16
riíATKO DE ARTUR AZEVEDO 'mi' l iiiL.irtr !rn|n<",s<. no Brasil/ Printed in Brazil r<n leito o depósito legal [SBN TODOS OS DIREITOS RESERVADOS l umKição Nacional de Arte - Funarte Rua da Imprensa, 16-5° andar CEP; 20030-120 - Rio de Janeiro - RJ Tel: (21) 2262-5547- Fax: (21) 2262-4895 T" Revisão de texto NILDON FERREIRA DEBORAH FERREIRA A LA Digitalização, diagramação e produção gráfica DANIEL JOSÉ DE ABOIM Editoração Eletrônica INFOSEVILLA SERVIÇOS LTDA. Esta colecão recebeu o apoio do INSTITUTO PENSARTE Catalogação-na-fonte Funarte/Coordenação de Documentação e Informação Azevedo, Artur, 1855 - 1908 Teatro completo de Artur Azevedo. Rio de Janeiro: Funarte, 2002 1.762p.; 14 x21cm ISBN 85-7507-033-9 Anteriormente publicado como volumes independentes da Coleçâo Obras completas. Sumário Artur Azevedo As mutações da comicidade / 9 O Tribofe / 27 Entre o vermute e a sopa / 117 Como eu me diverti / 131 O Major / 141 A fantasia / 223 A Capital Federal / 311 Amor ao pêlo / 419 O badejo 7447 O jagunço / 513 Confidências / 549 Gavroche / 557 Artur Azevedo: homo poiiticus / 593 A Viúva Clark / 613 Uma consulta / 681 Comeu! / 695 A fonte Castália / 779 O mambembe / 845 As sobrecasacas / 953 Guanabarina / 977 O ano que passa / 1085 Como nasceu o Teatro de Artur Azevedo / 1.189 Comédias, burletas e outros / 1,197 O dote/l.199 O oráculo / 1.251 Entre a missa e o almoço / 1.273 O cordão / 1.287 O genro de muitas sogras / 1.323 Vida e morte / 1.369 Cançonetas / 1.419 Monólogos / 1.429 Fragmentos, alegorias e cenas / 1.463 Teatro a vapor (sainetes) / 1.501 Bibliografia comentada de Artur Azevedo / 1.699

Amor Ao Pelo Artur Azevedo

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Peça Amor ao Pêlo, de Artur Azevedo. Trata-se de sátira à peça Pelo Amor, de Coelho Neto.

Citation preview

  • riATKO DE ARTUR AZEVEDO' m i ' l i i i L . i r t r

    ! r n | n < " , s < . no Brasil/ Printed in Brazilr < n leito o depsito legal[SBNTODOS OS DIREITOS RESERVADOSl umKio Nacional de Arte - FunarteRua da Imprensa, 16-5 andarCEP; 20030-120 - Rio de Janeiro - RJTel: (21) 2262-5547- Fax: (21) 2262-4895

    T"

    Reviso de textoNILDON FERREIRADEBORAH FERREIRA A LADigitalizao, diagramao e produo grficaDANIEL JOS DE ABOIMEditorao EletrnicaINFOSEVILLA SERVIOS LTDA.Esta coleco recebeu o apoio doINSTITUTO PENSARTE

    Catalogao-na-fonteFunarte/Coordenao de Documentao e Informao

    Azevedo, Artur, 1855 - 1908Teatro completo de Artur Azevedo.

    Rio de Janeiro: Funarte, 20021.762p.; 14 x21cm

    ISBN 85-7507-033-9

    Anteriormente publicado como volumes independentes da Coleo Obrascompletas.

    SumrioArtur AzevedoAs mutaes da comicidade / 9O Tribofe / 27Entre o vermute e a sopa / 117Como eu me diverti / 131O Major / 141A fantasia / 223A Capital Federal / 311Amor ao plo / 419O badejo 7447O jaguno / 513Confidncias / 549Gavroche / 557Artur Azevedo: homo poiiticus / 593A Viva Clark / 613Uma consulta / 681Comeu! / 695A fonte Castlia / 779O mambembe / 845As sobrecasacas / 953Guanabarina / 977O ano que passa / 1085Como nasceu o Teatro de Artur Azevedo / 1.189Comdias, burletas e outros / 1,197O dote/l.199O orculo / 1.251Entre a missa e o almoo / 1.273O cordo / 1.287O genro de muitas sogras / 1.323Vida e morte / 1.369Canonetas / 1.419Monlogos / 1.429Fragmentos, alegorias e cenas / 1.463Teatro a vapor (sainetes) / 1.501Bibliografia comentada de Artur Azevedo / 1.699

  • AMOR AO PLO

    Pachuchada em um ato e dois quadros

    por

    UM POETA1

    que deseja guardar o annimo e as porcentagens

  • A ARTUR AZEVEDO

    O. D. C.

    O Autor

  • PERSONAGENS

    O CONTRA-REGRA

    PRIMEIRO CAVALEIRO

    SEGUNDO CAVALEIRO

    TERCEIRO CAVALEIRO

    A CONDESSA

    A AIA

    ATORES

    SenhorIRANDO

    Senhor A. MESQUITA

    Senhor IINTO

    Senhor CSAR DE LIMA

    Senhor PORTUGAL

    Senhor LOURO

    Senhor OLIVEIRA

    Senhor BATISTA

    Dona PEPA Ruiz

    Dona MARIA FALCO

    Cavaleiros, monteiros, coiteiros, montamzes e aias.

  • M enoQ

    Quadro l

    Plataforma de castelo com parapeito. Porta esquerda dando pira oexterior, e porta direita dando para o interior do castelo. Ao fmdo,

    paisagem.

    Cena l

    A SENTINELA

    (,4o levantar o pano, a Sentinela passeia ao fundo, com a lance aoombro e a trompa a tiracolo.)

    CORO INTERNO

    Na extrema do horizonteDesaparece o sol,E j no doura o monteO flgido arrebol.Volvamos sem demoraAo bem ditoso lar,Que o nosso corpo agoraPrecisa repousar.

    A SENTINELA (Declamando, enquanto as vozes se afastam.):Os camponeses felizes,A tarefa terminada,Vo cantando pela estrada,Vo abraar os petizes.(Passeia. Pausa.) triste fado o meu fado,Pois numa noite to fria,At que desponte o dia,De frio todo engelhado,Eu vou fazer sentinela,Enquanto a esposa mesquinha,Chorosa, triste, sozinha,No nosso tugrio vela.

  • ! ,'f. TEATRO DE ARTUR AZEVEDO

    (l'tiii

  • l TEATRO DE ARTUR AZEVEDO

    (A Sentinela.)A SENTINELA:O BOBO:

    A SENTINELA:

    O Mono:

    A Si NTINHLA:

    O

    Que um bobo no diz bobagens,E que tem certas vantagensFalar pelos cotovelosOu pelas tripas de Judas!Ol! Z! Eu vou falar!Pois fala!

    Se eu me esfalfar,Se eu rebentar, no me acudas!(Desce ao proscnio.)O meu assunto profundoVai ser a pana... oh! a pana!Eis a base em que descansaO movimento do mundo!O velho, o moo, a criana,O rico e tambm o pobre,Seja vilo, seja nobre,Tm o cuidado da pana.No pode a filosofiaDo sbio mais avisadoConsolar o desgraadoQue tenha a pana vaziaOu no tenha a pana cheia,Pois que toda a humana lideS em trs coisas reside :Almoo, jantar e ceia.E notem bem: eu concedoQue apresentem, como emenda,Ao meio-dia merendaE caf de manh cedo. Fala-s, vai-te embora!No digas tanta tolice!Basta de tagarelice!J falas h meia hora!Bpede implume, tu sabesQuem s, e de que s formado?Sim, eu sei que sou soldadoE aqui estou de...

    No acabes!Oh! tu no sabes, criana...N

  • < l Itmin:

    TEATRO DE ARTUR AZEVEDO

    Bom. AdioO monlogo pra logo,Porque eu, quando monologo,Falo trs horas a fio.

    (Msica. A Condessa entra arrebatadamente, acompanhada pelaAia, e por outras Aias, que formam o coro.)

    Cena III

    Os mesmos, a CONDESSA, t? AIA, Aias

    Copias

    l

    A CONDESSA: O meu maridoEstremecido

    Foi hoje caa mal despertou;So seis e meia,Hora da ceia,

    E da caada no regressou!Estou nervosa,Vertiginosa!

    No sei deveras o que pensar!PressentimentosMais agourentos

    No poderiam me torturar!Nem um telegrama!Nem um bilhetinho!Pobre de quem amaO seu maridinho!

    CORO: Nem um telegrama! etc.

    A CONDESSA:

    II

    ProvavelmenteHouve incidente:

    AMOR AO PELO 4 1 1

    Caiu, feriu-se, pobre rapaz!Mas por desgraaQue h caa e caa

    Do Teatro Apoio diz o cartaz.Sou violenta!Sou ciumenta!

    Penso que o Conde no foi caar!Aqui me encontra,Se ele bilontra,

    Cum bom cacete para o ensinar!Ficar na camaEm lenis de linho!Assim faz quem amaO seu maridinho!

    CORO: Ficar na cama, etc.A CONDESSA (Declamando.):

    Sentinela, no vs nada?A SENTINELA: Nada, Senhora Condessa.A AIA: provvel que aparea

    Antes de noite fechada.A CONDESSA (As Aias.):

    Ide ver, amigas minhas!(As Aias aproximam-se todas do parapeito ao fundo.

    No vedes o meu senhor?A AIA: Vejo apenas um pastor,

    Recolhendo as ovelhinhas.A CONDESSA: Sentinela, toca a trompa!(A Sentinela obedece.)O BOBO; o tintureiro que passa?A CONDESSA: Ningum responde, oh, desgraa!O BOBO ( Condessa.):

    D que o bobo te interrompa.A CONDESSA: Fala, bobo.O BOBO: Fica mansa.

    Tu desse modo raladaNo adiantas mesmo nada,Porque este mundo uma pana.'E tu s um louco.

    oao

    A CONDESSA;A AIA (Ao fundo.

    Senhora,

  • 4M TEATRO DE ARTUR AZEVEDO

    L chegam trs cavaleiros!Vm galopando ligeiros,Todos ca lngua de fora!

    A CONDESSA: Cavaleiros? E eu assim!Em que pese o meu desgosto,Vou pr p-de-arroz no rosto,Vou pr nos lbios carmim.Recebei-os.

    O BOBO (Consigo.):Caradura!

    Mesmo nestas circunstncias,Cheia de sustos e de nsias,No se esquece da pintura! ]

    Cena IV

    V

    O BOBO, a SENTINELA, a AIA, PRIMEIRO CAVALEIRO,SEGUNDO CAVALEIRO, TERCEIRO CAVALEIRO, Aias

    Terceto

    Os TRS CAVALEIROS:

    A AIA :< > IIHHI:

    De longe vimosA galopar,Vencendo lguasPra c chegar!Nossos ginetesDevem estarArrebentadosDe tanto andar!

    Viemos a galope!Ope! Ope! Ope! Ope!

    E com prazer tomvamos um chope!Ope! Ope! Ope! Ope!...

    CAVALEIRO:A Condessa onde est?

    Na sua alcova.Sim, foi pintar-se para receber-vos.

    AMOR AO PLO l > l

    A AIA (Aparte.):Bobo indiscreto! bole-me cos nervos!

    O BOBO (Aos Cavaleiros.):Vs tambm precisveis de uma escova:

    Vindes cheios de p.PRIMEIRO CAVALEIRO:

    Cala-te, Fala-s:Viemos trazer uma notcia triste...

    O Conde...TODOS: Que h?O BOBO: Morreu?A AIA: J no existe?PRIMEIRO CAVALEIRO:

    Aqui ningum nos ouve...Vou dizer-vos o que ouve:

    (Chegam-se todos ansiosos, e o Cavaleiro fala com mistrio.)Aquilo da caada era uma histria.

    TODOS: Era uma histria?PRIMEIRO CAVALEIRO:

    coisa j notriaQue h trs lguas daqui o nosso CondeUma mulata de espavento esconde,Por sinal feiticeira...

    TODOS: Feiticeira?PRIMEIRO CAVALEIRO:

    Passou com ela esta manh inteiraE juntos almoaram mocot.

    TODOS: Mocot?O BOBO: Que perigo!A AIA: Causa d!PRIMEIRO CAVALEIRO:

    E tranquilo, na casa em que era dono,O falso caador ferrou no sonoE dormiu a seguir seis horas!

    TODOS: Que horror!SEGUNDO CAVALEIRO:

    Quando acordou, foi ter conosco,Que sua espera estvamos, tenazes,E nos disse naquele estilo toscoQue j lhe conheceis: - "Ol, rapazes!

  • Ml TEATRO DE ARTUR AZEVEDO

    > /.>)&*r-V

    Se eu voltar ao casteloE no justificar tanta demora,

    Com certeza a senhoraMe bate, e eu tenho muito amor ao

    plo...Ide na frente, pois, e dai-lhe avisoDe que eu tive um desmaio, e foi precisoMais tempo aqui ficar do que devia."

    TERCEIRO CAVALEIRO:E viemos os trs em companhia,Patati patat, por a fora,Pregar uma patranha tal senhora.

    (Repetio do ltimo motivo do canto precedente.)PRIMEIRO CAVALEIRO:

    Espero que sejais discretas e prudentesA AIA: Descansai, que no damos

    Com a lngua nos dentes.O BOBO: A Condessa a vem.TODOS: Psiu!O BOBO: Ora vamos!

    v.. Bem merece uma esposa que lhe bataQuem troca este peixo pela mulata!

    Cena V

    Os mesmos, ff CONDESSA, depois Coiteiros, Monteiros,Montarazes

    A CONDESSA: Que novas me trazeis de meu marido?Por que tanta demora!

    (Ou Cavalciros-conservam-se curvados e silenciosos.)Essa mudez

    Enche-me a alma de horror! Est ferido?Moribundo estar? Morto, talvez?

    Oh! dizei por piedade! tal silncio estranha crueldade!

    Eu quero... eu quero v-lo!Inda est vivo, espero!

    AMOR AO PELO 435

    Dizei-mo! Oh! no sabeis como lhe:juero,

    Apesar de chegar-lhe a roupa ao plOh, que silncio horrendo!Que cabeas curvadas!

    Meu Conde, meu senhor, eu mearrependo

    De te haver prometido umas lambadcs!PRIMEIRO CAVALEIRO:

    O Conde vem a.A CONDESSA: Vivo?PRIMEIRO CAVALEIRO:

    No sei.A CONDESSA (.4o segundo Cavaleiro.):

    Morto?SEGUNDO CAVALEIRO:

    No sei.A CONDESSA (Ao terceiro Cavaleiro.):

    Ferido?TERCEIRO CAVALEIRO:

    No direi.PRIMEIRO CAVALEIRO:

    Ides v-lo.SEGUNDO CAVALEIRO:

    Ele a vem.O BOBO: Vem de charola,

    Deitado numa bela padiola.PRIMEIRO CAVALEIRO (-4o regente da orquestra.):

    Faz favor de tocar a marcha fnebre?A CONDESSA: Marcha fnebre? Oh, fados meus tiranos!

    Agora j no pode haver mais dvida:Enviuvei, e inda no fiz trinta anos!

    (Marcha fnebre em surdina pela orquestra.)

    Ele onde est?TERCEIRO CAVALEIRO:

    J vem.

  • TEATRO DE ARTUR AZEVEDO AMOR AO PLO 437

    hiiMWRo CAVALEIRO:Quatro coiteiros

    A chegar devero ser os primeiros.(ltilram quatro Coiteiros.)A ( 'ONDESSA (Dando um passo para a porta.):

    Mas agora...SECUNDO CAVALEIRO (Retendo-a.)

    Vm mais quatro monteiros.(tiniram os quatro Monteiros.)A CONDESSA (Dirigindo-se para a porta.):

    Ah! enfim...TERCEIRO CAVALEIRO (Retendo-a.):

    Vm mais quatro montarazes.(Entram quatro Montarazes.)O BOBO: Estes quatro rapazes

    Mais me parecem moos de forcado!A CONDESSA: Ei-lo! Agora que chega o meu amado!

    (Vai ao encontro da padiola que traz o Conde, e que vem carregadapor quatro homens, que a arriam no centro da cena. A Condessa

    ajoelha-se junto padiola.)

    Oh, meu senhor! meu Conde!Olha! Sou eu! Escuta-me! Responde! cus! ele respira! a coxa mexe-se!No estou viva! vivo o meu Senhor!

    (Hrguendo-se.)A que vem, nesse caso a marcha fnebre?

    (Ao regente da orquestra.)Pare, faa favor!

    (( V.s.sfi a marcha fnebre.)Para o quarto solcitos levemo-lo,

    No dessa marcha ao som...Venha o maxixe, que o maxixe bom!

    Que o meu amadoNo faleceu! minha gente,Com rebulioCai no servio,Que o mando eu!(Dana geral.)

    CORO: Venha um maxixe,Bem requebrado,Que o seu amadoNo faleceu! minha genteCom rebulioVai no servio!Valeu! valeu!...

    (Retiram-se todos pela direita, danando e levando a padiola. Sficam em cena a Sentinela ao fundo, e o Bobo, no proscnio, de

    braos cruzados, pensativo.)

    Cena V

    A SENTINELA, o BOBO

    >d,Ha2'Ji3glI

    Maxixe

    Venha um maxixeBem requebrado,

    A SENTINELA (No fundo, consigo.):Est tudo descuidado...Ora adeus! haja o que houver,Vou ter com minha mulher,Que est me dando cuidado.Acharo que eu tenho telha,E aos meus deveres me roubo,/)Mas que a frase do bobo IPs-me a pulga atrs da orelha'*) AflonH-/.(Sa peia esquerda.)

    Aaf{

  • MKTEATRO DE ARTUR AZEVEDO AMOR AO PLO 439

    Cena VI

    O BOBO, s, depois o CONTRA-REGRA

    O BOBO: Mas, como eu ia dizendo:As mulheres, meus senhores,So demnios tentadoresQue eu descrever no pretendo,Pois quem se arrogasse um diaA tarefa de estud-las,Ver-se-ia metido em talasE o seu latim perderia.Entre quantas apareamNingum achar jamaisDuas que sejam iguaisNem mesmo que se paream.E muita vez aconteceCoisa muito curiosa:Uma mulher caprichosaNem consigo se parece.De manh 'st satisfeita,Rabugenta ao meio-dia,Depois de jantar macia,Furiosa quando se deita,Se agora toda candura.Logo mais delambida;Hoje o encanto da vidaE amanh ningum a atura!Se est com o esposo felizNuma harmonia de dueto,De repente diz que pretoQuando que branco ele diz.E se acaso...

    O CONTRA-REGRA (Aparecendo esquerda.): Fala-s,

    Acaba ca falao!Espera-se por ti sPra fazer a mutao!(Desaparece.)

    O BOBO (S.): o Contra-Regra. Meu Deus!Hoje sina minha

    (Ao pblico.) ou vossaQue impingir-vos eu no possaUm monlogo dos meus!(Sai pela esquerda.)

    (Mutao.)Quadro 2

    Aposento no castelo. Ao fundo porta larga, fechada por uma cortna,dando para o quarto do Conde.

    OflTAUO Cena l

    [FALA-S, s]

    FALA-S (Que entra e continua o seu monlogo como se no tivessehavido mutao.):

    Sim, as mulheres so bichosBem difceis de aturar,Pois que nos fazem bufarCom os seus constantes caprichos,Quantos, queixosos da sorte.Queixosos do casamento,Vo alvio ao seu tormentoBuscar nos braos da morte!Mas, apesar dos pesares.Que noite e dia o consomem,O grande caso que o homemPela mulher bebe os ares.E se o marido suspiraPela sua liberdade,Perdendo a cara-metade,A outra logo se atira!Em vindo a idade da crise.No h ningum que o imposto

  • TEATRO DE ARTUR AZEVEDO

    No pague mulher por gosto,Por gosto no se escravize.E, se l de vez em quando.Ns...

    (Interrompendo-se por ouvir passos e ver agitar-se a cortina do fundo.)Bem! l vem a Condessa!

    Ora! que sempre apareaAlgum quando estou falando!

    Cena M

    FALA-S, a CONDESSA, o MDICO, os QUATRO CAVALEIROS

    A CONDESSA:

    O MDICO:

    (Entram todos silenciosos. Pausa.)

    Mas enfim, que me diz. doutor?,,que pensa?

    Penso, minha senhora,Que os meus oitenta vou fazer agoraE nunca vi to singular doena.O Conde deu um tombo do cavalo;No foi isso?

    Os CAVALEIROS: Podemos atest-lo.O MDICO: Os sentidos perdeu?Os CAVALEIROS: PerdeuO MDICO: Pois bem;

    Nenhuma contuso no corpo tem!FALA-S; Nem ao menos um galo!0 MDICO: No lhe di a cabea, nem o brao!

    No sente a menor coisa no espinhao!Respira livremente

    E at parece que no est doente!A CONDESSA: Ento por que se cala?1 ' Mrniro: Tem os olhos fechados, e no fala

    Nem mo de Deus Padre!

    AMOR AO PLO 441

    FALA-S: Que estopadaTanto tempo ficar sem dizer nada!

    O MDICO: vista de uma coisa to estranha,Se outro fosse o enfermo,

    Eu diria.., No digo...A CONDESSA: H de dizer-mo!O MDICO: Eu diria que aquilo era patranha,

    Que estava o Senhor Conde a fazermanha...

    PRIMEIRO CAVALEIRO:Manha!

    SEGUNDO CAVALEIRO:

    TERCEIRO CAVALEIRO:Que ideia!

    Que tolice!PRIMEIRO CAVALEIRO:

    O MDICO:

    O CondeEst realmente enfermo.

    Enfermo? Onde?Ele que sente? o que lhe di?

    PRIMEIRO CAVALEIRO:No sei;

    Mas muito enfermo est - digo e direi.A CONDESSA (Que ficou impressionada com a insinuao do mdico.).

    Manha, disse o doutor... Manha?Quem2 sabe?...

    O MDICO:

    A CONDESSA:

    Em suma... eu nada fao... e no mecabe

    Desta visita receber o preo:No h molstia, e, se h, no a conheo.Manha, disse o doutor... isso, !Ah! mas o Conde h de pagar-me,

    ol!...

    Coplas

    l

    Eu tudo agora adivinho!No h mais que duvidar!

  • TEATRO DE ARTUR AZEVEDO AMOU AO PELO 443

    Tonos:A CONDESSA:

    TODOS:

    A CONDESSA:

    Mas pra c vens de carrinho!No me deixo engazopar!Ai! quando eu verificar

    Que manha...Que manha...

    Pode o tratante contarQue apanha!Que apanha!

    II

    Cuida o tipo que me embaa,Mas no sabe o que eu c sou!Se foi caa aquela caaEu c sei o que caou!Se uma peta me pregou

    Tamanha...TODOS: Tamanha...A CONDESSA: Desta mo, que j provou,

    Apanha!TODOS: Apanha!...

    (A Condessa entra no quarto do Conde.)PRIMEIRO CAVALEIRO:

    Vai haver o diabo a quatro!SEGUNDO CAVALEIRO:

    Um escndalo!TERCEIRO CAVALEIRO:

    Medonho!O MDICO: Daqui pra fora me ponho:

    Temos cena de teatro!PRIMEIRO CAVALEIRO (Ao Mdico.):

    F-la bonita o doutor!No podia estar calado?Indiscreto!(Entra no quarto.)

    SECUNDO CAVALEIRO:Desastrado!(Entra no quarto.)

    lMc i.iio CAVALEIRO:Velho idiota e maador!(Entra no quarto.)

    Cena III

    O BOBO, o MDICOO MDICO (Atnito.):

    Que fiz eu a este pessoal?O BOBO: D-lo ao desprezo tu deves:

    Com quantas letras escreves"Cavaleiros" no plural?

    O MDICO: Mas ofendeu-me essa gente!O BOBO: Deix-la. Sou teu amigo

    E simpatizo contigo:Tu vais curar o doente!

    O MDICO: Ora faze-me favor:O doente, doente no est!

    O BOBO: Sempre um doente haverOnde quer que haja um doutor.Trouxeste a tua seringa?

    O MDICO (Tirando da algibeira uma grande seringa.):C est! No ando sem ela;

    O BOBO: Pois entra e, sem mais aquela,Dos onze-letras te vinga,Dizendo que s ca ajudaDesse instrumento famosoPodes curar o manhoso.Vers como a coisa muda!Mesmo presente a madama,O Conde, ao ver o instrumento,H de falar num momentoE dar um salto da camaEm que finge estar de molho.Vai! Mas v tu l!

    O MDICO: Descansa.(Afastando-se, parte.)

    Sim, senhor! esta lembrana mesmo de encher o olho!...

  • TEATRO DE ARTUR AZEVEDO

    Cena IV

    O BOBO

    (Depois de acompanhar o Mdico at a porta do quarto, desce aoproscnio.):

    Mas como eu ia dizendo...Sim... se l de vez em quandoEla protesta gritando,Protestemos ns batendo,E a mulher fica mansinhaComo um cordeiro, o que provaSer para ela uma sovaA mais eficaz mezinha,E que dispensa o doutor...Deixem o rabe dizerQue no se deve baterNa mulher nem co'uma flor;Sim, porque a todo o maridoQue, como o Conde, covarde,H de acontecer mais tardeSer pela esposa batido;E se ele...

    No! Isso no!Ouvem? J fala!

    ^ No quero!A Voz DO MDICO: H de querer!A Voz DO CONDE: No tolero!O BOHO: . No disse? Que efeitarro!...

    (Grande altercao no quarto. Ouvem-se as vozes do Conde, daCondessa, do Mdico e dos Cavaleiros. Entra o Conde eme barrete de dormir, perseguido pelo Mdico com a seringa naEntram a Condessa e os Cavaleiros. Msica na orquestra. Etilnnn

    as Aias, os Coiteiros, etc.)

    A Voz DO CONDEO BOBO:A Voz DO CONDE

    AMOR AO PLO

    Cena V

    45

    O BOBO, o CONDE, a CONDESSA, o MDICO,os Cavaleiros, as Aias, etc.

    CORO: Que gritaria!Que aconteceu?Que mais seria?Que sucedeu?

    O Senhor Conde faleceu!

    (Continua a msica em surdina na orquestra at o final]A CONDESSA (Que empunha uma vara de marmeleiro.):

    Ah! tratante! espera l...O CONDE: Oh! perdo, esposa amada!A CONDESSA: Tu vais apanhar pancada

    De criar bicho!O CONDE: Ouve l!

    Eu confesso-me culpado,Mas estou arrependido;Ters um fiel maridoDe agora em diante ao teu lado!

    A CONDESSA: No perdoo!O CONDE (Ajoelhando-se.):

    Malvina amada,V que pesar me consome!Nunca!A CONDESSA:

    O BOBO ( parte.

    A CONDESSA:O CONDE:A AIA:TODOS:A CONDESSA:O CONDE:

    Malvina - este nomeFaz lembrar a goiabada...No perdoo!

    Sim... perdoa!...Perdo, senhora!

    Perdo!No! no! no! no! no! no! no!Sim! sim! sim! sim! Tu s boa!

    ^,-. /r- f --, \ CONDE (Erguendo-se enfurecido.):Tl - J lPois no perdoes!

    A CONDESSA: No perdoo!

  • l l" TXATRO DE ARTUR AZEVEDO

    \.\in-hdta-lhe a vara.)Venha a vara de marmelo!No quero mais no casteloO carro adiante dos bois!No perdoas?

    A CONDESSA (Abraando-o.):Sim perdoo!...

    Gostei da tua energia!...O BOBO (Ao pblico.):

    Ento, hein? No lhes dizia?A coisa cortar o voo.

    A CONDESSA: Perdoo, mas, meu amigo,De hoje em diante - hs de jurarNunca mais irs caar...

    O CONDE: S hei de caar contigo.

    oaoao

    .

    O BOBO (Vindo ao proscnio e preparando-se para monologar.):Meus senhores...

    A CONDESSA (Tapando-lhe a boca.)-.Eh! quem sabe

    bobo, pai da maada,Se queres que a pachuchadaPor um monlogo acabe?

    O BOBO: Tem razo, minha senhora;Seria coisa esquisita.Maestro, vamos, repitaO maxixe de inda agora.

    O BADEJO

    Comdia em trs aios, em verso

    Representada pela primeira vez no Rio de Janeiro, no Teatro SoPedro de Alcntara, no dia 15 de outubro de 1898, por iniciativa do

    CENTRO ARTSTICO pelo corpo cnico do ELITE-CLUB.

    Ao Doutor Joo do Rego BarrosAMIGO DA ARTE E DOS ARTISTAS

    O.D.C.Artur Azevedo

    A CONDESSA:

    Canfo

    Venha um maxixe, etc.

    (Repetio pelo coro. Dana geral.}

    (CaiN( >TAS

    l |{st,i | vi de Artur Azevedo uma pardia pea Pelo Amor, de CoelhoNrlo. (Nota do Editor.

    a.!....-/ (Jll( :j"u- '^dlai1