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Sociologia Contemporanea
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OS
APARELHOS
IDEOLóG
ICOS
DEESTADO
oque
é,preciso
acrescentarà«teoria
mar-
xista»do
Estadoépois
outracoisa.
Devem
osagora
avançarcom
prudêncianum
terrenoonde,
defacto,
osclássicos
domarxism
onos
precederamhá
longotem
po,mas
semt€r
sistematizado,
sobumaform
ateórica,
osprogressos
decisivosque
assuas
experiênciaseos
seusmétodos
eprocessos
(démarches)
implicaram
.Assuas
experiências(~m
étodosperm
aneceramde
factono
terrenoda
práticapolítica.
Defacto,
nasua
'práticapolítica,
osclás-
sicosdo
marxism
otrataram
oEstado
como
umarealidade
mais
complexa
doque
adefini-
<Jioque
delese
dána
«teoriamarxista
doEstado»,
mesm
ocom
pletadacom
oaapresen-
bmos.
Nasua
práticareconheceram
estacom
-
41
plexidade,masnão
aexprim
iramnum
ateoria
correspondente'.
Gostaríam
osdetentar
esboçarmuito
esque-maticam
enteesta
teoriacorrespondente.
Paraesse
fim,prcpom
osatese
seguinte.Para
seavançar
nateoria
doEstado,
éindispensável
terem
conta,não
sóadistinção
entrepoder
deEstado
eaparelho
deEstado)
mas
também
outrarealidade
quese
situamanifestam
entedo
ladodo
ruparelho(repres-
sivo)deEstado,
masnão
seconfunde
comele.
Designarem
osesta
realidadepelo
seuconceito:
osaparelhos
ideológicosde
Estado.Quesão
os8Jparelhos
ideológicosdeEstado
(AlE)
?
Não
seconfundem
comoaparelho
(repres-sivo)
deEstado.
Lembrem
osque
nateoria
1S;ogundo
oque
conhecemos,
Gram
scifoi
oúnico
quese
aventurounesta
via.Teve
aideia
«singular»de
queoEstado
nãose
reduziaao
aparelho(repressivo)
deEstado,
mas
compreendia,
comoele
dizia,certo
nú-mero
deinsti
tuiçõesda
«sociedadecivil»:
aIgreja,
asEscolas,
ossindicatos,
etc.Gram
scinão
chegouinfeliz-
mente
asiBtem
atizarestas
instituiçõesque
permanece-
ramno
estadode
notasperspicazes,
mas
parciais(cf.
Gram
sci:Oeuvres
Coisies,Ed.
Sociales,pp.
290-291(nota
3),293,
295,436.
Cf.Lettres
dePrison,
Ed.Socia-
les,p.
313.
42
marxista,
oAparelho
deEstado
(AE)
com-
preende:oGoverno,
aAdministração,
oExér-
cito,aPolícia,
osTribunais,
asPrisões,
etc.,que
constituemaquilo
aque
chamarem
osa
partirde
agoraoAiparelho
Re:pressivode
Estado.Repressivo
indicaque
oAparelho
deEstado
emquestão
«funcionapela
violência»,-.pelo
menos
nolimite
(porquearepressão,
porexem
ploadm
inistrativa,pode
revestirfor-
mas
nãofísicas).
DesLgn3Jm
OSpor
Aparelhos
Ideológicosde
Estadoum
certonúm
eroderealidades
quese
3Jpresentaillaoobservador
imediato
sobaform
ade
instituiçõesdistintas
eespecializadas.
Pro-pom
osumalista
empírica
destasrealidades
que,éiClaro,necessitará
deser
examinada
por-menorizadam
etllte,posta
àprova,
rectificadaereelaborada.
Comtodas
asreservas
queesta
exigênciaimplica,
podemosdesde
jáconsiderar
comoAparelhos
IdeológicosdeEstado
asins-
tituiçõess~guintes
(aordem
pelaqual
asenun-
ciamos
nãotem
qualquersignificado
parti-cular)
:
-OAlEreligioso
(Osistem
adas
diferentesIgrejas)
,
1;3
-oAlE
escolar(osistem
adas
diferentes~()Ilas
públicaseparticulares),
-oAlE
familiar
1,
-oALE
jurídico2,
-oAlE
polLtico(osistem
aiPO
líticode
quefazem
parteos
diferentespartidos),
-oALE
sindical,-oAlE
dainform
ação(imprensa,
rádio--televisão,
etc.),-oALE
,cultural(Letras,
BelasArtes,
desportos,etc.).
Dissém
os:os
AlE
nãoseIconfundem
comoA!parelho
(repressivo)de
Estado.Em
queconsiste
adiferença?
Num
primeiro
momento
podemos
observarque,
seexiste
,umAcparelho
(repressivo)de
Estado,existe
uma
pluralidadede
Aparelhos
ideológicosdeEstado.
Supondoque
elaexiste,
1A
Família
desempenha
manifestam
enteoutras
funçõespara
alémdas
deum
AlE.
Intervémna
repro-dução
daforça
detrabalho.
E,segundo
osmodos
deprodução,
unidadede
produçãoe(ou)
unidadede
consumo.
2O«Direito»
pertencesim
ultaneamente
aoApare-
lho(repressivo)
deEstado
eao
sistemados
AlE.
44
aunidade
queCOQlstituiesta
pLuralidadede
ALEnum
corpoúnico
nãoéimediatam
entevisível.
Num
segtlJ11domomento,
podemos
constatarque
enquantooaparelho
(repressivo)de
Es-tado,
unificado,pertence
inteiraanenteaodom
í-nio
público,amaioria
dosAparelhos
Ideoló-gicO
Sde
Estado(na
suadispersão
aparente)releva
pelocontrário
dodom
ínioprivado.
Pri-vadas
sãoasIgrejas,
osPartidos,
ossindicatos,
asfam
ílias,algum
asescolas,
amaioria
dosjornais,
asempresas
culturais,etc.,
etc....Por
agoradeixem
osde
parteanossa
pri-meira
observação.Mas
oleitor
'nãodeixará
derelevar
asegunda
paranos
perguntarcom
quedireito
podemos
considerar,com
oApare-
lhosIdeológicos
deEstado
instituiçõesque,
nasua
grandemaioria,
nãopossuem
estatutopúblico,
esão
puraesim
plesmente
instituiçõesprivadas.
ComoMarxista
conscienteque
era,Gram
scijásalientara
estaobjecção.
Adistin-
çãoentre
opúblico
eoprivado
éumadistinção
interioraodireito
burguês,eválida
nosdom
í-nios
(subordinados)em
queodireito
burguêsexerce
osseus
«poderes».Odom
íniodo
Estadoescapa-lhe
porqueestá
«paraalém
doDireito»:
oEstado,
queéoEstado
daclasse
dominaJllte,
nãoénem
públiconem
privado,épelo
con-
45
trárioaco.ndição
detoda
adistinção
entrepúbl1co
eprivado.
Podemos
dizeramesm
acoisa
partindoagora
dosnossos
Aparelhos
Ideo-lógicos
deEstado.
P01lJCOimporta
queasins-
tituiçõesque
osrealizam
sejam«públicas»
ou«;privadas».
Oque
importa
éoseu
funciona-mento.
Instituiçõesrprivadas
podemperfeita-
mente
«funcionar»com
oAparelhos
Ideológicosde
Estado.Umaanálise
U!Il1pouco
mais
pro-funda
dequalquer
dosAlE
seriasuficiente
paraprovar
oque
acabámos
dedizer.
Mas
vamos
aoessendal.
Oque
distingueos
AlE
doAparelho
(repressivo)de
Estado,éadiferença
fundamental
seguinte:oAparelho
repressivodeEstado
«funcionapela
violência»,enquanto
osAparelhos
Ideológicosde
Estadofuncionam
«pew,ideologia».
Podemos
precisarrectificaooo
estadistin-
ção.Direm
osde
factoque
qualquer.A:parelho
deEstado,
sejade
rep:-essivoou
ideoló.5"ico,«funciona»
simultaneam
entepela
violênciae
pelaideologia,
mas
comumadiferença
muito
importante
queimpede
aconfusão
dosApare-
lhosIdeológÍ'Cos
deEstado
comoAparelho
(repre~sivo)de
Estado.Êque
emsimesm
ooAparelho
(represlsivo)de
Estadofunciona
deumamameira
mass,iva-
46
m€'Ilte
prevalentepela
repressão(inclusive
fí-ska),
embora
funcionesecundariam
entepela
ideologia.(Não
há81parelhorpuram
enterepres-
sivo).Exem
plos:oExército
eaPolíoia
funcio-nam
também
pelaideologia,
simultaneam
entepara
assegurara·sua
própriacoesão
erepro-
duçãoepelos
valoresque
projeetamnoexterior.
Damesm
amaneira,
masinversam
ente,deve-
mos
dizerque,
emsimesm
os,os
.A:parelhos
IdeológicosdeEstado
funcionamdeum
modo
massivam
enteprevalente
pelaideologia)
em-
borafuncionando
secundariamente
pelare-
Ipressão,mE'sm
oque
nolimite,
masapenas
noEmite,
estaseja
bastanteatenuada,
dissimu-
ladaou
atésim
bólica.(Não
háaparelho
pura-mente
ideológico).Assim
ae~cola
easIgrejas
«educam»por
métodos
apropriadosdesanções,
deexclusões,
deselecção,
etc.,não
sóosseU
soficiantes,
masassuas
ovelhas.Assim
aFam
í-lia...
Assim
oAparelho
IEcultural
(acen-
sura,para
sómencionar
esta),etc.
Seráútil
referirque
estadeterm
inaçãodo
duplo«funcionam
ento»(de
ma,neira
prevalente,de
maneira
secundária)pela
repressãoepela
ideologia,consoante
setrata
doAparelho
(re-pressivo)
deEstado
oudos
Aparelhos
Ideo-lógicos
deEstado,
permite
compreEnder
ofacto
47
deconstantem
entese
teceremcom
binaçõesmuito
subtisexplícitas
outácitas
entreojogo
doAparelho
(repressivo)do
Estadoeojogo
dosAparelhos
Ideológicosde
Estado?Avida
quotidianaoferece-nos
inúmeros
exemplos
distoque
épreciso
estudarem
pormenor
parairmos
mais
alémda
simples
observação.Esta
observaçãoobre-nos
avia
dacom
-preensão
doque
constituiaunidade
docorpo
aparentemente
dispardos
AlE.
Seos
AlE
«funcionam»de
maneira
massivam
entepreva-
lEntepela
ideologia,oque
unificaasua
diver-sidade
éprecisam
enteeste
funcionamento,
namedida
emque
aideologia
pelaqual
funcio-nam
ésem
preunificada
apesardas
suascon-
tradiçõeseda
suadiversidade,
na,ideologia
dominante)
queéada
«classedom
inante»...
Sequiserm
osconsiderar
queem
principioa
«classedom
inante»detém
opoder
deEstado
(deumaform
afranca
ou,na
maioria
dasvezes,
pormeio
deAlianças
declasse
oude
fracçõesdeclasses),
edispõe
portantodoApa-
relho(repressivo)
deEstado,
podemosadm
itirque
amesm
aclasse
dominante
éa.ctiva
nosAparelhos
ideológicosdeEstado.
Éclaro,
agirpor
leisedecretos
noAparelho
(repressivo)deEstado
e«agir»
porinterm
édiodaideologia
dominante
nosAparelhos
ideológicosdeEstado
sãoduas
coisasdiferentes.
Serápreciso
entrarno
pormenor
destadiferença,
-mas
elanão
poderáesconder
arealidade
deumaprofunda
identidade.Apartir
doque
sabemos,
nenhnma,
elassepode
duravelmente
dACtero
poderde
Es-tado
semexercer
simultaneam
enteasua
hege-mania
sobreenos
AparelhosIdeológicos
deEstado.
Douum
únicoexem
ploeprova:
apreo-
cupaçãolancinante
deLenine
derevolucionar
oAparelho
ideológicodeEstado
escolar(entre
outros)para
permitir
aoproletariado
sovié-tico,que
tinhatom
adoopoder
deEstado,
asse-gurar
ofuturo
daditadura
doproletariado
eapassagem
aosocialism
o".
Estaúltim
anota
permite-nos
compreender
queosAparelhos
IdeológicosdeEstado
podemser
nãosóoal1'o
mastam
bémolocal
daluta
declasses
epor
vezesde
formas
renhidasda
lutade
classes.Aclasse
(ouaaliança
declasses)
nopoder
nãodom
inatão
facilmente
1Num
textopatético
datadode
1931,Kroupskaia
cop,taahistória
dosesforços
desesperadosde
~n1needaquilo
queela
consideracom
oOseu
fracasso(<<L6
chemin
parcouru»).
48"
49
osAlE
comooAiparelho
(N1Pressivo)de
Es-tado,
eisto
nãosóporque
asantigas
classesdom
inantespodem
durantemuito
teilllPocon-servar
nelesposiçõesfortes,m
astam
bémpor-
quearesistência
dasclasses
exploradaspode
encontrarmeios
eocasiões
dese
exprimir
neles,querutilizando
ascontradições
existen-tes
(nosAIE),
querconquistando
pelaluta
(nosAlE)
posiçõesdecom
bate1.
Resum8im
osasnossas
notas.
lOque
aquiédito
rapidamente,
daluta
declasses
nosAparelhos
Ideológicosde
Estado,está
evi-dentem
entelonge
deesgotar
aquestão
daluta
declasses.
Paraabordar
estaquestão
épreciso
terpresente
noespírito
doisprincípios.
Oprim
eiroprincípio
foiform
uladopor
Marx
noPrefácio
àContribuição:
«Quando
seconsideram
taisperturbações
(umarevolução
social)épreciso
distin-guir
sempre
entreperturbação
material
-que
sepode
constatarde
umamaneira
cientificamente
rigorosa-das
condiçõesdeprodução
económicas,
easform
asjurí-
dicas,políticas,
relígiosas,artísticas
oufilosóficas
nasquais
oshom
enstom
amconsciência
desteconflito
eolevam
atéao
fim.~
Portanto,aluta
declasses
exprime-se
eexerce-se
nasform
asideológicas
eassim
também
nasform
asideológicas
dosAIE.
Mas
aluta
50
Seatese
quepropusem
oséfundam
entada,som
osconduzidosaretom
ar,embora
precisan-do-a
numlponto,a
teoriamarxU
staclássicado
Estado.Direm
osqueporum
ladoépreci&
>dis-tinguir
opoder
deEstado
(easua
detençãopor...)
eo.Aparelhode
Estadopor
outrolado.
Masacrescentarem
osque
oAparelho
deEs-
tadocom
preendedois
corpos:ocorpo
dasinstituições
quer~resentll;m
oAparelho
re·pressivo
deEstado,
porum
lado,eocorpo
dasinstituições
querepresentam
ocorpo
dosAparelhos
Ideológicosde
Estado,por
outrolado.M
as,se
assimé,não
podemosdeixar
decolocara
questãoseguinte,m
esmonoestádio,
declasses
ultrapassalargam
enteestas
formas,
eé
porqueas
ultraopassaque
aluta
dasclasses
explora-das
podetam
bémexercer-se
nasform
asdos
AIE,
portantovirar
contraas
classesno
poderaarm
ada
ideologia.Eisto
emvirtude
dosegundo
princípio:aluta
declasses
ultra,passaos
AlE
porqueestá
enrai-zada
emqualquer
outraparte
quenão
naideologia,
nainfraestrutura,
nasrelações
deprodução
quesão
relaçõesde
exploraçãoeque
constituemabase
dasrelações
declasse.
51
muito
sumário,
dasnossas
indicações:qual
éexactam
enteamedida
dopapel
dosAparelhos
Ideológicosde
Estado?Qual
podeser
ofun-
damento
dasua
importância?
Noutros
termos,
aque
correspondea«função»
destesAparelhos
IdeológicosdeEstado,
quenão
funcionampela
repressão,mas
pela,ideologia?
52
SOBREA
REPRODUÇAODAS
RELAÇõESDE
PRODUÇAO
Podemos
rugoraresponder
ànossa
questãocentral
queperm
aneceuem
susrpensodurante
longaspáginas:
C01'nOéassegurada
areprodu-
çãodas
relaçõesde
proàfuçáAO?
Nalinguagem
datópica
(,infraestrutura,superestrutura),
diremos:
é,em
grande,parte
assegurada1pela
superestrutura,jurídicü;pO
lí-tica
eideológica.
Mas
vistoque
considerámos
dooispensávelultrapassar
estalinguagem
aindadescritiva,
1Em
grandeparte.
Porqueasrelações
deprodu-
çãosão
primeiro
reproduzidaspela
materialidade
doprocesso
deprodução
edo
processodecirculação.
Mas
nãosepode
esquecerque
asrelações
i<leo16gicasestãoimediatam
entepresentes
nestesmesm
osprocessos.
53
diremos:
é,em
grandeparte,
assegurndapelo
exercíciodo
poderde
Estadonos
Aparelhos
deEstado,no
A'Par~lho(~ressivo)
deEstado,
porum
lado,enos
Aparelhos
Ideológicosde
Estado,por
outrolado.
Poderemosagora
reuniroque
foidi,toante-riorm
entenos
trêssublinhadosseguintes:
1)Todos
osAparelhos
deEstado
funcio-nam
simultaneam
entepela
repressãoepela
ideologia,comadiferença
deque
oAparelho
(repressivo)de
Estadofunciona
demaneira
massivam
enteprevalente
pelarevressão,
en-quanto
osAparelhosIdeológicosde
EstadofUiD.-
cionamdemaneira
massivam
enteIPrevalente
pelaideologia.
2)Enquanto
oApareTho
(repressivo)de
Estadoconstitui
umtodo
organizadocujos
diferentesmembros
estãosubordinados
auma
unidadede
comando,
ada
políticada
lutadeclasses
rupHca-daIpelosrepresentantes
polí-t1cosdas
.classesdominantesque
detêmopoder
deEstado,-
osAparelhos
IdeológicosdeEs-
tadosão
múltiplos,
distintos,«relativam
enteautónom
os»e.susceptíveis
deoferecer
umcam
poobjectivo
acontradições
queex:prim
em,
54
sobform
asora
limitadas,
oraextrem
as,os
efeitosdoschoquesentrealuta
deol~capi-
talistaealuta
declasses
!proletária,assimcom
odassuas
formassubordinadas.
3)Enquanto
annidade
doAparelho
(re-pressivo)
deEstado
éassegurada
pelasua
organizaçãocentralizada
UJlificadasob
adirec-
çãodos
representantesdas
classesno
poder,exeeutando
a[políticade
lutade,classesdas
classesno
poder,-'aunidade
entreosdife-
rentesAparelhos
IdeológicosdeEstado
éasse-
gurada,namaioria
dasvezes
emform
ascon-
traditórias,pela
ideologiadom
inante,ada
classedom
inante.Tendo
emcom
taestascaracterísticas,
pode-mosentão
representarareprodução
dasrela-
çõesde
produção1da
maneira
seguinte,se-
gundoumaespécie
de«divisão
dotrabalho»:
opapel
doAparelho
repressivode
Estadoconsiste
essencialmente,enquanto
aparelhore-
pressivo,em
a.ssegurarpela
força(física
ou
1Naparte
dareprodução
paraque
contribuemo
Aparelho
repressivode
Estadoeos
Aparelhos
Ideoló-gicos
deEstado.
55
não)ascondições
políticasda
reproduçãodas
relaçõesdeprodução
quesão
emúltim
aanálise
relaçõesde
exploração.Não
sóoaparelho
deEstado
contribuilargam
entepara
sereprodu-
ziraelepróprio
(existemnoEstado
carpitalistadinastias
dehom
enspolíticos,
dinastiasdemi-
litares,etc.),m
astam
bémesobretudo,
oa.pa-
relhode
Estadoassegura
pelarepressão
(damais
brutalforça
físiJcaàssim
plesordens
einterditos
administrativos,
àcensura
abertaou
tácita,etc.),
ascondições
políticasdoexercício
dosAp:uelhos
Ideológicosde
Estado.São
estesde
factoque
asseguram,em
grandeparte,
aprópria
reproduçãodas
rela-ções
deprodução,
«escudados»no
aparelhorepressivo
deEstado.
Éaqui
quejoga
massi-
vamente
opapel
daideologia
dominante,
ada
classedom
inanteque
detémopoder
deEstado.
Épor
Intermédio
daideologia
domi-
nanteque
éassegurada
a«harm
onia»(por
vezesprecária)
entreoaparelho
repressivode
Estadoeos
Aparelhos
Ideológicosde
Es-tado,
eentre
osdiferentes
Aparelhos
Ideoló-gicos
deEstado.
Somos
assim,conduzidos
aencarar
ahipó-
teseseguinte,
emfunção
daprópria
diversidadedos
Aparelhos
Ideológicosde
Estadono
seu
56
papelúniICo,,porque
comum,dareprodução
dasrelações
deprodução.
Enumerám
osnas
formações
sociaiscapita-
lis-tas,contem
porâneas,um
número
relativa-mente
elevadode
arparelhosideológicos
deEstado:
oa"parelho
escolar,oa.parelho
reli-gioso,
oa,parelho
familiar,
oaparelho
político,oaparelho
sindical,oaparelho
deinform
ação,oa.parelho
«cultura!»,etc.
Ora,
nasform
açõessociais
domodo
deprodução
«sen)Q,gista»
(normalm
entedito
feu-dal),
observamos
que,se
existeum
aparelhorepressivo
deEstado
único,form
almente
muito
semelhante,
averdade
éque
nãosóapartir
daMonarquia
absoluta,com
oapartir
dosprim
ei-ros
Estadosantigos
conhecidos,ao
quenós
conhecemos,
onúm
erodos
aparelhosideológicos
deEstado
émenos
elevadoeasua
individuali-dade
diferente.Observam
ospor
exemplo
quena
IdadeMédia
aIgreja
(aparelhoideológico
deEstado
religioso)acum
ulavamuitas
dasfunções
hojeatribuídas
avários
aparelhosideológicos
deEstado
distintos,novos
emrelação
aopas-
sadoque
evocamos,
emparticular
funçõesesco-
lareseculturais.
Apar
daIgreja
existiao
Aparelho
Ideológicode
Estadofam
iliarque
desempenhava
ump8.ipelconsiderável
emcom
-
57
paraçãocom
oque
deseInilJenhahoje
lIlasfor-mações
sociaisc~italistas.
Apesar
das~_
cias,a19reja
eaFam
ílianão
erailllosúni.cosAiparelhos
IdeológicosdeEstado.
Existiatam
-bém
umAparelho
IdeológicodeEstado
político(as
Cortes,oParlam
ento,asdiferentes
facçõeseLigas
políticas,antepassados
dospartidos
po-lítilcos
modernos
etodo
osistem
aIPO
líticodasCoanunas
francase,depois,
dasCidades).
Exis-tiatam
bémum
poderoso.AJparelhoIdeológico
deEstado
«pré-sindical»,arriscalIldo
estaexpres-
sãoforçoslam
enteanacrónica
(aspoderosas
confrariasdos
mercados,
dosbalIlqueiros
etam
-bém
asassociações
doscom
panheiros,ete.).
AtéaEdição
eaInform
açãoconheceram
UiIn
desenvolvimento
incontestável,assim
comoos
eSlpectáculos,prim
eiro,parte
integranteda
Igrejaedepois
cadavez
mais
independootesdela.O
ra,no
períodohistórico
pré...c~italista,que
examin8Jm
osatraços
largos,éabsoluta-
mente
evidenteque
existiaum
Apa;relhoIdeo-
lógiaode
Estadoa.om
.inante)aIgreja)
queconcentrava
nãosó
asfunções
religiosasmas
também
escolares,eumaboa
partedas
fun-ções
deimorm
8JÇãoede
«cultUlI'a».N
ãoé[pO
r8Jcasoque
todaaluta
ideológicado
séculoXVI
58
aoséculo
XVIII,
a!partir
do!prim
eiroimpulso
dado,pela
Reforma,
seccm
centralIlum
aluta
antidericaleanti-religiosa;
lIlãoépor
acaso,éem
funçãoda
própria,posição
dominante
doAIparelho
Ideológicode
Estadoreligioso.
ARevolução
f.rancesateve
antesde
mais
porobjectivo
eresultado
fazerpassar
opoder
deEstado
daaristocraJCia
feudalpara
abur-
guesiacapitalista.,com
ereial,queb.rar
emparte
oantigo
a.pareI:horepressivodeEstado
esubs-
tituí-Io;por
umnovo
(ex.oExército
nacionalpopular)
,-mas
também
aJtacaro~are1ho
ideológicode
Estadon.o
1:a.Igreja.
Dai
aconstituição
civildo
clero,a.confis'cação
dosbens
daIgreja
eacriação
denovos
aparelhosideológicos
deEstado
parasubstituirem
o8.lpa-
relhoideológ1co
deEstado
religiosono
seup~el
dominante.
Naturalm
ente,ascoÍ8oo
nãoandaram
porsi:
comoprova,
temos
aConcordata,
aRestau-
raçãoealonga
lutadeclasses
entreaaristo-
craciafundiária
eaburguesia
industrialao
longode
todooséculo
XIX
rpeloestabeleci-
mento
dahegem
oniaburguesa
n8JSfunções
outroradesem
rpoohadaspela
Igreja:a"ntes
demais,
naEscola.
Podemos
dizerque
abu.rgue-
siase
apoiouno
novoa,parelho
ideológico
59
deEstado
político,dem
ocrático-parlamentar,
criadonos
rprimeiros
anosda
Revolução,em
seguidarestaurado
apóslongas
eviolen~
lu-tas,
durantealguns
meses
em1848,
edurante
dezenasde
anosa.pós
aqueda
doSegundo
Império,
afim
detravar
aluta
contraaIgreja
edese8Jpoderardas
fUtnçõesideológicas
desta,num
apalavra,
nãosó
paraassegurar
asUJa
hegemonia
política,mas
também
asua
hege-monia
ideológica,indispensável
àreprodução
dasrelações
deprodução
ca.pitalistas.ÊIporisso
quenos
julgamos
autorizadosa
avançaraTese
seguintecom
todosos
riscosque
issocom
porta:pensam
osque
oAparelho
IdeológicodeEstado
quefoi
colocadoem
,posi-ção
dominante
nasform
açõesc8Jpitalistas
ma-
duras,após
uma
violentaluta
declasses
políticaeideológica
contraoantigo
Aparelho
IdeológicodeEstado
dominante,
éoAparelho
Ideológicoescolar.
Estatese
podeparecer
paradoxal,seéver-
dadeque
paratoda
agente,
istoé,na
repre-sentação
ideológicaque
aburguesia
pretendedar
asiprópria
eàsclasses
queela
eXiplora,
pareceevidente
queoAparelho
Ideológicode
Estadodom
inantenas
formações
sociaisc3Jpi-
talistasnão
éaEscola,
mas
oAparelho
Ideo-
60
lógicode
Estadopolítico,
istoé,oregim
ede
democracia
Iparlamentar
nascidodo
sufrágiouniversal
edas
lutasdos
partidos.Eno
entanto,ahistória,
mesm
orecente,
mostra
queaburguesia
,pôdeepode
muito
bemviver
comAparelhos
IdeológicosdeEstado
políticosdiferentes
dadem
ocraciaparl3Jm
entar:oImpério,
n.O1en.O
2,aMonarquia
daCarta
(LuísXVIII
eCarlos
X),aMonarquia
parla-mentar
(LuísFilipe),
adem
ocraciapresiden-
cialista(de
Gaulle),
parasófalar
daFrança.
EmInglaterra,
ascoisas
sãoainda
mais
mani-
festas.Neste
paísaRevolução
foiparticular-
mente
bem«sucedida»
doponto
devista
burguês,visto
que,de
maneira
diferenteda
França,em
queaburguesia,
aliásdevido
àfalta
devisão
dapequena
nobreza,teve
deaceder
adeixar-se
levarao
poderàcusta
de«jornadas
revolucionárias»)cam
ponesaseple-
beias,que
lhecustaram
terrivelmente
caro,a
burguesiainglesa
conseguiu«com
por»com
aAristocracia
e«partilhar»
comela
adetenção
dopoder
deEstado
eautilização
do8Jparelho
deEstado
durantemuito
tempo
(pazentre
todosos
homens
deboa-vontade
dasclasses
dominantes!)
NaAlem
anhaas
coisassão
aindamais
manifestas,
vistoque
foisob
um
61
aparelllOideológico
deEstado
políticoem
queosJunkers
imperiais
(sÍtmboloBism
ark),oseu
exéreitoeasua
poli0ia,lhe
serviamdeescudo
ede
pesso.aldirigente,
queaburguesia
feza
suaentrada
estrondosana
históflÍa,antes
de«atravessar»
arepública
deWeim
arede
seconfiar
aonazism
o.Crem
osportanto
terfontes
razõespara
pen-sar
que,por
detrásdos
jogosdoseu
Aparelho
Ideológ1code
Estadopolítico,
queestava
àboca
decena,
oque
aburguesia
.crioucom
oAparelho
IdeológicodeEstado
n.O1,e
rportantodom
inante,foi
oaparelho
escolar,que
defacto
substituiunas
suasfunçÕ€s
oantigo
Aparelho
IdeológicodeEstado
dominante,
istoé,a
Igreja.Podem
osaté
acrescEntar:oduo
Escola-FamÍ-
hasubstituiu
oduo
Igreja-Família.
Porqueéque
oa;parelho
escolarédefado
o.3Jparelhoideológico
deEstado
dominante
nasform
açõessociais
crupita1istasecom
oéque
elefunciona?Por
agora,basta
dizer:
1.-Todos
osAparelhos
IdeológicosdeEs-
tado,sejam
elesquais
forem,concorrem
paraum
mesm
oresultado:
areprodução
dasrela-
62
çõesdeprodução,
istoé,das
relaçõesdeexplo-
raçãocrupitalistas.
2.-Cada
umdeles
concorrepara
esteresultado
únicodamaneira
quelhe
éprópria.
O3Jparelho
políticosujei·tando
osindivíduos
àideologia
políticadeEstado,
aideologia
«demo-
crática»,«indirecta»
(parlamentar)
ou«di-
recta»Cplebiseitária
oufascista).
Oaparelho
deinform
açãoembutindo,
atravésdaimprensa,
darádio,
datelevisão,
emtodos
os«cidadãos»,
dosesquotidianas
denacionalism
o,chauvi-
nismo,
liberalismo,
moralism
o,ete.
Omesm
oacontece
comoaparelho
,cultural(oprupeldo
desportono.chauvinism
oédeprim
eiraordem
),
etc.Oruparelho
religiosolem
brandonos
ser-mões
enoutras
grandescerim
óniasdo
Nasci-
mento,
doCasam
ento,da
Morte,
queohom
emnão
émais
quecinza,
anão
serque
saibaamar
osseus
-irmãos
atéaoponto
deoferecer
aface
esquerdaaquem
jáoesbofeteou
nadireita.
Oa,parelho
familiar
...,etc.
3.-OcOIllcertoé
dominado
porumaparti-
turaún1ca,
perturb3Jdade
quandoem
quandopor
contradições(as
dosrestos
dasantigas
classesdom
inantes,as
dosproletários
edas
63
suasorganizações):
a,partitura
daldeologia
daclasse
actualmente
dominante,
queintegra
nasua
mús1ca
osgrandes
temas
doHuma-
nismodos
Grandes
Antepassados,
quefizeram
antesdo
Cristianismo
oMilagre
grego,ede-
poisaGrandeza
deRom
a,aCidade
eterna,e
ostem
asdo
Interesse,particular
egeral,
etc.Nacionalism
o,moralism
oeeconom
ismo.
4.-Contudo,
nesteconcerto,
háum
Apa-
relhoIdeológko
deEstado
quedesem
penhaincontestavelm
enteopapel
dominante,
embora
nemsem
prese
prestemuita
atençãoàsua
mús1ca:
elaéde
talmaneira
silenciosa!Tra-
ta-seda
Escola.Desde
arpré-1prim
ária,aEscola
tomaaseu
cargotodas
ascrianças
detodas
ascJasses
sociais,eapartir
daPré-Prim
ária,inculca-
olhesdurante
MlOS,osanos
emque
acriança
estámais
«vulneráve!»,entalada
entreoapa-
relhodeEstado
familiar
eoaparelho
deEstado
Escola,«saberes
práticos»(des
«savoirfaire»)
envolvidosna
ideologiadom
inante(ofrancês,
ocálculo,
ahistória,
asciências,
aliteratura),
ousim
plesmente,
aideologia
dominante
noestado
puro(moral,
instruçãocívica,
filosofia).Algures,
porvolta
"0Sdezasseis
anos,uma
64
·I.~·~·.·O
~J11-~('fI
~I"I.11i4i
enormemassa
deQriam
çasüai«na
produção»:são
osOIperáriosou
ospequenos
camponeses.
Aoutr,a
parteda
juventudeeSicolarizávelcon-
tinua:eseja
comofor
fazum
troçodo
cami-
nhopara
cairsem
chegaraofim
epreencher
ospostos
dosquadros
médios
epequenos,
empregados,
pequenosemédios
funcionários,pequeno-burgueses
detoda
aespécie.
Uma
últimaparte
consegueaceder
aoscum
es,quer
paracair
nosem
i-desemprego
intelectual,quer
parafornecer,
alémdos
«intelectuaisdo
traba-lhador
colectivo»,os
agentesda
exploração,(capitalistas,
managers),
osagentes
darepres-
são(militares,
polícias,políti,cos,
administra-
dores)eosprofissionais
daideologia
(padresde
todaaespécie,
amaioria
dosqua,is
são«laicos»
convencidos).Cada
massa
quefica
pelocam
inhoestá
praticamente
recheadada
ideologiaque
con-vém
aopapel
queela
devedesem
penharna
sociedadedeclasses:
papeldeexplorado
(com<c(;onsciênciaprofissiona1»,
«mora!»,
«cívica»,<maJCional»e
apolíticaaltam
ente«desenvol-
vida»);papel
deagente
daexploração
(sabermandar
efalar
aosoperários:
as«relações
humanas»),
deagentes
darepressão
(sabermandar
eser
obedecido«sem
discussão»ou
65
sabermanejar
adem
8Jgogiada
retóricados
dirigentespolítkos),
ouprofissionais
daideo-
logia(que
s8Jibamtra"tar
asconsc,iências
comorespeito,
istoé,com
odesprezo,
achan-
tagem,adem
agog;i.aqueconvêm
,a.com
odadosàssubtilezas
daMoral,
daVirtude,
da«Trans-
cendência»,da
Nação,
dop8Jpelda
Fra"nçano
mundo,
etc.).l!:,claro,
grandenÚimero
destasVirtudes
contrastadas(modéstia,
resignação,subm
issão,ipor
umlado,
cinismo,
desprezo,altivez,
segu-rança,
categovia,'cap.acidade
parabem
-falare
habilidade)8Jprendem
-setam
bémnas
Famílias,
na"sIgrejas,na
Trop.a,nosLivros,
nosfilm
eseaté
nosestádios.
Masnenhum
Aparelho
Ideo-lógico
deEsta"do
diSipõedurante
tantotem
poda
audiênciaobrigatória
(eainda
porcim
agratuita
...),5a6dias
em7que
temasem
ana,àrazão
de8horas
pordia,
datotalidade
da"scTianças
daform
açãosocial
crupitalista.Ora,
éatravés
daaprendizagem
dea"lguns
saberespráticos
(savoir-faire)envolvidos
nainculcação
massiva
daideologia
daclasse
domi-
nante,que
sãoem
grandeparte
reproduzidasas
relaçõesde
produçãode
umaform
açãosocial
capItalista,isto
é,asrelações
deexplo-
radoscom
eXlploradores
edeeXiploradorescom
66
,t'tJIiIi§;,
explorados.Osmeclm
ismosque
reproduzemeste
resulta.dovital
paraoregim
ecapitalista
sãonaturalm
enteenvolvidos
edissim
uladospor
umaideologia
daEscola
unive~salmente
rei-nante,
vistoque
éumadas
formas
essenciaisda
ideologiaburguesa
dominante:
umaideolo-
giaquerepresenta
aEscola
comoum
meio
neutro,desprovido
deideologia
(vistoque...
lai.co),em
queos
mestres,
respeitososda
«consciência»eda
diberdade»das
criançasque
lhessão
confiadas(com
todaacon-
fiança)pelos
«pais»(os
quaissão
igual-mente
livres,isto
é,proprietários
dosfilhos)
osfazem
acederàliberdade,
àrnoralidade
eà
responsabilidadede
adultospelo
seupróprio
exemplo,
pelosconhecim
entos,pela
literaturaepelas
suasvirtudes
«libertadoras».Peço
desculpaaos
professoresque,
emcon-
diçõesterríveis,
tentamvolta:r
contraaideo-
logia,...:ontra
osistem
aecontra
aspráticas
emque
esteosencerra,
asarm
asque
podemencontrar
nahistória
eno
saberque
«ensi-nam
».Em
certamedida
sãoheróis.
Massão
raros,equa"ntos
(amaioria)
nãotêm
sequerum
vislumbre
dedúvida
quantoao
«trabalho»que
osistem
a(que
osultr3Jpassa
eesm
3Jga)os
obrigaafazer,
ipior,dedic3Jill-se
,inteira-
67
mente
eem
todaaconsciência
àrealização
dessetrabalho
(osfam
ososmétodos
novos!).Têm
tãopoucas
dúvidas,que
contribuematé
peloseu
devotamento
amanter
eaalim
entara
representaçãoideológica
daEscola
queatorna
hojetão
«natural»,indispensável-útil
eaté
benfazejaaos
nossoscontem
porâneos,quanto
aIgreja
era«natural»,
indispensávelegene-
rosapara
osnossooantepassadosdeháséculos.
Defacto,
aIgreja
hojefoi
substituídapela
Escolano
seupapel
deAparelho
Ideológicode
Estadodm
ninante.Está
emparelhada
comaFam
íliacom
ooutrora
aIgreja
oestava.
Podemos
entãoafirm
arque
acrise,
deuma
profundidadesem
precedentes,que
poresse
mundo
foraabala
osistem
aescolar
detan-
tosEstados,
muitas
vezesconjugadacom
uma
crise(já
anunciadano
Manifesto)
queS8JCode
osistem
afam
iliar,adquire
umsentido
polítko,seconsideram
osque
aEscola
(eopar
Escola--Fam
ília)constitui
oAparelho
Ideológicode
Estadodom
inante,Aparelho
quedesem
penhaum
papeldeterm
inantena
reproduçãodas
re-1açães
deprodução
deum
modo
deprodução
ameaçado
nasua
existênciapela
lutade
clas-sea
muudial.
68
APRO
PóSITODA
IDEOLOGIA
AoaV8mçarm
oso,conceito
deAparelho
Ideológi~ode
Estado,quando
dissemos
queos
AlE
«funcionavampela
,ideologia»,invocám
osumarealidade
sobreaqurul é
precisodiZ'er
umas
palavnas:
aideologia.
Sabe-seque
aexipressão:
aideolo,gia,
foiforjruda
porCabanis,
Destuut
deTracy
epelos
seusamigos,
quelhe
atribuírampor
objectoa
teoria(genética)
da,sideias.
Quando,
50anos
mruis
tarde,Marx
retomaoterm
o,dá-lhe,
apartir
dasObras
deJuventude,
umsentido
totalmente
diferente.Aideologia
passaentão
aser
osistem
adas
ideias,das
representações,que
domina°espírito
deUmhom
emou
deum
gruposocial.
Aluta
ideológko-politicaque
Marx
desencadeounos
seusartigos
daGazeta
Renana
depressaoconfrontariam
Icomesta
69
realidade,eobrigá-Io-iam
a341rofundaras
suasprim
eiras,intuições.
Noentam
to,depar.am
o-lIlosnesteponto
comum
paradoxoespantoso.
Tudoparecia
levarMarx
aform
ularumateoria
daideologia.
De
facto,a]dJeologia
Alemãoferece-nos,
antesdos
Manuscritos
de44,
umateoria
exlplícitada
ideologia,mas...não
émarxista
(eprová-lo-
-emos
embreve).
QUaillto
aoCapital)
secon-
témmui,tas
ind1caçãesipaTa
'UJIllateooi.a.das
,ideologias(a
mais
visível:aideologia
doseconom
istasvulgares),
nãocontém
propria-mente
estateorlÍa,
aqual
dependeem
grandeparte
deumateoria
daideologJia
emgeral.
Gostaria
de'correr
orisco
depropor
umesboço
esquemátioo
destateoria
daideologia
emgeral.
Asteses
deque
voupartir
nãosão,
éclaro,
improvisadas,
mas
sópodem
serde-
fendidaseex.perim
entadas,isto
é,iConfi~a;dasou
rectif1cadas,atr,avés
deestudos
eanáLises
a,profundados.
70
AIDEO
LOGIANÃO
TEMHISTóRIA
Primeiro
quetudo,
umaprulavra
paraeXipor
arazão
deprindpio
quemeparece,
senão
fundamentar,
pelomenos
a,utorizaroprojecto
deumateoria
daideologia
emgeral)
enão
ode
umateoria
dasideologias
parüculares,que
eXiprim
emsem
pre,seja
qualfor
asua
forma
(religiosa,moral,
jurídka,política),
posiçõesde
classe.Será
semdúvida
necessáriodesenvolver
umateoria
dasideologias
consideradasnoduplo
aspectoacim
aindicado.
Verem
osentão
queumateoria
dasideologias
repousaem
última
análisena
históriadas
formações
sociais,por-
tantona
dosmodos
deprodução
combinooos
nasform
açõessociais
eda
históriadas
lutasdeclasses
quenelas
sedesenvolvem
.Neste
sen-tido,
éela:ro
quenão
sepode
fOI11I1lularum
ateoria
da,sideologias
emgeral)
poisque
as
71
ideologias(definidas
sobadupla
relaçãoque
indicamos
acima:
regionalede
iclasse)têm
umahistória,
cujadeterm
inaçãoem
última
instânciaseencontra,
comoée~idente,
foradas
ideologiasem
sd.,embora
dizendo-Ihesres-
peit<;}oTodavia,
seposso
definiroprojecto
deuma
teoriada
ideologiaem
geral)eseesta
teoriaédefacto
umdos
elementos
deque
dependemas
teoriasdas
ideologias,isso
impLica
uma
proposiçãoaparentem
etllteparadoxal
queenun-
ciareinos
seguintesverm
os:aideologia
nãotem
história.Com
ose
s,abe,esta
fórmula
figuranum
apassagem
daIdeologia
Alemã.Marx
enuncia-aapropósito
dametafísica
que,segundo
diz,tal
,comoa
moral,
nãotem
história(subenten-
dido:easoutras
formas
daideologia).
Na
IdeologiaAlem
ã)esta
fórmula
figuranum
contextofrancam
entepositivista.
Aideo-
logiaéentão
concebidaeom
opura
ilusão,puro
sonho,isto
é,nada.
Todaasua
realidadeestá
foradesiprópria.
Épensada
comoumacons-
truçãoimaginária
cujoestatuto
éexactam
em.te
semelhante
aoestatuto
teóricodo
sonhonos
autoresanteriores
aFreud.
Paraestes
auto-res,
osonho
'eraoresultado
puramente
imagi-
72
nário,isto
é,nulo,de«resíduos
diurnos»,apre-
sentadosnum
acom
posiçãoenum
aordem
arbi-trárias,
porvezes
«invertidas»,num
apalavra,
«nadesordem
».Para
eles,oSOIIlhoera
oima-
gináriovazio
enulo
«eorn:struido»arbitraria-
mente,
aoacaso,CO
tmresíduos
daúnica
reali-dade
cheiaepositiva,
adodia.
Talé,na
Ideo-logia
Alemã)
oestatuto
exactoda
filosofiae
daideologia
CpoisquelIlesta
obraafilO
sofiaéaideologia
porexcelência).
Aideologia
,começa
porser,
segundoMarx,
umaconstrução
imaginária,
umpuro
sonho,vazio
evão,
,constituídopelos
«resíduosdiur-
nos»da
únicarealidade
plenaepositiva,
ada
históriaconcreta
dosindivíduos
concretos,materiais,
produzindomaterialm
enteasua
existência.Énesta
perspectivaque,
naIdeolo-
giaAlem
ã,aideologia
nãotem
história,dado
queasua
históriaestá
foradela,
estáonde
existeaúnica
históriapossível,
ados
indiví-duosconcretos,
etc.Na
IdeologiaAlem
ã)a
tesesegundo
aqual
aideologia
nãotem
his-tória
éportanto
umatese
purament1e
negativapois
quesignifica
simultaneam
ente:
1.-aideologia
nãoénada
ooquantopuro
sonho(fabricado
nãosesabe
porque
potên-
73
eia:sabe-se
.rupooasqueela
IProvémda
aliena-ção
dadivisão
dotrabalho,
oque
étam
bémumadeterm
inação'J'IAegativa)
•
2.-aideologia
nãotem
história,oque
nãoquer
demaneira
nenhumadizer
quenão
tenhahistória
(pelocontrário,
umavez
queéapenas
opál'ido
reflexo,vazio
einvertido,
dahistória
real),mas
elanão
Itemhistóm
aprópria.
Ora
atese
queeu
gostariade
derender,retom
aindoform
almente
osterm
osda
Ideolo-gia
Alemã
(<<aideologianão'tem
história»),éradicalm
entediferoote
datese
positivista--historicista
daIdeologia
Alemã.
Porque,por
umlado,
,creioIpodersustentar
queas
ideologiastêm
uma
históriaprópria
(embora
estahistória
sejadeterm
inadaem
últimainstâJllcia
pelaluta
de.classes);
e,por
outrolado,
queaideologia
emgeral
nãotem
história)não
numsentido
negativo(asua
his-tória
estáfora
dela)masnum
reIlitidoabsolu-
tamente
positivo.Este
sentidoé'positivo,
seéverdade
queé,próprio
daideologia
oser
dotadade
uma
estruturaede
umfuncionam
entotais,
quefazem
delaumarealidade
nãohistórica,
isto
74
é,omni-histórica,
IIlOsentidoem
queesta
estru-tura
eeste
funcionamento
estão,sob
uma
mesm
aform
a,imutável,
PI"eSootesnaquiloaque
secham
aahistória
inteira,no
sentidoem
queoManifesto
defineahistória
comoahistória
daluta
declasses,
istoé,história
dassocie-
dadesdJeclasses.
Paraforneceru:m
areferência
teórica,di-
rei,retom
ando°exem
plodo
sOIIlhoagora
naconcepção
freudiana,que
aproposição
enUlIl-
ciada:aideologia
nãotem
história,pode
edeve
(ede
umamaneira
quenão
temabsolu-
tamente
nadade
arbitrário,mas
queépelo
contrárioteoricam
entenecessária,
porqueexis-
teumaligação
orgânicaentre
asduas
pro-posições)
serposta
emrelaçãodirecta
coma
protposiçãodeFreud
segundoaqual
oincons-
cienteéeterno)
istoé,não
temhistória.
Seeterno
nãoquer
dizertram
scoodentea
todaahistória
(temporal)
mas
omnipresente,
trans-histárico,portanto
imutável
nasua
forma
aolongo
dahistória,
retomarei,
valavrapor
palavra,aexpressão
deFreud
edirei:
aideo-
logiaéeterna
comooinconsciente.
EaJCres-
centareique
estaaproX
limação
me
pareceteoricam
entejustificaJda
pelofaoto
deque
aeteI'lnidade
doincO
lIJ.lscientebemumacerta
75
relaçãocom
aeternidade
daideolo~ia
emgeral.Ê
assimque
mejul~
autorizado,pelo
menos
presuntivamente,
apropor
umateoria
daideologia
emgeral,
nosentido
emque
Freudform
ulouumateoI"ia
doinconsciente
emgeral.
Parasim
plificaraexpressão,
etoodo
emconta
oque
sedisse
sobreasideologias,
pas-sam
osaempregar
oterm
oideologia
pruradesignar
aideologlia
emgeral,
deque
disseque
nãotem
históriaou,
oque
éequivalente,
queéelerna,
istoéomnipresente,
sobasua
formaimutável,
emtoda
ahistória
(=histó-
riadas
formações
sociaiscom
preendendoclas-
sessociais).
ProvisoI1iamente,
limito-m
ede
factoàs«sociedades
declasses»
eàsua
história.
76
AIDEO
LOGIA
ÉUM
A((REPRESENTAÇÃO
))DA
RELAÇÃOIMAG
INARIADO
SINDIVIDUO
SCO
MAS
SUASCO
NDIÇõESDE
EXISTt:NCIA
Paraabordar
atese
centralsobre
aestru-
turaeofuncionllim
entodaideologia,
proponhoduas
<teses:umanegativa
eoutra
Ipositiva.Aprim
eirarefere-se
aoobjecto
queé«repre-
sentado»sob
aform
aimaginária
daideologia,
asegunda
refere-seàmaterialidade
daideo-
logia.Tese1:
Aideologia
representaarelação
imlliginária
dosindivíduos
comas
suascon-
diçõesreais
deexistência.
Deumamaneira
geral,diz-se
daideologia
religiosa,da
ideologiamoral,
daideologia
jurí-dica,
daideologia
política,etc.,
quesão
«con-cepções
domundo».
Eéclaro
queseadm
ite,amooos
quese
vivaumadestas
ideologias
77
camaaverdade
(,parexemplO
',sese«acreditar~
emDeus,
naDever
O'Una
Justiça,etc.),
quea
ideologiade
que~
falaentãO
'deum
pontO'
devista
crítica,aO
'exam
iná-Iacom
aum
etnó-lagO
'e~amina
asmitos
deuma«sociedooe
pri-mitiva»,
queestas
«'concepçõesdO'mundO
'»sãO
'nasua
grandeparte
imaginárias,
,istO'é,
1}ãa«carrespondentes
àrealidade».
ContudO',em
bonadinütindO
'queelas
nãO'
correspandemàrealidooe,
portantO'que
cans-tituem
umailusão,
admite-~
quefazem
alusãO'
àrealidade,
eque
basta«inte~retá-las»
parareencontrar,
sO'ba
suarepresentaçãO
'imaginá-
riadamundO
',aprópria
realidadedesse
mundO
'(idealagia
=ilusão/alusão).
E~istemdiferentes
üpasde
inte~retaçãa,das
quaisasmais
,canhecidassãO
'O'üpO
'meca-
nicista)corrente
naséculO
'XVIII
(Deus
éa
representaçãO'imaginária
daRei
'real),ea
interpretaçãO'«herm
enêutica»,inaugurada
pe-los
primeiros
PadresdaIgreja
evetam
adapar
Feuerbachepela
es,calateO'lógi,ca-filO
'sóficanele
inspirada,pO're~em
plO'O'teólogO
'Barth,etc.
(ParaFeuerbach,
pare~em
pla,Deus
éaessência
daHomem
real).Afirm
aaessencial
di~endaque,
sabacondiçãO
'deinterpretar
atransposiçãO
'(e
ainversãO
')imaginávia
da
78
ideolog,ia,chega-seà,conclusão
deque
naideo-
lagia«os
homens
serepresentam
sobuma
farmaimaginária
assuas
condiçõesde
e~is-tência
reais».Esta
inte11pretaçãadei~
,infeli~mente
emsuspelI1Saum
pequenaprablem
a:parque
«,pre-cisam
»as
homens
destatransp08'içãa
imagi-
náI'liadas
suascondições
,reaisde
e~istência,para
se«representarem
»assuas
candiçõesde
existênciareais?
Aprim
eiraresposta,
ada
séculO'XVIII,
propõeumasoluçãO
'simples:
acu1paédas
Padresedas
Déspotas.
Farameles
que«far-
jaram»as
BelasMentiras
paraque,
julgandO'
abedeceraDeus,
asham
ensabedecessem
defactO
'aospadres
auaas
Déspatas,
namaiar
:partedas
vezesaliadas
nasua
impostura,
asPa-
dresaoserviçO
'dosDéspatas
auvice-versa,
se-gundo
aspasições
palíticasdos
ditas«teóricos».
ExisteportantO
'umacausa
paraatranspasiçãa
imaginária
dascandições
deexistência
real:esta
causaéaexis,tência
deum
pequenogrupO
'de
hamens
cínicas,que
assentamasua
dami-
naçãO'e
asua
explaraçãada
«pava»num
arepresentaçãO
'falseada
damundO
'queinven-
tarampara
subjugarasespíritas,
dominando
aima,ginaçãa
destes.
79
Asegunda
reSlposta(adeFeuerba,ch,
reto-mada
apar
epasso
porMarx
nasObI1asde
Juventude)émais
«profunda»,isto
é,igual-
mente
falsa.Tam
bémela
procuraeencontra
umacausa
paraatransposição
epara
adefor-
mação
imaginária
dascondições
deexistência
reaisdos
homens,
numapalavra,
paraaaliena-
çãono
imaginádo
darepresentação
dascondi-
çõesde
existênciados
homens.
Estacausa
jánão
sãoosPadres
ouosDéspotas,
nemaima-
ginaçãoactiva
desteseaimaginação
passivadas
suasvít,im
as.Esta
eausaéaalienação
material
quereina
nascondições
deexistência
dospróprios
homens.
Êassim
que,na
Questão
Judaicaenoutros
escritos,Marx
defendea
ideiafeuerbachiana
segundoaqual
oshom
enssefazem
umarepresentação
alienada(=
ima-
ginária)das
suascondições
deexistência
por-que
estascondições
deexistência
sãoem
sialienantes
(nosManuscritos
de44:
porqueestas
condiçÕ€ssão
dominadas
pelaessência
dasociedade
alienada:o«trabalho
alienado»).Todas
estasinterpretações
tomam
portantoàletra
atese
quepressupõem
,eem
querepou-
sam,asaber,
queoque
éreflectido
narepre-
sentaçãoimaginária
domundo,
presentenum
a
80
ideologia,são
ascondições
deexistência
doshom
ens,,isto
é,oseu
mundo
real.Ora,
retomoaquú
umatese
quejáform
u-lei:
nãosão
as,condições
deexistência
reais,o
seumundo
real,que
«oshom
ens»«se
represen-tam
»na
ideologia,maséarelação
doshom
enscom
estascondições
deexistência
quelhes
érepresentruda
na'ideologia.
Êesta
relaçãoque
estánoc~m
trodetoda
arepresentação
ideoló-gica,
porta:ntoimaginária,
domundo
real.Ênesta
relaçãoque
estácontida
a«üausa»
quedeve
darconta
dadeform
açãoimaginária
darepresentação
ideológicado
mundo
real.Ou
melhor,
rparadeixa:r
emsuspenso
alinguagem
daica:usa,convém
formular
atese
segundoa
qualéanatureza
imaginária
destarelação
quefundam
entatoda
adeform
açãoimaginária
queseipode
observarem
todaaideologia
(semãoseviver
naverdade
desta).Falando
umaLinguagem
marxista,
seé
verdadeque
a,representação
dasIcondições
deexistência
realdos
ülJdividuosque
OCUP3JID
pos-tos
deagentes
daprodução,
daexploração,
darepressão,
daideologização,
daprática
cien-tifka,
relevaem
últimainstância
dasrelações
deprodução
edas
relaçõesderivadas
dasrela-
çõesde
produção,rpodem
osdizer
Oseguinte:
81
todaaideO
'logiarepresenba,nasua
defO'rmação
necess,ariamente
im~ginária,
nãoasrelações
de[produção
ex:istentes(easO'utras
relaçõesque
delasderivam
),mas
antesde
mais
arelação
(imaginária)
dos,indivíduos
comas
relaçõesdeprodução
e,com
asreLaçõesque
delasderi-
vam.Na!ideologia,
oque
érepresentado
nãO'
€osi,stem
adas
relaçõesreais
quegovel1nam
aexistência
dosindivíduos,
mas
arelaçãO
'ima-
gináriadestes
indivíduos,com
asrelações
reaisem
quevivem
.Se\lldo
assim,aquestão
da«causa»
dade-
formaçãO
'imaginária
dasrelações
reaisna
,ideologia,caJi[lor
,terra,edeve
sersubstituída
porumaoutra
questãO':ipO
'rqueéque
arepre-
sentaçãO'dada
aosindivíduos
dasua
relação(individual)
comasrelações
sociaisque
gover-nam
assuas
,condiçõesde
existênciaeasua
vida,coleertivae
individual,énecessariam
enteimaJginária?
Equal
éanatureza
desteima-
ginário?Assim
colocada,aquestão
eV3;0uaa
soluçãopeLa
«pandilha»(<<clique»)
1de
um
111:propositadam
enteque
emprego
esteterm
omuito
moderno,
Porquemesm
onos
meios
comunistas,
82
grupO'de
indivíduos(Padres
ouDéspotas)
autO'resda
grandemistificação
iÍdeológLca,asSiÍmcom
O'a
soluçãO'pelo
carkterali€lIladO
'domundO
'real.NO'prosseguim
entO'da
iIlossaexpO'-
siçãO'vam
osver
pO'l1quê.PO
'raJgüra,nãO
'ire~mos
mais
longe.Tese
II:Aideologia
temuma~istência
material.Já
aflO'rám
O'sesta
tesequandO
'dissérrlosque
as«1dieias»
üU«rCfPresentações»,etJc.,de
queparece
sercO!IllIpostaa
iÍdeologia,nãO'tinham
existênciaideal,
CiSlPiritiUal,mas
material.
Suge-rimos
queaexistênôia
ideal,eS[lLritual,
das«ideias»
relevavaex:clusivam
entedeumaideO
'-logia
da«ideia»
eda
ideologiae,acrescen-
temos,
deumaideolO
'giadO'que
rpareee«funda-
mentar»
estaiCollicerpçãO
'a[lartirdarupariçãO
'dasciências,
asruber,O
'que00práticos
das,ciências
sere[lresentam
,na
suaideolügia
cS[lOlltânea,
comO'«ideias»,
verdadeirasüU
falsas.ÉclarO
'que,
rupresentaJdasO'b'a
fO'rmadeumaafirm
a-çãO
',estatese
nãO'édem
OIlSitrada.A
ipenaspedi-
a«explicação»
deum
desviopolítico
(oportunismo
dedireita
oude
esquerda)pela
acçãode
uma«pandilha»
(<<clique»)éinfelizm
entecorrente.
83
mosque
llieseja
Iconcedtdo,emnom
edoma;De-
vialismo,um
preconceitofavorável.
DesenvoJ-
vimentos
muito
longosseriam
necessários:para
aSiU
ademonstração.
Atese
:presuntivada
existêncianão
oopiri-tual
masma;teI'Íal
das«ÍJdeias»ou
outras«re-
presentações»,é-tllosde
Ladonecessária
parawvançar
naanáLise
danatureza
daideologia.
Oumelhor,
é-nosútil
:paraescl3;I'ecer
oque
todaaanálise
sé.riade
umaideologia
mostra
imediatam
ente,eIl1ipirkam
ente,'atodo
oobser-
v8Jdormesm
opouco
critico.Dissem
os,ao
falardos
aparelhosideoló-
gicosdeEsta;do
edas
prá1Jitcasdestes,que
cooaum
delesera
acrealização
deumaideologia
(sendoaunidade
destasdiferentes
ideologiasregionais
-religiosa,
moral,
jurkLi:ca,(política,estética,
€tc.-assegurada
pelasua
subsun-ção
à'ideologia
dominante).
Retomamos
estatese:
umaideologia
existe,sem
prenum
a;pare-lho,
ena
suaprática
ousuas
práticas.Esta
existênciaématerial.
Êdaro
queaexistência
material
daideolo-
gianum
aparelhoenas
suas:práticas
nãopossui
amesm
amodalidooe
queae~istênüia
material
deumapedra
oude
umaespingarda.
Mas,
ecorrendo
orisco
denos
chamarem
n€o-aristo-
84
télicos(note-se
queMarx
tinhaAristóteles
emgrande
'conta),direm
osque
«amatéria
seàiz
emvários
sentidos»,ou
melhor
queela
existesob
diferentesmodalidades,
todasenrai-
zadasem
últimainstâneia
namatéria
«física».Dito
isto,vejam
osoque
sepassa
nos«indivíduos»
quevivem
naideologia,
istoé,
numaropresentação
domundo
determinada
(religiosa,moral,
etc.),cuja
deformação
ima-
gináriadepende
darelação
imaginária
destesindivíduos
comassuas
condiçõesdeexistência,
Íf,toé,em
últimainstâm
cia,comasrelações
deprodução
edeclasse
(ideologia=relação
ima-
gináriacom
relaçõesreais).
Direm
osque
estarelação
imaginária
éem
simesm
adotada
deumaexistência
mate!1Íal.
Oraverificam
ososeguinte:
Umindivíduo
crêem
Deus,
ouno
Dever,
ouna
Justiça,etc.
Estacrença
releva(para
todososque
vivemInum
a'representação
ideo-lógka
daideologia,
quereduz
aideologia
aideias
dotadaspor
definiçãodee~istência
espi-ritual)
dasideias
dessemesm
oindividuo,
por-tanto
dele,com
osujeito
possuindoumacons-
ciênciana
qualestão
contidasas
ideiasda
suacrença.
Através
dodispositivo
«concerptual»perfeitam
enteideológico
assimestabelecido
85
(umsuj<lito
dotadodeumaconsciência
emque
fo~malirvrem
ente,oureconhece
livremente,
asideias
emque
crê),ocom
pomamento
(material)
dodito
sujeitodecorre
naturalmente.
O,indivíduo
em,questão
conduz-sedesta
oudaquela
mameira,
adOlpta
esteou
ruquelecom
-portrum
ento(prático
e,oque
éma~s,iParbidpa
emcertas
prátLcasreguladas,
quesão
asdoapa-
relhoideológi'co
deque
«dependem»asideirus
queenquanto
sujeitoescolheu
livremente,
cons-cientem
ente.Secrê
emDeus,vai
àIgreja
paraassistir
àMissa,
ajoelha-se,reza,
confeSlSa-se,faz
penitência(antigM
IlJent<lestaera
material
nosentido
correntedo
teNllo)
enaturalm
entearrepende-se,
econtinua,
etC.Secrê
noDever,
terácom
portamentos
,correspondentes,inscritos
nasprática,s
rituais,«,conform
esaosbons
costu-mes».
S'ecrê
naJustiça,
subme1er-se-á
semdiscussão
àsregras
doDireito,
epoderá
rutéprort€sltar
quamdo
estassão
v,iolrudas,russinarpetições,
tomar
ipartenum
amanifestação,
e1lc.Em
tOldoeste
esquemaverificam
os,portanto
que:arepresentação
ideológicada
~deologiaé
obrigadaareconhecer
quetodo
o«sujeito»,
dotadode
uma«,consciência»
ecrendo
nas«ideüas»
queasua
«:consciência»lhe
inspirae
queaceita
livremente,
deve«agir
segundoas
86
II-~I'"1.,.
suasideias»,
deverportanto
inscrevernos
actosdasua
prátilcamaterÍailas
suasprqprias
ideiasdesujeito
,Livre.Se01não
faz,«as
coisasnão
estãobem
».Defacto,
senão
fazoque
deveriafazer
emfunção
daquiloem
querucredJita, é
ipOTque
fazoutra
coisa,oque,
sempre
emfunção
domesm
o:esquem
aideaJista,
dáaentender
quetem
ideiasdiferootes
dasque
proclruma,e
queage
segundoessas
outrasideias,
comohom
emquer
dnconsequente»(<<ninguém
émau
volun-tariam
ente»),quercÍillÍICo
ouperverso.
EmquaLquerdoIS,casos,a
ideologiadaá.deo-
logiareconhece
portanto,apesar
dasua
defor-mação
imaginária,
queas«ideias»
deum
sujeitohum
anoexistem
nosseulSalCtos,ou
devemexis-
tirnos
seus:tctos,
ese,isto
nãowcnntece,em
-presta-lhe
outras1deias
correspondentesaos
aJctos(mesm
opervem
os)que
elerealiza.
Estaideologi,a
falados
·actos:nós
falaremos
deactos
inseridosem
práticas.Efarem
osnotar
queestas
IpráticaJssão
reguladaspor
rituaisem
queelas
seinscrevem
,noseio
daexistência
material
deum
aparelhoideológico)m
esmo
quesetrate
deumaipequenísSlÍm
a:partedeste
alParelho:umamissa
poucofrequentruda
nUlffia
crupela,um
enterro,'UmpeqU
i€lIlOdesalfiode
87
fuItebolnumasooiedade
desportiva,um
d~ade
aulasnum
aescO
ila,uma'I1tm
niãoouum
meeting
deum
partidopolítico,
eW.
Devem
osà«dia1O
Ot~ca»defem
sivadePascal
amaravilhosa
fórmula
quenos
vaiÍperm
itirinverter
aordem
doesquem
anocional
daideo-
logia.Pl8,SlcaldÍQ
';aproximadam
enteoseguinte:
«Ajoelhai-iV
os,mexei
oslábios
comosefOSlSeis
rezar,esereis
crentes».Inverte
portantoescam
-dalosarnente
aordem
dascoisas,
trazendo,com
oCrÍlSto,não
arpaz,m
asadivisão,
eaLém
disso,oque
émuito
poucocristão
('porque3:idaquele
queprovoca
escâruialo!),oescândalo.
Bem-
-aventuradoescândalo
que,'por
desafiojan-
senista,oleva
afalar
umaLinguagem
quedesigna
aTealidade
em/pessoa,
Vamos
deixarPascal
aosseus
argumentos
deluta
ideológkano
seiodo
aparelhoideoló-
gicode
mstrudo
reLigiosodo
seutOO'lrpo.Reto-
marem
osumaHIIl@
U8<gemm
aisdirectam
entemarxista,
sepuderm
os,rpoisentram
osem
domí-
niosainda
malexplorados.
Direm
osportanto,
,considerandoarpenrusum
sujeito(tal
indivíduo),que
taexistência
da::;ideirus
dasua
,crençaématerial,
porquerus
suasidcias
sãoados
materiais
i1'Weridosem
88
tII
práticasmateri.ati8,
regulaiUls
parritu.w
ismate-
riaisque
sootam
bémde/i'Yllido8
peloaparelho
ideológicomaterial
deque
relevam00
ideia8desse
sujeito.o,squaItroadjectivos
«materiais~
Ílnsoritosnanossa
rprÜlposiçãodevem
serafecta-
dosdemodalidades
diferentes:amaterialidade
deumadeslocação
para~ràmissa,
deum
ajoelhar,de
umgesto
desinal
daoruz
oude
mea
culpa,de
UJInafI'lase,de
umaoração,
deuma,contrição,de
umapenitência,
deum
olhar,de
umaperto
demão,
deum
dis~ursoiVerbal
ex'temoou
deum
d~ursoverball
«'interno»(a
consciência)não
éumaúnica
emesm
amateria1idade.
Deixam
osem
suspensoateoria
dadiferença
dasmodalidades
damaterialidade.
N~ta
apresentaçãoIÍnverlida
dascoisas,
nãoestam
oslperam
teuma
«inversão»,pois
const3Jtlamosque
a;lgumas
:noçõesdeS3jparece-
rampura
esim
plesmente
danossa
iI10IVaaJPre-
sentação,enquanto
outrassubs,iatem
enovos
termos
3Jparecem.
Desapareceu:
oterm
oideias.
Subsistem:os,term
ossujeito,
cornseiência)crença,
aotos.AJparecem
:osterm
ospráticas)
rituais,apa-
relhoideológico.
89
Não
se!trata
portMlJto
deumainversão
(salvo.no
sentidoem
quesediz
que111m,go-
vermoou
umcapo
foramderrubados
[renver-sés]
),mas
deumarem
odelação(de
tiponão
ministerial)
ibastamteestI1am
ha,dadoque
obte-mososeguJ1nteresult8ido:
Asideias
desa'Pareceramenquam
totais
(enquantodotadas
deumae~istência
ideal,espiritual),
named,ida
emque
f:lcouclaro
queaexistêncIa
destasselinscreY
1ianosactos
daspráticas
reguladas,pelos
rituaisdef,inidos
emúltim
ainstância
IporUtIllalParellio
ideológico.Surge
assimque
osujeito
ageenqu8m
Jtoé
agidopelo
seguintesistem
a(enunciado
nasua
oroemde
determina.ção
real):ideologia
exis-tindo
numaparelho
'ideológicoma;terirul,pres-
crevendop.rM
ic8JSmateriais,
reguladaspor
umrutual
mruteI1ial,as
quais(práticas)
existemnos
actosmaJteriais
deum
sujeitorugindo
emconsciência
segundo,asua
crença.~as
estaapresentação
~ostraque
,conser-vám
osasInoçõesseguintes:
sujeito,consciência,
crença,actos.
Desta
sequência,extraím
osjá
oterm
o,central,
decisivo,deque
tudodepende:
aInoção
de~m
jeito.
90
Eenunoi'am
osentão
asduas
tesescon-
juntas:
1-Só
existeIPrátlea
atravésesob
uma
~deologia;2-Só
existe,ideoJogia
atravésdo
sujeitoepara
sujeitos.
Podemos
agoraregressar
ànossa
tesecentral.
91
AIDEO
LOGIA
INTERPELAOS
INDIVíDUOS
COMO
SUJEITOS
Estatese
seTVepara
eXip1icitar
anossa
últimaproposição:
sóexiste
ideologiapelo
sujeitoepara
sujei,tos.Entenda-se:
sóexiste
ideologiapaJ'a
sujeitosconcretos,
eesta
desti-nação
daideologia
sóépossível
pelosujeito:
entenda-se,pela
categoriade
sujeitoepelo
seufuncionam
ento.Com
,istopretendem
osdizer
que,mesm
oque
elasóapareça
sobesta
denominação
(osujeito)
aquandodainstauração
daideologi'aburguesa,
esobretudo
aquandoda
instauraçãoda
ideo-logia
jurídica\acategoria
desujeito
'(que
1Que
tomaa.categoria
juridicade
«sujeitode
direito»para
fazerdela
umanoção
ideológica:oho-
mem
épor
naturezaum
sujeito.
93
podefuncionar
sobOIUtvasdenom
inações:par
exemplü
emPl3Jtãü,
aalm
a,Deus,
ebc.)éa
eategorra,cün'Sltitutivade
tüdaaideülO
lg,ia,sejaqual
foradetellm
inaçãüdesta
(regionalou
declasse)
eseja
qual[ar
asua
datahistó-
rka-dado
queaideologia
nãotem
história.Dizem
üS:raC3Jtegüria
.desujeitoé'Constitu-
tivadetoda
a,ideola~ia,m
asaümesm
ütem
poeimediatam
enterucresc€II1Jtam
osqueacate-
goriade
sujeitosó
éconstitrutiva
detoda
aideologia)
namediàa
emque
todaaideologia
tempar
função(que
adeji'Y/Je)«constituir»
üSi'YIJdivíduosconcretos
emsujeitos.
Éneste
jogodeduplacolI),sU
tuiçãoque
cOll.&
iste 01fUiOJciona-
mento
detoda
aideülogia,
!poisqueaideolog;ia
nãoémais
queoseu
prÓlIJriüfU
llIcionamerntü
nasform
a:smruteriais
daexJistêrnoiadeste
futll-cijünam
ento.Para
secom
preenderbem
01quesegue,
con-vém
sublinharque
tantüaautor
destaslinhas,
camüoleitür,
sãosujeitas,
rportantüSlU
jeitosideológi'cas
(prOlposição
tautOllógica),
istüé,
quea3Jutorcom
ü01leitor
,desta:slirnhasv,ivem
«eSIPontaneamente»
üu«rnaturalm
ente»naideo-
log,ia,no
sentidüem
quedissém
asque
«oham
emépar
naturezaum
anianalideológica».
94
Queoautor,
enquantoescreve
estaslinhas
deum
discursoque
sepretente
.científilca,es.tejacom
pletamente
auselllte,,com
o«sujeito»,
do«seu»
discursrOcierntíficü
Crporquetodoadis-
cursorCicntífico
épor
def,iniçãoum
discursosem
sujerito;não
existe«Sujeito
da,ciência»
anão
sernum
aideologia
daciência)
,éoutra
questãoque
poragara
deixaremos
delado.
COlmodizi,a
admiraveLm
enteS.Paula,
éno
«Lagos»(entenda-se:
naideülo~ia),
quetem
os«oser,
omovim
entoeavida».
Segue-seque
paravocê
(leitor),rcom
a'paramim,a
categoriadesujeito
éuma«evidêrnóa»
primeira
(asevi-
dênciassãa
sernpre,prim
eiras):é
claroque
euevocê
somos
sujeitos(1.ivres,m
orais,et:c.).
Camatodas
asevidênaias,
incluindoas
quefazem
comque
uma!palavra
«designeuma
coisaȟu
«possuaumasignifi:cação»
(portantüincluindü
,aiSevidêrnciasda
«trans'parência»da
linguagem),esta
«evidência»deque
euevocê
somos
sujeitos-eque
essefacto
nãüconsti-
tUliprablem
a-érum
efeitoideológ1co,a
efeitüideológicü
elementar
15.Aliás,
épróprio
daideo-
15Oslinguistas
eosque,
paradiversos
fins,uti-
lizamalinguística,
deparam-se
comdificuldades
que
95
logiaimpor
(semoparecer,
(poisquesetrata
de«evidências»)
'asevidêlllCiascomoevidências,
quenão
podemos
deixarde
reconhecer,e
perMlJte
aSquais
temos
ainevitável
reacçãode
ex:elamarm
os(€IIllvoz
altaou
no«silêncio
daconsciência»):
«éevidoote!
Éissp!
Não
hádúvida!»Nestia
reacçãoexem
e-seafunção
dere-
conhecimento
ideológkoque
éumadas
duasfunções
daideo.logia
comotal
(sendooseu
inversoafunção
dedescornheG
imento).
Dando
umexem
ploaltam
ente«Iconcreto»,
todosnós
temosamigos
que,quandonos
batemàporta,
equando
dedentro,
atravésda
portafoohada,
rperguntamos:
«quemé?»,
reSlpondem(pois
«éevidoote»)
«'soueu!».D
efado,
reco-nhecem
osque
«éela»
ouque
«éele».A
brim2s
aporta
e«realm
enteera
mesm
oela».
Dando
outroexem
plo,quando
reconhecemos
narua
alguémdonosso
(re)lconhecimento,
mostram
osque
oreconhecem
os(eque
reconhecemos
queele
nosreconheceu)
dizendo-lhe«olá»
eaper-
provêmdo
factode
desconheceremojogo
dosefeitos
ideológicosem
todososdiscursos
-inclusive
nospró-
priosdiscursos
científicos.96
tando-lheamão
(práticairitual
material
doreconhecim
entoideológico
dav,ida
quotidiana,pelo
menos
emFrança:
noutrasparagens,
outrosrituais).
Comesta
nota[prévia
eestas
üustraçõesconcretas,
pretendallApenasfazer
notarque
euevocê
(leitor)som
ossem
prejá
Isujeitose,
comotais,
praticamos
ininterruptamente
osrHuais
doreconhecim
entoideológico,
quenos
garantemque
somos
efectivamente
Slujeitosconcretos,
individuais,inconfundíveis
e(natu-
ralmente)
insubstituÍveis.Oacto
deescrever
aque
actualmente
procedoealeitura
aque
vocêactualm
entesededica
1são,
também
doponta
devista
destarelaçãO
',rituais
doreconheci-
mento
ideológico,incluim
oa«evidêIliCia»com
aqual
selhe
podeimpor
(avocê)
a«verdade»
ouo«erro»
dasminhas
reflexões.Masoreconhecim
entodeque
somossujeitos
eque
funcionamos
nosrituais
práticosdavida
1Notar:
esteduplo
actualmente
provamais
uma
vezque
aideologia
é«eterna»,
dadoque
estesdois
«actualmente»
estãoseparados
porum
intervalode
tempo;
escrevoestas
linhasa6de
Abril
de1969,
eelas
serãolidas
mais
tarde,num
aépoca
indetermi-
nável.
97
quotidiana.mais
elementar
(B!pertode
mão,
ofa..cto
devocê
terum
nome,ofacto
desaber,
mesm
oseoignoro,
quevocê
«tem»um
'Il0illleprópdo,
queofaz
serreconhecido
comosujeito
único,etc.)
dá-nosaJpeI1asa
«consoiência»da
nossaprática
incessaillite(eterna)
doreconhe-
cimento
ideológico,-asua
consciência,isto
é,oseu
reconhecimento}
-mas
demaneira
ne-nhum
anos
dáoconhecim
ento(científico)
domecanism
odeste
reconhecimento.
Oraéaeste
conhecimento
queépreciso
chegar,sequiser-
mos,
embora
falandona
ideologiaedoseio
daideologia,
esboç,arum
discursoque
tenterom
-per
comaideologia
paracorrer
orisco
deser
ocom
eçodeum
discursocientífico
(semsujeito)
sobreaideologia.
Portanto,para
representarporque
éque
acategoria
desujeito
é,constitutiva
daideolo-
gia,que
sóexiste
pela,constituição
dossujeitos
concretosem
sujeitos,vou
empregar
ummodo
deexposição
partkular:suficientem
ente«con-
creto»para
queseja
re,conhecido,mas
sufi-cientem
enteabstracto
paraque
sejape:nsável
epens3Jdo,dando
lugaraum
conhecimento.
Direi
numaprim
eimfórm
ula:toda
aideo-
logiainterpela
08indivíduos
concretoscom
o
98
t".~.ªFt"
8Ujeit08
concretos}pelofuncionam
entodacate-
goriade
sujeito.Aqui
estáuma,proposição
queimplica
quedistingam
o!';,,poragora,osindivíduos
concretos(pO
rumlado,
eossujeitos
COIliCretospor
outro,embora
aeste
nívelosujeito
COllicretosó
possaexistir
assentenum
indivíduoCOIliCreto.
Sugerimos
entãoque
aideologi'a
«3Jge»ou«funciona»
debalform
aque
«re,cruta»sujeitos
entreos
indivíduos(recruta-os
atodos),
ou«transform
a»osindivÍJduosem
sujeitos(trans-
forma-os
atodos)
poresta
operaçãomuito
precisaaque
chamamos
ainterpelação}
quepodem
osrepresentar-nos
combase
notipo
damais
banalinterpelação
polkial(ou
não)de
todos08dias:
«Eh!você»
1.
Sesupuserm
osque
acena
teóricaimagi-
nadasepassa
narua,
oindivíduo
interpelado'Volta-se.Por
estasim
ples,conversão
físicade
180graus,
torna-sesujeito.
Porquê?Porque
reconheceuque
ainterpelação
sedirigia
«efecti-
1Ainterpelação,
práticaquotidiana
submetida
aum
ritualpreciso,
adquireumaform
amuito
«especial»na
práticapolicial
da«interpelação»,
naqual
oque
estâem
causaéainterpelação
de«suspeitos».
99
VamJJente»a
ele,eque
«erade
factoele
queera
interpelado»(enão
outro).AexiPeriência
provaque
astelecom
unicaçõespráticas
daintEm
pelaçãosão
detal
maneira
que,'pratica-
mente,
a,inteI'IPelação
l1llJIlicafalha18.pessoa
visada:cham
amento
verbal,assobio,
ointer-
pela.doreconhece
8ellliPreque
eraaele
queiÍnterpela;vam
.Fenómeno
estranho,que
8lpes,ardo
gran~núm
erodos
que«têm
aCOQ1SlCiên-
ciatrlllnquila»,
nãose
explicaapenas
pelo«sentim
entode
culpabilidade».Naturalm
ente,para
comodidade
eclareza
daeXiposiçãodo
nossopequeno
teatroteórico,
somos
obrigadosa8lpresentar
ascoisas
dentrode
umasequênoia,
comum
anteseum
depoús,portanto
dentrode
umasucessão
temporal.
Indivíduospasseiam
.Algures
(normalm
entenas
costasdestes)
ouve-seainterpelação:
«Eh!Pst!».
Umindivíduo
(90%das
ve~éocha-
mado)
volta-se,crendo-desconfiando-<Sabeooo
queéaele
quecham
am,portanto
reconhecendoque
«éefectiV
MIlente
ele»que
évisado
pelainteIlpelação.
Mas,
narealidrude,
ascoisas
passam~
semamínim
asucessão.
Aexistên-
ciadaideologi,a
ealinterpelação
dos,indivLduO
'Scom
osujeitos
sãoumaúnÍlCae
mesm
acoisa.
Podemos
acrescentar:oque
assimparece
100
tiI'§!
:passar-sefora
daideologia
(muito
precisa-meIllte,na
rua)pltssa-se
defacto
naideologia.
Oque
sepassa
defacto
naideologia
pareceporbLnto
pa.ssar..,seforadela.
Êpor
issoque
aquelesque
estãona
.ideolo~iasejulgam
pordefinição
foradela:
umdos
efeitosda
ideolo-gia
éadencgação
,práticadocarácter
ideológicoda
ideollogia,pelaideologia:
aideologia
nuncadiz
«'soutdeológüca».Ê
predsoestar
forada
,ideologia,,i'sto
é,no
Iconhecimentocientífko,
parapoder
dizer:estou
naideologia
(casoexcepcional)
ou('caso
geral):estava
naideo-
logia.Êsabido
queaa,cusação
deseestar
naideologia
sóéfeita
l1elativamente
aoSoutros,
enunca
relativamente
aopróprio
(amenos
quese
sejaverdadei11am
enteSlpinoZÍ'staou
mar-
xista,oque
'nesteponto
correspondeexltcta-
mente
àmesm
a'posição).
Oque
equivalea
dizerque
aideologia
nãotem
:exterior(aela),
mas
aomesm
otem
poque
éapenas
exterior(para
'aJCiê,nciae
paraarealiidade).
Duzentos
anosantes
deMarx,
SpinozaeXipli,cou
pel1feitamente
e!staquestão;
Marx
praUcou-a,
massem
aeXiplicar
pormenorizada-
mente.
Mas
deixemos
esteponto,
noentanto
pesadode,consequências
nãosóteóricals
'como
direct.amente
políticrus,dadoque,por
exemplo,
101
todaateoria
dacritica
edaautocritJica,
regrad~
ouroda
!práticada
lutade
classesmar-
XIsba-Ieninista,
deledepende.
Portantoaideologia
inteI1pelaos
indivi-duos
comosujeitos.
Comoaideologia
éeterna,
vamos
suprimiraform
ada
temporalidade
naqual
representámos
ofunoionaJID
entodaideolo-
giaeafirm
ar:aideologia
seIDipre-já
,interpelouos
indivíduoslCom
osujeitos,oque
nosleva
aprecisar
queos
individuossão
sempre-já
lintenpeladoslpelaideologia
comosujeitos,
enos
conduznecessariam
enteaumaúltim
apropo-
sição:os
indivíduossão
sempre-já
sujeitos.Portanto,
Osindivíduos
são«abstractos»
rela-tivam
oote'aos
sujeitosque
sempre-já
são.Esta
!proposiçãopode
parecerrum
par8Jdoxo.Que
umindivíduo
sejasem
pre-jásujeito,
mesm
oMltes
denascer,
énoentanto
asim
plesrealidade,
acessívela,c'adaum
e,de
maneira
:nenhuma,um
paradoxo.Quando
sub.linhouo
lI'itualoideológi,codeque
serodeia
aex,pe:ctativa
deum
«nasoimento»,
esse«wcontecim
entofeliz»,
iFreudmostrou
queos
individuossão
sempre
«abstractos»relativam
enteaos
.sujeitosque
elessão
se~pre-ji.Todos
sabemos
quantoe
comoumaiCriooça
que'Vainascer
éesperada.
Oque
equi'valeadizer
muito
prosruicamente,
102
sepuserm
osdelado
os«sentim
entos»,isto
é,asform
asda
ideologiafam
iLiar,IpaJternal/m
a-tem
al/conjugal/fraternal,nas
quaisacI'IÍança
quevai
nasceréesperada:
estápreviam
enteestabelecido
queterá
oNomedo
Pai,terá
portantoumaidoobidade,e
seráiJnsubstituíve1.
Antes
denascer,
acriooça
éportanto
sem-
pre-jásujeito,
designadoasê-Ia
naepela
con-figuração
ideológicafam
iliarespedfJca
emque
é«esper8Jda»
d€IPoisdeter
sidoconcebida.
Éinútil
dizerque
estaconfiguração
ideológicafam
iliaré,na
suauniddade,
fortemente
estru-turada,
eque
énesta
estruturaimplacável
mais
oumenos
«patológica»(sUipO
ndoque
este,term
otem
umsentido
adequado),que
oootigo
futuro-sujeitodeve
«encontrar»o«seu»
lugar,isto
é,«tornar-se»
osujeito
sexual(rapaz
our8.lpariga)
quejá
éIPrevia-m
ente.Com
preende-seque
estapressão
(contrainte)eesta
pré-designaçãoideológi,ca,
etodos
osriÍtuais
dacriação
emais
tardeda
eduC'açãofam
iliares,têm
umareLação
comoque
Freudestudou
nasform
asdas
«etapas»pré.,genitais
egenitais
dasexualJid8Jde,portanto
naquiloque
Freuddefiniu,
[pelosseus
efeJtos,com
osendo
oincO
iIlsciente.103
Vamosdar
mais
um'passo.O
quevai
agoraoCU
iParanossa
atençãoéamam.eira
comoos
«8Jctores»desta
encenaçãoda
intel'lPelaçãoeos
seusrespectivos
p8Jpeissãoreflectidos
napró-
priaestrutura
de·toda
equalquer
ideologia.
101,
UMEXEM
PLO:A
IDEOLOGIA
RELIGIOSA
CRISTA
Como·aestrutura
formal
dequalquer
ideo-logia
ésem
preame1sm
a,vamos
contentar-lIlos!Com
.8Jnalisarumúnico
exemplo,
acessí,vela
tOldos,o
da,ideologiareH
giosa,rpreCÍ's8Jlldoque
am.esm
adem
onstr8Jçãopode
serreproduzida
apropósito
daideologia
moral,
jurídica,paU
-tic,a,
estétiJca,ete.
Consideremos
port8Jlltoa,ideolo~ia
rel1giosaclIhlltã.V
amos
empregar
umafigura
deretó-riocae
«fazê-IaIf,alar»,isto
é,reunir
numdiS'-
cursoficH
cioo,que
ela«diz»
nãosóIIlO
sseusTest'8Jm
entos,nosIseus
teólogos,nos
seusSer-
mões,
m8JSt8JID
bémnassuas
práticrus,nosseus
'rituais,nas
suas.cerim
óni8JSenos
seussacr8J-
mentos.
Aideolo~iareH
giosacrilstã
dizmais
oumenos
isto.
105