Ambiente e Construção Sustentável', de Manuel Pinheiro

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ambiente e construo sustentvel - manuel duarte pinheiro

Ambiente e Construo Sustentvel

Manuel Duarte Pinheiro

Instituto do Ambiente Amadora 2006

Ttulo: Autoria:

Ambiente e Construo Sustentvel Manuel Duarte Pinheiro IST/DECivil Francisco Nunes Correia (at Maro 2005) Fernando Branco Manuel Correia Guedes Instituto do Ambiente 2006 Fernandes & Terceiro 1 500 exemplares 972-8577-32-X

Conselho Cientfico:

Edio: Data da Edio: Impresso: Tiragem: ISBN: Depsito Legal:

ndice geralAgradecimentos 15

1.

Enquadramento

17

2

Orientaes e Requisitos Legais Ambientais da Construo 2.1. 2.2. 2.3. Evoluo das Linhas Estratgicas Principais requisitos ambientais decorrentes da legislao nacional Instrumentos de Mercado

23 23 28 39

3.

Actividades Humanas e Impacte Ambiental da Construo 3.1. 3.2. 3.3. Actividades Humanas e Impactes Ambiente Construdo e Tipologia de Impactes Impactes Ambientais dos Edifcios

43 43 64 75

4.

Caminhar para a Construo Sustentvel 4.1. 4.2. 4.3. 4.4. Actividades Humanas e Procura da Sustentabilidade Ambiente Construdo e Procura de Sustentabilidade Sustentabilidade e Edificado Sntese - caminhar para a Construo Sustentvel

85 85 92 104 124

5.

Instrumentos Ambientais para a Construo Sustentvel 5.1. 5.2. Instrumentos de Apoio e Avaliao Sistemas de Avaliao da Construo Sustentvel de Edifcios

131 131 146

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3

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6.

Sistemas de Certificao Ambiental do Edificado Sustentvel 6.1. 6.2. 6.3. 6.4. 6.5. 6.6. Reino Unido: BREEAM Estados Unidos da Amrica: LEED Frana: HQE Sistema de Comparao Internacional: GB Tool - Green Buildind Tool Outros Sistemas de Avaliao de Zonas Construdas Sustentveis Sistemas como apoio aos programas de iniciativa local

155 155 164 171 177 182 183

7.

Aspectos a considerar para desempenho ambiental do edificado a nvel nacional 7.1. 7.2. 7.3. Abordagem Alargada Abordagem segundo o Sistema LiderA Empreendimentos com dinmica de desempenho ambiental

189 189 193 200 201 207 210 214 221

7.3.1. Casa Osis 7.3.2. Torre Verde 7.3.3. Projecto de Ponte da Pedra (Fase II) 7.3.4. Hotel Jardim Atlntico 7.4. Comeando

8.

Desenvolvendo

225

Bibliografia

231

4

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ndice de figurasFigura 1-1 Evoluo da populao mundial no ltimo milnio (UNPD, 1999) 17

Figura-2-1 Figura 2-2

Principais questes ambientais relacionadas com as actividades construtivas Evoluo do PIB comparativamente com indicadores ambientais (AAE, 1999:17)

38

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Figura 3-1 Figura 3-2 Figura 3-3 Figura 3-4

Actividades Humanas, Ambiente Construdo e Edificado Fotos de Diferentes Actividades Humanas Esquema indicativo dos fluxos de materiais (Steurer, 1996) Consumos de materiais directos (DMI) e Produto Nacional Bruto per capita, Europa 1999/2000 (Eurostat, 2002) Evoluo 1980 a 2000 do DMI (Eurostat, 2002) Percentagem na Europa dos 15 e em Portugal das componentes do DMI, para o ano de 2000 (Moll et al, 2003) Componentes dos requisitos totais dos materiais (Bringezu e Schtz, 2001:7) Composio dos requisitos totais de materiais, Europa 1997 (Eurostat, 2002) Requisitos totais de materiais e Produto Nacional Bruto, Europa 1995 (Bringezu e Schtz, 2001:27) Estimativa dos fluxos de materiais na Europa per capita anuais para a segunda metade dos anos 90 (Steurer, 1996) Perfil da Energia Importada em Portugal em 2001 (Eurostat, 2003a) Repartio por Fonte do Consumo Final de Energia em Portugal em 2001. (Eurostat, 2003a) Repartio por Sector de Consumo Final de Energia em Portugal em 2001 (Eurostat, 2003b) Estrutura dos consumos de energia e respectiva utilizao no sector domstico, para os anos de 1990 e 2010 (GASA-FCT, 2000) Captaes de gua doce, ltimo ano disponvel m3/per capita (OCDE, 2003b) Caudal captado para abastecimento pblico (IA, 2006) Evoluo da pegada ecolgica da humanidade (WWF, 2004) Maiores vinte e cinco pegadas ecolgicas mundiais, 2004 (WWF, 2004) Pegada Ecolgica de Portugal e da Unio Europeia (Wackernagel et al, 2005) Disponibilidade para a Pegada Ecolgica de Portugal e da Unio Europeia (Wackernagel et al, 2005) Conceptualizao das reas de Impacte Ambiental

43 44 45

46 46

Figura 3-5 Figura 3-6

47

Figura 3-7

47

Figura 3-8

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Figura 3-9

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Figura 3-10

51 52

Figura 3-11 Figura 3-12

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Figura 3-13

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Figura 3-15

57 59 60 61

Figura 3-16 Figura 3-17 Figura 3-18 Figura 3-19

62 62 65

Figura 3-20 Figura 3-21

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Figura 3-22 Figura 3-23 Figura 3-24 Figura 3-25

Produo e capitao de resduos slidos urbanos em Portugal Continental (IA, 2006) Produo de guas residuais por tipo de utilizao (IA, 2005) Uso do solo em Portugal Continental, em 2000 (IA, 2006) Classes de concentrao de cada poluente associadas ao ndice de Qualidade do Ar, no ano 2003 (IA, 2005) ndice de Qualidade do Ar (IA, 2006) Uso do solo nas reas designadas para a conservao da natureza em Portugal Continental (IA, 2005) Ciclo de vida das construes Impactes Ambientais no ciclo de actividades da construo (CICA, 2002) Edifcios Concludos em 2004, por Tipo de Obra (INE, 2005) Impacte Ambiental do ciclo de vida de um escritrio em 50 anos de vida, por fases do ciclo de vida (Junilla, 2004) Impacte Ambiental do ciclo de vida de um escritrio em 50 anos de vida, para os vrios sistemas (Junilla, 2004)

66 67 69

70 71

Figura 3-26 Figura 3-27

72 74 74 78

Figura 3-28 Figura 3-29 Figura 3-30 Figura 3-31

81

Figura 3-32

81

Figura 4-1 Figura 4-2

Objectivos da sustentabilidade na sua tripla dimenso Gare do Oriente, Lisboa, inspirada na forma nos princpios biomimticos (voo de uma ave) do Arq Santiago Calatrava Cidade sustentvel com metabolismo circular, em Rogers 2001 Esquema simplificado da dinmica da construo sustentvel (Bourdeau et al, 1998) Evoluo das preocupaes no sector da construo civil Desafios e Aces - Agenda 21 para Construo Sustentvel Aspectos parciais do BedZED Aspectos parciais do Parque das Naes em Lisboa e Loures Principais reas Ambientais de Interveno para a Construo Sustentvel no Edificado

87

91 97 102 104 108 120 123

Figura 4 3 Figura 4-4 Figura 4-5 Figura 4-6 Figura 4-7 Figura 4-8 Figura 4-9

Figura 5-1 Figura 5-2 Figura 5-3 Figura 5-4 Figura 5-5

Baseado na sistematizao das abordagens (Bentivegna et al, 2002) Fases do EIA Fases da anlise do ciclo de vida da construo (ACV) (Centre for Design, 2001) Exemplo de Anlise de Ciclo de Vida simplificada - Ecopro (Peuportier et al, 1997) Intervenes no desvio dos rios Duke de Northumberland e Longford na zona do Futuro Terminal 5 do Aeroporto de Heathrow em Londres Quinta da Marinha Golfe de Oitavos (Fonte: Quinta da Marinha Golfe de Oitavos)

132 134 135 137

141 143

Figura 5-6

Figura 6-1 Figura 6-2

Ponderao das Categorias no EcoHomes. Aspectos parciais de Greenwich Millennium Village

157 159

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ndice de figuras

Figura 6-3 Figura 6-4 Figura 6-5 Figura 6-6 Figura 6-7 Figura 6-8 Figura 6-9 Figura 6-10 Figura 6-11 Figura 6-12 Figura 6-13 Figura 6-14 Figura 6-15

Vista do exterior da sede do BRE Pormenor da fachada com as suas chamins marcantes e o sistema de controlo da iluminao Pormenor do interior do edifcio na zona de open space Quarteiro Parque Oriente (Fonte: Tirone e Nunes) Ponderao das Categorias no LEED NC. Sede da Chesapeake Bay Foundation Vista do interior do Centro. Temas de Interveno no HQE das Habitaes. Escala considerada no GB Tool Exemplo da apresentao de resultados global do GB Tool (Verso 1.81) Exemplo da apresentao de por reas do GB Tool (Verso 1.81) Pormenor da Entrada do Instituto do Ambiente. Definio da Fronteira proposta pelo CASBEE (Murakami, 2002)

160 161 162 164 165 168 168 176 179 180 180 182 182

Figura 7-1

Exemplo do poster Display, apresentado no folheto de divulgao (Fonte: Ageneal - Agncia Municipal de Energia de Almada) Principais Vertentes e reas Ambientais de Interveno sugeridas para a Construo Sustentvel no Edificado Importncia do Edifcio, Sistemas e Ocupantes no consumo de energia em edifcios no domsticos (Baker e Steemers 1992) Importncia do Contexto Urbano, Edifcio, Sistemas e Ocupantes no consumo de energia em edifcios (Ratti, Baker e Steemers, 2005) Categorizao dos nveis de desempenho com atribuio de avaliao Fachada Este da Moradia Osis Plantas dos dois pisos da Moradia Osis Perfil Ambiental das Solues apresentadas na Casa Osis Vista Noroeste da moradia (do acesso ao terreno) Paredes trombe no piso trreo Necessidades nominais de energia, RCCTE (de 1990) Floreiras para amenizar e estruturas para aumentar a inrcia trmica Vista Oeste, com evidncia da empena norte enterrada rea da piscina interior, no piso superior Tijolos em vidro entre a cozinha e a sala de refeies Pormenor dos tijolos em vidro entre pisos Pormenor das camas Edifcio Torre Verde, em Lisboa

193

Figura 7-2

194

Figura 7-3

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Figura 7-4

199 200 201 201 202 203 204 204 204 204 206 206 206 207 207

Figura 7-5 Figura 7-6 Figura 7-7 Figura 7-8 Figura 7-9 Figura 7-10 Figura 7-11 Figura 7-12 Figura 7-13 Figura 7-14 Figura 7-15 Figura 7-16 Figura 7-17 Figura 7-18

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Figura 7-19 Figura 7-20 Figura 7-21 Figura 7-22

Pormenor da Torre Verde, no Parque das Naes, em Lisboa Perfil Ambiental das Solues apresentadas na Torre Verde Edifcio Torre Verde e envolvente Pormenor dos estores regulveis nas janelas e da iluminao natural no interior e exterior dos apartamentos Pormenor do empreendimento de Ponte da Pedra (Fase II) Projecto de Ponte da Pedra (Fase I) Projecto de Ponte da Pedra (Fase II) Perfil Ambiental das Solues apresentadas no Projecto de Ponte da Pedra (Fase II) Pormenor Construtivo da parede dupla e isolamento das caixas de estores Construo da cisterna de armazenamento de gua Gesto da iluminao natural: fenestrao natural e proteco contra a incidncia solar Vista panormica do Hotel Jardim Atlntico Perfil Ambiental das Solues apresentadas no Hotel Jardim Atlntico Hotel Jardim Atlntico mecanismos de reduo do consumo de electricidade - Lmpadas de baixo consumo Pormenor dos equipamentos de cozinha no Hotel Jardim Atlntico Pormenor dos redutores nas torneiras Beiral e recolha das guas pluviais no Hotel Jardim Atlntico Pormenores do tratamento e aproveitamento de gua no Hotel Jardim Atlntico Recarga e reutilizao dos recipientes com sabonete Recarga e reutilizao dos recipientes para as limpezas Pormenor da bandeira com a certificao no Hotel Jardim Atlntico

208 208 209

210 211 211 211 212 213 213 214 215 216

Figura 7-23 Figura 7-24 Figura 7-25 Figura 7-26 Figura 7-27 Figura 7-28 Figura 7-29 Figura 7-30 Figura 7-31 Figura 7-32

218 218 218 218 219 219 220 221

Figura 7-33 Figura 7-34 Figura 7-35 Figura 7-36 Figura 7-37 Figura 7-38 Figura 7-39

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ndice de quadrosQuadro 1-1 Contribuio da indstria de construo para o PIB, Formao Bruta de Capital Fixo e emprego. (OCDE, 2003a) Exemplo de projectos do sector da construo abrangidos pela Legislao de AIA (Decreto-Lei n 197/2005 de 8 de Novembro). Mochila ecolgica e escala de alguns materiais. Mochila ecolgica de alguns materiais para obter 1 kg necessita de movimentar: Mochila ecolgica de alguns produtos Indicadores Energticos entre 1990 e 2001 Europa e Portugal (Eurostat, 2003a). Energia incorporada de alguns materiais de construo (Buchanan e Honey, 1994). Repartio da gua na Terra(Shiklomanov, 1993). Abastecimento de gua em 2003 (INE, 2003). Consumo de gua (abastecida pela rede pblica) em 2004 (INE, 2005a). Resumo dos efeitos do ciclo de vida completo por componentes principais de um edifcio de escritrios usando o ATHENA. Comparao do impacte ambiental de trs tipos de construo (Mithraratne e Vale, 2004) Aspectos relevantes da construo sustentvel (adaptado de CIB, 1998b). Fases do ciclo de vida e relevncia dos instrumentos de ACV (Center for Design, 2001). Exemplos de Instrumentos para apoio e avaliao da construo sustentvel (1/2). Exemplos de Instrumentos para apoio e avaliao da construo sustentvel (2/2). Exemplo de escala em funo do impacte do negativo ao positivo (Cole, 1997). Tipo de Habitaes utilizadas em estudo da Pegada Ecolgica. Redues na Pegada Ecolgica para cada tipo de habitaes (Bioregional, 2003). Lista dos Critrios do LEED. Lista dos Critrios do LEED (continuao). Escala de desempenho do GBTool. Principais Indicadores Ambientais sntese de Sustentabilidade do Projecto do GB Tool para um caso de estudo. reas consideradas no LEED NC e no SPIRIT. Exemplos de Programas Regionais e Locais para Construo Sustentvel (EUA). Lista de critrios potenciais a considerar na avaliao ambiental da construo em Portugal (LiderA V1.02)

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Quadro 2-1

34 49 50 50 52 55 56 58 58

Quadro 3-1 Quadro 3-2 Quadro 3-3 Quadro 3-4 Quadro 3-5 Quadro 3-6 Quadro 3-7 Quadro 3-8 Quadro 3-9

87 88 116 136 144 145 150 163 163 166 167 178

Quadro 3-10 Quadro 4-1 Quadro 5-1 Quadro 5-2 Quadro 5-3 Quadro 5-4 Quadro 6-1 Quadro 6-2 Quadro 6-3 Quadro 6-4 Quadro 6-5 Quadro 6-6

181 183 185 197

Quadro 6-7 Quadro 6-8 Quadro 7-1

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Siglas e Abreviaturas

ACV ADCN AEA AVAC BEES BRE BREEAM CE CEE CEEQUAL CFC CIB CICA CREM COV CSD DGE DGATLP DGGE DMI DoD PPP EC EIA EMAS EPA EPI

Anlise de Ciclo de Vida reas Designadas para a Conservao da Natureza Agncia Europeia do Ambiente Aquecimento Ventilao e Ar Condicionado Building for Environmental and Economic Sustainability Building Research Establishment Building Research Establishment Environmental Assessment Method Comunidade Europeia Comunidade Econmica Europeia Civil Engineering Environmental Quality and Assessment Scheme CloroFluorCarbonetos Conseil International du Btiment Confederation of International Contractors Associations Consultancy and Research for Environmental Management Composto Orgnico Voltil Comission on Sustainable Development Direco Geral de Energia Direction Gnrale de lAmnagement du Territoire, du Logement et du Patrimoine of the Walloon Region of Belgium Direco Geral de Geologia e Energia Direct Material Input Department of Defense Pollution Prevention Partnership European Commission Estudo de Impacte Ambiental Environmental Management and Audit Scheme Environmental Protection Agency (Estados Unidos da Amrica) Environmental Perfomance Indicators

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ETAR ETCWMF EU EUA GBRS GB Tool GEE GWP HFC HCFC IA INAG INE INR ISA ISO LEED LNEC MPI NABERS NIST OCDE OPI PAG PCB PEAD PIB PGA PME

Estao de Tratamento de guas Residuais European Topic Centre on Waste and Material Flows European Union Estados Unidos da Amrica Green Building Rating System Green Building Tool Gases com Efeito de Estufa Global Warming Potential (Potencial de Aquecimento Global) HidroFluorCarboneto HidroCloroFluorCarboneto Instituto do Ambiente Instituto (Nacional) da gua Instituto Nacional de Estatstica Instituto (Nacional) dos Resduos Instituto Superior de Agronomia International Standard Organization Leadership in Energy and Environmental Design Laboratrio Nacional de Engenharia Civil Management Performance Indicators National Australian Building Environmental Rating System National Institute of Standards and Technology Organisation for Economic Co-operation and Development Operational Performance Indicators Potencial de Aquecimento Global Bifenil Policlorado PoliEtileno de Alta Densidade Produto Interno Bruto Plano de Gesto Ambiental Pequenas e Mdias Empresas

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siglas e abreviaturas

PSS PVC QAI RAN RCCTE REN RSECE RSU SGA SMAS Tep Tg TMR EU / UE UEI UNPD UNEP USA UNFCCC WWC WWF

Planos de Segurana e Sade Policloreto de Vinil Qualidade do Ambiente Interior Reserva Agrcola Nacional Regulamento das Caractersticas de Comportamento Trmico dos Edifcios Reserva Ecolgica Nacional Regulamento dos Sistemas Energticos de Climatizao em Edifcios Resduos Slidos Urbanos Sistema de Gesto Ambiental Servios Municipalizados guas e Saneamento Tonelada equivalente de petrleo (em ingls toe - Tonne of oil equivalent) Tera gramas (unidade de medida 1012) Total Material Requirement Unio Europeia Urban Environmental Institute United Nations Population Division United Nations Environment Program United States of America Estados Unidos da Amrica United Nations Framework Convention on Climate Change World Water Council World Wildlife Fund

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Agradecimentos

Queria agradecer ao Arquitecto Luis Morbey pelo desafio para a realizao desta abordagem construo sustentvel permitindo reunir vrios elementos numa s publicao. Uma palavra especial para as fundamentais orientaes estratgicas efectuadas na qualidade de Conselho Cientifico dos Prof. Francisco Nunes Correia (at Maro de 2005), Prof. Fernando Branco e Prof. Manuel Correia Guedes, que contribuiram decisivamente para desenvolver a abordagem apresentada. Especiais agradecimentos equipa da IPA (Inovao e Projectos em Ambiente), pela disponibilidade que me permitiu escrever este guia e ao meu amigo Dr Manuel dos Reis Duarte pelas suas sempre relevantes sugestes e correces efectuadas ao longo do documento. No que diz respeito aos casos apresentados no captulo 7, queria agradecer Arqt Livia Tirone e Eng Ken Nunes da Tirone Nunes, Lda. ao Eng. Daniel Lucas e Sr. Liliana Marques da Norbiceta, ao Eng Cndido de Sousa da Osis Piscinas, Lda, e ao Sr. Jos Manuel Teixeira do Hotel Jardim Atlntico. Agradeo tambm a colaborao sempre disponvel e decisiva da Eng. Filipa Fonte e Eng. Liliana Soares, na pesquisa e apoio ao longo do livro, bem como aos meus ilustres colegas nomeadamente Prof Antnio Gonalves Henriques, pelas sugestes especificamente para o captulo 2, sobre poltica de ambiente e ao Prof Jorge de Brito pelas precises na verso final. Aproveito tambm para agradecer ao Sr. Lus Matos pela sua dedicao e qualidade de trabalho na paginao desta publicao. Se todo o meu trabalho no seria possvel sem a educao e suporte passado dos meus pais e irmos, seguramente a sua concretizao presente assentou no inestimvel apoio da minha mulher Marina e dos meus filhos Maria e Z Maria a quem dedico este Livro.

Manuel Duarte Pinheiro

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1. EnquadramentoActividades, crescimento e impacte As actividades humanas, de que a construo um exemplo, tm acompanhado o crescimento populacional e o desenvolvimento, nomeadamente por via do aumento do nvel de vida individual das populaes, da maior capacidade de mobilizar recursos e do consequente impacte ambiental.Populao (Mil Milhes) 7 6 5 4 3 2 1 0 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 1900 2000 Anos Figura 1-1 Evoluo da populao mundial no ltimo milnio (UNPD, 1999)

A populao mundial (UNEP, 1999; UNPD, 1998) aumentou mais de duas vezes desde 1950, ultrapassando j os 6 400 milhes de habitantes. Atingiu os 1 000 milhes em 1804 e demorou cerca de 123 anos a ter mais 1 000 milhes; cerca de 33 anos a atingir os 3 000 milhes; cerca de 14 anos a atingir os 4 000 milhes (em 1960); 13 anos para atingir os 5 000 milhes (em 1987), 12 anos a atingir os 6 000 milhes (em 1999) e 6 464 milhes em 2005. A economia global quintuplicou desde 1950. Apesar da crise, em 1997, iniciada no Este asitico, a economia mundial continuou a expandir-se, tendo crescido a uma taxa de 4,1% nesse ano. Estes dados traduzem-se em importantes alteraes, conduzindo a maiores necessidades de acesso aos recursos naturais e s actividades construtivas com efeitos ambientais que importa considerar. Este aumento de populao, associado a um aumento do nvel de vida, pode originar impactes crescentes. Num modelo muito simplificado pode considerar-se que os impactes (I), dependem da populao (P), do seu estilo de vida (A de affluence em ingls) e da tecnologia adoptada (T), traduzida na equao simplificada de I = PAT, sugerida por Ehrlich, Holdren e Commoner (Ehrlich e Holdren, 1971; Commoner, 1972). Na perspectiva deste modelo pode verificar-se que nos ltimos 40 anos, se registou uma duplicao da populao e em muitos casos a duplicao do padro do seu estilo de vida, pelo que, nos casos em que a evoluo tecnolgica no foi significativa, pode estar-se a falar de uma quadruplicao do impacte nesse perodo. A evoluo tecnolgica depende de uma multiplicidade de factores e varia de sector para sector. O sector da construo e os ambientes construdos representam um caso particular, onde as alteraes tecnolgicas nem sempre se repercutem na reduo dos impactes unitrios: por exemplo nos edifcios residenciais os consumos energticos tm vindo sucessivamente a aumentar. Na maior parte dos casos a populao vive e trabalha em ambientes construdos, revelando a importncia do sector da construo, em geral, e dos edifcios, onde vive e trabalha, em particular.

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Sector da construo A construo uma actividade que tem acompanhado o homem e as suas civilizaes. Edifcios, estradas, pontes, aquedutos e barragens, por exemplo, evidenciam uma forma de organizao e de procura de melhores condies de vida entre outras. A construo entendida1 como: "tudo o que construdo ou resulta de operaes de construo e que est fixo ao solo. Assim, incluem-se nas construes: habitaes (vivendas), edifcios industriais, comerciais, de escritrio, de sade, educacionais, recreativos e agrcolas, pontes, estradas, caminhosde-ferro, estdios, piscinas, cais, plataformas, docas, canais, barragens, torres, tanques, tneis, entre outras". As actividades construtivas podem ser definidas2, como actividades para construo, alterao e/ou reparao incluindo pintura ou decorao. J um trabalho de construo3 define-se como: a) a construo, instalao, reconstruo, reparao, manuteno (incluindo redecorao e limpeza externa), renovao, remoo, alterao, melhoramento, desmantelamento ou demolio de uma estrutura; b) qualquer trabalho envolvido na preparao das operaes apresentadas em (a) incluindo os movimentos de terras anteriores execuo das fundaes; c) o uso de maquinaria, ferramentas e materiais relacionados com qualquer das operaes definidas em a) ou b). No conceito de construo devem ser referenciados trs grandes nveis: a indstria da construo, como sector econmico, a respectiva actividade construtiva (construo, renovao e demolio), que no geral ocorre em perodos de alguns meses a vrios anos e por fim o seu resultado, isto o ambiente construdo, que corresponde s infra-estruturas, aos edifcios e outros produtos, cuja operao e manuteno tem reflexos ambientais significativos. O sector da construo tem um grande impacte na economia, com uma forte incidncia no volume do emprego, na contribuio para o PIB e na formao bruta do capital fixo, tendo ainda um efeito de arrastamento aprecivel nas restantes reas econmicas. Corresponde a 9,7% do PIB no espao da Unio Europeia, representando em Portugal, 7,9% do PIB (OCDE, 2003a). A nvel mundial o volume de negcios, neste sector, ultrapassa os 3 trilies de euros e o maior sector da indstria no espao europeu (UNEP, 2003).Quadro 1-1 Contribuio da indstria de construo (OCDE, 2003a) para o PIB, Formao Bruta de Capital Fixo e emprego

PIB UE (1999) Japo (2000) EUA (2000) 9,7% 13,7% 4,7%

Formao Bruta de Capital Fixo 47,6% 53,4% 45,7%

Emprego 7,5% 9,9% 5,0%

Na realidade, este sector um dos maiores empregadores na Unio Europeia. A indstria da construo civil providencia 7% dos postos de trabalho por todo o mundo, podendo alcanar 23% (UNEP, 2003) em pases em desenvolvimento ainda que, por vezes, estes sejam mal remunerados e pouco estveis. As actividades construtivas infra-estruturas, edifcios e outras potenciam no s um importante efeito econmico e social mas tambm ambiental, desde logo associado ocupao e ao uso do solo, ao consumo de recursos (nomeadamente gua e energia), produo em larga escala de resduos e efluentes (lquidos e gasosos), bem como alterao dos ecossistemas naturais, que podem interferir directamente com o ambiente envolvente.

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enquadramento

Importncia dos edifcios Nos ambientes construdos, os edifcios tm-se assumido como uma rea onde as questes ambientais tm estado menos presentes, tendo hoje na reduo do CO2 e no consumo de gua potvel, uma das reas chaves para a sustentabilidade. Os edifcios e o ambiente construdo (espao envolvente) assumem-se assim como uma componente muito importante, em mltiplos aspectos, sendo contudo por vezes menos abordada sob alguns pontos de vista, incluindo o ambiental. Cerca de 10% da economia global so dedicados operao e construo de edifcios (Roodman e Lenssen, 1995). Na Europa contempornea, as pessoas passam em mdia entre 80 e 90% do seu tempo dentro de edifcios. Mtodos de concepo e construo incorrectos podem ter um efeito significativo na sade dos ocupantes dos edifcios e podem ter como resultado edifcios com manuteno, aquecimento e arrefecimento dispendiosos, afectando nomeadamente os idosos e os grupos sociais menos favorecidos. Acresce que a escolha de materiais e solues (por vezes com componentes de toxicidade), a inadequada concepo e a manuteno dos equipamentos de climatizao, podem originar importantes problemas de sade pblica. A optimizao dos modos de concepo, construo, renovao e demolio dos edifcios e do ambiente construdo pode permitir melhorias significativas no desempenho ambiental e econmico dos espaos edificados e na qualidade de vida dos cidados. Segundo a estratgia da Unio Europeia para o Ambiente Urbano (UE, 2004) o aquecimento e a iluminao dos edifcios so responsveis pela maior quota individual de utilizao da energia (42%, dos quais 70% destes para aquecimento) e produzem 35% de todas as emisses de gases com efeito de estufa. Para alm da energia consumida na operao dos edifcios, a produo dos materiais e a construo em si mesma, consomem energia, usualmente designada por energia incorporada e estimada em cerca de 10 a 15%, quando considerado o seu ciclo de vida global. Os edifcios e ambiente construdo armazenam uma grande quantidade de materiais (s os edifcios atingem 40% dos materiais e 55% das madeiras extradas mundialmente (Roodman e Lenssen, 1995). As quantidades de resduos provenientes da actividade de construo so elevadas, estimando-se (CIB, 1999) que o edificado e actividades afins originem cerca de 40% do total de resduos produzidos. Do total dos resduos de construo e demolio internacionais, cerca de 92% so atribudos s actividades de demolio e 8% provm de actividades construtivas sejam edifcios ou renovaes de estruturas existentes. Consequentemente, as estratgias e as solues tm de ter em conta este enorme armazenamento de materiais, para assegurar que estes se tornem, na medida do possvel, um recurso para as geraes, em vez de a deposio de resduos representar um enorme problema.

Edificado em Portugal No nosso pas, o ritmo construtivo, que nos 60 e 70 era bastante inferior ao da restante Europa, intensificou-se bastante na dcada de 90, o que implicou que o parque edificado nacional apresente, actualmente, valores semelhantes aos da mdia europeia (Canha da Piedade, 2003). Entre 1970 e 1999 mais de 2 milhes de unidades habitacionais foram construdas, mas foi na dcada de 90 que o crescimento do sector foi mais elevado, registando-se um crescimento anual mdio de 6% do Valor Acrescentado Bruto, por exemplo no Sector da Habitao. Entre 1980 e 2001 a populao total cresceu cerca de 5,3%, passando de 9 819 milhes de habitantes para 10 336 milhes e o parque habitacional privado aumentou cerca de 24,8%, passando de 2 924 milhes de fogos em 1981 para 3 650 milhes de fogos em 2001 (DGATLP, 2002).

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de referir que a construo de novas habitaes foi at data a componente mais importante, correspondendo, por exemplo em 2003, a 83% das intervenes no edificado, sendo 10% de ampliao, 4% de reconstruo e 3% de alteraes, do total de 47 585 edifcios concludos nesse ano (INE, 2004). Em muitos casos, esse aumento quantitativamente significativo do parque edificado, no se reflectiu num aumento das preocupaes ambientais, nem na procura de eficincia em termos dos consumos energticos e de materiais, colocando assim na agenda a necessidade de uma abordagem mais activa da dimenso ambiental.

Importncia da abordagem ambiental pr-activa no ambiente construdo A crescente preocupao e regulamentao ambiental, aliada crescente importncia e presso da opinio pblica, colocam progressivamente a questo do desempenho energtico e ambiental, cada vez mais na agenda da construo dos edifcios e na sua relao com o espao envolvente, entendido no empreendimento. Desta forma, cada vez mais urgente considerar os impactes potenciais e reais associados ao ambiente construdo e construo de edifcios (ou conjuntos de edifcios), de preferncia numa fase de ante-projecto, de forma a serem encontradas medidas que permitam minimiz-los e, se possvel, elimin-los. A dimenso ambiental ganha assim cada vez maior importncia para l dos estritos requisitos legais, em muitas vezes posicionando-se, ainda que de forma no dominante em termos de mercado, na perspectiva da sustentabilidade. Com o objectivo de avaliar, qualitativa e quantitativamente, estes impactes e propor medidas que os reduzam, numa ptica de sustentabilidade, tm surgido, desde os anos 90 do sculo passado, diversas abordagens e sistemas de avaliao do desempenho ambiental dos edifcios e de apoio implementao de prticas, medidas e solues mais sustentveis, as quais tm vindo a ser progressivamente adoptadas. A sustentabilidade vem realar a importncia de considerar as dimenses econmica, social e ambiental e de ver para alm do curto prazo, sendo fundamental para assegurar um desenvolvimento com capacidade de se sustentar sem atingir pontos de ruptura. A proposta de Estratgia Nacional para o Desenvolvimento Sustentvel (IA, 2002a) assenta, nesta vertente particular, na aposta em "desenvolver uma poltica de habitao sustentvel, visando a revalorizao das reas suburbanas, de zonas residenciais degradadas e a reabilitao do parque urbano". Esta poltica dever assentar em quatro vectores: (1) durabilidade, nomeadamente dos materiais de construo; (2) flexibilidade (adaptao ocupao ao longo do tempo); (3) coeso social, garantindo a acessibilidade ao mercado da habitao das famlias mais necessitadas, a pessoas idosas ou de mobilidade reduzida, garantindo o sentido de comunidade, valorizada pela solidariedade social, diminuindo os custos indirectos resultantes dos transportes e localizao e garantindo a sade fsica e psicolgica dos seus ocupantes; (4) eficincia ecolgica, contemplando a racionalizao do uso do solo, dos materiais de construo, da energia e da gua. Estes aspectos enquadram-se na abordagem do ambiente e da construo na perspectiva da construo sustentvel, assumida (Kibert, 1994) como a "criao e gesto responsvel de um ambiente construdo saudvel, tendo em considerao os princpios ecolgicos (para evitar danos ambientais) e a utilizao eficiente dos recursos", destacando desta forma o papel fundamental que

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o ambiente pode ter no domnio da deciso, concepo e gesto dos empreendimentos em ambientes construdos. Entre as linhas de interveno assume cada vez maior importncia a escolha (adopo) de instrumentos que permitam apoiar o desenvolvimento de projectos de edifcios sustentveis, assegurando a sua avaliao e reconhecimento.

O guia sobre ambiente e construo sustentvel nesta perspectiva que este guia pretende ser um contributo para a introduo a uma abordagem voluntarista e pr-activa dos aspectos ambientais no sector da construo, enquadrando e introduzindo as linhas de interveno, os principais requisitos ambientais e os sistemas de gesto ambiental para a sustentabilidade da construo, com especial destaque para os ambientes construdos e respectivos edifcios. Para esse efeito so abordadas sumariamente: as grandes tendncias, orientaes e requisitos ambientais (Captulo 2), os principais impactes que se manifestam nas actividades humanas e no ciclo de vida da construo em geral e no edificado em particular (Captulo 3), as respostas a estes desafios que se traduzem em novos conceitos e novas abordagens assumidas na construo sustentvel (Captulo 4). Apresenta-se, com enfoque particular no ambiente construdo, e em especial, nos edifcios quanto aos principais instrumentos para a construo sustentvel (Captulo 5), sistemas de certificao ambiental do edificado sustentvel (Captulo 6), aspectos a considerar para desempenho ambiental do edificado a nvel nacional (Captulo 7) e desenvolvem-se as concluses inerentes s reas anteriores (Captulo 8).

NOTAS DO CAPTULO 1 1 2 3 Segundo Directiva 89/106/CE de 21 de Dezembro relativa aos produtos da construo Definio proposta pelo US Department of Labor Occupational Safety & Health Administration Definio proposta pelo Hong Kong Occupational Safety & Health Association

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2. Orientaes e Requisitos Legais Ambientais da Construo2.1. Evoluo das Linhas EstratgicasA regulamentao e os requisitos legais constituem aspectos importantes da organizao e das exigncias ambientais, que se colocam s actividades humanas e que estabelecem regras para as mesmas, de acordo com orientaes polticas, sociais e outras em vigor. A partir do momento em que as questes ambientais surgem e adquirem importncia, em muitos casos em consequncia da consciencializao dos problemas, torna-se necessrio atenuar esses problemas. Nessa perspectiva a regulamentao, atravs da definio de requisitos, evidencia os mecanismos e formas como se pretende dar resposta s questes ambientais. J na Idade Mdia algumas questes ambientais apareciam na regulamentao (embora de forma pontual e espordica). Constituem exemplo as questes de salubridade e, posteriormente, a regulamentao do uso de recursos naturais como o caso da gua.

Abordagem s questes ambientais Desde a formao das estruturas edificadas que a questo do abastecimento de gua e a eliminao dos dejectos se colocam. Era hbito haver o prego " l vai gua". - Em 17551 Manuel da Maia tinha mandado colocar vidros nos edifcios em Lisboa para impedir os cheiros das imundices despejadas para a rua onde o clebre prego "gua vai ou l vai gua " imperava. Um edital de 1775, da Cmara de Lisboa, obrigava os lisboetas a substituir os vidros que estivessem partidos nas janelas. O Direito do Ambiente encontra razes profundas no tempo (Antunes, 1997), ainda que, evidentemente, sob um ponto de vista bem diverso do actual: - Na Constituio de 1822, atribua-se o dever das cmaras municipais plantarem rvores nos baldios e terrenos concelhios. - Nos finais do sculo passado (Decreto n.8 de 5 de Dezembro de 1892) j se falava em "inquinamento" no regime sancionatrio do Regulamento dos Servios Hidrulicos. - Em 1919 (Decreto com fora de Lei n. 5787 iiii de 10 de Maio) j se encontram uma Lei de guas.

O primeiro perodo do Direito do Ambiente interno ou internacional, dos incios do sculo XIX at aos anos 60 do sculo XX, caracteriza-se sobretudo pela preocupao em assegurar uma utilizao no conflituosa de alguns recursos naturais, que comeavam a ser disputados como factores de produo ou como bens de consumo. Especial relevncia merece, desde logo, a sade pblica e a segurana, bem como a gua. A primeira directiva comunitria sobre questes ambientais surge em 27 de Junho de 1967 (Directiva n 67/548/CEE), abordando as questes de classificao, embalagem e rotulagem de substncias perigosas. At aos anos 70 do sculo passado, o Ambiente (Carpenter, 2001) era utilizado como um conceito particular relacionado com as alteraes nas condies regionais e globais envolventes. Os efeitos ambientais eram abordados primariamente segundo os efeitos que produzem na vida das pessoas ou no crescimento das plantas e animais. Os recursos eram naturais ou produzidos pelo Homem. Os recursos naturais serviam para trs tipos de funes promotoras de vida: como suporte geral de vida, como fornecimento de matrias-primas e para absorver os desperdcios.

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A proteco ambiental era vista sobretudo de uma perspectiva antropocntrica. O ambiente era um suporte para a vida humana, uma fonte de recursos que interessava preservar, mas ao qual no era atribudo um valor em si mesmo. Tambm no que se refere aos danos ambientais a preocupao residia essencialmente nas consequncias que estes teriam nas populaes. Deste modo, a defesa dos valores ambientais era pensada unicamente no sentido da procura de melhores condies para o Homem ao nvel da sade, lazer, etc. Em Portugal, foi criada em 1971 na Junta Nacional de Investigao Cientfica e Tecnolgica a Comisso Nacional do Ambiente, a qual tinha como objectivo preparar a misso e a interveno de Portugal na Conferncia de Estocolmo do ano seguinte, nomeadamente o Relatrio de Portugal a apresentar Cimeira de Estocolmo. Como Comisso Permanente de Estudos este grupo foi depois um importante embrio para os organismos centrais de ambiente a nvel nacional. Nos anos 70 do sculo XX, as preocupaes ambientais passam a fazer parte da agenda poltica internacional com a "Conferncia das Naes Unidas sobre Ambiente Humano" realizada em Estocolmo, em 1972. Esta foi fruto do pensamento ambiental da poca, centrando-se nas questes da poluio, da sade humana e do Homem. Na Declarao do Ambiente resultante desta conferncia consta: "O Homem criatura e criador do seu ambiente, que lhe assegura a subsistncia fsica e lhe d a possibilidade de desenvolvimento intelectual, moral, social e espiritual". Os problemas ambientais e as suas consequncias eram compreendidos de forma incipiente e no existia ainda um compromisso assumido na sua resoluo. Como tal, as solues apresentadas para a resoluo de problemas especficos consistiam apenas sugestes que deveriam ser cumpridas "sempre que vivel". No mesmo ano, na sequncia dos trabalhos de criao do modelo global de computador World 3, para o Clube de Roma, os Meadows (Meadows et al, 1972) publicam o livro "Os Limites do Crescimento", no qual se questiona a possibilidade do ambiente suportar a mdio e longo prazo o crescimento populacional. De acordo com os clculos a efectuados, tal crescimento poderia originar, a mdio e longo prazo, crises ambientais graves. Como soluo, propunha-se que se procurasse um "equilbrio global", para o qual o crescimento populacional deveria ser abrandado e a produo industrial e a utilizao de recursos repensadas. Nesta altura a percepo dos problemas ambientais era essencialmente local ou regional. Um dano ambiental2 era facilmente atribuvel a uma chamin, descarga de um efluente lquido ou deposio de resduos. Como tal, entendia-se que a resoluo desses problemas se encontrava na regulamentao das condies de funcionamento dessas fontes eram as solues fim de linha (end of pipe). Isto , as medidas eram essencialmente tomadas no fim do processo industrial, como o tratamento dos efluentes ou as emisses e encaminhamento dos resduos gerados. Em 1986, Portugal adere ento designada Comunidade Econmica Europeia. Desta forma, a legislao nacional e os requisitos presentes decorrem, no apenas da legislao nacional existente antes da adeso Comunidade, mas sobretudo da transposio da legislao comunitria existente nesta rea, que marca a partir da adeso as exigncias ambientais para as vrias actividades. A necessidade de preveno tem sido progressivamente enfatizada, fomentada pela ocorrncia de acidentes graves significativos: em 1976 o acidente de Seveso, em 1979 o acidente na central nuclear de Three Mile Island, nos EUA, em 1984 acidente da indstria qumica em Bhopal na ndia; em 1986 o acidente nuclear de Chernobyl;em 1989 o acidente do petroleiro Exxon Valdez, na costa sul do Alaska, provocou uma mar negra causando poluio aqutica a uma das zonas mais ricas em recursos pisccolas, posicionavam constantemente as questes ambientais, os efeitos nefastos e a necessidade de preveno.

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Primeira gerao de directivas comunitrias de Ambiente A nvel europeu, entre 1967 e 1987 (Correia, 2003), foram desenvolvidos trs programas de aco em matria de Ambiente: - 1 Programa do Ambiente 1973-1976, assume uma definio embora vaga de "Ambiente", Medidas curativas e Cooperao internacional; - 2 Programa do Ambiente 1977-1981, foca as Medidas curativas e a Introduo do Princpio do Poluidor Pagador; - 3 Programa do Ambiente, 1982-1987, assume Polticas curativas, e abre a abordagem para as polticas preventivas e Integrao do Ambiente noutras polticas. Tinham tambm sido publicada a 1 gerao de directivas europeias de ambiente, com grande precariedade de suporte jurdico, em que se confrontavam face a face o mercado nico vs. proteco ambiental. Era evidente a perspectiva de sade pblica, tendo como cuidado evitar o contacto com as "substncias perigosas". Alguns exemplos so: - Directiva 75/440/CEE - Qualidade das guas doces superficiais destinadas produo de gua para consumo humano; - Directiva 76/464/CEE - Poluio causada sobre substncias perigosas e "Directivas filhas" - Directiva 85/337/CEE- Avaliao dos Efeitos de Projectos Pblicos e Privados no Ambiente, assumindo-se a dimenso preventiva no processo de avaliao de impacte ambiental

Nos finais dos anos 80 do sculo XX, com a percepo crescente de problemas globais, como por exemplo a degradao da camada do ozono estratosfrico e as chuvas cidas, as questes ambientais passaram a ser vistas de uma forma mais alargada, tanto ao nvel da sua repercusso como ao nvel do processo. Compreendeu-se ento que os impactes de uma determinada actividade eram resultado de todo o processo produtivo: materiais, resduos e emisses e tecnologias utilizadas, assumindo-se pois a possibilidade de compatibilizar estes elementos e o conceito de desenvolvimento sustentvel. Ao nvel da legislao a evoluo foi tambm semelhante evoluo do pensamento ambiental. Inicialmente, na procura de controlar a poluio, as medidas legislativas focavam-se na obrigatoriedade de tratar emisses e resduos. As polticas adoptadas eram polticas de comando e controlo, isto , a legislao estabelecia limites de emisses que deveriam ser cumpridos pelos diversos sectores de actividade. Caso tal no acontecesse, a legislao previa a punio dos infractores atravs de coimas e outras medidas. Tratava-se a aplicao consubstanciada do princpio do poluidor-pagador. Em 1987 d-se uma viragem extremamente decisiva ao nvel comunitrio, com a aprovao do Acto nico Europeu, assumindo como perspectiva3: - preservar, proteger e melhorar a qualidade do ambiente; - contribuir para a proteco da sade das pessoas; - assegurar uma utilizao prudente e racional dos recursos naturais. Em Portugal publicada a Lei de Bases do Ambiente (Lei n11/87), definindo o quadro das linhas de interveno de Poltica de Ambiente, assumindo o conceito de ambiente como "conjunto de sistemas fsicos, qumicos, biolgicos e suas relaes, e dos factores econmicos, sociais e culturais com efeitos directos ou indirectos, mediatos ou imediatos, sobre os seres vivos e qualidade de vida do homem".

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Procurar o desenvolvimento sustentvel Em 1987 no Relatrio de Brundtland "O Nosso Futuro Comum" apresentado um dos conceitos mais importantes ao nvel ambiental, o conceito de Desenvolvimento Sustentvel. Este definido como: "desenvolvimento que d resposta s necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade de as geraes futuras darem resposta s delas". Passados 20 anos sobre a Conferncia de Estocolmo realiza-se, em 1992, no Rio de Janeiro, a "Conferncia das Naes Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento". A evoluo na abordagem das questes ambientais patente em toda a Conferncia, a comear pelo ttulo da mesma. Nesta perspectiva o ambiente passa a ser uma importante componente, sendo-lhe atribudo um valor intrnseco, constituindo uma parte integrante do desenvolvimento sustentvel. Como resultado da referida "Conferncia das Naes Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento", foram adoptados por mais de 178 pases das Naes Unidas os seguintes instrumentos: a Agenda 21, a Declarao do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento, a Declarao de Princpios sobre o Uso das Florestas e a Conveno Quadro sobre as Alteraes Climticas. por esta altura que as preocupaes ambientais deixam de se centrar no controlo da poluio e passam a focar-se antes na sua preveno. Para tal, as estratgias adoptadas centram-se na reduo da poluio na fonte, atravs da utilizao de solues tcnicas alternativas ou mesmo por alteraes do processo produtivo o princpio da precauo passa a merecer maior destaque. A partir da altura da realizao da Conferncia do Rio de Janeiro, adoptaram-se, progressivamente, medidas que visam reduzir a poluio gerada, atravs de uma perspectiva integradora, considerando a totalidade do processo produtivo. Nesta fase, o princpio da preveno, que preconiza a adopo de medidas preventivas para a proteco do ambiente, assim como o princpio do poluidor-pagador, regem a legislao ambiental. A Agenda 21 um programa global envolvendo 118 pases, com os objectivos de promover a regenerao ambiental e o desenvolvimento social, um plano de aco para ser assumido ao nvel global, nacional e local. Esta tem sido interpretada em diversas Agendas locais e regionais. Uma dessas interpretaes com especial relevncia para o sector da construo a Agenda Habitat II, que resultou da Conferncia das Naes Unidas, em 1996, realizada em Istambul. A Agenda Habitat II demonstra uma preocupao com abrigo para todos e a sustentabilidade dos aglomerados humanos e contm diversas seces dedicadas ao sector da construo civil e forma como os governos nacionais devem encorajar a indstria no sentido da sustentabilidade. Desde a adeso de Portugal comunidade econmica europeia (1986) e at data (Correia, 2003), concretizaram-se trs programas de aco comunitrios em matria de Ambiente, revelando importantes evolues de perspectiva: 4 Programa do Ambiente, 1987-1992 Estratgia Preventiva - Princpio do Poluidor Pagador e Integrao do Ambiente noutras polticas; 5 Programa de Aco em Matria de Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel, 1993-2000. Este programa assume a Integrao de polticas, sendo os sectores seleccionados: indstria, energia, transporte, agricultura e turismo; Subsidiariedade e responsabilidade partilhada, Instrumentos Econmicos e Definio de metas para determinada reas; 6 Programa de Aco em matria de Ambiente 2000 - 2010: Nosso Futuro, Nossa Escolha4. Foca a integrao de polticas, dissociando as presses ambientais do crescimento econmico. Prioridades: alteraes climticas; natureza e biodiversidade; ambiente e sade e qualidade de vida; recursos naturais e resduos.

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publicada a 2 gerao de directivas europeias de ambiente, dirigida para sectores especficos e com maior relevncia nas questes econmicas, como por exemplo: Directiva 91/271/CEE - Tratamento de guas Residuais Urbanas; Directiva 91/676/CEE - Poluio Causada por Nitratos de Origem Agrcola.

Surge ento a 3 gerao de directivas europeias de ambiente, assumindo-se uma viso integrada das questes ambientais, de que so exemplos as seguintes: Directiva 96/61/CE - Preveno e Controlo Integrado da Poluio; Directiva 97/11/CE - Altera a Directiva 85/337/CEE relativa avaliao dos efeitos de determinados projectos pblicos e privados no ambiente; Directiva 2000/60/CE - Quadro de Aco Comunitrio no domnio da gua; Directiva 2001/42/CE Avaliao dos Efeitos de Planos e Programas no Ambiente.

Associados s estratgias do 5 Programa surgem instrumentos voluntrios, para as organizaes, nomeadamente o regulamento comunitrio, (inicialmente Regulamento n1836/93/CEE, estando actualmente em vigor o Regulamento n 761/2001/CE de 19 de Maro), referente ao Sistema de Ecogesto e Auditoria (conhecido pelo acrnimo de EMAS Environmental Management Auditing Scheme). Bem como para os produtos, nomeadamente o regulamento comunitrio que estabelece o rtulo ecolgico (inicialmente o Regulamento n880/92/CEE, estando actualmente em vigor o Regulamento n 1980/2000/CE de 23 de Maro de 1992). Na sequncia do Tratado de Maastricht5 o tratado de Amsterdo6 modifica e desenvolve o seu contedo, continuando a dar nfase ao princpio da integrao dos requisitos ambientais nas outras polticas e reconhece que o aspecto chave consiste na promoo do desenvolvimento sustentvel (Artigo n 6 do Tratado CE). Com a assinatura do Protocolo de Quioto, diversos pases industrializados, incluindo Portugal, comprometeram-se a reduzir, entre 2008 e 2012, as suas emisses combinadas de gases causadores de efeito de estufa em pelo menos 8% em mdia na Europa dos 15, em relao aos nveis de 1990. Em 2002, realizou-se na cidade de Joanesburgo a "Cimeira Mundial sobre Desenvolvimento Sustentvel" onde sublinhada a importncia da procura do desenvolvimento sustentvel e onde se aborda a questo da globalizao. Esta Cimeira assentou, essencialmente, numa reafirmao do empenho no cumprimento dos objectivos da Agenda 21 e dos objectivos para o milnio traados na sesso especial das Naes Unidas em 2000. Para alm disso, patente um fortalecimento do conceito de desenvolvimento sustentvel, que inclui aspectos sociais, nomeadamente a relao entre a pobreza, o ambiente e o uso dos recursos naturais, bem como um aumento da parceria entre pases. Na actualidade, a legislao de ambiente assenta numa lgica de responsabilidade partilhada, procurando a participao dos intervenientes no processo, de modo a promover o cumprimento dos objectivos ambientais e ter tambm em conta as questes econmicas e sociais com que as empresas se deparam. Estas so vistas como parceiros e adoptada uma poltica negocial, numa lgica de practividade. Deste modo, possvel o estabelecimento de contratos ambientais onde o cumprimento dos objectivos progressivo, ao invs de imediato, e a utilizao de incentivos econmicos ou de outra ndole. A integrao das actividades e das consequncias da poluio ganham uma nova dimenso, com a adopo de legislao abrangendo diversas actividades e reas ambientais, como o ar, a gua e o solo, encarando o ambiente como um todo7, nomeadamente assumindo para um conjunto de actividades o licenciamento ambiental integrado, associando tecnologia o estabelecimento de valores limites de emisses. Tambm no que se refere a acordos, as polticas de ambiente da actualidade permitem j a negociao de emisses de CO2 entre pases8.

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A progressiva internalizao das questes ambientais e da sustentabilidade na legislao reflecte-se, por exemplo, na Directiva que prope a avaliao ambiental estratgica de planos e programas (Directiva n 2001/42/CE). A utilizao de um instrumento to importante como a avaliao ambiental ao nvel dos planos e programas permitir levar em considerao os problemas ambientais resultantes destes planos e programas durante a sua preparao e antes da sua aprovao. Deste modo, esta perspectiva representa uma maior aproximao sustentabilidade, sendo contemplada pela Estratgia Nacional de Desenvolvimento Sustentvel, sujeitando a avaliao ambiental os planos de reas to diversas como a agricultura, as pescas, o turismo e o transporte, entre outros.

6 Programa Comunitrio em Matria de Ambiente O 6 Programa de Aco em Matria de Ambiente agora em vigor, foca as reas onde necessrio um maior nmero de aces e nas quais as novas iniciativas iro fazer a diferena, estabelecendo objectivos para os prximos 10 anos. A chave ser o "desenvolvimento sustentvel", ou seja, formas de melhorar a qualidade de vida sem causar danos ao ambiente, s geraes futuras e s pessoas do mundo subdesenvolvido e desenvolvido. Este programa abrange quatro reas temticas distintas, em que so necessrios novos e impetuosos esforos: Enfrentar as Alteraes Climticas; Proteco da Natureza e Vida Selvagem; Aces para o Ambiente e a Sade; Utilizao Sustentvel dos Recursos Naturais e Gesto de Resduos. Para a efectivao deste programa, a Unio Europeia deve exercer a necessria presso, de forma a colocar em prtica a legislao, a colocar o ambiente no centro da poltica, a trabalhar com o mercado e a ajudar as pessoas a fazer escolhas mais amigas do ambiente. Elaboram-se sete estratgias temticas: (i) proteco do solo, (ii) conservao dos ecossistemas marinhos, (iii) utilizao sustentvel de pesticidas - integrada numa abordagem estratgica da gesto internacional de substncias qumicas, (iv) reforo de uma poltica coerente e integrada para a qualidade do ar, (v) ambiente urbano, (vi) gesto e utilizao sustentvel dos recursos e (vii) reciclagem de resduos.

Sntese Em sntese, os conceitos actuais mais relevantes na Poltica de Ambiente assentam na preveno e na precauo, no tratamento na fonte e na diversificao dos instrumentos (econmicos, incluindo taxas e mecanismos voluntrios); apostam na integrao das polticas sectoriais, das componentes ambientais e ao longo do ciclo de vida do produto e da actividade; focam uma abordagem combinada de valores limites de emisso e objectivos de qualidade; fomentam as melhores tecnologias disponveis a custo razoveis. Assume-se progressivamente o conceito de desenvolvimento sustentvel, no qual o ambiente um dos factores chave, a par com a dimenso social e econmica.

2.2. Principais requisitos ambientais decorrentes da legislao nacionalOrientaes Globais Esta evoluo vai traduzir-se a nvel nacional nos diplomas jurdicos que apresentam requisitos a serem adoptados pelos cidados e organizaes. A perspectiva ambiental includa, de forma

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pioneira, na Constituio da Repblica Portuguesa de 1976. Nesta reconhecida a existncia de direitos e deveres ao nvel do ambiente. Na actual Constituio Portuguesa, neste domnio muito semelhante desse ano, pode ler-se, no que se refere definio das tarefas fundamentais do Estado (Artigo 9): Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efectivao dos direitos econmicos, sociais e culturais mediante a transformao e modernizao das estruturas econmicas e sociais (alnea d); Proteger e valorizar o patrimnio cultural do povo portugus, defender a natureza e o ambiente, preservar os recursos naturais e o ambiente, preservar os recursos naturais e assegurar um correcto ordenamento do territrio (e). Assume-se que em termos de Ambiente e qualidade de vida (Artigo 66, n1) todos tm direito a um Ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender. Incumbe ao Estado, por meio de organismos prprios e por apelo e apoio a iniciativas populares (n 2): Prevenir e controlar a poluio e os seus efeitos e as formas prejudiciais de eroso (a); Ordenar e promover o ordenamento do territrio, tendo em vista uma correcta localizao das actividades, um equilibrado desenvolvimento socio-econmico e paisagens biologicamente equilibradas (b); Criar e desenvolver reservas e parques naturais e de recreio, bem como classificar e proteger paisagens e stios, de modo a garantir a conservao da natureza e a preservao de valores culturais de interesse histrico ou artstico (c); Promover o aproveitamento racional dos recursos naturais, salvaguardando a sua capacidade de renovao e a estabilidade ecolgica (d); Assegurar que a poltica fiscal compatibilize o desenvolvimento com a proteco do ambiente e qualidade de vida (h). Tambm no Cdigo Penal Portugus (Cdigo Penal Portugus n. 400/8282, de 23 de Setembro) so punidos os danos contra a natureza e a poluio, podendo resultar em penas de priso se comprovados esses actos. Nos Danos contra a natureza (Artigo 278), "quem, no observando disposies legais ou regulamentares, eliminar exemplares de fauna ou flora ou destruir habitat natural ou esgotar recursos do subsolo, de forma grave, punido com pena de priso at 3 anos ou com pena de multa at 600 dias. Para os efeitos do nmero anterior o agente actua de forma grave quando: a) Fizer desaparecer ou contribuir decisivamente para fazer desaparecer uma ou mais espcies animais ou vegetais de certa regio; b) Da destruio resultarem perdas importantes nas populaes de espcies de fauna ou flora selvagens legalmente protegidas; c) Esgotar ou impedir a renovao de um recurso do subsolo em toda uma rea regional. Se a conduta referida no n 1 for praticada por negligncia, o agente punido com pena de priso at 1 ano ou com pena de multa." Do ponto de vista de Poluio (Artigo 279) " Quem, em medida inadmissvel: a) Poluir guas ou solos ou, por qualquer forma, degradar as qualidades; b) Poluir o ar mediante utilizao de aparelhos tcnicos ou de instalaes; ou c) Provocar poluio sonora mediante utilizao de aparelhos tcnicos ou de instalaes, em especial de mquinas ou de veculos terrestres, fluviais, martimos ou areos de qualquer natureza; punido com pena de priso at 3 anos ou com pena de multa at 600 dias." Se a conduta referida anteriormente for praticada por negligncia, o agente punido com pena de priso at 1 ano ou com pena de multa. A poluio ocorre em medida inadmissvel sempre que a

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natureza ou os valores da emisso ou da imisso poluentes contrariarem prescries ou limitaes impostas pela autoridade competente em conformidade com disposies legais ou regulamentares e sob cominao de aplicao das penas previstas neste artigo. Com a adeso de Portugal Unio Europeia, em 1986, reforaram-se os requisitos legais em matria de ambiente, verificando-se a transposio para a legislao nacional de mais de 300 peas jurdicas (directivas, regulamentos, decises, etc.). J no ano da publicao do Relatrio Brundtland publicado, em Portugal, o principal documento normativo em matria de direito do Ambiente: a Lei de Bases do Ambiente (Lei n 11/87, de 7 de Abril). A Lei de Bases do Ambiente define o princpio geral e os princpios especficos pelos quais se rege a poltica de ambiente. A poltica de ambiente tem por fim optimizar e garantir a continuidade de utilizao dos recursos naturais, qualitativa e quantitativamente, como pressuposto bsico de um desenvolvimento autosustentado (Artigo 2, 2). Evidencia-se, neste instrumento legal, uma srie de princpios especficos (Artigo n3), nomeadamente: Princpio da preveno: "as actuaes com efeitos imediatos ou a prazo no ambiente devem ser consideradas de forma antecipativa, reduzindo ou eliminando as causas, prioritariamente correco dos efeitos dessas aces ou actividades susceptveis de alterarem a qualidade do ambiente, sendo o poluidor obrigado a corrigir ou recuperar o ambiente, suportando os encargos da resultantes, no lhe sendo permitido continuar a aco poluente"; Assim, atravs deste princpio, pretende-se antecipar a ocorrncia de danos ambientais, reduzindo ou eliminando as causas, dado que, na maioria dos casos, os custos associados reconstituio das condies anteriores ocorrncia do dano so superiores aos custos de preveno deste. Para alm disso, nem em todos os casos possvel eliminar os danos provocados, ou tal torna-se demasiado complexo. Princpio do equilbrio: "devem criar-se os meios adequados para assegurar a integrao das polticas de crescimento econmico e social e de conservao da Natureza, tendo como finalidade o desenvolvimento integrado, harmnico e sustentvel". Deste princpio resulta, essencialmente, que se deve procurar um equilbrio entre as trs dimenses da sustentabilidade: ambiental, social e econmica, e que as decises a tomar ao nvel das polticas no devem ser pensadas unicamente segundo um desses critrios. Princpio da participao: "os diferentes grupos sociais devem intervir na formulao e execuo da poltica de ambiente e ordenamento do territrio, atravs dos rgos competentes de administrao central, regional e local e de outras pessoas colectivas de direito pblico ou de pessoas e entidades privadas". Este princpio reconhece o direito de participao dos diversos grupos sociais, tanto na formulao como na execuo das polticas de ambiente a nvel nacional. A lei no se limita a reconhecer o direito dos cidados a serem consultados, incentivando a sua participao de outras formas. Princpio da unidade de gesto e de aco: "deve existir um rgo nacional responsvel pela poltica de ambiente e ordenamento do territrio, que normalize e informe a actividade dos agentes pblicos ou privados interventores, como forma de garantir a integrao da problemtica do ambiente, do ordenamento do territrio e do planeamento econmico, quer ao nvel global, quer sectorial, e intervenha com vista a atingir esses objectivos na falta ou em substituio de entidades j existentes". Este princpio tem implicaes essencialmente ao nvel da administrao, com a criao de um rgo central responsvel pela conduo da poltica nacional de ambiente. Princpio da cooperao internacional: "determina a procura de solues concertadas com outros pases ou organizaes internacionais para os problemas de ambiente e de gesto dos recursos naturais".

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Este princpio o resultado da compreenso de que alguns problemas ambientais so globais, indo alm fronteiras, e como tal a sua resoluo s ser conseguida ao nvel internacional. Princpio da procura do nvel mais adequado de aco: "implica que a execuo das medidas de poltica de ambiente tenha em considerao o nvel mais adequado de aco, seja ele de mbito internacional, nacional, regional, local ou sectorial". Pretende-se que a actuao perante uma questo ambiental seja adequada ao tipo de problema em causa. Assim, um problema local no necessitar da aco dos rgos nacionais, facilitando desta forma a actuao sobre esse problema. Princpio de recuperao: "devem ser tomadas medidas urgentes para limitar os processos degradativos nas reas onde actualmente ocorrem e promover a recuperao dessas reas, tendo em conta os equilbrios a estabelecer com as reas limtrofes". Relaciona-se directamente com o princpio da preveno e cria a obrigatoriedade de repor a situao inicial, sempre que se provoque um dano ao ambiente. Princpio da responsabilizao: "aponta para a assuno pelos agentes das consequncias, para terceiros, da sua aco, directa ou indirecta, sobre os recursos naturais". H que referir que o princpio do poluidor-pagador no includo explicitamente na Lei de Bases do Ambiente, pois resulta do princpio da preveno e da responsabilizao. A criao deste princpio teve motivaes essencialmente econmicas, dado que se destinava a impedir que fossem os governos nacionais a suportar os custos dos danos ambientais das suas indstrias, criando desta forma uma barreira ao livre comrcio. Este define que dever ser o poluidor a pagar os custos dos danos ambientais que causa. A definio da poltica nacional de ordenamento do territrio e urbanismo cabe Lei de Bases do Ordenamento do Territrio e Urbanismo (Lei n 48/98, de 11 de Agosto). Nesta, definido, no artigo 2, como objecto: a) A definio do quadro da poltica de ordenamento do territrio e de urbanismo, bem como dos instrumentos de gesto territorial que a concretizam; b) A regulao, no mbito da poltica de ordenamento do territrio e de urbanismo, das relaes entre os diversos nveis da Administrao Pblica e desta com as populaes e com os representantes dos diferentes interesses econmicos e sociais. Ao nvel dos princpios gerais, a lei define no seu artigo 5: a) Sustentabilidade e solidariedade intergeracional, assegurando a transmisso s geraes futuras de um territrio e de espaos edificados correctamente ordenados; b) Economia, assegurando a utilizao ponderada e parcimoniosa dos recursos naturais e culturais; c) Coordenao, articulando e compatibilizando o ordenamento com as polticas de desenvolvimento econmico e social, bem como as polticas sectoriais com incidncia na organizao do territrio, no respeito por uma adequada ponderao dos interesses pblicos e privados em causa; d) Subsidiariedade, coordenando os procedimentos dos diversos nveis da Administrao Pblica, de forma a privilegiar o nvel decisrio mais prximo do cidado; e) Equidade, assegurando a justa repartio dos encargos e benefcios decorrentes da aplicao dos instrumentos de gesto territorial; f) Participao, reforando a conscincia cvica dos cidados, atravs do acesso informao e interveno nos procedimentos de elaborao, execuo, avaliao e reviso dos instrumentos de gesto territorial;

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g) Responsabilidade, garantindo a prvia ponderao das intervenes com impacte relevante no territrio e estabelecendo o dever de reposio ou compensao dos danos que ponham em causa a qualidade ambiental; h) Contratualizao, incentivando modelos de actuao baseados na concertao entre a iniciativa pblica e a iniciativa privada na concretizao dos instrumentos de gesto territorial; i) Segurana jurdica, garantindo a estabilidade dos regimes legais e o respeito pelas situaes jurdicas validamente constitudas.

De acordo com a Lei de Bases do Ordenamento do Territrio e Urbanismo existem os seguintes instrumentos territoriais: a) Instrumentos de desenvolvimento territorial, de natureza estratgica: "traduzem as grandes opes com relevncia para a organizao do territrio, estabelecendo directrizes de carcter genrico sobre o modo de uso do mesmo, consubstanciando o quadro de referncia a considerar na elaborao de instrumentos de planeamento territorial; b) Instrumentos de planeamento territorial, de natureza regulamentar: "que estabelecem o regime de uso do solo, definindo modelos de evoluo da ocupao humana e da organizao de redes e sistemas urbanos e, na escala adequada, parmetros de aproveitamento do solo"; c) Instrumentos de poltica sectorial: "que programam ou concretizam as polticas de desenvolvimento econmico e social com incidncia espacial, determinando o respectivo impacte territorial"; d) Instrumentos de natureza especial: "que estabelecem um meio supletivo de interveno do Governo apto prossecuo de objectivos de interesse nacional, com repercusso espacial, ou, transitoriamente, de salvaguarda de princpios fundamentais do programa nacional de ordenamento do territrio". Deste modo, conclui-se que os principais requisitos ambientais a que as diversas actividades esto sujeitas so contemplados pelas duas Leis de Base acima referidas, nelas sendo apresentadas as principais orientaes da poltica nacional de ambiente e ordenamento do territrio. Ao nvel mais especfico das orientaes decorrentes da restante legislao de ambiente, existem requisitos para os cidados, organizaes e construes nas seguintes reas: Impactes Ambientais - aborda a necessidade para um conjunto de projectos pblicos e privados de efectuar um processo formal de avaliao de impacte ambiental, bem como para planos e programas a avaliao ambiental estratgica; Solos, Condicionantes e Ordenamento do Territrio - centra-se no ordenamento e zonas condicionadas, definidas como reserva agrcola e reserva ecolgica nacionais, servides, solos e sua contaminao (por enquanto sem valores legais nacionais), entre outros; Conservao da Natureza - centra-se nas estratgias de conservao e seu estatuto, quer para as espcies, quer para os habitats, entre outros; Patrimnio - visa a proteco do patrimnio arquitectnico e arqueolgico; guas e Efluentes - procura assegurar a Gesto dos Recursos Hdricos e o auto-controlo das fontes poluentes e utilizadores, licenciamento de captaes e descargas, valores limite para descarga de guas residuais e valores de qualidade, entre outros; Resduos Slidos - assenta na responsabilidade do produtor, assegurando a sua adequada gesto, na hierarquia de reduzir, reutilizar, reciclar e recuperar, antes do destino final e a sua rastreabilidade, entre outros; Ar e Emisses Atmosfricas - visa a Gesto da Qualidade do Ar, assente no controlo das fontes emissoras (chamin, valores limite, auto controlo) e na qualidade do ar, entre outros;

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Rudo - assente na proteco acstica, zonas sensveis e mistas, controlo dos nveis de rudo e potncia dos equipamentos, entre outros; Riscos para as actividades, envolvendo substncias e processos perigosos - centrada na preveno e controlo dos riscos, notificao de segurana, planos de emergncia interna e gesto da segurana, entre outros; Controlo Integrado da Poluio - cria o licenciamento ambiental integrado para um conjunto de actividades, associando consumos e emisses tecnologia existente, no gerando custos excessivos e estabelecendo a adopo das melhores tecnologias disponveis; Energia, surgindo na perspectiva de reduo dos consumos e valorizao de recursos renovveis. Estes requisitos, decorrentes da legislao ambiental, aplicam-se s diferentes fases das organizaes e construes, incluindo as edificadas, desde a fase de concepo at fase de desactivao.

Requisitos na fase de Concepo Na fase inicial de concepo importa desde logo verificar se a proposta de interveno no local compatvel com os instrumentos e propostas de plano existentes em termos territoriais. No que diz respeito localizao da actividade e principais condicionantes, o empreendedor ter de ter em conta a adequada utilizao do solo, face s suas caractersticas e atribuies de uso, definidos em sede de ordenamento do territrio, por exemplo, nos Planos Municipais de Ordenamento do Territrio. O empreendedor ter de ter em conta as condicionantes ao nvel dos planos municipais de ordenamento, proteco do solo, zonas non aedificandi e outros instrumentos de ordenamento em vigor no local da construo, com destaque para os regimes da Reserva Ecolgica Nacional (REN) e da Reserva Agrcola Nacional (RAN), nos quais as actividades construtivas e de loteamento no so permitidas. Relativamente s condicionantes relevante referir a existncia de zonas de proteco e servides a infra-estruturas e actividades, a proteco especfica de espcies, (de que exemplo a proteco aos sobreiros com limitaes ao seu abate), bem como a todo um conjunto de habitats protegidos. Se a abordagem se encontra sob a forma de plano ou programa, antes da sua aprovao dever ser efectuada9 uma avaliao ambiental estratgica, de forma a incorporar na deciso as dimenses ambientais e a envolver o pblico. Ainda nesta fase devem ser respeitadas, em termos da concepo, as questes energticas, de materiais, de dimensionamentos e resistncia da construo, bem como as importantes acessibilidades a cidados com limitaes. Assim, no que diz respeito energia, aplicada ao sector da construo civil, a legislao nacional impe caractersticas aos edifcios, por exemplo no que se refere climatizao e ao comportamento trmico, recentemente alteradas no sentido de uma maior exigncia relativamente a estes aspectos. Prev-se que a directiva comunitria relativa rotulagem do desempenho energtico, tambm recentemente transposta, venha a ser imperiosa para edificaes de maiores dimenses. As perspectivas de racionalizao energtica e de utilizao de energias renovveis so aspectos a privilegiar. As reas mais sensveis em termos de proteco ambiental e da biodiversidade, esto no geral definidas como reas especficas de Conservao da Natureza. Para esse efeito, as actividades construtivas e todas as que ameacem esses valores, so proibidas, ou muito limitadas, em tais reas. Ao nvel do patrimnio a legislao visa a proteco dos valores arquitectnicos no que se refere a monumentos nacionais e valores concelhios, mas tambm criando reas de proteco a outros edifcios pblicos ou outros tipos de patrimnio, como o arqueolgico.

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Ainda na fase de concepo deve ser efectuada a anlise da eventual abrangncia quanto realizao de um Estudo de Impacte Ambiental (EIA) e do processo de Avaliao de Impacte Ambiental (AIA), que dever ser uma das primeiras preocupaes do empreendedor.

O conceito de Impacte Ambiental Por Impacte ambiental entende-se o conjunto das alteraes favorveis e desfavorveis produzidas em parmetros ambientais e sociais, num determinado perodo de tempo e numa determinada rea (situao de referncia), resultantes da realizao de um projecto, comparadas com a situao que ocorreria, nesse perodo de tempo e nessa rea, se esse projecto no viesse a ter lugar.

Esta avaliao est dependente, nos termos da lei, do tipo de actividade a que a construo se destina, importando saber se a actividade proposta, ou a sua alterao, fazem parte das listas anexas10 de actividades abrangidas e se a sua dimenso ou no abrangida por esta necessidade de processo de AIA. O princpio da precauo leva a uma abrangncia alargada mesmo de projectos de menores dimenses, quando especificamente localizados em reas mais sensveis do ponto de vista de conservao da natureza (reas de Parques e Reservas e Rede Natura) ou de patrimnio arquitectnico e arqueolgico.Quadro 2-1 Exemplo de projectos do sector da construo abrangidos pela Legislao de AIA ((Anexo II 10 a) segundo Decreto-Lei n 197/2005 de 8 de Novembro que altera o Decreto-Lei n 69/2000 de 6 de Maio)

Tipo de Projectos b) Operaes de loteamento urbano, incluindo a construo de estabelecimentos de comrcio ou conjunto comercial, e parques de estacionamento no abrangidos por plano municipal de ordenamento do territrio. Estabelecimentos hoteleiros e meios complementares de alojamento turstico, quando localizados fora de zonas urbanas e urbanizveis delimitadas em plano municipal de ordenamento do territrio ou plano especial de ordenamento do territrio. d) Parques de campismo e) Parques temticos f) Campos de golfe

Caso Geral Operaes de loteamento urbano que ocupem rea 10 ha ou construo superior a 500 fogos. Estabelecimentos de comrcio ou conjunto comercial 1,5 ha Parque de estacionamento 2 ha. Aldeamentos tursticos com rea 5 ha ou 50 hab./ha. Hotis, hotis-apartamentos e apartamentos tursticos 200 camas.

Zonas Sensveis Operaes de loteamento urbano que ocupem rea 2 ha. Estabelecimentos de comrcio ou conjunto comercial 0,5 ha Parque de estacionamento 1 ha. Aldeamentos tursticos: todos. Hotis, hotis-apartamentos e apartamentos tursticos 20 camas.

1000 utentes ou 3 ha. 10 ha. Campos de 18 buracos ou 45 ha.

200 utentes ou 0,6 ha. 2 ha. Todos

Caso o empreendimento seja abrangido pela necessidade de processo de AIA, ento o promotor deve assegurar a realizao de um Estudo de Impacte Ambiental sobre o projecto do empreendimento (a legislao considera a fase de estudo prvio e projecto de execuo) em questo.

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Estudo de Impacte Ambiental O Estudo de Impacte Ambiental um documento tcnico, para o qual o promotor deve contribuir com elementos que suportem uma boa justificao e descrio do projecto, sempre que possvel com alternativas (de localizao/desenho do empreendimento, dimenso ou outras). O EIA um documento tcnico (para o qual esto definidas normas tcnicas para a sua estrutura e contedo), que deve efectuar uma caracterizao da situao do ambiente tal como est e como dever evoluir sem e com o empreendimento, assegurando uma descrio precisa para as vrias reas ambientais e sua interrelao. Se pretender precisar quais os aspectos a serem analisados, o promotor pode pedir preliminarmente apresentao do EIA uma Definio do mbito. O EIA e o projecto so a base para efectuar o processo de Avaliao de Impacte Ambiental, que um processo de deciso vinculativo para a efectiva implementao legal de um empreendimento.

Avaliao de Impacte Ambiental (AIA) O AIA o instrumento de carcter preventivo da poltica do ambiente, sustentado na realizao de estudos e consultas, com efectiva participao pblica e anlise de possveis alternativas, que tem por objecto a recolha de informao, identificao e previso dos efeitos ambientais de determinados projectos, bem como a identificao e proposta de medidas que evitem, minimizem ou compensem esses efeitos, tendo em vista uma deciso sobre a viabilidade da execuo de tais projectos e respectiva ps-avaliao. O processo de AIA pode ocorrer em fase de estudo prvio ou de projecto de execuo. Naturalmente quanto mais cedo tal ocorrer, maiores so as possibilidades de se internalizarem de forma adequada as perspectivas ambientais. A deciso do processo assumida na Declarao de Impacte Ambiental (DIA). No caso de aprovao do processo de AIA, ela usualmente favorvel condicionada implementao das medidas presentes no EIA e das decorrentes do processo de AIA. Assim, o empreendimento proposto poder ser licenciado/autorizado, devendo respeitar pelo menos os termos e medidas definidas na DIA. Para os empreendimentos que no foram sujeitos a processo de Avaliao de Impacte Ambiental, tambm dever ser assegurado que as propostas presentes vo respeitar as sensibilidades locais e os requisitos legais existentes. Aps essa avaliao e elaborao do projecto pode ser efectuado o licenciamento da construo e do empreendimento, respeitando os termos assumidos na DIA. O licenciamento, na componente ambiental (por exemplo na utilizao do domnio pblico hdrico, como licena de descargas e outras), passa a ser temporrio e associado s condies do ambiente e evoluo tecnolgica. Para algumas actividades, existe mesmo a perspectiva do licenciamento ambiental integrado. Assim, aps o processo de AIA, existe, do ponto de vista da administrao, a possibilidade de acompanhamento formal. No caso de o AIA ter decorrido em estudo prvio, importa assegurar e evidenciar atravs de um Relatrio de Conformidade Ambiental do Projecto de Execuo que as propostas e exigncias presentes na DIA foram adoptadas no Projecto de Execuo.

Requisitos na fase de Construo A fase de construo (que abrange a construo do edificado, a renovao ou a desactivao de edifcios e infra-estruturas) usualmente uma das fases com um impacte mais visvel no local e na sua envolvente, pela mobilizao de recursos, escavaes, transporte e edificao que comporta. Neste contexto, devero ser assumidos os cuidados indicados, de forma a atenuar os efeitos do rudo, emisses, paisagem, etc., nas populaes e ecossistemas.

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As preocupaes ao nvel do rudo centram-se no respeito dos limites legais impostos, no decorrer das actividades construtivas. Para tal, o empreendedor dever ter em considerao as tcnicas e equipamentos utilizados (incluindo a sua potncia sonora) e o planeamento correcto das actividades a decorrer na obra e no empreendimento, de forma a atenuar os nveis de rudo das suas fontes emissoras. Um aspecto essencial a considerar, prende-se com a existncia na envolvente ou no empreendimento de zonas sensveis (habitao, estabelecimentos de sade, etc), de zonas mistas (comrcio e habitao) ou de elevada sensibilidade ecolgica, devendo, neste caso, os nveis de rudo, face a estes receptores, serem reduzidos, minimizando o seu impacte. Assim, a capacidade de controlo assume-se no s nas tcnicas construtivas e nos equipamentos a serem utilizados, sendo desejvel que a fonte seja a menos ruidosa possvel, mas tambm na localizao espacial das fontes mais ruidosas, preferencialmente afastadas das zonas mais sensveis, na possibilidade de colocar solues atenuadoras da propagao do rudo (por exemplo, barreiras fsicas) e at mesmo no momento de execuo das actividades. Do ponto de vista de rudo, as actividades construtivas esto limitadas11 laborao durante os dias teis e em perodos diurnos, com um horrio definido, destacando-se desta forma no planeamento temporal das actividades, os cuidados a ter do ponto de vista da calendarizao das actividades mais ruidosas. Em ltimo caso, para os receptores e em algumas situaes edificadas podem atenuar-se os nveis de rudo nesses receptores. Assume-se, no entanto, essencialmente o objectivo de se assegurar um ambiente sonoro adequado e reduzir preferencialmente o rudo na fonte. Relativamente s matrias-primas, a legislao de ambiente centra-se, essencialmente, nas questes associados aos riscos, abrangendo cuidados no transporte, armazenamento, manuseamento e utilizao de substncias perigosas. Os riscos graves relacionam-se com os perigos associados s substncias perigosas, acidentes com consequncias graves e eventuais contaminaes que podem ocorrer no transporte, condies de produo ou armazenamento. Para alm disso, existem tambm preocupaes ao nvel das condies de trabalho. Grande cuidado deve ser tido no manuseamento de produtos e materiais perigosos, sendo cada vez mais aconselhvel evitar a sua utilizao nas construes, at porque podero originar potenciais efeitos nefastos na sade dos trabalhadores e, em fases futuras, na sade dos utilizadores. Um outro aspecto associa-se a eventuais contaminaes ambientais, como nos solos e na gua, com as potenciais graves implicaes e custos da decorrentes, pelo que nesta tipologia de produtos perigosos dever haver um especial cuidado ao longo de todo o seu ciclo de utilizao. No campo dos resduos, a legislao aponta para que seja assegurada a rastreabilidade dos mesmos, tendo preocupaes no sentido de reduzir a produo, reutilizar e reciclar os mesmos, e s em ltimo recorrer a solues de destino final.

Resduo Por resduo, segundo a legislao vigente, entende-se "quaisquer substncias ou objectos de que o detentor se desfaz ou tem inteno ou obrigao de se desfazer em conformidade com o Catlogo Europeu de Resduos aprovado por deciso da Comisso Europeia". O Catlogo Europeu de Resduos pretende ser uma nomenclatura de referncia, capaz de fornecer uma terminologia comum vlida em toda a Comunidade, e tem por objectivo melhorar a eficcia das diversas actividades de gesto de resduos. Posteriormente, foi criada a Lista Europeia de Resduos que substitui o Catlogo Europeu de Resduos.

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Os resduos podem classificar-se em vrias tipologias, quer quanto perigosidade, quer quanto origem (industriais, urbanos, construo e demolio, hospitalares e outros), bem como a outros aspectos.

Neste contexto deve ser efectuada uma separao dos resduos, em funo da sua tipologia e perigosidade e deve ser assegurado o seu encaminhamento para destinos adequados, recorrendo a transporte ajustado. No caso de resduos com perigosidade, definidos em sede da Lista Europeia de Resduos (LER) dever haver especial cuidado, desde logo, no armazenamento temporrio e depois no encaminhamento para valorizao ou destino final. Ser desejvel, se vivel economicamente, que se evitem os produtos e materiais que originam resduos perigosos. Do ponto de vista do ar e da qualidade do ar, as actividades devem assegurar o respeito pelos nveis de emisso das fontes poluentes, no excedendo os limites definidos nas emisses dessas fontes e assegurando o seu auto-controlo, isto , a capacidade de saber quais as respectivas emisses, para tal efectuando medies peridicas (monitorizao) e assegurando os nveis legais para as mesmas. Em casos em que existam fontes fixas de emisso, por exemplo chamins, estas devem ter caractersticas construtivas que assegurem o cumprimento dos requisitos de disperso e a sua monitorizao. Tambm esto definidos legalmente os nveis de concentrao de qualidade do ar que asseguram a sade humana e o bem-estar geral, sendo fundamental garantir a manuteno destes nveis. Em muitas das actividades construtivas, um dos aspectos chave prende-se com o nvel de partculas no ar, uma vez que as movimentaes de terras e as intervenes no terreno originam elevadas mobilizaes das mesmas. No domnio da gua, a legislao aplicvel ao sector da construo civil abrange, desde a fase de construo, a possibilidade de utilizao do domnio pblico hdrico, o que significa que a captao de gua ou de descarga de esgotos (efluentes), se necessria, sujeita obteno de uma licena e a requisitos especficos estabelecidos. No caso da captao (superficial ou subterrnea) estes requisitos referem-se capacidade de poder fornecer os caudais pretendidos, racionalizao da sua utilizao e ao respeito dos limites atribudos e na rastreabilidade das captaes e consumos. Do ponto de vista dos consumos, a respectiva racionalizao, associada possibilidade de reduo dos mesmos bem como reutilizao dos recursos, deve ser assumida cada vez mais como fundamental. Aps a sua utilizao, as guas que tenham contaminantes devem ser adequadamente tratadas, de forma a respeitar os limites e as condies da descarga desse efluente para o meio receptor. O seu tratamento, na maior parte dos casos, efectuado atravs da separao dos contaminantes, originando lamas contaminadas que devem ser adequadamente processadas como resduos. Torna-se essencial garantir que os efluentes e drenagens pluviais mantenham os nveis de quantidade e qualidade das guas receptoras (rios, ribeiras, esturios, zonas costeiras) de forma adequada para os diferentes usos existentes, incluindo as funcionalidades destes ecossistemas. importante assegurar que as modelaes e alteraes no terreno no vo provocar alteraes substantivas e crticas do ponto de vista pluvial, no provocando condies de ocorrncia de inundaes e de riscos para terceiros. Aspectos de inter-relao como a eroso e outros processos devem ser considerados, assegurando-se que se mantm ou melhora a situao inicial, ou que no se atingem alteraes crticas. As intervenes, com reflexos paisagsticos em particular em reas protegidas deste ponto de vista, devem respeitar as especificaes legais existentes para esta matria.

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Requisitos na fase de Operao Na fase de operao, fundamental assegurar as condies definidas nos processos de AIA (caso tenham ocorrido), bem como os nveis referidos de rudo, emisses atmosfricas e qualidade do ar e gua, efluentes e consumos energticos, entre outros aspectos anteriormente referidos.

Requisitos na fase de Desactivao A renovao e a desactivao so fases efectivas da construo. Os requisitos para estas fases aplicam-se com especial destaque para as questes dos resduos e da possibilidade da sua incorporao.

ACTIVIDADES CONSTRUTIVAS E AMBIENTE CONSTRUDOSAr Valores limite Qualidade Solo e Condicionantes RAN / REN Paisagem Zonas paisagem protegidas Rudo Valores limite Riscos Substncias e materiais perigosos Controlo dos riscos Resduos Quantidade Destino Transporte Biodiversidade Proteco dos valores naturais

Matrias-primas Tipo Quantidade Energia Tipo Quantidade Impacte Ambiental Processo de Avaliao Requisitos da DIAFigura 2-1 Principais questes ambientais relacionadas com as actividades construtivas

Patrimnio Construdo Proteco de valores arquitectnicos

Efluentes Destino Valores limite gua Origem, Licena de utilizao Qualidade

No que se refere s actividades construtivas, em todo o seu ciclo de vida, as principais vertentes de preocupaes ambientais esto, de forma simplificada e indicativa, esquematizada na Figura 2-1.

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2.3. Instrumentos de MercadoEm termos prticos a abordagem de base na rea do ambiente assenta na legislao, na lgica presente de comando e controlo. No entanto, esta pode ser complementada, mais ou menos estruturalmente, por outros mecanismos, em particular em reas em que os resultados desta estratgia legislativa sejam menos evidentes. Na anlise da evoluo da tendncia de parmetros chave em reas ambientais, correlacionando com os indicadores econmicos (por exemplo, o PIB), podem observar-se dois tipos de situaes: a primeira, em que existe desfasamento entre o crescimento e os parmetros ambientais, e a segunda em que tal no ocorre. ndice 180 160 140 120 100 80 60 40 : objectivos 20 1990 1995 2000 2005 Resduos CO2 CH4 NOx COVNM SO2 2010 absoluta PIB relativa Dissociao do PIB

Figura 2-2 Evoluo do PIB comparativamente com indicadores ambientais (AEA, 1999:17)

Analisando parmetros como dixido de enxofre (SO2) e xidos de azoto (NOx) verifica-se que ao crescimento do PIB no se associa um aumento destas emisses, e logo poder potencialmente ter menores presses e impactes ambientais, podendo assim indiciar que a estratgia e instrumentos legislativos adoptados esto a atingir o seu efeito e a contribuir para uma melhoria ambiental efectiva e, potencialmente, para um desenvolvimento sustentvel. Nestas situaes a abordagem de carcter legislativo e de comando e controlo tem surtido efeitos, assegurando tambm a igualdade de concorrncia, ao obrigar as diversas actividades a respeitar as mesmas regras ambientais. No entanto, pode existir ainda uma margem de actuao importante nesta abordagem regulamentar, atravs da criao de uma maior operacionalidade e fiscalizao da aplicao dos diplomas legais. No entanto, subsistem reas em que o crescimento econmico origina tambm o aumento das presses e dos problemas ambientais. No caso da produo dos resduos (RSU resduos slidos urbanos) verifica-se que a respectiva produo tem vindo a aumentar, bem como no caso dos gases de efeito de estufa (por exemplo CO2) acompanhando o crescimento econmico.

manuel duarte pinheiro

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ambiente e construo sustentvel

Nestes casos em que no existe uma dissociao entre o crescimento e