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Fundação Oswaldo Cruz Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães Departamento de Saúde Coletiva Curso de Especialização em Gestão De Sistemas e Serviços de Saúde. Estudo de demanda de um serviço de pronto atendimento no município de Recife – PE. Recife 2008 Ana Cláudia de Pinho Monteiro Andréa de Albuquerque Arruda Silva Marcelo Chaves Cabral

Ana Cláudia de Pinho Monteiro Andréa de Albuquerque Arruda ... · representa um universo de 23.333 ... e a idade, sexo, bairro de procedência da ... significativas na estrutura

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Fundação Oswaldo Cruz Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães Departamento de Saúde Coletiva Curso de Especialização em Ges tão De Sistemas e Serviços de Saúd e.

Estudo de demanda de um serviço de pronto

atendimento no município de Recife – PE.

Recife 2008

Ana Cláudia de Pinho Monteiro

Andréa de Albuquerque Arruda Silva

Marcelo Chaves Cabral

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Ana Cláudia de Pinho Monteiro

Andréa de Albuquerque Arruda Silva

Marcelo Chaves Cabral

Estudo de demanda de um serviço de pronto

atendimento no município de Recife – PE.

Monografia apresentada como requisito parcial à

obtenção do titulo de especialista no curso de

especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de

Saúde do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães,

Fundação Oswaldo Cruz/MS. Sob orientação de

Pricila Honorato Pereira.

Recife

2008

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Ana Cláudia de Pinho Monteiro

Andréa de Albuquerque Arruda Silva

Marcelo Chaves Cabral

Estudo de demanda de um serviço de pronto

atendimento no município de Recife – PE.

Monografia apresentada como requisito parcial à

obtenção do titulo de especialista no curso de

especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de

Saúde do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães,

Fundação Oswaldo Cruz/MS. Sob orientação de

Pricila Honorato Pereira.

Aprovada em: 09/05/2008.

BANCA EXAMINADORA

Orientadora: Pricila Honorato Pereira

Mestre em Saúde Publica NESC/CPqAM/FIOCRUZ

Secretaria de Saúde do Recife.

Debatedor: Tiago Feitosa

Mestre em Saúde Coletiva – UNIVERSIDADE DE CAMPINAS – SP./UNICAMP.

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Agradecimentos

Ao corpo docente do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães;

Pela dedicação e ética na arte de lecionar e compromisso com o

crescimento das políticas de saúde pública.

Aos funcionários do centro de pesquisa Aggeu Magalhães;

Pela paciência e colaboração.

A Secretaria de Saúde do Município do Recife-PE;

Pela confiabilidade e investimentos em seus gestores em prol do

fortalecimento de sua rede assistencial.

Aos familiares

Pela compreensão e apoio demonstrado nos momentos de

ausência durante esta etapa.

Aos que fazem a Policlínica Agamenon Magalhães

Pela colaboração e acolhimento na construção deste trabalho.

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RESUMO _________________________________________________________

Estudo de demanda do serviço de pronto atendimento da Policlínica

Agamenon Magalhães, unidade de média complexidade pertencente à Secretaria

municipal de saúde do Recife, localizada no distrito sanitário V que se propõe ao

atendimento de urgência em clínica médica e odontológica, perfazendo uma média

diária de 320 atendimentos. JUSTIFICATIVA: Considerando a importância do

serviço de pronto atendimento em uma rede hierarquizada, funcionando como

interface da atenção básica e às unidades hospitalares, o presente estudo propõe o

aprofundamento no conhecimento da demanda desse serviço, o qual servirá de

base para a identificação de pontos críticos, ajudando o planejamento local e a

consolidação de estratégias organizacionais dos serviços que compõe a rede.

OBJETIVO: Avaliar a demanda do serviço de pronto atendimento da Policlínica

Agamenon Magalhães no período de janeiro a dezembro de 2006, descrevendo o

perfil da população atendida, identificando a procedência da mesma e avaliando os

principais motivos de procura ao serviço. METODOLOGIA: O estudo foi realizado no

serviço de pronto atendimento da Policlínica Agamenon Magalhães, sendo um

estudo descritivo, transversal, retrospectivo. Foram analisadas todas as fichas de

atendimento do serviço de urgência da Policlínica Agamenon Magalhães, o que

representa um universo de 23.333 atendimentos. Dentre as variáveis dependentes e

independentes foram estudadas respectivamente, o motivo do atendimento e a

idade, sexo, bairro de procedência da clientela atendida. RESULTADOS: Observou-

se uma multiplicidade de queixas que levaram a procura ao serviço, desde as mais

simples até as mais complexas, avaliando-se especificamente, destacou-se com um

maior percentual de atendimento a hipertensão arterial sistêmica e o atendimento

odontológico seguido pela asma brônquica. Em relação à clientela atendida, houve

predomínio do sexo feminino com um percentual de 56% e a faixa etária entre 25 e

34 anos representou 23% dos atendimentos com pouca variação entre as faixas

circunvizinhas. A população atendida originária do distrito sanitário V representou

50% do total, sendo o bairro de afogados o de maior representatividade deste

percentual. Apenas 9% dos atendimentos são oriundos de outros municípios. Os

resultados apontam que o serviço tem um perfil de atendimento múltiplo não restrito

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a determinadas especialidades o que pode ter determinado pouca variação entre os

gêneros e as faixas etárias atendidas. No entanto uma grande parcela de usuários

pode não estar adequada ao seu perfil, contribuindo para a alta demanda e

dificuldades na organização do serviço.

Palavras-chaves: demanda; serviço de pronto atendimento; perfil do usuário.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

1.1. MODELO DE ATENÇÃO Á SAÚDE NO BRASIL

1.2. MODELO DE ATENÇÃO Á SAÚDE DO MUNICÍPIO DO RECIFE

1.3. URGÊNCIA E EMERGÊNCIA NO CONTEXTO DO SUS

2. OBJETIVO

2.1 OBJETIVO GERAL

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

3. METODOLOGIA

3.1. LOCALIZAÇÃO DO ESTUDO

3.2. DESENHO DO ESTUDO

3.3. UNIVERSO

3.4. VARIÁVEIS ESTUDADAS

3.5. COLETA E REGISTRO DE DADOS

3.6. ANÁLISE DOS DADOS

3.7 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

4. RESULTADOS

5. DISCUSSÃO

6. CONCLUSÃO

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

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LISTA DE FIGURAS, GRÁFICOS E TABELAS

• Figuras :

Figura 1 - Estrutura piramidal da rede assistencial com o fluxo de urgência entre

os diferentes componentes ordenados por meio da regulação médica.

Figura 2 - Modelo de Atenção à Saúde do Recife 2005

Figura 3 - Mapa de territorialização do Distrito Sanitário V

• Gráficos:

Gráfico 1 - Percentual dos atendimentos por sexo no Serviço de

Urgência/Emergência da Policlínica Agamenon Magalhães no ano de 2006,

Recife-PE.

Gráfico 2 - Distribuição por faixa etária dos atendimentos no Serviço de

Urgência/Emergência da Policlínica Agamenon Magalhães no ano de 2006,

Recife-PE.

Gráfico 3 - Percentual dos atendimentos odontológicos no Serviço Urgência

/Emergência da Policlínica Agamenon Magalhães no ano de 2006, Recife-PE.

Gráfico 4 - Percentual dos atendimentos por procedência no Serviço de

Urgência/emergência da Policlínica Agamenon Magalhães no ano de 2006,

Recife-PE.

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• TABELAS:

Tabela1 - Distribuição do atendimento no serviço de urgência e emergência da

Policlínica Agamenon Magalhães, no ano de 2006, segundo bairro de

procedência.

Tabela 2 - Relação das principais queixas que motivaram os atendimentos no

Serviço de urgência e emergência da Policlínica Agamenon Magalhães no ano

de 2006, Recife-PE.

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1 INTRODUÇÃO

O Sistema Único de Saúde é um arranjo organizacional do Estado brasileiro

que dá suporte à efetivação da política de saúde no Brasil, traduzindo em ação os

princípios e diretrizes desta política.

Dentre suas premissas básicas o SUS preconiza que as ações de saúde

sejam descentralizadas, hierarquizadas e regionalizadas, devendo a rede de

atenção ser constituída de forma a agregar serviços de complexidade crescente.

Um dos princípios organizativos deste sistema é a hierarquização da rede de

serviços, neste contexto, os serviços de Pronto atendimento são unidades não

hospitalares de atenção às urgências destinadas à resolução de casos de média

complexidade, fazendo a interface da atenção básica e as unidades hospitalares. Na

maioria das ocasiões estes serviços, se constituem como uma porta de entrada

importante no sistema de saúde.

A expansão da atenção primária teve um papel central na reorganização do

modelo de saúde. Com a municipalização dos serviços ocorreram mudanças no

modelo assistencial, sobretudo na ampliação da rede básica, oferecendo alternativas

ao atendimento emergencial. No entanto, na prática a característica

hospitalocêntrica do sistema de saúde do Brasil ainda se manteve.

Furtado et al. (2004), analisando os impactos da municipalização dos

serviços de saúde e implantação do programa de saúde da família no perfil da maior

emergência do estado de Pernambuco não observou mudanças significativas na

demanda daquele serviço com grande número de pacientes nos serviços de

emergência de ¨causas comuns¨, com queixas típicas de serviços de atenção

primária.

O modelo piramidal de atenção à saúde adotada pelos municípios, na década

de 90, ainda não conseguiu um resultado que satisfaça as necessidades da

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população, apesar de ter imprimido mudanças significativas na estrutura e nos

processos de trabalho nos serviços de saúde. A produção de cuidados, a cobertura

assistencial, assim, como a complementaridade e integração das ações nas

unidades de saúde e delas com o sistema têm sido insuficientes. Existe também

uma relação inadequada entre a oferta e a demanda de serviços. A falta de

definições políticas, a baixa resolubilidade e qualidade oferecida nos serviços, aliada

à dificuldade de mudança nos hábitos culturais e crenças da população têm levado o

usuário a buscar a assistência médica onde existe a porta aberta (MARQUES; LIMA,

2007).

A superlotação de usuários nos serviços de pronto atendimento e nas portas

hospitalares de urgência é um fenômeno bem conhecido dos gerentes, dos

profissionais de saúde, bem como dos usuários. Dentre os fatores que vem

contribuindo para esta superlotação podemos destacar: as diferentes concepções

que os usuários, e os profissionais de saúde têm para definir urgência; a baixa

resolubilidade dos serviços em nível primário de atenção e a falta de ordenação do

acesso dos usuários aos serviços da rede assistencial. (SANTOS et al.,2003).

A policlínica Agamenon Magalhães é composta por um ambulatório de

especialidades e um serviço de pronto atendimento. Esse último propõe-se ao

atendimento de urgência em clinica medica e odontológica com uma média diária de

320 atendimentos.

Esta policlínica é uma importante unidade de referência não só para o Distrito

Sanitário V como também para outras localidades do grande Recife, pois seu

volume de atendimento justifica sua importância na rede como porta de entrada no

sistema, o que nos remete a estudar melhor seu perfil e sua integração com a rede.

Conforme descrito anteriormente a Policlínica Agamenon Magalhães, fazendo

parte da rede de serviços de urgência do SUS, vem apresentando dificuldades na

organização e conseqüentemente na qualificação de seus serviços; sendo de

fundamental importância aprofundar-se no conhecimento do seu perfil de

atendimento.

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Considerando a relevância do serviço de pronto atendimento e seu papel

numa rede hierarquizada e organizada, o presente estudo realizará uma avaliação

da demanda do serviço de pronto atendimento da policlínica Agamenon Magalhães,

o qual servirá de base para a identificação de pontos críticos, ajudando no

planejamento local e na consolidação de estratégias organizacionais dos serviços

que compõe a rede.

1.1 . MODELO DE ATENÇÃO Á SAÚDE NO BRASIL

CONTEXTO HISTÓRICO – UMA BREVE ABORDAGEM DO SUS

O Sistema Único de Saúde (SUS) teve sua instituição formal na Constituição

federal de 1988, porém suas origens remontam a muito mais tempo, a partir da crise

do modelo médico assistencial privatista que se hegemonizou induzido pelo

processo da industrialização brasileira. Este modelo teve as seguintes

características: a extensão da cobertura previdenciária a segmentos

economicamente integrados da população urbana, o privilegiamento da prática

médica curativa e individual em detrimento das ações coletivas, a criação do

complexo médico-industrial, e o deslocamento da prestação dos serviços médicos a

entes privados lucrativos e não lucrativos. (SILVA, 1983).

As mudanças políticas e econômicas dos anos 70 e 80 determinaram o

esgotamento desse modelo sanitário. Com a redemocratização do país surgiu um

modelo alternativo de atenção à saúde, de medicina comunitária realizado por

instituições acadêmicas e secretarias de saúde. Começavam a se desenvolver as

primeiras experiências de municipalização da saúde. Nesse espaço de construção

da medicina comunitária é que se difundiu o movimento sanitário. Constituindo-se na

base política ideológica da reforma sanitária brasileira.

Em 1986, ocorreu o evento político sanitário mais importante da segunda

metade do século passado onde foram laçadas as bases doutrinárias de um novo

sistema público de saúde. O relatório final da conferência colocou três grandes

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referenciais para a reforma sanitária brasileira: um conceito amplo de saúde, a

saúde como um direito do cidadão e dever do Estado, e a instituição de um Sistema

Único de Saúde organizado pelos princípios da Universalidade, da integralidade, da

descentralização e da participação comunitária.

Em 1987, foi implantado no executivo federal, um arranjo institucional

denominado Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS) que

incorporava alguns elementos centrais da reforma Sanitária: a Universalização, a

descentralização pela via da estadualização e a democratização das instâncias

gestoras.

O SUDS foi contemporâneo da assembléia nacional constituinte. O processo

constituinte apresentava em seu contexto final a demanda do Movimento Sanitário: a

saúde entendida amplamente como resultado de políticas econômicas e sociais, a

saúde como direito de todos e dever do Estado, a relevância pública das ações e

serviços de saúde, a criação do Sistema Único de Saúde.

Foi criado assim na constituição federal de 1988 o Sistema Único de Saúde

(SUS), no qual compreende um conjunto organizado e articulado de serviços e

ações de saúde, e aglutina o conjunto das organizações públicas de saúde,

existentes nos âmbitos municipal, estadual e nacional e ainda os serviços privados

de saúde que o integram funcionalmente para apresentação dos serviços aos

usuários do Sistema, de forma complementar quando contratados ou conveniados.

Foi instituído com o objetivo de coordenar e integrar as ações de saúde nas

três esferas de governo pressupondo a articulação de subsistemas verticais (de

vigilância e de assistência à saúde) e subsistemas de base territorial-estaduais,

regionais e municipais – atendendo de maneira funcional as demandas da atenção à

saúde.

O SUS é um sistema complexo que tem a responsabilidade de articular, de

coordenar ações promocionais e de prevenção, com as de cura e reabilitação. Não

se resumindo a serviços assistenciais (VASCONCELOS E PASCHE, 2006).

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Como decorrência da Constituição Federal no período de 1989 a 1990,

elaborou-se a Lei de nº 8080 de setembro de 1990, que dispõe acerca das

condições para promoção, proteção e recuperação da saúde, as Constituições

Estaduais e as leis Orgânicas Municipais. A Lei de nº 8142 de dezembro de 1990

regulariza a participação da comunidade no SUS.

As Normas Operacionais Básicas (NOBs) representaram reformas

incrementais na Constituição jurídica do sistema. A NOB 01/96 consolidou a política

de municipalização estabelecendo o pleno exercício do poder municipal na função

de gestor da atenção a saúde, instituindo a gestão plena do sistema municipal e a

gestão plena da atenção básica redefinindo as responsabilidades da União e dos

Estados. Seguiu-se a Norma Operacional de Assistência a Saúde, NOAS/SUS nº

01/2001 que criou os planos diretores de regionalização e de investimentos e

introduziu a idéia de redes de assistências.

A legislação do SUS, embora não tenha tratado, especificamente, da atenção

às urgências, definiu as competências de cada esfera de governo, delegando aos

gestores, federal, estadual e municipal, e aos respectivos conselhos de saúde a

autonomia para a edição e aplicação de medidas, normas técnicas e estratégias

visando a sua implantação e implementação, garantidas as diretrizes de

universalidade e de igualdade de acesso e da integralidade da assistência.

Embora houvesse condições legais para o enfrentamento dos problemas,

não havia cenário para a discussão ampla da atenção às urgências. A década de 90

foi o período crítico de aprendizado para os gestores de saúde, visto que as práticas

assistências e de formação profissional mantiveram a dicotomia entre o

¨preventivismo¨ e o “assistencialismo”.

Os gestores de saúde de municípios de pequeno porte optaram, em sua

maioria, pela criação de condições de locomoção de seus cidadãos até os

municípios maiores, pouco direcionando sua política de saúde para a criação de

unidades resolutivas no âmbito local. Assim, cuidavam quase que exclusivamente da

atenção básica buscando ações de atenção secundária ou terciária em municípios

de grande porte onde se localizam os centros hospitalares de referência. Tais fatos

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culminaram na sobrecarga desses centros, fato observado ainda hoje. A atenção às

urgências, ao longo da existência do SUS, continuou centrada nos hospitais. O fluxo

de usuários para os hospitais ainda é, em sua maioria, determinado pela procura

espontânea, culminando com superlotação das salas de urgência e,

conseqüentemente, com a percebida baixa qualidade da assistência prestada.

.(SANTOS et al., 2003).

Em 2006 deu-se o Pacto pela Saúde, um movimento de mudança que não é

uma norma operacional, mas um acordo interfederativo que articula o Pacto pela

Vida, O Pacto em Defesa do SUS e o Pacto de Gestão.

PRINCÍPIOS E DIRETRIZES QUE NORTEIAM O MODELO DE AT ENÇÃO À

SAÚDE DO SUS

Anteriormente à implantação do SUS as práticas de saúde estavam baseadas

em dois modelos assistenciais: o modelo clínico e o modelo sanitarista. (MENDES,

1998).

O primeiro centrado na prestação de serviços a indivíduos que apresentam

doenças, buscando a recuperação da saúde, quer promovendo ou prevenindo á

ocorrência de agravos através de medidas organizadas conforme o modelo de

medicina preventiva voltada à chamada demanda espontânea, que tendem a

atender os indivíduos que procuram por livre iniciativa os serviços de saúde. O

segundo, tendo como objeto não o indivíduo, senão o coletivo atuando sobre grupos

populacionais e organizando-se em formas de campanhas ou programas dirigidos

ao controle de doenças ou a grupos populacionais específicos, com caráter

temporário de administração única e vertical (PAIM, 1999).

Com a implantação do SUS, surge a necessidade de criação de outros

modelos da atenção à saúde com práticas e estratégias que visem impactar sobre

os problemas de saúde e contemplar os princípio e diretrizes do SUS -

universalidade de acesso aos serviços de saúde, integralidade da assistência,

eqüidade no acesso às ações e serviços de saúde, descentralização político-

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administrativa, regionalização, hierarquização da rede de serviços de saúde,

resolutividade em todos os níveis de organização dos serviços públicos e controle

social. (BRASIL, 1988).

O SUS está assentado em diretrizes organizativas e princípios doutrinários

incorporados ao texto constitucional e às leis ordinárias que o regulamentam. Estes

princípios e diretrizes se articulam e se complementam na conformação do ideário e

da lógica da organização do Sistema e estão em sintonia com os preceitos do bem-

estar social e da racionalidade organizativa.

• Universalidade

A universalidade assegura o direito à saúde a todos os cidadãos e o acesso

sem discriminação ao conjunto das ações e serviços de saúde ofertados pelo

sistema.

O exercício desse princípio traz a perspectiva da oferta a todos os brasileiros,

no sistema público de saúde da vacina à cirurgia mais complexa alterando uma

situação anterior em que o acesso era diferenciado entre os que tinham vínculos

previdenciários e os demais brasileiros tipificados como indigentes.

• Integralidade

A Integralidade pressupõe considerar as várias dimensões do processo saúde

doença que afetam os indivíduos e as coletividades e a prestação continuada do

conjunto de ações de serviços visando garantir a promoção, a proteção, a cura e a

reabilitação dos indivíduos e dos coletivos.

Esse princípio orientou a expansão e qualificação das ações e serviços de

saúde do SUS que ofertam desde um elenco ampliado de imunizações até os

serviços de reabilitação física e mental além das ações de promoção da saúde de

caráter intersetorial.

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• Eqüidade

A eqüidade no acesso às ações e aos serviços de saúde traduz o debate

atual relativo à igualdade e justifica a prioridade na oferta de ações e serviços aos

segmentos populacionais que enfrentam maiores riscos de adoecer e morrer em

decorrência da desigualdade na distribuição de renda, bens e serviços.

Incluindo-se nesta lógica o princípio da discriminação positiva para com os

grupos sociais mais vulneráveis, buscando-se assegurar prioridades no acesso as

ações e serviços de saúde aos grupos excluídos e com precárias condições de vida,

considerando as desigualdades de condições decorrentes da organização social.

• Descentralização, Municipalização e Hierarquização

Com ênfase na municipalização da gestão dos serviços e ações de saúde a

descentralização se constituiu na mudança mais significativa no aspecto político-

administrativo da reforma do sistema de saúde no Brasil.

As definições normativas apontam que a base do sistema de saúde seria

municipal ao atribuir ao município a responsabilidade pela prestação direta da

maioria dos serviços.

O imperativo da direção única em cada esfera de governo mostrou a

necessidade de superar a desarticulação entre os serviços e construir a

coordenação das ações sobre direção de um único gestor em cada espaço político

institucional - o Secretário Municipal de Saúde no âmbito do Município, o Secretário

Estadual no âmbito do Estado e o Ministro da Saúde no âmbito da União.

A descentralização, não se esgota na municipalização sendo o processo de

regionalização defendida pelos que propõe a organização racionalizada dos serviços

de saúde. Seu objetivo é distribuir de forma mais racional e equânime os recursos

assistenciais no território, com base na distribuição da população, promovendo a

integrações das ações e das redes de assistências de forma a garantir acesso

oportuno, continuidade do cuidado e economia de escala.

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A hierarquização consiste em ordenar o sistema de saúde por níveis de

atenção e estabelecer fluxos assistenciais entre os serviços, de modo que regule o

acesso aos mais especializados, considerando que os serviços básicos são os que

ofertam o contato com a população e os de uso mais freqüente.

A crítica aos modelos hierarquizados tem apontado a necessidade de superar

a idéia de pirâmide por modelos mais flexíveis com variadas portas de entrada e

fluxos reversos entre os vários serviços (Vasconcelos e Pasche, 2006).

Um dos principais pontos de mudança gerado pelo SUS foi o papel do

município, que neste sistema de saúde transformou-se no ator fundamental onde

passou a ser o gestor responsável por planejar, organizar, controlar, avaliar e

executar as ações e serviços de saúde e conseqüentemente os modelos de

assistência. Advindo, principalmente através da descentralização e regionalização.

“A descentralização pode ser interpretada ainda, como desconcentração de

recursos e atividades, delegação de responsabilidades e tarefas ou redistribuição do

poder entre estado e sociedade, mediante maior participação e controle social no

planejamento e ação governamental” (MULLER NETO, 1991).

A descentralização de saúde no Brasil não produziu por si só mudança no

modelo assistencial vigente em virtude de diversos problemas, como cita Muller

Neto, (1991), dentre eles estão: desigualdade no acesso, baixa resolutividade dos

serviços, devido principalmente, a organização pelos municípios apenas do modelo

de atenção primária, persistindo os sistemas prestadores de serviços tradicionais de

média e alta complexidade. Além disso, a descentralização não garantiu o caráter

público do setor saúde, também não garantiu a participação da população e o

controle social, pois estes pontos são dependentes do contexto político e social do

governo local, força da sociedade civil e movimentos sociais locais. Outros aspectos

que impediram tais mudanças foram: indefinição do papel do município, pois tendia

a atribuir apenas a prestação de atendimento básico e de urgência à rede de postos

de centros de saúde; escassez de profissionais de nível superior e médio e por fim

centralização financeira e não disponibilidade de recursos.

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Outro aspecto diretamente ligado à descentralização é a hierarquização dos

serviços e o acesso dos usuários.

“A Lei que instituiu o SUS prevê que a demanda pelos serviços deve ser

organizada segundo as diretrizes de regionalização territorial e hierarquização do

acesso conforme as diferentes complexidades tecnológicas” (CAMPOS, 1997).

O Ministério da Saúde (2006) define a Atenção Básica como um conjunto de

ações de caráter individual e/ou coletivo que envolve a promoção e a proteção da

saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a

manutenção da saúde dos usuários do Sistema. È desenvolvida por meio do

exercício de práticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participativas, sob

forma de trabalho em equipe, e dirigidas a populações de territórios bem

delimitados, pelas quais assume responsabilidades sanitárias. Utiliza tecnologias de

elevada complexidade e baixa densidade, que devem resolver os problemas de

saúde de maior freqüência e relevância em seu território. È o contato preferencial

dos usuários com o sistema de saúde. A atenção básica tem a saúde da família

como estratégia prioritária para a sua organização de acordo com os preceitos do

Sistema Único de Saúde.

Nesse nível de atenção, o atendimento aos usuários deve seguir uma cadeia

progressiva, garantindo o acesso aos cuidados e às tecnologias necessárias e

adequadas à prevenção e ao enfrentamento das doenças, para prolongamento da

vida. Ficando claro que embora a atenção básica em saúde seja entendida como a

base orientadora do sistema, sua porta de entrada preferencial e que deva ter visão

integral da assistência à saúde para a sua população adscrita, os procedimentos

realizados diretamente em seus serviços, não esgotam as necessidades do

pacientes dos SUS.

Outro nível da estrutura que compõe este complexo de saúde é a média

complexidade destacada pelas ações e serviços que visam atender aos principais

problemas de saúde e agravos da população, cuja prática clínica demande

disponibilidade de profissionais especializados e o uso de recursos tecnológicos de

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apoio diagnóstico e terapêutico. A média Complexidade foi instituída pelo decreto nº

4.726 de 2003, que aprovou a estrutura regimental do Ministério da Saúde (2005) .

Por último, a alta complexidade completa um conjunto de procedimentos que

envolvem alta tecnologia e alto custo, objetivando propiciar à população acesso

qualificado, integrando-os aos demais níveis de atenção à saúde (atenção básica e

média complexidade).

Neste contexto, a rede de atenção é constituída de forma a agregar serviços

de complexidade crescente, configurando, basicamente, três níveis de atenção: as

unidades de atenção primária que são ambulatoriais e devem ser providas com

profissionais com formação geral e capacidade cognitiva para oferecer os cuidados

básicos de promoção, manutenção e recuperação da saúde; as unidades de

atenção secundária, que podem ser ambulatórias e hospitalares, onde são

prestados os cuidados nas várias especialidades para as afecções de maior

prevalência; e as unidades de atenção terciárias, geralmente constituídas pelos

centros hospitalares, com suas unidades ambulatórias, unidades de emergências, e

unidades de internação, sendo, nelas, aferidos cuidados de maior complexidade,

muitas vezes sob o regime de internação hospitalar. Agregados a essa rede, existem

os serviços de atendimento móvel de urgência (Samu) com a regulação medica

(RM).

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Figura 1 - Estrutura piramidal da rede assistencial com o fluxo de urgência

entre os diferentes componentes ordenados por meio da regulação médica.

Fonte: Santos, J.S. et al.(2003).

Esta é a configuração habitual da rede de assistência à saúde, existente nos

grandes centros urbanos. A estrutura é piramidal e representa a distribuição

numérica dos componentes do SUS, onde na base encontramos os serviços

ambulatoriais com capacidade para solucionar a maioria das necessidades de saúde

da população, e no topo os serviços hospitalares. Todavia, deve ser enfatizado que

o acesso á rede assistencial, na urgência, funciona de forma circular. Assim, na

dependência da gravidade da situação, o paciente pode sair do domicilio, da via

publica ou da unidade básica de saúde e ser encaminhado, diretamente, por meio

do SAMU/RM, para o hospital terciário.

Por outro lado, nem todos os municípios brasileiros necessitam constituir uma

rede capaz de prover todos os três níveis de assistência. Os municípios de pequeno

porte devem prover a atenção básica e estabelecer pactos, por meio dos gestores

de saúde no âmbito dos conselhos de saúde, com municípios de maior porte, para

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garantir a atenção à média e à alta complexidade, formalizando-se, assim, uma rede

regionalizada e hierarquizada.

A regionalização e a hierarquização não vêm garantindo a redução do afluxo

desnecessário de usuários aos níveis de maior complexidade. É esperado que os

usuários não só sejam acolhidos no nível primário, mas que, fundamentalmente,

recebam atenção resolutiva. Ou seja, a resolutividade das unidades básicas e

secundárias de saúde é condição fundamental para evitar a maioria dos

encaminhamentos desnecessários aos centros de maior complexidade.

Alguns centros urbanos de médio e de grande porte têm optado em sintonia

com as políticas nacionais de atenção às urgências e a política de humanização,

pela organização de uma rede de assistência às urgências, a partir da atenção

básica.

As unidades básicas e de saúde da família, nos seus horários de

funcionamento, devem estar preparadas para resolverem as pequenas urgências e

as agudizações dos casos crônicos de sua clientela adscrita. Para os contingentes

populacionais entre 30 mil e 250 mil habitantes, estão previstas unidades não

hospitalares de atenção às urgências, com portes distintos, em função da população

de abrangência, habitualmente denominadas de unidades de pronto atendimento

(SPA).

Os SPA’s devem funcionar nas 24h, acolher a demanda, fazer a triagem

classificatória de risco, resolver os casos de média complexidade, estabilizar os

casos graves e fazer a interface entre a atenção básica e as unidades hospitalares.

Dentre as atribuições dos SPA’s, estão as garantias de retaguarda às unidades de

atenção básica, a redução da sobrecarga dos hospitais de maior complexidade e a

estabilização dos pacientes críticos para as unidades de atendimento pré- hospitalar

móvel. Os SPA’s constituem, portanto, importante porta de entrada dos usuários ao

sistema de saúde, podendo resolver o caso, ou averiguada a necessidade,

encaminhar para internação hospitalar por meio do SAMU e da RM, ou,

ainda,redirecionar para a atenção básica. (SANTOS, 2003).

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Em 1994, o ministério da saúde deu inicio ao processo de municipalização do

SUS, reorientando o modelo assistencial a partir da assistência básica, maior porta

de entrada do sistema de saúde.

Segundo o ministério da saúde, os principais benefícios para os municípios

em que estão implantados o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS)

e o Programa de Saúde da Família (PSF) são a melhoria dos indicadores de saúde,

diminuição do numero de exames complementares, de encaminhamentos de

emergência e de internações hospitalares; segundo ainda o ministério da saúde o

avanço dos municípios em relação ao sistema de gestão acarretou maiores

responsabilidades para eles e para os gestores municipais, como também aumento

da eqüidade dos recursos financeiros, mas não garantiu a qualidade nem a

efetividade da atenção básica nem o acesso dos cidadãos aos outros níveis de

atenção (FURTADO, 2004).

A criação do programa de saúde da família é uma proposta do ministério da

saúde para transformar o perfil assistencial, com a adoção de um novo modelo de

atenção, pautado na responsabilização sanitária dos módulos assistenciais de uma

determinada região adstrita, envolvendo uma assistência integral, que comporte

ações preventivas e curativas. No entanto, diferentemente do previsto, o modelo do

PSF- apesar de seus aspectos positivos – pode estar contribuindo para a ampliação

de um modelo de atenção baseado nos pressupostos da eqüidade horizontal,

destinado à população de baixa renda, com redução de despesas e acesso restrito à

assistência primária, conforme analisaram (MARQUES E MENDES, 2003).

Sendo assim, podemos considerar que a rede básica não é capaz, de

sozinha, transformar o perfil do modelo assistencial brasileiro. Além disso, é óbvio

que o atendimento em outros níveis de assistência é essencial para se conseguir

prestar um atendimento integral e de qualidade nos serviços de saúde pública.

Embora se preconize a assistência básica e a atenção integral à saúde como

forma de prevenir doenças, na pratica observa-se certa dicotomia entre o tratamento

de doenças e a prevenção da saúde, não conseguindo evitar que os indivíduos

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procurem os serviços de emergências em situações que poderiam ser atendidas em

outros níveis de assistência.

Com o SUS, e com a municipalização dos serviços, ocorreram algumas

mudanças no modelo assistencial, com investimentos cada vez maiores na rede

básica de saúde, com baixo incentivo ao cuidado hospitalar, e fortalecimento da

integração dos serviços. Na pratica observa-se dificuldade em distribuir de maneira

equânime os serviços a todas as regiões do país, e de garantir a assistência integral

e a universalização do acesso. (CASTRO, 2002).

1.2. MODELO DE ATENÇÃO Á SAÚDE DO MUNICÍPIO DO REC IFE.

O Modelo de Atenção á Saúde, da Cidade do Recife tem a atenção básica

como o primeiro nível de atenção, de acordo com o modelo adotado pelo SUS.

(BRASIL, 2005).

O município do Recife apresenta muitos problemas estruturais graves, nos

quais podemos destacar a deficiência no abastecimento de água e o esgotamento

sanitário, como também as precárias condições de moradias. Desta forma, encontra-

se com risco de ocorrência de eventos (casos, óbitos e agravos) evitáveis, que

atingem as classes sociais mais excluídas historicamente.

A metrópole do Recife apresenta um perfil sanitário próprio de países em

desenvolvimento, onde a população convive num mesmo espaço urbano com

doenças que têm relações diretas com a pobreza, entre elas podemos destacar a:

leptospirose, filariose, dengue, tuberculose, hanseníase, diarréias. E com doenças

ditas da “modernidade”, doenças crônico-degenerativas (cardiovasculares,

neoplasias) e agravos que afetam especialmente a população mais jovem como a

violência urbana, que mata cada vez mais. (RECIFE, 2002).

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Cabral, et al (2005), descreve como a cidade do Recife organizou o Sistema

de saúde, a partir do modelo preconizado pelo Ministério da Saúde, tendo como

princípio orientador do complexo assistencial, a atenção primária (USF,PACS, PSA,

Unidades Básicas, Academia da Cidade e SAMU), garantindo um suporte na média

complexidade ( SPA, CAPS, UNIDADES ESPECIALIZADAS DE REFERENCIAS,

SUPORTE DIAGNOSTICO- INCLUSIVE COM A REDE CONVENIADA)

Complementando-se com a alta complexidade ( SUPORTE DIAGNÓSTICO,SAMU e

HOSPITAIS DE REFERÊNCIA), como mostra a figura 2.

Figura 2. Modelo de Atenção à Saúde do Recife 2005.

Fonte: Cabral, et al.

O território de Recife é subdividido em 94 bairros, desde 1988. A cidade do

Recife está dividida geopoliticamente, e espacialmente, em 06 Regiões Político

Administrativa (RPA`s), correspondendo cada região a um distrito sanitário, que se

subdividem em 3 microrregiões compostas por diversos bairros, agregados por

apresentarem maior semelhança territorial. Na saúde, cada RPA, corresponde a

um dos Distritos Sanitários que estão subordinados diretamente a Secretaria de

Saúde, e tem a responsabilidade sanitária do território de abrangência, garantindo

tanto a execução política como o planejando das ações de saúde, a partir do perfil

epidemiológico do território.

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Distrito Distrito SanitSanit ááriorio VV

Distrito V - Área

MR1: 727 Hectares

MR2: 537 Hectares

MR3: 1.785 Hectares

Total: 3.049Hectares

POP: 273.841 hab

Microrregião 1AfogadosBongiMangueiraMustardinhaSan MartinPop: 96.697

Microrregião 2AreiasCaçoteEstânciaJiquiá

Pop: 61.195

Microrregião 3Barro TejipióCoqueiral TotóCuradoJ.S.PauloSanchoPop: 115.949

16 BAIRROS

FIGURA: 3 - Mapa de territorialização do Distrito Sanitário V

Fonte: Recife, Gerência de atenção Básica, Distrito Sanitário V, 2006.

O Distrito Sanitário V está situado na Zona Sudeste da Cidade sendo

composto por 16 bairros, com uma população de 273.841, como mostra a Figura 3.

A organização da rede de serviços de saúde do Distrito Sanitário V segue o

modelo de atenção à saúde proposta pela Prefeitura do Recife. Estando a Policlínica

Agamenon Magalhães incluso neste distrito.

A organização do Modelo Municipal de Atenção à Saúde busca o aumento

de acesso e qualidade nas ações e serviços de saúde priorizando a inclusão social

direcionando as populações que mais necessitam. Por isso, foi construído um

mapeamento da cidade buscando o conhecimento das áreas de maior pobreza,

áreas que apresentam os piores indicadores socioeconômicos e de saúde com

característica de aglomerados subnormais ou favelas.

Para a implantação do Programa de Saúde da Família - PSF, as áreas

consideradas de maiores carências são as prioritárias, que contam , também,com

outros Programas como o Programa Agente Comunitário de Saúde e Agente de

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Saúde Ambiental (PACS e PSA). Estes Programas são adotados como estratégias

de ampliação do acesso à atenção básica os quais apresenta uma cobertura que

buscam mais a universalidade e eqüidade na intensificação de ações nas áreas com

maior vulnerabilidade. Como também busca a reorganização de todo o sistema

municipal para tentar garantir assistência à saúde.

As Unidades de Saúde da Família (USF) e Unidades Básicas Tradicionais

(Centros de Saúde) compõe a rede ambulatorial básica. Em junho de 2005 eram 101

USF’s, sendo que cada Unidade pode ter até 04(quatro) Equipes de Saúde da

Família (ESF) chegando a um total de 213 equipes. Neste ano a rede contava com

87 Equipes de Saúde Bucal (ESB) integradas ao PSF. Desta forma, o município

atingiu uma cobertura de 49% da população assistida por este modelo de atenção à

saúde. A outra parcela da população tem às unidades tradicionais como referência,

estas unidades são em números de 28, além dos serviços especializados.

A rede hospitalar do município que pertence ao SUS é ampla (6.245 leitos

existentes no SUS), mais a grande maioria das unidades e leitos no território do

município está sob gestão estadual.

A rede hospitalar do SUS - Municipal não atende a lógica de atenção

proposta para a cidade, além de ser pequena e apenas os leitos psiquiátricos

somam o percentual de 63,2%, Por isso, foi iniciado o processo de reforma

psiquiátrica com a redução gradual dos leitos e o aumento da rede de tratamento

hospitalar (RECIFE, 2006).

1.3. URGÊNCIA E EMERGÊNCIA NO CONTEXTO DO SUS

Os serviços que funcionam como ¨porta de entrada¨ para o sistema de saúde

são habitualmente assim denominados por servir como referência no direcionamento

da demanda para continuidade do tratamento. As unidades de atenção básica e os

módulos de médico de família podem funcionar nessa perspectiva, além dos

prontos-socorros, serviços de emergências hospitalares e unidades de pronto

atendimento.

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Os serviços de pronto atendimento e emergências hospitalares são locais de

primeiro atendimento para muitos usuários quando necessitam de cuidados médico,

sendo preferencialmente destinados a tratamentos de urgência e/ou emergência.

Segundo Lopez (1982), o atendimento médico é caracterizado como

urgência quando o tratamento precisa ser iniciado em poucas horas, em função de

existir risco de evolução para complicações mais graves e mesmo fatal. As

emergências, por sua vez, são aquelas situações em que a necessidade de serem

mantidas as funções vitais ou evitadas incapacidade e complicações graves exige

que o início do tratamento seja imediato. No entanto, os serviços de emergência são

usualmente utilizados para situações em que não esteja caracterizada essa

necessidade.

O Conselho Federal de Medicina – CFM, pela resolução 1451/95, define

como urgência, a ocorrência imprevista de agravo à saúde com ou sem risco

potencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata, e

emergência, como a constatação médica de condições de agravo à saúde que

impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo, portanto, o

tratamento médico imediato.

Em alguns lugares do Brasil emergências e prontos - socorros representam o

único recurso disponível com possibilidade de atendimento imediato.

Em um estudo sobre os usuários dos serviços de emergência Aquino (1987)

conclui que a procura prioritária, desses serviços por parte do usuário não pode ser

considerada inadequada, pois nem sempre as concepções técnicas dos

profissionais, que entendem ser lógico o fato de o usuário procurar outros tipos de

atendimento que não a emergência, são compatíveis com a concepção do usuário,

que vê nesse tipo de serviço uma resposta adequadas as suas necessidades.

Assim, seja pela dificuldade de conseguir atendimento nas unidades básicas e

ambulatoriais, seja como resultado de uma cultura induzida pela oferta de serviços

de saúde (que no Brasil, durante muitos anos, estimulou amplamente a procura de

atendimento hospitalar), muitos usuários ainda possuem nas emergências e prontos-

socorros a única forma de acessar o sistema de saúde pública. (CASTRO, 2002).

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As mudanças nos perfis de morbimortalidade nos últimos anos parecem

apontar para a necessidade de se manter um sistema de atendimento de urgência e

emergência capacitado para atender situações das mais diversas, e de diversas

complexidades.

Em relação ao setor público brasileiro, poucos dados puderam ser

encontrados sobre a morbidade especifica do setor de urgência e emergência.

Analisando-se as principais causas de morbidade relacionada ao atendimento de

urgência – emergência da cidade de São Paulo no ano de 1998 as cincos principais

causas de morbidade da demanda atendida são as infecções respiratórias agudas

incluindo-se, as faringite e amigdalites, influenza-gripe e as pneumonias, com 23,2%

do total, seguindo-se dos traumatismos (múltiplos ou especificados), com 9,0%, e os

sintomas e achados anormais não classificados pelo código internacional de

doenças, com 6,2%. A hipertensão arterial essencial (primária) aparece com 3,1%

dos atendimentos

Embora não estejam disponibilizadas informações específicas deste tipo de

atendimento nas bases de dados do SUS, podemos destacar alguns procedimentos

que se caracterizam como urgência, como o item ¨Atendimento a pressão arterial

elevada¨ segundo sexo, para os anos de 2000 a 2002, sendo expressivo o aumento

do número de atendimentos.

O incremento da demanda de casos relacionados às causas externas

(violência, acidentes de transito, e outras), podem ser avaliados pelo aumento do

coeficiente especifico de mortalidade por esta causa (MELLO JORGE, et al. 1997),

sobretudo no adulto jovem do sexo masculino.

As mudanças no perfil epidemiológico (aumento da violência urbana e o

envelhecimento populacional), a procura cada vez mais elevada dos serviços

públicos de saúde, a forma de acolhimento e a insatisfação profissional nos serviços

de emergência do SUS vêem demonstrando o novo contexto crítico desse setor

obrigando os serviços á adequarem seu fluxo de atendimento, á incorporarem

avanços terapêuticos e tecnológicos e investirem na formação profissional com a

lógica da educação permanente.

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A desorganização identificada pelos gestores, administradores hospitalares e

diretores clínicos e particularmente, pela própia comunidade, na atenção às

urgências, tem motivado a adoção de estratégias educacionais e assistenciais,

influenciadas, respectivamente, pelos modelos anglo-americanos e francos-

germânicos, bem como as elaborações de políticas públicas com o objetivo de

difundir conceitos, diretrizes e práticas com êxitos na área da atenção às urgências.

A introdução do sistema de atendimento móvel de urgência (SAMU) e da

regulação médica à rede assistencial, no Brasil, iniciou-se a partir da cooperação

franco- brasileira, em 1995.

A partir de 2003, O Ministério da Saúde - MS normatiza a atenção às

urgências através da Política Nacional de Atenção às Urgências (BRASIL, 2003),

fundamentada nos seguintes objetivos:

a) garantir a universalidade, equidade e a integralidade;

b) consubstanciar as diretrizes de regionalização da atenção às urgências;

c) desenvolver estratégias promocionais da qualidade de vida e saúde

capazes de prevenir agravos, proteger a vida, educar para a defesa e a recuperação

da saúde, protegendo e desenvolvendo a autonomia e a equidade de indivíduos e

coletividade;

d) fomentar, coordenar e executar projetos estratégicos de atendimento às

necessidades coletivas em saúde, de caráter urgente e transitório;

e) contribuir para o desenvolvimento de processos e métodos de coletas,

análise e organização dos resultados das ações e serviços de urgência;

f) integrar o complexo regulador do SUS promovendo o intercâmbio com

outros subsistemas de informações setoriais;

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g) qualificar a assistência e promover a capacitação continuada das equipes

de saúde do SUS.

Devendo-se essa política ser instituída a partir dos seguintes componentes

estruturais:

1- Adoção de estratégias promocionais de qualidade de vida, buscando

identificar os determinantes e condicionantes das urgências e por meio de ações

transetoriais de responsabilidade pública e da própria sociedade.

2- Organização de redes locos-regionais de atenção integral às urgências

enquanto elo de cadeia de manutenção da vida: componente pré-hospitalar fixa, pré-

hospitalar móvel, hospitalares e pós-hospitalares.

3- Instalação e operação das centrais de regulação médica das urgências,

integradas ao complexo regulador da atenção do SUS.

4- Capacitação e educação continuada das equipes de saúde de todos os

âmbitos de atenção.

5-Orientação geral segundo os princípios de humanização da atenção,

No momento em que se discute a reorganização dos serviços de saúde no

Brasil a avaliação da qualidade ganha cada vez mais relevância.

A busca da qualidade nos serviços de saúde em especial nos serviços de

emergência é o foco do programa QUALISUS do ministério da saúde.

O programa foi iniciado no Rio de janeiro onde os serviços de emergência

passavam por uma de suas maiores crises. Esse programa discute algumas

características estruturantes com ênfase no aumento da responsabilização e

vínculos das equipes, na modificação do acolhimento nos serviços de emergências e

na integração e constituição de redes assistenciais. Identifica possibilidades de

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soluções para a crise no sistema de saúde localizada não somente no âmbito do

financiamento (BITTENCOURT et al, 2007).

Com o QUALISUS o ministério da saúde implanta novas áreas e ações nos

hospitais:

- Acolhimento de pacientes que chegam às emergências, eliminando filas.

- Realizações de triagens classificatórias de pacientes onde os atendimentos são

priorizados pela gravidade do caso.

- Criação de sistemas de sinalização que garantam fluidez no atendimento e

autonomia do usuário.

- Reorganização do funcionamento dos hospitais e informatização das áreas

assistências.

- Implantação do serviço de atendimento móvel de urgência, (BRASIL, 2004).

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2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Avaliar a demanda do serviço de pronto atendimento da Policlínica Agamenon

Magalhães no período de janeiro a dezembro de 2006.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Descrever o perfil da população atendida do serviço de pronto

atendimento.

• Identificar a procedência da clientela atendida de acordo com o bairro e

município de residência.

• Avaliar os principais motivos de procura ao serviço.

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3. METODOLOGIA

3.1. Localização do Estudo

O estudo foi realizado no serviço de pronto atendimento (SPA) da Policlínica

Agamenon Magalhães, no Distrito Sanitário V, município do Recife.

O Centro de Saúde Agamenon Magalhães foi fundado em 25 de janeiro de

1954, sendo transformado em um ambulatório de especialidades, Policlínica, em

2001. A partir de 2005 obteve um incremento do serviço de pronto atendimento.

Esta Policlínica esta situada na região metropolitana do Recife, no estado de

Pernambuco. A cidade do Recife é dividida em seis (06) Regiões Políticas

Administrativas (RPA), onde estão inseridos os Distritos Sanitários, um em cada

RPA. O território do Distrito Sanitário V situa-se na parte sudeste da cidade,

limitando-se ao sul com a RPA 06, ao norte com a RPA 04; ao leste com RPA 01. É

formado por 16 bairros distribuídos por três microrregiões (MR).

A Policlínica atualmente é composta por um ambulatório de especialidades e

um serviço de pronto atendimento (SPA).

O Ambulatório de especialidades oferece atendimento ambulatorial

referenciado a várias especialidades como: Alergologia, Cardiologia, Ginecologia

(colposcopia), Clínica geral, Geriatria, Programa de tuberculose, Dermatologia

(programa de hanseníase), Endocrinologia (adulto e pediátrico), Fisioterapia,

Fonoaudiologia, Gastroenterologia, Pediatria, Hebiatria, Infectologia, Medicina do

trabalho, Nutrição, Urologia (penioscopia), Psicologia, Psiquiatria, Serviço Social;

além do Centro Especializado em Odontologia-CEO, tendo como especialidades a

endodontia, odontopediatria, Clínica geral e Cirurgia Oral Menor.

O Serviço de Pronto Atendimento (SPA) se propõe ao atendimento

emergencial clínico e odontológico tendo como público alvo, o adolescente (a partir

de 16 anos de idade), o adulto e o idoso, com exceção do atendimento odontológico

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que é extensivo a todas as idades. Este serviço dispõe de uma estrutura física

composta por três consultórios de atendimento clinico, um consultório odontológico,

duas alas de repouso, sendo uma feminina e outra masculina (com x leitos cada),

uma sala de reanimação, uma sala para aplicação de anti-rábica, uma sala para

realização de eletrocardiograma, uma sala para procedimentos básicos, uma sala

para administração de medicamentos injetáveis, uma sala de nebulização, uma

farmácia, central de esterilização. Dispõe de uma equipe clínica multidisciplinar

distribuída por plantão da seguinte forma: 03 médicos, 01 odontólogo, 01 enfermeiro,

01 assistente social, 03 auxiliares de enfermagem. Dando suporte a área

administrativa tem-se: 01 telefonista, 03 auxiliares administrativos, 01 motorista, 02

auxiliares de higiene e 02 vigilantes. Contando ainda, com uma ambulância para

suporte as transferências.

3.2. Desenho do estudo

O estudo é do tipo descritivo, transversal, retrospectivo.

3.3. Universo

Foram estudadas as fichas de arquivos da Policlínica Agamenon Magalhães, o que

representa um universo de 23.333 fichas de usuários que foram atendidos de 01 de

janeiro de 2006 a 31 de dezembro de 2006.

3.4. Variáveis estudadas

As variáveis estudadas foram:

Idade: nas faixas etárias: até 14 anos, de 15 a 24, de 25 a 34, de 35 a 44 de

45 a 59 e 60 e mais.

Sexo: masculino e feminino.

Local de procedência: bairro e município de residência.

Motivo do atendimento: queixa principal anotada na admissão do paciente.

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Variáveis independentes: idade, sexo, bairro de procedência.

Foram estudadas todas as variáveis do banco de dados pré-existente neste

serviço de pronto atendimento sendo as mesmas de grande relevância para o

objetivo deste estudo não havendo necessidade de incremento de outras variáveis.

3.5. Coleta dos dados

Os dados foram coletados a partir de um banco de dados pré-existente no

Serviço de Pronto Atendimento da Policlínica. Este banco de dados é

operacionalizado pelo Same (serviço de arquivamento médico) da referida unidade

sendo diariamente alimentado através da busca manual dos boletins de

atendimentos gerados a cada consulta médica.

3.6. Análise dos dados

A análise dos dados foi realizada através de planilhas do Excel da Microsoft,

sendo usados filtros e autofiltros em busca de resultados mais precisos.

3.7 Considerações éticas

Apesar das informações da pesquisa ter sido obtida a partir de um banco de

dados secundários, não havendo identificação do sujeito, o presente estudo foi

submetido e aprovado pelo comitê de ética da Fiocruz/MS.

Do mesmo modo foi obtido consentimento oficial da direção da policlínica

onde se localizou o referido estudo.

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4. Resultados

Avaliando-se o perfil da clientela atendida no serviço de pronto atendimento

(SPA) foram estudas as variáveis, idade e sexo.

O gráfico 1 demonstra a distribuição dos atendimentos segundo o sexo.

Observou-se predomínio do sexo feminino, com uma diferença de 12% entre os

gêneros.

Gráfico 1 - Percentual dos atendimentos por sexo no Serviço de Urgência/Emergência da Policlínica Agamenon Magalhã es no ano de 2006, Recife-PE.

O gráfico 2 demonstra o perfil dos usuários segundo faixa etária. Observou-se

que nas faixas etárias extremas (< 14 anos e 60 e mais) houve diferenças em

relação às demais, que se apresentaram uniformes. O maior percentual de

atendimento foi na faixa etária entre 25 e 34 anos, representando 23% dos

atendimentos.

44% 56% MASCULINO

FEMININO

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37

1%

22%

23%

18%

15%

21%

MENOR DE 14 ANOS

ENTRE 15 E 24 ANOS

ENTRE 25 E 34 ANOS

ENTRE 35 E 44 ANOS

ENTRE 45 E 59 ANOS

ACIMA DE 60 ANOS

Gráfico 2: Distribuição por faixa etária dos atendi mentos no Serviço de Urgência/Emergência da Policlínica Agamenon Magalhã es no ano de 2006, Recife-PE .

Salienta-se que o atendimento à faixa etária abaixo de 16 anos restringe-se a

especialidade odontológica. O gráfico 3 demonstra que dentre o total de

atendimentos o odontológico representou um percentual de 8%, sendo a faixa etária

abaixo de 16 anos responsável por apenas 1% dos atendimentos nesta

especialidade.

1% 7%

92%

ATENDIMENTOSODONTOLÓGICOS EMMENORES DE 16 ANOS ATENDIMENTOSODONTOLÓGICOS EMMAIORES DE 16 ANOS OUTROS ATENDIMENTOS

Gráfico 3: Percentual dos atendimentos odontológico s no Serviço Urgência /Emergência da Policlínica Agamenon Magalhães no an o de 2006, Recife-PE.

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Quanto ao local de residência dos usuários atendidos foi observado que 50%

da população atendida é originária do distrito sanitário onde se localiza o serviço de

pronto atendimento, DSV. Outros 41% são residentes de outros distritos sanitário da

cidade do Recife. Apenas 9% dos usuários são procedentes de outros municípios

(Tabela1).

9%

50%

41%

OUTROS MUNICIPIOS

DS V

OUTROS DIST.SANIT.DO RECIFE

Gráfico 4: Percentual dos atendimentos por procedên cia no Serviço de Urgência/emergência da Policlínica Agamenon Magalhã es no ano de 2006, Recife-PE.

A análise por bairros mostra que os residentes do bairro de Afogados,

onde se localiza a Policlínica, representou 23% dos atendimentos. Outros bairros

com percentuais significativos foram o da Imbiribeira (Distrito Sanitário VI) e o de

São José (Distrito Sanitário I). Os dados mostraram ainda que 29% dos

atendimentos foram de outros bairros (incluídos os localizados em cidades próximas

ao Recife), os quais analisados isoladamente não representaram percentual

significativo (Tabela 1).

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Tabela 01: distribuição do atendimento no serviço de urgência e emergência da

Policlínica Agamenon Magalhães, no ano de 2006, segundo bairro de procedência.

___________________________________________________________________

ORIGEM DIST. SANIT. Nº DE ATENDIMENTOS %

OUTRAS ORIGENS 6937 29

AFOGADOS. V 5312 23

SÃO JOSÉ I 3214 14

IMBIRIBEIRA VI 2500 11

MUSTARDINHA. V 1415 6

MANGUEIRA V 1146 5

IBURA. VI 787 3

SAN MARTIN V 729 3

PINA VI 686 3

JOANA BEZERRA. I 607 3

TOTAL 23.333 100

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No intuito de avaliar a demanda de atendimento do serviço, foram estudadas

as principais queixas que motivaram sua procura.

Tabela 02: Número e percentual de atendimentos segundo as principais queixas que

motivaram a procura ao Serviço de urgência e emergência da Policlínica Agamenon

Magalhães no ano de 2006, Recife-PE.

DIAGNÓSTICO Nº DE ATENDIMENTOS %

DIARRÉIA 465 2

DISTÚRBIO PSIQUIÁTRICO 718 2

DOR ABDOMINAL 746 3

FERIDA INFECTADA 795 3

AMIDALITE 805 3

LOMBALGIA 873 4

CEFALÉIA 948 4

ASMA 1103 5

ATENDIMENTOS ODONTOLÓGICOS 1828 8

HIPERTENSÃO ARTERIAL 1852 8

OUTROS DIAGNÓSTICOS 13200 58

TOTAL 23.333 100

A tabela 02 mostra as 10 principais queixas que motivaram os atendimentos

no Serviço de urgência e emergência da Policlínica Agamenon Magalhães, no ano

de 2006. Apresentou-se com um maior percentual de atendimento a Hipertensão

Arterial Sistêmica (HAS) com 8% seguido pelos atendimentos em odontologia

também com 8%, a asma com 5% e a cefaléia e a lombalgia com 4% do contingente

de atendimentos. Em percentuais de 3% temos a amigdalite, a ferida infectada, a dor

abdominal e o distúrbio psiquiátrico registrando uma média de 750 atendimentos.

Por fim temos a diarréia com 465 casos representando 2% dos atendimentos.

Observamos ainda uma série de outras queixas, totalizando 13.200 atendimentos,

com um percentual de 58%, os quais avaliados isoladamente representaram baixos

percentuais não sendo relevantes à citação neste trabalho.

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5. Discussão Os serviços de urgências e emergências ainda constituem uma importante

porta de entrada para a assistência médica. A demanda aos serviços de saúde pode

ser entendida como uma procura expressa das necessidades do usuário, se

efetivando por meio de consultas, exames, consumos de medicamentos, realização

de procedimentos, dentre outros. Entretanto, as necessidades dos usuários também

podem ser motivadas por questões socioeconômicas, más condições de vida, à

violência, ou a efetivação de vínculo com o serviço/profissional (MARQUES E LIMA,

2007).

A escolha dos serviços pelo usuário depende de como estes estão

ordenados, sofrendo influência da gravidade ou da urgência do

problema/necessidade, da tecnologia disponível, da resolubilidade da atenção, do

acolhimento, das condições geográficas, da agilidade no atendimento (MARQUES E

LIMA, 2007).

De acordo com as informações obtidas nos resultados deste trabalho foi

possível conhecer a demanda do serviço de Pronto Atendimento da Policlínica

Agamenon Magalhães identificando os principais motivos de procura por este

serviço no ano de 2006.

Considerando a análise do perfil dos usuários a baixa proporção de

atendimentos de menores de 14 anos está relacionada ao perfil do serviço, que

somente oferece para este público os serviços odontológicos. Furtado et al(2004),

observou que mais da metade dos atendimentos se concentraram na faixa etária de

20 a 29 e de 30 a 49 anos também coincidentes com o nosso estudo, com Ribeiro

(1998) e Salla et al (1989).

Considerando-se a diferenciação entre os sexos masculino e feminino na

procura ao serviço, não observamos diferenças importantes entre estes. Apesar da

maioria dos atendimentos terem sido do sexo feminino, isto pode estar associado a

maioria populacional do referido sexo no distrito sanitário V, de acordo com as fontes

do IBGE(2000).

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Este estudo observou que 23% dos usuários atendidos no serviço, são

residentes no mesmo território do Distrito Sanitário V onde se localiza esta

emergência, no bairro de afogados. Este Distrito tem uma rede de saúde que

garante uma cobertura de 42% da população com a Estratégia de Saúde da Família,

sendo que o referido bairro não possui cobertura da ESF (RECIFE, 2006)

Apesar da incipiente cobertura da atenção básica, outros fatores podem estar

contribuindo para a procura ao serviço como a localização geográfica, tendo em

vista a presença de importantes vias de acesso nas proximidades da Policlínica.

Marques e Lima (2007) identificaram que os usuários procuravam os serviços, não

apenas pela localização geográfica, mas também pela qualidade do serviço, pela

garantia e agilidade no acesso, por experiências positivas, bem como pelo

acolhimento prestado.

Na análise dos bairros com maior percentual de atendimentos observa-se que

nos bairros da Imbiribeira e São José ficam nas proximidades da Policlínica tendo

sua população residente facilidade de acesso ao serviço de pronto atendimento o

que facilita a procura deste.

O Estudo mostra ainda, que 50% de todo o atendimento realizado neste

serviço é da população residente nos bairros que compõem o Distrito Sanitário V e

41% de outros bairros da cidade do Recife, mostrando que a organização do

sistema municipal de saúde a partir do território está se efetivando, garantindo assim

para a população um melhor acesso aos serviços.

O SUS preconiza uma rede de serviços hierarquizada e regionalizada,

agregando níveis de complexidades crescentes. Apesar da responsabilidade dos

municípios nos diferentes níveis de assistência, os municípios de pequeno porte

podem prover a atenção básica e estabelecer pactos, por meio de gestores de

saúde, com municípios de maior porte, para garantir a media e a alta complexidade,

estando a divisão de responsabilidades definidas pela NOAS-SUS 01/02. (BRASIL,

2002).

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Encontrou-se neste estudo que 9% dos atendimentos foram provenientes de

outros municípios, o que mostra que o município absorve demanda de municípios

vizinhos.

Durante a análise do banco de dados em relação às queixas apresentadas,

observamos uma ampla variedade de respostas, que vão desde queixas simples até

diagnósticos de patologias registrados como queixas.

Destacam-se como queixas principais: hipertensão arterial sistêmica,

problemas odontológicos, asma brônquica, cefaléia e lombalgia. Com menor

percentual, porém, com relevância no total de atendimentos encontram-se a

amigdalite o ferimento infectado, a dor abdominal, os distúrbios psiquiátricos e a

diarréia. Identificou-se uma multiplicidade de outras queixas, englobando desde

atendimentos nas situações graves até necessidades pontuais não urgentes, que

analisadas individualmente não apresentaram destaques para um estudo mais

especifico.

Assim observou-se que os usuários acessam o serviço de pronto

atendimento, com diferentes necessidades. No entanto a falta de melhores registros

no banco de dados em relação às queixas analisadas, impossibilitou a determinação

da complexidade desses atendimentos.

Apesar da identificação de algumas queixas típicas da atenção ambulatorial

não podemos considerá-las queixas comuns, nem procura inadequada, uma vez

que, a concepção do usuário em relação ao atendimento de urgência não pode ser

desconsiderada. Os usuários procuram o serviço com a finalidade de solucionar

suas necessidades.

Castro (2002), avaliando os usuários dos serviços de emergência concluiu

que a procura prioritária, desses serviços não pode ser considerada inadequada,

pois nem sempre as concepções técnicas dos profissionais, que entendem ser

lógico o fato de o usuário procurar outros tipos de atendimento que não a

emergência, são compatíveis com a concepção do usuário, que vê nesse tipo de

serviço uma resposta adequada as suas necessidades. Assim, seja pela dificuldade

de conseguir atendimento nas unidades básicas e ambulatoriais, seja como

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resultado de uma cultura induzida pela oferta de serviços de saúde (que no Brasil,

durante anos estimulou a procura pelo atendimento hospitalar), muitos usuários

ainda possuem nas emergências a única forma de acessar o sistema de saúde

publica.

Gomes et al. (1996), verificaram em estudo sobre atendimento nos serviços

de emergências pediátricas que estes serviços têm sido desviados de sua principal

função, prestando com freqüência, atendimento em situações não-emergenciais.

Achados semelhantes foram apresentados por Martins et al. (1992), onde eles

afirmam que a deficiência dos serviços básicos de saúde vem determinando um

aumento na demanda aos serviços terciários.

Segundo Peixoto filho, et al. (1990), a presença de grande número de

pacientes nos serviços de emergência com queixas típicas de serviços de atenção

primária à saúde, por ele denominada “causas comuns” caracteriza um uso abusivo

desses serviços por parte da população.

No presente estudo, apesar das queixas verificadas serem em grande parte

de atendimento ambulatorial não foi objeto do presente estudo avaliar a

resolubilidade da atenção básica a partir destes dados. Neste contexto deve ser

considerada, ainda, a cobertura incompleta da atenção primária no município de

Recife, sendo o DS V um dos distritos com mais baixa cobertura.

Em relação a elevada procura dos atendimentos odontológicos pode-se

justificar pela escassez de serviços de urgência na referida área nos serviços

públicos de saúde sendo esta a única referencia do Distrito V. Salientamos que este

Serviço de Pronto Atendimento Odontológico atende a todas as faixas etárias

diferentemente dos atendimentos clínicos.

Sabe-se que a procura por serviços odontológicos de emergência refletem

descontinuidade na promoção e prevenção da saúde bucal, podendo ser justificado

pela ainda incipiente cobertura na atenção básica na referida especialidade, apesar

dos investimentos atuais como a implantação dos Centros Especializados em

odontologia (CEO).

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Apesar do fortalecimento na política de saúde mental na cidade do Recife

observou-se um considerável número de atendimentos por doenças psiquiátricas no

referido serviço.

Influenciado pela proposta deste serviço com uma multiplicidade de

atendimentos não específicos, observou-se um perfil diferente das grandes

urgências da capital, já estudadas por outros autores (FURTADO et. al. 2004). Estes

são grandes emergências para onde são referenciados os traumas e na qual grande

numero de atendimento estão relacionados às causas externas trazendo uma

predominância do sexo masculino e adulto jovem.

Mello Jorge, 1997, também destacou a elevada demanda de causas externas

(violência, acidentes de transito e outras causas) principalmente no adulto jovem do

sexo masculino o que vem trazendo influencias ao atendimento nas grandes

urgências. Os achados deste estudo mostram um perfil diferente dos estudos acima

citados. Estas diferenças se justificam pelo perfil de cada serviço e de acordo com o

nível de tecnologia presente nestes.

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6. CONCLUSÃO

O estudo se reveste de fundamental importância considerando a necessidade

de conhecer o perfil atendido nos serviços de urgência do estado Pernambuco.

Apesar das dificuldades encontradas para definição das queixas e

caracterização da complexidade das mesmas, devido à falta de padronização e

subnotificação nos registros, podemos observar que o serviço de pronto atendimento

da policlínica Agamenon Magalhães funciona como porta de entrada do sistema de

saúde publica.

Considerando a multiplicidade de queixas, desde as mais simples até as mais

complexas, o pouco detalhamento dos registros e a articulação do sistema nos seus

níveis de atenção, sugerem-se o aprofundamento em estudos que avaliem não só

as urgências no cumprimento do seu papel, mas também, a sua relação com os

outros níveis de complexidade.

Podemos observar que os serviços de pronto atendimento vêm sofrendo as

conseqüências da superlotação. Vários motivos podem estar corroborando para o

aumento da procura à esses serviços como : a facilidade de acesso, a facilidade de

apoio diagnostico, a desinformação da população sobre os modelos assistenciais

propostos, a incipiente cobertura de programa saúde da família, a baixa

resolubilidade da atenção básica e a fragilidade de ações de promoção da saúde e

prevenção de doenças de forma sistemática.

O estudo identificou que a policlínica Agamenon Magalhães segue o modelo

de territorialização proposto pela secretaria municipal de saúde, sendo que as

maiorias dos atendimentos foram de residentes do DS V.

Observamos a importância do serviço de pronto atendimento dentro de uma

rede hierarquizada e a necessidade de integração entre os diferentes níveis de

atenção, buscando melhor integralidade e resolubilidade dos serviços.

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Espera-se que o presente estudo possa estimular à realização de novos

estudos para o conhecimento do perfil de outras urgências do município e a relação

dessas com a atenção básica, assim contribuindo para a reorganização de uma rede

de saúde que atenda aos preceitos do SUS.

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