AMARAL, Vera. a Dinâmica Dos Grupos e o Processo Grupal

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    Vera Lcia do Amaral

    Psicologia da EducaoD I S C I P L I N A

    A dinmica dos grupos e o processo

    grupal

    Autora

    aula

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    Adauto HarleyCarolina Costa

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    Adaptao para Mdulo Matemtico

    Andr Quintiliano Bezerra da SilvaKalinne Rayana Cavalcanti Pereira

    Thasa Maria Simplcio Lemos

    Imagens Utilizadas

    Banco de Imagens Sedis(Secretaria de Educao a Distncia) - UFRN

    Fotografias - Adauto HarleyStock.XCHG - www.sxc.hu

    Amaral, Vera Lcia do. Psicologia da educao / Vera Lcia do Amaral. - Natal, RN: EDUFRN, 2007.208 p.: il.

    Contedo: A psicologia e sua importncia para a educao A inteligncia A vida afetiva: emoes e

    sentimentos Crescimento e desenvolvimento A psicologia da adolescncia A formao da identidade:alteridade e estigma Como se aprende: o papel do crebro Como se aprende: a viso dos tericos daeducao Estratgias e estilos de aprendizagem: a aprendizagem no adulto A dinmica dos grupos e o processogrupal A famlia A escola como espao de socializao Sexualidade A questo das drogas Os meiosde comunicao de massa.

    1. Psicologia. 2. Psicologia educacional. 3. Didtica. I. Ttulo.

    ISBN: 978-85-7273-370-0

    CDU 159.9RN/UF/BCZM 2007/49 CDD 150

    Diviso de Servios Tcnicos

    Catalogao da publicao na Fonte. UFRN/Biblioteca Central Zila Mamede

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    Apresentao

    At agora, discutimos a forma como a Psicologia estuda e descreve o indivduo. Mesmoquando apresentamos e defendemos uma abordagem que trata desse indivduo como

    um ser scio-histrico, sempre do indivduo que estamos falando. A partir destaaula, vamos comear a discutir um conjunto de temas que analisa o comportamento daspessoas na sua vida em grupos. Iniciaremos, ento, conceituando os grupos sociais, comoeles se constituem e qual a sua dinmica.

    Objetivos

    Conhecer os conceitos de instituio, de organizaoe de grupo.

    Distinguir os tipos de grupos.

    Distinguir os fenmenos que ocorrem na dinmica deum grupo.

    Conhecer os grupos operativos.

    Conhecer algumas tcnicas de trabalho em grupo parauso em sala de aula.

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    Os estudos iniciais

    Passamos a maior parte das nossas vidas convivendo em grupos. Seja a nossa famlia,seja o grupo de amigos, seja a turma do trabalho, estamos sempre compartilhando

    nosso cotidiano com outras pessoas. J em 1919, um estudioso chamado Trotter(1919-1953) definia o instinto gregrio como um dos quatro instintos bsicos do homem,sendo os outros: o instinto de autopreservao, o instinto de nutrio e o instinto sexual. Oinstinto gregrio seria aquele que nos faria procurar sempre viver em grupos, como uma forma conforme explicao darwiniana de tornarmo-nos mais resistentes seleo natural.

    Para a Psicologia, o estudo dos grupos um dos seus temas fundamentais, ao pontode existir um ramo chamado Psicologia Social. A preocupao da Psicologia com o estudodos grupos comea com os estudos da chamada Psicologia das Massas, que tentavacompreender fenmenos coletivos. Na verdade, o incio dessas preocupaes ocorreu

    quando os psiclogos, ao se debruarem sobre a Revoluo Francesa, se perguntavam comoera possvel uma multido de pessoas ser levada por um lder a comportamentos que muitasvezes colocavam em risco as suas prprias vidas. E assim buscavam saber que fenmenoera aquele capaz de possibilitar a um enorme grupo agir com tamanha coeso.

    Figura 1 A tomada da Bastilha, marco da Revoluo Francesa

    A referncia clssica para essa discusso o francs Gustave Le Bon (1841-1931), quepublicou em 1895 um livro chamado Psicologia das Massas, o qual reeditado at os diasatuais. Para Le Bom, havia uma ruptura profunda entre o fenmeno individual e o fenmeno

    coletivo, ao ponto de se poder falar de uma psicologia das multides e de uma psicologia doindivduo. A multido apresentada como uma espcie de ser unitrio provido de caractersticaspsicolgicas prprias, de modo que os indivduos que a compem perdem suas caractersticaspessoais, sua autonomia, e passam a agir como uma espcie de psiquismo coletivo, muitasvezes, com comportamentos que o sujeito, quando fora da multido, jamais teria. H, pois, a perdada individualidade e a formao de um novo todo, que no a soma das partes. Para Le Bom,isso se daria por trs fatores: o sentimento de poder, o contgio mental e a sugestibilidade.

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    Figura 2 As manifestaes nazistas: objeto de estudo da Psicologia das Massas

    Freud tambm preocupou-se em estudar a questo dos grupos a partir das idias deLe Bon. Em seu livro A Psicologia das Massas e a anlise do Eu (1973), ele prope que as

    massas tambm no podem ser pensadas como tendo uma forma nica. Existiriam, ento,as multides efmeras e as mais duradouras; as homogneas, formadas por indivduossemelhantes, e as no homogneas; as primitivas e aquelas que possuem um alto graude organizao, que ele chama massas artificiais. Hoje, conhecemos esses grupamentosorganizados e estruturados como instituies, como veremos a seguir.

    Para Freud, no haveria uma mente grupal ou um psiquismo coletivo, comopropunha Le Bon. Todos os comportamentos individuais dentro de uma multido poderiamser compreendidos a partir do psiquismo dos indivduos, na medida em que os processosmentais se articulam desde cedo com a dimenso social da existncia. As vinculaes

    se dariam em dois eixos: um vertical, no qual os indivduos se ligariam aos lderes, queencarnariam a figura primordial do chefe da tribo; e um eixo horizontal, no qual haveriauma ligao dos membros uns com os outros, de modo que os indivduos imersos em umamultido se sentiriam mais desenvoltos para assumir riscos.

    Exemplos de atuaes de massas podem ser observados historicamente, como oNazi-fascismo; mas tambm na vida cotidiana, como as torcidas organizadas em estdiosde futebol, ou mesmo protestos radicais, como as manifestaes de quebra-quebraem transportes coletivos.

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    Atividade 1

    sua

    resposta

    As instituies,as organizaes e os grupos

    Retomemos agora a questo inicial: nossa vida cotidiana marcada pela vida em grupo.Para que possamos viver em grupo, so necessrias certas regras, combinaes eacertos. Tomemos como exemplo a rotina do nosso trabalho. Samos de casa em uma

    determinada hora e vamos a um ponto de nibus. Sabemos que este passar em uma certahora que nos permitir estar no trabalho na hora precisa. Para que isso acontea, ou seja, para

    Procure recordar se voc j participou de manifestaes de massa. Se voc novivenciou manifestaes desse tipo, seguramente, j assistiu a algumma nosjornais de TV ou em filmes. Descreva essa situao a seguir, relatando quaisforam os seus sentimentos nesse momento.

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    que ns tenhamos a tranqilidade de esperar o nibus sabendo que ele vir, foram necessriosalguns acertos e combinaes que, no caso, ocorreram sem que ns precisssemos intervir.Chegando ao trabalho, esperamos encontrar a porta aberta e o espao organizado para queiniciemos nossas tarefas. Sabemos tambm que vamos encontrar os nossos colegas. Todosesses eventos acontecem a partir desses acertos implcitos, dessa regularidade, dessas normas,

    os quais nos permitem conviver em grupo. A isso chamamos institucionalizao, ou seja, oestabelecimento de regularidades comportamentais que possibilitam o viver coletivo.

    A institucionalizao comea como um processo em que as pessoas vo, aos poucos,descobrindo qual a melhor forma, a mais rpida, a mais econmica, de desempenhar suastarefas. Quando essa forma se repete muitas vezes, torna-se um hbito. Com o passar dotempo, com a transferncia desse hbito para as geraes seguintes, comea a haver umatradio que no exige mais questionamentos e, ento, impe-se por ser uma heranados antepassados. Depois de muitas geraes, passamos a no nos dar conta do por quecontinuamos a fazer daquela forma, perdemos a referncia de que a herdamos de nossosantepassados. Nesse momento, dizemos que a regra social foi institucionalizada.

    A instituio , pois, um valor ou regra social reproduzida no cotidiano com estatutode verdade, que serve como guia bsico de comportamento e padro tico para as pessoasem geral [...] o que mais se reproduz e o que menos se percebe nas relaes sociais(BOCK, 1999, p. 217).

    Esse conjunto de regras e valores concretiza-se na sociedade em uma instncia chamadaorganizao. A organizao pode ser complexa, como as empresas, ou mais simples, comoum pequeno estabelecimento, uma entidade no governamental. De todas as maneiras, onde vo se manter e reproduzir as instituies sociais, ou seja, na organizao que vamosdar vida ao conjunto de regras que estabelecemos para a convivncia em grupo. Assim,

    tanto as instituies quanto as organizaes somente existem em funo de um conjunto depessoas que reproduzem e, s vezes, reformulam as regras e os valores: o grupo.

    Os autores definem grupocomo sendo uma unidade que se d quando os indivduosinteragem entre si e compartilham normas e objetivos.

    Figura 3 Os grupos de idosos

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    Atividade 2

    sua

    respos

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    Tipos de grupos

    Os grupos podem ser classificados como primrios ou secundrios. Os gruposprimrios so aqueles constitudos para a satisfao das necessidades bsicas dapessoa e a formao de sua identidade. Caracterizam-se por fortes vnculos afetivos

    interpessoais e uma hierarquizao de poder. Um exemplo pode ser o grupo familiar.

    Os grupos secundrios so aqueles constitudos para a satisfao das necessidades

    sistmicas ou de interesses de grandes grupos e classes. Sua identidade construdapelo papel social que o indivduo desempenha e o poder est centrado na capacidade e naocupao social dos seus membros. Um exemplo de grupo funcional pode ser o grmioestudantil ou os conselhos de classe de uma escola.

    Assim, um conceito-sntese de grupo pode ser o proposto por Martn-Bar: umaestrutura de vnculos e relaes entre pessoas que canaliza em cada circunstncia suasnecessidades individuais e/ou interesses coletivos (citado por MARTINS, 2003, p. 204).

    Vamos tentar fazer a diferenciao entre institucionalizao e organizao. Tomecomo referncia alguma organizao que voc conhea. Cite essa organizaoe liste alguns procedimentos institucionalizados que nela ocorrem.

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    A dinmica dos grupos

    Um grupo um todo dinmico. Apesar de ser um conjunto de pessoas, no simplesmente a soma dos participantes, o que significa que qualquer mudana que

    ocorra em um dos participantes vai interferir no estado do grupo como um todo. Epor estarmos sempre mudando que o grupo dinmico.

    Quando um grupo se estabelece, uma srie de fenmenos passa a atuar sobre as pessoasindividualmente e, conseqentemente, sobre o grupo. o chamado processo grupal. Vamosdestacar alguns desses fenmenos:

    1) coeso significa o resultado da aderncia do indivduo ao grupo, a fidelidade aos seusobjetivos e a unidade nas suas aes. Todo grupo s consegue sobreviver se mantiveruma atrao entre seus membros, assim, faz-se necessrio uma certa presso entre os

    membros para que nele permaneam. Um grupo, de acordo com suas caractersticas,pode apresentar uma maior ou menor coeso. Uma maior coeso geralmente obtidaquando o grupo observa que as finalidades esto sendo cumpridas e os resultadosesto sendo obtidos. Quanto maior a coeso maior a satisfao dos membros e maior aprodutividade. Isso pode ser claramente observado em um time de futebol. Quanto maisele se reveste do sentimento de equipe, melhores so os resultados obtidos. E vice-versa: quanto melhores os resultados, mas aumenta a coeso do time.

    2) padres grupais so as expectativas de comportamentos partilhados por parte dosmembros do grupo. Esses padres ou normas de comportamento so estabelecidoscom a especificao de atitudes ou comportamentos desejveis por parte dos membros.

    A partir disso, estabelece-se uma fiscalizao por parte do grupo quanto ao cumprimentodessas normas, aplicando-se sanes aos que no as cumprem. Esses padres muitasvezes no so explicitados, mas espera-se que o indivduo ao ingressar no grupo osperceba. Por exemplo, no necessrio ressaltar para um membro de um grupo dejovens catlico que ele deve comparecer missa, pois isso est implcito.

    3) motivaes individuais e objetivos do grupo so os elementos que esto relacionadoscom a escolha que cada indivduo faz quando decide participar de um grupo e soimportantes para garantir a adeso. Uma pessoa geralmente escolhe participar de umgrupo a partir de suas motivaes pessoais, sejam motivaes referentes aos objetivos

    do grupo, sejam atraes exercidas por membros daquele grupo. importante observaras respostas que o grupo d a essas manifestaes individuais, as quais at podemser admitidas, desde que no interfiram nos objetivos centrais do grupo, que sempreprevalecero. Quanto mais o grupo zela pela sua coeso, menos manifestaesindividuais sero toleradas. Uma manifestao individual que atente contra os objetivosdo grupo sero punidas com a excluso daquele membro.

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    Atividade 3

    sua

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    4) liderana A habilidade do lder para motivar e influenciar o grupo produz efeitos naatmosfera deste. O grupo pode desenvolver-se em um clima democrtico, autoritrio ourelaxado, dependendo da vocao do grupo e de lideranas que viabilizem essa vocao.Assim, por exemplo, um grupo cujos membros acreditam que a melhor forma de organizaras relaes a autoritria, vai necessitar de um lder autoritrio, que, por sua vez, reforar a

    atmosfera autoritria dentro do grupo. Um dos grandes estudiosos da questo da lideranafoi Kurt Lewin (1890-1974). Para ele, os grupos democrticos tinham mais eficincia alongo prazo, enquanto os autoritrios tinham uma eficincia imediata. Como as decisesso centralizadas na figura do lder, os membros somente funcionam a partir de suademanda e so, geralmente, cumpridores de tarefas. J os grupos democrticos exigemmaior participao de seus membros, que dividem as responsabilidades com a liderana.Isso torna a realizao dos objetivos mais demorada, entretanto, mais duradoura.

    Figura 4 Os grupos de trabalho funcionam com dinmicas prpria.

    Provavelmente, voc faa parte de algum grupo. Se no, converse com algumque esteja vinculado a algum. Analise sua prpria participao, ou a de outrapessoa, e anote a seguir a avaliao que voc fez do grupo com relao aosquatro itens descritos anteriormente.

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    Os grupos operativos e a teoriado vnculo de Pichon-Rivire

    Opsiquiatra suo-argentino Pichon Rivire (1907-1977) foi tambm um estudioso dosgrupos. Ele desenvolveu uma nova abordagem, que resultou nos chamados gruposoperativos. Para ele, o grupo um conjunto restrito de pessoas, que, ligadas por

    constantes de tempo e espao e articuladas por sua mtua representao interna, prope-se, explcita ou implicitamente, a uma tarefa, que constitui sua finalidade. No entanto, nobasta que haja um objetivo comum ou que tenha como finalidade uma tarefa, preciso queessas pessoas faam parte de uma estrutura dinmica chamada vnculo. Por exemplo, aspessoas que esto em uma sala de espera de um cinema esto reunidas no mesmo espaodurante o mesmo tempo, com o mesmo objetivo, mas no se constituem em um grupo. Ha necessidade de se vincularem e interagirem na busca de um objetivo comum, por isso,

    os princpios organizadores do grupo so o vnculo e a tarefa. A teoria do vnculo, portanto,parte do pressuposto de que o homem se revela e se estrutura por meio da ao, ou seja, dodesempenho de papis e do estabelecimento de vnculos.

    Figura 5 Pichon Rivire

    Para Pichon Rivire, vnculo [...] a maneira particular pela qual cada indivduose relaciona com outro ou outros, criando uma estrutura particular a cada caso e a cadamomento (PICHN-RIVIRE, 1998, p. 3). , assim, uma estrutura dinmica, movida pormotivaes psicolgicas, que rege todas as relaes humanas.

    Identificamos se o vnculo foi estabelecido, quando:

    somos internalizados pelo outro e a internalizamos tambm.

    ocorre uma mtua representao interna;

    a indiferena e o esquecimento deixam de existir na relao, passamos a pensar, a falar, anos referir, a lembrar, a nos identificar, a refletir, a nos interessar, a nos complementar, a nosirritar, a competir, a discordar, a invejar, a admirar, a sonhar com o outro ou com o grupo.

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    Tarefa, outro princpio organizador de grupo um conceito que diz respeito aomodo pelo qual cada integrante do grupo interage a partir de suas prprias necessidades.Necessidades, que para Pichon-Rivire constituem-se em um plo norteador de conduta:o processo de compartilhar necessidades em torno de objetivos comuns constitui a

    tarefa grupal. Nesse processo, emergem obstculos de diversas naturezas: diferenas e

    necessidades pessoais e transferenciais, diferenas de conceitos e marcos referenciais edo conhecimento formal propriamente dito.

    Num primeiro momento do funcionamento do grupo, h um bloqueio da atividadegrupal em funo das fantasias bsicas universais do grupo as quais induzem utilizaode posturas defensivas que dificultam as mudanas de opinio. Nos momentos iniciais,quando o grupo parte para a execuo da tarefa, necessrio que as ansiedades sejamexplicitadas e resolvidas para, a partir da, ocorrer a identificao e o estabelecimento dovnculo, configurando-se a relao grupal.

    Para Pichon Rivire, um grupo opera melhor quando h em seu conjunto de pessoas

    pertinncia, afiliao, centramento na tarefa, empatia, comunicao, cooperao eaprendizagem. A pertinncia pode ser vista como a qualidade da interveno de cada um nogrupo; a afiliao a intensidade do envolvimento do indivduo no grupo; o centramentona tarefa o eixo principal da cooperao, refere-se ao grau de interao com que umparticipante mantm o vnculo com o trabalho a ser efetuado, e avalia a disperso e arealizao de esforo til do indivduo; a empatia o modo como o grupo pode ganharfora para operar cada vez mais significativamente; a comunicao essencial para que hajaentrosamento; a cooperao o modo pelo qual o trabalho ganha qualidade e operatividade;a aprendizagem o resultado do trabalho e deve ser essencialmente colaborativa.

    A teoria do vnculo aplicada ao contexto do ensino prope a quebra da polaridade professor-

    aluno. Ela introduz um terceiro elemento que deve ser considerado. O sujeito e o outro eminterao se do conta de que h um mundo inteiro em cada um, em interao contnua, queatinge tambm o nvel inconsciente, produzindo imagens ilusrias e ansiedades que necessitamde testes de realidade para a sua elaborao. As dvidas so compartilhadas e uma representaocomum construda criando condies para a soluo surgir. Por exemplo, quando conheoalgum, me vem lembrana outras pessoas que conheci nas mesmas circunstncias. Assim,no encontro entre duas pessoas, sempre h um terceiro, que esse outro que conheci, oqual, mesmo no estando presente fisicamente, est na lembrana. E essa lembrana podeser perturbadora o suficiente para gerar na pessoa fantasias e ansiedades com relao aquem ela est encontrando agora. Posso imaginar que aquele tipo de olhar que vejo em quem

    encontro agora, me recordando o olhar daquele outro, um olhar de hostilidade e, com isso,fico ansioso. Mas, imediatamente depois me dou conta de que essa pessoa de agora no amesma que conheci, ou seja, executo testes de realidade no tendo por que ter ansiedade. Secompartilho esses meus sentimentos com o outro e ele, por sua vez, compartilha comigo assuas ansiedades, criamos uma representao comum que estimula o vnculo.

    Na aprendizagem centrada no estudante, os conceitos de papel e vnculo se entrecruzame por isso importante abordar tanto a estrutura do vnculo como os diversos papis, os quais

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    professor e aprendizes se atribuem. O papel decisivo na situao do vnculo, transitrio epossui uma funo determinada, que pode aparecer de forma especfica e particular em umadeterminada situao e em cada pessoa.

    Observando-se como opera um grupo ao resolver uma determinada tarefa deaprendizagem, possvel compreender que se trata de um grupo operativo centrado natarefa de dominar o problema e dar a ele uma soluo.

    Tcnicas de trabalho em grupo

    Compreender o funcionamento de um grupo tambm pode ser importante paraa realizao de dinmicas em sala de aula. Certas tcnicas, tambm chamadas dedinmicas de grupo, so muitas vezes utilizadas para possibilitar a organizao e a

    criatividade na produo do conhecimento. Elas podem gerar um processo de aprendizagemmais coletivo e mais rico. Inmeras so essas tcnicas e vrios so os manuais (so algunsdeles: Facilitando o trabalho com grupos, de Eliane Poranga Costa (Editora Wak, 2003);Intervenes grupais na Educao, organizado por Stela Regina de Souza Fava (Editoragora, 2005); Exerccios prticos de dinmica de grupo, de Silvio Jos Fritzen (EditoraVozes, 2001)) que as descrevem, no entanto, sempre que o professor optar por uma deveconsiderar alguns elementos, os quais descreveremos a seguir.

    1) Objetivos o professor deve ter clareza sobre o que quer com a tcnica e deve pens-larespeitando esses objetivos.

    2) Ambiente o espao onde se desenvolver a tcnica deve ser adequado e pensado demodo a no inibir os participantes. Algumas tcnicas podem ser percebidascomo constrangedoras, por isso devem ser pensadas para serem executadasem ambientes fechados, por exemplo.

    3) Durao as tcnicas devem ser pensadas com tempo determinado para seu incio e fim.

    4)Nmero de participantes estar atento a quantas pessoas participaro fundamentalpara pensar a tcnica mais adequada e para providenciar osmateriais necessrios.

    5) Materiais os recursos necessrios ao desenvolvimento da tcnica podem ser os maisvariados, desde o papel, lpis, tinta, som, at equipamentos mais complexos,como projetores multimdia, filmadoras, iluminao etc.

    6) Perguntas e concluses o momento da sntese do que foi produzido permite resgatar aexperincia e os sentimentos de cada um, bem como chegara concluses sobre o tema discutido.

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    As tcnicas de grupo podem servir para desinibir e diminuir a tenso da turma, paraapresentao dos participantes, para integrao do grupo, para capacitao e comunicao.A quantidade de tcnicas j descritas muito grande e vrios so os manuais que asdescrevem. A seguir, vamos apresentar exemplos de algumas tcnicas.

    1) Tcnica do mtodo cientfico

    a)Apresentao do tema em uma palavra.

    b)Diviso do quadro em partes iguais, com perguntas do tipo:

    o que queremos saber?

    o que pensamos?

    o que conclumos?

    c) Apresentao e fixao, no quadro de giz, das questes chaves j preparadasanteriormente sobre o que queremos saber.

    d)Oralmente, os participantes vo respondendo segunda questo (o que pensamos?)e o professor as anota sinteticamente no quadro.

    e)Faz-se a leitura de textos para comparar com as respostas dadas.

    f)Oralmente, os participantes vo respondendo terceira questo (o que conclumos?)

    e o professor anota as concluses no quadro de forma sinttica.

    g)Cada participante dever registrar as concluses finais e guard-las consigo paraposteriores consultas.

    2) Painel de Trs

    a)Dividir o grupo em trs subgrupos: apresentador, opositor e assemblia.

    b)O grupo apresentador expe o tema, sem ser interrompido.

    c)O grupo opositor anota aquilo com que no concorda e aquilo com que concorda, e,aps o apresentador, expe suas anotaes.

    d)A assemblia, que tudo ouviu e anotou, apresenta seu depoimento.

    e)O professor conclui. Os textos finais devem, ento, ser afixados no quadro.

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    Atividade 4

    sua

    res

    posta

    3) Brainstormou tempestade cerebral

    a)Prope-se um tema para discusso.

    b)Solicita-se aos participantes que exponham todas as idias, mesmo as aparentemente

    mais descabidas e absurdas, sobre o tema. As idias devem ser expostas rapidamente,sem nenhuma censura.

    c)O professor vai registrando no quadro todas as idias que foram apresentadas, semnenhum juzo crtico, e estimula sugestes de outras novas ou associados comalguma j apresentada, at que a turma sinta que no h mais nada a ser falado.

    d)O professor convida a turma para fazer a seleo, a eliminao ou o aperfeioamentodas idias at que se chegue a um conjunto de idias adequado ao tema proposto.

    Essas so, como dissemos, apenas alguns exemplos de tcnicas de grupo. Voc podee deve criar a sua de acordo com as necessidades de sua aula. Vamos experimentar?

    Vamos imaginar que voc est com dificuldades de fazer sua turma avanarde um conceito do senso comum para o conceito cientfico. Somente suaexplicao em sala de aula no est sendo suficiente. Nesse caso, que tipo de

    tcnica de grupo voc poderia propor turma? Explique-a a seguir.

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    Resumo

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    3

    4

    5

    Auto-avaliao

    Analise uma escola como uma organizao e destaque o que voc pode observarde comportamentos institucionalizados que nela ocorrem.

    Identifique e descreva grupos que podem ocorrer em uma escola.

    Descreva os fenmenos que ocorrem na dinmica de um grupo.

    O que a teoria do vnculo?

    O que caracteriza o grupo operativo?

    Referncias

    BOCK, A. M. B. Psicologias:uma introduo ao estudo de Psicologia. So Paulo: Saraiva,

    1999.

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    Nesta aula, discutimos como surge a preocupao da Psicologia com oestudo de manifestaes coletivas, resultando no que se conhece hoje como

    Psicologia Social. Vimos os conceitos de instituio, de organizao e degrupo; e analisamos a dinmica envolvida nesse ltimo. Destacamos a teoriado vnculo e os grupos operativos e, por fim, apresentamos algumas tcnicasdas chamadas dinmicas de grupo.

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    Aula 10 Psicologia da Educao 15

    LEWIN, K. Problemas de dinmica de grupo. So Paulo: Cultrix, 1978.

    MARTINS, Sueli Terezinha Ferreira. Processo grupal e a questo do poder em Martn-Bar.Psicol.Soc., Porto Alegre, v.15 n.1, jan./jun. 2003. Disponvel em: .Acesso em: 02 ago. 2007.

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    Anotaes

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