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São Paulo, 3 de Agosto de 2012 Leia ainda entrevistas com alguns dos palestrantes do evento: Presidente regional da DuPont Nutrição e Saúde reflete sobre a convergência entre as pesquisas da Amcham e da EIU ZACARIAS KARACRISTO Membro do Conselho da JBS Friboi e ex-ministro da Agricultura fala sobre um grande desafio da alimentação humana, que é produzir proteína animal MARCUS VINÍCIUS PRATINI DE MORAES VALMOR SCHAFFER Presidente da ADM do Brasil aponta papéis que cabem à iniciativa privada e à pública para enfrentar as lacunas de infraestrutura aqui. A infraestrutura logística defasada, o sistema tributário burocrático, a falta de acordos internacionais e a legislação trabalhista pouco flexível são os principais elementos críticos para um melhor desempenho do agronegócio brasileiro, conforme pesquisa da Amcham preparada especialmente para o evento 'Competitivida- de Setorial – Agronegócios', realizado pela Amcham- São Paulo em 03/08. A sondagem permitiu a constru- ção de um amplo panorama do setor. Conheça os dados em sua íntegra Alinhado com a pesquisa, o debate promovido no encontro reforçou a necessidade de avanços em infraes- trutura para suportar o crescimento do agronegócio. Teve destaque também a defesa do livre funcionamento do mercado, como preconizou o ex-ministro da Agricultura Marcus Vinicius Pratini de Moraes, que hoje é membro do Conselho de Administração da JBS Friboi. Acompanhe como foi essa discussão No evento, foi apresentado o Índice Global de Segu- rança Alimentar (GFSI na sigla em inglês), elaborado pela Economist Intelligence Unit e patrocinado pela DuPont. Nele, o Brasil aparece na 31ª colocação entre 105 países, e a ideia é mostrar que segurança alimentar envolve uma combinação de acessibilidade financeira a produtos alimentícios, disponibilidade e qualidade /segurança. Saiba detalhes aqui. aqui. Sócio e líder de Agribusiness da PwC diz que País precisa estar com a 'casa arrumada' para evitar argumentos que levem a protecionismo JOSÉ RONALDO VILELA REZENDE

Amcham Highlights - Competitividade Setorial | Agronegócios - 03-08-2012

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São Paulo, 3 de Agosto de 2012

Leia ainda entrevistas com alguns dos palestrantes do evento:

Presidente regional da DuPont Nutrição e Saúde reflete sobre a convergência entre as pesquisas da Amcham e da EIU

ZACARIAS KARACRISTO

Membro do Conselho da JBS Friboi e ex-ministro da Agricultura fala sobre um grande desafio da alimentação humana, que é produzir proteína animal

MARCUS VINÍCIUS PRATINI DE MORAES

VALMOR SCHAFFERPresidente da ADM do Brasil aponta papéis que cabem à iniciativa privada e à pública para enfrentar as lacunas de infraestrutura

aqui.

A infraestrutura logística defasada, o sistema tributário burocrático, a falta de acordos internacionais e a legislação trabalhista pouco flexível são os principais elementos críticos para um melhor desempenho do agronegócio brasileiro, conforme pesquisa da Amcham preparada especialmente para o evento 'Competitivida-de Setorial – Agronegócios', realizado pela Amcham-São Paulo em 03/08. A sondagem permitiu a constru-ção de um amplo panorama do setor. Conheça os dados em sua íntegra

Alinhado com a pesquisa, o debate promovido no encontro reforçou a necessidade de avanços em infraes-trutura para suportar o crescimento do agronegócio.

Teve destaque também a defesa do livre funcionamento do mercado, como preconizou o ex-ministro da Agricultura Marcus Vinicius Pratini de Moraes, que hoje é membro do Conselho de Administração da JBS Friboi. Acompanhe como foi essa discussão

No evento, foi apresentado o Índice Global de Segu-rança Alimentar (GFSI na sigla em inglês), elaborado pela Economist Intelligence Unit e patrocinado pela DuPont. Nele, o Brasil aparece na 31ª colocação entre 105 países, e a ideia é mostrar que segurança alimentar envolve uma combinação de acessibilidade financeira a produtos alimentícios, disponibilidade e qualidade /segurança. Saiba detalhes

aqui.

aqui.

Sócio e líder de Agribusiness da PwC diz que País precisa estar com a 'casa arrumada' para evitar argumentos que levem a protecionismo

JOSÉ RONALDO VILELA REZENDE

2VOLTAR A PÁGINA INICIAL

PESQUISA AMCHAM: INFRAESTRUTURA DEFICITÁRIA E BUROCRACIA DO SISTEMA TRIBUTÁRIO SÃO GRANDES DESAFIOS PARA AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

A infraestrutura logística defasada, o sistema tributário burocrático, a falta de acordos internacionais e a legislação trabalhista pouco flexível são os principais elementos críticos para um melhor desempenho do agronegócio brasileiro, revela a pesquisa 'Panorama do Setor de Agronegócios no Brasil e no Mundo' da Amcham.

Em seguida, aparecem como fatores de grande impacto: política fundiária e segurança incompatíveis com a realidade do País; ausência de incentivos para aquisições de novas tecnologias; estrutura da cadeia produtiva, competitiva para alguns e outros não; escassez de linhas de crédito; variações cambiais; e regime de exploração da atividade rural concentrado na pessoa física.

O estudo ouviu 84 altos gestores de empresas associadas à Amcham que integram a cadeia do agronegócio entre 16 e 31 de julho e foi apresentado pelo CEO da Amcham, Gabriel Rico, em 03/08 durante o evento 'Competitividade Setorial – Agronegócios' da Amcham-São Paulo.

O Brasil tem ocupado posição de destaque entre os grandes players do agronegócio, mas ainda não atingiu a liderança mundial em produção e fornecimento de alimentos.

Nesse sentido, 68% dos consultados pela Amcham afirmam que o aumento do conhecimento e das tecnologias em sistemas de produção sustentáveis manterão a capacidade de produção do País, e 58% dizem que o alto 'Custo Brasil' comprometerá o alcance do patamar de liderança.

POTENCIAL PARA LIDERANÇA

Os entrevistados foram questionados também sobre as

linhas de crédito disponibilizadas pelo governo para

incentivar o desenvolvimento do setor. Quase a metade

(49%) revelou acreditar que são satisfatórias, mas

apenas beneficiam alguns segmentos. Uma fatia de

24% declarou que até o momento não precisou de

créditos para expandir seus negócios, 19% reclamaram

serem os recursos insuficientes e não atenderem às suas

necessidades, e 7% apontaram encontrar dificuldade

para acessar essas linhas.

CRÉDITO E INTERAÇÃO

3VOLTAR A PÁGINA INICIAL

Conforme a pesquisa, o agronegócio brasileiro é

percebido, em boa parte, como ainda bastante

fragmentado. Quase a metade (49%) dos entrevistados

avalia que a diversidade de segmentos que compõem a

cadeia faz com que apenas parte deles trabalhe de

maneira conjunta.

Somente 27% percebem uma preocupação genera-

lizada do setor em se unir para ganhar competitividade,

e outros 24% acham que as diferenças de interesse entre

os subsegmentos da cadeia levam as empresas a agir de

forma independente.

A pesquisa também questionou quais são os fatores com maior influência sobre os negócios no setor. Relacionados ao mercado doméstico, o crescimento e a melhoria da distribuição da renda aparecem na liderança, com 39%, e o aumento populacional foi lembrado por 7%.

A volatilidade dos preços (13%), a expansão da população mundial (8%) e a volatilidade da demanda (4%) foram as questões internacionais indicadas como mais impactantes.

O levantamento sinalizou ainda influenciadores que dizem respeito a aspectos tanto internacionais quanto domésticos. Nesse contexto, o principal item apontado foram as alterações no padrão de consumo (11%), seguidas por sustentabilidade e segurança alimentar (8%), desenvolvimento da biotecnologia (7%) e maior urbanização (3%).

INFLUÊNCIAS

Para quase metade dos representantes do agronegócio,

quanto maiores forem as empresas brasileiras, melhor.

Os efeitos de um movimento de consolidação

FUSÕES E AQUISIÇÕES

(fusão/aquisição) para expandir a oferta e distribuição

de produtos e serviços do setor são vistos como

positivos por 46%, por possibilitarem a criação de

grandes conglomerados mais competitivos em nível

internacional.

As fusões e aquisições são interpretadas de forma negativa por 37% dos consultados com a justificativa de reduzirem a competição. Outros 11% acreditam que consolidações não trazem impactos significativos ao setor e 6% preferiram não se posicionar.

Cálculos da Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que,

até 2020, a oferta de alimentos no mundo terá de crescer

20% para dar conta do aumento da demanda, e que o

Brasil deverá responder por 40% desse incremento.

A sondagem da Amcham mostra que a maioria (61%)

das empresas dessa cadeia no País acredita que estará

alinhada com essa projeção. Outros 19% dizem que irão

além, expandindo-se ainda mais fortemente, e igual

parcela (19%) sinaliza uma expectativa de crescimento

abaixo dessa velocidade.

ALINHAMENTO COM OCDE

Considerando o horizonte dos próximos três anos, as

empresas responderam quais serão suas principais

frentes de investimentos.

Os grandes focos estarão em aumento do portfólio de

produtos e serviços (como disseram 71%), ampliação

de quadros e capacitação de funcionários (50%), e

novas tecnologias para aperfeiçoar a competitividade

operacional (43%).

FRENTES DE INVESTIMENTOS

4VOLTAR A PÁGINA INICIAL

Também foram citados: aquisição de equipamentos e

maquinários (32%), expansão para outras regiões do País

(32%), fusão ou aquisição de outras companhias

(28%), aumento dos investimentos em pesquisa e

desenvolvimento (22%) e expansão internacional (15%).

MERCADOS INTERNACIONAIS PREFERENCIAIS

No plano internacional, a América Latina aparece com

grande destaque entre os mercados-alvo para

investimentos, parcerias comerciais e operações

internacionais. O interesse pela Argentina foi

demonstrado por 35%, seguido por Chile (22%),

Colômbia (17%) e Venezuela (11%). Uma fatia de 40%

dos respondentes escolheu outros países latino-

americanos.

Os Estados Unidos foram apontados por 40% como o

principal destino de interesse e a China por 33%. Vale

ressaltar também que a África foi lembrada por 25%.

No que tange à logística, 67% se colocam a favor do

transporte intermodal rodoferroviário como a melhor

opção de custo-benefício para a cadeia do agronegócio.

Em relação ao modal ferroviário, um grupo de 60%

defende a revisão da tarifa teto ferroviária.

LOGÍSTICA

Uma parcela de 47% afirma que, apesar de a cabotagem

apresentar custos menores do que outros modais, não

beneficia toda a cadeia de abastecimento do setor.

Quanto ao transporte rodoviário, 45% se opõem à

afirmação de que esse modal ainda seja a melhor opção

de transporte.

Uma fatia de 43% de entrevistados sustenta que o

transporte aeroviário é uma alternativa vantajosa para o

transporte de algumas mercadorias, mesmo que isso

signifique incorrer em maiores custos.

ACORDOS E NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS

Considerando o cenário internacional, os empresários

demonstram preocupações com acordos internacionais e

protecionismo. Nada menos que 64% da amostra

avaliam que há uma tendência de que o chamado

'protecionismo verde' seja considerado nos acordos

globais, criando barreiras para os alimentos exportados

pelo País.

Também são 64% os que concordam com a afirmação de

que as crises econômicas levam a uma tendência de

adiamento de acordos e negociações internacionais.

Em relação ao Mercosul, 67% pensam que o alto 'Custo

Brasil' dificulta a competitividade do bloco. Uma parcela

de 52% analisa que o Mercosul emperra as negociações

de acordos comerciais bilaterais.

5VOLTAR A PÁGINA INICIAL

Como se dá a interação

entre os segmentos que

compõem o setor de

agronegócios?

A diversidade de segmentos que a cadeia faz com que apenas parte dos

segmentos trabalhe de maneira conjunta

compõem

Apesar da complexidade do setor e das diferençasde interesses, nota-se uma preocupação generalizada

em reunir esforços em prol da competitividade

As diferenças de interesse entre os da cadeia fazem com que ajam de forma independente

segmentos

49%

27%

24%

Dos fatores que

interferem na produção

de agronegócios, qual

mais influenciará o seu

negócio?

Crescimento e melhoria da distribuição da renda

Crescimento da população no Brasil

Volatilidade dos preços

Crescimento da população internacional

Volatilidade da demanda

Alterações no padrão de consumo

Sustentabilidade e segurança dos alimentos

Biotecnologia

Crescimento da urbanização

39%

7%

13%

8%

4%

11%

8%

7%

3%

Bra

sil

Inte

rnac

ion

alB

rasi

l/

Inte

rnac

ion

al

As linhas de crédito

disponibilizadas pelo

governo para incentivar

o desenvolvimento do

setor são satisfatórias?

Não porque tenho dificuldades em acessá-las

Não pois, além de insuficientes, não necessidades do meu negócio

atendem às

Minha empresa, até o momento, não créditos para expandir seus negócios

precisou de

Sim, porém percebo que apenas segmentos da cadeia se beneficiam

alguns

7%

19%

24%

49%

Acompanhe destaques da pesquisa da Amcham:

6VOLTAR A PÁGINA INICIAL

Quais as principais frentes

de investimentos de sua

empresa para os próximos

três anos?

Aumento do portfólio de produtos e/ou serviços prestados

Aumento/qualificação do quadro de funcionários

Novas tecnologias para aperfeiçoar a competitividade operacional da empresa

Aquisição de equipamentos e/ou maquinários

Expansão para outras regiões do País

Fusão/aquisição de outras empresas

Aumento de investimento em pesquisa e desenvolvimento

Expansão internacional

71%

50%

43%

32%

32%

28%

22%

15%

Como você percebe a

movimentação de processos

de fusão e/ou aquisição no

setor de agronegócios?

Positiva, pois possibilita a criação de grandes conglomerados mais

competitivos em nível internacional

Negativa, pois a concentração de mercado reduz a competição

Não acredito que traga grandes impactos para o setor

Não tenho conhecimento sobre o assunto para opinar

46%

37%

11%

6%

Abaixo da previsão de crescimento necessária para o Brasil

Acima da previsão de crescimento necessária para o Brasil

Alinhada com a previsão de crescimento necessária para o Brasil

19%

19%

61%

Projeções da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que a oferta mundial de alimentos precisa crescer em 20% até 2020, e que o Brasil deve responder por 40% desse incremento no período. Em relação à necessidade de aumento da demanda brasileira versus as projeções de produção, sua empresa estará:

7VOLTAR A PÁGINA INICIAL

Qual(is) o(s)

mercado(s)-alvo de

seu interesse para

investimentos,

parcerias comerciais

e/ou operações

internacionais?

Outros países da América Latina

Chile

Colômbia

Argentina

Venezuela

EUA

China

África

Índia

Países europeus

Outros mercados da Ásia

Canadá

México

40%

22%

17%

35%

11%

40%

33%

25%

15%

26%

13%

10%

10%

8VOLTAR A PÁGINA INICIAL

CADEIA DO AGRONEGÓCIO REFORÇA NECESSIDADE DE INVESTIMENTOS EM INFRAESTRUTURA LOGÍSTICA E IMPORTÂNCIA DE LIVRE MERCADO

Se dependesse apenas de solo fértil, clima adequado e tecnologia de produção, o agronegócio brasileiro – que já é um dos mais eficientes do mundo – poderia ampliar sua vantagem sobre os demais países e liderar a produção mundial de alimentos nos próximos anos.

Mas ocupar a primeira posição no ranking exige enfrentar algumas limitações, sendo a principal relacionada à infraestrutura logística, reforçaram representantes do setor que participaram do evento 'Competitividade Setorial – Agronegócios' da Amcham, em linha com a pesquisa da entidade apresentada em primeira mão na ocasião.

Ainda falta ao Brasil escoar, de forma rápida e eficiente, toda a produção alimentícia das suas fazendas para o globo. Para que isso aconteça, é preciso melhorar o sistema logístico.

“Contamos com tecnologia, terra e mão de obra, uma enorme vantagem comparativa sobre outros países. Todas as empresas do mundo querem entrar aqui, mas temos vários entraves logísticos”, diz José Ronaldo Vilela Rezende, sócio e líder de Agribusiness da Consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC).

Outra necessidade urgente é reduzir a interferência no mercado. O ex-ministro da Agricultura Marcus Vinicius Pratini de Moraes, que hoje é membro do Conselho de Administração da JBS Friboi, defende que o Brasil tem de se libertar das teses intervencionistas e reguladoras e passar a atuar plenamente conforme as leis de mercado.

“O sucesso que estamos vendo recentemente na agricultura brasileira é baseado em um sistema importado de Chicago, de saber entender a lei da oferta e da procura, e não ficar tentando mexer nela”, destaca Pratini de Moraes.

PERDA DE CHANCES

Se o Brasil dispusesse de uma malha de escoamento

produtivo mais eficiente das fazendas até os portos, o

agronegócio teria condições de continuar a se expandir

e também fazer face a oportunidades que se abrem,

como atender o mercado americano, que passa por

dificuldades de suprimento de milho neste momento.

Uma seca no Meio-Oeste dos EUA deve provocar um

desabastecimento de 80 milhões de toneladas de milho,

segundo Luiz Pretti, diretor presidente da Cargill

9VOLTAR A PÁGINA INICIAL

Agrícola. Estimativas apontam que a produção ameri-

cana desse produto neste ano cairá de 380 milhões de

toneladas para 300 milhões.

“Com essa deficiência, o Brasil poderia aproveitar e ser

o grande exportador para o mercado americano”,

observa Pretti. Por conta do desabastecimento, os

preços aumentaram muito – uma alta de 40% em junho,

para um câmbio de R$ 2 – e há produto em excesso no

Brasil. Na safrinha (colheita fora de época), o País

produziu 34 milhões de toneladas de milho, que

poderiam ser direcionadas aos EUA.

“É um momento único para o fazendeiro brasileiro”,

comenta Pretti. “Temos milho em excesso a preços

recordes, que estão até fora dos silos, mas que não

conseguimos transportar. A falta de infraestrutura é algo

que precisamos resolver logo”, lamenta o executivo.

Pretti ressalta que a burocracia excessiva desestimula

os investimentos do setor privado em infraestrutura.

Pesa a demora na concessão de licenças ambientais para

a construção de obras. “O investimento em portos pode

levar até sete anos para que se consiga toda a finaliza-

ção, e mais três anos para expansão. O que pedimos é a

aceleração desses processos”, afirmou.

O executivo assumiu o posto de presidente da operação

brasileira da Cargill em julho, e pretende dar continui-

dade aos projetos de construção de uma nova fábrica de

processamento de milho no Paraná e uma usina sucroal-

cooleira.

“Queremos seguir investindo em infraestrutura, e é

importante que haja consciência de que se melhore a

infraestrutura básica para fazer os modais funcionarem.

Não adianta ter o melhor porto do mundo se não há

logística para levar [os produtos até lá], nem ferrovias e

rodovias para transportar“, assinala.

DIVERSIFICAÇÃO DA MATRIZ

DE TRANSPORTE

A posição do Brasil como produtor e exportador de

commodities agrícolas e proteína animal está consoli-

dada, e com uma cadeia de negócios muito evoluída.

Porém, o País desperdiça a chance de ser o maior

supridor de alimentos do mundo por conta das deficiên-

cias logísticas e regulatórias, critica, uníssono, Valmor

Schaffer, presidente da processadora de alimentos

ADM do Brasil.

Para ele, é preciso diversificar a matriz modal brasilei-

ra, que poderia oferecer alternativas mais baratas que a

rodoviária, como o transporte ferroviário e a cabota-

gem. “Ter 66% do transporte baseados em caminhão é

jurássico”, dispara.

Schaffer entende que a burocracia e as deficiências na

legislação são tão prejudiciais à agricultura quando a

falta de modais de escoamento. “Um estado chegou a

mudar a legislação fiscal 13 vezes e nossa lei laboral

está cada vez mais engessada, quando deveria ser mais

flexível. Precisamos de mais simplicidade na legislação

fiscal e tributária”, destaca.

“Uma companhia como a nossa tem até 60 pessoas na

área fiscal para dar conta da complexidade. É simples

para o governo fazer uma reforma nesse sentido”, avalia.

Valmor Schaffer também aborda a necessidade de

ampliar os investimentos em pesquisa e desenvolvi-

mento. O Brasil pode aumentar a produtividade das

lavouras sem necessariamente expandir a área planta-

da. “Em milho, ainda temos metade da produtividade

americana. Existe um espaço tremendo de incremento

de produção sem precisar de novas áreas”, estima.

10VOLTAR A PÁGINA INICIAL

VISÃO DE OPORTUNIDADES

Roger Laughlin, presidente do grupo Makro Atacadista,

vê esses gargalos brasileiros como oportunidades que as

companhias têm de saber aproveitar em busca de

retornos melhores. “A logística é onde temos as maiores

oportunidades. Um caminhão que sai de Manaus demora

30 dias para chegar a São Paulo porque a infraestrutura é

deficiente e há burocracia para o transporte.”

Segundo ele, em vez de reclamar que o produto não

chega, sua companhia prefere pensar em como trans-

portar os itens com o menor número possível de

interrupções. “Temos de incorporar esses problemas e

fazer melhor que nosso concorrente. Quem reclama do

Brasil não sabe como é operar no Paquistão ou na

Venezuela, por conta de problemas e instabilidade

política. Mesmo assim, estamos nesses países e busca-

mos as oportunidades que oferecem.”

O ex-ministro Pratini de Moraes critica o intervencionis-

mo do setor público e os movimentos comuns de modifi-

car taxas e impostos para beneficiar um ou outro seg-

mento. “Se falta milho por quebra de safra, o preço sobe

e o governo começa a taxar exportações [para privilegiar

o mercado interno]. O Brasil deveria se libertar dessas

teses intervencionistas e reguladoras”, propõe.

É preciso, em vez de intervir, fornecer maior financia-

mento para apoiar no enfrentamento de situações

INTERVENCIONISMO

adversas. “No caso de agricultores que perdem a safra,

há necessidade de renegociar a dívida e ajudar também

a financiar a compra de equipamentos modernos.

Financiar a agricultura é sempre bom negócio, mas o

segredo é oferecer juros baixos e opções de securitiza-

ção visando à segurança, por exemplo.”

Outra proposta do ex-ministro para estimular um maior

avanço do agronegócio brasileiro passa pelos estabele-

cimento de novos acordos internacionais. “O Brasil tem

poucos acordos bilaterais em um mundo no qual 70%

do comércio são feitos por negociações desse tipo.”

Para o ex-ministro, a grande lição a ser seguida pelos

empresários do agronegócio é que se movimentem.

“Gastamos 90% do tempo falando de dificuldades, mas

pouco resolvendo os problemas”, afirma. “Em vez de

ficar nas queixas, é preciso arranjar investidor, e todo o

mundo quer vir para o Brasil.”

Para estar na mira dos investidores estrangeiros, o

agronegócio necessita trabalhar a própria imagem,

sustenta também Pratini de Moraes. “O segundo maior

problema a se enfrentar no agronegócio brasileiro é de

marketing. Não sabemos vender. Precisamos sempre

conseguir mais mercados. Esses são os desafios perma-

nentes que teremos nos próximos anos em função das

nossas deficiências”, conclui.

AÇÃO E MARKETING

11VOLTAR A PÁGINA INICIAL

BRASIL APARECE NA 31ª COLOCAÇÃO EM ÍNDICE GLOBAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR QUE AVALIOU 105 PAÍSES

O mundo está mais rico e bem alimentado do que há cinquenta anos, mas a fome ainda consiste em uma séria ameaça à estabilidade dos países e suas populações.

O Índice Global de Segurança Alimentar (GFSI na sigla em inglês), elaborado pela Economist Intelligence Unit (EIU) e patrocinado pela DuPont, confirma, no geral, boas performances nesse sentido por parte dos países desenvolvidos, mas situações ainda críticas em regiões pobres.

O Brasil – considerado um país de renda média – aparece na 31ª posição do ranking, que é encabeçado por Estados Unidos, Dinamarca e Noruega. Os países percebidos como com pior situação em segurança alimentar foram os africanos Burundi, Chade e Congo.

Apesar de ser uma potência agrícola, o Brasil ficou atrás de nações latino-americanas cuja produção agrária é comparativamente mais modesta, como Chile (26º) e México (30º). O desempenho nacional, por outro lado, foi superior ao de Argentina (32º), Uruguai (33º) e Paraguai (49º), produtores importantes de commodities agrícolas.

A pesquisa, apresentada no seminário 'Competitividade Setorial – Agronegócios', tem como objetivo mostrar que segurança alimentar vai além da produção agrícola: envolve também logística de abastecimento e disponibilidade de oferta.

“A grande limitação brasileira é a baixa infraestrutura, um ponto claramente levantado na pesquisa da Amcham e que, comparado a outros países, precisa ser melhorado”, disse Zacarias Karacristo, presidente regional da DuPont Nutrição e Saúde, durante a apresentação dos dados.

12VOLTAR A PÁGINA INICIAL

INSEGURANÇA CUSTOSA

O estudo deixa claro que, mesmo que haja produção

suficiente, “muitas vezes os suprimentos não conse-

guem chegar onde precisam devido a restrições físicas,

políticas, econômicas e de mercado”.

São citadas informações de um levantamento de 2012

do Centro para o Progresso Americano que indicam que

a insegurança alimentar é custosa não apenas porque

faz as pessoas dormirem com fome. “Pouca comida

aumenta os custos de saúde e reduz a produtividade da

força de trabalho.”

A insegurança alimentar também ameaça a estabilidade

política. “Estudos mostram que a falta de alimentos está

relacionada a uma deterioração substancial das

instituições democráticas em países de baixa renda,

bem como aumento da violência pública, motins,

abusos dos direitos humanos e conflito civil”, lista o

relatório da EIU

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

O GFSI é calculado com base em três critérios: acessi-

bilidade financeira a produtos alimentícios, disponibili-

dade e qualidade/segurança.

A primeira categoria se relaciona com a capacidade de

compra de alimentos, sua vulnerabilidade a choques de

preços e a presença de programas e políticas públicas de

combate à fome.

“Países de alta renda têm melhor pontuação nesse

indicador, bem como várias nações de renda média que

investiram em programas nacionais de redução da

fome, como o Brasil”, descreve o relatório. Esse

quesito é liderado pelos EUA, enquanto o Brasil está na

29ª posição.

No segundo pilar, disponibilidade, a colocação brasilei-

ra cai para 34ª, com a Dinamarca em 1º lugar. Aqui, o

objetivo é medir a infraestrutura (oferta e distribuição)

de alimentos, riscos de interrupção de abastecimento e

esforços em pesquisa agrícola. “Este é um aspecto que

bate perfeitamente com a pesquisa da Amcham”,

comenta Karacristo.

O último item, qualidade/segurança, trata da diversifi-

cação e qualidade nutritiva dos alimentos. De acordo

com o estudo, o Brasil se encaixa na 30ª posição,

enquanto Israel é o mais destacado.

“Em se tratando de diversidade da dieta, nossa combi-

nação de arroz, feijão e proteína possibilita uma

disponibilidade de quilocalorias por pessoa bastante

razoável”, observa o executivo da DuPont.

13VOLTAR A PÁGINA INICIAL

ENTREVISTA

ZACARIAS KARACRISTO | PRESIDENTE REGIONAL DA DUPONT NUTRIÇÃO E SAÚDE :

"PESQUISAS DA AMCHAM E DA EIU CONVERGEM AO APONTAR ELEMENTOS CRÍTICOS PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO"

A M C H A M :

A M C H A M :

O que de mais importante as duas

pesquisas – da Amcham e da Economist Intelligence

Unit patrocinada pela DuPont – apresentadas no

evento revelam sobre o agronegócio brasileiro?

Elas mostram uma

convergência muito grande de cenários nos principais

problemas. Há uma convergência [de críticas dos

empresários do setor] nas questões de infraestrutura,

tributos e outras. O crescimento da economia, por

exemplo, indica a urgência de melhorar a renda geral. O

Brasil é a sexta maior economia do mundo, mas ainda

está muito embaixo no ranking de PIB [Produto Interno

Bruto] per capita por paridade de poder de compra. Não

basta só haver uma boa produção de alimentos. É

preciso que as pessoas tenham dinheiro para comprá-

los. Outro ponto é a questão de disponibilizar comida,

isto é, como transportar, armazenar, exportar etc.

Por que esse índice do PIB per capita por

paridade de poder de compra é importante?

É um número que ajuda

a dar visibilidade ao poder de compra da população e ao

Z A C A R I A S K A R A C R I S T O :

Z A C A R I A S K A R A C R I S T O :

acesso à diversidade e à qualidade dos alimentos

consumidos. Entendo que qualidade e segurança dos

alimentos vão além da questão da fome. Se olharmos

número por número, [a produção mundial de alimentos]

atenderia todas as necessidades do ser humano. Porém,

há outros fatores que influenciam, como preços e safra.

Esse número mostra só a ponta da demanda. O que é

importante é que está havendo uma melhora no Brasil.

Se compararmos com os indicadores de cinco ou dez

anos atrás, vemos uma curva de evolução muito

positiva, mas há espaço para melhorar mais. Estamos

entre os 31 primeiros e ficamos acima da média nas três

categorias da pesquisa. Estamos bem no índice de

população abaixo da linha de pobreza e possuímos

tarifas de importação relativamente baixas para trazer

produtos, sem falar na menor volatilidade de produção

agrícola [em comparação com outros países] e na

disponibilidade de micronutrientes da nossa dieta.

Dentro da América Latina, o Brasil é líder em

disponibilidade, apesar da baixa renda per capita.

Onde o Brasil pode chegar se conseguir

avançar em áreas em que ainda é deficiente?

Não há limite. A

pesquisa da EIU mostra que os países que se saíram

A M C H A M :

Z A C A R I A S K A R A C R I S T O :

14VOLTAR A PÁGINA INICIAL

ENTREVISTA

melhor foram os que apresentaram grande estoque de

suprimento, alta renda das famílias e baixo percentual

da renda familiar destinado à compra de alimentos. Já

os piores índices aparecem justamente onde a questão

da renda é muito baixa. O grande obstáculo [para o

Brasil] é a infraestrutura, um ponto claramente

levantado na pesquisa da Amcham e que, comparado a

outros países, é algo que precisa ser melhorado. Isso

depende de como e com que velocidade podem ser

resolvidos esses problemas.

Qual o papel das empresas na resolução

dos gargalos brasileiros?

A M C H A M :

Z A C A R I A S K A R A C R I S T O : Muitas coisas podem

ser feitas pela iniciativa privada, sobretudo no que toca

às Parcerias Público-Privadas, que ajudam muito a

fomentar os investimentos. Mas há também a questão

do financiamento externo – e os bancos de

desenvolvimento internacionais, como o Banco

Mundial, como importante fonte de recursos. Os

empresários têm de buscar eficiência, cooperação e

condições de melhoria de mercado interno e de

competitividade global.

15VOLTAR A PÁGINA INICIAL

ENTREVISTA

"DESAFIO DA ALIMENTAÇÃO HUMANA É PRODUZIR PROTEÍNA ANIMAL"

MARCUS VINÍCIUS PRATINI DE MORAES | MEMBRO DO CONSELHO DA JBS FRIBOI E EX-MINISTRO DA AGRICULTURA :

A M C H A M :

A M C H A M :

No seminário, as pesquisas da Amcham

e da Economist Intelligence Unit apresentadas

abordaram o potencial brasileiro para liderar a

produção mundial de alimentos. Na sua opinião, o

País poderá de fato assumir essa posição?

Entre os países da América

Latina, só vejo dois que efetivamente podem combater

a fome e fornecer alimentos na região: Brasil e

Argentina. Em menor escala, vêm Paraguai e Uruguai.

O México é o maior importador de produtos lácteos do

mundo. E por que isso? Porque o México fez uma

reforma agrária que não deu certo. É o maior

importador mundial de lácteos, pois compra tudo mais

barato dos EUA – e os americanos também estão

inclusos como grandes produtores, que hoje produzem

até álcool de milho em grande escala.

Que desafios o Brasil tem pela frente?

O desafio da alimentação

humana é produzir proteína animal e, para isso, é

preciso ter milho e farelo de soja. O que é um porco ou

um frango senão uma máquina de transformar proteína

vegetal em animal? Só os grandes produtores dessas

proteínas podem ser grandes supridores de alimentos.

Também temos que atacar a questão do protecionismo.

P R A T I N I D E M O R A E S :

P R A T I N I D E M O R A E S :

A M C H A M :

A M C H A M :

A que exatamente o sr. se refere?

O problema hoje é um tipo

de protecionismo que chamo de ambiental. De repente,

uma empresa de idoneidade duvidosa resolve achacar

dinheiro de produtores. O que ela faz? Manda um

telegrama para os compradores de mercadorias

brasileiras dizendo que os produtores criam gado em

área de proteção indígena ou que não honram os

compromissos assumidos para coibir trabalho escravo.

Quem recebe essa mensagem lá fora olha torto para o

Brasil. Isso não é bem assim, e não podemos permitir

que informações distorcidas sejam usadas contra nós.

Esse tipo de crítica tem fundamento?

Um país do nosso tamanho

tem problemas, sim. Mas muitos países não fazem o

esforço que fazemos para combater essas práticas.

Ocorre que estamos assistindo a um excesso de

propostas de controle e críticas que muitas vezes são

direcionadas por ONGs [Organizações Não

Governamentais] que são patrocinadas por empresas de

concorrentes estrangeiros. O Brasil é importante no

cenário internacional e precisa ter cautela com

interesses enormes, políticos inclusive, que existem.

P R A T I N I D E M O R A E S :

P R A T I N I D E M O R A E S :

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ENTREVISTA

A M C H A M :

A M C H A M :

Que interesses políticos seriam esses?

O Brasil não precisa se

perder nisso agora. Esse assunto terá mais importância

no futuro. Temos de encontrar uma forma de não criar

embaraços para nós mesmos e também discutir mais

acordos internacionais. O Brasil tem pouquíssimos

acordos em um mundo em que 70% do comércio são

feitos via tratados bilaterais.

Outro assunto tratado no seminário foi

a restrição à compra de terras por estrangeiros. O

que o sr. pensa sobre esse tema?

Não tenho nenhuma

restrição à compra de terras brasileiras por estrangeiros,

P R A T I N I D E M O R A E S :

P R A T I N I D E M O R A E S :

mas é preciso lembrar que política não é algo estático,

não há decisões nem princípios que não sejam

mutáveis. O que o mundo está mandando de mensagens

ao Brasil é que não plante, não modernize porque isso

vai contra o meio ambiente. No mundo, existem

reuniões para combater as queimadas na Amazônia.

Falo de instituições acadêmicas como MIT [sigla em

inglês para Instituto Tecnológico de Massachusetts],

Columbia, Harvard e Cornell. A proposta das teses é

que os brasileiros parem de plantar e só cuidem da

Amazônia. O que precisamos é tomar cuidado com a

venda de terras a estrangeiros perto das nossas

fronteiras, mas proibir a compra de terras para

plantarem é burrice. Os brasileiros deveriam apoiar a

compra porque, se houver mais gente querendo

comprar, o preço aumenta. O Brasil é encolhido e tem

receio dessas coisas.

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ENTREVISTA

"À INICIATIVA PRIVADA CABE A CONSTRUÇÃO DE TERMINAIS DE CARGA E SISTEMAS DE ARMAZENAGEM; AO GOVERNO, DESENVOLVER ESTRADAS E FERROVIAS MAIS LONGAS, ALÉM DE LINHAS DE ENERGIA"

VALMOR SCHAFFER | PRESIDENTE DA ADM DO BRASIL :

A M C H A M :

A M C H A M :

Qual é o ponto mais preocupante para o

agronegócio do Brasil?

Entre os envolvidos no

agronegócio, a maior parte sempre reclama da logística.

Falta um modal eficiente de transporte. No momento, é

necessário um grande investimento em ferrovias,

hidrovias e rodovias, nesta ordem. Sem resolver essas

questões primordiais, o caminho é de crescimentos

marginais decrescentes no setor. Ter 66% do transporte

baseados em caminhão é jurássico. Nossa legislação

laboral mostra uma carga cada vez mais pesada.

Precisamos também simplificar a legislação tributária e

fiscal, visto que uma empresa como a nossa tem até 60

pessoas para tomar conta da complexidade da área

fiscal. É simples para o governo fazer uma reforma

nesse sentido.

O Brasil realmente tem como se tornar

o maior produtor de alimentos do mundo até 2020,

potencial indicado pela Embrapa?

Creio que isso demorará para

acontecer, ainda mais se o governo não fizer

investimentos na área de infraestrutura. Na parte mais

V A L M O R S C H A F F E R :

V A L M O R S C H A F F E R :

pesada, como estradas e ferrovias, só o governo pode

investir. Esse tipo de gargalo é uma limitação grave.

Pegue o caso dos fertilizantes hoje: os fabricantes

esperam, em média, cinco dias para descarregar nos

portos. É necessário que o governo se some à iniciativa

privada para investir nas principais necessidades.

Qual a função do empresariado nesse

contexto?

A iniciativa privada tem feito

seu papel de investir no que faz sentido para ela, o que

traz retorno. Há uma tremenda capitalização no campo.

Temos uma geração de businessmen rurais e empresas

comerciais que se expandiram nos últimos anos e estão

sólidas. Dispomos de uma terra sensacional, com solo

fértil e composição física apropriada à agricultura.

Somos líderes em exportação de carnes e soja. Na soja,

já alcançamos um resultado excepcional, ultrapassando

os EUA em termos de produtividade. O mesmo ocorre

com o açúcar e o café. Temos participação crescente [na

exportação] de milho, mas ainda registramos metade da

produtividade americana; então, existe um espaço

tremendo de incremento de produção sem serem

necessárias novas áreas. Onde o Brasil conseguiu

avançar em agricultura, é líder ou vice-líder mundial.

A M C H A M :

V A L M O R S C H A F F E R :

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Quem está na raiz disso é o produtor brasileiro. Por isso,

vejo grande potencial para aumentar a área agrícola. Os

exportadores atingiram capacidade de avaliação de

negócio bastante elevada. Porém, temos um problema

que é o gargalo portuário, que complica as exportações.

Quando se trata de um investimento em linhas elétricas

e expansão de espaços portuários, isso é papel do

Estado. A iniciativa privada tem feito muito, mas o

governo pode e deve fazer mais. À iniciativa privada

cabe a construção de terminais de carga e de sistemas de

armazenagem, por exemplo, enquanto ao governo resta

a construção de estradas e ferrovias mais longas, linhas

de energia e outros.

A M C H A M : A partir dos debates vistos no

seminário da Amcham, qual a mensagem que fica

aos empresários do agronegócio?

O cenário é positivo e os

gargalos são coisas com as quais se tem de lidar. Creio

que teremos um crescimento forte na agricultura pelos

próximos dez ou 15 anos no Brasil. Vejo que muitos

produtores fizeram por merecer [os retornos vistos nos

últimos anos]. Eles estão vivendo o melhor momento

da agricultura brasileira dos últimos cem anos.

V A L M O R S C H A F F E R :

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JOSÉ RONALDO VILELA REZENDE | SÓCIO E LÍDER DE AGRIBUSINESS DA PWC :

"PAÍS PRECISA ESTAR COM A 'CASA ARRUMADA' PARA EVITAR ARGUMENTOS QUE LEVEM A PROTECIONISMO"

A M C H A M :

A M C H A M :

Quais são as principais conclusões que

podem ser tiradas do debate?

As discussões mostram que o Brasil

tem um potencial esplêndido para ser o celeiro do

mundo, e há oportunidades tanto em produção quanto

exportação que trariam melhoria de renda ao produtor.

Temos gargalos que precisam ser trabalhados, como a

grande utilização de transporte rodoviário em

detrimento do ferroviário, a deficiência de portos e o

baixo uso de hidrovias. Também há temas importantes

como capacitação de mão de obra, o que demanda

investimentos, e carga tributária, que é outro entrave a

ser enfrentado. Estamos evoluindo nessas questões,

embora ainda haja muito a ser feito. Muitos dos projetos

poderiam ser feitos via PPP [Parceria Público-Privada].

As empresas vêm se movimentando, e o governo tem a

responsabilidade de estimular esses investimentos e

criar mecanismos de incentivo.

A sondagem da Amcham levantou

desafios para o agronegócio brasileiro, como

deficiências de infraestrutura. Como o sr. avalia a

conexão dos resultados da sondagem com o debate?

J O S É R E Z E N D E :

J O S É R E Z E N D E :

J O S É R E Z E N D E :

Grande parte dos temas discutidos

foi bem capturada pela pesquisa da Amcham. Um deles

foram os problemas de logística, mas como devem ser

resolvidos? No final, o próprio investimento privado

acaba tendo de tomar a iniciativa em detrimento do

público como forma de solucionar as carências. Outro

tema abordado foi a dificuldade de avanços em termos

de rodovias, ferrovias e anéis viários. [A liberação de

obras] Passa por muitas questões ambientalistas, onde

às vezes há setores que jogam contra em vez de tentar

facilitar e tentar trabalhar juntos. De forma nenhuma

sou contra a proteção ao meio ambiente, mas é possível

fazer coisas preservando o equilíbrio ecológico. Muitas

empresas têm feito isso de forma exemplar.

Falando na questão ambientalista,

como a votação do novo Código Florestal é vista pela

cadeia do agronegócio?

A definição do código está um

pouco complicada. Ainda há algumas questões em

discussão que foram lançadas por medida provisória.

Falta resolver o tema e dar mais transparência e

confiança ao investidor de que a qualquer momento não

será surpreendido por alguma mudança no código.

A M C H A M :

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A M C H A M :

A M C H A M :

E a questão da restrição de compra de

terras por estrangeiros, como o sr. vê?

Esse é outro tema importante

porque vivemos em um mundo globalizado e querer

restringir o capital estrangeiro para a compra de terras

vai na contramão desse movimento. Acho fundamental

que isso seja esclarecido e se estabeleçam regras claras,

transparentes e que seja permitido esse investimento até

certo limite. Temos terras, produtores, água e luz, mas

precisamos de capital. O País, por si só, carece de

dinheiro para investir em tudo. Temos de permitir, sim,

a entrada de estrangeiros, do mesmo jeito que as

empresas brasileiras do agronegócio estão entrando nos

EUA e na Austrália. É uma via de mão dupla.

Entre os assuntos abordados no

seminário, estão a necessidade de novos acordos

internacionais e a percepção de um aumento de

iniciativas de viés protecionista. Como o sr. analisa

esse quadro?

É um problema complicado. Veja o

caso da laranja, em que o Brasil supre 80% do mercado

mundial. Os EUA descobriram que o País usa um

fungicida permitido aqui, mas não para eles [Os

J O S É R E Z E N D E :

J O S É R E Z E N D E :

americanos suspenderam em fevereiro um lote de

importações de suco brasileiro com o fungicida

carbendazim]. Isso trouxe um prejuízo enorme para a

cadeia citrícola [brasileira], que conseguiu contornar

parte das perdas passando a exportar suco com mais

água, o non concentrated juice. Outras barreiras criadas

são para proteger mercados locais, como aconteceu há

três anos com o embargo de carne bovina pela Europa.

Aquilo foi uma ação da Irlanda, que é a maior

prejudicada. Temos como produzir carne a custo

competitivo, e eles não. Isso [a escalada protecionista]

não parará.

Como esse assunto deve evoluir?

Temos de cuidar do tema de

sustentabilidade ambiental e social porque isso será

motivo de embargo. Assim que não acharem mais

justificativas fitossanitárias de proteção aos mercados,

começarão a falar que o agroempresário brasileiro está

produzindo à custa do empobrecimento do produtor

rural. O setor canavieiro tem feito um trabalho enorme

de educação para desmistificar a existência de trabalho

escravo e infantil. Havia problemas? Sim, mas

foram resolvidos. Por isso, precisamos estar com a

'casa arrumada' para evitar argumentos que levem a

mais protecionismo.

A M C H A M :

J O S É R E Z E N D E :

O evento foi patrocinado por:Expediente:Editora: Giovanna Carnio (MTB 40.219)Reportagem: André Inohara e Marcel GugoniFotos: Mário MirandaDiagramação: Idéiafix Computação Gráfica