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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI UFSJ CAMPUS CENTRO-OESTE DONA LINDU CCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE ALINE DE FREITAS LOPES AVALIAÇÃO DE CITOTOXICIDADE DE ANÁLOGOS DE ALCALÓIDES MARINHOS DO TIPO 3- ALQUILPIRIDÍNICOS EM LINHAGEM DE LEUCEMIA MIELÓIDE AGUDA DIVINÓPOLIS

ALINE DE FREITAS LOPES AVALIAÇÃO DE … · ALINE DE FREITAS LOPES Dissetação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde, da ... fisiopatogênese da doença

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI – UFSJ

CAMPUS CENTRO-OESTE DONA LINDU – CCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

ALINE DE FREITAS LOPES

AVALIAÇÃO DE CITOTOXICIDADE DE ANÁLOGOS DE

ALCALÓIDES MARINHOS DO TIPO 3-

ALQUILPIRIDÍNICOS EM LINHAGEM DE LEUCEMIA

MIELÓIDE AGUDA

DIVINÓPOLIS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI – UFSJ

CAMPUS CENTRO-OESTE DONA LINDU – CCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

ALINE DE FREITAS LOPES

Dissetação apresentada ao Programa de Pós

Graduação em Ciências da Saúde, da

Universidade Federal de São João Del Rei, como

requisito para obtenção do título de Mestre.

Orientador: Prof.Dr.Adriano de Paula Sabino

DIVINÓPOLIS

DEZEMBRO/2016

AGRADECIMENTOS

Sinto-me verdadeiramente grata a todo apoio e ajuda que recebi de inúmeras pessoas

durante minha vida e que me deram força para cumprir mais esse trabalho.

Ao Gustavo, meu marido, pelo amor, companheirismo e paciência durantes esses anos

de estudos. Obrigada por estar sempre ao lado, me incentivando e me animando nas

horas difícieis.

Aos meus pais, pelo cuidado, carinho e incentivo dedicados à mim.

Aos meus familiares, em especial meu irmão, tios e primos, também pelo apoio e pelas

horas felizes que desfrutamos sempre que nos encontramos.

Ao meu orientador Prof. Adriano de Paula Sabino, pelos ensinamentos, contribuição e

ajuda na elaboração desse trabalho.

Ao Prof. Fernando de Pilla Varotti pela amizade, ensinamentos, apoio e ajuda, sem os

quais esse trabalho também não seria possível de ser realizado.

Aos amigos que fiz nos laboratórios por onde passei, em especial a Kecya,

contemporânea minha no programa, mas também à Fernanda, Silmara e Deise, pela

mentoria e auxílio da condução dos experimentos.

iii

RESUMO

A Leucemia Mielóide Aguda (LMA) se caracteriza pela proliferação anormal de

células progenitoras imaturas da linhagem mielóide (mieloblastos), que perderam a

habilidade de se diferenciar e a responder adequadamente a fatores de crescimento.

Essas células leucêmicas extravasam para o sangue e levam a falência medular, com

evolução rápida, levando ao óbito se não tratada. Nos últimos 20 anos não houve

grandes mudanças no esquema de tratamento da LMA, que envolve poliquimioterapia

citotóxica, porém as taxas de remissão completa e sobrevida livre de doença são baixas,

principalmente em pacientes acima de 65 anos que de forma geral toleram pouco

quimioterapia mais intensa. Baseado nesses dados, a busca e otimização de novos

compostos com potencial uso anti-leucêmico torna-se necessária. O objetivo deste

estudo foi avaliar o efeito de análogos de alcaloides marinhos do tipo 3-alquilpiridínicos

em uma linhagem humana de leucemia mielóide aguda (THP-1). Os resultados dos

experimentos demonstraram que o composto THP-002 foi citotóxico, apresentando

baixo IC50 (determinado através do ensaio in vitro de 3-(4,5-dimetil-2-tiazolil)-2,5-

difenil-tetrazólio (MTT)). Ele também foi capaz de causar dano ao DNA, provovando a

formação de micronúcleos e induzindo apoptose através da ativação de Caspase 3. A

análise de expressão gênica de TP53, p21 e BAK após exposição à diferentes

concentrações desse composto mostrou aumento significativa da expressão de BAK mas

não de p21. A expressão de TP53 foi demonstrada de forma estatisticamente

significativa apenas após 48h de exposição à concentração do composto-teste em 2x do

IC50, sugerindo que o composto induz apoptose mas por via diferente da p53.

Palavras - chave: Leucemia mielóide aguda, citotoxicidade, alcaloide marinho, 3-

alquilpiridínicos e THP-1

iv

ABSTRACT

Acute myeloid leucemia (AML) is characterized by abnormal proliferation of

immature progenitor cells of the myeloid lineage (myeloblasts), which have lost the

ability to differentiate and respond appropriately to growth factors. These leukemic cells

spill into the blood and lead to bone marrow failure with rapid evolution, leading to

death if not treated quickly. Over the past 20 years there have been no major changes in

AML treatment regimen. Current AML treatment protocols include cytotoxic multidrug

therapy, but complete remission rates and progression-free survival are low, especially

in patients over 65 years old who generally don´t tolerate intense chemotherapy . Based

on these information, the search and optimization of new compounds with potential

anti-leukemic use becomes necessary. Herein we presente an initial study of the

cytotoxicity effect of analogs of marine alkaloids type 3-alquilpiridínicos in AML

(THP-1 human cell line). The results of the experiments showed that the compound

THP-002 was cytotoxic, with low IC50 value (determined by vitro assay 3- (4,5-

dimethyl-2-thiazolyl) -2,5-diphenyl tetrazolium bromide (MTT)). It was also able to

induce DNA damage through micronucleus formation inducing apoptosis through

caspase 3 activation. Gene expression analysis of TP53, p21 and BAK after exposure to

different concentrations of this compound showed significant increased expression of

BAK but not in p21. The TP53 expression was demonstrated statistically significantly

only after 48 hours of exposure to the concentration of assayed compound at 2x the

IC50, suggesting that the compound induces apoptosis but different pathwayof p53.

Key-words: Acute myeloid leukemia, cytotoxicity, marine alkaloid, pyridine 3-alkyl

and THP-1

v

Sumário

RESUMO....................................................................................................................... III

LISTA DE FIGURAS................................................................................................... VI

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ................................................................. IX

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................11

1.1 Hematopoese ............................................................................................................... 11

1.2 Leucemias Agudas ...................................................................................................... 13

1.2.1 Leucemia Linfoblástica Aguda ............................................................................... 13

1.2.2 Leucemia Mielóide Aguda ...................................................................................... 13

1.3 Apoptose ..................................................................................................................... 17

1.4 Terapia na Leucemia Mielóide Aguda ........................................................................ 18

1.5 Novas drogas: Desenvolvimento ................................................................................. 21

1.5.1 ALCALOIDES MARINHOS.............................................................................. 21

2 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................22

3 OBJETIVOS ...........................................................................................................22

3.1 Objetivo geral .............................................................................................................. 22

3.2 Objetivos específicos................................................................................................... 23

4 MATERIAIS E MÉTODOS..................................................................................23

4.1 Obtenção dos compostos ............................................................................................. 23

4.2 Solubilização dos compostos ...................................................................................... 24

4.3 Cultivo de linhagens celulares ..................................................................................... 25

4.4 Ensaio de viabilidade celular ....................................................................................... 26

4.5 Ensaio de Genotoxicidade e Mutagênese .................................................................... 27

4.5.1 Ensaio de micronúcleo com bloqueio de citocinese (CBMN) ............................ 27

4.6 Detecção de Caspase 3 ................................................................................................ 28

4.7 Análise de expressão gênica ........................................................................................ 29

4.7.1 Extração de RNA ................................................................................................ 29

4.7.2 Confecção de cDNA ............................................................................................ 30

4.7.3 PCR em tempo real ............................................................................................. 30

4.8 Análises estatísticas ..................................................................................................... 32

vi

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ...........................................................................33

5.1 Ensaio de citotoxicidade e viabilidade celular ............................................................ 33

5.2 Ensaio de Genotoxicidade e Mutagênese .................................................................... 34

5.3 Detecção de caspase 3 ................................................................................................. 37

5.4 Análise da expressão gênica ........................................................................................ 38

6 CONCLUSÕES ......................................................................................................40

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Hematopoese . ............................................................................................................ 12

vii

Figura 2:- Frequência média de micronúcleos observados por 1000 células binucleadas de

TPH-1, após o tratamento com diferentes concentrações do composto THP-002. ..................... 35

Figura 3:- Índice de Divisão Nuclear das células THP-1, após o tratamento com diferentes

concentrações do composto THP-002.. ....................................................................................... 36

Figura 4: Quantificação da atividade da Caspase 3 por ensaio colorimétrico na linhagem THP-1

..................................................................................................................................................... 37

Figura 5: Gráfico da quantificação relativa do gene TP53 após tratamento com THP-002 na

linhagem THP-1 em diferentes concentrações ............................................................................ 38

Figura 6: Gráfico da quantificação relativa do gene p21 após tratamento com THP-002 na

linhagem THP-1 em diferentes concentrações ............................................................................ 39

Figura 7: Gráfico da quantificação relativa do gene BAK após tratamento com THP-002 na

linhagem THP-1 em diferentes concentrações ............................................................................ 39

viii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1– Classificação das Leucemias Mielóides Agudas segundo o grupo Franco-Americano-

Britânico (FAB). ......................................................................................................................... 14

Tabela 2 – Classificação das Leucemias Mielóides Agudase neoplasias relacionadas, segundo a

Organização Mundial de Saúde (2008) ....................................................................................... 15

Tabela 3 - Estrutura dos 5 compostos análogos de alcaloides marinhos do tipo 3-

alquilpiridínicos ........................................................................................................................... 23

Tabela 4 - Sequência dos oligonucleotídeos iniciadores diretos (F) e reversos (R) utilizados na

qRT-PCR. .................................................................................................................................... 33

Tabela 5 - Valores de IC50 obtidos em ensaios in vitrocom linhagens celulares de THP-1 e WI-

26VA-4.. ...................................................................................................................................... 31

ix

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

FLT-3 - FMS-like Tirosina Kinase-3

LA – Leucemia aguda

FAB - grupo cooperativo Franco-Americano-Britânico

LMA – Leucemia mielóide aguda

LLA – Leucemia linfocítica aguda

OMS – Organização mundial de saúde

FNT – Fator de necrose tumoral

Apaf1 - apoptic protease activating fatot-1

Bcl-2 – B-cell lymphoma 2

FISH - Hibridização in situ por Imunofluorescência

DNA - Ácido desoxirribonucléico(DesoxirribonucleicAcid)

PCR - Reação em cadeia da polimerase

RNA - Ácido ribonucléico

qRT-PCR - Reação em cadeia da polimerase em tempo real

HIDAC - Citarabina em alta dose

TMO – Transplante de medula óssea

RC – Remissão completa

ATRA - Ácido transretinóico

FLT3-DIT - Duplicação interna em tandem no gene FLT3

NPM – Nucleofosmina

EMEA - European Medicine Agency

3-APA - 3-alquilpiridínicos

DMSO – Dimetilsulfóxido

SFB – Soro fetal bovino

ATCC - American Type Culture Collection

CO2 – Dióxido de Carbono

THP-1 –Linhagem humana de Leucemia Mielóide Aguda (Leucemia Monocítica

Aguda) ATCC TIB-202

oC – Graus Celsius

x

h - Hora

MTT - 3-(4,5-dimetil-2-tiazolil)-2,5-difenil-tetrazólio

PBS - Tampão fosfato-salino (phosphatebuffered saline)

RPM – Rotações por minuto

RPMI - Meio de cultura (desenvolvido no Roswell Park Memorial Institute –RPMI)

WI-26-VA4 – Fibroblasto de pulmão humano

IC50 - Concentração que reduz a viabilidade celular em 50%

IS – Índice de Seletividade

MMS - metanossulfonato de metila

DAPI - 4 ', 6-diamidino-2-fenilindol

BNC - células binucleadas

MN – Micronúcleo

NDI - Índice de divisão nuclear

RNAm - RNA mensageiro

GAPDH - gliceraldeído-3-fosfato-desidrogenase

11

1. INTRODUÇÃO

As leucemias agudas são um grupo de neoplasias malignas que derivam da transformação

de células progenitoras hematopoéticas indiferenciadas ou parcialmente diferenciadas (Greer

et al. 2003). Durante a evolução de uma célula progenitora, ou seja, durante a hematopoese, é

possível que ocorra uma anormalidade genômica, como uma mutação somática, além de

outros fatores celulares e/ou moleculares que favoreçam a expansão desse clone defeituoso.

Na maioria dos casos, essas células leucêmicas extravasam para o sangue, onde podem ser

vistas em grande número, além de também poder infiltrar o fígado, baço, linfonodos e outros

tecidos (Pilger et al. 2006).

O entendimento do processo de hematopoese é necessário para a discussão da

fisiopatogênese da doença e seus desdobramentos.

1.1 Hematopoese

O tecido sanguíneo dos mamíferos é constituído por um conjunto de diferentes tipos de

células, incluindo eritrócitos, células mielóides (granulócitos, monócitos/macrófagos,

megacariócitos e plaquetas), células linfoides (linfócitos B e T e células Natural Killers),

células dendríticas e mastócitos, sendo todos originados de um único tipo de célula, chamada

célula tronco hematopoética. Ela possui a capacidade de se dividir, se auto-regenerando e

também de gerar uma célula precursora comprometida com uma linhagem celular específica

(Rossi et al. 2012; Zago et al. 2004). Os processos envolvidos na produção dessas células são

denominados coletivamente de hematopoese (Greer et al. 2003).

A hematopoese se inicia na embriogênese, nas ilhotas sanguíneas do saco vitelino, já nas

primeiras semanas de gestação. Nessa fase, é denominada hematopoese primitiva e é restrita à

produção de eritrócitos. Por volta da oitava semana e até aproximadamente o quinto mês de

gestação, o fígado fetal passa a ser o principal sítio de hematopoese. Os eritrócitos produzidos

nessa etapa já estão anucleados, diferente dos produzidos durante a hematopoese primitiva. A

partir da metade da gestação, a medula óssea toma lugar como o principal órgão

hematopoético, sendo responsável pela produção de todas as linhagens hematopoéticas. Após

o nascimento e por toda a vida, sob condições fisiológicas, o único sítio de hematopoese é a

medula óssea (Zago et al. 2004).

12

A célula tronco hematopoética origina um número de células progenitoras multipotentes,

que ainda retêm o potencial de gerar linhagens completas, mas com capacidade de auto-

renovação mais limitada. Progenitores multipotentes, por sua vez, levam a formação de

progenitores oligopotentes que possuem um potencial de desenvolvimento mais restrito. Nessa

fase, o progenitor linfocítico comum tem o potencial de gerar células efetoras linfóides

maduras, como o linfócito B, T, células dendríticas e Natural Killers. As células progenitoras

comprometidas com a linhagem mielóide, por sua vez, dão origem a células como os

granulócitos e monócitos (Gekas et al. 2006; Rossi et al. 2012) (Figura 1).

Legenda: PMC: Progenitor Mielóide Comum; PGML: Progenitor Granulócito/Macrófago/Linfócito; PEM:

Progenitor Megacariócito/Eritrócito; PGM: Progenitor Granulócito/Macrófago; PLC: Progenitor Linfócito

Comum.

O desenvolvimento das células hematopoéticas normais é um processo ordenado em várias

fases, bem regulamentado por uma complexa rede de fatores instrísecos e direcionamento do

microambiente que controlam os destinos das células no interior da medula óssea (Enciso et

al. 2015). São fatores importantes que regulam esses processos: fatores de transcrição,

reguladores do ciclo celular, moléculas sinalizadoras, receptores de superfície e citocinas.

Figura 1: Hematopoese*.

* Adaptado de Lara Rossi e colaboradores (Rossi et al. 2012)

13

Perturbações dessa fina homeostase podem induzir uma expansão celular sem controle,

levando a prejuízo da hematopoese normal e instalação de processo leucêmico. Os receptores

de Tirosina Kinase tipo III, como o FMS-like Tirosina Kinase-3 (FLT-3), c-KIT, cFMS e

PDGFR, por exemplo, desempenham um papel importante tanto na hematopoese normal

quanto na maligna, estando altamente expressos nas células progenitoras hematopoéticas mas

também na superfície de blastos leucêmicos (Enciso et al. 2015; Cells et al. 2014).

1.2 Leucemias Agudas

As Leucemias Agudas (LA) são um grupo significativamente heterogêneo de neoplasias

malignas incorporando subgrupos com comportamento biológico, fisiopatologia e abordagem

terapêuticas distintas. O primeiro sistema de classificação das LA aceito internacionalmente

foi proposto porum grupo cooperativo Franco-Americano-Britânico (FAB) em 1976. Essa

classificação sofreu várias revisões ao longo dos anos, mas ainda considera apenas as

características morfológicas e citoquímicas dos blastos como critério de classificação, sendo

que dois importantes grupos foram individualizados: Leucemia Mielóide Aguda (LMA) e

Leucemia Linfocítica Aguda (LLA) (Bennett et al. 1976; Bennett et al. 1985; Bennett et al.

1991; Bennett 1985).

1.2.1 Leucemia Linfoblástica Aguda

A LLA se origina da transformação maligna de uma célula progenitora linfóide durante

seu amadurecimento. Os sinais e sintomas da LLA são bem parecidos com os da LMA, pois

esse tipo de leucemia também se caracteriza pela proliferação de células blásticas, só que da

linhagem linfóide. As células doentes se acumulam na medula óssea, competindo com as

células normais, ocasionando anemia, trombicitopenia e neutropenia. O clone maligno alcança

a corrente sanguínea infiltrando outros órgãos como baço, linfonodos e sistema nervoso

central. Assim, o aparecimento de febre, fraqueza, sangramentos, perda de apetite, manchas

roxas e dor abdominal são característicos dessa doença (Greer et al. 2003; Lichtman 2006).

1.2.2 Leucemia Mielóide Aguda

A LMA se caracteriza pela proliferação anormal de células progenitoras imaturas da

linhagem mielóide (mieloblastos), que perderam a habilidade de se diferenciar e a responder

adequadamente a fatores de crescimento. Essas perdas levam a produção insuficiente de

células sangüíneas maduras, com conseqüente substituição do tecido normal. Em associação,

ocorre a perda da capacidade de desenvolvimento dos precursores normais da medula óssea.

14

Dessa forma, a infiltração neoplásica da medula óssea é acompanhada de sua falência

funcional. Essa é a principal causa de óbito dentre os portadores de LMA, já que essa

condição predispõe principalmente a sangramentos e infecções fatais. Também é possível

ocorrer infiltração de outros órgãos pelas células leucêmicas (Hall & Guyton 2011; Estey &

Döhner 2006).

Por definição, para o diagnostico de LMA é necessário a presença de 20% de mieloblastos

ou mais na medula óssea ou sangue períférico, segundo critério da Organização Mundial de

Saúde (OMS) (Vardiman et al. 2009). Vários sistemas de subclassificação da LMA foram

propostos ao longo dos últimos 40 anos. A classificação FAB, considerando critérios

morfológicos e citoquímicos, reconhece oito subtipos diferentes, em função da linhagem

mielóide afetada e do grau de diferenciação encontrado (Tabela 1) (Bennett et al. 1976;

Bennett et al. 1985; Bennett 1985; Zago et al. 2004).

Tabela 1– Classificação das Leucemias Mielóides Agudas segundo o grupo Franco-

Americano-Britânicom(FAB).

Subtipo FAB Sinonímia

M0 LMA sem diferenciação morfológica

M1 LMA com mínima diferenciação morfológica

M2 LMA com diferenciação

M3 Leucemia Aguda promielocítica

M4 Leucemia Mielomonocítica aguda

M5 Leucemia Monocítica Aguda

M6 Eritroleucemia

M7 LMA megacarioblástica

Na década de 90, a Organização Mundial de Saúde propôs uma outra forma de

classificação, sendo a mesma atualizada em 2002 e 2008. Foram incorporados nesse sistema

de classificação, além dos aspectos citomorfológicos e citoquímicos, também características

de imunofenotipagem e aspectos genético-moleculares (Tabela2).

15

A imunofenotipagem permite identificar antígenos de superfície, intracitoplasmáticos e

nucleares com o uso de anticorpos monoclonais marcados, sendo empregado principalmente

com o citômetro de fluxo e permitem a caracterização das células leucêmicas quanto à sua

origem e o grau de diferenciação, sendo atualmente técnica indispensável para o diagnóstico

de vários subtipos de LMA e também para a caracterização da Leucemia Aguda de Linhagem

Ambígua.

A citogenética e os estudos moleculares detectam anormalidades dentro do clone

leucêmico. A citogenética é avaliada através do cariótipo ou, em casos em que o cariótipo não

fornece informação adequada, pode-se lançar mão da Hibridização in situ por

Imunofluorescência (FISH) ou outros testes. A análise de genética molecular pode ser

realizada através da análise do ácido desoxirribonucléico (DNA) ou do ácido ribonucléico

(RNA) por Southern blot ou reação em cadeia da polimerase (PCR) e também por PCR em

tempo real (qRT-PCR) (Pilger et al. 2006).

Essa estratificação permite avaliar prognóstico, auxiliam no monitoramento após o

tratamento e pode direcionar a escolha da terapia mais adequada (Vardiman et al. 2002;

Vardiman et al. 2009; Pilger et al. 2006).

Tabela 2– Classificação das Leucemias Mielóides Agudas e neoplasias relacionadas, segundo

a Organização Mundial de Saúde (2008)

Leucemia Mielóide Aguda com anormalidades genéticas recorrentes

• LMA com t (8:21) (q22;q22);RUNX1-RUNX1T1

• LMA com inv (16) (p13.1q22) ou com t(16;16) (p13.1;q22);CBFB-MYH11

• LPA com t (15:17) (q22;q12);PML-RARA

• LMA com t (9;11) (p22;q23); MLLT3-MLL

• LMA com t (6:9) (p23;q34);DEK-NUP214

• LMA com inv (3) (q21q26.2) ou com t (3;3) (q21;q26.2);RPN1-EVI1

• LMA (megacarioblástica) t (1;22) (p13;q13);RBM15-MKL1

• LMA com mutação NPM1

• LMA com mutação CEBPA

Leucemia Mielóide Aguda com alterações relacionadas à mielodisplasia

Neoplasias Mielóides relacionadas à terapias

16

Leucemias Mielóides não especificadas

• LMA com diferenciação mínima

• LMA sem maturação

• LMA com maturação

• Leucemia mielomonocítica aguda

• Leucemia monoblástica/monocítica aguda

• Leucemia eritroide aguda

• Leucemia megacarioblástica aguda

• Leucemia basofílica aguda

• Panmielose aguda com mielofibrose

Sarcoma Mielóide

Proliferação Mielóide associada à Síndrome de Down

Neoplasia blástica plasmocitóide de células dentríticas

A LMA possui uma taxa de incidência global de 4 por 100.000 pessoas, mas com aumento

progressivo da incidência ao avançar da idade chegando a cerca de 20 casos por 100.000 entre

os adultos com 65 anos ou mais. A média de idade à apresentação da doença é de cerca de 70

anos, com relação de três homens para cada 2 mulheres afetadas. Em crianças com menos de

15 anos, é responsável por 20% a 25% das leucemias. Além da idade e do sexo, também são

fatores de risco conhecidos para a LMA: exposição à radiação ionizante e a substâncias

químicas como o benzeno (sendo o tabagismo a forma mais comum de exposição ao benzeno)

e agentes alquilantes. Tratamento quimioterápico prévio também é um importante fator de

risco (Estey & Döhner 2006; Queliane et al. 2011; Schürch et al. 2013; Pilger et al. 2006).

Cerca de 10 a 15% dos pacientes portadores de LMA, a adquiriram após tratamento

quimioterápico com drogas citotóxicas (agentes alquilantes ou com ação sobre a DNA

Topoisomerase II) previamente, geralmente para tratamento de tumor sólido (Estey & Döhner

2006). Entretanto, na maioria dos casos, a LMA surge sem motivo aparente, o que leva à

suposição de que fatores individuais e genéticos possam também estar relacionados com a

predisposição para a manifestação da doença (Pilger et al. 2006).

Os eventos moleculares precisos e responsáveis pela transformação leucêmica ainda não

são totalmente conhecidos, no entanto, a ativação de protoncogenes e mutações em genes

17

supressores que regulam o ciclo celular, parecem estar envolvidas na patogênese das

leucemias, uma vez que levam à perda dos mecanismos normais controladores da proliferação

(divisão celular), diferenciação-maturação e/ou da morte celular programada (apoptose)

(Pilger et al. 2006).

1.3 Apoptose

A morte celular programada, que ocorre predominantemente via apoptose, exerce um

papel crucial no desenvolvimento da vida animal e vegetal, uma vez que trata-se de

mecanismo de defesa do organismo contra células danificadas, estressadas ou estimuladas por

quaisquer agentes (Alberts 2008). A indução de apoptose por ocasião de ocorrência de dano ao

DNA remove essas células prejudiciais, evitando um crescimento tumoral. Dessa forma,

falhas no mecanismo de apoptose está associado a proliferação celular inadequada,

desenvolvimento e progressão de tumores e sua resistência a quimioterápicos (Adan et al.

2016; Pistritto et al. 2016). Além disso, a morte celular por apoptose tem a vantagem de não

induzir processo inflamatório (Alberts 2008). Assim, a compreensão dos mecanismos e das

falhas nas vias apoptóticas e sua correlação com a ocorrência do câncer são importantes para o

desenvolvimento de novas terapias e métodos de prevenção.

A maquinaria envolvida na sinalização e efetivação da apoptose é complexa e envolve

muitas vias, sendo iniciada por duas vias principais, a via intrínseca ou a via extrínseca. A via

extrínseca é disparada após ativação de receptores específicos na membrana celular

(receptores de morte celular). Esses receptores pertencem à família do Fator de Necrose

Tumoral (que inclue o receptor para o TNF e os receptores Fas e TRAIL) (Pistritto et al.

2016). Já a via intrínseca é dependente da mitocôndria que libera Citocromo C para o citosol.

Esse se liga a uma proteína adaptadora chamada Apaf1, iniciando a ativação da cascata de

proteases chamadas caspases. Algumas vezes a via extrínseca recruta a via intrínseca para

amplificar o sinal, através da ativação um membro da família Bcl2. Por fim, ambas as vias

convergem para um final em comum, que envolve a ativação das caspases, que clivam

moléculas regulatórias e estruturais, culminando na morte da célula (Adan et al. 2016).

Nesse contexto em que a falha na execução da maquinaria para indução de apoptose

está ligada ao desenvolvimento de neoplasias malignas, o gene supressor tumoral TP53 (que

codifica a proteína p53) tem um papel crucial, pois regula uma extensa rede que controla a

integridade do genoma frente a danos celulares como alterações cromossômicas, hipóxia,

ativação de oncogenes celulares, oncoproteínas virais e depleção de metabólitos (Menendez et

18

al. 2007; Maximov & Maximov 2008). Mais de 50% de todos os tumores malignos são

causados por mutações no gene TP53 e a inativação de vias reguladas pela p53

dramaticamente aumenta a suscetibilidade ao desenvolvimento de câncer (Kim 2016). Muitos

quimioterápicos induzem apoptose por mecanismo dependente de p53 e a falta de p53 faz o

câncer menos sensível a eles.

A proteína p53 tanto está relacionada ao bloqueio do ciclo celular, em caso de dano ao

DNA quanto também, como já citado, desencadeia mecanismos para efetuar o reparo ou

induzir a apoptose. O bloqueio do ciclo se dá através de sua ação regulando e estimulando a

expressão do gene p21, cujo produto atua inibindo a atividade de cinases dependentes de

ciclinas necessárias para a transição entre as fases do ciclo celular G1 e S (Karimian et al.

2016).

A proteína p53 também regula a expressão de mediadores anti e pró apoptóticos, como

os membros da família Bcl-2, sendo os alvos mais importantes as proteínas pró-apoptóticas:

BAX, Noxa e PUMA (Norbury & Zhivotovsky 2004). A apoptose regulada pela p53, portanto,

quando ativada pela via intrínseca, é dependente da ativação de Bcl-2, que controla a liberação

de Citocromo C da mitocôndria, desencadeando a morte celular programada (Rossi et al.

2015).

A proteína BAK também pertence à família Bcl-2, subfamília BH123 e tem ação pró-

apoptótica. De forma semelhante à BAX, após receber o gatilho apoptótico pela via intrínseca,

ativa e forma oligômeros na membrana externa da mitocrôdria induzindo a liberação de

citocromo C e outras proteínas para o citosol (Alberts 2008).

1.4 Terapia na Leucemia Mielóide Aguda

A LMA tem início clínico abrupto e evolução rápida para óbito, caso o paciente não seja

tratado, sendo que o tratamento visa eliminar ou controlar a proliferação de clones leucêmicos,

e baseia-se no uso de poliquimioterapia (Bittencourt et al. 2003; Queliane et al. 2011). A

terapia é realizada em fases, sendo a primeira denominada indução, com o objetivo de induzir

a remissão completa da doença (definida como a presença de < de 5% de blastos na medula

óssea e contagem de neutrófilos e plaquetas em sangue periférico, maiores de 1.000 e

100.000/dL de sangue, respectivamente). Atingindo-se a remissão completa, seguem-se as

19

fases de pós remissão e consolidação, com o objetivo prolongar a remissão completa (Estey &

Döhner 2006).

O tratamento padrão para pacientes menores de 60 anos na fase de indução, inclui o uso de

Citarabina e um antracíclico, através da combinação 7+3, que envolve a infusão contínua por

7 dias de 100 a 200 mg/m2 de superfície corporal por dia do D1 ao D7 e 3 dias de um

antracíclico (Daunorrubicina 60mg/m2 por dia,Idarrubicina 12 mg/m2 por dia ou Mitoxantrona

10-12mg/m2 por dia), do D1 ao D3. Esquemas alternativos como associação da combinação

7+3 com Cladribina ou Fludarabina ou até Citarabina em alta dose (high-dosecytarabine -

HIDAC) associado a Idarrubicina ou Daunorrubicina também podem ser usados (Burnett et al.

2013; Holowiecki et al. 2012). Na fase pós indução, havendo resposta completa, pode-se

repetir mais um ciclo de 7+3 ou Citarabina em alta dose.

Na fase de consolidação, o esquema a ser utilizado envolve o conhecimento da

estratificação da LMA em baixo, intermediário e alto risco. Para baixo risco, HIDAC por 3 a 4

ciclos. Casos classificados de alto risco são elegíveis para o transplante de medula ossea

alogênico (TMO) aparentado ou não. A consolidação para pacientes com risco intermediário

pode envolver HIDAC ou TMO (Mayer 1994; Putten et al. 2011; Willemze et al. 2014; Stein

& Tallman 2012; Schlenk 2014).

Esse regime de indução induz a remissão completa (RC) em cerca de 60 a 80% dos

pacientes mais jovens (≤ 55-60 anos). No entanto, apenas 30% a 40% desses pacientes estão

vivos e livre de doença em 5 anos.

Pacientes acima de 60 anos podem não ser elegíveis para receber quimioterapia intensiva

com Antracíclico e Citarabina. Essa decisão envolve a idade do paciente, a presença de

comorbidades e status funcional. Caso o paciente não seja elegível para receber o esquema de

7+3, pode-se lançar mão de agentes hipometilantes (Azacitidina ou Decitabina) ou Citarabina

em baixas doses até a progressão.

Entre os idosos (> 55–60 anos), a RC é conseguida em 40% a 55% dos casos, com poucos

sobreviventes a longo prazo (10-15%) (Estey & Döhner 2006; Gong et al. 2015; Döhner et al.

2010).

Nos últimos 20 anos não houve grandes mudanças no esquema de tratamento da LMA,

consistindo de forma geral, de quimioterapia citotóxica na indução da remissão, sendo a

Citarabina associada a um antracíclico, como a Daunorrubicina, ou a Idarrubicina, o padrão-

20

ouro para a maioria dos pacientes. Os pacientes mais jovens se beneficiam de várias sessões

de quimioterapia intensiva de consolidação, em sequência. Já aqueles pacientes com fatores

citogenéticos de alto risco ou risco intermediário podem ser direcionados para o Transplante

de Medula Óssea (TMO). A LMA M3, é abordada de forma um pouco diferente dos demais

subtipos sendo associado um agente de diferenciação, o ácido transretinóico (ATRA), em

combinação com a quimioterapia padrão (Schürch et al. 2013; Tallman 2005).

Estratégias foram elaboradas para melhorar a taxa de RC como, por exemplo, o uso doses

mais altas e/ou alternativas de antracíclicos, doses maiores de Citarabina na indução ou na fase

de consolidação, em sequencia de uma indução convencional, a associação de agentes

citotóxicos convencionais, como o Etoposídeo e a associação de novos agentes com diferentes

mecanismos de ação, como a Fludarabina, um análogo de purina ou o Topotecano, ou o uso de

fatores de crescimentos. Para a maioria dos pacientes, nenhuma dessas alternativas se mostrou

mais eficiente do que o regime padrão de duas drogas, embora alguns subgrupos tenham

apresentado um aumento na sobrevida livre de doença (Bradstock et al. 2005; Estey & Döhner

2006; Estey 2001; Tallman 2005).

Os recentes avanços no estudo da biologia e das particularidades genético-moleculares da

Leucemia Mielóide Aguda levam a um subconjunto de LMAs distintas, que podem conduzir à

individualização da terapia, adaptando-a a doença de cada paciente. A estratificação da LMA

em alto, médio e baixo risco, por exemplo, pode auxiliar a determinar qual tratamento pós

remissão poderia ser mais apropriado para cada caso e identificar subgrupos com melhor

resposta a um determinado esquema quimioterápico.

No que se refere à análise citogenética, os pacientes portadores das anormalidades t(8;21),

inv(16) ou t(16;16), coletivamente chamadas do tipo core binding factor, possuem geralmente

menor risco de recaída quando tratados com três ou quatro ciclos de Citarabina em alta dose

após a indução, e geralmente não se beneficiam do TMO alogênico na primeira remissão

completa. No entanto, alterações como deleção do cromossomo 5 ou 7, del(5q), anormalidades

do 3q ou cariótipos com alterações complexas estão associados a alto risco de recaída e, nesse

caso, o TMO alogênico deve ser considerado, uma vez que aumenta a taxa de sobrevida. O

paciente com cariótipo normal, que corresponde a cerca de 45% dos casos é considerado como

risco intermediário (Copelan et al. 2015).

Atualmente já existem identificadas diversas mutações genéticas e expressões gênicas

desrreguladas em portadores de LMA, algumas das quais também relacionadas com o

21

prognóstico. Esses marcadores são particulamente importantes no entendimento do

comportamento heterogêneo dentre pacientes com cariótipo normal, por exemplo.

A FMS-related tirosina kinase 3 (FLT3) é um receptor tirosino-kinase transmembrana que,

quando ativado pelo seu ligante, estimula a proliferação celular. A Duplicação Interna em

Tandem no gene FLT3 (FLT3-DIT) provoca ativação sustentada desse receptor. Portadores de

LMA, com cariótipo normal, mas portando FLT3-DIT tem resposta inferior ao tratamento do

que aqueles que não possuem essa mutação, sendo essa mutação a segunda mais frequente

encontrada em pacientes com LMA.

Já a NPM1 é uma proteína nucleolar codificada pelo gene responsável pela síntese da

nucleofosmina (NPM). É uma proteína multifuncional, agindo durante o ciclo celular.

Mutação isolada da NPM1, na ausência de mutação FLT3-DIT, confere prognóstico favorável

a esses pacientes.

Assim, os desafios atuais impostos pelas alternativas terapêuticas limitadas e muitos

efeitos adversos da quimioterapia da LMA, bem como a heterogeneidade de subgrupos de

pacientes portadores de LMA, considerando a diversidade citogenética e molecular, justificam

o desenvolvimento urgente de compostos baseados em novas classes de moléculas para o

tratamento dessa doença. Analisando-se a situação sob esta perspectiva pode-se constatar a

necessidade imediata de se obter novos protótipos de medicamentos que possam ser incluídos

futuramente no arsenal terapêutico em uso (Döhner et al. 2010; Copelan et al. 2015; Licínio &

Silva 2010).

1.5 Novas drogas: Desenvolvimento

1.5.1 ALCALOIDES MARINHOS

Os alcalóides marinhos são uma das principais classes de metabólitos secundários isolados

de diferentes organismos marinhos tais como cianobactérias, tunicados, ascídios, anêmonas e

esponjas (Mehbub et al. 2014). Esses compostos possuem diferentes atividades biológicas já

descritas na literatura tais como: anti-inflamatória, antimalárica e antiviral. No entanto, os

alcalóides marinhos bem como os seus análogos sintéticos destacam-se pela sua marcante

citotoxicidade, o que os torna atraentes para o desenvolvimento de novas drogas para o

tratamento do câncer. Recentemente foi relatado que cerca de 36% dos compostos compostos

22

isolados de esponjas marinhas capazes de induzir apoptose pertencem à classe dos alcalóides

(Essack et al. 2011).

A Trabectedina, por exemplo, é um alcaloide tetrahidroisoquinolínico isolado do tunicato

caribenho Ecteinascidiaturbinata, utilizado como agente antineoplásico. Desenvolvido pela

PharmaMar em 1996, a Trabectedina (comercializada sob o nome de Yondelis®), foi o

primeiro fármaco a ser aprovado para o uso clínico no tratamento de sarcomas de tecidos

moles, autorizado pela European Medicine Agency (EMEA) para a comercialização em 2007

(Costa-Lotufo et al. 2009). Atualmente, está em fase de testes pré-clínicos para o tratamento

de câncer de ovário, próstata, mama e tumores sólidos pediátricos (Oliveira et al. 2012). A

Trabectedina teve seu uso aprovado em 57 países aumentando as vendas em 17 milhões de

euros no primeiro trimestre de 2010 (Felício et al. 2012).

Esponjas marinhas da ordem Haplosclerida em especial (gênero Haliclona, Xestopongia e

Amphimedon) são fontes ricas de diversos alcalóides estruturalmente complexos. Muitos dos

alcalóides da classe dos 3-alquilpiridínicos (3-APA) foram isolados desses organismos. O que

caracteriza os alcalóides do tipo 3-APA é sua maior simplicidade estrutural. Eles possuem

uma cadeia alifática longa diversamente funcionalizada ligada a posição 3 do anel piridínico.

A teoneladina C é um exemplo de alcalóide do tipo 3-APA de baixa complexidade estrutural

para o qual já foi descrita atividade antimicrobiana e citotóxica (Gonçalves et al. 2014).

Análogos sintéticos de alcalóides do tipo 3-APA já apresentaram atividade pró-apoptótica

contra linhagens tumorais de carcinoma de colon humano (RKO-AS-45-1) (Gonçalves et al.

2014; Pereira et al. 2012).

2 JUSTIFICATIVA

A busca de novos compostos com potencial atividade antitumoral que possam

substituir ou melhorar os atuais tem sido uma necessidade médica e prioridade em pesquisa.

Diante da limitação terapêutica para o tratamento da LMA, associada a efeitos adversos

significativos, principalmente em pacientes maiores de 65 anos, é importante o estudo e

investigação de novos compostos que poderão ser incorporados no arsenal terapêutico.

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

23

Testar análogos de alcaloides marinhos do tipo 3-alquilpiridínicos, em linhagem de LMA

tendo como perspectiva a obtenção de novos agentes terapêuticos.

3.2 Objetivos específicos

• Realizar os testes de avaliação da citotoxicidade, através de ensaio de viabilidade

celular, com os seguintes análogos de alcaloides: TEOC-5B, THP-002, OH-002, SCN-

002, SCN-003;

• Comparar os resultados obtidos nos testes de análogos de alcaloides marinhos com os

resultados de testes com quimioterápico padrão;

• Realizar ensaio de Genotoxicidade e Mutagênese com os compostos estudados para

identificar os diferentes riscos genéticos que podem estar associados à exposição

destes ;

• Realizar ensaios adicionais por metodologia molecular para confirmar apoptose e

tentar rastrear pistas do mecanismo de ação.

4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 Obtenção dos compostos

Os compostos utilizados neste estudo foram cedidos pelo Prof. Dr. Gustavo

Henrique Ribeiro Viana do Laboratório de Química Orgânica da Universidade Federal

de São João Del Rei (USFJ). No total, foram testados 05 compostos análogos de

alcalóides marinhos do tipo 3-alquilpiridínicos. As estruturas dos compostos estão

apresentadas na Tabela 3.

Tabela 3 - Estrutura dos 5 compostos análogos de alcaloides marinhos do tipo 3-

alquilpiridínicos

Código da Amostra Estrutura e M.M.

TEOC-5b

24

THEOC(ANALOG)

THP-002

THEOC(ANALOG)

OH-002

THEOC(ANALOG)

SCN-002

THEOC(ANALOG)

SCN-003

4.2 Solubilização dos compostos

Os compostos foram solubilizados para a realização dos testes biológicos, sendo

utilizado o solvente dimetilsulfóxido (DMSO) (Sigma-Aldrich, St. Louis, MO, EUA)

resultando numa concentração de 10 mg/mL. Essa solução foi mantida a uma

temperatura próxima de 4 ºC. O composto antitumoral utilizado como controle positivo,

foi o Etoposídeo (Sigma/Aldrich), o qual passou por uma diluição equivalente dos

compostos sintéticos utilizando o mesmo solvente, DMSO e obtendo a mesma

concentração de 10 mg/mL. Para o controle negativo foram utilizadas células sem o

tratamento.

No momento dos testes de citotoxicidade, foram feitas cinco diluições seriadas

utilizando-se o meio de cultura RPMI-1640 (Sigma/Aldrich) com 1% de Soro Fetal

Bovino, (SFB) (Gibco, EUA) nas seguintes concentrações a partir da solução estoque:

1000 μg/mL, 100 μg/mL, 10 μg/mL, 1 μg/mL e 0,1 μg/mL. No volume final a

concentração de DMSO foi de 0,01%. Os meios de cultura possuem em sua

composição além do SFB, 1% de antibióticos (penicilina e estreptomicina 100 U/mL).

25

4.3 Cultivo de linhagens celulares

A linhagem celular humana utilizada para análise de toxicidade foi a THP-1

(Leucemia Monocítica Aguda ATCC TIB-202). Esta linhagem foi cedida pelo

Laboratório de Hematologia Clínica e Molecular da Faculdade de Farmácia – UFMG.

A linhagem foi mantida congelada em criotubos com 5% de DMSO e meio de

cultura RPMI-1640 com 10% de SFB. Os criotubos foram mantidos em nitrogênio

líquido no banco de criopreservação (CryoPlus 7405 / ThermoScientific, EUA). Para

começar o cultivo, os conteúdos dos criotubos foram descongelados e transferidos para

um tubo de centrifuga de 15 mL contendo 2 mL de meio RPMI-1640 com 10% Soro

fetal bovino (SFB), e então submetidos à centrifugação de 988g durante 5 minutos

(mod. CS- 6R, Beckman, EUA). Em seguida descartou-se o sobrenadante. A massa

celular presente no fundo do tubo foi ressuspendida em 5 mL de meio de cultura. A

suspensão celular foi transferida para uma garrafa plástica de cultivo celular T75 (75

cm3, volume de 250 mL) (CorningCostar Inc., EUA) e mantida em estufa

(Thermoelectronco. EUA) a 37 ºC com atmosfera úmida de 5% de CO2.

Em seguida, realizou-se a manutenção da linhagem, no qual o meio foi trocado a

cada 48-72 horas para garantir a renovação dos nutrientes. Com o auxílio de um

microscópio invertido (mod. Olympus, CKX 41) a morfologia celular foi observada

diariamente como forma de acompanhamento da cultura. Para a contagem de células, o

conteúdo da garrafa plástica de cultivo celular era transferido para tubo de centrifuga de

15ml, centrifugadas por 5 minutos a 988g e o sobrenadante descartado. A massa celular

foi ressuspendida em 5 ml de meio RPMI-1640 com 10% de SFB. Desta suspensão de

células foi retirado 50 µL para misturar com 50 µL de azul de tripan para contagem

manual de células viáveis em câmara de neubauer. O azul de tripan cora o citoplasma de

células mortas possibilitando assim a contagem de células viáveis. Posteriormente à

contagem, a suspensão celular foi distribuída em placas de 96 poços (1 x 105

células/100 µL por poço) (CorningCostar Inc., EUA) para realização do ensaio de

viabilidade celular.

O grupo de pesquisa do Laboratório de Bioquímica Medicinal da UFSJ também

utilizou previamente a linhagem não tumoral de células de pulmão humano WI-26VA-

4, cujos dados foram citados nesse trabalho para fins de comparação com os dados

obtidos.

26

4.4 Ensaio de viabilidade celular

As moléculas sintéticas de análogos de alcalóides marinhos tiveram suas

citotoxicidade avaliadas através do ensaio de 3-(4,5-dimetil-2-tiazolil)-2,5-difenil-

tetrazólio (MTT). Este método é baseado na atividade da enzima mitocondrial

succinatodesidrogenase que se encontra ativa apenas em células viáveis

metabolicamente funcionais. Essa enzima reduz o sal de tetrazólio solúvel de cor

amarela em um produto insolúvel de cor violeta, cristais de formazan cuja quantidade

pode ser determinada por espectrofotometria, onde a intensidade da cor resultante da

dissolução dos cristais é proporcional à atividade da enzima e, por conseguinte ao

número de células viáveis (Carmichael et al. 1987; Park et al. 1987).

Para a avaliação da atividade citotóxica foi feita um plaqueamento de 3,095 x

106 µL de células em placas de 96 poços em meio RPMI-1640 acrescido de 10% de

SFB. Após o plaqueamento celular, as placas foram incubadas em estufa por 24 horas a

37 ºC em atmosfera de 5% de CO2 em ambiente úmido, para conseguinte adição das

amostras a serem testadas.

Após o período de incubação, as células foram lavadas com solução salina

tamponada (PBS). Os testes de citotoxicidade foram realizados em cinco diluições

seriadas na escala decimal a partir da solução estoque (compostos e controle positivo),

utilizando RPMI-1640 com 1% de suplementação de SFB. Cada concentração foi

testada em triplicata e cada ensaio foi também repetido em triplicata. Após uma

incubação de 48 horas, o meio em cada poço foi recolhido e as células foram lavadas

com PBS novamente. O efeito citotóxico foi medido com o ensaio colorimétrico MTT.

Para determinar a viabilidade das células, 100 µL do sal tetrazólico MTT (5 mg/mL) foi

adicionado a cada poço e as células foram cultivadas em adicional incubação durante 3

horas. Retirou-se o sobrenadante e aplicou-se 50 µL de DMSO em cada poço, para

solubilizar o produto insolúvel de formazan. A leitura foi realizada em um leitor de

microplacas através da espectrofotometria no comprimento de onda de 550 nm. A

concentração que reduz a viabilidade celular em 50% (IC50) na presença dos compostos

testes e do controle positivo, foi determinada em comparação com células cultivadas

sem a presença de compostos (consideradas 100% de viabilidade).

27

4.5 Ensaio de Genotoxicidade e Mutagênese

Os ensaios de genotoxicidade e mutagênese foram realizados no Laboratório de

Biologia Celular e Mutagênese - UFSJ do prof. Dr. Fábio Vieira dos Santos.

4.5.1 Ensaio de micronúcleo com bloqueio de citocinese (CBMN)

O ensaio de micronúcleo foi baseado na metodologia de Fenech (Fenech 2000),

com o objetivo de analisar o potencial mutagênico do composto que apresentou melhor

resultado no ensaio de citotoxicidade nas células da linhagem THP-1. As células foram

distribuídas em placas de 24 poços (2,5 × 105 células/poço) e as placas foram incubadas

a 37 °C numa atmosfera úmida de 5% de CO2.

Após 24 horas, o meio de cultura foi substituído e as células foram tratadas com

o composto-teste em três concentrações diferentes e diluídos em meio de cultura. Em

seguida permaneceram incubadas por 3 h. O grupo referente ao controle negativo foi

tratado com PBS, e o grupo de controle positivo recebeu o tratamento com

metanossulfonato de metila (MMS-400 uM).

Ao término do tempo de tratamento descrito, as células foram lavadas duas

vezes com PBS e centrifugadas durante 5 min a 1200 rpm. O pellet foi suspenso em

meio de cultura completo contendo citocalasina-B a uma concentração final de 3 µg/mL

e essa suspensão permaneceu na incubadora sob as mesmas condições descritas

anteriormente.

Passadas 24 horas do tratamento com citocalasina-B e consequente bloqueio da

citocinese, esse material foi centrifugado por 5 minutos a 1.200 rpm e o sedimento foi

ressuspendido em solução hipotônica gelada (1% de citrato de sódio), juntamente com

uma gota de formaldeído a 1% e homogeneizada cuidadosamente com uma pipeta de

Pasteur. Foi realizado nova centrifugação durante 5 min a 1200 rpm com o pellet

resultante ressuspendido em 5 mL de solução fixadora (metanol/ácido acético 3:1 (v/v)).

Em seguida, os tubos foram novamente centrifugados durante 5 min, e o sobrenadante

foi descartado. As lâminas utilizadas para disposição do material celular estavam

limpas, geladas e com um filme de água destilada em sua superfície, onde colocou-se

três gotas da suspensão celular.

28

Foi confeccionado um total de 10 lâminas em cada experimento, sendo o mesmo

realizado em três repetições independentes. As lâminas foram fixadas em metanol

gelado durante 5 minutos, secas ao ar e armazenadas até à coloração.

No momento da análise citogenética, as lâminas foram coradas com DAPI (4 ',

6-diamidino-2-fenilindol) diluído em tampão fosfato (0,06 M de Na2HPO4 e 0,06 M de

KH2PO4, pH 6,8) durante 2 min, e lavadas com água destilada. Foram analisadas sob

um microscópio de fluorescência (Zeiss, Axioscope) com um filtro de excitação de 365

nm e um filtro barreira de 445/450 nm. Mil células binucleadas (BNC) com citoplasma

bem preservado foram analisadas para cada concentração da droga teste, com o objetivo

de estabelecer a frequência de células micronucleadas, em um teste cego. As células que

continham 1-3 micronúcleos foram consideradas para análise.

A influência dos compostos sobre a divisão celular foi avaliada calculando-se o

Índice de Divisão Nuclear (NDI) nas células THP-1. As mesmas lâminas analisadas

para o teste do micronúcleo foram utilizadas para essa determinação. Foram analisadas

500 células íntegras, contadas utilizando microscopia de fluorescência tal como descrito

acima, verificando-se a presença de 1ou mais núcleos em cada uma delas.

O índice de divisão nuclear (NDI) foi calculado para concentração, de acordo

com a fórmula:

NDI = (Número de células mononucleares + 2 x Número de células binucleadas

+ 3 x No. de células trinucleados + 4 x No. de células quadrinuclear) / Nº total de

células.

4.6 Detecção de Caspase 3

Foi selecionado para esse experimento, o composto que apresentou melhor

resultado no ensaio de citotoxicidade. Para a investigação da ativação da Caspase 3 após

o tratamento com o composto-teste foi utilizado o Kit colorimétrico da R&D Systems

(Wiesbaden-Nordenstadt, Alemanha) de acordo com as instruções do próprio fabricante.

Neste ensaio, 3x106 células foram semeadas em garrafas de cultura 25 cm2 e

incubadas por período de 48 horas na ausência ou presença do composto-teste. Para o

controle positivo, as células foram tratadas com Etoposideo. Após incubação as células

foram inicialmente centrifugadas e o pellet de células formado foi incubado com 75µl

tampão de lise em banho de gelo por 10 min. Os homogeneizados foram centrifugados a

20.000 g durante 01 min e o sobrenadante foi incubado com o substrato para caspase-3

29

(DEVD-pNA) a 37°C por 2h. A absorbância de cada amostra foi registrada a 405nm e o

nível da atividade da caspase-3 foi diretamente proporcional à reação de cor.

4.7 Análise de expressão gênica

4.7.1 Extração de RNA

A extração do RNA total foi realizada com o reagente Trizol LS (Introgen,

EUA) seguindo-se rigorosamente as recomendações do fabricante. A extração foi obtida

com o composto selecionado no ensaio de viabilidade celular.

Essa extração foi realizada 24 e 48 horas após o tratamento com o composto-

teste nas concentrações de IC50, 2 x IC50 e IC50/2. Para o controle foi realizado a extração

de RNA das células não tratadas. As preparações das placas de 96 poços para a extração

foram equivalentes às preparadas para o teste de citotoxicidade, com uma quantidade de

plaqueamento de 3x106 células por poço.

O meio de cultura presente na placa foi removido para a adição direta de 10 µL

de reagente Trizol LS, para que houvesse a lise das células. Homogeneizou-se e

incubou-se por 5 minutos em temperatura ambiente para permitir a completa

dissociação do complexo nucleoproteína sendo o conteúdo dos poços transferidos para

um tubo de 1,5 mL. Depois foram adicionados 3 µL de clorofórmio (Merck), para

separação das fases orgânica e aquosa.

As amostras foram agitadas vigorosamente por 15 segundos e incubadas por 10

minutos à temperatura ambiente. A seguir as amostras foram centrifugadas a 12000 g

por 15 minutos a uma temperatura de 4 ºC. A fase aquosa (camada superior) foi

transferida para outro tubo estéril e o restante foi descartado. Na fase aquosa, contendo

o RNA total, foram adicionados 7μL de isopropanol 100% (Merck) para precipitação

do RNA. Seguiu-se uma nova incubação por 10 minutos a temperatura ambiente. As

amostras foram novamente centrifugadas a 12000 xg por 10 minutos (4ºC) e o

sobrenadante descartado. O sedimento formado foi lavado com 14 µL de etanol (Merck)

75% (diluído em água DEPC 0,1% estéril). As amostras foram homogeneizadas e

centrifugadas a 7500 xg por 5 minutos (4 ºC) e logo após o sobrenadante descartado

novamente. O pellet de RNA formado foi ressuspendido com 40 µL de água livre de

RNAse. Em seguida foram incubados por 15 minutos a uma temperatura de 60 ºC para

30

completa dissolução do RNA. Por fim o RNA total foi usado para síntese de cDNA ou

armazenado a -80 ºC até sua utilização.

Para quantificar o RNA total obtido após o processo de extração, as amostras

foram analisadas por espectrofotometria (Nanovue, GE Healthcare Life Sciences, UK),

através da leitura simultânea da densidade ótica nos comprimentos de onda 260 e 280

nm. Para a verificação da pureza do RNA extraído foi calculado a razão entre a

absorbância medida a 260 nm e a 280 nm. Valor entre 1,5 e 2,0 indicou grau de pureza

satisfatória.

4.7.2 Confecção de cDNA

Os RNAs extraídos foram submetidos à reação de transcriptase reversa para

obtenção de cDNA, seguindo-se rigorosamente as instruções do fabricante ( High

CapacitycDNA Reverse Transcription kit® (AppliedBiosystems, USA). Ao término

dessa etapa foram obtidos 20 µL de cDNA, que foram armazenados a -20 ºC para

serem posteriormente utilizados para a análise de expressão gênica. Para verificar a

integridade dos RNAs extraídos e a qualidade dos cDNAs sintetizados realizou-se a

amplificação através da reação em cadeia de polimerase (PCR) do fragmento de cDNA

correspondente ao RNA mensageiro (RNAm) da gliceraldeído-3-fosfato-desidrogenase

(GAPDH) e visualizou-se os resultados através do gel de poliacrilamida a 8%.

4.7.3 PCR em tempo real

Para que os experimentos de qRT - PCR, que utilizam o fluoróforo SYBR®

Green, ocorram com alta eficiência, foi necessário realizar uma série de padronizações,

e a primeira delas foi a busca por uma temperatura ideal de anelamento para cada

sequência de oligonucleotídeos (Tabela 4) a serem analisados. Essa padronização foi

realizada através de PCR convencional, onde as reações foram processadas em um

termociclador (AppliedBiosystems, Foster, CA, USA). As reações de amplificação

compreendem uma desnaturação inicial a 94°C por 3 minutos, seguida de 35 ciclos de

desnaturação a 94°C por 0,5 minutos, anelamento no qual a temperatura vai ser

determinada por 1 minuto e extensão a 72°C por 2 minutos, com extensão final a 72 °C

por 10 minutos.

31

A segunda padronização foi a titulação dos oligonucleotídeos iniciadores, ou

seja, realizou-se uma série de reações em que se variou a concentração dos iniciadores,

o que possibilitou a escolha da concentração mais adequada. Para isso, foram feitas

diluições dos iniciadores, que variaram entre as concentrações de 100 a 600 nanomolar

(nM). Todas as reações foram feitas em triplicatas, com controles negativos para cada

combinação de iniciadores. As condições encontradas foram posteriormente testadas na

construção de uma curva padrão, construída a partir de diluições seriadas do pool de

cDNA. As curvas padrão serviram como teste da eficiência da reação, onde uma curva

padrão ótima apresenta valor de eficiência de 1 (100% de amplificação por ciclo),

situação na qual as concentrações da curva devem corresponder com as diluições

realizadas.

Tabela 4 -Sequência dos oligonucleotídeos iniciadores diretos (F) e reversos (R)

utilizados na qRT-PCR.

Primer Sequências Tamanho do

Amplicon (pb)

TP53 - F 5′- TGCAGCTGTGGGTTGATTCC -3′ 396

TP53 - R 5′- AAACACGCACCTCAAAGCTGTTC -3

P21 - F 5′- TGAGCCGCGACTGTGATG -3′ 82

P21 – R

BAK – F

BAK – V

5- GTCTCGGTGACAAAGTCGAAGTT -3′

5′-TCTGGCCCTACAC -3′

5′-ACAAACTGGCCCAACAGAAC -3′

201

Após o término da padronização foram realizadas reações de PCR em tempo real

para o cálculo da expressão gênica relativa, utilizando-se o método do ΔΔCT

comparativo. Todas as reações de qRT - PCR foram realizadas em equipamento

StepOne Real-Time PCR (AppliedBiosystems, Foster, CA, USA), utilizando kit SYBR

Green Master Mix (AppliedBiosystems, Foster, CA, USA). Este kit contém todos os

componentes (exceto oligonucleotídeos iniciadores, amostras e água), necessários para

as reações de PCR: tampão 2X, dNTPs, MgCl2, SYBR Green I Dye, AmpliTaq Gold®

DNA polimerase e ROX como referência passiva. Os passos do ciclo de amplificação

foram: 50 °C por 2 minutos, 95 °C por 10 minutos, 60 °C por 1 minuto, em um total de

40 ciclos.

32

A avaliação da expressão do RNAm do gene de interesse foi realizada por PCR em

tempo real com o uso de ensaioTaqMan (AppliedBiosystems, EUA) seguindo-se

rigorosamente as recomendações do fabricante. As reações continham um volume total

de mistura de 20 µL, contendo 1X TaqMan Universal Master Mix II sem UNG 1X

Assay, Mix 20x (AppliedBiosystems) e cDNA (100 ng ). A PCR foi realizada no

equipamento AppliedBiosystems StepOne - Real Time PCR System a 50 °C durante 2

minutos, 95 °C durante 10 minutos, seguido de 40 ciclos a 95 °C durante 15 segundos e

60 °C durante 1 minuto. A quantificação de cada amostra foi realizada em triplicata e o

método utilizado foi o de comparação de ΔΔCT. Todas as reações foram submetidas às

mesmas condições de análise e normalizadas pelo sinal do corante de referência passiva

ROX para correção de flutuações na leitura decorrentes a variações de volume e

evaporação ao longo da reação.

O resultado, expresso em valor de CT (cyclethreshold), se refere ao número de ciclos

de PCR necessários para que o sinal fluorescente atinja o limiar de detecção e é

inversamente proporcional ao número de cópias da sequência alvo presente na amostra.

Após finalização dos ciclos, um threshold de 0,1 foi estabelecido e os valores CT foram

gerados através do software do equipamento AppliedBiosystems. Todos os transcritos

foram normalizados com o controle endógeno GAPDH. Este atua como controle interno

tendo a finalidade de remover ou reduzir as diferenças da amostragem que muitas vezes

estão relacionadas à quantidade e qualidade do RNA extraído.

Para validar a amplificação de cada gene alvo, foram realizadas diluições seriadas

em escala decimal de cDNA, que foram submetidas à amplificação nas mesmas

condições anteriormente citados, para a montagem da curva padrão. O gráfico gerado

pela concentração de cDNA e os respectivos valores de CT foram empregados para o

cálculo da equação de regressão e para a determinação do coeficiente de relação (R2) e

da eficiência do ensaio.

Os resultados obtidos foram analisados pelo software StepOne v 2.3

(AppliedBiosystems, EUA) e os resultados individuais expressos em valores de

quantificação relativa foram transferidos para planilhas e agrupados de acordo com a

linhagem celular, concentrações e o tempo de tratamento para realização da análise

estatística.

4.8 Análises estatísticas

33

Os valores de IC50 foram calculados usando-se o programa OriginPro 8.0

(OriginLab Corporation, Northampton, MA, USA). Para a análise dos dados com

distribuição normal, foi usado análise de variância (ANOVA) seguido pelo do ensaio de

comparação múltipla de Tukey. Para aqueles sem distribuição normal, utilizamos

ANOVA para comparação de mais grupos: o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis

seguido pelo teste de comparação múltipla Holm-Sidak. Foi considerado significativo

valor de p<0,05.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Ensaio de citotoxicidade e viabilidade celular

A fim de se avaliar a atividade citotóxica dos compostos, foram realizados ensaios

de MTT na linhagem celular humana THP-1. Em trabalho prévio realizado pelo grupo

de pesquisa do Laboratório de Bioquímica Medicinal da UFSJ, esses compostos

também foram testados previamente em uma linhagem não tumoral: WI-26VA-4 e

utilizando o etoposídeo como composto padrão (Gonçalves et al. 2014). O

quimioterápico Citarabina também foi usado na linhagem THP-1 para cálculo do IC50,

para efeito comparativo. Na Tabela 5 estão apresentados os dados dos testes de

citotoxidade e viabilidade celular.

Tabela 5 -Valores de IC50 obtidos em ensaios in vitro com linhagens celulares de THP-

1 e WI-26VA-4.

Código da Amostra Estrutura e M.M.

IC50 (µM) ± DP

THP-1 WI-26-

VA4

TEOC-5b

40.31±12.93 45.52±2.71

THEOC(ANALOG)THP-

002

4,05±0,1 6,4±0,7

34

THEOC(ANALOG)OH-

002

71.12±5.79 99,1±11,2

THEOC(ANALOG)SCN-

002

41.93±2.02 13,28±4,24

THEOC(ANALOG)SCN-

003

69.92±3.47 14,64±2,39

Etoposídeo ___ 5.8±0.63 4,3 ± 1,34

Citarabina ----- 39,7±5,8 ----

Observou-se que para a linhagem THP-1, com exceção do composto de código

THEOC(ANALOG)THP-002, todos os outros quatro compostos apresentaram valores de

IC50 acima do obtido pela Citarabina e pelo Etoposídeo, sendo esse último já usado como

quimioterápico (Sinkule 1984), se mostrando inefetivos. No entanto o composto

THEOC(ANALOG)THP-002 apresentou um valor de IC50 particulamente baixo, sugerindo

ser altamente citotóxico para essa linhagem.

Para a linhagem WI-26-VA4, os valores de IC50 variaram de 4,3 µM

(Etoposideo) até 99 µM. Não foi realizado experimento com Citarabina nessa linhagem.

Análogos sintéticos de 3APA vem sendo testados contra linhagens celulares com

resultados promissores e em muitos estudos, sua ação citotóxica vem decorrente de

indução de apoptose (Essack et al. 2011; Pereira et al. 2012; Gonçalves et al. 2014). De

fato, a morte celular induzida por apoptose é extremamente vantajosa em um contexto

de desenvolvimento de novos fármacos, uma vez que ocorre sem liberação de conteúdo

citosólico no meio extracelular e evita o início de cascata inflamatória.

5.2 Ensaio de Genotoxicidade e Mutagênese

Após avaliação e análise prévia da atividade citotóxica dos análogos sintéticos de

alcalóides do tipo 3-APA e com os resultados demonstrados na Tabela 4, foi visualizado

que o composto THP-002, apresentou uma alta atividade citotóxica, sendo utilizado na

realização do teste de micronúcleo, testado em 3 diferentes concentrações.

35

Neste contexto, o presente estudo realizou o teste do micronúcleo para avaliar se

esse composto seria capaz de causar mutações cromossômicas na linhagem celular

THP-1.

As concentrações utilizadas para avaliar o potencial deste alcalóide sintético em

induzir mutações e provocar as instabilidades genômicas foram 6 µM; 12 µM e 17,9

µM. As Figuras 2 e 3 reúnem os resultados obtidos, nas respectivas concentrações do

composto estudado.

Figura 2: Frequência média de micronúcleos observados por 1000 células binucleadas de THP-

1, após o tratamento com diferentes concentrações do composto THP-002. Controle +: Metil

Metanosulfonato (400µM); Controle - : meio de cultura* p<0,05.

*

**

*

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

Ctrol+ Ctrol - 6 µM 12 µM 17,9 µM

Mic

ron

úcl

eos/

10

00

célu

las

bin

ucl

ead

as

Tratamentos

36

Figura 3: Índice de Divisão Nuclear das células THP-1, após o tratamento com diferentes

concentrações do composto THP-002. Controle +: Metil Metanosulfonato (400µM); Controle - : meio de

cultura * p<0,05.

Como pôde ser observado na figura 2, o tratamento com composto THP-002

resultou em um aumento significativo da frequência de células binucleadas com

micronúcleos em comparação ao controle negativo nas três concentrações estudadas,

ocorrendo mais acentuadamente na maior concentração testada, de 17,9 µM. Além

disso, foi observado que o tratamento com esse composto, nas três concentrações

estudadas, levou a uma diminuição do Índice de Divisão Nuclear, com o relação ao

observado no controle negativo (figura 3).

Esses resultados indicam que o composto THP-002 induziu mutação

cromossômica nas células da linhagem THP-1, provavelmente levando à parada do ciclo

celular, reduzindo a taxa de proliferação das mesmas.

A ocorrência dos micronúcleos representa uma resposta integrada da

instabilidade de cromossomos, fenótipos e alterações celulares causadas por defeitos

genéticos e ou exposição exógena a agentes genotóxicos. Frente a isto, os estudos de

mutagenicidade ajudam na avaliação da segurança e eficácia dos produtos estudados

(Fenech 2000; Fenech et al. 1999).

Além disso, considerando que a atividade anticâncer de quimioterápicos e da

radioterapia é em grande extensão diretamente relacionada com sua propriedade de

induzir dano no DNA, a identificação de um composto capaz de induzir a formação de

MN permite inferir que esse composto tem o potencial de ativar a morte celular por

*

* * *

1,15

1,20

1,25

1,30

1,35

1,40

1,45

1,50

1,55

1,60

Ctrol+ Ctrol - 6 µM 12 µM 17,9 µM

Índ

ice

de

Div

isão

Nu

clea

r

Tratamento

37

apoptose, de forma que passa a ser um potencial candidato a quimioterápico (Utani et al.

2010; Abbotts, Rachel; Thompson, Nicola; Madhusudan 2014).

5.3 Detecção de caspase 3

Conforme já citado, o tratamento do câncer convencional envolve agentes que

promovem dano ao DNA. No entanto, podem potencialmente atingir células normais

além das tumorais, que se dividem indiscriminadamente. Dentre tais agentes, cita-se a

radiação ionizante, agentes alquilantes, inibidores da DNA topoisomerase, etc (Essack

et al. 2011).

Os antracíclicos, dentre os quais a Daunorrubicina e a Idarrubicina que fazem

parte do esquema de tratamento standart para LMA, e parecem atuar como inibidores

da DNA topoisomerase. Já a Citarabina, sendo um análogo do nucleosídeo pirimidina,

age como um anti-metabólito inibindo a síntese do DNA (Martin et al. 2009; Cros et al.

2004).

Com o objetivo de elucidar o mecanismo de ação pelo qual o composto THP-002

leva a morte celular, após o tratamento das células THP-1 com ele, foi avaliada a

presença de atividade de caspase 3. A Figura 4 reúne os resultados obtidos nesse

experimento.

Figura 4: Quantificação da atividade da Caspase 3 por ensaio colorimétrico na linhagem THP-

1(*p<0.05), observados com o Controle – (ausência do composto-teste), com o composto-teste THP-002

em concentração de 4,05±0,1µM/mL e com o Controle + (Etoposídeo).

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

Control - 4.05±0.1 Control+

Ati

vid

ad

e d

e C

asp

ase

-3

38

Esses dados sugerem que a atividade enzimática da Capase-3 aumentou nas

células que receberam tratamento com o composto THP-002, na concentração de 4,0

µM/mL. Dessa forma, infere-se que a citotoxicidade observada com esse composto

envolve dano ao DNA e indução de morte por apoptose.

5.4 Análise da expressão gênica

Foram realizadas reações de PCR em tempo real para o cálculo da expressão

gênica relativa do gene TP53, p21 e BAK utilizando-se o método comparativo do ΔΔCT.

O perfil de expressão do TP53, p21 e BAK para a exposição da linhagem THP-1

às diferentes concentrações do composto THP-002 estão demonstrados nas figuras 6, 7

e 8. Todas as quantificações foram normalizadas pelo controle endógeno e a

quantificação da amostra referência (sem tratamento) foi padronizada como valor 1 de

expressão do gene analisado.

Con

trol

M)

24 h

(8.1

0 M

)

24 h

(4.0

5 M

)

24 h

(2.0

2 M

)

48 h

(8.1

0 M

)

48 h

(4.0

5 M

)

48 h

(2.0

2

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0 *

Ex

pre

ss

ion

of

TP

53

Figura 5: Gráfico da quantificação relativa do gene TP53 após tratamento com o THP-002 na linhagem

THP-1 em diferentes concentrações. (*p < 0.05). Controle: linhagem THP-1 sem tratamento (0 hora).

39

Con

trol

M)

24 h

(8.1

0 M

)

24 h

(4.0

5 M

)

24 h

(2.0

2 M

)

48 h

(8.1

0 M

)

48 h

(4.0

5 M

)

48 h

(2.0

2

0.0

0.5

1.0

1.5

* * *

*

Ex

pre

ss

ion

of

P2

1

Figura 6: Gráfico da quantificação relativa do gene p21 após tratamento com THP-002 na linhagem

THP-1 em diferentes concentrações. (*p < 0.05). Controle: linhagem THP-1 sem tratamento (0 hora).

Con

trol

M)

24 h

(8.1

0 M

)

24 h

(4.0

5 M

)

24 h

(2.0

2 M

)

48 h

(8.1

0 M

)

48 h

(4.0

5 M

)

48 h

(2.0

2

0

2

4

6

8*

*

* * *

Ex

pre

ss

ion

of

BA

K

Figura 7: Gráfico da quantificação relativa do gene BAK após tratamento com THP-002 na linhagem

THP-1 em diferentes concentrações. (*p < 0.05). Controle: linhagem THP-1 sem tratamento (0 hora).

Ao avaliar o perfil de expressão do gene TP53 (figura 5) e do gene p21 (figura

6), observou-se que o nível de transcritos não aumentou após exposição de 24 h nem de

48 h com a concentração do composto de 4,0 µM. Já o resultado do experimento de

expressão de BAK (figura 7) desmonstra claramente um aumento em sua expressão, em

comparação ao controle após o tratamento por 24 h e 48 h com o composto THP-002.

40

Conforme já citado, o gene TP53, atravé da codificação da fosfoproteína nuclear

p53, tem papel ativo na parada do ciclo celular e indução da expressão de genes de

reparo de DNA danificado, bem como indução de apoptose atuando como um supressor

tumoral. No entanto, as células da linhagem THP-1 apresentam deficiência na expressão

de TP53 (Reisman 2002), sendo que, em modelos de LMA, a detecção de mutações e

delações cromossômicas nesse locus está associado a resistência ao tratamento (Wattel

et al. 1994; Yin et al. 2006). Dessa forma, o tratamento da LMA deve ser focado em

vias independentes de p53 (Ng 2011).

A proteína BAK é uma reguladora chave na sinalização pró-apoptótica. E de

acordo com os resultados apresentados nesse estudo, parece estar envolvida no

mecanismo de apoptose ativando caspase 3 por via independente de p53, fato esse já

descrito também em estudo in vitro com cultura de células de neoplasia gástrica (Tong

et al. 2004; Degenhardt et al. 2002).

Dessa forma, infere-se que o composto THP-002 é um agente potencial de uso

contra a LMA e estudos adicionais são necessários para elucidação mais detalhada dessa

via independente de p53 pela qual é induzida a morte celular.

6 CONCLUSÕES

Dos 5 compostos análogos de alcalóides marinhos do tipo 3-alquilpiridínicos

testados, um deles: THP-002 se mostrou ativo contra a linhagem THP-1.

O ensaio de genotoxicidade evidenciou que o tratamento com composto THP-

002 levou aumento significativo da frequência de células binucleadas com micronúcleos

bem como levou a uma diminuição do Índice de Divisão Nuclear, com o relação ao

observado no controle negativo, concluindo-se que esse composto tem o potencial de

gerar mutação cromossômica.

Houve aumento na atividade da Caspase 3 após tratamento com o composto THP-

002, sugerindo que a morte celular se dá por indução de apoptose.

A análise de expressão gênica evidenciou aumento na expressão de BAK, após

exposição da linhagem THP-1 ao composto THP-002, reforça a hipótese de indução de

apoptose por ativação da via intrínseca, no entanto não houve aumento da expressão de

TP53 nem p21 após 24h de exposição, de forma de se supõe que a ativação da apoptose

41

seja por via independente da p53.

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