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Presidente Prudente - SP, 24-26 de julho de 2017 IV Simpósio Brasileiro de Geomática – SBG2017 II Jornadas Lusófonas - Ciências e Tecnologias de Informação Geográfica - CTIG2017 p. 012-018 H.P. Lima; O. A. M. G. Harkot; M. S. Ruiz ISSN 1981-6251 ALTERAÇÃO NAS ÁREAS VERDES DA CIDADE DE SÃO PAULO: A PARTIR DA IMPLANTAÇÃO DA LEI DE ZONEAMENTO DE 2016 Profa. Msc. HELEN PATRICIA LIMA 1 ; Profa. OCLERES ANDRADE MATOS GARRETA HARKOT 2 . Prof. Dr. MAURO SILVA RUIZ 3 Universidade Nove de Julho - UNINOVE Departamentos de Exatas 1 , Saúde 2 e Programa de Pós Graduação em Administração 3 {helen, ocleres}@uni9.pro.br, [email protected] RESUMO O Projeto de Lei de Revisão do Plano Diretor Estratégico (São Paulo, 2013), primeira etapa do processo de revisão do marco regulatório da política urbana do município, propõe um conjunto de instrumentos urbanísticos que incidirão sobre os sistemas urbanos e ambientais a fim de reequilibrar o funcionamento da cidade de São Paulo. Entre as questões centrais estão à otimização dos investimentos públicos e da terra urbana, a distribuição das oportunidades oferecidas pela cidade, associando a oferta de emprego e moradia, a estruturação do desenvolvimento a partir da expansão da rede de transporte de média e alta capacidade e a redução das desigualdades, como motor de justiça social e desenvolvimento. Com isso foi proposto uma redução das áreas verdes para que este espaço pudesse ser ocupado, assim as áreas de mananciais e áreas de preservação ambiental sofreram um ajuste em prol do progresso, criando as áreas mistas ambientais, outra novidade é a criação de uma cota ambiental que estimula ações como plantio de mais árvores, aumento do reservatório de contenção de água de chuva ou criação de fachada verde. Empreendedores terão que adotar ações mínimas sem as quais não conseguirão o licenciamento e, por outro lado, receberão estímulo ao adotarem essas medidas. Palavras chave: Plano Diretor, Lei de Zoneamento, Áreas Verdes, Meio Ambiente, Mapeamento. ABSTRACT The Draft Law for the Review of the Strategic Master Plan (São Paulo, 2013), the first stage of the revision of the regulatory framework of the urban policy of the municipality, proposes a set of urban will focus on urban and environmental systems in order to rebalance the functioning of the city of São Paulo. Among the central issues are the optimization of public investment and urban land, the distribution of opportunities offered by the city, associating the offer of employment and housing, structuring the development expansion of the medium and high capacity transport network and the reduction of inequalities, as a driving social justice, and development. With this, it was proposed a reduction of the green areas so that this space could be occupied, thus the areas of watersheds and environmental preservation areas have been adjusted for progress, creating the mixed areas environmental impacts, another novelty is the creation of an environmental quota that encourages actions such as planting more trees, reservoir containing rainwater or creating a green façade. Entrepreneurs will have to take minimum actions without which they will not be able to obtain the license and, on the other hand, will receive encouragement in adopting these measures. Key words: Master plan, Zoning Law, Green Areas, Environment, Mapping. 1 INTRODUÇÃO Em linhas gerais, as regras do zoneamento definem onde é permitido áreas de comércio, indústria e residências e como os imóveis devem ser construídos nos terrenos, de forma que tenham a melhor relação com sua vizinhança. A presente pesquisa teve como objetivo avaliar o impacto causado pela nova Lei de Zoneamento de 2016, Lei 16.402/2016, nas áreas verdes no município de São Paulo, avaliando alterações dessas áreas da cidade e as alterações de zonas para um novo tipo de uso dessas áreas, possibilitando agora construções em áreas antes

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Presidente Prudente - SP, 24-26 de julho de 2017 IV Simpósio Brasileiro de Geomática – SBG2017

II Jornadas Lusófonas - Ciências e Tecnologias de Informação Geográfica - CTIG2017 p. 012-018

H.P. Lima; O. A. M. G. Harkot; M. S. Ruiz ISSN 1981-6251

ALTERAÇÃO NAS ÁREAS VERDES DA CIDADE DE SÃO PAULO: A PARTIR DA IMPLANTAÇÃO DA LEI DE ZONEAMENTO DE 2016

Profa. Msc. HELEN PATRICIA LIMA1; Profa. OCLERES ANDRADE MATOS GARRETA HARKOT2.

Prof. Dr. MAURO SILVA RUIZ3

Universidade Nove de Julho - UNINOVE Departamentos de Exatas1, Saúde2 e Programa de Pós Graduação em Administração3

{helen, ocleres}@uni9.pro.br, [email protected]

RESUMO

O Projeto de Lei de Revisão do Plano Diretor Estratégico (São Paulo, 2013), primeira etapa do processo de revisão do marco regulatório da política urbana do município, propõe um conjunto de instrumentos urbanísticos que incidirão sobre os sistemas urbanos e ambientais a fim de reequilibrar o funcionamento da cidade de São Paulo. Entre as questões centrais estão à otimização dos investimentos públicos e da terra urbana, a distribuição das oportunidades oferecidas pela cidade, associando a oferta de emprego e moradia, a estruturação do desenvolvimento a partir da expansão da rede de transporte de média e alta capacidade e a redução das desigualdades, como motor de justiça social e desenvolvimento. Com isso foi proposto uma redução das áreas verdes para que este espaço pudesse ser ocupado, assim as áreas de mananciais e áreas de preservação ambiental sofreram um ajuste em prol do progresso, criando as áreas mistas ambientais, outra novidade é a criação de uma cota ambiental que estimula ações como plantio de mais árvores, aumento do reservatório de contenção de água de chuva ou criação de fachada verde. Empreendedores terão que adotar ações mínimas sem as quais não conseguirão o licenciamento e, por outro lado, receberão estímulo ao adotarem essas medidas.

Palavras chave: Plano Diretor, Lei de Zoneamento, Áreas Verdes, Meio Ambiente, Mapeamento.

ABSTRACT

The Draft Law for the Review of the Strategic Master Plan (São Paulo, 2013), the first stage of the revision of the regulatory framework of the urban policy of the municipality, proposes a set of urban will focus on urban and environmental systems in order to rebalance the functioning of the city of São Paulo. Among the central issues are the optimization of public investment and urban land, the distribution of opportunities offered by the city, associating the offer of employment and housing, structuring the development expansion of the medium and high capacity transport network and the reduction of inequalities, as a driving social justice, and development. With this, it was proposed a reduction of the green areas so that this space could be occupied, thus the areas of watersheds and environmental preservation areas have been adjusted for progress, creating the mixed areas environmental impacts, another novelty is the creation of an environmental quota that encourages actions such as planting more trees, reservoir containing rainwater or creating a green façade. Entrepreneurs will have to take minimum actions without which they will not be able to obtain the license and, on the other hand, will receive encouragement in adopting these measures.

Key words: Master plan, Zoning Law, Green Areas, Environment, Mapping.

1 INTRODUÇÃO

Em linhas gerais, as regras do zoneamento definem onde é permitido áreas de comércio, indústria e residências e como os imóveis devem ser construídos nos terrenos, de forma que tenham a melhor relação com sua vizinhança.

A presente pesquisa teve como objetivo avaliar o impacto causado pela nova Lei de Zoneamento de 2016, Lei 16.402/2016, nas áreas verdes no município de São Paulo, avaliando alterações dessas áreas da cidade e as alterações de zonas para um novo tipo de uso dessas áreas, possibilitando agora construções em áreas antes

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destinadas a reservas ambientais urbanas, apresentando as possíveis implicações dessas alterações.

Com o novo plano diretor do município de São Paulo em vigor (São Paulo, Lei 16.402/2016), entra em ação, a nova demarcação das áreas verdes disponíveis para urbanização com um zoneamento mais abrangente onde incluiu as áreas verdes mistas. Nesse sentido, o mapeamento da redução que essa área verde sofrerá é de fundamental importância para se avaliar preliminarmente o impacto que incidirá sobre as áreas verdes o qual seconstitui no objetivo deste estudo.

O novo plano diretor divide o zoneamento da cidade em macrozoneamento e faz uma divisão do território do município de São Paulo em: I – Macrozona de Proteção e Recuperação Ambiental; II – Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana.

Será observado a macrozona de proteção e recuperação ambiental, objeto deste estudo.

A Macrozona de Proteção e Recuperação Ambiental, conforme a Lei 16.402/16, é caracterizada pela existência de sistemas ambientais, compostos por elementos e processos relacionados ao clima, solo, relevo, recursos hídricos, remanescentes florestais, biodiversidade, entre outros, que, ao interagir com elementos dos sistemas urbanos, resultam em áreas com diferentes estágios de preservação e degradação ambiental.

A lei anterior (São Paulo, Lei 13.430/2002) em seu Art. 56, dizia que era objetivo da política de desenvolvimento urbano ambiental no inciso III, impedir o avanço da ocupação em áreas impróprias e de proteçãoambiental e o novo plano diretor ampliou a ocupaçãodestas áreas no seu escopo.

Um dos motivos da alteração da lei de zoneamento é a modificação do uso das áreas verdes (zona ambiental), para zona mista ambiental, permitindo construções populares. A alteração na demarcação abrange as ZMA - Zona Mista Ambiental, ZEPAM - Zona Especial de Preservação Ambiental e ZEP - Zona Especial de Preservação (São Paulo, Lei 16.402/2016).

A lei atual de zoneamento do município de São Paulo (São Paulo, Lei 16.402/2016) que trata das regras de uso e ocupação do solo, com o objetivo de efetivar melhorias na qualidade de vida da população a partir do equilíbrio do funcionamento das atividades e da garantia de que as ações futuras na cidade venham acompanhadas de medidas de qualificação ambiental, social, econômica e cultural.

Os parâmetros de ocupação, assim como a volumetria, altura e recuos das edificações, percentual de permeabilidade por terreno, tamanho de lotes, número de unidades residenciais, entre outros. Sendo todos parâmetros específicos para cada zona de uso.

As zonas de uso têm sua distribuição feita de forma que cada uma supra a necessidade e exclusividade de cada região, por exemplo, em bairros residenciais é caracterizado com um tipo de zona que restrinja o uso do tipo comercial ou industrial.

Com o intuito de organizar e legalizar loteamentos irregulares, desocupar imóveis e terrenos localizados em regiões centrais, (São Paulo, Lei 16.402/2016), a lei trouxe zonas que permitem a ocupação por habitações populares, conhecidas como Habitações de Interesse Social (HIS), em áreas verdes, áreas de proteção ambiental e até em áreas de mananciais, criando as ZEIS (Zonas de Interesse Social, ZMIS (Zona Mista de Interesse Social) e ZMISa (Zona Mista de Interesse Social Ambiental).

2 REVISÃO TEÓRICA

Na pesquisa realizada para o levantamento bibliográfico, os autores pesquisados descrevem o plano diretor como necessário para a mobilidade da vida urbana com suas características para alavancar o progresso e minimizar os impactos ambientais na cidade de são Paulo.

A constituição Federal de 1988 prevê a criação do plano diretor em cidades com mais de 20 mil habitantes para garantir um desenvolvimento e crescimento ordenado.

Martins (2003) comenta que São Paulo concentra 5% da população brasileira, e sua região metropolitana 10,5%, o que responde por aproximadamente 18% do PIB, apresenta um desemprego da ordem de 17,6%, um déficit habitacional equivalente a quase 12% e, em parcelas de seu território, os mais altos índices de violência no país. Esses dados em 2003 já impactavam por sua grandeza, sendo significativa a relação ao cômputo geral de indicadores e a totalização de dados no país, mas também ressaltam algumas das relações existentes entre cidade e desenvolvimento.

Segundo Seixas e Rebouças (1999), na prática a inexistência de um plano diretor em muitas cidades tem facilitado muito a enorme confusão em torno de seu conceito. E para entender melhor o que é um plano diretor e suas funcionalidades, vamos ver algumas definições e conceitos.

Correa (2015) e Genz (2014) descrevem que o plano diretor tem a função de delimitar a área da sua aplicação, que vem a ser um conjunto de intervenções urbanas para a realização de transformações urbanísticas estruturais que possam trazer melhorias sociais e valorização ambiental, com a participação de proprietários, moradores, usuários e investidores privados, sob a coordenação do poder público municipal.

Ainda segundo Gens (2014), o plano diretor municipal é um instrumento de planejamento urbanístico que tem por finalidade sistematizar o desenvolvimento físico, econômico e social do território municipal, visando o bem-estar da comunidade local. Reforçando esta ideia,Freitas (2007) aponta que o referido plano também éinstrumento básico da política de desenvolvimento e deexpansão urbana, facilitando a correlação do progressoeconômico com a melhoria da qualidade de vida dapopulação.

O Plano Diretor também é definido pela Constituição Federal (1988) como instrumento básico da

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política de desenvolvimento e de expansão urbana, destacando que a propriedade urbana cumpre sua função social na medida em que atende às exigências fundamentais nele expressas. A sua função é promover o ordenamento do território.

Para Mukai (2007), o plano diretor tem por base legal, diretrizes, objetivos, programas e metas que abrangem o desenvolvimento econômico-social, o meio ambiente e o uso e ocupação do solo, projetados todos para um determinado período de tempo.

O Plano Diretor Municipal (PDM) é o instrumento de definição da política urbana municipal, capaz de assegurar o cumprimento da função social da propriedade. Na base, trata-se de um instrumento de planejamento urbanístico que define a divisão e as formas de ocupação dos espaços habitáveis da cidade, considerando-se o território urbano e rural do município (Genz, 2014).

Esse instrumento de intervenção urbanística é obrigatório somente para cidades com mais de 20.000 habitantes, mas, para se cumprir a função social da propriedade urbana, por ser ele fundamentado na Constituição Federal de 1988, é aplicável a todos os municípios (Gazola, 2008). A existência do plano diretor é condição básica para o município dispor sobre as limitações urbanísticas à propriedade urbana, estabelecendo comportamentos e o cumprimento da função social da propriedade.

Nesse sentido, então, o PDM se insere como um diploma legal, que deve respeitar a legislação federal existente, sem prejuízo de outras que se fizerem necessárias, a exemplo da legislação do Estado, a quem cabe a ordenação do território estadual e regional, por meio dos planos estaduais e regionais de desenvolvimento territorial, econômico e social. Tais planos estaduais deverão conter diretrizes abrangentes para o desenvolvimento socioeconômico urbano e rural, com normas e critérios de âmbito municipal, mas regionalmente integrados (Freitas, 2007, p.18).

O plano diretor traz este ordenamento da cidade e fixa diretrizes para um prazo definido, no desenvolvimento urbano através de políticas públicas para minimizar os impactos negativos segundo (Canepa, 2007).

Pode-se observar isso de acordo com os seguintes artigos da lei 16.402/16 (São Paulo, Lei 16.402/2016):

Art. 7 - II - Zona Eixo de Estruturação da Transformação Urbana Ambiental (ZEUa): zonas inseridas na Macrozona de Proteção e Recuperação Ambiental, com parâmetros de parcelamento, uso e ocupação do solo compatíveis com as diretrizes da referida macrozona; Art. 10 - IV - Zona Corredor da Macrozona de Proteção e Recuperação Ambiental (ZCORa): trechos junto a vias localizadas na Macrozona de Proteção e Recuperação Ambiental, destinados à diversificação de usos de forma compatível com a vizinhança residencial e com as diretrizes de desenvolvimento da referida macrozona;

Art. 11 - II - Zona Mista Ambiental (ZMa): porções do território localizadas na Macrozona de Proteção e Recuperação Ambiental, com parâmetros de parcelamento, uso e ocupação do solo compatíveis com as diretrizes da referida macrozona; Art. 11 - IV - Zona Mista de Interesse Social Ambiental (ZMISa): porções do território caracterizadas predominantemente pela existência de assentamentos habitacionais populares regularizados, conjugados ou não com usos não residenciais, localizadas na Macrozona de Proteção e Recuperação Ambiental, destinadas à produção de habitação de interesse social e a usos não residenciais, com parâmetros de parcelamento, uso e ocupação do solo compatíveis com as diretrizes da referida macrozona.

Ainda assim a lei 16.402/16 manteve em caráter preservativo e não alterou os parâmetros das zonas de preservação como a ZEPAM (Zona Especial de Proteção Ambiental) e a Zona Especial de Preservação (ZEP), localizadas nas regiões com as maiores áreas verdes do município, porém agora com uma redução significativa de seu perímetro.

Em seu texto, a lei de zoneamento (São Paulo, Lei 16.402/2016) trouxe um novo instrumento, chamado de Quota Ambiental, que obriga o plantio de árvores, de áreas ajardinadas, cobertura e muro verde no próprio terreno em que se construirá uma edificação. Tal medida é obrigatória para lotes com área maior que 500 m² e sua taxa de área destinada às áreas verdes, variam em função do tamanho do lote e de sua localização.

A Lei 16.402/2016, conhecida como Lei de Zoneamento, regulamentou a ação pública e privada sobre as formas de uso do solo da cidade, de acordo com as estratégias do Plano Diretor Estratégico (PDE/2014) sob a Lei 16.050/14 que visa orientar o desenvolvimento e o crescimento da cidade pelos próximos 16 anos.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

A presente pesquisa é de natureza qualitativa descritiva fundamentada basicamente em levantamento bibliográfico e documental. Para a consecução do objetivo proposto foram realizadas as seguintes atividades.

A cidade foi dividida em 4 zonas, sendo zona norte e central uma mesma zona de trabalho e as zonas sul, leste e oeste, as demais zonas de trabalho. Com essa divisão pode-se analisar o impacto regional das modificações. Para cada zona foi realizado a análise e comparação dos planos diretores. � Levantamento cartográfico – verificação da diminuição das áreas verdes segundo os mapas divididos por regiões. � Levantamento bibliográfico – busca de material bibliográfico em periódicos nacionais da área de geografia e cartográfica em dissertações e teses. � Levantamento documental – análises dos planos diretores, fazendo uma comparação do antes e depois, Lei 13.430/2002 e Lei 16.402/2016 respectivamente,

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analisando quais as alterações que essas modificações tiveram sobre as parcelas de áreas verdes. Foi utilizado como base para o levantamento dos dados, o mapeamento cartográfico da cidade de São Paulo com seus mapas de zoneamento de uso e ocupação do solo, as duas Leis de Zoneamento e a bibliografia disponível sobre este assunto. � Sistematização das informações e dados obtidos – os dados obtidos encontram-se organizados em mapas e tabelas para facilitar a análise e interpretação.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O levantamento realizado no município de São Paulo nos planos diretores de 2002 e 2016, anterior e vigente respectivamente, conforme mostram as figuras 1 e 2 foram modificadas as macrozonas no município de São Paulo, aumentando significativamente as divisões do munícipio, gerando novas categorias como mostrado parcialmente na tabela 1.

Na tabela 1, vemos que houve um aumento relevante das zonas urbanas da cidade de São Paulo, onde se torna perceptível que para haver este aumento, houve a diminuição de áreas que antes eram delimitadas como APPs (Áreas de Preservação Permanentes) ou APAs (Áreas de Proteção Ambiental).

Figura 1 – Mapa de Uso do Solo do Município de São Paulo (2002).

Figura 2 – Mapa de Uso do Solo do Município de São Paulo (2016).

Tabela 1 – Demarcação das Zonas da Cidade de São Paulo. (Fonte: Prefeitura Municipal de São Paulo-2016).

Conforme a tabela 1 a ZEIS-1 teve sua área diminuída de 2004 até 2016 de 144,52 km² a 130,9 km² com uma variação de redução de -9,42 % negativo. A ZEIS-2 mostrou segundo a tabela um aumento da área de 8,3 km² de 2004 para 14,9 km² em 2016 então houve um aumento de em 79,18% de variação na área verde em km². A ZEIS-3 teve um aumento de 6,66 km² para 8,7 km² com uma variação de 30,17 % e a ZEIS-4 teve um aumento de área de 3,75 km² para 4,7 km² com uma variação de 26,04 % de áreas verdes.

O novo plano diretor trouxe um aumento das zonas de interesse social (ZEIS) com a inclusão da ZEIS-5 em 6,2 km², ZMIS em 5,3 km², ZMISa 5,2 km², ZC- ZEIS em 1,7 km², estas novas áreas que foram incorporadas fazem parte da cota ambiental como áreas ajardinadas, praças e clubes do munícipio de São Paulo e podemos observar estas mudanças pela tabela acima.

Com a análise da tabela 1, vemos que para o aumento das zonas que incentivam a construção de

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habitações populares, houve uma diminuição das áreas verdes e áreas de proteção ambiental.

Contudo as zonas que entraram no lugar das antigas áreas de proteção ambiental foram apresentadas como zonas que possuíam coeficientes mais restritivos e assim não teriam um grande impacto, mas como vemos no quadro de parâmetros de ocupação do Decreto 57.377/16 (Regulamentador da lei de zoneamento) os parâmetros são de grande impacto e permitem construções maiores até que na própria região central do município.

Neste caso os parâmetros são específicos para Habitações Populares, as quais não mudam seu impacto nas áreas verdes em relação às construções comuns. Trabalhar as necessidades da população se faz necessário à inclusão de incentivos as Habitações de Interesse Social, porém a solução que foi dada para tal questão, gera um impacto difícil e demorado de concertar.

A perda de mata e vegetação para dar lugar a essa tipologia de habitação só agrava e prejudica o município como um todo.

Assim serão recuperadas de forma lenta e periódica, regiões de mata, obtendo uma preservação do ambiente e uma melhor qualidade de vida.

A lei 16.402/2016 define que novas parcelas maiores de 500 m2 devem implantar a Quota Ambiental.

Foi apresentada como uma inovação no sentido de qualidade e melhoria do ambiente urbano, trazendo o verde para as edificações e melhor qualidade de vida para a população. Porém na prática essa medida é pouco eficaz se comparada ao dano e redução que a lei vem causando nas áreas verdes da cidade.

A prefeitura municipal coloca em seu Projeto de Lei 272/2015 (Revisão Participativa da Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo) mostra um aumento significativo nas áreas verdes na cidade, mas na verdade este aumento se deu devido à inclusão de áreas de praças e clubes.

De acordo com a análise dos mapas houve ainda outra alteração com a inclusão de áreas antes não computadas como clubes, praças e canteiros para se chegar a um número de área verde conforme detalhado por região.

As zonas identificadas nos mapas mostrados pelas figuras de 3 a 6 tiveram uma diminuição de suas áreas verdes em decorrência do novo Plano Diretor que nomeou áreas verdes como áreas mistas ambientais disponibilizadas para construção de habitação de interesse social (HIS). Em todas as áreas mapeadas observa–se esta redução de áreas verdes em virtude da nova lei.

- Zona Norte e CentralMostrado na figura 3, a zona central não teve

influencia da nova lei por ser uma região sem áreas verdes de tamanhos relevantes a criação das zonas de interesse social. Na zona norte, houve pouca influência por ter uma área de preservação permanente, impossibilitando também criação de HIS.

- Zona OesteA figura 4 mostra a zona oeste, menos afetada por

ser uma região com menor quantidade de áreas verdes.

- Zona LesteEsta região mapeada após o novo plano diretor

apresentou uma mudança e alteração da paisagem e uma alteração de temperatura com as formações de Ilhas de Calor pela falta de áreas verdes, como vemos na figura 5.

Figura 3 - Mapa Digital da cidade de São Paulo: Político. Zona Norte e Central, Escala Gráfica. São Paulo:

Geosampa, 2017.

Figura 4 - Mapa Digital da cidade de São Paulo: Político. Zona Oeste, Escala Gráfica. São Paulo: Geosampa, 2017.

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Figura 5 - Mapa Digital da cidade de São Paulo: Político. Zona Leste, Escala Gráfica. São Paulo: Geosampa, 2017.

Figura 6 - Mapa Digital da cidade de São Paulo: Político. Zona Sul, Escala Gráfica. São Paulo: Geosampa, 2017.

- Zona SulCom a análise do novo mapeamento da região Sul,

figura 6, a mais alterada e afetada do ponto de vista ambiental pela nova lei por permitir a liberação das áreas ambientais para construção de moradias de interesse social e das áreas de mananciais e áreas de preservação.

As áreas alteradas pelo plano Diretor criaram uma nova nomenclatura para este zoneamento, áreas verdes mistas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo mostrou que o novo plano diretor incorporou novas áreas verdes o que causou um aumento destas áreas, contudo a inclusão de um novo zoneamento intitulado de áreas mistas ambientais permite e libera estas áreas para construção de moradias de interesse social (HIS).

O plano diretor vigente contabilizou áreas que não haviam sido contempladas no plano anterior

Esta diminuição se deve as novas zonas que foram delimitadas sobre as áreas verdes e que incentivam a construção de habitações populares, as quais possuem um volume grande de construção por sua facilidade e benefícios por ter um caráter de interesse social.

As áreas ocupadas pela ZEPAM (Zona Especial de Proteção Ambiental) são pequenas e apenas nos limites do município o que se torna extremamente ruim por se tratar de uma área de grande importância para o bem-estar e de interesse público.

Contudo as zonas que entraram no lugar das antigas áreas de proteção ambiental foram apresentadas como zonas que possuíam coeficientes mais restritivos e assim não teriam um grande impacto, mas como vemos no quadro de parâmetros de ocupação do Decreto 57.377/16 (Regulamentador da lei de zoneamento) os parâmetros são de grande impacto e permitem construções maiores na própria região central do município.

REFERÊNCIAS

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