de adaptação e de codificação-decodifiação da

realidade só possível em crianças mais velhas (2007, p. 83).

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Outra crítica quanto a fixação da guarda compartilhada é quando os interesses dos

genitores na fixação desta modalidade de guarda se faz com o intuito de sabotar as decisões

que o outro detém, inserindo na cabeça dos filhos pensamentos e ideias lesivos a continuidade

da convivência parental com um dos pais.

Diante disso, verificamos que muitas vezes a escolha dos pais pela guarda

compartilhada se revela inadequada aos ditames do princípio primordial do Direito de

Família, qual seja, o melhor interesse da criança de do adolescente. Nestes casos, os genitores

são conduzidos por interesses próprios, tentando com isso eliminar a relação entre o filho e

um dos pais, sendo, talvez, esta situação que motivem o judiciário a priorizar a guarda

unilateral, mormente quando é preferível que a criança conviva com apenas um dos genitores

do que a conviver com os dois em situação de constante conflitos.

Neste sentido são as lições de Grisard Filho (2005, p. 194):

Pais em conflito constante, não cooperativos, sem diálogo, insatisfeitos, que agem

em paralelo e sabotam um ao outro contaminam o tipo de educação que

proporcionam a seus filhos e, nesses casos, os arranjos de guarda compartilhada

podem ser muito lesivos aos filhos. Para estas famílias, destroçadas, deve optar-se

pela guarda única e deferi-la ao genitor menos contestador e mais disposto a dar ao

outro o direito amplo de visitas.

4.5 - Casos práticos em que a guarda compartilhada fora fixada

Abreu (2003) no trabalho de conclusão do curso de assistente social, através de

pesquisas realizadas em famílias que adotaram a guarda compartilhada, divulgou algumas

considerações interessantes a respeito dos casos, realizando, inclusive uma análise a respeito

dos resultados da adoção de tal modalidade. É muito interessantes verificarmos que dentro da

própria guarda conjunta é possível visualizar maneiras diferentes de fixação, bem como a

adoção de métodos contrários, mas que ao final tem o mesmo objetivo.

O contexto das famílias analisadas foram os seguintes, in verbis:

Identificação

Pai: Hélio Mãe: Cida

Idade: 36 anos Idade: 35 anos

Profissão: Psicólogo Profissão: Administradora

Filhos: Antônio,10 anos e Marcos: 6 anos

Trata se de uma família que, após a ruptura do laço conjugal, optou em fazer um

acordo informal pela guarda compartilhada com alternância de casas, sem procurar o

Poder Judiciário para que homologasse o acordo.

Hélio e Cida foram casados, durante sete anos e, desde outubro de 1999, estão

separados de fato.

O casal levava um relacionamento tranquilo, baseado no diálogo, na confiança e no

respeito. A separação se deu por incompatibilidades de estilos de vida diferentes,

sendo que o processo de separação ocorreu sem a intervenção da justiça

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Durante a constância do casamento, tiveram dois filhos, Antônio que, na época da

separação, tinha 6 anos de idade (06) e Marcos com três anos de idade.

Tanto Hélio como Cida eram muito participativos e dedicados ao(s) filho(s) e, após

a separação, queriam dar continuidade aos vínculos estabelecidos com os mesmos,

compartilhando as responsabilidades e decisões referentes a vida do(s) filho(s).

Após optarem pela separação, conversaram com Antônio(6) e Marcos(3) a respeito

da decisão que tomaram, os dois levaram um impacto, nunca presenciaram seus pais

brigando e se desrespeitando.

A maior preocupação do casal em relação à separação era com o(s) filho(s) em dar

continuidade aos vínculos familiares, participando das responsabilidades e decisões

importantes em relação a Antônio e Marcos.

Por sugestão de Hélio, optaram em compartilhar a guarda de Antônio e Marcos sem

procurar a justiça. Estabeleceram um acordo informal entre eles, funcionando da

seguinte maneira: nas segunda, quarta e sexta feiras, as crianças passam a manhã

com a mãe, a qual depois de as deixar no colégio, onde o pai vai buscá-las, nas

terças e quintas feiras ,o esquema se inverte, o pai deixa as crianças na escola e a

mãe as busca.

Quando acontece algum problema na escola, será comunicado a quem primeiro

chega lá, ficando o outro responsável em repassar a informação ao outro genitor.

Assim também ocorre em relação a prestação de assistência médica aos filhos.

Os finais de semana são alternados. Cada um passa um final de semana com eles, às

vezes, todos saem para almoçar juntos (pai, mãe e filhos).

Em relação às férias, o esquema é bastante maleável, chegando a passar, algumas

vezes, todos juntos, como acontecia antes da separação Combinam o período de

férias para cobrirem todas as férias escolares.

Em relação aos alimentos, como os dois desenvolvem atividades laborais ,para seu

sustento, o pai se compromete a contribuir com 70% (setenta por cento) das

despesas da casa da mãe, e esta com o restante, sendo que na casa do pai, este cobre

as despesas sozinho, fazendo com que ambos os genitores tenham contato freqüentes

com seus filhos, sem sobrecarregá-los.

4.2 Caracterização da família "B"

Identificação

Pai: Carlos Mãe: Rita

Idade: 40 anos Idade: não informou

Profissão: Autônomo Profissão: Operadora

Filho: Pedro, 09 anos

Carlos e Rita conviveram maritalmente durante 9 anos e desta relação tiveram um

filho, o qual hoje se encontra com 09 anos de idade.

O que motivou a separação foram os desentendimentos constantes que existiam

entre o casal. No decorrer de nove anos de relação conjugal, tiveram duas separações

com reconciliações, sendo que a terceira separação foi definitiva. O casal se

encontra separado desde doze de maio de dois mil e um (12/05/01). A criança ficou

sobre a guarda da mãe, em certa ocasião, o pai o levou para morar consigo sem o

consentimento da mãe.

Em 08 de junho de 2001, a mãe entrou com uma Medida Cautelar de Guarda e

Responsabilidade Cumulada Com Medida Cautelar de Busca e Apreensão no

Juizado da Infância e Juventude de Florianópolis.

Através da mediação familiar o casal chegou a um acordo durante a semana, o filho

ficaria com o pai, e nos finais de semana, com a mãe. Ambos os genitores

contribuirão com os alimentos. Pedro é surfista e patrocinado pela empresa

Mormaii, recebendo toda a assistência médica, odontológica e vestuário da referida

empresa. Em relação a escola, quando acontece algum problema, a mesma informa

ao pai, e este repassa a mãe.

O acordo de guarda compartilhada, foi feito no setor de Serviço Social do Fórum da

Capital, sendo homologado em 28 de novembro de 2001. (Disponível:

<http://www.apase.org.br/91007-priorizando.htm> - Acesso: 14.07.2015)

Por outro lado, no mesmo trabalho de conclusão de curso de Abreu (2003) analisou

também as famílias da seguinte forma:

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Nessa análise, constatamos que as duas famílias escolheram modelos de

responsabilidades parentais diferentes. A primeira família optou pelo modelo de

guarda compartilhada, com alternância de casa, enquanto que a segunda família

optou pela guarda compartilhada com residência fixa. A seguir, transcreveremos

alguns textos das entrevistas para melhor analisá-las.

Pode se observar nos dois casos pesquisados que as responsabilidades e decisões são

compartilhadas pelo ex-casal.

“Nas segundas, quarta e sexta- feiras, os meninos passam a manhã comigo, deixo os

no colégio, e o pai os pega no final da aula, ficando com eles até a manhã do dia

seguinte, quando os deixa na escola, e eu os busco no final da aula” (Cida)

Em relação ao modelo adotado pela família B, o pai assim expõe:

A maioria do tempo ele fica aqui que é a residência fixa dele e aí a gente chegou

nesse acordo, ele hoje não tem aula, vou lá para minha mãe, pode ir não tem

problema, não tem que marcar uma semana comigo uma com a mãe, quando tiver

possibilidade dele ir para lá ficar com a mãe dele ele vai. Ele ficou comigo mas vai

visitar a mãe a hora que quer, o que se vê muito que eles fazem na minha opinião, e

não sei eu acho que é meio a meio, uma semana na casa do pai, uma semana na casa

dela, tem que chegar numa realidade da coisa, como ele tá estudando aqui fica mais

fácil.

O que facilita o modelo da guarda, com alternância de casas da família A, é o fato de

ambos os pais morarem perto um do outro, ao contrario da família B, onde os pais

residem em bairros diferentes.

Com relação ao desempenho escolar e emocional do(s) filho(s), segundo

informações dos entrevistados, as crianças não apresentaram baixa no rendimento

escolar, assim como no comportamental, o que geralmente acontece com o(s)

filho(s), quando os pais estão passando por um processo de separação. De acordo

com Carlos, o filho não demonstrou queda no desempenho escolar, “sabe ele sempre

teve notas muito boas e com a separação elas não diminuíram, ele não saiu

prejudicado na escola. ”

A senhora Cida, assim como o senhor Carlos, afirma que seus filhos também não

apresentaram queda no desempenho escolar, nem social.

“Obtivemos retorno do colégio que as crianças não baixaram no desempenho

escolar. Que eles nunca viram um caso destes onde os filhos alternam a casa dá

certo.” (Cida).

Este é um fator determinante de que a guarda compartilhada é um dos melhores

modelos de responsabilidade parental, não prejudica o desenvolvimento intelectual

das crianças e adolescentes.

Quando questionados sobre a questão dos alimentos e de outras despesas em relação

ao(s) filho(s) concluiu-se que o pai contribui mais financeiramente do que a mãe,

conforme o pai A nos coloca:

“Quando morávamos juntos eu contribuía com 70% (setenta por cento) das despesas

domésticas, e a mãe com 30% (trinta por cento). Hoje continuo a contribuir com

70% (setenta por centro) das despesas da casa dela, e na minha casa contribuo

sozinho com as despesas.”

No caso da segunda família em que a criança recebe um patrocínio, como surfista, as

despesas são menores, segundo relato do pai:

“Como ele é patrocinado pela Mormaii e recebe toda a assistência médica, vestuário,

dentista e alimentos, a mãe contribui muito pouco, até porque as despesas em

relação a ele são poucas. A Mormaii cobre grande parte delas.”

Quanto à adaptação, dos pais em relação a guarda compartilhada, verificou-se

através dos relatos das mães, que elas têm mais dificuldade em assimilar a guarda

compartilhada do que os pais. “No inicio, foi difícil, mas, depois, vi que era o

melhor para ele, o Carlos é um excelente pai” (Rita)

Na mesma linha deste raciocínio, também se posiciona Cida:

Quando me separei fiquei com o tempo meio frouxo. Como o pai ficava alguns dias

com eles, quebrou a minha rotina, de pegá-lo no colégio de fazer a janta. Eu tive que

arrumar alguma coisa para ocupar o tempo. Isso durou mais ou menos uns seis

meses.

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A mulher sempre esteve acostumada a cuidar dos filhos, mesmo trabalhando fora, as

responsabilidades ainda eram vistas como sendo das mães.

Quando a mulher opta em dividir as responsabilidades parentais, passa a ser

questionada pela sociedade por estar compartilhando a guarda com o pai, fazendo

com que se sinta insegura, aumentando com isto a dificuldade de assimilação com a

guarda compartilhada.

Tendo a guarda compartilhada como principal objetivo privilegiar os interesses das

crianças e adolescentes, e dependendo da idade do(s) filho(s) é importante que estes

sejam ouvidos, tanto pelos pais quanto pelos profissionais, a respeito de qual o

melhor arranjo de responsabilidade parental a ser adotado pelos pais.

Hoje disse prá eles que ia dar uma entrevista sobre guarda compartilhada e se a

moça me perguntasse o que vocês acham que é melhor morar assim um pouco na

casa do pai um pouco na casa da mãe, ou durante a semana com um e final de

semana com outro. Não, pai, de jeito nenhum a gente ia sentir muita saudade

(HÉLIO)

Com relação à família B, Rita assim se coloca:

“Perguntamos a ele o que ele achava do que seria melhor, morar comigo ou com o

pai , como ele disse que queria morar com o pai, e lá no Fórum também disse seria

melhor com o pai ,mas sempre ia na minha casa, e eu poderia ir lá.”

Apesar dos profissionais (juízes assistentes sociais, psicólogos), muitas vezes,

acharem que não é conveniente ouvir os filho(s) a respeito da separação dos pais, o

que resultaria em mais um transtorno para os filhos(s), sendo que estes são os mais

envolvidos em todo o processo de separação, quando estão decidindo sobre o que é

melhor para sua vida, mas não tem nem a oportunidade de expressar sua opinião.

A guarda compartilhada, ao contrário da guarda monoparental, única e exclusiva,

traz várias vantagens para os envolvidos, e a principal delas é a manutenção dos

vínculos entre pais e filho(s).

De acordo com as autoras, os pais mencionaram que as vantagens são inúmeras.

Conforme os depoimentos dos pais, a seguir, Carlos, assim posiciona se.

São várias. Eu e a mãe participarmos, quando ele vai pra lá, eu descanso, prá ela

também é bom. As suas filhas do outro casamento já estão grande, ela assim como

também não se sobrecarrega. O mais engraçado é que agora nosso relacionamento é

melhor do que antes.

Cida complementa:

Primeiro, em relação as crianças, não tiveram problemas no colégio agressividade,

revolta. Para a mulher não fica com todo o peso e responsabilidade de educação, até

para ter um relacionamento é mas difícil você, já tem filho não sai. Eu e ele nunca

discutimos nosso relacionamento. Agora está melhor do que antes.

Diante disso, ponderamos que, nos casos apresentados, a guarda compartilhada é o

melhor modelo de responsabilidade parental adotada pelas famílias em analise por

dar continuidade aos vínculos estabelecidos entre pais e filho(s) durante a constância

da relação conjugal dos pais.

Conforme relato dos quatro pais entrevistados, quando questionados à respeito das

desvantagens da guarda compartilhada, nenhum deles elencou desvantagens, apenas

vantagens, demostrando somente satisfação com os resultados obtidos através da

guarda compartilhada e da importância da mesma para os filho(s).

Após analisamos os dois estudos de caso, concluímos que a guarda compartilhada é

o melhor modelo de responsabilidade parental a ser adotado pelos pais que estão em

processo de separação. Nos dois casos analisados obteve-se sucesso. Foi possível

comprovar o que a literatura apresenta com a prática vivenciada pelas duas famílias.

O modelo de guarda compartilhada é o modelo de responsabilidade parental que

melhor beneficia os interesses das crianças e dos adolescentes, que são pessoas em

desenvolvimento psico- sócio- emocional, os quais têm direitos assegurados pelo

Estatuto da Criança e do Adolescente

Não podemos, considerar a guarda compartilhada como sendo um modelo ideal e

único a ser adotado por todas as famílias que estão em processo de separação. Há

famílias em que a guarda compartilhada jamais será possível, como naquelas onde

não exista maturidade entre os cônjuges, e estes não saibam separar o casal conjugal

do parental. (Disponível: <http://www.apase.org.br/91007-priorizando.htm> -

Acesso: 14.07.2015)

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Desta forma, analisamos nesta parte do trabalho, de forma imparcial, os aspectos

positivos e negativos da guarda compartilhada, restando-nos apenas aguardar que o Estado,

com o monopólio que detém, realiza de maneira justa o julgamento de causas que envolvam

menores, justa no sentido de atender o melhor interesse dos filhos, independentemente dos

anseios e expectativas dos pais. Esperamos que o Judiciário, por meio dos nobres

magistrados, olhem para estas ações, como quem olha para sua própria família e com o

auxílio de toda uma equipe especializada proferira decisões sábias, valorizando sempre a

conservação do ambiente familiar, a fim de que só assim possa existir um desenvolvimento

regular e saudável das crianças e adolescentes.

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CONCLUSÃO

Foi possível observar no decorrer da instrução do trabalho que a família brasileira

sofreu inúmeras transformações até chegar à sua atual concepção. Neste contexto verificamos

que ela, de início, recebeu influência de vários momentos históricos, seguindo modelos já

concretizados em outros países. Conduto, com as constantes evoluções, seja no que diz

respeito ao pensamento do povo, seja quanto à modernização e industrialização que o mundo

vivenciou, houve necessidade de novos ideais para a família brasileira. Diante disso, esta teve

uma ampliação no cenário nacional, ampliação esta que permitiu a existência de diversos

arranjos parentais, dentre estes se destaca o reconhecimento da família monoparental e

daquela decorrência da união estável. Hoje, vem prevalecendo que a família, independente da

forma com que se manifeste, deve estar estruturada para a concretização da felicidade, ou

seja, a família deverá ser estrutura sobre laços afetivos, sendo estes pressupostos para a

convivência harmônica e duradoura entre seus membros.

No entanto, esses laços afetivos que deveriam permanecer na vida de todos os

membros da unidade parental, podem ser rompidos, situação esta caracterizada pela separação

dos cônjuges/companheiros. Neste caso, como constatado, existem muitas pessoas que não

conseguem se recuperar da ruptura e acabam transmitindo seus sentimentos de indignação,

ódio, repudio contra o ex-companheiro aos filhos e demais parentes.

Quando a separação é mal interpretada ou não aceita por um dos genitores, o litigio

acaba ultrapassando as fronteiras e lesionando os filhos, mormente quando estes são instados,

por manobras manipuladoras e tendenciosas, a romper com vinculo afetivo existente com o

outro genitor.

É neste contexto que se instala a Alienação Parental, preferencialmente em relação aos

filhos que tenham tenra idade, mormente quando estes podem ser facilmente iludidos. Desta

forma, a figura da Alienação Parental se caracteriza pela campanha denegritória que um dos

genitores faz em relação ao outro, tendo como personagem principal a prole, que acaba sendo

o sujeito que sofre as piores consequências.

As consequências da Alienação Parental são devastadoras, mormente quando a

possibilidade de reversão é mínima, e os filhos as levarão para toda vida, tendo em vista

tratar-se de questões psicológicos que só podem ser resolvidas, ou melhor, minimizadas

durante longo período de tratamento, tratamento este que não contribuirá para reaver a

convivência que os pequenos deixaram de ter com o outro genitor.

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Embora tenha sido a Lei 12.318/2010 positivada somente em 2010, a ocorrência de

situações semelhantes já se propagava nos lares brasileiros há muito tempo. A supracitada

Lei, composta por 11 artigos, em consonância com diversos princípios estruturadores do

Direito de Família, como por exemplo, o princípio da proteção integral a criança e

adolescente e o princípio da dignidade da pessoa humana, trouxe a todos, principalmente, aos

magistrados que antes da promulgação adotavam orientações mais conservadoras, a

possibilidade de fixar medidas para aquele genitor que se utilize dos pequenos para vingar-se

do ex-companheiro, rompendo com este os laços afetivos.

Com a introdução da Lei em nosso ordenamento jurídico, houve uma maior

repercussão do tema, permitindo que a sociedade, incluindo nela os operadores do Direito,

tivessem uma visão mais humana do Direito, em especial ao ramo do Direito de Família.

Outro ponto positivo da Lei 12.318/2010 foi que o legislador permitiu que casos assim

pudessem ter tramitação prioritária e, além disso, possibilitou a realização de perícia com

profissionais especializados em saúde mental (psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais).

Desta forma, verificamos que a Lei trouxe muitos aspectos favoráveis para o desenvolvimento

saudável da criança e a do adolescente.

A presença de equipe multidisciplinar no decorrer do processo é um ponto primordial,

mormente quando estes profissionais, por meio de relatórios e visitas, permitiram que o

julgador tenha uma noção mais ampla do caso, não ficando restrito em apenas aplicar a lei no

caso concreto, ou seja, esta equipe verificará a real situação de convivência no âmbito familiar

e transmitirá suas percepções ao magistrado, a fim de que este analisando as peculiaridades

apresentadas decida da forma mais justa possível.

Além das medidas elencadas na Lei 12.318/2010, verifica-se que a guarda

compartilhada pode vir a ser um grande instrumento para minimizar e inibir a prática de

Alienação Parental. É assim porque esta modalidade de guarda permite que os filhos possam

ter convívio com ambos os genitores, permite ainda que de forma conjunta ambos tomem as

decisões quanto à criação e educação da prole. Ademais, a guarda compartilha é tida como a

espécie de guarda que melhor atende os princípios inerentes Direito de Família, mormente

quando possibilidade a manutenção dos vínculos afetivos entre pais e filhos.

Destarte, conclui-se que em razão das consequências devastadoras da Alienação

Parental, a guarda compartilhada deve vir a ser um mecanismo mais utilizado pelos

julgadores, deixando de lado ideais conservadoristas e ultrapassados de que os filhos devem

ficar com as mães. O que deve prevalecer é sempre o melhor interesse dos pequenos,

independente dos anseios de seus pais.

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