40
1 ANAIS DO CAT IN RIO 2017 HOTEL AMERICAS 31 de Março e 1 de Abril de 2017 1- Aplicação de Microcirurgia em Exérese de Cálculo Ureteral em Gata...................... 2 2- Cisto de íris em gato ...................................................................................................... 6 3- Cornos cutâneos em felino jovem Relato de caso ..................................................11 4- Uso da quimioterapia metronômica para o carcinoma de células escamosas cutâneo felino ...............................................................................................................................16 5- Achados clínicos e histopatológicos relacionados à neoplasia laringeana em paciente felino geriátrico ..............................................................................................20 6- Alterações hematológicas em gatos infectados com o vírus da leucemia viral felina ..........................................................................................................................................24 7- Tratamento de pênfigo foliáceo e diabetes melito secundária em um gato: relato de caso..................................................................................................................................31 8- Síndrome da Displasia fiseal capital felina relato de três casos ............................36

ANAIS DO CAT IN RIO 2017 31 de Março e 1 de Abril de 2017 · 1 ANAIS DO CAT IN RIO 2017 HOTEL AMERICAS – 31 de Março e 1 de Abril de 2017 1- Aplicação de Microcirurgia em Exérese

  • Upload
    vodan

  • View
    212

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

1

ANAIS DO CAT IN RIO 2017

HOTEL AMERICAS – 31 de Março e 1 de Abril de 2017

1- Aplicação de Microcirurgia em Exérese de Cálculo Ureteral em Gata...................... 2

2- Cisto de íris em gato ...................................................................................................... 6

3- Cornos cutâneos em felino jovem – Relato de caso ..................................................11

4- Uso da quimioterapia metronômica para o carcinoma de células escamosas cutâneo

felino ...............................................................................................................................16

5- Achados clínicos e histopatológicos relacionados à neoplasia laringeana em

paciente felino geriátrico ..............................................................................................20

6- Alterações hematológicas em gatos infectados com o vírus da leucemia viral felina

..........................................................................................................................................24

7- Tratamento de pênfigo foliáceo e diabetes melito secundária em um gato: relato de

caso..................................................................................................................................31

8- Síndrome da Displasia fiseal capital felina – relato de três casos ............................36

2

Aplicação de Microcirurgia em Exérese de Cálculo Ureteral em Gata

Application of Microsurgery in Exeresis of Ureteral Calculus in Cat

FELIX, A.O.1; SCHEFFER, J.P.2; ANTUNES, F.³; OLIVEIRA, A.L.A.4

1 Graduanda em Medicina Veterinária, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro

- UENF

[email protected]

2Médica Veterinária, Mestre, doutoranda em Ciência Animal, Universidade Estadual do Norte

Fluminense Darcy Ribeiro – UENF

3 Professor Associado, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF

4 Professor Associado, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF

Introdução

Os cálculos ureterais estão sendo diagnosticados com crescente frequência na clínica de

felinos, sendo esta a causa mais comum de obstrução ureteral em gatos (Hardie e Kyles, 2004).

Em um estudo realizado na Universidade da Califórnia em Davis, relatou-se que o primeiro gato

com cálculo ureteral foi diagnosticado em 1990, e que após este, houve um aumento constante

do número de casos (Kyles et al, 2005a). Em outra pesquisa (Kyles et al, 2005b) relataram que

a presença de cálculo ureteral em gatos é uma condição relativamente nova, com o primeiro

trabalho sobre um grupo de gatos com ureterolitíase publicado em 1998.

A remoção cirúrgica para cálculos ureterais tem sido descrita. Com base em

experiências anteriores, a remoção cirúrgica de cálculos ureterais se justifica se houver evidência

de obstrução parcial ou completa do ureter, como por exemplo, hidronefrose e dilatação do ureter

proximal ao cálculo, ou ainda se os cálculos se apresentarem imóveis em repetidos exames

(Kyles et al, 2005b).

Objetivos

O presente trabalho tem por objetivo relatar a remoção de cálculo ureteral em uma gata

através de microcirurgia.

Metodologia

Um gato, fêmea, sem raça definida, de aproximadamente 8 anos de idade, foi encaminhado

ao setor de cirurgia da Unidade de Experimentação Animal (UEA) da Universidade Estadual do

Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF com histórico de retenção urinária e disúria. Ao exame

ultrassonográfico abdominal observou-se rim esquerdo com contornos irregulares com perda da

definição córtico-medular, sugerindo nefropatia e rim direito com dimensões diminuídas, medindo

3

2,2 x 1,5 cm com perda da arquitetura interna e relação córtico-medular indefinida. Acentuada

dilatação da pelve renal com consequente adelgaçamento da cortical restando apenas uma fina

camada da cortical pressionado contra a cápsula renal, sugerindo nefropatia crônica e

hidronefrose.

O diagnóstico de cálculo ureteral foi obtido através de exames radiográficos abdominais,

nas projeções latero-lateral direita e ventrodorsal que revelaram presença de imagem de maior

opacidade (densidade mineral), arredondada, medindo em torno de 0,3 cm em região de ureter

direito, sugestivo de litíase, além de topografia de silhueta renal direita com diminuição de suas

dimensões (nefropatia). Não houve presença de alterações aos exames de hemograma e

bioquímica, apresentando creatinina sérica 1,0 mg/dL (0,8 – 1,8 mg/dL) e uréia 49,8 mg/dL (30,0

– 60,0 mg/dL).

O animal foi submetido à ureterotomia por microcirurgia para remoção do cálculo. Após a

incisão na linha média ventral do abdome, a localização do cálculo ureteral foi identificada por

inspeção do ureter. Posteriormente, a região do ureter onde o cálculo estava localizado foi

dissecada delicadamente e foi realizada a abertura do ureter através de uma pequena incisão

longitudinal sobre o cálculo. Este foi removido utilizando uma pinça fina especial para

microcirurgia e as extremidades ureterais foram lavadas com soro fisiológico aquecido. Em

seguida foi realizada sutura com náilon 8-0, em padrão simples interrompido. A amostra de

cálculo foi enviada para análise no Minnesota Urolith Center, na faculdade de Minessota, EUA,

não sendo recebido ainda seu resultado. Os exames de hemograma e bioquímica pós-cirúrgico

não mostraram nenhuma alteração, bem como a ultrassonografia.

Resultados e Discussão

O exame radiográfico se mostrou mais específico para o diagnóstico de ureterolitíase em

comparação ao exame ultrassonográfico, conseguindo identificar a presença de cálculo ureteral,

o que não foi possível identificar pela ultrassonografia.

O diagnóstico por imagem representa a ferramenta de exame mais precisa para detecção

de urólitos. A radiografia abdominal é a primeira modalidade de diagnóstico por imagem para

detectar a presença de cálculos radiopacos (BARTGES; CALLENS, 2015). Segundo Hardie e

Kyles (2004), cálculos radiopacos são visíveis no plano radiográfico se forem grandes o suficiente

e se a presença de hidroureter for grave (HARDIE; KYLES, 2004).

Em um estudo retrospectivo realizado por Adin e Scansen (2011) em gatos com suspeita

de obstrução ureteral, a radiografia obteve uma especificidade de 100% na identificação de

cálculos radiopacos, porém com uma sensibilidade de apenas 60%, mostrando que a radiografia

é um método diagnóstico limitado nos casos em que a obstrução é causada por cálculos não-

4

radiopacos, ou mesmo quando os cálculos são demasiadamente pequenos para serem

detectados.

Em contraste, verificou-se que a ultrassonografia apresentava uma sensibilidade de 100%

na detecção de obstrução ureteral, devido ao início precoce de hidronefrose e dilatação pélvica

renal na maioria dos animais. No entanto, observaram que a dilatação pélvica pode ocorrer

secundária à pielonefrite e outras condições não-obstrutivas, reduzindo a especificidade desta

técnica para 33% na detecção correta de obstrução ureteral em gatos. Desta forma, ambas as

técnicas devem ser empregadas para que haja maior sensibilidade no diagnóstico de

ureterolitíase em gatos (Adin e Scansen, 2011).

Após o procedimento cirúrgico a paciente foi encaminhada para internação, sendo feito o

acompanhamento através da realização de hemograma, bioquímica e ultrassonografia pós-

cirúrgicos, apresentando-se nos padrões de normalidade para a espécie.

Durante o pós-cirúrgico não foram observadas complicações como deiscências de sutura

e/ou estenose ureteral, tendo a paciente um pós-operatório adequado, bem como uma

recuperação e evolução esperadas, por possibilitar um procedimento com maior precisão em

comparação a ureterotomia convencional.

A técnica de remoção de cálculo ureteral por microcirurgia se mostra muito precisa e

necessária devido a pequena dimensão do ureter de felinos, facilitando o procedimento cirúrgico

(Hardie e Kyles, 2004). A recidiva de obstrução ureteral devido a anastomose que comumente

pode ocorrer posteriormente ao procedimento cirúrgico convencional tem suas chances

reduzidas com a microcirurgia por ser uma técnica mais delicada que proporciona melhor

visualização das camadas do ureter.

Figura 1. Exérese de cálculo ureteral com auxílio de pinças especiais de microcirurgia.

5

Conclusão

A presença de cálculos ureterais em felinos tem sido constantemente relatada na rotina

clínica, e para seu correto diagnóstico é necessário à utilização complementar de exames de

imagem ultrassonográficos e radiográficos. A exérese cirúrgica através de microcirurgia mostra-

se vantajosa por maximizar as estruturas ureterais e proporcionar a realização de um

procedimento mais preciso.

Referências

1. Hardie, E., M.; Kyles, A. E. (2004). Management of ureteral obstruction. Veterinary

Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 34, n. 4, p. 989-1010.

2. Kyles, A. E. et al. (2005a). Clinical, clinicopathologic, radiographic, and ultrasonographic

abnormalities in cats with ureteral calculi: 163 cases (1984-2002). Journal of the

American Veterinary Medical Association, v. 226, n. 6, p. 932-936.

3. Kyles, A E. et al. (2005b). Management and outcome of cats with ureteral calculi: 153

cases (1984-2002). Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 226,

n. 6, p. 937-944.

4. Bartges, J. W.; Callens, A. J. (2015). Urolithiasis. Veterinary Clinics of North America:

Small Animal Practice, v. 45, n. 4, p. 747-768.

5. Adin, C. A.; Scansen, B. A. (2011). Complications of upper urinary tract surgery in

companion animals. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 41,

n. 5, p. 869-888.

6

Cisto de íris em gato

Iris cat cyst

Souza, MAR1; Sá FB2,

1- Doutoranda do programa de Biociência Animal, Universidade Federal Rural de Pernambuco

(UFRPE), 52171-900, Recife, PE, Brasil. E-mail: [email protected], 2 -Professor

Adjunto da UFRPE.

Introdução

Os cistos podem ser referenciados na literatura como cisto uveal (HERRERA, 2008) ou

de íris (TEIXEIRA et al, 2009; SLATTER, 2005) é uma condição de rara aparição em felinos

(HERRERA, 2008), é relativamente comum em cães (SLATTER, 2005), principalmente nos cães

da raça Golden retriever (TOWNSEND, 2014), assim como relata-se também a ocorrência em

humanos (CRONEMBERGER, 2006) .

São estruturas de origem congênita (SLATTER, 2005; TEIXEIRA et al. 2009), em cães

tem caráter recessivo. Podem ser adquiridos (TEIXEIRA et al. 2009) provenientes de

desprendimentos de pigmento ou ainda decorrentes de uveítes (HERRERA, 2008).

Tem o formato de vesícula, são preenchidos por fluido e circundados por epitélio

pigmentado (SLATTER, 2005), de maneira geral apresentam formato esférico (HERRERA, 2008;

TEIXEIRA et al. 2009) mas podem ser ovais ou alongados (TEIXEIRA et al. 2009) com coloração

parda-escura ou preta (HERRERA, 2008).

Durante o exame clínico podem se vistos tanto unilateralmente quanto bilaterais, únicos

ou múltiplos, flutuando livremente na câmara anterior ou aderidos na íris ou ao epitélio corneano

(SLATTER, 2005; TEIXEIRA et al, 2009).

Em geral são achados de exame clinico, sem comprometimento ocular. Em casos muito

raros observa-se obstruções parciais da visão e opacidade da córnea ou da lente (TEIXEIRA et

al, 2009), ou ainda, quando o número de cistos é muito grande, pode provocar obstrução pupilar,

pressão intraocular elevada. Outra condição clinica que pode ocorrer é o glaucoma, que por sua

vez terá dois mecanismos de formação, sendo o primeiro decorrente do grande número de cistos

que empurram a base da íris causando glaucoma secundário por estreitamento do ângulo. O

segundo mecanismo advém do colapso dos cistos que causam uveíte, esta por sua vez, vai

7

promover a existência de debris celulares que podem obstruir a malha trabecular (SLATTER,

2005).

O diagnóstico é estabelecido pela observação dos cistos, ou ainda por meio de

ultrassonografia (USG), entretanto a literatura recomenda o uso de biomicroscopia ultrasônica

(UBM) visto que ela, recentemente se mostrou mais eficiente que a USG para detecção de cistos

uveais (TAYLOR et al. 2015).

Os diagnósticos diferenciais são realizados por transiluminação, que permite distinguir os

cistos de neoplasias pigmentadas e de nervos de íris (SLATTER, 2005), é importante também

diferenciar de melanoma uveal (que são massas sólidas) (TEIXEIRA et al, 2009).

Quanto ao tratamento a literatura recomenda não tratar em casos de poucos cistos

(HERRERA, 2008; TEIXEIRA et al, 2009) e a remoção em casos que o número de cisto seja

muito grande, devendo esta ser realizada por fotocoagulação a laser e aspiração (SLATTER,

2005)

Objetivo

Relatar o caso clínico de um felino macho, srd, com presença de cistos de iris em câmara anterior

e posterior.

Metodologia

Foi atendido no setor de oftalmologia veterinária do hospital Universitário da UFRPE um felino

macho, de cerca de 2 anos de idade, cuja a queixa do proprietário era a presença de estruturas

circulares enegrecidas no olho do animal. O animal foi submetido à semiotecnica oftálmica

rotineira, que permitiu constatar que o olho estava calmo, todos os reflexos pupilares estavam

presentes, pressão intraocular normal, teste lacrimal de schirmer sem alterações e negativo no

teste de fluoresceína. Durante o exame foram observadas estruturas circulares flutuando na

câmara anterior (FIGURA 1) do olho esquerdo, as quais foram melhor examinadas através do

exame com lâmpada de fenda. Instilou-se midriatico (tropicamida) e foi possível verificar também

a presença das mesmas estruturas na câmara posterior, próximas à fenda pupilar, estas por sua

vez apresentavam um diâmetro menor, se comparadas às encontradas na câmara anterior.

8

FIGURA 1: Imagem evidenciando a presença dos cistos.

Seta preta: presença dos cistos, aglomerados na

câmara anterior. Seta amarela: Cistos menores na

câmara posterior, próximos a fenda pupilar.

Fonte: Souza, MAR (2016)

Resultados

Durante a observação do olho esquerdo foram encontrados cistos flutuantes em câmara

anterior, e na câmara posterior somente após a aplicação da tropicamida. Frente ao quadro

clinico e ao aspecto macroscópico das estruturas, associado à localização conclui-se que se

tratava de cistos de íris ou cistos iridicos, ou ainda cistos uveais.

Discussão

Mediante a ausência de alterações encontradas no exame clinico, a saber, estruturas

enegrecida flutuando na câmara posterior e anterior concluímos que se tratavam de cistos de íris

(SLATTER, 2005; TEIXEIRA et al, 2009; HERRERA, 2008) associadas ao uso de métodos

auxiliares de diagnóstico como lâmpada de fenda e USG ocular padrão, que por sua vez se

mostraram eficientes para a conclusão do diagnóstico.

9

O uso da tropicamida, foi muito fortuito para o diagnóstico, visto que permitiu evidenciar

a presença de cistos câmara posterior (DEEHR e DUBIELZIG, 1998).

Quanto a localização dos cistos, a literatura humana relata que os cistos iridociliares são

mais prevalentes nos quadrantes inferior e temporal (CRONEMBERGER, 2006), entretanto, em

medicina veterinária, baseado neste caso pôde-se verificar que os cistos estavam mais alojados

no eixo central próximo a fenda pupilar.

O paciente atendido não apresentava alterações oculares e nem um grande número de

cistos, assim obedecendo a recomendação da literatura optamos por não instituir o tratamento

cirúrgico (SLATTER, 2005; HERRERA, 2008; TEIXEIRA et al. 2009), apenas acompanhar a

evolução do caso, visto que, Pumphrey et al. (2012) reforçam em seu relato a relação dos cistos

com o glaucoma, uma vez que descrevem que três bulldogs americanos desenvolveram

glaucoma refratário a tratamento medicamentoso que suscitaram em enucleação, os bulbos dos

olhos removidos foram encaminhados para a realização de exame histopatológico que revelou a

presença de cistos na úvea como a principal causa do glaucoma nestes pacientes.

Conclusão

Frente ao exposto, podemos concluir que o cisto de íris, apesar de ser uma condição rara,

ocorre nos animais brasileiros e que os médicos veterinários devem estar aptos a diagnosticar e

terem discernimento para estabelecer a melhor conduta terapêutica para cada caso, levando

em consideração as alterações oftálmicas e o número de cistos presentes.

Referências bibliográficas

Cronemberger, S. et al . (2006) Prevalência de cistos iridociliares em exames de biomicroscopia

ultra-sônica. Arquivo Brasileiro de Oftalmologia.V 69, 471-475, Available from

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-

27492006000400003&lng=en&nrm=iso>. access

on 21 Dec. 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0004-27492006000400003.

Deehr, A.J. and Dubielzig, R.R. (1998). A histopathological study of iridociliary cysts and

glaucoma in Golden Retrievers. Veterinary Ophthalmology, 1: 153–158. doi:10.1046/j.1463-

5224.1998.00018.x, acesso em: 20 de Dezembro de 2016.

Herrera D.H. Oftalmologia no gato. In: Herrera D.H.(2008). Oftalmologia Clinica em Animais de

Companhia. 1ed.São Paulo. Ed MedVep. 237 -263

10

Pumphrey et al (2012). Glaucoma associated with uveal cysts and goniodysgenesis in American

Bulldogs: a case series. Veterinary Ophthalmology. V 5. 1–9 DOI:10.1111/vop.12000, acesso

em: 21 de Dezembro de 2016.

Slatter, D. Úvea. In: Slatter, D.(2005). Fundamentos de Oftalmologia Veterinária. 3ed. São Paulo.

Ed.Roca Ltda, 339-376.

Taylor et al. (2015) Comparison of ultrasound biomicroscopy and standard ocular

ultrasonography for detection of canine uveal cysts. American Journal of Veterinary Research.

540-546 doi: 10.2460/ajvr.76.6.540. Acesso em: 21 de Dezembro de 2016.

Teixeira A.L. Barros L.F.M., Barros P.S.M. Afecções da túnica vascular. In: Laus, J.L. (2009).

Oftalmologia clinica e cirúrgica em cães e em gatos. 1.ed. São Paulo, Ed Roca Ltda, p.97-115.

Townsend WM, Gornik KR (2013) Prevalence of uveal cysts and pigmentary uveitis in Golden

Retrievers in three Midwestern states. Journal of the American Veterinary Medical Association.

Vol. 243. 1298-1301. Doi: 10.2460/javma.243.9.1298. Acesso em 21 de Dezembro de 2016.

11

CORNOS CUTÂNEOS EM FELINO JOVEM – RELATO DE CASO

CUTANEOUS HORNS ON A YOUNG CAT – A CASE REPORT

MENEZES, M.S.¹, COSTA, T.C.¹, MAROCHI, J.C¹, VALÊNCIO, C.A.J.², KOJO, P.S.³

¹Médica Veterinária Autônoma, Laboratório Veterinário São Camilo, Maringá, PR, Brasil

email: [email protected]

²Médica Veterinário Responsável Técnico, Laboratório Veterinário São Camilo, Maringá, PR,

Brasil

email: rt.veteriná[email protected]

³Médico Veterinário, Clínica veterinária PSKvet, Maringá, PR, Brasil

email: [email protected]

Introdução

Os cornos cutâneos são crescimentos córneos compostos de queratina formando projeções

pedunculadas, firmes e circunscritas semelhantes a cornos ou unhas dos animais. Podem

apresentar variações de tamanho (de milímetros até acima de 2 centímetros), formato

(cilíndricas, cônicas, angulares, retas e helicoidais) e de coloração (amarela, marrom ou cinza).

A superfície da lesão varia desde macia e polida a enrugada e áspera. Afeta diversas espécies

domésticas e segundo Mantese et al (2010) existem poucas pesquisas sobre o tema afetando

humanos. As regiões de cabeça, escroto, glândula mamária e membros são os locais de maior

incidência, podendo haver mais de um local acometido (Gross et al, 2005; Souza et al, 2010;

Hnilica, 2011). Segundo Gross et al (2005), não há predisposição conhecida por sexo ou idade.

A etiologia da doença ainda não foi completamente elucidada, contudo, acredita-se que são

oriundos de papilomas, carcinomas de células escamosas ou outras disqueratoses (Gross et al,

2005; Hnilica, 2011).

Em gatos, os cornos cutâneos são pouco frequentes e quando presentes, geralmente estão

associados à infecção pelo vírus da leucemia felina (FeLV). O diagnóstico baseia-se no aspecto,

curso clínico das lesões e na avaliação histopatológica caracterizada por áreas bem demarcadas

de hiperplasia da epiderme formando colunas compactas de queratina, denominada como

hiperqueratose. As lesões associadas ao vírus da Leucemia Felina geralmente apresentam

células apoptóticas, eosinofílicas, multinucleadas e queratinócitos vacuolizados e quando não

associadas ao vírus, estas características microscópicas não são observadas. Clinicamente e

histopatologicamente, os cornos cutâneos nos coxins de felinos são bem distintos e os

diagnósticos diferenciais são muito limitados, sendo que histologicamente podem ser similares a

papilomas (Gross et al, 2005; Hnilica, 2011).

12

O tratamento definitivo consiste na excisão cirúrgica, podendo ocorrer recidivas. O prognóstico

tende a ser favorável, entretanto se houver associação a neoplasias, o mesmo torna-se

reservado ou desfavorável (Souza, 2005).

Objetivo

O presente trabalho visa relatar um caso clínico de corno cutâneo em felino jovem a fim de

documentar e trazer a discussão à comunidade científica, os aspectos clínicos, histopatológicos

e do tratamento de uma dermatopatologia incomum na literatura veterinária.

Metodologia

Um felino, macho, da raça persa, idade aproximada de 2 anos, pesando 2,7 kg, foi atendido na

clínica veterinária PSK, com histórico de marcha dificultada, relutância em caminhar e presença

de calos nas quatro patas. Ao exame clínico, notou-se mucosas oculares e oral normocoradas,

temperatura retal de 38,2° C. Em membros torácicos e pélvicos, foram visualizadas estruturas

cuneiformes medindo entre 1 e 3 cm aproximadamente, nos quatro membros, além de

hiperqueratose, evidenciando-se sensibilidade dolorosa a palpação. As suspeitas levantadas

foram cornos cutâneos e papilomatose, podendo estar associada a causas virais, incluindo o

vírus da leucemia felina (FeLV).

Foi realizada biópsia excisional da lesão e enviado o material fixado em formol 10% para exame

histopatológico além do teste imunoenzimático ELISA para detectar o vírus da leucemia felina.

Resultados

A avaliação histopatológica confirmou o diagnóstico presuntivo e constatou a hiperqueratose com

formações densas e colunares de queratina. O teste imunoenzimático ELISA para detectar o

vírus da leucemia felina apresentou resultado negativo.

Utilizou-se como tratamento amoxicilina com clavulanato 50 mg, via oral, por 5 dias, cetoprofeno

2,5 mg, via oral, por 3 dias e excisão cirúrgica das protuberâncias dos coxins plantares e

palmares. Houve retorno com 30 dias e notou-se baixa incidência de crescimento. Por sua vez,

com o retorno de 60 dias, foi observado que algumas lesões tiveram remissão completa e outras

apresentaram baixo desenvolvimento.

Discussão

Os cornos cutâneos não são frequentes em gatos, principalmente gatos jovens, semelhante ao

caso observado em um felino jovem por Souza et al (2010). Lesões em superfícies palmares e

plantares, como nesse caso podem causar desconforto ao caminhar e alterar a marcha do gato,

e dessa forma, o tutor pode perceber mais facilmente a presença da lesão (Souza et al, 2010).

13

Cornos cutâneos podem ser associados à infecção pelo vírus da leucemia felina (FELV),

sarcoma felino, papilomas, tricoblastomas, carcinoma de células escamosas, cistos foliculares,

acantomas queratinizantes infundibulares ou queratoses actínicas (Gross et al, 2005). O teste

realizado para detectar o vírus da leucemia felina foi negativo e juntamente a avaliação

histopatológica descartaram tais associações com a lesão, como observado neste caso.

A exérese cirúrgica seguida de avaliação histopatológica para confirmação do diagnóstico é

indicada como tratamento de eleição, pois esse procedimento proporciona margem suficiente de

segurança, devido a possibilidades de recidivas (Mantese,2010; Hnilica,2011).

14

Neste caso, associou-se que onde a remoção do tecido foi mais profunda o crescimento foi baixo

ou ausente. Dessa maneira, acredita-se que a remoção profunda deva contribuir para um baixo

crescimento e melhor resposta ao tratamento, muito embora deva-se levar em consideração a

intensidade das lesões assim como o bem-estar do animal.

Figura 1 e 2. Felino, SRD, 2 anos de idade, apresentando projeções cuneiformes em região distal

de membro medindo aproximadamente 1 a 3 cm.

Figura 3 e 4. Felino, SRD, 2 anos apresentando hiperqueratose nos coxins.

Conclusão

A investigação minuciosa da etiologia da patologia é necessária, pois mesmo que

predominantemente esteja associado a lesões benignas, ainda há a possibilidade de termos

lesões pré-malignas e malignas com tendência evolutiva.

15

Neste caso, não houve associação com nenhuma causa mencionada na literatura, sugerindo

que uma causa congênita seja plausível e favorecendo o prognóstico ao paciente.

Referências bibliográficas

Mantese et al (2010), Corno cutâneo: estudo histopatológico retrospectivo de 222 casos. In:

Anais Brasileiros de Dermatologia, Uberlândia, 85(2): 157-163.

Gross,T.L.et al (2005), Skin Diseases of the Dog and Cat: Clinical and Histopathologic Diagnosis,

Blackwell Science Ltd, 2°edição, 562.

Souza, H.J.M., et al (2010), Múltiplos cornos cutâneos em coxins palmares e plantares de um

gato persa. Ciência Rural, v. 40, n.3, Disponível em: www.scielo.br/pdf/cr/v40n3/a500cr2615.pdf.

Acesso em: 01fevereiro 2017

Hnilica, K. (2011), Small Animal Dermatology: a color atlas and therapeutic guide,

St.Louis,Missouri, Elsevier Saunders, 3°edição, 486-487.

Souza, T.M. (2005) Estudo retrospectivo de 761 tumores cutâneos em cães. Tese de

mestrado. Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Santa Maria, Santa

Maria, 252 p.

16

Uso da quimioterapia metronômica para o carcinoma de células escamosas cutâneo

felino

Use of metronomic chemotherapy for feline cutaneous squamous cell carcinoma

FILGUEIRA, K.D.1, BEZERRA, J.A.B.1, RODRIGUES, R.T.G.A.1, MEDEIROS, V. B.1,

FERNANDES, K.S.B.R.1, XIMENES, P.A.1

1Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) – Mossoró, RN

E-mail: [email protected]

Introdução

O carcinoma de células escamosas (CCE) tegumentar é uma neoplasia com gênese no epitélio

cutâneo, recebendo também as denominações de carcinoma espinocelular, carcinoma

escamocelular ou carcinoma epidermoide1. Corresponde à neoplasia cutânea maligna mais

comum em gatos, representando de 9 – 25% de todos os tumores cutâneos desses animais1. O

tratamento cirúrgico, com excisão completa e margens livres da lesão, parece conduzir a um

melhor prognóstico dentre as opções terapêuticas disponíveis2. Em situações com exibição de

lesões extensas, onde o tratamento cirúrgico torna-se impossibilitado, sugere-se a utilização de

quimioterapia parenteral, eletroquimioterapia, quimioterapia intralesional, radioterapia,

criocirurgia e/ou terapia fotodinâmica2,3. Porém existem situações que essas diversas opções de

tratamento tornam-se impossibilitadas, sejam por questões anatômicas (relacionadas à

localização, dimensões e prolongamento do CCE), técnicas, operacionais e/ou financeiras ou

ainda demonstração de resposta terapêutica insatisfatória, associada à ausência de regressão

tumoral e ocorrência de recidivas4. As falhas na obtenção de cura relacionadas às metodologias

descritas tem provocado o aumento no número de pesquisas em busca de alternativas

terapêuticas5. O câncer é uma doença crônica e por essa razão deve ser tratado como tal. A

partir dessa observação, protocolos contínuos utilizando baixas doses de agentes citotóxicos,

administrados a intervalos curtos e regulares passaram a ser utilizados como uma possibilidade

de terapia, recebendo a denominação de quimioterapia contínua em baixa dose ou quimioterapia

metronômica5.

Objetivo

O presente trabalho objetivou relatar o emprego de fármacos antineoplásicos, de modo

metronômico, para o controle terapêutico do CCE cutâneo em um exemplar da espécie felina.

17

Metodologia

Um felino, fêmea, sem raça definida, 10 anos de idade, castrada, foi encaminhada para avaliação

médica veterinária devido à proliferação na face. Relatava-se o histórico pregresso de CCE

cutâneo, devidamente diagnosticado por histopatologia. Há três anos surgiu a lesão inicial

relacionada com o CCE, em região de espelho e plano nasal. Houve realização de terapia

criocirúrgica e remissão completa do processo neoplásico. Após esse período ocorreu

recorrência da neoplasia tegumentar (porém em área anatômica distinta). Submeteu-se a

paciente ao exame físico. Em seguida foram solicitados hemograma completo, bioquímica

sanguínea (renal e hepática), teste imunoenzimático para retroviroses, além de radiografias de

crânio e tórax. A topografia e extensão da neoformação não possibilitaram a execução de excisão

cirúrgica ou sessões de criocirurgia. Assim, optou-se por estabelecer quimioterapia intralesional,

com uso da carboplatina (1,5 mg do fármaco para cada cm3 da neoplasia). As aplicações eram

realizadas em intervalos de sete dias, totalizando quatro sessões. Para a realização de cada

procedimento, os animais eram devidamente submetidos a protocolos anestésicos. A

manipulação e administração do antineoplásico seguiram todas as normas de segurança

previamente reconhecidas. Ao final das quatro sessões, foi executada novamente avaliação

histopatológica da proliferação cutânea. Optou-se em submeter o animal à quimioterapia

metronômica (via oral), constituída por clorambucil (4 mg/m2, a cada 24 horas) e piroxicam (0,3

mg/kg, a cada 48 horas). Foram recomendados todos os métodos para o correto manuseio do

clorambucil. Realizou-se o seguimento mensal da paciente, composto por exame clínico,

hemograma e bioquímica sérica (renal e hepática). Transcorridos alguns meses necessitou-se

em proceder à eutanásia do animal, colhendo-se em seguida material cutâneo para análise

histopatológica.

Resultados

Clinicamente, ocorria normalidade dos parâmetros vitais. Contudo, havia a presença de um

nódulo cutâneo (1,9 x 1,9 x 0,6 cm), em região maxilar esquerda. O mesmo exibia consistência

firme, abrangência epidermodermal, forma lisa, base de inserção séssil, superfície

ulcerada/necrosada e adesão a planos profundos (Figura 1a). Não existiam neoformações

aparentes em outas zonas corpóreas. A hematologia, bioquímica sérica, pesquisa viral e os

exames de imagem não revelaram alterações. Com a finalização das infiltrações do

quimioterápico intralesional não ocorreu regressão macroscópica da lesão. A histopatologia

revelou a persistência de padrão morfológico característico de CCE. O felino demonstrou uma

adequada tolerância a próxima alternativa terapêutica (quimioterapia metronômica), não exibindo

efeitos adversos durante o seguimento clinico e laboratorial. Não houve a ocorrência de

18

regressão neoplásica, mas constatou-se estabilização nas dimensões da neoformação, com

inexistência de disseminação local. Percebeu-se manutenção de um adequado estado de

sanidade, com qualidade de vida e bem estar animal. Todavia, após quatro meses do inicio do

protocolo quimioterápico de modo metronômico, detectou-se necrose completa da neoplasia,

resultando em fragmentos pendulares de pele, friáveis, com crostas hemorrágicas e

comprometimento tecidual circunjacente (Figura 1b). Nesse momento a gata exibia-se caquética,

apática e com anorexia e vômitos. Em virtude do aspecto geral da paciente, justificou-se a

eutanásia (mediante solicitação e autorização da tutora). Na histopatologia cutânea, manteve-se

o diagnóstico de CCE.

Figura 1. a: apresentação macroscópica no momento da avaliação da

paciente, imediatamente antes do inicio da quimioterapia metronômica. b:

características da lesão após quatro meses do principio do protocolo

metronômico.

Discussão

A quimioterapia metronômica visa à redução dos efeitos colaterais causados em terapias

convencionais e a estabilização da velocidade de crescimento de tumores progressivos,

proporcionando o controle de neoplasias recidivantes, irresecáveis ou metastáticas5,6. Acredita-

se que esse tipo de tratamento atua em células endoteliais dos neovasos formados no tecido

neoplásico, inibindo a angiogênese tumoral6. Nesse sentido, para a paciente em questão,

legitimou-se o emprego da quimioterapia metronômica, em virtude da ausência de resposta

satisfatória das terapias pregressas. Embora não tenha ocorrido a deleção do tecido neoplásico,

tal modalidade terapêutica foi fundamental na estabilização temporária do CEE e no

prolongamento do período de sobrevida da fêmea felina descrita. O clorambucil, um agente

antineoplásico alquilante, tem revelado uma ação promissora nos protocolos de quimioterapia

19

metronômica6. O envolvimento da cicloxigenase 2 (COX-2) apresenta um importante papel na

oncogênese, tendo em vista que atua no desenvolvimento tumoral e angiogênese. Os anti-

inflamatórios não esteroidais (AINES), como o firocoxibe, piroxicam e outros, inibem as

cicloxigenases por alteração enzimática ou competição no sítio de atuação7. Nos felinos, o uso

isolado dos AINES não é satisfatório na terapia do CCE tegumentar, porém o emprego adjuvante

pode ser eficaz na tentativa de reduzir a progressão da neoplasia e aumentar o tempo de

sobrevida em animais que não obtiveram resposta favorável em tratamentos anteriores7. As

bibliografias supracitadas encorajaram a escolha do clorambucil e piroxicam, para uso de forma

metronômica, na gata em discussão, na tentativa de conferir qualidade de vida ao animal

(embora por um tempo limitado) e minimizar a evolução da doença oncológica, evidentemente

portadora de quimiorresistência adquirida.

Conclusão

A quimioterapia metronômica desponta como uma possibilidade de opção terapêutica para o

CCE cutâneo felino refratário a tratamentos anteriores.

Referências Bibliográficas

1. Daleck CR, De Nardi AB (2016). Oncologia em Cães e Gatos. Rio de Janeiro: Ed. Roca

Ltda., 746p.

2. Cunha SCS et al. (2013). Tratamento de um felino com carcinoma de células escamosas

avançado por meio de quimioterapia intralesional e radioterapia. Clínica Veterinária, 18:

54-60.

3. Ferreira I et al. (2006). Terapêutica no carcinoma de células escamosas cutâneo em gatos.

Ciência Rural, 36: 1207-1033.

4. Carneiro RB et al. (2012). Quimioterapia intralesional com carboplatina no tratamento do

carcinoma espinocelular em uma gata – relato de caso. Clínica Veterinária, 17: 64-70.

5. Rodigheri SM, De Nardi AB (2013). Quimioterapia metronômica em cães e gatos – revisão

de literatura. Clínica Veterinária, 18: 40-48.

6. Ferreira HBD (2012). Quimioterapia Metronômica. Dissertação de Mestrado.

Departamento de Ciências Veterinárias, Universidade de Trás-os-Montes. Vila Real, 65p.

7. Ramos RS, Volpato R, Lopes MD (2010). A contribuição da terapia com coxibes na

oncologia de pequenos animais. Veterinária e Zootecnia, 17: 461-468.

20

Achados clínicos e histopatológicos relacionados à neoplasia laringeana em paciente

felino geriátrico

Clinical and histopathological findings related to laryngeal neoplasia in a feline geriatric

patient

FILGUEIRA, K.D.1, BEZERRA, J.A.B.1, RODRIGUES, R.T.G.A.1, FERREIRA, M.B.1, XIMENES,

P.A.1

1Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) – Mossoró, RN

E-mail: [email protected]

Introdução

Atualmente, na clínica de felinos, tem-se verificado um aumento da longevidade dos pacientes,

podendo este fato ser explicado por melhorias na qualidade de vida dos gatos1. Assim, o

acompanhamento do paciente geriátrico felino (o qual se enquadra na faixa etária acima de

quinze anos) deveria ser um ato de medicina preventiva para manter um correto estado de saúde,

com tratamento preventivo de enfermidades ou a obtenção de diagnósticos precoces2.

Inevitavelmente, o aumento da expectativa de vida está associado ao aparecimento de doenças

crônicas, como os processos neoplásicos2. Dentre esses, os mais comuns na espécie felina,

equivalem aqueles com origem cutânea, hematopoiética gastrintestinal e mamária3. Em outras

regiões, como a laringe, a evidência de neoplasias é rara4. Porém quando ocorrem,

habitualmente são de caráter maligno, tendo o linfoma, adenocarcinoma e carcinoma de células

escamosas como os tipos histológicos mais usuais5. Os sinais clínicos são insidiosos e por vezes

mimetizam distúrbios de outras naturezas que também acometem o trato respiratório superior

felino4. Em geral, os gatos com tumores laringeanos, ao chegarem ao atendimento clínico ou

quando são diagnosticados, estão em estágio avançado da neoplasia, tendo um prognóstico

desfavorável4.

Objetivo

Em virtude de corresponder a uma patologia relativamente insólita na espécie felina e que

acarreta a sinais clínicos que dificultam uma detecção precisa e prematura, o presente trabalho

objetivou relatar um caso de neoplasia em laringe, com ênfase a sintomatologia e os aspectos

histopatológicos, no sentido de alertar aos profissionais que militam na área de medicina interna

felina para a possibilidade da ocorrência de tal formação neoplásica.

21

Metodologia

Um felino, fêmea, sem raça definida, 17 anos de idade, castrada, foi encaminhada para avaliação

médica veterinária devido a alterações respiratórias. Relatava-se tempo de evolução de uma

semana. Ocorreu tratamento pregresso, com corticoide, mas sem resultados satisfatórios.

Submeteu-se a paciente ao exame físico. Em seguida foram solicitados hemograma completo,

bioquímica sanguínea (renal e hepática), teste imunoenzimático para retroviroses, além de

radiografias cranianas, cervicais e torácicas. Necessitou-se executar uma minuciosa inspeção

da laringe, adotando-se a técnica de laringoscopia, com adequada contenção química do animal.

Após o procedimento, efetuou-se eutanásia na paciente. Logo após, foram obtidas amostras da

região laringeana, sendo as mesmas fixadas em solução de formol a 10% e enviadas para

análise histopatológica.

Resultados

Clinicamente, ocorria normalidade dos parâmetros vitais. Contudo, havia a presença notória de

tosse, disfonia, disfagia, dispneia inspiratória e estridores respiratórios. A inspeção das narinas

e cavidade oral não detectou alterações, assim como a auscultação pulmonar (onde inexistiam

ruídos respiratórios patológicos). A hematologia, bioquímica sérica, pesquisa viral e os exames

de imagem não revelaram anormalidades. Na observação da laringe, constatou-se um nódulo

ocasionando obliteração, quase que completamente, do lúmen da região (Figura 1). A

consistência era macia, forma irregular e superfície íntegra. O mesmo apresentava-se com

aderência a estruturas adjacentes. Em virtude de tal fato, justificou-se a eutanásia do animal,

mediante a prévia informação da situação ao tutor (e com a devida autorização do mesmo). Vale

salientar que não se encontraram proliferações aparentes em outras áreas anatômicas

averiguadas na avaliação física. Na histopatologia do tecido laringeano observou-se proliferação

neoplásica cujas células revelavam-se poliédricas e morfologicamente semelhantes àquelas da

camada espinhosa da epiderme. A propagação era de maneira irregular e desorganizada

formando trabéculas e blocos celulares compactos interligados por entre fibras de colágeno.

Observava-se disqueratose multifocal e formação de pérolas córneas pelas células neoplásicas.

As mesmas exibiam anisocariose, anisocitose, atipia nuclear intensa e nucléolos evidentes. O

quadro morfológico foi compatível com carcinoma de células escamosas, moderadamente

diferenciado.

22

Figura 1: Neoformação obliterando

praticamente por completo o lúmen

laringeano (seta), em gata doméstica.

Discussão

As neoplasias laringeanas primárias em gatos são infrequentes e parece haver uma maior

tendência para apresentação em indivíduos do sexo masculino, com idade entre 12 a 14 anos5,6.

Os dados epidemiológicos relacionados ao gênero e idade do animal em questão divergiram da

literatura consultada. Os sinais clínicos demonstrados em geral correspondem à severa e

persistente dispneia (porém por vezes aguda), intolerância progressiva ao exercício, disfonia,

estridores respiratórios, disfagia, tosse, halitose, hemoptise, hemorragia oral e/ou ptialismo4. A

manifestação clínica exibida pela gata em discussão revelou similaridade parcial com o relato de

outros autores. Talvez a não detecção de toda a sintomatologia usualmente envolvida com a

neoplasia de laringe, no individuo descrito, poderia ser relacionada com um provável tempo de

evolução agudo da lesão. No tecido laringeano de gatos, as massas neoplásicas são incomuns,

mas quando surguem, o linfoma é o padrão microscópico mais verificado (33,3%), seguido do

carcinoma de células escamosas (29,6%), sendo ainda registradas outras formas histológicas6.

Tal citação conferiu um caráter insólito para a neoplasia de laringe, e respectivo tipo

histopatológico, para a paciente em evidência. O carcinoma de células escamosas na laringe

dos gatos caracteriza-se por uma constrição anular do lúmen, com dimensões que variam de 2

mm a 1 cm e rápida invasão para os tecidos profundos5. Em geral são inoperáveis7. Tal

apresentação foi compatível com o caso relatado, tanto em relação aos aspectos macroscópicos

quanto para a impossibilidade de terapia convencional. A laringoscopia é um procedimento viável

para o diagnóstico das afecções do trato respiratório anterior, permitindo a visualização de

maneira minimamente invasiva de proliferações na região da laringe e adjacências7. Contudo, o

diagnóstico definitivo deverá ser feito pela histopatologia e não apenas pela aparência

macroscópica da lesão7. Torna-se necessário distinguir com moléstias traumáticas, inflamatórias

23

(asma) ou infecciosas (relacionadas ao herpervírus tipo 1 ou bactérias), abscessos, hiperplasia

linfoide, paralisia de laringe, cistos, pólipos e neoplasias benignas (adenoma), uma vez que tais

processos apresentam sinais clínicos similares com as doenças neoplásicas malignas da

laringe3,4,5,6. Na fêmea felina em questão, a laringoscopia permitiu uma triagem diagnóstica, mas

a histopatologia foi essencial para o diagnóstico definitivo do carcinoma de células escamosas

em laringe e a exclusão das outras possibilidades diagnósticas. O prognóstico de gatos com

neoplasia laríngea é ruim, com tempo de vida de apenas cinco dias após a detecção6. Embora

alguns indivíduos possam apresentar um intervalo de sobrevida mais longo, acabam sendo

encaminhados para eutanásia em decorrência de complicaçoes da oncopatia6. Essas

informações corroboraram com a gata analisada. Em seres humanos, a origem do carcinoma de

células escamosas laríngeo relaciona-se com o tabagismo e o consumo de bebidas alcólicas8.

Entranto em gatos são necessárias pesquisas adicionais para demonstrar os fatores de risco

associados à carcinogênese em laringe6. Para o animal explicito não foi possível determinar a

causa que conduziu ao surguimento da neoplasia primária de laringe.

Conclusão

Em felinos geriátricos, com sintomatologia variada e relacionada ao trato respiratório superior,

deve-se considerar a presença de neoplasias em laringe, sendo o exame histopatológico

fundamental para a obtenção do diagnóstico definitivo.

Referências Bibliográficas

1. Filgueira KD, Araújo NKS (2006). Adenocarcinoma mamário metastático em felino

doméstico: relato de um caso. Ciência Animal, 16: 95-99.

2. Sala SC (2012). Geriatria Canina e Felina. São Paulo: Ed. Medvet Ltda., 296p.

3. Norsworthy GD et al. (2009). O Paciente Felino. São Paulo: Ed. Roca Ltda., 801p.

4. Corgozinho KB et al. (2008). Dispneia provocada por um tumor laringeano em gatos no

período de 1997 a 2007. Acta Scientiae Veterinariae, 36: 289-292.

5. Ogilvie GK, Moore AS (2001). Feline Oncology. Trenton: Ed. Veterinary Learning Systems

Ltda., 501p.

6. Milas MJJ et al. (2005). Laryngeal, laryngotracheal, and tracheal masses in cats: 27 cases

(1998-2003). Journal of the American Animal Hospital Association, 41: 310-316.

7. Jericó MM, Andrade Neto JP, Kogika MM (2015). Tratado de Medicina Interna de Cães e

Gatos. Rio de Janeiro: Ed. Roca Ltda., 2394p.

8. Withrow SJ, Vail DM, Page RL (2013). Small Animal Clinical Oncology. St. Louis: Ed.

Elsevier Ltda., 750p.

24

ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS EM GATOS INFECTADOS COM O VÍRUS DA

LEUCEMIA VIRAL FELINA

HEMATOLOGICAL ABNORMALITIES IN CATS INFECTED WITH THE FELINE VIRAL

LEUKEMIA VIRUS

MAFFEZZOLLI, G.¹, MONTANO, P.Y.², SILVA, B.R.³, LOCATELLI-DITTRICH, R.4

1 – Residente do Programa Multiprofissional de Residência em Medicina Veterinária –

Universidade Federal do Paraná (UFPR) – [email protected]

2 – Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias - UFPR

3 – Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias - UFPR

4 – Professora do Programa de Pós-Graduação de Medicina Veterinária –- UFPR

RESUMO

A leucemia viral felina (FeLV) tem distribuição mundial e pode causar diferentes tipos de

alterações no organismo, sejam elas neoplásicas (linfoma, fibrossarcoma e doença

mieloproliferativa) ou não neoplásicas (anemia e imunossupressão). A transmissão da FeLV

ocorre principalmente pela saliva contaminada. Na cidade de Curitiba, PR, foram coletadas

amostras de sangue de 143 gatos domésticos para realização de hemograma, exames

sorológicos e moleculares para detecção de hemoparasitas e retrovírus. Foram positivos para

pelo menos um hemoparasita 31 gatos, representando 21,7%. O vírus da FeLV foi encontrado

em 41 animais. Entre os gatos positivos sem coinfecção, 55,5% tinham anemia. As alterações

mais prevalentes em gatos com o vírus da FeLV foram anemia, anisocitose, neutrofilia e

linfopenia e o Candidatus Mycoplasma haemominutum foi o hemoparasita mais encontrado.

Palavras-chave: FeLV; hemograma; anemia; hemoparasitas; gato.

ABSTRACT

Feline viral leukemia (FeLV) has a worldwide distribution and can cause different types of

abnormalities in the body, whether they are neoplastic (lymphoma, fibrosarcoma and

myeloproliferative disease) or non-neoplastic (anemia and immunosuppression). The

transmission of FeLV occurs mainly by contaminated saliva. In the city of Curitiba, PR, blood

samples were collected from 143 domestic cats for blood counts, serological and molecular tests

25

for hemoparasites and retroviruses. At least one hemoparasite was positive for 31 cats,

representing 21.7%. FeLV virus was found in 41 animals. Among the positive cats without

coinfection, 55.5% had anemia. The most prevalent changes in cats with the FeLV virus were

anemia, anisocytosis, neutrophilia and lymphopenia, and Candidatus Mycoplasma

haemominutum was the most commonly found hemoparasite.

Keywords: FeLV; CBC; anemia; haemoparasites; cat.

INTRODUÇÃO

A leucemia viral felina (FeLV) é causada por um retrovírus que induz alta taxa de

mortalidade em gatos domésticos (SYKES & HARTMANN, 2014). É transmitida de forma

horizontal principalmente pela saliva e, de forma vertical, in utero ou no momento em que a mãe

lambe seu filhote (HARTMANN, 2006).

A doença pode manifestar-se de diversas formas, sendo algumas de caráter neoplásico

(linfoma, fibrossarcoma e doença mieloproliferativa) e outras não neoplásicas, como anemia e

doenças relacionadas ao sistema imune (MURPHY, 2009).

Gatos infectados pelo vírus da FeLV apresentam várias alterações inespecíficas nos

exames laboratoriais (LAPPIN, 2010). Usualmente, os animais doentes apresentam hemácias

nucleadas observadas no esfregaço sanguíneo, mesmo em casos em que a anemia é

classificada como não regenerativa pela contagem de reticulócitos (SOUZA & TEIXEIRA, 2003).

Esse tipo de anemia pode ser encontrada de forma isolada ou com linfopenia, neutropenia e

trombocitopenia (LAPPIN, 2010).

OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho foi avaliar a prevalência do vírus da FeLV e de hemoparasitas em

gatos domésticos da cidade de Curitiba e região metropolitana, e concomitantemente

estabelecer as principais alterações hematológicas causadas por este vírus.

METODOLOGIA

Entre outubro de 2012 e novembro de 2013, na cidade de Curitiba, Paraná, foram

coletadas amostras de sangue de 143 gatos domésticos de abrigos e da rotina clínica de

26

atendimentos particulares. O protocolo de número 047/2012 referente a este estudo foi aprovado

pela Comissão de Ética no Uso de Animais do Setor de Ciências Agrárias, em Curitiba, Paraná,

Brasil.

Após exame clínico, foram coletados 3mL de sangue e acondicionados em tubos com e

sem anticoagulante (EDTA). O hemograma foi realizado no Laboratório de Patologia Clínica

Veterinária da Universidade Federal do Paraná utilizando o contador hematológico Mindray®,

modelo BC 2800 VET; o hematócrito foi realizado pela centrifugação de capilar de

microhematócrito e a proteína plasmática total por refratometria. No esfregaço sanguíneo corado

(corante do tipo Romanowsky) foi realizada a contagem diferencial de leucócitos em microscopia

óptica.

Uma alíquota do plasma foi encaminhada sob refrigeração para o laboratório da IDEXX

Laboratories, Inc., em Sacramento/CA, Estados Unidos, para realização dos exames sorológicos

e moleculares. O PCR em tempo real foi realizado para verificar a existência de infecção por

hemoparasitas (Anaplasma spp., Bartonella spp., Cytauxzoon felis, Ehrlichia spp., Mycoplasmas

hemotrópicos felinos (Mycoplasma haemofelis, Candidatus Mycoplasma haemominutum e

Candidatus Mycoplasma turicensis) e por retrovírus (FIV e FeLV). O teste sorológico de ELISA

(Enzyme-Linked Immunoabsorbent Assay) foi realizado para detecção de anticorpos contra FIV

e antígenos da FeLV.

Gatos com hematócrito menor ou igual a 24% foram considerados anêmicos e, para

classificar o tipo de anemia, foi realizada a contagem de reticulócitos. Para isso, volumes iguais

de sangue e de corante azul de cresil brilhante foram incubados por 15 minutos em banho maria

a 37ºC, seguido da confecção de esfregaço sanguíneo. A anemia foi classificada como

regenerativa quando a contagem de reticulócitos era superior a 60.000 células/µL.

RESULTADOS

Dos 143 animais, 41 (28,7%) foram positivos para o vírus da FeLV, sendo que, destes,

quatro (9,7%) estavam coinfectados com o vírus da FIV e 11 (26,8%) apresentaram coinfecção

por pelo menos um hemoparasita e 27 (65,8%) não apresentaram nenhuma coinfecção. Os

hemoparasitas foram encontrados em 31 gatos (21,7%), sendo eles: Candidatus Mycoplasma

haemominutum (20 - 14%), Candidatus Mycoplasma turicensis (oito – 5,6%), Mycoplasma

haemofelis (sete – 4,9%), Bartonella spp. (três – 2,1%) e Ehrlichia spp. (dois – 1,4%).

Os animais foram divididos em três grupos: grupo 1 sendo os gatos positivos somente para

FeLV (27), grupo 2 sendo os gatos com algum hemoparasita e/ou coinfecção (15) e o grupo 3

sendo os animais negativos para todos os testes (101). Anemia foi observada em 37 dos 143

27

animais, sendo 23 destes gatos anêmicos positivos para FeLV (56% entre os positivos para o

vírus). Do grupo 1, 15 gatos (55,5%) foram considerados anêmicos pelo hematócrito, sendo que

seis (40%) apresentaram anemia do tipo regenerativa e nove (60%) tiveram a anemia

classificada como arregenerativa. Do grupo 2, oito (53,3%) estavam anêmicos. Destes, somente

foi possível a realização da contagem de reticulócitos em quatro lâminas, sendo estas

classificadas como anemia não regenerativa. O grupo 3 apresentou 14 animais anêmicos

(13,8%), sendo dois com classificação de anemia regenerativas (14,3%) e 12 (85,7%) como

arregenerativas.

Na leitura do esfregaço sanguíneo dos animais do grupo 1, foram encontradas as seguintes

alterações: anisocitose (42,3%), neutrófilos tóxicos (30,7%), Corpúsculo de Howell-Jolly

(26,9,%), policromatófilos (15,4%), rubrócitos e/ou metarrubrócitos (19,2%), hipocromia (7,7%) e

células blásticas (3,8%). Na série branca, as alterações foram: neutrofilia (37%), linfopenia

(37%), leucocitose (33,3%), desvio nuclear dos neutrófilos à esquerda (29,6%), neutropenia

(16,2%), monocitose (16,2%), leucopenia (11,1%), e linfocitose (3,7%).

Os animais do grupo 2 tiveram as seguintes alterações laboratoriais: anisocitose (40%),

rubrócitos e/ou metarrubrócitos (26,6%), neutrófilos tóxicos (26,6%), policromatófilos (13,3%),

corpúsculos de Howell-Jolly (6,6%) e hipocromia (6,6%). Na série branca: neutrofilia (16,6%),

neutropenia (20%), linfopenia (20%), leucopenia (20%), leucocitose (20%), desvio nuclear dos

neutrófilos à esquerda (13,3%) e monocitose (6,6%).

O grupo 3 apresentou: anisocitose (24,7%), neutrófilos tóxicos (8,9%), policromatófilos

(4,9%), hipocromia (3,9%), metarrubrócitos e/ou rubrócitos (2,9%) e corpúsculos de Howell-Jolly

(2,9%). As alterações leucocitárias foram: linfopenia (25,7%), neutrofilia (15,8%), leucocitose

(15,8%), leucopenia (9,9%), desvio nuclear dos neutrófilos à esquerda (7,9%), linfocitose (6,9%),

neutropenia (6,9%) e monocitose (2,9%).

DISCUSSÃO

A frequência do vírus da leucemia felina no Brasil e no mundo varia muito de acordo com

cada região. A prevalência da FeLV encontrada em Curitiba foi de 28,8%. Em estudos realizados

no Rio de Janeiro (MACIEIRA et al., 2008), no Distrito Federal (AQUINO, 2012), e em Belo

Horizonte (COELHO et al., 2011), as prevalências encontradas foram, respectivamente, 26,1%,

19,85% e 47,5%. As diferenças encontradas entre regiões podem ser consequência de diversos

fatores, como as diferenças de densidade populacional na qual os gatos estudados vivem, sexo

e diferença de idade entre os grupos (SPADA, 2012). As variações encontradas também podem

28

ser consequência da heterogeneidade dos grupos de animais estudados (domésticos ou de rua),

influenciando na probabilidade de infecção, e nas diferentes técnicas de diagnóstico empregadas

(FIGUEIREDO & JUNIOR, 2011).

De acordo com WARDINI (2009), a anemia é a sequela mais comum encontrada na

infecção pelo vírus da FeLV, sendo causada principalmente por hemólise, displasia medular ou

aplasia eritróide. Neste trabalho, 56% dos gatos infectados foram considerados anêmicos. Esta

porcentagem de gatos anêmicos foi maior do que a encontrada no Distrito Federal (AQUINO,

2012) e na Alemanha (GLEICH & HARTMANN, 2009) e menor que a encontrada no Rio de

Janeiro (WARDINI, 2009) e na Itália (SPADA, 2012). Segundo HARTMANN (2011), a maioria

das anemias associadas à Leucemia Viral Felina é do tipo arregenerativa. Neste trabalho, 60%

dos gatos anêmicos infectados tiveram anemia classificada como arregenerativa. No Rio de

Janeiro, WARDINI (2009) encontrou anemia arregenerativa em 30% dos gatos infectados.

Segundo GLEICH & HARTMANN (2009), a linfopenia é uma anormalidade hematológica

frequentemente observada em gatos infectados por retrovírus. Esta alteração foi encontrada em

37% dos gatos do grupo 1 e em 20% dos animais do grupo 2. No Rio de Janeiro, WARDINI

(2009) observou linfopenia em 61,1% dos gatos com FeLV, enquanto que no Distrito Federal,

essa alteração esteve presente em 24,4% dos animais positivos (AQUINO, 2012).

CONCLUSÃO

De acordo com os resultados obtidos, as retroviroses e hemoparasitoses analisadas são

doenças de prevalência considerável entre os gatos domésticos na cidade de Curitiba e região

metropolitana, sendo necessário atentar para os sinais clínicos, histórico e exames laboratoriais

para o correto diagnóstico e controle destas enfermidades. As alterações hematológicas mais

relevantes observadas em gatos com FeLV foram anemia arregenerativa, anisocitose, neutrofilia

e linfopenia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AQUINO, L. C. Ocorrência do vírus da leucemia felina no DF e suas alterações

laboratoriais. 2012. 83f. Dissertação (Mestrado em Saúde Animal) – Programa de Pós-

graduação em Saúde Animal, Universidade de Brasília.

COELHO, F.M. et al. Ocorrência do vírus da leucemia felina em Felis cattus em Belo Horizonte.

Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.63, n.3, p.778-783, 2011. Disponível em:

29

<http://www.scielo.br/pdf/abmvz/v63n3/v63n3a37.pdf>. Acesso em: 16 out. 2014. DOI:

10.1590/S0102-09352011000300037.

GLEICH, S.; HARTMANN, K. Hematology and Serum Biochemistry of Feline Immunodeficiency

Virus-Infected and Feline Leukemia Virus-Infected Cats. J Vet Intern Med, v.23, p.552–558,

2009. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19645840>. Acesso em: 16 out.

2014. DOI: 0.1111/j.1939-1676.2009.0303.x.

HARTMANN, K. Clinical aspects of feline immunodeficiency and feline leukemia virus Infection.

Veterinary Imunnology and Immunopathology, v.143, p.190-201, 2011.Disponível em:

<http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0165242711002005>. Acesso em: 16 out.

2014. DOI: 10.1016/j.vetimm.2011.06.003.

HARTMANN, K. Feline Leukemia Virus Infection. In: GREENE, C.E. Infectious diseases of the

dog and cat. St. Louis : Elsevier, 2006. Cap.13, p.105-131.

LAPPIN, M.R. Doenças Virais Polissistêmicas. In: NELSON, R.W., COUTO, C.G. Medicina

interna de pequenos animais. Rio de Janeiro : Elsevier, 2010. Cap.97, p.1345-1350.

MACIEIRA, D. B. et al. Prevalence and risk factors for hemoplasmas in domestic cat naturally

infected with feline immunodeficiency virus and/or feline leukemia virus in Rio de Janeiro – Brazil.

Journal of Feline Medicine and Surgery, v.10, p.120-129, 2008. Disponível em:

<http://jfm.sagepub.com/content/10/2/120>. Acesso em: 16 out. 2014. DOI:

10.1016/j.jfms.2007.08.002.

MURPHY, F.A. et al. Veterinary Virology. San Diego : Academic Press, 2009. 629p.

SOUZA, H.J.M., TEIXEIRA, C.H.R. Leucemia Viral Felina. In: SOUZA, H.J.M. Coletâneas em

medicina e cirurgia felina. Rio de Janeiro : L. F. Livros, 2003. Cap.22, p.251-271.

SPADA, E. et al. Seroprevalence of feline immunodeficiency virus, feline leukaemia virus and

Toxoplasma gondii in stray cat colonies in northern Italy and correlation with clinical and

laboratory data. Journal of Feline Medicine and Surgery, v.14, p.369-377, 2012. Disponível

em: <http://jfm.sagepub.com/content/14/6/369>. Acesso em: 16 out. 2014. DOI:

10.1177/1098612X12437352.

SYKES, J.E.; HARTMANN, K. Feline Leukemia Virus Infection. In: SYKES, J.E. Canine and

feline infectious diseases. St. Louis : Elsevier, 2014. Cap.22, p.224-235.

WARDINI, A.B. Avaliação da resposta de neutrófilos em gatos naturalmente infectados

pelo vírus da leucemia felina (FeLV) e caracterização de redes extracelulares de

neutrófilos (NETs) em felinos. 2009. 48f. Dissertação (Mestrado em Microbiologia Veterinária).

30

Curso de Pós-graduação em Microbiologia Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de

Janeiro.

31

TRATAMENTO DE PÊNFIGO FOLIÁCEO E DIABETES MELITO SECUNDÁRIA EM UM

GATO: RELATO DE CASO

TREATMENT OF PENPHIGUS FOLIACEUS AND SECONDARY DIABETES MELLITUS IN A

CAT: CASE REPORT

MONTANO, P.Y.1, ZIMMERMANN, I.B.2, FERREIRA, R.F.², ELER, R.M.P.²

¹ Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade

Federal do Paraná (UFPR) [email protected]

² Graduanda em Medicina Veterinária. Universidade Federal do Paraná (UFPR)

RESUMO

O pênfigo foliáceo (PF) é uma dermatopatia imunomediada vesículo-bolhosa considerada de

ocorrência rara na espécie felina. A patogênese da doença é caracterizada pela produção de

anticorpos contra os desmossomos, que são as estruturas responsáveis pela manutenção da

adesão intercelular. As lesões possuem prurido variável, sendo caracterizadas como pústulas,

que resultam em formação de crosta excessiva, alopecia, placas, colarinho epidérmico e

erosões. A principal forma de tratamento é por meio do uso de doses imunossupressivas de

glicocorticóides. A diabetes melito é caracterizada por quadro de hiperglicemia, poliúria,

polidipsia e polifagia, e pode ocorrer secundariamente ao tratamento com glicocorticoides. O

presente relato tem como objetivo descrever o relato de um felino diagnosticado com pênfigo

foliáceo, que desenvolveu diabetes melito ao decorrer do tratamento com glicocorticóides. O

sucesso do tratamento foi variável ao longo dos meses, havendo melhoria representativa das

feridas e remissão do quadro de diabetes melito, com o tratamento com prednisolona e controle

da diabetes melito com insulinoterapia e ração terapêutica própria para gatos diabéticos. O

presente estudo ressalta a dificuldade da conciliação da corticoterapia para tratamento do PF e

controle da diabetes iatrogênica.

Palavras-chave: felino; glicocorticóide; dermatopatia imunomediada, diabetes secundária

ABSTRACT

Pemphigus foliaceus (PF) is an immune-mediated vesicular-bullous dermatopathy with rare

occurrence in feline species. The pathogenesis of the disease is characterized by the production

32

of antibodies against the dismantled, which are like structures maintaining intercellular adhesion.

The lesions have variable pruritus, characterized as pustules, resulting in excessive formation,

alopecia, plaques, epidermal collar and erosions. The main form of treatment is through the use

of immunosuppressive doses of glucocorticoids. Diabetes mellitus is characterized by

hyperglycemia, polyuria, polydipsia and polyphagia, and may occur secondary to glucocorticoid

treatments. The present report aims to describe the report of a feline diagnosed with pemphigus

foliaceus, who developed diabetes mellitus for the treatment of glucocorticoid treatment. The

success of the treatment has been variable over the months, with a representative improvement

of the wounds and remission of the diabetes mellitus, with treatment with prednisolone and control

of diabetes mellitus with insulin therapy and therapeutic food for diabetic cats. The present study

highlights the difficulty of the conciliation of corticotherapy for the treatment of PF and the control

of iatrogenic diabetes.

Keywords: feline; Glucocorticoid; Immune-mediated dermatopathy, secondary diabetes

INTRODUÇÃO

O pênfigo foliáceo (PF) é a dermatopatia imunomediada mais comum na espécie felina,

mas ainda é considerada de ocorrência rara (GROSS et al., 2009). O PF é uma doença

autoimune que resulta na formação de auto-anticorpos contra moléculas de adesão nos

ceratinócitos, que resulta na perda da coesão da epiderme. As lesões de pele primárias

associadas ao pênfigo são pústulas, que resultam em uma formação de crosta excessiva. Outras

lesões de pele incluem alopecia, placas, colarinho epidérmico e erosões. As lesões têm prurido

variável, e podem aumentar e diminuir intermitentemente. Os locais mais comuns para lesões de

PF incluem a região periocular, nariz, ouvidos, focinho e coxins plantares. Locais incomuns de

lesões de PF são boca, unhas, patas e mamas. Sinais sistêmicos associados ao PF incluem

linfoadenopatia, febre, anorexia e depressão (REES, 2010).

A diabetes melito é caracterizada por quadro de hiperglicemia, poliúria, polidipsia e

polifagia (NELSON & COUTO, 2015). A diabetes tipo I é a forma observada em pouco mais de

50% dos gatos diabéticos. A diferenciação entre os tipos I e II pode ser difícil, sendo baseada na

gravidade dos sinais clínicos, anormalidades bioquímicas e resposta ao tratamento (SHAW &

IHLE, 1999). A diabetes melito secundária também pode ocorrer em felinos, tendo a etiologia

relacionada ao tratamento prolongado com glicocorticóides (NICHOLS, 1992).

33

DESCRIÇÃO DO CASO

Uma gata, da raça Persa Chinchila, 3 anos de idade e 2,32 kg de peso corporal, foi

atendida com queixa de prurido intenso, perda de peso, apatia e eventuais episódios de febre.

Ao exame clínico foram observadas lesões crostosas circulares e algumas lesões purulentas em

abdômen, dorso e cabeça. A paciente já havia sido previamente diagnosticada 4 meses antes

com pênfigo foliáceo, por meio de biópsia de pele, cuja avaliação histopatológica apresentou

acantólise e desprendimento da camada córnea. Já havia sido instituído tratamento com

prednisolona e clorambucil por outro veterinário, havendo melhora moderada, porém tentou-se

passar para uso de metilprednisolona para facilitar o tratamento e a paciente voltou a piorar. Com

um segundo médico veterinário, foi instituída terapia única com prednisolona 2 mg/kg VO BID,

não havendo melhora clínica do paciente e surgimento de novas lesões. Sendo assim, a dose

foi aumentada até chegar a 4 mg/kg BID, e só então foi possível obter melhora no quadro do PF.

Após um mês, houve reconsulta, com queixa de poliúria, polidipsia, polifagia e prurido, sendo

realizado o diagnóstico de diabetes pela análise da glicemia, frutosamina e urinálise. O

tratamento para a diabetes foi instituído com alteração da dieta para ração específica, e

administração de insulina glargina 100 UI/mL. O tratamento para pênfigo foi mantido com

prednisolona 4 mg/kg SID, com eficácia no controle de ambas doenças.

DISCUSSÃO

As lesões de PF incluem presença de crostas, descamação, alopecia e erosões nos locais

acometidos, com lesões geralmente simétricas, bilaterais e com prurido variável (PETERSON &

MCKAY, 2010). Os locais mais comuns para estas lesões incluem região periocular, nariz,

ouvidos, focinho e coxins plantares (REES, 2010). Tais achados são compatíveis com as lesões

encontradas no paciente deste estudo.

A principal forma de tratamento do pênfigo foleáceo é por meio do uso de doses

imunossupressivas de corticoesteroides, sendo os medicamentos mais comuns no tratamento

de PF felino a prednisolona, triancinolona e dexametasona (REES, 2010). O uso de doses

imunossupressivas de ciclosporina e clorambucil também é relatado na literatura (REES, 2010;

IRWIN et al., 2012), no entanto, tais drogas não apresentaram eficácia na paciente do presente

relato. A prednisolona foi demonstrada eficaz como terapia única para PF felino, sendo a dose

de 2 mg/kg SID descrita como eficaz, mas há tratamentos em que a dose utilizada pode chegar

a 8 mg/kg SID (SIMPSON & BURTON, 2013). A paciente não obteve melhora clínica em dose

34

mais baixas, sendo necessário aumento da dose para remissão da doença e sendo o controle

do PF atualmente mantido com prednisolona 4 mg/kg SID. A biodisponibilidade da prednisolona

via oral é de 100%, enquanto a metilprednisolona é de 93% em gatos, sendo que a última

permanece mais tempo no organismo (LOWE et al., 2008, SPINOSA et al., 2002).

Os gatos possuem menos receptores celulares para glicocorticóides em fígado e pele,

com afinidade destes receptores menor do que em cães, sendo necessário o uso de doses mais

altas em felinos (BROEK & STAFFORD, 1992; FELDMAN & NELSON, 2004; LOWE et al., 2008).

Como nesta paciente foi necessário o uso de altas doses desta droga, infelizmente foi possível

observar a ocorrência de diabetes melito secundária a qual exigirá tratamento com

insulinoterapia enquanto for necessário o uso da predinosolona para o PF (RAND, 1999; LOWE

et al., 2008; NICHOLS, 1992).

O prognóstico dos gatos com pênfigo foliáceo depende da precocidade no diagnóstico,

resposta inicial à terapia e tolerância à terapia de manutenção. Os pacientes necessitam de

tratamentos de longa duração ou por toda a vida do paciente (PETERSON & MCKAY, 2010). A

conciliação do tratamento com imunossupresores e o controle da diabetes pode ser uma

dificuldade enfrentada na adequação do tratamento, tal como foi constatado no relato, sobretudo

pela falta de resposta do paciente a demais terapias e necessidade de elevadas doses.

CONCLUSÃO

O presente estudo ressalta a dificuldade da conciliação da corticoterapia para tratamento

do PF e controle da diabetes iatrogênica. A prednisolona associada a insulinoterapia e ração

terapêutica própria para gatos diabéticos pode ser usada para tratamento de gato com PF e

diabetes melito.

REFERÊNCIAS

BROEK, A. H. M., STAFFORD, W. L. Epidermal and hepatic glucocorticoid receptors in cats and

dogs. Research Veterinary Science. v. 52, p.312-315, 1992.

FELDMAN, E. C., NELSON, R. W. Glucocorticoid therapy. In: FELDMAN E.C, NELSON R.W.,

eds. Canine and Feline Endocrinology and Reproduction, 3rd edn. St. Louis, MO: W.B.

Saunders, 2004. p.464–83.

35

GROSS T. L. et al. Doenças de pele do cão e do gato: diagnóstico clínico e histopatológico. 2a

ed. São Paulo: Roca; 2009. Internal Medicine. v.17, p.433.

IRWIN, K. E. et al. Use of modified ciclosporin in the management of feline pemphigus foliaceus:

a retrospective analysis. Veterinary Dermatology. v. 5, p.403-e76., 2012.

LOWE, A. D. et al. Glucocorticoides in the cat. Veterinary Dermatology. v.19., p. 340-347., 2008.

NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Medicina Interna de Pequenos Animais. 5 ed. Rio de Janeiro:

Elsevier, 2015. 1512p.

NICHOLS, R. Recognizing and treating canine and feline diabetes mellitus. Veterinary Medicine,

v. 87, n. 3., p. 211-22., 1992.

PETERSON A., MCKAY L. Crusty cats: feline pemphigus foliaceus. Compendium on

Continuing Education for the Practising Veterinarian. v. 32, 2010.

RAND, J. S. Current understanding of feline diabetes: part 1, pathogenesis. Journal of Feline

Medicine and Surgery, v.1, p.143-53., 1999.

REES, C. A. Pemphigus Foliaceous. In: NORSWORTHY, G. D. (Ed). The Feline Patient. 4th.

Wiley-Blackwell, 2010. p. 392-393.

RIVITTI E. A. Alopecia areata: revisão e atualização. Anais Brasileiros de Dermatologia. 2005;

v.80, p.57-68.

SCOTT, D. W. et al. Iatrogenic Cushing’s syndrome in the cat. Feline Practice. 1982, v. 12, p.

30–36.

SHAW, D., IHLE, S. Doenças pancreáticas endócrinas. In: Medicina Interna de Pequenos

Animais. Porto Alegre: Artmed. 1999, p. 435-41.

SIMPSON, D.L., BURTON, G.G. Use of prednisolone as monotherapy in the treatment of

feline pemphigus foliaceus: a retrospective study of 37 cats. Veterinary Dermatology, v.24,

n.6., p.598-601., 2013

SPINOSA, H.S. et al. Farmacologia Aplicada à Medicina Veterinária. 3ªed. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan. 2002.

WAYNE, S. R. Pemphigus: current therapy. Veterinary Dermatology. v. 15, p.90-98, 2004.

36

Síndrome da Displasia fiseal capital felina – relato de três casos

Feline physeal capital dysplasia syndrome – case report

Gois, VM¹ ²; Bagetti Filho, HJS¹; Carneiro, ALF².

¹ CHC Imagem Serviços Veterinários – Rua dos Jacarandás da Península, 300 – Rio de

Janeiro

² SUIPA – Sociedade União Internacional de Proteção Animal – Av Dom Helder Câmara, 1801

– Rio de Janeiro

[email protected]

Introdução

A síndrome da displasia fiseal capital felina, também conhecida como displasia fiseal felina,

osteopatia metafiseal dos colos femorais, é uma afecção uni ou bilateral que culmina com o

deslocamento da epífise da cabeça femoral da metáfise proximal sobre a placa de crescimento

envolvida, geralmente sem histórico prévio de trauma (McNicholas et al, 2002; Queen et al.,

1998; Borak et al., 2017, Craig 2001; Burke 2003; Schwartz 2013; Grayton, Allen & Biller. 2014).

As fraturas fiseais proximais de fêmur podem ser de origem traumática ou atraumática. As fratura

de colo femorais são relativamente frequentes em gatos e sugere-se, geralmente, serem

secundárias à trauma, apesar de raramente ser presenciado (Queen et al., 1998), e deve ser

diferenciada da displasia coxofemoral que, apesar de ser relativamente comum em felinos

domésticos, não é tão bem reconhecida, com grande variação entre os estudos (Perry, 2016;

Clarke et al., 2005; Keller et al., 1999; Langenbach et al., 1998; Peiffer, Young & Blevins, 1974).

O diagnóstico presuntivo é geralmente realizado através de exame radiográfico, associado ao

histórico e exame clínico (Borak et al, 2017; Rahal et al, 2016), e confirmado através de exame

histopatológico (Borak et al., 2017; Newton & Craig, 2006; Craig, 2001).

As características radiográficas desse tipo de fratura são incongruência da fise capital, com

vários graus de reabsorção de colo femoral (necrose e osteólise). Com o progresso da doença

pode haver deslocamento do colo e separação da fise, além de remodelamento metafisário e

esclerose de metáfise e epífise proximais (Forrest, O’Brien & Manley, 1999; McNicholas et al.,

2002; Craig, 2001).

Ao exame histopatológico nota-se alargamento da cartilagem fisária e irregularidade dos

condrócitos com abundante matriz extracelular adjacente à fise (Craig, 2001).

Relato dos casos

Um felino macho, sem raça definida, com cerca de 2 anos de idade, castrado aos 7 meses, deu

entrada no atendimento ortopédico de uma clínica veterinária particular do rio de janeiro, com

37

queixa de claudicação de membro pélvico esquerdo há 3 semanas. Já tinha sido atendido em

outro local, com prescrição de um anti-inflamatório não-esteroidal, sem melhora. Paciente

apresentando hiporexia, perda de peso, prostração, sem outras alterações clínicas em demais

sistemas. Ao exame clínico-ortopédico, notou-se instabilidade articular, com crepitação óssea e

intenso processo álgico do paciente à manipulação junto à articulação coxofemoral esquerda.

Foi solicitada radiografia de pelve, na projeção ventrodorsal, onde visualizou-se fratura fisária

com deslizamento do colo em relação à cabeça femoral (fig 1). Os responsáveis optaram pelo

tratamento conservador, monitorando o grau de dor, e procedendo à cirurgia caso o quadro

clínico piorasse. Foi então prescrito novo anti-inflamatório e repouso, sendo recomendado

retorno para revisão em 7 dias.

No dia da revisão ortopédica, houve piora no quadro do paciente, com redução do apetite e do

nível de atividade. À palpação houve exacerbação do processo álgico, com indicação de

tratamento cirúrgico através de excisão cirúrgica de cabeça e colo femorais.

Outros dois casos semelhantes foram atendidos em centro de diagnóstico, com 1 e 2 anos de

idade, ambos sem acesso à rua, sendo o primeiro com dificuldade de subir e descer escadas,

dor em exame clínico das articulações coxofemorais, sem histórico de trauma; e o segundo com

claudicação sem apoio, de início agudo e também sem histórico de trauma (Figura 2).

Figura 1 incidência ventrodorsal flexionada. Fratura em fise capitular de fêmur esquerdo (seta).

Observar presença de vértebra transicional (processo transverso direito de L7 articulando-se à

asa do ílio mimetizando a asa do sacro - sacralização de L7)

Discussão

As fraturas fisárias capitais tendem à cronicidade e sem histórico claro de trauma, podendo ser

uni ou bilateral, com compromentimento concomitante ou tardio do membro contralateral ao

afetado. O diagnóstico diferencial para fraturas traumáticas se dá, principalmente, através do

histórico e anamnese, onde é relatado acidente automobilístico, queda ou outros tipos de

traumas, e geralmente cursando com claudicação aguda e unilateral. (Schwartz, 2013; Lafuente

P., 2011)

38

O deslizamento das fises proximais é causado em parte pela displasia fiseal, geralmente

associada com a castração precoce, especialmente em gatos machos (a maioria dos animais

afetados foram castrados antes do fechamento completo das fises) (Queen et al., 1998,

McNicholas et al. 2002). A gonadectomia precoce é um fator de risco associado à displasia fiseal

devido à interação dos esteroides testiculares com o fechamento das placas de crescimento

(Schwartz, 2013; Borak et al., 2017; Root et al. 1997). Porém nem todos os quadros podem ser

relacionados à castração precoce, haja visto a publicação de relatos de displasia fisária em gatos

machos e fêmeas inteiros, além do sobrepeso. (Craig 2001; Burke 2003, Forrest, O’Brien &

Manley, 1999).

Figura 1 Radiografia demonstrando fratura de fises capitais já com área de reabsorção óssea de

colos femorais

Conclusão

A síndrome da displasia fiseal capital felina deve ser considerada um dos principais diagnósticos

diferenciais em animais jovens (até cerca de dois a dois anos e meio) com claudicação de

membros pélvicos uni ou bilateral, ainda que sem histórico de trauma; principalmente se tratando

de felinos, machos, orquiectomizados precocemente, com sobrepeso e redução da atividade.

Referencias bibliográficas:

- McNicholas WT. et al. (2002). Spontaneous femoral capital physeal fractures in adult cats: 26

cases (1996–2001). Journal of American Veterinary Medical Association,221: 1731–1736.

- Queen J. et al. (1998). Femoral neck metaphyseal osteopathy in the cat. Veterinary Record,

142: 159–162.

39

- Borak D. et al. (2017). Slipped capital femoral epiphysis in 17 maine coon cats. Journal of

Feline Medicine and Surgery, 19(1): 13:20.

- Craig LE (2001). Physeal dysplasia with slipped capital femoral epiph ysis in 13 cats.

Veterinary Pathology; 38: 92–97.

- Burke J. (2003). Physeal dysplasia with slipped capital femoral epiphysis in a cat. Canadian

Veterinary Journal. 44:238_239.

- Schwartz G. (2013). Spontaneous capital femoral physeal fracture in a cat. Canadian

Veterinary Journal, 54:698-700

- Grayton J, Allen P, Biller D. (2014). Case report: proximal femoral physeal dysplasia in a cat

and a review of the literature. Israel Journal fo Veterinary Medicine. 69:40-44.

- Perry K. (2016). Feline Hip Dysplasia: A challenge to recognise and treat. Journal of Feline

Medicine and surgery, 18:203-218.

- Clarke SP, et al. (2005). Prevalence ofradiographic signs of degenerative joint disease in a

hospital population of cats. Veterinary Record; 157: 793–799.

- Keller GG, et al. (1999). Hip dysplasia: a feline population study. Veterinary Radiology and

Ultrasound; 40: 460–464

- Langenbach A, et al. (1998). Relationship between degenerative joint disease and hip joint

laxity by use of distraction index and Norberg angle measurements in a group of cats. Journal of

American Veterinary Medical Association; 213: 1439–1443

- Peiffer RL, Jr, Young Wo, Jr and Blevins WE. (1974). Hip dysplasia and pectineus resection in

the cat. Feline Pract; 4: 40–43.

- Rahal S. et al. (2016) Clinical outcome and gait analysis of a cat with bilateral slipped capital

femoral epiphysis following bilateral ostectomy of the femoral head and neck, Veterinary

Quarterly, 36:2, 115-119, DOI:

10.1080/01652176.2015.1110642

- Newton AL, Craig LE. (2006). Multicentric physeal dysplasia in two cats. Journal of Veterinary

Pathology. 43:388-390.

- Forrest LJ, O’Brien RT, Manley PA. (1999). Feline capital physeal dysplasia syndrome.

Veterinary Radiology and Ultrasound. 40:672.

- Lafuente P. Y. (2011). Male neutered, obese, lame? Non-traumatic fractures of the femoral

head and neck. Journal of Feline Medicine and Surgery;13:498–507

- Root MV, Johnston SD, Olson PN. (1997). The effect of prepuberal and postpuberal

gonadectomy on the radial physeal closure in male and female domestic cats. Veterinary

Radiology and Ultrasound;38:42–47

40