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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
NATÁLIA CANÁRIO GOMES
Ambiente familiar e funções executivas de crianças com epilepsia
rolândica
Salvador
2016
1
NATÁLIA CANÁRIO GOMES
Ambiente familiar e funções executivas de crianças com epilepsia
rolândica
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
da Universidade Federal da Bahia, como
requisito final para a obtenção do título de
Mestre em Psicologia.
Área de Concentração: Psicologia do
Desenvolvimento Humano.
Orientador: Profº Dr. Neander Abreu
Co-orientadora: Dra Marielza Veiga
Salvador
2016
2
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Gomes, Natália Canário
Ambiente familiar e funções executivas de crianças com epilepsia
rolândica / Natália Canário Gomes. - - Salvador, 2016.
200 f. : il
Orientador: Neander Abreu.
Coorientadora: Marielza Fernández Veiga.
Dissertação (Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Psicologia
- PPGPSI) -- Universidade Federal da Bahia, Instituto de Psicologia,
2016.
1. Neuropsicologia. 2. Epilepsia. 3. Ambiente familiar. 4. Funções
executivas. 5. Epilepsia rolândica. I. Abreu, Neander. II. Veiga,
Marielza Fernández. III. Título.
3
4
À minha família e amigos, portos-seguros durante esta jornada.
A cada criança com quem compartilhei conhecimentos, tempo e
sorrisos.
5
AGRADECIMENTOS
Inúmeras pessoas foram necessárias para a realização deste trabalho.
Incialmente, agradeço ao meus pais e meu irmão, Gustavo, à minha família e
amigos pelo suporte incondicional, pelo carinho, paciência e por não me deixarem
desistir nos momentos de desespero. Ao professor Neander, agradeço pelo apoio
e confiança na minha competência. À Dra. Marielza, agradeço imensamente pela
parceria, pois sem ela este trabalho não teria sido possível. Aproveito também para
agradecer à Mônica e Eliana, funcionárias do serviço de EEG do HUPES, que me
ajudaram (e ainda me ofereceram um cafezinho) em todos os momentos que
precisei.
Aos colegas e amigos do NEUROCLIC e EAN, muito obrigada pelos
socorros. Em especial, agradeço à colaboração dos estudantes - Gabi, Bia, Maria,
Hannah, Jel, Jenilson, Leo 1, Leo 2, David, Regi e Verena - e psicólogas - Márcia,
Luciana e Marta - que enfrentaram comigo o desafio de realizar o presente
trabalho (que, finalmente, acabou!).
Por fim, agradeço às diretoras, coordenadoras, professoras e demais
profissionais das escolas que aceitaram participar do estudo, e à Dra Rachel, Dr
Francisco, Dra Julieta, Dra Nayara e Dra Rita, profissionais médicos que
confiaram a mim seus pacientes. À Dra Sabrina, agradeço especialmente pela
disponibilidade e acolhimento. Às equipes dos Ambulatórios de Neuropsicologia
Infantil (COGNI) e do Adulto e Idoso, todo o meu carinho e gratidão.
6
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Classificação ILAE de crises epilépticas 2010-2016.......................... 28
Figura 2. Revisão dos termos e conceitos pela ILAE ........................................ 30
Figura 3. Desenvolvimento piramidal das FE, proposta por Diamond (2013) ... 43
Figura 4. Tradução do modelo de Funções Executivas proposto por Diamond
(2013). ............................................................................................................. 45
Figura 5. Núcleos lentiforme (em amarelo), núcleo caudado (em vermelho) e
tálamo (em azul) em representação tridimensional (lado esquerdo) e em corte
(lado direito). (Retirado de Machado, 2006)..................................................... 48
Figura 6. Estruturas envolvidas no circuito dorsolateral. Modelo desenvolvido a
partir de Bradshaw (2001) e Malloy-Diniz et. al. (2014). ................................ 49
Figura 7. Estruturas envolvidas no circuito orbitofrontal lateral. Modelo
desenvolvido a partir de Bradshaw (2001) e Malloy-Diniz et. al. (2014). ........ 50
Figura 8. Estruturas envolvidas no circuito do cíngulo anterior. Modelo
desenvolvido a partir de Bradshaw (2001) e Malloy-Diniz et. al. (2014) ......... 51
Figura 9. Vias serotoninérgicas centrais. Imagem retirada de Machado (2006). 54
Figura 10. Vias dopaminérgicas centrais. Imagem retirada de Machado (2006).
........................................................................................................................ 54
7
LISTA DE TABELAS
ESTUDO EMPÍRICO 1: FUNÇÕES EXECUTIVAS EM CRIANÇAS COM
EPILEPSIA ROLÂNDICA
Tabela 1. Caracterização clínica, QI e classificação do tipo de epilepsia dos
participantes do grupo clínico .......................................................................... 84
Tabela 2. Perfil sociodemográfico dos grupos clínico e controle e diferença entre
grupos ............................................................................................................. 89
Tabela 3. Perfil sociodemográfico dos grupos ER típica e ER atípica ............... 90
Tabela 4. Diferenças entre grupos clínico e controle nas medidas de memória
operacional verbal e visuoespacial. .................................................................. 92
Tabela 5. Diferenças entre grupos clínico e controle nas medidas de controle
inbitório e atenção ........................................................................................... 93
Tabela 6. Diferenças entre grupos clínico e controle na medida de flexibilidade
cognitiva .......................................................................................................... 93
Tabela 7. Diferenças entre grupos ER típica e controle nas medidas de memória
operacional verbal e visuoespacial. .................................................................. 94
Tabela 8. Diferenças entre grupos ER atípica e controle nas medidas de memória
operacional verbal e visuoespacial. .................................................................. 95
Tabela 9. Diferenças entre grupos ER típica e ER atípica nas medidas de memória
operacional verbal e visuoespacial. .................................................................. 96
Tabela 10. Diferenças entre grupos ER típica e controle nas medidas de controle
inibitório e atenção .......................................................................................... 98
Tabela 11. Diferenças entre grupos ER atípica e controle nas medidas de controle
inibitório e atenção .......................................................................................... 99
Tabela 12. Diferenças entre grupos ER típica e ER atípico nas medidas de controle
inibitório e atenção .......................................................................................... 99
Tabela 13. Diferenças entre grupos ER típica e controle na medida de flexibilidade
cognitiva ........................................................................................................ 100
Tabela 14. Diferenças entre grupos ER atípica e controle na medida de
flexibilidade cognitiva ................................................................................... 101
Tabela 15. Diferenças entre grupos ER típica e ER atípica na medida de
flexibilidade cognitiva ................................................................................... 101
8
Tabela 16. Diferenças entre grupos ER com TDAH/TDO e ER sem TDAH/TDO
nas medidas de memória operacional verbal e visuoespacial. ......................... 103
Tabela 17. Diferenças entre grupos ER com TDAH/TDO e controle nas medidas
de memória operacional verbal e visuoespacial. ............................................. 104
Tabela 18. Diferenças entre grupos ER sem TDAH/TDO e controle nas medidas
de memória operacional verbal e visuoespacial. ............................................. 105
Tabela 19. Diferenças entre grupos ER com TDAH/TDO e ER sem TDAH/TDO
nas medidas de controle inibitório e atenção .................................................. 107
Tabela 20. Diferenças entre grupos ER com TDAH/TDO e controle nas medidas
de controle inibitório e atenção ...................................................................... 108
Tabela 21. Diferenças entre grupos ER sem TDAH/TDO e controle nas medidas
de controle inibitório e atenção ...................................................................... 108
Tabela 22. Diferenças entre grupos ER com TDAH/TDO e ER sem TDAH/TDO
na medida de flexibilidade cognitiva .............................................................. 109
Tabela 23. Diferenças entre grupos ER com TDAH/TDO e controle na medida de
flexibilidade cognitiva ................................................................................... 110
Tabela 24. Diferenças entre grupos ER sem TDAH/TDO e controle na medida de
flexibilidade cognitiva ................................................................................... 111
Tabela 25. Distribuição de participantes com rastreio positivo e negativo no MTA-
SNAP-IV de acordo com o tipo de ER. .......................................................... 112
Tabela 26. Resumo das variáveis e grupos que apresentaram diferenças
significativas (p≤,05) no Teste U de Mann-Whitney. ..................................... 112
ESTUDO EMPÍRICO 2: AMBIENTE FAMILIAR E FUNÇÕES EXECUTIVAS
DE CRIANÇAS COM E SEM EPILEPSIA ROLÂNDICA
Tabela 1. Caracterização clínica, QI e classificação do tipo de epilepsia dos
participantes do grupo clínico ........................................................................ 126
Tabela 2 - Coeficientes de correlação de Spearman (ρ) entre medidas do ambiente
familiar e QI/memória operacional na amostra total ....................................... 130
Tabela 3 - Coeficientes de correlação de Spearman (ρ) entre medidas do ambiente
familiar e controle inibitório e atenção/flexibilidade cognitiva na amostra total.
...................................................................................................................... 131
Tabela 4 - Comparação dos coeficientes de correlações de Spearman (ρ) dos
grupos clínico e controle entre medidas do ambiente familiar e subteste Dígitos
(WISC-IV) .................................................................................................... 134
9
Tabela 5 - Comparação dos coeficientes de correlações de Spearman (ρ) dos
grupos clínico e controle entre medidas do ambiente familiar e Cubos de Corsi
...................................................................................................................... 135
Tabela 6 - Comparação dos coeficientes de correlações de Spearman (ρ) dos
grupos clínico e controle entre medidas do ambiente familiar e TAVIS-4 ...... 136
Tabela 7 - Comparação dos coeficientes de correlações de Spearman (ρ) dos
grupos clínico e controle entre medidas do ambiente familiar e Teste dos Cinco
Pontos ........................................................................................................... 137
Tabela 8 - Coeficientes de correlação de Spearman (ρ) entre variáveis da epilepsia
e medidas memória operacional ..................................................................... 142
Tabela 9 - Coeficientes de correlação de Spearman (ρ) entre variáveis da epilepsia
e medidas se controle inibitório e atenção/ flexibilidade cognitiva ................. 142
Tabela 10 - Diferenças entre grupos de localização das descargas epileptiformes
nas medidas de funções executivas ................................................................ 143
Tabela 11 - Teste U de Mann-Whitney para os grupos lateralidade/predominância
das descargas epileptiformes para a pontuação ponderada do subteste Dígitos
ordem direta e erros de ação na tarefa 3 do TAVIS-4 ..................................... 145
10
LISTA DE SIGLAS
ABEP Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa
AVC Acidente vascular cerebral
BCECTS Benign Childhood Epilepsy with Centrotemporal Spikes
BECTS Benign Childhood Epilepsy with Centrotemporal Spikes
BRWD3 Gene Bromodomain- and Wd Repeat-Containing Protein 3
CBZ Carbamazepina
CCEB Critério de Classificação Econômica Brasil
CFd Conectividade funcional dinâmica
CI Controle inibitório
CID Classificação Internacional de Doenças
CLB Clobazam
CPF Córtex pré-frontal
CPT Continuous Performance Test
CRH Hormônio liberador de corticotrofina
CZP Clonazepam
DAE Drogas anti-epilépticas
DSM-IV Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
IV
EEA Escala de Eventos Adversos
EEG Eletroencefalografia
EEQ Entrevista para Esclarecimento da Queixa
ELP4 Elongator Protein Complex4
ER Epilepsia rolândica
FE Funções executivas
GABA Ácido gama-aminobutírico
GRIN2A Glutamate Receptor, Ionotropic, N-Methyl-D-Aspartate,
Subunit 2ª
HD Hemisfério direito
HE Hemisfério esquerdo
HOME Home Observation for the Measurement of the
Environment
HPA Hipotálamo-pituitária-adrenocortical
HUPES Hospital Universitário Professor Edgard Santos – UFBA
ILAE International Leage Against Epilepsy
KA Kainic acid
KCNC3 Gene Potassium Channel, Voltage-Gated, Shaw-Related
Subfamily, Member 3
11
KCNQ2 Gene Potassium Channel, Voltage-Gated, Kqt-Like
Subfamily, Member 2
KCNQ3 Gene Potassium Channel, Voltage-Gated, Kqt-Like
Subfamily, Member 3
LEV Levetiracetam
LTG Lamotrigina
MO Memória operacional
MTA-SNAP IV Multisite Multimodal Treatment Study of Children With
Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder -Swanson, Nolan
and Pelham IV Scale
NSE Nível socioeconômico
OD Ordem direta
OI Ordem inversa
OXC Oxicarbazepina
PB Fenobarbital
PHT Fenitoína
POCS Ponta-onda contínua no sono
PRRT2 Gene Proline-Rich Transmembrane Protein 2
QI Quociente de inteligência
RAF Inventário de Recursos do Ambiente Familiar
RAF-IP Categoria Interação com os Pais do RAF
RAF-RM Categoria Recursos Materiais no Ambiente Físico do RAF
RAF-SP Categoria Suporte Parental das Rotinas Escolares do RAF
RMf Ressonância magnética funcional
ROL Opercula rolândicas
SHANK1 Gene SH3 And Multiple Ankyrin Repeat Domains 1
SNC Sistema nervoso central
SPECT Single photon emission computed tomography
SPSS Statistical Package for the Social Sciences
TAVIS 4 Teste de Atenção Visual 4
TCM Transtornos mentais e comportamentais
TDAH Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade
TDO Transtorno Desafiador Opositor
TPM Topiramato
VD Variável dependente
VI Variável independente
VPA Valproato
WASI Escala Wechsler Abreviada de Inteligência
WISC-IV Escala Weschler de Inteligência para Crianças IV
12
RESUMO
Canário, N. (2016). Ambiente familiar e funções executivas de crianças com
epilepsia rolândica. Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia.
Universidade Federal da Bahia, Salvador.
Introdução: O funcionamento cognitivo de crianças com epilepsia varia
amplamente, desde o típico até aquele com comprometimentos severos. Além dos
aspectos relacionados à doença, fatores ambientais, como qualidade do ambiente
familiar, situação sociodemográfica e educação materna também parecem estar
envolvidos no desempenho cognitivo destas crianças. A epilepsia rolândica (ER)
é o tipo mais frequente de epilepsia benigna na infância e crianças com a doença
apresentam prejuízos leves em diversos domínios ainda que tenham a inteligência
dentro do esperado na maioria dos casos. Especificamente, as funções executivas
em crianças com ER ainda foram pouco exploradas, com resultados mistos.
Poucos estudos investigaram as relações entre o ambiente familiar e dimensões
específicas da cognição, como as funções executivas. Objetivo: Identificar
relações entre o ambiente familiar e o desempenho de crianças com epilepsia
rolândica em tarefas que avaliam as funções executivas - controle inibitório,
flexibilidade cognitiva e memória operacional. Método: 24 crianças com
diagnóstico de epilepsia rolândica (típica, n= 18, ou atípica, n=6) e 33 crianças
saudáveis com idade entre 6 e 13 anos responderam à avaliação neuropsicológica
incluindo avaliação de inteligência (WASI), memória operacional (subteste
Dígitos-WISC IV e Cubos de Corsi), controle inibitório (TAVIS), flexibilidade
cognitiva (Teste dos Cinco Pontos). Seus responsáveis responderam a
questionários sociodemográficos (incluindo Critério de Classificação Econômica
Brasil, CCEB-ABEP) e sobre sintomas de TDAH/TDO (MTA-SNAP-IV), ao
Inventário de Recursos do Ambiente Familiar e ao roteiro de epilepsia (grupo
clínico). Testes adequados a dados não-paramétricos (Coeficiente de Correlação
de Spearman, Teste Z de Fisher, Teste U de Mann-Whitney, Teste Kruskal-
Wallis) foram conduzidos para averiguar associações entre variáveis e diferenças
entre grupos, sendo considerados significantes valores de p≤,05. Resultados:
comparado ao grupo controle, o grupo clínico teve pior desempenho nos acertos
no Cubos de Corsi ordem direta e no total de erros perseverativos do Teste dos
13
Cinco Pontos, e melhor desempenho no total de desenhos do Teste dos Cinco
Pontos. Comparado ao grupo controle, crianças com ER atípica obtiveram menor
pontuação ponderada no Dígitos ordem inversa, enquanto crianças com ER típica
apresentaram pior desempenho nos acertos no Cubos de Corsi ordem direta, total
de erros perseverativos e percentual de erros perseverativos no Teste dos Cinco
Pontos e melhor desempenho no total de desenhos e desenhos corretos do Teste
dos Cinco Pontos. Crianças do grupo clínico com rastreio positivo para
TDAH/TDO tiveram pior desempenho nas três funções executivas avaliadas. No
grupo clínico, foram observadas correlações significativamente mais intensas
entre o CCEB-ABEP e span, pontuação bruta e pontuação ponderada do Dígitos
ordem direta; entre renda mensal e span e pontuação bruta do Dígitos ordem
direta; negativamente entre escolaridade paterna e erros de omissão e erros de ação
na tarefa 3 do TAVIS, e positivamente entre escolaridade paterna e total de
desenhos e desenhos corretos no Testes dos Cinco Pontos; entre escolaridade
materna e span, pontuação bruta e pontuação ponderada do Dígitos ordem direta;
entre desenhos corretos no Teste dos Cinco Pontos e à RAF-Total e ao RAF-SP.
O total de desenhos no Teste dos correlacionou-se negativamente ao RAF-SP de
maneira mais intensa no grupo controle. No grupo clínico, a idade de início das
crises apresentou correlações positivas com o span, pontuação bruta e pontuação
ponderada do Dígitos ordem inversa, acertos e span x acertos do Cubos de Corsi
ordem direta, acertos e span x acertos do Cubos de Corsi ordem inversa e desenhos
corretos do Teste dos Cinco Pontos. Correlações negativas foram obtidas entre
idade de início das crises e o tempo e os erros de ação na tarefa 3 do TAVIS. A
quantidade de medicações em uso associou-se positivamente aos erros de ação da
tarefa 3 do TAVIS e negativamente à pontuação ponderada do Dígitos ordem
direta. A duração da epilepsia correlacionou-se positivamente aos erros de ação
na tarefa 1 do TAVIS e negativamente à pontuação ponderada do Dígitos ordem
direta. Crianças com descargas lateralizadas ou predominantes no hemisfério
esquerdo tiverem desempenho superior na pontuação ponderada do Dígitos ordem
direta àquelas com descargas em ambos os hemisférios, e cometeram menos erros
de ação na tarefa 1 do TAVIS do que os pares dos demais grupos. Conclusão:
Aspectos do ambiente familiar associaram-se ao desempenho em funções
executivas nos grupos de crianças com e sem epilepsia. Em crianças com ER,
foram encontradas associações entre as variáveis ambientais e neuropsicológicas
14
mais intensas do que em crianças saudáveis. Variáveis da epilepsia também se
associaram às funções executivas.
Palavras-chave: epilepsia rolândica; funções executivas; ambiente
familiar.
15
ABSTRACT
Canário, N. (2016). Family environment and executive functions of children with
benign rolandic epilepsy. Master’s thesis, Psychology Institute. Federal
University of Bahia, Salvador.
Abstract: The cognitive function of children with epilepsy can vary greatly, from
typical function to severe impairment. Besides the aspects related to the disease,
environmental factors such as quality of the family environment,
sociodemographic situation and maternal education, may also be involved on
cognitive performance of these children. Rolandic epilepsy (RE) is the most
frequent benign epilepsy of childhood and children with this disease show some
mild impairments in several fields even though their intelligence is within the
average in most cases. In particular, the executive functions of children with RE
have not properly investigated yet, with mixed results. Few studies have
investigated the relations between family environment and specific aspects of
cognition, such as executive functions. Objective: Identify the relations between
family environment and performance of children with RE in activities which
evaluate executive functions - inhibitory control, cognitive flexibility and working
memory. Methods: 24 children with diagnostic of RE (typical, n=18, or atypical,
n=6) and 33 healthy children between the age of 6 and 13 years have answered a
neuropsychological assessment, including intelligence assessment (WASI),
working memory (Digit Span – WISC IV and Corsi Block -Tapping Task),
inhibitory control (TAVIS 4) and cognitive flexibility (Five-Point Test). Those
responsible for the children who participated in the study have answered a
sociodemographic survey (including Brazilian Criteria for Economic
Classsification – CCEB-ABEP), another about symptoms of ADHD/ODD (MTA-
SNAP-IV), a Home Environment Resources Scale (HERS) and an epilepsy guide
(clinical group). Tests suited to non-parametric data (Spearman’s correlation
coefficient, Fisher’s Z Test, Mann-Whitney’s U Test, Kruskal-Wallis’ Test) were
done to investigate the associations between variables and differences between
groups, and it was considered significant values p≤,05. Results: compared to the
control group, the clinical group had worse performance on Corsi Block forward
and on total of preservative errors from the Five-Points Test as well as they had
16
better performance on total of drawing from the Five-Points Test. Compared to
the control group, children with atypical RE got a smaller scale score on Digit
Span backwards, while children with typical RE had worse performance on Corsi
Block forward, total of preservative mistakes and percentage of preservative
errors on the Five-Points Test as well as they had better performance on total of
drawings and correct drawings from the Five-Points Test. Children from clinical
group with positive screening for ADHD/ODD, had worse performance on the
three executive functions assessed. At the clinical group, it was observed relations
more significants between CCEB-ABEP and span, raw score and scaled score on
Digit Span forward; between monthly income and span, besides raw score on
Digit Span forward. It was observed relations negatively significant between
fathers' scholling and the omission errors and commission errors on task 3 from
TAVIS as well as relations positively significant between fathers' scholling and
the total of drawings and correct drawings on the Five-Points Test; between
mothers' scholling and span; raw score and scaled score on the Digit Span
forward; between correct drawings on the Five-Points Test and HERS-Total and
HERS-PS. The total of drawings of the Test was negatively correlated to the
HERS-PS more heavily than in the control group. In the clinical group, the age of
seizure’s onset showed positive correlations with span, raw score and scaled score
on Digit Span forward, correct trials and span x correct trials on Corsi Blocks
backward and the total of drawings on the Five-Points Test. Negative correlations
were found between the age of the seizure’s onset and the reaction time and
commission errors on the task 3 from TAVIS. The amount of used medications
was positively associated to the commission errors on the Task 3 from TAVIS and
negatively associated to the scaled score on Digit Span forward. The duration of
epilepsy was positively correlated to the commission errors on the task 1 from
TAVIS and negatively correlated to the scaled score on Digit Span forward.
Children with lateralized discharges or discharges prevalent in left cerebral
hemisphere got better performance in the scaled score on Digit Span forward
compared to those children with discharges in both cerebral hemispheres and they
also commited less commission errors on the task 1 from TAVIS than the children
from others groups. Conclusion: Family environment aspects have associated to
the performance on executive functions in children with or without epilepsy. In
the group of children with RE, it was found associations between environmental
17
variables and neuropsychological variables more heavily than in the group of
healthy children. Variables of the epilepsy have also associated to the executive
functions.
Keywords: rolandic epilepsy; executive functions; family environment.
18
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .......................................................................................... 20
CAPÍTULO I – CARACTERIZAÇÃO DAS EPILEPSIAS ............................. 23
1. Classificação .............................................................................................. 24
2. Epilepsia Rolândica: aspectos sindrômicos, cognitivos e comportamentais 31
2.1.Espectro das Epilepsias Rolândicas e Cognição ......................................... 33
CAPÍTULO 2: FUNÇÕES EXECUTIVAS ..................................................... 38
1. Modelos de Processos Múltiplos ................................................................ 40
2. Considerações sobre a neurobiologia das funções executivas ..................... 46
3. Funções executivas e epilepsia rolândica .................................................... 56
CAPÍTULO 3: AMBIENTE FAMILIAR ......................................................... 61
1. Ambiente familiar, desenvolvimento cognitivo e funções executivas. ........ 68
2. Ambiente familiar, cognição e epilepsia ..................................................... 77
JUSTIFICATIVA E DELIMITAÇÃO DO OBJETO ....................................... 82
OBJETIVOS E HIPÓTESES ........................................................................... 83
1. Objetivo Geral ........................................................................................... 83
2. Objetivos Específicos................................................................................. 83
3. Hipóteses ................................................................................................... 84
MÉTODO E RESULTADOS .......................................................................... 84
ESTUDO EMPÍRICO 1: FUNÇÕES EXECUTIVAS EM CRIANÇAS COM
EPILEPSIA ROLÂNDICA.............................................................................. 85
Introdução ....................................................................................................... 86
Método ............................................................................................................ 88
Resultados ....................................................................................................... 95
Discussão ...................................................................................................... 119
Considerações finais ...................................................................................... 124
ESTUDO EMPÍRICO 2: AMBIENTE FAMILIAR E FUNÇÕES
EXECUTIVAS DE CRIANÇAS COM E SEM EPILEPSIA ROLÂNDICA .. 125
Introdução ..................................................................................................... 127
Método .......................................................................................................... 131
Resultados ..................................................................................................... 137
Discussão ..................................................................................................... 153
Considerações finais ...................................................................................... 158
19
CONCLUSÃO .............................................................................................. 160
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 162
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 163
ANEXO A – Parecer Comitê de Ética em Pesquisa........................................ 175
ANEXO B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................... 181
ANEXO C – Termo de Assentimento do Menor ............................................ 184
ANEXO D - Questionário Socioambiental ..................................................... 186
ANEXO E – MTA-SNAP-IV ........................................................................ 192
ANEXO F – Roteiro sobre Epilepsia ............................................................. 193
ANEXO G – Inventário de Recursos do Ambiente Familiar-RAF .................. 196
20
APRESENTAÇÃO
Ser uma criança e adolescente com epilepsia tem os seus desafios. Existe
o medo das crises, o pouco entendimento do que está acontecendo no seu corpo,
crenças fantasiosas sobre a origem dos sintomas, a vida com medicação (e, pior,
a abstinência desta), o receio da família em relação ao preconceito e aos riscos que
a própria condição impõe. Na minha história de vida, estes desafios foram
fundamentais. Em paralelo às crises e sofrimento, a experiência da doença sempre
trouxe consigo curiosidade e fascínio pelo sistema nervoso central e, hoje curada,
admiração pela minha família, que nunca exigiu de mim nada a menos ou a mais
do que eu pudesse dar conta. Questões tão pessoais, vivenciadas durante mais de
dez anos, me conduziram até aqui e me permitiram estudar e compartilhar
conhecimentos sobre a epilepsia na infância.
Além do interesse pessoal, claro, este trabalho está sustentado por
prerrogativas acadêmicas e pelo potencial de subsidiar intervenções voltadas a
portadores de epilepsias, principalmente quando crianças. As epilepsias
constituem o transtorno neurológico crônico de maior ocorrência no mundo, sendo
estimado 50 milhões de pessoas acometidas, das quais 5 milhões são provenientes
da América Latina e Caribe (Organização Mundial de Saúde, 2008). Países em
desenvolvimento têm maior prevalência de epilepsia quando comparados a países
desenvolvidos, provavelmente devido a fatores como desnutrição, infecções do
sistema nervoso central, complicações na gestação e no parto, bem como acidentes
(OMS, 2008). Os estudos epidemiológicos da epilepsia no Brasil mostram um
quadro heterogêneo, com taxas de prevalência variando de 7/1000 a 36.8/1000hab
(Gomes, Zeitoune, Kropf, & Beeck, 2002). Em países em desenvolvimento, a
incidência é maior durante a infância do que nas demais etapas da vida, e a
diminuição do status socioeconômico associa-se ao aumento dos casos (Banerjee,
Filippi, & Allen Hauser, 2009).
A infância tem diversos períodos críticos do desenvolvimento do sistema
nervoso central, e é nesta fase que muitas epilepsias com curso clínico no período
de maturação e cujo aparecimento associa-se à idade podem ser consideradas
como desordens do desenvolvimento (Visioli-melo & Rotta, 2000). O
funcionamento cognitivo dessas crianças varia amplamente, desde o típico até
21
aqueles com comprometimentos catastróficos. A patologia subjacente às crises é
capaz de produzir diferentes perfis cognitivos, dependendo de aspectos como a
gravidade, localização e estágio do desenvolvimento no qual emerge(Westerveld,
2010).
Além dos aspectos relacionados à doença, fatores ambientais, como
situação sociodemográfica e educação materna, também parecem estar envolvidos
no desempenho cognitivo destas crianças (Fastenau, Shen, Dunn, Perkins, Bruce,
& Austin, 2004). Contudo, independente da classificação da síndrome epiléptica,
o tratamento e prognóstico das epilepsias em geral são dirigidos ao controle das
crises. Ainda que os aspectos cognitivos e comportamentais repercutam
enormemente na vida social e acadêmica dos pacientes - podendo, em alguns
casos, ser até mais debilitantes do que as próprias crises epilépticas - pouca
atenção lhes é direcionada (Besag, 2006; Gomes et al., 2002).
Em contrapartida, as pesquisas que se interessam pelo estudo dos fatores
ambientais (particularmente ambiente familiar) e desenvolvimento infantil típico
vêm acumulando evidências de que crianças criadas em ambientes familiares
menos estruturados e estimulantes, em situação de maior vulnerabilidade
socioeconômica e advindas de famílias com menor acesso à educação formal têm
maiores comprometimentos no desenvolvimento cognitivo (Evans & Fuller-
Rowell, 2013; Pinto, Pessanha, & Aguiar, 2013; Sarsour et al., 2011). Os estudos
sobre o ambiente familiar e epilepsia infantil, no entanto, apresentam uma outra
tendência, qual seja, investigar a qualidade de vida das crianças e dos seus
cuidadores (Abib & Souza, 1999; Linhares et al., 2014; Schlindwein-Zanini, 2007;
Souza, Nista, Scotoni, & Guerreiro, 1998). Estas evidências sinalizam uma lacuna
de pesquisas relacionando a epilepsia na infância, desenvolvimento cognitivo e
ambiente familiar, objetivo da presente investigação.
O trabalho a seguir está dividido em três capítulos teóricos e dois estudos
empíricos. O capítulo 1 é dedicado à epilepsia, em especial ao espectro das
epilepsias rolândicas. No capítulo 2, são revistos modelos teóricos e bases
neuronais das funções executivas, além da sua relação com as epilepsias
rolândicas. O terceiro capítulo apresenta formulações teóricas e evidências sobre
o impacto do ambiente familiar no desenvolvimento cognitivo e procura integrar
as informações dos capítulos anteriores, conduzindo ao problema de pesquisa. Os
22
estudos 1 e 2 apresentam os resultados da investigação e discutem os dados à luz
da literatura no tema.
23
CAPÍTULO I – CARACTERIZAÇÃO DAS EPILEPSIAS
As epilepsias são caracterizadas como um conjunto de síndromes que têm
como característica a presença de crises epilépticas recorrentes, geralmente
associadas a patologias estruturais ou neuroquímicas do cérebro, que
desequilibram a atividade elétrica do mesmo na ausência de condições tóxico-
metabólicas do organismo (Fuentes, Brakha, Góis, & Rzezak, 2008). Esta
definição, contudo, está longe de ser definitiva.
A Liga Internacional Contra Epilepsia (International Leage Against
Epilepsy - ILAE), uma das maiores instituições dedicadas ao estudo desta
patologia, vem revendo periodicamente seus critérios de definição das epilepsias
a fim de incluir as demandas clínicas e avanços científicos na área. Em 2005,
epilepsia foi definida pela ILAE como uma desordem cerebral caracterizada por
predisposição persistente a originar crises epilépticas, sendo necessária a
ocorrência de pelo menos uma crise, associada a consequências neurobiológicas,
cognitivas, psicológicas e sociais (Fisher et al., 2005). No mesmo documento, as
crises epilépticas são conceituadas como eventos (sinais ou sintomas) transitórios
devidos a anormalidades na excitabilidade ou sincronização da atividade neuronal
no cérebro. Nesta proposta, observa-se a não exigência de múltiplas crises para
caracterizar as epilepsias, sendo possível o diagnóstico com crise única, desde que
haja predisposição aumentada para ocorrência de crises subsequentes.
Em 2014, foi publicado um novo relatório oficial da ILAE no qual
buscou-se uma operacionalização clínica do conceito de epilepsia (Fisher et al.,
2014). Neste, é proposta a mudança na definição de 2005 do termo “desordem”
para o termo “doença”, que representaria melhor a gravidade da epilepsia. Foi
retida a ideia de que o diagnóstico pode ser feito, em alguns casos, após a primeira
crise, porém foram estabelecidos critérios novos. Um aspecto novo levantado é a
possibilidade de delimitar um fim para a doença - em substituição aos termos
“remissão” e “cura”, encontrados na literatura, o relatório propõe a utilização de
“resolvida” para indicar que a epilepsia não está mais presente, ainda que não seja
garantido que ela não retornará.
Com base no relatório supracitado, a epilepsia é atualmente conceituada
como uma doença cerebral definida por uma de três condições: 1) ao menos duas
24
crises não-provocadas (reflexas) ocorridas num intervalo mínimo de 24 horas
entre elas; 2) uma crise não-provocada (reflexa) associada à probabilidade de nova
crise nos próximos 10 anos similar ao risco de recorrência (a partir de 60%) após
duas crises não-provocadas; 3) diagnóstico de uma síndrome epiléptica. Ela é
considerada resolvida, no caso de epilepsias idade-dependentes, quando o sujeito
ultrapassa o período de desenvolvimento da doença e, no caso das demais
síndromes, após 10 anos sem crises, dos quais 5 sem medicamentos
anticonvulsivos.
A imprevisibilidade e o estresse causado pelas crises, associados ao
estigma da epilepsia são considerados fatores capazes de influenciar a qualidade
de vida e o desenvolvimento psicossocial das pessoas acometidas (Rodenburg,
Stams, Meijer, Aldenkamp, & Deković, 2005). Pesquisas sobre os impactos da
epilepsia na infância vêm evidenciando a ocorrência de prejuízos cognitivos,
psiquiátricos e socioeconômicos associados à doença. Fatores relacionados com a
cronicidade da doença - e não a doença em si - são apontados por alguns
pesquisadores como responsáveis por atrapalhar o desenvolvimento normal de
crianças com epilepsia e impactar negativamente na vida social e psicológica delas
e de suas famílias (Rodenburg et al., 2005). Baseando-se nas evidências de que
crianças com doenças neurológicas estão mais vulneráveis ao desenvolvimento de
psicopatologias do que as com doenças não-neurológicas, Rodenburg, Stams,
Meijer, Aldenkamp e Dekovic (2005) sugerem que a explicação da ocorrência de
transtornos mentais e comportamentais (TCM) em crianças epilépticas deve
também incluir fatores específicos relativos à epilepsia, como as disfunções
cerebrais subjacentes. Contudo, os autores apontam que o desenvolvimento e
manutenção de TCM podem estar parcialmente relacionados à influência familiar,
tendo em vista que a cronicidade da doença pode aumentar o estresse
parental, impactar negativamente a dinâmica familiar (que inclui pais e irmãos), e
prejudicar a relação pais-filho.
1. Classificação
Assim como sua definição, as classificações propostas para as epilepsias
são diversas, não havendo um consenso (Engel, 2006; Shorvon, 2011). Ainda que
aspectos como história familiar, gravidade e cronicidade das crises, fatores
precipitantes e história natural da doença devam ser considerados, a maioria das
25
classificações tem como foco o tipo da crise epiléptica – ou manifestação ictal
(Fuentes, Brakha, Góis & Rzezak, 2008).
Na atual Classificação Internacional de Doenças, CID-10, as epilepsias
encontram-se sob o código G40, e são divididas tanto pela etiologia quanto pelo
foco epileptogênico. Apesar de representar um avanço em relação ao CID-9 – que
só considerava a localização do foco epiléptico – as categorias propostas pelo
CID-10 ainda são consideradas demasiadamente amplas para as especificidades
das diversas epilepsias (Jette et al., 2015).
A ILAE, por sua vez, utiliza três critérios para classificar os tipos de
epilepsia: (1) Local de origem da crise, (2) Fator etiológico e (3) Síndrome
epiléptica (Jette et al., 2015). A primeira proposta de classificação lançada pela
instituição data de 1960, com revisões para classificação das crises em 1980, das
epilepsias em 1989 e das síndromes em 2006. Apesar de continuarem sendo
amplamente utilizadas, as diretrizes de 1989 e 2006 vêm sendo atualizadas desde
2010. As mudanças buscaram abarcar os avanços nos campos de neuroimagem,
biologia molecular e tecnologia genômica, mas, de acordo com os autores, as
alterações na terminologia e conceitos não têm impactos tangíveis na prática
médica frente às síndromes eletroclínicas, internacionalmente reconhecidas (Berg
et al., 2010). Cabe, então, ressaltar que na prática clínica e em publicações
científicas é comum encontrar a terminologia anterior à proposta em 2010. A
seguir, são apresentados os critérios de acordo com as propostas mais recentes,
fruto do trabalho da Comissão da ILAE de Classificação e Terminologia ente os
anos de 2005 e 2009, acrescidos de comentários acerca de algumas mudanças em
relação às classificações anteriores. A classificação dos tipos de crise ainda está
em processo de revisão pela Comissão da ILAE de Classificação e Terminologia
2013-2017, e por isso serão apresentados os tipos atuais e a proposta (não
definitiva) de modificação pela instituição.
De acordo com a Comissão, para cada paciente com epilepsia, deve-se
buscar diagnosticar o(s) tipo(s) de crise, a síndrome eletroclínica e a etiologia da
doença. Neste sentido, é imperativo compreender que o conceito “crise” difere de
“epilepsia”, que por sua vez, difere de “etiologia” (Scheffer et al., n.d.). Quanto
às crises, estas podem ser divididas em generalizadas e focais. As crises
generalizadas são aquelas originárias em algum ponto dentro de redes neurais
bilateralmente distribuídas, que se propagam rapidamente. Em alguns casos, o
26
início ictal pode parecer localizado, contudo não é observado consistência de
localização e lateralização entre diferentes crises (Berg et al., 2010).
Nas crises focais, a origem ocorre em redes limitadas a um hemisfério,
sejam elas amplamente distribuídas ou não, corticais ou subcorticais. Em crises
focais, há consistência do início ictal entre uma crise e outra, com padrões
preferenciais de propagação, os quais podem envolver o hemisfério contralateral
(Berg et al., 2010). As epilepsias focais podem ter manifestações comportamentais
características relacionadas ao local de origem no cérebro – por exemplo,
epilepsias de lobo occipital frequentemente se manifestam com alterações visuais
(Westerveld, 2010).
Crises focais, também chamadas de crises parciais ou localizadas, podem
envolver alteração de consciência ou não (Angus-Leppan & Parsons, 2008;
Beatriz, Jesus & Nogueira, 2008). A distinção entre tipo de crises focais, como
crises parciais complexas (alteração de consciência) e simples (sem alteração de
consciência), porém, foi eliminada da classificação de 2010, ainda que o
documento não impeça a utilização dessa nomenclatura para fins descritivos (Berg
et al., 2010).
A manifestação comportamental é uma outra forma de caracterizar as
crises epilépticas. Até 2010, elas poderiam ser divididas em: a) crises de ausência
- caracterizadas pela perda abrupta de consciência, com o olhar fixo, podendo
ocorrer movimentos associados das pálpebras, da face ou dos membros; b) crises
mioclônicas - caracterizadas por movimentos repentinos, irregulares e vigorosos
da cabeça, pescoço, membros e/ou tronco, ocorrendo geralmente em crises
generalizadas; c) crises tônicas - caracterizadas pela extensão e rigidez dos
membros e tronco, podendo ocorrer em crises parciais ou generalizadas; d) crises
clônicas - aquelas que apresentam movimentos simétricos e rítmicos da cabeça,
pescoço e membros, devido a crises parciais ou generalizadas; e) crises tônico-
clônicas (convulsões) - caracterizadas pela perda de consciência, iniciando com a
fase tônica (rigidez) seguida pela fase clônica (movimento rítmico), podendo
ocorrer durante a crise episódio de choro, mordedura lateral da língua,
incontinência urinária ou das fezes, além de ser comum uma fase pós-ictal de
confusão mental (eventualmente com agressividade ou sensação de cansaço); f)
crises atônicas - caracterizadas pela perda repentina do tônus muscular; g) crises
parciais complexas - crises parciais nas quais há alteração da consciência; h)
27
crises parciais simples - aquelas nas quais a consciência permanece preservada,
podendo apresentar-se como alguma experiência sensorial ou motora (mioclônica,
clônica, tônica ou atônica); i) crises secundariamente generalizadas - aquelas que
iniciam-se como crises parciais e evoluem para uma convulsão; j) status
epilepticus - caracterizado pela ocorrência de crises (qualquer tipo anterior) por
tempo prolongado ou repetitivamente, sem que haja tempo de recuperação entre
os episódios – status epilepticus de crises tônico-clônicas são as mais perigosas
(Angus-Leppan & Parsons, 2008).
As diretrizes propostas em 2010 foram retomadas pela comissão de 2013-
2017, nas quais são indicadas modificações em alguns dos tipos de crise
supracitados. Os resultados preliminares da comissão propõem: a) substituição do
termo “parcial” para “focal”; b) substituição do termo “crise secundariamente
generalizada” para “crise tônico-clônica bilateral”; c) que crises de origem
desconhecida possam ser classificadas; d) utilização do nível de consciência para
classificação de crises focais; e) eliminação dos termos “discognitivo”, “parcial
simples”, “parcial complexo”, “psíquico” e “secundariamente generalizada”; f)
manutenção dos tipos de crise focal (e suas versões bilaterais) “tônica”, “clônica”,
“atônica”, “mioclônica” e “espasmos epilépticos”; g) inclusão de novos tipos de
crise generalizada, a saber, “ausência com mioclonia palpebral”, “ausência
mioclônica”, “mioclônica-atônica”, “clônica-tônica-clônica” e “espasmos
epilépticos”.
A figura 1 apresenta um organograma da classificação das crises
epilépticas, com base nas revisões divulgadas pela ILAE de 2010 e 2016 (Berg et
al., 2010; Fisher et al., 2016).
28
Figura 1. Classificação ILAE de crises epilépticas 2010-2016.
29
No que diz respeito à etiologia, as crises epilépticas eram divididas em
idiopática (ou primária, sem presença de lesão), sintomática (secundária a uma
lesão) e provavelmente sintomática (ou criptogênica, com suspeita de lesão, mas
sem etiologia definida) (Fuentes, Brakha, Góis & Rzezak, 2008; Jesus &
Nogueira, 2008). Em 2010, a terminologia e conceitos da classificação etiológica
foram modificados, respectivamente, para: 1) genética – resultado de alteração
genética comprovada ou presumida, cuja principal manifestação ou sintoma são
as crises epilépticas; 2) estrutural/metabólica – aquela na qual há uma condição
distinta, seja estrutural, metabólica ou outra doença (inclusive genética), que está
associada a um aumento do risco para desenvolver epilepsia (e.g. AVC, trauma,
esclerose tuberosa); 3) causa desconhecida – quando não há evidências da
natureza da causa subjacente à epilepsia, que pode vir a ser genética ou
consequência de outro distúrbio não identificado (Berg et al., 2010).
Quanto à doença ou síndrome, as epilepsias podem ser categorizadas em
quatro grupos. O termo “síndrome” passou a ficar reservado àquelas entidades
clínicas que são claramente identificáveis por um conjunto de características
eletroclínicas, capazes de fornecer um diagnóstico preciso da doença, então
denominadas de “síndromes eletroclínicas” (Berg et al., 2010). Síndromes
eletroclínicas são definidas pela idade de início, tipos de crise, padrão
eletroencefalográfico (EEG), características de imagem e comorbidades. Elas
representam entidades bem definidas e abarcam predefinições em termos de
tratamento e prognóstico (Scheffer et al., n.d.).
As “constelações” são as entidades que não preenchem todos os critérios
para síndromes eletroclínicas, mas que representam aglomerados clinicamente
distintos de acordo com lesões ou outras causas (e.g. epilepsia do lobo temporal
mesial com esclerose hipocampal, epilepsia com hemiconvulsão e hemiplegia). O
terceiro grupo refere-se às epilepsias estruturais/metabólicas, que inclui epilepsias
devido a lesões ou distúrbios estruturais ou metabólicos que não se enquadram em
um padrão eletroclínico. Por fim, as epilepsias “criptogênicas” passam a ser
denominadas epilepsias de causa desconhecida.
A figura 2 apresenta um resumo das modificações em terminologia e
conceitos propostos pela ILAE entre 1989 e 2010. Dentre as mudanças, destaca-
se a sugestão de abandonar-se o termo “benigno” - tendo em vista que este pode
subestimar os impactos cognitivos, comportamentais e psiquiátricos das epilepsias
30
– substituindo-o por “autolimitada”. De acordo com Scheffer at al. (n.d.), esta
mudança reflete o reconhecimento de que mesmo epilepsias brandas podem
associar-se a comorbidades cognitivas e psicossociais, tornando o termo
“benigno” inadequado.
Figura 2. Revisão dos termos e conceitos pela ILAE, a partir de Fisher et al. (2014)
Talvez por serem muitas e recentes, as alterações propostas pelos
documentos supracitados nem sempre são encontradas na literatura. Boa parte dos
autores permanece utilizando os termos estabelecidos em 1989, talvez pela falta
de consenso acerca das mudanças (Ferrie, 2010). Ainda assim, para fins de
atualização segundo as recomendações da Comissão, a próxima sessão busca
caracterizar e definir a epilepsia rolândica, característica do grupo de interesse
deste estudo, conforme os tipos de crise apresentados, fatores etiológicos,
comorbidades e prognóstico. São mantidos, contudo, os termos utilizados pelos
31
autores referenciados, apesar de reconhecer-se que alguns desses estão
desatualizados.
2. Epilepsia Rolândica: aspectos sindrômicos, cognitivos e
comportamentais
A epilepsia rolândica (ER) – também chamada de epilepsia focal benigna
infantil com pontas centro-temporais – é o tipo mais frequente de epilepsia
benigna (autolimitada) na infância, correspondendo a 24% de todos os casos de
epilepsias em crianças entre cinco e quatorze anos, e a 16,5% em crianças abaixo
de quinze anos (Miziara & Manreza, 2002). De acordo com os critérios da ILAE,
ela é considerada uma síndrome eletroclínica, classificada como uma epilepsia
focal de etiologia genética.
Em geral, a idade de início das crises é entre três e treze anos de idade
(com pico entre sete e oito anos), sendo clinicamente caracterizadas por serem
crises focais, com espasmos rápidos motores e hemifaciais, normalmente durante
o sono, podendo ser acompanhados por sintomas sensoriais. A alta incidência de
crises envolvendo músculos faciais e orofaríngeos sugere que as descargas se
originam no córtex rolândico inferior, podendo envolver regiões mais superiores
nos pacientes que apresentam crises com sensibilidade nos membros superiores e
sintomas motores (Miziara & Manreza, 2002; Neri et al., 2012).
O eletroencefalograma das crianças acometidas por este tipo de epilepsia
é caracterizado por pontas agudas de alta amplitude em regiões centro-temporais
(rolândicas), muitas vezes seguidas por ondas lentas ativadas pelo sono, que
tendem a trocar de um lado a outro ou a se espalharem. A ER é tipicamente
caracterizada por um bom prognóstico, havendo remissão espontânea das crises
no período de dez anos (Miziara & Manreza, 2002). Contudo, formas atípicas de
ER também são consistentemente relatadas na literatura (Fejerman, 2009; Gobbi,
Boni, & Filippini, 2006; Guerrini & Pellacani, 2012; Massa et al., 2001). A relação
entre as formas típicas e atípicas da ER serão discutidas na sessão a seguir.
Em relação à sua etiologia, diversos genes que controlam a excitabilidade
dos neurônios vêm sendo descritos como envolvidos nas epilepsias genéticas. A
hiperexcitabilidade neuronal que leva às crises, nestes casos, pode ser causada por
32
anormalidades nos canais de sódio/potássio (canalopatias), em proteínas não-
iônicas relacionadas aos canais e nos receptores GABA (Gkampeta & Pavlou,
2012).
No caso da ER, sua ocorrência está relacionada a uma herança
autossômica dominante para a doença e para o traço de ponta-onda centro-
temporal, levando a intercorrências no processo de maturação cerebral (Gkampeta
& Pavlou, 2012; Pesántez-Ríos, Martínez-Bermejo, Arcas, Merino-Andreu, &
Ugalde-Canitrot, 2015). Apesar do traço de ponta-onda centro-temporal ser uma
importante característica nos pacientes com ER, cerca de metade das pessoas que
apresentam tal traço não têm manifestações clínicas, sugerindo que outros fatores
genéticos e ambientais devem estar envolvidos para desencadear a síndrome
(Gkampeta & Pavlou, 2012).
Há evidências do envolvimento de mutações do gene ELP4 (Elongator
Protein Complex4) no aumento da suscetibilidade a crises e transtornos do
neurodesenvolvimento. Este gene está relacionado à regulação do crescimento e
projeção neuronal durante o desenvolvimento, aspectos fundamentais para a
formação e funcionamento adequado de redes neuronais (Gkampeta & Pavlou,
2012). De acordo com o estudo de Hahn e Neubauer (2009), mutações nos genes
envolvidos na codificação dos canais de potássio, KCNQ2 e especialmente o
KCNQ3, também parecem indicar uma etiologia comum para convulsões
neonatais benignas, ER e epilepsias idiopáticas generalizadas. Tais genes são
responsáveis pela formação dos canais de potássio tipo-M, os quais atuam na
determinação do sub-limiar de eletroexcitabilidade no sistema nervoso central,
principalmente de neurônios corticais, talâmicos e hipocampais (Hahn &
Neubauer, 2009).
Mutações no gene GRIN2A parecem ser um dos fatores de risco para a
ocorrência de epilepsias focais idiopáticas com pontas centro-temporais (Dimassi
et al., 2014; Lemke et al., 2013; Reutlinger et al., 2010). No estudo realizado por
Lemke et al (2013), mais de 300 pacientes do espectro das ERs (incluindo formas
típicas e atípicas) foram geneticamente investigados e comparados com sujeitos
do banco de dados do Projeto Genoma. Além da relação entre alterações no
GRIN2A e o aumento do risco genético para epilepsias focais idiopáticas, os
pesquisadores identificaram este gene como traço monogenético em cerca de
7,5% dos indivíduos afetados. A frequência de mutações mostrou-se aumentada
33
nos fenótipos mais severos da doença, e algumas mutações foram detectadas em
parentes não afetados – sugerindo um estado de mosaico ou penetração
incompleta.
Para Dimassi et al (2014), o GRIN2A figura como suspeito de ser a
principal base genética comum entre ER típica e as ER atípicas mais graves
(encefalopatias epilépticas como ponta-onda contínua do sono - POCS). Os
autores conduziram, então, um estudo apenas com pacientes sem mutações
patogênicas no GRIN2A, no qual microdeleções e microduplicações variadas
foram detectadas, correspondendo a diversos genes (e.g. KCNC3, SHANK1,
BRWD3) que podem estar influenciando os fenótipos da doença. Na maioria dos
casos, a ocorrência de cada alteração foi detectada em apenas um paciente, exceto
microduplicações no gene PRRT2. Os resultados reiteram as evidências de uma
complexa base genética para a ER (Dimassi et al., 2014).
Por se tratar de uma doença auto-limitada, nem todas as crianças
diagnosticadas com ER são tratadas com medicação. A introdução de drogas anti-
epilépticas (DAE) costuma ser feita após a ocorrência de pelo menos duas crises,
e a DAE de primeira escolha é variável (Oguni, 2011). Crises prolongadas e
recorrentes, idade de início anterior aos quatro anos, recorrência de crises tônico-
clônicas e diurnas são alguns indicativos para necessidade de intervenção
medicamentosa (Oguni, 2011). Carbamazepina (CBZ), valproato (VPA),
fenobarbital (PB), fenitoína (PHT) e sulthiame são algumas das drogas utilizadas
como primeira escolha (Corda, Gelisse, Genton, Dravet, & Baldy-Moulinier,
2001; Oguni, 2011). Outras DAE utilizadas como segunda escolha ou em
associação são lamotrigina (LTG), oxicarbazepina (OXC), topiramato (TPM),
levetiracetam (LEV), clobazam (CLB) e clonazepam (CZP). Em geral, as
medicações são mantidas de um a dois anos após a última crise e, passado este
período, a retirada é feita independente do desaparecimento das descargas
epileptiformes no EEG (Oguni, 2011).
2.1. Espectro das Epilepsias Rolândicas e Cognição
Se as formas atípicas de ER tratam-se de sindromes distintas ou se fazem
parte de um contínum com mesmo mecanismo de base, ainda é tema de discussão
na literatura (Fejerman, 2009; Gobbi et al., 2006). Ao que parece, no entanto, elas
34
podem ser agrupadas tendo em vista que compartilham características como
idade-dependência, EEG com pontas agudas ativadas pelo sono e
hipersincronização indo até status epilepticus no sono (Gobbi et al., 2006).
Ademais, déficits neuropsicológicos encontrados nas ER atípicas parecem estar
associadas à atividade paroxística no cérebro dos pacientes acometidos (Gobbi et
al., 2006).
Gobbi, Boni e Filippini (2006) hipotetizam que as manifestações
rolândicas atípicas podem constituir um espectro de epilepsias rolândicas
idiopáticas (genéticas) correspondentes a um contínum maturacional de
transtornos cerebrais. Os autores sugerem que tais manifestações sejam divididas
entre “Síndromes Relacionadas à ER” e “Epilepsia Benigna da Infância com
Pontas Centro-Temporais (BCECTS, em inglês) Plus”. As Síndromes
Relacionadas à ER incluiriam: a) síndrome de ponta-onda contínua no sono
(POCS); b) síndrome epiléptica frontal adquirida; c) síndrome de Landau-
Kleffner; d) epilepsia parcial benigna atípica e pseudo síndrome de Lennox –
consideradas BCECTS com status epilepticus durante o sono de ondas lentas; e)
epilepsia e/ou anormalidades eletroencefalográficas associadas a disfasia,
transtornos comportamentais (e.g. regressão autística epileptiforme), regressão
desintegrativa epileptiforme da infância, autismo e transtorno do déficit de
atenção/hiperatividade. As BCECTS Plus se refeririam aos casos de: a) ER típica
com déficts cognitivos transitórios na fase ativa (e.g. disgrafia transitória),
relacionados à ocorrência de paroxismos; b) ER com déficits cognitivos
relacionados à ativação de descargas epileptiformes durante o sono; c) status
epilepticus da BCECTS; e d) síndrome epiléptica opercular adquirida.
Fejerman (2009), por sua vez, propõe que as formas atípicas de ER
podem ser divididas entre a) características atípicas das crises ou dos EEGs; b)
evolução atípica. As características atípicas incluem crises apenas durante o dia,
pos-ictal com paralisia de Todd, crises prolongadas, status epilepticus, EEG com
pontas de morfologia ou localização atípicas, descargas de ponta-onda similiares
a ausências ou alteração na atividade elétrica cerebral de base. No caso da segunda
classificação, os pacientes desenvolvem um padrão eletroencefalográfico com
pontas-ondas contínuas durante o sono, aparentemente como um tipo de
sincronização secundária bilateral, cujas causas ainda não foram completamente
compreendidas. Incluem-se no grupo de evolução atípica as síndromes ER atípica,
35
status epilepticus da ER, Landau-Kleffner e ponta-onda contínua do sono (POCS)
(Fejerman, 2009).
Em alguns casos, a evolução atípica de epilepsias inicialmente típicas
parece ser desencadeada pelas drogas anti-epilépticas (DAE) utilizadas
(Fejerman, 2009). CBZ, VPA e PB são relatadas em estudos de caso como
medicações associadas à piora na evolução de epilepsias rolândicas (aumento de
crises e paroxismos interictais, aparecimento de novas crises, deteriorização
cognitiva) (Corda et al., 2001; Fejerman, 2009). Em relação à CBZ, Oguni (2011)
sugere que ela não seja utilizada em pacientes que apresentam muitas descargas
de ponta-onda durante o sono ou vigília, pois a medicação teria o potencial de
generalizar a atividade de ponta-onda (levando a crises de ausência) e de acelerar
sincronização bilateral secundária (produzindo padrão POCS).
Quanto aos aspectos cognitivos, na síndrome de POCS, os
comprometimentos neuropsicológicos e alterações comportamentais são mais
proeminentes do que as crises epilépticas em si (Fejerman, Caraballo, &
Tenembaum, 2000). A síndrome de Landau-Kleffner, por sua vez, tem como
característica o prejuízo na linguagem expressiva (afasia epiléptica) e agnosia
auditiva. Nestes casos, distúrbios comportamentais são comuns, com ou sem
outros comprometimentos cognitivos (Gobbi et al., 2006). A evolução para estas
síndromes representa maior preocupação quanto ao prognóstico das crianças
acometidas, pois os déficits neuropsicológicos apresentados durante a doença
podem ser permanentes (Fejerman et al., 2000; Gobbi et al., 2006).
Num estudo prospectivo, comparou-se o desempenho cognitivo de
crianças com ER típica e atípicas, desde o seu início (entre quatro e sete anos) até
recuperação (um ano após EEG estar normalizado, sem uso de medicações)
(Metz-Lutz & Filippini, 2006). No grupo de atípicas, o QI total e QI verbal foi
inferior ao grupo de ER típica desde o início até a recuperação, enquanto o QI de
execução permaneceu inferior apenas entre o início e fase ativa da doença.
Memória verbal de curto-prazo e aprendizagem verbal também mostraram-se
mais comprometidas no grupo de epilepsias atípicas, ao passo que o desempenho
em funções executivas não apresentou diferenças entre os grupos. A ausência de
diferenças entre os grupos, segundo os autores, indicariam que as funções
executivas são particularmente sensíveis à presença de pontas-ondas,
independente de uma evolução típica ou atípica da ER.
36
Apesar da classificação da ER típica classicamente ter como requisito a
ausência de déficit cognitivo, os estudos neuropsicológicos têm evidenciado que
as crianças com a doença apresentam prejuízos leves em diversos domínios –
atenção, memória, funções executivas, coordenação motora, linguagem, etc –
ainda que tenham a inteligência dentro do esperado na maioria dos casos (Neri et
al., 2012; Riva et al., 2007; Gündüz, Demirbilek, & Korkmaz, 1999).
Garcia-Ramos et al. (2015) acompanharam o desenvolvimento cognitivo
e cerebral de crianças diagnosticadas com ER e crianças saudáveis durante dois
anos. Os resultados demonstraram que, apesar de ambos os grupos terem
incrementos nos testes neuropsicológicos ao longo do tempo, o grupo clínico
apresentou escores significativamente mais baixos do que o grupo controle em
nomeação, memória imediata verbal e funções motoras (velocidade e precisão)
tanto na linha de base quanto após dois anos. O controle das crises não influenciou
a evolução do desempenho cognitivo das crianças avaliadas, contrariando a ideia
de que os achados estariam mais relacionados à cronicidade e medicações do que
à doença per si.
No mesmo trabalho, imagens de ressonância magnética foram utilizadas
para comparar a espessura de regiões corticais e subcorticais das crianças com ER
e controles prospectivamente. Na linha de base, quando comparadas ao grupo
controle, as crianças do grupo clínico apresentavam hipertrofia do putâmen e
afilamento nas regiões frontal superior bilaterais, frontal inferior direita, temporal
inferior esquerda e occipital bilateral. Dois anos depois, enquanto as crianças do
grupo controle tiveram uma diminuição difusa da espessura cortical bilateral, as
com ER demonstraram um afilamento menos proeminente em ambos os
hemisférios, principalmente na porção rostral do giro frontal médio esquerdo
(p<.001), na ínsula esquerda (p=.001), no giro occipital bilateral (p<.001), no giro
pós-central bilateral (p<.002) e no giro frontal superior esquerdo (p<.001). O
putâmen direito (F=6,279, p=.017) e esquerdo (F=7,574, p=.01) permaneceram
aumentados no grupo clínico após dois anos. Para os autores, ainda que não tenha
sido possível determinar seus efeitos, as diferenças no desenvolvimento cerebral
encontradas - notadamente em regiões do córtex pré-frontal dorsolateral,
insulares, pré-centrais e parietais – podem estar implicadas nas alterações em
linguagem, atenção e funções executivas descritas pela literatura em pacientes
com ER (Garcia-Ramos et al., 2015).
37
Tais suposições foram parcialmente corroboradas por um recente estudo
no qual foram investigados os efeitos em tempo real das pontas centro-temporais
no cérebro e sua relação com o perfil neuropsicológico de pacientes com ER não
medicados (Xiao et al., 2016). Com o uso de técnicas de EEG e ressonância
magnética funcional (RMf), foram gerados mapas de conectividade funcional
dinâmica (CFd), correlacionando a atividade de pontas centro-temporais (pré,
durante e pós), as redes neurais rolândicas (tomando como base as opercula
rolândicas bilaterais - ROLs) e as demais regiões cerebrais. O QI verbal das
crianças avaliadas correlacionou-se positivamente com a CFd no giro
supramarginal esquerdo e no ROL direito pré (r=.328, p=.034) e pós (r=.362,
p=.019) pontas centro-temporais, enquanto o QI de execução associou-se
negativamente à CFd em regiões do giro frontal inferior e ROL esquerdo pré
pontas centro-temporais (r=-.49, p=.036). Evidenciou-se também mudança na
conectividade entre os ROLs e áreas ligadas à default mode network (giros frontais
médio e superior bilaterais, giro temporal médio esquerdo e precuneus direito), à
linguagem expressiva e receptiva (giro frontal inferior esquerdo, giro
supramarginal esquerdo e lobo parietal inferior esquerdo) e à atenção e funções
executivas (giro frontal inferior direito).
De maneira geral, é possível constatar a heterogeneidade de quadros
incluídos no espectro das epilepsias rolândicas. Ao que tudo indica, a diversidade
fenotípica relaciona-se à interação complexa de diversos genes – apesar de não
ser descartada a influência do ambiente – que controlam a excitabilidade neuronal.
A literatura indica um longo caminho até definições precisas para as ER.
Observa-se, contudo, a tendência de dividi-las entre típicas e atípicas de acordo
com sua evolução e/ou características das crises e eletroencefalográficas. ERs
atípicas costumam ser associadas a maiores comprometimentos cognitivos e
distúrbios comportamentais, podendo, em alguns casos, ser irreversíveis. Na ER
típica, por sua vez, os déficits neuropsicológicos encontrados são mais leves e
tendem a desaparecer com o final da doença. Conforme observado em estudos
recentes, alterações estruturais e funcionais no cérebro de crianças com ER típicas
e atípicas podem estar relacionadas aos prejuízos cognitivos já documentados,
principalmente aqueles que se referem à linguagem, memória e funções
executivas.
38
CAPÍTULO 2: FUNÇÕES EXECUTIVAS
Na infância e adolescência, as funções executivas (FE) são apontadas
cada vez mais como fundamentais para um desenvolvimento bem-sucedido
(Flores-Lázaro, Castillo-Preciado, & Jiménez-Miramonte, 2014; Malloy-Diniz,
Sedó, Fuentes, & Leite, 2008). Comparadas às demais funções cognitivas, as FE
têm um desenvolvimento bastante prolongado, estendendo-se do primeiro ano de
vida até o início da idade adulta (Flores-Lázaro, Castillo-Preciado & Jiménez-
Miramonte, 2014), com um pico entre os 6 e 8 anos de idade (Malloy-Diniz et al.,
2008). Esta particularidade deve-se muito ao lento processo de maturação dos
lobos pré-frontais e tornam as funções executivas especialmente suscetíveis à
influência ambiental (Bernier, Carlson, & Whipple, 2010).
De forma ampla, as funções executivas (FE) referem-se a um conjunto
de habilidades cognitivas que permite aos seres humanos direcionar seu
comportamento a metas, estabelecer etapas para alcança-las, monitorar e
modificar a execução destas etapas a fim de resolver problemas imediatos e
futuros (Malloy-Diniz, de Paula, Sedó, Fuentes, & Leite, 2014). Especificamente,
contudo, quais as habilidades englobadas pelo conceito de FE e a forma como se
organizam dependem do modelo teórico estudado (Malloy-Diniz.et al, 2014).
Para Malloy-Diniz et al. (2008), são FE as habilidades de planejamento,
controle inibitório, tomada de decisão, memória operacional, flexibilidade
cognitiva, e categorização e fluência. Lezak, Howieson, Bigler e Tranel (2012),
por sua vez, indicam que os principais componentes executivos seriam a volição,
planejamento, ação proposital e desempenho efetivo. Além destes aspectos, a
literatura aponta a existência de outros componentes a serem incluídos como FE,
dentre os quais, a regulação do comportamento, regulação das emoções
(Anderson, 2010) e raciocínio abstrato (Leh, Petrides, & Strafella, 2010).
Apesar de, definitivamente, não serem as únicas, as funções elencadas
por Malloy-Diniz et al (2008) compreendem boa parte dos estudos atuais em FE
e uma breve explicação dos seus conceitos pode ser útil aos propósitos do presente
capítulo. De acordo com os autores, o planejamento pode ser definido como a
capacidade de estabelecer a melhor forma de alcançar um dado objetivo,
respeitando uma hierarquia de passos e utilizando os instrumentos necessários. O
39
controle inibitório diz respeito tanto à capacidade de inibir respostas
preponderantes – que o indivíduo tem uma forte tendência a apresentar – ou
respostas a estímulos distratores que ameaçam a execução de uma ação, quanto à
capacidade de interromper uma resposta em andamento. A tomada de decisão é
um processo que demanda outras funções executivas (como memória operacional,
planejamento, flexibilidade cognitiva, etc) e se refere à capacidade de escolher
dentre várias alternativas em situações que envolvem incerteza ou risco (Malloy-
Diniz et al., 2008). A memória operacional é um sistema de armazenamento e
manipulação temporário de informações de volume restrito. Esta é uma das
funções executivas mais relevantes, pois dá suporte a outras funções e está
envolvida em diversas atividades diárias (como resolver um cálculo mentalmente
ou manter ativa na memória uma lista de compras) (Malloy-Diniz et al., 2008). A
flexibilidade cognitiva refere-se à capacidade de alterar (ou alternar) o fluxo de
pensamentos ou ações de acordo com as demandas ambientais. Por sua vez, a
categorização é um processo que permite agrupar elementos de acordo com
características que possuam em comum. A fluência (verbal e não-verbal)
corresponde à capacidade de emitir, em sequência, comportamentos de acordo
com regras (explícitas ou implícitas) previamente estabelecidas (Malloy-Diniz et
al., 2008).
Modelos teóricos foram desenvolvidos para explicar e organizar as
funções executivas. Tais modelos diferem, basicamente, em dois aspectos: a)
quais as habilidades abarcadas pelo conceito de FE, e b) existência ou não de um
construto único (Malloy-Diniz et al, 2014). Em relação ao segundo ponto, as
teorias se agrupam nas que propõem que um construto cognitivo principal engloba
e organiza as FE num sistema unitário – Modelos de Construto Único -, e nas que
supõem que, ao invés de um sistema unitário, as FE são compostas por diversos
fatores interligados, porém distintos – Modelos de Múltiplos Processos (Kluwe-
schiavon, Viola, & Grassi-Oliveira, 2012; Tirapu-Ustárroz, García-Molina, Luna-
Lario, Roig-Rovira, & Pelegrín-Valero, 2008).
Dentre os Modelos de Construto Único, estão a Teoria de Luria, o
Modelo de Memória Operacional de Baddeley e Hitch, o Sistema Atencional
Supervisor de Norman e Shallice, a Teoria da Informação Contextual de Cohen e
o Modelo de Acontecimentos Complexos Estruturados de Grafman (Kluwe-
schiavon et al., 2012). Respeitadas as suas particularidades, tais modelos destacam
40
o lobo frontal como a sede dos processos cognitivos conceituados como funções
executivas. Para alguns deles, a região frontal coordenaria o trabalho de outras
áreas corticais e subcorticais, como nos conceitos de Terceira Unidade Funcional
proposto por Luria (1973, citado por Kluwe-Schiavon, Viola, & Grassi-Oliveira,
2012), de Central Executiva proposto por Baddeley e Hitch (1974, citado por
Kluwe-schiavon, Viola, & Grassi-Oliveira, 2012) e de Sistema Atencional
Supervisor, de Norman e Shallice (1986, Kluwe-schiavon, Viola, & Grassi-
Oliveira, 2012). Outras teorias, por sua vez, compreendem que as diversas funções
executivas relacionadas ao córtex pré-frontal (CPF) representam um mesmo
mecanismo de base atuando em distintas situações, como na Teoria da Informação
Contextual de Cohen (1992, citado por Tirapu-Ustárroz et al., 2008). No Modelo
de Acontecimentos Complexos Estruturados, Grafman (1995, citado por Tirapu-
Ustárroz et al., 2008) propõe que CPF armazena representações (das mais
concretas às mais abstratas) de comportamentos temporalmente estruturados,
direcionados a objetivos, as quais são utilizadas para resolução de problemas.
Achados neuropsicológicos mais recentes, contudo, indicam que as
funções executivas não são um processo cognitivo único, mas sim um constructo
que abrange diversas, complexas e inter-relacionadas habilidades cognitivas
(Anderson, Anderson, & Jacobs, 2010; Tirapu-Ustárroz et al., 2008). Isso é
também o que estudos baseados em análises fatoriais e em modelagem por
equação estrutural indicam: o funcionamento executivo não se apresenta como
constructo unitário, distribuindo-se em diferentes fatores, os quais variam de
acordo com os instrumentos e amostras escolhidas (Seabra, Reppold, Dias, &
Pedron, 2014). Diante de tamanha pluralidade, muitos pesquisadores fazem
recortes e dedicam-se exclusivamente a um ou outro componente das funções
executivas (Zelazo, Qu, Müller, 2013), porém a forma como esses se integram é
explicada por diferentes Modelos de Múltiplos Processos.
1. Modelos de Processos Múltiplos
As propostas de organização das funções executivas nos Modelos de
Processos Múltiplos compreendem duas formas de interação – hierárquica e em
paralelo. Assim, de acordo com tais modelos, algumas funções executivas se
desenvolvem - como o nome indica - de maneira hierarquizada e sequencial,
41
enquanto outras desenvolvem-se simplesmente em paralelo (Malloy-Diniz et al,
2014).
Pressupondo desenvolvimento hierárquico, Barkley (2001) elaborou um
modelo teórico baseado na psicologia evolucionista. Neste modelo, além de
procurar definir o que são as funções executivas, o autor pondera sobre o porquê
da existência das mesmas, partindo do seu valor adaptativo. De acordo com esta
perspectiva, enquanto comportamentos impulsivos podem ser problemáticos para
a espécie humana, não o são para as demais espécies. Seria, portanto, provável
que as funções executivas sejam um mecanismo neuropsicológico que evoluiu
para poder resolver os problemas enfrentados pelos seres humanos devido à
impulsividade.
Barkley (2001), contudo, rejeita as formulações teóricas cognitivas e
mentalistas, e define as funções executivas como classes de comportamentos
(encobertos ou não) de alguém sobre si mesmo, com fins de autorregulação.
Dentro deste modelo, o principal componente das funções executivas é a inibição
de respostas, que permite a ação das demais funções executivas e as protege de
interferências. Outras quatro funções são elencadas pelo autor: sentido auto-
direcionado encoberto (correspondente à memória operacional não-verbal); fala
auto-direcionada encoberta (correspondente à memória operacional verbal);
emoção auto-direcionada encoberta (correspondente a auto-regulação do
afeto/motivação/excitação); jogo auto-direcionado encoberto (correspondente à
flexibilidade cognitiva).
Essas quatro funções ocorrem, em fases iniciais do desenvolvimento
humano (bem como da evolução da espécie), como comportamentos observáveis
e direcionados a outros, sendo necessária maturação para que se tornem
encobertos e dirigidos a si (Barkley, 2001). Apesar de supor que existe uma
hierarquia no aparecimento e desenvolvimento das funções executivas, o autor
não propõe de maneira consistente uma ordem entre eles.
Zelazo, Qu e Müller propuseram uma divisão das funções executivas em
“quentes” e “frias”, compreendendo que as elas variam de acordo com o
significado motivacional das tarefas ou das situações que precisem resolver
(Zelazo, Qu, & Müller, 2013; Zelazo & Carlson, 2012). De acordo com os
autores, essa divisão é possível através da compreensão funcional das funções
executivas, ou seja, do que se espera que elas resultem (outcome). No caso das
42
FE, o resultado esperado é a resolução deliberada de problemas, incluindo
diferentes etapas para alcançar esse objetivo.
São consideradas “quentes” as funções destinadas a resolver problemas
que envolvem aspectos afetivos, como tomada de decisão de risco, estando
relacionadas às porções ventro-mediais do córtex pré-frontal – incluindo o córtex
cingulado anterior. As funções executivas “frias” são as destinadas a resolver
problemas que envolvem aspectos mais cognitivos, a exemplo da memória
operacional requerida ao fazer uma conta mentalmente, sendo relacionado à
região dorsolateral do córtex pré-frontal. Dito de outra maneira, este modelo
considera que problemas que exijam regulação da motivação e das emoções
demandam funções executivas do tipo “quente”, enquanto que problemas
abstratos e descontextualizados demandam funções executivas do tipo “frio”
(Zelazo, Qu & Müller, 2013; Zelazo & Carlson, 2012).
Baseando-se em estudos de análise fatorial e modelagem por equação
estrutural, a revisão feita por Diamond propõe que as funções executivas têm um
desenvolvimento piramidal – ver Figura 3 (Seabra, Reppold. Dias & Pedron,
2014; Diamond, 2013). De acordo com a autora, há um certo consenso na
literatura sobre a existência de três funções executivas centrais – controle
inibitório, memória operacional e flexibilidade cognitiva – as quais seriam a base
para o desenvolvimento de funções executivas de ordem superior (Diamond,
2013).
Conforme apontado por Seabra et al. (2014), o modelo organizado por
Diamond parece útil por não excluir outras dimensões das funções executivas
propostas por diferentes autores, como monitoramento, fluência, resolução de
problemas, planejamento e raciocínio. Estas habilidades são inseridas ao modelo
como consequências do desenvolvimento e integração das funções consideradas
centrais (Seabra, Reppold, Dias & Pedron, 2014; Diamond, 2013).
Para dar conta desta proposta, Diamond (2013) reviu os conceitos
considerados centrais, deixando-os mais robustos em termos teóricos. O controle
inibitório, de acordo com seu modelo, abrange, além do controle da atenção e do
comportamento, o controle dos pensamentos e das emoções em situações em que
as pessoas precisam superar suas predisposições e hábitos de pensamento e de
comportamento para se adaptarem. Esta função tem um aparecimento precoce, por
volta dos 12 meses de idade, havendo um desenvolvimento mais acelerado entre
43
os três e cinco anos, e estendendo-se até meados da adolescência (Seabra et al.,
2014).
Figura 3. Desenvolvimento piramidal das FE, proposto por Diamond (2013).
Um dos aspectos importantes do controle inibitório (CI) é o controle de
interferência. No nível da atenção, ele permite que os indivíduos ignorem
voluntariamente determinados estímulos, focando em outros mais relevantes – o
que também é conceituado como atenção seletiva. Outra função do controle de
interferência é suprimir representações mentais (inibição cognitiva), como
pensamentos e memórias, indesejadas. A inibição cognitiva tem importante papel
de auxiliar a memória operacional (Diamond, 2013).
O CI a nível do comportamento e das emoções, refere-se ao autocontrole.
Ele diz respeito à capacidade do indivíduo de resistir a tentações e não agir
impulsivamente – ou seja, controlar o próprio comportamento e as próprias
emoções a fim de controlar seus comportamentos (Diamond, 2013). O
autocontrole permite, por exemplo, que os indivíduos persistam em tarefas pouco
interessantes em prol de alguma recompensa posterior – o que está relacionado a
uma propriedade do autocontrole que é o atraso de gratificação.
O autocontrole também é demandado em situações sociais nas quais erros
de impulsividade – como fazer um julgamento apressado, ou falar “sem pensar” –
Intelig.
Fluida
Raciocínio, Resolução de Problemas e Planejamento
Flexibilidade cognitiva
Memória Operacional e Controle Inibitório
44
podem ser evitados quando o indivíduo é capaz de esperar antes de agir (Diamond,
2013). Estudos com crianças pré-escolares mostraram que a espera permite que a
resposta preponderante (impulsiva) evocada diminua passivamente de intensidade
antes de ser externada, permitindo que a resposta mais apropriada (que demanda
maior esforço cognitivo e é, portanto, mais lenta) alcance a intensidade necessária
para ser emitida (Simpson et al., 2012). Simpson et al. (2012) afirmam que mesmo
crianças pequenas podem ser ensinadas a diminuir sua impulsividade, através do
ensino de estratégias que lhes permitam esperar antes de se comportar. Diamond
(2013) indica que uma estratégia eficiente para diminuir respostas impulsivas
eliciados por estímulos visuais é impedir que a criança veja o estímulo quando
responde a tarefa.
A segunda função executiva central elencada por Diamond (2013) é a
memória operacional (MO). Ela é dividida, com base no conteúdo da informação,
em MO verbal e MO visoespacial, e diz respeito à manutenção mental de
informações enquanto trabalha-se com as mesmas – ou seja, “trabalhar com
informações que não estão mais perceptualmente presentes” (Diamond, 2013,
p.142). Assim, qualquer tarefa que dependa do tempo para fazer sentido (como a
leitura, escrita e compreensão oral) requer MO, pois é preciso manter integrar as
informações tardias às mais iniciais. MO também é necessária para fazer cálculos
mentais, incorporar novas informações a pensamentos, além de dar suporte para
fazer conexões entre assuntos, transformar metas em ações e integrar elementos
do passado e desejos futuros a fim de transformá-los em planos e decisões
(Diamond, 2013).
De acordo com Diamond (2013), funcionamento da MO está
estreitamente relacionado ao do controle inibitório. Para que o indivíduo seja
capaz de inibir determinadas respostas é necessário que ele mantenha em mente
os objetivos e regras da tarefa, ou seja, a memória operacional dá suporte ao
controle inibitório. Ao mesmo tempo, o controle inibitório auxilia a memória
operacional, pois permite que os indivíduos foquem a atenção nas informações
relevantes a serem manipuladas mentalmente, sem se influenciar por eventos
externos ou pensamentos irrelevantes no momento. Tal qual o CI, a MO tem um
desenvolvimento prolongado, aparentemente tendo início quando a criança
adquire a noção de constância do objeto, estendendo-se até o final da adolescência
e começo da fase adulta (Seabra et al., 2014).
45
A flexibilidade cognitiva, terceira função executiva central, refere-se à
capacidade de mudar de perspectiva (seja espacial ou interpessoal), de mudar a
forma de pensar sobre algo, de adaptar-se a novas demandas, admitir erros e
aproveitar oportunidades inesperadas. Contudo, para que seja possível alternar
perspectivas ou formas de pensar, é necessário inibir as anteriores e ativar na
memória operacional uma nova. A flexibilidade cognitiva, portanto, é uma função
que se sustenta e nas duas anteriores e aparece mais tardiamente no curso do
desenvolvimento, tendo desenvolvimento mais pronunciado entre cinco e sete
anos, prolongando-se até o final da adolescência (Diamond, 2013; Seabra et al.,
2014).
Além das funções executivas centrais, o modelo de Diamond (2013)
inclui funções de ordem superior, como raciocínio, solução de problemas e
planejamento. A resolução de problemas e raciocínio, em conjunto, correspondem
ao conceito de inteligência fluida e incluem o pensamento indutivo e dedutivo –
aspectos que permitem ao indivíduo descobrir relações abstratas que subjazem
analogias. O modelo também articula outros conceitos afins, como atenção
executiva, effortful control, e autorregulação (Figura 4).
Figura 4. Tradução do modelo de Funções Executivas proposto por Diamond (2013).
46
Diamond (2013) aponta que há uma sobreposição desses conceitos no
modelo que ela propõe, em especial na dimensão do controle inibitório. O conceito
de atenção executiva compreende o controle da atenção numa regulação do tipo
top-down, e pode ser encontrado na literatura para referir-se tanto à capacidade da
memória operacional, quanto controle inibitório no nível do comportamento, ou
resolução de conflito entre respostas.
O conceito de autorregulação - capacidade de controlar e regular as
próprias emoções de modo a manter níveis ótimos de motivação, emoção e
excitação cognitiva - por sua vez, estaria incluso no de controle inibitório, ainda
que haja diferenças no seu enfoque. Conforme a autora, essa diferença deve-se ao
fato de que os pesquisadores em funções executivas tenderam, historicamente, a
estudar o pensamento, atenção e ações (mais relacionados ao córtex pré-frontal
ventro e dorsolateral), enquanto os pesquisadores em autorregulação dedicaram-
se mais às emoções (mais relacionadas ao córtex pré-frontal medial – em especial
o orbitofrontal - e sistema nervoso parassimpático). O effortful control –
características de temperamento que dizem respeito à predisposição de
autorregular-se de maneira mais ou menos eficaz – relaciona-se com a
autorregulação e, portanto, com a predisposição de exibir controle inibitório a
nível emocional (Diamond, 2013).
Ao abranger tamanha diversidade e considerar as sobreposições
conceituais existentes, o modelo de Diamond permite vislumbrar a complexidade
envolvida no estudo das funções executivas. Dentre os modelos revisados, sua
proposta parece dar conta de abarcar avanços de teorias anteriores e resolver
impasses postos. É o caso da inclusão das dimensões cognitivas, comportamentais
e emocionais das FE, que já se faziam presentes nos modelos de Barkley (2001) e
Zelazo, Qu e Müller (2013), porém com uma organização menos simplista que a
divisão em funções quentes (hot) e frias (cold) e melhor delimitada
hierarquicamente do que na teoria de Barkley (2001).
2. Considerações sobre a neurobiologia das funções executivas
Como apresentado no decorrer do capítulo, o funcionamento executivo é
historicamente relacionado ao córtex frontal. A associação desta região cerebral
47
aos processos cognitivos complexos remonta ao século XIX, com o célebre caso
de Phineas Gage (Malloy-Diniz et al, 2014). Atualmente, no entanto, sabe-se que
diferentes circuitos neurais (notadamente em conexão com os lobos pré-frontais)
estão envolvidos nas funções executivas (Malloy-Diniz, Sedo, Fuentes & Leite,
2008).
A conclusão de que o córtex pré-frontal atua como gerenciador das FE
deriva tanto de casos de pacientes com lesões nessa região quanto de estudos de
neuroimagem, que mostram a ativação das partes mais anteriores do lobo frontal
durante a realização de tarefas que demandam o funcionamento executivo (Jurado
& Rosselli, 2007). Cabe, contudo, destacar que o córtex pré-frontal mantém
conexões (através de vias aferentes e eferentes) com praticamente todas as outras
regiões cerebrais, incluindo as estruturas mais primárias do sistema nervoso
central, como o tronco cerebral e o sistema límbico. Estudos de neuroimagem
mostram que, além do córtex pré-frontal, os córtices parietal, temporal,
hipocampal e regiões subcorticais são ativadas durante tarefas de funções
executivas, demonstrando, inclusive, assimetria das especialidades hemisféricas
do cérebro no desempenho destas funções (Leh et al., 2010). Assim, lesões ou
disfunções em quaisquer regiões que estejam em conexão com o córtex pré-frontal
podem originar falhas nas funções executivas (Jurado & Roselli, 2007).
Partindo da descrição dos cinco circuitos fronto-estriatais paralelos
realizada por Bradshaw (2001), destaca-se o envolvimento do circuito
dorsolateral, do circuito lateral orbitofrontal, e do circuito do cíngulo anterior no
desempenho das funções executivas. Todos estes circuitos originam-se no córtex
pré-frontal, e comprometimentos em elementos que os constituem são observados
em diversas patologias neurocomportamentais e psiquiátricas com manifestações
cognitivas e emocionais (Delmonte, Gallagher, O’Hanlon, McGrath, & Balsters,
2013; Eisenberg & Berman, 2010; Bradshaw, 2001). Os circuitos descritos são
inter-relacionados (apesar de anatomicamente independentes) e podem receber
inputs de estruturas de fora dos mesmos. De acordo com Bradshaw (2001), os seus
outputs, contudo, são mais localizados em regiões corticais específicas.
48
Figura 5. Núcleos lentiforme (em amarelo), núcleo caudado (em vermelho) e tálamo (em azul) em
representação tridimensional (lado esquerdo) e em corte (lado direito). (Retirado de Machado,
2006)
O circuito dorsolateral (Figura 6) inicia-se no córtex pré-frontal (CPF)
dorsolateral, projetando-se para a porção dorsolateral da cabeça do núcleo
caudado, a qual também recebe informações do córtex parietal e tem conexões
com as partes dorsolaterais do globo pálido e substância negra reticulada rostral
(Bradshaw, 2001; Molloy-Diniz et al, 2014). Do núcleo caudado, o circuito segue
pela porção dorsolateral do globo pálido e núcleo talâmico anterior e dorsomedial,
retornando ao CPF dorsolateral, que é uma área de convergência multimodal,
interconectada a outras áreas corticais de associação (Bradshaw, 2001; Molloy-
Diniz et al, 2014). Este circuito é envolvido em diversas habilidades executivas
como evocação de material aprendido, planejamento, categorização, memória
operacional, flexibilidade cognitiva, fluência, autorregulação, tomada de decisão,
49
capacidade de abstração e foco e sustentação da atenção (Bradshaw, 2001;
Molloy-Diniz et al, 2014).
Figura 6. Estruturas envolvidas no circuito dorsolateral. Modelo desenvolvido a partir de Bradshaw (2001) e Malloy-Diniz et. al. (2014).
O circuito lateral orbitofrontal (Figura 7) é similar ao anterior, porém
mais mesial (Bradshaw, 2001). Ele tem início no CPF lateral inferior e ventral,
projetando-se para a porção ventromedial do núcleo caudado, que também recebe
aferências de regiões do tronco encefálico e de áreas corticais de associação, como
o giro temporal superior (auditivo) e inferior (visual) (Bradshaw, 2001; Molloy-
Diniz et al, 2014). Do núcleo caudado, o circuito continua para o globo pálido
dorsomedial e região rostral da substância negra reticulada, seguindo para os
núcleos talâmicos ventral anterior e dorsomedial, de onde retornam ao córtex
orbitofrontal (Bradshaw, 2001; Molloy-Diniz et al, 2014). O córtex orbitofrontal
é conectado a áreas de processamento cognitivo e emocional, como amígdala,
ínsula, córtex polar temporal, hipotálamo e tronco cerebral (Leh et al., 2010;
Malloy-Diniz et al, 2014). De acordo com Bradshaw (2001), comprometimento
no córtex orbitofrontal lateral acarreta prejuízos na performance de tarefas de
alternância e de paradigmas go/no-go, enquanto que lesões no córtex orbitofrontal
medial afetam a aprendizagem de estímulo-resposta, a extinção de respostas, bem
como mudanças nas respostas emocionais e autonômicas. O circuito como um
todo encontra-se envolvido em aspectos do comportamento social, como empatia,
50
cumprimento de regras sociais, controle inibitório e automonitoração (Malloy-
Diniz et al, 2014).
Figura 7. Estruturas envolvidas no circuito orbitofrontal lateral. Modelo desenvolvido a partir de
Bradshaw (2001) e Malloy-Diniz et. al. (2014).
O circuito do cíngulo anterior origina-se no cíngulo anterior, projetando-
se para o nucleus acumbens e tubérculo olfatório (que integram o striatum ventral,
onde inputs adicionais do córtex de associação paralímbico também são
recebidos), além de partes do caudado ventromedial e putâmen (Bradshaw, 2001;
Molloy-Diniz et al, 2014). Segue, então, à porção rostrolateral do globo pálido e
à dorsomedial dos núcleos talâmicos, retornando ao cíngulo anterior. Pacientes
com lesões nas regiões mesial e anterior do cíngulo podem ter dificuldade em
atividades que requeiram manutenção do comportamento e controle da atenção,
apresentando hipocinesia, apatia, abulia, falta de espontaneidade, diminuição da
responsividade emocional e mutismo acinético (Bradshaw, 2001; Molloy-Diniz et
al, 2014). Como um todo, tal circuito está envolvido na motivação, monitoração
dos comportamentos, controle executivo da atenção, e seleção e controle de
respostas (Bradshaw, 2001; Molloy-Diniz et al, 2014).
51
Figura 8. Estruturas envolvidas no circuito do cíngulo anterior. Modelo desenvolvido a partir de
Bradshaw (2001) e Malloy-Diniz et. al. (2014)
De acordo com Leh et al. (2010), experimentos anatômicos em primatas
identificaram a existência de três alças córtico-estriatais paralelas: alça límbica,
alça associativa e alça sensoriomotora. A primeira inclui o striatum ventromedial,
núcleo acumbens, núcleo caudado ventral e putâmen, os quais recebem projeções
das regiões orbital e medial do córtex pré-frontal. Funcionalmente esta alça está
relacionada a comportamentos emocionais, motivacionais e estereotipados, como
os observados em patologias como Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade (TDAH), transtornos compulsivos e síndrome de
Tourette. A alça associativa inclui a cabeça do caudado e porções rostrais do
putâmen, que recebem aferências do córtex pré-frontal lateral, área motora
suplementar e córtex parietal superior. Funções cognitivas como atenção,
capacidade de evocação e monitoramento da informação na memória operacional
estariam relacionadas a esta alça. A sensoriomotora, por sua vez, é implicada no
funcionamento motor e inclui porções caudal e lateral do putâmen, que recebem
inputs das áreas somatosensoriais primária e suplementar.
Na revisão realizada pelos autores supracitados, são descritos
interessantes estudos relacionando achados em ressonância magnética funcional e
testagem neuropsicológica, principalmente com paradigma de escolha de cartas
(Wisconsin Card Sorting Task, Montreal Card Sorting Task). Trabalhos
52
publicados por Petrides (1991, 1995, 2000, citado por Leh et al. 2010), por
exemplo, demonstraram aumento da atividade do córtex pré-frontal mesial quando
os participantes deviam confrontar as informações do feedback positivo ou
negativo com as armazenadas na memória operacional, exigindo a FE de
monitoramento, enquanto que a atividade na alça fronto-subcortical envolvendo
córtex pré-frontal ventrolateral, núcleo caudado e porção dorsomedial do tálamo
aumentara apenas ao receber feedback negativo, exigindo
alternância/flexibilidade cognitiva para uma nova resposta. No estudo de Monchi
et al. (2001, citado por Leh, 2010), foi observado que os núcleos subtalâmicos
podem estar envolvidos quando uma nova resposta motora é requerida
(independente do estabelecimento de estratégia), mas que o núcleo caudado e
putâmen são particularmente importantes para, respectivamente, o planejamento
e iniciação de um novo ato.
Estudos recentes sobre a organização dos circuitos envolvendo o
striatum, em animais e humanos, vêm demonstrando que topográfica e
funcionalmente, esta estrutura pode ser dividida em três porções – motora,
cognitiva e afetiva –, as quais se encontram envolvidas com redes neurais de
associação amplamente distribuídas no cérebro (Choi, Yeo, & Buckner, 2012). No
trabalho de Choi, Yeo e Buckner (2012), 1000 participantes foram submetidos à
técnica de ressonância magnética de conectividade funcional em estado de
repouso a fim de estabelecer mapas de referência da organização do striatum
humano, comparar a conectividade funcional humana à conectividade anatômica
estriatal em primatas, e investigar padrões globais que forneçam informações
sobre a organização dos circuitos córtico-estriatais em humanos. Dentre os
achados, o striatum mostrou-se correlacionado com cinco das sete principais redes
neurais investigadas. Estavam fortemente representadas as redes de atenção
ventral, de controle frontoparietal, límbica e de default (default mode network).
Em menor intensidade, a rede de atenção dorsal mostrou-se representada na região
posterior ventral direita do putâmen. Os registros em primatas e humanos
convergiram ao indicar padrões de conectividade entre o córtex pré-frontal
dorsolateral e regiões centrais do putâmen e do núcleo caudado (que também
recebem projeções do córtex parietal de associação) – reiterando, envolvimento
destas estruturas subcorticais na rede neural de controle frontoparietal. Também
demonstraram conectividade entre porções ventral e dorsomedial do caudado e
53
córtex pré-frontal medial, as quais estão relacionadas à rede default, e entre a
região subgenual da área 25 do cíngulo e o núcleo acumbens, associados à rede
límbica. Observou-se também que sub-redes neurais parecem formar circuitos
internos ao striatum, demonstrando a complexidade das relações entre estruturas
corticais e subcorticais.
Quanto à dinâmica neuroquímica dos circuitos pré-frontais, destacam-se
as vias dopaminérgicas, serotoninérgica, noradrenérgica e colinérgica para as
funções executivas (Malloy-Diniz, Sedo, Fuentes & Leite, 2008; Dembrow &
Johnston, 2014). Tais neurotransmissores originam-se em centros subcorticais, os
quais estão conectados por aferências e eferências tanto com córtex pré-frontal
quanto com outras regiões envolvidas no funcionamento executivo (Dembrow &
Johnston, 2014; Robbins & Arnsten, 2009). A via noradrenérgica origina-se no
locus ceruleus, projetando-se para diversas regiões do cérebro, incluindo o córtex
pré-frontal (preferencialmente para porções ventro e dorsomediais), enquanto as
vias colinérgicas originam-se na ponte, prosencéfalo basal e septo medial, com
projeções para córtex pré-frontal e hipocampo. A via serotoninérgica (Figura 9)
tem início principalmente nos núcleos dorsal e medial da rafe, inervando os
núcleos da base (projeção do núcleo dorsal), formação hipocampal (projeção do
núcleo medial) e córtex pré-frontal (projeção de ambos os núcleos da rafe). As
vias dopaminérgicas (Figura 10) formam três sistemas: a) o sistema nigroestriatal,
que tem origem na substância negra e inclui projeções dopaminérgicas para o
striatum; b) o sistema mesolímbico, com início na área tegmental ventral,
projetando-se para partes do sistema límbico (núcleo acumbens, amígdala e
hipocampo); e c) o sistema mesocortical, originado também na área tegmental
ventral, com projeções para o córtex pré-frontal (Carlson, 2002; Dembrow &
Johnston, 2014).
54
Figura 9. Vias serotoninérgicas centrais. Imagem retirada de Machado (2006).
Figura 10. Vias dopaminérgicas centrais. Imagem retirada de Machado (2006b).
Estas e outras monoaminas (e.g. histamina) são neuromoduldoras, isto é,
protagonizam processos neuroqímicos de maneira a prolongar ou encurtar,
aumentar ou diminuir efeitos de sinalização em redes neuronais. Elas
55
possivelmente atuam no ajuste da relação sinal/ruído que irá influenciar o
processamento de informações em regiões corticais e subcorticais (Robbins &
Arnsten, 2009). É o caso, por exemplo, dos papéis desempenhados pela
noradrenalina e dopamina na memória operacional (MO) visuoespacial,
observados em estudos com primatas não-humanos: a estimulação
noroadrenérgica dos receptores α2a aumentam os sinais preferenciais dentro das
redes neuronais pré-frontais dorsolaterais, enquanto que a estimulação dos
receptores D1 pela dopamina diminuem os ruídos (sinais não-preferenciais)
dentro destas redes, favorecendo o desempenho da MO visuoespacial (Robbins
& Arnsten, 2009).
Na sua associação com córtex pré-frontal, tais sistemas modulatórios
permitem uma regulação química para o funcionamento executivo de acordo com
as demandas ambientais, já que as funções executivas recrutadas e seus níveis de
ativação num contexto de perigo, por exemplo, diferem daquelas num contexto de
leitura. Ao mesmo, o córtex pré-frontal envia projeções aos centros
neuromodulatórios, agindo sobre os seus sistemas (regulação top-down)
(Dembrow & Johnston, 2014).
De maneira geral, a eficiência em termos comportamentais dos inputs
químicos neuromodulatórios no córtex pré-frontal seguem um padrão de U
invertido, podendo haver variações no nível ótimo de funcionamento de acordo
com a tarefa desempenhada (Robbins & Arnsten, 2009). Quando liberada em
níveis moderados em animais, por exemplo, a noradrenalina envolve receptores
α2a de alta afinidade, associados a melhoras no funcionamento do córtex pré-
frontal, enquanto que quando este neurotransmissor é liberado em níveis elevados
(situações de estresse), há o envolvimento de receptores β e α1a de baixa
afinidade, os quais levam à piora do funcionamento pré-frontal (Robbins &
Arnsten, 2009).
Estudos em animais e humanos (principalmente no domínio da
neuropsiquiatria) vêm mostrando que atividade alterada da via dopaminérgica é
relacionada a comprometimentos em memória operacional, atenção, controle
inibitório, planejamento, flexibilidade cognitiva e tomada de decisão, enquanto a
comprometimento da atividade serotoninérgica relaciona-se com o aumento da
agressividade, impulsividade e dificuldade na tomada de decisão. As vias
noradrenérgicas relacionam-se às funções de atenção, memória, memória
56
operacional, motivação e aprendizagem. Já a via colinérgica, é associada à
ativação do córtex cerebral, memória e à aprendizagem (Malloy-Diniz, Sedo,
Fuentes & Leite, 2008; Robbins & Arnsten, 2009; Carlson, 2002).
Como é possível perceber, o córtex pré-frontal ainda é visto como um
denominador comum ao processamento executivo. No entanto, a pluralidade de
mecanismos e regiões corticais e subcorticais que também estão envolvidos no
desempenho das funções executivas é o que torna plausível esperar déficits em
uma ou várias destas habilidades em diversos transtornos e doenças, mesmo
quando o córtex pré-frontal não está diretamente envolvido. A seguir, discutir-se-
á as evidências disponíveis sobre comprometimentos em funções executivas
apresentadas por crianças no espectro das epilepsias rolândicas.
3. Funções executivas e epilepsia rolândica
Especificamente, as funções executivas em crianças com ER ainda foram
pouco exploradas, apresentando resultados mistos. De acordo com a revisão
realizada por Nicolai, Aldenkamp, Arends, Weber, & Vles (2006), entre as
décadas de 1970 e 2000, diversos problemas cognitivos e comportamentais em
crianças com ER típica foram relatados, porém estes tendem a desaparecer na vida
adulta. Elevada frequência de picos (>5 ou >10 por minuto) e ocorrência de
características atípicas específicas no EEG estariam relacionadas a tais problemas.
No trabalho realizado por Neri (2012) no Hospital das Clínicas da
Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, crianças com ER tiveram pior
performance em diversas tarefas de funções executivas quando comparadas ao
grupo controle, porém foram melhores nas que avaliam a inteligência. Resultados
semelhantes foram encontrados em outros estudos, sendo relatados, por exemplo,
prejuízos deste grupo clínico em tarefas de controle inibitório, fluência verbal,
span de dígitos e solução de problemas (Goldberg-Stern et al., 2010; Gündüz et
al., 1999; Metz-Lutz & Filippini, 2006). Por sua vez, numa investigação com
crianças recém diagnosticadas com epilepsias idiopáticas, aquelas com ER típica
tiverem pior desempenho do que os controles em memória de curto e longo-prazo
57
e nomeação, mas não diferiram de crianças saudáveis nos testes de FE (Jackson et
al., 2013).
Num estudo sobre as relações entre a atividade eletroencefalográfica
(ocorrência de descargas interictais, medidas pelo número de pontas/minuto no
EEG), funções executivas e problemas de comportamento em crianças com ER,
foram observadas correlações de moderadas a fortes entre pontas durante a vigília
e durante o sono com problemas internalizantes (ansiedade e depressão) e
externalizantes (agressão e problema de conduta) (Sarco et al., 2011). Os
resultados relativos às funções executivas foram mais modestos, com correlações
significativas apenas entre pontas durante o sono e a dimensão de controle
comportamental. Cabe ressaltar, que esse estudo se utilizou de escalas respondidas
apenas pelos pais, não acessando as funções executivas diretamente com as
crianças.
A associação entre idade-dependência, déficits cognitivos e alterações
microestruturais na substância branca do cérebro de crianças entre 6 e 13 anos
com ER típica foi investigada por um grupo de pesquisadores, que coletou dados
do funcionamento neuropsicológico e de neuroimagem (Ciumas et al., 2014). A
bateria neuropsicológica compreendeu a Conner’s Parenting Scale - investiga
sintomas do transtorno de déficit atenção/hiperatividade além de outras
psicopatologias e problemas de comportamento – e as quatro subescalas da Escala
Weschler de Inteligência para Crianças (WISC-IV) – compreensão verbal,
raciocínio perceptual, memória operacional e velocidade de processamento. Para
avaliar a integridade da substância branca, foi utilizada ressonância magnética
com tensor de difusão, a qual permite mapear e mensurar padrões de difusão de
moléculas de água no cérebro.
Os resultados do estudo mostraram alterações na microestrutura da
substância branca de pacientes com ER, especialmente nos giros pré e pós-central,
tanto no nível grupal quanto individual. Cognitivamente, as crianças com epilepsia
foram significativamente piores que o grupo controle em compreensão verbal e
velocidade de processamento, além apresentarem uma tendência não significativa
de pior desempenho em memoria operacional (p = .028). A anisotropia fracional
(uma das medidas de integridade microestrutural da substância branca) do giro
pós-central correlacionou-se negativamente com os escores de ansiedade e
aprendizagem, enquanto a anisotropia fracional do giro pré-central correlacionou-
58
se positivamente com a velocidade de processamento. Ambos os resultados
indicaram que maiores anormalidades microestruturais em pacientes com ER
típica estão associadas a pior desempenho cognitivo. Ademais, alterações
estruturais e cognitivas foram mais evidentes no grupo de crianças que
apresentava epilepsia há mais de um ano, mesmo após controlar por idade e
volume das substâncias branca e cinzenta (Ciumas et al., 2014).
Num estudo prospectivo de casos, o crescimento do lobo frontal de
crianças com ER típica e atípica foi comparado ao de crianças saudáveis
(Kanemura, Hata, Aoyagi, Sugita, & Aihara, 2011). Cinco crianças com padrão
eletroencefalográfico clássico e sem comprometimentos cognitivos e
comportamentais compuseram o grupo de ER típica. Os dois casos de ER atípica
(BECTS plus) não apresentaram padrão POCS, porém demonstraram mudanças
no padrão rolândico típico de EEG, com presença de complexos de ponta-onda
(caso 1) e assimetria das desgargas epileptiformes seguidas de generalização das
mesmas (caso 2). Estes casos cursaram com número elevado de crises, crises
atípicas (e.g. mioclonias negativas), comprometimentos oromotores, piora do
comportamento - exibindo agressividade e instabilidade emocional (caso 1) além
de impulsividade e hiperatividade -, regressão na inteligência e dificuldade em
tarefas de funções executivas (Winsconsin Card Sorting Test). O grupo
comparação foi formado por onze crianças saudáveis, pareadas por idade.
Todos os participantes foram submetidos à ressonância magnética 3D
seis vezes – no início das crises e uma a cada ano subsequente, por cinco anos. O
crescimento volumétrico dos córtices frontal, pré-frontal e frontal para pré-frontal
foi similar no grupo de ER típica e comparação. As duas crianças com ER atípica,
no entanto, demonstraram quase ou nenhum crescimento nestas regiões durante a
fase ativa da doença, retomando o desenvolvimento após o controle das crises. De
acordo com os autores, anormalidades eletroencefalográficas podem gerar necrose
neuronal em regiões cerebrais vulneráveis, acarretando inibição de diversos
processos como o crescimento cerebral, síntese de DNA e proteínas, e a
mielinização. Como resultado final, a irrupção da maturação do córtex frontal e
pré-frontal provavelmente estaria relacionada aos comprometimentos executivos
observados nos casos estudados. Um outro aspecto importante, porém pouco
discutido pelos pesquisadores, é que nos casos com ER atípica, o QI dos pacientes
teve melhora com a remissão das crises, porém permaneceu abaixo do QI na linha
59
de base. Esta diferença entre linha de base e remissão das crises chegou a 14
pontos no QI do caso 1, cujo período ativo da epilepsia foi mais prolongado. Esta
observação talvez indique um efeito cascata da alteração cortical, que apesar de
limitada temporalmente, pode gerar déficits secundários a longo-prazo.
Alterações subcorticais também parecem estar envolvidas no
desempenho cognitivo de crianças com a patologia. Estudos em animais indicam
que lesões talâmicas são peça importante para o desenvolvimento de POCS em
epilepsias centrotemporais (Andrade, García-Espinosa, Machado-Rojas, & de la
Cruz-Turruelles, 2009). Partindo destes achados, foi investigado se disfunções
nesta estrutura cerebral estariam associadas à evolução atípica com padrão POCS,
apresentado por crianças inicialmente diagnosticadas com ER típica, e a distúrbios
do comportamento e cognitivos. Todas as crianças do grupo clínico foram
submetidas à técnica de neuroimagem SPECT, sendo comparadas com crianças
com desenvolvimento típico. Aspectos comportamentais (hiperatividade,
impulsividade, agressividade e hostilidade), neuropsicológicos/cognitivos
(inteligência, habilidades auditivo-verbais e visuocontrutivas, memória verbal e
visuoespacial de curto-prazo, memória visuoespacial de longo-prazo e atenção) e
desempenho acadêmico foram classificados numa escala de quatro pontos,
correspondendo a comprometimento ausente, leve, moderado e grave.
De acordo com os resultados, todas as crianças do grupo clínico
apresentaram hiperperfusão nos córtices frontal, parietal e occipital, porém a
hipoperfusão talâmica foi identificada significativamente mais no grupo de
crianças com ER atípica com padrão POCS (p<.01). As crianças que evoluíram
para ER atípica também apresentaram maiores comprometimentos nas dimensões
comportamentais e neuropsicológicas do que as que não evoluíram para o padrão
POCS (p<.01), exceto em relação à inteligência (Andrade et al., 2009). Apesar de
não ser discutido pelos autores do trabalho, esses achados indicam que as funções
executivas, principalmente as relacionadas ao controle do comportamento, podem
ser mais afetadas pela ER atípica. É o que também aponta uma série de estudos de
caso com pacientes com evoluções atípicas da ER (padrão/síndrome POCS e
síndrome de Landau-Kleffner), nos quais além de comportamentos impulsivos,
inquietos e agressivos, foram observadas dificuldades nas funções de linguagem,
atenção e memória operacional (Pesántez-Ríos et al., 2015).
60
À parte os pacientes com encefalopatias epilépticas (e.g. síndrome POCS), Metz-
Lutz e Filippini (2006) acompanharam 44 crianças desde o início da epilepsia
rolândica até sua resolução, dividindo-as em dois grupos – um com padrão de
EEG típico (descargas de ponta-onda localizadas, com atividade de base normal)
e outro com características eletroencefalográficas atípicas (lentificação no foco
das descargas, focos assíncronos e descargas generalizadas). Neste estudo, tanto
crianças com ER típica quanto com ER atípica tiveram desempenho abaixo do
esperado no Continuous Performance Test (CPT), medida amplamente utilizada
para testagem de funções executivas, no início e durante a fase ativa da doença.
Este resultado foi revertido após a resolução da epilepsia, indicando que as
funções executivas são sensíveis à presença de pontas-onda no córtex. Dentre os
participantes, aqueles em uso de medicações – ou seja, que apresentaram pelo
menos três crises focais em um mês ou duas crises generalizadas em três meses –
tiveram maior número de omissões e decisões arriscadas no CPT.
Conforme a revisão da literatura, diversos fatores parecem estar
envolvidos na ocorrência de prejuízos em FE nas crianças no espectro da ER.
Problemas de comportamento (mais associados aos circuitos envolvendo a região
orbitofrontal), em controle inibitório, memória operacional, flexibilidade
cognitiva e categorização são relatados. Em paralelo, alterações estruturais em
diversas regiões cerebrais, como giros pré e pós central, tálamo e córtices frontal,
pré-frontal, parietal e occipital são relatadas em pacientes com ERs. A intensidade
dos prejuízos cognitivos vem sendo relacionados com a quantidade de descargas
epileptiformes, o padrão das descargas, a idade de início da doença e o período
em que se manteve ativa.
Via de regra, uma evolução atípica tende a cursar com maior
comprometimento cognitivo como um todo, incluindo em FE. Contudo, a
ausência de déficits cognitivos em parte dos pacientes, tanto típicos quanto
atípicos, suscita questionamentos sobre quais outros fatores atuam para a
manifestação, ou não, de prejuízos nas FE. O capítulo a seguir debruça-se sobre o
envolvimento do ambiente familiar neste processo.
61
CAPÍTULO 3: AMBIENTE FAMILIAR
Diversas são as teorias que entendem o desenvolvimento humano como
constante interação entre o indivíduo e o ambiente. Uma complexa dinâmica entre
fatores de risco e de proteção perpassam o nível individual, familiar, da
comunidade, socioeconômico e cultural (Cruz & Abreu-Lima, 2012; Shonkoff,
2010). Segundo Sameroff (2010), existe na Psicologia do Desenvolvimento
contemporânea uma tendência de conceber que a criança se encontra numa relação
dinâmica com a sua experiência. Este entendimento abarca desde o modelo de
assimilação-acomodação de Piaget até formulações mais recentes sobre como
influências ambientais são capazes de moldar a circuitaria neuronal junto às
predisposições genéticas do indivíduo (Sameroff, 2010).
Para o autor, boa parte destas teorias, no entanto, priorizariam a auto-
regulação, relegando o contexto a um papel passivo na adaptação dos indivíduos
e promovendo a ideia de que a regulação se trata de uma propriedade do sujeito.
De acordo com o modelo de regulação proposto por Sameroff (2010), o
desenvolvimento da auto-regulação necessariamente envolve uma “outro-
regulação”. A capacidade de se auto regular surgiria através da ação do outro e
aumentaria com o tempo, de modo que a criança passa a ter mais responsabilidade
pelo seu bem-estar, mudando a relação que mantém com o seu contexto. A
regulação provida pelo outro é o que permite à criança não apenas auto-regular
experiências emocionais, sociais e cognitivas cada vez mais complexas, mas
também sentir-se segura e apoiada quando ela falha.
O modelo de regulação faz parte de um modelo mais amplo, o
transacional, no qual se considera que existe um processo de influência dinâmico
entre a criança e as experiências, de modo que a ênfase deve ser dada aos efeitos
interdependentes dos mesmos (Sameroff, 2010). De acordo com a revisão
realizada por Sameroff (2010), estudos nesta perspectiva vêm mostrando como
processos transacionais estão envolvidos no desenvolvimento cognitivo e
emocional das crianças, e incluem pais, família, escola, dentre outros contextos.
Na interação, aspectos contextuais têm o potencial de alterar o desenvolvimento
dos indivíduos tanto para o bem quanto para o mal. Esta proposição transacional
aproxima-se da teoria vygotskyana no que se refere ao papel do outro para o
62
desenvolvimento cognitivo. Ao passo que a criança formula um entendimento
acerca do mundo, o mundo torna-se mais complexo, exigindo nova formulação, o
que, passo a passo, direciona a criança a um pensamento mais maduro e de acordo
com os objetivos sociais (Sameroff, 2010).
A importância do ambiente familiar no que tange o desenvolvimento
infantil é notória. Não por acaso, sua relevância vem sendo investigada há mais
de cinquenta anos (Totsika & Sylva, 2004). Este é o primeiro contexto de
socialização da infância, constituindo-se como um modelo para demais relações
sociais que a criança vem a estabelecer, além de afetar seu bem-estar, resiliência
e competência (Cruz & Abreu-Lima, 2012). De acordo com Cruz e Abreu-Lima
(2012), o ambiente familiar é um conceito complexo que muitas vezes ultrapassa
os limites da casa em que a família mora, e envolve as dimensões físicas,
organizacional, interpessoal e simbólica.
Assim como Sameroff, Bradley fundamenta-se na teoria de sistemas para
discutir o papel do ambiente familiar no desenvolvimento (Bradley, 2002). Tal
teoria considera que os humanos são seres auto-organizáveis e autoconstruíveis
imersos em sistemas auto-organizáveis mais amplos, como as famílias e
comunidades (Bradley, 2004). De acordo com uma perspectiva de sistemas
dinâmicos, o que as pessoas fazem e os objetos que usam para as fazer tendem a
se organizarem em torno de “atratores” que, no caso de famílias com crianças,
estão associados às crenças, valores e objetivos de socialização dos pais, além de
padrões de ações dos membros da família e do ambiente físico da mesma. Assim,
a auto-organização familiar pode ser entendida como o surgimento e cristalização
dos atratores interpretativos - como crenças, valores e objetivos de socialização -
durante o curso do desenvolvimento, tornando as interpretações mais previsíveis
e congruentes entre si de modo a facilitar o planejamento e scripts de
comportamentos (Bradley, 2004).
Esta estabilidade, contudo, não significa que as famílias sejam imutáveis.
Ao contrário, elas devem ser entendidas como sistemas abertos, constantemente
tentando adaptar-se a mudanças no seu entorno físico e social (Bradley, 2004).
Neste sentido, famílias de grupos sociais maioritários são organizadas de maneira
mais estável em torno de um número menor de atratores pois suas crenças, valores
e objetivos de socialização tendem a estar mais alinhadas com as crenças, valores
e objetivos da sociedade como um todo. Nas famílias minoritárias, as limitações
63
sociais geram um maior desalinho entre os atratores interpretativos, levando a
maiores disputas entre membros da família, que tentam lidar com os desafios
externos aos quais estão submetidos. Em última instância, estas famílias
experienciam maior nível caos no seu sistema familiar do que as dos grupos
maioritários (Bradley, 2004).
Além disso, para a teoria de sistemas, ao mesmo tempo que diferentes
experiências podem levar a um mesmo desfecho (princípio da equifinalidade),
experiências idênticas podem levar a resultados distintos (princípio da
multifinalidade) (Bradley, 2004). A partir da sua experiência na área, tais
princípios são destacados por Bradley como úteis na construção de instrumentos
que avaliam o ambiente familiar, tendo em vista que subescalas de um mesmo
inventário são capazes de prever desfechos desenvolvimentais distintos em
diferentes grupos (Bradley, 2004).
De acordo com o autor, o ambiente da criança é em grande parte
constituído pelos seus responsáveis. Assim, ele estabelece como obrigações da
família, em especial dos pais, prover: a) Manutenção e Segurança; b) Estimulação;
c) Apoio Socioemocional; d) Estrutura; e) Supervisão; e f) Integração Social
(Bradley, 2002; Cruz e Abreu-Lima, 2012). Cada um destes aspectos apresentará
um perfil específico em dada família, o qual tenderá a estar relacionado com os
principais atratores estabilizados no sistema familiar, com a personalidade dos
pais, com estilo comportamental da criança e com o ambiente (Bradley, 2002).
A Manutenção e Segurança referem-se às condições básicas para a
manutenção da integridade biológica, desenvolvimento físico e psicológico da
criança, desde a alimentação, higiene até a proteção e prevenção de acidentes e
exposição a fatores de risco. A Estimulação diz respeito à capacidade de
proporcionar a inserção em ambientes (dentro e fora de casa) que estimulem a
criança nos níveis psicomotor, intelectual e social. Tal estimulação, no entanto,
deve ser ajustada ao nível de desenvolvimento da criança, já que a
superestimulação também tem efeitos negativos no desenvolvimento (Bradley,
2002; Cruz e Abreu-Lima, 2012). De acordo com a literatura revisada por Bradley
(2002), aspectos como a natureza do emprego dos pais (se mais ou menos
complexo), o estresse parental, o arranjo familiar (monoparental ou não) e o nível
socioeconômico do bairro onde residem afetam a qualidade da estimulação
oferecida aos seus filhos, sendo observado que, de maneira geral, crianças mais
64
pobres são menos expostas a objetos e eventos que estimulam o desenvolvimento
quando comparadas a crianças em melhores condições econômicas.
O Apoio Socioemocional refere-se ao estabelecimento de relações
intrafamiliares afetivas e responsivas às necessidades e interesses da criança, de
modo que ela possa sentir-se segura em relação a ela mesma e aos seus cuidadores
(Bradley, 2002; Cruz e Abreu-Lima, 2012). Um ambiente familiar reforçador e
responsivo proporciona direcionamento para que a criança funcione bem em
outros ambientes - por exemplo, ao sentir-se segura para explorar o meio. Nos
estudos americanos relatados por Bradley, dimensões do apoio socioemocional,
como comunicação entre pais e filhos, demonstrações de carinho e uso de punição
física variaram de acordo com o grupo étnico, o nível socioeconômico da família,
e o arranjo familiar (monoparental ou não). Outros fatores que se mostraram
associados ao apoio socioemocional foram a presença de irmãos e a frequência de
mudança de domicílio (Bradley, 2002).
A Estrutura inclui estruturação espacial (organização do ambiente físico
da casa para que a criança preveja onde encontrar o que procura e identificar os
locais adequados para suas atividades) e estruturação temporal (estabelecimento
de rotinas consistentes e regras claras, que abrangem a casa e outros ambientes
que a criança frequente, e permitam-na prever o que ocorrerá em seguida)
(Bradley, 2002; Cruz e Abreu-Lima, 2012). A aprendizagem e desenvolvimento
cognitivo são particularmente relacionados a esta dimensão já que cabe aos pais
estruturar espacial e temporalmente a quais e quantos estímulos a criança é
exposta. A estruturação física do ambiente facilita comportamentos de exploração
e brincadeiras, deixando a criança mais livre para se locomover. Emocionalmente,
a estrutura é importante pois reduz a sensação de imprevisibilidade e,
consequentemente, a ansiedade gerada pela incerteza. De maneira geral, pais de
nível socioeconômico mais elevado são mais eficientes provendo estrutura para
aprendizagem, enquanto lares de famílias mais pobres tendem a ser mais
desorganizados (Bradley, 2002).
A regulação entre monitoramento do sistema familiar e do contexto é
feita pelos pais, sendo conceituada como Supervisão. Ela pode ser exercida de
diferentes formas, dependo da situação e nível de desenvolvimento da criança:
assim, cuidar da segurança da criança (como quando um bebê aprender a andar),
medeiar situações de aprendizagem e situações sociomorais (como impor limites
65
a comportamentos inadequados socialmente) são consideradas funções de
supervisão (Bradley, 2002; Cruz e Abreu-Lima, 2012). Quanto maior é a
percepção de perigo pelos pais, mais estes parecem supervisionar as atividades
dos seus filhos. No entanto, esta função pode ser dividida com outros membros da
família (adultos ou irmão mais velho) ou mesmo da comunidade, quando há um
alto nível de interação social (Bradley, 2002). A dimensão da Integração Social,
então, diz respeito à promoção da integração familiar à comunidade. Os pais têm
o papel de decidir os contextos extra-familiares (escola, atividades extra-classe,
grupos e casas dos amigos) que seus filhos devem se inserir (Bradley, 2002; Cruz
e Abreu-Lima, 2012).
Concepções interacionistas sobre o desenvolvimento, contudo,
ultrapassam a Psicologia. No âmbito da Medicina, Shonkoff e Garner (2012)
propõem aos médicos, em especial pediatras, uma abordagem
ecobiodesenvolvimental, considerando ambiente (ecologia), fisiologia (biologia)
e saúde/desenvolvimento. Eles discutem sobre a importância dos profissionais da
saúde debruçaram-se sobre as influências ambientais, sociais, econômicas e
desenvolvimentais que contribuem para disparidades na qualidade da saúde das
populações. Investimentos no bem-estar de crianças na primeira infância e suas
famílias emergem como foco de engajamento para evitar problemas em outras
etapas da vida.
Estudos em epigenética, neurosciências e ciências humanas e sociais dão
sustentação à abordagem proposta pelo autor. Enquanto os trabalhos nas ciências
humanas e sociais mostram que as experiências ambientais durante a infância têm
impacto ao longo da vida, as neurosciências contribuem com as evidências das
bases neuronais envolvidas na cognição, emoções e comportamentos. A
epigenética, por sua vez, vem demonstrando como mecanismos biomoleculares
afetam a expressão genética sem alterar a sequência do DNA (Garner & Shonkoff,
2012). Articulados, estes campos do conhecimento nos conduzem ao
entendimento de que os genes são o ponto de partida da arquiterura neuronal,
porém a forma como a circuitaria cerebral é estabelecida é afetada pelo ambiente.
Assim, a qualidade das capacidades cognitivas, comportamento, saúdes física e
mental dos indivíduos encontra-se alicerçada tanto nas experiências no início da
vida quanto nas suas predisposições genéticas (Shonkoff, 2010).
66
A grande diferença do ponto de vista teórico estre as perspectivas
psicológicas e a abordagem ecobiodesenvolvimental é que a última oferece uma
explicação biológica para a associação entre adversidades contextuais na primeira
infância e os desfechos na idade adulta. O estresse e a rede de apoio familiar
desempenham um papel central neste modelo (Garner & Shonkoff, 2012). A
depender do nível de controle sobre os estressores, das redes de apoio e dos
recursos disponíveis, lidar com situações de estresse pode promover
desenvolvimento, resiliência, aprendizagem e boa saúde ou, por outro lado, pode
levar a alterações neuronais, cognitivas, comportamentais, emocionais e
fisiológicas que aumentam a suscetibilidade a problemas de saúde e mesmo à
morte (McEwen & Gianaros, 2011).
Shonkoff parte da proposta do Conselho Científico Nacional para a
Criança em Desenvolvimento dos EUA (National Scientific Council on the
Developing Child), o qual divide o estresse em três categorias: positivo, tolerável
e tóxico. O critério para esta divisão são as alterações fisiológicas que podem ser
resultantes da intensidade e duração da resposta aos estímulos estressores. Assim,
o estresse positivo compreende respostas fisiológicas rápidas ao estresse, com
intensidade baixa a moderada (e.g. o primeiro dia da criança na pré-escola,
situação de frustração) que, associadas a um ambiente estável e relações de apoio
que ajudam a criança lidar com o estresse e voltar à homeostase, são importantes
durante o desenvolvimento típico. O estresse tolerável corresponde às respostas
fisiológicas desencadeadas por experiências mais aversivas ou perigosas (e.g. a
morte de um parente, desastre natural ou uma doença grave) que, com a presença
da rede protetora de adultos, representam poucos riscos a longo prazo no
desenvolvimento. O estresse tóxico, por sua vez, diz respeito à ativação
prolongada dos sistemas de resposta ao estresse associada à ausência de um
ambiente estável e rede de apoio socioemocional que ajudem o retorno do
organismo à homeostase (Garner & Shonkoff, 2012). A pobreza e os aspectos
relacionados a ela, como baixo nível educacional, desemprego e vizinhança
desfavorecida, são estressores tóxicos consistentemente relatados (Santiago,
Wadsworth, & Stump, 2011; Shonkoff & Garner, 2012; Williams Shanks &
Robinson, 2012)
A fisiologia do estresse envolve principalmente o eixo hipotálamo-
pituitária-adrenocortical (HPA) e o sistema simpático-adrenomedular. A resposta
67
corporal ao estresse é resultado do aumento dos níveis de hormônios como CRH
(hormônio liberador de corticotrofina), cortisol, noradrenalina e adrenalina, além
da atividade de outros mediadores como citocinas inflamatórias e sistema
parassimpático (Garner & Shonkoff, 2012). O funcionamento destes sistemas é
influenciado pelas bases genéticas, pelo histórico desenvolvimental do indivíduo
e pelo seu comportamento e estado emocional atuais (McEwen & Gianaros,
2011). Frente a situações desafiadoras, ajustes rápidos e curtos nestes sistemas
permitem a adaptação e proteção do indivíduo, o que é denominado de “alostase”
(McEwen & Gianaros, 2011). A exposição excessiva e prolongada aos hormônios
do estresse e a alteração na rede de mediadores, contudo, pode levar a um efeito
de desgaste (“wear and tear”) em diversos órgãos, incluindo no cérebro (Garner
& Shonkoff, 2012). Em contextos de adversidade crônica, a hipertativação dos
sistemas envolvidos na resposta ao estresse leva a uma desregulação dos mesmos.
A sobrecarga e impactos fisiológicos e psicológicos causados pelo estresse são
identificados, então, como “carga alostática” (Garner & Shonkoff, 2012).
No cérebro, há evidências que o estresse tóxico está associado a
alterações estruturais e funcionais, como hipertrofia e hiperestimulação da
amígdala e do córtex orbitofrontal e diminuição de neurônios e sinapses no
hipocampo e córtex pré-frontal medial – tais regiões contêm grande número de
receptores glucocorticoides, os quais são envolvidos na fisiologia do estresse
(Garner & Shonkoff, 2012). Como o córtex pré-frontal e o hipocampo atuam
inibindo a atividade da amígdala, os comprometimentos na conectividade entre
estas estruturas devido a níveis elevados e duradouros de estresse podem levar a
uma menor capacidade de modulação da resposta da amígdala ao estresse e,
portanto, alterar a responsividade do indivíduo a situações de estresse. Aumento
da ansiedade e pior performance em memória, aprendizagem e funções executivas
são alguns dos prejuízos cognitivos também relativos a tais alterações (Garner &
Shonkoff, 2012).
As proposições transacionais de Sameroff (2010) e Bradley (2002, 2004)
e o modelo desenvolvido por Graner e Shonkoff (2012) oferecem insights
complementares para a compreensão do papel do ambiente, em particular do
ambiente familiar, no desenvolvimento cognitivo. Com os dois primeiros, tem-se
a perspectiva psicológica de como e quais os aspectos familiares estão envolvidos
na promoção do bem-estar infantil, o que abrange desde o nível socioeconômico
68
até crenças e comportamentos parentais. Graner e Shonkoff (2012), por sua vez,
oferecem uma explicação, a nível de processos biológicos, de como o ambiente
modifica o organismo, especialmente em situações de adversidade prolongada –
seja por pobreza, abuso, doença ou outras situações estressoras. Partindo destas
perspectivas teóricas, a próxima sessão revisa instrumentos de investigação e
estudos sobre ambiente familiar e cognição, com foco nas funções executivas.
1. Ambiente familiar, desenvolvimento cognitivo e funções executivas.
O mais conhecido instrumento de avaliação do ambiente familiar, o
Inventário HOME (Home Observation for the Measurement of the Environment;
Caldwell & Bradley, 2003), vem acumulando evidências do impacto do ambiente
familiar para o desenvolvimento infantil desde a década de 1960 em todo o
mundo. Embasadas na teoria de sistemas ecológicos de Bronfenbrenner (Totsika
& Sylva, 2004), as quatro versões do instrumento (0-3; 3-6; 6-10; 10-15 anos)
foram construídas para avaliar a qualidade e quantidade de estimulação e apoio
cognitivo, emocional e social à criança ou adolescente no contexto familiar
(Caldwell & Bradley, 2003). No que se refere ao desenvolvimento cognitivo, os
escores na HOME vêm sistematicamente mostrando correlações positivas
significativas com medidas cognitivas e linguísticas durante toda a infância,
mesmo após controladas variáveis de gênero, nível socioeconômico e grupo étnico
(Cruz & Abreu-Lima, 2012; Totsika & Sylva, 2004).
Num estudo longitudinal que buscou compreender como os processos
familiares podem mediar a relação entre renda familiar e desenvolvimento de
crianças entre 3 e 5 anos, foram colocados à prova dois modelos teóricos: a)
modelo do estresse familiar, que pressupõe que a baixa renda afeta a saúde mental
dos pais, levando a utilização de determinadas práticas parentais que acabam por
ter impacto no desenvolvimento infantil (em geral medido pelo desempenho e
engajamento acadêmico, além de problemas de comportamento); e b) modelo do
investimento, que postula que a renda permite à família prover materiais,
experiências e serviços que têm impacto positivo no desenvolvimento e bem-estar
infantil (Linver, Brooks-Gunn, & Kohen, 2002). Assim, foram testados
estatisticamente modelos que incluíam como variável independente a renda
69
familiar, como variáveis mediadoras o sofrimento emocional materno e práticas
parentais no construto de estresse familiar e oferecimento de ambiente familiar
estimulante (escore da HOME) no construto de investimento parental, e como
variáveis dependentes o funcionamento cognitivo (inteligência) e competência
comportamental (problemas de comportamento). Através de modelagem por
equação estrutural, foi observado que a associação positiva significativa entre
renda e desenvolvimento cognitivo foi parcialmente mediada apenas pela
estimulação do ambiente familiar, que explicou 8,2% a mais da variância da VD
(cognição) do que apenas a VI (renda) e variáveis controle (sexo, peso ao nascer,
idade materna, etnia e status marital). Por sua vez, a associação positiva
significativa entre renda e competência comportamental foi totalmente mediada
tanto pelas práticas parentais e sofrimento emocional materno (que explicaram
5.7% a mais da variância), quanto pela etimulação do ambiente familiar (que
representou um acréscimo de 3,2% na variância explicada).
Um estudo longitudinal mais recente buscou compreender como o
ambiente familiar e a qualidade de creches públicas de Portugal interagiam
afetando a linguagem, comunicação e desenvolvimento inicial da alfabetização de
crianças na primeira infância (Pinto et al., 2013). As 95 crianças que participaram
do estudo foram avaliadas quando bebês (1-2 anos) e por volta dos 5 anos, assim
como as creche-escolas que frequentavam e o ambiente familiar. Os resultados
evidenciaram que a qualidade do ambiente familiar não apenas se correlacionou
com a linguagem e início da alfabetização, mas também foi um melhor preditor
do desenvolvimento infantil do que a educação materna. Contudo, foi observado
que a qualidade da pré-escola pode ser um moderador da relação do ambiente
familiar com a linguagem e início da alfabetização, de modo que quando a pré-
escola tem qualidade acima da média o ambiente familiar tem um efeito de
moderado a forte sobre as habilidades supracitadas, enquanto que quando a
qualidade da pré-escola é abaixo da média, o ambiente familiar torna-se um
preditor insignificante.
No Brasil, as pesquisas com o inventário HOME concentram-se na faixa
etária pré-escolar (Anselmi, Piccinini, Barros, & Lopes, 2004; Oliveira,
Magalhães, & Salmela, 2011; Santos et al., 2008). Andrade et al (2005) realizaram
um estudo com 350 crianças entre 14 e 42 meses de idade provenientes de
Salvador-BA, investigando a associação entre a qualidade de estimulação do
70
ambiente familiar (mensurado pelo inventário HOME) e o desenvolvimento
cognitivo na primeira infância (mensurado pela escala Bayley), bem como o
impacto da escolaridade materna na qualidade dessa estimulação. Conforme
esperado pelos autores, os modelos de regressão linear evidenciaram que o
aumento nos escores da HOME associou-se ao aumento nos escores da escala
Bayley, e que as variáveis ‘trabalho fora de casa (mãe)’ e, principalmente,
‘educação materna’ apresentaram-se como variáveis confundidoras significativas
da associação anterior. Ademais, observou-se que os escores de estimulação do
ambiente familiar foram significativamente mais altos para crianças que:
ocupavam até a segunda ordem de nascimento; não compartilhavam o ambiente
com outras crianças com menos de 5 anos; conviviam com o pai; a mãe convivia
com o companheiro; a mãe tinha mais de 5 anos de escolarização; a mãe
trabalhava fora (Andrade et al., 2005).
Quanto às crianças em idade escolar, foi encontrado um trabalho com o
HOME no qual a autora buscou identificar os fatores biossociais de proteção ao
desenvolvimento cognitivo de crianças em idade escolar de cinco municípios da
zona da mata de Pernambuco (Amaral, 2007). Para este estudo, o QI foi a medida
cognitiva utilizada, sendo investigadas associações com características biológicas
ao nascer (peso, comprimento, perímetro encefálico, sexo e idade gestacional) e
aos oito anos (peso, altura, perímetro cefálico, capacidade visual e auditiva, nível
de hemoglobina), além de características sociodemográficas e de estimulação do
ambiente familiar (HOME). Dentre as variáveis consideradas, não foi observada
associação significativa entre o QI e as características biológicas da criança. Em
contrapartida, diversas variáveis sociais apresentaram associações significativas
com o QI das crianças aos oito anos, dentre as quais ‘estimulação do ambiente
familiar’, ‘escolaridade materna’, ‘tipo de escola’ (pública/particular) e ‘renda’.
Apesar dos inventários HOME apresentarem relevante validade
ecológica, o fato de sua aplicação ser domiciliar tem desvantagens como aumento
do custo e do tempo despendido para realização da pesquisa. Além disso, nem
todas as versões do instrumento têm tradução e validação brasileira. Tendo em
vista alguns destes empecilhos, Marturano (2006) desenvolveu o Inventário de
Recursos do Ambiente Familiar – RAF para avaliar aspectos do ambiente familiar
de crianças em idade escolar, especialmente aqueles relacionados ao desempenho
acadêmico. Trata-se de um instrumento brasileiro composto por 10 itens que
71
devem ser aplicados na forma de entrevista semiestruturada, prescindindo de
observação direta do ambiente familiar. Assim como o HOME, o RAF
fundamenta-se no modelo bioecológico de Bronfenbrenner e abrange três
dimensões: a) Recursos que promovem processos proximais, que incluem
experiências estimuladoras do desenvolvimento (passeios e viagens),
oportunidades de interação com os pais, disponibilidade de brinquedos e
materiais, disponibilidade de livros, jornais e revistas, uso adequado do tempo
livre e acesso a atividades programadas de aprendizagem; b) Atividades
previsíveis que sinalizam algum grau de estabilidade na vida familiar, incluindo
rotinas e reuniões regulares da família; e c) Práticas parentais que promovem
ligação família-escola, que diz respeito à participação dos pais nas reuniões e
acompanhamento das notas. Seus escores apontaram índices aceitáveis de
fidedignidade (Marturano, 2006) e desde o início de sua elaboração, algumas
pesquisas vêm utilizando diversas versões do inventário para caracterização do
ambiente familiar (D’Avila-Bacarji, Marturano, & Elias, 2005; Ferreira &
Marturano, 2002; Marturano, 1999; Trivellato-Ferreira & Marturano, 2008). Os
estudos utilizando o RAF em geral não têm como objetivo relacionar seus escores
com desenvolvimento cognitivo, mas sim com o desempenho acadêmico
(D’Avila-Bacarji et al., 2005; Marturano, 2006). No entanto, é possível inferir esta
relação a partir da associação entre cognição e desempenho acadêmico (Rohde &
Thompson, 2007).
A relação entre aprendizagem pré-escolar e o ambiente familiar foram
investigados por Ferreira e Barrera (2010). Os autores consideraram como
variáveis do ambiente familiar o nível socioeconômico (renda), o arranjo parental,
a escolaridade dos pais e a pontuação no RAF, correlacionando-as com as
habilidades iniciais de escrita em 30 crianças entre cinco e seis anos (regidos pela
mesma professora). Nesta amostra, apenas o RAF associou-se ao desempenho
acadêmico (χ²=10,6; χ² crítico=9,488), porém a escolaridade materna (χ²=22,69;
χ² crítico=12,59) e o nível socioeconômico (r=0,37) associaram-se ao RAF – o
que, para os autores, indica um impacto indireto destas variáveis sobre a
aprendizagem pré-escolar (Ferreira & Barrera, 2010).
Para investigar a relação entre ambiente familiar e desempenho em
leitura de crianças entre sete e treze anos de escolas públicas e particulares,
Monteiro e Santos (2013) propuseram que a versão do RAF com dez itens os
72
agrupasse em três categorias: 1) suporte parental das rotinas escolares, contendo
os três itens referentes ao estabelecimento de horários para as atividades e
supervisão para a escola; 2) interação com os pais, que inclui quatro itens sobre
passeios e atividades que a família realiza junta e pessoa que a criança recorre
quando necessita; e 3) recursos materiais no ambiente físico, que se refere aos
brinquedos e outros materiais promotores de desenvolvimento disponíveis, além
de revistas, jornais e livros, contemplados por três itens. Neste estudo, os escores
em leitura apresentaram correlações positivas, de fraca a moderada, com o total
do RAF (r=0,39) e todas as categorias pré-definidas – suporte parental das rotinas
escolares (r=0,27), interação com os pais (r=0,33) e recursos materiais no
ambiente físico (r=0,43). Tais achados indicam que a oferta de materiais
promotores de desenvolvimento, livros, jornais e revistas é o que mais contribui
para o aprendizado da leitura (Monteiro & Santos, 2013).
Também utilizando o RAF, Trivellato-Ferreira e Marturano (2008)
investigaram como características da pessoa (inteligência e consciência
fonológica) e do contexto (recursos do ambiente familiar, práticas parentais e
contexto educacional) no início do ano letivo predizem desempenho e ajustamento
acadêmico ao final do mesmo, num estudo prospectivo sobre os precursores da
competência na transição para a 1ª série do Ensino Fundamental. No que se refere
ao ajustamento, as características da criança, principalmente o nível intelectual, se
mostraram como melhores preditores, sendo que os escores no teste de RAVEN
explicaram 46% da variância na medida de ajustamento. Para o desempenho, o
melhor modelo de predição incluiu tanto características pessoais quanto do
contexto. A consciência fonológica (Prova de Consciência Fonológica)
juntamente com os recursos do ambiente familiar (RAF) e as práticas parentais
(entrevista) explicaram 41% da variância nos escores do Teste de Desempenho
Escolar – como era esperado, a consciência fonológica teve o maior valor
preditivo, seguida pelas variáveis do ambiente familiar. Neste estudo, os recursos
do ambiente familiar apresentaram correlações de fracas a moderadas com
inteligência (r= 0,3), consciência fonológica (r= 0,32), desempenho escolar (r=
0,46), ajustamento (r= 0,37) e competência social (r= 0,42).
Num trabalho anterior das mesmas autoras, foi investigado diferenças no
ambiente familiar de crianças com e sem problemas de comportamento
internalizantes/externalizantes (Ferreira & Marturano, 2002). A amostra foi
73
composta por 67 crianças com baixo rendimento escolar, as quais foram divididas
através da pontuação na Escala Comportamental Infantil A2 de Rutter. O RAF
(versão 14 itens), a Escala de Eventos Adversos (EEA) e uma Entrevista para
Esclarecimento da Queixa (EEQ) foram utilizados para avaliar recursos e
adversidades do ambiente familiar. O primeiro instrumento foi subdividido nas
categorias “supervisão dos pais”, “envolvimento e suporte dos pais” e “indicador
socioeconômico”; enquanto a EEA foi categorizada em “instabilidade financeira”,
“adversidade nas relações parentais”, “adversidade associada a condutas
parentais”, “outras adversidades familiares”, “eventos adversos na vida pessoal
(da criança)”, “eventos adversos na vida escolar” e “problemas nas relações
interpessoais (da criança)”; e a EEQ forneceu os indicadores “condições adversas
pessoais da mãe”, “práticas educativas inadequadas”, “problemas no
relacionamento pais-criança” e “adversidade extrafamiliar”. Nos escores no RAF,
os grupos diferiram quanto à pontuação total (t=3,35; p<,001) ao indicador
socioeconômico (t=2,89; p<,01) e em alguns itens da categoria envolvimento e
suporte dos pais, nas quais as crianças sem problemas de comportamento
obtiveram médias mais altas. Quanto à EEA, o grupo com problemas de
comportamento apresentou médias superiores ao sem problemas de
comportamento na pontuação total (t=2,94; p<,01), nos indicadores de
adversidade nas relações parentais (t=2,07; p<,05), de eventos adversos na vida
pessoal (t=2,94; p<,01), eventos adversos na vida escolar (t=2,65; p<,01) e
problemas nas relações interpessoais (t=3,12; p<,01). Na EEQ, práticas
educativas inadequadas (t=2,02; p<,05), problemas de relacionamento pais-
criança (t=2,92; p<,01) e o escore total de adversidades no ambiente familiar
(t=3,19; p<,01) tiveram médias maiores no grupo de crianças com problemas de
comportamento.
O estudo de Ferreita e Marturano (2002) apresenta dois aspectos de
especial importância para o presente trabalho. O primeiro diz respeito à associação
entre problemas de comportamento e funções executivas, em especial aspectos do
controle inibitório, com os quais outras investigações indicam que parecem
compartilhar redes neurais (Krämer, Kopyciok, Richter, Rodriguez-Fornells, &
Münte, 2011; López, Nieto, Conde, & Bernardo, 2016). É possível supor que
crianças sujeitas a menos recursos e mais adversidades no ambiente familiar
também podem apresentar pior funcionamento executivo. O segundo é que um
74
dos aspectos que se mostrou relacionado ao perfil comportamental foi a
experiência adversa de hospitalização/doença grave vivenciada pela criança.
Evidências sobre a relação do ambiente familiar com as funções
executivas (FE) advém, em boa parte, dos estudos sobre os mecanismos através
dos quais o nível socioeconômico (NSE) influencia o desenvolvimento cognitivo.
De acordo com a revisão realizada por Hackman, Farah e Meaney (2010),
associações entre NSE e funções executivas são vistas em diversas faixas etárias
- aos seis meses de idade (memória operacional e controle inibitório), aos seis anos
(sistemas de atenção executiva), início da adolescência (diversas funções) e idade
adulta (diversas funções) – e mesmo quando o desempenho nas tarefas é similar,
os níveis de ativação de redes neuronais específicas podem diferir de acordo com
o NSE. Os dois modelos que costumam guiar os estudos envolvendo a família são
o modelo de estresse familiar e o modelo do investimento familiar – apresentados
anteriormente nesta sessão (Linver, Brooks-Gunn, & Kohen, 2002; Hackman et
al., 2010; Hackman, Gallop, Evans, & Farah, 2015).
Ambos os modelos foram testados pelo estudo de Hackman et al (2015),
no qual 1009 crianças e suas famílias foram acompanhadas desde o primeiro mês
de vida até a quinta série a fim de observar os efeitos do NSE (renda por integrante
da família e educação materna) no desenvolvimento das FE (memória operacional
e planejamento) e o papel mediador da sensibilidade materna (modelo de estresse
familiar) e do enriquecimento ambiental (disponibilidade de materiais promotores
de desenvolvimento - modelo de investimento familiar). Quanto à memória
operacional, o desempenho das crianças foi predito pela renda por integrante da
família aos 54 meses (B=2.83, SE=0.88, p=.002, r=.10) e aos 9,5 anos (B=2.2,
SE= 0.8, p<.01, r= .09), e pela escolaridade materna aos 9,5 anos (B=0.57,
SE=0.24, p=.02, r=.07) – em ambos, quanto maior a renda nos três primeiros anos
de vida e a escolaridade materna, maiores os escores em memória operacional ao
longo dos anos. No modelo de múltiplos mediadores, a relação entre a renda e a
memória operacional (aos 54 meses) foi mediada pelo enriquecimento ambiental
e pela sensibilidade materna quando a criança estava com 36 a 54 meses de idade,
explicando, em conjunto, 38% da variância. Em relação ao planejamento, a renda
por integrante e a escolaridade materna também predisseram o desempenho das
crianças aos 54 meses (respectivamente, B=0.93, SE= 0.43, p=.03, r= .07 e
B=0.25, SE= 0.12, p=.04, r= .06) e na quinta série (respectivamente, B=1,25, SE=
75
0.43, p=.004, r= .09 e B=0.28, SE= 0.13, p=.03, r= .07), em ambos os casos o
aumento nas variáveis independentes levou ao incremento no desempenho em
planejamento. Um dado interessante é que variações na renda familiar tiveram
efeitos independentes sobre a variável dependentes (B=0.63, SE=0.3, p=.03,
r=.04), com diminuições na renda predizendo pior rendimento em planejamento.
No modelo de múltiplos mediadores (não ajustado), a relação entre a renda e
planejamento foi mediada pelo enriquecimento ambiental (aos 54 meses) e pela
sensibilidade materna, explicando, em conjunto, 47% da variância. O
enriquecimento ambiental (aos 54 meses) e a sensibilidade materna também
mediaram a relação entre educação materna e planejamento, explicando 19% da
variância no modelo de múltiplos mediadores ajustado e 65% da variância no
modelo não ajustado. Estes resultados indicam que aspectos do ambiente familiar
na primeira infância – contemplados tanto pelo modelo de estresse familiar quanto
pelo modelo de investimento familiar – explicam, ao menos parcialmente, o
desempenho nas FE em momentos posteriores da infância.
Sarsour et al (2011) buscaram investigar quais os papéis do ambiente
familiar, da monoparentalidade e da linguagem na relação entre o nível
socioeconômico (NSE) e as funções executivas de crianças entre 8 e 12 anos.
Participaram do estudo 60 famílias norte-americanas de diferentes níveis
socioeconômicos. A princípio, esperava-se que o NSE e a monoparentalidade
teriam contribuições independentes às performances nas medidas de controle
inibitório, flexibilidade cognitiva e memória operacional, enquanto a linguagem e
o ambiente familiar mediariam o efeito do NSE sobre as funções executivas em
questão. Os modelos de regressão multivariada evidenciaram que o NSE se
associou às três funções executivas avaliadas, mesmo após controlados os efeitos
de funções cognitivas não-executivas, idade da criança e da monoparentalidade.
Quando controlados os efeitos do NSE e idade, a monoparentalidade não se
associou às funções executivas. Foi constatado, contudo, que a monoparentalidade
moderou o efeito do NSE sobre a flexibilidade cognitiva (β=0.58) e controle
inibitório (β=-0.44), de modo que crianças de baixo NSE oriundas de famílias
monoparentais obtiveram menor desempenho nestas funções. O ambiente familiar
mensurado pelo escore total do inventário HOME, por sua vez, mediou
parcialmente a relação entre NSE e controle inibitório, enquanto a linguagem não
apresentou nenhum efeito de mediação. Especificamente, as subescalas do HOME
76
“responsividade” (β=0.22) e “companheirismo familiar” (β=0.28) mediaram a
relação entre NSE e controle inibitório, enquanto “enriquecimento” (β=0.22) e
“companheirismo familiar” (β=0.25) mediaram a relação com a memória
operacional. Ademais, o escore total do HOME apresentou associações
significativas com as variáveis monoparentalidade (r=0.59), habilidades em
linguagem expressiva (r=0.29), controle inibitório (r=0.45), memória operacional
(r=0.34) e flexibilidade cognitiva (r=0.28).
No Brasil, Piccolo, Arteche, Fonseca, Grassi-Oliveira, & Salles (2016)
também constataram que quanto mais elevado o NSE (mensurado pelo CCEB-
ABEP) e educação parental, melhor o desempenho em inteligência, linguagem,
memória operacional (considerada à parte das FE pelo estudo) e funções
executivas em crianças entre 6 e 12 anos. Nas crianças menores, tal efeito foi
maior, conforme hipotetizado (Piccolo et al., 2016). Assim como nos estudos
anteriores, os autores argumentam que a influência exercida pelo NSE e educação
parental possivelmente deve-se ao acesso a materiais e experiência que estimulam
o desenvolvimento cognitivo e a interação com os pais.
De acordo com os estudos sobre o estresse, as práticas parentais são o
principal mecanismo pelo qual a pobreza afeta o desenvolvimento infantil, já que
os pais têm papel fundamental na regulação fisiológica do estresse nos seus filhos
(Blair et al., 2011). Num estudo prospectivo com mais de mil famílias americanas
de baixa-renda, foi investigado o quanto os níveis de cortisol (hormônio
relacionado ao estresse), práticas parentais (positivas e negativas) e riscos no
ambiente familiar (aglomeração da casa, segurança e exposição a barulho),
quando as crianças têm sete meses e dois anos, medeiam a relação da pobreza com
as funções executivas e inteligência aos três anos de idade. De acordo com a
modelagem por equação estrutural dos dados, foram observados efeitos diretos e
indiretos das variáveis. Nos efeitos diretos, o cortisol predisse negativamente as
funções executivas (índice composto por medidas de memória operacional,
controle inibitório e alternância da atenção/flexibilidade) (β=-.42, p< .0001) e
marginalmente a inteligência (QI estimado) (β= -.15, p< .06), os riscos no
ambiente familiar predisseram a inteligência (β= -.25, p< .0001) e marginalmente
as funções executivas (β= -.12, p< .07), enquanto tanto as funções executivas e a
inteligência foram preditas pelas práticas parentais positivas (β=.19, p< .04 e
β=.26, p< .0001, respectivamente), pelas práticas parentas negativas (β= -.26, p<
77
.003 e β= -.27, p< .0001). As variáveis educação materna, renda, idade e etnia não
predisseram diretamente nenhuma das variáveis cognitivas. Nos efeitos indiretos,
a relação das práticas parentais positivas foi mediada pelo cortisol (β= .13, p< .03),
a relação entre renda e funções executivas foi mediada por práticas parentais
negativas (β= .04, p< .02), a relação entre educação materna e funções executivas
foi mediada por práticas parentais negativas (β= .07, p< .004), práticas parentais
positivas (β= .07, p< .03) e por práticas parentais positivas associadas ao cortisol
(β= .05, p< .04). Os riscos do ambiente familiar mediaram o efeito da educação
materna e da renda sobre a inteligência (β=.08, p< .0001 e β=.10, p< .0001,
respectivamente). Os achados do estudo demonstram que tanto o cortisol quanto
as práticas parentais exercem papeis na relação da pobreza com a cognição, em
especial nas funções executivas, desde muito cedo no desenvolvimento infantil.
Renda, educação parental (especialmente materna), arranjo parental, tipo
de escola, práticas parentais e disponibilidade de materiais e experiências são as
principais variáveis contextuais apontadas pelos estudos como importantes para o
desenvolvimento cognitivo (Blair et al., 2011; Hackman et al., 2015; Piccolo et
al., 2016; Sarsour et al., 2011). De acordo com as evidências, aspectos físicos e
relacionais do ambiente familiar parecem mediar o impacto do contexto
socioeconômico mais amplo sobre a cognição infantil, sendo que as funções
executivas se encontram particularmente suscetíveis – possivelmente devido à
conexão com a fisiologia do estresse. No Brasil, apesar dos pesquisadores
costumarem incluir variáveis como renda e escolaridade materna nos seus estudos
sobre funções executivas, poucas investigações atentas a outros aspectos do
ambiente familiar foram encontradas. Frente à consistente literatura internacional
apontando o envolvimento da família no desenvolvimento das funções executivas,
observa-se uma lacuna de estudos nacionais voltados ao tema. A seguir, são
relatados estudos sobre o ambiente familiar e o desenvolvimento cognitivo
especificamente em grupos acometidos por epilepsia.
2. Ambiente familiar, cognição e epilepsia
78
Investigações acerca de associação entre ambiente familiar, cognição e
epilepsia são ainda incipientes. Estudos com modelos animais de epilepsia do lobo
temporal oferecem algumas evidências sobre o possível impacto ambiental no
desenvolvimento cognitivo em pessoas com epilepsia. De acordo com a revisão
feita por Dhanushkodi e Shetty (2008), ratos imaturos induzidos a status
epilepticus e posteriormente expostos a ambientes enriquecidos (com diversidade
de estimulação sensorial, motora e maior interação com pares) apresentaram
desempenho numa tarefa de aprendizagem espacial comparável ao dos controles
(não induzidos a crises e não expostos a ambiente enriquecido), enquanto que
aqueles que foram induzidos ao status epilepticus mas permaneceram em
ambientes empobrecido tiveram pior desempenho cognitivo. Entre os possíveis
mecanismos envolvidos neste resultado estariam o aumento observado na
neurogênese no giro denteado (importante para as funções de memória espacial
dependentes do hipocampo), o aumento da expressão da proteína pCREB
(relacionada à memória e aprendizagem), a fosforilação da ERK2 no hipocampo,
ou mesmo um fenômeno envolvendo todo o cérebro, que leva à melhora cognitiva
e maior neuroproteção. Ratos alojados em ambientes enriquecidos após indução
de crises pelo modelo KA (excito toxina que ativa um subtipo de receptor
glutamatérgico) também demonstraram melhora do comportamento e aumento na
manifestação de genes envolvidos na plasticidade sináptica e consolidação da
memória (e.g. Arc, Homer1a e Egr1) quando comparados aos alojados em
ambientes padronizados (Dhanushkodi & Shetty, 2008). Para os autores, a
investigação de modelos animais em ambiente enriquecido são uma oportunidade
de explorar alternativas não farmacológicas de tratamento, ou ao menos de
minimizar o impacto da epilepsia do lobo temporal no cérebro.
Com seres humanos, o trabalho realizado por Fastenau et al (2004)
propôs-se a investigar os efeitos dos déficits cognitivos no desempenho acadêmico
de crianças entre 8 e 15 anos com diversos tipos de epilepsia e o papel moderador
de características demográficas, variáveis da epilepsia, e variáveis psicossociais
(dentre as quais, o ambiente familiar). Através da técnica de modelagem por
equação estrutural, observou-se que o fator cognitivo previamente definido como
"verbal/memória/executivo" foi o mais importante, predizendo os resultados em
leitura, matemática e escrita juntamente com fator "nomeação rápida/memória
operacional". O fator "psicomotor", foi capaz de predizer apenas a escrita. A
79
maestria familiar (dimensão que diz respeito à organização e apoio familiar), por
sua vez, foi a única variável que apresentou efeito de moderação. Para as crianças
com menores escores de maestria familiar, os fatores "verbal/memória/executivo"
e "nomeação rápida/memória operacional" tiveram forte associação ao
desempenho em escrita, enquanto que para crianças com alto nível de maestria
familiar, os déficits neuropsicológicos tiveram pouco ou nenhum impacto sobre a
escrita. Foi também observada uma tendência à interação da maestria familiar e o
fator "verbal/memória/executivo" (p=.05) em relação à leitura, bem como uma
tendência à interação do tipo de crise epiléptica e do fator
"verbal/memória/executivo" (p=.02) na predição das habilidades matemáticas
(Fastenau et al., 2004).
A influência do ambiente familiar, contudo, não foi corroborada pelo
estudo prospectivo dos mesmos autores. Neste, os fatores relacionados à epilepsia,
sociodemográficos (idade, sexo, educação parental) e familiares (maestria
familiar, práticas parentais e estado afetivo dos pais - ansiedade, depressão e
hostilidade) foram estudados como possíveis moderadores da relação entre fatores
cognitivos (linguagem, velocidade de processamento,
atenção/executivo/construtivo e memória verbal/aprendizagem) e desempenho
em leitura, escrita e matemática num intervalo de três anos (Dunn et al., 2010). Os
resultados indicaram que todos os fatores neuropsicológicos se correlacionaram
ao desempenho nas três áreas acadêmicas, tanto na linha de base quanto após 36
meses. A relação entre a mudança no fator linguagem e a mudança na escrita foi
moderada pela educação materna, sendo que o a associação das variáveis foi
significativa apenas para filhos de pais com maior nível educacional (β= 0,25;
p<,01). Quanto às variáveis familiares, apenas a ansiedade parental moderou a
relação dos fatores linguagem e atenção/executivo/construtivo com a escrita,
sendo significativa para crianças cujos pais apresentavam escores elevados de
ansiedade (β= 0,4; p<,01 e β= 0,27; p<,05, respectivamente).
Comparando o estudo de Dunn e colaboradores (2010) com os resultados
encontrados por Fastenau et al (2004), a maestria familiar não teve efeito sobre as
relações entre cognição e desempenho acadêmico. Os autores atribuíram esse
achado à suspeita de que os pais da amostra selecionada não eram muito exigidos
em termos de habilidades para lidar com a doença, já que a maior parte das
crianças avaliadas se encontrava no início da patologia, não apresentava outros
80
comprometimentos neurológicos e poucos tinham formas mais graves de epilepsia
(Dunn et al., 2010). Num segundo estudo realizado com a amostra supracitada,
contudo, o funcionamento familiar, a educação e o apoio parental moderaram o
efeito das variáveis neuropsicológicas sobre a autoestima das crianças com
epilepsia entre linha de base e após 36 meses, tendo efeito protetor sobre a saúde
mental das crianças (Austin et al., 2010).
Outros pesquisadores tiveram resultados distintos dos de Dunn et al
(2010). Ao longo de quatro anos, Oostrom et al (2005) estudaram a cognição e
comportamento em crianças com epilepsias não-sintomáticas, além das suas
relações com variáveis da epilepsia (etiologia, remissão e tratamento
medicamentoso), da família (problemas familiares e percepção dos pais acerca de
mudanças em suas práticas educativas após diagnóstico) e da criança (problemas
de comportamento ou aprendizagem da anteriores ao diagnóstico de epilepsia).
Entre três a quatro anos após o diagnóstico, as características da epilepsia não
tiveram efeitos significativos sobre a cognição. Nas famílias do grupo clínico
cujos pais percebiam desequilíbrio nas suas práticas parentais, contudo, as
crianças apresentaram pior desempenho em medidas de atenção (F = 5.81, p < .05)
e aprendizagem de localização – evocação imediata (F = 21.36, p < .00), tempo
de reação (F = 5.9, p < .05) e interferência proativa (F = 7.04, p < .01). Problemas
de comportamento foram mais relatados naquelas crianças com histórico de
problemas de comportamento (F = 10.95, p < .00) e nas advindas de famílias
classificadas como problemáticas (F = 12.68, p < .00). Quando comparados a
controles, crianças com epilepsias tiveram mais déficits
neuropsicológicos/comportamentais persistentes, que por sua vez se associaram a
práticas parentais desadaptativas (χ²= 4.72, p=.03), problemas familiares (χ²=
6.03, p=.01) e problemas comportamentais prévios (χ²= 9.57, p=.01), mas não às
características da epilepsia ou desempenho escolar (Oostrom, Van Teeseling,
Smeets-Schouten, Peters, & Jennekens-Schinkel, 2005).
Mais recentemente, o trabalho desenvolvido por Melbourne Chambers et
al. (2014) teve por objetivo investigar se crianças jamaicanas com epilepsias
(variadas e de baixa complicação) entre 7 e 12 anos diferiam de seus pares quanto
ao funcionamento cognitivo e desempenho acadêmico. As variáveis dependentes
incluíram inteligência, atenção, FE, memória, linguagem e habilidade matemática.
Como objetivo secundário, foram explorados os efeitos de moderação do status
81
social e o do ambiente familiar. Os resultados indicaram que não houve diferenças
entre os grupos na medida de inteligência, porém crianças com epilepsia tiveram
menores escores em testes de memória (dígitos e narrativa) e linguagem
(compreensão). Ademais, crianças com nível socioeconômico e escores na HOME
mais elevados obtiveram maiores escores em testes de raciocínio, atenção,
memória narrativa e linguagem. Após ajustes estatísticos, no entanto, nível
socioeconômico e escore na HOME não modificaram significativamente o efeito
da epilepsia nas variáveis dependentes. Cabe ressaltar que houve pouca
variabilidade do nível socioeconômico e do ambiente familiar na amostra, o que
poderia explicar a não identificação de um efeito moderador.
Os estudos revelam um cenário pouco definido das relações entre
ambiente familiar e cognição de crianças com epilepsia. Enquanto alguns estudos
mostram interação entre variáveis neuropsicológicas e variáveis familiares em
grupos com epilepsia, outros não encontraram os mesmos resultados. Parte da
contrariedade dos resultados pode se dever à heterogeneidade das amostras, que
incluem diferentes síndromes epilépticas. Os estudos com modelos animais, no
entanto, parecem dar suporte à ideia de que ambientes enriquecidos, tanto em
termos de materiais/experiências quanto de relacionamentos, favorecem o
desenvolvimento cognitivo.
82
JUSTIFICATIVA E DELIMITAÇÃO DO OBJETO
O presente estudo pretendeu articular três amplos campos de
investigação – epilepsia infantil, funções executivas e ambiente familiar. A vasta
literatura sobre cada um dos temas levanta uma série de questões, muitas das quais
ultrapassam o escopo deste trabalho. Em relação à epilepsia rolândica, a existência
de déficits em funções executivas permanece como questão a ser esclarecida, já
que estes são relatados por alguns pesquisadores (Goldberg-Stern et al., 2010;
Gündüz et al., 1999; Metz-Lutz & Filippini, 2006) mas não por outros (Jackson et
al., 2013).
Por um lado, a alta comorbidade entre epilepsia rolândica e transtornos
mentais e comportamentais caracterizados por prejuízo executivo, como TDAH
(Gobbi et al., 2006; Kanemura et al., 2011), e a existência de alterações
neuroanatômicas comuns à doença e ao funcionamento executivo (Garcia-Ramos
et al., 2015; Xiao et al., 2016) dão suporte à hipótese de que mecanismos
relacionados a este tipo de epilepsia respondem por déficits em funções
executivas. Em contrapartida, a inconsistência dos achados neuropsicológicos
neste grupo permite supor que outras variáveis não relacionadas à doença podem
estar atuando para manifestação de determinados perfis neuropsicológicos.
As funções executivas (FE) abrangem diversas habilidades cognitivas,
porém, de acordo com o modelo organizado por Diamond (2013), a memória
operacional, controle inibitório e flexibilidade cognitiva constituem os pilares
sobre os quais as demais funções desenvolvem-se. De maneira ampla, as FE são
caracterizadas por um longo período de maturação e parecem ser particularmente
suscetíveis à influência ambiental (Bernier et al., 2010), havendo indícios de que
mecanismos fisiológicos da resposta à exposição a estressores têm efeitos sobre o
desenvolvimento de tais funções (Garner & Shonkoff, 2012). O ambiente familiar
é destacado na literatura pela sua capacidade de promover melhor
desenvolvimento social, cognitivo e acadêmico das crianças, além de prevenir o
desencadeamento de problemas de comportamento durante a infância (Totsika &
Sylva, 2004). Em crianças com desenvolvimento típico, o ambiente familiar
parece apresentar efeitos mediadores da relação entre contexto socioeconômico e
cognição, incluindo funcionamento executivo (Hackman et al., 2015; Sarsour et
83
al., 2011). Estudos em crianças com epilepsia são menos frequentes e consistentes
(Dunn et al., 2010; Fastenau et al., 2004; Melbourne Chambers et al., 2014),
apesar de terem o potencial de dar subsídios para elaboração de intervenções
voltadas à redução dos impactos da doença na cognição (Dhanushkodi & Shetty,
2008). Ademais, nenhum estudo investigando ambiente familiar e funções
executivas especificamente em crianças com diagnóstico de epilepsia rolândica
típica/atípica foi encontrado.
Diante de tais lacunas, o presente trabalho focalizou sobre o seguinte
problema de pesquisa: o ambiente familiar relaciona-se com as funções executivas
de indivíduos com epilepsias rolândicas em idade escolar?
OBJETIVOS E HIPÓTESES
A investigação do problema proposto foi pautada pelos seguintes
objetivos e hipóteses.
1. Objetivo Geral:
Identificar relações entre o ambiente familiar e o desempenho de crianças
com epilepsia rolândica em tarefas que avaliam as funções executivas - controle
inibitório, flexibilidade cognitiva e memória operacional.
2. Objetivos Específicos:
(1) Comparar o desempenho neuropsicológico em funções executivas de
crianças com ER ao das crianças sem doenças crônicas.
(2) Comparar as relações entre ambiente familiar e funções executivas
(controle inibitório, flexibilidade cognitiva e memória operacional) das crianças
com ER e das crianças sem doenças crônicas.
(3) Verificar relações entre as variáveis localização do foco epiléptico,
frequência de crises, idade de início das crises, duração da epilepsia e uso de
medicações antiepilépticas e o desempenho nas tarefas de controle inibitório,
flexibilidade cognitiva e memória operacional.
84
3. Hipóteses:
(1) Crianças com ER apresentarão desempenho inferior nas tarefas de
funções executivas quando comparadas às crianças saudáveis.
(2) Crianças com ER atípica apresentarão desempenho inferior nas
tarefas de funções executivas quando comparadas às crianças com ER típica.
(3) Haverá associação positiva entre as funções executivas (controle
inibitório, flexibilidade cognitiva e memória operacional) e a qualidade do
ambiente familiar em todos os grupos, com maior intensidade para o grupo sem
epilepsia.
(4) No grupo de crianças com ER, as funções executivas associar-se-ão
tanto às variáveis relacionadas à doença quanto às variáveis do ambiente familiar.
MÉTODO E RESULTADOS
O presente projeto trata-se de um estudo transversal, observacional-
analítico do tipo correlacional e comparativo. Os detalhes relativos ao método de
investigação e os resultados são apresentados no formato de estudos empíricos.
No estudo 1, são apresentados os resultados e discussão referentes às duas
primeiras hipóteses. No estudo 2, constam os resultados relativos às hipóteses 3 e
4, bem como a discussão dos mesmos.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
Universitário Professor Edgard Santos – UFBA, Número do Parecer: 1.259.032
(Anexo A).
85
ESTUDO EMPÍRICO 1: FUNÇÕES EXECUTIVAS EM
CRIANÇAS COM EPILEPSIA ROLÂNDICA
Resumo
A epilepsia rolândica (ER) é a forma mais comum de epilepsia na infância, sendo
subdividida por alguns autores entre ER típica e ER atípica. Prejuízos em funções
executivas associados às formas típicas e atípicas de ER são relatados, porém não
de forma consistente. Objetivos: investigar o perfil neuropsicológico das funções
executivas básicas (memória operacional, controle inibitório e flexibilidade
cognitiva) de crianças com epilepsia rolândica, bem como possíveis diferenças no
perfil neuropsicológico das funções executivas de crianças com ER típica e ER
atípica. Método: 24 crianças (11 meninas) com diagnóstico de epilepsia rolândica
(típica, n= 18, ou atípica, n=6) e 33 crianças saudáveis (19 meninas), todas com
idade entre 6 e 13 anos, responderam à avaliação neuropsicológica incluindo
avaliação de inteligência (WASI), memória operacional (subteste Dígitos-WISC
IV e Cubos de Corsi), controle inibitório (TAVIS 4), flexibilidade cognitiva (Teste
dos Cinco Pontos). Seus responsáveis responderam a questionários
sociodemográficos, sobre sintomas de TDAH/TDO (MTA-SNAP-IV) e ao roteiro
de epilepsia (grupo clínico). Testes de hipóteses não-paramétricos (Teste U de
Mann-Whitney e Teste Kruskal-Wallis) foram conduzidos para averiguar
diferenças entre grupos, sendo considerados significantes valores de p≤,05.
Resultados: comparado ao grupo controle, o grupo clínico teve pior desempenho
nos acertos no Cubos de Corsi ordem direta e no total de erros perseverativos do
Teste dos Cinco Pontos, e melhor desempenho no total de desenhos do Teste dos
Cinco Pontos. Comparado ao grupo controle, crianças com ER atípica obtiveram
menor pontuação ponderada no Dígitos ordem inversa, enquanto crianças com ER
típica apresentaram pior desempenho nos acertos no Cubos de Corsi ordem direta,
total de erros perseverativos e percentual de erros perseverativos no Teste dos
Cinco Pontos e melhor desempenho no total de desenhos e desenhos corretos do
Teste dos Cinco Pontos. Crianças do grupo clínico com rastreio positivo para
TDAH/TDO tiveram pior desempenho nas três funções executivas avaliadas.
Conclusão: Foram observados prejuízos pontuais em funções executivas em
crianças com epilepsia rolândica, principalmente em associação a disfunções
86
atencionais e problemas de comportamento. Estudos com amostras maiores são
necessários.
Palavras-chave: funções executivas, epilepsia rolândica típica, epilepsia
rolândica atípica
Introdução
A epilepsia rolândica (ER) típica é a síndrome epiléptica mais frequente
na infância. Ela corresponde a 24% de todos os casos de epilepsias em crianças
entre cinco e quatorze anos, e a 16,5% em crianças abaixo de quinze anos (Miziara
& Manreza, 2002). Em geral, a idade de início das crises é entre três e treze anos
de idade (com pico entre sete e oito anos), sendo clinicamente caracterizadas por
serem crises focais, com espasmos rápidos motores e hemifaciais, normalmente
durante o sono, podendo ser acompanhados por sintomas sensoriais (Neri, 2012;
Miziara & Manreza, 2002). O eletroencefalograma das crianças acometidas por
este tipo de epilepsia é caracterizado por pontas agudas de alta amplitude em
regiões centro-temporais (rolândicas), muitas vezes seguidas por ondas lentas
ativadas pelo sono, que tendem a trocar de um lado a outro ou a se espalharem.
Formas atípicas de ER também são consistentemente relatadas na literatura
(Fejerman, 2009; Gobbi et al., 2006; Guerrini & Pellacani, 2012; Massa et al.,
2001). Alguns estudiosos supõem que as formas típica e atípicas ER constituem
um espectro de epilepsias centrotemporais da infância que compartilham um
mesmo mecanismo de base (Fejerman, 2009; Gobbi et al., 2006). Características
como idade-dependência, EEG com pontas agudas ativadas pelo sono e
hipersincronização indo até status epilepticus no sono sustentam o agrupamento
destas epilepsias (Gobbi et al., 2006)
Fejerman (2009) propõe que as formas atípicas de ER podem ser
divididas entre a) características atípicas das crises ou dos EEGs; b) evolução
atípica. As características atípicas incluem crises apenas durante o dia, pos-ictal
com paralisia de TODD, crises prolongadas, status epilepticus, EEG com pontas
de morfologia ou localização atípicas, descargas de ponta-onda similiares a
ausências ou alteração na atividade elétrica cerebral de base. No caso da segunda
classificação, os pacientes desenvolvem um padrão eletroencefalográfico com
87
pontas-ondas contínuas durante o sono, aparentemente como um tipo de
sincronização secundária bilateral, cujas causas ainda não foram completamente
compreendidas, mas que em alguns casos parecem ser desencadeadas pelo uso de
medicações antiepilépticas como carbamazepina, ácido valpróico e fenobarbital
(Corda et al., 2001; Fejerman, 2009). Incluem-se no grupo de evolução atípica as
síndromes ER atípica, status epilepticus da ER, Landau-Kleffner e ponta-onda
contínua do sono (POCS) (Fejerman, 2009).
De forma ampla, as funções executivas (FE) referem-se a um conjunto
de habilidades cognitivas que permite aos seres humanos direcionar seu
comportamento a metas, estabelecer etapas para alcançá-las, monitorar e
modificar a execução destas etapas a fim de resolver problemas imediatos e
futuros (Malloy-Diniz.et al, 2014). De acordo com o modelo organizado por
Diamond (2013), as funções executivas têm um desenvolvimento piramidal desde
a infância até o início da idade adulta, estando as funções de controle inibitório,
memória operacional e flexibilidade cognitiva na base da pirâmide. Em sua
revisão, Diamond (2013) demonstra que o campo de estudo das funções
executivas apresenta algumas sobreposições teóricas, principalmente em relação
ao conceito de atenção e emoções. Anatômica e funcionalmente, as FE dependem
da integração de diversas regiões cerebrais, corticais e subcorticais, ainda que
especial atenção seja dada ao córtex pré-frontal (Bradshaw, 2001; Jurado &
Roselli, 2007; Leh et al., 2010).
Na ER típica, prejuízos leves em diversos domínios, como atenção,
memória, funções executivas, coordenação motora e linguagem, são relatados,
ainda que a inteligência apresente-se dentro do esperado na maioria dos casos
(Neri et al., 2012; Riva et al., 2007; Gündüz, Demirbilek, & Korkmaz, 1999). Via
de regra, apresentações atípicas tendem a cursar com maior comprometimento
cognitivo e comportamental como um todo, inclusive em funções executivas
(Ciumas et al., 2014; Kanemura et al., 2011; Metz-Lutz & Filippini, 2006;
Pesántez-Ríos et al., 2015). Problemas de comportamento como Transtorno de
Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) têm maior prevalência em pacientes
com ER do que em controles de mesmo sexo e idade, tendo sido observado
alterações no funcionamento das redes atencionais ventral e dorsal em crianças
com ER (Xiao et al., 2015) A ausência de déficits cognitivos em parte dos
88
pacientes, tanto típicos quanto atípicos, contudo, suscita questionamentos sobre o
perfil neuropsicológico das crianças acometidas.
O presente trabalho, portanto, teve por objetivos investigar o perfil
neuropsicológico das funções executivas básicas de crianças com epilepsia
rolândica, bem como possíveis diferenças no perfil neuropsicológico das funções
executivas de crianças com ER típica e ER atípica. Foram consideradas as
seguintes hipóteses: 1) crianças com ER apresentarão desempenho inferior nas
tarefas de funções executivas quando comparadas às crianças saudáveis; 2)
crianças com ER atípica apresentarão desempenho inferior nas tarefas de funções
executivas quando comparadas às crianças com ER típica. Tendo em vista a
comorbidade com problemas de comportamento e possível efeito destes sobre o
funcionamento executivo, comparações entre grupos de ER com sintomas de
TDAH/Transtorno Desafiador Opositor (TDO) e ER sem sintomas de
TDAH/TDO também foram conduzidas.
Método
Participantes e coleta de dados
Foi realizada amostragem por conveniência no ambulatório de Epilepsia
Infantil e no Serviço de Eletroencefalografia (EEG) do Hospital Universitário
Professor Edgard Santos (Complexo HUPES), da Universidade Federal da Bahia,
além de consultórios particulares para a composição dos grupos clínicos. Além da
criança que respondeu aos testes, também respondeu a questionários o responsável
que a acompanhou na avaliação, conforme descrição a seguir.
Os critérios de inclusão para este grupo foram: ter atividade
encefalográfica de base normal com pontas na região centro-temporal e ser
residente na Bahia. Critérios de exclusão: episódio de crise no dia da coleta e/ou
que antecedeu a coleta, ter outra doença crônica, atraso no desenvolvimento
neuropsicomotor, transtorno psiquiátrico (exceto TDAH e TDO), alteração em
exame de neuroimagem, suspeita de deficiência intelectual (QI máximo estimado
< 70).
A classificação do tipo de epilepsia seguiu critérios
eletroencefalográficos e clínicos:
89
ER típica: EEG com atividade de base normal, com pontas centro-
temporais mais ativas no sono, sem alentecimento do traçado em mais de um
registro e sem descargas em mais de 80% do traçado (padrão POCS). Associado
a este padrão de EEG, crises apenas motoras e sensitivas, predominantes no sono
e de fácil controle.
ER atípica: 1) sem POCS: EEG com atividade de base normal, com
pontas centro-temporais, com alentecimento do traçado em mais de um registro,
sem descargas em mais de 80% do traçado (padrão POCS). Além de crises
motoras e sensitivas, crises de ausência e mioclonias negativas – associadas ou
não ao padrão de EEG; 2) com POCS: EEG com atividade de base normal, com
pontas centro-temporais, com alentecimento do traçado em mais de um registro,
com descargas em mais de 80% do traçado (padrão POCS). Crises motoras e
sensitivas, crises de ausência e mioclonias negativas, associadas ao padrão de
EEG; 3) padrões de EEG supracitados associados a crises de difícil controle,
apresentando piora com medicação utilizando canais de sódio, apresentando
manifestações pós-crítica com disartria, paralisia de Todd e outros tipos de crise
não típicas.
Os EEGs e aspectos clínicos foram avaliados por uma neurologista
especialista em eletroencefalografia, a qual estabeleceu o diagnóstico para cada
criança do grupo clínico. Na tabela 1 é possível encontrar um resumo clínico de
cada participante do grupo de crianças com epilepsia. As crianças deste grupo
foram avaliadas em um consultório ou em domicílio (quando os responsáveis não
podiam se deslocar para o atendimento).
Para composição do grupo comparação, também foi realizada
amostragem por conveniência em escolas públicas e particulares da Bahia.
Participaram crianças e responsáveis. Critérios de inclusão: não apresentar
epilepsia. Foram critérios de exclusão: presença de doença crônica, atraso no
desenvolvimento neuropsicomotor, transtorno psiquiátrico, suspeita de
deficiência intelectual (QI máximo estimado < 70). As crianças deste grupo foram
avaliadas em uma sala disponibilizada pelas escolas ou em domicílio (quando não
havia sala disponível).
Todos os participantes responderam aos mesmos instrumentos (exceto
pelo Roteiro de Epilepsia, destinado apenas ao grupo clínico), em uma sessão de
cerca de 1:30 hora de duração. Antes da coleta dos dados, os responsáveis
90
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo B) e as crianças
assinaram o Termo de Assentimento do Menor (Anexo C).
Tabela 1 - Caracterização clínica, QI e classificação do tipo de epilepsia dos participantes do grupo
clínico
Cas
o
Sex
o
Idad
e (m
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Idad
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a
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QIe
²
(min
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)
Cla
ssif
icaç
ão
ER
³
1
F 100 85 1 1 a 2 anos VPA 0 F sem
predominância
127
(117-132) Típ.
2
F 122 100 5 a 10 1 a 2 anos OXC 0 F predominância
à direita 102
(94-109)
Típ.
3
F 129 99 2 a 5 > 2 anos CBZ 0 F sem
predominância 73
(68-83)
Típ.
4
F 109 72 5 a 10 6 meses a
1 ano TPM 0 F
predominância à direita
76 (70-86)
Típ.
5
F 150 72 5 a 10 > 2 anos OXC. 1 F predominância
à direita 102
(94-109)
Típ.
6
F 104 72 10 a 15 6 meses a
1 ano OXC 0 F
sem
predominância
93
(86-101)
Típ.
7
F 124 84 15 a 20 < 6 meses OXC 0 G sem
predominância
118
(109-124)
Típ.
8
M 137 133 1 < 6 meses OXC 0 F lateralizada à
esquerda
116
(107-122)
Típ.
9
M 83 48 2 a 5 > 2 anos CBZ 0 F predominância
à esquerda
94
(87-102)
Típ.
10
M 155 131 2 a 5 Nenhu
ma 0 F
sem
predominância
118
(109-124)
Típ.
11
M 111 12 5 a 10 6 meses a
1 ano CBZ 0 F
sem
predominância
89
(82-98)
Típ.
12
M 157 96 2 a 5 > 2 anos VPA 0
F sem
predominância
95
(88-103)
Típ.
91
13
M 119 8 2 a 5 < 6 meses CBZ 0
F sem
predominância
67
(62-77)
Típ. 1
4
M 137 96 15 a 20 não
controlado
VPA
CBZ 1
F lateralizada à
direita
77
(71-86)
Típ.
15
M 121 112 10 a 15 não
controlado OXC 1
F predominância
à direita
102
(94-109)
Típ.
16
M 99 24 10 a 15 > 2 anos OXC 0
F predominância
à esquerda
118
(109-124)
Típ.
17
M 80 24 15 a 20 6 meses a
1 ano VPA 1
F sem
predominância
87
(80-96)
Típ.
18
M 136 96 15 a 20 < 6 meses CBZ. 0
F predominância
à direita
86
(79-95)
Típ.
19
F 142 60 5 a 10 1 a 2 anos VPA 3 F sem
predominância 94
(87-102) Atíp.
20
F 115 72 15 a 20 < 6 meses CLB 2 F lateralizada a
direita 128
(118-133) Atíp.
21
F 128 72 5 a 10 1 a 2 anos CLB 2 F POCS à esquerda
110 (102-117)
Atíp.P
22
F 96 48 > 40 > 2 anos VPA 1 G POCS bilateral 73
(68-83)
Atíp.P
23
M 149 72 > 40 > 2 anos VPA
CLB - G -
67
(62-77)
Atíp.P
24
M 120 20 > 40 não
controlado
VPA
CLB 1
predominância
à esquerda
85
(79-94)
Atíp.P
¹ VPA.= ácido valpróico; CLB.= clobazam; CBZ. = carbamazepina; OXC= oxcarbazepina; TPM= topiramato
² QIe=quociente de inteligência estimado
³ Típ.= ER típica; Atíp. = ER atípica; Atíp.P= ER atípica com POCS
Instrumentos
Avaliação Neuropsicológica:
Escala Weschler Abreviada de Inteligência – WASI (Wechsler,
2014): Trata-se de uma medida breve e confiável de inteligência, adaptada e
normatizada para o contexto brasileiro, que pode ser utilizada com indivíduos
entre 6 e 89 anos de idade. A aplicação de seus quatro subtestes (Vocabulário,
92
Semelhanças, Cubos e Raciocínio Matricial) demanda cerca de 30 minutos e
fornece os escores de QI Total, QI Verbal e QI de Execução. Para contextos em
que há maior restrição de tempo, a WASI permite estimar o QI Total a partir da
aplicação de apenas dois subtestes (Vocabulário e Raciocínio Matricial), levando
cerca de 15 minutos. Foi utilizada a versão com dois subtestes, sendo calculado o
valor de QI estimado total e respectivo QI mínimo e QI máximo no WISC-IV para
intervalo de confiança de 95%.
Teste de Atenção Visual - TAVIS-4 (Duchesne & Mattos, 1997):
Trata-se de um instrumento computadorizado destinado a avaliação de problemas
relacionados à atenção, em indivíduos entre 6 e 17 anos de idade. Consiste em três
tarefas que avaliam, separadamente, atenção seletiva (responder seletivamente a
um estímulo-alvo em meio a estímulos-distratores), atenção alternada (responder
alternadamente de acordo com dois parâmetros – igual e diferente) e atenção
sustentada (manter-se atento à tela do computador por um período de 6 minutos,
respondendo rapidamente quando aparece um estímulo). São fornecidos
resultados, para cada tarefa, do tempo médio de resposta, escore dos erros por ação
e escore dos erros por omissão. Para a avaliação do controle inibitório serão
utilizados os escores de erro por ação da tarefa de atenção seletiva.
Subteste Dígitos da Escala de Inteligência Weschler para Crianças
– IV (WISC-IV) (Wechsler, 2013): Faz parte do WISC-IV, um instrumento
normatizado para a população brasileira e composto por 15 subtestes, que
fornecem um quociente de inteligência (QI) geral, um QI verbal e em QI de
execução para sujeitos entre 6 e 16 anos. O subteste dígitos, consiste em
sequências numéricas, apresentadas oralmente pelo avaliador, as quais a criança é
solicitada a repetir na mesma ordem (no Dígitos Ordem Direta) e, na ordem
inversa (Dígitos Ordem Inversa). Este subteste é amplamente utilizado como
medida da memória de curto-prazo e memória operacional – respectivamente, a
capacidade de reter informações verbais por um curto espaço de tempo (Ordem
Direta) e de manipulá-las mentalmente (Ordem Inversa) (Figueiredo &
Nascimento, 2007). Foram calculadas: 1) span ordem direta; 2) pontuação bruta
ordem direta; 3) pontuação ponderada ordem direta; 4) span ordem inversa; 5)
pontuação bruta ordem inversa; 6) pontuação ponderada ordem inversa.
Cubos de Corsi (Kessels, van Zandvoort, Postma, Kappelle, & de
Haan, 2000): trata-se de uma tarefa amplamente utilizada para avaliar o
93
componente visoespacial da memória de curto prazo e da memória operacional de
crianças desde a idade pré-escolar. Ela segue a mesma lógica do subteste Dígitos,
consistindo em sequências de toques em cubos, que devem ser reproduzidos na
Ordem Direta e na Ordem Inversa. Foram calculadas: 1) span ordem direta; 2)
acertos ordem direta; 3) span x acertos ordem direta; 4) span ordem inversa; 5)
acertos ordem inversa; 6) span x acertos ordem inversa. De acordo com Kessels
et al (2000), a pontuação combinada de span x acertos é mais sensível do que o
span isoladamente – o qual avalia apenas a capacidade máxima de retenção de
informações, variando de 2 a 9 – pois permite uma maior amplitude de pontuação
(de 2 a 144). Ademais, o número de acertos permite observar a consistência das
respostas do indivíduo durante a tarefa.
Teste dos Cinco Pontos (Strauss, Sherman, & Spreen, 2006): Este
teste de fluência em desenho avalia a flexibilidade cognitiva de crianças entre 6 e
13 anos, exigindo que o participante crie o maior número de desenhos inéditos
possíveis num tempo limitado. Na tarefa, o sujeito é solicitado a criar desenhos
diferentes em cada quadrado com cinco pontos (de uma matriz de 5x8),
conectando os pontos apenas com linhas retas, sem se repetir, dentro de cinco
minutos. Foram calculados: 1) total de desenhos; 2) desenhos corretos (inéditos);
3) total de erros perseverativos; 4) porcentagem de erros perseverativos (calculado
por: [total de erros perseverativos/total de desenhos] x 100 ); 5) total de erros não-
perseverativos; 6) porcentagem de erros não-perseverativos (calculado por: [total
de erros não-perseverativos/total de desenhos] x 100 ).
Entrevista com responsáveis
Questionário Socioambiental (Abreu & Engel, n.d.): este
questionário inclui questões sobre o ambiente familiar, o desenvolvimento infantil
e o Critério de Classificação Econômica Brasil – 2015. O Critério de Classificação
Econômica Brasil é instrumento construído pela Associação Brasileira de
Empresas de Pesquisa (ABEP) para estimar o poder de compra das pessoas e
famílias urbanas. Sua pontuação permite a classificação em classes econômicas,
subdivididas em seis níveis (A; B1; B2; C1; C2; D-E) (ABEP, 2014). (Anexo D)
MTA-SNAP-IV (Mattos, Serra-Pinheiro, Rohde, & Pinto, 2006):
trata-se de uma escala de domínio público para rastreio de sintomas do Transtorno
do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) e do Transtorno Desafiador e de
Oposição (TDO) de acordo com o DSM-IV, tendo em vista a alta comorbidade
94
entre tais transtornos. O questionário constitui-se de 26 itens que correspondem
aos sintomas do critério A para TDAH (nove itens para desatenção, seis para
hiperatividade e três para impulsividade), e dos sintomas de TDO (oito itens sobre
comportamento hostil e desafiador) (Mattos et al., 2006). Cabe ao respondente
assinalar, numa escala de quatro pontos (1- “nem um pouco”, 2- “só um pouco”,
3- “bastante”, 4-“demais”), a intensidade de cada um dos sintomas na criança
quando comparada a pares da mesma idade. Este instrumento foi adaptado para a
população brasileira e pode ser respondido por pais ou professores. Com base no
estudo de Coutinho, Mattos, Schmitz, Fortes, & Borges (2009), os pais possuem
maior acurácia do que os professores na detecção dos sintomas listados na MTA-
SNAP-IV. (Anexo E)
Roteiro sobre Epilepsia: neste roteiro, elaborado para esta pesquisa,
constam questões sobre a idade de início das crises, total e características das
crises (tipo e horário de ocorrência), data da última crise, uso de medicação (atuais
e anteriores) e atividade eletroencefalográfica (em prontuário). (Anexo F)
Análise dos dados
Todas as variáveis foram submetidas a análises exploratórias que
permitiram identificar valores atípicos (outliers), além de averiguar a distribuição
dos dados. Os valores atípicos foram excluídos ou ajustados (somando-se ou
subtraindo-se uma unidade, respectivamente, dos limites internos superior ou
inferior). Foram consideradas com distribuição normal as variáveis que
apresentaram valor p>.05 no teste de normalidade Shapiro Wilk e valor-z de
assimetria e curtose entre -1,96 e 1,96.
A exploração dos dados e análises de estatística descritiva e inferencial
foram conduzidas com auxílio do software IBM SPSS Statistics 20. Tendo em
vista que a maioria das variáveis apresentou distribuição distinta da normal, foram
conduzidos testes de hipóteses não-paramétricos (Teste U de Mann-Whitney, para
dois grupos, Teste Kruskal-Wallis, para mais de dois grupos) para averiguar
diferenças no perfil dos grupos. Considerou-se estatisticamente significantes os
resultados associados a valor de p 0,05. O tamanho de efeito das diferenças entre
grupos foi calculado para as variáveis que apresentaram p0,05. O tamanho de
95
efeito foi estimado através da fórmula 𝑟 =𝑍
√𝑛 , onde z corresponde ao escore-z
dado pelo SPSS e n à amostra da qual o z foi calculado (Field, 2005).
Resultados
A amostra final foi composta por 57 crianças (20 do sexo feminino), com
idades entre 72 e 164 meses (M=116,75, dp=25,21). O grupo clínico incluiu 24
crianças (11 do sexo feminino) com diagnóstico de epilepsia rolândica (típica, n=
18, ou atípica, n=6), idade média de 121,79 meses (dp=21,48) e QI estimado
médio de 95,71 (dp=18,66). O grupo controle, por sua vez, contou com 33 crianças
(19 do sexo feminino), idade média de 113,09 meses (dp=27,34) e QI estimado
médio de 97,18 (dp=18,62).
Tabela 2 - Perfil sociodemográfico dos grupos clínico e controle e diferença entre grupos
Grupo clínico
Grupo controle
N (%)
Média
(desvio
padrão)
Mediana
(intervalo
interquartil)
N (%)
Média
(desvio
padrão)
Mediana
(intervalo
interquartil)
U (z)* p-
value
Idade
(em meses)
24
(100)
121,79
(21,48)
121,5
(31,7) 33
(100)
113,09
(27,34)
111
(44,5)
311,5
(-1,37) 0,175
QI estimado 24
(100) 95,71
(18,66) 94
(35,5) 33
(100) 97,18
(18,62) 96
(31) 386
(-0,162) 0,876
Renda 22
(91,7)
6.859,55
(6.485,71)
3.470,00
(8.275,00) 32
(97)
4.847,06
(5419,37)
2.000,00
(6867,5)
261,5
(-1,595) 0,111
Classificação
econômica
Pontuação
total
23
(95,8)
33,78
(13,51)
31
(22) 32
(97)
32,34
(18,36)
23,5
(32)
317
(-0,871) 0,389
A 7 (29,2)
9 (27,3)
B1 1 (4,2)
2 (6,1)
B2 6 (25)
3 (9,1)
C1 4(16,7)
3 (9,1)
C2 4(16,7)
9 (27,3)
D-E 1(4,2)
6 (18,2)
Sexo
Feminino 11
(45,8)
19 (57,6)
96
Masculino 13
(54,2)
14
(42,4)
*Teste U de Mann-Whitney
Os grupos clínico e controle (Tabela 2) não apresentaram diferenças
significativas em idade (U=311,5; p>,05), QI estimado (U=386; p>,05), na
pontuação no Critério de Classificação Econômica Brasil-2015 (U=317; p>,05) e
em renda (U=189,5; p>,05). Quando subdivididos (Tabela 3), os grupos controle,
ER típica e ER atípica também não apresentaram diferenças em relação à idade
(H(2)= 1,962; p>,05), QI (H(2)= 0,349; p>,05), pontuação no Critério de
Classificação Econômica Brasil – 2015 (H(2)= 0,948; p>,05) e renda (H(2)=
5,209; p>,05).
Tabela 3 - Perfil sociodemográfico dos grupos ER típica e ER atípica
ER típica
ER atípica
N (%)
Média
(desvio padrão)
Mediana
(intervalo interquartil)
N (%)
Média
(desvio padrão)
Mediana
(intervalo interquartil)
H (gl)* p-
value
Idade
(em meses)
18
(100)
120,72
(22,61)
121,5
(34) 6
(100)
125,0
(19,18)
124,0
(33,5) 1,962 (2) 0,375
QI estimado 18
(100)
96,67
(17,64)
94,5
(32,75)
6 (100) 92,83
(23,04)
89,5
(43) 0,349 (2) 0,84
Renda 17
(94,4) 5.527,59
(6.184,71) 2.700,00
(7.000,00) 5
(83,3) 11.388,20 (8.308,25)
10.000,00 (16.530,50)
5,209 (2) 0,74
Classificação
econômica
Pontuação
total
17
(94,4)
32,88
(14,03)
29
(24) 6
(100)
36,33
(12,75)
35
(24) 0,948 (2) 0,623
A 5 (27,8)
2 (33,3)
B1 0 (0)
1 (16,7)
B2 4 (22,2)
2 (33,3)
C1 4 (22,2)
0 (0)
C2 3 (16,7)
1 (16,7)
D-E 1 (5,6)
0 (0)
Sexo
97
Feminino 7
(39,8)
4
(66,7)
Masculino 11
(61,1)
2 (33,3)
*Teste de Kruskal-Wallis para diferença entre os grupos de ER típica, ER atípica e controle
Em relação ao sexo, os participantes da amostra total diferiram apenas
quanto ao número de erros por ação na tarefa 3 do TAVIS (U=241; r=-0,31;
p=,022), na qual meninos (Md=1; intervalo interquartil=6,5) cometeram mais
erros do que meninas (Md=0; intervalo interquartil =1,5). Divididos em grupos
clínico e controle, apenas os participantes do grupo clínico diferiram quanto ao
número de desenhos corretos no Teste dos Cinco Pontos, no qual meninas
(Md=29; intervalo interquartil=7) apresentaram mais acertos do que meninos
(Md=21; intervalo interquartil=18). Sendo assim, todas as análises foram
realizadas considerando homogeneidade no perfil sociodemográfico da amostra.
A fim de testar a hipótese da existência de diferença no desempenho em
tarefas de funções executivas entre os grupos com e sem epilepsia, foi conduzido
teste de hipótese não-paramétrico (Teste U de Mann-Whitney) para amostras
independentes (tabelas 4 a 6). Os grupos apresentaram diferenças significativas
nas seguintes medidas: pontuação de acertos do Cubos de Corsi ordem direta (U=
264,5; r=-0,27; p<,05), no total de desenhos do Teste dos Cinco Pontos (U=225,5;
r=-0,35; p<,05) e no total de erros perseverativos do Teste de Cinco Pontos
(U=197,5; r=-0,36; p<,05), os quais apresentaram tamanho de efeito ( r) pequeno.
A pontuação de acertos do Cubos de Corsi foi inferior no grupo clínico (Md=6;
intervalo interquartil=1,75) do que no grupo controle (Md=7; intervalo
interquartil=2). Resultado oposto foi obtido no total de desenhos do Teste dos
Cinco Pontos - grupo clínico (Md=33; intervalo interquartil= 12,5); grupo controle
(Md=26; intervalo interquartil= 19,75). Quanto ao total de erros perseverativos no
Teste dos Cinco Pontos, o grupo clínico (Md=3; intervalo interquartil= 5)
apresentou mediana superior ao grupo controle (Md=2; intervalo interquartil=
2,5).
Apesar de não significativa, foi observada também uma tendência à
diferença nos erros de ação da tarefa 3 do TAVIS (U=262,5; p=0,067), tendo o
grupo clínico (Md=1; intervalo interquartil=5,57) apresentado tendência a maior
98
número de erros do que grupo controle (Md=0; intervalo interquartil=2,25). Vale
notar que, em relação aos tempos de resposta nas tarefas do TAVIS, foi observado
um efeito solo, com mais de 40% das crianças do grupo clínico (45,8%) e controle
(48,5%) classificadas entre os percentis 2 a 9 do teste – a diferença na classificação
não foi significativa. Grupos clínico e controle não apresentaram diferenças
significativas nas subescalas de desatenção (p>,05), hiperatividade/impulsividade
(p>,05) e hostilidade/desafio (p>,05) da MTA-SNAP-IV.
Tabela 4 - Diferenças entre grupos clínico e controle nas medidas de memória operacional verbal e
visuoespacial.
Grupo clínico
Grupo controle
N (%) Média (desvio
padrão)
Mediana (intervalo
interquartil)
N (%)
Média (desvio
padrão)
Mediana (intervalo
interquartil)
U (z)* p-value
Dígitos – OD
Span 24
(100)
4,58
(0,88)
5
(1) 31
(93,9)
4,48
(0,68)
4
(1)
348
(-0,446) 0,655
Pontuação
bruta
24
(100)
6,46
(1,69)
6,5
(2,75) 32
(97)
6,04
(1,37)
6
(2,5)
370
(-0,237) 0,812
Pontuação
ponderada
24
(100)
8
(2,81)
7,5
(3) 32
(97)
8,72
(1,89)
9
(3)
325,5 (-
0,979)
0,328
Dígitos – OI
Span 24
(100) 3,17
(1,27) 3
(2) 31
(93,9) 3,35
(0,91) 3
(1) 338
(-0,605) 0,545
Pontuação
bruta
24
(100)
5,58
(2,15)
6
(3) 31
(93,9)
5,94
(1,77)
6
(2)
341
(-0,533) 0,594
Pontuação
ponderada
24
(100)
9,04
(3,1)
9
(4,75) 32
(97)
10,5
(2,75)
10,5
(4,75)
284
(-1,666) 0,096
Cubos de
Corsi – OD
Span 24
(100) 4,58
(0,97) 5
(1) 30
(90,9) 4,9
(0,71) 5
(1) 297
(-1,176) 0,239
Acertos 24
(100)
6,33
(1,93)
6
(1,75) 32
(97)
7,84
(1,55)
7
(2)
264,5
(-2,021) 0,043**
Span x
Acertos
24
(100)
29,92
(13,97)
27
(14) 31
(93,9)
34,32
(12,43)
35
(16)
289,5
(-1,424) 0,155
Cubos de
Corsi – OI
99
Span 24
(100)
4,79
(1,67)
5
(2) 33
(100)
4,58
(1,64)
5
(3)
370
(-0,436) 0,663
Acertos 24
(100) 5,92 (2,8)
6 (3,75)
33 (100)
6,36 (2,86)
7 (4,5)
353 (-0,7)
0,484
Span x
Acertos
24
(100)
32,67
(21,34)
30
(31) 33
(100)
33,48
(20,91) 35 (39)
382
(-0,227) 0,82
*Teste U de Mann-Whitney
**P<,05
Tabela 5 - Diferenças entre grupos clínico e controle nas medidas de controle inibitório e atenção
Grupo clínico
Grupo controle
N (%)
Média
(desvio padrão)
Mediana
(intervalo interquartil)
N (%)
Média
(desvio padrão)
Mediana
(intervalo interquartil)
U (z)* p-value
TAVIS - tarefa
1
Tempo (segundos)
24 (100)
0,56 (0,11)
0,58 (0,14) 32
(97) 0,6
(0,19) 0,6 (0,22)
345,5
(-
0,637)
0,524
Erros de ação 24
(100)
7,17
(6,04) 4,5 (9,75)
30
(90,9) 8,27 (7)
6,5
(8,5)
334 (-
0,454)
0,65
Erros de
omissão
24
(100)
5,13
(6,17)
2
(8,75) 33
(100)
2,55
(2,53) 2 (3,5)
349,5 (-
0,764)
0,445
TAVIS - tarefa
3
Tempo
(segundos)
24
(100)
0,69
(0,23) 0,63 (0,43)
31
(93,9)
0,65
(0,6) 0,67 (0,25)
371
(-0,017)
0,986
Erros de ação 24
(100)
3,63
(5,05)
1
(5,75) 30
(90,9)
1,37
(2,2)
0
(2,25)
262,5
(-1,833)
0,067
Erros de omissão
24 (100)
0,79 (1,38)
0 (1,75)
31 (93,9)
0,23 (0,43)
0 (0)
326,5
(-
1,012)
0,312
*Teste U de Mann-Whitney
100
Tabela 6 - Diferenças entre grupos clínico e controle na medida de flexibilidade cognitiva
Grupo clínico
Grupo controle
N (%)
Média
(desvio padrão)
Mediana
(intervalo interquartil)
N (%)
Média
(desvio padrão)
Mediana
(intervalo interquartil)
U (z)* p-value
Teste dos
Cinco Pontos
Total de
desenhos
24
(100)
34,58
(10,16)
33
(12,5) 32
(97)
26,47
(12,41)
26
(19,75)
225,5
(-
2,626)
0,009**
Desenhos
Corretos
24
(100)
23,08
(21)
24
(21) 32
(97)
17,45
(9,91)
17
(16)
296,5
(-1,61) 0,107
Total erros
perseverativos
24
(100)
4,96
(4,36)
3
(5) 29
(87,9)
2,07
(1,98)
2
(2,5)
197,5
(-2,723)
0,006**
% Erros
perseverativos
24
(100)
13,42
(10,24)
10,36
(18,56) 29
(87,9)
8,03
(6,62)
7,69
(10,78)
249,5
(-1,766)
0,077
Total erros não
perseverativos
24
(100)
7,92
(7,92)
4,5
(13,25) 33
(100)
6,39
(6,17)
3
(8,5)
371
(-0,406)
0,685
% Erros não
perseverativos
24
(100)
24,54
(27,22)
11,44
(37,02) 32
(97)
27,04
(26,38)
20,63
(32,02)
355
(-0,48) 0,631
*Teste U de Mann-Whitney
**p<,01
Para testar a segunda hipótese do estudo, o grupo clínico foi dividido em
ER típica (n=18) e ER atípica (n=6) e comparado ao grupo controle (n=33) quanto
às medidas cognitivas através do Teste U de Mann-Whitney para cada par possível
entre os grupos de interesse (controle X ER típica; controle X ER atípica; ER
típica X ER atípica). Os resultados de cada par estão apresentados nas tabelas 7 a
15, de acordo com as funções avaliadas. Comparações das subescalas do MTA-
SNAP-IV não foram conduzidas com grupo de ER atípica devido à amostra com
dados válidos demasiadamente pequena (n=3). Os grupos de ER típica e controle
não diferiram quanto à pontuação em desatenção (p>,05),
hiperatividade/impulsividade (p>,05) e hostilidade/desafio (p>,05).
101
Tabela 7 - Diferenças entre grupos ER típica e controle nas medidas de memória operacional verbal e
visuoespacial.
Grupo ER típica
Grupo controle
N (%) Média (desvio
padrão)
Mediana (intervalo
interquartil)
N (%)
Média (desvio
padrão)
Mediana (intervalo
interquartil)
U (z)* p-value
Dígitos – OD
Span 18
(100)
4,56
(0,98)
4,5
(1) 31
(93,9)
4,48
(0,68)
4
(1)
272
(-0,159) 0,874
Pontuação
bruta
18
(100)
6,39
(1,61)
6
(3) 32
(97)
6,04
(1,37)
6
(2,5)
272
(-0,332) 0,74
Pontuação
ponderada
18
(100)
8,11
(2,63)
7,5
(3,25) 32
(97)
8,72
(1,89)
9
(3)
249 (-
0,796)
0,426
Dígitos – OI
Span 18
(100)
3,39
(1,2)
3
(2) 31
(93,9)
3,35
(0,91)
3
(1)
276,5
(-0,054) 0,957
Pontuação
bruta
18
(100)
5,94
(1,89)
6
(3,25) 31
(93,9)
5,94
(1,77)
6
(2)
278
(-0,021) 0,983
Pontuação
ponderada
18
(100)
9,72
(2,67)
9,5
(5) 32
(97)
10,5
(2,75)
10,5
(4,75)
244,5
(-0,885) 0,376
Cubos de
Corsi – OD
Span 18
(100) 4,5
(0,92) 4,5 (1)
30 (90,9)
4,9 (0,71)
5 (1)
205,5 (-1,485)
0,137
Acertos 18
(100)
6,28
(1,67)
6
(1,25) 32
(97)
7,84
(1,55)
7
(2)
184,5
(-2,144) 0,032**
Span x
Acertos
18
(100)
29,11
(12,22)
27
(12) 31
(93,9)
34,32
(12,43)
35
(16)
204,5
(-1,547) 0,115
Cubos de
Corsi – OI
Span 18
(100)
4,78
(1,73)
5
(2,25) 33
(100)
4,58
(1,64)
5
(3)
280
(-0,346) 0,729
Acertos 18
(100) 5,94 (2,9)
6 (4,25)
33 (100)
6,36 (2,86)
7 (4,5)
269,5 (-0,546)
0,585
Span x
Acertos
18
(100)
33
(22,67)
30
(34,5) 33
(100)
33,48
(20,91) 35 (39)
288,5
(-0,168) 0,866
*Teste U de Mann-Whitney
**P<,05
102
Tabela 8 - Diferenças entre grupos ER atípica e controle nas medidas de memória operacional verbal
e visuoespacial.
Grupo ER atípica
Grupo controle
N (%) Média (desvio
padrão)
Mediana (intervalo
interquartil)
N (%)
Média (desvio
padrão)
Mediana (intervalo
interquartil)
U (z)* p-value
Dígitos – OD
Span 6
(100)
4,67
(0,52)
5
(1) 31
(93,9)
4,48
(0,68)
4
(1)
76
(-0,781) 0,506
Pontuação
bruta
6
(100)
6,67
(2,1)
7
(3) 32
(97)
6,04
(1,37)
6
(2,5)
94
(-0,082) 0,953
Pontuação
ponderada
6
(100)
7,67
(3,56)
7,5
(4,25) 32
(97)
8,72
(1,89)
9
(3)
76,5 (-
0,788)
0,445
Dígitos – OI
Span 6
(100)
2,5
(1,38)
3
(1,75) 31
(93,9)
3,35
(0,91)
3
(1)
61,5
(-1,381) 0,2
Pontuação
bruta
6
(100)
4,5
(2,67)
4,5
(3,5) 31
(93,9)
5,94
(1,77)
6
(2)
61
(-1,339) 0,2
Pontuação
ponderada
6
(100)
7
(3,63)
7
(5) 32
(97)
10,5
(2,75)
10,5
(4,75)
39,5
(-2,275) 0,021**
Cubos de
Corsi – OD
Span 6
(100) 4,83
(1,17) 5
(2,25) 30
(90,9) 4,9
(0,71) 5
(1) 88,5
(-0,069) 0,951
Acertos 6
(100)
6,5
(2,74)
6,5
(5,5) 32
(97)
7,84
(1,55)
7
(2)
80
(-0,653) 0,544
Span x
Acertos
6
(100)
32,33
(19,52)
29,5
(37,75) 31
(93,9)
34,32
(12,43)
35
(16)
85
(-0,335) 0,763
Cubos de
Corsi – OI
Span 6
(100)
4,83
(1,6)
5,5
(2,5) 33
(100)
4,58
(1,64)
5
(3)
90
(-0,363) 0,747
Acertos 6
(100) 5,83
(2,71) 6,5
(3,5) 33
(100) 6,36
(2,86) 7
(4,5) 83,5
(-0,543) 0,556
Span x
Acertos
6
(100)
31,67
(18,61)
36
(29,5) 33
(100)
33,48
(20,91) 35 (39)
93,5
(-0,215) 0,835
*Teste U de Mann-Whitney
**P<,05
103
Tabela 9 - Diferenças entre grupos ER típica e ER atípica nas medidas de memória operacional verbal
e visuoespacial.
Grupo ER típica
Grupo ER atípica
N (%) Média (desvio
padrão)
Mediana (intervalo
interquartil)
N (%)
Média (desvio
padrão)
Mediana (intervalo
interquartil)
U (z)* p-value
Dígitos – OD
Span 18
(100)
4,56
(0,98)
4,5
(1) 6
(100)
4,67
(0,52)
5
(1)
47
(-0,506) 0,673
Pontuação
bruta
18
(100)
6,39
(1,61)
6
(3) 6
(100)
6,67
(2,1)
7
(3)
51
(-0,204) 0,871
Pontuação
ponderada
18
(100)
8,11
(2,63)
7,5
(3,25) 6
(100)
7,67
(3,56)
7,5
(4,25)
51 (-
0,203)
0,871
Dígitos – OI
Span 18
(100)
3,39
(1,2)
3
(2) 6
(100)
2,5
(1,38)
3
(1,75)
37,5
(-1,139) 0,28
Pontuação
bruta
18
(100)
5,94
(1,89)
6
(3,25) 6
(100)
4,5
(2,67)
4,5
(3,5)
37
(-1,147) 0,28
Pontuação
ponderada
18
(100)
9,72
(2,67)
9,5
(5) 6
(100)
7
(3,63)
7
(5)
29,5
(-1,651) 0,104
Cubos de
Corsi – OD
Span 18
(100) 4,5
(0,92) 4,5 (1)
6 (100)
4,83 (1,17)
5 (2,25)
43 (-0,777)
0,494
Acertos 18
(100)
6,28
(1,67)
6
(1,25) 6
(100)
6,5
(2,74)
6,5
(5,5)
51
(-0,204) 0,838
Span x
Acertos
18
(100)
29,11
(12,22)
27
(12) 6
(100)
32,33
(19,52)
29,5
(37,75)
50,5
(-0,237) 0,82
Cubos de
Corsi – OI
Span 18
(100)
4,78
(1,73)
5
(2,25) 6
(100)
4,83
(1,6)
5,5
(2,5)
52
(-0,139) 0,923
Acertos 18
(100) 5,94 (2,9)
6 (4,25)
6 (100)
5,83 (2,71)
6,5 (3,5)
53,5 (-0,034)
0,974
Span x
Acertos
18
(100)
33
(22,67)
30
(34,5) 6
(100)
31,67
(18,61)
36
(29,5)
54
(0) 1,0
*Teste U de Mann-Whitney
**P<,05
104
Memória operacional
Nas medidas de memória operacional, foi constatada diferença entre os
grupos ER típica e controle no número de acertos do Cubos de Corsi ordem direta
(U=184,5; r=-0,3; p<,05). Nesta medida, as crianças com ER típica (Md=6;
intervalo interquartil=1,25) apresentaram desempenho inferior às crianças do
grupo controle (Md=7; intervalo interquartil=2). O grupo controle diferiu do
grupo ER atípica na pontuação ponderada do Dígitos ordem inversa (U=39,5; r=-
0,37; p<,05), tendo as crianças do grupo controle (Md= 10,5; intervalo
interquartil= 4,75) apresentado pontuação superior às crianças com ER atípica
(Md=7; intervalo interquartil=5). O tamanho de efeito (z) foi pequeno para todas
as variáveis. O grupo ER típica não diferiu do grupo ER atípica nas medidas de
memória operacional.
Tabela 10 - Diferenças entre grupos ER típica e controle nas medidas de controle inibitório e
atenção
Grupo ER típica
Grupo controle
N (%)
Média
(desvio padrão)
Mediana
(intervalo interquartil)
N (%)
Média
(desvio padrão)
Mediana
(intervalo interquartil)
U (z)* p-value
TAVIS - tarefa
1
Tempo (segundos)
18 (100)
0,57 (0,11)
0,59 (0,08) 32
(97) 0,6
(0,19) 0,6 (0,22)
271,5
(-
0,333)
0,739
Erros de ação 18
(100)
6,22
(5,04) 4,5 (7,75)
30
(90,9) 8,27 (7)
6,5
(8,5)
236,5 (-
0,716)
0,474
Erros de
omissão
18
(100)
5,44
(6,84)
1,5
(12,25) 33
(100)
2,55
(2,53) 2 (3,5)
276,5 (-
0,411)
0,681
TAVIS - tarefa
3
Tempo
(segundos)
18
(100)
0,68
(0,23) 0,63 (0,383)
31
(93,9)
0,65
(0,6) 0,67 (0,25)
274
(-0,104)
0,917
Erros de ação 18
(100)
3,33
(4,63)
1
(5,25) 30
(90,9)
1,37
(2,2)
0
(2,25)
191
(-1,818)
0,069
Erros de omissão
18 (100)
0,72 (1,32)
0 (1,25)
31 (93,9)
0,23 (0,43)
0 (0)
250,5
(-
1,818)
0,432
*Teste U de Mann-Whitney
105
Tabela 11 - Diferenças entre grupos ER atípica e controle nas medidas de controle inibitório e
atenção
Grupo ER atípica
Grupo controle
N (%)
Média
(desvio
padrão)
Mediana
(intervalo
interquartil)
N (%)
Média
(desvio
padrão)
Mediana
(intervalo
interquartil)
U (z)* p-value
TAVIS - tarefa
1
Tempo
(segundos)
6
(100)
0,52
(0,12)
0,51
(0,22) 32
(97)
0,6
(0,19) 0,6 (0,22)
74 (-
0,881)
0,399
Erros de ação 6
(100)
10
(8,29)
9
(16,5) 30
(90,9) 8,27 (7)
6,5
(8,5)
82,5
(-0,319)
0,756
Erros de
omissão
6
(100)
4,17
(3,76)
3,5
(7,5) 33
(100)
2,55
(2,53) 2 (3,5)
73
(-1,03) 0,33
TAVIS - tarefa
3
Tempo (segundos)
6 (100)
0,71 (0,27)
0,67 (0,51)
31 (93,9)
0,65 (0,6)
0,67 (0,25)
87
(-
0,247)
0,825
Erros de ação 6
(100)
4,5
(6,6)
0,5
(13) 30
(90,9)
1,37
(2,2)
0
(2,25)
71,5
(-
0,894)
0,442
Erros de
omissão
6
(100)
1
(1,67)
0
(2,5) 31
(93,9)
0,23
(0,43)
0
(0)
76 (-
0,936)
0,506
*Teste U de Mann-Whitney
Tabela 12 - Diferenças entre grupos ER típica e ER atípica nas medidas de controle inibitório e
atenção
Grupo ER típica
Grupo ER atípica
N (%)
Média
(desvio padrão)
Mediana
(intervalo interquartil)
N (%)
Média
(desvio padrão)
Mediana
(intervalo interquartil)
U (z)* p-value
TAVIS - tarefa
1
Tempo
(segundos)
18
(100)
0,57
(0,11)
0,59
(0,08) 6
(100)
0,52
(0,12)
0,51
(0,22)
42,5 (-
0,767)
0,454
Erros de ação 18
(100) 6,22
(5,04) 4,5
(7,75) 6
(100) 10 (8,29)
9 (16,5)
40 (-0,94)
0,378
106
Erros de omissão
18 (100)
5,44 (6,84)
1,5 (12,25)
6 (100)
4,17 (3,76)
3,5 (7,5)
51
(-
0,203)
0,871
TAVIS - tarefa
3
Tempo
(segundos)
18
(100)
0,68
(0,23)
0,63
(0,383) 6
(100)
0,71
(0,27)
0,67
(0,51)
54
(0) 1,0
Erros de ação 18
(100)
3,33
(4,63)
1
(5,25) 6
(100)
4,5
(6,6)
0,5
(13)
51 (-
0,207)
0,871
Erros de
omissão
18
(100)
0,72
(1,32)
0
(1,25) 6
(100)
1
(1,67)
0
(2,5)
50
(-0,332)
0,82
*Teste U de Mann-Whitney
Controle inibitório e atenção
Nas medidas de controle inibitório e de atenção, não houve diferença
significativa entre nenhum dos pares considerados. No entanto, foi observada uma
tendência à diferença entre os grupos ER típica e controle no número de erros de
ação da tarefa 3 do TAVIS (U=191; p<,069). Nesta medida, as crianças com ER
típica (Md=1; intervalo interquartil=5,25) tenderam a apresentar desempenho
inferior aos controles (Md=0; intervalo interquartil=2,25).
Tabela 13 - Diferenças entre grupos ER típica e controle na medida de flexibilidade cognitiva
Grupo ER típica
Grupo controle
N (%)
Média
(desvio
padrão)
Mediana
(intervalo
interquartil)
N (%)
Média
(desvio
padrão)
Mediana
(intervalo
interquartil)
U (z)* p-value
Teste dos
Cinco Pontos
Total de desenhos
18 (100)
35,94 (10,59)
34 (16)
32 (97)
26,47 (12,41)
26 (19,75)
156 (-2,67)
0,008**
Desenhos
Corretos
18
(100)
24,94
(12,53)
24,5
(13) 33
(100)
17,45
(9,91)
17
(16)
195
(-2,012)
0,044**
Total erros
perseverativos
18
(100)
5,39
(4,22)
4
(4,5) 29
(87,9)
2,07
(1,98)
2
(2,5)
118,5
(-
3,156)
0,002**
% Erros
perseverativos
18
(100)
14,45
(9,3)
12,93
(17,71) 29
(87,9)
8,03
(6,62)
7,69
(10,78) 159,5 0,026**
107
(-
2,227)
Total erros não perseverativos
18 (100)
7,44 (7,63)
4,5 (10,5)
33 (100)
6,39 (6,17)
3 (8,5)
281
(-
0,317)
0,751
% Erros não
perseverativos
18
(100)
20,76
(21,86)
11,44
(23,62) 32
(97)
27,04
(26,38)
20,63
(32,02)
257,5 (-
0,617)
0,537
*Teste U de Mann-Whitney
**p<,05
Tabela 14 - Diferenças entre grupos ER atípica e controle na medida de flexibilidade cognitiva
Grupo ER atípica
Grupo controle
N (%)
Média
(desvio
padrão)
Mediana
(intervalo
interquartil)
N (%)
Média
(desvio
padrão)
Mediana
(intervalo
interquartil)
U (z)* p-value
Teste dos
Cinco Pontos
Total de
desenhos
6
(100)
30,5
(8,22)
31,5
(14,5) 32
(97)
26,47
(12,41)
26
(19,75)
69,5
(-1,062)
0,297
Desenhos
Corretos
6
(100)
17,5
(14,92)
17,5
(28) 33
(100)
17,45
(9,91)
17
(16)
96,5
(-0,097)
0,924
Total erros
perseverativos
6
(100)
3,67
(4,93)
2
(7) 29
(87,9)
2,07
(1,98)
2
(2,5)
79
(-
0,359)
0,749
% Erros perseverativos
6 (100)
10,34 (13,18)
5,59 (21,05)
29 (87,9)
8,03 (6,62)
7,69 (10,78)
84
(-
0,132)
0,915
Total erros não perseverativos
6 (100)
9,33 (9,35)
8,5 (17,25)
33 (100)
6,39 (6,17)
3 (8,5)
90
(-
0,352)
0,747
% Erros não
perseverativos
6
(100)
35,86
(39,72)
28,03
(63,56) 32
(97)
27,04
(26,38)
20,63
(32,02)
94,5
(-0,06) 0,953
*Teste U de Mann-Whitney
**p<,05
108
Tabela 15 - Diferenças entre grupos ER típica e ER atípica na medida de flexibilidade cognitiva
Grupo ER típica
Grupo ER atípica
N (%)
Média
(desvio padrão)
Mediana
(intervalo interquartil)
N (%)
Média
(desvio padrão)
Mediana
(intervalo interquartil)
U (z)* p-value
Teste dos
Cinco Pontos
Total de
desenhos
18
(100)
35,94
(10,59)
34
(16) 6
(100)
30,5
(8,22)
31,5
(14,5)
39,5
(-
0,968)
0,343
Desenhos
Corretos
18
(100)
24,94
(12,53)
24,5
(13) 6
(100)
17,5
(14,92)
17,5
(28)
41 (-
0,868)
0,415
Total erros
perseverativos
18
(100)
5,39
(4,22)
4
(4,5) 6
(100)
3,67
(4,93)
2
(7)
34 (-
1,344)
0,199
% Erros
perseverativos
18
(100)
14,45
(9,3)
12,93
(17,71) 6
(100)
10,34
(13,18)
5,59
(21,05)
36
(-1,201)
0,251
Total erros não
perseverativos
18
(100)
7,44
(7,63)
4,5
(10,5) 6
(100)
9,33
(9,35)
8,5
(17,25)
53
(-0,067)
0,974
% Erros não
perseverativos
18
(100)
20,76
(21,86)
11,44
(23,62) 6
(100)
35,86
(39,72)
28,03
(63,56)
50
(-0,267)
0,82
*Teste U de Mann-Whitney
**p<,05
Flexibilidade cognitiva
Quanto à flexibilidade cognitiva, houve diferença entre os grupos ER
típica e controle no total de desenhos (U=156; r=-0,38; p<,01), no número de
desenhos corretos (U=195; r=-0,28; p<,05), no total de erros perseverativos
(U=118,5; r=-0,46; p<,01) e no percentual de erros perseverativos (U=159,5; r=-
0,32; p<,05) do Teste dos Cinco Pontos. O grupo ER típica (Md=34; intervalo
interquartil=16) produziu um total de desenhos superior ao grupo controle
(Md=26, intervalo interquartil=19,75). O número de desenhos corretos também
foi superior no grupo ER típica (Md=24,5; intervalo interquartil=13) do que no
grupo controle (Md=17, intervalo interquartil=16). O total de erros perseverativos
e o percentual de erros perseverativos foi maior no grupo ER típica
109
(respectivamente, Md=4; intervalo interquartil=4,5; Md=12,93; intervalo
interquartil=17,71) do que no grupo controle (respectivamente, Md=2; intervalo
interquartil=2,5; Md=7,67; intervalo interquartil=10,78). O tamanho de efeito (z)
foi pequeno para todas as variáveis.
O grupo ER atípica não diferiu do grupo controle nem do grupo ER típica
nas medidas de flexibilidade cognitiva.
Para explorar diferenças nas funções executivas associadas à
comorbidade da ER e problemas de comportamento (sintomas de TDAH/TDO),
o grupo clínico foi dividido em ER com TDAH/TDO e ER sem TDAH/TDO. Os
subgrupos clínicos foram comparados entre si e ao grupo controle (ER com
TDAH/TDO X controles; ER sem TDAH/TDO X controles; ER com TDAH/TDO
X ER sem TDAH/TDO). Os resultados estão apresentados nas tabelas 16 a 24, de
acordo com as funções avaliadas. Na tabela 25, é apresentada a distribuição de
participantes com e sem rastreio positivo para TDAH/TDO nos grupos ER típica
e ER atípica.
Tabela 16 - Diferenças entre grupos ER com TDAH/TDO e ER sem TDAH/TDO nas medidas de
memória operacional verbal e visuoespacial.
Grupo ER com TDAH/TDO
Grupo ER sem TDAH/TDO
N (%)
Média
(desvio
padrão)
Mediana
(intervalo
interquartil)
N (%)
Média
(desvio
padrão)
Mediana
(intervalo
interquartil)
U (z)* p-value
Dígitos - OD
Span 8
(100)
4
(0,76)
4
(1,5) 14
(100)
5
(0,78)
5
(0,78)
21
(-2,601) 0,016**
Pontuação
bruta
8
(100)
5,63
(1,41)
5,5
(2,5) 14
(100)
7,21
(1,53)
7
(2)
25
(-2,157) 0,035**
Pontuação
ponderada
8
(100)
6,75
(2,96)
7
(2,5) 14
(100)
9,21
(1,97)
9
(2,5)
22
(-2,351) 0,02**
Dígitos - OI
Span 8
(100)
2,88
(0,83)
3
(1,75) 14
(100)
3,57
(1,22)
3,5
(1,5)
37,5
(-1,311) 0,212
Pontuação
bruta
8
(100)
4,75
(1,49)
4,5
(2,75) 14
(100)
6,5
(1,79)
6,5
(3,25)
25,5
(-2,112) 0,035**
110
Pontuação
ponderada
8
(100)
8
(2,07)
8
(3,5) 14
(100)
10,36
(2,62)
10,5
(3,75)
27,5
(-1,966) 0,05
Cubos de
Corsi – OD
Span 8
(100) 3,88
(0,99) 4
(1,5) 14
(100) 4,93
(0,83) 5
(2) 25
(-2,237) 0,035**
Acertos 8
(100) 5
(1,77) 5,5
(3,75) 14
(100) 7,21
(1,58) 7
(2,25) 22,5
(-2,341) 0,02**
Span x
Acertos
8
(100)
20
(11,94)
22
(24,75) 14
(100)
35,93
(12,64)
35
(25,5)
21,5
(-2,394) 0,016**
Cubos de
Corsi – OI
Span 8
(100)
4
(1,85)
4,5
(3,5) 14
(100)
5,36
(1,27)
6
(2)
32
(-1,707) 0,11
Acertos 8
(100)
4,63
(3,07)
5,5
(5,25) 14
(100)
6,93
(2,16)
7
(4)
33
(-1,583) 0,127
Span x
Acertos
8
(100)
23,38
(19,25)
25
(35,25) 14
(100)
39,5
(20,59)
42
(34)
32,5
(-1,614) 0,11
*Teste U de Mann-Whitney
**P<,05
Tabela 17 - Diferenças entre grupos ER com TDAH/TDO e controle nas medidas de memória
operacional verbal e visuoespacial.
Grupo ER com TDAH/TDO
Grupo controle
N (%) Média (desvio
padrão)
Mediana (intervalo
interquartil)
N (%)
Média (desvio
padrão)
Mediana (intervalo
interquartil)
U (z)* p-value
Dígitos - OD
Span 8
(100) 4
(0,76) 4
(1,5) 31
(96,9) 4,48
(0,68) 4
(1) 83
(-1,576) 0,162
Pontuação
bruta
8
(100)
5,63
(1,41)
5,5
(2,5) 31
(96,9)
6,39
(1,12)
6
(2)
82,5
(-1,489) 0,152
Pontuação
ponderada
8
(100)
6,75
(2,96)
7
(2,5) 31
(96,9)
8,58
(1,89)
9
(3)
64
(-2,11) 0,037**
Dígitos - OI
Span 8
(100) 2,88
(0,83) 3
(1,75) 30
(93,8) 3,37
(0,93) 3
(1) 86
(-1,285) 0,235
Pontuação
bruta
8
(100)
4,75
(1,49)
4,5
(2,75) 30
(93,8)
5,97
(1,79)
6
(2)
72
(-1,784) 0,089
Pontuação
ponderada
8
(100)
8
(2,07)
8
(3,5) 31
(96,9)
10,62
(2,72)
11
(5)
55,5
(-2,396) 0,015**
Cubos de
Corsi – OD
111
Span 8
(100)
3,88
(0,99)
4
(1,5) 29
(90,6)
4,93
(0,7)
5
(1)
47
(-2,737) 0,009**
Acertos 8
(100)
5
(1,77)
5,5
(3,75) 31
(96,9)
7,32
(1,56)
7
(2)
40
(-2,981) 0,002**
Span x Acertos
8 (100)
20 (11,94)
22 (24,75)
30 (93,8)
34,67 (12,49)
35 (16)
46 (-2,694)
0,007**
Cubos de
Corsi - OI
Span 8
(100) 4
(1,85) 4,5
(3,5) 32
(100) 4,56
(1,66) 5
(3) 103
(-0,87) 0,415
Acertos 8
(100)
4,63
(3,07)
5,5
(5,25) 32
(100) 6,31
(2,89)
7
(4,75)
85,5
(-1,447) 0,153
Span x
Acertos
8
(100)
23,38
(19,25)
25
(35,25) 32
(100) 33,28
(21,21)
35
(40,5)
91
(-1,256) 0,222
*Teste U de Mann-Whitney
**P<,05
Tabela 18 - Diferenças entre grupos ER sem TDAH/TDO e controle nas medidas de memória
operacional verbal e visuoespacial.
Grupo ER sem TDAH/TDO
Grupo controle
N (%) Média (desvio
padrão)
Mediana (intervalo
interquartil)
N (%)
Média (desvio
padrão)
Mediana (intervalo
interquartil)
U (z)* p-value
Dígitos – OD
Span 14
(100)
5
(0,78)
5
(0,78) 31
(96,9)
4,48
(0,68)
4
(1)
139
(-2,108) 0,035**
Pontuação
bruta
14
(100) 7,21 (1,53)
7
(2) 31
(96,9)
6,39
(1,12)
6
(2)
150,5
(-1,677) 0,093
Pontuação ponderada
14 (100)
9,21 (1,97)
9 (2,5)
31 (96,9)
8,58 (1,89)
9 (3)
181 (-0,893)
0,372
Dígitos – OI
Span 14
(100)
3,57
(1,22)
3,5
(1,5) 30
(93,8)
3,37
(0,93)
3
(1)
192,5
(-0,461) 0,645
Pontuação
bruta
14
(100)
6,5
(1,79)
6,5
(3,25) 30
(93,8)
5,97
(1,79)
6
(2)
174,5
(-0,908) 0,372
Pontuação
ponderada
14
(100)
10,36
(2,62)
10,5
(3,75) 31
(96,9)
10,62
(2,72)
11
(5)
208,5
(-0,21) 0,834
Cubos de
Corsi – OD
Span 14
(100)
4,93
(0,83)
5
(2) 29
(90,6)
4,93
(0,7)
5
(1)
201,5
(-0,042) 0,967
Acertos 14
(100) 7,21 (1,58)
7
(2,25) 31
(96,9)
7,32
(1,56)
7
(2)
196
(-0,527) 0,598
112
Span x
Acertos
14
(100)
35,93
(12,64)
35
(25,5) 30
(93,8)
34,67
(12,49)
35
(16)
208
(-0,051) 0,959
Cubos de
Corsi – OI
Span 14
(100) 5,36 (1,27)
6
(2) 32
(100)
4,56
(1,66)
5
(3)
169,5
(-1,357) 0,175
Acertos 14
(100) 6,93 (2,16)
7 (4)
32 (100)
6,31 (2,89)
7 (4,75)
203,5 (-0,494)
0,621
Span x
Acertos
14
(100)
39,5
(20,59)
42
(34) 32
(100) 33,28
(21,21)
35
(40,5)
188,5
(-0,852) 0,394
*Teste U de Mann-Whitney
**P<,05
Memória Operacional
Em relação às medidas de memória operacional, os grupos de epilepsia
com e sem TDAH/TDO diferiram significativamente nas seguintes medidas: span
(U=21; r=-0,55; p<,05), pontuação bruta (U=25; r=-0,46; p<,05) e pontuação
ponderada (U=22; r=-0,5; p<,05) do subteste Dígitos ordem direta, pontuação
bruta (U=25,5; r=-0,45; p<,05) e pontuação ponderada (U=27,5; r=-0,42; p=,05)
do subteste Dígitos ordem inversa, span (U=25; r=-0,48; p<,05), acertos (U=22,5;
r=-0,5; p<,05) e span x acertos (U=21,5; r=-0,51; p<,05) do Cubos de Corsi ordem
direta. Em todas as medidas, o tamanho de efeito foi moderado, tendo o grupo ER
com TDAH/TDO desempenho inferior ao sem TDAH/TDO – span Dígitos ordem
direta (Md=4, intervalo interquartil=1,5 e Md=5, intervalo interquartil=0,78),
pontuação bruta Dígitos ordem direta (Md=5,5, intervalo interquartil=2,5 e Md=7,
intervalo interquartil=2), pontuação ponderada Dígitos ordem direta (Md=7,
intervalo interquartil=2,5 e Md=9, intervalo interquartil=2,5), pontuação bruta
Dígitos ordem inversa (Md=4,5, intervalo interquartil=2,75 e Md=6,5, intervalo
interquartil=3,25), span Cubos de Corsi ordem direta (Md=4, intervalo
interquartil=1,5 e Md=5, intervalo interquartil=2), acertos Cubos de Corsi ordem
direta (Md=5,5, intervalo interquartil=3,75 e Md=7, intervalo interquartil=2,25) e
span x acertos Cubos de Corsi ordem direta (Md=22, intervalo interquartil=24,75
e Md=35, intervalo interquartil=25,5).
O grupo controle apresentou diferença significativa em relação ao grupo
ER com TDAH/TDO nas pontuações ponderadas do subteste Dígitos ordem direta
(U=64; r=-0,34; p<,05) e ordem inversa (U=55,5; r=-0,38; p<,05) e no span
113
(U=47; r=-0,45; p<,01), acertos (U=40; r=-0,48; p<,01) e span x acertos (U=46;
r=-0,44; p<,01) do Cubos de Corsi ordem direta. Os tamanhos de efeito foram de
fraco a moderados, tendo o grupo ER com TDAH/TDO apresentado desempenho
inferior em todas as medidas – pontuação ponderada Dígitos ordem direta (Md=7,
intervalo interquartil=2,5 e Md=9, intervalo interquartil=3), pontuação ponderada
Dígitos ordem inversa (Md=8, intervalo interquartil=3,5 e Md=11, intervalo
interquartil=5), span Cubos de Corsi ordem direta (Md=4, intervalo
interquartil=1,5 e Md=5, intervalo interquartil=1), acertos Cubos de Corsi ordem
direta (Md=5,5, intervalo interquartil=3,75 e Md=7, intervalo interquartil=2) e
span x acertos Cubos de Corsi (Md=22, intervalo interquartil=24,75 e Md=35,
intervalo interquartil=16).
O grupo controle e ER sem TDAH/TDO diferiram apenas em relação ao
span Dígitos ordem direta (U=139; r= -0,31; p<,05), no qual o grupo com
epilepsia (Md=5, intervalo interquartil=0,78) teve desempenho superior aos
controles (Md=4; intervalo interquartil=1). O tamanho do efeito da diferença foi
pequeno.
Tabela 19 - Diferenças entre grupos ER com TDAH/TDO e ER sem TDAH/TDO nas medidas de
controle inibitório e atenção
Grupo ER com TDAH/TDO
Grupo ER sem TDAH/TDO
N (%)
Média
(desvio padrão)
Mediana
(intervalo interquartil)
N (%)
Média
(desvio padrão)
Mediana
(intervalo interquartil)
U (z)* p-value
TAVIS - tarefa
1
Tempo
(segundos)
8
(100)
0,58
(0,13)
0,57
(0,23) 14
(100)
0,57
(0,09)
0,6
(0,08)
53 (-
0,205)
0,868
Erros de ação 8
(100)
8,38
(7,37)
7
(7,37) 14
(100)
5,14
(3,96)
4
(6,25)
43,5 (-
0,861)
0,402
Erros de
omissão
8
(100)
4,88
(6,51)
3
(7,5) 14
(100)
4,79
(6,52)
1,5
(12,25)
55,5
(-0,035)
0,973
TAVIS - tarefa
3
Tempo (segundos)
8 (100)
0,73 (0,26)
0,72 (0,51)
14 (100)
0,62 (0,19)
0,56 (0,26)
45,5
(-
0,717)
0,482
114
Erros de ação 8
(100) 5,88
(5,82) 3,5
(11,75) 14
(100) 1,86
(3,63) 0
(2,25)
27,5
(-
2,024)
0,05**
Erros de omissão
8 (100)
0,88 (1,46)
0 (1,75)
14 (100)
0,57 (1,16)
0 (0,5)
48
(-
0,696)
0,616
*Teste U de Mann-Whitney
**p=,05
Tabela 20 - Diferenças entre grupos ER com TDAH/TDO e controle nas medidas de controle
inibitório e atenção
Grupo ER com TDAH/TDO
Grupo controle
N (%)
Média
(desvio
padrão)
Mediana
(intervalo
interquartil)
N (%)
Média
(desvio
padrão)
Mediana
(intervalo
interquartil)
U (z)* p-value
TAVIS - tarefa
1
Tempo
(segundos)
8
(100)
0,58
(0,13)
0,57
(0,23) 31
(96,9)
0,61
(0,18)
0,6
(0,18)
109
(-0,522)
0,621
Erros de ação 8
(100)
8,38
(7,37)
7
(7,37) 30
(93,8)
8,27
(7)
6,5
(8,5)
116,5
(-0,126)
0,902
Erros de
omissão
8
(100)
4,88
(6,51)
3
(7,5) 32
(100)
2,59
(2,55)
2
(3,75)
119
(-0,31) 0,778
TAVIS - tarefa
3
Tempo
(segundos)
8
(100)
0,73
(0,26)
0,72
(0,51) 30
(93,8)
0,65
(0,14)
0,67
(0,23)
103 (-
0,609)
0,562
Erros de ação 8
(100)
5,88
(5,82)
3,5
(11,75) 30
(93,8)
1,37
(2,2)
0
(2,25)
52 (-
2,637)
0,013*
*
Erros de
omissão
8
(100)
0,88
(1,46)
0
(1,75) 30
(93,8)
0,23
(0,41)
0
(0)
93
(-1,304)
0,35
*Teste U de Mann-Whitney
115
Tabela 21 - Diferenças entre grupos ER sem TDAH/TDO e controle nas medidas de controle
inibitório e atenção
Grupo ER sem TDAH/TDO
Grupo controle
N (%)
Média
(desvio padrão)
Mediana
(intervalo interquartil)
N (%)
Média
(desvio padrão)
Mediana
(intervalo interquartil)
U (z)* p-value
TAVIS - tarefa
1
Tempo
(segundos)
14
(100)
0,57
(0,09)
0,6
(0,08) 31
(96,9)
0,61
(0,18)
0,6
(0,18)
202,5
(-
0,356)
0,722
Erros de ação 14
(100)
5,14
(3,96)
4
(6,25) 30
(93,8)
8,27
(7)
6,5
(8,5)
160 (-
0,266)
0,206
Erros de
omissão
14
(100)
4,79
(6,52)
1,5
(12,25) 32
(100)
2,59
(2,55)
2
(3,75)
221,5 (-
0,061)
0,951
TAVIS - tarefa
3
Tempo
(segundos)
14
(100)
0,62
(0,19)
0,56
(0,26) 30
(93,8)
0,65
(0,14)
0,67
(0,23)
169
(-1,033)
0,302
Erros de ação 14
(100)
1,86
(3,63)
0
(2,25) 30
(93,8)
1,37
(2,2)
0
(2,25)
200,5
(-
0,273)
0,785
Erros de
omissão
14
(100)
0,57
(1,16)
0
(0,5) 30
(93,8)
0,23
(0,41)
0
(0)
198
(-0,43) 0,667
*Teste U de Mann-Whitney
Controle inibitório e atenção
Quanto às medidas de controle inibitório e atenção, houve diferença
significativa entre os grupos ER com TDAH/TDO e ER sem TDAH/TDO nos
erros por ação na tarefa 3 do TAVIS (U=27,5; r=-0,43; p=,05), na qual as crianças
com TDAH/TDO (Md=3,5; intervalo interquartil= 11,75) cometeram mais erros
do que as sem TDAH/TDO (Md=0; intervalo interquartil= 2,25). O grupo ER com
TDAH/TDO também diferiu do grupo controle nos erros por ação na tarefa 3 do
TAVIS (U=52; r=-0,43; p=,05), na qual as crianças com ER e TDAH/TDO
(Md=3,5; intervalo interquartil= 11,75) cometeram mais erros do que as crianças
controle (Md=0; intervalo interquartil=2,25). Os tamanhos de efeito foram
116
moderados. O grupo ER sem TDAH e controle não apresentaram diferenças
significativas.
Tabela 22 - Diferenças entre grupos ER com TDAH/TDO e ER sem TDAH/TDO na medida de
flexibilidade cognitiva
Grupo ER com TDAH/TDO
Grupo ER sem TDAH/TDO
N (%)
Média
(desvio
padrão)
Mediana
(intervalo
interquartil)
N (%)
Média
(desvio
padrão)
Mediana
(intervalo
interquartil)
U (z)* p-value
Teste dos
Cinco Pontos
Total de
desenhos
8
(100)
32
(8,6)
32,5
(13,25) 14
(100)
36,14
(11,56)
33
(22,5)
45
(-0,752)
0,482
Desenhos
Corretos
8
(100)
16,75
(12,98)
15,5
(23,75) 14
(100)
29
(10,77)
27,5
(10,15)
26,5
(-2,017)
0,042**
Total erros perseverativos
8 (100)
4,13 (3,87)
3 (6,5)
14 (100)
4,86 (4,49)
3 (5,5)
51
(-
0,345)
0,764
% Erros perseverativos
8 (100)
11,42 (10,17)
7,92 (21,11)
14 (100)
12,85 (9,65)
10,36 (18,79)
52
(-
0,273)
0,815
Total erros não
perseverativos
8
(100)
11,13
(8,48)
9,5
(17) 14
(100)
4,64
(6,11)
2
(5,5)
29
(-1,86) 0,07
% Erros não
perseverativos
8
(100)
40,82
(36,10)
31,03
(67,48) 14
(100)
11,22
(11,51)
7,42
(10,06)
28
(-1,911)
0,059
*Teste U de Mann-Whitney
**p<,05
Tabela 23 - Diferenças entre grupos ER com TDAH/TDO e controle na medida de flexibilidade
cognitiva
Grupo ER com TDAH/TDO
Grupo controle
N (%) Média (desvio
padrão)
Mediana (intervalo
interquartil)
N (%)
Média (desvio
padrão)
Mediana (intervalo
interquartil)
U (z)* p-value
Teste dos
Cinco Pontos
Total de
desenhos
8
(100)
32
(8,6)
32,5
(13,25) 32
(100)
26,47
(12,41)
26
(19,75) 84,5 0,144
117
(-
1,472)
Desenhos Corretos
8 (100)
16,75 (12,98)
15,5 (23,75)
32 (100)
17,16 (9,92)
16 (14,75)
121
(-
0,237)
0,829
Total erros
perseverativos
8
(100)
4,13
(3,87)
3
(6,5) 29
(90,6)
2,07
(1,98)
2
(2,5)
78,5 (-
1,412)
0,17
% Erros perseverativos
8 (100)
11,42 (10,17)
7,92 (21,11)
29 (90,6)
8,03 (6,62)
7,69 (10,78)
98,5 (-0,65)
0,526
Total erros não
perseverativos
8
(100)
11,13
(8,48)
9,5
(17) 32
(100)
6,5
(6,24)
4
(8,75)
84
(-1,493)
0,144
% Erros não
perseverativos
8
(100)
40,82
(36,10)
31,03
(67,48) 32
(100)
27,04
(26,38)
20,63
(32,02)
100,5
(-0,93) 0,359
*Teste U de Mann-Whitney
**p<,05
Tabela 24 - Diferenças entre grupos ER sem TDAH/TDO e controle na medida de flexibilidade
cognitiva
Grupo ER sem TDAH/TDO
Grupo controle
N (%)
Média
(desvio
padrão)
Mediana
(intervalo
interquartil)
N (%)
Média
(desvio
padrão)
Mediana
(intervalo
interquartil)
U (z)* p-value
Teste dos
Cinco Pontos
Total de
desenhos
14
(100)
36,14
(11,56)
33
(22,5) 32
(100)
26,47
(12,41)
26
(19,75)
124
(-2,389)
0,017**
Desenhos
Corretos
14
(100)
29
(10,77)
27,5
(10,15) 32
(100)
17,16
(9,92)
16
(14,75)
94
(-3,106)
0,002**
Total erros
perseverativos
14
(100)
4,86
(4,49)
3
(5,5) 29
(90,6)
2,07
(1,98)
2
(2,5)
116
(-2,29) 0,022**
% Erros
perseverativos
14
(100)
12,85
(9,65)
10,36
(18,79) 29
(90,6)
8,03
(6,62)
7,69
(10,78)
148
(-1,43) 0,153
Total erros não
perseverativos
14
(100)
4,64
(6,11)
2
(5,5) 32
(100)
6,5
(6,24)
4
(8,75)
176,5
(-1,141)
0,254
% Erros não
perseverativos
14
(100)
11,22
(11,51)
7,42
(10,06) 32
(100)
27,04
(26,38)
20,63
(32,02)
148,5
(-
1,804)
0,071
118
*Teste U de Mann-Whitney
**p<,05
Flexibilidade cognitiva
Nas medidas de flexibilidade cognitiva, os grupos de ER com
TDAH/TDO e ER sem TDAH/TDO diferiram apenas em relação aos desenhos
corretos no Teste dos Cinco Pontos (U=26,5; r=-0,43; p<,05), no qual crianças
com ER e TDAH/TDO (Md=15,5; intervalo interquartil=23,73) tiveram
desempenho inferior às crianças com ER sem TDAH/TDO (Md=27,5; intervalo
interquartil=10,15). O grupo controle apresentou diferenças em relação ao grupo
ER sem TDAH/TDO no total de desenhos (U=124; r=-0,35; p<,05), desenhos
corretos (U=94; r=-0,46; p<,01) e total de erros perseverativos (U=116; r=-0,35;
p<,05) do Teste dos Cinco Pontos. No total de desenhos e nos desenhos corretos,
o grupo ER sem TDAH/TDO (Md=33; intervalo interquartil=22,5 e Md=27,5;
intervalo interquartil=10,15, respectivamente) teve desempenho superior ao grupo
controle (Md=26; intervalo interquartil=19,75 e Md=16; intervalo
interquartil=14,75, respectivamente). Quanto ao total de erros perseverativos, o
grupo de ER sem TDAH/TDO (Md=3; intervalo interquartil=5,5) teve pior
desempenho que os controles (Md=2; intervalo interquartil=2,5), cometendo mais
erros. O grupo controle não diferiu significativamente do grupo ER com
TDAH/TDO em nenhuma das medidas.
Tabela 25 - Distribuição de participantes com rastreio positivo e negativo no MTA-
SNAP-IV de acordo com o tipo de ER.
Positivo
(ER com TDAH/TDO)
Negativo
(ER sem TDAH/TDO)
ER típica – n (%) 7 (38,89) 11 (61,11)
ER atípica – n (%) 1 (33,33) 3 (66,67)
Na tabela 26 é apresentado um resumo dos resultados.
Tabela 26 - Resumo das variáveis e grupos que apresentaram diferenças significativas
(p≤,05) no Teste U de Mann-Whitney.
119
Clínico X
Controle
ER típica X ER
atípica X Controle
ER com TDAH/TDO X
ER sem TDAH/TDO X Controle
Span Dígitos –
OD
com TDAH/TDO < sem TDAH/TDO
sem TDAH/TDO > controles
Pontuação bruta
Dígitos – OD com TDAH/TDO < sem TDAH/TDO
Pontuação
ponderada Dígitos
– OD
com TDAH/TDO < sem TDAH/TDO
com TDAH/TDO < controles
Pontuação bruta
Dígitos – OI com TDAH/TDO < sem TDAH/TDO
Pontuação
ponderada Dígitos
– OI
atípico <controle
com TDAH/TDO < sem TDAH/TDO
com TDAH/TDO < controles
Span Cubos de Corsi – OD
com TDAH/TDO < sem TDAH/TDO
com TDAH/TDO < controles
Acertos Cubos de
Corsi – OD clínico < controle típicos < controle
com TDAH/TDO < sem TDAH/TDO
com TDAH/TDO < controles
Span x Acertos
Cubos de Corsi –
OD
com TDAH/TDO < sem TDAH/TDO
com TDAH/TDO < controles
Erros de ação Tavis – tarefa 3
clínco > controle
(tendência)
típicos > controle
(tendência)
com TDAH/TDO > sem TDAH/TDO
com TDAH/TDO > controles
Total de desenhos
Teste dos Cinco
Pontos
clínico > controle
típicos > controle sem TDAH/TDO > controles
Desenhos corretos
Teste dos Cinco
Pontos
típicos > controles
com TDAH/TDO < sem TDAH/TDO
sem TDAH/TDO > controles
Total erros
perseverativos
Teste dos Cinco
Pontos
clínco > controle
típicos > controles sem TDAH/TDO > controles
% Erros
perseverativos
Teste dos Cinco
Pontos
típicos > controles
Discussão
Apesar do crescente número de evidências acerca de prejuízos cognitivos
associados à epilepsia rolândica, comprometimentos nas funções executivas ainda
estão sob escrutínio. O presente estudo levantou as hipóteses de que crianças com
120
epilepsia rolândica teriam pior desempenho em tarefas de funções executivas
quando comparadas a crianças saudáveis e que aquelas com formas atípicas de
epilepsia rolândica teriam desempenho inferior àquelas com formas típicas.
A primeira hipótese foi parcialmente corroborada. Em relação à memória
operacional, grupos clínico e controle não diferiram na quantidade (span) de
informações verbais e visuoespaciais que são capazes de reter e manipular.
Resultados similares com uso do span de dígitos e de cubos já haviam sido
relatados em outros estudos (Ay et al., 2009; Croona, Kihlgren, Lundberg, Eeg-
Olofsson, & Eeg-Olofsson, 1999; Goldberg-Stern et al., 2010; Piccinelli et al.,
2008). De acordo com Kárpáti, Donauer, Eszter, & Kónya (2015), estes
instrumentos são demasiadamente simples, demandando pouco de processos
controlados mais dependentes do córtex pré-frontal, como a atenção dividida. No
estudo dos mesmos autores sobre os componentes da memória operacional em
pacientes com ER, foi observado que eles se diferenciaram de crianças saudáveis
apenas na tarefa de maior complexidade, que exigia a integração (binding) de
informações verbais e visuoespaciais (“o que”, “onde” e “quando”), apresentando
desempenho similiar nas tarefas unimodais ou com bidings mais simples (e.g. “o
que” e “onde”) (Kárpáti et al., 2015).
Na amostra do presente estudo, no entanto, foi visto pior desempenho do
grupo clínico, particularmente de crianças com ER típica, no número de acertos
do Cubos de Corsi ordem direta, indicando uma inconsistência na tarefa, ainda
que o total de informações retidas e manipuladas não tenha sido diferente da do
grupo controle. Tendo em vista que as crianças com ER e problemas de
comportamento apresentaram pior desempenho na tarefa – tanto em relação aos
controles quanto às crianças com ER sem problemas de comportamento – é
possível supor que a diferença entre grupos clínico e controle no número de
acertos do Cubos de Corsi ordem direta tenha envolvimento da autorregulação.
De fato, de acordo com o modelo apresentado por Diamond (2013), a
autorregulação compreende inibição a nível de comportamento (autocontrole),
inibição no nível da atenção (atenção seletiva) e manutenção de níveis ótimos de
emoção, motivação e excitabilidade cognitiva. Comprometimentos atencionais
nas dimensões de alerta, impulsividade, seleção e foco foram observados em
crianças com ER, num estudo destinado a investigar diversos componentes da
atenção (Cerminara et al., 2010). O modelo utilizado pelos autores, modelo
121
multicomponente de Van Zomeren e Brouwer, apresenta sobreposições ao
conceito de autorregulação de Diamond. Para Van Zomeren e Brouwer, a atenção
é dividida em: alerta - que inclui alerta tônico (nível relativamente estável de
atenção que vai vagarosamente mudando ao longo do dia de acordo com variações
fisiológicas) e alerta fásico (capacidade de aumentar o nível de estimulação de
acordo com a presença de um estímulo relevante) -, atenção sustentada/vigilância
(capacidade de manter a atenção por longo período de tempo a estímulos
infrequentes), atenção seletiva (capacidade de focar a atenção entre estímulos
distratores) e atenção dividida (capacidade de responder a diferentes estímulos
simultaneamente) (Cerminara et al., 2010). O alerta e a vigilância compõem a
dimensão da intensidade da atenção, enquanto a atenção seletiva, atenção dividida
e impulsividade compõem a dimensão da atenção seletiva (Cerminara et al.,
2010). Os resultados do presente estudo parecem indicar um rebaixamento na
intensidade da atenção das crianças com epilepsia, que explicaria a oscilação no
número de acertos no Cubos de Corsi, entretanto sem alterar o span máximo
alcançado.
Deltour, Quaglino, Barathon, Broca, & Berquin (2007) também
encontraram comprometimentos no controle atencional (controle de interferência
e alternância) de crianças com ER, porém não na atenção sustentada auditiva e
atenção seletiva auditiva e visual. No estudo aqui relatado, as crianças com ER
foram menos consistentes no Cubos de Corsi ordem direta, mas não diferiram na
medida destinada a medir atenção visual (TAVIS). É possível, porém, que outras
variáveis tenham interferido no TAVIS, já que a maioria das crianças, tanto do
grupo clínico quanto controle, foram classificadas como limítrofes ou deficitárias
pelo teste. Mesmo crianças do grupo clínico com rastreio positivo para TDAH só
tiveram desempenho significativamente inferior no número de erros por ação da
tarefa 3 do TAVIS, indicando que o teste pode não ter sido sensível aos
comprometimentos atencionais na amostra estudada.
Ainda em relação à memória operacional, quando o grupo clínico foi
subdividido em ER típica e ER atípica, constatou-se que o grupo ER atípica foi
significativamente pior do que os controles na pontuação ponderada do Dígitos
ordem inversa. Este resultado aponta para um prejuízo das crianças com formas
atípicas de ER em memória operacional verbal. Nenhum outro estudo avaliando a
memória operacional de crianças com ER atípica foi encontrado, porém déficits
122
no processamento auditivo-verbal são amplamente relatados em pacientes com
ER, sendo inclusive considerados uma característica de apresentações mais graves
do espectro, como na Síndrome de Landau-Kleffner (Chan & Lee, 2011; Filippini
et al., 2015). Para Metz-Lutz (2009), os prejuízos verbais associados ao padrão
POCS, incluindo em memória operacional e de curto-prazo, dever-se-iam a falhas
no processamento fonológico (particularmente, na alça fonológica). Os autores
também sugerem que os locais de origem das descargas na Síndrome de Landau-
Kleffner – como a fronteira entre região parietotemporal e fissura silviana
posterior, no hemisfério esquerdo – são as mesmas envolvidas no circuito de
integração auditivo-motor, os quais são importantes para a produção da fala e
memória operacional em adultos, e portanto poderiam responder por déficits neste
domínio (Metz-Lutz, 2009). O presente estudo, contudo, não constatou diferenças
no desempenho da memória auditivo-verbal de curto-prazo (Dígitos ordem direta)
de crianças com ER atípica em relação a participantes saudáveis, demonstrando
aparente preservação da alça fonológica, enquanto que o resultado inferior na
pontuação ponderada do Dígitos ordem inversa aponta para comprometimento na
central executiva (prioritariamente associada ao córtex pré-frontal dorsolateral),
tais quais definidas pelo modelo de Baddeley e Hitch (Baddeley, 2000; Diamond,
2013).
No Teste dos Cinco Pontos, o grupo clínico produziu mais desenhos
(incluindo acertos e erros) do que o grupo controle, porém também cometeu mais
erros perseverativos. Divididos entre participantes com ER típica e ER atípica,
apenas o grupo ER típica diferiu do grupo controle, apresentando maior
quantidade total desenhos, de desenhos corretos, de erros perseverativos e no
percentual de erros perseverativos. Os erros perseverativos são comumente
relacionados à dificuldade em flexibilidade cognitiva, demonstrando dificuldade
em criar novas estratégias ou modificar o fluxo do pensamento. A existência de
comprometimentos em flexibilidade cognitiva em crianças com ER, utilizando
instrumentos neuropsicológicos como Wisconsin Card Sorting Test e Teste de
Trilhas, já foi observada em alguns estudos anteriores, (Neri et al., 2012), mas não
em outros (Croona et al., 1999; Kwon, Seo, & Hwang, 2012). Este resultado,
contudo, parece ser, ao menos em parte, explicado por falhas no monitoramento
do comportamento, já que as crianças com epilepsia não diferiram das crianças
saudáveis no que se refere à quantidade de desenhos corretos (inéditos). O
123
monitoramento depende de outras funções como controle inibitório, detecção de
erros e correção comportamental (Garavan, 2002; Silver & Goodman, 2007). Uma
habilidade reduzida de detecção de erros pode cooperar para uma execução
normal no que se refere ao tempo e número, mas com detrimento da qualidade do
desempenho (erros). Além disso, estas funções parecem compartilhar regiões
afetadas na ER, como giro pós-central e lobos parietal e temporal (Garavan, 2002),
o que poderia explicar a diferença na quantidade de erros perseverativos na tarefa
entre grupos clínico e controle. Ademais, o percentual de erros perseverativos – o
qual foi superior no grupo de ER típica do que em controles – não parece estar
associado à presença de comorbidade com problemas de comportamento já que,
na amostra do presente estudo, não foi distinto em crianças com ou sem
TDAH/TDO.
A hipótese de que crianças com formas atípicas de ER teriam pior
desempenho do que crianças com ER típica não foi corroborada. Nas medidas
utilizadas, os grupos não apresentaram nenhuma diferença significativa.
Separadamente, tanto crianças com ER típica quanto atípica diferiram em algumas
medidas em relação aos controles, como pontuação ponderada do subteste Dígitos
ordem direta (atípicos), acertos no Cubos de Corsi ordem direta (típicos) e
percentual de erros perseveraticos no Teste dos Cinco Pontos (típicos). Metz-Lutz
e Filippini (2006) explicaram a ausência de diferenças entre ER típica e atípica
nas funções executivas no seu estudo por uma possível maior sensibilidade dessas
funções à presença de pontas-onda, independente da forma da epilepsia. No
presente estudo foi observado, contudo, que o desempenho das crianças com ER
atípica teve uma grande variabilidade, conforme indicado pelos intervalos
interquartis, indicando um grupo pouco homogêneo em relação ao perfil
neuropsicológico. Como a amostra de crianças com ER atípica foi muito reduzida,
é possível que diferenças entre os grupos tenham sido subestimadas.
Por fim, apesar de não ter sido o foco do presente trabalho, foi constatado
prejuízo em todas as funções executivas avaliadas quando considerada a presença
de problemas de comportamento. Um resultado atípico foi visto em relação ao
span de dígitos ordem direta, no qual crianças com ER sem TDAH/TDO
apresentaram desempenho superior ao grupo controle, possivelmente devido a
viés amostral.
124
Considerações finais
O presente estudo aponta para prejuízos em funções executivas em
crianças com epilepsia rolândica. Tais comprometimentos, no entanto, foram
pontuais e, em boa parte, parecem estar associados a disfunções atencionais e
problemas de comportamento. Limitações referentes ao pequeno tamanho
amostral e à escolha dos instrumentos, no entanto, exigem que os achados sejam
interpretados com parcimônia. Estudos com medidas que já se mostraram
sensíveis nesta população e coleta com maior número de participantes, para que
análises estatísticas mais refinadas sejam conduzidas, são ainda necessários para
elucidação do perfil neuropsicológico de crianças com formas típica e atípica de
ER.
125
ESTUDO EMPÍRICO 2: AMBIENTE FAMILIAR E FUNÇÕES
EXECUTIVAS DE CRIANÇAS COM E SEM EPILEPSIA ROLÂNDICA
Resumo
Estudos com crianças com desenvolvimento típico vêm demonstrando a
importância do ambiente familiar para o desenvolvimento cognitivo durante a
infância, incluindo o das funções executivas. Poucos estudos sobre o tema, no
entanto, foram conduzidos junto a crianças com epilepsia, em especial com
epilepsia rolândica. Objetivos: comparar as relações entre ambiente familiar e
funções executivas (controle inibitório, flexibilidade cognitiva e memória
operacional) das crianças com ER e das crianças sem doenças crônicas e verificar
relações entre as variáveis localização do foco epiléptico, frequência de crises,
idade de início das crises, duração da epilepsia e uso de medicações antiepilépticas
e o desempenho nas tarefas de controle inibitório, flexibilidade cognitiva e
memória operacional. Método: 24 crianças (11 meninas) com diagnóstico de
epilepsia rolândica (típica, n= 18, ou atípica, n=6) e 33 crianças saudáveis (19
meninas), todas com idade entre 6 e 13 anos, responderam à avaliação
neuropsicológica incluindo avaliação de inteligência (WASI), memória
operacional (subteste Dígitos-WISC IV e Cubos de Corsi), controle inibitório
(TAVIS), flexibilidade cognitiva (Teste dos Cinco Pontos). Seus responsáveis
responderam a questionários sociodemográficos (incluindo Critério de
Classificação Econômica Brasil-ABEP), ao Inventário de Recursos do Ambiente
Familiar e ao roteiro de epilepsia (grupo clínico). Testes adequados a dados não-
paramétricos (Coeficiente de Correlação de Spearman, Teste Z de Fisher, Teste U
de Mann-Whitney, Teste Kruskal-Wallis) foram conduzidos para averiguar
associações entre variáveis e diferenças entre grupos, sendo considerados
significantes valores de p≤,05. Resultados: no grupo clínico, foram observadas
correlações significativamente mais intensas entre o CCEB-ABEP e span,
126
pontuação bruta e pontuação ponderada do Dígitos ordem direta; entre renda
mensal e span e pontuação bruta do Dígitos ordem direta; negativamente entre
escolaridade paterna e erros de omissão e erros de ação na tarefa 3 do TAVIS, e
positivamente entre escolaridade paterna e total de desenhos e desenhos corretos
no Testes dos Cinco Pontos; entre escolaridade materna e span, pontuação bruta
e pontuação ponderada do Dígitos ordem direta; entre desenhos corretos no Teste
dos Cinco Pontos e à RAF-Total e ao RAF-SP. O total de desenhos no Teste dos
Cinco Pontos correlacionou-se negativamente ao RAF-SP de maneira mais
intensa no grupo controle. No grupo clínico, a idade de início das crises apresentou
correlações positivas com o span, pontuação bruta e pontuação ponderada do
Dígitos ordem inversa, acertos e span x acertos do Cubos de Corsi ordem direta,
acertos e span x acertos do Cubos de Corsi ordem inversa e desenhos corretos do
Teste dos Cinco Pontos. Correlações negativas foram obtidas entre idade de início
das crises e o tempo (ρ=-e os erros de ação na tarefa 3 do TAVIS. A quantidade
de medicações em uso associou-se positivamente aos erros de ação da tarefa 3 do
TAVIS e negativamente à pontuação ponderada do Dígitos ordem direta. A
duração da epilepsia correlacionou-se positivamente aos erros de ação na tarefa 1
do TAVIS e negativamente à pontuação ponderada do Dígitos ordem direta. Os
grupos com descargas epileptiformes lateralizadas ou predominantes no
hemisfério direito, no hemisfério esquerdo e sem predominância diferiram na
pontuação ponderada do Dígitos ordem direta e nos erros de ação da tarefa 1 do
TAVIS. Análises post-hoc indicaram que as crianças com descargas lateralizadas
ou predominantes no hemisfério esquerdo tiverem desempenho superior na
pontuação ponderada do Dígitos ordem direta àquelas com descargas em ambos
os hemisférios. Quanto aos erros de ação na tarefa 1 do TAVIS, as crianças com
descargas apenas no hemisfério esquerdo tiveram melhor desempenho do que os
demais grupos. Conclusão: Aspectos do ambiente familiar associaram-se ao
desempenho em funções executivas nos grupos de crianças com e sem epilepsia.
Em crianças com ER, foram encontradas associações entre as variáveis ambientais
e neuropsicológicas mais intensas do que em crianças saudáveis. Variáveis da
epilepsia também se associaram às funções executivas
Palavras-chave: ambiente familiar; funções executivas; epilepsia rolândica
127
Introdução
A importância do ambiente familiar no que tange o desenvolvimento
infantil é notória. Não por acaso, sua relevância vem sendo investigada há mais
de cinquenta anos (Totsika & Sylva, 2004). Este é o primeiro contexto de
socialização da infância, constituindo-se como um modelo para demais relações
sociais que a criança vem a estabelecer, além de afetar seu bem-estar, resiliência
e competência (Cruz & Abreu-Lima, 2012). De acordo com Cruz e Abreu-Lima
(2012), o ambiente familiar é um conceito complexo que muitas vezes ultrapassa
os limites da casa em que a família mora, e envolve as dimensões físicas,
organizacional, interpessoal e simbólica.
De acordo com o Bradley (2002), o ambiente da criança é em grande
parte constituído pelos seus responsáveis. Assim, ele estabelece como obrigações
da família, em especial dos pais, prover: a) Manutenção e Segurança; b)
Estimulação; c) Apoio Socioemocional; d) Estrutura; e) Supervisão; e f)
Integração Social (Bradley, 2002; Cruz e Abreu-Lima, 2012). Desenvolvido pelo
autor, o mais conhecido instrumento de avaliação do ambiente familiar, o
Inventário HOME (Home Observation for the Measurement of the Environment;
Caldwell & Bradley, 2003), vem acumulando evidências do impacto do ambiente
familiar para o desenvolvimento infantil desde a década de 1960 em todo o
mundo, mostrando correlações positivas significativas com medidas cognitivas e
linguísticas durante toda a infância, mesmo após controladas variáveis de gênero,
nível socioeconômico e grupo étnico (Cruz & Abreu-Lima, 2012; Totsika &
Sylva, 2004).
Partindo de uma perspectiva biológica, o modelo
ecobiodesenvolvimental proposto por Garner e Shonkoff (2012) dá destaque ao
estresse e à rede de apoio familiar no processo de desenvolvimento infantil. A
depender do nível de controle sobre os estressores, das redes de apoio e dos
recursos disponíveis, lidar com situações de estresse pode promover
desenvolvimento, resiliência, aprendizagem e boa saúde ou, por outro lado, pode
levar a alterações neuronais, cognitivas, comportamentais, emocionais e
fisiológicas que aumentam a suscetibilidade a problemas de saúde e mesmo à
128
morte (McEwen & Gianaros, 2011). Shonkoff parte da proposta do Conselho
Científico Nacional para a Criança em Desenvolvimento dos EUA (National
Scientific Council on the Developing Child), o qual divide o estresse em três
categorias: positivo, tolerável e tóxico. O critério para esta divisão são as
alterações fisiológicas que podem ser resultantes da intensidade e duração da
resposta aos estímulos estressores. Assim, o estresse positivo compreende
respostas fisiológicas rápidas ao estresse, com intensidade baixa a moderada (e.g.
o primeiro dia da criança na pré-escola, situação de frustração) que, associadas a
um ambiente estável e relações de apoio que ajudam a criança lidar com o estresse
e voltar à homeostase, são importantes durante o desenvolvimento típico. O
estresse tolerável corresponde às respostas fisiológicas desencadeadas por
experiências mais aversivas ou perigosas (e.g. a morte de um parente, desastre
natural ou uma doença grave) que, com a presença da rede protetora de adultos,
representam poucos riscos a longo prazo no desenvolvimento. O estresse tóxico,
por sua vez, diz respeito à ativação prolongada dos sistemas de resposta ao estresse
associada à ausência de um ambiente estável e rede de apoio socioemocional que
ajudem o retorno do organismo à homeostase (Garner & Shonkoff, 2012). A
pobreza e os aspectos relacionados a ela, como baixo nível educacional,
desemprego e vizinhança desfavorecida, são estressores tóxicos consistentemente
relatados (Santiago et al., 2011; Shonkoff & Garner, 2012; Williams Shanks &
Robinson, 2012).
No cérebro, há evidências que o estresse tóxico está associado a
alterações estruturais e funcionais, como hipertrofia e hiperestimulação da
amígdala e do córtex orbitofrontal e diminuição de neurônios e sinapses no
hipocampo e córtex pré-frontal medial – tais regiões contêm grande número de
receptores glucocorticóides, os quais são envolvidos na fisiologia do estresse
(Garner & Shonkoff, 2012). Como o córtex pré-frontal e o hipocampo atuam
inibindo a atividade da amígdala, os comprometimentos na conectividade entre
estas estruturas devido a níveis elevados e duradouros de estresse podem levar a
uma menor capacidade de modulação da resposta da amígdala ao estresse e,
portanto, alterar a responsividade do indivíduo a situações de estresse. Aumento
da ansiedade e pior performance em memória, aprendizagem e funções executivas
são alguns dos prejuízos cognitivos também relativos a tais alterações (Garner &
Shonkoff, 2012).
129
Evidências sobre a relação do ambiente familiar com as funções
executivas (FE) advém, em boa parte, dos estudos sobre os mecanismos através
dos quais o nível socioeconômico (NSE) influencia o desenvolvimento cognitivo.
De acordo com a revisão realizada por Hackman, Farah e Meaney (2010),
associações entre NSE e funções executivas são vistas em diversas faixas etárias
- aos seis meses de idade (memória operacional e controle inibitório), aos seis anos
(sistemas de atenção executiva), início da adolescência (diversas funções) e idade
adulta (diversas funções) – e mesmo quando o desempenho nas tarefas é similar,
os níveis de ativação de redes neuronais específicas podem diferir de acordo com
o NSE. Os dois modelos que costumam guiar os estudos envolvendo a família são
o modelo de estresse familiar e o modelo do investimento familiar (Linver,
Brooks-Gunn, & Kohen, 2002; Hackman et al., 2010; Hackman, Gallop, Evans,
& Farah, 2015). O modelo do estresse familiar pressupõe que a baixa renda afeta
a saúde mental dos pais, levando a utilização de determinadas práticas parentais
que acabam por ter impacto no desenvolvimento infantil (em geral medido pelo
desempenho e engajamento acadêmico, além de problemas de comportamento),
enquanto o modelo do investimento postula que a renda permite à família prover
materiais, experiências e serviços que têm impacto positivo no desenvolvimento
e bem-estar infantil (Linver et al., 2002).
Investigações acerca de associação entre ambiente familiar, cognição e
epilepsia são ainda incipientes (Dunn et al., 2010; Fastenau et al., 2004;
Melbourne Chambers et al., 2014; Oostrom et al., 2005). No trabalho realizado
por Fastenau et al (2004), observou-se que o fator cognitivo previamente definido
como "verbal/memória/executivo" predisse os resultados em leitura, matemática
e escrita juntamente com fator "nomeação rápida/memória operacional". A
maestria familiar (dimensão que diz respeito à organização e apoio familiar), por
sua vez, foi a única variável que apresentou efeito de moderação. Para as crianças
com menores escores de maestria familiar, os fatores "verbal/memória/executivo"
e "nomeação rápida/memória operacional" tiveram forte associação ao
desempenho em escrita, enquanto que para crianças com alto nível de maestria
familiar, os déficits neuropsicológicos tiveram pouco ou nenhum impacto sobre a
escrita. Foi também observada uma tendência à interação da maestria familiar e o
fator "verbal/memória/executivo" em relação à leitura, bem como uma tendência
à interação do tipo de crise epiléptica e do fator "verbal/memória/executivo" na
130
predição das habilidades matemáticas (Fastenau et al., 2004). Num segundo
estudo dos mesmos autores, todos os fatores neuropsicológicos (linguagem,
velocidade de processamento, atenção/executivo/construtivo e memória
verbal/aprendizagem) se correlacionaram ao desempenho em leitura, escrita e
matemática, tanto na linha de base quanto após 36 meses. A relação entre a
mudança no fator linguagem e a mudança na escrita foi moderada pela educação
materna, sendo que a associação das variáveis foi significativa apenas para filhos
de pais com maior nível educacional. Quanto às variáveis familiares, apenas a
ansiedade parental moderou a relação dos fatores linguagem e
atenção/executivo/construtivo com a escrita, sendo significativa para crianças
cujos pais apresentavam escores elevados de ansiedade.
Na epilepsia rolândica, tipo mais frequente de epilepsia na infância,
diversos comprometimentos cognitivos e comportamentais são relatados,
incluindo nas funções executivas (Goldberg-Stern et al., 2010; Gündüz et al.,
1999; M.-N. Metz-Lutz & Filippini, 2006; Neri et al., 2012; Nicolai, Aldenkamp,
Arends, Weber, & Vles, 2006). Tendo em vista a relevância do ambiente familiar
no desenvolvimento típico e os poucos trabalhos dedicados a esta relação em
crianças com epilepsia, propõe-se o presente trabalho. Trata-se de uma extensão
do estudo transversal anterior (estudo empírico 1), no qual foram exploradas
diferenças no desempenho em tarefas de funções executivas entre crianças com
epilepsia rolândica (típica e atípica) e crianças saudáveis. A partir da mesma
amostra, o atual trabalho teve como objetivos (1) comparar as relações entre
ambiente familiar e funções executivas (controle inibitório, flexibilidade cognitiva
e memória operacional) das crianças com ER e das crianças sem doenças crônicas
e (2) verificar relações entre as variáveis localização do foco epiléptico, frequência
de crises, idade de início das crises, duração da epilepsia e uso de medicações
antiepilépticas e o desempenho nas tarefas de controle inibitório, flexibilidade
cognitiva e memória operacional. Foram levantadas as seguintes hipóteses: (1)
haverá associação positiva entre as funções executivas (controle inibitório,
flexibilidade cognitiva e memória operacional) e a qualidade do ambiente familiar
em todos os grupos, com maior intensidade para o grupo sem epilepsia; (2) no
grupo de crianças com ER, as funções executivas associar-se-ão tanto às variáveis
relacionadas à doença quanto às variáveis do ambiente familiar. A qualidade do
ambiente familiar foi avaliada pela renda, quantidade de pessoas residindo no
131
mesmo ambiente (aglomeração), nível de escolaridade parental, recursos
materiais que a família e a criança dispõem, e pelo apoio dos pais à criança.
Método
Participantes e procedimentos
Foi realizada amostragem por conveniência no ambulatório de Epilepsia
Infantil e no Serviço de Eletroencefalografia (EEG) do Hospital Universitário
Professor Edgard Santos (Complexo HUPES), da Universidade Federal da Bahia,
além de consultórios particulares para a composição dos grupos clínicos. Além da
criança que respondeu aos testes, também respondeu a questionários o responsável
que a acompanhou na avaliação.
Os critérios de inclusão para este grupo foram: ter atividade
encefalográfica de base normal com pontas na região centro-temporal e ser
residente na Bahia. Critérios de exclusão: episódio de crise no dia da coleta e/ou
que antecedeu a coleta, ter outra doença crônica, atraso no desenvolvimento
neuropsicomotor, transtorno psiquiátrico (exceto TDAH e TDO), alteração em
exame de neuroimagem, suspeita de deficiência intelectual (QI máximo estimado
< 70). Detalhes sobre os critérios eletroclínicos de classificação da ER estão
relatados no estudo empírico 1. Na tabela 1 é possível encontrar um resumo clínico
de cada participante do grupo de crianças com epilepsia. As crianças deste grupo
foram avaliadas em um consultório ou em domicílio (quando os responsáveis não
podiam se deslocar para o atendimento).
Para composição do grupo comparação, também foi realizada
amostragem por conveniência em escolas públicas e particulares da Bahia.
Participaram crianças e responsáveis. Critérios de inclusão: não apresentar
epilepsia. Foram critérios de exclusão: presença de doença crônica, atraso no
desenvolvimento neuropsicomotor, transtorno psiquiátrico, suspeita de
deficiência intelectual (QI máximo estimado < 70). As crianças deste grupo foram
avaliadas em uma sala disponibilizada pelas escolas ou em domicílio (quando não
havia sala disponível).
132
Todas os participantes responderam aos mesmos instrumentos (exceto
pelo Roteiro de Epilepsia, destinado apenas ao grupo clínico), em uma sessão de
cerca de 1:30 hora de duração. Antes da coleta dos dados, os responsáveis
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo B) e as crianças
assinaram o Termo de Assentimento do Menor (Anexo C).
A amostra final foi composta por 57 crianças (20 do sexo feminino), com
idades entre 72 e 164 meses (M=116,75, dp=25,21). O grupo clínico incluiu 24
crianças (11 do sexo feminino) com diagnóstico de epilepsia rolândica (típica, n=
18, ou atípica, n=6), idade média de 121,79 meses (dp=21,48) e QI estimado
médio de 95,71 (dp=18,66). No grupo clínico, quatro crianças eram canhotas, e
vinte destras. O grupo controle, por sua vez, contou com 33 crianças (19 do sexo
feminino), idade média de 113,09 meses (dp=27,34) e QI estimado médio de 97,18
(dp=18,62). Conforme apresentado no estudo empírico 1, os grupos clínico e
controle não apresentaram diferenças significativas em idade (U=311,5; p>,05),
QI estimado (U=386; p>,05), na pontuação no Critério de Classificação
Econômica Brasil-2015 (U=317; p>,05) e em renda (U=189,5; p>,05).
Tabela 1 - Caracterização clínica, QI e classificação do tipo de epilepsia dos participantes do grupo
clínico
Cas
o
Sex
o
Idad
e (m
eses
)
Idad
e da
pri
mei
ra c
rise
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(mes
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Núm
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cris
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Tem
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e
contr
ole
das
cris
es
Med
icaç
ão e
m
uso
¹
Med
icaç
ões
ante
riore
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n)
Des
carg
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eral
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a)
Loca
liza
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as
des
carg
as
Qie
²
(min
-max
)
Cla
ssif
icaç
ão
ER
³
1
F 100 85 1 1 a 2 anos VPA 0 F sem
predominância
127
(117-132) Típ.
2
F 122 100 5 a 10 1 a 2 anos OXC 0 F predominância
à direita
102
(94-109)
Típ.
3
F 129 99 2 a 5 > 2 anos CBZ 0 F sem
predominância
73
(68-83)
Típ.
4
F 109 72 5 a 10 6 meses a
1 ano TPM 0 F
predominância
à direita
76
(70-86)
Típ.
5
F 150 72 5 a 10 > 2 anos OXC. 1 F predominância
à direita
102
(94-109)
Típ.
6
F 104 72 10 a 15 6 meses a
1 ano OXC 0 F
sem
predominância
93
(86-101)
Típ.
133
7
F 124 84 15 a 20 < 6 meses OXC 0 G sem
predominância
118
(109-124)
Típ. 8
M 137 133 1 < 6 meses OXC 0 F lateralizada à
esquerda
116
(107-122)
Típ.
9
M 83 48 2 a 5 > 2 anos CBZ 0 F predominância
à esquerda
94
(87-102)
Típ.
10
M 155 131 2 a 5 Nenhu
ma 0 F
sem
predominância
118
(109-124)
Típ.
11
M 111 12 5 a 10 6 meses a
1 ano CBZ 0 F
sem
predominância
89
(82-98)
Típ.
12
M 157 96 2 a 5 > 2 anos VPA 0
F sem
predominância
95
(88-103)
Típ.
13
M 119 8 2 a 5 < 6 meses CBZ 0
F sem
predominância 67
(62-77)
Típ.
14
M 137 96 15 a 20 não
controlado VPA CBZ
1
F lateralizada à
direita 77
(71-86)
Típ.
15
M 121 112 10 a 15 não
controlado OXC 1
F predominância
à direita 102
(94-109)
Típ.
16
M 99 24 10 a 15 > 2 anos OXC 0
F predominância
à esquerda
118
(109-124)
Típ.
17
M 80 24 15 a 20 6 meses a
1 ano VPA 1
F sem
predominância
87
(80-96)
Típ.
18
M 136 96 15 a 20 < 6 meses CBZ. 0
F predominância
à direita
86
(79-95)
Típ.
19
F 142 60 5 a 10 1 a 2 anos VPA 3 F sem
predominância
94
(87-102) Atíp.
20
F 115 72 15 a 20 < 6 meses CLB 2 F lateralizada a
direita
128
(118-133) Atíp.
21
F 128 72 5 a 10 1 a 2 anos CLB 2 F POCS à
esquerda
110
(102-117)
Atíp.P
22
F 96 48 > 40 > 2 anos VPA 1 G POCS bilateral 73
(68-83)
Atíp.P
134
23
M 149 72 > 40 > 2 anos VPA
CLB - G -
67
(62-77)
Atíp.P 2
4
M 120 20 > 40 não
controlado
VPA
CLB 1
predominância
à esquerda
85
(79-94)
Atíp.P
¹ VPA.= ácido valpróico; CLB.= clobazam; CBZ. = carbamazepina; OXC= oxcarbazepina; TPM= topiramato
² QIe=quociente de inteligência estimado
³ Típ.= ER típica; Atíp. = ER atípica; Atíp.P= ER atípica com POCS
Instrumentos
Avaliação Neuropsicológica (Detalhes sobre os instrumentos
neuropsicológicos estão relatados no estudo empírico 1):
Escala Wechsler Abreviada de Inteligência – WASI (Wechsler,
2014): avaliação de inteligência.
Teste de Atenção Visual - TAVIS-4 (Duchesne e Mattos, 1997):
avaliação do controle inibitório e atenção.
Subteste Dígitos da Escala de Inteligência Wechsler para Crianças
– IV (WISC-IV) (Wechsler, 2013): avaliação da memória operacional verbal.
Cubos de Corsi (Kessels, van Zandvoort, Postma, Kappelle, & de
Haan, 2000): avaliação da memória operacional visuoespacial.
Teste dos Cinco Pontos (Strauss, Sherman & Spreen, 2006):
avaliação da flexibilidade cognitiva.
Variáveis do ambiente familiar
Questionário Socioambiental (Abreu & Engel, s.d.): este
questionário inclui questões sobre o ambiente familiar, o desenvolvimento infantil
e o Critério de Classificação Econômica Brasil – 2015. O Critério de Classificação
Econômica Brasil (CCEB) é instrumento construído pela Associação Brasileira de
Empresas de Pesquisa (ABEP) para estimar o poder de compra das pessoas e
famílias urbanas. Sua pontuação permite a classificação em classes econômicas,
subdivididas em seis níveis (A; B1; B2; C1; C2; D-E) (ABEP, 2014). Do
questionário, foram utilizadas a pontuação total do CCEB-ABEP, renda mensal,
escolaridade materna e paterna (em anos) e informações sobre quantidade de
residentes e de cômodos na casa, a partir das quais foi gerada uma medida de
aglomeração no ambiente familiar (residentes/cômodos). (Anexo D)
135
Recursos do Ambiente Familiar – RAF (Marturano, 2006): Trata-
se de um inventário para o levantamento dos recursos do ambiente familiar que
contribuem para a aprendizagem acadêmica durante o ensino fundamental.
Embasada no modelo bioecológico do desenvolvimento, o RAF é composta por
10 tópicos, agrupados em três domínios. Os domínios “recursos que promovem
processos proximais” e “atividades previsíveis que sinalizam algum grau de
estabilidade na vida familiar” são relativos ao microssistema familiar, enquanto o
domínio “práticas parentais que promovem a ligação família-escola” situa-se no
mesossistema família-escola. O inventário é aplicado com a mãe ou
acompanhante da criança de maneira semi-estruturada. A pontuação de cada
tópico é dada pela soma dos itens assinalados, exceto nos tópicos 8, 9 e 10, que
possuem pontuações especificadas no inventário. São fornecidos dois escores: o
escore bruto (soma de todos os tópicos); e o escore relativo de cada tópico, exceto
8, 9 e 10 (pontuação bruta/ pontuação máxima do tópico x 10) (Marturano, 2006).
Além da pontuação total, foram utilizadas as seguintes categorias propostas por
Monteiro e Santos (2013): 1) suporte parental das rotinas escolares (RAF-SP),
contendo os três itens referentes ao estabelecimento de horários para as atividades
e supervisão para a escola; 2) interação com os pais (RAF-IP), que inclui quatro
itens sobre passeios e atividades que a família realiza junta e pessoa que a criança
recorre quando necessita; e 3) recursos materiais no ambiente físico (RAF-RM),
que se refere aos brinquedos e outros materiais promotores de desenvolvimento
disponíveis, além de revistas, jornais e livros, contemplados por três itens. (Anexo
G)
Variáveis da epilepsia
Roteiro sobre Epilepsia: neste roteiro, elaborado para esta pesquisa,
constam questões sobre a idade de início das crises, total e características das
crises (tipo e horário de ocorrência), data da última crise, uso de medicação (atuais
e anteriores) e atividade eletroencefalográfica (em prontuário) (Anexo F). A partir
das informações do questionário, a duração da epilepsia foi estimada subtraindo-
se a idade de início das crises da idade da criança durante a avaliação (idade inicial
– idade atual). Tendo em vista que nem todos os responsáveis sabiam informar a
quantidade exata de crises da criança, foi solicitado que estimassem esse dado, a
partir dos quais foram criadas as faixas: 1- crise única; 2-até 5 crises; 3- até 10
136
crises; 4- até 15 crises; 5- até 20 crises; 6- até 30 crises; 7- até 40 crises; 8- a partir
de 41 crises.
Análise dos dados
Todas as variáveis foram submetidas a análises exploratórias que
permitiram identificar valores atípicos (outliers), além de averiguar a distribuição
dos dados. Os valores atípicos foram excluídos ou ajustados (somando-se ou
subtraindo-se uma unidade, respectivamente, dos limites internos superior ou
inferior). Foram consideradas com distribuição normal as variáveis que
apresentaram valor p>.05 no teste de normalidade Shapiro Wilk e valor-z de
assimetria e curtose entre -1,96 e 1,96.
A exploração dos dados e análises de estatística descritiva e inferencial
foram conduzidas com auxílio do software IBM SPSS Statistics 20. Tendo em
vista que a maioria das variáveis apresentou distribuição distinta da normal, foram
utilizados testes não-paramétricos. A associação entre variáveis
ordinais/contínuas (neuropsicológicas X familiares) foi medida através do
coeficiente de correlação de Spearman, adequado a dados não-paramétricos.
Foram geradas correlações para a amostra total e para os grupos clínico e controle.
As correlações que se mostraram significativas em um ou ambos os grupos
(clínico e controle) foram comparadas. A comparação das correlações no grupo
clínico e controle foi realizada pela transformação Z de Fisher, conforme indicado
por (Myers & Sirois, 2006). Valores de Z menores que -1,96 e maiores que +1,96
são considerados significativos (p<,05).
No caso da variável categórica “lateralidade do foco”, não foi testada a
associação com as demais medidas, mas sim a diferença dos grupos quanto ao
perfil neuropsicológico. Foram conduzidos os testes de hipóteses não-
paramétricos Teste Kruskal-Wallis, para mais de dois grupos, e Teste U de Mann-
Whitney, para dois grupos. Considerou-se estatisticamente significantes os
resultados associados a valor de p 0,05. O tamanho de efeito das diferenças entre
grupos foi calculado para as variáveis que apresentaram p0,05. O tamanho de
efeito foi estimado através da fórmula 𝑟 =𝑍
√𝑛 , onde z corresponde ao escore-z
dado pelo SPSS e n à amostra da qual o z foi calculado (Field, 2005).
137
Resultados
As correlações para a amostra total encontram-se nas tabelas 2 e 3. Os
resultados são relatados de acordo com as medidas do ambiente familiar.
Tabela 2 - Coeficientes de correlação de Spearman (ρ) entre medidas do
ambiente familiar e QI/memória operacional na amostra total
CC
EB
-AB
EP
Ren
da
Esc
ola
rid
ad
e
ma
tern
a
Esc
ola
rid
ad
e
pa
tern
a
Ag
lom
eração
RA
F-T
OT
AL
RA
F-S
P
RA
F-I
P
RA
F-R
M
QI estimado ,636** ,679** ,674** ,543** -,391 ,393** ,427** ,225 ,325*
Dígitos – OD
Span ,266 ,316* ,249 ,082 -,369 ,114 ,031 ,111 ,136
Pontuação bruta
,165 ,202 ,183 -,014 -,379 ,047 ,019 ,106 ,026
Pontuação
ponderada ,312* ,340* ,316* ,079 -,283 ,174 ,205 ,244 ,029
Dígitos – OI
Span ,328* ,288* ,199 ,125 -,258 ,151 ,116 ,143 ,145
Pontuação
bruta ,396** ,385** ,274* ,182 -,226 ,255 ,167 ,230 ,256
Pontuação
ponderada ,556** ,496** ,443** ,341* -,172 ,414** ,383** ,346* ,314*
Cubos de
Corsi – OD
Span ,317* ,366** ,164 ,079 ,260 ,198 ,184 ,239 ,185
Acertos ,201 ,284* ,161 ,140 ,088 ,135 ,165 ,119 ,150
Span x Acertos ,244 ,318* ,170 ,125 ,089 ,213 ,223 ,157 ,197
Cubos de
Corsi – OI
Span ,230 ,350** ,193 ,219 -,048 ,137 ,038 ,000 ,264*
Acertos ,181 ,258 ,131 ,133 -,105 ,138 ,133 ,019 ,199
Span x Acertos ,215 ,310* ,168 ,177 -,084 ,156 ,105 ,022 ,244
*p<,05; **p<,01
¹RAF - Suporte Parental das Rotinas Escolares; ²RAF - Interação com os Pais; ³RAF - Recursos Materiais do Ambiente Físico
138
Tabela 3 - Coeficientes de correlação de Spearman (ρ) entre medidas do ambiente
familiar e controle inibitório e atenção/flexibilidade cognitiva na amostra total.
CC
EB
-AB
EP
Ren
da
Esc
ola
rid
ad
e
mate
rn
a
Esc
ola
rid
ad
e
pate
rn
a
Aglo
mer
ação
RA
F-T
OT
AL
RA
F-S
P¹
RA
F-I
P²
RA
F-R
M³
TAVIS -
tarefa 1
Tempo
(segundos) ,224 ,097 ,180 ,278 -,001 ,133 ,242 ,091 ,033
Erros de
omissão ,047 ,042 -,099 -,163 ,113 -,112 -,339* -,048 ,065
Erros de ação -,419** -,401** -,423** -,211 ,329 -,253 -,249 -,195 -,172
TAVIS -
tarefa 3
Tempo
(segundos) -,093 -,012 -,177 -,195 ,133 -,173 -,239 -,095 -,127
Erros de
omissão ,000 ,077 -,032 -,236 ,257 -,161 -,257 ,000 -,158
Erros de ação -,105 ,000 -,180 -,193 ,130 -,366** -,282* -,312* -,314*
Teste dos
Cinco Pontos
Total de
desenhos -,064 ,103 -,131 ,050 -,192 -,108 -,153 -,083 -,037
Desenhos
corretos ,127 ,228 ,064 ,219 -,199 ,116 ,084 ,030 ,208
Total erros
perseverativos -,107 -,100 -,189 -,182 ,143 -,098 -,186 -,043 -,056
% Erros
perseverativos -,122 -,166 -,183 -,266 ,233 -,089 -,167 -,044 -,062
Total erros não
perseverativos -,227 -,119 -,221 -,185 -,224 -,221 -,119 -,109 -,358**
139
% Erros não
perseverativos -,193 -,121 -,161 -,186 -,136 -,173 -,049 -,033 -,374**
*p<,05; **p<,01
¹RAF - Suporte Parental das Rotinas Escolares; ²RAF - Interação com os Pais; ³RAF - Recursos Materiais do Ambiente Físico
Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB-ABEP)
Foram observadas correlações positivas de fraca a moderadas entre o
CCEB-ABEP e o QI estimado (ρ=0,636; p<,01), pontuação ponderada Dígitos
ordem direta (ρ=0,312; p<,05), span (ρ=0,328; p<,05), pontuação bruta (ρ=0,369;
p<,01), pontuação ponderada (ρ=0,556; p<,01) do Dígitos ordem inversa e span
do Cubos de Corsi ordem direta (ρ=0,317; p<,05). O CCEB-ABEP correlacionou-
se negativa e moderadamente aos erros de ação da tarefa 1 do TAVIS (ρ=-0,419;
p<,01).
Renda mensal
A variável renda apresentou correlações positivas, de fracas a moderadas,
com QI estimado (ρ=0,679; p<,01), span (ρ=0,316; p<,05) e pontuação ponderada
(ρ=0,34; p<,05) do Dígitos ordem direta, span (ρ=0,288; p<,05), pontuação bruta
(ρ=0,385; p<,01) e pontuação ponderada (ρ=0,496; p<,01) do Dígitos ordem
inversa, span (ρ=0,366; p<,01), acertos (ρ=0,284; p<,05) e span x acertos
(ρ=0,318; p<,05) do Cubos de Corsi ordem direta, span (ρ=0,35; p<,01) e span x
acertos (ρ=0,31; p<,05) do Cubos de Corsi ordem inversa. Foi observada
correlação negativa moderada com os erros de ação da tarefa 1 do TAVIS (ρ=-
0,401; p<,01).
Escolaridade parental
A escolaridade materna correlacionou-se positivamente, com
intensidades de fraca a moderada, ao QI estimado (ρ=0,674; p<,01), pontuação
ponderada do Dígitos ordem direta (ρ=0,316; p<,05), pontuação bruta (ρ=0,274;
p<,05) e pontuação ponderada (ρ=0,443; p<,01) do Dígitos ordem inversa. Os
erros de ação na tarefa 1 do TAVIS (ρ=-0,423; p<,01) correlacionou-se negativa
e moderadamente à escolaridade materna.
140
A escolaridade paterna correlacionou-se moderadamente com o QI
estimado (ρ=0,543; p<,01) e pontuação ponderada do Dígitos ordem inversa
(ρ=0,341; p<,01).
Aglomeração
A medida de aglomeração no ambiente familiar não apresentou
correlações significativas com nenhuma das variáveis neuropsicológicas.
Inventário de Recursos do Ambiente Familiar
A pontuação total do RAF correlacionou-se positivamente ao QI
estimado (ρ=0,393; p<,01) e pontuação ponderada de Dígitos ordem inversa
(ρ=0,414; p<,01). Com os erros de ação na tarefa 3 do TAVIS (ρ=-0,366; p<,01),
a correlação foi negativa.
A categoria suporte parental das rotinas escolares (RAF-SP) associou-se
positivamente ao QI estimado (ρ=0,427; p<,01) e à pontuação ponderada do
Dígitos ordem inversa (ρ=0,383; p<,01). Correlações negativas foram obtidas
entre a RAF-SP e os erros de omissão na tarefa 1 (ρ=-0,339; p<,05) e erros de
ação na tarefa 3 (ρ=-0,282; p<,05) do TAVIS. A categoria interação com os pais
(RAF-IP) apresentou correlação moderada positiva com a pontuação ponderada
do Dígitos ordem inversa (ρ=0,346; p<,05) e negativa com erros de ação na tarefa
3 do TAVIS (ρ=-0,312; p<,05). A categoria recursos materiais do ambiente físico
(RAF-RM) correlacionou-se positiva e moderadamente ao QI estimado (ρ=0,325;
p<,05), pontuação ponderada do Dígitos ordem inversa (ρ=0,314; p<,05) e span
do Cubos de Corsi odem inversa (ρ=0,264; p<,05). Correlações negativas
moderadas entre RAF-RM e erros de ação na tarefa 3 do TAVIS (ρ=-0,314;
p<,05), total de erros não perseverativos (ρ=-0,358; p<,01) e percentual de erros
não perseverativos (ρ=-0,374; p<,05) no Teste dos Cinco Pontos.
Correlações entre as variáveis do ambiente familiar e de funções
executivas foram geradas para os grupos clínico e controle, separadamente. As
correlações significativas foram comparadas. Os resultados estão apresentados
nas tabelas 4 a 7.
141
Tabela 4 - Comparação dos coeficientes de correlações de Spearman (ρ) dos grupos
clínico e controle entre medidas do ambiente familiar e subteste Dígitos (WISC-IV)
CC
EB
-AB
EP
Ren
da
Esc
ola
rid
ad
e
pate
rn
a
Esc
ola
rid
ad
e
mate
rn
a
Aglo
mer
ação
RA
F-T
OT
AL
RA
F-
SP
¹
RA
F-
IP²
RA
F-
RM
³
Dígitos -
OD
Span
Clinico ,713** ,666** ,372 ,613** -,369 ,409* ,182 ,321 ,396
Controle ,029 ,061 -,197 -,040 ,129 -,110 -,070 -,082 -,066
Z de
Ficher
(p-value)
2,93**
(0,003)
2,5*
(0,01)
2,57*
(0,01)
1,87
(0,06)
Pontuação
bruta
Clinico ,650** ,561** ,278 ,568** -,379 ,271 ,207 ,220 ,220
Controle -,075 -,018 -,264 -,097 ,075 -,153 -,157 -,014 -,109
Z de Ficher
(p-value)
2,9**
(0,004)
2,21*
(0,03)
2,55*
(0,01)
Pontuação
ponderada
Clinico ,705** ,598** ,139 ,611** -,283 ,445* ,272 ,391 ,372
Controle ,151 ,257 ,053 ,131 -,007 -,021 ,136 ,130 -,231
Z de
Ficher
(p-value)
2,48*
(0,01)
1,45
(0,15)
1,99*
(0,047)
1,73
(0,08)
Dígitos –
OI
Span
Clinico ,445* ,344 ,281 ,279 -,258 ,300 ,374 ,238 ,163
Controle ,331 ,232 ,012 ,122 ,140 -,058 -,181 -,011 ,113
Z de
Ficher
(p-value)
0,46
(0,65)
Pontuação
bruta
Clinico ,490* ,419 ,359 ,326 -,226 ,387 ,411* ,289 ,272
Controle ,428* ,334 ,067 ,228 ,048 ,072 -,097 ,103 ,225
Z de
Ficher
(p-value)
0,27
(0,79)
1,84
(0,066)
142
Pontuação
ponderada
Clinico ,520* ,395 ,251 ,365 -,172 ,522** ,480* ,436* ,356
Controle ,676** ,582** ,465* ,505** -,035 ,319 ,260 ,246 ,273
Z de
Ficher
(p-value)
-0,84
(0,4)
-0,83
(0,41)
-0,76
(0,45)
-0,6
(0,55)
0,86
(0,39)
0,89
(0,37)
0,74
(0,46)
*p<0,05; **p<0,01
¹RAF - Suporte Parental das Rotinas Escolares; ²RAF - Interação com os Pais; ³RAF - Recursos Materiais do
Ambiente Físico
Tabela 5 - Comparação dos coeficientes de correlações de Spearman (ρ) dos grupos
clínico e controle entre medidas do ambiente familiar e Cubos de Corsi
CC
EB
-AB
EP
Ren
da
Esc
ola
rid
ad
e
pa
tern
a
Esc
ola
rid
ad
e
mate
rn
a
Ag
lom
eração
RA
F-T
OT
AL
RA
F-
SP
¹
RA
F-
IP²
RA
F-
RM
³
Cubos de
Corsi –
OD
Span
Clinico ,482* ,491* ,233 ,269 ,260 ,245 ,188 ,204 ,321
Controle ,360 ,341 -,053 ,088 -,270 ,129 ,131 ,376* ,083
Z de Ficher
(p-value)
0,5 (0,62)
0,6 (0,55)
-0,64 (0,52)
Acertos
Clinico ,423* ,450* ,464* ,286 ,088 ,178 ,177 ,043 ,215
Controle ,215 ,267 -,144 ,061 -,314 ,012 ,075 ,247 ,062
Z de
Ficher
(p-value)
0,8
(0,42)
0,71
(0,48)
1,89
(0,059)
Span X
Acertos
Clinico ,449* ,479* ,432 ,303 ,089 ,192 ,186 ,075 ,238
Controle ,256 ,273 -,155 ,068 -,232 ,185 ,182 ,314 ,156
Z de
Ficher
(p-value)
0,75
(0,45)
0,81
(0,42)
Cubos de
Corsi –
OI
Span
Clinico ,283 ,421 ,540* ,214 -,048 ,300 ,191 ,197 ,296
Controle ,206 ,239 -,023 ,165 -,076 ,016 -,059 -,155 ,246
Z de
Ficher
(p-value)
0,7
(0,48)
1,94
(0,052)
Acertos
143
Clinico ,346 ,428* ,442 ,173 -,105 ,293 ,294 ,178 ,244
Controle ,124 ,157 -,074 ,100 -,208 -,010 -,041 -,138 ,182
Z de
Ficher
(p-value)
1,01
(0,31)
Span X
Acertos
Clinico ,330 ,413 ,434 ,158 -,084 ,303 ,284 ,193 ,256
Controle ,172 ,202 -,034 ,142 -,155 ,006 -,061 -,142 ,233
Z de
Ficher
(p-value)
*p<0,05; **p<0,01
¹RAF - Suporte Parental das Rotinas Escolares; ²RAF - Interação com os Pais; ³RAF - Recursos Materiais do
Ambiente Físico
Tabela 6 - Comparação dos coeficientes de correlações de Spearman (ρ) dos grupos
clínico e controle entre medidas do ambiente familiar e TAVIS-4
CC
EB
-AB
EP
Ren
da
Esc
ola
rid
ad
e
pa
tern
a
Esc
ola
rid
ad
e
ma
tern
a
Ag
lom
eraçã
o
RA
F-T
OT
AL
RA
F-
SP
¹
RA
F-
IP²
RA
F-
RM
³
TAVIS -
tarefa 1
Tempo
Clinico ,014 -,050 -,049 ,002 -,001 ,219 ,139 ,152 ,180
Controle ,328 ,239 ,452* ,298 -,059 ,086 ,288 ,064 -,070
Z de
Ficher
(p-value)
-1,65
(0.1)
Erros de
omissão
Clinico ,079 ,056 -,394 -,179 ,113 -,174 -,337 -,066 ,050
Controle -,029 ,034 ,076 -,027 ,032 -,049 -,233 -,109 ,089
Z de
Ficher
(p-value)
Erros de
ação
Clinico -,564** -,442* -,001 -,581** ,329 -,347 -,222 -,210 -,250
Controle -,341 -,391* -,290 -,336 ,127 -,190 -,271 -,146 -,090
Z de
Ficher
(p-value)
-0,95
(0,34)
-0,2
(0,84)
-1,07
(0,28)
TAVIS -
tarefa 3
Tempo
Clinico -,075 ,024 -,465* -,164 ,133 -,221 -,287 -,084 -,230
Controle -,147 ,051 ,036 -,200 ,099 -,063 -,143 -,128 -,081
144
Z de
Ficher
(p-value)
-1,64
(0,101)
Erros de
omissão
Clinico -,209 -,189 -,543* -,136 ,133 -,169 -,401 ,005 -,277
Controle ,109 ,301 ,083 ,035 ,069 -,046 -,050 0,000 -,059
Z de
Ficher
(p-value)
-2,1*
(0,04)
Erros de ação
Clinico -,365 -,267 -,573* -,378 ,130 -,507* -,458* -,338 -,521**
Controle -,015 ,171 ,140 -,016 ,293 -,174 -,063 -,303 -,137
Z de
Ficher
(p-value)
-2,39*
(0.02)
-1,31
(0,19)
-1,47
(0,14)
-1,5
(0,13)
*p<0,05; **p<0,01
¹RAF - Suporte Parental das Rotinas Escolares; ²RAF - Interação com os Pais; ³RAF - Recursos Materiais do
Ambiente Físico
Tabela 7 - Comparação dos coeficientes de correlações de Spearman (ρ) dos grupos clínico e
controle entre medidas do ambiente familiar e Teste dos Cinco Pontos
CC
EB
-AB
EP
Ren
da
Esc
ola
rid
ad
e
pa
tern
a
Esc
ola
rid
ad
e
ma
tern
a
Ag
lom
eraçã
o
RA
F-T
OT
AL
RA
F-
SP
¹
RA
F-
IP²
RA
F-
RM
³
Total de
desenhos
clinico -,030 ,097 ,463* ,016 -,192 ,171 ,331 ,141 ,010
controle -,127 ,011 -,282 -,175 -,069 -,296 -,409* -,231 -,017
Z de
Ficher
(p-value)
2,43*
(0,02)
2,7**
(0,007)
Desenhos
Corretos
clinico ,366 ,356 ,688** ,277 -,199 ,444* ,489* ,251 ,426*
controle ,018 ,094 -,191 -,084 -,311 -,191 -,222 -,187 ,040
Z de
Ficher
(p-value)
3.21**
(0,001)
2,34*
(0,02)
2.65**
(0.008)
1,45
(0.15)
Total erros
perseverativos
clinico
-,315 -,340 -,178 -,364 ,143
-,146 ,029 -,031 -,279
controle ,005 -,030 -,267 -,093 -,100 -,129 -,360 -,027 ,124
Z de
Ficher
(p-value)
145
% Erros
perseverativos
Clinico -,336 -,373 -,345 -,404* ,233 -,202 -,058 -,090 -,306
Controle ,026 -,030 -,198 -,042 -,060 -,038 -,258 ,023 ,115
Z de
Ficher
(p-value)
-1,29
(0,2)
Total erros
não
perseverativos
clinico
-,355 -,167 -,254 -,278 -,224
-,332 -,069 -,152 -,470*
controle -,235 -,109 -,084 -,171 ,240 -,154 -,127 -,079 -,258
Z de
Ficher
(p-value)
-0,86
(0,39)
% Erros não
perseverativos
clinico
-,313 -,179 -,402 -,249 -,136
-,338 -,134 -,164 -,487*
controle
-,183 -,068 -,012 -,103 ,270
-,043 ,036 ,080 -,299
Z de
Ficher
(p-value)
-0.77
(0,44)
*p<0,05; **p<0,01
¹RAF - Suporte Parental das Rotinas Escolares; ²RAF - Interação com os Pais; ³RAF - Recursos Materiais do
Ambiente Físico
Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB-ABEP)
Quanto ao CCEB-ABEP, o grupo clínico apresentou correlações
significativamente mais intensas do que os controles nas variáveis: span
(respectivamente, ρ=0,713; p<,01 e ρ=0,029; p>,05; Z= 2,93, p<,01), pontuação
bruta (respectivamente, ρ=0,65; p<,01 e ρ=-0,075; p>,05; Z= 2,9, p<,01) e
pontuação ponderada (respectivamente, ρ=0,705; p<,01 e ρ=0,151; p>,05; Z=
2,28, p=,01) do Dígitos ordem direta.
O grupo clínico apresentou correlações positivas significativas entre o
CCEB-ABEP e todas a medidas do Dígitos ordem inversa (span, ρ=0,445; p<,05;
pontuação bruta, ρ=0,49; p<,05; pontuação ponderada, ρ=0,52; p<,05) e do Cubos
de Corsi ordem direta (span, ρ=0,482; p<,05; acertos, ρ=0,423; p<,05; span x
acertos, ρ=0,449; p<,05), e negativa com os erros de ação na tarefa 1 do TAVIS
(ρ=-0,564; p<,01), porém não significativamente distintas das correlações do
146
grupo controle. Na pontuação ponderada do Dígitos ordem inversa, ambos os
grupos apresentaram correlações positivas moderadas significativas com o
CCEB-ABEP (clínico, ρ=0,52; p<,05; controle, ρ=0,676; p<,01), estatisticamente
indiferenciadas.
Renda mensal
Em relação à renda, o grupo clínico apresentou correlações
significativamente mais intensas do que os controles nas variáveis: span
(respectivamente, ρ=0,666; p<,01 e ρ=0,061; p>,05; Z= 2,5, p=,01) e pontuação
bruta (respectivamente, ρ=0,561; p<,01 e ρ=-0,018; p>,05; Z= 2,21, p<,05) do
Dígitos ordem direta
Dentre as correlações que não se diferenciaram entre os grupos, para
crianças com ER houve correlações significativas entre renda e pontuações
ponderadas do Dígitos ordem direta (ρ=0,598; p<,01), todas as medidas do Cubos
de Corsi ordem direta (span, ρ=0,491; p<,05; acertos, ρ=0,45; p<,05; span x
acertos, ρ=0,479; p<,05) e acertos no Cubos de Corsi ordem inversa (ρ=0,428;
p<,05), enquanto no grupo controle a renda correlacionou-se com a pontuação
ponderada no Dígitos ordem inversa (ρ=0,582; p<,01). Nos erros por ação da
tarefa 1 do TAVIS, ambos os grupos apresentaram correlações negativas
moderadas significativas com a renda (clínico, ρ=-0,442; p<,05; controle, ρ=-
0,391; p<,05), estatisticamente indistintas.
Escolaridade parental
A escolaridade paterna correlacionou-se mais intensamente no grupo
clínico do que no grupo controle, negativamente, aos erros de omissão
(respectivamente, ρ=-0,543; p<,05 e ρ=0,083; p>,05; Z= -2,1, p<,05) e erros de
ação (respectivamente, ρ=-0,573; p<,05 e ρ=0,14; p>,05; Z= -2,39, p<,05) na
tarefa 3 do TAVIS, e positivamente ao total de desenhos (respectivamente,
ρ=0,462; p<,05 e ρ=-0,282; p>,05; Z=2,43, p<,05) e desenhos corretos
(respectivamente, ρ=0,688; p<,01 e ρ=-0,191; p>,05; Z=3,21, p<,01) no Testes
dos Cinco Pontos.
A escolaridade materna associou-se mais intensamente no grupo clínico
do que no grupo controle ao span (respectivamente, ρ=0,613; p<,01 e ρ=-0,04;
p>,05; Z=2,57, p=,01), pontuação bruta (respectivamente, ρ=0,568; p<,01 e ρ=-
147
0,097; p>,05; Z=2,55, p=,01) e pontuação ponderada (respectivamente, ρ=0,611;
p<,01 e ρ=0,131; p>,05; Z=1,99, p<,05) do Dígitos ordem direta.
Dentre as correlações sem diferença estatística entre os grupos, a
escolaridade paterna associou-se negativamente ao tempo na tarefa 3 do TAVIS
(ρ=-0,465; p<,05), positivamente aos acertos (ρ=-0,464; p<,05) do Cubos de
Corsi ordem direta e span do Cubos de Corsi ordem inversa (ρ=0,54; p<,05), no
grupo clínico, e positivamente ao tempo na tarefa 1 do TAVIS (ρ=0,452; p<,05),
no grupo controle. A escolaridade materna correlacionou-se negativamente aos
erros de ação na tarefa 1 do TAVIS (ρ=-0,581; p<,01) e à porcentagem dos erros
perseverativos do Teste dos Cinco Pontos (ρ=0,404; p<,05) no grupo clínico, e
positivamente à pontuação ponderada do Dígitos ordem inversa (ρ=0,505; p<,01)
no grupo controle.
Aglomeração
A medida de aglomeração não se correlacionou a nenhuma das medidas,
em qualquer dos grupos.
Inventário de Recursos do Ambiente Familiar
Houve diferença entre os grupos apenas nas correlações entre medidas
do RAF e medidas do Teste dos Cinco Pontos. No grupo clinico, os desenhos
corretos associaram-se mais intensamente do que no grupo controle ao RAF-Total
(respectivamente, ρ=0,444; p<,05 e ρ=-0,191; p>,05; Z=2,34, p<,05) e ao RAF-
SP (respectivamente, ρ=0,489; p<,05 e ρ=-0,222; p>,05; Z=2,65, p<,01). O total
de desenhos correlacionou-se negativamente ao RAF-SP de maneira mais intensa
no grupo controle do que no grupo clínico (respectivamente, ρ=-0,409; p<,01 e
ρ=0,331; p>,05; Z=2,7, p<,01).
Quanto às correlações que não se diferenciaram estatisticamente entre os
grupos, foram observadas correlações positivas significativas, no grupo clínico,
entre RAF-Total e span (ρ=0,409; p<,05) e pontuação ponderada (ρ=0,445;
p<,05) do Dígitos ordem direta, entre RAF-SP e pontuação bruta do Dígitos ordem
inversa (ρ=0,411; p<,05), entre pontuação ponderada do Dígitos ordem inversa e
RAF-Total (ρ=0,522; p<,01), RAF-SP (ρ=0,48; p<,05) e RAF-IP (ρ=0,436;
p<,05), entre RAF-RM e desenhos corretos no Teste dos Cinco Pontos (ρ=0,426;
148
p<,05), e negativas entre os erros de ação da tarefa 3 do TAVIS e RAF-Total (ρ=-
0,507; p<,05), RAF-SP (ρ=-0,458; p<,05) e RAF-RM (ρ=-0,521; p<,01), entre
RAF-RM e total de erros não perseverativos (ρ=-0,47; p<,05) e percentual de
erros não perseverativos (ρ=-0,487; p<,05) do Teste dos Cinco Pontos,. No grupo
controle, houve correlação positiva entre span do Cubos de Corsi ordem direta e
RAF-IP (ρ=0,376; p<,05).
As correlações entre as medidas de funções executivas e as variáveis da
epilepsia estão apresentadas nas tabelas 8 e 9. Na tabela 10 são apresentados os
resultados do Teste de Kruskal-Wallis para diferenças entre os grupos de ER de
acordo com a localização (lateralidade/predomiância) das descargas
epileptiformes [hemisfério direito (HD) X hemisfério esquerdo (HE) X sem
predominância] nas medidas de funções executivas – aquelas em que o valor de p
atribuído foi próximo ou ≤,05 foram submetidas ao Teste U de Mann-Whitney
para cada par possível entre os grupos (HD X HE; HD X sem predominância; HE
X sem predominância), tabela 11.
Tabela 8 - Coeficientes de correlação de Spearman (ρ) entre variáveis da
epilepsia e medidas memória operacional
Idade de
início
Nº de
medicações
em uso
Nº total de
medicações Nº de crises
Duração da
epilepsia
Dígitos – OD
Span ,342 -,284 -,197 -,363 -,326
Pontuação bruta ,400 -,307 -,158 -,363 -,355
Pontuação
ponderada ,255 -,426* -,246 -,264 -,435*
Dígitos – OI
Span ,566** -,024 -,142 -,184 -,295
Pontuação bruta ,594** -,176 -,149 -,269 -,334
Pontuação
ponderada ,465* -,255 -,182 -,349 -,391
Cubos de Corsi
– OD
Span ,316 -,257 -,129 -,092 -,137
Acertos ,432* -,106 -,092 -,178 -,186
Span x Acertos ,449* -,156 -,119 -,173 -,197
Cubos de Corsi
– OI
149
Span ,493* ,024 -,088 -,235 -,157
Acertos ,511* ,039 -,017 -,169 -,127
Span x Acertos ,516** ,031 -,028 -,183 -,134
*p<,05; **p<,01
Tabela 9 - Coeficientes de correlação de Spearman (ρ) entre variáveis da epilepsia
e medidas se controle inibitório e atenção/ flexibilidade cognitiva
Idade de
início
Nº de
medicações
em uso
Nº total de
medicações Nº de crises
Duração da
epilepsia
TAVIS - tarefa 1
Tempo (segundos) -,176 -,173 ,079 -,129 -,242
Erros de omissão -,230 -,152 -,261 -,112 ,314
Erros de ação -,180 ,378 ,041 ,239 ,425*
TAVIS - tarefa 3
Tempo (segundos) -,463* ,132 -,196 ,159 ,238
Erros de omissão -,344 ,340 -,097 ,142 ,276
Erros de ação -,434* ,421* -,097 ,179 ,381
Teste dos Cinco
Pontos
Total de desenhos ,278 -,080 -,211 -,016 -,288
Desenhos corretos ,408* -,373 -,080 -,241 -,373
Total erros
perseverativos ,080 ,013 -,322 ,257 -,093
% Erros
perseverativos -,032 ,067 -,306 ,317 ,049
Total erros não perseverativos
-,158 ,286 -,081 ,289 ,015
% Erros não
perseverativos -,238 ,385 -,026 ,392 ,093
*p<,05; **p<,01
Tabela 10 - Diferenças entre grupos de localização das descargas epileptiformes nas
medidas de funções executivas
HD¹ HE²
Sem
predominância
N (%)
Mediana
(intervalo
interquartil)
N (%)
Mediana
(intervalo
interquartil)
N (%)
Mediana
(intervalo
interquartil)
H
(gl=2)* p-value
Dígitos – OD
Span 7
(100) 4 (1)
4
(100) 5 (0,75) 13
(100) 4 (1) 4,058 0,131
150
Pontuação
bruta
7
(100) 6 (3)
4
(100) 7,5 (1) 13
(100) 6 (2,5) 3,279 0,194
Pontuçao
ponderada
7 (100)
7 (4, ) 4
(100) 10,5 (3,25) 13
(100) 7 (2,5) 5,428 0,066
Dígitos – OI
Span 7
(100) 3 (2)
4
(100) 3 (2,25) 13
(100) 3 (2) 0 1
Pontuação
bruta 7
(100) 6 (3)
4
(100) 6 (4,5) 13
(100) 5 (4) 0,098 0,952
Pontuçao
ponderada 7
(100) 9 (4)
4
(100) 10 (5) 13
(100) 9 (6) 0,461 0,794
Cubos de
Corsi – OD
Span 7
(100) 4 (1)
4
(100) 4,5 (1,75) 13
(100) 5 (1) 0,126 0,939
Acertos 7
(100) 6 (2)
4
(100) 6,5 (4) 13
(100) 6 (3,5) 0,689 0,709
Span x Acertos 7
(100) 24 (16)
4
(100) 29,5 (29) 13
(100) 30 (19) 0,386 0,824
Cubos de
Corsi – OI
Span 7
(100) 5 (1)
4
(100) 5 (5) 13
(100) 6 (2,5) 0,044 0,978
Acertos 7
(100) 6 (3)
4
(100) 6 (8) 13
(100) 7 (5) 0,033 0,983
Span x Acertos 7
(100) 30 (23)
4
(100) 31 (70) 13
(100) 42 (38,5) 0,055 0,973
TAVIS -
tarefa 1
Tempo
(segundos)
7
(100)
0,589
(0,053)
4
(100) 0,551
(0,161)
13
(100)
0,582
(0,216) 0,105 0,949
Erros de
omissão
7
(100) 0 (12)
4
(100) 4,5 (14,5) 13
(100) 2 (7,5) 1,349 0,509
Erros de ação 7
(100) 4 (6)
4
(100) 1 (0) 13
(100) 9 (10) 9,979 0,007**
TAVIS -
tarefa 3
Tempo
(segundos)
7
(100)
0,511
(0,323)
4
(100) 0,794
(0,653)
13
(100)
0,711
(0,421) 1,427 0,49
Erros de
omissão
7
(100) 0 (0)
4
(100) 1,5 (3,75) 13
(100) 0 (1,5) 2,184 0,335
Erros de ação 7
(100) 0 (1)
4
(100) 6,5 (13) 13
(100) 2 (8,5) 3,402 0,182
151
Teste dos
Cinco Pontos
Total de
desenhos
7
(100) 37 (8)
4
(100) 29 (30,5) 13
(100) 31 (14) 1,632 0,442
Desenhos
corretos
7
(100) 27 (9)
4
(100) 19 (44,75) 13
(100) 23 (20) 1,933 0,38
Total erros
perseverativos
7
(100) 5 (5)
4
(100) 2,5 (2,5) 13
(100) 5 (11) 2,247 0,325
% Erros
perseverativos
7
(100) 10 (10,18)
4
(100) 5,97 (17,35) 13
(100)
16,67
(23,05) 1,618 0,445
Total erros não
perseverativos
7
(100) 6 (7)
4
(100) 1,5 (15,25) 13
(100) 6 (17) 1,976 0,372
% Erros não
perseverativos
7
(100)
18,92
(17,66)
4
(100) 6,88 (61,94) 13
(100)
11,76
(44,95) 1,7 0,428
*Teste de Kruskal-Wallis **p<,01
¹Grupo com descargas epileptiformes lateralizadas ou predominantes no hemisfério direito; ¹Grupo com
descargas epileptiformes lateralizadas ou predominantes no hemisfério esquerdo
Tabela 11 - Teste U de Mann-Whitney para os grupos lateralidade/predominância
das descargas epileptiformes para a pontuação ponderada do subteste Dígitos
ordem direta e erros de ação na tarefa 3 do TAVIS-4
HD¹ X HE² HD¹ X Sem
predominância
HE² X Sem
predominância
Pontuação ponderada
Dígitos – OD
U (z) 5 (-1,713) 43,5 (-0,162) 5,5 (-2,358)
p-value 0,109 0,877 0,015*
Erros de ação tarefa 1
TAVIS
U (z) 0,0 (-2,721) 28,5 (-1,354) 3 (-2,757)
p-value 0,006** 0,183 0,003**
*p<,05; **p<,01
¹Grupo com descargas epileptiformes lateralizadas ou predominantes no hemisfério direito; ¹Grupo com
descargas epileptiformes lateralizadas ou predominantes no hemisfério esquerdo
Idade de início das crises
A idade de início das crises apresentou correlações positivas moderadas
com o span (ρ=0,566; p<,01), pontuação bruta (ρ=0,594; p<,01) e pontuação
ponderada (ρ=0,465; p<,05) do Dígitos ordem inversa, acertos (ρ=0,432; p<,05)
e span x acertos (ρ=0,449; p<,05) do Cubos de Corsi ordem direta, span (ρ=0,493;
p<,05), acertos (ρ=0,511; p<,05) e span x acertos (ρ=0,516; p<,01) do Cubos de
Corsi ordem inversa e desenhos corretos do Teste dos Cinco Pontos (ρ=0,408;
152
p<,05). Correlações negativas moderadas foram obtidas com o tempo (ρ=-0,463;
p<,05) e os erros de ação (ρ=-0,434; p<,05) na tarefa 3 do TAVIS.
Número de medicações
A quantidade de medicações em uso associou-se moderada e
positivamente aos erros de ação da tarefa 3 do TAVIS (ρ=0,421; p<,05) e
negativamente à pontuação ponderada do Dígitos ordem direta (ρ=-0,426; p<,05).
O número total de medicações (atuais e anteriores) não se correlacionou
às medidas de funções executivas
Número de crises
A quantidade de crises não se correlacionou às medidas de funções
executivas
Duração da epilepsia
A duração da epilepsia correlacionou-se moderada e positivamente aos
erros de ação na tarefa 1 do TAVIS (ρ=0,425; p<,05) e negativamente à pontuação
ponderada do Dígitos ordem direta (ρ=-0,435; p<,05).
Localização das descargas epileptiformes
Os grupos com descargas epileptiformes lateralizadas ou predominantes
no hemisfério direito, no hemisfério esquerdo e sem predominância diferiram na
pontuação ponderada do Dígitos ordem direta (H(2)= 5,428; p=,066) e nos erros
de ação da tarefa 1 do TAVIS (H(2)=9,979; p<,01). Análises post-hoc com o Teste
U de Mann-Whitney indicaram diferenças significativas quanto à pontuação
ponderada do Dígitos ordem direta (U= 5,5; r=-0,57; p<) entre os grupos HE
(Md=10,5; intervalo interquartil=3,25) e sem predominância (Md=7; intervalo
interquartil=2,5), no qual as crianças com descargas apenas no hemisfério
esquerdo tiverem desempenho superior àquelas com descargas em ambos os
hemisférios. Quanto aos erros de ação na tarefa 1 do TAVIS, foram significativas
as diferenças entre os grupos HD e HE (U=0; r=-0,82; p<,01; Md=4; intervalo
153
interquartil=6 e Md=1; intervalo interquartil=0, respectivamente) e entre os
grupos HE e sem predominância (U=0; r=-0,67; p<,01; Md=1; intervalo
interquartil=0 e Md=9; intervalo interquartil=10, respectivamente) – em ambas as
comparações, as crianças com descargas apenas no hemisfério esquerdo tiveram
melhor desempenho. O tamanho de efeito das diferenças foi de moderado a forte.
Discussão
Poucos estudos investigando a relação entre ambiente familiar e funções
executivas em crianças com epilepsia estão disponíveis. O presente estudo teve
como objetivos comparar associações entre variáveis do ambiente familiar e
funções executivas em crianças com e sem ER, além de investigar associações
entre funções executivas e variáveis da epilepsia. Foram levantadas as hipóteses
de que haveria associação positiva entre as funções executivas (controle inibitório,
flexibilidade cognitiva e memória operacional) e a qualidade do ambiente familiar
em todos os grupos, com maior intensidade para o grupo sem epilepsia e que, no
grupo de crianças com ER, as funções executivas associar-se-iam tanto às
variáveis relacionadas à doença quanto às variáveis do ambiente familiar.
A primeira hipótese foi parcialmente apoiada, enquanto a segunda foi
corroborada. Na amostra total, foram encontradas associações entre as medidas de
funções executivas e medidas do ambiente familiar, principalmente Critério de
Classificação Econômica, renda e escolaridade materna. A memória operacional
verbal, medida pelo subteste Dígitos ordem inversa, foi a que se associou a mais
variáveis do ambiente familiar, juntamente com o QI. As diferenças entre grupos
clínico e controle foram mais pontuais e, quando significativas, foram mais
intensas no grupo clínico do que no grupo controle, ao contrário do que se
esperava. Associações entre funções executivas e variáveis da epilepsia,
principalmente idade de início, número de medicações e duração da doença, foram
constatadas. A seguir, os resultados são discutidos, sendo levantadas hipóteses
explicativas para sua ocorrência.
Na amostra total, a medida de memória de curto-prazo verbal (Dígitos
ordem direta) associou-se à escolaridade materna, renda e ao Critério de
Classificação Econômica Brasil, enquanto a memória de curto-prazo
visuoespacial associou-se à renda e ao Critério de Classificação Econômica Brasil,
mas não à escolaridade materna. A memória operacional verbal associou-se a
154
todas as medidas ambientais, exceto aglomeração do ambiente familiar, ao passo
que a memória operacional visuoespacial associou-se apenas à renda e, em menor
intensidade, aos recursos materiais do ambiente físico. O controle inibitório,
mensurado pelos erros de ação no TAVIS, associou-se, na amostra total ao
Critério de Classificação Econômica, renda, escolaridade materna, ao total de
recursos do ambiente familiar, ao suporte parental das rotinas escolares, à
interação com os pais e aos recursos materiais do ambiente físico. A atenção,
medida por tempo de resposta e erros de omissão no TAVIS, associou-se apenas
ao suporte parental das rotinas escolares. Na medida de flexibilidade cognitiva,
apenas os erros não-perseverativos associaram-se aos recursos materiais, na
amostra total. Resultados similares foram encontrados em estudos anteriores com
amostras de desenvolvimento típico (Hackman et al., 2015; Piccolo et al., 2016;
Sarsour et al., 2011). No Brasil, Piccolo, Arteche, Fonseca, Grassi-Oliveira, &
Salles (2016) também constataram que quanto mais elevado o nível
socioeconômico (NSE, mensurado pelo CCEB-ABEP) e educação parental,
melhor o desempenho em inteligência e memória operacional (considerada à parte
das FE pelo estudo) e funções executivas em crianças entre 6 e 12 anos. No estudo
de Sarsour et al (2011), as subescalas do inventário HOME “responsividade” e
“companheirismo familiar” mediaram a relação entre NSE e controle inibitório, a
subescala “enriquecimento” e “companheirismo familiar” mediaram a relação
com a memória operacional e o escore total do HOME apresentou associações
significativas com habilidades em linguagem expressiva, controle inibitório,
memória operacional e flexibilidade cognitiva.
No presente estudo, a renda, o CCEB e a escolaridade materna foram as
variáveis do ambiente familiar que se associaram a mais medidas de funções
executivas na amostra total, porém não foi possível investigar interações entre as
elas. Com base na literatura, é possível que restrições relacionadas ao NSE tenham
impacto sobre a saúde mental dos pais, levando à utilização de práticas parentais
inadequadas e, como consequência, prejuízos no desenvolvimento (modelo do
estresse familiar), e que o NSE impacte no desenvolvimento por influenciar no
acesso a recursos materiais, experiências e serviços promotores de
desenvolvimento (modelo do investimento) (Linver et al., 2002). Dentre as
medidas de funções executivas, a pontuação ponderada do Dígitos ordem inversa
e os erros de ação no TAVIS foram as que se associaram a mais variáveis
155
ambientais. É possível que este resultado reflita interações entre o ambiente
(fatores estressores e protetores) e o sistema de regulação do estresse, já que
estruturas como hipocampo e córtex orbitofrontal, envolvidas na memória
operacional e controle de impulsos, são particularmente sensíveis à hiperativação
dos sistemas envolvidos na resposta ao estresse (Bradshaw, 2001; Garner &
Shonkoff, 2012; Winston et al., 2013).
Quando separados os grupos, foram observadas associações mais
intensas no grupo clínico entre as medidas de memória de curto-prazo verbal e a
escolaridade materna, renda e Critério de Classificação Econômica Brasil, além
de uma tendência não significativa à maior associação com os recursos do
ambiente familiar. Para a memória de curto-prazo visuoespacial, não houve
diferenças significativas nas associações entre os grupos, sendo observada apenas
uma tendência não significativa a maior associação entre acertos na tarefa e
escolaridade paterna no grupo clínico. Em relação às medidas de memória
operacional, os grupos não apresentaram diferenças significativas nas associações
às variáveis do ambiente familiar, havendo apenas tendências não significativas à
maior associação no grupo clínico que no grupo controle entre os acertos
(pontuação bruta) na tarefa verbal e o suporte parental às rotinas escolares e entre
a quantidade (span) de informações visuoespaciais manipuladas e a escolaridade
paterna. Em todos os casos, quanto maior o escore nas medidas do ambiente
familiar, melhor o desempenho na tarefa neuropsicológica. No grupo de crianças
com epilepsia, a memória de curto-prazo verbal associou-se tanto ao número de
medicações quanto à duração da epilepsia (quanto mais medicações e maior a
duração da doença, pior o desempenho), enquanto a memória de curto-prazo
visuoespacial, associou-se à idade de início das crises (quanto mais prematuro o
início, pior o desempenho). As crianças cujas descargas ocorrem apenas no
hemisfério esquerdo tiveram melhor desempenho em memória de curto-prazo
verbal do que as que não têm predominância na localização.
A relação entre as variáveis da doença e a memória de curto-prazo pode
ser explicada pelas regiões cerebrais acometidas pelas descargas epileptiformes
rolândicas, que incluem córtex temporal (relacionado ao processamento de
estímulo auditivo-verbais) e parietal (relacionado ao processamento de estímulos
auditivos-verbais e visuoespaciais) (Curtis, 2006; Filippini et al., 2016;
Gathercole, Pickering, Ambridge, & Wearing, 2004), de modo que crianças
156
expostas às descargas por mais tempo e com formas mais resistentes de epilepsia
(maior número de medicações) apresentam pior desempenho na retenção de
informações por curto espaço de tempo. Tal interpretação é condizente com as
alterações no processamento auditivo e fonológico, memória verbal e memória
visual em pacientes com ER ou descargas rolândicas, relatos em estudos anteriores
(Filippini et al., 2015; Metz-Lutz, 2009; Northcott et al., 2007). No presente
estudo, a associação mais intensa das variáveis ambientais com a memória de
curto-prazo verbal no grupo de crianças com epilepsia, contudo, parece indicar
alguma forma de interação entre a ocorrência da epilepsia e a suscetibilidade às
influências ambientais, no caso a escolaridade materna, situação socioeconômica
e acesso a materiais de estimulação. Estudos sobre impactos da exposição ao
estresse no desenvolvimento cognitivo mostram que o ambiente familiar é capaz
de mediar efeitos da cronicidade de situações adversas, como pobreza, no
desenvolvimento da memória operacional e outras funções executivas através das
práticas parentais e recursos materiais (Blair et al., 2011; Hackman et al., 2015).
À luz destes achados, talvez a ocorrência da ER, por si só, tenha um efeito
estressor prejudicial à memória verbal de curto-prazo, o qual pode ser mediado
pelo ambiente familiar.
O grupo clínico também apresentou associação mais intensa entre erros
de ação e erros de omissão na tarefa 3 e escolaridade paterna. Em todas as
medidas, quanto maiores os escores do ambiente familiar, melhor o desempenho
cognitivo (menores os erros). Nas crianças com epilepsia, erros de ação
associaram-se à idade de início das crises (quanto mais velho, menos erros), ao
número de medicações (quanto mais medicações, mais erros), e à duração da
epilepsia (quanto mais tempo, mais erros), enquanto o tempo de resposta associou-
se à idade de início das crises (quanto mais velho, menor o tempo). Crianças sem
predominância hemisférica das descargas epileptiformes tiveram pior
desempenho no controle inibitório quando comparadas às crianças com descargas
predominantes em apenas um hemisfério, seja direito ou esquerdo. Tal qual
proposto pelo modelo de estresse familiar (Linver et al., 2002), é possível que a
escolaridade paterna relacione-se à utilização de práticas parentais mais
adequadas, levando a uma melhor regulação comportamental da criança. No
estudo de Oostrom et al (2005) com crianças com epilepsias não sintomáticas, as
famílias que percebiam desregulação nas suas práticas parentais tinham as
157
crianças que apresentaram pior desempenho em atenção, tempo de reação e
controle de interferência proativa. Em contrapartida, as associações com as
variáveis da epilepsia indicam que o início precoce e a maior exposição às
descargas epileptiformes têm relação com pior desempenho em atenção e controle
inibitório. Diversos estudos demonstram comprometimentos em atenção nos
pacientes com ER, tendo sido observada pior performance em atenção sustentada
e regulação do comportamento (mensurado pelo Continuous Performance Test -
CPT) durante a fase ativa da ER típica e atípica (Kavros et al., 2008; Metz-Lutz
& Filippini, 2006). No estudo de Holtmann et al. (2006), crianças com TDAH que
apresentavam descargas centrotemporais tiveram pior desempenho nos erros de
ação do CPT e na tarefa de incongruência do Teste de Stroop de Cores e Palavras.
A ocorrência de descargas rolândicas em pacientes com TDAH também indica a
existência de uma relação da atividade eletroencefalográfica e sintomas de
desatenção e impulsividade (Holtmann et al., 2006). Quanto ao número de
medicações em uso, duas interpretações são possíveis: por um lado, as crianças
com mais medicações são aquelas cujas crises são de controle mais difícil e o pior
desempenho pode ser relacionado à gravidade da epilepsia, mas, por outro, drogas
antiepilépticas como por exemplo a carbamazepina, topiramato e ácido valpróico,
são associadas a efeitos cognitivos adversos, incluindo diminuição da velocidade
de processamento, da atenção, memória e capacidade motora (Eddy, Rickards, &
Cavanna, 2011; Park & Kwon, 2008).
Na medida de flexibilidade cognitiva, o grupo clínico apresentou
associações mais intensas entre a escolaridade paterna e suporte parental das
rotinas escolares e total de desenhos e de desenhos corretos, além do total dos
recursos do ambiente familiar e desenhos corretos. Em todas as associações,
quanto maior o escore do ambiente familiar, melhor o desempenho em
flexibilidade cognitiva. Quanto às variáveis da epilepsia, houve associação apenas
com a idade de início, no qual quanto mais precoce o início, pior o desempenho.
No estudo de Sarsour et al. (2011), a associação entre nível socioeconômico e a
flexibilidade cognitiva (mensurada pelo Teste de Trilhas – Parte B) foi moderada
pela monoparentalidade em crianças de desenvolvimento típico, de modo que
crianças de baixo nível socioeconômico oriundas de famílias monoparentais
tiveram menor desempenho nesta função. Já em estudos com crianças de um a
dois anos com desenvolvimento típico, aquelas submetidas a estresse agudo
158
apresentaram mais comportamentos inflexíveis (Seehagen, Schneider, Rudolph,
Ernst, & Zmyj, 2015), enquanto que a sensibilidade materna e o suporte à
autonomia pela mãe predisseram escores na dimensão de conflito, que incluía
tarefas de flexibilidade cognitiva (Bernier et al., 2010). Apesar dos resultados
serem diferentes dos obtidos no presente estudo, eles permitem considerar que a
existência de uma rede de apoio familiar colabora ao bom desempenho da
flexibilidade cognitiva, possivelmente ao diminuir o estresse ao qual a criança está
submetida. Esta pode ser uma explicação para os achados do atual trabalho,
considerando que escolaridade paterna e o suporte parental às rotinas escolares
podem representar a rede de apoio familiar das crianças em situação de estresse
devido à epilepsia. No que tange a associação da flexibilidade cognitiva e idade
de início das crises, é possível que esta relação se deva às alterações observadas
nos córtices frontal e parietal de crianças com ER (Andrade et al., 2009), as quais
estão envolvidas no desenvolvimento da flexibilidade cognitiva (Kehagia,
Murray, & Robbins, 2010).
A literatura indica resultados inconsistentes quanto a diferenças
cognitivas relacionadas à localização do hemisfério de origem das descargas
rolândicas (Filippini, Boni, Giannotta, & Gobbi, 2013; Northcott et al., 2005; Riva
et al., 2007). No presente estudo, crianças com descargas bilaterais tiveram pior
desempenho na tarefa de memória de curto prazo auditivo-verbal e de controle
inibitório do que crianças com descargas interictais apenas no hemisfério
esquerdo. O pior desempenho de crianças com descargas bilaterais em relação à
memória verbal também foi obtido por Northcott et al. (2005). Diferenças entre
descargas no hemisfério direito e esquerdo foram observados apenas em relação
aos erros de ação na tarefa 1 do TAVIS, no qual o grupo com descargas à direita
cometeram mais erros. De fato, de acordo com estudos prévios, a atividade elétrica
do hemisfério direito, em especial do sulco intraparietal, parece ser relacionada a
acurácia em tarefas de atenção seletiva visuoespacial (Capotosto, Babiloni,
Romani, & Corbetta, 2012; Gotts et al., 2013).
Considerações finais
O estudo aqui relatado traz evidências da existência de relações entre
variáveis do ambiente familiar, notadamente renda, educação parental e recursos
159
materiais, e o desempenho de funções executivas em crianças com e sem epilepsia
rolândica. Não foi possível, no entanto, investigar a interação entre as variáveis
independentes sobre as funções executivas. Durante a discussão dos resultados,
portanto, buscou-se levantar hipóteses sobre as possíveis interações entre os
aspectos que se mostraram significativos, as quais devem ser testadas por estudos
futuros. Destaca-se que características importantes no estudo das epilepsias, como
a frequência de descargas epileptiformes, dominância manual e diferenças entre
participantes com formas ativa e em remissão não foram controlados no presente
estudo, constituindo-se como uma limitação deste trabalho. Ademais, em vista dos
resultados obtidos, sugere-se que novos trabalhos investigando o ambiente
familiar de crianças com epilepsias inclua de forma mais sistemática medidas de
estresse infantil e familiar, além das práticas parentais como possíveis mediadoras
da relação entre epilepsia e cognição.
160
CONCLUSÃO
Na presente investigação, o ambiente familiar mostrou-se associado ao
desempenho das funções executivas em crianças com epilepsias rolândicas. Os
principais resultados em referência às hipóteses previamente levantadas estão
sumarizados a seguir:
(1) Crianças com ER apresentarão desempenho inferior nas tarefas de
funções executivas quando comparadas às crianças saudáveis: Esta hipótese foi
parcialmente corroborada. O grupo clínico teve pior desempenho nos acertos no
Cubos de Corsi ordem direta, possivelmente devido a oscilações na atenção,
enquanto que no Teste dos Cinco Pontos, produziu mais desenhos, porém cometeu
mais erros perseverativos, o que pode relacionar-se à menor flexibilidade
cognitiva e monitoramento do comportamento. Comparado ao grupo controle,
crianças com ER atípica obtiveram menor pontuação ponderada no Dígitos ordem
inversa, enquanto crianças com ER típica apresentaram pior desempenho nos
acertos no Cubos de Corsi ordem direta, total de erros perseverativos e percentual
de erros perseverativos no Teste dos Cinco Pontos e melhor desempenho no total
de desenhos e desenhos corretos do Teste dos Cinco Pontos.
(2) Crianças com ER atípica apresentarão desempenho inferior nas
tarefas de funções executivas quando comparadas às crianças com ER típica: esta
hipótese não foi corroborada. Nas medidas utilizadas, os grupos não apresentaram
nenhuma diferença significativa.
(3) Haverá associação positiva entre as funções executivas (controle
inibitório, flexibilidade cognitiva e memória operacional) e a qualidade do
ambiente familiar em todos os grupos, com maior intensidade para o grupo sem
epilepsia: A hipótese foi parcialmente corroborada. Na amostra total, foram
encontradas associações entre as medidas de funções executivas e medidas do
161
ambiente familiar, principalmente Critério de Classificação Econômica, renda e
escolaridade materna. A memória operacional verbal, medida pelo subteste
Dígitos ordem inversa, foi a que se associou a mais variáveis do ambiente familiar,
juntamente com o QI. As diferenças entre grupos clínico e controle foram mais
pontuais e, quando significativas, foram mais intensas no grupo clínico do que no
grupo controle, ao contrário do que se esperava.
(4) No grupo de crianças com ER, as funções executivas associar-se-ão
tanto às variáveis relacionadas à doença quanto às variáveis do ambiente
familiar: Esta hipótese foi corroborada. Foram observadas associações com
medidas ambientais em todos os instrumentos de funções executivas,
principalmente nos que avaliaram memória operacional verbal (subteste Dígitos)
e flexibilidade cognitiva (Teste dos Cinco Pontos). As variáveis da epilepsia
“idade de início das crises”, “número de medicações em uso” e “duração da
epilepsia” também apresentaram associações com as medidas de funções
executivas, principalmente as de memória operacional. Crianças com descargas
lateralizadas ou predominantes no hemisfério esquerdo tiverem desempenho
superior na pontuação ponderada do Dígitos ordem direta àquelas com descargas
em ambos os hemisférios, e cometeram menos erros de ação na tarefa 1 do TAVIS
do que os pares dos demais grupos.
162
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O principal objetivo deste estudo foi investigar relações entre o ambiente
familiar e funções executivas de crianças com epilepsia rolândica, nas suas formas
típica e atípica. Trabalhos com epilepsias de etiologias variadas vêm evidenciando
o papel mediador e moderador do ambiente familiar sobre as funções executivas
(Austin et al., 2010; Dunn et al., 2010; Oostrom et al., 2005), porém nenhum
estudo explorando tais relações em crianças com epilepsia rolândica população
foi encontrado. Considera-se, portanto, que o presente estudo é relevante por
evidenciar as relações que parecem existir entre ambiente familiar e funções
executivas, mesmo em crianças que apresentam epilepsia com pontas
centrotemporais como doença de base.
Apesar da contribuição dos achados aqui relatados à literatura sobre o
tema, limitações também se fizeram importantes no percurso da investigação. A
investigação do efeito de algumas variáveis e interações possíveis entre as
variáveis independentes não puderam ser conduzidas devido ao reduzido n
amostral, impedindo algumas estatísticas de maior nível de complexidade. A
dificuldade no acesso às crianças com diagnóstico de ER não permitiu que a
amostra selecionada fosse homogênea em termos lateralidade das descargas,
dominância manual e período de atividade da epilepsia, o que pode ter
influenciado nos resultados. Em contrapartida, as crianças do grupo controle
foram selecionadas de modo a minimizar diferenças em relação à inteligência e
ao ambiente extrafamiliar, como o tipo de escola e cidade de residência (capital x
interior), entre os grupos.
Novos estudos com crianças com ER necessitam ser conduzidos
controlando-se os aspectos supracitados e ampliando-se as investigações para
abarcar outras possíveis variáveis, como práticas parentais, estresse parental e
estresse da criança, preferencialmente acompanhando prospectivamente as
famílias. Conclusões mais consistentes acerca do papel do ambiente familiar na
163
cognição e particularmente nas funções executivas podem fundamentar
estratégias não-medicamentosas que minimizem os prejuízos em crianças
diagnosticadas com ER. Por fim, espera-se que o trabalho contribua para a
elaboração de investigações futuras sobre a complexa interação entre ambiente,
cognição e doenças do SNC.
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Xiao, F., Li, L., An, D., Lei, D., Tang, Y., Yang, T., … Zhou, D. (2015). Altered
attention networks in benign childhood epilepsy with centrotemporal spikes
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Functions: Relations in Early Development. In W. Schneider, R. Schumann-
Hengsteler, & B. Sodian (Eds.), Young Children’s Cognitive Development:
Interrelationships Among Executive Function, Working Memory, Verbal Ability,
and Theory of Mind. New York: Psychology Press.
175
ANEXO A – Parecer Comitê de Ética em Pesquisa
PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP
DADOS DO PROJETO DE PESQUISA
Título da Pesquisa: Ambiente familiar e funções executivas de crianças com epilepsia
rolândica.
Pesquisador: NATÁLIA CANÁRIO
GOMES Área Temática:
Versão: 1
CAAE: 45555615.9.0000.0049
Instituição Proponente:Hospital Universitário Prof. Edgard Santos-UFBA
Patrocinador Principal: FUND COORD DE APERFEICOAMENTO DE PESSOAL DE NIVEL SUP
DADOS DO PARECER
Número do Parecer: 1.259.032
Apresentação do Projeto:
Trata-se de um estudo transversal (correlacional e comparativo) com crianças cujo objetivo é
identificar relações entre o ambiente familiar e o desempenho de crianças com ER em tarefas
que avaliam o controle inibitório, flexibilidade cognitiva e memória operacional,além de
comparar o seu desempenho cognitivo (funções executivas) com o de crianças com
desenvolvimento típico. O funcionamento cognitivo de crianças epilépticas varia amplamente,
desde o típico até comprometimentos catastróficos. Além
dos aspectos relacionados à doença, fatores ambientais, como qualidade do ambiente familiar,
situação sociodemográfica e educação materna, também parecem estar envolvidos no
desempenho cognitivo destas crianças. A epilepsia rolândica (ER) é o tipo mais frequente de
176
epilepsia benigna na infância e estudos neuropsicológicos têm evidenciado que as crianças
com a doença apresentam prejuízos leves em diversos domínios – atenção, memória, funções
executivas, coordenação motora, linguagem, etc - ainda que tenham a inteligência dentro do
esperado na maioria dos casos. Especificamente, as funções executivas em crianças com ER
ainda foram pouco exploradas, com dados inconsistentes. O ambiente familiar é destacado na
literatura
pela sua capacidade de promover melhor desenvolvimento social, cognitivo e acadêmico das
crianças, além de prevenir o desencadeamento de problemas de comportamento durante a
infância. Contudo, ainda são poucos os estudos que dedicam-se a investigar as relações entre
o
Página 01 de
ambiente familiar e dimensões específicas da cognição, como as funções executivas. Nesse
protocolo de pesquisa, serão feitas análises descritivas, testes inferenciais de comparação
entre sujeitos (Mann-Whitney ou T) e análises de correlação (Spearman ou Pearson). Havendo
distribuição normal, análises de regressão deverão ser aplicadas para explorar as relações das
funções executivas com o ambiente familiar e as variáveis da epilepsia. Espera-se como
resultados desse estudo fornecer informações sobre como o ambiente familiar interfere no
funcionamento neuropsicológico durante a infância, bem como dados que embasem
intervenções no ambiente familiar visando o melhor desenvolvimento cognitivo infantil, seja
no desenvolvimento típico ou patológico.O presente projeto constitui-se de um estudo
transversal, observacional-analítico do tipo correlacional e comparativo que envolverá 80
famílias com crianças entre 6 e 13 anos, divididas em dois grupos: 1) grupo clínico - famílias
com crianças com diagnóstico de epilepsia rolândica (n= 40 crianças mais seus
pais/cuidadores); 2) grupo comparação - famílias com crianças de desenvolvimento típico
(n=40 crianças mais seus pais/cuidadores). Para seleção da amostra será feita uma
amostragem por conveniência nos ambulatórios de Epilepsia Infantil e Neurologia e
Neuropsicologia Pediátrica do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (HUPES) para a
composição do grupo clínico, que deverá contar com 40 crianças entre 6 e 13 anos de idade,
com diagnóstico de epilepsia rolândica.Para seleção do grupo comparação, também será feita
amostragem por conveniência, pedindo-se que os pais do grupo clínico indiquem dois a três
contatos de famílias com crianças sem epilepsia da mesma idade do seu filho.
177
Objetivo da Pesquisa:
Objetivo Primário:
Identificar relações entre o ambiente familiar e o desempenho de crianças com epilepsia
rolândica em tarefas que avaliam as funções executivas - controle inibitório, flexibilidade
cognitiva e memória operacional.
Objetivo Secundário:
(1) Comparar a relação entre ambiente familiar e funções executivas (controle inibitório, a
flexibilidadecognitiva e a memória operacional) em crianças com epilepsia rolândica e
crianças sem doenças crônicas;
(2) Verificar associações entre localização do foco epiléptico, intensidade das
descargas epileptoformes, idade de início das crises e tempo de uso de medicações
antiepilépticas e o desempenho nas tarefas de controle
Página 02 de
inibitório, flexibilidade cognitiva e memória operacional;
(3) Verificar possíveis interações entre ambiente familiar e variáveis do grupo clínico em relação
às funçõesexecutivas.
Avaliação dos Riscos e Benefícios:
Riscos:
Não há descrição de riscos associados aos instrumentos utilizados. No entanto, por ser um
contexto de avaliação, as crianças podem apresentar algum nível de ansiedade durante a
aplicação dos instrumentos.
Benefícios:
As famílias que desejarem poderão ter acesso a um laudo descrevendo os resultados na
avaliação neuropsicológica realizada com a criança, e que poderá ser utilizado para melhor
tratamento médico. Ademais, o presente estudo pretende fornecer informações úteis à
elaboração de intervenções direcionadas ao desenvolvimento cognitivo de crianças em idade
escolar.
178
Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:
Vide conclusões.
Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:
Vide conclusões.
Recomendações:
Vide conclusões.
Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:
Após análise o comitê decidiu pela aprovação do protocolo de pesquisa.
Considerações Finais a critério do CEP:
O participante da pesquisa tem a liberdade de recusar-se a participar ou de retirar seu
consentimento em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma e sem prejuízo ao seu
cuidado (Res. CNS 466/12) e deve receber uma cópia do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, na íntegra, por ele assinado.
O pesquisador deve desenvolver a pesquisa conforme delineada no protocolo aprovado e
descontinuar o estudo somente após análise das razões da descontinuidade pelo CEP que o
aprovou, aguardando seu parecer, exceto quando perceber risco ou dano não previsto ao
sujeito participante ou quando constatar a superioridade de regime oferecido a um dos grupos
da
Página 03 de
pesquisa que requeiram ação imediata.
O CEP deve ser informado de todos os efeitos adversos ou fatos relevantes que alterem o
curso normal do estudo. É papel do pesquisador assegurar medidas imediatas adequadas
frente a evento adverso grave ocorrido (mesmo que tenha sido em outro centro) e enviar
notificação ao CEP e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA – junto com seu
posicionamento.
Eventuais modificações ou emendas ao protocolo devem ser apresentadas ao CEP de forma
clara e sucinta, identificando a parte do protocolo a ser modificada e suas justificativas.
179
Relatórios parciais e final devem ser apresentados ao CEP, inicialmente em
______/_____/_____ e ao término do estudo.
Situação: Projeto Aprovado.
Este parecer foi elaborado baseado nos documentos abaixo relacionados:
Tipo Documento Arquivo Postagem Autor Situação
Outros Cronograma.pdf 05/10/2015
15:19:19
REGINA SANTOS Aceito
Outros Assentimento.pdf 05/10/2015
15:19:04
REGINA SANTOS Aceito
Informações Básicas
do Projeto
PB_INFORMAÇÕES_BÁSICAS_DO_P
ROJETO_496143.pdf
27/05/2015
11:25:42
Aceito
Folha de Rosto Folha de Rosto plataforma Brasil.jpg 27/05/2015
11:18:54
Aceito
Outros 11_Currículo do Sistema de Currículos
Lattes (Bianca Araújo dos Santos).pdf
27/05/2015
11:13:09
Aceito
Outros 11_Currículo do Sistema de Currículos
Lattes (José Neander Silva Abreu).pdf
27/05/2015
11:12:26
Aceito
Outros 11_Currículo do Sistema de Currículos
Lattes (Natália Canário Gomes).pdf
27/05/2015
11:11:49
Aceito
Outros Equipe p1e2.jpg 27/05/2015
11:09:23
Aceito
Outros Folha de Rosto plataforma Brasil.jpg 27/05/2015
11:08:18
Aceito
Página 04 de
Outros Carta de Apresentação.jpg 27/05/2015
11:07:48
Aceito
Projeto Detalhado /
Brochura
Investigador
Projeto CEP.docx 27/05/2015
11:06:56
Aceito
TCLE / Termos de
Assentimento /
Justificativa de
Ausência
TCLE_neuropsiepilepsia.docx 27/05/2015
11:06:12
Aceito
Outros Termo de compromisso.jpg 27/05/2015
10:59:56
Aceito
Outros Termo de compromisso
prontuarios.jpg
27/05/2015
10:59:04
Aceito
Outros Termo de compromisso banco de
dados.jpg
27/05/2015
10:57:58
Aceito
180
Outros TAM_neuropsiepilepsia.docx 27/05/2015
10:56:55
Aceito
Outros Carta de anuencia neander.jpg 27/05/2015
10:55:28
Aceito
Outros Carta de anuencia epilepsia.jpg 27/05/2015
10:54:27
Aceito
Outros Carata de anuência Neuroped.jpg 27/05/2015
10:53:38
Aceito
Situação do Parecer:
Aprovado
Necessita Apreciação da CONEP:
Não
SALVADOR, 05 de Outubro de 2015
Assinado por:
REGINA SANTOS
(Coordenador)
Página 05 de
181
ANEXO B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Endereço: Estrada de São Lázaro, 197, Federação – Salvador/Ba,
CEP: 40210.730 – Tel/Fax: 3283-6437
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
O(s) senhor(a) e seu(sua) filho(a) estão sendo convidados a participar,
voluntariamente, do estudo "AMBIENTE FAMILIAR E FUNÇÕES
EXECUTIVAS EM CRIANÇAS COM EPILEPSIA ROLÂNDICA” que visa
estudar as relações existentes entre o contexto familiar e o funcionamento
cognitivo de seus filhos portadores de epilepsias rolândicas (grupo clínico), ou
não (grupo comparação). Nós pedimos que o(a) senhor(a) leia com atenção as
informações a seguir e, caso ache necessário, nos pergunte sobre qualquer coisa
que não esteja clara. Uma via deste documento será para o senhor e outra para os
responsáveis da pesquisa.
Realizaremos junto às crianças participantes, avaliação neuropsicológica
da inteligência e funções executivas (que serão relatados abaixo). A participação
das crianças é inteiramente voluntária e não há registros de desconfortos ou riscos
para os participantes. A avaliação de inteligência será através da Escala Weschler
Abreviada de Inteligência, na qual a criança responderá a um teste de vocabulário
e outro no qual apenas deve apontar a figura que considerar correta para a
resolução de um problema. As funções executivas serão avaliadas por cinco
instrumentos, sendo dois realizados no computador (Teste de Atenção Visual –
TAVIS IV e Teste de Arrumação do Armário) e três com auxílio de um avaliador
treinado (Teste dos Cinco Pontos; Subteste Dígitos das Escalas de Inteligência
Weschler para Crianças – III; Cubos de Corsi). Além disso, o(a) senhor(a)
(pai/mãe/responsável) também será convidado a responder um inventário sobre
Recursos do Ambiente Familiar (RAF), um questionário sobre sintomas de TDAH
(MTA-SNAP-IV) e um questionário sobre a situação socioambiental da família.
Universidade Federal da Bahia
Instituto de Psicologia
Instituto de Psicologia
182
No caso das famílias do grupo clínico (epilepsia), deverá também ser respondido
um roteiro de perguntas clínicas sobre a epilepsia – as questões do roteiro que o
senhor não souber responder serão preenchidas de acordo com os dados do
prontuário.
Todas as informações fornecidas ficarão em sigilo, inclusive o nome ou
qualquer outra identificação da criança e da família. As informações obtidas serão
avaliadas em conjunto com as de outros voluntários e os dados coletados serão
utilizados somente para esta pesquisa. Não há despesas pessoais para o
participante em qualquer fase do estudo. Também não há compensação financeira
relacionada à sua participação. Caso o senhor solicite, um laudo com os resultados
da avaliação neuropsicológica do seu filho será disponibilizado. O(a) senhor(a) ou
seu(sua) filho(a) podem desistir de participar desta pesquisa a qualquer momento,
sem qualquer prejuízo. O(a) senhor(a) tem o direito de ser mantido atualizado
sobre os resultados parciais gerais da pesquisa.
Estamos disponíveis para esclarecer qualquer pergunta ou dúvida acerca
dos procedimentos deste estudo. Os pesquisadores responsáveis são o Prof. Dr.
Neander Abreu e a psicóloga Natália Canário e seus contatos são: Instituto de
Psicologia, Universidade Federal da Bahia, Estrada de São Lázaro,
Federação, Salvador – Ba, Tel. 71 3283-6437/ 71 9664-2794, e-mail:
Acredito ter sido suficientemente informado(a) a respeito do que li ou do
que foi lido para mim, descrevendo o estudo. Ficaram claros para mim quais são
os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, as garantias de
sigilo e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha
participação acontecerá sem qualquer despesa. Concordo voluntariamente que eu
e meu(minha) filho(a) participemos deste estudo e poderei retirar o meu
consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades
ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido.
183
_______________________________ __________________
Nome da criança Data
________________________________________________________
Assinatura ou impressão digital (pais/responsáveis)
Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento
Livre e Esclarecido deste participante ou representante legal para a participação
neste estudo.
__________________________ __________________
Assinatura do pesquisador Data
1ª Via para o Voluntário; 2ª Via para o Pesquisador principal
184
ANEXO C – Termo de Assentimento do Menor
Endereço: Estrada de São Lázaro, 197, Federação – Salvador/Ba,
CEP: 40210.730 – Tel/Fax: 3283-6437
Termo de Assentimento do Menor
Você está sendo convidado para participar da pesquisa AMBIENTE
FAMILIAR E FUNÇÕES EXECUTIVAS DE CRIANÇAS COM EPILEPSIA
ROLÂNDICA. Seus pais permitiram que você participe.
Queremos saber se o ambiente familiar tem alguma relação com as
funções executivas de crianças com e sem epilepsia. As funções executivas são as
funções do nosso cérebro que nos permitem pensar e planejar antes de agir. As
crianças que irão participar dessa pesquisa têm de 6 a 13 anos de idade. Você não
precisa participar da pesquisa se não quiser, é um direito seu e não haverá nenhum
problema se desistir.
A pesquisa será feita no Ambulatório de Neuropsicologia do Adulto e
Idoso do Complexo HUPES, onde as crianças farão algumas atividades na forma
de perguntas, com lápis e papel ou no computador para avaliar suas funções
executivas. Para isso, serão usados: Escala Weschler Abreviada de Inteligência;
Teste de Atenção Visual – TAVIS IV e Teste de Arrumação do Armário; Teste dos
Cinco Pontos; Subteste Dígitos das Escalas de Inteligência Weschler para
Crianças – III; Cubos de Corsi.
O uso de todo o material é considerado seguro. Ninguém saberá que você
está participando da pesquisa, não falaremos a outras pessoas, nem daremos a
Universidade Federal da Bahia
Instituto de Psicologia
Instituto de Psicologia
185
estranhos as informações que você nos der. Os resultados da pesquisa vão ser
publicados, mas sem identificar as crianças que participaram da pesquisa.
Se você tiver alguma dúvida, você pode me perguntar ou à pesquisadora
Natália Canário, pelos telefones 3283-6437 ou 9664-2794.
Eu ___________________________________ aceito participar da
pesquisa AMBIENTE FAMILIAR E FUNÇÕES EXECUTIVAS DE
CRIANÇAS COM EPILEPSIA ROLÂNDICA. Entendi que posso dizer “sim” e
participar, mas que, a qualquer momento, posso dizer “não” e desistir que
ninguém vai ficar furioso.
Os pesquisadores tiraram minhas dúvidas e conversaram com os meus
responsáveis. Recebi uma cópia deste termo de assentimento e li e concordo em
participar da pesquisa.
Salvador, ____de _________de __________.
________________________________ _________________________________
Assinatura do menor Assinatura da pesquisadora
186
ANEXO D - Questionário Socioambiental
Tel: 71 - 99673530
E-mail: [email protected] Email: [email protected]
Este questionário deve ser preenchido pelo principal cuidador ou
responsável pela criança. Todas as questões serão tratadas com total
confidencialidade. Somente o pesquisador responsável terá acesso às suas respostas. As
informações fornecidas não trarão nenhuma consequência negativa. Nomes nunca se tornarão públicos. Não hesite em nos procurar caso tenha alguma dúvida.
1. Nome da criança: ___________________________
_________________________________
__________ (Nome, Sobrenome)
2. Nacionalidade da criança: ( )Brasileira
( )Outro
___________
3. Dominância manual: ( ) Destro
( ) Canhoto
( )Ambidestro
4. Data de
nascimento:_____/______/_______ Dia Mês
Ano
5. Endereço:_____________________
_________
________________________________
_________
6. Telefones para contato:
( )________-__________
( )________-__________
( )________-__________
6. Quem preenche esse questionário? ( )Mãe ( )Pai (
)Outro_____________________
Relação com a
criança (ex. tia...)
7. Você é o principal cuidador ou responsável pela criança? ( )Sim ( )Não
8. A criança mora com quem? ( )Pais ( )Só com a Mãe ( )Só com o Pai (
)Outro_______
187
9. A criança frequentou a pré-escola? ( )Não ( )por 1 ano ( )por 2 anos ( )por 3
anos ( )por 4 anos
10. A criança está matriculada em qual série? __________________________________
11. Escola: ( )Pública ( )Particular Nome da escola _________________________
12. No domicílio tem: *em uma estante de 1 metro geralmente cabem 40 livros
188
13. Quantas pessoas moram na sua casa (incluindo você mesmo)? ______ adulto(s)
______ criança(s)
14. Quantos cômodos têm na sua casa? ________ quarto(s) ________ sala(s)
________ cozinha(s)
15. A criança é bilíngue (fala FLUENTEMENTE alguma outra língua além do Português, EM CASA)?
( )Sim
( )Não
Nunca Às Vezes Frequentemente Sempre
16. O cuidador/responsável ajuda no dever de
casa?
17. O cuidador verifica se a criança fez o dever
de casa?
18. O cuidador lê para a criança?
19. A criança tem o hábito de ler em casa? (não
incluindo livros da escola)
20. Quais desses itens a criança possui?
Dicionário Sim Não
Livros da própria criança
(não incluindo os da escola) Sim Não
Instrumentos musicais Sim Não
Jogos de tabuleiro Sim Não
Computador Sim Não
Fitas, CD’s, DVD’s Sim Não
Jogos Sim Não
Brinquedos de montar
(tipo Lego)
Sim Não
189
21. O cuidador leva a criança a parquinhos, parques e ou clubes pelo menos 1 VEZ POR
SEMANA?
( )Sim
( ) Não
22. A criança almoça ou janta em família pelo menos 4 DIAS POR SEMANA? ( )Sim (
)Não
23. A criança tem/teve jogos ou livros (não incluindo os da escola) que lhe ajudam/ajudaram a
aprender:
os nomes das cores Sim Não
os nomes de animais Sim Não
os números Sim Não
o alfabeto Sim Não
a escrever Sim Não
a desenhar Sim Não
canções Sim Não
22. Grau de escolaridade da MÃE Grau de escolaridade do PAI (cônjuge) ou
responsável
Estudou até qual série?_______________________
Ensino fundamental I incompleto (1ª a 4ª série)
Ensino fundamental I completo (4ª série completa) Ensino fundamental II completo (8ª série
completa)
Ensino médio completo (colegial): regular ou
técnico
Curso técnico superior completo
Ensino superior completo (faculdade)
Especialização (pós graduação), Mestrado completo
Doutorado de pesquisa completo (PhD)
Outros ________________________________ Qual
Estudou até qual série?_______________________
Ensino fundamental I incompleto (1ª a 4ª série)
Ensino fundamental I completo (4ª série
completa) Ensino fundamental II completo (8ª série
completa)
Ensino médio completo (colegial): regular ou
técnico
Curso técnico superior completo
Ensino superior completo (faculdade)
Especialização (pós graduação), Mestrado
completo
Doutorado de pesquisa completo (PhD)
Outros _________________________________ Qual
23. Profissão da MÃE (atual ou passada) Profissão do PAI/ responsável (atual ou passada)
___________________________________________
(Título do Cargo)
___________________________________________
(Título do Cargo)
190
24. Quantas pessoas colaboram na renda familiar total? ________ pessoa(s)
25. Qual a renda mensal total da família em R$ (bruta, antes de impostos)?
___________________________
*Caso não saiba exatamente, marque com um “X” o valor aproximado:
< 150 151-300 301-600 601-
1.200
1.201-
2.400
2.401-
4.800
4.801-
6.000
6.001-
10.000
> 10.001
26. Houve algum problema na gravidez? ( )Sim __________________________________( )Não Qual
27. A mãe consumia bebida alcoólica durante a gravidez? ( )Nunca ( )Às vezes
( ) Frequentemente ( )Sempre
Número de latas (350 ml)/doses por semana_____________
28. A mãe consumia outros tipos de drogas durante a gravidez (como cocaína, cola de sapateiro,
crack...)? ( )Nunca ( )Às vezes ( )Frequentemente ( )Sempre
Qual _____________________________
29. Houve complicações no parto? ( )Sim
___________________________________________ ( )Não Qual
30. A criança nasceu com quantas semanas (tempo de gestação)? __________ semanas
31. Qual foi o peso da criança ao nascimento (aproximado)? ___________ gramas
32. Índice de Apgar no nascimento? ___ / ___ Nota exata ( ) Não sei
33. Com que idade falou as primeiras palavras? ___________ ( ) Não sei
34. E as primeiras frases? _________________ ( )Não sei
35. Com que idade começou a andar? ____________ ( ) Não sei
36. Foi observado algum atraso no desenvolvimento, quando comparado a crianças da mesma
idade?
( )Sim (Qual?) _________________________________________ ( )Não
37. A criança foi hospitalizada devido a diarréias ou outras infecções? ( )Sim, ______
vezes ( )Não
Internação por mais de 30 dias? ( ) Sim ( ) Não
38. A criança teve/tem algum problema de saúde? ( )Sim
(Qual)____________________ ( )Não
191
Epilesia/Convulsão? ( ) Sim ( ) Não
Traumatismo Crânio Encefálico? ( )Sim ( )Não
39. A criança toma alguma medicação? ( )Sim ______________________________
( )Não Qual
40. Comentário(s) que ache válido nos informar sobre a gestação ou desenvolvimento da
criança: _________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
______________________________________________________
192
ANEXO E – MTA-SNAP-IV
MTA-SNAP-IV
(ESCALA DE PONTUAÇÃO PARA PAIS E PROFESSORES)
193
ANEXO F – Roteiro sobre Epilepsia
A SESSÃO ABAIXO DEVE SER RESPONDIDA APENAS CASO A CRIANÇA TENHA
DIAGNÓSTICO DE EPILEPSIA.
1. Com qual idade teve a primeira
crise? ________
2. Quando recebeu o diagnóstico?
______________
3. Faz uso de medicação? Sim
Não
Caso sim,
qual?__________________________
Há quanto tempo?
________________________
4. Quantas crises já teve desde o
início da doença? (Caso não saiba
exatamente, estime uma média) _______
5. Qual a data da última crise?
_________________
(Caso não saiba exatamente, estime há quantas
semanas foi a última ocorrência)
DADOS DO PRONTUÁRIO
6. Data do último EEG:
____/_____/________
7. Lateralidade do foco: HE HD
Presença de descargas interictais: Sim
Não
Observações:____________________________
_______________________________________
Descreva as crises com o máximo de detalhes:
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
194
Alguma das crises foi acompanhada de febre?
Sim. Quantas? _______________________
Não
Crises com movimento:
Da face (revira os olhos, vira a cabeça, entorta a boca, movimentos da língua,
baba)
De extremidades (mãos, dedos)
Generalizada (corpo inteiro)
Outros. Descreva:
Crises com alteração de sensibilidade (ex: dormência, formigamento...)
Na face
Nas extremidades
Outros. Descreva:
DURANTE a crise, a criança:
Fica consciente e consegue falar (pede ajuda; ouve o que se fala; é capaz de
relatar o acontecido)
Fica consciente, mas NÃO consegue falar (ouve o que se fala; é capaz de relatar
o acontecido após a crise ter terminado; tenta falar, mas a fala fica embolada)
Perde a consciência (não sabe o que está acontecendo, incapaz de relatar a
crise)
As crises costumam ocorrer:
Pela noite, ao dormir (inicio do sono, ou em sono profundo)
Pela manhã, ao acordar (logo ou pouco após acordar, ainda sonolenta)
Outros. Descreva:
Medicações já utilizadas:
Ácido Valproico/Valproato de Sódio:
Depakene® (ácido valproico),
Depakote® (divalproato sódico),
Epilenil® (ácido valproico),
Torval CR® (ácido valproico + valproato de sódio),
Valpakine® (ácido valproico),
Valprene® (valproato de sódio).
Carbamazepina:
TEGRETARD,
TEGRETOL,
Tegretol CR divita- bs,
TEGREX,
TEGREZIN,
UNI CARBAMAZ.
Oxcarbazepina:
Auram®,
OLEPTAL®,
195
OXCARB®,
TRILEPTAL®
Lamotrigina:
Lamictal®,
Lamitor®,
Neural®.
Sulthiame:
Ospolot
Clobazam:
FRISIUM®,
URBANIL®
Fenitoína:
Epelin®,
Hidantal®,
Unifenitoin®.
Topiramato:
TOPAMAX®,
TOPAMAX SPRINKLE®.
196
ANEXO G – Inventário de Recursos do Ambiente Familiar-RAF
8. Recursos do Ambiente Familiar – RAF
Aplica-se o roteiro sob forma de entrevista semi-estruturada, em que cada tópico é apresentado
à mãe / in- formante oralmente, tendo o examinador liberdade para parafrasear o conteúdo da
questão caso haja dificuldade de compreensão por parte da pessoa entrevistada. Em cada
tópico, o entrevistador inicia fazendo a pergunta aberta que o introduz. Após registrar a resposta
a essa pergunta, apresenta, uma a uma, as demais alternativas de resposta.
1. O QUE A CRIANÇA FAZ QUANDO NÃO ESTÁ NA ESCOLA?
( ) Assiste à TV
( ) Ouve rádio
( ) Joga video-game
( ) Lê livros, revistas, gibis
( ) Brinca na rua
( ) Brinca dentro de casa
( ) Outro – especificar ____________________________
2. QUAIS OS PASSEIOS QUE A CRIANÇA REALIZOU NOS ÚLTIMOS 12 MESES?
( ) Bosque Municipal
( ) Circo
( ) Evento anual da cidade
( ) Shopping Center (feira, rodeio, ...)
( ) Parque de diversões
( ) Cinema ou teatro
( ) Clube
( ) Lanchonete
( ) Visitas a parentes / amigos da família
197
( ) Praia
( ) Viagem de trem
( ) Divertilândia
( ) Sítio, chácara ou fazenda
( ) Viagem para outra cidade
( ) Centro da cidade
( ) Exposição (de pintura, de ciências, etc)
( ) Museu
( ) Aeroporto
( )Outros-especificar: ___________________________________________________
3. HÁ ATIVIDADES PROGRAMADAS QUE A CRIANÇA REALIZA REGULARMENTE?
( ) Faz catecismo, estudos bíblicos ou evangelização.
( ) Freqüenta núcleo municipal do bairro
( ) Pratica esporte em clubes, academias, ginásios.
( ) Freqüenta aulas para aprender atividade artesanal (por ex.emplo: tapeçaria,
pintura...).
( ) Tem aulas de piano, violão ou outro instrumento musical.
( ) Freqüenta algum programa de atividades para crianças, como o Kurumim
( ) Tem aulas de inglês ou outro idioma
( ) Faz computação
( ) Outro – especificar ____________________________
4. QUAIS AS ATIVIDADES QUE OS PAIS DESENVOLVEM COM A CRIANÇA EM CASA?
( ) Brincar
( ) Jogar video-game ou outros jogos
( ) Assistir a filmes
( ) Assistir a programas infantis na TV
( ) Contar estórias e casos
( ) Ler livros, revistas
198
( ) Conversar sobre como foi o dia na escola
( ) Conversar sobre notícias, filmes e outros programas de TV.
( ) Ouvir as estórias da criança; conversar sobre os assuntos que ela traz
( ) Realizar juntos atividades domésticas, como: lavar o carro, fazer almoço ou outras
( ) Outras - especificar____________________________
5. QUAIS OS BRINQUEDOS QUE ELE (ELA) TEM OU JÁ TEVE? SEU FILHO TEM OU JÁ TEVE:
( ) uma cama só para ele
( ) brinquedos de andar ( triciclo, bicicleta, patinete... )
( ) brinquedos para movimentos corpo ( corda de pular, balanço...)
( ) instrumento musical de brinquedo ou de verdade ( tambor, pianinho...)
( ) brinquedo que lida com números ( dados, dominó...)
( ) brinquedos de letras ( abecedários, quebra -cabeças com letras... )
( ) brinquedo de aprender cores, tamanhos, formas ( quebra- cabeça, encaixes. )
( ) brinquedos para conhecer nomes de animais ( livros, miniaturas ...)
( ) objetos como giz, lousa, cola, tinta, tesoura, lápis de cor e papel
( ) aparelho de som com discos
( ) um animal de estimação
( ) livrinhos de estórias infantis
( ) jogos de regras (dama, loto, senha, memória...)
( ) brinquedos de faz de conta ( panelinhas, bonecas, martelo, serrote ... )
( ) brinquedos de construção ( blocos, lego, pinos mágicos )
( ) brinquedos de rodas ( carrinhos, trens, carrinho de boneca ...)
( ) videogame
( )bola, pipa, bola de gude, carrinho rolemã
( ) outros, especifique____________________________
6. HÁ JORNAIS E REVISTAS NA SUA CASA?
199
( ) não
( ) sim - tipo:
( ) jornal
( ) revista:
( ) de notícias - ( ) de TV - ( ) feminina - ( ) de fotonovela - ( ) de
esporte ( ) religiosa - ( ) outra,
especifique_________________________
7. HÁ LIVROS NA SUA CASA?
( ) não
( ) sim - tipo:
( ) escolares ( ) romances, contos, literatura ( ) livrinhos infantis ( ) religiosos
(bíblia, evangelhos, catecismo) ( ) técnicos, científicos ( ) enciclopédias ( )
dicionário
( ) outros, especifique___________________________
8. ALGUÉM EM CASA ACOMPANHA A CRIANÇA NOS AFAZERES DA ESCOLA?
Alguém em casa: Ninguém A mãe O pai Outra pessoa
Verifica se o material escolar
está em ordem ( ) ( ) ( ) ( )
Avisa quando é hora de ir para
a escola ( ) ( ) ( ) ( )
Supervisiona a lição de casa ( ) ( ) ( ) ( )
Supervisiona o estudo para as
provas ( ) ( ) ( ) ( )
Comparece às reuniões da
escola
( ) ( ) ( ) ( )
Acompanha as notas e a
freqüência às aulas ( ) ( ) ( ) ( )
200
Pontuação de cada item: mãe e pai = 3; só a mãe = 2, só o pai = 2; outra pessoa = 1; mãe / pai e
outra pessoa = 1; ninguém = 0.
9. SEU FILHO TEM HORA CERTA PARA:
Sempre Às vezes Nunca
Almoçar ( ) ( ) ( )
Tomar banho ( ) ( ) ( )
Brincar ( ) ( ) ( )
Ir dormir ( ) ( ) ( )
Levantar-se de manhã ( ) ( ) ( )
Jantar ( ) ( ) ( )
Fazer a lição de casa ( ) ( ) ( )
Assistir à Tv ( ) ( ) ( )
Pontuação: sempre = 2; às vezes = 1; nunca = 0.
10. SUA FAMÍLIA COSTUMA ESTAR REUNIDA:
Sempre Às vezes Nunca
No café da manhã ( ) ( ) ( )
No almoço ( ) ( ) ( )
No jantar ( ) ( ) ( )
À noite, para assistir TV ( ) ( ) ( )
E nos fins de semana:
Em casa ( ) ( ) ( )
Em passeios ( ) ( ) ( )
Pontuação: sempre = 2; às vezes = 1; nunca = 0