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Almanaque Brasil - Setembro de 2009

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O Almanaque Brasil é um verdadeiro armazém da memória nacional, capaz de promover uma viagem pela história do País, em temas como música, cinema, teatro, literatura, dança. Marcam presença curiosidades, fatos históricos e matérias especiais, sempre de maneira envolvente e com surpreendente tratamento gráfico. A revista é editada pela Andreato Comunicação e Cultura, e distribuída nos vôos da TAM. Mas não espere para viajar. Assine o Almanaque e viaje nas boas histórias do Brasil.

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ARMAZÉM DA MEMÓRIA NACIONAL

www.almanaquebrasil.com.br

Gringo Cardia O capista desta edição do AlmAnAque já atuou como arquiteto, artista plástico, designer, diretor de arte e diretor de videoclipes, desfiles de moda, ópera e teatro. Entre os destaques de sua carreira, estão proje-tos cenográficos de cerca de 100 peças teatrais, nas quais trabalhou com os mais reconhecidos diretores brasileiros. Em música, fez a pro-gramação visual de mais de 150 shows. Como designer gráfico, assinou capas de artistas como Tom Jobim, Chico Buarque e Marisa Monte. Também ganhou reconhecimento como diretor de videoclipes.

Atualmente, trabalha com produções visuais para o Afroreggae, Cufa (Central Única das Favelas) e Hutúz, prêmio de hip hop. A partir dessas atividades, projetou a exposição Estética da Periferia, que roda o País desde 2005. Ao lado da irmã, Gringa Cardia, comanda a Mesosfera Design.A arte que Gringo preparou para a capa desta edição do AlmAnAque é livremente inspirada em Mulher com Braçada de Flores, de Di Cavalcanti.

Diretor editorial Elifas AndreatoDiretor executivo Bento Huzak AndreatoEditor João Rocha RodriguesEditor de arte Dennis VecchioneEditora de imagens Laura Huzak AndreatoEditor contribuinte Mylton SeverianoRedatores Bruno Hoffmann e Natália PesciottaRevisor Lucas Puntel CarrascoAssistentes de arte Guilherme Resende e Paula ChiurattoAssistente administrativa Eliana Freitas Assessoria jurídica Cesnik, Quintino e Salinas AdvogadosJornalista responsável João Rocha Rodrigues (MTb 45265/SP)Impressão Gráfica Oceano

PUBLICIDADEBelo Horizonte: (31) 3281-0283Marco Aurélio Maia • [email protected]ília: (61) 3321-0305 Charles Marar • [email protected] Marar Filho • [email protected] Rio de Janeiro: (21) 2245-8660 Fernando Silva • [email protected] Santiago • [email protected]ória: (27) 3389.3452 Flávio Castro • [email protected]ão Paulo: (11) 3873-9115Maria Fernanda Santos • [email protected]

Por quatro décadas de estrelas

Elifas Andreato

editora J. J. Carol lançará, em novembro, uma edição da coleção Portfólio Brasil dedicada à minha obra gráfica. A linha editorial da publicação exige comentários contextualizados, explicações sobre o processo criativo,

técnicas e suportes de cada trabalho. Ao começar a preparar isso, contudo, me dei conta de que não lembrava mais dos primeiros desenhos que publiquei na imprensa. Surpreso, descobri que eles são de 1969. Com cuidado, coloquei os velhos jornais sobre a prancheta e os folheei. Estava ansioso, mas também aflito por não saber que reação teria ao ver desenhos feitos 40 anos atrás. Dediquei bom tempo observando os defeitos de cada um. Porém, amparado pelas lembranças da época, senti orgulho deles. Para fazê-los, foi necessário superar o medo e as precárias condições que o regime militar nos “concedia”. Apesar das imperfeições, eles são testemunhas de um tempo em que predominava no País a mais estúpida ignorância. A informação, as artes e a própria cultura precisavam de autorização para ganhar o mundo. Um legado de barbárie e atraso cujo preço continuamos pagando, já que muitos daqueles que apoiavam o regime da época ainda estão, para nossa desgraça, vivos e no poder. Sou, por natureza e necessidade, um combatente. Sigo fazendo a pequena parte que me cabe, e me sinto vitorioso. Pertenço a uma geração de bons brasileiros que nunca desistiram de lutar contra a injustiça e outros males. Graças a essa obstinação e persistência, conquistamos avanços sociais notáveis nos últimos 40 anos. Se ainda não temos o país desejado, a plena democracia é a mais poderosa arma para realizar a nação que sonhamos.Utopia? Talvez. Mas não posso viver nem trabalhar sem esperança. Esperança representada, em quatro décadas, por estrelas nos céus dos meus desenhos. Fiz do papel meu confidente. Nele, contei os dias e as noites do País. As vitórias e derrotas do povo, minha admiração pela infância. E é sempre bom lembrar: não há desgraça maior para uma nação do que matar os sonhos de suas crianças. Agora, insisto e persisto. Pois nunca mais terei 40 anos.

Pinta-se com o coração e a cabeça mais do que com as mãos.

O AlmAnAque está sob licença Creative Commons. A cópia e a reprodução de seu conteúdo são autori-

zadas para uso não-comercial, desde que dado o devido crédito à publicação e aos autores. Não estão incluídas nessa licença obras de terceiros. Para reprodução com outros fins, entre em contato com a Andreato Comunicação & Cultura. Leia a íntegra da licença no site do AlmAnAque.

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Distribuição em voos nacionais e internacionais:

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O AlmAnAque é uma publicação da Andreato Comunicação & Cultura.Rua Dr. Franco da Rocha, 137 - 11º andar Perdizes. São Paulo-SP CEP 05015-040 Fone: (11) 3873-9115

Théophile Gautier (1811-1872), escritor francês

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nossa capa

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Tiragem auditada pela

Distribuição em bancas: Fernando Chinaglia S.A.

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Setembro 2009

Tempos de ditadura, alta tensão política. Sob essa atmosfera, Sérgio Ricardo subiu ao palco do 2º Festival da Record, em 1968, para defender a música Beto Bom de Bola. O público o recebeu com a maior vaia da história dos festivais. A canção não era considerada politizada.Sérgio conclamou que prestassem atenção na letra, e começou a cantar. Mas mal ouvia a própria voz. Irritado, calou o violão e vociferou: “Vocês ganharam!”. Quebrou o instrumento e arremessou-o contra o público.O clima ficaria tenso de fato na hora da saída. Parte da plateia o esperava na rua, e não era pra pedir autógrafo. Precisou ser escoltado pela polícia. A

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SOLuçãO NA P. 26

o filho do palhaço, o que é? Desde que o pai e ídolo deixou a família, ele foi contínuo, engraxate, garçom, apontador do jogo do bicho. Lírio tinha 13 anos quando começou a

trabalhar e 19 quando entrou na Rádio Tamoio como faxineiro, em 1942. Lá garantiu sua vaga de radioator. Logo participaria do teatro de revista, com seu estilo desbocado. Estreou no cinema com muita polêmica, em Anjo do Lodo. Em prol dos bons costumes, o então vereador paulistano Jânio Quadros tentou proibir a película, que mostrava o meretrício e a atriz Virgínia Lane no papel de prostituta. Fez ainda pontas em chanchadas e uma série de impagáveis paródias de longas famosos. Contracenou com Grande Otelo em As Aventuras de Robinson Crusoé. A partir dos anos 1960, participou de diversos humorísticos na tevê: Apertura, Aper-

tem o Riso, Planeta do Homens, Chico Anísio Show. Também aparecia em comerciais da Loteria dirigidos por Cacá Diegues. “Proibida a execução em lugares públicos e a venda para me-nores de 21 anos”, informava uma tarja em todos os discos do comediante, sucessos de vendagem. Na capa do primeiro volume, aparecia nu, atrás de uma mesa. Na altura das partes íntimas, sobre a mesa, um peru.Não media termos de baixo calão. E era o rei das caretas. Entre as palavras, comprimia os lábios, colocava a língua pra fora. Seu forte eram as piadas. “Aí a bichinha...”, começava. Gostava também das de português.Morreu aos 72 anos, em 15 de setembro de 1995. O último papel foi no programa Escolinha do Professor Raimundo, uma homenagem a Mazzaropi e Oscarito.

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www.almanaquebrasil.com.br

15/9/1956COMEÇAM AS OBRAS DA

HIDRELÉTRICA DE TRÊS MARIAS, NO RIO SÃO FRANCISCO, QUE TERIA

A MAIOR BARRAGEM DE TERRA DO MUNDO.

15/9/1982O RIO PARANÁ INUNDA O SALTO DE SETE QUEDAS

PARA DAR INÍCIO AO FUNCIONAMENTO DE ITAIPU, A MAIOR

HIDRELÉTRICA DO MUNDO.S E T E M B R O

O dono destes olhos nasceu em 10 de setembro de 1952 no interior de São Paulo. Pai lavrador, mãe doméstica. Fez colégio industrial e faculdade de Artes Cênicas. Ator e diretor, tem vasto currículo em

peças, séries e novelas. Em Tieta, consagrou personagem que dizia “di jeito ninhum” e “Sum Paulo”. No cinema, coleciona papeis históricos: Visconde de Mauá, Getúlio Vargas, Lamarca.

Confira a resposta na página 26.Veja gols de Pelé no site do AlmAnAque.

m 1969, o Brasil parou para ver Pelé fazer o milésimo gol,

contra o Vasco, no Maracanã. Mas sete anos antes o Rei chegava a uma marca tão impressionante quanto, mas muito menos comemorada. Em 2 de setembro de 1962, Pelé fazia o gol de número 500 numa partida contra o São Paulo, válida pelo Campeonato Paulista. Tinha apenas 21 anos.Para chegar até aí, o jogador bateu recordes atrás de recordes. Em 1957 tornou-se o mais jovem artilheiro do Campeonato Paulista. No ano seguinte, marcou 58 tentos pelo mesmo campeonato, número inalcançado até hoje. Em 1959, balançou as redes 127 vezes. O Rei foi ainda o artilheiro do Paulistão por nove temporadas seguidas, de 1957 a 1965.Para efeito de comparação, outro brasileiro que fez mil gols, Romário, alcançou a metade dessa marca aos 29 anos. O corintiano Ronaldo, aos 32, espera chegar aos 500 apenas em 2010.

REI É REIMICROFONE A POSTOS

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Papas e presidentes renderam-se ao Tico-Tico

meio louco, Tico-Tico conseguiu mais uma entrevista exclusiva.Na visita do presidente Eisenhower ao Brasil, alguns anos antes, o jornal The Washington Post registrou: “A pessoa mais interessante de São Paulo é Tico-Tico, famoso repórter de rádio. Durante a visita de cinco horas, não parou de falar, o tempo inteirinho, com exceção de um intervalo, breve, em que brigou com a polícia”.

om um fio e latas de tomate, Tico-Tico já brincava de rádio desde garotinho.

Começou como repórter tapando buraco, em 1947, quando Ademar de Barros tomava posse no governo de São Paulo. Um radialista presente pediu para o estudante de Direito, que cantava emboladas e trabalhava como jornalista, ficar “falando alguma coisa” na transmissão ao vivo. Ágil e agitado, como sugere o apelido, José Carlos Morais fez uma entrevista atrás da outra. Pouco depois, Ademar comprou a Rádio Bandeirantes e ele foi chamado para ser repórter. Continuou tico-tico.Entrevistou presidentes – de Trumann a Fidel Castro –, além de personalidades internacionais e todos os papas de sua época. Tudo sem saber falar qualquer língua além do português. Certa vez, cobria o encontro dos presidentes João Goulart e Kennedy nos Estados Unidos. Partiu com o microfone na direção do americano: “Mister President, mister President”, ignorando os seguranças. Jango viu um deles sacar a arma e interferiu: “No, no. It’s my report, Taico-Taico! ”. Enquanto tratavam de explicar sobre o repórter

No site do AlmAnAque, ouça momentos importantes do radiojornalismo brasileiro.

Tico-Tico e o astro mirim italiano de Marcelino Pão e Vinho (1955).

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20/9dia do radialista

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Aos 21 anos, Pelé já tinha feito

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de quem são estes olhos?

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Setembro 2009

efender Isabel, a Princesa Regente, acima de todas as coisas. Era esse o objetivo da Guarda Negra da

Redentora, organizada em 22 de setembro de 1888 por abolicionistas e ex-escravos. Cada novo membro jurava: “Pelo sangue de minhas veias, pela felicidade de meus filhos, pela honra de minha mãe e a pureza de minhas irmãs, e, sobretudo, por este Cristo”, defender “o trono de Isabel, a Redentora”.Gratos pela assinatura da Lei Áurea, e contrariando a ideologia da maioria dos ex-escravos, republicanos, a Guarda Negra empenhava-se pela monarquia. O próprio abolicionista José do Patrocínio, à frente do grupo, havia sido republicano ferrenho. A oposição o chamava de “vendido”.As seções da Guarda eram secretas e a quebra do sigilo podia acabar em morte. Entre outras ações, o grupo armava-se de cassetetes para dissipar ouvintes em comícios favoráveis à República.

CONTRA A CORRENTE

Grata à Isabel, Guarda Negra deu sangue por monarquia

Papas e presidentes renderam-se ao Tico-Tico

No site do AlmAnAque, acesse a monografia Ação Multifacetada: As ações da Guarda Negra da Redemptora no ocaso do Império, de Augusto Oliveira Mattos (2006).

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m 2005, quem se metia no habitual trânsito da marginal Tietê, em São Paulo, deve ter

tomado um susto ao olhar para o leito sujo e semimorto do rio que divide as duas vias expressas. Em volta de pneus velhos e detrimentos de toda natureza havia uma embarcação de médio porte. No Tietê? Sim, e o responsável pela miragem é o empresário Andrelino Novazzi Neto, que teve a ideia de trazer um barco para realizar passeios por baixo das pontes sempre cheias de carros e motoristas aborrecidos.Para isso, comprou o Almirante do Lago, um

Festas, desfiles de modae peças de teatro em pleno Tietê

MIRAGEM?

Almirante do Lago: passeios solitários nas águas turvas.

barco de dois andares, com capacidade para 200 pessoas. Desde então, em parceria com o Instituto Navega São Paulo, mais de 20 mil alunos de escolas públicas e particulares já realizaram um passeio de uma hora e meia pelo rio. Durante o período, aprendem sobre o Tietê e conscientizam-se sobre a importância da preservação do meio-ambiente.Em 2006, o barco foi palco de uma temporada do grupo Teatro da Vertigem, com um público total de 1.700 pessoas. No início de 2008 foi a vez do estilista Marcelo Sommer encher o barco de belas modelos para realizar um desfile-manifesto pela Cavalera.Mas o acontecimento mais inusitado ocorreu quando Andrelino sugeriu a um amigo que realizasse sua festa de aniversário no Almirante do Lago. O sujeito topou, e durante uma noite mais de 200 pessoas usufruiram de serviço de bar, pista de dança e três DJs. A diversão só terminou ao amanhecer, quando os motoristas aborrecidos se surpreenderam novamente com a miragem em pleno Tietê.

José do Patrocínio

Saiba MaiS Site do Instituto Navega São Paulo: www.navegasp.org.br

No site do AlmAnAque, veja fotos das aventuras de Ada Rogato.

paulistana Ada Rogato foi a primeira mulher sul-americana

a saltar de para-quedas e a primeira brasileira a pilotar planadores. Foi precursora também ao tirar o brevê – carteira de habilitação dos aviadores. Mas um fato ocorrido em 12 de setembro de 1950 a colocou definitivamente na história da aviação esportiva. Nessa data, tornou-se a primeira mulher a cruzar a Cordilheira dos Andes num voo solitário.No comando do avião PaulistinhaCAP-4, cobriu 11.200 quilômetros ao visitar Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile, ocasião na qual cruzou as grandes cordilheiras, numa viagemque durou 116 horas. Nos anos subsequentes visitou ainda 28 países num único projeto; sobrevoou a floresta amazônica; pousou no aeroporto mais alto do mundo, na Bolívia; chegou à Terra do Fogo, no extremo sul do continente; e ao Alasca, no extremo norte. Sempre sozinha. Sua obsessão por voar só, mesmo em aeronaves com recursos limitados, lhe rendeu um apelido: Gaivota Solitária.

GAIvOTA SOLITÁRIA

Brasileira cruza os Andes pelos ares e entra para a história

Ada Rogato: aviadora pioneira.

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O que se colhe em SETEMBRO

Jaboticaba, mamão, manga, caju, kiwi, uva itália, uva rubi, mexerica.

A 30/9dia mundial da navegação

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estação colheita

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www.almanaquebrasil.com.br

AO SOM DE PANDEIROS E GuITARRAS

ia-se “Cantinho do Vovô” em vez de “ordem e progresso” na bandeira

pintada no portão. Era o portal para a comunidade dos Novos Baianos entre 1971 e 1975, um sítio em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro. Em plena ditadura militar, os músicos de Acabou Chorare e Preta Pretinha viviam lá seu “neo-socialismo”. Na casa armavam-se cabanas, as moradias próprias de cada um. Já era assim no apartamento, em Copacabana, onde não tinham tanta liberdade e natureza, além de terem sido despejados por falta de pagamento. Viviam juntos os Novos Baianos Moraes Moreira, Luiz Galvão, Baby Consuelo, Paulinho Boca de Cantor e Pepeu Gomes, mais a banda A Cor do Som. Sem contar motorista, empresário, esposas, as crianças e agregados, como um argentino de dupla personalidade e um índio boliviano que conheceram na Bahia.A ideia, segundo Galvão, autor de Anos 70: Novos e Baianos (34, 1997), era “manter as pessoas juntas, sem que elas se sentissem agredidas por normas, proibições e ordens”. Havia os administradores dos assuntos gerais: cozinha e lavanderia. Uma dupla se responsabilizava pelos instrumentos, outros cuidavam dos gastos com futebol, e assim por diante. Na porta da cozinha ficava o “mocó”, um saco com o dinheiro que tinham, de uso comunitário. “Somos

crianças brincando de casinha”, dizia Baby, que depois viraria do Brasil.Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé eram visitas constantes, além de curiosos em geral. Certa vez apareceu umex-presidiário, que, saindo da prisão,não tinha para onde ir. Foi recebido. Excursões escolares chegaram a visitaro sítio para conhecer o sistema.Vira e mexe os moradores tinham problemas com a polícia. Ou por porte de drogas, das quais eram adeptos para “se livrar das ideias opressoras”, ou, simplesmente, por serem cabeludos. Todos picando quiabos, uma enorme panela na fogueira e crianças tomando banho no quintal eram cenas comuns no sítio. Os dias corriam com rodas de música, ensaios, composições e peladas (ou babas, na gíria baiana), muitas vezes levadas a sério em torneios. O principal adversário era o time de Ipanema, com Evandro Mesquita e Vinícius Cantuária no meio de campo. O pessoal do Cantinho do Vovô achava que o futebol não merecia ser coisa de “alienado”, como pensava a juventude de esquerda na época. Criaram o Novos Baianos Futebol Clube. O nome virou também título do terceiro álbum deles, de 1973. A alegria era uma arma contra os anos de chumbo. Galvão avalia que “o grupo enfrentou o tempo Médici como numa partida de futebol, dando sangue, suor, inteligência, calma, juventude, alma e todas as virtudes para vencer e, na pior das hipóteses, empatar”. Acabou Chorare, lp de 1972 que condensa o espírito da turma, é constante nas listas dos melhores discos da música brasileira.

Novos Baianos viverampaz e amor no Cantinho do Vovô

Novos Baianos e família em foto para a capa de Acabou Chorare.

23/9dia dacomunid

ade

No site do AlmAnAque, veja trechos do documentário Novos Baianos Futebol Clube (1973), de Solano Ribeiro, sobre a comunidade alternativa do grupo.

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Irmãos gêmeos e médicos, viveram na Ásia entre os séculos 3 e 4. Possuem poucos

registros e sua história é envolvida em crenças populares. Exerciam a profissão gratuitamente e morreram martirizados

por serem cristãos. Teriam se materializado para curar crianças. São padroeiros das

profissões ligadas à medicina.

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1 terça Tereza2 quarta Guilherme3 quinta Gregório Magno4 sexta Rosália5 sábado Bertino6 domingo Eleutério7 segunda Clodoaldo8 terça Adriano de Nicomédia9 quarta Pedro Claver10 quinta Nicolau de Tolentino11 sexta João Gabriel12 sábado Guido13 domingo Crisóstomo14 segunda Materno15 terça Catarina de Gênova16 quarta Ludmila17 quinta Sócrates18 sexta José de Copertino19 sábado Januário20 domingo Estáquio21 segunda Mateus Evangelista22 terça Maurício23 quarta Lino24 quinta Geraldo de Csanad 25 sexta Sérgio de Radonej26 sábado Cosme e Damião27 domingo Vicente de Paulo28 segunda Venceslau29 terça Rafael30 quarta Sofia

São Cosme e São Damião

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Setembro 2009

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MINISTRO DAS DIvERSÕES

Italiano era o dono do pedaçono entretenimento carioca

Leia no site do AlmAnAque um texto da Prefeitura do Rio sobre Paschoal Segreto.

Central teve duasinaugurações, 600 despejose um descarrilhamento

TuDO PELA MODERNIDADE

9/9dia do

administrado

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ansiedade pela abertura da avenida Central, no Rio de Janeiro, era tanta,

que a obra teve duas inaugurações. Ambas em datas patriotas: 7 de setembro de 1904 e 15 de novembro do ano seguinte. A obra fazia parte de um grande projeto do presidente Rodrigues Alves e do prefeito Pereira Passos para modernizar a capital do País, assolada por sujeira e doenças.Inspirada nos boulevards franceses, a Central – hoje Rio Branco – teria o tamanho da Champs Elisées, atravessando o centro da cidade. Um “grande Sabá arquitetônico de dois quilômetros”, definiu o cronista João do Rio. Para calçar, instalar esgoto, luz, eletricidade e bonde, mutirões demoliram os cortiços e casas da região. A obra ficou conhecida como “bota-abaixo”. Em menos de dois anos, tudo estaria pronto, com novos e modernos edifícios à margem da via. Antes ainda, com sete meses de reformas, foi celebrada a inauguração do primeiro

Atrecho, sinalizando o final das demolições. Ou teórico final. No evento, o presidente percorreria o trecho de bonde. Mas uma construção não demolida fez o veículo descarrilhar. O passeio ficou pela metade.Todas as outras 600 casas já não estavam mais lá para contar história. Os antigos moradores, sem opção, começavam a se aglomerar nos morros, dando origem às favelas. Por outro lado, a via traria ares de cidade moderna ao Rio, tirando a “morrinha imperial”, disse Drummond. No ano seguinte, o jornal A Tribuna comemorava: “A avenida surgiu diante dessa terra como uma maravilha, como a aurora luminosa de um futuro grandioso”.

A partir do site do Almanaque, acesse uma exposição virtual com fotos antigas da avenida Central.

italiano Paschoal Segreto desembarcou no Rio de Janeiro em 1883, em busca de uma vida

melhor no Novo Mundo. Os primeiros anos, porém, foram difíceis. Sem dinheiro, chegou a ser preso 13 vezes por motivos diversos.Mas ele tinha bom tino comercial, além de saber se envolver com os poderosos da cidade. Ao lado do influente José Roberto da Cunha Salles, inaugurou em 1897 a primeira sala de cinema fixa do Brasil: o Salão de Novidades Paris. E, à frente do empreendimento, produziu mais de 60 filmes – entre os quais o que é considerado o primeiro registro cinematográfico do País, quando seu irmão Afonso filmou a Baía da Guanabara.Segreto era um empreendedor compulsivo. Abriu

cabarés, cafés e casas de diversão para a elite carioca, como o Maison Moderno, um verdadeiro império do entretenimento. Lá tudo cabia: tiro-ao-alvo, montanha russa, luta greco-romana, dançarinas e qualquer coisa que lhe desse na cabeça.O italiano foi também um nome importante do teatro. Era dono de salas de apresentações e financiava peças, boa parte comédias de costume. Para ter preços atraentes, promovia três sessões diárias. Cobrando pouco, juntava gente de todas as classes.O empresário morreu em 1920, aos 51 anos. Mas viveu o suficiente para dar nova cara à produção artística e de entretenimento do Rio. De tão importante, era chamado pelos jornais cariocas de Ministro das Diversões.

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Avenida Central, em 1910: inspirada na parisiense Champs Elisées.

Numa comédia de Martins Pena, autor

teatral brasileiro do século 19, acontecia

a seguinte cena: um vendedor visita uma

moça oferecendo tecidos. Ela compreende

que trata-se apenas de um pretexto para

cortejá-la e consagra a fala: “Não rasgue

a seda que ela se esfiapa”. Desde então, a

expressão é usada quando alguém exagera

em cortesias ou elogios.

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Fases da Lua1 . 2 . 3 . 4 . 5 . 6 . 7 . 8 . 9 . 10 . 11 . 12 . 13 . 14 . 15 . 16 . 17 . 18 . 19 . 20 . 21 . 22 . 23 . 24 . 25 . 26 . 27 . 28 . 29 . 30 . 31

Saiba MaiS A Guerra dos Gibis, de Gonçalo Junior (Companhia das Letras, 2004).

xtra! Extra! Quem ouve o grito logo associa a notícias bombásticas nos jornais. E vem à cabeça o dedicado jornalista investigativo, escrevendo

e suando em bicas com o bafo do editor no cangote. Mas o que pouca gente sabe é que esse grito nasceu nas mãos (ou melhor, nas goelas) dos pequenos jornaleiros. Eles é que liam em alto e bom tom as manchetes do dia, na esperança de que os passantes comprassem aquela edição.A Casa do Pequeno Jornaleiro foi criada em 1940 como o principal projeto da Fundação Darcy Vargas, entidade filantrópica criada pela então primeira-dama, dona Darcy Vargas, e que, após a morte de Getúlio, ganhou dela sua dedicação exclusiva. Os vendedores de jornais estavam se tornando um problema social no Rio de Janeiro. Na esperança de obter mais exemplares das publicações diretamente das distribuidoras, eles perambulavam pelo centro da capital federal e dormiam nas ruas. A ideia de dona Darcy era oferecer um abrigo para os jovens, e não só tirá-los das ruas, como também dar-lhes uma ocupação no restante do dia, como aulas e cursos profissionalizantes que não conflitassem com os horários da profissão.Com o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Casa do Pequeno Jornaleiro teve suas atividades reformuladas. O objetivo hoje é garantir reforço escolar e atividades complementares para crianças e jovens da região central carioca. Além de disciplinas como português e matemática, há aulas de informática, corte e costura, jardinagem, dança e até um coral.A Casa do Pequeno Jornaleiro é a grande obra social da categoria, como lembra Edith Vargas, atual presidente da fundação e neta de Getúlio e Darcy. Mesmo lembrando em pouco o nome da casa, o lugar respira memória. E dá pra ficar pensando como foi para um pequeno jornaleiro gritar nas ruas a manchete do fatídico dia 24 de agosto de 1954, dia da morte de Getúlio.

Pequenosjornaleiros já não

existem, mas têm casa

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Saiba MaiS Confira outros conteúdos e mais informações sobreo assunto em www.overmundo.com.br

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26/9dia dajuventude

eninos curiosos, um editor

dinâmico e um mercado em expansão: roteiro perfeito para a criação, em 1934, de uma das primeiras escolas de jornalismo do País,

quase 10 anos antes da instituição do curso universitário na área.Em tempos de ascensão e queda do diploma, difícil imaginar meninos de 12 anos colaborando para uma editora. Nova empreitada do

empresário e pioneiro em edição de gibis no Brasil, Adolfo Aizen, o Grande Consórcio de Suplementos Nacionais – na

realidade, ainda uma pequena editora – acabara de lançar seu Suplemento Juvenil, e atingira na mosca o público desejado: adolescentes.Um grupo deles, do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, se aproximou. Primeiro, pedindo a colaboração para uma campanha pela paz. Em seguida, com a criação de um fã-clube, o Clube dos Juvenilistas. Com presença efetiva no dia a dia da editora, discutiam roteiros e propunham novos títulos. Os mais dedicados foram convidados a escrever. Estava instituída a Escolinha do Suplemento Juvenil.Entre as jovens promessas, estava o articulado Alfredo Machado, logo efetivado como repórter mirim. Ficou com Aizen dos 12 aos 17 anos, quando teve um aumento negado. Acabou batendo à porta da concorrente, a Editora Globo, para ganhar três vezes mais. Aizen e Machado só voltariam a se falar nove anos depois, em uma viagem para a Europa. Atento, Machado havia percebido uma lacuna no mercado de distribuição de revistas. A esta altura, já era o respeitado dono da Distribuidora Record de Serviços de Imprensa, que mais adiante se tornaria a editora Record.

MuITO ANTES DO DIPLOMA

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Alunos do Pedro II criaram escolinha de

jornalismo

(Mariana Albanese) (viktor Chagas, do Rio de Janeiro-RJ - OvERMuNDO)

Atividades da Casa do Pequeno Jornaleiro.

www.almanaquebrasil.com.br

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Setembro 2009

o baú do Barão

setembrotambém tem

1 Dia do Caixeiro Viajante

2 Dia do Florista

3 Dia Nacional do Biólogo

4 Dia do Serventuário

5 Dia da Defesa da Amazônia

6 Dia do Cabeleireiro

7 Dia da Independência do Brasil

8 Dia Internacional da Alfabetização

9 Dia do Seminarista

10 Dia Nacional do Jornalismo

11 Dia do Árbitro Esportivo

12 Dia Nacional da Recreação

13 Dia Mundial do Agrônomo

14 Dia da Comunidade Muçulmana

15 Dia do Musicoterapeuta

16 Dia da Embratel

17 Dia da Compreensão Mundial

18 Dia do Perdão

19 Dia do Adolescente

20 Dia do Coletor de Lixo

21 Dia do Fazendeiro

22 Dia da Banana

23 Dia da Internet

24 Dia do Soldador

25 Dia do Rádio

26 Dia do Policial

27 Dia do Cantor

28 Dia do Lavrador

29 Dia do Anunciante

30 Dia da Secretária

libraO libriano valoriza a vida social. É uma fonte de energia, faz questão de ser agradável e carismático. Às vezes, prefere manter a elegância a seguir um instinto. Costuma organizar as atividades e proporcionar equilíbrio ao grupo. O nativo do signo da balança deve tomar cuidado, contudo, para não perder sua própria identidade enquanto agrada a todos.

Quando chove sopa, o pobre está de garfo.

a infância em Taubaté, onde nasceu em 29 de setembro de

1927, era o Caolho e vendia uma espécie de gel caseiro para fixar

cabelos. Adolescente, formou-se em Contabilidade, mas, no

palco da festa de um amigo, pronunciou um sonoro “boa noite”

que lhe rendeu um emprego como locutor na Rádio Difusora.

Depois, pela televisão, o cumprimento noturno passou 27 anos

chegando quase diariamente a milhares de lares do Brasil.

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Pequenosjornaleiros já não

existem, mas têm casa

Ariano é recebido com festa, e traje apropriado, no estádio do Sport.

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E ntre a vegetação seca, o céu azul, o sol forte e muitas pedras, na vila

de Taperoá, Sertão dos Cariris Velhos da Paraíba, nasceu Ariano Suassuna, nos idos de 1930. Deitado na cama, o menino desde pequeno devorava livros. Literalmente. A cada página lida, arrancava um pedacinho de papel e comia, viajando com as palavras. E assim cresceu mergulhado em uma paixão: a literatura. Tornou-se o porta-voz das histórias do agreste nordestino. Seus livros ganharam o mundo.Inspirado pela terra seca, Suassuna escreveu Uma Mulher Vestida de Sol, O Auto da Compadecida, O Romance d’A Pedra do Reino, entre tantos outros. Anos atrás, soube que seria homenageado com uma comenda do Governo de Portugal pelo conjunto da obra. O convite para o evento pedia em letras destacadas: traje esporte fino.Suassuna, além de amante das letras, é um torcedor fervoroso do Sport Club do Recife, time que considera “o primeiro sem segundo”. Quando viu a exigência, nem precisou pensar muito. Para prestigiar as cores do clube e solucionar o dilema das

Ocasião exigia esporte fino, Suassuna foi de Sport Fino

Saiba MaiS Ariano Suassuna – Um perfil biográfico, de Adriana Victor e Juliana Lins (Zahar, 2007).

6/9dia doalfaiate

vestimentas para tamanha honraria, criou o traje Sport Fino. A roupa é constituída por calça e casaco pretos de linho, feitos sob medida pelas costureiras e alfaiates do sertão; camisa e meias vermelhas e sapato preto. Elegante que só! É vestido assim que, desde então, Ariano passou a comparecer a todas as solenidades. Trajando o Sport Fino, ele recebeu a Comenda da Ordem do Mérito Cultural e desfilou na Marquês de Sapucaí, em pleno carnaval carioca de 2002, na maior e mais rubro-negra elegância. (Laís Duarte)

Nossa homenagem a Aparício Torelly, o Barão de Itararé.

(23-9 a 22-10)

enigma figurado

Confira a resposta na página 26.

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www.almanaquebrasil.com.br

A criação do Corpo foi umexercício profissional e de vida

Quando eles se envolveram com arte, nos anos 1970, a dança contemporânea brasileira

apenas ensaiava os primeiros passos. Na casa da família Pederneiras, em Belo Horizonte,

seis irmãos e alguns agregados perceberam que não teriam futuro se não criassem a própria

companhia. No ano seguinte, rodavam mundo. Ficaram um mês em cartaz no Théâtre de la Ville,

em Paris, um dos principais palcos de dança da Europa. “Nenhuma companhia do mundo fez isso

até hoje”, diz Rodrigo, o coreógrafo do grupo. Três décadas depois, a companhia continua a todo

o vapor. Tornou-se o mais importante grupo do Brasil. Um dos mais respeitados do mundo. Por

onde passa, arranca aplausos entusiasmados. “Fundar o Corpo foi uma maneira de criar o nosso

próprio campo de trabalho”, explica Rodrigo. E que trabalho.

RODRIGO PEDERNEIRAS

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O mais recente espetáculo do Grupo Corpo, Ímã, com coreografia de Rodrigo Pederneiras e músicas de Moreno Veloso, Domenico Lancelotti e Kassin.

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Setembro 2009

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Você considera o Corpo um grupo familiar? Quantos Pederneiras há

atualmente na companhia?

Há quatro, além do José Luiz, que é o fotógrafo do grupo. Po-

rém, não é por isso que nos consideramos uma família. Falar

somente dos Pederneiras é algo meio chato. Há um monte de

gente que está conosco desde o início e não é da família, porém é

tão importante quanto cada um dos Pederneiras. Hoje há 34 pes-

soas trabalhando juntas, pensando na vida e na arte de forma

parecida. Todos têm suas funções, sabem o que fazer, mas não é

como em uma empresa qualquer. Há companheirismo. Em vez

de falar da família Pederneiras, prefiro

falar da família Corpo.

Como surgiu a companhia?

Ela nasceu em 1975, na mesma casa

em que nasci. Na epoca, morávamos

nossos pais e seis irmãos, todos en-

volvidos de alguma forma com as ar-

tes e com a dança. Uma começou a

fazer dança; eu, ao assistir a um es-

petáculo, fiquei fascinado e comecei

a estudar também; outro fez a mes-

ma coisa na sequência; outro enve-

redou pelo teatro. As namoradas e

namorados também começaram a se

envolver. E, claro, esse pessoal todo

foi se agrupando. Uma característica

da casa dos meus pais é que ela sem-

pre foi muito agregadora. Nos janta-

res havia umas 15 pessoas a mais

quase todo dia. Quando vimos que

todos queriam fazer dança, percebe-

mos que o único jeito era criar uma compa-

nhia. Não havia companhias profissionais.

Fundar o Corpo foi uma maneira de criar o

nosso próprio campo de trabalho.

Qual era a referência artística do grupo?

No Brasil não havia muita referência. Tínhamos

contato com um pessoal de Buenos Aires, o Oscar

Araiz, que foi meu mestre. Antes de criarmos o

Corpo, dancei na companhia dele. Foi lá que dan-

cei profissionalmente pela primeira vez, em 1974.

A companhia vinha sempre para os festivais de in-

verno de Ouro Preto. Nós éramos fãs, os meninos

iniciantes diante daqueles profissionais.

Como foram os primeiros passos da companhia?

Meu irmão Paulo foi o mentor, o arquiteto dessa coisa toda,

apesar de nunca ter feito dança. Começamos a fazer um mon-

te de coisas em Belo Horizonte. Alugávamos um espaço, cha-

mávamos gente pra dar aula, oferecíamos os cursos e apro-

veitávamos para aprender – o objetivo era sempre esse. Até o

momento em que decidimos, efetivamente, formar a nossa

própria companhia. O interessante é que, desde o início, acre-

ditávamos que deveria ser uma companhia profissional. Eu já

tinha certa experiência, coreografava para grupos amadores,

mas decidimos chamar o Oscar

Araiz para a primeira montagem,

Maria, Maria. Chamamos também o

Milton Nascimento e o Fernando

Brant para fazer as músicas e o ro-

teiro. Eles todos já eram grandes

nomes, enquanto nós não éramos

ninguém. Foram muito generosos

ao embarcar nesse projeto.

Maria, Maria, de 1976, foi um marco do

grupo no Brasil. E no exterior, quando

esse reconhecimento se deu?

Foi também com Maria, Maria. Com

o espetáculo, fizemos nossa primei-

ra turnê pelo mundo. Ficamos seis

meses viajando. Foi uma verdadeira

explosão. Só em Paris ficamos um

mês inteiro em cartaz no Théâtre de

la Ville. Nenhuma companhia do

mundo fez isso até hoje. Era, ao

mesmo tempo, uma sensação mara-

vilhosa e um terror. Só sabíamos fazer aquilo.

Quando começamos a montar outros traba-

lhos, percebemos que não tínhamos público

para as novidades. Todos queriam Maria, Ma-

ria. Não éramos conhecidos como Corpo, mas

como a companhia de Maria, Maria. Uma coi-

sa maluca. Então combinávamos com os em-

presários: “Ok, vamos apresentar Maria, Ma-

ria. Mas também este outro projeto”. Quería-

mos mostrar coisas novas. E a verdade é que

só conseguimos atingir novamente um gran-

de sucesso em 1985, com Prelúdios, uma lei-

tura cênica dos prelúdios de Chopin, interpre-

tados pelo pianista Nelson Freire.

A criação do Corpo foi umexercício profissional e de vida

Hoje no Corpo há 34 pessoas trabalhando

juntas, pensando na vida ena arte de

forma parecida.

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O sucesso repentino não abalou o grupo?

Era fácil descambar. Viajávamos muito pela Europa, ganháva-

mos muito dinheiro. Bastava dividir a grana e acabar com a

companhia. Mas sempre tivemos uma grande preocupação em

buscar novas informações. Nas viagens, pesquisávamos os equi-

pamentos que eram usados lá fora, quais eram os melhores pro-

fessores. Visitávamos todos os teatros, sempre na busca de fazer

o melhor. Todo o dinheiro era aplicado na própria companhia.

Tínhamos 20 anos, éramos muito jovens. Eu era o único a ter

dançado profissionalmente, e mesmo assim bem poucas vezes. A

criação da companhia foi um exercício profissional e de vida.

Quando começou a busca por uma linguagem própria, singular?

Esse caminho foi sendo traçado aos poucos. No início, fazíamos

um trabalho mais narrativo, com história, per-

sonagens. Como ouvi música clássica por toda a

vida, quando assumi as coreografias do grupo,

passei a usar compositores eruditos brasileiros:

Carlos Gomes, Villa-Lobos, Henrique Oswald.

Aos poucos comecei a abrir o leque: Chopin,

Strauss, Bach – um período meio neoclássico. E

fomos abandonando esse caráter narrativo. Co-

meçamos a usar uma linguagem mais nossa, ter

um domínio maior, em meados dos anos 1980. A

companhia já começava a ser reconhecida, fa-

zendo grandes temporadas nos teatros munici-

pais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Até que,

em 1988, com o espetáculo Uakti, com música

do grupo homônimo, pudemos falar de uma lin-

guagem inteiramente nossa.

Quando começaram a explorar mais os elementos brasileiros?

Nos anos 1980, falava-se muito de dança brasileira. As compa-

nhias pegavam um tema nacional, um personagem, uma histó-

ria, mas na dança em si havia pouca coisa de brasileiro. Diado-

rim, de Grande Sertão: Veredas, correu a rodo por aí, coitado...

No fundo, as técnicas usadas eram as clássicas, apenas com te-

mas brasileiros. Isso começou a me incomodar. Passei a correr

atrás do que seria a dança brasileira, buscando o que havia nas

danças populares, no que se dançava nas ruas. Percebi que tudo

tinha a ver com uma parte do nosso corpo, a bacia. Boa parte do

que chamamos de “nossa sensualidade”, de “nossa ginga” tem a

ver com a bacia. Foi daí que surgiu o espetáculo 21, depois Na-

zareth. No fim dos anos 1990, essa preocupação por buscar

uma linguagem brasileira tinha ido embora. Mas muita coisa

já havia sido incorporada.

O corpo do bailarino brasileiro é diferente?

Há algumas diferenças, mas não sei bem a que atribuir. Talvez

seja a mistura racial. Quando trabalho no exterior, percebo que

é difícil para as companhias estrangeiras usarem determinadas

solturas no corpo, determinadas dinâmicas no movimento que

eu proponho. Os bailarinos são um pouco mais duros. Às vezes

exageramos ao exaltar o suingue brasileiro. Mas há, sim, dife-

renças perceptíveis.

Há algum estrangeiro no Corpo?

Há um cubano. E um alemão que trabalha na parte técnica,

que já foi bailarino. O cubano é muito bom. Mas ser cubano é

quase igual a ser brasileiro, né?

Qual é o papel das trilhas originais nos espetáculos?

São fundamentais. O fato de termos criado uma

linguagem própria tem tudo a ver com as músi-

cas especialmente compostas por grandes artis-

tas brasileiros. Quando chamamos alguém, nun-

ca pedimos algo específico. Falamos para o cara

fazer o que quer fazer, o que sabe fazer, o que

gosta de fazer. Esse é o barato. Uma vez chama-

mos o João Bosco. Como ele pensou em dança,

balé, fez uma trilha mais puxada para o clássico.

Falamos pra ele: “Pô, não queremos clássicos.

Nós queremos João Bosco. Nós queremos você”.

Aí ele pegou o violão, foi pra Belo Horizonte e

passou uns três dias na cozinha da companhia,

que é o centro de tudo. Depois voltou para o Rio e

concluiu aquela maravilha que é Benguelê.

O que costuma vir antes? A trilha ou a coreografia?

Tanto o nome do espetáculo quanto a coreografia sempre sur-

gem depois. Eu só trabalho a partir da música. Portanto, para

nós, convidar músicos para nossas trilhas é um processo de

soma de ideias. Eles acrescentam muito ao trabalho. O cara

traz contribuições. Às vezes dá a ideia, às vezes a ideia parte de

nós. Para o espetáculo em que Lenine trabalhou, não havia

ideia inicial alguma. Falei pra ele: “Tem alguma coisa que você

tenha vontade de fazer e ainda não fez?”. Ele, então, pensou em

fazer algo a partir dos brinquedos sonoros dos filhos. Quando

me mostrou a música, percebi que ela tinha muito peso. Deci-

dimos então falar de violência, e ele continuou a compor sob

esse tema. Não tinha pensando nisso originalmente. A música

é que sugeriu o tema, e nasceu Breu. Com Zé Miguel Wisnik,

Caetano Veloso e muitos outros aconteceu mais ou menos o

Era fácil descambar.

Viajávamos muito, ganhávamos

dinheiro. Bastava dividir a grana e acabar com a

companhia.

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Setembro 2009

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Veja no site do AlmAnAque trechos de alguns espetáculos citadosna entrevista.

No começo, quando íamospara a Europa,

o público esperava uma companhia

brasileira exótica. Quebramos esse

estereótipo.

mesmo. Cada um chega com uma ideia dife-

rente, todas fundamentais. São parceiros, dão

palpites nos ensaios e ficam amigos.

Eles se metem também nos movimentos?

Quando trabalhamos com Tom Zé pela primeira

vez, em Parabelo, ele estava sofrendo com um

problema meio grave no estômago. Enquanto a

gente almoçava, ele tomava um iogurte – demo-

rava uma hora e meia pra tomar um potinho. O

negócio estava feio. Consultava gente, fazia tai-

chi-chuan, e nada de melhorar. No estúdio, du-

rante os intervalos de gravação, ele fazia uns

exercícios no chão. Certa vez, o Wisnik, que divi-

diu a trilha com ele, começou a me contar dos

movimentos. E imitou o que

Tom Zé fazia. Achei fantástico.

Resultado: acabamos incorpo-

rando aquilo na coreografia. O

início do espetáculo, que é todo

no chão, é esse exercício.

O que faz desses discos tão bons

e, ao mesmo tempo, tão diferentes

da discografia desses artistas?

Da primeira vez em que convida-

mos Tom Zé para a trilha, ele dis-

se: “Não tem nada mais difícil

nessa vida que a tal da liberda-

de”. Esse é o barato. Quando o artista vai fazer um disco, sabe

que tem que ter uma música mais lenta aqui, outra mais rápida

ali. Há certas regras. Há o seu estilo, um caminho que foi sendo

construído. Entrar no estúdio para fazer o que quiser é muito

mais difícil. Ao mesmo tempo é muito mais instigante.

Como o Corpo Cidadão se liga aos caminhos do grupo?

Minha irmã Miriam, a Mirinha, que era bailarina do Corpo, foi

quem abraçou o projeto. Durante um tempo ela foi assistente de

coreografia. Quando começamos com o Corpo Cidadão, em

1998, ela mergulhou de cabeça. Largou tudo o que fazia para se

dedicar exclusivamente ao projeto. No começo, atendíamos 60

crianças em situação de risco. Hoje são 800. Eu trabalho com

eles uma vez por ano, durante uns três meses, na sede do Corpo.

A intenção não é necessariamente formar grandes bailarinos ou

músicos. A ideia é educá-los por meio da arte, promover inser-

ção social. É a possibilidade transformadora da arte em ação.

Como definir a importância do Corpo?

Acho que, como ele foi uma escola para nós,

também foi uma escola para a dança em âmbito

nacional. Apresentamos uma forma diferente

de administrar uma companhia de dança. Antes

havia aquele rígido modelo europeu. Aos pou-

cos – e apanhando pra caramba – fizemos coisas

diferentes, à nossa maneira. Arrumamos fór-

mulas muito particulares. E, evidentemente,

isso se reflete no trabalho.

Você considera que abriram portas?

Quando começamos, não havia referências de

dança para os jovens. Hoje somos uma dessas

referências. Também escuto que somos uma es-

pécie de embaixadores da cul-

tura brasileira. A cada dois anos,

em média, vamos a teatros im-

portantes do exterior, com pú-

blico cativo em lugares como

Nova Iorque, Paris e Lyon, na

França, que é considerado o

centro da dança na Europa. Lá

há o Maison de la Danse. Todas

as companhias do mundo se

apresentam lá por, no máximo,

uma semana. A gente fica em

cartaz por três. No começo,

quando íamos para a Europa, o

público esperava uma companhia brasileira exótica, associada

aos símbolos do País. Nós quebramos esse estereótipo.

Qual é o significado de permanecer em Belo Horizonte, ainda que o

Corpo seja uma companhia tão internacional?

No começo, isso não era uma questão. Nem considerávamos ir

para o Rio ou São Paulo. Depois de um tempo, começou a ficar

claro que, se tivéssemos criado a companhia numa dessas cida-

des, talvez o Corpo não teria dado tão certo. Em Belo Horizon-

te, ainda há a possibilidade de fazer as coisas de uma forma

mais caseira – claro que, agora, um pouco menos que nos anos

1970. Todos moram perto, dá pra sair do ensaio pra almoçar

em casa e voltar. Estar em Belo Horizonte nos possibilitou se

dedicar mais à companhia. E a ela ser o que ela é.

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em querer rasgar seda, somos Brasil por causa dos tecidos. Mal chegaram a estas bandas, os portugue-ses só queriam saber da árvore do tronco vermelho – o

pigmento para dar cor aos panos era caríssimo na Europa. Os nativos também usavam o tingimento. Sabiam fiar e tecer com instrumentos feitos de galhos. Apesar de fazer redes de dormir e faixas, nunca pensaram em cobrir o cor-po. Logo vieram os jesuítas e, para vesti-los como exigia a catequese, foram os primeiros costureiros a trabalhar em Teares horizontais por aqui.Ficamos bons nisso. As capitanias hereditárias investiram em plantações de algodão, principalmente no interior do Nordeste, região que pôde ser habitada graças às condi-ções favoráveis para a cultura. Até para a Inglaterra, mes-tre no assunto, o Grão-Pará e o Maranhão começaram a exportar – tanto a manufatura quanto a matéria-prima.

Pouco depois, contudo, Portugal cor-tou nossas asas. Em 1785 a rainha dona Maria manda ordem expres-sa: todos os teares deveriam ser desmontados e mandados para a Metrópole. Dizem que alguns fo-ram para a fogueira. Ficava per-

mitida apenas a fabricação de panos grossos de algodão para “uso e vestuário dos negros ou para enfardar e empa-cotar fazendas”. Os senhores de engenho já faziam questão de vestir-se com tecidos europeus. A região de Minas Gerais, porém, bateu o pé contra a proibição porque a população, distante dos portos, havia desenvolvido sua produção. Com a Con-juração Mineira em ebulição, a ordem parecia uma afronta. Patriotas vestiam a camisa de tecido brasileiro como ato de rebeldia. Não estavam sozinhos. A Revolta dos Alfaiates na Bahia, mais popular, inspirava a fazer o mesmo. O líder Cipriano Barata anda-va com casaca preta de algodão da terra. Só quando a Família Real mudou-se para cá o alvará foi revogado. Hoje somos a sexta maior indústria têxtil do mundo, o segundo maior produtor de denim – matéria-prima de algodão para a fabricação do universal jeans – e o terceiro na produção de malhas, ao mesmo tempo que esbanjamos riquezas na produção artesanal. No meio dis-so, muitas histórias foram tramadas. E ainda não perdemos o fio da meada.

A história dos tecidos rendeu nosso nome, brigas e honras. Além de beleza e identidade. Por tramas artesanais ou industrializadas, cantamos, criamos estampas e vilas.

Saiba por que até café, música e futebol têm a ver com os panos dessa terra.

ESPECIAL

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Texto: Natália Pesciotta Arte: Guilherme Resende

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o fio da meada

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Cravo, canela e chitaJorge Amado compôs o figurino de uma de suas perso-nagens mais famosas, Gabriela Cravo e Canela (1958), de chita. No romance, quando a cozinheira chega fugida da seca e toma um banho, o patrão Nacib vê sua beleza. “No dia seguinte compraria um vestido para ela, de chita, umas chinelas também. Sem descontar do ordenado.” Depois de casados, ele lhe dá roupas e colares como os das senho-

Chita pra que te queroDifícil um figurinista ou estilista discordar: o pano que mais tem a cara do Brasil é a chita. Verdade que ela deu lugar a tecidos mais modernos e talvez você nem a conheça pelo nome, mas a modalidade barata de fazenda de algodão mar-cou nosso imaginário. Primeiro, chita – que veio de “pinta”, em hindi – significava algodão estampado. Era um dos pro-dutos desejados da Índia porque os europeus ainda não dominavam as técnicas de estamparia. Hoje quase sem-pre a base da chita é mesclada com poliester ou outros fios sintéticos. O nome costuma referir-se à sua estampa mais marcante, a florida bem tropical. Ela está nas roupas de São João, nas saias de dançar coco, nas camisas de congadas,

Nos anos 1960, o “flower power” do movimento hippiee o Tropicalismo colocaram a chita no auge. Na tevê, até Chacrinha vestiu-se de chitão. As estampas miúdas ganharam o apelido “chitinha-mamãe-dolores”, por causa de uma personagem da novela Direito de Nascer. Zuzu Angel despiu a chita dos preconceitos e levou-a para as passarelas. Foi estilista pioneira em resgatar brasilidade e voltar-se para o que as mulheres usavam nas ruas.

no manto do boi-bumbá. Mas no passado também era roupa do dia a dia de escravos, gente da roça, de criança brincar. Até hoje forra mesas e colchões no interior.

Chita Chitinha ChitãoAs estampas variam de acordo com o tamanho do padrão do motivo. Embora tenhamos importado os primeiros padrões de chita e chitinha, o chitão floridoé invenção nossa. Começou a ser confeccionado nos anos 1950.

Saindo do armário

NOS ANOS 1950, CLARA NUNES era funcionária da tecelagem Cedro, em Caetanópolis, Minas Gerais. A fábrica foi a primeira do Brasil a fazer chita em escala industrial. O museu mantido pela empresa ainda guarda o cartão de ponto da sambista.

ras chiques. Sem sucesso: “Vestidos pendurados no armário, em casa ela andava de chita, em chinelas ou descalça”. Depois que Sônia Braga viveu a personagem na versão tele-visiva do livro, em 1975, o tubinho do tecido virou mania pelo Brasil.

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Dança do Laço de Fita, em Santo Antônio de Lisboa (SC).

Festa de Nossa Senhora do Rosário,

em Chapada do Norte (MG).

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o fio da meada

Page 20: Almanaque Brasil - Setembro de 2009

A trama é o conjunto de fios colocados no sentido transver-sal de um tear. Os fios que vão

passar por eles, paralelos ao tear, são a urdidura. A com-

binação dos elementos cria a variedade de tecidos.

Tramar

urdir

tramar

urdir

tramar

urdir

A avó ensinou para a mãe, que ensinou para a menina moça. O tear

manual em muitas cidadezinhas tece também a vida do lugar.

Vai aglomerando mulheres em associações e resistindo à

industrialização. É bem comum no Vale do Jequitinhonha, interior de Minas.

Desde a colheita do algodão, tudo é feito manualmente. Descaroçam, batem, desembaraçam e cardam a fibra, numa rústica linha de produção. Dobram os fios em meadas para

enfim serem tecidos. As músicas de trabalho das fiandeiras, bem pontuadas, dão força e ritmo ao trabalho.

Pra não perder o fio da meada A roda qu’eu fio nelaÔ baiana, oi ai aiSabe lê, sabe escrever Ô baiana, oi ai aiTambém sabe me contarÔ baiana, oi ai aiQuanto custa um bem quererÔ baiana, oi ai ai.

Trecho de Ai, Baiana, das fiandeiras de Sagarana, Minas Gerais.

MORIN O mais simples possível: fios de algodão na trama e urdidura cruzam-se na proporção de um para um. Era a base da chita.

FUSTÃO Urdidura de linho, trama de algodão.

CETIM Cinco ou mais fios da urdidura para cada fio da trama.

DENIM Algodão tingido de índigo apenas na urdidura.

Tecido socialCasas, escolas, campos de futebol, armazéns, capelas, ambulatórios. As antigas tecelagens criavam verdadeiros povoados, com níveis de violência e criminalidade baixíssimos. Tudo mantido pelas fábricas, que empregavam todos os habitantes.A primeira vila operária brasileira foi a Maria Zélia, fabricante paulista de juta. O empresário Jorge Street chegou a defender o direito de greve dos trabalhadores. Bangu era outra dessas vilas que virou bairro, com a fábrica hoje

transformada em shopping center. A fluminense América Fabril, em Pau Grande, ficou conhecida por ser onde Garrincha trabalhava e morava.

Bastava haver uma tecelagem, aliás, para ter pelada. Assim nasceram Bangu, Íbis, Juventus e outros times conhecidos do futebol brasileiro.

SARJA Trama e urdidura cruzam-se em sentido diagonal.

FELTRO Tecido sem trama e urdidura. Os fios são prensados.

Picão (erva)

Jenipapo

Malv

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Pau-br

asil

Semente de

urucumSerragem de taiúva ou jaqueira

Folha de anileira

Cores do Brasil

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Vila da tecelagem Bangu.

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Page 21: Almanaque Brasil - Setembro de 2009

No século 16 os holandeses invadiram o Nordeste brasileiro, não por coincidência onde se concentravam as plantações de algodão. Na época, as mulheres

daqui perceberam que as roupas das mulheres de lá pareciam com as redes de pesca de seus maridos. Dizem

que foi aí que começaram a rendar. A prática de entrelaçar fios para formar desenhos é muito presente, principalmente no Nordeste e Sul do País. A criatividade brasileira misturou e criou pontos originais, baseados nos tipos de renda que vieram de fora.

Me ensina a fazer renda

RENASCENÇA De origem italiana, disseminou-se no Sul brasileiro. Por aqui ganhou pontos com novos nomes: aranha,

abacaxi, traça, cocada, xerém, amor seguro, laço.

FILÉ Feita com agulha e linha na mão, é a versão feminina das redes de pesca.

BILRO Os movimentos da linha seguem um desenho fixado numa espécie de almofada. A origem é ibérica. Para pregar a guia, aqui usam-se espinhos de mandacaru.

De onde vem?

JutaCaule da planta

de mesmo nome

LinhoCaule da planta de

mesmo nome

Lã Pelo de ovelhas

Algodão Espécie de pelo na semente

do algodoeiro

Poliéster Material petroquímico

Seda Casulo do bicho-da-seda

Viscose Celulose dissolvida em soda cáustica

A tecnologia pode fazer coisas incríveis com os tecidos. Já produzimos roupas capazes de eliminar

odores da transpiração, secar a umidade corporal ou resistir a manchas. Para isso, as fibras são recobertas com nanocompostos,

minúsculas partículas com propriedades especiais.

Em 1889, 60% do nosso capital industrial ia para o setor têxtil. Grande parte dos investimentos servia para atender a demanda dos produtores de café, que precisavam de sacos de juta para transportar o produto. A juta, planta de onde vem a fibra, se dá muito bem no Norte do Brasil. Temos uma semelhante nativa da AmaZônia, a malva. Hoje, o mercado nacional demanda 20 mil toneladas delas, sobretudo para sacaria biodegradável de grãos. Com o declínio do uso de saquinhos plásticos, elas estão ganhando ainda mais espaço.

E o que tem o café com isso?SAIBA MAIS• Que Chita Bacana, de Renata Mellão e Renato Imbroisi (A Casa, 2005).

• Corantes Naturais da Flora Brasileira, de Eber Lopes Ferreira (Optagraf, 1998).

Muito antes de existir a São Paulo Fashion Week, os primeiros

palcos para a moda brasileira foram mobilizados pelo setor de tecidos, como o concurso Miss Elegante Bangu, nos anos

1950. Durante toda a década de 1960, a Feira Nacional da Indústria Têxtil (Fenit) agitou a cena cultural do País. Além de desfiles, promoveu grandes shows em São Paulo,

reunindo estilistas, músicos, intelectuais e gente de teatro.

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ÃO

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Miss elegante Bangu

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www.almanaquebrasil.com.br

Capaz de gestos nobres e brigas homéricas,

Tim Maia não era um sujeito fácil de lidar.

Pai da soul music brasileira, apresentou

ao País uma sonoridade jamais ouvida

por estas terras. Era perfeccionista, levava

à loucura os músicos e técnicos de som.

Faltava a shows, xingava a plateia, entrava

em seitas malucas. O Brasil, em resposta,

só conseguiu amá-lo.

RepR

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Nos bastidores, Roberto convenceu Imperial de que deveria se apresentar sozinho, imitando Elvis. Tim não gostou nada daqui-lo. E Os Sputniks foram para o espaço.

O pai do soul brasileiroEm 1959, com 12 dólares no bolso, Tim decidiu se mandar para os Estados Unidos. Lá ganhou intimidade com a música negra americana, formou a banda The Ideals, trabalhou até como ba-bá. Também foi preso por roubar um carro para viajar pelo país. Voltou ao Rio em 1964, já com ideias musicais bem definidas. Conseguiu gravar um compacto com músicas em inglês, e a re-percussão foi parecida com o nada.Tim sofria com sua aparência. Em 1968 hospedou-se na casa de dois amigos, um músico, outro empresário. Eles eram boa-pin-ta, e os brotos não saiam de lá. Todas para eles, nenhuma para Tim, que ouvia, triste, a diversão alheia através da parede. Nu-ma ocasião, quase chorando, compôs: Na vida a gente / Tem que

le mesmo se definia: “Sou o gordinho mais simpáti-co da Tijuca”. E, para muitos, se tornaria o gordinho mais simpático do Brasil. Ia além: o mais talentoso, o

mais generoso, e também o mais briguento, o mais explosivo, o mais corrosivo, o mais autodestrutivo. O senso comum não se-ria capaz de compreender o vulcão Tim Maia.Ele nasceu em 28 de setembro de 1942, numa família religiosa de 12 filhos do bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. A contragosto, chegou a ser coroinha da paróquia local. Caçula, era o mais pa-paricado de todos. Foi o único a ganhar uma bicicleta, quando completou 12 anos.Mas o que lhe interessava mesmo era a música. Em 1957 for-mou Os Sputniks, inspirado no satélite lançado aos céus pe-los soviéticos. Chamou dois amigos próximos e, para completar, um capixaba de nome Roberto Carlos.O grupo conseguiu se apresentar no programa Clube do Rock, da TV Tupi, comandado por Carlos Imperial. Não passaria daí.

E

Tim maia

Um vulcão chamado Tim

Por Bruno Hoffmann

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O melhor produto do Brasil é o brasileiroCÂMARA CASCUDO

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Setembro 2009

SAIBA MAIS Vale Tudo: O som e a fúria de Tim Maia, de Nelson Motta(Objetiva, 2007).

No site do AlmAnAque, assista a uma seleção de entrevistas e músicas de Tim Maia.

Temperamental, reforçava a fama de faltar a shows, brigar

com gravadoras, músicos,empresários e técnicos de som.

Não poupava nem a plateia.

entender / Que um nasce pra sofrer / Enquanto o outro ri. “Mermão! Tu acabou de fazer a música da tua vida”, come-morou um dos amigos.As coisas começariam a mudar quando Roberto lhe enco-mendou uma música meio cafajeste, mais soul, sem se asse-melhar às baladinhas da Jovem Guarda. Nasceu Não Vou Fi-car: Há muito tempo eu vivi calado / Mas agora resolvi fa-lar / Não tem mais jeito, tudo está desfeito / E com você não posso mais ficar.Também entrou em estúdios com Elis Regina e, em 1970, lançou o primeiro lp solo. A música João Coragem entrou na novela homônima, da TV Globo. E o soul começava a cair no gosto popular. Na esteira vieram mais três discos, com su-cessos como Não Quero Dinheiro e Gostava Tanto de Você. Até que uma seita cruzou seu caminho.

Universo em desencantoEm 1975 Tim folheou, à toa, um livro que estava sobre a me-sa de um amigo. Ficou maluco com o que leu. Anunciou que tinha descoberto toda a verdade sobre a existência. “Nós so-mos originários de um planeta distante e perfeito, e esta-mos na Terra exilados.” Era parte da doutrina do Universo em Desencanto.A seita pregava que os adeptos não podiam beber, usar dro-gas, comer carne vermelha ou fazer sexo sem o intuito de procriar. Também tinham que se vestir apenas de branco. Em certa ocasião, Tim mandou que até os instrumentos da banda fossem pintados de branco. Só se salvaram as teclas pretas do piano.Nessa viagem, surgiram dois discos que propagavam o ideal racional. E dá-lhe exortar os ouvintes a ler o tal livro da seita. Na música Bom Senso, explica: Já fiz muita coisa errada / Já dormi na rua / Já pedi ajuda / Mas lendo atingi o bom sen-

so / A imunização racional. Numa certa manhã, cansou-se de tudo aquilo e espalhou para todos que o líder da seita era um picareta. Tim voltava ao normal. A seu normal.

Amável encrenqueiroDurante os anos 1980 e 1990, lançou vários sucessos: Desco-bridor dos Sete Mares, Me Dê Motivos, Do Leme ao Pontal. Ao mesmo tempo, reforçava a fama de temperamental, de fal-tar a shows, de brigar com gravadoras, músicos, empresários, técnicos de som. Não poupava nem a plateia. Vez ou outra sol-tava impropérios aos fãs que o vaiavam por demorar a come-çar algum show. Nada que o fizesse ser menos admirado. Era respeitado por craques da música. Só de Caetano Veloso há três canções que fazem referência a ele: Podres Poderes, Pra Ninguém e Eclipse Oculto: Quero que tudo saia / Como som de Tim Maia, sem grilos de mim / Sem desespero, sem tédio, sem fim. Já para Jorge Ben, era o síndico, evocado num dos maiores sucessos dos anos 1990: W/Brasil (Chama o Síndico). Em março de 1998 subiu ao palco do Teatro Municipal de Niterói para mais uma apresentação. Tentou cantar, mas não conseguiu ultrapassar os primeiros versos de Não Quero Dinheiro, e se retirou do palco. O público achou que era mais uma malcriação, e começou a vair. Não era. Mi-nutos depois correu a notícia de que ele tinha sofrido uma crise de hipertensão, uma embolia pulmonar e uma para-da cardiorrespiratória. Foi internado no Hospital Antônio Pedro. Não resistiu. Dias depois, o pulsante coração de Tim parou de pulsar.

Um vulcão chamado Tim

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Moradora da periferia paulistana, a educadora reuniu poemas publicados em fanzines independentes desde os 12 anos. Global, 144 p., R$ 25

A Memória das NausA banda Roque Malasartes lança um disco surpreendente, em que folk-rocks, temas folclóricos e ritmos regionais misturam-se com naturalidade.

Yamandu + DominguinhosO violão do gaúcho Yamandu Costa se somaà sanfona pernambucana de Dominguinhos, numa harmoniosa mescla de sons do País.

Companhia das Letras, 33p., R$ 49

Alma CaboclaEm homenagem aos 40 anos da morte do alagoano Hekel Tavares, a cantora Ana Salvagni mostra seu repertório, de forte identificação com o homem do sertão.

Ruy Castro é capaz de elaborar artigos sobre escritores sem se aproximar de críticas literárias. “A literatura como uma unha encravada”, por exemplo, é título de um artigo a respeito de Carlos Heitor Cony. E o que dizer de “A camisa engomada mal disfarçava o furinho na axila”, texto que fala do educa-dor Paulo Freire? A matéria-prima de Ruy é o lado humano dos personagens. São conhecidos seus trabalhos com essa característica relacionados à músi-ca, ao cinema e ao futebol – como os livros sobre Carmen Miranda, Garrincha e a Bossa Nova. Mas o jornalista é também um aficio-nado por literatura.

O Leitor Apaixonado reúne artigos originalmente escritos para a imprensa. Completa a série que já reuniu pequenos textos sobre cinema (Um Fil-me É Para Sempre) e música (Tempestade de Ritmos).A obra recém-lançada mescla autores muito conhecidos com outros anônimos para o grande público. Oswald de Andrade di-

vide espaço com João de Minas. Também en-tram estrangeiros, como Oscar Wilde e Her-man Melville, além de outros temas, como o embate entre livros e a internet e o primeiro livro que o autor leu.

Paulo Freire é violeiro, compo-sitor e escritor. Já lançou sete discos, criou trilhas sonoras pa-ra a tevê e publicou biografias de compositores de música cai-pira. Em 1977, após ler Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, decidiu passar uma tem-porada em Urucuia, sertão de Minas Gerais. Lá começou a se encantar pelas lendas e mitos brasileiros. Com cada pessoa que conversava, uma história incrível a mais ia sendo catalo-gada. Agora elas estão compiladas no livro/CD Nuá – A história dos mitos brasileiros.São 12 músicas instrumentais. Com belos arranjos, o violeiro passeia pelas criatu-

ras que povoam o imaginário popular. Os nomes são suges-tivos: Cabeça Voadora, A Dan-ça dos Tangarás, Cunhado de Lobisomem. Dá a sensação de estar no meio da mata, do ser-tão, prestes a topar com um desses seres fantásticos.Todas as músicas ganham textos do próprio Paulo, intrigantes, bem-humorados, longe da car-

ga meramente didática. Para melhorar a his-tória, conta com ilustrações de Kiko Farkas e comentários da antropóloga Betty Mindlin. Para ela, os futuros estudiosos sentenciarão: “Essa história é assim mesmo, porque o vio-leiro Paulo Freire já dizia”.

Com disco e livro, Paulo Freire dá vida aos mitos brasileiros

Jornalista revela prazeres à luz do abajur

A cidade é retratada como espaço de encontro e cultura na Belo Horizonte dos anos 1970, sob o som do grupo Clube da Esquina.UFMG, 223 p., R$ 29

No sexto romance do escritor e jornalista paulistano, a narração de um homem frustrado encontra os pensamentos de seus tempos de juventude. Rocco, 184 p., R$ 28

(BH)

(NP)

Som Imaginário Bruno Viveiros Martins

Olhos Secos Bernardo Ajzenberg

De Passagem mas Não a PasseioDinha

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sO Calculista das Arábias

Nossa homenagem a Júlio César de Mello e Souza, o Malba Tahan

Um dervixe enfileirou seu harém de cinco mulheres, todas vendadas, e desafiou o sábio Beremiz Samir a dizer a cor dos olhos de cada uma. Afirmou que duas tinham os olhos pretos e diziam sempre a verdade. As outras, de olhos azuis, mentiam sempre. Beremiz podia apenas questionar uma vez três delas. À primeira da fileira, indagou: “Qual é a cor de seus olhos?”. A moça respondeu em dialeto desconhecido pelo calculista, que dirigiu-se à segunda: “O que acabou de proferir sua companheira?”. “Ela disse: ‘Meus olhos são azuis’.” Beremiz perguntou

então à moça no centro da fila quais eram as cores dos olhos das duas anteriores. “A primeira tem os olhos negros e a segunda, olhos azuis”, disse ela. Antes que tirassem a venda, o calculista revelou as cores de seus olhos. Quais são?

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Leônidas da Silva, nascido em 6/9/1913, era chamado de:(a) Pérola Negra (b) Diamante Negro (c) Sonho de Valsa (d) Pé de Valsa

Falsa conspiração comunista divulgada em 30/9/1937:(a) Plano de Metas (b) Operação Riocentro (c) Plano Cohen (d) Operação Lamarca

Cenário da obra-prima de Euclides da Cunha, onde o jornalista chegou em 16/9/1897:(a) Juazeiro (b) Sagarana (c) Canudos (d) Caetés

Álvares Azevedo, nascido em 12/9/1831, foi poeta:(a) Romântico (b) Neo-barroco (c) Renascentista (d) Concreto

Primeiro brasileiro a vencer a F1, em 10/9/1972:(a) Chico Landi (b) Senna (c) Piquet (d) Fittipaldi

O Forte de Copacabana, inaugurado em 28/9/1914, foi palco para:(a) Tenentismo (b) Guerra dos Farrapos (c) Comício de Brizola (d) Show do Roberto

A letra do nosso hino nacional, oficializada em 7/9/1922, é de:(a) Pedro II (b) Osório Duque Estrada (c) Duque de Caxias (d) Francisco Manuel da Silva

Jornal Nacional estreia em 1/9/1969 com apresentação de:(a) Hélio Costa (b) Armando Nogueira (c) Cid Moreira (d) Hebe

a A cor de brasa no tronco originou a palavra pau-brasil. Para os índios, era ibira pitanga. A flor é amarela; a folha, verde-brilhante.

b Por produzir látex, matéria-prima da borracha, a seringueira foi o motor do desenvolvimento da região Norte. É símbolo da luta de Chico Mendes.

c O pinheiro-do-paraná é uma das árvores mais antigas do mundo. Hoje está em extinção. A gralha azul espalha o pinhão, sua semente.

d O auge da floração do juazeiro é em dezembro, quando outras plantas do sertão estão sem folhas. A árvore empresta o nome a mais de 20 localidades.

1

2

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ligue os pontos

Respostas

CARTA ENIGMÁTICA Filho de palhaço, começou a trabalhar com 13 anos. Com 19, já como radioator, deu início a sua carreira de comediante.

ENIGMA FIGURADO Cid Moreira. O QUE É O QUE É? Onça pintada.

SE LIGA NA HISTÓRIA 1c ; 2d; 3b; 4a.

BRASILIÔMETRO 1b; 2c; 3c; 4a; 5d; 6a; 7b; 8c.

O CALCULISTA DAS ARÁBIAS A primeira e a terceira moça têm olhos negros. A segunda e as duas últimas, azuis. A primeira responderia inevitavelmente ter olhos negros – se realmente tivesse, diria a verdade; se não, mentiria. Logo, a segunda havia mentido e possuía olhos azuis. Sabendo disso, foi possível verificar que a terceira dizia a verdade, e assim revelara a cor de seus olhos e a da primeira. As duas últimas só poderiam ter olhos azuis, por eliminação.Pa

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DE QUEM SÃO ESTES OLHOS? 3 4

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8Conte um ponto por resposta certa

valiação

teste o nível de sua brasilidade

Adaptado de O Homem que Calculava (Record, 2001).

Page 27: Almanaque Brasil - Setembro de 2009

ilustracões: luciano tasso

www.lucianotasso.blogspot.com

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Guardiões da florestaSe corresse em linha reta, o rio Amazonas poderia sair da nascente no Peru, atravessar a América do Sul e chegar ao ponto do continente mais próximo da Antártica. A extensão do rio é de 6.992 quilômetros, o suficiente para desaguar nas águas geladas do extremo sul do continente.Se em vez do sul fosse pro norte, e pudesse atravessar o mar (deixemos a imaginação rolar), ele iria parar em Montreal, no Canadá. Ou ainda em Senegal, na longínqua África, caso rumasse para o leste. Mas como ele é todo cheio de curvas, fica só no Peru, Colômbia e Brasil mesmo.

JÁ PENSOU NISSO?Você sabia que no Brasil não se fala apenas português? Somente na Amazônia há 170 línguas indígenas. E esse número pode

ser maior, já que existem cerca de 45 tribos que nunca tiveram contato com a civilização.

A Amazônia tem cerca de 6 milhões de habitantes. Boa parte vive da pesca,

da caça e da coleta de produtos da floresta. Eles sabem desfrutar de todo o potencial sem destruir a mata. A presença dessa população é uma

forma de conter atividades como a agricultura em larga escala e as queimadas para criação de gado. São

verdadeiros guardiões da floresta.

Amazônia é a maior floresta tropical do mundo. Suas matas cobrem oito países sul-americanos,

mas a maior parte fica em território brasileiro. E, apesar da constante devastação, ainda possui mais da metade das florestas tropicais do planeta.O nome surgiu de uma tribo só de mulheres, as valentes índias amazonas. Elas eram guerreiras e craques no arco e flecha. E não estavam nem aí para os homens. Dizem que só os viam uma vez por ano para gerar filhos. Se nascesse me-nino, ficava com os pais; se fosse menina, seria mais uma guerreira para a tribo.Os números da floresta são impressionantes. A área total corresponde a 45% do território brasileiro e reúne 25% das espécies do planeta. A qualquer

A momento, o visitante pode topar com uma onça pintada, um colorido tucano ou alguma espécie exótica de ma-caco. E olha isso: há mais espécies vegetais em apenas um hectare de determinadas regiões amazônicas do que em toda a Europa.O rio Amazonas é o maior do mundo. Desde a nascente, no Peru, até desaguar no oceano, são 6.992 quilômetros.

É também o que possui o maior volume d’água. E ainda conta com sete mil afluentes.

Um espetáculo ocorre quando o Amazonas – que até então se chama Solimões – encontra o rio Negro, em Manaus. Suas águas não se misturam, como água e azeite, e os rios caminham lado a lado – um lado negro, outro bem clarinho. Os caboclos

da região explicam o mistério: os dois rios não se mistu-ram porque são orgulhosos demais.

A imensidão verde do Brasil

Limões das mãos das mães

caíram no Solimões.

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a-Língua

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ra ler e repetir em v

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SoluçÕES na p. 26

Qual animal amazOnico sO existe no papel?

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Esqueça qualquer lembrança de um cruzeiro convencional, com seus luxos e extravagâncias. Quem embarca no

Benjamim Guimarães opta pela simplicidade. Em troca, o último vapor do mundo oferece histórias, imaginação,

descobertas. Aqui, como diria Riobaldo, o objetivo não é a saída nem a chegada, mas a travessia.

Um cruzeiro caboclo

oi em 1913, no rio Mississipi – cenário de histórias de Mark Twain e Herman Melville, e também de músicas de Johnny Cash e Led Zeppelin, além da inesquecível

Moon River – que o Benjamim Guimarães fez suas primeiras viagens. Tido como a mais antiga embarcação a vapor do mundo em funcionamento, em 1922 foi parar no meio da floresta ama-zônica. De lá, despontou no São Francisco, cenário do amor de Riobaldo e Diadorim, em Grande Sertão: Veredas.Como se não bastasse, em meio à Segunda Guerra, lá estava a gaiola levando tropas do sertão para o mar. Mas logo retomou a

F vida civil, e assim seguiu por décadas, varando léguas com seu andar lento. Nos tempos áureos da navegação no São Francis-co, 30 outros vapores como ele cumpriam a rota até Juazeiro, na Bahia. Outros tempos, novas tecnologias, e os vapores fo-ram ficando para trás.Em 1985, a caldeira pifou. Por anos, o Benjamim aguardou um novo destino, talvez seguindo a sina de se perder em ruínas ou receber um motor a diesel. Até que, 20 anos depois, ele pôde retomar seu curso, deslizando pelo São Francisco com uma nova caldeira e sua velha roda d’água. É aí que começa essa viagem.

Texto: João Rocha Rodrigues Fotos e ilustrações: Laura Huzak Andreato

BENJAMIM GUIMARÃES

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As refeições servidas a bordo do vapor são um capítulo à parte. Peixes do rio, leitões, moquecas e sobremesas. Aqui não é o comandante Cassiano

quem dá as ordens, mas o chef Fernando de Paula. À frente de uma tripulação bem afinada, ele faz

maravilhas numa cozinha que não passa de cinco metros quadrados.

Outros temposO embarque é em Pirapora. Um dos polos da indústria mineira, a ci-dade já teve dias melhores. Prova disso é a ponte Marechal Hermes, projetada para transpor o São Francisco e possibilitar o avanço dos trilhos da Estrada de Ferro Central do Brasil. A construção foi inau-gurada em 1922, toda em estrutura metálica vinda da Bélgica, mas o sonho de ligar o Rio de Janeiro a Belém ficou só no papel. Pirapora também abriga a sede do Matizes Dumont, grupo de bor-dadeiras que ganhou mundo com seus trabalhos, estampados em livros de Thiago de Mello e Manoel de Barros, discos de Maria Be-thânia e nas páginas do AlmAnAque. Além de retratar em pontos e linhas o São Francisco, dona Zulma e seus filhos registraram em palavras a riqueza da região. Já lançaram seis livros.

Lendas e visõesDiz a lenda que, além de pacus e dourados, povoam o São Francis-co habitantes menos pacíficos: Serpente de Asas, Mãe d’Água, Su-

rubim Barbado. Por isso, antes de seguir, convém dar uma passada na associação dos carranquei-ros. É lá que artesãos talham figuras assusta-doras, colocadas estrategicamente na proa dos

barcos para alertar sobre os perigos. O Benjamim chega tranquilo à Barra do Guaicuí. Os olhos precisam de tempo pa-

ra se acostumar à imagem de uma árvo-re crescendo a partir da parede de uma igreja em ruínas. A construção teria co-meçado em 1755, sem chegar ao fim. Até que um passarinho arteiro resol-veu terminar a obra a seu modo, fazen-do crescer da parede uma majestosa ga-meleira. A igreja de Bom Jesus de Mato-

zinhos nunca recebeu missa, mas seus santos vieram de Portugal. Abrigados hoje numa sa-la improvisada de uma escola pública, consti-tuem outra visão extraordinária.

BoRdAdos dA fAmíliA dumont: o são fRAncisco Em pontos E linhAs.

As RuínAs dE Bom JEsus dE mAtozinhos E A fRondosA gAmElEiRA QuE cREscEu soBRE A pAREdE.

Preste atenção

Page 30: Almanaque Brasil - Setembro de 2009

Se espreguiçar nas redes e poltronas do último andar do vapor é programa obrigatório,

especialmente nos fins de tarde, antes do frio do inverno apertar. O pôr do sol no São Francisco

é lindo. Ainda mais quando incrementado pelas faíscas que escapam pela chaminé da caldeira,

espocando o começo de noite.

Não deixe de se estirar

Como navegar A prefeitura de Pirapora, proprietária do Benjamim Guimarães, oferece dois tipos de passeio. Aos domingos, o vapor faz viagens de curta duração, com direito a música, contação de histórias e oficinas. Reservas: (38) 9967-9302. Há também viagens de cinco dias, de Pirapora a São Romão, que incluem alimentação, hospedagem e traslado de Confins a Pirapora. As próximas viagens estão agendadas para 20 de outubro e 27 de dezembro. Mais informações: Paradiso Viagens e Turismo. Tel.: (11) 3258-4722. Ou pelo site www.paradiso.com.br

Como chegar A TAM oferece voos diários para Confins, saindo das principais cidades brasileiras. Confira em www.tam.com.br.

Onde ficar Hotel Canoeiros À beira do São Francisco, no centro de Pirapora. Tel.: (38) 3749-6610. www.hotelcanoeiros.com.br

Onde comerKaká’s Bar A especialidade da casa é a saborosa peixada de surubim, pescado ali mesmo no São Francisco. Tel.:(38) 3741-3338.

Pastorinhas e fanfarrasDepois de três dias de viagem, a gaiola encosta em São Romão. Ou Vila Risonha de Santo Antônio da Manga de São Romão, co-mo um dia foi conhecida. Palco de violentas batalhas, hoje o que predomina por aqui é a tranquilidade e o clima de festa, desenca-deado pela chegada do Benjamim – com direito a fanfarra e pas-torinhas. Dos tempos de desarmonia, resta apenas a cadeia que hoje abriga a Casa da Cultura.Com o cair da noite, ao som de serestas, velhas histórias de amor voltam à tona – ao menos na imaginação dos viajantes. Quantas mulheres não se debruçaram no São Francisco à espera de alguém que partiu num vapor e não pôde voltar? O dia amanhece e é hora de ir. Navegar mais dois dias rio acima, serpenteando bancos de areia rumo a Pirapora. São caminhos que o comandante Cassiano, aos 80 anos, sabe de cor. Desde 1946 ele desliza por estas águas. Tinha até largado o batente, mas quando recebeu o chamado para comandar o barco recém-reformado, em 2007, não resistiu. Reformou também o traje castigado pelas tra-ças e retomou o posto no Benjamim. Dois anos depois, com o va-por singrando novamente as águas do Velho Chico, foi a vez de o velho capitão descansar o casco e pendurar de vez o uniforme. Esta foi a última viagem de Cassiano no comando.

A tripulaçãoÉ evidente o orgulho da tripulação por trabalhar no

Benjamim. Eles bem sabem que os olhares lançados a

cada parada sobre o ilustre visitante a vapor são também

direcionados a eles. Com seus causos e histórias de vida,

essa gente faz parte do patrimônio cultural do São Francisco.

Pequenas preciosidadesNão foram muitos os detalhes do barco que resistiram ao

tempo. Mas, olhando com atenção, vão surgindo pequenas preciosidades, como os adornos dourados colocados nos degraus das escadas, indicando o nome da embarcação.

Conforto na simplicidadeAs cabines são pequenas, não têm banheiros exclusivos e não há ar-condicionado. Driblar as limitações do barco, tombado como patrimônio histórico, é um dos desafios dos anfitriões. E eles compensam as ausências oferecendo todo o conforto

possível, além de muita simpatia e atenção.

últimA viAgEm: dEpois dE 63 Anos, comAndAntE cAssiAno pEnduRou dE vEz o unifoRmE.

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ALGODÃO

Branco de todos os tonsNós o conhecemos desde o fim da última era glacial, há mais de 10 mil anos.

É a planta de aproveitamento mais completo. Oferece inúmeros produtos, entre eles

a fibra têxtil mais usada no mundo. Já pensou no que seria a vida sem algodão?

homem teria de pro-var que é mesmo o “rei da criação” pa-

ra inventar uma fibra de mil usos, boa e barata, se a natureza não o ti- vesse presenteado com o algodoeiro. O arbusto de até um metro de altura pertence à família das malváceas, que se caracteriza por troncos lenho-sos e flores vistosas – no algodoeiro, amarelas com de-senhos avermelhados. É parente do ornamental hibisco, do alimentício quiabo e do robusto louro-branco, árvore de madeira pesada.Muitos acreditam que surgiu na Índia. Seja. Mas as semen-tes, envolvidas por felpudos pelos, foram longe, levadas pelo vento. Assim, e pela ação humana, ele acabou se espalhando por todo o planeta.Arqueólogos encontraram no Paquistão telas de algodão com 7 mil anos. Nos Andes, amostras igualmente milena-res, deixadas pelos incas, fascinam pela qualidade e beleza na combinação de cores. No século 4 a. C., o rei macedônio Alexandre, o Grande, levou o algodão para a Grécia, e a no-breza o adotou.No século 4 de nossa era, os andejos árabes encantaram-se na Índia com a textura do tecido dessa fibra vegetal. Apren-deram a extrair a fibra, fiar e tecer. Chamaram à planta

al kutum – que deu algodão em português, em espanhol algo-dón, inglês cotton, francês coton, italiano cotone. Os árabes ocuparam a penínsu-la ibérica no século 9, mas

quem conquistou a Europa foi o algodão que eles levaram.

Quando o espanhol Hernán Cor-tez chegou em 1517 à costa mexi-

cana, deslumbrou-se ao dar com uma cidade de pedra onde os nativos usavam joias de ouro e prata e roupas de algodão, branco ou colorido. Eram os míticos maias.N’Os Lusíadas, o quinhentista Camões descreve como Vasco da Gama, ao passar pela costa etíope, alegra-se com guerreiros que o vêm saudar em seus batéis, e verseja: De panos de algo-dão vinham vestidos / De várias cores, brancos e listrados.Em Pindorama, os portugueses encontraram uma espécie nativa que os índios chamavam de amaniú (aman: enrolar; yú, objeto pontiagudo). Com a fibra, teciam redes; do caroço, esmagado e cozido, faziam mingau; das folhas, com o sumo, curavam feridas e, com a infusão, dor de ouvido. No início da colonização, narra o historiador Ronaldo Vainfas, estava o algodão “tanto na roupa de livres como na dos escravos”.Em certas épocas ele teve o status da seda. Hoje serve a todos. Não conhecemos branco mais popular, com toda cor se dá bem.

Gossypium hirsutum

O

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Branco de todos os tonselmiro Gouveia, cearense, enricou venden-do pele. Fixou-se em Pedra, Alagoas. Cons-

truiu hidrelétrica no São Francisco e montou a fábrica de linha Estrela. Dotou Pedra de água en-canada, luz elétrica, escolas, vila operária, médi-co, cinema, banda de música. Dizem que o truste inglês Machine Cotton, que dominava esse mer-cado no Brasil, incomodado com a concorrência, foi o mandante: em 10 de outubro de 1917, dois tiros mataram o pioneiro que, com o fio do algo-dão, levou o progresso aos cafundós do sertão.

Seringueira tem mártir, Chico Mendes; nosso algodão também

Existe algum lugar em que ele não esteja

presente?

Macio, confortável. Durável. Fácil de la-var, rápido de secar. Não causa alergia. Pode-se misturar a

outras fibras, tingir. Versátil, está em tudo: fral-

da de bebê, roupa de cama, me-sa, banho, de baixo, de cima; calçado, bolsa, cin-to; cortina, tapete, panos. Da semente, extrai-se óleo comestível. Das hastes, papel. Da casca, ra-ção animal. Da penugem grudada às sementes, al-godão absorvente, cirúrgico; enchimento de col-chões, travesseiros e almofadas; verniz; e até pól-vora – que preferimos em fogos de artifício.

D

Saiba maiSDicionário do Brasil Colonial, de Ronaldo Vainfas (Objetiva, 2000).

Memória Trançada, de Berenice Gorini e Semiramis Veiga (Edeme, 2001).

Oscar de coadjuvante

um filme sobre a saga humana, o al-

godão mereceria lugar de honra. Com ele o homem fabricou um dos utensílios mais anti-gos, a corda, com que os egípcios arrastaram aquelas pe-dras imensas para construir as pirâmides.No século 18, esteve por trás da Revolução Industrial, de-sencadeada com a invenção de James Watt – a máquina a vapor – que acelerou vertiginosamente a produção das te-celagens. O algodão vira a principal fibra têxtil do mundo e o mais importante produto das Américas.

E é uma fazenda de al-godão nos Estados Uni-dos o cenário em que se desenrola o drama

de Scarlett O’Hara, num filme de 1939, o mais cultuado da história do cinema: E o Vento Levou, que levou nove Oscars.Mas, revolução mesmo, ele provocou na maneira da hu-manidade se vestir. Falamos da roupa que você que nos lê ou está usando ou tem no guarda-roupa: o jeans. Símbolo da liberdade. Da democracia. Usa velho, moça, rico, pobre; no futebol, na missa, na festa, na escola, em casa, no cam-po, na cidade. Caso único na história da vestimenta.

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Causos de Rolando Boldrin

Adaptado de Contando Causos, de Rolando Boldrin (Nova Alexandria, 2001).

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Depois de uns dois anos de eleito, o governador se encontra, nas escadarias do palácio, com um capiau. Sem reconhecer o dito cujo, o roceiro pergunta:Capiau – Ó moço! É aqui que a gente cunversa com o governadô? É aqui que ele mora?Governador (disfarçando) – É sim, meu bom rocei-ro. Mas posso saber o que o senhor tem a lhe falar?Capiau – Pode, sim. Num sô como esses político sem vergonha e inroladô. Vim falá umas verdade.Governador – E o senhor veio falar com o governador sobre o quê? Alguma promessa que ele não cumpriu?Capiau – Acertô na mosca. Eu moro na cidade de Pau Furado. Ele teve lá, prometeu fazê uma ponte em cima do córrego e num fez foi nada.Governador – E como o senhor irá se dirigir a ele?Capiau (cuspindo fogo) – Se ele falá que num vai fazê a tar ponte, vou mandá ele pros quinto dos in-ferno. Vô xingá a famía dele de tudo que é nome.Eles se despedem. Coincidentemente, era dia de o governador atender as reinvindicações do povo. E para começar seu dia com humor, manda que o secretário chame o capiau metido a valente. Ao en-trar, nosso cumpadi toma um susto.Governador – Pois bem. Qual é a reclamação?Capiau (rodando o chapéu, de cabeça baixa) – Eu vim... cobrá... a promessa... da ponte.Governador (fingindo aspereza) – Olha aqui, meu amigo. O governo tem mais o que fazer. Não vou fazer ponte nenhuma. E daí? O que é que há?Capiau – O que que há? O que que há é que a coisa é daquele jeito que nóis dois cunversamo lá fora! E sai pisando duro, rumo a Pau Furado.

O (não) pagador de promessas

Cuidado com o cãoNa porta da loja há um enorme cartaz: “Cuidado com o cão”. O sujeito entra com medo. Mas depara-se com um pequeno poodle, com a maior cara de bonzinho, deitado no chão ao lado do caixa. – Ei, é esse o cachorro que eu tenho que tomar cuidado?– É esse mesmo –, responde a atendente.– Mas ele não me parece nem um pouco perigoso. Por que a senhora colocou o cartaz?– É que antes todo mundo pisava nele.

Traição por amorO casal de velhinhos está há 60 anos junto. A mulher resolve confessar que traiu o marido três vezes. Mas salienta que todas foram por amor a ele.– Como assim? –, pergunta o velhinho.– Lembra quando você estava desempregado? Saí com o dono da fábrica e o convenci a te oferecer um emprego. – Nossa... Não sei o que falar. E a segunda?– Lembra quando você estava doente? Conheci aquele médico que te operou, e também tive que passar uma noite com ele.– E a terceira?– Bem... Lembra quando você foi candidato a vereador e precisava de três mil votos pra se eleger?

Jantar românticoUm casal janta à luz de velas num restaurante de luxo. De repente, o garçom nota que o homem começa a escorregar lentamente para debaixo da mesa. Sutilmente, ele repreende a mulher:– Perdão, senhora, mas acho que seu marido está debaixo da mesa.E ela, quase cochichando:– Não está, não... Meu marido acabou de entrar no restaurante.

Um gatuno em casaA central de polícia recebe um telefonema:– Por favor, mande alguém urgente! Entrou um gato em casa!– Mas como assim? Um gato?– Sim, um gato! Ele invadiu a casa e está vindo na minha direção!– Calma. O senhor está disfarçando, querendo dizer que entrou um ladrão aí?– Não! Um gato mesmo, desses que fazem miau, miau. Ele vai me matar, e a culpa será de vocês. Venham agora!– Mas qual é o problema de um mero gatinho ter entrado na sua casa? Quem está falando?– O papagaio, caramba!

ponto final

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