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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA NACIONAL ESCOLA DE GESTORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PÚBLICA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA CECOP 3 MAVIÔNE SILVA DO NASCIMENTO CAMPOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NO ENSINO FUNDAMENTAL II: INCLUÍDOS OU INTEGRADOS? SALVADOR 2015

ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NO ENSINO FUNDAMENTAL II: …coordenacaoescolagestores.mec.gov.br/ufba/file.php/1/Midiateca_T… · sejam realizadas, no primeiro semestre do ano de 2016,

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA NACIONAL ESCOLA DE GESTORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PÚBLICA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA – CECOP 3

MAVIÔNE SILVA DO NASCIMENTO CAMPOS

ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NO ENSINO FUNDAMENTAL

II: INCLUÍDOS OU INTEGRADOS?

SALVADOR

2015

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MAVIÔNE SILVA DO NASCIMENTO CAMPOS

ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NO ENSINO FUNDAMENTAL

II: INCLUÍDOS OU INTEGRADOS?

Projeto Vivencial apresentado ao Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica Pública, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, como requisito para a obtenção do grau de Especialista em Coordenação Pedagógica. Orientadora: Prof. Lítsia Coelho C. da Fonseca

SALVADOR

2015

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MAVIÔNE SILVA DO NASCIMENTO CAMPOS

ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NO ENSINO FUNDAMENTAL

II: INCLUÍDOS OU INTEGRADOS?

Projeto Vivencial apresentado como requisito para a obtenção do grau de

Especialista em Coordenação Pedagógica pelo Programa Nacional Escola de

Gestores, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia.

Aprovado em janeiro de 2016.

Banca Examinadora

Primeiro Avaliador.____________________________________________________

Segundo Avaliador. ___________________________________________________

Terceiro Avaliador. ____________________________________________________

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A

Todos os admiráveis alunos com deficiência que

com sua simplicidade tanto tem a nos ensinar.

(Maviône Campos)

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AGRADECIMENTOS

A Deus, meu mestre por excelência, pela extrema fidelidade diante da minha

pequena fé e por me permitir chegar tão longe.

A meu esposo Adalton Campos, por todo incentivo, apoio e dedicação, acreditando

incondicionalmente no meu potencial.

Aos meus irmãos Fernandes e Washington pelo acolhimento durante as viagens a

Salvador.

Às minhas filhas Rebeca e Júlia, o melhor de mim, por compreender minhas

ausências em tantos momentos de suas vidas.

A minha orientadora, Professora Lítsia Coelho, pela paciência, agilidade e

competência ao me auxiliar nesta jornada.

À escola, palco de tantas inquietudes, saberes, sabores, indagações e descobertas.

À Primeira Igreja Batista, pelo sustento em oração durante a árdua jornada do curso.

À Faculdade de Educação da UFBA e ao Programa Escola de Gestores, por

levarem a cabo esta iniciativa que beneficia tantos Coordenadores Pedagógicos

como eu.

A todos, a minha sincera gratidão.

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É preciso que tenhamos o direito de sermos

diferentes quando a igualdade nos descaracteriza, e

o direito de sermos iguais quando a diferença nos

inferioriza.

MANTOAN (2003, p. 34)

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CAMPOS, Maviône. 2015. Alunos com Deficiência no Ensino

Fundamental II: incluídos ou integrados? Projeto Vivencial (Especialização)

– Programa Nacional Escola de Gestores, Faculdade de Educação, Universidade

Federal da Bahia, Salvador, 2015.

RESUMO

Descobrir se os alunos com deficiência no Ensino Fundamental II se encontram incluídos ou integrados é o foco de investigação do presente trabalho, gerado pelo eixo Inclusão e Diversidade na Educação, com o objetivo maior de investigar como se dá o ensino e aprendizagem, destes, na sala regular e multifuncional de uma escola específica do Munícipio de Firmino Alves. Através da observação direta dos espaços que envolvem o público em questão, bem como as relações que neles se processam, tornou-se evidente uma grande lacuna entre o que propõem as Leis e as literaturas acerca da temática e a realidade escolar. Tal constatação possibilita concluir que os atores do processo educativo precisam urgentemente sair da zona de conforto que contribui para a não aquisição das competências básicas de leitura, escrita e cálculo por parte dos educandos com deficiência, que já se encontram no Ensino Fundamental II. Como pontapé inicial no intuito de minimizar estes efeitos e propiciar a melhoria da qualidade educacional da escola em questão, sugere-se que sejam realizadas, no primeiro semestre do ano de 2016, algumas ações envolvendo a coordenação pedagógica e técnica, secretaria municipal, direção, pais e professores.

Palavras- chave: alunos com deficiência, inclusão, integração, Projeto Político Pedagógico (PPP).

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AEE - Atendimento Educacional Especializado

CECOP – Curso de Especialização em Coordenação Pedagógica

CENESP - Centro Nacional de Educação Especial

FACED – Faculdade de Educação

LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC – Ministério da Educação e Cultura

PDDE - Programa Dinheiro Direto na Escola

PPP – Projeto Político Pedagógico

PROGESTÃO - Programa de Capacitação a Distância para Gestores Escolares

PROINFO - Programa Nacional de Tecnologia Educacional

PROLER - Programa Nacional de Incentivo à Leitura

PSE – Programa Saúde na Escola

REDA - Regime Especial de Direito Administrativo

TCC/PV - Trabalho de Conclusão de Curso na modalidade Projeto Vivencial

UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

UFBA – Universidade Federal da Bahia

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................ 10

1 O INÍCIO DA TRAVESSIA ...................................................................... 14

1.1 VIDA ACADÊMICA.................................................................................. 15

1.2 VIDA PROFISSIONAL............................................................................. 16

1.3 EXPECTATIVAS...................................................................................... 18

2 A TRAVESSIA: ENTRAVES E POSSIBILIDADES................................. 19

3 IMPACTOS DA TRAVESSIA ................................................................. 26

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO......................................................... 26

3.1.1 METODOLOGIA...................................................................................... 31

3.2 RESULTADOS ESPERADOS................................................................. 32

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 33

REFERÊNCIAS....................................................................................... 35

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INTRODUÇÃO

A diferença é uma característica marcante nos seres humanos. Ela está

presente nas raças, nacionalidades, cores da pele, religiões, posições sociais, entre

outras e nem por isso as pessoas deixam de conviver umas com as outras. Na

família, na igreja, na rua, nos espaços públicos e/ou privados, os indivíduos circulam

e se encontram, independente de suas diferenças.

A escola se configura como um dos espaços sociais em que as diferenças se

manifestam de diversas maneiras, como nas deficiências apresentadas por alguns

alunos, por exemplo. Sejam elas, física, mental, cognitiva, visual ou auditiva. Esse

público deve ter seus direitos garantidos nesse espaço, como reza a Carta Magna

(1998) e a LDBEN¹ 9394/96.

A inclusão dos portadores de deficiências é um assunto extremamente

discutido no âmbito educacional a partir do século XX e encontra respaldo através

das políticas públicas elaboradas pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e

implementadas pelas Secretarias Estaduais e Municipais de Educação. Nessa

discussão, pontua-se a aprendizagem dos educandos com deficiência como um dos

itens de grande relevância, devendo obedecer o ritmo peculiar de cada indivíduo,

sem perder de vista a qualidade.

Por receberem em suas salas um grande contingente de alunos ditos

normais, os professores muitas vezes aplicam metodologias voltadas apenas para

eles, fato que gera a invisibilidade dos educandos com deficiência e,

consequentemente, o atraso na aprendizagem dos mesmos. Essa realidade torna-se

ainda mais preocupante na medida em que tais alunos chegam ao Ensino

Fundamental II sem adquirir as competências básicas para tal.

O AEE², através da Sala de Recursos Multifuncionais, não consegue, de

forma isolada, ser capaz de proporcionar o desenvolvimento necessário da

aprendizagem dos alunos com deficiência. Nessa perspectiva, surge o desejo de

investigar em que medida a inclusão praticada na escola tem contribuído para a

aprendizagem dos alunos com deficiência.

________________________ 1 Referir-se-á no decorrer do trabalho, à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional;

² Referir-se-á em todo o trabalho ao Atendimento Educacional Especializado

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É imprescindível que, a direção, a coordenação pedagógica, professores,

porteiros, merendeiras, zeladores, pais, enfim, todos os que representam a

comunidade escolar, sintam-se diretamente responsáveis e envolvidos na busca por

estratégias capazes de derrubar, não apenas as barreiras arquitetônicas, como

também aquelas que impedem diretamente, a aprendizagem significativa dos alunos

com deficiência.

Os professores, enquanto membros da comunidade escolar que dedicam

maior período de tempo próximo aos alunos precisam estar disponíveis para

informar-se e formar-se ao longo de sua carreira, no que tange ao atendimento

adequado às necessidades de aprendizagem dos indivíduos com deficiência,

viabilizando ações e atitudes inclusivas no cotidiano das salas de aula.

Investigar se os alunos com deficiência no Ensino Fundamental II estão

incluídos ou integrados é o objeto de estudo deste trabalho, por entender a inclusão

para além da inserção de alunos com deficiência em uma sala convencionalmente

“normal” e tendo em vista que estes devem adquirir as competências básicas de

cada etapa escolar, sendo respeitados em sua individualidade e em contato com os

demais.

Para tanto, propõe-se como principal objetivo, investigar como se dá o ensino

e aprendizagem dos alunos com deficiência na sala regular e multifuncional da

escola de Ensino Fundamental II.

Com os objetivos específicos, pretende-se observar e compreender as

relações interpessoais entre os alunos com deficiência e seus colegas e entre eles e

os professores; analisar as práticas docentes, as dificuldades encontradas, bem

como as contribuições na aprendizagem desses alunos; identificar possíveis

diretrizes e ações propostas pelo PPP³, no que tange a inclusão dos alunos com

deficiência.

O PPP da escola, enquanto instrumento norteador de suas ações, deve estar

condizente com a proposta de inclusão dos alunos com deficiência, presente nas

Leis, bem como nas literaturas pertinentes à temática. Desse modo, deve respaldar

a formação continuada dos professores como elemento preponderante para o

desenvolvimento cognitivo, social, cultural e pessoal dos educandos, garantindo-lhes

a inclusão com uma aprendizagem significativa.

________________________

³ Sigla utilizada algumas vezes no texto para se referir ao Projeto Político Pedagógico

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O estudo ora proposto, motivado pela inquietação acerca da dificuldade ou do

não domínio das competências (leitura, escrita, interpretação e cálculo)

apresentados pelos alunos com deficiência ao longo de sua escolarização, torna-se

relevante por contribuir para o aperfeiçoamento do debate sobre a temática, bem

como para possíveis intervenções junto aos professores e demais atores do

processo ensino-aprendizagem.

O caminho metodológico utilizado para o desenvolvimento da pesquisa será

inicialmente um levantamento de literatura específica sobre a temática, acrescido de

posterior abordagem de cunho qualitativo - a observação direta das pessoas

envolvidas: professor da sala regular, professora da sala multifuncional, o

contingente de alunos com deficiência, bem como do ambiente educativo que os

rodeia.

De acordo com os objetivos propostos, serão estabelecidos 5 dias para a

pesquisa de campo ficando assim distribuídos: 2 dias para observar a relação entre

os alunos portadores de necessidades educacionais especiais e demais colegas e

entre eles e os professores da sala regular, bem como o processo de ensino

e aprendizagem, dificuldades e contribuições; 2 dias para observar a relação dos

alunos portadores de necessidades educacionais especiais e a professora da sala

multifuncional e 1 dia para observar o suporte dado pelo PPP da escola quanto a

inclusão dos alunos portadores de necessidades educacionais especiais.

A sequência de páginas a seguir é composta por três capítulos que buscam

atingir os objetivos desta pesquisa e se encontram assim distribuídos: O primeiro

capítulo é um memorial intitulado “O Início da Travessia”, que sintetiza minha vida

pessoal/acadêmica, profissional e as expectativas para o futuro. Na vida

pessoal/acadêmica serão relatos momentos marcantes da minha infância humilde,

minhas passagens pela Universidade na graduação e pós e a importância do

ingresso no curso de especialização em coordenação pedagógica; o item vida

profissional discorre sobre as experiências profissionais adquiridas ao longo de

dezesseis anos de trabalho nas escolas do município e o tópico expectativas para o

futuro dedica-se a relatar o desejo de contribuir para a saída da zona de conforto por

parte de todos os atores do processo educativo, através do aprofundamento do

estudo acerca da temática proposta pelo eixo 11: inclusão e diversidade na

educação.

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O segundo capítulo, “A Travessia: entraves e possibilidades”, fará uma

revisão da literatura básica de teóricos como DRAGO (2010), FÁVERO, PANTOJA e

MANTOAN (2007), MIRANDA (2003), PAULON ( 2005), entre outros, o que

possibilita o estudo sobre “Alunos com Deficiência no Ensino Fundamental II:

incluídos ou integrados? As Leis (LDBEN 9394/96 e Constituição Federal/98) trarão

importante respaldo aos referenciais teóricos escolhidos.

No último capítulo, quiçá o mais importante de todos, apresentar-se-á a

proposta de intervenção com o título “Impactos da Travessia”, que, obedecendo a

um cronograma definido de ações e crendo na educação como mola propulsora para

a transformação do ser humano, pretende impactar, de maneira positiva, a atual

realidade em que se encontra a inclusão, na escola de Ensino Fundamental II do

município de Firmino Alves.

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1. O INÍCIO DA TRAVESSIA

O presente memorial, um dos capítulos do Trabalho de Conclusão de Curso

na modalidade Projeto vivencial4, além de ser mais um desafio que surge como

requisito básico exigido pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), no Curso de

Especialização em Coordenação Pedagógica em sua terceira versão5 , também é a

certeza de que estou para concluir mais uma etapa de formação na profissão que

escolhi, fato que me traz um grande alívio pela constatação do dever cumprido até

aqui.

Este capítulo, além de um pequeno resumo da minha biografia, encontra-se

divido em três partes, nas quais pretendo relatar um pouco da minha vida

acadêmica, profissional e as expectativas para o futuro. Num primeiro momento

pretendo trazer à lembrança importantes momentos, entre eles, os períodos de

estudo na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), tempo que me

permitiu construir muitas aprendizagens e amizades com professores e colegas,

guardadas com muito carinho e gratidão.

Em seguida, faço uma retrospectiva das experiências profissionais adquiridas

ao longo de dezesseis anos de trabalho nas escolas do município e, por fim, sem

intenção de concluir, busco compartilhar as pretensões futuras na minha área de

atuação. Com o presente trabalho pretendo também motivar maiores reflexões e

debates acerca do tema em questão.

Sou Maviône e nasci no distrito do município de Firmino Alves, cidadezinha

pouco conhecida que representa um pequeno ponto no mapa, porém acolhedora e

amada. De família humilde e pais analfabetos, passei muitas dificuldades em todos

os sentidos, porém, o estudo, como era denominado, foi algo sempre priorizado por

eles.

Aos 5 anos, ambiente novo, vida nova, escola nova, enfim, mudanças. A

saída do distrito para a cidade me proporcionou muitas descobertas, entre elas, a

energia elétrica, o ferro que não era de brasa com o fole para ajudá-lo a esquentar e

a televisão da vizinha. Enturmei-me logo na escola e na vizinhança e participei de

variadas brincadeiras que considero desconhecidas pelas crianças de hoje.

_________________ 4

Será referenciado no texto pela sigla TCC/PV 5

Apresentar-se-á no decorrer do trabalho como CECOP 3

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Da escola, guardo inúmeras recordações, poucas ruins, muitas outras

maravilhosas. No ABC (primeiro contato com a escolarização), a saudosa professora

Cleuza fazia orifício no papel para ensinar o alfabeto, uma prática considerada

arcaica nos dias atuais, porém responsável pela minha aprendizagem, bem como de

muitas outras pessoas; Na Cartilha (substituída pela Alfabetização), os passeios de

sexta-feira aos arredores da escola com a professora Rosinha que não se prendia

apenas às lições de Ivo viu a uva; Todas as professoras das séries seguintes do

Ensino Fundamental I e suas respectivas estagiárias deixaram marcas importantes

na formação do meu caráter e na minha vida profissional.

O meu Ensino Fundamental II foi marcado pelas constantes recuperações de

matemática, o Bicho Papão que sempre me perseguiu e que me abandonou

somente no 1° ano de Contabilidade com o apoio do saudoso professor Gilberto,

que me fez acreditar na capacidade de aprender, só bastava querer. Eu quis, tanto

que recebi a disciplina de presente nos primeiros anos de atuação como professora.

Durante todo esse período não tive nenhum contato com pessoas portadoras

de necessidades especiais na sala de aula, o máximo que ouvi sobre o assunto foi o

título de mongoloide, dado aos portadores do que hoje conhecemos como Síndrome

de Down ou aleijados aos que tinham paralisia infantil.

1.1 VIDA ACADÊMICA

O ano de 2001 para boa parte da humanidade ficou marcado como o ano da

tragédia, considerando o acontecimento de 11 de setembro com as torres gêmeas

no World Trade Center. Todavia, a minha memória, além desse tão doloroso

registro, gravou um dos mais relevantes e sonhados acontecimentos: a minha

aprovação no vestibular.

Ingressei em 2002 no curso de pedagogia da Universidade Estadual do

Sudoeste da Bahia onde, depois de enfrentar duas greves, concluí em agosto de

2006. Nesse período, tive a oportunidade de participar de alguns cursos oferecidos

pela universidade que tratavam da inclusão, bem como de um belíssimo projeto de

leitura, o Programa Nacional de Incentivo à Leitura (PROLER), no qual pude atuar

como monitora.

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Participei do Programa de Capacitação a Distância para Gestores Escolares

(PROGESTÃO) em minha cidade, concluindo em 2010, ano que também concluí

minha especialização em Educação Infantil na mesma universidade.

Durante o percurso, até o ano passado, fui contemplada para participar de

três importantes seminários da educação inclusiva em Vitória da Conquista, os

quais, inicialmente, apenas serviram para mobilizar minhas angústias acerca da

insuficiência de recursos humanos e materiais existentes no município, no trato com

a inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais. Isso no primeiro

momento me causou repúdio em tratar da temática, porém, na medida em que o

tempo foi passando e me deparei mais de perto com a problemática, percebi que

não podia continuar arredia. Recebi muitas cobranças de professores acerca de

como trabalhar com os especiais e como eles, eu também não tinha receitas.

A oportunidade de aprofundamento dos estudos sobre a temática da inclusão

finalmente atingiu seu ápice no momento da escolha do eixo para desenvolvimento

do TCC/PV que, em seu decorrer, me proporcionou o contato com algumas leituras

sobre a temática.

Ainda relutei em discorrer sobre ela, tentando convencer-me de que a

indisciplina era um problema mais necessário de ser estudado, discutido e resolvido.

Considero não ter sido por acaso que não tenha encontrado esse eixo dentre os

doze que foram disponibilizados, pois, assim que gravei minha escolha, descobri

que a indisciplina estava inclusa em outro eixo.

Aceitei então, de bom grado, a incumbência de estudar de forma mais

especifica e profunda, a temática da inclusão.

1.2 VIDA PROFISSIONAL

Na época em que concluí o ensino médio (Contabilidade - 1990; Magistério -

1996) a cidade só possibilitava emprego na prefeitura, então, em 1997 prestei

concurso para recepcionista, fui classificada, porém não fui convocada, certamente

pelo fato de estar grávida e precisar de afastamento em breve.

A oportunidade de ser chamada para assumir o concurso veio em 1999

quando uma professora do município que prestava serviço ao colégio do Estado e

lecionava Química, Física e Matemática precisou se afastar. Não encontrando

ninguém para substitui-la devido a dificuldade das disciplinas, a diretora me

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procurou, convencendo-me a aceitar, apesar da relutância, visando a chance de ser

efetivada pelo concurso.

Tornei-me funcionária 40 horas atuando diretamente na educação apesar de

ter prestado concurso em outra área. Em 2000 a diretora me ofereceu um contrato

de 20 horas pelo Regime Especial de Direito Administrativo (REDA), onde precisei

dar baixa em 20 horas do município. O contrato foi até 2004, porém continuei na

escola até 2006, sendo colocada no ano seguinte à disposição do município.

De 1999 até 2004 trabalhei como supervisora da Escola Ativa, estratégia

utilizada nas escolas do campo. Foi um tempo de muitas dificuldades com veículo

para deslocamento até a zona rural, entretanto, de muitas aprendizagens.

Dei aulas de reforço em uma das escolas municipais de ensino fundamental I

apenas no ano de 2007, sendo convidada no ano seguinte para coordenar duas

escolas, iniciando então minha experiência como coordenadora pedagógica, o que

me deixou inicialmente perdida por não ter claro qual seria realmente o papel de tal

profissional, visto que era solicitada para exercer vários papeis. Conforme

Fernandes apud Miziara, Ribeiro e Bezerra (2014, p. 613) o referido profissional não

tem “um território próprio de atuação no ambiente escolar”. Sobre isso os autores

ainda afirmam que:

Ele sempre fica à disposição dos diretores e dos professores, exercendo funções alheias ao seu papel prescrito. Sem um norte definido para suas ações, por mais que esse profissional se esforce para atender às diversas demandas do trabalho pedagógico, pouco contribui para um processo educacional transformador (ibid. 2014, p. 613) .

Ainda sobre a descaracterização do papel dos coordenadores pedagógicos,

Vasconcellos apud Cruz, Castro e Lima (2009, p. 28) diz que: "sentem-se como

"bombeiros" a apagar os diferentes focos de "incêndio" na escola, e no final do dia

vem o amargo sabor de que não se fez nada de muito relevante”.

Acreditando que o coordenador pedagógico precisa assumir sua real

identidade, considero que 2008 foi um ano decisivo na minha vida profissional, pois

foi aberto novo concurso com duas vagas para pedagogo e não hesitei em realizá-lo.

Fiquei em primeiro lugar depois de cumprir as etapas de prova e provas de título,

trocando assim a função do concurso anterior pela de coordenadora pedagógica. De

lá para cá tenho adquirido experiências incríveis, talvez pela multifuncionalidade

exigida pela demanda atual das escolas do século XXI.

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O período compreendido entre 2008 até o atual, passei pelas modalidades do

ensino fundamental I, educação infantil e ensino fundamental II, onde em todas elas

percebi a inclusão como excludente, pois, apesar de estarem presentes nas escolas,

as crianças portadoras de necessidades educacionais especiais eram quase sempre

invisíveis. Tal invisibilidade tem diminuído no decorrer do tempo, com a chegada da

sala de recursos e algumas discussões a respeito, mas, ainda longe do desejável.

1.3 EXPECTATIVAS

A sensação de impotência diante do despreparo da escola no atendimento

pedagógico desses indivíduos, por um lado me causa angústia e inquietação, e por

outro, me motiva a procurar respostas que ajudem a todos a saírem da zona de

conforto em que se encontram e, como diz o grande poeta Fernando Pessoa: "Há

um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do

nosso corpo e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos

lugares... É o tempo da travessia e se não ousarmos fazê-la teremos ficado para

sempre à margem de nós mesmos."

Por não ser a favor do comodismo que cauteriza as práticas indevidas, avalio

como positiva a minha decisão de transpor as barreiras do caminho, contando com o

valioso suporte do CECOP 3 através dos componentes curriculares, das leituras

propostas, dos diálogos estabelecidos, enfim, da possibilidade de construção de um

TCC/PV. Por meio dessa travessia, pretendo aprofundar os estudos e contribuir para

uma mudança considerável da atual conjuntura em que se encontra a inclusão.

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2. A TRAVESSIA: ENTRAVES E POSSIBILIDADES

A deficiência no Brasil encontra-se atrelada, inicialmente, ao âmbito médico-

assistencialista, onde era vista como uma questão de saúde que deveria, portanto,

ser tratada por especialistas da área. Sendo assim, a educação do deficiente esteve

em segundo plano até 1973, ano em que a Educação Especial foi institucionalizada

(MIRANDA, 2003), com a criação do Centro Nacional de Educação Especial

(CENESP). No entanto, ainda permanecia excluída.

Como sempre na história da humanidade, algumas situações desfavorecem e

desagradam a uma parcela da sociedade, fato que, nesse caso, contribuiu para a

iniciação de discussões sobre a educação inclusiva. Desse modo, a Constituição

Federal de 1988 surge como divisor de águas na garantia do direito dos portadores

de deficiência.

Desde então os debates ocorridos nos diversos encontros internacionais,

foram responsáveis por proporcionar um novo rumo a essa modalidade de

educação, tendo como fruto, a Declaração de Educação Para todos (1990) e a

Declaração de Salamanca (1994). Com a implementação da Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional (LDBEN 9.394/96), foram melhor respaldados os

direitos das pessoas com deficiência.

Nesse sentido, as políticas públicas de Educação Especial, oferecidas pelo

MEC, estão presentes em documentos como Política Nacional de Educação

Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, Diretrizes Nacionais para a

Educação Especial na Educação Básica, Documento Subsidiário à Política de

Inclusão, Experiências Educacionais Inclusivas – Programa Educação Inclusiva:

Direito à Diversidade, dentre outros.

No capítulo V, Art. 58 da LDBEN 9.394/96,

Entende-se por Educação Especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.

Esta, dedica um capítulo inteiro sobre a Educação Especial e trouxe, até

2013, a nomenclatura portadores de necessidades especiais aos alunos usuários

dessa modalidade, tendo sua redação modificada para educandos com deficiência,

transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, pela

Lei 12.796 de 4 de abril de 2013.

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As pessoas com deficiência encontram-se amparadas pela Constituição

Federal em seu Art. 1º, incisos II e III, Art. 3º, inciso IV, Art. 5º, Art. 205, Art. 206,

inciso I e Art. 208, incisos III e V, que tratam respectivamente, da “cidadania e

dignidade da pessoa humana” como fundamentos; da promoção do “bem de todos”,

repudiando qualquer forma de discriminação; do direito à igualdade; do direito à

educação, tendo em vista o “pleno desenvolvimento da pessoa”; “atendimento

educacional especializado”, além do respeito a “capacidade de cada um”.

Atualmente, depois dos significativos avanços no âmbito da Educação

Especial no decorrer do tempo, ainda é notória a pouca atenção dada ao seu efetivo

cumprimento na escola, tanto na parte documental quanto na prática de sala de aula

- regular e multifuncional.

Miranda (2003, p. 6), em seu artigo História, Deficiência e Educação Especial,

diz que:

A efetivação de uma prática educacional inclusiva não será garantida por meio de leis, decretos ou portarias que obriguem as escolas regulares a aceitarem os alunos com necessidades especiais, ou seja, apenas a presença física do aluno deficiente mental na classe regular não é garantia de inclusão, mas sim que a escola esteja preparada para dar conta de trabalhar com os alunos que chegam até ela, independentemente de suas

diferenças ou características individuais.

A Escola Municipal Cosme de Farias, que oferece o Ensino Fundamental II,

não foge aos princípios constitucionais no que tange a garantia do direito ao acesso

e permanência dos alunos na escola, pois atende um público que apresenta

deficiência intelectual, deficiência física (leve) e deficiência mental. Porém, o acesso

e a permanência apenas, não são garantias de aprendizagem ou de qualidade do

ensino.

Os alunos com deficiência são presenças constantes na sala de aula regular,

alguns até visitam a escola em turno oposto para saber quais professores

ministrarão suas aulas naquele dia. A maioria deles copia o que o professor escreve

no quadro, apresentando as seguintes características:

* G. J. S, com Síndrome de Down, aluno do 7º ano vespertino, presta atenção

e copia palavras ininteligíveis compostas por várias consoantes juntas; algumas

palavras são repetidas durante toda a escrita. Tem um excelente comportamento na

classe, é carinhoso, atencioso com os professores, direção, funcionários e com a

maior parte dos colegas, com exceção daqueles, que por vezes lhe importuna;

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* O aluno A. J. N, com Deficiência Mental, também do 7º ano vespertino, faz

uso de medicação controlada, mas quase sempre é inquieto, desatencioso, não

escreve nada do quadro, apenas repete as palavras que alguns (raros) professores

copiam no caderno. No entanto, esse aluno é um dos mais inteligentes e espertos

da escola. Tem muita facilidade de aprender tudo que consideramos desnecessário,

porém, parece ter preguiça de reter o conhecimento que realmente precisa.

Conversa sobre todos os assuntos, apesar de apresentar dificuldade de dicção e

demonstra compreender tudo que ouve. Sempre que apronta alguma de suas

peripécias e ameaçamos ligar para sua mãe, ele chora, pede perdão e promete não

repetir, mas sempre descumpre a promessa;

* D. S.P, aluna da classe acima citada, possui retardamento mental (o

desenvolvimento mental não corresponde ao do corpo). Segundo informação da

família, é como se continuasse com 8 anos de idade, apesar de ter quase 30. É

carinhosa, gosta de abraçar, beijar e dividir o lanche com os professores e pessoal

da secretaria. Às vezes fica arredia como se estivesse em outro lugar. Gosta muito

de visitar a sala de professores/secretaria e todos os dias, quase sempre no mesmo

horário pede para sair, pois já sabe que o transporte público vai passar. Apresenta

pouco interesse em copiar o que está na lousa e quando o faz não forma palavras

inteligíveis. Mantém o livro aberto como se estivesse acompanhando o assunto e

costuma pedir ajuda da professora para marcar a atividade para casa;

* S.S é o mais velho de três irmãos do 8º ano, todos com deficiência

intelectual causada, aparentemente, por diferentes graus de paralisia cerebral. A

escola não possui nenhum laudo médico de suas deficiências, apesar de não raras

vezes ter solicitado junto à família. Dos três, S.S apresenta um melhor

desenvolvimento apesar de não ter domínio da leitura e da escrita convencional.

Todos gostam de participar das apresentações da escola, tanto intra quanto

extramuros. Possui caligrafia bastante legível e não demonstra dificuldade na

coordenação motora nem para segurar a caneta, diferente dos demais. Possui olhar

firme e com leve sinal de estrabismo, ao contrário dos outros. Presta atenção na

aula e consegue reproduzir no caderno quase na íntegra o que foi escrito no quadro.

Apesar de não saber ler e escrever, responde quando questionado acerca do que

compreendeu da aula. Seu turno é oposto ao dos irmãos. Na sala, senta entre dois

colegas e próximo aos demais sem deficiência, o que denota bom relacionamento

com o grupo, diferente dos irmãos que estão sempre afastados dos demais, apesar

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de demonstrarem simpatia. Dos três irmãos, D.S é o que demonstra mais gravidade

da deficiência, pois mesmo olhando para a lousa, reproduz apenas garatujas. I. S

reproduz letras, porém sem formar palavras. Ambos comunicam-se com bastante

dificuldade, mas conseguem se fazer entender;

* R. S é uma jovem esperta e comunicativa. Depois de alguns anos de

repetência em outra escola, foi enviada a esta onde se encontra no 9º ano. De todos

os alunos com deficiência atendidos pela escola, essa é a única que possui melhor

domínio da leitura, apesar de sempre se reportar ao “problema” para esquivar-se de

realizar as atividades propostas pelos professores. Só escreve o que está copiado

na lousa, não consegue realizar a escrita correta de palavras ditadas pelos

professores. Apresenta um quadro de hemiplegia, o que não a impede de realizar

grande parte de atividades do cotidiano, possui perceptível estrabismo,

característico de pessoas com paralisia cerebral. Conversa sobre qualquer assunto,

sabe os nomes de todas as medicações que faz uso e não se relaciona muito bem

com os colegas na classe. Não gosta de compartilhar materiais nem lanches.

Quando interpelada por algum colega, na maioria das vezes responde bruscamente,

demonstrando intolerância. Segundo a mãe, esse fato se repete em casa com a

família. Sempre gosta de sentar-se sozinha nos intervalos ou de conversar com

alguns funcionários. Tem boa relação com os professores e demais funcionários da

escola.

* W. D é aluno do 6º ano matutino e de todos é o mais arredio para mim,

sendo também o menos observado, apesar de já tê-lo conhecido desde pequeno em

outras escolas. No laudo o qual mantive contato só contém informações

psicopedagógicas comprovando dificuldade de aprendizagem, entretanto desde o

início de sua escolarização até agora não adquiriu nenhuma competência. Tem

dificuldade na fala, tornando difícil de ser compreendido em alguns momentos.

Participa de trabalhos em grupo, sempre de maneira atenta mesmo sem realizar

diretamente nenhuma função. Em alguns momentos parece se afastar para um

mundo só seu, voltando a interagir em seguida. Costuma visitar sempre a sala de

professores/secretaria. Não demonstra muita atenção e carinho quanto os primeiros,

mas tem bom relacionamento com os colegas e com os professores ajudando

sempre a levar seus materiais para a sala.

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Um dos propósitos da observação desses alunos no cotidiano da sala regular

foi perceber a inclusão/integração presente numa escola indicada como inclusiva.

Segundo as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica:

Entende-se por inclusão a garantia, a todos, do acesso contínuo ao espaço comum da vida em sociedade, sociedade essa que deve estar orientada para as relações de acolhimento à diversidade humana, de aceitação das diferenças individuais, de esforço coletivo na equiparação de oportunidades de desenvolvimento, com qualidade, em todas as dimensões da vida. (2001, p. 20)

Partindo desse pressuposto, depreende-se que a escola, ao invés de querer

adequar os alunos a um padrão de “normalidade” para que a aprendizagem se

efetive, precisa preparar-se para atender a demanda das diferenças encontradas.

Nesse sentido, a escola pesquisada apresenta lacunas, pois, a começar pelo seu

Projeto Político Pedagógico, nada consta acerca dessa modalidade, no que

concerne a adaptação do currículo, capacitação de professores, terminalidade

específica ou outras adequações que propiciem a aquisição da aprendizagem pelos

alunos.

Essa modalidade deve disponibilizar um conjunto de recursos educacionais e de estratégias de apoio aos alunos com deficiência, proporcionando-lhes diferentes alternativas de atendimento, de acordo com as necessidades de cada um. O Atendimento Educacional Especializado é uma forma de garantir que sejam reconhecidas e atendidas as peculiaridades de cada aluno com deficiência. (FÁVERO, PANTOJA E MANTOAN, 2007, p. 29)

Para tanto, a Sala Multifuncional se encontra equipada com os recursos

indicados à necessidade da clientela, existe uma professora considerada apta para o

trabalho, mas, ainda assim não tem funcionado. Algumas mães, no início,

acompanhavam os filhos para o atendimento, porém, depois das faltas contínuas,

deixaram de fazê-lo. A escola sempre procura a Secretaria de Educação, a fim de

que resolva o problema, sem sucesso até então.

Percebeu-se então e infelizmente, que os professores da sala regular não

ajustam as atividades às necessidades dos alunos, alegando a falta de preparação

na área. Tal fato, por um lado se justifica, pois, a matéria Educação Especial

trabalhada na graduação não é suficiente para embasar a prática pedagógica de tais

professores, que também não dispõem de nenhum apoio por parte da profissional do

AEE. Por outro lado, “nada ou muito pouco fazem no sentido de virem a se

preparar.” (FÁVERO, PANTOJA e MANTOAN, 2007, p. 18). Assim, não havendo

capacitação por parte do professor, como acontecerá a aprendizagem por parte do

aluno?

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Depois de muito ouvirem acerca da educação inclusiva e da urgente

necessidade de aquisição de competências por parte dos alunos com deficiência,

visto que já se encontram no Ensino Fundamental II, algumas professoras

começaram a passar atividade nos cadernos dos alunos, solicitando que reescrevam

o próprio nome, que repitam as vogais ou o alfabeto ou ainda algumas questões

voltadas para quantidades, agrupamentos, pinturas, etc.

Observando as atividades impressas sugeridas pela professora que esteve

como coordenadora durante o meu afastamento até o início de julho, percebi que

eram similares. Consegui, então, conceber duas conclusões com isso: O despreparo

da escola no atendimento ao público em estudo perpassa por todos os segmentos,

não somente pelos professores e que algumas pessoas apesar de não possuir

formação, demonstram preocupação com a aprendizagem do público em estudo.

Sobre a avaliação da aprendizagem desses alunos, verifiquei outra realidade

impactante: são submetidos à mesma atividade dos que não possuem deficiência,

ou seja, fora de seus contextos de assimilação, o que é inconcebível, levando em

consideração ainda não terem adquirido o domínio da leitura, da escrita nem das

operações básicas, bem como o disposto na LDBEN 9.394/96, que diz:

Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação: I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades.

Nesse aspecto, ficou evidente que a realidade da referida escola traz ainda

resquícios muito fortes de uma época histórica – a da integração das pessoas com

deficiência. Como afirmam Fávero, Pantoja e Mantoan:

Na ótica da integração é a pessoa com deficiência que tem de adaptar à sociedade, e não necessariamente a sociedade é que deve criar condições para evitar a exclusão. A integração é, portanto, a contraposição do atual movimento mundial de inclusão. Neste, existe um esforço bilateral, mas é principalmente a sociedade que deve impedir que a exclusão ocorra. (2007, p.37)

Fica claro, portanto, através das observações realizadas nas classes

regulares, onde foi possível presenciar momentos da prática pedagógica de alguns

professores, sua relação com os alunos com deficiência e entre estes e os outros,

ditos “normais”, bem como do ambiente escolar que os rodeia, que a prática da

inclusão no cotidiano da escola não condiz com a literatura produzida nessa área,

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refletindo diretamente na aquisição das competências básicas para a modalidade de

ensino em que estes alunos se encontram, a qual classifico como precária.

Sendo assim, aquilo que muitas vezes consideramos inclusão, pode estar

repercutindo de forma contrária, desde que não sejam obedecidos os devidos

ajustes propostos pelas Leis, Diretrizes e demais literaturas afins. Concordo,

portanto, com Drago (2010, p. 5) quando afirma que “existem ainda muitas

armadilhas para que a escola inclusiva deixe de ser mera proposição e passe a

existir de verdade”, sendo uma delas “as práticas inclusivas que muitas vezes

excluem as pessoas com deficiência do contexto educacional”.

Sobre a relevância do PPP nesse contexto, o autor enfatiza que:

O projeto político pedagógico é uma porta que se abre ao debate acerca da diversidade e das práticas educacionais que visam ressignificar a escola em todos os seus aspectos, reconhecendo seus sujeitos e as contribuições que cada um tem para a democratização da educação, assim como de seus

saberes e fazeres cotidianos (DRAGO, 2010, p. 7).

Nesse contexto, surge então a figura importante do coordenador pedagógico,

que pela multifuncionalidade de seu papel, torna-se peça fundamental na gestão da

escola. Portanto, a partir da análise da problemática ora constatada com o apoio das

discussões dos teóricos, tornou-se ainda mais nítida a consciência da necessidade

de uma melhor atuação por parte desse profissional, no intuito de unir forças junto

aos professores, direção e pais, através de ações planejadas que minimizem a

distância entre a teoria e a prática da inclusão na escola pesquisada.

Diante do exposto, refletindo sobre os estudos e observações realizados,

considero ser urgente a reformulação do PPP da escola, a partir da colaboração de

todos os interessados direta ou indiretamente no processo inclusivo de ensino e

aprendizagem, com a finalidade de garantir não apenas a presença dos educandos

com deficiência, como também sua efetiva aprendizagem com qualidade.

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3. IMPACTOS DA TRAVESSIA

O presente capítulo pretende apresentar uma proposta de intervenção

baseada no aprofundamento de estudos acerca do eixo temático “Inclusão e

Diversidade na Educação”, disponibilizado pelo CECOP 3 da Faculdade de

Educação da Universidade Federal da Bahia (FACED/UFBA), no polo de Itacaré.

O município de Firmino Alves é composto pela sede, um distrito e dois

povoados, possuindo ao todo sete escolas. Na sede, encontra-se a Creche Escola

São José, que atende do maternal a pré-escola, a Escola Municipal Lídia Vilas Boas,

responsável pelo Ensino Fundamental I e a Escola Municipal Cosme de Farias, na

qual trabalho.

A coordenação pedagógica está presente em todas as escolas, exceto na

creche, que durante o ano em vigor contou apenas com a diretora, a qual, desde

que assumiu a administração da escola teve a presença desse profissional, hoje fala

da falta que o mesmo faz na rotina diária da instituição.

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO

A Escola Municipal Cosme de Farias situa-se na Rua Francisco Félix Passos,

S/N, no centro do município e recebeu esse nome em homenagem ao político

baiano que lutou contra o analfabetismo e defendeu as liberdades democráticas.

Ministra o Ensino Fundamental II nos turnos: matutino, com 147 alunos; vespertino,

com 64 alunos e noturno, com 57 alunos, perfazendo um total de 268 alunos. Estes

números correspondem ao último movimento de matrícula da instituição, pois a

matrícula inicial contava com 322 alunos. O público atendido é muito variado, pois

compreende alunos da zona urbana e rural de diferentes classes sociais.

A instituição foi por um bom tempo administrada pelo Estado, sendo

municipalizada em 1999. Apesar do seu tempo de existência e de já ter ministrado o

Ensino Fundamental I, frequentado por crianças pequenas, a mesma não possui

muros, o que a torna um tanto quanto exposta.

A gestão é composta por uma diretora, graduanda em Letras, por mim,

Pedagoga concursada na área de Coordenação Pedagógica desde 2008 e

Especialista em Educação Infantil e por uma colega Pedagoga, Especialista em

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Psicopedagogia, que assumiu a coordenação desde o início do ano, quando me

ausentei por motivo de saúde.

O corpo docente é composto por 20 professores, sendo 14 concursados e 6

contratados ou nomeados. Existe uma psicóloga contratada que atende apenas uma

vez por semana nos turnos matutino e vespertino. Os demais funcionários são: 5

merendeiras, 3 porteiros, 1 inspetor escolar, 2 secretárias, 1 auxiliar de secretaria e

3 auxiliares de serviços gerais (zeladoras).

Quanto à formação acadêmica, a escola é representada por 18 professores

com nível superior em cursos variados, como Pedagogia, Letras, Teologia/ Filosofia,

História, Educação Física e Matemática. Boa parte deles possui alguma

especialização. Portanto, todos são capacitados para atuar no nível de ensino em

que se encontram.

A escola possui programas como Programa Nacional de Tecnologia

Educacional (PROINFO), Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), recurso

recebido pela escola para aquisição de materiais (especificados como capital e

custeio e gerenciados pelo Caixa Escolar), PDDE INTERATIVO (ferramenta utilizada

pelas escolas para realizar o seu planejamento), Programa Saúde na Escola

(PSE), Atendimento Educacional Especializado (AEE). Este, contando com Sala de

Recurso Multifuncional, é voltado para o atendimento dos alunos com deficiências.

Apesar de fazer parte do quadro de funcionários efetivos da instituição, a professora

da referida classe, durante o ano letivo, não é atuante, o que tem tornado o

atendimento inexistente. Tal fato levou os pais dos educandos com deficiência a

deixar de enviá-los à escola no turno oposto.

Essa problemática, somada ao meu convívio diário com a “inclusão

excludente” de tais alunos nas salas regulares das demais escolas que já tive a

oportunidade de trabalhar, e nessa, desde o ano passado, motivou-me a optar pelo

tema Alunos com Deficiência no Ensino Fundamental II: Incluídos ou Integrados?

Em busca de compreender de que forma a inclusão praticada, na Escola

Municipal Cosme de Farias, tem contribuído para a aprendizagem dos alunos com

deficiência, foi realizada uma observação direta das pessoas envolvidas no processo

de ensino e aprendizagem do referido público, bem como do ambiente ao seu redor,

caracterizada como pesquisa qualitativa, pois “tem o ambiente natural como sua

fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento” (LÜDKE e

ANDRÉ, 1986, p.11)

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A escolha pela observação deu-se pelo fato de ser este

Um método de investigação que possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, (...) permite também que o observador chegue mais perto da perspectiva dos sujeitos e finalmente permite a coleta de dados em situações em que são impossíveis outras formas de comunicação (LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p.26).

Durante o período de observação foi possível detectar, de acordo com os

objetivos propostos, os seguintes dados:

Em se tratando do primeiro objetivo que foi observar e compreender as

relações interpessoais entre os alunos com deficiência e seus colegas e entre eles e

os professores, percebi que existe uma boa relação, principalmente quando

permanecem sentados e obedientes. Caso contrário, a direção é chamada ou são

levados à diretoria para que a aula possa fluir “normalmente”. A interação entre eles

e os demais colegas normalmente ocorre, apesar de sempre atuarem como

coadjuvantes.

Com relação às dificuldades encontradas nas práticas docentes bem como as

contribuições na aprendizagem dos alunos com deficiência ficou claro que, apesar

de possuírem uma formação acadêmica adequada para o nível de ensino ministrado

na instituição, os docentes não se sentem preparados para atender a clientela em

estudo, tornando-se ainda mais agravante o fato de a mesma não possuir domínio

da leitura e da escrita.

A respeito do Projeto Político Pedagógico da escola, observei que não

contempla diretrizes nem ações voltadas para a inclusão dos alunos com deficiência,

apesar de apontar o Atendimento Educacional Especializado como um dos

programas existentes na instituição.

Diante do exposto, pude considerar que há uma lacuna entre o que está

escrito e o que é real acerca da inclusão dos alunos com deficiência na referida

escola. Ao vivenciar no exercício da função, a cobrança feita pelos colegas e pelo

próprio sistema de que o coordenador pedagógico é responsável por resolver todos

os problemas que surgem no dia-a-dia da escola, me senti angustiada por não ter

uma resposta no que tange ao ensino e aprendizagem do público referido.

Já assumi no início da minha experiência na área e hoje não concordo com os

estigmas relacionados ao coordenador, tais como:

“Bombril” (mil e uma utilidades), a de “bombeiro” (o responsável por apagar os fogos dos conflitos docentes e discentes), a de “salvador da escola” (o profissional que tem de responder pelo desempenho de professores na prática cotidiana e do aproveitamento dos alunos). Além dessas metáforas,

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outras aparecem definindo-o como profissional que assume uma função de gerenciamento na escola, que atende pais, alunos, professores e também se responsabiliza pela maioria das “emergências” que lá ocorrem, isto é, como um personagem “resolve tudo” e que deve responder unidirecionalmente pela vida acadêmica da escola. (LIMA e SANTOS 2007, p. 79).

Entretanto, pela experiência desenvolvida ao longo do tempo e dos estudos

realizados através do curso proporcionado pelo CECOP 3, tenho consciência das

competências que o coordenador deve ter no cotidiano de uma escola. Ele deve ser,

segundo Lima e Silva (p.83), “ator social, agente facilitador e problematizador do

papel docente no âmbito da formação continuada, primando pelas intervenções e

encaminhamentos mais viáveis ao processo ensino-aprendizagem”.

Para desconstruir o antigo paradigma dos séculos passados da escola para

poucos, é que nasce o sonho de uma escola para todos, onde são cumpridos os

papeis de acolher e proporcionar o sucesso a todos, sem discriminação. Isso implica

a garantia não só do acesso e permanência como também da qualidade do ensino.

Para que a aprendizagem possa acontecer de maneira significativa é

imprescindível que as diferenças sejam levadas em consideração quando as

atividades forem propostas, ou seja, que se obedeça aos contextos de assimilação

de cada educando. Para tanto, é necessário romper com os entraves que impedem

a consonância entre a teoria e a prática da inclusão na escola.

Partindo dessa premissa, percebi a necessidade da elaboração e

implementação de uma proposta pedagógica pautada nos seguintes objetivos:

Objetivo Geral:

✓ Favorecer a efetiva inclusão ou minimizar a exclusão dos alunos com

deficiência, até então existente na Escola Municipal Cosme de Farias.

Objetivos Específicos:

✓ Reunir a equipe pedagógica e administrativa para conscientização a

respeito do real e do ideal na inclusão de alunos com deficiência na educação

básica;

✓ Propiciar o debate acerca da diferença entre integração e inclusão com a

presença dos pais;

✓ Fazer um diagnóstico minucioso do Projeto Político Pedagógico com a

presença de toda a comunidade escolar para analisar as possíveis falhas;

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✓ Realizar coletivamente as adaptações necessárias no Projeto Político

Pedagógico a fim de que a inclusão dos alunos com deficiência seja garantida

em sua totalidade;

✓ Promover a formação contínua sobre o ensino e aprendizagem dos alunos

com deficiência a todos os envolvidos no processo.

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3.1.1 METODOLOGIA

A presente proposta será colocada em prática no início do ano letivo de

2016, tendo em vista transformar a realidade constatada para propiciar a melhoria

da qualidade educacional da escola em questão. A dinâmica utilizada para

efetivação da proposta contará com recursos como kit multimídia, socialização e

discussão de textos impressos, aparelho de som com caixa amplificada, entre

outros.

Durante todo o primeiro semestre as ações seguirão o seguinte cronograma:

AÇÕES PERÍODO

Reunião com a equipe pedagógica, inclusive a coordenação

técnica da secretaria de educação e equipe administrativa

para uma primeira sensibilização a respeito da real situação

em que se encontram os alunos com deficiência,

apresentando as intervenções propostas.

Março

Encontro entre as equipes supracitadas com a presença dos

pais para socialização e debates de vídeos e documentários

sobre integração/inclusão.

Abril/Maio

Encontro com a comunidade escolar para diagnóstico do

Projeto Político Pedagógico.

Março

Reunião do coletivo escolar para reformulação do Projeto

Político Pedagógico.

Abril/Maio

Formação continuada para professores, direção e

coordenação pedagógica acerca do ensino e aprendizagem

dos alunos com deficiência.

Abril/Maio/Junho

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3.2 RESULTADOS ESPERADOS

Acredito no poder transformador da educação, na escola como seu

importante veículo para a formação de cidadãos conscientes, mais humanos e

participativos na sociedade e no quanto que ela precisa fazer jus aos 4 pilares da

educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender

a ser. Só assim os conhecimentos, as experiências positivas, as semelhanças, as

interdependências e os valores poderão ser potencializados. Assim, a partir do

desenvolvimento das ações ora elencadas, espera-se que a equipe pedagógica

questione, identifique e planeje mudanças significativas que não apenas garantam a

inclusão dos alunos com deficiência na escola, com qualidade, como também

contribua para que todos os envolvidos no processo educacional desempenhe

melhor sua função.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A constante procura pelo conhecimento foi, é e continuará sendo uma

característica marcante nos seres humanos, tendo em vista a sua incompletude,

como sinaliza o grande mestre Paulo Freire em sua obra Pedagogia da Autonomia.

Foi com a intenção de aprofundar o conhecimento acerca da Inclusão e Diversidade

na Educação que iniciei a presente pesquisa com o objetivo de investigar como se

dá o ensino e aprendizagem dos alunos com deficiência na sala regular e

multifuncional da escola de Ensino Fundamental II na qual atuo como coordenadora

pedagógica.

Composto por três capítulos, o trabalho buscou no Início da Travessia,

sintetizar minha vida pessoal/acadêmica, profissional e as expectativas para o

futuro, onde foram relatados importantes momentos que marcaram cada período da

minha vida e que contribuíram para a culminância deste trabalho;

A seguir, com o título A Travessia: entraves e possibilidades, procurei trazer

como levantamento de literatura sobre a temática, as contribuições de teóricos como

Drago (2010), Fávero, Pantoja e Mantoan (2007), Miranda (2003), Paulon ( 2005),

entre outros, bem como o respaldo das Leis LDBEN 9394/96 e Constituição Federal

(1998);

Com a utilização da abordagem qualitativa e tomando a observação do

público envolvido e de seu ambiente como instrumento de coleta de dados, tive a

oportunidade de investigar, em parte, de que forma a inclusão praticada na escola

tem contribuído para a aprendizagem dos alunos com deficiência, bem como

observar e compreender as relações interpessoais entre os alunos com deficiência e

seus colegas e entre eles e os professores; analisar as práticas docentes, as

dificuldades encontradas, bem como as contribuições na aprendizagem desses

alunos; identificar possíveis diretrizes e ações propostas pelo PPP no que tange a

inclusão dos alunos com deficiência.

A investigação proposta no início deste trabalho se deu em parte pelo fato de

não ter sido possível a observação das aulas da Sala de Recursos Multifuncional do

AEE. Isso porque a professora responsável, não esteve na escola durante o período

estipulado para a pesquisa. Tal fato, apesar de constituir-se numa dificuldade

encontrada, não invalidou o confronto da hipótese e dos objetivos propostos com a

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realidade vivida pela escola. Ao contrário, corroborou para o fortalecimento da

compreensão de que o ser humano é realmente inconcluso em si mesmo, o que

possibilita posteriores investigações.

Pode-se inferir que a falta de preparo dos professores em lidar com os alunos

com deficiência, tanto no sentido disciplinar quanto da aplicação de atividades

adequadas, é uma das causas do distanciamento tantas vezes ocorrido entre eles e

os ditos “normais” e que se revela na não aquisição das competências necessárias.

A grande demanda atribuída ao coordenador pedagógico no cotidiano escolar

de uma instituição de médio porte, que atende uma clientela de adolescentes e

jovens em sua maioria, tem contribuído para a pouca atenção direcionada ao

respaldo necessário à educação inclusiva em seus diversos aspectos,

especialmente a reestruturação do PPP.

Esses fatores, portanto, tornam evidente que a inclusão praticada na escola

ainda não tem contribuído satisfatoriamente para a aprendizagem dos alunos com

deficiência e que a realidade apresentada no cotidiano do Ensino Fundamental II

confirma apenas a integração dos mesmos.

Com o título: Impactos da Travessia, o último capítulo trouxe a proposta de

intervenção com o intuito de impactar positivamente a atual conjuntura da escola

pesquisada no que tange à inclusão dos alunos com deficiência, através de um

cronograma de ações previstas para serem realizadas no ano de 2016. Tais ações,

se desempenhadas com afinco pela coordenação pedagógica, se configuram em

sugestões preventivas e/ou minimizadoras dos problemas encontrados.

A presente pesquisa não se apresenta como receita pronta ou poção mágica

para resolver a inclusão excludente observada no chão da escola, nem tampouco

pretende concluir o estudo sobre a temática, contudo, pretende suscitar a

consciência crítica dos atores do processo educativo, bem como o desejo de

comprometer-se com um novo olhar acerca dos educandos com deficiência.

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