Ambiente Escolar e formação da personalidade

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Ambiente Escolar e formação da personalidade

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  • Universidade Cndido Mendes - UCAM

    Diretoria de Projetos Especiais

    Curso de Ps Graduao Lato Sensu - Psicopedagogia

    A INFLUNCIA DO AMBIENTE ESCOLAR NO

    DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE:

    ESCOLA, AGENTE MODIFICADOR DO

    COMPORTAMENTO INFANTIL

    Professora Orientadora: Maria Esther de Arajo Oliveira

    ngela Oliveira da Silva Bernardino

    Rio de Janeiro, _______ de ____________ de 2003.

  • ngela Oliveira da Silva Bernardino

    Aluna do curso de Ps- Graduao Lato Sensu em Psicopedagogia

    A INFLUNCIA DO AMBIENTE ESCOLAR NO

    DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE:

    ESCOLA, AGENTE MODIFICADOR DO

    COMPORTAMENTO INFANTIL

    Trabalho monogrfico de concluso do curso

    de Ps - Graduao Lato Sensu em

    Psicopedagogia, apresentado a UCAM como

    requisito final para a obteno do ttulo de

    Ps -Graduao em Psicopedagogia.

    Professora Orientadora: Maria Esther de Arajo Oliveira

    Rio de Janeiro, _______ de ____________ de 2003.

  • A INFLUNCIA DO AMBIENTE ESCOLAR NO

    DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE:

    ESCOLA, AGENTE MODIFICADOR DO

    COMPORTAMENTO INFANTIL

    Elaborada por ngela Oliveira da Silva Bernardino

    (Aluna do curso de Ps - Graduao Lato Sensu em Psicopedagogia da

    UCAM)

    Foi analisada e aprovada com:

    _______ Grau _________

    Rio de Janeiro, _______ de ____________ de 2003.

    ___________________________________________

    Professora Orientadora

    Rio de Janeiro, _______ de ____________ de 2003.

  • Dedico a Deus, que com toda

    certeza iluminou a confeco e o

    aperfeioamento desse trabalho. A

    Marina da Conceio de Oliveira,

    minha me e primeira professora na

    universidade da vida. E a voc

    Marcelo, amigo super especial que

    durante todo o tempo esteve ao meu

    lado.

  • Agradecimentos,

    Agradeo com louvor a Deus por ter

    me dado foras para chegar at aqui

    cumprindo a minha misso, minha

    filha Nayana pela alegria que me d

    e por ter suportado a minha ausncia

    e a minha amiga Luci que nos

    momentos mais difceis de minha

    vida me apoiou me incentivou para

    que eu no desistisse. E uma das

    glrias do magistrio so os

    reencontros. Hoje minha monografia

    foi digitada e formatada por uma

    aluna das sries iniciais, onde

    contribui nos seus primeiros passos

    da vida. Obrigada L.

  • SUMRIO INTRODUO

    CAPITULO I

    1. PERSONALIDADE

    CAPITULO II

    2. COMPORTAMENTO E AGRESSIVIDADE

    CAPITULO III

    3. A ESCOLA E SUA FUNO SOCIAL

    3.1- Relao como os iguais

    3.2 - Relao com o professor

    CAPTULO IV

    4. METODOLOGIA

    CAPTULO V

    5. RELATO DE UM ESTUDO DE CASO

    5.1 Como os iguais

    5.2 Na sala de aula

    5.3 Com a professora

    5.4 Com a direo da escola

    CAPTULO VI

    6. ANLISE DO ESTUDO DE CASO

    CONCLUSO

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ANEXOS

  • - 08-

    INTRODUO

    Atualmente, a personalidade tem sido alvo de profundas discusses entre

    os pesquisadores de diversas reas. Os desvios de comportamento, especialmente a

    agressividade e a indisciplina tm sido apontados pelos educadores como um dos

    maiores problemas aprendizagem das crianas.

    Em recente reunio da ANPED (Associao Nacional de Pesquisa em

    Educao), a questo da indisciplina foi abordada por Freller (1999:1) que afirmou:

    ... a indisciplina na escola considerada por pesquisadores, educadores, pais e at

    pelos prprios alunos, como um dos maiores obstculos aprendizagem escolar.

    Durante os estgios de prtica de ensino, observa-ser crianas com srios

    problemas de comportamento, que eram reforados, na maioria das vezes, pelos

    professores. Argumenta se que estas crianas conseguem melhorar seu

    comportamento com o apoio da escola. Para isso, o professor deve estar preparado

    para lidar com estes problemas. Os comportamentos agressivos podem ser reforados

    ou amenizados de acordo com a postura do professor.

    Estudos como estes so importantes, pois necessrio que os problemas

    sejam sanados logo na infncia, para que mais tarde as crianas no se tornem

    adultos violentos, ficando assim difcil recupera-los.

    Essas pesquisas tm resultado em esclarecimentos teis a

    respeito da formao moral em crianas e adolescentes,

    da influncia da famlia e do meio social nesse processo e

    da correspondncia entre o desenvolvimento da

    moralidade e a maturao intelectual ( Krger,

    1988,p.40).

    A escola exerce uma grande influncia na vida da criana, atravs dela

    que aprende a lidar com sues desejos e suas frustraes. Se for recompensada, tende

    a ser mais tolerante e menos exigente e agressiva.

    (...) a criana que recebe recompensas adequadas s

    suas necessidades infantis tender a ser mais apta a

    renunciar a seus hbitos de exigncias e a aprender a

    ser.

  • -09-

    tolerante em suas frustraes futuras. (...) relaes

    infantis perturbadas podem deixar atrs de si feridas

    insanveis (Allport, 1955,p.50-51).

    Algumas escolas ainda no esto preparadas o suficiente para enfrentar

    problemas como estes. O que se tem constatado so algumas instituies com

    sistemas de ensino deficientes onde as mesmas acabam expulsando os alunos que

    esto fora do padro exigido. No que diz respeito s escolas pblicas, estas nada

    fazem, no podem expulsar, porm nenhum programa desenvolvido para reverter

    esta situao, e as crianas se tornam ainda mais agressivas. Em uma reportagem

    publicada na Nova Escola (Glanternick, 1998), essa afirmao confirmada, M.P de

    10 anos de idade criana agressiva, que bate em sues colegas e fala muitos

    palavres. Sempre acaba sendo expulsa das escolas, que s transferem o problema.

    Especialistas acreditam que o prazer da aprendizagem o primeiro passo para que

    crianas nessa situao conquistem suas auto-estima e se integrem ao grupo

    (Glanternick, 1998:39).

    A interao da criana com os objetos o objetivo principal da educao,

    principalmente nos primeiros onze anos de vida. Assim, a criana age sobre o meio

    transformando - o para primeiramente atender s suas necessidades e posteriormente

    as do seu grupo.

    Os comportamentos indisciplinados so, geralmente,

    entendidos como ataque escola, patologia ou falta de

    educao da criana. A interveno dirige se no sentido

    de culpabilizao, castigo, moralizao ou

    encaminhamento para o especialista( Freller, 199, p.1)

    Desse modo, os professores no refletem sobre sua influncia a do

    ambiente escolar na manuteno do comportamento. Precisam estar conscientes que

    a escola tem uma importante funo social, a de tentar modificar comportamentos

    que so traos da personalidade e que estaro consolidados no final dos anos pr -

    escolares.

    Esta pesquisa tem como objetivo principal estudar a relao entre o

    ambiente escolar e o comportamento da criana, alm de dar subsdios aos

  • -10-

    professores para uma reflexo e enriquecimento sobre suas influncias e as do

    ambiente escolar no comportamento das crianas, propiciando um maior

    entendimento, visto que o tema abordado em um contexto mais amplo onde vrias

    questes so estudadas.

    Tem se realizado muitas pesquisas no que diz respeito a encontrar

    solues que modifiquem o comportamento da criana, mas so poucos os que

    realmente se interessam em como est sendo utilizada a teoria na prtica.

    Para a realizao desse estudo levaram se em conta algumas questes:

    x Como esto sendo resolvidas as questes relacionadas aos problemas de comportamento?

    x Como deve ser o ambiente escolar e at que ponto influencia na formao da personalidade?

    x As expectativas dos professores interferem na capacidade das crianas?

    Nos trs primeiros captulos, ser desenvolvida a fundamentao terica

    da pesquisa. No certo, o tema abordado pretende ambientar o leitor, conceituando a

    formao da personalidade, de forma ampla, e em seguida, nos dois ltimos

    captulos, o Comportamento e Agressividade, dando nfase a questo da

    agressividade; e A Escola e sua Funo Social, finalizando como o questionamento

    da funo da pr escola e suas relaes e influncias na criana.

  • -11-

    CAPTULO I

    PERSONALIDADE

    O tema personalidade e sua formao tm sido ao logo da histria alvo de

    discusses e estudos entre vrios autores como Freud, Wallon, Bandura, entre outros.

    Um estudo importante a ser considerado para a realizao desta pesquisas

    a construo da personalidade moral, que se d segundo Puig (1996), atravs da

    adaptao sociedade e a si prprio, a crenas, valores culturais e hbitos morais que

    ajudaro na construo do eu. Nesta viso a educao moral assume um papel

  • -12-

    importante na socializao, valores como justia, liberdade e igualdade aprendidas

    pelo sujeito, seja no ambiente escolar ou familiar, sero imprescindveis na formao

    da personalidade.

    Na tica de Vayer (1986), a personalidade construda pelas interaes

    ser mundo, essas interaes se do atravs de sensaes, percepes e aes

    corporais. Vayer se baseou nas teorias de Wallon (1965) que afirmava ser durante o

    desenvolvimento da criana que sua personalidade se forma. Para Wallon (1965),

    durante os primeiros anos de vida da criana que a personalidade d inicio a sua

    formao. Afirmava ainda que os primeiros contatos da criana como meio se do

    atravs da emoo.

    Desde muito cedo a criana reconhece e interage como os objetos,

    estabelecendo relaes, percebendo assim atravs da discusso a sociedade em que

    vive.

    Wallon (1965) afirmava que a fala e a marcha so de extrema importncia

    para a diversificao das relaes da criana com o mundo, fator importante na

    formao da personalidade.

    Para Allport (1961:50-51) a personalidade a organizao dinmica,

    no indivduo, dos sistemas psicofsicos que determinam seu comportamento e seu

    pensamento caracterstico. A personalidade assume um carter essencialista,

    possuindo uma estrutura intern apropria existem na pessoa que se forma atravs s da

    interiorizao de padres que conduzem a atividade, ao pensamento e ao

    comportamento. Nosso comportamento e pensamento, alm de nos ajustar ao mio,

    nos fazem agir sobre ele.

    Allport (1955:35) acreditava que a personalidade menos um produto

    acabado que um processo transitivo. Ainda que tenha alguns aspectos estveis est

    ao mesmo tempo continuamente sofrendo mudanas.

    A aprendizagem, nesta viso, tem uma importncia fundamental no

    processo de desenvolvimento da personalidade, tem o objetivo de formar estruturas

    mentais mais ou menos estveis como a conscincia moral, autoconceito e a

    personalidade. Para ele a personalidade se desenvolve atravs das possibilidades

    individuais como a auto conscincia, auto crtica e no unicamente por impulsos

    comuns a toda espcie.

  • -13-

    Castiello (1958:28) afirma que:

    Formar uma personalidade alguma coisa mais do que

    produzir um advogado, um mdico ou um engenheiro

    capaz, (...) Alm de ser um profissional, o homem um ser

    moral e social. Deve estar integrado no mundo que o

    rodeia e deve aprender a disciplinar sua vida luz dos

    princpios morais.

    Segundo Castiello (1958), h a necessidade de proporcionar ao indivduo

    uma educao moral, formar o homem como um todo, um ser social, ativo e criativo,

    pensante e crtico no somente uma mquina dotada de tcnicas que empregar no

    mercado de trabalho. Para ele os elementos fundamentais da personalidade so o

    pensamento, a criatividade e a formao do eu. A educao foi definida como a

    transformao da matria prima da natureza humano na unidade rica e harmoniosa

    duma personalidade.(Castiello, 1958:189)

    Para Lundin (1974:6) personalidade a organizao do equipamento

    comportamental singular que cada indivduo adquiriu sob as condies especiais de

    seu desenvolvimento.Lundin (1974:7) afirma que o comportamento sofre mudanas

    resultantes das experincias como o meio. Essas mudanas so entendidas como

    aprendizagem ou condicionamento. Afirma ainda que nossas personalidades vm a

    ser moldadas pelo tipo de cultura e sociedade em que vivemos.

    Mussen, Conger e Kagan (1977), assim como Lundin (1974) acreditam

    que a personalidade da criana se forma a partir da interao como o meio social em

    que vivem, porm acreditam que as caractersticas das personalidades se tornam mais

    claras aos cinco anos, devido ao fato de nesta idade as crianas serem capazes de

    adquirir novos padres de resposta e interagir mais com o meio social em que vivem.

    Mussen, Conger e Kagan (1977: 303) definem personalidade como a

    organizao total ou ao padro de caractersticas do indivduo, as formas de pensar,

    sentir e comportar - se, reveladoras da peculiaridade de seus meios de relacionar-se

    como ambiente e adaptar-se a ele (...).

  • -14-

    CAPTULO II

    COMPORTAMENTO E AGRESSIVIDADE

    Em recente matria apresentada em um jornal (Jornal O GLOBO,

    25/04/99, p.1) sobre fatores ligados personalidade, feito um alerta sobre a

    influncia do comportamento dos pais no comportamento apresentado pelas crianas.

    Este tema tem sido freqentemente alvo de discusses nas reas da educao e da

    psicologia.

    O que chamamos comportamento so manifestaes

    visveis das interaes e inter relaes ser-mundo. As

    qualidades da personalidade, isto , o que os outros

    percebem, e tambm as capacidades gerais das pessoas de

    se adaptar ou de se afirmar diante do mundo presente vo

    depender da qualidade das comunicaes assumidas e

    vividas pelo sujeito (Vayer, 1986, p: 34).

    Estas manifestaes da personalidade se moldam de acordo com as trocas

    indivduo meio, vividas pelo sujeito. As trocas so muito importantes na

    construo da personalidade.

    Segundo Jover (1998), necessrio que o professo esqueas as frases

    prontas que rotulam o adolescente como revoltado e as crianas como naturalmente

    egocntricas e indisciplinadas. Para ela ningum nasce rebelde ou indisciplinado:

    trata - se de um comportamento construdo (Jover, 1998, p: 35).

    Carmichael (1975) acredita que se houver reforo ao comportamento

    apresentado pela criana, o mesmo ser fortalecido. Os comportamentos agressivos

    podem ser observados nas relaes sociais entre as crianas como os colegas e a

    famlia. O controle deste se torna um problema constante na vida da criana que

    precisa inibir sua ira e adequar suas agressividade ao grau de frustrao sofrida. Em

    alguns casos, as crianas tm determinados comportamentos para conseguir realizar

    desejos e necessidades internas.

  • -15-

    Segundo Allport (1955: 91) todo comportamento tende eliminao do

    estado de excitao, do equilbrio, ou, em palavras tcnicas, a reduo do

    impulso.Quanto maior for a perturbao, maior ser a necessidade de reduo da

    tenso. Para ele, todo comportamento tende a resolver um problema que incomoda o

    indivduo em determinado momento. Agimos de um certo modo para conseguir o

    que queremos ou para resolver um problema que nos aflige. Para este autor, alm de

    estabilidade queremos variedade; ao aprender certos modos de reduzir tenso,

    abandonamos velhos hbitos e arriscamo nos a procurar novas maneiras de

    conduta ( Allport, 1955:92).

    Allport (1961) considera existirem dois tipos de comportamento:

    expressivo, inconsciente e incontrolvel: e instrumental, definido como intencional,

    motivado, determinado pela situao do momento, formal, controlado, inibido,

    transformador do meio e consciente. Este ltimo ser de maior importncia para o

    presente estudo, uma vez que se pode ser controlado ou inibido nos leva a uma

    reflexo sobre como a escola influi e at que ponto modifica o mesmo.

    Segundo Lundin (1974:39), uma das reaes mais comuns frustrao a

    agresso. A agresso uma conseqncia da frustrao, onde houver agresso

    pressupe se a presena da frustrao.

    Os comportamentos agressivos segundo Mussen, Conger e Kagan (1977:

    308) so aes cuja inteno causar dano ou ansiedade nos outros, incluindo

    bater, chutar, destruir, propriedade, discutir, depreciar e atacar verbalmente outras

    pessoas e resistir a pedidos. Para esses autores as formas de exibio o grau de

    agresso apresentada pelas crianas dependem de fatores como a intensidade da

    motivao hostil definida por eles como motivao ou o desejo de magoar algum

    (1977:308), o grau de frustrao exercida pelo ambiente que est inserida, os

    reforos que recebe pelos comportamentos agressivos, entre outros.

    Segundo Mussen, Conger e Kagan (1977: 308) a frustrao pode ser

    entendida como (...) os que bloqueiam o comportamento de buscar atingir

    objetivos, ameaam a auto-estima do indivduo ou privam no da oportunidade de

    gratificar algum motivo forte. A agresso entendida como uma reao

    frustrao. A agresso e a frustrao, para esses autores tm a mesma relao que

    tm para Ludin (1974).

  • -16-

    Bee (1984) considera que a forma de agresso muda conforme o avano da

    idade, esta mudana deve ser ao fato doa aprimoramento da linguagem.

    Provavelmente as crianas de 2 ou 3 anos de idade agridem muito mais fisicamente

    os colegas do que as crianas maiores. Estas tm uma maior domnio da linguagem e

    podem insultar ao invs de simplesmente bater.

    Para Bee (1984:292) (...) na maioria das escolas maternais, agresso

    uma ttica muito bem sucedida. As crianas freqentemente conseguem o que

    querem dessa maneira. Se houver reforo aps o comportamento apresentado pela

    criana, esta se sente recompensada e tende a tornar - se cada vez mais agressiva. O

    reforo pode ser tanto o ato de revidar agresso sofrida quanto, por exemplo,

    entregar ao agressor o objeto desejado por ele.

    CAPTULO III

    A ESCOLA E SUA FUNO SOCIAL

    Segundo Krger (1998), a escola tem uma importante funo social, a

    educao possibilita mudanas significativas no comportamento e na personalidade

    atravs de experincias com o meio, e no somente pela hereditariedade.

    Para Moreno e Cubero (in: Koll, Palcios & Marchesi,1993) as diversas

    culturas possuem sistemas organizados que tm a funo de preparar os indivduos

    para a incorporao ao meio social. A escola nesta viso assume um importante

    papel na socializao da criana. A pr escola, neste conceito, prope um

    desenvolvimento diferenciado do que proporcionado pela famlia. So dois

  • -17-

    contextos diferentes em que a criana apreende comportamentos, regras e mtodos

    de comunicao caractersticos.

    Lpez (in: Koll, Palcios & Marchesi, 1993) cita a importncia da

    educao infantil para um aprimoramento da socializao da criana e uma educao

    porfissional diferente da que transmitida pela famlia. Em casos onde a criana

    filha nica ou o ambiente familiar depravado, a escola mais importante ainda.

    Mussen, Conger e Kagan (1977) enfatizam a importncia do tamanho da

    escola para a construo da personalidade da criana. Quando a escola grande e

    possui turmas numerosas, os professores acabam tendo que se utilizar o controle, da

    limitao, da disciplina e estipular regras de convivncia em grupo. Nas escolas

    pequenas, os professores no precisam estipular regras to rgidas de comportamento

    e a interao professor aluno bem mais freqente e possvel.

    Gardner (1994) afirma que na pr escola que se d consolidao da

    viso de mundo da criana. No s dos aspectos cognitivos, como tambm o

    temperamento e a personalidade, que representam o modo como enfrenta problemas

    e enigmas. No que se refere personalidade, cada criana nica e individual e s

    essa individualidade que vai interferir no modo como ela lida com o meio ambiente e

    as lies escolares,

    Um fator de muita importncia para Gardner (1994) so os fatores

    culturais e sociais e sua influncia na formao da personalidade. Gardner (1994) d

    uma valiosa contribuio para a pesquisa pelo fato de relatar a influncia da cultura

    escolar na formao de valores, crenas e comportamentos da criana.

    (...) valores a respeito do comportamento e conjunto de

    crenas (...) freqentemente exercem um efeito muito

    poderoso sobre as aes e reaes infantis. Em algumas

    culturas cedo delineado um limite entre a esfera moral,

    onde as violaes merecem sanes severas, e a esfera

    convencional, onde as prticas so simplesmente uma

    questo de gosto ou costume; em outras culturas, todas as

    prticas so avaliadas segundo uma nica dimenso de

    moralidade (Gardner, 1994: 90).

  • -18-

    As crianas acabam levando consigo uma gama de esteretipos, modelos,

    crenas e roteiros que ao passar do tempo continuaro a afetar seus gostos e

    preferncias ficando muito difcil de mudar. As crianas tornar se o mais

    habilitadas naquelas atividades que atraem seus interesses e seus esforos e que so

    valorizadas pelos pares e adultos de seu ambiente (Gardner, 1994: 94).

    A afirmao acima nos remete a duas questes importantes a serem

    consideradas neste estudo: a influncia dos iguais e do professor no comportamento

    nas crianas.

    3.1- Relao com os iguais

    As crianas passam a se desvencilhar dos pais com o passar dos anos e

    um dos motivos o aumento da capacidade de comunicao e pensamento que

    segundo Bee (1984) se desenvolvem entre os 2 e 5 anos. As outras crianas,

    definidas nesta pesquisa como iguais, passam a exercer maior influncia, tornando

    se mais importantes no processo de socializao. A socializao entendida por

    Lpez (in: Koll, Palcios & Marchesi, 1993: 82) como (...) uma interao entre a

    criana e seu meio.

    Bee (1984) acredita que os grupos continuam se formando alm dos anos

    pr escolares e aumentam durante os anos escolares. Os amigos em geral so do

    mesmo sexo e se unem em torno de um objetivo comum, seja para se divertir ou para

    praticar algum esporte.

    Ser aceito pelos companheiros uma das fortes necessidades das

    crianas e dos adolescentes (Mussen, Conger e Kagan,1977:417). Segundo esses

    autores, os iguais podem influenciar a vida acadmica dos colegas, fortalecendo ou

    enfraquecendo a. Em alguns grupos, o sucesso durante a vida escolar muito

    valorizado, os mais estudiosos so reconhecidos como melhores e cooperativos. J

    em outros grupos, os iguais valorizam o fracasso escolar no reforando o xito

    acadmico.

    (...) o grupo de companheiros ajuda a criana a

    desenvolver um conceito de si prpria. Os modos pelos

    quais o grupo reage a ela, bem co as bases nas quais

    aceita ou rejeitada, do lhe uma idia mais clara e

  • -19-

    talvez mais realista de seus pontos negativos e positivos

    (Mussen, Conger e Kagan,1977: 426).

    Atravs da conversa com os iguais, as crianas podem perceber que no

    so as nicas a sofrerem certos problemas ou terem sentimentos complexos, o que

    pode ser muito importante e confortante.

    Segundo Moreno e Cubero (in: Koll, Palcios & Marchesi, 1993) a escola

    no s influi na transmisso do saber cientfico, como tambm na socializao e na

    individualizao da criana, suas relaes afetivas e no desenvolvimento da

    sexualidade. Na escola, ela tem a oportunidade de conhecer outras crianas e ampliar

    suas relaes sociais, alm de poder interagir com adultos que no fazem parte de seu

    ambiente familiar.

    As interaes entre os pr escolares contribuem para o controle da

    agressividade, coordenao de aes e a formao de uma conduta pr social,

    algumas crianas so aceitas ou no pelo grupo de acordo com suas caractersticas da

    personalidade. So isoladas por serem consideradas agressivas violam regras,

    provocam brigas e esto sempre em conflito como professor. Por outro lado, so

    aceitas se possuem o esprito de cooperao e amizade.

    As autoras, assim como Bee (1984) consideram a relao dos iguais como

    sendo freqente durante toda a vida escolar da criana. Mesmo exercendo muitas

    atividades individuais no incio de sua escolarizao, acabam por desenvolver

    atividades em grupo, estas vo se tornando mais freqentes medida que os anos

    escolares avanam.

    Parece, contudo que as preferncias sociais dos pr

    escolares quando so perguntados sobre seus iguais

    relacionam se aos comportamentos de amizade,

    cooperao e ajuda, bem como participao do grupo e

    ap cumprimento das regras (Moreno e Cubero in: Koll,

    Palcios & Marchesi, 1993:201).

    Nos grupos escolares as crianas acabam preferindo ou rejeitando outras

    crianas. As crianas que violam regras e provocam brigas acabam sendo isolada do

    grupo. Acredita se que as crianas agressivas tm um status abaixo, ao passo que as

    cordiais, tm um alto status e influenciam o comportamento dos colegas.

  • -20-

    3.2 - Relao com o professor

    A conduta do professor em relao ao aluno ser determinante para o auto

    conceito da criana, pois os sentimentos que o aluno tem sobe si mesmo dependem

    em grande parte dos comportamentos que percebe que professor tem em relao

    ele. (Moreno e Cuberoin: Koll, Palcios & Marchesi, 1993).

    Se o professor demonstrar confiana e boas expectativas ao aluno, este se

    orna confiante e capaz de obter bons resultados acadmicos ao passo que se o

    professor demonstrar se inseguro e desconfiado, o aluno sente se incapaz e

    conseqentemente ir fracassar.

    Esta afirmao nos leva a refletir sobre como o professor interfere na

    capacidade intelectual das crianas, podendo conduzi la ao fracasso ou ao sucesso,

    Silva (1996) acredita que se o professor e o aluno no se gostam, o

    aprendizado fica muito difcil. Wanderli (por Silva, 1996) considera que Alm de se

    preocupar como o contedo didtico, ele deve se lembrar de que suas atitudes

    afetam o desenvolvimento da personalidade das crianas (1996: 18).

    nas sries iniciais que as crianas passam a maior parte do tempo com

    um s professor, fazendo dele uma figura de muita importncia. Segundo Wanderli

    (por Silva, 1996: 19) o professor quem encaminha a crianas na passagem do

    meio familiar para o desconhecido mundo da escola.

    Dentre os fatores situacionais que afetam o ajustamento e o progresso da

    criana, no ambiente escolar, o relacionamento professor aluno possivelmente, o

    mais importante (Mussen, Conger e Kagan,1977:406).

    No incio da vida escolar, o professor tem um papel central na vida da

    criana. Esta importncia perdura em toda a vida escolar. Os professores que as

    crianas tero, determinaro se as suas experincias acadmicas facilitaro seu

    sucesso ou aumentaro suas dificuldades, provocando frustraes.

    Recompensam a ordem, a obedincia, a cooperao e a

    limpeza, punindo o esbanjamento, a falta de

    responsabilidade, a mentira e a agressividade. Muitas

    professoras afirmam que roubar, enganar, mentir e

    desobedecer so os crimes mais srios que uma criana

  • -21-

    pequena pode cometer. fcil verificar que os padres

    anteriores de reforos e punies familiares podem

    facilitar o ajustamento inicial de meninas aos valores dos

    professores (Mussen, Conger e Kagan,1977:406).

    Segundo estes autores, a ordem e a no exibio de comportamentos

    agressivos so caractersticas femininas, enquanto que desleixo e travessuras so

    comportamentos tipicamente masculinos.

    As crianas obtm melhores resultados com professores democrticos e

    competentes que estabelece padres e objetivos. Estes professores despertam o gosto

    da criana pela aprendizagem, sem perderam a disciplina e a liderana. Segundo

    Mussen, Conger e Kagan (1977) os professores influenciam no comportamento de

    seus alunos de vrias formas, se o professor impulsivo as crianas tendem a ficar

    impulsivas, se cuidadoso, as crianas tendem a ficar mais cuidadosas.

    Em um recente entrevista como educador Veiga Neto (por Vikttor,

    199) a questo da importncia do professor tambm relatada. O educador,

    desenvolvendo esse modo de comunicao criativa com o jovem, ter uma ao

    muito eficaz, porque isso que configura o perfil do que os alunos entendem como

    sendo um bom professor (Veiga Neto, por Viktor, 1999: 6).

    O bom professor passa a ser admirado e respeitado pelos alunos, servindo

    de referncia para os mesmos, visto o tempo que passa com ele. Como o professor,

    os alunos tm possibilidade de crescer. O professor tem a possibilidade de educar e

    impor limites, limites que por outro lado, promove aberturas para situaes.

  • -22-

    CAPTULO IV

    METODOLOGIA

    A personalidade da criana deve ser observada no seu mundo exterior,

    pois neste mundo que manifesta suas reaes, quando colocada diante de diversas

    situaes. Segundo Freud (1985:26) Uma multido de atitudes, atividades e

    atributos exibida abertamente pela criana, na vida familiar ou escolar facilitando

    assim o trabalho do observador.

    Realizei ume estudo etnogrfico em uma escola particular localizada no

    bairro de Jacarepagu, no estado do Rio de Janeiro, de maro a julho. A clientela

    composta por crianas de classe mdia, ma maioria residentes prximas escola.

    Retive me no ambiente onde houve o maior contato que promovesse a socializao,

    como o objetivo de identificar os padres de comportamentos existentes e como

    esto sendo tratados os alunos agressivos com possveis distrbios de

    comportamento.

    Segundo Ldke e Andr (1986: 11), Por exemplo, se a questo que est

    sendo estudada a da indisciplina escolar, o pesquisador procurar presenciar o

    maior nmero de situaes em que esta se manifeste (...).

    A escolha da metodologia qualitativa deve-se ao fato de que pretendo

    com a pesquisa levar os sujeitos envolvidos a refletirem sobre suas prticas na

    tentativa de uma possvel modificao. Entendo tambm que esta metodologia

    procura investigar o processo e no o produto final, essencial para a realizao da

    pesquisa.

    Para Ldke e Andr (...) podemos dizer que o estudoqualitativo

    ounaturalstico encerra um grande potencial para conhecer e compreender

    melhor os problemas da escola (1986: 24).

    Os instrumentos de coletas de dados utilizados para a realizao da

    pesquisa foram observao, analisas no captulo seis e o questionrio aplicado

    professora da turma, analisado no captulo sete, que consiste em sete perguntas sobre

  • -23-

    as regras e os comportamentos dos alunos apresentados em classe. Para Ldke e

    Andr o ato de observar possibilita um contato maior do pesquisador com o aspecto

    pesquisado. Atravs da observao podemos verificar se um determinado fenmeno

    acontece ou no.

    (...), para compreender melhor a manifestao geral de

    um problema, as aes, as percepes, os comportamentos

    e as interaes das pessoas devem ser relacionadas

    situao especfica onde ocorrem ou a problemtica

    determinada a que esto ligadas (Ldke e Andr, 1986:

    18- 19).

    A observao foi feita como propsito de propor ao final da pesquisa

    possveis solues para a recuperao das crianas que apresentam problemas de

    comportamento; alm de verificar se as respostas dadas pelo professor da instituio

    so coerentes com sua prtica.

    Este estudo objetiva dar subsdios aos professores para uma reflexo e

    enriquecimento sobre suas influncias e a do ambiente escolar no comportamento das

    crianas, propiciando uma maior entendimento, visto que o tema abordado em um

    contexto mais amplo, onde h vrias questes so estudadas.

    CAPTULO V

    RELATO DE UM ESTUDO DE CASO

    A turma observada composta de vinte crianas entre seis e sete anos de

    idade. A turma bem homognea quanto ao comportamento. So falantes, agitados,

    carinhosos e questionadores, solicitam bastante a professora. Algumas crianas tm

    dificuldade com a leitura, mas so poucas as que apresentam esta dificuldade.

  • -24-

    A maioria mantm uma boa relao com a professora, so amistosos e

    parecem aceitar bem as regras estipuladas.Esta paciente e atenciosa, quando

    alguma criana viola as regras adotadas por ela, imediatamente chamada para uma

    conversa em particular, se persistir no erro encaminhada at a coordenao da

    escola. Se duas ou mais crianas violam as regras ao mesmo tempo, como brigar ou

    comear a gritar e fazer baguna, ela imediatamente rene toda a turma e recoloca

    todas as regras, passando um bom tempo conversando com elas.

    Durante o perodo de observao constatei uma criana com problemas de

    comportamentos, sendo a seguir relatado.

    D., de sete anos de idade, uma criana de comportamentos agressivos.

    Se irrita quando contrariado, chora muito quando no consegue o que quer, fala

    palavres para os colegas, est sempre implicando com os outros. Fica com a

    empregada, sua me trabalha, era ela quem o levava e buscava todo dia na escola e

    quem o ajudava nas lies da escola.

    D. adora fantasiar as situaes, um dia me disse que suas costas estavam

    doendo porque no estava acostumado a sentar em cadeiras comuns, s sentava em

    barcos. Quando eu disse que precisava se acostumar a sentar nessas cadeiras porque

    na escola s tem cadeiras comuns, aceitou e foi sentar se sem reclamar.

    D. s gostava de desenhar cenas de violncia, a famlia com armas

    brigando ou figuras estranhas sem definio. Quando desenhou um palhao ceio com

    muito orgulho nos mostrar dizendo: _ Olha s o meu palhao, no assustador? A

    professora da turma respondeu dizendo que era assustador e engraado, depois

    props a ele que fizesse desenhos mais coloridos, alegres. Deu outra folha a ele e

    pediu que fizesse outro desenho, D. voltou com outro desenho bem colorido e rico,

    havia feito bonecos em um castelo. Passei ento a pedir que fizesse sempre esses

    desenhos, o que deu resultado, todas as vezes que fazia um desenho vinha nos

    mostrar todo alegre.

    5.1 Com os iguais

    Ficava sempre sozinho, tanto na sala de aula quanto no recreio, implicava

    muito com as crianas, se estavam quietas as perturbava e quando reclamavam as

    imitava, repetindo tudo o que elas falavam com ironia. As crianas tinham

  • -25-

    dificuldade em aceita lo, no queriam brincar com ele, queixavam se sempre que

    atrapalhava a brincadeira porque batia nelas ou porque falava palavres.

    Era aceito por poucos meninos, os mais indisciplinados, mas acabava

    saindo da brincadeira porque os colegas alegavam que ele no sabia brincar do modo

    deles e queria que fosse do jeito que ele falava. D. acabava chorando e ficando s,

    passava o resto do tempo que tinha livre sentando e irritado.

    5.2 Na sala de aula

    Alm de no ser muito aceito na hora das brincadeiras, sofria o mesmo

    problema dentro da sala de aula, as crianas no o ajudavam nos exerccios porque

    diziam que ele no sabia nada. D. tinha dificuldade na leitura e na escrita, entrou

    nesta escola depois que o ano letivo havia comeado, pois veio expulso de outra

    instituio por problemas de comportamento.

    Conseguia resolver os problemas de matemtica com facilidade, resolvia

    os rapidamente e sozinho, no precisava de ajuda, quando terminava me chamava

    pra perguntar se estava correto, se a resposta fosse positiva, sorria. O mesmo no

    acontecia com os exerccios de portugus, sempre chorava quando no conseguia ler

    ou escrever as palavras, no conhecia as letras, nem mesmo as do seu nome.

    Precisava da minha ajuda e a da professora para fazer os exerccios, os trabalhos de

    casa voltavam na maioria das vezes sem terem sido feitos. D. ficava com a

    empregada, sua me trabalhava e no podia ajuda li e a empregada, por sua vez,

    fazia o mesmo.

    D. mentia muito, pegava o material dos colegas sem que eles percebessem

    e dizia que era dele ou o colega havia emprestado. Certo dia pegou um objeto da

    colega que estava sentada ao lado dele, a menina pediu que devolvesse e D.

    respondeu que no iria porque era dele. A menina me chamou e pediu que eu

    resolvesse, quando pedi que entregasse a borracha ele me responde: _ A borracha

    minha, eu ganhei no aniversrio do meu primo. Eu sabia que a borracha no era dele,

    guardei a e esperei que a professora resolvesse o caso, uma vez que no possua

    liberdade para decidir. Este caso no foi resolvido, a professora esqueceu e a menina

    tambm, no pediu mais sua borracha.

  • -26-

    5.3 No ptio

    Uma situao que me chamou ateno foi quando D. desceu para o ptio

    da escola com um pirulito na mo, todos estavam brincando e ele estava sozinho.

    Comeou a chutar o brinquedo que era base do pirulito, at que este quebrasse,

    quando viu que o brinquedo quebrou sentou no cho e comeou a chorar, me

    aproximei dele e perguntei o porque de estar chorando e me respondeu dizendo que

    havia perdido o brinquedo. Quando mostrei a ele seu brinquedo D. disse que aquele

    no era o dele, o dele era verde, mostrei novamente dizendo que aquele era verde e

    ele insistiu dizendo que no, agora com a desculpa de estar quebrado. Como insisti

    mostrando a ele que estava quebrado porque o havia chutado, chorou ainda mais,

    negando que havia quebrado o brinquedo.

    5.3 Com a professora

    Era uma criana que no solicitava muito a professora, ficava sempre

    sozinho, s vezes pedia ajuda, mas queria que fosse rpido, que a professora o

    atendesse na hora e se revoltava quando ela no podia atende-lo porque estava com

    outra criana. Comeava ento a implicar novamente com os colegas. Exigia que

    fssemos atende-lo na hora em que nos chamasse, dizia que j estava cansado de

    esperar e seu brao estava doendo de tanto ficar levantado.1

    Quando a professora brigava com ele ficava ainda mais irritado, largava o

    lpis e no fazia mais nada, s chorava, no entanto, quando a professora esperava a

    turma sair para o recreio e conversava com ele sozinho e com calma suas reaes

    eram melhores, pedia desculpas e ficava mais tranqilo durante a aula.

    5.4 Com a direo da escola

    Na hora da entrada e do recreio as coordenadoras e professora ficam no

    ptio observando as crianas, se houver algum criando problemas, primeiro

    chamam a ateno e se continuar, fica na coordenao e s sai de l quando comear

    a aula, acompanhada da coordenadora.

    1 Regra adotada pela professora, s atendia a criana que estivesse com o brao levantado.

  • -27-

    Com o passar do tempo D. foi melhorando seu comportamento, a

    coordenadora pediu a me que viesse escola para uma conversa na qual a

    professora da turma tambm participou. Comeou a participar das aulas de apoio

    com a professora da turma e sua me passou a ir mais na escola, a coordenadora a

    conversava muito com a me e com a criana. Quando a professo no consegui

    controlar D. o levava para a direo e l ele ficava um tempo conversando com a

    coordenadora, voltava ainda um pouco irritado, porm mais tranqilo.

  • -28-

    CAPTULO VI

    ANLISE DO ESTUDO DE CASO

    D. era uma criana com comportamentos agressivos, os quais com a sua

    experincia com a professora da turma e com acompanhamento pedaggico, foram

    amenizados. Atravs da aprendizagem e da interao como o meio, D. teve a

    possibilidade de modificar seus comportamentos. Esta afirmao nos remete a Alport

    (1961) que considera ser a personalidade um processo transitivo e contnuo que

    sempre sofre mudanas. Para Alport (1961) a aprendizagem essencial a formao

    da personalidade.

    D. aps vrias conversas com a professora e a coordenadora se adaptou as

    regras da escola. Passou a ser mais aceito entre as crianas uma vez que mudou seu

    comportamento, entendidos por Ludin (1974) como caracterstica da personalidade.

    As mudanas so entendidas por Ludin como aprendizagem ou condicionamento. A

    personalidade moldada pelo tipo de cultura e sociedade em que vivemos.

    D. chorava muito quando no conseguia o que queria, se irritava quando

    contrariado, falava palavres e mentia, tinha comportamentos definidos como

    agressivos por Mussen, Conger e Kagan (1977) por causarem danos e provocarem

    ansiedades nas outras pessoas. Os comportamentos de D. podem ser entendidos

    como instrumentais segundo Alport (2961), por ser motivado e determinado pela

    situao do momento, uma vez que se revoltava sempre que a professora no podia

    atende lo.

    Carmichael (1975) acredita que se houver reforo ao comportamento

    apresentado pela criana, o mesmo ser fortalecido, por isso quando a professora

    brigava com ele, ficava ainda mais irritado, ao passo que se parasse e conversasse

    com ele, ficava mais tranqilo durante a aula.

    Conforme mencionado no captulo cinco, D. no tinha uma boa relao

    como os colegas, estava sempre implicando com eles, falava palavres, batia e os

    imitava, o que fazia com que ele o isolassem, no gostavam de ajuda-lo nem de

    brincar com ele.

  • -29-

    Este isolamento era prejudicial para D. Segundo Moreno e Cubero (in:

    Koll, Palacios & Marchesi, 1993) acaba no permitindo a interao entre eles. A

    interao importante porque contribui para o controle da agressividade,

    coordenao de aes e a formao de uma conduta pr-social.

    Moreno e Cubero (in: Koll, Palacios & Marchesi, 1993) afirmam que as

    crianas acabam preferindo ou rejeitando as outras essa rejeio devida ao fato das

    crianas violarem regras ou provocarem brigas.

    A professora de D. contribuiu muito para a sua mudana de

    comportamento. Com sua ajuda, D. comeou a mudar, se tornar mais tranqilo e a

    aprender, entre outras coisas, a ler e a escrever. A professora, durante todo o perodo

    da observao, mostrou se paciente e encorajadora, atendia D. em horas extras,

    geralmente antes do horrio da aula, sempre lhe dizendo que era capaz. Moreno e

    Cubero (in: Koll, Palacios & Marchesi, 1993) afirmam que a conduta do professores

    em relao ao aluno tem sobre si mesmo dependem em grande parte dos

    comportamentos que percebe que o professor tem em relao a ele.

    A escola tem uma importncia muito grande na formao da

    personalidade da criana D. foi expulso de uma escola por apresentar

    comportamentos agressivos, poderia acontecer o mesmo neta escola em que est se

    esta adotasse os mesmos mtodos de disciplina. A escola observada no possua um

    espao fsico muito grande, o que segundo Mussen, Conger e Kagan (1977),

    importante para a construo da personalidade da criana.

    Os professores e coordenadores esto sempre presentes, no ptio, na hora

    do recreio, da entrada e da sada, observando todas as atitudes dos alunos primando

    sempre pela socializao e a boa convivncia. Segundo Mussen, Conger e Kagan

    (1977), nas escolas pequenas os professores no precisam estipular regras to rgidas

    de comportamento e a interao professor aluno bem mais freqente e possvel.

  • -30-

    CONCLUSO

    Com esta pesquisa procurou-se observar com a escola influencia na

    formao da personalidade infantil, se pode ou no modificar o comportamento

    infantil.

    Segundo a professora da turma observada importante colocar as regras

    no incio das aulas, mesmo para as crianas pequenas, sendo nesta fase mais

    importante, para ela, a colocao das regras e a imposio de limites facilita o

    relacionamento como os alunos. As questes dos valores, tica, cidadania so todos

    imbudos de regras de comportamento, que de uma forma ou de outra impem

    limites e disciplinam a turma.

    A professora afirma que no tem muitos problemas com alunos agressivos

    e indisciplinados. So poucas as crianas que lhe causam este tipo de problema. Na

    sua opinio isso se deve ao fato do constante contato com a direo da escola com as

    crianas e os pais das crianas. Estes so convocados a comparecerem na escola para

    conversar quando as crianas apresentam comportamentos agressivos constantes. A

    conversa, para a professora o melhor que se tem a fazer nestes casos. Toda vez que

    algum aluno seu quebra alguma regra, ela o chama para conversar e coloca todas as

    regras novamente. Em qualquer ambiente escolar sempre ocorre indisciplina, mas

    -31-

    com o uso do dilogo, de forma democrtica e justa procurei resolver junto aos

    alunos e professores como a melhor forma de se evitar tais problemas.

    Admite que tem um aluno seu com problemas de comportamento, mas que

    ela e a direo da escola juntamente com a me da criana (especificamente neste

    caso), esto unidas para encontrar ma soluo que j vem obtendo algum sucesso.

    Sempre temos reunies com a direo e a coordenao pedaggica, de forma a

    trabalhar individualmente a dificuldade ou problema da criana.

  • Todas as escolas devem sempre trabalhar com os pais e as crianas, de

    modo a compreender as reais causas da agressividade, contribuindo assim para a

    resoluo do problema.

    O professor influencia na vida escolar de seus alunos, pode amenizar

    problemas de comportamento, levando seus alunos a obterem sucesso ou fracasso

    durante a vida acadmica.

    O depoimento da professora confirma os autores citados no referencial

    terico. As questes respondidas por ela a careca da importncia da colocao das

    regras e limites e a resoluo adotada pela escola para problemas relativos ao

    comportamento agressivo encontram respaldo em Jover (1998), Carmichael (1975),

    Allport (1931) e Krger (1988).

    Com a observao e o questionrio aplicado professora da turma,

    observou-se que sua teoria e prtica so coerentes, uma profissional preocupada

    com seus alunos. Est na escola h trs anos e possui nvel superior completo, o seu

    primeiro ano como professora nesta escola, mas desenvolve um bom trabalho,

    sempre preocupada com a harmonia em sala.

    Como desenvolvimento da pesquisa realizada em uma instituio particular

    no Rio de Janeiro diagnosticou - se que a escola contribui para a formao da

    personalidade da criana, sendo capaz de modificar certos comportamentos.

    Percebeu se que as crianas agressivas, se reforadas tendem a ser mais

    agressivas, ao passo que se o professor mudar seu comportamento em relao

    criana, enfatizando a aprendizagem, esta modificar seu comportamento.

    -32-

    Outro aspecto percebido foi relao que os iguais tm com crianas

    agressivas, tendem a isola-las do grupo, no deixando que elas participem de

    nenhuma atividade.

    Evidenciou seque se a escola procura desenvolver no s intelectual da

    criana como tambm sua personalidade atravs da transmisso de valores e regras

    de convivncia, o ndice de comportamentos agressivos diminui, as crianas se

    tornam mais amistosas e cooperativas.

  • Espera - se que este estudo possa servir para uma reflexo dos profissionais

    a cerca de usa importncia para o desenvolvimento infantil. Considera se,

    entretanto que este estudo no esgota possibilidades para pesquisa nesta rea, pelo

    contrrio, outros estudos podem partir deste, enfocando a famlia como o objetivo de

    observar como esta se relaciona com a escola no processo de desenvolvimento da

    personalidade infantil.

    Os professores devem se integrar mais aos pais das crianas, sanando e/ou

    evitando que os problemas de comportamento e indisciplina aconteam. As direes

    das escolas devem ser mais atuantes e devem estar sempre em contanto com as

    crianas promovendo a ordem e a disciplina, quanto menor for a escola, maior a

    possibilidade de se trabalhar a disciplina de uma forma harmoniosa.

    Aps ter feito tais colocaes, constatou- se que a escola influencia na

    formao da personalidade infantil, modificando comportamentos

  • BIBLIOGRAFIA

    ALLPORT, G.W (1955). Desenvolvimento da personalidade. So Paulo: Herder,

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    Herder, 1966. ( trad: Pattern and Growth in Personality).

    -33-

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    Brasil, 1984.

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    8, 1975.

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    KRGER, H. Frum Educacional. F.G.V. Vol 2 n4 out/ dez, 1998.

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    Criana. So Paulo: Harper & Row do Brasil, 1977. ( Trad: Child Development and

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    PUIG, J. M. A. Construo da Personalidade Moral. So Paulo: tica, 1998.

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    VAYER, Pierre. A Criana Diante do Mundo: Na Idade da Aprendizagem Escolar. 3

    ed. Rio Grande do Sul: Artes Mdicas, 1986.

    VIKTOR, M. Revista Educao. Novembro, 1999.

    WALLON, Henri. La evolucin Psicocolgica Del Nio. Buenos Aires: Psique, 1965

  • ANEXOS

  • RESUMO

    O presente estudo tratou da questo do ambiente escolar e sua

    possvel influncia no desenvolvimento da personalidade.

    Baseado, principalmente, em terico que concebem o

    comportamento como parte integrante da personalidade que comea a se

    consolidar no incio da infncia, entre outros, atravs de trocas de

    experincias com o meio, procurou se pesquisar o cotidiano de uma

    instituio escolar localizada no bairro de Jacarepagu por observar

    crianas com comportamentos agressivos.

    A metodologia utilizada foi observao da relao aluno

    escola, compreendendo uma turma de Classe de Alfabetizao durante o

    perodo de 90 dias e a aplicao de um questionrio ao professor da

    turma.

    Aps a realizao da pesquisa observou se que a escola te

    uma importante influencia no comportamento das crianas, conclui se

    que a escola consegue modificar comportamentos, influenciando assim

    na formao da personalidade das mesmas.

  • Universidade Cndido Mendes - UCAM

    Diretoria de Projetos Especiais

    Curso de Ps Graduao Lato Sensu - Psicopedagogia

    ngela Oliveira da Silva Bernardino

    Professora Orientadora: Maria Esther de Arajo Oliveira